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PODER JUDICIÁRIO Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE 1ª VARA FEDERAL Sentença Tipo “A” – Fundamentação Individualizada Processo nº 0005895-25.2010.4.05.8500 Classe 1 – Ação Civil Pública Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL MPF Réu(s): EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRÁFOS ECT e BANCO BRADESCO S.A SENTENÇA O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL – MPF propôs ação civil pública, com requerimento de antecipação dos efeitos da tutela, em face da EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRÁFOS – ECT e do BANCO BRADESCO S.A, visando que: 1) os réus sejam obrigados, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a promover a adequação da estrutura das Agências dos Correios que atuam como Banco Postal, nos Municípios que integram a competência territorial desta Seção Judiciária, providenciando a sua adequação física (localização conveniente e estrutura apropriada) e a adoção das medidas de segurança previstas na Lei n.º 7.102/83, tais como controle de acesso de pessoas (portas giratórias), instalação de alarme, de detector de metais e de sistema de comunicação com os órgãos públicos e a contratação de vigilantes ou empresa de segurança para atender a todas as agências; 2) sejam suspensos, imediatamente, os serviços do Banco Postal nas Agências da ECT consideradas pela Polícia Federal inadequada em precárias condições de seguranças, ou seja, a agência localizada no Bairro Santos Dumont, no D.I.A e na Siqueira Campos, nesta Capital, no Município de Cristinapólis, Itaporanga D´Ajuda, Tomar do Geru, Pedra Mole, Canhoba, Salgado, Nossa Senhora de Lourdes, Tobias Barreto, Aquidabã, Frei Paulo, Propriá, Brejo Grande, Indiaroba, Simão Dias, Itabi, São Francisco, Pinhão; 3) subsidiariamente, caso não sejam promovidas a adequação no prazo determinado, a ECT seja proibida de prestar atendimento como Banco Postal por meio de suas agências. Alegou, em síntese, que: 1) o Banco Central do Brasil baixou a Resolução n.º 2.707/2000, substituída pela de n.º 3.110/2003, permitindo que instituições financeiras contratassem empresas para realização de determinados serviços bancários, funcionando como seus correspondentes; 2) com a edição da Portaria n.º 588/2001, o Ministério das Telecomunicações ofereceu aos bancos as agências dos Correios para funcionarem como correspondentes bancários, mediante processo seletivo público; 3) o Serviço Financeiro Postal Especial denominado

ADM.0005895-25.2010 - Correspondente bancário · SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE 1ª VARA FEDERAL Sentença Tipo ... mais é do que o serviço de ... abertura de Conta Fácil

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PODER JUDICIÁRIO

Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE

1ª VARA FEDERAL Sentença Tipo “A” – Fundamentação Individualizada

Processo nº 0005895-25.2010.4.05.8500 Classe 1 – Ação Civil Pública Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL –MPF Réu(s): EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRÁFOS −

ECT e BANCO BRADESCO S.A

S E N T E N Ç A

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL – MPF propôs ação civil pública, com requerimento de antecipação dos efeitos da tutela, em face da EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRÁFOS – ECT e do BANCO BRADESCO S.A, visando que: 1) os réus sejam obrigados, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a promover a adequação da estrutura das Agências dos Correios que atuam como Banco Postal, nos Municípios que integram a competência territorial desta Seção Judiciária, providenciando a sua adequação física (localização conveniente e estrutura apropriada) e a adoção das medidas de segurança previstas na Lei n.º 7.102/83, tais como controle de acesso de pessoas (portas giratórias), instalação de alarme, de detector de metais e de sistema de comunicação com os órgãos públicos e a contratação de vigilantes ou empresa de segurança para atender a todas as agências; 2) sejam suspensos, imediatamente, os serviços do Banco Postal nas Agências da ECT consideradas pela Polícia Federal inadequada em precárias condições de seguranças, ou seja, a agência localizada no Bairro Santos Dumont, no D.I.A e na Siqueira Campos, nesta Capital, no Município de Cristinapólis, Itaporanga D´Ajuda, Tomar do Geru, Pedra Mole, Canhoba, Salgado, Nossa Senhora de Lourdes, Tobias Barreto, Aquidabã, Frei Paulo, Propriá, Brejo Grande, Indiaroba, Simão Dias, Itabi, São Francisco, Pinhão; 3) subsidiariamente, caso não sejam promovidas a adequação no prazo determinado, a ECT seja proibida de prestar atendimento como Banco Postal por meio de suas agências.

Alegou, em síntese, que: 1) o Banco Central do Brasil baixou a Resolução n.º 2.707/2000, substituída pela de n.º 3.110/2003, permitindo que instituições financeiras contratassem empresas para realização de determinados serviços bancários, funcionando como seus correspondentes; 2) com a edição da Portaria n.º 588/2001, o Ministério das Telecomunicações ofereceu aos bancos as agências dos Correios para funcionarem como correspondentes bancários, mediante processo seletivo público; 3) o Serviço Financeiro Postal Especial denominado

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“Banco Postal”, vem sendo prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos − ECT no Estado de Sergipe, em parceria com o Banco Bradesco S.A, na forma da Portaria n.º 588, de 04.10.2000; 4) este serviço tem atraído a atenção de criminosos que se valem da pouca ou, em alguns casos, da nenhuma estrutura de segurança das agências dos Correios para praticarem assaltos e roubos, pondo em risco a integridade física dos empregados e dos clientes, ale de facilitar o desfalque e destruição do patrimônio da entidade; 5) o Bradesco não cuida das segurança das referidas agências e os esforços empreendidos pela ECT se revelaram insuficientes; 6) 85 (oitenta e cinco) unidade atuam como Banco Postal e a situação dessas agências quanto a segurança é a seguinte: 68 (sessenta e oito) contam com o serviço de vigilância presencial armada; 30 (trinta) possuem sistema de circuito fechado de TV; todas possuem sistema de gravação de imagens em webcam e todas são dotadas de cofre, sendo que destas 35 são cofres com fechadura eletrônica de retardo; 7) os inquéritos policiais instaurados para apurar os delitos de roubo estão sendo concluídos, em sua maioria, pelo arquivamento por ausência de indícios de autoria, estimulando que marginais continuem a delinqüir contra as agência da ECT; 8) em vistoria realizada pela Polícia Federal nas agências que prestam o serviço de correspondente bancário, conclui-se pela existência de instalações inadequadas e mal localizadas, bem como pela existência de equipamentos de segurança de baixa qualidade técnica.

Relatou a situação de diversas agências da ECT que foram assaltadas mais de uma vez.

Aduziu: 1) a responsabilidade solidária da ECT e do Bradesco, com base no CDC, o primeiro por “prestar os serviços com seus recursos materiais próprios (estrutura física, pessoal, material de expediente)” (f. 15) e o segundo por ser a ECT seu correspondente bancário; 2) que o art. 1º, PU da Lei n.º 7.102/83 deve ser interpretado de forma a alcançar o Banco Postal, já que, como correspondente bancário, a ECT pratica operações bancárias, como se banco fosse, movimentando valores consideráveis e atraindo a atenção de criminosos; 3) que “se o Banco Bradesco se preocupar com a sua segurança em suas agências, dotando-as de estrutura compatível com os serviços prestados, o mesmo tratamento deve ser dispensado às instalações dos Correios, que passaram a desempenhar, como seu correspondente, a mesma atividade” (f. 17)

A ação foi distribuída em 17.12.2011.

Com a inicial, juntou Inquérito Civil Público n.º 1.35.000.001147/2010-26 e Representação Tutela Coletiva n.º 1.35.000.000726/2007-26, os quais foram autuados em apenso (5 volumes).

Determinei a notificação dos réus para, querendo, se manifestar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

Procuração da ECT (f. 36).

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O MPF juntou documentos (f. 42/303).

A ECT apresentou resposta sob a forma de “contestação” (f. 311/351), alegando, preliminarmente: 1) o Decreto-Lei n.º 509/69, em seu artigo 12, assegurou a ECT todas as prerrogativas da Fazenda Pública; 2) a ilegitimidade passiva sob o fundamento de que o dever de segurança pública é do Estado de Sergipe, nos termos da CF/88; 3) subsidiariamente, a existência de litisconsórcio passivo necessário com o Estado de Sergipe; 4) a impossibilidade jurídica do pedido por violação aos princípios da Separação dos Poderes e da Legalidade e do mérito administrativo, uma vez que inexiste Lei que obrigue a ECT a adotar os parâmetros de segurança próprios das instituições financeiras, assumindo uma obrigação que é do Estado.

No mérito, sustentou o seguinte: 1) as provas documentais demonstram que tem implementado medidas de segurança para a proteção de seus empregados e usuários do serviço; 2) é fato notório que a criminalidade vem crescendo no Estado de Sergipe, demonstra a ineficiência do ente estadual na área de segurança pública; 3) não pode ser responsabilizada pelo crescimento da criminalidade e que os assaltos não se concentram somente nas agências da ECT, mas em relação a outros estabelecimentos e até mesmo em residências; 4) antes mesmo de executar atividades de correspondente bancário, a ECT já trabalhava com o recebimento de valores e, mesmo que se cogitasse de excluí-la, continuaria operando com valores; 5) as casas lotéricas, os agentes financeiros do Banco BANESE ou BRADESCO não possuem sistema de segurança equivalente às instituições financeiras; 6) por força do princípio da isonomia, também deveria ser fechados todos os correspondentes bancários no Estão de Sergipe, incluindo casas lotéricas, os cash de supermercados e etc.; 7) a partir da Portaria n.º 588/2000, editada pelo Ministério das Telecomunicações, foi autorizado a operar o Banco Postal que nada mais é do que o serviço de correspondente bancário; 8) após chamamento público, celebrou contrato com Bradesco para ser seu correspondente bancário; 9) a inaplicabilidade da Lei 7.102/83 ao serviço prestado como correspondente bancário, uma vez que não é instituição financeira; 10) a cobrança de tarifa para abertura de Conta Fácil decorre do Bradesco, da qual é correspondente bancário; 11) o descabimento da tutela antecipada porque está ausente a verossimilhança das alegações, causará danos irreversíveis, é proibido medida liminar que esgote total ou em parte o objeto da ação.

Citou decisões proferidas pela Justiça do Trabalho, Justiça Federal e STF.

Descreveu as medidas de seguranças adotadas em nível nacional (treinamento, melhoria da infra-estrutura das unidades e investimentos em equipamentos) e em nível estadual (sistema de gravação de imagens por webcam, sistema de alarme monitorado, serviço de vigilância patrimonial, participação de grupos de gestão de risco e treinamentos, cofres com fechadura eletrônica de retardo, serviço de atendimento psicossocial aos colaboradores vítimas de assaltos).

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Na f. 353/360, o Banco Bradesco S/A se manifestou acerca da antecipação dos efeitos da tutela, aduzindo o seguinte: 1) os Correios não se confundem com instituições financeiras, não se aplicando o regramento daquelas; 2) a responsabilidade do Bradesco está adstrita aos serviços em si, não existindo qualquer obrigação quanto a segurança do local em que está instalada a agência postal; 3) a segurança é de responsabilidade dos Correios, nos termos do Convênio; 4) se obrigasse os correspondentes a se adequarem aos termos da Lei n.° 7.102/83, desvirtuaria o próprio objetivo de tais convênio que nada mais é do que facilitar o cotidiano da população; 5) o numerário que os Correios movimenta em razão da atividade de correspondente “não é muito superior àquele decorrente de sua atividade cotidiana que, por sua vez, é infinitamente inferior ao numerário recebido, por exemplo, por grandes supermercados” (f. 357); 6) a ofensa ao princípio da razoabilidade; 7) a irreversibilidade da medida; 7) o prazo de 180 (cento e oitenta) dias é completamente inexeqüível; 8) o convênio foi firmado com os Correios há mais de 09 (nove) anos; 9) subsidiariamente, no caso de conceder-se a tutela antecipada, seja fixado prazo superior a 180 (cento e oitenta) e o valor da multa seja reduzido para R$ 50,00 (cinqüenta reais), limitando-se a R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Ao final, protestou pela juntada da procuração e substabelecimentos no prazo de 15 (quinze) dias.

Juntou documentos (f. 361/378).

Procuração e substabelecimentos acostados na f. 384/386.

O Banco Bradesco S/A apresentou contestação (f. 388/420), aduzindo, preliminarmente, a impossibilidade jurídica do pedido, uma vez não é possível criar norma de direito material através de ação civil pública, mediante o elastecimento do campo de incidência da Lei 7.102/83. No mérito, alegou: 1) “muito antes do início da parceria com o Bradesco, através do serviço denominado ‘Banco Postal’, já realizava operações postais diferenciadas, com serviços semelhantes aos atualmente prestados, como no caso dos serviços de inscrições para concursos públicos/vestibulares, pagamentos de aposentados, vendas de título de capitalização, ‘Cheque Correios’, ‘Vale Postal’, e, dentre outros, ‘Dinheiro Certo’” (f. 364); 2) “o ‘Banco Postal’, (...), foi criado pelo Ministério das Comunicações, por meio da Portaria 588, (...), e tem por objetivo a prestação de serviços bancários básicos pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), os quais, estão previamente descritos em tal norma” (f. 397/398), constituindo mais um serviço postal diferenciado ao lado dos outros que presta; 3) o ‘Banco Postal’ não se equipara à instituição financeira, nem integra o Sistema Financeiro Nacional e, por isso, não está submetido aos ditames da Lei 7.102/83; 4) tal serviço é direcionado à população de baixa renda que não tem acesso às agências bancárias tradicionais por não contar com perfil, cumprindo a função social; 5) “essa inclusão se traduz em expansão geográfica dos serviços bancários básicos, principalmente em locais remotos onde não havia/não há qualquer prestação dos serviços bancários a custo reduzido e com vantagens especiais” (f. 401); 6) violação ao princípio da razoabilidade, proporcionalidade e da isonomia porque o Ministério Público não exige de que todos os estabelecimentos abertos ao público tomem medidas de

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segurança equivalentes ao Banco-réu; 7) há uma indevida transferência da responsabilidade às instituições privada ante a falência do Estado para proteger os seus cidadãos; 8) a total responsabilidade pelos serviços prestados pela ECT se referem tão-somente a segurança bancária, não se estendendo a segurança pública; 9) as agências postais trabalham com limites operacionais reduzidos à vista do perfil dos clientes atendidos, não existindo a circulação de valores vultosos em suas dependências.

Subsidiariamente, defendeu que: 1) subsidiariamente, nos termos do contrato celebrado, a responsabilidade é integral da ECT; 2) não se pode imiscuir na relação contratual entre o Bradesco e os Correios por não se tratar de relação de consumo; 3) se obrigasse os correspondentes a se adequarem aos termos da Lei n.° 7.102/83, desvirtuaria o próprio objetivo de tais convênios que nada mais é do que facilitar o cotidiano da população; 4) violação ao princípio da razoabilidade, proporcionalidade e da isonomia porque o Ministério Público não exige de que todos os estabelecimentos abertos ao público tomem medidas de segurança equivalentes ao Banco-réu; 5) caso o pedido seja julgado procedente, a fixação de um prazo razoável e o valor da multa seja reduzido para R$ 50,00 (cinqüenta reais), limitando-se a R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Reiterou o descabimento da tutela antecipada por que: 1) está ausente a verossimilhança das alegações; 2) causará prejuízo irreversível ante a necessidade de mudanças estruturais, 2) não há urgência, uma vez que o convênio foi firmado com os Correios há mais de 09 (nove) anos.

A decisão de f. 602/615: 1) não conheço do pedido relativo às agências situadas nos Municípios de Cristinápolis, Itaporanga D´Ajuda, Tomar do Geru, Pedra Mole, Salgado, Tobias Barreto, Aquidabã, Frei Paulo, Indiaroba, Simão Dias, Itabi, Pinhão por estarem situadas fora da abrangência da competência territorial da Seção Judiciária de Sergipe; 2) deferiu parcialmente a medida liminar pleiteada, para determinar: 2.1) a adequação da estrutura das agências dos Correios que atuam como Banco Postal, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, nos municípios que integram a competência territorial desta Seção Judiciária , providenciando a sua adequação física (localização conveniente e estrutura apropriada) e a adoção das medidas de segurança previstas na Lei 7.102/83, tais como controle de acesso de pessoas (portas giratórias), instalação de alarme, de detector de metais e de sistema de comunicação com os órgãos públicos e a contratação de vigilantes ou empresa de segurança para atender a todas as agências, segundo o modelo aprovado pela Polícia Federal; 2.2), a imediata suspensão do funcionamento como correspondente bancário das agências dos correios situadas no Bairro Santos Dumont, no D.I.A e na Siqueira Campos, nesta Capital, no Município de Propriá e São Francisco; 3) fixou, ainda, a multa diária em R$ 2.000,00 (dois mil reais) para o descumprimento de cada uma das agências que esteja funcionando em desacordo com o conteúdo da liminar, a qual incidirá automaticamente após o decurso do prazo sem cumprimento e reverter-se-á em favor do Fundo a que se refere o art. 13

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da Lei 7.347/85; 4) determinou ao MPF que, no prazo de 10 (dez) dias, promovesse a citação da União e de todas as agências dos Correios franqueadas sob a jurisdição desta Seção Judiciária 1; 5) condicionou a eficácia da medida liminar inclusão na lide dos litisconsortes passivos necessários.

Na f. 623/626, a ECT apresentou lista de agências franqueadas existentes na Seção Judiciária de Sergipe, informando que tais “empresas franqueadas não realizam serviços de Banco Postal, pois, sequer operam o sistema on-line, indispensável para tais atividades” (f. 623).

A ECT e o Banco Bradesco S/A, respectivamente, noticiaram a interposição de agravo de instrumento (629/673 – ECT e 682/715 – BRADESCO) contra a decisão de f. 602/615.

O MPF requereu: 1) a citação da União como litisconsórcio passivo necessário; 2) a reconsideração da decisão de f. 602/615 quanto a inclusão das empresas franqueadas, já que as mesmas não realizam serviços de Banco Postal (f. 679).

O despacho de f. 716 tornou “sem efeito a determinação de citação das agências franqueadas constante na f. 615” e determinou a citação da União “para participar do feito seja no pólo ativo, caso queira atuar ao lado do MPF seja no pólo passivo, caso apresente resistência ao pedido”.

Citada (f. 717), a União informou que atuará na condição de assistente simples da ECT (f. 719), requerendo a devolução do prazo para apresentar resposta após a realização da correição. Em razão da referida manifestação, determinei a sua inclusão no pólo passivo como réu (f. 721).

A União apresentou contestação (f. 723/734), acompanhada de documentos (f. 735/757). Alegou, em suma, que: 1) “o Banco Postal foi criado com intuito de atingir as cidades que não possuem agência bancária e proporcionar acesso a tais serviços, principalmente, à população de baixa renda e das áreas rurais, especialmente os municípios não servidos pelo sistema bancário regular” (f. 725); 2) “o ‘Banco Postal’ tem natureza jurídica de serviço, ou mais precisamente de serviço postal afim a ser prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos com autorização do Ministério das Comunicações, não tendo, portanto, natureza de atividade bancária propriamente dita” (f. 725/726); 3) A Lei n.º 7.102/83 delimita no PU do seu art. 1º qual o seu campo de abrangência, no tocante aos estabelecimentos que estão sujeitos à fiscalização do Ministério, e que “a figura do correspondente bancário não está no campo de incidência da norma” (f. 729); 4) “a ECT não é estabelecimento financeiro e uma eventual alteração de sua finalidade depende de Lei e de Decreto Presidencial que altere o seu estatuto, o que efetivamente não ocorreu no presente caso” (f. 730). Citou o entendimento firmado no Ministério da Justiça, com base nas informações prestadas pelo Banco Central do Brasil, bem assim o resultado da ação

1 Vide o item 6 da decisão de f. 602/615

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n.º 2006.35.00010468, que tramitou na 7ª Vara Federal da Seção Judiciária de Goiás.

A ECT requereu a reconsideração da decisão de f. 602/615 que deferiu a antecipação dos efeitos da tutela, sob os seguintes fundamentos: 1) de acordo com os documentos acostados pela União, a Polícia Federal possui o entendimento de que não fiscaliza as atividades do correspondente bancário; 2) o cumprimento da medida possui elevado custo econômico e caráter satisfativo; 3) “a eventual paralisação do serviço de Banco Postal, antes de ser um prejuízo patrimonial aos cofres da Empresa, (...), ocasionará grave lesão à economia dos Municípios beneficiados pelo serviço, visto que os munícipes estarão alijados de um imprescindível mecanismo de integração financeira” (f. 771)

Decisão de f. 774 indeferiu o requerimento de reconsideração.

Na f. 782/826, a ECT noticiou a interposição de agravo de instrumento contra a decisão de f. 774.

O MPF juntou documentos (f. 831/840).

Em sede de réplica (f. 842/836), o MPF refutou as preliminares de ilegitimidade passiva, de impossibilidade jurídica e da inexistência de litisconsórcio passivo necessário com o Estado de Sergipe. Discorreu sobre a responsabilidade conjunta da ECT e do Bradesco na manutenção do Banco Postal. Citou decisões do TRF da 4ª e da 5ª Região, bem assim a decisão monocrática do Relator no AGTR´s n.ºs 114353/SE e 114204/SE que indeferiu o efeito suspensivo contra a decisão de f. 602/615. Requestou o julgamento antecipado da lide.

Decisão do Relator do AGTR n.º 117362/SE (f. 865/869) negando seguimento ao agravo de instrumento referido na f. 782/826.

Determinada a intimação dos réus para especificarem as provas que pretendem produzir (f. 870), o Bradesco reiterou a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido e requereu a fixação de pontos controvertidos (f. 877/879), a ECT juntou cópia de sentença proferida na 5ª Vara do Trabalho em Florianópolis/SC (883/886) e a União informou não possuir outras provas a serem produzidas (f. 887)

É o relatório. Passo a decidir.

2. FUNDAMENTAÇÃO O mérito da demanda é composto de matéria de fato e de direito,

contudo prescinde da produção de pericial ou de prova oral em audiência, circunstância que autoriza o julgamento antecipado da lide, a teor do art. 330, inc. I, do CPC.

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Inicialmente, cumpre relembrar, para fins de eventuais embargos de declaração, que incumbe ao órgão julgador decidir o litígio segundo o seu livre convencimento motivado, utilizando-se das provas, legislação, doutrina e jurisprudência que entender pertinentes à espécie. Assim, o julgador não se encontra obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar sua a decisão. Isto porque a decisão judicial não constitui um questionário de perguntas e respostas, nem se equipara a um laudo pericial a guisa de quesitos. Neste sentido, colacionam-se os seguintes precedentes:

“O não acatamento das argumentações contidas no recurso não implica cerceamento de defesa, posto que ao julgador cabe apreciar a questão de acordo com o que ele entender atinente à lide. Não está obrigado o magistrado a julgar a questão posta a seu exame de acordo com o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento (art. 131, do CPC), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto.” 2 “Processo civil. Sentença. Função prática. A função judicial é prática, só lhe importando as teses discutidas no processo enquanto necessárias ao julgamento da causa. Nessa linha, o juiz não precisa, ao julgar procedente a ação, examinar-lhe todos os fundamentos. Se um deles e suficiente para esse resultado, não esta obrigado ao exame dos demais. Embargos de declaração rejeitados.” 3 “(....) A função teleológica da decisão judicial é a de compor, precipuamente, litígios. Não é peça acadêmica ou doutrinária, tampouco se destina a responder a argumentos, à guisa de quesitos, como se laudo pericial fosse. Contenta-se o sistema com a solução da controvérsia, observada a res in judicium deducta, o que se deu no caso ora em exame.” Nítido, portanto, é o caráter modificativo que o embargante, inconformado, busca com a oposição destes embargos declaratórios, uma vez que pretende ver reexaminada e decidida a controvérsia de acordo com sua tese.” 4

As preliminares de impossibilidade jurídica, de ilegitimidade passiva dos réus e da existência de litisconsórcio passivo necessário já foram examinadas na decisão de f. 602/615, mais especificamente nos tópicos 2 e 3. Também houve preclusão consumativa dos réus ECT e do Bradesco na apresentação de suas respostas, conforme reconhecido na decisão de f. 602/615, mais especificamente no tópico 1. 2 AgRg no Ag 512437/RJ, 1ª Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, julgado em 16.10.2003, DJ 15.12.2003 p. 210. 3 EDcl no REsp 15450/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, 2ª Turma, julgado em 01.04.1996, DJ 06.05.1996 p. 14399. No mesmo sentido:REsp 172329/SP, 1ª Seção, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS; REsp 611518/MA, 2ª Turma, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, REsp 905959/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI; REsp 807690/SP, 2ª Turma, Rel. Ministro CASTRO MEIRA. 4 EDcl no REsp 675.570/SC, 2ª Turma, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, julgado em 15.09.2005, DJ 28.03.2006 p. 206.

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Igualmente, gostaria de esclarecer quanto à necessidade da participação da União na presente demanda. Na decisão de f. 602/612 que deferiu a antecipação dos efeitos da tutela, assim me manifestei:

“Inicialmente, verifica-se que é necessária a atuação da União no

presente feito, uma vez que o MPF pretende que a ECT se submeta aos ditames da Lei nº. 7.102/83. Nos termos da fundamentação supra, compete ao Departamento da Polícia Federal fiscalizar a obediência das instituições à referida Lei. De nada adiantaria obrigar, por meio de medida judicial, às referidas agências a adotarem sistema de segurança previsto na Lei 7.102/83, se a DPF entender que essa lei não se aplica a tais agências.

Esse entendimento da DPF implicaria, necessariamente, na perda do objeto da presente demanda. Desse modo, é imprescindível a participação da União na presente demanda, seja no pólo ativo, caso queira atuar ao lado do MPF, seja no pólo passivo, caso apresente resistência ao pedido”.

Este Juízo jamais subordinou o seu entendimento jurídico ao da União, mais precisamente do DPF. O que quis dizer é que, caso o pedido fosse julgado procedente, não se poderia posteriormente impor a União o dever de fiscalizar, sem que fosse assegurada a sua regular participação no processo. Como não sabia da posição da União a respeito da questão, foi que determinei que a União manifestasse o seu posicionamento e, a depender do seu entendimento, seria incluída ou não no pólo passivo, como de fato ocorreu na f. 721.

A propósito, decidi na f. 774, verbis: “A formação do litisconsórcio decorre da circunstância de a

efetividade do provimento judicial depender da atuação de terceiro, que não possui obrigação de se sujeitar ao comando judicial, caso não esteja regularmente integrando a lide.

A inclusão da União neste feito, seja no pólo ativo ou passivo da demanda, possibilita impor a ela obrigação de cumprir as determinações judiciais que lhe sejam direcionadas, ainda que com elas não concorde, tendo à sua disposição a via recursal para modificar os provimentos que lhe sejam desfavoráveis.

Como é sabido, o Poder Judiciário pode obrigar o ente público a realizar determinada atividade, desde que mediante decisão devidamente fundamentada. Tal obrigação somente deixa de existir caso haja revogação da medida pelo próprio juízo ou modificação da decisão por órgão superior. Ora, é a Administração está sujeita às decisões do Poder Judiciário e não o contrário.

Ao contrário do que expôs a ECT, este juízo, em nenhum momento, condicionou a eficácia da decisão liminar ao posicionamento a ser adotado pela União ou por qualquer das partes do processo. Isto porque o magistrado não está sujeito a eventuais interpretações das partes sobre a incidência das normas discutidas na lide.

Tanto é assim que a União poderia ter ingressado na lide no pólo ativo ou no pólo passivo. O que é necessário não é que a União concorde em atuar na fiscalização, mas sim, que lhe seja oportunizado o direito ao

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contraditório e ampla defesa, tendo em vista as decisões proferidas neste feito podem ter influência na sua esfera de atuação”.

Não havendo outras preliminares argüidas ou conhecíveis de ofício, examino o mérito.

2.1. Mérito.

Pela presente demanda, o MPF pretende impor às agências dos Correios e suas franqueadas que funcionam como correspondentes bancários o mesmo padrão de segurança das instituições financeiras, em decorrência dos constantes assaltos sofridos pelas referidas agências.

A presente lide se restringe as agências próprias dos Correios, uma vez que as agências franqueadas não prestam serviços como Banco Postal (vide f. 623/626, 679 e 716).

A questão consiste em examinar se as agências do Correios que funcionem como correspondentes bancários estão obrigadas a adotar o mesmo nível de segurança das instituições financeiras, previstas na Lei 7.102/083.

O Banco Central do Brasil – BACEN editou a Resolução n.º 2.707/2000, posteriormente substituída pelas Resoluções n.ºs 3.110/2003 e 3.156/20035, autorizando que as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil contratem empresas para funcionarem como correspondentes bancários, a fim de prestar serviços determinados em nome da instituição financeira:

Resolução n.º 3.110/03, Art. 1º Alterar e consolidar, nos termos desta resolução, as normas que dispõem sobre a contratação, por parte de instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, de empresas, integrantes ou não do Sistema Financeiro Nacional, para o desempenho das funções de correspondente no País, com vistas à prestação dos seguintes serviços: (modificado pela Resolução n.º 3.156/03) I - recepção e encaminhamento de propostas de abertura de contas de depósitos à vista, a prazo e de poupança; II - recebimentos e pagamentos relativos a contas de depósitos à vista, a prazo e de poupança, bem como a aplicações e resgates em fundos de investimento; III - recebimentos, pagamentos e outras atividades decorrentes de convênios de prestação de serviços mantidos pelo contratante na forma da regulamentação em vigor; IV - execução ativa ou passiva de ordens de pagamento em nome do contratante; V - recepção e encaminhamento de pedidos de empréstimos e de financiamentos; VI - análise de crédito e cadastro;

5 A Resolução n.º 3.110/03 substituíram a Resolução n.º 2.707/00, mas não alteraram a gênese do instituto.

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VII - execução de serviços de cobrança; VIII - recepção e encaminhamento de propostas de emissão de cartões de crédito; IX - outros serviços de controle, inclusive processamento de dados, das operações pactuadas; X - outras atividades, a critério do Banco Central do Brasil. § 1º A faculdade de que trata este artigo somente pode ser exercida no que se refere a serviços relacionados às atividades desenvolvidas pelas instituições referidas no caput, permitidas nos termos da legislação e regulamentação em vigor.

Cuida-se, em verdade, de uma delegação para que empresas contratadas pratiquem determinados atos em nome de uma instituição financeira com quem mantém vínculo contratual.

Da leitura da Resolução, depreende-se que há uma preocupação para que não sejam delegadas indiscriminadamente das atividades e que não haja confusão entre as atividades do correspondente e da instituição financeira. Com efeito, as atividades desempenhadas como correspondentes bancários devem ser exercidas em caráter acessório às atividades normais da empresa, vale dizer, não podem ser desenvolvidas em caráter exclusivo (art. 2º da Resolução n.º 3.110/20036). Dentre as atividades autorizadas a serem exercidas pelos correspondentes (art. 1º, incisos I a IX da Resolução n.º 3.110/03), as do inciso I e II dependem de prévia autorização do BACEN, enquanto as demais comunicação (art. 1º, § 2º7 da Resolução n.º 3.110/03) No caso da empresa contratada utilizar a expressão “Banco” em sua denominação social ou no respectivo nome de fantasia é necessário prévia autorização do BACEN (art. 3º 8 da Resolução n.º 3.110/03). Tais atividades são desempenhadas em nome e no interesse da instituição financeira, havendo “a obrigatoriedade de divulgação, pela empresa contratada, em painel afixado em local visível ao público, de informação que explicite, de forma inequívoca, a sua condição de simples prestadora de serviços à instituição contratante” (art. 4º, VII da Resolução n.º 3.110/03).

Neste contexto, o Ministro das Comunicações, por sua vez, pela Portaria 588, de 4.10.2000, instituiu o denominado “Banco Postal” consistente na utilização

6 Res. 3.110/03, Art. 2º É vedada à instituição financeira a contratação, para a prestação dos serviços referidos no art. 1º, incisos I e II, de empresa cuja atividade principal ou única seja a prestação de serviços de correspondente. Parágrafo único. A vedação de que trata este artigo aplica-se à hipótese de substabelecimento do contrato a terceiros, total ou parcialmente. 7 Res. 3.110/03, art. 1º (omissis), § 2º A contratação de empresa para a prestação dos serviços referidos no caput, incisos I e II, depende de prévia autorização do Banco Central do Brasil, devendo, nos demais casos, ser objeto de comunicação àquela Autarquia. 8 Res. 3.110/03, Art. 3º Depende de prévia autorização do Banco Central do Brasil a contratação, por parte das instituições referidas no art. 1º, para a prestação de qualquer dos serviços mencionados naquele artigo, de empresas não integrantes do Sistema Financeiro Nacional que utilizem o termo 'banco' em sua denominação social ou no respectivo nome de fantasia. (modificado pela Resolução n.º 3.156/03) Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se à hipótese de substabelecimento do contrato a terceiros, total ou parcialmente.

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das agências da ECT para a realização de serviços bancários, na forma estabelecida nas resoluções acima referidas (art. 4º da Portaria n.º 588/2001).

Art. 1º Instituir o Serviço Financeiro Postal Especial, denominado Banco Postal, a ser prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, de acordo com os princípios gerais definidos nesta Portaria e em normas específicas pertinentes. Art. 2º Os serviços relativos ao Banco Postal caracterizam-se pela utilização da rede de atendimento da ECT para a prestação de serviços bancários básicos, em todo o território nacional, como correspondente de instituições bancárias, na forma definida pela Resolução do Conselho Monetário Nacional de nº 2.707, de 30 de março de 2000. § 1º Os serviços a que se refere esta Portaria deverão ser implantados prioritariamente nos municípios desassistidos de atendimento bancário, como instrumento de inserção social, assim entendidos aqueles que não possuam agências bancárias, Posto de Atendimento Bancário (PAB) ou Posto Avançado de Atendimento (PAA). § 2º Os serviços referidos no caput deverão ser prestados em parceria com instituições bancárias pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional. § 3º Caso a prática recomende a prestação dos serviços com uma única instituição parceira, a contratação deverá ser precedida de processo seletivo público.

Diante disso, em 24.9.2001, o Bradesco e a ECT, após procedimento seletivo, celebraram o contrato de prestação de serviços de correspondente bancário juntado às fls. 139/152, pelo qual as agências dos Correios em todo o País passaram a funcionar como extensão da instituição financeira, com atribuição de executar os serviços bancários especificados na avença, em observância às normas antes citadas.

Ocorre que, a partir do exercício de tais atividades, aumentaram o número de assaltos as agências da ECT, gerando questionamento por parte do MPF quanto ao grau de segurança, vale dizer, se aplicaria ou não a Lei 7.102/83 às agências que funcionem como correspondente bancário..

Pois bem.

Segurança pública é dever primário do Estado, mas existem certas atividades que possuem um dever especial de segurança. Por movimentar muitos recursos próprios e de terceiros, consciente dos riscos maiores por atrair a cobiça de terceiros, o legislador obrigou que as instituições financeiras instalassem um sistema de segurança em suas agências, em um nível superior aos demais estabelecimentos, devidamente aprovado pela autoridade competente (art. 1º c/c art. 16 da Lei n.º 9.017/95), ou seja, pelo Departamento da Polícia Federal – DPF. Ressalte-se que o DPF não se limita a aprovar o sistema de segurança, mas exerce um verdadeiro poder de polícia, ao fiscalizar o cumprimento da Lei n.º 7.102/83 e punir eventuais irregularidades.

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Dispõe a Lei n.º 7.102/83, verbis: Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores ou movimentação de numerário, que não possua sistema de segurança com parecer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério da Justiça, na forma desta lei. (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) (Vide art. 16 da Lei 9.017, de 1995) § 1o Os estabelecimentos financeiros referidos neste artigo compreendem bancos oficiais ou privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, associações de poupança, suas agências, postos de atendimento, subagências e seções, assim como as cooperativas singulares de crédito e suas respectivas dependências. (Renumerado do parágrafo único com nova redação, pela Lei nº 11.718, de 2008) (...)§ 3o Os processos administrativos em curso no âmbito do Departamento de Polícia Federal observarão os requisitos próprios de segurança para as cooperativas singulares de crédito e suas dependências. (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) Art. 2º - O sistema de segurança referido no artigo anterior inclui pessoas adequadamente preparadas, assim chamadas vigilantes; alarme capaz de permitir, com segurança, comunicação entre o estabelecimento financeiro e outro da mesma instituição, empresa de vigilância ou órgão policial mais próximo; e, pelo menos, mais um dos seguintes dispositivos: I - equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens que possibilitem a identificação dos assaltantes; II - artefatos que retardem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição, identificação ou captura; e III - cabina blindada com permanência ininterrupta de vigilante durante o expediente para o público e enquanto houver movimentação de numerário no interior do estabelecimento. Art. 6º Além das atribuições previstas no art. 20, compete ao Ministério da Justiça: (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) (Vide art. 16 da Lei 9.017, de 1995) I - fiscalizar os estabelecimentos financeiros quanto ao cumprimento desta lei; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) II - encaminhar parecer conclusivo quanto ao prévio cumprimento desta lei, pelo estabelecimento financeiro, à autoridade que autoriza o seu funcionamento; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) III - aplicar aos estabelecimentos financeiros as penalidades previstas nesta lei. Parágrafo único. Para a execução da competência prevista no inciso I, o Ministério da Justiça poderá celebrar convênio com as Secretarias de Segurança Pública dos respectivos Estados e Distrito Federal. (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) Art. 7º O estabelecimento financeiro que infringir disposição desta lei ficará sujeito às seguintes penalidades, conforme a gravidade da infração e levando-se em conta a reincidência e a condição econômica do infrator: (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) (Vide art. 16 da Lei 9.017, de 1995) I - advertência; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) II - multa, de mil a vinte mil Ufirs; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) III - interdição do estabelecimento. (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995)

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Lei 9.017/95, Art. 16. As competências estabelecidas nos arts. 1º, 6º e 7º, da Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, ao Ministério da Justiça, serão exercidas pelo Departamento de Polícia Federal.

Em sua defesa, a ECT alega que não está obrigado a cumprir as disposições da Lei n.º 7.102/83 por questões orçamentárias9 e técnicas10, contudo, consciente do número crescente de delitos, aduz que vem equipando as suas agências de acordo com matriz de investimento. Tal matriz é elaborada de acordo com o grau de risco em que cada agência é enquadrada, como se vê na tabela abaixo (f. 360 do anexo):

Equipamento Requisito BAIXO MÉDIO BAIXO

MÉDIO MÉDIO ALTO

ALTO

BÁSICOS

Fechadura Eletrônica de Retardo

- X X X X X

Sistema de Alarme

Risco da Região

Médio ou Alto

X X X X X

Sistema de Imagens – WebCam

Unidades com 01 ou 02 guichês

X X X X X

Sistema de Imagens (CFTV)

Unidades com 03 ou

mais guichês

X X X X X

OPCIONAIS Serviço de Vigilância

Itens de segurança básicos instalados

X X

PGDM Itens de segurança básico instalados + serviço de vigilância

X

Em que pese haja a previsão na transcrita matriz de investimento de que todas as unidades possuam, por exemplo, fechadura eletrônica de retardo, as informações prestadas na f. 513 comprovam que os referidos dispositivos de segurança não estão presentes em todas as agências. Segundo as informações:

9 O sistema é muito mais custoso 10 Algumas agências não possuem condições de serem adaptadas, o que geraria a necessidade de mudar de agência.

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“2. Situação atual dessas agências no tocante à segurança: conforme se pode visualizar no anexo III, do total de 86 (oitenta e seis) unidades de atendimento ali relacionadas, 68 (sessenta e oito) contam com o serviço de vigilância presencial a armada, 30 (trinta) possuem Sistema de Circuito Fechado de TV, todas possuem sistema de gravação de imagens em WebCam, exceto a AC/Terminal Rodoviário e todas possuem sistema de alarme, excetuando-se, também, a AC/Terminal Rodoviário. Importante destacar, também, que todas são dotadas de cofre, sendo que destas, 35 (trinta e cinco) contam com cofre com fechadura eletrônica de retardo e no momento a Regional está providenciando a instalação de mais 12 (doze) desses equipamentos nas unidades de atendimento relacionadas no ANEXO IV”.

Apesar desses esforços, o relatório da Polícia Federal afirma que os equipamentos são insuficientes (f. 64-78 – do anexo IV). Esse relatório aponta diversas deficiências. Sucintamente, aponta que, em geral, os equipamentos de segurança e a vigilância armada cumprem seu papel. Contudo, em relação à captação de imagens via Webcam não é suficiente, uma vez que as imagens são de baixa qualidade, e em relação à vigilância armada, é preciso melhor treinamento, a fim de que não se tornem fornecedores de armas para os assaltantes. Aduz, a PRF em seu relatório:

“Somando os fatores sociais adversos, a um projeto que implantou os correspondentes bancários em instalações físicas inadequadas, mas localizadas, sem os equipamentos adequados, guarnecidos por uma vigilância que atua de forma errada e gerida por funcionários que nunca foram preparados para atuar como bancários, teremos como resultado uma situação muito favorável à criminalidade e totalmente desfavorável para empregados e usuários”.

Vê-se, pois, que os equipamentos de segurança instalados nas agências dos correios e em suas franqueadas, bem assim a existência de vigilância armada, não esgotam todas as formas de segurança previstas na Lei 7.102/83. Por exemplo, nenhuma das agências dos correios está equipada com porta giratória ou com detector de metais.

Quem aufere os bônus deve suportar os correspondentes ônus. No caso em exame, ambos − ECT e Bradesco − auferem o bônus, mas esqueceram de repartir o ônus e estão transferindo para a população em geral. Com efeito, o serviço de correspondente bancário é conveniente para os dois. A ECT presta um recebe um valor pelo Bradesco pelos serviços prestados como correspondente bancário. Já o Bradesco expande a sua rede, através da ECT, sem a necessidade de investir em infra-estrutura, material humano e segurança. Acerca da perspectiva da parceria, cumpre transcrever prospecto do Correios, datado de 25.03.2002 (f. 08 do apenso 3).

“Inclusão Social

(...) Para melhorar oferecer os serviços financeiros, os Correios desenvolveram, através de licitação pública, uma parceria com o maior banco privado nacional,

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o Bradesco. Detentor de uma rede de mais de 2.600 agências, 12 milhões de clientes e com forte atuação no segmento de varejo, o Bradesco soma sua experiência a um das instituições públicas de maior credibilidade do país, com mais de 12 mil agências distribuídas por todos os 5.561 municípios brasileiros, recebendo cerca de 10 milhões de usuários por semana. Estima-se para o mercado financeiro brasileiro, nos próximos 15 anos, um número potencial de correntistas na ordem 140,2 milhões. Para o Banco Postal estão previstos de 15 milhões de correntistas e outros 17,4 milhões de poupadores para o mesmo período. O mercado potencial para estes dois serviços gira em torno de R$ 8 a 10 bilhões. (...)

Parceria de sucesso A parceria entre os Correios e o Bradesco foi consolidada no segundo semestre do ano passado, com a conclusão de processo licitatório. O Bradesco venceu os concorrentes nos cinco grupos de agências do Banco do Brasil previstos na licitação, oferecendo não apenas o melhor preço mas a melhor proposta técnica. Somente com a taxa para se instalar nas 5.300 agências próprias dos Correios, o Bradesco ofereceu R$ 200 milhões. Além disso, os Correios serão remunerados para cada operação a ser realizada e receberão percentual sobre o que for captado nas agências como depósito em conta corrente e poupança. O contrato de parceria tem duração de cinco anos, contados a partir da última agência implanta, o que deverá ocorrer em 2003.

Os réus alegam que a ECT não constitui instituição financeira e que serviço denominado “Banco Postal” seria um serviço postal diferenciado.

O denominado Banco Postal é, sim, um serviço postal diferenciado em relação às atividades normais da ECT, contudo não deixar de ser uma espécie de correspondente bancário, nos termos da Resolução n.º 3.110/2003. Com efeito, o Ministro das Telecomunicações somente editou a Portaria n.º 588/201 autorizando a ECT a realizar mais este serviço porque havia Resolução do BACEN à época (Resolução n.º 2.707/2000) autorizando as instituições financeiras a contratar empresas para prestar determinados serviços. Dito de outro, o Banco Postal hauriu sua legitimidade a partir do art. 2º, IV da Lei n.º 6.358/78 11 c/c a Portaria n.º 588/2001 c/c a Resolução n.º 2.707/00.

O Banco Postal realiza atividades bancárias básicas, com a movimentação de numerário, sendo necessário possuir um sistema de segurança nos moldes exigidos pelo referido diploma legal. Para exercer as atividades, é necessário aprovação do BACEN no caso dos incisos I e II e aprovação nos demais casos.

11 Lei 6.538/78, Art. 2º - O serviço postal e o serviço de telegrama são explorados pela União, através de empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações. § 1º - Compreende-se no objeto da empresa exploradora dos serviços: d) exercer outras atividades afins, autorizadas pelo Ministério das Comunicações.

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Resolução n.º 3.110/2003, Art. 1º Alterar e consolidar, nos termos desta resolução, as normas que dispõem sobre a contratação, por parte de instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, de empresas, integrantes ou não do Sistema Financeiro Nacional, para o desempenho das funções de correspondente no País, com vistas à prestação dos seguintes serviços: (modificado pela Resolução n.º 3.156/03) I - recepção e encaminhamento de propostas de abertura de contas de depósitos à vista, a prazo e de poupança; II - recebimentos e pagamentos relativos a contas de depósitos à vista, a prazo e de poupança, bem como a aplicações e resgates em fundos de investimento; III - recebimentos, pagamentos e outras atividades decorrentes de convênios de prestação de serviços mantidos pelo contratante na forma da regulamentação em vigor; IV - execução ativa ou passiva de ordens de pagamento em nome do contratante; V - recepção e encaminhamento de pedidos de empréstimos e de financiamentos; VI - análise de crédito e cadastro; VII - execução de serviços de cobrança; VIII - recepção e encaminhamento de propostas de emissão de cartões de crédito; IX - outros serviços de controle, inclusive processamento de dados, das operações pactuadas; X - outras atividades, a critério do Banco Central do Brasil. § 2º A contratação de empresa para a prestação dos serviços referidos no caput, incisos I e II, depende de prévia autorização do Banco Central do Brasil, devendo, nos demais casos, ser objeto de comunicação àquela Autarquia.

Em síntese, a ECT não é instituição financeira, mas realiza serviços que somente são considerados lícitos porque existe autorização administrativa. Se não existisse tal regulamentação, tais serviços seriam considerados ilícitos, como se depreende da Resolução n.º 3.110/2003

Resolução n.º 3.110/2003, Art. 5º As empresas contratadas para a prestação de serviços de correspondente nos termos desta resolução estão sujeitas às penalidades previstas no art. 44, § 7º, da Lei 4.595, de 1964, caso venham a praticar, por sua própria conta e ordem, operações privativas das instituições referidas no art. 1º." (NR) (modificado pela Resolução n.º 3.156/03) Lei 4.595/64, Art. 44. As infrações aos dispositivos desta lei sujeitam as

instituições financeiras, seus diretores, membros de conselhos administrativos, fiscais e semelhantes, e gerentes, às seguintes penalidades, sem prejuízo de outras estabelecidas na legislação vigente: (...)II - Multa pecuniária variável. § 2º As multas serão aplicadas até 200 (duzentas) vezes o maior salário-mínimo vigente no País, sempre que as instituições financeiras, por negligência ou dolo: § 7º Quaisquer pessoas físicas ou jurídicas que atuem como instituição financeira, sem estar devidamente autorizadas pelo Banco Central da Republica do Brasil, ficam sujeitas à multa referida neste artigo e detenção de 1 a 2 anos, ficando a esta sujeitos, quando pessoa jurídica, seus diretores e administradores.

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Assim, o art. 1º, PU da Lei n.º 7.102/83 deve ser interpretado de forma a alcançar o Banco Postal, já que, como correspondente bancário, a ECT pratica operações bancárias, como se banco fosse, movimentando valores consideráveis e atraindo a atenção de criminosos. Se presta um serviço equivalente ao bancário, comportando como se fosse um −inclusive aos olhos da população os Correios viraram banco − tem-se que deve adotar o mesmo parâmetro das instituições financeiras.

A par deste fundamento, transcrevo excerto do parecer da Procuradoria Regional da República da 5ª Região, exarado nos autos do AGTR 114204 AGTR, cujos fundamentos também adoto como razões de decidir:

“De fato, para entendermos a matéria de fundo

da demanda, ainda que nos encontremos na estrita via de agravo de instrumento, em que apenas é permitido breve juízo de delibação, cumpre-nos esclarecer que, efetivamente, por intermédio da Resolução nº 2.707 e da Circular nº 2.978, ambas do Banco Central do Brasil, facultou-se às instituições bancárias a contratação de empresas para funções de correspondentes bancários no país. Tal possibilidade, diante da expansão econômica do Brasil, tem permitido a capilarização das redes de atendimento a clientes, estendendo os serviços bancários a maior parcela da população nacional, espalhada como se encontra pelo gigantesco interior brasileiro. Assim é que, não sendo financeiramente viável ou interessante, para as instituições bancárias, abrir agências em cidades de pequeno porte, cujas economias não exigem a sua presença direta, buscam elas a alternativa cômoda e atrativa para oferecer alguns dos seus serviços bancários através da figura do correspondente bancário.

Por outro lado, é verdade que ‘correspondente bancário’ não é instituição bancária stricto sensu, muito embora, como veremos e tal como acontece em relação a vários outros institutos jurídicos, pode ser a ela equiparado, em determinadas situações, como parece ocorrer, in casu.

Em 1964, a Lei nº 4.595/64, ao definir o que seriam ‘instituições financeiras’, não elencou, por óbvio, dentre as hipóteses ali previstas, a figura do ‘banco postal’, isso porque, àquela época, simplesmente não havia ainda esse instituto, como dito, de recente normatização pelo Banco Central (a Resolução do Banco Central do Brasil nº 2.707/00, citada pela portaria instituidora do banco postal, foi revogada pela nova Resolução nº 3.110/00, do mesmo banco oficial que, por sua vez, foi alterada pela Resolução nº 3.156, de 17 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a contratação de correspondentes no País, por parte das instituições financeiras). Por outro lado, como veremos, a mera ausência de previsão dos ‘bancos postais’ na lei que conceitua as ‘instituições financeiras’, inclusive em virtude do fato de que, quando aquela foi editada, os ‘bancos postais’ nem sonhavam em existir, por si só, não impede que os reconheçamos como tais, ainda que tão somente para algumas finalidades, compatíveis com a previsão legal. Eis o teor do artigo 17 da Lei nº 4.595/64, verbis:

“Lei nº4.595 de 31.12.1964 Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros. Parágrafo único. Para os efeitos desta lei e da legislação em vigor, equiparam-se às instituições financeiras as pessoas

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físicas que exerçam qualquer das atividades referidas neste artigo, de forma permanente ou eventual. Art. 18. As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante prévia autorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem estrangeiras. § 1º Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou privados, das sociedades de crédito, financiamento e investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas de crédito ou a seção de crédito das cooperativas que a tenham, também se subordinam às disposições e disciplina desta lei no que for aplicável, as bolsas de valores, companhias de seguros e de capitalização, as sociedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediante sorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma, e as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade relacionada com a compra e venda de ações e outros quaisquer títulos, realizando nos mercados financeiros e de capitais operações ou serviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras. § 2º O Banco Central da Republica do Brasil, no exercício da fiscalização que lhe compete, regulará as condições de concorrência entre instituições financeiras, coibindo-lhes os abusos com a aplicação da pena (Vetado) nos termos desta lei. § 3º Dependerão de prévia autorização do Banco Central da República do Brasil as campanhas destinadas à coleta de recursos do público, praticadas por pessoas físicas ou jurídicas abrangidas neste artigo, salvo para subscrição pública de ações, nos termos da lei das sociedades por ações.

Ocorre que a ausência natural, face à novidade

que os ‘bancos postais’ representam, de referência a eles, na Lei que conceitua as ‘instituições financeiras’, onde está dito, inclusive, que consideram-se ‘instituições financeiras’ as entidades que exercem as atividades nela previstas também de forma acessória, por si só, não impede que os equiparemos a essas últimas, ainda que tão somente para a finalidade prevista na Lei nº 7.102/83, até em virtude do princípio do ‘ubi eadem ratio ibi idem jus’.

Realmente, apesar de a criação dos ‘bancos postais’ ser posterior àquela Lei que define o que são ‘instituições financeiras’, Lei nº 4.595/64, mas levando-se em conta o que as Resoluções do BACEN que datam de 2000 e 2003 dispõem sobre a contratação de correspondentes bancários no País, e ainda que não possamos equiparar totalmente esses últimos àquelas, no entanto, parece-nos que podemos fazê-lo embora que tão somente para os fins previstos naquela mesma Lei nº 7.102/83, que “Dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores e dá outras providências”.

Veja-se que essa mesma Lei nº 7.102/83, que dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabeleceu, no seu artigo 1º, e §1º, verbis:

“Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores ou movimentação de numerário, que não possua sistema de segurança com parecer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério da Justiça, na forma desta lei. (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) (Vide art. 16 da Lei 9.017, de 1995).

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§ 1o Os estabelecimentos financeiros referidos neste artigo compreendem bancos oficiais ou privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, associações de poupança, suas agências, postos de atendimento, subagências e seções, assim como as cooperativas singulares de crédito e suas respectivas dependências. (Renumerado do parágrafo único com nova redação, pela Lei nº 11.718, de 2008)(grifamos).

Conforme bem exposto pela Procuradoria Regional da República da 5ª Região, além da necessidade de uma interpretação evolutiva, o § 1º do art.1º estabelece o alcance da regra do caput do referido artigo. Em outras palavras, a Lei n.º 7.102/83 não se restringe somente as agências mantidas pelas instituições financeiras, já que também expressamente se refere aos “postos de atendimento”. Ora, se a atividade de “Banco Postal” prestada pelas agências do Correios se encontra vinculadas a uma instituição financeira, tem-se que estas agências dos Correios devem ser considerados postos de atendimentos da instituição financeira para a qual presta serviços.

Aliado a isso, tem-se que os artigos 1.º e 2.º da Lei n.º 7.102/1983 (com redação dada pelas Leis nº(s) 9.017/1995 e 11.718/2008), instituem a obrigação legal dos estabelecimentos financeiros de prestarem segurança nos locais onde exista guarda de valores ou movimentação de numerário (art. 1º), inclusive, prevendo as medidas de segurança a serem adotadas (art. 2º).

Assim, não me convence a alegação de que estão prestando um serviço a parcela da população mais pobre e, caso fosse obrigado a instalar o sistema de segurança previsto Lei 7.102/83, estas pessoas ficariam privadas dos serviços. Não se nega que estão prestando um serviço, mas de qualidade inferior a que teriam direito a as pessoas que o utilizam. Nenhum dos dois réus está prestando o serviço de maneira gratuita. Assim, a população não quer que o serviço seja prestado de qualquer jeito, mas com a segurança necessária que o caso requer.

Jamais se poderia interpretar a figura do correspondente bancário com a dispensa dos requisitos de segurança previstos na Lei n.º 7.102/83 porque isso equivaleria à fraude de lei imperativa. Em verdade, este contrato de correspondente bancário constitui uma espécie de terceirização dos serviços bancários, bastante comum nas relações trabalhistas. Presta um serviço tipicamente bancário, de maneira precária, pois não se assegura as garantias de segurança necessária, caso as pessoas fossem atendidas em agências bancárias.

A circunstância de outras entidades estarem atuando como correspondente, sem cumprir os requisitos da Lei 7.102/73, não implica em violação ao princípio da isonomia, muito menos afeta o objeto desta demanda por diversas razões. Primeiro, o MPF somente propor a ação contra quem possui foro na Justiça Federal ou, por qualquer razão, esteja no exercício de uma delegação federal. Segundo, não está obrigado a promover contra todos os correspondentes bancários em única ação. Terceiro, se os réus estão inconformados de que outra

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empresa estaria recebendo tratamento “privilegiado”, deveria representar ao Parquet Estadual ou Federal, conforme o caso, para a adoção das providências cabíveis. Quarto, não é o Direito que se deve amoldar às pessoas, fatos e bens e sim o contrário. Assim, a atuação de uma pessoa, por algum tempo, sem contestação, não significa que se encontra regular perante o ordenamento jurídico. Quinto, o descumprimento da Lei por outros não serve para minorar/excluir a sua responsabilidade.

O contrato entre a ECT e o Bradesco constitui um típico contrato comercial entre duas empresas que se associaram para um fim comum. Assim, entre eles, não há que se falar em relação de consumo, contudo o seu aspecto externo voltado para as pessoas que utilizam o serviço interessa ao direito do consumidor. Neste passo, o MPF não está buscando defender os interesses dos envolvidos, mas dos consumidores que utilizam o serviço de correspondente bancário.

Não há dúvidas de que a relação do ECT, como correspondente bancário do Bradesco, e os consumidores constitui típica relação de consumo. Neste passo, o CDC reconhece como direito básico do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provenientes de serviços perigosos (art. 6º, I do CDC). Tal direito deve ser lido em conjunto com os demais diplomas normativos, nos termos do art. 7º do CDC, sempre aplicando a norma mais favorável.

CDC, Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

Ora, não há qualquer dúvida de que o sistema de segurança deve ser aplicável, seja porque a atividade de correspondente bancário se enquadra no seu âmbito, seja porque é muito favorável ao consumidor.

Em verdade, o contrato entre a ECT e o Bradesco ofende a função social do contrato, considerando o interesse da coletividade, ao permitir a prestação de um serviço precário, sem a necessária segurança.

Ora, a ECT afirma que está adotando algumas medidas, tais como cofre de retardo, filmagem e vigilância patrimonial, mas não impede o principal, qual seja, a entrada de pessoas armadas no interior das agências.

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As providências adotadas pela ECT até agora são insuficientes, conforme relatório da autoridade policial acerca do nível de segurança das agências, aliado a tabela abaixo relativo ao número de assaltos as agências da ECT 12.

Localidade Data da ocorrência − somente roubo Total entre

2004 e 2010 Amparo de São Francisco - Aracaju

42 assaltos

Central 2006 – 26.04.06

D.I.A 2005 – 19.07.05 2008 – 23.09.08 2009 – 04.03.09, 10.06.09 2010 – 27.05.10

Siqueira Campos 2005 – 22.03.05, 28.04.05 2008 – 16.01.08, 05.03.08, 23.12.08, 30.12.08 2009 –

Francisco Porto 2009 – 07.07.09 Distrito Industrial 2005 – 17.01.06 Atalaia (franqueada) 2005 – 15.04.05, 06.05.05

2006 – 23.06.06 Augusto Franco (franqueada) 2005 – 30.04.05

2006 – 24.02.06, 13.05.06 2010 – 15.06.10, 28.09.10

Augusto Maynard (franqueada)

2005 – 11.05.05 2006 – 11.05.06, 06.03.06

Francisco Porto (franqueada) 2005 – 15.07.05, 09.09.05 Hermes Fontes (franqueada) 2005 – 03.05.05, 20.05.05 Mar Azul (franqueada) 2005 – 22.04.05

2006 – 03.07.06 Maranhão (franqueada) 2005 – 12.01.05, 25.03.05 Marcos Freire (franqueada) 2005 – 05.01.05, 23.08.05

Ponto Novo (franqueada) 2005 – 22.03.05, 17.05.05

2006 – 10.02.06 Santos Dumont 2008 – 08.10.08, 21.11.08

2010 – 26.03.10, 29.04.10, 09.06.10 Areia Branca 2004 – 20.09.2004

2005 – 26.01.05, 01.06.05, 17.06.05 2006 – 25.01.06 2007 – 19.10.07 2009 – 10.12.09 2010 – 16.06.10

8 assaltos

Barra dos Coqueiros Brejo Grande 2008 – 01.10.08 1 assalto Canhoba Carmópolis

12 Tabela elaborada a partir dos dados contidos na f. 137, 194/196, 243/248 do anexo do Anexo I, 513/517 e 574/576 do anexo II

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Cedro de São João Divina Pastora 2004 – 10.12.04

2005 – 29.08.05

2 assaltos General Maynard 2009 – 30.03.09

2010 – 03.12.10

2 assaltos Ilha das Flores Japaratuba 2005 – 04.01.05, 11.03.05, 15.06.05

2010 – 07.05.10

4 assaltos Japoatã 2005 – 06.01.05

2008 – 24.10.08

2 assaltos Laranjeiras 2005 – 24.02.05, 30.06.05

2009 – 23.03.09

3 assaltos Malhada dos Bois 2004 – 15.12.04, 30.12.04

2005 – 01.07.05 2010 – 17.05.10

4 assaltos

Maruim 2004 – 02.09.04, 25.11.04 2005 – 03.01.05, 18.03.05

4 assaltos

Muribeca Neopólis 2004 – 05.10.04 1 assalto Nossa Senhora de Lourdes 2008 – 22.07.08

1 assalto Nossa Senhora do Socorro 2004 – 02.12.04

2005 – 05.01.05, 06.06.05, 25.10.05 2007 – 27.11.07 2009 – 27.04.09, 01.07.09 2010 – 06.05.10

8 assaltos

Pacatuba 2008 – 10.11.08 1 assalto Pirambu 2005 – 14.03.05, 06.06.05

2009 – 31.07.09

3 assaltos Própria 2004 – 23.12.04

2005 – 22.04.05, 27.06.05

3 assaltos Riachuelo 2005 – 10.03.2005

2009 – 16.07.09

2 assaltos Rosário do Catete 2009 – 16.07.09, 26.10.09 2 assaltos Santa Rosa de Lima 2010 – 05.01.10 1 assalto Santo Amaro de Brotas São Cristovão 2004 – 18.08.04

2005 – 05.04.05 2010 – 26.04.10, 16.06.10, 29.07.10

5 assaltos

São Francisco 2005 – 12.01.05 2010 – 02.06.10

2 assaltos

Santana do São Francisco 2004 – 23.11.2004 2005 – 06.06.05, 04.07.05 2008 – 29.12.08 2010 – 07.04.10

5 assaltos

Siriri 2005 – 02.03.05 1 assalto Telha Total 73

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Analisando os relatórios sobre os assaltos ocorridos nas Agências dos Correios no Estado de Sergipe (f. 577/623 do Anexo II e f. 44/303), verifica-se que a história praticamente é quase sempre a mesma. As agências dos correios que funcionam como correspondentes bancários são autorizadas a funcionar com um limite operacional variável (este dinheiro pertence ao Bradesco). Um ou dois indivíduos, fingindo-se clientes, entram na agência com armas escondidas, rendem o vigilante (tomando-lhe a arma), os empregados e clientes, depois subtraem o dinheiro localizado nos caixas e dos cofres e, por fim, fogem num veículo (geralmente, moto, motocicleta) sem deixar vestígios.

Confira a tabela abaixo abrangendo somente abrange os roubos (geralmente a mão armada) nas agências dos Correios situados dentro da competência territorial de Seção Judiciária de Sergipe, no ano de 2010.

Localidade Data Valores subtraídos Total Limite operacional

Páginas.

Santa Rosa de Lima/SE

05.01.2010 ECT – R$ 32,80Bradesco – R$ 21.375,52

R$ 21.408,32 R$ 30.000,00 577/578 do apenso II

Santos Dumont – Aracaju/SE

26.03.2010 ECT – R$ 272,98Bradesco – R$ 14.614,16

R$ 14.887,14 R$ 18.000,00 588/589 do apenso II

Santana do São Francisco/SE

07.04.2010 ECT – R$ 83,89– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 11.023,01

R$ 11.106,90 R$ 27.000,00 590/592 do apenso II

São Cristovão/SE 27.04..2010 ECT – R$ 3,54 13

Bradesco – R$ 2.008,25 R$ R$ 27.000,00 593/594 do

apenso II Santos Dumont –

Aracaju/SE 29.04.2010 ECT – R$ 272,98

– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 19.635,17

R$ 19.770,98 R$ 18.000,00 597/598 do apenso II

Nossa Senhora do Socorro/SE

07.05.2010 Bradesco – R$ 8.197,09 14 R$ 10.000,00 599/600 do apenso II

Japaratuba/SE 15 07.05.2010 ECT – R$ 751,19– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 171,60

R$ 922,79 R$ 27.000,00 601/602 do apenso II

Malhada dos Bois/SE 17.05.2010 ECT – R$ 116,23– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 18.915,09

R$ 19.031,32 R$ 27.000,00 605/606 do apenso II

D.I.A – Aracaju/SE 27.05.2010 ECT – R$ 33,34– Houve subtração de produtos Bradesco – R$ 10.580,10

R$ 10.613,44 R$ 27.000,00 607/608 do apenso II

Cedro de São João/SE

04.06.2010 ECT – R$ 837,49– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 6.987,23

R$ 7.824,72 R$ 27.000,00 609/610 do apenso II

Santos Dumont – Aracaju/SE

09.06.2010 ECT – R$ 277,44– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 1.271,08

R$ 1.548,52 R$ 18.000,00 611/613 do apenso II

Areia Branca/SE 16.06.2010 ECT – R$ 110,46 R$ 12.853,68 R$ 10.000,00 614/615 do 13 Não consta a informação se houve ou não subtração de produtos da ECT 14 Não consta a informação se houve ou não subtração de produtos da ECT 15 Raro caso em que a maior parte do valor subtraído era da ECT ao invés do Bradesco

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– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 12.743,22

apenso II

São Cristovão/SE 29.07.2010 ECT – R$ 320,43– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 21.785,40

R$ 22.105,83 R$ 27.000,00 78/79

Barra dos Coqueiros/SE 16

19.08.2010 ECT – R$ 82,30– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 1.828,48

R$ 1.910,78 R$ 27.000,00 103/104

General Maynard/SE 06.09.2010 ECT – R$ 32,58– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 2.525,12

R$ 2.857,70 R$ 27.000,00 125/126

Santo Amaro das Brotas/SE

15.09.2010 ECT – R$ 66,08– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 3.358,78

R$ 4.788,35 R$ 27.000,00 146/147

Japoatã/SE 16.09.2010 ECT – R$ 104,62– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 4.683,73

R$ 3.358,78 R$ 27.000,00 167/168

Barra dos Coqueiros/SE

28.09.2010 ECT – R$ 35,58– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 2.241,76

R$ 2.277,34 17 R$ 18.000,00 212/213

Santo Amaro das Brotas/SE

27.10.2010 ECT –– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 12.517,40

R$ 12.517,40 R$ 27.000,00 233/234

Santo Amaro das Brotas/SE

24.11.2010 18

ECT –– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 8.129,40

R$ 8.129,40 R$ 27.000,00 269/270

General Maynard/SE 03.12..2010 ECT – R$ 24,80– Não houve subtração de produtos Bradesco – R$ 18.359,91

R$ 18.384,71 R$ 27.000,00 286/287

Da análise dos documentos acima, conclui-se que os meliantes vão em busca de dinheiro em espécie, não se preocupando com material postal e filatélico e que a grande parte do dinheiro subtraído pertencia ao BRADESCO, ao Banco Postal, e não aos Correios. A atração dos meliantes é, portanto, motivada por uma combinação perfeita de altas somas em dinheiro e ineficiente sistema de segurança das Agências dos Correios. Ainda que receba dinheiro de outras atividades, conforme afirmado pelo Bradesco, tais atividades são residuais, considerando que, nos roubos ocorridos na agência da ECT, a quase totalidade dos valores pertence ao Banco Bradesco.

Ressalte-se que, mesmo após o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela, as Agências dos Correios continuaram a ser alvo de investida criminosa

16 O ladrão assaltou com uma faca 17 O meliante não conseguiu levar todo o dinheiro (f. 224/226) 18 Consta no Registro Policial de Ocorrência: “Que o declarante logo conheceu os dois indivíduos, como os mesmos assaltantes do primeiro roubo ocorrido nesta mesma agência no dia 15/09/2010” (f. 265)

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nas f. 776/777 e 831/841 19, (AC Santos Dumont – Aracaju/SE em 03.06.2011, AC General Maynard/SE em 31.01.2011, AC Barra dos Coqueiros/SE em 04.05.2011, AC Santo Amaro de Brotas/SE em 19.05.2011, AC Própria em 06.07.2011).

O número de casos de roubo está provocando uma mudança do perfil dos casos criminais julgados pela Justiça Federal. De crimes contra a ordem tributária e previdenciária, moeda falsa, estelionatos e etc., está se caminhando também para crimes contra o patrimônio, praticados com violência, e assim mesmo quando os meliantes são identificados. Nem a CEF, que é uma instituição financeira, possuem tantos delitos de roubo como estão sendo praticados contra as agências da ECT.

A ausência destas medidas coloca em risco a integridade física e psíquica dos consumidores, empregados e terceirizados da ECT. Para se ter uma idéia, só em 2010 este juízo julgou dois processos criminais envolvendo os assaltos às agências da ECT. Em ambos os feitos, os advogados da ECT estiveram presentes às audiências de instrução e requereram que os funcionários da empresa arrolados como testemunha, não fossem ouvidos na presença dos réus. É inequívoco, pois, que aquele que sofre assalto é capaz de desenvolver traumas, que não podem ser ignorados.

Ressalte-se que já houve duas vítimas fatais: 1) a primeira em um latrocínio ocorrido no 12.01.2005, no interior da Agência da ECT de São Francisco/SE, que resultou na morte de Manoel Dionísio da Cruz 20; 2) latrocínio, ocorrido no dia 22.06.2010, na agência da ECT de Frei Paulo, que resultou na morte de Flávio Santos de Oliveira Matos, escrivão da Polícia Civil (notícia na f. 677 do anexo I)

Assim, a postulação do MPF é mais do que razoável, visto que primeiro pretende a adequação do serviço e, em não ocorrendo, a sua proibição.

Estabelecida a obrigatoriedade de instalar os equipamentos de segurança nos moldes da Lei n.º 7.102/83, devidamente aprovados pelo Departamento da Polícia Federal – DPF, de quem seria a responsabilidade.

Em sua contestação, o Bradesco, além de isentar de qualquer responsabilidade, procura transferir a responsabilidade integralmente a ECT, citando cláusulas do contrato que ambos firmaram. Afirma que a sua responsabilidade se restringiria a segurança bancária, uma vez que a ECT se obrigou a prestar o serviço de correspondente bancário, com recursos próprios.

Tal argumentação não pode ser acolhida em nenhuma linha.

19 As informações provém de notícias dos jornais, mas não foram impugnadas pelos réus. 20 Vide f. 29 do apenso II. Os criminosos foram condenados na ação penal n.º 2005.85.00.000549-8 e os familiares promoveram ação de responsabilidade em face da ECT, processo n.º 0000059-71.2010.4.05.8500, que tramitou nesta 1ª Vara/SE, já julgado em 1º grau, pendente de recurso.

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Analisando o contrato assinado entre as partes21 – O Bradesco, incluindo as modificações inseridas no aditivo, colhem-se as seguintes disposições:

Contrato Original Aditivo

ABRANGÊNCIA CLÁUSULA TERCEIRA – A presente contratação é aplicável em todo o território nacional, sendo total a responsabilidade do contratante perante o Sistema Financeiro Nacional, sobre os serviços prestados pela CONTRATADA.

CLÁUSULA TERCEIRA – A presente contratação é aplicável em todo o território nacional, sendo total a responsabilidade do CONTRATANTE pela qualidade dos serviços prestados pela CONTRATADA, inclusive no que concerne à segurança bancária.

OBRIGAÇÕES DAS PARTES CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA – A CONTRATADA obriga-se a: XV) Adotar todas as medidas de segurança, como conseqüência dos serviços de “Correspondente Bancário”, que serão prestados como decorrência deste Contrato;

OBRIGAÇÕES DAS PARTES CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA – A CONTRATADA obriga-se a: XV) Adotar todas as medidas de segurança, quanto a proteção física e patrimonial dos clientes que se utilizarão dos serviços de “Correspondente Bancário”, no âmbito das unidades de atendimentos que exercerão tal atividade, em decorrência deste contrato, nos moldes da legislação vigente.

XIX) permitir, quando previamente avisada, a fiscalização por agentes de inspeção indicados pelo CONTRATANTE, acompanhados pelos Inspetores ou auditores da CONTRATADA, sem ferir o sigilo postal, de todos o serviços prestados em razão deste contrato, tendo por base a legislação vigente, os normativos editados pelo Banco Central do Brasil ou práticas utilizadas pelo CONTRATANTE

XIX) Não houve modificação

De início, fico espantado com a contradição do contrato entres as cláusulas 3ª e 14ª, inciso XV, porque, ao mesmo tempo em que o Bradesco assume a “total responsabilidade”, imediatamente procura transferi-lo a ECT quanto a proteção física. Se assume a total responsabilidade, não se pode, em seguida, querer se desvinculá-lo porque aí deixa de existir a “total responsabilidade”.

Em verdade, tais cláusulas devem ser lidas de acordo com o art. 4º, I da Resolução n.º 3.110/2003

Art. 4º Os contratos referentes à prestação de serviços de correspondente nos termos desta resolução devem incluir cláusulas prevendo: I - a total responsabilidade da instituição contratante sobre os serviços prestados pela empresa contratada, inclusive na hipótese de substabelecimento do contrato a terceiros, total ou parcialmente; (modificado pela Resolução n.º 3.156/03)

21 Esclareço que no contrato o Bradesco é qualificado como contratante enquanto a ECT como contratada.

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Nos termos do preceito acima, o Bradesco se tornou uma espécie de garantidor dos serviços prestados pelo seu correspondente, in casu, a ECT, não fazendo qualquer distinção. E, mais a cláusula 3ª diz que o Bradesco assume a total a responsabilidade do CONTRATANTE pela qualidade dos serviços prestados pela CONTRATADA, inclusive no que concerne à segurança bancária. Se fosse para limitar, não haveria qualquer sentido a utilização da expressão “inclusive no que concerne à segurança bancária”, bem assim teria se valido de expressões como tão-somente e etc. A ambigüidade se resolve em favor dos terceiros que são atingidos pelo contrato. Ainda que houvesse distinção, não poderia ser acolhida.

Se o Bradesco não escolhe bem, nem fiscaliza adequadamente a empresa que contratou nos termos do contrato, torna-se tão responsável quanto com base na culpa in eligendo e in vigilando22. O Bradesco só pode e deve contratar quem tenha condições de prestar o serviço nas mesmas condições de segurança que se encontra obrigado. Não se exime simplesmente contratando um seguro de responsabilidade civil.

A determinação deve ser dirigida a ambos e não a um isoladamente. Com efeito, se ambos se associaram para prestar um serviço a terceiros, devem resolver o problema no interior do contrato. Da forma como está sendo prestado, o contrato está causando danos à coletividade em razão dos riscos expostos a todos. A propósito, colaciono o julgado em que reconheceu a responsabilidade solidária de ambos em razão da assalto ocorrido em agência dos Correios que presta o serviço de “Banco Postal”:

ADMINISTRATIVO E CIVIL. DANO MATERIAL E MORAL. ASSALTO NO INTERIOR DE AGÊNCIA DOS CORREIOS SEDE DO BANCO POSTAL. 1. A segurança é prestação essencial à atividade bancária, não configurando caso fortuito ou força maior, para efeito de isenção de responsabilidade civil, a ação de terceiro que furta, do interior do próprio banco. 2. A união de propósitos comerciais entre a empresa de correios e a instituição financeira, transformando a agência postal em agência de serviços bancários, impõe a ambos o dever de indenizar os lesados no interior do estabelecimento. 3. O valor fixado para indenização dos danos morais deve atender ao princípio da razoabilidade. 23

Em suas defesas, os réus alegaram diversas questões menores, que não modificam a convicção deste juízo, tais como existem agências que não possui condições de serem adaptadas, é incompatível porta giratória com a utilização de encomendas, o Caixa Eletrônico não possui vigilância e funciona com limite operacional baixo que não justifica um aparato sofisticado.

22 Faço a observação que a responsabilidade é objetiva. 23 TRF 4ª Reg., AC 200572080018547/SC, 4ª Turma, Juiz MÁRCIO ANTÔNIO ROCHA, DJ 04/10/2006 PÁGINA: 834.

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Se o local é inadequado, só existem duas opções aos réus: 1) mudar para um local adequado; 2) desativar o serviço de correspondente bancário. Assim, não verifica a existência de qualquer óbice que não dependa da vontade dos réus para superá-los.

A porta giratória é incompatível com o sistema de encomenda. Primeiramente, seria até risível um marginal levar um revolver dentro de uma embalagem fechada e depois desembrulhá-lo na frente das pessoas para só então assaltar. Segundo, que eu saiba nas instituições financeiras as pessoas transitam com mochilas, pastas, bolsas e o sensor da porta não trava a toda hora. Nada impede que modifique a sua rotina para informar a população que as encomendas devem ser embrulhadas dentro da agência e etc. Novamente, não existe qualquer obstáculo impossível para instalação de equipamento de segurança equivalente das instituições financeiras.

Os caixas eletrônicos não possuem vigilância patrimonial. As situações são completamente diversas, inclusive os tipos penais também. No caso de subtração contra caixa eletrônico, comete-se furto qualificado mediante arrombamento (art. 155, §4º, inc. I do CP) enquanto o roubo é dirigido às pessoas (art. 157 do CP). As pessoas, quando praticam delitos, voltam as suas ações para vencer a resistência da vítima. Nos caixas eletrônicos, os valores estão em um local fechado no interior da máquina e para subtraí-los é necessário que se utilize equipamentos, tais como maçarico, pé de cabra e etc. O objetivo da Lei n.º 7.102/83 é impedir que as armas ou outros objetos ingressem no interior do estabelecimento bancário, causando risco à incolumidade física e até a vida das pessoas presentes.

Por fim, ressalte-se que não se está impedindo que preste o serviço, mas, se quiser continuar, deve prestá-lo em condições adequadas de segurança, submetendo-se aos ditames da Lei 7.102/83. Frise-se que a ECT somente está obrigada a prover este aparato de segurança nas agências em que estiver funcionando como correspondente bancário. Se um (ECT ou Bradesco) ou ambos entenderem que a manutenção do contrato não é mais conveniente, devem encerrar o contrato.

O limite operacional, atualmente, é de R$ 27.000,00 (vinte e sete mil reais). Tal valor pode até não ser vultoso, considerando o patrimônio das rés, mas é o suficiente para despertar a cobiça dos meliantes que praticam assaltos contra a ECT, aliados a um sistema de segurança falho e deficiente.

Quanto às decisões proferidas na Justiça do Trabalho, examinam a questão sob o enfoque da segurança do meio do trabalho, sendo que a presente lide envolve basicamente o direito a segurança dos consumidores do serviço.

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Acrescento que após o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela, os réus ECT e Bradesco interpuseram agravo de instrumento. O Relator do AGTR´s n.ºs 114353/SE e 114204/SE indeferiu o efeito suspensivo e, no julgamento final, negou provimento aos recursos para manter a decisão agravada, conforme ementa abaixo:

EMENTAADMINISTRATIVO - CIVIL - CORRESPONDENTES BANCÁRIOS - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FIRMADO ENTRE O BANCO BRADESCO S/A E A EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS - SERVIÇOS BANCÁRIOS - BANCO POSTAL - ADEQUAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS À LEI Nº 7.102/83 - RESPONSABILIDADE CONJUNTA. 1. “Aplica-se aos Bancos Postais todo o sistema de segurança bancário, previsto na Lei nº 7.102/83, pois tal fato não implica desvirtuamento do sistema de correspondentes bancários concebido pela Resolução 2.707/2000 do BACEN, mas, sim, o seu aperfeiçoamento. Apesar da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT - não ter a natureza jurídica de instituição financeira, desempenha atividade bancária na prestação do serviço de Banco Postal, razão pela qual é medida de rigor a aplicação da Lei nº 7.102/83 ao caso dos Autos”. (TRF-5ª R. - AC 2006.83.02.000960-6 - 2ª Turma. - Rel. Des. Francisco Barros Dias - DJe 15.01.2010). 2. “A atividade financeira, por sua própria natureza, demanda um nível de segurança superior aos demais estabelecimentos: por movimentar recursos próprios e de terceiros, essas instituições devem apresentar um sistema de segurança em suas agências, devidamente aprovado pelo Departamento de Polícia Federal. Dessa forma, ao exercer o Serviço Financeiro Postal Especial, a ECT exerce atividades específicas de instituições financeiras, como correspondente bancário, devendo, por isso, obedecer também às normas de segurança próprias desses estabelecimentos. Por tudo isso é que o artigo 1º da lei 7.102/83 deve atingir também o Banco Postal Especial, pois no exercício da atividade de correspondente bancário as agências dos Correios praticam operações bancárias como se banco fosse”. (Trecho de Parecer ofertado pelo MPF). 3. “Em se fazendo uma interpretação conjunta e sistemática da Resolução nº 3.110/2003 do BACEN c/c o Contrato de Prestação de Serviços firmado entre a EBCT e o Banco Bradesco S/A, verifica-se que a responsabilidade pela adequação dos Bancos Postais às normas de segurança é de ambos os contratantes”. (TRF-5ª R. - AC 2006.83.02.000960-6 - 2ª Turma. - Rel. Des. Francisco Barros Dias - DJe 15.01.2010). 4. Mantém-se a multa diária fixada, vez que se trata de astreintes que possuem o desiderato de limitar a discricionariedade do obrigado a efetivar as determinações que lhe foram determinadas, em prazo - 180 (cento e oitenta) dias - que se mostra razoável para fins de efetividade da determinação judicial. A fixação de multa encontra guarida no art. 11 da Lei de Ação Civil Pública (Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor), não se aplicando a Súmula 410

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do STJ por se referir ao cumprimento de obrigação de fazer já na fase de execução. 5. Agravo de instrumento improvido. 24

Ressalte-se que os réus interpuseram suspensão de liminar perante o Presidente do TRF da 5ª Região (SL4232-SE) e o Presidente do Superior Tribunal, sem que obtivessem sucesso. O Presidente do TRF da 5ª Região, embora entendesse que a medida poderia ter o caráter irreversível, indeferiu a medida sob o fundamento de que o instituto não seria meio adequado quando já houvesse decisão monocrática do Relator do AGRT n.ºs 114353/SE e 114204/SE mantendo os efeitos da decisão de 1º grau. Já o Presidente do STJ não conheceu da suspensão de liminar sob o fundamento de que a prestação do banco postal não se insere na atividade fim da empresa.

Em adendo, já existe precedente do próprio TRF da 5ª Região sobre a matéria:

ADMINISTRATIVO. CIVIL. CORRESPONDENTES BANCÁRIOS. RESOLUÇÃO Nº. 3.103/2003 DO BACEN. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. BANCO BRADESCO S/A. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. SERVIÇOS BANCÁRIOS. BANCO POSTAL. ADEQUAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS À LEI Nº. 7.102/83. RESPONSABILIDADE CONJUNTA. - Rejeição da preliminar arguida pelo BANCO BRADESCO S/A de que há impossibilidade jurídica do pedido em virtude da não aplicação da Lei nº 7.102/83 ao caso dos Autos. É que tal argumento, na verdade, se refere ao mérito da demanda e como tal deve ser tratada. - Discute-se, no presente caso, se a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT, ao prestar serviços do Banco Postal, nos termos do Convênio de fls. 188/210, firmado junto ao Bradesco S/A, desempenha atividade bancária, submetendo-se, por conseqüência, às exigências de segurança de tais instituições contidas na Lei nº 7.102/83. - A faculdade conferida às instituições financeiras para contratar empresas para atuar como seus correspondentes e prestarem alguns serviços bancários foi prevista na Resolução nº 2.707/2000, sucedida pela Resolução nº 3.110/2003, do Banco Central do Brasil, com vistas à prestação dos seguintes serviços: I - recepção e encaminhamento de propostas de abertura de contas de depósitos à vista, a prazo ou de poupança; II - recebimentos, pagamentos e outras atividades decorrentes de convênios relativos a contas de depósitos à vista, a prazo e de poupança, bem como a aplicações e resgates em fundos de investimento; III - recebimentos, pagamentos e outras atividades decorrentes de convênios de prestação de serviços mantidos pelo contratante na forma da regulamentação em vigor; IV - execução ativa ou passiva de ordens de pagamento em nome do contratante; V - recepção e encaminhamento de pedidos de empréstimos e de financiamentos; VI - análise de crédito e cadastro; VII - execução de serviços de cobrança; VIII - recepção e encaminhamento de propostas de emissão de cartões de crédito; IX - outros

24 TRF 5ª Reg., AGTR114353-SE (0004325-56.2011.4.05.0000), 2ª Turma, Rel. Des. Fed. (Conv.) IVAN LIRA DE CARVALHO, julgado em 02/08/2011

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serviços de controle, inclusive processamento de dados, das operações pactuadas; X - outras atividades, a critério do Banco Central do Brasil." - As resoluções do BACEN que autorizaram os bancos a contratar correspondentes bancários - empresas para a prestação de alguns dos serviços inerentes às instituições bancárias - tiveram por finalidade precípua facilitar o acesso da população, especialmente a de baixa renda, aos produtos e serviços do Sistema Financeira Nacional, nas localidades que não disponham de agências bancárias instaladas. - Aplica-se aos Bancos Postais todo o sistema de segurança bancário, previsto na Lei nº 7.102/83, pois tal fato não implica desvirtuamento do sistema de correspondentes bancários concebido pela Resolução 2.707/2000 do BACEN, mas, sim, o seu aperfeiçoamento. - Apesar da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT - não ter a natureza jurídica de instituição financeira, desempenha atividade bancária na prestação do serviço de Banco Postal, razão pela qual é medida de rigor a aplicação da Lei nº. 7.102/83 ao caso dos Autos. - A Resolução nº 3.110/03 do BACEN, que autorizou a criação da figura do correspondente bancário, deixou claro que a responsabilidade pelos serviços prestados no Banco Postal é da instituição financeira, nos seguintes termos: Art. 4º. Os contratos referentes à prestação de serviços de correspondente, nos termos desta Resolução, devem incluir cláusulas prevendo: I - a total responsabilidade da instituição financeira contratante sobre os serviços prestados pela empresa contratada, inclusive na hipótese de substabelecimento do contrato de terceiros, total ou parcialmente. - Na cláusula 6ª do contrato firmado (fls. 192), ficou estabelecido que a EBCT proveria toda a infra-estrutura operacional necessária à execução dos serviços. No contrato ajustado, previu-se, ainda, na cláusula décima quarta, itens II, XIV, XV, e XVII, a obrigação da ECT pelo fornecimento de toda a infra-estrutura de segurança (fls. 194/196). - Em se fazendo uma interpretação conjunta e sistemática da Resolução nº. 3.110/2003 do BACEN c/c o Contrato de Prestação de Serviços firmado entre a EBCT e o Banco Bradesco S/A, verifica-se que a responsabilidade pela adequação dos Bancos Postais às normas de segurança é de ambos os contratantes. - Apelação da EBCT improvida. Apelaçao do Ministério Público Federal e do Banco Bradesco S/A parcialmente providas para determinar ao Banco Bradesco S/A e à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT que, no prazo de 6 (seis) meses, promovam e concluam a adequação da estrutura das agências dos Correios que atuam como correspondentes bancários, nos municípios que integram a competência territorial daquela subseção judiciária federal (Caruaru/PE), às exigências de segurança impostas pela Lei nº. 7.102/83, nos termos do Relatório de Vistoria da Polícia Federal de fls. 252/277, devendo implantar todos os itens ali descritos como necessários.25

Quanto ao dever da UNIÃO, por meio da Polícia Federal, há expressa previsão legal do dever de aprovar o sistema de fiscalização dos estabelecimentos financeiros e de fiscalizá-los quanto ao cumprimento desta lei, nos termos da Lei 7.182/83, verbis:

25 TRF 5ª Reg., AC 451364/PE (200683020009606), 2ª Turma, Des. Federal Francisco Barros Dias, TRF5 - Segunda Turma, DJE - Data::14/01/2010 - Página::188.

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Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores ou movimentação de numerário, que não possua sistema de segurança com parecer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério da Justiça, na forma desta lei. (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) (Vide art. 16 da Lei 9.017, de 1995) § 1o Os estabelecimentos financeiros referidos neste artigo compreendem bancos oficiais ou privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, associações de poupança, suas agências, postos de atendimento, subagências e seções, assim como as cooperativas singulares de crédito e suas respectivas dependências. (Renumerado do parágrafo único com nova redação, pela Lei nº 11.718, de 2008) (...)§ 3o Os processos administrativos em curso no âmbito do Departamento de Polícia Federal observarão os requisitos próprios de segurança para as cooperativas singulares de crédito e suas dependências. (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) Art. 2º - O sistema de segurança referido no artigo anterior inclui pessoas adequadamente preparadas, assim chamadas vigilantes; alarme capaz de permitir, com segurança, comunicação entre o estabelecimento financeiro e outro da mesma instituição, empresa de vigilância ou órgão policial mais próximo; e, pelo menos, mais um dos seguintes dispositivos: I - equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens que possibilitem a identificação dos assaltantes; II - artefatos que retardem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição, identificação ou captura; e III - cabina blindada com permanência ininterrupta de vigilante durante o expediente para o público e enquanto houver movimentação de numerário no interior do estabelecimento. Art. 6º Além das atribuições previstas no art. 20, compete ao Ministério da Justiça: (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) (Vide art. 16 da Lei 9.017, de 1995) I - fiscalizar os estabelecimentos financeiros quanto ao cumprimento desta lei; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) II - encaminhar parecer conclusivo quanto ao prévio cumprimento desta lei, pelo estabelecimento financeiro, à autoridade que autoriza o seu funcionamento; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) III - aplicar aos estabelecimentos financeiros as penalidades previstas nesta lei. Parágrafo único. Para a execução da competência prevista no inciso I, o Ministério da Justiça poderá celebrar convênio com as Secretarias de Segurança Pública dos respectivos Estados e Distrito Federal. (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) Lei 9.017/95, Art. 16. As competências estabelecidas nos arts. 1º, 6º e 7º, da Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, ao Ministério da Justiça, serão exercidas pelo Departamento de Polícia Federal.

Com efeito, reconhecida inicialmente a sujeição das agências dos Correios em que funciona o Banco Postal aos ditames da Lei n.º 7.102/1983, é dever da UNIÃO, por meio do Departamento de Polícia Federal, fiscalizar as

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Agências dos Correios que funcionarem como correspondentes bancários, a fim de que eles cumpram as normas legais atinentes às medidas de segurança exigidas das instituições financeiras, inclusive aplicando-lhe as sanções legais.

Lei n.º 7.182/83, Art. 7º O estabelecimento financeiro que infringir disposição desta lei ficará sujeito às seguintes penalidades, conforme a gravidade da infração e levando-se em conta a reincidência e a condição econômica do infrator: (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) (Vide art. 16 da Lei 9.017, de 1995) I - advertência; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) II - multa, de mil a vinte mil Ufirs; (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) III - interdição do estabelecimento. (Redação dada pela Lei 9.017, de 1995) Lei 9.017/95, Art. 16. As competências estabelecidas nos arts. 1º, 6º e 7º,

da Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, ao Ministério da Justiça, serão exercidas pelo Departamento de Polícia Federal.

Pouco importa o entendimento do Ministério da Justiça, através dos despachos n.º 020/2003 (f. 756/757), 024/2003-DELP/CGCSP (f. 753/755) e 3471/09-DELP/CGCSP (f. 751) de que os correspondentes bancários não estão sujeitos a Lei 7.102/83 por não se enquadrar no conceito de instituição financeira, pois “o Poder Judiciário pode obrigar o ente público a realizar determinada atividade, desde que mediante decisão devidamente fundamentada. (...) Ora, é a Administração está sujeita às decisões do Poder Judiciário e não o contrário. Tal obrigação somente deixa de existir caso haja revogação da medida pelo próprio juízo ou modificação da decisão por órgão superior” (f. 774) 26.

A propósito, já decidiu o STJ:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – PRETENSÃO RESISTIDA – INTERESSE DE AGIR – CONTRATO DE TELEVISÃO POR ASSINATURA (TV A CABO) – LESÃO A DIREITOS DOS USUÁRIOS – AUSÊNCIA DE FISCALIZAÇÃO – INEXISTÊNCIA DE DISCRICIONARIEDADE – VINCULAÇÃO À FINALIDADE LEGAL – RESERVA DO POSSÍVEL – NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO. 1. Os fatos consignados pelo acórdão recorrido, noticiam que a ré resistiu à pretensão do autor da ação civil pública, motivo pelo qual, não há que se falar em ausência do interesse de agir do Ministério Público. 2. Nos termos do art. 19 da Lei. n. 9.472/97, compete à Anatel a obrigação de fiscalizar os serviços públicos concedidos, bem como, de reprimir as infrações aos direitos dos usuários. Com efeito, não há discricionariedade para o administrador público em realizar, ou não, a fiscalização. 3. A discricionariedade, porventura existente, circunscrever-se-ia na escolha do meio pelo qual a fiscalização será exercida. Todavia, ainda assim, o administrador está vinculado à finalidade legal, de modo que, o meio escolhido deve ser necessariamente o mais eficiente no desempenho da atribuição fiscalizadora. 4. Isto ocorre porque a discricionariedade administrativa é, antes de mais nada, um dever posto à Administração para que, diante do caso

26 Houve inversão da citação de propósito.

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concreto, encontre dentre as diversas soluções possíveis, a que melhor atenda à finalidade legal. 5. A reserva do possível não pode ser apresentada como alegação genérica, destituída de provas da inexistência de recursos financeiros. Requer, ademais, considerações sobre a situação orçamentária do ente público envolvido, o que esbarra na súmula 7 desta Corte Superior. Recurso especial improvido. 27

É claro que o deferimento do presente pedido não implica que as agências dos Correios que prestam serviços como correspondentes bancários se encontram obrigadas a adotar todos os instrumentos de segurança previstos na Lei 7.102/83. O modelo de segurança será submetido a Delegacia da Polícia Federal que será a responsável por definir em conjunto com os correios quais os meios de seguranças adequados para as agências dos Correios.

Alcance da decisão – Art. 16 da Lei 7.347/85. Suspensão do serviço de Banco Postal.

Consoante a observação de Nigro Mazzilli, a qual adiro integralmente, “na alteração procedida em 1997 ao art. 16 da LACP, o legislador confundiu, lamentavelmente, limites da coisa julgada (a imutabilidade erga omnes da sentença – limites subjetivos, atinentes às pessoas atingidas pela imutabilidade) com a competência territorial (que nada tem a ver com a imutabilidade da sentença, dentro ou fora da competência do juiz prolator, até porque, na ação civil pública, a competência sequer é territorial, e sim funcional)...”28. A regra é de difícil compreensão. A coisa julgada é a qualidade dos efeitos da sentença, por conseguinte vale fora ou dentro do foro do juiz. De outro lado, é inimaginável limitar os efeitos em caso de tutela de interesse difuso ou coletiva, no qual a nota é de indivisibilidade da situação. Por exemplo, num caso de ação civil pública proposta para despoluir um rio que corta mais de uma cidade, o Juiz que ordenar a despoluição do rio não tem como limitar à sua cidade. Parece-me que o dispositivo somente seria aplicável aos interesses individuais homogêneos.

Não obstante isso, o STF indeferiu medida cautelar em ADIN, devendo ser aplicado por força do princípio da presunção de constitucionalidade.

SENTENÇA – EFICÁCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Em princípio, não se tem relevância jurídica suficiente à concessão de liminar no que, mediante o artigo 3º da Medida Provisória nº 1.570/97, a eficácia erga omnes da sentença na ação civil pública fica restrita aos limites da competência territorial do órgão prolator. 29

27 STJ, REsp 764.085/PR, 2ª Turma, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, julgado em 01/12/2009, DJe 10/12/2009 28 MAZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 458 29 STF, ADI-MC 1576 / UF, Pleno, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, julgado em 16/04/1997

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No caso em apreço, tem-se que o objeto da demanda é plenamente divisível. Desse modo, a presente decisão somente pode alcançar as agências que se encontrem sob a jurisdição territorial desta Seção Judiciária.

Com a ressalva do meu ponto de vista pessoal, a eficácia de esta decisão fica restrita aos limites territoriais da Jurisdição desta Seção Judiciária, nos termos do anexo VI, art. 4º da Resolução n.º 27, de 25.11.2009, emanada do TRF da 5ª Região, verbis:

Art. 4º. A competência territorial das 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª Varas Federais da Seção Judiciária de Sergipe abrange os municípios de Amparo de São Francisco, Aracaju, Areia Branca, Barra dos Coqueiros, Brejo Grande, Canhoba, Carmopólis, Cedro de São João, Divina Pastora, General Maynard, Ilha das Flores, Japaratuba, Japoatã, Laranjeiras, Malhada dos Bois, Maruim, Muribeca, Neopólis, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Socorro, Pacatuba, Pirambu, Própria, Riachuelo, Rosário do Catete, Santa Rosa de Lima, Santo Amaro das Brotas, São Cristovão, São Francisco, Siriri, Telha e Santana do São Francisco.

Quanto aos pedidos formulados pelo MPF, entendo que o pedido contido no item 2 deve ser lido à luz do pedido formulado no item 1. É que, no item 2 o MPF requer a suspensão imediata do funcionamento como correspondente bancário de agências que não se encontram na jurisdição desta Seção Judiciária, a exemplo de Cristinápolis, Itaporanga D´Ajuda, Tomar do Geru, Pedra Mole, Salgado, Tobias Barreto, Aquidabã, Frei Paulo, Indiaroba, Simão Dias, Itabi, Pinhão, as quais estão abrangidas pela Subseção de Itabaiana e Estância. Considerando a imbricação lógica do pedido 2 e 1, nada impede que, regularizada s situação, voltem a funcionar como correspondentes bancários.

3. DISPOSITIVO

Diante do exposto, julgo parcialmente o procedente o pedido para determinar:

1) que os réus ECT e Bradesco promovam a adequação da estrutura das agências dos Correios que atuam como Banco Postal nos municípios que integram a competência territorial desta Seção Judiciária, providenciando a sua adequação física (localização conveniente e estrutura apropriada) e a adoção das medidas de segurança previstas na Lei 7.102/83, segundo o modelo aprovado pela Polícia Federal;

1.1) a responsabilidade da ECT se estenderá enquanto prestar o serviço como correspondente bancário de qualquer instituição financeira ao passo que a do Bradesco se estenderá enquanto mantiver contrato com a ECT;

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2) a União fica obrigada a aprovar, fiscalizar o sistema de segurança das agências dos Correios que prestem o serviço como “Banco Postal”, nos termos da Lei n.º 7.182/83.

Ressalto que, caso não sejam promovidas a adequação no prazo determinado, poderá alterar a forma da obrigação de fazer para que a ECT seja proibida de prestar atendimento como Banco Postal por meio de suas agências até que haja regularização do seu sistema de segurança, com esteio no art. 461 do CPC.

Considerando que houve ampliação da eficácia subjetiva do processo, confirmo os efeitos da antecipação de tutela (f. 602/615), estendendo-se os seus efeitos em relação à União, principalmente quanto ao item 2 desta sentença.

Quanto ao prazo concedido para a adequação das agências, impõem-se algumas considerações. Na decisão de f. 602/615 30, foi concedido o prazo de 180 para que os réus promovessem a adequação da estrutura das agências dos Correios que atuam como Banco Postal nos municípios que integram a competência territorial desta Seção Judiciária, segundo o modelo aprovado pela Polícia Federal. Tal decisão não foi modificada pelas instâncias superiores. Os réus foram intimados em 16.02.2011, sendo que o prazo se encerrou em 14.08.2011, um domingo,prorrogando-se o mesmo para o primeiro dia útil seguinte, qual seja, segunda, 15.08.2011. Ocorre que a União se contrapôs ao dever de aprovação e de fiscalização, sendo que, no curso da lide, este Juízo não estendeu os efeitos da tutela antecipada. Tendo em vista esta situação, é bem provável a necessidade de prazo adicional, contudo este Juízo somente concederá depois de ouvidas ambas as partes, caso seja promovida a execução provisória da sentença. É claro que o prazo já decorrido não servirá de desculpa para que os réus justifiquem não terem feito qualquer planejamento acerca dos custos, da elaboração de edital de licitação e de cronograma de obras.

Saliento que a concessão de prazo adicional não afetará a interdição das agências referidas no item 2.2 da decisão de f. 602/615. Considerando que os assaltos continuam ocorrendo, poderá ser deferida a interdição do serviço de correspondentes bancários em outras agências dos Correios. Tais questões serão examinadas em sede de execução provisória da sentença

Assim, intimar o MPF, em querendo, promover a execução provisória da sentença, nos termos do art. 475-O do CPC.

Mantenho a multa diária em R$ 2.000,00 (dois mil reais) para o descumprimento de cada uma das agências que esteja funcionando em desacordo com o conteúdo desta sentença, a qual incidirá automaticamente após o decurso do prazo sem cumprimento e reverter-se-á em favor do Fundo a que se refere o art. 13

30 A ECT e o Bradesco foram intimados em 16.02.2011

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da Lei 7.347/85. Outrossim, arbitro multa diária em R$ 2.000,00 (dois mil reais) para a União no tocante ao item 2 desta sentença.

Sem condenação na União e dos Correios no pagamento das custas. A 1ª por ser isenta e caracterizar a confusão. A 2ª porque, embora seja pessoa privada de direito privado, o art. 12 do Decreto-Lei n.º 509/68 31 lhe estendeu as prerrogativas da Fazenda Pública. Já o Bradesco fica condenado a pagar 1/3 das custas devidamente atualizadas.

No tocante aos honorários advocatícios, não é o caso de condenação em favor do Ministério Público, pois: 1) estes se destinam a remunerar o advogado, dispondo o art. 23 da Lei 8.906/94 [Estatuto da OAB] que “os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado [...]”; 2) o art. 128, § 5º, II, da Carta Magna, veda expressamente a percepção de honorários pelos membros do Ministério Público, sendo a interposição de ação civil pública função institucional do “Parquet” 5; 3) por simetria de tratamento, na hipótese de quando o autor da ação civil pública é vencido, não se fala em honorários, nos termos do precedente abaixo:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – MINISTÉRIO PÚBLICO AUTOR E VENCEDOR. 1. Na ação civil pública movida pelo Ministério Público, a questão da verba honorária foge inteiramente das regras do CPC, sendo disciplinada pelas normas próprias da Lei 7.347/85. 2. Posiciona-se o STJ no sentido de que, em sede de ação civil pública, a condenação do Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível na hipótese de comprovada e inequívoca má-fé do Parquet. 3. Dentro de absoluta simetria de tratamento e à luz da interpretação sistemática do ordenamento, não pode o parquet beneficiar-se de honorários, quando for vencedor na ação civil pública. Precedentes. 4. Embargos de divergência providos. 32

Juntar a resenha processual dos AGRT n.ºs 114353/SE e 114204/SE, SL4232-SE e SLS 1396 e dos respectivos acórdãos no site da Internet.

Analisando os anexos do presente feito, verifico que o anexo II, em verdade, corresponde ao primeiro volume do ICP nº 1.35.000.001147/2010-26, enquanto o anexo II corresponde ao segundo volume do citado procedimento. Assim, determino que a Secretaria proceda à correção da autuação dos anexos.

Sentença sujeita a reexame necessário. Decorrido o prazo sem a interposição do recurso, remeter os autos ao eg. TRF da 5ª Região.

31 DL 509/68, Art. 12 - A ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação a imunidade tributária, direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no concernente a foro, prazos e custas processuais. 32 STJ, EREsp 895530/PR, 1ª Seção, Rel. Min. ELIANA CALMON, julgado em 26/08/2009, DJe 18/12/2009

Processo nº 0005895-25.2010.4.05.8500

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Publicar. Registrar. Intimar.

Aracaju, 28 de outubro de 2011.

Fábio Cordeiro de Lima Juiz Federal Substituto da 1ª Vara/SE