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7/26/2019 Adaptacao e Sucesso Academico No Ensino Superior
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Adaptao e Sucesso Acadmico
no Ensino Superior
REVISTA E-PSI
REVISTA ELETRNICA DEPSICOLOGIA, EDUCAO E SADE
https://www.revistaepsi.com
Ano 4, Volume 1Junho 2014
Coordenao:
Leandro S. ALMEIDAAlexandra M. ARAJO
Joaquim Armando G. FERREIRAPedro Armelim ALMIRO
Catarina MARQUES-COSTA
https://www.revistaepsi.com/https://www.revistaepsi.com/https://www.revistaepsi.com/7/26/2019 Adaptacao e Sucesso Academico No Ensino Superior
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Corpo Editorial/ Editorial Board
Editores-Fundadores & Diretores Editoriais/
Founding Edi tors & Editors-in-Chief
Pedro Armelim ALMIRO(PT) Catarina MARQUES-COSTA(PT)
Editores Associados/ Associate Edi tors
Hudson F. GOLINO(BR) Octvio MOURA(PT)
Editora Assistente/Assistent Edi tor
Silvana MARTINS (PT)
Conselho Cientfico/ Scienti fi c BoardCatarina do Vale BRANDO, PhD. (Univ. do Porto, PT)
Joaquim Lus COIMBRA, PhD. (Univ. do Porto, PT)Michael Lamport COMMONS, PhD. (Department of Psychiatry,
Harvard Medical School, USA)James Meredith DAY, PhD. (Univ. Catholique de Louvain, BE)
Jos FERREIRA-ALVES, PhD. (Univ. do Minho, PT)Ana Paula Couceiro FIGUEIRA, PhD. (Univ. de Coimbra, PT)
Miguel GALLEGOS, PhD. (Univ. Nacional de Rosrio, AR)Cristiano Mauro A. GOMES, PhD. (Univ. Federal de Minas Gerais, BR)
Margarida Rangel HENRIQUES, PhD. (Univ. do Porto, PT)Helena MARUJO, PhD. (Univ. de Lisboa, PT)
Joana Vieira dos SANTOS, PhD. (Univ. do Algarve, PT)Pierre TAP, PhD. (Univ. Toulouse-Le-Mirail, Professeur Emrite, FR)
Editores/Editors
Margarida PaivaAMORIM,M.Sc. (PT)Cludia CANDEIAS, M.Sc. (PT)
Marcello DELLA MORA, M.Sc. (AR)
Cludia GOMES, M.Sc. (PT)Mariana TELES, M.Sc. (BR)Leigh Adams TUCKER, M.Sc. (ZA)
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A Nossa Misso / Sinopse
A Revista E-Psi um peridico eletrnico cientfico portugus de Acesso Livre comreviso por pares, que foi criado a 12 de Maio de 2011 por Pedro Armelim Almiro e
Catarina Marques-Costa. A revista publica artigos cientficos nas reas de psicologia,educao e sade.
Embora este seja um espao preferencialmente dedicado divulgao de resultados deinvestigaes, atravs da publicao de artigos empricos, a Revista E-Psi tambm
publica artigos de reviso terica, de reviso de estudos, de estudo de caso, ou artigos dereflexo que sejam pertinentes.
O acesso aos artigos livre e gratuito [Acesso Livre para autores e leitores (no fees),com licena Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0].
Este peridico possui indexaes internacionais nomeadamente: no Directory of OpenAccess Journals (DOAJ), noAcademic Journals Databasee noLatindex.
Garante-se assim uma publicao rpida com qualidade e rigor, como tambm umadivulgao internacional.
Os Editores-Fundadores
(E-mail: [email protected])
Our Mission/Synopsis
The Revista E-Psi is a peer-reviewed, open access electronic journal from Portugal thatpublishes scientific papers in the fields o f Psychology, Education and Health. RevistaE-Psi was developed by Pedro Armelim Almiro and Catarina Marques-Costa.
Although this journal is dedicated to the dissemination of research results throughpublication of empirical articles, Revista E-Psi also publishes papers of theoreticalreview, meta-analysis, case study, or relevant for reflection papers.
The access to published papers is free [open access to authors and readers (no fees),licensed by Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0].
This journal is indexed in: Directory of Open Access Journals (DOAJ), AcademicJournals Database, Latindex.
So we ensure a rapid and high quality publication, with an international dissemination.
The Founding Editors
(Email: e [email protected])
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ndice
Editorial
LEANDRO S. ALMEIDA, ALEXANDRA M. ARAJO, & JOAQUIM ARMANDO G. FERREIRA
...........................................................................................................................................1
Vivncias no Ensino Superior e Percees de Desenvolvimento: Dados de um
Estudo com Estudantes do Ensino Superior Politcnico
SOFIA DE LURDES ROSAS DA SILVA, JOAQUIM ARMANDO GOMES FERREIRA, & ANTNIO
GOMES FERREIRA.5
Sucesso Acadmico na Educao Superior: Contribuies da Psicologia Escolar
CYNTHIA BISINOTO, & CLAISY MARINHO-ARAJO ..........................................................28
Abordagens ao Estudo e Sucesso Acadmico no Ensino Superior
SANDRA T. VALADAS, ALEXANDRA M. ARAJO, & LEANDRO S. ALMEIDA ....................47
Four Machine Learning methods to predict academic achievement of college
students: A comparison study HUDSON F. GOLINO, & CRISTIANO MAURO A. GOMES ......................................................68
()
REVISTA E-PSI
REVIS TA ELETRNICA DE PSICOLO GIA, EDUCAO E SADE
https://www.revistaepsi.com
https://www.revistaepsi.com/https://www.revistaepsi.com/https://www.revistaepsi.com/7/26/2019 Adaptacao e Sucesso Academico No Ensino Superior
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Estratgias de Aprendizagem de Alunos Brasileiros do Ensino Superior:Consideraes sobre Adaptao, Sucesso Acadmico e Aprendizagem
Autorregulada
JANETE APARECIDA DA SILVA MARINI, & EVELY BORUCHOVITCH ...............................102
Expectativas Universitarias y Prediccin del Rendimiento Acadmico
MANUEL DEAO DEAO, SONIA ALFONSO GIL, NGELES CONDE RODRGUEZ, MAR
GARCA-SEORN, & FERNANDO TELLADO GONZLEZ ................................................127
Envolvimento acadmico de estudantes de engenharia: Contributos para a
validao interna e externa de uma escala de avaliao
ALEXANDRA R. COSTA, ALEXANDRA M. ARAJO, & LEANDRO S. ALMEIDA .................142
Questionrio de Percees Acadmicas - Expectativas: Contributos para a sua
validao interna e externa
ALEXANDRA M. ARAJO, ALEXANDRA R. COSTA, & LEANDRO S. ALMEIDA ................156
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Editorial
A transio dos estudantes para o Ensino Superior contempla um conjunto de
exigncias e desafios acadmicos e psicossociais que destacamos neste volume temtico
da Revista de Psicologia, Educao e Sade ou Revista E-Psi. Estas exigncias e
desafios so sentidos de forma diferente pelos estudantes, fruto da interao entre as
suas caratersticas pessoais e as especificidades dos seus cursos e instituies. Poder
mesmo vir a falar-se de perfis de estudantes mais e menos bem preparados para esses
mesmos desafios, e de contextos de ensino superior mais e menos atentos e responsivos
a essa preparao. Com frequncia, as caratersticas de uns e de outros parecem
desencontrar-se, assistindo-se, tal como atualmente se verifica, a uma percentagem
significativa de estudantes que vivencia dificuldades na sua adaptao e que questiona o
seu compromisso e persistncia no Ensino Superior (ES). O problema no tinha a
mesma expresso algumas dcadas atrs, quando o ES era essencialmente frequentado
por estudantes dos estratos socioculturais mais favorecidos e quando tais a lunos tinham
nas suas famlias modelos e recursos de informao e apoio que tinham eles mesmo
experimentado os benefcios acadmicos, pessoais e sociais da frequncia do ensino
superior.
No momento presente, grupos mais alargados de estudantes, em nmero e
diversidade, acedem ao ES, verificando-se uma grande heterogeneidade das
caratersticas de acesso e, tambm, das suas motivaes para a formao superior.
Mesmo junto dos chamados alunos tradicionais, isto , jovens que acedem ao ES na
sequncia normal da concluso do Ensino Secundrio e com idades entre os 17-20 anos,assistimos a uma grande diversidade de percursos acadmicos anteriores, de estatutos de
identidade, expectativas e competncias de estudo, entre outros. Esta diversidade no ,
por norma, atendida por parte das Instituies de Ensino Superior (IES). Contudo, muito
se tem discutido o impacto das caratersticas da instituio na adaptao dos seus
estudantes, incluindo-se aqui fatores como a sua forma de organizao, o clima
institucional, a qualidade e acessibilidade aos seus recursos humanos e servios, ou a
estrutura curricular dos seus cursos. Neste sentido, o processo de adaptao ao ensino
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superior, e de compromisso e permanncia dos estudantes, define-se na interao
contnua e dinmica entre fatores pessoais e contextuais.
Frequentar e ter sucesso no ES ultrapassa a permanncia e o xito escolar,
englobando componentes de desenvolvimento identitrio e vocacional, de integrao
social, e de uma adeso, ou melhor, vinculao do estudante a normas e valores de um
novo contexto acadmico. A complexidade dos objetivos do ES amplia-se quando
incorporamos o desenvolvimento psicossocial do estudante em tais objetivos ou quando
falamos da formao destes estudantes para o emprego (ou empregabilidade) e
compromisso com a sua formao contnua. Neste sentido, trs grandes reas de
aprendizagem emergem e devem ser partilhadas na misso das IES: (i) os contedos
tcnicos e cientficos associados ao curso frequentado, (ii) as dimenses da identidade e
as tarefas de desenvolvimento que descrevem a passagem da adolescncia idade
adulta, e (iii) as competncias transversais que capacitam os a lunos para o leque diverso
de responsabilidades e de contextos em que vai ser socialmente chamado a intervir.
Nesta linha, no podemos reduzir o sucesso formativo das IES e o sucesso acadmico
dos estudantes qualidade do currculo, qualidade do ensino-aprendizagem ou ao
sucesso traduzido nas classificaes obtidas nas unidades curriculares.
Neste quadro mais abrangente dos objetivos do ensino superior, iniciamos este
volume com um artigo (Artigo 1 : SOFIA DE LURDES ROSAS DA SILVA,JOAQUIM ARMANDO GOMES
FERREIRA, & ANTNIO GOMES FERREIRA) sobre o impacto dos ambientes e prticas
acadmicas na aprendizagem e no desenvolvimento psicossocial dos estudantes no ES.
Este no tem sido o enfoque da investigao nacional e ao abrirmos este volume com
este tema, queremos destacar a sua relevncia e a necessidade de uma maior ateno por
parte dos investigadores e das prprias IES. As polticas e as prticas, ou os valores e
cultura institucional, influenciam de forma significativa o desenvolvimento de
competncias tcnicas, cognitivas e psicossociais por parte dos estudantes, destacando-se neste artigo algumas variveis que moderam tais processos e resultados. Em
particular, so referenciados os ambientes institucionais apoiantes e prximos ao
estudante, as prticas educativas que favorecem a qualidade da relao entre estudantes
e servios e professores, ou, ainda, um clima institucional que favorece a autonomia e o
envolvimento do estudante na construo do seu percurso de aprendizagem e
desenvolvimento.
Para a qualidade das aprendizagens e do desenvolvimento psicolgico muitopodem contribuir servios de apoio especializado existentes no campus, descrevendo-se
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no segundo artigo deste volume os servios de psicologia escolar (Artigo 2: CYNTHIA
BISINOTO,&CLAISY MARINHO-ARAJO). De um papel tradicional centrado na superao das
dificuldades de definio dos projetos vocacionais, de relacionamento com colegas e
professores, de aprendizagem e de rendimento acadmico ou de assuno da autonomia
na gesto das responsabilidades quotidianas, entre outras dificuldades vivenciadas por
alguns subgrupos de estudantes, estes servios orientam-se, hoje, por modelos de
interveno voltados para a preveno e promoo do desenvolvimento psicolgico,
tendo no s o estudante como alvo, mas toda a comunidade e instituio acadmica.
Segue-se um conjunto de quatro artigos centrados na anlise do impacto de um
conjunto alargado de variveis psicolgicas e educacionais na aprendizagem e no
sucesso acadmico dos estudantes. Assim, o terceiro artigo toma as abordagens ao
estudo enquanto recurso cognitivo-motivacional no desenvolvimento acadmico (Artigo
3: SANDRA T. VALADAS, ALEXANDRA M. ARAJO, & LEANDRO S. ALMEIDA); o quarto artigo
combina variveis cognitivas, metacognitivas e de aprendizagem em mode los de anlise
mais complexos numa lgica de predio mais fivel do rendimento acadmico (Artigo
4: HUDSON F. GOLINO,&CRISTIANO MAURO A.GOMES); o quinto artigo tem a particularidade
de tomar, como amostra, estudantes que se capacitam para serem futuros professores,
analisando as suas estratgias de aprendizagem e a conscincia que tm das mesmas e
sua relevncia (Artigo 5:JANETE APARECIDA DA SILVA MARINI,&EVELY BORUCHOVITCH) e, por
ltimo, o sexto artigo centra-se nas expectativas com que os alunos entram na
Universidade (Artigo 6: MANUEL DEAO DEAO, SONIA ALFONSO GIL, NGELES CONDE
RODRGUEZ,MAR GARCA-SEORN,&FERNANDO TELLADO GONZLEZ).
Este volume termina com dois artigos centrados na anlise da preciso e validade
(interna e externa) de instrumentos de avaliao com estudantes do ensino superior. O
stimo artigo (Artigo 7: ALEXANDRA R.COSTA,ALEXANDRA M.ARAJO,&LEANDRO S.ALMEIDA)
reporta-se a um inventrio de avaliao do envolvimento (engagement)e o oitavo artigodescreve uma escala de avaliao das percees acadmicas (expectativas) dos
estudantes (Artigo 8: ALEXANDRA M.ARAJO,ALEXANDRA R.COSTA,&LEANDRO S.ALMEIDA).
Terminamos, destacando a combinao conseguida de textos reflexivos e
empricos neste volume. Por outro lado, os artigos que integram este nmero da Revista
E-Psi tm, como autores, acadmicos de Portugal, Brasil e Espanha, o que denota um
aproveitamento das respetivas proximidades geogrficas e culturais. Finalmente, a
maioria dos artigos reporta-se a estudantes do 1 ano. A investigao na rea destaca ser
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o grupo de estudantes que mais justifica uma ateno institucional e dos investigadores
aos seus processos de adaptao e sucesso acadmico, aqui tomados em sentido lato.
Leandro S. AlmeidaUniversidade do Minho
Alexandra M. ArajoUniversidade do Minho
Joaquim Armando G. FerreiraUniversidade de Coimbra
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Vivncias no Ensino Superior e Percees de Desenvolvimento: Dados de
um Estudo com Estudantes do Ensino Superior Politcnico
SOFIA DE LURDES ROSAS DA SILVA1, JOAQUIM ARMANDO GOMES FERREIRA2,
& ANTNIO GOMES FERREIRA3
Resumo
A investigao sobre os estudantes do ensino superior tem demonstrado que um conjunto de
vivncias acadmicas e sociais assume um papel de relevo na explicao do desenvolvimento
intelectual, acadmico e psicossocial do estudante. Tais vivncias incluem, de um modoglobal, os relacionamentos interpessoais de qualidade com os professores e com o grupo de
pares, no apenas nos contextos acadmicos como sociais, a existncia de ambientes
institucionais intelectualmente estimulantes e apoiantes e a participao ativa do estudante
nas experincias educativas curriculares e extracurriculares que lhe so providenciadas. A
partir de um conjunto de instrumentos construdos para o efeito, o presente estudo procurou
avaliar, junto de uma amostra de convenincia de 576 estudantes de uma unidade orgnica
do Instituto Politcnico de Coimbra, o efeito de um conjunto de variveis relativas a
vivncias acadmicas e sociais sobre a perceo de ganhos obtidos nos domnios cognitivo,
autonomia e autoconfiana, interpessoal, valores, e competncias acadmicas, controlandoos efeitos do ano e do sexo. Os resultados das regresses mltiplas revelaram que as
variveis envolvimento acadmico, estmulo intelectual, perceo de suporte - professores,
perceo de suporte - pares, qualidade da relao pedaggica e participao em atividades
recreativas com os pares foram as que mais poder explicativo apresentaram considerando as
diferentes variveis de resultado. Face aos resultados obtidos, so apresentadas algumas
1Escola Superior de Educao de Coimbra, Portugal. Centro de Estudos Interdisciplinares do Sculo XX daUniversidade de Coimbra (CEIS20/UC). E-mail: [email protected] Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao, Universidade de Coimbra, Portugal. E-mail:
[email protected] Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao, Universidade de Coimbra, Portugal. Centro de EstudosInterdisciplinares do Sculo XX da Un iversidade de Coimbra ( CEIS20/UC). E-mail: [email protected].
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reflexes e implicaes a nvel educativo e avanadas algumas propostas de interveno ao
nvel das polticas e prticas educativas institucionais tidas como impulsionadoras de
envolvimento e desenvolvimento do estudante.
Palavras-chave: vivncias acadmicas e sociais; desenvolvimento; estudantes do EnsinoSuperior.
Introduo
Os modelos ou teorias do impacto da instituio de ensino superior tm defendido que
as mudanas desenvolvimentais dos estudantes durante os anos que frequentam o ensino
superior no so determinadas apenas por caractersticas intrapessoais, mas tambm e
especialmente pela natureza e intensidade dos estmulos ambientais (Astin, 1985, 1993;
Pascarella, 1985; Weidman, 1989, 2006; Kuh et al., 1991; Kuh, Kinzie, Schuh, Whitt, &
Associates, 2005; Kuh, Kinzie, Buckley, Bridges, & Hayek, 2006; Pascarella & Terenzini,
1991, 2005; Tinto, 1993).
De um modo geral, estas perspetivas tericas assinalam que a performance dos
estudantes nas diversas dimenses do desenvolvimento pode ser afetada por um conjunto de
variveis de natureza institucional (ambiente institucional) e de experincias e vivncias
acadmicas (hbitos de estudo, gesto do tempo, preparao para os exames ou trabalhos) e
sociais (que incluem a interao com os pares, professores e outros elementos da instituio).
A este respeito, Tinto (1993) refere que os estudantes entram nas instituies de ensino
superior com um conjunto de caractersticas que ajudam a determinar o compromisso inicial
para com os seus objetivos educacionais e para com os objetivos institucionais. O
compromisso aumenta ou diminui na medida em que o estudante se integra nos ambientes
acadmicos e sociais da sua instituio. Nesta integrao intelectual e social assumem-se de
particular relevncia as interaes dos estudantes com o ambiente institucional,
particularmente com professores e pares.
Outro aspeto presente nestas propostas assinala o papel ativo do estudante, visto como
algum que constri o seu prprio percurso de desenvolvimento e aprendizagem, mediante a
sua participao nas atividades acadmicas e sociais da instituio. Por exemplo, de acordo
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com Astin (1985, 1993), o modo como os estudantes avaliam as suas experincias e
funcionam nos contextos organizacionais relaciona-se com o seu grau de envolvimento.
Assim, a eficcia de qualquer poltica ou prtica educacional ao nvel da performance de um
estudante relaciona-se diretamente com a capacidade de estas aumentarem o seu
envolvimento. Tambm Pascarella (1985) se refere a uma variedade de caractersticas que
interatuam para proporcionarem ao estudante situaes de estmulo mudana cognitiva e ao
desenvolvimento acadmico atravs de situaes acadmicas e sociais que estimulam o
envolvimento e esforo do estudante.
Outras investigaes como as de Kuh et al. (1991, 2005) indicam que a cultura e o
clima organizacional jogam um papel considervel na determinao do envolvimento positivodos estudantes na sua instituio. Fatores como uma misso e filosofia consistentes e claras,
aes, programas e espaos fsicos que estimulam a interao e o envolvimento, eventos que
socializam os estudantes, e uma variedade de outras polticas e prticas que promovem o
envolvimento, revelam-se fulcrais.
Por outro lado, os estudantes tambm constroem os seus ambientes a partir das suas
interaes com a sua instituio, pelo que o impacto da experincia colegial pode ser visto
como o resultado de um processo de negociao psicolgica e social entre esta e os seusestudantes (Strange, 1996).
Pascarella e Terenzini (1991, 2005) reforam estas ideias, na reviso exaustiva de
estudos efetuados ao longo de trs dcadas. Os autores concluem, por um lado, que a
maximizao do impacto institucional depende em parte do tipo de instituio que se
frequenta e das experincias/ oportunidades que esta proporciona e, por outro lado, que o
impacto institucional determinado em grande parte pelo esforo individual e pelo
envolvimento do estudante nas experincias acadmicas, interpessoais e extracurriculares
oferecidas pela instituio.
A literatura refere que as variveis contextuais (ambiente institucional, interao com os
professores e com os pares) e as de envolvimento (acadmico e social) encontram-se
significativamente relacionadas com as percees de ganhos nos domnios intelectual,
psicossocial e acadmico, sendo por isso consideradas relevantes na sua explicao.
Adicionalmente refere-se com regularidade ao controlo dos efeitos de outras variveis como o
sexo e o ano. Por conseguinte, numa tentativa de avanar um pouco na compreenso de tais
contributos, optou-se por fazer uma regresso hierrquica com dois objetivos: determinar que
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percentagem da varincia das variveis dependentes atribuvel a cada varivel independente
e averiguar a existncia do valor preditivo das variveis independentes nas variveis
dependentes.
Metodologia
Amostra
Para o presente estudo, a amostra constituda por 576 estudantes, do 1. (N=195), 2.
(N=187) e 3. ano (N=194), que frequentavam os diversos cursos de formao inicial emregime diurno de uma unidade orgnica do Instituto Po litcnico de Coimbra. De salientar que
a amostra maioritariamente do sexo feminino (N=403; 70%) comparativamente com o
masculino (N=173; 30%), reflexo do contexto.
Os estudantes do sexo masculino so mais velhos em mdia um ano (M=21.57;
DP=3.75) do que os do sexo feminino (M=20.59;DP=2.80), diferena de idades considerada
significativa (t=2.497;p.70) (Hill & Hill, 2009), conforme valores apresentados na Tabela 1.
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Tabela 1 Descrio dos Instrumentos.
Instrumento Dimenses Descrio
Questionrio do
Ambiente
Institucional
(QAI)
Estmulo
Intelectual(10 itens)
Avalia a perceo de estmulo institucional para odesenvolvimento intelectual, acadmico e pessoal
do estudante..90
Sentimento de
Comunidade
(10 itens)Avalia o sent imento de pertena instituio. .88
Questionrio da
Interao
Professor-
Es tudante(QIPE)
Gesto da Relao
Pedaggica(10 itens)
Avalia a perceo dos estudantes relativamente acomportamentos do professor ao nvel da relao
pedaggica..90
Contacto com os
Professores
(10 itens)
Avalia os comportamentos de contacto acadmicoque os es tudantes estabelecem com os
professores.
.87
Perceo de
Suporte
(6 itens)
Avalia a perceo de um relacionamento deproximidade e suporte com os professores.
.84
Questionrio do
Envolvimento
(QE)
Envolvimento
Acadmico(11 itens)
Avalia o envolvimento do es tudante noscontextos da sala e fora da s ala de aula, ass im
como o s eu investimento nas tarefas deaprendizagem.
.81
Envolvimento em
Atividades
Extracurriculares
(9 itens)
Avalia a participao do es tudante em in iciat ivasde carter extracurricular (sociais e recreativas/
culturais, as sociativas ou colegiais)..78
Questionrio da
Interao com os
Pares (QIP)
Perceo de
Suporte (11 itens)
Avalia a perceo de qualidade dorelacionamento co m os pares (a existncia derelacionamentos de proximidade e de apoio em
termos sociais e acadmicos).
.92
Participao em
Atividades
Recreat ivas
(4 itens)
Avalia a part icipao do estudante, com os pares,em atividades de natureza recreativa.
.73
Perceo de
Competncia
Cognitiva (CC)(9 itens)
Avalia a perceo de ganhos ao nvel dacompetncia intelectual de nvel superior,
traduzida por nveis de pens amento reflexivo demaior complexidade.
.87
Autonomia eAutoconfiana
(AA)(9 itens) Avalia a perceo de independncia emoc ional,de independncia instrumental e a autoconfiana
nas suas capacidades..85
Competncia
Interpessoal (CI) (7 itens)
Avalia a perceo de ganhos ao nvel dacompetncia interpessoal, da tolerncia e da
aceitao da d iferena..77
Valores (V) (6 itens)Avalia a perceo de personalizao dos valores e
o sentido de responsabilidade..73
Competncias
Acadmicas
(CA)
(13 itens)
Avalia a perceo de ganhos ao nvel de umconjunto de competncias acadmicas
fundamentais (lngua materna oral e escrita,pesquisa e qualidade do trabalho acadmico) e de
conhecimentos e competncias profiss ionais .
.91
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Observando os resultados gerais do modelo de regresso proposto, sumariados no
Tabela 2, verifica-se que o primeiro bloco de fatores explica uma percentagem reduzida da
varincia das variveis dependentes: competncia cognitiva=1%; autonomia e
autoconfiana=0.4%; competncias interpessoais=0.8%; valores=3.6%; competncias
acadmicas=0.3%. O segundo bloco explica a maior parte da varincia, como se pode
constatar pela observao das mudanas significativas (p
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Tabela 3 Coeficientes de regresso na varivel Perceo de Competncia Cognitiva.
Modelo B t p
1Sexo .688 .082 1.861 .063
Ano .277 .059 1.338 .181
2
Sexo -.576 -.069 -2.020 .044
Ano .109 .023 .600 .549
Estmulo Intelectual .095 .143 2.738 .006
Sentimento de Comunidade -.098 -.142 -2.963 .003
Gesto da Relao Pedaggica .044 .063 1.262 .208
Perceo de Suporte - Professores .165 .185 3.911 .000Perceo de Suporte - Pares .056 .103 2.470 .014
Contacto com os Professores .017 .029 .628 .530
Envolvimento Acadmico .325 .467 11.731 .000
Envolvimento em AtividadesExtracurriculares -.019 -.031 -.703 .482
Participao e m AtividadesRecreativas - Pares
.159 .137 2.917 .004
Nota: A var ivel dependente a perceo de competncia cognitiva.
No segundo bloco encontram-se 11 preditores estatisticamente significativos que se
podem ordenar por ordem de grandeza do seu valor Beta (): envolvimento acadmico
(=.467; t=11.731, p=.000), perceo de suporte - professores (=.185; t=3.911, p=.000),
estmulo intelectual(=.143; t=2.738,p=.006),sentimento de comunidade(=-.142; t=-2.963,
p=.003), participao em atividades recreativas com os pares (=.137; t=2.917, p=.004),
perceo de suporte - pares(=.103; t=2.470,p=.014) esexo(=-069;t=-2.020;p=.044).
Uma leitura geral das variveis independentes, cujo efeito sobre a perceo de ganhos
ao nvel da competncia cognitiva se apresentou como significativo, permite afirmar que os
indivduos que mais se envolvem no contexto acadmico, que mais suporte percecionam por
parte dos professores, que mais consideram a instituio que frequentam intelectualmente
estimulante, que mais participam em atividades recreativas com os pares e que mais apoio
percecionam por parte destes, so aqueles que mais pontuam na dimenso perceo de ganhos
a nvel deste outcome. A exceo parece verificar-se para as variveis independentes
Sentimento de Comunidade e sexo, a apresentarem valores negativos dos coeficientes de
regresso Beta.
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Estes resultados revelam-se consistentes com os estudos existentes na literatura. O
quanto o estudante investe no processo de aprendizagem tem sido associado a ganhos no
domnio intelectual (Astin, 1993; Volkwein, Valle, Parmely, Blose, & Zhou 2000; Carini &
Kuh, 2003). O mesmo se aplica interao com os professores e os pares em que os estudos
indicam que relacionamentos apoiantes com estes dois tipos de agentes socializadores se
associam de modo positivo perceo de ganhos a nvel intelectual (Astin, 1993; Watson &
Kuh, 1996; Huang & Chang, 2004; Cruce, Wolniak, Seifert, & Pascarella, 2006) Os estudos
que avaliam o impacto de ambientes institucionais caracterizados pelo estmulo intelectual
tambm revelam resultados similares (Kim, 2002; Hu & Kuh, 2003a, 2003b; Clifton, Perry,
Stubs, & Roberts, 2004).
Efeitos das Vivncias do Estudante ao Nvel da Autonomia e Autoconfiana
Quanto varivel autonomia e autoconfianaobserve-se na Tabela 4 que, no primeiro
bloco, o sexo e o ano no se revelaram preditores significativos. No segundo bloco os
preditores que revelaram poder preditivo foram: envolvimento acadmico (=.349; t=8.029,p=.000), perceo de suporte - pares (=.301; t=6.415, p=.000), sentimento de comunidade
(=-.144; t=-2.709, p=.007), perceo de suporte - professores (=.109; t=2.079, p=.038) e
sexo (=-.092; t=-2.422, p=.016). semelhana dos dados para a perceo de competncia
cognitiva, parece verificar-se um efeito negativo dos preditores sentimento de comunidade e
sexo na autonomia e autoconfiana dos estudantes.
Esta leitura permite afirmar que os indivduos que obtm resultados mais elevados nos
preditores envolvimento acadmico, perceo de suporte pe los pares e perceo de suporte
pelos professores so aqueles que mais pontuam na escala autonomia e a utoconfiana. Apesar
de no termos encontrado estudos sobre o efeito do envolvimento acadmico ao nvel deste
outcome, pensamos que seria expectvel um efeito positivo, se aos estudantes for solicitada a
resoluo de tarefas acadmicas que impliquem da sua parte trabalho ativo e autnomo,
facilitadores do desenvolvimento da independncia emocional e instrumental. Quanto ao
efeito das interaes com os professores e os pares, os nossos dados so confirmados por
diversos estudos que indicam que as relaes apoiantes com os professores e pares
apresentam um efeito positivo no crescimento da autoconfiana acadmica (Astin, 1993;
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Plecha, 2002; Szelenyi, 2002; Cotten & Wilson, 2006) e autonomia (Cooper, Healy, &
Simpson, 1994; Taub, 1995).
Tabela 4 Coeficientes de regresso na varivel dependente Autonomia e Autoconfiana.
Modelo B t p
1Sexo .347 .037 .861 .390
Ano .252 .048 1.118 .264
2
Sexo -.866 -.092 -2.422 .016
Ano .004 .001 .016 .987
Estmulo Intelectual .061 .085 1.449 .148
Sentimento de Comunidade -.108 -.144 -2.709 .007
Gesto da Relao Pedaggica .013 .016 .295 .768
Perceo de Suporte - Professores .108 .109 2.079 .038
Perceo de Suporte - Pares .176 .301 6.415 .000
Contacto com os Professores -.009 -.013 -.258 .796
Envolvimento Acadmico .271 .349 8.029 .000
Envolvimento em AtividadesExtracurriculares
.013 .019 .398 .691
Participao e m Atividades
Recreativas - Pares .030 .024 .448 .655
Efeitos das Vivncias do Estudante ao Nvel das Competncias Interpessoais
Passando anlise dos coeficientes de regresso estandardizados que traduzem o valor
preditivo das variveis consideradas no modelo para a varivel competncias interpessoais
(Tabela 5), as variveisperceo de suporte - pares(=.371; t=8.928, p=.000), envolvimentoacadmico (=.245; t=6.200, p=.000), gesto da relao pedaggica (=.170; t=3.328,
p=.001) eperceo de suporte - professores (=.116; t=2.468, p=.014) so as que assumem
maior poder explicativo.
No que diz respeito aos efeitos do envolvimento acadmico, no encontrmos estudos
que se referissem ao seu impacto ao nvel das competncias interpessoais. A explicao que
encontramos para os nossos resultados situa-se ao nvel da cultura e das prticas da instituio
em anlise. No contexto desta instituio em particular, o efeito que o envolvimento
acadmico apresenta ao nvel da perceo de ganhos em competncias interpessoais poder
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dever-se em grande parte prtica institucional de atribuir aos estudantes a resoluo de
tarefas acadmicas que implicam o trabalho de grupo. Como o trabalho de grupo parte
integrante de um nmero considervel de tarefas acadmicas, torna-se plausvel que o
envolvimento acadmico esteja ligado ao desenvolvimento de competncias interpessoais
(necessrias e presentes ao trabalho em grupo, seja este mais ou menos cooperativo) (Silva,
2012).
Tabela 5 Coeficientes de regresso na varivel dependente Competncias Interpessoais.
Modelo B t p
1Sexo .620 .090 2.108 .036
Ano -.025 -.007 -.154 .878
2
Sexo -.135 -.019 -.560 .576
Ano -.007 -.002 -.046 .963
Est mulo Intelectual .015 .027 .512 .609
Sentimento de Comunidade -.028 -.051 -1.049 .295
Gesto da Relao Pedaggica .096 .170 3.328 .001
Perceo de Suporte - Professores .085 .116 2.468 .014
Perceo de Suporte - Pares .164 .371 8.928 .000
Contacto com os Professores -.020 -.042 -.907 .365
Envolvimento Acadmico .139 .245 6.200 .000
Envolvimento em AtividadesExtracurriculares
-.006 -.012 -.270 .787
Participao e m AtividadesRecreativas - Pares .076 .080 1.700 .090
No que concerne aos efeitos das interaes com os pares encontramos estudos que, de
um modo geral, assinalam os efeitos positivos de relacionamentos apoiantes com osestudantes ao nvel de competncias como o autoconceito social (Kezar & Moriarty, 2000;
Zhao & Kuh, 2004; Reason, Terenzini, & Domingo, 2007), o desenvolvimento social (Kuh &
Hu, 2001a; Rhodes, 2008), e competncias de relacionamento interpessoal (Kuh, 1995;
Martin, 2000; Hurtado, 2001; Antonio, 2004).
No encontrmos estudos que abordassem os efeitos da interao professor-estudante
nvel das competncias interpessoais. Porm, os dados apresentados pelo nosso estudo
parecem indicar que o ambiente educativo construdo pelos comportamentos e atitudes dos
professores apresenta um efeito positivo ao nvel das competncias interpessoais. Assume-se
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como uma possibilidade que o comportamento e as atitudes interpessoais entre o professor e o
estudante no contexto da sala de aula e fora da sala de aula se constitua num quadro de
referncia para o estudante. Relembramos que as aprendizagens se fazem sobretudo a partir
da interao social, seja em contextos formais como as salas de aula, seja em contextos no-
formais ou informais, sejam aprendizagens de natureza acadmica, sejam de natureza social.
O professor est presente nestes contextos e a sua presena e comportamentos ou atitudes
representa, para alm do ethos intelectual como nos referia Tinto (1993) o ethos social
caracterstico da instituio.
Efeitos das Vivncias do Estudante ao Nvel dos Valores
Para a varivel dependente Valores (Tabela 6), constata-se que o envolvimento
acadmico (=.418; t=9.429, p=.000), a perceo de suporte - pares (=.216; t=4.541,
p=.000), e aperceo de suporte - professores(=.116; t=2.193,p=.029) so as variveis com
maior poder explicativo. De registar que o efeito das variveis sexo e ano observado no
primeiro modelo deixou de ser significativo quando introduzido o segundo modelo.
Tabela 6 Coeficientes de regresso na varivel dependente Valores.
Modelo B t p
1Sexo 1.120 .167 4.057 .000
Ano .371 .099 2.407 .016
2
Sexo .113 .017 .432 .666
Ano .151 .040 .911 .363
Estmulo Intelectual -.035 -.069 -1.151 .250Sentimento de Comunidade -.033 -.063 -1.146 .252
Gesto da Relao Pedaggica .025 .045 .801 .424
Perceo de Suporte - Professores .081 .116 2.193 .029
Perceo de Suporte - Pares .088 .216 4.541 .000
Contacto com os Professores -.031 -.068 -1.293 .197
Envolvimento Acadmico .246 .418 9.429 .000
Envolvimento em AtividadesExtracurriculares
-.029 -.058 -1.188 .235
Participao e m AtividadesRecreativas - Pares
-.028 -.031 -.573 .567
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Estes resultados parecem apoiar a premissa de que as tarefas acadmicas que os
estudantes tm que concretizar (acompanhadas de regras e normas) os foram a adotar valores
que orientam o seu comportamento para o cumprimento das regras valorizadas
institucionalmente (Chickering & Reisser, 1993; Tinto, 1993; Weidman, 1989, 2006). O
suporte proporcionado pelo grupo de pares e pelos professores (que poder assumir uma
funo socializadora orientadora) poder permitir aos estudantes oportunidades para
desenvolver um conjunto de valores pessoais e para agir de acordo com esses valores.
Efeitos das Vivncias do Estudante ao Nvel das Competncias Acadmicas
Considerando a varivel competncias acadmicas (Tabela 7), constata-se que no
primeiro bloco nenhuma das variveis se revelou um preditor estatisticamente significativo.
No segundo bloco as variveis com valor explicativo significativo, ordenadas por ordem de
grandeza do coeficiente de regresso foram: estmulo intelectual (=.333; t=6.305, p=.000),
envolvimento acadmico (=.230; t=5.750, p=.000), gesto da relao pedaggica (=.170;
t=3.347, p=.001), perceo de suporte - pares (=.103; t=2.400, p=.017), participao ematividades recreativas (=.104; t=2.162, p=.031), sentimento de comunidade (=-.104;
t=-2.128, p=.034) e ano (=.099; t=2.467, p=.014). Destacamos a expressividade dos
coeficientes de regresso observados para as variveis estmulo intelectual e envolvimento
acadmico, reveladores do seu poder explicativo.
Estes resultados assemelham-se aos obtidos com outros estudos. Por exemplo,
investigaes sobre o impacto do ambiente institucional caracterizado pelo estmulo
intelectual indicam efeitos positivos ao nvel do rendimento acadmico ou aquisio de
competncias acadmicas (Kuh & Vesper, 1992; Kuh, Pace, & Vesper, 1997; Astin, 1993;
Clifton et al., 2004). Os estudos sobre o envolvimento acadmico apontam resultados muito
semelhantes (Kuh et al., 1991; Kuh & Hu, 2003; Astin, 1993; Bray, Pascarella, & Pierson,
2004; Pascarella & Terenzini, 2005; Elias, 2005; Reason, Terenzini, & Domingo, 2005;
Heikill & Lonka, 2006; Nonis & Hudson, 2010; Mehta, Newbold, & O'Rourke, 2011). No
que concerne aos aspetos relativos qualidade da gesto da relao pedaggica, os estudos
apontam no mesmo sentido. Comportamentos pedaggicos e cientficos de qualidade por
parte do professor (como organizar e preparar as aulas, disponibilizar apoio, darfeedback, ser
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claro na apresentao de contedos, competncia cientfica, etc.) demonstraram apresentar
efeitos positivos ao nvel da aquisio de conhecimentos e competncias acadmicas
(Pascarella & Terenzini, 2005; Umbach & Wawrzynski, 2005; Reason, Terenzini, &
Domingo, 2007) e envolvimento nas tarefas de estudo (Bryson & Hand, 2007; Mearns,
Meyer, & Bharadwaj, 2007).
Tabela 7 Coeficientes de regresso na varivel dependente de perceo de Competncias Acadmicas.
Modelo B t p
1Sexo .695 .049 1.141 .254
Ano .119 .015 .351 .726
2
Sexo -.805 -.057 -1.608 .108
Ano .783 .099 2.467 .014
Estmulo Intelectual .374 .333 6.305 .000
Sentimento de Comunidade -.120 -.104 -2.128 .034
Gesto da Relao Pedaggica .199 .170 3.347 .001
Perceo de Suporte - Professores .087 .058 1.214 .225
Perceo de Suporte - Pares .090 .103 2.400 .017
Contacto com os Professores .017 .017 .367 .713
Envolvimento Acadmico .266 .230 5.750 .000
Envolvimento em AtividadesExtracurriculares .029 .027 .612 .541
Participao e m AtividadesRecreativas - Pares
.201 .104 2.162 .031
Estudos de natureza qualitativa tambm destacam como fatores importantes para um
ensino de qualidade as competncias pedaggicas, tais como o apoio, o interesse pelo
estudante, a clareza, o feedback, competncias verbais e de ensino, entre outros (Opkala &Ellis, 2005; Onwuegbuzie, Witcher, Collins, Filer, Wiedmaier, & Moore, 2007; Helterbran,
2008; Strage, 2008; Zepke, Leach, & Butler, 2009), e as competncias cientficas ou o
domnio de contedos (Opkala & Ellis, 2005; Onwuegbuzie et al., 2007; Helterbran, 2008;
Strage, 2008).
As dimenses de interao com os pares (perceo de suporte e participao em
atividades recreativas) tambm revelaram valor preditivo ao nvel da aquisio de
competncias acadmicas. Tambm neste caso os estudos tm assinalado o efeito positivo do
grupo de pares (Kuh et al., 1991; Astin, 1993; Whitt et al., 1999; Hu & Kuh, 2003;
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Dapremont, 2011). De acordo com Kuh e Hu (2003a), a qualidade das relaes com os pares
afeta os resultados de aprendizagem atravs do envolvimento, isto , os estudantes investem
mais nas tarefas acadmicas quando percebem que os relacionamentos com os pares so mais
apoiantes e prximos. Dapremont (2011) chega a resultados semelhantes.
Adicionalmente, os estudos tambm se reportam ao efeito do ano, indicando que os
estudantes mais velhos e de anos mais avanados percecionam mais ganhos acadmicos com
a experincia colegial (Pascarella & Terenzini, 2005).
Para finalizar, a anlise da regresso mltipla revelou para o preditor sentimento de
comunidadeum coeficiente de regresso Beta negativo. Este efeito negativo, algo inesperado,
tambm se observou ao nvel de outras duas variveis de resultado: perceo de competnciacognitiva (cf. Tabela 2) e autonomia e autoconfiana (cf. Tabela 3). De facto, seria expectvel
um efeito positivo, uma vez que o sentimento de comunidade implica um forte sentimento de
filiao e compromisso para com a comunidade (Tinto, 1993), tendo sido positivamente
associado a nveis mais elevados de envolvimento do estudante (Lounsbury & De Nui, 1996;
De Nui, 2003).
A explicao lgica que se nos ocorre prende-se com o facto de um ambiente
excessivamente apoiante ou superprotetor tambm se poder revelar negativo, no sentido deque no enfrentando os desafios que so colocados, os estudantes podem-se sentir-se
demasiado confortveis e pouco disponveis a responder a desafios que criem situaes de
crise ou momentos crticos de crescimento, que por norma implicam novas resolues ou
formas de pensar. Embora Sanford (1962) colocasse a tnica na importncia de colocar aos
estudantes desafios adequados, acompanhados de provises de suporte, j Chickering e
Reisser (1993) alertavam para a necessidade do equilbrio entre os mecanismos de desafio e
os de suporte.
Discusso
O presente estudo procurou averiguar o valor preditivo de variveis de natureza
contextual, do envolvimento do estudante e de variveis demogrficas num conjunto de
variveis de resultado: competncia cognitiva, autonomia e autoconfiana, competncia
interpessoal, valores, autocontrolo e competncia acadmica.
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Em relao s variveis de resultado consideradas, os coeficientes de regresso
indicaram que as variveis contextuais e de envolvimento apresentam mais valor preditivo do
que as variveis demogrficas, traduzido pela grandeza dos coeficientes BeBeta. A exceo
verificou-se para a varivel autocontrolo em que apenas o sexo mostrou valor preditivo.
Estes dados tornam claro que as instituies de ensino superior devem promover o
envolvimento do estudante e o seu desenvolvimento acadmico e psicossocial atravs de um
processo que integre a adoo de polticas, prticas e atividades educativas que a investigao
tem revelado promissoras e eficazes.
Analisando a questo do ponto de vista da qualidade educativa das instituies, a
investigao demonstra que o que realmente importa e apresenta impacto a natureza dasexperincias que os estudantes vivenciam depois de entrarem na instituio (Pascarella &
Terenzini, 1991, 2005; Tinto, 1993). A reviso da investigao existente no domnio permite-
nos identificar um grupo de fatores considerados crticos: o envolvimento do estudante no
sistema acadmico e social da instituio, a natureza e frequncia do contacto dos estudantes
com professores e pares, currculos assentes na interdisciplinaridade, pedagogias que
estimulam o envolvimento ativo dos estudantes na aprendizagem e que promovem a aplicao
das aprendizagens em contextos reais e significativos, ambientes institucionais que encorajamo estudo e a explorao intelectual e pessoal. Tal apresenta implicaes ao nvel da
organizao dos ambientes acadmicos e sociais, que passamos a descrever.
Acesso implica tambm sucesso no percurso. Neste ponto, consideramos que as
polticas educativas devem assegurar o acesso de todos os estudantes a todas as oportunidades
e benefcios da educao superior:
(1) apoio financeiro suficiente que permita aos estudantes a sua participao nos sistemas
acadmicos e sociais da instituio escolhida atravs de bolsas de estudo e alojamento, e
de programas institucionais que permitam trabalhos em part-time para estudantes
carenciados;
(2) servios e programas que apoiem os estudantes menos preparados na transio bem-
sucedida para o ensino superior, como por exemplo, seminrios de acolhimento, tutoria
dos novos estudantes, cursos de curta durao que visem a aquisio de competncias
acadmicas fundamentais;
(3) que as instituies sejam incentivadas e apoiadas a adotar prticas curriculares e de
ensino/ aprendizagem que a investigao comprova aumentarem o envolvimento, a
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aprendizagem, a mudana e o desenvolvimento educativo do estudante no sentido dos
objetivos desejados, como, por exemplo, o recurso a metodologias ativas, de resoluo de
problemas, colaborativas e reflexivas.
A respeito dos mtodos pedaggicos, as investigaes tm destacado que a
aprendizagem potenciada por oportunidades de envolvimento ativo e de participao.
Abordagens pedaggicas ativas, colaborativas, cooperativas e construtivistas, tais como,
trabalhos de grupo dentro e fora da sala de aula, tutoria de pares, avaliao entre pares,
comunidades de aprendizagem, programas e tarefas de ligao comunidade e prtica,
tcnicas de avaliao mais reflexivas, revelam-se ferramentas poderosas ao servio de uma
aprendizagem bem-sucedida, na medida em que estimulam o contacto com professores, comestudantes e com novas ideias, que por sua vez desafiam crenas e conduzem a mais
aprendizagem.
As interaes significativas entre professores e estudantes tambm so muito
importantes. A qualidade do contacto entre professores e estudantes e ofeedback assumem-se
como particularmente relevantes para o sucesso acadmico e social do estudante. Procurar
discutir ideias com o estudante, falar sobre os cursos e a carreira, dar feedback em tempo til
sobre os trabalhos acadmicos, pedir a colaborao ou envolver os estudantes noutrasatividades como a investigao ou organizao de eventos cientficos ou culturais, estimular
os estudantes a contactar os professores, disponibilizar-se para um atendimento mais
personalizado, manifestar comportamentos que comunicam o seu interesse pelo estudante,
preocupar-se com a qualidade das tarefas de ensino que organiza, propor aos estudantes a
realizao de tarefas acadmicas significativas, so exemplos de comportamentos que podem
contribuir para interaes significativas.
Um ambiente intelectualmente desafiante pode ser estimulado atravs de um conjunto
de prticas educativas, tais como oportunidades de participao em atividades acadmicas e
sociais significativas para os estudantes, investimento na qualidade dos processos de ensino,
recursos necessrios ao sucesso acadmico como, por exemplo, uma biblioteca bem
apetrechada. Um ambiente desafiante dever ser acompanhado por igual dose de suporte, em
particular o desenvolvimento de relacionamentos de qualidade com os professores e os pares
(atravs de oportunidades que impliquem interaes significativas e apoiantes com
professores e pares nos contextos acadmicos e sociais).
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Como possvel verificar com este e muitos outros estudos, prticas institucionais
percecionadas como intelectualmente estimulantes e apoiantes assim como o envolvimento
dos estudantes em atividades educativas enriquecedoras e envolventes aumentam as
possibilidades destes adquirirem e desenvolverem competncias intelectuais, psicossociais e
acadmicas. O desafio das instituies passa por efetivamente tornar estas prticas e
atividades educativas enriquecedoras e envolventes numa realidade para todos os estudantes.
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Life Experiences in Higher Education and Perceptions of Development: Data from a
Study with Students of the Polytechnic Higher Education
Abstract
Research has shown that college students participation in a number of academic and social
experiences play an important role in explaining their intellectual, academic and
psychosocial development. These experiences include aspects such as the quality of
interpersonal relationships with teachers and peers in academic and social contexts;
supportive and intellectually stimulating institutional environments and students active
participation in curricular and extracurricular educational experiences, as provided by theeducational institution. The purpose of this study was to assess the effect of students
academic and social experiences on the perception of intellectual gains, autonomy and self-
confidence, interpersonal relationships, values, and academic skills, controlling the effects of
year and sex. To accomplish this goal, several instruments were designed and administered to
a sample of 576 students from one of the Polytechnic Institute of Coimbra colleges.
Considering the different outcome variables, multiple regression results revealed that
students academic involvement, perceptions of institutional intellectual stimulation,
perception of teachers support, perception of peers support, quality of pedagogical
relationships and students participation in recreational activities with peers presented the
most explanatory power. In the light of our results, some reflections and implications for
educational level are presented and intervention proposals seen as enhancers of students
engagement and development are brought to discussion, at the level of institutional
educational policy and practices.
Keywords: academic and social experiences; development; Higher Education students.
Como citar este artigo: Silva, S., Ferreira, J.A., & Ferreira, A.G. (2014). Vivncias no ensino superior e
percees de desenvolvimento: Dados de um estudo com estudantes do ensino superior politcnico.Revista
E-Psi, 4(1), 5-27.
Received: November 6, 2013 Revision received : March 10, 2014 Accepted: Apr il 3, 2014
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Sucesso Acadmico na Educao Superior: Contribuies da Psicologia
Escolar
CYNTHIA BISINOTO 1, & CLAISY MARINHO-ARAJO2
Resumo
Educao Superior tm sido atribudas expectativas crescentes quanto ao desenvolvimentosocial, econmico e cultural das naes, sendo-lhe destinada a responsabilidade porpossibilitar uma formao profissional de qualidade pautada em forte compromisso tico esocial. Nessa perspetiva, os servios de apoio psicolgico existentes nas Instituies de
Educao Superior tm buscado contribuir para uma formao que atenda necessidade depreparar profissionais competentes e, tambm, conscientes de seu papel transformador dianteda realidade em que vivem. Levando em considerao a multiplicidade de fatores individuais, institucionais, ideolgicos, poltico-sociais, entre outros implicados nos
processos educativos, os psiclogos escolares implicados nesses servios tm orientado a suainterveno para a conscientizao dos agentes educacionais acerca de seus papis e
responsabilidades na construo de uma cultura de sucesso.Neste trabalho so apresentados alguns modelos de interveno psicolgica que buscamapoiar a construo da referida cultura. A contribuio da Psicologia Escolar na EducaoSuperior vem se ampliando por meio de aes preventivas, institucionais e de largaabrangncia.
Palavras-chave: sucesso escolar; Ensino Superior; servios de apoio psicolgico; atuaoinstitucional; adaptao acadmica.
1Universidade de Braslia, Brasil. E-mail: [email protected] de Psicologia da Universidade de Braslia, Brasil. E-mail: c [email protected].
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superiores em termos de caractersticas pessoais, socioeconmicas, motivaes e expectativas;
a crescente necessidade de medidas polticas e institucionais de promoo do sucesso
acadmico; a preocupao com a qualificao do corpo docente; a necessidade de inovaes
curriculares e pedaggicas; entre outras (Polidori, 2000; Dias Sobrinho, 2003, 2005, 2008;
Magalhes, 2004; Sguissardi, 2004, 2005; CNE Conselho Nacional de Educao, 2004;
Amaral & Magalhes, 2007; Sordi & Ludke, 2009).
Em meio a este cenrio de mltiplos desafios, as questes relativas promoo do
sucesso acadmico tm adquirido relevncia especial com investigaes relativas aos fatores
que o influenciam (Santiago, Tavares, Taveira, Lencastre, & Gonalves, 2001; L. Almeida,
Guisande, Soares, & Saavedra, 2006; L. Almeida, 2007; L. Almeida, Soares, Guisande, &
Paisana, 2007; L. Almeida & Vieira, 2008; Martins, 2009; Vasconcelos, L. Almeida, &
Monteiro, 2009). De maneira geral, o sucesso acadmico tem sido compreendido a partir da
integrao complexa de um conjunto de fatores, configurando-se como um processo
multideterminado e que resulta das aes de toda a comunidade acadmica (estudantes,
professores, gestores, tcnicos e funcionrios).
Consoante a esse entendimento, a atuao da Psicologia Escolar na Educao Superior
tem-se direcionado para a promoo dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento
individuais e, tambm, coletivos e institucionais que corroboram para a construo de uma
cultura de sucesso (Marinho-Arajo, 2009; Bisinoto & Marinho-Arajo, 2011, 2014;
Bisinoto, Marinho-Arajo, & L. Almeida, 2011; Oliveira, 2011). Amparado nesse
entendimento, o psiclogo escolar um dos atores da comunidade acadmica que tem
compromisso com a construo do sucesso acadmico nas IES.
Nesta direo, uma das medidas criadas pelas instituies tm sido os Servios de
Apoio Psicolgico que se constituem com objetivos de favorecer o processo de adaptao
Educao Superior, potencializar o desenvolvimento e a formao global dos a lunos ao longo
da trajetria acadmica, bem como sua insero no mercado de trabalho. A atuao dospsiclogos nestes servios est essencialmente vinculada promoo do sucesso acadmico
por meio do incentivo ao desenvolvimento de suas inmeras potencialidades enquanto
pessoas e estudantes (Gonalves & Cruz, 1988; Bisinoto & Marinho-Arajo, 2011, 2014;
Bisinoto et al., 2011; Oliveira, 2011). Para alm de eliminar obstculos apropriao do
conhecimento cientfico que resultem em rendimento satisfatrio nas avaliaes formais de
aprendizagem, as IES, por meio destes Servios de Apoio, tm-se comprometido com o
desenvolvimento de competncias variadas que levem os alunos a terem sucesso na vida. OsServios buscam colaborar com a formao de cidados comprometidos com os problemas da
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sociedade atual, bem como de profissionais que tenham uma viso crtica do mundo e que
pensem em como transform- lo por meio de seu trabalho.
Com o objetivo de apontar contribuies da Psicologia Escolar promoo do sucesso
acadmico na Educao Superior, este trabalho apresenta alguns modelos de intervenes
psicolgicas que tm sido propostos para as IES. Para cumprir este objetivo, inicia-se com
uma reflexo acerca do papel social e das responsabilidades da Educao Superior no atual
cenrio sociopoltico, seguida por uma incurso na temtica do sucesso acadmico que
evidencia a influncia de diversos fatores envolvidos em sua configurao. Por fim, so
apresentados e discutidos alguns modelos de atuao propostos para os Servios de Apoio
Psicolgico que buscam contribuir para a promoo do sucesso acadmico.
Funo Social da Educao Superior na Contemporaneidade
O processo educativo que circula no interior das IES integra a perspetiva do ensino e
das aprendizagens de conhecimentos e tambm a perspetiva social, poltica, econmica, tica
e cultural que perpassa permanentemente a vida em sociedade e a atuao profissional. Dessa
maneira, o esforo da Educao Superior incide no desenvolvimento da competncia
profissional e na formao cidad de seus estudantes, enfatizando um profundo compromisso
tico e poltico com o desenvolvimento e a conscientizao de sujeitos responsveis e crticos
acerca das questes relevantes relacionadas rea social, econmica e cultural do seu
contexto (Dias Sobrinho, 2004; Marinho-Arajo, 2009; Bisinoto & Marinho-Arajo, 2014).
O conhecimento cientfico, artstico e cultural que amplamente partilhado dentro das
IES so mediadores do processo de aprendizagem e de desenvolvimento humano, assim como
tambm o so as vivncias pessoais, as relaes interpessoais, os saberes apropriados, as
posturas ticas partilhadas. As muitas e diferentes relaes com as pessoas, com os objetos,
com os conhecimentos e saberes, com as experincias concretas e subjetivas que transcorremna Educao Superior configuram-se como oportunidades de aprendizagem que mediam as
funes psicolgicas superiores dos sujeitos adultos que frequentam esse espao, seja como
estudantes ou como profissionais (Marinho-Arajo, 2009; Oliveira, 2011; Bisinoto &
Marinho-Arajo, 2014).
A gnese dos processos psicolgicos superiores est alicerada nas interlocues e
trocas subjetivas que acontecem nas relaes acadmicas, profissionais e sociais. Funes
novas e mais complexas na constituio psicolgica dos sujeitos surgem em virtude danatureza das experincias sociais nas quais esto inseridos. Assim, ao mesmo tempo em que a
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formao em nvel superior tem a responsabilidade de transmitir a cultura e o conhecimento
historicamente acumulado e habilitar os futuros profissionais, ela tambm tem a funo de
despertar potencialidades, incentivar maneiras diferentes de interpretar e agir sobre o mundo,
incitar o desenvolvimento de formas criativas e inovadoras de transformar a realidade
(Oliveira, 2011).
O sentido da preparao profissional que transcorre nas diversas instituies superiores
o de formar profissionais suficientemente competentes, criativos e inovadores que tenham
condies de analisar criticamente a engrenagem socioeconmica, question- la e transform-
la. Conforme ressalta Goergen (2008, p.811), as IES esto encarregadas de gerar e difundir
os conhecimentos e formar profissionais-cidados capazes de liderar, nos campos de sua
atuao, o processo de transformao social. Nesse sentido, a funo da Educao Superior
no se restringe ao tempo curricular e ao espao fsico da universidade, muito pelo contrrio,
estende-se ao longo da vida das pessoas e nos diferentes contextos que participam.
A produo do conhecimento e o desenvolvimento da nao baseados na formao
cidad, na qualidade de vida da populao, na justia social e na diminuio das
desigualdades so os objetivos atribudos educao em nvel superior. A Educao Superior
, simultaneamente, responsvel pelo desenvolvimento da cincia, dos profissionais e de
cidados (Severino, 2000; Magalhes, 2004; Dias Sobrinho, 2005, 2008; Goergen, 2005,
2008).
Ao assumir que o compromisso fundamental da Educao Superior com a produo
de conhecimento e a preparao de profissionais e cidados, reconhece-se que ela tem o
desafio de equilibrar duas dimenses da formao a competncia tcnica e a conscincia
tica , de maneira a contribuir para o pleno desenvolvimento dos estudantes, sua preparao
para o exerccio da cidadania e qualificao para o trabalho. Coadunando-se com esse
compromisso, as intervenes psicolgicas que ocorrem no contexto educativo tm como
meta trabalhar pelo desenvolvimento das potencialidades dos sujeitos e, nesta perspetiva, anoo de sucesso acadmico que orienta a prtica em Psicologia Escolar no mais se sustenta
na superao de problemas e dificuldades encontrados no percurso formativo; pelo contrrio,
pressupe o incentivo ao desenvolvimento das inmeras potencialidades dos sujeitos.
O Sucesso Acadmico como Fenmeno Complexo e Multideterminado
Os vrios fatores envolvidos no sucesso acadmico podem ser organizados em doisgrandes grupos: aqueles relacionados instituio e os relacionados ao sujeito. Entre os
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primeiros, incluem-se as formas de organizao e gesto das IES, a infraestrutura, os servios
de apoio disponibilizados aos estudantes, as atividades pedaggicas e extracurriculares, bem
como as polticas educativas e as ideologias que perpassam todo o processo de formao e
tm influncia nas trajetrias dos estudantes.
O curso em que o estudante ingressa e a entrada em um curso de primeira opo
tambm tm demonstrado que so variveis relevantes que influenciam a adaptao do aluno
universidade (Soares, L. Almeida, Diniz, & Guisande, 2006). Ainda no mbito dos fatores
institucionais, as prticas pedaggicas, a organizao curricular, o material de apoio, a
competncia dos docentes, bem como a sua preparao cientfica e a preparao pedaggica,
desempenham papel relevante no sucesso acadmico.
Entre os fatores relacionados ao sujeito incluem-se questes relativas transio para a
Educao Superior, fatores contextuais e individuais. A transio da Educao Bsica para a
Educao Superior envolve vrios fatores associados necessidade do jovem adulto dar conta
de tarefas de desenvolvimento inerentes a esta etapa do ciclo de vida (Dias, 2001, 2006; Seco,
Casimiro, Pereira, Dias, & Custdio, 2005) e s mudanas que surgem neste novo contexto.
Os alunos ingressantes tm sido alvo de grande interesse por se tratar de um momento de
transio extremamente desafiador que requer um amplo conjunto de adaptaes relacionadas
a diferentes reas do desenvolvimento pessoal, social, relacional e profissional,
nomeadamente (Soares, 2003; Vasconcelos, L. Almeida, & Monteiro, 2005; Tavares, Justino,
& Amaral, 2008). Neste contexto desafiador, as expectativas que o novo aluno traz adquirem
grande relevncia, mobilizando de forma e intensidade variadas cada estudante para a
aprendizagem e a realizao acadmica (L. Almeida et al., 2006; L. Almeida, 2007).
Esta transio acompanhada por expectativas relacionadas ao seu desempenho e pela
realidade acadmica e social que vivenciar. As expectativas que os estudantes apresentam ao
ingressarem na universidade e as suas vivncias influenciam a satisfao sentida e constitui-se
como fator de grande impacto no (in)sucesso do estudante (Soares, 2003; L. Almeida, 2007;L. Almeida, Guisande, & Paisana, 2012; Alves, Gonalves, & L. Almeida, 2012; Costa,
Arajo, Gonalves, & L. Almeida, 2013). J os fatores contextuais correspondem a condies
socioeconmicas, culturais, de gnero e de idade. Por fim, os fatores individuais dizem
respeito s variveis cognitivas, de funcionamento psicolgico e de relao interpessoal que
os estudantes trazem consigo para a IE. Evidencia-se, portanto, que o sucesso acadmico
engloba fatores que esto para alm do desempenho dos alunos, configurando-se muito mais
como um processo complexo e multideterminado, resultante do coletivo da comunidade
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acadmica (estudantes, professores, gestores, tcnicos e funcionrios), sociedade e governo,
do que pelo xito ou fracasso do estudante em uma perspetiva individualizada.
Consoante a esse entendimento, a atuao da Psicologia Escolar na Educao Superior
tem-se direcionado para a promoo dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento
individuais e, tambm, coletivos e institucionais que corroboram para a construo de uma
cultura de sucesso (Marinho-Arajo, 2009; Bisinoto & Marinho-Arajo, 2011, 2014; Bisinoto
et al., 2011; Oliveira, 2011). Amparado nesse entendimento, o psiclogo escolar um dos
atores da comunidade universitria que tem compromisso com a construo do sucesso
acadmico nas IES.
Do ponto de vista da atuao em Psicologia Escolar, trabalhar em prol da promoo do
sucesso requer mudanas na nfase preponderante sobre o indivduo e suas limitaes que,
por muito tempo, caracterizou as intervenes da rea. Conforme bem lembra Machado
(2000, p.146), no existem causas individuais para os fenmenos da vida, pois eles no so
individuais, no so de ningum; so efeitos que se engendram em uma rede de relaes.
Assim sendo, o sucesso acadmico e o insucesso so compreendidos a partir da integrao de
diferentes fatores relacionais, institucionais, sociais, polticos e ideolgicos , para alm dos
aspetos individuais.
Nessa direo, Alarco (2000) sistematizou em quatro d imenses inter-relacionadas os
fatores que contribuem para o sucesso e insucesso acadmico na Educao Superior: aluno,
professor, currculo e instituio, as quais so influenciadas pelas ideologias, valores e
elementos socioculturais vigentes. Martins (2009), por sua vez, realizou um trabalho de
anlise e sntese dos fatores e dimenses propostos por autores que tambm tratam do sucesso
acadmico em uma perspetiva multidimensional. A autora constatou que as dimenses aluno
e instituio so comuns a todas as proposies tericas por ela analisadas. As outras
dimenses tambm presentes so professor, currculo, aprendizagem e realizao acadmica.
De acordo com Martins (2009), na dimenso aluno incluem-se fatores relativos capacidade de adaptao ao contexto, base de conhecimentos que o estudante tem e ao seu
bem-estar fsico e psicolgico. Na dimenso instituio incluem-se fatores de organizao e
gesto de recursos e de espaos, bem como as atividades extracurriculares. A dimenso
professor envolve fatores re lacionados p reparao cientfica e pedaggica, s atividades de
investigao e valorizao profissional. A dimenso currculo contempla a flexibilidade
curricular, a articulao terico-prtica e a organizao dos horrios. Por fim, na dimenso do
processo de aprendizagem e realizao acadmica incluem-se fatores relacionados ao grau desatisfao dos estudantes com o curso, aos mtodos e formas de organizao do estudo e ao
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desenvolvimento vocacional. Pela descrio dessas dimenses nota-se que a promoo do
sucesso acadmico advm da relao dialtica do sujeito com o contexto no qual est
inserido.
Tambm considerando a multiplicidade de fatores que intervm no sucesso acadmico,
alguns estudos vm sendo desenvolvidos com o intuito de melhor compreender a influncia
de um conjunto de variveis no percurso acadmico dos estudantes, como as questes de
gnero e da origem sociocultural, bem como propor medidas institucionais de promoo do
sucesso acadmico (Santiago et al., 2001; L. Almeida et al., 2006; Vasconcelos et al., 2009).
Apesar dos estudos e pesquisas utilizarem o rendimento curricular dos estudantes como
indicador do sucesso acadmico, este no resultado de um processo exclusivamente
individual. Pelo contrrio, as taxas de reprovao e de abandono, comumente utilizadas para
calcular o ndice de insucesso acadmico, precisam ser analisadas em meio ao contexto no
qual se produzem. Devem ser considerados fatores como a flexibilizao da organizao
curricular e sua adequao s necessidades dos estudantes, a diversificao das estratgias
didticas e recursos avaliativos, a qualificao do corpo docente, a existncia de servios de
apoio e orientao acadmica, a disponibilizao de espaos e materiais necessrios ao
desenvolviment