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Cenário da campanha de mobilização de 2015 está traçado Diretoria da Adufrgs- Sindical adverte que este será um ano muito difícil, o que torna ainda mais crucial o engajamento imediato da categoria na luta por melhorias na carreira docente. Páginas 12 a 15

Adverso 211

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Cenário da campanha de mobilização de 2015 está traçado

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Cenário da campanha de

mobilização de 2015 está

traçadoDiretoria da Adufrgs-

Sindical adverte que este será um ano muito difícil,

o que torna ainda mais crucial o engajamento imediato da categoria

na luta por melhorias na carreira docente.

Páginas 12 a 15

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2 ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

Sindicato dos Professores dasInstituições Federais de Ensino Superior POAUFRGS | UFCSPA | IFRS-Campus Porto Alegre e IFRS-Campus Restinga

Presidente - Maria Luiza Ambros von Holleben1º Vice-Presidente: Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira2ª Vice-Presidente: Marilda da Cruz Fernandes1º Secretário: Ricardo Francalacci Savaris2º Secretário: Paulo Machado Mors 3º Secretário: Luciano Casagrande 1º Tesoureiro: Vanderlei Carraro 2º Tesoureiro: Edson Lindner 3ª Tesoureira: Gloria Isabel Sattamini Ferreira

Rua Otávio Corrêa, 45 - Porto Alegre/RSCEP 90050-120 - Fone/Fax: (51) [email protected]

Publicação bimestralTiragem: 3.500 exemplaresImpressão: Ideograf

Ana Boff de Godoy – DEIS/UfcspaFlávio Porcello – Departamento de Comunicação/UfrgsGloria Ferreira – Fabico/UfrgsLúcio Vieira – IFRS - Campus POAPaulo Machado Mors – Instituto de Física/Ufrgs

Conselho Consultivo

Edição: Adriana LampertReportagens: Araldo Neto e Patrícia ComunelloProjeto Gráfico: Eduardo Furasté Diagramação: André Lacasi

Produção

SUMÁRIO

SINDICAL 19Nova gestão do Proifes toma posse e define prioridades

por Patrícia Comunello

EM FOCO

04Projeto de Extensão dá visbilidade ao curso de Dança da Ufrgs

por Araldo Neto

REPORTAGEM

12Adufrgs mantém perspectiva de vitória em agosto de 2015

por Patrícia Comunello

VIDA NO CAMPUSUfrgs integra centro mundial que combate

desperdício de alimentospor Araldo Neto

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16 ESPECIALPacote de medidas do governopreocupa sindicalistaspor Patrícia Comunello

06 PING-PONGEduardo Rolim de Oliveira“Não podemos conviver com salários defasados em relação a outras carreiras do poder executi-vo federal”por Araldo Neto

20 CPPDInformatizar e agilizar é precisopor Patrícia Comunello

26 HISTÓRIAProfessores aposentados falam da evolução da Ufrgs em 80 anospor Araldo Neto

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3ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

O ano de 2014 já prenunciava difi-

culdades para 2015. Mas os desafios que

agora se apresentam aos professores ul-

trapassam os limites das lutas corporati-

vas, obrigando-nos a uma rápida adesão

às lutas que são comuns, primeiro aos de-

mais servidores públicos e, na sequência,

a de todos aqueles que vivem de salários,

direta ou indiretamente.

Iniciamos o ano de 2015 com duas

medidas provisórias em debate, a MP 664

e a MP 665, que atingem diretamente os

interesses dos trabalhadores em geral e os

nossos inclusive, e os de nossas famílias.

A primeira, por alterar as leis que regem a

concessão de pensões, e que nos diz res-

peito diretamente, e a segunda, por tratar

da concessão do seguro-desemprego.

As justificativas do governo para a

edição desses instrumentos legais eco-

am, em primeiro momento, de forma

positiva, encontrando guarida no senso

comum, pois estariam buscando esta-

belecer alguns parâmetros socialmente

mais justos, inibindo os abusos.

Mas antes de aprofundarmos o tema,

descrevendo os aspectos relevantes pre-

sentes na discussão, cabe chamar a aten-

ção para o momento no qual estes docu-

mentos são apresentados. A situação é de

crise financeira; queda do Produto Inter-

no Bruto; aceleração da inflação; queda

do salário médio do brasileiro e queda na

oferta de emprego. Isto posto, desnuda-

-se a estratégia de um mecanismo que

busca apenas reduzir os gastos públicos.

A redução dos gastos públicos não é

necessariamente ruim, uma vez que recu-

perar a economia é positivo para o con-

junto da população, especialmente para

EDITORIAL

Adufrgs-Sindical - o seu Sindicato

Um ano de muita luta

quem vive de salário. A questão é que a

queda da arrecadação federal decorrente

da estagnação da economia não pode ter

como primeira solução, ao seu alcance,

medidas que atingem preferencialmente

os trabalhadores assalariados.

Por que não buscar a solução atra-

vés de uma reforma política, econômica

e social para valer, que iniciaria taxando

as grandes fortunas (e que espera regu-

lamentação há anos), passaria pelo com-

bate efetivo da corrupção com a recupe-

ração dos recursos desviados (bilhões) e

punição (de verdade) dos culpados, e in-

corporaria o controle sobre o lucro abusi-

vo dos bancos. Uma reforma que seguiria

pela qualificação e eficiência dos serviços

públicos, pela descentralização federal,

com o aumento da autonomia das insti-

tuições, tornando-as mais públicas e me-

nos estatais.

Mas não. O governo trilha o caminho

mais fácil (ou que acredita que seja) e

imediatamente decide retirar direitos e

benefícios, arduamente conquistados, dos

assalariados.

Além do enfrentamento dessas Medi-

das Provisórias, as quais temos que nos

manifestar através de uma forte mobili-

zação política junto aos parlamentares no

Congresso Nacional, temos as questões

relativas a perdas de direitos dos profes-

sores, a interpretações equivocadas da lei

12.772/2012 e a reestruturação da nossa

carreira e o reajuste salarial para o triênio

2016-2018.

Neste mês de março, teremos o últi-

mo reajuste decorrente do acordo firmado

entre os professores federais, através do

Proifes-Federação e o governo, que per-

mitiu que obtivéssemos o melhor reajuste

salarial dentre todas as carreiras do exe-

cutivo federal. E também garantiu o iní-

cio da reorganização de nossa carreira e

ganhos significativos para os professores

das carreiras do EBTT e do MS e para os

aposentados. Tudo decorrente da nossa

intensa mobilização e capacidade de ne-

gociar.

Agora, nova etapa de lutas se inicia

para recuperar as perdas salarias acumu-

ladas ao longo destes três últimos anos,

para buscar um aumento real de nossos

salários para maior valorização da carreira

e, por fim, para continuar a reorganização

da carreira estabelecendo os percentuais

de aumento que deverão incidir quando

da passagem de um nível para outro (pro-

gressão) e de uma classe para outra (pro-

moção), recuperando a lógica perdida ao

longo dos anos.

Nossa proposta de reestruturação

de carreira e reajuste salarial vem sendo

construída pelos professores desde o ano

passado através de consultas eletrônicas,

encontros e assembleias. Em linhas gerais,

já foi encaminhada ao governo. Precisa-

mos retomar a mobilização para pressio-

nar na direção de abrir imediatamente

as negociações, pois o prazo para que o

resultado deste processo seja incorporado

no orçamento da União para 2016 finda

em 31 de agosto. Sabedores das atuais di-

ficuldades políticas e econômicas, novos

obstáculos que se agregam aos já existen-

tes, temos que reforçar nossa luta, nossos

laços com outros setores da sociedade e

nossa capacidade de organização e mobi-

lização. Mobilizar para negociar. Negociar

para avançar.

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4 ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

Em turnê pela Europa, integrantes do trabalho realizaram uma apresentação inusitada pelas ruas da Holanda

EM FOCO

Projeto de Extensão dá visibilidade aocurso de Dança da Ufrgs

por Araldo Neto

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O grupo Brincantes do Paralelo 30 – Folclore e Cultura Popular, projeto de extensão vinculado ao curso de Dança da Ufrgs, iniciou 2015 revigorado. Em 2014, a trupe faturou o Prêmio Açorianos de Dança na categoria Danças Folcló-ricas/étnicas, além de produzir o espetáculo Acercadenós, comemorativo aos 10 anos de estrada, que rendeu diversas apresentações em países da Europa. O reconhecimento do trabalho do grupo também está servindo para dar visibilida-de ao curso de Dança, um dos mais novos da Universidade.

Formado por profissionais de diversas áreas, o grupo de folclore e cultura popular atualmente conta com cerca de 30 artistas no elenco, desde acadêmicos e egressos dos cursos de Dança, Artes Cênicas e Música, e pessoas de fora da Uni-versidade. A partir de uma perspectiva transdisciplinar, o projeto de extensão se dedica ao estudo e aplicação prática de diversas manifestações da cultura popular brasileira como danças, folguedos, músicas, poesias e jogos. Diretor do gru-po, o professor de Dança da Ufrgs, Jair Felipe Umann, revela que os artistas que integram o elenco são polivalentes, atu-ando como bailarinos, coreógrafos, oficineiros e costureiros. “Por isso o termo brincante”, descreve. O professor informa que o grupo é aberto para pessoas que têm interesse em pesquisar, estudar e participar de montagens cênicas para apresentação destes temas e oficinas.

O trabalho surgiu em 2004, através de amigos que ti-nham como objetivo em comum estudar danças populares por um determinado viés. Na oportunidade, o professor Jair Felipe Umann ainda era docente substituto do curso de Edu-cação Física. Em 2010, o grupo Brincantes do Paralelo 30 se tornou um projeto de extensão da Ufrgs. “A cada ano é uma surpresa a forma como iremos nos organizar. A gente esta-belece conforme a demanda de trabalho que vai surgindo e conforme algum objetivo previsto no ano anterior”, informa o docente. Desde a fundação do grupo, os artistas já parti-ciparam de diversos eventos locais, regionais, nacionais e internacionais como festivais de folclore, mostras, eventos acadêmicos, entre outros. Em 2014, o Brincantes contabili-zou cerca de 20 apresentações e 15 oficinas.

Imersão para vivenciar a culturaO elenco se reúne pelo menos uma vez por semana. Nos

encontros, os artistas ensaiam e estudam as práticas que compõe o trabalho cênico. De acordo com Umann, o grupo tem a preocupação com o contexto sócio-histórico e cultural dos trabalhos. “Temos o cuidado de trazer aquela dança de um ambiente popular para outro ambiente. Buscar transfor-mar uma dança de roda para colocar no palco, por exemplo”, afirma o diretor. Com o objetivo de representar fielmente

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5ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

Jair Umann dirige os espetáculos do Brincantes do Paralelo 30

Projeto surgiu em 2010, a partir da iniciativa de um grupo de amigos com o desejo de estudar danças populares seis anos antes

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cada manifestação artística, o grupo também realiza traba-lhos de imersão para vivenciar a cultura de diferentes povos. “Quando estávamos montando um espetáculo sobre danças de trabalho de matriz africana, fomos participar de um ca-naval para vivenciar”, exemplifica Umann.

Em 2014, o grupo apresentou o espetáculo “Acercade-nós”, que relembra algumas das danças da trajetória de 10 anos. O professor coordenador explica que a ideia do nome da peça é brincar com os dois sentidos da palavra cerca (de arame e de fronteira). “O objetivo era colocar todos os nos-sos figurinos disponíveis para o público nestas cercas: na de varal e na de delimitação. A linha do espetáculo é mostrar um pouco o que a gente é”, ilustra. Uma das preocupações dos Brincantes do Paralelo 30 é convidar o público para se divertir junto com os artistas, minimizando o impacto do palco e plateia. “Tentamos ficar o mais perto possível dos expectadores para que eles sejam parte do espetáculo. Assim como é na cultura popular, não existe ativo e passivo. Todos

são ativos”, afirma.No ano passado, o Brincantes foi convidado a participar

de festivais de folclore em cidades da Bélgica e da Alema-nha. Entre um evento e outro, o elenco viajou para Ams-terdã, a capital da Holanda. Por lá, o grupo realizou uma apresentação de rua inusitada. O diretor conta que o elenco aguardava uma condução quando os músicos começaram a tocar e, imediatamente, os integrantes começaram a dançar. “As pessoas foram chegando para assistir. Os holandeses des-ciam dos prédios para nos ver. Acabou virando uma festa”, recorda Umann. O grupo tinha a intenção de realizar mais apresentações de rua durante a viagem à Europa. Sem o aval das embaixadas, a espontânea apresentação na Holanda aca-bou sendo a única fora dos festivais. Mas, além de mostrar um pouco da cultura brasileira nos eventos da Bélgica e da Alemanha, os integrantes puderam conhecer e trocar experi-ência com artistas de países como Islândia, China, Tailândia, Áustria, Alemanha e Itália.

O diretor do Brincantes do Paralelo 30 revela que o Prê-mio Açorianos conquistado pelo grupo foi importantíssimo para que o mesmo alcançasse o reconhecimento no meio artístico e de quem produz arte no Rio Grande do Sul. De acordo com o júri da premiação, a escolha foi feita pela ori-ginalidade da abordagem expressiva das danças populares. “Isso é muito importante, porque a gente busca um fazer artístico, cênico, social e humano com uma perspectiva po-lítica por trás. Procuramos trabalhar as manifestações da cultura popular o mais próximo do que realmente é popular. Tentamos respeitar ao máximo a cultura em tudo que a gen-te conseguir”, destaca. De acordo com o professor, o prêmio também serviu para dar visibilidade ao curso de Dança da Ufrgs, dentro da própria Universidade, já que muitas pessoas no ambiente acadêmico ainda desconhecem a existência do trabalho, que começou a ser ministrado em 2009, sendo um dos mais recentes da Instituição.

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6 ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

“Não podemos conviver com salários defasados em relação a outras carreiras

do poder executivo federal”

Eduardo Rolim de Oliveira

ral, a fim de assegurar aumento de salários e melhorias na carreira para o triênio 2016-2018. A primeira reunião com o novo ministro da Educação, Cid Ferreira Gomes, ocorreu no final de janeiro. Na oportunidade, o presidente do Proifes, Eduardo Rolim de Oliveira, entregou ao ministro a pauta da entidade para 2015. Entre outros documentos, consta a Proposta de Rees-truturação de Carreiras e Salários – 2016-2018,

Dizem que o ano só começa em março no Brasil. Mas para o Proifes e os sindicatos fede-rados, 2015 já está a todo vapor. Isso porque é um período importantíssimo para definir os próximos três anos e o futuro da carreira do-cente no Ensino Superior público. Enquanto o ano começa com a garantia do pagamento da última parcela referente ao acordo de 2012, o Proifes já está negociando com o governo fede-

PING-PONG

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7ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

Adverso: Quais são as pers-pectivas de negociação salarial com base no atual cenário polí-tico nacional?

Eduardo Rolim: Estamos tran-quilos pelo fato de ter um reajuste garantido para março de 2015, mas sabemos que a negociação tem que começar logo, por conta que tem que encerrar até o dia 31 de agosto

deste ano, prazo que permite que o governo mande um Projeto de Lei ao Congresso Nacional. Temos pou-co tempo. Por isso, já nos anteci-pamos e entregamos para o minis-tro anterior do MEC (José Henrique Paim), a nossa pauta de reivindi-cações, inclusive com uma propos-ta efetiva de reajuste salarial para os anos de 2016, 2017 e 2018. Aí,

você pergunta: É mais fácil nego-ciar com o segundo governo Dilma do que com o primeiro? Não sei, porque este processo efetivamente ainda não começou. O novo minis-tro da Educação, Cid Gomes, ainda não falou nada sobre Ensino Supe-rior. Ele tem se posicionado muito mais com relação ao Ensino Básico. Não sei dizer o que pensa e o que pensará o ministro da Educação e, muito menos, o ministro do Plane-jamento, a respeito de como nego-ciar com os servidores.

Adverso: Como o senhor ava-lia o inicio do segundo governo Dilma?

Rolim: Começou mal. Podemos elencar três elementos que apon-tam um governo com uma perspec-tiva diferente daquela que tinham os eleitores que lhe deram vitória nas urnas. O Proifes publicou um documento em que falamos sobre isto: o veto da presidente à lei que reajustava a tabela do Imposto de Renda em 6,5%, e as perdas dos professores com a correção da ta-bela do Imposto de Renda abaixo da inflação desde 1996 (chegando a índices que às vezes assustam). Teria que corrigir a tabela, talvez em quase 70% para que atingisse os mesmos níveis reais que o de 1996. Segundo item que vai mal é a questão dos aumentos dos im-postos. O governo parece que tra-balha com a lógica de resolver os problemas fiscais baseado no que o mercado financeiro pensa, com a ideia do superávit primário para pagar juros. Daí decide inflar a ar-recadação através de impostos, a volta da Cide e o aumento do PIS/Cofins, o que onera ainda mais os assalariados, porque é um imposto indireto. Então, quem ganha um salário mínimo vai pagar o mesmo imposto de gasolina de quem ga-

cuja negociação é prioridade, frente às outras demandas, já que o prazo limite para o envio de projeto de lei que vigore no próximo ano é 31 de agosto.

Rolim explicou ao ministro as diretrizes da proposta da entidade, que além dos ganhos reais para os docentes em 2016 até 2018, tem como objetivo principal trazer uma lógica para a estrutura das Car-reiras, com steps de 5% entre níveis e 10% entre classes e percen-tuais definidos entre a Retribuição de Titulação (RT) e Vencimento Básico (VB). Segundo Rolim, Cid Gomes afirmou que vai orientar os novos titulares da Secretaria de Ensino Superior (SESu) e da Secre-taria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) para abrir diá-logo com a entidade. Disse ainda que o momento econômico do País é difícil, que está sendo promovida uma série de ajustes, mas que a Educação é prioridade da presidente Dilma Rousseff.

O presidente do Proifes lembra que a Adufrgs-Sindical teve papel decisivo na formatação da proposta apresentada ao governo federal no que se refere aos percentuais da estrutura salarial entre níveis e classes. A proposta inicial da diretoria do Proifes previa um pulo de 30% de aumento entre o adjunto 4 e o associado 1, o que no en-tendimento da Adufrgs era um defeito, pois professores adjuntos e assistentes passariam a receber salários muito baixos. “Nós propuse-mos outra estrutura salarial em que a cada dois níveis consecutivos, dentro de uma classe, o aumento é de 5% e no fim de uma classe é de 10%”, relata o professor Cláudio Scherer, um dos membros da Adufrgs no Conselho do Proifes. Segundo ele, é uma subida muito mais suave ao longo da carreira. A mudança foi acatada pelo Conse-lho Deliberativo do Proifes e integra a proposta de carreira que foi encaminhada ao MEC.

Ao lado, confira a entrevista do presidente do Proifes, Eduardo Rolim, para a revista Adverso. Ele fala sobre as perspectivas para o novo mandato de Dilma Rousseff na área da Educação e a expecta-tiva para negociar com o governo federal acordos que beneficiem a carreira docente.

por Araldo Neto

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8 ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

CARTOLAPING-PONG

nha R$ 1 milhão. Isso amplia a in-justiça tributária. O terceiro item negativo foi a mudança das duas medidas provisórias que alteram as pensões e os auxílios tanto para trabalhadores da iniciativa privada quanto para os do ensino público. No caso das pensões por morte, por exemplo, a pessoa tem agora que contribuir dois anos para poder deixar o benefício para os seus des-cendentes. É injustificável, porque ninguém escolhe morrer. Se falecer um ano e nove meses depois que entrou, não deixará pensão aos fa-miliares. É algo que é inaceitável no ponto de vista social. Estes três sinais não são bons. Isso não quer dizer necessariamente que signifi-que que não vai ter negociação sa-larial com os servidores públicos, até porque o governo ganhou as eleições em um pleito muito acir-rado, no qual a gente sabe que os setores de porte popular foram o que deram a vitória para Dilma Rousseff.

Adverso: O anúncio da presi-dente de que a Educação será a prioridade do seu segundo man-dato pode resultar em avanços na carreira dos professores do Ensino Superior para os próxi-mos quatro anos em termos de carreira?

Rolim: Uma das coisas princi-pais que Dilma Rousseff falou no discurso de posse foi que as polí-ticas sociais não seriam afetadas pela ideia do ajuste fiscal, o que inclui a Educação e a Saúde. Eu es-pero que ela cumpra o que disse na posse. Espero que o discurso se reflita em três coisas fundamental-mente: primeiro, nós defendemos o programa de expansão das uni-versidades federais. Isso nós sem-pre dissemos, desde 2007, quando foi criado o Reuni. Desde 2008,

quando foram implementados os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que esse é um processo positivo para o País. Obviamente, não abrimos mão de discutir os problemas que foram criados a partir daí. Nós fizemos

ainda é muito atrasado no ponto de vista do grupo de países desen-volvidos em relação ao número de pessoas que estão no Ensino Su-perior. É verdade que no governo Lula e no primeiro mandato de Dilma isto aumentou. Hoje, temos índices de 30% de jovens de 18 a 25 anos que estão na universidade, o que ainda é muito pouco perto dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que têm mais de 50%. O pior, além disso, é que dois terços das matrículas destas pessoas que estão na universida-de se dão no ensino privado. Isso é muito injusto com a população, especialmente a mais pobre, que obviamente tem acesso ao Ensino Médio com menos qualidade, e, portanto, tem mais dificuldade de entrar na melhor universidade do Brasil, que é a pública. Com isso, é preciso continuar expandindo. O Plano Nacional de Educação (PNE) aprovou como uma das suas metas de que 40% das novas matrículas do Ensino Superior têm que se dar no ensino público. Para isso acon-tecer, nós temos que passar de um milhão para três milhões de estu-dantes no Ensino Superior público nestes 10 anos de PNE, o que faz com que haja um número gigan-tesco de gente que tem que en-trar e, obviamente, as pessoas não têm espaço na atual universidade. O programa de expansão tem que continuar. É questão fundamen-tal, tanto nas universidades quan-to nos institutos federais, onde a meta do PNE no Ensino Técnico é de que 50% das vagas. Segundo ponto: as universidades precisam do aumento de pessoal. Tem que continuar investindo. Ampliar as condições para resolver os proble-mas que apontamos na oficina. O terceiro ponto é salarial. Se há uma

“Existem outras carreiras do poder executivo onde as pessoas entram só com graduação, e

recebem salários bem superiores aos que

professores doutores têm na universidade, sendo que todos eles

são formados ali”

no ano passado cinco encontros, inclusive com uma grande oficina no final, no qual discutimos este problema. Apontamos que em 2015 teria que ser o momento efetivo onde precisaríamos debater os pro-blemas existentes, como condições de trabalho, infraestrutura, auxí-lio transporte, fixação de doutores nos interiores, etc. Mas o Brasil

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9ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

perspectiva de que a gente quer usar a educação como elemento do desenvolvimento nacional, e isso é prioridade, como disse a presiden-te, não podemos ficar convivendo com salários muitíssimo defasados com relação a outras carreiras do poder executivo federal (ainda que, em média, nossos salários te-nham melhorado muito se compa-rados a 2002). Existem outras car-reiras do poder executivo onde as pessoas entram só com graduação, e recebem salários bem superiores aos que professores doutores têm na universidade, sendo que todos eles são formados ali. Obviamente, ainda precisamos ter um aumento salarial expressivo. A nossa pro-posta trabalha neste sentido. É ousada – porque busca reorganizar nossa carreira – mas, ao mesmo tempo, realista. Sabemos que não é possível passar dos R$ 20 bilhões que vai ser a folha de 2015 para R$ 200 bilhões – não é assim que funciona. Mas evidentemente que um incremento importante desta folha nos próximos três anos tem que estar dentro deste pacote, para permitir que possamos ir ao sentido da valorização da Educa-ção como promotora do desenvol-vimento nacional.

Adverso: A direção da Adufrgs tem uma preocupação especial quanto aos professores adjuntos e aposentados. Quais serão as medidas que o Proifes irá defen-der na mesa de negociação com o governo para quem está nestas faixas?

Rolim: Nenhuma entidade de-fendeu tanto os aposentados quan-to o Proifes-Federação. Quando passamos a negociar em 2005, os aposentados recebiam menos que os ativos. Não havia a isonomia salarial. A partir da maneira que

nós agimos, recuperamos a parida-de de ativos e aposentados, o que parecia absolutamente fora do ho-rizonte. Qualquer negociação que se faça é para atingir a ambos. Não existe hoje nenhuma distinção en-tre os salários dos ativos e o dos aposentados. Inclusive, em média, os salários dos aposentados são maiores, porque eles contam com ganhos do passado que os mais jo-vens não possuem. Neste novo ci-clo de negociação, uma das coisas que fizemos, que é pouco lembrado pelas pessoas, é que temos agora em 2015 o maior vencimento bási-co em relação à remuneração total dos últimos 20 anos. Desde a cria-ção da gratificação de estimulo à docência, gratificação de atividade executiva, o vencimento base sem-pre foi caindo. Isso é ruim por dois motivos: é o único que, na prática, é garantido constitucionalmen-te, e é ruim para os aposentados porque eles passaram a ter ganhos em cima do próprio vencimento básico, como por exemplo, o adi-cional por tempo de serviço. Este ciclo que aconteceu trouxe bene-fícios efetivos ao grupo que já se aposentou. Se combinadas estas duas coisas, nós vamos ver que os aposentados tiveram benefícios, no mínimo, iguais, mas com cer-teza maiores que os ativos. Isso não é nenhum favorecimento para eles. É apenas uma recuperação de passivo, na qual eles foram bas-tante prejudicados. O Proifes foi a entidade que promoveu a equi-paração, lembrando que estamos falando de aposentados da primei-ra e da segunda gerações, aqueles que têm aposentadoria integral. Desde 2004, todo profissional que ingressou no serviço público não tem mais. Para esses, a discussão se trata de outros fatores que fa-zem discutir a sua aposentadoria,

como por exemplo, o reajuste do INSS. Aqueles aposentados pelos regimes novos não têm esses rea-justes bons que os outros aposen-tados tiveram. Defendemos uma recuperação da malha salarial, ao contrário do que é hoje, que é completamente desestruturada em termos de lógica. Nós passamos a ter 5% de interstício entre os ní-veis, e 10% entre as classes, o que beneficia os professores adjuntos e aposentados. Hoje, a diferença en-tre adjunto e associado está perto de 30%. À medida que se trabalha com a diferença de 10%, isso só será alçando com um aumento de baixo para cima, e isso se consegue quando o step entre nível é feito de 5%. Por conta disso, na práti-ca, quem mais vai ganhar com os reajustes da nossa proposta são os adjuntos. Estamos descomprimin-do a malha salarial, que está repri-mida de adjunto para baixo. Isso não é favor nenhum. É uma ideia que precisamos ter de uma carreira equilibrada, que recupere as duas coisas, não porque só se pense nos aposentados, mas também por-que a maior parte dos professores são adjuntos – houve um grande ingresso de docentes nos últimos nove anos, sendo que todos estão adjuntos. Com isso, nós vamos fa-vorecer a todos, não somente aos aposentados. A proposta que está sendo pensada é de uma carreira que tenha lógica, equilibrada. Nes-te ciclo, o Proifes sempre buscou este equilíbrio: no aumento da ti-tulação para favorecer os jovens, no aumento do VB para favorecer os aposentados e assim por diante. Temos que pensar em todos.

Adverso: Frequentemente, os professores estão enfrentando problemas jurídicos com rela-ção à retroatividade nas pro-

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10 ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

PING - PONG

“A primeira grande conquista que nós já obtivemos é o fato

de a carreira de EBTT ser igual à do Ensino Superior no ponto

de vista de estrutura de remuneração. Isso

valoriza a expansão nos institutos federais”

gressões e promoções e também com a promoção acelerada. Há divergência na interpretação da Lei 12.772/2012 nestes pontos. Como a entidade vê estes proble-mas e de que forma irá trabalhar para tentar solucionar a situação junto ao governo?

Rolim: Primeiro que a gente acha que esse problema não exis-te. Consideramos ser uma interpre-tação completamente equivocada, principalmente de setores da bu-rocracia do governo, do Ministério do Planejamento e da Advocacia Geral da União, que têm visões que avaliamos não estarem corre-tas a respeito disso. Para nós, é muito clara a ideia de que a Lei 12.772 não mudou absolutamente nada em relação à retroatividade das progressões. É uma visão pura-mente economicista essa ideia de que a pessoa não pode receber sua progressão e promoção desde o dia que ela adquiriu esse direito. Não está escrito em lugar nenhum isso. Achamos que é completamente es-tapafúrdia esta decisão. Com rela-ção a isso, nós estamos tentando discutir diretamente com a Procu-radoria Geral Federal e com a Advo-cacia Geral da União lá em Brasília. Nós tivemos uma reunião muito in-teressante com o procurador geral federal no final do ano passado. Agora esperamos para o mais bre-ve possível uma resposta da AGU, de preferência positiva, no sentido de reconhecer este direito de pro-gressão retroativa. Com relação à promoção acelerada, também acha-mos que é uma interpretação fora do que está escrito na Lei 12.772. Para nós, está muito clara a ideia de que a pessoa que é detentora de cargo da carreira tem total direito de promoção acelerada indepen-dente do seu estágio probatório. Esperamos que isso seja resolvido

de forma administrativa, amigá-vel, através de um reconhecimen-to por parte do governo de que é isso que está escrito na lei. Aliás, isso consta no acordo de 2012, na Lei 12.772, e em todas as portarias que regulamentam depois.

Rolim: O Proifes trabalhou muito com o governo no segun-do semestre de 2014 para fazer um amplo diagnóstico a respeito disso. O material que entregamos ao MEC traz muitos elementos. De qualquer forma, alguns pontos avançaram a partir dessas ofici-nas. Conseguimos pela primeira vez que o governo publique como se faz a matriz orçamentária e como se distribui. O governo teve que apresentar, a partir da dis-cussão que tivemos, como se elen-cam os critérios para se definir a relação aluno x professor, que não é algo muito simples, porque depende de área. Ainda não é to-talmente transparente, mas de qualquer maneira já se conseguiu avançar nisso. O governo também apresentou como se dá o acom-panhamento de obras. Tudo isso são aspectos que estão públicos agora, a partir dessas oficinas. Essa questão do diagnóstico foi importante, mas acreditamos que agora não é mais hora de analisar. É hora de efetivamente as coisas acontecerem. O ano de 2015 tem que ser o primeiro da resolução efetiva destas coisas. A primei-ra grande conquista que nós já obtivemos é o fato de a carreira de EBTT ser igual à do Ensino Su-perior no ponto de vista de es-trutura de remuneração. Isso faz com que, obviamente, a expansão nos institutos federais seja valo-rizada, à medida que o professor de instituto federal tem a mesma remuneração de um professor de universidade. Mas achamos que existem elementos que preci-sam ser melhorados. Avançamos em certa medida com o governo na gratificação em área de difí-cil lotação, que permita que um professor tenha interesse em fi-car em um lugar destes. A outra

Adverso - O Ensino Superior público cresceu bastante nos últimos anos, porém algumas destas novas instituições apre-sentam problemas para desem-penhar suas atividades de ensi-no. O que o Proifes irá propor ao governo federal para minimizar os problemas de expansão da educação no Brasil?

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questão é com relação ao auxílio transporte, que deve ser melhora-do. Do jeito que está, não funcio-na, porque a pessoa só é reembol-sada por transporte regular. Isso não tem correspondência com a vida real, com aulas ministradas à noite em um campus distante, por exemplo. São estes aspectos que estamos tentando destacar no processo. Acompanhamos o diag-nóstico, damos sugestões e ideias de como melhorar a gestão, que é mais um problema do governo e das instituições, mas também de melhorar as condições de vida dos professores, o que é funda-mental. Fora as outras questões que fazem parte de um debate mais amplo, que são: assistência e moradia estudantil e ampliação dos programas de acesso.

Adverso - Diante do atual ce-nário, o senhor acredita que a política de expansão do Ensino Superior vai continuar neste mandato do governo Dilma? E em que condições?

Rolim: Se eu ouvisse apenas o discurso da presidente da Re-pública no dia 1 de janeiro, eu diria que vai continuar. Se eu ouvisse o discurso do ministro da Fazenda sobre ajuste fiscal, eu diria que vai parar. Eu sou da ideia que a pressão da sociedade tem que ocorrer. O papel do Proi-fes junto com outras entidades da sociedade civil é forçar que o governo continue esta política de expansão do ensino, porque esse programa é de relevância social e muda a vida das pessoas. Eu te-nho viajado País a fora e visto o impacto da criação de um campus, como por exemplo, o da Ufrgs, em Tramandaí; ou, como é o caso da Ufcspa, em Canoas; e, como o IFRS, que criou seus vários campi

pelo Interior. A vida das pesso-as mudou completamente com a perspectiva de ter o campus de uma universidade ou de um ins-tituto no seu município. O Brasil chegou em um momento em que é difícil voltar atrás, porque a po-pulação não vai aceitar mais que isso aconteça. Houve problemas na expansão, já apontamos vá-rios, e eu poderia apontar outros, a exemplo do político. Temos um emaranhado de campi inter-penetrando uns nos outros. Te-mos, por exemplo, um campus na Universidade de Rio Grande, em Santo Antônio da Patrulha. Te-mos campus do Instituto Federal Sul Rio-Grandense em Sapucaia do Sul, em Camaquã; Charquea-das, ao passo que temos campi do IFRS, em Porto Alegre, Canoas. As coisas estão interpenetradas. Isso é uma realidade Brasil a fora. São problemas que acontecem. Fazem parte de uma estrutura política da nação, resultando em soluções menos planejadas e mais volta-das pela lógica da política local. Independente disso, o programa mudou o Brasil. E assim como lá nos anos 1950 nós interioriza-mos a universidade federal, pela primeira vez aqui em Santa Ma-ria, acho que o programa tem que continuar, e inclusive o PNE aponta neste sentido. E se o go-verno diz que quer continuar, e a sociedade, através do PNE, afirma que quer continuar, tem que con-tinuar. Para isso é necessário uma pressão sobre essa área do gover-no que entende que as coisas se resolvem apenas com uma visão monetarista e fiscalista.

Adverso - As condições de trabalho dos professores tam-bém integram a Proposta de Reestruturação para as Carrei-

ras do Magistério Superior e do EBTT. Quais são os pontos mais urgentes para serem resolvi-dos?

Rolim: Duas questões são importantes. A primeira delas é uma discussão a respeito do pro-jeto de autonomia universitária. Nós criamos uma lei orgânica que regulamenta as universidades fe-derais, de tal sorte que se possa ter uma possibilidade de melhor gestão da instituição de ensino (regulamentando o artigo 207 da Constituição Federal que fala que as universidades são autônomas, só que isso na prática não acon-tece). E tem várias questões que estão subjacentes a isso. A elei-ção do reitor, por exemplo. Nós achamos que a universidade tem que ter autonomia para decidir suas regras. A forma de compras, por exemplo. Eu defendo que, mesmo com dinheiro publico, a gente tenha uma flexibilidade fora da lei de licitações. A lei 866 não deixa a gestão pública eficiente, principalmente em ter-mos de pesquisa e de ensino. O ponto da autonomia universitária é um tema importante. A gente pretende evoluir essa discussão tanto com os reitores quanto com o governo e os parlamentares. De outra parte, nós estamos imer-sos no debate central da educa-ção no Brasil. Nós tivemos o PNE aprovado. Nós temos uma regra sobre royalties do petróleo, que tem que ser regulamentada com sua distribuição para os estados e municípios, e temos que acom-panhar o PNE que já está em vi-gor. Já temos metas e pretende-mos acompanhar isso junto com outras entidades. Além de uma série de debates internacionais que estamos imersos a respeito da Educação.

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REPORTAGEM

Adufrgs mantém perspectiva de vitória em agosto de 2015

por Patrícia Comunello

Mobilização para avançar na carreira desafiará entraves do governo federal

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A frase mais pronunciada por analistas de economia e segmentos empresariais no País tem sido: “Dá para pular 2015 e falar de 2016?”. Não, não dá! O ano que estreou lite-ralmente debaixo de mau tempo é, ao contrário, estratégico para o futuro da carreira dos docentes federais do Magisté-rio Superior (MS) e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológi-co (EBTT). E o tempo será curto para construir mudanças cruciais para a categoria e suas condições de proporcionar a formação aos futuros profissionais do Brasil, além da capa-cidade de gerar pesquisa e inovação.

Até o meio deste ano – que desenha o roteiro dos pró-ximos três que virão – será preciso estabelecer a mesa de negociação com o governo, discutir as intenções dos profes-sores (a partir das propostas que foram levadas pelo Proifes-

-Federação e sindicatos filiados como a Adufrgs-Sindical, em janeiro, ao novo titular do Ministério da Educação, Cid Go-mes) e obter um acordo que assegure avanços, com melho-rias e ajustes na carreira instaurada em 2012, e pavimente o triênio 2016-2018 (ver quadro no final desta reportagem). “Sempre temos de ter em mente que vamos conseguir. Não se entra em uma luta com a perspectiva de perda, mas com a consciência de que precisamos investir mais e mais para a vitória”, afirma a presidente da Adufrgs-Sindical, Maria Luiza Ambros von Holleben.

Dentro da casa dos docentes, nas universidades e nos institutos tecnológicos e demais unidades, como o Colégio de Aplicação, espera-se uma intensa mobilização. O Sindica-to colocará em ação, já no começo das aulas, uma agenda de

Proifes e sindicatos se reuniram com o ministro da Educação, Cid Gomes, no final de janeiro, para apresentar proposta da categoria

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atividades para subsidiar os professores sobre o que está em disputa. O plano é, desde já, formar a base de informações para assessorar a iniciativa. Maria Luiza ressalta que será fundamental que ocorra entre os professores uma discussão racional, em que cada um reconheça a importância de sua participação nesta luta.

“Os ganhos que tivemos (2012) foram fruto de muita persistência, muito pragmatismo e muito esforço das lide-ranças docentes e muita mobilização daqueles que as apoia-ram. A luta foi árdua e teve até uma greve. Nosso recurso mais extremo foi utilizado, para que se retomassem as nego-ciações”, credita a dirigente. O primeiro vice-presidente da Adufrgs-Sindical, Lucio Olimpio de Carvalho Vieira, recorda ainda que o acordo em vigor foi produto de um longo pe-ríodo de negociação, cujos efeitos foram distribuídos entre 2013, 2014 e 2015. “Havia outro cenário econômico e polí-tico, com algumas denúncias de corrupção. As condições de negociação e pressão permitiram fechar um bom termo de acordo”, recorda o sindicalista.

Vieira lembra que foi assegurada a recuperação subs-tancial de salários, com reajuste médio acumulado de 25% nos três anos. A recomposição não ficou abaixo de 15% nos vencimentos. Um dos principais saldos, além do impacto fi-nanceiro, foi começar a melhorar a estrutura da carreira, corrigindo distorções e com continuidade, afirma o vice--presidente do Sindicato. Neste mês de março, será paga a última parcela do reajuste. Para alguns casos, o repasse pode chegar defasado em relação à inflação, mas isso se explica pela antecipação que foi feita de uma das parcelas para o primeiro ano.

O tempo urgeAs lideranças da Adufrgs-Sindical e do Proifes-Federação

advertem que a categoria não pode tolerar que o governo Dilma utilize a desculpa de uma crise das finanças públi-cas para não negociar. “O recado é o seguinte: o cenário de dificuldade oferece um momento singular de superação com criatividade. Não vamos desistir de um projeto de País que deve incluir avanços no serviço público com qualida-de”, pauta o primeiro vice-presidente da Adufrgs. A carreira em vigor tem problemas de organização de classes e níveis, além de ser imperioso promover as recomposições de venci-mentos e os ganhos reais. Tudo está sob o guarda-chuva da valorização do trabalho docente. “O que repercute também na qualificação do saber do professor e da universidade, ele-mentos cruciais em meio aos desafios que o País tem pela frente. Para a categoria, isso está claro, temos de convencer o governo”, pontua Vieira.

A expectativa é que a administração federal crie canais e grupos de negociação. O momento é de acelerar a inter-locução, mas alguns ingredientes preocupavam em janeiro

e fevereiro, como o fato de muitos ocupantes de cargos da estrutura do MEC não estarem escolhidos e devidamente em-possados. Claro que não dá para ignorar que o ministro da Educação é um político experiente, ex-governador do Ceará, portanto, nenhum novato em questões de gestão da má-quina pública e da Educação. Os dirigentes reforçam que as propostas já entregues a Gomes são muito claras, e que não há nada impossível de executar. A questão é obter a compreensão política para essas demandas. Pelo menos no discurso, Dilma anunciou que a Educação é o mantra do se-gundo mandato.

As ações para ampliar o acesso dos brasileiros à formação superior e tecnológica em escolas federais precisam ser sus-tentáveis no longo prazo, mas já dão sinais de esgotamento na qualidade. A Adufrgs-Sindical levantou carências locais, que engrossaram o documento levado pelas entidades da ca-tegoria docente ao MEC em 2014. “Isso (expansão) não se concretizará sem professor bem remunerado, em número su-ficiente e infraestrutura que permita a formação de alunos. Elogiamos a iniciativa, mas há muitos problemas”, resume o vice-presidente do Sindicato. As metas do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em junho de 2014 pela pre-sidente Dilma, são ambiciosas e recaem sobre as instituições federais. “Não adianta montar uma unidade lá no Interior se não tem professor. É preciso passar do discurso a uma prática mais efetiva”, cobra Vieira.

Compartilhando danos?Dicas no estilo de “Tudo o que você precisa saber a res-

peito de 2015” ou “Como não sucumbir às armadilhas de ocasião”, o princípio básico é que o sacrifício anunciado, em nome de um ajuste fiscal, não pode ser imposto aos as-

A presidente da Adufrgs, Maria Luiza von Holleben, reforça a im-portância de uma imediata mobilização da categoria para pres-sionar o Governo Federal

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REPORTAGEM

salariados de setores públicos e privados como única saída aos problemas. Fato é que erros na condução da política macroeconômica no passado recente (metade para o final do primeiro mandato de Dilma Rousseff) justificariam o pacote de maldades que está sendo entregue à sociedade, via conta gotas cavalares, desde o final do ano passado. Tem penalida-des de toda sorte e que atingem fortemente o andar de baixo e podem também se erguer como obstáculo às reivindicações da categoria docente. Podem, mas não devem vingar.

Faltando alguns dias para o fim do primeiro mandato da presidente Dilma, o repertório de más intenções despontou em Brasília. A safra do famoso ajuste fiscal – “doa a quem doer”, alguém deveria ter acrescentado – teve o plantio ini-cial de duas Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665 que acha-tam direitos e prejudicam as populações mais pobres, que dependem de programas de proteção. Na matéria das pági-nas 16 a 18, a reportagem de Adverso detalha o impacto das MPs “do mal”. Com uma economia gerando menos oportuni-dades, as duas medidas chegam para tirar mais vantagens ao governo.

“Os trabalhadores sairão mais fragilizados”, projeta Viei-ra. Além disso, há toda a cena de escândalos políticos, com números de corrupção ao gosto do freguês. A operação Lava Jato, que vem a cada semana apresentando nova conta de favorecimentos, pode ter movimentado R$ 80 bilhões em propinas e outros tipos de negociatas. A cifra (ferimento sem precedentes na outrora mítica Petrobras), comparável à quase todo o crédito agrícola disponiblizado a agricultores em 2013, despontou após a primeira divulgação do balan-

ço da companhia, em meio à especulação do tamanho do rombo para ativos e outras perdas sob efeito do tráfico de interesses e de decisões supostamente equivocadas de inves-timentos. Também se soma a isso as perdas por ineficiência e atrasos em projetos decisivos à exploração do pré-sal – cujos ganhos estão atrelados à sustentação da educação e saúde dos brasileiros. “Estamos diante de uma gigantesca estrutu-ra de fraudes que certamente interfere no custeio das contas públicas”, relaciona o dirigente.

Estes são os inimigos no front da negociação que entra em campo. E é preciso ter claro que há outros caminhos que o governo poderia adotar para enfrentar a crise, que não es-tancar direitos de trabalhadores e interromper investimen-tos no serviço público. “Está na hora do governo tratar da regulamentação do imposto sobre grandes fortunas, e criar outros dispositivos de controle sobre a corrupção. Uma das mais urgentes é repatriar recursos oriundos desta prática”, opina Vieira. Para mover a economia, a equipe do Ministério da Fazenda e as demais áreas do governo federal precisam incentivar o desenvolvimento econômico e tecnológico do País. Investir na universidade brasileira é uma das formas de garantir a geração de conhecimento e tecnologia no longo prazo, apontam as lideranças docentes.

O açoite orçamentário começou a fazer barulho com os anúncios de contingenciamento e cortes (ou revisões de gas-tos) antes mesmo de ter o orçamento aprovado no Congres-so Nacional. É bom lembrar que as sessões de votação do chamado orçamento impositivo (sob o império das emendas de parlamentares) entraram fevereiro projetando cortes no-civos também à saúde pública. A Frente Nacional Saúde+10 (que luta para garantir 10% da receita bruta da União com o SUS) calculou perda de quase R$ 200 bilhões em cinco anos. O mandato da tesoura atingiu em cheio o MEC, com um primeiro número de R$ 600 milhões a menos para apli-car nas ações em 2015. A safra de quebras teve notícias de atrasos nos pagamentos de bolsas de pesquisa Capes/CNPQ, que são pilares para manter a geração de conhecimento do País. Ministros de várias pastas sinalizam, conforme notícias da imprensa, para mais revisões de metas de gastos, que incluiriam programas sociais, como Bolsa Família.

O bloco de aumentos vai de combustíveis, contas de luz e água, até alimentos e transportes. Depois da inflação de 6,41% (IPCA) em 2014, projeta-se para 2015 mais de 7%. A chaga a ser coberta é a do déficit fiscal que ficou em 6,7% do PIB, jogando a dívida pública da União a 63,4% do pro-duto interno. “Tivemos um período de aparente bonança, com desonerações fiscais que possibilitaram trocar de carro e comprar eletrodomésticos de última geração”, observa Ma-ria Luiza. “Agora a festa acabou: o carro vai ter de ficar na garagem porque a gasolina está mais cara, a casa ficará às escuras porque a conta de energia foi às alturas, e logo virá

1° Vice-presidente da Adufrgs, Lucio Vieira alerta que as MPs 664 e 665 irão fragilizar os trabalhadores

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mais desemprego”, indigna-se a dirigente da Adufrgs. “E o que o governo faz afeta diretamente os trabalhadores.”

O cenário político-econômico da campanha de mobilização de 2015 está traçado. A dirigente admite que o ano será muito difí-cil. Mais motivos para o engajamento imediato da categoria. “Será muito mais complicado do que apenas negar o que for oferecido. Temos buscado um novo caminho, o de negociar para avançar, o que implica bater em muitas portas, buscando o diálogo”, aponta a presidente da Adufrgs. “Se isso não for alcançado, como já viven-ciamos em 2012, teremos de tomar medidas mais extremas, como paralisação, greve!” O instrumento foi acionado na campanha pas-sada diante da indiferença do governo. Há muito mais urgência neste momento para assegurar a abertura oficial das conversações. O teto para finalizar eventual acordo é 31 de agosto, prazo final para a presidente Dilma enviar a peça orçamentária de 2016 ao Congresso Nacional. A garantia de um futuro promissor aos docen-tes do MS e EBTT não pode ficar de fora.

As duas caras de Dilma

Punindo a maioria: Ajuste fiscal: restrição a direitos e investimentos

para economizar R$ 18 bilhões (MPs 664 e 665).Conta de luz: decreto federal reajustou os valores

das bandeiras tarifárias, aplicando aumentos de até 50%.

Combustíveis: alta de 7,83% da gasolina e de 3,94% no diesel (com elevação do PIS/Cofins e volta da indecifrável Contribuição de Intervenção no Domí-nio Econômico (Cide). Efeito desejado: arrecadar R$ 12,18 bilhões.

Correção da tabela do IRPF: Dilma validou 4,5% (abaixo da inflação de 2014) e vetou 6,5%.

Poupando os privilegiados:Mais ricos: governo não regulamenta tributação

sobre grandes fortunas e IRPF progressivo.Gastos do governo com pagamento de juros em

2014 aos bancos (rolagem da dívida pública): R$ 250 bilhões (5% do PIB).

Quinteto fantástico: cinco maiores bancos soma-ram R$ 60 bilhões.

Juros que dão lucros:1º Itaú: R$ 20,2 bilhões (alta de 29%)2º Bradesco: R$ 15,1 bilhões (alta de 25,6%) 3º Banco do Brasil: R$ 11,3 bilhões (queda 28,6%)4º Caixa Econômica Federal: R$ 7,1 bilhões (alta

de 5,5%)5º Santander: R$ 5,8 bilhões (alta de 1,8%)

Dada a largadaEntidades apresentam propostas ao MEC

Discussões deflagradas desde o segundo semestre de 2014, entre entidades sindicais dos docentes e Secreta-ria de Ensino Superior (Sesu) e de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) do MEC, lançaram as bases dos do-cumentos que alinhavam as metas de melhorias e novos parâmetros das carreiras para 2016-2018. A carta com os itens detalhados foi levada ao ministro da Educação, Cid Gomes, em 29 de janeiro, em audiência entre Proi-fes e seus sindicatos. Os documentos apontam para a reestruturação da carreira e dos salários, pendências de acordos anteriores.

Confira as propostas:Inovações para 2016-2018 no MS e EBTT:> Aumento real (acima da inflação) de 4% do piso

salarial em 1/1/2016, sobre o valor praticado em 1/3/2015 (definido pela Lei 12.772/2012).

> Determinação da relação RT/VB em valores de 10% para aperfeiçoados, 20% para especialistas, 50% para mestres, e 120% para doutores.

> Determinação de acréscimos:+ 5% entre as remunerações de docentes em níveis

subsequentes de uma mesma classe.+ 40% para o piso do docente com regime de 40h em

relação ao do docente de 20h.+ 100% para o piso do docente com Dedicação Exclu-

siva (DE) em relação ao do docente de 20h em 1/1/2016, de 110% em 1/1/2017, e de 120% em 1/1/2018.

> Aumento real de 2% para todos os docentes em 1/2/2017, sobre os salários de janeiro de 2016.

> Aumento real de 2% a todos os docentes sobre os salários de janeiro de 2017.

Pendências:- Promoção para a classe D do MS- Extensão da RST do EBTT a aposentados- Criação do adicional de difícil lotação- Nova definição para o auxílio transporte

Mudanças estruturais e acertos na carreira:- Projeto do Proifes para autonomia universitária- Reajuste dos benefícios- Mudança nos critérios de insalubridade - Solução dos problemas causados pelas interpreta-

ções equivocadas da lei 12.772/2012 (carreira), entre eles a falta de retroatividade nas progressões e não con-cessão de promoção acelerada.

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ESPECIAL

E a vaca tossiu...por Patrícia Comunello

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), soció-logo de carteirinha, jura que não disse, mas a frase grudou e entrou para a crônica da política como sua: “Esqueçam o que escrevi”. Mas a economista, militante de esquerda, revolucionária e presidente do Brasil em segundo mandato, Dilma Rousseff (PT), não pode negar uma promessa que pronunciou antes mesmo de sacramentar a milimétrica dianteira nas urnas do segundo turno da eleição de 2014 e em tempos de comunicação multimídia: “Eu não mudo direitos na legislação trabalhista. Férias, 13º salário, FGTS, hora extra: isso não mudo nem que a vaca tussa” (Agência Brasil, 17/9/2014).

Dilma não só permitiu como marcou a largada do segundo mandato com uma adaptação de um adágio: “Não faço o que eu digo, faço porque faço”. A dupla de Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665 virou presente de grego, entregue após o Natal a em-pregados e desempregados, pescadores, beneficiários de auxí-lio-doença e viúvas ou viúvos jovens dependentes de pensões por morte. Sob a justificativa de combater irregularidades que alimentariam a “farra” (típica de senso comum ou de roda de conversa de botequim) do seguro-desemprego ou das pensões de viúvas jovens sobre maridos bem mais velhos, o governo apresen-tou as armas para poupar R$ 18 bilhões. Mas estudo do Depar-tamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apurou R$ 23,25 bilhões de economia restringindo aces-

so e recursos para trabalhadores.Alguns dos ingredientes do pacote, como o que altera valo-

res e a incidência do abono social, entraram em vigor em 31 de dezembro passado. Os demais, em sua maioria, passam a valer em 1 de março. “É inaceitável que o governo, após a fase onírica concedida ao povo - em especial ao trabalhador, isentando im-postos para aumentar o consumo, agora apresente essa conta”, reage a presidente da Adufrgs-Sindical, Maria Luiza Ambros von Holleben. “O povo foi iludido e agora quem sofre é o cidadão, as famílias, a base da sociedade”, adverte. No fim de janeiro, vieram as primeiras manifestações de sindicatos pelo País. E logo um hit ganhou eco. Em carros de som, lideranças bradaram “a vaca engasgou de tanto tossir”, ironizando o discurso de campanha.

O Proifes-Federação aprovou em fim de janeiro, na estreia da nova gestão, a rejeição completa do receituário da presidente. Ou-tra mensagem clara dos setores que representam os trabalhadores é que é preciso melhorar a gestão e os mecanismos anti-fraude dos programas, mas sem restringir o alcance da proteção aos be-neficiários. Os sindicalistas também miraram o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, a quem culpam pelo ajuste que penaliza o andar de baixo, e pediram a sua saída, chamando o estreante na pasta à chincha. “O remédio ministrado pela equipe econômica atinge diretamente os ganhos dos trabalhadores”, reforça o primeiro vice--presidente da Adufrgs, Lucio Olimpio de Carvalho Vieira.

Medidas Provisórias foram entregues após o Natal sob a justificativa de combater irregularidades e para poupar bilhões aos cofres públicos

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Economia bilionáriaUm dos autores do estudo do Dieese, o coordenador de aten-

dimento técnico-sindical Airton Santos, resumiu o efeito da in-vestida palaciana: “As medidas nos pegaram desprevenidos. Não esperávamos. Não foi isso que ouvimos na campanha eleitoral.” Além disso, foi um remédio enfiado goela abaixo, ou melhor, sem nenhuma conversa com os segmentos que fazem a interlocução com o governo e Parlamento quando estão em jogo avanços ou ameaças a direitos ou vantagens aos trabalhadores. Santos lem-bra que os alvos das MPs fazem parte de conquistas obtidas nos movimentos de centrais, confederações, federações e sindicatos, após a Constituição Federal de 1988. Na lista, estão seguro-de-semprego, abono social e pensões.

Estas duas medidas provisórias estipulam uma série de alte-rações que devem causar impactos consideráveis à vida de mi-lhões de brasileiros. O governo diz que quer economizar R$ 18 bilhões, mas não mostra a conta por dentro. O Dieese fez uma projeção geral e estimou redução de R$ 23,5 bilhões na despesa com seguro-desemprego e abono social apenas restringindo o acesso e valor dos benefícios. Santos aponta que o governo tem outras fontes para melhorar suas contas (razão para o ajuste), e entre elas estão menos renúncias fiscais (impostos e desone-rações) que dilapidaram em R$ 200 bilhões o caixa do Tesouro Nacional nos anos recentes. “Não há porque aceitar que o ajuste se inicie exatamente pela parcela mais vulnerável da população”, reage o coordenador do Dieese.

Também há mais R$ 78,7 bilhões do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) – que sustenta programas como seguro-de-semprego, suprimidos por meio da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Segundo o Dieese, a reposição do caixa do FAT pelo Tesouro ficou muito abaixo da cifra. O relatório técnico detecta que as medidas destoam da estratégia implementada nos dois mandatos de Lula e, em parte, do primeiro de Dilma, que signifi-caram melhora na distribuição de renda e redução de desigualda-des sociais. Uma falha é registrada também: não há sinalização de alternativas para financiar os gastos sociais. ”O governo vai mais ao centro. Não abandona as políticas sociais, mas dá uma desacelerada. Poderia ter mexido na estrutura tributária, mas não quis pagar o preço político ou nem passou pela cabeça da presidente fazê-lo”, arremata Santos.

Políticas ativas ou passivas? Entre as justificativas da MP 665, está o elevado gasto do FAT

com as ações compensatórias a quem perde emprego ou mesmo de reforço dos ganhos mais baixos, que teria passado de 0,54% do PIB, em 2002, para 0,92% em 2013. Mais curioso é que o governo admitiu gastar pouco (1,1% do caixa do fundo) com po-líticas ativas de trabalho e renda, enquanto os países mais ricos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) injetam 41,1%. No rol de ações ativas, estão a geração de vagas, melhoria da intermediação da mão de obra e mais

recursos para qualificação. Cortam-se gastos de políticas passivas (seguros e abono) sem indicar ações para fortalecer a política ativa, cobram Dieese e entidades sindicais.

O economista do Centro de Pesquisa de Emprego e Desem-prego da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Raul Luís Assumpção Bastos, atenta que não há uma oposição entre políti-ca ativa e passiva, mas uma complementação. “Tem de articular de forma orgânica os canais de acesso às iniciativas”, previne o especialista, que questiona os resultados de programas como Pro-natec, que carrearam bilhões de reais em verbas para treinamento bancado pelo FAT. Hoje não há dados da efetividade dessas ações pelo País, desde a preparação dos alunos às reais condições de in-serção no mercado. Bastos cita que as projeções para a atividade econômica em 2015 “são muito ruins”, com menor geração de oportunidades, o que reforçaria mais os programas de compensa-ção do que a retirada de cobertura e revisão de valores para baixo.

Sobre as taxas de desemprego mais lights da história do País (conforme pesquisas nas maiores regiões metropolitanas), o es-pecialista credita parte do bônus a um movimento de saída da mão de obra da População Economicamente Ativa (PEA). Some--se a isso outra constatação no fim de 2014: a interrupção da elevação do rendimento médio que vinha ocorrendo desde 2005, pelos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) na Re-gião Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Bastos ressalta ainda que a maior demanda pelo seguro (que pressionou gastos) é efei-to de um movimento virtuoso do mercado, que foi a formalização da mão de obra a partir de 2003. “O aumento da procura está dentro do processo de estruturação do mercado de trabalho”, explica o economista.

A rotatividade dos trabalhadores nos postos também é outra marca do setor e costuma se concentrar entre mais jovens e em setores de menores salários. O Dieese apontou que 3,2 milhões dos 12,5 milhões de trabalhadores demitidos sem justa causa em 2013 tinham até seis meses de carteira assinada. A despesa com seguro e abono também cresceu pela recomposição do poder de compra do salário mínimo, outra política de renda dos governos petistas até agora. O abono passou a alcançar uma base maior – em 2002, 41,2% dos empregados recebiam dois mínimos, e em 2012, o número saltou a 57,7%. No mesmo período, os trabalha-dores formalizados passaram de 41,4% da PEA a 51,6%.

Diante desses números e dessas análises, ganhará mais for-ça a mobilização da sociedade, e principalmente de segmentos como o quadro das universidades. Os dirigentes da Adufrgs-Sin-dical apontam que a pressão terá de ser feita sobre o Congresso Nacional, a quem cabe aceitar ou recusar as medidas. “As MPs significam um flagelo social, uma afronta às políticas que deve-riam ser de inclusão social, proteção a crianças e idosos e promo-ção de condições ao trabalho dos jovens”, contrasta Maria Luiza. “Onde está a família, a educação, a saúde e a segurança no Brasil, pátria educadora”, finaliza a presidente da Adufrgs. Afinal, onde fica o discurso de Dilma?

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ESPECIAL

Mãos de TesouraOs alvos e os danos das MPs 664 e 665

== 664 (altera as leis 8.213/1991, 10.876/2004, 8.1112/1990 e 10.666/2003) > Pensão por morte: passam a valer exigências de carência e limites – (1) 24 contribuições do trabalhador fale-

cido para a família receber o benefício (antes não havia essa exigência). Não há carência se o caso for de morte em acidente de trabalho, (2) dois anos de casamento ou união estável (exceto em mortes no trabalho), (3) valor da pen-são é de 50% do salário do falecido mais 10% por dependente até 100% (sem limite, quando órfãos de pai e mãe), (4) apenas cônjuge/companheiro com 44 anos ou mais recebe pensão vitalícia, e (5) condenados por crime doloso pela morte do segurado não recebem pensão. Estimativa de atingidos e redução do gasto: não há dados para projeção, pois os atuais beneficiários não perdem a pensão. Cobertura em 2013: 7,1 milhões de pessoas e R$ 76,1 bilhões (média de R$ 890,00 por mês por beneficiário, sendo que 57,5% é de um salário mínimo). Vigência: a partir de 1/3/2015 (o item 5 está em vigor desde 31/12/2014).

> Auxílio-doença: o valor passa a ser pago após 30 dias do afastamento (não 15 dias), sendo que a empresa cobre esse período, o auxílio será o teto das últimas 12 contribuições, e perícia médica pode ser feita por terceirizados ou outros órgãos do setor público. Estimativa de atingidos e redução do gasto: não há dados para projeção, pois os atuais beneficiários não perdem o auxílio. Cobertura em 2013: 182.030 trabalhadores e R$ 2,6 bilhões (média de R$ 1.100,00 por beneficiário). Vigência: a partir de 1/3/2015 (a perícia por terceirizados vigora desde 31/12/2014).

> Auxílio-reclusão: passa a exigir dois anos de casamento ou união estável. Estimativa de atingidos e redução do gasto: não há dados para projeção. Cobertura em 2013: 43.203 famílias com a pensão e despesa de R$ 383 milhões. Vigência: a partir de 1/3/2015.

== 665 (altera as leis 7.998/1990, 8.900/1994 e 10.779/2003) > Seguro-desemprego: primeiro acesso ao seguro passa a ser possível após 18 meses de trabalho ininterruptos

(antes era de seis meses) nos últimos 24 meses. O segundo acesso somente após 12 meses de trabalho, e demais aces-sos após seis meses ininterruptos de vínculo com carteira assinada. Dispensas sem justa causa. Estimativa de atingi-dos e redução do gasto: 4.797.066 trabalhadores demitidos (entre seis e 18 meses de vínculo), 38,5% dos desligados em 2013, e economia de R$ 14,8 bilhões (valor médico de cada parcela paga é de R$ 793,00). Segmentos que serão mais prejudicados (taxa de acesso) serão agricultura e construção civil. Vigência: a partir de 1/3/2015.

> Abono salarial: exclusivo a trabalhadores urbanos e rurais celetistas com salário mensal de até dois salários mínimos médios. O vínculo, que antes deveria ser de um mês no ano anterior ao pagamento, agora deve ser de seis meses ininterruptos no ano anterior. O valor, antes de um salário mínimo independentemente dos meses trabalhados, agora é proporcional ao tempo de atividade e varia de meio salário mínimo a um. Estimativa de atingidos e redução do gasto: 9,94 milhões de trabalhadores excluídos (41,5% do total que foi beneficiado em 2013/2014) e economia de R$ 8,45 bilhões (48,7% do gasto atual). Vigência: desde 31/12/2014.

> Seguro-defeso: restringe a definição de pescador artesanal, que deve ser exclusiva, ininterrupta e regular, INSS passa a receber e processar requerimentos, coloca carência na solicitação e exige comprovante de venda do pescado e/ou contribuição previdenciária sobre a transação. Estimativa de atingidos e redução do gasto: não há dados públicos para fazer projeções. Em 2010 (última informação), eram cerca de 652 mil pescadores artesanais no País. Vigência: a partir de 1/4/2015.

== Perguntas do Dieese a respeito do alcance e legitimidade das MPs:- Quais das medidas atingem os servidores públicos e não apenas os beneficiários do Regime Geral da Previdência Social?- Quais mudanças incluem os trabalhadores já inseridos no mercado de trabalho?- O Executivo tem, ou não, o poder de realizar mudanças nas regras da Previdência Social por meio de MPs? - Onde estão os cálculos detalhados que resultaram na estimativa de R$ 18 bilhões de economia com as MPs?

Fonte: Dieese/Janeiro 2015

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Eduardo Rolim de Oliveira, foi reeleito para a presidência e ocupa a diretoria de Assuntos Jurídicos. No Conselho Fis-cal, está Ricardo Francalacci Savaris (primeiro secretário do Sindicato). No CD, estão Maria Luiza Ambros von Holleben (presidente da Adufrgs-Sindical), Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira (primeiro vice-presidente do Sindicato), Claudio Sche-rer (membro do Conselho Fiscal da Adufrgs) e Paulo Machado Mors (segundo secretário do Sindicato).

Sobre o impacto das MPs, a federação entende que o governo, seguindo compromissos assumidos na reeleição, aposte em outras formas de arrecadação, como a taxação de grandes fortunas, prevista na Constituição, a taxação de transações financeiras e o combate a privilégios que existem na sociedade e nos poderes estabelecidos. “Distribui-se as riquezas da nação daqueles que mais têm para o conjunto da sociedade, para as classes pobres e médias”, indica o co-mando da entidade nacional dos docentes.

SINDICAL

Nova gestão do Proifes toma posse e define prioridades

por Patrícia Comunello

A nova direção e a composição de conselhos da Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (Proifes-Federação) tomaram posse entre 30 e 31 de janeiro, em reunião em Brasília, e definiram priorida-des na ação do ano e até janeiro de 2018, período do novo mandato.

A proposta de carreiras e salários a ser negociada com o governo federal para o triênio 2016-2018 estará no foco, com as estratégias de mobilização. Além disso, o Conselho Deliberativo (CD) aprovou a rejeição integral das Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665, que atingem direitos dos tra-balhadores. A entidade vai compor todos os fóruns que as centrais sindicais estão construindo para lutar contra as pro-postas.

Na nova direção e nos conselhos, estão vários integran-tes do comando da Adufrgs-Sindical. O professor da Ufrgs,

•DiretoriaExecutiva:Presidente - Eduardo Rolim de Oliveira (Adufrgs-Sindical), que foi reeleito e que continuará respondendo igual-

mente pelos trabalhos da Diretoria de Assuntos Jurídicos./ Vice-presidente - Daniel Christino (ADUFG Sindicato) Secretária - Silvia Maria Leite de Almeida (APUB-Sindicato) / 2º Secretário - Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla Luz (SIND-UFMA)

Tesoureiro - Nilton Ferreira Brandão (SINDIEDUTEC-PR)/ 2ª Tesoureira - Gilka Silva Pimentel (ADURN-Sindicato)

•DiretoradeAssuntosEducacionaisdoMagistérioSuperior - Mariuza Aparecida Camillo Guimarães (ADUFMS--Sindical)

•DiretoradeAssuntosEducacionaisdoEnsinoBásico,TécnicoeTecnológico - Gilka Silva Pimentel (ADURN--Sindicato)

•DiretordeAssuntosEducacionaisdasEscolasMilitares- Humberto José Lourenção - (ADAFA-Sindicato)•DiretordeAssuntosSindicais- Valdemir Alves Junior (PROIFES-Sindicato)•DiretordeRelações InternacionaiseDiretordePolíticasEducacionais -Gil Vicente Reis de Figueiredo

(ADUFSCar, Sindicato)•DiretoriadeAposentadoriaePrevidência será exercida em conjunto pelos professores Nilton Brandão e Cristia-

no Capovilla, e o CD deliberou pela criação de um Grupo de Trabalho específico para acompanhar e discutir as questões relativas aos aposentados e à Previdência, coordenado pelos diretores, e composto por membros do próprio CD.

•DiretoriadeComunicação será exercida em conjunto pelo Vice-Presidente e pela Secretária, Daniel Christino e Silvia Leite, respectivamente.

Fonte: Proifes-Federação

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CPPD

Informatizar e agilizar é precisopor Patrícia Comunello

Trabalho nas férias: a presidente da CPPD da Ufrgs, Vera Portella, o vice-presidente, Jorge Araújo, e os professores Fernando Pulgati e Francisco Egger Moellwald checam tramitação e como aumentar eficiência nas verificações

Não é governo, mas a Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) foi picada pela abelhinha do ajuste. Neste caso, com as melhores intenções em relação à tramitação dos pro-cessos que determinam a trajetória dos professores em sua carreira na Instituição. As medidas unem três instrumentos: redução de erros na instrução dos processos (principalmente de progressão e promoção), agilização no tempo de verifica-ção – o sonho de consumo da categoria e das instâncias da administração (confirmado pelos responsáveis em gestão de pessoas) – e a digitalização e informatização dos pedidos de avanços e outras disposições da carreira.

A direção da Adufrgs-Sindical acompanha de perto esses movimentos. A meta de digitalização de procedi-mentos e alimentação online de documentos é colocada como item prioritário no fluxo dos pedidos. “A missão do Sindicato é facilitar a vida dos docentes, para que eles se dediquem à sua atividade”, reforça o primeiro secretário

da Adufrgs-Sindical e membro do Conselho Universitário da Ufrgs (Consun), Ricardo Savaris. “Tivemos conversas preliminares com a administração, que indicou o inte-resse. Esperamos que a mudança ocorra ainda em 2015”, aposta o dirigente.

O caminho para a transformação, já em execução pela CPPD, agora pode ganhar a parceria da entidade sindical. O Centro de Processamento de Dados (CPD) deve ser con-tatado para entrar na empreitada, o que deve ocorrer a partir de março, com a volta das atividades normais da Instituição, segundo os gestores das áreas. Mas, em pa-ralelo, outras incursões da direção da CPPD ganham cada vez mais relevância. A presidente da comissão, Vera Cas-tiglia Portella, que ficará na função até janeiro de 2016 e no grupo que integra a comissão até o fim do próximo ano, atenta para a necessidade de reduzir erros na hora de montar e preencher requisitos dos processos de progres-são e promoção funcional.

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Diretor da Adufrgs e membro da comissão, Savaris diz ser priorida-de contribuir para a informatização de processos na CPPD da Ufrgs

Segundo Vera, o que assusta é o percentual de falhas que exigem as chamadas diligências – quando o processo retorna ao departamento ou unidade para preencher ou esclarecer informações. A falta de assinaturas responde por 50% dos casos, e revisão de pontuação na produção de ensino (gra-duação e extensão) outros 30%. “Só nestes dois itens temos 80% dos erros”, aponta a presidente. O trabalho da comissão é revisar todos os critérios que são considerados para situ-ações de progressão, promoção, afastamento, alteração de regime e estágio probatório. “Criamos um relatório em 2014, que é repassado à gestão (Pró-Reitoria de Planejamento), com a produção de cada membro da comissão, e mapeamos todas as diligências. Sabemos como foi o trabalho de cada um e cada item”, observa Vera.

O fechamento até 31 de dezembro acendeu a luz amare-la na comissão, que funciona em uma sala do Anexo 1 da Reitoria da Ufrgs, no Campus Central. De agosto a dezem-bro, foram 219 diligências em 1.392 processos examinados. Para atacar os erros, a tática da CPPD é combater em dois fronts. Primeiro, fazer a qualificação e capacitação tanto de integrantes da CPPD como das pessoas nas unidades que dis-param as demandas e precisam ser acionadas para fazer as correções. Em janeiro e fevereiro, Vera aproveitou o ritmo de férias para repassar e tirar dúvidas sobre os 15 itens do checklist a ser seguido em cada processo.

“A maior parte dos conselheiros (da CPPD) é inexperien-te na análise dos documentos. Tem muitos requisitos, além do checklist, e é preciso confrontar documentos com o que está sendo dito”, explica a presidente. Além disso, o gru-po que está trabalhando atualmente pactuou que nenhuma demanda pode ficar parada na comissão. Logo que chega, o conselheiro que cuidará do processo verifica se há alguma pendência. “Com pareceres definidos, já fazemos a trami-tação. A ordem é não deixar nada aqui dentro. Tudo para agilizar”, promete Vera.

A segunda arma do grupo de assessoramento é estabelecer rotina de mais interface com as unidades, buscando prevenir problemas no preenchimento. Já ocorreu reunião com a Co-missão de Graduação (Comgrad) para esclarecer o lançamento da carga horária efetiva cumprida pelo professor. São infor-mações que formam a base do Relatório de Atividade Docente (RAD). O mesmo procedimento será feito com a Pró-reitoria de Extensão (Proex) para evitar equívocos no repasse de dados das atividades. Vera informa que pretende se reunir com a Biblioteca Central para verificar a possiblidade de maior agili-dade e lançamento de registros de publicações em um futuro sistema digital, que compartilhe mais as diversas fontes de informações. “Queremos ajudar o professor garantindo dados corretos”, reforça a presidente da CPPD.

Meta é sistema onlineEntusiasta da medida, o primeiro secretário da Adufrgs-

-Sindical inseriu a pauta da informatização dos requisitos dos processos de avanços na ordem do dia e já estabelece conversações com a CPPD e o CPD. Ricardo Savaris espera que a CPPD, CPD e Progesp aceitem a colaboração do Sindi-cato para aposentar definitivamente a rotina de “trabalhos desnecessários”. “Repetem-se muitas ações que são mais burocráticas, que outra pessoa já fez. O professor não foi treinado para lidar com a burocracia”, ilustra o dirigente, que é docente na Faculdade de Medicina.

Para Savaris, o volume de erros ou retrabalhos (fluxo de diligências realizadas pela CPPD) já é motivo mais que suficiente para mudanças. “A automatização tenta deixar mais fluido o que já está dentro do sistema da Ufrgs. O mais difícil seria alimentar o que já é feito.” A inserção das in-formações de forma adequada também ajudará a reduzir os erros de preenchimento constatados pela comissão. “Além de não passar a informação correta, a que existe não é co-locada de maneira adequada. Metade das diligências geradas por falta de assinatura mostra que o processo não tem a eficácia desejada.”

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CPPD

A digitalização e operação online dos procedimentos e lançamentos de informações para a tramitação de promoções ou progressões, e mesmo estágio probatório, são comparadas a rotinas triviais, como fazer a declaração anual do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) ou receber a fatura domiciliar da água. Savaris comenta que a despesa com abastecimento é computada e na hora a concessionária emite a cobrança. No IRPF, programas da Receita Federal permitem hoje ali-mentar o banco de dados e depois concluir a declaração no período da prestação de contas ao leão.

No modelo interno, a ideia é que o professor vá alimen-tando o sistema. “Quando ele atingir a pontuação para a progressão, chega uma mensagem alertando que já alcançou a condição para fazer o pedido”, exemplifica o dirigente da Adufrgs-Sindical. Funciona como um agendamento. A auto-matização de procedimentos precisa chegar às bibliotecas, amplia Savaris. Livros e artigos, que hoje estão na internet, não têm atualização automática, exigindo que o autor im-prima cópias dos textos e depois as encaminhe às unidades, onde servidores fazem manualmente. Isso leva até dois dias para entrar no sistema, segundo o dirigente. Ou mais, assi-nala o primeiro secretário da Adufrgs.

Na progressão funcional, o interesse não é só do docente,

mas também da Instituição, pois essa evolução elevará a qualificação da Universidade, que aumenta sua pontuação. “Todos ganham com isso.” Vera destaca que o pedido para instaurar processos online já foi levado ao CPD. Ela lembra que as solicitações de afastamentos de docentes já seguem este mecanismo, o que reduziu em muito o tempo para res-posta e efetivação. “A Adufrgs-Sindical busca colaborar para agilizar a implementação e reforça a prioridade na mudan-ça”, pontua a professora. Uma das vantagens será ainda de redução de papel que é gerado no fluxo de documentação.

O titular da Progesp, Maurício Viegas da Silva, ressalta que a perspectiva de informatização reforçará a fama da Ufr-gs de ser uma das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) mais avançadas na área. Viegas cita que o ganho foi decisivo nos cerca de 4 mil pedidos de afastamento que in-gressam ao ano. “A solicitação antes levava 60 dias e agora sai em menos de dez dias”, contrasta o pró-reitor. Outras rotinas na Progesp já ocorrem com uso de tecnologia da in-formação (TI), aportada pelo CPD, como marcação de férias e frequência. “Vamos trabalhar para implementar um sistema este ano. A ideia é que o docente entre no portal da Univer-sidade e faça o processo eletrônico da progressão e promo-ção, mas claro que isso não depende apenas da Pró-reitoria.”

O pró-reitor de Gestão de Pessoas da Ufrgs, Maurício Viegas da Silva, inicia conversas com a CPD para digitalizar rotinas

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23ADVERSO 211 | jan./fev. 2015

Alvo é prazo para avanços“Adiantem-se!” O conselho é dado pela presidente da

CPPD a quem está próximo a completar o interstício para avanço na classe, previsto a cada dois anos de docência. O alerta de Vera busca evitar que docentes acabem deixando para depois o que podem dar entrada até antes de vencer o período do interstício. Uma orientação firmada entre Pro-gesp e a comissão, em janeiro deste ano, prevê que consta-rá na portaria da progressão valer a data da verificação do processo na CPPD. A ideia é que o professor ingresse com demanda na unidade tão logo alcance a pontuação. Após a revisão feita pelos membros da CPPD e, se tudo estiver adequado aos requisitos, o órgão encaminha à administra-ção um parecer para que seja emitida a Portaria. A data indicada será a do período em que começa a contar o novo interstício.

Na rotina anterior, os pedidos só davam entrada após o vencimento de dois anos e havia ainda a demora de até dois meses (ou mais, dependendo do caso) para a tramita-ção e exame. A Portaria acabava sendo emitida apenas na conclusão do processo, o que também afeta o período de pagamento dos valores referentes ao novo enquadramento. Outra preocupação da comissão é a demora de quem já tem períodos vencidos e lentidão para enviar os pedidos. Al-guns casos geraram questionamentos sobre valores referen-tes ao período e estão sendo alvo de exame pela Reitoria.

Savaris observa que a automatização facilitará a gera-ção de relatório com as cotas atendidas e com a indicação de quantos dias faltam para fazer o encaminhamento da progressão. “Isso vai à chefia, que faz o reconhecimento, e depois os demais órgãos. Isso facilitaria quem esquece de fazer a progressão”, acredita o primeiro secretário da Adu-frgs-Sindical. O dirigente considera que seria excelente que a nova sistemática estivesse em vigor ainda em 2015. ”Se pudermos ajudar a Universidade, vamos ajudar, pois quem será beneficiado é o professor”, adianta o sindicalista.

Maratona de titular Os integrantes da CPPD apontam que a agilidade na tra-

mitação dos processos de promoção à classe de titular em 2014, novidade após a mudança na carreira dos docentes das Ifes, serve de exemplo para a melhoria e menor prazo de exame. Segundo Vera, entre outubro e 10 de dezembro foram avaliados 192 pedidos para o enquadramento. Com isso, todos puderam ser incluídos na folha de pagamento do fim do ano passado, assegurando a nova remuneração. “Toda promoção de titular que entrou até 3 de dezembro já está em vigência”, comemora a presidente da comissão, que lembra a dúvida que havia sobre a capacidade e prazo

Lista de AlertaErros mais frequentes nos processos examinados

pela CPPD da Ufrgs:

Maior incidência- Falta de assinaturas: 50% dos casos(*);- Revisão de pontuação na produção de ensino

(extensão e graduação): 30% dos casos(*).

Menor ocorrência- Retificação da data inicial do período de pontuação;- Retificação da data final do período de pontuação;- Falta de rubricas;- Completar com o preenchimento de datas na

planilha;- Falta de documentos: portaria anterior;- Falta de documentos: cópia da avaliação discen-

te, que pode ser impressa com o relatório de ativida-des a partir de 2014/2;

- Falta de documentos: relatório de atividades do-cente;

- Falta de documentos: parecerista da CPPD indica o que deve ser providenciado;

- Revisão de pontuação em produção intelectual;- Revisão de pontuação no item em exame (ensino

ou produção intelectual);- Esclarecimento sobre pontuações;- Anexar parecer da comissão de ética;- Anexar documentos.

(*)estimativa

Fonte: CPPD/Ufrgs

para dar conta da demanda. “A maior parte dos processos entrava de manhã e saía ao fim do dia. Nenhum ficou mais de 24 horas na comissão. Foi um desafio que o grupo to-mou para si.”

Viegas reconhece o êxito e observa que quase toda a tramitação foi eletrônica. “O resultado foi fabuloso”, qua-lifica o pró-reitor, lembrando que foi criado um movimento para atuação coletiva das unidades. Segundo o gestor, essa participação e controle viabilizam a ideia de adotar a ro-tina de enviar e-mails de alerta sobre prazos para entrar com processos dos docentes, medida sugerida por Savaris e que poderia ser contemplada na informatização. “Estamos diante de uma mudança de cultura, o que explicaria que muitos não agilizem e não peçam no momento adequado”, associa Viegas.

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VIDA NO CAMPUS

Ufrgs integra centro mundial que combate desperdício de alimentos

por Araldo Neto

Reduzir as perdas pós-colheita nos países em desenvolvimento e contribuir para a diminuição dos índices de fome no mundo. Estes são dois dos objetivos tra-çados pelo Centro Mundial de Preservação de Alimentos, que reúne 10 instituições de ensino do planeta, entre elas a Ufrgs. A participação da Universidade se dará através da Faculdade de Agronomia, com ações dos Laboratórios de Pós-Colheita e o de Armazenagem e Secagem de Grãos. O grupo tem como atribuição unir esfor-ços para desenvolver novas tecnologias sustentáveis, de baixo custo, visando combater a perda de alimentos em nível mundial, além de atuar na formação de estudantes em preservação de alimentos pós-colheita.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agri-cultura (FAO), um terço dos alimentos produzidos no mundo para o consumo humano é desperdiçado, o que corres-ponde a cerca de 1,3 bilhão de toneladas de comida sendo perdida anualmente. Estima-se que 25% de frutas e verdu-ras e 10% de grãos sejam jogados fora em todo o mundo entre a colheita até o produto chegar à mesa do consumidor final. De acordo com o coordenador do Laboratório de Pós-Colheita da Faculdade de Agronomia da Ufrgs, professor Renar João Bender, mais de 800 milhões de pessoas estão passando fome no Planeta todos os dias, e a situação tende a piorar com o aumento da população mundial.

Diante deste cenário, Bender alerta que ninguém pode se dar ao luxo de jo-gar produtos alimentícios no lixo. “Nós estamos desperdiçando demais, em uma condição que estamos entrando em es-

O coordenador do Laboratório de Pós-Colheita da Faculdade de Agronomia da Ufrgs, Renar Bender, adverte que diariamente mais de 800 milhões de pessoas passam fome no Planeta

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cassez em alguns países. Não temos mais como buscar novas áreas para produzir alimentos. Neste cenário, em vez de au-mentar a produção, temos que evitar o desperdício”, afirma.

Cerca de 40 milhões de pessoas poderiam ser alimentadas somente com as sobras de alimentos no mundo. É como se 75% da população do Nordeste brasileiro comesse o ano inteiro. Se-gundo o professor, é preciso reeducar o consumidor final. Como exemplo, ele cita as verduras que ficam esquecidas na geladeira e, após semanas, acabam indo para o lixo. Outro exemplo recai sobre os supermercados, onde é comum o descarte de frutas com pedaços podres. “Essa fruta poderia perfeitamente ser consumida. Coloca a parte estragada fora, reembala novamente e vende. Talvez com preço mais acessível. Se você começa a somar todas essas etapas em que há desperdício, chegamos à situação calamitosa que estamos vivendo hoje”, aponta Bender.

Somente na parte de grãos, o descarte chega a 10% de tudo que é produzido no Brasil. Em média, são 200 milhões de tone-ladas de grãos por ano. Deste montante, 20 milhões/ton. são perdidas nas etapas pós-colheita, como na ação de pragas e no transporte rodoviário inadequado, por exemplo. Coordenador do Laboratório de Armazenagem e Secagem de Grãos da Ufrgs, o professor Rafael Gomes Dionello revela que a perda na pro-dução de grãos já começa na colheita. “Se não for colhido no momento ideal, se não for usada a tecnologia mais adequada para colher e se a máquina para a colheita não estiver bem regulada, tudo isso irá contribuir para o desperdício dos grãos”, exemplifica. Em alguns casos, estes elementos chegam a ficar até um ano em silos, dentro de armazém graneleiro, onde se perde muito pela ação de insetos, fungos, ácaros e roedores.

Redução de perdas de alimentoA participação da Ufrgs no Centro Mundial de Preservação

de Alimentos se dará por meio da Faculdade de Agronomia em uma parceria entre o Laboratório de Pós-Colheita e o Labora-tório de Armazenagem e Secagem de Grãos. A relevância de

suas atividades de pesquisa em pós-colheita, divulgadas em eventos internacionais e também em revistas especializadas, além do fato da Ufrgs ter participado de projetos internacionais voltados ao tema da produção de alimentos motivaram o con-vite para Universidade gaúcha participar deste seleto grupo de instituições de ensino.

O coordenador do laboratório de Pós-colheita da Ufrgs re-força que o grande desejo do grupo de entidades que integram o Centro Mundial de Preservação de Alimentos é evitar perdas de alimentos, através do compartilhamento de informações e da discussão para o uso de diferentes tecnologias adaptadas para cada lugar. Para Bender, medidas extremamente simples como a reeducação do consumidor final ou dos intermediários (produtor, atacadista, varejista e transporte) podem acarretar em uma grande redução do desperdício de comida. “Tem que trabalhar tecnologias, não para eliminar esses elos que têm no meio da cadeia, mas para que cada um faça sua parte e trabalhe para que este alimento seja preservado e para que não perca nada da sua qualidade. Claro, vai sempre se perder um pouco, mas que essa qualidade não resulte em desperdício”, pondera o professor.

Além da troca de informações, o Centro Mundial de Preser-vação de Alimentos possibilita intercâmbios entre docentes, es-tudantes e técnicos nas universidades do grupo. Alunos do mes-trado e doutorado, por exemplo, poderão realizar estudos fora do País, bem como a Faculdade de Agronomia da Ufrgs terá o papel de receber pesquisadores das universidades estrangeiras. “Isso nos coloca no cenário internacional como instituição de ensino superior que tem capacidade de treinar gente e formar recursos humanos no sentido de criar conhecimento para atuar na área de desperdício de alimentos”, afirma o professor Renar João Bender.

A Ufrgs é a única universidade brasileira que integra o Cen-tro Mundial de Preservação de Alimentos. O grupo ainda conta com instituições de ensino da Austrália, China, Estados Unidos, Inglaterra, Paquistão, Chile, Etiópia, Gana e Nigéria.

Estima-se que 25% de frutas e verduras e 10% de grãos sejam jogados fora entre a colheita até a mesa do consumidor final

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HISTÓRIA

Professores aposentados apontam evolução da Ufrgs em 80 anos

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Considerada uma das melhores universidades da América Latina, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) completou 80 anos no final do ano passado. Sua história é recheada de sucesso graças, especialmente, ao trabalho dos professores que passaram pela Instituição ao longo dessas oito décadas. Muitos deles são lembrados pelo pioneirismo em suas áreas de conhecimento, prestando uma enorme con-tribuição para desenhar o que é a Universidade hoje. Por isso, a revista Adverso foi ouvir alguns docentes aposenta-dos para que eles relatem o que vivenciaram nas diferentes fases da trajetória da Ufrgs. O resultado foi um apanhado de histórias de dedicação que ajudaram no desenvolvimento da melhor instituição de ensino superior do País.

“A Ufrgs representa a minha vida”Dos 80 anos de Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

o professor aposentado Cláudio Scherer viveu mais de cinco dé-cadas dentro da Instituição. Logo quando entrou na Universi-dade, ele e outros colegas fundaram o Coral da Ufrgs, em 1961. Em 1962, às vésperas do início dos anos de chumbo, o professor participava do movimento de greve que parou a Universidade por quase três meses. Os estudantes reivindicavam o fim das cátedras e representação nos órgãos colegiados. Scherer lembra que, a partir da greve, foi feita uma lei para que órgãos cole-giados tivessem a presença de um estudante a cada grupo de cinco professores. Até hoje a participação dos alunos é garan-tida dentro do Conselho Universitário (Consun), por exemplo.

Imagens de obras no Campus do Vale nas décadas de 1950 e 1970, de prédios históricos e de ambientes do Campus Central da Ufrgs integram o acervo do Museu da Universidade, e ajudam a contar um pouco de sua história

por Araldo Neto

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Já o fim das cátedras chegou oito anos depois com a Reforma Universitária.

Um dos primeiros a fazer curso de mestrado e doutorado no Rio Grande do Sul, graças ao pioneirismo do Departamento de Física da Ufrgs, Scherer conta que começou a lecionar na Universidade logo depois de formado. Segundo ele, os gradua-dos em Física foram convidados a seguir no ensino ministran-do aulas, devido à falta de professores na área. “Ficamos dois anos nesta situação, daí fomos promovidos para professor as-sistente”, recorda. Depois disso, foram 40 anos atuando como professor na Universidade, até se aposentar em 2005. “A Ufrgs representa a minha vida”, define.

Além da carreira na Universidade, dedicada ao universo da

Física, Cláudio Scherer lembra com carinho de ter participa-do da delegação da Ufrgs na Olimpíada Brasileira Universitá-ria disputada em 1964, na cidade de Recife. Atleta do Remo, ele foi um dos nove integrantes que viajaram para o Nordeste representando a Instituição. Ao todo, o grupo conquistou 20 medalhas, superando delegações com um número bem maior de integrantes. “O desempenho foi tão acima das expectativas que o reitor convidou o grupo para jantar em um restaurante de Porto Alegre”, conta o professor Scherer, que trouxe a medalha de prata no Remo. Além da prática esportiva, o docente tam-bém era um assíduo frequentador das reuniões dançantes que aconteciam nos centros acadêmicos e dos tradicionais bailes da Reitoria. “Podíamos escolher onde iríamos dançar.”

Imagens de obras no Campus do Vale nas décadas de 1950 e 1970, de prédios históricos e de ambientes do Campus Central da Ufrgs integram o acervo do Museu da Universidade, e ajudam a contar um pouco de sua história

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HISTÓRIA

“Encarávamos as dificuldades com o maior pioneirismo”A presidente da Adufrgs-Sindical, Maria Luiza Ambros

von Holleben, entrou na Ufrgs como estudante, aos 17 anos. Logo depois de formada, aos 22, começou a dar aulas na Faculdade de Farmácia e depois no recém criado Institu-to de Química. Eram tempos em que o Instituto ainda esta-va no Campus Central. Em 1973, já com a Reforma Univer-sitária estabelecida, aconteceu o primeiro concurso público para o Departamento de Química Orgânica, no qual Maria Luiza, aprovada, passou a ser a primeira mulher a atuar na área de Química Orgânica na Universidade, que era domi-nada pelo sexo masculino. Na ocasião, já havia concluído o mestrado na Faculdade de Farmácia, implementada em 1970, graças ao empenho dos professores Belkis Santa’Ana e Matthias Schmitz. Ao retornar à Universidade depois do afastamento para fazer doutorado, foi trabalhar no recém--inaugurado Instituto de Química, no Campus do Vale. E foi com grande satisfação que encontrou vários antigos alu-nos e alunas da Universidade atuando como professores. Satisfação que é alimentada até hoje ao ver as brilhantes carreiras acadêmicas que desenvolveram na Ufrgs, alguns no Instituto de Química e outros na Faculdade de Farmá-cia. “Quando fomos para o Vale, nos instalamos no meio da floresta. Havia poucas edificações e nenhum asfalto, sem agências bancárias e nenhum comércio. Telefone só tinha na sala da Direção. Eu tinha filhos pequenos e, quando

acontecia qualquer problema na creche, era preciso que um funcionário caminhasse por três blocos para me avisar. Mas nós encarávamos isso com muita disposição, Tínhamos um forte espírito pioneiro”, conta Maria Luiza.

Segundo ela, o figurino para ir ao trabalho era compos-to de calça jeans e botas, por causa do barro que existia no início do funcionamento do Campus do Vale, no final da década de 1970. O transporte até o Campus, principalmen-te para os alunos, também era um problema. A professora lembra de um ônibus, em péssimo estado de conservação, que levava os estudantes até o Vale e que foi apelidado por eles, jocosamente, de Trovão Azul. Como a grade curricular colocava aulas no Campus Central seguida de aulas no Vale, eram frequentes os atrasos dos alunos. Outro desafio eram os laboratórios. Maria Luiza lembra que o destinado para seu trabalho no Campus do Vale só tinha as paredes e a estrutura básica dos balcões. Cabia aos professores montar os labora-tórios com o dinheiro que vinha de projetos de pesquisas, principalmente por intermédio da Fapergs e CNPq. “Se fazia pesquisa com aquilo que se tinha. Havia dificuldade de com-prar reagentes, não havia central analítica. Se fosse preciso fazer alguma análise mais avançada, tínhamos que enviar ou levar as amostras para o Rio de Janeiro ou São Paulo”, desta-ca. Com muito trabalho e muita dedicação, fomos montando laboratórios, a central analítica, publicando artigos. Enfim, criando os alicerces para o Instituto de Química de hoje.

Foto do Claudio SchererLegenda: Scherer mostra no com-

putador a delegação da Ufrgs que participou das Olimpíadas Universi-tárias em 1964.

Scherer mostra imagem da delegação da Ufrgs que participou das Olimpíadas Universitárias em 1964

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Para a dirigente da Adufrgs, o desenvolvimento tecno-lógico favoreceu o avanço da Universidade. Sem internet, o contato com professores do exterior tinha que ser feito através de cartas, o que demorava semanas e até meses. Ela compara que hoje em dia se pode fazer contato com pro-fissionais de qualquer lugar do mundo por e-mail e receber produtos importantes para pesquisas através de serviços de entrega rápida. “Em uma tarde, eu faço um levantamento bibliográfico que levava um mês e meio para fazer sem internet”, compara. Mesmo com o crescimento da Ufrgs, a estrutura física em alguns casos não acompanhou o desen-volvimento. A Faculdade de Farmácia, por exemplo, cresceu ao longo dos anos sem ter seu espaço ampliado, como se-ria adequado. Segundo Maria Luiza, áreas nobres de lazer para os estudantes da Faculdade, como o salão de festas, os terraços do primeiro andar e o jardim que havia ao lado do prédio, foram fechados. “Até o amplo saguão de entrada foi transformado para atender necessidades da expansão”, observa a dirigente. “Foi tudo feito mantendo a mesma área original”, comenta.

“Professor era considerado uma autoridade.”De seus 68 anos de vida, o professor aposentado Curt Hen-

rique Sommer dedicou 27 de trabalho à Ufrgs. Ingressou na Universidade como estudante, em 1965, no antigo curso de História Natural, que depois foi substituído pela Faculdade de Biologia. Após realizar um curso de especialização em Ecolo-gia, na Alemanha, Sommer foi convidado para trabalhar como professor “horista” do Departamento de Zoologia, cuja área

de meio ambiente era vinculada. A preocupação com a ecolo-gia ainda engatinhava no Brasil quando o professor criou as disciplinas sobre o assunto na Ufrgs, que atendia os cursos de Biologia, Química e as Engenharias. O conhecimento na área fez com que o docente coordenasse o curso de Ciências Biológicas por 12 anos. Neste período, foi criado um curso de especialização em Ecologia, que depois evoluiu para um curso de doutorado.

Para Sommer, a grande dificuldade que existia naquela épo-ca era o número de professores para atender a demanda. No Departamento de Zoologia, por exemplo, havia apenas três para dar aula. Sommer opina que a grande revolução que fez com que a Universidade se expandisse foi a semestralização das dis-ciplinas. “Isso facilitou muito para o aluno. Se ele fosse repro-vado em uma cadeira, poderia refazê-la no segundo semestre. No meu tempo de estudante, se tu perdesses aquela disciplina, tu perdias um ano de curso, pois só poderia fazer no próximo ano.” A consequência maior da semestralização das disciplinas foi a contratação de novos professores.

Outro fator que impulsionou as atividades práticas do Ins-tituto de Biociências foi a mudança para o Campus do Vale na década de 1980. “Foram construídos laboratórios adequados e também gabinetes para os professores”, destaca Sommer. Apo-sentado na Ufrgs aos 50 anos, ele trabalhou por mais 15 em universidades privadas. A vivência mostrou que os estudan-tes da universidade pública são muito mais preparados que os alunos da rede privada. No entanto, o professor opina que o sistema de cotas vai determinar uma queda no nível do desem-penho dos alunos. “Eu me preocupo com um futuro médico que

Curt Sommer dedicou 27 anos de docência à Ufrgs, e, depois de aposentado, trabalhou mais 15 em universidades privadas

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não tem uma base biológica adequada. Que profissional vai ser esse?”, exemplifica.

Sommer recorda que um professor era considerado uma au-toridade quando começou a lecionar na década de 1970. Mas o respeito que a figura docente foi perdendo ao longo do tempo foi sua grande decepção na atividade. “Hoje em dia, não existe mais respeito. Isso me preocupa muito”, lamenta. Sobre sua trajetória na Ufrgs, o professor Curt Sommer destaca a impor-tância de seu colega Tuiskon Dick, reitor da Universidade entre 1990 e 1992, que criou o primeiro Núcleo de Ecologia na Ufrgs e também abriu caminho para os professores se capacitarem no exterior. “A meu ver, foi um professor modelo”, conclui.

“A Ufrgs é a matriz de todas as universidades gaúchas” O então funcionário da Ufrgs, Lúcio Hagemann, foi o reda-

tor das portarias que instituíram a Reforma Universitária em setembro de 1970, definindo a estrutura atual de organização em institutos e faculdades. “Tudo foi feito em 24 horas”, lem-bra. Antes da reforma, cada unidade isolada da Universidade tinha autonomia, inclusive administrativa. “O que as unia era o chamado Conselho Universitário. O quadro de pessoal era único, mas era muito engessado. Para se admitir um docente, deveria ter autorização do Ministério da Educação. Isso deixou a Universidade cristalizada”, recorda. Com a Reforma, esse mo-delo de instituição foi praticamente “pulverizado”. Do ponto de vista de docência, existia o regime de cátedra. O catedrático era uma figura com enorme poder dentro da universidade, porque ele que escolhia seus assistentes e a congregação referendava

isso. Segundo Hagemann, a mudança determinou que todo o ensino fosse feito através dos departamentos. “O departamento tornou-se a menor fração da Universidade”, informa. Inicial-mente, a Ufrgs se constituiu em 82 departamentos.

O professor aposentado Lúcio Hagemann acompanhou boa parte da história da Universidade, desde o ano de 1962, quando entrou na Ufrgs. Ele tem graduação em Filosofia, com especia-lização em Psicologia – cujo curso propriamente dito só veio a ser criado em 1973. Antes da Reforma, a Faculdade de Filosofia reunia 14 cursos de diferentes áreas do conhecimento como História, Química e Botânica, por exemplo. “Era praticamente uma universidade dentro da Universidade”, define o docente. Esta conjuntura permitia a criação de um pólo de formação crítica e de produção intelectual.

Um dos momentos marcantes em sua vida acadêmica foi a visita do diretor do Laboratório de Psicologia Experimental da Universidade de Paris. Até hoje, o professor guarda com carinho uma foto tirada com o dirigente francês no gabinete do reitor Homero Só Jobim, em 1976. Lúcio Hagemann aposentou-se do quadro de professor da Universidade em 1987. Na sua visão, a Ufrgs é a matriz de todas as instituições de ensino supe-rior gaúchas. Segundo ele, as outras universidades públicas não tiveram o crescimento qualitativo da Ufrgs. “Isso podemos atribuir ao esforço e dedicação do seu corpo docente”, opina. O professor aponta como fator decisivo para a condição de lide-rança da Ufrgs no panorama científico brasileiro, a criação de órgãos de fomento de pós-graduação, como Cnpq e Capes, que “representaram um incremento muito grande”.

HISTÓRIA

Lúcio Hagemann opina que outras universidades públicas não tiveram o crescimento qualitativo da Ufrgs

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