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  • TTULO DA ATIVIDADE ESTRUTURADA

    INTERPRETAO DE TEXTO

    OBJETIVO

    Compreender as relaes de parentalidade e conjugalidade; descrever as vrias situaes na Vara de Famlia; entender o processo judicial na rea de famlia

    COMPETNCIAS/ HABILIDADES

    Competncia para propor solues para situaes-problema

    Habilidade estabelecer relaes, comparaes e contrastes em diferentes situaes;

    Disciplina: CCJ0004 - PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO

    DESENVOLVIMENTO

    A SUPERAO DA IDEOLOGIA PATRIARCAL E AS RELAES FAMILIARES

    Maria Lcia Karan

    Este artigo composto de um breve comentrio a respeito dos direitos de pais, mes e filhos e uma sentena proferida na poca em que a autora era juza titular da 7a Vara de Famlia, Comarca da Capital, Rio de Janeiro. Em que na sentena julgado um pedido de visitao.

    A sentena trata da fixao de regulamentao de visita de pai ao filho, exemplifica entendimento fundado em uma nova compreenso do direito de famlia imposta pelos avanos e exigncias que, registrados nas lutas pela superao da desigualdade entre ho-mens e mulheres e pela construo de uma nova forma de convivncia entre os gneros, com a conseqente superao da hierarquizao e das relaes de poder no interior da famlia, se fizeram sentir na elaborao da Constituio Federal de 1988.

    A consagrao expressa da igualdade entre homens e mulheres (artigo 5, inciso I); a nova compreenso da famlia, traduzida no reconhecimento da unio estvel e da comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes como entidades familiares (artigo 226, 3 e 4), no igual exerccio de direitos e deveres referentes sociedade conjugal (artigo 226, 5), bem como na igualdade entre filhos havidos de qualquer relao (artigo 227, 6) e, ainda, os direitos fundamentais da criana e do adolescente (artigo 227) do as diretrizes constitu-cionais a condicionar a aplicabilidade das regras da legislao ordinria nesta matria de famlia.

    A concretizao do princpio da igualdade entre homens e mulheres passa, necessariamente, pelo estabelecimento de uma nova forma de relacionamento entre pais e filhos, em que o papel do pai no seja mais o de um simples coadjuvante, dividindo, sim, com a me, as funes de criao e educao dos filhos.

    A necessidade de um revezamento equnime no convvio de pais separados com seus filhos, como se estabeleceu na sentena seguinte, assim rompendo com a conhecida e lamentvel prtica de meras visitaes em fins de semana alterna-dos, , por sua vez, condio indispensvel concretizao da regra contida no artigo 227 da Constituio Federal, no que assegura criana e ao adolescente o direito convivncia familiar.

    Certamente tem o Poder Judicirio, em sua atuao na rea do direito de famlia, o papel garantidor da realizao daqueles princpios e regras constitucio-nais sinalizadores da superao da ideologia patriarcal e da construo de novas relaes familiares.

    Processo n 4.239

    7 Vara de Famlia

    Sentena

    G.C.C. props ao em face de A.G.V.B., pretendendo obter a regula-mentao do direito de visita a seu filho, sob o fundamento de, tendo as partes rompido sua unio e ficando a criana sob a posse e guarda da r, mostrar-se necessrio o estabelecimento de regras capazes de assegurar um convvio no-problemtico entre pai e filho, pretendendo, assim, ter a criana em sua companhia em fins de semana alternados, em todas as ter-as e quintas-feiras, na primeira quinzena das frias escolares, em feriados e em datas festivas.

    A inicial veio instruda com os documentos de folhas 6 e 7.

    Citada, a r compareceu audincia visando eventual conciliao (fo-lha 12). No sendo esta obtida, ofereceu a contestao de folhas

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  • 13 a 15, afirmando no se opor convivncia do autor com o filho, discordando, porm, da visitao durante a semana e entendendo ser necessria a pre-sena da bab da criana na visitao dos fins de semana e das frias, sob a alegao de que no teria o autor condies de cuidar sozinho do filho, que, ao retornar das ltimas frias passadas com o pai, apresentou proble-mas de sade.

    Com a contestao vieram os documentos de folhas 16 a 20, sobre os quais o autor se manifestou s folhas 21 a 24, trazendo novos documentos, comentados pela r folha 30.

    Sugerindo este Juzo que o Ministrio Pblico se manifestasse, desde logo, sobre o mrito, veio promoo daquele rgo folha 31 e verso, onde opinou pela procedncia parcial do pedido, para acolhimento da visitao em fins de semana alternados e ferias, sem a presena da bab, entendendo ser inconveniente a visitao nos dias teis, opinando ainda pelo estabele-cimento de alternncia nas datas festivas.

    Passo a decidir

    Efetivamente, como adiantado folha 31, entendo que estamos, aqui, diante de caso tpico de cabimento do julgamento antecipado da lide, como determina a regra contida no artigo 330, item I, segunda parte do Cdigo de Processo Civil.

    A controvrsia entre as partes limita-se convenincia ou no da visitao do pai ao filho em dias de semana, presena ou no da bab da criana na visitao de fins de semana e frias e a pequenas divergncias em relao aos feriados e datas festivas, j se tendo todos os elementos para a apreciao do mrito.

    Inicialmente, deve se ressaltar que a concretizao do princpio da igualdade entre homens e mulheres, expressamente consagrado no artigo 5, inciso I da Constituio Federal, passa necessariamente pelo estabele-cimento de uma nova forma de relacionamento entre pais e filhos, em que o papel do pai no seja mais o de um simples coadjuvante, dividindo sim com a me as funes de criao e educao dos filhos.

    Ao levantar sua exigncia de subordinar o convvio do autor com o filho presena da bab da criana, alegando que o autor no saberia dar o devido tratamento ao filho, sem uma presena feminina, mostra a r, em primeiro lugar, sua adeso s idias conservadoras e machistas caracters-ticas das relaes patriarcais, que, reservando para as mulheres a casa e a famlia como seu espao "natural", impe a centralidade do trabalho do-mstico na vida daquelas, identificando-as com a natureza, a irracionalidade, a reproduo biolgica e a maternidade, para estabelecer uma diferencia-o entre tarefas ditas masculinas e tarefas ditas femininas - bases em que se assentam a desigualdade e a dominao de homens sobre mulheres.

    Mas, exatamente o fato com que a r pretendeu fundamentar este seu pensamento machista, que vem demonstrar o vazio de tais idias con-servadoras, ultrapassadas e negadoras daquele princpio da igualdade en-tre homens e mulheres.

    Querendo fazer supor que o impetigo adquirido por seu filho resulta-r da incapacidade do autor de cuidar da criana, o que a r acabou por demonstrar foi sua prpria desateno com a sade do filho, o que, no caso concreto, ressalte-se, no teve maior gravidade, podendo eventualmente acontecer com pais e mes no geral cuidadosos. Disse a r, na contestao, que a criana passou dias do ms de janeiro na companhia paterna, apre-sentando, ao retornar, o impetigo. Ocorre que documentos trazidos pela prpria r revelam que o impetigo s foi notado aps advertncia resultan-te de visita mdica creche freqentada pela criana, no dia 09 de fevereiro (folha 18), ou seja, vrios dias aps o retorno desta ao convvio materno, tendo a criana sido levada sua mdica no dia seguinte (folha 17), ou seja, somente aps o alerta dado pela creche, o que faz supor que a r nada percebera anteriormente.

    Pode-se at pensar que, ao exigir a presena da bab, esteja a r, inconscientemente, querendo transferir para o autor sua prpria dificuldade de cuidar sozinha do filho. Estando a criana prestes a completar 4 anos (folha 7) e frequentando a creche das 8 s 18 horas (folha 19), talvez j pudesse a r - tanto quanto o autor - dispensar a bab.

    Sem qualquer fundamento, portanto, a exigncia da r de subordinar o convvio do autor com o filho presena da bab da criana.

    Igualmente sem nenhum fundamento sua oposio - esta apoiada pelo rgo do Ministrio Pblico - visitao s teras e quintas-feiras.

    A extenso da visitao do pai ao filho, durante a semana, , ao con-trrio do que sustentam a r e o rgo do Ministrio Pblico, extremamen-te saudvel e recomendvel, impondo-se at como forma de concretizao daquela nova forma de relacionamento entre pais e filhos, diretamente de-corrente do princpio da igualdade entre homens e mulheres.

    Um relacionamento normal e desejvel entre pais e filhos no se de-senvolve da forma tradicional e ainda predominante: a me convivendo diariamente com o filho, passando-lhe seus valores, idias, padres e hbi-tos de vida modeladores de seu carter e de sua personalidade, e o pai limitando-se a desempenhar o conhecido e lamentvel papel de "pai de fim de semana".

    O revezamento equnime semanal no convvio com a criana pro-fundamente positivo, constituindo o ideal na situao em que, diante do trmino da unio dos pais, no tem a criana ou o adolescente a oportuni-dade do convvio simultneo com os mesmos.

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  • A necessidade deste revezamento equnime, mais do que se impor como forma de concretizao daquela nova forma de relacionamento entre pais e filhos, decorrente do princpio da igualdade entre homens e mulhe-res, decorre da prpria regra contida no artigo 227 da Constituio Federal, que assegura criana e ao adolescente o direito convivncia famili-ar, convivncia que, evidentemente, no se limita ao lado materno e que, tambm evidentemente, no se d em relaes limitadas a encontros em fins de semana alternados.

    O argumento concreto da r quanto impossibilidade de realizao da visitao s teras e quintas-feiras, diante do horrio sugerido pelo au-tor para entrega da criana, apenas pode levar a uma ampliao da preten-so do autor. Embora no seja muito comum que uma criana prestes a completar 4 anos durma antes de 21 horas; embora no seja muito comum que uma criana prestes a completar 4 anos, retornando da creche s 18 horas, apenas se alimente, para, em seguida, dormir, como dito pela r na contestao (folha 14), h que se aceitar aqui tal alegada particularidade do filho das partes. Assim, para garantir o direito da criana convivncia familiar, que, como exposto, implica em um revezamento equnime sema-nal no convvio com o pai e a me, a soluo que se apresenta que, s teras e quintas-feiras, o filho das partes durma na casa do pai.

    Ressalte-se que esta ampliao da pretenso do autor aqui se impe como forma de fazer valer o direito da criana. Em hipteses como esta de regulamentao de visitas, em que se cuidam de interesses e direitos de crianas, no est o julgador vinculado estritamente aos limites impostos pela pretenso do autor, permitindo-se seu afastamento, para melhor prote-ger a criana e, assim, fazer cumprir a norma constitucional asseguradora de seus direitos.

    Resta examinar a forma mais conveniente de visitao nos feriados e datas festivas.

    Evidentemente que nos dias de aniversrio do pai e da me, assim como no Dia dos Pais e no Dia das Mes, a criana dever ficar todo o tempo com o homenageado, ainda que aquelas datas caiam em dias origi-nalmente destinados ao outro genitor.

    Estabelecida a visitao em todas as teras e quintas-feiras e em fins de semana alternados, parece-me desnecessria fixao especfica de visi-ta no dia do aniversrio da criana, devendo esta ficar em tal data na com-panhia daquele a quem couber o dia em que cair o aniversrio, o mesmo ocorrendo em relao ao Dia da Criana, o que garantir o revezamento equnime, cabendo, entretanto, recomendar s partes que se esforcem para ter um mnimo de flexibilidade e sensibilidade, de forma a viabilizar a presena do outro em comemorao organizada por aquele que estiver com a criana em sua companhia.

    Nas festas de Natal e Ano-Novo, assim como nos feriados de Carna-val e Semana Santa deve tambm ser obedecido tal revezamento, alternan-do-se a cada ano o genitor que ficar com o filho.

    Em fins de semana prolongados destinados ao pai, dever ser anteci-pada ou prorrogada a busca ou a entrega. Quanto a outros feriados, a crian-a dever ficar com aquele a quem normalmente caberia sua companhia naquele dia (ou seja, em feriados, que caiam s teras e quintas-feiras, o pai que dever ficar com a criana).

    Julgo, pois, procedente o pedido formulado na inicial, para reconhe-cer o direito do autor ter sozinho o filho em sua companhia nas datas e horrios que passo a fixar:

    - em fins de semana alternados, pegando-o sexta-feira na residncia da r s 19 horas e devolvendo-o domingo no mesmo local s 20 horas, ressalvada a hiptese de se tratar de fim de semana prolonga-do, em que poder peg-lo quinta-feira (vspera do feriado), ou devolv-lo segunda-feira (dia do feriado), nos mesmos horrios e local; nos fins de semana dos dias dos pais e das mes, o filho deve-r ficar com o homenageado, ainda que no seja o fim de semana a este destinado, compensando-se no fim de semana seguinte;

    - em todas as teras e quintas-feiras, pegando-o na sada da creche ou escola e devolvendo-o no dia seguinte na entrada da creche ou escola;

    - na primeira metade dos dois perodos de frias escolares;

    - nos dias 24 de dezembro e I de janeiro dos anos mpares, pegan-do-o na residncia da r s 10 horas e devolvendo-o mesma hora dos dias seguintes;

    - nos dias 25 e 31 dezembro dos anos pares, pegando-o na residncia da r s 10 horas e devolvendo-o mesma hora dos dias seguintes;

    - no Carnaval dos anos pares e na Semana Santa dos anos mpares;

    - no dia de seu aniversrio, pegando-o na sada da creche ou escola, ou na residncia da r pela manh, caso no seja dia de aula, e devolvendo-o no dia seguinte pela manh em um daqueles locais;

    Condeno a r ao pagamento das despesas processuais e honorrios advocatcios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor dado causa. P.R.I.

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  • Maria Lcia Karam Juza de Direito

    Quando da separao do casal pode haver uma confuso entre a conjugalidade e parentalidade. Tendo por referncia a noo da diferena entre conjugalidade e parentalidade, apresente as bases de instrumento jurdico contidas no caso concreto quando da separao do casal e disputa de guarda, no que diz respeito abordagem sobre a filiao.

    PRODUTO / RESULTADO

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    A conjugalidade refere-se dade conjugal e constitui um espao de apoio ao desenvolvimento familiar. com a formao do casal que tudo tem incio. Assim, quando dois indivduos se comprometem com uma relao estvel e duradoura, complementam-se e adaptam-se reciprocamente de modo a constituir um modelo de funcionamento conjugal.A parentalidade refere-se s funes executivas de proteo, educao e integrao na cultura familiar das geraes mais novas. Ressalve-se que estas funes podem estar a cargo no s dos pais biolgicos, mas tambm de outros familiares ou at de pessoas que no sejam da famlia.Quando um casal separado possui filhos, surge um desafio, na ordem dos papis parentais. O ex-casal dever estruturar-se no que tange parentalidade e a principal mudana a ser enfrentada pelos ex-cnjuges refere-se manuteno da relao parental, resguardando as individualidades de cada genitor.A Constituio Federal de 1988, apresenta : a consagrao expressa da igualdade entre homens e mulheres (artigo 5, inciso I); a nova compreenso da famlia, traduzida no reconhecimento da unio estvel e da comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes como entidades familiares (artigo 226, 3 e 4), no igual exerccio de direitos e deveres referentes sociedade conjugal (artigo 226, 5), bem como na igualdade entre filhos havidos de qualquer relao (artigo 227, 6) e, ainda, os direitos fundamentais da criana e do adolescente (artigo 227) do as diretrizes constitucionais a condicionar a aplicabilidade das regras da legislao ordinria nesta matria de famlia.