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ESPACIALIZAÇÃO DO DESMATAMENTO E ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA REGIÃO DA BACIA DO ALTO PARAGUAI MATO-GROSSENSE Autores: Valdemir Lino do Nascimento [email protected] * Edinéia Aparecida dos Santos Galvanin [email protected]* Magaywer Moreira de Paiva [email protected]* RESUMO A bacia do Alto Paraguai é caracterizada como uma região de alta força ecológica e de grande interesse nacional e mundial. A área de estudo compreende o Pantanal, um dos ecossistemas mais ricos do Brasil e considerado patrimônio natural mundial e reserva da biosfera. Destaca-se na região a exploração de terras para a pecuária e para o cultivo das culturas de soja, milho, cana de açúcar. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é apresentar os dados de desmatamento e Índice de Desenvolvimento Humano na Bacia do Alto Paraguai no período de 2008 a 2010. Os dados foram obtidos a partir do levantamento de dados sobre o desmatamento e Índice de Desenvolvimento Humano no banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e dados do projeto de monitoramento do desmatamento na Amazônia Legal. As análises estatísticas foram realizadas a partir do teste de normalidade de Kolmogorov Smirnov e da análise de correlação de Spearman. Os resultados mostram o município com maior área de desmatamento, Tangará da serra com 97,17 km², e menor Índice de Desenvolvimento Humano, Porto Estrela com 0.599, na Bacia do Alto Paraguai. Estatisticamente não houve correlação entre as variáveis em estudo, no entanto, deve-se analisar outras variáveis para que as áreas desmatadas não aumentem de forma gradativa no decorrer dos anos, para isso a legislação ambiental precisa ser respeitada e cumprida caminhando lado a lado com novas técnicas de desenvolvimento e uso da terra. Os resultados fornecem * Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)

admin.egal2017.bo · Web viewA área de estudo compreende o Pantanal, um dos ecossistemas mais ricos do Brasil e considerado patrimônio natural mundial e reserva da biosfera. Destaca-se

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ESPACIALIZAÇÃO DO DESMATAMENTO E ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA REGIÃO DA BACIA DO ALTO PARAGUAI MATO-GROSSENSE

Autores: Valdemir Lino do Nascimento [email protected]*

Edinéia Aparecida dos Santos Galvanin [email protected]*Magaywer Moreira de Paiva [email protected]*

RESUMO

A bacia do Alto Paraguai é caracterizada como uma região de alta força ecológica e de grande interesse nacional e mundial. A área de estudo compreende o Pantanal, um dos ecossistemas mais ricos do Brasil e considerado patrimônio natural mundial e reserva da biosfera. Destaca-se na região a exploração de terras para a pecuária e para o cultivo das culturas de soja, milho, cana de açúcar. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é apresentar os dados de desmatamento e Índice de Desenvolvimento Humano na Bacia do Alto Paraguai no período de 2008 a 2010. Os dados foram obtidos a partir do levantamento de dados sobre o desmatamento e Índice de Desenvolvimento Humano no banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e dados do projeto de monitoramento do desmatamento na Amazônia Legal. As análises estatísticas foram realizadas a partir do teste de normalidade de Kolmogorov Smirnov e da análise de correlação de Spearman. Os resultados mostram o município com maior área de desmatamento, Tangará da serra com 97,17 km², e menor Índice de Desenvolvimento Humano, Porto Estrela com 0.599, na Bacia do Alto Paraguai. Estatisticamente não houve correlação entre as variáveis em estudo, no entanto, deve-se analisar outras variáveis para que as áreas desmatadas não aumentem de forma gradativa no decorrer dos anos, para isso a legislação ambiental precisa ser respeitada e cumprida caminhando lado a lado com novas técnicas de desenvolvimento e uso da terra. Os resultados fornecem subsídios para que os responsáveis e interessados possam visualizar, entender e mensurar o impacto do desmatamento na Bacia do Alto Paraguai no estado de Mato Grosso.

Palavras-chaves: Pantanal, Indicador Social, Geotecnologias.

INTRODUÇÃO

O rio Paraguai nasce em território brasileiro e sua bacia hidrográfica possui uma área de 1.095.000 km² (Harris et al., 2006). A Bacia do Alto Paraguai (BAP) abrange uma área de aproximadamente 600.000 km² na América do Sul, com 363.376 km² no território brasileiro e 174.104 km² situados no estado de Mato Grosso (Silva et al., 2014). O Pantanal brasileiro contido na BAP, possui uma extensão de 147.574 km², é considerado a maior área úmida do

*Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)

planeta e foi declarado Patrimônio Nacional pela Constituição Brasileira de 1988, abriga sítios considerados de importância internacional pela Convenção de Áreas Úmidas (RAMSAR), além disso, contempla áreas de Reserva da Biosfera, declaradas pela UNESCO em 2000 (Harris et al. 2006).

Na BAP, várias ações do homem no meio ambiente são provenientes dos sistemas produtivos, baseados na pecuária de corte e na agricultura de grãos, principalmente a soja, milho e algodão. Essas ações tiveram início nas décadas de 70 e 80, devido a intensa ocupação da BAP que foram apresentadas através de planos governamentais como o objetivo de expandir as áreas de produção agrícola e pastagens (Silva et al., 2014).

O estado de Mato Grosso apresentou um crescimento considerável em sua economia ao longo dos anos, através da entrada de commodities agrícolas em grande escala nas décadas de 80 a 90 (Azevedo e Pasquis, 2007). O Estado é reconhecido nacionalmente principalmente por sua produção agrícola, marcado por seu rápido processo de desenvolvimento e forte economia. Seu alto desempenho se deve ao atual modelo de agricultura que combina monocultura, mecanização, uso de adubos químicos e de produtos de tratamento fitossanitários (Silva et al, 2014).

Um dos indicadores mais conhecidos para medir o desenvolvimento da população é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O desenvolvimento social de uma população indicado pelo IDH combina três componentes básicos: a longevidade, a educação e a renda (Silva et al, 2014).

Embora a produção agrícola, especialmente a soja, tenha possibilitado o crescimento e desenvolvimento econômico (PIB), contribuindo para melhorar o padrão e a qualidade de vida, concomitantemente tem gerado inúmeros impactos ambientais, neste caso quanto maior o estado de consolidação agrícola, maiores os impactos ambientais, influenciando, de forma positiva ou não, no IDH. A medida que a fronteira agrícola avança e inovações são introduzidas, mudanças radicais são provocadas na estrutura da região (Zerwes e Schwenk, 2011).

Das mudanças provocadas pelo homem, pode-se considerar o desmatamento como um dos impactos mais marcantes sobre os recursos naturais, pois fragmenta os ecossistemas e substitui a vegetação original para implementação da pecuária, cultivos de grãos e edificações. A cobertura vegetal original é um indicador importante da preservação ambiental de uma região. Pois, proporciona proteção ao solo, diminuindo o transporte de sedimentos e o assoreamento dos corpos d´água, além de servir de habitat para animais silvestres, contribuindo para manutenção da biodiversidade (Silva, Abdon e Moraes, 2010).

Porém, pesquisas que relacionam o desmatamento, PIB e IDH da BAP são pouco discutidas, mesmo gerando dados de grande importância para análise da região que permitiram a compreensão espacial dos índices e o progresso do desenvolvimento ao longo do tempo, como também, desempenhando papel de subsídio a autoridades públicas e privadas para o

planejamento ambiental. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é relacionar os dados de desmatamento e IDH na BAP no período de 2008 a 2010.

DESMATAMENTO - IDH

Entender as causas do desmatamento é complexo, isso porque são afetadas por fatores como: abordagem metodológica, qualidade dos dados, distinção entre desmatamento e expansão da fronteira agrícola, nível da análise (micro, macro) e ainda a pouca identificação de áreas próprias para extração de madeira (CUNHA, 2013).

As causas do desmatamento não podem ser reduzidas a uma única variável, existem vários fatores que contribuem para a degradação ambiental: expansão agrícola, crescimento populacional, governança publica, comercio de madeiras e a construção de estradas, essas podendo agir de forma diferente dependendo da dinâmica temporal e espacial de cada região (GEIST e LAMBIN, 2001). Diante desses complexos fatores que acarretam no desmatamento torna-se difícil desenvolver políticas universais que busquem o controle do processo (FOLMER e KOOTEN, 2006).

Scrieciu (2004) investigou as causas do desmatamento através de uma regressão global e conceituou que uma vez que os processos de desmatamento diferem de um nível local para um nível global e dependem especificamente da situação de cada pais torna-se deficiente a identificação e quantificação das causas do desmatamento, para isso as causas devem ser analisadas de forma mais desagregada, esta ideia ou posição também foi compartilhada por outros autores como Geist e Lambin (2001) e Folmer e Kooter (2006).

Assim alguns fatores considerados principais tem sido questionado como distribuição de renda, expansão da fronteira agropecuária, comercio de madeira e governança (ALGELSEN e KAIMOWITZ, 1999).

Eventualmente no que se deseja estudar um território específico, entre micro a macrorregião, procura-se, definir a partir de suas características, habilidades e vocações para a produção e adaptação urbana, expor, entender como os processos relacionados à mobilidade territorial pode afetar o modo de vida de uma comunidade. Assim, os dados populacionais, em especial sobre o Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), torna-se elemento chave para explicação da dinâmica territorial, quando analisamos as estratégias para o desenvolvimento socioespacial das regiões produtivas (SILVA; NASCIMENTO; FREITAS, 2006).

Uma população é definida como conjunto de habitantes de um determinado território, país, região etc. (FERREIRA, 1986). Para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2009), o desenvolvimento humano, mensurado através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem como objetivo oferecer um contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, o IDH pretende medir o nível de desenvolvimento humano a partir da renda per capita, grau de escolaridade e expectativa de vida de sua população ao nascer.

O índice varia de 0 a 1, onde 0 indica nenhum desenvolvimento humano e 1 o total de desenvolvimento humano, sendo classificado da seguinte forma: O índice de 0 a 0,499 é considerado muito baixo; 0,5 a 0,599 baixo; 0,6 a 0,699 médio; de 0,7 a 0,799 alto; e de 0,8 a 1,0 muito alto (PNUD, 2009).

Material e Métodos

A área de estudo está situada na BAP mato-grossense (Figura 1), com foco principal nos 53 municípios situados em sua área. A BAP compreende no estado de Mato Grosso cerca de 174.104 Km² ou 19,27% de sua área declarada de interesse ecológico pela Lei Estadual número 6.758 de 1996 (Longhi et al., 2006).

Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: Adaptado pelo autor.

A coleta dos dados de desmatamento foi por meio de tabulação das tabelas obtidas do Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do Solo na Bacia do Alto Paraguai – Porção Brasileira, período de analise 2008 – 2010, relatório esse que tem como principais responsáveis as organizações: Conservação Internacional (CI), Ecologia e Ação (ECOA), Fundación AVINA, Instituto SOS Pantanal e World Wide Fund for Nature (WWF-Brasil).

Para obter os dados de IDH, foram realizadas coletas no Banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da WWF-Brasil.

Os dados foram tratados e tabulados em planilhas no Excel@2013 e submetido a um teste de normalidade de Kolmogorov Smirnov e na análise da associação do desmatamento e IDH, foi utilizada a correlação de Spearman no software RStudio Project 1.0, com um nível de significância de p < 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificamos que os dados não provêm de uma distribuição normal, identificou-se o p-valor menor que 0,05 (nível de confiabilidade), assim rejeitamos H0 (variável provém de uma distribuição normal) e aceitamos H1 (variável não provém de uma distribuição normal).

Logo foram submetidos a análise de correlação não paramétrica de Spearman, utilizando o nível de significância de 5% (p≤0,05). As hipóteses estabelecidas para o teste foram: H0 (o coeficiente ρ é igual a zero) e H1 (o coeficiente ρ é diferente de zero), obteve-se um p valor de -0.24321, maior que o nível de significância (0,05), nesse caso aceitamos H0 verificando que não houve uma relação de causalidade entre as variáveis analisadas.

Partimos então para análise dos municípios em relação ao desmatamento e IDH. A Figura 2 mostra os municípios com maior desmatamento em 2010, levando em consideração os municípios selecionados com uma área de desmatamento maior que 20 km².

1. Acorizal2. Alto Araguaia3. Alto Garça4. Alto Paraguai5. Alto Taquari6. Araputanga7. Arenápolis8. Barão de

Melgaço9. Barra do

Bugres10. Cáceres11. Campo Verde12. Chapada dos

Guimarães13. Cuiabá14. Curvelândia15. Denise16. Diamantino17. Dom Aquino18. Figueirópolis

D’Oeste19. Glória

D’Oeste20. Guiratinga21. Indiavaí22. Itiquira23. Jaciara24. Jangada25. Jauru26. Juscimeira

27. Lambari D’Oeste28. Mirassol D’Oeste29. Nobres30. Nortelândia31. Nossa Senhora do

Livramento32. Nova Brasilândia33. Nova Marilândia34. Nova Olímpia35. Pedra Preta36. Planalto da Serra37. Poconé38. Pontes e Lacerda39. Porto Esperidião40. Porto Estrela41. Poxoréo42. Reserva do Cabaçal43. Rio Branco44. Rondonópolis45. Rosário Oeste46. Salto do Céu47. Santo Afonso48. Santo Antônio do

Leverger49. São José do Povo50. São José dos Quatro

Marcos51. São Pedro da Cipa52. Tangará da Serra53. Várzea Grande

MUNICÍPIOS

Figura 2: Desmatamento por municípios. Fonte: PRODES, 2015.

Neste estudo verificamos que dentre os municípios com maior desmatamento se posicionam, Tangará da Serra, Rosário Oeste e Santo Antônio do Leverger, liderando o rank com 97,17 km², 92,97 km² e 88,51 km², respectivamente. No estudo realizado por Sena et al. (2016) o município de Glória d’Oeste foi o que mais desmatou no período analisado 2002 a 2008. Os dados tabulados proporcionam uma visão entre o desmatamento e o

IDH em cada município, denotando-se que o crescimento do IDH não evolui de forma a ser significante conforme a quantidade desmatada (Tabela 1).

Tabela 1- Municípios situados na BAP com nível de Desmatamento e IDH.

Municípios Desmatamento/km²

IDH/hab. Municípios Desmatamento

/km²IDH

/hab.

Acorizal 1.97 0.628 Mirassol D'oeste 4.67 0.704Alto Araguaia 24.46 0.704 Nobres 19.64 0.699Alto Garças 5.4 0.701 Nortelândia 2.39 0.702

Alto Paraguai 16.02 0.638 Nossa Senhora Do Livramento 38.03 0.638

Alto Taquari 0.51 0.705 Nova Brasilândia 61.66 0.651Araputanga 0.9 0.725 Nova Marilândia 35.76 0.704Arenápolis 1.18 0.704 Nova Olímpia 1.49 0.682Barão De Melgaço 27.89 0.600 Pedra Preta 26.07 0.679

Barra Do Bugres 24.71 0.693 Planalto Da Serra 12.93 0.656Cáceres 52.77 0.708 Poconé 38.47 0.652Campo Verde 0.79 0.750 Pontes E Lacerda 1.44 0.703Chapada Dos Guimaraes 45.99 0.688 Porto Esperidião 73.46 0.652

Cuiabá 13.53 0.785 Porto Estrela 7.79 0.599Curvelândia 0.23 0.690 Poxoréo 23.14 0.678

Denise 2.74 0.683 Reserva Do Cabaçal 11.93 0.676

Diamantino 6.76 0.718 Rio Branco 0.65 0.707Dom Aquino 5.08 0.690 Rondonópolis 2.92 0.755Figueirópolis D'oeste 0.93 0.679 Rosário Oeste 92.97 0.650

Gloria D'oeste 1.1 0.710 Salto Do Céu 14.68 0.666Guiratinga 8.17 0.705 Santo Afonso 13.06 0.689

Indiavaí 0.42 0.661 Santo Antônio Do Leverger 88.51 0.656

Itiquira 23.78 0.693 São José Do Povo 1 0.661

Jaciara 1.64 0.735 São José Dos Quatro Marcos 5.63 0.719

Jangada 2.62 0.630 São Pedro Da Cipa 2.91 0.660

Jauru 1.13 0.673 Tangará Da Serra 97.17 0.729

Juscimeira 6.1 0.714Várzea Grande 7.89 0.734

Lambari D'oeste 60.3 0.627

Fonte: Brasil, W.W.F., 2010. Adaptado pelo autor.

A economia no município de Tangará da Serra é incentivada pela (Lei nº 3445/2010 e decreto 363/2010 de 23 de novembro de 2010), oferecendo incentivos fiscais para instalação de indústrias como a doação do terreno, isenção de impostos municipais e isenção do ICMS através do Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (PRODEIC). A cultura de soja representa cerca de 20% da produção do estado, sua pecuária é baseada na fase de cria, recria e corte tendo como destaque a avicultura se colocando na 3ª posição no estado e o rebanho suinícola sendo o 16º no estado (NEPEC, 2011).

No estado de Mato Grosso o setor agrícola é o atual agente de pressão na vegetação com interface de degradação colocando em risco toda fauna e flora local (SENA et al, 2016). Esse setor é apontado em vários trabalhos teóricos pela alteração do preço de suas commodities agrícola (ANGELSEN e KAIMOWITZ, 1999; ANGELSEN, 1999; GEIST e LAMBIN, 2002). O principal meio para se evitar o desmatamento é acabando com a especulação de terras, mesmo estando desmatadas ou em processo de desmatamento.

O desmatamento é sem dúvida responsável por 22% das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) (BRASIL, 2013). Os agentes que colaboram para o desmatamento são os preços dos insumos, produtos agrícolas, os preços da madeira, a liberdade de crédito rural, as rendas da população rural, o crescimento tecnológico nas fronteiras agrícolas e o alcance a estradas. Caminhando lado a lado com esses fatores está o crescimento da população, o crescimento econômico, o nível de renda, o progresso tecnológico, a dívida externa, a liberalização econômica e a desvalorização cambial como fatores implícitos no desmatamento (ANGELSEN e KAIMOWITZ, 1999).

Na análise do IDH, os municípios foram selecionados de acordo com a faixa de desenvolvimento do PNUD conforme Figura 3.

ACORIZAL

ALTO G

ARÇAS

ALTO TAQUARI

ARENÁPOLIS

BARRA DO BUGRES

CAMPO VERDE

CUIABÁ

DENISE

DOM AQUINO

GLORIA D'O

ESTE

INDIAVAÍ

JACIARA

JAURU

LAMBARI D

'OESTE

NOBRES

NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO

NOVA MARILÂ

NDIA

PEDRA PRETA

POCONÉ

PORTO ESPERIDIÃO

POXORÉO

RIO BRANCO

ROSÁRIO O

ESTE

SANTO AFONSO

SÃO JOSÉ DO POVO

SÃO PEDRO DA CIPA

VÁRZEA GRANDE

0.0000.2000.4000.6000.800

Índice de Desenvolvimento Humano

IDH

Figura 3: Índice de Desenvolvimento Humano dos principais municípios. Fonte: PNUD, gráfico elaborado pelo autor.

Na Figura 3 os municípios foram selecionados com IDH acima de 0,600. Os municípios que se destacaram no rank do IDH são: Cuiabá, Rondonópolis e Campo Verde. Os municípios que obtiveram o menor IDH foram Porto estrela 0.599, Barão de Melgaço 0.600 e Lambari D’Oeste 0.627, já em relação ao desmatamento alguns deles entram na análise, com desmatamento maior que 20 km², tais como: Lambari D’Oeste 60.3 km² e Barão de Melgaço com 27.89 km², outros se posicionam bem abaixo 20 km² acima como, Curvelândia 0.23 km², Indiavaí 0.42 km² e Alto Taquari com 0.51 km². Esses municípios na pesquisa de Dassow et al. (2003) se posicionavam com a menor renda per capita.

A capital do Estado, Cuiabá, continua com o IDH Alto 0,785, referentes aos estudos realizados por DASSOW et al. (2003), Rondonópolis 0,755 e Campo Verde com 0,750 e suas áreas desmatadas são 13,53 km², 2,92km² e 0,79 km², respectivamente. Nota-se que os municípios com maior IDH não mantém relação com o desmatamento da área em estudo.

No ano de 2006 Cuiabá volta-se ao atento a recuperação do rio Cuiabá, os poderes públicos desenvolveram projetos para o tratamento de aguas residuais, recuperação da mata ciliar, proibições de pesca em épocas da piracema e criação de áreas de preservação em nascentes dos rios que formam a bacia e apenas 1,48% da população reside em área rural comparado com Tangará da Serra 10%, maior município com desmatamento, Cuiabá fica com 8,52% a mais residindo na zona urbana (FEMA, 2006).

Os municípios com maior IDH estão entre os menores valores de desmatamento, possuem um controle sobre seus recursos ofertados a sua população. Conforme o PNUD (2010) estudos mostram que o aumento no desmatamento acompanha um elevado aumento no número de doenças infecciosas como a malária, dengue, mal de Chagas, leishmaniose e os hantavírus.

Young e Neves (2009) destacam que, nos municípios onde ocorreu mais desmatamento nos estudos realizados na Mata Atlântica no período 1985-1996, o IDH cresceu menos do que na maioria dos demais municípios. Isso por falta de instabilidade social e ausência de estrutura adequada de serviços básicos como saúde e educação e também a produção de direitos por propriedades. O que vem a corroborar com o presente estudo, em que o município de Tangará da Serra obteve o maior nível de desmatamento no período, no entanto, seu IDH permaneceu na mesma Faixa de desenvolvimento, Curvelândia com a menor taxa de desmatamento 0,23 km² e com o IDH de 0.690.

Diante desses resultados de desmatamento e IDH nos municípios localizados na BAP mato-grossense, nota-se claramente a necessidade de políticas e fiscalização no contexto de preservação do ambiente, mesmo em municípios com desmatamento baixo a municípios com o IDH alto. Como mencionado aqui o desmatamento não tem correlação com o IDH, ou seja, não caminham juntos para um acréscimo ou decréscimo em ambos os setores. Os governantes precisam visualizar, perceber, entender que desmatamento desenfreado e sem levantamento preliminar gera custos elevados ao município e grandes danos ao ambiente.

Para isto é necessário um Estado com políticas fundiárias claras, que possua força no controle do uso da terra e lute para inibir o uso predatório e especulativo, como demonstrado nos estudos de Deininger (2003), Reydon (2007) e FAO (2009).

CONCLUSÕES

Levantamentos de desmatamento são realizados por vários órgão governamentais, todos no intuito de fornecer dados que possam auxiliar na gestão dos recursos naturais.

Para uma visualização de maior impacto utiliza-se os dados de desmatamento em relação com outros dados como: IDH, PIB, expansão agrícola, produção, entre outros. Nesta pesquisa analisou-se o desmatamento e o IDH tendo como foco os municípios situados na BAP. Analisou-se a possível relação entre essas variáveis, no intuito de verificar uma relação de causalidade.

Embora, os dados não apresentem associação direta é possível observar o município com maior desmatamento no ano de 2010, Tangará da Serra, município que veem crescendo territorialmente e economicamente a cada ano, com culturas de soja, cana-de-açúcar e outras culturas consorciadas, além da grande produção de avicultura e suinicultura.

Nesse contexto, as pesquisas com este objetivo são importantes para produzir dados que possam colaborar com a gestão ambiental.

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