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12/12/2005 ACP Telefonia Celular Ação Civil Pública - telefonia móvel celular - rescisão contratual - obrigação de disponibilizar meios - LIMINAR ACP Telefonia Celular EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___VARA CÍVEL DA COMARCA DE GOIÂNIA - ESTADO DE GOIÁS. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, ora representado pelos Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor, infra-assinados e que recebe intimações de estilo, pessoalmente, na Rua 23 esq. c/ Av. B, qd. 06, lts. 15/24, Jardim Goiás, Sala T-29/31, nesta, com fundamento no artigo 129, II, III e IX da Constituição Federal, somado aos artigos 1º, II, 2º, 3º, 5º, caput, e 11, da Lei Federal 7.347, de 24.07.85, que disciplina a Ação Civil Pública, e, ainda, nos artigos 81, parágrafo único, incisos I, II e III; 82, I; 83; 87 e 91 do Código de Defesa do Consumidor – CDC – (Lei 8.078, de 11.09.90), propõe a presente 1

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12/12/2005

ACP Telefonia Celular

Ação Civil Pública - telefonia móvel celular - rescisão contratual - obrigação de

disponibilizar meios - LIMINAR

ACP Telefonia Celular

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___VARA

CÍVEL DA COMARCA DE GOIÂNIA - ESTADO DE GOIÁS.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, ora

representado pelos Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor, infra-assinados e

que recebe intimações de estilo, pessoalmente, na Rua 23 esq. c/ Av. B, qd. 06, lts.

15/24, Jardim Goiás, Sala T-29/31, nesta, com fundamento no artigo 129, II, III e IX da

Constituição Federal, somado aos artigos 1º, II, 2º, 3º, 5º, caput, e 11, da Lei Federal

7.347, de 24.07.85, que disciplina a Ação Civil Pública, e, ainda, nos artigos 81,

parágrafo único, incisos I, II e III; 82, I; 83; 87 e 91 do Código de Defesa do

Consumidor – CDC – (Lei 8.078, de 11.09.90), propõe a presente

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, INAUDITA ATERA PARS

contra:

AMERICEL S/A - CLARO - REGIÃO CENTRO OESTE, pessoa jurídica de

direito privado, localizada na Rua 11 nº 250, Centro, (ao lado do Jóquei Clube) Goiânia-

Go, CEP: 74.465-539, Goiânia- GO, Fone: 0800-363636, CNPJ: 01.685.9036/0006-20,

Inscrição Estadual: 10.297008-4;

BRASIL TELECOM CELULAR S/A-BRASIL TELECOM GSM, pessoa jurídica

de direito privado, localizada na BR 153, KM 6, Vila Redenção, CEP: 74845-090,

Fone: 0800-6421414, CNPJ: 05.423963/0004-64, Inscrição Estadual: 10.359.292-0;

TELEGOIÀS CELULAR S/A - VIVO, pessoa jurídica de direito privado, localizada

na Rua 136-C, quadra F-44, nº 150 Setor Sul, CEP: 74.093-280, Goiânia-Go, telefone:

(0**62)545-5492/ (0**62)545-5493, CNPJ: 02.341.506/0001-90, Inscrição Estadual:

10.30.15.06/000-19.

TIM CELULAR CENTRO SUL S.A - TIM, pessoa jurídica de direito privado,

localizada na Av. Republica do Líbano, n° 1551, Qd. D-1 Lt 6/8, Ed. Vanda Pinheiro,

Goiânia, Goiás, CNPJ: 04.206.050/0052-20, Inscrição Estadual: 10.348691-7, Fone:

(62)4013-7150, pelos fundamentos de fato e de direito, deduzidos conforme índice

abaixo:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, INAUDITA ATERA PARS .......................................................................... 2

1. DO OBJETIVO DA AÇÃO ....................................................................................... 3

2. DOS FATOS ................................................................................................................. 4

3. DA RELAÇÃO DE CONSUMO ............................................................................... 7

4. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL .................................................. 8

5. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO .............................. 10

6. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS ...................................................................... 13

6.1. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS CONSTITUCIONAIS ........................... 13

6.2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS INFRACONSTITUCIONAIS .............. 14

6.2.1. DA VIOLAÇÃO A NORMAS DO CÓDIGO DO CONSUMIDOR .............. 15

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6.2.2. DA VIOLAÇÃO A NORMAS DA LEI DE CONCESSÕES .......................... 16

6.2.3. DA VIOLAÇÃO A NORMAS DA LEI GERAL DE TELECOMUNICAÇÕES E NORMAS REGULAMENTARES .............................. 17

7. DOS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DO EQUILÍBRIO CONTRATUAL ........... 18

8. DO DANO MORAL COLETIVO. .......................................................................... 21

9. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA ............................................................... 23

10. DAS POSSÍVEIS FORMAS DE RESCISÃO DO CONTRATO PELO CONSUMIDOR ............................................................................................................ 24

10.1. DO CANCELAMENTO POR CARTA COM AVISO DE RECEBIMENTO (AR). ................................................................................................................................ 25

10.2. DO CANCELAMENTO ATRAVÉS DAS CENTRAIS TELEFÔNICAS, COM NÚMERO DO PROTOCOLO. ......................................................................... 26

10.3. DO CANCELAMENTO ATRAVÉS DA INTERNET ...................................... 27

10.4. DO CANCELAMENTO VIA DE ATENDIMENTO PESSOAL .................... 28

11. DA NECESSIDADE DA TUTELA LIMINAR ..................................................... 29

12. DOS PEDIDOS EM SEDE DE LIMINAR ........................................................... 35

13. DOS PEDIDOS DE MÉRITO ................................................................................ 35

14. DOS REQUERIMENTOS ...................................................................................... 38

1. DO OBJETIVO DA AÇÃO

O objetivo da presente ação é defender o direito de milhares de consumidores

que firmaram contratos de prestação de serviço com as operadoras rés ou venham a

firmar, no sentido de que lhes sejam disponibilizadas formas efetivas de rescisão

contratual (cancelamento de assinatura), quais sejam:

I – Carta com aviso de recebimento;

II – Auto-atendimento, via centrais telefônicas;

III – Auto-atendimento, via internet; e

III – Atendimento pessoal, nas lojas e postos de atendimento.

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2. DOS FATOS

A privatização dos serviços de telecomunicações, através da Emenda

Constitucional nº 8, de 15/08/95, mudou o panorama nacional. A telefonia móvel

celular, com a edição da lei 9.295/96, que permitiu, via de licitação, o ingresso de

diversas outras operadoras no mercado, passou a ser o ramo mais competitivo do setor.

Essa nova realidade trouxe mais eficiência. Enormes benefícios advieram aos

consumidores. A abertura do mercado para o capital privado obrigou as antigas estatais

e as novas empresas que se instalavam a investimento vultosos. Com isto, houve um

aumento significativo na escala de produção de aparelhos e no oferecimento de novos

serviços atrelados a menores preços, numa ampla disputa pelo interesse dos

consumidores.

No entanto, surgiram também problemas antes desconhecidos. É o caso, por

exemplo, das dificuldades encontradas hoje pelos assinantes que pretendem cancelar a

assinatura ou solicitar a dispensa de determinado serviço. Os obstáculos são tantos que

o usuário desiste da pretensão ou procura solução junto a órgãos administrativos ou

judiciais de defesa do consumidor, abarrotando todas as instâncias com um volume

enorme de trabalho, facilmente evitável.

Face a essa quantidade de reclamações, a Superintendência Estadual de

Proteção aos Direitos do Consumidor – Procon/GO, remeteu a este Ministério Público,

para as providências processuais cabíveis, volumoso calhamaço de procedimentos

instaurados contras as operadoras de telefonia móvel local, acima nominadas, versando

sobre o tema (conforme orienta o art. 3o, inciso VI, do Decreto 2.181/97, que dispõe

sobre a organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor – SNDC e

estabelece as normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas no

CDC).

Vale aqui destacar, a título de exemplo, o teor das reclamações, na parte que

concerne ao objeto da presente ação, todas no mesmo sentido:

Reclamante: Antônio Alves Bezerra

Reclamada: Americel S/A – Claro

"Em julho de 2004, o reclamante alega procurar por

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diversas vezes a Reclamada para fazer o cancelamento da linha e não consegue. O Atendimento ao PROCON via 0800 036 3636 não foi frutífero, pois alegam sempre: ou o sistema está fora do ar, ou deixa na espera até cair a ligação"... (fls. 1814).

Reclamante: Claudston dos Santos

Reclamada: Brasil Telecom

"... Como tentou resolver seu problema na loja e não foi possível, decidiu fazer o cancelamento da linha que só pode ser feito pelo 0800, mas o número não atende, o consumidor está tentando desde o dia 10/11/2004". (fls. 2044).

Reclamante: Verli José de Oliveira

Reclamada: Telegoiás Celular – Vivo

O RECLAMANTE acima identificada é possuidor da linha telefônica 062-99684577 pós, vem solicitando o cancelamento desta linha por aproximadamente vinte(20) dias, foi feito também uma solicitação via telefônica pelo PROCON no dia 22/10/2004, mas o serviço não foi efetivado com a resposta que o serviço da VIVO está inoperante ou os ramais estão ocupados, sendo que o consumidor já ficou aguardando em uma ligação por 20 min.

O RECLAMANTE procurou o PROCON por não conseguir depois de várias tentativas cancelar um serviço com a VIVO, foi feito uma ligação para o 1404 falando com os atendentes MATEUS, MARCIO FERNANDES, IVAN e LEILA que respondeu que ligaria para o consumidor em 48 horas para efetivar o serviço, que novamente o serviço está inoperante, mas o consumidor não acredita, pois esta resposta ele já obtivera por várias outras vezes. (fls. 182).

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Reclamante: Alien Almeida Lobo

Reclamada: Tim

“Tenho tentado cancelar minha conta junto a empresa TIM há vários dias. Nas lojas da empresa em Goiânia fui informada de que somente a central pode realizar o cancelamento. Todavia, quando a atendente é informada que o serviço é de cancelamento de conta passam a transferir a ligação de um para outro, até que informam que o sistema está inoperante, fora do ar, ocupado, ou seja, nunca realizam o cancelamento.” ... (fls. 1470).

Trata-se de problema que vem se arrastando, sem que nenhuma solução

satisfatória seja dada. As concessionárias, ao que todos dizem, e com razão, não

demonstram qualquer interesse em atender à solicitação do usuário, especialmente

daquele que pretende cancelar sua assinatura ou dispensar qualquer serviço que lhes

gere receita.

De fato, em procedimento anteriormente instaurado nesta Promotoria, em que a

questão debatida era exatamente esta, o reclamante dizia-se inconformado porque

estivera pessoalmente na loja de atendimento da concessionária da qual era assinante

para pedir o cancelamento de sua assinatura, mas não foi atendido porque, segundo lhe

disseram, tal solicitação só poderia ser feita através da Central de Relacionamento com

o Cliente, o que lhe trouxe enormes aborrecimentos porque não conseguia concretizar

seu pedido e, quando conseguiu, lhe recusaram a informar sequer que o pedido havia

sido registrado e o número de tal registro (fls. 2.417).

A empresa reclamada, aqui terceira ré, como sempre acontece, limitou-se a

dizer que "os serviços prestados pela Operadora através de sua Central de

Relacionamento com Cliente (código 1404) são automatizados, com execução "on

line"", e que "a operação fica registrada no sistema através de um número de protocolo,

contendo o nome do cliente, o dia e a hora em que o serviço foi executado" (fls. 2.418).

A Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel, instada a se pronunciar,

dentro de suas atribuições como órgão normatizador e fiscalizador do sistema, em

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resposta que demorou quase quatro meses, dada em setembro de 2004, concluiu que a

reclamação era procedente e expediu ofício circular a todas as operadoras (Ofício

Circular no 545/2004/PVCPC), solicitando-lhes que passassem "a emitir documento

comprobatório do cancelamento do Contrato de Prestação do SMP". (fls. 2.435).

É público e notório que nada melhorou em face dessa providência adotada, tanto

é que algum tento depois, em março deste ano (doc. 1 fls. 2.494), o presidente da

agência (Anatel), Elifas Gurgel do Amaral, fez declaração que consta no site oficial,

onde diz que "o clamor da sociedade é muito forte; algo não está certo e precisa ser

melhorado". Diz, ainda, "não é suportável para o usuário que, ao tentar cancelar um

contrato, fique 40 minutos ao telefone, digite uma seqüência de números – isso é

inaceitável", conclui.

O número de reclamações, segundo registros da Anatel, aumenta de forma

alarmante. De janeiro de 2004 a janeiro de 2005, cresceu 41%; passou de 18.243 mil

para 25.726, em nível nacional.

De fato, alguma coisa precisa (e pode) ser feita, imediatamente, como se vê dos

requerimentos finais.

3. DA RELAÇÃO DE CONSUMO

Relação jurídica – segundo leciona o Prof. Roberto Senise Lisboa1 – "é o vínculo

ou liame de direito estabelecido entre duas partes através do qual se viabiliza a

transmissão provisória ou permanente de algum bem. A relação jurídica é uma realidade

invisível, cujos efeitos são delimitados pelo ordenamento jurídico. Sua característica

fundamental é a bipolaridade, ou seja, a existência de duas partes que se vinculam

voluntária ou forçosamente, conforme a norma jurídica".

Daí, pois, certo que a relação jurídica em causa caracteriza-se como relação

jurídica de consumo e, como tal, está sujeita a todas as normas e princípios

estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor - CDC.

Com efeito, consumidor, por definição legal, (art. 2°/CDC e seu parágrafo único)

"é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como

1 LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de consumo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 121/122.

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destinatário final", bem como "a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis,

que haja intervindo nas relações de consumo", ao passo que fornecedor (art. 3°) "é toda

pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os

entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,

construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de

produtos ou prestação de serviços".

Seguindo ainda a conceituação legal (art. 3o, § 1o) "produto é qualquer bem,

móvel ou imóvel, material ou imaterial", e, serviço, "qualquer atividade fornecida no

mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,

financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter

trabalhista" (§ 2o ).

Trata-se, portanto, in caso, de inquestionável relação de consumo.

4. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

O Art. 93 e incisos I e II do CDC, a exemplo do que já dispunha a Lei das

Ações Civis Públicas, Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, preceitua que, ressalvada a

competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça do lugar onde

ocorreu o dano, quando de âmbito local, e a da Capital do Estado ou do Distrito Federal,

quando se tratar de danos de âmbito nacional ou regional. Verbis:

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Portanto, o foro desta Capital é competente para o julgamento da presente

demanda, como bem já decidiu o e. Tribunal de Justiça de Goiás, em questão idêntica,

como abaixo se vê da ementa colacionada.

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Ementa:"AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCESSIONARIA DE SERVICO PUBLICO FEDERAL. COMPETENCIA DA JUSTICA ESTADUAL. Tratando-se de demanda onde uma das partes em litígio e concessionária de serviço publico federal, a competência para processar e julgar o feito e da justiça estadual, ainda mais quando o fato gerador tratar de defesa de interesses difusos e coletivos de consumidores. agravo de instrumento conhecido e provido, para reconhecer a competência da justiça estadual. decisão unânime." Decisão:" Acordam os componentes da Segunda Turma Julgadora da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, a unanimidade de votos, em conhecer do presente agravo e o prover, nos termos do voto do relator, proferido na assentada do julgamento e que a este se integra. custas de lei." Origem:2a Câmara Cível.fonte.:DJ 14354 de 16/09/2004 livro: 112 Acórdão: 24/08/2004. Relator: Des. Alfredo Abinagem Recurso:36436-0/180 - Agravo de Instrumento Processo:200400032982. Comarca: Goiânia. Partes: Agravante: Ministério Publico. Agravado:Empresa de Telefonia Móvel Claro.

Também, no mesmo sentido, cita-se:

“Tratando-se de sociedade de economia mista estadual concessionária do serviço público federal, a competência, no caso, é da justiça estadual para processar e julgar o feito”. (AI nº 24.949. de Goiânia, in DJE nº 13.730, de 01/03/2002, Relator Des. Air Borges de Almeida)

“Compete à Justiça Estadual processar e julgar as ações em que figure como parte sociedade de economia mista concessionária do serviço público federal. (AI nº 22.425, de Anápolis, in DJE nº 13.530, de 27/04/01, Relato Des. Rogério Arédio Ferreira".

Daí, como dito acima, trata-se de questão da competência da Justiça Estadual,

inquestionavelmente.

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5. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade ativa do Ministério Público, no caso, é incontroversa. De

fato, a Constituição Federal, diz que "O Ministério Público é instituição permanente,

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,

do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis" (Art. 127),

devendo, assim, "promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos" (Art. 129-III), bem como "exercer quaisquer outras funções que lhe forem

conferidas, desde que compatível com a sua finalidade" (Art. 129-IX).

O Código de Defesa do Consumidor, a teor do disposto no art. 82-I, legitima o

Ministério Público para o exercício da defesa coletiva dos consumidores sempre que se

tratar de interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, assim

entendidos (art. 81, parágrafo único, incisos I, II e III):

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I –interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – interesses individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei no. 8.625, de 12 de fevereiro

de 1993, no que foi seguida pela Lei Complementar no. 752, de 20 de maio de 1993, que

2 Art. 6o, inciso VII, letras C e D.

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dispõe sobre o Ministério Público da União, aplicável subsidiariamente aos Ministérios

Públicos Estaduais, também, da mesma forma, estabelece:

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:

IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:

a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;

(...)

A mesma regra encontra-se também na Lei Orgânica do Ministério Público do

Estado de Goiás, Lei Complementar Estadual no. 25, de 06 de julho de 1998, em seu art.

46.

O universo de consumidores, em Goiás, que estão sujeitos às práticas abusivas

aqui questionadas, por si só, autorizam a propositura, pelo Ministério Público, da

presente demanda. São mais de dois milhões e meio de assinantes, segundo dados

disponíveis no site da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel

(www.anatel.gov.br), vinculados contratualmente às operadoras rés.

Trata-se, por certo, no que tange à higidez do mercado, de autêntico interesse

difuso, porquanto não interessa apenas a esta ou àquela classe ou categoria de pessoas

que a ordem jurídica seja obedecida, mas sim a toda a sociedade, direta ou

indiretamente.

Por outro lado, tendo em conta o interesse coletivo, stricto sensu, qual seja, o

interesse dos consumidores assinantes de contratos com as operadoras rés,

indistintamente considerados, mostra-se também evidente e inquestionável, já que

todos, como contratantes, presentes ou futuros, estão sujeitos às mesmas práticas e,

portanto, serão igualmente beneficiados com o provimento dos pedidos.

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É, aliás, o que se extrai da melhor doutrina, aqui representada pelo eminente

jurista Hugo Nigro Mazzilli3, que assevera:

A atuação do Ministério Público sempre é cabível em defesa de interesses difusos, em vista de sua abrangência. Já em defesa de interesses coletivos ou individuais homogêneos, atuará sempre que: a) haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou pelas características do dano, ainda que potencial; b) seja acentuada a relevância do bem jurídico a ser defendido; c) esteja em questão a estabilidade de um sistema social, jurídico ou econômico.

Nesse sentido, aliás, a jurisprudência brasileira é uníssona, como retrata a

ementa abaixo colacionada, de julgado unânime do Superior Tribunal de Justiça:

Ementa: PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – AÇÃO COLETIVA – SERVIÇOS DE TELEFONIA – CONTAS TELEFÔNICAS DISCRIMINADAS – LIGAÇÕES INTERURBANAS – ESPECIFICAÇÃO DO TEMPO E DESTINO DAS LIGAÇÕES TELEFÔNICAS – INSTALAÇÃO DE EQUIPAMENTO ESPECÍFICO – MINISTÉRIO PÚBLICO - LEGITIMIDADE – DIREITOS COLETIVOS, INDIVIDUAIS E HOMOGÊNEOS E DIFUSOS – PRECEDENTES.

- O Ministério Público tem legitimidade ativa para propor ação civil pública em defesa dos direitos de um grupo de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária através de uma única relação jurídica (direitos coletivos). - Recurso especial conhecido e provido. (REsp 162026 - MG. Relator Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, DJ 11.11.2002 p. 171)4.

Destarte, esta ação civil pública cumpre sua função proocessual, que é resolver,

a um só tempo, questão que aflige milhares de consumidores, muitos dos quais quedam-

se decepcionados, sem ao menos registrar em órgãos de defesa do consumidor sua

irresignação.

3 In: A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, Ed. Saraiva, 9ª edição, 1997, págs. 47/48.4 Precedentes citados: EREsp 141.491-SC, DJ 1º/8/2000, e REsp 105.215/DF, DJ 18/8/1997.

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Page 13: Acp Telefonia Celular Rescisao

6. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

O Brasil, conforme consenso em nossa doutrina, se coloca hoje como um dos

países de legislação mais avançada em matéria de defesa do consumidor.

A atual Constituição Federal, dita Constituição Cidadã, resultado de amplo

debate nacional, envolvendo organizações e setores representativos da sociedade, das

mais diversas áreas, é expressa, em vários pontos, quanto ao dever e necessidade de o

consumidor estar efetivamente sob a proteção do Estado.

A par dessa orientação e determinação constitucional, surgiram diversos

diplomas legais que, ao lado do Codex, conferem ao consumidor direitos e garantias

necessárias para que a relação jurídica se estabeleça e se mantenha em nível aceitável de

equilíbrio e justiça.

6.1. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS CONSTITUCIONAIS

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o direito do consumidor, no

Brasil, foi alçado à condição de Direito Fundamental, inscrito no inciso XXXII, do art.

5o, como sendo – de forma imperativa – dever do Estado protejê-lo, na forma da lei. Tal

lei viria posteriormente a se concretizar em 11 de setembro de 1990, sob no. 8.078,

denominada Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

Nessa linha de compromisso, fixou ainda o legislador Constitucional, dentro dos

princípios gerais da atividade econômica, a defesa do consumidor, assinalando que a

ordem econômica nacional será fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tendo por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os princípios da soberania nacional, propriedade privada,

função social da propriedade, livreconcorrência, defesa do consumidor e defesa do meio

ambiente, conforme se vê do art. 170, incisos I a VI5.

5 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

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O consumidor de serviços públicos, dada a importância destes para a consecução

de um do primeiro dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro, que é a construção

de uma sociedade livre, justa e solidária (Art. 3o/I) mereceu, em sua proteção e defesa,

disposição específica, no sentido de que tais serviços sejam prestados diretamente pelo

próprio Estado ou por suas concessionárias, conforme dispuser a lei, respeitados, como

princípio, os direitos dos usuários, a instituição de política tarifária e "a obrigação de

manter serviço adequado" (Art. 175, incisos II a IV)6.

6.2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS INFRACONSTITUCIONAIS

Afora as disposições constitucionais, que em si mesmas são suficientemente

claras para demonstrar a procedência dos requerimentos deduzidos na presente ação,

outros diplomas legais, como abaixo se vê, a contar do Código de Defesa do

Consumidor, que também conferem garantias aos consumidores, estão sendo também

transgredidos. É o caso das normas fixadas na Lei de Concessões e na Lei Geral de

Telecomunicações.

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente;

VI - defesa do meio ambiente (...)6 Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

Parágrafo único. A lei disporá sobre:

I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;

II - os direitos dos usuários;

III - política tarifária;

IV - a obrigação de manter serviço adequado.

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Page 15: Acp Telefonia Celular Rescisao

6.2.1. DA VIOLAÇÃO A NORMAS DO CÓDIGO DO CONSUMIDOR

De início, importa registrar que as normas do Código de Defesa do Consumidor

(primeiro diploma aqui invocado) "são de ordem pública e interesse social", conforme

expressamente consignado no art. 1o, com fundamento na Carta Magna.

Segundo Lúcio Delfino, com apoio em autorizada doutrina, "normas de ordem

pública, também chamadas de coercitivas, imperativas, taxativas ou cogentes, são

aquelas que impõem ou proíbem de maneira categórica". São também conceituadas

"como aquelas que obrigam independentemente da vontade das partes, isso por

resguardarem os interesses fundamentais da sociedade"7.

Daí não poderem as operadoras rés, sob quaisquer pretextos, utilizarem-se de

prática comercial coercitiva, ou violar o direito de informação do consumidor e, muito

menos, prestarem-lhe serviços inadequados, porquanto são direitos básicos,

expressamente assegurados no CDC, art. 6o, incisos:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

II - ... a liberdade de escolha;

III - a informação adequada e clara ...;

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Os chamados serviços públicos, a exemplo da telefonia (serviço público

essencial), recebem proteção legal rigorosa, para responsabilizar todos os prestadores,

sejam eles órgãos públicos ou empresas concessionárias. Destaca o Código:

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou

7 In: Reflexões acerca do art. 1º do Código de Defesa do Consumidor . Jus Navigandi <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4832>. Acesso em: 08 set. 2005 .

15

Page 16: Acp Telefonia Celular Rescisao

que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Portanto, por imperativo legal, as operadoras rés estão obrigadas a fornecer

serviços adequados, eficientes e seguros, sob pena de serem compelidas (que é o

objetivo da presente ação), a fazê-lo e a reparar os danos causados, tanto individuais

quanto coletivos, tal como assegurado no art. 6o VI, do Codex.

6.2.2. DA VIOLAÇÃO A NORMAS DA LEI DE CONCESSÕES

A par do que foi dito, de outra parte, regulando exclusivamente a concessão e

permissão da prestação de serviços públicos, a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995,

diz, na inteligência do seu art. 6o, que toda concessão ou permissão implica a prestação

de serviço adequado, que satisfaça a expectativa do usuário, respeitando-lhe a dignidade

e a harmonia e transparência que deve haver em toda relação jurídica de boa-fé, que são

objetivos centrais da Política Nacional das Relações de Consumo, previstos no caput do

art. 4o, do CDC.

Dada a importância para o tema tratado, cabe destacar os termos do citado art. 6o

e seu §1o, da referida Lei das Concessões. Verbis:

Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,

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Page 17: Acp Telefonia Celular Rescisao

atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.

E mais, no capítulo seguinte, o mesmo diploma assegura ao consumidor, sem

prejuízo do CDC, o direito de receber serviço adequado, bem como a liberdade de

escolha entre prestadores de serviços, nos seguintes termos:

Art. 7o Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações dos usuários:

I - receber serviço adequado;

(...)

III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as normas do poder concedente. (Redação dada pela Lei nº 9.648, de 27.05.98)

(....)

6.2.3. DA VIOLAÇÃO A NORMAS DA LEI GERAL DE TELECOMUNICAÇÕES E NORMAS REGULAMENTARES

Por fim, a Lei Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, chamada Lei Geral das

Telecomunicações, seguindo o sistema do nosso ordenamento jurídico, assegura ao

usuário dos serviços de telecomunicações, como direito, dentre outros, a qualidade, a

liberdade de escolha de prestadora e a obtenção de resposta às suas reclamações, por

parte das operadoras.

Art. 3° O usuário de serviços de telecomunicações tem direito:

I - de acesso aos serviços de telecomunicações, com padrões de qualidade e regularidade adequados à sua natureza, em qualquer ponto do território nacional;

II - à liberdade de escolha de sua prestadora de serviço;

(...)

X - de resposta às suas reclamações pela prestadora do serviço;

(...)

17

Page 18: Acp Telefonia Celular Rescisao

Eis, assim, que a legislação, a começar pela Constituição Federal, passando pelo

Código de Defesa do Consumidor, pela Lei das Concessões e pela Lei Geral das

Telecomunicações, confere ao consumidor o direito de receber serviço de boa

qualidade, incluindo aí, por óbvio, o atendimento a suas reclamações e solicitações,

especialmente de rescindir o contrato para, se for o caso, contratar com outra operadora

que lhe pareça mais conveniente.

7. DOS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DO EQUILÍBRIO CONTRATUAL

A prática adotada hoje, como regra, pelas operadoras de telefonia móvel, quanto

ao procedimento para cancelamento de assinatura, viola princípios fundamentais do

Código de Defesa do Consumidor, especialmente os princípios da boa-fé e do equilíbrio

contratual, fixados no art. 4o-III e disseminados ao longo do Código.

Conforme expressamente consignado no referido dispositivo, cumpre ao Estado,

tanto em sua função Executiva, quanto Legislativa e Judiciária, conduzir-se de forma a

atender as "necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e

segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de

vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo", obedecidos os

princípios da vulnerabilidade; da proteção efetiva por iniciativas diretas e pela garantia

de "produtos e serviços com padrões adequados de qualidade"; e da harmonização dos

interesses entre consumidores e fornecedores, "com base na boa-fé e equilíbrio"8

A propósito da importância de tais princípios, Nelson Nery Júnior, em

substancioso trabalho publicado na Revista de Direito do Consumidor, com a firmeza

doutrinária que lhe é própria e com apoio em Celso Antônio Bandeira de Mello,

assevera:

"Como esses princípios fundamentais são, por assim dizer, a base do sistema jurídico a que pertencem, sua violação consiste em mal mais grave do que a transgressão da norma. O não atendimento ao comendo de um princípio é a forma mais grave de inconstitucionalidade ou ilegalidade, 'porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de

8 Conf. dispõe o CDC, no caput e incisos do seu Art. 4o.

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Page 19: Acp Telefonia Celular Rescisao

seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra'".

Mais adiante, onde cita Eros Grau, hoje ministro do STF, em análise que faz das

normas contidas no referido art. 4o , diz o insigne doutrinador:

"essas normas do art. 4o , realmente, não cabe nem no modelo de norma de conduta, nem no modelo de norma de organização. Porque, na verdade, elas definem objetivos, ela é uma norma-objetivo. Ela define fim a ser alcançado. Essas normas que definem fim – e que eu acho que não são programáticas, são normas de eficácia total, completa, absoluta, inquestionável, indiscutível – começam a surgir modernamente".

Assim sendo, presente qualquer centelha de descumprimento de princípios

máximos do CDC, como a boa-fé e o equilíbrio (para não alargar excessivamente o

tema), colocando o consumidor (parte vulnerável na relação jurídica) em desvantagem,

há que se intervir. É essa a determinação expressa na Carta Maior, quando diz que a

ordem econômica nacional se funda na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, com o objetivo de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social (Art. 170/CF), competindo ao Estado, donde se inclui o Poder Judiciário, a

defesa do consumidor (Art. 5-XXXII/CF).

A professora Cláudia Lima Marques, com a autoridade que ostenta sobre a

matéria, em obra nova, lançada em parceria com um dos autores do anteprojeto de lei do

CDC, Antônio Herman V. Banjamim e com o jurista Bruno Miragem, afirma que o

princípio da equidade, do equilíbrio contratual, é cogente; a lei brasileira "não exige que

a cláusula abusiva tenha sido incluída no contrato por 'abuso do poderio econômico' do

fornecedor, como exige a lei francesa; ao contrário, o CDC sanciona e afasta apenas o

resultado, o desequilíbrio, não exige um ato reprovável do fornecedor, a cláusula pode

ter sido aceita conscientemente pelo consumidor, mas, se traz vantagem excessiva para

o fornecedor, se é abusiva, o resultado é contrário à ordem pública, contraria às novas

normas de ordem pública e proteção do CDC e a autonomia da vontade não

prevalecerá"9.

9 Comentários ao Código de Defesa do consumidor (arts. 1o a 74) aspectos materiais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p.124.

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Page 20: Acp Telefonia Celular Rescisao

Ainda, destacando os princípios fundamentais do CDC, salienta a douta

professora, como princípio máximo o princípio da boa-fé objetiva, que – segundo

seciona – possui muitas funções na nova teoria contratual: "1) como fonte de novos

deveres especiais de conduta durante o vínculo contratual, os chamados deveres anexos,

2) como causa limitadora do exercício, antes lícito, hoje abusivo, dos direitos subjetivos

e 3) na concreção e interpretação dos contratos". E explica, em suma, que a primeira

função diz respeito ao dever de informar, de cuidado e de cooperação; a segunda, como

função limitadora, reduz a liberdade de atuação dos parceiros contratuais, desobrigando

o consumidor do cumprimento de cláusulas abusivas, e a terceira função, interpretadora,

determina que a execução e interpretação de um contrato ou de uma relação de consumo

devem pautar-se pela boa-fé, que, no caso, significa zelo e respeito, é conduta esperada

e leal, que deve estar presente em todas as relações sociais.

De forma mais incisiva, o tão caro princípio da boa-fé objetiva, é destacado pela

acatada doutrinadora, em festejada obra que cuida especificamente da relação contratual

no CDC10, nos seguintes termos:

Boa-fé objetiva significa, portanto, uma atuação “refletida”, uma atuação refletindo, pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, seus expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva, cooperando para atingir o bom fim das obrigações: o cumprimento do objetivo contratual e a realização dos interesses das partes.

E adverte:

Liberar os contratantes de cumprir os seus deveres gerais de conduta significa afirmar que na relação contratual os indivíduos estão autorizados a agir com má-fé, a desrespeitar os direitos do parceiro contratual, a não agir lealmente, a abusar no exercício de seus direitos contratuais, a abusar de sua posição contratual preponderante (“Machtposition”), autorizando a “vantagem excessiva” ou a lesão do parceiro contratual somente porque as partes

10 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p.108

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Page 21: Acp Telefonia Celular Rescisao

firmaram um contrato, escolhendo-se mutuamente de maneira livre no mercado. (pág.108)

Verdadeira e definitivamente, as operadoras de telefonia móvel, aqui rés, de

forma flagrante transgridem, e vêm transgredindo, sem a menor preocupação, o

ordenamento jurídico pátrio, no que concerne aos direitos dos consumidores. Como dito

linhas atrás, inclusive nas palavras do presidente da Anatel e de diversos consumidores,

é inconcebível que um simples pedido de cancelamento de linha, a resolução de um

contrato de prestação de serviço, facultada por lei e garantida no próprio contrato, traga

a uma das partes tanta dificuldade, numa quase tortura psicológica para que desista do

pedido.

8. DO DANO MORAL COLETIVO.

O dano moral coletivo é um fenômeno fático que existe com o homem, porém, é

um fenômeno jurídico novo, assim, devemos perquirir o que é a moral coletiva.

Existe uma moral coletiva? A resposta é afirmativa. A cada dia a sociedade

evolui e se torna mais complexa, a cada dia é exigido mais do consumidor para ter

conhecimentos sobre diversos produtos e serviços. Assim, é impossível ter

conhecimentos de tantos produtos e serviços que nos são apresentados hodiernamente.

O consumidor precisa confiar no fornecedor, o consumidor precisa acreditar que as

informações que lhe são passadas são verdadeiras e respeitam o patrimônio moral e

material. Por exemplo: Quando vamos a uma farmácia, confiamos que o medicamento

que nos compramos não possui nenhum vício e que não prejudicará a saúde de nenhum

consumidor. Quando o consumidor vai receber o seguro DPVAT, acredita que o valor

que está sendo pago a ele, corresponde ao determinado na lei. Assim, o princípio da

confiança e o da boa-fé objetiva é um valor cultural espraiado na sociedade, é um valor

coletivo. Imaginemos no caso público e notório do medicamento Celobar. Que

segurança teremos quando formos ingerirmos um medicamento desta marca ou com o

mesmo princípio ativo? Nenhuma, pois a moral coletiva foi afetada. Sempre nos

perguntaremos se não seremos os próximos a virmos a óbito.

A moral coletiva é um valor cultural que orienta o comportamento dos homens e

lhes dá a paz de espírito, a tranqüilidade para confiar que o outro não lhe prejudicará. A

moral coletiva é um valor metaindividual. Quando é lesada a moral coletiva causa um

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Page 22: Acp Telefonia Celular Rescisao

pânico na sociedade que coloca em avoroço a todos. Assim, o fornecedor que lese a

moral coletiva deve ser condenado a ressarcir a um fundo uma quantia em dinheiro com

a finalidade de evitar que outros venham a querer lesar a moral coletiva. In casu, a

prestação de serviço com vício de qualidade por inadequação e por vício de quantidade

é uma prática que lesa o principio da confiança e da boa-fé coletiva e o responsável

deve responder pelos seus atos.

Código de Proteção e defesa do Consumidor prevê no Capítulo III: “Dos

Direitos Básicos do Consumidor”, artigo 6º, inc. VI, "a efetiva prevenção e reparação de

danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (grifo nosso).

Trata-se do princípio da reparação integral do dano, o qual inclui a reparação

pela violação da integridade físico-psíquica do consumidor. Neste sentido é a doutrina

do professor Luiz Rizzatto Nunes: "Assim, o dano moral é aquele que afeta a paz

interior de cada um. Atinge o sentimento da pessoa, o decoro, o ego, a honra, enfim,

tudo aquilo que não tem valor econômico, mas que lhe causa dor e sofrimento. É, pois,

a dor física e/ou psicológica sentida pelo indivíduo".

Nos ensina Carlos Alberto Bittar que “a reparação de danos morais exerce

função diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam para a

recomposição do patrimônio ofendido, através da fórmula danos emergentes e lucros

cessantes, aqueles procuram oferecer compensação ao lesado, para atenuação do

sofrimento havido. De outra parte, quanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe

a sanção, a fim de que não volte a praticar atos lesivos à personalidade de outrem”.

Neste sentido afirma Aguiar Dias que “em matéria de dano moral, o arbitrário é

até da essência das coisas. O ideal é a volta ao ‘statu quo ante’, ou seja, a volta ao estado

anterior do dano. Indenização e tornar indene, voltar ao estado anterior. Mas isso é

impossível quando se trata de dano moral”.

As lesões aos interesses difusos, coletivos (stricto sensu) e individuais

homogêneos não somente geram danos materiais, mas também pode gerar danos

morais. Verifica-se assim que a proteção dos valores morais não está adstrita aos

valores morais individuais, mas também no sentido transindividual, seja difuso, coletivo

ou individual homogêneo.

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Page 23: Acp Telefonia Celular Rescisao

A sociedade ao descobrir a prática abusiva perpetrada pela Ré, se sentirá muito

mais vulnerável nas relações de consumo, enfraquecendo o princípio da transparência

esculpido no Art. 4° do Código de Defesa do Consumidor e o principio da confiança e

da boa-fé objetiva.

Ademais, como já foi dito antes, a indenização pelo dano moral coletivo deve ter

caráter inibitório de tais práticas abusivas que expõem a sociedade de consumo

vulnerável. Assim, a melhor forma de indenizar o dano moral coletivo é condenando a

Ré a pagar uma quantia em dinheiro que seja significativa, ao ponto de evitar novas

práticas abusivas por parte da mesma e que iniba práticas abusivas por outros

fornecedores.

O FUNDO ESTADUAL DO CONSUMIDOR é gerido por órgãos de defesa do

consumidor do Estado de Goiás e tem por finalidade gerar PROGAMAS DE

EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO EM TODO O ESTADO DE GOIÁS e aparelhar

órgãos (Procons Municipais, Delegacias de Defesa do Consumidor, Procon Estadual,

entre outros) de defesa do consumidor. As indenizações por dano moral coletivo

deverão ser carreadas para o FUNDO ESTADUAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR,

pois somente as a aplicação destes recursos na defesa da própria sociedade de consumo

será capaz de minimizar os danos morais sofridos pela comunidade de consumidores

goianos.

Diante do exposto, o pedido de indenização por dano moral coletivo é

imprescindível, tanto no sentido de coibir novas práticas abusivas ou a reiteração

daquelas aqui questionadas, fazendo, assim, valer o efeito pedagógico que a atuação

judicial deve alcançar, como também no sentido de reparar, em benefício da sociedade,

a angústia causada pelas rés aos consumidores.

9. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O Código de Defesa do Consumidor, art. 6º, inc. VIII, prevê para qualquer ação

fundada nas relações de consumo, bastando para tanto que haja hipossuficiência do

consumidor ou seja verossímil a alegação do dano.

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

(...);

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Page 24: Acp Telefonia Celular Rescisao

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.”(grifei)

Trata-se de aplicação do princípio constitucional da isonomia (tratar

desigualmente os desiguais), pois o consumidor, como parte reconhecidamente mais

fraca e vulnerável na relação de consumo, tem de ser tratado de forma diferente, a fim

de que seja alcançada a igualdade real entre os partícipes da relação de consumo. Neste

sentido é a doutrina do Professor Nelson Nery Jr. in Código de Processo Civil

Comentado, 4ª ed, Saraiva, 1999, p. 1806, verbis:

“A inversão pode ocorrer em duas situações distintas: a) quando o consumidor for hipossuficiente; b) quando for verossímil sua alegação. As hipóteses são alternativas, como claramente indica a conjunção ou expressa na norma ora comentada. A hipossuficiência respeita tanto à dificuldade econômica quanto à técnica do consumidor em poder desincumbir-se do ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito”.

Posto isto, o Ministério Público requer a inversão do ônus da prova, cabendo à

parte ré desconstituir as alegações fáticas e jurídicas consignadas nesta inicial, inclusive

com apresentação de histórico dos pedidos de cancelamento de assinatura, no decorrer

dos últimos doze meses, com discriminação da quantidade e tempo das ligações feitas

pelos assinantes à Central de Relacionamento, nos últimos três meses que precederam o

efetivo cancelamento.

10. DAS POSSÍVEIS FORMAS DE RESCISÃO DO CONTRATO PELO CONSUMIDOR

Como nos ensina Cláudia Lima Marques11, os contratos celebrados entre o

consumidor e as empresas telefônicas são contratos cativos de longa duração. Os

11 Marques, Cláudia Lima, Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 4ª edição, São Paulo, Editora dos Tribunais, 2002.

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Page 25: Acp Telefonia Celular Rescisao

contratos cativos são aqueles prendem os consumidores a eles de tal forma que se torna

muito difícil a desvinculação dos consumidores pela própria natureza do contrato, pelo

objeto do mesmo, pelas condições gerais impostas e pela relação12, obrigatoriamente,

duradoura imposta pelo serviço prestado.

Os contratos cativos de longa duração, por si só, já trazem práticas abusivas lato

sensu13 na sua constituição, quando apresentam cláusulas abusivas que determinam a

catividade. Entretando, neste caso específico, notam-se outras práticas abusivas stricto

sensu, que são as formas (práticas) usadas pelas operadoras de telefonia móvel para

manter o consumidor atrelado ao contrato, que ele não mais deseja. A catividade

abusiva de um contrato não pode perpetuar-se e agigantar-se nas práticas futuras

impedindo o consumidor de cancelar um contrato.

A verdade é que as operadoras criaram um novo tipo de contrato, não mais o

cativo, mas o perpetuo. O contrato de consumo perpétuo.

É necessário que sejam admitidas e disponibilizadas formas eficientes e eficazes

de o consumidor se desobrigar em um contrato, sem dever de fidelidade, que não mais

lhe interessa. Assim, seriam:

10.1. DO CANCELAMENTO POR CARTA COM AVISO DE RECEBIMENTO (AR).

Dentre as várias possibilidades de rescisão contratual unilateral pelo

consumidor, há de se deferir esta como sendo uma forma limpa, transparente e justa de

rescisão.

Assim bastará ao consumidor enviar uma carta com aviso de recebimento à

operadora de telefonia móvel, que seu contrato estará rescindido, sendo prova eficiente

desta rescisão o aviso recebimento, entregue ao consumidor pela Empresa de Correios e

Telégrafos. Até porque, dirigir-se à operadora via de correspondência é um direito do

consumidor, e não uma faculdade da operadora. Diz, aliás, o art. 11, do Plano Geral de

Metas - Resolução 317/02 (fls. 2639/2644): 12 Tais contratos são também chamados contratos relacionais, por Ronaldo Porto Macedo Jr., na linha da doutrina estadounidense. (Contratos Relacionais e Defesa do Consumidor, São Paulo, Editora Max Limonad, 1998).13 Práticas abusivas latu senso se dividem em cláusulas abusivas, práticas abusivas e publicidade abusiva.

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Page 26: Acp Telefonia Celular Rescisao

Art. 11. A correspondência do Usuário, reclamação ou solicitação de serviços recebidos em qualquer Setor de Atendimento e Centros de Atendimento da prestadora, e que não possam ser respondidos ou efetivados de imediato, devem ser respondidos em até 5 (cinco) dias úteis, em 95% (noventa e cinco por cento) dos casos.

10.2. DO CANCELAMENTO ATRAVÉS DAS CENTRAIS TELEFÔNICAS, COM NÚMERO DO PROTOCOLO.

A tecnologia digital evoluiu de forma impressionante nos últimos anos, a ponto

de o consumidor se auto-atender, notadamente quando se trata de contratos cativos de

longa duração em que o objeto seja a prestação de um serviço à distância, ou que pelo

menos alguns tipos de serviços podem ser efetuados à distância. Esta prática é bastante

comum no serviço bancário, v. g., para pedido ou bloqueio de talões de cheques, para

transferências bancárias, obtenção de saldos, pagamentos de faturas de cartões de

créditos e outros serviços.

Os auto-atendimentos mencionados acima são comuns também nos sistemas

atuais das operadoras rés. Em tais sistemas é possível comprar telefones, mudar o plano

de pagamento, saber valores das faturas e muitos outros serviços adicionais que, em de

regra, geram lucro para as operadoras. Entretanto, não se vê disponível a opção de

rescisão do contrato de prestação de serviço. O que se vê são atendimentos

personalizados como inúmeras desculpas para não efetivar a rescisão como: sistema

fora do ar, ter que falar com o chefe imediato, que em seguida passa para outro imediato

até que a pessoa desista daquela caminha inglória, e, resigne-se à catividade perpetua de

seu contrato.

Mas não seria possível colocar disponível no sistema de auto-atendimento a

opção para a rescisão unilateral de contrato? Sim, seria! E por que não é feito? Porque

não há interesse comercial, diria o consumidor! Para a segurança do consumidor, dirão

os fornecedores, argumentando que qualquer uma pessoa poderia cancelar contrato

alheio. HÁ SOLUÇÃO! Basta que haja uma senha para cancelamento, senha esta que

deverá constar de todas as contas (faturas) telefônicas enviadas aos consumidores.

Assim, o consumidor acessaria o auto-atendimento, digitaria a opção rescisão

contratual, em seguida sua senha, e obteria um número de protocolo, número este que

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Page 27: Acp Telefonia Celular Rescisao

serviria como comprovante da rescisão contratual unilateral pelo consumidor,

desobrigando-o, de qualquer obrigação por ato ocorrido vinte e quatro horas depois do

pedido efetuado.

Assim, para fazer cessar as práticas abusivas perpetradas pelas operadoras rés, é

imprescindível a implementação destas formas de rescisão contratual por parte do

consumidor, tornando menos desigual a relação contratual entre as gigantes operadoras

e os hipossuficientes consumidores.

Ademais, o próprio ordenamento jurídico assim determina, inclusive a gravação

do atendimento, que deverá ficar arquivada no banco de dados da operadora pelo

período mínimo de 1 (um) ano, conforme se extrai do § 2o c/c 1o do art. 25 e conforme

o disposto no § 1o do art. 21, e nos §§ 1o e 3o, do art. 13, da Resolução no. 316, de 27 de

setembro de 2002, que regulamenta o Serviço Móvel Pessoal – SMP, com base na Lei

Geral de Telecomunicações, Lei Nº 9.472/97

10.3. DO CANCELAMENTO ATRAVÉS DA INTERNET

As operadoras rés, assim como todas as demais companhias do ramo de

telefonia, dominam com destaque a tecnologia de comunicação através da rede mundial

de computadores, a Internet. Em suas páginas estão disponíveis, via de auto-

atendimento, praticamente todos os serviços, além de ofertas promocionais, as mais

variadas possíveis.

O consumidor não encontra nenhuma dificuldade em contratar quase todos os

serviços oferecidos pela operadora. No entanto, não lhe é facultado rescindir o contrato.

Pode fazer, mas não pode desfazer o contrato.

As operadoras disponibilizam uma série de serviços on line, acessíveis através

de senha, em que o consumidor conta com toda segurança.

Seria, obviamente, de se admitir também a solicitação de cancelamento do

contrato, posto que é dever das operadoras proporcionar aos consumidores atendimento

adequando, eficiente e com as facilidades possíveis, como especialmente determina o

REGULAMENTO DO SERVIÇO MÓVEL PESSOAL – SMP, Aprovado pela

27

Page 28: Acp Telefonia Celular Rescisao

Resolução no.316, de 27 de setembro de 2002, da Anatel, em seu art. 25, caput, e § 2o

c/c § 1o , do mesmo artigo (fls. 2.445 e s.).

10.4. DO CANCELAMENTO VIA DE ATENDIMENTO PESSOAL

O auto-atendimento, através da internet ou das Centrais Telefônicas de

Atendimento, não é novidade e nem é novo no ramo da telefonia no Brasil. As

operadoras têm investido recursos fabulosos em tecnologia e publicidade, tanto no

sentido de diminuírem seus custos operacionais, especialmente com a redução de mão-

de-obra, como na captação de novos assinantes.

Segundo dados da Revista Veja, em reportagem intitulada "os empregos

sumiram e os telefones apareceram", que também podem ser conferidos no site da

Anatel, de 1995 a 2005, o número de telefones, fixo e celulares, saltou de 16 milhões

para 125,7 milhões, ao passo que o número de funcionários diminuiu de 95.000, em

1995, para somente 28.000, em 2005. Em porcentagem, tem-se que o número de linhas

telefônicas 685% e o número de funcionários diminuiu 70%.

Resulta, daí, que hoje dificilmente se ouve uma voz humana nos sistemas auto-

atendimento, e o atendimento pessoal praticamente inexiste. Inúmeros postos de

atendimento foram fechados e tudo foi automatizado.

Ocorre, no entanto, que as operadoras estão obrigadas a prestar atendimento

pessoal ao consumidor, devendo, inclusive divulgar os endereços de seus postos de

atendimento público, conforme expressamente determina o citado regulamento, em seu

art. 82. Verbis:

Art. 82. A prestadora deve tornar disponível o acesso telefônico gratuito a setor de informação e de atendimento ao Usuário bem como divulgar os endereços dos postos de atendimento públicos.

E mais, segundo o Plano Geral de Metas de Qualidade para o Serviço de

Telefonia Móvel Pessoal (anexo da Resolução 317/2002), a que todas as operadoras

estão obrigadas, nos casos de lojas ou postos de atendimento, o consumidor deverá ser

atendido em, no máximo, 10 (dez) minutos, em 95% dos casos.

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Page 29: Acp Telefonia Celular Rescisao

Art. 13. O Usuário, ao comparecer a qualquer Setor de Atendimento da prestadora ou de seus credenciados, deve ser atendido em até 10 (dez) minutos, em 95% (noventa e cinco por cento) dos casos.

Não há, pois, como negar ao consumidor a possibilidade de solicitar,

pessoalmente, nas lojas ou postos de atendimento, a rescisão de seu contrato. Dizer que

tal pedido só pode ser feito através de central telefônica (ou Central de Relacionamento

com o Cliente) é prática abusiva e frontalmente contrária ao texto normativo

11. DA NECESSIDADE DA TUTELA LIMINAR

O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 84, §§ 3o e 5o, diz, de outra

forma, que, se presentes os requisitos da plausividade e do perigo na demora, é

lícito ao Juiz conceder TUTELA LIMINAR, e determinar as medidas necessárias

para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente.

Verbis:

§ 3o. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

§ 5°. Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial. (Grifamos).

Resulta, pois, evidente, desses comandos normativos, a intenção do legislador do

Código de Defesa do Consumidor de conferir mecanismo de eficácia às decisões

judiciais, posto que, conforme assinala Bermudes, in Introdução ao CPC, ed. Forense,

“a jurisdição alcança melhor resultado prático possível quando restaura a situação

jurídica, desintegrada pela violação do direito, ou quando assegura a plena eficácia da

vontade da lei, na qual se subsume a vontade das pessoas, manifestada em consonância

com a norma”.

A par de todas as garantias constitucionais e infraconstitucionais conferidas ao

consumidor e o atendimento que lhe está sendo dispensado pelas operadoras rés, como

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Page 30: Acp Telefonia Celular Rescisao

antes demonstrado, há de se reconhecer, de forma incontestável, a necessidade de se

restaurar essa situação jurídica, desintegrada pela violação do direito, tornando-se eficaz

a vontade da lei, como disse o doutrinador.

Ademais do que foi dito, normas regulamentares específicas do Serviço de

Telefonia Móvel e que, portanto, integram os contratos de adesão disponibilizados no

mercado, demonstram, quantum satis, a conduta abusiva e, de resto, ilícita das

operadoras rés.

Com efeito, é obrigação expressa da operadora e, por conseguinte, direito do

usuário, dispor de meios de atendimento voltados à sua comodidade, como a internet e

qualquer outro recurso de fácil e gratuito acesso. Dispõe o Regulamento do Serviço

Móvel Pessoal (Resolução 316/2002):

Art. 19. Com a adesão ao Plano de Serviço, considera-se firmado o Contrato de Prestação do SMP, que tem as seguintes cláusulas obrigatórias:

(...)

§1º O Contrato de Prestação do SMP deve permanecer à disposição dos interessados para consulta por meio da Internet e de outro meio de fácil e gratuito acesso.

Art. 25. A prestadora deve dar ampla divulgação de cada um de seus Planos de Serviço, na localidade de sua comercialização, em pelo menos um jornal diário de grande circulação, com antecedência de pelo menos 2 (dois) dias, dando conhecimento à Anatel desta divulgação em até 5 (cinco) dias úteis.

§1º Todos os Planos de Serviço da prestadora devem estar disponíveis em página na Internet e outro meio de fácil acesso.

§2º O disposto neste artigo aplica-se também às hipóteses de extinção ou alteração nos Planos de Serviço bem como de fixação, reajustes ou concessão de descontos nos preços do serviço, de facilidades ou de comodidades adicionais. (Sublinhamos).

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Page 31: Acp Telefonia Celular Rescisao

E mais, tem também garantido o direito de que sua linha (estação móvel) seja

desativada em prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, a partir da solicitação de

rescisão do contrato, que pode ser a qualquer tempo, salvo os duvidosos prazos de

carência, independentemente de sua situação de inadimplência ou não. Literis:

Art. 21. O Contrato de Prestação do SMP pode ser rescindido:

I - a pedido do Usuário, a qualquer tempo, observado o prazo de carência estabelecido no Plano de Serviço ao qual está vinculado;

II – omissis.

§1º A desativação da Estação Móvel do Usuário, decorrente da rescisão do Contrato de Prestação do SMP deve ser efetivada pela prestadora em até 24 (vinte e quatro) horas, a partir da solicitação, sem ônus para o Usuário.

§2º A rescisão não prejudica a exigibilidade dos encargos decorrentes do Contrato de Prestação do SMP.

Por fim, destaca-se, como dever contratual das prestadoras de Serviço de

Telefonia Móvel, a obrigação de receber as reclamações dos usuários, registrar e

fornecer o número do registro ao interessado, para acompanhamento, conforme

expresso no § 3o , art. 13, do dito regulamento. Nesses termos:

§3º Todas as queixas apresentadas pelo Usuário devem ser processadas pela prestadora e receber um número de ordem a ser informado ao interessado para possibilitar o acompanhamento de sua solução, inclusive por intermédio da central de informação e atendimento do Usuário.

Assim sendo, frente à legislação e às regras contratuais fixadas no regulamento

do serviço, força é concluir que as Operadoras rés, na questão ora tratada, agem de má-

fé, quer objetiva quer subjetiva, nos termos que Alinne Arquette14 bem define, da

seguinte forma:

"A boa-fé subjetiva corresponde ao estado psicológico da pessoa, à sua intenção, ao seu convencimento de estar agindo

14 NOVAIS, Alinne Arquette Leite. A teoria contratual e o código de defesa do consumidor (Biblioteca de direito do consumidor; v. 17). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. p72.

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Page 32: Acp Telefonia Celular Rescisao

de forma a não prejudicar outrem na relação jurídica. Já a boa-fé objetiva significa uma regra de conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade, isto é, as partes contratuais devem agir conforme um modelo de conduta social, sempre respeitando a confiança e os interesses do outro"

Conclui-se, daí, presente, de forma clara, o requisito da plausividade

(verossimilhança ou fumus bonis iuris), que autoriza a concessão da tutela liminar

abaixo requerida, já que não há, na espécie, nenhum risco de irreversibilidade dos

efeitos do provimento pleiteado, ou mesmo se houvesse (o que absolutamente não há), a

tutela estaria autorizada, ante as evidências – como diz o professor Ovídio Batista.

Diz o jurista: "Pode ocorrer que o risco de irreversibilidade seja uma

conseqüência tanto da concessão quanto do indeferimento da medida antecipatória. Se a

verossimilhança pesar significativamente em favor do autor, o magistrado estará

autorizado a sacrificar o direito improvável, em benefício do direito que se mostre mais

verossímil"15.

Também presente o requisito do periculum in mora, qual seja, "a possibilidade

de lesão, o que deve ser analisado dentro dos critérios objetivos que permitam ao

julgador, ainda que por meros indícios, concluir pelos riscos de dano ou prejuízo",16 já

que, conforme assinala Mancuso, citando Lúcio Valle Figueiredo, "a irreparabilidade do

dano na ação civil pública é manifesta e o fluid recovery não será suficiente para elidir o

dano."17

É obvio que a tutela liminar em questão, no sentido de que as Operadoras rés

disponibilizem em seus sites, na internet, formulário para que o usuário solicitasse o

cancelamento de sua assinatura, ou a dispensa de qualquer serviço agregado que lhe

esteja sendo cobrado, não acarreta nenhum risco a nenhuma das partes. Muito pelo

contrário, solucionaria de forma simples e eficiente um problema que aflige milhares de

15 SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de Processo Civil: processo de conhecimento, volume 1. 5 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p.144.16 In: Ernane Fidelis dos Santos, in Manual de Processo Civil, Ed. Saraiva, v. 3, p 10.17 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A ação civil pública em defesa do meio ambiente, do patrimônio público e dos consumidores. 8a edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p.94.

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Page 33: Acp Telefonia Celular Rescisao

consumidores e gera, por conseqüência, uma infinidade de reclamações desfavoráveis às

próprias operadoras. A decisão judicial que assim determinar, por certo, estará apenas

cumprindo seu papel de solucionar conflitos, ou mais precisamente, impedir abusos.

Aliás, nesse sentido, o Poder Judiciário do Rio Grande do Sul já se posicionou,

em pedidos similares, formulado pelo MP-RS, como se vê da ementa abaixo e íntegra

do acórdão às fls. 1274/1583.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO COLETIVA CONTRA PROVEDOR DE INTERNET. DETERMINAÇÃO DE DISPONIBILIZAÇÃO DE ÍCONE DO SITE DO PROVEDOR QUE VIABILIZE O PEDIDO DE CANCELAMENTO DO SERVIÇO E IMPRESSÃO DE COMPROVANTE.

É direito básico do consumidor a simetria entre o contrato e o distrato (artigo 6º, inciso II, CDC), não observando tal preceito o provedor que contrata sem quaisquer formalidades, mas, para resilir, exige que o pedido seja formalizado por carta registrada ou junto a sua central de atendimento, à mercê do assédio de seus treinados atendentes.

A concessão de medida liminar na presente ação não só é possível como necessária porque, além de presentes os requisitos da antecipação de tutela, está em conformidade com o Código de Defesa do Consumidor - artigo 84 -, que a prevê com o fim de assegurar o resultado prático, de modo a evitar prejuízos irreparáveis à sociedade.

As dificuldades técnicas alegadas pela agravante para a implementação da medida são pouco críveis, pois a criação de um link onde o usuário possa fazer o pedido de cancelamento não acarreta risco maior do que o hoje existente em qualquer outro link por meio do qual o usuário preste informações pessoais e solicite serviços, tampouco exige maiores elucubrações que rotinas já existentes nas páginas da web. Afinal, o ordinário é que uma grande empresa de operação de Internet domine os meandros de sua atividade, sendo o prazo de 90 (noventa) dias mais do que

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Page 34: Acp Telefonia Celular Rescisao

suficiente para oferecer aos seus assinantes um ícone para o pedido de cancelamento do serviço com a expedição de número de protocolo com possibilidade de ser impresso.AGRAVO NÃO PROVIDO. (TJRS. AGRAVO DE INSTRUMENTO. Nº 70005950704. DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL. PORTO ALEGRE. UNIVERSO ONLINE LTDA. AGRAVANTE. MINISTÉRIO PÚBLICO. AGRAVADO).

O mesmo se diga, logicamente, quanto ao requerimento de implantação de

código, ou senha, de auto-atendimento para que os mesmos serviços possam ser

solicitados nas centrais de atendimento telefônico. Não seria, em hipótese nenhuma,

criada qualquer insegurança para os usuários ou paras as operadoras. Mesmo porque,

essa forma de atendimento eletrônico é usual no sistema bancário, onde o cliente pode

fazer operações que, em tese, requereriam muito mais cautela, como, por exemplo,

transferência de valores e contratação de empréstimos.

Trata-se, pois, num e noutro caso, de tutela que se requer liminarmente, como

providência jurisdicional para remoção de uma situação ilícita, que atinge a todas as

operadoras de telefonia móvel local, ora operadoras rés, mantendo-as em absoluto pé de

igualdade, sem qualquer desequilíbrio concorrencial e, ao mesmo tempo, resolvendo,

em benefício dos consumidores, ilicitude que a todos aflige.

Aliás, nessa perspectiva, calha bem a lição do prof. Luis Guilherme Marinoni,

nos seguintes termos:

Não há que falar, para deferimento da tutela antecipada de remoção do ilícito, em probabilidade de dano irreparável ou de difícil reparação. Basta que se demonstre a probabilidade da manutenção da situação ilícita para que esteja preenchido o pressuposto do periculum in mora.

Se o direito é provável, ou melhor, se o ilícito é provável, e há também probabilidade de o ilícito prosseguir, não há por que obrigar o autor a esperar o tempo necessário à prolação da sentença para que o ilícito seja removido.18”

18 MARINONI. Luiz Guilherme. Tutela específica: (arts. 461, CPC e 84, CDC).. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.

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Page 35: Acp Telefonia Celular Rescisao

Para que todas as decisões judiciais (liminares ou de mérito) sejam cumpridas,

notadamente, tratando-se de obrigação de fazer (ou não fazer), faz-se necessária a

aplicação de multa liminar ou uma astreinte. Trata-se de uma coação de caráter

econômico com o objetivo de dissuadir o devedor da inadimplência, tem a multa o fim

de que o devedor cumpra a obrigação. A imposição de obrigação de fazer (ou não fazer)

só tem efetividade prática com a imposição de multa. O fundamento legal da imposição

pecuniária encontra-se no art. 84, § 4o do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, para que o Estado-Juiz não fique desmoralizado em razão de eventual

inadimplemento da liminar, faz-se necessária a fixação de multa pecuniária para o

efetivo cumprimento das decisões judiciais, realizando o poder-dever do Estado no

exercício preponderante da Jurisdição.

12. DOS PEDIDOS EM SEDE DE LIMINAR

Em sede de liminar, atendidos os pressupostos legais, como retromencionado, o

Ministério Público pede a Vossa Excelência se digne a conceder a antecipação dos

efeitos da tutela relativamente aos pedidos formulados nos itens 13.a, 13.b, 13c, 13.d, e

13.e, infra, nos prazos ali fixados, estabelecendo multa, pelo descumprimento, na forma

requerida individualmente em cada item.

13. DOS PEDIDOS DE MÉRITO

Diante do exposto, o Ministério Público deduz a Vossa Excelência os seguintes

pedidos:

13.a)seja cada ré condenada, de forma igual, à obrigação de fazer,

consistente em considerar rescindidos os contratos (canceladas as

assinaturas) entre a operadora ré e o consumidor, mediante a

manifestação deste, via de correspondência (carta com aviso de

recebimento) enviada pelo consumidor à operadora externando

sua vontade de rescindir o contrato (cancelar a assinatura),

sendo considerada prova inequívoca da rescisão o aviso de

recebimento entregue ao consumidor pela empresa de correios e

telégrafos, sob pena de multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais), por

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Page 36: Acp Telefonia Celular Rescisao

cada violação a este preceito, multa esta a ser recolhida em

partes iguais aos fundos Estadual e Municipal de Proteção ao

Consumidor, instituídos pela Lei Estadual no. 12.207, 20 de

dezembro de 1993, e pela Lei Municipal no. 7.770, de 29 de

dezembro de 1997, respectivamente, conforme determinam o art.

57 da Lei Federal n° 8.078, e o art. 13 da Lei 7.347, de 24 de julho

de 1985;

13.b)seja cada ré condenada, de forma igual, à obrigação de fazer,

consistente em disponibilizar, no sistema de auto-atendimento,

via telefone, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a opção de

rescisão dos contratos pelos consumidores, nos seguintes termos:

Número de auto-atendimento com opção de rescisão do contrato

(cancelamento de assinatura), bastando digitar o número do

telefone e senha previamente informada aos consumidores, nos

termos do item 13.c deste pedido, operando-se a rescisão em 24

(vinte e quatro) horas, sendo que tal atendimento telefônico

deverá ficar gravado no banco de dados da operadora pelo

período mínimo de 1 (um) ano e gerar um número de protocolo

que será prova da rescisão contratual, sob pena de multa diária

de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), a ser destinada aos

fundos Estadual e Municipal de Defesa do Consumidor, nos

termos do item supra (13.a);

13.c)seja cada ré condenada, de forma igual, à obrigação de fazer,

consistente em enviar na próxima conta telefônica (fatura), ou

via de correspondência, o número da senha para rescisão

contratual (cancelamento de assinatura) de todos os seus

consumidores do Estado de Goiás, sob pena de multa de R$

10.000,00 (dez mil reais), por infração cometida, a ser destinada

aos fundos Estadual e Municipal de Defesa do Consumidor, nos

termos do item supra (13.a);

13.d)seja cada ré condenada, de forma igual, à obrigação de fazer,

consistente em disponibilizar, aos seus consumidores

contratantes, em sua página principal na internet, ícone

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Page 37: Acp Telefonia Celular Rescisao

específico e com destaque, através do qual o consumidor possa

solicitar a rescisão de seu contrato (cancelamento da assinatura),

que deverá ser efetivada no prazo máximo de 24 (vinte e quatro)

horas, com produção de registro e número de protocolo

automáticos, que poderão ser impressos pelo consumidor e

deverão ficar registrados no banco de dados da operadora pelo

período mínimo de 1 (um) ano, para eventual constatação,

conforme inteligência do § 2o c/c 1o do art. 25 e conforme o

disposto no § 1o do art. 21, e nos §§ 1o e 3o, do art. 13, da

Resolução no. 316, de 27 de setembro de 2002, que regulamenta o

Serviço Móvel Pessoal – SMP, com base na Lei Geral de

Telecomunicações, Lei Nº 9.472/97, sob pena de multa de diária

de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), a ser destinada aos

fundos Estadual e Municipal de Defesa do Consumidor, nos

termos do item supra (13.a);

13.e)seja cada ré condenada, de forma igual, à obrigação de fazer,

consistente em facultar aos consumidores, em sua lojas e postos

de atendimento, a opção de rescisão do contrato (cancelamento

da assinatura), sendo que o atendimento pessoal, no caso, deverá

de dar no prazo máximo de 10 (dez) minutos, em 95% (noventa e

cinco por cento) dos casos, sob pena de multa de R$ 10.000,00

(dez mil reais), por infração cometida, a ser destinada aos fundos

Estadual e Municipal de Defesa do Consumidor, nos termos do

item supra (13.a);

13.f)seja cada ré condenada, de forma individual, ao pagamento de

indenização por danos morais coletivos, no valor de R$

10.000.000,00 (dez milhões de reais), indenização esta a ser

recolhida em partes iguais aos fundos Estadual e Municipal de

Proteção e Defesa do Consumidor, instituídos pela no. 12.207, 20 de

dezembro de 1993, e pela Lei Municipal no. 7.770, de 29 de

dezembro de 1997, respectivamente, conforme determinam o art. 57

da Lei Federal n° 8.078, e o art. 13 da Lei 7.347, de 24 de julho de

1985; e

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Page 38: Acp Telefonia Celular Rescisao

13.g)seja cada ré condenada, de forma igual, ao pagamento das custas e

despesas processuais; e

14. DOS REQUERIMENTOS

14.a)recebimento da presente ação e citação das operadoras rés, para se

verem processar;

14.b)publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessados

possam intervir no processo, como litisconsortes, nos termos do

artigo 94 do Código de Defesa do Consumidor;

14.c)isenção de custas, emolumentos e outros encargos, nos termos do

artigo 87 do Código de Defesa do consumidor e artigo 18 da Lei de

ação civil pública;

14.d)inversão do ônus da prova a favor do consumidor nos termos do

artigo 6º, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor;

14.e)intimação pessoal do autor – mediante entrega dos autos – nas

Promotorias de Justiça do Consumidor (12 ª e 70ª) situadas no

edifício sede do Ministério Público salas T-29 e T-31, localizado na

Rua 23, lote 15/24, esquina com a Avenida B, Jardim Goiás,

Goiânia-GO, CEP – 74805-100, de conformidade com o que

prescreve o artigo 236, § 2º, do CPC e artigo 41, inciso IV, da Lei

8.625/93;

14.f)protesta por provar o alegado por todos os meios de prova admitidos

em direito.

Dá-se a causa, para as formalidades legais, o valor R$ 1.000.000,00 (um milhão

de reais).

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Goiânia, 12 de dezembro de 2005.

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Page 39: Acp Telefonia Celular Rescisao

Goiamilton Antônio MachadoPromotor de Justiça

Murilo de Morais e Miranda Promotor de Justiça

Decisão liminarAutos n° 1.473/05

Trata-se de ação civil pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS contra AMERICEL S/A-CLARO-REGIÃO CENTRO OESTE E OUTRAS, com pedido de liminar.

Aduz o representante do Ministério Público, em síntese, que conforme apurado, grandes têm sido os transtornos causados aos usuários dos serviços de telefonia, a partir da privatização deste setor, com a advento da Lei n° 9.225/96 que permitiu o ingresso de diversas operadoras, cuja insatisfação tem sido sistematicamente divulgada pelos meios de comunicação do consumidor.

Dentre as deficiências existentes, destaca as dificuldades encontradas pelos assinantes visando ao cancelamento de assinaturas e dispensa de determinados serviços, o que tem gerado significativo número de reclamações junto a Superintendência Estadual de Proteção aos Direitos do Consumidor – PROCON/GO, conforme documentos inclusos dando azo à presente ação, ante a inércia das operadoras em viabilizar solução extrajudicial.

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Page 40: Acp Telefonia Celular Rescisao

Fundamenta a pretensão em dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, editados em garantia do direito do consumidor, alegando, ainda, violação a normas da Lei de Concessões (8.987/95 e 9.472/97) e aos princípios da boa-fé e do equilíbrio contratual.

Pugna, por derradeiro, pela concessão de medida liminar, determinando que as requeridas disponibilizem formas efetivas de rescisão contratual, sob pena de multa.

DECIDO.

Inicialmente cumpre ressaltar a adequação da via processual escolhida pelo Ministério Público, conforme preceitua o art. 129, III, da Constituição Federal, o qual atribui como função do Ministério Público, promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção, prevenção e reparação de danos causados ao consumidor, como é o caso, dentre outros.

Ademais, não se pode afastar do judiciário a apreciação da matéria fustigada, vez que há indícios de ilegalidade do ato, estando tal fato sujeito a intervenção jurisdicional, nos termos do art. 5°, XXXV da Constituição Federal, garantindo a proteção judiciária contra ameaça a lesão de direito.

Quanto ao pedido liminar, analisando-o, vislumbro a presença dos pressupostos exigidos pelos arts. 11 e 12 da Lei 7347/85, restando evidenciada de forma escorreita a fumaça do bom direito, demonstrada pela plausibilidade da pretensão deduzida, com guarida no ordenamento jurídico vigente, subsistindo a favor do requerente a possibilidade de demonstrar que as requeridas vêm agindo de forma arbitrária, sem a devida observância a preceitos legais, causando danos aos consumidores, conforme reclamações registradas e anexadas ao pedido inicial em vários volumes, residindo o perigo da demora no risco de prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação, considerando o excessivo número de interessados e a possibilidade de lançamento de débitos indevidos e restrições junto aos órgãos de proteção ao

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Page 41: Acp Telefonia Celular Rescisao

crédito, ante a alegada burocracia para cancelamento de assinatura e dispensa de serviços.

Assim, por patente os pressupostos autorizados, DEFIRO o pedido liminar, nos termos dos requerimentos formulados nos itens 13.a, 13.b, 13.c, 13.d, 13.e, ao tempo em que determino que as requeridas viabilizem imediatamente o cancelamento de assinaturas e dispensa de serviços a partir de comunicação do interessado via carta com aviso de recebimento ou mediante comparecimento às lojas e postos de atendimento, devendo, ainda, disponibilizar aos usuários a possibilidade de rescindir contratos e serviços por meio do sistema de auto-atendimento e via internet, no prazo de 60 (sessenta) dias, sob pena de multa no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração cometida e de R$ 1.000.000,00 ( hum milhão de reais), na hipótese de descumprimento da ordem de disponibilização do serviço via internet, no prazo fixado.

Expeçam-se, pois, os competentes mandados para cumprimento desta decisão, citando-se, concomitantemente, as requeridas.

Expeça-se edital, conforme requerimento formulado no item 14.b.

Intimem-se.

Goiânia, 19 de dezembro de 2005.

ADRIANA CALDAS SANTOS

Juíza Substituta

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