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Adolescentes versus obsolescentes?

Adolescentes versus obsolescentes

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Sobreo o confliro entre jovens e adultos na internet e fora dela.

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Page 1: Adolescentes versus obsolescentes

Adolescentes versus obsolescentes?

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Nos esforçamos por tantos anos em manter nosso foco que agora estamos estranhando o modo multi-tarefa em que nossos jovens vivem, e já começamos a falar em mal-funcionamento das novas gerações.

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Durante um tempo, as pessoas mais velhas se referiram à informática (lembram deste termo?) como algo importante que merecia ser aprendido.

Hoje apontam para os jovens e dizem que há algo errado numa geração sem foco, dominada pela tecnologia digital, com um enorme déficit de atenção e pouca profundidade temática.

Nossos filhos não estão se encaixando em nossas projeções e por isso estamos pensando que pode haver algo de errado com eles.

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Creio que estamos chegando em um ponto importante da história do uso da tecnologia, no qual os jovens conectados passam a disputar mercado com seus preceptores e por isso passam a ser repelidos com uma série de rótulos.

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Por que o abismo tecno-relacional entre as gerações vem se acentuando? Porque para muitos de nós, com mais de quarenta anos, a intensidade e variedade dos objetos de linguagem já atingem uma velocidade quase insuportável.

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Quando o pesquisador Douglas Engelbart apresentou nos anos 70 a alternância de modos, e nos tirou das telas verde-escura para uma interface colorida repleta de ícones e com janelas simultâneas, a roda da história avançou mais um pouco e somente hoje podemos sentir quanto o mundo mudou.

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Os jovens já estão completamente adaptados à vertigem da multi-tarefa, mas a velha-guarda do processador de texto ainda insiste que foco e concentração são os únicos modos válidos de aprender e trabalhar.

O que para nós é uma super-exposição de estímulos, para os sentidos dos jovens é apenas o meio em que nasceram, cresceram e aprenderam a viver.

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Entretanto hoje não compreendemos como podem trafegar de um assunto ao outro antes mesmo de concluir o entendimento do anterior.

Não os acompanhamos nos mergulhos de hipertexto e ainda somos teimosos, sempre dando mais valor às nossas narrativas lineares.

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No fundo ainda pensamos que para uma aprender uma coisa é preciso aprender uma outra primeiro, e que há uma ordem certa para isto.

Em nossa percepção não estão aprendendo nada porque não mergulham prá valer nos conteúdos, e são superficiais porque trocam de assunto sem um motivo válido para nossos critérios.

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Pensamos que eles mudam todo o tempo porque se viciaram nisto, e no fundo culpamos o dispositivo que originou toda essa confusão, o bisavô da navegação de conteúdos, o controle-remoto da televisão!

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As gerações anteriores fizeram um esforço enorme para se adaptar à dura realidade da era industrial. Tivemos que abandonar nosso fluxo espontâneo de comer, dormir e amar a qualquer hora para entrarmos no sincronismo do apito de fábrica e do relógio de ponto.

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Mas nossos corações e mentes teimavam em derivar em desejos e interesses momentâneos, então aprendemos a nos esforçar o tempo todo para manter a atenção em apenas um assunto de cada vez e vivemos tentando manter o "foco".

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Acontece que a alternância de assuntos está saltando para fora do computador e invadindo nossas vidas. A televisão ficou mais rápida, as revistas repletas de notícias, os jornais com textos cada vez menores e as ruas repletas de anúncios e sinalizações digitais.

Pelo menos duas gerações cresceram neste meio, jovens que mantém sete, dez janelas abertas e ainda falam ao telefone enquanto comem um lanche, tudo isso diante da televisão.

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Nossos jovens tem acesso imediato a muitas fontes de conhecimento, mesmo com seus professores condenando o google e a wikipedia, mas ainda esperamos que eles usem a memória, compreendam ou decorem informações fundamentais, e que saibam caligrafia!

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E se o modo como nós aprendemos tudo até agora na escola, memorizando a tabela periódica dos elementos, equações matemáticas e rios do amazonas, estivesse mesmo muito errado? Fomos diplomados como ótimos alunos e alguém aí se lembra de alguma destas coisas?

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Nossos professores eram bancos de memória ambulantes, repletos de citações e exemplos.

Poucos mestres tinham a capacidade de se envolver, se relacionar com os alunos e nos levar a uma experiência única de sabedoria.

A maioria dos professores era entregador de verbetes, fiscal de apostila ou zelador de livro didático.

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Cultivamos um saber enciclopédico durante séculos e talvez esta seja a primeira geração a se livrar deste fardo, e por isso muitos os chamam de ignorantes. Nunca imaginamos que eles teriam um tipo de sabedoria e conhecimento tão diferente do nosso que nos pareceria um certo tipo de ignorância!

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Arrisco dizer que talvez os jovens não aprofundem seus conhecimentos porque estão buscando em primeiro lugar os índices. Não estão aprendendo conteúdos, estão capturando mapas de localização do conhecimento.

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Na lógica destas gerações é possível organizar uma lista de assuntos sobre um tema que ainda não conhecem. Para nós mais velhos isto é impensável, pois nossos sumários sempre apontam para textos que lemos, imagens que vimos e filmes que assistimos. Nós dependíamos da memória, eles dependem das buscas. Nós resumíamos textos, eles condensam listas, buscam por categorias, tipos, formatos, datas, assuntos, temas, palavras-chave e tags.

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Não aceitamos nem o modo como fazem a gestão de suas amizades, e os acusamos de manterem fazendas de falsos amigos representados por carinhas de facebook que só dizem: husahuauahuhuasuahuhuhsuhaua.

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Acho que estamos perdendo o bonde da história, ou melhor, o trem-bala. Não conseguimos nos comunicar com nossos filhos, estamos cada vez mais preocupados com nossos jovens funcionários da geração Y, e cada vez que alguém metralha uma escola, tenta fabricar uma bomba em casa ou sai marchando em multidão pelas ruas, culpamos a internet.

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Se não tornarmos mais flexíveis nossas premissas e freqüentarmos um pouco mais os espaços multi-tarefa por onde os jovens fluem, as novas pontes entre nós nunca irão aparecer.

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Penso que cada um tem exatamente aquilo que precisa para viver em seu tempo, a seu modo. O que precisamos é não esquecer que, mesmo vivendo em fluxos distintos, habitamos os mesmos espaços, estamos ligados uns aos outros e precisamos cultivar o encontro humano amoroso entre nós constantemente, inclusive dentro das possibilidades não-presenciais, usando o mural de Facebook, por exemplo.

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Considerando que o mundo está cada vez mais multicultural, multidiversificado e multitarefa, mesmo sendo mais velhos é bom encontrarmos nosso lugar já que, com o aumento da longevidade, ainda vamos viver um bom tempo por aqui.

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Meus amigos, ou melhor, meus velhos amigos, quando a maturidade bloqueia a transformação, surge a velhice.

Um velho que transforma é sempre mais jovem que um adolescente que conserva.

Velhice não precisa ser obsolescência, pode ser renovação. Não precisamos funcionar como os jovens, mas precisamos saber que o nosso modo não é mais o único.