Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximações Preliminares

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    1/17

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    2/17

    2

    Expediente

    TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 9 REGIOCURITIBA - PARANESCOLA JUDICIAL

    PRESIDENTEDesembargador ALTINO PEDROZO DOS SANTOS

    VICE-PRESIDENTEDesembargadora ANA CAROLINA ZAINA

    CORREGEDORA REGIONALDesembargadora FTIMA TERESINHA LORO LEDRAMACHADO

    CONSELHO ADMINISTRATIVO BINIO 2014/2015

    Desembargador Clio Horst Waldraf (Diretor)

    Desembargador Cssio Colombo Filho (Vice-Diretor)

    Juiz Titular Lourival Baro Marques Filho(Coordenador)

    Juiz Titular Fernando Hofmann (Vice-Coordenador)

    Desembargador Arion Mazurkevic

    Desembargador Francisco Roberto Ermel

    Juza Titular Suely Filippeo

    Juiz Titular Paulo Henrique Kretzschmar e Con

    Juza Substuta Fernanda Hilzendeger Marcon

    Juza Substuta Camila Gabriela Greber Caldas

    Juiz Jos Aparecido dos Santos (Presidente da

    AMATRA IX)

    COMISSO DE EaD e PUBLICAES

    Desembargador Cssio Colombo FilhoJuiz Titular Fernando Hofmann

    Juiz Titular Lourival Baro Marques Filho

    GRUPO DE TRABALHO E PESQUISA

    Desembargador Luiz Eduardo Gunther - Orientador

    Adriana Cavalcante de Souza Schio

    Anglica Maria Juste Camargo

    Eloina Ferreira Baltazar

    Joanna Vitria Crippa

    Juliana Crisna Busnardo

    Larissa Renata KlossMaria da Glria Malta Rodrigues Neiva de Lima

    Simone Aparecida Barbosa Mastrantonio

    Willians Franklin Lira dos Santos

    COLABORADORES

    Secretaria Geral da Presidncia

    Servio de Biblioteca e Jurisprudncia

    Assessoria da Direo GeralAssessoria de Comunicao Social

    FOTOGRAFIA

    Assessoria de Comunicao

    Acervos online (Creave Commons)

    APOIO PESQUISA

    Maria ngela de Novaes MarquesDaniel Rodney Weidman Junior

    DIAGRAMAO

    Patrcia Eliza Dvorak

    Edio temca

    Periodicidade Mensal

    Ano IV 2015 n. 39

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    3/17Novo Cdigo de Processo Civil

    103

    Artgos

    OS ACORDOS PROCESSUAIS NO NOVO CPC

    APROXIMAES PRELIMINARES

    Srgio Cruz Arenhart

    Ps-doutor pela Universit degli Studi di Firenze. Doutor e Mestre em Direitodas Relaes Sociais pela UFPR. Professor dos cursos de Graduao e Ps-graduao da UFPR. Ex-juiz Federal. Procurador Regional da Repblica.

    Gustavo Osna

    Doutorando e Mestre em Direito das Relaes Sociais pela UFPR. Membro doInstuto de Processo Comparado (UFPR). Professor de cursos de especializao.Advogado.

    1. Introduo

    Se j em seus momentos iniciais a

    recente tentava de instuir um novo Cdigo

    de Processo Civil causou efervescncia

    doutrinria e suscitou inmeros debates,

    o avano do projeto apenas ampliou tais

    inquietaes. A preocupao ao longo

    dos lmos meses com aspectos como o

    contedo estendido do contraditrio e com

    ferramentas como o incidente de resoluo

    de demandas repevas exemplicadora

    desse movimento. Colocam-se novos campos

    de pesquisa ao processualista, atraindo

    prontamente seus olhares.

    Esse uxo, atentando-se para o novo

    e idencando suas potencialidades, parece-

    nos consequncia natural da prpria essncia

    ideolgica que norteia a possvel mudana

    de Cdigo. Isso porque, por mais que ao

    longo das lmas dcadas nosso processo

    civil tenha passado por inmeras adaptaes,

    a probabilidade de uma reforma global

    da disciplina permite que suas diretrizes

    valoravas sejam realinhadas. O presente

    ensaio possui como objeto de invesgao,

    precisamente, um discurso axiolgico inserido

    nessa seara: o chamado contratualismo

    processual. Mesmo que de forma preliminar,

    pretende-se invesgar os principais contornos

    e fundamentos relacionados a essa guia, bem

    como seu acoplamento com o Direito brasileiro.

    Viabilizando esse trabalho, a anlise

    segmentada em trs momentos. Nos dois

    primeiros, procura-se traar as linhas gerais

    relacionadas gura do contratualismo,

    idencando como essa diretriz se faz

    presente no novo Cdigo de Processo Civil.

    No lmo, e mais crco, problemaza-se a

    adoo dessa linha terica no nosso atual

    contexto, diante da pluralidade de interesses

    que permeiam a avidade jurisdicional. sobre

    esses pilares que se constri o estudo, ciente

    de sua natureza introdutria, mas mantendo

    Srgio Cruz ArenhartGustavo Osna

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    4/17Novo Cdigo de Processo Civil

    104

    Artgos

    seu compromemento com a efevidade do

    processo.

    2. Contextualizando o Problema: o

    Contratualismo, o Novo CPC e o Processo

    Brasileiro

    2.1. A Premissa Contratualista

    Iniciando o debate, idencamos que o

    seu cerne passa pela compreenso daquilo que

    concebido como contratualismo processual.

    Anal, quais seriam as caracterscas essenciaisdessa diretriz valorava? Sob quais fundamentos

    a conformao por ela trazida seria defensvel?

    Como isso se operacionalizaria em nosso

    ambiente jurisdicional?

    Ainda que as indagaes pudessem

    conduzir a debates mais profundos, para as

    atuais nalidades vivel destacar brevemente

    que, por trs da ideia contratualista, est a

    tentava de conferir s partes a possibilidade

    de dispor sobre a estrutura procedimental de

    seu ligio; de facultar que estabeleam parcela

    do percurso a que o acertamento de seu caso

    estaria submedo; em sntese, de permir

    que sejam derrogadas regras relacionadas

    ao desenvolvimento do processo, alterando

    sua tramitao a critrio dos prprios sujeitos

    envolvidos na controvrsia.

    Esse po de discurso ganhou especial

    importncia no processo civil francs da dcada

    de 80, encontrando amparo em tericos como

    Loc Cadiet e sendo exemplicado em aspectos

    como a possibilidade de escolha, pelas partes,

    do circuito procedimental a que sua lide deve

    se sujeitar1. Do mesmo modo, analisando o

    problema sob as lentes do processo civil italiano,

    destaca-se o pensamento de Remo Caponi2. Em

    qualquer das vias, esses acordos almejariam

    permir que as partes transacionassemsobre a forma de tramitao da sua causa.

    Consideramos que o argumento toma por base

    uma readequao do dilogo entre jurisdio

    e jurisdicionado, razo pela qual: (i) possui

    pernncia com a (corriqueira) defesa de que o

    prprio Estado deve passar um realinhamento

    global de seus cnones de atuao; e (ii) guarda

    similitude com a noo de cooperavismo,outro discurso relacionado ao processo tambm

    1 Sobre a questo, arma Tricia Navarro Xavier

    Cabral que iniciou-se no direito francs um movimento

    traduzido na necessidade da existncia de um modelo

    jurdico negocial ao lado de um modelo jurdico imposto

    pelo Estado. Em consequncia, passou-se a reer sobre

    a contratualizao da jusa, do processo e dos modos

    de regramento dos ligantes, tema aparentemente

    paradoxal com o processo, que um desacordo. Essa

    novidade representa um projeto de democrazao da

    jusa, uma vez que harmoniza o princpio da cooperao

    dos juzes e das partes com o princpio do contraditrio,

    princpios estes que direcionam o processo civil francs,

    atravs de tcnicas contratuais. A possibilidade de

    modicao contratual do procedimento no direito

    francs vem estabelecida no Dcret 2005-1678 de

    28.12.2005 (...) diferentemente dos dois sistemas

    primeiramente citados, no direito francs observa-

    se uma maior cooperao entre o juiz e as partes para

    ns de estabelecer acordos processuais. Alm disso,

    a contratualizao do processo ampla e se revelade vrias formas, como as convenes para se evitar a

    instaurao do processo e as que ocorrem durante o

    processo, dentre outras. CABRAL, Tricia Navarro Xavier.

    Poderes do Juiz no Novo CPC. In. Revista de Processo.

    v.208. So Paulo: Ed.RT, 2012. p. 275 e ss. Em relao a

    esse aspecto, ver, em especial, CADIET, Loic, NORMAND,

    Jacques, MEKKI, Soraya Amrani. Thorie gnrale du

    procs. Paris: PUF, 2010, p. 524. Tambm, CADIET, Loic.

    Les convenons relaves su procs en droit franais. Sur

    la contractualisaon du rglement des liges. In.Accordi

    di parte e processo. Milano: Giur, 2008 p. 7 e ss.

    2 Nesse sendo, CAPONI, Remo. Autonomiaprivate e processo civile: gli accordi processuali.Accordi

    di parte e processo. Milano: Giur, 2008, p. 99 e ss.

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    5/17Novo Cdigo de Processo Civil

    105

    Artgos

    inserido nesse caldo.

    Em relao ao primeiro aspecto, o

    ponto a ser percebido que a maleabilidade

    do direito pblico tem conduzido proposta de

    uma recomposio geomtrica da relao entre

    Administrao e administrado, fazendo com que

    a vercalidade estrita (a ordem, o comando ou

    a imposio) ceda espao para uma construo

    mais horizontal (o dilogo, a parcipao ou

    a concertao). Conferindo novo status ao

    jurisdicionado e novas linhas ao estatal 3,

    insere-se a a defesa de uma consensualidade

    administrava; de uma maior aproximaoentre Poder Pblico e indivduo (visto como

    cidado 4); enm, de uma Administrao que

    no apenas impe, mas tambm dialoga e

    compe 5.

    Entre as questes que militam em favor

    dessa constatao, est a prpria modicao

    3 Percebendo o realinhamento do imprio doato administravo, a parr da internalizao dessanova mentalidade no direito espanhol, ALFONSO,Luciano Parejo. Los Actos Administravos Consensualesen el Derecho Espaol. In. A & C Revista de DireitoAdministravo e Constucional. v.3. Belo Horizonte:Frum, 2003.p.12-14.

    4 Eis a gura do cidado que manifesta suavontade em fazer parte de procedimentos passveis deculminar em decises estatais que afetem direitos seus(...) o cidado consciente de seus direitos civis, polcos

    e sociais (porque bem informado), e que deseja tomar apalavra e expressar sua opinio nos assuntos relavos conduo das avidades pblicas (...) enm, o cidadoparcipador, que assume posturas pr-avas peranteuma Administrao pblica que deve agir em proveitodos cidados e de toda a sociedade. OLIVEIRA, GustavoJusno de. O Contrato de Gesto na AdministraoPblica Brasileira. Tese de Doutorado. Universidade deSo Paulo, 2005. p.133.

    5 Com efeito, os princpios e regras daConstuio da Repblica anentes ao Estado e Administrao pblica no somente conferiram novo

    formato organizao administrava, mas impingiramuma maior democrazao do seu funcionamento, dasua gesto. Idem. p.129.

    a que a gura macro do espao pblico se

    submeteu ao largo do lmo sculo e meio.

    Com marcos razoavelmente pacicados, esse

    fenmeno costuma ser descrito a parr dos

    seguintes passos gerais: (i) inicialmente, coloca-se como pano de fundo um Estado Liberal,

    picando-o como aquele cujas aes estariam

    pautadas pelaprevisibilidade; (ii)na sequncia,

    com comum meno Constuio Mexicana

    de 1917 e Constuio de Weimar de 1919,

    indica-se o uxo para um Estado mais avo na

    assegurao de direitos sociais 6; (iii) enm,

    aps a eventual crise dessa polca de welfaree a constucionalizao da ordem jurdica,

    seriam perseguidos novos desenhos (lanando-

    se conceitos como o de Estado Garana)7.

    Nesse curso, se no primeiro momento

    o agir estatal seria legimado por atender aos

    primados da segurana e da neutralidade, com

    a dilatao de nalidades atribudas esfera

    pblica esses parmetros se alteram. Com

    efeito, pois se antes haveria o predomnio de

    direitos essencialmente negavos (em questo

    problemazada por Holmes e Sunstein8),

    6 a parr do nal da primeira metade dosculo que, denivamente, se d o marco decisivo natransformao do Estado (...) ao princpio que ditava aabsteno sucede a proclamao de um Estado social

    e economicamente compromedo ou conformador;a concepo de uma Administrao constuva einterventora ganha terreno em relao clssicaAdministrao de autoridade (...) o Estado no apenastular das tarefas, tambm o prestador directo dosservios proporcionados pelas mesmas. GONALVES,Pedro. MARTINS, Licnio Lopes. Os servios pblicoseconmicos e a concesso no Estado regulador. In.MOREIRA, Vital (org.). Estudos de regulao pblica I.Coimbra: Coimbra ed., 2004. p.177-178.

    7 Idem. ibidem.

    8 Em suma, os autores sustentam que inexiste

    direito sem que haja custos inerentes sua efevao.Com esta concluso, desmisca-se a crena no carterexclusivamente negavo dos direitos de liberdade

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    6/17Novo Cdigo de Processo Civil

    106

    Artgos

    a internalizao de demandas sociais pela

    Administrao faria com que tambm lhe

    fossem trazidos outputs de resultado 9.

    Ocorre que, a parr de possveis limites

    materiais relacionados consecuo dessasnovas tarefas, chega-se segunda transio

    acima indicada; gura de um Estado que

    deveria garanr as prestaes essenciais,

    mas nem sempre teria condies de faz-lo

    diretamente. E aqui que a reconstruo de

    seu vnculo com a comunidade poderia agir

    em ao menos duas linhas: (i) negocialmente,

    por permir o desempenho de avidades quetalvez no fossem alcanadas pela atuao

    exclusivamente pblica; (ii) democracamente,

    por encontrar na parcipao popular

    um novo ltro de legimao da conduta

    administrava.

    Como consequncia do primeiro

    aspecto, ganhariam corpo elementos como a

    celebrao de parcerias pblico-privadas, com

    especial relevncia na rea de infraestrutura.

    Como reexo do segundo, seria rompida a

    separao absoluta entre pblico e privado,

    trazendo a sociedade civil para a tomada de

    escolhas trgicas 10de modo a (teoricamente)

    (ou direitos de primeira gerao), no que se inclui a

    propriedade. Ainda que referidos direitos no fossempreponderantemente prestacionais (como so aquelesdenominados de segunda gerao) os atos de scalizarsua efevao e de reparar e corrigir suas eventuaisdistores trariam custos ao Estado. H sempre umaconta, com a qual algum (leia-se, os contribuintes) terque arcar. Ver, HOLMES, Stephen. SUNSTEIN, Cass R. TheCost of Rights Why Liberty Depends on Taxes. New York:W.W Norton & Company, 2000. p.44-45.

    9 Reconhecendo esse uxo, OFFE, Claus. Critriosde Racionalidade e Problemas Funcionais da AoPolco-Administrava. In. Problemas Estruturais do

    Estado Capitalista. Trad. Brbara Freitag. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1984. p.216 e ss.

    10 A expresso talhada por Calabresi e Bobbit,

    reforar sua aceitao. Pelas duas pontas,

    estaria juscada uma nova abertura gerncia

    administrava, recomendando sua inclinao

    em sendo mais consensual11e reequilibrando

    o liame entre cidados e aparato estatal12.Diante desse arsenal argumentavo, a

    recomendar uma Administrao Pblica mais

    compromeda com o dilogo e capaz de conjugar

    atos imperavos e atos negociados, comperia

    ao operador do Direito o desenvolvimento de

    mecanismos e ideias capazes de internalizar

    a nova mentalidade. assim com a aceitao

    que, analisando a alocao de recursos oramentriosinerentes gesto pblica, percebem a srie de conitosvaloravos radicais que permeia a tomada de decisesrelacionadas ao tema. Assim, CALABRESI, Guido.BOBBITT, Phillip. Tragic Choices. New York: W.W Norton& Company, 1978.

    11 Invesgando o tema, Diogo de FigueiredoMoreira Neto destaca que a parcipao e aconsensualidade tornaram-se decisivas para asdemocracias contemporneas, pois contribuem paraaprimorar a governabilidade (ecincia); propiciam maisfreios contra o abuso (legalidade); garantem a atenoa todos os interesses (jusa); proporcionam decisomais sbia e prudente (legimidade); desenvolvem aresponsabilidade das pessoas (civismo); e tornam oscomandos estatais mais aceitveis e facilmente (ordem).MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutaes doDireito Administravo. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar,2001. p.41. Ver, tambm, OLIVEIRA, Gustavo Jusno de.Ob. cit. p.139.

    12 Nessa guinada, arma-se que a parr das ideiasde constucionalismo e democracia, a igualdade assumeimportante papel ao determinar que todas as pessoas

    possuem a mesma dignidade moral e so iguais em

    suas capacidades mais elementares. Da mesma forma,todo indivduo tem igual direito de intervir na resoluo

    dos assuntos que afetam a sua comunidade; vale dizer,todos merecem parcipar do processo decisrio em pde igualdade (...) se preservam os direitos fundamentaisque permitem a cada um levar sua vida conforme seusideais preservando, ainda, uma estrutura de decisodemocrca na qual a opinio de cada sujeito vale omesmo que a do outro. GODOY, Miguel Gualano de.

    Constucionalismo e Democracia Uma leitura a parrde Carlos Sanago Nin e Roberto Gargarella. So Paulo:Editora Saraiva, 2012. p.66.

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    7/17Novo Cdigo de Processo Civil

    107

    Artgos

    da transao em Processo Administravo

    Disciplinar. Do mesmo modo, parndo dessa

    base terica que ganham fora discursos como

    o da gesto pblica mediante contratos e o

    do incremento de parcipao por meio deconsultas e audincias. E, tambm, parece-

    nos ser essa a mentalidade inerente tanto ao

    contratualismo quanto ao cooperavismo

    processuais, fazendo com que ambos caminhem

    para um mesmo sendo: o da aproximao

    entre as partes do ligio e o magistrado,

    equacionando suas relaes de poder.

    Observando de incio a ideiacooperava (ou colaborava) e as suas

    possibilidades no mbito processual civil,

    idencamos que a questo j vem sendo h

    tempos defendida na doutrina brasileira por

    autores como Daniel Midiero13e Fredie Didier

    Jr.14. E, de fato, parece incontestvel que em

    13 Em explicao da questo, arma DanielMidiero que o processo cooperavo parte da ideiade que o Estado tem como dever primordial propiciarcondies para a organizao de uma sociedade livre,justa e solidria, fundado que est na dignidade da pessoahumana. Indivduo, sociedade civil e Estado acabam porocupar, assim, posies coordenadas (...) o juiz tem o seupapel redimensionado, assumindo uma dupla posio:mostra-se paritrio na conduo do processo, no dilogoprocessual, sendo, contudo, assimtrico no quando dadeciso da causa. MITIDIERO, Daniel. Colaborao noprocesso civil: pressupostos sociais, lgicos e cos.2 ed.

    So Paulo: Ed. RT, 2011. p.11414 O princpio da cooperao dene o modo comoo processo civil deve estruturar-se no direito brasileiro.Esse modelo caracteriza-se pelo redimensionamentodo princpio do contraditrio, com a incluso do rgojurisdicional no rol dos sujeitos do dilogo processual, eno mais como um mero espectador do duelodas partes(...) a conduo do processo deixa de ser determinadapela vontade das partes (marca do processo liberaldisposivo). Tambm no se pode armar que huma conduo inquisitorial do processo pelo rgojurisdicional, em posio assimtrica em relao s

    partes. Busca-se uma conduo cooperava do processo,sem destaques a algum dos sujeitos processuais. DIIDIERJR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. v.1. 12 ed.

    sua base se encontra a tentava de readequar

    a estrutura geomtrica clssica da relao

    processual (reendo o movimento dialgico

    acima descrito). Se historicamente pensou-

    se em um processo guiado em sua essnciapela vercalidade, o argumento cooperavo

    sustenta exatamente a necessidade de que

    se atribua maior emparelhamento entre os

    sujeitos do conito e o seu julgador.

    A favor desse ponto, alm da j citada

    reviso da atuao estatal, colocam-se

    tambm questes como a crise judiciria e

    o combate losco possibilidade de queuma deciso solipsista anja a verdade15.

    que, se a capacidade do julgador alcanar

    uma deciso irreparvel mediante seu prprio

    exame individual abalada, estaria reforada

    a relevncia do dilogo (conferindo densidade

    inuncia das partes). Essa reaproximao

    est insculpida no art. 6 do novo Cdigo de

    Processo Civil, segundo o qual todos os sujeitos

    do processo devem cooperar entre si.

    Deslocando enm os nossos olhares

    ao contratualismo processual, notamos

    que tambm essa perspecva, assim como

    ocorre com o cooperavismo, funda-se na

    aproximao entre as partes do conito e o

    julgador e em um maior empoderamento dos

    ligantes. Aqui, porm, a questo se especica

    pelo objeto temco: a parcipao dos sujeitos

    seria majorada no apenas no que toca ao

    Salvador: Editora JusPodivm, 2010.

    15 Conforme Lnio Streck, as palavras da leiso constudas de vaguezas, ambigidades, enm, deincertezas signicavas. So, pois, plurvocas. No hpossibilidade de buscar/recolher o sendo fundante,originrio, primevo, objecante, unvoco ou correto

    de um texto jurdico. STRECK, Lnio Luiz. HermenucaJurdica e(m) Crise. Porto Alegre : Livraria do Advogado,2000. p. 239

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    8/17Novo Cdigo de Processo Civil

    108

    Artgos

    convencimento judicial sobre o objeto ligioso,

    mas tambm no que se refere estruturaodo

    rito processual a ser casuiscamente adotado.

    Desse modo, a tese passa pela

    compreenso de que, embora a previsibilidadeprocessual requeira certo grau de formalidade16,

    esse elemento no pode se converter em

    formalismo desfavorvel jurisdio17. Fugindo

    desse risco, encontraria amparo a defesa por

    uma maior liberdade procedimental18, e, no

    argumento contratualista, a compreenso

    de que essa maleabilidade deveria passar pelo

    crivo (e pelo impulso) dos sujeitos em juzo. Emsntese, trata-se de defender que a neutralidade

    teoricamente trazida por um procedimento

    igualitrio deveria ser superada em favor de

    uma maior adaptao ao caso concreto, e de

    arrematar destacando que caberia s partes

    papel de destaque nessa adequao19.

    16 La razn por la que en todos os empos seha sendo la necesidad de imponer una minuciosa

    disciplina jurdica a este dilogo entre hombres, al cual,

    en sustancia, se reduce todo proceso, debe buscar-se

    en la especial naturaleza de la providencia a la que

    estn preordenadas todas las acvidades procesales.

    Carcter esencial del derecho es la certeza (...) pero, a

    su vez, esta certeza no exisra si el individuo que pide

    juscia no supiera exactamente cules son los actos que

    debe realizar para obtenerla. CALAMANDREI, Piero.Instuciones de derecho procesal civil. Trad. Sanago

    Sens Melendo. Vol.1. Buenos Aires: El Foro, 1996. p.321.17 La historia de las instuciones judicialesdemuestra que las formas adoptadas originariamente

    para alcanzar ciertos nes, enden a sobrevivir a su

    funcin (...) como n en si mismas; as, a veces, el valor

    puramente instrumental de las formas que deberan

    servir para facilitar la juscia degenera en formalismo

    y las mismas se convierten en objeto de un culto ciego.Idem. p.322.

    18 Sobre o tema, cita-se, GAJARDONI, Fernando daFonseca. Flexibilidade Procedimental. So Paulo: EditoraAtlas, 2008.

    19 Nas palavras de Cadiet, observando a recenteexpanso do argumento contratualista, les convenonsrelaves au procs ne sont donc pas si nouvelles que

    2.2. As Previses do Novo Cdigo

    Entendidos os principais suportes

    inerentes ao contratualismo processual, v-se

    que a presena de aspectos a ele relacionadosno de todo recente em nosso ordenamento

    jurdico. que, por mais que o Cdigo de Processo

    Civil de 1973 no encampe explicitamente essa

    guia valorava, h vetores em sua redao

    que (ainda que de forma silente) parecem-nos

    parlhar do mesmo norte.

    cela; elles s'inscrivent dans une trs ancienne tradioncontractualiste en mare de rglement des conits,qu'il s'agisse de l'analyse contractuelle du lien d'instance,hrite de la lis contestao du droit romain, ou du rleque la conciliaon, la transacon, la composion ou lecompromis ont toujours jou en droit franais depuisle Moyen-ge (...) D'o vient, alors, que la quesonparaisse nouvelle? Cee nouveaut me semble tenir deux explicaons. D'une part, d'un point de vuegnral, ces convenons relaves au procs s'inscriventdans une tendance trs nee la contractualisaon

    contemporaine des rapports sociaux, lie au dclindu centralisme taque et de son corollaire dansl'ordre de la producon normave, le lgicentrisme.Ce phnomne, qui a pris son essor dans les annes1960, fait l'objet de nombreuses tudes doctrinales,qui en soulignent l'importance, indpendamment de lavarit des posions qu'elles expriment, favorables oudfavorables La rexion sur la contractualisaon de lajusce, du procs ou, plus gnralement des modes derglement des dirents, depuis une quinzaine d'annes,parcipe assurment de ce mouvement qui traduitl'mergence d'un ordre juridique ngoci entre lesacteurs sociaux, ct de l'ordre juridique impos parl'Etat, ce que l'on idene aujourd'hui par rfrence auconcept de post-modernit. D'autre part, d'un point devue plus parculier, le renouvellement actuel ent aunouvel usage qui est fait de la technique contractuelle,comme une des rponses possibles la crise de la jusce, l'encombrement des tribunaux et l'allongement desprocdures: d'abord, en amont du lige, les paresrecourent de plus en plus la convenon commeinstrument d'ancipaon convenonnelle du rglementde leur dirend (I); par ailleurs, une fois le lige n, lerecours au contrat s'opre au sein mme de l'instuonjudiciaire comme un instrument de geson de l'instance

    (II). CADIET, Loc. Les convenons relaves su procs endroit franais. Sur la contractualisaon du rglement desliges. p. 8.

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    9/17Novo Cdigo de Processo Civil

    109

    Artgos

    Essa situao pode ser percebida, por

    exemplo, ao se admir a celebrao de clusula

    contratual de eleio de foro20. Tambm, ao

    determinar-se que o juzo territorialmente

    incompetente, se no oposta exceo, tenhaprorrogada sua competncia para anlise do

    ligio 21. Embora nossa legislao possua regras

    voltadas diviso de competncia territorial,

    nas duas hipteses se admite sua derrogao

    por iniciava das partes. Seja pela disposio

    via contrato, seja pela atude adotada em

    juzo, permite-se que os ligantes vinculem de

    forma restriva a atuao estatal, sujeitando-a deciso tcita ou abertamente celebrada22.

    Ainda nessa linha est a possibilidade

    20 Art. 111. A competncia em razo da matria

    e da hierarquia inderrogvel por conveno das partes;

    mas estas podem modicar a competncia em razo do

    valor e do territrio, elegendo foro onde sero propostas

    as aes oriundas de direitos e obrigaes.

    1 O acordo, porm, s produz efeito, quando constar

    de contrato escrito e aludir expressamente a determinado

    negcio jurdico.

    2 O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores

    das partes.

    21 Art. 114. Prorrogar-se- a competncia se dela

    o juiz no declinar na forma do pargrafo nico do art.

    112 desta Lei ou o ru no opuser exceo declinatria

    nos casos e prazos legais.

    22 Reforando a importncia da questo para a

    organizao jurisdicional, Aluisio Gonalves de Castro

    Mendes destaca que a jurisdio est presente em

    todos os rgos do Poder Judicirio, tendo em vista que o

    juiz, com a invesdura no cargo, dotado est do poder de

    dizer o direito, ou seja, da funo judicante. Na medida

    em que a prestao jurisdicional um servio pblico e,

    como tal, deve ser realizado a contento, no obstante

    todas as carncias, h uma necessidade prca de diviso

    do trabalho e das tarefas, a m de omizar ou, quando

    menos, viabilizar o exerccio da funo como um todo.

    Essa razo de ordem prca norteia, em geral, a xao

    de competncia dos rgos judiciais. Sob o prima terico,

    a jurisdio pode ser entendida como o poder, enquanto

    a competncia o exerccio delimitado daquele.

    MENDES, Aluisio Gonalves de Castro. Competncia Cvelda Jusa Federal. 3 ed. rev. atual e ampl. So Paulo: Ed.

    RT, 2009. p.35.

    de negociao contratual dos parmetros de

    nus de prova23, ou a faculdade conferida

    s partes para espularem a suspenso do

    seu processo24. Em ambas as circunstncias,

    permite-se que os sujeitos adotem condutasde disposio capazes de vincular o Estado-juiz.

    Tanto em uma quanto na outra os tulares do

    conito assumem papel de destaque na xao

    de parmetros procedimentais, espulando

    como o julgador deve agir em caso de dvida

    ou o sujeitando a uma suspenso do feito sobre

    a qual possui poderes limitados.

    Ocorre que, e sem prejuzo de taisexemplos j exisrem, no novo Cdigo

    de Processo Civil a inclinao em favor

    do contratualismo mais acentuada. A

    proposta legislava mais rme nesse sendo,

    ampliando seu campo de incidncia e fazendo

    com que, em determinadas hipteses, seja

    vivel que o acordo derrogue plenamente o

    procedimento legal.

    Essa expanso cristalizada pelo teor

    do art. 190 do texto legislavo, cujo caput

    preceitua que versando a causa sobre direitos

    que admitam autocomposio, lcito s partes

    23 Anal, se o art.333 do Cdigo de Processo

    Civil de 1973 determina que a conveno do nus da

    prova ser nula somente quando recair sobre direitoindisponvel da parte ou tornar excessivamente dicil a

    uma parte o exerccio do direito, uma leitura a contrario

    sensu permite concluir que em qualquer outra hiptese

    a negociao seria preliminarmente aceitvel. Faculta-

    se, assim, a celebrao de verdadeiro negcio jurdico

    processual.

    24 Art. 265. Suspende-se o processo:

    (...)

    II - pela conveno das partes;

    (...)

    3 A suspenso do processo por conveno das partes,

    de que trata o no Il, nunca poder exceder 6 (seis) meses;ndo o prazo, o escrivo far os autos conclusos ao juiz,

    que ordenar o prosseguimento do processo.

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    10/17Novo Cdigo de Processo Civil

    110

    Artgos

    plenamente capazes espular mudanas no

    procedimento para ajust-lo s especicidades

    da causa e convencionar sobre os seus nus,

    poderes, faculdades e deveres processuais,

    antes ou durante o processo. Cria-se dessemodo um permissivo geral para a celebrao

    de acordos processuais pelos ligantes, em

    cenrio corroborado pelo pargrafo nico do

    mesmo disposivo, segundo o qual de ocio ou

    a requerimento, o juiz controlar a validade das

    convenes previstas neste argo, recusando-

    lhes aplicao somente nos casos de nulidade

    ou insero abusiva em contrato de adeso ouno qual alguma parte se encontre em manifesta

    situao de vulnerabilidade25.

    A leitura conjugada dos preceitos

    evidencia uma clara abertura para que as

    partes pactuem sobre aspectos relacionados

    tramitao do seu conito. De um lado,

    essa prerrogava textualmente facultada

    pelo caput do argo, revelando sua ndole

    permissiva. De outro, a dimenso de controle

    trazida pelo citado pargrafo restringida.

    Em suma, confere-se aos sujeitos uma ampla

    possibilidade para contratualizar seu ligio, ao

    passo que se reserva ao julgador um espao

    teoricamente limitado para negar vigncia a

    essa negociao.

    No rastro dessa previso ampla, e

    25 Art. 190. Versando o processo sobre direitos que

    admitam autocomposio, lcito s partes plenamente

    capazes espular mudanas no procedimento para ajust-

    lo s especicidades da causa e convencionar sobre os

    seus nus, poderes, faculdades e deveres processuais,

    antes ou durante o processo.

    Pargrafo nico. De ocio ou a requerimento, o juiz

    controlar a validade das convenes previstas neste

    argo, recusando-lhes aplicao somente nos casos de

    nulidade ou de insero abusiva em contrato de adesoou em que alguma parte se encontre em manifesta

    situao de vulnerabilidade.

    conferindo aplicao especca sua ideia

    geral, o Cdigo permite ainda que durante

    o saneamento da lide as partes xem por

    consenso as questes fcas e jurdicas das

    por controversas (art.357, 226). Tambm,faculta que indiquem por acordo de vontades

    o perito judicial responsvel por auxiliar o

    juzo na valorao do feito27. Do mesmo modo,

    estabelece que, em conjunto com o julgador da

    causa, os ligantes poderiam xar calendrio

    processual especco para a prca dos atos

    relacionados disputa (como previsto no art.

    26 Art. 357. No ocorrendo nenhuma das

    hipteses deste Captulo, dever o juiz, em deciso de

    saneamento e de organizao do processo:

    I - resolver as questes processuais pendentes, se houver;

    II - delimitar as questes de fato sobre as quais recair

    a avidade probatria, especicando os meios de prova

    admidos;

    III - denir a distribuio do nus da prova, observado o

    art. 373;

    IV - delimitar as questes de direito relevantes para a

    deciso do mrito;

    V - designar, se necessrio, audincia de instruo e

    julgamento.

    1 Realizado o saneamento, as partes tm o direito

    de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo

    comum de 5 (cinco) dias, ndo o qual a deciso se torna

    estvel.

    2As partes podem apresentar ao juiz, para

    homologao, delimitao consensual das questes de

    fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual,

    se homologada, vincula as partes e o juiz.

    (...)

    27 Art. 471. As partes podem, de comum acordo,

    escolher o perito, indicando-o mediante requerimento,

    desde que:

    I - sejam plenamente capazes;

    II - a causa possa ser resolvida por autocomposio.

    1 As partes, ao escolher o perito, j devem indicar

    os respecvos assistentes tcnicos para acompanhar

    a realizao da percia, que se realizar em data e local

    previamente anunciados.

    2 O perito e os assistentes tcnicos devem entregar,

    respecvamente, laudo e pareceres em prazo xado pelo

    juiz.

    3 A percia consensual substui, para todos os efeitos,a que seria realizada por perito nomeado pelo juiz.

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    11/17Novo Cdigo de Processo Civil

    111

    Artgos

    191, em seu 1) 28.

    No rduo notar que a maior parte

    das disposies dessa natureza conita com a

    construo histrica de nosso processo. que,

    se o prprio iderio Moderno embasava umprocedimento generalista e despreocupado

    com peculiaridades29, a atual guinada

    ideolgica oportuniza uma maior aproximao

    entre a forma e as exigncias do caso concreto.

    Adotando a anpoda de Damaska, caminha-se

    em um sendo mais atento lgica coordenada,

    desprendendo-se de uma sujeio imutvel a

    parmetros previamente xados em lei

    30

    .Entretanto, ainda que esse ganho

    em maleabilidade possa trazer benecios

    ao nosso processo civil, conduz tambm a

    preocupaes e a ponderaes. As questes

    passam essencialmente pelos limites da

    disponibilidade procedimental, e levam a uma

    srie de indagaes. Anal, haveria adequao

    em permir a transao sobre o processo sem a

    presena (e sequer a anuncia) do julgador? Em

    28 Note-se que essa prerrogava no se confundecom a previso do art. 139, VI, que permite ao juiz dilataros prazos processuais e alterar a ordem de produodos meios de prova, adequando-os s necessidades doconito de modo a conferir maior efevidade tutelado direito. Neste lmo caso, que ocorre de ocio pelojuiz (ainda que deva, antes de decidir, ouvir as partes, na

    forma do que prev o art. 9, do CPC), as prerrogavas dojuiz so muito mais limitadas: s pode ele dilatar prazosou alterar a ordem de produo de prova. J nos termosdo art. 190, que ocorre de comum acordo, entre o juize as partes, h latude maior para a alterao dos atosprocessuais, que pode incidir sobre qualquer evento doprocesso.

    29 Idencando esse contedo inerente aopensamento jurdico-moderno, e o seu impacto naestruturao de um direito orientado (pretensa)neutralidade, HESPANHA, Antonio Manuel. OCaleidoscpio do Direito. Lisboa: Almedina, 2012.

    30 Ver, passim, DAMASKA, Mirjan. The Faces ofJusce and State Authority. New Haven: Yale UniversityPress, 1986.

    quais dimenses? Ainda que com a parcipao

    do magistrado, haveria balizas exatas para essa

    disposio?

    As inquietaes so em alguma escala

    pacicadas pela observao preliminar dasdisposies relacionadas ao tema, na medida

    em que o prprio texto, ao mesmo tempo em

    que admite os acordos, reconhece que essa

    prerrogava no absoluta. Nesse sendo,

    estabelece certas restries possibilidade de

    negociao, sujeitando-a a condies mais ou

    menos rgidas.

    Realmente, em determinadas hipteses,como o caso da percia convencional (art.

    471), a aceitao do negcio prontamente

    subordinada capacidade plena das partes

    e disponibilidade do objeto ligioso. J em

    situaes como a da conveno sobre o nus

    probatrio o rol de requisitos mais amplo,

    impedindo-se tambm que o termo gere

    onerosidade excessiva a qualquer das partes31.

    31 Desde que os sujeitos (partes) sejam capazes capacidade de ser parte e capacidade de estar em juzo e desde que intervenham neste acordo todas as partesque sero angidas pela distribuio disnta do nus daprova, vivel realizar-se esta modicao. Sublinhe-se,todavia, que este acordo poder, eventualmente, serinvocado para afastar os efeitos da possvel sentenadesfavorvel por terceiros prejudicados, ainda queintervenientes no processo, quando, por sua incidncia,a defesa dos interesses destes terceiros puder vir a serafetada. Em tais casos, demonstrando a ocorrncia doprejuzo em decorrncia desta modicao convencionaldo nus da prova, o terceiro poder afastar o efeito deinterveno (art. 55, inc. I, do Cdigo de Processo Civil),exigindo reapreciao judicial de suas alegaes. Quanto licitude do objeto para este negcio processual tem-se que qualquer causa, ressalvadas as hiptesesapresentadas no pargrafo do art. 333, autoriza aelaborao deste acordo. Tambm no permitem aelaborao desta modicao as relaes de consumo,sempre que esta inverso venha em prejuzo do

    consumidor (art. 51, inc. VI, do Cdigo de Defesa doConsumidor). Outrossim, no admitem modicaodo nus da prova as situaes em que normas ditadas

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    12/17Novo Cdigo de Processo Civil

    112

    Artgos

    Ainda no campo exemplicavo, veja-se que

    sequer a eleio de foro contratual prevista

    de forma irrestrita (art. 63, 1 e 332),

    encontrando barreiras tanto nos requisitos

    inerentes ao negcio jurdico quanto naconteno de possveis excessos.

    Tratando-se enm do permissivo geral

    trazido pelo art. 190, a limitao disposio

    procedimental tambm est presente. que,

    conforme antes mencionado, caberia ao juiz

    controlar a validade desses acordos, negando-

    lhes eccia sempre que fossem nulos,

    mostrassem-se abusivos ou envolvessem sujeitoem manifesta situao de vulnerabilidade.

    Dessa forma, a regra geral que

    os acordos processuais, mesmo quando

    expressamente permidos, encontrem limites

    no interesse pblico (e, portanto, de carter cogente)atribuem o nus de certa prova a algum. Como se est,aqui, diante de regra de contedo imposivo (inafastvelpela vontade das partes), obviamente no ter cabimentoa modicao convencional do nus da prova nestescasos. Desse modo, sempre que, por exemplo, exisrregra que xe presuno legal relava em relao adeterminado fato, sendo esta regra caracterizada comode ordem pblica, no ser admissvel a alterao deseu contedo, atravs da manipulao convencional donus da prova. ARENHART, Srgio Cruz. nus da provae sua modicao no processo civil brasileiro. In: RevistaJurdica. n.343. Porto Alegre: Notadez, 2006.

    32 Art. 63. As partes podem modicar acompetncia em razo do valor e do territrio, elegendoforo onde ser proposta ao oriunda de direitos eobrigaes. 1 A eleio de foro s produz efeito quando constarde instrumento escrito e aludir expressamente adeterminado negcio jurdico. 2 O foro contratual obriga os herdeiros e sucessoresdas partes. 3 Antes da citao, a clusula de eleio de foro, seabusiva, pode ser reputada inecaz de ocio pelo juiz,que determinar a remessa dos autos ao juzo do foro dedomiclio do ru.

    4 Citado, incumbe ao ru alegar a abusividade daclusula de eleio de foro na contestao, sob pena deprecluso.

    em barreiras razoavelmente heterogneas.

    No obstante, acredita-se que as provocaes

    anteriormente formuladas tendem a gerar

    dvidas mais profundas e complexas em

    nossa doutrina, a serem intensicadas coma posivao dos novos permissivos legais.

    No tpico seguinte, trazemos uma breve

    ponderao crca, j inserida nesse debate

    relacionado temca.

    2.3. O Processo e o seu Feixe de Interesses

    Aportes Crcos ao Novo CPC

    Para compreender esse posicionamento,

    recordamos de uma premissa inerente ao

    atual processo civil: a inviabilidade de que

    se compreenda a jurisdio contempornea

    sem avaliar que, em seu cerne, no transitam

    apenasos interesses das partes. Pelo contrrio,

    por mais que sejam elas os agentes privados

    diretamente afetados pela celeuma, a atuao

    processual envolve um feixe complexo de

    questes que passam por interesses da

    comunidade e da prpria administrao estatal.

    E em um quadro como esse no h respostas

    fceis, reforando a necessidade de cautelas

    quanto contratualizao procedimental e a

    obrigatoriedade de que a inovao, para ser

    benca, seja entendida com reservas.

    Nessa anlise, um primeiro dado a

    ser mencionado que a j descrita alterao

    de feies do aparato estatal trouxe, como

    um de suas consequncias, a impossibilidade

    de se pensar em um Estado desinteressado

    na proteo dos direitos materiais33. Essa

    33 Em verdade, contemporaneamente, aperseguio da tutela efeva verdadeira vocao doaparato estatal. Como arma Luiz Guilherme Marinoni, a

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    13/17Novo Cdigo de Processo Civil

    113

    Artgos

    postura assumiu assento fundamental no

    ordenamento brasileiro com a Constuio

    de 1988, demonstrando que, na atualidade, o

    ligio se desenrola diante de um Poder Pblico

    que possui a tutela de direitos como elementocentral de sua atuao34.

    graas a essa variao axiolgica

    que Luiz Guilherme Marinoni, por exemplo,

    reconstri o prprio teor do direito de ao

    (nele fazendo constatar a preocupao com a

    funo jurisdicional uma consequncia natural do deverestatal de proteger os direitos, o qual constui a essnciado Estado contemporneo. Sem ela seria impossvelao Estado (...) garanr a razo de ser do ordenamentojurdico, dos direitos e das suas prprias formas de tutelaou proteo (...) o dever de proteo ou de tutela dedireitos, que idenca o Estado constucional, nadatem a ver com a noo clssica de direito subjevo. OEstado possui o dever de tutelar determinados direitos,mediante normas e avidades fco-administravas, emrazo da sua relevncia social e jurdica. Trata-se do deverde tutelar os direitos fundamentais. Mas no s. OEstado tambm tem o dever de tutelar jurisdicionalmenteos direitos fundamentais, inclusive suprindo eventuaisomisses de tutela normava, alm de ter o dever de dartutela jurisdicional a toda e qualquer espcie de direito em razo do direito fundamental tutela jurisdicionalefeva (art. 5, XXXV, da CF). MARINONI, Luiz Guilherme.Teoria Geral do Processo. 2 ed. rev. e atual. So Paulo: Ed.RT, 2007. p.139-140.

    34 Como se armou em outra ocasio, a axiologiada Constuio Federal de 1988, marcante e balizadorade modicaes nos mais diversos ramos de nossopensamento jurdico, repercuu fortemente no campo dodireito processual civil. A armao no nova, tampoucosurpreendente. Pelo contrrio, sua materializao fca vista codianamente em nossos Tribunais alm decontribuir dia aps dia para que novas ideias inclinem aacademia no sendo da efevidade processual. Foi assimcom tpicos como a tcnica de antecipao dos efeitosda tutela, devidamente incorporada em nossa prca.Tambm, com a exibilizao e majorao dos poderesdo magistrado em favor de uma maior aproximao entrea tutela judicialmente prestada e aquela mais adequada situao material. ARENHART, Srgio Cruz. OSNA,Gustavo. A ao civil pblica e o processo colevo sobo contexto constucional: breves diagnscos e alguns

    desaos. In: Clmerson Merlin Clve. (Org.). DireitoConstucional Brasileiro. v.1. So Paulo: Ed. RT, 2014.p.796.

    efevidade da tutela jurisdicional35). Tambm

    assim que Jos Roberto dos Santos Bedaque

    sustenta um redimensionamento da avidade

    probatria do julgador, propondo a superao

    de um comportamento meramente passivo 36.Igualmente, a mesma virada valorava que

    alicera as crcas de Ovdio Bapsta da Silva

    ordinarizao do processo, percebendo os

    riscos de se falar em plenitude de defesa sem

    considerar as exigncias impostas ao intrprete

    da matria37.

    Em suma, essa srie de discursos leva

    percepo de que o atual Estado-juiz possuiinteresse direto no resultado nal do processo,

    concebendo-o como a proteo sasfatria da

    necessidade material. O suporte condiciona

    tpicos como a apicidade das ferramentas

    execuvas 38. Alm disso, diante dele que se

    sustenta que a avidade jurisdicional atua em

    35 A ao, no Estado constucional, no podepretender ignorar a estrutura do procedimento, oumelhor, a necessria conformao do procedimento,ainda que a parr de uma clusula processual aberta,para a efeva proteo do direito material (...) todosesses direitos demonstram a extenso do direito de

    ao, que muito mais do que o ato solitrio de invocara jurisdio ou do que um simples direito ao julgamentodo mrito. A ao, diante dos seus desdobramentosconcretos, constui um complexo de posies jurdicas etcnicas processuais que objevam a tutela jurisdicional

    efeva, constuindo, em abstrato, o direito fundamental tutela jurisdicional efeva. MARINONI, Luiz Guilherme.Teoria Geral do Processo. p.224.

    36 BEDAQUE, Jos Roberto dos Santos. PoderesInstrutrios do Juiz. 4.ed. So Paulo: Ed. RT, 2009. Tambmrelendo a atuao do julgador, cita-se PINHEIRO, PauloEduardo DArce. Poderes Executrios do Juiz. So Paulo:Saraiva, 2011.

    37 Nesse sendo, SILVA, Ovdio Arajo Bapsta da.A plenitude de defesa no processo civil. In. TEIXEIRA,Slvio de Figueiredo (Coord.). As garanas do cidado najusa. So Paulo: Saraiva, 1993.

    38 Sobre o tema, ver, passim, GUERRA, MarceloLima. Direitos fundamentais e a proteo do credor naexecuo civil. So Paulo: Ed. RT, 2003..

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    14/17Novo Cdigo de Processo Civil

    114

    Artgos

    esferas que extrapolam a questo ligiosa,

    exercendo escopos plurais como constatado

    por Cndido Rangel Dinamarco 39.

    Essa dilatao tambm demonstrada

    emblemacamente por Owen Fiss, por meiodo contraste entre uma funo clssica e uma

    funo contempornea da jurisdio 40. Com

    efeito, enquanto a primeira seria restrita ao

    acertamento de casos, a segunda assumiria

    papel mais amplo e maior protagonismo no

    espao social 41. Nesse percurso, plenamente

    vlido para a realidade brasileira, o processo

    civil adquire maior impacto na esfera pblica.Alm disso, h ainda ao menos outro

    nvel de interesse geral intrnseco ao processo

    civil. que, compreendido cecamente, o

    Poder Judicirio incapaz de agir sem envolver

    o dispndio de recursos pblicos. Nessa

    39 Nas palavras do autor, tradicionalmente eat tempos bem recentes, acreditava-se que o sistemaprocessual vesse uma nalidade puramente jurdica,sendo ele, em resumo, um instrumento a servio dodireito material (...) constuem conquistas das lmasdcadas a perspecva scio-polca da ordem processuale a valorizao dos meios alternavos. A descoberta dosescopos sociais e polcos do processo valeu tambmcomo alavanca propulsora da viso crca de suasestruturas e do seu efevo modo de operar, alm delevar as especulaes dos processualistas a horizontesque antes estavam excludos de sua preocupao.

    Prosseguindo, arma que como o Estado tem funesessenciais perante sua populao, constuindo sntesede seus objevos o bem-comum, e como a paz social inerente ao bem-estar a que este deve necessariamenteconduzir (tais so as premissas do welfare State), hojereconhecida a existncia de uma nma ligao entre osistema do processo e o modo de vida da sociedade,para disso extrair escopos sociais (mlplos), polcos ejurdicos da atuao jurisdicional. DINAMARCO, CndidoRangel. Instuies de Direito Processual Civil. vol.1. 5 ed.rev. e atual. So Paulo: Malheiros, 2005. p. 144 e ss.

    40 Ver, por todos, FISS, Owen. The Forms of Jusce.

    In. Harvard Law Review. n.93. New Haven: HarvardUniversity Press, 1979.

    41 Idem.

    medida, no h atuao judicial sem custos

    materiais e humanos que lhe sejam correlatos,

    e em lma anlise o prprio contribuinte

    quem arca com esse fardo42. Sob esse prisma,

    compreensvel por um corte panprocessual43,

    42 A baliza dos custos tambm impe limitaesobjevas ao processo. Por mais que a parr de seu traofuncional contemporneo se revelasse ideal que cadamagistrado analisasse mensalmente um nico ligioou que guras como a assistncia judiciria fossemabsolutas, esses aspectos, apreendidos os custos doprocesso, no so facveis. O ente estatal obrigado a

    arcar com as despesas advindas da instuio judiciria eda efevao normava. Como o Estado no presenteia, a prpria comunidade que em lma instncia acabaindiretamente suportando tais despesas, o que sempretrar limites sua atuao. (...) em suma, para cadaescolha adotada no campo do direito processual haverprejuzos e sacricios, no exisndo meios de excluirda disciplina a baliza ditada por seus custos. OSNA,Gustavo. Direitos Individuais Homogneos: Pressupostos,fundamentos e aplicao no processo civil. So Paulo: Ed.

    RT. (no prelo). p.43.

    43 Nesta outra dimenso da proporcionalidade,

    no se examina o processo considerado em si mesmo.Avalia-se, antes, a avidade jurisdicional na sua relaoentre o esforo estatal oferecido a um caso concreto eo complexo de demandas (existente ou potencial) quetambm tem direito ao mesmo esforo. Nessa linha,considerada a escassez dos recursos estatais, o grau deefevidade outorgado a um nico processo deve serpensado a parr da necessidade de assegurar ecinciado sistema judicirio como um todo. Por outras palavras, aalocao de recursos em um determinado processo deveser ponderada com a possibilidade de se dispor dessesmesmos recursos em todos os outros feitos (existentesou potenciais). O servio pblico jusa deve ser gerido luz da igualdade e a omizao do que prestadono pode olvidar a massa de processos existente, nemos critrios para a administrao mais adequada doslimitados recursos postos disposio do ente pblico.(...) a racionalizao dos esforos jurisdicionais passa atomar em considerao o complexo de usurios (atuaise potenciais) do servio, e no apenas o caso especco,que est eventualmente nas mos do juiz. A soluo, emsntese, da coliso das garanas fundamentais, passa aoperar-se em outro plano: o macroscpico, tangenciandoa polca judiciria. ARENHART, Srgio Cruz. A tutelacoleva de interesses individuais: para alm da proteo

    de interesses individuais homogneos. So Paulo: Ed. RT,2013. p.38-39. Tambm observando o problema, RemoCaponi destaca, a parr do direito italiano, que que Il

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    15/17Novo Cdigo de Processo Civil

    115

    Artgos

    questes como a protelao em juzo no

    atentam somente contra qualquer das partes,

    lesando reexamente toda a colevidade.

    Trata-se de analisar a jurisdio a parr de

    suas possibilidades concretas, enxergando-acom olhares realistas para extrair as melhores

    respostas a parr da sua perspecva global.

    Em suma, o processo contemporneo

    envolve parmetros e critrios que vo alm

    da rbita de interesse dos ligantes. trazendo

    essa premissa terica para a compreenso dos

    acordos processuais que se entende que, na

    atual realidade brasileira, a possibilidade dedisposio procedimental deve ser aceita de

    maneira parcimoniosa. No aceitvel que

    essa guia leve compreenso do processo

    como mero instrumento parcular de soluo

    de ligios, ou do Estado-juiz como singelo

    passageiro secundrio nessa jornada.

    De fato, certo que em pases nos quais

    o processo civil est atrelado a ligios privados

    vem sendo corriqueira a inclinao a uma viso

    mais privasta da disciplina. Essa orientao,

    em boa conta, est na base de guras como a

    do contratualismo. assim que localidades

    em que Jusa Administrava e Jusa Civil

    se colocam separadamente tendem a ligar a

    primeira atuao do Direito e a segunda

    soluo do ligio entre as partes.

    canone di proporzionalit nellimpiego delle risorsegiudiziali ha suggerito di congurare la disciplina delprocesso collevo allesito di un bilanciamento di valoricostuzionali, che colloca su un piao della bilanciale garanzie costuzionali, che sorreggono il modellotradizionale di tutela giurisdizionale dei diri nel singoloprocesso, e sullaltro piao lecienza di un processocomplesso in re ipsa, ancorch opportunamente depurato

    dellintervento di terzi. CAPONI, Remo. Il nuovo voltodella class acon. Foro Italiano. Roma: Societ Editricedel Foro Italiano, 2009, p. 386.

    Entretanto, alm de essa segmentao

    inexisr na realidade brasileira, os argumentos

    acima demonstram que a jurisdio

    contempornea no pode ser compreendida

    mediante a gura simplista de uma linha entreA e B. Pensar o processo unicamente sob

    esse prisma preocupante, gerando os riscos

    de se desconsiderar uma srie de compromissos

    que lhe so nsitos e de se desrespeitar a

    conformao constucionalmente atribuda

    ao Estado. Por isso, entende-se que o

    preenchimento dos requisitos tradicionais dos

    atos jurdico nem sempre ser suciente paraatribuir validade ao negcio processual. H

    ainda a constante necessidade de inserir o

    acordo na prpria moldura geral da jurisdio,

    observando a sua adequao a esse ambiente44.

    Desse modo, a contratualizao

    no pode ser lida sem que se leve em conta a

    proteo de garanas como, por exemplo, o

    contraditrio e a isonomia - obstando acordos

    que dicultem exageradamente a atuao de

    uma das partes. O mesmo vale para pactos

    44 Como exemplo, veja-se que, ao analisar apossibilidade de exibilizao procedimental no direitofrancs, Jos Rogrio Cruz e Tucci salienta ser evidente como adverte Loc Cadiet que a concordnciados ligantes, nesse sendo, no pode afrontar osprincpios processuais. Impe-se, portanto, ao juiz ocontrole das alteraes possveis, em prol da ecinciado respecvo processo, at porque, consoante dispeo art. 3. do Cdigo de Processo Civil francs, ao juizincumbe velar pelo bom desenvolvimento da instncia;ele detm poder de deferir os prazos e de determinaras medidas necessrias. Ademais, a redao do art. 23do Noveau CPC, introduzida em 28.12.2005, atribuiu aocondutor do processo ( juge de la mise en tat = juiz deprimeiro grau) a faculdade de xar, em audincia com osprocuradores das partes, um cronograma para o ulteriordesenvolvimento do processo. TUCCI, Jos Rogrio Cruze. Garanas Constucionais da Durao Razovel e da

    Economia Processual no Projeto do Cdigo de ProcessoCivil. In. Revista de Processo. v.192. So Paulo: Ed. RT,2012. p.193 e ss

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    16/17Novo Cdigo de Processo Civil

    116

    Artgos

    que comprometam aspectos como a ecincia

    ou a razovel durao do processo. Tambm

    aqui, ainda que as consequncias do acordo

    aparentemente s digam respeito s posies

    jurdicas das partes, entende-se cabvel que omagistrado intervenha no negcio para lhe

    negar eccia.

    Essa necessidade de controle ainda

    mais acentuada quando o acordo, por algum

    movo, possui o condo de afetar diretamente

    a avidade jurisdicional e as suas inmeras

    funes. o que ocorre, por exemplo, quando

    se permite que os ligantes indiquemo perito

    a atuar em juzo ou se exonerem de deveres

    processuais. Anal, seria realmente aceitvel

    que o magistrado fosse compelido a formar a

    sua convico com base na anlise de um expert

    em quem no cona45? No mesmo contexto,

    haveria razoabilidade em facultar que as partes,

    por acordo de vontades, desobrigassem-se de

    aspectos como o dever de agir com lealdade?

    As indagaes nos parecem levar a uma mesma

    concluso: a adequao e a possibilidade dos

    acordos processuais devem estar sujeitas a

    um crivo renado do aparato jurisdicional.

    Como consequncia, por mais que uma

    maior parcipao dos ligantes possa trazer

    vantagens atuao judiciria, necessrio

    evitar que o permissivo seja compreendido

    45 Vale lembrar que acima de tudo, o perito deveter idoneidade moral e, assim, ser da conana do juiz. (...)no deve o juiz julgar a parr de laudo pericial assinadopor pessoa que no merea conana (...) quando precisade laudo pericial, no deve deixar que a denio de umfato seja feita por qualquer pessoa (perito), como se nolhe importassem a qualidade e a idoneidade da resposta

    jurisdicional. Alm de idoneidade, o perito deve contar

    com conhecimento tcnico suciente. MARINONI, LuizGuilherme. ARENHART, Srgio Cruz. Prova. 2 ed. rev. eatual. So Paulo: Ed. RT, 2011. p.793

    como prerrogava para ditar livremente o

    que o Estado deve ou no fazer. Assim, a

    possibilidade de contratualizao deve ser

    vista como mais um aspecto a contribuir para

    os escopos do processo, e no como um vetora ser exclusivamente protegido em detrimento

    da gura plena da disciplina. Resumindo, trata-

    se de inserir os sujeitos em posio adequada

    de dilogo, mas sem fazer com que suas vozes

    sejam as nicas a soar.

    4. Consideraes Finais

    Colocando-se na onda acadmica

    ocasionada pelos debates relacionados

    reforma global de nosso Cdigo de Processo

    Civil, o presente ensaio buscou traar algumas

    consideraes preliminares a respeito de uma

    das guias valoravas inseridas na proposta de

    codicao: o contratualismo. Em sntese,

    trata-se de permir que regras relacionadas ao

    desenvolvimento do processo sejam derrogadas,

    alterando sua tramitao a critrio dos prprios

    sujeitos envolvidos na controvrsia.

    Nesse sendo, observou-se que, ainda

    que haja exemplos em nosso atual direito nos

    quais essa ideia encampada, sua admisso

    pelo novo Cdigo de Processo Civil bastante

    mais ampla. O diploma caminha com passos

    rmes no rumo do empoderamento das partes,

    prevendo verdadeiro permissivo geral para a

    celebrao de acordos processuais. Como

    argumentos a fundamentar essa expanso,

    estariam questes como a prpria modicao

    dos cnones de legimao a que a gura

    estatal se submeteu ao longo do lmo sculo.

    Ocorre que, por mais que esse

    realinhamento possa trazer benecios efevidade jurisdicional (evitando que sua forma

  • 7/26/2019 Acordos Processuais No Novo CPC - Aproximaes Preliminares

    17/17

    117

    Artgos

    se subverta em formalismo), sua aplicao no

    deve ser entendida como um critrio absoluto a

    orientar a disciplina processual. Essa concluso

    decorre da prpria pluralidade de interesses e de

    valores que hoje imanente jurisdio, sendoinvivel conceb-la sob olhares meramente

    privastas. O cenrio contemporneo possui

    desdobramentos mais complexos, razo pela

    qual tambm o acordo processual deve ser

    compreendido (e aceito) apenas na medida em

    que se amolde a esse contexto.