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ADRIANA MANGUE ESQUIAVETO AUN “ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES MOLECULARES DOS GENES KCNJ11, ABCC8, INS E GCK EM AMOSTRAS DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS NEONATAL” CAMPINAS 2015

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ADRIANA MANGUE ESQUIAVETO AUN

“ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES MOLECULARES DOS GENES KCNJ11, ABCC8, INS E

GCK EM AMOSTRAS DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS NEONATAL”

CAMPINAS

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Ciências Médicas

ADRIANA MANGUE ESQUIAVETO AUN

“ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES MOLECULARES DOS GENES KCNJ11, ABCC8, INS E

GCK EM AMOSTRAS DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS NEONATAL”

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas

da Universidade Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para obtenção do título de Mestra em

Ciências, na área de concentração Saúde da Criança e do

Adolescente.

Orientador: Profa. Dra. Sofia Helena Valente de Lemos Marini

Co-orientador: Profa. Dra. Maricilda Palandi de Mello

CAMPINAS

2015

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO ADRIANA

MANGUE ESQUIAVETO AUN E ORIENTADA PELA PROFA.

DRA. SOFIA HELENA VALENTE DE LEMOS MARINI

__________________________

Assinatura da Orientadora

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“... Não faças do amanhã

o sinônimo de nunca,

nem o ontem te seja o mesmo

que nunca mais.

Teus passos ficaram.

Olhes para trás...

mas vá em frente

pois há muitos que precisam

que chegues para poderem seguir-te.”

Charles Chaplin

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À minha família

pelo apoio incondicional,

dedico.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora Profa. Dra. Sofia, que me serve de exemplo de

mulher, mãe e profissional. Obrigada pelo apoio, pelos conselhos, pela paciência e pelas

advertências necessárias.

Agradeço à minha co-orientadora Profa. Dra. Maricilda, por tudo que significou e

significa na minha vida acadêmica. Agradeço imensamente por me acolher tão bem em seu

laboratório e pelas tantas coisas que me ensinaste até hoje, pessoal e profissionalmente

falando. Através das suas palavras calmas, do seu olhar sábio e atento, fui me acostumando

e me apaixonando pela vida nas bancadas. Tudo nesse trabalho que descrevo a seguir só se

tornou possível graças a sua presença firme e constante. Você é um ser humano

maravilhoso, professora! Posso te chamar de amiga?

Ao Dr. Gil agradeço por guiar e orientar minha vida profissional, por ser sempre tão

receptivo quando necessitei, por ter a palavra certa, no momento certo. Um mestre!

Obrigada!

À Fernanda, a quem honrosamente eu deveria me referir como Dra. Maria

Fernanda, mas sua humildade e o passar do tempo fizeram com que se perdessem as

formalidades. Obrigada pelo apoio ao desenvolvimento desse trabalho, pela ajuda imediata

sempre que precisei.

À Dra. Lília agradeço pela presença na minha banca de qualificação e pelos

conselhos que me deu naquela ocasião e em tantas outras que se seguiram.

A toda família CBMEG, meu Deus, amigos que conheci e que levarei pra vida

toda... Das antigas, Luli e Fer Soardi, por tanto que me ensinaram no dia a dia do

laboratório! À Mara (Marinha ou Maroca!), tão querida e tão generosa, agradeço por dividir

sua vida comigo, pessoal e acadêmica. Adoro ouvir suas explicações, compartilhar de suas

descobertas científicas. Já te disse o quanto te admiro e torço por você? À Helena

(Helenita), figura tão doce e tão firme, com quem tive o prazer e o encanto de conviver nos

últimos anos... É delicioso acompanhar suas conquistas! Obrigada pela companhia na

caminhada até aqui... Ficou mais suave e divertida com você ao meu lado! À Débora

querida, quem me deu a mão desde lá do comecinho, apoiou meus primeiros passos... E me

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ensinou coisas tão simples mas tão essenciais na vida de laboratório, como uma professora

primária ensina o beabá ao seu aluno novato. Obrigada Dé! Ao Reginaldo e à Flávia (Regi

e Flor), obrigada pela companhia divertida, pelos tantos momentos deliciosos que

compartilhamos juntos. Que admiração tenho por vocês dois, como é feliz vê-los chegando

tão longe... À Cristiane (Cris), pela ajuda inestimável... E a todos os outros: Profa. Edi,

Sueli, Carol, Taci, Pam, Naty... Obrigada pela amizade!

Ao meu amor Marcos, companheiro de vida, obrigada pela paciência, pela

retaguarda... Obrigada por me compreender, por apoiar minhas decisões... Agradeço pela

família que construímos; pelos nossos tesouros Murilo, Luíza e Ricardo. Já te disse e

repito que amo ser feliz ao seu lado e que só assim serei feliz no futuro.

À minha querida avó Araci, minha rocha, meu porto seguro... Por tudo o que fez por

mim, pela sua torcida fiel e verdadeira. Sou abençoada por poder desfrutar da sua

companhia, de seus conselhos. Obrigada!

Aos meus pais, Madalena e Ricardo, meus amores, minha estrutura. Se surge uma

dúvida na minha vida, me viro pra vocês... e encontro sempre um olhar seguro, protetor,

que diz sutilmente “vai minha filha, se arrisca... que nós estamos e estaremos aqui, pro que

der e vier...” Amo vocês, e obrigada... Por tudo!

Aos meus irmãos Renata e Guto, agradeço pelo apoio, pela torcida e pela certeza de

que nunca estarei sozinha, pois tenho vocês comigo.

Aos meus sogros Gilda e Jacinto, agradeço por me acolherem como filha, por terem

aberto as portas do consultório para que eu iniciasse minha vida profissional, por me

apoiarem e me ampararem sempre que preciso... Vocês são demais! Tenho muita

admiração por vocês, como família e colegas de profissão.

Aos meus filhos amados, quero agradecer por preencherem a minha vida, por me

ensinarem diariamente a viver o amor mais puro e genuíno que o ser humano pode

conhecer... Vocês são a vida da minha vida!

A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desse trabalho.

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RESUMO

O diabetes mellitus neonatal (DMN) é definido pelo surgimento de hiperglicemia

com necessidade de tratamento com insulina nos primeiros seis meses de vida. Entretanto,

nas crianças com hiperglicemia de início no primeiro ano de vida propõe-se que seja feito o

diagnóstico diferencial de diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e DMN, especialmente através

das dosagens de autoanticorpos (anti-insulina, anti-IA2, anti-GAD e anti-ICA).

Dependendo do tempo de duração da doença, o DMN pode ser classificado em transitório

(geralmente de início na primeira semana de vida com regressão ao redor dos 18 meses de

idade, podendo recorrer na adolescência ou na vida adulta) e permanente (não entra em

remissão ao longo da vida). A origem do DMN é heterogênea e pode resultar de uma falha

no desenvolvimento pancreático, de uma diminuição da população de células beta-

pancreáticas ou de uma disfunção das células beta limitando a secreção de insulina. O

conhecimento de genes envolvidos na cascata do desenvolvimento pancreático e nos

aspectos relacionados à homeostase da glicose possibilitou entendermos os mecanismos

fisiopatológicos envolvidos na origem do DMN e de outros tipos de diabetes classificados

de diabetes monogênico, como o MODY por exemplo. Além disso, o diagnóstico

molecular trouxe benefícios para o seguimento desses pacientes, permitindo o

aconselhamento genético, norteando o prognóstico e até o tratamento em alguns deles.

Atualmente são conhecidos 21 genes responsáveis pelo DMN, sendo os mais comuns (em

termos de incidência) o gene KCNJ11 (30 a 50% dos casos), o gene INS (16%), o ABCC8

(13%) e mais raramente o gene GCK. Neste trabalho foi realizada a análise molecular dos

genes KCNJ11, ABCC8, INS e GCK em quatro pacientes diagnosticados com DMN, três

deles com a forma permanente (DMNP) e um com a forma transitória (DMNT). Não foram

encontradas mutações nos genes KCNJ11 e INS. O estudo molecular do gene ABCC8

identificou a mutação p.Phe577Leu, presente em heterozigose no único caso diagnosticado

com DMNT. A análise estrutural dessa mutação não foi realizada pois não há, até o

momento, proteínas com um grau confiável de similaridade que já tenham sido

cristalizadas. As análises de predição realizadas através das ferramentas computacionais

PolyPhen, SIFT e Align-GVGD confirmaram que se trata de uma mutação deletéria. O

estudo molecular do gene GCK confirmou a presença de duas mutações, p.Asn254His e

p.Arg447Gly, nos casos 1 e 2, configurando um genótipo de heterozigose composta. A

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primeira foi herdada das mães dos pacientes, que são irmãs e que foram diagnosticadas com

MODY 2 enquanto a segunda mutação foi herdada dos pais dos pacientes, que são irmãos e

também foram diagnosticados com MODY 2. No irmão mais novo do caso 1 também foi

identificada a mutação p.Arg447Gly herdada do pai cujos exames laboratoriais

identificaram leve hiperglicemia de jejum (MODY 2). A análise estrutural das mutações

mostrou que ambas são bastante deletérias uma vez que comprometem a flexibilidade da

enzima glucoquinase, prejudicando sua função. As análises de predição (PolyPhen, SIFT e

Align-GVGD) também mostraram que ambas as mutações são potencialmente deletérias.

Dos quatro casos estudados, apenas em um (caso 4) não foi possível estabelecer a origem

molecular do DMNP; segundo a literatura, em 40% dos casos de DMN não é possível se

estabelecer o diagnóstico molecular.

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ABSTRACT

Neonatal diabetes mellitus (DMN) is defined by the onset of hyperglycemia

requiring insulin therapy in the first six months of life. However, the differential diagnosis

between diabetes mellitus type 1 (DM1) and DMN in children with early hyperglycemia in

the first year of life is necessary by dosage of autoantibodies (IAA, Anti-GAD and ICA).

Depending on the duration of the disease, the DMN may be either transient (usually start in

the first week of life with regression around 18 months of age, may relapse in adolescence

or adulthood) and permanent (does not go into remission lifelong). The etiology of DMN is

heterogeneous and may result from a failure in pancreatic development, a reduction in the

pancreatic beta cell population, or a dysfunction of beta cells limiting insulin secretion. The

knowledge of genes involved in the cascade of pancreatic development and the aspects

related to glucose homeostasis allowed us to understand the pathophysiological

mechanisms involved in the origin of the DMN and other types of monogenic diabetes such

as MODY. In addition, molecular diagnosis has brought benefits to the follow-up of these

patients, allowing genetic counseling, guiding prognosis and improving treatment in some

of them. Currently, there are 21 genes known as responsible for DMN, and the most

common (in terms of incidence) are: KCNJ11 (30 to 50% of cases), INS gene (16%), the

ABCC8 (13%), and more rarely the gene GCK. In this work we performed a molecular

analysis of genes KCNJ11, ABCC8, INS and GCK in four patients diagnosed with DMN,

three of them with permanent (PNDM) and one with the transitory form (DMNT). There

were no mutations in KCNJ11 and INS genes. Molecular analysis of ABCC8 revealed the

heterozygosis for p.Phe577Leu mutation in the case diagnosed with DMNT. Structural

analysis for this mutation was not performed because there are not proteins with a reliable

degree of similarity that have already been crystallized. The prediction analyzes through

PolyPhen, SIFT and Align-GVGD computational tools confirmed that p.Phe577Leu is a

deleterious mutation. Molecular analysis of GCK gene confirmed the compound

heterozygosis for p.Asn254His and p.Arg447Gly mutations in cases 1 and 2. The first was

inherited from the mothers of the patients, who are sisters and were diagnosed with MODY

2, whereas the second mutation was inherited from fathers, who are brothers and were also

diagnosed with MODY 2. The younger brother of case 1, whose laboratory tests revealed

impaired fasting glycemia (MODY 2), also carries the p.Arg447Gly mutation. Structural

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analysis for both mutations showed that they are quite deleterious since they compromise

the flexibility of the glucokinase enzyme, damaging its function. The prediction analysis

(PolyPhen, SIFT and Align-GVGD) have also shown that both mutations are potentially

damaging. Only one (case 4) out of four cases studied, did not have the molecular origin of

PNDM established; according to the literature, this can happen in 40% of cases.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Activation Function

BSA Albumina Sérica Bovina

CBMEG Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética

DBD DNA Binding Domain

DMN

DMNP

DMNT

DM1

DM2

Diabetes mellitus neonatal

Diabetes mellitus neonatal permanente

Diabetes mellitus neonatal transitório

Diabetes mellitus tipo 1

Diabetes mellitus tipo 2

DMSO Dimetilsulfóxido

DNA Ácido Desoxirribonucléico

dNTP Desoxirribonucleotídeo Trifosfato

EDTA

G-6-P

Ácido Etileno Diamono Trifosfatado

Glicose-6-fosfato

HCl

HLA

Ácido Clorídrico

Antígeno de histocompatibilidade humana

Kb Kilo Bases

LBD Ligand Binding Domain

MgCl2 Cloreto de Magnésio

OMIM Online Mendelian Inheritance in Man

PB Pares de base

PCR Polymerase Chain Reaction

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PDB Protein Data Bank

pH Potencial Hidrogênico

rpm

RCIU

tRNA

SNP

Rotações Por Minuto

Restrição de crescimento intrauterino

RNA transportador

Single Nucleotide Polymorphism

Taq Thermus Aquaticus

TBE Tris – Borato – EDTA

TE Tris – EDTA

Tm Temperatura Média

Tris Tris(hidroximetil)aminometano

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 16

Características clínicas e moleculares 19

Diabetes mellitus Neonatal Transitório (DMNT) 19

Diabetes mellitus Neonatal Permanente (DMNP) 22

OBJETIVOS (Geral e Específico) 39

CASUÍSTICA E MÉTODOS 40

Casuística 40

Métodos 43

RESULTADOS E DISCUSSÃO 57

Achados moleculares no gene KCNJ11 57

Achados moleculares no gene ABCC8 59

Achados moleculares no gene GCK 63

Achados moleculares no gene INS 72

CONCLUSÕES 73

REFERÊNCIAS 75

ANEXOS 86

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INTRODUÇÃO

Diabetes mellitus neonatal (DMN) é definido como o surgimento de hiperglicemia

com necessidade de tratamento com insulina nos primeiros seis meses de vida (3). É um

distúrbio raro com incidência estimada em um caso para cada 300.000 a 400.000 nascidos

vivos segundo Polak et al. (4), acometendo todas as raças e etnias. Alguns autores sugerem

o termo “diabetes mellitus congênito” como mais apropriado para definir a doença uma vez

que o período neonatal abrange somente os primeiros 28 dias de vida. Apesar disso, a

denominação diabetes mellitus neonatal ficou consagrada na literatura. Segundo Shield (5),

a primeira descrição clínica da doença foi feita por Kitselle em 1852, que a descreveu em

seu próprio filho.

A origem do DMN é heterogênea e pode decorrer de uma falha no desenvolvimento

pancreático (incluindo agenesia do pâncreas ou das ilhotas pancreáticas), de uma

diminuição da população de células beta-pancreáticas (por destruição ou por aumento na

sua apoptose), ou ainda por disfunção das células beta limitando a secreção de insulina.

Com o avanço no conhecimento de genes envolvidos tanto na cascata do desenvolvimento

pancreático como nos aspectos relacionados à homeostase da glicose tornou-se mais fácil

entender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na origem do DMN, tendo sido

identificados, até o momento, 21 genes responsáveis pela doença. Ainda assim cerca de

40% dos casos permanecem sem sua causa molecular esclarecida (6).

O DMN pode ser dividido em duas formas, de acordo com a duração da doença: a

forma transitória (DMNT), que se inicia geralmente na primeira semana de vida e regride

ao redor dos 18 meses de idade, podendo recorrer na adolescência ou na vida adulta (7); e a

forma permanente (DMNP), também de início precoce, mas que não entra em remissão

ao longo da vida (8). Baseado em dados publicados na literatura, estima-se que a forma

transitória corresponda a mais da metade (57%) do total de casos de DMN (TABELA 1)

(9).

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Referência Num. Casos DMN Transitório DMN Permanente

von Muhlendahl et al. 1995 57 31 26

Babenko et al. 2006 73 44 29

Suzuki et al. 2007 31 16 15

Rica et al. 2007 20 11 9

Marquis et al. 2002 14 9 5

TOTAL 195 111 84

% 100 56,9 43,1

Clinicamente não é possível diferenciar se um lactente que desenvolveu diabetes

nos primeiros seis meses de vida será um tipo transitório ou permanente. Uma característica

comum das duas formas é a presença de baixo peso ao nascimento, dado esse observado

por von Muhlendahl e Herkenhoff em 1995 (10), num dos primeiros relatos na literatura de

pacientes com longo período de seguimento. Essa observação foi confirmada por diversos

outros autores com o passar dos anos, comprovando a importância da ação da insulina

como fator fundamental para o crescimento fetal (11). Nos casos de DMNT, entretanto, o

retardo de crescimento intrauterino (RCIU) parece ser mais pronunciado e está sempre

presente.

Metz et al. (12) avaliaram retrospectivamente 50 casos de DMN, dentre eles 21

casos de DMNP e 29 de DMNT. Eles puderam observar algumas diferenças nos dois

grupos: o RCIU estava presente em 74% dos casos transitórios e em 36% dos permanentes,

sendo que nos casos transitórios o comprometimento tanto do peso como do comprimento e

do perímetro cefálico ao nascimento era significativamente maior. Ademais, o

aparecimento da hiperglicemia foi mais precoce nos casos transitórios, em média aos seis

dias de vida, enquanto nos casos permanentes o diagnóstico foi ao redor dos 27 dias. Outra

TABELA 1: Resumo de dados de estudos já publicados a respeito da incidência de diabetes mellitus

neonatal transitório versus permanente. Adaptado de Aguilar-Bryan et al. (7)

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diferença notada entre os dois grupos refere-se à dose de insulina ao início do tratamento

que foi significativamente menor nos casos transitórios. Embora os dados apresentados

sejam estatisticamente significantes, os próprios autores reforçam que muitas vezes eles se

sobrepõem, e que o diagnóstico diferencial entre as duas formas de diabetes neonatal não

pode ser feito baseado em achados clínicos.

O diagnóstico molecular de DMN tem papel fundamental não só no contexto do

diagnóstico clínico, mas também para fins de seguimento, de prognóstico, de

aconselhamento genético e até para fins terapêuticos (9).

O principal diagnóstico diferencial para o diabetes mellitus neonatal é o diabetes

mellitus tipo 1 (DM1). Embora a presença de autoanticorpos (anti-insulina, anti-IA2, anti-

GAD e anti-ICA) seja uma característica do DM1 [aqui considerado como a forma

poligênica autoimune clássica, também conhecido com DM tipo 1A(13)], deve-se levar em

conta que de 4 a 7% dos casos de DM1 recém diagnosticados são autoanticorpos negativos

tal como os casos de DMN, não sendo este, portanto, um parâmetro para diferenciar as duas

formas, especialmente naqueles diagnosticados após 6 meses de vida (14). Num estudo

retrospectivo envolvendo 111 pacientes diabéticos diagnosticados no primeiro ano de vida,

Iafusco et al. (15) buscaram identificar marcadores que pudessem diferenciar os casos auto-

imunes dos não auto-imunes. Inicialmente eles distribuíram esses pacientes de acordo com

a idade de aparecimento da doença e puderam notar dois picos de apresentação: um grupo

cujo diagnóstico se concentrou nos primeiros 3 meses de vida e outro grupo concentrado no

final do primeiro ano de vida, estabelecendo-se um cutoff em 180 dias de vida. Algumas

diferenças puderam então ser notadas entre os dois grupos:

O peso de nascimento dos pacientes incluídos no grupo dos diagnosticados

nos primeiros 6 meses de vida (chamarei de grupo 1) era significativamente

menor que no grupo cuja doença se manifestou entre 7 e 12 meses de vida

(grupo 2);

O estudo do genótipo HLA da classe II de risco para DM1 (que incluiu os

haplótipos de alto risco HLA DQB1 e DQA1) mostrou que o grupo 1

apresentava um perfil semelhante ao de indivíduos normais enquanto o grupo

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19

2 apresentava um genótipo de alto risco tal qual o encontrado em indivíduos

com DM1;

A dosagem de autoanticorpos foi realizada em 26 dos 36 pacientes incluídos

no grupo 1 e destes apenas 4 apresentaram-se positivos (15,38%), sendo que

em um deles observava-se também enteropatia autoimune, sugerindo mutação

no gene FOXP3. No grupo 2, 20 dos 75 pacientes foram testados e dentre

eles, 13 (65%) demonstraram a presença de anticorpos (p<0.001).

Anos mais tarde, houve outro estudo europeu abrangendo 187 crianças portadoras de

diabetes permanente de 0 a 2 anos de idade que foram estudadas quanto ao perfil de

haplótipo HLA de risco para DM1 (16). Os achados foram semelhantes aos já então

publicados mostrando que a frequência de HLA da classe II de alto risco para DM1 é

significativamente diferente entre os pacientes com diabetes diagnosticados até os 6

meses de idade e aqueles diagnosticados após os 6 meses, sendo que no primeiro grupo a

distribuição desse genótipo de alto risco é similar ao da população normal. Concluiu-se,

portanto, que nas crianças portadoras de diabetes com necessidade de uso de insulina

manifestado nos primeiros seis meses de vida o diagnóstico de DM1 é improvável,

sugerindo-se o estudo molecular dos genes envolvidos no DMN, em especial o gene

KCNJ11.

1. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E MOLECULARES

1.1. Diabetes Mellitus Neonatal Transitório (DMNT)

A hiperglicemia característica do DMNT é resultado da redução ou da ausência na

produção de insulina durante a vida fetal e pode se estender por um período variável de

tempo na vida pós-natal. Em um estudo conduzido por Temple et al. (7) que avaliou 30

pacientes com DMNT, pode-se observar que a mediana da idade de aparecimento da

hiperglicemia foi de 3 dias, variando de poucas horas até 31 dias. A necessidade de uso

da insulina exógena variou de 4 a 60 semanas (média de 16 semanas). Quanto a

recorrência do diabetes, foi observado que 11 dos 18 pacientes (60%) com mais de 4 anos

de idade reapresentaram a doença, numa idade média de 14 anos (variação de 4 a 25

anos). Metz et al. (12) encontrou hiperglicemia permanente em 5 dos 7 casos de DMNT

após 8 anos de idade. Em ambos os estudos, o início da puberdade (período caracterizado

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20

por aumento na resistência insulínica) e a presença de uma intercorrência clínica (como

uma doença aguda, por exemplo) foram considerados “gatilhos” para a recorrência da

hiperglicemia. Por isso recomenda-se que esses pacientes sejam seguidos a longo prazo,

durante a adolescência e início da vida adulta. Outro dado observado foi a dose de

insulina necessária para se atingir um bom controle glicêmico, que foram mais baixas que

as habitualmente usadas nos casos de DMNP ou nos pacientes com DM1.

Com o propósito de conhecer a função pancreática dos pacientes durante o período

de remissão, objetivando encontrar fatores que influenciaram a recorrência da doença,

Shield et al. (17) estudaram seis pacientes com DMNT, todos secundários a anomalias do

cromossomo 6. A glicemia de jejum e a concentração de insulina foram utilizadas como

ferramentas de avaliação da função da célula beta-pancreática. Observou-se que todos os

casos apresentavam função normal da célula beta-pancreática, sem evidência de

resistência insulínica, não tendo sido possível assim se estabelecer parâmetros que

possam sugerir recorrência.

Os mecanismos responsáveis pela falência das células beta-pancreáticas observada

no período neonatal, seguido de uma recuperação na primeira infância e da recorrência na

adolescência e vida adulta permanecem incertos. Clinicamente é possível supor que haja

uma variabilidade na produção e na secreção da insulina pelo pâncreas, sendo essa

variabilidade uma provável causa da doença. Sabe-se que o pâncreas não é um órgão

fisiologicamente estático e que as células pancreáticas estão constantemente passando por

degeneração e regeneração ao longo da vida (18). Em ratos, foi observado que pouco

antes do nascimento, novas ilhotas pancreáticas são formadas, e uma nova onda de

neogênese celular volta a acontecer próximo ao período de desmame (19). Acreditando

que processo semelhante ocorra em humanos, poderíamos assim explicar a resolução do

diabetes ao redor dos primeiros seis (em média três) meses de vida em crianças com

DMNT.

Um estudo em camundongos conduzido por Ma et al. (20) propôs avaliar o efeito da

superexpressão dos genes ZAC e HYMAI situados no locus do DMNT em humanos.

Neste estudo verificou-se que os camundongos transgênicos que superexpressavam os

genes apresentavam uma redução da massa de células beta pancreáticas intra-útero e que

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21

posteriormente, no período neonatal, havia um aumento do número de células beta,

porém com conteúdo menor de insulina comparado aos animais controle. Nos animais

jovens foi observado um aumento significante no número de células beta, porém que não

se mantinha e evoluía com um grande declínio na vida adulta, levando à intolerância à

glicose.

Em relação à origem molecular, 70% dos casos são secundários a aberrações do

locus do DMNT, na banda 24 do braço longo do cromossomo 6 (6q24) (OMIM 601410),

que levam à perda da metilação e consequente superexpressão de dois imprinted genes aí

localizados, o ZAC/PLAGL1 e o HYMAI (21). Em termos simples, imprinting consiste na

haloexpressão de determinados genes através da adição de grupos metil, geralmente na

região promotora, prevenindo sua transcrição.

Segundo Arima et al. (22), o gene ZAC/PLAGL1, além de ser um gene supressor

tumoral, parece exercer papel mediador na proliferação e na apoptose das células beta

pancreáticas, contribuindo assim para a origem do DMNT. O gene HYMAI, por outro

lado, é responsável por gerar um RNA mensageiro cuja função permanece desconhecida.

Os três mecanismos responsáveis pela superexpressão dos genes ZAC/PLAGL1 e

HYMAI são:

1. Isodissomia uniparental paterna do cromossomo 6 (UPD6), ou seja, a

herança de duas cópias do cromossomo 6 sem a contribuição materna,

corresponde a 41% dos casos;

2. Duplicação do 6q24 do alelo paterno (29% dos casos);

3. Hipometilação da DMR (differentially methylated region - regiões que

apresentam diferentes padrões de metilação) do 6q24 do alelo materno (30%

dos casos) (23).

Defeitos de metilação podem afetar somente o locus 6q24 mas também podem

surgir como parte da síndrome de hipometilação generalizada, na qual outras características

clínicas estão presentes, tais como cardiopatias congênitas, malformações de sistema

nervoso central, entre outras (24). Em se tratando de um defeito de metilação exclusivo do

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locus 6q24, não se observam diferenças clínicas dentre os casos de DMNT, independente

de qual dos três mecanismos que levaram a doença (7).

Dentre as outras causas responsáveis pelo DMNT (30% restantes) estão as mutações

nos genes KCNJ11 e ABCC8 (25), genes que codificam o canal de potássio da célula beta

pancreática; mutações no gene da insulina (INS) (26) e, mais raramente, mutações no gene

HNF1B (fator hepatocítico nuclear tipo 1 beta), gene que codifica o fator de transcrição tipo

2 (TC2) envolvido no desenvolvimento embrionário de órgãos como pâncreas, fígado e rins

e responsável pelo diabetes tipo MODY 5, de aparecimento mais tardio. Como os genes

KCNJ11, ABCC8 e INS também estão envolvidos na origem do DMNP, eles serão

discutidos mais detalhadamente a seguir.

1.2. Diabetes Mellitus Neonatal Permanente (DMNP)

Conforme exposto acima, define-se o diabetes mellitus neonatal permanente como o

surgimento de hiperglicemia nos primeiros seis meses de vida com necessidade de

tratamento por toda a vida. Alguns autores sugerem estender essa suspeita diagnóstica nas

crianças que apresentarem diabetes nos primeiros nove meses de vida, pelo fato de que até

essa idade a incidência de DM1 é baixa (27). O baixo peso de nascimento e a hiperglicemia

são os achados clínicos comuns às diversas causas de DMNP, sendo que esse fenótipo pode

variar de acordo com o genótipo de cada caso, e manifestações extra-pancreáticas podem

somar-se ao quadro clínico inicial, configurando síndromes (representam 10% dos casos de

DMNP) (28). Importante ressaltar que a presença de consanguinidade na família exerce

uma forte influência tanto na prevalência como na origem molecular do DMNP.

Até o momento 20 genes já foram descritos como responsáveis pela origem do

DMNP, cada um deles exercendo papel fundamental no desenvolvimento, na função ou na

sobrevivência das células beta-pancreáticas (TABELA 2) (29).

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23

Gene Locus Herança Achados clínicos

Alterações no desenvolvimento pancreático

PDX1 13q12.2 Recessiva DMNP e agenesia pancreática

PTF1A 10p13-12.1 Recessiva DMNP, agenesia pancreática, hipoplasia/aplasia

cerebelar, disfunção respiratória central

Promotor

PTF1A

10p12.2 Recessiva DMNP, agenesia pancreática sem acometimento

de sistema nervoso central

RFX6 6q22.1 Recessiva DMNP, atresia intestinal, agenesia de vesícula

biliar

GATA6 18q11.1-

q11.2

Dominante DMNP, cardiopatia congênita, alterações de vias

biliares

GATA4 8p23.1 Dominante DMNP, agenesia pancreática, cardiopatia

congênita

GLIS3 9p24.3-p23 Recessiva DMNP, hipotireoidismo congênito, glaucoma,

fibrose hepática, cistos renais

NEUROG3 10q21.3 Recessiva DMNP, síndrome de malabsorção intestinal

NEUROD1 2q32 Recessiva DMNP, hipoplasia cerebelar, comprometimento

visual, surdez neurosensorial

PAX6 11p13 Recessiva DMNP, microftalmia, malformações cerebrais

MNX1 7q36.3 Recessiva DMNP, atraso desenvolvimento

neuropsicomotor, agenesia sacral, ânus

imperfurado

NKX2-2 20p11.22 Recessiva DMNP, atraso desenvolvimento

neuropsicomotor, hipotonia, baixa estatura,

surdez, constipação

continua

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24

Gene Locus Herança Achados clínicos

Alterações na função da célula beta-pancreática

KCNJ11 11p15.1 Espontânea ou

dominante

DMNT/ DMNP, síndrome DEND (atraso no

desenvolvimento neuropsicomotor, epilepsia,

fraqueza muscular)

ABCC8 11p15.1 Espontânea,

dominante ou

recessiva

DMNT/ DMNP, síndrome DEND

GCK 7p15-p13 Recessiva DMNP isolado

SLC2A2

(GLUT2)

3q26.1-

q26.3

Recessiva Síndrome de Fanconi-Bickel: DMNP,

hipergalactosemia, disfunção hepática

Destruição da célula beta-pancreática

INS 11p15.1 Espontânea ou

dominante

DMNP isolado

EIF2AK3 2p11.2 Recessiva Síndrome de Wolcott-Rallison: DMNP,

displasia esquelética, disfunção hepática

FOXP3 Xp11.23-

p13.3

Recessiva ligada ao

X

Síndrome IPEX: DMNP, enteropatia autoimune,

eczema, hipotireoidismo autoimune, aumento de

IGE

IER3IP1 18q21.2 Recessiva DMNP, microcefalia, encefalopatia epilética

TABELA 2: Genes envolvidos na origem do diabetes mellitus neonatal permanente. Adaptado de Rubio

Cabezas et al. Pediatric Diabetes (2014)

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25

A seguir, uma breve descrição do papel de cada um desses genes será exposta, com

ênfase à função dos genes que foram objetos desse estudo.

1.2.1 Alterações do desenvolvimento pancreático

Durante a embriogênese do pâncreas, diversos fatores de transcrição estão envolvidos

na regulação de genes capazes de promover a diferenciação das células embrionárias e o

desenvolvimento das células pancreáticas (30).

O comprometimento da função desses genes implicará em falha no processo de

formação do pâncreas, que será mais acentuado quanto mais precoce o gene desempenhar

função na vida embrionária, e tanto a função endócrina como a exócrina do pâncreas

poderá ser afetada. Esse conhecimento trouxe benefícios não só para o entendimento da

origem de alguns casos de diabetes neonatal como também tem sido essencial para o

desenvolvimento de terapias gênicas de substituição de células beta-pancreáticas (31).

Segue abaixo a descrição dos principais genes envolvidos na cascata da

diferenciação pancreática, cuja disfunção está associada ao aparecimento do diabetes

neonatal.

1.2.1A Gene PDX1/IPF-1 (proteína homeobox pancreática e duodenal 1/

fator promotor de insulina 1 – OMIM 600733)

O gene PDX1, também conhecido como IPF-1, é um gene regulador que exerce

papel central na cascata de desenvolvimento e diferenciação das células pancreáticas, tanto

endócrinas como exócrinas.

A importância do gene PDX1 no desenvolvimento pancreático tornou-se clara ao se

confirmar o diagnóstico de agenesia pancreática em uma criança portadora de uma mutação

p.Pro63Argfs*60) causada pela deleção de um único nucleotídeo, que leva à produção de

uma proteína inativa, impedindo o desenvolvimento do pâncreas (32). A criança era

homozigota para a mutação e foi tratada com insulina e enzimas pancreáticas. Um segundo

caso foi descrito cinco anos depois em um paciente portador de duas mutações em

heterozigose composta (p.Glu164Asp e p.Glu178Lys), que teve o diagnóstico de diabetes

com 12 dias de vida (33). Os autores conseguiram demonstrar que essas mutações reduziam

em mais de 70% a atividade da proteína, comprometendo assim a formação do pâncreas.

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26

1.2.1B Gene PTF1 (fator de transcrição pancreático tipo 1, subunidade

alfa – OMIM 607194, 619069)

O gene PTF1 é expresso precocemente na embriogênese e codifica o fator de

transcrição pancreático 1 (PTF1), essencial no desenvolvimento e na manutenção do

pâncreas adulto, além de estar envolvido no desenvolvimento cerebelar.

Em ratos, a deleção do Ptf1resulta em óbito neonatal por agenesia pancreática e

cerebelar, fenótipo consistente com o encontrado em humanos (34).

A primeira descrição da doença foi feita por Hoveyda et al. (35) ao identificar em

três crianças de uma família de origem paquistanesa uma síndrome de herança autossômica

recessiva composta por DMN, restrição de crescimento intrauterino grave, microcefalia,

dismorfismos faciais, dificuldade respiratória e hipoplasia cerebelar. Na família havia

vários casos de diabetes de surgimento na terceira década de vida. Anos mais tarde, Sellick

et al. (34) descreveram uma segunda família caucasiana do norte europeu com os mesmos

fenótipos, e identificaram um novo locus para o DMN no braço curto do cromossomo 10

(10p13-p12.1) e selecionaram para estudo três genes presentes nessa região, PIP5K2A,

PTF1A e o CACNB2. Eles encontraram duas mutações (p.Arg296* e p.Pro236fsX270) no

gene PTF1A como causa para a doença. Ao exame de macroscopia e microscopia do tecido

pancreático realizado durante autópsia de um dos pacientes que evoluiu ao óbito não se

encontrou tecido pancreático, embora interessantemente os níveis circulantes de peptídeo C

e de insulina fossem baixos, porém detectáveis.

Recentemente, mutações em regiões promotoras do gene PTF1A foram descritas

como causa de agenesia pancreática isolada (36).

1.2.1C Gene RFX6 (fator de transcrição regulatório X – OMIM 612659)

Há dez anos, Mitchell et al. (37) descreveram uma síndrome caracterizada por

diabetes de início nos primeiros dias de vida secundário à hipoplasia pancreática, associado

à atresia intestinal, diarreia não responsiva à reposição de enzimas pancreáticas e

agenesia/hipoplasia de vesícula biliar. Esses achados foram descritos em cinco crianças,

dois irmãos fruto de pais consanguíneos, e outros dois, também irmãos, sem relato de

consanguinidade na família, além de um caso isolado fruto de fertilização in vitro com

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óvulo doado. Em 2010, Smith et al. (38) identificaram em duas dessas crianças e em outras

três, mutações no gene RFX6, e comprovaram em ratos que as alterações encontradas nesse

gene reduziam a expressão de outros genes envolvidos na diferenciação das células

pancreáticas, atribuindo a ele um papel regulador fundamental na cascata de diferenciação e

desenvolvimento do pâncreas.

1.2.1D Gene GATA6 e GATA4 (fator de transcrição GATA6 e fator de

transcrição GATA4 – OMIM 601656 e 600576)

Os genes GATA6 e GATA4 codificam os fatores de transcrição GATA6 e GATA4

que estão envolvidos na embriogênese do pâncreas e do coração, principalmente. Em 1994,

Yorifuji et al. (39) descreveram pela primeira vez uma síndrome que englobava hipoplasia

pancreática e cardiopatia congênita em uma família japonesa, mas foi somente em 2012 que

Lango Allen et al. (40) elucidaram que a haploinsuficiência do gene GATA6 seria

responsável pelo quadro de agenesia pancreática, inferindo que as alterações nesse gene

sejam a causa mais comum de agenesia pancreática em humanos. As mutações no gene

GATA4 por sua vez sempre foram associadas a defeitos cardíacos, por codificar um fator de

transcrição envolvido primordialmente na embriogênese do coração. Em 2010, D`Amato et

al. (41) identificaram em uma criança de origem italiana nascida com defeito do septo atrial

e agenesia pancreática uma mutação em heterozigose no gene GATA4 e comprovaram que

a mutação comprometia o funcionamento da proteína, prejudicando sua ligação ao DNA.

Esse estudo foi o único na literatura até o momento a associar o gene GATA4 à origem do

DMNP, embora já seja conhecida a função desse gene como membro da rede que regula a

diferenciação embrionária do pâncreas.

1.2.1E Gene GLIS3 (fator de transcrição pertencente à subfamília GLIS –

OMIM 610192)

Taha et al. (42) descreveram pela primeira vez dois irmãos frutos de casamentos

consanguíneos que apresentavam restrição de crescimento intra-uterino grave, diabetes

neonatal por hipoplasia/agenesia pancreática, hipotireoidismo congênito, colestase com

fibrose hepática, glaucoma congênito, rins policísticos e dismorfismos faciais. Alguns anos

depois o mesmo grupo confirmou o diagnóstico molecular dessa família e de outras duas

famílias consanguíneas que apresentavam fenótipo semelhante, porém mais heterogêneo

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28

(43). Eles encontraram mutações no gene GLIS3, um fator de transcrição que é expresso

nas primeiras etapas do desenvolvimento embrionário, em especial na diferenciação da

tireoide, olhos, rins, fígado e pâncreas, onde parece comprometer mais a função das células

beta-pancreáticas que outros tipos celulares do órgão.

1.2.1F Gene NEUROG3 (fator de transcrição neurogenina 3 – OMIM

604882)

O gene NEUROG3 faz parte do complexo grupo de fatores de transcrição envolvido

na embriogênese pancreática e, nesse caso em particular, também no desenvolvimento e

função das células enteroendócrinas (44). O primeiro caso que descreve mutação no gene

NEUROG3 foi num paciente com diarreia congênita secundária à ausência de células

enterointestinais (visto à biópsia de intestino) e que aos nove anos apresentou hiperglicemia

com necessidade de tratamento com insulina. Anos mais tarde mutações nesse gene

também foram encontradas em outros dois pacientes com diabetes neonatal, em associação

com diarreia malabsortiva crônica, comprovada em biópsia intestinal ser secundária a

ausência de células enterointestinais (45, 46).

1.2.1G Gene NEUROD1 (fator de transcrição bHLH [basic helix-loop-helix]

– OMIM 601724)

NEUROD1 é outro fator de transcrição expresso amplamente tanto no

desenvolvimento como na manutenção das células beta-pancreáticas, e mutações em

heterozigose nesse gene foram identificados em pacientes com MODY (47). Em 2010,

Rubio-Cabezas et al. (48) estudaram 44 pacientes com DMNP de origem não conhecida e

identificaram em dois casos mutações em homozigose no NEUROD1,que gerava uma

proteína truncada sem seu domínio de ativação. Nesses casos, o diabetes surgiu aos dois

meses de vida, e estava associado à hipoplasia cerebelar, surdez neurossensorial, atraso no

desenvolvimento e comprometimento visual.

1.2.1H Gene PAX6 (fator de transcrição paired box gene – OMIM 607108)

O gene PAX6 tem sua função bem conhecida como fator de transcrição envolvido

na embriogênese ocular. Com os avanços no entendimento da rede que controla o

desenvolvimento pancreático, o gene PAX6 também foi identificado como peça importante

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29

dessa cascata de diferenciação (49). Baseado nesse conhecimento, Yasuda et al. (50) se

propuseram a estudar pacientes com aniridia e diagnóstico molecular de mutações em

heterozigose no gene PAX6, cujas famílias apresentavam histórico da associação de aniridia

com diabetes. Um total de seis pacientes foi submetido a teste de intolerância oral à glicose

e cinco deles apresentavam intolerância à glicose, fazendo supor assim que as alterações

encontradas no gene PAX6 seriam corresponsáveis pela alteração no metabolismo da

glicose além da aniridia. Anos mais tarde, Solomon et al. (51) descreveram duas mutações

em heterozigose composta (p.Arg38Trp e p.Arg240*) no gene PAX6, em um lactente filho

de pais não consanguíneos com anomalias cerebrais múltiplas, microftalmia e diabetes

neonatal, e em ambas as famílias materna e paterna havia descrição de oftalmopatias

(aniridia, catarata, cegueira). Esse foi o único caso descrito na literatura da associação entre

diabetes neonatal e mutações no PAX6.

1.2.1I Gene MNX1 (motor neuron and pancreas homeobox protein 1/ também

conhecido como homeobox HB9/HLXB9 - OMIM 142994)

No início da década de 90, o gene MNX1 (até então chamado de HB9) foi

identificado como um fator de transcrição envolvido na diferenciação do tecido linfoide e

também do tecido pancreático (52). Suas alterações inicialmente foram descritas como

responsáveis pela síndrome de Currarino, composta pela tríade agenesia sacral parcial,

teratoma pré-sacral e anomalias anoretais (53). Em 2013, buscando encontrar o diagnóstico

molecular de uma criança que apresentou diabetes com 17 dias de vida, filha de pais

consanguíneos, Bonnefond et al. (54) desenharam um estudo baseado no mapeamento da

homozigosidade, através da análise do DNA genômico da criança e de seus pais. Eles

encontraram 17 regiões de alto grau de homozigosidade no DNA dos pais, e dentre os mais

de 800 genes contidos nessa região, escolheram estudar o gene GATA6 e o gene MNX1, por

seus papéis já serem conhecidos na embriogênese pancreática. Finalmente ao sequenciá-los,

a mutação p.Phe272Leu foi identificada no gene MNX1, configurando o primeiro caso de

DMNP e mutação no MNX1 descrito na literatura.

1.2.1J Gene NKX2-2 (homeobox gene NKX2-2 - OMIM 604612)

Data do início da década de 90 o conhecimento do papel do gene NKX2-2 como fator

de transcrição envolvido no desenvolvimento e na maturação das células beta-pancreáticas

(55). Estudos em ratos nos quais a expressão do gene NKX2-2 foi anulada demonstraram

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30

que os animais apresentavam células beta no tecido pancreático, porém as mesmas não se

diferenciavam e não produziam insulina (56). Além disso, esse modelo mostrou que os

animais knockout não expressavam o gene da insulina, conferindo ao gene NKX2-2 também

um papel de regulador upstream do gene da insulina. Recentemente, Flanagan et al. (57)

descreveram três pacientes com mutações no gene NKX2-2 que apresentaram diabetes na

primeira semana de vida associado a um importante atraso no desenvolvimento

neuropsicomotor, hipotonia, comprometimento visual e auditivo, fenótipo esse semelhante

ao encontrado em ratos knockout para o gene NKX2-2.

1.2.2 Alterações na função da célula beta-pancreática

A secreção da insulina pelas células beta-pancreáticas está vinculada à glicemia sérica

e são várias as proteínas envolvidas no mecanismo de homeostase da glicose. Mutações em

quatro genes expressos nas células beta-pancreáticas têm sido relacionadas ao quadro de

hipoinsulinemia (às vezes também relacionados ao fenótipo oposto: hiperinsulinemia,

levando a hipoglicemia) e o conhecimento da função desses genes auxiliou a compreensão

dos mecanismos envolvidos no controle da secreção de insulina.

A glicose é o secretagogo mais importante da célula beta-pancreática. O aumento dos

níveis de glicose na corrente sanguínea resulta em aumento do seu transporte para o interior

das células beta através de difusão passiva, pela ação da proteína de membrana denominada

GLUT2. No ambiente intracelular, a glicose é fosforilada à glicose-6-fosfato (G-6-P) pela

enzima glucoquinase, e a G-6-P será convertida à piruvato pelo mecanismo de glicólise. O

piruvato formado no citoplasma será transportado à mitocôndria onde será convertido em

acetil-CoA, que entra no ciclo de Krebs resultando em aumento do ATP e consequente

aumento da fração ATP/ADP no citoplasma. Essa relação ATP/ADP aumentada provoca o

fechamento dos canais de potássio e consequente despolarização da membrana celular, que

abre canais de cálcio, sensíveis à voltagem. O aumento do influxo de cálcio para a célula

beta desencadeará a exocitose da insulina (FIGURA 1).

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31

1.2.2A Gene KCNJ11 (codifica a subunidade Kir6.2 [inwardly rectifying

potassium channel] do canal de potássio sensível ao ATP – K+

ATP da célula beta-

pancreática) (OMIM 600937)

Os canais de potássio sensíveis ao ATP (K+

ATP) estão presentes em diversos tipos

celulares onde desempenham a função de regular o fluxo de potássio através da membrana

plasmática, modificando a atividade elétrica da membrana e interferindo no metabolismo

celular (58). Sua estrutura na célula beta-pancreática é de um composto octamérico

formado por quatro subunidades internas que formam um poro central conhecidas como

subunidades Kir6.2 (inwardly rectifying potassium channels), envoltas por quatro

subunidades regulatórias chamadas SUR1 (sulphonylurea receptor) e sua função, como

exposto acima, é promover a liberação da insulina de acordo com a concentração de glicose

no sangue.

A subunidade Kir6.2 é composta de duas porções transmembrana (M1 e M2)

dispostas entre alças extracelulares constituídas de sequência de peptídeos GFG,

FIGURA 1: Ilustração do papel da glicose no controle da insulina nas células

pancreáticas. Estão destacados em vermelho os genes envolvidos na

secreção da insulina. Adaptado de Florez et al. (1).

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responsáveis pelo transporte seletivo de potássio (K+

selectivity filter) (59). Essa estrutura é

altamente seletiva ao íon K+. Na porção intracelular do Kir6.2 encontra-se o sítio de ligação

ao ATP que exerce efeito inibitório sobre o canal (FIGURA 2).

Inagaki et al. (60) foram os primeiros a descrever em 1995 o gene KCNJ11 como

responsável por codificar a porção Kir 6.2 do canal de K+

ATP. Um ano depois, Thomas et al.

(61) descreveram pela primeira vez uma mutação inativadora no KCNJ11 em uma criança

com hipoglicemia hiperinsulinêmica. Em 2000, Koster et al. (62) desenvolveram ratos

transgênicos que não expressavam a porção aminoterminal do Kir6.2, porção essa que já

era conhecida pelo papel chave na abertura e fechamento do canal (processo denominado

gating). A deleção resultava em canais que permaneciam continuamente abertos pela

sensibilidade reduzida ao efeito inibitório exercido pelo aumento no ATP. Esses animais

apresentavam hiperglicemia grave, com hipoinsulinemia e cetoacidose aos dois dias de

vida, morrendo com cinco dias de vida.

Baseados nesses conhecimentos, Gloyn et al. (63) se dispuseram a estudar 29

crianças com DMNP através da análise do gene KCNJ11. Eles encontraram mutações

ativadoras no KCNJ11 em 10 delas e, além disso, puderam observar que haveria uma

relação genótipo-fenótipo dependendo da localização das mutações. Naqueles casos onde o

quadro clínico baseava-se no diabetes neonatal isoladamente, as mutações estavam

localizadas em resíduos situados próximo ao sítio de ligação ao ATP ou nas interfaces entre

FIGURA 2: Representação esquemática da sub-unidade Kir 6.2 do canal de K+

ATP

constituído por duas porções transmembrana (M1 e M2) e um grande domínio

citoplasmático onde está o sítio de ligação ao ATP. Retirado de Smith et al.

Expert Rev Mol Med. 2007 (58)

Citoplasma

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33

as subunidades Kir6.2 ou entre Kir6.2 e o SUR1. Já naqueles quadros de diabetes associado

a achados neurológicos (denominado síndrome DEND: diabetes neonatal, atraso no

desenvolvimento, epilepsia), as mutações estavam localizadas em sítios distantes do

domínio de ligação ao ATP.

Desde então diversos outros autores descreveram mutações ativadoras no gene

KCNJ11 associadas ao diabetes neonatal, todas em heterozigose, e atualmente elas são

consideradas como a causa mais comum de DMNP (28).

O gene KCNJ11 está localizado no cromossomo 11p15.1, mesma localização do

gene ABCC8, e é composto de um único éxon que codifica 390 aminoácidos. Ambos estão

sob controle de uma região promotora comum, sendo regulados pelos mesmos fatores de

transcrição, incluindo o fator de transcrição Foxa2, o que permite que a expressão dos dois

genes seja associada (59).

1.2.2B Gene ABCC8 (codifica a subunidade SUR1 [sulphonylurea receptor]

do canal de potássio sensível ao ATP – K+

ATP da célula beta-pancreática) (OMIM

600509)

As subunidades SUR1 do canal de K+

ATP pertencem à subfamília de proteínas ATP-

binding cassete transporter (ABC) e, como dito acima, localiza-se na periferia do canal.

Sua estrutura é composta por 17 alças transmembrana dispostas em três domínios TMD0,

TMD1 e TMD2, cada um com 5, 6 e 6 alças, respectivamente, além dos domínios

citoplasmáticos de ligação aos nucleotídeos NBF1 e NBF2 e dos terminais N (extracelular)

e C (intracelular) (FIGURA 3).

FIGURA 3: Representação esquemática da sub-unidade SUR1 do canal de K+

ATP constituído por

três domínios transmembrana (TMD0, TMD1 e TMD2) e dois domínios

citoplasmáticos de ligação ao nucleotídeo (NBF1 e NBF2). Retirado de Smith et al.

Expert Rev Mol Med. 2007 (58).

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Os domínios transmembrana do SUR1 têm a função de interagir com as

subunidades Kir6.2 (FIGURA 4), influenciando a abertura e fechamento do canal e

portanto o fluxo de K+ através dele. Em seu estado livre de ATP, os domínios NBF1 e

NBF2 do SUR1 têm a função de se ligar ao MgADP, levando à abertura do canal e

consequente inibição da secreção de insulina. As subunidades SUR1 possuem ainda sítios

de ligação a drogas com efeitos estimulatórios sobre o canal K+

ATP (como o diazóxido, que

impede a secreção de insulina) e drogas com efeito inibitório (como as sulfoniluréias, que

aumentam a secreção de insulina). O gene ABCC8, que está na região cromossômica

11p15.1 adjacente ao KCNJ11, é composto por 39 éxons que codificam 1582 aminoácidos.

Proks et al. (64) foram os primeiros a identificar uma mutação ativadora no ABCC8

como causa de DMNP em um paciente que apresentava síndrome DEND. Em seguida,

Babenko et al. (65) sequenciaram o gene ABCC8 de 34 pacientes com diabetes neonatal (16

com DMNP e 18 com DMNT) e encontraram mutações em nove deles, dos quais dois

tinham a forma permanente e sete a forma transitória. Estudando um grupo ainda maior de

pacientes com DMNP, Ellard et al. (66) puderam identificar em 16 dos 59 casos mutações

no ABCC8 e constataram que, diferentemente do que acontece nos casos de DMNP por

mutações ativadoras no KCNJ11, que estão em heterozigose, aqui houve casos com padrão

de herança tanto dominante como recessiva.

Extracelular

Intracelular

KIR6.2 SUR1

FIGURA 4: Representação esquemática das sub-unidades Kir6.2 e SUR1 do canal de K+

ATP.

Adaptado de Aschcroft, J Clin Invest. 2005 (2)

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35

O fenótipo observado nos casos de DMN causado por mutações ativadoras no

ABCC8 é variado, semelhante ao que se observa nas mutações no KCNJ11, podendo

apresentar como a forma transitória, a forma permanente isolada ou ainda associada a

sintomas neurológicos (síndrome DEND). Atualmente, as mutações ativadoras no gene

ABCC8 são consideradas a causa mais comum de DMNT depois das alterações no

cromossomo 6 (9).

Um aspecto muito relevante a ser considerado nos casos de DMN secundário a

mutações nos genes que codificam o canal K+

ATP (KCNJ11 e ABCC8) diz respeito ao

tratamento. Considerando que o diabetes nesses casos é resultado de uma atividade

excessiva do canal K+

ATP e que o seu fechamento seria etapa fundamental na liberação da

insulina, a sulfoniluréia, droga com ação já estabelecida como inibidor do canal K+

ATP,

passou a ser considerada alternativa terapêutica à insulina. Embora a insulina seja a

primeira escolha num quadro clínico de descompensação metabólica provocado pela

hiperglicemia, muitos autores puderam comprovar a longo prazo que, na maioria dos casos,

o uso de hipoglicemiantes orais foi efetivo no controle glicêmico (67, 68).

1.2.2C Gene GCK (codifica a enzima glucoquinase) (OMIM 138079)

A fosforilação da glicose no sexto carbono transformando-a em glicose-6-fosfato é a

etapa inicial do processo de glicólise em todas as células e, na célula beta-pancreática,

resultará na liberação da insulina. Essa reação é catalisada pela família de enzimas

conhecida por hexoquinases, dentre as quais está a glucoquinase (ou hexoquinase tipo IV),

cuja estrutura e função difere do restante das enzimas da família. Nos mamíferos, a

glucoquinase tem ação no fígado e no pâncreas e, diferentemente das outras hexoquinases,

sua atividade catalítica aumenta à medida que aumentam os níveis de seu substrato, a

glicose, no sangue e seu produto, a G-6-P, por sua vez, não inibe sua ação. Por essas

características bioquímicas, Matschinsky et al. (69) desenvolveram um modelo matemático

para avaliar a taxa de fosforilação da glicose pela glucoquinase na célula beta e notaram

que, com apenas 25% do seu potencial de ação catalítica já se atingia o limiar para

liberação da insulina, conferindo à glucoquinase o importante papel de sensor de glicose.

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36

O gene da glucoquinase foi descrito pela primeira vez em 1986 por Iynedjian et al.

(70); está localizado no braço curto do cromossomo 7 (7p15.3-15.1) e codifica a enzima

glucoquinase composta por 465 aminoácidos. Mutações inativadoras em heterozigose no

gene GCK levam a uma perda da função enzimática e, como consequência causam um

subtipo de diabetes tipo MODY, caracterizado por uma leve hiperglicemia, geralmente

diagnosticada na segunda década de vida e que usualmente não necessita tratamento (71,

72).

Em recente pesquisa no banco de dados online Human Gene Mutation Database

(http://www.hgmd.cf.ac.uk/ac/gene.php?gene=GCK – data do último acesso: 21/01/2015),

são descritas um total 644 mutações no gene da glucoquinase, a grande maioria relacionada

ao fenótipo de diabetes tipo MODY (GCK-MODY). Njolstad et al. (73) foram os primeiros

a descrever duas mutações em homozigose no gene GCK (p.Met210Lis e p.Tre228Met) em

dois pacientes com diabetes neonatal que apresentavam deficiência total da glucoquinase,

hiperglicemia grave na primeira semana de vida e pronunciado comprometimento do

crescimento intrauterino. Esses dois casos eram oriundos de duas famílias, de origem

norueguesa e italiana, cujos familiares já tinham o diagnóstico de intolerância à glicose.

Esse estudo foi o primeiro a identificar que mutações no gene GCK em heterozigose

levavam ao fenótipo de MODY enquanto nas mutações em homozigose o fenótipo é o do

diabetes mellitus neonatal permanente.

Até o momento apenas 39 casos de DMNP por mutações em homozigose (38

pacientes) ou heterozigose composta (1 paciente) no gene GCK foram publicados na

literatura. Raimondo et al. (74) descreveram 30 pacientes nos quais encontraram 19

mutações em homozigose, sendo seis mutações novas, e apesar de dentre os 30 casos

apresentados quatro já terem sido relatados na literatura (75-78), trata-se do estudo com o

maior número de casos descritos até hoje. Além desses, outros 5 casos foram previamente

descritos por Njolstad et al. (73, 79) – esse último descreve o único caso reportado até

então de mutação em heterozigose composta, 1 caso descrito por Rubio-Cabezas et al. (80)

e outros 3 descritos por Bennett et al. (77).

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37

1.2.3 Destruição da célula beta-pancreática

1.2.3A Gene INS (codifica a molécula de insulina) (OMIM 176730)

A molécula de insulina é uma cadeia peptídica produzida nas células beta-

pancreáticas originalmente como uma única molécula, a preproinsulina, composta por 110

aminoácidos, divididos em: peptídeo sinalizador na porção amino-terminal (com 24

aminoácidos), a cadeia B (com 30 aminoácidos), a cadeia A (com 21 aminoácidos) e o

peptídeo C, que faz a conexão entre a cadeia A e B (com 33 aminoácidos), além de 2

aminoácidos que são perdidos na síntese da insulina. No retículo endoplasmático a

preproinsulina sofre clivagem através da ação de enzimas proteolíticas, e então o peptídeo

sinalizador é removido dando origem à molécula de proinsulina. Em seguida, o peptídeo C

é removido, formando-se a molécula de insulina ativa. O gene da insulina está localizado

no braço curto do cromossomo 11 (11p15.5) e é composto por três éxons: um deles

responsável por codificar o peptídeo sinalizador, a cadeia B e parte do peptídeo C; outro

éxon codifica a segunda porção do peptídeo C e a cadeia A, e outro que não é traduzido

(81).

Stoy et al. (82) foram os primeiros a reportarem que mutações no gene da insulina

(INS) seriam causa de DMNP. Estudando 16 casos de DMNP foram encontradas 10

mutações em heterozigose; em 11 deles eram mutações de novo. Eles identificaram que as

mutações estavam presentes em aminoácidos cuja localização afetaria a clivagem ou o

“folding” (dobramento) da molécula de preproinsulina, impedindo a formação da

proinsulina e consequentemente da insulina. O acúmulo desses precursores levaria a um

estresse do retículo endoplasmático culminando em apoptose das células beta-pancreáticas.

A partir de então, outros grupos reportaram mutações no gene da insulina como

causa de DMNP em suas respectivas coortes, conferindo ao INS a segunda causa de DMNP

depois das mutações no KCNJ11 (6, 83, 84).

Um aspecto interessante observado pelo grupo de Stoy (82) foi a variabilidade de

apresentação dos casos. Embora a maioria tenha sido diagnosticada nos primeiros 6 meses

de vida, o pai de um dos probandos, portador da mesma mutação que seu filho, teve o

diagnóstico de uma forma leve de DM tipo 2 aos 30 anos de idade.

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Desde a descrição de Stoy et al. (82) em 2007, muitas outras mutações foram

encontradas não só ao longo do gene da insulina como também em sua região promotora e

em suas porções não traduzidas (a saber: o éxon 1, a porção inicial do éxon 2 e a porção

final do éxon 3) (85), sendo algumas de herança autossômica dominante, outras recessiva.

Atualmente as mutações no gene INS estão associadas a três tipos de fenótipos, dependendo

de sua localização e de sua consequência sobre o mecanismo de produção da insulina ou

sobre a própria molécula de insulina em si: DMNP, DMNT e o diabetes de aparecimento no

adulto jovem, conhecido por INS- MODY ou MODY 10 ou ainda MIDY (Mutant INS-

gene-induced Diabetes of Youth) (86).

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OBJETIVOS

Objetivo geral:

Identificar alterações moleculares nos genes KCNJ11, ABCC8, GCK e INS em

quatro indivíduos com diabetes mellitus neonatal.

Objetivos específicos:

1. Identificar alterações moleculares no gene KCNJ11, ABCC8, GCK e INS em

quatro crianças com diabetes mellitus diagnosticadas nos primeiros seis meses de

vida, sendo que em três o diagnóstico foi a forma permanente da doença e em um

a forma transitória;

2. Avaliar a presença de alterações moleculares no gene KCNJ11, ABCC8, GCK e

INS nos pais desses indivíduos e, em especial nas alterações do gene GCK, onde o

DMN tem herança autossômica recessiva.

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CASUÍSTICA E MÉTODOS

1. CASUÍSTICA

A casuística deste trabalho foi composta por 4 pacientes portadores de diabetes

neonatal encaminhados ao ambulatório de Diabetes Pediatria do Hospital de Clínicas da

UNICAMP. Sendo que deles, 3 apresentavam a forma permanente da doença e um a forma

transitória.

Segue descrição sucinta dos casos clínicos, objetivos iniciais do estudo.

Os casos 1 e 2 são pertencentes à mesma família. Ambos são primos-irmãos, sendo

suas mães irmãs e os pais também irmãos (FIGURA 5). Durante os quatro primeiros anos

de vida eles foram acompanhados no serviço, de maneira pouco assídua. Pela dificuldade

de locomoção entre a cidade de origem (Piracicaba – SP) e o Hospital de Clínicas

(Campinas – SP), ambos foram encaminhados para seguimento em serviço especializado da

cidade (CADME – Centro de Atenção às Doenças Metabólicas).

FIGURA 5: Heredograma da família dos casos 1 e 2. Os quadrados com listras verticais simbolizam

a mutação p.Arg447Gli, GCK-MODY. Os círculos com listras horizontais simbolizam

a mutação p.Asn254His, GCK-MODY. As setas indicam os probandos. N/D significa

dados não disponíveis. Valores normais dos testes laboratoriais: glicemia de jejum: 75 a

99 mg/dl; peptídeo – C sérico: 0,8 a 4 ng/ml; hemoglobina glicada (A1c) – 3,9 a 6,1%

(19 a 43 mmol/mol).

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Caso 1: RN sexo masculino, nascido a termo por parto normal, filho de pais não

consanguíneos e mãe HIV positivo sem tratamento. Gestação sem acompanhamento pré-

natal ocorrida na vigência de drogadição (tabagismo, álcool, cocaína e crack). Mãe fez uso

de AZT intra-parto. Seu peso ao nascer era de 1750 g (-2DP) e a estatura de 42 cm (–2DP),

mostrando um retardo de crescimento intra-uterino. Aos 26 dias de vida apresentou

hiperglicemia (780 mg/dl) sendo iniciada insulinoterapia que se mantém até os dias atuais.

Aos dois anos de idade foi feita a dosagem de peptídeo C que se mostrou inferior a 0,5

ng/ml (normal: 0,8 a 4, sendo a glicemia colhida em jejum na mesma amostra de sangue de

421 mg/dl), além das dosagens de autoanticorpos negativas. Segundo relato do responsável

pelo serviço onde atualmente ele é acompanhado, seu desenvolvimento neuropsicomotor

está adequado aos seus 10 anos de idade e seu controle glicêmico é regular (hemoglobina

glicada 8,3% - nl: 3,9 a 6,1). O irmão mais novo e seus pais são assintomáticos e na

investigação laboratorial realizada no nosso ambulatório, todos apresentaram glicemia de

jejum alterada (FIGURA 5).

Caso 2: RN sexo masculino, nascido a termo por parto cesária, após gestação sem

acompanhamento pré-natal ocorrida na vigência de drogadição (álcool, maconha, cocaína).

Seu peso ao nascer era de 1550 g (-2DP) e sua estatura 40,5 cm (-2DP) mostrando um

retardo de crescimento intra-uterino. Ao nascimento apresentou desconforto respiratório

com necessidade de suporte ventilatório. Evoluiu bem quando aos 29 dias de vida

apresentou piora do padrão respiratório associado à hipertermia, desidratação e

hiperglicemia (1400 mg/dl). Iniciada insulinoterapia que mantém até hoje, com 10 anos de

idade. Aos dois anos de idade foi realizada a dosagem de peptídeo C que foi inferior a 0,5

ng/ml (normal: 0,8 a 4, com glicemia dosada na mesma amostra de 342mg/dl) e dosagem

de autoanticorpos (anti-ICA, anti-GAD, anti-insulina) negativos. A informação obtida no

serviço que o acompanha é de que seu desenvolvimento neurocognitivo é adequado,

embora apresente um mau controle do diabetes (hemoglobina glicada 13% - nl: 3,9 a 6,1).

Filho de pais não consanguíneos, saudáveis, ambos apresentaram glicemia de jejum

alterada nos exames laboratoriais realizados durante seguimento em nosso serviço

(FIGURA 5).

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Passados nove anos, sua mãe apresentou diabetes gestacional (em gestação fruto de

outra relação), sem necessidade de uso de insulina e que entrou em remissão. Não foi

possível a realização do estudo molecular nessa criança.

Caso 3: RN sexo masculino, filho único de pais não consanguíneos, nascido a termo

por parto cesária com peso de 2920 g e 49,5 cm de estatura. Sem intercorrências

gestacionais ou neonatais. Aos dois meses de vida apresentou quadro de pneumonia

acompanhado de hiperglicemia (700 mg/dl) sendo iniciada insulinoterapia (0,27 u/kg/dia).

A dose da insulina foi sendo progressivamente diminuída pois apresentava episódios

repetidos de hipoglicemia, culminando com sua completa suspensão com 1 ano e 3 meses

de idade. Tem dosagem de insulina e peptídeo C baixos (insulina: 2 uUI/ml – normal 6 a

28), peptídeo C inferior a 0,5 ng/ml - normal de 0,9 a 7,1), com dosagem de autoanticorpos

negativas. Mantém-se bem clinicamente e apresenta picos esporádicos de leve

hiperglicemia (150 a 180 mg/dl), na vigência de processos infecciosos, sem necessidade de

tratamento. Na última consulta, aos 9 anos de idade, apresentava desenvolvimento

neuropsicomotor adequado e até o momento não foi necessário reintroduzir o tratamento.

Sua última hemoglobina glicada é de 5,9% (3,9 a 6,1%) e suas glicemias de jejum variam

entre 70 a 100 mg/dl.

Caso 4: RN sexo masculino, filho único de pais não consanguíneos, nascido por

parto cesária a termo pesando 2860 g e 48,5 cm de estatura. Sem antecedentes gestacionais,

neonatais ou familiares de relevância. Já no primeiro dia de vida apresentou hiperglicemia

leve (110 mg/dl) sendo iniciada reposição insulínica. Tem dosagem de insulina e peptídeo

C baixos (insulina: 0,1 uUI/ml – normal 6 a 28), peptídeo C: 0,4 ng/ml - normal de 0,9 a

7,1), com dosagem de autoanticorpos negativas. Segue acompanhamento clínico e

laboratorial, mantendo uso constante de insulina. Apresenta bom ganho pôndero-estatural,

controle glicêmico regular (hemoglobina glicada 8,4% - nl: 3,9 a 6,1) e na última consulta

aos sete anos de idade apresentava desenvolvimento neuropsicomotor adequado.

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2. MÉTODOS

A figura abaixo representa de uma forma geral as etapas utilizadas para a realização

deste trabalho.

FIGURA 6: Fluxograma ilustrando a metodologia empregada para a realização deste trabalho.

ClustalW

Swiss-Model

STING Millenium

PyMOL Viewer

Polyphen

SIFT

Align GV-GD

OEGE

Diagnóstico clínico dos pacientes

Extração do DNA a partir do sangue

periférico

Amplificação por PCR

Sequenciamento

Mutações novas

Análise in silico

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2.1 Obtenção das amostras e extração de DNA genômico

As amostras de DNA genômico dos pacientes foram obtidas a partir de sangue total

periférico (aproximadamente 10 mL), colhido em tubos com 10% de anti-coagulante ácido

etileno diamino tetracético (EDTA).

2.2 Extração de DNA genômico a partir de sangue total periférico

Para extração de DNA foi empregado o método de lise com Proteinase K

padronizada no laboratório de Genética Molecular Humana – CBMEG (87). As etapas e as

soluções utilizadas seguem listadas a baixo:

Soluções:

Solução A [ ] final Solução B

(estoque 2X) [ ] final Solução C [ ] final

MgCl2 5 mM EDTA 20 mM Solução B 0,5 X

Sacarose 0,32 M NaCl 20 mM SDS 5%

Tris-HCl pH 8,0 10 mM Tris-HCl pH 8,0 20 mM Proteinase K 1 mg/mL

Triton X-100 1%

Etapas:

Para lise das hemácias foi adicionada solução A ao sangue coletado até completar o

volume de 50 mL, permanecendo no gelo por 30 minutos;

Centrifugou-se por 10 minutos a 2.000 rpm e 4 ºC;

O sobrenadante foi descartado e o precipitado (pellet) ressuspendido em 20 mL da

solução A. Esta etapa foi repetida até o pellet ficar livre de hemácias lisadas;

O pellet foi ressuspendido em solução B diluída em 1X;

Acrescentou-se 250 µL de solução C;

A mistura permaneceu overnight em incubação a 37 ºC;

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No dia seguinte para a extração de DNA dos leucócitos foram adicionados 1,25 mL

de TE 1X (Tris-HCl 10 mM pH 8,0; EDTA 1 mM pH 8,0) e o mesmo volume final

de fenol saturado com Tris-HCl 10 mM pH 8,0;

Os tubos foram homogeneizados por inversão lenta durante 5 minutos;

Para separação e recuperação da fase aquosa (superior) o tubo foi centrifugado a

3.000 rpm por 15 minutos à temperatura ambiente;

Acrescentou-se à fase aquosa igual volume de fenol saturado com Tris-HCl 10

mM pH 8,0, e após leve agitação por 5 minutos foi centrifugado novamente;

A etapa foi repetida com a solução fenol:clorofórmio:álcool isoamílico (25:24:1), e

por último clorofórmio:álcool isoamílico (24:1);

Para precipitação do DNA, acrescentou-se 0,1 volume de acetato de sódio 3 M

pH 5,5 e 2,5 volumes de etanol absoluto gelado;

O DNA precipitado foi recuperado com auxílio de uma haste de plástico esterilizada

e lavado com etanol 70% para retirada do excesso de sal, e posteriormente

ressuspendido em TE 1X (200 a 500 µL).

A concentração de DNA foi obtida através de leitura de absorbância óptica a

em espectrofotômetro e a integridade do DNA foi verificada em eletroforese de gel de

agarose a 0,8%.

2.3 Amplificação do gene KCNJ11

O gene KCNJ11 possui um único éxon. Para facilitar seu estudo, optou-se por dividir o

gene em 8 fragmentos desenhando primers internos, conforme tabela a seguir. Estes

primers foram desenhados para amplificação do éxon e das regiões 5’ e 3’ que o

flanqueiam.

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Fragmentos Seqüência dos primers (5' - 3') Tm (oC)

Tamanho

(pb)

Frag. 1 Sense CCGAAGGCCAGACAGGTG 60,2

504 Antisense AGGGCAGATCACTAGGTCAGG 59,9

Frag. 2 Sense GCCTCTCGGGTTCAAGCG 62,6 551

Antisense ACGTTGCAGTTGCCTTTCTTG 62,3

Frag. 3 Sense CCAGGTGGAGGTAAGGAAGAG 59,8 783

Antisense ACACGTAGCATGAAGCAGAGG 59,5

Frag. 4 Sense ATGTCCTTCCTGTGCAGCTG 59,5 741

Antisense GTCCTCCTCAGCTACAATGGG 60,4

Frag. 5 Sense CACCACCACCAGGACCTCG 62,4 635

Antisense GCACAGCTCTAGGGCCCAG 61,9

Frag. 6 Sense TCCCTGTCCTGAGCCATGG 62,2 764

Antisense GACAGGCAGGAGGTAGGCAG 61,1

Frag. 7 Sense GTGAGGGCTCTGTGGGCTG 62,0 743

Antisense AGCCAGGATTCGAACCCAG 61,2

Frag. 8 Sense GGGCACTCACCAGGCTTTG 62,3 733

Antisense AGTGGGTGGGCAAGTGCAG 62,5

2.4 Amplificação do gene ABCC8

A amplificação dos 39 éxons do gene ABCC8 foi realizada com primers específicos,

conforme tabela a seguir. Estes primers foram desenhados para amplificação dos éxons e

parte das regiões intrônicas (nos limites dos éxons), para verificação da região de splicing.

TABELA 3: Primers desenhados pelo software Gene Runner 5.0.80 Beta utilizados na amplificação do gene

KCNJ11.

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Fragmentos Seqüência dos primers (5' - 3') Tm (oC) Tamanho(pb)

5'UTR

Sense GGTGGGCGCAAGCGTAG 54,1 553

Antisense AGCTGGTGTGCGAGTGCG 54,3

Ex 2 Sense GCCTTGGGGATCCTCATGTG 56,1

460 Antisense GGCCTGGGACTCACTTGCG 57,2

Ex 3

Sense GAAATTCAAGGCCTGGGCTG 56,2 355

Antisense CACCAGACTGTAAGCTCCATGAAG 55,3

Ex 4

Sense ACACACATGATGCACACACGTC 53 277

Antisense GCAGGACAGAGGCCAGAGC 53,9

Ex 5 Sense CAAGGTAGGGAGTGGTGAGAAG 52,4

428 Antisense CCTCACCAGCCTCAGTTTCC 53,2

Ex 6

Sense CACTCTGACCTGGCCATGG 52,3 341

Antisense GCGCATGTGTGAGGAGCC 53,4

Ex 7

Sense GTAATAATGATGGCCGTGGTCC 55,4 441

Antisense CCACTATCCCACACTGCCTTG 54,3

Ex 8

Sense GTGATGATGATGAGAATGATGATG 50,9 324

Antisense GGTACAGGCAAGCATGGAG 49,7

Ex 9-10*

Sense GCAGTTAGTTACCAGCCCAG 49,2 991

Antisense CCCGAGCTCTGACACCC 49

Ex 11

Sense GTCCAGCCACATCCACCC 51,6 659

Antisense GATGGGTGAATGTAATAATGTGTAG 50,5

Ex 12 Sense CACTGGACTGCGCTGCC 51,4

213 Antisense CAAATCTGGGCAGCCTGTC 52,2

Ex 13

Sense GACTGTGGGGATGATGAAGG 50,7 663

Antisense GGGACGGGATGGCCTC 51,4

Ex 14-15-16*

Sense GTGGGACTATACTTCAGGCC 47,7 973

Antisense GTTATTCAGTGGGACATGGG 48,7

Ex 17

Sense GGGTGCATCTGTCTGTCTGTC 50,8 221

Antisense CACTGGGCCCTGAGGATAC 51

Ex 18

Sense GTGATGGAAAGGCAATGGG 52 184

Antisense CAGCATTACCCACCCACAAG 52,5

continua

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Fragmentos Seqüência dos primers (5' - 3') Tm (oC) Tamanho(pb)

Ex 19

Sense GCTCAGTATGCCTTTCCTCCC 54,8 125

Antisense GCCTGAGAGCACCCTGGAG 53,7

Ex 20 Sense GATTTCTACCAACTGCACCTCCC 56,4 337

Antisense GGGAGTGAGATGGCTGGGTG 56

Ex 21-22*

Sense AGCGGGAGGCCTATTAAAG 51 983

Antisense AGGCAGCCAGAGACCAGG 51,3

Ex 23

Sense CCACCATGCCTTTCCCTAC 51,4 574

Antisense GGGAAGGTCATAGGGTGGG 52,6

Ex 24

Sense GTGGATGAGCTGGTGGCC 52 353

Antisense GGGCACTAAGGACAGGAAGAC 52,1

Ex 25-26-27*

Sense CCCACCAACCATATATCCTG 49,1 954

Antisense GATGGGAAGACTAAGGCTCAG 50

Ex 28

Sense CAGGCCAGATGTCTACAAATTG 51,8 301

Antisense GGGAACCCAGCCTCAGAC 50,4

Ex 29 Sense GCACTCAAGTCTGGGCAAC 49,3 471

Antisense GGGCGGTGGAATAAGATG 49,5

Ex 30

Sense CAGCGGTAGCAGGTGGAG 50,4 321

Antisense GGGCCTTGGGACCTGAG 51,2

Ex 31

Sense CGGTGGCATGTCTGGG 48,3 375

Antisense GACACTAGGAGGACCACCAG 47,5

Ex 32-33*

Sense GAGCGCCCAGGTCAGC 50,2 1087

Antisense GGAGAGGAAAGATGGGCC 50

Ex 34-35-36*

Sense GCACACACACCCAGAGCTAG 49,7 954

Antisense CCAGGCTTCAGACTCCAAAC 50,9

Ex 37-38*

Sense CCCAAGCCATCCCATCTG 52,4 873

Antisense CCAGGCAAGCCCAGGG 53,1

Ex 39

Sense CCCACAGTGACAGGACATTC 48,7 496

Antisense CACAGGTAAGGAAGCAGGC 49,3

TABELA 4: Primers desenhados pelo software Gene Runner 5.0.80 Beta utilizados na amplificação

do gene ABCC8.

* Os éxons marcados são individualmente pequenos e próximos entre si, sendo possível

realizar a amplificação em um só fragmento.

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2.5 Amplificação do gene INS

A amplificação dos 2 éxons do gene INS foi realizada com primers específicos,

conforme tabela a seguir. Estes primers foram desenhados para amplificação dos éxons e

parte das regiões intrônicas (nos limites dos éxons), para verificação da região de splicing.

2.6 Amplificação do gene GCK

O gene GCK é composto por 10 éxons; entretanto, existem mais 4 éxons que não

são traduzidos porém também foram estudados. Para sua amplificação foram criados

primers específicos, conforme tabela a seguir. Estes primers foram desenhados para

amplificação dos éxons e parte das regiões intrônicas (nos limites dos éxons), para

verificação da região de splicing.

Fragmentos Seqüência dos primers (5' - 3') Tm (oC) Tamanho (pb)

5'UTR e Ex 1

Sense CCAGGTGAGGGCTTTGC 49,8

787 Antisense GAGCGCCAGGAGCAGG 50,5

Ex 2

Sense CCGGCTGGAGATGGGTG 52,9 498

Antisense GGGAGAGCCACTGCATGC 52,5

TABELA 5: Primers desenhados pelo software Gene Runner 5.0.80 Beta utilizados na amplificação

do gene INS

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Fragmentos Seqüência dos primers (5' - 3') Tm (oC) Tamanho (pb)

Ex 1*

Sense CCCAGCCATCCCATTACTAGG 63 784

Antisense ATTACATGTGAAACTGTGCCCG 62

Ex 2

Sense TCTTTGCCACCAGTCCCAG 60 745

Antisense CTGAGGCTCAAACAAACCATG 59,8

Ex 3*

Sense ACAAGGCTGAGGAATGGAAG 58,2 575

Antisense CCATGTGCCTCCTTCCAAG 59,7

Ex 4*

Sense AGCTCCGCCTCTCCCACTG 63,7 389

Antisense TGGAAGCAGGGCGTCAGG 63,5

Ex 5

Sense GCCCTCGGTGTGCAGATG 60,8 404

Antisense AACTGGCCCAAGTCGAGG 59,1

Ex 6

Sense CTCCTCCTCTTTGTAATATCCGG 61,7 417

Antisense TGTTCACCCAGGCCTCCAG 62,4

Ex 7

Sense AGTGGCCAGGTGTTGCAG 57,8 358

Antisense GGCCACAATTTGAATCCAG 57,3

Ex 8-9**

Sense GACAGGCCCTAGCACCC 48,7 618

Antisense GGTGAGGTGGATATGCAGC 49,2

Ex 10

Sense GACAAAGCAGAGACAGGCATG 59,6 441

Antisense TGGAGCTTACGAACGGATTG 60,3

Ex 11*

Sense GCTATCACTTGTTTACCACCTACTG 60 445

Antisense GCCAGAGCTTTAGAAATGTCAG 58,4

Ex 12

Sense GAGGGAAAGACGTGAACCAG 58,3 435

Antisense CCCTAGTTTCCCATCCCTG 58,2

Ex 13

Sense CTGGAGGCGAGGGCGG 56 872

Antisense GGACGAGAAGAGGACTACGAAATC 55,4

Ex 14

Sense GATTTCGTAGTCCTCTTCTCGTCC 55,4 902

Antisense CCCAGAATCACAAGCCACTCAG 56,1

Ex 14 int.**

Sense CAGCTTGACCAGACCTAGACC 50,3 560

Antisense GAGGAGCTGTCTGGAGGGC 52,8

TABELA 6: Primers desenhados pelo software Gene Runner 5.0.80 Beta utilizados na amplificação

do gene GCK.

* Os éxons marcados correspondem aqueles que não são traduzidos

** Os fragmentos dos éxons marcados são curtos e ficam próximos, sendo possível

realizar a sua amplificação conjunta.

** Trata-se de um único éxon muito longo, portanto foi necessário fragmentá-lo e

desenhar primers internos para sequenciamento.

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51

De uma forma geral, para a reação de PCR, com um volume final de 50 l, foram

utilizadas as seguintes condições:

Volume dos reagentes: Ciclo:

H2O miliq --------------------------- 33,4 µL

Tampão 10X concentrado ---------- 5,0 µL

MgCl2 (50 mM) ---------------------- 1,5 µL

dNTP (2 mM) ----------------------- 5,0 µL

Primer sense (20 pmoles) ----------- 1,0 µL

Primer antisense (20 pmoles) ------- 1,0 µL

Taq DNA Polimerase --------------- 0,3 µL

DNA genômico --------------------- 2,0 µL

Quando necessário é usado 2,5 µL de DMSO

ou 0,3 µL de BSA.

95 ºC ---------- 5 minutos

95 ºC ---------- 1 minuto

Tm* ---------- 1 minuto**

72 ºC ---------- 1 minuto**

72 ºC ---------- 10 minutos

15 ºC --------- ∞

* Tm representa a temperatura média entre

os primers sense e antisense.

** De acordo com o tamanho do fragmento

este tempo pode se estender.

No entanto, houve casos em que a reação básica foi modificada para se obter melhor

especificidade e eficiência de amplificação.

2.7 Purificação dos produtos da PCR

Os fragmentos amplificados por PCR foram purificados com o Kit Wizard SV Gel

and PCR Clean-UP System (Promega) seguindo o protocolo fornecido pelo fabricante.

Após a purificação, as amostras foram quantificadas no equipamento Nanodrop 8000 -

Multi-Sample Micro-Volume UV-Vis Spectrophotometer (Thermo Scientific, USA).

30X

QUADRO 1: Condições utilizadas de forma geral nas reações de PCR.

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2.8 Reação de Sequenciamento

Os sequenciamentos foram realizados com os próprios primers desenhados para a

amplificação dos fragmentos dos genes KCNJ11, ABCC8, INS e GCK.

As reações de sequenciamento foram realizadas utilizando o BigDyeTM

Terminator

Cycle Sequencing Kit V3.1 Ready Reaction (ABI PRISM/PE Biosystems) conforme

descrito abaixo:

Volume dos reagentes: Ciclo:

H2O miliq --------------------------- 5,4 µL

Sequencing Buffer (5X) ------------ 2,0 µL

Primer (5 pmol) --------------------- 1,0 µL

BigDye ------------------------------- 0,6 µL

Produto da PCR purificado -------- 1,0 µL

95 ºC ---------- 1 minuto

95 ºC ---------- 20 segundos

50 ºC ---------- 20 segundos

60 ºC ---------- 4 minutos

4 ºC --------- ∞

Dependendo do tamanho do fragmento amplificado, utilizou-se de 3 ng a 100 ng de

cada produto de PCR na reação de sequenciamento.

2.9 Purificação da reação de sequenciamento

Após a retirada da placa de sequenciamento do termociclador os seguintes passos

foram realizados:

Adicionou-se 2,5 µL de EDTA (125 mM) em cada poço, seguidos de 25 µL de

isopropanol 100% (Merck);

A mistura foi deixada à temperatura ambiente e na ausência de luz por 15 minutos

para precipitação do DNA;

Centrifugou-se à 13.000 rpm e 4 ºC por 35 minutos;

A placa foi invertida e o sobrenadante foi descartado, a fim de remover todo o

isopropanol;

26X

QUADRO 2: Condições utilizadas nas reações de sequenciamento.

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Adicionou-se 30 µL de isopropanol 70% (Merck), e realizou-se uma nova

centrifugação por 10 minutos a 13.000 rpm e 4 ºC;

A placa foi invertida e o sobrenadante foi descartado;

A placa foi deixada à temperatura ambiente por cerca de 40 minutos e depois

colocada no termociclador por 3 minutos a 80 ºC para completar a secagem, em

seguida, foi estocada a -20 ºC.

O produto da reação de sequenciamento purificado foi ressuspendido em 10 µL de

Formamida Hi-Di (Applied Biosystem-Applera Corporation, Estados Unidos), para

posterior desnaturação a 94 ºC por 5 minutos.

A leitura das sequências foram obtidas por separação em eletroforese capilar no

sequenciador automático ABI PRISM 3500xL (ABI PRISM/PE Biosystems).

As sequências foram então analisadas e comparadas com as sequências de

referência de cada um dos genes KCNJ11 (ENSG00000187486), ABCC8

(ENSG00000006071), INS (ENSG00000254647) e GCK (ENSG00000106633) obtidas no

site www.ensembl.org. Para tal foram utilizados os programas Chromas Lite e CLC

Sequence Viewer 6.3 que são de distribuição gratuita.

2.8 Estudo in silico

Três métodos computacionais foram utilizados para avaliar o impacto da troca de

aminoácido na proteína para as mutações missense encontradas, indicando se esta alteração

seria prejudicial para sua função, e se contribuiria ou não para o fenótipo do indivíduo

afetado. Os programas usados foram: PolyPhen (Polymorphism Phenotyping)

(http://genetics.bwh.harvard.edu/pph2/), SIFT (Sorting Intolerant From Tolerant)

(http://sift.jcvi.org/) e Align-GVGD (http://agvgd.iarc.fr/). O PolyPhen é utilizado para

predição do impacto funcional e estrutural de substituições de resíduos de aminoácidos em

proteínas; os valores calculados vão de 0 à 1,0, sendo que quanto mais alto este valor, mais

a substituição estudada é raramente (ou nunca) observada na família proteica, sendo

considerada mais deletéria (88). A precisão é de aproximadamente 81%, com uma taxa de

“falsos-negativos” e “falsos-positivos” de 31% e 9%, respectivamente(89, 90). A

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ferramenta SIFT tem como função determinar o efeito funcional causado por substituições

de resíduos de aminoácidos nas proteínas, baseando-se no pressuposto que a evolução

proteica está correlacionada com a função proteica, mostrando a conservação de resíduos

de aminoácidos localizados em posições importantes para a função proteica; as

substituições que apresentam um valor de tolerância menor do que 0,05 são consideradas

intolerantes ou deletérias, enquanto que as que apresentam um valor maior do que 0,05 são

consideradas tolerantes. A precisão da ferramenta é de 60%, sendo que as taxas de “falso-

negativos” e “falso-positivos” registrada foram iguais a 31% e 20%, respectivamente (90,

91). Já o programa Align-GVGD é baseado nas diferenças químicas, de polaridade e de

volume molecular entre os aminoácidos trocados; dois valores são gerados, GD (Grantham

Difference) e GV (Grantham Variant), que predizem se a mutação de interesse está dentro

de um espectro deletério ou neutro. O critério de avaliação dos valores são os seguintes (92,

93):

Se GD = 0: a composição, polaridade e volume do aminoácido mutante estão

dentro da variação observada entre os alinhamentos, sendo considerada uma

mutação neutra;

Se (GV > 61.3) e (0 < GD < 61.3): ainda é considerada como uma alteração

conservativa, indicando ser uma alteração neutra;

Se (GV = 0) e (GV > 0): a posição onde está a mutação é 100% conservada,

sendo assim qualquer alteração neste local é considerada deletéria;

Se (0 < GV < 61.3) e (GD > 0): há uma pequena variação na conservação do

aminoácido na posição indicada, mas mesmo assim, está troca é considerada

como deletéria.

A partir dos cálculos desses valores (GV e GD), a troca é classificada também

dentro de classes (C0 – C65), sendo que quanto mais próximo de C65, mais deletéria é

considerada a mutação (FIGURA 7).

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Para verificar a conservação da posição proteica onde houve a troca de aminoácido,

as sequências dos genes KCNJ11, ABCC8, INS e GCK humano normal e mutante foram

comparadas às sequências de outros mamíferos. As sequências foram obtidas através do

Uniprot (http://www.uniprot.org/) e os alinhamentos comparativos foram realizados através

do programa ClustalW (http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/).

As análises estruturais para algumas das mutações encontradas no gene GCK

também foram realizadas para melhor compreensão dos efeitos da troca de aminoácido na

enzima glucoquinase. A estrutura da GCK humana foi resolvida e depositada no PDB

(PDB ID: 4DCH – cadeia A (94). Assim, foi utilizada como base para a modelagem da

estrutura da proteína mutante no software Swiss-Model (http://swissmodel.expasy.org/)

para fins comparativos de estrutura. A visualização e manipulação das estruturas foram

realizadas através da interface gráfica gerada pelo programa de acesso STING Millennium

(www.cnptia.embrapa.br) e pelo programa PyMOL Viewer.

Para os polimorfismos encontrados, o do programa OEGE (Online Encyclopedia for

Genetic Epidemiology studies) acessado pelo site http://www.oege.org/software/hwe-mr-

FIGURA 7: Gráfico gerado no programa Aling-GVG obtido pelo site

http://agvgd.iarc.fr/classifiers.php. Cada mutação estudada é classificada dentro

de classes, sendo que quanto mais próximo de C65, mais deletéria é

considerada a alteração.

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calc.shtml, foi utilizado para calcular se as frequências encontradas neste trabalho estavam

de acordo com as esperadas, e dentro do equilíbrio de Hardy-Weinberg.

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57

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Achados moleculares no gene KCNJ11:

No sequenciamento do gene KCNJ11, alguns polimorfismos já descritos na

literatura foram identificados em três, dos quatro pacientes estudados. Interessantemente, o

único paciente onde não foram encontradas alterações no gene KCNJ11 foi o caso 3,

diagnosticado com diabetes mellitus neonatal transitório. A definição de polimorfismo

difere de mutação, apenas na frequência alélica em que aparece (acima de 1% na população

é considerado polimorfismo), e apesar de nem sempre estar claro quais são os efeitos que os

chamados SNPs (em inglês: Single Nucleotide Polymorphisms) têm sobre a expressão

gênica e sobre a função proteica, eles não devem ser descartados, uma vez que podem ser

marcadores de suscetibilidade, contribuindo para o fenótipo apresentado no indivíduo.

1.1. Variação p.Lys23Glu (E23K na nomenclatura anterior) (rs5219):

A alteração p.Lys23Glu, determinada pela troca de uma lisina por um ácido

glutâmico no resíduo 23 que é resultado da troca c.67A>G foi encontrada em heterozigose

nos casos 1, 2 e 4.

Essa alteração foi inicialmente descrita por Hani et al. (95) que verificou uma forte

associação entre a variante p.Lys23Glu e DM2 em 72 indivíduos caucasianos. A partir dele,

muitos outros estudos, incluindo estudos de genoma humano (GWAS – genome-wide

association studies) em diferentes coortes confirmaram a correlação entre alterações no Kir

6.2, dentre as quais se destaca a variante p.Lys23Glu, e o DM2 (96).

Propostos a estudar o efeito que a variação p.Lys23Glu causaria no funcionamento

dos canais de Katp da célula beta-pancreática, Villareal et al. (97) desenharam um estudo

envolvendo indivíduos normais homozigotos da lisina ou do ácido glutâmico. Uma parte do

estudo envolveu 9 indivíduos denominados K/K (homozigotos da lisina) e 9 indivíduos

denominados E/E (homozigotos do ácido glutâmico) foram submetidos a teste de tolerância

oral a glicose (TTOG) e ao clamp euglicêmico-hiperinsulinêmico com o objetivo de avaliar

a secreção e a ação da insulina. Eles concluíram que os indivíduos K/K apresentavam uma

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redução na secreção de insulina ao redor de 40%, tanto após o estímulo oral como

endovenoso. Apesar disso, os indivíduos apresentam resposta normal à sobrecarga de

glicose. Para os autores, esse fato se deu pelo aumento na sensibilidade à ação da insulina,

especialmente hepática. Os indivíduos então estariam propensos a desenvolver DM2

quando o aumento da sensibilidade à insulina não pudesse mais compensar a falha na sua

secreção, advinda da progressão no defeito na célula beta-pancreática.

Outra parte do mesmo estudo incluiu 461 indivíduos normais (não-diabéticos), dos

quais 216 eram E/E, 184 eram E/K (heterozigotos) e 61 eram K/K (homozigotos). Todos

esses indivíduos foram submetidos ao TTOG. Quando comparado aos indivíduos E/E, os

indivíduos K/K apresentaram uma redução na concentração de insulina e peptídeo-C além

de uma redução na resposta à secreção de insulina por diminuição na responsividade da

célula beta ao estímulo da glicose associado ao aumento tanto na sensibilidade como no

clearence da insulina. Foi constatado ainda que os indivíduos heterozigotos também

apresentavam menor resposta da célula beta, menos comprometida que os homozigotos

K/K.

1.2. Variação p.Ala190= (A190A na nomenclatura anterior) (rs5218):

A troca de uma timina por uma citosina modificando o códon padrão GCT por um

GCC (c.570T>C) é uma mutação silenciosa onde o aminoácido alanina no resíduo 190

permanece inalterado, o que não significa, contudo, que não haja dano na síntese proteica.

Essa troca foi encontrada em heterozigose apenas no caso 1. Segundo Shah et al. (98), a

alteração p.Ala190= no gene KCNJ11 mostrou produzir um número reduzido de proteínas

Kir6.2 em experimentos de transcrição e tradução realizados in vitro.

Assim como a variante p.Lys23Glu, a alteração p.Ala190= está associada ao DM2

em diversos estudos na literatura (99, 100), alguns deles mais recentes incluindo associação

com aumento do risco de hipertensão arterial (101).

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1.3. Variação p.Val337Ile (V337I na nomenclatura anterior) (rs5215):

A variação p.Val337Ile foi identificada em heterozigose nos casos 1, 2 e 4, ou seja,

aqueles diagnosticados com DMNP. A troca se deu pela substituição do nucleotídeo

guanina por uma adenina na posição 1009 do cDNA (c.1009G>A). Tal como as variações

supracitadas, aqui também existem estudos de associação com DM2.

Segundo Koo et al. (102), as variações p.Lys23Glu e Val337Ile estão em

desequilíbrio de ligação (linkage desequilibrium), ou seja, a combinação desses dois alelos

ocorre mais frequentemente na população do que seria esperado pela formação aleatória de

haplótipos a partir de alelos baseados nas suas frequências. Eles concluíram que, na

população estudada (origem coreana), praticamente todos os haplótipos que contêm c.67G

também contêm c.1009A e que sua presença estava fortemente associada com DM2 e

hipertensão arterial.

Nos nossos casos, os três pacientes que apresentaram as alterações acima citadas

são DMNP e fazem uso constante de insulina. Torna-se difícil avaliar o impacto que esses

polimorfismos trazem na evolução da doença.

2. Achados moleculares no gene ABCC8:

2.1 Mutação p.Phe577Leu:

A mutação p.Phe577Leu foi identificada em heterozigose no caso 3, diagnosticado

com diabetes mellitus neonatal transitório. Os pais não são consanguíneos e também foram

estudados, verificando-se que a mutação foi herdada da mãe. A troca de uma timina por

uma guanina foi observada no éxon 12 na posição c.1731 (FIGURA 8).

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FIGURA 8: Parte dos eletroferogramas obtidos no sequenciamento do éxon 12, mostrando

a substituição em heterozigose c.1731T>G, levando à mutação p.Phe577Leu

identificada no paciente 3 portador de diabetes mellitus neonatal transitório. A)

Sequência normal do éxon 12, a caixa vermelha ressalta a timina (T) na qual

ocorreu a troca. B) Sequência mutante do éxon 12, mostrando a troca em

heterozigose de T para G (K).

Esta mutação levou a uma troca de uma fenilalanina por uma leucina no resíduo 577

da proteína, localizado no primeiro domínio transmembrana (TMD0). Apesar de ambos os

aminoácidos serem hidrofóbicos e apolares, eles possuem estruturas diferentes,

especialmente pela presença de um anel aromático na fenilalanina, que está ausente na

leucina (FIGURA 9A). A característica aromática da fenilalanina lhe confere a capacidade

de interagir com outros resíduos aromáticos formando “stackings”, contribuindo para a

estrutura da proteína (103). Podemos supor assim que a perda desse anel aromático

decorrente da substituição pela leucina pode vir a alterar a função do canal SUR1.

Através de alinhamento no Clustal (http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/),

pode-se verificar que a fenilalanina da posição 577 é altamente conservada entre os

vertebrados (FIGURA 9B).

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FIGURA 9: A) Estruturas dos aminoácidos fenilalanina e leucina, os quais foram trocados

levando a mutação p.Phe577Leu. B) Alinhamento da fenilalanina da posição

577, mostrando sua conservação entre as espécies de mamíferos.

Usando as ferramentas computacionais PolyPhen, SIFT e Align-GVGD como

análises de predição para avaliar se a troca do aminoácido é prejudicial ou não, foram

obtidos os seguintes resultados:

PolyPhen = 0,998 - Considerada provavelmente deletéria

SIFT = 0 - Considerada deletéria

Aling-GVGD = GV = 0, GD = 21,82 e Classe C15 – Considerada pouco deletéria

Dos três programas utilizados, dois confirmaram que se trata de uma mutação

deletéria. Se somarmos esse dado ao fato do aminoácido fenilalanina na posição 577 ser

extremamente conservada entre as espécies, podemos inferir que a mutação encontrada

pode ser responsável pelo fenótipo apresentado pelo paciente. A mãe do paciente, também

portadora da mutação, não apresentou alterações glicêmicas até o momento. Há um relato

de que a tia materna (não obesa) apresenta diabetes desde os 15 anos de idade porém só

iniciou uso de insulina aos 43 anos (familiar não esteve disponível para estudo molecular).

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62

Há na literatura estudos que descrevem uma variabilidade fenotípica para algumas

mutações no ABCC8. Klee et al. (104), por exemplo, descreveram uma família portadora da

mutação p.His863Tyr cujo caso índice havia sido diagnosticado com diabetes mellitus

neonatal aos 2 meses de idade e tanto o pai como o avô paterno permaneciam

assintomáticos até o estudo e, posteriormente ao diagnóstico molecular, foi então

constatado uma leve hiperglicemia de jejum em ambos.

A análise estrutural da mutação p.Phe577Leu não foi realizada pois não há, até o

momento, proteínas com um grau confiável de similaridade que já tenham sido

cristalizadas. Segundo Hollenstein et al. (105), isso se deve ao fato dos domínios

transmembranas variarem consideravelmente entre as espécies, tanto na sequência primária

como no comprimento, na arquitetura e no número de hélices. Embora Babenko et al. (65)

tenham descrito uma mutação decorrente da troca de uma leucina por uma valina no

resíduo 582 (ou seja, localizada a apenas cinco aminoácidos de distância da mutação

descrita neste estudo) como causa de diabetes mellitus neonatal transitório, o modelo usado

para a análise estrutural já está descontinuado do banco de dados (http://www.uniprot.org/)

por sua baixa identidade com a proteína humana.

2.2 Variação p.Ser1369Ala (S1369A na nomenclatura anterior) (rs757110):

A variação p.Ser1369Ala foi encontrada em heterozigose no caso 4, com DMNP.

Essa variação é citada em diversos estudos como um haplótipo que predispõe ao diabetes

tipo 2, quando em associação com a variação p.Lys23Glu do gene KCNJ11 (também

encontrada no paciente em questão). Segundo Hamming et al. (106), cerca de 95% dos

indivíduos que possuem dois alelos K23 no gene KCNJ11 possuem também dois alelos

A1369 no ABCC8, sendo esse estado homozigótico fundamental para a associação com o

DM2.

A serina na posição 1369 está situada no segundo domínio de ligação ao DNA

(NBD2) do SUR1, formando parte da região sensível ao MgATP e MgADP, fundamental

na regulação da atividade do canal de KATP e consequente liberação de insulina. Fatechi et

al. (107), utilizando modelos de canais de KATP recombinantes contendo o haplótipo

E23/S1369 e o haplótipo de risco K23/A1369 puderam notar através de técnicas

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bioquímicas e eletrofisiológicas que os canais contendo K23/A1369 apresentavam uma

diminuição da sensibilidade do canal ao MgATP resultando em aumento da atividade basal

do canal de KATP, mesmo em concentrações fisiológicas de MgATP. Eles provaram ainda

que a variação A1369 compromete mais a sensibilidade do canal ao MgATP que a variação

K23 do gene KCNJ11, propondo assim que a presença dessa alteração estaria mais

envolvida, quando associada a outros fatores predisponentes, à gênese do diabetes tipo 2.

No nosso caso não é possível inferir qual a contribuição desse achado na origem da

doença, uma vez que: (1) ele é heterozigoto para ambas as variações e (2) as alterações

decorrentes dessas trocas pontuais de aminoácidos não ocasionariam um déficit tão

pronunciado na secreção de insulina como a que ele apresenta.

3. Achados moleculares no gene GCK:

3.1 Mutação p.Asn254His (CM096878):

A mutação p.Asn254His foi encontrada em heterozigose nos casos 1 e 2,

pertencentes a uma mesma família e também em suas respectivas mães, que são irmãs. A

troca de uma adenosina por uma citosina ocorre no éxon 7 na posição c.760, resultando na

substituição de uma asparagina por uma histidina no códon 254 (FIGURA 10).

FIGURA 10: A) Parte do eletroferograma obtido no sequenciamento do éxon 7, mostrando a substituição em heterozigose

c.760A>C, levando à mutação p.Asn254His identificada nos casos 1 e 2, com diabetes mellitus neonatal

permanente, e em suas respectivas mães, que são irmãs. A caixa vermelha ressalta a troca A>C (M). B) Estruturas

dos aminoácidos asparagina e histidina, os quais foram trocados levando a mutação descrita.

B A

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Para entender o dano que essa troca de aminoácidos poderia causar à atividade da

enzima fez-se necessário conhecer sua estrutura e seu funcionamento. De acordo com

Kamata et al. (108), responsáveis pela cristalização da estrutura da glucoquinase humana,

sabe-se que a enzima GCK é constituída por dois domínios (pequeno e grande domínio),

entremeados por uma fenda, onde se liga a glicose. Em seu estado inativo, ou seja, sem a

presença da glicose, a enzima se mantém estruturalmente em uma forma super-aberta, com

o pequeno domínio e o grande domínio bem distantes um do outro. Além deles, outras duas

estruturas também exercem papel importante no funcionamento da enzima: a 5 e a 13

hélices, ambas localizadas no pequeno domínio (FIGURA 11).

FIGURA 11: Desenho esquemático mostrando dois estados conformacionais da enzima glucoquinase: o estado

fechado, onde o pequeno e o grande domínio estão próximos um ao outro e as -5 e -13 hélices

estão envolvidas por eles no interior da fenda; e o estado super-aberto, onde há a rotação do pequeno

domínio e a abertura máxima da fenda, sítio de ligação à glicose. Modificado de Kamata et al. (108).

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Quando a glicose se liga à forma super-aberta (inativa) da enzima, ela passa para a

forma aberta e, na presença do ATP, ocorrerá uma maior aproximação dos dois domínios,

sendo esse seu estado fechado, considerado o estado ativo. Completada a reação de

fosforilação da glicose em glicose-6-fosfato (G6P), a glucoquinase retorna ao seu estado

aberto, liberando G6P e ADP. Todo esse processo é conhecido como ciclo catalítico lento.

Se no momento em que a G6P e o ADP são liberados outra molécula de glicose se ligar à

enzima, o processo catalítico é reiniciado, dando início ao ciclo catalítico rápido. Caso

contrário, a enzima volta o seu estado super-aberto ou inativo (FIGURA 12). Para que isso

ocorra é fundamental a liberação da hélice 13 (em conjunto com a hélice 5 que a

acompanha) do pequeno domínio seguido pelo afrouxamento da região de conexão,

permitindo uma maior rotação da enzima e seu retorno ao estado super-aberto (109).

FIGURA 12: Esquema mostrando a glucoquinase em seus três estados conformacionais e seus dois ciclos

catalíticos. Retirado de Kamata et al. (108).

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Nota-se dessa forma que a flexibilidade da enzima é essencial para que ela execute

sua função, a fosforilação da glicose.

Ao avaliarmos a distribuição dos aminoácidos ao longo da enzima, no que diz

respeito ao sítio de ligação com a glicose (inserido na fenda entre os dois domínios – deep

cleft), identificamos que ele é composto pelos resíduos Glu256 e Glu290, no grande

domínio; pelos resíduos Tir168 e Lis169 no pequeno domínio e ainda pelos resíduos

Asn204 e Asp205 na região de conexão entre eles.

Percebemos que o resíduo 254, onde ocorreu a mutação p.Asn254His, está

localizado no grande domínio da enzima, no interior da região de fenda e a apenas dois

resíduos de distância do Glu256, fundamental para a ligação da glicose.

A análise estrutural dessa mutação foi realizada usando o PDB: 4DCH – cadeia A

como molde. Foi possível verificar que a asparagina do resíduo 254 (N254) estabelecia

contatos internos através de pontes de hidrogênio com o ácido glutâmico do resíduo 256

(E256), com a asparagina do resíduo 231 (N231) e com a leucina do resíduo 58 (L58)

(FIGURA 13A/B).

B

FIGURA 13: A) Análise estrutural da glucoquinase mostrando a proteína normal, com a asparagina no resíduo 254 e

seus contatos com os aminoácidos E256, N231 e L58. As linhas tracejadas representam a distância

entre cada aminoácido em Ångström (Å).

B) Gráfico de contatos internos (fornecido pelo programa STING Millenium) mostrando essas

interações: as linhas azuis e a linha branca simbolizam as pontes de hidrogênio.

A

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Na proteína mutante, a histidina no resíduo 254 (H254) deixa de interagir com o

resíduo N231, mantém o contato com o resíduo L58 e adiciona quatro novos contatos

através de interações hidrofóbicas: com a cisteína do resíduo 233 (C233), com a valina do

resíduo 207 (V207), com a asparagina do resíduo 204 (N204) e com a treonina do resíduo

60 (T60). Além disso, cria uma interação aromática com a lisina do resíduo 459 (K459) e

troca o contato com o ácido glutâmico do resíduo 256 (E256), que antes era estabelecido

por uma ponte de hidrogênio e agora passa a ser uma interação por atração de cargas

(FIGURA 14A/B).

FIGURA 14: A) Análise estrutural da glucoquinase mostrando a proteína mutante, com a histidina no resíduo 254,

que perde seu contato com o aminoácido N231, mantém a interação com L58 através de ponte de

hidrogênio e cria cinco novos contatos: C233, V207, N204, T60 e K459. Com E256, o contato se

mantém porém passa a ser por atração de cargas. As linhas tracejadas representam a distância entre

cada aminoácido em Ångström (Å).

B) Gráfico de contatos internos (fornecido pelo programa STING Millenium) mostrando essas

interações: a linha branca simboliza as pontes de hidrogênio, as linhas roxas representam interações

hidrofóbicas, a linha verde simboliza interação por atração de cargas e a linha cinza representa ligação

aromática.

A B

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Como resultados dos programas de análise de predição PolyPhen, SIFT e Aling-

GVGD obtivemos:

PolyPhen = 0,986 – Considerada deletéria

SIFT = 0 - Considerada deletéria

Aling-GVGD = GV = 0, GD = 68,35 e Classe C65 – Considerada deletéria

Os três programas confirmaram que se trata de uma mutação deletéria indicando que

provavelmente é causadora do fenótipo dos pacientes.

Se levarmos em consideração as alterações estruturais, podemos acreditar que a

mutação descrita compromete o potencial de fosforilação da glucoquinase:

1) Por afetar o sítio de ligação à glicose: o resíduo 254 está a justamente nessa

região, em contato com o ácido glutâmico no resíduo 256 (aminoácido

fundamental para a ligação com a glicose) sendo que na proteína normal esse

contato é estabelecido por uma ponte de hidrogênio, passando a ser uma

interação por atração de cargas na proteína mutante. Outro dado diz respeito

ao contato com a asparagina no resíduo 204, outro aminoácido que constitui

o sítio de ligação com a glicose, que na proteína normal não interage com o

resíduo 254 e passa a interagir na proteína mutante.

2) Por comprometer a flexibilidade da enzima: quanto mais contatos internos

um aminoácido estabelece com outros, mais isso “enrijece” a proteína,

podendo atrapalhar sua movimentação e consequentemente a função

enzimática.

Dessa forma, postulamos que a mutação p.Asn254His é causadora do DMNP dos

casos descritos, especialmente por estar associado à mutação p.Arg447Gly, que será

descrita a seguir, constituindo um quadro de heterozigose composta. Nas mães,

heterozigotas simples, a mutação pode justificar sua glicemia de jejum alterada observado

na investigação laboratorial, configurando-as como portadoras de MODY 2.

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3.2 Mutação p.Arg447Gly (rs193922281):

A mutação p.Arg447Gly foi encontrada em heterozigose nos casos 1 e 2, e em seus

respectivos pais, que são irmãos, além do irmão mais novo do caso 1. A troca de uma

citosina por uma guanina ocorreu no éxon 10 na posição c.1340, resultando na substituição

de uma arginina por uma glicina no códon 447 (FIGURA 16).

O resíduo 447 está localizado no limite da 13 hélice, que se estende do resíduo

Glu443 ao resíduo Ala460, na região C-terminal da glucoquinase, parte do pequeno

domínio (109).

A análise estrutural dessa mutação foi realizada usando o PDB: 4DCH – cadeia A

como molde. Foi possível verificar que a arginina do resíduo 447 (R447) estabelecia

contatos internos através de pontes de hidrogênio com a valina do resíduo 101 (V101) e

com a leucina do resíduo 451 (L451), além da tirosina do resíduo 215 (Y215) através de

interações aromáticas e hidrofóbicas (FIGURA 17A/B).

B A

Arginina Glicina

FIGURA 16: A) Parte do eletroferograma obtido no sequenciamento do éxon 10, mostrando a substituição em

heterozigose c.1340C>G, levando à mutação p.Arg447Gli identificada nos casos 1 e 2. A caixa vermelha

ressalta a troca C>G (S). B) Estruturas dos aminoácidos arginina e glicina, os quais foram trocados

levando a mutação descrita.

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Na proteína mutante, a glicina no resíduo 447 (G447) deixa de interagir com os

resíduos V101 e T215, mantém a ponte de hidrogênio com L451 e cria uma nova interação

através de ponte de hidrogênio com a alanina no resíduo 450 (FIGURA 18A/B).

FIGURA 17: A) Análise estrutural da glucoquinase mostrando a proteína normal, com a arginina no resíduo

447, que estabelece contato com o aminoácido V101, com o aminoácido L451 e ainda com o

aminoácido Y215. As linhas tracejadas representam a distância entre cada aminoácido em

Ångström (Å).

B) Gráfico de contatos internos (fornecido pelo programa STING Millenium) mostrando essas

interações: as linhas branca e rosa simbolizam as pontes de hidrogênio, a linha roxa representa

interação hidrofóbica e a linha cinza representa ligação aromática.

B A

FIGURA 18: A) Análise estrutural da glucoquinase mostrando a proteína mutante, com a glicina no resíduo

447, que mantém contato com o aminoácido L451, perde as interações com os aminoácidos V101

e T215 e cria novo contato com o aminoácido A450. As linhas tracejadas representam a distância

entre cada aminoácido em Ångström (Å).

B) Gráfico de contatos internos (fornecido pelo programa STING Millenium) mostrando essas

interações: as linhas brancas simbolizam as pontes de hidrogênio.

A B

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Como resultados dos programas de análise de predição PolyPhen, SIFT e Aling-

GVGD obtivemos:

PolyPhen = 0,998 – Considerada deletéria

SIFT = 0 - Considerada deletéria

Aling-GVGD = GV = 0, GD = 125,13 e Classe C65 – Considerada deletéria

Os três programas confirmaram que se trata de uma mutação deletéria e que

provavelmente é causadora do fenótipo dos pacientes.

Se levarmos em consideração as alterações estruturais, podemos acreditar que a

mutação p.Arg447Gly compromete o potencial de fosforilação da glucoquinase uma vez

que está localizada na hélice 13 que, como dito acima, tem papel crucial nas mudanças

conformacionais que ocorrem com a glucoquinase. Essa alteração, portanto pode justificar

o quadro de hiperglicemia de jejum encontrado na investigação laboratorial dos pais e do

irmão do caso 1, configurando-os como portadores de MODY 2. Nos pacientes, essa

alteração em associação com a mutação herdada das mães comprometeria ainda mais a

secreção de insulina, levando assim a um quadro hiperglicêmico mais grave, tal qual o

apresentado.

Mutações nesse resíduo (p.Arg447Gln e p.Arg447del29) já foram descritos por

outros autores em pacientes com MODY 2 (110). Recentemente, Capuano et al. (111)

descreveram a mutação em frameshift p.Arg447Glifs enquanto Shammas et al. (112)

descreveram a mutação missense p. Arg447Pro, ambos em indivíduos com MODY 2.

Até o momento, a mutação descrita nesse estudo em associação com a mutação

p.Asn254His configura o primeiro relato de diabetes neonatal permanente por mutação em

heterozigose composta no gene GCK na população brasileira, sendo a associação descrita

(p.Asn254His e p.Arg447Gly), no nosso conhecimento, também inédita na literatura

mundial.

Uma das razões que motivou esse estudo foi o benefício que o diagnóstico

molecular poderia trazer para o aconselhamento genético e para o tratamento, com a

possibilidade da mudança de insulina para hipoglicemiante oral. Embora essa conduta se

mostrou ser muito benéfica nos casos de diabetes neonatal permanente por mutações no

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gene KCNJ11 e ABCC8, nos casos de DMNP por mutações no gene GCK os resultados da

mudança no tratamento não foram tão vantajosos (76, 77). Eles puderam constatar que o

uso de sulfoniluréia permitia apenas uma redução na dose da insulina, porém não era

suficiente para suspender seu uso.

A descoberta de mutações ativadoras e inativadoras no gene GCK e o conhecimento

de suas implicações no funcionamento da glucoquinase e no seu papel fundamental na

homeostase da glicose ajudou no entendimento bioquímico da ativação e regulação dessa

enzima (113). As mutações localizadas na hélice α-13 (como no caso descrito aqui), em

especial aquelas responsáveis pelo fenótipo oposto (hipoglicemia hiperinsulinêmica)

contribuíram para o desenvolvimento de drogas que tem como alvo justamente essa região

da enzima glucoquinase. Atualmente, alguns agentes farmacológicos conhecidos como

glucokinase activators (GKAs) tem sido testados e se mostraram eficazes em aumentar a

liberação de insulina e reduzir a produção de glicose hepática, sendo alvos potenciais no

tratamento do diabetes (114).

4. Achados moleculares no gene INS:

O sequenciamento dos dois éxons do gene da insulina foi realizado nos quatro casos

descritos, não tendo sido encontrada nenhuma mutação. Apenas no caso 4 foi encontrada a

variação rs689 (c.-23T>A), sem relação na literatura com o diabetes mellitus neonatal

permanente.

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CONCLUSÕES

O estudo molecular dos genes KCNJ11, ABCC8, INS E GCK trouxe como

conclusões:

No sequenciamento do gene ABCC8 foi identificada a mutação

p.Phe577Leu, em heterozigose no caso 3, portador de diabetes mellitus

neonatal transitório e em sua mãe, que até o momento se desconhece ter

apresentado episódio de hiperglicemia. Essa mutação é inédita, sendo

descrita pela primeira vez nesse estudo.

No sequenciamento do gene GCK foram identificadas duas mutações: a

mutação p.Asn254His, presente nos casos 1 e 2 e também em suas

respectivas mães, que são irmãs; e a mutação p.Arg447Gly, presente

também nos casos 1 e 2, além de seus respectivos pais, que são irmãos, e no

irmão mais novo do caso 1. As mutações isoladas configuram um quadro de

heterozigose simples e levam ao fenótipo conhecido por uma hiperglicemia

leve de jejum, denominado MODY 2. As mutações somadas, em

heterozigose composta, levam a uma hiperglicemia grave, de início precoce,

o diabetes mellitus neonatal permanente.

O sequenciamento do gene KCNJ11 evidenciou algumas variações comuns

na população, em especial a variação p.Lys23Glu, que foi encontrada nos

casos 1, 2 e 4, mas que, pela severidade do déficit de insulina apresentada

nesses casos, não pode ser relacionada ao fenótipo.

No caso 4 não foi possível identificar a causa molecular, apesar de terem

sido estudados apenas quatro genes relacionados de DMNP (os mais

frequentes). De acordo com Rubio-Cabezas et al.(25), cerca de 40% dos

casos de diabetes mellitus neonatal permanecem sem diagnóstico genético,

na maioria deles não há manifestação clínica extra-pancreática, o que sugere

que ainda há genes a serem descobertos.

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ANEXOS

Genes

Variação

Caso

(diagn)

KCNJ11 ABCC8 GCK INS

p.Lys23Glu p.Ala190= p.Val337Ile p.Phe577Leu p.Ser1369Ala p.Asn254His p.Arg447Gly c.-23T>A

1

(DMNP) X X X X X

2

(DMNP) X X X X

3

(DMNT) X

4

(DMNP) X X X X

M1

(MODY 2) ND ND ND X

M2

(MODY 2) ND ND X

M3

X

P1

(MODY 2) ND ND ND X

P2

(MODY 2) ND ND X

I2

(MODY 2) X

QUADRO 1: Resumo das alterações moleculares encontradas nesse estudo. Os números 1, 2, 3 e 4 referem-se aos casos

descritos nesse trabalho; M1, M2 e M3 referem-se respectivamente às mães dos casos 1, 2, e 3; P1 e P2

referem-se aos pais dos casos 1 e 2; I2 refere-se ao irmão mais novo do caso 2. X: alteração encontrada em

heterozigose. ND: pais não disponíveis para estudo dos genes KCNJ11 e ABCC8.

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ANEXOS

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90

ANEXOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ANÁLISE MOLECULAR DOS GENES KCNJ11, ABCC8, INS E GCK EM

PACIENTES COM DIABETES MELLITUS NEONATAL

Prezado voluntário,

Eu, Adriana Mangue Esquiaveto-Aun, médica pediatra e endocrinologista infantil,

aluna do programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, sob orientação

da Profa. Dra. Sofia Helena Valente Lemos Marini, docente do departamento de pediatria da

FCM - Unicamp, venho solicitar sua colaboração no projeto de pesquisa cujo título está

citado acima.

Com esta finalidade, será proposto coleta de exame para estudo de DNA, os quais

serão obtidos na ocasião das coletas dos exames de rotina solicitados durante seguimento

ambulatorial. O estudo do DNA é um estudo laboratorial onde será avaliada a integridade

dos genes relacionados com o diabetes neonatal. Serão 4 os genes estudados: gene

KCNJ11, gene ABCC8, gene GCK e o gene da insulina. Todos esses genes já foram

estudados anteriormente por grupos no Brasil e do exterior e as publicações provenientes

desses estudos demonstram a importância e os benefícios desse diagnóstico molecular. Na

presença de mutações em algum desses genes, os demais familiares serão convidados a

participar do estudo, sem ônus. Será oferecido aconselhamento genético aos acometidos

pela mutação no gene GCK uma vez que se trata de uma doença autossômica recessiva

(25% de chance de ser passado de pai/mãe para filho). Os esclarecimentos quanto ao

aconselhamento genético serão feitos por mim e pela minha orientadora, no ambulatório de

Diabetes Infantil do hospital de clínicas da Unicamp, sempre que necessário.

Os estudos laboratoriais não interferirão na rotina de seguimento no ambulatório de

Diabetes Infantil e os mesmos serão realizados no Centro de Biologia Molecular e

Engenharia Genética da Unicamp.

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Esclareço que a participação neste projeto é totalmente voluntária. Não haverá

qualquer prejuízo ao acompanhamento médico de seu filho, caso você ou ele não

concordem em participar.

Ressaltamos que os dados obtidos no estudo serão mantidos em sigilo e a família

será informada dos resultados assim que alcançados, ficando proposto a partir deles o

fornecimento de todas as informações necessárias ao aconselhamento genético e os

possíveis benefícios ou não advindos desse diagnóstico. Ressalto ainda, embasada na

literatura, que o diagnóstico de determinadas mutações nos genes KCNJ11 e ABCC8

permitem a mudança no tratamento do diabetes, de injetável com insulina para oral com

hipoglicemiante, melhorando a qualidade de vida de seu filho (a).

Acrescento que os dados obtidos poderão ser publicados em revistas ou congressos

científicos, em conjunto com os outros dados colhidos, sem, no entanto, haver a

identificação do paciente.

Sua participação não é obrigatória e você ficará livre para não participar ou para

desistir em qualquer momento da pesquisa, sem qualquer constrangimento.

Será mantido segredo das informações obtidas bem como o anonimato dos

participantes na pesquisa. As informações coletadas serão de uso exclusivo para publicação

científica, dos resultados da pesquisa. Não haverá pagamento em troca de sua participação

neste estudo.

Você receberá uma cópia assinada deste documento, que recomendamos que seja

guardada em local seguro.

Esse projeto foi aprovado pelo comitê ético (CEP) local (Rua: Tessália Vieira de

Camargo, 126 – Cidade Universitária - Campinas – SP - CEP 13083-887), que poderá

receber denúncias e/ou reclamações referentes aos aspectos éticos da pesquisa em questão

através do endereço acima, pelos telefones: (019) 3521-8936 ou 3521-7187 ou pelo e-mail:

[email protected]. Importante ressaltar que as dúvidas relacionadas a pesquisa (como

andamento, resultados) serão esclarecidas pela pesquisadora.

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Campinas, ___/___/_____

Nome do paciente: ________________________________________________

Assinatura:_______________________________________________________

Responsável legal do (a) paciente: _____________________________________

Assinatura:_______________________________________________________

Responsável pela pesquisa

Adriana Mangue Esquiaveto-Aun

Fone: (19) 3521-1146 ou (19) 3521-7264

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