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7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares
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Expediente
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 9 REGIOCURITIBA - PARANESCOLA JUDICIAL
PRESIDENTEDesembargador ALTINO PEDROZO DOS SANTOS
VICE-PRESIDENTEDesembargadora ANA CAROLINA ZAINA
CORREGEDORA REGIONALDesembargadora FTIMA TERESINHA LORO LEDRAMACHADO
CONSELHO ADMINISTRATIVO BINIO 2014/2015
Desembargador Clio Horst Waldraf (Diretor)
Desembargador Cssio Colombo Filho (Vice-Diretor)
Juiz Titular Lourival Baro Marques Filho(Coordenador)
Juiz Titular Fernando Hofmann (Vice-Coordenador)
Desembargador Arion Mazurkevic
Desembargador Francisco Roberto Ermel
Juza Titular Suely Filippeo
Juiz Titular Paulo Henrique Kretzschmar e Con
Juza Substuta Fernanda Hilzendeger Marcon
Juza Substuta Camila Gabriela Greber Caldas
Juiz Jos Aparecido dos Santos (Presidente da
AMATRA IX)
COMISSO DE EaD e PUBLICAES
Desembargador Cssio Colombo FilhoJuiz Titular Fernando Hofmann
Juiz Titular Lourival Baro Marques Filho
GRUPO DE TRABALHO E PESQUISA
Desembargador Luiz Eduardo Gunther - Orientador
Adriana Cavalcante de Souza Schio
Anglica Maria Juste Camargo
Eloina Ferreira Baltazar
Joanna Vitria Crippa
Juliana Crisna Busnardo
Larissa Renata KlossMaria da Glria Malta Rodrigues Neiva de Lima
Simone Aparecida Barbosa Mastrantonio
Willians Franklin Lira dos Santos
COLABORADORES
Secretaria Geral da Presidncia
Servio de Biblioteca e Jurisprudncia
Assessoria da Direo GeralAssessoria de Comunicao Social
FOTOGRAFIA
Assessoria de Comunicao
Acervos online (Creave Commons)
APOIO PESQUISA
Maria ngela de Novaes MarquesDaniel Rodney Weidman Junior
DIAGRAMAO
Patrcia Eliza Dvorak
Edio temca
Periodicidade Mensal
Ano IV 2015 n. 39
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Artgos
OS ACORDOS PROCESSUAIS NO NOVO CPC
APROXIMAES PRELIMINARES
Srgio Cruz Arenhart
Ps-doutor pela Universit degli Studi di Firenze. Doutor e Mestre em Direitodas Relaes Sociais pela UFPR. Professor dos cursos de Graduao e Ps-graduao da UFPR. Ex-juiz Federal. Procurador Regional da Repblica.
Gustavo Osna
Doutorando e Mestre em Direito das Relaes Sociais pela UFPR. Membro doInstuto de Processo Comparado (UFPR). Professor de cursos de especializao.Advogado.
1. Introduo
Se j em seus momentos iniciais a
recente tentava de instuir um novo Cdigo
de Processo Civil causou efervescncia
doutrinria e suscitou inmeros debates,
o avano do projeto apenas ampliou tais
inquietaes. A preocupao ao longo
dos lmos meses com aspectos como o
contedo estendido do contraditrio e com
ferramentas como o incidente de resoluo
de demandas repevas exemplicadora
desse movimento. Colocam-se novos campos
de pesquisa ao processualista, atraindo
prontamente seus olhares.
Esse uxo, atentando-se para o novo
e idencando suas potencialidades, parece-
nos consequncia natural da prpria essncia
ideolgica que norteia a possvel mudana
de Cdigo. Isso porque, por mais que ao
longo das lmas dcadas nosso processo
civil tenha passado por inmeras adaptaes,
a probabilidade de uma reforma global
da disciplina permite que suas diretrizes
valoravas sejam realinhadas. O presente
ensaio possui como objeto de invesgao,
precisamente, um discurso axiolgico inserido
nessa seara: o chamado contratualismo
processual. Mesmo que de forma preliminar,
pretende-se invesgar os principais contornos
e fundamentos relacionados a essa guia, bem
como seu acoplamento com o Direito brasileiro.
Viabilizando esse trabalho, a anlise
segmentada em trs momentos. Nos dois
primeiros, procura-se traar as linhas gerais
relacionadas gura do contratualismo,
idencando como essa diretriz se faz
presente no novo Cdigo de Processo Civil.
No lmo, e mais crco, problemaza-se a
adoo dessa linha terica no nosso atual
contexto, diante da pluralidade de interesses
que permeiam a avidade jurisdicional. sobre
esses pilares que se constri o estudo, ciente
de sua natureza introdutria, mas mantendo
Srgio Cruz ArenhartGustavo Osna
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Artgos
seu compromemento com a efevidade do
processo.
2. Contextualizando o Problema: o
Contratualismo, o Novo CPC e o Processo
Brasileiro
2.1. A Premissa Contratualista
Iniciando o debate, idencamos que o
seu cerne passa pela compreenso daquilo que
concebido como contratualismo processual.
Anal, quais seriam as caracterscas essenciaisdessa diretriz valorava? Sob quais fundamentos
a conformao por ela trazida seria defensvel?
Como isso se operacionalizaria em nosso
ambiente jurisdicional?
Ainda que as indagaes pudessem
conduzir a debates mais profundos, para as
atuais nalidades vivel destacar brevemente
que, por trs da ideia contratualista, est a
tentava de conferir s partes a possibilidade
de dispor sobre a estrutura procedimental de
seu ligio; de facultar que estabeleam parcela
do percurso a que o acertamento de seu caso
estaria submedo; em sntese, de permir
que sejam derrogadas regras relacionadas
ao desenvolvimento do processo, alterando
sua tramitao a critrio dos prprios sujeitos
envolvidos na controvrsia.
Esse po de discurso ganhou especial
importncia no processo civil francs da dcada
de 80, encontrando amparo em tericos como
Loc Cadiet e sendo exemplicado em aspectos
como a possibilidade de escolha, pelas partes,
do circuito procedimental a que sua lide deve
se sujeitar1. Do mesmo modo, analisando o
problema sob as lentes do processo civil italiano,
destaca-se o pensamento de Remo Caponi2. Em
qualquer das vias, esses acordos almejariam
permir que as partes transacionassemsobre a forma de tramitao da sua causa.
Consideramos que o argumento toma por base
uma readequao do dilogo entre jurisdio
e jurisdicionado, razo pela qual: (i) possui
pernncia com a (corriqueira) defesa de que o
prprio Estado deve passar um realinhamento
global de seus cnones de atuao; e (ii) guarda
similitude com a noo de cooperavismo,outro discurso relacionado ao processo tambm
1 Sobre a questo, arma Tricia Navarro Xavier
Cabral que iniciou-se no direito francs um movimento
traduzido na necessidade da existncia de um modelo
jurdico negocial ao lado de um modelo jurdico imposto
pelo Estado. Em consequncia, passou-se a reer sobre
a contratualizao da jusa, do processo e dos modos
de regramento dos ligantes, tema aparentemente
paradoxal com o processo, que um desacordo. Essa
novidade representa um projeto de democrazao da
jusa, uma vez que harmoniza o princpio da cooperao
dos juzes e das partes com o princpio do contraditrio,
princpios estes que direcionam o processo civil francs,
atravs de tcnicas contratuais. A possibilidade de
modicao contratual do procedimento no direito
francs vem estabelecida no Dcret 2005-1678 de
28.12.2005 (...) diferentemente dos dois sistemas
primeiramente citados, no direito francs observa-
se uma maior cooperao entre o juiz e as partes para
ns de estabelecer acordos processuais. Alm disso,
a contratualizao do processo ampla e se revelade vrias formas, como as convenes para se evitar a
instaurao do processo e as que ocorrem durante o
processo, dentre outras. CABRAL, Tricia Navarro Xavier.
Poderes do Juiz no Novo CPC. In. Revista de Processo.
v.208. So Paulo: Ed.RT, 2012. p. 275 e ss. Em relao a
esse aspecto, ver, em especial, CADIET, Loic, NORMAND,
Jacques, MEKKI, Soraya Amrani. Thorie gnrale du
procs. Paris: PUF, 2010, p. 524. Tambm, CADIET, Loic.
Les convenons relaves su procs en droit franais. Sur
la contractualisaon du rglement des liges. In.Accordi
di parte e processo. Milano: Giur, 2008 p. 7 e ss.
2 Nesse sendo, CAPONI, Remo. Autonomiaprivate e processo civile: gli accordi processuali.Accordi
di parte e processo. Milano: Giur, 2008, p. 99 e ss.
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Artgos
inserido nesse caldo.
Em relao ao primeiro aspecto, o
ponto a ser percebido que a maleabilidade
do direito pblico tem conduzido proposta de
uma recomposio geomtrica da relao entre
Administrao e administrado, fazendo com que
a vercalidade estrita (a ordem, o comando ou
a imposio) ceda espao para uma construo
mais horizontal (o dilogo, a parcipao ou
a concertao). Conferindo novo status ao
jurisdicionado e novas linhas ao estatal 3,
insere-se a a defesa de uma consensualidade
administrava; de uma maior aproximaoentre Poder Pblico e indivduo (visto como
cidado 4); enm, de uma Administrao que
no apenas impe, mas tambm dialoga e
compe 5.
Entre as questes que militam em favor
dessa constatao, est a prpria modicao
3 Percebendo o realinhamento do imprio doato administravo, a parr da internalizao dessanova mentalidade no direito espanhol, ALFONSO,Luciano Parejo. Los Actos Administravos Consensualesen el Derecho Espaol. In. A & C Revista de DireitoAdministravo e Constucional. v.3. Belo Horizonte:Frum, 2003.p.12-14.
4 Eis a gura do cidado que manifesta suavontade em fazer parte de procedimentos passveis deculminar em decises estatais que afetem direitos seus(...) o cidado consciente de seus direitos civis, polcos
e sociais (porque bem informado), e que deseja tomar apalavra e expressar sua opinio nos assuntos relavos conduo das avidades pblicas (...) enm, o cidadoparcipador, que assume posturas pr-avas peranteuma Administrao pblica que deve agir em proveitodos cidados e de toda a sociedade. OLIVEIRA, GustavoJusno de. O Contrato de Gesto na AdministraoPblica Brasileira. Tese de Doutorado. Universidade deSo Paulo, 2005. p.133.
5 Com efeito, os princpios e regras daConstuio da Repblica anentes ao Estado e Administrao pblica no somente conferiram novo
formato organizao administrava, mas impingiramuma maior democrazao do seu funcionamento, dasua gesto. Idem. p.129.
a que a gura macro do espao pblico se
submeteu ao largo do lmo sculo e meio.
Com marcos razoavelmente pacicados, esse
fenmeno costuma ser descrito a parr dos
seguintes passos gerais: (i) inicialmente, coloca-se como pano de fundo um Estado Liberal,
picando-o como aquele cujas aes estariam
pautadas pelaprevisibilidade; (ii)na sequncia,
com comum meno Constuio Mexicana
de 1917 e Constuio de Weimar de 1919,
indica-se o uxo para um Estado mais avo na
assegurao de direitos sociais 6; (iii) enm,
aps a eventual crise dessa polca de welfaree a constucionalizao da ordem jurdica,
seriam perseguidos novos desenhos (lanando-
se conceitos como o de Estado Garana)7.
Nesse curso, se no primeiro momento
o agir estatal seria legimado por atender aos
primados da segurana e da neutralidade, com
a dilatao de nalidades atribudas esfera
pblica esses parmetros se alteram. Com
efeito, pois se antes haveria o predomnio de
direitos essencialmente negavos (em questo
problemazada por Holmes e Sunstein8),
6 a parr do nal da primeira metade dosculo que, denivamente, se d o marco decisivo natransformao do Estado (...) ao princpio que ditava aabsteno sucede a proclamao de um Estado social
e economicamente compromedo ou conformador;a concepo de uma Administrao constuva einterventora ganha terreno em relao clssicaAdministrao de autoridade (...) o Estado no apenastular das tarefas, tambm o prestador directo dosservios proporcionados pelas mesmas. GONALVES,Pedro. MARTINS, Licnio Lopes. Os servios pblicoseconmicos e a concesso no Estado regulador. In.MOREIRA, Vital (org.). Estudos de regulao pblica I.Coimbra: Coimbra ed., 2004. p.177-178.
7 Idem. ibidem.
8 Em suma, os autores sustentam que inexiste
direito sem que haja custos inerentes sua efevao.Com esta concluso, desmisca-se a crena no carterexclusivamente negavo dos direitos de liberdade
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a internalizao de demandas sociais pela
Administrao faria com que tambm lhe
fossem trazidos outputs de resultado 9.
Ocorre que, a parr de possveis limites
materiais relacionados consecuo dessasnovas tarefas, chega-se segunda transio
acima indicada; gura de um Estado que
deveria garanr as prestaes essenciais,
mas nem sempre teria condies de faz-lo
diretamente. E aqui que a reconstruo de
seu vnculo com a comunidade poderia agir
em ao menos duas linhas: (i) negocialmente,
por permir o desempenho de avidades quetalvez no fossem alcanadas pela atuao
exclusivamente pblica; (ii) democracamente,
por encontrar na parcipao popular
um novo ltro de legimao da conduta
administrava.
Como consequncia do primeiro
aspecto, ganhariam corpo elementos como a
celebrao de parcerias pblico-privadas, com
especial relevncia na rea de infraestrutura.
Como reexo do segundo, seria rompida a
separao absoluta entre pblico e privado,
trazendo a sociedade civil para a tomada de
escolhas trgicas 10de modo a (teoricamente)
(ou direitos de primeira gerao), no que se inclui a
propriedade. Ainda que referidos direitos no fossempreponderantemente prestacionais (como so aquelesdenominados de segunda gerao) os atos de scalizarsua efevao e de reparar e corrigir suas eventuaisdistores trariam custos ao Estado. H sempre umaconta, com a qual algum (leia-se, os contribuintes) terque arcar. Ver, HOLMES, Stephen. SUNSTEIN, Cass R. TheCost of Rights Why Liberty Depends on Taxes. New York:W.W Norton & Company, 2000. p.44-45.
9 Reconhecendo esse uxo, OFFE, Claus. Critriosde Racionalidade e Problemas Funcionais da AoPolco-Administrava. In. Problemas Estruturais do
Estado Capitalista. Trad. Brbara Freitag. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1984. p.216 e ss.
10 A expresso talhada por Calabresi e Bobbit,
reforar sua aceitao. Pelas duas pontas,
estaria juscada uma nova abertura gerncia
administrava, recomendando sua inclinao
em sendo mais consensual11e reequilibrando
o liame entre cidados e aparato estatal12.Diante desse arsenal argumentavo, a
recomendar uma Administrao Pblica mais
compromeda com o dilogo e capaz de conjugar
atos imperavos e atos negociados, comperia
ao operador do Direito o desenvolvimento de
mecanismos e ideias capazes de internalizar
a nova mentalidade. assim com a aceitao
que, analisando a alocao de recursos oramentriosinerentes gesto pblica, percebem a srie de conitosvaloravos radicais que permeia a tomada de decisesrelacionadas ao tema. Assim, CALABRESI, Guido.BOBBITT, Phillip. Tragic Choices. New York: W.W Norton& Company, 1978.
11 Invesgando o tema, Diogo de FigueiredoMoreira Neto destaca que a parcipao e aconsensualidade tornaram-se decisivas para asdemocracias contemporneas, pois contribuem paraaprimorar a governabilidade (ecincia); propiciam maisfreios contra o abuso (legalidade); garantem a atenoa todos os interesses (jusa); proporcionam decisomais sbia e prudente (legimidade); desenvolvem aresponsabilidade das pessoas (civismo); e tornam oscomandos estatais mais aceitveis e facilmente (ordem).MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutaes doDireito Administravo. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar,2001. p.41. Ver, tambm, OLIVEIRA, Gustavo Jusno de.Ob. cit. p.139.
12 Nessa guinada, arma-se que a parr das ideiasde constucionalismo e democracia, a igualdade assumeimportante papel ao determinar que todas as pessoas
possuem a mesma dignidade moral e so iguais em
suas capacidades mais elementares. Da mesma forma,todo indivduo tem igual direito de intervir na resoluo
dos assuntos que afetam a sua comunidade; vale dizer,todos merecem parcipar do processo decisrio em pde igualdade (...) se preservam os direitos fundamentaisque permitem a cada um levar sua vida conforme seusideais preservando, ainda, uma estrutura de decisodemocrca na qual a opinio de cada sujeito vale omesmo que a do outro. GODOY, Miguel Gualano de.
Constucionalismo e Democracia Uma leitura a parrde Carlos Sanago Nin e Roberto Gargarella. So Paulo:Editora Saraiva, 2012. p.66.
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da transao em Processo Administravo
Disciplinar. Do mesmo modo, parndo dessa
base terica que ganham fora discursos como
o da gesto pblica mediante contratos e o
do incremento de parcipao por meio deconsultas e audincias. E, tambm, parece-
nos ser essa a mentalidade inerente tanto ao
contratualismo quanto ao cooperavismo
processuais, fazendo com que ambos caminhem
para um mesmo sendo: o da aproximao
entre as partes do ligio e o magistrado,
equacionando suas relaes de poder.
Observando de incio a ideiacooperava (ou colaborava) e as suas
possibilidades no mbito processual civil,
idencamos que a questo j vem sendo h
tempos defendida na doutrina brasileira por
autores como Daniel Midiero13e Fredie Didier
Jr.14. E, de fato, parece incontestvel que em
13 Em explicao da questo, arma DanielMidiero que o processo cooperavo parte da ideiade que o Estado tem como dever primordial propiciarcondies para a organizao de uma sociedade livre,justa e solidria, fundado que est na dignidade da pessoahumana. Indivduo, sociedade civil e Estado acabam porocupar, assim, posies coordenadas (...) o juiz tem o seupapel redimensionado, assumindo uma dupla posio:mostra-se paritrio na conduo do processo, no dilogoprocessual, sendo, contudo, assimtrico no quando dadeciso da causa. MITIDIERO, Daniel. Colaborao noprocesso civil: pressupostos sociais, lgicos e cos.2 ed.
So Paulo: Ed. RT, 2011. p.11414 O princpio da cooperao dene o modo comoo processo civil deve estruturar-se no direito brasileiro.Esse modelo caracteriza-se pelo redimensionamentodo princpio do contraditrio, com a incluso do rgojurisdicional no rol dos sujeitos do dilogo processual, eno mais como um mero espectador do duelodas partes(...) a conduo do processo deixa de ser determinadapela vontade das partes (marca do processo liberaldisposivo). Tambm no se pode armar que huma conduo inquisitorial do processo pelo rgojurisdicional, em posio assimtrica em relao s
partes. Busca-se uma conduo cooperava do processo,sem destaques a algum dos sujeitos processuais. DIIDIERJR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. v.1. 12 ed.
sua base se encontra a tentava de readequar
a estrutura geomtrica clssica da relao
processual (reendo o movimento dialgico
acima descrito). Se historicamente pensou-
se em um processo guiado em sua essnciapela vercalidade, o argumento cooperavo
sustenta exatamente a necessidade de que
se atribua maior emparelhamento entre os
sujeitos do conito e o seu julgador.
A favor desse ponto, alm da j citada
reviso da atuao estatal, colocam-se
tambm questes como a crise judiciria e
o combate losco possibilidade de queuma deciso solipsista anja a verdade15.
que, se a capacidade do julgador alcanar
uma deciso irreparvel mediante seu prprio
exame individual abalada, estaria reforada
a relevncia do dilogo (conferindo densidade
inuncia das partes). Essa reaproximao
est insculpida no art. 6 do novo Cdigo de
Processo Civil, segundo o qual todos os sujeitos
do processo devem cooperar entre si.
Deslocando enm os nossos olhares
ao contratualismo processual, notamos
que tambm essa perspecva, assim como
ocorre com o cooperavismo, funda-se na
aproximao entre as partes do conito e o
julgador e em um maior empoderamento dos
ligantes. Aqui, porm, a questo se especica
pelo objeto temco: a parcipao dos sujeitos
seria majorada no apenas no que toca ao
Salvador: Editora JusPodivm, 2010.
15 Conforme Lnio Streck, as palavras da leiso constudas de vaguezas, ambigidades, enm, deincertezas signicavas. So, pois, plurvocas. No hpossibilidade de buscar/recolher o sendo fundante,originrio, primevo, objecante, unvoco ou correto
de um texto jurdico. STRECK, Lnio Luiz. HermenucaJurdica e(m) Crise. Porto Alegre : Livraria do Advogado,2000. p. 239
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convencimento judicial sobre o objeto ligioso,
mas tambm no que se refere estruturaodo
rito processual a ser casuiscamente adotado.
Desse modo, a tese passa pela
compreenso de que, embora a previsibilidadeprocessual requeira certo grau de formalidade16,
esse elemento no pode se converter em
formalismo desfavorvel jurisdio17. Fugindo
desse risco, encontraria amparo a defesa por
uma maior liberdade procedimental18, e, no
argumento contratualista, a compreenso
de que essa maleabilidade deveria passar pelo
crivo (e pelo impulso) dos sujeitos em juzo. Emsntese, trata-se de defender que a neutralidade
teoricamente trazida por um procedimento
igualitrio deveria ser superada em favor de
uma maior adaptao ao caso concreto, e de
arrematar destacando que caberia s partes
papel de destaque nessa adequao19.
16 La razn por la que en todos os empos seha sendo la necesidad de imponer una minuciosa
disciplina jurdica a este dilogo entre hombres, al cual,
en sustancia, se reduce todo proceso, debe buscar-se
en la especial naturaleza de la providencia a la que
estn preordenadas todas las acvidades procesales.
Carcter esencial del derecho es la certeza (...) pero, a
su vez, esta certeza no exisra si el individuo que pide
juscia no supiera exactamente cules son los actos que
debe realizar para obtenerla. CALAMANDREI, Piero.Instuciones de derecho procesal civil. Trad. Sanago
Sens Melendo. Vol.1. Buenos Aires: El Foro, 1996. p.321.17 La historia de las instuciones judicialesdemuestra que las formas adoptadas originariamente
para alcanzar ciertos nes, enden a sobrevivir a su
funcin (...) como n en si mismas; as, a veces, el valor
puramente instrumental de las formas que deberan
servir para facilitar la juscia degenera en formalismo
y las mismas se convierten en objeto de un culto ciego.Idem. p.322.
18 Sobre o tema, cita-se, GAJARDONI, Fernando daFonseca. Flexibilidade Procedimental. So Paulo: EditoraAtlas, 2008.
19 Nas palavras de Cadiet, observando a recenteexpanso do argumento contratualista, les convenonsrelaves au procs ne sont donc pas si nouvelles que
2.2. As Previses do Novo Cdigo
Entendidos os principais suportes
inerentes ao contratualismo processual, v-se
que a presena de aspectos a ele relacionadosno de todo recente em nosso ordenamento
jurdico. que, por mais que o Cdigo de Processo
Civil de 1973 no encampe explicitamente essa
guia valorava, h vetores em sua redao
que (ainda que de forma silente) parecem-nos
parlhar do mesmo norte.
cela; elles s'inscrivent dans une trs ancienne tradioncontractualiste en mare de rglement des conits,qu'il s'agisse de l'analyse contractuelle du lien d'instance,hrite de la lis contestao du droit romain, ou du rleque la conciliaon, la transacon, la composion ou lecompromis ont toujours jou en droit franais depuisle Moyen-ge (...) D'o vient, alors, que la quesonparaisse nouvelle? Cee nouveaut me semble tenir deux explicaons. D'une part, d'un point de vuegnral, ces convenons relaves au procs s'inscriventdans une tendance trs nee la contractualisaon
contemporaine des rapports sociaux, lie au dclindu centralisme taque et de son corollaire dansl'ordre de la producon normave, le lgicentrisme.Ce phnomne, qui a pris son essor dans les annes1960, fait l'objet de nombreuses tudes doctrinales,qui en soulignent l'importance, indpendamment de lavarit des posions qu'elles expriment, favorables oudfavorables La rexion sur la contractualisaon de lajusce, du procs ou, plus gnralement des modes derglement des dirents, depuis une quinzaine d'annes,parcipe assurment de ce mouvement qui traduitl'mergence d'un ordre juridique ngoci entre lesacteurs sociaux, ct de l'ordre juridique impos parl'Etat, ce que l'on idene aujourd'hui par rfrence auconcept de post-modernit. D'autre part, d'un point devue plus parculier, le renouvellement actuel ent aunouvel usage qui est fait de la technique contractuelle,comme une des rponses possibles la crise de la jusce, l'encombrement des tribunaux et l'allongement desprocdures: d'abord, en amont du lige, les paresrecourent de plus en plus la convenon commeinstrument d'ancipaon convenonnelle du rglementde leur dirend (I); par ailleurs, une fois le lige n, lerecours au contrat s'opre au sein mme de l'instuonjudiciaire comme un instrument de geson de l'instance
(II). CADIET, Loc. Les convenons relaves su procs endroit franais. Sur la contractualisaon du rglement desliges. p. 8.
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Artgos
Essa situao pode ser percebida, por
exemplo, ao se admir a celebrao de clusula
contratual de eleio de foro20. Tambm, ao
determinar-se que o juzo territorialmente
incompetente, se no oposta exceo, tenhaprorrogada sua competncia para anlise do
ligio 21. Embora nossa legislao possua regras
voltadas diviso de competncia territorial,
nas duas hipteses se admite sua derrogao
por iniciava das partes. Seja pela disposio
via contrato, seja pela atude adotada em
juzo, permite-se que os ligantes vinculem de
forma restriva a atuao estatal, sujeitando-a deciso tcita ou abertamente celebrada22.
Ainda nessa linha est a possibilidade
20 Art. 111. A competncia em razo da matria
e da hierarquia inderrogvel por conveno das partes;
mas estas podem modicar a competncia em razo do
valor e do territrio, elegendo foro onde sero propostas
as aes oriundas de direitos e obrigaes.
1 O acordo, porm, s produz efeito, quando constar
de contrato escrito e aludir expressamente a determinado
negcio jurdico.
2 O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores
das partes.
21 Art. 114. Prorrogar-se- a competncia se dela
o juiz no declinar na forma do pargrafo nico do art.
112 desta Lei ou o ru no opuser exceo declinatria
nos casos e prazos legais.
22 Reforando a importncia da questo para a
organizao jurisdicional, Aluisio Gonalves de Castro
Mendes destaca que a jurisdio est presente em
todos os rgos do Poder Judicirio, tendo em vista que o
juiz, com a invesdura no cargo, dotado est do poder de
dizer o direito, ou seja, da funo judicante. Na medida
em que a prestao jurisdicional um servio pblico e,
como tal, deve ser realizado a contento, no obstante
todas as carncias, h uma necessidade prca de diviso
do trabalho e das tarefas, a m de omizar ou, quando
menos, viabilizar o exerccio da funo como um todo.
Essa razo de ordem prca norteia, em geral, a xao
de competncia dos rgos judiciais. Sob o prima terico,
a jurisdio pode ser entendida como o poder, enquanto
a competncia o exerccio delimitado daquele.
MENDES, Aluisio Gonalves de Castro. Competncia Cvelda Jusa Federal. 3 ed. rev. atual e ampl. So Paulo: Ed.
RT, 2009. p.35.
de negociao contratual dos parmetros de
nus de prova23, ou a faculdade conferida
s partes para espularem a suspenso do
seu processo24. Em ambas as circunstncias,
permite-se que os sujeitos adotem condutasde disposio capazes de vincular o Estado-juiz.
Tanto em uma quanto na outra os tulares do
conito assumem papel de destaque na xao
de parmetros procedimentais, espulando
como o julgador deve agir em caso de dvida
ou o sujeitando a uma suspenso do feito sobre
a qual possui poderes limitados.
Ocorre que, e sem prejuzo de taisexemplos j exisrem, no novo Cdigo
de Processo Civil a inclinao em favor
do contratualismo mais acentuada. A
proposta legislava mais rme nesse sendo,
ampliando seu campo de incidncia e fazendo
com que, em determinadas hipteses, seja
vivel que o acordo derrogue plenamente o
procedimento legal.
Essa expanso cristalizada pelo teor
do art. 190 do texto legislavo, cujo caput
preceitua que versando a causa sobre direitos
que admitam autocomposio, lcito s partes
23 Anal, se o art.333 do Cdigo de Processo
Civil de 1973 determina que a conveno do nus da
prova ser nula somente quando recair sobre direitoindisponvel da parte ou tornar excessivamente dicil a
uma parte o exerccio do direito, uma leitura a contrario
sensu permite concluir que em qualquer outra hiptese
a negociao seria preliminarmente aceitvel. Faculta-
se, assim, a celebrao de verdadeiro negcio jurdico
processual.
24 Art. 265. Suspende-se o processo:
(...)
II - pela conveno das partes;
(...)
3 A suspenso do processo por conveno das partes,
de que trata o no Il, nunca poder exceder 6 (seis) meses;ndo o prazo, o escrivo far os autos conclusos ao juiz,
que ordenar o prosseguimento do processo.
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110
Artgos
plenamente capazes espular mudanas no
procedimento para ajust-lo s especicidades
da causa e convencionar sobre os seus nus,
poderes, faculdades e deveres processuais,
antes ou durante o processo. Cria-se dessemodo um permissivo geral para a celebrao
de acordos processuais pelos ligantes, em
cenrio corroborado pelo pargrafo nico do
mesmo disposivo, segundo o qual de ocio ou
a requerimento, o juiz controlar a validade das
convenes previstas neste argo, recusando-
lhes aplicao somente nos casos de nulidade
ou insero abusiva em contrato de adeso ouno qual alguma parte se encontre em manifesta
situao de vulnerabilidade25.
A leitura conjugada dos preceitos
evidencia uma clara abertura para que as
partes pactuem sobre aspectos relacionados
tramitao do seu conito. De um lado,
essa prerrogava textualmente facultada
pelo caput do argo, revelando sua ndole
permissiva. De outro, a dimenso de controle
trazida pelo citado pargrafo restringida.
Em suma, confere-se aos sujeitos uma ampla
possibilidade para contratualizar seu ligio, ao
passo que se reserva ao julgador um espao
teoricamente limitado para negar vigncia a
essa negociao.
No rastro dessa previso ampla, e
25 Art. 190. Versando o processo sobre direitos que
admitam autocomposio, lcito s partes plenamente
capazes espular mudanas no procedimento para ajust-
lo s especicidades da causa e convencionar sobre os
seus nus, poderes, faculdades e deveres processuais,
antes ou durante o processo.
Pargrafo nico. De ocio ou a requerimento, o juiz
controlar a validade das convenes previstas neste
argo, recusando-lhes aplicao somente nos casos de
nulidade ou de insero abusiva em contrato de adesoou em que alguma parte se encontre em manifesta
situao de vulnerabilidade.
conferindo aplicao especca sua ideia
geral, o Cdigo permite ainda que durante
o saneamento da lide as partes xem por
consenso as questes fcas e jurdicas das
por controversas (art.357, 226). Tambm,faculta que indiquem por acordo de vontades
o perito judicial responsvel por auxiliar o
juzo na valorao do feito27. Do mesmo modo,
estabelece que, em conjunto com o julgador da
causa, os ligantes poderiam xar calendrio
processual especco para a prca dos atos
relacionados disputa (como previsto no art.
26 Art. 357. No ocorrendo nenhuma das
hipteses deste Captulo, dever o juiz, em deciso de
saneamento e de organizao do processo:
I - resolver as questes processuais pendentes, se houver;
II - delimitar as questes de fato sobre as quais recair
a avidade probatria, especicando os meios de prova
admidos;
III - denir a distribuio do nus da prova, observado o
art. 373;
IV - delimitar as questes de direito relevantes para a
deciso do mrito;
V - designar, se necessrio, audincia de instruo e
julgamento.
1 Realizado o saneamento, as partes tm o direito
de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo
comum de 5 (cinco) dias, ndo o qual a deciso se torna
estvel.
2As partes podem apresentar ao juiz, para
homologao, delimitao consensual das questes de
fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual,
se homologada, vincula as partes e o juiz.
(...)
27 Art. 471. As partes podem, de comum acordo,
escolher o perito, indicando-o mediante requerimento,
desde que:
I - sejam plenamente capazes;
II - a causa possa ser resolvida por autocomposio.
1 As partes, ao escolher o perito, j devem indicar
os respecvos assistentes tcnicos para acompanhar
a realizao da percia, que se realizar em data e local
previamente anunciados.
2 O perito e os assistentes tcnicos devem entregar,
respecvamente, laudo e pareceres em prazo xado pelo
juiz.
3 A percia consensual substui, para todos os efeitos,a que seria realizada por perito nomeado pelo juiz.
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111
Artgos
191, em seu 1) 28.
No rduo notar que a maior parte
das disposies dessa natureza conita com a
construo histrica de nosso processo. que,
se o prprio iderio Moderno embasava umprocedimento generalista e despreocupado
com peculiaridades29, a atual guinada
ideolgica oportuniza uma maior aproximao
entre a forma e as exigncias do caso concreto.
Adotando a anpoda de Damaska, caminha-se
em um sendo mais atento lgica coordenada,
desprendendo-se de uma sujeio imutvel a
parmetros previamente xados em lei
30
.Entretanto, ainda que esse ganho
em maleabilidade possa trazer benecios
ao nosso processo civil, conduz tambm a
preocupaes e a ponderaes. As questes
passam essencialmente pelos limites da
disponibilidade procedimental, e levam a uma
srie de indagaes. Anal, haveria adequao
em permir a transao sobre o processo sem a
presena (e sequer a anuncia) do julgador? Em
28 Note-se que essa prerrogava no se confundecom a previso do art. 139, VI, que permite ao juiz dilataros prazos processuais e alterar a ordem de produodos meios de prova, adequando-os s necessidades doconito de modo a conferir maior efevidade tutelado direito. Neste lmo caso, que ocorre de ocio pelojuiz (ainda que deva, antes de decidir, ouvir as partes, na
forma do que prev o art. 9, do CPC), as prerrogavas dojuiz so muito mais limitadas: s pode ele dilatar prazosou alterar a ordem de produo de prova. J nos termosdo art. 190, que ocorre de comum acordo, entre o juize as partes, h latude maior para a alterao dos atosprocessuais, que pode incidir sobre qualquer evento doprocesso.
29 Idencando esse contedo inerente aopensamento jurdico-moderno, e o seu impacto naestruturao de um direito orientado (pretensa)neutralidade, HESPANHA, Antonio Manuel. OCaleidoscpio do Direito. Lisboa: Almedina, 2012.
30 Ver, passim, DAMASKA, Mirjan. The Faces ofJusce and State Authority. New Haven: Yale UniversityPress, 1986.
quais dimenses? Ainda que com a parcipao
do magistrado, haveria balizas exatas para essa
disposio?
As inquietaes so em alguma escala
pacicadas pela observao preliminar dasdisposies relacionadas ao tema, na medida
em que o prprio texto, ao mesmo tempo em
que admite os acordos, reconhece que essa
prerrogava no absoluta. Nesse sendo,
estabelece certas restries possibilidade de
negociao, sujeitando-a a condies mais ou
menos rgidas.
Realmente, em determinadas hipteses,como o caso da percia convencional (art.
471), a aceitao do negcio prontamente
subordinada capacidade plena das partes
e disponibilidade do objeto ligioso. J em
situaes como a da conveno sobre o nus
probatrio o rol de requisitos mais amplo,
impedindo-se tambm que o termo gere
onerosidade excessiva a qualquer das partes31.
31 Desde que os sujeitos (partes) sejam capazes capacidade de ser parte e capacidade de estar em juzo e desde que intervenham neste acordo todas as partesque sero angidas pela distribuio disnta do nus daprova, vivel realizar-se esta modicao. Sublinhe-se,todavia, que este acordo poder, eventualmente, serinvocado para afastar os efeitos da possvel sentenadesfavorvel por terceiros prejudicados, ainda queintervenientes no processo, quando, por sua incidncia,a defesa dos interesses destes terceiros puder vir a serafetada. Em tais casos, demonstrando a ocorrncia doprejuzo em decorrncia desta modicao convencionaldo nus da prova, o terceiro poder afastar o efeito deinterveno (art. 55, inc. I, do Cdigo de Processo Civil),exigindo reapreciao judicial de suas alegaes. Quanto licitude do objeto para este negcio processual tem-se que qualquer causa, ressalvadas as hiptesesapresentadas no pargrafo do art. 333, autoriza aelaborao deste acordo. Tambm no permitem aelaborao desta modicao as relaes de consumo,sempre que esta inverso venha em prejuzo do
consumidor (art. 51, inc. VI, do Cdigo de Defesa doConsumidor). Outrossim, no admitem modicaodo nus da prova as situaes em que normas ditadas
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Ainda no campo exemplicavo, veja-se que
sequer a eleio de foro contratual prevista
de forma irrestrita (art. 63, 1 e 332),
encontrando barreiras tanto nos requisitos
inerentes ao negcio jurdico quanto naconteno de possveis excessos.
Tratando-se enm do permissivo geral
trazido pelo art. 190, a limitao disposio
procedimental tambm est presente. que,
conforme antes mencionado, caberia ao juiz
controlar a validade desses acordos, negando-
lhes eccia sempre que fossem nulos,
mostrassem-se abusivos ou envolvessem sujeitoem manifesta situao de vulnerabilidade.
Dessa forma, a regra geral que
os acordos processuais, mesmo quando
expressamente permidos, encontrem limites
no interesse pblico (e, portanto, de carter cogente)atribuem o nus de certa prova a algum. Como se est,aqui, diante de regra de contedo imposivo (inafastvelpela vontade das partes), obviamente no ter cabimentoa modicao convencional do nus da prova nestescasos. Desse modo, sempre que, por exemplo, exisrregra que xe presuno legal relava em relao adeterminado fato, sendo esta regra caracterizada comode ordem pblica, no ser admissvel a alterao deseu contedo, atravs da manipulao convencional donus da prova. ARENHART, Srgio Cruz. nus da provae sua modicao no processo civil brasileiro. In: RevistaJurdica. n.343. Porto Alegre: Notadez, 2006.
32 Art. 63. As partes podem modicar acompetncia em razo do valor e do territrio, elegendoforo onde ser proposta ao oriunda de direitos eobrigaes. 1 A eleio de foro s produz efeito quando constarde instrumento escrito e aludir expressamente adeterminado negcio jurdico. 2 O foro contratual obriga os herdeiros e sucessoresdas partes. 3 Antes da citao, a clusula de eleio de foro, seabusiva, pode ser reputada inecaz de ocio pelo juiz,que determinar a remessa dos autos ao juzo do foro dedomiclio do ru.
4 Citado, incumbe ao ru alegar a abusividade daclusula de eleio de foro na contestao, sob pena deprecluso.
em barreiras razoavelmente heterogneas.
No obstante, acredita-se que as provocaes
anteriormente formuladas tendem a gerar
dvidas mais profundas e complexas em
nossa doutrina, a serem intensicadas coma posivao dos novos permissivos legais.
No tpico seguinte, trazemos uma breve
ponderao crca, j inserida nesse debate
relacionado temca.
2.3. O Processo e o seu Feixe de Interesses
Aportes Crcos ao Novo CPC
Para compreender esse posicionamento,
recordamos de uma premissa inerente ao
atual processo civil: a inviabilidade de que
se compreenda a jurisdio contempornea
sem avaliar que, em seu cerne, no transitam
apenasos interesses das partes. Pelo contrrio,
por mais que sejam elas os agentes privados
diretamente afetados pela celeuma, a atuao
processual envolve um feixe complexo de
questes que passam por interesses da
comunidade e da prpria administrao estatal.
E em um quadro como esse no h respostas
fceis, reforando a necessidade de cautelas
quanto contratualizao procedimental e a
obrigatoriedade de que a inovao, para ser
benca, seja entendida com reservas.
Nessa anlise, um primeiro dado a
ser mencionado que a j descrita alterao
de feies do aparato estatal trouxe, como
um de suas consequncias, a impossibilidade
de se pensar em um Estado desinteressado
na proteo dos direitos materiais33. Essa
33 Em verdade, contemporaneamente, aperseguio da tutela efeva verdadeira vocao doaparato estatal. Como arma Luiz Guilherme Marinoni, a
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postura assumiu assento fundamental no
ordenamento brasileiro com a Constuio
de 1988, demonstrando que, na atualidade, o
ligio se desenrola diante de um Poder Pblico
que possui a tutela de direitos como elementocentral de sua atuao34.
graas a essa variao axiolgica
que Luiz Guilherme Marinoni, por exemplo,
reconstri o prprio teor do direito de ao
(nele fazendo constatar a preocupao com a
funo jurisdicional uma consequncia natural do deverestatal de proteger os direitos, o qual constui a essnciado Estado contemporneo. Sem ela seria impossvelao Estado (...) garanr a razo de ser do ordenamentojurdico, dos direitos e das suas prprias formas de tutelaou proteo (...) o dever de proteo ou de tutela dedireitos, que idenca o Estado constucional, nadatem a ver com a noo clssica de direito subjevo. OEstado possui o dever de tutelar determinados direitos,mediante normas e avidades fco-administravas, emrazo da sua relevncia social e jurdica. Trata-se do deverde tutelar os direitos fundamentais. Mas no s. OEstado tambm tem o dever de tutelar jurisdicionalmenteos direitos fundamentais, inclusive suprindo eventuaisomisses de tutela normava, alm de ter o dever de dartutela jurisdicional a toda e qualquer espcie de direito em razo do direito fundamental tutela jurisdicionalefeva (art. 5, XXXV, da CF). MARINONI, Luiz Guilherme.Teoria Geral do Processo. 2 ed. rev. e atual. So Paulo: Ed.RT, 2007. p.139-140.
34 Como se armou em outra ocasio, a axiologiada Constuio Federal de 1988, marcante e balizadorade modicaes nos mais diversos ramos de nossopensamento jurdico, repercuu fortemente no campo dodireito processual civil. A armao no nova, tampoucosurpreendente. Pelo contrrio, sua materializao fca vista codianamente em nossos Tribunais alm decontribuir dia aps dia para que novas ideias inclinem aacademia no sendo da efevidade processual. Foi assimcom tpicos como a tcnica de antecipao dos efeitosda tutela, devidamente incorporada em nossa prca.Tambm, com a exibilizao e majorao dos poderesdo magistrado em favor de uma maior aproximao entrea tutela judicialmente prestada e aquela mais adequada situao material. ARENHART, Srgio Cruz. OSNA,Gustavo. A ao civil pblica e o processo colevo sobo contexto constucional: breves diagnscos e alguns
desaos. In: Clmerson Merlin Clve. (Org.). DireitoConstucional Brasileiro. v.1. So Paulo: Ed. RT, 2014.p.796.
efevidade da tutela jurisdicional35). Tambm
assim que Jos Roberto dos Santos Bedaque
sustenta um redimensionamento da avidade
probatria do julgador, propondo a superao
de um comportamento meramente passivo 36.Igualmente, a mesma virada valorava que
alicera as crcas de Ovdio Bapsta da Silva
ordinarizao do processo, percebendo os
riscos de se falar em plenitude de defesa sem
considerar as exigncias impostas ao intrprete
da matria37.
Em suma, essa srie de discursos leva
percepo de que o atual Estado-juiz possuiinteresse direto no resultado nal do processo,
concebendo-o como a proteo sasfatria da
necessidade material. O suporte condiciona
tpicos como a apicidade das ferramentas
execuvas 38. Alm disso, diante dele que se
sustenta que a avidade jurisdicional atua em
35 A ao, no Estado constucional, no podepretender ignorar a estrutura do procedimento, oumelhor, a necessria conformao do procedimento,ainda que a parr de uma clusula processual aberta,para a efeva proteo do direito material (...) todosesses direitos demonstram a extenso do direito de
ao, que muito mais do que o ato solitrio de invocara jurisdio ou do que um simples direito ao julgamentodo mrito. A ao, diante dos seus desdobramentosconcretos, constui um complexo de posies jurdicas etcnicas processuais que objevam a tutela jurisdicional
efeva, constuindo, em abstrato, o direito fundamental tutela jurisdicional efeva. MARINONI, Luiz Guilherme.Teoria Geral do Processo. p.224.
36 BEDAQUE, Jos Roberto dos Santos. PoderesInstrutrios do Juiz. 4.ed. So Paulo: Ed. RT, 2009. Tambmrelendo a atuao do julgador, cita-se PINHEIRO, PauloEduardo DArce. Poderes Executrios do Juiz. So Paulo:Saraiva, 2011.
37 Nesse sendo, SILVA, Ovdio Arajo Bapsta da.A plenitude de defesa no processo civil. In. TEIXEIRA,Slvio de Figueiredo (Coord.). As garanas do cidado najusa. So Paulo: Saraiva, 1993.
38 Sobre o tema, ver, passim, GUERRA, MarceloLima. Direitos fundamentais e a proteo do credor naexecuo civil. So Paulo: Ed. RT, 2003..
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esferas que extrapolam a questo ligiosa,
exercendo escopos plurais como constatado
por Cndido Rangel Dinamarco 39.
Essa dilatao tambm demonstrada
emblemacamente por Owen Fiss, por meiodo contraste entre uma funo clssica e uma
funo contempornea da jurisdio 40. Com
efeito, enquanto a primeira seria restrita ao
acertamento de casos, a segunda assumiria
papel mais amplo e maior protagonismo no
espao social 41. Nesse percurso, plenamente
vlido para a realidade brasileira, o processo
civil adquire maior impacto na esfera pblica.Alm disso, h ainda ao menos outro
nvel de interesse geral intrnseco ao processo
civil. que, compreendido cecamente, o
Poder Judicirio incapaz de agir sem envolver
o dispndio de recursos pblicos. Nessa
39 Nas palavras do autor, tradicionalmente eat tempos bem recentes, acreditava-se que o sistemaprocessual vesse uma nalidade puramente jurdica,sendo ele, em resumo, um instrumento a servio dodireito material (...) constuem conquistas das lmasdcadas a perspecva scio-polca da ordem processuale a valorizao dos meios alternavos. A descoberta dosescopos sociais e polcos do processo valeu tambmcomo alavanca propulsora da viso crca de suasestruturas e do seu efevo modo de operar, alm delevar as especulaes dos processualistas a horizontesque antes estavam excludos de sua preocupao.
Prosseguindo, arma que como o Estado tem funesessenciais perante sua populao, constuindo sntesede seus objevos o bem-comum, e como a paz social inerente ao bem-estar a que este deve necessariamenteconduzir (tais so as premissas do welfare State), hojereconhecida a existncia de uma nma ligao entre osistema do processo e o modo de vida da sociedade,para disso extrair escopos sociais (mlplos), polcos ejurdicos da atuao jurisdicional. DINAMARCO, CndidoRangel. Instuies de Direito Processual Civil. vol.1. 5 ed.rev. e atual. So Paulo: Malheiros, 2005. p. 144 e ss.
40 Ver, por todos, FISS, Owen. The Forms of Jusce.
In. Harvard Law Review. n.93. New Haven: HarvardUniversity Press, 1979.
41 Idem.
medida, no h atuao judicial sem custos
materiais e humanos que lhe sejam correlatos,
e em lma anlise o prprio contribuinte
quem arca com esse fardo42. Sob esse prisma,
compreensvel por um corte panprocessual43,
42 A baliza dos custos tambm impe limitaesobjevas ao processo. Por mais que a parr de seu traofuncional contemporneo se revelasse ideal que cadamagistrado analisasse mensalmente um nico ligioou que guras como a assistncia judiciria fossemabsolutas, esses aspectos, apreendidos os custos doprocesso, no so facveis. O ente estatal obrigado a
arcar com as despesas advindas da instuio judiciria eda efevao normava. Como o Estado no presenteia, a prpria comunidade que em lma instncia acabaindiretamente suportando tais despesas, o que sempretrar limites sua atuao. (...) em suma, para cadaescolha adotada no campo do direito processual haverprejuzos e sacricios, no exisndo meios de excluirda disciplina a baliza ditada por seus custos. OSNA,Gustavo. Direitos Individuais Homogneos: Pressupostos,fundamentos e aplicao no processo civil. So Paulo: Ed.
RT. (no prelo). p.43.
43 Nesta outra dimenso da proporcionalidade,
no se examina o processo considerado em si mesmo.Avalia-se, antes, a avidade jurisdicional na sua relaoentre o esforo estatal oferecido a um caso concreto eo complexo de demandas (existente ou potencial) quetambm tem direito ao mesmo esforo. Nessa linha,considerada a escassez dos recursos estatais, o grau deefevidade outorgado a um nico processo deve serpensado a parr da necessidade de assegurar ecinciado sistema judicirio como um todo. Por outras palavras, aalocao de recursos em um determinado processo deveser ponderada com a possibilidade de se dispor dessesmesmos recursos em todos os outros feitos (existentesou potenciais). O servio pblico jusa deve ser gerido luz da igualdade e a omizao do que prestadono pode olvidar a massa de processos existente, nemos critrios para a administrao mais adequada doslimitados recursos postos disposio do ente pblico.(...) a racionalizao dos esforos jurisdicionais passa atomar em considerao o complexo de usurios (atuaise potenciais) do servio, e no apenas o caso especco,que est eventualmente nas mos do juiz. A soluo, emsntese, da coliso das garanas fundamentais, passa aoperar-se em outro plano: o macroscpico, tangenciandoa polca judiciria. ARENHART, Srgio Cruz. A tutelacoleva de interesses individuais: para alm da proteo
de interesses individuais homogneos. So Paulo: Ed. RT,2013. p.38-39. Tambm observando o problema, RemoCaponi destaca, a parr do direito italiano, que que Il
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questes como a protelao em juzo no
atentam somente contra qualquer das partes,
lesando reexamente toda a colevidade.
Trata-se de analisar a jurisdio a parr de
suas possibilidades concretas, enxergando-acom olhares realistas para extrair as melhores
respostas a parr da sua perspecva global.
Em suma, o processo contemporneo
envolve parmetros e critrios que vo alm
da rbita de interesse dos ligantes. trazendo
essa premissa terica para a compreenso dos
acordos processuais que se entende que, na
atual realidade brasileira, a possibilidade dedisposio procedimental deve ser aceita de
maneira parcimoniosa. No aceitvel que
essa guia leve compreenso do processo
como mero instrumento parcular de soluo
de ligios, ou do Estado-juiz como singelo
passageiro secundrio nessa jornada.
De fato, certo que em pases nos quais
o processo civil est atrelado a ligios privados
vem sendo corriqueira a inclinao a uma viso
mais privasta da disciplina. Essa orientao,
em boa conta, est na base de guras como a
do contratualismo. assim que localidades
em que Jusa Administrava e Jusa Civil
se colocam separadamente tendem a ligar a
primeira atuao do Direito e a segunda
soluo do ligio entre as partes.
canone di proporzionalit nellimpiego delle risorsegiudiziali ha suggerito di congurare la disciplina delprocesso collevo allesito di un bilanciamento di valoricostuzionali, che colloca su un piao della bilanciale garanzie costuzionali, che sorreggono il modellotradizionale di tutela giurisdizionale dei diri nel singoloprocesso, e sullaltro piao lecienza di un processocomplesso in re ipsa, ancorch opportunamente depurato
dellintervento di terzi. CAPONI, Remo. Il nuovo voltodella class acon. Foro Italiano. Roma: Societ Editricedel Foro Italiano, 2009, p. 386.
Entretanto, alm de essa segmentao
inexisr na realidade brasileira, os argumentos
acima demonstram que a jurisdio
contempornea no pode ser compreendida
mediante a gura simplista de uma linha entreA e B. Pensar o processo unicamente sob
esse prisma preocupante, gerando os riscos
de se desconsiderar uma srie de compromissos
que lhe so nsitos e de se desrespeitar a
conformao constucionalmente atribuda
ao Estado. Por isso, entende-se que o
preenchimento dos requisitos tradicionais dos
atos jurdico nem sempre ser suciente paraatribuir validade ao negcio processual. H
ainda a constante necessidade de inserir o
acordo na prpria moldura geral da jurisdio,
observando a sua adequao a esse ambiente44.
Desse modo, a contratualizao
no pode ser lida sem que se leve em conta a
proteo de garanas como, por exemplo, o
contraditrio e a isonomia - obstando acordos
que dicultem exageradamente a atuao de
uma das partes. O mesmo vale para pactos
44 Como exemplo, veja-se que, ao analisar apossibilidade de exibilizao procedimental no direitofrancs, Jos Rogrio Cruz e Tucci salienta ser evidente como adverte Loc Cadiet que a concordnciados ligantes, nesse sendo, no pode afrontar osprincpios processuais. Impe-se, portanto, ao juiz ocontrole das alteraes possveis, em prol da ecinciado respecvo processo, at porque, consoante dispeo art. 3. do Cdigo de Processo Civil francs, ao juizincumbe velar pelo bom desenvolvimento da instncia;ele detm poder de deferir os prazos e de determinaras medidas necessrias. Ademais, a redao do art. 23do Noveau CPC, introduzida em 28.12.2005, atribuiu aocondutor do processo ( juge de la mise en tat = juiz deprimeiro grau) a faculdade de xar, em audincia com osprocuradores das partes, um cronograma para o ulteriordesenvolvimento do processo. TUCCI, Jos Rogrio Cruze. Garanas Constucionais da Durao Razovel e da
Economia Processual no Projeto do Cdigo de ProcessoCivil. In. Revista de Processo. v.192. So Paulo: Ed. RT,2012. p.193 e ss
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que comprometam aspectos como a ecincia
ou a razovel durao do processo. Tambm
aqui, ainda que as consequncias do acordo
aparentemente s digam respeito s posies
jurdicas das partes, entende-se cabvel que omagistrado intervenha no negcio para lhe
negar eccia.
Essa necessidade de controle ainda
mais acentuada quando o acordo, por algum
movo, possui o condo de afetar diretamente
a avidade jurisdicional e as suas inmeras
funes. o que ocorre, por exemplo, quando
se permite que os ligantes indiquemo perito
a atuar em juzo ou se exonerem de deveres
processuais. Anal, seria realmente aceitvel
que o magistrado fosse compelido a formar a
sua convico com base na anlise de um expert
em quem no cona45? No mesmo contexto,
haveria razoabilidade em facultar que as partes,
por acordo de vontades, desobrigassem-se de
aspectos como o dever de agir com lealdade?
As indagaes nos parecem levar a uma mesma
concluso: a adequao e a possibilidade dos
acordos processuais devem estar sujeitas a
um crivo renado do aparato jurisdicional.
Como consequncia, por mais que uma
maior parcipao dos ligantes possa trazer
vantagens atuao judiciria, necessrio
evitar que o permissivo seja compreendido
45 Vale lembrar que acima de tudo, o perito deveter idoneidade moral e, assim, ser da conana do juiz. (...)no deve o juiz julgar a parr de laudo pericial assinadopor pessoa que no merea conana (...) quando precisade laudo pericial, no deve deixar que a denio de umfato seja feita por qualquer pessoa (perito), como se nolhe importassem a qualidade e a idoneidade da resposta
jurisdicional. Alm de idoneidade, o perito deve contar
com conhecimento tcnico suciente. MARINONI, LuizGuilherme. ARENHART, Srgio Cruz. Prova. 2 ed. rev. eatual. So Paulo: Ed. RT, 2011. p.793
como prerrogava para ditar livremente o
que o Estado deve ou no fazer. Assim, a
possibilidade de contratualizao deve ser
vista como mais um aspecto a contribuir para
os escopos do processo, e no como um vetora ser exclusivamente protegido em detrimento
da gura plena da disciplina. Resumindo, trata-
se de inserir os sujeitos em posio adequada
de dilogo, mas sem fazer com que suas vozes
sejam as nicas a soar.
4. Consideraes Finais
Colocando-se na onda acadmica
ocasionada pelos debates relacionados
reforma global de nosso Cdigo de Processo
Civil, o presente ensaio buscou traar algumas
consideraes preliminares a respeito de uma
das guias valoravas inseridas na proposta de
codicao: o contratualismo. Em sntese,
trata-se de permir que regras relacionadas ao
desenvolvimento do processo sejam derrogadas,
alterando sua tramitao a critrio dos prprios
sujeitos envolvidos na controvrsia.
Nesse sendo, observou-se que, ainda
que haja exemplos em nosso atual direito nos
quais essa ideia encampada, sua admisso
pelo novo Cdigo de Processo Civil bastante
mais ampla. O diploma caminha com passos
rmes no rumo do empoderamento das partes,
prevendo verdadeiro permissivo geral para a
celebrao de acordos processuais. Como
argumentos a fundamentar essa expanso,
estariam questes como a prpria modicao
dos cnones de legimao a que a gura
estatal se submeteu ao longo do lmo sculo.
Ocorre que, por mais que esse
realinhamento possa trazer benecios efevidade jurisdicional (evitando que sua forma
7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares
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Artgos
se subverta em formalismo), sua aplicao no
deve ser entendida como um critrio absoluto a
orientar a disciplina processual. Essa concluso
decorre da prpria pluralidade de interesses e de
valores que hoje imanente jurisdio, sendoinvivel conceb-la sob olhares meramente
privastas. O cenrio contemporneo possui
desdobramentos mais complexos, razo pela
qual tambm o acordo processual deve ser
compreendido (e aceito) apenas na medida em
que se amolde a esse contexto.