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Adriano Gonçalves - Quero um Amor Maior

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Nossa vida é uma grande aventura, uma caçada em busca de um tesouro imperecível. Estamos sempre à procura de algo que possa saciar o nosso coração, pois temos a constante necessidade do encontro, de ter uma vida que valha a pena.Desejamos escutar “... e viveram felizes para sempre” em nossa própria história. Tudo gira em torno desta sede de um Amor Maior. Um Amor que preencha o nosso coração, responda aos nossos anseios e sacie a sede de nossa alma.Há dentro de nós uma atração para o eterno. Não nos contentamos com a vida só aqui desta terra. Fomos criados para algo que não passa, por isso desejamos sempre um Amor Maior, definitivo.Neste livro, você descobrirá caminhos novos na descoberta do amor, se aventurará nas estradas do coração humano e ainda ficará cara a cara com o Amor Maior. Mas desde já lhe digo: se o seu coração não está preparado para ser feliz de verdade e sua vida não quer ter o selo “para sempre feliz”, não leia este livro!“O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente” (João Paulo II).Sobre o autorMineiro de Contagem (MG), Adriano Gonçalves dos Santos é membro da Comunidade Canção Nova. Cursou filosofia no Instituto da comunidade e é acadêmico de psicologia na Unisal/Lorena. Atua na TV Canção Nova como apresentador e produtor do programa Revolução Jesus. Mais que um programa, o Revolução Jesus é uma missão que desafia o jovem a ser santo sem deixar de ser jovem. Dessa forma, propõe uma nova geração: a geração Santos de Calça Jeans.

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9!BMM@LA:VVRRQO!ISBN 978-85-7677-332-0

Nossa vida é uma grande aventura, uma caçada em busca de um tesouro imperecível. Estamos sempre à procura de algo que possa saciar o nosso coração, pois temos a constante necessidade do encontro, de ter uma vida que valha a pena. Desejamos escutar “... e viveram felizes para sempre” em nossa própria história. Tudo gira em torno desta sede de um Amor Maior. Um Amor que preencha o nosso coração, responda aos nossos anseios e sacie a sede de nossa alma.

Há dentro de nós uma atração para o eterno. Não nos con-tentamos com a vida só aqui desta terra. Fomos criados para algo que não passa, por isso desejamos sempre um Amor Maior, definitivo.

Neste livro, você descobrirá caminhos novos na descoberta do amor, se aventurará nas estradas do coração humano e ainda ficará cara a cara com o Amor Maior. Mas desde já lhe digo: se o seu coração não está preparado para ser feliz de verdade e sua vida não quer ter o selo “para sempre feliz”, não leia este livro!

“O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente” (João Paulo II).

O amor não é lucro de retorno imediato; é um investimento a longo prazo. O verdadeiro amor não tem nada de superficial. É força da alma; algo que nasce dentro e quer ser exteriorizado. Ele é duradouro, autêntico e forte. Não cede à tentação de procurar saídas fáceis ou atalhos na vida. Não é egoísta, por isso não busca o próprio interesse. O verdadeiro amor não se basta, não se fecha em si mesmo. Ele se torna Dom desinteressado.

Mineiro de Contagem (MG), Adriano Gonçalves dos Santos é membro da Comunidade Canção Nova. Cursou filosofia no Instituto da comunidade e é acadêmico de psicologia na Unisal/Lorena. Atua na TV Canção Nova como apresentador e produtor do programa Revolução Jesus. Mais que um programa, o Revolução Jesus é uma missão que desafia o jovem a ser santo sem deixar de ser jovem. Dessa forma, propõe uma nova geração: a geração Santos de Calça Jeans

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Adriano Gonçalves

Quero um amor

maior

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Sumário

apresentação ........................................................... 7Quero um amor! ................................................... 11o amor tá na moda! ................................................................................................11o verdadeiro amor .................................................................................................14as caricaturas .........................................................................................................18amar-se para amar! ............................................................................................. 23Quero um amor! .....................................................................................................29Criados para amar ................................................................................................33

a beleza de ser diferente .................................37era uma vez... .............................................................................................................37ecce Homo .................................................................................................................41Construindo um homem! ................................................................................. 44Grandes poderes = grandes responsabilidades ................................50uma linda mulher... ..............................................................................................53mulher, sexo forte ..................................................................................................57eva para ave? ..........................................................................................................60mulher, uma sentinela........................................................................................ 64um amor para recordar... ... ..............................................................................66

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um corpo para amar! .....................................................75o corpo torna visível o invisível .....................................................................75uma guerra: espírito x carne ..........................................................................80atraídos pelo desejo ........................................................................................... 82a castidade é um sim! ........................................................................................86eu caí, e agora? ......................................................................................................90De coração a coração ......................................................................................... 94

Namoro: uma grande aventura de amor! ........... 99É namoro ou amizade? .......................................................................................99Falando línguas diferentes ........................................................................... 104até onde ir no namoro? ...................................................................................108Como se fosse a primeira vez! ......................................................................115Não me sinto completo, e agora? ...............................................................119Cristão não fica encalhado ........................................................................... 124

Santos de Calça Jeans ................................................131olhando de fora .....................................................................................................131Perder para ganhar ............................................................................................ 134Do ator ao padre, do esportista ao Papa ................................................139amigo dos amigos ..............................................................................................146o Homem que ensinou o homem a ser homem ..................................153isso é contradição ..............................................................................................157amor maior ..............................................................................................................161Todo teu ...................................................................................................................164

Quero um amor maior .................................................169atraídos para a eternidade ...........................................................................169um coração apaixonado ..................................................................................174amor que ama ........................................................................................................ 177

Bibliografia .......................................................................181

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apresentação

Não se vive sem amor. Não dá. E se “viver” é um verbo sem duração definida, mas que geralmente significa muitos e muitos anos (assim espero), deixa eu dizer a você: vale a pena gastar tempo e esforço entendendo exatamente o que é essa história de “amar e ser amado”. Ou você ainda está naquela de deixar as coisas da vida acontecerem sozinhas, levando-lhe ralo abaixo?

Se não está, apresento este bate-papo com Adriano Gonçalves que tem o nome de Quero um Amor Maior. É pra quem quer muito mesmo. Pra quem quer e sabe que merece o melhor. Um amor dos grandes!

Por isso, já lhe esclareço alguns pontos: não é um manual de “pegação”, meu irmão; nem um método “beija um sapo e faz um príncipe”, minha irmã! É coisa séria, tem Deus na história, e não “fada madrinha”.

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Aliás, desculpem-me os demais autores, manuais, livros etc., mas falar de amor, de namoro, vida a dois, homem e mulher, sem colocar Deus no centro de tudo, é mentir descaradamente.

Pense bem, Deus é Amor. Falar da essência Dele sem citá-Lo já é prova suficiente de que não se sabe do que se está falando. É tão absurdo como o burro que veste uma pele de leão e todo mundo acredita que ele é Aslam, o rei que voltou. Nunca um burro vestido de leão será um leão! E a gente fica com essa dúvida (estou falando de “A última batalha”, uma das Crônicas de Nárnia) até que alguém explica: quem nunca viu um leão de verdade é capaz de acreditar que um burro em pele de leão seja um. Traduzo pra você: quem não conhece o Amor, acredita que “amor” é paixão, atração física, sedução, ato sexual... E do mesmo modo que uma pele é uma parte importante do leão, mas não é “o leão”, tudo isso, na sua ordem e no seu lugar corretos, pode ser parte do amor, mas nunca “o Amor”.

Em Santos de Calça Jeans e Nasci Pra Dar Certo!, Adriano derrubou muitos mitos, como o de que era impossível ser jovem, feliz e descolado sendo profundamente de Deus. Aqui, em Quero um Amor Maior, ele continua sua “saga”, detonando todas as mentiras que teimam em colocar na nossa cabeça: devemos viver o “amor livre”, a Igreja é contra o sexo, seu corpo é sujo e atrapalha sua vida “espiritual”, é melhor testar antes pra ver se a gente vai se “dar bem” na cama, e tantas outras tolices que são propagadas até mesmo como “ciência”.

Isso tudo surge da nossa arrogância, pois nos achamos experts em amor e relacionamentos, assim como todo homem

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acha que entende de futebol e toda mulher, naturalmente, de moda. Sabe nada! Mas diferente do futebol, onde o mané não consegue nem acertar a bola, e da espertona, que combina amarelo com abóbora fosforescente, no namoro, as caneladas, cabeçadas, saltos quebrados e alças de bolsa arrebentadas são bem menos evidentes. Resultado: usa-se e se é usado de forma absurda, porque “aparentemente” não percebemos dano algum. Lavou, tá novo? Só se for lavado pela água viva do Espírito Santo. E mesmo assim ficam os traumas e as decepções para se superar e conviver.

São Francisco gritou uma vez ao ver o sofrimento de Cristo na cruz: “O Amor não é amado! O Amor não é amado! Como é que os homens podem se amar uns aos outros se não amam o Amor?”

Pois é, todos queremos amar e ser amados. Nascemos pra isso. Mas Amor de verdade, com “a” maiúsculo! Tome fôlego e mergulhe nesse livro. Chegou a hora de tirarmos a pele de leão do burro. Será que não estamos vivendo de apaixonite e chamando-a de “amor”? Será que não queremos que a paixão dure para sempre e nos recusamos a amadurecer o verdadeiro amor? Lembre-se, quem nunca viu um leão de verdade... Temos que parar de perder tempo e correr ao encontro do Amor, cujas “asas” conduzirão você! Eu, de minha parte, intercedo por você e lhe entrego à companhia do Adriano Gonçalves... #vaifundo

Flavio Crepaldi

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Quero um amor!

o amor tá na moda!

Frio na barriga, mãos suando, sensação de pés sem chão, olhar perdido no infinito, coração acelerado e rosto tão vermelho que é impossível esconder. Sintomas de uma doença? Calma, não é isso... Mas saiba que são sintomas de um grande amor.

Você certamente deve ter vivido isso em algum momento da vida. Caso não tenha, viverá, pois amar faz bem e é bom demais.

Ao digitar a palavra “amor” no Google, teremos, em menos de 0,14 segundos, aproximadamente 910 milhões de resultados, entre sites, links, para esta palavra tão simples. Teremos de imediato na Wikipedia, a meu ver, apenas uma tentativa de explicar o significado. Mesmo assim, vale a pena ler a definição:

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A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, de-sejo, libido etc. O conceito mais popular envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sen-soriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação. É tido por muitos como a maior de todas as conquistas do ser.

A definição é complicada? Você se sentiu lendo um manual de psicologia? Calma, esta foi só uma provocação!

O amor é isso e não é. Toda definição é sempre uma tentativa de definir1. Sempre será. Mas acredite, a última frase da definição da Wiki sobre o amor – “é tido por muitos como a maior de todas as conquistas do ser” – chega bem próximo da realidade.

Se continuarmos nossa caçada, ainda realizaremos boas descobertas como:

Ao digitar no Google “músicas de amor”, será apresentada uma lista imensa de canções variadas e você poderá escolher a que mais “fala” ao seu coração.

1 Em um sentido semiótico, a definição nunca esgota o sentido profundo de uma palavra, que apresenta diferentes significados dentro de diferentes contextos. A definição só ajuda a definir, não determina.

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Ao selecionar um filme de amor... Hum, nem se fale... Não encontrará muita dificuldade em ter na sua tela uma avalanche de filmes, e poderá escolher aquele que arrancará suspiros de você.

Se ousarmos mais ainda e fizermos uma “varredura” nos grandes clássicos literários, encontraremos desde livros como Cântico dos Cânticos a trilogias, passando por Camões e Shakespeare, cujos enredos das obras tentam apresentar o amor como ele é.

Amor bandido, amor antigo, amor sofrido, amor obcecado, quase perturbador. Amor que faz mal, amor que faz bem, amor que dá vida, amor que traz morte... Amor que não é amor. Meu Deus, será que é assim? Será isso tudo? Será algo tão contraditório?

Sem muitas afirmações, nem a pretensão de chegar a uma definição, podemos falar algo: ele sempre esteve na moda! Sempre fez o mundo ser o que é. Sempre esteve presente nas maiores histórias, mudando vidas e tocando corações. Para fazer você adquirir este livro, ele é ou não um grande motivador?

Este assunto pode parecer piegas, cafona e até mesmo, para alguns homens, “coisa de mulherzinha”. Ou ainda, algumas mulheres poderão dizer que não acreditam nisso.

Conclusões empoeiradas, que cheiram a um coração ferido. Mas no fundo você deseja um amor de valer a pena, tanto que não foi à toa que você adquiriu este livro. Na verdade, ele, já no título, mexeu com aquilo que está no seu coração:

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desejo do amor. Deixe-se envolver por este sentimento, e que a cada página seu coração escolha amar e ser amado. A vida sem um amor verdadeiro é muito sem graça!

Ele é fonte de inspiração para as músicas, os livros, as receitas de bolo e até para tempero de comida. É disso que falaremos e viveremos.

Hoje em dia, parece que as pessoas têm vergonha de demonstrá-lo, e quando o fazem sentem-se fracas! Ou quando decidem vivê-lo, esbarram nas diversas deturpações do que é ele. Mas digo algo: nascemos para amar e ser amados! E ter uma vida no amor que valha a pena! Porém antes eu pergunto: você se ama?

Guarde esta pergunta, pois voltaremos nela depois de nos aventurarmos no amor e “tentar” mostrar o que ele é e o que ele não é. Para isso, pediremos ajuda à Igreja...

o verdadeiro amor

Segundo São Paulo, o Amor é paciente, é bondoso. Não tem inveja. Não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor jamais acabará.

Sem dúvida, São Paulo sabia da dificuldade em definir o amor, e que isso podia beirar à impossibilidade. Então, ele se desfaz da necessidade de definição e segue para a demonstração.

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Quando falamos do amor como uma demonstração, queremos dizer que ele é ação, envolvimento, movimento, expressão. “O amor é... o amor faz... o amor não é... o amor não faz isso ou aquilo”. Ele não fica sentado, cochilando, de braços cruzados, deixando-se ser servido em uma rede na sombra e bebendo água fresca. Está sempre disposto e pronto a agir. Não é passivo nem indiferente. Ele não passa despercebido pela vida. Ele gera movimento e mexe com quem está quieto. O verdadeiro amor é demonstrativo, e não estéril; é vida em movimento. É paciência e espera. É estrada longa, mas com um final feliz. É brilho nos olhos e sorriso “sem graça” nos lábios, sempre com gosto de felicidade!

“A arte das artes é a do amor... O amor é uma força da alma, que a conduz como por um peso natural ao lugar e ao fim que lhe é próprio”2, disse o monge Guilherme de Saint-Thierry. Força que quer o Bem!

O amor não é lucro de retorno imediato; é um investimento a longo prazo. O verdadeiro amor não tem nada de superficial. É força da alma; algo que nasce dentro e quer ser exteriorizado. Ele é duradouro, autêntico e forte. Não cede à tentação de procurar saídas fáceis ou atalhos na vida. Não é egoísta, por isso não busca o próprio interesse. O verdadeiro amor não se basta, não se fecha em si mesmo. Ele passa por

2 Em De natura et dignitate amoris (A natureza e a dignidade do amor), 1, PL 184, p. 379.

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duras provações, como mencionado em Coríntios 13: Paulo nos dá o segredo para provarmos se nosso amor é verdadeiro.

Quando ele fala do amor, que tudo faz, faz isso, faz aquilo, está nos dando a medida certa para provarmos “o” e “do” amor. Ele afirma que o verdadeiro amor deve passar pela prova do Tudo. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Não existe meia medida; é tudo! Tudo é tudo!

Se não temos a coragem de provar o amor, ele será apenas um sentimento que mexe com a gente, e nunca um motor que acelera nossa vida na aventura de ser feliz!

Infelizmente, vivemos em uma sociedade de muito “mais ou menos”, e até nosso amor se torna mais ou menos. Nessa sociedade, desculpa-se mais ou menos, acredita-se mais ou menos, espera-se mais ou menos e suporta mais ou menos. Sabe como terminará nossa vida se vivermos esse jeito de amar? Terminaremos em uma vida “mais ou menos”.

Definitivamente não somos chamados a essa vida sem graça. Fomos criados no Amor e para o amor. Nosso coração bate pela necessidade de algo verdadeiro. Não tenha receio de colocar o amor à prova, de submeter o que sente na prova do Tudo.

Para você, que está lendo este livro, digo: minha pretensão não é lhe dizer o que é o amor. Quero propor que você o descubra dentro de si, uma vez que Deus nos fez no amor e para o amor. Existe em nós uma força que nos leva a sermos amor. Negar isso é negar a si mesmo. Vamos juntos

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deixar cair nossas máscaras e fantasias sobre este sentimento, ou seja, aquilo que aprendemos de forma errada, e aflorar o que a Palavra de Deus nos fala, “um amor mais forte que a morte”.

O amor é o grande combustível de nossa vida. É ele que nos anima e nos motiva a viver e a lutar pela vida. Ele dá cor aos dias cinzentos de nossa história. E como diz o papa Bento XVI, “a cada ser humano é confiada uma só tarefa: aprender a querer bem, a amar, sincera, autêntica e gratuitamente”.

Logicamente que amar não é algo fácil, mas exige de nossa parte muita luta, suor e lágrimas, pois amar é estar disposto a trilhar um caminho de sofrimento. Mas nada de masoquismo, trata-se de um sofrimento que, vivido com sentido, traz muita alegria verdadeira.

Assim surge a pergunta básica: tá disposto a amar? Topa o desafio que a própria vida faz a você?

Se sua resposta é sim, vamos juntos viver essa aventura, para que possamos eliminar as falsidades do amor e assumi-lo como é, e não no que o transformaram!

Assim, antecipo algumas considerações. Se você acredita que este livro cairá em um romance água com açúcar ou uma história de novela, daquelas que arrancam longos suspiros, desculpe, mas não será assim. Ou se acha que trataremos do amor como algo “angelical”, que esquece do humano que rola em nosso corpo quando amamos, também não. Nem queremos transformar este livro em mais um “manual” de certo e errado, faça assim ou assado.

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Não tenha expectativas, e sim esperança! Esperança de reencontrar algo que está dentro de todos nós!

Prepare-se, o Amor vai falar!

O Amor vai falar.

Você não é nada sozinho,

com Deus você encontra o caminho,

Ele te ama...

(Trecho da música “O amor vai falar”, Banda Dom)

Quando o amor fala, ele desconstrói as fantasias e mostra seu rosto, que é sorriso, e nos faz o convite à plena felicidade.

as caricaturas

Uma das maiores caricaturas feitas do amor foi a de ter “dessacralizado-o” em nome de uma certa humanização. Tipo assim: tirar dele a dimensão divina reduzindo-o a algo somente humano. Desta forma ele perde sua essência e seu por que, bem como seu destino. Torna-se tudo menos amor!

Na língua grega, há três palavras e sentidos utilizados para o amor: Eros, Philia e Ágape.

O amor Eros é a força que nos impulsiona ao outro por meio dos sentidos. Assim, podemos experimentá-lo a partir da

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beleza, na natureza, na arte em suas diversas manifestações (como a música, a pintura etc.). É o amor Eros que atrai um ao outro, mas ele não sacia o coração do homem. É vida apaixonada, que se lança, que se arrisca, que às vezes até faz loucura. Quando o Eros consegue o seu objetivo, tranquiliza-se, mas depois se aborrece, pois sempre desejará mais e mais. É uma força que, em todo ser, tende e anseia pela plenitude. Mas sozinho pode apenas fazer a aventura de um momento, e não um final feliz.

O amor de Philia é o de amizade e menos instintivo. Não é uma paixão, nem um dever. É virtude, desejo de presença, mas não é Eros. Consiste mais em amar do que em ser amado. É ser para o outro. Comentei sobre este tipo de amor em um capítulo do livro Nasci pra Dar Certo! Vale a pena lê-lo e aprofundar-se. A amizade é um caminho certo para ser feliz.

Finalmente, o amor Ágape. Este vai além do Eros e do Philia. É o amor que se entrega totalmente, se doa inteiramente, é sempre fiel, sem nenhum interesse, deixa sempre livre, perdoa o que é imperdoável, acredita quando todos desacreditam, espera quando todos desistem, enfim, é o amor de Deus!

Deixando de lado as definições, o que aconteceu, no decorrer dos tempos, foi que muitos filósofos e alguns religiosos separaram estas dimensões do amor e até as apresentaram como contrárias, gerando, dessa forma, várias caricaturas.

É como se o Eros fosse sempre prejudicial ao homem. Algo terrível que inevitavelmente teria seu fim no apelo sexual. Ou, como alguns, que o colocaram na máxima do amor, onde

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só a realização prazerosa satisfaria o homem; algo como: se tá sentindo deixa rolar.

Parece que hoje há uma separação entre o amor humano e Deus, fazendo do amor algo “profano”, em que o divino não tem lugar e até incomoda. Pensar assim é fazer de Deus um “juiz maldoso”, pronto a colocar-nos para fora de campo caso façamos um movimento errado.

Se acreditarmos nessa ideia tola e vaga, assumiremos que Deus nada tem a ver com nossa maneira de amar, e só nos machucaremos, pois nunca amaremos de verdade. Eles (Eros e Ágape) se unem e se apontam. O papa Bento XVI levou tão a sério esta questão que, em sua primeira encíclica, Deus caritas est, se ocupou, em grande parte dela, em provar a unidade do amor.

Querer um Eros sem Ágape é cair em um amor superficial, interesseiro, que busca uma satisfação momentânea; é ser, neste mundo, um meteoro louco da paixão. Um amor de conquista, literalmente de “pegação”, que faz do outro um objeto de satisfação pessoal, que menospreza as palavras: fidelidade, compromisso, sinceridade, dando lugar à infidelidade, ao ficar por ficar, à mentira e falsidades. Não será este o tipo de “amor” que aparecem nos horários nobres de nossa televisão? Que embalam os hits de sucesso? Que enchem prateleiras de bibliotecas?

Outra caricatura é aquela originada por muitos “cristãos” que dizem ter vivenciado uma conversão de vida, importando

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agora somente Deus e nada mais. Ou seja, um cristianismo na vertical, apenas para o alto. Mas cristianismo é horizontal e vertical (cruz); Deus e homem. Um cristianismo de uma só dimensão é manco. Portanto, viver Ágape sem Eros é tão desumanizador quanto a primeira caricatura.

O Ágape sem Eros é um “amor frio”, um amar “meia boca”, sem a participação do nosso ser, mais um tal de “politicamente correto” do que pelo íntimo do coração e da alma. É como viver de inverno o ano inteiro, trabalhar de segunda a segunda, alcançar a média escolar em cada semestre. Literalmente, vida sem aventura e paixão. Um relacionamento rotineiro com Deus, sem surpresas. É participar do grupo de oração já sabendo a pregação que será feita e o evangelho, que será repetido pela décima vez. É esquecer que somos únicos e não somos mais um. Com este amor até nossa oração se torna sem graça e se parece com aqueles poemas que aprendemos em literatura e depois copiamos para quem gostamos, e que de original não tem nada.

Não somos anjos, e sim pessoas de carne e osso chamadas à santidade. E ser santo é viver nossa humanidade! Somos alma e corpo unidos: tudo o que fazemos, inclusive amar, tem como base essa unidade.

Querer amar só de corpo (Eros) é trilhar um caminho de morte; afinal, corpo sem alma é cadáver. Ao mesmo tempo, amar só de alma (Ágape), sem o corpo, é viver como “alma penada”. Não rola, não é? Mais adiante falarei desse jeito “Gasparzinho” vivido insistentemente por muitos.

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O amor verdadeiro e integral é uma pérola encerrada entre duas conchas que são o eros e o ágape. Não podem ser separadas, essas duas dimensões do amor, sem destruí-lo, como o hidrogênio e o oxigênio não podem ser separados sem se privarem da água. (Frei Raniero Cantalamessa)

O Amor de Deus é o grande ordenador do Eros e do Philia, e impede que tanto um como o outro permaneçam prisioneiros de si mesmos e façam suas trapalhadas. Como é infinito e sem medidas, faz o Eros e o Philia serem mais plenos ainda. É o namorado que é namorado de verdade, o esposo que é esposo, o amigo que é amigo. Sabe amar e deixar livre, gera vida e nunca prisão! Quando deixamos Deus ser o ordenador de nossos afetos não perdemos nada, pelo contrário, passamos a viver tudo de maneira mais intensa e plena.

Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, em-bora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral. Embora o eros seja inicialmente sobretudo ambi-cioso, ascendente – fascinação pela grande promessa de felicidade – depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, pro-curará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará “existir para” o outro. Assim se insere nele o momento da ágape; caso contrário, o eros decai e perde mesmo a sua própria natureza. (Deus caritas est)

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Uma vez que as caricaturas são excluídas, passamos a entender que o amor humano é sempre um reflexo do divino, e não uma “feiura” dele, e assim nos abrimos ao amor naquilo que ele nos promete e desperta: o infinito, a eternidade, uma realidade maior e totalmente diferente do dia a dia da nossa existência. É desse amor que temos necessidade e temos direito; amor que vai além de nós mesmos. Mas é bom nos prepararmos para renúncias e constantes purificações, e não sair por aí dizendo que vai amar de corpo e alma e se entregar a torto e direito. Não! É justamente o oposto.

Quando encontramos a beleza desse sentimento, devemos buscar sua essência, sem se contentar com as migalhas, e desejar o que não passa, ou seja, o eterno, e aquilo que passa simplesmente devemos deixar passar.

E aí, está pronto para entrar nessa estrada do grande amor? Pronto para se aventurar? Então só pise no acelerador depois de responder à minha pergunta: você se ama?

amar-se para amar!

O mais fascinante no cristianismo é que Cristo não apenas nos salvou, mas também nos ensinou a amar. Ensinou-nos a sermos pessoas. Amar é a grande missão que temos que viver, e nisso está o processo que nos torna gente, ser humano e pessoa de verdade. Salvou-nos amando! E amando até o fim!

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Criados no amor e para o amor, esta é a nossa essência. Sim! Aquilo que temos de mais profundo, que nos diferencia de todos os outros seres criados. E não dá para ser caricatura, temos que ser de verdade e pra valer.

Por muito tempo, eu parava no segundo mandamento e pensava: “Tá, o segundo mandamento diz: ‘Amar o próximo como a si mesmo’, mas tem tanta gente que se ‘ama’ de forma tão ruim que se for amar os outros será um desastre total e beirará a um filme de serial killer com direito a muito sangue dentro e fora da tela”.

Esse meu pensamento parece estranho, mas sem dúvida há muita gente que não tem amor próprio. Ao mencionar isso, minha intenção não é fazer apologia ao narcisismo, e sim chamar a atenção para nos cuidarmos, nos possuirmos mais, e assumir que somos presente, dom. Quando nos esquecemos disso, nos ferimos muito e até mutilamos o belo em nós, o lindo que Deus fez.

Há quanto tempo você não se olha no espelho e diz: “Eu te louvo porque me fizeste maravilhoso; são admiráveis as tuas obras; tu me conheces por inteiro” (Sl 139,14). Sim, este salmo é pra você. Cara, Deus lhe fez. Ele lhe criou. Você é um presente, um dom. É maravilhoso!

Não se trata de uma filosofia barata de autoajuda que cita palavras do tipo: “Pense positivamente que acontecerá”, cujo objetivo é massagear seu ego e ganhar seu aplauso. Não, absolutamente não. É nossa mais pura verdade. Se não nos

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amamos, tornamo-nos vítimas para qualquer um entrar e fazer o que bem quiser conosco! Não sou praça pública. Você não é praça pública. (No livro Santos de Calça Jeans há um capítulo que fala só sobre isso. Que tal lê-lo?)

Portanto, se não nos amarmos, será impossível amar o outro e trilharemos um caminho de completa frustração.

Jesus sabia muito bem disso, por isso criou o mandamento: “Amar o outro como a si mesmo”. Em outras palavras, é necessário se amar para então ir em direção ao outro e amá-lo. Caso contrário, nos machucaremos; o vazio será um resultado e a infelicidade, nossa companheira de estrada!

Assim não dá, não é? Viver assim, como disse o beato Pier Giorgio, é “fingir que se vive”. Então, vamos dar uma parada na leitura e fazer uma boa avaliação do quanto nos amamos. Topa entrar nesta prova?

Pense comigo: nosso dia tem 24 horas, e em todas elas você está com você mesmo. Certo? Sim e não...

Às vezes estamos conosco querendo ser o que o outro quer que sejamos. Outras vezes colocamos máscaras e fantasiamos a respeito de quem somos, do que gostamos e desejamos. Embora nunca tenhamos nos separado de nós mesmos, podemos ficar bem longe do que realmente somos. Essa é uma grande traição. Traição de si. E ausência do que somos.

Gastamos tanto tempo em ter o reconhecimento do outro, o amor do outro, que muitas vezes só nos cansamos. A razão disso é que gastamos muita energia para ser o que

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não somos. É preciso olhar para dentro e fazer boas perguntas! As perguntas certas!

Quanto você se ama? O que você ainda espera de si mesmo? Como você se cuida? O quanto você ama a Deus? O que você faz por Ele? Quanto do seu tempo dedica a Ele? O quanto você ama as pessoas? O que você faz por elas? Quanto do seu tempo dedica a elas? As respostas às primeiras perguntas valem para as demais. Precisamos ser reeducados na escola do amor.

Gaste tempo com você. Valorize-se, pois Deus lhe fez de modo tão admirável, gastando tempo e amor com você. Curta-se mais! Enfatize suas qualidades e seus anseios. Tome posse do que você é, e não do que se tornou. Será que você não está como Clarice Lispector? “Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu? Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim – mas que medo de mim mesma.”3

Podemos, na correria da vida, nos perder de nós mesmos! Muitas vezes é preciso desacelerar, e até parar, para nos revermos; só assim nos conheceremos em todos os tempos e momentos. Não tenha medo de ser o que é, senão a vida fica sem sentido! “Só se conhece aquilo que se ama, só se ama aquilo que se conhece”. Não poupe tempo em se autoconhecer. Quanto mais você se conhece, mais se possui, mais se ama e mais pronto estará para amar.

3 Lispector, Clarice. Visão do Esplendor: Impressões leves.

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Precisamos nos amar a ponto de não termos medo de mostrar a nossa identidade, e isso significa saber de onde viemos, para que viemos e para onde iremos. É mais do que mostrar o documento, como um papel; é mostrar-se com e na vida. Nossa identidade é muito mais do que um documento, é um registro na alma e no corpo.

Você é um dom de Deus. Todos os dias há algo para você correr atrás, descobrir e soltar aquele “eureka” de alegria. Impressionar-se consigo mesmo! Surpreender-se com seus segredos e mistérios. Encantar-se com os dons que Deus lhe deu.

Não espere das outras pessoas aquilo que é incapaz de se dar: atenção, valor, perdão e amor. Infelizmente não nos valorizamos o suficiente por não reconhecer a vida que está em nós e nos apoiamos no pouco que recebemos das outras pessoas.

Quantas vezes deixamos o banquete para ficar com as migalhas! Deus nos chamou para um banquete, mas ainda queremos fast-food. Ele arruma a mesa para fazer a refeição conosco, porém insistimos em um drive-thru. Isso não sacia nossa fome de vida!

Você sabia que o drive- thru foi criado por Royce Hailey, em 1931? Na época, o cara tinha 21 anos, e o sonho dele era comprar um carro, mas não sobrava dinheiro para realizá-lo, pois nos Estados Unidos se vivia os duros anos da recessão, depois da quebra da bolsa em 1929.

O restaurante onde Royce trabalhava ficava às moscas, e o cara dava o duro para não perder a clientela, afinal não só o carro estava em jogo, mas toda a sua vida.

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Um dia, ouviu de seu patrão uma máxima inspiradora: “As pessoas que têm carro são tão preguiçosas que não querem sair dele nem para comer”. Ele então percebeu que deveria agradar esse tipo de cliente. A solução encontrada por Royce foi original. Colocou na entrada da lanchonete uma placa em que se lia drive-thru, “dirija por”, um serviço até então nunca visto. Os clientes gostaram da novidade e, em pouco tempo, um congestionamento de Fords modelo T e de outros calhambeques se formou em frente à lanchonete.

A ideia foi superbacana. Aqui entre nós, os drive-thrus nos salvam muitas vezes, não é?

Mas voltando à comparação, às vezes somos estes “motoristas preguiçosos”, citados pelo patrão de Royce, que querem ser agradados. Porém esquecemos que “temos mesas” preparadas para nós, que é preciso parar e curtir a refeição, o banquete preparado. Não dá para viver de amor fast-food. Temos algo que nos saciará: o amor de Deus derramado em nossos corações.

É preciso muitas vezes sair do carro para sentar à mesa e saborear o que foi preparado. Este amor nos alimenta e nos coloca na estrada da vida com uma disposição para amar. Amar até o fim! Não podemos permitir que a “preguiça” nos impeça de conhecer nós mesmos e tome conta do carro de nossa vida, nos levando ao comodismo de uma vida sem “graça”. Temos que sair de nossos bancos confortáveis e nos aventurarmos no amor, para que possamos viver um Ágape com Eros e um Eros totalmente Ágape. Garanto que assim nossa aventura será cheia

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de surpresas, e a eternidade será a plenitude do quanto vivemos este amor-banquete.

Todos nós queremos amor. Queremos um amor! Não basta se amar ou amar somente a Deus, o mandamento continua e a ordem é amar o outro.

Quero um amor!

“O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente”, escreveu o papa João Paulo II na encíclica Redemptor hominis (n. 10).

Não somos uma ilha, isso é fato. Amar a si mesmo, como eu falava, é condição básica para começar um caminho de felicidade. Mas não para por aí. Este é o primeiro passo; o segundo nos leva a querer um amor. Amor de pai, amor de mãe, de irmão, de amigo e até de alguém com quem trilharemos uma estrada lado a lado. Devemos sair da ilha e criar um continente...

Se para dar o primeiro passo já encontramos dificuldade, e perceba que para isso contamos somente conosco, logo o segundo passo, que me lança ao outro, se torna então mais desafiante.

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Ir ao encontro não é tarefa das mais fáceis, já que requer um sair de si, que envolve uma entrega do que somos, e aí, meu amigo, se prepare, pois muitas vezes nos será pedido certos sacrifícios.

Mas como é possível aprender a amar e a doar-se assim? Nada move tanto o amor quanto o saber-se amado (São Tomás de Aquino).

Somos chamados a amar de maneira verdadeira. Amar o outro apesar do seu nada, por causa do seu nada, amá-lo com um amor mais forte e mais puro que o desejo de felicidade. Tudo isso só é possível se o amor humano se conjuga e se nutre com o amor eterno. Eros e Ágape.

Ao dar o segundo passo, precisamos ser bem sinceros conosco. Quero um amor para quê? Estou à procura de que amor? Quero um amor que me sacie? Que me complete? Que... e que... Estas reticências foram propositais para que você coloque o amor que deseja.

Esta é uma pergunta importante para continuarmos nossa aventura radical. Aqui faço uma pausa propositadamente. Este livro é uma aventura radical no amor. Radical porque tem a intenção de nos provocar a tocar na raiz do amor e da beleza que é amar. Você não encontrará respostas prontas e nem mel para passar em sua boca e assim deixar a vida açucarada. Será uma aventura radical que firmará nosso coração no que não passa. Apenas continue a ler este livro se estiver a fim de colocar a mochila nas costas e disposto a trilhar a estrada da vida. A

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chegada será mais que um amor, será o Amor Maior, pois quem não sabe aonde quer chegar não chega a lugar nenhum, ou, quando se chega, não o reconhece, por não ter traçado metas na partida.

Amar é ter a disposição de se dar, mas receber também. Querer se doar e não usar. Vivemos em um tempo de “utilidades”: aquilo que presta é o que pode ser usado; do contrário, é descartável e jogado fora. Assim tratamos tudo. O erro é quando levamos este jeito de pensar para nossas relações e, em vez de amar, nós usamos.

Útil é aquilo que potencializa o prazer e o conforto e diminui a dor. Ao pensar assim assume-se que a felicidade é o pleno prazer e só. Dessa forma, a vida se torna uma busca incansável por tudo que pode proporcionar conforto, vantagem e benefício, sempre evitando o que causa sofrimento, desvantagem e perda. Uma forma de mandar para o “paredão” o que não agrada. E o que agrada é usado até ser esgotado ou até quando atingir o máximo do prazer.

Se a meta principal é perseguir o próprio prazer, então as escolhas feitas na vida serão baseadas no quanto elas podem alcançar essa meta, não importando os caminhos trilhados, se se tratam de pessoas ou não, ou se fazem bem ou mal. O que deixa de bom é “bem-vindo” e o que não faz tão bem é descartado. O que conta é a própria curtição, não interessando como se chegou a isso!

Viver assim é viver do usar e não do amar. Avaliar as vantagens que os relacionamentos podem trazer ou estimar a

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utilidade das pessoas para se atingir uma meta, não é amar! Não requer fidelidade nem compromisso. Querer um amor assim é querer transformar o outro em objeto, e não em pessoa. Não dá para medir um relacionamento, um amor, no que o outro pode dar. Isso não é amar, e sim transformar o outro em objeto de nossas necessidades.

Tudo isso nos faz lembrar de muitas amizades, namoros e até mesmo casamentos que terminaram com uma rapidez surpreendente. As causas desses rompimentos imediatos podem ser várias: as relações surgiram com base no que poderiam trazer de “vantagem” ou apenas no quanto se poderia obter de prazer com elas, com o propósito de esgotar o que o outro fosse capaz de dar, sugando o máximo de prazer!

Tais relacionamentos são superficiais e mais voláteis que gás hélio. Se a necessidade de prazer e de bem-estar não é mais saciada, descarta-se o outro e parte-se para “outra”, ou então se no decorrer do relacionamento aparece outra “fonte” de prazer, nada mal trocar, não é? Afinal, o que conta é a própria felicidade e o “velho amor” já não significa mais nada, não valendo mais nada, pois perdeu sua utilidade diante da nova “fonte de prazer”. Cara, querer um amor só por prazer e bem-estar é se distanciar do verdadeiro amor.

Devemos querer um amor, mas um amor para amar e não usar; alguém que possamos amar e sermos amado. Amar o que o outro é, e não o que queremos que ele seja. Queremos sim ser reeducados no amor, que é mais forte que a morte...

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Claro, isso não é fácil. Desse modo, o amor verdadeiro é algo que custa muito a ser encontrado, fazendo dele ainda mais belo e valioso, pois aquilo que muito custa, vale muito. Não fomos feitos para ficar sozinhos, e Deus sabia disso, por isso nos deu o outro. Fomos criados para amar.

Criados para amar

Quem nos ajudará a entender esta nossa necessidade de amor será nosso amigo de estrada João Paulo II. Ele gastou muito tempo de seu pontificado realizando catequeses sobre o amor humano. O Papa sabia que o amor é a maior de todas as revoluções. Muitas destas catequeses serão abordadas neste livro. Afinal de contas, queremos amar pra valer, não é?

O livro do Gênesis foi muito utilizado pelo papa João Paulo II, pois nele, de uma maneira simbólica, descobrimos nossas grandes verdades. “E o Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda’” (Gn 2,18).

O Papa disse que não fomos criados para estar sós. Fomos criados para alguém. É bom lembrar que, na narrativa do Gênesis, Deus criou o homem e o chamou de Adão – aquele que foi criado do “pó da terra” –, e só depois da criação da mulher é que ele é chamado de homem (varão), no sentido estrito da palavra. No hebraico, o homem é chamado de “Ish” e a mulher “Ishá”.

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Quando Deus diz que “não é bom que o homem esteja só”, podemos entender essa solidão do homem em dois sentidos: o primeiro diz respeito à própria condição do homem enquanto criatura. Ou seja, a humanidade está só, pois as outras coisas que existem e foram criadas, como os animais, plantas, mares etc., não é humanidade. O segundo seria a relação entre homem e mulher, que é evidente nessa passagem. Para entendermos melhor esses dois sentidos, é preciso ler os versículos seguintes:

Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao ho-mem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse (Gn 2,19-20).

Quando o homem nomeia todos os animais, percebe que é diferente de todas as criaturas que o rodeiam. Pela primeira vez, o homem toma consciência de que ele é corporalmente diferente de todas as espécies vivas, e mais do que isso, ele é diferente em inteligência e espírito, pois é capaz de dar nome às criaturas. Ele toma conhecimento de sua liberdade frente a tudo o que vê. Deus fez Adão livre, porque o criou para amar, e o amor sem a liberdade é impossível. Nesse estado de se perceber livre, ele também “se vê só”, logo se dá conta de que sua origem é o amor, e da mesma forma o amor é seu destino.

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Ele então percebe dois amores: o de Deus, que o fez e o atraiu, e o da mulher, para a qual é um dom, um presente. Amores que se completam e se apontam!

Deus, ao nos criar, deu-nos a missão de amar. E amar é trilhar um caminho de liberdade, pois amor forçado não é amor. Por outro lado, enquanto seres sexuados, podemos afirmar que o homem e a mulher precisam um do outro para afirmarem suas identidades masculina e feminina. Nas diferenças podemos perceber nossa identidade. Deus criou o homem para ser um presente para a mulher, e esta para ser um presente para o homem. E juntos seguirem para Deus.

Logicamente que se fomos criados para amar, amaremos a todos, mas com nossa identidade profunda de ser: homem e mulher. Sempre na liberdade. Contudo, o outro nunca saciará nossa solidão, pois dentro de nós há um espaço que o outro não completará, o espaço de Deus. Assim, amar é deixar o outro livre, e não querer que ele seja a resposta para todas as nossas perguntas.

Quando tomamos consciência disso, tiramos das costas do outro o peso de corresponder às nossas expectativas. Deixemos estas de lado e tenhamos esperança, pois ela não decepciona.

Agora que já entendemos como Deus nos criou e o mistério que foi, pergunto: você está preparado para continuar? Afinal, há um amor a encontrar... Antes, porém, de passarmos para o próximo capítulo, que tal deixarmos nosso coração ser alcançado pelo amor de Deus, que nos ama e nos leva a amar?

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O abismo infinito do ser humano só se pode encher com algo infinito e constante, que é o próprio Deus.

Blaise Pascal

Oração

Senhor, Tu és o meu tudo. Fui criado neste mistério de amor. Desejado desde sempre, não fruto do acaso. Não sou um “querer” de um deus tirano que precisava de um escravo para satisfazer seus desejos “divinos”. Não, Senhor, Tu me amaste doando-Te a mim. Teu amor me criou, formou e sei que é o Teu amor que me sustenta, me levanta quando eu caio. É Teu amor que acredita em mim quando eu mesmo já até desisti. Por isso venho Te pedir: reeduca-me para amar. Quero amar sem caricaturas. Que o amor Ágape, meu amor para Contigo, seja cheio de Eros, de paixão, de vontade de ir até o fim. Pois assim meu amor para com os outros será sempre um reflexo do Teu divino amor. Amor desinteressado, amor que ama e pronto. Senhor, meu amém é esse: que seja assim, amar até o fim... amor que nunca diz já chega!

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a beleza de ser diferente

era uma vez...

Ao falarmos de amor, nosso coração chega a acelerar, e surgem muitas coisas na cabeça. Cenas, lembranças, filmes, músicas, pessoas. O amor cria histórias e enredos em que assumimos vários papéis, e sempre temos o lugar de protagonista na aventura. Mas você já pensou que por trás de uma grande cena há sempre um grande diretor e um bom roteiro?

Ver a história pessoal como um grande filme, com direito a Oscar, é uma grande aventura de quem assumiu como lema de vida “Nasci pra dar certo”. Há um roteiro de aventura fantástica de uma maravilhosa criação, e quero com você entrar nele completamente. Topa?

Sabe de qual criação me refiro?

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Este livro não termina aqui...

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9!BMM@LA:VVRRQO!ISBN 978-85-7677-332-0

Nossa vida é uma grande aventura, uma caçada em busca de um tesouro imperecível. Estamos sempre à procura de algo que possa saciar o nosso coração, pois temos a constante necessidade do encontro, de ter uma vida que valha a pena. Desejamos escutar “... e viveram felizes para sempre” em nossa própria história. Tudo gira em torno desta sede de um Amor Maior. Um Amor que preencha o nosso coração, responda aos nossos anseios e sacie a sede de nossa alma.

Há dentro de nós uma atração para o eterno. Não nos con-tentamos com a vida só aqui desta terra. Fomos criados para algo que não passa, por isso desejamos sempre um Amor Maior, definitivo.

Neste livro, você descobrirá caminhos novos na descoberta do amor, se aventurará nas estradas do coração humano e ainda ficará cara a cara com o Amor Maior. Mas desde já lhe digo: se o seu coração não está preparado para ser feliz de verdade e sua vida não quer ter o selo “para sempre feliz”, não leia este livro!

“O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente” (João Paulo II).

O amor não é lucro de retorno imediato; é um investimento a longo prazo. O verdadeiro amor não tem nada de superficial. É força da alma; algo que nasce dentro e quer ser exteriorizado. Ele é duradouro, autêntico e forte. Não cede à tentação de procurar saídas fáceis ou atalhos na vida. Não é egoísta, por isso não busca o próprio interesse. O verdadeiro amor não se basta, não se fecha em si mesmo. Ele se torna Dom desinteressado.

Mineiro de Contagem (MG), Adriano Gonçalves dos Santos é membro da Comunidade Canção Nova. Cursou filosofia no Instituto da comunidade e é acadêmico de psicologia na Unisal/Lorena. Atua na TV Canção Nova como apresentador e produtor do programa Revolução Jesus. Mais que um programa, o Revolução Jesus é uma missão que desafia o jovem a ser santo sem deixar de ser jovem. Dessa forma, propõe uma nova geração: a geração Santos de Calça Jeans

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