Acórdão TC n.º 480/2013 (Lei de Limitação de Mandatos)

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    ACRDO N. 480/2013

    Processo n. 765/13PlenrioRelator: Conselheiro Pedro Machete

    Acordam, em Plenrio, no Tribunal Constitucional:I. Relatrio

    1. Jos Manuel Machado de Castro, na qualidade de mandatrio eleitoral das listas doBloco de Esquerda s eleies para os titulares dos rgos das autarquias locais doMunicpio do Porto, vem interpor recurso, ao abrigo do artigo 31. e seguintes da Lei queregula a eleio dos titulares dos rgos das autarquias locais (aprovada pela Lei Orgnican. 1/2001, com as alteraes posteriores, adiante designada LEOAL), da deciso do 1.Juzo Cvel dos Juzos Cveis do Porto que julgou elegvel Lus Filipe Menezes Lopes, comoprimeiro candidato da lista Cmara Municipal do Porto apresentada pela coligaoeleitoral PORTO FORTE, constituda pelo PPD/PSD. PPM.MPT.

    Nas alegaes de recurso conclui do seguinte modo: 1- A candidatura apresentada pela coligao eleitoral Porto Forte constituda por

    PPD/PSD, PPM, MPT, apresenta como primeiro candidato Cmara Municipal do Porto, ocidado Lus Filipe Menezes Lopes.

    2 - O cidado Lus Filipe Menezes Lopes, foi eleito Presidente da Cmara Municipal deVila Nova de Gaia nas eleies autrquicas realizadas em 1997, 2001, 2005 e 2009, conformeinformao constante, respetivamente, no stio da DGAI (http:/www.dgai/prem_97 (1).txt)referente a 1997, do Mapa Oficial n. 1-B/2002, publicado em 2. Suplemento 1. Srie-B doDirio da Repblica, de 27 de Maro de 2002, do Mapa Oficial n. 1-A/2006, publicado emSuplemento 1. Srie-B do Dirio da Repblica, de 6 de Fevereiro de 2006 e do Mapa Oficialn. 1-A/2010, publicado no Dirio da Repblica, I Srie, de 11 de Maro de 2010.

    3 - Verifica-se assim que o cidado cuja candidatura se coloca em crise, foi eleito para maisde trs mandatos consecutivos como Presidente de Cmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

    4 O mandatrio da candidatura do Bloco de Esquerda ao municpio do Porto, orarecorrente, tempestivamente impugnou, nos termos do n 3 do artigo 25 da Lei Orgnica n1/2001 de 14 de Agosto, a elegibilidade do cidado Lus Filipe Menezes Lopes, primeirocandidato a Cmara Municipal do Porto na lista apresentada pela coligao eleitoral PortoForte constituda por PPD/PSD, PPM, MPT;

    5 - Em 16 de Agosto de 2013, o 1. Juzo Cvel do Porto julgou improcedente talimpugnao, considerando elegvel o cidado Lus Filipe Menezes Lopes eleio autrquica emcausa (fls. 402 a 408);

    6 Por discordar de tal despacho, veio o signatrio, ora recorrente, Reclamar em 19 de

    Agosto de 2013 ao abrigo do artigo 29 n 1 da Lei Eleitoral dos rgos das Autarquias Locais(Lei Orgnica n 1/2001, de 14 de Agosto);

    7 Em 19 de Agosto de 2013, o Meritssimo Juiz de Turno do l Juzo Cvel do Porto,indeferiu a Reclamao e manteve a deciso impugnada que considerou elegvel o cidado LusFilipe Menezes Lopes eleio para a Cmara Municipal do Porto na lista apresentada pela

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    coligao eleitoral Porto Forte constituda pelo PPD/PSD, PPM, MPT;

    8 E desta deciso final do 1. Juzo Cvel do Porto que se apresenta o Recurso para oTribunal Constitucional, nos termos dos artigos 31 e ss, da Lei Eleitoral dos rgos dasAutarquias Locais;

    9- Nos termos do artigo 1., n. l da Lei n. 46/2005, de 29 de Agosto, o presidente decmara municipal e o presidente de junta de freguesia s podem ser eleitos para trs mandatos consecutivos.

    10- O artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, de 29 de Agosto deve ser interpretado nosentido de a inelegibilidade prevista respeitar a toda e qualquer autarquia e no apenas

    autarquia onde o cidado tenha sido eleito presidente de cmara ou presidente de junta por trsmandatos consecutivos.

    11 - O artigo 9., n. 3 do Cdigo Civil estabelece que na interpretao da lei, o intrpretedeve presumir que o legislador consagrou as solues mais acertadas e soube exprimir o seupensamento em termos adequados;

    12 - Para alm da dimenso da interpretao literal e do elemento gramatical, h queconsiderar outros elementos como o elemento sistemtico, histrico e teleolgico;

    13 Considerando o elemento gramatical parece claro que a preposio de uma preposiogenrica, que pretende indicar, no caso concreto a funo em si e no o lugar onde exercido.

    14 O elemento teleolgico indica-nos que, e citando o Acrdo do Tribunal da Relaode Lisboa referido nas alegaes: Este elemento interpretativo consiste na razo de ser da norma (ratio

    legis), no fim visado pelo legislador ao editar a norma, nas solues que tem em vista e que pretende realizar. Equal o fim visado pela norma em apreo? , claramente, numa concretizao do princpio da renovaoconsagrado no art. 118. da CRP, perante situaes em que se registou o exerccio de cargos de poder localexecutivo durante longos perodos, evit-las, obviando aos perigos potencialmente decorrentes da perpetuao dopoder.

    15 Determinante tambm o elemento histrico, sendo certo que o processo legislativoque levou Lei n. 46/2005, de 29 de Agosto foi antecedido por outras iniciativas legislativas,em legislaturas anteriores. A ttulo de exemplo, cita-se o Projeto de Lei n. 276/IX onde soutilizadas expresses genricas funes e presidente de cmara

    16 Tambm a Proposta de Lei n. 4/X tem uma Exposio de Motivos muito claraquanto aos seus objetivos: "Subjacente, ento, limitao de mandatos ou do nmero de mandatos que a

    mesma pessoa pode exercer sucessivamente, est o objetivo de fomentar a renovao dos titulares dos rgos,visando-se o reforo das garantias de independncia dos mesmos, e prevenindo-se excessos induzidos pelaperpetuao no poder.

    l7 Quanto ao elemento sistemtico h que levar em linha de conta que:

    a) O artigo 118., n. 2 da Constituio da Repblica Portuguesa estabelece a possibilidadede limitao legal renovao sucessiva de mandatos [de] cargos polticos executivos;

    b) O artigo 118., n. l da Constituio da Repblica Portuguesa probe o exerccio vitalciode qualquer cargo poltico de mbito nacional regional ou local. Ora, "(...) conjugando este preceitoconstitucional com o art. 1. da Lei n. 46/2005 parece bvio que o sentido desta s pode ser o de proibir acandidatura a qualquer autarquia e no apenas naquela onde foram cumpridos os trs mandatos sucessivos. Oentendimento contrrio ..., levaria perpetuao dos cargos, possibilitando o seu exerccio de forma vitalcia, desde

    que os mesmos fossem exercidos, sucessivamente, em circunscries geogrficas diversas, em manifesta oposio como disposto no art 118. da CRP. Ou seja, a interpretao que ora se defende a nica consentnea com opreceito constitucional citado o que significa que a nica admissvel (conforme o Douto Acrdo doTribunal da Relao de Lisboa de 20/06/2013, disponvel emhtm://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/f6c6c504d3ab4d4380257b96003c82fc?OpenDocument&Hihlight=0,limita%C3%A7%C3%A 3o.de.mandatos.);

    c) A tese da territorialidade da limitao de mandatos no adequada a prevenir a limitaode mandatos a presidentes de rgos executivos de autarquias locais, na medida em que asautarquias locais, em concreto, so passveis de modificao territorial (e eventualmentepopulacional, por essa via), criao ou extino, encontrando-se tal possibilidade nas mos dolegislador, conforme estabelece o artigo 164., alnea n) e o artigo 236., n. 4, ambos daConstituio da Repblica Portuguesa, permitindo esta interpretao ao presidente da autarquiaobjeto de extino ou modificao territorial, prolongar em mais trs mandatos consecutivos asua permanncia no poder.

    18 A interpretao do artigo 1., n. 1 da Lei n. 56/2005, de 29 de Agosto comoconsiderando inelegveis para um quarto mandato consecutivo, como presidente de rgoexecutivo de autarquia local, todos os cidados que hajam sido eleitos para trs mandatos

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    consecutivos como presidentes de cmara municipal ou presidentes de junta de freguesia compatvel com o artigo 18. da Constituio da Repblica Portuguesa

    19 - Com efeito, no existe dvida interpretativa suficientemente fundada para que se optepor uma interpretao restritiva da norma ao abrigo do artigo 18. da Constituio da RepblicaPortuguesa. A norma muito clara e os diversos elementos interpretativos apontam no sentidoaqui sustentado.

    20 - certo que sob a epgrafe Direito de acesso a cargos pblicos, o artigo 50 daConstituio da Repblica estabelece:

    l Todos os cidados tm o direito de acesso, em condies de igualdade e liberdade, aoscargos polticos.

    3 No acesso a cargos eletivos a lei s pode estabelecer as inelegibilidades necessrias paragarantir a liberdade de escolha dos eleitores e a iseno e independncia do exerccio dosrespetivos cargos;

    21 - Pelo que ser tambm de verificar se a lei n 46/2005, de 29 de Agosto, sendo comouma lei restritiva de direitos fundamentais, obedece ou no aos requisitos de admissibilidade quese extraem do artigo 18 ns. 2 e 3 da Constituio;

    22 que, como sabemos, a Constituio estabelece certos requisitos para as leis restritivas: tmde revestir carter geral e abstrato, no podem ter efeitos retroativos, as restries tm de limitar-se ao necessrio

    para salvaguardar outros direitos. ou interesses constitucionalmente protegidos, no podendo em caso algumdiminuir a extenso e o alcance do contedo essencial dos preceitos constitucionais (cfr. Vieira de Andrade,Os Direitos Fundamentais na Constituio Portuguesa de 1976, 1987, Almedina, Coimbra, pg.232)

    23 - Ora a anlise da Lei n 46/2005, de 29 de Agosto, mostra que a restrio no direito deacesso a cargos eletivos preenche os requisitos do artigo 18 n 2 e 3 da Constituio, at porquea restrio estabelecida no cerceia totalmente o direito, no se projeta indefinidamente notempo e refere-se apenas ao mandato ou quadrinio consecutivo ao ltimo mandato exercido.

    24 Mais, tal interpretao do artigo 1., n. 1 da Lei n. 56/2005, de 29 de Agosto absolutamente compatvel com o princpio da Proporcionalidade contido no artigo l8. daConstituio da Repblica Portuguesa, respeitando os seus trs sub-princpios: o Princpio da

    Necessidade, o Princpio da Adequao e o Princpio da Proporcionalidade stricto sensu. Assim,tal norma (e respetiva interpretao) :

    a) Necessria, considerando o nmero de autarcas que sem esta norma de limitao demandatos continuariam a candidatar-se ad aeternum a presidentes de rgos executivos dasautarquias locais, seja na autarquia em que exercem funes, seja em autarquia vizinha ou maisafastada, como se verifica e facto notrio;

    b) Adequada, por ser meio idneo para concretizar o Princpio da Renovao dos titularesde cargos polticos, obrigando assim a uma renovao peridica e permitindo o aparecimento denovos cidados no exerccio das funes de presidente de rgo executivo de autarquia local;

    c) Proporcional stricto sensu, na medida em que o sacrifcio imposto aos titulares de cargospolticos inelegveis por esta via representa a justa medida da restrio da capacidade eleitoral

    passiva para atingir os fins a que se prope a norma: garantir a renovao dos titulares de cargospolticos. E como vimos, no cerceia totalmente o direito, no se projeta indefinidamente notempo, referindo-se apenas ao mandato ou quadrinio consecutivo ao ltimo mandato exercido

    25 Assim, a Douta Deciso final de que se Recorre e que julgou elegvel o cidado LusFilipe Menezes Lopes, indicado como primeiro candidato Cmara Municipal do Porto pelacoligao eleitoral Porto Forte constituda por PPD/PSD, PPM, MPT viola pelo menos oartigo 118 da Constituio da Repblica e o artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, de 29 deAgosto.

    Termos em que o presente Recurso se prova e procede, devendo:

    a) O cidado Lus Filipe Menezes Lopes primeiro candidato a Cmara Municipa1 doPorto, proposto pela coligao eleitoral Porto Forte constituda pelo PPD/PSD,

    PPM,MPT ser julgado inelegvel;b) Revogar-se a deciso recorrida que admitiu a candidatura de tal cidado como

    primeiro candidato Cmara Municipal do Porto, por a mesma violar, entre outras normasconstitucionais e legais o artigo 118 da CRP e o artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, de 29de Agosto.

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    O mandatrio da coligao PORTO FORTE apresentou resposta, pugnando, em

    primeiro lugar, pela intempestividade do recurso, e, subsequentemente, pela improcednciado mesmo, concluindo nos seguintes termos:

    i) Tendo o presente recurso sido interposto para alm do prazo de 48 horas previsto nalei a afixao das listas das candidaturas admitidas ocorreu a 19 de Agosto e a interposio dorecurso a 22, verifica-se a intempestividade do mesmo, por expressa e direta violao dodisposto no n 2 do artigo 31., em conjugao com o n. 5 do artigo 29., ambos da Lei

    Eleitoral dos rgos das Autarquias Locais. Sem prescindir,ii)A questo em causa nos presentes autos saber se a limitao renovao sucessiva de

    mandatos prevista no artigo 1. da Lei 46/2005, de 29 de Agosto, tem carcter funcional ouapenas territorial comea por ser uma questo constitucional:

    iii) A norma em apreo traduz a concretizao, em sede de Lei ordinria, de uma normaconstitucional;

    iv) A limitao constante do citado artigo 1. consubstancia uma restrio do direitofundamental de acesso a cargos pblicos, enquanto direito, liberdade e garantia de participaopolitica expressamente consagrado no n. 1 do artigo 50. da CRP;

    v) O artigo 18. da CRP permite a restrio do mbito de aplicao de princpiosconstitucionais em matria de direitos fundamentais, desde que dentro dos limites aconsagrados;

    vi) A restrio feita pelo legislador ordinrio ter, assim, antes de mais, de respeitar oslimites da norma constitucional habilitante e apenas ser vlida se for necessria salvaguarda deoutros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos e apenas na exata medida dessanecessidade;

    vii)Tendo o direito de acesso aos cargos pblicos a natureza de direito, liberdade e garantia,a sua eventual restrio encontra-se submetida ao apertado acervo de requisitos previstos noartigo 18., imperando neste domnio o principio do carcter restritivo das restries;

    viii)Apesar de permitir a introduo de inelegibilidades no acesso a cargos pblicos eletivos,a CRP identifica expressamente os outros interesses constitucionais que podem legitimar taisrestries, a saber a garantia da liberdade de escolha dos eleitores e a iseno e independncia noexerccio de cargos eletivos;

    ix) O legislador constituinte considera, pois, como princpio geral o da elegibilidade,devendo as restries a este princpio ter carcter excecional e com o objetivo a resoluo doconflito entre ele e os interesses e valores em funo dos quais a CRP permite a suacompresso;

    x) Para alm da abertura normativa deixada pelo legislador constituinte no n. 3 do artigo50. da Constituio, h-de igualmente ter-se em considerao a norma do artigo 118., n. 2, naqual temos uma nova habilitao para a restrio pelo legislador ordinrio, ainda que s emrelao ao direito de renovao sucessiva do acesso (nomeadamente eletivo) a cargos polticosexecutivos;

    xi) Os termos de referncia dessa nova habilitao so portanto apenas os da renovaosucessiva de mandatos, entendendo-se, quanto quele, que s pode estabelecer-se qualquerrestrio em relao a mandatos que apresentem entre si uma conexo temporal imediata, nosentido de que o termo de um coincide com o incio do outro, s assim havendo renovao e,sobretudo, s assim sendo a mesma sucessiva;

    xii) Quando o artigo 118. da Constituio se refere possibilidade de a lei determinar limites renovao sucessiva de mandatos dos titulares de cargos polticos executivos, est naturalmente areferir-se renovao dos mandatos j exercidos na mesma autarquia de outro modo, arefenda renovao de mandatos j no seria sucessiva, um segundo mandato j no seria sucesso doprimeiro, quer no que ao tempo respeita ( imediaticidade e continuidade) da sucesso quer noque tange respetiva representao;

    xiii) A estreita ligao entre a estatuio da norma do artigo 118., n. 2, da CRP e a

    referncia nela limitao da renovao de mandatos sucessivos nem podia ser entendida deoutra maneira, pois que, tendo essa norma constitucional, conjugadamente com a do artigo 50.,n. 3, como destinatrios os titulares eletivos de cargos polticos executivos, a sucessoconstitucionalmente indesejada de mandatos aquela que tem como fonte eleies sucessivas e sem relao a cada autarquia em concreto pode determinar-se se uma eleio sucessiva (a trs

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    mandatos consecutivos);

    xiv) E no seria apenas porque no se trataria de um mandato sucessivo, mas tambmporque j no funcionariam a os interesses que o legislador constituinte mandou confrontar, non. 3 do artigo 50., com os do princpio geral da elegibilidade para cargos polticos;

    xv) Em suma, as determinantes constitucionais relativas possibilidade legislativa delimitao de renovao sucessiva de mandatos de titulares de cargos polticos executivos,expressas nos artigos 50., n. 3 e 118., n. 2, da CRP, apontam convincentemente no sentidode se tratar de uma limitao restrita candidatura ao mesmo cargo concreto sucessivamente

    exercido, seja na Repblica, nas Regies Autnomas ou nas autarquias locais;xvi) Entrando-se na interpretao da norma do artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, diga-se,por referncia ao seu elemento literal, que um legislador que soubesse exprimir corretamente oseu pensamento, como se presume ser o caso, se quisesse referir-se nessa norma a mandatosexercidos e a exercer em diferentes autarquias teria certamente mencionado, o que no fez, quese tratava de mandatos sucessivos em qualquer circunscrio, independentemente da autarquia deefetivo exerccio;

    xvii) No que respeita ao elemento histrico, os antecedentes da Lei n. 46/2005 sempre sereferiram questo sub iudiceem termos de restringirem a pretenso de presidentes de cmaracom mandatos sucessivos a uma nova eleio aos casos em que esta sucesso e aquela pretensorespeitavam ao exerccio de funes na mesma autarquia;

    xviii) Do ponto de vista sistemtico, da unidade e coerncia do ordenamento jurdico, aprimeira razo que leva a subscrever uma interpretao restritiva do artigo 1., n. 1, da Lei n.46/2005, reside no facto de se tratar de uma norma limitativa de um direito, liberdade egarantia do respetivo catlogo constitucional o direito de acesso a cargos pblicos previsto non. 1 do artigo 50. , pelo que, em consonncia com jurisprudncia e doutrina pacficas, deveessa norma legal ser entendida restritivamente, e no em termos latos;

    xix)Aponta tambm nesse sentido o facto de os trs mandatos consecutivos que, de acordocom o artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, impedem uma nova candidatura consecutiva, porrazes lgicas, sistemticas e teleolgicas, so mandatos exercidos na mesma autarquia;

    xx) Decisivo ainda o n.3 do artigo 1. da Lei n. 46/2005 desde que se entenda (comose viu ser foroso entender, sob pena de inconstitucionalidade da norma) que a hiptesecontemplada na sua previso a da renncia de um presidente de cmara no decurso do seuterceiro mandato consecutivo na mesma autarquia;

    xxi) Quanto ao elemento racional, a ratio da concretizao legislativa do preceitoconstitucional do artigo 118., n. 2, no caso dos presidentes dos executivos autrquicos, eapenas nesse caso, reside no facto de ser a que a prtica mostra existirem, de h muito,situaes democrtica e politicamente preocupantes de renovao consecutiva de mltiplosmandatos numa mesma autarquia, a que se impunha fazer imediatamente face;

    xxii) Tambm no que respeita ao elemento teleolgico, s uma interpretao restritiva dainelegibilidade prevista no artigo 1.,n. 1 da Lei n. 46/2005 garante a devida instrumentalidade(e a necessria adequao) entre os sentidos que ela comporta e a realizao dos fins ouinteresses tutelados pelo n. 3 do artigo 50. da Constituio, os nicos que habilitam a leiordinria a proceder a uma limitao sucessiva de mandatos;

    xxiii) Na verdade, se teoricamente se concebe que a manuteno nos seus cargos, nummesmo municpio ou freguesia, por um longo perodo de tempo, dos presidentes dos executivosautrquicos, pode pr em causa, em alguma medida, a liberdade dos eleitores e a iseno eindependncia no exerccio desses cargos, igualmente verdade que a sua candidatura a umaeleio consecutiva noutra autarquia j no oferece qualquer desses perigos;

    xxiv) Como constitucionalmente s se permite a estatuio pelo legislador ordinrio deinelegibilidades necessrias para garantir a liberdade de escolha dos eleitores e a iseno e independncia noexerccio dos respetivos cargos, uma de duas:

    ou se aceita que o elemento teleolgico de interpretao da lei aponta inequivocamente nosentido de restringir a limitao renovao sucessiva de mandatos, constante do artigo 1, n. 1da Lei n. 46/2005, quarta candidatura ao cargo de presidente do executivo autrquico no

    mesmo municpio ou freguesia;ou, ento, no aceitando tal interpretao, considera-se constitucionalmente

    desproporcionada e invlida essa norma e a extenso a uma diferente autarquia da proibio deuma quarta candidatura consecutiva, por se considerar ser tal proibio desnecessria parasatisfao dos interesses ou fins constitucionais legitimadores dessa delimitao ou, quanto

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    menos, por ser tal proibio muito menos necessria para a realizao desses fins do que aproibio de uma 2 ou 3 candidatura consecutiva aos cargos em questo proibio que,contudo, no foi decretada;

    xxv) portanto este elemento teleolgico mais um e decisivo elemento de interpretao aapontar, como todos os outros j referidos, no sentido de que a inelegibilidade estabelecida noartigo 1., n. 1, da Lei n. 46/2005 se restringe candidatura a um quarto mandato consecutivode presidente de cmara municipal ou de junta de freguesia na mesma autarquia dos trsanteriores mandatos;

    xxvi) Em suma, qualquer interpretao do nmero 1 do artigo 1. da Lei n.46/2005, de29 de Agosto, no sentido de que a limitao renovao sucessiva de mandatos a contida tem

    um contedo funcional, proibindo a candidatura a um rgo executivo autrquico de algumque j cumpriu trs mandatos consecutivos no mesmo rgo executivo de outra autarquia, manifestamente inconstitucional, por violar de forma expressa o disposto nos artigos 18., n.s 2e 3, 50., n. 3, 117., n. 3, e 1 1 8., n.s 1 e 2, todos da CRP;

    xxvii) Esta , alis, a interpretao preconizada pela esmagadora maioria da doutrinaautorizada, de Norte a Sul do pas, pela Comisso Nacional de Eleies e pelas doutas decisesjudiciais que tm vindo a ser proferidas, em Portugal, e muito recentemente em Itlia, no mbitodas impugnaes de elegibilidade instauradas.

    Nestes termos e nos demais de Direito, que V. Exas. doutamente supriro, deve:

    A) Ser o presente recurso julgado intempestivo, por expressa e direta violao do dispostonos artigos 29., n. 5 e 31., n. 2, da Lei Eleitoral dos rgos dasAutarquias Locais,recusando-se este Tribunal a pronunciar-se sobre o seu mrito. Caso assim se no se noconsente mas se admite por mero dever de patrocnio, devero V. Ex.as:

    B) Julgar o presente recurso totalmente improcedente e, em consequncia, ser mantida adeciso recorrida, julgando-se, definitivamente, o candidato LUIS FILIPE MENEZES LOPEScomo elegvel presidncia da Cmara Municipal do Porto.

    Cumpre apreciar e decidir.

    II. FundamentaoA) Factualidade relevante

    2. Com interesse para a apreciao do caso sub iudicio consta dos autos o seguinte:a) O primeiro nome indicado na lista de candidatos Cmara Municipal do Porto

    apresentada pela coligao eleitoral PORTO FORTE, constituda pelo PPD/PSD, PPMe MPT, o de Lus Filipe Menezes Lopes (fls. 9);

    b) Por declarao de fls. 16, datada de 16 de julho de 2013, Lus Filipe Menezes Lopesaceitou ser candidato integrado na lista da Coligao eleitoral constituda por PPD/PSD.PPM. MPT, com a denominao PORTO FORTE, concorrente Cmara Municipal doPorto nas eleies gerais autrquicas de 2013;

    c) O Bloco de Esquerda apresentou uma lista de candidatos Cmara Municipal doPorto (fls. 92 e ss.);

    d) O cidado Lus Filipe Menezes Lopes exerce presentemente o cargo de Presidenteda Cmara Municipal de Vila Nova de Gaia, cargo para que foi sucessivamente eleito em1997, 2001, 2005 e 2009 (cfr. os n.s 2 e 3 da impugnao deduzida pelo ora recorrente afls. 98 e ss. ao abrigo do artigo 25., n. 3, da LEOAL e os documentos n.s 1, 2, 3 e 4anexos mesma);

    e) Em 7 de agosto de 2013 o ora recorrente, na qualidade de mandatrio das listas doBloco de Esquerda s eleies para os rgos autrquicos do Municpio do Porto naseleies de 29 de setembro de 2013, apresentou ao juiz dos Juzos Cveis do Porto,impugnao, ao abrigo do disposto no artigo 25., n. 3, da LEOAL, invocando ainelegibilidade de Lus Filipe Menezes Lopes, primeiro candidato da lista apresentada pela

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    coligao eleitoral PORTO FORTE Cmara Municipal do Porto (fls. 98 e seguintes);f) Cumprido o disposto no artigo 29., n. 2, da LEOAL, veio Gonalo Lus de Queiroz

    Moreda Fernandes de Oliveira, na qualidade de mandatrio da coligao PORTOFORTE, responder, pugnando pela no procedncia da invocada inelegibilidade (fls. 139 eseguintes).

    g) Em 16 de agosto de 2013 o juiz dos Juzos Cveis do Porto proferiu o seguintedespacho:

    O Bloco de Esquerda, atravs do seu mandatrio, veio impugnar a elegibilidade docandidato LUS FILIPE MENEZES LOPES, pedindo que seja declarada a inelegibilidade domesmo com as consequncias da decorrentes.

    Em sede de resposta, o mandatrio da lista em causa apresentou resposta onde, em suma,conclui pela elegibilidade do referido candidato.

    Cumpre apreciar e decidir.

    A Lei n 46/2005, de 29 de Agosto, veio estabelecer limites renovao sucessiva demandatos dos presidentes dos rgos executivos das autarquias locais.

    Nessa conformidade, o presidente da cmara municipal e o presidente da junta de freguesias podem ser eleitos para trs mandatos sucessivos, salvo se no momento da entrada em vigorda referida lei (1 de Janeiro de 2006), tiverem cumprido ou estiverem a cumprir, pelo menos, o

    terceiro mandato sucessivo, circunstncia em que podero ser eleitos para mais um mandatoconsecutivo (vide art. 1da citada lei).

    Por seu turno, estabelecem os arts. 50,n 3 e 118, n 2, da Constituio da RepblicaPortuguesa que, no acesso aos cargos eletivos, a lei s pode estabelecer as inelegibilidadesnecessrias para garantir a liberdade de escolha dos eleitores e a iseno e independncia doexerccio dos respetivos cargos, permitindo-se, deste modo, ao legislador ordinrio traar limites renovao sucessiva de mandatos dos titulares de cargos polticos executivos.

    Em termos constitucionais, a inelegibilidade em razo do limite renovao de mandatosestabelece-se para garantir a liberdade de escolha dos eleitores, por forma a evitar a criao deredes de cumplicidades e de interesses e fenmenos de captura psicolgica dos eleitores e aposio de vantagem que normalmente ocupada pelo titular que se candidata ao rgo que

    ocupa (efeito do incumbente).Afirmando o cumprimento deste objetivo, a Lei n 46/2005, veio estabelecer ainelegibilidade para um quarto mandato dos cidados que tenham exercido o cargo de presidenteda cmara ou de presidente da junta de freguesia por trs mandatos sucessivos.

    Com tal limitao, procura-se diminuir o risco de pessoalizao do exerccio do poder egarantir uma maior transparncia, iseno e independncia na atuao dos titulares dos rgosautrquicos, fomentando-se, assim, tambm o aparecimento de novos quadros e, acima de tudo,garante-se a liberdade de escolha dos eleitores, dando pleno cumprimento s exigncias doprincpio democrtico e prevenindo-se excessos induzidos pela perpetuao no poder (videProposta de Lei n 4/X).

    O objetivo expresso na citada Lei n 46/2005, de 29 de Agosto, consistiu, pois, na reduo do

    nmero de mandatos do presidente da cmara municipal e do presidente da junta de freguesia decorrentedo princpio democrtico e do imperativo de renovao dos titulares de cargos polticos ao nvel dosrgos executivos do poder local.

    Chegados aqui, urge dirimir o verdadeiro n grdio da presente impugnao que se centrana questo de saber se a referida limitao a trs mandatos consecutivos do presidente dacmara apenas se aplica ao mesmo municpio (podendo o candidato em causa poder recorrer aoutro municpio) ou extensvel a qualquer municpio. O mesmo dizer se tal limitao apenas territorial ou funcional.

    Salvo o devido e merecido respeito por entendimento distinto, entendo que tal limitao apenas territorial e no funcional. Ou seja, apenas se aplica quele concreto municpio e no aum outro.

    Defender posio contrria , antes de mais, uma menorizao e perda de confiana nofuncionamento das regras da democracia e do princpio democrtico no sentido em que revelamesmo uma desconfiana perante a livre deciso dos eleitores nas urnas.

    Alis, se assim fosse o expresso sentido do legislador, deveriam os nossos deputados, nafeitura e aprovao da citada lei, t-lo plasmado na lei de forma clara e objetiva sem deixarqualquer dvida na sua interpretao.

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    Ora, como sabido, esta questo de duvidosa interpretao luz da nossa lexfundamentalis.

    Na verdade, entender que a referida limitao de cariz funcional (aplicando-se a todo equalquer municpio e, em consequncia, a toda e qualquer presidente da cmara ou presidenteda junta de freguesia) envolve, a meu ver, um entorse injustificado e de duvidosaconstitucionalidade no livre acesso aos cargos polticos (vide os arts. 50, n 3 e 118, n2, daConstituio da Repblica Portuguesa).

    Nesta linha de entendimento, urge atentar na posio assumida pela Comisso Nacional de

    Eleies que, por maioria dos seus membros, aprovou uma deliberao (vide Ata n 62/XVI de22-11-2012, acessvel in http//www.cne.pt ) segundo a qual a limitao decorrente do art. 1 daLei n 46/2005,de 29-08, restrita ao exerccio consecutivo de mandato como presidente dergo executivo da mesma autarquia local e que tal previso normativa no estabelece qualquerlimitao a que um cidado eleito para trs mandatos consecutivos como presidente de umrgo executivo de uma autarquia local se candidate ao exerccio da mesma funo, na eleioautrquica seguinte ao terminusdo terceiro mandato consecutivo em outro rgo executivo deoutra autarquia local.

    Como vimos, na sequncia da 6 reviso da nossa Constituio (Lei Constitucional n1/2004, de 24 de Julho), foi aditado um n 2 ao art. 118, estabelecendo que a lei podedeterminar limites renovao sucessiva de mandatos dos titulares de cargos polticos.

    Por outro lado, o objetivo visado pela introduo de limites renovao sucessiva demandatos do Primeiro-Ministro, dos presidentes dos governos regionais e dos presidentes dosexecutivos autrquicos pela Proposta de Lei 4/X, que deu origem Lei n 46/2005, erafomentar a renovao dos titulares dos rgos, tentando-se o reforo das garantias deindependncia dos mesmos e prevenindo-se excessos induzidos pela perpetuao no poder.

    Todavia, se essas razes so vlidas para uma mesma autarquia local - pela perpetuao domesmo cidado enquanto presidente da cmara municipal ou presidente da junta de freguesia epelo risco de criao de uma teia de relaes pouco saudvel -, j no so atendveis enquantoesse cidado se candidate a uma outra autarquia local. A ser assim, estaria bastante fragilizada amaturidade e a confiana na nossa democracia apesar dos anos que ela j leva. Seria mesmo umatestado de menoridade democrtica aos cidados eleitores dessa outra autarquia local.

    Assim sendo, entendo que a referida limitao de mandatos apenas tem aplicao territorial

    e no funcional. Nesta linha de raciocnio, torna-se relevante atentar nos prprios trabalhospreparatrios da citada Lei n 46/2005, em que no decurso dos mesmos o Senhor DeputadoAblio Fernandes (da coligao PCP/PEV), no debate na generalidade dessa lei, afirmouexpressamente que a limitao de mandatos dos presidentes dos rgos executivos numdeterminado municpio em nada impede que estes venham a assumir tal responsabilidade nummunicpio vizinho ( vide in Dirio da Assembleia da Repblica I Srie n 17 de 6-05-2005),sem que tenha sido desmentido nem tenha sido afirmado qualquer argumento em sentidocontrrio. Ora, esse teria sido o momento ideal e adequado para afirmar esse entendimento emsentido contrrio.

    Ademais, a adoo de medidas que previnam fenmenos de abuso de poder, de corrupoe de clientelismo no exerccio das funes autrquicas no decorrem inevitavelmente do

    exerccio dessas funes, de molde a colocar um permanente juzo de suspeio sobre ascentenas de cidados que exerceram essas funes de forma competente e desinteressada, compleno respeito pelos interesses pblicos e da comunidade em que foram eleitos.

    Nesta linha de entendimento, constato que a limitao renovao sucessiva de mandatosno sentido em que no permita os presidentes dos rgos executivos autrquicos de secandidatarem para outra autarquia diferente daquela onde cumpriram o limite sucessivo de trsmandatos seria mesmo inconstitucional por violao do princpio da necessidade na medida emque traduziria uma restrio desnecessria e injustificvel de um direito poltico do cidadocandidato em causa. Alis, com a proibio desse cidado se candidatar autarquia ondecumpriu trs mandatos sucessivos fica salvaguardada a alternncia nesse rgo autrquico e arenovao do poder nessa concreta comunidade de residentes.

    H ainda que atentar devidamente que enquanto restrio ao exerccio de direitosfundamentais, as incapacidades eleitorais passivas ou inelegibilidades devem sempre serentendidas e interpretadas restritivamente, indo ao encontro do respeito pelos princpiosconstitucionais da necessidade e da proporcionalidade (vide art. 18 da Constituio daRepblica Portuguesa).

    Nesta conformidade e tendo sempre presente que a questo posta na presente impugnao

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    versa sobre uma matria de dvida interpretativa, com reflexo ao nvel da sua adequao luzda Constituio da Repblica Portuguesa, entendo que no se deve optar por um caminho queamplie ou alargue desmesuradamente a inelegibilidade ou a incapacidade eleitoral passiva, peloque a interpretao que tenho por mais adequada e razovel a conferir ao citado art. 1, n 1, daLei n 46/2005, consiste em considerar que os presidentes dos rgos executivos das autarquiaslocais no se podem candidatar, no quadrinio imediatamente subsequente, ao exerccio dasfunes executivas presidenciais apenas naquela concreta autarquia local onde exerceram olimite sucessivo de trs mandatos; sendo, pois, livres para se candidatarem ao exerccio defunes executivas presidenciais em qualquer outra autarquia local.

    Assim sendo, a presente impugnao no poder deixar de improceder.Deciso:

    Pelo exposto, julgo improcedente a presente impugnao apresentada pelo Bloco deEsquerda, considerando elegvel o cidado Lus Filipe Menezes Lopes eleio autrquica emcausa.

    h) Em 19 de agosto de 2013, o ora recorrente reclamou do despacho mencionado emg), nos termos do disposto no artigo 29., n. 1, da LEOAL (fls. 412 e seguintes), com oseguinte teor:

    Jos Manuel Machado de Castro, na qualidade de mandatrio das listas do Bloco deEsquerda aos rgos autrquicos do Municpio do Porto, melhor identificado nos autos em

    epgrafe, vem, ao abrigo do artigo 29., n. 1 da Lei Eleitoral dos rgos das Autarquias Locais(Lei Orgnica n 1/2001, de 14 de Agosto) apresentar a sua RECLAMAO

    Sobre o Douto Despacho de 16 de Agosto de 2013 que admitiu a candidatura do cidadoLus Filipe Menezes Lopes, como primeiro candidato Cmara Municipal do Porto, pelacoligao eleitoral Porto Forte constituda por PPD/PSD, PPM, MPT, o que faz, nos termose com os seguintes

    FUNDAMENTOS

    1 A candidatura apresentada pela coligao eleitoral Porto Forte constituda porPPD/PSD, PPM, MPT, apresenta como primeiro candidato Cmara Municipal do Porto, ocidado Lus Filipe Menezes Lopes

    2 Nos termos do artigo 57., n. 1 da Lei n. 169/99, de 18 de Setembro na sua redao

    atual, presidente da cmara municipal o primeiro candidato da lista mais votada CmaraMunicipal.

    3 O cidado Lus Filipe Menezes Lopes, foi eleito Presidente da Cmara Municipal deVila Nova de Gaia nas eleies autrquicas realizadas em 1997, 2001, 2005 e 2009, conformeinformao constante, respetivamente, no stio da DGAI (http:/www.dgai.. ./prem_97(1).txt)referente a 1997, do Mapa Oficial n. 1B/2002, publicado em 2. Suplemento l. Srie-B doDirio da Repblica, de 27 de Maro de 2002, do Mapa Oficial n. 1-A/2006, publicado emSuplemento l. Srie-B do Dirio da Repblica, de 6 de Fevereiro de 2006 e do Mapa Oficialn. 1A/2010, publicado no Dirio da Repblica, I Srie, de 11 de Maro de 2010.

    4 Verifica-se assim que o cidado de cuja candidatura se reclama, foi eleito para mais de trsmandatos consecutivos como Presidente de Cmara no municpio de Vila Nova de Gaia.

    5 Por deciso nestes autos de 16 de Agosto de 2013, foi o cidado Lus Filipe Menezes Lopesjulgado elegvel como primeiro candidato Cmara Municipal do Porto, na apreciao de umaimpugnao tempestivamente apresentada pelo Bloco de Esquerda.

    6 Fundou-se tal deciso numa interpretao, a nosso ver errnea, do artigo 1., n. 1 daLei n. 46/2005, de 29 de Agosto, como adiante demonstraremos.

    7 Nos termos do artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, de 29 de Agosto, o presidente de cmaramunicipal e o presidente de junta de fregu esia s podem ser eleitos para trs mandatos con secut ivos.

    8 O artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, de 29 de Agosto deve ser interpretado nosentido de a inelegibilidade prevista respeitar a toda e qualquer autarquia e no apenas autarquia onde o cidado tenha sido eleito presidente de cmara ou presidente de junta por trsmandatos consecutivos.

    9 A interpretao da lei (e aqui transcrevemos, com a devida vnia, o que foi vertido nadeciso do processo com o n 221/13.6TJPRT do 3 Juzo Cvel do Porto, ainda no transitadoem julgado e que versa sobre esta temtica), a atividade do jurista que se destina a fixar osentido e o alcance com que o texto deve valer (cfr. Baptista Machado, Introduo ao Direito eao Discurso Legitimador, 1990, Almedina, Coimbra, p.176).

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    10 Sobre o modo de se alcanar este resultado tm sido defendidas, essencialmente,duas correntes de pensamento: a subjetivista, que procura, antes de mais, encontrar a vontadeou inteno do legislador, e a objetivista, que procura sobretudo determinar o sentido objetivodo prprio texto legal, autonomizado da vontade psicolgica do legislador concreto que tenhaestado na sua origem; numa outra vertente, mas tendencialmente combinada com a distinoanterior, surgiram ainda duas tendncias interpretativas, uma das quais, de natureza mais rgida,sustenta o carcter esttico do sentido da lei (historicismo), contrapondo a outra a necessidadede evoluo de tal sentido de acordo com a evoluo das circunstncias sociais (e outras) emque a mesma vai ser aplicada (atualismo); (seguem-se aqui de perto os ensinamentos de Baptista

    Machado, ob.cit., p. 177-178);.11 No ordenamento jurdico portugus, o artigo 9. do Cdigo Civil que estipula sobre

    a interpretao da lei, nos seguintes termos:

    1 A interpretao no deve cingir-se letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos opensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurdico, ascircunstncias em que a lei foi elaborada e as condies especficas do tempo em que aplicada.

    2 No pode porm, ser considerado pelo intrprete o pensamento legislativo que notenha na letra da lei um mnimo de correspondncia verbal, ainda que imperfeitamente expresso.

    3 Na fixao do sentido e alcance da lei, o intrprete deve presumir que o legisladorconsagrou as solues mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termosadequados.

    12 O elemento literal ou gramatical , assim, o primeiro a considerar, aquele de onde ointrprete deve partir, nas palavras do art 9 n 1 do CC. Este elemento exerce uma funonegativa, excluindo os sentidos que no tenham qualquer cabimento na letra da lei (n 2; assimse afastando um extremismo subjetivista), e uma funo positiva, na medida em que se a letracomportar apenas um sentido, ser esse o sentido a adotar (cf. Baptista Machado, ob.cit., p. 182e 189)

    13 No que se refere a este elemento, apesar de ter sido recentemente veiculado queteria existido um lapso de escrita no texto legal, o certo que tal texto no foi objeto dapertinente declarao de retificao pelos rgos competentes, pelo que a verso legal relevante a que consta da publicao oportunamente efetuada no DR: presidente de Cmara;

    14 - Talvez no por acaso, a douta deciso de que se reclama (ver segunda e terceirafolhas), usa repetidamente a expresso Presidente da Cmaraem vez de usar a redao Presidentede Cmara, sendo certo que esta ltima a expresso legalmente acolhida na Lei n. 46/2005,de 29 de Agosto;

    15 Deste modo, apesar de, naturalmente, tal, s por si, no poder ser consideradointeiramente decisivo e suficiente, no pode deixar de reconhecer-se que o elemento literal, aoconter apenas uma preposio desligada do artigo definido (que indicaria ima concretizao)aponta para o exerccio do cargo em si, em geral e no para o seu exerccio numa dadacircunscrio concreta;

    16 Isto mesmo foi salientado pelo Sr. Presidente da Comisso Nacional de Eleies, oSr. Juiz Conselheiro Fernando da Costa Soares, no voto de vencido emitido em anexo deliberao da Comisso de 22/11/2012 (constante da Ata n 62/XVI, p. 3-4) nos seguintes

    termos que se julgam elucidativos:Ora, uma imediata leitura da norma em apreo, que refere concretamente presidente de

    cmara... e presidente de junta de freguesia e no da cmara ou da junta de freguesia, logo leva convico de que a limitao de mandatos se tem de referir no a uma cmara em concreto designadamente aquela onde o autarca completou o limite de mandatos mas a toda e qualquer qual aquele pretenda concorrer. Na verdade, a palavra da , como se sabe, a contrao dapreposio de e do artigo definido a que a faz remeter direta e concretamente para aspalavras que imediatamente precede, no nosso caso cmara e junta de freguesia, e, desse modo,significar que seria a essa cmara ou junta de freguesia onde o presidente completasse o limitede mandatos, que este no se poderia recandidatar. Por outro lado, a palavra de efetivamente constante da lei uma preposio que se limita a estabelecer uma relao entre a

    palavra antecedente e a seguinte, em que a ausncia do artigo definido remete para umaabstrao ou totalidade que, no nosso caso, toda e qualquer cmara ou junta de freguesia aque no poder candidatar-se quem, numa ou noutra, anteriormente, atingiu o limite demandatos;

    17 Nas circunstncias, como se admite no caso em apreciao, em que de entre ossentidos possveis, uns correspondero ao significado mais natural e direto das expresses usadas,

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    ao passo que outros s cabero no quadro verbal da norma de uma maneira forada contrafeita,considera Baptista Machado (ob.cit, p.182) que, na falta de outros elementos que induzam eleio do sentido menos imediato do texto, o intrprete deve optar em princpio por aquelesentido que melhor e mais imediatamente corresponde ao significado natural das expressesverbais utilizadas, e designadamente ao seu significado tcnico jurdico, no suposto (nem sempreexato) de que o legislador soube exprimir com correo o seu pensamento;

    18 Deste modo, a situao em apreo importar, alm do elemento gramatical, aconsiderao, em obedincia ao disposto no art. 9 n 1 do CC, do elemento lgico, nas suasdiversas vertentes teleolgica, sistemtica e histrica, a fim de se poder determinar se osmesmos, ou alguns deles, apontam decisivamente para o sentido defendido na douta Deciso deque se reclama;

    19 No que se refere s circunstncias em que surgiu a lei (occasio legis), bem como afinalidade visada com a soluo legal (ambas integrando o designado elemento teleolgico),sabemos que a tomada de posio do legislador se ficou a dever constatao de situaes emque se registou o exerccio de cargos de poder local executivo durante perodos muito longos,procurando-se com a soluo legal obtida obviar aos perigos potencialmente decorrentes daperpetuao do poder

    20 No exigente trabalho do intrprete para reconstituir o pensamento legislativo, importante abordar os antecedentes da Lei n 46/2005, de 29 de Agosto. O ilustre mandatrioda candidatura tempestivamente impugnada e de que agora se reclama a sua admisso, anunciou

    avanar por esse caminho, mas na sua copiosa resposta omitiu, ao referir-se aos Antecedentes daLei n 46/2005, dois dos projetos de Lei mais significativos para o cabal entendimento dasfinalidades pretendidas pelos deputados com a limitao de mandatos: o Projeto de Lei n364/VIII do CDS/PP de 31/01/2001(disponvel emhttp://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/Detalhelniciativa.aspx?BID= 5791) -(doc. anexo n 1) e o Projeto de Lei n 276/IX de 24/04/2003 apresentado por deputados doPSD e do CDS-PP (disponvel emhttp://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID= 19641) (doc. anexo n 2);

    21 O relevo destes Projetos de Lei que, sendo apresentados em tempo anterior LeiConstitucional n 1/2004 (que aditou um n 2 ao art 118 da CRP, com a seguinte redao: A

    lei pode determinar limites renovao sucessiva de mandatos dos titulares de cargos polticosexecutivos), em ambos os projetos de lei muito clara a inteno dos deputados subscritores; .

    22 Na Exposio de Motivos do Projeto de Lei n 364/VIII do CDS-PP, de31/01/2001, que concretiza no artigo 216 (Durao do mandato) as finalidades pretendidascom tal iniciativa legislativa, pode ler-se no n 8: ... procura-se assegurar a renovao do sistema(sublinhado nosso), criando-se condies para o exerccio transparente das funes autrquicas,prevendo-se um limite mximo de mandatos para o exerccio das funes de presidente dacmara e de vereadores do executivo a quem tenham sido atribudos pelouros. E na parte finalda Exposio de Motivos, pode tambm ler-se: Acresce que, com esta alterao, promove-se arenovao da classe poltica estimulando a participao dos mais novos. (sublinhado nosso);

    23 Ora, se fosse aceite como boa a interpretao vertida na douta Deciso agora sobreclamao, de que a limitao de mandatos apenas territorial e no funcional, ento apretendida renovao da classe politica estimulando a participao dos mais novos, nunca seconcretizaria, j que seria possvel presidentes de cmara exercerem funes durante dcadas...

    24 Tambm o Projeto de Lei n 276/IX de 23/04/2003 apresentado por 5 deputadosdo PSD e do CDS-PP apontam muito claramente no art 1 daquela iniciativa legislativa e sob aepgrafe (Limitao de mandatos) que:

    No pode exercer mais de trs mandatos sucessivos nas respetivas funes (sublinhadonosso) os seguintes titulares:

    a) Presidentes de (sublinhado nosso) cmara municipal;

    b) Presidentes de(sublinhado nosso) juntas de freguesia;

    c) Diretores-gerais da administrao pblica

    d) Presidentes de rgo executivo de institutos pblicos;e) Membros de entidades reguladoras independentes.

    25 Dvidas no podem restar que a limitao de mandatos pretendida pelos deputadossubscritores do Projeto de Lei n 276/IX funcionale no apenas territorial;

    26 Reportando-nos ao elemento sistemtico h que levar em linha de conta o facto de o

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    artigo 118., n. 2 da Constituio da Repblica Portuguesa estabelecer a possibilidade delimitao legal renovao sucessiva de mandatos de cargos polticos executivos.

    27 - Por outro lado, o artigo 118., n. 1 da Constituio da Repblica Portuguesa probe oexerccio vitalcio de qualquer cargo poltico de mbito nacional regional ou local.

    28 Prosseguindo num outro caminho para o adequado entendimento da Lei n 46/2005,de 29 de Agosto, este desenvolvido no Douto Acrdo do Tribunal da Relao de Lisboa de20/06/2013, disponvel em http//www.dgsi.pt/jtrl.nsf/3382fc732316039802565fa00497eec/f6c6c504d3ab4d4380257b96003c82fc?

    OpenDocument&Higlight=0,limita%C3%A7%C3%A3ode,mandato, (...) conjugando estepreceito constitucional com o art. 1. da Lei n. 46/2005 parece bvio que o sentido desta spode ser o de proibir a candidatura a qualquer autarquia e no apenas naquela onde foramcumpridos os trs mandatos sucessivos. O entendimento contrrio, aquele que vem preconizadopelos Recorrentes, levaria perpetuao dos cargos, possibilitando o seu exerccio de formavitalcia, desde que os mesmos fossem exercidos, sucessivamente, em circunscries geogrficasdiversas, em manifesta oposio com o disposto no art. 118 da CRP. Ou seja, a interpretaoque ora se defende a nica consentnea com o preceito constitucional citado o que significaque a nica admissvel.

    29 Ainda citando o referido Acrdo do Tribunal da Relao de Lisboa, e no que respeitaao elemento teleolgico: Este elemento interpretativo consiste na razo de ser da norma (ratiolegis), no fim visado pelo legislador ao editar a norma, nas solues que tem em vista e que

    pretende realizar. E qual o fim visado pela norma em apreo? , claramente, numaconcretizao do princpio da renovao consagrado no art. 118. da CRP, perante situaesena que se registou o exerccio de cargos de poder local executivo durante longos perodos,evit-las, obviando aos perigos potencialmente decorrentes da perpetuao do poder..

    30 Ainda quanto ao elemento histrico e teleolgico, tambm o citado Acrdo daRelao de Lisboa d um importante contributo, que se passa a citar De resto, a prpriaExposio de Motivos da Proposta de Lei n.4/X (e estaremos aqui j a considerar o elementohistrico da atividade hermenutica) que explicita: Subjacente, ento, limitao de mandatos ou do nmero demandatos que a mesma pessoa pode exercer sucessivamente est o objetivo de fomentar a renovao dos titularesdos rgos, visando-se o reforo das garantias de independncia dos mesmos e prevenindo-se excessos induzidospela perpetuao do poder. No podia ser mais clara a finalidade visada pela norma legal em

    apreo..31 Em sentido contrrio, a douta Deciso objeto de reclamao antes entende que osmandatos consecutivos devem ser considerados relativamente a cada autarquia local, emconcreto, e que a inelegibilidade decorrente de trs eleies sucessivas do mesmo cidado,apenas respeitam concreta autarquia local para cuja presidncia do rgo executivo o cidadoem causa foi eleito.

    32 Para tanto, utiliza o douto despacho de que se reclama, como argumento, que alimitao funcional colidiria com o artigo 50., n. 3 e com o artigo 118., n. 2 da Constituioda Repblica Portuguesa. Ora, no podemos acompanhar esta leitura dos preceitosconstitucionais, tendo em conta a argumentao supra expendida.

    33 - Mas ser que a lei objeto de interpretao nos autos, sendo como uma lei restritiva

    de direitos fundamentais, obedece ou no aos requisitos de admissibilidade que se extraem doartigo 18 ns. 2 e 3 da Constituio?

    34 que, como sabemos, ... a Constituio estabelece certos requisitos para as leisrestritivas: tm de revestir carter geral e abstrato, no podem ter efeitos retroativos, asrestries tm de limitar-se ao necessrio para salvaguardar outros direitos ou interessesconstitucionalmente protegidos, no podendo em caso algum diminuir a extenso e o alcance docontedo essencial dos preceitos constitucionais (cfr. Vieira de Andrade, Os DireitosFundamentais na Constituio Portuguesa de 1976, 1987, Almedina, Coimbra, pag. 232)

    35 Ora um a anlise, m esmo que perfunctria, da Lei n 46/2005, de 29 de Agosto, mostra que arestrio no direito de acesso a cargos eletivos preenche os requisitos do artigo 18 n 2 e 3 da Constituio,at porque a restrio estabelecida no cerceia totalmente o direito, no se projeta indefinidamente notempo e refere-se apenas ao mandato ou quadrinio consecutivo ao ltimo mandato exercido.

    36 Acresce que no pode colher como bom elemento histrico de interpretao, o que introduzido no douto Despacho de que se reclama: o facto de o Deputado Ablio

    Fernandes (PCP) ter afirmado expressamente que a limitao de mandatos dos presidentes dos rgosexecutivos num determinado municpio em nada impede que estes venham a assumir tal responsabilidade nomunicpio vizinho, sem que tenham desmentido nem, tenha sido afirmado qualquer argumento em sentido

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    contrrio.

    37 Com efeito, atribuir a uma declarao de um Deputado, num debate parlamentar,como que um efeito cominatrio, no sentido que no sendo as suas declaraes e opiniescontraditadas, tm-se como boas para apurar a mens legislatoris inaceitvel. Desde logoporque tal pressuporia um nus de impugnao a quem no concorde, o que manifestamenteinaceitvel, quer pela legalmente injustificvel valorao do silncio dos restantes deputados,intervenientes ou no, quer pelo facto de os debates parlamentares terem tempos limitados quemuitas vezes inviabilizam a resposta cabal a todas as questes.

    38 Mais, atribuir s declaraes deste ento Deputado do PCP tal valorao tanto maisbizarro quando se verifica que, relativamente ao debate citado:

    a) Nem o Deputado Ablio Fernandes nem nenhum deputado o seu Grupo Parlamentar(PCP) foram autores de qualquer iniciativa legislativa;

    b) O Deputado Ablio Fernandes e os restantes membros do seu Grupo Parlamentarvotaram contra as iniciativas legislativas em debate, quer na generalidade, quer na especialidade,quer na votao final global, no tendo sequer apresentado qualquer proposta de alterao naespecialidade, como se pode comprovar emhttp://www.parlamento.pt/ActivadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID20787.

    39 Acresce que nas 18 pginas do Dirio da Assembleia da Repblica (DAR I Srie nmero 17 p. 670 a 687) que transcreve a discusso conjunta, na generalidade, ocorrida em 5

    de Maio de 2005, da proposta de lei n 4/X Estabelece o regime da durao do exerccio defunes do Primeiro-ministro, dos presidentes dos governos regionais e do mandato dospresidentes dos rgos executivos das autarquias locais, e dos projetos de lei n 34/X Limitao de mandatos dos eleitos locais (BE), a interveno do Sr. Deputado Ablio Fernandes(PCP) s ocorre a pgs. 14 das 18 e aps um aviso do Sr. Presidente da Assembleia daRepblica de que por serem j 18 horas vamos primeiro terminar o debate e, em seguida,faremos as votaes.

    40 Conforme se descreve nas pgs. 683 a 687 do citado DAR I Srie nmero 17,aps a interveno do Sr. Deputado Ablio Fernandes e para alm das habituais expressesparlamentares como Muito bem de dois ou trs outros deputados, apenas intervieram mais doisdeputados nesta discusso conjunta, sendo que um deles (Ricardo Rodrigues) referiuexpressamente que a falta de tempo no lhe permitia explanar sobre argumentos vrios trazidos

    ao debate (cf. P.686 do DAR I srie nmero 17 de 6 de Maio de 2005.41 Constata-se assim que eventuais silncios s afirmaes do Sr. Deputado Ablio

    Fernandes proferidas j no perodo de encerramento do debate das iniciativas legislativas sobrelimitao de mandatos dos eleitos locais, no podem ser interpretadas como concordncia doslegisladores com o ponto de vista que o citado deputado exprimiu, ou entendida a intervenodo Sr. Deputado Ablio Fernandes como elemento determinante da mens legislatoris.

    42 Falece pois, salvo melhor opinio, toda a argumentao expendida no douto despachode que se reclama, quanto relevante considerao da interveno do Senhor Deputado AblioFernandes no debate parlamentar como elemento histrico de interpretao.

    43 Assim sendo, dvidas no podem restar que o legislador pretendeu tornar inelegveispara um quarto mandato consecutivo como presidente de rgo executivo de autarquia local,

    todos os cidados que hajam sido eleitos para trs mandatos consecutivos como presidentes deJunta de Freguesia ou Presidentes de Cmara Municipal, interpretar em sentido contrrioconstitui uma flagrante violao do cnone interpretativo nsito no artigo 9., n. 3 do CdigoCivil.

    44 Inexiste pois, salvo melhor opinio, qualquer dvida assinalvel quanto ao sentido dodisposto no artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, de 29 de Agosto, pelo que de afastar qualquerinterpretao restritiva (pretensamente conforme Constituio da Repblica Portuguesa) comoa que sustentada na douta deciso de que se reclama.

    45De resto, e conforme afirmado no j aqui referido Acrdo da Relao de Lisboa, e que nunca demais transcrever: a interpretao que ora se defende a nica consentnea com o preceitoconstitucional citado o que significa que a nica admissvel.

    46 Por isso, a douta deciso de que se reclama deveria ter julgado inelegvel o cidadoLus Filipe Menezes Lopes como primeiro candidato Cmara Municipal do Porto pelacoligao eleitoral Porto Forte constituda por PPD/PSD, PPM,MPT, e ao no o fazer,violou o artigo 9., n. 3 do Cdigo Civil e o artigo 1., n. 1 da Lei n. 46/2005, de 29 deAgosto.

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    47 Por ltimo, determinou o Meritssimo Juiz, no final da deciso de que se reclama, quese cumprisse o disposto nos ns. 5 e 6 do artigo 29. da Lei Eleitoral dos rgos das AutarquiasLocais.

    48 de sublinhar que a candidatura do Bloco de Esquerda, atravs do seu mandatrio,impugnou a candidatura do cidado Lus Filipe Menezes Lopes ao abrigo do artigo 25., n. 3 daLei Eleitoral dos rgos das Autarquias Locais.

    49 Ora, assim sendo (e de resto a prpria deciso de que se reclama que reconheceestarmos perante uma impugnao), h lugar reclamao prevista no artigo 29., n. 1 da Lei

    Eleitoral dos rgos das Autarquias Locais, que concretizada atravs do presenterequerimento.

    50 Assim, apenas dever haver lugar ao cum primento do d isposto nos n.s 5 e 6 do artigo 29. daLei Eleitoral dos rgos das Autarquias Locais aps a deciso da presente reclamao.

    Termos em que procede a presente Reclamao, devendo:

    a) O cidado Lus Filipe Menezes Lopes, como primeiro candidato Cmara Municipal doPorto, pela coligao eleitoral Porto Forte constituda por PPD/PSD, PPM, MPT, ser julgadoinelegvel;

    b) Revogar-se a deciso de admisso da candidatura de tal cidado como primeirocandidato Cmara Municipal do Porto, por a mesma violar pelo menos o artigo 1., n. 1 daLei n. 46/2005, de 29 de Agosto, substituindo-a por deciso que declare a inelegibilidade do

    mesmo.i) Tal reclamao foi indeferida pelo despacho de 19 de agosto de 2013 (fls. 433 e

    seguintes), com os fundamentos seguintes:Tendo a fls. 402 a 408 sido proferido Despacho que julgou improcedente a impugnao

    apresentada pelo Bloco de Esquerda e considerou elegvel o cidado Lus Filipe Menezes Lopes eleio autrquica em causa, veio o Ilustre Mandatrio das listas do Bloco de Esquerda; aosrgos autrquicos do Municpio do Porto apresentar a reclamao que antecede, concluindopela inelegibilidade do aludido cidado e pela revogao da aludida Deciso de admisso darespetiva candidatura.

    No se estando perante qualquer das situaes previstas nos ns 2 e 3 do art 29 da LeiEleitoral dos rgos das Autarquias Locais, (pois, nem est em causa a admisso de qualquer

    candidatura, nem deciso que tenha julgado inelegvel qualquer candidato ou que tenha rejeitadoqualquer candidatura, mas to-somente a aludida Deciso que considerou elegvel o cidadosupra identificado), cumpre decidir.

    Pese embora o teor da douta reclamao apresentada, a mesma no foi suscetvel de nosconvencer a revogar a Deciso de fls. 402 a 408 impugnada, a qual, por isso, sustentamos nosseus precisos termos.

    Com efeito, para alm da fundamentao a expendida, com a qual concordamos inteiramente e porisso aqui damos por reproduzida nos seus precisos termos, por manifestas razes de economiaprocessual, apenas acrescentamos mais um fundamento para considerarmos elegvel o cidado Lus FilipeMenezes Lopes eleio autrquica em causa.

    que sendo o municpio a pessoa coletiva e a cmara municipal, a assembleia municipal e a

    junta de freguesia os rgos de tal pessoa coletiva, o aludido art 1, n 1da Lei n 46/2005 noveda manifestamente que um presidente da cmara municipal de um determinado municpioque tenha sido eleito para trs mandatos consecutivos possa concorrer assembleia municipale/ou a qualquer junta de freguesia desse mesmo municpio.

    Ora assim sendo, permitindo o aludido normativo que um presidente da cmara municipal de umdeterminado municpio que tenha sido eleito para trs mandatos consecutivos, possa concorrer aosrestantes rgos desse mesmo municpio, por maioria de razo (et pour cause) ter-se- de entender que oaludido presidente da cmara possa concorrer a qualquer rgo (incluindo a cmara m unicipal) de qualqueroutro municpio, no fazendo, a nosso ver qualquer sentido, que podendo candidatar-se a qualquer outrorgo (que no a cmara municipal) do mesmo municpio o candidato no o pudesse fazer relativamenteao mesmo rgo de municpio diverso, sendo, a nosso ver, demonstrativo de que o que o legislador noart1, n1 daLei n46/2005 apenas pretendeu (ratio legis) foi vedar a possibilidade de um presidente dacmara municipal de um determinado municpio que tenha sido eleito para trs mandatos consecutivos,

    poder concorrer para um quarto mandato consecutivo na mesm a cmara municipal do mesmo municpio,nada impendido contudo a candidatura do m esmo cmara municipal de um outro m unicpio.

    O que necessariamente implica, e reafirmando-se uma interpretao normativa de acordocom o estatudo no art 18 da CRP, mormente no que tange rigorosa observncia doprincpio da proporcionalidade quanto restrio de direitos fundamentais, como o caso do

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    direito eleitoral passivo que est em causa incasu, e tendo em conta que a indicada intervenodo senhor deputado Ablio Fernandes constitui um mero elemento histrico de interpretao,impe-se julgar improcedente a reclamao apresentada.

    Pelo exposto e sem necessidade de ulteriores consideraes, indefiro a reclamao apresentada a fls. 412 a 431 eem consequnc ia mantenho a deciso impugnada da f ls. 402 a 408, nos seu s precisos t ermos.

    j) Nesse mesmo dia, 19 de agosto de 2013, foram afixadas as listas definitivas portado tribunal (cfr. certido de fls. 438);

    k) Em 22 de agosto de 2013, deu entrada o presente recurso.

    3. Subidos os autos a este Tribunal Constitucional, foi proferido despachosolicitando ao tribunal recorrido informao urgente, face ao disposto no artigo 31., n. 2da LEOAL, sobre (i) a hora de afixao das listas de candidaturas admitidas, emcomplemento da certido de fls. 438; e (ii) a hora em que deu entrada o recurso (fls. 794).

    A fls. 796 foram prestados os seguintes esclarecimentos:

    [F]oi afixada a lista de candidatos admitidos em complemento da certido de fls. 478,

    quinze minutos aps a prolao do despacho proferido em 19-08-2013, pelas 18:00 horas.No que diz respeito hora a que deu entrada o recurso de fls. 443, o mesmo foi

    apresentado neste Tribunal pelo recorrente Bloco de Esquerda, pelas 09:00 horas do dia 22-08-2013.

    B) Da tempestividade do recurso4. Cumpre apreciar, em primeiro lugar, a invocada extemporaneidade do presente

    recurso.Sustenta o recorrido que, tendo as listas admitidas sido afixadas em 19 de agosto de

    2013, nos termos do disposto no artigo 29., n. 5 da LEOAL, e fixando o artigo 31., n. 2,do mesmo diploma um prazo de quarenta e oito horas a contar dessa afixao parainterposio do recurso, o mesmo deveria ter sido interposto at 21 de agosto de 2013(quarta-feira) . Assim, face ao carimbo de entrada aposto ao presente do recurso, com adata de 22 de agosto de 2013, teriam sido ultrapassadas mais de quarenta e oito horasdesde a data da afixao das listas no tribunal.

    Como jurisprudncia reiterada deste Tribunal, os prazos de horas constantes de leiseleitorais so contados hora a hora, no lhes sendo aplicvel o disposto no artigo 279. doCdigo Civil (cfr., nesse sentido, designadamente, os Acrdos n.s 302/2007, 302/2007 e450/2009, todos disponveis, assim como os demais adiante citados, emhttp://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/).

    A este propsito, referiu o Acrdo n. 439/2005,

    [O] processo eleitoral [] tem uma natureza especfica. Dada a necessidade deconcluso expedita e em tempo til de todo o processo, os prazos so especialmente curtos. Poressa razo, tambm afastada a aplicao de parte significativa das regras de contagem de

    prazos relativas ao processo civil.Desse modo, os candidatos tm um nus especial de diligncia no exerccio dos seus

    direitos processuais, que implica uma especial ateno aos atos praticados pela administraoeleitoral e pelos tribunais.

    Assim, o prazo a que se refere o artigo 31 da Lei Eleitoral dos rgos das Autarquias

    http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/
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    Locais, fixado em 48 horas, contado hora a hora.

    No , pois, necessariamente aplicvel o disposto no artigo 279 do Cdigo Civil, j que asespeciais exigncias de celeridade deste tipo de processos fundamentam uma interpretao estritadas regras constantes da Lei Eleitoral.

    Por outro lado, e como a mesma jurisprudncia tambm tem reiterado, ocorrendo o

    termo final do prazo em momento em que a secretaria judicial se encontra encerrada mesmo nos casos em que, por se tratar de dia no til, a secretaria nem sequer chegou aabrir -, tal termo transfere-se para o primeiro dia til imediatamente a seguir, hora deabertura da secretaria do tribunal respetivo, ou seja, pelas 9h00 (cfr., nesse sentido,entre outros, os referidos Acrdos n.s 439/2005, 302/2007 e 450/2009).

    No caso dos presentes autos, e face informao prestada pelo tribunal recorrido a fls.

    796, tendo as listas dos candidatos admitidos a que se refere o artigo 29., n. 5, da LEOALsido afixadas no dia 19 de agosto de 2013, s 18h15 (quinze minutos aps a prolao dodespacho proferido em 19-08-2013, pelas 18:00 horas) hora que corresponde ao termoinicial do prazo para recurso, uma vez que a afixao das listas porta do tribunal garantea cognoscibilidade das decises finais relativas apresentao de candidaturas, das quaiscabe recurso para este Tribunal Constitucional (Acrdo n. 450/2009) -, o prazo deimpugnao das candidaturas terminaria mesma hora do dia 21 de agosto de 2013 (cfr. oartigo 31., n. 2, da LEOAL). Porm, como a essa hora os servios das secretarias judiciaisj no se encontram abertos ao atendimento do pblico, o termo final do prazo transferiu-separa o dia 22 de agosto de 2013, pelas 9 horas. Assim, e tendo o presente recurso dadoentrada pelas 9:00 horas, no pode o mesmo deixar de se considerar como apresentadoem tempo.

    Improcede, pelo exposto, a invocada extemporaneidade do recurso.

    C) Do mrito do recurso

    5. A Lei n. 46/2005, de 29 de agosto, segundo a respetiva epgrafe, estabelece limites renovao sucessiva de mandatos dos presidentes dos rgos executivos das autarquiaslocais. Dispe-se o seguinte nesse diploma:

    Artigo 1

    Limitao de mandatos dos presidentes dos rgos executivos das autarquias locais

    1 - O presidente de cmara municipal e o presidente de junta de freguesia s podem sereleitos para trs mandatos consecutivos, salvo se no momento da entrada em vigor da presentelei tiverem cumprido ou estiverem a cumprir, pelo menos, o 3. mandato consecutivo,circunstncia em que podero ser eleitos para mais um mandato consecutivo.

    2 - O presidente de cmara municipal e o presidente de junta de freguesia, depois deconcludos os mandatos referidos no nmero anterior, no podem assumir aquelas funesdurante o quadrinio imediatamente subsequente ao ltimo mandato consecutivo permitido.

    3 - No caso de renncia ao mandato, os titulares dos rgos referidos nos nmerosanteriores no podem candidatar-se nas eleies imediatas nem nas que se realizem noquadrinio imediatamente subsequente renncia.

    Artigo 2

    Entrada em vigor

    A presente Lei entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2006 .

    In casuverifica-se que Lus Filipe Menezes Lopes - o primeiro nome indicado na lista de

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    candidatos Cmara Municipal do Porto apresentada pela coligao eleitoral PORTOFORTE, constituda pelo PPD/PSD, PPM e MPT, e representada pelo ora recorrido exerce presentemente o cargo de Presidente da Cmara Municipal de Vila Nova de Gaia,para o qual foi sucessivamente eleito em 1997, 2001, 2005 e 2009.

    Para o recorrente, o artigo 1., n. 1, da citada Lei n. 46/2005 deve ser interpretado no

    sentido de consagrar (i) uma inelegibilidade; que (ii) respeita a toda e qualquer autarquia, e

    no apenas autarquia onde o cidado tenha sido eleito presidente de cmara ou presidentede junta por trs mandatos consecutivos. O recorrido, ao invs, no aceita que o mesmopreceito seja entendido no sentido de que a limitao renovao sucessiva de mandatos acontida tenha um contedo funcional, proibindo a candidatura a um rgo executivoautrquico de algum que j cumpriu trs mandatos consecutivos no mesmo rgoexecutivo de outra autarquia.

    E neste ltimo sentido que tambm vai o entendimento sufragado na deciso ora

    recorrida: o que o legislador no art. 1., n. 1 daLei n. 46/2005 apenas pretendeu (ratiolegis) foi vedar a possibilidade de um presidente da cmara municipal de um determinado

    municpio que tenha sido eleito para trs mandatos consecutivos, poder concorrer para umquarto mandato consecutivo na mesma cmara municipal do mesmo municpio, nadaimpedindo contudo a candidatura do mesmo cmara municipal de um outro municpio.

    Discute-se, em suma, se os mandatos consecutivos que determinam a inelegibilidade

    do cidado que os cumpriu para mais um mandato consecutivo, nos termos do artigo 1. daLei n. 46/2005, de 29 de agosto, se referem necessariamente s funes em abstratocorrespondentes ao cargo de presidente de cmara municipal (ou de presidente de junta defreguesia) ou, antes, s funes concretas de presidente de cmara municipal (ou depresidente de junta de freguesia) numa dada autarquia local. Assim, admitindo ser pacfico

    que aquela Lei introduz uma limitao capacidade eleitoral passiva de determinadoscidados, restar indagar qual a amplitude desta restrio renovao sucessiva demandatos; ou seja, importa determinar se a aludida limitao vale apenas para acircunscrio territorial autrquica onde foram exercidas as funes ou se tem um campo deaplicao mais abrangente, impedindo a candidatura para toda e qualquer cmara municipalou junta de freguesia.

    Trata-se de questo hermenutica referente prpria Lei n. 46/2005 a determinao

    do respetivo sentido e alcance - que antecede qualquer juzo sobre a sua legitimidadeconstitucional: a apreciao da constitucionalidade de uma dada norma pressupe a

    determinao do respetivo sentido e alcance. De resto e sem prejuzo dos poderes defiscalizao concreta que cabem ao Tribunal Constitucional enquanto tribunal comum emmatria de contencioso eleitoral , o recorrido s questiona a constitucionalidade da citadaLei, na medida em que seja atribudo ao respetivo artigo 1. o sentido mais abrangente deimpedir a candidatura a toda e qualquer cmara municipal ou junta de freguesia dopresidente de cmara municipal ou de junta de freguesia que tenha exercido trs mandatosconsecutivos (cfr. a concluso XXIV das suas alegaes de recurso).

    6. Como se reconheceu no Acrdo deste Tribunal n. 364/91,

    Na rea do exerccio do poder local electivo em que nos movimentamos aaxiologia da inelegibilidade assenta, particularmente, na iseno e independncia de quem exercecargos electivos (como se observou no Acrdo n. 533/89, publicado no Dirio da Repblica, IISrie, de 23 de Maro de 1990) e, simultaneamente, na expresso livre do voto periodicamenteexercido e, como tal, servindo para aferir o comportamento do eleito, sancionando-o se for casodisso.

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    A inelegibilidade complementa-se com a incompatibilidade e, por via de ambas, o princpioda universalidade dos direitos fundamentais acolhido no artigo 12., n. 1, da CR e ahomogeneidade tendencial do exerccio desses direitos, so temperados, sempre que redundemem excesso ou inadequao e desproporo, considerando os valores e os interessesconstitucionalmente tutelados.

    []

    A inelegibilidade funciona, consequentemente, como uma restrio e restrio de acessoa cargos electivos.

    []Volvendo ao Acrdo n. 532/89 e ao direito de sufrgio passivo transcreve-se mais uma

    passagem do que nesse aresto se ponderou e se tem, aqui e agora, por inteiramente vlido:

    Como direito fundamental que , a prpria Constituio n. 2 do artigo 18. adverte s poder a lei restringi-lo nos casos nela expressamente previstos, devendo as restrieslimitar-se ao necessrio para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmenteprotegidos.

    Por outras palavras, probe-se o excesso e exige-se a adequao (meios-fins), tendo emconsiderao os interesses tutelados.

    O prprio texto constitucional consagra, de resto, o critrio dos limites admissveis: no n. 3do artigo 50. afirma-se claramente que, no acesso aos cargos electivos, a lei s pode estabeleceras inelegibilidades necessrias para garantir a liberdade de escolha dos eleitores acautelando-se, desse modo, os riscos inerentes captao da benevolncia destes e a iseno eindependncia do exerccio dos respectivos cargos, sancionando-se, assim, com dignidadeconstitucional, a densificao do princpio da vinculao do legislador aos direitos fundamentaismediante a imposio de outros valores que, passando pela necessidade de afirmar o princpioda legalidade, conformam o poder poltico, no caso o poder local.

    [] .

    Infere-se daqui, desde logo, uma conexo entre o direito de sufrgio passivo ou

    direito de ser eleito para cargos polticos - caracterizado direito, liberdade e garantia de

    participao poltica e o princpio democrtico. Com efeito, nesta categoria de direitosfundamentais no est em causa apenas nem fundamentalmente - uma mera expresso daindividualidade privada face ao poder pblico, mas o especfico modo de estruturao econformao desse mesmo poder pblico enquanto poder democrtico. A democraciaimplica eleies como modo de designao dos titulares do poder, o que s possvel sehouver pessoas que possam ser eleitas. A elegibilidade , deste modo, necessariamente(tambm) uma expresso da cidadania democrtica e, como tal, indissocivel do princpiodemocrtico; simetricamente, a inelegibilidade lato sensu constitui uma limitao dessacidadania funcionalmente ordenada a esse mesmo princpio. esta a razo de ser docritrio dos limites admissveis consagrados no artigo 50., n. 3, da Constituio,relativamente elegibilidade de cidados para cargos polticos: a modulao do prprioprincpio democrtico (e no, por exemplo, a soluo de quaisquer conflitos de direitossubjetivos entre candidatos ou entre candidatos e eleitores).

    Por outro lado, a caracterizao das inelegibilidades como restries a um direito,liberdade e garantia de participao poltica e a consequente sujeio das normas que asestabelecem aos limites constantes do artigo 18. da Constituio, nomeadamente o danecessidade, tem sido reiterada em jurisprudncia posterior (cfr., entre vrios, os Acrdosn.os 25/92, 382/2001, 515/2001, 448/2005, 443/2009 e 462/2009).

    7. Foi justamente luz dos parmetros do artigo 50., n. 3, da Constituio e, bemassim, da natureza excecional das restries em matria de direitos, liberdades e garantias,que foram analisados os casos de inelegibilidade que o Decreto n. 356/V da Assembleia daRepblica, com origem na Proposta de Lei n. 165/V, tentou criar.

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    Com efeito, um dos antecedentes da Lei n. 46/2005, de 29 de agosto, entre outras

    tentativas de projetos legislativos no sentido de estabelecer uma limitao renovaosucessiva de mandatos dos titulares de rgos autrquicos, que no vieram a ser aprovados,merece realce o citado Decreto, no qual se previa a alterao do artigo 4. o artigo queconsagrava as inelegibilidades do Decreto-Lei n. 701-B/76, de 19 de Setembro (aanterior LEOAL), nos seguintes termos (cfr. Dirio da Assembleia da Repblica, II Srie - A,n. 63, de 10 de julho de 1991, pp. 1465-1466):

    - N. 2: So tambm inelegveis para um executivo municipal, durante o quadrinioimediatamente subsequente ao terceiro mandato, os cidados que nesse executivo tenhamexercido o cargo de presidente durante trs mandatos consecutivos;

    - N. 3: Os presidentes e vereadores das cmaras que renunciem ao cargo no podemcandidatar-se nas eleies imediatas nem nas que se realizem no quadrinio imediatamentesubsequente renncia.

    O objetivo foi inequivocamente expresso na exposio de motivos da mencionada

    Proposta de Lei n. 165/V: a reduo do nmero de mandatos consecutivos do presidente

    da cmara, deriva do princpio democrtico, do qual decorre o imperativo da renovaodos titulares de cargos polticos, quer a nvel de soberania quer a nvel dos rgos do poderlocal. E, se bem que a medida adotada se circunscrevesse aos presidentes das cmaras (evereadores, no caso de renncia), acrescentou-se:

    A fim de dar cumprimento a este preceito constitucional [est-se a referir ao princpiodemocrtico] estabelece-se a inelegibilidade para um quarto mandato dos cidados que tenhamexercido o cargo de presidente da cmara por trs mandatos consecutivos.

    Assim diminui-se o risco de pessoalizao do exerccio do poder e garante-se uma maiortransparncia, iseno e independncia na atuao dos titulares dos rgos autrquicos.Fomenta-se, tambm, o aparecimento de alternativas credveis dinamizando o funcionamentodas instituies pelo aparecimento de novos quadros e, acima de tudo, garante-se a liberdade de

    escolha dos eleitores, dando pleno cumprimento s exigncias do princpio democrtico.

    No mbito da discusso parlamentar que antecedeu a aprovao do Decreto n. 356/Vforam igualmente referidas linhas de fora justificativas da racionalidade das novasinelegibilidades e da sua associao ao prprio princpio democrtico, nomeadamente, anecessidade de renovao dos titulares dos cargos polticos em nome de maior mobilidadedos agentes pblicos autrquicos, a abertura ao dinamismo de novos protagonistas, a defesade maior eficcia e melhor operacionalidade dos presidentes das cmaras.

    Porm, mesmo dando por suposto que o decurso do tempo afeta o funcionamento e a

    eficcia do exerccio do poder local, porventura acompanhados de vcios de atuao, oTribunal Constitucional considerou no j referido Acrdo n. 364/91, em sede defiscalizao preventiva da constitucionalidade, que:

    Na sua projeco normativa eleitoral, o princpio democrtico exige uma investidura adtempus, repelindo o vitalcio e impondo a renovao.

    No se v, no entanto, na teorizao do princpio e na respectiva praxis, nas suas dimensesmaterial, organizatria e procedimental, arrimo justificativo do alargamento de inelegibilidades a eventual razoabilidade de algumas das motivaes adiantadas no abala a necessidade decredencial constitucional para alterao do elenco de inelegibilidades, revelia das excepesprevistas no n. 3 do artigo 50. da CR.

    Mais:Poderia, no entanto, defender-se estar a limitao de mandatos prevista no artigo 121. da

    CR [correspondente ao atual artigo 118., n. 1, da Constituio] princpio da renovao econstituir a precipitao de um princpio republicano, com expresso universal no domnio do

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    direito eleitoral.

    E que, a essa luz, o legislador ordinrio detm certo espao de manobra na criao deinelegibilidades com o que pretenderia assegurar, mais do que a livre escolha dos eleitores,essencialmente a iseno e independncia do exerccio dos respectivos cargos.

    [Contudo], dado o presidente da cmara no desempenhar a ttulo vitalcio o cargo eestar sujeito ao voto de confiana do eleitor, periodicamente exercido por sufrgio (o princpioda renovao identifica-se, nestes casos, com o da eleio peridica) no de invocar, em abonode tese limitativa, o princpio republicano.

    Como observam Gomes Canotilho e Vital Moreira [], a proibio de exerccio a ttulovitalcio de qualquer cargo apenas exige que os respectivos titulares no sejam designados portoda a vida; no exige que sejam designados por tempo determinado (desde que a todo o temporenovveis), nem probe que os venham a exercer por toda a vida (atravs de sucessivasrenovaes da eleio ou nomeao, conforme os casos).

    A harmonizao da proibio da vitaliciedade com a limitao de mandatos pode serdefendida, com boas razes, doutrinalmente (cfr., a propsito, Jorge Miranda, Um Projecto deConstituio, Braga, 1975, artigo 259., e Funes, rgos e Actos do Estado, Lisboa, 1990, pp. 71 e72) mas no resiste ao texto constitucional vigente (o que, de resto, est implcito no n. 14 daexposio de motivos do projecto de Cdigo Eleitoral).

    E, por seu lado, admitir que o legislador ordinrio possa, em nome de um dos parmetros

    estabelecidos no artigo 50., n. 3, da CR, criar restries deste tipo nesta matria, contrariaria aratio essendidesta norma norma geral legitimadora da fixao de inelegibilidades, colmatandouma melindrosa lacuna, na opinio de Jos Magalhes (Dicionrio da Reviso Constitucional, 1989, p.50) e a regra da excepcionalidade das restries que a jurisprudncia deste Tribunal vem,alis, destacando a este propsito, aps a 2. Reviso Constitucional (cfr., por todos, o Acrdon. 528/89, na II Srie do Dirio da Repblica, de 22 de Maro de 1990).

    8. Na reviso constitucional de 2004, foi aditado ao artigo 118. da Constituio um n.2, nos termos do qual se passou a dispor que a lei pode determinar limites renovaosucessiva de mandatos dos titulares de cargos polticos executivos. Como referem Gomes

    Canotilho e Vital Moreira, Constituio da Repblica Portuguesa Anotada, Vol. II, 4. ed.,Coimbra Editora, Coimbra, 2010, anot. III ao artigo 118., p. 126:

    A reviso de 2004 veio oferecer o suporte constitucional lei restritiva da renovaosucessiva de mandatos. Antes de o n. 2 ter consagrado a possibilidade de a lei determinar limites renovao sucessiva de mandatos dos titulares de cargos polticos executivos colocavam-se os problemasaflorados na anotao anterior [- no respeitante a titulares eletivos de rgos, o princpio darenovao identifica-se com o princpio da eleio peridica e, no proibindo a Constituio areeleio, a lei tambm no o poderia fazer autonomamente, uma vez que isso implicaria oestabelecimento de inelegibilidades fora das condies constitucionalmente admissveis (artigo50., n. 3)]. Entende-se, hoje que o princpio democrtico e o direito de sufrgio devem sujeitar-se a ponderaes com outros direitos ou bens constitucionalmente protegidos.

    Por um lado, o princpio da periodicidade legitimatria de certos cargos (ex.: de presidenteda cmara) no era suficiente para assegurar a renovao, assistindo-se caricatura dospolticos dinossauros (cfr. AcTc n 364/91). Por outro lado, tambm o princpio republicanoacabava por ser esvaziado em algumas dimenses fundamentais: da no vitalicidade e dasexigncias modernas de responsividade (responsiveness) e de prestao de contas (accountability) dostitulares de cargos polticos. Em terceiro lugar, tornava-se cada vez mais difcil a deslegitimaodos titulares de cargos polticos atravs de eleies dados os esquemas sistmicos alimentadospela longa permanncia em cargos polticos executivos. [].

    A Lei n. 46/2005, de 29 de agosto, vem justamente fazer uso da autorizao

    constitucional do citado artigo 118., n. 2 (nesse sentido, v. Gomes Canotilho e VitalMoreira, ob. cit., anot. VI ao artigo 118., p. 127; e Jorge Miranda e Rui Medeiros,Constituio Portuguesa Anotada, Tomo II, Coimbra Editora, Coimbra, 2006, anot. III aoartigo 118., p. 327).

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    E foi nesse enquadramento que este Tribunal reconheceu j, nomeadamente no seuAcrdo n. 261/2006, que a lei em causa consagra regras impeditivas de candidaturas sucessivasaos cargos de presidente de cmara municipal ou de junta de freguesia por parte dos seus titulares:

    Subjacente limitao de mandatos ou ao nmero de mandatos que a mesma pessoapode exercer sucessivamente est como se dizia na exposio de motivos da Proposta de Lein. 4/X, que deu origem Lei n. 46/2005 o objetivo de fomentar a renovao dos titularesdos rgos, visando-se o reforo das garantias de independncia dos mesmos, e prevenindo-seexcessos induzidos pela perpetuao no poder.

    Ora, sendo o objetivo da Lei n. 46/2005 estabelecer limites renovao sucessiva demandatos dos presidentes dos rgos executivos das autarquias locais, a norma do n. 3 doartigo 1 pretende prevenir eventuais situaes de fraude lei e nomeadamente impedir que umpresidente de cmara ou um presidente de junta de freguesia, ao atingir o perodo de limitaolegal dos mandatos, venha a contornar a regra que estabelece um obstculo sua candidatura noquadrinio seguinte, utilizando o expediente da renncia ao mandato.

    Deste modo se evita que a renncia pudesse funcionar como mecanismo de evaso aoprincpio da limitao dos mandatos.

    Ou seja, aquela Lei tem como desiderato prevenir o risco de excessiva personalizao

    do exerccio do poder, visando ainda garantir uma maior transparncia, iseno eindependncia na atuao dos titulares dos rgos autrquicos e promover o aparecimentode alternativas credveis, desta forma dinamizando o funcionamento das instituies peloaparecimento de novos quadros e garantindo a liberdade de escolha dos eleitores. E, para oefeito, a mesma Lei estabeleceu certas inelegibilidades.

    9. Na verdade, resulta dos trabalhos preparatrios da Lei n. 46/2005, nomeadamenteda citada exposio de motivos da Proposta n. 4/X e das principais intervenes naAssembleia da Repblica no decurso da sua discusso, na generalidade (cfr. Dirio da

    Assembleia da Repblica, I Srie, n. 17, de 6 de maio de 2005, pp. 670-687), que subjacente deciso de limitao de mandatos de cargos polticos executivos, esteve a ideia de que ainexistncia de qualquer impedimento renovao sucessiva de tais mandatos levava a queos eleitos pudessem permanecer no mesmo cargo poltico executivo por largos perodos detempo e que essa longa permanncia no poder poderia propiciar a criao de redes deinfluncia, afetando a renovao e alternncia nos cargos. O propsito que esteve na baseda consagrao dos mencionados limites renovao sucessiva de mandatos foi,claramente, o de fomentar e garantir a renovao dos cargos polticos de presidente de juntade freguesia e de presidente de cmara municipal, por forma a evitar a concentrao epersonalizao do poder que poderia resultar de uma longa permanncia da mesma pessoanos referidos cargos.

    Saliente-se igualmente que a citada discusso tambm respeitou aos Projetos de Lein.os 34/X (limitao de mandatos dos eleitos locais) e 35/X (limitaes temporais snomeaes para o exerccio das funes de Primeiro-Ministro e de Presidente do GovernoRegional), ambos apresentados pelo Bloco de Esquerda. Ou seja, tratou-se de umadiscusso conjunta. O aspeto relevante, uma vez que no mencionado Projeto de Lei n.34/X se propunha a seguinte alterao ao artigo 7. da LEOAL, que trata dasinelegibilidades especiais (aquelas que respeitam aos rgos de autarquias locais doscrculos eleitorais onde [as pessoas consideradas inelegveis] exercem funes ou jurisdioe que, na sistematizao da LEOAL, se contrapem s inelegibilidades gerais - asrespeitantes aos rgos de quaisquer autarquias locais):

    Artigo 7

    ()

    4 No so elegveis, durante um quadrinio, para os cargos de carter executivo dos

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    rgos autrquicos, os cidados que tenham exercido esses mesmos cargos a tempo inteirodurante dois mandatos completos consecutivos, ou por um perodo superior a oito anos.

    5 - Os presidentes das cmaras que desempenhem o cargo a tempo inteiro e renunciem aocargo, no podem candidatar-se a esse mandato no quadrinio seguinte.

    10. A principal questo que se tem colocado face limitao de mandatos consagrada

    no artigo 1., n. 1, da Lei n. 46/2005, de 29 de Agosto, a de saber se tal norma impedeque o presidente de uma cmara municipal ou o presidente de uma junta de freguesia quetenha concludo o nmero de mandatos consecutivos nela previsto na mesma autarquia secandidate a outro municpio ou a outra freguesia para a assumir aquelas funes noquadrinio imediatamente subsequente ao ltimo mandato consecutivo.

    No est em causa, portanto, que o artigo 1. daquela Lei estabelea inelegibilidades

    (cfr., nesse sentido, o j citado Acrdo n. 261/2006) nem que tais inelegibilidadesrespeitem ao presidente de cmara municipal ou presidente de junta de freguesia que, tendosido