34
ESTADO DE GOIÁS MINISTÉRIO PÚBLICO 70ª 12ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Excelentíssimo(a) Senhor(a) Juiz(a) de Direito da ____ Vara Cível da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Goiânia-Go. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, ora representado pelos Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor, infra-assinados e que recebem intimações de estilo, pessoalmente, na Rua 23 esquina com a avenida B, quadra: 06, lote: 15/24, Jardim Goiás, sala T-29, Goiânia-Go, com fundamento no artigo 129, II, III e IX da Constituição Federal, somado aos artigos 1º, II. 2º, 3º, 5º, caput, 11, 12, da Lei Federal 7.347, de 24.07.85, que disciplina a Ação Civil Pública, e, ainda, nos artigos 6º, VI; 81, parágrafo único e incisos I, II e III; 82, I; 83, 84, caput e parágrafos 3º e 4º; 87 e 91 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11.09.90) propõe a presente: AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS Contra a seguradora BEMGE SEGURADORA S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n ˚ 017188624/0001-87 e inscrita na SUSEP – Superintendência de 1

Acp carros salvados_bemge_detran

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Ação cível publica do Ministério Publico de Goias contra seguradora BEMGE.

Citation preview

Page 1: Acp carros salvados_bemge_detran

ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

70ª 12ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Excelentíssimo(a) Senhor(a) Juiz(a) de Direito da ____ Vara Cível da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Goiânia-Go.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, ora

representado pelos Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor,

infra-assinados e que recebem intimações de estilo, pessoalmente, na

Rua 23 esquina com a avenida B, quadra: 06, lote: 15/24, Jardim

Goiás, sala T-29, Goiânia-Go, com fundamento no artigo 129, II, III e

IX da Constituição Federal, somado aos artigos 1º, II. 2º, 3º, 5º, caput,

11, 12, da Lei Federal 7.347, de 24.07.85, que disciplina a Ação Civil

Pública, e, ainda, nos artigos 6º, VI; 81, parágrafo único e incisos I, II

e III; 82, I; 83, 84, caput e parágrafos 3º e 4º; 87 e 91 do Código de

Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11.09.90) propõe a presente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS

Contra a seguradora BEMGE SEGURADORA S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n ˚

017188624/0001-87 e inscrita na SUSEP – Superintendência de

1

Page 2: Acp carros salvados_bemge_detran

Seguros Privados no código 06611, localizada na Praça Alfredo Egydio

de Souza Aranha n ˚ 100, São Paulo-SP, CEP: 4344902, fone: (0**11)

5019-3323 e o Estado de Goiás, pessoa jurídica de direito público,

localizado na rua Pedro Ludovico n ˚ 26, centro, Goiânia-Go, CEP:

74.003-010, na pessoa de seu representante legal, pelas razões de

fato e de direito que passa a expor.

RESUMO DA PRETENSÃO

Tem a presente ação civil pública a seguinte pretensão:

I – Demonstrar que a Seguradora RÉ efetua o pagamento de indenização total de veículos sinistrados que são recuperáveis e podem voltar a circular;

II – Demonstrar que embora a indenização paga seja total, o veículo sinistrado volta a circular porque não se enquadra na condição de irrecuperável na qual exige-se a baixa definitiva do seu registro no DETRAN, nos termos do artigo 126 e 127 da Lei 9.503/97 e da Portaria 1.508/2003 do DETRAN-Go;

III – Demonstrar que as Seguradoras se negam a firmar novo contrato de seguro com futuros adquirentes deste veículo com o argumento que já houve pagamento de indenização total;

IV – Demonstrar que a Seguradora RÉ não faz constar nos prontuários dos veículos e DUT – documento único de transferência - a informação de que o veículo foi objeto de indenização total. A ausência da informação no DUT e nos prontuários dos veículos possibilitam à Seguradora Ré vender o veículo sinistrado por um preço até 30% maior que valeria se estivesse presente esta informação

2

Page 3: Acp carros salvados_bemge_detran

V – Demonstrar que o valor de mercado dos veículos sinistrado com pagamento de indenização total é 30% (trinta por cento) inferior ao mesmo veículo com as mesmas características que não tenha sido objeto de indenização total;

VI – Demonstrar que esta prática abusiva causa dano moral coletivo (difuso);

VII – Demonstrar que o DETRAN-Go não faz constar nos prontuários dos veículos e DUT – documento único de transferência - a informação de que o veículo foi objeto de indenização total;

Os pedidos contidos nesta ação civil pública são:I – na defesa do interesse difuso, que seja

condenada a Seguradora RÉ a obrigação de fazer, qual seja, informar ao DETRAN-Go para fazer constar no prontuário do veículo e no DUT – Documento Único de transferência – a informação que o veículo sinistrado foi objeto de pagamento de indenização total, sob pena de multa de R$30.000,00 (Trinta mil reais), por cada infração identificada, a ser destinada ao Fundo de Defesa do Consumidor;

II – na defesa do interesse difuso, que seja condenado o Estado de Goiás, por intermédio do DETRAN-Go, à obrigação de fazer, qual seja, fazer constar no prontuário do veículo e no DUT – Documento Único de transferência – a informação remetida pela Seguradora RÉ que o veículo sinistrado foi objeto de pagamento de indenização total, sob pena de multa de R$10.000,00 (Dez mil reais), por cada infração identificada, a ser destinada ao Fundo de Defesa do Consumidor;

III – a condenação genérica da Seguradora Ré, pelo vício de informação, a indenizar os consumidores lesados na diferença entre o valor de mercado do veículo sinistrado com

3

Page 4: Acp carros salvados_bemge_detran

pagamento de indenização total e o valor de mercado de um veículo com as mesmas características que não tenha sido objeto de indenização total, a ser apurado em liquidação de sentença;

IV - na defesa do interesse difuso, que seja condenada a Seguradora Ré a pagar indenização por dano moral coletivo na quantia de R$5.000,000,00 (Cinco milhões de reais), a ser destinado ao Fundo de Defesa do Consumidor.

1 - DOS FATOS.

O Ministério Público do Estado de Goiás instaurou

inquérito civil n ˚ 146/2005 para apurar prática abusiva perpetradas

pelas Seguradoras que fazem seguros de automóveis.

Segundo o apurado, a Seguradora Ré, bem como

outras, efetua o pagamento de indenização total de veículos

sinistrados que são recuperáveis e podem voltar a circular.

Posteriormente, revendem estes veículos para oficinas que os

recuperam e os recolocam novamente no mercado e os revendem pelo

valor de mercado de um mesmo veículo não sinistrado com as

mesmas características para os consumidores (ANEXO: Fls. 32, 33,

34, 135, 136, 146, 147, 148, 216, 217, 218).

Os consumidores adquirentes destes veículos

sinistrados e sobre os quais foram pagos indenizações totais pelos

sinistros ocorridos procuram esta ou outras seguradoras para fazer o

seguro do veículo adquirido quando, são surpreendidas pela

informação que este já foi objeto de pagamento de indenização total e,

por tal razão, a Seguradora se nega a firmar um novo contrato

securitário e ainda descobre que o valor de seu veículo é inferior ao

4

Page 5: Acp carros salvados_bemge_detran

valor de mercado (ANEXO: Fls. 32, 33, 34, 135, 136, 146, 147, 148,

216, 217, 218).

Apurou-se que não existe nenhum sistema de

informação ao consumidor, constante no prontuário do veículo e no

DUT - documento único de transferência, que o informe de forma

adequada que o veículo adquirido já foi objeto de pagamento de

indenização total (ANEXO: Fls. 132), amparando os consumidores

desta lesão patrimonial, pois o veículo sinistrado com pagamento de

indenização tem valor de mercado 30% (trinta) por cento inferior a um

veículo com as mesmas características que não tenha sido objeto de

indenização total (ANEXO: Fls. 56).

Ademais, por via reflexa, tal situação de fato alimenta

as ocorrências de ilícitos penais, especificamente, de furto, roubo e

latrocínio para retirada de peças a serem utilizadas na remontagem

do carro sinistrado adquiridas no “mercado negro”. Pois, por força de

lógica econômica, a aquisição de peças adquiridas de forma lícita no

mercado torna inviável economicamente a remontagem do carro

sinistrado e a sua recolocação no mercado.

Tais condutas perpetradas pelos RÉUS configuram

práticas abusivas e lesiva aos direitos dos consumidores, colocando

em sobressalto consumidores determinados que adquiriram veículos

recuperáveis com pagamento de indenização total pelas seguradoras e

consumidores indeterminados, ferindo, assim, os princípios basilares

do Código de Defesa do Consumidor que amparam os consumidores

no âmbito difuso, quais sejam, princípio da confiança, principio da

boa-fé objetiva, principio da informação, principio da lealdade. Tal

conduta acarreta um dano moral coletivo (difuso) que somente poderá

5

Page 6: Acp carros salvados_bemge_detran

ser inibido com a imposição de multa pela prática abusiva e

indenização por dano moral coletivo.

2 – DA CONFIGURAÇÃO DA RELAÇÃO DE CONSUMO E INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

A relação jurídica firmada entre os RÉUS e os

consumidores é uma relação de consumo, logo, aplica-se o Código de

Defesa do Consumidor, regido pela lei 8.078, de 11 de setembro de

1990 para disciplinar esta relação jurídica. Vejamos.

Para configurar uma relação jurídica de consumo é

necessário se fazer presente duas partes, quais sejam, o fornecedor e

o consumidor.

A Ré Seguradora é fornecedora, pois é pessoa jurídica

de direito privado que presta serviço securitário e desenvolvem

atividade de comercialização deste serviço, ofertando aos

consumidores e tendo contrato de adesão firmado com milhares de

consumidores no Estado de Goiás. O RÉU Estado de Goiás, por

intermédio do DETRAN-Go, exerce atividade de controle e fiscalização

típica do Estado sobre o sistema de registro de trânsito e sua

atividade produz reflexo direta na relação de consumo sendo ele um

fornecedor by stander .

No outro polo está o consumidor e ele é a pessoa

natural ou jurídica destinatária final dos serviços prestados, sendo

que sua conduta tem subsunção ao artigo 2 º1 do Código de Defesa do

1 “Art. 2 º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.”

6

Page 7: Acp carros salvados_bemge_detran

Consumidor. É aquele que faz o seguro, também o é aquele que

adquire o veículo sinistrado com vício de informação e ainda o

consumidor by stander do artigo 29 do CDC ou seja todo exposto à

prática abusiva.

“Art. 29. Para o fim deste capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele prevista.”

Diante do exposto, inquestionável é a existência de

relação de consumo entre os RÉUS e os consumidores determinados e

determináveis (aqueles que adquiriram veículos sinistrados com

pagamento de indenização total) e os consumidores indetermináveis

(aqueles que não adquiriram veículos sinistrados com pagamento de

indenização total, mas podem ser expostos à prática abusiva pelo

vício da informação ou por via reflexa, serem vítimas de ilícitos

penais). Argumentamos.

O princípio da igualdade (CF: art. 3, inciso I e 5 º,

inciso I e outros)2 insculpido explicitamente e implicitamente em

diversas partes da Constituição Federal é um princípio nuclear a

iluminar o operador do direito na busca de solução de conflitos de

interesses intersubjetivos surgidos na complexidade da vida moderna

e na realização da justiça. Portanto, este princípio aplica-se nas

relações contratuais, buscando um equilíbrio de forças entre o sujeito

ativo e sujeito passivo da relação jurídica. Porém, a vida moderna nos

2 Constituição Federal/88: Art. 3 º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil:I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária;Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes:

7

Page 8: Acp carros salvados_bemge_detran

mostra que é impossível um equilíbrio de forças entre aqueles que

exercem atividade mercantil (fornecedores) e aqueles que adquirem

um produto como destinatário final (consumidor) e, por tal razão, o

Constituinte concedeu uma proteção especial aos consumidores

(Constituição Federal: art. 5 º XXXII e art. 170, inciso V e ADCT art.

48)3 por serem eles hipossuficientes e a parte vulnerável da relação

jurídica.

O Código de Defesa do Consumidor é um

microssistema aplicado para reger relações jurídicas onde as partes

contratantes estão em desigualdade de forças para contratar e sua

finalidade é equilibrar esta relação de forças, impedindo que a

arbitrariedade e a injustiça reinem na sociedade. O raciocínio mais

equânime para identificar o consumidor é o que analisa pelo ângulo

de sua vulnerabilidade, ou seja, da sua fraqueza, do seu

desconhecimento técnico sobre aparelhos sofisticados, do seu

desconhecimento jurídico e a sua fragilidade perante o poderio

econômico da outra parte. Esta é a interpretação teleológica do artigo

4 º4 do Código de Defesa do Consumidor.3 Constituição Federal/88:

Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes:

XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e

na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)V – defesa do consumidor;ADCT:Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação

da constituição, elaborará o Código de defesa do consumidor.4 “Art. 4 º A Política Nacional das relações de Consumo tem por objeto o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendido os seguintes princípios:

I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;”

8

Page 9: Acp carros salvados_bemge_detran

Os RÉUS abarcam nas suas relações jurídicas,

consumidores determinados (aqueles que adquiriram veículos

sinistrados com pagamento de indenização total) e os consumidores

indetermináveis (aqueles que não adquiriram veículos sinistrados

com pagamento de indenização total, mas podem ser expostos à

prática abusiva pelo vício da informação ou por via reflexa, serem

vítimas de ilícitos penais). Assim, trata-se de prática abusiva efetivada

pelos RÉUS prevista no artigo 39, do Código de Defesa do

Consumidor. Tal artigo está contido no Capítulo V, da Lei 8.078/905.

O Artigo 296 do CDC, primeiro Artigo do mesmo capítulo V, reza que

todos as pessoas expostas às práticas nele previstas são consideradas

consumidores.

Ademais, o parágrafo único, do Artigo 2°7, do Código de

Defesa do Consumidor estatui que equipara-se a consumidor a

coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja

intervindo nas relações de consumo.

Assim, conforme acima exposto, estamos diante, no

caso em testilha, de dois conceitos de consumidor por equiparação8, o

que torna mais nítida a relação de consumo.

Esta relação de consumo acarreta a necessidade de

defesa de direitos e interesses difusos e de direitos e interesses

5 Código de Proteção e Defesa do Consumidor.6 “Art. 29. Para o fim deste capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele prevista.” 7 “Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo Único: Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.”8 Ou consumidor by standart, como prefere Nelson Nery Junior.

9

Page 10: Acp carros salvados_bemge_detran

individuais homogêneos com relevância social, o que legitima o

Ministério Público para a apresentação da ação civil pública.

3 – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DOS DIREITOS E INTERESSES DIFUSOS E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS COM RELEVÂNCIA SOCIAL NO CASO EM QUESTÃO.

Para o julgamento de mérito, faz-se necessária a

presença dos pressupostos processuais de validade e de existência e

dos elementos das condições da ação. Estes últimos são compostos

pela possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade

para agir9. O Ministério Público tem legitimidade ad causam para

defender interesses coletivos em sentido amplo, este é o gênero do

qual fazem parte as subespécies interesse difuso, interesse coletivo

em sentido estrito e interesse individual homogêneo com relevância

social. Assim, determina a Constituição Federal no seu artigo 127

caput10 e 129, inciso III11, respectivamente.

No mesmo sentido prescreve a legislação

infraconstitucional no artigo 1 º, inciso II e IV da lei 7.347/8512 e no

9 Código de Processo Civil: Art. 3 º. Para propor ou contestar uma ação é necessário ter interesse e legitimidade.10 “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”11 “Art. 129. São Funções institucionais do Ministério Público:

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;”12 Lei 7.347/85: Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

II – ao consumidor;V – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;

1

Page 11: Acp carros salvados_bemge_detran

artigo 8113 do Código de Defesa do Consumidor ao definir o que são as

subespécies de interesse coletivo em sentido amplo.

A legitimidade do Ministério Público, também, é aferida

na interpretação literal do artigo 5 º da lei 7.347/8514, artigo 25,

inciso IV da lei 8.625/9315 e artigo 82, inciso I16 do Código de Defesa

do Consumidor.

Por oportuno, vale citar o insigne processualista Nelson

Nery Júnior (1995:358 e 366), que, em consonância com a Profª. Ada

Pellegrini Grinover17, assevera:

“O art. 82 do CDC confere legitimidade ao

Ministério Público para ajuizar ações coletivas na defesa de direitos

difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores.

13 “Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para os efeitos deste

Código, os transindividuais, de natureza indivisível de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para os efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.”14 Lei 7.347/85: Art. 5 º. A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que:15 Lei 8.625/93: Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:

IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio

ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artísticos, estético, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;16 “Art. 82. Para os fins do artigo 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

I – o Ministério Público;”17 Código de Defesa do Consumidor, 5ª edição, Forense, 1997, p. 675/677.

1

Page 12: Acp carros salvados_bemge_detran

Assim agindo, a lei infraconstitucional (CDC) agiu em conformidade

com a Constituição Federal, porque a defesa do consumidor, além

de garantia fundamental (artigo 5º, inciso XXXII, Constituição

Federal) é matéria considerada de interesse social pelo artigo 1º, do

CDC.” (grifo nosso)

Segundo o ensinamento de Nelson Nery Júnior e Rosa

Maria de Andrade Nery18, o que caracteriza o interesse como sendo

difuso, coletivo em sentido estrito ou individual homogêneo é a

correlação lógica entre a causa de pedir e o pedido deduzido em juízo.

No mesmo sentido é a lição de Hugo Nigro Mazzilli19:

“Temos, não raro, ouvido de alunos perguntas

semelhantes a esta: a defesa de contribuintes é matéria de

interesses difuso, coletivo ou individual homogêneo? Ora, a

resposta correta vai depender do pedido que venha a ser

concretamente formulado na ação civil pública ou coletiva. Se a

ação civil pública ou coletiva pedir uma reparação indivisível em

proveito de grupo indeterminável, os interesses discutidos serão

difusos; se a reparação objetivada for indivisível, mas o grupo

determinável, e estiver sob o ataque apenas da relação jurídica

básica, que deva ser discutida de maneira uniforme para todos os

integrantes do grupo, os interesses serão coletivos, em sentido

estrito; se a reparação objetivada for divisível entre os integrantes

do grupo lesado, então os interesses serão individuais

homogêneos.”

Diante do exposto, indagamos: Em uma mesma ação

civil pública pode ser discutido duas ou as três espécies de interesses

18 Assim ensina os renomados autores (Código de Processo Civil Comentado. 5 ª edição. editora Revista dos Tribunais. 2001. p. 1882 e 1883): “Caracterização do direito. O que qualifica o direito como difuso, coletivo, ou individual homogêneo é o conjunto formado pela causa de pedir e pelo pedido deduzido em juízo. O tipo de pretensão material, juntamente com o seu fundamento é o que caracterizam a natureza do direito.”19 MAZZILLI; Hugo Nigro. A Defesa dos interesses Difusos em Juízo.Editora Saraiva. 15 º edição.

1

Page 13: Acp carros salvados_bemge_detran

coletivos em sentido amplo? A resposta é afirmativa. Pela leitura da

causa de pedir deduzimos que é necessário, em uma única ação civil

pública. No caso em questão, discute-se a defesa dos direitos e

interesses difusos e a defesa dos direitos e interesse individuais

homogêneos com relevância social.

Segundo o demonstrado na causa de pedir (próxima e

remota), o Ministério Público tem legitimidade para defender os

direitos e interesses difusos, pois estão presentes, in casu, os seus

requisitos, quais sejam, sujeito indeterminado, objeto indivisível e

surge de uma circunstância de fato. O sujeito indeterminado resta

configurado com a conduta da seguradora RÉ pagar indenização total

de sinistro de veículos, recolocá-los no mercado, não disponibilizar

informação adequada, e se negar a firmar contrato securitário com os

adquirentes deste veículo. Assim, qualquer consumidor do Estado de Goiás (4.848.725) e do Brasil (170.000.000) recebe uma informação

incorreta do produto. O objeto indivisível está presente, pois é

impossível quantificar, a principio, em quanto cada consumidor foi

lesado e indenizá-lo no quantum devido. A situação de fato resta

configurada ao efetuar o pagamento de indenização total, recolocar os

veículos sinistrados no mercado, não informar adequadamente o

consumidor e se negar a firmar contrato securitário alegando que já

foi pago indenização total.

Pela leitura da causa de pedir podemos aferir a

existência de direitos interesses individuais homogêneos com

relevância social. O interesse individual homogêneo fica caracterizado

por serem os sujeitos determinados ou determináveis, pois todos os

consumidores que adquiriam veículos sinistrados com pagamento de

indenização total. Surge de uma situação fato, resta configurada ao

efetuar o pagamento de indenização total, recolocar os veículos

1

Page 14: Acp carros salvados_bemge_detran

sinistrados no mercado, não informar adequadamente o consumidor e

se negar a firmar contrato securitário alegando que já foi pago

indenização total, e, por último, seu objeto é divisível, pois é possível

quantificar em qual importância cada consumidor foi lesado, sendo

este apurado em liquidação de sentença.

Por todo o exposto, resta configurado a legitimidade do

Ministério Público na defesa de interesses e direitos difusos e direito e

interesses individuais homogêneos com relevância social no caso em

questão.

3.1– DA NECESSIDADE DA AÇÃO COLETIVA.

A ação coletiva tem por finalidade discutir em juízo

questões de interesse de um número indeterminado de pessoas ou de

um grupo, classe ou categoria de pessoas, assim evitando que os

cidadãos lesados abarrotem o judiciário com ações individuais.

Imaginemos que cada consumidor lesado em seu patrimônio e na sua

moral procurasse o Poder Judiciário para se ver ressarcido e

indenizado a sua moral lesada. O Poder Judiciário ficaria assoberbado

de trabalho dificultando a prestação jurisdicional de outras lides com

grande desprestígio para a administração da justiça.

O direito constitucional de acesso a Justiça é um

direito individual e coletivo para apresentar a pretensão do autor ao

Poder Judiciário. As ações coletivas diminuem o custo do Estado na

prestação jurisdicional e o custo do cidadão ao apresentar sua

pretensão. Imaginemos que um consumidor lesado contrate um

advogado, pague às custas processuais e despesas outras

(transportes, tempo, paciência) para se ver ressarcido. Ademais, a ré

1

Page 15: Acp carros salvados_bemge_detran

somente teria sua conduta inibida se milhares de consumidores

ingressassem na Justiça.

In casu, a ação coletiva é a medida adequada na defesa

dos consumidores para combater a prática abusiva perpetradas pelos

RÉUS que potencializam a realização de ilícitos penais como furto,

roubo e latrocínio.

3.2– DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL E DA COMARCA DE GOIÂNIA, ESTADO DE GOIÁS.

O foro competente para a propositura da ação civil

pública é o da comarca de Goiânia. Argumentamos:

In casu, a causa remota (fato gerador) deste direito

refere-se a defesa de direitos e interesses difusos e direitos individuais

homogêneos com relevância social com repercussão no Estado de

Goiás. Assim, este é o foro competente para apresentar a ação civil

pública, nos termos do artigo 93, inciso I20I do Código de Defesa do

Consumidor.

O dano acarretado tem âmbito regional no Estado de

Goiás e por tal razão resta caracterizado a competência da comarca

de Goiânia-Go.20 “Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a Justiça local:

I – o foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II – no foro da Capital do Estado ou no Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.”

1

Page 16: Acp carros salvados_bemge_detran

4 – DA PRÁTICA ABUSIVA PERPETRADA PELOS RÉUS.

A causa remota narrada na inicial e os documentos

acostados a ela comprova que os RÉUS têm conduta na relação

contratual com os consumidores que vão de encontro ao Código de

Defesa do Consumidor. A conduta dos RÉUS configura uma prática

abusiva e lesiva aos princípios básicos do direito do consumidor, a

saber, princípio da transparência, da boa-fé objetiva, da lealdade, da

informação, da confiança e outros, assim, não cumprem os RÉUS

seus deveres anexos impostos por normas de ordem pública a todos

aqueles que figuram como fornecedores na relação contratual.

Vejamos:

O Código de Defesa do Consumidor é um

microssistema jurídico que rege relações contratuais em que o sujeito

ativo e passivo estão em desequilíbrio de forças para contratar e tem

por fim equilibrar as forças dos contratantes para preservar a

autonomia racional da vontade 21 dos consumidores para que possam

ser emitidas de forma refletida, autônoma e livre de pressões. Para tal

desiderato, as normas jurídicas deste microssistema são de ordem

pública, conforme inteligência do seu artigo 1 º22 e impõe deveres aos

fornecedores que devem ser cumpridos sob pena de incidirem em

ilicitude civil.

21Assim ensina Claudia Lima Marques, Contrato no Código de Defesa do Consumidor, editora Revista dos Tribunais, 4 º edição,p. 591: “Como mencioamos anteriormente (Parte I, item 3.2), a expressão de Nicole Chardim (autonomia racional” é feliz, pois indica a importância dos novos direitos dos consumidores e dos novos deveres dos fornecedores, em especial, dos deveres anexos de informar, de cooperar, de tratar com lealdade e com cuidado o consumidor no momento de formação dos contratos, pois somente se asseguramos este novo patamar de conduta no mercado poderemos alcançar uma vontade realmente refletida, autônoma e “racional” dos consumidores.”22Código de Defesa do Consumidor: Art. 1 º . O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5 º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas disposições Transitórias.

1

Page 17: Acp carros salvados_bemge_detran

Os deveres anexos dos fornecedores determinam que

eles devem pautar a sua conduta com os consumidores na venda de

seus produtos e serviços com cooperação, lealdade, transparência,

boa-fé, gerando confiança e informando o consumidor sobre os seus

produtos. De outro lado, um dos requisitos do elencados pela

doutrina jurídica de direito comercial para caracterizar o empresário é

o monopólio da informação, pois é o empresário/fornecedor que

orquestra sua atividade comercial e avalia os seus riscos, assim, tem

ele noção dos riscos quando oferta seus produtos e serviços e ficará

numa situação privilegiada em relação ao consumidor. É justamente

por conhecer seu produto ou serviço é que tem ele o dever de informar

o seu parceiro contratual vulnerável, qual seja, o consumidor. O dever

de informar do fornecedor tem subsunção ao artigo 31 do Código de

Defesa do Consumidor. in verbis:

“Art. 31. A oferta e apresentação de produtos e serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam a saúde e segurança dos consumidores.”(grifo nosso)

Pelo princípio da vinculação da oferta, o Fornecedor

fica vinculado à oferta feita ao consumidor em toda a sua extensão,

especificamente, com a recolocação no mercado do veículo sinistrado

e recuperável com pagamento de indenização total. Nada mais justo,

pois sua atitude foi refletida, ponderada e avaliada antes de ser

ofertada. Neste sentido é o artigo 30 do Código de Defesa do

Consumidor. In verbis:

1

Page 18: Acp carros salvados_bemge_detran

“Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação, com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.”

A conduta da seguradora Ré, bem como de outras,

narrada na causa remota e comprovada com a documentação

acostada à inicial, demonstra que elas não estão cumprindo o seu

dever de informar o consumidor de forma precisa, clara, correta e

ostensiva, conforme o comando do artigo 31, pois não existe nenhuma informação no prontuário do veículo ou do DUT – documento único de transferência - que o veículo adquirido pelo consumidor já foi objeto de pagamento de indenização total pela ocorrência do sinistro no veículo recuperável (IC: Fls. 133).

O artigo 39 não é numerus clausus e sim numerus

apertus. Assim, uma prática comercial que não esteja ali descrita

pode ser considerada de prática abusiva por decisão judicial,

notadamente, quando viola os princípios brasileiros do Código de

Defesa do Consumidor.

Dessa forma, a conduta da RÉ é uma prática abusiva e

vedada pelo Código de Defesa do Consumidor, pois lesa princípios

norteadores do Estatuto Consumerista, coloca o consumidor em

desvantagem e gera enriquecimento ilícito pela seguradora Ré. Neste

sentido é o artigo 39, caput¸ e inciso V:

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços dentre outras práticas abusivas:

1

Page 19: Acp carros salvados_bemge_detran

V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;”

Inquestionavelmente, a conduta perpetrata pela RÉ tem

subsunção aos artigos supra citados e configuram uma prática

abusiva a qual deve ser coibida pelo Poder Judiciário, impedindo o

enriquecimento ilícito dos fornecedores e exigindo a adequação da sua

conduta aos deveres impostos pelo Ordenamento Jurídico

Consumerista.

4.1 – DA RECOLOCAÇÃO NO MERCADO DE VEÍCULOS RECUPERÁVEIS.

O Código de Trânsito Brasileiro disciplinado pela lei

9.503, de 23 de setembro de 1997 nos seus artigo 126 e 127 e a

Portaria 1.058/2003 do DETRAN-Go regulamenta a hipótese em que

deverá haver baixa do registro no do veículo, pois é ele irrecuperável

ou está definitivamente desmontado. Assim, são os artigos.

“Art. 126. O proprietário de veículo irrecuperável, ou definitivamente desmontado, deverá requerer a baixa do registro, no prazo e forma estabelecidos pelo CONTRAN, sendo vedada a remontagem do veículo sobre o mesmo chassi, de forma a manter o registro anterior.

Parágrafo único. A obrigação de que trata este artigo é da companhia seguradora ou do adquirente do veículo destinado à desmontagem, quando estes sucederem ao proprietário.

Art. 127. O órgão executivo de trânsito competente só efetuará a baixa do registro após prévia consulta ao cadastro do RENAVAM.

1

Page 20: Acp carros salvados_bemge_detran

Parágrafo único. Efetuada a baixa do registro, deverá ser esta comunicada, de imediato, ao RENAVAM.

Nesta hipótese em que o veículo é irrecuperável ou

definitivamente desmontado, existe regulamentação de providências a

serem tomadas. Porém, deixamos claro que o fato gerador (causa

remota) da demanda e a hipótese em que o veículo é recuperável e pode ele ser consertado, remontado e colocado em condições de circulação, mesmo já tendo havido o pagamento de indenização total pela SEGURADORA.

Esta situação não tem previsão legal, nem em normas

primárias e nem em normas secundárias, deixando o consumidor

vulnerável à prática abusiva, pois pode ele adquirir um veículo que já

foi pago indenização total, do qual não conseguira firmar um contrato

de seguro e cujo preço de mercado é inferior ao que ele efetivamente

pagou.

5 – DO DANO MORAL COLETIVO (DIFUSO)

A conduta da Seguradora Ré acarreta um dano moral coletivo que somente poderá ser coibido eficazmente com a condenação de indenizar pelos danos causados.

O consumidor se sente lesado, ferido no seu patrimônio e principalmente na sua moral. Inconformado, pensa procurar o Poder Judiciário para fazer cessar esta prática abusiva, perceberá que mesmo que venha a ganhar, sua atitude cidadã é insuficiente para coibir esta prática abusiva, pois como já diz o ditado, “uma andorinha só, não faz verão”, para impedir esta conduta lesiva da ré é necessário que milhares de consumidores abarrotem o Poder Judiciário de ações judiciais.

2

Page 21: Acp carros salvados_bemge_detran

A única maneira de coibir esta prática abusiva é condenar a ré em uma quantia em dinheiro por causar dano moral coletivo (difuso). Vejamos:

Existe uma moral coletiva (difusa)? A resposta é

afirmativa. A cada dia a sociedade evolui e se torna mais complexa, a

cada dia é exigido mais do consumidor para ter conhecimentos sobre

diversos produtos e serviços. Assim, é impossível ter conhecimento de

tantos produtos e serviços que nos são apresentados hodiernamente.

O consumidor é forçado a confiar no fornecedor, o consumidor precisa

acreditar que as informações que lhe são passadas são verdadeiras e

respeitam o seu patrimônio moral e material. Por exemplo: Quando

vamos a uma farmácia, confiamos que o medicamento que nos

compramos não possui nenhum vício e que não prejudicará a saúde

de nenhum consumidor. Quando o consumidor vai receber o seguro

DPVAT, confia que o valor que está sendo pago a ele, corresponde ao

determinado na lei; Quando o consumidor vai ao supermercado confia

que a informação sobre o preço do produto será facilmente

identificado e que o preço da etiqueta, da gôndola e da barra de

leitura são idênticos; Quando o consumidor deseja cancelar uma

linha telefônica, espera que a Operadora de Telefonia tenha

dispositivos fáceis para o cancelamento da linha. Assim, o princípio

da confiança e o da boa-fé objetiva são um valor cultural espraiado na

sociedade, um valor coletivo.

A moral coletiva é um valor cultural que orienta o

comportamento dos homens e lhes dá a paz de espírito, a

tranqüilidade para confiar que o outro não lhe prejudicará. A moral

coletiva é um valor metaindividual. Quando é lesada a moral coletiva

é causado um pânico na sociedade que coloca em alvoroço a todos.

2

Page 22: Acp carros salvados_bemge_detran

Dizemos mais, a sociedade somente se manterá e sobreviverá se os

princípios que regem os contratos de massa forem interpretados de

forma mais abrangente, assim, teríamos o princípio da confiança coletivo, o princípio da transparência coletivo, o principio da boa-fé objetiva coletiva, o principio da lealdade coletivo. Assim, o

fornecedor que lese a moral coletiva (difusa) deve ser condenado a

ressarcir a um fundo uma quantia em dinheiro com a finalidade de

evitar que outros venham a querer lesar a moral coletiva.

A moral coletiva é um fato jurídico e protegido pelo nosso Ordenamento Jurídico. Vejamos.

A Constituição Federal no seu artigo 1 º, inciso III elegeu como fundamento da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e no dizer de Raul Machado Horta este princípio é vetor de interpretação das normas constitucionais, o que ele denomina de Constituição plástica. Concretizar o princípio da dignidade da pessoa humana, também, é proteger o consumidor, sendo este um direito fundamental insculpido no artigo 5 º XXXII da CF/88 e considerado cláusula pétrea.

A garantia de proteção do consumidor ocorre pelo acesso a Justiça individualmente pelos consumidores e coletivamente através de ação civil pública por seus legitimados, pois o princípio de acesso à justiça (CF: art. 5 º XXXV) possui uma acepção coletiva em sentido amplo, pois visa a proteger os interesses e direitos difusos, coletivos em sentido estrito e individual homogêneo com relevância social (CF: art. 127, inciso III). A proteção do consumidor somente se efetiva quando o seu patrimônio material e moral é amparado preventivamente e repressivamente, caso tenha ocorrido a lesão.

O Constituinte ao prever instrumentos processuais como a ação civil pública para proteção dos interesses coletivos em sentido amplo, inquestionavelmente, por uma questão de lógica

2

Page 23: Acp carros salvados_bemge_detran

jurídica, tinha o intento de amparar a moral coletiva (difusa). Se pensarmos que a proteção do dano moral pode dar-se apenas com a iniciativa individual de cada consumidor, seria aceitar que as normas constitucionais não têm aplicação, é letra morta. O constituinte tinha o intento de coibir os abusos praticados contra os consumidores em quantias pequenas, pois estas condutas somente serão efetivamente coibidas se forem condenadas às fornecedoras a indenizar o dano moral coletivo causado.

A ré é incentivada a manter sua prática abusiva por uma questão de estatística, pois é rentável lesar o consumidor. De cada cem consumidores lesados, poucos percebem que foram lesados, os mais atentos terão o dissabor de ter de reclamar e aumentarem o seu custo consumo, a saber, tempo, dinheiro. Se algum consumidor inconformado apresentar sua pretensão ao Poder Judiciário visando o ressarcimento de danos patrimoniais e morais, receberá uma indenização que não será ainda suficiente para inibir a conduta ilícita do fornecedor. Enfim, é rentável lesar o consumidor.

A defesa do consumidor que é lesado em quantias pequenas somente é coibida com a condenação da fornecedora em dano moral coletivo. Neste sentido, a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 5 º, inciso X23, reza que o consumidor dever ser indenizado pelo dano moral sofrido, pois a imposição do respeito a moral é uma das garantias do respeito à dignidade humana (CF: art. 1º, inciso III). Consoante à Constituição Federal, caminha o Código de Defesa do Consumidor no seu artigo 6 º , inciso VI, in verbis:

“Art. 6 º. São direitos básicos do consumidor:

23 Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

2

Page 24: Acp carros salvados_bemge_detran

VI – a efetiva reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.” (grifo nosso)

No mesmo sentido a Lei 7.347/85 no seu artigo 1 º

versa a idéia que a proteção do consumidor ocorre no âmbito

patrimonial e moral e no seu artigo 13 prevê a existência de um fundo

de Defesa do Consumidor.

O FUNDO ESTADUAL DO CONSUMIDOR é gerido por

órgãos de defesa do consumidor do Estado de Goiás e tem por

finalidade gerar PROGAMAS DE EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO EM

TODO O ESTADO DE GOIÁS e aparelhar órgãos (Procons Municipais,

Delegacias de Defesa do Consumidor, Procon Estadual, entre outros)

de defesa do consumidor. As indenizações por dano moral coletivo

deverão ser carreadas para o FUNDO ESTADUAL DE DEFESA DO

CONSUMIDOR, pois somente a aplicação destes recursos na defesa

da própria sociedade de consumo será capaz de minimizar os danos

morais sofridos pela comunidade de consumidores goianos e inibir os

fornecedores a perpetrarem novas práticas abusivas.

O Código de Defesa do Consumidor reza no seu artigo

4º, inciso VI, in verbis:

“Art. 4 º A política Nacional das Relações de Consumidor tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

VI – coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a

2

Page 25: Acp carros salvados_bemge_detran

concorrência desleal e utilização indevida de eventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízo aos consumidores” (grifo nosso)

O princípio da coibição do abuso deve ser

eficientemente aplicado para fazer cessar a prática abusiva da ré, pois

a condenação em dano moral coletivo (difuso) é a melhor atitude para

cessar a prática abusiva e impedir a indústria da indenização e o

abarrotamento do Poder Judiciário com indenizações.

Diante do exposto, a condenação da Seguradora Ré

para indenizar o dano moral coletivo é imprescindível para a efetiva

defesa coletiva do consumidor e para inibir futuras práticas abusivas

da ré e de outros fornecedores.

6– DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

O Código de Defesa do Consumidor, art. 6º, inc. VIII, prevê para qualquer ação fundada nas relações de consumo, bastando para tanto que haja hipossuficiência do consumidor ou seja verossímil as alegações do autor.

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos,

inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no

processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a

alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras

ordinárias de experiência;

Trata-se de aplicação do princípio constitucional da isonomia (tratar desigualmente os desiguais), pois o consumidor,

2

Page 26: Acp carros salvados_bemge_detran

como parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação de consumo, tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que seja alcançada a igualdade real entre os partícipes da relação de consumo. Neste sentido é a doutrina do Professor Nelson Nery Jr. in Código de Processo Civil Comentado, 4ª ed, Saraiva, 1999, p. 1806, verbis:

“A inversão pode ocorrer em duas situações

distintas: a) quando o consumidor for hipossuficiente; b) quando for

verossímil sua alegação. As hipóteses são alternativas, como

claramente indica a conjunção ou expressa na norma ora

comentada. A hipossuficiência respeita tanto à dificuldade

econômica quanto à técnica do consumidor em poder desincumbir-

se do ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito”.

Na relação contratual entre a ré e seus consumidores (determinados e indeterminados), estes se encontram em estado de hipossuficiência jurídica e fática, visto que estão em situação de extrema desvantagem.

Sobre o momento da inversão do ônus da prova é por oportuno colacionar a doutrina do Professor Nelson Nery Jr.:

“O juiz, ao receber os autos para proferir

sentença, verificando que seria o caso de inverter o ônus da prova

em favor do consumidor, não poderá baixar os autos em diligência e

determinar que o fornecedor faça a prova, pois o momento

processual para a produção desta prova já terá sido ultrapassado.

Caberá ao fornecedor agir, durante a fase instrutória, no sentido de

procurar demonstrar a inexistência de alegado direito do

consumidor, bem como a existência de circunstâncias extintivas,

impeditivas ou modificativas do direito do consumidor, caso

pretenda vencer a demanda. Nada impede que o juiz, na

oportunidade de preparação para a fase instrutória (saneamento do

processo), verificando a possibilidade de inversão do ônus da prova

em favor do consumidor, alvitre a possibilidade de assim agir, de

sorte a alertar o fornecedor de que deve desincumbir-se do referido

2

Page 27: Acp carros salvados_bemge_detran

ônus, sob pena de ficar em situação de desvantagem processual

quando do julgamento da causa”

Posto isto, a inversão do ônus da prova, cabendo à parte ré desconstituir as alegações fáticas e jurídicas consignadas nesta inicial é imperioso.

7 – DO PEDIDO DE LIMINAR EM RAZÃO DA PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA.

O pedido de liminar é deferido pelo Poder Judiciário

quando presentes os requisitos da fumaça do bom direito (fumus boni

iuris) e do perigo da demora (periculum im mora). e encontra amparo

legal no artigo 12 da lei 7.347/85 e no artigo 84 § 3 º do Código de

Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), in verbis:

“Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia em decisão sujeita a agravo.”

“Art. 84 Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 3º. Sendo relevante o fundamento da damanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

Segundo o narrado na causa de pedir remota da inicial

e provado com a documentação acostada, a Seguradora Ré, bem como

outras, efetua o pagamento de indenização total de veículos

2

Page 28: Acp carros salvados_bemge_detran

sinistrados que são recuperáveis e podem voltar a circular.

Posteriormente, revendem estes veículos para oficinas que os

recuperam e os recolocam novamente no mercado estando ausentes

as informações no DUT e no prontuário do veículo às informações que

diminuiriam o valor de revenda do veículo sinistrado. (ANEXO: Fls.

32, 33, 34, 135, 136, 146, 147, 148, 216, 217, 218).

Os consumidores adquirentes destes veículos

sinistrados e sobre os quais foram pagos indenizações totais pelos

sinistros ocorridos procuram esta ou outras seguradoras para fazer o

seguro do veículo adquirido quando são surpreendidos pela

informação que este já foi objeto de pagamento de indenização total e,

por tal razão, a Seguradora se nega a firmar um novo contrato

securitário e ainda descobre que o valor de seu veículo é inferior ao

valor de mercado (ANEXO: Fls. 32, 33, 34, 135, 136, 146, 147, 148,

216, 217, 218).

Logo, não existe nenhum sistema de informação ao

consumidor constante no prontuário do veículo e no DUT -

documento único de transferência que o informe de forma adequada

que o veículo adquirido já foi objeto de pagamento de indenização

total (ANEXO: Fls. 132), amparando os consumidores desta lesão

patrimonial, pois o veículo sinistrado com pagamento de indenização

tem valor de mercado 30% (trinta) por cento inferior a um veículo com

as mesmas características que não tenha sido objeto de indenização

total (ANEXO: Fls. 56).

O fumus boni iuris está presente, pois a conduta dos

RÉUS é lesiva aos princípios da transparência, da lealdade, da

confiança, da boa-fé objetiva e da informação que são princípios

norteadores do Código de Defesa do Consumidor e lesivas as normas

2

Page 29: Acp carros salvados_bemge_detran

jurídicas prescritas nos artigos 4 º, 6 º, inciso III, 30, 31, 39, inciso V

todos do Código de Defesa do Consumidor. O consumidor tem o

direito inafastável de ser informado corretamente e precisamente

sobre o produto.

O periculum in mora está presente, pois a conduta da

Seguradora RÉ é uma prática abusiva perpetrada ao longo do tempo

como prova os documentos acostados aos autos e até os dias de hoje

não foi tomada nenhuma providência por parte dos RÉUS.

Consumidores indeterminados e determinados podem ser vítimas

desta prática abusiva, pois a qualquer momento podem adquirir

veículos sinistrados que objeto de pagamento de indenização total

sem a devida informação do prontuário do veículo e no DUT –

Documento Único de Transferência.

Os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in

mora estão presentes e justificam a concessão da liminar por parte do

Poder Judiciário para coibir esta prática abusiva perpetradas pelos

réu.

7.1 – DA MULTA NO CASO DE DESCUMPRIMENTO DA LIMINAR.

Para que as decisões judiciais (liminares ou de mérito)

sejam cumpridas, notadamente, tratando-se de obrigação de fazer e

não fazer, faz-se necessário a aplicação de multa liminar ou uma

astreinte. Trata-se de uma coação de caráter econômico, com objetivo

de dissuadir o devedor inadimplente a fim de que este cumpra a

2

Page 30: Acp carros salvados_bemge_detran

obrigação. A imposição de obrigação de fazer (ou não fazer) só tem

efetividade prática com a imposição de multa diária.

O fundamento legal da imposição pecuniária encontra-

se no artigo 84, parágrafo 4º do CDC, verbis:

“Art. 84 Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 3º. Sendo relevante o fundamento da damanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

§ 4º. O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.”

Assim, para que o Estado-Juiz não fique desmoralizado

em razão de eventual não cumprimento da liminar, faz-se necessária

a fixação de multa pecuniária para o efetivo cumprimento das

decisões judiciais e realizando o poder-dever do Estado no exercício

preponderante da jurisdição.

8 – DO PEDIDO.

8.1 – DOS PEDIDOS EM SEDE DE LIMINAR.

3

Page 31: Acp carros salvados_bemge_detran

Ante o exposto, o Ministério Público requer em sede de

liminar:

8.1.1 – que na defesa do interesse difuso, que seja

concedida liminar inaudita altera pars e impelida a Seguradora Ré a

obrigação de fazer, qual seja, informar ao DETRAN-Go para fazer

constar no prontuário do veículo e no DUT – Documento Único de

transferência – a informação que o veículo sinistrado foi objeto de

pagamento de indenização total, sob pena de multa de R$30.000,00

(Trinta mil reais), por cada infração identificada, a ser destinada ao

Fundo de Defesa do Consumidor, criado pela Lei 12.207, de 20 de

dezembro de 1.993, conforme fundamentado no item 4 e 7;

8.1.2 – que na defesa do interesse difuso, que seja

concedida liminar inaudita altera pars e impelido o Réu Estado de Goiás, por intermédio do DETRAN-Go, a obrigação de fazer, qual

seja, fazer constar no prontuário do veículo e no DUT – Documento

Único de transferência – a informação remetida pela Seguradora RÉ

que o veículo sinistrado foi objeto de pagamento de indenização total,

sob pena de multa de R$10.000,00 (Dez mil reais), por cada infração

identificada, a ser destinada ao Fundo de Defesa do Consumidor,

criado pela Lei 12.207, de 20 de dezembro de 1.993, conforme fundamentado no item 4 e 7;

8.2 – DOS PEDIDOS EM SEDE DE MÉRITO.

Ante o exposto, o Ministério Público requer em sede de

mérito:

8.2.1 – O recebimento da presente petição;

3

Page 32: Acp carros salvados_bemge_detran

8.2.2 – A isenção de custas e emolumentos e outros encargos, nos termos do artigo 87 do Código de Defesa do consumidor e artigo 18 da Lei de ação civil pública;

8.2.3. – A citação dos RÉUS: BENGE SEGURADORA S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n ˚ 017188624/0001-87 e inscrita na SUSEP – Superintendência de Seguros Privados no código 06611, localizada na Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha n ˚ 100, São Paulo-SP, CEP: 4344902, fone: (0**11) 5019-3323, na pessoa de seu representante legal e o Estado de Goiás, pessoa jurídica de direito público, localizado na rua Pedro Ludovico n ˚ 26, centro, Goiânia-Go, CEP: 74.003-010, na pessoa de seu representante legal;

8.2.4 – A confirmação dos pedidos feitos em sede de liminar no item 8.1, quais sejam:

“8.1.1 – que na defesa do interesse difuso, que seja concedida liminar inaudita altera pars e impelida a Seguradora Ré a obrigação de fazer, qual seja, informar ao DETRAN-Go para fazer constar no prontuário do veículo e no DUT – Documento Único de transferência – a informação que o veículo sinistrado foi objeto de pagamento de indenização total, sob pena de multa de R$30.000,00 (Trinta mil reais), por cada infração identificada, a ser destinada ao Fundo de Defesa do Consumidor, criado pela Lei 12.207, de 20 de dezembro de 1.993, conforme fundamentado no item 4 e 7;

8.1.2 – que na defesa do interesse difuso, que seja concedida liminar inaudita altera pars e impelido o Réu Estado de Goiás, por intermédio do DETRAN-Go, a obrigação de fazer, qual seja, fazer constar no prontuário do veículo e no DUT – Documento Único de transferência – a informação remetida pela Seguradora RÉ que o veículo sinistrado foi objeto de

3

Page 33: Acp carros salvados_bemge_detran

pagamento de indenização total, sob pena de multa de R$10.000,00 (Dez mil reais), por cada infração identificada, a ser destinada ao Fundo de Defesa do Consumidor, criado pela Lei 12.207, de 20 de dezembro de 1.993, conforme fundamentado no item 4 e 7;”

8.2.5 – que na defesa dos direitos e interesses

individuais homogêneos com relevância social, a condenação genérica

da Seguradora Ré, pelo vício de informação, a indenizar os

consumidores lesados na diferença entre o valor de mercado do

veículo sinistrado com pagamento de indenização total e o valor de

mercado de um veículo com as mesmas características que não tenha

sido objeto de indenização total, a ser apurado em liquidação de

sentença;

8.2.6 - na defesa do interesse difuso, que seja

condenada a Seguradora ré a pagar indenização por dano moral

coletivo na quantia de R$5.000,000,00 (Cinco milhões de reais), a ser

destinado ao Fundo de Defesa do Consumidor

8.2.7 – A inversão do ônus da prova a favor do consumidor nos termos do artigo 6º, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor, logo ao fim da fase postulatória, conforme fundamentado no item 6;

8.2.8 – A intimação pessoal do autor – mediante entrega dos autos – nas Promotorias de Justiça do Consumidor (12 º e 70 º) situadas no edifício sede do Ministério Público salas t-29 e t-31, localizado na rua 23, lote 15/24, esquina com a avenida B, Jardim Goiás, Goiânia-GO, de conformidade com o que prescreve o artigo 41, inciso IV, da lei 8.625/93;

3

Page 34: Acp carros salvados_bemge_detran

8.2.9 – Protesta por provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente, depoimento pessoal dos dirigentes da requerida, oitiva de testemunhas, juntada de documentos, perícias, sem prejuízo dos meios que eventualmente se fizer necessário à completa elucidação dos fatos articulados nessa petição;

Dá-se a causa, para todos os fins, o valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais).

Goiânia, 05 de novembro de 2007.

MURILO DE MORAIS E MIRANDA

Promotor de Justiça

3