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Adlade Sophie Marie Follin-Arbelet
"Perceo dos profissionais acerca do uso da comunicao aumentativa e alternativa
com crianas com patologia neuromotora"
Universidade Fernando Pessoa
Porto 2017
Adlade Sophie Marie Follin-Arbelet
"Perceo dos profissionais acerca do uso da comunicao aumentativa e alternativa
com crianas com patologia neuromotora"
Universidade Fernando Pessoa
Porto 2017
"Perceo dos profissionais acerca do uso da comunicao aumentativa e alternativa
com crianas com patologia neuromotora"
Atesto a originalidade do trabalho:
________________________________
(Adlade Sophie Marie Follin-Arbelet)
Trabalho apresentado Universidade Fernando Pessoa
como parte dos requisitos para obteno do grau
de licenciatura em Teraputica da Fala,
sob orientao da Prof. Doutora Fatima Maia
Sumrio
Este projeto de graduao integra uma investigao qualitativa sobre a perceo dos
profissionais acerca do uso de comunicao aumentativa e alternativa (CAA) com
crianas com patologia neuromotora.
O enquadramento terico constitudo por uma reviso da literatura com especial
destaque sobre a comunicao aumentativa e alternativa e as patologias neuromotoras.
A parte emprica do projeto baseada na recolha de informaes sobre este tema,
atravs de entrevistas semi-estruturadas, aplicadas a sete profissionais de um Centro de
Educao Motora, incluindo duas terapeutas da fala, para destacar o seu ponto de vista.
A anlise dos resultados foi feita com recurso a tcnicas de anlise de contedo.
Os resultados revelam um ponto de vista relativamente positivo quanto utilidade da
CAA, mas parecem indicar mais dificuldades quando so mencionadas as competncias
das pessoas para o uso destas formas de comunicao. Efetivamente, alguns
constrangimentos so referidos como barreiras implementao tima da CAA (falta de
tempo, falta de formao, rea reservada as terapeutas da fala), os quais so discutidos
neste trabalho.
Palavras-chave: Percepo; Profissionais; Comunicao Aumentativa Alternativa;
Patologia Neuromotora; Crianas.
Abstract
This undergraduate project integrates a qualitative investigation about the professionals'
perception about the use of augmentative and alternative communication (AAC) with
children with neuromotor pathology.
The theoretical framework consists of a review of the literature with special emphasis
on augmentative and alternative communication and neuromotor pathologies.
The empirical part of the project is based on the collection of information on this topic
through semi-structured interviews aimed at the seven professionals of a Motor
Education Center, including two speech therapists, to highlight their point of view. The
analysis of the results was made using content analysis techniques.
The results reveal a relatively positive view of the usefulness of AAC, but seem to
indicate more difficulties when people's skills are mentioned for the use of these forms
of communication. Indeed, some constraints are referred to as barriers to the optimal
implementation of AAC (lack of time, lack of training, reserved area of speech
therapists), which are discussed in this work.
Key-words: Perception; Professionals; Aumentative and Alternaive Communication;
Neuromotor Pathology; Children.
Agradecimentos
Uso este espao para agradecer ao conjunto de pessoas que de uma forma ou de outra
me ajudaram a concluir este curso.
Quero desde j, agradecer minha orientadora Ftima Maia, pela orientao e
disponibilidade enquanto docente e orientadora. Tambm pelo modo humano como me
apoiou nas situaes de maior fragilidade.
A todos os docentes com quem contactei durante este percurso na Universidade
Fernando Pessoa, que em muito contriburam para o meu conhecimento e crescimento
enquanto pessoa e futura profissional de Teraputica da Fala.
Tambm quero agradecer s Terapeutas da Fala Christine Pourteyron e Nathalie de
Wasseige, pelo conhecimento que me passaram durante o meu estgio em Frana, pela
sua ateno e partilha de informaes.
A todos os profissionais de sade que colaboraram no meu estudo, o meu muito
obrigada.
Ao meu caro amigo Jean-Baptiste, que sem dvida, foi um pilar muito importante para
que eu chegasse a esta etapa.
s minhas amigas, Julie Dachicourt, Mathilde Maggi e Clmence Dumont, que fizeram
esta aventura portuguesa comigo, pelas horas de trabalho juntas, e sobretudo, as risadas
compartilhadas.
Ao Pablo, pelo seu apoio psicolgico e ajuda em qualquer momento, que sem ele nada
teria sido concretizado.
Aos meus pais que tudo fizeram para contribuir para a minha educao e formao e,
em tornar-me na pessoa que sou hoje.
Ao Ablio, Adriana, Lilian e todos os que, de algum modo, deram o seu contributo
para a realizao do presente estudo, os meus maiores agradecimentos.
ndice
Introduo..........................................................................................................................1
I. Enquadramento Terico.................................................................................................3
1. Patologias neuromotoras...................................................................................3
i. Definio e condio geral.....................................................................3
ii. Impactos................................................................................................4
iii. Comunicao nas crianas com patologia neuromotora......................5
2. Comunicao Aumentativa e Alternativa..........................................................7
i. Definio e objetivos..............................................................................7
ii. Tipos de CAA........................................................................................8
iii. Candidatos............................................................................................9
iv. Implementao....................................................................................10
3. Perceo dos profissionais quanto a CAA.......................................................12
II. Estudo Emprico.........................................................................................................17
1. Desenho de estudo...........................................................................................17
2. Tipo de estudo..................................................................................................17
3. Instrumento e mtodo de recolha de dados.....................................................18
4. Procedimento de recolha de dados..................................................................18
5. Mtodos de anlise e tratamento de dados......................................................20
6. Participantes....................................................................................................20
III. Apresentao e discusso dos resultados...................................................................22
Concluso........................................................................................................................43
Bibliografia......................................................................................................................46
Anexo I: Carta de solicitao de autorizao ao Diretor do Instituto..............................52
Anexo II: Consentimento informado distribudo aos participantes do estudo................53
Anexo III: Guio para as entrevistas semi estruturadas realizadas com profissionais que
trabalham com crianas com patologias neuromotoras...................................................54
Anexo IV: Guio para as entrevistas semi estruturadas realizadas com terapeutas da fala
que trabalham com crianas com patologias neuromotoras............................................55
Anexo V: Transcries das entrevistas semi-estruturadas...............................................56
ndice de tabelas
Tabela 1: Pergunta 1: Qual a sua profisso?................................................................22
Tabela 2: Perguntas 2 e 3: H quantos anos que exerce a sua profisso? H quantos
anos exerce a sua profisso a intervir com crianas com patologias neuromotoras?......23
Tabela 3: Pergunta 4: Tem conhecimento/experincia sobre o uso da CAA em pessoas
com problemas ao nvel da comunicao, nomeadamente crianas com patologia
neuromotoras?.................................................................................................................25
Tabela 4: Pergunta 5: O que pensa sobre o uso da CAA em crianas com
PNM?...............................................................................................................................27
Tabela 5: Pergunta 6: Como voc definiria seu nvel de habilidade em
CAA?...............................................................................................................................30
Tabela 6: Pergunta 7: Existe alguma forma de CAA que voc usa mais e porqu?.......32
Tabela 7: Pergunta 8: Na sua formao inicial, ou aps a mesma, recebeu alguma
sensibilizao para a utilizao de uma comunicao alternativa e aumentativa?..........34
Tabela 8: Pergunta 9: Tem mais alguma informao que gostasse de partilhar
comigo?...........................................................................................................................36
Tabela 9: Pergunta reservada s Terapeutas da Fala 1: Enquanto terapeuta da fala, quais
os aspetos que considera mais importantes para a implementao da CAA?.................39
Tabela 10: Pergunta reservada s Terapeutas da Fala 2: Quais os aspetos prioritrios a
ter em conta no caso das crianas com PNM?................................................................40
Lista de abreviaturas
CAA: Comunicao Aumentativa e Alternativa
CEM: Centro de Educao Motora
EE: Educadora Especial
ME: Monitora Educadora
O: Optometrista
PM: Psicomotricista
PNM: Patologia Neuromotora
QDV: Qualidade de Vida
SESSAD: Servio de Educao Especial e de Cuidado ao Domiclio
TF: Terapeuta da Fala
TO: Terapeuta Ocupacional
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
INTRODUO
No mbito da disciplina Estgio Profissionalizante II, do curso de Teraputica da Fala,
da Universidade Fernando Pessoa, surge como requisito para a obteno do grau de
Licenciatura, a execuo do presente trabalho de investigao.
A escolha do tema deste trabalho deve-se ao fato que a autora da investigao fez um
estgio profissionalizante num Centro de Educao Motora (CEM), que acolhe crianas
com Patologia Neuromotora (PNM), entre os 3 os 20 anos, e onde o uso de
Comunicao Aumentativa e Alternativa (CAA) indispensvel, apesar do fato que
nem todos os profissionais tm o mesmo conhecimento nem a mesma experincia com
esta ferramenta. Foi neste mesmo centro que a investigao teve lugar e com estes
mesmos profissionais.
O principal objetivo deste estudo recolher a perceo dos profissionais acerca do uso
de CAA com crianas com patologia neuromotora. Esta investigao tem outros
objetivos, tais como identificar os aspetos diferenciadores que integram as diversas
percees, com especial ateno ao ponto de vista dos terapeutas da fala, bem como
refletir e discutir os principais aspetos que sustentam a perspetiva dos terapeutas da fala
relativamente ao uso de CAA com crianas com PNM, tendo em ateno os referenciais
tericos e as evidncias da investigao atual.
Assim, importa referir que o enquadramento terico do projeto constitudo por uma
reviso da literatura, com especial destaque dos conceitos de PNM na infncia e do
impacto desta na comunicao, assim como do conceito de CAA. Relativamente a esta
ltima, mencionada a definio e os objetivos, os tipos de CAA, os candidatos e
aspetos a considerar para a sua implementao. Foi ainda efectuada pesquisa
relativamente literatura existente acerca da perceo dos profissionais sobre o uso da
CAA com crianas com PNM.
Para se conseguir atingir os objetivos pretendidos neste trabalho, adotou-se uma
metodologia de tipo qualitativa, usando como instrumento entrevistas semi-estruturadas,
!1
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
dirigidas a sete diferentes profissionais do centro, incluindo duas terapeutas da fala, para
as quais foram reservadas mais algumas perguntas. As respostas dadas s entrevistas
semi-estruturadas, analisaram-se com recurso a tcnicas de anlise de contedo, tendo-
se tirado algumas concluses.
Os principais resultados que surgiram desta investigao indicam um acordo por parte
dos entrevistados quanto ao facto que a CAA indispensvel em muitas situaes de
crianas com PNM, que no so comunicadores independentes, em todas as situaes.
Por outro lado, a causa mais citada do impedimento da implementao tima da CAA
a falta de tempo. Tambm a falta de formao e de familiarizao com o conceito por
parte dos profissionais (mesmo as terapeutas da fala) foram citados como impedimentos
a uma boa comunicao com o uso da ferramenta de CAA.
Importa referir que este trabalho fez-se num s centro, recolhendo a perceo
unicamente de sete profissionais. Ento no pretende refletir a perceo de todos os
profissionais acerca do uso de CAA com crianas com PNM, mas permite contactar
com o ponto de vista de alguns, como base para reflexo sobre este tema.
!2
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
I. ENQUADRAMENTO TERICO
1. Patologias neuromotoras
i. Definio e condio geral
Quando se aborda as patologias neuromotoras, verifica-se que a Paralisia Cerebral (PC)
surge como a condio com a maior prevalncia. Efetivamente, Herskind et al. (2014)
referem que a PC a incapacidade motora mais comum em crianas, com uma
incidncia de 2 as 2,5 por 1000 nascimentos.
A PC descreve "um grupo de distrbios permanentes do desenvolvimento do movimento e da postura, causando limitao da atividade, que so atribudos a distrbios no progressivos que ocorreram no
crebro fetal ou infantil em desenvolvimento" (definio modificada aps Bax et al., 2005, cit in. Morris,
2007).
O mesmo autor lista os distrbios motores que acompanham muitas vezes a PC, tais
como os distrbios de sensao, perceo, cognio, comunicao, comportamento,
epilepsia e problemas musculoesquelticos secundrios.
Mais, a PC, como todas as patologias neuromotoras, uma condio
neurodesenvolvimental que comea na primeira infncia e persiste ao longo da vida
(Rosenbaum et al., 2006). Isto , uma condio crnica. Karen et al. (2006) salientam
que a deficincia intelectual ocorre em cerca de dois teros dos pacientes com PC.
Outras patologias neuromotoras mais raras que podem ser encontradas, e para as quais a
afetao do desenvolvimento muitas vezes similar PC, esto listadas pelo Projeto do
estabelecimento do Instituto Guillaume Belluard (ADIMC74, 2007) e so as seguintes:
miopatias e patologias neuromusculares, multideficincia, espinha bfida, sequelas de
traumatismo craniano ou de tumor cerebral e outras doenas raras. Escolheu-se referir
este Projeto do IGB como referncia para definir a populao alvo porque o local onde
esta investigao teve lugar.
!3
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Estas condies no podem ser "tratadas" em si mas podem-se manter as capacidades
existentes e desenvolver o potencial de autonomia da pessoa com incapacidade com
uma interveno precoce e intensiva, que fornece, como indicam os autores Karen et al.
(2006), os melhores resultados clnicos. Tambm referem que o tratamento ideal em
crianas com PNM requer uma abordagem em equipa.
ii. Impactos
As crianas com PNM, como salientam os autores Voorman et al. (2009), correm o risco
de sofrerem restries nas atividades e participao. Pois, foi sublinhado pelos mesmos
autores que a capacidade intelectual e a presena de epilepsia so fatores importantes
associados ao nvel de atividade e participao.
Von Tetzchner e Martinsen (2000) indicam que as alteraes motoras que comprometem
apenas a motricidade oral so raras. Pois, esto geralmente associadas a outras
alteraes que comprometem outras funes motoras como a motricidade dos membros
superiores e inferiores e, assim, muitas pessoas dependem de uma cadeira de rodas ou
de canadianas para se deslocarem.
A evoluo dos movimentos, equilbrio e postura dos indivduos apresenta-se de uma
forma anormal na criana com PNM, devido ao tipo de leso e classificao, ou seja,
encontra-se um atraso na evoluo motora, onde grande parte da musculatura apresenta-
se desorganizada (Finnie, 2000).
As dificuldades motoras das crianas limitam muito o seu desenvolvimento pessoal. H
atividades em que no podem participar e em muitas reas adquirem apenas
experincias limitadas (Von Tetzchner e Martinson, 2000). No entanto, os mesmos
autores referem que parte destas limitaes no so justificadas pelas alteraes motoras
em si mesmas, devendo-se antes ao facto das experincias negativas as levarem
convico de que no so capazes de fazer nada. Por isso, a dificuldade em comunicar
tem consequncias e afeta as pessoas em todas as situaes da vida e em qualquer idade.
!4
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
A qualidade de vida (QDV), devido a estas condies motoras pode encontrar-se
afetada. Os autores Beukelman e Mirenda (2007) mencionam restries da QDV nos
campos da autodeterminao, da incluso social, da independncia, da participao na
comunidade e da incluso educacional.
Os parceiros de comunicao de pessoas com deficincia grave so na maioria das
vezes pais, professores, assistentes pessoais e outras pessoas de apoio, isto , pessoas
nos microambientes das pessoas com deficincia e com quem passam a maior parte do
tempo. Assim, os parceiros de comunicao qualificados devem ter um conhecimento
aprofundado de como scomunicar com pessoas com deficincia grave (Hostyn et al.,
2009, cit in. Wilder et al., 2015). Salienta-se que a atitude dos adultos em relao s
crianas, constitui-se como um elemento facilitador do seu desenvolvimento lingustico,
sendo uma enorme influncia na formao das suas vidas e nas oportunidades para o
seu desenvolvimento pessoal (Madge e Fassam, 1982, cit in. Von Tetzchner e
Martinsen, 2000).
iii. Comunicao nas crianas com patologia neuromotora
Love e Webb (2001), definem a fala e a comunicao como as funes as mais
complicadas do crebro humano. Elas envolvem interaes entre "a personalidade, os
processos cognitivos, a imaginao, o idioma, a emoo e os sistemas sensoriais e
motores inferiores necessrios para a articulao e a compreenso".
Relativamente s dificuldades de conversao associadas PNM, Pennington (2008)
menciona restries na fala, na linguagem, na comunicao, na leitura e na soletrao.
Os autores Ropper e Samuels (2009) consideram quatro categorias de distrbios
neurolgicos da linguagem e da fala: a primeira a perda ou alterao da produo ou
da compreenso da linguagem escrita ou falada devido a uma leso cerebral adquirida; a
segunda consiste em distrbios da linguagem e da fala em doenas que afetam
globalmente a funo mental de ordem superior; a terceira um defeito na articulao
com funes mentais e compreenso da linguagem falada e escrita intactas e sintaxe
!5
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
normal; e a ltima, uma alterao ou perda da voz por causa de um distrbio da
laringe ou a sua inervao.
Segundo Menezes e Maria (2004), podemos encontrar crianas com atraso motor global
significativo e excelente cognio, e tambm crianas com dfices motores reduzidos e
deficincia cognitiva em maior grau. Os mesmos autores referem que podem-se
encontrar crianas com um bom desenvolvimento da linguagem e ausncia de fala
funcional devido impossibilidade articulatria. Sabendo isso, importa referir que o
distrbio motor da fala resultante desta condio caracteriza-se no apenas pela
articulao, prejudicando os sons da fala, mas tambm pelo suporte anormal da
respirao, dificuldade na qualidade de voz e controlo de caractersticas prosdicas,
como altura e intensidade, velocidade, ritmo, estresse e nasalidade (Parkes et al., 2010,
cit in. Cockerill et al., 2013).
Mais, para crianas com deficincia motora grave que no conseguem produzir fala
inteligvel, Clarke et al. (2016) salientam o fato que o curso de todo o desenvolvimento
suscetvel de diferir das crianas com a mesma condio que tm fala inteligvel e de
crianas sem problemas no desenvolvimento, tanto como consequncia de diferenas
neurolgicas na maturao do crebro, como no impacto destas dificuldades na
interao com os interlocutores principais.
As crianas com necessidades de CAA podem no ter um papel ativo nas interaes
comunicativas, mesmo quando elas esto claramente motivadas para aprender e/ou
participar na interao (Cress, 2002, cit in. H. Finke e Quinn, 2012). Os autores Von
Tetzchner e Martinsen (2002) mencionam tambm um estilo passivo de comunicao
que ocorre frequentemente nesta populao, referem que mesmo quando dada a
oportunidade de utilizarem tecnologias de apoio, as crianas no conseguem iniciar a
conversao nem sequer quando parecem querer dizer algo.
!6
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
2. Comunicao Aumentativa e Alternativa
i. Definio e objetivos
A American Speech-Language-Hearing Association, a qual se constitui como uma
associao de referncia para os Terapeutas da Fala, indica que importante distinguir
entre os termos fala, comunicao e linguagem se quisermos entender o conceito de
Comunicao Aumentativa e Alternativa (ASHA, 2004). Esta associao qualifica a
comunicao como intencional ou no, envolvendo sinais convencionados ou no, e
podendo ocorrer atravs da fala ou de outros modos. Assim, refere que todas as pessoas
comunicam de alguma forma, sendo que a eficcia e a eficincia dessa comunicao
variam com o nmero de fatores individuais e ambientais.
Pois, a fala pertence, segundo Brin-Henry et al. (2011), ao campo da fonologia, que
inclui a prosdia e escolhe e arranja os fonemas na cadeia falada, seguindo as regras
fonolgicas da comunidade. Os mesmos autores definem a comunicao como todo o
meio verbal ou no verbal, usado por um indivduo para partilhar ideias, conhecimentos,
sentimentos, com um outro indivduo. A linguagem definida pelos autores como um
sistema de signos prprios que favorece a comunicao entre os seres.
Ento, quando uma criana no adquire as capacidades comunicativas de forma
"normal", torna-se necessrio recorrer s ferramentas que possibilitem as suas
capacidades comunicativas. Neste caso deve introduzir-se, como aconselha a ASHA
(2004), uma Comunicao Aumentativa e Alternativa (CAA).
Segundo Von Tetzchner e Martinsen (2000, p.22), distingue-se a comunicao
alternativa da comunicao aumentativa. Os mesmos autores definem a comunicao
alternativa como "uma forma de comunicao, diferente da fala, e que est usada por
um indivduo em contexto de comunicao frente a frente" e a comunicao
aumentativa como "uma comunicao complementar ou de apoio, a qual tem dois objetivos, que so, num primeiro lugar, promover e apoiar a fala e, num segundo lugar, garantir uma forma de
comunicao".
!7
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Existem vrios objetivos para o uso da CAA. Os cinco mais comuns so listados pelos
autores Beukelman e Mirenda (2007) e so: dar a possibilidade de transmitir
mensagens, atravs das quais possam interagir em conversaes; participar em
atividades em casa, na escola, no trabalho e durante eventos recreativos; aprender a
lngua materna; estabelecer e manter os papis sociais e conhecer as suas necessidades
especiais. Tambm os autores Von Tetzchner e Martinson (2000) indicam que "o facto de proporcionar uma forma de comunicao alternativa s crianas que no podem expressar-se atravs da
fala tem como consequncias melhorar a sua qualidade de vida, proporcionando-lhes um maior controlo
sobre a sua vida e maior auto-estima, dando-lhes oportunidades de sentirem mais igualdade na sociedade"
(p. 17).
Importa referir que a CAA uma rea da prtica que tem sofrido um crescimento
significativo e rpido nos ltimos 10 anos. Com toda a probabilidade, esse padro
continuar medida que surjam novas tecnologias e prticas de instruo (ASHA,
2004).
ii. Tipos de CAA
Os autores Von Tetzchner e Martinsen (2000), ao referirem-se ao termo CAA,
distinguem a comunicao sem ajuda (onde "os signos so produzidos pela pessoa que
comunica" p.22) da comunicao com ajuda (onde "a pessoa que comunica assinala os
signos pretendidos" e "so utilizados signos tangveis e signos grficos para comunicar"
p.22). Os mesmos autores diferenciam a comunicao dependente, que implica uma
outra pessoa para interpretar o significado daquilo que expresso, da comunicao
independente, onde a mensagem formulada na totalidade pelo indivduo.
Segundo Von Tetzchner e Martinson (2000), os signos gestuais incluem a lngua gestual
dos surdos e outros signos realizados com as mos. Diferenciam-se dos signos grficos,
que incluem todos os signos produzidos graficamente dos signos tangveis, que na
maioria dos casos, so feitos em madeira ou plstico.
!8
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Entre os sistemas sem ajuda, os mesmos autores integram os gestos de uso comum (eg:
"sim", "adeus"), os cdigos gestuais no lingusticos (ex: gestos idiossincrticos),
sistemas de signos gestuais para surdos (ex: a Lngua Gestual Portuguesa), sistemas de
signos gestuais pedaggicos (ex: Makaton) e as linguagens gestuais codificadas (ex:
datilologia).
Por outro lado, os sistemas com ajuda grfica ou visual, precisam de uma assistncia
externa, como instrumentos ou ajudas tcnicas que se adicionam ao corpo do utilizador
para que a comunicao possa realizar-se. Trs tipos de sistemas com ajuda se
diferenciam, desenvolvidos por Von Tetzchner e Martinson (2000). Em primeiro lugar
h os sistemas baseadas em elementos muito representativos, como fotografias ou
smbolos tangveis (podem ser constitudos por objetos reais, miniaturas de objeto,
partes do objeto ou objetos artificiais). Os sistemas de smbolos grficos incluem os
pictogramas e , os sistemas com ajuda de smbolos abstractos, compreendem a
ortografia tradicional, o cdigo Morse e o cdigo Braille.
Diferenciam-se pelos autores Clarke et al. (2016) os sistemas de baixa tecnologia dos
sistemas de alta tecnologia. Os sistemas de baixa tecnologia so definidos pelos autores
como livros em papel ou albuns de fotos, com fotografias, smbolos grficos e palavras.
Salienta-se que a CAA de alta tecnologia tem, nos ltimos anos, refletido tendncias
tecnolgicas mais amplas, com o uso crescente de softwares especficos de auxlio
comunicao, em dispositivos comercialmente disponveis, como telefones celulares e
tabelas. Os mesmos autores tambm indicam que, "nos casos em que prestada uma ajuda de alta tecnologia, continua a ser importante manter e desenvolver um sistema de baixa tecnologia, a fim de
assegurar sempre a disponibilidade de um sistema de comunicao, incluindo os casos em que a
utilizao da ajuda de alta tecnologia no possvel ou prtica" (Clarke et al., 2016).
iii. Candidatos
Relativamente populao-alvo que precisa o uso da CAA, importa referir que a
utilizao da mesma no depende da idade nem das capacidades mentais dos indivduos
(Lloyd, 2005). Os autores de referncia Von Tetzchner e Martinsen (2000) mencionam
!9
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
trs grupos funcionais, que diferem uns dos outros em relao ao grau de compreenso
da linguagem, bem como ao potencial para aprenderem a lngua no futuro.
O primeiro o grupo que necessita de uma forma alternativa de expresso. As pessoas
que integram este grupo possuem uma boa compreenso da linguagem falada mas esto
incapazes de usar a fala, devido s incapacidades fsicas ou anormalidades anatmicas.
A CAA , para eles, uma alternativa permanente porque a maioria desses indivduos
nunca usar a fala.
O segundo grupo, o que necessita de uma linguagem de apoio, divide-se em dois sub-
grupos. O primeiro compreende pessoas que necessitam de um suplemento para
encorajar o desenvolvimento de competncias ao nvel da compreenso e do uso
expressivo da fala, prevenindo situaes de frustrao quando o processo comunicativo
est comprometido. O segundo subgrupo assemelha-se ao grupo expressivo, exceto que
a CAA uma tcnica aumentativa ao invs de uma substituio da fala.
As pessoas que integram o terceiro grupo precisam de uma linguagem alternativa para o
resto da sua vida. Elas tm pouca compreenso da linguagem falada e, portanto, no
conseguem usar um discurso significativo.
iv. Implementao
"A implementao da CAA vem atender estes indivduos [...] para promover o desenvolvimento de possibilidades comunicativas, tornando-os ativos nas relaes interpessoais, mesmo no tendo a fala
funcional." (Menezes e Maria, 2005, p.281)
o Terapeuta da Fala que deve iniciar a introduo de uma forma de CAA, como refere
a ASHA (2004). Segundo esta, o TF assim solicitado a operar um papel de gestor de
caso ou lder da equipa, porque a comunicao considerada como uma rea de
preocupao principal, que influencia todos os outros aspetos da vida diria e
habilidades de vida. Ento necessrio, por parte dos TFs, uma avaliao contnua e
reavaliao quanto ao uso de CAA em mltiplos contextos por parte dos seus
!10
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
utilizadores, uma vez que o impacto dos sistemas de CAA est relacionado com as
mudanas na qualidade de vida dos indivduos.
Os nove papis/responsabilidades que esto inerentes atuao dos TFs que prestam
servios de CAA foram definidos pela ASHA (2004) e incluem:
"1. identificao dos candidatos apropriados para a CAA;2. determinao de sistemas de CAA apropriados para os clientes;3. desenvolvimento de planos de interveno abrangentes para que os clientes alcancem a "comunicao funcional mxima";
4. execuo dos planos de interveno;5. avaliao dos resultados da interveno;6. avaliao e consciencializao sobre as novas tecnologias e estratgias da CAA;7. advocacia na rea da CAA;
8. prestao de servios a profissionais e consumidores;
9. coordenao dos servios da CAA."
A mesma associao de referncia (2004) salienta o facto que, na medida do possvel e
realizvel, os TFs devem envolver os membros da famlia e outras pessoas
significativas, em todas as etapas do programa de CAA. Pois, os indivduos devem ser
ensinados a usar os seus sistemas funcionalmente, com diferentes parceiros de
comunicao e em diferentes contextos.
Soto e Zangari (2009) indicam que a implementao da CAA requer um esforo
colaborativo dos membros da equipa. Eles tm de compartilhar uma viso de
participao social e academia plena das crianas com PNM. Entre esses profissionais,
os autores Menezes e Maria (2004) destacam os terapeutas da fala, psiclogos,
educadores, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, engenheiros e outros.
A literatura sobre a CAA reala o trabalho em equipa como um modelo recomendado de
prtica (Beukleman e Mirenda, 2007). O trabalho em equipa neste contexto (rea da
sade) est definido pelos autores Granados et al. (2008, cit. in McWilliams, 2012)
como "um processo dinmico que envolve dois ou mais profissionais de sade, com
formao e competncias complementares, compartilhando objetivos comuns de sade
e exercendo esforo fsico e mental concertados para avaliar, planear, e atender o
!11
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
paciente." Salienta-se pelo autor Nash (2008 cit. in Batarowicz e Shepherd, 2011) que
as equipas transdisciplinares so melhores para abordar as complexidades dos
problemas relacionados com a sade. Apesar disso, muitos elementos da equipa no
esto habituados ao uso de CAA e um modelo correto pode facilitar a prtica do que
aprenderam (Von Tetzchner e Martinson, 2000).
Importa ainda referir que o fornecimento de CAA s crianas no um fim em si
mesmo. Em vez disso, a proviso de CAA um aspeto da prtica de interveno mais
ampla, destinada a apoiar e desenvolver o repertrio de comunicao total da criana
(Clarke et al., 2016).
3. Perceo dos profissionais quanto ao uso de CAA
Os profissionais que prestam cuidados a pessoas com necessidades de CAA so
provenientes de uma variedade de backgrounds e reas de especializao (Yorkston e
Karlan, 1986, cit. in Locke e Mirenda, 1992). A sua formao , como indicam os
autores Von Tetzchner e Martinsen (2000), uma parte essencial de uma interveno que
envolve sistemas alternativos de comunicao. Eles referem que, mesmo numa poca
onde o uso destes sistemas est mais divulgado, a maioria dos profissionais tm uma
experincia de trabalho com os utilizadores de tecnologias de apoio para a comunicao
limitada, eles no tm conhecimento ou este um pouco limitado. Tambm referem que
a formao das pessoas que trabalham com a pessoa com deficincia indispensvel
para que as medidas de interveno tenham xito.
Beck et al. (2001) demostraram, numa investigao acerca do mesmo tema, que muitos
parceiros de comunicao no respondem adequadamente s crianas que tm
dificuldade em falar. Os resultados deste mesmo estudo mostraram que os indivduos
que usam CAA tm mais risco de encontrar atitudes negativas em indivduos sem
experincia prvia com pessoas com deficincia, do que em indivduos com experincia
prvia com esta mesma populao.
!12
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Um estudo sobre a perceo do trabalho de equipa no contexto da CAA, foi realizado
em 2011, por Batarowicz e Shepherd, num centro em Ontario. Todos os membros da
equipa clnica da CAA tinham de fornecer um feedback clnico sobre as suas percees
acerca do trabalho em equipa para a implementao da CAA. Este estudo relata vrios
benefcios percebidos de um processo de trabalho em equipa no mbito da CAA, que
incluem garantir servios de qualidade, melhorar a aprendizagem, incentivar o apoio
dos pares e facilitar a tomada de decises bem sucedidas.
Um outro estudo realizado por Batorowicz e Schepherd (2011), revelou que os
participantes que trabalhavam em equipas com maior experincia perceberam um
comportamento socioemocional mais negativo nos membros da equipa. Esses resultados
ilustram que existem desafios em equipas que incluem profissionais experientes e
profissionais que so novos na prtica.
O estudo desenvolvido por Beck et al. (2001), teve como objetivo validar uma escala
para medir as atitudes dos profissionais em relao s crianas que se comunicam
atravs da CAA. Esta experincia foi conduzida para investigar a influncia de trs
variveis nas atitudes dos adultos (tipo de tcnica aumentativa usada para comunicar, o
rtulo de incapacidade usado para descrever o utilizador de CAA e a competncia do
utilizador de CAA na comunicao com uma tcnica aumentativa). Embora os
resultados tenham indicado que a competncia do utilizador influenciou as avaliaes
cognitivas (ex.: julgamentos relacionados s capacidades gerais), a competncia do
utilizador no influenciou avaliaes afetivas (ex.: sentimentos, respostas emocionais),
a inteno comportamental (ex.: aes que um tomaria ao servir uma criana) ou
atitudes globais. No se destacaram evidncias de que as atitudes dos adultos fossem
influenciadas pelo tipo de dispositivo (alta tecnologia ou baixa tecnologia) usado por
uma criana ou pelo rtulo de deficincia da criana (atraso mental, incapacidade fsica
ou ausncia de rtulo).
De acordo com o anteriormente exposta, foi salientado pelos autores Mccarthy e Light
(2005) que o uso de um sistema de alta tecnologia no parece ter um efeito sobre a
atitude do ouvinte, ao invs de um sistema de baixa tecnologia. Os autores desta ltima
!13
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
investigao indicam que os adultos assumem frequentemente um papel dominante
quando comunicam com jovens utilizadores de CAA, numa variedade de situaes.
Num outro estudo, sobre o papel e as responsabilidades dos professores de educao
especial atuando em equipas que prestam servios de CAA, realizado por Locke e
Mirenda, em 1992, os professores frequentemente comentaram que no tinham o tempo
necessrio para completar as tarefas requeridas, e os alunos que usavam sistemas de
CAA, sem dvida, exigiam muito mais tempo do que o habitual, para que fosse possvel
desenvolver e manter os seus sistemas. Neste mesmo estudo, a maioria dos cuidadores
participantes indicaram que eles gostariam de receber informaes em todas as cinco
reas de educao continuada identificadas na pesquisa. Destas, a informao do
dispositivo de CAA foi a mais desejada (74%). Tambm foram altamente desejadas as
informaes sobre a avaliao (71%), o treino dos facilitadores (69%), as questes de
integrao (67%) e a gesto da CAA (52%).
Um estudo sobre a perceo de uma equipa acerca do uso de CAA, foi realizado por
Baley et al., em 2006, cujos objetivos revelaram-se muito parecidos aos objetivos da
presente investigao. Na figura 1, possvel analisar um esquema representativo dos
resultados deste estudo, o qual permite ter uma viso global da juno do trabalho dos
investigadores.
Trs categorias principais emergiram desta estudo conduzido por Baley et al. (2006),
como barreiras primrias quanto ao uso de dispositivos de CAA. Essas categorias
incluram restries de tempo, limitaes especficas do dispositivo de CAA e
incongruncia com os pais. No mesmo estudo, vrios membros da equipe mencionaram
limitaes relacionadas ao tempo para a colaborao com outros profissionais da escola
e/ou famlias de utilizadores de CAA. Quase todos os membros da equipa mencionaram
requisitos de tempo para a programao como uma barreira ao uso do dispositivo de
CAA. Revelou-se que outros membros da equipa falaram sobre limitaes devido a
problemas de portabilidade e durabilidade experimentadas com dispositivos especficos.
Tambm o aumento das necessidades de treino e a falta de oportunidades do mesmo
!14
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
para as ferramentas de alta tecnologia, foi sugerido pelos entrevistados como uma
barreira ao uso de dispositivos de CAA.
A mesma investigao revelou que os membros da equipa com menos experincia e
cursos formais relacionados com o uso de dispositivos de CAA, tenderam a expressar
maior necessidade de treinamento com determinados dispositivos. Os membros da
equipa tambm sugeriram que o uso do dispositivo de CAA teve um efeito positivo no
comportamento dos seus utilizadores.
Relativamente CAA em casa, esta investigao indicou que os jovens com
necessidades de CAA frequentemente utilizavam efetivamente a comunicao no-
simblica em suas casas. Todos os membros da equipa entrevistados pelos autores
expressaram o desejo de envolvimento dos pais. Tambm os entrevistados achavam que,
"porque os pais/guardies compreendiam as formas de comunicao dos filhos sem o
auxlio de seus dispositivos de CAA, o uso dos dispositivos no era visto como
necessrio no lar".
Os mesmos autores apontaram como facilitadores do uso de dispositivos de CAA, em
primeiro lugar o envolvimento dos pais, em seguida uma equipa eficiente e, por ltimo,
a facilidade no uso do dispositivo. Tambm um trabalho em equipa eficaz foi indicado
como um facilitador preliminar do uso eficaz do dispositivo de CAA. A populao
entrevistada pelos investigadores era um grupo de membros da equipa que funcionavam
bem juntos, comunicavam-se com frequncia e estavam todos focados em aumentar as
habilidades de comunicao dos seus alunos com sistemas e dispositivos de CAA.
Por fim, nesta mesma investigao, alguns professores consideram a CAA como um
tratamento para estudantes com deficincia e no como um apoio. O TF parecia ser o
lder informal da equipa, incentivando os professores a usarem CAA, "fornecendo
modelagem do uso do dispositivo durante os grupos lingusticos e desenvolvendo um
relacionamento positivo com os professores". Baley et al. relembram o seu principal
objetivo, para auxiliarem os professores para que estes possam ser utilizadores efetivos
de CAA.
!15
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
!16
Fig. 1. Esquema representativo dos resultados da pesquisa qualitativa de Baley et al. (2006) sobre a perceo
de uma equipa acerca do uso de CAA
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
II. ESTUDO EMPRICO
1. Objetivos do estudo
Os objetivos desta investigao so vrios. Em primeiro lugar, pretende-se contactar
com a perceo de diferentes profissionais acerca do uso da CAA com crianas com
PNM. O segundo objetivo, que vem em seguida, identificar os aspetos diferenciadores
que integram as diversas percees, com especial ateno ao ponto de vista dos TFs.
Por ltimo, pretende-se refletir e discutir os principais aspetos que sustentam a
perspetiva dos TFs relativamente ao uso de CAA com crianas com PNM, tendo em
ateno os referenciais tericos e a investigao atual.
2. Tipo de estudo
De acordo com Fortin (2009), quando se executa uma investigao, deve-se escolher
uma determinada metodologia, esta que planifica o estudo e a sua execuo e que vai
influenciar os resultados obtidos e a sua compreenso. Tendo em conta os objetivos
deste trabalho, recorreu-se a uma metodologia qualitativa. Segundo Vilelas (2009), a
investigao qualitativa define-se como uma forma de estudo da sociedade que se centra
no modo como as pessoas interpretam e do sentido s suas experincias e ao mundo
em que elas vivem. O mesmo autor refire que esta metodologia utilizada para explorar
o comportamento, as perspetivas e as experincias das pessoas. A base da investigao
qualitativa reside na abordagem interpretativa da realidade social (Holloway, 1999).
Segundo Malhotra (2006, cit in. Oliveira et al., 2007), "a pesquisa qualitativa uma
metodologia de pesquisa no-estruturada e exploratria baseada em pequenas amostras
que proporciona percepes e compreenso do contexto do problema".
Malhotra (2006) aponta vrias razes para usar a pesquisa qualitativa. No seu entender,
nem sempre possvel, ou conveniente, utilizar mtodos plenamente estruturados ou
formais para obter informaes dos entrevistados. Determinados valores, emoes e
motivaes que se situam no nvel subconsciente so encobertos ao mundo exterior pela
!17
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
racionalizao e outros mecanismos de defesa do ego. Por isso, a maioria maneira de
obter a informao desejada a pesquisa qualitativa.
3. Procedimentos para a recolha de dados
Num primeiro momento foi estabelecido um contacto com o director do CEM em
Frana, tendo sido explicados os objetivos do estudo, bem como solicitada a autorizao
para a realizao do mesmo, com a garantia do anonimato e da confidencialidade.
Aps aprovao por parte da instituio, foram contactados os vrios profissionais que
intervm diretamente com as crianas com PNM, foram explicados os objetivos do
estudo, foi solicitada a sua participao, sendo garantido o anonimato e a
confidencialidade dos dados. Em ambas as situaes anteriormente descritas, foram
apresentadas cpias do instrumento a utilizar para a recolha dos dados, bem como o
respetivo consentimento informado (Anexo II), que os participantes preencheram.
Importa referir que foi nesta instituio que a autora desta investigao realizou, durante
os meses de outubro e novembro de 2016, a parte do estgio clnico que integra a
Unidade Curricular Estagio Profissionalizante II da licenciatura em Teraputica da Fala.
4. Instrumento
Os dados foram recolhidos com recurso realizao de entrevistas semi estruturadas,
cujos guies que serviram de orientao s mesmas encontram-se no Anexo III
(entrevista semi-estruturada aos profissionais do instituto) e Anexo IV (entrevista semi-
estruturada com perguntas reservadas s terapeutas da fala).
Segundo Marconi e Lakatos (2003), o uso de entrevistas semi-estruturadas tem vrias
vantagens. Entre outras pode-se citar: o fato delas poderem ser utilizadas para todos os
segmentos da populao (analfabetos ou alfabetizados); haver uma maior flexibilidade,
podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas, ou ainda formular as questes
!18
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
de maneira diferente; oferecem uma maior oportunidade para avaliar atitudes, podendo
o entrevistado ser observado naquilo que diz e como o diz (reaes, gestos, ...); darem a
oportunidade para a obteno de dados que no se encontram em fontes documentais e
que sejam relevantes e significativos; possibilitarem o conseguir informaes mais
precisas, podendo ser comprovadas de imediato as discordncias, e ainda permitirem
que os dados possam ser quantificados e submetidos a tratamento estatstico.
Acrescenta-se que os guies das entrevistas foram previamente aplicados a um
profissional da instituio que no integrava a amostra, de modo a testar a sua
coerncia, pertinncia e clareza das questes, funcionando esta experincia como pr-
teste. De acordo com a informao obtida, foram efetuados ligeiros ajustes considerados
necessrios.
Foram seguidas as recomendaes de Freixo (2010) relativamente aplicao das
entrevistas. Assim, num primeiro momento estas foram planeadas (foram desenhadas de
acordo com os objetivos da investigao), os entrevistados tiveram conhecimento dos
tpicos atempadamente, foram marcadas com antecedncia (com indicao da hora e do
local, para assegurar que as mesmas iriam ocorrer), foram asseguradas as condies
para a garantia da confidencialidade dos dados e do anonimato dos entrevistados (com o
consentimento informado UFP) e foi feita uma preparao especfica na organizao
dos guies com as questes mais importantes.
As primeiras perguntas das entrevistas semi-estruturadas consistiam na caracterizao
dos indivduos, os seus anos de experincia na profisso, os seus anos de experincia a
intervir com crianas com PNM, e a sua experincia com a CAA. A outra parte das
perguntas pretendeu recolher mais concretamente a perceo que os profissionais
possuem acerca do uso da CAA com crianas com PNM.
As entrevistas realizadas nessa investigao foram gravadas em udio, no dia 19 de
dezembro 2016, sendo posteriormente transcritas e analisadas com recurso a tcnicas de
anlise de contedo. As transcries destas entrevistas esto anexadas este trabalho
mas nunca o nome do instituto foi mencionado, no objetivo de manterem a
confidencialidade dos resultados.
!19
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
5. Procedimentos de anlise e tratamento dos dados
Segundo Ribeiro e Ruppenthal (2002), a anlise dos dados pode servir para completar
um diagnstico, para identificar aes a serem tomadas, para direcionar novos estudos,
ou simplesmente para aprofundar o estudo.
A anlise de contedo , segundo Bardin (1977), o mtodo mais adotado no tratamento
dos dados das investigaes qualitativas. A mesma autora define a anlise de contedo
como "um conjunto de tcnicas de interpretao da comunicao visando obter, por procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/receo destas
mensagens" (p.42).
Existem muitas tcnicas desenvolvidas na anlise de contedo que atuam no sentido de
promover o alcance e a compreenso dos significados manifestos e latentes no material
de comunicao (Minayo, 1994). A anlise temtica e categorial , segundo Vilelas
(2009), o tipo de tcnica mais utilizado. Isto consiste em operaes de desmembramento
do texto em unidades (categorias) segundo regulamentos analgicos. As categorias e
sub-categorias emergiram da anlise das entrevistas, e posteriormente foram validadas
por um perito na rea e avaliador externo (Professora Doutora Fatima Maia).
6. Participantes
Oliveira et al. (2007) referem que quando os participantes apresentam homogeneidade,
a sesso conduzida mais facilmente em certos aspetos, como o nvel cultural, faixa
etria, sexo, posio econmica, entre outros. Porm a no homogeneidade dos
participantes, em alguns casos, necessria para detetar divergncia de opinies, para
estimular a discusso e gerar um possvel consenso.
A amostra foi constituda por diversos profissionais que constituem uma equipa
interdisciplinar de um CEM e que intervm diretamente com as crianas com PNM.
Assim, importa referir que encontrmos profissionais de diferentes reas: duas
!20
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
terapeutas da fala, uma optometrista, uma terapeuta ocupacional, uma psicomotricista,
uma educadora escolar e uma monitora educadora.
Para uma melhor contextualizao do desenvolvimento deste trabalho, importa tambm
referir que as crianas e os jovens acolhidos no IGB so pessoas com paralisia cerebral,
multideficincia ou possuem outro tipo de patologias neuromotoras. Entre elas
encontram-se situaes de miopatias e doenas neuromusculares, distrbios do
desenvolvimento afetando a motricidade, a linguagem, a organizao gestual e a
neuroviso, espinha bfida, sequelas de traumatismo craniano ou tumor cerebral, e ainda
outras doenas raras.
!21
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
III. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS
De modo a facilitar a leitura dos resultados e a sua discusso, optou-se por apresentar os
mesmos, organizando-os em tabelas. Assim, estas indicam os resultados considerados
mais relevantes, relativos a cada uma das questes colocadas nas entrevistas aos sete
profissionais do CEM. Para uma melhor compreenso dos mesmos, so indicadas as
categorias e sub-categorias obtidas, o n de ocorrncias e alguns exemplos ilustrativos
das mesmas. A discusso dos resultados efetuada no seguimento de cada tabela.
Tabela 1: Pergunta 1: Qual a sua profisso?
Esta amostra de profissionais constituda por dois educadores e cinco profissionais de
reabilitao (Tabela 1). Todos os seus elementos so do sexo feminino. Importa referir
que s uma profisso est aqui representada por duas pessoas: a Terapia da Fala. Este
fato tem a sua importncia neste trabalho, onde se pretende um especial destaque do
ponto de vista dos terapeutas da fala.
Importa referir aqui que esta equipa no est completa, nomeadamente no integra o
profissional fisioterapeuta, o qual, quando falamos de patologias neuromotoras,
Categoria Sub-categoria Nmero de ocorrncia Exemplos
Profisso
Reabilitadores (TF1, TF2, PM, O
e TO)5
- "Eu sou Terapeuta da Fala."- "Eu sou Terapeuta da Fala."- "Eu sou Psicomotricista."
- "Optometrista."- "Terapeuta Ocupacional."
Educadores (EE e ME) 2
- "Educadora Escolar." - "Eu sou Monitora Educadora..."
!22
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
essencial para garantir um adequado posicionamento e uma maior facilidade nos
movimentos para a participao da pessoa nas atividades do seu dia a dia (Newman,
2006). Tambm faltam profissionais listados pelos autores Menezes e Maria (2004), que
quando enumeram os membros que supostamente devem compor a equipa que apoia
crianas com PNM, tambm indicam, entre outros, psiclogos e engenheiros. Como os
autores Yorkston e Karlan (1986, cit. in Locke e Mirenda, 1992), referem sobre o
mesmo tpico, que a amostra de profissionais de uma equipa, apresenta uma variedade
de "backgrounds" e reas de especializao diferentes, o que tambm se verifica neste
estudo.
Tabela 2: Perguntas 2 e 3: H quantos anos que exerce a sua profisso? H quantos anos exerce a sua profisso a intervir com crianas com patologias neuromotoras?
Categoria Sub-categoriaNmero
de ocorrncia
Exemplos
Experincia profissional
30 anos (TF2) 1 - "Desde setembro de 1986."
Inferior ou igual a 25 anos (TF1, PM e TO) 3
- "Desde 1997."- "Desde setembro 1991."
- "Desde 1993..."
Inferior a 15 anos (EE, ME e O) 3
- "H 10 anos."- "... pelo menos 13 anos."
- "Vai fazer 10 anos..."
Experincia com crianas
com patologias
neuromotoras
22 anos (PM) 1 - "...desde 1992."
Inferior a 15 anos (TF1, TF2) 2
- "Desde 2004."- "De maneira contnua desde maro de
2006..."
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Estas duas perguntas foram inseridas numa mesma tabela (Tabela 2) para comparar a
experincia profissional da amostra com a sua experincia a intervir com crianas com
PNM. Isto permite destacar que as pessoas que tm uma maior experincia a intervir
com crianas com PNM, que so as duas TF e a PM, so as mesmas profissionais que
tm a maior experincia profissional.
Os autores Batorowicz e Schepherd, no seu estudo de 2011, destacaram o fato que
existem desafios em equipas que incluem profissionais experientes e profissionais que
ainda possuem uma prtica muito recente, os quais muitas vezes precisam de mais
formao e orientao por parte dos profissionais experimentes. Nesta amostra, h
profissionais com 30 anos de experincia assim como profissionais com menos de 10
anos. Ento esta variedade de tempo de prtica, (nomeadamente, de experincia)
ilustrada com estes sete profissionais, permite ter diversos pontos de vista.
A importncia da experincia ilustra-se no facto que, como Hostyn e Maes destacam
(2009, cit in. Wilder, Magnusson, Hanson, 2015), os parceiros de comunicao
qualificados devem ter um conhecimento aprofundado de como comunicar com pessoas
com deficincia grave. Neste estudo, so as TFs que apresentam uma experincia maior
quando comparada mdia das experincias dos profissionais entrevistados.
Inferior ou igual a 10 anos (EE, O, TO) 4
- "H 10 anos."- "Desde o incio."- "Desde 2008."- "...desde 2009."
Categoria Sub-categoriaNmero
de ocorrncia
Exemplos
!24
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Tabela 3: Pergunta 4: Tem conhecimento/experincia sobre o uso da CAA em pessoas com problemas ao
nvel da comunicao, nomeadamente crianas com PNM?
Categoria Sub-categoria Nmero de ocorrncia Exemplos
Ferramentas (TF1, EE, PM, O, TO e ME)
Ferramentas usadas anteriormente
(TF1, EE, PM, O e TO)
9
TF1: 2;EE: 2;PM: 2;O: 2;TO: 1
- "... comemos com snteses de voz mecnicas com "Minspeak"
- "Antes no havia snteses de fala." - "Ao incio eram cadernos de comunicao."
- "Foi um perodo, enquanto os comunicadores com sntese de voz eram muito usados, e
depois usvamos essencialmente cadernos de comunicao."
- "... os meios no eram os mesmos... evoluiu muito!"
Ferramentas usadas atualmente (TF1, EE, ME, O, TO)
10
TF1: 4;TO: 3;EE: 1;ME: 1;O: 1
- "Atualmente ns possumos mais softwares de comunicao sem esquecer os cadernos de
comunicao..." - "...era o francs gestualizado." - "eu tive de aprender o francs
gestualizado..." - "...ns usamos mais as tabelas e os softwares
de comunicao." - "Atualmente o acesso s ferramentas
informticas est diferente, faz-se em contato direto no ecr, na tabela ttil ou no
computador com ecr ttil, ou com um controlo visual."
Experincia profissional
(EE, ME, TF2, O, TO, TF1 e
ME)
Importncia da formao (EE, ME, TF2, PM, O e TO)
7
- "Faz 3 anos que conheo TheGrid."- "tenho tido formaes de francs
gestualizado..."- "...s h 4 anos que ns fomos formados no
software TheGrid..."- "...relativamente a tudo o que relativo comunicao ns no trabalhvamos com
isto."
Situaes especficas (TF1 e
ME)3
- "Tenho um exemplo de uma menina que fazia o gesto..."
- "Eu tambm trabalhei muito com crianas com deficincia auditiva..."
- "...j estou a cuidar de uma criana com surdez faz 3 anos..."
- "Eu trabalhei com crianas em SESSAD..."
!25
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Para responder a esta pergunta, seis dos sete profissionais escolheram fazer uma reviso
dos instrumentos (Tabela 3), sejam os que usavam antes ou os que usam atualmente.
Apresentaram um discurso didtico que fazendo uma comparao entre o uso de
tecnologias dos tempos anteriores e a eficcia dos instrumentos que so propostos
atualmente. Todos os participantes deram informaes relativas sua experincia
profissional. A O e a TO deram uma definio do conceito, como se a pergunta fosse
para fornecerem um discurso didtico em vez da sua prpria perceo.
Um ponto importante que precisa de estar desenvolvido nesta reflexo o facto que,
quando se trata de mencionar as ferramentas usadas atualmente, so mencionadas
formas de comunicao com ajuda (cadernos de comunicao, snteses de voz,
computadores, tabela tctil, onde so utilizados signos tangveis e signos grficos para
comunicar) e formas de comunicao sem ajuda (francs gestualizado, onde os signos
so produzidos pela pessoa que comunica) Von Tetzchner e Martinsen (2000).
Mais, os resultados ilustram, nas palavras da TF1, o que referem Clarke et al. (2016),
relativamente importncia de manter e desenvolver um sistema de baixa tecnologia.
Apreciao (TF1, ME,
TF2, TO e PM)
Positiva (TF1, ME, TF2 e TO)
9
TF1: 4;ME: 3;TF2: 1;TO: 1
- "...ao nvel da compreenso era mgico."- " importante... e essencial."
- "...para mim realmente uma comunicao que indispensvel com as crianas daqui..."
- "... est muito mais rpido agora!"
Negativa (TF1 e PM)
8
TF1: 5; PM: 3
- "...era um pouco mais complicado..." - "Eram muito restritas."
Definio (O e TO) 2
- "Para mim significa dar ferramentas s crianas que no tm comunicao verbal,
uma ferramenta alternativa que substitui a fala ou um suporte para aumentar a fala."
- "Para mim permitir a uma pessoa que no pode usar a oralidade para comunicar de ter uma ferramenta adaptada para que ela possa
falar."
Categoria Sub-categoria Nmero de ocorrncia Exemplos
!26
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Tal tem como objetivo assegurar sempre a disponibilidade de um sistema de
comunicao, incluindo os casos em que a utilizao da ajuda de alta tecnologia no
possvel ou no o mais prtico.
Quatro dos profissionais deram uma apreciao positiva relativamente ao uso de
ferramenta de CAA (TF1, ME, TF2 e TO) e dois negativa (TF1 e a PM). Neste
contexto, a apreciao negativa sobre o uso da CAA refere-se principalmente ao tipo de
material usado anteriormente. Como Baley et al. (2006) indicaram no seu estudo, "os
membros da equipa sugeriram que o uso do dispositivo CAA teve um efeito positivo no
comportamento dos usurios do CAA". Salienta-se neste caso que a apreciao
relativa ao tipo de material utilizado e no propriamente ao facto de no reconhecerem a
utilidade da ferramenta.
Tabela 4: Pergunta 5: O que pensa sobre o uso da CAA em crianas com PNM?
Categoria Sub-categoria Sub-sub-categoria
Nmero de
ocorrnciaExemplos
Apreciao (EE, ME, TF2, PM, TO, O)
Ajuda (EE, ME, TF2, PM e TO) 7
- " uma ajuda..." - " importante e vemos efeitos."
- "Para mim indispensvel" - "... isso permite ter uma
verdadeira comunicao com as crianas com quem ns pensamos
que no h esta possibilidade." - "Eu diria que isto uma
dimenso importante ou primria." - "Sobretudo nas crianas que tm
distrbios do espectro do autismo..."
- "...eu acho que podem dar abertura para que as pessoas
percebam melhor..."
Implementao complicada
(EE, TF2, O e TO)
13
TO: 7;TF2: 3;O: 2;EE: 1
- "Uma ajuda limitada..." - "Para a maioria das pessoas isto
parece complicado, na minha opinio..."
-"...no meu ponto de vista, fica [...] restringido ao trabalho com as
Terapeutas da Fala..." - "...eu acho que fica sempre
complicado."
!27
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Para responder a esta pergunta, dois tipos de resposta foram dadas: uma de tipo
apreciativo, evocando a ajuda que pode oferecer a CAA, outra, pelo contrrio,
indicando os constrangimentos encontrados na implementao desta comunicao
(Tabela 4). O outro tipo de resposta o ponto de vista dos profissionais acerca da sua
preferncia de abordagem de interveno (TF2, O e TO). Neste caso, os profissionais
decidiram dar um discurso informativo, dar um exemplo ou uma outra proposta de
TO, O)
Constrangimento (EE, TF2, O,
TO)
Muito trabalho por parte dos profissionais
(EE e O)
3
- "Constantemente temos de enriquecer o vocabulrio."
- "Acho que poderia ser uma boa ferramenta mas para isso preciso uma aprendizagem de utilizao
que no est suficientemente desenvolvida..."
Aceitao por parte das outras pessoas (TF2 e
TO)3
- "...porque acho que as pessoas esto formatadas para uma
comunicao normal de oralidade..."
- "... mas temos dificuldades para as generalizar noutros meios."
Demora tempo (EE) 1 - " muito demorado..."
Abordagem de interveno (TF2, O e TO) 8
- "Depende se a criana com PNM podem usar a fala ou no."
- "...as TF elaboram um caderno de comunicao..."
- "Aqui funcionamos unicamente com pictogramas..."
- "Por exemplo, a semana passada fui com um jovem e pesquismos a palavra [pictograma] "trabalhar" e
no havia!"- "Ento preciso fornecer-lhes no
incio uma bagagem suficiente para que elas sejam capazes de
exprimir coisas."
Categoria Sub-categoria Sub-sub-categoria
Nmero de
ocorrnciaExemplos
!28
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
abordagem. Pois, estes mesmos profissionais, quando foi perguntada uma reflexo sobre
o que achavam sobre o uso de CAA com crianas com PNM, escolheram dar
informaes sobre este tpico, sem refletir a sua prpria opinio. Um outro
comportamento assumido pelos entrevistados foi darem um exemplo da sua prpria
experincia (a TO usou isto), refletindo um conhecimento prprio mas no revelando
propriamente uma apreciao pessoal.
Esta tabela permite tambm destacar os tipos de constrangimentos evocados pela EE, a
TF2, a O, e a TO que as categorias seguintes ilustram: o fato de, por vezes, ser um
processo complicado de implementar, o trabalho por parte dos profissionais que
implica, as dificuldades de aceitao por parte dos interlocutores e o tempo que demora.
Estes resultados concordam com os da investigao de Baley et al. (2006) onde trs
categorias principais foram distinguidas como barreiras primrias ao uso de dispositivos
de CAA. Essas categorias incluam restries de tempo, limitaes especficas do
dispositivo de CAA e incongruncia com os pais. S o trabalho por parte dos
profissionais que isso implica no estava mencionado no estudo previamente efetuado
por Baley et al.. Tambm esta investigao concorda com os autores Locke e Mirenda
(1992) que indicavam que os professores mencionavam uma falta de tempo para
completar as tarefas requeridas e que "os alunos que usavam sistemas de CAA exigiam
muito mais tempo do que o habitual para desenvolver e manter os seus sistemas".
Nos constrangimentos emitidos, a dificuldade de implementao foi evocada pela EE, a
TF2, O e a TO. Se verdade que esta comunicao precisa de uma formao anterior,
Soto e Zangari (2009) indicam que a implementao da CAA requer um esforo
colaborativo dos membros da equipa. Os mesmos autores adicionam que os
profissionais tm de compartilhar uma viso de participao social e academia plena das
crianas com PNM. neste ambiente que a implementao da CAA desenvolve-se de
maneira tima. Tambm foi referida a incongruncia com os pais ou com os parceiros
privilegiados de comunicao dos utentes como um constrangimento boa
implementao da CAA. Apesar das recomendaes da ASHA (2004), que referem que
os indivduos devem ser ensinados a usar os seus sistemas funcionalmente, com
diferentes parceiros de comunicao e em diferentes contextos.
!29
Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
H tambm uma observao que precisa de ser feita: o fato que a O tinha um aviso to
drstico relativamente implementao da CAA neste instituto e que ela apresenta uma
outra proposta muito pertinente e adequada com o fornecimento atual da CAA.
Efetivamente, como sublinham Clarke et al. (2016), a implementao desta
comunicao com as crianas com PNM no um fim em si mesmo. Em vez disso, a
proviso de CAA um aspeto da prtica de interveno mais ampla, destinada a apoiar
e a desenvolver o repertrio de comunicao total da criana.
Tabela 5: Pergunta 6: Como voc definiria seu nvel de habilidade em CAA?
Categoria Sub-categoriaSub-sub-categoria
Nmero de ocorrncia
s Exemplos
Nvel de habilidade (EE, ME,
TF2, PM, O e TO)
Confortvel (EE, ME e TF2) 3
- "Eu considero que no mau..."- "Sinto-me confortvel com isto..."
- "...eu acho que eu tenho adquirido um nvel relativamente bom..."
Desconfortvel (PM, O e TO) 5
- "Mas eu considero que o meu nvel de habilidade em CAA pequeno."
- "Por isso eu no me considero como experiente porque eu no conheo muitas
ferramentas."- "...relativamente ao contedo, no."
Exigncia (TF1, EE, ME, TF2,
O)
Precisa de prtica (TF1, EE e ME) 3
- "...precisamos praticar sempre."- "A formao foi muita completa mas ns no praticamos diretamente aps a mesma [...] complicado encontrar tempo para
treinar para ficarmos mais rpidos."- "Ns temos de praticar..."
Requer tempo (TF1, EE e ME) 3
- "...requer ume quantidade enorme de tempo."
- "... muito demorado e eu no tenho absolutamente tempo nenhum para
praticar ento..."- "...no ideal, deveramos ter mais tempo."
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Relativamente estimao do nvel de habilidade em CAA que os profissionais deram,
trs delas sentem-se confortveis enquanto trs delas no se sentem confortveis (tabela
5). Os resultados ilustram o que referido por von Tetzchner e Martinson (2000), ao
indicarem que muitos elementos da equipa no esto habituados ao uso de CAA.
Cinco dos respondentes mencionaram a exigncia que solicita a CAA (a TF1, a EE, ME,
TF2, O) e evocam a importncia duma prtica regular, salientando que isso requer
tempo. A ME, a TF2 e a O, indicaram que requer mais formao.
Como no estudo de Baley et al. (2006), "quase todos os membros da equipe
mencionaram requisitos de tempo para a programao como uma barreira ao uso do
dispositivo CAA."
Tambm foram evocados os suportes, foi mencionada a CAA com apoio tecnolgico e
sem apoio tecnolgico por quatro profissionais, e a sua competncia com ela. Assim, a
lngua gestualizada foi mencionada como no adquirida pela ME, como os autores Von
Tetzchner e Martinsen (2000) j mencionaram, muitos elementos da equipa no esto
habituados a usar signos e os autores insistem no facto que um modelo correto pode
facilitar a prtica do que aprenderam. Trs profissionais abordaram a questo de uma
aprendizagem aprofundada para melhorar as suas competncias em CAA. Como Baley
et al. (2006) referem, os membros da equipe com menos experincia e cursos formais
relacionados com o uso de dispositivos CAA tendem a expressar maior necessidade de
Requer mais formao/formao contnua (ME,
TF2 e O)4
- "...seria bom que fossemos formados regularmente."
- "...tenho com certeza muito a aprender e para melhorar."
- "Acho que para se estar confortvel com a CAA, precisa-se de estar formado
suficientemente"
Categoria Sub-categoriaSub-sub-categoria
Nmero de ocorrncia
s Exemplos
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
treinamento com determinados dispositivos (lembramos aqui que a O tem 10 anos de
experincia).
A ME, TF2 e a O evocam um desejo de formaes suplementares ou continuas. No
estudo conduzido por Locke e Mirenda, em 1992, acerca do mesmo tpico, a maioria
dos cuidadores participantes indicaram que eles gostariam de receber informaes
complementares do dispositivo de CAA. Assim, a situao parece ainda no ter mudado
desde mais de 20 anos.
Tabela 6: Pergunta 7: Existe alguma forma de CAA que voc usa mais e porqu?
Categoria Sub-categoriaSub-sub-categoria
Nmero de ocorrncia Exemplos
Necessidade de suporte material (TF1, O,
TO, PM e EE)
CAA com ajuda
(TF1, O, TO e PM)
Usa (TF1, O e TO) 3
- "TheGrid, essencialmente para jovens que no tm fala..."
- "Enquanto Optometrista, ns usamos mais as snteses de fala com comando ocular."
- "...so mais as ferramentas numricas para ns, os softwares informticos."
Porqu (TO) 1
- "O nosso trabalho em Terapia Ocupacional o de ver com a pessoa a ferramenta mais
adequada, se um computador, uma tabela, como o acesso com a tabela..."
No usa (PM, O e
TO)4
- "No, porque infelizmente o meu quadro de trabalho no me permite usar estes suportes."
- "...porque aqui, os cadernos de comunicao esto reservados s Terapeutas
da Fala."- "...eu no conheo muito bem tudo que
relativo s snteses de voz..." - "... uma dinmica de trabalho que no
tenho porque no estou confortvel com a ferramenta e porque isto demorado." - "...pergunto-me se no um pouco
"ultrapassado" [sobre snteses de voz]"
Usa (TF1 e EE) 2
- "O francs gestualizado. Sistematicamente."- "O francs gestualizado."
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Clarke et al. (2016) indicaram que nos ltimos anos, a CAA de alta tecnologia tem refletido
tendncias tecnolgicas mais amplas, citando entre outros os softwares especficos de
auxlio comunicao em dispositivos comercialmente disponveis, como telemveis e
tabelas. Este fato relativamente recente deveria ser refletido neste instituto mas s trs
profissionais afirmam us-lo (TF1, O e TO, o que lgico) enquanto quatros outros
dizem que no esto confortveis com isso (Tabela 6). Assim isso confirma o que Von
Tetzchner e Martinson (2000) relatam que a maioria dos profissionais tm uma
experincia limitada de trabalho com os utilizadores de tecnologias de apoio para a
comunicao, no tendo conhecimento ou tendo um conhecimento muito limitado do
mesmo.
Secundo Mccarthy e Light (2005), o uso de um sistema de alta tecnologia no tem um
efeito sobre a atitude do ouvinte, ao invs de um sistema de baixa tecnologia. Mas os
resultados obtidos nesta investigao mostram que a CAA com ajuda que a maioria
parte dos profissionais mostra mestria. Pois, a lngua gestualizada, que parece ser o tipo
de CAA sem ajuda mais conhecido pelos entrevistados, requer uma aprendizagem
importante e j foi mencionada a falta de tempo por parte dos profissionais para
CAA sem ajuda
(TF1, EE e TO)
Porqu (TF1 e EE) 2
- "Porque interessante que toda a gente no instituto o conhea."
- "Acho que um bom suporte para a compreenso e para que elas criassem
imagens mentais."
No usa (TO) 1
- "E relativamente ao francs assinado, tambm acho que bastante restrito."
Depende dos jovens (ME) 2- "Depende dos jovens."
- "...quando estamos com um jovem em particular, quando estamos individualmente,
ento adaptamos um pouco melhor..."
Categoria Sub-categoriaSub-sub-categoria
Nmero de ocorrncia Exemplos
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
treinarem de modo a ficarem eficientes nesta forma de comunicao. No pretende-se
aqui que os outros dispositivos (so evocados aqui snteses de voz, software de
comunicao, tabelas tteis, computadores) no precisem de um tempo de
familiarizao mas parte delas esto mais intuitivos (referia-se as tabelas tteis).
Cada jovem est diferente. Cada jovem comunica de forma diferente. Assim, como
sublinha a ME, a escolha da forma de CAA no depende do profissional mas do jovem.
Por isso, os autores Alant e Lloyd (2005) destacaram importncia da avaliao das
capacidades para comunicar e apontaram no fato que a utilizao da CAA no depende
da idade nem das capacidades mentais dos indivduos.
Tabela 7: Pergunta 8: Na sua formao inicial, ou aps a mesma, recebeu alguma sensibilizao para a utilizao de uma comunicao alternativa e aumentativa?
Categoria Sub-categoriaNmero de ocorrncia Exemplos
"Nenhuma sensibilizao na formao
inicial " (TF1, EE, ME, PM,
O e TO)
Motivos (TF1, O e
TO)3
- "No existia."- "A optometria muito especfica."
- "Ns tivemos s cinco pginas de aula sobre a paralisia cerebral ento ns no estudmos mais a
questo da CAA." - "Mas na minha formao inicial, no havia nada
sobre como intervir com pessoas com incapacidade."
Contexto de sensibilizao
ao uso de CAA (EE,
ME, O, TF1 e TF2)
Instituto (EE, ME e
O)4
- "Ento muito no local, sim."- "Eu descobri tudo aqui!"
- "Ento eu fui formada no instituto e porque eu fiz estgios aqui."
Com outros profissionais (TF1 e EE)
2
- "...foram colegas que me ensinaram..."- "Tambm h a ligao com as minhas colegas
da reabilitao." - "Mais tarde eu fiz estgio com uma Terapeuta da
Fala que trabalhava exclusivamente com crianas com deficincia auditiva..."
- "... no incio havia um senhor com deficincia auditiva que ensinou o LSF..."
Formaes (TF1 e EE) 2
- "...para TheGrid ns tnhamos formaes."- "...uma em Paris sobre a "dis"."
- "...quando eu comecei a trabalhar no escolar, sim, eu recebi formaes..."
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
A associao de referncia para as Terapeutas da Fala ASHA afirmou em 2004 que a
CAA uma rea de prtica que tem sofrido um crescimento significativo e rpido nos
ltimos 10 anos. Tambm referiu que esse padro est destinado a continuar medida
que surjam novas tecnologias e prticas de instruo. Ento, significa que esse
crescimento na acessibilidade da CAA comeava em 1994. Entre as profissionais
entrevistadas, s trs tiveram uma experincia inferior ou igual a 10 anos mas toda a
gente afirmou no ter nenhuma sensibilizao relativa a CAA na sua formao inicial
(Tabela 7). Batorowicz e Schepherd (2011), relembram a importncia da formao das
pessoas que trabalham com a pessoa com deficincia para que as medidas de
interveno podem ter sucesso. Isso significa que todos os profissionais deveriam estar
sensibilizados para a sua utilizao no somente as TFs. Isto de acordo com von
Tetzchner e Martinsen (2000) que indicam que a formao dos profissionais uma parte
essencial de qualquer interveno envolvendo sistemas alternativos de comunicao.
Por outro lado, o CEM parece estar numa motivao de promoo do uso de CAA
porque onze vezes foi citado como lugar de familiarizao com a CAA pelos seus
profissionais, quer com referncia a formaes propostas, partilha de informaes entre
colegas ou referncia ao prprio local (instituto) como contexto de aprendizagem. Baley
et al. (2006), no seu estudo sobre um tema muito semelhante, apontaram como
facilitador do uso de dispositivos de CAA uma equipa eficiente. Pois, a TF1 e a EE
indicaram que est com a ajuda de outras profissionais que familiarizavam-se com o
Experincias passadas (ME, PM e O) 3 - "Foram meios da poca." (PM)
Dificuldade de implementao (TF1) 2
- "Acho que fica sempre um pouco limitado na reeducao em Terapia da Fala e um pouco uma
pena." - "No devem ser esquecidos os cadernos de
comunicao que so sempre teis, mas infelizmente no so usados por toda a gente. Especialmente a
famlia ou outros profissionais."
Categoria Sub-categoriaNmero de ocorrncia Exemplos
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
dispositivo de CAA. Isso ilustra um trabalho em equipa eficaz, porque as profissionais
comunicam juntas com frequncia e esto todos focados em aumentar as habilidades de
comunicao com sistemas e dispositivos CAA.
Tabela 8: Pergunta 9: Tem mais alguma informao que gostasse de partilhar comigo?
Categoria Sub-categoria Nmero de ocorrncia Exemplos
Apreciao quanto ao uso
(TF1, EE e PM)
Positiva (TF1 e EE) 2
- " uma ferramenta super!"- "...eu acho que isto genial."
- "... eu testei recentemente um tapete de comunicao muito mais rpido e
sinceramente eu estou adepta do mesmo, porque era rpido."
Constrangimento (caro, complexo, falta de tempo...)
(PM)4
- "... muitas vezes so softwares que so muito caros..."
- "...so formaes complexas..." - "Tambm uma questo de tempo para
investir nestes suportes." - "A rentabilidade no instituto tempo
perto da criana e este tempo, especialmente interprofissional no
considerado como tempo de presena com as crianas."
Objetivos (TF1, TF2 e O) 3
- "O objetivo que seja usada por toda a gente e ns desejamos que sejam usados os
mesmos pictogramas para toda a gente."- "...se a mensagem passa, se tu consegues
criar uma ligao e uma relao com o jovem, tu vais obter muitas coisas."
- "...realmente identificar as necessidades, e todas as situaes que a criana possa ser
levada a encontrar para realmente construir bem um suporte na base."
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Em primeiro lugar, salienta-se nesta tabela (Tabela 8) que esto evocados mais
constrangimentos do que facilitadores quando se trata de exprimir uma apreciao
relativamente ao uso de CAA. Pois, a PM evoca os constrangimento (o facto que est
caro, complexo e a falta de tempo a dedicar isto). Esta apreciao vem reconsiderando
os resultados do estudo de Baley et al. (2006) onde os entrevistados apontaram como
facilitadores do uso de dispositivos de CAA a facilidade no uso do dispositivo de CAA.
Entre as informaes suplementares que os profissionais escolheram fornecer,
destacam-se dois tipos de discurso que relacionam-se com a apreciao quanto ao uso
Valorizao do CAA (TF1,
TF2, O, ME, PM e EE)
Necessidade de desenvolver um
trabalho de articulao com a famlia (ME, TF2,
PM e O)
12
- "Eu diria que uma coisa que deveria perdurar no tempo e seria bom que outras
instituies o usassem tambm."- "Ter tempo, ter o gosto, ter a
determinao para conseguir e no ter medo de ser inventivo, ridculo, mimar..."- "Acho que primordial identificar bem
com os pais..."- " esta consolidao que vai permitir
escolher a ferramenta, para mim, alm de ter em conta as capacidades intelectuais e
motoras."- "...acho que comea a estar conhecido
mas no por toda a gente..."- "Como todas as novas tcnicas, acho que devia realmente ser desenvolvida mas estas
coisas atualmente ainda ficam muito confidenciais."
- "Acho que ter esta discusso e discutir com eles vrias vezes, permite promover o
seu investimento para desenvolver ao mximo as capacidades da sua criana, dos
seus desejos e da sua curiosidade."- "...h muitos pais que dizem compreender
muito bem o seu filho..." - "...usamos a CAA aqui com as crianas mas no setor adultos no h nada mais..." - "Acho que comea a estar conhecido..." - "Estou convencida que os pais so uma enorme chave na CAA e deve ser tido em ateno o seu ponto de vista, em vrios
momentos..."
Categoria Sub-categoria Nmero de ocorrncia Exemplos
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
de CAA, citado seis vezes, e a valorizao desta ltima, citada quinze vezes. Esto
consideradas como aspetos que valorizam o uso de CAA a evocao dos seus objetivos,
assim como a necessidade de desenvolver um trabalho de articulao com a famlia
(esta ideia foi mencionada catorze vezes). O trabalho em articulao com os pais
mencionado nos resultados, est de acordo com as instrues fornecidas por diversos
autores (Romski e Sevcik, 1996; Sigafoos, 1999, cit in. ASHA, 2004) relativamente as
abordagens naturalistas, centradas no cliente e na famlia, que especificam a forte
recomendao da adoo destas prticas quando se introduzem sistemas de CAA.
No mesmo tpico, a O indica que "h muitos pais que dizem compreender muito bem o
seu filho". Esta afirmao tambm foi referida pela TO e coincidente com o resultado
de um estudo anterior feito por Baley et al. em 2006, no qual os entrevistados achavam
que, porque os pais ou cuidadores principais compreendiam as formas de comunicao
dos filhos sem o auxlio de seus dispositivos de CAA, o uso dos dispositivos no era
visto como necessrio no lar.
Quando se trata de enumerar os vrios benefcios percebidos de um processo de
trabalho em equipa da CAA, Batarowicz e Shepherd (2011) mencionam o
encorajamento do apoio aos pares a sua incluso na apropriao da ferramenta por parte
da utente com PNM. Contudo, Beck et al. (2001) demostravam numa investigao
acerca do mesmo tema que muitos parceiros de comunicao (nomeadamente os pais)
no respondem adequadamente s crianas que tm dificuldade em falar. A dificuldade
para implementar uma CAA no quotidiano da criana, refletida nos resultados da
presente investigao atualizam esta ltima realidade.
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Tabela 9: Pergunta reservada s Terapeutas da Fala 1: Enquanto terapeuta da fala, quais os aspetos que
considera mais importantes para a implementao da CAA?
As duas Terapeutas da Fala que foram entrevistadas destacaram a importncia do seu
papel na implementao da CAA (Tabela 9). De fato, elas consideram as indicaes da
ASHA (2004) que indicam o TF como o gestor de caso ou lder da equipe. Os trs
ltimos pontos da lista dos papis dos TFs da mesma associao de referncia
relativamente implementao CAA (advogar na rea da CAA, prestar servios a
profissionais e consumidores, coordenar dos servios da CAA) esto ilustradas no
discurso da TF1 e da TF2.
Categoria Sub-categoria Nmero de ocorrncia Exemplo
Importncia do trabalho da Terapeuta da Fala (TF1 e TF2) 3
- "... para adicionar elementos, precisa-se s de uma pessoa porque seno, vamos em todos os
sentidos." - "... ns no temos o mesmo trabalho do que as
nossas colegas reeducadoras aqui, acho que estamos um pouco parte... em termos de
tecnicismo e podemos atingir coisas que os outros no podem, no porque somos melhores
mas porque as nossas tcnicas de base so diferentes."
- "... um caderno de comunicao, se no mostramos aos outros em permanncia como
us-lo, nunca ser usado porque as pessoas no sabem como faz-lo."
Relacionamento com os outros
profissionais
Necessidade de formaes (TF1) 2
- "... eu acho que sero feitas formaes em breve, especialmente para os professores e os
educadores que esto com os jovens ao longo do dia..."
- "J foram feitas formaes individuais mas queremos formaes colectivas..."
Importncia do trabalho em equipa (TF2)
4
- "Acho que seria prefervel que ns trabalhssemos um pouco mais juntos..."
- "... eu acho que temos de partilhar, explicar, fazer com..."
- "E estabelecer sistemas universais... no espao."
- "... eu acho que melhor do que reunies entre profissionais trabalhar juntos in loco."
Dificuldades de implementao (TF1) 1 - "... por enquanto, um pouco difcil..."
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Perceo dos profissionais acerca do uso de CAA com crianas com patologia neuromotora
Efetivamente, elas consideram-se como os "lderes"