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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: 2015.0000344244 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0007305-79.2011.8.26.0283, da Comarca de Rio Claro, em que é apelante JOSE ROBERTO PERIN, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores TERESA RAMOS MARQUES (Presidente sem voto), ANTONIO CARLOS VILLEN E ANTONIO CELSO AGUILAR CORTEZ. São Paulo, 18 de maio de 2015. MARCELO SEMER RELATOR Assinatura Eletrônica Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 0007305-79.2011.8.26.0283 e o código RI000000QG51O. Este documento foi assinado digitalmente por MARCELO SEMER. fls. 1

Acórdão sobre Beto Perin doc_21520877.pdf

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  • TRIBUNAL DE JUSTIAPODER JUDICIRIO

    So Paulo

    Registro: 2015.0000344244

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283, da Comarca de Rio Claro, em que apelante JOSE ROBERTO PERIN, apelado MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SO PAULO.

    ACORDAM, em 10 Cmara de Direito Pblico do Tribunal de Justia de So Paulo, proferir a seguinte deciso: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acrdo.

    O julgamento teve a participao dos Exmos. Desembargadores TERESA RAMOS MARQUES (Presidente sem voto), ANTONIO CARLOS VILLEN E ANTONIO CELSO AGUILAR CORTEZ.

    So Paulo, 18 de maio de 2015.

    MARCELO SEMERRELATOR

    Assinatura Eletrnica

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 2

    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283Apelante: Jose Roberto Perin Apelado: Ministrio Pblico do Estado de So PauloComarca: Rio ClaroVoto n 3167

    IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Compra de votos. Captao de sufrgio. Prefeito do Municpio de Analndia acusado de adquirir combustvel em favor de eleitores para abastecimento de seus veculos. Pretenso de beneficiar candidato ao mandato seguinte de Prefeito do mesmo municpio, seu primo. Representao formulada contra o ru no mbito da Justia Eleitoral e julgada improcedente. Independncia das instncias civil e eleitoral. Aplicao do art. 12, da Lei n. 8.429/92. Ademais, improcedncia na Justia Eleitoral baseada na fragilidade das provas. Conjunto probatrio seguro. Sentena de parcial procedncia mantida. Violao de princpios constitucionais relativos Administrao Pblica. Improbidade administrativa caracterizada. Recurso desprovido.

    Trata-se de recurso de apelao contra a sentena

    de fls. 245/247, que julgou parcialmente procedente ao civil pblica

    por ato de improbidade, para condenar o ru Jos Roberto Perin nos

    termos do art. 11, caput, da Lei n 8.429/92, impondo-lhe a suspenso

    dos seus direitos polticos por quatro anos e o dever de arcar com as

    custas processuais.

    Irresignado, recorre Jos Roberto Perin (fls.

    252/269). Assevera, em sntese, que a distribuio de combustvel aos

    eleitores e seus efeitos eleitorais so de competncia da Justia

    Eleitoral, sendo que Justia Comum s haveria interesse em investigar

    se financiado com recursos pblicos. Isso porque os atos de

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 3

    improbidade seriam, por regra, praticados contra a administrao direita

    ou indireta, na conduo da mquina pblica, de modo que negcios

    particulares, sem ligao com o poder pblico, no se enquadrariam

    como improbidade administrativa. Aduz tratar-se de ilcito eleitoral que,

    inclusive, foi processado e julgado improcedente pela Justia Eleitoral.

    Acrescenta, ainda, que os fatos no poderiam ser provados

    exclusivamente por prova testemunhal, a teor do art. 401 do CPC, e que

    o depoimento de Bianca no teria valor, pois no era responsvel pelo

    controle de abastecimentos ou pela contabilidade. Concluiu que a ao

    deveria ser julgada improcedente, pois o autor no teria apontado a

    despesa que entendeu irregular nem qual o prejuzo ao Municpio de

    Analndia. Requereu a reforma da sentena para que a ao seja julgada

    improcedente.

    Recurso tempestivo.

    Foram apresentadas contrarrazes pelo Ministrio

    Pblico de So Paulo (fls. 285/291).

    A Procuradoria Geral de Justia opinou pelo

    desprovimento do apelo (fls. 294/296).

    O RELATRIO.

    Trata-se de ao civil de responsabilizao por atos

    de improbidade administrativa, ajuizada pelo Ministrio Pblico do

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 4

    Estado de So Paulo contra Jos Roberto Perin, por atos cometidos

    enquanto Prefeito do Municpio de Analndia, ao argumento de que,

    para angariar votos em favor do candidato que apoiava para o mandato

    seguinte de seu cargo, Luiz Antonio Aparecido Garbui, que, inclusive,

    seu primo e foi eleito poca, teria distribudo gratuitamente

    combustvel aos eleitores, no posto de gasolina que fornecia

    combustvel ao Municpio, inserindo os gastos em notas de empenho da

    municipalidade.

    O magistrado a quo julgou a ao

    parcialmente procedente, condenando o ru nos termos do art. 11, caput,

    da Lei n 8.429/92, e impondo-lhe a suspenso dos seus direitos

    polticos por quatro anos, por entender que, ainda que o demandado

    tenha se utilizado do prprio patrimnio para custear os gastos com os

    combustveis dos eleitores, uma vez que no ficou provada a origem do

    financiamento, teria agido em violao aos princpios da moralidade e

    impessoalidade, em afronta aos deveres de honestidade, imparcialidade

    e lealdade s instituies, o que configura ato de improbidade

    administrativa.

    O requerido recorre sem negar expressamente a

    conduta a ele imputada, aduzindo apenas que o assunto relativo

    distribuio de combustvel aos eleitores e seus efeitos eleitorais seriam

    de competncia da Justia Eleitoral, cabendo Justia Comum apenas

    investigar se financiado com recursos pblicos, o que teria sido afastado

    pela sentena.

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 5

    Argumentou que os atos improbidade seriam, por

    regra, praticados contra a administrao direita ou indireta, na conduo

    da mquina pblica, de modo que negcios particulares, sem ligao

    com o poder pblico, no se enquadrariam como improbidade

    administrativa.

    Acrescentou tratar-se de ilcito eleitoral que,

    inclusive, foi processado e julgado improcedente pela Justia Eleitoral.

    Todavia, a tese no prospera.

    Primeiramente, apenas a ttulo de esclarecimento,

    convm assinalar que a improcedncia da representao formulada na

    Justia Eleitoral contra o ru baseou-se na fragilidade das provas

    contidas nos autos (confira-se o Acrdo do TRE fls. 42/48 mantendo a

    sentena de improcedncia de fls. 49/57), tambm porque no foi

    possvel a realizao de instruo probatria, por fora de deciso

    judicial do Tribunal Regional Eleitoral, que concedeu a segurana ao

    ru em mandado de segurana impetrado para que o julgamento no

    fosse convertido em diligncia (mencionado a fls. 47 e 58).

    Ademais, o objeto daquela representao mais

    amplo do que o debatido nestes autos, que se restringe mercancia de

    votos mediante entrega de combustvel aos eleitores, sendo que naquele

    discutiam-se tambm, por exemplo, o pagamento irregular de tributos, a

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    promoo de conserto em automvel de eleitor, etc., para captao de

    sufrgio, entre outros.

    Demais disso, ainda que assim no fosse, a deciso

    da Justia Eleitoral no vinculativa na esfera da Justia Comum

    Estadual.

    Isso porque as esferas cvel e eleitoral so distintas

    e autnomas entre si, com escopos diversos, de sorte que a coisa julgada

    ocorrida na Justia Eleitoral no tem o condo de transcender seus

    efeitos para o mbito da esfera cvel.

    Alis, o entendimento encontra respaldo na

    jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia, em acrdo assim

    ementado:

    ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AO CIVIL PBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO MUNICIPAL. PROPAGANDA DE CARTER PESSOAL. COISA JULGADA. NO OCORRNCIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. "Uma ao idntica outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido" (art. 301, 2, do CPC). 2. No caso, no h coisa julgada entre a ao apreciada pela Justia Eleitoral, na qual a coligao adversria do ora recorrido postulou o reconhecimento de afronta ao art. 73, VII, da Lei 9.504/97, por excesso de gastos com publicidade no perodo pr-eleitoral, e a presente ao civil pblica, na qual o recorrente

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 7

    busca a condenao do recorrido por ato de improbidade decorrente do uso de verbas pblicas para o custeio de propaganda de carter pessoal. 3. Recurso especial conhecido e provido para afastar a ocorrncia de coisa julgada e determinar o retorno dos autos origem para regular prosseguimento do feito. (REsp 1213994/MT. Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima. rgo Julgador: Primeira Turma. Data do Julgamento)

    Ademais, o art. 12, da Lei n. 8.429/92 estabelece

    que a punio pela prtica de ato de improbidade administrativa

    independe de qualquer outra sano de natureza penal, civil ou

    administrativa, nesses termos:

    Art. 12. Independentemente das sanes penais,

    civis e administrativas previstas na legislao especfica, est o

    responsvel pelo ato de improbidade sujeito s seguintes cominaes,

    que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a

    gravidade do fato (...)

    Feita a ressalva, temos que o princpio

    constitucional da moralidade e a conduta compatvel com a probidade

    administrativa so exigncias dirigidas ao agente pblico que devem ser

    observadas mesmo nos atos da vida privada, quando da realizao de

    atitudes no consideradas eminentemente particulares, mas que de

    alguma forma ofendem valores a serem respeitados, e mais ainda,

    defendidos por aquele que serve (ou deveria servir) ao interesse pblico.

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 8

    Da prova amealhada aos autos, tem-se o

    depoimento de Cludio Roberto Noviscki, gerente do Auto Posto

    Analandense at o fim de 2008, afirmando que: nos meses que

    antecederam as eleies, pessoas chegavam para abastecer seus

    veculos e pediam para ligar para o prefeito Beto Perin ou as irms

    Sandra e Silvana, porque eles iriam autorizar o abastecimento; os

    frentistas telefonavam e obtinham as autorizaes, diretamente dos trs

    irmos referidos; liguei poucas vezes para obter as autorizaes, mas

    liguei; liguei mais para o Beto Perin, que autorizava; eu ligava,

    passava o nome da pessoa e de onde ela era, e ele autorizava; isso era

    normal; antes das eleies tambm acontecia, mas menos; na poca

    das eleies, logo antes, isso ocorreu bem mais; (...) Eu desconfiava

    que o combustvel estava sendo doado para a eleio; a Prefeitura de

    Analndia abastecia os veculos no mesmo posto (...) (fls. 164)

    Marcos Antonio Rodrigues, frentista do Auto Posto

    Analandense na referida poca de eleies, consignou que logo antes

    das eleies de 2008, aumentou o nmero de pessoas indo abastecer o

    veculo no local; nessa poca, muitas pessoas abasteceram

    gratuitamente seus veculos com autorizao do Beto Perin a fim de

    que ele autorizasse e dissesse quanto poderamos abastecer; vrias

    dessas pessoas diziam que o abastecimento gratuito era para que elas

    votassem no candidato Luizinho, candidato a prefeito; a maioria das

    pessoas eram de fora da cidade; nas conversas muitas pessoas tambm

    diziam que tinham ido l transferir o ttulo para Analndia e como

    agradecimento ganhavam o abastecimento; no dia da eleio eu no

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 9

    trabalhei, mas vi que o movimento do posto, de pessoas de fora, era

    muito grande; tambm houve um grande movimento de pessoas de fora,

    para abastecer seus veculos em dia de carreata; esses abastecimentos

    eram uma forma de o Beto Perin 'ressarcir' esses eleitores de fora da

    cidade pela sua locomoo (fls. 166).

    Ademais, Bianca Braune Silveira, poca

    Assistente Administrativo da Prefeitura, aduziu que: no incio

    trabalhei na recepo e cuidava tambm das despesas de viagem dos

    motoristas; aps as eleies de 2008, fui trabalhar no caixa onde

    desempenhei tal funo entre outubro e dezembro; era de rotina, a

    pedido de Beto Perin, eu ligar para o posto de gasolina para que fosse

    abastecido o carro de determinada pessoa com quantos litros; isso

    ocorreu com maior intensidade no ano de 2008, de eleio; afirmo isso

    porque essas ligaes eu fazia quando eu estava na recepo (...) (fls.

    168/168v).

    Em favor do ru, foi arrolada a testemunha Fabrcio

    Aparecido Muniz, funcionrio da Prefeitura responsvel pelas

    requisies de abastecimento de combustvel das viaturas municipais, o

    qual afirmou desconhecer as ocorrncias narradas nos autos, afirmando

    no haver aumentado a despesa com combustvel na poca que

    antecedeu as eleies (fls. 170).

    Colheu-se tambm o depoimento de Roseli Ramella

    Suzigan, a qual asseverou que se recorda que o marido e o filho da

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    Apelao n 0007305-79.2011.8.26.0283 -Voto n 3167 10

    depoente transferiram o ttulo para Analndia a pedido de Jos

    Roberto Perin, prximo das eleies de 2008. (...) Que se recorda que

    no dia da eleio, Jos Roberto forneceu combustvel para o carro do

    marido da depoente (...). Que foram ao posto de gasolina, o frentista

    ligou para Jos Roberto e ele autorizou o abastecimento. (...) Que a

    depoente sentiu-se pressionada a transferir o ttulo porque tem duas

    irms que trabalham na Prefeitura de Analndia e porque Jos Roberto

    insistiu na transferncia. (...) Que a depoente se considera amiga de

    Jos Roberto, que cresceram juntos, mas ficou preocupada porque o

    ttulo de eleitor no reflete a verdadeira situao da depoente e de sua

    famlia (fls. 212/213).

    Posto isso, e considerada a prova contida nos autos,

    onde empregados do Auto Posto Analandense, o gerente e o frentista,

    confirmam de forma unssona terem abastecido diversos veculos em

    perodo anterior eleio, a pedido do ru, inclusive com a informao

    que se destinavam a eleitores, notcia corroborada pela funcionria do

    municpio poca e por eleitora, considerada amiga do prprio ru,

    mostra-se indubitvel a prtica dos atos narrados na inicial, do custeio

    pelo ru de combustveis dos eleitores.

    Com efeito, imputa-se ao ru a mercancia de votos

    dos eleitores de Analndia, com o fito de favorecer candidato por ele

    apadrinhado. Conduta ilcita que, embora se aponte a improcedncia da

    investigao no mbito da Justia Eleitoral, no foi rechaada

    categoricamente nas razes recursais e ficou amplamente demonstrada

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    na prova oral.

    Sequer procede a aventada imparcialidade da

    funcionria Bianca, por se tratar de desafeto do ru, visto que o teor do

    seu depoimento no ficou isolado dos autos, pelo contrrio, foi

    largamente respaldado.

    Como se v, a atuao danosa lisura das eleies

    que lhe atribuda est indissociavelmente relacionada com o seu

    modus operandi com a coisa pblica, o que prejudica o interesse

    pblico de ver eleito candidato que melhor atenda s demandas sociais,

    em escolha livre do povo, para que fosse conduzido ao cargo de prefeito

    seu primo, Luiz Antonio Aparecido Garbui, pessoa relacionada com

    seus interesses particulares.

    Ainda que se considere haver o financiamento do

    combustvel sado de seus prprios rendimentos o que no se sabe ao

    certo, uma vez que a improcedncia da ao neste ponto se deu por

    insuficincia de provas , o ru utilizou-se tanto do pessoal da Prefeitura,

    como da estrutura disponvel para execuo das atividades municipais

    (como se viu, algumas das autorizaes de venda eram realizadas pela

    funcionria Bianca Braune Oliveira, que efetuava ligaes para o posto

    de combustvel a pedido do ru, durante o expediente, fazendo uso do

    telefone da Prefeitura), alm do que a livre mercancia desenvolvida no

    posto de combustvel, cujas vendas eram sempre concretizadas por meio

    de simples autorizaes pela via telefnica, apenas foi possvel em

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    virtude da credibilidade de que gozava por ocupar o cargo de Prefeito

    do Municpio de Analndia.

    Assim, no sobejam dvidas de que a conduta

    narrada nos autos consiste em franco desvio de moralidade e importa

    em violao aos deveres de honestidade, imparcialidade e lealdade s

    instituies, tutelados pelo Art. 11, caput, da Lei de Improbidade

    Administrativa.

    A alta reprovabilidade dos atos fica ainda mais

    evidente, quando se tem em vista a tipificao como crime de captao

    de sufrgio, nos termos do art. 41-A, caput, da Lei n 9.504/94 (Art. 41-

    A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captao de

    sufrgio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou

    entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem

    pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou funo pblica,

    desde o registro da candidatura at o dia da eleio, inclusive, sob

    pena de multa de mil a cinqenta mil Ufir, e cassao do registro ou do

    diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei

    Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.).

    A proteo moralidade, honestidade,

    imparcialidade e lealdade s instituies encontra amplo respaldo

    constitucional:

    Art. 5, inciso LXXIII. Qualquer cidado parte

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    legtima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao

    patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe,

    moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico

    e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas

    judiciais e do nus da sucumbncia; (g.n.)

    Art. 14, 9. Lei complementar estabelecer

    outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessao, a fim de

    proteger a probidade administrativa, a moralidade para exerccio de

    mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e

    legitimidade das eleies contra a influncia do poder econmico ou o

    abuso do exerccio de funo, cargo ou emprego na administrao

    direta ou indireta. (g.n.)

    Art. 37, caput. A administrao pblica direta e

    indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito

    Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade,

    impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia (...) (g.n.)

    E na Lei de Improbidade Administrativa (Lei n

    8.429/92)

    Art. 4 Os agentes pblicos de qualquer nvel ou

    hierarquia so obrigados a velar pela estrita observncia dos

    princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no

    trato dos assuntos que lhe so afetos. (g.n.)

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    Art. 11, caput: Constitui ato de improbidade

    administrativa que atenta contra os princpios da administrao

    pblica qualquer ao ou omisso que viole os deveres de honestidade,

    imparcialidade, legalidade, e lealdade s instituies (g.n.)

    Hipteses semelhantes j foram enfrentadas por esta

    Egrgia Corte de Justia:

    Improbidade administrativa. Agravos retidos no conhecidos (art. 523, 1, do CPC). Eleio para presidente da Cmara de Santa Isabel. Compra e venda de votos. Mercancia com o mandato eletivo. Corrupo dos costumes polticos que atenta contra a moralidade nos termos do art. 11 da LIA. Tipicidade reconhecida. Afastamento das preliminares de prova ilcita e ilegal (gravao de conversas por interlocutor e utilizao de prova emprestada), de insuficincia de fundamentao e de prescrio. Prova dos autos legtima, legal e conforme o devido processo legal, e autoriza o acolhimento da pretenso nos limites da sentena recorrida cujos fundamentos so adotados nos termos do art. 252 do RITJSP. Recursos de apelao improvidos. (Apelao n 9158271-76.2008.8.26.0000. Relator: Luis Fernando Camargo de Barros Vidal. Comarca: Santa Isabel. rgo julgador: 4 Cmara de Direito Pblico. Data do julgamento: 17/02/2014)

    EMBARGOS INFRINGENTES. Improbidade administrativa. Promessa de compra de voto por vereador candidato reeleio. Votos vencedores pela no aplicao da Lei 8429/92 porque o ilcito no foi praticado na qualidade de vereador, mas de

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    candidato reeleio e voto vencido por manter a condenao por ato de improbidade administrativa, com acrscimo das penas de perda da funo pblica e multa civil. Concluso, aps melhor reflexo sobre o tema, de que a promessa de compra de voto constitui manobra ilcita e desonesta para a conquista de um cargo pblico eletivo, remunerado pelos cofres pblicos, por isso com ofensa moralidade administrativa. Condenao mantida, com acrscimo de multa civil razo de dez vezes o valor da ltima remunerao percebida como vereador, mas sem a pena de perda da funo pblica, porque j imposta no mbito eleitoral e o mandato estaria prestes a expirar. Embargos parcialmente acolhidos. (Embargos Infringentes n 0002862-32.2009.8.26.0097. Relator: Edson Ferreira. Comarca: Buritama. rgo julgador: 12 Cmara de Direito Pblico. Data do julgamento: 03/10/2012)

    Desta feita, por todos os motivos ventilados, de

    rigor a manuteno da condenao de Jose Roberto Perin, tal como

    fixado em sentena.

    Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao

    recurso de apelao.

    MARCELO SEMER

    RELATOR

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