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AEAARP 60 ANOS HISTÓRIAS E CONQUISTAS Adriana Capretz B. S. Manhas Blanche Amancio Silva Carlo Guimarães Monti Daniela Farah Antunes

AEAARP 60 Anos · Engenharia Mecânica, Mecatrônica, Ind. de Produção e Afins: Júlio Tadashi Tanaka Engenharia Química e Afins: Denisse Reynals Berdala ... uma proposta para

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AEAARP 60 Anos históRiAs E conquistAs

Adriana Capretz B. S. Manhas Blanche Amancio Silva Carlo Guimarães MontiDaniela Farah Antunes

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ADriAnA CApretz B. S. MAnhAS BlAnChe AMAnCio SilvA

CArlo GuiMArãeS MontiDAnielA FArAh AntuneS

AeAArp 60 AnoS - hiStóriAS e ConquiStAS

edição - 01

ribeirão pretoAeAArp-Associação de engenharia, Arquitetura e Agronomia de ribeirão preto

2008

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AEAARP 60 Anos

históRiAs E conquistAs

6

Guilherme de FelippeGestão 1948 - 1950

Francisco Cláudio Innecchi

Gestão 1950 - 1952

Cassio Pinheiro Gonçalves

Gestão 1956 - 1958

Paulo Araújo AlvimGestão 1952 - 1954

Antônio Nogueira de Oliveira

Gestão 1954 - 1956

Jean Chartier Gestão 1962 - 1964

Manoel Carlos de Soutello

Gestão 1960 - 1962

Walter José RagazziGestão 1958 - 1960

José Antonio BarbosaGestão 1973 - 1976

Durval SoaveGestão 1976 - 1978

José Braga de Albuquerque

Gestão 1964 - 1966

Donato FraguasGestão 1966 - 1969

Luiz Gonzaga ChavesGestão 1971 - 1973

Décio Carlos SettiGestão 1969 - 1971

Presidentes

7

José Augusto Corsini Monteiro de Barros

Gestão 1982 - 1984

José Augusto Corsini Monteiro de Barros

Gestão 1978 - 1980

José Aníbal Laguna Gestão 1980 - 1982

Cleder Corral Provencio Gestão 1984 - 1986

Marcos Vilela LemosGestão 1986 - 1988

Juarez Correia Barros Junior

Gestão 1988 - 1990

Helton Figueiredo de Oliveira

Gestão 1990 - 1992

Antonio Gilberto Pinhata Gestão 1992 - 1994

Genésio Abadio de Paula e Silva

Gestão 1994 - 1996

Helcio Elias Filho Gestão 1998 - 2000

Luiz Eduardo Siena de Medeiros

Gestão 2000 - 2002

Wilson Luiz LagunaGestão 2005 - 2007

Genésio Abadio de Paula e Silva

Gestão 2002 - 2005

José Batista Ferreira Gestão 1996 - 1998

Roberto MaestrelloGestão 2007 - 2009

8

conselho Deliberativo

Presidentes

José Antonio Corsini Monteiro de BarrosGestão 1978 – 1980

José Aníbal LagunaGestão 1980 – 1982

José Antonio Corsini Monteiro de BarrosGestão 1982 – 1984

Cleder Corral ProvêncioGestão 1984 – 1986

Cleder Corral ProvêncioGestão 1986 – 1989

Edson Seixas ForniGestão 1989 – 1991

José Roberto Hortêncio RomeroGestão 1991 – 1993

Marcos Vilela LemosGestão 1993 – 1995

Mauro Antonio da CostaGestão 1995 – 1997

Argemiro GonçalvesGestão 1997 – 1998

Argemiro GonçalvesGestão 1998 – 1999

Genésio Abadio de Paula e SilvaGestão 1999 – 2000

Marcos Vilela LemosGestão 2000 – 2001

Carlos Alberto Palladini FilhoGestão 2001 – 2002

José Roberto Hortêncio RomeroGestão 2002 – 2004

Clever Mazzoni CamposGestão 2004 – 2005

José Antonio Pedreschi MonteiroGestão 2005 – 2007

Wilson Luiz LagunaGestão 2007 – 2008

Marcos Vilela LemosGestão 2008 – 2008

9

Diretoria

Presidente Roberto Maestrello

Vice-presidenteJosé Roberto Hortêncio Romero

DIRETORIA OPERACIONALDiretor-administrativo: Pedro Ailton GhideliDiretor-financeiro: Ronaldo Martins TrigoDiretor-financeiro Adjunto: Cecílio FráguasDiretor de Promoção da Ética de Exercício Profissional: José Aníbal Laguna

DIRETORIA FUNCIONALDiretor de Esportes e Lazer: Francisco Carlos FagionatoDiretora Comunicação e Cultura: Maria Inês CavalcantiDiretora Social: Luci Aparecida Silva

DIRETORIA TÉCNICAEngenharia, Agrimensura e Afins: Argemiro GonçalvesAgronomia, Alimentos e Afins: José Roberto ScarpelliniArquitetura, Urbanismo e Afins: Marcia de Paula Santos SantiagoEngenharia Civil, Saneamento e Afins: Luiz Umberto MenegucciEngenharia Elétrica, Eletrônica e Afins: Edson Luís DarcieGeologia e Minas: Caetano Dallora NetoEngenharia Mecânica, Mecatrônica, Ind. de Produção e Afins: Júlio Tadashi TanakaEngenharia Química e Afins: Denisse Reynals BerdalaEngenharia de Segurança e Afins: Edson BimComputação, Sistemas de Tecnologia da Informação e Afins: Giulio Roberto Azevedo PradoEngenharia de Meio Ambiente, Gestão Ambiental e Afins: Evandra Bussolo Barbin

DIRETORIA ESPECIALUniversitária: Onésimo Carvalho LimaDa Mulher: Maria Teresa Pereira LimaDe Ouvidoria: Geraldo Geraldi Junior

CONSELHO DELIBERATIVOAlexandre Sundfeld Barbin José Fernando Ferreira VieiraCarlos Alberto Palladini Filho Luiz Antonio BagatinEdes Junqueira Luiz Fernando CozacEdgard Cury Luiz Gustavo Leonel de CastroEricson Dias Mello Manoel Garcia FilhoHideo Kumasaka Marcos A. Spínola de CastroHugo Sérgio Barros Riccioppo Maria Cristina SalomãoInamar Ferraciolli de Carvalho Ricardo Aparecido DeBiagiJoão Paulo de S. C. Figueiredo Sylvio Xavier Teixeira Júnior

CONSELHEIRO TITULAR DO CREA-SPREPRESENTANTE DA AEAARPCâmara Especializada em Engenharia Civil: Ericson Dias Mello

AEAARPRua João Penteado 2237 - Ribeirão Preto-SP Fone (16) 2102.1700 | Fax (16) 2102.1700 www.aeaarp.org.br / [email protected]

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Expediente

Autores: Adriana Capretz B. S. Manhas Blanche Amancio SilvaCarlo Guimarães MontiDaniela Farah Antunes

Colaboração em pesquisas:Paulo Verri Filho

Conselho Editorial: Luiz Eduardo Siena de MedeirosMaria Inês Cavalcanti

Coordenação Editorial: Texto & Cia Comunicação [email protected]

Revisão:Roseli Deienno BraffBlanche Amancio Silva

Editoração eletrônica: Mariana Mendonça Nader [email protected]

Impressão e Fotolito: São Francisco Gráfica e Editora Ltda.

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Apresentação

Chegamos aos 60 anos de existência da AEAARP e tra-balhamos, neste 2008, para marcar a data com a realização de várias atividades. O livro AEAARP 60 anos – Histórias e Conquistas é uma delas e uma forma de homenagear nossa entidade, contando um pouco da história daqueles que fizeram essa história.

Por sugestão dos autores convidados para a realização deste trabalho, pincelamos, despretensiosamente, um pouco da história de Ribeirão Preto, não para esgotar, aqui, o assunto, mas para contextualizar o surgimento da AEAARP e, se possível – e isso nos orgulharia muito –, provocar a reflexão e o debate.

A partir de 1948, quando nasce a Associação dos Enge-nheiros de Ribeirão Preto, ousamos contar nossa trajetória e a da cidade sob os olhos daqueles que construíram essa entidade. Para isso, os autores se debruçaram sobre os Livros de Atas, que trouxeram muitas novidades, deixaram algumas dúvidas e despertaram vários questionamentos.

Mas se a verdade está por ser desvendada por meio dos pontos de vista, do confronto de idéias e do encontro das contradições, aqui está, então, uma proposta para isso.

Aqui não esgotamos nossa história. Aqui estão relatados alguns momentos, algumas opiniões, algumas passagens até pitorescas.

Neste livro está nossa colaboração e nossa homenagem a todos os que fizeram essa história, mesmo que nos bas-tidores e anonimamente. Como seria impossível relatar todos os fatos importantes dessas seis décadas para as quais lançamos nossos olhares agora, esperamos deixar uma porta aberta para que este trabalho tenha continuidade, pois, por causa dele, iniciamos a organização de nossos arquivos, recebemos colaborações de colegas que doaram documentos que se encontravam em arquivos particulares e despertamos para a importância de catalogar, classificar e preservar toda forma de manifestação de nossa história.

Aos que terão acesso a esta obra, quando este presente for um passado distante, que se lembrem de que nossa história teve muitos personagens importantes e nosso pro-pósito foi perseguido unanimemente por todos os homens e mulheres que compuseram todas as diretorias da AEAARP: construir uma entidade que não olhasse apenas para si, mas que crescesse olhando para a cidade e os cidadãos.

Eng. civil Roberto MaestrelloPresidente AEAARP

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sumário

Introdução 13

Parte I

Capítulo I Ribeirão Preto: do pequeno povoado 19a grande produtor de café

Capítulo II O processo de urbanização de Ribeirão Preto 31

Parte II

Introdução Origens e vertentes históricas 45

Capítulo I A fundação da AEAARP 47

Capítulo II Dos porões das obras em construção à sede própria 55

Capítulo IIIA comunicação como ferramenta 63estratégica de relacionamento

Capítulo IV O lado social, a chegada das mulheres e 69a premiação aos profissionais

Capítulo V O lado político da AEAARP 75

Capítulo VIRevisitar o passado para escrever o futuro 89

Referências Bibliográficas 93

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AEAARP 60 anos – Histórias e Conquistas é um livro sobre as seis décadas de vida da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto. Resultado do trabalho de quatro profissionais, com formações diferentes, a obra traz um pouco da história da cidade – importante para a compreensão do cenário que precedeu e gestou a entidade, fundada em 1948 – e também da trajetória da Associação.

Dividimos o livro em duas partes. A primeira apresenta a cidade de Ribeirão Preto, desde os primórdios de sua formação ainda no século XIX, até se transformar num grande produtor de café, seguindo para o desenvolvimento urbano impulsionado pelo complexo de atividades que a agricultura gerou, tornando possível a consolidação dos setores de comércio, serviço e indústria. Assim, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a cidade já assistia a sua nova fase industrial, com a expansão urbana intensificada pela popularização do automóvel e a verticalização das edificações. Nesse cenário de prosperidade e constante expansão da construção civil, foi criada a AEAARP.

A segunda parte do livro é dedicada à história da AEAARP, a partir de 1948, e traz, em seis capítulos,

um pouco da trajetória da entidade e da própria cidade – quando essas se confundiram – por meio dos debates e ações que pautaram toda a existência da Associação, acerca dos problemas urbanos vivenciados por Ribeirão Preto.

O primeiro capítulo debruça-se sobre o ato que culminou na fundação da AEAARP, a visão que os primeiros homens tinham a respeito de uma entidade que pudesse congregar as chamadas profissões tecnológicas e como isso poderia ser feito. O segundo descreve a batalha pela estruturação da sede que, por muito tempo, ocupou os porões de obras em construção e sedes provisórias compartilhadas com outras entidades. O terceiro capítulo apresenta as estratégias lançadas pelos profissionais que dirigiram a Associação para torná-la reconhecida pela comunidade, por intermédio da imprensa local, até o surgimento dos primeiros periódicos editados pela própria Associação. O quarto capítulo é dedicado aos eventos sociais promovidos pela entidade como mais uma ferramenta de relacionamento com seus associados e com a comunidade, além disso relata a participação das primeirs mulheres e a criação de uma premiação para reconhecimento dos profissionais de destaque. O quinto

introdução

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capítulo descreve o posicionamento político da Associação e o modo como seus membros se posicionaram perante questões como valorização profissional, planejamento urbano, habitação popular, meio ambiente e tantas outras O último capítulo levanta questões que são temas de debate e esperam soluções no município, pois um dos principais motivos de existência da AEAARP é sua vocação para debater, analisar, estudar e propor soluções para o desenvolvimento da cidade.

Para este trabalho, utilizamos documentos primários e secundários. Dentre aqueles, temos os Livros de Atas, que remontam os 60 anos da Associação, e que, por meio de seus registros, nos deram preciosos relatos de outrora. Já os documentos secundários, como os jornais e revistas que noticiaram fatos e opiniões importantes para a reconstituição desse período, auxiliaram na contextualização de vários momentos importantes da vida da cidade e da entidade, além das obras revisionistas produzidas por uma gama variada de acadêmicos. Outra fonte inestimável foi representada pelas entrevistas com profissionais da AEAARP, que auxiliaram no esclarecimento de muitos fatos aqui relatados. Essas 15

entrevistas foram coletadas nos últimos meses e integram o acervo da biblioteca da AEAARP.

AEAARP 60 anos – Histórias e Conquistas não é uma obra que tem por fim esgotar as incomensuráveis variantes vividas pelos homens e mulheres que, com seu trabalho e luta, fizeram essa profícua história; ora relembramos alguns de seus fatos entre muitos que ainda estão por ser contados nessa que é a função maior da história – informar e formar um passado vivido e não esquecido.

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PARtE i

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Data: início década de 1910. Fotógrafo: Flosculo de Magalhães. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

Edifício da Câmara Municipal e Cadeia, construído entre 1885 e 1890.

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I

Ribeirão Preto: do pequeno povoado a grande produtor de café

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Nas primeiras décadas do século XIX, as terras que formaram, mais tarde, o município de Ribeirão Preto começaram a ser ocupadas. Por volta do ano de 1811, os desbravadores do chamado “sertão desconhecido” cruzaram o sul do Rio Pardo. Muitos eram descendentes de paulistas; outros tantos eram mineiros. Estes vieram especialmente do sul, oeste e região central da província de Minas Gerais e começaram a ocupar a província paulista a partir das regiões de Moji Guaçu e Franca.

Mas enquanto o ouro não se esgotou em Minas Gerais e Goiás, o interior paulista, ao sul do Rio Pardo, onde mais tarde cresceu o município de Ribeirão Preto, permaneceu esquecido. A descoberta de ouro na Vila Boa de Goiás, a partir de 1725, intensificou o fluxo de pessoas pela Estrada do Anhangüera, ou Caminho de Goiás, como também era conhecida, e motivou o início da ocupação dessa região.

A Estrada do Anhangüera correspondia a uma entre as diversas trilhas de penetração pelo interior que os paulistas traçaram e que se tornaram os principais eixos de ocupação do sertão. O Caminho de Goiás saía de São Paulo, seguindo por Jundiaí, Mojimirim, Casa Branca, Batatais e Franca, mas não passava em Ribeirão Preto.1

Luciana Suarez Lopes descreve que, inicialmente, o caminho começou a ser ocupado por pousos para alojar

1 BRIOSCHI, Lucila Reis. Caminhos do ouro. In: BACELLAR, Carlos de Almeida Prado & BRIOSCHI, Lucila Reis (orgs). Na estrada do Anhangüera: uma visão regional da história paulista. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 1999.

os viajantes.2 Daí surgiram os núcleos populacionais, depois arraiais, freguesias e, então, as vilas. O movimento teria começado na primeira metade do século XVIII, em virtude da descoberta do ouro em Goiás. Assim, inúmeros pedidos de sesmarias eram justificados pela intenção de oferecer apoio aos viajantes. Desse modo, no período compreendido entre 1727 e 1736, mais de 69 sesmarias foram concedidas, porém as minas de Goiás entraram em decadência e, conseqüentemente, os pousos foram-se esvaziando, cenário que voltou a mudar no final do século XVIII motivado pelo interesse em explorar a pecuária na região.3

A região onde hoje se encontra Ribeirão Preto começa a ver a chegada dos primeiros “entrantes mineiros”, que adentraram o sertão desconhecido, derrubaram matas, apossaram-se de terras e se dedicaram à criação de gado, que se tornou a principal atividade no nordeste paulista no século XIX, dando origem a diversos arraiais.4 Houve muitas disputas entre posseiros, e a família Reis foi quem primeiro conseguiu comprovar a posse de terras por aqui. No entanto, antes disso, o português José Dias Campos já era dono de terras, só que não registradas, onde hoje estão localizados os municípios de Nuporanga e Jardinópolis. A área, que era chamada de Fazenda Rio Pardo, local em

2 LOPES, Luciana Suarez. Sob os olhos de São Sebastião – A cafeicultura e as mutações da riqueza em Ribeirão Preto, 1849 – 1900. Tese apresentada na USP, 2005. p. 18.3 BRIOSCHI apud LOPES, Luciana Suarez. Op Cit. p. 19.4 BRIOSCHI, Lucila Reis.Fazendas de criar. In: BACELLAR, Carlos de Almeida Prado & BRIOSCHI,Lucila Reis (orgs). Na estrada do Anhangüera: uma visão regional da história paulista.São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 1999.

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que se encontra a cidade de Ribeirão Preto, foi alvo de uma longa disputa até o ano de 1846 e acabou, finalmente, passando para as mãos dos irmãos Mateus, Manoel e Vicente José dos Reis, que conseguiram comprovar sua presença na região antes do português Dias Campos.5

Dizem ainda os documentos que, na década de 1830, já crescidos e casados, os irmãos Reis atravessaram o Ribeirão do Tamanduá (este mesmo que corta a rodovia quando vamos a Serrana e que passa também pertinho de São Simão) na direção oeste, e ampliaram seus domínios fundiários para o vale do Córrego das Palmeiras. Estava nascendo Ribeirão Preto!Mas para firmar sua posse nas Palmeiras, os Reis de Araújo tiveram de desbancar outra família de Batatais que já estava na área; os Dias Campos. Houve de tudo, de violência física até ações judiciais abertas na Comarca de Mojimirim, a que pertenciam todos esses sertões.6

Com a intensificação do povoamento, os fazendeiros dessa região começam a trabalhar para erguer uma capela ao santo escolhido para proteger a cidade, as famílias e, também, os negócios que começavam a se incrementar. São Sebastião, o soldado do exército romano do imperador Diocleciano, cristão fervoroso e condenado à morte por declarar-se publicamente religioso – isso no ano de 255 – foi eleito. Porém, mais que a assistência religiosa à

população que começava a aumentar e a tomar conta do espaço, a capela representava o reconhecimento do novo 5 LAGES, J. A. C. Ribeirão Preto: da Figueira à Barra do Retiro. Ribeirão Preto: VGA Editora e Gráfica, 1996. v. 1000.6 LAGES, José Antonio. A saga das famílias pioneiras em Ribeirão; os Vieira da Costa e os Reis de Araújo. (Cópia do autor)

povoado que surgia, com a possibilidade de emissão de registros de nascimento e óbito, certidões de matrimônio e outros registros oficiais que, à época, ainda estavam a cargo da Igreja e não do Estado.

Para erguer a capela – uma construção ainda em arquitetura colonial (Ver Imagem 1.1) –, era necessário honrar o santo escolhido com doação de terras.

Imagem 1.1Primeira Matriz de Ribeirão Preto

Foto: Álbum Comemorativo do 1º Centenário da Fundação da Cidade de Ribeirão Preto. Arquivo Público e

Histórico de Ribeirão Preto

A Igreja predeterminava os requisitos mínimos necessários à doação, como localização em terreno alto e arejado; mas,

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além disso, o valor das terras a serem doadas tinha de somar o equivalente a 120$000, e toda a documentação das áreas doadas tinha, obrigatoriamente, de estar legalizada. A primeira doação, para a formação de um patrimônio destinado à honra de São Sebastião, foi feita por José Mateus dos Reis, no ano de 1845, mas não atendia às exigências da Câmara Episcopal, pois somava “apenas” 40$000. Por isso, sete anos depois, em 1852, houve uma nova tentativa de constituir o patrimônio eclesiástico.

Citando a obra de José Antonio Lages, outros proprietários da mesma fazenda se juntaram ao proprietário da Fazenda Esgoto, Alexandre Nunes Maciel, e ofereceram 19 alqueires, equivalentes a 90$000. Houve, ainda, uma doação adicional feita por João Alves da Silva Primo e sua esposa, da Fazenda Retiro, perfazendo, então, o valor estipulado pela Igreja. Entretanto, a doação não foi aceita porque a Igreja ainda tinha dúvidas sobre a procedência das terras das fazendas Palmeiras e Esgoto.

Com a colaboração de posseiros condôminos da Fazenda Retiro (originada da Fazenda Rio Pardo), o caso foi, então, resolvido. Ainda assim, até 1856, foram efetivadas outras doações de terras da Fazenda Barra do Retiro. “Estes últimos doadores foram, oficialmente, os fundadores da cidade de Ribeirão Preto e, juntos, constituíram o patrimônio de São Sebastião”.7

Feitas as doações conforme todas as determinações da Igreja, o próximo passo seria a definição do local onde deveria ser erigida a capela, o que foi decidido no dia 19

7 LAGES, J. A. C. Ribeirão Preto: da Figueira à Barra do Retiro. Ribeirão Preto: VGA Editora e Gráfica, 1996. v. 1000. 264 p.

de junho de 1856. Na região mais valorizada do povoado, no ponto mais alto entre os ribeirões do Retiro e Preto, começa a se construir o que seria Ribeirão Preto.

Segundo Luciana Suarez Lopes, o arraial de São Sebastião do Ribeirão Preto foi elevado à freguesia em 1870 e, no ano seguinte, à categoria de vila, quando também foi desmembrada da vila de São Simão.8

Somando-se ao fim das disputas e legalizações de terras na cidade, a decadência do café no Vale do Paraíba e a chegada da ferrovia em Campinas, a década de 1870 situou a região de Ribeirão Preto no centro da nova fronteira agrícola a ser explorada. Alguns proprietários de terras começaram a formar seus cafezais, entre eles, Manoel Otaviano Junqueira, José Bento Junqueira, Rodrigo Pereira Barreto e João Franco de Moraes Octávio. Na mesma década, chegam à cidade Henrique Dumont, Martinho Prado Júnior e Luiz Pereira Barreto. Este último, no ano de 1876, publica diversos artigos no jornal A Província de São Paulo, fazendo a propaganda da “terra roxa”, apropriada ao cultivo do produto. Foi também a família Pereira Barreto a responsável pela introdução do café tipo “bourbon” na região.9

Como o café precisava de muitos braços na lavoura, o crescimento populacional foi vertiginoso.10 Em 1874, Ribeirão Preto contava com pouco mais de cinco mil 8 LOPES, Luciana Suarez. Sob os olhos de São Sebastião – A cafeicultura e as mutações da riqueza em Ribeirão Preto, 1849 – 1900. Tese apresentada na USP, 2005. p. 15. 9 PINTO, Luciana Suarez Galvão. Ribeirão Preto – A dinâmica da economia cafeeira de 1870 a 1930. Dissertação apresentada na UNESP-Araraquara, 2000. 10 Idem, p. 41.

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habitantes, sendo que 800 e poucos eram cativos. Dois anos depois, esse número salta para expressivos 10.420 habitantes, o dobro, um crescimento médio anual de 4,6%, enquanto que o crescimento populacional na província atingiu o índice de 2,7% no período em questão.11

Nos primeiros anos de cultivo do café, nessa região, a presença escrava é bastante significativa nas lavouras: 1.379 indivíduos, ou 13,2% do total de habitantes, até março de 1887. Nos anos de 1896 e 1897, respectivamente, os distritos de Sertãozinho e Cravinhos separaram-se de Ribeirão Preto. Mas, no início do século seguinte, a população do município de Ribeirão Preto, já desmembrado, era de 52.910 habitantes.

A cidade começou a atrair gente de outras regiões do país – homens que vieram atraídos pelas terras roxas, aventureiros inquietados pelo espírito curioso, homens de negócios, migrantes e imigrantes e toda sorte de gente que começou a dar cor e forma a Ribeirão Preto.

Na verdade, naquela vastidão de montanhas, de vales e de caprichosos cursos d’ água, quantas e quão variadas coisas a descobrir, a admirar, a dar nomes, a fotografar: picos, cascatas, chapadas, pedras balões e até em profusão, “agulhas negras”!...Em passada era (quão longe vai!), ao sol radiante ou em noite tempestuosa, percorri eu, vezes a fio, os ínvios trilhos que ziguezagueavam por aqueles montes, da “Pedra Selada” ao “Retiro do Ramos”, região de campos, esta, a grande altura, debruçada sobre o “Campo Belo”.Que emoções, então, a sacudirem a sensibilidade nervosa de um organismo de vinte anos! E que

11 MARCONDES, Renato Leite. O café em Ribeirão Preto (1890-1940). História Econômica & História de Empresas, v. 10, p. 171-192, 2007.

de feéricos espetáculos ali assistidos! Às vezes, do dominante “Retiro do Ramos”, larga vista sobre o Vale do Paraíba, serpeante por entre morros, léguas e léguas, ponteados aqui e ali, de cidades!12

O presente relato é um bom exemplo do que o desconhecido proporcionava ao espírito do homem naquele final do século XIX e começo do XX, como, aliás, é o que move o mundo até hoje e desde os primórdios de sua história. A descrição apropriadamente deixada por Renato Jardim mostra o caminho também percorrido por muitos outros homens e famílias que cruzaram o interior paulista, para onde se dirigiram, atraídos pela qualidade da terra e as prósperas possibilidades de cultivo do café em grande escala ou buscando novas oportunidades, já que outras se esgotaram em regiões anteriormente exploradas no país − sonho que acabou tornando o interior paulista o maior produtor mundial do café.

Com o aporte econômico disponibilizado pelos cafeicultores, a cidade desenvolveu o seu comércio, algumas indústrias e muitos outros negócios ligados à prestação de serviços que, mesmo em momentos de crise, como a gerada pelo crack da Bolsa de Nova Iorque em 1929, continuaram permitindo o desenvolvimento econômico do município.

Pouco antes da entrada do século XX, no período considerado de expansão das exportações do café brasileiro (1886-1894), ocorre a chamada “gênese” do capital

12 JARDIM, Renato apud FARIA, Rodrigo Santos de. Ribeirão Preto, uma cidade em construção (1895-1930); O moderno discurso da higiene, beleza e disciplina. Dissertação apresentada na UNICAMP, 2003. p. 58.

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industrial em que “Os ciclos do café foram os ‘motores primários’ da acumulação de capital”.13

Não é, aliás, de se estranhar o destacado papel da agricultura no Brasil e na região de Ribeirão Preto. A agricultura foi, historicamente, o ator principal na ocupação e desenvolvimento de todo o país.

A agricultura é o nervo econômico da civilização. Com ela se inicia – se excluirmos o insignificante ciclo extrativo do pau-brasil – e a ela se deve a melhor porção de sua riqueza. Numa palavra, é propriamente na agricultura que se assentou a ocupação e exploração da maior e melhor parte do território brasileiro. A mineração não é mais que um parêntese; de curta duração, aliás.14

Entretanto, foi o café o elemento determinante do processo de urbanização do país, pois constituiu uma rede complexa e dinâmica de atividades interdependentes – comércio de importação, intermediação financeira, comércio atacadista, fábricas e serviços de apoio à produção, induzindo o crescimento do comércio varejista, transporte urbano, serviços e construção civil. Em decorrência dessa complexa rede de serviços que se formava, em 1883, foi instalada a Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, levando para a cidade uma nova onda de prosperidade.

13 SUZIGAN, Wilson apud VICHNEWSKI, Henrique Telles. As Indústrias Matarazzo no interior paulista: arquitetura fabril e patrimônio industrial (1920-1960). Dissertação apresentada na UNICAMP-Campinas, 2004. p. 40.14 PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. 23. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 130.

A partir da segunda metade do século XIX o povoamento do interior paulista se intensifica devido ao vertiginoso desenvolvimento da agricultura que começa a se desenhar. E o café passa a se destacar como o grande negócio das propriedades da região.

Vale lembrar que não foi somente o vigor dos cafezais, menos ainda as técnicas de produção ou estratégias de gestão dos negócios, os responsáveis pelos lucros que brotavam de cada cafeeiro ribeirão-pretano. Aliás, a falta de técnica era problema histórico no país. Num período anterior ao boom do café, quando a cana-de-açúcar dava os contornos da economia agrícola brasileira, Caio Prado Júnior refere-se ao desenvolvimento muito mais quantitativo do que qualitativo da agricultura no Brasil, lembrando que “(...) não se cogitara ainda em utilizar o bagaço de cana como combustível, coisa que nas colônias inglesas, francesas e holandesas já se tornara processo rotineiro”, com relativo desenvolvimento no processo industrial, enquanto que o Brasil mantinha-se atrasado nas técnicas industriais, apresentando-se como mero devastador de seus recursos naturais.15

No terreno do aperfeiçoamento técnico, o progresso da agricultura brasileira é naquele período praticamente nulo. Continuava em princípios do séc. XIX, e mais ou menos nas mesmas condições continuará ainda por

15 PRADO JR, Caio. Op.Cit, p. 135-138. Fornece alguns detalhes da estrutura da indústria canavieira brasileira no século XVIII, especialmente no que se refere à separação entre agricultura e pecuária, privando o solo do único fertilizante que poderia receber (o estrume animal) e lembra que nem a bagaceira era aproveitada como adubo, além do desconhecimento da irrigação e drenagem.

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muito tempo, com os mesmos processos que datavam do início da colonização.16

E para garantir o poderio dos senhores do café, acordos, muitos deles desconhecidos da história, eram cuidadosamente costurados – certamente já prevendo um futuro não tão promissor – e isso garantiria o que o mercado por si só não poderia assegurar: a continuidade dos lucros das famílias produtoras. Já na virada do século XX, essa preocupação é clara e pública. Em 1906, foi instaurada a Política de Valorização do Café, definida no Convênio de Taubaté – o que também exemplifica o poder patologicamente deslocado do Estado para as mãos dos produtores de café.

Por meio desse acordo, os governos dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se comprometeram a comprar o café por um preço mínimo, caso o preço no mercado internacional caísse excessivamente.Os governos estavam autorizados a contrair dívidas para comprar a produção e garantir a lucratividade dos cafeicultores. A dívida era pública e os lucros, naturalmente, privados. Esse acordo, originalmente apoiado pelos três Estados citados, posteriormente passou a contar com o apoio do governo federal.17

Os meios adotados para nortear a política agrícola no Brasil não eram os mais legítimos, mas a preocupação

16 Idem, p. 135.17 CAMPOS, Roberson. Entenda o uso do poder público em benefício do interesse privado. Folha de S. Paulo. 11/04/2002. <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u8783.shtml> Acesso em 24/05/2008.

dos barões do café com o mercado para a produção brasileira também não era injustificada. Segundo artigo de Renato Leite Marcondes, a produção cafeeira, no final do século XIX, mostrava-se em franco crescimento, precisando, obviamente, garantir seu mercado consumidor na Europa.

Enquanto em 1890 (provavelmente) a cidade de Ribeirão Preto registrava pouco menos de 100 cafeicultores, o número mais que dobrou na virada do século, chegando, no primeiro e segundo anos do século XX, a 256, considerando-se um total de 265 estabelecimentos agrícolas no município e a marca de quase 30 milhões de pés de café. Se na última década do século XIX a produção da rubiácea chegou a pouco mais de 200 mil arrobas, no início do novo século, esse número alcançou expressivos três milhões de arrobas.18

Conforme o Gráfico 1.1, a produção de café em Ribeirão Preto é inexpressiva em 1890, mas 12 anos depois atinge mais de três milhões de arrobas, no ano mais produtivo do período entre 1890 e 1940. O gráfico 1.1 mostra um período de produção regular, ficando perto dos dois milhões até dois milhões e 500 mil arrobas, em média, de 1902 a 1919/1920, quando há uma queda expressiva para pouco mais de 500 mil arrobas, sendo provável que o problema tenha sido motivado pela geada de 1918, segundo Renato Leite Marcondes.

18 MARCONDES, Renato Leite. O café em Ribeirão Preto (1890-1940). História Econômica & História de Empresas, v. 10, p. 171-192, 2007.

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Gráfico 1.1

Fonte: MARCONDES, Renato Leite. O café em Ribeirão Preto (1890-1940). História Econômica & História de Empresas, v. 10,

p. 171-192, 2007.

A partir de 1918, é significativa a queda de produção dos cafezais da região, que registrou menos de um milhão de arrobas em 1937/1938, caindo, nos anos seguintes, para menos de 500 mil arrobas.

Segundo a Estatística Agrícola e Zootechnica de 1904-05, a colheita de café em Ribeirão Preto foi a maior do Estado entre os municípios recenseados, atingindo pouco mais de dois milhões de arrobas. Esta produção superou em larga medida os montantes dos seus principais concorrentes: Campinas com 1.355 mil arrobas e Jaú com 1.468. Nesse momento em Ribeirão Preto, o café suplantava amplamente as demais atividades agrícolas. Em termos de valor, a cafeicultura gerava um valor para a sua colheita superior a oito mil contos de réis. Os demais produtos agrícolas (açúcar, aguardente, milho,

feijão e arroz) perfaziam tão-somente 729 contos. De acordo com a estatística de 1904-05, dos 265 estabelecimentos agrícolas 254 produziram café, compreendendo uma área de 15 mil alqueires. Por fim, a cana-de-açúcar abarcava tão-somente oito produtores.19

Renato Marcondes relata que cidades vizinhas como Sertãozinho, Cravinhos e São Simão apresentavam produção acima de um milhão de arrobas, contribuindo, assim, para determinar a importância dessa região do interior paulista no negócio do café. Mas a geada do ano de 1918 fez com que as lavouras ribeirão-pretanas colhessem insignificantes 560 mil arrobas, e a recuperação das plantações, após a devastação dos cafezais pelo gelo, não mais possibilitou registrar os números superlativos anteriores. Em 1920, o censo identifica apenas 141 estabelecimentos plantadores de café – o número inexpressivo pode ter sido motivado pela geada ou, talvez, pelo fato de a metodologia empregada para a realização do censo ser distinta daquela do imposto sobre o cafezal, o que, de qualquer forma, mostra uma queda no número de estabelecimentos produtores de café. Os tempos, então, eram outros. Nesse ano, Ribeirão Preto alcançou apenas o sexto lugar no ranking dos municípios brasileiros produtores de café, com 741.080 arrobas colhidas. Outras duas safras bateram na casa dos dois milhões, superando-os, inclusive. Mas os anos de 1920 continuaram confirmando o cenário decrescente em relação à cultura cafeeira. Outros municípios já se apresentavam como bons produtores e concorrentes no negócio do café – Jaú e Pirajuí. 19 Idem.

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E chega 1929, quando, num movimento meramente especulativo dos investidores norte-americanos, milhares de títulos foram colocados à venda, mas não apareceram compradores. Esses mesmos especuladores já vinham utilizando-se dessa prática para obterem lucros cada vez maiores. Alguns grandes compradores adquiriam muitos títulos em baixa, provocando aumento de preços, enquanto pequenos investidores, animados com uma ilegítima alta de preços, faziam o mesmo. Todavia, na Quinta-feira negra, de 24 de outubro de 1929, ninguém comprou. E os preços despencaram. A crise teve proporções mundiais porque os Estados Unidos, que já eram, à época, uma potência econômica, passaram a reduzir suas importações, o que provocou crise na indústria européia.

A América Latina, exportadora de produtos agrícolas e palco de muitos investimentos estrangeiros, sofreu a forte crise. Bancos norte-americanos começaram, então, a restringir linhas de crédito, empréstimos não foram mais renovados e dívidas passaram a ser executadas, sem contar a repatriação do dinheiro investido no exterior, o que contribuiu para o desequilíbrio das contas desses países, que nem sempre tinham o capital disponível de imediato. O desemprego exponencial foi mundial e, com o desemprego, não houve consumo, caiu a produção, e a crise alimentou a crise.20 O Brasil chegou a queimar estoques agrícolas

20 CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC). A era Vargas. <http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos20/ev_cafeeind001.htm> Acesso em 24/05/2008.

na tentativa de dar um fôlego aos preços.21

Mas se a crise de 1929 e a queda do preço do café provocaram tamanha depressão na economia brasileira, o mesmo café foi o responsável por uma profunda mudança no cenário econômico, pois a circulação da riqueza advinda da economia cafeeira incrementou vários negócios urbanos – da prestação de serviços ao comércio e, finalmente, a indústria. Vale lembrar que, já a partir de 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, houve desaceleração dos negócios no comércio entre o Brasil e os países compradores de café que, em grande parte, eram europeus. No entanto, com o início da industrialização, o país apresentou um novo cenário econômico.

Paralelamente, porém, o conflito mundial favoreceu o processo de industrialização do Brasil. A interrupção da entrada de capitais estrangeiros e a obrigação de honrar os compromissos da dívida externa minaram os estoques de divisas nacionais. Como conseqüência, foi necessário controlar as importações, já prejudicadas devido à guerra, e promover a produção nacional de artigos industrializados. Estima-se que a produção industrial brasileira cresceu a uma taxa anual de 8,5% durante os anos de conflito.22

21 TROTSKY, Leon. Os Estados Unidos após a Crise de 1929. 07/1936. <http://paginas.terra.com.br/educacao/trincheira/textoTrotsky_USAaposAcrise1929.htm> Acesso em 21/07/2008. Referindo-se à crise nos Estados Unidos, aponta que “No país mais rico do mundo, a renda total dos trabalhadores da indústria e da agricultura foi literalmente amputada pela metade entre 1929 e 1932. De dois milhões, o número de desempregados elevou-se a 18 ou 20 milhões.” 22 CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC). A era Vargas. <http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos20/ev_cafeeind001.htm> Acesso em 24/05/2008.

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Ribeirão Preto já tinha amadurecido seus negócios urbanos – principalmente com a contribuição do imigrante italiano –, negócios que continuaram expandindo-se e não desapareceram junto com os cafeeiros que foram arrancados. Exemplos dessa nova fase estão nas iniciativas de Antônio Diederichsen.

Em 1934, em plena e aguda crise, quando todos pensavam que o ciclo evolutivo de Ribeirão Preto se findara ante o corte de 26 milhões de cafeeiros, Antônio Diederichsen (próspero empresário nos ramos de serralheria, fundição e mecânica) adquiriu uma área na rua General Osório, Álvares Cabral e São Sebastião e ali ergueu um monumento de fé e marco de civilização – o Edifício Diederichsen. Foi o alento novo à cidade..23

Além dele, Paschoal Innecchi também fez nome com negócios no município. A família Innecchi, dona do maior palacete da cidade, conhecido como Palacete Innecchi, aqui fez fortuna com vários negócios urbanos, instalando fábricas de camas, móveis e pastifícios. Tanto progresso urbano atraiu as atenções de um dos maiores industriais do país à época, o conde Francisco Matarazzo. Ele visitou a cidade a convite de Paschoal Innecchi.

Já era, então, um dos maiores industriais da cidade, desfrutando posição destacada no seio da sociedade. Amigo do conde Matarazzo, aqui o trouxera em 1939, interessando o grande capitão

23 JORNAL A TARDE apud VALADÃO, Valéria. Memória arquitetônica de Ribeirão Preto (planejamento urbano e política de preservação). Dissertação apresentada na UNESP-Franca, 1997. p. 90.

de indústria para instalar uma fábrica, o que se deu mais tarde.24

Francisco Matarazzo chegou ao Brasil em 1881 e estabeleceu-se em Sorocaba, importante centro urbano à época, beneficiada pela Estrada de Ferro Sorocabana. O império dos Matarazzo reuniu, nas primeiras décadas do século XX, mais de 40 indústrias em 30 cidades do interior do Estado de São Paulo. Em Ribeirão Preto, instalou beneficiadores de algodão, provavelmente em 1935 ou 1937, antes da visita a Paschoal Innecchi, e tecelagens, em 1946.25

Como Diederichsen, Innecchi e Matarazzo, outros empresários continuaram investindo em novos negócios na cidade, e as riquezas anteriormente geradas pelo café já tinham estabelecido uma economia suficientemente forte para dar forma a um novo cenário econômico que já se desenhava em Ribeirão Preto.

24 BRANCO, Pedro. O velho Innecchi. Diário da Manhã. 26/10/1961, p. 8.25 VICHNEWSKI, Henrique Telles. As indústrias Matarazzo no interior paulista: arquitetura fabril e patrimônio industrial (1920-1960). Dissertação apresentada na UNICAMP-Campinas, 2004. p. 49-80.

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II

o processo de urbanização de Ribeirão Preto

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Em 1905 aportei ao Ribeirão Preto, para aí morar. Estava este num período de vida intensa. Lavoura, na sua maior pujança; comércio, movimentado e próspero; a pequena indústria – oficinas mecânicas e congêneres – por igual. Tudo fartura. Dinheiro, superabundante e de verdadeiro valor aquisitivo. Era assim a Capital da Terra Roxa. Os hotéis nem sempre primorosamente organizados, cheios à cunha. Enchiam-nos fazendeiros que não tinham ainda a sua boa casa na cidade [...]. As ruas da cidade sofriam ainda de muita poeira roxa, fina e adesiva, ou da enxurrada impetuosa, da mesma cor, nos dias de chuva.1

No início do século XX, a riqueza gerada pelo café já não era compatível com a qualidade de vida oferecida pela cidade. Muitas das endinheiradas famílias ainda viviam em suas fazendas, onde havia água, alimentos e outras comodidades das quais o núcleo urbano carecia. Em 1883, chega o primeiro trem da Companhia Mojiana de Estradas de Ferro. Os trilhos levavam o café para o Porto de Santos e, no sentido inverso, traziam novidades da construção civil, além de imigrantes que puderam trabalhar nas fazendas da região ou na cidade. Uma seqüência de obras de infra-estrutura urbana foi implementada pela Prefeitura, começando pela retificação dos primeiros trechos do Ribeirão Preto, o que permitiu a ampliação da área central.2

1 JARDIM, Renato. apud FARIA, Rodrigo Santos de. Ribeirão Preto, uma cidade em construção (1895-1930); O moderno discurso da higiene, beleza e disciplina. Dissertação apresentada na UNICAMP, 2003. p. 61-62.2 MANHAS, Adriana Capretz Borges da Silva; SILVA, Blanche Amancio; ANTUNES, Daniela & VITA, Valéria Brizolla. Um olhar vertical e horizontal: 150 anos da construção civil de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Ed. Fl. Mendes Sá, 2007. p. 25

Em 3 de maio do mesmo ano, a população local vê as cores de Ribeirão Preto através da luz elétrica que ilumina os primeiros privilegiados. Na verdade, a luz não chegou exatamente na cidade, mas na casa principal da Fazenda Monte Alegre – hoje localizada no campus da USP-Ribeirão Preto e que abriga o Museu Histórico e de Ordem Geral Plínio Travassos dos Santos.3

[...] enquanto o coronel João Franco de Morais Otávio reunia outros fazendeiros, e também autoridades municipais, para a festa de inauguração do sistema particular de energia elétrica na fazenda da qual era o dono (e que anos depois seria adquirida pelo segundo “rei do café” Francisco Schmidt), a luz na cidade ainda era uma realidade distante.4

Mas o fervilhar dos negócios e da política, que, aliás, sempre caminhou junto com a agricultura ribeirão-pretana, acontecia mesmo na cidade, que já trazia, também, outros atrativos culturais e de lazer só aí possíveis. A chegada da energia elétrica no meio rural, antes da cidade, que ainda sofria com seu caráter rural, não é de se estranhar e lembra, mais uma vez, o poderio dos senhores do café. Assim, já com atraso, Ribeirão Preto pedia planejamento e melhoramentos. A ferrovia chegou quando a questão da iluminação pública para o município ainda começava a ser discutida pela Câmara – isso apenas no dia 2 de maio desse mesmo ano.

3 NONINO, Carlos Alberto. Luz elétrica chegou a RP há 125 anos. Jornal A Cidade. 04/05/2008, p. 18.4 Idem.

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Foi quando os vereadores aprovaram uma comissão para “por meio de donativos particulares, colocar lampiões nos lugares mais convenientes das ruas principais, ficando esta Câmara encarregada do fornecimento do querosene”.5

Finalmente, em março de 1885, é inaugurada a iluminação pública em alguns pontos da cidade, com lampiões à base de querosene. Um ano depois, o imperador D. Pedro II e a esposa Dona Thereza Christina visitam o município e são hospedados no solar de Rodrigo Pereira Barreto, que ficava na Rua Luiz da Cunha, perto da Avenida Jerônimo Gonçalves (no bairro Vila Tibério, imediações do centro velho de Ribeirão Preto) e foi demolido no início dos anos de 1970 – década que marcou também a demolição de um dos maiores exemplares da arquitetura eclética e símbolo do poderio do café à época, o Palacete Innecchi.

Mas as primeiras lâmpadas elétricas nas vias públicas foram acesas somente em 1899. Valéria Valadão ressalta que a riqueza advinda dos negócios com o café foi a financiadora de grandes transformações no centro da cidade.6

A Imagem 2.1 mostra a Rua da Estação no centro da cidade em 1903. Poucas ruas têm calçamento, a arquitetura colonial apresenta-se nitidamente nos casarões com várias janelas, e o cenário já mostra alguns postes de iluminação pública. Valéria Valadão relata uma série de melhoramentos promovidos na cidade na virada do século XIX para o XX.

5 Idem.6 VALADÃO, Valéria. Op. Cit.

O calçamento de paralelepípedos chega por volta de 1902 e o primeiro local calçado foi a então Rua da Estação (hoje Rua General Osório). O serviço de água e esgoto foi iniciado no Estado em 1898, período em que se registra uma epidemia de febre amarela, e alguns anos depois, em 1903, iniciam-se, em Ribeirão, os serviços de abastecimento de água e canalização de esgotos. Já a telefonia é tratada em contrato do ano de 1908, prevendo a instalação de nove aparelhos telefônicos no edifício da Câmara Municipal para uso exclusivo desta. Em 1920, foi feito um investimento grande para pavimentação de algumas ruas da cidade, especialmente na região central, sendo que só algumas ruas fora dessa área foram também beneficiadas.

Imagem 2.1

Rua da Estação, em Ribeirão Preto, em 1903.

Foto: autor não identificado. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

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Diante do positivo desenvolvimento urbano, uma primeira expansão em direção à zona norte aconteceu logo em 1887, com a criação do Núcleo Colonial Antônio Prado, região que deu origem ao Barracão e aos Campos Elíseos e, mais tarde, ao Ipiranga, Sumarezinho e, na direção leste, o Jardim Paulistano e o Jardim Novo Mundo.7 A região 7 SILVA, Adriana Capretz Borges da. Campos Elíseos e Ipiranga: memórias do antigo Barracão. Ribeirão Preto: COC, 2006. Em meados do século XIX, o governo imperial promoveu a vinda de imigrantes europeus para substituir a mão-de-obra escrava, que consistia um sistema em decadência, seja pelos altos custos que demandava o escravo para o fazendeiro ou pelo discurso abolicionista que tomava força em setores importantes da sociedade civil. Soma-se a isso a pressão que a Inglaterra exerceu contra o tráfico de negros para o Brasil, pois o sistema escravocrata era incompatível com o capitalismo em expansão, dado o nulo poder consumidor do cativo. Assim, com a proximidade da abolição e a necessidade de formação de um mercado consumidor, aliada à necessidade de mão-de-obra para as lavouras do café em expansão, o Governo Imperial investiu progressivamente na política de criação e implantação dos núcleos coloniais no país. Constituiu também uma tentativa de “embranquecer” a população, uma vez que a Família Real não se reconhecia em meio à população negra existente. O cenário socioeconômico europeu favorecia a emigração principalmente de italianos, e o Brasil tornou-se o principal destino, com as propagandas de acesso à terra que eram feitas pelos agentes de imigração na Europa. Assim, ocupando as terras devolutas demarcadas a partir da Lei de Terras de 1850 – em geral, pouco atraentes geograficamente e distantes das cidades existentes −, entre 1812 e 1890, foram implantados 43 núcleos coloniais no país, sobretudo na região Sul. Os cafeicultores paulistas dificultaram ao máximo esse projeto, temendo que o acesso à terra pelos imigrantes dificultasse a oferta de mão-de-obra. Entretanto, no final do século XIX, diante da dificuldade de fixação do imigrante no país – devido aos mesmos maus-tratos a que os escravos eram submetidos e à escassez de gêneros de subsistência, já que toda a terra disponível era ocupada com o café − concordaram que os núcleos coloniais serviriam como “iscas” para atrair os imigrantes e incentivar a produção da pequena propriedade, sendo que o núcleo criado em Ribeirão Preto data de 1887. Constituído inicialmente para “atrair braços para o café” e modificar o perfil do morador urbano da cidade, serviu para abrigar tudo o que deveria ser “inviabilizado” pela elite republicana: sanatórios, hospitais, cemitérios e fábricas,

constituía-se de um grande loteamento de 200 chácaras que teve por objetivo atrair imigrantes para o trabalho nas lavouras de café da região, mas também povoar a cidade e modificar o perfil do trabalhador urbano. Os lotes eram vendidos preferencialmente a imigrantes italianos com profissão urbana ou pecúlio para a formação de um estabelecimento comercial.

Entretanto, os melhoramentos urbanos estavam focados no espaço considerado a região nobre – exatamente o centro da cidade, que mantinha a prioridade dos investimentos.

Dos 14 quarteirões pavimentados no ano de 1922, somente quatro localizam-se fora do centro da cidade. A desproporção na distribuição desse melhoramento urbano reafirmaria a área central como prioritária nos investimentos públicos e aquela que, conseqüentemente, iria atrair os investimentos privados.8

Para longe do centro deveriam ir os equipamentos poluentes e outros considerados não condizentes com o perfil do morador da nobre região. Seguindo o urbanismo sanitarista do final do século, as cidades deviam ser “saneadas e embelezadas”. E para manter a região devidamente urbanizada segundo o pensamento vigente na época, equipamentos como hospitais, cemitérios, matadouros, sanatórios, orfanatos e fábricas poluidoras foram levados para o Núcleo Colonial Antonio Prado.

mas também o trabalhador, imigrante e pobre.8 VALADÃO, Valéria. Memória arquitetônica de Ribeirão Preto (planejamento urbano e política de preservação). Dissertação apresentada na UNESP-Franca, 1997. p. 73.

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E para garantir o tal embelezamento, muitos melhoramentos urbanos foram financiados por personalidades ilustres da sociedade. Valéria Valadão lembra que “Em sessão da Câmara Municipal de 15 de setembro de 1900, foi aprovada autorização para que o Dr. Loiola, ilustre advogado, promovesse as obras de ajardinamento de uma das quadras do largo, situada ao fundo da velha Matriz”.9 Meses depois, em novembro, o vereador Tte. Cel. João Evangelista Guimarães doa um chafariz para o jardim, que também ganha um coreto do Cel. Francisco Schmidt e bancos do vereador Cel. Arthur Diederichsen. No Largo da Matriz, estava também o Theatro Carlos Gomes, na atual Praça Carlos Gomes (Ver Imagem 2.2), erguido com o dinheiro de políticos e fazendeiros, inaugurado em 1897 e demolido em 1945, mas antes disso já tinha perdido sua importância para o suntuoso Theatro Pedro II, inaugurado em 1930, em plena crise mundial.

Imagem 2.2Theatro Carlos Gomes

Foto: J. Gullaci – 1935. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

9 Idem

A ferrovia levava o café de Ribeirão Preto para o Porto de Santos e trazia, no sentido inverso, o imigrante, que pôde trabalhar nas fazendas da região ou na cidade. Com isso, a arquitetura passou a ser mais refinada, construída com materiais importados e mão-de-obra especializada, feita pelos capomastri italianos, substituindo a modesta arquitetura com traços coloniais pelo ecletismo arquitetônico em moda no final do século.

Com um processo de modernização, ainda que financiado pela iniciativa privada e motivado por interesses e rivalidades sociais e políticas – comportamento que continuou refletindo-se nas doações para melhorias da cidade e nas construções de solares, palacetes e mansões –, a Matriz passa a ser motivo de preocupação por não estar mais condizente com a importância que a cidade já demonstrava no cenário nacional. Além disso, a coexistência de dois equipamentos com funções tão distintas – o Theatro Carlos Gomes e a Matriz – era motivo de desconforto tanto para as autoridades religiosas, quanto para os freqüentadores da casa de cultura e espetáculos.

Valéria Valadão relata que, em 1890, o terceiro vigário da Paróquia, Padre Joaquim Antônio de Siqueira, inicia uma campanha para a construção de nova igreja, justificando o aumento populacional e o espaço físico limitado para receber o crescente número de fiéis, além de alegar que a velha Matriz – construída em 1876 e demolida em 1904 – estava em ruínas. A comissão para organizar a campanha foi formada por nomes expressivos da sociedade da época: além do Pe. Siqueira, como presidente, a comissão contava com Manoel da Cunha Diniz Junqueira,

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Arthur Diederichsen, Francisco Schmidt, Virgílio da Fonseca Nogueira, Antonio Honório Alves Ferreira, Fernando Ferreira Leite e Cardoso Ramos Ferreira. Em 1911 é inaugurado o Palácio Episcopal e, em 1917, a nova Catedral Metropolitana.

Surgem outros equipamentos urbanos para responder às necessidades dos novos moradores, compondo o cenário típico de uma próspera cidade: o Mercado Municipal é inaugurado em 1900, nas proximidades da Estação Mojiana, o Ginásio do Estado, na Rua Prudente de Morais, além das escolas públicas Guimarães Júnior, na Rua Lafaiete, Fábio Barreto, na Amador Bueno, e as escolas particulares – o Colégio Metodista, inaugurado em 1904, e o Santa Úrsula, de 1912, na região central. O centro da cidade recebia também lojas de produtos importados, cafés, clubes, como a Sociedade Recreativa e o Commercial Foot-Ball Club, além dos cassinos, como os famosos El Dorado e Antarctica, e fábricas como a Cia. Antarctica Paulista (Ver Imagem 2.3).10

Valéria Valadão dá uma boa descrição do avanço da pavimentação na cidade e, com ela, o surgimento de novos negócios, residências e equipamentos de lazer e culturais. Ao final da década de 1910, várias ruas centrais encontravam-se ajardinadas e arborizadas. Apesar de a prioridade ser o centro da cidade, ruas da Vila Tibério e do Barracão (atual bairro Ipiranga), incluindo a importante Avenida Saudade (no bairro Campos Elíseos), que já contava com 1.300 metros de comprimento, também foram 10 VALADÃO, Valéria. Memória arquitetônica de Ribeirão Preto (planejamento urbano e política de preservação). Dissertação apresentada na UNESP-Franca, 1997. p. 80-81.

beneficiadas. Campos Elíseos e Ipiranga encontravam-se na área do antigo Núcleo Colonial Antonio Prado, que chegou a abrigar centenas de famílias, a maioria de imigrantes, todos exercendo profissões urbanas (marceneiros, pedreiros, pintores etc.) que tiveram significativa importância na construção de Ribeirão Preto.11

Imagem 2.3Obras de construção da fábrica da Cia. Antarctica

Paulista, inaugurada em 11 de agosto de 1911.

Foto: Ernesto Kuhn. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

11 SILVA, Adriana Capretz Borges da. Campos Elíseos e Ipiranga: memórias do antigo Barracão. Ribeirão Preto: COC, 2006. A maioria dos moradores do Núcleo Colonial era formada por imigrantes italianos: dos 183 requerentes de lotes no Núcleo Colonial Antonio Prado, 96 eram italianos, 16 eram portugueses, 11 alemães, 8 espanhóis, 5 brasileiros, 2 belgas, 2 franceses e 43 sem nacionalidade identificada.

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A partir do ano de 1922, toda a área do antigo Núcleo Colonial Antônio Prado passou a responder por um quarto do total de construções no município. Nesse ano, o engenheiro Flávio Uchôa fundou a Companhia Eletro-Metalúrgica Brasileira, no atual bairro Tanquinho, contribuindo para o eixo de expansão norte da cidade. Esse empreendimento foi responsável pela instalação de um ramal da Estrada de Ferro São Paulo−Minas, fazendo a ligação entre Ribeirão Preto e São Sebastião do Paraíso, de onde vinha a matéria-prima da metalúrgica.

O ano de 1922 foi marcante também para os projetos de ampliação da malha viária da área nobre da cidade. Segundo Valéria Valadão, nesse mesmo ano, foi aprovada a aquisição de terrenos para o início da construção da Avenida Independência (hoje Avenida Nove de Julho). Pouco tempo antes, em 1918, os cafezais sofreram com geadas, e a produção de café no município despencou para 560 mil arrobas, mas, mesmo assim, a cidade continuava a se expandir.12

Surge, em 1925, o projeto de prolongamento da então Avenida Independência e o projeto para abertura de uma nova avenida (atualmente a Avenida Independência). A cidade já tinha a Avenida do Retiro (que hoje é a Avenida Francisco Junqueira) e a Jerônimo Gonçalves.

No quarteirão em frente a Praça XV de Novembro, centro da cidade, é construído o Central Hotel, que foi inaugurado no ano de 1926 (Ver Imagem 2.4). Atenta ao desenvolvimento da região, a Cia. Cervejaria Paulista 12 MARCONDES, Renato Leite. O café em Ribeirão Preto (1890-1940). História Econômica & História de Empresas, v. 10, p. 171-192, 2007.

adquire alguns dos imóveis vizinhos e contrata o renomado arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Júnior para desenvolver o projeto do que é hoje o terceiro maior teatro de ópera do país, o Theatro Pedro II.13 O ponto alto da crise financeira que assolou a economia dos Estados Unidos e, por conseqüência, de vários países, em 1929, atrasou as obras do Theatro Pedro II, que foi entregue somente em 1930, o que, ainda assim, mostrou a força da economia local, que tinha acumulado divisas com a atividade cafeeira e, após 1929, reverteu tais dividendos para a construção civil.

Porém, nesse período, por mais diversificada que estivesse a economia local, seria inevitável que sentisse os efeitos da crise mundial que afetou a renda dos fazendeiros e todos os demais negócios da cidade. O escritor Prisco da Cruz Prates lembra que “[...] foram tão duras as conseqüências, que muitos devem ainda se recordar, que houve um ano na década de 1930 a 1940, que durante os 365 dias do ano, nem 50 casas construíssem em nossa cidade.”14

13 O teatro sofreu um incêndio no ano de 1980, foi tombado em 1982 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) e reinaugurado em 1996, após minucioso trabalho de restauração assinado pela construtora ribeirão-pretana Jábali Aude Construções. 14 PRATES, Prisco da Cruz. Ribeirão e os seus homens progressistas. Ribeirão Preto, 1981. p. 169.

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Imagem 2.4Praça XV de Novembro, Theatro Pedro II ao centro, Edifício Meira Júnior à esquerda e, à direita, Central

Hotel (atualmente denominado de Palace Hotel).

Foto: Rainero Maggiori – 8 de julho de 1930. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

Ainda sob o efeito da crise, no ano de 1934, o empresário Antonio Diederichsen adquire uma área limitada pelas ruas General Osório, Álvares Cabral e São Sebastião e constrói o primeiro edifício de concreto com mais de três pavimentos da cidade, dando novo impulso aos negócios da região central. A edificação levou o nome do empresário na fachada (Ver Imagem 2.5).

Imagem 2.5Construção do Edifício Diederichsen

Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

O Edifício Diederichsen também inovou com o uso misto, abrigando apartamentos de moradia, hotel, comércio e serviços, e simbolizou a retomada da economia após a crise. Por isso, sua arquitetura deveria ser inovadora e não podia lembrar em nada o ecletismo que marcou o período do café. Para tanto, fez-se uso do estilo art déco, cujos elementos decorativos estilizados e geométricos, produzidos em escala industrial, imprimiam a modernidade à construção civil. Em seguida, outros edifícios de serviços seguiram a mesma estética da modernidade, como o Edifício dos Correios, o Umuarama Hotel e vários outros próximos à Praça XV.

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Filho do imigrante alemão Bernardo Diederichsen, Antonio Diederichsen formou-se em Agronomia, administrou fazendas e, em sociedade com João Hibbeln, arrematou, no início do século passado, o acervo do Banco Construtor de Santos, que havia decretado falência, e passou a explorar a serraria, fundição e mecânica. Em 1936, o Antigo Banco Construtor (ABC) abriu um departamento de vendas da Ford e deu início à fase de construção de arranha-céus na cidade.

Com a crise na lavoura, grande parte da população proveniente do campo migrou para a cidade, provocando um novo aumento populacional na área urbana. Grande parte dessa população se fixou na zona norte, que passou a constituir a área industrial da cidade. Julio Manoel Pires afirma que, embora o dinamismo econômico de Ribeirão Preto, a partir dos anos 1930, tenha como eixo principal as atividades terciárias, há também a contribuição decisiva do crescimento industrial observado no período, calcado, sobretudo, no desenvolvimento da agroindústria, mais especificamente no processamento do algodão e da cana-de-açúcar.15 As maiores indústrias do município na década de 1930, segundo o Catálogo das Indústrias do Estado de São Paulo de 1945, eram a S.A. Indústrias Reunidas F. Matarazzo, estabelecida em 1936 e dedicada ao beneficiamento do algodão, e a S.A. Moinho Santista Indústrias Gerais, fixada no município em 1938 e voltada para a produção de óleo refinado e sabão.

15 PIRES, Julio Manoel. O desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto: 1930-2000. In: Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, 2004, p.179-191.

Mas o subperíodo mais significativo para o desenvolvimento da agroindústria em Ribeirão Preto foi a Segunda Guerra Mundial. Nesse interregno instalam-se em Ribeirão Preto: a Anderson Clayton & Cia Ltda. (beneficiamento de algodão − 1939), a Sociedade Agrícola Fazenda Luís Pinto (álcool – 1940), a Ed. Luís Magri & Cia Ltda. e a indústria Edison Leite de Morais (ambas voltadas para o beneficiamento de algodão – 1940), a Algodoeira Meirelles Ltda. (1941), a Refinaria Ipiranga Ltda. (açúcar refinado – 1942) e Uchôa Carneiro & Cia Ltda. (beneficiamento de algodão – 1944). Pouco anos depois, em 1946 e 1948, houve a fundação de duas das principais empresas de Ribeirão Preto, atualmente, a Dabi Atlante e a Coca-Cola, respectivamente.16

As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, consideradas das maiores, foram implantadas no bairro Campos Elíseos, assim como a Cerâmica São Luiz, a Indústria de Bebidas Gino Alpes, o Frigorífico Morandi e outras empresas ligadas à produção de gêneros alimentícios, vestuário e insumos para construção, beneficiando-se do preço da terra proveniente do antigo Núcleo Colonial Antônio Prado para se instalarem, assim como do contingente de mão-de-obra e mercado consumidor que foram constituídos.

Julio Manoel Pires ainda afirma que, na década de 1930, a cidade torna-se o “locus privilegiado” de atendimento à demanda de comércio da região e explica:

A qualidade excepcional das terras e a instalação de uma agricultura moderna em bases capitalistas, em todo o nordeste paulista e parte do sul de Minas Gerais, propiciaram crescimentos

16 Idem.

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substantivos da renda nessas regiões, parcela da qual obrigatoriamente torna-se demanda por bens e serviços somente encontrados nas áreas urbanas.17

Nessa fase, diversos especuladores imobiliários adquiriram terrenos na área do antigo Núcleo Colonial Antônio Prado e lançaram-se à construção de casas de aluguel para a classe trabalhadora, nas proximidades das indústrias. As casas menores recebiam a decoração art déco produzida em série tal como os modelos de carros de Henry Ford, e por isso foram chamadas de casas “fordistas” ou “V8”, que era o nome do motor usado nos carros. Entre 1930 a 1946, apenas cinco loteamentos haviam sido aprovados pela Prefeitura, mas, nos três anos seguintes, esse número triplicou, principalmente no sentido norte-sul.

No sentido sudeste, formou-se a Vila Paulista (atual Jardim Paulista) e Vila Seixas, aprovadas em 1949 e 1951 respectivamente. A Vila Seixas era uma continuação natural do centro, enquanto que a Vila Paulista surgia a partir da concentração de casas ao longo da Rua dos Italianos (atual Camilo de Matos), paralelamente à Avenida Francisco Junqueira.

Face ao novo boom imobiliário, em 1945, foi elaborado um Plano Diretor – que nunca foi colocado em prática – pelo engenheiro José de Oliveira Reis, com propostas de zoneamento, definição de sistema viário, criação de áreas públicas e até previsão de uma área de expansão urbana.

17 Idem.

Em 1948, o asfaltamento da Rodovia Anhangüera, ligando Ribeirão Preto a Campinas, facilitou os acessos para o município e criou um novo vetor de expansão industrial no Estado. Teve início uma nova fase de desenvolvimento regional estruturada em torno da região servida pela Anhangüera, que substituiu o eixo anterior da Mojiana, e a cidade se expandiu no sentido leste. Em 1949, a Avenida Nove de Julho recebeu o calçamento em paralelepípedos e foram plantadas as mudas de sibipirunas, que marcam até hoje sua paisagem (Ver Imagem 2.6).

Com o final da Segunda Guerra Mundial, as construções praticamente dobraram em número, sobretudo após o incentivo de leis municipais criadas a partir de 1947, que facilitavam a aquisição da casa própria pelos trabalhadores – e a cidade se preparou para a retomada da economia na década seguinte, marcada pela verticalização e popularização do automóvel, que modificou toda a paisagem urbana.

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PARtE ii

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Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

Imagem 2.6Sibipirunas na Avenida Nove de Julho

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Os registros do passado, em atas que descrevem as reuniões realizadas desde os primeiros meses de atividades da AEAARP, são reveladores da disposição e das dificuldades enfrentadas pelos profissionais que idealizaram concretizar o sonho de unir engenheiros, agrônomos e arquitetos em uma entidade que pudesse trabalhar pela valorização profissional e pela comunidade. Nos primeiros 40 anos, os textos dos documentos, que relatam o teor das discussões nas reuniões de diretoria e assembléias, foram redigidos pelos próprios diretores e, mais tarde, por secretárias que a Associação contratou a partir de sua instalação na primeira sede própria, nos últimos dias de 1969.

Na entrevista que o engenheiro agrônomo Oswaldo Mamprim concedeu para esta obra, ele se emocionou ao reconhecer a própria caligrafia em uma cópia do primeiro Livro de Atas da entidade. Mamprim integrou a primeira diretoria da AEAARP e foi o redator da ata da primeira reunião, do primeiro estatuto, da ata da solenidade de instalação da entidade e, portanto, dos primeiros passos da Associação. Este encontro, que aconteceu em agosto de 2008, na residência de Mamprim em Campinas, resultou em duas horas de entrevista. As entrevistas produzidas para esta obra e os Livros de Atas da AEAARP, foram as principais fontes de informação utilizadas para contar a história da entidade nas próximas páginas.

Introdução à Parte II

origens e vertentes históricas

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Em alguns momentos, os textos das atas omitem informações que seriam essenciais para reconstruir com rigor vários episódios, como o caso do pedido de desfiliação do engenheiro Nelson Nóbrega, em 1954. As atas daquele período descrevem que sua atitude foi motivada pelo teor, considerado agressivo, de um ofício enviado pela Associação ao prefeito da época. Nóbrega decidira pelo afastamento em solidariedade ao chefe do Executivo, do qual era subordinado na chefia de um dos departamentos da Prefeitura. Todas as alternativas debatidas para que ele pudesse rever a decisão foram documentadas, exceto o conteúdo do ofício que gerou esse conflito.1

Os documentos descrevem também as intenções positivas daqueles que dirigiram a entidade, apesar de haver grandes hiatos entre um encontro e outro das diretorias, expondo um pouco da fragilidade da organização em momentos específicos de sua história. Entretanto, é inegável a riqueza desse material que, na maioria das vezes, revela entusiasmo, espírito de equipe e até mesmo o perfil de alguns redatores. É o caso, por exemplo, do engenheiro agrônomo José Braga de Albuquerque, que surge nas atas como um elemento conciliador, lutando contra o afastamento de seus colegas de profissão, problema ocorrido no início dos anos de 1960, e, na seqüência, como um relator bem-humorado da ata referente a um jantar no qual um dos sócios teria dado “sábia lição de como não dançar o halygali”.2

1 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 24/09 - 22/10/1954, p. 39v-42v2 Idem, Livro de Atas 2, 24/10/1963. p. 8v e 10.

O engenheiro agrônomo Marcos Vilela Lemos também concedeu longa entrevista, poucos meses antes de seu falecimento, e comentou o que já tinha sido constatado durante as pesquisas: “Houve período em que não se fazia ata”. Para suprir essa lacuna, foram feitas 15 entrevistas com profissionais que militaram em vários momentos da AEAARP e auxiliaram no trabalho de reconstituição da história, contribuindo, em vários momentos, com suas visões críticas sobre a Associação e apontando, muitas vezes, rumos para o futuro. Tais entrevistas somam mais de 40 horas de gravação que agora integram o acervo da biblioteca da AEAARP.

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I

A fundação da AEAARP

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Ata da instalação solene da Associação Aos dias vinte e dois de outubro de mil novecentos e quarenta e oito teve lugar, às vinte horas, no salão nobre do Centro Médico desta cidade, a solenidade de instalação da Associação dos Engenheiros de Ribeirão Preto.Especialmente convidado para presidir a sessão, esteve presente o sr. eng. Carlos Quirino Simões, digno presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura da sexta região.[...] Em seguida o eng. Carlos Quirino Simões abriu a sessão, fazendo-se ouvir o primeiro número musical pela Orquestra Sinfônica.Passou depois a palavra ao eng. Guilherme de Felippe, que saudou o ilustre visitante.O eng. Carlos Quirino Simões, falando a seguir, agradeceu as manifestações de apreço que lhe foram prestadas, pôs em evidência a oportunidade da fundação da Associação dos Engenheiros de Ribeirão Preto augurando-lhe um próspero futuro.Depois se levantou o dr. José de Magalhães, digno prefeito municipal, que agradeceu o convite que lhe fora feito, salientou a possibilidade de cooperação que poderia proporcionar essa associação de técnicos de Engenharia ao município e designar à mesma a mais auspiciosa existência.1

A sessão solene de instalação da AERP-Associação dos Engenheiros de Ribeirão Preto, que chamaremos AEAARP-Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto, nome que a entidade assume futuramente, teve vez no Centro Médico de Ribeirão Preto e reuniu autoridades da área, como o então presidente do CREA-SP, o engenheiro Carlos Quirino Simões, e

1 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 22/10/1948, p. 8v-9. As citações referentes aos documentos de época utilizados para a elaboração desta obra foram adequadas à normatização do português formal.

também da política local, como o prefeito da época, José de Magalhães. O evento foi cercado de pompa, com apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e solo da consagrada pianista Olga Tarlá.

Já naquele momento, a entidade deixava clara a sua vocação de congregar profissionais e intervir tecnicamente nas questões relativas ao desenvolvimento social e econômico da cidade. Além disso, em seu discurso de abertura da solenidade, o então prefeito sugeriu que se estabelecesse uma cooperação técnica nos assuntos referentes ao município. As atenções da sociedade da época estiveram voltadas àquela solenidade, que foi transmitida ao vivo pela PRA-7, a grande emissora de rádio de Ribeirão Preto naquele tempo. A vontade dos primeiros membros de pôr em prática o projeto de organizar uma associação era tão grande e profícua que vários deles até desembolsaram CR$ 390 cada um para as despesas iniciais.2

O engenheiro agrônomo Oswaldo Mamprim compôs, como secretário, a primeira diretoria da AEAARP e foi responsável pela redação das atas que registram os momentos iniciais da entidade (Ver Imagem 1.1). Em entrevista concedida, já aos 92 anos de idade, em 2008, falando sobre suas lembranças acerca daquele glorioso momento histórico em que foi redigida a primeira ata da Associação, Mamprim (Ver Fontes) conta que Guilherme de Felippe, o primeiro presidente da entidade, chegou à cidade nos anos de 1940 e não conhecia muitas pessoas. Mesmo assim, Guilherme foi o idealizador da Associação e arregimentou parceiros para sua idéia, principalmente

2 Idem, 11/07/1948, p. 1.

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entre os engenheiros agrônomos que trabalhavam na antiga Casa da Lavoura. Ele não era graduado, mas havia se especializado em Engenharia Sacra realizando cursos na Itália. Mamprim conta que só soube desse fato anos mais tarde.3

Imagem 1.1A primeira ata da AEAARP, redigida por

Oswaldo Mamprim.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

3 ASSOCIAÇÃO DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DE RIBEIRÃO PRETO – 50 anos. Ribeirão Preto: MIC Editorial, 1999. p. 9.

Antonio Junqueira Reis (Ver Fontes), engenheiro agrônomo, disse que, assim como Mamprim, viveu de perto os primeiros anos da AEAARP. Também com seus 92 anos de idade, disse que o surgimento da Associação teve por objetivo promover a união entre os profissionais, “(...) trocar idéias, para não ficar isolado”. Ele descreveu Guilherme de Felippe (Ver Imagem 1.2) como um poeta, um sonhador, de comportamento afável e um homem com facilidade de fazer amizades. Entretanto, ainda segundo ele, o primeiro presidente da Associação não demonstrava o mesmo talento nas finanças. “Essa parte financeira, econômica foi difícil. Nessa parte ele não trabalhou”, afirmou.

Imagem 1.2Guilherme de Felippe

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

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O arquiteto Cássio Pinheiro Gonçalves, presidente da AEAARP no biênio 1956-1958, disse que a união dos engenheiros agrônomos foi o motor para a fundação da entidade, apesar de engenheiros civis e arquitetos figurarem também entre os associados desde os primeiros dias de atividades, indicando a veia agrícola que há muito caracterizava Ribeirão Preto (Ver Fontes). Na cidade, em pleno desenvolvimento urbano, a figura do engenheiro civil, com formação universitária, era rara. O mesmo acontecia com os arquitetos. Por volta dos anos 1950, Cássio e Ijair Cunha eram dos poucos arquitetos em atividade.

Segundo Julio Manoel Pires, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), Ribeirão Preto retomava, naquele período, a atividade econômica após a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929.

Se o cultivo do café foi a principal atividade que engendrou os fatores determinantes do desenvolvimento de Ribeirão Preto no final do século XIX e início do século XX – ferrovia, bancos, energia elétrica, capitais, mercados etc. – a recuperação e a manutenção do crescimento posterior aos anos 1930

encontram-

se relacionadas, sobretudo, à diversificação empreendida na região no entorno da cidade. Juntamente com o processo de loteamento das grandes fazendas, houve o crescimento dos cultivos da cana-de-açúcar, do algodão, do arroz, da laranja, da soja e a expansão da pecuária. Tratava-se, então, de atividades direcionadas fundamentalmente para o mercado interno, seja sob a forma de matérias-primas, seja para consumo. As condições bastante favoráveis de clima, solo fértil (enorme mancha de terra

roxa), capacidade empresarial e utilização de técnicas modernas consubstanciaram-se em elevados níveis de produtividade e renda. Na medida em que colaboraram decisivamente para a manutenção da prosperidade nas áreas rurais, facultaram o desenvolvimento do setor comercial, industrial e de serviços do município de Ribeirão Preto, já então plenamente consolidado como a principal base urbana de convergência econômica da região.4

A construção do Edifício Diederichsen, concluída em 1936, é apontada pelo autor como um marco importante do desenvolvimento econômico da cidade, uma “demonstração da confiança e capacidade financeira inusitadas”.5

Nas décadas seguintes, a retomada da atividade econômica proporcionou um saldo positivo à cidade, consolidado a partir dos anos de 1950. Na década anterior, o município se preparava para iniciar este novo ciclo de desenvolvimento econômico, ancorado no comércio e na prestação de serviços muito mais do que na agricultura e na industrialização. Duas das empresas que figuram entre os grandes negócios atualmente em Ribeirão Preto foram fundadas naquele período: em 1946, a Dabi Atlante e, em 1948, a Coca-Cola, que esteve instalada na Avenida Francisco Junqueira no início de suas atividades (Ver Imagem 1.3).6

4 PIRES, Julio Manoel. O desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto: 1930-2000. In: Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, 2004, p.179-191. p. 2-3.5 Idem, p. 26 Idem, p. 6.

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Imagem 1.3Coca-Cola, na Avenida Francisco Junqueira

Foto: autor não identificado. Grupo Amigos da Fotografia

No setor da construção civil, a partir da metade da década de 1940, com o final da Segunda Guerra Mundial, as obras dobraram de número, mas sem nenhum

planejamento que ordenasse o crescimento urbano. A experiência de 1945, com a contratação do arquiteto carioca José de Oliveira Reis para a elaboração do projeto de Plano Diretor, não saiu do papel.7

Além do propósito de valorização dos profissionais da área tecnológica, nesse cenário de restabelecimento da atividade econômica de Ribeirão Preto, a AEAARP surge também para influenciar no desenvolvimento econômico e social, capacidade que demonstrou já na solenidade de instalação. O engenheiro Galileu Frateschi, que chegou com a família a Ribeirão Preto em 1947 e também integrou a primeira diretoria da AEAARP, foi designado pela entidade para representá-la em comissão formada pela Câmara Municipal para estudar o Código de Obras, em outubro de 1948. O convite partiu do Legislativo e foi a primeira de uma série de atuações da AEAARP nas questões da cidade, realizadas no decorrer desses 60 anos de vida da Associação.

“A identidade nossa era criar uma associação que participasse da atividade pública da cidade, do desenvolvimento da cidade”, analisa Cássio Pinheiro Gonçalves (Ver Fontes).

Em entrevista, o engenheiro agrônomo Genésio Abadio de Paula e Silva (Ver Fontes), presidente da AEAARP nos períodos de 1994 a 1996 e 2002 a 2005, avaliou que a inserção da Associação na sociedade e a influência que aqueles profissionais poderiam ter

7 MANHAS, Adriana Capretz Borges da Silva; SILVA, Blanche Amancio; ANTUNES, Daniela & VITA, Valéria Brizolla. Um olhar vertical e horizontal: 150 anos da construção civil de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Ed. Fl. Mendes Sá, 2007. p. 58.

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nas principais decisões sobre a vida da cidade foram o combustível para a fundação de um organismo que pudesse congregar as profissões tecnológicas. Ele lembra que, nos anos de 1940, a formação universitária dos associados era um “privilégio”. Naquele cenário, os profissionais estavam imbuídos da “obrigação de participar, de estar ajudando”.

No primeiro ano, a diretoria decidiu limitar o número de associados àqueles que ingressaram na época da fundação da entidade. Em julho de 1948, mandou imprimir 50 recibos para sócios com validade de três anos. Os registros eletrônicos de associados disponíveis em 2008 não informam a data de filiação de cada um. Supõe-se, portanto, que, em 1948, o número total de sócios chegasse a 50, no máximo. Entretanto, a participação efetiva nas reuniões limitava-se aos diretores, conforme registros de presença no Livro de Atas. Dois anos mais tarde, em 1950, Guilherme de Felippe se ressente dessa decisão e pede que todos envidem um “trabalho pessoal” no sentido de arregimentar novos associados.

Não é possível, afirma o sr. presidente, que a maioria dos engenheiros residentes em Ribeirão Preto se desinteresse pela Associação, pois, nos dias que passam, o trabalho de equipe, a socialização da profissão, os interesses recíprocos, enfim a vida associativa profissional, tendo como denominador comum a cooperação e a ética profissional, são fatores de sobrevivência.8

8 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 05/02/1950, p. 17v.

Nos anos posteriores à fundação, a AEAARP dedicou-se a trabalhar e debater temas que valorizassem a regulamentação do exercício profissional, como a definição de uma tabela de honorários, de um código de ética, o debate de leis de alteração da organização urbana do município, a discussão sobre questões relativas à habitação popular e fontes de energia alternativa.

A definição a respeito de uma sede própria, capaz de abrigar as ações burocráticas e sociais da AEAARP, entretanto, foi o tema que mais tempo tomou dos associados, tendo uma solução definitiva nos anos de 1980. Apesar dos esforços iniciais de organização física e política da Associação, Antonio Nogueira de Oliveira, presidente no biênio 1954-1956, salientou, ao assumir a presidência, que a entidade vivia ainda um momento “embrionário”.9

Em 60 anos, a Associação mudou várias vezes de endereço e deu um salto de qualidade organizacional. Até hoje, o espírito de inserção da AEAARP na sociedade segue inabalado. A memória daquele período é o alicerce da história da entidade.

9 Idem, 02/07/1954, p. 36.

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II

Dos porões das obras

em construção à sede própria

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Entre 1969 e 1971, o engenheiro civil Décio Carlos Setti presidiu a AEAARP, quando foi inaugurada a primeira sede própria, no conjunto de salas de número 602 do Edifício Padre Euclides, localizado à Rua Visconde de Inhaúma 490, centro da cidade.

Até chegar àquele momento histórico, os associados passaram 21 anos como “errantes”, segundo Setti (Ver Fontes), que viu a instalação da AEAARP aos 17 anos quando seu pai, Alexandre Setti, construtor licenciado, uniu-se aos fundadores. Décio lembra que as reuniões, nos primeiros anos, aconteceram em subsolos de edifícios em construção e no Palacete Innecchi – um sobrado na Rua Duque de Caxias, esquina com a Barão do Amazonas, construído pela família Innecchi em 1929 e demolido em 1972, − cujo proprietário era Francisco Claudio Innecchi, também um dos fundadores da Associação (Ver Imagem 1.2). Os documentos da época revelam que os fundadores “errantes” buscaram fixar a AEAARP em sedes provisórias até a aquisição de um espaço próprio, propósito externado desde a redação do primeiro estatuto da entidade, em 11 de julho de 1948, e envidaram diferentes esforços com esse objetivo.1

1 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 11/06/1948, p. 1-2.

Imagem 1.2Palacete Innecchi, na confluência das

ruas Duque de Caxias e Barão do Amazonas, abrigou reuniões da AEAARP.

Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

Foi Innecchi, que era o tesoureiro, quem providenciou o aluguel da primeira sede provisória da AEAARP, instalada em uma sala do Edifício Kefalaj, cujo endereço não aparece nos Livros de Atas, e também financiou em seu próprio nome a aquisição dos móveis, pagos a ele em prestações pela Associação.2

2 Idem, 19/10/1949, p. 14 v.

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A AEAARP chegou a dividir espaço com a ARRI (Associação Regional de Rádio e Imprensa) e com o Aeroclube de Ribeirão Preto, em 1950, em uma sede provisória na Rua São Sebastião, 1.063, em imóvel cedido pelo médico Luiz Leite Lopes, fundador do Aeroclube e que hoje dá nome ao aeroporto de Ribeirão Preto. As reuniões da Associação aconteceram nesse espaço até 1952, quando, após o falecimento de Leite Lopes, os herdeiros retomaram o prédio. Na organização do espaço, coube à AEAARP a doação de seis poltronas usadas.

Uma das sedes provisórias que mais marcaram a memória dos associados foi aquela montada em um espaço cedido pelo Sindicato Rural, presidido por Tomaz Alberto Wathely. No seu longo e árduo esforço de conquistar a própria sede, a entidade lançou mão de diferentes recursos: nos anos 1950, fez gestões junto à ACIRP (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto), que estava construindo sua sede – um edifício na Rua Visconde de Inhaúma, 489, no centro da cidade – com o objetivo de ocupar uma das salas da nova construção. Na mesma década, procurou deputados para que intercedessem junto aos governos estadual e federal com o objetivo de levantar recursos suficientes para a aquisição de um imóvel ou terreno.

A primeira tentativa de obter um terreno em doação aconteceu nos anos de 1950. A AEAARP e a ARRI solicitaram uma área à Prefeitura. Entretanto, ao verificarem a documentação, descobriram que o local, cujo endereço não aparece indicado nos documentos da época,

era inviável por não pertencer ao município.3

Em 1962, sob a presidência do engenheiro eletricista Jean Charlier, que comandou a AEAARP no biênio 1962-1964, a direção investiu novamente no projeto de conseguir um terreno em doação, dessa vez na região ocupada pela Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, que estava prestes a desocupar as instalações que utilizava às margens da Avenida Jerônimo Gonçalves.

Foi ainda aprovada, por unanimidade, a redação de ofício dirigido ao sr. eng. Francisco de Paula Machado Campos, secretário de Viação e Obras Públicas do Estado de São Paulo, solicitando-lhe a cessão de uma área de terreno do atual pátio da Estação da Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, à Praça Francisco Schmidt, para construção de sede própria da Associação, tendo em vista a breve mudança da estação para o bairro do Tanquinho.4

A direção encaminhou o ofício aprovado na reunião, cuja resposta, negativa, chegou um ano mais tarde. Jean sugere, em 1963, o fechamento da sede provisória, instalada em endereço não especificado no centro da cidade, tendo em vista a incapacidade financeira para arcar com as despesas fixas. A proposta é rejeitada pela diretoria, que se une na busca de possíveis soluções para o impasse. A AEAARP passa a alugar espaços para empresas dentro da sede, mas o valor arrecadado continua insuficiente para pagar as contas do mês.

O engenheiro agrônomo José Braga de Albuquerque

3 Idem, 02/07/1950. p. 18v.4 Idem, Livro de Atas 2, 30/11/1962. p. 2.

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(biênio 1964-1966) recebeu a AEAARP com CR$ 1,7 mil em caixa e uma despesa fixa de aluguel mensal de CR$ 30 mil. A dificuldade em fechar as contas incentivou mais uma vez a retomada da luta pela sede própria. Foi nesse cenário que, no dia 5 de maio de 1964, José Braga apresentou proposta à diretoria, que aprovou a compra do conjunto de salas no Edifício Padre Euclides, em fase de construção.

Foi esclarecida na ocasião pelo sr. presidente, a ocorrência de três possibilidades para a aquisição da sede: a) aquisição de conjunto em construção no Ed. S. Jorge; b) idem no Ed. José Chufalo; c) idem no Edifício Padre Euclides. [...] houve opção unânime pela terceira decisão, tendo face a isto sido convidado o colega Cozac, dono do conjunto 602 do Edifício Padre Euclides, para entendimentos. Concluídas as conversações, a Associação concordou em efetuar o pagamento de CR$1.124.416 [...], sendo CR$ 564.416, correspondentes a atualização do capital, considerado o deságio ocorrido na moeda, desde as datas dos respectivos desembolsos, até a data da cessão. Ficou esclarecido que CR$ 60.000 no total a pagar seria a contribuição do colega Cozac, no movimento a ser iniciado entre os colegas a fim de se conseguir fundos para a aquisição ora concretizada.5

Foram muitos os esforços pela conquista de uma área para a implantação da sede própria. E a concretização do sonho foi resultado de empenho pessoal dos associados da época. A inauguração do conjunto de salas no Edifício Padre Euclides aconteceu em dezembro de 1969, sob a presidência de Décio Setti. Empresas da cidade

5 Idem, 05/05/1964. p. 15v e 16.

patrocinaram a festa e a montagem da sede. Pereira de Souza e Conspedra cederam as cadeiras, Genésio Gouveia cedeu a máquina de datilografia, Braghetto & Leão patrocinou um coquetel para 80 pessoas.6

Setti conta que os associados deram também a sua colaboração. Os engenheiros agrônomos, por exemplo, levaram a aguardente.

[...] foi elaborada uma agenda de serviços a serem prestados, cabendo as tarefas abaixo aos seguintes sócios presentes:Décio: obter uma relação das autoridades locais para envio de convites. Doação de crucifixo. Procurar a firma Garoffato para adquirir o arquivo. Entrar em entendimento com o dr. Nildo Tarozzo sobre a conferência.Braga: conseguir o local das conferências. Ofício aos conferencistas. Protocolo da inauguração.Durval: providenciar instalação do bar. Idem dos letreiros indicativos da sede. Lista social para endereçar os convites.Caio: impressão dos convites e patrocinador do coquetel às autoridades.José Antônio: ajudar na solução do bar e modelo dos convites.Como colaborador espontâneo, esteve presente o Calixto, que se prontificou a efetuar pessoalmente a entrega dos convites à imprensa falada e escrita.7

Assim como na solenidade de instalação da AEAARP, autoridades municipais participaram da inauguração da nova sede, o marco de um novo ciclo de atividades da Associação, que proporcionou vários encontros entre seus sócios no decorrer dos anos, como a

6 Idem, Livro de Atas 3, 26/11/1969. p. 147 Idem, 12/11/1969. p. 12v e 13.

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inauguração da Galeria dos ex-presidentes (Ver Imagem 2.2), que aconteceu quando a entidade completou 30 anos. A inauguração do Edifício Padre Euclides coincide com um o período de verticalização das construções no centro de Ribeirão Preto, processo iniciado com o lançamento de empreendimentos comerciais e depois residenciais. Nessa época, a região era um espaço de convergência da população por concentrar a principal estrutura de comércio, serviços e lazer da cidade.8

Imagem 2.2Reunião dos sócios da AEAARP, no conjunto

de salas do Edifício Padre Euclides, para inauguração da Galeria dos ex-presidentes.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

8 MANHAS, Adriana Capretz Borges da Silva; SILVA, Blanche Amancio; ANTUNES, Daniela & VITA, Valéria Brizolla. Um olhar vertical e horizontal: 150 anos da construção civil de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Ed. Fl. Mendes Sá, 2007. p. 68.

No final dos anos de 1960, a economia local já tinha esse perfil consolidado, proporcionado pelo aumento da atividade agrícola nas regiões do nordeste paulista e em parte do sul de Minas Gerais, que gerou renda e demanda por bens e serviços. Ribeirão Preto tinha posição de destaque no cenário estadual como importante centro de serviços.9

Todo esse movimento de convergência, entretanto, pode ter sido um dos motivos que geraram dificuldades de acesso dos sócios à cidade, na visão de dirigentes da época. Naquele momento, a Associação já abrigava serviços como o plantão da Inspetoria do CREA-SP, que passou a gerar mais atividades. Cinco anos depois da inauguração, a mudança de imóvel voltou à pauta, provocada pela sugestão do arquiteto Durval Soave, que levantou a questão, sugerindo a transferência para um local afastado do centro da cidade, e a locação das salas ocupadas pela AEAARP no Padre Euclides como nova fonte de receita. O aluguel de um novo espaço não foi concretizado, mas após esforços, em vários sentidos, de todos os diretores que passaram pela AEAARP, daquele ano até o início dos anos de 1980, a Prefeitura, sob o comando do então prefeito Antonio Duarte Nogueira, doou o terreno onde hoje está instalada a Associação, na Rua João Penteado, 2.237.

O engenheiro mecânico José Augusto Corsini Monteiro de Barros (Ver Fontes) conta que Nogueira 9 PIRES, Julio Manoel. O desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto: 1930-2000. p. 2 e 3. Publicado originalmente como capítulo do livro Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, p.179-191, 2004.

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concretizou a doação no final de seu segundo mandato, encerrado em janeiro de 1983. A maquete da nova sede foi apresentada aos associados no mesmo local onde foi construída (Ver Imagem 2.3).

Imagem 2.3Diretores da AEAARP apresentam

a maquete da sede da entidade.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

A construção teve duas fases. A primeira foi executada quando Cleder Corral Provêncio presidia a entidade, no biênio 1984-1986, e inaugurada em 4 de outubro de 1985. A segunda, com a construção de mais 641 m2, foi finalizada em 1998, e várias reformas foram realizadas até que a sede adquirisse a estrutura que tem hoje (Ver Imagem 2.4)

Imagem 2.4Fachada da sede da AEAARP

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

Neste ano de 2008, a sede passou por uma nova reforma. O projeto do arquiteto Carlos Alberto Gabarra contemplou a construção de vestiários próximos à quadra de esportes, a implantação de um espaço gourmet e um

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deck junto ao salão social para a realização de eventos de grande porte. A reforma do salão, que deu ao espaço uma configuração mais moderna e arrojada, valoriza a realização de eventos na entidade, como, entre outros, a homenagem ao centenário da imigração japonesa, realizada neste ano de 2008 (Ver Imagem 2.5).

Imagem 2.5Apresentação realizada no salão de festas em

homenagem ao centenário da imigração japonesa.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

A sede da AEAARP ocupa um terreno de 4.051 m2, com área construída de 1.570,50 m2, e há previsão de ampliação de mais 324 m2 a partir de 2009.

Um dos episódios mais curiosos registrados nos antigos documentos da Associação é a proposta de compra de uma ilha no Rio Pardo, considerada “assaz interessante” pelos seus pares. A sugestão foi apresentada em 1954 pelo então presidente Antônio Nogueira de Oliveira, que dirigiu

a entidade daquele ano até seu falecimento, provocado por acidente automobilístico em 1956. A negociação teria como objetivo instituir uma sede de campo e foi, inclusive, discutida a “possibilidade de se cultivar algo que pudesse reverter em renda para a Associação”. A área teria sido cedida pela Marinha a um particular e este, cujo nome não é revelado, teria oferecido uma parte do espaço à AEAARP por 99 anos. 10

[...] falando em tese sobre a questão, afirmou o sr. presidente acreditar ser esta a oportunidade de a Associação poder levantar numerário para a construção de uma sede social na cidade, em adquirindo certa parte da ilha, far-se-ia um loteamento e os lotes seriam vendidos aos associados ou a outros colegas de profissões liberais que, desse empreendimento, quisessem, por ocasião, participar. Do pecúlio assim advindo, estruturar-se-ia a decantada sede social na cidade, o que acredita toda a diretoria ser a solução para o soerguimento de bem alto de toda a classe.11

A diretoria tratou de montar uma comissão para estudar o assunto. Ijair Cunha, Antônio Nogueira de Oliveira e Auro Verdi debruçaram-se sobre o tema e, ao apresentarem a conclusão dos trabalhos, foram interpelados pelo engenheiro Otávio Ferreri, que pediu mais esclarecimentos. A idéia não voltou à pauta.

10 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 09/07/1954. p. 35. 11 Idem, 10/09/1954. p. 39v-40.

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III

A comunicação como ferramenta estratégica de relacionamento

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O único registro disponível do primeiro jornal produzido pela AEAARP está na ata de uma reunião de diretoria, realizada no dia 10 de outubro de 1949, relatando o recebimento de um cartão assinado pelo arcebispo metropolitano de Ribeirão Preto, Dom Manoel da Silveira D’Elboux. A autoridade eclesiástica agradecia por ter recebido um exemplar do primeiro jornal de notícias da entidade intitulado Boletim Informativo da Associação dos Engenheiros de Ribeirão Preto.

Além de D’Elboux, engenheiros, autoridades políticas e órgãos de representação de classe, como o CREA-SP (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo), receberam o boletim. A redação coube ao engenheiro civil Walter José Ragazzi, que, na ocasião, era membro da diretoria e, anos mais tarde, veio a presidir a entidade (biênio 1958-1960).

Mesmo antes do primeiro impresso, debates acerca dos temas que envolviam o desenvolvimento urbano eram transmitidos pela emissora de rádio PRA-7, que tinha uma parceria com a AEAARP a ponto de transmitir ao vivo a solenidade de fundação da Associação, o que demonstrava uma preocupação da entidade em utilizar a comunicação como uma ferramenta estratégica para se relacionar internamente e com a sociedade. O primeiro debate aconteceu no final do ano de 1949, por ocasião da programação de comemoração do Dia do Engenheiro. Entre os dias 3 e 11 de dezembro daquele ano, a PRA-7 transmitiu as palestras de Guilherme de Felippe, Paulo de Araujo Alvim, Guttemberg de Souza Meirelles, Nelson

Rodrigues Nóbrega, Jorge Fajnani de Mattos e Diner Aurélio Acorsi.1

Em um período de 30 anos, o boletim recebido por D’Elboux foi o único informativo formal produzido pela AEAARP para a comunidade. Nos anos seguintes, as informações aos associados foram distribuídas por meio de circulares. As propostas para a edição de um jornal que fosse capaz de sintetizar o conteúdo das discussões e tornar públicos seus objetivos continuaram em pauta, mas esbarrando seguidamente na falta de recursos.

Os documentos da época revelam que os diretores não se abalavam com as dificuldades, buscavam alternativas para se fazerem ouvir pela sociedade e, dessa forma, dar credibilidade à AEAARP. Como alternativa, em 1954, os diretores decidiram pleitear um espaço gratuito nos jornais que circulavam naquela época.

Com a palavra, o 2º secretário aventa a possibilidade de a Associação conseguir nos jornais locais uma pequena coluna gratuita que fosse julgada de utilidade pública, teoricamente para isenção de pagamento, digo, de despesas para a Associação, coluna na qual a Associação faria publicar não só noticiário do seu momento geral, mas como poderia ser a “porta voz” de trabalhos os mais variados e úteis, tanto no setor da Engenharia Civil como na Agronomia [...]2

O espaço foi conquistado no jornal A Tarde. Nos anos seguintes, a AEAARP manteve colunas com artigos assinados por diretores em outros jornais

1 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 23/11/1949. p. 16.2 Idem, 09/07/1954. p. 36.

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da cidade e na revista Cotação de Material, outra publicação local. Além desses espaços, diretores da entidade procuravam manter uma rotina de entrevistas sobre temas relevantes para a comunidade.

[...] dr. Marcos Vilela Lemos comunica que a Associação dos Engenheiros de Ribeirão Preto tem feito publicações de interesse da comunidade, fazendo jus à denominação que recebe como órgão de utilidade pública; publicações estas feitas pelo jornal Diário da Manhã, em entrevista com o repórter Carlos Alberto Nonino no dia 21 de outubro de 1975, pelo arquiteto Carlos Alberto Gabarra e engenheiro agrônomo Marcos Vilela Lemos, e no dia 5 de outubro de 1975, pelos arquitetos José Antonio Barbosa, Durval Soave e Orlando Barbosa, feitas ao jornal O Diário, apreciando o anteprojeto de lei que dispõe sobre o “zoneamento, localização, construção e uso de edifícios altos em Ribeirão Preto”.Ressalta, ainda, que tais publicações surgiram do esforço em se fazer que a Associação dos Engenheiros de Ribeirão Preto tenha opinião solene em assuntos de interesse coletivo, opinião técnica, despretensiosa de seus associados que a compõem atualmente como grupo de trabalho [...]3

O arquiteto Durval Soave (biênio 1976-1978) expôs a necessidade cada vez mais premente de a entidade estabelecer uma comunicação mais direta com seus associados em uma das primeiras reuniões de sua gestão, no dia 30 de março de 1976, quando começou a ser desenhado o projeto que culminou na publicação da Revista Painel, que foi editada nos primeiros anos em

3 Idem, Livro de Atas 3, 07/10/1975. p. 29.

formato de jornal.4

Em janeiro de 1979, a direção da AEAARP firmou um acordo com o jornal O Diário, que faria a impressão de um jornal da Associação, paga com a arrecadação de recursos provenientes de propagandas. Armando Lagamba, jornalista que trabalhava naquele periódico, escreveu a edição inaugural.

Atendido também o sr. Armando Lagamba para resolver como será feito o jornal e os detalhes do que ficou decidido. O sr. Lagamba apresentou-nos como seria feito o jornal, as proporções, disposições dos artigos em que ele será o responsável como redator. Foram distribuídas para alguns diretores algumas laudas para serem trazidas até o dia vinte de março. Foram sugeridos também pelo sr. Lagamba vários nomes para o jornal [...] o tesoureiro Francisco A. M. Pereira apresentou também a sua sugestão como sendo O Cardume [...]5

O engenheiro civil José Aníbal Laguna, que poucos anos mais tarde presidiria a entidade (biênio 1980-1982), procurou as empresas da cidade para que veiculassem anúncios que viabilizassem a produção do impresso. Da assinatura dos contratos até a circulação da primeira edição do jornal Painel passaram-se três meses. O conteúdo, definido pela direção refletia as principais discussões em pauta na AEAARP. Estrategicamente, a entidade decide priorizar a veiculação das informações com exclusividade em seu próprio jornal.

4 Idem, 30/03/1975. p. 37v.5 Idem, Livro de Atas 4, 19/02/1979. p. 49v.

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Foi decidido dizer ao sr. A. Lagamba que as notícias discutidas nas reuniões não devem sair antes no jornal de circulação da cidade, devem antes ser publicadas no jornal da Associação para se deixar sacramentadas as opiniões.6

A primeira edição do jornal Painel, redigida por Lagamba, veiculou reportagem, com chamada de capa, relatando os esclarecimentos prestados pelo Major Paulo Antonio Castillo Rego, comandante do Corpo de Bombeiros, a respeito da fiscalização de obras. Nas outras páginas, foram publicadas matérias variadas, inclusive informando aos associados os convênios mantidos pela entidade, e textos assinados por engenheiros como Heino Tavares, que escreveu sobre Engenharia Legal; Paulo Petraquino Greco, sobre gestão ambiental e desenvolvimento; Décio Carlos Setti, sobre a fiscalização da profissão e os objetivos do CREA-SP, e Marcos Vilela Lemos, falando sobre a carência de reservas naturais em Ribeirão Preto (Ver Imagem 3.1).7

6 Idem, Livro de Atas 5, 09/04/1979. p. 3v.7 JORNAL PAINEL Ribeirão Preto. n. 1. 04/04/1979.

Imagem 3.1A capa da edição inaugural do jornal Painel.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

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No início dos anos de 1990, o jornal mudou de nome, passando a se chamar Jornal da AEAARP, e, em 1998, ganhou outra forma, a de revista, tornando-se a publicação que até hoje chega às casas dos associados mensalmente – a revista Painel. A publicação, atualmente, é impressa em quatro cores, tem 28 páginas e é produzida por empresa terceirizada especializada, com tiragem de cinco mil exemplares. Para a definição das pautas de cada edição, foi instituído o Conselho Editorial. Atualmente compõem o Conselho os engenheiros Maria Inês Cavalcanti, José Aníbal Laguna, Ericson Dias Mello, Giulio Roberto Azevedo Prado e Hugo Sérgio Barros Riccioppo (Ver Imagem 3.2).

Imagem 3.2Revista Painel

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

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IV

o lado social, a chegada das mulheres e a premiação aos profissionais

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[...] reuniram-se os membros desta Associação no Restaurante do Bosque, em jantar de congraçamento que contou com a presença de oito casais e cinco libertinos, digo, libertos do matrimônio. [...] Não poderia deixar de ficar assinalada a exibição coreográfica do colega Antônio Pascoal, por ocasião desta reunião, que deu sábia lição de como não dançar o halygali.1

A Associação sempre promoveu encontros festivos marcados pela descontração, demonstrando os elos sociais que acabaram por ser construídos ao redor das ações da entidade. O trecho acima, redigido por José Braga de Albuquerque, dá o tom descontraído de uma reunião informal entre os associados, realizada no Restaurante do Bosque, que ficava no Bosque Municipal Fábio Barreto.

Além desse restaurante, a tradicional Cantina 605, no centro da cidade, também abrigou jantares da entidade que, no início dos anos de 1960, convocava seus membros para reuniões e assembléias, devido às dificuldades que os diretores da época enfrentavam para a definição de uma sede. Foi nessa Cantina que as discussões levantadas durante um jantar evidenciaram os motivos que levaram os engenheiros agrônomos a se afastarem do cotidiano da Associação.

O colega José Braga de Albuquerque expõe também as razões pelas quais os agrônomos têm-se afastado, considerando as gestões que desenvolveu junto a uma boa parte daqueles para se inteirar dos fatos. Segundo elementos que ele colheu, esse retraimento dos engenheiros

1 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 2, 24/10/1963. p.8v-10.

agrônomos se deve em maior parte ao fato de não haver sido eleito nenhum agrônomo na diretoria da Associação. José Braga de Albuquerque propõe que se façam reuniões semanais, por exemplo, aos domingos, em casa de cada sócio, uma vez cada um.2

A reunião seguinte, em 12 de setembro de 1963, revelou que a estratégia de Albuquerque rendera frutos. Vinte e quatro associados, dentre eles muitos engenheiros agrônomos, como Genésio Abadio de Paula e Silva e Guido de Sordi, participaram do encontro, também realizado na Cantina, que, de uma reunião da diretoria, fora convertido em assembléia, tamanha a satisfação dos diretores com a resposta ao convite.3

Tais oportunidades, não raras nesses 60 anos de existência da AEAARP, têm sido instrumentos de congraçamento e união entre os sócios. Além de pautarem as questões relativas ao exercício profissional, esses encontros chegaram a debater temas relacionados à política local e nacional, tão presentes no cotidiano da entidade. Em 1963, o então presidente Jean Charlier propôs que a Associação enviasse um manifesto de solidariedade ao General Peri Bevilaqua. O general defendeu a posse do ex-presidente João Goulart, em substituição a Jânio Quadros, que renunciou ao cargo em 1961. Em 1963, o general passou a manifestar-se contra as organizações sindicais, que considerava ilegais, como o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) e o PUA (Pacto de Unidade e Ação). De acordo com a pesquisadora Fernanda da Costa Monteiro

2 Idem, 06/09/1963. p. 4v-5.3 Idem, 12/09/1963. p. 5v.

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Araujo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bevilaqua acreditava que essas entidades promoviam greves que violavam a lei e, por isso, ele aproximou-se dos setores conservadores que, no ano seguinte, engendraram o golpe militar.4

Com a palavra, o presidente externou seu agradecimento pelo comparecimento de todos [...]Em seguida sugeriu que, em face aos acontecimentos políticos que originaram um pronunciamento do General Peri Bevilaqua, de grande repercussão na imprensa, fosse dirigida ao ilustre militar nossa manifestação de solidariedade e aplauso, tendo sido a proposta aprovada com palmas, apesar de algumas vozes abafadas pelo calor do aplauso haverem ponderado o caráter não-político desta Associação.5

A manifestação da minoria contrariada evidenciava o propósito da AEAARP de ter forte atuação política na sociedade, afastando-se, entretanto, de posicionamentos político-partidários, posição defendida até os dias atuais. A correspondência foi enviada e o General Peri Bevilaqua respondeu à Associação com um telegrama, agradecendo a manifestação de apoio.

Além das reuniões de trabalho nos restaurantes, a Associação passou a incentivar cada vez mais os encontros sociais. Por um período, os eventos festivos aconteceram duas vezes ao mês, e as esposas dos associados passaram 4 ARAUJO, Fernanda da Costa Monteiro. Um legalista no superior tribunal militar: o caso do General Peri Bevilaqua. ANAIS do XII Encontro Regional de História. Anpuh, Rio de Janeiro. 2006. p. 2.5 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 2, 26/09/1963. p. 7 e 7v.

a ser convidadas. Elas foram as primeiras mulheres a freqüentar o ambiente da AEAARP, eminentemente masculino até então. No primeiro encontro com a participação das esposas, o engenheiro Francisco Claudio Innecchi considerou que as discussões sobre assuntos da AEAARP eram enfadonhas para elas.

Por proposta do colega Innecchi, foi sugerida a abolição da discussão de assuntos dessa entidade nas reuniões onde comparecessem as senhoras dos colegas, visando não tornar estas ocasiões momentos tão cansativos. As senhoras presentes, embora compreendendo o cavalheirismo do proponente, opuseram-se à sugestão. 6

Essa foi também a primeira manifestação das mulheres na AEAARP, e a única registrada em ata até os anos de 1980, quando a engenheira civil Maria de Fátima Ferreira associou-se à entidade. Quatro anos mais tarde, em 1984, Regina Helena De Machi Foresti assumiu a Diretoria de Comunicação e Assuntos Sociais, a única mulher a ocupar um cargo de direção na entidade até então.7

Outro evento tradicional da AEAARP é a comemoração do Dia do Engenheiro Agrônomo. Segundo os Livros de Atas consultados, o primeiro evento organizado especificamente para festejar a data aconteceu em 12 de outubro de 1975, com um churrasco oferecido aos associados.8 A partir de então, a festa

6 Idem, 24/10/1963. p. 9v.7 REVISTA PAINEL. Ribeirão Preto: AEAARP. n. 156, 2008. p. 5.8 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 3, 26/08/1975. p. 28.

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tem sido realizada ininterruptamente e até hoje reúne centenas de profissionais da Agronomia, da Engenharia e da Arquitetura, e também seus familiares, evidenciando que os afastamentos episódicos ocorridos no decorrer da história da AEAARP foram diluídos com o passar dos tempos (Ver Imagem 4.1).

Imagem 4.1Almoço dos Agrônomos, em 2008.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

Já a comemoração pelo Dia do Engenheiro, 11 de dezembro, começou a acontecer antes, em 1948, com a celebração de uma missa no período da manhã

e um churrasco à tarde. Na primeira festa, os diretores se cotizaram, e Walter José Ragazzi ofereceu a carne e o salame. O evento aconteceu na Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas, instalada na fazenda Monte Alegre, transferida para a USP (Universidade de São Paulo) em 1952 para receber as instalações da Faculdade de Medicina.9

Em 1979, a AEAARP instituiu o Prêmio Profissionais do Ano. Na primeira edição, a COHAB-RP (Companhia Habitacional de Ribeirão Preto) incentivou e patrocinou a homenagem. No primeiro ano, o engenheiro civil Mahomed Cozac foi o escolhido e recebeu CR$ 37 mil, oferecidos pela Companhia. Nessa época, a AEAARP contava com 300 associados.10 A comissão formada pelos engenheiros José Augusto Corsini Monteiro de Barros e José Aníbal Laguna, representantes da AEAARP, Nilton Salim Soares e Julio José Lemos Silva, representantes da COHAB-RP, e por João Lemos Teixeira da Silva, então secretário de Obras do município, recebeu uma lista de 13 nomes indicados ao prêmio. A festa pela premiação de Cozac, que, de acordo com a avaliação de José Augusto Corsini Monteiro de Barros (Ver Fontes), foi escolhido por traduzir o dinamismo dos profissionais da época, reuniu dezenas de associados e teve uma apresentação do comediante Ronald Golias.

Desde 2003, a AEAARP indica três profissionais, das áreas em que atua – Engenharia, Arquitetura e Agronomia – para serem homenageados, concretizando

9 Idem, Livro de Atas 1, 05/12/1948. p. 10v.10 Idem, Livro de Atas 5, 01/10/1979. p. 30.

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uma decisão da entidade desde o início da concessão dessa honraria, uma vez que Monteiro de Barros, presidente à época, determinou que cada área homenageasse um profissional (Ver Imagem 4.2).

Imagem 4.2Jantar dançante em homenagem ao

Profissional do Ano 2007.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

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V

o lado político da AEAARP

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Ao falar do lado político da AEAARP, o arquiteto Luis Eduardo Siena de Medeiros, presidente no biênio 2000-2002, define que “a política é estabelecer um conjunto de prioridades a partir de posicionamentos, planos e projetos claros. Não é atendimento a situações momentâneas” (Ver Fontes).

As ações políticas e suas ramificações também estão atreladas às manifestações promovidas nos 60 anos da AEAARP. A Câmara Municipal de Ribeirão Preto despertou para a possibilidade de utilizar os conhecimentos técnicos dos profissionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia já em 1948, quando o engenheiro Galileu Frateschi foi designado para representar a AEAARP em uma comissão formada pelo Legislativo para debater o Código de Obras do município. A partir daí, uma profícua relação técnica gerou vários frutos para a cidade, pois várias propostas colaboraram para o desenvolvimento de Ribeirão Preto, resultado dos debates promovidos pela Associação ou de estudos técnicos desenvolvidos por ela. Essas ações contribuíram igualmente para o reconhecimento dos profissionais da área tecnológica, perante o poder público e a sociedade.1

Temas como a organização urbana, trânsito, habitação e meio ambiente estiveram em discussão na Associação nos últimos 60 anos, e os debates foram pautados pelas políticas públicas para a cidade, pelo direcionamento dos investimentos privados e pelas peculiaridades de cada período dessas últimas seis décadas.

1 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 05/10/1948, p. 8.

A relevância da entidade para a sociedade, evidenciada logo nos primeiros meses de atividades da Associação, provoca seu reconhecimento do ponto de vista legal em 1951, quando a Câmara Municipal aprovou a Lei nº 209, que tornou a AEAARP uma entidade de utilidade pública.

Nos anos de 1950, quando Ribeirão Preto se firmava como a quarta cidade mais importante do Estado, ultrapassando Campinas em relação ao volume de capital aplicado no setor de serviços, a segurança das construções e a necessidade da atuação efetiva de profissionais habilitados para executarem obras da construção civil e ocuparem cargos técnicos pautaram debates acalorados.2

Um inspetor do CREA-SP, cujo nome não é descrito nos documentos da época, participou de uma das primeiras reuniões de diretoria da AEAARP para ouvir a entidade e prestar esclarecimentos acerca de irregularidades constatadas nas construções do município. Na ocasião, sugeriu que a Associação solicitasse uma fiscalização do Conselho, que ainda não tinha representante local. Na mesma reunião, o inspetor esclareceu aos diretores que a responsabilidade pelas obras com cálculo de resistência e estabilidade, assim como a execução de projetos de concreto armado, era exclusiva de profissionais com curso superior. Naquela época, existia a figura do construtor licenciado, que não tinha formação acadêmica para o

2 PIRES, Julio Manoel. O desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto: 1930-2000. In: Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, 2004, p.179-191. p. 12.

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exercício da profissão.3

O arquiteto Cássio Pinheiro Gonçalves relata que, naquele período, não existiam associações de classe, e muitos desenhistas faziam os projetos que depois eram assinados por engenheiros (Ver Fontes). Ele lembra que “(...) era um briga de foice; ninguém exercia a profissão realmente”. Gonçalves, presidente da AEAARP no biênio 1956-1958, aponta que, na época, foi necessário investir na união dos filiados para que a entidade tivesse uma atuação fortalecida diante do poder público e da sociedade e tal estratégia se refletisse de maneira positiva na valorização do exercício profissional.

As atas descrevem as discussões sobre o problema dos “acobertamentos” – como eram classificados os processos nos quais um profissional diplomado assinava o projeto de outro que não tinha a qualificação necessária – e revelam que a questão foi levantada pelo engenheiro Otávio Ferreri.4

Uma das alternativas apresentadas em março de 1955 foi a de exigir o registro do contrato de trabalho na AEAARP. A entidade verificaria a legalidade e, caso encontrasse distorções, teria a responsabilidade de encaminhar denúncia ao CREA-SP. O engenheiro Carlos de Lacerda Chaves opôs-se à idéia, utilizando como argumento a possibilidade de a decisão onerar as obras de pequeno porte.

3 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 20/02/1949, p. 12.4 Idem, 11/03/1955, p. 43.

O engenheiro Cozac se manifesta contra as denúncias ao CREA, pedindo que se dê mais objetividade ao problema, acreditando que no início um pequeno número de colegas se guiaria pela Tabela de Honorários aprovada pela assembléia e que a Associação se empenharia em fazer com que todos a seguissem. Contra a adoção de um plano de moralização pacífica do acobertamento, manifesta-se o engenheiro Marincek, alegando que só com as penalidades é que se resolveria o problema; pergunta o engenheiro Carlos Chaves qual foi o resultado da atitude que o CREA tomou uma vez em Ribeirão Preto: respondendo ele mesmo que foi infrutífera e que acredita que só a ética profissional observada conscienciosamente poderia levantar o impasse. [...] Vários comentários se tiveram em torno do caso, concluindo o engenheiro Cozac por observar que antes de habituar-se o povo em geral a compreender que os engenheiros têm um Código de Ética e uma Tabela de Honorários a observar, seria necessário disseminar no seio da classe, em Ribeirão Preto, todos os preceitos que regem o leal e legal exercício da profissão.5

Esse momento deu início a um longo debate sobre o tema, que, nos anos seguintes, retornou com freqüência às pautas das reuniões de diretoria, que continuava preocupada com a valorização dos profissionais diplomados. A discussão revela a organização dos associados, que já tinham um Código de Ética e uma Tabela de Honorários como documentos balizadores de suas ações.

Outro embate importante nesse período aconteceu entre a Associação e a Prefeitura, que estava contratando leigos para exercerem cargos técnicos, em postos de chefia. A AEAARP reagiu.

5 Idem.

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[...] ficou claramente estabelecido que nenhuma injunção de ordem política ou partidária poderia ser invocada na votação final do caso e que, outrossim, o caso seria levado ao conhecimento no egrégio Conselho de Engenharia e Arquitetura da 6ª Região para ulteriores deliberações de ordem ética e jurídica. Por unanimidade, com votação nominal, foi aprovada a remessa do processo, em forma de recurso, ao egrégio Conselho da 6ª Região. Ficou também aprovado que até decisão superior, nenhuma publicidade seria feita, a fim de evitar interpretações não condizentes com o bom nome e a dignidade da Associação, que deseja sempre estar acima e fora de questões pessoais e partidárias.6

O prefeito à época, José de Magalhães, foi interpelado pelo CREA-SP e rebateu argumentando que os profissionais em questão ocupavam cargos de confiança.

[...] a informação que dera fora de molde a satisfazer o Conselho, pois afirmou, o sr. prefeito municipal, em se tratando de cargos de chefia, eram cargos de confiança e cabia-lhe o direito de nomear pessoas de sua confiança. Para concluir, pediu o sr. presidente que o caso continuasse sigiloso como tem sido até a presente data e que aguardássemos, com serenidade, o desfecho do mesmo, pelo julgamento final do CREA.7

O embate foi concluído somente dois anos mais tarde, quando o engenheiro Francisco Cláudio Innecchi (biênio 1950–1952) informou aos associados que os leigos foram substituídos por técnicos.8

Temas importantes para a organização da cidade,

6 Idem, 23/11/1949, p. 15v-16.7 Idem, 05/02/1950, p. 17.8 Idem, 04/07/1952, p. 29v.

que até hoje permeiam debates nos órgãos de poder municipal e na imprensa, já estavam na ordem do dia da AEAARP naquela época. Os diretores dedicavam-se a questões como o Plano Diretor, as leis de zoneamento e a localização de prédios públicos, como a Estação Rodoviária e o Mercado Municipal. Na década seguinte – 1960 – uma das principais conquistas da AEAARP no campo da política foi a instalação do COMUR (Conselho Municipal de Urbanismo). O engenheiro agrônomo José Braga de Albuquerque (biênio 1964-1966) assinalou a relevância desse pleito ao fazer um balanço de sua gestão, na abertura da assembléia extraordinária convocada com a finalidade de promover a sua sucessão e a da diretoria em exercício.

Lembra como ponto de real valor a sua influência na esfera administrativa municipal, que redundou na criação do Comur, órgão cuja função é a de assessorar o poder Executivo local. Atualmente a entidade se constitui em órgão respeitado, cuja opinião sobre assuntos relacionados com a Engenharia é sempre acatada. Sem dúvida os reflexos dessa atuação trarão benefícios à comunidade.9

Apesar de o engenheiro civil Donato Fráguas (Ver Fontes) declarar que o golpe militar dos anos de 1960 não teve influência direta na Associação, seu relato acerca do esvaziamento verificado na entidade no último ano de seu mandato como presidente, entre os anos de 1966 e 1969, coincide com os anos considerados mais severos da ditadura militar. O engenheiro descreve que a Associação

9 Idem, Livro de Atas 2, 23/11/1964, p. 19v.

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praticamente desapareceu. Segundo o pesquisador Adriano Nervo Codato, da Universidade Federal do Paraná, o golpe militar de 1964 só se concretizou como regime ditatorial em 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968. Aquela decisão do governo militar impôs severos limites à atividade política e aos direitos civis.10

Julio Manoel Pires, docente da FEA-USP, descreve a demanda por serviços de Engenharia como um dos ramos de intensa expansão em Ribeirão Preto nos anos de 1970. Naquela década, o PIB (Produto Interno Bruto) do setor de serviços aumentou 183,6%, perfazendo uma média anual de 11% na cidade, enquanto o índice estadual era de 8,7%.11

Se do ponto de vista econômico a cidade andava a passos largos, o fato de a Associação já estar instalada em sua sede própria, no Edifício Padre Euclides, contribuiu para que as atenções fossem concentradas nas questões relacionadas à organização urbana da cidade e seu próprio relacionamento institucional. Um debate em especial chama a atenção, por resultar em uma importante parceria para a AEAARP no decorrer dos anos. No início da década de 1970, a Associação opôs-se à instalação da primeira faculdade de Engenharia na cidade, no então Instituto Politécnico. A entidade questionou a regulamentação e

10 CODATO, Adriano Nervo. O golpe de 1964 e o regime de 1968: aspectos conjunturais e variáveis históricas. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 40, 2004. p. 11-36. Editora UFPR. p. 16.11 PIRES, Julio Manoel. O desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto: 1930-2000. In: Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, 2004, p.179-191. p. 13.

encaminhou correspondência ao Ministério da Educação externando suas preocupações.12

Oscar Luiz de Moura Lacerda (Ver Fontes), filho do fundador da Faculdade de Engenharia, recorda as dificuldades pelas quais o pai, Oscar de Moura Lacerda, passou no período. De 1969 até 1974, o curso de Engenharia funcionou sem autorização do MEC. O engenheiro civil Antônio Carlos Tosetto (Ver Fontes) também acompanhou o surgimento da Faculdade e revela que, apesar da abertura do curso ter acontecido em 1969, o fato de o reconhecimento legal chegar anos mais tarde acabou rotulando os primeiros formandos como “engenheiros fantasmas”.

A relação entre a Instituição e a AEAARP, entretanto, foi restabelecida.

Dr. José de Azevedo e Silva [...] apresentou o fato de o Lacerda, filho do diretor do Instituto Politécnico de Ribeirão Preto, estar interessado em reintegrar amizade entre a diretoria da Faculdade e a Associação, ambos afastados há bom tempo, num retorno pela melhoria do padrão técnico e social dos profissionais.13

A reaproximação aconteceu com sucesso e, já nos anos seguintes, rendeu frutos. Em 1978, a AEAARP passa a admitir estudantes nos quadros associativos, ampliando o número de sócios ao mesmo tempo em que proporcionava integração aos futuros profissionais.14

12 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 3, 14/01/1970, p. 14v.13 Idem, 15/12/1975, p. 36v.14 Idem, Livro de Atas 12, 04/12/1978, p. 2v-3.

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Tosetto defende a medida, dizendo que apesar de os cursos de graduação oferecerem disciplinas relativas a legislação, ainda assim elas não são suficientes para o aluno. Ele cita quatro entidades importantes para a formação do estudante: os conselhos, as escolas, as associações e os sindicatos. E ressalta que todas elas têm interesses comuns com objetivos diferentes: a escola forma o profissional, a associação promove integração dele com a comunidade profissional, o sindicato o defende, e o conselho fiscaliza.

Em 1979, os diretores da AEAARP expuseram em ata o interesse da Instituição em contratar professores para os novos cursos de Arquitetura, Engenharia de Produção e Engenharia Sanitária, que foram implantados no ano seguinte. Na ocasião, a Associação incumbiu-se de reunir os currículos dos interessados.15

Nessa época, o município já era considerado importante pólo da agroindústria no país, e a região administrativa que estava sob a liderança de Ribeirão Preto experimentava um ritmo acelerado de crescimento, impulsionado pela implantação do Proálcool, com posição destacada na cultura da cana-de-açúcar, cujo vigor repercutiu nas atividades urbanas, de acordo com Julio Manoel Pires.16

Em contraste com a baixa densidade de construção de moradias populares na cidade nos anos de 1960, na

15 Idem, Livro de Atas 5, 10/09/1979, p. 26.16 PIRES, Julio Manoel. O desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto: 1930-2000. In: Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, 2004, p.179-191. p. 3.

década seguinte, com o surgimento da COHAB-RP, foram aprovados 39 novos loteamentos em Ribeirão Preto. Os loteamentos não solucionaram o déficit habitacional em decorrência do aumento populacional proporcionado pelo aquecimento da atividade econômica, que atraiu trabalhadores de várias regiões brasileiras.

Na AEAARP, engenheiros, arquitetos e agrônomos sensibilizaram-se especialmente com aqueles que não atendiam às exigências da COHAB-RP para a aquisição da casa própria e buscaram firmar um convênio com a Nossa Caixa, denominada à época de Caixa Econômica Estadual, para que a Associação recebesse pedidos de projetos de famílias carentes, que não se enquadravam nas exigências da COHAB-RP, e, em parceria com a Prefeitura, oferecesse um serviço de atendimento social.17

Um ofício, de outubro de 1979, encaminhado aos associados convidando-os a assumirem, voluntariamente, a responsabilidade técnica pelas obras de moradias populares, conseguiu reunir 54 assinaturas. No mesmo mês, a AEAARP prontificou-se perante a Secretaria de Obras para receber os projetos de moradias populares a fim de que seus associados pudessem começar o trabalho.18

A entidade é seguidamente requisitada pelo poder público para manifestar-se tecnicamente acerca de ações pretendidas pelo Executivo e Legislativo local. A retomada do debate acerca do Plano Diretor aconteceu exatamente quando da apresentação do Projeto de Lei 10/73, cujo autor é Marcelino Romano Machado, vereador à época. 17 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 5. 17/09/1979, p. 27 v.18 Idem, 01/10/1979. p. 30.

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O projeto dispunha sobre o zoneamento da cidade, e o parlamentar foi à Associação para apresentá-lo aos associados.

Inicialmente o vereador Marcelino Romano Machado procura apresentar as razões que o levaram a apresentar o Projeto de Lei 10/73, tais como: descentralização de atividades como comércio, consultórios, escritórios etc., acompanhando as exigências dos usuários e consumidores. [...] O dr. José Carlos Martins indagou sobre a possibilidade de a Câmara Municipal sugerir, ou providenciar, o Plano Diretor.Foi sugerido, digo, respondeu o vereador Marcelino Romano Machado que é da alçada do Executivo a criação do referido Plano Diretor. [...] Carlos de Lacerda Chaves (secretário de Obras da Prefeitura Municipal) afirmou discordar do projeto 10/73 – principalmente no seu artigo 5º, porque libera desordenadamente o comércio na área residencial, salientando, porém, que o referido projeto possui alguns pontos positivos.José Braga de Albuquerque perguntou ao secretário de Obras se a Prefeitura tem recursos para custear a elaboração do Plano Diretor.Dr. Carlos de Lacerda Chaves respondeu que sim – em oito meses.19

A Associação encaminhou ofício à Câmara Municipal posicionando-se formalmente contra o Projeto de Lei, argumentando que aquele momento, “de grande expansão demográfica”, que ocasionava “uma transformação urbana de grandes proporções”, exigia um estudo “visando o equacionamento de seus problemas em diversas áreas, tanto de caráter físico como de caráter 19 Idem, Livro de Atas 3. 21/02/1974. p. 20-21.

social”. Àquela altura, a AEAARP já assinalava, neste documento, que a cidade, por falta de planejamento, apresentava problemas “de solução difícil” (Ver Imagem 5.1).20

Imagem 5.1Ofício enviado à Câmara Municipal de

Ribeirão Preto contra o Projeto de Lei 10/73.

Imagem: Departamento de Microfilmagem da Câmara Municipal de Ribeirão Preto.

A criação da Secretaria de Planejamento, implantada na segunda gestão do prefeito Welson Gasparini (1973-1977), foi uma das grandes conquistas na época. Sob o comando do engenheiro Carlos de Lacerda Chaves, a pasta traçou um plano viário para a cidade. Wilson Luis Laguna (Ver Fontes) trabalhou com Chaves nesse período. “Em 1975 fui para o Planejamento para escrever o Código de

20 CÂMARA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO. Departamento de Microfilmagem, rolo 62ª, flash. 13. Projeto de Lei n. 10/73.

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Obras do município, já se falava em Plano Diretor, era o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado. A cada quatro anos escrevia as peças, mandava para o Legislativo e não era votado. Isso se repetiu ao longo de 35 anos”. Somente nos anos de 1990 a lei foi finalmente aprovada.

Além de ter sido um dos períodos mais produtivos da Associação, a década de 1970 foi também de grandes mudanças do ponto de vista da estrutura organizacional. Foi nesses anos que o CREA-SP implantou a Inspetoria em Ribeirão Preto, cujo primeiro representante foi o engenheiro civil Décio Carlos Setti (Ver Fontes), inspetor-chefe de 1973 a 1989. Setti relata que a luta para trazer o Conselho começou em 1971, último ano de sua gestão na presidência da AEAARP. A ausência de uma inspetoria regional obrigava-os a remeter para a cidade de São Paulo, sede do CREA-SP, todas as ações referentes ao Conselho.

A AEAARP entendia que o fortalecimento institucional do interior dependia de uma organização coesa das associações que já existiam em outras cidades do Estado. Juntas, ganhariam força. Foi então criada a FAEASP (Federação das Associações de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos do Estado de São Paulo), gestada em Ribeirão Preto. O engenheiro mecânico José Augusto Corsini Monteiro de Barros, presidente da AEAARP no biênio 1978-1980, foi o primeiro presidente da nova entidade, cuja criação sofreu resistências de outros organismos semelhantes que tinham sede na capital do Estado. Corsini (Ver Fontes) lembra que a articulação em torno da FAEASP conseguiu consolidar uma maioria favorável à sua implantação. A Federação foi instituída,

e seus idealizadores atraíram representantes de entidades instaladas em São Paulo para ocuparem postos de direção e “acabar com a briga”. Nos finais de semana, o engenheiro percorria cidades do interior para unir os profissionais da área. “A secretaria da Federação era o porta-malas do ‘dojão’”, referindo-se ao Dodge Dart, automóvel da marca Chrysler fabricado no Brasil nos anos de 1970.

Também sob o comando de Corsini, a então AERP (Associação dos Engenheiros de Ribeirão Preto) passou a ser chamada de AEAARP (Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto). A mudança agregou ao nome da entidade todas as áreas que representava desde a fundação e, na mesma época, uma alteração do estatuto permitiu que empresas pudessem ser associadas. “[...] propus remodelar todo o estatuto, para mudar o nome, e pessoas jurídicas fazerem parte da entidade, para abraçar o campo da engenharia como um todo. O nome era esquisito perto daquilo que ela englobava”, relata.

A ampliação da inserção política da AEAARP na sociedade, caracterizada nos anos de 1970, foi acentuada no período seguinte. A primeira metade da década de 1980 em Ribeirão Preto é caracterizada pela sofisticação e diversificação do setor de serviços, que foi capaz de preservar as taxas de crescimento mesmo no contexto de crise econômica que marca a história do país nesse período.21

21 PIRES, Julio Manoel. O desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto: 1930-2000. In: Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, 2004, p.179-191. p. 14.

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A luta contra o decreto que regulamentou o exercício do profissional de nível técnico levou a AEAARP às ruas da cidade e motivou a edição de manifestos encaminhados aos poderes públicos em nível municipal, estadual e federal. O engenheiro agrônomo Marcos Vilela Lemos (Ver Fontes) participou de manifestações públicas contra o decreto em Ribeirão Preto, “batendo panelas e assoviando” para chamar a atenção da população. “Não adiantou nada, acabou ficando”. Ainda assim, a entidade continuou manifestando-se contra a medida nos jornais locais.

Nos anos de 1980, sob a presidência de José Aníbal Laguna (biênio 1980-1982), uma comissão formada na AEAARP debruçou-se sobre uma proposta de unificação de procedimentos e honorários na construção civil, que recebeu o nome de Projeto Gama. Aníbal Laguna contabiliza pelo menos 130 profissionais que teriam aderido à proposta que previa, entre outras coisas, a adoção de uma Caderneta de Obras e incentivo à fiscalização. “A idéia foi barrada na Câmara, pois um vereador considerou que o proprietário seria onerado”. A execução da proposta previa o pagamento de uma percentagem do valor da obra para um fundo gestor.

Na AEAARP, debates acerca da preservação dos recursos naturais já pautavam reuniões desde os anos de 1970. Na década seguinte, a entidade exerceu pressão junto ao prefeito João Gilberto Sampaio, que, quando candidato, comprometeu-se em implantar a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente. Genésio Abadio de Paula e Silva (Ver Fontes) relata um encontro

“atravessado” com o então prefeito, logo após a vitória eleitoral. “Ele deu a entender que nós queríamos criar cargos, e tive que ser deselegante com ele e dizer que ali havia um grupo de profissionais propondo algo de bem. Dissemos: ninguém aqui está procurando emprego, fique à vontade, pois estamos trazendo uma contribuição”. A lei foi criada, mas a implantação da Secretaria aconteceu somente sob a gestão do prefeito que o sucedeu, Welson Gasparini (1989-1992), ainda assim restrita à questão do meio ambiente, como permanece até hoje.

As transformações políticas pelas quais o Brasil passou entre os anos de 1970 e 1980 refletiram-se na organização social e econômica da sociedade. Maria D’Alva Kinzo, do Departamento de Ciência Política da USP, classifica como “singular” o processo de democratização que marcou o período. A transição “lenta e gradual” entre o regime ditatorial e a democracia se estendeu por 11 anos, até que os civis retomaram o poder nos anos de 1980, com a posse de José Sarney, eleito vice-presidente em pleito indireto na chapa encabeçada por Tancredo Neves, que faleceu dias antes de tomar posse. A eleição de Fernando Collor de Melo, em 1989, marcou, “simbolicamente, o final de um longo e complicado processo de transição democrática”. No que tange às esferas econômica e social, o Brasil percorreu um caminho de “pedras e espinhos” entre os anos de 1986 e 1994.22

22 KINZO, Maria D’Alva G. A democratização brasileira – um balanço do processo político desde a transição. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, vol.15, n. 4, out/dez de 2001.

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[...] o país mudou quatro vezes de moeda e teve seis experimentos em estabilização econômica, apenas o último − o Plano Real − tendo sido bem-sucedido. A sucessão de fracassos não apenas agravou a crise econômica e social, mas também comprometeu a capacidade do Estado de governar, tornando o problema da governabilidade uma realidade permanente.23

As medidas adotadas no Plano Collor, decretadas no dia seguinte à posse do novo presidente, intervieram, entre outras coisas, na Caderneta de Poupança e nos investimentos financeiros, que tiveram forte reflexo na atividade tecnológica. Além da influência no mercado de trabalho para engenheiros, agrônomos e arquitetos, a própria organização da AEAARP sofreu com as medidas, uma vez que os recursos da entidade foram retidos pelo governo.

O presidente disse que o importante é tentar liberar o dinheiro da Associação que estava aplicado [...]. O tesoureiro Helton leu o telex enviado ao Banco Central pedindo a liberação da verba. [...] Em seguida foram expostas pelo presidente as conclusões da reunião feita no sindicato em São Paulo sobre o efeito do Plano Collor na vida dos profissionais. Concluiu-se que houve uma falha no Plano no sentido de não haver sido prevista a parada da construção civil, o que acarreta um desequilíbrio à vida profissional dos colegas e dos braçais da construção civil, sendo este um problema mais grave, pois eles não têm onde se apoiar, e a Associação deveria se manifestar a respeito.24

23 Idem.24 AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 8. 04/05/1990, p. 4.

A AEAARP aprovou um manifesto de oposição às medidas adotadas pelo governo Collor e propôs a união da entidade com organismos semelhantes a ela instalados em todo o Estado de São Paulo para que o movimento ganhasse força. Collor sofreu impeachment em 1992.

A retração da atividade econômica nos anos de 1990, entretanto, não provocou estagnação da AEAARP. Em 1995, a entidade criou a Bolsa de Estágios e Empregos, que reunia informações curriculares de profissionais e as disponibilizava às empresas, numa iniciativa que, segundo avaliação feita por Genésio Abadio de Paula e Silva (biênio 1994-1996 e triênio 2002-2005), teve por objetivo valorizar a atividade profissional. O primeiro balanço da ação, feito um ano depois de seu lançamento, constatou que 30% dos profissionais listados na Bolsa foram recolocados no mercado de trabalho e motivou a edição do Guia do Profissional, uma publicação que circulou entre as empresas de Ribeirão Preto e foi organizada pela engenheira civil Fátima do Rosário Mitre.25

A necessidade de estabelecer regras claras de atuação no mercado, que estivessem ao alcance de todos os profissionais e reunissem todas as legislações pertinentes à área – municipal, estadual e federal –, incentivou a edição do Manual do Código de Obras, cuja organização foi liderada pela AEAARP. Os engenheiros civis Edson Seixas Forni, Marcos Spínola de Castro e Nilton Bonagamba integraram a comissão responsável por elaborar os dois volumes, lançados pela BMV Editora, parceira do projeto, em abril de 1996 (Ver Imagem 5.2).26

25 PAINEL DA AEAARP. Ribeirão Preto. n. 41, 1996. p. 11.26 Idem, p. 4.

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Imagem 5.2Lançamento do Manual do Código de Obras, em 1996.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

Foi também nos anos de 1990 que o curso de Gerente de Cidades, da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), começou a ser oferecido na AEAARP (Ver Imagem 5.3). A Associação foi a porta de entrada da instituição em Ribeirão Preto, na gestão do engenheiro civil João Batista Ferreira (Ver Fontes).

Imagem 5.3João Batista Ferreira, Luiz Roberto Jábali e Victor Mirshawka, diretor da FAAP, que firmou o acordo para a realização do curso de Gerente de Cidades.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

Além de acolher o curso de Gerente de Cidades, nos anos de 1990, a AEAARP participou ativamente das discussões que resultaram na aprovação do Plano Diretor, um marco na história da cidade e da entidade, que pautou debates sobre a organização urbana do município desde os anos de 1940, quando foi fundada.

A produção técnica da Associação dos primeiros 50 anos de sua existência inspirou a criação do Fórum

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Permanente de Debates Ribeirão Preto do Futuro, organismo consultivo instalado em 2006 (Ver Imagem 5.4) que fomenta e incrementa estudos, debates e discussões de assuntos técnicos, administrativos, econômicos, humanos e sociais situados no âmbito das atividades da Engenharia, Arquitetura e Agronomia. O engenheiro civil Wilson Laguna (biênio 2005-2006) aponta a colaboração da entidade na elaboração do Plano Diretor, cujas discussões foram pautadas pelo Fórum, coordenado desde o início pelos engenheiros Ericson Dias Mello e Roberto Maestrello.

Imagem 5.4Instalação do Fórum Permanente de Debates Ribeirão Preto do Futuro

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

Wilson Laguna argumenta que o Fórum tem por objetivo aproximar os técnicos da AEAARP da sociedade, para que conheçam a realidade e deixem de elaborar somente soluções matemáticas para os questionamentos apresentados à entidade, soluções essas nem sempre legítimas por não refletirem a realidade. “Quando assumi a presidência, eu tinha na minha cabeça que a Associação sempre prestou colaboração nos rumos técnicos da cidade, para dar soluções às questões urbanas, mas a sociedade pouco conhecia as atividades da entidade. A AEAARP já era reconhecida como organismo de utilidade pública municipal e havia recebido recentemente o reconhecimento estadual. Temos de trazer a sociedade para dentro da Associação, para o técnico ficar em contato, senão ele vai traçar soluções matemáticas”.

Desde sua criação, o Fórum elaborou propostas para o Plano Diretor que atualmente está em vigor – Aníbal Laguna foi um dos redatores da lei que incorporou sugestões apresentadas pela entidade (Ver Imagem 5.5). O Fórum também elaborou estudos sobre a deposição de resíduos sólidos. Uma parceria da Associação com outras entidades, como SindusCon-SP, resultou na criação do Recitulho, criado em uma área adquirida por dez construtoras da cidade para a destinação dos resíduos da construção civil. Está em andamento um estudo sobre o trânsito, e o Fórum também debate a internacionalização do Aeroporto Leite Lopes, além de políticas de desenvolvimento sustentável, meio ambiente, bioenergia, entre outros temas de interesse da sociedade.

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Imagem 5.5Reunião do Fórum Permanente de Debates Ribeirão

Preto do Futuro sobre o Plano Diretor.

Imagem: Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto

As ações protagonizadas pela AEAARP nesses 60 anos de fundação evidenciam que sua história está intimamente relacionada aos avanços urbano e tecnológico, na cidade e no campo, experimentados por Ribeirão Preto nos últimos anos. No ano de fundação da entidade, a cidade contava 91.374 habitantes e 21.068 construções de pequeno porte.27 Neste ano de 2008, Ribeirão Preto tem uma população aproximada de 600 mil habitantes e a média de um milhão de m2 de construções aprovados pela Prefeitura todos os anos, nas informações reveladas pelo engenheiro Aníbal Laguna. Nos primeiros anos de vida, a AEAARP reunia cerca de 50 profissionais associados. Hoje, a Associação conta com mais de três mil sócios.

27 ASSOCIAÇÃO DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DE RIBEIRÃO PRETO – 50 anos. Ribeirão Preto: MIC Editorial, 1999. p. 9.

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VI

Revisitar o passado para escrever o futuro

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Ao completar 60 anos de fundação, a AEAARP é brindada com a notícia de que a Caderneta de Obras foi, enfim, instituída. A informação chegou por meio da FAEASP (Federação das Associações de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo), entidade criada por iniciativa da associação ribeirão-pretana nos anos de 1970. Foi também nesse período que um grupo de profissionais de Engenharia se debruçou sobre o Projeto Gama que previa, entre outras ações, a adoção da Caderneta de Obras que, na avaliação do engenheiro civil José Aníbal Laguna (Ver Fontes), valorizaria a atuação dos profissionais.

Ribeirão Preto vivencia, em 2008, um período de otimismo, impulsionado pela sofisticação da atividade agrícola, que transforma o combustível etanol em commodity e projeta a região para os mercados internacionais. Os reflexos são sentidos em todos os setores da sociedade, mas estão especialmente evidenciados pelos resultados do desempenho positivo dos negócios na construção civil. A tabela de empregos do setor, elaborada pelo SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), contabiliza um estoque de 9.463 postos de trabalho em dezembro de 2007 e 11.752 em agosto de 2008.

Ribeirão Preto tem questões sociais e urbanas que exigem respostas. A AEAARP é composta por profissionais que são capazes de elaborá-las, segundo o arquiteto Cássio Pinheiro Gonçalves (Ver Fontes). Muitos dos problemas vividos pelo município são discutidos no Fórum Permanente de Debates Ribeirão Preto do

Futuro, organismo que o engenheiro civil Wilson Luiz Laguna (Ver Fontes) considera a vanguarda dos debates sobre os problemas que afligem o município, debates que são essenciais para a definição de novos paradigmas de organização da cidade.

Uma das pautas necessárias, na visão do engenheiro mecânico José Augusto Corsini Monteiro de Barros (Ver Fontes), reside na discussão de uma “filosofia global” para o Plano Diretor da cidade, que projete a capacidade de crescimento do município em até 30 anos e possa atender pelo menos o dobro da população que vive hoje em Ribeirão Preto. Essa era também a expectativa do engenheiro agrônomo Marcos Vilela Lemos (Ver Fontes), que atribuiu ao traçado da cidade o adjetivo “modesto” por considerá-lo incapaz de atender às necessidades de mobilidade que acontecerão nos próximos anos. Para responder aos desafios impostos pelo futuro, o arquiteto Luiz Eduardo Siena de Medeiros (Ver Fontes) defende que profissionais e suas entidades sejam arrojados nas idéias desenvolvidas e na inserção na sociedade.

Desde 1948, a organização do espaço urbano e rural, o sistema viário, a preservação das áreas verdes e a necessidade da formação continuada de profissionais, com qualificação técnica e formação consolidada para atender às exigências do mercado, permeiam os debates na AEAARP. Essas mesmas discussões são ainda citadas por profissionais que analisam os problemas contemporâneos e pretendem ver Ribeirão Preto servida por um metrô de superfície, por exemplo.1

1 REVISTA PAINEL. Ribeirão Preto: AEAARP. n. 160, 2008. p. 6.

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A discussão continuada dos temas por todos esses anos, na visão do engenheiro agrônomo Genésio Abadio de Paula e Silva (Ver Fontes), é importante porque “tudo isso não é definitivo”. Na avaliação do engenheiro civil João Batista Ferreira (Ver Fontes), cabe aos engenheiros e arquitetos proporcionarem estudos que permitam planejar um crescimento harmônico para a cidade e, aos gestores públicos, promoverem políticas que proporcionem qualidade de vida às pessoas.

A redação de um novo capítulo da AEAARP nos próximos anos e o encaminhamento das questões que já estão em pauta dependem do dinamismo e da ousadia daqueles que militam hoje na Associação. Mas é preciso que o trabalho de inserção na sociedade e o debate dos problemas da cidade continuem. Importante, também, é a criação de novos quadros, segundo a avaliação do engenheiro civil José Alfredo Pedreschi Monteiro (Ver Fontes), que, simbolicamente, pretende ver homens e mulheres com o perfil de “leões” participando da Associação nos próximos anos. “O leão é contestador, dá mais trabalho, mas é esse que é bom, porque briga”.

O engenheiro agrônomo Oswaldo Mamprim (Ver Fontes) vê a AEAARP como um organismo dinâmico e influente, na cidade e na região, nas questões afetas à Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Ele afirma que, se tivesse hoje de integrar uma associação, esperaria dela a mesma atuação que a AEAARP teve nesses 60 anos.

O engenheiro civil Roberto Maestrello, atual presidente da entidade, afirma que “[...] esses 60 anos de história de lutas e conquistas reafirmam cada dia mais a

vocação institucional da AEAARP, atuando e influenciando com competência nos mais importantes problemas do cotidiano da cidade e da região”.2

2 REVISTA PAINEL. Ribeirão Preto: AEAARP. n. 157, 2008. p.3.

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Referências Bibliográficas

Fontes

AEAARP, biblioteca, armário 1, Livro de Atas 1, 2, 3, 4, 5, 8, 12. 1948-1990.

CÂMARA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO. Departamento de Microfilmagem, rolo 62ª, flash 13. Projeto de Lei n. 10/73.

Antônio Carlos Tosetto, engenheiro civil, entrevista concedida em agosto de 2008 a Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 8.

Antônio Junqueira Reis, engenheiro agrônomo, entrevista concedida em agosto de 2008 a Daniela Farah Antunes e Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 1.

Cássio Pinheiro Gonçalves, arquiteto, entrevista concedida em agosto de 2008 a Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 2.

Décio Carlos Setti, engenheiro civil, entrevista concedida em maio de 2008 a Daniela Farah Antunes. Biblioteca AEAARP, transcrição 11.

Genésio Abadio de Paula e Silva, engenheiro agrônomo, entrevista concedida em julho de 2008 a Daniela Farah Antunes e Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 9.

Helio Frateschi, engenheiro civil eletrotécnico, entrevista concedida em agosto de 2008 a Daniela Farah Antunes. Biblioteca AEAARP, fita 12.

José Alfredo Pedreschi Monteiro, engenheiro civil, entrevista concedida em agosto de 2008 a Daniela Farah Antunes. Biblioteca AEAARP, fita 13.

José Aníbal Laguna, engenheiro civil, entrevista concedida em agosto de 2008 a Daniela Farah Antunes. Biblioteca AEAARP, fita 14.

José Augusto Corsini Monteiro de Barros, engenheiro mecânico, entrevista concedida em agosto de 2008 a Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 3.

João Batista Ferreira, engenheiro civil, entrevista concedida em julho de 2008 a Paulo Verri Filho. Biblioteca AEAARP, fita 15.

Luis Eduardo Siena de Medeiros, arquiteto, entrevista concedida em julho de 2008 a Daniela Farah Antunes e Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 7.

Marcos Vilela Lemos, engenheiro agrônomo, entrevista concedida em julho de 2008 a Blanche Amancio Silva e Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 4.

Oscar Luiz de Moura Lacerda, bacharel em Direito e pedagogo, entrevista concedida em agosto de 2008 a Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 5.

Oswaldo Mamprim, engenheiro agrônomo, entrevista concedida em agosto de 2008 a Blanche Amancio Silva e Daniela Farah Antunes. Biblioteca digital AEAARP, fita 6.

Wilson Luis Laguna, engenheiro civil, entrevista concedida em agosto de 2008 a Paulo Verri Filho. Biblioteca digital AEAARP, fita 10.

Bibliografia

Livros

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FARIA, Rodrigo Santos de. Ribeirão Preto, uma cidade em construção (1895-1930); O moderno discurso da higiene, beleza e disciplina. Dissertação apresentada na UNICAMP, 2003.

LOPES, Luciana Suarez. Sob os olhos de São Sebastião – A cafeicultura e as mutações da riqueza em Ribeirão Preto, 1849 – 1900. Tese apresentada na USP, 2005.

PINTO, Luciana Suarez Galvão. Ribeirão Preto – A dinâmica da economia cafeeira de 1870 a 1930. Dissertação apresentada na UNESP-Araraquara, 2000.

VALADÃO, Valéria. Memória arquitetônica de Ribeirão Preto (planejamento urbano e política de preservação). Dissertação apresentada na UNESP-Franca, 1997.

VICHNEWSKI, Henrique Telles. As indústrias Matarazzo no interior paulista: arquitetura fabril e patrimônio industrial (1920-1960). Dissertação apresentada na UNICAMP-Campinas, 2004.

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Autores

Adriana Capretz Borges da Silva Manhas arquiteta e urbanista pelo Centro Universitário Moura Lacerda (1998), mestre em Engenharia Urbana (2002) e doutora em Ciências Sociais (2007) pela Universidade Federal de São Carlos. Professora adjunta na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Atua nas áreas de Teoria e História da Arte, Arquitetura e Cidade e desenvolve pesquisa sobre o Núcleo Colonial Antônio Prado e segregação social em Ribeirão Preto. Blanche Amancio silva

jornalista, graduada pela Universidade de Ribeirão Preto, licenciada em Letras pela Instituição Toledo de Ensino de Araçatuba, pós-graduada em História, Cultura e Sociedade e editora da revista Painel, da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto.

Carlo Guimarães Montiprofessor de História Medieval e Contemporânea e coordenador da pós-graduação em História, Cultura e Sociedade do Centro Universitário Barão de Mauá. É formado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo.

Daniela Farah Antunesjornalista, graduada pela Universidade de Ribeirão Preto e editora da revista Painel, da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto.

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Rua João Penteado 2237 - Ribeirão Preto-sP Fone (16) 2102.1700 | Fax (16) 2102.1700

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