40
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA JUDICIAL DA COMARCA DE ITIRAPINA/SP Inquéritos Civis nsº 28/2007 e 01/94 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO , pelo Promotor de Justiça signatário, com fundamento nos artigos 127 e 129, III, da Constituição Federal; no artigo 25, inciso IV, alínea "a", da Lei 8625/93; no artigo 103, inciso VIII, da Lei Complementar 734/93; nos artigos 1o, inciso I, e 5o , da Lei da

ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

JUDICIAL DA COMARCA DE ITIRAPINA/SP

 

 

 

Inquéritos Civis nsº 28/2007 e 01/94

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelo

Promotor de Justiça signatário, com fundamento nos artigos 127 e 129, III, da

Constituição Federal; no artigo 25, inciso IV, alínea "a", da Lei 8625/93; no

artigo 103, inciso VIII, da Lei Complementar 734/93; nos artigos 1o, inciso I, e

5o , da Lei da Lei nº 7.347, de 24 de julho de, vem à presença de Vossa

Excelência, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de

liminar, contra o MUNICÍPIO DE ITIRAPINA, pessoa jurídica de direito

público interno, com sede na Av. Um, n. 106, centro, pelos fatos e fundamentos

a seguir expostos.

Page 2: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

I. FATOS.

Os Inquéritos Civis ns. 028/2007 e 01/94 - Promotoria de

Justiça de Itirapina, que instruem a presente, foram instaurados para apurar a

ocorrência de parcelamento ilegal do solo no local denominado “Bairro Santo

Antônio”, mais conhecido como “Bairro do Broa”, neste Município, bem como

para verificar a ocorrências de danos ambientais daí decorrentes.

O local acima indicado foi inicialmente instituído como um

loteamento regular registrado no 2º Ofício de Imóveis de Rio Claro, desde o ano

de 1974, então composto por “chácaras de recreio” cada uma com 5.000m2 e

implantado em parte do imóvel objeto da transcrição n. 8944 da mesma

serventia, situando-se nas imediações da “Represa do Broa”, fonte de água,

turismo e extensa biodiversidade desta região.

Apurou-se, contudo, devido à omissão do Município de

Itirapina, que ao longo de décadas incontáveis “chácaras de recreio” foram

sendo ilegalmente subdivididas e alienadas em partes ideais ou desdobradas por

centenas de pessoas que sucessivamente as detinham, dando origem a um

parcelamento ilegal do solo com desenfreado adensamento populacional e

significativos impactos urbanísticos e ambientais.

Segundo foi identificado pelo Sr. Oficial de Registro de

Imóveis, atualmente encontram-se com alienações de frações ideais e desdobro

registradas dezenas de matrículas, como apontado a fls. 41 (IC 28/07).

2

Page 3: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

A situação de fato, todavia, é mais abrangente que as só

evidenciadas documentalmente pelo registro de imóveis, tendo em vista que a

alienação de partes ideais da terra raras vezes são levadas à averbação, e, além

disso, desde o ano de 1990 o 2º Registro de Imóveis de Rio Claro, atendendo

orientação da Eg. Corregedoria-Geral de Justiça tem impedido a averbação de

alienações de partes ideais de lotes (fls. 39/40 – IC 28/07).

Note-se que moradores da região levaram preocupação a esta

Promotoria, declarando que o parcelamento ilegal dos lotes vem causando

degradações ambientais, problemas de segurança pública, prostituição infantil e

tráfico de drogas na região (fls. 06– IC 28/07).

A requerida, contudo, mesmo ciente de toda essa situação

nada fez para impedir a proliferação de lotes, as construções irregulares, a

degradação ambiental e as demais conseqüências do adensamento populacional

desordenado. Como narrou a testemunha Waldira Ramos (fls. 451– IC 28/07) –

pessoa que também subdividiu seu lote sem maiores dificuldades - “muitos dos

lotes do Broa são de 250 metros quadrados e que são negociados livremente sem

nenhum obstáculo ou multa ou embargo de construção”.

A omissão da requerida teve e continua tendo sérias

conseqüências, valendo destacar o contido no laudo técnico (fls. 805/811– IC

28/07) elaborado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

(CETESB), onde, note-se, há poluição das águas da represa agravado pela

ausência de adequado tratamento do esgoto produzido pelo loteamento:

3

Page 4: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

“A Represa do Lobo, também denominada Represa do Broa,

localizada no município de Itirapina, inserida na Área de Proteção Ambiental -

APA Corumbataí é utilizada por grande número de turistas (atingindo durante

os feriados cerca de 30.000 turistas). (...)

A referida represa vem apresentando alterações na qualidade

de suas águas, em decorrência de ser receptora dos esgotos sanitários tratados

na ETE - Estação de Tratamento de Esgotos de Itirapina, que além da

população da cidade, também possui 02 penitenciárias estaduais, totalizando

aproximadamente 13.456 habitantes na zona urbana (fonte: SEADE 2006), os

quais são lançados em corpo de água afluente da Represa do Broa, o Córrego

da Água Branca (classe 2), que também é agravado pela inexistência de rede

coletora e de tratamento dos esgotos gerados no interior do Loteamento Santo

Antonio, que possui lotes dispondo grande parte de seus esgotos sanitários em

fossas sépticas/sumidouros e o restante é lançado na represa, havendo

necessidade de implantação de interceptor, emissário e ETE - Estação de

Tratamento de Esgotos específica para o citado loteamento, para coleta,

afastamento e tratamento de seus esgotos sanitários. (...)

Quanto à fonte de poluição gerada especificamente no

loteamento, a proposta tecnicamente mais viável é a construção de ETE -

Estação de Tratamento de Esgotos, sendo que o licenciamento desse

empreendimento, pertinente ao Processo CETESB nO28/00424/05, já teve início

com a obtenção, junto à SMA/DAIA, da dispensa de apresentação de RAP -

Relatório Ambiental Preliminar, mediante a análise do estudo apresentado,

cabendo à CETESB/Agência Ambiental Unificada de Araraquara a emissão das

Licenças Prévia, de Instalação e de Operação. A administração municipal já

4

Page 5: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

elaborou projeto básico da ETE/Loteamento Santo Antônio, bem como da

estação elevatória e espectivos interceptor/emissário, uma vez que a ETE será

construída fora da área do Balneário, com lançamento do efluente tratado a

jusante da Represa do Broa, restando somente à Prefeitura Municipal de

Itirapina solicitar essas licenças à Agência Ambiental Unificada de Araraquara,

o que poderá ocorrer após a apresentação das complementações exigidas pelo

DEPRN, pelo Ofício ETRC F169/06, de 22/05/2006 .

A Prefeitura Municipal de Itirapina não apresentou as

complementações exigidas pelo DEPRN, não atendeu, em tempo hábil, a

Carta CETESB nO 0716/06/CEA, de 08/06/2006, e foi apenada, em 0.06/2008,

com o Auto de Infração Imposição de Penalidade de Advertência - AUPA n

001558, por infração aos Artigos 28 da Lei Estadual nO9509, de 20/03/1997,

combinado com o Artigo 6°, inciso IV do Regulamento da Lei Estadual nO997,

de 31/05/1976, aprovado pelo Decreto Estadual n° 8468, de 08/09/1976, e suas

alterações, por não ter apresentado a documentação complementar solicitada,

para andamento e apreciação do Processo nO28/00424/05, de solicitação

Licenças Prévia e de Instalação da Estação de Tratamento de Esgotos do

Balneário Santo Antônio, dentro do prazo estabelecido na Carta n°

0716/06/CEA (cópias anexas), tendo sido fixado prazo de 30 (trinta) dias,

contados da ciência do referido AIlPA, para apresentação da citada

complementação, o que não ocorreu até a presente data.(...)

(...) constatou-se que os parâmetros DBO - Demanda

Bioquímica de oxigênio do esgoto sanitário tratado, lançado no Córrego Água

Branca, classe 2, encontrava-se em desacordo com o Artigo 18, Inciso V, do

5

Page 6: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

Regulamento da Lei Estadual na 997/76, aprovado pelo Decreto Estadual na

8468/76 e suas alterações. (...)”

E segundo laudo técnico elaborado pelo DEPRN (fls.

1424/1428 – IC 01/94):

“O bairro está inserido na Zona de Amortecimento da

Unidade de Conservação – Estação Ecológica de Itirapina, criada pelo

Decreto-Lei n22.335, de 07/06/1984 e inserido em Área de Preservação

Permanente - APP, definido pelo Artigo 20, alínea ub", da Lei Federal

nO4.771/65 e a1terada pela Resolução CONAMA 302102.

O 'bairro avança sobre Área de Preservação Permanente (Lei

Federal nO.4.771/65, Artigo 2°, alínea "b" e alterada pela Resolução COfjAMA

302102), ocupando-a com residências, ruas não pavimentadas, passeios

públicos, áreas de lazer, construções comerciais, etc. A área ocupada é de

aproximadamente 2,5 ha.

Não foram constatados que os procedimentos necessários

para obtenção de licenças e autorizações das obras existentes foram adotados.

(...) as ocupações (intervenções) constatadas na Área de Preservação

permanente não são passíveis de regularização , tendo em vista as

possibilidades de alternativas técnicas e locacionais para as estruturas

existentes atualmente na APP.

6

Page 7: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

As intervenções causaram impactos negativo diretos ao meio

físico, devido da supressão da vegetação a qual existia na área que contribuía

para a recarga das águas no "Aqüífero Guarani".

Houve impacto negativo direto ao meio biológico devido à

supressão da flora e retirada do habitat de fauna.

Com base no Decreto Estadual n.49.566 de 25 de abril de

2.005 e na Resolução do CONAMA n. 369 de 28 de março de 2.006 as

edificações existentes na Área de Preservação Permanente não são passíveis de

regularização.”

A área foi, pois, devastada.

Ao que se apurou, assim, há extensa ocupação da área de

preservação permanente por avenidas, por quiosques, por banheiros públicos

dos turistas, por rampas de descida de barcos e/ou jet-skis e por pontes de

madeira para pescadores, bem como por inúmeros lotes com construções.

E, como se vê, até a presente data Administração não dá ao

problema a devida solução, apesar do envolvimento de inúmeras vidas humanas.

Permitiu, pois, por décadas o descontrolado parcelamento

ilegal da área e tolerou o adensamento populacional sem aparatos públicos

adequados. Agiu com negligência por não realizar o poder de policia que lhe

competia, desconsiderando que a área apontada (“Bairro Santo Antônio”)

instalou-se livremente em área de enorme interesse ambiental, degradando solo,

7

Page 8: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

flora e fauna, e especialmente contribuindo severamente para a poluição das

águas da represa, a qual é, como se extrai dos autos, além de área de importância

ambiental ímpar, fonte de água, biodiversidade, turismo e rendas para o

Município e sua população.

Portanto, o Município deverá regularizar o loteamento em

questão adequando-o a Lei de Parcelamento do Solo no que tange às ocupações

até os limites que não avançam sobre áreas de preservação permanente, e

extinguir, retirar, demolir todas as construções, obras ou formas de intervenção

que tenham sido formados na área de preservação permanente no interior do

loteamento e sua adjacências, inclusive nas margens da represa, bem como a

recuperar todas as áreas com danos ambientais, para tanto apresentando plano de

recuperação de área degradada, além de fiscalizar, manter e proteger a área a fim

de evitar novas invasões, construções, obras e desmatamentos, e nela cessar

imediatamente qualquer intervenção.

Deverá, ainda, realizar o adequado projeto de recuperação e

compensação ambiental no que toca a toda área ocupada pelo parcelamento do

solo quanto ao perímetro não abrangido pela área de preservação permanente.

Ressalte-se que a situação aqui enfocada e as medidas

pretendidas assemelham-se às tomadas em loteamentos em similares condições,

destacando-se aqui o julgamento referente ao parcelamento ilegal do solo

formado às margens da “Represa Billings”, na capital paulista, em que o

Município de São Bernardo do Campo foi condenado à obrigação de fazer nos

termos abaixo pretendidos pelo Eg. Tribunal de Justiça de São Paulo (Apelação

Cível n° 066.800-5/2-00), em acórdão posteriormente confirmado pelo Eg.

8

Page 9: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial n. 403.190-

SP (abaixo transcritos).

Anote-se que especificamente com relação à implementação

da Estação de Tratamento de Esgotos já houve propositura de ação civil pública

pelo Parquet, de sorte que esse pedido não integra a presente demanda.

II. FUNDAMENTOS JURÍDICOS.

Deveras, com o propósito de disciplinar o parcelamento do

solo urbano, assim garantindo condições satisfatórias de expansão das cidades e

de habitação à população urbana, editou-se a Lei nº 6.766/79, ali se consignando

os requisitos para que um loteamento seja aprovado, registrado e executado, tais

como medidas mínimas dos lotes, reserva e repasse de áreas para equipamentos

públicos e comunitários para o Município, obrigatoriedade de obras de

arruamento, escoamento de águas pluviais, etc. Leis estaduais e municipais

podem complementar estas exigências, funcionando a lei federal como

parâmetro mínimo a ser observado.

Nos termos de citada legislação, são exigências à execução de

qualquer parcelamento do solo para fins urbanos, dentre as quais se destacam: a)

necessária anuência da autoridade municipal competente em relação ao projeto

do loteamento (art. 12 e 13, parágrafo único, da Lei 6.766/79), observada

também a legislação municipal específica; b) licença prévia, de instalação e de

operação pela CETESB, necessária para a aprovação, implantação e registro de

loteamento ou desmembramento (item 169, Cap. XX, das Normas de Serviço da

Corregedoria Geral da Justiça; art. 2º da Lei 6.766/79), bem como para

9

Page 10: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

ocupação, pois qualquer parcelamento do solo é considerado fonte de poluição

pela legislação estadual, independente do fim a que se destina (art. 5º, parágrafo

único, da Lei Estadual 997/76; arts. 57, inciso X, 58, 58, III e 62, IV, 67 e

seguintes, todos do Decreto Estadual 8.468/76, alterado pelo Decreto Estadual

47.397/02); c) aprovação do GRAPROHAB, nos termos do artigo 5º do Decreto

nº 52.053/07; d) efetivação do registro (art. 18, Lei 6.766/79); e) elaboração de

contrato-padrão contendo cláusulas e condições protetivas ditadas por lei (arts.

25 a 36, Lei 6.766/79); f) estar a gleba situada fora das áreas de risco ou de

proteção ambiental (art. 3º, par. único, Lei 6.766/79), e em zona urbana ou de

expansão urbana, sendo necessária prévia audiência do INCRA, quando houver

a alteração de uso do solo rural para fins urbanos (arts. 3º, caput, e 53, Lei

6.766/79); g) execução de obras de infra-estrutura (art. 18, V, Lei 6.766/79).

O loteamento que se originou com o indevido

desmembramento dos inúmeros lotes, em diversas partes menores, por não

terem projeto de desmembramento e loteamento, e consequentemente,

aprovação deste pelo Município, nem pelos demais órgãos competentes, é

inequivocamente classificado como CLANDESTINO.

Os danos sofridos pelos adquirentes dos lotes são evidentes,

tendo em vista que não podem usufruir dos terrenos para fins de moradia, já que

qualquer edificação será também considerada irregular; os danos ambientais e

urbanísticos, igualmente, foram demonstrados pelo laudo acima referido.

Noutra senda, inegável a responsabilidade do MUNICÍPIO,

pois sempre teve conhecimento dos fatos e do crescimento ilegal do loteamento.

10

Page 11: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

Não obstante, obras no loteamento tiveram continuidade, sem

qualquer outra providência do Município, evidenciando que este tem deixado de

exercer o poder de polícia que lhe compete.

Foi negligente em seu dever de fiscalizar, permitindo, por sua

omissão, que o loteamento permanecesse clandestino até a presente data.

O Município, portanto, deve realizar as obras de

infraestrutura no local, regularizá-lo juridicamente, inclusive junto ao registro de

imóveis, eliminar a possibilidade de danos ambientais dali advindos, e, claro,

evitar que novos parcelamentos ocorram.

Sabe-se que responsabilidade do Município pela

regularização do loteamento é um dever e não uma mera faculdade de agir (art.

40, da lei 6.766/79), sendo uma das fontes adicionais desse dever a omissão na

fiscalização do loteamento e impedimento da implantação de loteamentos

clandestinos.

Aliás, nos estudos contemporâneos de Direito Urbanístico é

firme a tendência de superar a tradicional concepção de que haveria, nesse caso,

simples exercício de faculdade derivada do domínio, para qualificar a

modificação ou a criação de áreas urbanas como uma função pública, atribuída,

essencialmente, ao Município. Por isso se sustenta, na doutrina, que o particular,

quando realiza um loteamento urbano e nele executa obras e serviços de infra-

estrutura, está, em verdade, "em nome próprio, no interesse próprio e às

próprias custas e riscos (...), exercendo uma atividade que pertence ao poder

público municipal, qual seja a de oferecer condições de habitabilidade à

11

Page 12: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

população urbana" (cf. JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Direito Urbanístico

Brasileiro", Ed. Revista dos Tribunais, 1981, págs. 376 e 562-563; em sentido

semelhante: EDUARDO GARCÍA DE ENTERRÍA e LUCIANO PAREJO

ALFONSO, "Lecciones de Derecho Urbanistico", Editorial Civitas, Madrid,

1981, 2ª ed., págs. 113/115 e 172/174; REGINA HELENA COSTA, "Princípios

de Direito Urbanístico na Constituição de 1988", "in" "Temas de Direito

Urbanístico - 2", Editora Revista dos Tribunais, 1991, págs. 118/127; EURICO

DE ANDRADE AZEVEDO, "O Projeto de Lei de Desenvolvimento Urbano", in

"Revista do Advogado", nº 18, julho/85, págs. 36/37).

Se não bastassem os fundamentos versados nos itens

precedentes, há norma legal, impondo ao Município o dever de agir. Estatui, a

respeito, o art. 40, caput, da Lei 6.766/79:

"A Prefeitura Municipal (...), se desatendida pelo loteador a

notificação, poderá regularizar loteamento ou

desmembramento não autorizado ou executado sem

observância das determinações do ato administrativo de

licença, para evitar lesão aos seus padrões de

desenvolvimento urbano e na defesa dos direitos dos

adquirentes de lotes". (negritei)

A Lei nº 6.766/79 estipula que, para execução das obras

exigidas por legislação municipal, que incluirão, no mínimo, a execução das vias

de circulação do loteamento, demarcação dos lotes, quadras e logradouros e das

obras de escoamento das águas pluviais deverá, no ato do registro, ser

apresentada cópia do ato de aprovação do loteamento e comprovante do termo

12

Page 13: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

de verificação pela Prefeitura Municipal ou, aprovação de um cronograma, com

a duração máxima de quatro anos, acompanhado de competente instrumento de

garantia para a execução das obras (Redação dada pela Lei nº 9.785, 29.1.99)

Em interessante estudo sobre as licenças urbanísticas, LÚCIA

VALLE FIGUEIREDO argumenta que, no âmbito da Lei 6.766/79, por lhes

incumbir a fiscalização de todo o parcelamento do solo, há "obrigatoriedade de

as municipalidades procederem as obras de infra-estrutura, se estas não forem

realizadas pelo loteador" (cf. "LICENÇAS URBANÍSTICAS", in "Revista de

Direito Público", volumes 57-58, págs. 222 a 232, especialmente págs. 223-

224). Continua dizendo a ilustre Professora que: "Quem deixou de exercer

adequada fiscalização, deverá proceder as obras de infra-estrutura. Os

problemas atinentes a essas obras não dizem respeito aos adquirentes dos lotes.

Sequer teriam esses possibilidades de levar a efeito referidas obras. Não será o

particular que deverá arcar com qualquer ônus. E muito menos não conseguir

ver regularizada sua construção porque o loteamento passa a ter a conotação

de loteamento clandestino ou por não ter licença, ou por ter execução

desconforme com a licença outorgada. O particular nada tem a ver com a

omissão do Poder Público" (cf. ob. e loc. cit., pág. 224; em sentido semelhante:

NARCISO ORLANDI NETO, "Os Loteamentos Irregulares e sua

Regularização", "in" "Revista do Advogado", AASP, nº 18, julho/85, págs.

14/15).

Deixando de fiscalizar as obras no loteamento, a Prefeitura

desrespeitou o contido no art. 30, VIII da Constituição da República, que

estabelece que compete ao Município "promover, no que couber, adequado

13

Page 14: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do

parcelamento e da ocupação do solo urbano....".

Portanto, a ausência de fiscalização, bem como a omissão da

exigência do respectivo projeto de loteamento e desmembramento, ocorreu a

falta do exercício do dever de polícia, acarretando para a Municipalidade a

obrigação de regularizar o loteamento, realizando as obras faltantes.

Noutro giro, a responsabilidade do requerido pelo dano

ambiental é de ordem objetiva, de sorte que o poluidor/predador tem de cessar

imediatamente a conduta nociva e, ainda, a obrigação de recuperar e/ou

indenizar os danos causados, nos termos do artigo 14, parágrafo 1º, da Lei

6938/81 e artigo 225, parágrafo 3º da Constituição Federal1.

A área atingida (Represa do Broa), localizada no município de

Itirapina, está inserida na Área de Proteção Ambiental - APA Corumbataí

(fls. 806– IC 28/07).

A proteção jurídica do meio ambiente tem raízes

constitucionais em comandos imperativos, pois enuncia o artigo 225 da Carta da

República que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

1 Lei 6938/81, Art. 14, § 1º: Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. CF, artigo 225, § 3º: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

14

Page 15: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

lo para as presentes e futuras gerações.” E o parágrafo 1º do mesmo artigo

enuncia que para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder

Público “(I) - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover

o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;” e “(VII) - proteger a fauna e

a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função

ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a

crueldade”.

O caso dos autos, mudando o que deve ser mudado, é por

demais similar ao parcelamento ilegal do solo formado às margens da “Represa

Billings”, na capital paulista.

Em referido case o Município de São Bernardo do Campo foi

condenado à obrigação de fazer - nos termos abaixo pretendidos - pelo Eg.

Tribunal de Justiça de São Paulo (Apelação Cível n° 066.800-5/2-00), em

acórdão posteriormente confirmado pelo Eg. Superior Tribunal de Justiça

(Recurso Especial n. 403.190-SP), valendo destacar, pois, as ementas de ambos

por conterem lições inteiramente aplicáveis à espécie:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO DO MEIO

AMBIENTE. OBRIGAÇÃO DE FAZER. MATA

ATLÂNTICA. RESERVATÓRIO BILLINGS.

LOTEAMENTO CLANDESTINO. ASSOREAMENTO DA

REPRESA. REPARAÇÃO AMBIENTAL.

1. A destruição ambiental verificada nos limites do

Reservatório Billings – que serve de água grande parte da

15

Page 16: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

cidade de São Paulo –, provocando assoreamentos, somados à

destruição da Mata Atlântica, impõe a condenação dos

responsáveis, ainda que, para tanto, haja necessidade de se

remover famílias instaladas no local de forma clandestina, em

decorrência de loteamento irregular implementado na região.

2. Não se trata tão-somente de restauração de matas em

prejuízo de famílias carentes de recursos financeiros, que,

provavelmente deixaram-se enganar pelos idealizadores de

loteamentos irregulares na ânsia de obterem moradias mais

dignas, mas de preservação de reservatório de abastecimento

urbano, que beneficia um número muito maior de pessoas do

que as residentes na área de preservação. No conflito entre o

interesse público e o particular há de prevalecer aquele em

detrimento deste quando impossível a conciliação de ambos.

3. Não fere as disposições do art. 515 do Código de Processo

Civil acórdão que, reformando a sentença, julga procedente a

ação nos exatos termos do pedido formulado na peça

vestibular, desprezando pedido alternativo constante das

razões da apelação.

4. Recursos especiais de Alberto Srur e do Município de São

Bernardo do Campo parcialmente conhecidos e, nessa parte,

improvidos.” (STJ: RECURSO ESPECIAL Nº 403.190 - SP

(2001/0125125-0) RELATOR : MINISTRO JOÃO

OTÁVIO DE NORONHA )

16

Page 17: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA: 1) Loteamento clandestino em

região de proteção da Mata Atlântica e de mananciais da

Represa Billings - Alienação de imóvel a adquirente com

objetivo declarado e exclusivo de loteamento - Alienante com

pleno conhecimento da ilegalidade do loteamento, quando da

alienação da área Conseqüência ilegal assumida

Responsabilidade por intermédio de ato de terceiro - Nexo de

causalidade configurado; 2) Responsabilidade também da

empresa que realizou trabalhos de abertura de ruas sem prévia

aprovação de projeto pela Prefeitura e sem os menores

cuidados técnicos; 3) Aplicação do art. 1o, I e 11, da Lei

Municipal n. 1.409/80 e Lei n. 6.938/81; 4) Responsabilidade

do Poder Público Municipal, resultante de irrecusável

inércia ao não coibir indevida devastação ambiental -

Apelação provida e reforma da sentença - Condenação dos

réus à restauração da área, ao estado anterior, com

completa recomposição do complexo ecológico atingido,

demolição das edificações realizadas, recomposição da

superfície do terreno, recobrimento do solo com vegetação,

desassoreamento dos córregos e demais providências a

serem indicadas em laudo técnico de reparação dos danos

ambientais - 5) Imposição de pagamento de quantia suficiente

no caso de descumprimento da obrigação de reparação dos

danos no prazo estabelecido – Apuração por liquidação; 6)

Condenação solidária ao pagamento de custas e despesas

processuais, observadas as isenções de que goza a ré Poder

Público; 7) Apelação do Ministério Público provida” (TJSP -

17

Page 18: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

APELAÇÃO CÍVEL n° 066.800-5/2-00, da Comarca de

SÃO BERNARDO DO CAMPO – Relator: Sidney Beneti).

III – LIMINAR

Além do poder geral cautelar que a lei processual estabelece

(CPC, arts. 798 e 799), o Código de Defesa do Consumidor autoriza o

Magistrado determinar liminarmente medidas que assegurem o resultado prático

da obrigação a ser cumprida (art. 84, CDC). Tais regras são aplicáveis a

qualquer ação civil pública que tenha por objeto a defesa de interesse difuso,

coletivo ou individual homogêneo (art. 21, da Lei de Ação Civil Pública, com a

redação dada pelo art. 117, do Código de Defesa do Consumidor).

No presente caso, é imperiosa a concessão da liminar com

esse conteúdo tutelar preventivo.

Os requisitos da liminar estão presentes, uma vez que a

ilegalidade da conduta do requerido se encontra demonstrada de plano, pois não

sendo aprovado o parcelamento do solo é proibido o início, ou continuação das

obras, a alienação e a ocupação dos lotes (Lei 6.766/79, arts. 2º, "caput", 3º,

"caput", 12, 13, 18, 37), assim como é indevida a permanência da ocupação em

áreas de preservação permanente.

Flagrante, ainda, que os fatos narrados no decorrer desta

inicial exigem, em razão do perigo da demora processual, um provimento

jurisdicional emergencial, não sendo razoável continuar a sujeitar a comunidade,

18

Page 19: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

até o provimento jurisdicional definitivo, aos efeitos deletérios já mencionados,

decorrendo sérios riscos quanto aos resultados úteis da presente demanda.

E não é correto, claro, deixar que o meio ambiente sofra com

as conseqüências de um adensamento populacional que produz esgoto, detritos e

demais formas de poluição, no caso produzindo enorme dano diário.

Em resumo: as constantes alienações de lotes, a despeito dos

vícios do loteamento, evidenciam o risco de que haja crescente ocupação da

área, imprestável ao aproveitamento ali projetado, afetando de forma irreversível

os padrões urbanísticos e o meio ambiente. Há inegavelmente, necessidade de

tutela jurisdicional antecipada para impedir que a área continue sendo

ilegalmente ocupada, dotada de precários equipamentos urbanos, com a

edificação de moradias sem cuidados técnicos, necessários para impedir a

degradação do meio ambiente e para preservar a segurança e a saúde de seus

habitantes. Afinal, a ocupação do solo, por loteamento clandestino, constitui-se

em fonte de poluição por acarretar inevitável produção e despejo de resíduos

domésticos (esgoto, p.ex.) sem tratamento.

Assim, requer-se a concessão de liminar independentemente

de justificação prévia e de oitiva da parte contrária, para o fim de impor ao

requerido que:

1. realize um cabal levantamento do loteamento em questão,

identificando quais lotes foram ilegalmente e de fato parcelados, e quais

se encontram com construções ou em situação irregular perante a

Prefeitura;

19

Page 20: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

2. determine ao requerido que exerça seu poder de polícia e tome todas

as providências para impedir imediatamente novos parcelamentos ilegais

do solo e construções ilegais no local, sugerindo-se ao Juízo que, em seu

poder de cautela, imponha ao requerido a obrigação de proceder ao

menos mensalmente a fiscalização da área e, se constatadas novas

subdivisões indevidas, tome as providências legais para evitá-la,

inclusive com embargo da obra, demonstrando a cada 30 dias o resultado

das diligências e as providências que tomou nestes autos;

3. tendo em vista a constante ocorrência de incalculáveis danos

ambientais na Área de Proteção Ambiental - APA Corumbataí, o que

deve ser cessado o mais rápido possível, bem como não sendo razoável

aguardar-se muitos anos até o final da presente, determine ao requerido

que: 3.1) apresente em 180 dias um projeto de recuperação da área de

preservação permanente do loteamento (plano de recuperação de área

degradada), incluindo aí toda área no entorno da represa naqueles

limites, o qual deve contemplar restauração da área ao estado anterior,

com completa recomposição do complexo ecológico atingido, demolição

das edificações realizadas, recomposição da superfície do terreno,

recobrimento do solo com vegetação e demais providências a serem

indicadas em laudo técnico de reparação dos danos ambientais. Tal

projeto deve contemplar também toda a compensação e recomposição

ambiental no que toca aos danos provocados pelo loteamento também

fora das áreas de preservação permanente. 3.2) cesse imediatamente toda

e qualquer intervenção em área de preservação permanente, promovendo

medidas fiscalizatórias também para impedir que terceiros o façam.

20

Page 21: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

O projeto mencionado deverá ser submetido a CETESB e a

entidade administradora da APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, para a sua

aprovação. Este deverá contemplar todas as medidas de recuperação das áreas

degradadas, comprovadamente fundamentado em um diagnóstico ambiental, que

contemple um levantamento detalhado da flora e fauna presentes e/ou que fazem

uso da área, com as espécies protegidas que constam no Decreto Estadual N.o

42.838/98 e/ou na Portaria AMA N.o 1.522/89, assim como uma avaliação dos

impactos para identificar e qualificar os danos ambientais já efetivados e os

impactos futuros, estabelecendo a distinção entre os que devem ser recuperados

e os que devem ser compensados. O projeto deverá ser ilustrado com plantas

topográficas georreferenciadas em escala compatível, indicando as áreas de

lotes, ruas, áreas construídas e espaços livres de uso público, antes e depois do

desmembramento. A situação atual deverá ser também ilustrada com os

remanescentes da vegetação com sua tipificação, as áreas desmatadas, as áreas

impermeabilizadas, as áreas de preservação permanente, e as áreas com processo

erosivos.

4. inicie à implantação dos projetos referidos no item anterior

imediatamente após aprovação, nos prazos em que a CETESB

estabelecer, ou, em sua falta, oportunamente, em prazos estipulados pelo

Juízo;

5. não aprove projetos de construção que não tenham a prévia

aprovação da CETESB e representante da entidade administradora da

APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, que analisarão questões como

desmatamento, área impermeabilizada e esgotamento sanitário;

21

Page 22: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

Para eventualidade de não cumprimento das obrigações de

fazer postuladas, requer-se, nos termos do artigo 273, parágrafo 3° e do artigo

461, parágrafo 4°, ambos do Código de Processo Civil, que seja fixada multa

diária equivalente a dois salários mínimos por dia de atraso, com a incidência da

correção monetária correspondente no momento do pagamento (art. 11 da Lei nº

7347/85), sem prejuízo da execução de obrigação de fazer, nos termos do artigo

632 e seguintes do Código de Processo Civil e das medidas de natureza criminal

cabíveis. No caso do item “2” acima, em sendo constatados novos

parcelamentos ilegais do solo ou obras irregulares após a concessão da liminar,

requer-se seja a multa fixada em 20 salários mínimos por caso verificado.

IV - PEDIDOS FINAIS

Diante de todo o exposto, requer o Ministério Público a

citação de MUNICÍPIO DE ITIRAPINA, com a faculdade do art. 172, parágrafo

2.°, do Código de Processo Civil) para, querendo, contestar o pedido, sob pena

de revelia e confissão, seguindo a presente ação o rito ordinário e, ao final, a

integral PROCEDÊNCIA da pretensão inicial, condenando-os:

1. A cumprir, em caráter definitivo, os pedidos formulados em sede de

liminar, que ficam reiterados na integra, mantendo-se, para o caso de

descumprimento da sentença, as multas mencionadas, com a incidência

da correção monetária correspondente no momento do pagamento (art.

11 da Lei nº 7.347/85), sem prejuízo da execução judicial e das medidas

de natureza criminal que a desobediência implicar, ou seja, para que o

requerido:

22

Page 23: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

1.1. realize um cabal levantamento do loteamento em questão,

identificando quais lotes foram ilegalmente e de fato parcelados, e quais

se encontram com construções ou em situação irregular perante a

Prefeitura;

1.2. exerça seu poder de polícia e tome todas as providências para

impedir imediatamente novos parcelamentos ilegais do solo e

construções ilegais no local, sugerindo-se ao Juízo que, em seu poder de

cautela, imponha ao requerido a obrigação de proceder ao menos

mensalmente a fiscalização da área e, se constatadas novas subdivisões

indevidas, tome as providências legais para evitá-la, inclusive com

embargo da obra, demonstrando a cada 30 dias o resultado das

diligências e as providências que tomou nestes autos;

1.3. apresente em 180 dias um projeto de recuperação da área de

preservação permanente do loteamento (plano de recuperação de área

degradada), incluindo aí toda área no entorno da represa naqueles

limites, o qual deve contemplar restauração da área ao estado anterior,

com completa recomposição do complexo ecológico atingido, demolição

das edificações realizadas, recomposição da superfície do terreno,

recobrimento do solo com vegetação e demais providências a serem

indicadas em laudo técnico de reparação dos danos ambientais. Tal

projeto deve contemplar também toda a compensação e recomposição

ambiental no que toca aos danos provocados pelo loteamento também

fora das áreas de preservação permanente.

23

Page 24: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

1.4. cesse imediatamente toda e qualquer intervenção em área de

preservação permanente, promovendo medidas fiscalizatórias também

para impedir que terceiros o façam.

(O projeto mencionado deverá ser submetido a CETESB e a entidade

administradora da APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, para a sua

aprovação. Este deverá contemplar todas as medidas de recuperação das

áreas degradadas, comprovadamente fundamentado em um diagnóstico

ambiental, que contemple um levantamento detalhado da flora e fauna

presentes e/ou que fazem uso da área, com as espécies protegidas que

constam no Decreto Estadual N.o 42.838/98 e/ou na Portaria AMA N.o

1.522/89, assim como uma avaliação dos impactos para identificar e

qualificar os danos ambientais já efetivados e os impactos futuros,

estabelecendo a distinção entre os que devem ser recuperados e os que

devem ser compensados. O projeto deverá ser ilustrado com plantas

topográficas georreferenciadas em escala compatível, indicando as áreas

de lotes, ruas, áreas construídas e espaços livres de uso público, antes e

depois do desmembramento. A situação atual deverá ser também

ilustrada com os remanescentes da vegetação com sua tipificação, as

áreas desmatadas, as áreas impermeabilizadas, as áreas de preservação

permanente, e as áreas com processo erosivos.)

1.5. inicie à implantação dos projetos referidos no item anterior

imediatamente após aprovação, nos prazos em que estabelecer, ou, em

sua falta, oportunamente, em prazos estipulados pelo Juízo;

1.6. não aprove projetos de construção que não tenham a prévia

aprovação da CETESB e representante da entidade administradora da

24

Page 25: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, que analisarão questões como

desmatamento, área impermeabilizada e esgotamento sanitário;”.

2. na obrigação de fazer, consistente na regularização total do loteamento

nas partes ambientalmente viáveis, ou seja, fora das áreas de preservação

permanente ou consideradas intocáveis pela legislação ambiental ,

adequando-o aos ditames da Lei nº 6.766/79 e demais normas

pertinentes, no prazo de dois anos, inclusive no que tange a toda infra-

estrutura exigida, nos exatos termos do art. 18, V, Lei 6.766/79;

3. caso se verifique a inviabilidade técnica ou jurídica da regularização

do loteamento, desfazimento do loteamento ilegal, restaurando-se as

glebas ao seu estado primitivo, no prazo de 180 dias, sob pena de

pagamento de multa diária, de 1/3 (um terço) do salário mínimo

nacional, retirando do local todos os vestígios do parcelamento,

notadamente marcos de quadras, lotes, vias de circulação e edificações já

existentes;

4. a indenizar, recompor e compensar os danos urbanísticos e ambientais

verificados e eventualmente não contemplados nos projetos referidos

retro, situados na Área de Proteção Ambiental - APA Corumbataí

ocasionados pela execução do loteamento, o que será apurado em

oportuna liquidação e de acordo com lauto técnico, se o caso;

5. condenar o requerido, caso não cumpram a obrigação de reparação dos

danos no prazo estabelecido, a pagar quantia suficiente, a ser apurada em

liquidação em razão da execução das obras referidas, por terceiro

(podendo este ser órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente);

25

Page 26: ACP Itirapina Broa Desmembramento (SIS DIFUSOS 41 305 048 2010 3 MA)

6. ao pagamento das verbas de sucumbência (custas, honorários etc.);

As multas porventura incidentes deverão ser atualizadas

monetariamente pelos índices oficiais e recolhidas ao Fundo Estadual de

Reparação de Interesses Difusos Lesados (Decreto Estadual n. 27.070.87; art. 13

da Lei n. 7.347/85).

Requer, ainda: a) a produção de todas as provas admitidas em

Direito, notadamente documentos, depoimento pessoal dos réus, sob pena de

confissão, oitiva de testemunhas, realização de perícias e inspeções judiciais; b)

a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos (Lei

7.347/85, art. 18; C.D.C., art. 87).

Termos em que, dando-se à causa o valor de R$1.000,00 (mil

reais), para efeitos meramente legais, D.R. e A. esta com os inclusos

documentos.

P. Deferimento.

Itirapina, 15 de julho de 2010.

NEANDER ANTÔNIO SANCHES

Promotor de Justiça - Auxiliando

26