Advento Do Cristianismo Na Roma Antiga

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Advento do Cristianismo na Roma AntigaNos primeiros sculos do Cristianismo, quais era as razes da perseguio?A mais bvia a relao difcil com o judasmo, com quem os 1s cristos se identificam: so herdeiros da Promessa feita a Israel. Mas no me vou deter nessas. Considerar razes de duas ordens:a) as razes da Administrao Romana para uma perseguio oficialb) as razes da opinio pblica: a hostilidade da opinio pblica

a) Razes para a perseguio oficial

Para falar da perseguio aos cristos temos de falar da aco de Roma para com as religies estrangeiras. E sabemos que a religio romana era uma religio sincrtica, tradicionalmente tolerante, mas no deixou de registar fenmenos de perseguio: desde as clebres perseguies s Bacanais, em 186 a.C, que punham em causa a ordem e a segurana do Estado. Ou seja, Roma tratava como ameaa tudo o que estivesse em contradio com o seu entendimento de ordem social. Ora, os cristos reuniam-se porta fechada. Para as autoridades romanas, isso era visto como suspeito e politicamente perigoso. A partir de Augusto, alis, qualquer collegium precisava de aprovao senatorial ou imperial, porque todos os grupos de cidados ganhavam inevitavelmente peso poltico, e podiam tornar-se uma ameaa. Alm disso, numa sociedade altamente estratificada e militarizada como a de Roma, lidar com uma religio que rene crentes entre os mais humildes da sociedade, isto , com um certo nivelamento social, constitui por si s uma ameaa concepo de ordem estabelecida. Essa condio social dos primeiros crentes era susceptvel de um certo desdm e dava a o cristianismo a aparncia de um movimento sectrio que tinha de ser reprimido. Outra razo de incmodo resultava do imposto ritual que todos pagavam (mesmo os Judeus, revertendo as receitas para o templo de Jerusalm) e que os cristos no pagavam

No entanto, na medida em que os Cristos eram identificados com os Judeus, eles gozavam do mesmo estatuto de religio licita do Judasmo. Mas a religio licita do judasmo no impediu, porm, perseguies aos Judeus (Vespasiano, por exemplo). A razo era sempre a mesma: restabelecer o sentido de ordem e segurana do Estado, quando elas pareciam estar em causa.Na verdade, a perseguio das autoridades romanas no era directamente contra uma crena ou uma ideologia.b) A hostilidade da opinio pblica: o Cristianismo, causa de escndalo: A questo do desdm social: os cristos eram vistos como uma seita judia, difundida por gente pobre, de pouca cultura. O fundador, uma figura apagada, alis, um dissidente judeu, entregue por judeus e condenado morte pelo direito romano como o pior dos escravos, que ainda por cima se pretendia autor de magias, e a quem se atribua uma ressurreio.Os cristos tinham reunies secretas, s quais se atribuam ritos cruis e sangrentos, como infanticdios, incestos e canibalismo, - tudo quanto a imaginao popular via pertencer s religies mistricas vindas do Oriente, numa poca de grande superstio e credulidadeOs cristos eram considerados rebeldes em relao ao mos maiorum, porque abandonavam os deuses dos seus antepassados (tornando-se eram aptridas) para seguirem um dissidente judeu, condenado morte pela autoridade romana. O estilo de vida. Os cristos tinham comportamentos anti-sociais: condenavam o casamento com pagos, e no participavam nos Jogos de Circo e nos Teatros (considerados imorais); no prestavam culto aos deuses (os responsveis pela grandeza da cidade). Portanto eram considerados ateus e responsveis por todos os perigos: desde os assaltos s fronteiras at s doenas e peste, como de facto aconteceu. Com efeito, em 410, aps a queda de Roma, os cristos ainda so culpados, por terem alienado os deuses responsveis pela grandeza da cidade.Vejamos agora a Perseguio nas fontes extra crists sobre Jesus[footnoteRef:1] [1: (sem entrar nem em Flavio Josefo nem nas fontes que chamaramos fontes gregas ou orientais)]

As fontes no crists latinas que se costumam ocupar do primeiro cristianismo so trs: O Governador de Trajano na Bitnia (Bizncio): PLNIO-O-MOO (61-114); E dois historiadores romanos: TCITO (55-120) e SUETNIO (80).Nenhum deles contemporneo de Jesus, mas so da 2 metade do sculo I.

1. O que significa a palavra Christiani : o nome de CRISTOSa) Significado socio-polticoNo mundo romano, o nome cristos (christiani) foi dado pelos pagos aos discpulos de Cristo - julgando que o ttulo de Cristo era um nome prprio. E significava literalmente os partidrios de Cristo. A palavra tem ntidas ressonncias polticas, e paralela ao modo como ento eram designados os soldados de um general, ou os fiis de um chefe poltico: como os Cesariani, os Herodiani, os Galbiani, ou os Augustiniani.Este modo de chamar revela portanto a concepo socio-poltica que os Romanos tinham dos cristos.b) os cristos, uma espcie de judeus, com significado socio-ploticoTEXTO 1 Suetnio (nasce c. 70) Vidas dos doze Csares: Vita Claud, 25,4) (nasce cerca de 70 d.C.)Suetnio um historiador: viveu alguns anos na corte, e teve acesso aos arquivos do Estado, que por vezes cita directamente, embora no tenha a preocupao de examinar a verdade das suas fontes. conhecido sobretudo pelas suas Biografias dos Csares[footnoteRef:2] [2: Comea com Jlio Csar, e continua com os 11 imperadores sucessivos: Augusto, Tibrio (crucifixo) Calgula, Cludio (expulso), Nero, Galba, Oto, Vitlio, Vespasiano, Tito e Domiciano]

Iudaeos impulsore Chresto assidue tumultuantes Roma expulit

[Cludio] expulsou de Roma os judeus, porque provocavam constantes tumultos, instigados por Cresto.

Trata-se de uma passagem muito controversa devido a um erro histrico: se Suetnio pensa em Jesus Cristo comete um erro cronolgico, pois Cristo j tinha sido crucificado, durante o reinado de Tibrio. Depois escreve Cresto e no Christo (o nome com e e no com i) Mas aceitando que se refere efectivamente ao fundador do Cristianismo, o texto d uma ideia da importncia alcanada pelo seu movimento na prpria capital do imprio, 20 anos depois da sua condenao morte. Pensemos ainda no uso da palavra Christos (grego): No o nome prprio. o ttulo do Messias que os Judeus esperavam. o nome que lhe davam os que o reconheciam como o Messias. Mas o texto de Suetnio tem outra particularidade assinalvel: a sua relao com um testemunho estritamente cristo (Act. 18,2-3). Na verdade, o dito a que Suetnio se refere (que dataria do ano 51 ou 52), no seno aquele a que se referem tambm os Actos dos Apstolos, quando contam que So Paulo, indo de Atenas para Corinto, se instalou em casa de um casal de judeus convertidos f crist (Aquila e Priscila) que tinham sido expulsos de Itlia, por ordem de Cludio que expulsara todos os Judeus de Roma. Ora, depois da morte do imperador Cludio, o dito foi revogado, e quando Paulo, em 56, escreve uma carta aos cristos de Roma, alude aos conflitos que havia entre cristos judeus e cristos vindos do paganismo, a quem o dito de expulso de Cludio no havia atingidoApesar do erro cronolgico, o texto de Suetnio leva a crer portanto que a propsito de Cristo que a comunidade judaica de Roma (que era uma comunidade importante) se encontra dividida; e que o movimento cristo j tinham adquirido uma personalidade prpria, capaz de o distinguir dos Judeus tradicionais, de modo a pensar que se tratava de uma seita particular (algum que rompe com uma comunidade). Para a administrao romana, e para a opinio pblica, um cristo significa portanto uma espcie um pouco particular de Judeu, entre outras, como publicanos, saduceus, essnios. Ora, como os Judeus gozavam, no seio do imprio, de uma situao privilegiada, os cristos tambm beneficiam dela. Por isso, Roma no tomou parte nas primeiras perseguies contra os cristos: Elas foram facto exclusivo das autoridades religiosas judaicas[footnoteRef:3]. [3: De facto, o livro dos Actos, XVIII, 12-15; XXV, 25; e XXVI, 31-32, mostram que as autoridades romanas se recusavam a ouvir as acusaes dos judeus contra Paulo de Tarso. ]

A Justia romana, alis, impunha que ningum fosse condenado sem uma acusao nitidamente formulada, que provasse que a lei romana fora violada.Portanto, de incio, somente o desacordo entre Judeus e Cristos que leva Roma a tomar medidas de represso, a fim de manter a ordem pblica. 2. A primeira perseguio: o incndio de Rom. O testemunho de tcitoNo entanto, ainda no essa a razo que explica a primeira perseguio contra os cristos. As causas foram meramente fortuitas, causas de circunstncia: o incndio de Roma, em 64. Sob esse ponto de vista, esta perseguio foi uma perseguio contra uma comunidade que vivia margem da sociedade, e no uma operao de limpeza, provocada por uma legislao opressiva.[footnoteRef:4] [4: De facto, no houve nenhum decreto imperial (como escreveu tardiamente TERTULIANO (Ad Nationes I, 7): um decreto imperial nesta ocasio, teria proibido a religio crist condenando morte os seus adeptos.]

TEXTO 2: testemunho de TCITO (56/57- post 117 d.C.): Annales, XV, 44TCITO: Historiador romano, (provavelmente originrio da Glia).Fez uma carreira normal de senador, e magistrado[footnoteRef:5]. Como historiador, conhecido pela sua notvel compreenso do passado, e sobretudo pela sua escrita sinttica, rpida, incisiva. Desde o iluminismo e o romantismo visto como o defensor da liberdade contra a tirania. [5: Isto : o reinado dos imperadores Galba, Oto, Vitlio, Vespasiano, Tito e Domiciano. Foram escritos provavelmente em 14 livros. As obras mais conhecidas so Historiae (em que tratava do perodo entre 69 e 96 d.C) e Annales, em que trabalhou por volta do ano 116 d.C. (16 livros sobre o perodo de 14-68 d.C), isto , os reinados de Tibrio, Calgula, Cludio e Nero. ]

O contexto o do incndio de Roma e Tcito fala a propsito da magnitude dos crimes de Nero e enumera as medidas com que o poder de Roma respondeu ao incndio de 64:S uma anlise minuciosa permite interpretar correctamente este texto difcil, o que j mostra o carcter ambguo desta operao de perseguio, realizada em Roma, em Julho de 64.Segundo o testemunho de Tcito, quem que os romanos davam por responsvel, e qual o 1 objectivo de Nero?A opinio pblica perguntava-se quem que tinha ateado o incndio que destrura a maior parte da cidade. O acaso? Ou seriam pilhagens? os inimigos do imperador? Ou o prprio Nero?

1-Tcito conta que Nero, para fazer calar os rumores que o davam como responsvel do incndio de Roma, (iussum incendium crederetur) resolveu nomear culpados, e entregou aos suplcios esses homens que o povo odiava por causa dos seus delitos, que vulgarmente se chamam cristos (vulgus Christianos appellabat).

2-Tcito acrescenta que, primeiro foram presos os que foram acusados e confessaram [ser cristos]. E que esses denunciaram uma multido de indivduos que foram acusados no tanto do crime de incndio mas do dio do gnero humano (odium humani generis)

3- Ora, Nero tinha de agir de acordo com a lei penal em vigor: Lex Cornelia de sicariis: procurar os culpados, depois havia um acusador encarregado de convencer os juzes da acusao do crime pblico de incndio; os culpados eram lanados priso e condenados pena prevista pela lei romana: serem queimados vivos.

4- Como teria sido feita esta perseguio? claro que, para procurar os incendirios, os soldados tiveram que realizar uma vasta operao de busca, em todos os meios que lhes pareceram suspeitos, sem olhar especialmente s pertenas religiosas. Entre os meios investigados naturalmente tambm havia cristos. E estes acabam por ser acusados no tanto pelo incndio, mas pelo odium humani generis, isto , a recusa em praticar a vida e os costumes dos pagos. Era assim que os cristos eram vistos.

5-Portanto, esta acusao no era uma acusao estritamente legal. O Direito Romano nada previa para punir este no conformismo socio-religioso. No uma lei de perseguio ao Cristianismo.

6. Observar qual a opinio de Tcito sobre os cristos :divide-se entre a compaixo (vtimas de maus tratos) e as suas prprias reservas (pq so muito numerosos e tm comportamentos anti-sociais).

Concluso: O texto de Tcito no reflecte a viso da autoridade romana mas da opinio pblica. Depois do incndio de Roma, Nero percebeu que havia um clima generalizadamente hostil, e viu nos cristos uma oportunidade de calar os rumores que corriam na cidade.Os cristos so perseguidos como incendirios, no como cristos. E a acusao motivada pelo seu estilo de vida, que aos olhos dos romanos parece ser o odium humani generis: comportamentos anti-socias, que eram razo de escndalo entre os cidados de Roma.

No entanto, durante o sculo seguinte, a atitude oficial de Roma em relao aos problemas com os cristos ainda a mesma: esto merc das circunstncias, o que acabou por dar origem a ondas de perseguio, como aquela de que fala Plnio-o-Jovem (61-114), na Bitnia (sia).

Por isso, a partir do sc. II d.C., o factor principal da histria religiosa de Roma e do seu imprio a luta entre o cristianismo e as religies pags. Contudo, as normativas concretas da Lei vigente no sc. II relativamente aos cristos foram muito variveis[footnoteRef:6]: [6: Depois de Nero, o 1 imperador perseguidor DOMICIANO (81-96)O prprio TRAJANO, na correspondncia com Plnio visto como tolerante: perdoa os que abjuram, no aceita denncias annimas, poupa os cidados romanosalguns imperadores s procedem a condenaes quando h denncias que atestam a violao da lei romana (ADRIANO) outros entendem o simples facto de ser cristo como um crime (ANTONINO PIO, 138-161); MARCO AURLIO]

Com SEPTMIO SEVERO (193-211) o baptismo um delito Outras vezes as perseguies tm um carcter muito circunscrito resultante apenas da adversidade das autoridades locais. no incio do reinado de ALEXANDRE SEVERO ( 222-235) h indcios de uma grande tolerncia. Alguns pagos tentavam mesmo inserir o Deus cristo no seu panteo. Alexandre Severo teria esttuas de Orfeu, Abrao, Cristo, e Apolnio de Tiana Mas o fim do reinado de Alexandre Severo corresponde a um aumento das perseguies, principalmente DCIO (249-251), que d incio primeira tentativa sistemtica de extermnio dos cristos: agora por razes de Estado, porque as ameaas constantes dos brbaros nas fronteiras faziam com que os cristos, cada vez mais numerosos, fossem vistos como dissidentes. mas tambm com VALERIANO e DIOCLECIANO: aumentam as perseguies num ltimo esforo por recuperar a tradio religiosa. Mas com este, os cristos j eram to numerosos que qualquer medida tomada contra eles era destinada ao fracasso

Concluses: Quando a f crist se tornou delito capital, isso no foi capricho da autoridade, mas fruto de um dio colectivo. A recusa de adorarem o imperador, era a recusa de se submeterem ao Estado. A recusa de sacrificarem aos deuses era a rejeio dos primeiros servidores do Estado: os deuses

No esquecer que a religio tradicional romana era um contrato entre os homens e os deuses: Os homens prestavam culto aos deuses. E estes retribuam assegurando a grandeza cidade. Qualquer calamidade era atribuda indignao dos deuses, e os responsveis eram os mpios cristos. Ora, o Cristianismo NO PODIA NO PROCLAMAR A SEPARAO DO ESTADO E DA RELIGIO: A CESAR O QUE DE CESAR. Estado e religio so duas realidades independentes. Mas se so independentes, nem a religio pode submeter o Estado, nem o Estado pode submeter a religio. Em Roma religio era instrumento do estado, devia ser-lhe submissa. Isso fez com que um vazio administrativo (em relao aos cristos) evolusse para uma perseguio, ento sim, motivada por razes de Estado. Alm disso, nos finais de II d.C. j comeara a emergir uma doutrina crist coerente, com bases jurdicas e filosficas slidas, e o cristianismo comea a colocar-se tambm aos intelectuais..Mas a prpria histria que mostra que medida que crescem as perseguies, cresce paradoxalmente o nmero dos Cristos. Quem exprimiu esse paradoxo foi Tertuliano sangue de mrtires, semente de cristos. Mas s Constantino que percebeu esse malogro (nem Marco Aurlio, o imperador filsofo, podia deixar de associar as calamidades do seu reinado impiedade dos cristos).Como se expandiu o cristianismo?Um novo estdio de evoluo religiosa no mundo antigo. Da ordem poltica exigncia social e individualA apario e o desenvolvimento de uma nova religio no mundo romano, nascida no Oriente, no constitui em si um fenmeno nico. As conquistas romanas no mundo helenstico j tinham enraizado a ideia de que o Oriente era o lugar privilegiado da sabedoria . Das provncias orientais vinham muitas correntes religiosas novas, trazidas pelos funcionrios imperiais, pelos militares, comerciantes, escravos. O meio era favorvel expanso dos cultos orientais.O xito do cristianismo faz parte do fenmeno mais amplo do terreno favorvel s religies orientais.No se deve ao esquema simplista da decadncia dos costumes romanos, da tradicional corrupo.Os ltimos estudos apontam para a ideia de que o xito dos cultos orientais se deve ao facto de eles trazerem uma espcie de resposta existencial pessoal s novas necessidades morais e espirituais.No fim do sc. II d.C. h uma mudana substancial na evoluo religiosa do imprio: h novas necessidades espirituais que a Filosofia, as religies do Oriente, e o cristianismo estavam mais aptas a satisfazer.Assim acontecia com os cultos orientais (Isis, Cybele, Mitra): tambm favoreciam a devotio do fiel ao seu deus, em nome individual, e impunham uma mudana de conduta moral e espiritual..O seu desenvolvimento, em simultneo com o cristianismo, manifestava um novo estdio de evoluo religiosa no mundo antigo: j no eram as religies nacionais ou tnicas, que eram dever de toda a cidade. So comunidades de iniciados que estreitam entre si laos novos.

Enquanto os deuses greco-romanos eram divindades imortais, que gozavam de uma eterna juventude e representavam a sublimao do ideal humano, os deuses do Oriente sofrem, morrem e voltam vida, para resgatar o mundo pelo sacrifcio; So vencedores do mal e da morte e possuem o caminho para a felicidade eterna.Da ordem poltica exigncia social e individual: O xito das religies orientais marca portanto o nascimento de uma nova ordem psicolgica e religiosa, caracterizada pela predominncia da exigncia pessoal e social sobre a ordem poltica .Uma religio universalistaMas o cristianismo tambm deve entender-se por relao com o Judasmo. O Judasmo funda-se essencialmente no conceito de eleio. Deus escolheu apenas o povo de Israel. Era uma religio de tipo tnico, como todas as religies antigas.Ao longo do I sculo, o cristianismo torna-se uma religio nitidamente universalista: no h judeu nem grego... e essa a maior marca de originalidade do cristianismo.Progressos na sociedade romanaA pouco e pouco o cristianismo vai fazendo progressos na sociedade romana. A mensagem crist penetra em todas as categorias sociais: escravos, aristocratas e altos funcionrios e intelectuais. Os cristos tm um peso sociolgico concreto, no imprio. Alcanaram uma importncia inesperada e mudaram completamente os dados tradicionais.Como se passa do sincretismo implantao de uma religio oficial? O que que faz com que o Cristianismo v sendo lentamente aceite? Para a lenta aceitao e difuso do Cristianismo contribua uma j antiga tendncia para o pensamento monotesta, bem como para as religies de salvao. Mas essas no vinham atingir a aparncia geral do culto oficial: os deuses orientais integravam-se no panteo oficial como outrora tinham feitos os gregos. Nenhuma destas divindades era exclusiva das outras. Na sua polmica contra os cristos, Celso, por ex. (177-180) no julga inconcilivel um pensamento monoteista com o paganismo. Afirma simplesmente a superioridade absoluta de um deus. A verdade que o Cristianismo ia crescendo, e ia transformando o paganismo, ao mesmo tempo que se propunha como religio universal.

Entre a multiplicidade de religies que cresciam na capital do imprio, o Cristiansimo distingue-se sem dvida pelo seu monotesmo, mas principalmente porque no era uma herana tnica (ao contrrio dos Judeus). Oferecia-se a quem quer que fosse: aos Homens e at s Mulheres e CrianasPor outro lado, desde final de I d.C.( imp. de 81 a 96) -o Cristianismo alarga-se dos meios populares aos meios aristocrticos; por fim, nos finais de II d.C. comea a emergir uma doutrina crist coerente, e o cristianismo comea a colocar-se tambm aos intelectuais: nascem os 1s escritos apologticos (Tertuliano); o Cristianismo estabelece-se com bases jurdicas e filosficas; elabora-se uma teologia; e o Cristianismo reclama para si a herana do legado greco-latino

So estas as causas vitais da ascenso do Cristianismo:a difuso em todos os meios sociais, com amplo recrutamento, de homens e de mulherese a unidade do debate espiritual, constante, coerente e actual, aliada prpria crise do paganismo, incapaz de responder a novas questes individuais.Tudo isso leva a uma alterao substancial do panorama religioso, que conta agora com o peso sociolgico concreto dos cristos: Passa-se do sincretismo, e da diversidade de cultos implantao de uma nica religio oficial.