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Adolescência e violência: ações comunitárias na prevenção “conhecendo, articulando, integrando e multiplicando”

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Adolescência e violência:ações comunitárias na

prevenção “conhecendo,articulando, integrando

e multiplicando”

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Casa do Psicólogo

David Léo Levisky (Org.)

Adolescência e violência:ações comunitárias na

prevenção “conhecendo,articulando, integrando

e multiplicando”

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Este livro é resultado do Seminário “Adolescência e Violência:ações comunitárias na prevenção”, realizado na Hebraica nos dias 5, 6 e7 de outubro de 2001; promovido pela Hebraica e pela Casa do Psicólo-go. Com o apoio das seguintes entidades:

• Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI)• Associação Brasileira de Psicopedagogia• Associação Brasileira de Psicoterapia Analítica de Grupo (ABPAG)• Colméia• Conselho Regional de Psicologia• Federação Latinoamericana de Psiquiatria da Infância eAdolescência (FLAPIA)• Fundação Abrinq• Instituto Fernand Braudel• Instituto Therapon Adolescência• Núcleo de Estudos em Saúde Mental (NESME)• Núcleo de Estudos da Violência (NEVI) - USP• Ordem dos Advogados do Brasil• Pró-Mulher, Família e Cidadania• Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)

Ficha Técnica

Coordenação CientíficaDavid Léo Levisky

Coordenação GeralDepartamento Geral de CulturaAssociação Brasileira “A Hebraica”

PresidenteHélio Bobrow

Vice Presidente Social/CulturalEugen Atias

Diretor Geral de CulturaJosef Barat

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Diretor de Planejamento CulturalHenrique Fisberg

Diretoria de Debates e PalestrasAna Perwin FraimanRenato Tichauer

Assessor de Marketing CulturalMoyzes Fraiman

Equipe TécnicaEve PekelmanMilton FiksSonia Korn HallerLucilla GlogowskiErika Dayan

Equipe de ColaboradoresItamar Batista Gonçalves (apoio oficinas e posters)Célia RubinsteinMaria Stella Sampaio LeiteRicardo Arcoverde Credie

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Mensagem de “A Hebraica”

Tudo o que se fizer para salvar as gerações futuras do estigma daviolência precisa da ajuda e da colaboração de todos. As comunidadesde um modo geral estão unidas nesta luta comum, até porque elas po-dem ser vítimas da violência originária de seus próprios membros, massempre se tem a impressão de que falta alguma coisa.

É como um desafio que se renova a cada momento, pois a cadamomento um indivíduo avança em direção a adolescência. Com abanalização da violência, a criança passou a fazer parte desta engrena-gem, simultaneamente como agente e paciente, que não poupa ninguéme mói seres humanos.

É um sinônimo de violência a criança cujas unhas raspam osvidros dos carros nos congestionamentos e olha a súplica de umaesmola. É violência a criança abandonada à própria sorte pelos paisem busca de trabalho. Parece que tudo deriva para a violência, quan-do se trata de crianças. É tanta e tão diversificada quem, feitas ascontas, nada mais resta senão cruzar os braços e deixar para Deuspagar a conta. Felizmente não é assim, e aos homens de bem cabe sedar as mãos e, como no poema de Rousseau, fazer uma roda de feli-cidade em torno do mundo.

Este livro é mais um pouco de luz que se joga sobre o tema vio-lência-adolescência e que a sociedade se encarregou de magnificar aponto de transformá-lo numa tragédia do cotidiano.

A Hebraica se orgulha de participar dele.

Hélio Bobrow — Presidente de "A Hebraica"

* * *

A Associação Brasileira “A Hebraica” de São Paulo, através desua diretoria, articula-se com a sociedade para estar trazendo à tona astemáticas relacionadas à criança, adolescência e violência.

Ações individuais, comunitárias, governamentais e empresa-riaisvem trabalhando e se integrando com o intuito de prevenir e buscar umaexistência mais humana.

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8 ADOLESCÊNCIA E VIOLÊNCIA

Com este projeto busca-se uma participação expressiva no en-contro de novos caminhos e soluções de uma problemática complexaque permeia todos os níveis da sociedade.

Eugen Atias — Vice-Presidente Social/ Cultural de “A Hebraica”.

* * *

O século XX institucionalizou a violência em escalas e extremosjamais imaginados. A violência do Estado impôs sofrimento, exílio eextermínio a grupos sociais, étnicos e religiosos em todo o planeta. ASegunda Guerra Mundial mostrou que o fanatismo, a intolerância e aestupidez humanas não tinham limites. Como se isto não bastasse, aintolerância e a discriminação persistem, por meio de todas as formas deviolência institucionalizada. Hoje, não apenas pelo Estado, mas por gran-des interesses que comandam os meios de comunicação e a massificaçãode uma “cultura” da violência.

Assistimos ao aumento assustador da amplitude das manifesta-ções violentas. Grupos particularmente vulneráveis são por elas atingi-dos: minorias étnicas e religiosas, mulheres, crianças e adolescentes,deficientes físicos, homossexuais, entre outros. Debater as raízes, a di-nâmica e as conseqüências da violência — principalmente entre os jo-vens — é um dever de todos os que se julgam dignos de pertencer àespécie humana. Este é o objetivo do Seminário “Adolescência e Vio-lência: ações comunitárias na prevenção” promovido pela Hebraica.

Josef Barat — Diretor Geral de Cultura de “A Hebraica”.

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SumárioApresentação .................................................................................... 11David Léo Levisky

Violência brasileira: Entre crescimento da igualdade e fragilidadeinstitucional ...................................................................................... 25Angelina Peralva

Violência brasileira: o privado e o público ....................................... 37Roberto Romano

Globalização e violência .................................................................. 51Pierre J. Evlich

Globalização e violência .................................................................. 63Jorge Wilheim

Os adolescentes, vítimas e personagens de guerrasno século 21 ...................................................................................... 65Jaime Spitzcovsky

Desorganização política e problemas de escala São PauloMetrópole ........................................................................................ 71Norman Gall

As escolas paulistas .......................................................................... 95Bruno Paes Manso

Adolescência – tanto faz? ............................................................... 111Antonio Luiz Serpa Pessanha

O uso da maconha e as alterações nosrelacionamentos humanos ............................................................. 123Içami Tiba

Gravidez, prostituição infanto-juvenil, DST e auto-agressão: açõescomunitárias .................................................................................. 131Roosevelt Moises Smeke Cassorla

Aids: uma doença socialmente transmissível ................................. 141Marion Minerbo e Giuliana Gouveia

Caracterização do abuso sexual intrafamiliar atravésde dados elaborados no Cearas ...................................................... 153Gisele Joana Gobbeti e Claudio Cohen

Violência intrafamiliar: novas formas de intervenção .................... 167Malvina Muszkat

O jovem infrator e a Febem de São Paulo História e atualidade ............175Maria Luiza Marcílio

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O Judiciário protege a criança e o adolescente? ............................. 187Antonio Augusto Guimarães de Souza

O ato infracional à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente e oPoder Judiciário — Lei no 8.069/90 ................................................ 199Ebenézer Salgado Soares

O futuro do Brasil não merece cadeia ............................................ 207Maria de Lurdes Trassi Teixeira

A contribuição da dinâmica grupal na prevenção daviolência na adolescência e nas comunidades ................................ 213David Zimermann

Adolescência,violência e a família na cultura atualTécnicas de trabalho grupal ............................................................ 227Ruth Blay Levisky

Grupos e prevenção ........................................................................ 245Waldemar José Fernando

Construindo esperança em tempo de violência .............................. 257Júlio Lancelotti

A mediação da violência na Educação ........................................... 265Margarida Azevedo Dupas

Violência e juventude em Diadema: uma experiência de mil etantas leituras .................................................................................. 283Maritide Cristovão Gomes de Oliveira

Lac: liberdade e acesso à culturaUma proposta sócio-educativa para os adolescentes emconflito com a lei ............................................................................ 291Isabel Aparecida dos Santos e Cláudio Hortêncio Costa

Trabalho do adolescente: oportunidade X exploração ................... 303Daniel De Bonis

Projeto Círculo de Leitura: A palavra como sustentáculoda identidade e da cidadania ........................................................... 315Catalina Pagés de Lama e colaboradores

Rede de Observatórios de Direitos Humanos: A Implementação doProjeto Piloto ................................................................................. 321Marcelo Daher, Fernando Salla e Andrei Koerner

A mídia na prevenção da violência: a violência na mídiae a mídia violenta ........................................................................... 333Percival de Souza

A mídia na prevenção da violência: violência na mídiae mídia violenta .............................................................................. 335Rui da Silva Nogueira

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Apresentação

Adolescência e violência: ações comunitárias na preven-ção “conhecendo, articulando, integrando e multiplicando”

David Léo Levisky1

Livro e seminário Adolescência e violência: ações comunitáriasna prevenção "conhecendo, articulando, integrando e multiplicando"são frutos de um esforço conjunto, presença viva da solidariedade exis-tente, que busca apenas espaço e oportunidade para se manifestar. Acomunidade se beneficia e cada um se realiza.

O nascimento de um livro, de certa forma, equipara-se ao nasci-mento de um bebê. Este quando nasce traz consigo uma série de medos:quem são seus pais, se saberão cuidar dele? Não conhece as dificulda-des nem os recursos imediatos para sobreviver. Pouco a pouco descobresuas potencialidades ao longo de um percurso desconhecido. Seu corpoamadurece, se desenvolve e a vida simbólica se constitui na relaçãocom o outro. Porém, sua vida psíquica não começa no nascimento. Háuma história e uma realidade que antecedem esta vida. Para o bebê, nomínimo a partir de sua vida intra-uterina. Lá, ele já ouve, percebe a luz,recebe os reflexos das reações emocionais, dos hábitos e costumes desua mãe e através dela, do pai e do meio ambiente. Se a mãe bebeu,fumou ou transou, o bebê vive os reflexos, num mundo de ruídos, tur-bulências e prazeres, no qual se desenvolve protegido pelo corpo mater-no. Se tiver a sorte de encontrar um ambiente que facilite, oriente comafeto, continuidade, cuidados e educação, certamente terá maiores opor-tunidades para lidar com a vida e nela se realizar.

Este livro também veio em meio a turbulências de várias nature-zas. Porém, prevaleceu um sentimento de compromisso social e vontade

1. Psiquiatra da Infância e Adolescência. Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise deSão Paulo.Doutorando do Departamento de História da FFLCH da USP. Organizador e coordenador científicodo Seminário “Adolescência e violência: ações comunitárias na prevenção — conhecendo,articulando, integrando e multiplicando” realizado e promovido pela Associação Brasileira A Hebraicade São Paulo, 4-7/10/2001.

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de viver. Surgiu da esperança de cada um que dele participa de trazer suaparcela de contribuição. Assim, podemos nos juntar numa grande ciran-da, e melhor ainda, numa rede ampla de comunicação e de interação comaqueles que se interessam pela qualidade da educação e formação da in-fância e da juventude, integradas à realidade da vida da cidade e do país.

Adolescência e violência: ações comunitárias na prevenção vemno intuito de debater, propor e aproximar experiências que estão sendorealizadas junto às comunidades, a partir dos diferentes segmentos quea compõem, e que podem servir de estímulo para novas ações. O objeti-vo é atenuar, e se possível eliminar, certas causas geradoras de violência.Crianças e adolescentes estão em pleno desenvolvimento biológico,psicológico e social, o que significa dizer que são vulneráveis e recepti-vos aos estímulos internos e externos que interferem na formação desua identidade. Carregam em si potenciais construtivos, destrutivo, re-paradores e criativos, de vida e de morte que podem ser estimulados ereprimidos pela cultura, através da qualidade das relações, normas, li-mites, e valores éticos que a sociedade estabelece.

Violência, palavra difícil de se definir, mas fácil de ser sentida eidentificada, principalmente quando se é vítima. Lalande* conceituaviolência como um fenômeno: a) “que se impõe contrariamente à suanatureza”; b) “que se exerce com uma força impetuosa contra aquiloque lhe causa obstáculo”; c) que resulta de “impulsos que escapam àvontade”; d) que ocorre quando a pessoa se comporta com uma forçaimpetuosa contra aquele que lhe resiste; e) quando do “emprego ilegíti-mo, ou pelo menos ilegal, da força”.

É preciso identificar suas manifestações e significados simbóli-cos. Existe a violência física, bárbara, motivada por conflitos profundos eestruturais de personalidades perturbadas. Outras como reações quandoacuadas, diante do desespero, da desesperança, da falta de perspectiva.Difíceis de serem diferenciadas entre o que é passível de tratamento eonde a lei se impõe para proteger a sociedade e o próprio agressor. Há,ainda, violências construtivas, libertadoras, frutos do desejo de emanci-pação, de reconhecimento, de auto-afirmação, inerente ao desenvolvi-mento de qualquer ser humano. São observáveis com facilidade na criançae no jovem, em condições adequadas de vida, manifestadas pela rebeldiae pequenas transgressões assimiláveis e toleradas pela sociedade.

* Lalande, A.: Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo, Martins Fontes 1993.

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13Apresentação

Mas, há violências sorrateiras que destroem a capacidade de aná-lise crítica e de julgamento, que trapaceiam, corrompem, vendem ilu-sões de prazeres imediatos, que cega e bestializa, destruindo valores.Em nome do que? Do lucro? Não sei.

Não se pretende um retorno ao passado. Entretanto, novas cons-truções dependem de suas relações com o passado. Elas servem de basepara a formação do sujeito, alimentam os vínculos e promovem senti-mentos de confiança.

No presente, há uma tendência a se priorizar o poder econômico,a massificação do consumo, valorização da realização imediata do dese-jo concomitante à falta de perspectivas de trabalho, de solidariedade,ferindo o sujeito em sua auto-estima, criando o fermento da violência. Aquestão se complica quando aqueles que são agentes da hostilidade nãose dão conta de que também são vítimas de sua própria violência, mui-tas vezes mascarada pelo cinismo.

Pode-se enumerar uma série de episódios violentos no longo tem-po da história e das transformações das mentalidades nas lutas por umavida melhor. Crianças e adolescentes sempre estiveram envolvidos nes-tes embates. São eles que vão à frente dos exércitos (militar, econômico,religioso, etc.), com bravura, coragem, idealização, sacrificados pelosadultos, gerentes ideológicos do processo. No Brasil morrem por diamais crianças e adolescentes do que em muitas guerras.

Na atualidade temos novos fatores geradores de violência, para-doxos da emancipação, da democracia, da evolução tecnológica, davelocidade astronômica dos meios de comunicação. Tudo se passa emtempo real e se difunde para todos os lados. Tudo se repercute em todose todos recebem as influências de cada um. Levantamentos estatísticosmostram que a qualidade de vida no mundo vem melhorando. Vendem-semais geladeiras e automóveis. Mas, vive-se a desestruturação das gran-des cidades e das culturas que mobilizam reações defensivas com oaumento de regionalismos. Pouco se observa quanto ao aumento dasresponsabilidades sociais. Falta de critérios e impunidade oficializadapor segmentos inescrupulosos da mídia, ainda que ilegais, interferem naconstituição das relações éticas.

Quais as conseqüências que tudo isto acarreta na constituição doimaginário coletivo universalizado pelas redes de comunicação? Suasrepercussões na formação das mentalidades entre os jovens e suacredibilidade frente ao futuro?

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Entretanto, vê-se, hoje, uma rede de iniciativas buscando solida-riedade, integração e participação através de inúmeros projetos que en-volvem a responsabilidade social de empresas, instituições privadas,oficiais e não governamentais, grupos de voluntários.

É preciso um esforço extraordinário para aprimorar ou mesmopreservar as qualidades das relações no contexto atual psicossocial eeducativas. Foucault** tão bem nos esclarece sobre a importância docontexto na formação do universo simbólico do sujeito e das institui-ções na sua “A Ordem do Discurso”.

Tivemos a oportunidades de denunciar e analisar algumas dascausas geradoras da violência em outras publicações2. O momento é deação, de investimento em práticas que modifiquem as mentalidades queregem o poder econômico vigente e que interfira no desenvolvimentodo sentimento de participação e de responsabilidade social. Interferir nocontexto, na busca de condições de vida que tornem as sociedades maiscontinentes, dotada de recursos humanos facilitadores da sobrevivência,de educação, de solidariedade, de possibilidade de realização pessoal egrupal. Que abra espaço para a expressão da vida amorosa e agressivaexistente em todos nós, através da linguagem, dos meios simbólicos, deforma aceitável e capaz de ser incorporada pela sociedade. Utopia? De-magogia? Ou luta contra a desesperança?

A construção de uma Nova Ética parece ser um dos caminhos.Não significa resgatar a Paidéia da velha Grécia, mas recordar suaimportância no sistema educacional contemporâneo. Diminuir as di-ferenças, oferecer oportunidades para todos, combater a pobreza e asinjustiças sociais através de ações educativas e possibilidades reais deemancipação. São caminhos que reduzem e podem nos ajudar a lidarmelhor com os sentimentos destrutivos que fazem parte de nossa natu-reza. Eles podem ser mitigados, diluídos quando não se fomenta ossentimentos de desprezo, desvalorização, abandono, inveja, geradoresde hostilidades e violências.

Com a expansão da subjetividade, individualidade e singularida-de humanas está se perdendo a noção de público e privado associado atodas as mudanças que caracterizam o mundo atual globalizado. Em

2. Levisky, D. L.: Adolescência e violência, conseqüências da realidade brasileira; Adolescência,pelos caminhos da violência (A psicanálise na prática social) e Adolescência — reflexõespsicanalíticas. Publicados pela Editora Casa do Psicólogo.** Foucault, M.: A Ordem do Discurso. São Paulo, Edições Loyola, 1998.

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15Apresentação

parte é uma conquista. Mas, não podemos nos esquecer de que somosseres sociais; dependemos e vivemos em grupos. Ninguém se constituipor si só. Há limites pessoais e grupais. Torna-se necessário descobri-losem cada situação, através do sentir e do pensar, tão empobrecidos nestaera do ter e do agir.

Vivemos numa transição? Entre outros fatores já citados, surgi-mento das cidades, das metrópoles e megalópoles contribuíram paragerar impactos na cultura tanto quanto a descoberta do fogo, do ferro,da imprensa, da penicilina, da televisão, da internet e agora, da clonagemhumana. Hoje, tanto faz ser homem ou mulher; uma pinça e uma prove-ta são capazes de substituir o antigo pênis e a esquecida vagina. O rabo,faz tempo, já se perdeu. O gozo virá com a pílula!

Evoluímos muito em tecnologia, mas temos muito a aprimorar,se quisermos evoluir neste processo dinâmico que é a qualidade dasrelações entre as pessoas e grupos; cada um com suas motivações, inte-resses e limitações. Não se pensa no encontro do consenso, mas é preci-so buscar espaços capazes de abarcar, em certas doses, as diferenças,com tolerância e sentimento de eqüidade.

Tem-se esquecido as características do coração humano. Quandofalta amor, entenda-se: comida, trabalho, saúde, sentimento de valori-zação do indivíduo, confiança, surge no inconsciente o ódio e intensifi-cam-se os sentimentos de desamparo. Os mecanismos de defesa seamplificam e tornam-se rígidos. Emergem sentimentos: de indiferença,destruição da auto-estima, ódio pelo desprezo no qual se vive. Umasociedade liberalizada de envolvimento e de responsabilidade social,egocêntrica, que não se faz ouvir e que ouve só o que quer, que faz vistagrossa, onde tudo vale, em nome de uma pseudo-democracia e ilusóriosentido de liberdade, contribui inconscientemente para a geração doclima propício para a violência.

O contexto se agrava quando segmentos irresponsáveis da mídia,associados direta ou indiretamente ao poder econômico perverso, comsuas ações iterativas, são amparadas e estimuladas por parcelas da po-pulação desejosas de satisfazer suas fantasias. Este conjunto ocupa comgrandes vantagens o domínio do espaço público. Desta forma, cria-seum contexto que autoriza e oficializa, por tornar pública e impune, con-dições sociais facilitadoras de violência, à semelhança do que se passanas telas como projeções do imaginário individual e coletivo. A impu-nidade da realidade contribui na expansão da violência como ambiente

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facilitador, reproduzindo o que ocorre no imaginário. O contexto torna-seexemplar na incorporação destes modelos como valores e ideais a seremreproduzidos pelas crianças e adolescentes, ávidos de modelos identi-ficatórios a serem incorporados.

Condições que produzem nuns indiferença, noutros revolta e in-dignação, como novas violências ou profundo e doloroso sentimentode impotência e depressão.

Konder Comparato*** afirma que “A revolta dos povos domina-dos — geral, permanente e implacável — contra a globalização capita-lista é absolutamente necessária” e acrescenta que “os capitalistas pen-sam de forma totalmente diferente”. E nós, do povo, como podemossaber qual é o caminho, nesta barafunda de idéias, se não manifestarmoso que pensamos, sentimos e queremos.

Busca-se uma Nova Ética, que abarque o respeito à subjetivida-de, à individualidade inserida no conjunto social que constitui a grandecomunidade das cidades, estados e países. Será que o homem necessitade uma ameaça externa, um extra-terrestre maligno para se unir? Ou, émais fácil lidar com o perigo externo a ter de enfrentar a própriadestrutividade, camuflada pela negação da realidade, desfaçatez, vistagrossa, levar vantagem, o outro que se dane, passe amanhã, tão freqüen-tes em nossa identidade nacional.

Poetas, historiadores, psicanalistas, sociólogos, psicólogos en-tre tantos outros, tem tentado salientar o que Rousseau**** alertou paraa necessidade de se conhecer a natureza do coração humano para seconhecer a história. Só assim poderemos compreender as violências,atenuá-las e impedi-las, se for impossível.

As violências, algumas necessárias, podem ser o último grito declamor dos desesperados, dos que não são ouvidos. Como aquele dobebê, que ao nascer emite seu grito, não de dor, mas, paradoxalmente,de vida e de terror, pelo desamparo experimentado ao iniciar sua longae derradeira etapa. Mitos que carregamos em nosso inconsciente e quepermeiam nossas ações.

Acaba de ser publicado um documento denominado “Dissensode Washington”. Ele pretende uma redução do protecionismo comercialdos países desenvolvidos e um conjunto de ferramentas a serem desen-

*** Konder Comparato, F.: Folha de S.Paulo, 17/8/2001, p. A3**** Rousseau, J. J.: Emílio ou da Educação, Difusão Européia do Livro, 1968.

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17Apresentação

volvidas pelos governos nacionais do qual destacamos alguns itens: a)conter a indisciplina fiscal cometida por governos que gastam mais doque arrecadam; promovem ou fazem vista grossa à corrupção, extor-quindo dos pobres e da classe média, beneficiando mais os ricos; b)gerar programas onde os gastos públicos privilegiem e asseguremcondições sociais e projetos educacionais pré-escolares e escolareseficientes; c) tributar mais os ricos e gastar mais com os outros; d) efe-tivar programas que protejam e valorizem o trabalhador; e) atacar fron-talmente as discriminações; f) dar oportunidades justas aos camponesespobres através de formas mais adequadas de reforma agrária; g) ade-quar os serviços públicos para atender aos consumidores, pobres ouricos. Afirma Rossi*****, autor do artigo, que a América Latina é con-siderada o subcontinente de maior desigualdade no planeta.

Diante da gravidade, urgência e complexidade das situações bra-sileira e mundial, a violência é sintomática e expressa o estresse, o ex-cesso de sofrimento psicológico e social. Fatos que nos levam a darcontinuidade a esta luta de conscientização e estímulo para o envolvi-mento popular, sem qualquer discriminação de classe social, religiosa,política, étnica, econômica, cultural.

Reunimos neste livro e seminário um grupo de pessoas de dife-rentes áreas do conhecimento, da vida pública, de correntes de pensa-mento, das comunidades, com profunda vivência e envolvimento emáreas específicas, preocupadas que estão com as diversas questões gera-doras de violência. A diversidade de enfoques tem por fim estabelecerum diálogo sobre ações comunitárias na prevenção da violência. Pre-tende-se que palestrantes, público leitor e platéia sejam co-participan-tes e co-responsáveis, tanto como vítimas quanto como agentes destassituações. Conhecer as causas gerais e específicas de violência bem comoo desenvolvimento de ações preventivas, integradoras e re-integradoras,mecanismos psicológicos e sociais, procedimentos éticos, condições paraa implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sãoos objetivos aqui presentes.

Dar sustentação a este conjunto de fatores complementares e pa-radoxais presentes nos sujeitos e nas sociedades são os desafios atuais.Esta talvez seja a utopia que acompanha o homem no percurso de suahistória. Quantos paraísos terrestres e celestiais são referidos na história

***** Clóvis, R. Dissenso de Washington: Folha de S.Paulo, 26/8/2001, p. A12.

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da humanidade? Mas, melhor preservar a utopia do Paraíso, de Shangrilá,da Cocanha para termos esperanças e não cairmos no vazio, na solidão,no desamparo, que tanto nos ameaça. Quem sabe nossa capacidade sim-bólica de pensar, criar e transformar pode equilibrar os instintos e pulsõesque carregamos em nossos aminoácidos? Quem sabe, seremos capazesde desenvolver um diálogo não somente de palavras, mas de ações quebusquem efetivamente uma integração entre as diferenças?

O aparelho psíquico suporta certa quantidade de pressão externae oriunda das necessidades e desejos. Ultrapassado este limiar há umadescarga contra o próprio corpo ou contra o meio externo, através deatos explosivos, impulsivos, impensados, na busca de um novo estadode equilíbrio psíquico. Situações traumáticas ou micro-traumáticas deexcitações/frustrações contínuas, que ultrapassem suas possibilidadesde elaboração e re-organização, mobilizam processos psíquicos defen-sivos. Na busca de um novo estado mental de equilíbrio a pessoa, involun-tariamente, pode reagir com indiferença ou descargas explosivas contrasi ou contra o meio. Quando a descarga é intermediada pela capacidadede pensar, pela atividade simbólica, as fantasias tem vazão de formaatenuada e o sujeito vive um certo grau de alívio e de satisfação, integra-da ao meio social.

Necessitamos do outro para definir nossa própria existência eidentidade. O processo de identificação é complexo, dinâmico e ocorreao longo de toda a vida. Seu início virtual antecede a constituição dosujeito, uma vez que, no imaginário dos pais, heranças psíquicas e cul-turais criam um contexto a ser incorporado pelo indivíduo na constitui-ção de sua subjetividade. Elementos que se transmitem e que ficarãoimpressos na memória.

O processo de identificação prossegue por toda a vida, através desucessivos períodos críticos de reorganização egóica, com novas re-dis-tribuições da libido e transformações de valores e ideais. A adolescênciapossui características específicas: a videz por novos modelos a seremincorporados e vulnerabilidade.

Quando desejamos um filho ele recebe involuntariamente uma sériede ideais, anseios e temores conscientes e inconscientes que vão interferir,querendo ou não, em sua personalidade, através das heranças psíquicas quea ele serão transmitidas. É o contexto familiar. O resultado é uma interaçãoentre aspectos próprios, oriundos das potencialidades individuais e da rela-ção que se estabelece com o outro e com o meio. As relações afetivas, soci-

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ais e educativas dentro de um determinado contexto histórico-econômico-cultural criam as condições para a efetivação do processo identificatório.

Em suma, sem a existência do outro a vida psíquica não se orga-niza; sendo que tudo começa em casa, dentro da família ou em condi-ções substitutas, através da quais se promove a educação.

A identificação é “um processo psicológico pelo qual um su-jeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e setransforma total ou parcialmente, a partir daquele modelo”. É umacondição que dá ao sujeito um sentimento de continuidade e de limite,em relação a si e ao mundo com o qual ele se relaciona. A personali-dade se constitui e se diferencia por uma série de identificações(Laplanche e Pontalis, 1973)******.

São processos constantes e sucessivos de elaborações, perdas etransformações que ocorrem no mundo psiquismo, em grande parte,de forma inconsciente. Este processo constrói um sentimento de algoque o define como sujeito. Isto é, sua identidade. Sentimento que nosfaz sentir que, apesar de semelhanças e diferenças, temos algo que seorganiza em torno de um continuum e dentro de limites. Algo quepermite que nos reconheçamos em diferentes momentos de nossasexperiências de vida. É uma condição psicológica que tem um valorcentral na obra de Freud.

A criança nasce numa condição de total dependência e caminhapara a autonomia. Parte de um momento praticamente indiferenciadoentre o “eu” e o “não eu” até constituir o “eu sou”. Conquista as basespara a construção do sentimento de autonomia e da capacidade de esco-lha de suas dependências.

A identidade é resultante de um conjunto de identificações par-ciais, a ponto de encontrarmos na mesma pessoa uma “pluralidade depessoas psíquicas”, com predominâncias e movimentos entre um ououtro destes aspectos, antagônicos ou complementares entre si.

Uma visão dinâmica e psicanalítica do Homem possibilita relacio-nar a reciprocidade de influências entre as estruturas mentais e a sociedadena constituição do mundo simbólico do sujeito e suas representações nacultura. Sua formação histórica e relações com as fantasias inconscientes,os imaginários coletivos, a natureza estrutural, dinâmica e econômica dopsiquismo, seus mitos, ritos, utopias, ilusões e a dura realidade.

****** Laplanche e Pontalis: Vocabulaire de la Psychanalyse. Paris, PUF, 1973.

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A violência pode ser um sinal de falência do sistema psicossocial,de saturação mental, uma forma ainda que inadequada, mas de busca derenovação e de libertação do excesso de pressões/estímulos. Ela estácrônica e banalizada; transformada num valor de cultura e como tal pas-sa a ser incorporada e reproduzida. Mas, é também um sinal positivo, dealerta, capaz de tirar-nos da inércia e gerar o desenvolvimento de pro-cessos sociais e psicológicos adaptativos necessários diante das trans-formações inevitáveis por que passa a Humanidade.

Estarrecido e desolado, interrompi ontem, dia 11 de setembro de2001, a elaboração deste texto, impossibilitado que estava frente à violên-cia, horror e ceticismo mobilizados pelo ataque terrorista sofrido pelosEstados Unidos. Penso que a cultura ocidental foi abalada e questionada.Ainda que místico, quero crer que diante de tanto terror o homem possaacordar e aprender a lidar com a bestialidade presente em todos nós,favorecida que está pelas características relacionais da cultura contempo-rânea. Maior liberdade, singularidade e democracia versus aumento dofanatismo, da intransigência e da arrogância. Mais uma vez surge o desejode que do terror e do caos, com pesar e dor, brote a criatividade amorosaem nossas mentes. A Humanidade não poderá ser mais a mesma a partirda experiência de ontem. Temos muito a aprender quanto às possibilida-des de transformações da natureza e qualidade das relações humanas.

Conhecer, articular, integrar ações comunitárias, lema que motivoueste livro e seminário, expressam a necessidade de buscar e multiplicarcaminhos que atenuem a expansão da violência.

A Associação Brasileira “A Hebraica” de São Paulo, através desua área Cultural/Departamento de Debates e Palestras, desejosa maisuma vez de juntar esforços e unir-se no movimento de uma sociedadeonde pairam liberdade, eqüidade, solidariedade, abre sua casa para agrande comunidade.

Ao patrocinar livro e seminário, juntamente com o apoio de em-presas, ONGs, instituições privadas e oficiais, acadêmicos, estudiosos,colaboradores anônimos e o público, do qual todos somos co-partici-pantes, traz sua parcela de contribuição e de envolvimento. Desejamosque esta iniciativa possa ser útil e ter continuidade com novos projetosassegurados por políticas públicas e privadas, integradas, nos processosde prevenção.

Pretende-se mobilizar cabeças que fazem cabeças, com a parti-cipação dos vários setores oficiais e da própria comunidade. Ampliar

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ações preventivas capazes de promover a compreensão, transformaçãoe a criatividade das mentalidades vigentes para maior controle, atenua-ção e elisão das múltiplas formas de violência física e moral existentesem nosso meio.

Foram selecionados temas preponderantes que participam na for-mação de um contexto facilitador, gerador de violências. São abordadasvárias formas de manifestação e re-alimentação de violências assim comoprocedimentos jurídicos e conflitos gerados por tais procedimentos.

Outro vértice abordado refere-se à instrumentalização e capa-citação de profissionais ou agentes comunitários. Também são enfocadasiniciativas modelares de ações preventivas, em seus vários níveis, nacomunidade.

O livro aborda questões gerais como Violência brasileira — en-tre crescimento de igualdade e fragilidade institucional bem como asrelações existentes entre o privado e o público, numa sociedade quemuitas vezes leva o público para casa e transforma a rua em ambienteprivativo, com dificuldades evidentes em se estabelecer o conceito delimites nas relações institucionais e pessoais.

A sociedade encontra-se inserida num sistema de redes econô-micas, de comunicação, de intercâmbios culturais contrastadas por ame-aças de perdas de identidades regionais. Os grupos socioculturais ame-açados reagem em contrapartida na tentativa de preservar seus valores eidentidades historicamente construídas. Num mundo de complexida-des, incertezas, a violência é planetária, com peculiaridades geográfi-cas, mas está disseminada pelo mundo sendo que milhares ou milhõesde jovens são sistematicamente sacrificados como é retratado no textoOs adolescentes, vítimas e personagens de guerras no século 21.

Outro estado de calamidade que se nos apresenta são as grandesmetrópoles que tiveram um desenvolvimento sem planejamento, gerandocondições precárias quanto à sua urbanização, vida institucional e comu-nitária, difíceis de serem gerenciadas e de efetivarem um de seus propósi-tos fundamentais, a educação, que constitui um dos princípios fundamen-tais da polis. É o que se pode acompanhar na análise sobre Desorganiza-ção política e problema de escala — São Paulo Metrópole, com gravesrepercussões no campo do relacionamento humano e nas funções prove-doras do estado. A análise das Escolas Paulistas é um exemplo de proble-mática maior que assola o país, contribuindo negativamente para as mani-festações destrutivas. Outro segmento significativo dentro do contexto é a

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Violência intrafamiliar tratada em seus aspectos psicológicos, sociais,sociológicos e do direito assim como trabalhos de re-integração social efamiliar. Entramos nas características psicológicas, conflitos e desvios nocomportamento dos jovens contemporâneos ao se analisar Adolescência,tanto faz? Uma questão de responsabilidade social. Até onde a sociedadechamada adulta assume suas responsabilidades em relação ao status quoque oferecemos para nossos filhos e netos.

Hoje, jovens estudantes estão traficando drogas nas portas dasescolas, cometendo assaltos e seqüestros. Deixou de ser um problemarestrito a determinada classe social ou um distúrbio de personalidadeisolado para ser um elemento imerso na cultura. Sabemos também quemuito do que se propõe como medida educacional não é o que se faz navida prática; é o velho “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”,expressão da hipocrisia que permeia as relações, fruto do individualis-mo que se confunde com individualidade. As relações entre pais e filhosestão mais próximas. Porém, há inúmeras inversões; jovens denuncian-do pais usuários de drogas ou com dificuldades em definir e colocarlimites, numa evidente horizontalização das relações familiares.

Gravidez, prostituição infanto-juvenil, doenças sexualmentetransmissíveis, auto-agressão, drogadição; aparentemente são questõesisoladas, mas há um denominador comum: a vulnerabilidade egóica dosadolescentes aliada ao espírito de curiosidade, desafio, heroísmo, imor-talidade, elementos do processo de identificação, mistura facilitadorapara a eclosão destes problemas. Existem políticas de prevenção? O queocorre entre o papel, isto é, a lei e sua efetiva aplicação é o que se discutea partir da indagação: O Judiciário protege a criança e o adolescente? Ea FEBEM, que espaço ocupa frente ao Estatuto da Criança e do Adoles-cente (ECA)? Estas e outras questões como a diminuição da idade deresponsabilidade criminal são discutidas nos textos sobre: O jovem in-frator e a FEBEM de São Paulo, O ato infracional à luz do ECA e oPoder Judiciário e O futuro do Brasil não merece cadeia. Carecemos depolíticas de prevenção integradas.

Noutro bloco são abordados instrumentos de dinâmica grupal,fundamentais para o a capacitação de agentes comunitários e monitoresno desenvolvimento dos trabalhos preventivos e formação de líderes nascomunidades com os temas: A contribuição da dinâmica grupal na pre-venção da violência na adolescência e nas comunidades; Técnicas detrabalho grupal e familiar, Grupos e prevenção.

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Apresentamos também alguns projetos em andamento e seus re-sultados como A mediação da violência na educação; Liberdade e acessoà cultura; Trabalho do adolescente: oportunidade versus exploração;círculo de leitura – sem leitura não há futuro; a mídia na prevenção daviolência e a rede de observatórios de direitos humanos.

Uma experiência viva é trazida através de uma série de trabalhosdesenvolvidos nas escolas, prefeitura, postos de saúde, onde jovens, fa-mília, escola e comunidade trabalham pela comunidade.

Para finalizar, A mídia na prevenção da violência, tema centralnos dias atuais. Ela tem poderes de indução, persuasão, informação,conhecimento, comunicação influenciando positiva ou negativamente,com ou sem responsabilidade social, mas interferindo de forma massiva,direta e indiretamente sobre a cultura, hábitos, costumes, valores éticose morais. Criam condições facilitadoras para satisfazer o imaginário.Pode ilustrar, mas também confundir através da não discriminação en-tre realidade, virtualidade e ficção. Bem empregada pode trazer lazer,conhecimento, articulação e multiplicação de ações comunitárias naprevenção contra a violência e ser o grande instrumento da Educação.

Adolescência e violência: ações comunitárias na prevenção co-nhecer, articular, integrar e multiplicar uma contribuição ao processoeducacional brasileiro e quem sabe de comunidades longínquas e irma-nadas pelos conflitos. Pretende-se que estas ações estejam acima detendências partidárias, econômicas, raciais, religiosas, sociais, políticasou de qualquer outra natureza. Congregar e fazer interagir diferentessegmentos sociais e abarcar a multiplicidade de fatores que compõem asociedade são expressões de um sentimento amplo e democrático. Nãose espera um consenso, mas a possibilidade de integração das diferen-ças, lá onde não for possível eliminá-las.

Meu reconhecimento à Associação Brasileira "A Hebraica" deSão Paulo, através de sua Diretoria e Equipe Técnica, que me honroucom a oportunidade de organizar e coordenar este livro e seminário. Aosr. Ingo Güntert, Editor da Casa do Psicólogo meu apreço pelo estímu-lo, confiança e apoio sempre presentes. Minha gratidão a todas as ONGs,Instituições Oficiais, Não Oficiais, Acadêmicas, Privadas, Colaborado-res Voluntários e Anônimos que confiaram e participaram dos propósi-tos deste evento e da importância desta divulgação. Sinto-me honrado egrato por esta oportunidade. A todos o meu muito obrigado.