Acórdão Do Tribunal Da Relação de Lisboa - Lenocinio - Corrupção Prostituição

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    10/02/2016 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

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    Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de LisboaProcesso:   5964/11.6T3SNT.L1-5Relator:   ARTUR VARGUESDescritores:   LENOCÍNIO

    PROSTITUIÇÃOCORRUPÇÃO ACTIVAPRESSUPOSTOS DA SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA PENA

    Nº do Documento:   RL

    Data do Acordão:   19-01-2016Votação:   UNANIMIDADETexto Integral:   SMeio Processual:   RECURSO PENALDecisão:   PARCIALMENTE PROCEDENTESumário:   I – Encontrando-se os arguidos acusados de crimes de lenocínio na forma

    consumada e entendendo o tribunal que os factos provados – que nãosofreram alteração alguma face aos constantes da peça acusatória -integravam crimes de lenocínio na forma consumada e na forma tentada, nãohavia que dar cumprimento ao estabelecido no artigo 358º, nº 3, do CPP,porquanto não resultou alteração essencial do sentido da ilicitude típica docomportamento dos arguidos.

    II - O bem jurídico tutelado pela norma do nº 1, do artigo 169º, do CódigoPenal, é a dignidade da pessoa humana, “na vertente da dignidade ínsita àauto-expressividade sexual co-determinando tal inciso, axiológico-normativamente, a expressividade comunitária do modo de exercício dodireito à liberdade e autodeterminação sexual”, que reveste carácter eminentemente pessoal.

    III – Sendo o bem jurídico protegido de natureza eminentemente pessoal, onúmero de crimes coincide com o número de vítimas. O mesmo é dizer quese verificam tantos crimes de lenocínio quantas as mulheres cuja actividadesexual foi pelos agentes explorada.

    IV - O crime de lenocínio apresenta-se como um crime de resultado,dependendo a consumação do exercício da prostituição. O tipo legal estápreenchido desde que se pratique um só acto sexual de relevo a troco de umacontrapartida. Não se chegando a verificar o exercício da prostituição,teremos a situação de crime de lenocínio na forma tentada.

    V – Para que o crime de corrupção activa, p. e p. pelo artigo 374º, nº 1, doCódigo Penal, na versão da Lei nº 32/2010, de 02/09, esteja preenchido, tantomonta que se esteja perante a corrupção antecedente (em que a oferta ocorreantes do acto que se pretende obter do corrupto), como da corrupçãosubsequente (em que que o agente público pratica primeiro o acto e sódepois solicita o suborno ou este lhe é oferecido), não se exigindo também

    para que essa subsunção esteja perfeita que se mostre provada acorrespondência concreta (o denominado “sinalagma”) entre a conduta docorrupto e a do corruptor.

    VI - O crime de falsificação de documento é um crime de perigo abstracto, namedida em que tal ilícito criminal se encontra consumadoindependentemente de se produzir ou não o resultado querido pelo agente,bastando que este com a sua conduta crie potencialmente o perigo daprodução daquele resultado e de mera actividade, já que não exige a violaçãodo bem jurídico que pretende salvaguardar.

    VII- Estando verificados os pressupostos de aplicação da pena desubstituição de suspensão da execução da pena de prisão, não se mostraadmissível a aplicação da pena acessória prevista no artigo 66º, do CódigoPenal, ao arguido agente da PSP.

    Decisão Texto Parcial:Decisão Texto Integral: Acordam, em conferência, na 5ª Secção do Tribunal da

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    Relação de Lisboa

    I - RELATÓRIO

    1. Nos presentes autos com o NUIPC 5964/11.6T3SNT, daComarca de Lisboa Oeste – Sintra – Instância Central – 1ª

    Secção Criminal – J5, em Processo Comum, comintervenção do Tribunal Colectivo, foram julgados econdenados, por acórdão de 23/03/2015, os arguidos A, B,C e D, nos seguintes termos:

      A, pela prática, em autoria material, de quatro crimesde lenocínio, na forma consumada, p. e p. pelo artigo 169º,nº 1, do Código Penal, na redacção da Lei nº 59/2007, napena de 3 anos de prisão por cada um deles;

      A, pela prática, em autoria material, de catorzecrimes de lenocínio, na forma tentada, p. e p. pelos artigos169º, nº 1, 22º, 23º e 73º, do Código Penal, na redacção daLei nº 59/2007, na pena de 2 anos de prisão por cada umdeles;

    A, pela prática, em autoria material, de um crime dedetenção de arma proibida, p. e p. pelo artigo 86º, nº 1,

    alínea c), da Lei nº 5/2006, de 23/02, na redacção da Lei nº12/2011, de 24/04, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão;

     Após cúmulo jurídico, foi A condenado na pena única de 10anos de prisão;

    B, pela prática, em autoria material, de um crime delenocínio, na forma consumada, p. e p. pelo artigo 169º, nº1, do Código Penal, na redacção da Lei nº 59/2007, na pena

    de 2 anos de prisão;B, pela prática, em autoria material, de seis crimes delenocínio, na forma tentada, p. e p. pelos artigos 169º, nº 1,22º, 23º e 73º, do Código Penal, na redacção da Lei nº59/2007, na pena de 1 ano de prisão por cada um deles;   Após cúmulo jurídico, foi B condenado na penaúnica de 4 anos de prisão;

    C, pela prática, em autoria material, de três crimes delenocínio, na forma consumada, p. e p. pelo artigo 169º, nº1, do Código Penal, na redacção da Lei nº 59/2007, na penade 2 anos de prisão por cada um deles;

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    C, pela prática, em autoria material, de oito crimes delenocínio, na forma tentada, p. e p. pelos artigos 169º, nº 1,22º, 23º e 73º, do Código Penal, na redacção da Lei nº59/2007, na pena de 1 ano de prisão por cada um deles;

    C, pela prática, em autoria material, de um crime de

    corrupção activa, p. e p. pelo artigo 374º, nº 1, do CódigoPenal, na redacção da Lei nº 32/2010, na pena de 2 anos deprisão;

       Após cúmulo jurídico, foi C condenada na penaúnica de 6 anos de prisão;

    D, pela prática, em autoria material, de um crime decorrupção passiva, p. e p. pelo artigo 373º, nº 1, do Código

    Penal, na redacção da Lei nº 32/2010, na pena de 3 anos deprisão;

      D, pela prática, em autoria material, de um crime defalsificação de documento agravada, p. e p. pelo artigo 256º,nº 1, alínea a) e nº 4, do Código Penal, na redacção da Leinº 59/2007, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão;

     Após cúmulo jurídico, foi D condenado na pena única de 3

    anos e 6 meses de prisão, suspensa na sua execução por igual período temporal, com sujeição a regime de prova adefinir pela DGRS;

    Por acórdão de 22/06/2015 do mesmo Tribunal, que alterouo acórdão de 23/03/2015, foi D absolvido da aplicação dapena acessória de proibição do exercício de função previstano artigo 66º, nº 1, alíneas a) a c), do Código Penal, quepeticionada fora.

    O arguido E, foi absolvido da prática, sob a forma decumplicidade material, de dezoito crimes de lenocínio, p. ep. pelo artigo 169º, nº 1, do Código Penal, na redacção daLei nº 59/2997, de que vinha acusado;

    A arguida G foi absolvida da prática, sob a forma decumplicidade material, de dezoito crimes de lenocínio, p. ep. pelo artigo 169º, nº 1, do Código Penal, na redacção da

    Lei nº 59/2997, de que vinha acusada;

    2. Os arguidos condenados não se conformaram com o teor da decisão e dela interpuseram recurso.

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      2.1 Extraíram os recorrentes da motivação asconclusões que de seguida se transcrevem.

    Recurso de A e C

    I — Foi violado o disposto nos artigos 323.º al f) e 358.º doCPP, no sentido em que não nos foi dada hipótese de produzir qualquer prova suplementar ou qualquer tipodefesa em relação aos factos novos diferentes dosconstantes da Acusação e que se apontam na motivação

     precedente. De sorte que, haverá que declarar nulo o Douto Acórdão, ordenando-se a remessa dos autos à primeirainstância, de forma a que aí se reabra a audiência de

     julgamento a fim de ser dado cumprimento ao disposto no

    artigo 358.º n.º 1 do CPP — ser dado a saber os factosnovos ou diferentes em relação ao libelo acusatório.II — Porque se pronuncia sobre factos sobre os quais nãohouve hipótese de os recorrentes se terem pronunciado

     previamente à decisão, é nulo o Douto Acórdão impugnado,que importa declarar, por violação do disposto no artigo379.º n.º 1 al. b) do mesmo diploma legal. Aliás, até por imposição constitucional — artigo 32.º n.ºs 1 e 5.III – Por via da matéria alegada em B.1 a B.4 do articulado

    de recurso, é para nós manifesto que na Douta decisãoimpugnada, ocorreu violação de lei constitucional – artigo32.º n.ºs 1 e 5.IV – Da prova produzida e abundantemente enumerada (C.1a C.32), torna-se por demais evidente que os factos dadoscomo provados, assentam ERRADAMENTE e em exclusivono depoimento da testemunha Celeste, um depoimentoinaceitável juridicamente, por se tratar de depoimentoindirecto (do que lhe diziam, sem apontar os nomes), com aagravante de que TODAS as restantes testemunhas comconhecimento pessoal e directo do que se fazia e fez noestabelecimento "GDR". Em suma,V – TODOS quantos segundo a dita testemunha estariamno local para praticar actos sexuais pagos, negaram

     peremptória e inequivocamente tal versão... TODOS! Nãohavia der ser a Celeste a "saber" que se praticavam actossexuais nos quartos, se quem lá terá estado NEGOU inequivocamente... nenhuma testemunha tem como saber oque se passa através de uma ou várias portar.VI – O depoimento indirecto é inválido e proibido nos termosdo CPP (artigos 129.º e 130.º), sempre que, como foi ocaso, não seja possível confirmar os factos relatados por 

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    quem alega deles ter conhecimento por via de terceiros.Seria abrir a porta à validade da boataria em processo

     penal! VII – No mínimo, pelas razões elencadas em D.1 a D.9 doarticulado das alegações de recurso, no nosso humildeentendimento, da prova produzida e dos factosconcretizados no Douto Acórdão impugnado, é por demaisevidente que não se podem assacar os crimes de corrupçãoa que se condenou a Recorrente. Não beneficiou comqualquer informação transmitida pelo Arguido D, muitomenos pediu qualquer informação ou outro qualquer actolícito ou ilícito. Pelo menos que se veja dado como provadono Douto Acórdão impugnado. Todas as fanfarronicesimputadas ao Arguido D, alegadamente constantes emintercepções de comunicações telefónicas, terão sidotransmitidas exclusivamente num contexto de fanfarronicese de um relacionamento amoroso que mantinha com aRecorrente C. Nada de nada, beneficiou ou podia beneficiar a Recorrente C ou a Arguida VIT. Por isso não ter resultado

     provado qualquer benefício real, lícito ou ilícito, auferido pelaRecorrente C.VIII – Pelas razões enunciadas em E do articulado dealegações de recurso, não pode ser considerado provado,

     por absoluta e total ausência de fundamentação no Acórdão

    impugnado, o que consta do "facto provado" 24. O queimporta declarar, com as necessárias consequência emsede do preenchimento – ainda que em mera teseacadémica – do crime de lenocínio! Muito menos lenocínios"TENTADOS", como se algum sentido pudesse ter tal consideração.IX – Ainda que se considere toda a prova devidamenteavaliada e os factos dados como provados comoinquestionáveis, quer-nos parecer que, pelo menos por via

    das alegações de recurso precedentes, especialmente pelasrazões elencadas em F, quer-nos parecer que são por demais excessivas as penas parcelares, bem assim como a

     pena única aplicada em sede de cúmulo operado. Nunca,em qualquer caso (mesmo tendo em conta o absurdo

     jurídico dos crimes de lenocínio na forma "tentada"), atentaa factualidade e circunstâncias apuradas (para além doscrimes de lenocínio na forma tentada), até porque entretantofoi reduzida a uma pena residual a condenação do

    Recorrente A no processo onde foi condenado em Espanhae que se encontra a cumprir pena, a sua pena em cúmulono presentes autos, devia exceder os 5 anos de prisão. E mesmo assim, pena essa a ser suspensa na sua execução

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     por igual período de tempo. Tudo nos termos e pelosmotivos explanados em F do articulado de alegações derecurso.

     X – Pelas razões e fundamentos expostos em G dasalegações de recurso, ainda que alguma pena venha a ser entendida ser de aplicar à Recorrente C, nunca a mesmadeverá ser superior multa. Ou, quanto muito,

     XI – A ser cogitada como razoável uma pena de prisão, quenunca superior a 3 anos, mas sempre suspensa na suaexecução, na pior das hipóteses por igual período de tempo.Sem nunca se perder de vista, tal como oportunamente sefez notar, que existem falsas considerações tecidas nos doisúltimos parágrafos da página 61 e primeiro da página 62 do

     Acórdão - "acompanhou muito de perto o trajecto do seucompanheiro..." (mas de onde é que isto veio?!). Aliás, afactualidade aí descrita, não consta na Acusação nemsequer lhe foi comunicada para se poder pronunciar adequadamente. Algo sem qualquer fundamentação que seveja, para além de falsa invocação. Tendo como necessáriaconsequência a nulidade de todo o Acórdão quanto à penaaplicada à ora Recorrente, C.

     XII – Pelas razões e fundamentos exarados em H doarticulado de alegações oportunamente apresentado pelosRecorrentes A e C, muito mal andou o Tribunal a quo na

    qualificação dos factos que apurou como enformando ocrime de lenocínio. Nem jurídica nem factualmente se podeimputar, muito menos condenar os Recorrentes C e A, por qualquer crime de lenocínio... muito menos na formatentada. O lenocínio é um crime de resultado, ou seconsuma, ou não. TODAS as testemunhas com intervençãodirecta e conhecimento directo, negaram a prática dequaisquer actos sexuais em favor de qualquer um dos

     Arguidos, ou por sua ordem ou obedecendo a suas

    instruções. Confirmaram-no clientes da "GDR", bem assimcomo TODOS os funcionários do mesmo estabelecimentoouvidos em julgamento. Não há qualquer margem demanobra para qualquer poder discricionário ou "livreapreciação da prova", no sentido de considerar falsosTODOS os depoimentos, com excepção do início movido

     por sentimos de ódio e de ressentimento – Celeste – comoinequivocamente ficou vincado em todo o depoimentotranscrito e gravado nos autos.

     XIII – Também pelas razões e fundamentos apontados em I do articulado de alegações de recurso, em relação aosRecorrentes C e A, não existe qualquer suporte legal efactual que sustente o crime de lenocínio nos termos em

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    que vêm condenados os Recorrentes – muito menos naforma tentada.

     XIV – Parece-nos ser motivo de anulação de todo o Acórdãorecorrido, na medida em que do mesmo constafundamentação inexistentes, tal como oportunamente sealegou em J. Ou seja, carece de fundamentação real – queexista nos autos ou que se tenha podia extrair da prova

     produzida em audiência de julgamento. XV – Nos termos das razões e fundamentos oportunamentealegados em K do articulado de alegações de recurso, asintercepções telefónicas e de mensagens convocados pelaTribunal a quo, para além de inadmissíveis, são claramenteinidóneas para os factos que se pretendeu imputar.Nenhuma intercepção é idónea a demonstrar algum actosexual praticado por quem quer que fosse.De resto, humildemente e com a devida vénia, reiterando oexacto pedido formulado no articulado de alegações queantecede, ficaremos serenamente e com todo a certeza aaguardar que esse Alto Tribunal faça Douta e CostumadaJustiça, como é de Direito.

    Recurso de B

    1. O Tribunal “a quo” concluiu à margem que toda a prova

    credivelmente produzida que o arguido B era à data de 11de Fevereiro de 2012 “sócio” do arguido A e que ambos praticaram crimes de lenocínio na forma consumada (1) ena forma tentada (6), sendo o seu erro manifesto e notório.2. Porém, mesmo que se entenda que o erro não é notórioou manifesto, isto não impede a reavaliação da matéria defactos, à luz das normas aplicáveis do Código do ProcessoPenal, cabendo ao Tribunal de Recurso apreciar a prova

     produzida.

    3. Em cumprimento do Proc. 412º, nº 3 al. a) do CPP,especificam-se de seguida os pontos da matéria de facto provada que foram incorrectamente julgados e que constamda sentença recorrida: 5 articulado com o 6, 7, 10, 11, 33,62, pelos motivos constantes da motivação do presenterecurso e que ora se dão por integralmente reproduzidos.4. Em cumprimento do Art.º 412 nº 3 b) do CPP,especificam-se como provas concretas que impõem umadecisão diversa da recorrida, as declarações prestadas pelo

    ora recorrente e o depoimento das testemunhas:a. Lucianab. Edenac. Cleusa

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    d. Millany e. Quiviaf. Aparecidag. Elaineh. Toc - Dr. Si. G

     j. Segurança - Paulok. PSP -Franciscol. CelesteTodos gravados através de sistema integrado de gravaçãodigital, nos termos referidos nas actas e cuja especificaçãose realiza nos termos do Art.º 412º nº 3 do CPP.5. Em toda a produção de prova é patente, de formagritante, que o recorrente era o encarregado doestabelecimento na data de 11 de Fevereiro de 2012 e quenesta mesma data o “patrão” era A e que o ora recorrenteera seu empregado.6. Não é crime trabalhar-se, ser-se remunerado, mesmo queseja uma casa de alterne, e numa Estalagem, mesmo quese admita que era frequentada por prostitutas.7. Arrendar/ceder/alugar quartos não configura ilícitocriminal, não há pena sem crime, por isso deveria ter sido oora recorrente absolvido.8. O Tribunal balizou os factos, no que concerne ao

    recorrente ao dia 11 de Fevereiro de 2012 e foi produzida prova suficiente para o colocar nesse dia como simplesempregado do estabelecimento “GDR” 9. Ainda que assim não se entenda foi produzida provatambém suficiente de que as mulheres que se encontravamnesse dia no bar não se estavam a prostituir, nem estavamlá para praticar actos sexuais utilizando os quartos daEstalagem, pelo que, também quanto a isso o recorrentedeveria ter sido absolvido.

    10. Que a Sociedade A, Unipessoal, Lda. Existia, pagavaaas suas obrigações fiscais, tinha empregados e exploravaao estabelecimento “GDR” e que era a pessoa que era a

     proprietária desta, gerida de facto e de direito por A, pelomenos à data de 11 de Fevereiro de 2012.11. Inferir que se tratava de uma sociedade irregular comdois gerentes de factos – B e A, é concluir muito para alémde prova produzida, por forma a perseguir criminalmente orecorrente.

    12. É mais do que isso e ignoram a prova produzida emaudiência de discussão e julgamento por forma a adaptar asentença à acusação, que nem por perto nem por longeficou provada.

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    13. Sobre este tema, entenda-se que as conclusões tiradas pelo Tribunal “a quo” estão totalmente equivocadas por desvalor da prova produzida.14. Ao condenar o recorrente por ter sido, à data de 11 deFevereiro de 2012 um empregado do estabelecimento e,absolver os demais empregados co-arguidos neste

     processo o Tribunal “a quo” julgou mal e decidiu pior,utilizando dois pesos e duas medidas.15. Foram utilizadas provas contra o recorrente, recolhidasapós o dia 11 de Fevereiro de 2012 que não poderiam ter sido utilizadas para fundamentar uma decisão que restringea prática dos factos ao dia supra referido.16. Referir ainda o hiato temporal de 5 de Julho a 4 deSetembro de 2012, em que o ora recorrente ficou a “tomar conta” aquando da detenção do arguido A que o Tribunal “aquo” individualizou e bem e que utilizou para situar asmovimentações bancárias a favor do ora recorrente.17. São reconhecidas e justificadas tais movimentações,mas ainda caso assim não se entenda, têm de ser vistas àluz de uma eventual tentação pelo dinheiro, motivada pelaausência do “patrão” e é esse facto que leva a que orecorrente tenha sido expulso do estabelecimento com oauxílio da PSP, por forma a deixar a exploração do mesmolivre para a arguida C, facto a que o Tribunal “a quo” foi 

    totalmente alheio, e erradamente entendeu noutro contexto.18. Existe contradição entre as declarações dos arguidos Be A que não é suficientemente convincente para dar como

     provada uma gerência de facto de uma sociedade irregular dos dois, pois tendo o arguido A assistido às declarações doarguido B não as rejeitou nem as contraditou.19. Acresce que, as declarações acusatórias do arguido Bresultaram de uma tentativa de um exercício de vingança

     pelos valores monetários alegadamente arrecadados pelo

    arguido B no período compreendido entre 6 de Julho e 4 deSetembro de 2012.20. O fundamental ambos os arguidos concordam que aestalagem “GDR”, se destinava a explorar o negócio dealuguer de quartos, que tinha um bar.21. A decisão omitiu factos provados ou não provado sendoomissa no exame crítico certos depoimentos, valorando dodepoimento de uma só testemunha – Celeste.22. Ainda que assim não se entenda, a decisão sob recurso

    confunde cedência/utilização de quartos a troco de €30,00 com lenocínio, pois não constitui ainda crime e Portugal ceder/alugar/arrendar quartos a quem os procurar e a trocode um determinado valor – neste sentido e entre outros:

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    http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/136dcfd29946803180257f54003ec721?OpenDocument 10/139

    a. AC Ref. Coimbra de 30-5-84 in col. Jun. 3, 9;b. Sentença do Sr. Juiz de Direito Rui Torres Vousa de 27-7-84. In Tribunal de Justiça, 1985, 5, 7 inhttp/www.cidadevirtual.pr.stj/jreisp/html;c. Acórdão Rel. Coimbra 28-5-94;d. Acórdão STJ de 5-6-91 in BMJ, 48, 173;e. Acórdão Rel. Coimbra 18-6-86 in Col. Jr. 1983, 32;f. Acórdão STJ – 7-2-96 inhttp/www.cidadevirtual.pr.stj/jurisp.len;g. Acórdão Rel. Lisboa de 28 de Maio 1991 – Proc. 1354 –2ª Secção.23. A cedência de quartos/aluguer/ o negócio de exploraçãode quartos foi confundido com a exploração de mulheres

     para a prostituição.24. O recorrente como mero empregado de uma sociedadeque tinha por finalidade e exploração de uma Estalagem quetinha um bar é alheio ao que se passa no interior dosquartos.25. As mulheres pagavam pela utilização dos quartos, paraneles fazerem o que lhes apetecesse, seja sexoremunerado ou não.26. Segundo os factos dados por provados nos pontos 5 e 6 da decisão recorrida, no dia 11 de Fevereiro de 2012, asmulheres que foram ali encontradas encontravam-se ali para

     praticar sexo é uma conclusão totalmente infundada, semqualquer tipo de prova, muito pelo contrário foi produzidaabundante prova que faz cair por terra tais conclusões.27. As mulheres que alugavam os quartos, para praticar sexo ou não pagavam à Sociedade A, Lda., do seu bolso,logo, não pode haver aqui “ganho imoral” ou exploração demulheres.28. Se o desígnio foi explorar a “GDR”, alugando quartos a

     pessoas, esse desígnio é único, conforme resulta do facto -

    do acórdão, pelo que existe apenas uma única resolução,inexistindo pluralidade de infracções, pelo que, não existemsete crimes, pelos quais o recorrente foi condenado, masum único desígnio,a. Acórdão STJ 24-9-93 3ª secção inwww.cidade.virtual.pr.stj/jurisp.lenocinio.html;29. Exercer a prostituição é sinónimo de vender o corpo atroco de dinheiro e nesse “negócio” a mulher formula a suaintenção, pelo que o gerente da estalagem, hotel, pensão –

    ou o Estado na Estrada Velha de Algueirão – são alheios atais actos.30. A conduta da Sociedade A, Lda., através do seu sócio,do seu gerente/encarregado/outros empregados limitavam-

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    se a ceder quartos às mulheres – prostitutas ou não.31. Se os empregados ou o gerente da Sociedade não

     participam no negócio sexual, nem aliciam nem pressionamas mulheres, nunca poderão ser acusados e muito menoscondenados por tais actos, pois neles não tiveram qualquer intervenção.32. A sentença de que ora se recorre está erradarelativamente à afirmação do facto provado de que asmulheres encontradas no interior do estabelecimento/bar nodia 12 de Fevereiro de 2012 estavam todas lá para se

     prostituir.33. A sentença de que ora se recorre não explicita que orecorrente, à data de 12 de Fevereiro de 2012, tenha

     praticado qualquer acto, lícito, nomeadamente:a. Exercido pressão/força aliciamentob. Favorecido as mulheres na sua actividadec. Fomentado as mulheres a prostituir-sed. Tenha cobrado algo para além do preço de utilização dosquartos34. Não existe qualquer conduta do recorrente subsumível ao crime do Art.º 169º do Código Penal, muito menos naforma tentada.35. Sem prescindir e que ainda que a versão dosacontecimentos dada não fosse possível de ser totalmente

    esclarecida, concretizada e provada, sempre se diria queem cumprimento do principio “in dúbio pro reo” resultante do processo probatório, uma dúvida razoável e insuperável,sobre a realidade dos factos, deve decidir-se a favor dosarguidos condenados, dando como não provados os factosque lhes são desfavoráveis.TERMOS em que deve o arguido B, ora Recorrenteabsolvido por manifesta insuficiência para a decisão damatéria de facto provada e erro notório na apreciação da

     prova que conduziram à sua condenação pela prática de umcrime de lenocínio na forma consumada e seis crimes delenocínio na forma tentada, devendo para que tal seja

     possível, ser reapreciada a prova gravada e renovadas as provas supra identificadas.

    Recurso de D1.

    Considera o recorrente que a decisão que ora se impugna,nos termos acima delimitados, foi proferida em violação do

     princípio da apreciação da prova segundo as regras daexperiência comum, consagrado no artigo 127º do CPP.

    2.

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    Uma apreciação exaustiva dos elementos probatóriosconstantes dos autos permite sustentadamente concluir queo arguido D não praticou os crimes de corrupção passiva efalsificação de documento que lhe estavam imputados.

    3.Para que pudesse haver condenação pelas prática do crimede corrupçã passiva, teria de resultar demonstrado da provadocumental constante dos autos e da prova testemunhal 

     produzida em audiência de julgamento:- que C teria prometido e entregue ao arguido D quantiasmonetárias e a disponibilização de uma casa de férias no

     Algarve;- que D aceitou receber quantias monetárias e usufruir dacasa de férias;- que essas vantagens não lhe eram, a qualquer título,devidas;- que o pagamento de quantias (ou a disponibilização deuma casa de férias no Algarve) representara a contrapartidade um visado desvirtuamento das funções públicas que oarguido exercia na PSP;- que tal desvirtuamento de funções públicas teria sidolevado a cabo através da actuação do arguido, com vista a

     prestar à arguida informações privilegiadas sobre operaçõesde fiscalização levada a cabo pela PSP;

    - que C pretendesse entregar ao arguido quantias que sabianão lhes serem devidas como contrapartida da prática deum acto contrário aos deveres inerentes a tais funções.

    4.Tal como decorre das declarações prestadas em audiênciade julgamento, quer pelo arguido D quer pela arguida C, aentrega, por esta última ao primeiro, do cheque que titulavaa quantia de € 1.226,14 não foi uma contrapartida por qualquer informação privilegiada de operações levadas a

    cabo pela PSP, mas tão somente um empréstimo.5.Contrariamente ao que concluiu o Tribunal a quo, a arguidaC costumava emprestar dinheiro ao recorrente, sendoassumido entre eles que as entregas de dinheiro que aquelafazia tinham a natureza de empréstimo e que, como tal, taismontantes eram para ser devolvidos à arguida.

    6. Acresce que o recorrente pagou à arguida C a quantia de € 

    1.226,14, que lhe tinha sido emprestada por aquela. Defacto, após ter recebido do Banco Santander Totta a quantiade € 8.399,99, a título de comissões por serviços prestadosàquela Instituição bancária, o recorrente pagou à arguida C 

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    a aludida quantia (e outras que lhe devia), regularizando asua situação perante esta.

    7.Para que o Tribunal pudesse fundamentadamente ter condenado o arguido D pela prática do crime de corrupção

     passiva, seria necessário que tivesse resultado provado queeste solicitou ou aceitou – expressa ou tacitamente –vantagem (patrimonial ou não) como contrapartida da

     prática de um acto contrário aos deveres do cargo públicoque exerce.

    8.Não resulta demonstrado nos autos que a quantia de € 1.226,14, titulada pelo cheque n.º 8400000009, e entregue àSOFINLOC para pagamento das responsabilidadescontratuais do recorrente (ou a promessa de fruição de umacasa de férias no Algarve), fosse uma contrapartida de umvisado desvirtuamento das funções públicas que o arguidoexercia na PSP 

    9.Diga-se, aliás, que a tese vertida na acusação e acolhidasem mácula pelo Tribunal a quo – para além de nãocorresponder à verdade dos factos – carece desde logo desentido se se confrontar a data em que foi disponibilizada aquantia em causa com as datas em que a PSP realizou

    operações de fiscalização por parte da PSP.10.Pese embora tenham ocorrido no decurso de um mesmo

     período temporal, não existe uma relação directa e evidenteentre as operações levadas a cabo pela PSP (rectius: oaviso de que tais operações iam ser efectuadas) e asvantagens concedidas, não sendo credível, à luz das regrasda experiência comum, considerar que estamos peranteuma peita fraccionada ou paga em prestações.

    11.No que concerne ao elemento intelectual do dolo, serianecessário que se demonstrasse que D tinha conhecimentode todos os elementos factuais e concretos integráveis nadescrição abstracta do tipo de corrupção passiva, sob penade não se preencher o elemento intelectual do dolo.

    12. A declaração constante do documento de fls. 595 retrata arealidade dos factos pelo que não se verificam os elementos

    típicos do crime de falsificação de documento.13.

    De facto, (1) nesse dia 25.01.2013, (2) Vítor compareceu naEsquadra onde o recorrente exercia funções, (3) a fim de

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     prestar declarações no processo n.º 77/13.9PLSNT. Umavez que (4) o recorrente D não conseguiu levar a cabo adiligência, (5) solicitou a Vítor que comparecesse no diaseguinte, pelas 18h30m. (6) O que aquele fez.

    14.Por sentença proferida no âmbito do processo n.º 6942/13.6T3SNT (transitada em julgado no decurso do

     prazo do presente recurso), foi o aí arguido Vítor absolvidoda prática da falsificação de uma declaração idêntica àconstante de fls. 595, pelo que a decisão condenatória

     proferida nosn presentes autos põe em causa o princípio daconfiança e da segurança jurídica.

    15. A declaração alegadamente falsificada nunca foi entreguenos competentes serviços do Exército português, pelo quesempre se imporia a absolvição do arguido, dado ser manifesto o não preenchimento de um dos elementostípicos do crime em causa: a intenção de causar prejuízo aoEstado ou a terceiro.

    16.Se a intenção do recorrente D e de Vítor fosse, ab initio,causar prejuízo ao Estado português e assim desonerar Vítor de comparecer nos Serviços da Unidade Militar a que

     pertencia, não fazia sentido que tal declaração não tivesse

     posteriormente sido entregue naqueles Serviços.17. Acresce que o documento constante de fls. 595 nem eraapto ao fim referenciado pelo Tribunal a quo dado que nemestá assinada pelo emitente ou carimbada, desconhecendo-se se de original, mera impressão ou fotocópia se trata.

    18.OS CONCRETOS PONTOS DE FACTO QUE ORECORRENTE  CONSIDERA INCORRECTAMENTE 

    JULGADOSO recorrente considera que o Tribunal a quo julgouincorrectamente os factos insítos nos Pontos 35 a 45 damatéria de facto considerada provada, entendendo queestão preenchidos os elementos objectivos e subjectivos docrime de corrupção passiva.O recorrente considera ainda que o Tribunal a quo julgouincorrectamente os factos insítos nos Pontos 59 a 61 damatéria de facto considerada provada, entendendo que

    estão preenchidos os elementos objectivos e subjectivos docrime de falsificação.

    19. AS CONCRETAS PROVAS QUE IMPÕEM DECISÃO

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    DIVERSA DA RECORRIDAImpõem decisão diversa da ora recorrida as declaraçõesdos arguidos D (cfr. gravação da sessão de julgamento de1.10.2014, de 05:28 a 09:14, de 13:38 a 14:00 e de 01.44:20 a 01.48:19 desse depoimento) e C (cfr. gravação da sessãode julgamento de 8.01.2015, de de 00:28 a 00:59).Impõem ainda decisão diversa os elementos documentaisconstantes de fls. 57, 75, 76, 3792 e 3793 dos autos e bemassim o teor das comunicações telefónicas transcritas afls.12, 15, 140 e 141 dos autos.

    20. AS NORMAS JURÍDICAS VIOLADAS A decisão ora recorrida viola as disposições conjugadas dosartigos 373º n.º 1 e 256º n.º 1 alínea a), ambos do CódigoPenal.

    21.O SENTIDO EM QUE O TRIBUNAL A QUO INTERPRETOU 

     AS NORMAS JURÍDICAS VIOLADASO Tribunal a quo interpretou as normas jurídicas em causaconsiderando que se encontravam preenchidos oselementos típicos de cada uma das normas em causa

    22.O SENTIDO EM QUE O TRIBUNAL A QUO DEVIA TER INTERPRETADO E APLICADO AS NORMAS JURÍDICAS

    VIOLADASO Tribunal a quo devia ter interpretado as normas jurídicasvioladas reconhecendo que a conduta do arguido erecorrente não integra a prática dos aludidos ilícitos.TERMOS EM QUE DEVE O PRESENTE RECURSO SER JULGADO PROCEDENTE, REVOGANDO-SE O DOUTO

     ACÓRDÃO RECORRIDO, NA PARTE EM QUECONDENOU O ARGUIDO D PELA PRÁTICA DOSCRIMES DE CORRUPÇÃO PASSIVA E FALSIFICAÇÃO

    DE DOCUMENTO, SÓ ASSIM SE FAZENDO JUSTIÇA  3. Recurso interpôs também do acórdão o MinistérioPúblico, apresentando as seguintes conclusões(transcrição):

    3.1. A douta decisão recorrida merece inteiro aplauso doMinistério Público, no essencial, no que tange ao julgamentoda matéria de facto e respectiva subsunção jurídica, quantoaos arguidos A, B e C, concordando ainda com a escolha ecom a medida concreta das penas aplicadas a cada umdestes arguidos.3.2 Ainda que se tenha por apertado o crivo utilizado naavaliação do acervo probatório, ao restringir os factos

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    inequivocamente assentes, quanto à actividade delenocínio, aos evidenciados pelas duas operações policiaisde 11 de Fevereiro de 2012 e de 6 de Junho de 2013.3.3 Quando é certo que, a partir do momento em que foram

     judicialmente autorizadas intercepções telefónicas aosarguidos, a partir de Outubro de 2012 e até à operação

     policial de 6 de Junho de 2013, o respectivo conteúdo permitiu confirmar, sem margem para dúvidas, essaactividade diária, persistente e reiterada, ainda que comalgumas vítimas não cabalmente identificadas.3.4 Sendo evidente que, da conjugação do conteúdo dasintercepções telefónicas efectuadas com os demaiselementos de prova, produzidos em audiência, é seguro queos arguidos E e G, prestaram auxílio à actividade delenocínio desenvolvida pelos arguidos condenados, A, B eC,3.5 Conhecendo perfeitamente os contornos dessaactividade ilícita;3.6 Sendo incompreensível a sua total absolvição, apenascom o argumento de que não foi possível estabelecer aconexão entre o auxílio material prestado e as concretasvítimas da actividade de lenocínio.3.7 Impondo-se a condenação de ambos, e cada um deles,

     pelo menos, como cúmplice de um crime de lenocínio.

    3.8 Afigurando-se necessária, adequada e proporcional àsua culpa, a aplicação de uma pena de 1 ano de prisão,suspensa na sua execução por igual período;3.9 Por outro lado, no que tange à condenação do arguido D

     – e deixando de lado a “decisão surpresa” de desconsiderar toda a prova produzida, incluindo as declaraçõesconfessórias do arguido, no que tange aos imputadoscrimes de burla e de furto simples, por se considerar “…queos conteúdos das intercepções telefónicas … não podem

    ser valorados para efeito de perseguição criminal de crimesque não constem do catálogo fechado definido na lei adjectiva (art. 187.º, n.ºs 1 e 7, do CPP, na redacção da Lei n.º 48/2007)” – a nossa discordância incide sobre a medidaconcreta da pena aplicada ao crime de corrupção passiva e,

     por decorrência, na medida concreta da pena única e,fundamentalmente, na não aplicação da pena acessória

     prevista no artº 66º, nº 1, al.s a), b) e c) do C. Penal e nasuspensão da execução da pena principal, sem aplicação

    da pena acessória.3.10 Aliás, a decisão recorrida omite completamente

     pronunciar-se sobre a aplicação, ou não, ao arguido D da pena acessória pedida, não obstante na última sessão de

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     julgamento, como da respectiva acta consta (fls. 3796), ter sido efectuada a comunicação da alteração da qualificação

     jurídica, a requerimento do Ministério Público, nos termos e para os efeitos do artº 358º, nº 1 e 3 do CPP;E, no próprio relatório da sentença – pag. 5 do acórdão – sehaver consignado:3.11 “Antes da leitura, foi decidido proceder, a requerimentodo Ministério Público e após o pertinente contraditório, àalteração da qualificação jurídica dos factos imputados aoarguido D na acusação pública, no sentido do crime decorrupção passiva passar a ser-lhe imputado nos termostambém punidos no art. 66.º, n.º 1, alíneas a) a c) do CódigoPenal.” 3.12. Tal omissão de pronúncia traduz-se em nulidade dasentença, prevista na alínea c) do nº 1 do artº 379º do CPP,que expressamente se argui e que o tribunal pode aindasuprir – nos termos do artº 414º, nº 4, ex vi ao nº 2 do artº 379º, ambos do CPP.De qualquer modo:3.13. A decisão recorrida enferma dos vícios previstos nasdiversas alíneas do nº 2 do artº 410º do CPP, o que resultado próprio texto da decisão, por si só ou em conjugaçãocom as regras da experiência comum:- a) da insuficiência da matéria de facto para a decisão – ao

    restringir os factos provados, quanto à actividade delenocínio, na prática, aos dois momentos em que ocorreramas “rusgas” policiais, não obstante ter apurado o seucaracter regular, diário e persistente, balizado no tempo,

     pelo menos, entre essas duas datas;- b) da contradição insanável da fundamentação – ao dar como provado um facto e o seu contrário:1 no ponto 27-c, dos factos provados, deu-se como provadoque:

     “27 – Naquela mesma data e local (6 de Junho de 2013, nabusca ao estabelecimento), foram encontrados os seguintesbens na posse do arguido A:a 1 (uma) pistola semi-automática, de calibre 6,35mmBrowning, de marca STAR, modelo 1906, sem número desérie visível, munida de carregador com 5 (cinco) muniçõese com 1 (uma) munição na câmara de explosão, em boascondições de funcionamento;b 14 (catorze) munições de calibre 6,35mm Browning, em

    boas condições de utilização;c. 1 (uma) soqueira, com 10,4 cm de comprimento e 6,3 cmde largura;…/…” 

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    - no ponto 12 dos factos não provados, consignou-se quenão se provou que:“12 – No dia 6 de Junho de 2013, foi encontrado 1 (uma)soqueira, com 10,4 cm de comprimento e 6,3 cm de largurana posse do arguido A.” c) do erro notório na apreciação da prova – ao darem-secomo não provados os factos consignados nos pontos 18 e19, quanto ao arguido E (não obstante o que se consigna no

     ponto 4.5 da fundamentação, fls. 33) e nos pontos 20 a 23,quanto à arguida G (e, não obstante o que se consigna no

     ponto 4.6 da fundamentação, fls. 34). Quiçá, caindoigualmente na contradição insanável entre a decisão – dedar tais factos como não provados – e a respectivafundamentação.

     À cautela, não obstante os invocados vícios, procurar-se-áainda efectuar impugnação alargada da matéria de facto,quanto a essa mesma factualidade.3.14. Com fundamento na prova documental que seassinala no ponto 2.3.2. desta motivação, em conjugaçãocom as declarações do arguido D, e nos depoimentos dastestemunhas Celeste, Edna e Cleusa – aliás assinaladas no

     ponto 4.1. da fundamentação – impõe-se aditar aos factos provados um ponto onde se consigne que:Pelo menos no período compreendido entre a operação

     policial referida no ponto 5 e a operação policial referida no ponto 17, os arguidos A (desde o início, até ser detido em 5 de Julho de 2012 e, depois de solto), B (desde o início e até4 de Setembro de 2012) e a arguida C (desde 4 deSetembro de 2012 e sozinha até à libertação do arguido A e,com este, após essa libertação) exploraram com carácter regular, diário e persistente na actividade de prostituição, na“GDR” um número indeterminado de mulheres,nomeadamente as referidas nos pontos 5 e 17. E,

    3.15 Com fundamento nas transcrições das intersecçõestelefónicas que se reproduziram nesta motivação – ponto2.3.3 – conjugadas com os demais elementos de prova, dar como provados os factos que de deram como não provadossob os pontos 20 a 23, relativos à actividade desenvolvida

     pela arguida G;3.16 E com na vigilância policial de fls. 1068, de 21-05-2013

     – conteúdo confirmado pelos agentes policiais nela referidos – nas mesmas transcrições telefónicas atrás referidas e, em

     particular com base no depoimento prestado pela vítimaCleusa, prestado em 6 de Outubro de 2014, gravado nosistema Citius, entre as 16:11:34 e 16:39:35 horas, deve otribunal dar como provados os factos que elencou nos

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     pontos 18 e 19 doas factos não provados.3.17 Consequentemente, alterando-se dessa forma a basefactual, impõe-se a condenação dos arguidos G e E, pelomenos, como cúmplices de 1 crime de lenocínio, pº e pº noartº 169º, nº 1, do C. Penal;3.18 Em pena não inferior a 1 ano de prisão, para cada umdeles, ainda, que suspensa na sua execução;3.19 Não o fazendo, o Tribunal recorrido violou o dispostono artº 127º do CPP e 27º e 169º, nº 1 do C. Penal.Quanto ao arguido D:3.20 Havendo que ter sempre presentes os critérios legaisdefinidos no artº 40º - fins das penas – e nos artºs 70º e 71º - escolha e medida da pena – todos do Código Penal, otribunal não poderia ignorar que os crimes por quecondenou o arguido D, em particular o de corrupção

     passiva, e as suas concretas circunstâncias (gravidade,duração, modo de execução, etc) exigiam o afastamento doarguido do exercício de funções policiais,3.21 Face à manifesta e grave violação dos deveresinerentes ao cargo exercido, à indignidade revelada nesseexercício e à absoluta perda de confiança da comunidade

     para que o arguido possa continuar a desempenhar essasfunções policiais.3.22 Sendo uma exigência clara, por razões de prevenção

    geral, a absoluta necessidade de afastamento do arguido doexercício de funções policiais, pelas mesmas razões, aliás,que justificaram, cautelarmente, o seu afastamento, emsede de medida de coacção.3.23 Medida de coacção que, face à pena aplicada, seextinguiu e levou à reassunção de funções policiais, o quegerou já alarme social, nomeadamente entre colegas esuperiores hierárquicos do arguido, que têm dificuldade emconfiar-lhe tarefas, para as quais o requisito da confiança

     pública é essencial! 3.24 Só a aplicação da pena acessória poderia conduzir àatenuação das exigências de prevenção geral existentes eautorizar ainda a aplicação de uma pena de prisãosuspensa na sua execução.3.25 É o próprio tribunal recorrido que reconhece que é

     periclitante o juízo de prognose social positivo que é possível formular acerca do arguido, em face dos factoscometidos e da personalidade revelada.

    3.26 Acabando a decisão recorrida, nesta parte, por sefundar apenas numa “fé cega” e não racional, já que nãoexistem sérias razões para formular qualquer juízo de

     prognose positivo;

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    3.27 Afigura-se-nos que numa ponderação global dos factos – que devem ser avaliados em toda a sua amplitude – seimpõe a aplicação ao arguido, pelo crime de corrupção

     passiva cometido, de uma pena de prisão superior a 3 anos,afigurando-se inteiramente justa, necessária e ainda dentrodos limites da sua culpa, a pena concreta de 3 anos e 6 meses de prisão.3.28 Mostrando-se ainda exigível, adequada e proporcional à culpa do arguido, a aplicação da pena acessória de

     proibição do exercício de funções policiais por idêntico período.3.29 Não o fazendo, o tribunal recorrido violou, por erro deinterpretação, o disposto nos artºs 40º, 66º, nº 1, 70º, 71º e373º, nº 1 do C. Penal.3.30 Ao omitir pronunciar-se sobre a aplicação, ou não da

     pena acessória reclamada, a decisão recorrida é nula, por omissão de pronúncia sobre questão que devia decidir – artº 379º, nº 1, al. c) do CPP – podendo a nulidade ser aindasuprida pelo tribunal recorrido.Subsidiariamente:3.31 Defende-se que na aplicação da pena acessória, relevaainda a pena única já aplicada, superior a 3 anos – poistodos os factos foram cometidos no exercício de funções

     públicas policiais - pelo que, verificando-se cumulativamente

    as circunstâncias elencadas nas alíneas a), b) e c) do nº 1do artº 66º do C. Penal, sempre se imporia a aplicação damesma pena acessória, pelo período de 3 anos e 6 meses.3.32 De qualquer modo, defende-se que não existe

     possibilidade de formular um juízo de prognose social  positivo acerca do arguido que consinta na suspensão daexecução da pena principal, em particular se esta for desacompanhada da aplicação da pena acessória.3.33 Além disso, as acentuadas exigências de prevenção

    geral que no caso ocorrem não permitem configurar sequer essa possibilidade de suspensão de execução da pena de prisão, sem que fique intoleravelmente posta em crise acredibilidade no sistema de justiça e na validade da normaincriminatório do artº 373º, nº 1 do C. Penal, mormente se,

     por não ter sido aplicada a pena acessória, for permitido aoarguido retomar o exercício das funções policiais,

     potenciando a sua reincidência em novos abusos dessasfunções, das quais o arguido se revelou indigno e para cujo

    exercício não dispõe da necessária confiança dacomunidade e dos seus camaradas de profissão! 3.34 Daí que, em caso de confirmação da medida concretada pena e não aplicação da pena acessória, se imponha a

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    efectiva execução da pena de prisão aplicada.3.35 Ao optar pela suspensão da execução da pena, otribunal recorrido violou por erro de interpretação, o dispostono artº 50º, nº 1 do C. Penal.3.36 Impondo-se sempre a sua revogação, nessa parte,com a consequente condenação em pena efectiva de

     prisão.3.37 Impondo-se, por isso, a revogação da decisão recorridae substituição por outra que, confirmando no mais odecidido, altere a base factual e a condenação do arguido D,nos termos sobreditos e condene, ainda, os arguidos G e E,como cúmplices de um crime de lenocínio, em pena nãoinferior a 1 ano de prisão, ainda que suspensa na suaexecução.3.38 Com o que se fará a costumada JUSTIÇA

    4. O Magistrado do Ministério Público junto do Tribunal aquo respondeu às motivações dos recursos interpostospelos arguidos, concluindo nos seguintes termos:

    Recurso de A e C: rejeição por manifesta falta deconclusões; não cumprimento das exigências do artigo 412º,nºs 3 e 4, do CPP; manutenção da decisão recorrida.

    Recurso de B: rejeição do mesmo ou sua improcedência.

    Recurso de D: rejeição do mesmo ou sua improcedência.

    5. A arguida G veio apresentar resposta à motivação derecurso interposto pelo Ministério Público, concluindo pelamanutenção da decisão absolutória.

    6. Nesta Relação, a Exma. Procuradora-Geral Adjuntaemitiu parecer no sentido da improcedência dos recursosinterpostos pelos arguidos e procedência do interposto peloMinistério Público.

      7. Foi cumprido o estabelecido no artigo 417º, nº 2, doCPP, tendo sido apresentada resposta pelo arguido D.

    8. Colhidos os vistos, foram os autos à conferência.

    Cumpre apreciar e decidir.

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    II - FUNDAMENTAÇÃO

    1. Âmbito do Recurso

      O âmbito do recurso é delimitado pelas conclusõesque o recorrente extrai da respectiva motivação, havendoainda que ponderar as questões de conhecimento oficioso,

    mormente os vícios enunciados no artigo 410º, nº 2, do CPP – neste sentido, Germano Marques da Silva, Curso deProcesso Penal , III, 2ª edição, Editorial Verbo, pág. 335;Simas Santos e Leal Henriques, Recursos em ProcessoPenal , 6ª edição, Edições Rei dos Livros, pág. 103, Ac. doSTJ de 28/04/1999, CJ/STJ, 1999, tomo 2, pág. 196 e Ac.do Pleno do STJ nº 7/95, de 19/10/1995, DR I Série A, de28/12/1995.

      No caso em apreço, atendendo às conclusões dasrespectivas motivações de recurso, as questões que sesuscitam, são as seguintes:

      Recurso de A e C

    Verificação da nulidade prevista no artigo 379º, nº 1, alíneab), do CPP/violação do estabelecido no artigo 32º, nºs 1 e 5,da CRP.

      Nulidade da decisão por falta de fundamentação.

      Impugnação da matéria de facto na modalidade deerro de julgamento/valoração de depoimentoindirecto/violação do princípio in dubio pro reo.

    Enquadramento jurídico-penal das condutas dos arguidos.

    Dosimetria das penas aplicadas/nulidade do acórdão quanto

    à pena aplicada à recorrente/verificação dos pressupostosda suspensão da execução da pena.

      Recurso de B

      Vícios de erro notório na apreciação da prova einsuficiência para a decisão da matéria de factoprovada/impugnação da matéria de facto na modalidade deerro de julgamento/violação do princípio in dubio pro reo.

      Enquadramento jurídico-penal da conduta doarguido.

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      Recurso de D

    Impugnação da matéria de facto na modalidade de erro de julgamento.

    Enquadramento jurídico-penal da conduta do arguido.

      Recurso do Ministério Público

      Vícios de insuficiência para a decisão da matéria defacto provada, contradição insanável da fundamentação eentre esta e a decisão e erro notório na apreciação da

    prova.  Impugnação da matéria de facto na modalidade deerro de julgamento.

    Enquadramento jurídico-penal da conduta dos arguidos E eG.

      Medida da pena aplicada ao arguido D pelo crime decorrupção/nulidade do acórdão por omissão de

    pronúncia/aplicação da pena acessória/não verificação dospressupostos de suspensão da execução da pena.

    2. A Decisão Recorrida

    O Tribunal a quo deu como provados os seguintesfactos (transcrição): 

    1 – A sociedade “A, SOCIEDADE UNIPESSOAL,LIMITADA” foi constituída em 4 de Março de 2011 e tinhacomo sócio-gerente o arguido A.2 – Em meados do ano de 2011, a sociedade “RAMOS E NUNES, LDA.”, NIPC 500226970, cedeu a exploração doestabelecimento comercial denominado “Estalagem GDR”,sito naAv. ......, à sociedade “A, SOCIEDADE UNIPESSOAL,LIMITADA”, NIPC 509791999.3 – O piso superior do edifício onde estava instalado o

    referido estabelecimento comercial é composto por umasala ampla com vários sofás e mesas, um balcão e uma pista de dança com um varão destinado a ser usado na prática de striptease.

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    4 – No piso inferior do estabelecimento encontravam-sevários quartos.5 – No dia 11 de Fevereiro de 2012, pelas 00h40m, nointerior do estabelecimento comercial denominado“Estalagem GDR”, sito naAv. ......, encontravam-se:LucianaEdenaCleusaMillany Quivia

     Aparecidae Elaine.6 – As referidas mulheres encontravam-se ali para, entreoutras coisas, praticar actos sexuais nos quartos a troco dequantias monetárias, nomeadamente cópula e coito anal eoral, com clientes do referido estabelecimento que as

     procuravam para esse efeito.7 – Na referida ocasião,Luciana foi com um indivíduo dosexo masculino para um dos quartos existentes naqueleestabelecimento, onde manteve com o mesmo relação decópula contra o pagamento da importância monetária de € 50,00 até ser surpreendida pelas autoridades policiais.8 – Na referida ocasião, o aludido estabelecimentocomercial era gerido pelo arguido A, com o auxílio do B,

    organizando o respectivo funcionamento diário e emanandoas ordens e directivas destinadas aos respectivosfuncionários.9 – As referidas mulheres também se dedicavam ali àsactividades de “alterne” e de striptease.10 – Os arguidos A e B sabiam que as referidas mulhereseram prostitutas e disponibilizaram-lhes os quartosexistentes no aludido estabelecimento para ali exercerem a

     prostituição.

    11 – Os arguidos A e B viviam então dos proveitoseconómicos resultantes das actividades das referidasmulheres, nomeadamente a participação de 50% no valor do consumo das bebidas que as mesmas conseguiaminduzir nos clientes, e a importância de € 30,00 que eracobrada a cada mulher pela utilização nocturna de cadaquarto no exercício da prostituição com um ou mais clientes.12 – No dia 11 de Fevereiro de 2012, pelas 00h40m, noâmbito da busca realizada no aludido estabelecimento,

    estando presente o arguido B, foram encontrados osseguintes bens:- a quantia de € 483,00 em notas e moedas;uma embalagem de aerossol, contendo a princípio activo 2-

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    clorobenzalmalononitrilo (com propriedades lacrimogéneas).13 – O arguido A esteve privado da liberdade, nocumprimento de um Mandado de Detenção Europeu, no

     período compreendido entre 5 de Julho e 10 de Outubro de2012.14 – Enquanto o arguido A esteve privado da liberdade, oaludido estabelecimento comercial foi gerido pelo arguido Baté 3 de Setembro de 2012, e, desde então, pela arguida C.15 – A sociedade “VIT, UNIPESSOAL, LDA.” foi constituídaem 25 de Setembro de 2012 e tinha como sócio-gerente aarguida C.16 – No dia 1 de Outubro de 2012, a sociedade “RAMOS E NUNES, LDA.”, NIPC 500226970, cedeu a exploração doreferido estabelecimento comercial denominado “EstalagemGDR” à sociedade “VIT, UNIPESSOAL, LDA.”, NIPC 199090343, pelo período de 5 anos.17 – No dia 6 de Junho de 2013, pelas 02h00m, no interior do estabelecimento comercial denominado “EstalagemGDR”, sito naAv. ......, encontravam-se:- Cátia- Sónia- Ilda- Cleusa- Carla

    - Yara- Maria- Ana- Quivia- Cecília- Sandra18 – As referidas mulheres encontravam-se ali para, entreoutras coisas, praticar actos sexuais nos quartos a troco dequantias monetárias, nomeadamente cópula e coito anal e

    oral, com clientes do referido estabelecimento que as procuravam para esse efeito.19 – Na referida ocasião, Sonia foi com um indivíduo dosexo masculino para um dos quartos existentes naqueleestabelecimento, onde esteve com o mesmo com oobjectivo de se relacionar sexualmente contra o pagamentoda importância monetária não apurada até ser surpreendida

     pelas autoridades policiais.20 – Na referida ocasião, Ilda foi com um indivíduo do sexo

    masculino para um dos quartos existentes naqueleestabelecimento, onde esteve com o mesmo com oobjectivo de se relacionar sexualmente contra o pagamentoda importância monetária de € 25,00 até ser surpreendida

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     pelas autoridades policiais.21 – Na referida ocasião, Cátia foi com um indivíduo dosexo masculino para um dos quartos existentes naqueleestabelecimento, onde esteve com o mesmo com oobjectivo de manter relação de cópula contra o pagamentoda importância monetária de € 50,00 até ser surpreendida

     pelas autoridades policiais.22 – Na referida ocasião, o aludido estabelecimentocomercial era gerido pelos arguidos A e C, organizando orespectivo funcionamento diário e emanando as ordens edirectivas destinadas aos respectivos funcionários.23 – As referidas mulheres também se dedicavam àactividade de alterne e de striptease.24 – Os arguidos A e C sabiam que as referidas mulhereseram prostitutas e disponibilizaram-lhes os quartosexistentes no aludido estabelecimento para ali exercerem a

     prostituição.25 – Os arguidos A e C viviam então dos proveitoseconómicos resultantes das actividades das referidasmulheres, nomeadamente a participação de 50% no valor do consumo das bebidas que as mesmas conseguiaminduzir nos clientes, e a importância de € 30,00 que eracobrada a cada mulher pela utilização nocturna de cadaquarto no exercício da prostituição com um ou mais clientes.

    26 – No dia 6 de Junho de 2013, pelas 2h00m, no âmbito dabusca realizada no aludido estabelecimento, estando presentes os arguidos A, C e E, foram encontrados osseguintes bens:ii) No quarto onde estava a arguida C:a. a quantia de € 665,00 em notas e moedas no interior dacarteira da arguida C;b. a quantia de USD 100,00 em notas;ii) No bar:

    a. a quantia de € 205,00 em notas no interior da caixaregistadora.27 – Naquela mesma data e local, foram encontrados osseguintes bens na posse do arguido A:a) 1 (uma) pistola semi-automática, de calibre 6,35mmBrowning, de marca STAR, modelo 1906, sem número desérie visível, munida de carregador com 5 (cinco) muniçõese com 1 (uma) munição na câmara de explosão, em boascondições de funcionamento;

    b) 14 (catorze) munições de calibre 6,35mm Browning, emboas condições de utilização;c) 1 (uma) soqueira, com 10,4 cm de comprimento e 6,3 cmde largura; (por acórdão rectificativo lavrado aos 22/06/2015

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    foi eliminado este facto dos factos provados)d) a quantia de € 390,00 em notas e moedas.28 – Naquela mesma data e e local, foram encontrados osseguintes bens na posse de Cátia:a) diversas embalagens com preservativos;b) um gel lubrificante;c) um desodorizante intímo;d) a quantia de € 30,00 em notas.29 – No dia 6 de Junho de 2013, pelas 7h00m, no âmbito dabusca realizada na residência da arguida C, sita Rua, foramencontrados os seguintes bens:i) No quarto de Cristina (filha da arguida C):a. a quantia de € 500,00 em notas, debaixo da cama;b. a quantia de USD 200,00 em notas, debaixo da cama;ii) No quarto da arguida C:a Treze folhas manuscritas, com a discriminação dasreceitas e despesas relativas ao aludido estabelecimento.b. Um cartão de visita emitido em nome do arguido Dc. Uma folha manuscrita relativa a uma escala de serviço

     policial;d. Diversos talões de caixa da empresa VIT;e. Diversos talões de Multibanco da empresa VIT;30 – O arguido A colocou anúncios no jornal diário “Correioda Manhã”, nomeadamente nas publicações saídas nos dias

    5, 6 e 27 de Dezembro de 2012, para angariar mulheres para o aludido estabelecimento.31 – O arguido A assegurava o transporte das mulheres

     para o aludido estabelecimento, indo buscá-las e levá-las alocais previamente determinados, utilizando para o efeito asviaturas com as matrículas ----------- (Opel ), ----------- (BMW 

     ) e----------- (Renault ).32 – No período compreendido entre Setembro de 2012 e 6 de Junho de 2013, o arguido E era o responsável pela

    venda de bebidas no bar do aludido estabelecimento,incluindo a respectiva contabilidade, exercendo tais funçõessob as ordens dos arguidos A e C.33 – No período compreendido entre meados de 2011 e 6 de Junho de 2013, a arguida G procedeu à limpeza diáriados quartos existentes no aludido estabelecimento, sob asordens dos arguidos A, B e C.34 – O arguido D é agente principal da Polícia de SegurançaPública, tendo desempenhado as suas funções policiais na

    Esquadra ..., no período compreendido, pelo menos, entre 3de Setembro de 2012 e 11 de Junho de 2013.35 – No referido período, o arguido D indagou várias vezes

     junto da arguida C acerca das receitas resultantes do

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    funcionamento do aludido estabelecimento, nomeadamentedas vendas de bebidas e dos “alugueres” dos quartos.36 – No dia 14 de Novembro de 2012, pelas 16h40m, oarguido D contactou telefonicamente a arguida C e disse-lheque iria haver operação policial no dia 16 de Novembro de2012 (sexta-feira), nomeadamente....37 – Ainda no dia 14 de Novembro de 2012, cerca das16h52m, o arguido D contactou telefonicamente a arguida C e disse-lhe que seria uma operação auto-stop, a realizar entre as 23 h e as 2 h.38 – Esta operação policial foi realizada no dia 16 deNovembro de 2012.39 – No dia 13 de Dezembro de 2012, pelas 15h24m, oarguido D contactou telefonicamente a arguida C e disse-lheque iria haver uma rusga, concretizando que iria comandar uma equipa e dando instruções à arguida como agir casoviesse a ser fiscalizada.40 – Esta operação policial foi realizada no dia 13 deDezembro de 2012.41 – No dia 20 de Fevereiro de 2013, pelas 17h26m, oarguido D contactou telefonicamente a arguida C e disse-lheque iria haver mega-operação policial no dia 22 de Fevereirode 2013, à tarde (sexta-feira).42 – Esta operação policial foi realizada no dia 22 de

    Fevereiro de 2013.43 – No dia 30 de Novembro de 2012, o arguido D recebeuda arguida C o cheque n.º 8400000009, sacado sobre aconta do Santander Totta n.º 31636673020 titulada pelasociedade arguida VIT , no valor de € 1.226,14, a título decontrapartida das informações sobre as operações policiais.44 – Tal cheque foi utilizado pelo arguido D para amortizar 

     prestações então em dívida no âmbito do contrato definanciamento n.º 659135 celebrado pelo referido arguido

    com a SOFINLOC – Instituição Financeira de Crédito, S.A..45 – No dia 16 de Maio de 2013, a arguida C, conforme prometera a D, diligenciou junto de um amigo – Luís – pelamarcação de uma semana de férias no Algarve durante osmeses de Julho ou Agosto desse ano a gozar pelo arguidoD a título de contrapartida das informações sobre asoperações policiais.46 – O arguido D sabia que o arguido A tinha na sua posseuma arma de fogo.

    47 – No dia 11 de Fevereiro de 2013, pelas 14h21m oarguido D procedeu à elaboração de um auto de denúnciade onde constam, os seguintes objectos dados comosubtraídos: um tablet de marca Asus; um computador de

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    marca Samsung no valor de €381; um gravador DVR 16 canais no valor de €1550; um disco rígido no valor de €200;4 garrafas de whisky, de marca Famous Grouse no valor total de €35,96; seis garrafas de whisky de marca JohnJameson no valor total de €64,20; 2 garrafas de whisky demarca John Jameson no valor total de €29,58; 3 garrafas dewhisky de marca Grant no valor total de €26,10; duasgarrafas de Rum Bacardi Limon no valor de €23,50, 4garrafas de Vodka Eristof no valor de €27,80, 4 garrafas dewhisky Cutty Sark no valor de €37,56, 2 garrafas de whisky Logan no valor de 27,02, duas garrafas de whisky JB novalor de €29,96, duas garrafas de licor Baileys Irish creamno valor de €22,40, 3 garrafas de licor Beirão no valor de€20,94, no valor total de €2.800,96.48 – Com base neste auto de denúncia elaborado peloarguido D, a arguida C entregou tal documentação naCompanhia de Seguros Liberty, apólice n.º 043/00954833/000, tendo a referida arguida sido ressarcidano valor de € 2,027,98.49 – Em Janeiro de 2013, Vítor era militar e mantinha umarelação de namoro com Filipa, filha da arguida C.50 – Em data não concretamente apurada mas anterior aodia 27 de Janeiro de 2013, Vítor solicitou ao arguido D quelhe passasse uma declaração em como teria de estar 

     presente na Esquadra da PSP ... para que assim ficassedesobrigado de se apresentar na Unidade Militar, o que oarguido D aceitou fazer.51 – Na execução de tal plano o arguido D elaborou umadeclaração em papel timbrado da PSP - 89.ª esquadra ..., naqual constava que Vítor, esteve presente naquela esquadraa fim de prestar declarações na qualidade de testemunha noâmbito do NUIPC77/13.9PLSNT, no dia 25 de Janeiro de2013, pelas 14h00m, não tendo prestado declarações,

    ficando as mesmas agendadas para o dia 26/01/2013, pelas18h30m.52 – Após ter elaborado a referida declaração, a ter assinado e carimbado, o arguido D entregou-a a Vítor.53 – No dia 17 de Abril de 2013, pelas 19h04, Afonsoapresentou denúncia que deu origem ao NUIPC 172/13.4PESNT, no qual denunciou que desconhecidosentre as 20h00 do dia 14/04/2013 e as 09h00m, do dia15/04/2013 lhe subtraíram o veículo automóvel de marca

    Volkswagen, com a matrícula----- que se encontravaestacionado na Rua .......54 – O arguido A não é titular de licença de uso e porte dearma, bem sabendo que não podia deter na sua posse a

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    aludida pistola STAR, com respectivo carregador emunições de calibre 6.35mm, e não obstante detinha areferida arma e munições nas circunstâncias descritas nosautos.55 – O arguido D sabia que era exercida a actividade de

     prostituição no interior do referido estabelecimentocomercial e que os arguidos A e C auferiam vantagens

     patrimoniais dessas práticas sexuais.56 – Ao informar a arguida C das eventuais operações defiscalização levadas a cabo por elementos policiais daDivisão da PSP de Sintra à estalagem, o arguido D, agiucom o propósito de impedir e iludir actividades probatórias e

     preventivas da PSP e de evitar que A e C fossem alvo deinquérito criminal e subsequentemente submetidos aaplicação de pena por via dos factos praticados57 – O arguido D estava ciente de que por via das funçõesque exercia lhe incumbia denunciar a actividade que eraexercida no interior do estabelecimento comercial e de

     praticou actos contrários aos deveres do cargo que assumiaenquanto funcionário do Estado ao aceitar contrapartidasmonetárias da arguida C como forma de pagamento pelasinformações que de que tinha conhecimento por via dassuas funções de agente da PSP.58 – A arguida C sabia que o arguido D era agente da PSP 

    e agiu com o intuito de que aquele praticasse actoscontrários aos deveres do cargo de funcionário que exerciaquando lhe entregou o aludido cheque e lhe prometeu ogozo gratuito de semanas de férias no Algarve.59 – O arguido D, ao elaborar pelo seu punho a declaraçãoem papel timbrado da PSP- 89.ª esquadra ..., na qual constava que Vítor, esteve presente naquela esquadra a fimde prestar declarações na qualidade de testemunha noâmbito do NUIPC77/13.9PLSNT, furto ocorrido no

    estabelecimento comercial “GDR”, no dia 25 de Janeiro de2013, pelas 14h00m, não tendo prestado declarações,ficando as mesmas agendadas para o dia 26/01/2013, pelas18h30m, sabia que o conteúdo de tal documento era falso.60 – Actuou este arguido com o intuito de falsificar documentos, pondo em causa a credibilidade e segurançano tráfico jurídico – probatório dos documentos, naqualidade de Agente da PSP, em exercício de funções.61 – O arguido sabia que a entrega daquele documento

     prejudicava o Estado Português no seu interesse legítimoque os documentos ostentem os elementos verdadeiros eobtinha para Vítor um benefício, poder ausentar-se doserviço, com a falta devidamente justificada, fazendo crer na

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    Unidade Militar que se encontrava a ser inquirido comotestemunha no âmbito de um inquérito crime.62 – Os arguidos A, B, C e D agiram de forma livre,deliberada e consciente, bem sabendo que as suascondutas eram proibidas e punidas por lei.Mais se provou (arguido A):63 – O arguido A prestou declarações no final do

     julgamento, confessando os factos dados como provadosapenas na parte respeitante à arma e não manifestandoqualquer arrependimento.64 – No âmbito de onze procedimentos criminaisautónomos, o arguido A foi condenado em penas de multa,

     penas de prisão suspensa na execução e penas de prisãoefectivas – incluindo a pena mais grave e única de 7 anos e6 meses de prisão – pela prática de crimes de ofensascorporais simples, falsificação de documentos, burlassimples e qualificadas, descaminho, emissão de chequessem provisão, abuso de confiança agravado, ameaçaagravada cometidos no período compreendido entre 30 deNovembro de 1994 e 14 de Outubro de 1998, tendo a últimadecisão relativa a estas condenações transitado em julgadoem 26 de Novembro de 2007.O arguido esteve preso em execução destas condenações,

     pelo menos, entre 1 de Janeiro de 2007 e 10 de Novembro

    de 2010, tendo saído nesta data em liberdade condicional até ao termo da pena fixado em 21 de Março de 2013.65 – No âmbito de procedimento criminal que correu osseus termos no Tribunal Provincial de Ourense, emEspanha, o arguido foi condenado, por decisão datada de29 de Julho de 2011, transitada em julgado, na pena de 9anos de prisão, pela prática em Espanha, em Fevereiro eMarço de 2004, de crimes de prostituição e contra osdireitos de trabalhador estrangeiro.

    Esteve preso preventivamente por causa desta condenaçãono âmbito de cumprimento de mandado de detençãoeuropeu entre 5 de Julho e 10 de Outubro de 2012.Encontra-se actualmente recluso em cumprimento destaúltima pena, estando o termo da pena fixado em 26 deJunho de 2022.66 – O arguido nasceu em 17 de Janeiro de 1961, emMoçambique, tendo ficado logo aos 9 meses de idade aoscuidados dos avós paternos na sequência da separação dos

     progenitores.67 – O arguido cresceu num ambiente familiar tido comoharmonioso e com uma situação económica estável.68 - Aos 14 anos de idade, o arguido veio para Portugal com

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    a família, radicando-se em Lisboa, onde viveusucessivamente com a avó paterna e com a progenitora.69 - Completou o 8.º ano de escolaridade nos temposregulares e iniciou actividade laboral, tendo trabalhado deforma instável em oficinas automóveis, exploração dediscotecas, casas de alterne e lojas.70 - Manteve relacionamentos conjugais com váriasmulheres, dos quais nasceram 6 filhos com os quaismantém contactos regulares.71 - O arguido viveu com a co-arguida C em Espanha etinha um estabelecimento de diversão nocturna quandocometeu os factos pelos quais se mostra condenado.72 - Na sequência de condenações criminais sofridas emPortugal, o arguido cumpriu pena de prisão no E. P. daGuarda no período compreendido entre 2006 e 2010, onderetomou os estudos e concluiu o 12.º ano de escolaridade.73 - À data dos factos sob julgamento, o arguido vivia com aco-arguida C.74 - O arguido conta com o apoio firme da sua mãe, sendovisitado na prisão por esta, por uma antiga companheira e

     por vários amigos.75 - No meio prisional, o arguido frequenta o curso deinformática e não apresenta quaisquer problemasdisciplinares.

    Mais se provou (arguido B):76 – O arguido B prestou declarações no final do julgamento, não confessando os factos dados como provados e não manifestando qualquer arrependimento.77 – No processo n.º 223/99.3TALLE, mediante decisãotransitada em julgado em 12 de Outubro de 2005, o referidoarguido foi condenado na pena de 10 meses de prisão, pela

     prática, em 23 de Abril de 1999, de um crime de emissão decheque sem provisão.

    78 – No processo n.º 461/00.8JAAVR, mediante decisãotransitada em julgado em 31 de Maio de 2007, o referidoarguido foi condenado na pena de 6 anos de prisão, pela

     prática, em 1 de Setembro de 2000, de um crime de tráficode estupefacientes agravado.O arguido esteve preso em execução desta condenação,tendo saído em liberdade condicional em data não apuradaaté ao termo da pena fixado em 23 de Setembro de 2011.79 – O arguido nasceu em 25 de Novembro de 1951.

    80 – Não foi possível apurar as condições de vida doarguido e a elaboração do relatório social em virtude doarguido ter faltado injustificadamente à entrevista marcada

     pela DGRS e ter declarado expressamente que não estava

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    interessado na sua realização.Mais se provou (arguida C):81 – A arguida C prestou declarações no final do

     julgamento, não confessando os factos dados como provados e não manifestando qualquer arrependimento.82 – A arguida não apresenta qualquer condenação criminal averbada no respectivo registo criminal.83 – A arguida nasceu em 1 de Novembro de 1970.84 – Não foi possível apurar as condições de vida daarguida e a elaboração do relatório social em virtude daarguido ter faltado injustificadamente à entrevista marcada

     pela DGR e ter manifestado no julgamento que não estavainteressada na sua elaboração.Mais se provou (arguido D):85 – O arguido D prestou declarações logo no início do

     julgamento, confessando parcialmente os factos dadoscomo provados e declarando estar arrependido.86 – O arguido não apresenta qualquer condenação criminal averbada no respectivo registo criminal.87 – O arguido encontra-se sujeito à medida de coacção desuspensão de funções profissionais de polícia desde 7 deJunho de 2013.88 – O arguido nasceu em 20 de Dezembro de 1968, emLisboa.

    89 – Aqui integrou o agregado familiar composto pelos progenitores e por dois irmãos germanos, existindo umaforte vinculação afectiva.90 - O arguido conclui o 11.º ano de escolaridade com cercade 17 anos de idade e iniciou-se então laboralmente navenda de fruta num mercado, vindo depois a trabalhar comodistribuidor da ÁGUA DAS PEDRAS.91 - O arguido cumpriu o SMO e veio a ingressar naEsquadra da PSP de Belém em 1990, após frequência do

    Curso de Polícia na PSP.92 - Aos 24 anos de idade, o arguido casou com o actual cônjuge, tendo nascido desta relação dois filhos.93 - Para além da função policial, o arguido acumulavaainda o exercício de funções na actividade do ramoimobiliário.94 - O arguido foi destacado para a Esquadra da PSP ... em17 de Novembro de 2011 e alega que teve problemas comas chefias em virtude de “diferenças de opinião”.

    95 - No período sob julgamento, o arguido vivia com amulher e os dois filhos comuns.96 - O arguido manteve um relacionamento extra-conjugal com a co-arguida C no período sob julgamento.

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    Quanto aos factos não provados, considerou que se nãoprovaram (transcrição):

    1 – Sem prejuízo dos factos dados como provados, desdedata anterior a 4 de Novembro de 2011 até 6 de Junho de2013, outras mulheres diversas das referidas nos factosdados como provados dedicaram-se no interior do aludidoestabelecimento à prática de cópula e coito anal e oral atroco de dinheiro.2 – O aludido estabelecimento funcionava o dia inteiro ehavia funcionárias que ficavam ali permanentemente.3 – No dia 11 de Fevereiro de 2012,Solange, Miliena ,Iracema,Susana e Rita encontravam-se no interior doaludido estabelecimento para a prática de prostituição.

    4 – Na referida data Lucia já tinha entregado aos arguidos Ae B a quantia de € 30,00 em dinheiro pela utilização doquarto.5 – D auxiliava C na gestão do aludido estabelecimento.6 – No dia 6 de Junho de 2013, Cristiane, Andreea, SandraM, Geisa e Paula encontravam-se no interior do aludidoestabelecimento para a prática de prostituição.7 – Na referida ocasião, Sonia manteve relação de coito oral contra o pagamento da importância monetária de € 40,00.

    8 – A arguida C assegurava o transporte das mulheres parao aludido estabelecimento, indo buscá-las e levá-las a locais previamente determinados.9 – O arguido D recebeu bebidas da arguida C a título decontrapartida das informações prestadas sobre asoperações policiais.10 – O arguido D recebeu bebidas e dinheiro do arguido A atítulo de contrapartida das informações prestadas sobre asoperações policiais.

    11 – No dia 11 de Fevereiro de 2012, os arguidos A e Btinham na sua posse o aerossol que veio a ser apreendido

     pelas autoridades policiais.12 – No dia 6 de Junho de 2013, foi encontrado 1 (uma)soqueira, com 10,4 cm de comprimento e 6,3 cm de largurana posse do arguido A.13 – O arguido A conhecia as características do boxer,vulgo soqueira, que detinha na sua posse, bem sabendoque aquela é uma arma podia ser usada como arma letal de

    agressão, para ferir ou para matar.14 – E, mais sabendo que a mera detenção da soqueira ofaria incorrer na prática de ilícito criminal.15 – E, apesar disso, detinha aquela soqueira, nas

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    circunstâncias descritas.16 – O arguido D sabia que o arguido A não era titular delicença de uso e porte de arma17 – No período de tempo compreendido entre Setembro de2012 e 06 de Junho de 2013, o arguido D agiu com o

     propósito de facilitar a prática de actos de prostituição por  parte de Célia, Gabi, Kely, Teresa, Adriana Xavier, LisoldaVirgínia, Elaine Sousa, Milene, Cecília, Silva Menezes,conhecida por Bruna, Cleusa, conhecida por Cláudia,Vanessa, Diana, Susana, conhecida por Jessica, Camila,Liane Martins, Sandra Ferro, conhecida por “Mara”, MariaVieira, conhecida por “Luísa” e Quivia, conhecida por “Carol/Yasmin” no interior do estabelecimento comercial designado por “GDR”.18 – O arguido E assegurou o transporte para o aludidoestabelecimento das mulheres referidas nos factos dadoscomos provados.19 – O arguido E prestando auxílio aos arguidos A e C, nosmoldes descritos, para a prática de actos de prostituição

     pelas referidas mulheres assegurando o respectivotransporte para o estabelecimento comercial e ao controlar obar, nomeadamente as despesas feitas pelos clientesactuou com a vontade livre e a perfeita consciência de queao adoptar tal conduta facilitava igualmente o exercício da

     prostituição por aquelas mulheres e de cuja actividadeadvinham lucros que enriqueciam o património de todos osarguidos e do qual recebia os respectivos proventos.20 – A arguida G foi a governanta da estalagem do aludidoestabelecimento, incumbindo-lhe a respectiva gestãodurante o p