56
1 - Revista Agricultura & Engenharia

A&e agronegocio iss

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista sobre agronegócio nacional

Citation preview

Page 1: A&e agronegocio iss

1 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 2: A&e agronegocio iss

2 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 3: A&e agronegocio iss

3 - Revista Agricultura & Engenharia

Nesta edição especial da revista Agricultura & Enge-nharia teremos como materia de capa o agronegó-cio no Brasil, também denominado agrobusiness, que consiste na rede que envolve todos os segmen-

tos da cadeia produtiva vinculada à agropecuária. Ele não se limita apenas à agricultura e à pecuária, inclui também as atividades desenvolvidas pelos fornecedores de insumos e sementes, equipa-mentos, serviços, beneficiamento de produtos, industrialização e comercialização da produção agropecuária.

Ainda sobre o agronegócio o ex-ministro da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento, Alysson Paolinelli prevê em uma entre-vista reveladora que o Brasil até 2050 serão celeiro do mundo além de apontar onde estão os principais gargalos da produção brasileira de alimentos.

Em um artigo assinado pelo presidente da ABAG, Luiz Carlos Correa Carvalho, nos fala quais são as missões e desafios no ca-minho do agronegócio.

Na seção “Profissão” apresentamos uma analise sobre a En-genharia Agronômica e Agronomia. Finalizando publicamos uma matéria da Sra. Alicia Nascimento Aguiar da assessoria de co-municação da USP/ ESALQ sobre o reuso de água na agricultura, leitura obrigatória nos dias de hoje.

Informação de qualidade e atualizada faz com que o nosso leitor tenha um grande diferencial ao lerem nossa edição e as mensagens dos nossos anunciantes.

Caso queiram manifestar sua opinião, envie a mesma para o nosso e-mail.

Agradecemos sua leitura e contamos com a sua participação na próxima edição.

Boa Leitura

Editorial

Page 4: A&e agronegocio iss

4 - Revista Agricultura & Engenharia

&

Diretor e EditorDr. José Márcio da Silva Araú[email protected]

PublicidadeGilberto [email protected]

Administração e CirculaçãoYvete [email protected]

Relações ExternasAriadne De Marchi

Produção e PublicaçãoLucida Artes Gráficas [email protected]

Fotografia Assessoria de Imprensa - ESALQ/USP - Arquivos Arquivos A&E

CorrespôndenciaRua Carneiro da Cunha, 212 sl 1Vila da Saúde - CEP 04144-000

Contato Fone - 11- 2339-4710 Fax - 11 - 2339-4711

Agradecimentos Assessoria de Comunicação USP ESALQ

As opiniões expressas ou artigos assinados são de responsabilidade

dos au-tores

Conselho Editorial

• Prof. Dr. Roberto Rodrigues

• Prof. Dr. Paulo Sergio G. Magalhães

• Sr. Cesário ramalho da Silva

• Prof. Roberto Testeziaf

• Prof. Dr. Silvio Crestana

Agricultura Engenharia

volume VII Ano 7 - 2014

AgroNews...................................06Noticias agricolas

Entrevista ..................................16Alysson Paolinelli

Matéria de Capa ........................22Agronegócio no Brasil

Retrospectiva....................... 26Agronegócio no Brasil

Roberto Rodrigue................ 30Prevê um ano positivo

Perspectivas ....................... 32Agronegócio no Brasil para 2015

Mercado de Trabalho ................36Salário e o emprego em São Paulo

Sustentabilidade ......................38Onde estaremos em 2025?

Artigo... ......................................40Missão e desafios no caminho do agronegócio

Gestão Estratégica....................44Melhor prevenir do que remediar

Profissão ...................................46Engª Agronômica ou Agronomia?

Tecnologia.................................52Reuso de Água na Agricultura

Expediente Sumário

Page 5: A&e agronegocio iss

5 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 6: A&e agronegocio iss

6 - Revista Agricultura & Engenharia

O Plano Safra 2014/2015 vai dispo-nibilizar R$ 156,1 bilhões em re-cursos, sendo R$ 112 bilhões para

financiamentos de custeio e comercialização e R$ 44,1 bilhões para os programas de in-vestimento. O valor representa alta de 14,7% sobre os R$ 136 bilhões do plano anterior.

O limite de financiamento de custeio, por produtor, foi ampliado de R$ 1 milhão para R$ 1,1 milhão, enquanto o destinado à mo-dalidade de comercialização passou de R$ 2 milhões para R$ 2,2 milhões.

Dos recursos disponibilizados nesta edi-ção do Plano Safra, R$ 132,6 bilhões são com juros inferiores aos cobrados no mer-cado, um crescimento de 14,7% em relação aos R$ 115,6 bilhões previstos na temporada

Plano Safra 2014/2015 disponibiliza R$ 156 bilhões a produtores

Os financiamentos concedidos para a agricultura empresarial entre julho de 2013 e abril deste ano somaram

R$ 128,67 bilhões, alta de 37,8% sobre o re-sultado obtido no mesmo período da tempora-da 2012/13 (R$ 93,34 bilhões). Do total, R$ 88,95 bilhões foram destinados às modalida-des de custeio e comercialização e R$ 26,30 bilhões para as de investimento.

Entre as operações de custeio, destaque para o Programa de apoio ao médio produtor rural (Pronamp), que aplicou R$ 8,96 bilhões, R$ 910 milhões acima dos recursos inicialmen-te programados (R$ 8,05 bilhões), aumento de 19,7% se comparado aos R$ 7,48 bilhões aplicados em 2012/13. Pelo Fundo de defesa da economia cafeeira (Funcafé), dos R$ 3,18

anterior. As taxas de juros anuais mais baixas estão nas modalidades voltadas para armaze-nagem, irrigação e inovação tecnológica, de 4% (5% no crédito de armazenagem para ce-realistas); práticas sustentáveis, juros de 5%; médios produtores, de 5,5%; e máquinas e equipamentos agrícolas, de 4,5% a 6%.

- Inadimplência tem alta de 2,4% de mar-ço para abril, aponta Serasa

De acordo com o Ministério da Agricultu-ra, entre os destaques do plano estão o aper-feiçoamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), incentivo aos médios produtores, a ampliação da capacida-de de armazenagem nas fazendas, a inovação tecnológica no campo e o desenvolvimento da pecuária de corte.

Agricultura empresarial financia R$ 128 bilhões

bilhões programados, os empréstimos soma-ram R$ 2,08 bilhões, aumento de 23%, quando comparado ao valor de R$ 1,69 bilhão da safra anterior.

Já nas modalidades de investimento, os produtores contrataram R$ 11,18 bilhões pelo Programa de sustentação de investimento rural (Psi-bk), que financia a aquisição de máquinas e equipamentos, resultado 15,9% superior aos R$ 9,65 bilhões contratados na safra passada.

Em relação ao crédito para armazenagem, dos R$ 4,5 bilhões disponibilizados para a agricul-tura empresarial, foram comprometidos R$ 3,58 bilhões. Desse total, foram R$ 654 milhões pelo Psi-Cerealistas e R$ 3,08 bilhões pelo Programa de construção e ampliação de armazéns (Pca).

AgroNews

Page 7: A&e agronegocio iss

7 - Revista Agricultura & Engenharia

A fim de estimular e realizar ativi-dades, projetos, eventos de coo-peração em assuntos técnicos, científicos, educacionais e de

uso de tecnologias, e visando à correta utili-zação e manutenção de máquinas e equipa-mentos agrícolas, a New Holland e a Unioste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) firmaram parceira. A solenidade da assinatu-ra do termo de convênio aconteceu na esta-ção experimental da Unioste de Entre Rios do Oeste, próximo à cidade de Marechal Cândido Rondon (PR).

Com o objetivo de contribuir para a difu-são e transferência de tecnologias aos agri-cultores brasileiros, os principais pontos da parceria envolvem aulas teóricas e práticas, cursos, treinamentos e palestras que possi-bilitem o treinamento e a formação de estu-dantes, agricultores, trabalhadores rurais, me-cânicos de máquinas agrícolas, instrutores e professores.

“Essa é uma parceria muito importante para a New Holland, pois, além de ser com uma instituição que é modelo em trabalhos e avaliações de máquinas agrícolas, insere a marca no meio acadêmico em uma região extremamente agrícola e de referência do Pa-raná”, afirma Cristiano Conti, especialista de produto da New Holland. Para proporcionar inovação tecnológica e atestar a eficiência operacional do maquinário agrícola, a New Holland e a Unioste realizarão ensaios, avalia-ções e testes das máquinas e equipamentos agrícolas fabricados e comercializados pela New Holland.

New Holland e Unioeste firmam

parceria de mecani-zação agrícola O Lubrificante Husqvarna Premium

2T, da marca sueca, está com fórmula que promete aumentar sua durabilidade e eficiência. De

acordo com a empresa, o produto foi desen-volvido para trabalhar com o máximo desem-penho e combina óleo-base e aditivos que garantem melhor lubrificação e limpeza, pro-tegendo o motor contra travamentos.

A Husqvarna afirma que o produto atende a rígidas classificações dos organismos in-ternacionais, como a Jaso Fd. “O lubrificante é recomendado para utilização em produtos portáteis com motores dois tempos, propor-cionando menor desgaste nos rolamentos e nas demais partes móveis do motor”, informa Graziela Lourensoni, gerente de marketing e produtos da companhia para a América Latina.

Maior lubrificação e limpeza para o

motor

Page 8: A&e agronegocio iss

8 - Revista Agricultura & Engenharia

A Casale destaca dois equipamentos para auxiliar os criadores de gado a agilizar a distribuição de ração, o Rotormix Mini e o Vertimix. Para evitar o desperdício durante a alimentação do animal, a fabricante apresenta o Vertimix, que produz

uma mistura homogênea da ração, sem compactação. O dispositivo tem rosca vertical com duas entradas “Two-in”, para cortar e misturar, que torna a distribuição mais uniforme, e uma balança eletrônica programável, garantindo a correta distribuição em cada lote.

O equipamento também dispõe de uma esteira de descarga em PVC ou metálica. Já o Rotormix Mini é equipado com dispositivo desensilador hidráulico, que impede o travamento do rotor durante uma descida, por exemplo. O produto tam-bém possui balança eletrônica e sistema de carga por meio de esteira transportadora em PVC, abastecendo cochos de até 70 cm de altura. O equipa-mento pode ser tracionado por um trator de apenas 40 CV, e é composto de rodas aro 16, o que permite trafegar em qual-quer tipo de terreno

Casale: Para reduzir custos

Projetada para aprimorar a cultura canavieira, a plantadora DMB PCP 6000 Au-tomatizada tem dois objetivos: reduzir o consumo de mudas por área plantada e diminuir a influência da ação humana no resultado final do

plantio. A plantadora foi equipada com uma es-teira com ângulo invertido e com um incoder que permite calibrar a velocidade da esteira em RPM.

Dessa forma, a PCP 6000 devolve para a caçamba o excesso de mudas da esteira. A máquina possui ainda um Centro Lógico Pro-gramável, no qual todas as operações são pro-gramadas eletronicamente e acionadas com um toque do tratorista. Todas as operações são monitoradas por meio de imagens captadas por câmeras e vistas num monitor na cabine.

Plantadora automatizada DMB para canaviais

AgroNews

Page 9: A&e agronegocio iss

9 - Revista Agricultura & Engenharia

A Agrale apresenta na edição 2014 da Expointer o novo trator 540.4, ampliando a versatilidade

da sua linha de tratores médios. Em função das dimensões reduzidas do equipamento, o modelo é ideal para utilização em pequenas propriedades e também para operação em la-vouras de café e fruticultura.

Outro destaque é o eixo dianteiro refor-çado, que permite o acoplamento de imple-mentos frontais, como pá e plaina, que, em conjunto com o inversor de marchas, configu-ra o 540.4 em uma excelente opção para ope-ração na avicultura.

Entre os diferenciais do novo trator es-tão a motorização de quatro cilindros, que ga-rante melhor performance e menor nível de ruído, a capacidade do levante hidráulico de 1.100 kg e a transmissão 8x8, com inversor de marchas de série, único modelo nacional no segmento com esta característica. A er-gonomia oferecida também se destaca, com posição segura e confortável para o condutor e alavancas de comando dispostas para faci-litar as operações, diminuir a fadiga e aumen-tar a produtividade.

Todos os tratores da Linha 500 Agrale oferecem inversor de marchas de série, e o novo 540.4, como os demais, foi desenvolvi-do mediante as exigências do mercado, apre-sentando os atributos já consagrados pelos agricultores, como economia, versatilidade e robustez. O modelo possui design moderno, com capô basculante, que facilita o acesso para as manutenções diárias e periódicas. Além do novo 540.4, estão expostos no es-tande da Agrale na Expointer 2014 os demais modelos da Linha 500, como o 575.4 e o 565.4 Compact, que atendem as mais diver-sas aplicações do segmento agrícola.

AGRALE LANÇA NOVO TRATOR 540.4 NA EXPOINTER 2014

Page 10: A&e agronegocio iss

10 - Revista Agricultura & Engenharia

A Kuhn está apostando nos diferenciais do seu pulverizador autopropelido Parruda Stronger. O produto, originário da linha Montana, tem vão livre de 1,80 m, molas pneumáticas que absorvem mais impactos e painel de controle multifuncional.

Além disso, oferece alta capacidade de rampa, economia de combustível, peso reduzido e alto rendimento operacional.O equipamento possui sistema de aquecimento rápido do óleo hidráu-lico que evita danos em vedações durante partidas em dias frios.

Kuhn destaca diferenciais em pulverizador autopropelido

A Stara lançou o Topper 5500 VT, dispositivo que promete maior fa-cilidade e interação na operação

de máquinas na agricultura de precisão. Ele tem tela sensível ao toque, vidro antirreflexo e comunicação por wifi e bluetooth. O software é interativo e utiliza imagens de seis câmeras, permitindo acompanhar a máquina em 3D de alta definição, o que facilita a visualização de pontos importantes sem que o operador saia da cabine.

O Topper é compatível com distribuido-res autopropelidos Hércules 5.0. Em breve, o controlador estará disponível para todos os produtos APS Stara.

Stara apresenta tablet agrícola

AgroNews

Page 11: A&e agronegocio iss

11 - Revista Agricultura & Engenharia

Massey

Page 12: A&e agronegocio iss

12 - Revista Agricultura & Engenharia

Se no ano passado a palavra de or-dem na Expointer foi a superação depois da estiagem que castigou o

Estado, em 2013 confirmou-se o slogan que diz: “É hora de festejar o nosso crescimento”. O au-mento de 62% na comercialização total – de R$ 2,036 bilhões para R$ 3,292 bilhões em 2013 - e de 460% de financiamento de projetos de irri-gação – de R$ 56 milhões para R$ 314 milhões - é reflexo da integração entre políticas públicas e os bons momentos dos setores produtivos do campo, segundo o secretário estadual da Agri-cultura, Luiz Fernando Mainardi.

“As políticas públicas de retomada das ca-deias produtivas, o incentivo à produção, a su-persafra de grãos, o bom preço dos produtos e a oferta de crédito dos bancos levaram ao suces-so, surpreendente, da 36ª Expointer”, disse Mai-nardi em entrevista coletiva na tarde deste do-mingo (1º), durante o balanço de encerramento da maior feira agropecuária da América Latina. Em contrapartida, essa mesma conjunção de fatores fazem o Rio Grande o Sul estimar cresci-mento de 6% do PIB neste ano, praticamente o dobro do Brasil.

O susto dos primeiros quatro dias de in-tensas chuvas, os alagamentos no Estado e no Parque Assis Brasil, não foram capazes de dimi-nuir o otimismo do Governo, e nem do mais sim-ples produtor da agricultura familiar ao grande pecuarista. Ainda que a atividade também se trate de números, com reflexo direto na econo-mia do RS e do País, são as mãos de homens e mulheres que mudam a história. “A confiança do produtor no seu braço, seja na modernização da propriedade, na genética ou na compra de máquinas, mostra que ele acredita no futuro”, disse o titular da pasta.

Agricultura Familiar se consolida

No mesmo sentido, o secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperati-vismo, Ivar Pavan, mostrou que o otimismo se

confirmou em números e qualidade. “A Agricul-tura Familiar foi consolidada nesta Expointer. Chegamos a mais de R$ 1,5 milhão em vendas no varejo até o final”.

Pavilhão mais visitado, segundo ele, a Agricultura Familiar vai ampliar o espaço em 2014 – cuja licitação para a construção de um novo galpão foi aberta. “Vamos ampliar o lugar, mas manter a qualidade dos produtos oferta-dos”, concluiu Pavan.

Máquinas batem recordes

Os recordes surpreenderam, inclusive, quem lida diretamente com valores. Presidente do Sindicato de Máquinas de Implementos Agrí-colas do Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier não esperava totalizar mais de R$ 3,274 bi-lhões em vendas, ainda mais com os alagamen-tos das áreas onde ficam as máquinas.

Até a metade dessa semana, ele acredita-va que se os números do ano passado fossem atingidos já estaria de bom tamanho. “Temos de fazer agradecimento especial ao Governo do Estado. A tecnologia e a irrigação, a partir do programa Mais Água Mais Renda, estão facili-tando as outorgas de licenciamento”.

Venda de animais cresce R$ 2 milhões

O presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raças (Febrac), Eduardo Finco, acredita que a evolução nas vendas vem de esforço do investimento em qualidade. “Tivemos menos animais este ano. Mas o preço médio pago por cada um está me-lhor. O que mostra que melhoramos também na genética”. A comercialização dos animais sal-tou de R$ 13,7 milhões ano passado para R$ 16 milhões. A Política nacional de irrigação, co-nhecida como Lei 12.787/13, visa a incentivar a ampliação da área irrigada e o aumento da produtividade, bem como promover o aumento da competitividade do agronegócio.

Vendas na 36ª Expointer crescem mais de 60%

AgroNews

Page 13: A&e agronegocio iss

13 - Revista Agricultura & Engenharia

A Massey Ferguson, em parceria com a Nexsteppe, em-

presa dedicada ao melhora-mento genético de sementes de sorgo e técnicas analíticas de cultivo, anuncia resultados dos primeiros testes de enfar-damento de sorgo Palo Alto realizados no Brasil.

Durante o teste foi utiliza-do o híbrido Palo Alto 009, da Nexsteppe. A colheita e o en-fardamento foram realizados em três etapas: corte do sorgo biomassa no colo da planta (5 cm acima do nível do solo) com segadora de cinco discos de duas lâminas cada, usando um trator de 105 CV. Em seguida, para diminuir os custos do enfardamento, a palha do sorgo biomassa foi agrupada em espaços menores para otimizar a ação da enfardadora, processo conhecido como enleiramento. A terceira e última etapa, o enfardamento, contou com a parceria das máquinas Massey Ferguson.

A enfardadora retangular MF 2170 (fardos gigantes) compactou o material em fardos com dimensões de 2,4 x 1,4 x 0,90 metros amarrados por seis fios. Também foram produzidos fardos redondos com o equipamento MF 1745 (fardos cilíndricos).

Testes de enfardamento de sorgo registram resultados positivos

Um sistema desenvolvido pela APagri, empresa especializada em tecnologias e estratégias de fertilização e manejo de solo, auxilia no gerenciamento agrícola.

A plataforma engloba desde o manejo da fertilidade do solo e mapas de produtividade, até previsão de safra e planejamento agrícola, incluindo serviços como a aplicação de herbi-cida em taxa variável e imagens de satélite. O módulo de manejo do InCeres AgSystem, que já está disponível, abrange o ciclo completo da agricultura de precisão, da coleta de amos-tras, obtenção de diagnósticos, à produção de mapas de recomendações.

Gerenciamento agrícola

Page 14: A&e agronegocio iss

14 - Revista Agricultura & Engenharia

A JF Máquinas apresenta novas linhas de equipamentos para feno, grãos e distribuidores de

fertilizantes e sementes. O portfólio de desin-tegradores, ensiladeiras, vagões forrageiros e vagões misturadores também ganharam ver-sões com desensilador e capacidades para 6 e 8 m³. Entre os destaques estão os vagões misturadores JF Mix 6000 e JF Mix 8000, cujo diferencial é a fresa universal, com dimensio-namento para facilitar manobras.

A enfardadeira JF Prisma 4000 possui pistão de compressão de alta velocidade, sistema nosador e garfo alimentador autode-fletor. A linha de fenação conta ainda com a segadeira de disco JF 1700 D, a segadeira de tambor JF 1650 T, e o enleirador e espalhador JF Spin 3000. Para completar, a fabricante lança a embutidora de grãos para silo bol-sa JF Kanguru 270 e a extratora de grãos JF Grain Up 270. Em distribuidores, há os novos monodisco JF Helix 400 e 600, o distribuidor pendular JF Maestro 600 e os duplodisco JF Helix Duo 1300 e 1500.

JF lança equipamentos para feno, grãos e distribuidores

A Eaton desenvolveu soluções hi-dráulicas para o mercado agrí-cola. As novas conexões para tu-

bulações métricas (Walterscheid) são à prova de vazamento e oferecem facilidade de mon-tagem. Outro lançamento é a série X20, com tecnologia de bombas de pistão. Os modelos 220, 420 e 620 oferecem uma gama de des-locamentos, visando obter potência em espa-ços restritos dentro das máquinas.

O portfólio reúne ainda mangueiras e conexões hidráulicas e industriais, além das

bombas e motores DuraForce que possibili-tam maior produtividade eeconomia de com-bustível, segundo a empresa. As direções hidrostáticas Eaton XCEL 45 e Série 10 permi-tem variadas configurações técnicas.

Segundo a Eaton, as soluções oferecem ao agricultor maior precisão no controle do equipamento, maior produtividade com a re-dução do tempo de parada de máquina, redu-ção do consumo de combustível por meio da adequação dos projetos hidráulicos à necessi-dade do cliente e eliminação do vazamento de óleo nas mangueiras e conexões.

Eaton conectada à agricultura

AgroNews

Page 15: A&e agronegocio iss

15 - Revista Agricultura & Engenharia

Política nacional de irrigação

incentiva agricul-tura irrigada

A Política nacional de irrigação, co-nhecida como Lei 12.787/13, visa a incentivar a ampliação da área

irrigada e o aumento da produtividade, bem como promover o aumento da competitividade do agronegócio.

A lei também incentiva a formação e a ca-pacitação de recursos humanos para o setor, e prevê a articulação dos Ministérios da integra-ção nacional (Mi) e do Desenvolvimento agrário (Mda) para assistência técnica rural a agriculto-res irrigantes. “A secretaria entende que a ca-pacitação do homem do campo hoje é tão ne-cessária quanto à inovação tecnológica”, afirma o secretário nacional de irrigação, Guilherme Costa.

Entre os instrumentos instituídos pela nova lei estão o Conselho nacional de irrigação, para atuar na discussão e fortalecimento da po-lítica nacional, o sistema nacional de informa-ções sobre irrigação, que vai subsidiar as deci-sões referentes à gestão de políticas e projetos do setor, e os Planos de irrigação. Eles vão orien-tar o planejamento da política nacional.

A lei vai permitir ainda que seja caracte-rizada como de utilidade pública a construção de barragens e açudes para uso na irrigação. Fortalece também que o crédito rural seja dis-ponibilizado para viabilizar a aquisição de equi-pamentos de irrigação, contribuindo para o uso eficiente dos recursos hídricos.

Para o secretário, uma das metas da se-cretaria é a regulamentação da lei. “Com a nova Política Nacional de Irrigação será possível ob-ter equipamentos para uso eficiente da água, modernizar instrumentos e implantar sistemas de suporte à irrigação”, avalia Guilherme Costa.

A Agritech está com nova identida-de visual inspirada no campo. De acordo com o gerente do departa-

mento de marketing da empresa, Pedro Lima, para este novo momento da companhia, o que se buscou foi manter a essência simples e forte representada pelo homem no campo, unida à tecnologia que conduz a empresa. “O emblema é formado por linhas que represen-tam as diferentes culturas agrícolas e se jun-tam formando apenas uma unidade em per-feito equilíbrio.

Sua posição apontando para cima de-monstra o crescimento, a ascensão do setor agrícola e o futuro da empresa e seus cola-boradores“, explica. Segundo Lima, o verme-lho representa a energia e o vigor, e o cinza transmite estabilidade, confiança e estrutura sólida.

Agritech lança nova marca

Page 16: A&e agronegocio iss

16 - Revista Agricultura & Engenharia

Agronegócio

“precisa de planejamento estratégico e políticas públicas”

O crescimento da população mundial e a expectativa de que em 2050 o Brasil será o grande celeiro do mundo trazem importantes

desafios para o crescimento do agronegócio de todo o país

Ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e atual presidente-exe-cutivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson

Paolinelli, comenta os principais gargalos que devem ser superados para que a produção brasileira de alimentos cresça cerca de 40% nos próximos 36 anos.

Alysson Paolinelli

Entrevista

Page 17: A&e agronegocio iss

17 - Revista Agricultura & Engenharia

entrevista com ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e atual presidente-executivo da Associação Brasi-leira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, comenta os principais gargalos que de-vem ser superados para que a produção brasileira de alimentos cresça cerca de 40% nos próximos 36 anos.

O investimento em conhecimento, pesquisa, irri-gação, desburocratização dos processos e a revi-são da legislação brasileira são questões consi-deradas fundamentais para o desenvolvimento do setor.

Mineiro de Bambuí, região Centro-Oeste do Estado, Paolinelli tornou-se agrônomo em 1959 pela Esco-la Superior de Agronomia de Lavras (Esal), atual Universidade Federal de Lavras (Ufla). Em 1971, assumiu a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e criou incen-tivos e inovações tecnológicas que tornaram Mi-nas Gerais o maior produtor de café do Brasil. Em 1974, assumiu o Ministério da Agricultura. Duran-te a sua gestão, modernizou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e promoveu a ocupação econômica do cerrado brasileiro.

Após deixar o Mapa, ainda exerceu cargos de des-taque na vida pública brasileira, como presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuá-ria do Brasil (CNA). Em 2006, foi agraciado com o World Food Prize, prêmio que equivale ao Nobel da Alimentação.

Page 18: A&e agronegocio iss

18 - Revista Agricultura & Engenharia

Agricultura & Engenharia - O Brasil é considerado o principal país capaz de ala-vancar a produção do agronegócio para atender à crescente demanda mundial por alimentos. Temos investido nesta oportuni-dade de crescimento?

Alysson Paolinelli - O Brasil tem total condi-ções de crescer no agronegócio, mas não está fazendo o necessário devido à falta de plane-jamento estratégico e de políticas públicas. Temos condições de produzir cada vez mais. Porém, o volume que hoje é gerado já enfren-ta problemas graves, como a falta de espaço para armazenamento da safra e uma logísti-ca comprometida, tanto no que se refere ao transporte como ao embarque dos produtos nos portos. Isso não poderia acontecer, mas é resultado de uma imprevisibilidade caótica. O

problema não é só de falta de planejamento estratégico, mas, especialmente, de política pública, que nossos concorrentes usam e o Brasil também já utilizou há anos. Infelizmen-te, após sete planos econômicos, os governan-tes do país acabaram com essas políticas.

Agricultura & Engenharia - Falta investi-mento por parte do governo?

Alysson Paolinelli - Com certeza. Para se ter uma ideia, o governo alardeia que está dispo-nibilizando R$ 176 bilhões para a agricultura brasileira, no Plano Safra 2013/14, para pro-duzir quase 200 bilhões de toneladas. Na dé-cada de 1970, o Brasil produzia 30 milhões de toneladas e tinha disponível este mesmo valor, se corrigido. Não está havendo corres-pondência, e este é o perigo. O Brasil gera US$ 100 bilhões ao ano em exportações agrícolas. Se descontado o valor das importações, que vão desde combustível, fertilizantes e outros produtos químicos, ainda teremos um saldo de US$ 85 bilhões. Se o país tivesse um grupo que enxergasse à frente, o planejamento es-tratégico reverteria parte desde recursos para investir no setor. Se isso estivesse acontecen-do, estaríamos exportando quase o dobro do que atualmente.

Agricultura & Engenharia - O crédito dis-ponibilizado via Plano Safra atende à de-manda dos produtores?

Alysson Paolinelli - O problema do crédito não é só o volume de recursos, ele deve ser aplicado no que realmente precisa, o que não ocorre. O governo está entregando o comando do crédito para as entidades financeiras, mas a produção agrícola tem um objetivo e o ban-co tem outro, que é ganhar dinheiro sem ter risco, e a agricultura é a atividade de maior risco. Por isso, os produtores estão se tornan-do reféns dos bancos que, por sua vez, se uti-lizam de todos os recursos para comprometer o produtor.

Entrevista

Page 19: A&e agronegocio iss

19 - Revista Agricultura & Engenharia

Agricultura & Engenharia - Qual a avalia-ção do senhor em relação ao Código Flo-restal?

Alysson Paolinelli - Nada do código salva. Antes da elaboração, era preciso que conhe-cêssemos os diferentes biomas. Ao contrário disso, fizeram um código sem estudar o bio-ma da Amazônia, do Nordeste, do Pantanal. Conhecemos um pouco do cerrado e da Mata Atlântica, que estamos tentando recompor. Conhecemos e não utilizamos corretamente os pampas do Rio Grande do Sul. E, acredi-te, os seis biomas que citei foram legislados como se fossem um só. O que polui mais: a ci-dade ou o campo? Questionei se será feito um código urbano, e se for feito, quero ver se as regras para São Paulo serão as mesmas para o interior do Piauí. Não levaram as diferenças em conta. Isso é um absurdo. Proibiram a Em-brapa de se manifestar, já que iriam colocar os dedos na ferida. Foram anos jogados fora e, hoje, o Brasil está com limitações de áreas, por não ter condições legais de usar tudo que pode.Estamos limitados por uma legislação es-drúxula, completamente errada. Os demais países produtores do mundo não fizeram um código como o nosso, e não vão fazer nunca.

Agricultura & Engenharia - Quais as prin-cipais e mais urgentes medidas que devem ser tomadas para que o agronegócio brasi-leiro se torne mais competitivo no mercado mundial?

Alysson Paolinelli - É preciso continuar in-vestindo em ciência e tecnologia, na geração de conhecimento, o que não acontece. Temos empresas especializadas como a Embrapa, que passa por dificuldades financeiras, e as estaduais, que estão praticamente falidas. As universidades também não têm recursos para pesquisas. Também é preciso planejamento para reduzir custos, principalmente em re-lação ao escoamento da safra. O Brasil tem rede de rios navegáveis excepcionais e essa seria uma das soluções.

Agricultura & Engenharia - A transferên-cia de tecnologia é eficaz no país e em Mi-nas Gerais?

Alysson Paolinelli - A transferência de tec-nologia ainda é precária. Estão criando a As-sociação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (As-braer) e espero que seja bem dirigida e orien-tada, pois temos pessoas qualificadas para fazer isso. No Estado, temos a Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Geais), que cumpre bem este papel e é referência no Brasil.

Agricultura & Engenharia - Uma avalia-ção em relação ao cerrado. Ainda há espa-ço para crescer?

Alysson Paolinelli - O cerrado é um exemplo da competência brasileira. Toda a agricultura no mundo foi feita sobre as melhores terras. No cerrado, aconteceu o inverso. O agricultor

“Temos no solo brasileiro o suficiente para atender à demanda nacional. Falta apoio do governo para reduzir a burocracia, pois já contamos com empresas competentes para resolver este problema.”

Alysson Paolinelli

Page 20: A&e agronegocio iss

20 - Revista Agricultura & Engenharia

a irrigação, investir na terceira safra. O mun-do está caminhando, quando chegar a 2050 não vai ter recursos em vários países produ-tores e o mundo vai pressionar, se não tem competência, vai perder. É preciso ampliar as pesquisas e o conhecimento para usar a água. Acho que vamos ter que fazer mudanças de conceito no país.

Agricultura & Engenharia - Como o se-nhor avalia as parcerias público-privadas?

Alysson Paolinelli - As parcerias são muito positivas. O país mais desenvolvido é aquele em que o governo é menos sentido. Eu acho que nossa tendência é investir cada vez mais neste sistema de PPPs. À medida emque as empresasde tecnologia, conhecimento e desenvolvimento vão crescendo, o governo temque se utilizar delas. Eu já passei pelo go-verno várias vezes, tive todo o apoio de que precisei mas percebi que não é fácil. Você tem burocracia horrorosa, que te atrasa. Então a presença da iniciativa privada para atender a planejamentos estratégicos é fundamental e o governo precisa estreitar os laços.

Agricultura & Engenharia - Os investi-mentos feitos em parceira entre governo e iniciativa privada para a produção de fertili-zantes no país irão alavancar a agricultura?

Alysson Paolinelli - Este trabalho em con-junto é fundamental para o Brasil se tornar autossuficiente. Infelizmente, em 1970, pla-nejou-se e quase alcançamos a autossuficiên-cia, porém, a demanda cresceu e, como não fizemos planejamento, ficamos dependentes das importações, o que é uma vergonha.

Mas, para acontecer, muita coisa precisa mu-dar. As empresas privadas estão reclamando que gastam, no mínimo, de 3 anos a 5 anos para obter uma autorização na área de ecolo-gia. Que empresa vai investir com esta buro-cracia?

aprendeu a manejar uma das terras mais de-gradadas do mundo e vem produzindo cada vez mais. Ainda temos muitas fronteiras para serem exploradas, só ocupamos 20% do cer-rado brasileiro. O uso do restante não acon-teceu ainda por falta de investimento, de co-nhecimento e da legislação que não permite, mas acho que a região é tão promissora que esses gargalos serão solucionados ao longo do tempo.

Agricultura & Engenharia - A produtivida-de das culturas brasileiras é satisfatória?

Alysson Paolinelli - O Brasil caminha bem em relação à produtividade, está bem coloca-do no ranking mundial, mas, mesmo assim, ainda existe muito espaço para crescer. Um dos problemas é que ela ainda não chega à agriculturade subsistência e todos os produ-tos têm condições de ter produtividade maior. Temos vantagens competitivas das quais não podemos abrir mão. É interessante como nos-so sistema de manejo de solo favorece a me-lhoria da qualidade através do sistema de in-tegração pecuária, lavoura e florestas. Quanto mais se produz, melhor a terra fica e essa tec-nologia precisa chegar a todos os produtores.

Agricultura & Engenharia - O uso da água vai ser um problema?

Alysson Paolinelli - O uso da água é funda-mental para o desenvolvimento da agricultu-ra. O Brasil é um dos países mais ricos em relação à oferta de água doce, mas a mentali-dade do brasileiro é completamente equivoca-da. A água precisa estar na terra, na biologia, fazendo a semente se desenvolver e produzir. Precisa retirar da história de Minas Gerais quando fomos contra a transposição do rio São Francisco, que retiraria 42 metros cúbicos de água por segundo, mas, quando fizeram o Jaíba, foram retirados 80 metros cúbicos. O uso da água no país tem um conceito errado e vai ter que mudar. A tendência é partir para

Entrevista

Page 21: A&e agronegocio iss

21 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 22: A&e agronegocio iss

22 - Revista Agricultura & Engenharia

O Brasil é um país com vocação para o agronegócio, em face de suas características e diversidades, tan-to de clima quanto de solo, possuindo ainda áreas agricultáveis altamente férteis e ainda inexplora-das. O aumento da demografia mundial e sua con-

seqüente demanda por alimentos nos leva a uma previsão de que o Brasil alcançará o patamar de líder mundial no fornecimento de ali-mentos e commodities ligadas ao agronegócio, solidificando sua eco-nomia e catapultando seu crescimento.

AgronegócioCapa

Page 23: A&e agronegocio iss

23 - Revista Agricultura & Engenharia

ÁLCOOL E AÇUCAR - Graças à coloniza-ção portuguesa, a cana-de-açúcar se tornou um dos produtos mais importante do agrone-gócio brasileiro. Se mantendo desde os tem-pos colônia (séculos XVI e XVII) até os dias de hoje, se mantendo como um dos produtos na-cionais mais fortes. O Brasil é o maior produto de cana do mundo, com uma área plantada de 5,4 milhões de hectares e uma safra anual de cerca de 354 milhões de toneladas. Devido a isto se torna uma potência na produção de açúcar e de álcool.

O álcool para ser extraído depende cana. O potencial energético de 1,2 barris de petró-leo corresponde a uma tonelada de cana. O ál-cool movimenta 15% dos meios de transporte do país.

Perante dados consolidados pela Secre-taria de Produção e Comercialização (SPC) as exportações de açúcar atingem anualmente cerca 12,9 milhões de toneladas, com recei-tas de US$ 2,1 bilhões. Nosso produto foi des-tinado principalmente para: Rússia, Nigéria, Emirados Árabes Unidos, Canadá e Egito. A produção em média por ano chega a 24,8 mi-lhões de toneladas de açúcar.

O álcool é um produto que cada vez mais interessa às nações que procuram diminuir a emissão de gases prejudiciais à saúde huma-na por se tratar de um combustível não po-luente. Grandes potências como a China e o Japão já manifestaram intenção de importar o combustível. Espera-se um grande aumento nas exportações para os próximos anos.

O agronegócio é todo o conjunto de ne-gócios que se relacionam com a agricultura, dentro de uma visão econômica, e é o res-ponsável, segundo o Ministério do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), por cerca de 1/3 do PIB do Brasil, alocando aproximadamente 38 % da mão-de-obra do país e responsabilizando-se por 42% das nos-sas exportações, tendo assim uma significan-te representatividade em nossa balança de pagamentos, sendo o setor mais importante na nossa economia e que apresenta um cres-cimento considerável, impulsionado pela glo-balização dos mercados, pelo aumento das ta-xas demográficas mundiais e o conseqüente aumento de demanda de alimentos em nível mundial.

O Brasil possui uma vocação natural para o agronegócio em função da diversidade

de seu clima, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, contando ainda com uma enorme área agricultável fértil e de alta produtividade, na ordem de 388 milhões de hectares, dos quais 90 milhões ainda cons-tam inexplorados, o que vem a comprovar as previsões da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), de que o Brasil será o maior produtor mun-dial de alimentos da próxima década, o que irá causar impactos positivos diretos em sua economia, reforçando sua taxa de crescimen-to e auferindo uma maior credibilidade frente a outras economias, o que pode ser entendido como um ciclo sinérgico de vantagens, cata-pultando fatores econômicos, e contribuindo para a solidificação da economia interna do país.

Panorama dos principais produtos agropecuários do Brasil.

o Brasil possui inúmeros produtos agropecuários que possuem um significante valor estratégico em nossa economia. São eles:

Page 24: A&e agronegocio iss

24 - Revista Agricultura & Engenharia

CAFÉ

Em 1727 os portugueses entenderam que a terra do Brasil tinha todas as possibi-lidades que convinham à cafeicultura. Mas infelizmente eles não possuíam nem plantas nem grãos. O governo do Pará encontrou um pretexto para enviar Palheta, um jovem oficial a Guiana Francesa, com uma missão simples: pedir ao governador M. d’Orvilliers algumas mudas. M. d’Orvilliers seguindo ordens ex-pressas do rei de França, não atende ao pe-dido de Palheta. Quanto à Mme. d’Orvilliers, esposa do governador da Guiana Francesa, não resiste por muito tempo aos atrativos do jovem tenente.

Quando Palheta já regressava ao Brasil, Mme. d’Orvilliers envia-lhe um ramo de flores onde, dissimuladas pela folhagem, se encon-travam escondidas as sementes a partir das quais haveria de crescer o poderoso império brasileiro do café – um episódio bem apro-priado para a história deste grão tão sedutor.

Do Pará, a cultura passou para o Maranhão e, por volta de 1760, foi trazida para o Rio de Janeiro por João Alberto Castelo Branco, onde se espalhou pela Baixada Fluminense e poste-riormente pelo Vale do Paraíba.

É plantado por ano cerca de 2,2 milhões de hectares, o Brasil teve uma safra de 28,82 milhões de sacas. Os principais importadores do café brasileiro são os Estados Unidos, Ale-manha, Itália e Japão. O Brasil domina 28% do mercado mundial do café em grão in na-tura.

CARNES E COURO

O alto padrão da sanidade e qualidade dos produtos de origem bovina, suína e de aves leva as exportações à aproximadamente US$ 4,1 bilhões/ano. O Brasil é um dos lideres mundial na exportação de carne bovina e de frangos. A pecuária brasileira é hoje uma das mais modernas do mundo.

Capa

Page 25: A&e agronegocio iss

25 - Revista Agricultura & Engenharia

SOJA

A soja é hoje o principal grão do agrone-gócio brasileiro. O país é o segundo maior pro-dutor mundial da oleaginosa, com uma safra de 52 milhões de toneladas e

uma área plantada de 18,4 milhões de hectares em média por ano.

No Brasil a soja chegou em 1882, embo-ra conhecida a mais de cinco mil anos, come-çando pelo território baiano. Em 1940 passou a ter destaque na agricultura. Depois de qua-se sessenta anos se tornou um dos maiores destaques do agronegócio brasileiro. O Brasil tem assumido a liderança no mercado inter-nacional de soja (grãos, farelo e óleo), com exportações que chegam a aproximadamente US$ 8,1 bilhões/ano.

Um dos maiores exemplos do potencial e vocação agrícola brasileira em expansão é o plantio de soja. As lavouras da oleaginosa, até os anos 80, estavam principalmente nos estados do Sul - Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. O desenvolvimento de cultiva-res adaptados ao solo e ao clima das diferen-tes regiões

brasileiras, a soja se espalhou também pelo Centro-Oeste, nos estados de Mato Gros-so, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal, além de parte do Nordeste - princi-palmente no oeste da Bahia e no sul do Mara-nhão e do Piauí.

SUCOS e FRUTAS

A fruticultura gera um superávit de apro-ximadamente US$ 267 milhões/ano, o setor ocupa uma área de 3,4 milhões de hectares. A produção de frutas permite obter um fatu-ramento bruto entre R$ 1 mil e R$ 20 mil por hectare. Hoje, o mercado interno consome 21 milhões de toneladas por ano e o excedente exportável é de cerca de 17 milhões de tone-ladas.

O Brasil é um dos maiores produtores de sucos de frutas. Ao ano, as exportações do se-tor alcançam em média US$ 1,25 bilhão/ano. O país é o maior produtor e exportador de suco de laranja. O setor gera receitas cambiais de US$ 1,2 bilhão por ano. Os principais destinos foram Bélgica, Países Baixos, Estados Unidos e Japão.

O Brasil produz anualmente cerca de 38 milhões de toneladas no setor de fruticultura sendo o terceiro no ranking mundial. As ven-das externas de frutas frescas alcançam em média por ano US$ 335,3 milhões. Tendo em torno de 15% de crescimento todos os anos.

Consciente do enorme potencial do país na área de fruticultura, com plenas condições de ampliar sua participação do mercado inter-nacional, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e os produtores do setor es-tão investindo em um sistema de cultivo de frutas de alto padrão de qualidade e sanida-de. É o programa de Produção Integrada de Frutas (PIF), que prevê o emprego de normas de sustentabilidade ambiental, segurança ali-mentar, viabilidade econômica e socialmen-te justa, mediante o uso de tecnologias não agressivas ao meio ambiente e ao homem.

Produtos Florestais

No comércio internacional a indústria brasileira de papel e celulose tem vocação exportadora devido a sua competitividade. As exportações de celulose giram em torno de US$ 1,4 bilhão/ano. Os principais importado-res são Estados Unidos, China, Japão e países da União Européia. As vendas externas de pa-pel é aproximadamente US$ 1 bilhão por ano.

As exportações brasileiras contam com importantes itens como papel, celulose e ma-deiras. O país tem exportado cerca de US$ 4,9 bilhões de produtos florestais anualmente. O principal importador da madeira brasileira é os Estados Unidos, absorvendo 44% das ven-das. Outros importantes destinos são Reino Unido, China, Bélgica, França, Japão e Espa-nha.

Page 26: A&e agronegocio iss

26 - Revista Agricultura & Engenharia

RetrospectivaAgronegonócio no Brasil

O agro é um dos setores mais importantes do Brasil, sob os pontos de vista econômico, social e ambiental

A relevância de um assunto ou fato pode ser mensura-do pelo destaque alcançado na mídia. O agro é um dos setores mais importantes

do Brasil, sob os pontos de vista econômico, social e ambiental. O agro brasileiro foi res-ponsável por cerca de 23% do PIB nacional, por 36% dos empregos e pelo saldo positivo de nossa balança comercial; o produtor rural é o maior ambientalista em ação. Entretanto, a análise de diversas retrospectivas sobre 2013 mostra que pouco destaque foi dado ao setor. Os "balanços" publicados no final de 2013 e início de 2014, que destacam as notícias rele-vantes do ano passado, mostraram que diver-sos outros temas prevaleceram.

Relacionada ao agro foi destacada a responsabilização da inflação pelo custo do tomate; o fato do valor da cesta básica vir se reduzindo ao longo dos últimos anos, graças à tecnologia incorporada nos processos pro-

dutivos, que vem possibilitando o acesso a alimentos de qualidade à população, não foi discutido. Também foi amplamente divulga-da a fila de caminhões na chegada ao litoral paulista, atrapalhando o trânsito de turistas. Carregados de grãos, tiveram que aguardar vários dias para despejar a carga no Porto de Santos, trazendo dívidas para o Brasil.

Um dos assuntos que mais chamaram a atenção em 2013 no Brasil foram as mani-festações de rua, reivindicando melhores ser-viços a população e indicando que "o gigante acordou". O movimento incluiu ações de bla-ck blocks e vandalismo, que influenciaram a popularidade de governos e de pré-candidatos nas eleições de 2014. Outro tema que polari-zou as atenções foi o julgamento dos mensa-leiros, que culminou com a prisão de persona-lidades da política nacional e o surgimento de nova liderança representada por Joaquim Bar-bosa, Presidente do STJ. A campanha "onde está o Amarildo?", envolvendo a polícia do Rio

Capa

Page 27: A&e agronegocio iss

27 - Revista Agricultura & Engenharia

de Janeiro; a derrocada de Eike Batista, um dos homens mais ricos do mundo e a vitória do Brasil na Copa das Confederações recebe-ram muita atenção. O incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria/RS, que matou 242 jovens, dominou o noticiário por muito tempo, assim como a discussão sobre a publicação de bio-grafias não autorizadas de famosos, principal-mente de cantores muito populares e a depre-dação do Instituto Royal, em São Roque/SP, com a liberação de 178 cães da raça Beagle, utilizados no desenvolvimento de remédios que salvam vidas humanas.

Em nível internacional, tiveram grande destaque a renúncia do Papa Bento XVI e a es-colha do jesuíta argentino, Jorge Mario Bergo-lio como Papa Francisco, e a morte de um dos maiores líderes dos últimos tempos, o sul-afri-cano Nelson Mandela. Ainda mereceram des-taque as mortes do venezuelano Hugo Chávez e de Margaret Thatcher, ex-premier britânica. A morte do menino boliviano Kevin Espada em jogo envolvendo o Corinthians foi desta-que no mundo esportivo internacional. Ainda foram considerados relevantes fatos como a espionagem dos EUA, revelada por Edward Snowden, culminando com seu asilo na Rús-sia; a crise síria e a liberação da maconha no Uruguai. Também tiveram ampla cobertura a diminuição do poder dos Estados Unidos; o fortalecimento da primeira ministra da Ale-manha, Angela Merkel; o atentado durante a Maratona de Boston e a morte de 366 imi-grantes ilegais da Somália e Eritréia perto da Ilha de Lampedusa, na Itália, em naufrágio.

Fatos relevantes para a qualidade de vida das pessoas, como o agro continuar sen-do o "carro chefe" da economia brasileira, não tiveram o merecido destaque. O PIB do agro cresceu quase 3,5% em 2013 em relação a 2012. O VBP (Valor Bruto da Produção) agro-pecuária ("dentro da porteira") foi de R$ 430 bilhões, 10% superior ao de 2012. A safra de grãos em 2012/13 foi de 195,9 milhões de toneladas, 15% superior a de 2011/12, com

destaque para soja, milho e arroz; a área cul-tivada aumentou apenas 3,6%. O agro bra-sileiro exportou em 2013 cerca de US$ 100 bilhões (4,3% a mais que em 2012), possibili-tando saldo positivo de US$ 83 bilhões (4,4% maior que em 2012). O agro foi responsável por mais de 41% das nossas exportações, com destaque para o complexo soja, carnes, açúcar/álcool, produtos florestais, milho, café e couro. O principal destino das exportações do agro foi a China, seguida pela União Euro-peia.

O ano de 2013 serviu, também, para mostrar os problemas do agro e a necessi-dade de investimentos em ensino, pesquisa, extensão e fiscalização, para que continue sendo a nossa "âncora verde" da economia. O caso Helicoverpa armigera, praga quarente-nária que se estabeleceu e causou danos de cerca de R$ 3 bilhões, mostrou a fragilidade da defesa agropecuária e a morosidade em tomar decisões adequadas para possibilitar o manejo de problema novo. O assunto foi tema em programas muito populares, como o "Mais Você" da Ana Maria Braga. Também foram pouco evidenciados os problemas da legislação trabalhista rural, das terras indíge-nas e do licenciamento ambiental para o agro.

O mundo considera o agro brasileiro como sendo o que mais vem contribuindo para atender à demanda mundial de alimen-tos. É necessário que as realizações e proble-mas do agro brasileiro sejam incluídos nas grandes discussões nacionais, alcançando a relevância que o setor representa.

Por José Otavio Menten, Presidente do Conselho Científico para Agricultura Susten-tável (CCAS), vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.

Page 28: A&e agronegocio iss

28 - Revista Agricultura & Engenharia

Os números que mostram o poder do agronegócio

brasileiroUm trilhão de reais e 41% das exportações brasileiras. Veja os

números do Ministério da Agricultura que mostram o tamanho do agronegócio hoje – e as previsões para o setor

Setor mais competitivo da eco-nomia nacional, o agronegó-cio representa hoje 20% do PIB. Sem ele, a balança co-mercial brasileira sofreria um

baque: 41% das exportações vêm do campo, cuja expansão dependerá fortemente da produ-tividade nos próximos anos.

o coordenador geral de planejamento es-tratégico do Ministério da Agricultura, José Gar-cia Gasques, mostrou os números que dão a di-mensão do setor.

Mais importante, no entanto, são as pre-visões oficiais para os próximos anos, também reveladas.

Veja abaixo os grandes números da pro-dução no campo. Ao final, em contraponto, se-guem dados da Kepler Weber, empresa de ar-mazenamento de grãos, que mostram algumas das milhares de dificuldades enfrentadas pelo setor.

1) Os números

- O PIB da agricultura é de 1 trilhão de reais, o que representa cerca de 20% da economia brasileira.

- O setor representa 41% das exportações bra-sileiras hoje.

- Entre 25 e 30 milhões de pessoas traba-lham com o agronegócio – cerca de 30% do pessoal ocupado do país – direta e indireta-mente.

- A produção de grãos deve chegar este ano a 191 milhões de toneladas. Na próxima déca-da, deve alcançar 248 milhões.

- Para isso, a área cultivável deverá aumentar 17%, mas é a produtividade que deverá ser a grande responsável pelo aumento na produ-ção.

- 90% do crescimento da produção nos últi-mos anos se deve à produtividade; apenas 10% a outros fatores.

- A tendência em longo prazo é a produtivida-de crescer a taxas mais modestas, algo em torno de 1,6% ao ano, enquanto hoje está em 4,04% – contra 2,26% nos EUA.

- Os três estados que se destacam no cresci-mento da produtividade anual hoje são Minas Gerais (6,5%), Bahia (5,7%) e Goiás (5,5%).

- Brasil usa 40 milhões de hectares para plan-tar produtos transgênicos. Só perde no mundo para os EUA, onde a área chega a 70 milhões de hectares.

- A produção de cinco estados da região do

Capa

Page 29: A&e agronegocio iss

29 - Revista Agricultura & Engenharia

delta dos Estados Unidos não chega a 700 mil km quadrados de áreas cultiváveis. Só o Mato Grosso é maior do que isso.

- Milho (63%) e algodão pluma (55%) serão as duas culturas que mais terão aumento na exportação entre 2013 e 2023, prevê o minis-tério.

2) Os problemas

- Apenas 15% das fazendas possuem sis-tema próprio de armazenagem de grãos, segundo a Kepler Weber.- O percentual de perda no mercado de

grãos na pré e pós-colheita é de 10%, con-siderado alto em relação à média mundial.

- Produção de soja vem crescendo 6% ao ano, enquanto a capacidade de armaze-nagem aumenta apenas 4%. Já a área de plantio, 2,8%. Isso indica crescimento da produtividade, mas também o aumento do déficit de áreas para estocar a cada ano.

- Os gargalos de logística e infraestrutu-ra formam uma lista enorme. A saída de uma tonelada de soja do Mato Grosso para a China custa 185 dólares. Da Argentina, 102 dólares. Dos EUA, 71 dólares.

Page 30: A&e agronegocio iss

30 - Revista Agricultura & Engenharia

Roberto Rodrigues vê outro ano positivo para o agronegócio brasileiro

Apesar da forte queda dos preços dos grãos e de sinais de alerta que podem ter efeito ne-gativo sobre a demanda por biocombustíveis no médio prazo, sobretudo a partir do desen-volvimento do gás de xisto nos EUA, a agri-

cultura brasileira deve ter outro ano positivo em 2014. Essa é a avaliação do coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

Capa

Page 31: A&e agronegocio iss

31 - Revista Agricultura & Engenharia

Além disso, a valorização do dólar, diante do real deve ajudar a compensar as cotações mais baixas da soja e do milho, fruto da re-composição de oferta após a safra recorde obtida nos EUA.

“As perdas eventuais que vamos ter no va-lor das commodities podem ser compensadas pela valorização cambial”, disse Rodrigues. Segundo ele, o cenário é mais róseo para os produtores de soja do país do que para os de milho, que devem amargar queda nas expor-tações devido à concorrência com o grão pro-duzido nos EUA, maior exportador global da commodity.

Na safra 2012/13, colhida no ano passa-do, as exportações brasileiras de milho atingi-ram o recorde de 26,2 milhões de toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura. No período, o Brasil exportou milho até mes-mo para os EUA, que sofriam com a escassez do cereal após a já histórica estiagem que atingiu as lavouras do meio-oeste americano em 2012. Agora, há uma oferta abundante do milho, o que tende a dificultar exportações brasileiras.

Se o cenário é mais difícil para os produto-res de milho, é positivo para o setor de carnes que deve se beneficiar da redução das cota-ções do cereal, segundo o ex-ministro. “A de-manda por carnes é crescente. Então, se os preços do grãos caírem um pouco em dólar, vai melhorar o resultado dos produtores de carne e agregar valor na cadeia”, observou.

Na avaliação de Rodrigues, nem mesmo a desaceleração do crescimento da China, prin-cipal responsável pelo boom de commodities iniciado nos anos 2000, será prejudicial para o agronegócio brasileiro em 2014.

“Tenho a impressão que o problema China não existe no curto prazo. A China diminuiu o crescimento, mas a demanda por alimentos é inelutável”, afirma ele. Além disso, o proces-so de urbanização do gigante asiático é um dado da realidade que só contribui para elevar a demanda, pois mais gente deixa de produzir para o próprio consumo.

Apesar de seu otimismo sobre o desempe-nho da agricultura brasileira, Rodrigues con-sidera que existem três importantes culturas agrícolas em dificuldades no país: café, cana de açúcar e laranja.

Para além do curto prazo, o ex-ministro vê alguns riscos de perturbações no mercado de grãos. Em sua avaliação, as regras america-nas e europeias para biocombustíveis podem sinalizar menor demanda por grãos para pro-duzir biocombustíveis no futuro. Segundo ele, o desenvolvimento do gás e do óleo oriundos do xisto embaralha o futuro dos biocombustí-veis. “Surgiu uma variável nova, mais imedia-ta”, afirmou. Notório defensor da agroenergia, Rodrigues não entrega os pontos: “o xisto é fóssil e um dia vai acabar”.

Fonte: Jornal Valor econômico

Prof. Roberto Rodrigues - Titulação: - Doutor Honoris Causa - UNESP Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV/EESP, Presidente do Conselho do Agronegócio da FIESP e da Academia Nacional de Agricul-tura. Professor Titular do Departamento de Economia da UNESP - Jabo-ticabal.

Page 32: A&e agronegocio iss

32 - Revista Agricultura & Engenharia

De acordo com o relatório, o cenário macroeconômico para 2015 aponta para re-cuperação gradativa da eco-nomia global. Além disso,

o estudo também traz as expectativas para a taxa de câmbio em 2015. “Com a deterio-ração da balança comercial e o crescimento das despesas com serviços externos, o déficit brasileiro em transações correntes cresceu rapidamente. Como a entrada de recursos ex-

Perspectivas Para o Agronegócio Brasileiro em 2015

Divulgado um panorama sobre as principais commodities brasileiras, por meio do estudo “Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro 2015”,

O material contempla as principais tendências para os mercados de fertilizantes, açúcar, etanol e cana, café, algodão, soja, milho, bovinos,

frango, suco de laranja e leite.

ternos não seguiu o mesmo ritmo, a escassez de dólares passou a colocar pressão altista no câmbio”,

Já o Brasil, segundo análise , terá o sal-do em transações correntes da balança co-mercial com o crescimento de 4,0% do PIB, em 2013, para 4,3%, em 2015.

O estudo também traça um cenário que a hipótese de câmbio ficará em torno de R$ 2,50/USD no Brasil ao final do ano (R$ 2,40/USD na média).

Capa

Page 33: A&e agronegocio iss

33 - Revista Agricultura & Engenharia

Destaques do estudo:Fertilizantes

A queda nos preços internacionais de fertilizantes podem promover a retomada da demanda asiática. No lado da oferta, novas capacidades de produção devem vir em linha com o crescimento do consumo. As perspecti-vas para os preços em 2015 é que continuem estáveis no primeiro semestre de 2015, mes-mo após a forte queda nas cotações interna-cionais.

Assim como em 2014, o esperado au-mento da demanda não necessariamente será traduzido em margens mais elevadas para todos os elos da cadeia de fertilizantes. As diferentes estratégias quanto ao geren-ciamento de estoques e de volatilidade do câmbio devem fazer com que a indústria de fertilizantes continue a apresentar resultados bastante heterogêneos no próximo ano.

Açúcar, etanol e cana

As estimativas iniciais apontam para o quarto ano de excedente de produção de açú-car, na safra internacional 2014/15. Apesar de menor do que o estimado para a safra 2013/14, caso se confirme, o excedente ele-vará ainda mais a relação estoque/consumo do mercado mundial. Já a safra de cana no Centro/Sul do Brasil se aproxima da capaci-dade instalada e o volume de moagem em 2014/15 deverá ser semelhante ao observa-do na safra 2013/14. esperam-se níveis de ATR ligeiramente melhores e mix de produção entre 44% e 46% para o açúcar.

A perspectiva de preços da projeção de excedente, na safra internacional 2013/14, deve continuar pressionando os preços, que devem manter-se entre US$ 17 c/lb e US$ 18 c/lb na média, ao longo do ano. O câmbio será fator determinante no desenvolvimen-to dos preços em 2014. Quanto ao etanol, o aumento da demanda e o esperado aumento

do preço da gasolina devem elevar o preço ao produtor. O litro do etanol hidratado e do ani-dro deve ficar em torno de R$ 1,29 e r$ 1,47, respectivamente, na média em 2014.

Café

As perspectivas apontam que a safra brasileira 2014/15 deve ser uma safra de alta. As perspectivas para a produção na Colô-mbia também são de crescimento, porém, na América Central a produção deve diminuir em 2014, dado o impacto da ferrugem na região. A produção mundial de café robusta deve au-mentar e essa previsão deve-se, em grande parte, à expectativa de safra cheia no Vietnã. As projeções preliminares para o ano-safra internacional de 2014/15 (out-set) sugerem que a produção mundial deve exceder o con-sumo pelo terceiro ano consecutivo.

Para os preços, as expectativas de mais um ano de excedente mundial e, consequen-temente, de mais um ano de aumento dos estoques globais, indicam que existe pouco espaço para recuperações significativas dos preços internacionais. Os fatores com maior potencial para alterar essas perspectivas são o desenvolvimento dos cafezais brasileiros até meados de 2014 e os impactos da ferru-gem na oferta da América central, no mesmo período.

Algodão

Os baixos preços no mercado global têm estimulado a substituição do algodão por ou-tras culturas. Assim, a expectativa é de redu-ção de 6,5% na produção mundial da fibra. Essa queda, porém, não deverá causar grande impacto nos estoques, uma vez que se prevê redução no consumo. Quanto ao plantio brasi-leiro, na nova safra 2013/14 espera-se aumen-to próximo a 12% em área, tendência oposta ao comportamento mundial e ao verificado em 2012/13, quando os preços estimularam a produção de grãos, em detrimento da pluma.

Page 34: A&e agronegocio iss

34 - Revista Agricultura & Engenharia

Para os produtores brasileiros, os custos operacionais da lavoura estão mais elevados este ano nas principais regiões produtoras do Brasil. Além disso, os investimentos em quí-micos deverão aumentar, dada a preocupa-ção com a infestação da lagarta Helicoverpa armigera.

Soja

Com a oferta global estimada em 282 milhões de toneladas e demanda projetada em 269 milhões, a expectativa é de recompo-sição dos estoques internacionais de soja pelo segundo ano consecutivo. O Brasil deve contri-buir com o aumento na oferta global do grão, com o plantio de 29 milhões de hectares, 4,5% maior que a safra anterior. A expectativa é que sejam colhidos 88 milhões de toneladas de soja, volume 8,8% superior ao registrado em 2012/13.

A estimativa é que a relação estoque/consumo global atinja 26,5%, em 2013/14, ante os 23,9% registrados no ciclo anterior. A provável recuperação do índice sugere que os preços internacionais devam manter-se em patamares inferiores aos registrados em 2013. Apesar da elevação nos custos de produção da safra brasileira de 2013/14, as perspectivas ainda são de margens positivas no campo, principalmente para os produtores que conseguirem atingir níveis satisfatórios de produtividade.

Milho

No ciclo 2013/14, a produção mundial deverá expandir-se em 11,5%, resultando em 957 milhões de toneladas. Assim, mesmo ante uma expansão do consumo, projetada em 6,2%, a 927 milhões de toneladas, espera-se aumento dos estoques e pressão nos pre-ços em Chicago.

Quanto ao quadro nacional de oferta e demanda, estima-se elevação dos estoques de 6%, para 14,3 milhões de toneladas, pos-

sibilitando também um direcionamento bai-xista dos preços internos. Com um excedente global projetado em 30 milhões de toneladas, indicando uma expansão de 23,5% do nível de estoques globais de passagem para 151 milhões de toneladas, o maior patamar em 12 anos, espera-se que 2014 seja marcado por pressões na CBOT.

Considerando o aumento dos custos de produção, as perspectivas para os produto-res brasileiros de milho, em 2013/14, são de margens apertadas e elevado risco para resul-tados negativos. O desempenho das exporta-ções brasileiras será decisivo à performance do setor, definindo os níveis dos estoques ao final da safra e, assim, o direcionamento das cotações.

Carne bovina

O Rabobank prevê que 2014 seja mar-cado por ligeiro aumento da produção global de carne bovina, dada a expectativa de au-mento de produção em países do hemisfério Sul. Mesmo com aumento de produção no Brasil em 2014, a oferta global, ainda restrita, e o câmbio relativamente depreciado tendem a manter atrativo a exportação da carne bra-sileira. As perspectivas para os preços globais da carne bovina em 2014 devem oscilar ao redor dos patamares observados em 2013, com possibilidade de aumento limitado. No Brasil, altas significantes no preço da carne e do boi gordo tendem a ser limitadas pela con-tinuidade da oferta regular de animais, pelo baixo crescimento da renda real no país e pela concorrência das outras carnes.

Frango

No Brasil, espera-se aumento moderado da produção em 2014, sempre com vistas ao desenvolvimento das exportações.

Quanto aos preços internacionais da car-ne de frango, espera-se que oscilem em pa-tamares similares aos observados em 2013,

Capa

Page 35: A&e agronegocio iss

35 - Revista Agricultura & Engenharia

em decorrência de aumento global gradual da produção de frangos e da oferta ainda restrita de outros tipos de carne.

A expectativa do Rabobank é de que o ambiente seja mais favorável para os frigorífi-cos com operações no Brasil, sustentado por preços menores dos grãos, bem como pela demanda firme por exportações brasileiras.

Suco de laranja

Após as 280 milhões de caixas produzi-das no estado de São Paulo na safra 2013/14, espera-se recuperação moderada na produ-ção em 2014/15. Estimativas apontam para volumes em torno de 300 milhões de caixas, número ainda distante dos observados em anos anteriores. Quanto ao FCOJ, os estoques globais devem diminuir para patamares mais moderados em 2014, com a indústria moen-do quantidades menores de laranja em 2013. A demanda por suco de laranja deve-se man-ter relativamente estável ou apresentar leve queda em 2014.

Com estoques menores projetados para FCOJ no sistema, e sem grandes alterações na demanda da Europa, os preços de FCOJ Ro-terdã tendem a apresentar leve aumento em 2014. Em relação à laranja, espera-se que a demanda da indústria por matéria-prima au-mente em 2014, em função do menor nível de estoque de suco atual. Isso deve refletir-se em preços ligeiramente superiores em 2014, em comparação com o ano anterior.

Leite

No mercado brasileiro, a evolução posi-tiva da rentabilidade do produtor registrada em 2013 será determinante para o aumento da oferta de leite em 2014. Por outro lado, as expectativas de menor crescimento da econo-mia e pressões inflacionárias poderão limitar o aumento da demanda. Já no mercado global, o setor deve continuar vivendo bons momen-tos em termos de rentabilidade, resultado dos elevados preços pagos ao produtor, da queda nos custos e da estabilidade da demanda.

No mercado doméstico, os preços ao pro-dutor em 2014 devem apresentar tendência de queda em comparação com 2013, consi-derando as projeções de demanda inalterada e o aumento moderado da oferta. Os deriva-dos lácteos, de forma geral, também devem apresentar preços inferiores aos observados no terceiro trimestre de 2013. No mercado in-ternacional, os preços devem manter-se próxi-mos aos registrados em 2013 na maior parte do ano. espera-se que o leite em pó integral fique abaixo de US$ 5.000,00/tonelada ape-nas no terceiro trimestre do ano.

A rentabilidade dos produtores de leite no Brasil e nos principais mercados produtores deve manter-se em patamares relativamente atrativos em 2014, seguindo as perspectivas de menores custos da ração. A indústria brasi-leira deve sustentar as margens de 2013, com potencial de aumento em caso de retração no preço do leite pago ao produtor.

Estudo realizado pelo Banco Rabobank

Page 36: A&e agronegocio iss

36 - Revista Agricultura & Engenharia

O Estado de São Paulo vivenciou, durante a segunda metade do século 20, um processo de urbanização acelerado, o que resultou em conglomerados urba-nos que concentraram não somente a

maior parcela da população quanto os postos de traba-lho. “A formação de regiões metropolitanas, concentran-

do a oferta de emprego e pagando elevados salários, foi um fato normal no Brasil na segun-da metade do século passado. O processo de desconcentração das atividades econômicas foi, muitas vezes, considerado como fruto da ge-

ração de novas metrópoles, sendo que algumas conseguiam se fun-dir fisicamente”, comenta a econo-mista Camila Kraide Kretzmann, autora de um estudo que analisa a evolução dos salários e empregos entre as regiões metropolitanas e não metropolitanas do Estado no período de 1998 a 2012.

Desenvolvido no Programa de pós-graduação em Economia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP), o estudo discute os diferenciais existentes no mercado de trabalho entre as regiões metropolitanas e não me-tropolitanas, apoiando a ideia de que o interior vem crescendo mais do que as metrópoles. Com orien-tação do professor Carlos José Cae-tano Bacha, do Departamento de Economia, Administração e Socio-logia (LES), a pesquisa averigua as diferenças salariais e de geração de emprego existentes entre as re-giões metropolitanas (RM) e não metropolitanas (RNM) do estado de São Paulo. “Convém observar

O salário e o emprego em São Paulo

Mercado de Trabalho

Page 37: A&e agronegocio iss

37 - Revista Agricultura & Engenharia

que as quatro RM de SP (Região Metropoli-tana de São Paulo, Região Metropolitana de Campinas, Região Metropolitana da Baixada Santista e Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte) foram agrupadas. Os municípios das demais regiões do estado per-tencem à região não metropolitana de SP”, pondera a autora do trabalho, que teve apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior (Capes).

O estudo reforça que, a partir da segunda década de 1990, tem-se observado o cresci-mento do emprego e do salário no interior de alguns estados, que não são frutos da criação de novas áreas metropolitanas. “Um caso im-portante a estudar é o do Estado de São Pau-lo, pois além de ser o mais rico do país, deten-do 32,6% do PIB brasileiro em 2011, também se observou o maior crescimento do emprego e do salário fora de suas quatro regiões metro-politanas. Essas detinham 71,8% do emprego formal em 1998 e 69,5% em 2012”, ressalta Camila. Na prática, a pesquisadora analisou os determinantes do emprego e do salário das pessoas empregadas formalmente nas regiões metropolitanas e não metropolitanas do Estado de São Paulo, no período de 1998 a 2012, fazendo uso de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que in-forma sobre o emprego e o salário médio por município.

As equações foram estimadas a partir de um painel balanceado de 645 municípios de 1999 a 2011. “Notamos que as RMs do estado de SP são melhores do que as RNM, tanto em relação ao número de emprego for-mal quanto ao salário médio real, porém, de 1998 até 2012, houve aumento do emprego no interior em detrimento das metrópoles e a diferença salarial entre as regiões caiu 53% no mesmo período”. O salário médio pago nas

RMs foi 39,8% superior ao pago nas regiões não metropolitanas em 1998 e em 2012 foi 20,2% superior ao salário pago nas RNM. O diferencial salarial entre as regiões indicou uma redução em 5,4% a.a. ao longo do perío-do analisado.

Determinantes – A tese analisou os de-terminantes do emprego e do salário das pes-soas empregadas formalmente nas regiões metropolitanas e não metropolitanas do esta-do de São Paulo. “Empregamos os dados da RAIS, agregados por municípios, e usamos a combinação de referenciais teóricos da eco-nomia regional e da economia do trabalho, deduzindo e estimando duas equações -uma de salário e outra de emprego- para quanti-ficar os efeitos de variáveis, classificadas em pessoais, regionais e econômicas, sobre os salários e o emprego.

Entre as variáveis de primeira natureza, o clima não apresentou impactos estatisti-camente significativos sobre os salários e o emprego. “O fato de o município ter área de litoral, o que poderia implicar no trabalhador abrir mão de salário em favor de lazer, não impactou os salários, mas gerou mais empre-go no município, provavelmente devido aos serviços que atendem aos turistas”. Quanto às variáveis de segunda natureza, o PIB per capita teve impacto positivo sobre o salário e o emprego, bem como a participação do setor serviços no PIB do município. “Percebemos assim a importância de as políticas públicas serem voltadas para o desenvolvimento re-gional, principalmente para os municípios do interior do estado de SP, que vem tornando mais dinâmico seu mercado de trabalho, prin-cipalmente em relação aos aumentos sala-riais”, conclui a economista.

Texto: Caio Albuquerque / ESALQ/USP

Estudo analisa a evolução diferenciada dos salários e empregos entre as regiões metropolitanas e não

metropolitana do Estado de São Paulo

Page 38: A&e agronegocio iss

38 - Revista Agricultura & Engenharia

Onde estaremos em 2025?Em artigo, Coriolano Xavier, do CCAS e ESPM,

traz reflexões a respeito do futuro do agronegócio e que caminhos o setor terá de seguir

Onde estaremos em 2025? Deparei-me outro dia com essa pergunta – na verdade, é o tema de um Seminário Internacional de Suinocultu-

ra que está acontecendo essa semana. Gente boa do Brasil e do exterior vai estar lá para res-ponder a essa indagação, é claro. Mas o fato é que todos nós deveríamos fazer sempre essa pergunta a nós mesmos, olhando para um fu-turo mais distante.

O agronegócio, por exemplo, vive um momento de rica inquietação em tecnologia, perfil de consumo alimentar, demografia dos

mercados e organização dos sistemas de pro-dução de alimentos. O setor está se transfor-mando em todo o mundo e merece reflexões sobre onde tudo isso vai dar e que rumos tere-mos pela frente para seguir.

O Instituto para o Futuro¹, por exemplo, já fez algumas apostas sobre tendências dis-ruptivas do agronegócio, alinhando primeiro um eixo estratégico de transformação estru-tural: a reorganização dos sistemas de produ-ção agropecuária de modelos baseados em recursos intensivos para alternativas de baixo impacto na ambiência.

Coriolano Xavier*

Sustentabilidade

Page 39: A&e agronegocio iss

39 - Revista Agricultura & Engenharia

Sob esse guarda-chuva, por exemplo, despontam estudos para agricultura sem solo e com baixo uso de água – tanto em ambien-tes internos, como externos. Ou então proje-tos já desenvolvendo protótipos de robô que utilizam a teoria de games para automatizar tarefas complexas de cultivo. E, ainda, a in-corporação de áreas antes desertificadas e recuperadas pela combinação de produção animal e projetos preservacionistas.

Surgem também novos alimentos, não tradicionais, como um substituto vegetal de ovos², mais barato, sustentável e em teste na produção industrial de maioneses. Sem con-tar substitutos para a carne de aves, que já mereceram inclusive a atenção de um jornal peso pesado como o The New York Times.

No âmbito dos hábitos alimentares, fa-la-se na perda de espaço do alimento rápido para uma experiência mais cons-ciente de alimentação. A bordo dessa mudança teríamos, inclusive, novidades como o uso de sensores para monitoramento da velocidade das refeições — e um aumento geral da habilidade de cozinhar, até com o emprego de câmeras para feedback instantâneo para melhor aprendiza-do das pessoas.

Sem falar de programas inteli-gentes para gerenciamento do esto-que nas geladeiras e recomendação de refeições. Ou então da possibili-dade de alimentação líquida, inodo-ra e com os nutrientes para manter um organismo em funcionamento – como a bebida Soylent, que em 2013 recebeu investimentos de 1,3 milhões de dólares para produção em escala.

Nos próximos 10 a 15 anos, provavelmente o Brasil ainda vai ter seu maior protagonismo no agrone-

gócio. Essa crença já está inclusive instalada na cabeça da população, conforme revelam pesquisas de opinião recentes em grandes ca-pitais do país.

Para o agronegócio, portanto, não tem como não estar pelo menos sintonizado com essas “fantasias de futuro”, como muitas ve-zes são chamadas. Afinal, um dia também se chamou a revolução verde e a biotecnologia de fantasias.

(1) Institute For The Future, Palo Alto, Ca-lifórnia (EUA)

2) Hampton Creek Foods, Beyond Eggs

*membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS); Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM

Page 40: A&e agronegocio iss

40 - Revista Agricultura & Engenharia

Ao analisar o acelerado pro-cesso de crescimento po-pulacional, da renda per capita e da urbanização na Ásia, em especial na China,

maior comprador mundial de commodities agrícolas, tem-se a confirmação do desafio que é hoje denominado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agri-cultura (FAO) como de segurança alimentar. Afinal de contas, recentes estimativas da con-sultoria McKinsey dão conta de que a China terá, em 2025, nada menos do que 221 cida-des com 1 milhão de habitantes. Somado às 23 cidades chinesas que deverão ter mais de 5 milhões de pessoas, chega-se a um aumen-to na população urbana da China na ordem de 330 milhões.

É mais gente vivendo nas cidades, com novos hábitos de consumo e maior renda. Re-sultado: maior demanda por carnes, leite e ovos, fibras, etc. A dimensão do potencial ex-plosivo de consumo futuro pode ser medida por uma colher de açúcar. Há dois anos, o con-sumo anual per capita de açúcar no interior da China era de 2kg por pessoa, enquanto nas cidades era de 20kg. Em nível global, para os próximos dez anos, teríamos de aumentar em

44 milhões de toneladas a produção anual de açúcar, mais do que o Brasil produz atualmen-te. E esse quadro vai além: hoje, no mundo, 14% das commodities como cana, milho, tri-go e os óleos vegetais - soja, canola e palma - são para a produção de biocombustíveis. E vai crescer!

Por esses dados, tem-se a noção da mis-são que o futuro reserva para o agronegócio brasileiro. E tal missão foi ainda mais magnifi-cada pela recomendação da FAO e da Organi-zação para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de que o Brasil deverá res-ponder por, pelo menos, 40% do fornecimento de alimentos projetados até 2050. É, indubi-tavelmente, a janela de oportunidade mais clara que temos hoje em âmbito mundial no horizonte de curto e de médio prazos.

Em razão dessa proposta desafiadora, espera-se, tanto do setor privado envolvido no processo produtivo quanto do governo, uma atitude moderna, arrojada e colaborativa, no sentido de considerar este segmento estraté-gico para o Brasil. Afinal, ele responde por 25% do produto interno bruto (PIB) e por cerca de 40% das exportações brasileiras. Na condição

Missão e desafios no caminho do

agronegócioLuiz Carlos Corrêa Carvalho,

Presidente da ABAG

Artigo

Page 41: A&e agronegocio iss

41 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 42: A&e agronegocio iss

42 - Revista Agricultura & Engenharia

de grande celeiro tropical, o Brasil é, hoje, o terceiro maior exportador agrícola do mundo, atrás somente dos Estados Unidos e da União Europeia. Além disso, o produtor rural desem-penha um papel vanguardista no que diz res-peito à questão da sustentabilidade e no uso de tecnologia, pois tem conseguido ampliar a produção somente com ganhos de produtivi-dade, sem aumento da área plantada.

Essas conquistas se devem a uma vi-são sistêmica e ampla dos negócios ligados ao campo, que foi incorporada aos processos produtivos pelos empresários por meio de ati-vidades sofisticadas nas áreas de biotecnolo-gia, mecanização e tecnologia da informação. Trata-se de uma realidade bem distante da-quela vivida no passado.

O conceito das cadeias produtivas, lan-çado por Harvard e incorporado à realidade brasileira há cerca de 20 anos, envolvendo os elos que vão de bens de capital e insumos, passando pela produção agrícola e industrial, indo à distribuição, atacado e varejo, incluin-do ainda as exportações, explica o peso e a importância da cadeia agroindustrial na eco-nomia do País.

Essa dinâmica impressionante do agro-negócio brasileiro decorre da necessidade vi-tal de ganhar competitividade. É um desafio que não se pode perder de vista no presente e no futuro, com a manutenção dos investi-mentos em pesquisas e em inovação. Existem no País vários casos de sucesso para exaltar a capacidade empreendedora de pequenos, médios e grandes agricultores. Fizemos uma mudança monumental na forma de produzir em solos quimicamente mais pobres do Cer-rado, com o sistema de plantio direto na pa-lha, a produção conjunta de etanol e de bioe-letricidade e a integração lavoura, pecuária e floresta. Não é pouca coisa e isso se deve à enorme criatividade brasileira.

Para que todos esses avanços se tradu-zam na continuidade da posição vanguardista que o País ocupa no cenário agrícola mundial, é necessário haver bastante harmonia entre os atores privados e o governo, que deve fun-cionar como um facilitador. Atuando assim, não teríamos, por exemplo, uma situação em que nossa produção de grãos praticamente duplicou em dez anos sem contar com a equi-valente expansão da infraestrutura de trans-porte, armazenamento e logística.

Essas deficiências anulam os ganhos de competitividade alcançados no campo. Não podemos, por exemplo, ter descontinuidade de políticas públicas, assim como não é com-preensível a existência de tantas instâncias que são, em tese, responsáveis pela formu-lação e pela aplicação da política agrícola. Precisamos dessa sinergia para estarmos em condições de relevância geopolítica no século 21 e em condições de atender às expectativas do mercado global.

Todos esses pontos estarão em debate no 13.º Congresso Brasileiro do Agronegócio, que foi promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) no dia 4 de agosto, em São Paulo, com o tema Agronegócio Brasi-leiro: Valorização e Protagonismo. No evento foi analisada também uma proposta de ação elaborada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e entregue aos representantes dos três candi-datos à Presidência da República mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais.

Nossa expectativa é de que o Brasil apro-veite este momento extraordinário de mudan-ças globais, num cenário de franca revolução do uso sustentável de recursos naturais, para reafirmar sua posição de protagonista e líder desse processo transformador da geopolítica mundial. Fonte: O Estado de S. Paulo

Artigo

Page 43: A&e agronegocio iss

43 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 44: A&e agronegocio iss

44 - Revista Agricultura & Engenharia

A recente infestação de uma lagarta voraz em dife-rentes lavouras brasileiras chamou a atenção para um problema antigo: o risco constante de pragas e doenças causadas por organismos quarentená-rios. Quarentenários são organismos como vírus,

bactérias e fungos ou insetos e ervas daninhas, de outros países, que podem cruzar nossas fronteiras, causando doenças e danos às lavouras e criações.

O perigo existe desde o descobrimento do Brasil, quando os colonizadores começaram a trazer, de outras terras, o gado, as aves, a cana-de-açúcar, o café e assim por diante. Com essas riquezas vie-ram as primeiras pragas e doenças. De lá para cá, cresceu o inter-câmbio de plantas e animais entre o Brasil e o mundo e, com ele, a ameaça das pragas e doenças exóticas.

Para monitorar tais riscos e organizar ações de controle, o Bra-sil criou, em 1909, o Serviço de Defesa Agrícola e, em 1934, o sis-tema de quarentena, em que confina todo material importado para agricultura por tempo necessário para que alguma praga ou doença dê sinal de vida.

Mas a prevenção não é tarefa fácil. As pragas e doenças po-dem chegar por migração natural, viajando com plantas e animais, por terra, pelas águas e pelo ar, em containers e na sacaria, saltando de uma lavoura para outra, de país para país.

Agricultura: melhor prevenir do que remediar

Maurício Antônio Lopes

Presidente da Embrapa

Gestão Estratégica

Page 45: A&e agronegocio iss

45 - Revista Agricultura & Engenharia

Pode ocorrer por introdução acidental: uma semente esquecida no bolso, um carrapi-cho grudado na roupa ou um pouco de lama e esterco preso no solado da bota. E, por fim, há a introdução intencional, num ato de agroter-rorismo, com o propósito de causar prejuízos.

É muito difícil, para qualquer país, con-trolar todas essas situações. No Brasil temos quase 17 mil quilômetros de divisas terrestres, grande parte em florestas, mais de 7.300 qui-lômetros de fronteiras marítimas e um espaço aéreo de mais de oito milhões de quilômetros quadrados.

Assim, temos sofrido sucessivas in-vasões desses organismos. Nos últimos 20 anos, além da Helicoverpa, a lagarta mencio-nada no início deste artigo, aqui aportaram a bactéria que causa o HLB ou amarelão-dos-citros (2004), os fungos que causam a po-dridão-da-raiz (1994) e a ferrugem-asiática (2001) da soja, o besouro bicudo-do-algodoei-ro (1983) e a mosca-dos-chifres (1980), que aflige os nossos bovinos. São bilhões de reais em prejuízos.

Já se sabe que há cerca de 450 outras pragas e doenças de alto risco aguardando a chance de invadir o Brasil. É difícil impedir essa invasão e não se pode prever qual pra-ga chegará primeiro: se uma que já está num país vizinho ou outra que virá numa carga do outro lado do mundo.

Sendo exóticas, é normal que não haja controle químico ou biológico disponíveis para uso imediato. Há doenças, como a mancha-vermelha-da-folha-da-soja, para a qual não há controle químico ou biológico desenvolvido. A solução, então, é desenvolver plantas e ani-mais resistentes a essas pragas e doenças, o que requer anos de trabalho. Então, é preciso fazer esse trabalho antes que o problema se instale. Um das estratégias é o melhoramento preventivo.

É ideia antiga, mas eficiente. O pesqui-sador Alcides Carvalho, do Instituto Agronômi-co de Campinas, já em 1950, no auge da ca-feicultura paulista, criou cultivares resistentes a uma doença que ainda não existia no Brasil, a ferrugem do cafeeiro. Em 1970, quando a doença chegou, os danos foram limitados.

A dificuldade em fazer melhoramen-to preventivo é que os recursos são sempre limitados e é preciso priorizar o combate às pragas e doenças já instaladas. Então, a chan-ce de criar soluções para problemas futuros está nos momentos de fartura da agricultura, quando há um pouco mais de recursos.

É o que o Brasil faz agora. Além de bus-car soluções para as pragas e doenças já ins-taladas, há grande esforço para desenvolver plantas resistentes a doenças devastadoras como o crestamento-bacteriano do arroz, a mancha-vermelha-da-folha-de-soja, e o cresta-mento-bacteriano-aureolado do feijoeiro, que ainda não chegaram aqui.

O melhoramento preventivo interessa a todos, até consumidores, porque tem im-pactos positivos nos preços dos alimentos e no meio ambiente. Por isso, já é uma grande parceria entre órgãos de defesa agropecuária e de pesquisa, federais e estaduais, empre-sas privadas e associações de produtores, do Brasil e de países como EUA, Chile, Panamá e Angola.

E vai crescer, envolvendo mais países para conter outras pragas e doenças. É guer-ra diária, sem descanso, sem fronteiras, sem quartel. Felizmente, é uma guerra em que es-tamos todos do mesmo lado.

Fonte: Embrapa - Secretaria de Comuni-cação - Secom

Page 46: A&e agronegocio iss

46 - Revista Agricultura & Engenharia

Engenheiros agrônomos são formados em cursos de En-genharia Agronômica, assim como engenheiros florestais em cursos de Engenharia Flo-

restal, engenheiros agrícolas em cursos de Engenharia Agrícola, engenheiros de pesca em cursos de Engenharia de Pesca. Agrono-mia é o conjunto de ciências e princípios que regem a prática da agricultura. Agricultura é a arte e a ciência de produzir animais e vege-tais úteis ao homem, respeitando o ambiente (recursos naturais) e as pessoas. Agronomia

também pode ser entendida como sinônimo de ciências agrárias. Com este significado, Agronomia envolve as Engenharias Agro-nômica, Florestal, Agrícola e de Pesca/de Aquicultura. É com este entendimento que o sistema CONFEA/CREAs emprega o termo: Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Na Agronomia estão contempladas todas as engenharias das agrárias. As suas Câmaras Especializadas de Agronomia incluem todas as engenharias citadas. As ciências agrárias ainda incluem medicina veterinária, zootecnia e ciência dos alimentos.

Engenharia Agronômica ou Agronomia? Engenharia Agronômica!

Profissão

Page 47: A&e agronegocio iss

47 - Revista Agricultura & Engenharia

Assim, embora possa existir uma esco-

la de Agronomia, onde pode ser oferecido um ou mais dos cursos de engenharia citados, não existe um curso de Agronomia. Este cur-so seria para formar agrônomos. A partir de 1933, através do Decreto Federal 23.196/33, foi regulamentada a profissão do engenheiro agrônomo ou agrônomo, na época considera-da sinônimo. Entretanto, desde 1946, através do Decreto Lei 9.585/46, fica oficializado que os estabelecimentos de ensino superior con-cedem o título de engenheiro agrônomo aos seus diplomados. O sistema CONFEA/CREAs, instituição que concede os títulos profissio-nais, contempla apenas o título engenheiro agrônomo, e não Agrônomo. Entretanto, o MEC (Ministério da Educação), em sua Reso-lução CNE n. 1 , de 2006, define as Diretrizes Curriculares do Curso de Engenharia Agronô-mica ou Agronomia. Embora no Artigo 5 desta Resolução cite apenas Engenharia Agronômi-ca, no seu conteúdo promove o conceito dos termos serem sinônimos. Isto leva um situa-ção que necessita ser esclarecida, já que as instituições de ensino tem o direito de definir o título acadêmico de seus formados. Esta si-tuação induz a posicionamentos como o do Guia do Estudante, publicação muito conheci-da, que mantém o nome Agronomia para os Cursos de Engenharia Agronômica.

Desta forma, existiam cadastrados no

MEC (Senso da Educação Superior, DEED/INEP/MEC), em 2012, 29 Cursos de Engenha-ria Agronômica, oferecendo 2.143 vagas em Instituições públicas (federais e estaduais) e privadas, e 233 Cursos de Agronomia, ofere-cendo 18.389 vagas, em instituições públicas (federais, estaduais e municipais) e privadas. Qual a diferença entre os cursos de Enge-nharia Agronômica e Agronomia? O primeiro forma engenheiros agrônomos e o segundo agrônomos? Existe diferença na carga horária e na matriz curricular dos cursos? As atribui-ções profissionais de engenheiros agrônomos e agrônomos são distintas? Como as respos-

tas são negativas, não existe razão de se man-ter o termo equivocado para o curso de agro-nomia, assim como não se deve mais usar o termo agrônomo para o profissional formado por estas escolas.

O que temos no Brasil são cursos de

Engenharia Agronômica que formam enge-nheiros agrônomos. A Lei Federal 5.194/66 regula a profissão de engenheiro agrônomo. Não emprega o termo agrônomo. Da mesma forma, a Resolução 218/73, do CONFEA, que trata das diferentes modalidades profissio-nais, cita apenas engenheiro agrônomo.

A sugestão é que o MEC promova nova

redação da Resolução 1/2006, deixando claro que o curso é Engenharia Agronômica. E que este entendimento seja amplamente divulgado para que as instituições de ensino corrijam o nome do curso que oferecem, utili-zando o termo correto: Engenharia Agronômi-ca. Isto vai facilitar o entendimento da socie-dade, em especial dos jovens, ao decidirem o curso que vão escolher. Ainda hoje existe muita dúvida sobre este assunto. Agronomia deve ser utilizado com o significado de ciência ou como sinônimo de ciências agrárias. Enge-nheiros agrônomos são formados nos cursos de Engenharia Agronômica e não Agronomia. E não existem agrônomos. Existem engenhei-ros agrônomos!

José Otavio Menten é presidente do Con-selho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), vice-presidente da Associação Brasi-leira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.

Page 48: A&e agronegocio iss

48 - Revista Agricultura & Engenharia

Melhoramento conven-cional – A evolução da agricultura no século XX é fruto da capacidade hu-mana de cruzar plantas

da mesma espécie para obter indivíduos com características adequadas a necessidades es-pecíficas – maior produtividade, menor tempo de crescimento, maior resistência a doenças, entre outras.Nas décadas de 1960 e 1970, o chamado melhoramento genético conven-cional esteve no cerne da Revolução Verde, a criação e a disseminação de novas sementes e práticas agrícolas que levaram a um gran-de aumento na produção agrícola mundial. O advento da biotecnologia permitiu entender a fundo a função de diferentes genes e tornou possível ir mais adiante no melhoramento ge-nético, inserindo genes de uma espécie em outra.

Plantio Direto – Esta técnica, que per-mite que o solo não seja revolvido e que sejam aproveitados os resíduos vegetais da colheita anterior como adubo orgânico, consome me-nos recursos naturais e ajuda a preservar o ambiente. Além de enriquecer a terra, os resí-duos ajudam no controle de plantas daninhas e protegem contra as chuvas e os raios sola-res, evitando a erosão. A prática contribui ain-da na retenção da água no solo, diminuindo também a perda de nutrientes. Segundo a Or-ganização das Nações Unidas para Alimenta-ção e Agricultura (FAO/ONU), o uso da técnica no Brasil diminuiu em cerca de 90% a erosão do solo e em aproximadamente 80% a perda de água em um período de 17 anos nas cultu-ras de milho e soja.

Rotação de culturas – A alternância de espécies vegetais plantadas numa mesma

Biotecnologia – A adoção de sementes transgênicas aumentou a produtividade das lavouras, reduziu a necessidade de expansão de fronteiras agrícolas e diminuiu o uso de defensivos químicos. Estes são alguns dos benefícios que a biotecnologia trouxe para agricultura, reduzindo a pegada de carbono e colaborando com a sustentabilidade do setor. Além disso, em média, para cada dólar investido em sementes transgênicas, se recebe três vezes esse valor. Se considerarmos que, dos 18 milhões de agricultores que adotaram biotecnologia no mundo, 90% eram pequenos produtores, o impacto na qua-lidade de vida fica claro.

Boas Práticas Agrícolas

Confira abaixo as tecnologias e práticas que já estão sendo adotadas na agricultura e contribuindo para esta

atividade seja cada vez mais sustentável.

Gestão Estratégica

Page 49: A&e agronegocio iss

49 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 50: A&e agronegocio iss

50 - Revista Agricultura & Engenharia

área agrícola é uma das formas mais eficazes de preservar o solo. Entre as vantagens do uso dessa prática agrícola estão a melhora as ca-racterísticas físicas, químicas e biológicas do solo, o auxílio auxilia no controle de plantas daninhas, a proteção do solo da chuva e do sol e a possibilidade de diversificação da pro-dução de alimentos. A eficácia da técnica está intimamente ligada às plantas utilizadas e ao uso em conjunto da técnica de plantio direto. Um exemplo de rotação bastante utilizado no Brasil é o da soja e do milho, duas espécies com grande extensão de cultivo. Ele tem tra-zido benefícios aos agricultores, incluindo au-mento de produtividade.

Rotação de princípios ativos – O con-trole de pragas, doenças e espécies daninhas é um dos maiores desafios dos produtores. Se o controle desses problemas não for eficiente, pode haver substancial redução da produtivi-dade e redução da rentabilidade. Por isso, a rotação de princípios ativos tornou-se prática fundamental para evitar a seleção de indiví-duos resistentes ao produto químico. O con-ceito desta técnica envolve a combinação das mais eficientes tecnologias disponíveis para atingir o controle das pragas, a exemplo do uso seletivo de defensivos agrícolas, rotação do princípio ativo destes defensivos e utiliza-ção de variedades resistentes.

Consórcio de culturas – Consiste na

plantação de mais de uma semente ao mes-

mo tempo. O consórcio tem dado resultados muito bons para os pequenos produtores ao melhorar também a utilização da força de trabalho (geralmente a família do produtor ru-ral) e tornar disponível mais de uma fonte ali-mentar e de renda. Um exemplo é o cultivo de mandioca na região do cerrado brasileiro. Es-tima-se que cerca de 80% das áreas são culti-vadas por pequenos produtores. Uma publica-ção da Embrapa fez uma análise do cultivo da mandioca em consórcio com feijão e milho no Mato Grosso do Sul e concluiu que o consórcio foi benéfico em relação à monocultura.

Irrigação por gotejamento – A irriga-ção de culturas agrícolas por gotejamento é uma tecnologia que usa menos água – e tam-bém menos fertilizantes – do que o sistema convencional. Ao contrário desta última, que molha toda a planta e seu entorno, a irrigação por gotejamento coloca a água diretamente na região da raiz das plantas utilizando um sistema de tubos, válvulas e gotejadoras. Des-ta forma, não há desperdício de água, já que as plantas recebem apenas o necessário para que se desenvolvam.

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultu-ra, em um mundo onde cerca de 70% da água é consumida na agricultura e mais de 700 mi-lhões de pessoas têm acesso restrito a esse recurso natural, todo o uso inteligente é bem-vindo e mais do que necessário

Gestão Estratégica

Page 51: A&e agronegocio iss

51 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 52: A&e agronegocio iss

52 - Revista Agricultura & Engenharia

Reuso de Água na AgriculturaEstudo desenvolveu um sistema de

desinfecção no qual o calor gerado pelo sol é aproveitado para manter na água características químicas úteis à planta

O uso consciente da água é um tema de conhecimento geral que vem ganhando espaço para discussões en-tre pesquisadores e usuá-

rios. Como recurso finito, a atenção sobre ela deve ser redobrada na busca de alternativas que propiciem seu uso adequado e maior eco-nomia para, afinal, permitir uma distribuição de acordo com a qualidade e o setor onde será empregada. Entre as opções possíveis, encontra-se o reuso de águas servidas na agri-cultura, alvo de estudos na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” USP/ESALQ).

De acordo com Ana Paula Alves Barreto Damasceno, autora da tese “Desinfecção de águas servidas através de tratamento térmi-co utilizando coletor solar”, esse tipo de reuso tem grande aceitação, principalmente quando se trata de redução de impactos ao meio am-biente. “Essas águas apresentam como vanta-gem altos teores de nutrientes que podem ser aplicados em diversas culturas por meio de diversos métodos de irrigação devendo, em alguns casos, ser feito apenas a complemen-tação”, declarou a pesquisadora.

Porém, ela lembra que o fator restritivo para o aproveitamento dessas águas deve-se à presença de microrganismos nocivos à saúde e/ou presença de metais pesados que possam causar toxidez. Isso limita sua apli-cação em alguns sistemas pois é necessário verificar em quais culturas podem ser irriga-das sem que haja danos futuros. A eliminação ou, ao menos redução desse risco por meio de um tratamento que preserve os nutrientes ali presentes, transformaria essa água em so-lução nutritiva pronta para ser aplicada. “Meu trabalho está sendo apresentado como uma proposta de reaproveitamento da água resi-duária para a irrigação, de modo a manter as características químicas que podem reduzir o gasto com adubação”, explicou a engenheira agrônoma.

Ana Paula exemplificou que no trata-mento de esgotos ocorre a separação entre o lodo (onde fica retido a maior parte dos resí-duos sólidos) e água. Esta água ainda possui uma grande quantidade de matéria orgânica que pode ser aproveitada como nutriente para as plantas. No entanto, é necessário que haja um tratamento que conserve a matéria orgâ-

Tecnologia

Page 53: A&e agronegocio iss

53 - Revista Agricultura & Engenharia

nica e elimine os microrganismos presentes no esgoto que são prejudiciais à saúde hu-mana. “Com esse pensamento, o tratamento térmico pode ser visto como uma alternativa eficiente e sustentável”.

Experimento desenvolvido em duas etapas

A primeira etapa foi realizada no Labo-ratório de Física do Solo e Qualidade da Água da ESALQ, com amostras de água coletadas do Ribeirão Piracicamirim. Utilizando-se um regulador automático de temperatura, foram realizados testes sob temperaturas de 45, 50, 55 e 60ºC. Para os testes de qualificação e viabilidade dos ovos de helmintos (vermes pa-rasitários) foi feita coleta de água residuária proveniente da Estação de Tratamento de Es-goto (ETE) Piracicamirim. Ainda com o uso do mesmo regulador automático procederam-se testes sob as temperaturas 60, 70, 80, 90 e 100ºC durante o período de uma hora de ex-posição.

Na segunda etapa, realizada em campo, foram empregados três reservatórios. A água aquecida era conduzida no terceiro reservató-rio onde foi instalado um mecanismo que per-mitiu que o tubo conectado à caixa fosse mo-vimentado de modo a ficar mais alto ou mais baixo, de acordo com a temperatura desejada, uma vez que devido a diferença de densidade forçou-se a passagem da água com tempera-tura mais elevada. Na sequência, foi realizada a comparação dos resultados e observou-se que, nas temperaturas de 55 e 60ºC, o tempo de uma hora foi eficiente para eliminar tanto coliformes fecais como Escherichia coli pre-sentes nas amostras em comparação a amos-tra de caracterização da água testada.

Perante isso, foram realizados testes re-duzindo o tempo de exposição das amostras, obtendo-se como resultado o tempo mínimo de 15 minutos à temperatura de 60ºC para que fosse alcançado o mesmo resultado ob-tido com uma hora de exposição. Nas amos-tras que foram submetidas ao tratamento e

Ana

Pau

la D

amas

ceno

Page 54: A&e agronegocio iss

54 - Revista Agricultura & Engenharia

incubadas, apenas na mostra submetida a 60ºC foi possível a observação de um ovo que se verificou infértil. Nas demais amostras cor-respondentes aos outros tratamentos, não foi possível a recuperação de ovos nas lâminas observadas.

É possível que durante o processo de limpeza para redução de resíduos nas provas tenha ocorrido perda de material devido a desintegração da matéria orgânica presente. No período estudado, na maioria dos dias, ve-rificou-se que a temperatura alcançada pela placa superou aquela necessária para inati-vação dos microrganismos estudados. Assim, é possível verificar nos dados que houve um alto incremento da temperatura entre entrada e saída da água na placa.

“O uso do aquecimento solar se mostrou como uma excelente alternativa para inativa-ção de microrganismos que são prejudiciais à saúde humana, comparando o que foi ob-servado neste trabalho ao trabalho de outros autores”, completou Ana Paula. Para finalizar, a pesquisadora sugeriu que para estudos futu-ros é necessário que sejam realizados ensaios por períodos maiores de exposição de modo que possam ser avaliadas também as carac-terísticas químicas da água.

A orientação do trabalho de Ana Pau-la Alves Barreto Damasceno foi do professor Tarlei Arriel Botrel, do Departamento de Enge-nharia de Biossistemas (LEB) da ESALQ, por meio do programa de pós-graduação (PPG) em Engenharia de Sistemas Agrícolas.

Tecnologia

Alicia Nascimento Aguiar - Assessoria de Comunicação - USP ESALQAnalista de Comunicaçã[email protected]

Page 55: A&e agronegocio iss

55 - Revista Agricultura & Engenharia

Page 56: A&e agronegocio iss

56 - Revista Agricultura & Engenharia