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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 971.962 - RS (2007/0178096-5) RELATOR RECORRENTE PROCURADOR RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO INTERES. ADVOGADO : : : : : : : : MINISTRO HERMAN BENJAMIN FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE JOAQUIM PAULO GARCIA GODINHO E OUTRO(S) GIL BARLEM MARTINS E OUTROS EVERTON PEREIRA DE MATTOS E OUTRO(S) MINISTRIO PBLICO FEDERAL SRGIO AMARAL CAMPELLO PAULO HENRIQUE ARIGONY SOUTO

EMENTA

ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. AO CIVIL PBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTRIO PBLICO RECONHECIDA. SMULA 329/STJ. CONCESSO DE VANTAGENS FINANCEIRAS. DIPLOMAS DE INSTITUIES ESTRANGEIRAS. REVALIDAO. NECESSIDADE. OFENSA PORTARIA MINISTERIAL. NOCABIMENTO. 1. Cuida-se, originariamente, de Ao Civil Pblica ajuizada pelo Ministrio Pblico Federal contra a Fundao pblica ora recorrente e outros particulares, objetivando a declarao de nulidade dos atos de concesso de vantagens financeiras decorrentes de progresso funcional baseada na utilizao de diplomas estrangeiros. 2. O Parquet possui legitimidade ativa para propor Ao Civil Pblica que visa reparao de dano ao patrimnio pblico (Smula 329/STJ). 3. De acordo com o art. 48 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lei 9.394/1996, cabe s Universidades Pblicas a revalidao dos diplomas expedidos por instituies de ensino estrangeiras. 4. No se conhece da ofensa Portaria MEC 475/1987, em Recurso Especial, tendo em vista que esse ato normativo desprovido de status de lei federal, nos moldes previstos pela legislao de regncia especfica. Precedente do STJ. 5. O Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Estados Partes do Mercosul (promulgado pelo Decreto Legislativo 5.518/2005) no afasta a obedincia ao processo de revalidao previsto na Lei 9.394/1996. 6. Recursos Especiais parcialmente conhecidos e no providos.

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Superior Tribunal de Justia"A Turma, por unanimidade, conheceu em parte de ambos os recursos e, nessa parte, negou-lhes provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. Braslia (DF), 25 de novembro de 2008(Data do Julgamento)

MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 971.962 - RS (2007/0178096-5) RELATOR RECORRENTE PROCURADOR RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO INTERES. ADVOGADO : : : : : : : : MINISTRO HERMAN BENJAMIN FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE JOAQUIM PAULO GARCIA GODINHO E OUTRO(S) GIL BARLEM MARTINS E OUTROS EVERTON PEREIRA DE MATTOS E OUTRO(S) MINISTRIO PBLICO FEDERAL SRGIO AMARAL CAMPELLO PAULO HENRIQUE ARIGONY SOUTO RELATRIO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Trata-se de Recursos Especiais interpostos, com fundamento no art. 105, III, "a", da Constituio da Repblica, contra acrdo assim ementado (fl. 1059):AO CIVIL PBLICA. DELIBERAO N 059/2001 DO COEPE. TITULAO DE MESTRE OU DOUTOR. DIPLOMAS NO-RECONHECIDOS COM BASE NA LDB. PROGRESSO FUNCIONAL. CONCESSO DE VANTAGENS FINANCEIRAS.SUSPENSO. Na medida em que a Lei de Diretrizes e Bases no dispensa de reconhecimento e de revalidao os diplomas de cursos realizados em universidades estrangeiras, ainda que mediante convnios, afigura-se ilegal a concesso de vantagens financeiras provenientes de progresso funcional deferida com base em diplomas reconhecidos internamente pela instituio de ensino superior. A comprovao de fato novo - reconhecimento do ttulo de doutorado nos termos da lei aplicvel espcie junto Universidade Federal de Pernambuco, que, por sua vez, est autorizada a reconhecer e revalidar diplomas de ps-graduao na forma estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases - conduz extino do processo sem resoluo do mrito por ausncia superveniente do interesse de agir.

A Fundao Universidade Federal do Rio Grande sustenta que houve violao do art. 1 da Lei 7.347/1985 e dos arts. 3, 5 e 7 da Lei 7.596/1987. Afirma que o Ministrio Pblico no possui legitimidade para "promover a tutela de interesses especficos do errio, que envolvem um universo delimitado e identificado de indivduos, como ocorre no presente caso (a ao pretende a anulao da progresso funcional outorgada a quarto servidores, devidamente identificados)" (fl. 1123). Defende, ainda, que o art. 34 da PortariaDocumento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 3 de 13

Superior Tribunal de JustiaMEC 475/1987 exige apenas o "reconhecimento interno" dos ttulos acadmicos para fins de progresso funcional. Os particulares alegam que o acrdo recorrido negou vigncia ao Decreto Legislativo 800/2003, ao Decreto Legislativo 5.518/2005 e ao art. 5 da Lei 9.394/1996. Asseveram que os diplomas em questo independem de revalidao, pois so oriundos de pases integrantes do Mercosul. Afirmam, tambm, que o art. 34, inciso IV, da Portaria MEC 475/1987 compatvel com o artigo 48, 3, da Lei 9.397/1996. Foram apresentadas contra-razes s fls. 1140-1145. O Tribunal de origem admitiu os Recursos Especiais (fls. 1155-1156). O Ministrio Pblico Federal opinou pelo no-provimento dos apelos (fls. 1166-1173). o relatrio.

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 971.962 - RS (2007/0178096-5)

VOTO O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Cuida-se, originariamente, de Ao Civil Pblica ajuizada pelo Ministrio Pblico Federal contra a Fundao pblica ora recorrente e outros particulares, objetivando a declarao de nulidade dos atos de concesso de vantagens financeiras decorrentes de progresso funcional baseada na utilizao de diplomas estrangeiros. O Tribunal de origem concluiu que o Parquet tem legitimidade para propor a ao em questo e que o Decreto Legislativo 800/2003 no dispensa a revalidao dos ttulos de graduao e ps-graduao provenientes dos Estados integrantes do Mercosul, consoante se verifica no excerto seguinte (fls. 1056-1058):Inicialmente, quanto preliminar de no-cabimento da ao civil pblica visando a tutelar o patrimnio pblico, merece ser rechaada com base nos precedentes que ora colaciono: (...) 2. A ao civil pblica o meio adequado para o ressarcimento de danos ao errio, tendo o Ministrio Pblico legitimidade para prop-la. 3. Recurso especial provido. (STJ, RESP 422729/SP, SEGUNDA TURMA, Re1ator(a) CASTRO MEIRA, DJ de 30/05/2005, PGINA:273) (...) 1. O art. 1, inciso IV, da Lei n. 7.347/85, recepcionado pela Carta Magna de 1988, estabelece que regem-se pela Lei da Ao Civil Pblica, sem prejuzo da ao popular, as aes que visam resguardar a integridade do patrimnio pblico atingido por contratos celebrados sem licitao, no importando se a ao civil pblica foi proposta em data anterior vigncia da Lei n. 8.625/93. (...) (STJ, RESP 174967/MG, Relator(a) JOO OTVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA,DJ DATA:20/06/2005 PGINA:178) (...) 2. A concesso de vantagem legalmente vedadaDocumento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 5 de 13

Superior Tribunal de Justia(artigo 2 da Lei Estadual n 7.758/89) a servidores requisitados para o exerccio de funo gratificada enseja a propositura de ao civil pblica, visando defesa do patrimnio pblico. 3. Recurso provido. (STJ, RESP 468292/PB, SEXTA TURMA, Relator(a) HAMILTON CARV ALHIDO, DJ DATA:15/03/2004, PGINA:308)

(...)Relativamente ao Decreto Legislativo n 800/2003, que estabelece acordo de admisso de ttulos e graus universitrios para o exerccio de atividades acadmicas nos Estados integrantes do MERCOSUL, nos termos do seu art. 3, no dispensa que os ttulos de graduao e ps-graduao sejam devidamente validados pela legislao vigente nos Pases Membros.

Tendo em vista a similaridade dos argumentos aduzidos nos dois Recursos Especiais interpostos, analiso em conjunto os apelos da FURG e dos particulares.

1. Da legitimidade do Ministrio Pblico para ajuizar a demanda

A ao originria objetiva a anulao de atos que concederam vantagens financeiras a vrios beneficiados com progresso funcional, em decorrncia da apresentao de diplomas de cursos realizados em instituies de ensino estrangeiras, os quais somente foram reconhecidos internamente pela Fundao Universidade Federal do Rio Grande. Aps detida anlise do caso em apreo, constato que o Ministrio Pblico busca, sobretudo, a proteo ao patrimnio pblico, em virtude da concesso a servidores de vantagens pecunirias em confronto disposio legal. Fica evidente a legitimidade do Parquet em propor Ao Civil Pblica em casos como o presente, consoante dispe a Smula 329/STJ, in verbis :

O Ministrio Pblico tem legitimidade para propor ao civil pblica em defesa do patrimnio pblico.

Cito os precedentes:PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO - AO CIVIL PBLICA - LEGITIMIDADE DO MINISTRIO PBLICO - LEIS N. 8.625/93 E N. 7.347/83 - DANO AMBIENTAL - CERAMISTAS EXTRAO DE BARRO - ALVAR - LICENCIAMENTO - PROJETO DEDocumento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 6 de 13

Superior Tribunal de JustiaRECUPERAO HOMOLOGADO NO IBAMA - INTERESSE DO MP NO PROSSEGUIMENTO DA AO CIVIL PBLICA QUE DISCUTE DANO AMBIENTAL E SUA EXTENSO - POSSIBILIDADE. 1 - o Ministrio Pblico parte legtima para propor ao civil pblica na defesa do patrimnio pblico, a entendido os patrimnios histrico, paisagstico, cultural, urbanstico, ambiental etc., conceito amplo de interesse social que legitima a atuao do parquet. 2 - A referida legitimidade do Ministrio Pblico para ajuizar tais aes prevista in satus assertionis, ou seja, conforme a narrativa feita pelo demandante na inicial ("teoria da assero"). 3 - Ainda que exista acordo realizado no mbito administrativo (IBAMA) com as empresas demandadas, resta o interesse de agir do Ministrio Pblico na busca da comprovao da exata extenso dos danos e na reparao. Instncias administrativa e judicial que no se confundem, de modo a no gerar obstculo algum para o exerccio da jurisdio. 4 - No viola o art. 535 do CPC, acrdo que adota fundamentao suficiente para dirimir a controvrsia, ainda que conclua contrariamente ao interesse do recorrente. Recurso especial provido em parte, para reconhecer a legitimidade do Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais e o interesse de agir na ao civil pblica. Determino a devoluo dos autos ao Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais para que prossiga no julgamento, enfrentando o mrito da questo como entender de direito. (REsp 265.300/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/09/2006, DJ 02/10/2006 p. 247, grifei). PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AO CIVIL PBLICA. ATO DE IMPROBIDADE. CAPACIDADE POSTULATRIA. ARTIGO 25, IV, "B", DA LEI 8.625/93. LEGITIMATIO AD CAUSAM DO PARQUET. ARTS. 127 E 129 DA CF/88. PATRIMNIO PBLICO. DEVER DE PROTEO. 1. A Constituio Federal de 1988 conferiu ao Ministrio Pblico o status de instituio permanente, essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis (artigo 129, caput). 2. Deveras, o Ministrio Pblico est legitimado a defender os interesses pblicos patrimoniais e sociais, ostentando, a um s tempo, legitimatio ad processum e capacidade postulatria que pressupe aptido para praticar atos processuais. que essa capacidade equivale a do advogado que atua em causa prpria. Revelar-se-ia contraditio in terminis que o Ministrio Pblico legitimado para a causa e exercente de funo essencial jurisdio pela sua aptido tcnica fosse instado a contratar advogado na sua atuao pro populo de custos legis. 3. A ratio essendi da capacidade postulatria vem expressa no art. 36 do CPC, verbis: "A parte ser representada em juzo por advogado legalmente habilitado. Ser-lhe- lcito, no entanto, postular em causa prpria, quando tiver habilitao legal ou, no a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou impedimento dos que houver". 4. que a Carta de 1988, ao evidenciar a importncia da cidadania no controle dos atos da administrao, com a eleio dos valores imateriais do art.Documento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 7 de 13

Superior Tribunal de Justia37, da CF/1988 como tutelveis judicialmente, coadjuvados por uma srie de instrumentos processuais de defesa dos interesses transindividuais, criou um microssistema de tutela de interesses difusos referentes probidade da administrao pblica, nele encartando-se a Ao Popular, a Ao Civil Pblica e o Mandado de Segurana Coletivo, como instrumentos concorrentes na defesa desses direitos eclipsados por clusulas ptreas. 5. Destarte, mister ressaltar que a nova ordem constitucional erigiu um autntico 'concurso de aes' entre os instrumentos de tutela dos interesses transindividuais e, a fortiori, legitimou o Ministrio Pblico para o manejo dos mesmos. 6. Legitimatio ad causam do Ministrio Pblico luz da dico final do disposto no art. 127 da CF, que o habilita a demandar em prol de interesses indisponveis, na forma da recentssima smula n 329, aprovada pela Corte Especial em 02.08.2006, cujo verbete assim sintetiza a tese: "O Ministrio Pblico tem legitimidade para propor ao civil pblica em defesa do patrimnio pblico". (...) 8. Conseqentemente a Carta Federal outorgou ao Ministrio Pblico a incumbncia de promover a defesa do interesse patrimonial pblico e social, em funo do bem comum maior a proteger, derivado da prpria fora impositiva dos preceitos de ordem pblica, podendo para tanto, exercer outras atribuies previstas em lei, desde que compatvel com sua finalidade institucional (CF/1988, arts. 127 e 129). 9. Outrossim, Impe-se, ressaltar que o artigo 25, IV, "b", da Lei 8.625/93 permite ao Ministrio Pblico ingressar em juzo, por meio da propositura da ao civil pblica para "a anulao ou declarao de nulidade de atos lesivos ao patrimnio pblico ou moralidade administrativa do Estado ou de Municpio, de suas administraes indiretas ou fundacionais ou de entidades privadas de que participem". 10. Deveras, o Ministrio Pblico, ao propor ao civil pblica por ato de improbidade, visa a realizao do interesse pblico primrio, protegendo o patrimnio pblico, com a cobrana do devido ressarcimento dos prejuzos causados ao errio municipal, o que configura funo institucional/tpica do ente ministerial, a despeito de tratar-se de legitimao extraordinria. 11. cedio na doutrina ptria que "o bacharel em direito regularmente inscrito no quadro de advogados da OAB tem capacidade postulatria (EOAB 8, 1 e ss). Tambm a possui o membro do MP, tanto no processo penal quanto no processo civil, para ajuizar a ao penal e a ACP (CF 129, III; CPC 81; LACP 5; CDC 82, I; ECA 210 I)." (Nelson Nery Jnior In "Cdigo de Processo Civil Comentado e Legislao Processual Civil Extravagante em Vigor, 5 Edio, Editora Revista dos Tribunais, pgina 429). 12. Recurso especial desprovido. (REsp 749.988/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/08/2006, DJ 18/09/2006 p. 275).

2. Da necessidade de revalidao dos diplomas oriundos de instituies de ensino estrangeirasDocumento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 8 de 13

Superior Tribunal de JustiaDe acordo com o art. 48 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lei 9.394/1996, cabe s Universidades Pblicas a revalidao dos diplomas expedidos por instituies de ensino estrangeiras, in verbis :

Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, tero validade nacional como prova da formao recebida por seu titular. (...) 2 Os diplomas de graduao expedidos por universidades estrangeiras sero revalidados por universidades pblicas que tenham curso do mesmo nvel e rea ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais de reciprocidade ou equiparao. 3 Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por universidades estrangeiras s podero ser reconhecidos por universidades que possuam cursos de ps-graduao reconhecidos e avaliados, na mesma rea de conhecimento e em nvel equivalente ou superior. (grifei).

Por outro lado, os recorrentes afirmam que o art. 34, inciso IV, da Portaria MEC 475/1987 dispe que, para fins de progresso funcional, basta o reconhecimento da validade dos ttulos no mbito das Instituies Federais de Ensino, o que no se confunde com o processo de revalidao previsto na Lei 9.394/1996, nos moldes do dispositivo acima mencionado. Verifico que, na verdade, os recorrentes defendem a violao de disposio prevista em Portaria Ministerial que no pode ser conhecida em Recurso Especial, tendo em vista que esse ato normativo no possui status de lei federal, nos moldes previstos pela legislao de regncia especfica. Com esse entendimento:

PROCESSUAL CIVIL. AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SMULA 282 DO STF. CONCEITO DE "LEI FEDERAL" PARA FINS DO ART. 105, III, DA CF. (...) PRECEDENTES. (...) 2. A jurisprudncia assentada no STJ considera que, para efeito de cabimento de recurso especial (CF, art. 105, III), compreendem-se no conceito de lei federal os atos normativos (= de carter geral e abstrato), produzidos por rgo da Unio com base em competncia derivada da prpria Constituio, como so as leisDocumento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 9 de 13

Superior Tribunal de Justia(complementares, ordinrias, delegadas) e as medidas provisrias, bem assim os decretos autnomos e regulamentares expedidos pelo Presidente da Repblica (Emb.Decl. no Resp 663.562, 2 Turma, Min. Castro Meira, DJ de 07.11.05). No se incluem nesse conceito os atos normativos secundrios produzidos por autoridades administrativas, tais como resolues, circulares e portarias (Resp 88.396, 4 Turma, Min. Slvio de Figueiredo, DJ de 13.08.96; AgRg no Ag 573.274, 2 Turma, Min. Franciulli Netto, DJ de 21.02.05), instrues normativas (Resp 352.963, 2 Turma, Min. Castro Meira, DJ de 18.04.05), atos declaratrios da SRF (Resp 784.378, 1 Turma, Min. Jos Delgado, DJ de 05.12.05), ou provimentos da OAB (AgRg no Ag 21.337, 1 Turma, Min. Garcia Vieira, DJ de 03.08.92). (...) 7. Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido. (REsp 879.221/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18.09.2007, DJ 11.10.2007 p. 306, grifei).

Portanto, constato que no houve violao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, corretamente. Ademais, ressalto que no merece guarida o argumento de que os ttulos acadmicos oriundos de pases integrantes do Mercosul prescindem de procedimento de revalidao pelas Universidades pblicas. O Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Estados Partes do Mercosul, promulgado pelo Decreto Legislativo 5.518/2005, prev o seguinte: Lei 9.394/1996, pois o aresto do Tribunal de origem a aplicou

Artigo Primeiro: Os Estados partes, por meio de seus organismos competentes, admitiro, unicamente para o exerccio de atividades de docncia e pesquisa nas instituies de ensino superior do Brasil, nas universidades e institutos superiores no Paraguai, nas instituies universitrias na Argentina e no Uruguai, os ttulos de graduao e ps-graduao reconhecidos e credenciados nos Estados Partes, segundo procedimentos e critrios a serem estabelecidos para a implementao deste acordo. (grifei).

Fica evidente que o mencionado acordo no afasta a obedincia ao processo de revalidao, muito pelo contrrio, deixa expressa a necessidade de obedincia aos "procedimentos e critrios" prprios. Nesse aspecto, concordo com a sentena de 1 grau: "enquanto o Acordo noDocumento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 1 0 de 13

Superior Tribunal de Justiafor devidamente regulamentado, vale a exigncia de revalidao exigida pelo art. 48 da LDB" (fl. 843). Em caso semelhante, o e. Ministro Mauro Campbell, no julgamento do Recurso Especial 939.880/RS, assim proferiu seu voto:

(...) Chega-se ao entendimento de que a Conveno no outorga este direito revalidao ou ao reconhecimento automtico pela mera leitura do dispositivo supostamente violado neste recurso especial. Confira-se: Art. 5- Os Estados Contratantes se comprometem a adotar as medidas necessrias para tornar efetivo, o quanto antes possvel, para efeito de exerccio de profisso, o reconhecimento dos diplomas, ttulos os graus de educao superior emitidos pelas autoridades competentes de outro dos Estados Contratantes. Portanto, claro est que a norma da mencionada Conveno tem contedo meramente programtico e prope que os Estados estabeleam mecanismos, geis e to desburocratizados quanto possvel, de reconhecimento de diplomas. Assim, no se pode emprestar a este diploma o carter cogente que ele no possui. Frise-se, ainda, que em nenhuma passagem a Conveno estabelece o reconhecimento imediato de diplomas estrangeiros, sem um procedimento de revalidao. No possvel o reconhecimento automtico, sem os procedimentos administrativos de revalidao de diploma previstos na Lei de Diretrizes e Bases, Lei 9.394/96, queles estrangeiros provenientes de Estados-parte desta Conveno que tenham tido diplomas expedidos antes da suposta revogao deste tratado. Primeiramente, como dito, pela mera razo de que este corte temporal no existe, face impossibilidade de revogao de tratado por decreto. E depois, pela singela constatao de que tal diploma no tem o condo de estabelecer o reconhecimento automtico e ademais, em nenhum de seus dispositivos traz este previso. (REsp 938880/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/09/2008, DJe 29/10/2008, grifei).

3. Concluso

Portanto:

a) o Ministrio Pblico tem legitimidade para ajuizar a Ao Civil Pblica em questo;Documento: 842483 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/03/2009 Pgina 1 1 de 13

Superior Tribunal de Justiab) o acrdo recorrido no violou a Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional); c) no se conhece de ofensa a dispositivo de Portaria do Ministrio da Educao e da Cultura, pois no ato normativo com status de lei federal; d) o Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Estados Partes do Mercosul (promulgado pelo Decreto Legislativo 5.518/2005) no afasta a obedincia ao processo de revalidao previsto na Lei 9.394/1996.

Diante do exposto, conheo parcialmente dos Recursos Especiais e nego-lhes provimento. como voto.

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Superior Tribunal de JustiaERTIDO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA

Nmero Registro: 2007/0178096-5

REsp 971962 / RS

Nmero Origem: 200371010047894 PAUTA: 25/11/2008 JULGADO: 25/11/2008

Relator Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA VASCONCELOS Secretria Bela. VALRIA ALVIM DUSI AUTUAORECORRENTE PROCURADOR RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO INTERES. ADVOGADO : : : : : : : FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE JOAQUIM PAULO GARCIA GODINHO E OUTRO(S) GIL BARLEM MARTINS E OUTROS EVERTON PEREIRA DE MATTOS E OUTRO(S) MINISTRIO PBLICO FEDERAL SRGIO AMARAL CAMPELLO PAULO HENRIQUE ARIGONY SOUTO

ASSUNTO: Administrativo - Ato - Nulidade

CERTIDO Certifico que a egrgia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso: "A Turma, por unanimidade, conheceu em parte de ambos os recursos e, nessa parte, negou-lhes provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. Braslia, 25 de novembro de 2008

VALRIA ALVIM DUSI Secretria

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