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8/10/2019 Acupuntura Auricular Para Reduo de Stress
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM
LEONICE FUMIKO SATO KUREBAYASHI
AURICULOTERAPIA CHINESA PARA REDUODE ESTRESSE E MELHORIA DE QUALIDADE
DE VIDA DE EQUIPE DE ENFERMAGEM:
ENSAIO CLNICO RANDOMIZADO
SO PAULO
2013
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LEO
NICE
FUMIK
OSATO
KUREB
AYASHI
AURICULOTERA
PIACHINESAPARAREDUO
DEESTRESSEEMELHORIAD
E
QUALIDADE
DEVIDADEEQUIPEDEENFERMAGEM:ENSAIOCLNICO
RANDOMIZADO
DOUTORADO
EEUSP 2013
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LEONICE FUMIKO SATO KUREBAYASHI
AURICULOTERAPIA CHINESA PARA REDUO
DE ESTRESSE E MELHORIA DE QUALIDADE
DE VIDA DE EQUIPE DE ENFERMAGEM:
ENSAIO CLNICO RANDOMIZADO
SO PAULO
2013
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao na Faculdade de Enfermagempara obteno do ttulo de Doutora emEnfermagem.
rea de Concentrao:PROESA: Programa de Ps-Graduao emEnfermagem na Sade do Adulto
Orientador: Profa. Dra. Maria Jlia Paes daSilva
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OUPARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO EPESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Assinatura: _________________________________
Data:___/____/___
Catalogao na Publicao (CIP)Biblioteca Wanda de Aguiar Horta
Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo
Folha de aprovao de DoutoradoKurebayashi, Leonice Fumiko Sato
Auriculoterapia chinesa para reduo de estressee melhoria de qualidade de vida de equipe de enfermagem:ensaio clnico randomizado / Leonice Fumiko SatoKurebayashi. -- So Paulo, 2013.
275 p.
Tese (Doutorado)Escola de Enfermagem daUniversidade de So Paulo.Orientadora: Prof Dr Maria Jlia Paes da Silvarea de concentrao: Sade do adulto
1. Acupuntura 2. Medicina tradicional 3. Enfermagem4. Estresse 5. Qualidade de vida 6. TerapiasComplementares 7. Protocolos clnicos I.Ttulo.
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Folha de aprovao de Doutorado
Nome: Leonice Fumiko Sato Kurebayashi
Ttulo: Auriculoterapia chinesa para reduo de estresse e melhoria
de qualidade de vida de Equipe de Enfermagem: Ensaio Clnico
Randomizado
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Escola de
Enfermagem da Universidade de So Paulo para obteno de ttulo
de Doutora em Enfermagem.
Aprovado em: ____/_____/______
Banca examinadora
1. Prof. Dr._____________________ Instituio:_______________Julgamento:___________________ Assinatura:_______________
2. Prof. Dr._____________________ Instituio:_______________
Julgamento:___________________ Assinatura:_______________
3. Prof. Dr._____________________ Instituio:_______________
Julgamento:___________________ Assinatura:_______________
4. Prof. Dr._____________________ Instituio:_______________
Julgamento:___________________ Assinatura:_______________
5. Prof. Dr._____________________ Instituio:_______________
Julgamento:___________________ Assinatura:_______________
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DEDICATRIA
Dedico este trabalho minha linda famlia: Ademir, Ana Lcia,
Henrique, Tinha, Lvia, Leonardo, Jamile, Ray que me incentivaram
e apoiaram para vencer mais esta etapa de minha vida. Muito
obrigada pelo carinho, pela pacincia de tantas noites e dias de
ausncia e imerso no trabalho e porque faz valer a pena qualquer
esforo quando se tem uma famlia to maravilhosa torcendo todos
os dias pelo seu sucesso.
Aos meus pais, que, apesar da distncia, permanecem
sempre presentes em meu corao, em todos os momentos de
dificuldade e de alegrias conquistadas. Ao meu pai por ter me
ensinado a nunca desistir e sorrir diante das dificuldades, minha
me que me ensinou com seu silncio amoroso como posso vencer
as vicissitudes da vida, sem jamais perder o centro e a paz interior.
amiga e orientadora Prof Dr Maria Jlia Paes da Silva,
pelas orientaes, pela ateno to carinhosa na realizao de meu
projeto pessoal, por ser esta pessoa sensvel e to imprescindvel a
todos que a rodeiam.
Finalmente, dedico o trabalho a Deus, aos meus grandes
amigos espirituais que me inspiram e me orientam todos os dias,
para que o meu percurso seja profundo em compreenso eaprendizado, mas suave em satisfao e amorosidade.
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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
minha orientadora Profa. Dra. Maria Julia Paes da Silva,
pela oportunidade que me concedeu, por ser ela prpria uma lio
de vida, de humanidade, de humildade, de competncia, de amor
pelo que faz e com quem faz. Sem sua presena e orientaes, o
percurso teria sido longo e penoso e foi, com certeza, leve e
prazeroso. Muito obrigada por tudo.
Ao meu orientador do mestrado Prof. Dr. Genival Fernandes
de Freitas, por sua sempre generosa e amorosa presena em minha
vida, por aceitar o convite para participar do Exame de qualificao
tornando possvel a continuidade do meu percurso no doutorado.
Muito obrigada.
Dra. Eliseth Ribeiro Leo, pela participao na banca do
Exame de qualificao, por suas orientaes preciosas sempre to
pertinentes e adequadas. Muito obrigada pela oportunidade de t-la
como uma parceira de trabalho e pesquisa.
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AGRADECIMENTOS
minha famlia sempre, que o pilar de sustentao para a
concretizao de meus sonhos pessoais, por meio da compreenso,
do amor e das muitas horas de alegria e descontrao que me
proporcionam.
Aos meus queridos amigos de jornada, que me observam, me
auxiliam, me impulsionam e acompanham, na constante busca de
conhecimento, evoluo, paz, amor e luz. Obrigada Ricky Watari e
Raymond Takiguchi, por suas fundamentais conversas e pela
presena carinhosa e sbia destes meus dois grandes amigos e
irmos de jornada. Obrigada ao meu Grupo Ibez.
equipe de acupunturistas, que me auxiliaram na realizao deste
projeto, por viabilizarem o estudo. Vocs estaro sempre no meu
corao. Obrigada Ana Lucia Lopes Giaponesi, Hiroe Sakai,
Adalberto Ionafa, Solange Scaramuzza, Mrcia Harumi Kina e Vera
Rozanczyk.
Equipe de Enfermagem do Hospital Samaritano pelo carinho com
que nos receberam, pela participao no ensaio clnico, obrigada
pela confiana depositada na auriculoterapia e em ns, terapeutas.
Ao Hospital Samaritano, gerente executiva de Enfermagem DeniseCavallini Alvarenga e todas as pessoas que se envolveram no
projeto.
Agradeo, por fim, a Deus, pela possibilidade de completar esta
trajetria tendo feito, sobretudo do processo, um grande exerccio de
amadurecimento interior, de autoconhecimento das potencialidades
e limitaes pessoais e de valorizao das muitas amizades e
encontros durante o caminhar nesta estrada.
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EPGRAFE
Os homens perdem a sade para juntar dinheiro,
Depois perdem o dinheiro para recuperar a sade.
Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente...
De forma que acabam por no viver nem no presente nem no futuro...
E vivem como se nunca fossem morrer...
E morrem como se nunca tivessem vivido.
Dalai L ama
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RESUMO
KUREBAYASHI, LFS. Auriculoterapia chinesa para reduo deestresse e melhoria de qualidade de vida de Equipe de Enfermagem:Ensaio Clnico Randomizado[tese]. So Paulo: Escola deEnfermagem da Universidade de So Paulo; 2013.
Introduo:A equipe de Enfermagem tem sido exposta a
ambientes estressantes, submetida a condies de trabalho
precrias. O estresse intenso e persistente pode desencadear
doenas, prejudicando a qualidade de vida e produtividade doindivduo, o que gera interesse pela determinao de causas e
mtodos de reduo. Pesquisar teraputicas de fcil aceitabilidade,
acesso e adaptabilidade, pode causar impacto positivo sobre a vida
desses profissionais, podendo refletir-se sobre a qualidade de
atendimento oferecido. Este ensaio avaliou a eficcia da
auriculoterapia quando aplicada com protocolo de pontos, conforme
exigncias da pesquisa cientfica, e sem protocolo, semelhana daprtica clnica realizada no Oriente. Objetivos:Descrever os nveis
de estresse da equipe de Enfermagem do Hospital Samaritano;
Comparar a eficcia da auriculoterapia com e sem protocolo,
descrever diagnsticos de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e
pontos auriculares para estresse. Mtodo: 484 profissionais
responderam ao questionrio de dados scio-demogrficos e Lista
de Sintomas de Stress de Vasconcellos(LSS); 213 pessoas, commdio e alto estresse, foram randomizadas em grupo controle sem
atendimento, protocolo e sem protocolo; 175 profissionais
finalizaram 12 sesses, duas vezes por semana e foram avaliados
no baseline, ps-tratamento e follow-up (30 dias) pela LSS,
Inventrio de Sintomas de Stress da Lipp (ISSL), Instrumento de
Qualidade de Vida (SF36v2) e Ficha de avaliao de MTC. O
protocolo utilizado foi: Rim, Tronco Cerebral, Shenmen, Yang do
Fgado 1 e 2. No grupo sem protocolo os aplicadores escolheram
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cinco pontos conforme a evoluo dos sintomas. A coleta foi de
novembro de 2011 a julho de 2012; sete acupunturistas experientes
e formados na mesma escola participaram do estudo. A pesquisa foi
aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa da EEUSP e do
Hospital. Resultados:A mdia de estresse de 484 profissionais foi
de 46 pontos (nvel mdio). O perfil de profissional que apresentou
nveis mais elevados de estresse foi: enfermeira (p=0,012), turno da
manh, encarregada (p=0,022) e com doenas auto referidas
(p=0,001). Na segunda fase, os dois grupos de interveno
obtiveram diferenas quando comparadas ao grupo controle
(p
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ABSTRACT
KUREBAYASHI, LFS. Chinese Auricular therapy to reduce stressand improve life quality of Nursing Team: Randomized Clinical Trial[thesis]. So Paulo: Nursing School of So Paulo University; 2013.
Introduction: Hospitals Nursing Team have been exposed to highly
stressful work environment and submitted many times to precarious
work conditions and thus low quality of life. Easily acceptable,
adaptable and accessible therapeutic research can have positive
effects on the lives of these professionals, resulting also in theirimprovement in the quality of service provided. This study seeks to
assess the efficiency of auriculotherapy point with protocol as
required in scientific research, and the auriculotherapy with no
protocol similar in clinical practice in eastern medicine. Objectives:
Describe and investigate the stress levels of Samaritano Hospitals
Nursing Team; Compare the effectiveness of Chinese Auricular
Therapy performed with or without protocol; Describe the maindiagnosis of Chinese medicine for stress and efficiency of the
selected points. Method: The socio-demographic questionnaire and
Vasconcellos List of Stress Symptoms (LSS) were answered by 484
professionals, 213 of whom had medium and high stress levels and
were randomized into 3 groups: control (without treatment), with
protocol and no protocol. Twelve sessions twice a week were held
and only 175 professionals completed the treatment. Theseprofessionals were evaluated on the first and last day of the
treatment and had a follow-up session after 30 days using LSS,
Lipps Stress Symptoms Inventory (ISSL), Quality of Life Instrument
(SF36v2) and MTC assessment form. The protocol used the
following points: Kidney, Brain Stem, Shenmen, Liver Yang 1 and 2.
In the group without protocol, the acupuncturists chose five points
according to the development of the symptoms. Data compilation and
the applications were carried out by seven acupuncturists, graduates
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of the same school, who have professional experience in
auriculotherapy, from November 2011 to July 2012. The study was
approved by the Committee of Research Ethics of EEUSP and
Hospital. Results: The 484 professionals reached an average stress
level of 46 points. The professional profile to show higher stress
levels was: nurse (p = 0.012), morning shift, in charge (p = 0.022)
and those with declared diseases (p = 0.001). On the second phase,
the two intervention groups presented differences once compared
with the control group (p
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Ciclo de Gerao e Inibio de energia segundo
Teoria dos Cinco elementos............................ 78
Figura 2 - Padres de desequilbrio no Estresse segundo a
Teoria dos Cinco Elementos.............................. 100
Figura 3 - A figura do homem projetada na orelha............. 101
Figura 4 - Zonas de projeo auriculares segundo tecidos
embrionrios......................................................... 104
Figura 5 - Os 30 pontos mestres propostos por Paul
Nogier................................................................... 105
Figura 6 - Mapa de auriculoterapia chinesa......................... 107
Figura 7 - Lista de pontos de auriculoterapia chinesa.......... 108
Figura 8 - Pontos auriculares para problemas emocionais.. 110
Figura 9 - Fluxograma de participao dos sujeitos na
segunda Fase...................................................... 120
Figura 10 - Localizao de pontos do Grupo Protocolo
(2)......................................................................... 124
Figura 11 - Boxplot de nveis de estresse segundo o sexo
feminino(1) e masculino(2). So Paulo,
2012..................................................................... 134
Figura 12 - Boxplot de escores de estresse segundo a
varivel Cargo. So Paulo, 2012......................... 135
Figura 13 - Boxplot dos nveis de estresse segundo
presena (0) ou ausncia (1) de doenas autoreferidas. So Paulo, 2012.................................. 137
Figura 14 - Fluxograma de participao dos sujeitos no
Ensaio Clnico. So Paulo, 2012. 141
Figura 15 - Percentual e localizao dos principais pontos
do Grupo sem Protocolo. So Paulo, 2012.......... 210
Figura 16 - reas responsivas ao estresse em 50 pacientes
com, pelo menos, um sintoma de possvel
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origem psicossomtica de acordo com
Romoli(2010b)..................................................... 211
Figura 17 - Pontos auriculares mais utilizados no grupo sem
protocolo e inervaes regionais......................... 216
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Distribuio dos participantes segundo sexo.
So Paulo, 2012................................................ 128
Grfico 2 - Distribuio de frequncia segundo estado
civil. So Paulo, 2012........................................ 130
Grfico 3 - Evoluo dos nveis de estresse em 3 tempos,
segundo 3 grupos. So Paulo, 2012................. 144
Grfico 4 - Evoluo dos nveis de estresse(LSS) para 76
sujeitos com estresse alto, segundo 3 grupos.So Paulo, 2012................................................ 147
Grfico 5 - Evoluo dos nveis de estresse(LSS) para 99
sujeitos com estresse mdio, segundo 3
grupos. So Paulo, 2012................................... 149
Grfico 6 - Evoluo dos nveis de estresse (LSS) para 52
sujeitos com morbidades, segundo 3 grupos.
So Paulo, 2012................................................ 150Grfico 7 - Evoluo dos nveis de estresse (LSS) de 123
sujeitos sem morbidades, segundo 3
grupos................................................................ 152
Grfico 8 - Evoluo dos percentuais do domnio fsico da
Fase de Alerta do ISSL nos 3 tempos,
segundo 3 grupos. So Paulo,
2012................................................................... 158
Grfico 9 - Evoluo dos percentuais do domnio
psicolgico da Fase de Alerta do ISSL nos 3
tempos, segundo 3 grupos. So Paulo,
2012. ................................................................. 158
Grfico 10 - Evoluo dos percentuais do domnio fsico da
Fase de Resistncia nos 3 tempos, segundo 3
grupos. So Paulo, 2012................................... 161
Grfico 11 - Evoluo dos percentuais do domnio
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psicolgico da Fase de Resistncia nos 3
tempos, segundo 3 grupos. So Paulo,
2012................................................................... 162
Grfico 12 - Evoluo das diferenas das mdias dos
percentuais dos domnios fsico da Fase de
Exausto, segundo 3 grupos. So Paulo,
2012................................................................... 166
Grfico 13 - Evoluo das diferenas das mdias dos
percentuais dos domnios psicolgico da Fase
de Exausto, segundo 3 grupos. So Paulo,
2012.................................................................. 167Grfico 14 - Evoluo dos sintomas fsicos do SF36v2 nos
3 tempos, segundo 3 grupos. So Paulo,
2012.................................................................. 169
Grfico 15 - Evoluo das mdias de sintomas fsicos (SF)
e mentais (SM) do SF36v2, segundo 3 grupos.
So Paulo, 2012................................................ 171
Grfico 16 - Evoluo das mdias de CapacidadeFuncional, Aspecto Fsico, Dor e Estado Geral
de Sade em 3 tempos, nos 3 grupos. So
Paulo, 2012....................................................... 172
Grfico 17 - Evoluo das mdias de Vitalidade, Aspecto
social, emocional e Sade mental segundo os
3 grupos. So Paulo,
2012................................................................... 175Grfico 18 - Correlao entre o nmero de diagnsticos de
MTC e pontos auriculares do Grupo sem
protocolo. So Paulo,
2012...................................................................
.
186
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Descritiva das caractersticas dos Cincoelementos................................................................ 76
Tabela 2 - Mdia e Desvio-Padro das variveis: Idade,
Tempo de servio no setor (meses), escore de
estresse. So Paulo, 2012....................................... 129
Tabela 3 - Frequncia e percentual dos sujeitos segundo os
escores de estresse. So Paulo, 2012.................... 129
Tabela 4 - Distribuio dos profissionais nos quatro turnos epercentuais segundo escores de estresse. So
Paulo, 2012............................................................... 130
Tabela 5 - Percentuais dos principais sintomas relatados
segundo a LSS. So Paulo, 2012............................ 131
Tabela 6 - Frequncia dos participantes e medianas dos
nveis de estresse, segundo setores do Hospital.
So Paulo, 2012...................................................... 132Tabela 7 - Teste de Mann-Whitney para Nveis de estresse,
segundo a varivel Sexo. So Paulo, 2012............. 134
Tabela 8 - Teste de Mann-Whitney para nveis de estresse,
segundo a varivel Cargo. So Paulo, 2012........... 135
Tabela 9 - Teste de Kruskall-Wallis para a varivel Turno,
segundo escore de estresse. So Paulo, 2012....... 136
Tabela 10 - Teste de Mann-Whitney para nveis de estresse,segundo presena ou ausncia de doenas auto
referidas. So Paulo, 2012..................................... 137
Tabela 11 - Distribuio da frequncia e percentual de
indivduos, segundo categorias de idade e
presena/ausncia de morbidade. So Paulo,
2012......................................................................... 138
Tabela 12 - Frequncia e Percentual de indivduos sem e com
doena prvia segundo o tempo de trabalho no
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setor. So Paulo, 2012........................................... 138
Tabela 13 - Correlaes de Spearman entre as variveis Idade
e Nveis de estresse. So Paulo, 2012.................... 140
Tabela 14 - Coeficiente de Correlao de Spearman entre as
variveis Idade, Tempo de hospital e Tempo de
Servio. So Paulo, 2012. ...................................... 140
Tabela 15 - Descritiva e percentual de flutuao de sujeitos na
pesquisa. So Paulo, 2012..................................... 141
Tabela 16 - Frequncia e percentual das variveis scio-
demogrficas dos 175 sujeitos. So Paulo, 2012.... 142
Tabela 17 - Descritiva das mdias e desvio-padro dos nveisde estresse nos 3 tempos, segundo 3 grupos. So
Paulo, 2012.............................................................. 143
Tabela 18 - Tamanhos de efeito e percentual de mudana do
tratamento nos 3 tempos, segundo 3 grupos. So
Paulo, 2012............................................................. 144
Tabela 19 - Descritiva das mdias de estresse e desvio padro
de 76 sujeitos com estresse alto, segundo 3grupos. So Paulo, 2012......................................... 145
Tabela 20 - Tamanhos de efeito e percentual de mudana do
tratamento para sujeitos com estresse alto,
segundo 3 grupos. So Paulo,
2012.......................................................................... 146
Tabela 21 - Descritiva das mdias e desvio padro de 99
sujeitos com estresse mdio, segundo 3 grupos.So Paulo, 2012....................................................... 147
Tabela 22 - Tamanhos de efeito e percentual de mudana do
tratamento para sujeitos com estresse mdio,
segundo 3 grupos. So Paulo, 2012......................... 148
Tabela 23 - Descritiva dos nveis de estresse e desvio padro
de 52 sujeitos com morbidades, segundo 3
grupos.So Paulo, 2012............................................ 149
Tabela 24 - Tamanho de efeito e percentual de mudana em 52
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Tabela 35 - Descritiva das mdias, desvio padro, intervalo de
confiana dos percentuais do domnio psicolgico
da Fase de Resistncia, segundo os 3 grupos. So
Paulo, 2012............................................................... 160Tabela 36 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias do
domnio psicolgico da Fase de Resistncia,
segundo 3 grupos. So Paulo, 2012......................... 161
Tabela 37 - Descritiva das mdias, desvio padro, intervalo de
confiana dos percentuais do domnio fsico e
psicolgico da Fase de Quase exausto, segundo
os 3 grupos. So Paulo, 2012................................... 163Tabela 38 - Descritiva das mdias, desvio padro, intervalo de
confiana dos percentuais do domnio fsico da
Fase da exausto, segundo os 3 grupos. So
Paulo, 2012............................................................... 164
Tabela 39 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias do
domnio fsico da Fase de Exausto, segundo 3
grupos. So Paulo, 2012.......................................... 165Tabela 40 - Descritiva das mdias, desvio padro, intervalo de
confiana do domnio psicolgico da Fase de
Exausto. So Paulo, 2012...................................... 165
Tabela 41 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias do
domnio psicolgico do Questionrio 3, segundo 3
grupos. So Paulo, 2012........................................... 166
Tabela 42 - Descritiva de mdias, desvio padro e intervalo deconfiana dos domnios fsico e mental, segundo 3
grupos. So Paulo, 2012........................................... 168
Tabela 43 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias do
domnio fsico do SF36v2 nos 3 tempos, segundo 3
grupos. So Paulo, 2012........................................... 169
Tabela 44 - Teste Post Hoc para sintomas mentais do SF36v2
das diferenas entre grupos, segundo 3 tempos.
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So Paulo, 2012........................................................ 170
Tabela 45 - Tamanho de efeito e percentuais do domnio
mental do SF36v2 nos 3 tempos, segundo 3
grupos. So Paulo, 2012........................................... 170
Tabela 46 - Descritiva da evoluo das mdias e desvio-padro
dos 8 domnios do SF36v2, segundo 3 momentos.
So Paulo, 2012........................................................ 172
Tabela 47 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias da
Capacidade funcional do SF36v2, segundo 3
grupos.So Paulo, 2012............................................ 173
Tabela 48 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias da
Dor (SF36v2), segundo 3 grupos. So Paulo,
2012........................................................................... 174
Tabela 49 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias do
Estado Geral de Sade (SF36v2), segundo 3
grupos. So Paulo, 2012........................................... 175
Tabela 50 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias da
Vitalidade (SF36v2), segundo 3 grupos. So Paulo,
2012........................................................................... 176
Tabela 51 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias do
Aspecto Social (SF36v2), segundo 3 grupos. So
Paulo, 2012............................................................... 177
Tabela 52 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias do
Aspecto Emocional (SF36v2), segundo 3 grupos.
So Paulo, 2012........................................................ 177
Tabela 53 - Tamanho de efeito e percentuais das mdias da
Sade Mental (SF36v2), segundo 3 grupos. So
Paulo, 2012............................................................... 178
Tabela 54 - Descritiva de percentuais dos principais
diagnsticos de excesso energtico dos
meridianos. So Paulo, 2012.................................... 179
Tabela 55 - Descritiva de percentuais dos principais
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diagnsticos de deficincia energtica dos
meridianos. So Paulo, 2012.................................... 179
Tabela 56 - Tamanho de efeito, percentual de mudana e
possveis diagnsticos de MTC dos sintomas mais
responsivos aps o tratamento em 117 sujeitos.
So Paulo, 2012........................................................ 182
Tabela 57 - Tamanho de efeito, percentual de mudana dos
principais sintomas responsivos do Questionrio 2
(ISSL) e possveis diagnsticos de MTC
relacionados. So Paulo, 2012................................. 183
Tabela 58- Percentual de incidncia de pontos auriculares doGrupo sem protocolo.So Paulo, 2012..................... 184
Tabela 59 - Descritiva dos pontos auriculares relacionados aos
diagnsticos de MTC. So Paulo, 2012.................... 185
Tabela 60 - Teste de Correlao de Pearson entre o nmero de
pontos e de diagnsticos de MTC. So Paulo,
2012........................................................................... 186
Tabela 61 - Teste de Correlao de Spearman entre LSS eISSL nos 3 momentos. So Paulo,
2012........................................................................... 187
Tabela 62 - Teste de Correlao de Spearman entre ISSL e
SF36v2. So Paulo, 2012......................................... 188
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SUMRIO
1
Introduo 27
2 Objetivos.. 32
3 Referenciais Tericos 34
3.1. Medicina Clssica Chinesa e Medicina Tradicional
Chinesa..................................................................................... 35
3.2 Prticas integrativas e complementares: Definies e
Classificaes............................................................................ 37
3.3 Paradigma holstico na sade e interfaces entre a
Enfermagem e Medicina Tradicional Chinesa........................... 43
3.4 O papel das prticas baseadas em evidncias (PBE) na
Enfermagem, na Acupuntura e na Auriculoterapia.................... 54
3.5 O estresse laboral e a qualidade de vida............................ 59
3.6 Fisiopatologia do estresse e suas fases............................. 64
3.7 Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa.................. 69
3.7.1 Os tipos constitucionais e os Cinco Elementos................ 72
3.7.2. Os Cinco Elementos e as caractersticas de cada
elemento................................................................................. 74
3.7.3 Inter-relaes dos Cinco Elementos.............................. 77
3.7.4 Os rgos (Zang) e as Vsceras (Fu)............................ 79
3.7.5 Causas das doenas segundo a Medicina Tradicional
Chinesa.................................................................................... 88
3.7.6 Padres de desequilbrio do Estresse segundo a
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Medicina Tradicional Chinesa (MTC)....................................... 91
3.7.7 Justificativa para a escolha dos padres de
desequilbrio............................................................................ 96
3.8 Auriculoterapia Francesa e Acupuntura Auricular
Chinesa.................................................................................... 100
3.8.1. Breve histrico de auriculoterapia................................. 101
3.8.2 Pontos auriculares para problemas emocionais............. 109
3.8.3 Indicaes e Contraindicaes da auriculoterapia........ 111
3.8.4 A acupuntura auricular como diagnstico...................... 112
4 Hipteses do estudo............................................................... 115
5 Mtodo e Casustica................................................................ 116
5.1 Tipo de Pesquisa............................................................... 116
5.2 Local de estudo................................................................. 116
5.3 Amostra............................................................................. 118
5.4 Instrumentos de Coleta de Dados....................................... 120
5.5 Coleta de Dados................................................................ 122
5.6 Anlise estatstica.............................................................. 125
6 Resultados............................................................................... 128
6.1 Resultados da primeira fase............................................... 128
6.1.1 Descritiva dos dados scio-demogrficos....................... 128
6.1.2 Testes de Inferncia estatstica entre nveis de estresse
e variveis scio-demogrficas.................................................
133
6.1.3 Testes de Correlao entre variveis ordinais scio-
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demogrficas............................................................................. 139
6.2 Resultados da segunda fase: evoluo dos nves de
estresse (LSS)...........................................................................
6.2.1 Fluxograma de participao dos sujeitos no Ensaio
Clnico........................................................................................
140
140
6.2.2 Anlise intergrupos e evoluo dos nveis de estresse
segundo a LSS.......................................................................... 142
6.2.2.1 Evoluo do tratamento dos sujeitos com estresse alto
e mdio..................................................................................... 145
6.2.2.2 Anlise dos nveis de estresse (LSS) segundo sujeitoscom morbidade ou sem morbidade prvia............................... 149
6.3 Resultados da segunda fase: nveis de estresse (ISSL)..... 154
6.3.1 Descritiva dos nveis de estresse segundo o ISSL........... 154
6.3.2 Anlise intergrupos e evoluo dos nveis de estresse
segundo os 3 questionrios do ISSL nos domnios fsico e
psicolgico................................................................................. 154
6.4 Resultados da segunda fase: SF36V2................................ 167
6.4.1 Anlise e evoluo dos domnios fsico e mental
segundo SF36V2....................................................................... 167
6.4.2 Evoluo de cada aspecto do domnio fsico do SF36v2. 171
6.4.3 Evoluo de cada aspecto do domnio mental do
SF36v2...................................................................................... 175
6.5 Resultados da segunda fase: Diagnsticos de MTC
encontrados............................................................................ 178
6.5.1 Principais padres de Excesso e Deficincia nos
meridianos................................................................................. 178
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27
1 INTRODUO
Com base nos resultados positivos alcanados em um estudo
preliminar realizado de Janeiro a Fevereiro de 2010, intitulado
Aplicabilidade da auriculoterapia com agulhas ou sementes
para diminuio de estresse em profissionais de Enfermagem
no Hospital Universitrio (Kurebayashi, Gnatta, Borges et al, 2012a),
emergiu esta pesquisa, a fim de dar continuidade ao primeiro estudo,
com uma amostragem mais representativa e com um desenho que
permitisse aprofundar os estudos sobre a eficcia da auriculoterapia
chinesa com agulhas semipermanentes para a reduo de estresse
e consequente melhoria da qualidade de vida dos profissionais de
Enfermagem.
O presente ensaio clnico pretende, sobretudo, comparar os
resultados da tcnica com o uso de protocolo fechado de pontos j
previamente testado e um grupo sem protocolo. Tal delineamento de
pesquisa se prope a aprofundar os debates sobre a importncia daadequao da abordagem cientfica ocidental na pesquisa de uma
racionalidade mdica distinta da ocidental, proveniente da cultura
oriental chinesa. Sabe-se que o protocolo constitui um passo
importante na realizao da pesquisa cientfica e fundamental na
anlise da eficcia de uma dada tcnica, medicamento ou
procedimento. O protocolo permite maior rigor observao de
variveis, possibilita a reprodutibilidade do estudo, trazendoconfiabilidade aos resultados e seria impensvel um ensaio clnico
sem a definio de protocolos (Cummings, Grady, Hulley, 2008; Lao,
Ezzo, Berman et al, 2005).
Mas, a transferncia da concepo ocidental de pesquisa nem
sempre parece ser consonante com os princpios que fundamentam
as terapias alternativas e complementares (Richardson, 2000). J
em 1997, Nguyen (1997) trouxe uma importante reflexo sobre a
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28
ocidentalizao da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a partir de
uma tendncia a reduzir a arte da acupuntura1a receitas rgidas. Os
trabalhos de pesquisa podem comprovar, em parte, a eficcia dos
pontos mas no representam a verdadeira acupuntura, por
negligenciarem a perspectiva holstica dessa prtica. Na opinio
desta pesquisadora, tende-se a perder, pouco a pouco, a
capacidade de raciocinar e pensar segundo a MTC, em benefcio de
uma prtica que se quer cientfica, fundamentada em comprovaes.
Estas discusses trouxeram um novo desafio para praticantes,
profissionais e pesquisadores: o de encontrar evidncias desegurana e eficcia das terapias complementares, por meio de
modelos de pesquisa que fossem mais adaptados realidade
prpria dessas prticas, da qual a auriculoterapia integrante.
Portanto, este foi o estopim motivador desta pesquisa: buscar avaliar
a auriculoterapia realizada sem protocolo fechado, como geralmente
tem sido realizada por muitos praticantes desta arte,
comparativamente aos resultados positivos j encontrados em
prvias pesquisas com um protocolo de pontos fechado. Tal
protocolo foi gerado a partir de um estudo de possveis diagnsticos
de MTC, com base na literatura e em sintomas e sinais observveis
de estresse.
Os padres de desequilbrio energtico so definidos a partir
de manifestaes clnicas, sinais e sintomas que os caracterizam,
permitindo estabelecer pontos gerais aplicveis e recomendveispara o restabelecimento do equilbrio de um sistema energtico
(Maciocia, 2007). Observa-se o frequente uso e indicaes de
protocolo de pontos, quando os padres de desequilbrio a partir da
MTC esto bem definidos, podendo tambm haver a individualizao
_______________________1
Onde houver acupuntura, leia-se tambm acupuntura auricular ouauriculoterapia, pois so tcnicas coadjuvantes que partem dos mesmosfundamentos de MTC.
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do tratamento, com a readaptao dos pontos na dependncia dos
resultados e do seguimento do tratamento. Assim tem sido praticada
ao longo de milnios pela cultura chinesa (Birch e Felt, 2002a).
Quanto auriculoterapia, duas principais linhas se
desenvolveram, a partir de meados do sculo XX, uma francesa e
uma chinesa. Neste estudo foi escolhida a auriculoterapia chinesa,
que est baseada nos preceitos da filosofia chinesa e que exige para
a sua prtica, prvio domnio dos conhecimentos advindos dessa
medicina, formas de diagnstico e experincia tcnica para execut-
la.Os conceitos e bases terico-prticas que fundamentam a
acupuntura e a auriculoterapia apresentaram-se heterogneos
histrica e regionalmente. H ainda pouco consenso nos diversos
pases entre os critrios de avaliao energtica e de escolha de
pontos, o que dificulta em grande parte a realizao de estudos que
exigem padronizao, protocolos e randomizaes (Birch e Lewith,
2007).
Alguns aspectos precisam ser revistos e amadurecidos
quando se trata de criar protocolos para essas prticas: avaliao da
experincia do pesquisador e formao, o nmero de sesses
recomendveis, as formas de aplicao da acupuntura, as
dificuldades em se realizar um ensaio clnico com duplo cego, o
grupo controle, o efeito placebo e a acupuntura sham2(Stux e Birch,
2005).
Embora existam distintos modelos de prticas de acupuntura
na histria e regionalismos culturais, de fato, h algo de muito
comum a todas elas: o papel primordial de prevenir doenas e
promover a sade. O foco da filosofia e da teraputica chinesa
clssica o de promover a melhor adaptao possvel do indivduo
ao meio que o cerca, contando, para isso, com a participao
_____________________
2Pontos que no tem indicao para o tratamento proposto.
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30
consciente do paciente no processo de manuteno e
responsabilidade sobre a sua prpria sade (Capra, 2006a). Um
trecho colhido do primeiro livro de medicina interna na China, sobre
a importncia da preveno da sade, exemplifica tal ponto de vista:
Administrar remdios para doenas que j sedesenvolveram[...] comparvel ao comportamentodaquelas pessoas que comeam a cavar um poo muitodepois de terem ficado com sede, e daquelas quecomeam a fundir armas depois de j terem entrado nabatalha. No seriam essas providncias excessivamentetardias? (Nei Jing3apudCapra, 2006a, p.309).
Quanto preveno da sade, observa-se na atual sociedade
que um dos principais fatores de elevao dos riscos de
adoecimento o estresse, atingindo um marco de 40% da
populao de So Paulo (Lipp, 2004). O estressepode, alm de ter
um efeito desencadeador do desenvolvimento de inmeras doenas,
propiciar um prejuzo para a qualidade de vida e a produtividade do
ser humano, o que gera grande interesse das empresas e da
sociedade para a determinao de suas causas e pela busca de
mtodos de sua reduo (Sadir, Bignotto, Lipp, 2010).
Indaga-se, portanto, se necessrio que aqueles que
prestam cuidados e assistncia aos pacientes, estejam equilibrados
e saudveis para a realizao de suas atividades. A equipe de
Enfermagem tem sido exposta a ambientes de trabalho pouco
saudveis, submetidos, muitas vezes, a condies de trabalho
precrias, com baixa qualidade de vida (Fugulin, Gaidzinski,
Kurcgant, 2003). O ambiente hospitalar reconhecido comofrequentemente insalubre, penoso e tambm perigoso para aqueles
que ali trabalham. um local privilegiado para o adoecimento devido
aos riscos ocupacionais, biolgicos, qumicos, fsicos e psicossociais.
Estas condies determinam um ambiente propcio ao
_____________________
3
The Yellow Emperors Classic of Internal Medicine-Simple Questions (Huang TiNei Jing Su Wen). Peoples Health Publishing House, Beijing, primeira publicaoa.C. 100.
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31
desenvolvimento de transtornos mentais, como ansiedade,
depresso e estresse (Pitta, 1999).
A organizao dos servios de Enfermagem em regimes de
turnos e plantes, com excessiva carga de trabalho, limitado nmero
de profissionais, problemas relacionais verticais e horizontais,
desgaste psicoemocional decorrentes do lidar diariamente com a
morte e as perdas, potencializam os danos integridade fsica (Elias,
Navarro, 2006). De fato, no ambiente hospitalar, a Enfermagem
responsvel por 65% das aes de sade (COFEN, 2013) e 70,7%
dos servios prestados pela categoria esto em unidades
hospitalares, ficando a cargo dos auxiliares e tcnicos a maior parteda fora de trabalho. Ressalte-se que, em 1988, a Enfermagem foi
classificada pela Health Education Authoritycomo a quarta profisso
mais estressante no setor pblico (Delgado e Oliveira, 2005).
Com base nessas informaes, enfatiza-se a importncia da
preveno da sade, de medidas que auxiliem o enfrentamento dos
mltiplos desafios que so muitas vezes externos vontade do
trabalhador, mas que interferem demasiadamente em suascondies psquicas e fisiolgicas. Para a obteno de uma
condio energtica mais equilibrada e estvel, requisito este
necessrio para a no manifestao de doenas, a auriculoterapia
pode ser uma prtica no convencional de grande aceitabilidade,
segurana e eficcia, pelo reconhecimento de seus efeitos positivos
em distrbios fsicos, psquicos e mentais (Kurebayashi, Gnatta,
Borges et al, 2012a).
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2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVOS GERAIS
Descrever e investigar os nveis de estresse da equipe de
Enfermagem do Hospital e suas correlaes com variveis
scio-demogrficas da equipe de Enfermagem;
Analisar a aplicabilidade da auriculoterapia chinesa com
protocolo fechado e sem protocolo para reduo dos nveis de
estresse e melhoria de qualidade de vida;
Averiguar os principais diagnsticos de Medicina Tradicional
Chinesa para estresse e a aplicabilidade e eficcia dos pontos
auriculares escolhidos;
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Caracterizar sociodemograficamente a equipe de
Enfermagem do Hospital;
Descrever o perfil sociodemogrfico e de sade dos
profissionais que sofrem de nveis mais elevados de estresse;
Avaliar os resultados obtidos antes e aps 12 sesses de
tratamento, follow-up de 30 dias e comparar os resultados
entre o grupo protocolar fechado, grupo sem protocolo e
grupo controle na reduo dos nveis de estresse segundo
Lista de Sintomas de Stress (LSS) de Vasconcellos,
Inventrio de Sintomas de Stress da Lipp (ISSL) e melhoria
de qualidade de vida segundo SF36V2;
Verificar as associaes entre variveis como presena de
morbidade e diferentes nveis de estresse e avaliar a
responsividade destes diferentes grupos ao tratamento;
Verificar correlaes de estresse e de qualidade de vida nos
domnios fsico e psicolgico;
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Listar os principais sintomas de estresse, relacion-los com
os diagnsticos de MTC e compar-los aos pontos auriculares
escolhidos.
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3 REFERENCIAIS TERICOS
Para obter a argamassa necessria para a construo e
maturao de ideias e propostas que tangenciem esses dois campos
distintos do saber, a auriculoterapia chinesa e a Enfermagem, alguns
referenciais tericos podem nos auxiliar a delimitar o presente
estudo, a comear por definies, classificaes, terminologias em
uso sobre prticas integrativas e complementares, que de alguma
forma refletem mudanas conceituais acerca das distintas
racionalidades mdicas4e dilemas tico-legais quanto ao exerccio
destas prticas no Brasil. Prope-se uma reflexo sobre oparadigma holstico na sade, possveis interfaces entre os
fundamentos terico-filosficos da Enfermagem e MTC, um breve
histrico sobre a auriculoterapia francesa e acupuntura auricular
chinesa, suas diferenas conceituais, indicaes e contraindicaes.
Ser feita uma discusso sobre o papel das Prticas Baseadas em
Evidncias (PBE) na Enfermagem, na Acupuntura e Auriculoterapia
e as pesquisas que tm sido realizadas na rea. Buscar-se-entender a fisiopatologia, as fases do estresse, suas consequncias
sobre a qualidade de vida e, finalmente, avaliar segundo o olhar
chins, o evento do estresse e os principais padres de desequilbrio
pela MTC implicados.
Est no bojo da questo o debate sobre o processo de
incorporao de uma prtica de sade oriental que passa por uma
atualizao ocidental e que ao transformar-se, acultura-se,
modifica-se ganhando novas vestes, teorias e ressignificaes. As
prticas oriental e ocidental de sade partem de fundamentos
distintos e cautela h que se ter para no reduzir e sintetizar a
____________________
4Definida por Luz (1997) como um sistema lgico e terico estruturado em cinco
dimenses: a doutrina mdica, a morfologia, uma dinmica vital, um sistema dediagnose e um sistema de teraputica.
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35
riqueza e complexidade da medicina clssica oriental, que tem seu
prprio cabedal de conhecimentos, teorias e prticas.
3.1 MEDICINA CLSSICA CHINESA E MEDICINA
TRADICIONAL CHINESA
A medicina chinesa no foi sempre homognea e a mais
importante mudana paradigmtica pela qual historicamente passou,
teve seu ponto alto a partir das mudanas polticas e ideolgicas do
comunismo (Birch e Felt, 2002a).
Em anlise realizada sobre a homogeneizao da medicinachinesa, pode-se afirmar que tal processo teve incio a partir da
retomada da medicina popular por Mao Ts Tung, na Repblica
Popular da China. A medicina chinesa transitou de um paradigma
mstico e ritualstico para outro mais ocidentalizado e o processo de
padronizao da Medicina Clssica tem sido discutido por
importantes historiadores da medicina chinesa, Unschuld (1985) e
Birch e Felt (2002a).O estudo realizado por Souza (2008) sobre as diferenas entre
a medicina antigamente realizada na China e a medicina propalada
a partir da Repblica Popular da China de profunda relevncia
para a compreenso do que hoje reconhecemos por Medicina
Tradicional Chinesa no Ocidente. Segundo esse autor, o
reavivamento da acupuntura e da MTC a partir de meados do sculo
XX, deu-se por uma necessidade social, poltica e econmica de umpas que se encontrava em absoluta pobreza e misria. Por razes
polticas, ideolgicas e paradigmticas, as concepes fundamentais
da Medicina Clssica passaram por um processo de modificao,
excluso e reduo, sendo enfatizados aspectos relacionados com o
paradigma biomdico ocidental, essencialmente voltado para a cura
de doenas. O trabalho desse autor consistiu exatamente em buscar
analisar o modelo de preveno e promoo de sade, outrora
fundamentais para a Medicina Clssica Chinesa e compreender o
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depende da mensurao objetiva de dados, que so colhidos por
instrumentos de alta tecnologia.
Tais aspectos so considerados no presente estudo, pois
espelham as atuais inquietaes no campo das prticas no
convencionais e, em especial, da acupuntura e auriculoterapia,
quanto aos distintos olhares, percepes, filosofias e conceituaes
desenvolvidas concomitantemente no Mundo hoje. No se pretende,
porm, ser definitiva e conclusiva a discusso quanto relevncia
da auriculoterapia protocolar ou no protocolar, individualizada. A
proposta exatamente a de levantar questes, desvelar percepes,
aprofundar entendimentos e ampliar horizontes. Mesmo porque,ambas as abordagens tm apresentado resultados que
entusiasmam seus praticantes e no so necessariamente
excludentes e conflitantes.
Intenciona-se buscar encontrar, semelhana da cultura
oriental, no dizer de Birch e Felt (2002a) e inspirada no Taosmo (Wu,
2001), um caminho de aproximao entre diferentes, que permita a
integrao em meio diversidade de tcnicas, opinies e princpiosna direo de um novo conhecimento que flua multifacetado, porm
integrado e contextualizado.
3.2 PRTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES:
DEFINIES E CLASSIFICAES
Merece ateno uma breve justificativa sobre a terminologiaaqui utilizada. So mltiplas as nomenclaturas encontradas
mundialmente para designar Prticas Integrativas e
Complementares.
Originalmente o termo Medicina Alternativa foi um termo
institucional enunciado pela Organizao Mundial da Sade (OMS),
em 1962, como uma prtica aliada a um conjunto de saberes
mdicos tradicionais (Luz, 2005). Neste contexto, em 2002, a OMSdefiniu como Medicina Tradicional (MT), no plano estratgico
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38
para 2002-2005 de Medicina Tradicional, toda e qualquer prtica de
sade que considerada tradicional em dado lugar e que constitui a
base para a medicina oferecida naquele pas (WHO, 2002). Dentro
da estrutura do Instituto Nacional de Sade (NIH), o Congresso dos
Estados Unidos criou, em 1992, o Centro Nacional para a Medicina
Complementar e Alternativa(NCCAM, 2007). Em Cuba, a partir de
1996, impulsionou-se o desenvolvimento das tcnicas
complementares e, em 2002, foram incorporadas como
especialidades no Sistema Nacional de Sade, denominado
Medicina Tradicional Natural(MTN) (Cuba, 1995).
No Sistema nico de Sade (SUS), no Brasil, vrios so osdocumentos que surgiram ao longo da histria para a introduo
dessas prticas:
em 1986, na VIII Conferncia Nacional de Sade,
deliberou-se a introduo de prtic as alternativ as de
assistncia sade nos servios de sade (Brasil,
1986);
em 1988, as resolues da Comisso Interministerialde Planejamento e CoordenaoCIPLANn 4,5,6,7
e 8/88 fixaram diretrizes para o atendimento em
homeopatia, acupuntura6, termalismo, fitoterapia e em
tcn ic as al te rn ati vasde sade mental (Brasil, 1988);
em 1995, a formao do Grupo Assessor Tcnico-
cientfico em Medici nas no-Con venc ion ais, editada
pela ento Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitriado Ministrio de Sade (hoje, Agncia Nacional de
Vigilncia Sanitria/ANVISA)(Brasil, 1995);
em 1996, a X Conferncia Nacional de Sade aprovou,
em relatrio final, a incorporao ao SUS, em todo o
pas, de prticas de sade como a fitoterapia, a
______________________
6A auriculoterapia ou acupuntura auricular uma tcnica coadjuvante
acupuntura sistmica e pode ser inserida conjuntamente com a acupuntura.
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acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias
altern ativas e prtic as po pu lares(Brasil, 1996);
em 2003, deu-se a constituio do Grupo de Trabalho
no Ministrio da Sade, com o objetivo de elaborar a
Plano Nacional de Medic in a Natu ral e Prtic as
Complementaresno SUS (Brasil, 2003);
em 2004, aprovada a Lei n 13.717, de 8 de janeiro
de 2004, de um Projeto de Lei n 140/01, do Vereador
Celso Jatene (PTB), dispondo sobre a implantao das
Terapias Naturais na Secretaria Municipal de Sade
do Municpio de So Paulo(So Paulo, 2004);
em 2006, a Portaria n 971, de 3 de maio de 2006,
aprova a Poltica Nacional de Prtic as Integ rati vas e
Complementares(PNPIC) no SUS (Brasil, 2006a).
A terminologia Prticas Integrativas e Complementares foi
utilizada pelo Ministrio da Sade em 2006, no documento que
estabelece pela primeira vez a acupuntura como prticamultiprofissional de especialistas da rea da sade. Intitulou-se por
tais prticas um conjunto de teraputicas, que incluem a acupuntura,
auriculoterapia e outras terapias oriundas da China, a homeopatia, a
fitoterapia, massagem oriental, exerccios fsicos orientais como Tai
Chi Chuan, Lian Gong, Qi Gongetc.
O exerccio da acupuntura pelo enfermeiro teve respaldo legal
a partir da Resoluo 197/97 pelo Conselho Federal de Enfermagem(COFEN) para a prtica da acupuntura e auriculoterapia e,
atualmente, pela Resoluo 326/2008, em substituio a outras
Resolues anteriormente expedidas (n.283/2002 e n.287/2003),
regulamenta a atividade, dispe sobre o registro da especialidade,
dando sustentao e legitimidade ao exerccio da acupuntura pelo
enfermeiro (COFEN, 2008).
Sabe-se que a terapia de acupuntura tem uma longa histria
de utilizao em diferentes sociedades e certamente no foi
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realizada somente por um restrito grupo de profissionais. No Brasil
houve plena aceitao pelos Conselhos que a regulamentaram
como especialidade, e apesar disso, o profissional mdico tem sido
privilegiado nos convnios mdicos, na atuao junto ao Sistema
nico de Sade, nos Ambulatrios de Especialidades, Unidades
Bsicas de Sade, hospitais etc. O grande poder poltico e
ideolgico exercido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e
pelos mdicos frente s instituies sejam elas privadas ou
governamentais, tem excludo os demais profissionais da sade da
possibilidade do exerccio da acupuntura, pela reivindicao da
exclusividade da acupuntura como ato mdico (Kurebayashi, Freitas,2011).
Frente a tantas discordncias e embates polticos, ticos e
legais, substituir o termo medicina desses documentos por terapia
ou prtica, parece ser uma sada bastante apropriada e coerente.
Segundo Nuez (2002), o papel do mdico para Hipcrates era o de
auxiliar nas foras naturais, mediante a criao de condies mais
favorveis para o processo de cura e o termo terapia, do gregotherapeuin (dar assistncia, cuidar de) define o papel do terapeuta
como o de um assistente para o processo de cura natural. E o termo
prtica vem do grego praktik e significa aplicao das regras e
dos princpios de uma arte ou de uma cincia (Priberam, 2010) 7e
bastante abrangente para as mltiplas tcnicas a que se relacionam
as prticas integrativas e complementares.
Nessa perspectiva, tambm se pode discutir o termoalternativa, complementar e integrativa. A palavra alternativa tem
em uma de suas acepes o significado de opo entre duas coisas,
escolha, sucesso de coisas que se excluem entre si(Dicionrio da
Lngua Portuguesa, 2007). A utilizao de uma prtica no
convencional no exclui necessariamente a medicina convencional
aloptica, portanto, tal terminologia no aborda integralmente o
______________________
7Disponvel em: http://www.priberam.pt/dlpo/
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41
conjunto de teraputicas no-convencionais. Por sua vez, o termo
complementar significa completar, que serve de complemento e
justifica-se sua escolha e adequao quando tais prticas so
utilizadas como adjuvantes medicina convencional. Muitas dessas
novas/velhas prticas de sade podem ser complementares
prtica convencional ocidental, como ampliao de recursos
teraputicos para o cuidar (Salles, Kurebayashi, Silva, 2011).
Mas, o termo integrativa tem sido bastante utilizado nos
ltimos anos, pois consegue incorporar a concepo holstica,
multidisciplinar e colaborativa em concordncia com uma nova forma
de entender e abordar a sade (Snyder e Lindquist, 2009). De fato, apalavra integrar significa tornar(-se) inteiro, completar(-se). Muitas
das prticas complementares advm de sistemas mdicos prprios,
utilizados pelos povos que lhes deram origem, como a MTC e,
portanto, so independentes da medicina convencional aloptica. A
ideia de integrar surge como uma possibilidade de suprimir a
relevncia de uma forma de medicina sobre outra.
Segundo Kurebayashi (2007), a palavra medicina nocontexto da MTC no tem a mesma fora de expresso que
atribumos s palavras medicina e mdico nos pases do
Ocidente. A MTC no precisa necessariamente ser realizada por
mdicos e h a formao desses profissionais na China, tanto
quanto a formao de mdicos que estudam medicina ocidental e
oriental (WHO, 2002). Os praticantes no-mdicos na China, no
perodo de Mao Ts- Tung, em meados do sculo passado, eramformados em dois anos, aprendendo pelo menos 70 pontos de
acupuntura e 200 ervas em mdia e eram denominados Mdicos de
Ps Descalos (Trevisan, 2006). Logo, o termo mdico pela MTC
no corresponde exatamente ao que a medicina ocidental atribui
figura do mdico.
No contexto dos Estados Unidos, o National Center for
Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) do National
Institutes of Health (NIH) adotou a nomenclatura Medicina
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Alternativa e Complementar (MAC) para designar esse grupo de
sistemas de sade, de prticas e produtos que no so
considerados como integrantes da medicina convencional (NCCAM,
2007).
Segundo Snyder e Lindquist (2009), para o NCCAM, h uma
classificao para as terapias complementares em cinco diferentes
categorias:
(1) as terapias mente-corpo (Mind-body), que so
intervenes como meditao, yoga, musicoterapia, orao,
biofeedback, tai chi chuan, arteterapia, etc;
(2) as terapias com base biolgica (Biologically basedtherapies), que so terapias que se utilizam de substncias
encontradas na natureza (ervas, leos, medicina ortomolecular,
dietoterapia, etc);
(3) as terapias corporais (Manipulative and body-based
therapies), que contemplam a quiropraxia, massagem, rolfing, etc;
(4) as terapias vibracionais (Energy therapies), que focam
terapias como Toque teraputico, Reiki, Qi Gong, magnetoterapia,etc;
(5) a Medicina Integrativa (Whole Medical Systems), nesta
categoria se insere a MTC, a Medicina Ayurvdica, etc.
A auriculoterapia chinesa pertence ltima categoria (Whole
Medical Systems) e faz parte de um conjunto de tcnicas de um
sistema mdico, que tem sua prpria teoria, cujos fundamentos sodistintos, por vezes dicotmicos com as concepes ocidentais
biomdicas.
Em funo do exposto, consideramos de grande relevncia
refletir sobre tais diferenas conceituais e buscar encontrar elos,
parmetros de comparao entre os aspectos terico-filosficos da
Enfermagem e o olhar holstico e fundamentado em energia da MTC.
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3.3 PARADIGMA HOLSTICO NA SADE E INTERFACES
ENTRE A ENFERMAGEM E MEDICINA TRADICIONAL
CHINESA
Etimologicamente, o termo holismo deriva do grego holos,
que significa doutrina que d prioridade ao entendimento global e
no analtico dos fatos, ou ainda, doutrina que considera os
fenmenos biolgicos e psicolgicos em sua totalidade ou como um
todo (Borba, 2005). Concebido como um princpio absoluto, o
holismo se contrape ao reducionismo, referindo-se a uma
abordagem filosfica do cuidado de sade apoiada no todo e no em
partes. Essa abordagem no exatamente um caminho novo. Basta
observar os sistemas de sade de outras pocas e em outros
contextos culturais, como por exemplo, a MTC (Capra, 2006b).
Mesmo Hipcrates, o Pai da Medicina Ocidental, propunha
orientaes holsticas quando ensinava os mdicos a observarem
seus pacientes segundo o estado emocional, condies de vida e
ambiente, constituio pessoal e experincias subjetivas pessoais
do adoecer. Scrates concordava com esse ponto de vista quando
declarou que curar a alma seria a primeira medida a ser tomada
(Fontaine, 2011a).
surpreendente observar, historicamente, que dois filsofos
do sculo VI aC, um na China e outro na Grcia, desenvolveram
concepes de mundo to similares. Lao Ts, no Taosmo chins e
Herclito de feso, na Grcia. semelhana da ideia chinesa doTao, que se manifesta na interao cclica do Yin e do Yang,
Herclito comparou a ordem do mundo a um fogo que permanecia
eternamente vivo, ora acendendo, ora extinguindo-se em mudana
contnua e movendo-se a partir de pares de opostos. Herclito tem
sido frequentemente mencionado em temas ligados Fsica
moderna e sua vinculao com o Taosmo inegvel (Capra, 2006a).
Presume-se que o antigo chins observava pacientemente anatureza, percebeu que os padres cclicos naturais interferiam
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sobre seu corpo e que o homem era um reflexo microcsmico de um
todo muito maior que engloba todas as foras da natureza. Ele era
uma ponte entre o Cu e a Terra, composto de energia e matria, de
alma e corpo. Estas foras representavam as muitas faces do Qi
(Holland, 2000).
O Ocidente, por outro lado, fez um caminho diferente, cujo
olhar sobre o universo abraou a perspectiva linear, sequencial,
matemtica, lgica e fundamentada em pensadores como Ren
Descartes (1596-1650) e nos princpios de fsica de Isaac Newton
(1642-1727). A Idade Moderna foi determinante para o modelo
biomdico e a revoluo cientfica determinou uma concepo demundo voltada para fenmenos matemticos quantificveis, em
detrimento do todo e do sistmico. O corpo humano passa a ser
concebido como uma mquina composta por pequenos
componentes que precisam ser abordados em separado. O foco a
doena, que resulta de um mau funcionamento de elementos
estritamente fisiolgicos, biolgicos, cujos sintomas e disfunes
precisam ser eliminados (Capra, 2006a).Nesse ponto de vista, a Sade entendida como a ausncia
de doenas e se espera um tratamento rpido, agressivo para
exterminar a enfermidade com medicaes e cirurgias, em situaes
em que haja problemas agudos emergenciais, traumas, infeces
bacterianas e doenas que necessitam de interveno cirrgica. O
tratamento basicamente o mesmo para as pessoas que sofrem de
uma mesma enfermidade(Fontaine, 2011a).Tal tendncia prevalente na Idade Contempornea e finda
por determinar caminhos assistenciais de sade centrados no
mdico, no sistema biomdico e na tecnologia de alto custo. E, neste
sentido, nem sempre as pessoas so convidadas a assumir uma
atitude de co-responsabilidade, de participao na manuteno da
prpria sade (Carneiro e Soares, 2004).
Por outro lado, na MTC, o principal foco a preveno.
Comenta-se que nos primrdios da cultura chinesa, os mdicos no
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recebiam seus honorrios se os pacientes adoecessem. Na
concepo chinesa de sade, a doena no um agente intruso,
mas a consequncia de um conjunto de causas que resultam em
desarmonia e desequilbrio (Snyder e Lindquist, 2006).
Eram considerados superiores aqueles mdicos que
conseguissem reconhecer prematuramente os desequilbrios antes
do adoecimento, enquanto os mdicos inferiores seriam aqueles, a
quem s lhes restava tratar a doena j instalada e seus sintomas
(Wang, 2001).
Interessante observar em textos antigos atribudos a Zhou Li
Tian Guan, citaes que exemplificam a importncia que apreveno sade tem para os trabalhadores ligados sade nesse
perodo:
O doutor principal supervisiona todas as questesrelativas medicina e faz a coleta das drogas parapropsitos medicinais. Ele dirige os outros doutores a seencarregarem dos diferentes departamentos, de formaque permita aos doentes ou feridos irem at eles. Nofinal do ano, o trabalho que realizaram examinado e osalrio de cada um fixado de acordo com os resultadosapresentados. Se em todos os casos houver cura, excelente; se houver um fracasso em cada dez casos,fica sendo o segundo; se for de dois de cada dez,terceiro; trs de dez, o quarto; e se for quatro entre dez, ruim (Birch e Felt , 2002a, p.10).
A concepo do binmio sade-doena tende a se
transformar no sculo XXI, pois apesar da modernizao e
sofisticao da medicina ocidental, ela tem se mostrado limitada
para resolver os mltiplos problemas de sade, decorrentes das
mudanas ambientais, climticas, sociais, dos desafios doenvelhecimento populacional, da sobrecarga de usurios e do alto
custo dessa medicina (Capra, 2006a).
Dentre os trs motivos considerados por Snyder e Lindquist
(2010), sobre o crescente interesse sobre as terapias
complementares, est a abordagem holstica e integral da pessoa.
Outra razo a de que as pessoas querem ter poder
(empowerment) e se envolver com as decises, querem seresclarecidas sobre o que esto vivenciando. A terceira razo seria a
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de que essas teraputicas melhoram a qualidade de vida e
apresentam poucos efeitos colaterais medicamentosos.
De fato, observou-se que a partir dos anos de 1960 houve um
grande crescimento do uso de prticas denominadas alternativas,
complementares, integrativas ou holsticas nos diversos espaos da
sociedade, em instituies e servios pblicos de sade. Para
justificar tal expanso, Souza e Luz (2009) realizaram uma reflexo
sugerindo que os motivos para tal crescimento no seriam somente
resultantes de questes sobre insatisfao ou ineficincia da
medicina ocidental contempornea ou do sistema pblico de sade,
embora fossem fatores inegveis. Eles sugerem, sobretudo, queessa orientalizao do Ocidente foi resultante de uma mudana de
valores, de escolhas culturais e teraputicas, de uma transformao
do que se entende por sade, doena, tratamento e cura.
Ao refletir sobre o aumento da busca por terapias alternativas,
Souza e Luz (2009) citam um primeiro importante aspecto: a crise da
sade uma decorrncia de problemas de natureza sanitria e
epidemiolgica, que poderiam ser resolvidos mediante polticasadequadas, mas que so a consequncia inevitvel da evoluo do
capitalismo globalizado, com o agravamento de desigualdades
sociais, intensificao de problemas como desnutrio, violncia,
doenas infectocontagiosas e cronicodegenerativas.
Um segundo aspecto para explicar a intensificao da busca
por novas prticas teraputicas seria a expectativa das pessoas de
encontrar respostas diferentes daquelas ofertadas pela medicinaconvencional ocidental. As novas teraputicas conseguem
responder s novas demandas da sociedade, com relao ao alvio
do sofrimento naquilo que se denominou pequena epidemiologia
do mal-estar (Joubert 1993 apud Souza e Luz, 2009, p.397).Essa
sndrome seria caracterizada por dores imprecisas, depresso,
ansiedade, pnico, males de coluna vertebral etc, vivenciadas de
forma cada vez mais intensa pela populao em geral nas
sociedades ps-modernas. As novas prticas valorizam o sujeito,
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sua relao com o terapeuta e no preciso tecnologia excessiva: a
sade o elemento central da teraputica.
Ao findar sua anlise reflexiva, Souza e Luz (2009) concluem
que mesmo aps o movimento da contracultura ter plantado
sementes h mais de trs dcadas, o individualismo permanece
hegemnico e em contraposio a valores individualistas em relao
ao planeta. Destaca-se o papel da ecologia e o crescimento e oferta
de prticas complementares que sejam mais condizentes com o
novo paradigma da sade. Nessa linha de pensamento, Fritjof Capra
j havia feito, na dcada de 1980, srias advertncias sobre a
conscientizao da sociedade, das instituies e governantes quanto manuteno da vida, da sade planetria e do homem:
Em nossa sociedade, entretanto, uma abordagemverdadeiramente holstica reconhecer que o meioambiente criado por nosso sistema social e econmico,baseado na viso de mundo cartesiana, fragmentada ereducionista, tornou-se uma sria ameaa nossasade. Uma abordagem ecolgica da sade s tersentido, portanto, se for acompanhada de profundasmudanas em nossa tecnologia e em nossas estruturassociais e econmicas (Capra, 2006a, p.313).
A propsito, o novo paradigma emergente expandiu-se a
partir da viso einsteiniana, da teoria da relatividade, da Fsica
Quntica, da nova biologia e ecologia. E, na sade, os seres
humanos passaram a ser entendidos como campos de energia que
se interpenetram e se influenciam mutuamente com o ambiente
(Capra, 2006b). Considera-se, a partir de tal ponto de vista, o
universo como uma rede de relaes entre todas as coisas, por meio
do qual se estabelecem conexes em todas as direes. Este um
universo no atomstico, onde o todo muito mais do que a soma
das partes (Boff, 2004).
Com a mudana gradativa de concepo de mundo no
Ocidente, a retomada de antigos conceitos orientais tornou-se
possvel. Esses conhecimentos foram exaustivamente revisados,
reescritos, adaptados e modernizados por estudiosos de diferentes
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perodos histricos e foi escrito por muitas mos (Birch e Felt,
2002a).
Conceitos cosmolgicos como Qi, Teoria do Yin e Yang 8 ,
Cinco Movimentos9, Fisiologia energtica do Zang Fu, meridianos de
energia nos canais e colaterais, pontos de acupuntura, so preceitos
desenvolvidos no decorrer de milnios com base no Taosmo10. Os
textos mais antigos datam de 100 a 200 a.C. para o Huang Di Nei
Jing e por volta de 100 a 200 d.C. para o Nan Jing. Esses textos
foram reescritos e reinterpretados no decorrer de milnios e
traduzidos em diversas lnguas. Os conceitos neles contidos
mantiveram-se historicamente, pois a lngua chinesa no sofreugrandes alteraes, permitindo assim a manuteno dos tesouros
culturais desse pas (Birch e Felt, 2002a; Souza, 2008).
Assim, foi possvel resgatar os fundamentos dessa medicina,
que desenvolveu um diagnstico prprio, fazendo uso da
observao minuciosa da lngua, da orelha, do pulso radial e outros
mtodos diagnsticos que incluem palpao, olfao, ausculta,
observao e interrogatrio, estabelecendo padres de desequilbriode cada rgo e vscera, dos canais de energia e meridianos,
definindo princpios de tratamento e escolhendo formas de
tratamento mais adequadas a cada pessoa, em uma dada situao
(Maciocia, 2007).
A auriculoterapia chinesa, prtica abordada no presente
estudo, faz parte do conjunto dessas tcnicas desenvolvidas pela
MTC h pelo menos 2500 anos, utilizada em conjunto com aacupuntura sistmica, fitoterapia, dietoterapia, massagem,
____________________
8 Conceito filosfico chins antigo, que se refere a dois plos opostoscomponentes da matria na natureza e que embora opostos, sointerdependentes e complementares (WHO, 2007).9 Teoria cosmolgica que classifica os fenmenos do universo em cincoelementos: terra, metal, madeira, fogo e gua (WHO, 2007).10
Tradio ancestral filosfica e religiosa, que toma por base o Tao, que emchins pode ser traduzido por caminho, vazio ou absoluto. a soma de todasas coisas, o Um, como sntese do Todo (Cherng, 2001).
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moxabusto 11 , ventosa 12 e exerccios fsicos, com o intuito de
restabelecer o equilbrio energtico e buscar o bem-estar do
indivduo (Landgren, 2008). Portanto, para a MTC, qualquer tcnica
busca retomar o equilbrio e fluir energticos, seja pelo exerccio
fsico, pelas ervas, pela massagem, pela utilizao de
microssistemas como o da orelha.
A par destas informaes, questiona-se se possvel
estabelecer uma anlise comparativa entre a Cincia da
Enfermagem, seus fundamentos terico-filosficos e definir nexos
com a MTC. Parte-se da premissa de que realizar estudos
comparativos e transculturais pode ampliar horizontes e auxiliar nabusca de solues aos novos desafios que se apresentam no campo
da sade (Capra, 2006a).
Ao se buscar tecer uma comparao das principais
similaridades entre fundamentos da MTC e da Enfermagem,
algumas teorias de Enfermagem que contemplam aspectos
holsticos permitem estabelecer, pelo menos em teoria, elos
comparativos interessantes entre essas duas Cincias doconhecimento.
Florence Nightingale foi a primeira grande teorista de
Enfermagem e buscou desenvolver a cincia de Enfermagem
definindo o processo restaurador ao colocar o paciente em um
ambiente que lhe proporcionasse as melhores condies para o seu
restabelecimento natural e autocuidado. Nessa perspectiva,
semelhana do olhar chins, Florence acreditou que o ser humanotem uma fora vital de recuperao para lidar com as doenas e o
objetivo da Enfermagem o de colocar o indivduo na melhor
condio para defender-se do adoecimento e conseguir promover a
autocura (Nightingale, 2010).
____________________
11 Tratamento realizado com a queima da Artemsia, estimulando pontos de
acupuntura com o calor.12Tratamento realizado a partir da suco da pele com campnulas de vidro e
outros materiais.
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Florence que possua uma forte personalidade, viso e
habilidade prtica para a organizao, trouxe para a Enfermagem
fundamentos sobre os quais se desenvolveram os princpios
tcnicos, educacionais e ticos, que acabaram por impulsionar a
profisso (Oguisso e Schmidt, 2007).
Na esteira das teoristas de Enfermagem, cujos modelos
compartilham bases holsticas, cita-se Callista Roy (1984), que em
sua teoria sugere que cada sistema corporal est em contnua
interao com o ambiente. No modelo de adaptao de Roy, os
homens so vistos como sistemas biopsicosociais que interagem
com o meio ambiente. A sade entendida como um processo deser e estar integrado com o todo, na relao pessoa-ambiente. O
objetivo da Enfermagem seria, portanto, o de promover a melhor
resposta adaptativa ao meio e aos seus estmulos, buscando atingir
o equilbrio e o bem-estar. As intervenes de Enfermagem afetam o
processo de adaptao fazendo decrescer, aumentar, modificar,
remover ou manter tais estmulos internos e externos, de forma a
possibilitar a manuteno da sade (Polit e Beck, 2010).Outra teorista seria Dorothea Orem que teria explicitado, na
teoria do Autocuidado, o mpeto inato que o ser humano tem de
cuidar de si mesmo e que cabe Enfermagem ser um facilitador e
um agente de mudana. Neste contexto, importante citar Myra
Levine que, em 1971, publicou o primeiro artigo em que o termo
Enfermagem holstica foi usado, enfatizando que o conceito de
holismo seria o mais importante princpio que distingue aEnfermagem da Medicina. Ressalte-se que tal afirmao est
relacionada ao cuidado oferecido pela Enfermagem quando
vislumbra um olhar totalizante em contraposio abordagem
reducionista da medicina convencional (Mantle, 2005).
Ainda, em 1979, Jean Watson definiu a Teoria da Cincia
Humana e do Cuidar Humano. Neste modelo, o enfermeiro deve
visualizar as necessidades humanas numa abordagem holstica-
dinmica, ser coparticipante na luta do paciente pela auto-
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atualizao. O paciente colocado no contexto da famlia e da
comunidade (Vall, Lemos, Janebro, 2005).
A teoria transpessoal de Watson(1988) oferece a sua
contribuio quando indica que o cuidado um processo
intersubjetivo e s pode ser demonstrado e praticado de humano-
para-humano. A Enfermagem tem um importante papel, j que, para
cuidar do outro necessrio que realize o seu prprio cuidado.
Assim, o autocuidado alicerado na harmonia, na paz interior, no
conhecimento e transformao do self, na conexo da pessoa com o
meio e com o divino. Desta forma, quem se cuida conseguir
promover melhoras na sua qualidade de vida pessoal econsequentemente nos cuidados que oferea a outrem.
No Brasil, em 1979, a teoria das Necessidades Humanas
Bsicas de Wanda Horta foi desenvolvida a partir da motivao
humana, fundamentada em Maslow, englobava leis que regem os
fenmenos universais: a lei do equilbrio (homeostase ou
homeodinmica), a lei da adaptao (interao do ser humano com
o universo) e a lei do holismo (universo um todo, o ser humano um todo e esse todo no mera soma das partes) (Leopardi apud
Vall, Lemos, Janebro, 2005).
No presente estudo, entretanto, foi escolhido o modelo
conceitual de Martha Elizabeth Rogers como referncia terica, por
ser uma proposta inovadora e por ter estabelecido princpios em
consonncia com as mudanas paradigmticas no campo da
Enfermagem, quando estabelece a energia como um dos princpiosdesse modelo. Tal teoria tem recebido ateno pelos pesquisadores
de Enfermagem em prticas complementares e muitos estudiosos
tm dado continuidade aos seus ensaios tericos buscando
desenvolver uma prxis coerente com os princpios desse modelo.
Por volta de 1970, Rogers13lana sua terceira publicao, definindo
_________________13
Rogers ME. An introduction to the theoretical basis of nursing . Philadelphia: F. A.Davis; 1970.
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as bases da Cincia do Ser Humano Unitrio. Esta renomada
teorista definiu o ser humano como o centro do fenmeno de
interesse da Enfermagem e foi fonte de inspirao de uma nova
gerao de teoristas (Blumenschein, 2009).
Elizabeth Barrett, uma das fundadoras da Society of Rogerian
Scholars, estudiosa de Rogers, explica que a chave para o sistema
conceitual da Cincia do Ser Humano Unitrio o que se intitula
Princpios da Homeodinmica. Essa teoria consiste em trs
princpios fundamentais: integralidade, ressonncia e helicidade.
integrao constante e total dos campos humano e ambiental,
Rogers chamou de integralidade. s mudanas contnuas queocorrem entre ambos, com variadas frequncias de onda,
intensidade e velocidade de respostas, chamou deressonncia. E,
por fim, aos padres de resposta provocados pelas contnuas
modificaes que ocorrem nos campos humano e ambiental,
denominou helicidade. A ideia que essas interaes tm uma
nica direo e o processo passado incorporado ao presente num
ritmo dinmico e no linear (Barrett, 2003). Na esteira dessespensamentos, a autora ainda explica que aquilo que percebemos
cotidianamente como tempo e espao aps as descobertas de
Einstein e da fsica quntica passa a ser compreendido cada vez
mais como um fluir contnuo de mudanas.
Nesta mesma direo, a crena chinesa a de que todas as
formas de vida, pessoas, a Terra, o universo esto conectados por
uma energia csmica, portanto, a sade proveniente do equilbriodo Qi14do corpo humano em sua inter-relao com o meio ambiente.
Nunca se pode perder de vista o relacionamento entre indivduos,
comunidade, sociedade e natureza (Fontaine, 2011b). Do mesmo
modo, o praticante de MTC no deve deixar de estar equilibrado,
saudvel, pois interage constantemente com seus pacientes.
_______________14
Qi pode ser entendido por um tipo de energia que permeia e sustenta os seresvivos e que so encontradas em vrios sistemas de crenas, presentes emculturas de todo o mundo, especialmente no Oriente.
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Na concepo chinesa de sade, a doena no um agente
intruso, mas a consequncia de um conjunto de causas que
resultam em desarmonia e desequilbrio (Hicks, Hicks, Mole, 2011).
O no fluir do Qi, a sua estagnao, seria um dos principais
causadores de enfermidades. Para os chineses, somente
adoecemos quando no conseguimos estar em movimento, quando
no h troca e transformao de Qi entre os sistemas que compe o
corpo e desses com o meio ambiente (Maciocia, 2007). O que se
entende pelo processo sade-doena difere do contexto ocidental.
Os textos antigos chineses no traam uma linha divisria ntida
entre a sade e a doena, pois ambos so considerados comonaturais e partem de uma sequncia contnua (Capra, 2006b).
Esta teoria vem propor uma viso radicalmente distinta
daquela que tem se encontrado na realidade da Enfermagem,
permitindo tecer novos enredos de prticas e assistncia, educao
e pesquisas. Segundo Barrett (2003), quando a teoria de Rogers foi
publicada pela primeira vez revelou-se como uma contradio clara
a todas as teorias em uso at ento, sendo possvel estabelecer elosde similaridade com a viso oriental de Mundo.
Meleis (1995) considera a Teoria de Martha Rogers como
congruente com a viso oriental, o que a levar a se desenvolver
na prxima dcada, congruente ainda com os valores da
Enfermagem como profisso e com as emergentes percepes da
humanidade (Meleis apud Carneiro e Soares, 2004, p.87).
Diante das consideraes realizadas, entendemos que aEnfermagem, na atualidade, pode vir a ter um papel de grande
relevncia na construo de prticas voltadas para o holismo, a
partir da valorizao do discurso, sentimentos, auto estima do cliente
(Silva e Leo, 2004). As teorias de Enfermagem aqui apresentadas
demonstram a trajetria de evoluo de um saber e fazer especficos
da profisso, que se caracterizou no passado e demonstra no
presente uma forte vertente holstica. A Enfermagem pode, portanto,
contribuir plenamente para a implantao de teraputicas
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complementares e integrativas, no mbito dos cuidados que realiza
e na divulgao destas, nos diversos campos em que atua.
3.4 O PAPEL DAS PRTICAS BASEADAS EM EVIDNCIAS
(PBE) NA ENFERMAGEM, NA ACUPUNTURA E
AURICULOTERAPIA
A Prtica Baseada em Evidncias (PBE) surgiu a partir da
necessidade de atualizao e de confiabilidade das prticas clnicas,
buscando estabelecer um elo entre pesquisa e prtica clnica. A
bioestatstica e a epidemiologia foram campos do conhecimento que
se somaram a outras reas do conhecimento biomdico para avaliar
a evidncia clnica quanto validade e utilidade de um dado recurso,
instrumento e procedimento de sade (Sackett, Straus, Richardson
et al, 2003).
A PBE em Enfermagem auxilia a encontrar as melhores
decises para promover resultados positivos, levando-se em conta a
situao, o contexto cultural, os recursos, preferncias dos pacientes
e experincia clnica baseada em julgamento e reflexo pessoal
(Fontaine, 2011c).
Tal movimento foi influenciado por estudiosos como David
Sackett e A.L. Cochrane e teve uma rpida expanso nos ltimos 20
anos. A nfase da Cochrane Collaboration tem sido a reviso
sistemtica de ensaios clnicos controlados randomizados para
problemas relativos sade. Em 1998, porm, a FundaoCochrane estabeleceu o Qualitative Research Methods Working
Group, com o objetivo de dar suporte metodolgico e inclusivo para
os dados qualitativos, organizando instrumentos tcnicos para a
realizao de revises bibliogrficas de pesquisas qualitativas
(Lopes e Fracolli, 2008).
Os estudos quantitativos respondem melhor a questes de
pesquisa que buscam a causa, prognstico, diagnstico, preveno,tratamento ou custos sobre sade. Mas, questes que sugerem
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reflexes mais subjetivas, sobre percepes, significaes,
experincias sobre doena, sentimentos e emoes dos pacientes
sobre os efeitos de alguma tcnica so mais bem contempladas pela
pesquisa qualitativa (Cassidy, 2005). Esse ltimo tipo de pesquisa
combina a natureza cientfica e artstica da Enfermagem, permitindo
uma anlise cuja abrangncia e profundidade reflita o seu cuidar.
Nessa expectativa, o Instituto Joanna Briggs tem realizado um
importante trabalho para o reconhecimento dos resultados no-
quantitativos na pesquisa em sade, como uma legtima evidncia
de PBE (The Joanna Briggs Institute, 2008).
De qualquer forma, seja pela pesquisa qualitativa ouquantitativa, a Enfermagem tem em mos importantes instrumentos
para a implantao de novas abordagens em sua rea de atuao
com a incorporao, na prt