O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Material Teórico
• Fluxo de Caixa Livre – FCL
Perceba que você deve estar sempre atento para o fato de todo
investimento requerer ações coordenadas de recursos financeiros,
humanos, intelectuais, materiais e de tempo que,
juntos, permitem o desenvolvimento do negócio e o retorno do
investimento em linha com o risco tomado pelos
administradores.
· Nesta aula, discutiremos diversos aspectos relativos à
questão do orçamento de capital, as decisões de investimento e o
importante tema relacionado ao nível de endividamento nas empresas
modernas. Iniciaremos nosso estudo tratando do conceito de
Orçamento de Capital e da questão dos riscos relacionados ao
investimento. E, em seguida, discutiremos os impactos do
investimento na Demonstração de Fluxo de Caixa de uma empresa e
todos os aspectos econômico-financeiros a ele relacionados, bem
como o conceito de Demonstração de Resultado e de Fluxo de Caixa
Ajustado.
· Concluiremos, com o estudo a respeito do conceito de
estrutura de capital e de ‘alavancagem financeira’, discutindo o
papel e as alternativas de financiamento de curto e longo prazo
hoje disponíveis para o administrador.
O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
• Estrutura de Capital e as Decisões de Financiamento
• O Conceito de Alavancagem Financeira
• As Alternativas de Endividamento e Levantamento de Recursos
• O Financiamento de Curto e Longo Prazo
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Contextualização
Estudar Orçamento de Capital, Decisões de Investimento e
Endividamento nas empresas é tratar de um tema muito valioso e
essencial para o dia a dia do trabalho do profissional de finanças.
Pensar, portanto, a respeito do tema planejamento financeiro requer
uma visão estratégica e uma abstração sempre pautada na correta
mensuração das parcelas de recursos que deverão ser destinadas ao
item investimento. Assim sendo, o estudante de finanças ou
profissional deve não apenas enxergar estes temas discutidos nesta
Unidade IV como essenciais mais, também, críticos por atenderem
diretamente às necessidades da empresa, seu planejamento
estratégico, e a importante questão relativa à disponibilidade de
caixa nos períodos analisados.
O Orçamento de Capital
Iniciemos o estudo sobre o tema Orçamento de Capital buscando
compreender a sua importância no processo de administração
financeira nas Organizações modernas. Primeiramente, seria
importante destacarmos que, na gestão financeira de uma empresa,
normalmente, veremos todo item de natureza financeira (voltado ao
investimento de curto ou médio prazo) normalmente ser classificado
como ‘temporário’, ou seja, passível de ser resgatado no curto ou
médio prazo.
Quando pensamos, entretanto, em Orçamento de Capital, estamos nos
referindo ao processo de tomada de decisão e sua relação apenas com
os investimentos de longo prazo contabilizados e reconhecidos no
Balanço Patrimonial de uma empresa. Investimentos estes,
normalmente, classificados sob a conta contábil ‘Investimentos
Permanentes’ dentro do Ativo Permanente.
Segundo Hoji (2008), o Orçamento de Capital exige ainda que o
financista proceda com cuidado e atenção durante o processo de
contabilização dos investimentos no Balanço Patrimonial e isto, em
razão do risco envolvido no processo de investimentos.
“O orçamento de capital é um programa de aplicação de capital de
longo prazo vinculado ao plano estratégico e, portanto, trata de
investimentos permanentes. As decisões relacionadas ao orçamento de
capital devem ser tomadas somente após profundo estudo, pois uma
vez iniciado o processo de dispêndio de capital, sua interrupção ou
reversão não será fácil.” Hoji (2008) p. 166.
Logo, todo trabalho voltado ao planejamento financeiro de uma
empresa deverá sempre pautado na correta mensuração das parcelas de
recursos que deverão ser destinadas ao investimento permanente e ao
investimento temporário, seja no curto, médio ou longo prazo. Ao
proceder desta forma, o financista estará atendendo às necessidades
da empresa no que se refere ao planejamento estratégico nos
períodos analisados e a disponibilidade (ou não) de recursos
(caixa) nestes mesmos períodos. Aliás, é sempre bom lembrar que –
em muitas situações – a empresa pode preferir priorizar a liquidez.
E nestes casos, portanto, esta terá grande parte de seus recursos
alocados em títulos e aplicações financeiras de curto prazo, ou
seja, fora do que poderíamos classificar como sendo parte do
Orçamento de Capital.
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Para Pensar
Com relação ao tipo de investimento feito na empresa, reflita e
responda:
- Por que é importante saber diferenciar o investimento permanente
do investimento temporário?
- Qual a relação entre Orçamento de Capital e planejamento
financeiro?
Agora, com base em suas atividades profissionais:
- Como você poderia enxergar a sua atividade profissional (desafios
encontrados no seu dia a dia!) como sendo parte do planejamento
estratégico da empresa onde você trabalha?
Outro ponto importante de análise neste momento é a questão do
risco quando estamos estudando a questão dos investimentos nas
Organizações. Sabemos que um investimento é chamado ‘livre de
risco’ quando o seu retorno esperado no futuro é positivo e certo.
E como nunca teremos certeza absoluta dos desempenhos futuros de um
negócio, podemos facilmente afirmar que todo projeto ou
investimento efetuado por uma empresa – e, portanto, parte
integrante do seu Orçamento de Capital – nunca será totalmente
livre de risco por mais interessante, vantajoso e importante que
possa vir a ser para a Administração.
Glossário Ativos Livres de Risco - Chamamos de ativos livres
de risco o investimento aquele cujo retorno é certo e constante ao
longo do tempo analisado. Assim sendo, os investidores,
normalmente, classificam como ativos livres de risco (ou em inglês,
risk free) os títulos do governo (Títulos do Tesouro) que garantem
taxas de retorno certas e sem riscos ao longo do tempo.
Investimento Permanente
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Glossário Ativo - São todos os bens e direitos de propriedade
e controle da empresa que podem ser medidos em dinheiro. Os bens e
direitos presentes no Ativo permitem que a empresa opere e obtenha
benefícios no presente e no futuro de suas atividades. Como exemplo
de Bens: caixa, aplicações financeiras, máquinas, equipamentos,
imóveis, entre outros. E como exemplo de Direitos: contas a
receber, duplicatas a receber, títulos de crédito, entre
outros.
Segundo Iudícibus (2009), para ser ativo é necessário que o item
preencha ao mesmo tempo quatro requisitos básicos:
1. Constituir bem ou direito para a empresa.
2. Ser de propriedade, posse ou controle de longo prazo da
empresa.
3. Ser mensurável monetariamente.
4. Trazer benefícios presentes ou futuros.
É importante destacar que, muitos dos investimentos efetuados em
máquinas e equipamentos, por exemplo, transformam-se em despesas
através da taxa de depreciação aplicada ao valor do bem ao longo do
seu tempo de vida útil ou através da amortização. Mas, agora, vamos
apresentar a definição de algumas categorias de investimentos
conforme sua classificação no
Ativo Permanente:
• Conta Investimento: Todo investimento que uma empresa efetua em
outras empresas como, por exemplo, participações acionárias.
Investimentos em bens não ligados diretamente à operação como, por
exemplo, terrenos.
• Conta Imobilizado: Todo investimento tangível (mensurável)
que esteja diretamente ligado ao principal negócio da empresa como,
por exemplo, terrenos, edifícios, máquinas e equipamentos. No
Balanço Patrimonial aparecerá o valor líquido do Investimento, ou
seja, já descontado do valor de sua depreciação.
Para Pensar
Pense na empresa onde você trabalha, ou que tenha trabalhado. Ou,
ainda, numa empresa que você conheça sua operação e suas atividades
financeiras.
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Aspectos Econômico-Financeiros do Investimento
Segundo Hoji (2008, p. 167), a tomada de decisão de investir ou não
sempre esbarra em algumas questões cruciais que o administrador
precisa fazer como, por exemplo:
• Devo comprar equipamento novo, ou fazer a manutenção do
equipamento antigo?
• Devo instalar uma fábrica nova, ou aumentar a capacidade de
produção da fábrica existente?
• Devo gastar em pesquisa e desenvolvimento, ou comprar tecnologia
já existente no mercado?
E, além destas perguntas, o administrador financeiro deve,
obrigatoriamente, conseguir avaliar econômica e financeiramente
cada alternativa escolhida isto porque, tão importante quanto à
escolha da opção de investimento é a viabilidade
econômico-financeira do mesmo. Esta análise de viabilidade,
normalmente, deve ser feita em conjunto com a análise de risco do
projeto – conforme discutimos anteriormente – que pressupõe
simulações de cenários, retornos sobre o investimento, entre outras
avaliações.
Neste sentido, sabemos que toda análise de viabilidade
econômico-financeira de um projeto considera que os desembolsos
iniciais de caixa exigidos para qualquer investimento serão menores
que os retornos (também sob a forma de caixa!) obtidos no futuro
com os benefícios decorrentes do investimento.
Assim, devemos sempre buscar um Fluxo de Caixa de um projeto
de investimento que seja positivo! Ou seja, que esteja, em poucas
palavras, justificando o investimento efetuado na tomada de decisão
do projeto (investimento) por este gerar resultados positivos
(caixa) no futuro após ser colocado em prática pela empresa.
Vejamos, abaixo, uma definição para este conceito de Fluxo de
Caixa, de forma a melhor esclarecer esta nossa discussão:
Glossário Fluxo de Caixa: Em um projeto de investimento, o conceito
de fluxo de caixa refere-se à projeção do lucro líquido esperado
nos exercícios futuros com base no volume de investimento,
excluindo- se itens que não afetam o caixa: como a depreciação,
amortização e o investimento.
Fluxo de Caixa Livre – FCL
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Abaixo, apresentamos um modelo de Demonstração de Resultado e
de Fluxo de Caixa Ajustado que nos permite calcular o FCL –
que será a soma do fluxo de caixa líquido disponível para credores
e proprietários no período, após a divisão do FCL por uma taxa de
desconto anual definida pela empresa, sócios ou investidores.
Acima, no exemplo de Demonstração de Resultado e de Fluxo de
Caixa Ajustado da Empresa Alimentícia ABC Ltda., vemos que
depois dos investimentos efetuados em 2012 referentes ao início das
atividades, a empresa começa a operar. A partir de 2013, iniciam-se
as vendas e geram-se resultados (em 2013 e 2014). Vejamos a seguir
algumas conclusões a respeito dos números da empresa:
• A empresa gera um Fluxo de Caixa Ajustado Antes dos Investimentos
que vai aumentando com o tempo. Será nulo em 2012, (período de
investimento) atingindo R$ 33.982 mil em 2014.
• Os Investimentos também crescem de R$ 15 mil nos dois primeiros
anos para R$ 20 mil em 2014.
• Estes Investimentos vão consumindo o Caixa Gerado na operação,
resultando em um Fluxo de Caixa Líquido (FCL) menor ano a
ano.
Entretanto, para os acionistas da empresa, a análise destes fluxos
de caixa livres futuros (FCL) precisam ser analisados a valores
atuais, ou seja, ano de 2012. Logo, estes fluxos são descontados a
uma taxa de desconto de 10% ao ano, conforme apresentado no
Demonstrativo.
Assim, as seguintes operações são necessárias:
• Ano 2012 R$ 15.000 / (1+10%)0 = 15.000,00
• Ano 2013 R$ 17.624 / (1+10%)1 = R$ 16.021,80
• Ano 2014 R$ 13.982 / (1+10%)2 = R$ 11.555,40
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Analisando estes números acima vemos que se faz necessário
observar:
• A Taxa de Desconto aplicada ao FCL: Estes valores encontrados - e
já descontados a valor presente a uma taxa de desconto anual de 10%
- são efetivamente os valores reais obtidos pelos acionistas, como
resultado da operação do negócio, descontados os investimentos
efetuados, e já trazidos a valores presentes a esta taxa de
desconto que estes acharam razoáveis. Importante lembrar também que
taxas de descontos maiores, resultam em valor de Fluxo de Caixa
Líquido (FCL) descontado menor. E que taxas de desconto menores
(por exemplo, 9% a.a.) resultariam certamente em FCL Fluxo de Caixa
Líquido (FCL) descontado maior que o apresentado acima.
• O montante de investimentos realizados: Pelo quadro, acima, vemos
que quanto maior são os valores investidos anualmente, menor é o
Fluxo de Caixa Líquido (FCL) no ano. E isto, apesar de assumirmos
que os investimentos são feitos para o bem da empresa e em linha
com os planejamentos orçamentários e dentro das suas capacidades de
endividamento. Portanto, o investimento deve ser sempre bem
mensurado para poder gerar o melhor resultado decorrente da
somatória dos valores presentes dos fluxos de caixa futuros de
qualquer negócio analisado, aumentando o valor da empresa.
Explore
Vá ao site da CVM ( www.cvm.gov.br) e mais especificamente na
seção que apresenta os Alertas ao Investidor que mostram as
empresas que em determinados períodos deixaram de fornecer as
infor- mações exigidas por lei aos investidores.
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Chegamos até aqui cobrindo todas as principais questões relativas à
decisão de investimento, a questão do orçamento de capital nas
empresas modernas, o conceito de Orçamento de Capital, os
Investimentos Permanentes efetuados pelas empresas, a questão dos
riscos, e alguns dos principais aspectos econômicos e financeiros
relacionados ao investimento e seu impacto no caixa líquido gerado
ao final do período pela empresa.
Você, certamente, percebeu que se trata de um assunto muito
interessante e que oferece excelentes oportunidades de trabalho no
Brasil.
Qual a formação acadêmica, capacidade, qualidade e habilidade você,
portanto, acredita que a profissão de analista de investimentos ou
o analista financeiro exigiria de um profissional nos dias de
hoje?
Estrutura de Capital de uma Empresa e as Decisões de
Financiamento
Sabemos que o capital é todo recurso, ou soma dos montantes
financeiros, disponibilizado para a empresa de forma a permitir a
sua operação. Assim, quando pensamos em capital, estamos nos
referindo às disponibilidades de caixa e financiamentos, contas a
receber, bens e direitos que são colocados à disposição dos
administradores e que têm como finalidade a geração de resultados
econômicos decorrentes da operação do negócio.
Todo o capital de uma firma encontra-se investido em seu Ativo com
o objetivo de gerar retornos adequados e desejados pelos
administradores. Em uma Organização, estes recursos (Capital)
alocados no Ativo são fornecidos por terceiros (como, por exemplo,
bancos e demais instituições financeiras), acionistas e
sócios.
Trocando Ideias
Para ser Ativo é necessário que o item seja um bem ou direito para
a empresa, seja de sua propriedade, posse ou controle de longo
prazo. Bem como, que seja mensurável monetariamente e traga
benefícios presentes ou futuros.
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Estrutura de Capital
Glossário Balanço Patrimonial: O Balanço Patrimonial é composto
pelas contas do Ativo, do Passivo e do Patrimônio Líquido. O
Balanço apresenta uma “fotografia” da empresa e reflete suas
operações, através de suas contas contábeis, já efetuadas no
passado e publicadas em uma data específica.
Apesar de não ser possível estabelecer perfeitamente o que
seria uma estrutura “ótima” de capital para uma determinada
empresa, podemos afirmar, entretanto, que o profissional de
finanças – e responsável pela administração do negócio – pode
escolher a melhor Estrutura de Capital para a empresa segundo as
características de seu negócio e as opções e linhas de
financiamento disponíveis. Sendo então o “ótimo” representado pela
combinação de recursos (capital) de terceiros e próprios que
apresente o menor custo para a empresa.
Assim, observando a figura acima, podemos perceber que a
empresa pode (e deve!) combinar da melhor forma possível fontes de
financiamento de capital de terceiros (sócios, acionistas, bancos
etc.) de forma a minimizar seu custo de capital e maximizar os seus
resultados (ou aumentar a riqueza do negócio). Neste sentido,
vejamos o que pensa um estudioso a respeito deste importante
tema:
“As razões que justificam essa linha de pensamento baseiam-se na
premissa de que o custo médio ponderado de capital (CMPC), composto
pelo capital próprio (Ke) e capital de terceiros (Ki), aumenta à
medida que aumenta o grau de alavancagem financeira (GAF) a partir
de determinado nível de endividamento, pois os fornecedores de
empréstimos elevam a taxa de juros para compensar maiores riscos. O
custo de capital próprio cresce com maior
velocidade do que o custo do empréstimo com o aumento do GAF,
pois os lucros das empresas devem ser descontados a uma taxa mais
elevada, à medida que aumenta o grau de risco financeiro.” (Hoji,
2008, p. 187)
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operacionais e financeiras da empresa no curto, médio e longo
prazo. Não podemos pensar a operação de uma empresa no sistema
capitalista moderno sem que esta apresente algum nível (ou tipo) de
endividamento.
Neste sentido, o grau de alavancagem (ou seja, o nível de
endividamento face ao capital da empresa) deve ser muitas vezes
visto como necessário e como parte de uma estratégia para sustentar
os investimentos e também financiar o dia a dia das suas
atividades. Cabe, portanto, aos financistas compreender estas
necessidades e ajustar o grau de alavancagem ao perfil do seu
negócio, estratégia dos administradores e possibilidades da empresa
em sustentar padrões de endividamento.
Por fim, quando pensamos em endividamento, é necessário que este se
adeque também à capacidade de geração de caixa da empresa
analisada, e isto como resultado de suas vendas e demais atividades
comerciais.
O Conceito de Alavancagem Financeira
Segundo Hoji (2009, p. 189), a alavancagem financeira ocorre quando
o capital de terceiros produz efeitos sobre o patrimônio Líquido. O
processo é como se o capital de terceiros, utilizando- se de uma
“alavanca”, produzisse efeitos (positivos ou negativos) sobre o
patrimônio líquido.
Assim, muitas vezes, o capital de terceiros – representado
pelas dívidas ou recursos de sócios e acionistas – pode “valorizar”
o Patrimônio Líquido da empresa, por financiar de forma adequada as
necessidades de capital de giro da empresa financiar seus
investimentos e possibilitar o “máximo” desempenho de suas
atividades operacionais e comerciais, por exemplo. Por outro lado,
temos muitas vezes este capital de terceiros gerando nenhum impacto
no Patrimônio Líquido, o que o autor chama de “alavancagem
financeira neutra”. Em uma terceira situação, temos o capital de
terceiros muito caro e desproporcional, que acaba por depreciar o
valor econômico do Patrimônio Líquido.
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Logo, as riquezas de uma empresa são geradas pelos seus ativos que
são, em última análise, sempre financiados seja pelo seu capital
próprio, ou capital de terceiros. Neste sentido, o aumento do valor
(ou riqueza de qualquer empresa) para os seus acionistas ou sócios,
sempre exigirá uma administração econômico-financeira que
possibilite que os indicadores financeiros representados pelo
Retorno sobre o Ativo Total (RAT) e pelo Retorno sobre o Patrimônio
Líquido (RPL) sejam superiores ao custo deste mesmo capital próprio
e de terceiros.
Vejamos agora as definições dos indicadores financeiros RAT e
RPL:
O índice financeiro RAT é medido com base no Lucro depois do
Imposto de Renda e antes das Despesas Financeiras (juros) em
relação ao Ativo Total (AT):
Enquanto que o índice financeiro RPL é medido com base no
Lucro Líquido (LL) apurado em determinado período em relação ao
Patrimônio Líquido (PL):
Abaixo, a Demonstração de Resultados Simplificada da Fábrica
de Doces Brasil Ltda.
Exemplo: sabemos que as projeções orçamentárias para o Ativo Total
(AT) da Fábrica de Doces Brasil Ltda. em 2013 seja de R$ 160.000 e
que para o ano de 2014 seja de R$ 190.000.
Enquanto que,
Analisando os números apresentados,
Na primeira situação em 2013, vemos que o RAT (76%) é superior ao
RPL (69%), por não existir alavancagem financeira, ou seja, não
está sendo utilizado capital de terceiro para financiar o Ativo da
empresa analisada. Na segunda situação orçada para 2014, vemos que
o RAT (80%) está inferior ao RPL (95%) o que significa que existe
alavancagem financeira favorável, pois a empresa está financiando o
Ativo utilizando-se de capital de terceiros tendo uma despesa
com
juros maior de R$ 9.000.
Para Pensar
Sugiro que você reflita a respeito do conceito de “alavacagem” e as
contas envolvidas na análise de sua variação nos períodos
apresentados no exemplo acima. Será que a empresa apresentaria uma
situação melhor ou pior caso os valores do ativo total e do
patrimônio líquido fossem diferentes? Certamente que sim, pois
teríamos valores e situações diferentes para uma mesma empresa! Mas
discuta o porquê e suas impressões com seus colegas e, se possível,
calcule os números da empresa onde você trabalha.
As Alternativas de Endividamento e Levantamento de Recursos
As principais fontes de empréstimos e financiamentos para
qualquer empresa em moeda local são as seguintes:
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
• Desconto de Título: Normalmente, as duplicatas ou notas
promissórias emitidas a partir de faturamento de vendas efetuado
pela empresa podem ser descontadas nas instituições financeiras de
forma a transformarem-se imediatamente em recursos (caixa) e suprir
o dia a dia da empresa. Os bancos, certamente, cobrarão taxas de
desconto (mais ou menos caras) que refletirão o relacionamento da
empresa com o banco, o risco de crédito envolvido no negócio, o
histórico de cobranças em custódia, entre outras variáveis.
• Linha de Hot Money: Este tipo de recurso fica
disponibilizado para a empresa de forma a cobrir necessidades
pontuais e imediatas, normalmente, de 24 horas que possam
ocorrer.
As linhas de Hot Money custam normalmente CDI – Custo do
Certificado de Depósito Interbancário, acrescido da margem de lucro
do banco (spread) e impostos; o Hot Money caracteriza-se por ser um
tipo de linha de crédito mais cara que as de prazos mais
longos.
• Conta Garantida: Esta linha de crédito funciona como um
cheque especial para a empresa, mas apesar de ser uma linha de
volume pré-estabelecido entre o banco e a empresa, costuma ser
relativamente cara comparativamente às linhas de longo prazo de
financiamentos.
• Factoring: As empresas podem lançar mão de vender seus
direitos creditórios (duplicatas a receber) às empresas de
factoring e receberem à vista parte do valor de face da duplicata
(descontada de taxa de juros). As linhas de factoring são também
relativamente caras e devem ser utilizadas apenas na ausência de
linhas junto às instituições bancárias.
• Linhas de Longo Prazo: As empresas devem, na medida do
possível, concentrarem-se em obter linhas mais baratas e de longo
prazo de forma a minimizarem as dificuldades de administração das
linhas de curto e médio prazos conforme apresentadas anteriormente.
Normalmente, os empréstimos de fomento de longo prazo como
debêntures ou linhas de bancos como o BNDES – Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social são de longo prazo e oferecem
taxas mais atrativas ao administrador. Apesar de mais
interessantes, são também mais difíceis de serem obtidas dadas as
exigências de documentação, de situação patrimonial e societárias,
entre outras colocadas pelos bancos e investidores.
Segundo Hoji (2009, p.209),
Explore
Você está interessado em ler mais a respeito de como o BNDES opera
no país? Sugiro uma visita ao site do banco, que certamente lhe
oferecerá muitas e interessantes informações adicionais sobre as
linhas de créditos e fomento disponibilizadas pelo Governo Federal
e que vão certamente completar seu estudo:
http://www.bndes.gov.br
No Brasil, os empréstimos e financiamentos em moeda estrangeira
são, normalmente, denominados em Dólar ou Euros, não sendo,
entretanto, descartada as opções em outras moedas fortes que
apresentem conversibilidade no mercado internacional, como são os
casos da Libra Esterlina ou o Iene Japonês, por exemplo. Os
principais tipos de linhas disponibilizadas em moedas estrangeiras
são:
• ACC – Adiantamento sobre Contrato de Câmbio:Esta importante linha
de financiamento encontra-se disponível nas instituições
financeiras para as empresas exportadoras sediadas no Brasil que
tenham contratada exportação futura e que, ao descontarem este
valor, obtém um valor em moeda local (Real) reduzido de juros
cobrado pelo banco. Antes de ocorrer o efetivo embarque da
mercadoria, esta operação denomina-se Adiantamento sobre Contrato
de Câmbio – ACC. Após o embarque da mercadoria, a operação pode
ocorrer sob a característica de Adiantamento sobre Contrato de
Exportação - ACE.
• Financiamento de Importação e Resolução 2.770: Os importadores
sediados no país podem utilizar de linhas de crédito contratadas no
exterior que financiem suas operações mercantis. Estas linhas
externas, normalmente, apresentam taxas de juros e custos totais
bem inferiores quando comparadas ao financiamento local. Somado a
isto, garantem prazos bem longos ao comprador/importador que os
bancos locais. As linhas da Res. 2770, antiga Resolução 63, são
linhas captadas por bancos locais no exterior que são repassadas em
moeda estrangeira a empresas no país a taxas também mais vantajosas
que as em moeda local.
• Export Note: Esta linha de crédito pode ser utilizada pelo
exportador que tenha uma nota promissória em moeda estrangeira,
normalmente, em US$, cujo lastro são contratos futuros de
exportação. O empresário pode ceder estes créditos, recebendo do
banco local recursos em Reais convertido pelo câmbio do dia da
operação. No futuro recebimento dos dólares neste caso, a empresa
resgata junto ao banco o empréstimo, convertendo o recebimento em
moeda local à taxa do dia de fechamento acrescido de juros que o
banco cobrará com base no prazo da operação.
• Eurobonds: Os bônus caracterizados pelos Euronotes e Eurobonds
são os títulos emitidos pelas empresas nos mercados financeiros
fora dos Estados Unidos. Os primeiros apresentam prazos longos, mas
inferiores a dez anos de vencimento, e taxas fixas ou
variáveis (ou pós-fixadas). São opções interessantes para
grandes empresas nacionais que tenham excelente histórico de
crédito, operações sólidas e relacionamento com grandes bancos e
clientes no país e no exterior.
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Além destas linhas em moeda local e moedas estrangeiras
descritas acima, as empresas brasileiras podem também levantar
recursos financiando-se através de operações de arrendamento
mercantil (leasings) financeiro ou operacional. Nas operações de
leasing, o objetivo é a compra de bens para o uso da empresa como
máquinas, equipamentos, veículos, móveis etc. que podem ser
financiados a taxas de juros relativamente baixas, prazos médios e
longos, além de oferecerem vantagens financeiras no abatimento de
impostos (ao serem lançadas contabilmente como despesas pela
empresa).
O Financiamento de Curto e Longo Prazo
Segundo Groppelli (2010, p. 294)
“Entre outras razões os negócios enquadram-se no financiamento de
curto prazo para cobrir deficiências de fundos, quando as entradas
de caixa são insuficientes para cobrir os aumentos repentinos de
despesas.
A meta é captar fundos temporariamente, em antecipação a
futuras entradas de caixa, que permitirão à empresa pagar a
dívida... O objetivo do financiamento de curto prazo é evitar o de
longo prazo, o qual resultaria em excesso de fundos
ociosos...”
Curto Prazo: Esta interessante visão do autor acima nos
permite pensar um pouco mais a respeito do que foi exposto até este
momento no que se refere às inúmeras linhas e tipos de créditos e
financiamentos hoje disponíveis no Brasil e no exterior às empresas
operando localmente. Isto porque, ao estudante de finanças pode-se,
com nossa análise inicial, ficar uma percepção de que apenas as
linhas de crédito e de financiamento de longo prazo (e mais
baratas) são efetivamente interessantes ao empresário. Mas este
fato não é verdadeiro: muitas vezes as linhas de curto prazo,
apesar de mais caras, podem ser ideais e “ótimas” para o
empresário.
Assim, nem sempre a burocracia, a extensa documentação
exigida e o longo trâmite envolvido no lançamento de um Eurobond,
por exemplo, pode ser a melhor opção de financiamento para um
varejista operando localmente. Muitas vezes, uma simples operação
de Desconto de Duplicata pode ser a opção ideal para o empresário,
mesmo que custe muito mais caro em termos nominais que a primeira
operação.
Ainda, segundo o mesmo Groppelli (2010, p. 296), a
importância das linhas de financiamento de curto prazo está na
cobertura das necessidades sazonais de caixa. Assim, o empréstimo
feito pelos intermediários financeiros (bancos) nestes casos é dado
sem a exigência de garantias firmes e são, consequentemente,
liberados e liquidados automaticamente, apenas obedecendo às
demandas do empresário no seu dia a dia.
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e disponibilidade oferecida a este mesmo empresário, variando caso
a caso em razão de relacionamento, reciprocidades, entre outras
demais razões relacionadas ao risco de crédito, por exemplo. Assim,
muitas linhas de crédito de curto prazo (e sua disponibilidade)
estão relacionadas à existência de depósitos em conta-corrente,
relacionamento e movimentação da conta (e saldo médio) junto ao
banco.
Longo Prazo: A princípio, poderíamos afirmar que uma empresa
comercial, industrial, ou uma prestadora de serviço,
comprometer-se-á com uma linha de longo prazo caso sua operação
apresente as seguintes características:
Primeiro, as suas expectativas de crescimento das operações e de
suas vendas no futuro extrapolem em muito os padrões atuais. Assim,
estes novos montantes de produção, vendas e de giro de estoques
exigem disponibilidade de capital de giro que ofereçam garantias ao
empresário.
Além de financiamento e sustentação à operação, um desempenho
maior das vendas pode exigir maiores gastos com marketing, promoção
e vendas que demandarão recursos vultosos no futuro que então,
justificam linhas de fomento maiores e de longo prazo.
Muitas empresas, também, ao apresentarem crescimento ou mesmo
planejarem investimentos precisam ter garantias de recursos em
caixa para suprirem seus planos de expansão. Nestes casos, as
necessidades de plantas fabris maiores, instalações mais modernas e
toda uma reformulação na sua estrutura de operação demandam
recursos que - somente serão economicamente viáveis - ao
apresentarem taxas de juros mais baixas, prazos mais longos de
amortizações e pagamentos. Condições estas, aliás, somente
disponíveis em linhas de longo prazo como, por exemplo, as
disponibilizadas pelo BNDES, ou por bancos no exterior.
Assim, toda opção de financiamento de longo prazo que levar
em consideração o financiamento através de títulos de dívidas de
longo prazo devem contemplar necessariamente: prazo de vencimento
ideal para a operação, o risco envolvido na operação, a taxa de
juros cobrada, os custos para efetivar a operação, a manutenção da
operação por longo prazo, a existência de demanda no mercado pelo
título em questão e toda uma estratégia que comporte uma operação
de longo prazo que seja efetivamente vantajosa para a empresa. Caso
contrário, as opções de financiamento de curto prazo devem ser
sempre privilegiadas.
Ideias Chave
• Definir e compreender a importância dos Investimentos
Permanentes;
• A elaboração da demonstração de fluxo de caixa de um
investimento;
• A elaboração do Fluxo de Caixa Líquido (FCL) e do Fluxo de Caixa
Líquido Descontado;
• Como se caracteriza a estrutura de capital de uma empresa e as
decisões de financiamento;
• Como podemos definir alavancagem financeira;
• Quais as alternativas de endividamento e levantamento de recursos
disponíveis ao empresário brasileiro no mercado financeiro local e
internacional;
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Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Material Complementar
Estudamos, nesta Unidade IV, os importantes temas ligados ao
Orçamento de Capital e as decisões tomadas pelos gestores no que se
refere ao endividamento de uma empresa. Quando pensamos em
endividamento, nos referimos aos níveis, tipos, custos das dívidas
e todas as ações estratégicas a ele relacionadas. No livro
Administração Financeira e Orçamentária de M. Hoji, temos uma
excelente explicação deste tema no Capítulo 8 – item 8.1.
‘Orçamento de Capital’.
Sugiro, portanto, a sua atenta leitura das páginas 166 a 174 para
um maior aprofundamento de seus estudos.
GITMAN, L.J. Princípios de Administração Financeira, 10ed. São
Paulo: Pearson, 2007.
GROPPELLI, A.A. e NIKBAKHT, E. Administração Financeira. 3 ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
HOJI, M. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo:
Editora Atlas S.A., 2008.
MARION, J.C. Análise das Demonstrações Contábeis. Contabilidade
Empresarial, São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009.
SANTOS, J.O. Valuation. Um Guia Prático. São Paulo: Editora
Saraiva, 2012.
IUDÍCIBUS, S. Análise dos Balanços. São Paulo: Editora Atlas
S.A., 2009.
24
Unidade: O Orçamento de Capital, as Decisões de Investimento e o
Endividamento
Anotações