6
Cultivo Orgânico de Inhame (Colocasia esculenta) entre Faixas de Guandu na Região Serrana Fluminense * Fábio Luiz de Oliveira 1 José Guilherme Marinho Guerra 2 Rodolfo Gustavo Teixeira Ribas 3 Rodrigo Modesto Junqueira 4 Edmilson Evangelista da Silva 4 José Antonio Azevedo Espindola 2 Dejair Lopes de Almeida 2 Raul de Lucena Duarte Ribeiro 5 * Trabalho realizado com apoio financeiro da FAPERJ. 1 Professor da UNITINS, Doutorando em Fitotecnia – UFRuralRJ 2 Pesquisador da Embrapa Agrobiologia, BR 465, km 07, caixa postal 74505, 23890-970, Seropédica/RJ. E-mail: [email protected] 3 Mestrando em Fitotecnia – UFV 4 Graduando em Engenharia Agronômica da UFRuralRJ, bolsista da Embrapa Agrobiologia – PIBIC/CNPq e FAPERJ. 5 Professor Adjunto daUFRuralRJ, BR 465, km 7, 23890-970, Seropédica/RJ. Introdução O Rio de Janeiro produz 75% do inhame comercializado no Estado. A região serrana é um importante pólo de produção da cultura, sendo Bom Jardim, dentre os municípios produtores, o terceiro em volume, com produtividade média de 1316 toneladas por ano (Silva & Oliveira, 2002). A cultura do inhame na região serrana é atualmente conduzida com o uso de herbicidas para o controle da vegetação espontânea e com fertilizantes sintéticos concentrados. Essas práticas não são permitidas no manejo de unidades de produção orgânica, o que limita a oferta de raízes no mercado consumidor de alimentos orgânicos no estado do Rio de Janeiro. Na busca por alternativas tecnológicas para o controle da vegetação espontânea, se insere o sistema de cultivo entre faixas intercalares de guandu, que traria também outros benefícios para a cultura do inhame. A proteção contra a queimadura foliar pela incidência direta de raios solares é um destes benefícios potenciais. Apesar da ausência de informações científicas os agricultores acreditam que tais queimaduras provocam queda na produtividade de raízes desta hortaliça. Outro benefício importante é o suprimento de nutrientes para a cultura, principalmente o nitrogênio, que seria incorporado do ar via fixação biológica (Moreira, 2003). Dependendo das condições climáticas e de solo, o desempenho das culturas entre faixas de espécies sem uso econômico direto pode ser variável. Por isso, Lawson & Kang (1990) sugerem que o sucesso dos sistemas de cultivo entre faixas depende de estudos realizados para estabelecer o manejo adequado em cada condição específica. Desse modo, o presente trabalho objetivou avaliar os efeitos do manejo de faixas intercalares de guandu sobre o desempenho produtivo do inhame nas condições da região Serrana do estado do Rio de Janeiro. Material e Métodos O experimento foi implantado em área de produtor de inhame do município de Bom Jardim, região Serrana Fluminense. A unidade de produção fica localizada à 680 m de altitude, com temperaturas amenas (média anual da região de 23ºC) e com precipitação anual de 1285 mm, apresentando queda na taxa de precipitação durante a estação de inverno. O sítio encontra-se geograficamente ISSN 1517-8862 Setembro/2004 Seropédica/RJ Comunicado 68 Técnico

Adubação Verde Para Inhame

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Adubação Verde Para Inhame

Citation preview

Page 1: Adubação Verde Para Inhame

Cultivo Orgânico de Inhame (Colocasiaesculenta) entre Faixas de Guandu naRegião Serrana Fluminense*

Fábio Luiz de Oliveira1

José Guilherme Marinho Guerra2

Rodolfo Gustavo Teixeira Ribas3

Rodrigo Modesto Junqueira4

Edmilson Evangelista da Silva4

José Antonio Azevedo Espindola2

Dejair Lopes de Almeida2

Raul de Lucena Duarte Ribeiro5

* Trabalho realizado com apoio financeiro da FAPERJ.1 Professor da UNITINS, Doutorando em Fitotecnia – UFRuralRJ2 Pesquisador da Embrapa Agrobiologia, BR 465, km 07, caixa postal 74505, 23890-970, Seropédica/RJ. E-mail: [email protected] Mestrando em Fitotecnia – UFV4 Graduando em Engenharia Agronômica da UFRuralRJ, bolsista da Embrapa Agrobiologia – PIBIC/CNPq e FAPERJ.5 Professor Adjunto daUFRuralRJ, BR 465, km 7, 23890-970, Seropédica/RJ.

Introdução

O Rio de Janeiro produz 75% do inhamecomercializado no Estado. A região serrana é umimportante pólo de produção da cultura, sendoBom Jardim, dentre os municípios produtores, oterceiro em volume, com produtividade média de1316 toneladas por ano (Silva & Oliveira, 2002).

A cultura do inhame na região serrana éatualmente conduzida com o uso de herbicidaspara o controle da vegetação espontânea e comfertilizantes sintéticos concentrados. Essaspráticas não são permitidas no manejo deunidades de produção orgânica, o que limita aoferta de raízes no mercado consumidor dealimentos orgânicos no estado do Rio de Janeiro.

Na busca por alternativas tecnológicas para ocontrole da vegetação espontânea, se insere osistema de cultivo entre faixas intercalares deguandu, que traria também outros benefícios paraa cultura do inhame. A proteção contra aqueimadura foliar pela incidência direta de raiossolares é um destes benefícios potenciais. Apesarda ausência de informações científicas osagricultores acreditam que tais queimadurasprovocam queda na produtividade de raízes destahortaliça. Outro benefício importante é o

suprimento de nutrientes para a cultura,principalmente o nitrogênio, que seria incorporadodo ar via fixação biológica (Moreira, 2003).

Dependendo das condições climáticas e de solo, odesempenho das culturas entre faixas de espéciessem uso econômico direto pode ser variável. Porisso, Lawson & Kang (1990) sugerem que osucesso dos sistemas de cultivo entre faixasdepende de estudos realizados para estabelecer omanejo adequado em cada condição específica.

Desse modo, o presente trabalho objetivou avaliaros efeitos do manejo de faixas intercalares deguandu sobre o desempenho produtivo do inhamenas condições da região Serrana do estado do Riode Janeiro.

Material e Métodos

O experimento foi implantado em área de produtorde inhame do município de Bom Jardim, regiãoSerrana Fluminense. A unidade de produção ficalocalizada à 680 m de altitude, com temperaturasamenas (média anual da região de 23ºC) e comprecipitação anual de 1285 mm, apresentandoqueda na taxa de precipitação durante a estaçãode inverno. O sítio encontra-se geograficamente

ISSN 1517-8862Setembro/2004Seropédica/RJ

Comunicado 68Técnico

Page 2: Adubação Verde Para Inhame

Cultivo Orgãnico de Inhame (Colocasia esculenta) entre Faixas de Guandu na Região Serrana Fluminense2

localizado na latitude sul 22º 16' 55" e longitudeoeste 42º 31' 52".

A análise das amostras de solo, coletadas naprofundidade de 0 - 20 cm, foi realizada conformedescrito em Embrapa (1997), e apresentou asseguintes características químicas: pH=4,8;Al+++=1,2 cmolc dm-3; Ca++=0,5 cmolc dm-3;Mg++=0,3 cmolc dm3; K+=33 mg kg-1 e Pdisponível=6 mg kg-1). Com base nos resultadosda análise química do solo, fez-se aplicação de1 t ha-1 de calcário dolomítico e uma adubaçãocom 5 t ha-1 de esterco de aves, 80 kg ha-1 deP2O5 e 60 kg ha-1de K2O, tendo como fonte,respectivamente, farinha de ossos e cinzas delenha. O calcário foi aplicado a lanço e deixadoem cobertura, um mês antes da abertura dossulcos, enquanto o esterco e a mistura de farinhade ossos com cinzas foram aplicados no fundodos sulcos espaçados de 1,0 m.O delineamentoexperimental adotado foi o de blocos ao acasocom três tratamentos e quatro repetições. Ostratamentos foram formados pelo cultivo deinhame entre faixas permanentes de guandu,cultivo entre faixas podadas, sendo a fitomassa deguandu usada para adubação verde do inhame; ecultivo entre faixas de guandu podadas, sendo afitomassa retirada da área, tratamento este quefuncionou como testemunha.

Foram estabelecidas 4 faixas com 5 m decomprimento, em cada parcela, distanciadas de4,0 m entre si. As faixas foram formadas de fileirasduplas de guandu espaçadas de 0,5 m, a partir doplantio com 30 sementes por metro linear desulco. As faixas formavam três corredores, nosquais foi plantado o inhame, sendo utilizado comoárea útil apenas o corredor central. Cada parcelacomportou 64 plantas de inhame no espaçamentode 1,0 x 0,3 m, dispostas em quatro linhas deplantio, sendo considerada como plantas úteis as5 centrais de cada linha do corredor útil,perfazendo um total de 20 plantas avaliadas porparcela. Utilizou-se o cultivar Caqui, de porte alto,para a formação das faixas de guandu, sendo asemeadura realizada em maio. A poda foirealizada oito meses após a semeadura, quando oguandu apresentava 1,80 m de altura e uma boa

produção de fitomassa, provocando restrição naentrada de luz para a cultura em torno de 60%(leitura realizada às 12 horas, com auxílio deradiômetro). A poda coincidiu com 105 dias após oplantio do inhame, que é considerado um períodofavorável para adubação da cultura. A fitomassacortada foi disposta nas entrelinhas do inhame emantida em cobertura sobre o solo, no tratamentorespectivo.

O cultivar de inhame (Colocasia esculenta L.)usado no experimento, é o mesmo utilizado peloprodutor e representa um ecótipo do grupodenominado “Chinês”, bem adaptado à regiãoprodutora do estado e de boa aceitação comercial.

Foi avaliada, mensalmente durante os 3 primeirosmeses após a poda do guandu, a ocorrência deervas espontâneas, sendo determinado o númerode indivíduos por espécie e a produção defitomassa aérea total da vegetação espontânea.Os parâmetros avaliados em relação à produçãode inhame foram: peso médio do rebento, númerode rebentos por planta, produtividade de rebentose produtividade do rizoma central. Além disso,avaliou-se qualitativamente, por meio de notas, aárea foliar lesionada pela incidência direta de raiossolares sobre as folhas das plantas do inhame, oque foi feito com o auxílio da escala diagramáticadescrita por Micherreff et al. (2000), comadaptações de Oliveira (2004); foram atribuídasnotas que correspondem a proporçõespercentuais de área foliar lesionada, sendo a nota1, de 1 à 3%; nota 2, de 3 à 6%; nota 3, de 6 à12%; nota 4, de 12 á 25%; nota 5, de 25 à 50%; enota 6 para queimaduras maiores que 50%.

Foi feita uma estimativa da fixação biológica denitrogênio do guandu e o aproveitamento do Ndisponibilizado pela decomposição da massa deguandu, pelo inhame, através do método daabundância natural do isótopo 15N (δ15N) (Shearer& Kohl, 1988). Utilizaram-se como plantas dereferência as seguintes espécies de ocorrênciaespontânea na área experimental: picão-preto(Bidens pilosa), trapoeraba (Commelinabenghalensis) e milho (Zea mays).

Page 3: Adubação Verde Para Inhame

Cultivo Orgãnico de Inhame (Colocasia esculenta) entre Faixas de Guandu na Região Serrana Fluminense 3

Resultados e Discussão

A presença de faixas de guandu sem podaexerceu supressão sobre a vegetaçãoespontânea, reduzindo à produção de fitomassaseca em cerca de 63%, quando comparado aotratamento em que o guandu foi podado e afitomassa foi removida do sistema (Tabela 1). Deforma semelhante este efeito foi observado para onúmero de espécies presentes. A vegetaçãoespontânea era composta de dez espéciesdiferentes, sendo predominantes o picão-preto(Bidens pilosa L.), a grama seda (Cynodondactylon) e a trapoeraba (Commelinabenghalensis), que juntas representaram cerca de85% do número total de indivíduos da populaçãoamostrada.

O controle de ervas espontâneas na cultura deinhame é de grande importância, pois a cultura ésusceptível à competição, principalmente em duasfases consideradas críticas, a fase inicial decrescimento, até o quarto mês e na fase dematuração ou de acúmulo de amido, quando háqueda drástica da área foliar (Pimenta, 1993).Gurnah (1985) observou queda de até 30% naprodução do inhame devido à competiçãoexercida pela vegetação espontânea na faseinicial, formada predominantemente por tiririca(Cyperus rotundus).

O uso do guandu manejado em faixas intercalaressem poda revelou-se eficaz como método decontrole alternativo ao crescimento das ervasespontâneas (Tabela 1), assim prescindindo-sedas capinas que oneram o custo monetário dalavoura de inhame.

O manejo sem poda das faixas de guanduprovocou sombreamento das plantas de inhamereduzindo em até 60% a entrada de luz,diminuindo expressivamente a intensidade dasqueimaduras por radiação solar. Até os noventadias após a poda do guandu (duzentos e dez diasde ciclo do inhame), a presença das faixasintercalares sem poda proporcionou redução de90% da área foliar lesionada, e de 63% no númeroplantas de inhame lesionadas, quando comparadacom as faixas que receberam poda (Figura 1).

Tabela 1: Fitomassa seca de parte área da vegetaçãoespontânea durante o cultivo do inhame entre faixas deguandu submetidas a diferentes manejos de podaocorrida em diferentes manejos de faixas de guanduintercaladas na cultura do inhame.

Fitomassa seca da vegetaçãoespontânea

Dias após a poda do guandu30 60 90

Manejo das faixas deguandu

t ha-1

Podada/removida 2,51 a1 2,31 a 2,93 aPodada/mantida 1,98 a 2,63 a 3,04 aSem poda 0,95 b 0,58 b 0,93 bCV (%)2 33 21 151- Médias seguidas da mesma letra, nas colunas não diferem entre sipelo teste Tukey (p<0,05).2- Coeficiente de variação.

De acordo com diagnósticos de agricultores etécnicos envolvidos com a cultura no estado doRio de Janeiro, o desempenho do inhamedependendo do ano agrícola sofreexpressivamente com queimaduras foliares,decorrentes da incidência direta dos raios solares.Apesar da ausência de informações científicas deque as queimaduras causam queda naprodutividade do inhame, pode-se especular queas lesões levariam à perda de área foliar e, porconseguinte, à diminuição na produção defotoassimilados para o desenvolvimento dosrizomas. Contudo os resultados apresentados nãocorroboram com essa hipótese. Não foievidenciado queda na produção de rebentosmesmo com aproximadamente 80% da área foliarlesionada (Figura 1 A e 1 B), aos noventa diasapós a poda do guandu (cento e noventa e cincodias de ciclo do inhame). Desta forma, nãodetectou-se prejuízo na produção de raízes emdecorrência das queimaduras foliares.

Quanto aos parâmetros de produção, observou-seque houve influência do manejo adotado, somentepara o peso médio do rebento, que aumentouquando as faixas não foram podadas, enquantoque o número de rebentos por planta (Tabela 2)não apresentou alteração devido ao tipo demanejo adotado nas faixas de guandu. Apesar domaior peso médio do rebento detectado quandoas faixas não foram podadas, a produtividade de

Page 4: Adubação Verde Para Inhame

Cultivo Orgãnico de Inhame (Colocasia esculenta) entre Faixas de Guandu na Região Serrana Fluminense4

rizomas e rebentos, não diferiu dos outrostratamentos. Cabe ressaltar que a produtividadede rebentos alcançada mostrou-se abaixo damédia do estado do Rio de Janeiro, que é deaproximadamente em 15 t.ha-1 (Silva & Oliveira,2002). Isso não foi decorrente da competiçãoexercida pelo guandu, mas devido à redução doespaço físico ocupado pelas faixas intercalares deguandu, que representou 14% da área total, o quecontribuiu para reduzir o número de plantas deinhame na área de cultivo.

Um aspecto que deve ser discutido, é o fato dasplantas de inhame apresentarem produçãodiferenciada dependendo da distância em que seencontravam em relação às faixas de guandu. Porisso, realizaram-se amostragens em diferentesposições espaciais (linhas centrais e linhasadjacentes às faixas de guandu), a fim dequantificarem-se os efeitos na produção derizomas. Verificou-se que a produção média naslinhas adjacentes às faixas de guandu foi menorem relação às linhas centrais, principalmentedevido à redução na emissão de rebentos, o queacarretou queda de aproximadamente 33% naprodutividade em todos os tratamentos. Issodemonstra a necessidade de ajuste no arranjoespacial das linhas de plantio do inhame nessesistema, buscando-se determinar a distancia idealda linha de inhame em relação à linha de guandu,de forma que a produtividade seja uniforme emtodas as linhas.

A poda das faixas de guandu representou umaporte de 159 kg ha-1 de N, sendo detectado queaproximadamente 45% do N contido na parteaérea de guandu foi oriundo do processo defixação biológica da atmosfera, permitindo suporque em torno de 72 kg de N ha-1 foram fornecidosao solo a partir deste processo. Além disso, asplantas de guandu promoveram a ciclagem de, emmédia, 20 kg ha-1 de P, 136 kg ha-1 de K,64 kg ha-1 Ca e 16 kg ha-1 Mg, além dofornecimento de palhada para o solo com adeposição de 6,6 t ha-1 de matéria seca de parteaérea obtida com a poda. Isso aponta paracapacidade de enriquecimento da camadasuperficial do solo com nutrientes e matéria

orgânica, gerando reserva a ser usada pelacultura do inhame e outras culturas de interesseeconômico, dentro de um sistema rotacional.

Podada/removidaPodada/mantidaSem poda

aa

b

aa

b

aa*

b

30Pl

anta

s le

sion

adas

(%)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

60 90Dias após o corte do guandu

a a

b

b

b

(A)

Áre

a fo

liar l

esio

nada

(%)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

30 60 90Dias após o corte do guandu

Sem poda

Podada/removidaPodada/mantida

a* aa

a

abb

b

a a

(B)

Figura 1: Proporção de plantas (A) e de área foliar (B) de inhame,lesionadas pela incidência de raios solares, cultivado entre faixas de

guandu submetidas a diferente manejo de corte. * Valores commesma letra não diferem, dentro de cada época após o corte pelo

teste de Tukey (p< 0,05).

A quantidade de potássio ciclada pela fitomassado guandu é expressiva para o inhame, queexporta aproximadamente 70 kg ha-1 de K com aprodução de rizomas. Puiatti et al. (1992) tambémrelatou a importância do suprimento de potássiopara esta cultura que é grande exportadora destenutriente.

Um fato importante é que, apesar do aporte de Nderivado do guandu não ter alterado o teor de Nfoliar do inhame, observou-se que a cultura

Page 5: Adubação Verde Para Inhame

Cultivo Orgãnico de Inhame (Colocasia esculenta) entre Faixas de Guandu na Região Serrana Fluminense 5

acumulou este nutriente disponível no solo, após adecomposição da parte aérea do guandu mantidaem cobertura após a poda. Detectou-se que emtorno de 26% do N contido na folha índice doinhame foi oriundo da fitomassa de guandu. Nestesentido, demonstra-se que a poda do guandu,cultivado em faixas intercalares ao inhame, é fontede N, e possivelmente outros nutrientes,caracterizando-se como um valioso adubo verdepara a cultura. Mesmo quando as faixas nãoreceberam poda, observou-se que 12% do Ncontido na folha índice do inhame foi oriundo dafitomassa de guandu. Este fato foi decorrentepossivelmente da formação de liteira sob as faixasde guandu, devido a senescência natural deramos finos e folíolos, que juntamente com asraízes, devem ter contribuído para oenriquecimento do solo com N disponível para acultura.

Tabela 2: Número de rebentos por planta, peso médioe produtividade de rebentos, e produtividade de rizomacentral de inhame cultivado entre faixas de guandusubmetidas a diferentes manejos de corte.

InhameManejo das

faixas deguandu

Rebentonº/planta

Pesomédio

(g)

Produtividaderebento(t ha-1)

Rizomacentral(t ha-1)

Podada/removida 4,97 a1 80,95 b 11,50 a 8,77 aPodada/mantida 4,85 a 77,27 b 11,03 a 7,51 aSem poda 4,30 a 90,37 a 10,60 a 7,65 aCV (%)2 15 11 17 181- Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem entre sipelo teste Tukey (p<0,05).2- Coeficiente de variação.

A entrada de N no sistema, oriundo doprocesso de fixação biológica (aproximadamente72 kg ha-1), foi maior que a exportação com aprodução de rizomas do inhame(aproximadamente 40 kg ha-1). Desta esta formaum balanço positivo para esse nutriente essencialfoi obtido sem a presença de guandu. Isso é maisum indicativo que o uso das faixas intercalares,formadas com esta leguminosa, na produçãoorgânica do inhame pode ser extremamenteinteressante para o agricultor, pois reduz adependência por insumos externos, contribuindopara a construção de um sistema de produçãosustentável.

Conclusão

O sistema de cultivo entre faixas de guanduproporciona proteção para as plantas de inhamecontra a queimadura de folhas provocadas pelosol e se apresenta como método eficaz nocontrole do crescimento de ervas espontâneas,prescindindo-se de capinas manuais e químicas.

A condução da lavoura de inhame entre faixas deguandu mostra-se um sistema de manejointeressante para o cultivo orgânico desta hortaliçanas condições do município de Bom Jardim,devido a proteção do solo e das plantas deinhame, do aporte de N e da ciclagem de outrosnutrientes, que as faixas de guandu proporcionam.

Page 6: Adubação Verde Para Inhame

Cultivo Orgãnico de Inhame (Colocasia esculenta) entre Faixas de Guandu na Região Serrana Fluminense6

ComunicadoTécnico, 68

Exemplares desta publicação podemser adquiridos na:

Embrapa AgrobiologiaBR465 – km 7Caixa Postal 7450523851-970 – Seropédica/RJ, BrasilTelefone: (0xx21) 2682-1500Fax: (0xx21) 2682-1230Home page: www.cnpab.embrapa.bre-mail: [email protected]

1ª impressão (2004): 50 exemplares

Comitê depublicações

Expediente

Eduardo F. C. Campello (Presidente)José Guilherme Marinho GuerraMaria Cristina Prata NevesVerônica Massena ReisRobert Michael BoddeyMaria Elizabeth Fernandes CorreiaDorimar dos Santos Felix (Bibliotecária)

Revisor e/ou ad hoc: Orivaldo J. SagginJúnior; Ricardo Trippia dos G. PeixotoNormalização Bibliográfica: Dorimar dosSantos Félix.Editoração eletrônica: Marta MariaGonçalves Bahia.

Referências Bibliográficas

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa deSolos. Manual de métodos de análise de solo.Rio de Janeiro, 1997. 212 p.

GURNAH, A. M. Effects of weed competition atdifferent stages of growth on the yield of taro.Field Crops Research, Amsterdam, v. 10, p. 283-289, 1985.

LAWSON, T. L.; KANG, B. T. Yield of maize andcowpea in alley cropping system in relation toavailable light. Agricultural and ForestMeteorology, Amsterdam, v. 52, p. 347-357,1990.

MICHERREFF, S. J.; MAFFIA, L. A.; NORONHA,M. A. Escala diagramática para a avaliação daseveridade da queimadura de folhas de inhame.Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 25, n. 4, p.612-619, 2000.

MOREIRA, V. F. Produção de biomassa deguandu a partir de diferentes densidades deplantio e cultivo de brócolos em faixasintercalares sob manejo orgânico. 2003. 63 p.Dissertação (Mestrado em Agronomia-Ciência doSolo) – Universidade Federal Rural do Rio deJaneiro, Seropédica, RJ.

OLIVEIRA, F. L. Alternativas para o manejoorgânico do taro (Colocasia esculenta L.Schott) em diferentes condiçõesedafoclimáticas no estado do Rio de Janeiro.2004. 96 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) –Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,Seropédica, RJ.

PIMENTA, D. S. Crescimento e produção deinhame (Colocasia esculenta), com compostoorgânico, amontoa e capina. 1993. 78 p.Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal deViçosa, Viçosa.

PUIATTI, M.; GREEMAN, S.; KATSUMOTO, R.;FAVERO, C. Crescimento e absorção demacronutrientes pelo inhame ‘chinês’ e ‘japonês’.Horticultura Brasileira, Brasília, v. 10, n. 2, p. 89-92, 1992.

SHEARER, G.; KOHL, D. H. Natural 15N-abundance as a method of estimating thecontribution of biologically fixed nitrogen to N2-fixing systems: potencial for non-legumes. Plantand Soil, Dordrecht, v. 110, p. 317-327, 1988.

SILVA, V. V.; OLIVEIRA, F. L. de. Tendências epotencialidades das culturas do inhame(Dioscorea sp.) e do taro (Colocasia esculenta) noEstado do Rio de Janeiro. In: SIMPÓSIONACIONAL SOBRE AS CULTURAS DO INHAMEE DO TARO, 2., João Pessoa, 2002. Anais... JoãoPessoa: EMEPA, 2002. v. 1. p. 65-77.