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Director VitalMoreira DirectorAdjunto PedroGonalves SecretriadeRedaco AnaCludiaGuedes Proprietrio CentrodeEstudosdeDireitoPblicoeRegulao (CEDIPRE) Editor CentrodeEstudosdeDireitoPblicoeRegulao (CEDIPRE) ComposioGrfica AnaPaulaSilva Morada FaculdadedeDireitoda UniversidadedeCoimbra PtiodaUniversidade 3004545CoimbraPortugal NIF 504736361 SededaRedaco CentrodeEstudosdeDireitoPblicoeRegulao (CEDIPRE) NdoRegistodaERC 125642 ISSN 16472306 Periodicidade Bimestral

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FICHATCNICA

REVISTA DE DIREITO PBLICO E REGULAO S U M R I O Actualidade........................................................................................3 Cednciasdeterrenosparaespaosverdes,equipamentose infraestruturas .............................................................................................3 . JOOPEREIRAREISRUIRIBEIROLIMA|Advogados

Doutrina..........................................................................................11 OAcordoQuadro........................................................................................11 CLUDIAVIANA|ProfessoradoInstitutoPolitcnicodoCvadoedoAve NovoCustodeAcessoJustia..................................................................23 ELIZABETHFERNANDEZ|ProfessoradaEscoladeDireitodaUniversidade doMinho Alteraes introduzidas ao Regime Jurdico do Crdito Agrcola MtuopeloDecretoLein142/2009,de16deJunhoentreofimdo regimecooperativoemproldaliberdadedeiniciativaeconmicasem respeitopeloprincpiodaigualdade...........................................................43 FERNANDAMAS|Advogada Aspropostasnosolicitadaseoregimedacontrataopblica: reflexesapretextodosprocedimentosdeatribuiodeusospriva tivosderecursoshdricosporiniciativaparticular.......................................59 PEDRONUNORODRIGUES|Advogado OPoderesderegulaodaERSE.................................................................81 RODRIGOVARELAMARTINS|Advogado

Informaes...........................................................................101

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2JooPereiraReisRuiRibeiroLima

www.fd.uc.pt/cedipre

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A C T U A L I D A D E

Cednciasdeterrenosparaespaosverdes,equipamentoseinfraestruturas JooPereiraReisRuiRibeiroLima Advogados

1Enquadramento Oinstitutodacednciadeterrenosnombitodasoperaesurbansticasganhounovos contornosluz,nos,darecentealteraoaoRegimeJurdicodaUrbanizaoedaEdi ficao(doravantereferidocomoRJUE),perpetradapelaLein.60/2007,de4deSetem bro(1),comotambmdaalteraoaoRegimeJurdicodosInstrumentosdeGestoTerri torial(RJIGT),realizadapeloDecretoLein.316/2007,de19deSetembro(2). Desde logo, a principal novidade prendese com o alargamento do mbito de aplicao daqueleinstituto,jque,actualmente,podehaverlugarcednciadeterrenos,nos nombitodeoperaesdeloteamento,mastambm,comoadiantesever,notocante a outras operaes urbansticas no subsumveis quele conceito, como sejam as obras

ApsapublicaodaLein.60/2007,de4deSetembro,oRJUEviuaindaalgumasdassuasdisposies revogadasealteradaspeloDecretoLein.18/2008,de29deJaneiroepeloDecretoLein.116/2008,de4 deJulho. ApsaalteraodoDecretoLein.380/99,de22deSetembro(RJIGT)peloDecretoLein.316/2007,de 19deSetembro,verificouseumaoutraalteraoquelediploma,destafeitapeloDecretoLein.46/2009, de20deFevereiro. 2 1

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3Actualidade

decriaodenovasedificaes.

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Poroutrolado,tendooactualRJIGTprevistoaatribuiodeefeitosregistaisaosplanos depormenor(viden.3doartigo92.eartigo92.A),desdequerenamdeterminados requisitos,verificasequetambmnaquelediplomasotratadasmatriasrespeitantess cednciasdeterrenosparaodomniomunicipal. Aaplicaoaoscasosconcretosdoregimejurdicodascednciastemsuscitadoalgumas dvidas de interpretao, verificandose que a prtica seguida pelos municpios nem sempreuniformeequediversascmarasmunicipaisfazemumaleituradaqueleregime poucoconsentneacomosprincipaisobjectivosquelheestosubjacentes. Assim,pretendeopresenteartigodarummodestocontributoparaoestudodestatem tica, identificando algumas questes de relevncia prtica e apontando possveis pistas paraaresoluodasmesmas. 2Oinstitutodascedncias:suacaracterizaoactual Acednciadeterrenosnombito(eporcausa)deoperaesurbansticastemasuasede legalnoartigo44.doRJUE,sendoqueestadisposioseaplicaqueraoperaessujei tasalicenciamento,querssujeitasacomunicaoprvia. Em ordem caracterizao do instituto da cedncia de terrenos, importa comear por dizerqueestenopodeservistomargemdetudoquantoaleidispeemmatriade reas destinadas implantao de espaos verdes e de utilizao colectiva, infra estruturas e equipamentos, j que ambos so, em boa verdade, as duas faces de uma mesmamoeda. Isto,osartigos43.e44.doRJUEfazempartedeummesmoblocolegalcoerentee homogneo,peloqueasrespectivasnormasdeveroserinterpretadasdeformaconju gada. Estatui o n. 1 do artigo 43. do RJUE que os projectos de loteamento devem prever reas destinadas implantao de espaos verdes e de utilizao colectiva, infra estruturasviriaseequipamentos,asquaisserodimensionadasemconformidadecom osplanosmunicipaisdeordenamentodoterritrioou,sendoestesomissos,nostermos fixadosporportariadomembrodoGovernoresponsvelpeloordenamentodoterritrio (3)conformeresultadon.3doartigo6.daLein.60/2007,de4deSetembro. Porseuturno,on.5doartigo57.doRJUEmandaaplicaraqueleregimeacertasopera esurbansticasdeedificaoque,napticadolegislador,determinamimpactessemevidePortarian.216B/2008,de3deMaro,rectificadapelaDeclaraodeRectificaon.24/2008,de2 deMaio.3

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lhantesaoloteamento,emboranoseintegremnoconceitodeoperaesdeloteamen to,definidasnaalneai)doartigo2.doRJUE. Arazodeserdasreferidasnormapareceevidente! Bastaratenderaquantodispemosartigos9.,65.e66.daConstituiodaRepblica Portuguesa,ouaquantoseencontraconsagradonaLeideBasesdoAmbienteenaLeide BasesdaPolticadeOrdenamentodoTerritrioedeUrbanismo,emmatriadetarefas fundamentaisdoEstadoededireitosdoscidadosnosdomniosdaqualidadedevida,do ambiente, da habitao e do correcto ordenamento do territrio, para facilmente com preendermosoespritosubjacenteaoaludidopreceitodoRJUE. Naverdade,aprossecuodeinteressespblicosdirectamenterelacionadoscomaqua lidadedevida,comamelhoriadoambienteurbanoecomocorrectoordenamentodo territrio, valores esses com dignidade constitucional e amplamente reconhecidos nas leisnacionaisenodireitointernacionalecomunitrio,exigequeoprocessodeocupao, usoetransformaodosoloparafinsurbansticostenhaemcontaasnecessidadesbsi casdaspopulaesurbanas,talcomohojesoconcebidasnassociedadesmodernas. Da que seja necessrio assegurar e garantir a existncia e disponibilidade de espaos afectosadeterminadasfunesurbanas,nomeadamentereasdestinadasaespaosde recreio,lazeredesporto,reasparaimplantaodeviasdecirculaoeestacionamento, bem como reas para equipamentos sociais (sade, ensino, administrao, assistncia social,seguranapblica,etc.). Oespaourbanooumultifuncionaleasseguraasatisfaodasnecessidadescolectivas daspopulaesurbanasou,puraesimplesmente,nocumpreosprincpioseobjectivos constitucionais acima referenciados, pelo que, a par das zonas destinadas a habitao, comrcio,indstriaouserviosnopoderodeixardeexistiroutraszonasvocacionadas paraacolherasaludidasfunesurbanas. Oinstitutodascednciassurge,assim,comouminstrumentojurdicoaoserviodaspol ticas pblicas no domnio do urbanismo, do ordenamento do territrio e do ambiente urbano. As cedncias de terrenos (bem como a compensao pela no realizao das mesmas) nopodem,nemdevem,servistascomoumqualquermecanismoindirectodefinancia mento dos sempre to carenciados oramentos municipais, ou de enriquecimento do patrimnioimobiliriodosmunicpios,jqueoobjectivoprimordialdesteinstitutocon tribuirparaasustentabilidadedosespaosurbanoseparaaqualidadedevidadaspopu laes.

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Equemnocompreenderestasingularrealidade,dificilmentefarumacorrectaaplica odaleie,seguramente,norespeitaroespritosubjacenteaoinstitutodascedncias. Reconhecendo,precisamente,aquelafunodeinstrumentodapolticaurbansticaede ordenamento do territrio, o legislador submeteu ao regime da cedncia de terrenos aquelasoperaesurbansticasque,nointegrandooconceitodeoperaesdelotea mento,deacordocomodispostonaalneai)doartigo2.doRJUE,sejamconsideradas comodeimpacterelevante,nostermosdonmero5doartigo44.,aditadopelaLein. 60/2007,de4deSetembro. Segundoaquelepreceito,asoperaesurbansticasdeimpacterelevantesotodasaque las que como tal sejam qualificadas em regulamento municipal, devendo este, natural mente,estabelecer,deformaclaraeinequvoca,asrespectivascaractersticas. O RJUE confere agora aos municpios a faculdade de, atravs dos seus regulamentos autnomos,fixaremosrequisitosecritriosobjectivosquepermitemqualificardetermi nadaoperaourbansticacomotendoumimpacterelevante,dopontodevistaurbans tico, em ordem a impor, assim,aos respectivos promotores, acedncia para o domnio municipaldedeterminadasparcelasdeterreno.(4) Atentese ao facto da lei (RJUE) recorrer a dois conceitos, aparentemente semelhantes, mas,naverdade,bemdiferentes: operaesurbansticasconsideradasdeimpacterelevante(n.5doartigo44.); operaes urbansticasque determinam impactes semelhantes a umaoperao deloteamento(n.5doartigo57.). Poroutrolado,registesetambmqueon.5doartigo44.vaimuitoalmdadisciplina normativaprevistaparaasoperaesurbansticasdeimpactesemelhanteaumaopera odeloteamento(n.5doartigo57.),emvirtudede,quantoaessasoperaesurba nsticas,acmaramunicipalapenasestarhabilitadaaexigirumacompensaoaotitularAindaqueaanteriorredacodoRJUEcontivessejvriasremissesparaosregulamentosmunicipais,no quedizrespeitodefiniodeumconjuntodematriasatinentessespecificidadesdedeterminadasope raesurbansticas,averdadequeaLein.60/2007veioacentuaressanecessidade,jquealgumasdas normasdoRJUEcarecemdeconcretizaomedianteaemissodosrespectivosregulamentosmunicipais.A relevnciadosregulamentosmunicipaisevidentenosseguintescasos: i) Condies e prazo de execuo das obras de urbanizao quando sujeitas a comunicao prvia alneaa)don.1en.2doartigo53.; ii) Fixaodomontantedacauoecondiesgeraisdocontratodeurbanizao,nombitodasobras deurbanizaoquandosujeitasacomunicaoprviaalneasb)ec)don.1doartigo53.; iii) Condies de execuo das obras de edificao, quando sujeitas a comunicao prvia n. 1 do artigo57.; iv) Previso dos limites mximos de execuo de obras de edificao, quando sujeitas acomunicao prvian.2doartigo58..4

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dalicenaouapresentantedacomunicaoprvia,emnumerrioouemespcie,enoa cednciadosterrenos(ns6e7doartigo57.)(5)(6). Noobstanteosartigos43.e44.doRJUEprosseguiremidnticosobjectivosemmat riadepolticaurbansticaedeordenamentodoterritrio,averdadequeestasnormas prevemsituaesdistintas,nopodendosubsistirqualquerdvidaquantoaorespectivo campodeaplicao. Assim,oartigo43.estabelecequeasoperaesdeloteamentodevemcontemplarcer tas reas ou parcelas de terreno destinadas a espaos verdes e de utilizao colectiva, infraestruturaseequipamentos,independentementedofactode,nostermosdon.3do citado artigo, tais reas permanecerem no domnio privado dos particulares ou serem integradasnodomniomunicipal(privadooupblico).Porisso,napticadolegislador,o interessepblicosubjacentequelanormapodeadequadamenteserprosseguido,ainda queasparcelasdeterrenoafectassmencionadasfunes(espaosverdesetc.)fiquem sobagidedodomnio privado(leiasepropriedadeprivada)enosejamincorporadas nodomniomunicipal,desdequeasseguradaestejaaafectaodessasparcelasaosditos usos(7). Joartigo44.doRJUEprevalgodiferente,umavezqueregula,noaafectaodosolo adeterminadasfunes,masocritrioparaapurarquaisasparcelasdeterrenoaceder ao municpio, com vista implantao de espaos verdes pblicos e equipamentos de utilizaocolectiva. A insero sistemtica dos aludidos preceitos refora o entendimento acima exposto: num primeiro momento importa garantir que o projecto de loteamento (ou operao urbansticaeeleequiparada)contempleparcelasdeterrenodestinadassaludidasfun es;numsegundomomentoversedatitularidade,pblicaouprivada,dasmesmas. Assim,aindaquesejausualfalarsedereasdecedncias,apropsitodoartigo43.,a verdadequetalqualificaonocorrecta,porquantonemtodasasreasdestinadas construodeespaosverdesouinstalaodeequipamentosdeutilizaocolectivae infraestruturas(ousequeralgumadelas)ficamsujeitasacednciaparaodomniomuni cipal.5 6

NestesentidosepronunciatambmFERNANDAPAULAOLIVEIRA,Aalteraolegislativaacimacitada.

VejaseigualmenteJOOPEREIRAREIS,MARGARIDALOUREIROeRUIRIBEIROLIMA,RegimeJurdicoda UrbanizaoedaEdificao,AnotadoJurisprudncia,3.edio,2008,Almedina,pg.185. Aeventualdestinaodedeterminadasreasprevistasnasoperaesdeloteamentoaoserviodacomu nidadeemgeral,aindaquepermaneamnaesferaprivadadeparticulares,parececorresponderaoprinc piodavinculaosocialdapropriedadeprivada,defendidoporFERNANDOALVESCORREIA,OPlanoUrba nsticoeoPrincpiodaIgualdade,Almedina,2001,pg.314ess. 7

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Respeitadosquesejamosparmetrosdedimensionamentodasreas,prescritosempla nomunicipaldeordenamentodoterritrioou,nasuafalta,naPortaria216B/2008,cabe ao requerente do licenciamento, ou apresentante da comunicao prvia, da operao urbansticaemcausa,identificarasparcelasquesepropecederaomunicpioparainte graonorespectivodomnio(n.2doartigo44.),competindocmaramunicipal,nes sasequncia,decidirse,ouno,deacolheressapretensoluzdointeressepblico quelheincumbeprosseguir. E,casoseverifiquealgumdospressupostosprevistosnon.4doartigo44.doRJUE,no haverlugarcednciadeterrenosparaodomniomunicipal,sendoestasubstitudapor umacompensao,emnumerrioouemespcie,afavordomunicpio. Salienteseque a norma acima citada apresenta um carcter manifestamente excepcio nal,sendoquearegraacednciadeterrenosaomunicpio,nombitodeoperaesde loteamentoedeoperaesdeimpacterelevante,assumindoacompensaocarcterde excepo. Assim,emboranemsempreistosuceda,impesequeacmaramunicipalfundamente, adequadamente, a dispensa de cedncias (e a aplicao supletiva de compensaes), tendoemcontaquetalapenaspoderocorrernosseguintescasos: a. quandooprdioobjectodaoperaodeloteamento(oudaoperaourbanstica deimpacterelevante)estiverjservidapelasinfraestruturasnecessrias; b. quando no se justificar, luz do interesse pblico, a localizao de qualquer equipamentoouespaoverdepblico,nomeadamenteporqueazonaemcausaj dispedeespaossuficientesdessanatureza; c. quando os espaos, infraestruturas e equipamentos de natureza privada, inclu dos no loteamento, em conjunto com os de natureza pblica, ou isoladamente, respondamsnecessidadesdaspopulaesabrangidas. d. Importa realar que a deciso quanto verificao destes pressupostos, que determinaro,emconsequncia,opagamentodeumacompensaoporpartedo requerente da licena ou do apresentante da comunicao prvia, da compe tnciadomunicpio,emvirtudedeaesteltimoestaremcometidasasatribuies legais no domnio do ordenamento do territrio e urbanismo, de acordo com a alneao)don.1doartigo13.daLein.159/99,de14deSetembro.

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3Oingressodasparcelascedidasnodomniomunicipal Diferentementedoqueaconteciacomaanteriorredaco,oactualn.3doartigo44. doRJUEprevqueasparcelasdeterrenoquesejamobjectodecednciaaomunicpio, tantopodemintegrarodomniopblicocomoodomnioprivadodaquele. Com efeito, estatui agora a norma em causa que deve a cmara municipal definir, no momento da recepo, as parcelas afectas aos domnios pblico e privado do munic pio(8). Assim, o municpio tem que identificar, previamente emisso do alvar, a qual dos domniosficaroadstritasasparcelasaceder,devendo,paratanto,proferirocorrespon denteactoadministrativo. Deste modo, existem dois momentos no tocante cedncia de parcelas nas operaes urbansticas:omomentodadefiniododomniomunicipal,privadooupblico,emque taisparcelasiroingressareomomentodoefectivoingressodasmesmasnorespectivo domnio. segundaquestoparecedarrespostaaalneaf)don.1doartigo77.,aindaqueno demaneiraexpressa.Prescreveanormaemcausaquedoalvardalicenadaoperao deloteamentodeveconstaraespecificaodasparcelasaintegrarnodomniomunici pal.Ora,atendendoaqueasparcelascedidasseintegramnodomniomunicipalcoma emissodoalvar(primeirapartedon.3doartigo44.),lgicoserconcluirqueaiden tificaodasparcelasaincorporarnodomniopblicoounodomnioprivadodeverser feitanadeliberaofinaldolicenciamento,previstanoartigo23.. Diferente , porm, o que sucede no mbito do procedimento de comunicao prvia, umavezqueaadmissodestanotituladaporalvar. Deacordocomojcitadon.3doartigo44.,aincorporaodasparcelasacederefec tuada mediante a elaborao do instrumento prprio, ou seja, atravs de escritura pblicaoudocumentoparticularautenticadopornotrioprivativodomunicpio. Nessamedida,adefiniododomniopblicoouprivado,noqualasparcelasemcausa ingressarodeveserfeitanomomentodaoutorgadaescrituraoudodocumentoparticu larautenticado. Salientese que o prazo para a outorga do instrumento prprio, referido no n. 3 do artigo 44., coincide com o prazo definido no RJUE para a rejeio, ou admisso, daAredacodon.3doartigo44.doRJUEanteriorLein.60/2007,de4deSetembroconsagravacla ramentequeasparcelasdeterrenocedidasaomunicpioseintegravamnodomniopblicomunicipal,com aemissodoalvardelicenciamentoouautorizao. 8

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comunicaoprvia(n.1doartigo36.),oqueimplicaqueasparcelasdeterrenosero cedidasaomunicpioemmomentoanteriordecisosobreacomunicaoprvia(9). Claroestqueainclusodasparcelasdeterrenonodomnioprivadodomunicpiono significaquetaisparcelasnodevamcontinuarafectasaofimdeutilidadepblicaaque foramdestinadas,deacordocomofixadonoalvar(alneaf)don.1doartigo77.)ou noinstrumentonotarialprprio.Comefeito,eseguindodepertoANARAQUELGONAL VESMONIZ(10),nosertorelevanteadominialidadepblicaouprivadadasparcelas cedidas,masantesadestinaopblicaqueomunicpioseautovinculaadarsmesmas nosactosatravsdosquaisincorporaasparcelascedidasnoseudomnio. Etantoassimqueoartigo45.doRJUEprevquehajareversodasparcelascedidas,a favordoprimitivoproprietrio,semprequeestassejamafectasafinsdiversosdaqueles para que hajam sido cedidas, independentemente de tais parcelas terem integrado o domniopblicoouodomnioprivadodomunicpio. Jnoquerespeitascednciasnombitodosplanosdepormenorcomefeitosregistais, aescolhaatinenteaqualdosdomniosdomunicpiodeveropertencerasparcelasobjec todecednciaocorre,anossover,nomomentodadeliberaodaassembleiamunicipal que aprova o plano, tendo em ateno o contedo documental deste, o qual dever incorporar, obrigatoriamente, um quadro com a descrio das parcelas a ceder e a sua finalidade,nostermosdodispostonaalneaf)don.3doartigo92.doRJIGT. Porm,omomentodeingressodasparcelasnodomniomunicipalodaefectivaodo registo predial dos lotes respectivos, de acordo com o n. 6 do artigo 92.A do RJIGT, tudolevandoacrerque,reveliadoregimegeral,oregistopredialassume,aqui,nature zaconstitutiva(11).

10JooPereiraReisRuiRibeiroLimaPgina

Afigurasequeesteregimemanifestamentemaisgravosoparaoparticular,poisesteaindanosabe,a essaalturadoprocedimento,seasuaoperaourbansticavaiserdeferida.Tendemosassimaconcordar comaposioassumidaporFERNANDAPAULAOLIVEIRA,MARIAJOSCASTANHEIRANEVES,DULCELOPES eFERNANDAMAS,deaposioimplcitadeummodonoinstrumentoprprioatravsdoqualsocedi dasasparcelas(RegimeJurdicodaUrbanizaoeEdificaoComentado,Almedina,2009,pg.326). ANA RAQUEL GONALVES MONIZ, Cedncias para o Domnio Municipal: Algumas Questes, Direito RegionaleLocaln.4,2008,pg.28 SegundoJOOBASTOS(OPlanodePormenorenquantottulodetransformaofundiriacomreper cussesnoregistopredial,Coimbra,2008),oregistopredialdoplanodepormenorpossuinaturezaconsti tutiva,umavezqueatravsdesseregistoqueseoperaatransmissodapropriedadedasparcelascedidas aomunicpio.11 10 9

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D O U T R I N A

OAcordoQuadro( ) CludiaViana ProfessoradoInstitutoPolitcnicodoCvadoedoAve

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1.Oacordoquadronocontextodacontrataopblica Comosesabe,acontrataopblicarepresentacercade16%doPIBdaUnioEuropeia (1), assumindo ainda uma dimenso internacional que abrange os quarenta pases que subscreveramoAcordosobreosContratosPblicosnoseiodaOrganizaoMundialde Comrcio(2). Estaimportnciaeconmicadacontrataopblica,que,noplanoeuropeu,estindisso ciavelmente ligada plena concretizao do mercado nico, constitui, em nosso enten der,ajustificaoparaaexistnciadeumespecficoregimejurdico(3)quevisadiscipli naracelebraodoscontratospblicosenquantotransaceseconmicascelebradasno(*)OpresentetextotemporbaseaintervenosobreAimportnciadosacordosquadroapresentadana 1.ConvenoNacionaldeComprasPblicas,promovidapelaAgnciaNacionaldeComprasPblicas,E.P.E., quetevelugarnodia1deJulhode2009,noCentrodeCongressosdeLisboa,Junqueira,Lisboa. (1)Cfr.COMISSO,AreportonthefunctioningofpublicprocurementmarketsintheEU:benefitsfromthe application of EU directives and challenges for the future, de 3 de Fevereiro de 2004, in http://www.europa.eu.int. (2)RelativamenteaoAcordosobreosContratosPblicos,cfr.onossoAglobalizaodacontrataopbli caeoquadrojurdicointernacional,inAA.VV.(coord.PEDRO GONALVES),EstudosdeContrataoPblica, vol.I,CEDIPRE/CoimbraEditora,Coimbra,2008,pp.23/49. (3) Para mais desenvolvimentos, ver o nosso Os princpios comunitrios na contratao pblica, Coimbra Editora,Coimbra,2007,pp.89esegs.

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11Doutrina

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seiodomercadoeuropeuetambm,porforadoscompromissosassumidos,domercado internacional. Oqueestaquiemcausa,fundamentalmente,garantirqueoscontratospblicosso celebrados com respeito pelos princpios e travesmestras em que assenta o mercado europeu(4),demodoaqueseconsigapromoverumaefectivaconcorrnciaentreosope radores econmicos, fomentandose a sua participao num mercado global, nele incluindo,porquenopoderiadeixardeser,aspequenasemdiasempresas(PME),que, comosesabe,representammaisde90%dasempresaseuropeias(5). Comestaliberalizaodoscontratospblicos,noapenasseconcretizaomercadonico europeu, que constitui um dos principais objectivos do projecto europeu, como se pro movearacionalizaodasdespesaspblicas,comasinerentespoupanasdosdinheiros pblicos. E tendo em conta os objectivos europeus de conteno das despesas pblicas, mesmo que actualmente mitigados em contexto de crise econmica internacional, parecenos importantesublinharquealiberalizaoouaberturaconcorrnciadoscontratospbli cos constitui um imperativo nacional, e no apenas europeu e internacional. Ou seja, a liberalizaodoscontratospblicosearacionalizaodasdespesaspblicasdevemtam bmfazerpartedoelencodosinteressespblicosdembitonacional. Ora,estaliberalizaodoscontratospblicosmuitasvezesencaradacomoumobjectivo meramenteeuropeu, eno de cariz nacional, esquecendose aqui que o projecto euro peutambmnossoequeosinteresseseuropeussotambminteressesnacionais. ,assim,nestalinhaquedevemosenquadrarapublicaodoCdigodosContratosPbli cos (6), que, ao estabelecer a disciplina da contratao pblica, visa transpor o direito europeueconsequentementepromoveracelebraodecontratospblicosnummerca doconcorrencial,assentenaigualdade,nasliberdadesdecirculao,natransparncia,na publicidade, na imparcialidade e na objectividade dos procedimentos prcontratuais e dasdecisesdeadjudicao.

12CludiaVianaPgina

E tambm nesta linha que, em nosso entender, dever ser enquadrado o acordo quadro,queapelaaumaamplaconcorrnciadomercadoeparticipaodosoperado(4)Equesoosprincpiosdaigualdade,aproibiodadiscriminaoemrazodanacionalidade,asliberda descomunitrias,atransparncia,apublicidade,aimparcialidade,aproporcionalidadeeoreconhecimento mtuo. Para uma anlise detalhada do significado e aplicao dos princpios comunitrios que regem a contrataopblica,cfr.onossoOsprincpioscomunitrios...,cit.,pp.105esegs. (5)SobreaparticipaodasPMEnacontrataopblica,cfr.onossoOsprincpioscomunitrios....,cit.,pp. 65esegs. (6) Aprovado pelo DecretoLei n. 18/2008, de 29 de Janeiro, doravante designado Cdigo dos Contratos PblicosouCdigo.

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reseconmicosinteressados.Namedidaemqueconstituiuminstrumentoespecialmente destinado satisfao de necessidades frequentes, repetitivas e de grande volume das entidades adjudicantes, o acordoquadro contribui fortemente para a racionalizao da contrataopblica,compotencialidadesreconhecidasnaeficciadasadjudicaesena poupanadosdinheirospblicos. Estas potencialidades do acordoquadro so obviamente reforadas quando utilizado porcentraisdecompras. AsnovidadesintroduzidaspelaDirectiva2004/18/CE,de31deMaro(7),emrelaoao acordoquadroescentraisdecompras,objectodetransposiopeloCdigodosContra tosPblicos,eaindaaimplementaodeumSistemaNacionaldeComprasPblicas(8), cujo protagonismo assumido pela Agncia Nacional de Compras Pblicas (9), podem promoveracontrataoemmassanumambienteconcorrencialecomimpactonasdes pesaspblicas.Destaforma,concretizase,emnossoentender,apolticadacontratao pblicaedosinteressespblicosquelheestoassociados. 2.Oacordoquadro Nodireitocomunitrio,oacordoquadroestactualmenteprevistoquernombitodos sectores gerais (10) quer nos sectores especiais da gua, energia, transportes e servios postais(11),aindaqueseverifiquemalgumasdiferenasnosregimesjurdicosaplicveisa cadaumdessessectores.Estadiferenciaodosregimesjurdicosjustificasetantopela especificidade dos sectores em causa como pelo facto de os sectores especiais, contra riamenteaossectoresgerais(12),jpreverem,desde1993,oacordoquadro(13).

(7)Directiva2004/18/CE,doParlamentoEuropeuedoConselho,de31deMaro. (8)OSistemaNacionaldeComprasPblicas,almdaAgnciaNacionaldeComprasPblicas,E.P.E.,edas UnidadesMinisteriaisdeCompras,integraaindaentidadescompradorasvinculadas(osserviosdaadminis traodirectadoEstadoeosinstitutospblicos)eentidadescompradorasvoluntrias(entidadesdaadmi nistraoautnomaedosectorempresarialpblicoquecelebraramumcontratodeadesocomaAgncia NacionaldeComprasPblicas,E.P.E.).Cfr.art.3.doDecretoLein.37/2007,de19deFevereiro. (9)AAgnciaNacionaldeComprasPblicas,E.P.E.foicriadapeloDecretoLein.37/2007,de19deFeverei ro. (10)Cfr.arts.1.,n.5,e32.daDirectiva2004/18/CE,de31deMaro.Ver,aesterespeito,onossoOs princpioscomunitrios...,cit.,pp.363esegs. (11)Cfr.arts.1.,n.4,e14.daDirectiva2004/17/CE,de31deMaro.Cfr.onossoOsprincpioscomunit rios...,cit.,pp.578esegs. (12) De notar que, sem prejuzo de o acordoquadrono estar previsto nos sectores gerais, o Tribunal de Justiajtinhaadmitidoapossibilidadedecelebraodeumacordoquadrodefornecimentodebensnes tessectores.Assim,noacrdoComisso/Grcia,de4deMaiode1995(Proc.n.C79/94,Colect.1995,p. I1071),oTribunalafirmouqueasregrasprevistasnadirectivarelativaaosfornecimentosdebens(nocaso, aDirectiva93/36/CEE,doConselho,de14deJunhode1993)nodeixamdeseraplicveispelofactodeo

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13Doutrina

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Neste trabalho, teremos apenas presente o regime do acordoquadro consagrado na Directiva2004/18/CEenoCdigodosContratosPblicos,nocurandodasespecificida desprevistas,nopatamarcomunitrio,paraossectoresespeciaisequenoforam,alis, contempladasnoCdigo. Oacordoquadrodefinido,noart.251.doCdigo,comosendoocontratocelebrado entre uma ou vrias entidades adjudicantes e um ou mais operadores econmicos (ou entidades, como refere o Cdigo), com vista a disciplinar relaes contratuais futuras a estabeleceraolongodeumdeterminadoperododetempo,medianteafixaoanteci padadosrespectivostermos. Umaprimeiraquestoquesepodecolocarconsisteemsaberseumacordoquadrocons tituiefectivamenteumcontrato,comodefinidonomencionadoart.251.doCdigodos ContratosPblicos. A Directiva 2004/18/CE, de 31 de Maro, no seu art. 1., n. 5, define o acordoquadro comoumacordoentreumaoumaisentidadesadjudicanteseumoumaisoperadores econmicos, que tem por objecto fixar os termos dos contratos a celebrar durante um determinadoperododetempo...,noutilizandootermocontrato,queficoureservado paraoscontratosditostradicionais(14). Estaquestotemsidodiscutidanadoutrinaestrangeira,tendoalgunsAutoresdefendido queoacordoquadroconstituiumprogramadecontratos,enoumcontratotradicional (15),enquantoqueoutrosentendemqueoacordoquadronodeveserconsideradoum instrumento contratual, mas sim um procedimento prcontratual ao abrigo do qual serocelebradoscontratos(16). Emnossoentender,oacordoquadronoconstituiseguramenteumprocedimentopr contratual. Na verdade, a celebrao de um acordoquadro ocorre aps a realizao decontrato em causa ser apenas um acordoquadro, constituindo apenas uma estrutura no mbito da qual socelebradosnumerososcontratosdefornecimento. AssimaconteciaemPortugal,atravsdoscontratospblicosdeaprovisionamentocelebradospelaextinta DirecoGeraldoPatrimnio. (13) Nos sectores especiais, o acordoquadro estava previsto nos arts. 1., n. 5, e 5. da Directiva 93/38/CEE,doConselho,de14deJunhode1993. (14)Ouseja,oscontratosdeconcessoeempreitadadeobraspblicas,oscontratosdeaquisiodeservi oseoscontratosdefornecimentoouaquisioelocaodebensmveis. (15)GIUSEPPE MORBIDELLIeMAURIZIO ZOPPOLATO,Appaltipubblici,inAA.VV.(Dir.MARIO P. CHITIeGUIDO GRE CO),TrattatodiDirittoAmministrativoEuropeo,ParteSpeciale,TomoI,GiuffrEditore,Milano,pp.214e segs.,emespecialp.282. (16) PIAR MAAS e HERNNDEZ CORCHETE, El contrato de obras en el mbito de los sectores excluidos, in AA.VV.,Lacontratacinpblicaenlosllamadossectoresexcluidosagua,energa,transportes,telecomuni caciones,Civitas,Madrid,1997,pp.101esegs.,emespecialp.113.

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umprocedimentoprcontratual,masnoseconfundecomele,sendooacordoquadro oresultadodarealizaodesseprocedimento.Umprocedimentodotadodeespecificida desequeprojectaasuaeficcianoapenasemrelaoaoacordoquadro,comoainda em relao aos contratos celebrados ao abrigo daquele, sem prejuzo de estes ltimos (tambm) serem precedidos de formalidades procedimentais prcontratuais prprias e especficas(17). Dvidas no existem que o acordoquadro constitui um instrumento contratual, ainda que sui generis, consubstanciado numa estrutura ou chapu ao abrigo do qual sero celebradososcontratosindividuais.,alis,visvelaexistnciadeumaunidadeentreos contratos individuais, sendo que esta unidade que justifica o recurso ao acordo quadro(18). Acresce que e esta outra nota diferenciadora a celebrao do acordoquadro no implicanecessariamenteacelebraodoscontratosditosindividuais.Comoseprevno n.2doart.255.,asentidadesadjudicantesnosoobrigadasacelebrarestescontra tos,salvodisposioemcontrrioconstantedocadernodeencargosrelativoaoacordo quadro.Omesmonosucedeemrelaoaosoperadoreseconmicos,queficamvincula dos a celebrar os contratos nas condies previstas no acordoquadro e sempre que a entidade adjudicante o requeira. Daqui decorre que o regimeregra do acordoquadro notemcarctersinalagmtico,jquesapartecocontratantequeficavinculadaa celebraroscontratosindividuais. Importa referir que o acordoquadro inclui, nos termos do art. 32. da Directiva 2004/18/CE,de31deMaro,esegundoainterpretaofeitapelaComissoEuropeia(19), vriasmodalidadesdistintas,combaseemdoiscritriosdeclassificao,asaber:ocrit riodocontedodoacordoquadroeocritriodonmerodecocontratantesdoacordo quadro. Assim, e segundo o critrio do contedo do acordoquadro, podemos distinguir duas categorias:i)acordoquadroondeostermosdoscontratosacelebrarestotodosfixados, habitualmentedesignadoporcontratoquadro;ii)acordoquadroondenoestofixados todosostermosdoscontratosacelebrar,geralmentedesignadoporacordoquadroem sentidoestrito.

(17)Eque,comoadianteveremos,sodiferentes,consoanteamodalidadedeacordoquadro. (18) Assim se pronunciou o Tribunal de Justia, no j citado acrdo Comisso/Grcia, referindo que o acordoquadroconfereumaunidadeaosdiferentesfornecimentosquerege. (19) COMISSO, Fiche explicative accords cadres directive classique, documento CC/2005/03, de 14/7/2005.

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Tendoemcontaocritriodonmerodecocontratantesdoacordoquadro,cumpredis tinguir entre: i) acordoquadro com um nico operador econmico ou acordoquadro individual;ii)acordoquadrocomvriosoperadoreseconmicosouacordoquadromlti plo. Denotarqueestasclassificaessointerpenetrveis,peloqueoacordoquadroindivi dual,dopontodevistadoseucontedo,tantopodeserumcontratoquadrocomoum acordoquadro em sentido estrito. Do mesmo modo, o acordoquadro mltiplo pode revestiramodalidadedecontratoquadrooudeacordoquadroemsentidoestrito. Contudo,doart.252.doCdigodosContratosPblicospareceresultarapenasaprevi so de duas modalidades de acordosquadro, a saber: i) acordoquadro com um nico operador econmico, quando os termos dos futuros contratos a celebrar esto todos fixados (contratoquadro individual); ii) acordoquadro com vrios operadores econmi cos, quando os termos dos futuros contratos a celebrar no esto totalmente fixados (acordoquadroemsentidoestritomltiplo). Emnossoentender,teriasidointeressantepreveramodalidadedoacordoquadrocom um nico operador econmico sem fixao de todos os termos dos futuros contratos a celebrar(acordoquadroemsentidoestritoindividual),concedendose,assim,ummaior leque de opes s entidades adjudicantes. Esta possibilidade no ser especialmente interessante para as centrais de compras, mas sobretudo para as restantes entidades adjudicantesfazeremfaceanecessidadescorrentes,eque,pordiversosfactores(como, por exemplo, grandes oscilaes de preo), no permitem a fixao prvia de todos os termosdoscontratosacelebrar(20). Jnaperspectivadascentraisdecompras,tambmnosparecequepoderiatersidopre vistooacordoquadrocomvriosoperadoreseconmicosecomfixaodetodososter mosdoscontratosacelebrar(contratoquadromltiplo),semprejuzodadificuldadede definiodasregrasdisciplinadorasdaadjudicao.Pensese,porexemplo,napossibili dadedeaAgnciaNacionaldeComprasPblicas,E.P.E.oudeumaUnidadeMinisterialde(20)Oart.258.,n.3,aplicvel,porforadaremissofeitapeloseun.1paraoart.252.,n.1,alneaa), aosacordosquadroindividuais,prevquecasotalserevelenecessrio,aentidadeadjudicantepodesoli citar,porescrito,aococontratantedoacordoquadro,quepormenorize,igualmenteporescrito,aspectos constantes da sua proposta. Esta disposio suscitanos as maiores dvidas, ficando sem se saber se o acordoquadroindividualpodeserfeitosemquetodosostermosdoscontratosacelebrarestejamfixados ouseoqueestaquiemcausadeverserentendidocomoaadmissibilidadedeesclarecimentoscomple mentaresdapropostafaceaostermosfixados.Ora,seolegisladorquisesseadmitiroacordoquadroindivi dualsemfixaodetodosostermosdoscontratosacelebrardeveriatlofeitoclaramentenoart.252.,o quenosucede.Acrescequeaprpriaepgrafedoart.258.reduzoseumbitodeaplicaoaosacordos quadrocomfixaodetodosostermosdoscontratosacelebrar.Assim,entendemosqueon.3doart. 258.deverseraplicadoapenasnombitodoacordoquadroindividualcomfixaodetodosostermos doscontratosacelebrar.

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Comprascelebrarumacordoquadronamodalidadedecontratoquadrocomvriosope radores econmicos para a aquisio de papel, sendo a adjudicao feita com base no critrio da quantidade de papel fornecido por cada cocontratante ou no critrio da regioaquepertencemasentidadescompradorasecadaumdosfornecedores. Um aspecto importante prendese com a identificao precisa das partes do acordo quadro. Isto porque o acordoquadro constitui um acordo fechado, no qual as partes estoidentificadas,querdoladodaoudasentidadesadjudicantespromotorasquerdo ladodooudosoperadoreseconmicos. Estaidentificaodaspartesocorreobviamentenoprocedimentoprcontratual,convin do,noentanto,fazeraseguintedistino:aidentificaodaoudasentidadesadjudican tesverificasenomomentoemquetomadaadecisodecontratar,aquiconsubstancia danadecisodecelebraroacordoquadro;jaidentificaodooudosoperadoreseco nmicos feita na deciso de adjudicao do acordoquadro, de entre os operadores econmicosqueconcorreramaoprocedimentoprcontratual. Emmatriadeduraodoacordoquadro,oart.256.doCdigoprev,nalinhadoesta belecidonaDirectiva2004/18/CE,de31deMaro,umprazodevignciade4anos,admi tindose um prazo superior desde que devidamente justificado, seja pelo objecto do acordoquadro seja pelas condies da sua execuo. No caso de acordosquadro cele bradosporcentraisdecompras,oprazodevigncianopodesersuperiora4anos.Tra tasedeumaregraqueobviamenteapelaconcorrnciaevisaevitarosproblemasliga dosaosfornecedoresdominantese/ouhabituais. Colocamse,detodoomodo,questesinteressantesapropsitodaduraodoacordo quadro, cumprindo designadamente apurar se possvel a celebrao de um contrato cujaexecuoseprolongaparaalmdorespectivotempodevignciadoacordoquadro. Parecenos que,desdequeocontratosejacelebradodentrodoperododevignciado acordoquadro, nada impede que a sua execuo (por exemplo, assistncia tcnica de garantia)ocorraapsotermodavignciadaquele. Quantos aos procedimentos de formao dos acordosquadro, o art. 253., seguindo o previsto na Directiva, admite a utilizao de qualquer procedimento, sem prejuzo de algumasespecificidades. Assim,podeserutilizadooconcursopblico,oconcursolimitadoporprviaqualificao, o procedimento por negociao e at o ajuste directo, esclarecendose que se o ajuste directo for escolhido em funo do valor, este dever ser apurado pelo somatrio dos preoscontratuaisdoscontratoscelebradosaoabrigodoacordoquadro.

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partida, nada impede que tambm se utilize o dilogo concorrencial, ainda que seja difcildetectarsituaesquecumpramosrequisitosexigidosparaorecursoquelepro cedimento ou em que a celebrao do acordoquadro por via do dilogo concorrencial sejaexequvel.Mas,enfim,sempresedirquenohimaginaomaisfrtildoquea realidade e, se for o caso, nada impede, a nosso ver, que se recorra justificadamente tambmaodilogoconcorrencial. No caso de se tratar de um acordoquadro mltiplo, ter de ser indicado o nmero de operadoreseconmicoscomosquaisvaisercelebradooacordo,que,nomnimo,serde 3,salvoseonmerodecandidatosqualificadosoudepropostasaceitesforinferior. Umoutroaspectorelevanteprendesecomoscritriosdeadjudicao.Istoporquequer para a concluso do acordoquadro quer para a celebrao dos contratos individuais devemserpreviamentedefinidosepublicitadososcritriosdeadjudicao,assimcomoa ponderaodosdiversosfactoresesubfactoreseomodelodeavaliao,nocasodeo critriodeadjudicaoserodapropostaeconomicamentemaisvantajosa. Ora,emnossoentender,oCdigodosContratosPblicosnoreguladeformacomple tamenteclaraestamatria. Desde logo, importa ter presente que, a propsito do procedimento de formao do acordoquadro,oart.253.,n.1,aoremeterparaasregrasqueregemosprocedimen tosprcontratuais,est(tambm)afazloparaasregrasque,naquelesprocedimentos, regemaadjudicao,incluindoorespectivocritrioe,sesetratardocritriodaproposta economicamentemaisvantajosa,ossubcritrioseomodelodeavaliao.Daquidecorre, enopoderiadeixardeassimser,queocritriodeadjudicaodeveestarpreviamente definidoetemdeserpublicitadojuntamentecomosdocumentosdesuportedoproce dimento. A principal questo que, a este respeito, se coloca prendese com a admissibilidade de utilizaodecritriosdeadjudicaodistintosconsoantesetratedacelebraodoacor doquadrooudoscontratosditosindividuaiscomvriosoperadoreseconmicos.

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Sobreesteponto,hquereferirque,enoobstanteosilnciodoart.32.daDirectiva 2004/18/CE,de31deMaro,aComissoEuropeiasepronunciounosentidodeque,no casodeacordosquadromltiplos,podemserutilizadoscritriosdeadjudicaodistintos, desdequeessapossibilidadeestejaprevistanosdocumentosdoprocedimentodeforma odoacordoquadro(21).(21) COMISSO, Fiche explicative accords cadres directive classique, documento CC/2005/03, de 14/7/2005.

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Ora, em nossa opinio, do disposto no art. 259., n. 2, no resulta, com clareza, se admissvelautilizaodecritriosdeadjudicaodistintosparaoacordoquadroepara oscontratosindividuais,salvaguardada,comodissemos,asuaprviafixaoepublicita o. Entendemos assim, e com apoio na interpretao comunitria, que a possibilidade de utilizaodecritriosdeadjudicaodistintosparaoacordoquadroeparaoscontratos individuais deve ser acolhida, e reveste especial interesse quando o acordoquadro promovido por uma central de compras. Pensese no caso de a adjudicao do acordo quadromltiploserfeitacombasenocritriodapropostaeconomicamentemaisvanta josaeexistirtodoointeresse,porpartedaentidadeadjudicante,naadjudicaodocon tratoindividualcombasenopreo. Detodoomodo,afixaodooudoscritriosdeadjudicaoeasuadensificaotero deconstardosdocumentosdoprocedimentodeformaodoacordoquadro,porfora daremissooperadapeloart.253.,n.1,paraasregrasqueregemosprocedimentos prcontratuais. A celebrao dos contratos individuais ao abrigo do acordoquadro est regulada de mododiferente,consoantesetratedeumacordoquadroindividualoumltiplo.Tratan dose de um nico cocontratante, os contratos individuais so celebrados por ajuste directo, conforme decorre do art. 258.. Notese ainda que o recurso ao ajuste directo estexpressamenteprevistonosarts.25.,n.1,alneac),26.,n.1,alneae),e27., n.1,alneah).Acrescequeacelebraodestescontratosestsujeitapublicitaoda fichanoportaldaInternetdedicadoaoscontratospblicos,talcomoresultadoart.127. doCdigo. Tratandosedeacordoquadrocomvriosoperadoreseconmicos,acelebraodoscon tratosindividuaisobriga,nostermosprevistosnoart.259.,aquesejadesencadeadoum procedimento prcontratual especfico e de natureza concorrencial, que se inicia com umconviteatodososcocontratantesdoacordoquadroparaapresentaremproposta,no prazofixadopelaentidadeadjudicante,ecompletaremostermosnofixadosourespon deremaosaspectosdaexecuodocontratosubmetidosconcorrnciapelocadernode encargosdoacordoquadro. Se as prestaes objecto do acordoquadro estiverem divididas por lotes, sero apenas convidadososoperadoreseconmicosseleccionadosparaaqueleslotes. O convite deve densificar o critrio de adjudicao da proposta economicamente mais vantajosaeomodelodeavaliaoautilizar,semprejuzodoqueacimareferimossobrea

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admissibilidadedecritriosdeadjudicaodistintos,consoantesetratedacelebraodo acordoquadrooudacelebraodecontratosindividuais. Segueseaavaliaodaspropostaseaadjudicaodocontrato,emconformidadecomo critriodeadjudicaofixado.Detodoomodo,parecenosque,eporrazesdesimplifi cao,devemserprivilegiadoscritriosdefcilaplicao.Seestiveremcausaaaquisio oulocaodebensmveisouaquisiodeservios,podeacelebraodoscontratosser feitatambmcomrecursoaoleiloelectrnico,designadamenteparadefiniropreo. Haindaasublinharque,noestandototalmentefixadosostermosdoscontratosindivi duaisacelebrar,talnosignificaquesejamadmissveisalteraessubstanciaisaoconsig nadonoacordoquadro,comoestacauteladonoart.257.,n.2,doCdigo. Admitese, no entanto, e bem, que o caderno de encargos do acordoquadro preveja a actualizao das especificaes tcnicas dos bens ou servios a adquirir, desde que se mantenhaotipodeprestaoeosobjectivosdasespecificaesfixadas,emcasosjustifi cadosporinovaesedesenvolvimentostecnolgicos. 3.Especificidadesdosacordosquadrocelebradosporcentraisdecompras Oart.260.,numalinhadecontinuidadecomasDirectivasde2004,prevqueasentida des adjudicantes do sector administrativo tradicional e os organismos de direito pbli co,independentementedosectoraquepertenam,possamconstituircentraisdecom prasdestinadasacentralizaracontrataodeempreitadasdeobraspblicas,delocao ouaquisiodebensmveisedeaquisiodeservios. NotesequequeroCdigoquerasdirectivascomunitriasadmitememtermosamplosa criaodecentraisdecompras,oque,emPortugal,selimitavavulgarmentedesignada CentraldeComprasdoEstado,acargodaDirecoGeraldoPatrimnio,aqueentretanto sucedeuaAgnciaNacionaldeComprasPblicas,E.P.E.. Aconstituio,estruturaorgnicaefuncionamentodascentraisdecomprasregesepelo DecretoLein.200/2008,de9deOutubro,devendoaindasertidoemcontaqueoSis temaNacionaldeComprasPblicasque,comodissemos,integraaAgnciaNacionalde Compras Pblicas, E.P.E. e as Unidades Ministeriais de Compras como centrais de com prasdoEstadoestreguladopeloDecretoLein.37/2007,de19deFevereiro. Entreoutrasfunes,eparaoquenosinteressa,ascentraisdecompraspodemcelebrar acordosquadro, designados contratos pblicos de aprovisionamento, que tenham por objectoaposteriorcelebraodecontratosdeempreitadadeobraspblicasoudeloca oouaquisiodebensmveisoudeaquisiodeservios.

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Acriaodeumacentraldecomprasdeterminaqueficamabrangidaspelacontratao centralizadaasentidadesprevistasnodiplomadasuacriao. NocasodoSistemaNacionaldeComprasPblicas,comojdisse,constituementidades compradoras vinculadas os servios da administrao directa do Estado e os institutos pblicos.PodemaindaaderiraoSistemaNacionaldeComprasPblicas,naqualidadede entidades compradoras voluntrias, entidades da administrao autnoma e o sector empresarialpblico. Poisbem,aidentificaodaspartesnoacordoquadroespecialmenteimportantequan do este promovido por uma central de compras, que age como intermediria. Neste caso, e dada a natureza fechada do acordoquadro, as peas do procedimento devero indicarasentidadesadjudicantesquepodemcelebrarcontratosindividuaisaoabrigodo acordoquadro.Acrescequeestedocumentodevepermitiridentificaradataapartirda qualaquelasentidadesadquiriramestedireito.Estadisposiocompreendeseejustifica sequerpelajreferidanaturezafechadadoacordoquadroquerpelanecessidadededar aos operadores econmicos todas as informaes pertinentes de modo a que possam aferir do seu interesse em concorrer, pois ser, sem dvida, diferente, apresentar uma propostaparaaprevisvelcelebraodecontratoscom10,100ou1000entidades. Osacordosquadropromovidospelascentraisdecomprasseguem,noessencial,oregime jurdicojreferido,semprejuzodealgumasespecificidadesdequeimportadarnota. Assim,oscontratospblicosdeaprovisionamentotmdeserprecedidosdeumprocedi mentodeconcursopblicoouconcursolimitadoporprviaqualificao,compublicao obrigatria de anncio no Jornal Oficial da Unio Europeia (JOUE), salvo se se verificar umasituaoquejustifiqueorecursoaoajustedirecto. Prevseaindaapublicao,tambmnoJOUE,deumannciocomoresultadodaadjudi cao do acordoquadro, nos termos que decorrem do disposto no art. 78., n. 4, do Cdigo. Porfim,registesequeoscontratospblicosdeaprovisionamentotmumprazomximo devignciade4anos. 4.Oacordoquadrocomoinstrumentoderacionalizaodascompraspblicas Comojsereferiu,oacordoquadroconstituiumimportanteinstrumentodeconcretiza odapolticadecontrataopblica. A sua utilizao para compras em quantidade, quer pela generalidade das entidades adjudicantes, quer (e sobretudo) pelas centrais de compras, na medida em que implica umforteapeloconcorrncia,produzirinevitveiseconomiasdeescala,contribuindo,

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assim, para a racionalizao das compras pblicas com poupanas considerveis dos dinheirospblicos. Certamenteque,dentrodestequadro,inegveloprotagonismoquetemsidoadquirido pelaAgnciaNacionaldeComprasPblicas,E.P.E.eque,aoquetudoindica,serforte mentereforado,porviadolanamentodemaisacordosquadro. Afinalizar,importasublinharqueacelebraodediversosacordosquadroporparteda AgnciaNacionaleacontrataoobrigatriarecentementedeterminadapelaPortarian. 772/2008,de6deAgosto,aqueacresceumnmerorazoveldeentidadescompradoras voluntrias que aderiram ao Sistema Nacional de Compras Pblicas, permitem antever umforteimpactodoacordoquadronopanoramadacontrataopblica.Namedidaem queestesacordosquadrofazemapeloconcorrnciaeuropeia,esperaseque,tambm porestavia,seoperearacionalizaodascompraspblicas,comoqueseobterpou panasconsiderveisdosdinheirospblicos.E,seassimfor,ganharseguramenteointe ressepblico.

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NovoCustodeAcessoJustia ElizabethFernandez ProfessoradaEscoladeDireitodaUniversidadedoMinho

0.Introduo Entrouemvigornopassadodia20deAbrilde2009oDL34/2008,de26deFevereiro. Este diploma legal veiointroduzir uma nova disciplina para as custas processuais e, por viadessefacto,introduziualteraeseaditamentos,entreoutros,noCdigodeProcesso CivilenoCdigodeProcessoPenal,aprovando,ainda,noseuartigo18,onovoregula mentodascustasprocessuais,doravantedesignadocomoRCP. DesdeasuapublicaooDLn34/2008,1de26deFevereirosofreuvriasalteraesno apenasnadataprevistaparaasuaentradaemvigor,bemcomonasdisposiestransit riasrelativasaomododaaplicaonotempo,e,ainda,noseucontedo.Comefeito,oDL n181/2008,de28deAgostointroduziualteraesnosartigos19,22,23,26e27 daquelediploma.Destes,osartigos26e27voltaramaseralteradospelaLeidoOra mentodoEstado(Lei64A/2008,de31deDezembroLOE).Estalei,porsuavez,proce deu,aindanofinaldoanotransacto,amudanasnosartigos6,22e26doRCP.Tam bm,aLei43/2008,de27deAgostoprocedeuamodificaesnosartigos2e4doRCP. Finalmente,aPortaria419A/2009,de17deAbrilveioregulamentaralgunsdosaspectos especficos do regulamento das custas processuais, introduzindo solues que comple mentamaquele.

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JrectificadopelaDeclaraodeRectificaon22/2008,de24deAbril.

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Estareflexopoderiaserlongaeminuciosa,atentasasinmerasalteraesintroduzidas por esta panplia de diplomas legais. Contudo, iremos apenas cingirnos ao essencial daquelediplomalegalcomointuitodepodermosbasicamenteavaliarseocustodajusti a , hoje e agora, mais ou menos dispendioso do que era at vigncia deste regula mentoe,finalmente,seosvaloresquepassaramasercobradospelaprestaodoservio

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Justiaabalamoudeixaminclumeodireitodeacessodetodosaodireitoejustiapre vistonoartigo20danossaLeiFundamental,sobretudo,tendocomopanodefundo o contextodeprofundacriseeconmicaactual. 1.Aplicaodaleinotempo Antesdomais,noentanto,entendorelevantecomearporesclarecerasregrasdeaplica onotempodonovoregimedascustasprocessuais. Aregrageralcontidanoartigo27dodiplomalegal(versodomesmoalteradapelanova redacoquelhefoiconferidapeloartigo156daLOE)estabelececomoregrageralque querasalteraesintroduzidasleiprocessualcivileleiprocessualpenal,queronovo regulamentodascustasprocessuais,apenasseaplicamaosprocessosintentadosapsa suaentradaemvigor(20Abrilde2009).Talsignificaquearegratransitriageralaquela segundo a qual os processos que foram instaurados antes daquela data continuam a regersepeloCCJepelaversonoalteradadaleiprocessualcivilepenal,aindaqueaps aentradaemvigordodiplomaresulteminstauradosnaquelesprocessosrecursos,apen sos ou incidentes (artigo 27, n 1, do DL 34/2008 com as alteraes introduzidas pelo artigo156daLOE). Contudo,estoprevistasexcepes. Em primeiro lugar, algumas alteraes ao CPC, ao CPP e alguns preceitos do RCP, tm aplicaoimediataapartirdasuaentradaemvigoraosprocessospendentesqueladata. ocasodosartigos446,446A,447B,450,455doCPC,doartigo521doCPPe,no RCP,dosartigos9,10,27,28,32a39(artigo3doDL34/2008comasalteraes introduzidaspeloartigo156daLOE). Emsegundolugar,passaaaplicarsealeinovaquando,aindaqueoprocessotenhasido instauradoantesde20deAbrilde2009,estejanoestadoprocessualdefindoenomes mo seja instaurado um incidente ou um apenso ou ainda requerida uma renovao de instncia(artigon2,a)eb),doDL34/2008comasalteraesintroduzidaspeloartigo 156daLOE). 2.Astaxasdejustia AsprincipaisalteraesqueforamintroduzidasnoRCPdizemrespeitostaxasdejustia. Narealidade,omesmooperouumaverdadeirarevoluonoconceitoemcausa,promo vendoumadiversificaonuncaatagoravistanatipologiadasmesmas.

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Comefeito,senodomniodoCCJ(aindavigenteparaosprocessospendentes)ataxade justiaeraapenasdistinguidaquantoaomomentodoseupagamento(taxainicialesub sequente)veremosqueoRCP,adensandooscritriosquedeterminamopagamentode umadeterminadataxa,acabouporprovocarumaintensificaodatipologiadasmesmas, ao mesmo tempo que substituiu as categorias de taxas j existentes, pois que luz do RCP,ataxapagadeumasvezporcadaparteesujeitoprocessual(artigo44n1da Portarian419A/2009)e,portanto,deixaramdeexistirastaxasiniciaiseassubsequen tes2. Antesdemaisalgumasnoesintrodutrias. 2.1.Conceitodetaxaeregrasgenricas. a) O custo do servio justia pago atravs de taxas. Como todos sabemos, o que distingue o imposto da taxa a unilateralidade do primeiro e bilateralidade da segunda.queataxaovalorpago,nestecaso,pelaprestaodoservioessen cialJustia,tendoprecisamentecomocontrapartidaaprestaodesteservio. Ataxasempre,nostermosdoartigo4,n2daLGT,acontrapartidaindividuali zada de algo que se recebe em troca, seja um servio concretamente prestado, sejaautilizaodeumbemdedomniopblico,sejaaremoodeumlimitelegal paraoexercciodeumdireito.Ataxa,portanto,obrigatriaebilateral. Apesardisso,entreataxaeasuasinalagmticacontrapartidanotemnecessa riamentedeexistirumaequivalnciaeconmica,bastandoosinalagmacomouma meraequivalnciajurdica.Queristosignificarqueacontrapartidaprestadapela taxanotemnecessariamentequerepresentaroexactovalorfixadoparaataxa porqueelanorepresentaopreodemercadodaquelebemouservio,mastem de existir entre a taxa e a sua contrapartida um equilbrio jurdico. por essa razo,porexemplo,queataxanopodevariaremfunodacapacidadecontri butivadequempaga,porquesendobilateralestaapenaspodeserdefinidapelo valordoqueprestadoemtrocadessepagamentoeseoservioprestadopre

Oartigo44n2daPortaria419A/2009vem,noentanto,introduzirumregimetransitriodefavorat 31/12/2010,permitindoque,facultativamente,emalgumasacesouprocedimentos,ataxadejustiaseja pagaemduasprestaes,umanomomentoestabelecidonoartigo14doRCPeoutranos90diassubse quentes,sendocertoqueaopoportalfaculdadetemdeserexpressamentedeclaradapelapartenoacto emquetalpagamentodataxaforexigidoenoseaplicaaexecuescujasdilignciasdeexecuosejam efectuadasporagentedeexecuo,sinjuneseaosactosavulsos.Podercolocarseadvidasobrea naturezadoprazode90diasprevistoparaopagamentodasegundaprestao,masemnossaopinio o mesmotemcarctersubstantivo. 2

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cisamenteomesmo,apermissodetaldiferenciaodestruiriaoequilbriojurdi coentreovalordataxaeacontrapartidaprestada. b) Assim,aimposiodeumadadataxa,paraserlegaleatconstitucional,temde obedeceracertasedeterminadasregrasouprincpios,poisdecontrrioresvalar paraumaformadetributaounilateral,ouseja,paraumimposto.Etaislimites ouregrastmdeserparticularmenteescrutinadosquandoobemouservioque representa a contrapartida da taxa se consubstancia num direito, liberdade ou garantia,comooodireitodeacessojustiaeaostribunais. Emprimeirolugar,ataxatemdeobedeceraoprincpiodaproporcionalidadeem relaoaobenefcioespecficoproporcionadopeloservioprestadoouaocusto suportadopelacomunidadecomautilizaodobemdodomniopblicooucoma remoodeumlimitelegalaoexercciodeactividadedeumparticular. Emsegundolugar,asregrasdecustasedetaxas,funcionandocomoumfactorde utilizaodoserviojustiae,portanto,configurandoumfactordeterminantena horadeexercerumdireitodeacessoaostribunaisparaaresoluodeumlitgioe emsumaparaadefesadosdireitos,tmdeterparticularrespeitopeloprincpio daigualdade.Ejnonosestamosapenasareferirigualdadeexterna,ouseja, todosossujeitosoperantesnasmesmascondiespagaremamesmataxa.Esta mosemparticularareportarnosaoprincpiodaigualdadenoplanointerno,isto ,noplanodoprocessoinstauradonoqual,pelaprticadosmesmosactospro cessuais, deveriam pagar taxa de igual montante. Com efeito, no plano interno nohaverrespeitopeloprincpiodeigualdadedearmassepelomesmoacto,e afastadas que sejam razes de ndole meramente sancionatria, as partes (cada uma num dos pontos, activo ou passivo, da relao processual) pagar um valor diferentedoexigidooutra. Apresentadasestasconsideraes,ecombasenelas,concluiremos,afinal,seas novasregrasrespeitamestesdesideratosconstitucionais. c) Ataxadejustiacontinuafixada,comoataqui,numaunidadedemedidadeno minadaunidadedeconta.Adiferenaestemque,estamedida,emvezdetria nualmenteactualizadacombasenoSMN,passouaseranualmente3actualizada, tendoporbaseumoutrondicequeodoIndexantedosApoiosSociais(IAS).A taxadejustiapassaentoaseranualmenteactualizadacombasenoIASdoano transacto,correspondendoaumdovalordaquelendice,arredondadounida deeuro.3

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Entre2009e2010aUCpassaaseractualizadaduasvezesnumano,poisquefoiactualizadanodia20de Abrilde2009esernovamenteactualizadaemJaneirode2010(artigo22doDLn34/2008,comaredac oquelhefoiintroduzidapeloDLn181/2008de28deAgosto).

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Masasalteraesnoseficamporaqui.Aocontrriodoquesucedianoregime anterior, o momento que releva para a determinao da UC pela qual se hde calcularataxadejustiaaplicvelaocasoconcreto,noovigentenomomento daprticadoactomasadatadainterposiodaaco,recurso,incidenteoupro cedimento em causa. Esta alterao, prevista n 3 do artigo 5 do RCP, significa queovalordoserviojustiapassaaestarcomandadopeladatadaentradaem vigor de um dado processo, permanecendo inalterado independentemente do tempoqueoprocessodemoraraserresolvido4.Contudo,jovalordaUCparao pagamento de encargos, multas e outras penalidades5 fixase no momento do acto taxvel ou penalizado, nos termos do n 4 daquele preceito. Portanto, ao contrriotambmdoqueathbempoucotempovigorava,nummesmoproces so,ovalordaUCpodevariarconformeoactoquelheestsubjacente,atentoo momentodiversoaoqualoregulamentoatribuirelevnciaparaaferirovalorda mesmaunidade. d) Omomentodepagamentodataxadejustiavarivel.Porviaderegra,pago nomomentoemquesepraticaoactoaoqualataxadizrespeito,nostermosdo artigo14n1doRCP.Contudo,semprequeapartenoestejarepresentadapor mandatrio,noscasos emquetalconstituiofacultativa,apartenotificada para proceder ao pagamento da taxa no prazo de 10 dias (artigo 14, n 2, do RCP). Ainda outra excepo diz respeito aos processos contraordenacionais. Neste caso,opagamentodataxadaimpugnaodasdecisesdasautoridadesadminis trativasautoliquidadanos10diassubsequentesrecepodaimpugnaopelo tribunal (artigo 13, n 1 da Portaria n 419A/2009, de 17 de Abril). Como o arguido,tendoapresentado,comolhecompete,aquelaimpugnaonaautorida de impugnada desconhece a dataem quea mesma foi expedida para o tribunal competente,on2doartigo13dareferidaportariaprevqueos10diaspara queseprocedarespectivaautoliquidaocomeamacontardanotificaoao arguido da data agendada para a audincia de julgamento ou da notificao do despachoquedispenseesteactoparaaapreciaodaimpugnao. Nocasodataxadejustiaresultaragravadaemfunodonmerodeprocessos apresentadosnoanotransacto,umapartedataxa(anormal)autoliquidadaat aomomentodaprticadoactoaquecorresponde,nostermosdoartigo14do Tal significa, portanto, que a referncia (UC derivada do IAS) para o pagamento da taxa ser sempre a mesmaparaaspartesaolongodoprocesso.5 4

Noconceitodeoutraspenalidadesparecepoderincluirseodetaxasancionatriaespecial.

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RCPeaoutraparte(aremanescente)autoliquidadapelaparteem10diasaps notificaodasecretariajudicialquedetecteapassagemdaquelesujeitoproces sual categoria dos litigantes de massa, nos termos previstos no n 5 do artigo 13doRCP.6 e) Ataxadejustiapagaporcadaparteousujeitoprocessual,masistonosignifica quenocasodelitisconsrcio,independentementedanaturezadomesmo,isto, querestesejavoluntrio,querestesejanecessrio,seprocedaaopagamentode umataxaporcadalitisconsorte.Serdaresponsabilidadedoprimeirolitisconsorte opagamentodataxadejustiadevidapeloactoouimpulsoprocessualemcausa, oqual,procedendoaessepagamento,terdireitoderegressosobreosoutros. patente que outra ser a soluo no caso da coligao, pois que aqui as partes assumemautonomiaentresie,portanto,cadaumapagarataxaquelhecompe tir.Enquantonocasodacoligaoestaasoluoqueramesmasejainicialou subsequente, colocamse dvidas quando do que se trata do litisconsrcio. Se quando este inicial porque ao litisconsrcio, por definio, embora no por imperatividade,correspondeummesmopedidoe,porisso,ataxanicanose colocamdvidas,omesmojnosucedequandodoquesetratadolitisconsr ciovoluntriosubsequente.Estaramosemdizerquenostermosdomuitoembo ra deficientemente redigido artigo 477A, n 2, nos parece claro que o interve nientespagartaxasuplementarsedecidirpedidodistintodoquefoideduzido pelolitisconsorte.Ocertoque,contrariandoaleiprocessual,oartigo13,n6, b) do RCP determina o pagamento de taxa pelo interveniente que faa seus os articuladosdaparteaqueseassocie,oquefazpressuporlogicamenteque,caso noofaa,ouseja,casonofaaseusosarticuladosdaparteaquemseassociee decidainovarspossatambmestarobrigadoapagartaxa. No podemos deixar de deduzir aqui uma breve crtica a este regime. Muito emborasepossaadmitir(aindaqueemcolisocomoprevistonoartigo447A, n2doCPC),quequemespontaneamentequeiraintervirnoprocessoouquem chamado ao mesmo tenha de proceder ao pagamento de uma taxa de justia autnomadaquelequeprovocoueventualmenteessainterveno,nahiptesede pretender intervir activamente na causa deduzindo articulado prprio, esse pagamentosuplementarnofazqualquersentidoquandoapenasdecidaaderirao articuladodaparteaqueseassociou.Eseasituaoemsimesmoconsideradaj6

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Apartirdestemomento,porqueosujeitopassouaserconsideradocomolitigantedemassadeversem preautoiliquidarataomomentodaprticadoactoemcausaataxaagravada,ouseja,ataxacorrespon denteacrescidade50%,peloqueaquelepreceito,ouseja,oartigo13,n5doRCPapenasseaplicauma vez.

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suficientementebizarra,aindamaisestranhaquando omesmolegisladorno mesmo momento aditou o artigo 447A ao CPC em cujo n 2 se prev que, no casodeaintervenoserprincipal,sdevidaumataxadejustiasuplementar quandoointervenientededuzapedidodiferentedoautor,poisqueoregulamen toacabaporsermaisrigorosodoqueoCPC.Claroest,queperanteaincoerncia do legislador, a soluo maiscautelosa a deos intervenientesespontneos ou chamadosdeixaremdeaderiraosarticuladosdaparteaquemseassociem,pois que, a sua manuteno em revelia, aps a citao, conduzir ao mesmo efeito prtico,acustozero7. 2.2.Multiplicidadedecritriosdedeterminaodataxadejustia AtentradaemvigordoRCP,astaxasdejustiatinhamumcarcterfixo,progredindo aolongodatabelacorrespondenteemfunodovalordaaco. Poisbem:oconceitodetaxadejustiatornouseagorabemmaiscomplexoevariado. Esquematicamente,podedizersequeastaxasdejustia(partecomponentedascustas processuais)passaramaserdefinidasnosemfunodovalordaaco,procedimento ou incidente; da complexidade da aco; da frequncia de utilizao dos tribunais em determinadoanocivil;dotipodeprocedimentoemcausa;docomportamentoprocessual daparteeatemfunodecritriosqueapresentamrazesdesconhecidas. 2.2.1.Ovalordaaco Por via de regra, o valor da aco, procedimento ou incidente , em primeira linha, dependentedovalordomesmo.Emalgunscasos,porm,comoveremosnoltimocrit rio, o valor da aco passou a ser completamente irrelevante para a determinao da taxa. ODL34/2008,de26deFevereiroveiointroduziralteraesnoCdigodeProcessoCivil, designadamentenoqueserefereaovalordasaces. Emsuma,veio: a) Alterarquantitativamenteovalordecertasaces: Paraasacesdedespejoovalorpassaaserdedoisanosemeioderendaacres cido do valor das rendas em atraso, se as houver, ou o valor da indemnizao7

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De louvar que o credor reclamante em execuo fiscal que j tenha pago a taxa de justia para obter cobranadoseucrditoemprocessoprprionotenhadepagartaxa.

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requerida,quandoesteforsuperioraovalordovalordasrendasemdvida(artigo 307doCPC); b) Objectivizardeterminadoscritriosdefixaodovalordasacesoudosinciden tes: Para as aces referentes a contratos de locao financeira (quando o que est emcausaafaltadepagamentodasrendas),ovalordaacoovalordasren das em dvida at ao fim do contrato, acrescido dos juros moratrios vencidos (artigo307doCPC); c) Atribuir critrios a aces que at agora no dispunham de critrio especial de atribuio: Paraasacesemquesepeticionaopagamentodeprestaesperidicas,ovalor passaaserovaloranualdasprestaes,multiplicadopor20ouonmerodeanos que a deciso venha a abranger se for inferior a 20, e na impossibilidade de determinao do n de anos ficcionado o valor de 30.000,00, mantendose a regra j anteriormente vigente se as prestaes peridicas em causa forem de naturezaalimentaroucorresponderemacontribuioparadespesasdomsticas (artigo309doCPC). Asacesdeatribuiodacasademoradadefamliaedeconstituio,transfe rncia de contrato de arrendamento passam a ter o valor ficcionado de 30.000,01(artigo312,n2doCPC). criadoumcritriodevalorespecialparaasacespopulares(defesadeinteres sesdifusos)queigualaododanoinvocado,masquenopodemexcederovalor de60.000,00(artigo312,n3doCPC); d) Alterarasregrasdovalordasacesnocasodoruoudointervenienteterdedu zidoumpedidoemreconvenoouumpedidoautnomo: Nestecaso,aocontrriodoqueatagorasucedia,ovalordopedidoreconvencio naloudopedidoautnomonoautomaticamentesomadoaopedidodoautor. Portanto, a simples introduo de um outro pedido na causa no determina automaticamenteumaumentodocustodamesmapoisquenemsempreaintro duo de um pedido pelo ru ou por um interveniente tem como consequncia umaamplificaodoobjectoprocessualinicial. Assim, neste caso, necessrio analisar o pedido reconvencional ou o pedido deduzidopelointervenienteeverificarseomesmodistintoounodopedidoou pedidosformuladospeloautoroupeloru(artigo308,n2,doCPC).

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que, se for distinto, o valor somase ao do pedido principal o que pode determinar, quandoadmitidos,apassagemdeumadadaeespecficaformadeprocessoparaoutra maiscompleta. Aquesto,pois,saberquandoqueopedidodistinto. On2doartigo308doCPC,remetendoparaon3do447AaditadopeloDL34/2008 aomesmocdigo,esclareceoconceitodeidentidadeounoidentidadedepedidosno atravsdeumafrmulageral,mas,pelocontrrio,demodonegativo,casusticoeexem plificativo. Com efeito, dispe que no se considera distinto o pedido do ru ou do interveniente relativamenteaodoautoredoreconvinte,designadamentequando: apartequeodeduzpretendecomomesmoobteremseubenefcioomesmoefei tojurdicoqueoautorouoreconvintesepropeobter. (Ao fim e ao cabo tratase daquelas situaes em que o pedido formulado no traduz qualqueraportediferenteemmatriadeutilidadejurdicoprticaemrelaoaopedido originrio,criandoapenasumaaparnciadediversidadedepedidosquandonofundoa utilidadeeconmicaejurdicadeambosamesma); orudeduzpedidoreconvencionalnoqualpretendeobterameracompensao decrditos. Podersedizerqueolegisladoraquidistingueentreareconvenoemquesededuza mera compensao e a reconveno em que se pretende a compensao e a cobrana porpartedorureconvintedoexcedentedoseucrditorelativamenteaocrditopeti cionadopeloautor. Acircunstnciadeolegisladorpressuporqueameracompensaosededuzemrecon veno parece ter acabado com a querela doutrinal que tem apoquentado a doutrina processualcivilsticaaolongodedcadas.Ficaclaroqueacompensao,mesmoquando o valor do crdito do ru inferior ou igual ao peticionado pelo autor, um pedido reconvencionalenoumaexcepoperemptria,comosinequvocosefeitosemsedede limitesobjectivosdecasojulgado. Comoconsequnciadestadistino,senopedidoreconvencionalnofordeduzidauma meracompensao,masacompensaodeumcrditodoreconvientedevalorsuperior ao do ru,o valor da aco passaa ser a soma do pedido principal com a diferena de crditos do pedido reconvencional, e a taxa inicial desta ser a correspondente quela diferena,poisqueoqueinequivocamentedecorredon2doartigo447AdoCPC, dadoqueataxadejustiasuplementarsdevidaquandoopedidodiferentee,por tanto,tambmnaexactamedidaemqueoseja.

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Portanto,seopedidoreconvencionalouopedidodointervenientenofordistinto,no pagataxadejustiasuplementar.Sefordistintopaga,massnamedidaquantitativaem queofor. Quantoaomomentodafixaodovalor,asmudanasadvmdasalteraesintroduzidas peloDL303/2007ejnopropriamentedasalteraesintroduzidaspelodiplomalegal emanlise.Comefeito,namedidaemqueovalordaaco,desdeareformadosrecur sos,obrigatoriamentefixadopelojuiznosaneadorouemmomentooportuno(sealgum recursoforadmitidoantesdestemomentoprocessualouseomesmonotiverlugarna tramitao,terdeofixarantesdeadmitirqualquerrecursointerposto)artigo315do CPCovalordataxadejustiatalcomoaformadeprocessocomumpoderterdevir asercorrigidoemfunodapossibilidadedeojuizentenderqueoautorouoruatribu ramumvalorerradoacooureconveno.Atentaaobrigatoriedadedafixaodo valordaacopelojuiz,hmaiorprobabilidadedeumaaconocontinuarouacabar comaformacomuminicialmenteempregue,comtodasasconsequnciasanveldetra mitaoedeprazosquetalfixaopodedeterminar. Uma palavra para nos referirmos ao valor padronizado para a mudana de patamar de taxadejustianosincidenteseprocessoscautelares. Em certos casos, assistese a um aumento exponencial do custo da justia, atentos os limitesdosvaloresdaacooudoactoprocessualincludosnastabelasIeIIanexasaoDL 34/2008, sobretudo considerando os procedimentos cautelares comuns e alguns com processoespecial,aosquais,ataodilatadovalorde300.000,00correspondeumvalor detaxadejustianicade3UC.,assim,irrelevantequeumarrestotenhasidoinstaura do para acautelar a quantia de 3.000,00 ou de 300.000,00. Em qualquer um destes casos,orequerenteadiantarsempre3UC,ouseja,306,00.Paraalmdisso,atutela provisria,passaasermaiscaraporviaderegradoqueatuteladefinitiva,oqueporsi incompreensvel, a no ser se perspectivado pelo intuito de desincentivar o recurso tutelacautelarque,precisamente,umdosexpoentesmximosdaefectividadedatutela judicial. Acrescentesequeseoprocedimentojudicialserevestirdeespecialcomplexidadeataxa, mesmoparaumprocessocautelarqueostenteovalorde3.000,00,poder,emteoria, seraplicadaentre9a20UC,isto,entre918,00e2.040,00,nostermosdaTabelaII anexa ao diploma legal em causa. O mesmo raciocnio pode exercitarse no caso de o executadoseoporexecuo.Comefeito,pagaamesmataxaoexecutadoqueseope execuonovalorde3.000,00ounovalorde300.000,00,ouseja,3UC,eseoinci dentefordeespecialcomplexidade,de7a15UC.

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Anossover,ahipteseadiantadademonstraqueemcertassituaesconcretasataxade justia aplicvel a um processo pode ser inconstitucional por constituir uma agresso desproporcionadanodireitodeacessojustiaprevistoegarantidoatodos,nostermos doartigo20daCRP. 2.2.2.Acomplexidadedacausa Ovalordataxadejustiapassouaserdeterminadotambmpelaespecialcomplexidade dequeaacosereveste. Com efeito, se verdade que a taxa de justia continua, salvas algumas excepes, a variar em funo do valor da aco como at aqui e desde sempre aconteceu, muito emboraemmoldesdiferentesasuadeterminaopassouaserconsequnciadirectada aplicaodeoutroscritrios,designadamentedodacomplexidadedaaco. Digamosque,paraalmdeumcritrioestritamenteobjectivoporquenumricoequanti tativo,ovalordaacopassouaestardependentedeumcritrioqualitativo,dadoquea suaaplicaoenvolveumacertamargemdediscricionariedadee,portanto,desubjectivi dade. Portanto,aprimeiraalteraoquecumpreregistaradafixaodocustodajustiapara cadaprocessoemfunodeumcritrioquantitativoedeumcritrioqualitativo. Estaalteraotem,desdelogo,umaconsequnciaevidente. At aqui o utilizador do bem Justia poderia saber partida qual o valor do uso desse bemepoderia,portanto,decidirseousodobememcausalhetrariavantagensoudes vantagens em funo da situao jurdicofctica que pretendia acautelar. Podia fazlo porqueadeterminaodocustoestavaapenasetosdependentedecritriosquanti tativos podendo com base nos vrios cenrios de repartio das custas saber, a final, quantoiriapagar. Ocustodajustiadeixoudeserprevisvelnestesmoldesnoactualcontextolegislativo.O utilizador,porquetemdeentraremlinhadecontacomofactodeotribunalviradara acoinstauradacomocomplexafactoquessepautarafinal,desconheceocusto fixodautilizaodobememcausa,obrigandoseaprevervrioscenrioseadeterminar ocustodajustiaentreummximoeummnimoconsoanteoentendimentoqueotri bunalvieramanifestarsobreacomplexidadedaaco. H,portanto,umamenordosedeprevisoinicialdocustodajustia,oqueconduzauma escolhamenosesclarecidanomomentodedecidirrecorrerutilizaodaquelebem,o quepodefuncionarcomoumfavordedesincentivoutilizaodomesmo.

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No a primeira vez que o legislador processual recorre noo de complexidade da aco para determinar a prtica de determinados actos que em princpio no estariam previstos na tramitao comummente prevista. o que sucede quando no processo sumrioojuizpodeagendaraaudinciapreliminarseconsideraracausacomocomplexa. Contudo, quando o legislador lana mo do critrio de complexidade, utiliza tambm o seucontrrioasimplicidadedaacoparaafastaraprticadeumdeterminadoacto queestariaprocessualmenteprevistoparaocomumdassituaes.porissoqueojuiz noprocessoordinriopodedispensaraaudinciapreliminarseentenderqueacausano serevestedecomplexidade,isto,quandoaconsiderarsimples. Olegisladorutilizanovamenteocritriocomplexidadedaacoparadeterminaraaplica odeumataxadejustiadevalormaiselevado(especial).Nestecaso,atribui,porm,a esseconceitoumgraumaiselevado,poisqueoquedeterminaaaplicaodessataxaa especialcomplexidadedaacoenoacomplexidadedamesma.Contudo,jnoutili zouocritriodamanifestasimplicidadedaacoparajustificarafixaodeumataxade justiadesagravada,tambmelaespecial. Podersedizer:ovalornormaldataxadejustiajacontrapartidamnimapeloservi ojustiaecomotalnopodedesceremfunodasimplicidade,masapenassubirem funodacomplexidade. Parece errada esta justificao. que o valor da taxa de justia normal aquela que o Governo reputou como a correspondente ao custo mdio dos processos aos quais a mesmaaplicada.Precisamenteporseentenderqueaquelataxajacorrespondente aocustomdioqueamesmasobequandoacomplexidadedaacoultrapassaaspre visesmdiasdeservioquedeterminaramasuaprestao. Assimsendo,seriadamaiselementarjustiae,portanto,damaiselementarproporciona lidade,queaconstataodasimplicidadedaacopudessepermitiraojuizaplicaruma taxadejustiadesagravadaaocasoconcretoemfunodasuasimplicidade,aqualdeve riaserdefinidanalei. Contudo,noissoqueacontece. Apenas a especial complexidade da aco determina o agravamento da taxa, determi nandoojuizaaplicarumataxadejustiaespecial.Asimplicidadedacausanotemcomo consequnciaadiminuiodovalordataxa. Emtermosabstractos,noestamoscontraofactodaespecialcomplexidadeviradeter minaroagravamento.Oquenosrepugnaque,porumlado,ocritriodaespecialcom plexidadenosejautilizadoemalternativaaocritriodovalor,poisparaalmdesenos afigurarumaagressodesproporcionalaodireitodeacessoaostribunais,pareceeviden

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tequeseacomplexidaderelevada,talsaconteceporqueovalordaacoirrelevan teparaaaferiodovalordataxa. Poroutrolado,criticamosfrontalmenteofactodeomesmotratamentonoserdadoaos casosdesimplicidadeou,pelomenos,deespecialsimplicidade,poisque,emnossaopi nio,apartirdomomentoemqueasqualidadesdaacopassamaserrelevantesparaa avaliaodocustodoservioaprestartemforosamente,quantoans,emrespeitodo princpiodaproporcionalidade,deseadmitiromesmoraciocnioparaocontrrio,isto, para aquelas situaes em que a especial simplicidade da causa vier a manifestarse a final.Comefeito,numacausaespecialmentesimplesmanifestoqueopreoou custo mdiopeloserviosuperioraovalordoservioprestado,peloquesedeveriaproceder aajustesfinais,sobpenadefaltadeequivalnciajurdicaentreataxaeasuacontrapar tida.Seseadmite,comoofazolegislador,queocustomdiopodeserdesproporcional aoservioefectivamenteprestado,entoissotemdeadmitirsequerparaacomplexida dedacausaquerparaoseuinverso,sobpenadeinconstitucionalidadeporviolaodo princpio da proporcionalidade ou, pior, da traduo das taxas num verdadeiro tributo encapotado. Finalmente,afixaoafinalpelojuizdacomplexidadedacausacomvistaaplicao dataxadejustiaespecialacabarevestidadeumadesproporcionalidadeadicional.que noapenasocustodajustiaquefixadoemfunodoseuvalor,mastambmafor madoprocessocomumqueorientaratramitaodacausa. Ora,aespecialcomplexidadedacausaque,atentooseuvalor,segueaformadoprocesso comumsumriopodejustificaraaplicaodeumataxaespecial,masjnopodepermi tirspartesqueusufruamdasmaioresgarantiasconferidasporumaformadeprocesso comumordinria,proporcionalmentemaiselevadas.Portanto,acomplexidadedacausa s legalmente reconhecida para justificar o aumento do custo do servio, mas j no serve para impor ao juiz ou pelo menos para permitir s partes a faculdade de, nestes casos, usufrurem da tramitao que o legislador quis, em princpio oferecer s aces que,porseremdemaiorvalor,eramtambmconsideradas,partida,maiscomplexas. Tambm aqui me parece existir uma violao do princpio da proporcionalidade. Claro queparaqueaspartespudessemoptarporumatramitaomaiscomplexaprecisariam deconhecer,pelomenos,nofimdosarticulados,qualaposiodojuizsobreacomplexi dade da causa de modo a que a tramitao seguinte se processasse, tambm ela, de modo mais complexo ou que ainda fosse possvel ao juiz, com recurso ao princpio da adequaoformal,adaptaratramitaoseguinteespecialcomplexidadequeparaefei toseconmicoshaviaacabadodedetectar.

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bvioqueadeterminaodacomplexidadedacausaapenasnofimdoprocessoimpe de,detodo,queojuizpudesseutilizaromalamadoemalaproveitadoprincpiodaade quaoformalparaintroduziraproporcionalidadenecessrianosistema.Ojuizdeveria, pois, poder definir a complexidade da causa no saneador e no no final do processo. E nosevenhadizerquenoopodefazernessemomentoporqueoquefazquandodis pensaaaudinciapreliminarnasacesdeformaordinriaouaconvocanasacesde formasumria. Aconclusoesta,emsuma:apartirdomomentoemqueacomplexidadeenoapenas ovalordaacocomoataquisucedia,determinamovalordataxadejustiadopro cesso,nopodedeixardeseaplicaromesmoraciocnioquantosinflunciasdaqueles mesmosfactoresnadeterminaodaformadoprocesso.Ataquiaformadoprocesso comumeraapenasdeterminadapelovalordaaco.Nopodecontinuaraslo(olegis ladorjotinhaprevistoemrelaoaudinciapreliminar)depoisde sereconheceras especficas qualidades da causa (complexidade) como factor de aumento do custo pelo servioprestado.Defendemosque,precisamenteporqueovalordasacesnocorres pondecomplexidadeousimplicidadedasmesmas,estultrapassadoomodelodetri partiodeformasprocessuaiscomuns.Esejoestavahmuito,aindamaisficoucoma validaodacomplexidadedacausacomocritriodeaumentodataxadejustiaeainda comafixaodovalordaacopelojuiznosaneador.Seriaprefervelumaformanica deprocessocomfasesamovveisemfunodedeterminadoscritriosdecomplexidadee desimplicidade. Finalmente, se o legislador no decidiu o queera uma causa complexaou simplespara efeitodedispensaouconvocaodeaudinciapreliminar,omesmojnoaconteceuno quesereferepossibilidadedeaplicaodataxadejustiaespecial.Comefeito,noarti go447An7doCPC,olegisladordecidiuverter,aindaquedeformapoucohabilidosa, oqueumacausaespecialmentecomplexa.

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Emprimeirolugar,opreceitotaxativo.Apenasassituaesaliprevistasconsubstanciam anoodeespecialcomplexidade.claroquenaexactamedidaemqueopreceitoest repleto de conceitos imprecisos (elevada especializao jurdica, elevada especificidade tcnica, questes jurdicas de mbito muito diverso, elevado nmero de testemunhas (noteriasidomelhorolegisladoresclareceronmero?),meiosdeprovaextremamente complexos,produoeprovasmorosas)),amargemdediscricionariedadejudicialalipre vistaelevada,paranodizerquaseinfinita. Emsegundolugar,assituaesquedeterminamaespecialcomplexidadedacausaape naspodemserusadasparaadeterminaodataxadejustiaespecialenoparaoutro fim.,portanto,umcritrioespecficoparaestafinalidadeenoparaoutras.

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Emterceirolugar,opreceitoparecedefiniremduasalneasumcenrioconjuntoquetem deseverificarparaqueojuizpossaconsideraraacoespecialmentecomplexa.Assim, feitaumainterpretaoliteraldopreceitoeporqueentreasal.a)eb)existeaconjuno copulativae,masemcadaumadelasestoprevistas3situaesalternativasentresi, parecequeojuizapenaspoderconsideraraacocomplexaseseverificarumadetrs situaes: 1. A aco disser respeito a questes de elevada especializao jurdica; 2. A acodisserrespeitoaquestesdeelevadaespecificidadetcnica;3.Seaacoimplicar aanlisecombinadadequestesjurdicasdembitomuitodiversoeumadetrssitua esalternativasanvelinstrutrio:1.Aanlisedeumelevadonmerodetestemunhas; aanlisedemeiosdeprovaextremamentecomplexosouarealizaodevriasdilign ciasdeproduodeprovamorosas. Portanto,anoodecomplexidadepareceseformosfiisletradopreceitooresul tadodeumacombinaode3situaesalternativasrelativasmatriadacausae,por outrolado,averificaode3certassituaesalternativasemsededeinstruodacausa. Poderse entender, ento, que se se verificar uma daquelas situaes (qualquer uma dassituaesdaal.a)ouqualquerumadassituaesdaal.b)),acausapodesercomple xa,masnoserespecialmentecomplexaporque,paraissoeparaefeitodedetermina o da taxa de justia especial , tem de se verificar cumulativamente a complexidade, queranvelmaterial,queranvelinstrutrio8. 2.2.3.Alitignciademassa Astaxaspassaramaserdeterminadasemfunodonmerodevezesqueumdetermi nadoutilizadorrecorreuaostribunais,sobrecarregandosecomumataxadejustiaagra vadaoschamadoslitigantesdemassa9. De notar que s esto sujeitos a este agravamento as sociedades comerciais. Parece haveraquiumaviolaodoprincpiodaigualdadenoplanoexterno.Embomrigor,sea questoousorecorrenteaostribunaisparaoexerccioeacautelamentodosseusdirei tos,oagravamentode50%nataxadejustiainicialdeveriaseraplicadaaquem(socie

Contraainterpretaoliteraldopreceitoedanecessidadedecumulaodasduassituaespoderse adiantarquenosrecursosordinriostambmpossvelaorelatoraplicartaxadejustiaespecialpelacom plexidade do recurso e contudo,no mesmo, no se produzem por via de regra provas. Se assim no for, teremosdeconvirquefaceaomodelodeapelaorestritoentrensvigente(apenasadmissvelemter mosmuitolimitadosaproduodeprovadocumental)acomplexidadeinstrutrianuncapoderterlugar nosrecursosordinrios,masapenasnosextraordinrios.9

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Litigantesdemassasoaquelesquenoanotransactoderamentradade200oumaisacesouinjunes nostribunaisjudiciaisourespectivamentenosbalcesdeinjuno,nocontabilizando,aqui,ospedidosde indemnizaocivildeduzidosporapensoemprocessopenal(14,n2,daPortaria419A/2009).

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dadecomercialouno)tivesseinterpostonoanoanterioraquelenmerodeprocessos. bvioquesepercebequesoassociedadescomerciaisquepoderopropor200oumais aces,mastambm,naverdade,issonoestvedadoaoutraspessoasquenessecaso no tero com isso qualquer agravamento, designadamente a empresrios em nome individual. H tambm uma violao do princpio da igualdade no plano interno porque o autor pagarmaisdoqueorunestecasoeissonodeveriasucederdadoqueoserviopres tadoomesmoparaumeoutroenamedidaemqueoseja. Jparanofalardoabsurdodasituao:entoeseoru,sendoumapessoacolectiva fordemando200oumaisvezesnoanoanterior,novqualqueragravamento? Por outro lado, o agravamento desvirtua o que uma taxa de justia. que a taxa o pagamentodocustodajustianaqueleprocessoenoocustodorecursomassificado justia,poisquenosendopermitidaajustiaprivada,estasempresasnotm,ainda, outroremdiosenooderecorreraostribunais. Finalmente,seasociedadecomercialagravadaganharaaco,oagravamentotransfe rido sem qualquer justificao para a parte vencida, mesmo quando esta no um liti gantedemassa.Comefeito,faceredacodoartigodo26,n3c),doRCP,(naredac oquelhefoiatribudapeloartigo156daLOE),oagravamentodescontadonosoma trio de taxas limite para compensao da parte vencedora pelos encargos com a sua representao,masnodeixamdeserpagassemdescontodoagravamentopelaparte vencidaquandoestanoumlitigantedemassa,nemdeseremrestitudascomocustas departenasuatotalidade. Acresceque,contabilizadosnos200oumaisprocessosnecessriosparaesteagravamen toparecemestarincludasasaces,asinjunes,asexecueseosprocessoscautelares que deram entrada no ano transacto, excepo dos pedidos de indemnizao cvel deduzidosemprocessopenal.Oquesignificaqueindiferenteseaacoeaexecuo ouseainjunoeaexecuodizemrespeitoounotuteladamesmarelaojurdica. AtentoofactodeodiplomasterentradoemvigoremAbrilde2004,parecenosque teria sido mais curial que este agravamento s se aplicasse s sociedades comerciais a partirde2010paraosprocessosintentadosem2009,poisem2008,mesmoqueaquelas tivessem querido de algum modo controlar o consumismo da actividade judicial, no o poderiam ter feito, atento no estar em vigor e no saber se ficaria sequer em vigor a norma que determina aquele agravamento e, portanto, no puderam conformar a sua actuaocomoagravamentoimpostopelamesma.

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Levantaseaindaumaoutraquestoparaaqualjsedesenhamdiversasposies.Seno h dvida que, contabilizadas naquelas 200 ou mais aces, esto as execues que tenhamounotidoporbaseumadecisojudicial,arbitralouumainjuno,jsecolocaa dvidadesaberseoagravamentoderivadodaquelalitignciademassaapenasparaas acesoutambmparaasexecues,injuneseincidentesinerentes,atentoofactode o artigo 13, n 3 do RCP nos remeter para a tabela IC e no para a tabela II. Muito embora seja defensvel, perante a literalidadedo preceitoem causa, no ser o agrava mentoaplicvelaosprocessosdatabelaII,egostssemosatdedefenderestaposio, no nos parece a mais consentnea com a unidade do normativo do regulamento e, sobretudo,comoescopoquepresideaoagravamentoemsimesmoconsiderado,poisos processosdatabelaIIsoosmaisutilizadospelassociedadescomerciaise,portanto,os mais massificados por aquelas, carecendo de qualquer sentido que aqueles fiquem excludosdanoodelitignciademassa.Portanto,parecemaisconsentneocomalgi cadosistemaquetaxahabitual,nestescasos,oartigosejainterpretadonosentidode queasexecueseinjunestambmsoagravadas,masnoporrefernciatabelaIC masregraqueestsubjacentemesma,ouseja,ataxaagravadaem50%relativamen te ao valor fixado em funo do valor da aco ou do procedimento em causa, como decorre,alis,do447A,n6,doCPC.AaplicaodatabelaIC,parecenosforadecau sa, dado que a mesma pode, por um lado, afigurarse como desadequada aos fins do agravamento(emalgunscasosastaxasficariamatenuadas)e,noutros,apresentarseiam manifestamente desproporcionais relativamente ao fim que com aquelas se pretende acautelar(quandoaacoexecutivaapresentavalorigualousuperiora300.000,00). 2.2.4.Otipodetutelarequeridaeastaxascarentesdecritrioconhecido. Atagoraapenasdistinguamosentreastaxasdasaces,dasexecuesedasinjunes. Apartirdeagorahumasriedeprocedimentos,designadamenteaproduoantecipa da de prova, as providncias cautelares e os mecanismos incidentais de interveno de terceirosquetmtaxasprpriasfixadasnatabelaII. Algumasdessastaxasdependemdovalordoprocedimentoeoutrasno.Umasapresen tam,portanto,umataxafixa,independentementedovalordoprocedimentooudoinci denteemsieoutrasvariamemfunodovaloralifixado. Algumas delas variam ainda em funo da especial complexidade tal como sucede nos procedimentos cautelares que no sejam restituies provisrias de posse/alimentos provisriosearbitramentodereparaoprovisriaouregulaoprovisriadequantiase oposio execuo, penhora e embargos de terceiros. Os restantes parecem estar isentosdetalagravamentoespecial,atentooartigo7n1doRCP.

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Haindaaconsideraraquiosincidentesouprocedimentosanmalos.Estessoaqueles que,nocabendonanormaltramitaodoprocesso,dolugaracontraditrioeimpem uma apreciao jurisdicional de mrito. o caso, na aco executiva, do requerimento autnomodestinadoaprovarqueobemmvelnosujeitoaregistoencontradonapos sedoexecutadonolhepertence(elisodapresunoporexibiodedocumentoine quvoco).Nestecaso,ataxadejustiavarivelentre1e3UCsemqualquercritrio,a chamadataxadejustiavarivel.Squevarianosesabebememfunodoqu,pois quenoseindicaqualquervalornemcomplexidadequejustifiquemaatribuiodeum valorespecficoenosetratadequalquersanopelaanomaliadoprocedimento,pois queaestataxatantopodeacrescerumataxapelacomplexidadecomoumasanopela utilizaoindevidadomeio. Osrecursospassamaternoprocessocivilumataxadejustiaespecficaque,regrageral, maisbaixaemmetadequandosetratadeacesdatabelaI,maspodejnoserassim sesetratarderecursodedecisesproferidasemincidentesouprocedimentoscautela res,pois,atentoovalordaaco,ovalordorecursopodesersuperioraodataxainicial mente paga. De qualquer modo, os recursos podem, ainda, sofrer uma taxa de justia especialseserevestiremdeespecialcomplexidade.Osrecursosdestasdecisespodem sofrer,portanto,umduplofactordeaumentonataxadejustia. Dequalquermodo,noprocessocivilenoadministrativo,ovalordataxaderecursono variaemconformidadecomograuderecursoempreguenemcomotribunalparaoqual serecorreouotipoderecursoemcausa.Omesmonosucedenoprocessopenal. Asregrasdosrecursosemprocessopenalsodivergentesquantoataxas. Aocontrriodoquesucedenostribunaisciviseadministrativos,maiscarorecorrerpara oSTJdoqueparaaRelao.Serqueasquestespenaissomaisdifceisderesolverque ascivisouasadministrativas,efinalmente,seorgoparaoqualserecorreinteressa, ento,qualadiferenaentreasecocvelousocialdoSTJeasecopenaldomesmoe qualdiferenaentreoSTAeoSTJ?

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Delouvarapenasadesnecessidadedepagamentodetaxadejustiapelorecorridocon traalegante e, ainda, a fixao do valor tributvel dos recursos tendo por referncia o valordasucumbnciaenoovalordaaco,pelomenosquandoaquelafordetermin vel. Aindanodomniodoprocessopenal,ovalorapagarposteriormentepelosactosdecons tituio deassistente e de abertura de instruo so variveis (tabelaIII) em funo da sua utilidade, mas variando em funo de quem o pratica. que o assistente pode ser condenadoapagar,conformeautilidade,entre1a10UCseaarguido,entre1a3.

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Nosepercebeoconceitodeutilidadeparaaconstituiodeassistente.Serassistente esgotaseemserassistentee,portanto,ataxadeviaserfixacomoataquioera. Autilidadedaaberturadainstruono pode deixardeestarligadapronnciaeno pronnciadoarguidoemconformidadecomquemrequereuessaabertura. Nosepercebeavariabilidade,anoserqueissoestivessetambmsujeitoaumcritrio decomplexidadeque,contudo,nestecasonoseverificapeloqueovalorperfeitamen te arbitrrio e, portanto, a nosso ver, inconstitucional, desincentivando o recurso a um meioprocessualnodelicadombitodoprocessopenal. 2.2.5.Ocomportamentoprocessualdaparte. Oaditadoartigo447BdoCPCestabeleceoscasosemquepodeserfixadapelojuizuma taxasancionatriaexcepcionaleoartigo10doRCPdeterminaqueessataxasancionat riapodeoscilarentre2e15UCs. Nopodeumamesmasituaosersancionadasimultaneamenteisto,pelaprticado mesmoactoprocessual,comtaxasancionatriaespecialecommulta,proibioque,se nofossepordirectamenteestarimpostapeloartigo27,n4doRCP,derivariajdirec tamentedaConstituio. Estataxatemdeserliquidadanostermosprevistosnoartigo26daPortaria419A/2009, ouseja,porautoliquidao(DUC)nos20diasseguintesaotrnsitodadecisoouseja,20 diascontadosdotrminode5diasparainterposiodorecursodeapelao10(27,n5 doRCP). Ataxasancionatriaexcepcionaltemlugaremqualquerumdoscasosprevistosnoartigo 447BdoCPC,implicandosempreneglignciaoufaltadeprudnciadapartequepratica oactoprocessualemcausaouqueoditoactotenhasidoinferidopormanifestaim