Adriele Machado Cassiano200.144.182.130/celacc/sites/default/files/media/tcc/426-1204-1-PB.pdf · En la Edad de la Tecnología de la ... uma analogia com os estudos do filósofo e

Embed Size (px)

Citation preview

  • Adriele Machado Cassiano

    Ativismo a partir das redes sociais

    CELACC / ECA - USP

    2011

  • Adriele Machado Cassiano

    Ativismo a partir das redes sociais

    Artigo cientfico apresentado para a concluso do

    Curso de Ps-Graduao em Mdia, Informao e

    Cultura do Centro de Estudos Latino-Americanos

    sobre Cultura e Comunicao da Universidade de

    So Paulo, sob orientao do Prof. Dr. Dennis de

    Oliveira.

    CELACC / ECA USP

    2011

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao orientador Prof. Dr. Dennis de Oliveira, pela ateno dada

    para me instruir, da melhor forma possvel, a executar este artigo cientfico.

    s grandes e instigantes aulas durante o curso, que contriburam para o

    meu crescimento intelectual, pessoal e profissional.

    Aos meus colegas de sala, pelo apoio e troca de informaes.

    minha famlia e ao meu namorado, Yuri Ferreira, que estiveram sempre

    ao meu lado, incentivando-me nos estudos.

    A todos que me ajudaram direta ou indiretamente a concluir este trabalho.

    Agradeo a Deus por tudo!

  • ATIVISMO A PARTIR DAS REDES SOCIAIS

    Adriele Machado Cassiano1

    Resumo: Apesar de vrios pensadores considerarem a internet um meio que isola

    o indivduo, nos ltimos anos, este meio de comunicao foi utilizado para unir as

    pessoas em prol de um mesmo ideal atravs das mobilizaes sociais. Na

    sociedade em rede, que utiliza como ferramenta principal a internet para se

    comunicar e se organizar, a informao produzida e disseminada

    democraticamente. Aparelhos mveis, como notebooks, celulares e tablets, e redes

    sociais, como Facebook e Twitter, so instrumentos que facilitam a ao de

    ativismos, ao atingirem de forma instantnea e simultnea um grande nmero de

    internautas. Na Era da Tecnologia da Informao, as redes sociais so pontos

    iniciais para as mobilizaes sociais.

    Palavras-chave: Ativismo; mobilizao; redes sociais; sociedade em rede.

    Abstract: Although many thinkers consider internet something which isolates

    people, this means of communication has been used lately to join people with the

    same ideals with social mobilization. In the network society, which uses the internet

    as the main tool to communicate and organize themselves, information is produced

    and disseminated democratically. Mobile apparatus, such as laptops, cell phones and

    tablets, and social networks, like Facebook and Twitter, are instruments which

    facilitate the deeds of activists by reaching a great number of internet users instantly

    and simultaneously. In this Age of Information Technology, the social networks are

    the starting points for social mobilizations.

    Keywords: Activism; mobilization; social networks; network society.

    1 Graduada em Rdio e TV pela Faculdade de Comunicao e Marketing da Fundao Armando

    Alvares Penteado, ps-graduando em Mdia, Informao e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicao da Universidade de So Paulo sob orientao do Prof. Dr. Dennis de Oliveira. E-mail: [email protected].

    mailto:[email protected]

  • Resumen: Aunque muchos pensadores consideran que el Internet es una forma

    que asla al individuo, en los ltimos aos, este medio se utiliz para unir a la gente

    hacia el mismo objetivo con los movimientos a partir de las redes sociales. En la

    sociedad en red, como la principal herramienta que utiliza el internet para

    comunicarse y organizarse, la informacin se elabora y difunde democrticamente.

    Los dispositivos mviles como porttiles, telfonos celulares y tablets, y las redes

    sociales, como Facebook y Twitter, son instrumentos que facilitan la accin de

    activismo para alcanzar instantneamente y simultneamente un gran nmero de

    usuarios de internet. En la Edad de la Tecnologa de la Informacin, las redes

    sociales son puntos de partida para las movilizaciones sociales.

    Palabras clave: Activismo; movilizacin; redes sociales; sociedad en red.

  • SUMRIO

    I. Introduo 08

    II. Sociedade em Rede 09

    1. Ativismo na sociedade em rede 12

    2. Ativismo a partir das redes sociais 15

    III. Pesquisa de Campo A Mobilizao do Churrasco da Gente

    Diferenciada 18

    1. Anlise de publicaes miditicas sobre o Churrasco 19

    IV. Consideraes Finais 21

    V. Referncias Bibliogrficas 24

  • Lista de Figuras

    Figura 1: Jovens do mais valor a internet que a namoro, moradia e carro 10

  • Lista de Tabelas

    Tabela 1: Redes sociais 16

  • 8

    I. Introduo

    O final do sculo XX e o incio do XXI so marcados pela Era da

    Informao, perodo em que todos buscam, justamente, informao, trabalham com

    ela e para ela. Este novo milnio ficou caracterizado com a presena das tecnologias

    da informao como extenses e amplificadores da mente humana. A rede a

    mensagem, afirma o socilogo espanhol Manuel Castells (2003, p. 07), ao fazer

    uma analogia com os estudos do filsofo e educador canadense Marshall McLuhan;

    para este, o meio a mensagem, ao se referir aos meios de comunicao como

    extenses do homem. E, assim, migramos do mundo de comunicao da Galxia

    de Gutemberg (CASTELLS, 2003: p. 08), com a difuso da mquina impressora,

    para a Galxia da Internet (CASTELLS, 2003: p. 08), com uma sociedade toda

    interconectada na rede.

    Atualmente, a internet faz parte integral da vida do ser humano. Apesar

    de ainda lutarmos no Brasil pela incluso digital, essa ferramenta revolucionou a

    forma de pensarmos, agirmos, comunicarmo-nos, organizarmos, relacionarmo-nos.

    Alm disso, essa tecnologia possibilitou a democratizao da informao, pois,

    agora, cidados comuns tm um espao para serem ouvidos, j que ela possibilita a

    participao do usurio, que deixa de ser passivo, como acontecia em outros meios

    de comunicao, como o rdio e a televiso. Embora muitos pensadores defendam

    que a internet pode conduzir ao isolamento social, as redes sociais so plataformas

    que podem servir para unir internautas com ideais semelhantes.

    A internet foi criada justamente para a troca de informaes on-line.

    Pesquisadores, na dcada de 1960, estimulavam o desenvolvimento do software em

    computao interativa, a partir de um programa de pesquisa militar dos Estados

    Unidos. Como a internet tem como principal caracterstica descentralizar a

    informao, diferente dos outros meios de comunicao, o Departamento de Defesa

    Americano, na poca em que acontecia a Guerra Fria, desenvolveu essa ferramenta

    como uma forma de proteger o sistema de comunicaes contra ataques soviticos.

    Mesmo que tenha recebido financiamento blico, a internet surgiu sem interesses

    comerciais ou apropriaes estatais e foi desenvolvida por cientistas e tcnicos

    norte-americanos e de outras nacionalidades principalmente europeus.

    Mas, para os empresrios e para a sociedade em geral, foi na dcada de

    1990 que a internet realmente passou a existir, graas ao desenvolvimento do

  • 9

    sistema world wide web, conhecido como www, uma teia global infinita que forma

    uma rede de informaes on-line e conecta o mundo. nesse ciberespao, a partir

    de redes sociais como Facebook e Twitter, que ativistas encontraram uma forma de

    alcanar, instantaneamente, o maior nmero de pessoas para organizar uma

    mobilizao social.

    Muitas manifestaes que, atualmente, comeam em pginas virtuais se

    estendem para as ruas, e esse tem sido o grande tormento das autoridades

    mundiais. Em 2011, por exemplo, a Primavera rabe mostrou que as manifestaes

    atravs das redes sociais so essenciais para a criao de uma situao poltica em

    questionamento aos ditadores. Diante de um regime autoritrio, cidados do Egito e

    da Lbia encontraram na internet um espao para discutir e se unir contra o governo.

    Tais mobilizaes colocaram em xeque ditadores que estavam h dcadas no

    poder.

    A eficcia desses ativismos, que comearam na internet, existe graas ao

    territrio on-line democrtico e livre, em que as pessoas podem se expressar e criar

    debates. Na Era da Tecnologia da Informao, usurios ativos no so apenas

    meros receptores de informaes, eles so tambm produtores de contedo e

    dissipadores de ideias. Neste novo milnio, lutas, questionamentos, assentimentos

    ou ainda dissenses, podem ser feitos a partir dessa ferramenta universal, a internet.

    Como define Castells (2003: p. 114): o ciberespao tornou-se uma gora eletrnica

    global em que a diversidade da divergncia humana explode numa cacofonia de

    sotaques.

    II. Sociedade em Rede

    Em qualquer lugar em que uma pessoa esteja possvel que ela fique

    conectada ao mundo, seja com o trabalho, com as relaes afetivas, com as

    economias, com as notcias nacionais e internacionais. Tudo isso s exequvel

    graas criao de uma tecnologia que age sobre a informao a internet e

    tambm ao desenvolvimento dos aparelhos tecnolgicos mveis multifuncionais que

    permitem essa conexo imediata. Esse meio de comunicao foi totalmente

    acoplado pela sociedade do sculo XXI que, atualmente, no consegue viver sem

    ela.

  • 10

    Uma pesquisa com jovens de at 30 anos de 14 pases, realizada

    recentemente pela empresa de tecnologia Cisco e divulgada no site do jornal Folha

    de S. Paulo, mostrou que a internet to importante quanto gua, comida e

    moradia; essa foi a afirmao de trs em cada cinco estudantes e jovens

    profissionais do Brasil. Eles afirmaram, ainda, que, entre ter acesso rede ou ter um

    carro prprio, a maioria prefere a opo da navegao on-line. Quanto

    comparao com outras atividades, 72% dos universitrios brasileiros preferem

    acessar a internet a sair com os amigos, ouvir msica ou namorar.

    Figura 1: Jovens do mais valor a internet que a namoro, moradia e carro2.

    A organizao Internet World Stats, responsvel pelo monitoramento do

    crescimento da internet em todo o planeta, registrou um aumento de 450% de uso

    em onze anos, j que, no final do ano 2000, havia cerca de 360 milhes de acessos,

    e, em maro de 2011, foram mais de 2 bilhes de usurios, o que equivale a 30,2%

    2 FOLHA DE S. PAULO. Disponvel em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/978270-jovens-dao-mais-valor-a-internet-que-a-namoro-moradia-e-carro.shtml.

  • 11

    da populao mundial. Apesar do crescimento acelerado de novos internautas, essa

    porcentagem ainda distribuda desigualmente pelo mundo: enquanto na Amrica

    do Norte a penetrabilidade da tecnologia na populao de 78,3%, na frica apenas

    11,4% da populao tem acesso rede mundial de computadores.

    Embora o acesso ainda seja limitado para a populao mundial e a

    distribuio irregular, a internet j mostra ser um meio tecnolgico em potencial para

    a sociedade civil global, que a emprega como uma ferramenta transformadora e

    tambm em constante transformao.

    Essa sociedade, denominada por Castells (2007: p. 21) como sociedade

    em rede, utiliza as tecnologias de informao e comunicao para se articular

    socialmente. As tecnologias, bem como a internet, so instrumentos sempre em

    processo de desenvolvimento graas mente humana, que fora direta de

    produo capaz de, consequentemente, alterar a forma que a prpria sociedade

    interage e se organiza entre si. Afinal, a internet um instrumento que desenvolve,

    mas que no muda os comportamentos; ao contrrio, os comportamentos

    apropriam-se da internet, amplificam-se e potencializam-se a partir do que so

    (MORAES, 2004: p. 273).

    A sociedade em rede caracterizada por invalidar o tempo e o espao, j

    que h uma mistura de tempos dentro dos canais de comunicao e tambm uma

    instantaneidade da informao com alcance mltiplo. Essa sociedade est em

    constante mudana, com fluidez organizacional, adaptvel, dinmica, suscetvel a

    inovaes, aberta para o desenvolvimento e para o novo e com mais velocidade do

    que no passado. As atividades humanas, sejam elas no campo poltico, cultural,

    econmico, so hoje moldadas a partir dessa tecnologia da informao e mantm

    uma interdependncia global.

    A rede de comunicao que move a sociedade um conjunto de ns

    conectados com mesmos cdigos, que se integram e se expandem de forma

    ilimitada, possibilitando a comunicao entre os usurios. Muitos desses usurios

    so tambm produtores dessa tecnologia, pois eles acabam aprendendo a

    desenvolver esse instrumento, utilizando-o e fazendo-o. Deste modo, qualquer um

    contribui para o seu aprimoramento na criao de contedo interativo de

    comunicao. Esse processo de constante desenvolvimento do sistema tecnolgico

    vem desde o seu surgimento e ainda acontece nos dias atuais. Afinal, os cdigos da

  • 12

    internet foram e continuam sendo cdigos abertos, para que essa seja uma

    tecnologia em constante inovao, um instrumento de comunicao livre.

    Nesse contexto, a internet pode ter potencial para se tornar uma mdia

    radical, como define o socilogo especialista em comunicao John D. H. Downing

    (2001: p. 33). Essa mdia alternativa oferece a expanso da informao, da reflexo

    e da troca, diferente da mdia convencional hegemnica, que impe e manipula tudo

    isso, depende apenas de como ela usada.

    Sendo assim, como toda a informao est na rede e qualquer cidado

    pode utiliz-la para se expressar, os ativistas se apropriaram dessa nova mdia para

    disseminar informao, organizar e mobilizar a populao, mas Castells (2003: p.

    114) levanta uma questo pertinente:

    O ciberespao torna-se um terreno disputado. No entanto, ser puramente instrumental o papel da Internet na expresso de protestos sociais e conflitos polticos? Ou ocorre no ciberespao uma transformao das regras do jogo poltico-social que acaba por afetar o prprio jogo isto , as formas e objetivos dos movimentos e dos atores polticos?

    Afinal, quais so as caractersticas das mobilizaes sociais produzidas

    pela sociedade em rede? Como os ativistas utilizam a internet para informar,

    organizar e recrutar? Como um internauta pode se transformar em um ativista a

    partir das redes sociais?

    1. Ativismo na sociedade em rede

    Na Era da Informao, da globalizao e do desenvolvimento tecnolgico,

    a sociedade em rede se organiza de uma nova forma, luta por diferentes conflitos e

    objetivos e possui novas demandas, se comparada a pocas anteriores, quando no

    havia a presena, principalmente, da internet. Nas ltimas dcadas, os movimentos

    sociais no se limitaram apenas poltica, religio ou s questes

    socioeconmicas e trabalhistas, como no passado. No novo milnio, a sociedade em

    rede luta por reconhecimento, identidade cultural, incluso social, alm dos

    movimentos sociais globais. Mesmo as lutas sociais tidas como tradicionais ainda

    esto presentes, mas elas ressurgem reconfiguradas, com novas propostas e

    objetivos, como, por exemplo, o movimento social indgena, que assume no apenas

    um carter de resistncia, mas tambm luta por direitos, como o reconhecimento e

    respeito s suas culturas e escolarizao da prpria lngua.

  • 13

    Movimentos de camadas populares agora dividem espao com

    movimentos sociais de outras camadas, como a dos ambientalistas, das mulheres,

    dos gays. Tais movimentos no lutam por resultados to calculados, como o dos

    operrios; os movimentos da sociedade em rede so, essencialmente, de valores

    culturais e no tm um objetivo concreto em que o Estado possa intervir. So

    mobilizaes que buscam maior visibilidade, identidade social e respeito perante o

    resto da populao. Os ativistas desses movimentos sociais utilizam a internet para

    expandir suas ideias e alcanar mais adeptos s manifestaes.

    Neste contexto, os movimentos discutidos na nova mdia acabam

    ultrapassando as fronteiras do pas de origem pelo alcance ilimitado da informao.

    Diferente das mdias hierrquicas, que manipulam informaes de acordo com os

    prprios interesses, nessa mdia alternativa qualquer pessoa pode se expressar

    igualmente. Assim, apesar dos movimentos sociais agirem localmente, eles tm

    alcance e impacto globais. Um exemplo de manifestao de grande impacto foi um

    movimento criado, em setembro de 2011, contra a corrupo no Brasil. A populao

    se organizou por meio de redes sociais e, com data e hora marcadas, saiu s ruas

    para protestar contra esse ato presente no cenrio poltico a corrupo. Outro

    exemplo, agora de impacto internacional, foi a manifestao contra a crise

    econmica global, conhecida como Ocupe Wall Street. As mobilizaes tambm

    comearam atravs de redes sociais como Facebook, Twitter e blogs, tambm em

    setembro de 2011, e os protestos dos chamados indignados foram aderidos por

    diversos pases da Europa e da sia, os organizadores das marchas acreditavam

    que manifestaes sejam realizadas em at 951 cidades de 82 pases3.

    Sendo assim, a internet mais do que um mero instrumento tecnolgico

    dos movimentos sociais:

    Ela [internet] se ajusta s caractersticas bsicas do tipo de movimento social que est surgindo na Era da Informao. E como encontraram nela seu meio apropriado de organizao, esses movimentos abriram e desenvolveram novas avenidas de troca social, que, por sua vez, aumentaram o papel da Internet como sua mdia privilegiada. (CASTELLS, 2003: p. 115)

    A internet um meio de comunicao e tambm a infraestrutura de uma

    organizao que se tornou indispensvel para o tipo de movimento social que

    3 G1. Indignados se mobilizam para realizar protestos em 82 pases. Disponvel em:

    http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/10/indignados-se-mobilizam-para-realizar-protestos-em-82-paises.html.

  • 14

    emerge nos dias contemporneos na sociedade em rede. Ao mesmo tempo em que

    a sociedade se modifica atravs dos movimentos sociais, a internet se transforma

    junto com essa sociedade.

    Alm de todas as modificaes ocorridas na sociedade em rede quanto

    nova forma organizacional do movimento social no novo milnio, a sociloga Maria

    da Glria Gohn afirma que alguns estudiosos teorizam o termo movimento social

    tambm chamado de associativismo como sendo uma organizao do passado,

    e que, no Brasil, so os ativistas ou mobilizadores que esto presentes

    atualmente:

    A categoria movimento social tem sido substituda, na abordagem de vrios analistas, pela de mobilizao social, que tambm gera uma sigla M.S., voltada para a ao coletiva que busca resolver problemas sociais, diretamente, via a mobilizao e engajamento de pessoas. (GOHN, 2010: p. 28)

    Contudo, Gohn defende que a mobilizao no domina completamente a

    cena nem h um fim do movimento social; eles podem, muitas vezes,

    entrecruzarem-se:

    Os dados empricos indicam-nos que essas duas modalidades continuaro a existir por muito tempo. So duas formas de protagonismo civil que atuam segundo polos diferenciados da ao scia uma trabalha o campo do conflito e a outra o campo da cooperao e integrao social. (GOHN, 2010: p. 27)

    Com a rede de comunicao, o ativismo ganha vida, significado e

    dinmica prpria e deixa de ser apenas uma categoria do movimento social

    institucionalizado. A internet facilita o acesso informao com maior velocidade,

    caracterstica que torna as organizaes tradicionais estruturadas, formais e

    permanentemente desnecessrias, j que, com apenas alguns cliques, possvel

    atingir e ter retorno de muitos internautas, que tambm se tornam ativistas. Sem

    uma organizao profissional tradicional, no h uma entidade central enraizada,

    uma estrutura de base e comando, uma legitimao institucional, uma estruturao

    organizada, mas isso no significa que a mobilizao se perca.

    Entretanto, uma organizao iniciada na internet pode ser facilmente

    aquecida quanto esquecida. No campo virtual, as mobilizaes sociais so

    semiespontneas, efmeras, com coalizes frouxas, as decises so tomadas por

    consenso, no h regras nem enquadramentos. Isso resultado da sociedade em

    rede, ou tambm pelo que o socilogo polons Zygmunt Bauman (2001: p. 07)

  • 15

    chama de sociedade lquida, em que tudo efmero, passageiro, lquido. Muitas

    das mobilizaes da Era da Tecnologia da Informao no tm bases fortalecidas e,

    por isso, so aderidas com facilidade e tambm descartadas com rapidez, mas nem

    por esse motivo elas deixam de alcanar os prprios objetivos. Afinal, tanto a

    internet quanto muitas das propostas ativistas so assim: lquidas. , principalmente,

    a partir das redes sociais, que permitido que esses ativismos espontneos

    aconteam.

    2. Ativismo a partir das redes sociais

    Postar, twittar, curtir, comentar, compartilhar, seguir! Essas so

    algumas das linguagens criadas e aes realizadas nas redes sociais existentes

    atualmente como o Facebook, o Twitter, o Orkut as mais utilizadas pelos

    brasileiros.

    A rede social um espao virtual que no deixa de ser real, mas sim

    imaterial, um territrio estruturalmente descentralizado que transpem as fronteiras

    da nao e atinge o global. Essas redes so tecidas pelos atores sociais, ou seja,

    a partir da relao entre os usurios que elas se constroem. Apesar de cada rede

    social ter suas regras prprias, ela se torna apenas uma ferramenta, j que o

    contedo produzido nela depende completamente da participao dos usurios. Por

    isso, a rede flexvel, reversvel, pode se modificar, trocar, reprogramar, uma

    construo coletiva, horizontal, multifacetada, compartilhada. Isso a torna um local

    sem hierarquia, uma vez que todos tm os mesmos direitos no campo virtual da rede

    social e , nesse local, que os ativistas encontram espao para disseminar

    pensamentos livremente e atingir pessoas de diversos locais para transformar ideias

    em aes coletivas.

    A sociloga Gohn (2008: p. 445) lembra, em seu dossi, que as [...] redes

    sociais passam a ter, para vrios pesquisadores, um papel at mais importante que

    o movimento social. Mas eles a redefinem como redes de mobilizao social.

    Algumas das principais caractersticas das redes sociais, como destacam

    os jornalistas Osvaldo Len, Sally Burch e Eduardo Tamayo, no livro Movimientos

    Sociales en la Red, feito a partir dos estudos de Manuel Castells so:

  • 16

    Tabela 1: Redes sociais. (LEN; BURCH; TAMAYO, 2001: p. 80, traduo minha)

    Enquanto para os autores acima as redes sociais so instrumentos com

    qualidades para as mobilizaes sociais, para o jornalista britnico Malcolm Gladwell

    (2010) a revoluo no ser tuitada ttulo de seu texto.

    Gladwell afirma que a falta de hierarquia nas redes sociais dificulta o

    desenvolvimento efetivo de uma mobilizao social sria:

    As redes no so controladas por uma autoridade central e nica. As decises so tomadas por consenso, e os vnculos que unem as pessoas ao grupo so frouxos. [...] As redes sociais so eficazes para ampliar a participao mas reduzindo o nvel de motivao que a participao exige. (GLADWELL, 2010)

    Para Gladwell, importante que uma mobilizao com objetivo de

    combater um sistema poderoso e organizado tenha uma hierarquia para pensar

    estrategicamente na ao, caso contrrio, ela fica suscetvel a conflitos e a erros. Ele

    acredita que as redes sociais podem at serem flexveis, adaptveis, fceis e

    rpidas, mas os vnculos a partir das redes so fracos e raramente conduzem a um

    ativismo mais denso, longo, e no imediato. Para ele, a rede serve para um tipo

    especfico de causa.

    Neste mundo sem hierarquia, tornar-se um ativista a partir das redes

    sociais parece ser fcil j que o campo virtual livre e democrtico, mas essa

    facilidade no implica que qualquer indivduo possa ser atuante e condutor de uma

    Redes sociais

    Atributos Caractersticas

    Flexibilidade Tecidas por atores que as constituem. Construo-desconstruo permanentes.

    Horizontalidade Descentralizadas, sem hierarquia.

    Interconexo Fluxos multidirecionais de informao.

    Articulao Possibilitam aes coletivas.

    Multiplicao Impulsionam foras isoladas e dispersas.

    Intercmbio Fundamentam-se com valores compartilhados.

  • 17

    mobilizao. O ativista precisa apontar um tema socialmente relevante, expressar os

    prprios pensamentos, reforar na articulao, ser criativo, manter laos de inter-

    relao. Ele precisa tambm ser informado, ter conhecimento do que defende e,

    ainda, ter atitude em propor alguma ao de ativismo, persuaso para fazer que os

    internautas se tornem seus aliados e para motiv-los a participar da mobilizao.

    O que facilitou a comunicao entre usurios e ativistas foi a possibilidade

    de acesso a essas pginas virtuais em qualquer lugar em que se esteja. Com o

    desenvolvimento de aparelhos tecnolgicos mveis (celulares, notebooks e tablets)

    e plataformas de redes compatveis a esses aparelhos, a conexo pode se tornar

    constante e de fcil acesso. Assim, a transmisso para suscitar questes e forar um

    debate instantnea e o retorno imediato.

    Todavia, as mobilizaes no so feitas apenas no campo virtual, atravs

    do computador, tablet, notebook ou celular. Elas no devem se limitar somente a

    protestos on-line. A rede social um local para debates, sim, porm ainda a

    partida inicial da batalha, e, para ganhar essa luta, preciso ir s ruas para

    protestar. Os ativismos comeam nas cibercomunidades, mas se estendem para o

    campo fsico, na tentativa de conquistarem seus ideais.

    A internet torna-se um meio essencial de expresso e organizao para esses tipos de manifestaes, que coincidem numa dada hora e espao, provocam seu impacto atravs do mundo da mdia, e atuam sobre instituies e organizaes (empresas, por exemplo) por meio das repercusses de seu impacto sobre a opinio pblica. (CASTELLS, 2003: p. 117)

    Um bom exemplo de ativismo no Brasil a partir das redes sociais,

    realizado em maio de 2011 e que tomou rapidamente grande proporo e alcance

    miditico, foi o Churrasco da Gente Diferenciada em So Paulo. Essa ao teve

    incio por meio de trocas de mensagens entre usurios do Facebook sobre o

    cancelamento da construo de uma estao de metr no bairro Higienpolis, aps

    moradores da regio, que eram contra a obra, alegarem que a criao da estao

    naquela localidade atrairia diferenciados na regio. Despertaram-se, ento,

    inquietaes e revoltas democratizantes de uma parte da populao que saiu s

    ruas para protestar contra os moradores elitistas do local.

  • 18

    III. Pesquisa de Campo A Mobilizao do Churrasco da

    Gente Diferenciada

    A suposta e futura estao Anglica Linha 6 Laranja do metr em So

    Paulo causou muita polmica e levantou muitos debates entre a populao,

    principalmente quando o governo confirmou que iria estudar tecnicamente a

    mudana do local da estao na Av. Anglica. Na inteno de impedir que a obra

    fosse realizada naquele local, um abaixo-assinado elaborado pela Associao

    Defenda Higienpolis afirmava que, em um raio de 600 metros do local, j existiam

    mais quatro estaes e que, se a construo ocorresse, deveria ser feita prximo

    Avenida Pacaembu, e que a obra aumentaria o fluxo de pessoas diferenciadas,

    popularizando o bairro, como se referiu a moradora da regio e psicloga Guiomar

    Ferreira para a matria da Folha de S. Paulo.

    Muitas pessoas, indignadas com o ocorrido, manifestaram nas redes

    sociais suas revoltas contra a possibilidade de cancelar a construo do metr na

    regio, pelo fato disso contribuir com o aumento de diferenciados no local. A notcia

    logo virou piada na internet e, o que comeou com uma brincadeira na rede virtual

    contra o elitismo abusivo, tornou-se algo grandiosamente srio.

    O ativista e jornalista Danilo Saraiva teve, ento, a ideia de criar uma

    mobilizao no Facebook, denominada como Churrasco da Gente Diferenciada, a

    favor do metr em Higienpolis e contra os moradores que defendiam que o

    transporte poderia popularizar o bairro. O convite na pgina do evento do Facebook

    era feito com bom humor:

    Como nosso bom senso no o forte, promoveremos agora um churrasco em frente ao shopping Higienpolis para mostrar que os ricos no chegam aos pobres, mas os pobres, sim, facilmente chegam aos ricos. Leve farofa, carne de gato, cachorro, papagaio, som porttil, carro tunado e tudo o que sua conscincia social permitir. Afinal a rua pblica, e o Higienpolis no est separado por muros. (SARAIVA, 2011)

    Essa tal brincadeira foi logo ganhando grande proporo e muitos

    debates. Mais de 55 mil internautas do Facebook confirmaram, em menos de uma

    semana, a presena na mobilizao marcada para o dia 14 de maio de 2011, entre

    as 14h e 22h30.

    Nos dois dias anteriores data marcada para o evento, o ativista decidiu

    cancelar a mobilizao, alegando que a Polcia Militar e a Companhia de Engenharia

  • 19

    de Trfego estavam preocupadas, pois a grande quantidade de pessoas nas ruas

    iria obstruir a passagem de vias pblicas. Porm, depois, de algumas horas e muitos

    pedidos, Saraiva remarcou o tal Churrasco.

    Na data marcada, cerca de 900 pessoas compareceram mobilizao

    nas ruas do bairro Higienpolis. O ativismo pacfico e livre de partidos no s

    conseguiu que a prefeitura de So Paulo retomasse a ideia de construir a estao

    de metr Anglica, que agora ficar entre as Ruas Sergipe e Bahia, a uma quadra

    da Av. Anglica, como tambm o Ministrio Pblico afirmou que vai investigar as

    intenes por trs do to falado cancelamento da estao Anglica.

    1. Anlise de publicaes miditicas sobre o Churrasco

    Sob a tica de diversas mdias on-line, o Churrasco da Gente

    Diferenciada foi visto de diversos ngulos, com anlises e publicaes

    diversificadas sobre o evento. Para examinar como foi feita a cobertura e debate

    deste fato na blogosfera, foram escolhidos dois portais miditicos com

    caractersticas e pblicos diferentes: O Globo (mdia tradicional e conservadora) e Vi

    O Mundo (mdia alternativa e independente).

    O jornal impresso, e tambm eletrnico, O Globo, fundada no Rio de

    Janeiro em 1925 pela famlia Marinho (dona de diversas mdias como a TV Globo,

    Rdio Globo, Rdio CBN), no deixou de cobrir as notcias da capital paulista. Alm

    das matrias que noticiavam o fato, colunistas e blogueiros de O Globo abordaram

    pautas diversificadas em suas pginas sobre o assunto. No blog do Ancelmo.com

    a turma da coluna, o jornalista Aydano Andr Motta postou sobre o Churrasco no

    mesmo dia em que a polmica da expresso diferenciada, utilizada pela moradora

    do bairro Higienpolis, atingia as redes sociais, se tornava no Twitter o tpico mais

    popular do dia no Brasil e virava mobilizao no Facebook. Mas, com um olhar

    pessimista quanto s mobilizaes nas redes sociais, o jornalista termina o texto

    com a seguinte frase: a internet s vezes nos d esperana. s vezes (MOTTA,

    2011).

    Ainda no portal O Globo, no Blog da Maria Helena, o texto Preconceito

    flor da pele (RAMIREZ, 2011), escrito por Elza Ramirez, teve um vis mais crtico

    ao ativista Danilo Saraiva, ao referi-lo como autor de uma brincadeira que no mediu

    as consequncias ao fazer uma montagem fotogrfica do tal churrasco, usando uma

  • 20

    imagem do ex-governador paulista Jos Serra, e no do atual, Geraldo Alckmin. Ela

    tambm criticou os internautas que debateram sobre o assunto nas redes sociais,

    destacando os preconceitos feitos aos judeus, j que o bairro congrega uma das

    maiores comunidades judaicas da capital paulista.

    J o Blog do Noblat, ainda no portal O Globo, foi o que teve mais

    postagens sobre o assunto: quatro, ao todo. Duas das matrias apenas citavam o

    ocorrido; uma delas definia, no ttulo, o evento como um sucesso. As outras duas

    falavam indiretamente sobre o Churrasco. Uma, intitulada como Rede social

    um perigo... (NOBLAT, 2011), mostrava os cuidados que as pessoas pblicas

    devem ter ao se expressar virtualmente, como foi o caso, citado na matria, do

    comediante Danilo Gentili, que fez uma piada considerada de mau gosto sobre o

    pblico judeu que mora em Higienpolis; assim, o comediante foi tachado como

    preconceituoso. Outra matria, tambm no Blog do Noblat, foi postada pelo ex-

    ministro da Casa Civil, Jos Dirceu, que discutia sobre o resultado do voto eleitoral

    na Espanha e sobre o movimento 15 de Maio, organizado pela populao espanhola

    a partir de redes sociais. Dirceu aproveitou para citar a repercusso do Churrasco

    da Gente Diferenciada e a importncia da web como uma tima ferramenta para

    mobilizaes populares. Para ele, o que acontece na internet hoje deve tambm ser

    analisado pelos governantes e afirma que o enorme potencial da mobilizao pela

    internet resulta em um embaralhamento saudvel do jogo poltico, que s tem como

    resultado fortalecer a democracia no Sculo 21 (DIRCEU, 2011).

    J, as pginas da mdia on-line independente Vi o Mundo, comandada

    pelo jornalista Luiz Carlos Azenha, traziam textos com uma viso mais reflexiva e

    positiva quanto ao evento do Churrasco feito a partir das redes sociais.

    Em uma das publicaes de Luiz Carlos Azenha, levanta-se a questo de

    que a ampliao da obra do shopping Higienpolis piorou de vez o trnsito no bairro,

    mas que, aparentemente, ningum se organizou contra isso, como ocorrido com o

    episdio do metr (AZENHA, 2011). Em outra pauta, Azenha discute os argumentos

    propostos pela Associao Defenda Higienpolis de que no haveria necessidade

    de construir duas estaes de metr prximas (com apenas 600 metros de

    distncia), entre a suposta estao na Av. Anglica e a estao Mackenzie. Azenha

    aponta o incentivo para o uso do transporte pblico, como feito em Nova York,

    onde h estaes com distncia de menos de 200 metros, e que aqui deveria ser

  • 21

    calculada a necessidade da estao na Av. Anglica atravs dos interesses do

    conjunto de sistema e da cidade (AZENHA, 2011).

    No texto As redes sociais e os interesses pblicos (AZENHA, 2011),

    Azenha debate sobre a importncia da sociedade em se apropriar dessa potencial

    mdia para os interesses pblicos. Enquanto o jornal impresso exibe matrias que

    soam impessoais, a blogosfera e a rede social so espaos de expresso em tom

    pessoal, testemunhal, com interao imediata. Na blogosfera, comentrios de

    leitores podem virar notcia de primeira capa. Para ele, o episdio do metr talvez

    tenha sido o resultado mais positivo: demonstrar para algumas dezenas de milhares

    de pessoas que elas podem e devem influenciar as polticas pblicas, sempre

    (AZENHA, 2011).

    Em outro texto, Azenha mostra a fora dessa mdia, um meio com via de

    vrias mos, horizontal, transparente, sem censura, em que leitores agora so

    tambm produtores e pulverizadores de informao, ao opinarem ou apenas

    compartilharem textos que julgam interessantes para os amigos. Sobre o

    Churrasco, Azenha aponta:

    Os colunistas de jornal que foram ao protesto miraram no particular (a suposta falta do povo na manifestao) e perderam o essencial: as redes sociais so muito eficazes para promover o que eu chamaria de coalizo de vontades. (AZENHA, 2011)

    As alianas descentralizadas e apartidrias entre internautas se

    fortalecem com as redes socais e os interesses pelas polticas pblicas crescem.

    IV. Consideraes Finais

    Foram mais de 55 mil internautas, entre moradores de So Paulo, fora do

    Estado e ainda fora do pas, que confirmaram presena na pgina do evento

    Churrasco da Gente Diferenciada, no Facebook, mas apenas cerca de 900

    pessoas marcaram, de fato, presena nas ruas, o equivalente a uma mdia de 1,6%

    de 55 mil. Mesmo que este seja um nmero expressivamente pequeno, a internet foi

    a ferramenta necessria para que o cidado de qualquer parte do Brasil e do mundo

    pudesse refletir sobre o problema civil e, ainda, opinar, compartilhar, ou apenas ter

    conhecimento dos fatos. O ativismo dos diferenciados serviu de pauta para

    pensarmos alm do caso em Higienpolis, mas na infraestrutura de todo o pas.

  • 22

    Contudo, sair s ruas ainda um ato muito importante de ativismo a

    partir das redes sociais e que no deve ficar restrito a um ativismo apenas nelas, j

    que, com somente um clique, ao confirmar a presena, por exemplo, na mobilizao

    no Facebook, no o suficiente para mudar ou reverter uma situao. Limitar-se ao

    campo virtual acaba no trazendo resultados satisfatrios para uma mobilizao que

    envolva outros grupos ou entidades na deciso final. Sair s ruas ainda fortalece a

    mobilizao, causa presso, ou at mesmo reflexo, oposio e, assim, tem maior

    propenso a conquistar o objetivo protestado.

    A internet na vida da sociedade em rede mostra que ela mais do que

    apenas uma ferramenta gerencial e organizacional: tambm o espelho do ser

    humano, ao refletir todas as aes dele alm do campo virtual. Deste modo, como o

    reflexo se altera conforme os movimentos da sociedade em rede, esse instrumento

    ganha vida e se transforma mutuamente junto com essa sociedade.

    Uma das principais vantagens da internet a de ser um espao livre para

    se expressar, diferente da liberdade dita das grandes mdias que, na verdade,

    filtram, omitem e manipulam informaes. A liberdade de expresso da internet deve

    ser preservada, afinal, com ela que as mobilizaes ganham espao e o jornalismo

    alternativo se mantm. Para que as mobilizaes a partir da rede social cresam e

    se fortaleam, necessrio lutar tambm por outros ideais como: estender o acesso

    virtual igualmente a toda populao, bem como aumentar a banda larga e de

    qualidade para todos, e ainda lutar contra qualquer tipo de censura dos poderes

    pblicos ou corporativos da internet.

    Ao mesmo tempo em que a internet benfica para os movimentos

    populares, importante lembrar que ela uma via de mo dupla, j que todos

    podem ter acesso a ela, inclusive os governos. A mobilizao a partir das redes

    sociais pode, dessa maneira, facilitar tambm o trabalho das autoridades, quando

    estas monitoram as conversas nas redes, e se tornar uma fonte para colher dados

    para arquitetar contrainsurgncias, podendo, ento, destruir as mobilizaes.

    Todavia, as mobilizaes tm caminhos e resultados diferenciados, conforme a

    desempenho da nao e do sistema poltico.

    Nesta nova Era, em que a sociedade em rede bombardeada de

    informaes a todo tempo, as mobilizaes se tornam, junto com as caractersticas

    da sociedade, efmeras, velozes, semiespontneas. A falta de hierarquia e de uma

    organizao institucional no atrapalha este tipo de mobilizao social da sociedade

  • 23

    em rede, que luta principalmente pela afirmao da identidade, pelo respeito

    diversidade ou, ainda, por interesses pblicos.

    H estudiosos que defendam ser possvel o sucesso de uma mobilizao

    social a partir das redes sociais; outros acreditam que, atravs desse meio de

    comunicao, isso no possvel. Polmicas parte, no h uma resposta exata e

    fechada quanto ao desempenho das mobilizaes a partir das redes sociais. Essa

    questo fica em aberto, j que est em constante mudana, em desenvolvimento e

    transformao, bem como acontece com a sociedade em rede e com a internet.

  • 24

    V. Referncias Bibliogrficas

    AGNCIAS INTERNACIONAIS. Indignados se mobilizam para realizar protestos em 82 pases. G1. 15 de out. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 18 out. 2011.

    AZENHA, Luiz Carlos. FHC, o Facebook e a coalizo de vontades. VI O MUNDO. 20 de maio 2011(a). Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    ______. Higienpolis: o churrasco da gente diferenciada. VI O MUNDO. 11 de maio 2011(b). Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    ______. As redes sociais e o interesse pblico. VI O MUNDO. 14 de maio 2011(c). Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    ______. Agora, a srio, sobre a estao Higienpolis. VI O MUNDO. 12 de maio 2011(d). Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Lquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

    BRUNING, Felipe Vanini. Jovens do mais valor a internet que a namoro, moradia e carro. Folha de S. Paulo. 21 de set. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 26 set. 2011.

    CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede A Era da Informao: economia, sociedade e cultura. Vol. 1. 10. ed. So Paulo: Paz e Terra, 2007.

    ______. A Galxia da Internet. Reflexes sobre a internet, os negcios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. DIRCEU, Jos. O paradoxo espanhol. O GLOBO. Blog do NoBlat. 27 de maio 2011. Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

  • 25

    DOWNING, John D. H. Mdia radical: rebeldia nas comunicaes e movimentos sociais. 2. ed. So Paulo: Editora Senac, 2001.

    GLADWELL, Malcolm. A revoluo no ser tuitada. Observatrio da Imprensa. 14 de dez. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 22 ago. 2011.

    GOHN, Maria da Glria. Abordagens tericas no estudo dos movimentos sociais na Amrica Latina. Dossi. Caderno CRH, Salvador, 2008. v. 21, n. 54, p. 439 455. Disponvel em: . Acesso em: 15 out. 2011.

    ______. Movimentos sociais e redes de mobilizaes civis no Brasil contemporneo. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 2010.

    INTERNET WORLD STATS. Estatsticas de uso da internet pela populao mundial. Disponvel em: . Acesso em: 26 set. 2011.

    LON, Osvaldo; BURCH, Sally; TAMAYO, Eduardo. Movimientos Sociales em la Red. Quito: Agencia Latinoamericana de Informacin, 2001.

    MORAES, Dnis de (org). Por uma outra comunicao: Mdia, mundializao cultural e poder. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. p. 255287.

    MOTTA, Aydano Andr. Gente diferenciada. O GLOBO. Ancelmo.com: a turma da coluna. 15 de maio 2011. Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    NOBLAT, Ricardo. Bairro nobre de So Paulo rejeita estao de metr. O GLOBO. Blog do Noblat. 12 de maio 2011(a). Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    ______. Rede social um perigo... O GLOBO. Blog do Noblat. 13 de maio 2011(b). Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

  • 26

    ______. Sucesso o Churrasco da Gente Diferenciada em SP. O GLOBO. Blog do Noblat. 14 de maio 2011(c). Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    RAMIREZ, Elza. Preconceitos flor da pele. O GLOBO. Blog da Maria Helena: sobre isso e aquilo... 20 de maio 2011. Disponvel em: . Acesso em: 15 nov. 2011.

    SARAIVA, Danilo. Churrasco da gente diferenciada. Facebook. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 28 out. 2011.