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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Educação
ISABELA RAMALHO ORLANDO
AFETIVIDADE E ENSINO DE LÍNGUA INGLESA:
UM OLHAR PARA AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
CAMPINAS
2019
ISABELA RAMALHO ORLANDO
AFETIVIDADE E ENSINO DE LÍNGUA INGLESA:
UM OLHAR PARA AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da
Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas
como parte dos requisitos exigidos
para a obtenção do título de Mestra
em Educação, na área de
concentração de Educação
Supervisor/Orientador: SÉRGIO ANTONIO DA SILVA LEITE
ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DE DISSERTAÇÃO
DEFENDIDA PELA ALUNA ISABELA RAMALHO ORLANDO, E
ORIENTADA PELO PROF. DR. SÉRGIO ANTONIO DA SILVA
LEITE.
CAMPINAS 2019
Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Educação Rosemary Passos - CRB 8/5751
Orlando, Isabela Ramalho, 1994-
Or51a OrlAfetividade e ensino de língua inglesa : um olhar para as práticas
pedagógicas / Isabela Ramalho Orlando. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.
OrlOrientador: Sérgio Antonio da Silva Leite.
OrlDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade
de Educação.
Orl1. Afetividade. 2. Mediação. 3. Língua inglesa - Ensino. 4. Ensino -
Aprendizagem. I. Leite, Sérgio Antonio da Silva, 1946-. II. Universidade
Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Affect and English language teaching : a look at pedagogical
practices
Palavras-chave em inglês:
Affect
Mediation
English language - Teaching
Teaching - Learning
Área de concentração: Educação
Titulação: Mestra em Educação
Banca examinadora:
Sérgio Antonio da Silva Leite [Orientador]
Elvira Cristina Martins Tassoni
Claudia Hilsdorf Rocha
Data de defesa: 24-05-2019
Programa de Pós-Graduação: Educação
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-9721-2402 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4493834492093752
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
AFETIVIDADE E ENSINO DE LÍNGUA INGLESA:
UM OLHAR PARA AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Autor: ISABELA RAMALHO ORLANDO
COMISSÃO JULGADORA:
Sérgio Antonio da Silva Leite
Elvira Cristina Martins Tassoni
Claudia Hilsdorf Rocha
Ata da Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na
Secretaria do Programa da Unidade.
CAMPINAS
2019
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por terem feito da minha formação uma prioridade em suas vidas e por todo
carinho, cuidado e apoio que dedicaram (e ainda dedicam) a mim. Ao meu pai, agradeço pelas
idas às livrarias, às recomendações de livros e por indicar o caminho político que me trouxe até
aqui. À minha mãe, sou grata pelas contações de história antes de dormir, por sua alegria e
positividade e por ter sido um exemplo de professora- dedicada, estudiosa e apaixonada.
Ao meu irmão, o grande amigo da minha vida, que está sempre ao meu lado, independente da
distância.
Ao professor Dr. Sérgio Leite, pelos anos de orientação, que incluem Iniciação Científica, TCC
e, agora, Mestrado. Pelos ensinamentos, leituras atentas e intervenções na construção desta
pesquisa; pelo convívio, marcado por sua dedicação e carinho, durante estes sete anos.
Às professoras Dra. Cristina Tassoni e Dra. Cláudia Hilsdorf, pela leitura cuidadosa e por suas
ricas contribuições, que possibilitaram melhorias no meu trabalho.
Ao Matheus, que acompanhou, cotidianamente, cada etapa do desenvolvimento desta pesquisa,
por dividir momentos de estudo e descontração. Por apoiar minha dedicação aos estudos e por
tranquilizar-me nos momentos de dificuldade.
Ao Grupo do Afeto, pelas leituras e discussões durante os encontros, pela construção de nosso
livro e por termos, juntos, levado nossas pesquisas e ideias a outros professores e pesquisadores.
À Dani Donadon, por ter auxiliado nos primeiros passos para dentro do mundo acadêmico,
ainda durante a Iniciação Científica.
À professora Dra. Heloísa Lins, que foi minha “barriga de aluguel” no programa PED, por todos
os ensinamentos e pela leveza com que conduz discussões rigorosas; uma professora que
inspira.
Às professoras e colegas do GPPL, que me acolheram em seus encontros, proporcionando
diferentes leituras e maior aprofundamento nos estudos de Vigotski.
Aos professores da Faculdade de Educação, por terem, cada um a seu modo, contribuído para
minha formação. Aos funcionários desta faculdade, que buscaram sempre auxiliar em
momentos de dúvidas.
À professora e aos estudantes que aceitaram participar desta pesquisa, por terem partilhado suas
experiências de ensino-aprendizagem comigo, viabilizando a realização deste trabalho.
À FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e à CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa concedida no
âmbito do convênio FAPESP/ CAPES, sob o processo nº 2017/00588-9 da FAPESP, durante o
período de 01/05/2017 a 31/01/2019. O apoio financeiro foi fundamental para que a pesquisa
alcançasse os resultados aqui apresentados.
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivos identificar e analisar práticas pedagógicas de um
professor que possam ter contribuído para a aproximação dos estudantes com a língua
inglesa, considerando-se que este movimento engloba, simultaneamente, conteúdos
afetivos e cognitivos. A pesquisa fundamenta-se em teorias da área da Psicologia,
principalmente nas ideias de Vigotski (2007, 2009) e de Wallon (1979,1995). Assume-
se que o processo de apropriação do conhecimento pelo estudante envolve não somente
aspectos cognitivos, mas também afetivos, sendo estas dimensões indissociáveis. Este
processo, em sala de aula, é mediado, principalmente, pelo professor e a qualidade da
mediação tem implicações nas relações que se estabelecem entre sujeito e objeto de
conhecimento. A pesquisa, de caráter qualitativo com características etnográficas, foi
realizada em um centro de línguas de uma universidade pública. A coleta de dados foi
realizada por meio de sessões de observação e videogravação das aulas, acompanhadas
de minientrevistas com os alunos e de anotações em diário de campo. Além disso, foi
realizada uma entrevista com a professora, a fim de conhecer sua trajetória acadêmica e
profissional e suas concepções acerca da educação. A análise de dados agrupou as
diferentes atividades de ensino propostas pela professora. Desta forma, os resultados
descrevem, em detalhes, estas atividades de ensino, relatando como elas eram
conduzidas pela professora, bem como as formas de participação dos estudantes. Além
disto, são apresentadas as percepções dos estudantes sobre as atividades, obtidas por
meio das minientrevistas. Os resultados indicam a ampla variedade de atividades
propostas pela professora como traço marcante de sua prática pedagógica, sendo que
esta característica possibilitou que os estudantes, mesmo que tivessem diferentes
necessidades e expectativas, se engajassem com o curso. A discussão dos resultados
aponta também as implicações das relações que constituem a sala de aula: professora-
estudantes; estudantes-estudantes; professora-língua inglesa. Tais relações determinam a
qualidade das relações que os estudantes estabelecerão com o objeto de conhecimento,
no caso, a língua inglesa. Tomando-se a mediação como pressuposto teórico, a pesquisa
dá indícios sobre como a relação sujeito-objeto é mediada, indicando a diversidade
dessas formas de mediação na sala de aula observada, reafirmando-se a importância
deste processo para construção das relações entre sujeito e objeto-as quais envolvem
afeto e cognição simultaneamente.
Palavras-chave: Afetividade; Mediação; Ensino de língua estrangeira; Atividade de ensino.
Abstract
The aim of this research was to identify and analyze a teacher’s pedagogical practices
that may have contributed to the approach between the students and the English
language, considering that this movement encompasses both affective and cognitive
contents. The research is based on Psychology theories, mainly in the ideas of Vigotski
(2007, 2009) and Wallon (1979, 1995). It is assumed that the process of knowledge
appropriation by the student involves not only cognitive but also affective aspects, and
these dimensions are inseparable. This process, in the classroom, is mediated by the
teacher and the quality of the mediation has implications in the relations that are
established between subject and object of knowledge. This qualitative and ethnographic
research was carried out in a language center of a public university. Data collection was
performed through observation sessions and video recording of the classes,
accompanied by mini-intewviews with the students and notes in the field diary. In
addition, an interview was conducted with the teacher in order to know her academic
and professional trajectory and her conceptions about education. The data analysis
grouped the different teaching activities proposed by the teacher. Thus, the results
describe, in details, these teaching activities, reporting how they were conducted by the
teacher, as well as the way students participated on them. In addition, the students'
perceptions about the activities, which were obtained through the mini-interviews, are
presented. The results indicate the wide variety of activities proposed by the teacher as a
striking feature of her pedagogical practice, and this characteristic enabled students,
even if they had different needs and expectations, to engage with the course. The results
discussion also points out the implications of the relationships that constitute the
classroom - teacher / students; among students; teacher / teaching; teacher / English
language - in the relations that students will establish with the object of knowledge, in
this case, the English language. Taking the mediation as a theoretical assumption, the
research gives some indications of how the subject-object relationship is mediated,
pointing out the diversity of forms of mediation in the observed classroom and
reaffirming the importance of this process to the construction of relations between
subject and object, which comprehend both affection and cognition.
Keywords: Affect; Mediation; Foreign language teaching; Teaching activity.
Lista de abreviações
CL- Centro de línguas
LD- Livro didático
LE- Língua Estrangeira
LI- Língua Inglesa
SLA- Second Language Acquisition
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
1- AFETIVIDADE 15
A afetividade como objeto de pesquisa: do dualismo ao monismo 15
A abordagem Histórico-Cultural 18
A relação pensamento e linguagem na abordagem Histórico-Cultural 23
A afetividade em Vigotski 25
As ideias de Henri Wallon 28
Afetividade e práticas pedagógicas 33
2- ENSINO DE LÍNGUA INGLESA 39
Breve panorama 39
Ensino de língua inglesa e cidadania 42
Olhares vigotskianos para o ensino de línguas 45
Ensino de língua inglesa e afetividade 49
3- MÉTODO: O PERCURSO DA PEQUISA 54
Fundamentação teórica 54
Escolha do sujeito 58
O centro de línguas 59
A professora Lúcia 59
A turma de inglês IV 65
Procedimentos de coleta de dados 72
A inserção da pesquisadora na turma e a relação com a professora 74
4- ANÁLISE DE DADOS E RESULTADO: AS ATIVIDADES DE ENSINO
REALIZADAS COM A TURMA DE INGLÊS IV 77
Procedimentos de análise de dados 77
Descrição das atividades de ensino 78
Leitura 78
Listening (compreensão oral) 83
Gramática 87
Conversação 97
Produção escrita 105
Vocabulário 109
Pronúncia 114
Worskhop “Saving Indegenous Languages in Western Amazonia”120
Filmes, vídeos e música 124
Avaliação 131
5- Discussão 140
Sobre as relações 140
As práticas pedagógicas (e suas implicações nas relações sujeito-objeto)
152
Características da professora 176
Considerações finais 179
Declaração de Responsabilidade 183
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 184
ANEXOS
Anexo 1- Atividade: Leitura 184
Anexo 2- Atividade: Listening (Compreensão oral) 229
Anexo 3- Atividade: Gramática 236
Anexo 4- Atividade: Conversação 284
Anexo 5- Atividade: Produção escrita 303
Anexo 6- Atividade: Vocabulário 314
Anexo 7- Atividade: Pronúncia 320
Anexo 8- Atividade: Workshop “Saving Indegenous Languages in Western
Amazonia 327
Anexo 9- Atividade: Filmes, vídeos e músicas 335
Anexo 10- Atividade: Avaliação 356
Anexo 11- Caracterização da professora 371
Anexo 12- TCLE- Modelo para professora 376
Anexo 13- TCLE- Modelo para estudantes 379
12
Introdução
A afetividade esteve, por muito tempo, fora das pautas das pesquisas
educacionais. Isto se deve, em grande medida, ao domínio secular do pensamento
dualista, o qual opõe razão e emoção, cognição e afeto, corpo e mente. A visão dualista
tem suas raízes na Antiguidade, fortalecendo-se com o pensamento cartesiano e com o
Positivismo. Nesta perspectiva, a afetividade, além de ser considerada a dimensão
inferior do ser humano, não poderia ser tomada como objeto de estudo, devido ao seu
caráter subjetivo (LEITE, 2012).
No entanto, o dualismo tem sido questionado ao longo da história e, neste ponto,
destaca-se o filósofo Espinosa, que já no século XVII defendia a indissociabilidade
entre corpo e mente. A visão monista de ser humano - a compreensão de que cognição e
afetividade são elementos inseparáveis na constituição humana - ganhou força no século
XX. Autores como Wallon e Vigotski têm fornecido as bases teóricas para diversas
pesquisas, especialmente na área educacional, em que a afetividade e suas implicações
no processo de ensino-aprendizagem são evidenciados.
Neste panorama, em que a afetividade é tomada como objeto de estudo
científico, a mediação pedagógica é uma das práticas culturais que surgem como tema
de pesquisa. As práticas pedagógicas e seus impactos afetivos nos estudantes vêm sendo
estudadas em diferentes níveis de ensino e em variadas disciplinas - matemática,
ciências, alfabetização, geografia, inglês, entre outras. Pesquisadoras do Grupo do
Afeto1, como Tassoni (2000, 2008), Gazoli (2013) e Lima (2014), são exemplos de
pesquisas que analisaram as práticas pedagógicas tendo em vista a dimensão afetiva.
É neste contexto que a presente pesquisa se insere. A pesquisadora passou a
integrar o Grupo do Afeto no início de sua graduação em Pedagogia, desenvolvendo
pesquisa de Iniciação Científica2 sobre afetividade e constituição do leitor, analisando o
papel da mediação da família neste processo (ORLANDO e LEITE, 2014). Disto,
seguiu-se o Trabalho de Conclusão de Curso, em que a pesquisadora estudou as
histórias de estudantes universitários e seus processos de constituição como leitores
(ORLANDO, 2016, 2018).
1 Grupo de pesquisa sobre afetividade e práticas pedagógicas, integrante do Grupo ALLE/AULA da Faculdade de Educação da UNICAMP. 2 Iniciação Científica realizada com bolsa FAPESP, processo 2013/18175-1.
13
O desejo de aprofundar seus conhecimentos sobre afetividade levou a
pesquisadora a ingressar no Mestrado em Educação, retornando ao Grupo do Afeto, mas
com uma nova temática: o ensino de língua inglesa. Não se pode negar que a escolha
dos temas também esteve ligada a aspectos afetivos. O primeiro envolvimento com a
pesquisa abordou a leitura, uma grande paixão desta pesquisadora, cultivada desde a
infância. Já no nível de mestrado, a pesquisadora optou por investigar o ensino de
língua inglesa, também inspirada por suas vivências marcantes com o aprendizado de
línguas. A lembrança de professoras atentas e com grande conhecimento da língua, bem
como de momentos de interação entre colegas e de descontração, por meio de festas e
atividades culturais, afetou o envolvimento da pesquisadora com as línguas estrangeiras.
Experiências tão boas, que proporcionaram tantos aprendizados que a fazem desejar que
fossem acessíveis a todos. Com isto, a presente pesquisa intenciona contribuir para o
ensino de língua inglesa, por meio do aprofundamento científico sobre este tema.
Tendo como base teórica as ideias de Vigotski e Wallon, entende-se que o
processo de apropriação do conhecimento pelo estudante, em sala de aula, é mediado
pelo professor. A qualidade desta mediação tem implicações tanto cognitivas quanto
afetivas para as relações que se estabelecem entre estudante e objeto de conhecimento.
Desta forma, o objetivo da pesquisa foi observar, identificar e analisar práticas
pedagógicas que possam ter contribuído para a aproximação dos estudantes com a
língua inglesa, sendo que esta aproximação envolve tanto conteúdos cognitivos como
afetivos.
A escolha do sujeito da pesquisa foi intencional, sendo que se buscou uma
professora que fosse reconhecida, por alunos e colegas, como uma boa professora, isto
é, cujo trabalho facilitasse o movimento de aproximação entre estudante e a língua
inglesa. A pesquisa foi realizada em um centro de língua de uma universidade pública e
participaram dela a professora e vinte três estudantes da turma de Inglês IV. Os dados
foram coletados por meio de sessões de observação e videogravação das aulas,
acompanhadas de anotações em diários de campo e minientrevistas com os estudantes.
Além disto, foi realizada uma entrevista com a professora, a fim de conhecer sua
trajetória acadêmica e profissional.
As bases teóricas, o desenvolvimento da pesquisa e os resultados estão melhor
explicados e descritos ao longo dos capítulos, organizados da seguinte maneira: O
capítulo 1 apresenta as bases teóricas sobre afetividade, mostrando o processo histórico
14
de sua constituição como objeto de pesquisa. Neste percurso, dialoga-se com
importantes referenciais teóricos, como Espinosa, Wallon e Vigotski. Por fim, são
apresentadas as contribuições do Grupo do Afeto sobre a relação entre afetividade e
condições de ensino.
As referências sobre o ensino de língua inglesa encontram-se no capítulo 2, onde
foi recuperado um breve histórico sobre o tema, seguido da defesa do caráter educativo
e formativo do ensino-aprendizagem desta língua. Além disto, são expostos os
principais conceitos de teorias vigotskianas sobre o ensino de línguas. O capítulo
encerra-se com uma discussão sobre as relações entre afetividade e ensino de língua
inglesa.
O capítulo 3 é dedicado ao método, sendo evidenciados os referenciais acerca da
pesquisa qualitativa e de tipo etnográfico, além de serem descritos os procedimentos de
coleta dos dados. Neste capítulo, encontram-se também as descrições dos sujeitos que
participaram da pesquisa - professora e estudantes - e da instituição onde ela foi
realizada.
Os resultados da pesquisa são apresentados no capítulo 4, que se inicia com a
exposição teórica acerca dos procedimentos de análise dos dados. Em seguida, são
descritas, detalhadamente, as atividades de ensino realizada pela professora, compondo-
se, desta maneira, os resultados da pesquisa.
No capítulo 5, é realizada a discussão dos dados, a qual segue três principais
eixos: as relações que constituem a sala de aula observada; a prática pedagógica da
professora; as características da professora. Foram recuperados os conceitos teóricos e
os dados empíricos apresentados, para que, à luz da abordagem teórica assumida, fosse
possível interpretar, explicar e discutir os dados da pesquisa.
15
1-Afetividade
A afetividade como objeto de pesquisa: do dualismo ao monismo
A afetividade nas práticas pedagógicas evidenciou-se como objeto de estudos nos
últimos vinte anos e inúmeras pesquisas têm contribuído para a melhor compreensão
desta dimensão do desenvolvimento humano. Para que se possa compreender o
processo histórico da constituição da afetividade como objeto de pesquisa- e as razões
pelas quais esse tema ficou fora da agenda educacional por tanto tempo- é preciso olhar
para o domínio secular da visão dualista de ser humano na filosofia ocidental.
A visão dualista supõe a separação entre corpo/mente, afeto/ cognição e
razão/emoção. Além disto, a razão assumiu uma posição central na caraterização do
comportamento humano, em detrimento da emoção. Leite (2012) ressalta que o
pensamento dominante elegeu, por séculos, a razão como a dimensão mais importante
do ser humano e a emoção, por sua vez, corresponderia ao lado nebuloso do homem.
Desta forma, seria o papel da razão exercer domínio e controle sobre a emoção. Esta
concepção tem suas raízes na Antiguidade, pela oposição entre conhecimento inteligível
e conhecimento sensível: o primeiro seria passível de uma abordagem científica; já o
segundo era considerado não científico, sendo que os sentimentos não eram
considerados passíveis de serem estudados pela ciência devido ao seu grau de
subjetividade.
Na Idade Média, devido ao domínio da Igreja, prevaleceram os pensamentos
filosóficos que melhor se aproximassem do cristianismo. Neste período, o dualismo se
expressa no conflito entre fé e razão, com o predomínio da primeira. No entanto,
acreditava-se que ambas tinham origem em Deus- a fonte de toda a verdade- e defendia-
se que apenas pela razão chegava-se ao conhecimento (TASSONI, 2008; LEITE, 2012).
A visão dualista fortaleceu-se com a filosofia cartesiana, durante a Modernidade.
Neste período, enfatizou-se o sujeito como ser pensante, portador de uma consciência
individual e de liberdade. Esta concepção confronta a hegemonia religiosa da Idade
Média e passa a considerar o homem e seus desejos. Ainda assim, razão e emoção são
dicotomizados: corpo e alma são estudados separadamente. Descartes, por meio de sua
16
máxima “penso, logo existo”, revela o que é fundamental para o ser humano, colocando
sua existência como dependente do pensar (TASSONI e LEITE, 2010).
Assumir uma visão dualista significa afirmar que o ser humano ora pensa, ora
sente, entendendo-se que não há vínculos entre estas duas dimensões. Significa também
supor que o ser humano possui uma dimensão que não pode ser estudada
cientificamente, pois, segundo essas concepções dualistas, os afetos, por serem tidos
como parte anímica, não poderiam ser objetos de estudos científicos. Estes pressupostos
levariam a compreensão de que, por princípio, o fenômeno humano nunca poderá ser
explicado, por completo, pela ciência. (LEITE, 2012). Como consequência deste
domínio secular das concepções dualistas, as propostas educacionais nos países
ocidentais centraram-se, basicamente, no desenvolvimento dos aspectos cognitivos do
ser humano, assim como as pesquisas em educação.
No entanto, a visão dualista tem sido contestada ao longo da história. Neste
sentido, o pensamento de Espinosa foi fundamental na gênese das ideias que
possibilitaram o monismo. Já no século XVII, Espinosa defendia que corpo e alma são
atributos de uma substância única, assumindo que ambos seguem as mesmas leis. Desta
forma, o filósofo rompe a hierarquia secular que compreende a alma como superior ao
corpo (LEITE, 2012).
Em Ética, sua obra mais célebre, Espinosa propõe demonstrar, pelo método
geométrico, a origem dos afetos. Para tanto, ele oferece algumas definições
preliminares: denomina-se causa adequada aquela cujo efeito pode ser percebido
claramente por ela mesma; causa inadequada é aquela cujo efeito não pode ser
compreendido somente por ela mesma (Ética III, definição 1). A partir disto, Espinosa
delineia as definições de atividade e passividade: os seres humanos são ativos- ou agem-
quando dentro ou fora deles sucede algo do qual eles mesmos são causa adequada; por
outro lado, os homens são passivos- ou padecem- quando neles sucede algo ou de sua
natureza se segue algo de que sejam apenas causa parcial (Ética III, definição 2)
(SPINOZA, 2017).
A próxima definição refere-se aos afetos: “Por afeto compreendo as afecções do
corpo, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída, estimulada ou
refreada, e, ao mesmo tempo, as ideias destas afecções” (Spinoza, 2017, p. 163). Nota-
17
se que Espinosa identifica os afetos com as afecções do corpo, isto é, com as
modificações pelas quais o corpo passa. No entanto, deve-se atentar para o fato de que o
filósofo afirma, ainda, que os afetos compreendem também as ideias destas afecções.
Deste modo, compreende-se que há correspondência entre acontecimentos corporais e
os da alma. A alma é uma força pensante, cuja função é ter conhecimento verdadeiro de
si e de seu corpo; ela é definida como a consciência das afecções do corpo e das ideias
destas afecções e somente tem consciência de si por meio das modificações de seu
corpo. É da natureza da alma estar ligada ao seu corpo e este constitui o objeto da alma.
(CHAUÍ, 1995).
Quanto às definições expostas por Espinosa, cabe ainda destacar que o autor
explica: quando o ser humano pode ser causa adequada de suas afecções, por afeto,
compreende-se uma ação; quando só se pode ser causa parcial de suas afecções, por
afeto compreende-se uma paixão. Neste sentido, ser causa adequada de suas afecções
significa compreender a rede causal que as provoca (SPINOZA, 2017; CHAUÍ, 1995).
Espinosa defendia que é por meio da aproximação entre alma e corpo que aquela
se tornará livre para assumir sua função pensante e buscar o conhecimento verdadeiro.
Isto porque, se uma coisa aumenta ou diminui a potência de agir do corpo, a ideia dessa
coisa aumentará ou diminuirá a potência de pensar da mente. Portanto, Espinosa afirma
que “a mente esforça-se, tanto quanto pode, por imaginar aquelas coisas que aumentam
ou estimulam a potência de agir do corpo” (SPINOZA, 2017, p. 179). O filósofo
denomina conatus este esforço interno do homem para se preservar na natureza. Desta
forma, é interesse de ambos- corpo e alma- a existência do ser e tudo quanto contribua
para mantê-la (CHAUÍ, 1995).
Chauí (1995) afirma que as proposições de Espinosa, acerca da relação corpo-
alma, significam uma inovação sem precedentes no pensamento filosófico. A obra de
Espinosa rompe não somente com as ideias dualistas cartesianas, mas também com as
filosofias aristotélicas e platônicas. Suas ideias foram a base para superação do
dualismo e, mais tarde, viriam a influenciar Vigotski, quando este autor, igualmente,
propõe uma visão monista de ser humano, conforme será discutido mais adiante neste
trabalho.
18
No século XX, o monismo ganha terreno com as teorias interacionistas. Piaget
(2001) afirma que não se encontra um estado afetivo sem elementos cognitivos e vice-
versa. O autor defende que a afetividade pode alterar o pensamento, acelerando-o ou
causando retrocessos, embora não possa criar novas estruturas. Assume também a
importância da afetividade na formação do sujeito moralmente autônomo, afirmando
que os valores se constroem a partir das trocas afetivas entre o sujeito e o meio.
(Tassoni, 2008).
No Brasil, durante as duas últimas décadas, o tema da afetividade tem sido objeto
de estudo de inúmeros autores da Psicologia Educacional, tais como Dantas,1992;
Mahoney, 1993; Pinheiro, 1995; Leite, 2006.
Estas pesquisas afastam-se da visão dualista e buscam uma compreensão do ser
humano em sua totalidade, assumindo uma visão monista, entendendo-se que as
dimensões cognitiva e afetiva são indissociáveis no processo de desenvolvimento
humano. Autores como Wallon e Vygotsky fornecem as bases teóricas para esta
concepção de investigação científica. Os estudos destes teóricos permitem inferir que o
processo de desenvolvimento humano se dá a partir das interações sociais, marcadas por
conteúdos afetivos e cognitivos, que se influenciam mutuamente. Estas interações são
determinantes para se entender o papel do processo de mediação na relação que o
indivíduo estabelecerá com os diversos objetos e práticas culturais. Por tanto, a seguir,
serão expostos conceitos-chave da abordagem Histórico-Cultural, proposta por
Vigotski, bem como os fundamentos da teoria do desenvolvimento de Wallon.
A abordagem Histórico-Cultural
Vigotski nasceu em 1896 na cidade de Orsha, na Bielorrúsia. Viveu grande parte
da vida com sua família em Gomel, cidade também localizada na Bielorrúsia. A família
tinha situação econômica confortável, o que garantiu a Vigotski amplas oportunidades
educacionais. Além disso, a atmosfera da casa era bastante intelectualizada: seus pais
eram cultos, debatiam diversos assuntos com a família e possuíam biblioteca pessoal
que ficava à disposição dos filhos.
Embora tenha tido uma vida curta- Vigotski morreu aos 37 anos de tuberculose-
sua produção escrita foi vasta. Sua obra, formada por aproximadamente 200 trabalhos
19
científicos, reflete a sua formação, uma vez que carrega caráter interdisciplinar, com
temas que abordam neuropsicologia, crítica literária, linguagem e educação. Vigotski
formou-se em direito em filosofia na Universidade de Moscou em 1917 e, depois disso,
cursou também medicina e especializou-se em literatura (PALANGANA, 2015).
Posteriormente, manteve-se intelectualmente ativo, dando continuidade à sua carreira
acadêmica e participando de inúmeros grupos de estudos e revistas (OLIVEIRA, 1993).
Sua participação no II Congresso de Psiconeurologia de Leningrado, em 1924,
foi um momento marcante e decisivo em sua carreira. Na ocasião, Vigotski
impressionou com sua fala crítica sobre o modelo ocidental de consciência natural na
Psicologia. Vigotski expôs a crise da Psicologia, que não conseguia superar
antagonismos em torno de seu objeto de estudo, a fim de estabelecer uma teoria
unificada sobre os processos psicológicos humanos (PALANGANA, 2015). Depois
disso, foi convidado para trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou, onde uniu-se a
Luria e Leontiev (OLIVEIRA, 1993).
Como lembra Palangana (2015), Vigotski e seus colaboradores eram jovens
cientistas em um momento em que a ciência, a serviço dos ideais revolucionários
soviéticos, era extremamente valorizada. Com isto, buscaram construir uma psicologia
que contribuísse para o entendimento e superação dos problemas sociais e econômicos
do povo soviético.
Diferentemente do pensamento psicológico da época, que se dividia em
psicologia mental ou psicologia natural, Vigotski propõe uma psicologia que seja
síntese das duas abordagens. Entretanto, síntese nesse caso não significa simplesmente a
soma das duas propostas, mas emergência de algo novo. Desta forma, Vigotski busca
construir uma teoria que compreenda o “ser humano enquanto corpo e mente, enquanto
ser biológico, enquanto membro da espécie humana e participante de um processo sóci-
o-histórico” (OLIVEIRA, 1993, p. 23).
A partir disto, podem-se depreender alguns pilares básicos do pensamento de
Vigotski: as funções psicológicas têm suporte biológico, pois são produto da atividade
cerebral. Entretanto, a origem das funções psicológicas superiores, tipicamente
humanas, deve ser buscada nas relações que o ser humano mantém com sua cultura, as
quais ocorrem em um processo sócio-histórico (OLIVEIRA, 1993).
20
Conforme mostram Luria (1988) e Palangana (2015), nota-se a influência
marxista nas propostas teóricas e metodológicas de Vigotski. Ao afirmar que as funções
psicológicas superiores são originadas na relação do homem com o mundo exterior, não
se admite que o indivíduo seja mero produto de seu ambiente, mas que ele é também
agente ativo no processo de criação de sua realidade.
Segundo Vigotski, uma teoria psicológica deveria explicar os meios pelos quais
os processos naturais se mesclam aos culturais para produzir as funções psicológicas
superiores, tais como: ação consciente e controlada; atenção voluntária; memorização
ativa; pensamento abstrato; comportamento intencional. Entende-se que a cultura age
por meio das relações sociais entre indivíduos e que a relação homem-mundo é sempre
mediada por sistemas simbólicos, ou seja, nunca é direta.
Para que se possam explicar com precisão estes processos, serão apresentados
alguns conceitos fundamentais da teoria de Vigotski. O autor buscou explicar a
constituição das funções psicológicas superiores considerando o homem como ser
biológico e como ser social. Vigotski (2007) afirma: “quando me refiro a estudar um
problema sob o ponto de vista do desenvolvimento, quero dizer revelar a sua gênese e
suas bases dinâmico-causais” (p. 65). Desta forma, para explicar o desenvolvimento -
processo de apropriação das formas culturais de atividade - Vigotski identificou os
planos genéticos do desenvolvimento: filogênese, que se trata das características da
espécie humana; ontogênese, que se refere a características de cada ser como membro
da espécie; sociogênese, que corresponde à ação social e cultural da sociedade. A
cultura funciona como alargador das potencialidades humanas. Há ainda a microgênese,
plano genético que não foi mencionado explicitamente por Vigotski, mas foi definido
por estudos neovigotskianos. Corresponde à história individual de cada sujeito dentro de
sua cultura. É constitutivo da subjetividade humana.
Vigotski defendia que desenvolvimento deve ser explicado a partir da interação
entre todos estes planos, isto é, deve levar em conta as características da espécie humana
e do indivíduo, bem como os elementos da cultura na qual ele se insere. Além disto, o
autor afirma que a origem do desenvolvimento é social, ou seja, inicia-se num plano
interpsicológico para, então, passar para o plano intrapsicológico. Para explicar a
passagem do plano social ao plano individual, o autor criou três conceitos: mediação,
internalização e zona de desenvolvimento proximal- os quais serão definidos a seguir.
21
Mediação, em termos genéricos, significa o processo de intervenção de um
elemento intermediário em uma relação. Portanto, considerando a tradicional relação
S→R, ela deixaria de ser direta e passaria a ser mediada por um elo intermediário. Ao
longo do desenvolvimento do indivíduo, as relações mediadas predominam sobre as
relações diretas. Desta forma, Vigotski postula que a relação do homem com o mundo
não é direta, mas fundamentalmente mediada. Isso significa que o indivíduo se apropria
dos elementos da cultura através da interação com o outro e que sua relação com o
mundo ocorre através da intervenção de sistemas simbólicos (Vigotski, 2007; Oliveira
1993). Segundo Oliveira (1993), Vigotski (2007) distinguiu dois tipos de elementos
mediadores: os signos e os instrumentos.
O uso de instrumentos apresentado por Vigotski (2007) demonstra claramente a
influência marxista em seu pensamento. O autor busca compreender o desenvolvimento
da espécie humana tomando como base o surgimento do trabalho, no qual desenvolvem-
se a atividade coletiva, a criação e a utilização de instrumentos. O instrumento é um
elemento intermediário que se coloca entre o trabalhador e seu objeto e trabalho,
ampliando as possibilidades de o ser humano transformar a natureza. Desta forma, é
mediador da relação entre indivíduo e o mundo.
Vigotski (2007) diferencia o uso de instrumentos realizado por seres humanos
daquele feito por animais. Os animais não produzem instrumentos de forma deliberada e
com objetivos específicos, nem preservam suas funções para outros membros do grupo.
Por outro lado, os seres humanos desenvolvem sua relação com o meio num processo
histórico-cultural, de modo que os instrumentos fazem parte da cultura dos diferentes
grupos humanos.
De maneira análoga ao uso do instrumento para o trabalho, o signo age como um
instrumento da atividade psicológica. Em sua forma mais elementar, consiste em marcas
externas para auxiliar o direcionamento da memória ou da atenção, como o uso de
gravetos para representar a quantidade de cabeças de gado (OLIVEIRA, 1993).
A memória mediada por signos é mais poderosa que a memória direta.
Conforme demonstrado em pesquisas realizadas por Vigotski (2007) e seus
colaboradores, o uso de signos aumenta a capacidade de atenção e de memória e, além
disso, permite ao indivíduo maior controle voluntário sobre sua atividade.
22
Os signos são construídos culturalmente e fazem a interposição entre sujeito e
objeto de forma simbólica. Eles passam a ser organizados em estruturas complexas,
constituindo sistemas simbólicos. A linguagem é o sistema simbólico básico de todos os
grupos humanos (OLIVEIRA, 1993). É por meio da linguagem, fornecida pela cultura,
que o ser humano representa o real no universo psicológico. Desta forma,
Se por um lado a ideia de mediação remete a processos de
representação mental, por outro lado refere-se ao fato de que os sistemas
simbólicos que se interpõem entre sujeito e objeto de conhecimento têm
origem social. Isto é, é a cultura que fornece a indivíduo os sistemas
simbólicos de representação da realidade e, por meio deles, o universo de
significações que permite construir uma ordenação, uma interpretação, dos
dados do mundo real. (OLIVEIRA, 1992, p. 27)
Conforme já mencionado, Vigotski defende que as funções do desenvolvimento
da criança aparecem primeiro nível social (interpsicológico) e, depois, no nível
individual (intrapsicológico). Desta forma, a internalização trata da reconstrução interna
de uma operação externa. Com isto, o indivíduo constitui seus sentidos e significados,
construindo assim um universo simbólico amplo e complexo.
Wertsch (1983) afirma que, para Vigotski, “a internalização não é um processo
de cópia da realidade externa num plano interior já existente; é, mais do que isso, um
processo em cujo seio se desenvolve um plano interno da consciência” (p. 83). Oliveira
(1995), da mesma forma, defende que a internalização não é um processo de absorção
passiva, mas de transformação, de síntese. Com isto, pode-se compreender que, para
Vigotski, a internalização das atividades historicamente desenvolvidas e socialmente
consolidadas constitui salto qualitativo da psicologia animal para a psicologia humana.
Neste processo, as funções vivenciadas no plano interativo transformam-se, a partir da
reflexão individual, e passam a constituir o funcionamento interno do sujeito
Resta ainda tratar do conceito de Zona de desenvolvimento proximal (ZDP). No
processo de desenvolvimento, há funções consolidadas e funções emergentes. As
primeiras são aquilo que o sujeito pode realizar de maneira autônoma, enquanto que as
segundas representam o que o sujeito pode fazer com auxílio do outro ou por meio da
imitação. À diferença entre as funções consolidas e as funções emergentes dá-se o nome
de zona de desenvolvimento proximal.
23
Com isto, compreende-se que o desenvolvimento deve ser estudado
prospectivamente, ou seja, olhando o que ainda não está consolidado. A ZDP é um
conceito explicativo, portanto não deve ser mensurado, mas ele diz respeito a onde o
desenvolvimento está acontecendo, o que permite a intervenção pedagógica com intuito
de tornar aquilo que emerge em função consolidada. Desta forma, o conceito de ZDP
traz, ao âmbito pedagógico, uma formulação que contradiz o ensino tradicional: o bom
ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento (OLIVEIRA, 1995).
A relação pensamento e linguagem na abordagem histórico-cultural
A linguagem é o sistema simbólico básico de todo grupo humano e é por meio
da mediação simbólica que o indivíduo desenvolve as funções psicológicas superiores.
Por esta razão, a linguagem e sua relação com o pensamento ocupam espaço central na
obra de Vigotski. O autor criticava os velhos métodos de psicologia, os quais ou
fundiam pensamento com linguagem, ou tentavam estudar esta relação decompondo-a
em dois elementos separados. Vigotski (2009) defende, em lugar disto, que a psicologia
estude as unidades complexas, como são o pensamento e a linguagem, analisando suas
propriedades que não se decompõem e que se conservam; não se deve estudar a
linguagem e o pensamento de forma dissociada. Da mesma maneira, não se pode
entender o pensamento separando-o do afeto, conforme afirma o autor:
Quem separou desde o início o pensamento do afeto fechou definitivamente
para si mesmo o caminho para a explicação do próprio pensamento, porque a
análise determinista do pensamento pressupõe necessariamente a revelação
dos motivos, necessidades, interesses, motivações e tendências motrizes do
pensamento, que lhe orientam o movimento nesse ou naquele aspecto.
(VIGOTSKI, 2009, p. 16).
Com isto, nota-se que a compreensão da relação pensamento-linguagem é
fundamental para o estudo da afetividade. Para o Vigotski, a linguagem tem duas
grandes funções: comunicação e pensamento generalizante, no qual a linguagem serve
de instrumento ao pensamento. Vigotski (2009) buscou explicar como se dá o processo
em que os pensamentos passam a ser verbalizados e que a linguagem passa a servir ao
intelecto, já que essas não são condições inatas.
Tanto no plano filogenético como no plano ontogenético, o progresso da fala não
é paralelo ao progresso do pensamento: ambos seguem trajetórias diferentes, que se
cruzam em determinado ponto do desenvolvimento. Isto significa que há uma fase pré-
24
verbal do pensamento e uma fase pré-intelectual da linguagem. O pensamento pré-
verbal corresponde à inteligência prática e à utilização de instrumentos. A linguagem
pré-intelectual, por sua vez, tem a função de alívio emocional e mobilização social,
como é o caso do choro ou do riso da criança.
No plano filogenético, intersecção das trajetórias do pensamento e da linguagem
foi impulsionada pela necessidade de intercâmbio entre indivíduos durante o trabalho.
Já no plano ontogenético, isso se dá pela inserção da criança em um grupo cultural.
Quando esta intersecção ocorre, surgem o pensamento verbal e linguagem racional, que
representam um salto qualitativo no funcionamento psicológico, tanto da espécie quanto
do indivíduo, pois este passa a ser mediado pelo sistema simbólico da linguagem. Isto
não significa a eliminação completa do pensamento não-verbal e da linguagem não-
intelectual; ambos continuam presentes, por exemplo, em ações que requerem
inteligência prática ou na repetição de frases decoradas. No entanto, após o cruzamento
das duas trajetórias, o pensamento verbal e a fala intelectual passam a ser predominantes
na atividade humana (VIGOTSKI, 2009).
O processo de internalização da linguagem, o qual possibilita a inteligência
simbólica, tem origem social, assim como o desenvolvimento. Ou seja, a língua é
inicialmente externa à criança e passa ser interna, mediando o pensamento. Podem ser
identificadas três etapas nesse processo de internalização. Primeiramente, há a fala
social, que é dirigida externamente e tem a função de comunicação. Por meio da
inserção na cultura, a criança desenvolve a fala interior, que é dirigida internamente
(sem vocalização) e tem a função de regular suas próprias atividades psicológicas. Na
passagem da fala social para a fala interior, observa-se uma etapa intermediária: a fala
egocêntrica. Esta tem a forma da fala social, pois é vocalizada e dirigida externamente,
mas tem a função de fala interior, uma vez que serve para a regulação da atividade da
criança (VIGOTSKI, 2009).
Os conceitos de sentido e significado também são essenciais para a compreensão
do papel da linguagem na teoria de Vygotsky. O significado são as produções sociais e
históricas que corresponde àquilo, por exemplo, que se convencionou sobre uma
palavra, que está ligada ao campo semântico, dicionarizado. Apesar de não serem
estáticos, os significados são mais estáveis e uniformes. Já os sentidos são apropriações
feitas pelo sujeito dos significados, que são compartilhados socialmente, mas passando
25
pelo prisma de suas experiências individuais, marcadamente afetivas. Portanto, o
sentido de uma palavra
é a soma de todos os fatos psicológicos que ela desperta em nossa
consciência. Assim, o sentido é sempre uma formação dinâmica, fluida,
complexa, que tem várias zonas de estabilidade variada. O significado é apenas
uma dessas zonas do sentido que a palavra adquire no contexto de algum
discurso e, ademais, uma zona mais estável, uniforme e exata. (VIGOTSKI,
2009, p. 465)
Desta forma, os sentidos ligam o significado da palavra, partilhado pela cultura,
às experiências individuais do sujeito, carregando marcas afetivas e pessoais. Por isso, o
sentido é relacionado à subjetividade humana.
A afetividade em Vigotski
A questão da afetividade em Vigotski é considerada, por seus estudiosos
contemporâneos, um tema inconcluso. Ao final de sua vida, Vigotski tentava elaborar
uma teoria das emoções, cujo objetivo era apresentar as bases filosóficas das teorias
existentes, a fim de criticar as teorias fisiologistas e idealistas. Este texto nunca foi
finalizado, devido ao agravamento dos problemas de saúde de Vigotski (VAN DER
VEER e VALSINEER, 1991). O título original deste texto era “Espinosa e sua teoria
dos afetos-prolegômenos à Psicologia do Homem” e só foi publicado, pela primeira vez,
em 1960, na Rússia. Em 1984, foi publicado com o título “A teoria das emoções: uma
investigação histórico-psicológica”, no volume seis das obras escolhidas, e, até o
momento, não foi traduzido para o português.
Como destaca Sawaia (2000), apesar de o título original remeter a Espinosa, a
parte do manuscrito que discutiria a obra deste filósofo nunca foi escrita. O texto faz
uma análise profunda das bases filosóficas da teoria de James e Lange e, para tanto,
debruça-se sobre a teoria cartesiana, expondo seus pontos fracos. Van der Veer e
Valsineer (1991) levantam a possibilidade de Vigotski não ter ido adiante com o estudo
de Espinosa por ter julgado que estava no caminho errado. No entanto, Sawaia (2000)
discorda desta hipótese, defendendo que Espinosa era o filósofo de preferência de
Vigotski, a quem denominava “filósofo monista”. Quanto a isto, Van der Veer e
Valsineer (1991) não se opõem, pois também afirmam que Vigotski defendia que “o
26
ponto de partida de uma melhor análise filosófica da Psicologia moderna seria
encontrado na obra de Espinosa” (p.263).
Como foi dito acima, em Teoria das Emoções, Vigotski analisa e faz críticas à
teoria James-Lange sobre as emoções. Toassa (2012) sintetiza as ideias propostas nesta
teoria: James propôs-se a estudar as emoções-padrão, tais como, raiva, medo, surpresa,
curiosidade e cobiça; deixou de lado, propositadamente, os sentimentos morais,
estéticos e intelectuais que se originariam destas emoções. Com base em Darwin, esta
teoria defendia que “as perturbações corporais observáveis eram a expressão ou
linguagem natural das emoções: a expressão da raiva teria como efeito intimidar outros
animais, cumprindo, pois, uma função de adaptação ao ambiente” (TOASSA, 2012, p.
97).
Vigotski (2004) procurou mostrar como esta teoria estava relacionada à filosofia
cartesiana, sendo que fora feita a substituição da terminologia teológica de Descartes
pela fisiológica. Toassa (2012) destaca que a teoria James-Lange reduzia as emoções a
um mecanismo animal, sem vida subjetiva e desvinculado da história. Além disto,
Vigotski (2004) discordava do estudo biologizante das emoções, defendendo que os
planos cultural e biológico se constituem num processo único de formação do ser
humano. Toassa (2012) afirma que a tese central do autor era que os estudos da emoção
deveriam
enfocar as emoções como processos do organismo humano tornados funções
da personalidade, histórica e culturalmente determinados, nos quais as ideias
(teológicas, políticas, estéticas e científicas) precisavam ganhar um lugar não
só na descrição, mas também na explicação das emoções (TOASSA, 2012, p.
103)
Com isto, Vigotski (2004) defendia que emoções tão diferentes, como o medo
dos animais e o amor de Dante por Beatrice, deveriam ter suas gêneses explicadas pela
mesma teoria. Sua defesa era a de uma teoria das emoções naturalista, monista e
materialista, que possibilitasse explicar cientificamente o mundo humano, apoiada em
uma base histórico-cultural (TOASSA, 2012). Vigotski (2004) destaca que seu texto
Teoria das Emoções era apenas um primeiro passo nesta direção, lembrando que havia
ainda, neste campo, muitos problemas sem solução, os quais seriam tarefa para longos
anos de extensas e sérias investigações.
27
Muitos autores contemporâneos parecem ter seguido este caminho indicado por
Vigotski e têm se dedicado ao estudo das emoções. Sawaia e Magiolino (2016) fazem
uma compilação de estudiosos que se lançaram no tema da afetividade. A exposição das
autoras aborda os trabalhos de Rimé, Wallon, Damásio e Clot, analisando o uso dos
termos emoção, afeto e paixão em suas obras. A partir disto, passam para explanação
dos mesmos conceitos nas obras de Vigotski e Espinosa. As autoras mostram que
afetividade é um tema que percorre a obra de Vigotski, desde sua famosa conferência
“A consciência como problema da psicologia do comportamento”, de 1924, até seus
últimos trabalhos, como Teoria da Emoções e Pensamento e Linguagem. Sawaia e
Magiolino (2016), com base no estudo cuidadoso das obras de Vigotski, afirmam que há
oscilação na forma como os termos afeto, emoção e paixão são empregados pelo autor.
Defendem que Espinosa usa, preferencialmente, o termo afeto, enquanto Vigotski
utiliza mais o termo emoção, sem que haja indícios de que sejam opostos, mas que
ambos têm o propósito de superar a dicotomia entre o representacional e o biológico.
Sawaia e Magiolino (2016) realçam que a análise, realizada por elas, das obras
de Espinosa e Vigotski “revela uma dimensão da vida afetiva que não é destacada nas
reflexões de ambos sobre emoção, afeto e paixão e que pode ser nomeada de
sentimento” (p.84). Sentimento indicaria, nesta perspectiva, a emoção que permanece
presentificada, mesmo que já tenha sido vivenciada. Este conceito “permite analisar as
emoções desvinculadas das afetações imediatas que a provocaram e perpetuadas como
uma experiência emocional intensiva” (p.84). Com isto, a análise dos afetos pode se
desprender das noções clássicas de tempo e espaço, para entender o sentimento como
ligado à memória, à imaginação e às afetações fossilizados. O conceito de sentimento
possibilita a compreensão de que os afetos estão sempre em movimento e que não
precisam estar necessariamente ligados à afetação do instante, mas podem se manter
como ambiência afetiva ou se sedimentarem em paixões tristes e alegres, que aumentam
ou diminuem a potência de agir (SAWAIA e MAGIOLINO, 2016).
Sawaia (2000) afirma, ainda, que afetividade é “o nome atribuído à capacidade
humana de elevar seus instintos à altura da consciência, por meio dos significados, de
mediar a afecção pelos signos sociais, aumentando ou diminuindo a potência de ação”
(p.15). Nesta perspectiva, afetividade (emoção e sentimento) é um universo particular
28
de investigação e de ação social transformadora, que supera a divisão
universal/individual e mente/corpo.
As ideias de Henri Wallon
Henri Wallon nasceu em 1879, na França, viveu em Paris a maior parte de sua
vida e faleceu em 1962. A família de Wallon tinha uma longa tradição universitária e
republicana, o que proporcionou que ele fosse criado em uma atmosfera humanista e
democrática. O período no qual viveu foi marcado por instabilidade social e política,
sendo que diversos acontecimentos - as duas guerras mundiais, as revoluções
socialistas, o avanço do fascismo e a libertação das colônias na África - tiveram grande
impacto na Europa e, em especial, na França. Neste contexto, Wallon sempre deixou
claras as suas posições, adotando uma postura de ação social, alinhada ao pensamento
de esquerda (GALVÃO, 1995).
Ainda antes da primeira guerra, Wallon aderiu ao Partido Socialista, pois via ali
uma alternativa ao avanço do fascismo. Desligou-se deste partido por não concordar
com sua demasiada preocupação eleitoreira. Ao final dos anos 30, Wallon envolveu-se
em movimentos contra o fascismo. Durante a segunda guerra, momento em que a
França foi ocupada pelos alemães, atuou intensamente na Resistência Francesa,
movimento que se opunha ao nazismo. Foi perseguido e precisou viver na
clandestinidade, além de ter sido forçado pelo governo de Vichy a interromper suas
atividades acadêmicas. Apesar disto, continuou desenvolvendo suas atividades
científicas, tendo publicado, neste período, o livro Do ato ao pensamento (GALVÃO,
1995).
É clara a influência marxista nas obras de Wallon. Para o autor, interessava a
discussão do materialismo histórico-dialético como um método de análise e como
referencial epistemológico para a psicologia. Wallon entendia o marxismo não como um
dogma, mas como um ideal de libertação e, no plano científico, como um método de
análise. Além disto, deve-se destacar que Wallon demonstrava grande sensibilidade ao
mundo das artes. Era amigo de vários pintores e foi colecionador de obras de arte. Este
contato com o meio artístico também se faz presente em sua obra, a qual abrange o
campo estético (GALVÃO, 1995).
29
Em 1902, Wallon licenciou-se em Filosofia, na Escola Normal Superior. Depois
disto, passou a estudar Medicina, tendo se formado em 1908, quando passou a dedicar-
se à carreira médica. No período entre 1914 e 1918, trabalhou como médico de
batalhão, tratando os feridos da guerra (OLIVEIRA, 2004). O tratamento de lesões
cerebrais de ex-combatentes possibilitou que Wallon revisse algumas concepções
neurológicas que havia desenvolvido no atendimento de crianças com deficiências. Com
isto, consolidou-se seu interesse pela psicologia da criança, que resultou em uma vasta
produção científica neste domínio (GALVÃO, 1995).
Prandini (2004) lembra que Wallon propôs que se estudasse a constituição da
pessoa a partir de sua gênese. A teoria de Wallon (1979, 1995a, 1995b) dá ênfase ao
papel das interações sociais para o desenvolvimento humano, além de apresentar uma
visão integradora deste processo, segundo a qual o funcionamento humano integra
quatro campos: afetivo, cognitivo e motor, que constituem o quarto campo, a pessoa.
Mahoney (2004) esclarece as formas pelas quais cada um destes conjuntos
integra e contribui para a constituição da pessoa. O conjunto motor oferece as funções
responsáveis pelos movimentos do corpo, que possibilitam o ato motor. A autora
destaca que o ato motor insere a pessoa na situação concreta do momento e é seu
recurso de visibilidade e se transforma no primeiro recurso de sociabilidade. Além
disto, o conjunto motor possibilita o deslocamento do corpo no espaço e oferece a
estrutura para a expressão das emoções e dos sentimentos.
Sobre o conjunto cognitivo, Mahoney (2004) afirma que este “oferece as
funções responsáveis pela aquisição, transformação e manutenção do conhecimento” (p.
18). Por meio de diferentes linguagens, este conjunto é composto por signos que são
pontos de referência do pensamento. Além disto, disponibiliza os recursos mentais para
a organização da experiência vivida.
O conjunto afetivo, por sua vez, sinaliza, por meio das emoções, dos sentimentos
e da paixão, como o ser humano é afetado pelo mundo (MAHONEY, 2004). Observa-se
a integração entre os campos funcionais, uma vez que Wallon afirma que ser afetado
pelo mundo estimula tanto os movimentos do corpo quanto a atividade mental. Em
Wallon, afetividade “refere-se à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo,
por meio de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis” (ALMEIDA
30
e MAHONEY, 2014, p. 17). Portanto, a afetividade engloba um conjunto amplo de
manifestações que envolvem as emoções (origem biológica), os sentimentos (origem
psicológica) e a paixão (ligada à ativação do autocontrole), e que se desenvolve através
da apropriação dos sistemas simbólicos culturais.
Nesta perspectiva, as emoções têm natureza orgânica e correspondem a
manifestações corporais de estados subjetivos. Elas têm também função social, que se
refere à comunicação e mobilização do outro no período inicial da vida (choro e
agitação física do bebê). Wallon (1979) afirma que os primeiros gestos do bebê “não
são gestos que lhe permitirão apropriar-se dos objetos do mundo exterior ou evitá-los,
são gestos dirigidos às pessoas, de expressão” (p. 201). Desta forma, as emoções são o
primeiro e mais forte vínculo entre os seres humanos.
Com a ampliação das habilidades de representação – a capacidade de imaginar,
fantasiar, criar e planejar - a criança passa a dividir, em suas interações sociais, os
sentimentos. Estes são construções psicológicas mais duradouras e menos intensas e
visíveis que as emoções, que permitem formas mais complexas de comunicação e
atuação no meio (WALLON, 1995a). Já as paixões relacionam-se com a emergência do
autocontrole, em função de uma finalidade ou objetivo. Elas são mais encobertas,
duradouras e intensas que as emoções e os sentimentos, além de serem mais
direcionadas no comportamento (MAHONEY, 2004; ALMEIDA e MAHONEY, 2014).
Conforme já mencionado, Wallon dá grande relevância para as relações sociais
ao estudar o desenvolvimento humano. O autor afirma que é a partir do contato com o
“outro” que o indivíduo consegue se definir como “eu”. Desta forma, as trocas e
construções estabelecidas na interação com o outro permitem ao indivíduo caracterizar-
se como um sujeito único, com base na construção de um universo simbólico pessoal.
Para Wallon, todas as interações são carregadas de conteúdos afetivos. A
afetividade, “além de envolver um componente orgânico, corporal, motor e plástico, que
é a emoção, apresenta também um componente cognitivo, representacional, que são os
sentimentos e a paixão” (Dér, 2004, p. 61). Portanto, a afetividade envolve vivências e
formas de expressão humanas complexas e desenvolve-se com a apropriação de
sistemas simbólicos da cultura, principalmente a linguagem. Por envolver elementos
31
simbólicos da cultura, a complexificação das manifestações afetivas só é possível
através da mediação do outro.
Wallon considera que a afetividade exerce papel fundamental no
desenvolvimento humano, sendo determinante tanto na construção da pessoa quanto na
construção do conhecimento. Verifica-se que em todos os estágios de desenvolvimento
estão presentes, de maneira indissociável, a afetividade e a cognição, observando-se
uma alternância de predomínio de cada uma delas. Como expõem Leite e Tassoni
(2002), “as conquistas no plano afetivo são usadas no plano cognitivo, e vice-versa” (p.
05).
Ao longo do desenvolvimento, alteram-se também as relações entre Eu-Outro.
Wallon (1986) defende que esta relação permeia todo o desenvolvimento que, nesse
período inicial envolve a superação do sincretismo, caminhando para a diferenciação
entre Eu e Outro. A princípio, no recém-nascido, predomina a simbiose na referida
relação, pois neste período, como afrma Wallon (1986), “a totalidade das reações
necessita ser completada, compensada, interpretada” (p. 161). Os gestos, antes de serem
úteis ao bebê, suscitarão intervenções desejáveis nas pessoas que o rodeiam e, a partir
disto, passam a ser mais intencionais e a expressarem emoções. O autor afirma que, no
período inicial do psisquismo, há um estado de indivisão sobre o que ocorre no próprio
sujeito ou no mundo exterior; o conteúdo que acede à consciência tem delimitações
confusas sobre o Eu e o Outro.
Segue-se a isso um período de alternância na relação Eu-Outro, no qual a criança
ora é autora em relação ao Outro, ora é objeto da ação dele. Nestas trocas de papéis, a
criança começa a conhecer os desdobramentos entre o que age e o que sofre a ação. No
entanto, o Eu ainda não assumiu a estabilidade e a constância necessárias para uma
consciência de si (WALLON, 1986). Almeida (2014) afirma que os jogos de alternância
desaparecem de forma abrupta e surge uma espécie de “crise de personalidade”, em que
o Eu pretende se firmar como diferente do Outro, por meio dos movimentos de oposição
(expulsão do Outro), sedução (assimilação do Outro) e imitação (o Outro como
modelo). A distinção, cada vez mais clara, entre Eu e Outro possibilita um diálogo em
igualdade de posições, ambos como sujeitos da relação. (ALMEIDA, 2014).
32
Esta nítida diferenciação entre Eu e Outro permite que se estabeleçam relações
recíprocas e igualitárias. Na puberdade, surge novamente uma exploração de si,
marcada por maior autonomia, a qual pode levar a relações de oposição e de conflito.
No entanto, no adulto, as relações entre Eu-Outro tendem ser mais igualitárias, devido
ao controle cortical sobre os acontecimentos (ALMEIDA, 2014).
Wallon (1986) compara o primeiro estágio da consciência a uma nebulosa, em
que as ações sensório-motoras, de origem externa ou interna, misturam-se sem
delimitação própria. Apesar da crescente diferenciação entre Eu e Outro, a repartição da
matéria psíquica não é constante, conforme afirma o autor:
Mesmo em seu estado normal, um aduto pode ter momentos em que se sente
mais deliberadamente ele mesmo, e outros em que acredita seguir um destino
menos pessoal e mais sujeito às influências, vontades, fantasias de outra
pessoa e às necessidades que lhe tornam penosas as situações em que está
comprometido frente a outros homens (p.164).
Almeida (2014) analisa que, para Wallon, a relação Eu-Outro permeia toda a
constituição psíquica do indivíduo, desde quando recém-nascido até a morte e considera
que a elaboração do Eu e do Outro para a consciência faz-se simultaneamente. Quando
o Eu se afirma e delimita-se nitidamente em relação ao Outro, há apenas um
personagem. No entanto, o personagem Outro não desaparece totalmente, surgindo
assim o Outro íntimo, ou Socius3 (WALLON, 1986; ALMEIDA, 2014).
Wallon (1986) defende que o Socius (ou Outro) é um parceiro permanente do
Eu. Devido à vontade de dominação e de completa integridade do Eu, o Socius tende a
ser reduzido e invisível. No entanto, esta relação torna-se mais aparente quando o
sujeito precisa deliberar ou tomar decisões, surgindo por meio de um diálogo entre o Eu
e um oponente. O autor esclarece que estas conversações entre sujeito e o Socius
assemelham-se aos diálogos da criança consigo mesma, que parecem desaparecer por
volta dos três anos de idade, quando o Eu começa a se afirmar. No entanto, esta suposta
desaparição é, na realidade, uma redução; o que parece suprimido ainda sobrevive em
estado de latência, com um papel secundário (WALLON, 1986).
3 Expressão utilizada por Pierre Janet, assumida por Wallon em “O papel do outro na consciência do outro”, trabalho originalmente publicado em 1946.
33
A partir destas ponderações, Almeida (2014) sustenta que o diálogo entre Eu e o
Sócius são marcados por um constante dinamismo e devir, do qual, a depender das
circuntâncias, um ou outro sai vencedor. Desta maneira, é na dialética entre Eu e Outro
que se realiza a singularidade do indivíduo.
Afetividade e práticas pedagógicas
Ancorados nas teorias de Vigotski e Wallon, os pesquisadores do Grupo do
Afeto dedicaram-se à investigação das questões da afetividade e suas relações com a
educação. Uma das pesquisas precursoras do grupo foi realizada por Grotta (2000), que
estudou as histórias de constituição de leitores autônomos, aqueles que leem por
iniciativa própria, por considerarem a leitura uma atividade intrinsicamente motivadora.
Grotta (2000) identificou que a dimensão afetiva foi determinante neste processo,
identificando e descrevendo o papel dos diversos mediadores entre os sujeitos
pesquisados e a leitura, bem como as marcas afetivas impressas por estas vivências.
Paralelamente, Tassoni (2000) dedicou-se ao estudo da questão da afetividade em sala
de aula, analisando as atividades de produção escrita realizadas por professoras com
alunos de seis anos.
A partir destas pesquisas, outros membros do Grupo do Afeto também se
voltaram ao estudo da constituição do leitor - como Souza (2005), Silva (2005) Higa
(2007, 2015) e Orlando (2016) - buscando analisar as implicações das situações de
mediação nas relações que se estabelecem entre sujeito e leitura. Foram realizadas
também pesquisas que olharam para a afetividade nas práticas pedagógicas, dentre
estas, destacam-se os trabalhos de Falcin (2003), Tagliaferro (2003), Tassoni (2008),
Gazoli (2013), Garzella (2013), Lima (2014) e Fracetto (2017). Estas pesquisadoras,
junto com outros membros do Grupo do Afeto, olharam para a afetividade em diversos
níveis de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino
Superior e EJA), assim como dedicaram-se a diferentes áreas do conhecimento, tais
como matemática, português, ciências, história e geografia.
Apesar das diferentes temáticas, há alguns princípios em comum que norteiam
as pesquisas do Grupo do Afeto, os quais se baseiam, principalmente, no estudo das
obras de Vigotski e Wallon. O primeiro deles é o entendimento que o processo de
apropriação do conhecimento ocorre a partir da relação entre sujeito e objeto, sendo esta
34
relação sempre mediada por agentes culturais, sejam eles pessoas físicas ou produtos
culturais. Na sala de aula, o principal agente mediador é o professor. Compreende-se
ainda que as relações entre sujeito, objeto de conhecimento e mediador são
marcadamente afetivas. Com isto, assume-se que a qualidade da mediação vivenciada
pelo sujeito é determinante para o tipo de relação que este estabelecerá com o objeto de
conhecimento e que esta relação envolve, simultaneamente, as dimensões afetiva e
cognitiva (LEITE, 2012).
A partir dos dados produzidos pelo Grupo do Afeto, foi possível identificar
algumas decisões assumidas pelo professor, ao planejar e desenvolver seu curso, as
quais possivelmente terão implicações afetivas, interferindo nas relações que os
estudantes desenvolverão com os objetos (LEITE e TASSONI, 2002; LEITE, 2012):
a) Para onde ir - a escolha dos objetivos de ensino
A escolha dos objetivos de ensino reflete valores e crenças por parte de quem os
escolhe, seja um grupo de educadores, uma instância pública ou um professor sozinho.
Uma das implicações afetivas relacionada à escolha dos conteúdos diz respeito à
relevância destes para os estudantes. É possível observar que, frequentemente, os
estudantes consideram irrelevantes os assuntos abordados pela escola, especialmente
por não verem conexão entre estes conhecimentos e sua realidade pessoal ou seu futuro
profissional (LEITE e TASSONI, 2002).
É importante frisar que, com isto, não se defende um currículo basicamente
pragmático e superficial. Pelo contrário, reafirma-se a ideia de que o conhecimento
historicamente acumulado pode contribuir para melhores condições de exercício da
cidadania e de inserção social, em uma perspectiva crítica e transformadora. Desta
forma, ao se selecionarem os objetivos e conteúdo de ensino, faz-se necessário tomar o
estudante como referência e possibilitar que este reconheça a relevância dos
conhecimentos mobilizados na sala de aula. Estas considerações contribuem para que se
estabeleçam vínculos positivos entre os estudantes e os conteúdos abordados.
b) De onde partir - o estudante como referência
Os dados produzidos pelo Grupo do Afeto indicam que iniciar o estudo a partir
daquilo que os estudantes já conhecem sobre o tema aumenta a possibilidade de que eles
35
se apropriem adequadamente dos novos conteúdos que serão ensinados. O êxito na
aprendizagem tem inegáveis implicações afetivas, como também mostram as pesquisas
do grupo.
A relação inversa também é frequentemente observada nas escolas: o professor
inicia o programa de ensino sem considerar a situação atual dos estudantes, partindo de
um nível muito mais complexo do que eles conhecem. Como consequência, ampliam-se
as dificuldades no aprendizado, podendo, inclusive, levar ao fracasso escolar (LEITE,
2012).
A principal implicação pedagógica desta decisão é a sugestão de que se realize, no
início do período de aulas, uma avaliação diagnóstica, de forma que o professor possa se
inteirar das condições em que seus estudantes se encontram. Partindo daquilo que os
estudantes já conhecem, diminuem-se as possibilidades de um fracasso prematuro e de
suas consequentes implicações afetivas - o afastamento afetivo entre aluno e objeto de
conhecimento (LEITE, 2012).
c) Como caminhar - a organização dos conteúdos
A falta de organização ou a organização inadequada dos conteúdos de um curso -
não se respeitando a lógica do sequenciamento do conhecimento da área - dificulta o
processo de apropriação do conhecimento pelo estudante, o que resultaria na prevista
deterioração das relações entre o estudante e o objeto em pauta.
Percebe-se, por meio de pesquisas, que a organização adequada dos conteúdos está
relacionada com o fato de o professor respeitar a organização epistemológica de área de
ensino. Além disto, o professor não ensina todo o conteúdo de uma vez, mas, ao invés
disto, sequencia-o e delimita-o em pequenas etapas. A dificuldade em analisar e
organizar os objetivos do curso pode ser uma das causas para o frequente uso do livro
didático como principal (ou único) instrumento de ensino pelos professores (LEITE,
2012).
d) Como ensinar - a escolha dos procedimentos e atividades de ensino
As atividades de ensino envolvem a relação professor-aluno naquilo que ela tem de
mais sensível. São relações observáveis e, muitas vezes, seus efeitos podem ser
36
prontamente identificados. A escolha das atividades de ensino diz respeito ao que, de
fato, vai ocorrer na sala de aula: se o professor ministrará uma aula expositiva; se os
estudantes farão trabalho em grupo; se será realizada a leitura de um texto ou um
trabalho de campo, entre outros (LEITE e TASSONI, 2002).
A seleção das atividades de ensino deve estar de acordo com os objetivos assumidos
no planejamento do curso, bem como devem levar em conta os conhecimentos prévios
dos alunos e a organização dos conteúdos. Isto significa que os procedimentos adotados
pelo professor dependem, fundamentalmente, das três decisões expostas anteriormente.
É inegável, portanto, a implicação afetiva gerada pela atividade de ensino bem
planejada e bem realizada.
No entanto, há muitos fatores que podem perturbar a boa concretização dos
procedimentos de ensino. É o caso, por exemplo, da escolha de uma atividade
inadequada para o objetivo proposto; ou, ainda, uma atividade desmotivadora, mesmo
que os objetivos sejam relevantes. Nas pesquisas do Grupo do Afeto, observa-se que os
jovens, geralmente, são muito sensíveis para identificar se a atividade de ensino é
adequada ou não, se tem função com relação aos objetivos pautados (LEITE, 2012).
Há, ainda, questões de organização interna dos procedimentos de ensino. Podem ser
identificados, em uma atividade de ensino, três momentos que a constituem: a)
instrução do professor; b) desenvolvimento da atividade pelo estudante; c) retorno do
professor sobre o trabalho realizado pelo estudante (Garzella, 2013). Compreende-se
que no cotidiano escolar e na dinâmica da sala de aula, estas etapas não ocorrem de
maneira linear. No entanto, esta estrutura permite que se estude, com profundidade, um
aspecto tão delicado e relevante da prática pedagógica.
Tendo em vista o modelo apresentado acima, pode-se afirmar que, quando há ruído
em qualquer um dos momentos que compõem a atividade de ensino, dificulta-se o
processo de aprendizagem do estudante. Por exemplo, quando o professor não dá
instruções claras, impedindo que o estudante desenvolva atividade de maneira
apropriada; ou quando há intervenções inadequadas do professor ou de colegas durante
a realização do trabalho pelo estudante.
37
Deve-se destacar que as atividades de ensino aglutinam inúmeras questões
referentes às relações interpessoais da sala de aula, realçando-se aqui a relação
professor-aluno. Em função disto, as atividades de ensino concentram grande parte do
conteúdo afetivo do processo de ensino-aprendizagem. Olhares, sorrisos, postura,
contato, conteúdos verbais, formas de acolhimento, instruções e correções são alguns
dos elementos que constituem esta trama de interações em sala de aula, as quais têm
forte poder de influência sobre as relações que o estudante estabelecerá com os objetos
de conhecimento, a depender da forma como estas interações são vivenciadas (LEITE,
2012).
e) Como avaliar - uma decisão a favor ou contra o estudante?
A avaliação tradicional, cujo objetivo é utilizar os resultados como forma de
ranqueamento dos estudantes, dividindo-os em os melhores e os piores, tem se
mostrado uma das principais responsáveis pelo afastamento afetivo entre estudante e
objeto de conhecimento. Esta concepção de avaliação está vinculada à ideologia liberal,
base do sistema capitalista, segundo a qual as diferenças de capacidade dos seres
humanos são inatas (LEITE, 2012).
Sob esta ótica, ensino e aprendizagem são tidos como processos independentes:
o professor ensina e a aprendizagem é obrigação do estudante. De forma que, se esta
não ocorre, deve-se, supostamente, a características intrínsecas do aprendiz. As
pesquisas do Grupo do Afeto, especialmente, Leite e Kager (2009), expõem os efeitos
devastadores que esta abordagem de avaliação tem nas relações entre estudante-
conteúdo.
Entretanto, qualquer alternativa a esta visão implica em grandes mudanças nas
concepções de ensino-aprendizagem, inclusive de natureza ideológica. Para que estas
modificações se efetivassem, seria necessário também o trabalho coletivo entre docentes
e equipe gestora, ou seja, configurar-se-ia uma mudança de política de avaliação da
instituição.
De maneira geral, entende-se que quando os resultados das avaliações são usados
contra os estudantes, cria-se mais um obstáculo para aproximação afetiva entre aluno e
conhecimento. A avaliação coloca-se a favor do estudante quando, por exemplo, os
38
dados por ela obtidos são utilizados para que se revejam as condições de ensino ou
contribuam para estratégias que permitam aos estudantes se apropriarem
adequadamente dos conteúdos desenvolvidos (LEITE, 2012).
Diante do exposto, evidencia-se que a afetividade é constitutiva de todas as
interações sociais e, igualmente, faz parte das relações que se desenvolvem dentro da
sala de aula. Retoma-se, ainda, a ideia, exposta por Mahoney (2004), de afetividade
como a capacidade do ser humano de afetar e ser afetado pelo mundo. Soma-se a isso a
filosofia espinosana, segundo a qual o afeto é aquilo que diminui ou aumenta a potência
de ação do homem. A partir desta base, se dará o estudo proposto pela presente
pesquisa: os movimentos de aproximação ou afastamento com determinado objeto de
conhecimento - no caso, a língua inglesa - depende, fundamentalmente, das vivências,
mediadas por agentes culturais, que o sujeito tem com este objeto e das formas como
elas o afetam.
39
2-Ensino de Língua Inglesa
Breve panorama
Até o início do século XX, o ensino das línguas clássicas nas escolas era mais
prestigiado que o das línguas modernas, de modo que o ensino da língua inglesa devia
equiparar-se ao das línguas clássicas, especialmente o latim. Há, porém, uma
incoerência nessa prática: o inglês, uma língua viva, era ensinado como uma língua
morta. O objetivo central do ensino era transmitir conhecimentos gramaticais pois
acreditava-se que dominar a gramática significava dominar a língua. As aulas eram
ministradas em língua materna e o foco do trabalho era a linguagem escrita. No Brasil, o
acesso ao idioma era reduzido à elite, com o intuito de contribuir para formação
clássica, por meio da tradução de textos literários. (UPHOFF, 2008)
As reivindicações por uma nova maneira de ensinar as línguas modernas
começaram nas primeiras décadas do século XX e a principal demanda era que as aulas
fossem ministradas no idioma-alvo. Com isso, afirma Upfhoff (2008), surge um novo
método chamado de método direto o qual visava que o aluno falasse e pensasse na
língua estrangeira e, com isso, construísse seu sistema linguístico. A gramática já não
era mais o foco principal, pois se acreditava que ela seria aprendida de maneira indutiva
mediante o uso ativo da língua, com ênfase na oralidade. Uphoff (2008) ressalta que a
reforma educacional do ministro Francisco Campos, em 1931, durante o primeiro
governo de Getúlio Vargas, reconheceu o método direto oficialmente no Brasil. Apesar
de, na prática, não haver condições apropriadas para tal, como materiais adequados e
um número maior de aulas semanais, essa foi a primeira vez em que houve uma
tentativa real de atualizar o ensino de línguas modernas no país.
Já no panorama internacional, o advento da Segunda Guerra Mundial, que trouxe
a necessidade de instruir soldados de maneira rápida em diferentes línguas e a crença na
infalibilidade da ciência, possibilitou o desenvolvimento do método audiolingual
(UPHOFF, 2008). Fundamentando-se no behaviorismo de Skinner, o desempenho
linguístico era entendido como um comportamento a ser automatizado por meio de
repetições (UPHOFF, 2008).88
40
Esse método também é conhecido como método estruturalista (UPHOFF, 2008,
PAIVA, 2014) devido à influência do movimento estruturalista. A língua é
compreendida como um conjunto limitado de estruturas - sintáticas e sonoras -
combinadas em um grande número de variações. A progressão dos conteúdos era dada
pelo avanço nos tópicos gramaticais, partindo de estruturas mais simples para as mais
complexas. Curiosamente, o método prescrevia que a gramática não fosse abordada de
maneira explícita, já que o foco era a criação de correlações entre estímulos auditivos e
o significado das palavras (PAIVA, 2014).
A partir da década de 1970, novas ideias, como a teoria funcional da linguagem-
segundo a qual a linguagem é uma prática social e uma ferramenta para interação entre
os seres humanos - e a pedagogia crítica, passaram a influenciar e remodelar o ensino de
inglês (UPHOFF, 2008). No plano político, a paulatina unificação dos países europeus
também requeria melhoras no ensino de idiomas. Foi nessa atmosfera que se
desenvolveu a abordagem comunicativa, que chegou ao Brasil no final da década de
1970, com o regresso de estudantes que concluíram seus estudos em linguística aplicada
na Inglaterra. Este método pretende desenvolver no aluno a capacidade de interagir em
situações reais. As aulas passam a ser mais dinâmicas e o aluno mais ativo. A
progressão dos conteúdos é dada pelas “intenções comunicativas”, como apresentar-se
ou despedir-se, e não é mais pautada apenas em critérios gramaticais.
No Brasil, este método é muito vinculado ao linguista aplicado Almeida Filho e
ficou conhecido como “abordagem comunicativa”, uma vez que o autor questiona o
termo método por sua tendência demasiadamente prescritiva. Segundo Almeida Filho
(1993), aprender uma língua estrangeira é “aprender a significar nessa nova língua e
isso implica em relações com outros numa busca de experiências profundas.” (p.15).
Neste trabalho, optou-se por considerar os aspectos fundamentais da abordagem
comunicativa pelo fato de esta teoria ser citada, pela professora pesquisada, como
norteadora de suas práticas, conforme pode ser visto nos capítulos seguintes.
Canale e Swain (1980) afirmam que, na abordagem comunicativa, o ensino é
organizado com base em funções comunicativas que um determinado grupo de
estudante, possivelmente, precisará saber, tais como: desculpar-se, prometer, convidar,
descrever, entre outras. Enfatizam-se as formas como determinadas estruturas
gramaticais podem ser usadas para expressar estas funções apropriadamente. Os autores
41
defendem que a habilidade de comunicar-se é composta, minimamente, por:
conhecimentos de gramática, isto é, compreensão de regras gramaticais, incluindo
questões de morfologia, sintaxe, semântica e fonologia; conhecimentos
sociolinguísticos, os quais referem-se às regras de uso da língua e às regras dos
discursos, ambas determinadas socioculturalmente; conhecimentos de estratégias de
comunicação, os quais englobam estratégias verbais e não-verbais que serão utilizadas
quando a comunicação não pode ser efetivada, devido à insuficiência dos
conhecimentos anteriores. Além disto, Savignon (2007), aponta que, posteriormente,
Canale identificou também a competência discursiva, a qual refere-se aos diferentes
modos pelos quais gêneros são construídos, interpretados e usados; tais diferenças vão
além da variação sintática e lexical e são compreendidas como discursivas em sua
natureza.
Destaca-se, ainda, que uma abordagem comunicativa ao ensino de língua deve
responder às necessidades de comunicação dos estudantes. Além disto, deve-se
oportunizar que os estudantes se envolvam com situações de comunicação
significativas, conforme afirmam Canale e Swain (1980):
Communication activities must be as meaningful as possible and be
characterized (at increasing levels of difficulty) by aspects of genuine
communication such as its basis on social interaction, the relative creativity
an unpredictability of utterances, its purposefulness and goal-orientation, and
its authenticity (p. 33).4
Desta forma, presume-se que a aula de língua inglesa, norteada por estes
princípios, dará espaço para interações entre estudantes, bem como utilizará materiais
autênticos (como artigos de jornais, músicas e vídeos), na tentativa de diminuir a
distância entre a sala de aula e a vida.
Tílio (2013) aponta que os cursos de formação de professores pré-serviço ou em
serviço, sobre a Abordagem Comunicativa, podem levar à crença de que os princípios
desta abordagem são verdades absolutas. Além disto, o direcionamento adotado por
livros didáticos que utilizam tal abordagem aponta para o entendimento de comunicação
4 Atividades de comunicação devem ser tão significativas quanto possível e serem caracterizadas (em crescentes níveis de dificuldade) por aspectos de comunicação genuína, como a sua base na interação social, a relativa criatividade e imprevisibilidade dos enunciados, sua intencionalidade e direção para objetivos, sua autenticidade. (Tradução livre elaborada pela pesquisadora).
42
como o instrumento pelo qual encontros de serviços - de lazer ou trabalho - são
possibilitados. O autor, sem excluir a importância de tal função da comunicação,
questiona se o ensino da língua estrangeira na contemporaneidade deve se resumir
somente a este papel instrumental.
Neste sentido, Tílio (2013) aponta a distinção entre comunicação e interação: “a
primeira parece limitar-se a encontros de serviços, a segunda prima pela postura crítica
e espera tornar o aprendiz apto a agir no mundo globalizado, integrando-o e
transformando-o” (p 55). O autor indica que uma terceira versão da Abordagem
Comunicativa considera os aspectos interacionais, incluindo autores como Vigotski e
Bakhtin em seu aporte teórico. No entanto, o autor apresenta uma crítica, comumente
dirigida à Abordagem Comunicativa, que é a equiparação do conhecimento da língua ao
conhecimento das quatro habilidades linguísticas (falar, ouvir, ler e escrever), sem se
considerar a capacidade do aprendiz de pertencer e agir criticamente num mundo
globalizado (TÍLIO, 2013). Na seção a seguir, serão discutidas as ideias de autores que
propõem esta visão mais crítica para o processo de ensino-aprendizagem de línguas.
Ensino de língua inglesa e cidadania
O ensino de língua estrangeira, particularmente da língua inglesa (doravante LI),
tem sido fortemente associado a questões práticas e, muitas vezes, mercadológicas.
Justifica-se o ensino desta língua pela possibilidade de se obter um emprego, de passar
no vestibular ou de se comunicar em um “mundo globalizado”. Neste sentido, não é
raro ouvir frases como “Hoje em dia, todo mundo precisa falar inglês”, ou “inglês é
requisito mínimo para conseguir um emprego”. No entanto, defende-se aqui a
importância da língua estrangeira para além de sua função prática, enfatizando-se seu
caráter educativo. Jorge (2009) afirma que o caráter educativo do ensino-aprendizagem
da língua estrangeira reside nas:
possibilidades que o aluno pode ter de se tornar mais consciente da
diversidade que constitui o mundo. As múltiplas possibilidades de ser
diferente, seja pela cultura, seja pelas identidades individuais, podem
fazer com que o indivíduo se torne mais consciente de si próprio, em
relação a seu contexto local e ao contexto global (p. 163).
Considerando que, quando se fala em língua estrangeira, a língua inglesa é a
que, hoje, aparece com maior destaque, faz-se necessário explicitar que não se entende
43
aqui a língua inglesa como “língua neutra” ou “língua universal”. Rodrigues (2011)
destaca os processos ideológicos que promovem a língua inglesa como língua global:
naturalização da expansão da língua; a crença em sua universalidade; o apagamento das
contradições de sua expansão, esquecendo que sua hegemonia é força de exclusão social
e política de inúmeras outras línguas; produção de sentido teleológico da história,
segundo o qual a língua inglesa estaria predestinada a tornar-se língua global.
Nesta direção, Pennycook (1994) afirma que a expansão da língua inglesa no
mundo e a idealização da Inglaterra e dos Estados Unidos como referências desta língua
significam o silenciamento e apagamento de inúmeros povos e culturas. O autor
defende que “nenhum conhecimento, nenhuma língua e nenhuma pedagogia é neutra ou
apolítica (PENNYCOOK, 1994, p.301). A aula de língua inglesa coloca-se, portanto,
como um lugar possível para deslocar o discurso hegemônico de determinados países,
dando espaço para a pluralidade de línguas e culturas.
Em razão disto, destaca-se que o ensino de língua inglesa deve ser realizado em
uma perspectiva crítica, o que exigiria políticas curriculares bem estruturadas e
professores com formação teórica sólida. Nesta perspectiva, Rocha e Maciel (2013)
defendem o caráter formativo do processo de ensino-aprendizagem de línguas. Com
base nas ideias de Bakhtin (2003), os autores assumem uma visão discursiva de
linguagem e defendem que a aprendizagem de línguas pode contribuir para maior
participação social. Para isto, é preciso que o ensino de línguas problematize as ideias
de democracia e cidadania, levando em consideração os processos contemporâneos de
globalização.
Rocha (2012) e Rocha e Maciel (2013), ao considerarem as teorias do Círculo de
Bakhtin, detêm-se no conceito de gêneros discursivos. Tal conceito pode ser
compreendido, de maneira sucinta, referindo-se a tipos mais ou menos estáveis de
enunciados, elaborados pelos sujeitos nas diversas esferas de utilização da língua. Estes
tipos são relativamente estáveis pois constituem-se sócio-historicamente, de modo que,
à medida que as esferas de comunicação mudam, os gêneros modificam-se,
desaparecem, ou novos gêneros surgem (BAKHTIN, 2003).
Neste sentido, Rocha (2012), ao pensar o ensino crítio de língua inglesa no
contexto universitário, propõe que a organização do material didático seja feita com
44
base nos diferentes gêneros do discurso, partindo das atividades sociais às quais eles
estejam vinculados. A autora defende os gêneros como
potentes meios pelos quais podemos trabalhar a experiência de
mundo dos alunos na sala de aula, suas experiências e
multiletramentos, de forma situada e transformadora. É assim que vejo
esse ensino cumprindo, de forma mais fortalecida, seu papel de formar
cidadãos capazes de atuarem crítica e efetivamente nos mais diversos
campos sociais, como profissionais e cidadãos do mundo,
questionando incessantemente discursos, valores, posições e
imposições, em todas suas formas e espaços. (ROCHA, 2012, p. 87).
Rajagopalan (2003) afirma que o ensino de inglês que pretende a emancipação do
cidadão, além da aquisição de conhecimentos linguísticos, deve estar engajado com o
ensino intercultural e deve considerar a origem, a cultura e o lugar social que o falante
ocupa. O autor opõe-se à concepção de inglês-padrão, que toma como referência de
“falante ideal” apenas Inglaterra e Estados Unidos. Propõe, no lugar disto, a ideia de
“World English” (WE):
WE is a language (for want of a better term, that is) spoken across the
world—routinely at the check-in desks and in the corridors and departure
lounges of some of the world’s busiest airports, typically during multi-
national business encounters, periodically during the Olympics or World Cup
Football seasons, international trade fairs, academic conferences, and so on.
And those who speak WE are already legion, and their numbers are currently
growing exponentially. (RAJAGOPALAN, 2004a, p. 112)5
Com isto, o autor afirma que o inglês deixa de “pertencer” apenas aos donos
oficiais da língua (tipicamente representados por Inglaterra e Estados Unidos) e passa a
“pertencer” a todos aqueles que o falam e/ou o utilizam. Esta concepção traz
implicações para o ensino de LI, uma vez que significa abandonar o ideal de “falante
nativo” e levar, para a sala de aula, outras variedades da língua (RAJAGOPALAN,
2004a).
5 Inglês Global é uma língua (por falta de um termo melhor) falada ao redor do mundo- rotineiramente em balcões de check-in e nos corredores e salas de embarque de alguns dos aeroportos mais movimentados do mundo, tipicamente durante encontros de negócios multinacionais, periodicamente durante as temporadas de Olimpíadas e a Copa do Mundo de Futebol, feiras de comércio internacionais, e assim por diante. E aqueles que falam o Inglês Global já são uma legião e seus números estão crescendo exponencialmente. (Tradução livre elaborada pela pesquisadora).
45
No entanto, no ensino de LI ainda predominam visões hegemônicas do processo
de ensino-aprendizagem de línguas, ou seja, aquelas que idealizam a língua ensinada e
tomam-na como neutra. Com isto, reduz-se a aprendizagem de LI ao seu caráter
instrumental e perde-se seu caráter formador e educativo. Rocha (2012) considera que a
pluralidade de línguas e culturas é fundamental para práticas educacionais que buscam
promover a reflexão crítica. Desta forma, o processo de ensino-aprendizagem de LI tem
caráter formativo, contanto que se leve em consideração a natureza dialética da
constituição do sujeito, da linguagem e da cultura, propiciando ao estudante a
possibilidade de refletir sobre sua própria língua, sua identidade e sua cultura.
Olhares vigotskianos para o ensino de línguas
Devido ao fato de a presente pesquisa assumir a abordagem Histórico-Cultural
como referencial teórico, julga-se necessário expor os estudos sobre línguas estrangeiras
que se basearam nas ideias de Vigotski. Segundo Paiva (2014), o primeiro artigo a
propor a utilização de conceitos vigotskianos em pesquisa sobre segunda língua foi o de
Frawley e Lantolf, em 1985, no qual os autores buscam explicar o discurso na segunda
língua com base em Vigotski. Outros trabalhos seguiram-se e, dentre estes, destacam-se
as coletâneas organizadas por Lantolf (2000) e Lantolf e Appel (1994), bem como o
livro escrito por Swain, Kinnear e Steinman (2011). Paiva (2014) mostra que os
principais conceitos vigotskianos utilizados e/ou repensados por estes autores e seus
colaboradores são mediação, ZDP, andaime e fala interior.
Lantolf (2000) afirma que o conceito mais fundamental da teoria sociocultural6 é
a mediação. Conforme foi explicitado no capítulo anterior, para Vigotski, a relação dos
seres humanos com o mundo é sempre mediada, tanto por signos quanto por
instrumentos. Da mesma forma, Swain, Kinnear e Steinman (2011) afirmam:
Perhaps Vygotsky’s most important claim- because of its far-reaching
pedagogical implications- is that all forms of mental activity are mediated by
6 Os autores citados utilizam o termo Teoria Sociocultural para referenciar a obra de Vigotski. A cunhagem do termo é atribuída a Wetsch (1985).
46
material and/or symbolic means that are constructed within and through
cultural activity (Edição do Kindle, capítulo 1, parágrafo 4) 7
Estes autores assumem que o conceito de mediação tem implicações
pedagógicas importantes para o processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira.
Portanto, os autores utilizam também o conceito de ZDP, entendendo-o como a
distância entre o desenvolvimento real e o potencial, sendo esta a zona onde a mediação
deve ocorrer (PAIVA, 2014).
Lantolf (2002) identifica três diferentes tipos de mediação: a mediação do
especialista, que se refere ao papel do professor; a mediação por pares, que diz respeito
à interação entre os estudantes; a automediação, concretizada na fala privada. Segundo o
autor, a aprendizagem de uma segunda língua ocorre em uma série de etapas, sendo que,
no início, a mediação do professor precisa ser bastante explícita. Ao longo do
desenvolvimento, diminui-se a necessidade de assistência, sendo que, às vezes, a mera
presença do professor já é suficiente para que o estudante utilize a língua de forma
adequada (LANTOLF, 2002).
A mediação por pares é abordada, principalmente, em pesquisas sobre atividades
colaborativas. Donato (1994) mostra como um estudante auxilia no desempenho do
outro neste tipo de atividade, indicando que o trabalho colaborativo possibilita que os
estudantes sejam, ao mesmo tempo, aprendizes e especialistas. O autor sugere que os
estudantes se beneficiam com esta interação, o que é reforçado por Ohta (2000). Esta
autora mostra, em sua pesquisa, que quando os estudantes trabalham juntos, fornecendo
assistência uns aos outros, alcançam um nível maior de desempenho.
Automediação, segundo Lantolf (2002) manifesta-se na fala privada. Lantolf e
Appel (1994) descrevem o conceito de fala interior de Vigotski: a primeira função da
fala é social e dirigida externamente; a fala exterior tem também uma função
egocêntrica, que regula e direciona o comportamento do próprio indivíduo; a fala
egocêntrica não desaparece com o desenvolvimento, mas continua presente na forma de
fala interior. Os autores lembram também que, na teoria de Vigotski, a emergência de
atividades autorreguladas não significa o fim do processo de desenvolvimento. Pelo
7 Talvez o conceito afirmação mais importante de Vigotski- devido ao longo alcance de suas implicações pedagógicas- é que todas as formas de atividade mental são mediadas por meios simbólicos ou materiais que são construídos na e pela atividade cultural. (Tradução livre elaborada pela pesquisadora).
47
contrário, desenvolvimento é entendido como dinâmico e fluído. Neste cenário, o adulto
não é um ser finalizado e autônomo, mas um sujeito que pode recorrer a estratégias
primárias de conhecimento em situações que apresentam maiores dificuldades de
resolução. É nestas situações que a fala interior volta à superfície, na forma daquilo que
os autores denominam “fala privada”, como estratégia de controle da situação e de
obtenção de autorregulação.
Lantolf (2002) apresenta diversos exemplos da fala privada, ou automediação,
em contextos de aprendizagem de línguas. Alguns exemplos são “What?” “Wait” “I
can’t” e “Done”, todos indicando momentos em que os estudantes falam consigo
mesmos, interrogando-se, buscando a compreensão de determinado conteúdo. A fala
privada é utilizada na repetição de enunciados e palavras, podendo ser acompanhada por
gestos, visando o planejamento e controle das tarefas a serem executadas pelo estudante
(LANTOLF, 2002).
Sobre este tema, Swain, Kinnear e Steinman (2011) afirmam que a fala privada
parece não ser dirigida a alguém, apesar de ser, na realidade, dirigida ao próprio falante.
As autoras destacam algumas características da fala privada: não há contato visual; a
voz é baixa, próxima a um sussurro e, às vezes, inaudível; enunciados são curtos, muitas
vezes, limitados a algumas palavras. As autoras reiteram que este tipo de fala surge
quando o indivíduo está engajado em atividades que são afetiva/cognitivamente
complexas.
Além da fala privada, Swain, Kinnear e Steinman (2011) também trabalham com
o conceito de diálogo colaborativo. As autoras explicam que ambos os conceitos - fala
privada e diálogo colaborativo - derivadas das teorias de Vigotski, embora não tenham
sido criados pelo autor russo. Os dois conceitos, esclarecem, correspondem a tipos de
linguação, isto é, são processos de buscar sentido e construir conhecimento por meio da
linguagem. A linguação organiza e controla os processos mentais durante atividades
complexas. O diálogo colaborativo, de maneira análoga à fala privada, tem intuito de
regular (ou mediar) a ação, na tentativa de construir novo conhecimento. No entanto,
diferentemente da fala privada, o diálogo colaborativo envolve, ao menos, duas pessoas,
que constroem conhecimento que é novo para as duas ou para uma delas. As autoras
exemplificam, mostrando que este processo acontece cotidianamente:
48
Take a minute to think about what you do when you are faced with a
cognitively complex problem to solve. Out of school, you are likely to turn to
a friend to help you ‘talk it through’. (In class, we hope you are allowed to
make use of this affordance too. And we hope you, as a teacher, provide such
opportunities). Together you may come up with a solution you would not
have been able to on your own (through collaborative dialogue). (SWAIN,
KINNEAR e STEINMAN, 2011, Edição do Kindle capítulo 3)8
As autoras levam a pensar sobre os momentos em que o diálogo colaborativo
auxilia na resolução de problemas, mesmo fora da sala de aula. E, na sala de aula, elas
sugerem que os professores deem oportunidade para que os estudantes vivenciem este
tipo de interação. Elas sustentam que o conceito de linguação baseia-se na afirmação de
Vigotski de que a linguagem é um dos sistemas simbólicos mais importantes que os
seres humanos têm à sua disposição.
O conceito de andaime (ou scaffolding, em inglês) é outro termo muito utilizado
por autores que estudam o ensino-aprendizagem na perspectiva sociocultural. Segundo
Paiva (2014), este conceito foi cunhado por Wood, Bruner e Ross (1976) e pode ser
definido como o processo que habilita um aprendiz a executar uma tarefa que estaria
além de seus esforços se não houvesse auxílio. Há seis funções do andaime, que
também podem ser observadas no contexto de aprendizagem de línguas: recrutamento,
ou o despertar do interesse do estudante para a tarefa; simplificação da tarefa, que pode
significar a redução da complexidade ou a divisão em etapas; manutenção do foco na
tarefa, que se refere ao encorajamento do professor para que o estudante persista na
tarefa; demonstração de aspectos relevantes da tarefa; redução da frustração, por meio,
por exemplo, de auxílio quando erros são cometidos; demonstração, a modelação de
soluções para a tarefa (PAIVA, 2014). Donato (1994, 2000) utiliza o conceito de
andaime (scaffolding) para o estudo da mediação. O autor afirma que, em atividades
colaborativas, os estudantes constroem um andaime coletivo, do qual todos se
beneficiam.
8 Pegue um minuto para pensar sobre o que você faz quando encontra um problema cognitivamente complexo de resolver. Fora da escola, é provável que você procure um amigo, para que ele o ajude conversando sobre isto. (Na sala de aula, nós esperamos que você também tenha permissão para fazer uso deste recurso. E nós esperamos que você, como professor, forneça estas oportunidades). Juntos vocês podem chegar a uma solução que você não teria conseguido sozinho (por meio do diálogo colaborativo). (Tradução livre elaborada pela pesquisadora).
49
Além dos conceitos já expostos acima, alguns autores que pesquisam
aprendizagem de língua através de lentes vigotskianas têm se voltado para a questão do
afeto. Tem-se reconhecido (SWAIN, KINNEAR e STEINMAN, 2011; SWAIN, 2013)
que afeto e cognição são indissociáveis na teoria de Vigotski e, por esta razão, não se
pode negligenciar a questão afetiva nas pesquisas sobre ensino-aprendizagem de língua
estrangeira. Este assunto será melhor discutido a seguir.
Ensino de língua inglesa e afetividade
A dualidade razão/emoção não se manteve distante dos estudos da linguagem.
Pelo contrário, como mostra Rajagopalan (2004b), linguagem e racionalidade foram,
tipicamente, vistas andando lado a lado no pensamento ocidental. O autor mostra que o
dualismo, presente no campo filosófico, repercutiu fortemente nas pesquisas sobre a
linguagem. A ideia geral era que, para se entender o funcionamento da linguagem, tudo
que se precisava era um bom entendimento do processo de raciocínio, o que exigiria
uma compreensão sobre as imutáveis leis da lógica (RAJAGOPALAN, 2004b). O autor
afirma:
The general distrust of emotions in Western thought is, as just
mentioned, but the flip side of the systematic effort to promote reason as the
beacon light of human language faculty. Reason is celebrated as the crowning
achievement of mankind in its evolutionary progress (RAJAGOPALAN,
2004b, p. 111)9
O autor destaca, ainda, que a dualidade razão e emoção leva a muitas outras
oposições binárias, bem como a equações do tipo razão/ masculino e emoção/ feminino
ou razão/mente e emoção/corpo (RAJAGOPALAN, 2004b).
Igualmente, Swain (2013) expõe que as emoções têm sido negligenciadas na
literatura sobre aquisição de segunda língua (SLA)10 A autora defende que as emoções
são como um “elefante no quarto”: todos sabem que elas estão presentes, mas ninguém
fala sobre elas. No entanto, ela destaca que as emoções têm impacto significativo na
aprendizagem, tendo efeitos sobre o que aconteceu no passado, o que acontece no 9 A desconfiança geral nas emoções no pensamento ocidental é, como mencionado, o outro lado de um esforço sistemático para promover a razão como a luz da faculdade da linguagem humana. A razão é celebrada como a maior conquista da humanidade em seu processo evolutivo. (Tradução livre elaborada pela pesquisadora). 10 Sigla para o termo em inglês: Second Language Acquisition.
50
presente e o que acontecerá no futuro. De maneira similar à Rajagopalan (2004b),
Swain (2013) indica que um dos motivos para os estudos da linguística terem ignorado
as emoções é a herança filosófica, retornando a Sócrates e sua busca pela razão, e
marcando o auge do racionalismo em Descartes. A autora destaca que, na filosofia, as
emoções eram entendidas como empecilho para o funcionamento da razão.
Somam-se à influência do pensamento filosófico dualista outros dois motivos
para ausência de estudos em SLA que levassem em conta as emoções. O primeiro
relaciona-se à mensuração das emoções. Swain (2013) afirma que há teóricos e
pesquisadores que assumem o papel das emoções como variáveis inerentes a cada
estudante, individualmente. Nesta direção, são realizados estudos em que as emoções
dos estudantes são medidas e são estabelecidas relações causais entre estas e o sucesso
ou fracasso do aprendizado. Swain (2013) critica o fato de que as emoções são vistas
como influenciadoras do aprendizado de línguas, mas a relação inversa - a influência da
aprendizagem de línguas sobre as emoções - nunca é considerada.
O segundo motivo para a ênfase da dimensão cognitiva nos estudos de SLA é o
fato de que este campo teórico constituiu-se na década de 1960, fortemente influenciado
pelo behaviorismo - na área da psicologia - e pelo estruturalismo - no que concerne à
linguística (SWAIN, 2013). A autora lembra que estes dois precursores não
demonstravam grande preocupação com as emoções, inclusive com aquelas
relacionadas ao ensino de línguas.
Aragão (2005) estudou as emoções no contexto do ensino-aprendizagem de
línguas, buscando superar a visão dicotômica entre razão e emoção. O autor concebe a
sala de aula como espaço relacional, constituído por alunos e professores em suas
múltiplas interações. Entre as contribuições de suas pesquisas, destaca-se aqui a
compreensão de que a distância entre o mundo do professor e o do alunos pode gerar
conflitos; o pesquisador aponta que uma meneira de reduzir-se esta distância é “
participarmos do mundo deles (dos alunos), de suas conversações, de suas histórias, e
convidá-los a participarem das nossas (dos professores) (Ara gão, 2005, p. 118)”.
Apesar das notáveis contribuições do autor, sua base teórica - a Biologia do Conhecer,
51
de Maturana - diverge do referencial Histórico-Cultural, assumido na presente
pesquisa.11
Por outro lado, Swain (2013), que assume aportes teóricos similares aos do
presente trabalho, revisita uma antiga pesquisa que havia realizado antes de assumir a
perspectiva sociocultural. Na época em que a pesquisa foi realizada, ela interpretou a
interação entre duas estudantes, durante uma aula de francês, com as lentes da Hipótese
do Output, isto é, sob uma perspectiva cognitivista. As estudantes estavam
reescrevendo, juntas, o conteúdo de um ditado e, depois de terem discutido a escrita de
algumas palavras, conseguiram cumprir a tarefa adequadamente. A conclusão alcançada
por Swain foi que, na interação entre as colegas, as estudantes produziram linguagem –
verbalizaram - e isto levou-as ao aprendizado. A autora esclarece que ainda simpatiza
com esta explicação e continua acreditando que o ato de produção de linguagem é um
fator crítico para a aprendizagem de línguas. No entanto, atualmente, a autora interpreta
o mesmo episódio de maneira diferente, pois passou a considerar a dimensão afetiva
destas relações observadas (SWAIN, 2013).
Adicionar a lente das emoções, afirma Swain (2013), permitiu que ela
enxergasse que a interação entre as duas estudantes de modo diferente: ela entende que
as relações observadas são processos cognitivos e afetivos, constituídos no, e derivados
do, diálogo. A autora retoma também o conceito de linguação, indicando que o diálogo
colaborativo mediou a realização da tarefa pelas estudantes. Contudo, as emoções,
acentua a autora, permitem melhor compreender o porquê as duas estudantes trabalham
tão bem juntas: elas respeitam uma a outra; elas ficam orgulhosas de suas conquistas;
elas confiam uma na outra, caminhando juntas em direção ao mesmo objetivo. Com
isto, Swain (2013) afirma que as emoções são socialmente construídas e que estas
emoções medeiam os resultados da aprendizagem.
Swain (2013) e Swain, Kinnear e Steinman (2011) relembram também que
Vigotski entende afeto e cognição como indissociáveis. Neste sentido, a fonte para os
significados das emoções é social e cultural, da mesma forma que a da cognição. Isto
significa que os seres humanos internalizam os significados das emoções a partir das
11 Este aporte teórico tende a priorizar as funções internas do indivíduo; não se considera que a relação
entre o sujeito e o meio é essencialemente a dialética, () concepção que é fundante na abordagem
Histórico- Cultural.
52
interações com outros. Considerando este referencial teórico, as autoras interrogam-se
sobre o que significa uma aprendizagem de línguas bem-sucedida: “What is success in
learning a language? Is it only using language accurately, or does it include feeling good
about oneself as a user of the language and as member of that language community?”
12(SWAIN, KINNEAR e STEINMAN, 2011, Kindle Edition, capítulo 5).
De forma semelhante, o Grupo do Afeto tem questionado os sentidos de uma
aprendizagem, ou de uma mediação, bem-sucedida. Leite (2018), esclarece como o
grupo tem compreendido esta questão:
O processo de ensino-aprendizagem de sucesso caracteriza-se por
um duplo movimento: possibilita ao aluno apropriar-se do objeto do
conhecimento, de forma ativa e autônoma e, simultaneamente, possibilita ao
aluno estabelecer vínculo afetivo positivo com o mesmo, ou seja, promove
um movimento de aproximação com o objeto, de natureza essencialmente
afetiva (LEITE, 2018, p. 21)
Este posicionamento do Grupo do Afeto tem uma implicação pedagógica
importante: não se considera mais viável, do ponto de vista ético e psicológico, o
controle aversivo dos processos de aprendizagem, uma vez que este, embora possa
promover o aprendizado, ao se considerar somente a nota do aluno, promove também o
afastamento do aluno em relação ao objeto de estudo (LEITE, 2018).
Nesta direção, serão expostas duas pesquisas do Grupo do Afeto que se voltaram
para a relação entre estudante-língua inglesa. A primeira delas, realizada por Coelho
(2005), estuda as histórias de três estudante de um curso pré-vestibular e suas relações
com a língua inglesa, sendo que estes três estudantes relatam ter uma relação afetiva
positiva com a língua. Já o trabalho de Almeida (2008) discute as histórias de quatro
sujeitos - também estudantes de curso pré-vestibular - que desenvolveram relações
aversivas com a língua inglesa. Ambas as pesquisas utilizaram o procedimento de
Entrevistas Recorrentes para a coleta de dados, o qual consiste em uma série de
entrevistas realizadas a partir de uma pergunta-chave, sobre a qual o sujeito pode
verbalizar livremente (LEITE, 2018). Desta forma, estas pesquisas investigam as
histórias dos sujeitos, buscam compreender como se deu o envolvimento destes com a
12 O que é sucesso na aprendizagem de língua? É apenas usar a língua com precisão, ou inclui sentir-se bem sobre si mesmo como usuário da língua e como membro da comunidade linguística? (Tradução livre elaborada pela pesquisadora).
53
língua inglesa, identificando os mediadores responsáveis pelos movimentos
aproximação ou afastamento afetivo com este objeto.
Os dados obtidos por Coelho (2005) indicam algumas práticas pedagógicas dos
professores de inglês que, na opinião dos sujeitos, favoreceram a aproximação com a
língua. Estas práticas incluem atividades de conversação, o uso de materiais
audiovisuais (como filmes e músicas) e práticas de avaliação adequadas. Por outro lado,
os dados da pesquisa de Almeida (2008) indicam que práticas dos professores que, de
acordo com os sujeitos, dificultou a aproximação com a língua, tais como: a gramática
como eixo do ensino; a ausência de conversação; o uso de conteúdos infantilizados e
artificiais; descontinuidade e repetição de conteúdos; atividades de ensino mal
preparadas ou com objetivo pouco claros.
Além disto, os sujeitos da pesquisa de Almeida (2008) indicam problemas nas
práticas de avaliação, ora por serem muito fáceis, ora por serem muito difíceis. Os
sujeitos que se queixaram das provas muito fáceis afirmaram que, apesar de obterem
boas notas nas avaliações, sentiam que tinham conhecimento limitado sobre a língua.
Aqueles que relataram experiências com provas de inglês muito difíceis apontaram a
incoerência entre o que havia sido estudado em sala de aula e o que era exigido na
avaliação (ALMEIDA, 2008).
Os trabalhos de Coelho (2005) e Almeida (2008) introduziram a discussão sobre
ensino-aprendizagem de língua inglesa no Grupo do Afeto, sendo pesquisas realizadas
no âmbito dos trabalhos de conclusão de curso das pesquisadoras. Com a presente
pesquisa, pretende-se aprofundar o tema, uma vez que foram investigadas as práticas
pedagógicas a partir da observação da sala de aula. Desta forma, buscou-se identificar e
analisar como estas práticas, concretamente, contribuem, ou não, para o movimento de
aproximação dos estudantes com a língua inglesa.
54
3-Método: o percurso da pesquisa
Fundamentação teórica
Conforme explicitado anteriormente, o objetivo desta pesquisa é observar,
identificar e analisar práticas pedagógicas que possam facilitar o movimento de
aproximação entre estudantes e a língua inglesa, dando-se ênfase aos aspectos afetivos
destas relações. Deste modo, optou-se por delinear um estudo de natureza qualitativa
(Lüdke e André, 1986), uma vez que esta metodologia permite a observação das mais
íntimas peculiaridades do fenômeno pesquisado e seu entendimento dentro de um
contexto social, adequando-se aos objetivos assumidos
Bogdan e Bilken (1982) apresentam algumas características que configuram a
pesquisa qualitativa, sendo as primeiras delas o fato de este tipo de estudo ter o
ambiente natural como sua fonte de dados e os dados serem predominantemente
descritivos. Isto significa que a pesquisa qualitativa supõe contato direto e prolongado
do pesquisador com a situação investigada, uma vez que os fenômenos estudados são
influenciados pelo contexto onde elas ocorrem. A predominância de dados descritivos é
justificada por Lüdke e André (1986) pelo fato de todos os dados da realidade serem
considerados importantes, de maneira que o pesquisador deve se atentar para detalhes
da situação estudada. É comum que o material obtido neste tipo de pesquisa inclua
descrição de pessoas e acontecimentos, transcrição de entrevistas, fotografias, desenhos
e extratos de documentos.
Observa-se que tais características condizem com a forma como esta pesquisa
foi realizada: a pesquisadora acompanhou o trabalho de uma professora de inglês ao
longo de todo um semestre, vídeo-gravando as aulas, anotando em diário de campo as
particularidades das situações observadas e entrevistando os estudantes e a professora.
Os dados construídos a partir dos vídeos descrevem as práticas pedagógicas da
professora e o cenário da sala de aula.
Outros aspectos da pesquisa qualitativa incluem ainda a maior preocupação com
o processo do que com o produto, isto é, observar como determinado fenômeno
manifesta-se no dia-a-dia; os “significados” dados pelos participantes às situações
vividas são focos de atenção do pesquisador, já que ele busca compreender as
percepções dos sujeitos sobre as questões investigadas; a análise de dados tende a seguir
um processo indutivo, em que o pesquisador não se utiliza dos dados para comprovar
55
hipóteses ou fórmulas estabelecidas a priori, mas focaliza seus interesses ao longo do
desenvolvimento do estudo e do trabalho com os dados (Bodgan e Bilken, 1982; Lüdke
e Andre, 1986).
No desenvolvimento desta pesquisa, os estudantes e a professora participaram
ativamente, especialmente por meio de entrevistas: buscou-se captar suas impressões e
opiniões sobre as atividades realizadas em sala de aula. Os dados narram o processo
educativo, os gestos, expressões, enunciações, detalhes de cada situação são descritos,
na tentativa de identificar as manifestações dos aspectos afetivos presentes na relação
ensino-aprendizagem. Deste modo, a pesquisa encontra nos procedimentos qualitativos
suas principais características.
Considera-se ainda que o método desta pesquisa carrega traços da metodologia
etnográfica, uma vez que ela faz uso de técnicas que são tradicionalmente associadas à
etnografia: observação participante, a entrevista intensiva e a análise de documentos
(André, 2008).
Geertz (1973) afirma que a etnografia é a tentativa de descrição da cultura,
sendo que o etnógrafo se depara com diversas formas de interpretação da vida e com
diferentes significados atribuídos pelos participantes às suas experiências e vivências,
cabendo a ele levar esses múltiplos significados ao leitor. Da mesma forma, Wax (1971)
considera que a tarefa do etnógrafo é, partindo da posição de estranho no grupo,
aproximar-se gradativamente das formas de compreensão da realidade do grupo
estudado, compartilhando com eles os significados.
Contudo, André (2008) destaca que os enfoques do etnógrafo e do estudioso da
educação são diversos: o primeiro interessa-se pela descrição da cultura de um grupo
social, enquanto o segundo preocupa-se com o processo educativo. Com isto, a autora
afirma que “existe, pois, uma diferença de enfoque nessas duas áreas, o que faz com que
certos requisitos da etnografia não sejam – nem necessitem ser – cumpridos pelos
investigadores das questões educacionais” (André, 2008, p. 24). Isto significa que os
estudos no campo educacional são pesquisas do tipo etnográfico e não etnografia no seu
sentido estrito.
André (2008) esclarece, ainda, que um primeiro indicador para que o trabalho
seja caracterizado como do tipo etnográfico é a utilização das técnicas tradicionais da
56
etnografia, citadas acima. A autora detalha, com maior profundidade, os usos e as
finalidades de tais técnicas:
A observação é chamada de participante porque parte do princípio de que o
pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e
sendo por ela afetado. As entrevistas têm a finalidade de aprofundar as questões e
esclarecer os problemas observados. Os documentos são usados no sentido de
contextualizar o fenômeno, explicitar suas vinculações mais profundas e completar as
informações coletadas através de outras fontes (André, 2008, p. 24).
A pesquisa do tipo etnográfico supõe contato direto entre pesquisador e a
situação pesquisada, o que permite a reconstrução dos processos e relações que
configuram a experiência do cotidiano da escola ou da instituição educacional. Este tipo
de pesquisa permite que o pesquisador se aproxime da escola, a fim de compreender
como operam, no dia a dia, os mecanismos de dominação e resistência, de opressão e
contestação. Por meio das técnicas etnográficas (observação participante, entrevistas e
análise de documentos) é possível
documentar o não documentado, isto é, desvelar os encontros e desencontros que
permeiam o dia a dia da prática escolar, descrever as ações e representações dos seus
atores sociais, reconstruir sua linguagem, suas formas de comunicação e os significados
que são criados e recriados no cotidiano do seu fazer pedagógico (André, 2008, p. 34).
Neste sentido, é imprescindível que haja uma perspectiva teórica definida, que
auxilie o pesquisador a captar o dinamismo do processo educativo e que oriente sua
análise e interpretação. Segundo André (2008), o papel da teoria na pesquisa etnográfica
é, inicialmente, ajudar na formulação do problema e das questões orientadoras. A partir
de um amplo estudo da literatura sobre o tema a ser investigado, o pesquisador traça as
perguntas que orientarão a coleta de dados, bem como as categorias iniciais de análise.
A fase seguinte da pesquisa é o trabalho de campo, na qual o pesquisador não
fica restrito a hipóteses rígidas, buscando encaixar os dados na teoria. Pelo contrário, ele
deve ficar atento às pistas que podem levar ao surgimento de novas categorias, novas
hipóteses. André (2008) afirma que este “é o momento de fazer a mediação entre a
teoria e a experiência vivida em campo, de dialogar com os referenciais de apoio e,
então, rever princípios e procedimentos e fazer os ajustes necessários” (p.40). Portanto,
trata-se de um trabalho que requer sensibilidade e abertura para possibilidade de novas
formas de interpretação do objeto estudado. Na fase final da pesquisa, quando os dados
57
são sistematizados e prepara-se o relatório, o pesquisador busca na teoria o suporte para
as interpretações e abstrações que vai construindo, a partir dos dados e em virtude deles.
De acordo com André (2008), existem, pelo menos, três dimensões
fundamentais para a pesquisa em educação: dimensão institucional, dimensão
sociopolítica/cultural e dimensão pedagógica ou instrucional. A dimensão institucional
envolve características do contexto da prática educativa, como formas de organização
do trabalho pedagógico, estruturas de poder e de tomadas de decisão, recursos materiais
e humanos. Já a dimensão sociopolítica/cultural, refere-se ao contexto mais amplo da
prática educativa, incluindo fatores como momento histórico, forças políticas e sociais e
os valores presentes na sociedade.
A dimensão pedagógica ou instrucional, foco deste trabalho, diz respeito às
situações de ensino, nas quais acontece o encontro professor-aluno-conhecimento. Este
encontro é definido, por um lado, “pela apropriação ativa dos conhecimentos por parte
dos alunos, através da mediação exercida pelo professor, e, por outro lado, por todo um
processo de interação no qual entram componentes afetivos, morais, políticos, éticos,
cognitivos, sociais etc. (André, 2008, p. 36)”. Nestas situações, estão envolvidos
objetivos de ensino, atividades, materiais didáticos, as diferentes formas de
comunicação entre professor e aluno e as formas de avaliação do ensino e
aprendizagem.
Os estudos realizados em sala de aula, como é o caso da presente pesquisa,
devem não apenas olhar para as condições em que se dá a apropriação do conhecimento,
mas também necessita levar em conta a história pessoal de cada indivíduo que dela faz
parte. André (2008) esclarece:
Isto significa, por um lado, considerar a situação concreta dos alunos
(processos cognitivos, procedência econômica, linguagem, imaginário), a
situação concreta do professor (condições de vida e de trabalho, expectativas,
valores, concepções) e sua inter-relação com o ambiente em que se processa o
ensino (forças institucionais, estrutura administrativa, rede de relações inter e
extraescolar). Por outro lado, significa analisar os conteúdos e as formas de
trabalho em sala de aula, pois só assim se poderá compreender como a escola
vem concretizando a sua função socializadora (p. 37)
Tendo em mente que estas três dimensões, definidas por André (2008), não
podem ser consideradas isoladamente, mas devem ser entendidas como uma unidade de
58
múltiplas inter-relações, buscou-se, na presente pesquisa, caracterizar estes diferentes
domínios que configuram o processo educativo estudado. Desta forma, ao longo do
desenvolvimento desta pesquisa, buscou-se conhecer a história dos sujeitos envolvidos-
professora e estudantes. A história de cada estudante, os motivos e desejos que os
levaram a estudar língua inglesa, bem como o percurso de estudo da língua, são
relatados na seção “A turma de Inglês IV” neste capítulo. Já a história de constituição da
professora e suas concepções e valores sobre ensino-aprendizagem são descritos em “A
professora Lúcia”, também neste capítulo. A descrição da instituição onde foi realizada
a pesquisa encontra-se em “O Centro de Línguas”, abrangendo os aspectos
organizacionais da instituição. A dimensão pedagógica, por sua vez, ocupa espaço
central nesta pesquisa, já que é onde se insere o objetivo do trabalho, portanto, será
descrita e discutida extensivamente nos capítulos seguintes.
Escolha do sujeito
A escolha dos sujeitos foi intencional, isto é, buscou-se uma professora de inglês
que fosse reconhecida na comunidade - por seus colegas, gestores e alunos- como uma
“boa professora”. No caso, qualifica-se como bom professor aquele cujas práticas
pedagógicas favoreçam a aproximação afetiva entre o estudante e o objeto de ensino e
que, simultaneamente, contribuam para apropriação do conteúdo pelos alunos. (Leite e
Colombo, 2006).
Foram contatadas diversas pessoas e instituições, buscando indicações de
professores que se encaixassem no perfil traçado, sendo que foi dada preferência para
profissionais que trabalhassem em instituições públicas. A professora Lúcia13,
participante desta pesquisa, foi apresentada por uma colega. No primeiro semestre de
2017, foi estabelecido primeiro contato com a professora por e-mail e, posteriormente,
realizou-se uma conversa pessoalmente, momento no qual foram explicados os
objetivos e procedimentos da pesquisa. Além disso, a pesquisadora assistiu, ainda
naquele semestre, algumas aulas da professora a fim de conhecer seu trabalho. Com o
aceite da professora em participar da pesquisa, estabeleceu- se que o trabalho de campo
aconteceria no semestre seguinte, de maneira que se pudessem acompanhar as práticas
da professora com uma nova turma durante todo o semestre, do começo ao fim. Desta
forma, os sujeitos da pesquisa foram a professora e os estudantes, sendo que o critério
13 Os nomes da professora e dos estudantes foram alterados, a fim de preservar suas identidades.
59
de inclusão dos estudantes como sujeitos foi serem integrantes da classe da referida
professora; e o critério de exclusão foi não aceitar participar da pesquisa.
O Centro de Línguas
O Centro de Línguas, onde a pesquisa foi realizada, é institucionalmente
vinculado a uma universidade pública e está localizado em um de seus campi. O centro
é responsável por ministrar as disciplinas de línguas da universidade, tendo como
missão contribuir para a formação do aluno por meio do ensino das línguas estrangeiras,
atendendo, prioritariamente, o currículo de graduação da universidade, além de
promover a formação de cidadãos e profissionais críticos e atuantes em um mundo
pluricultural e plurilíngue
Além disso, conforme o site do próprio órgão, o CL também se constitui em um
espaço de observação e pesquisa sobre o ensino e aprendizagem de línguas. No campo
da extensão, o CL oferece cursos de língua estrangeira para a comunidade interna e
externa da universidade, além de exames de proficiência.
O prédio do CL foi inaugurado em meados da década de 1990 e sua inauguração
foi um marco para a instituição, já que, antes disto, os cursos de línguas eram
ministrados em diferentes espaços, espalhados pela universidade. O prédio conta com
salas de aulas, laboratório de informática, uma pequena biblioteca, sala de professores e
uma secretaria. Dentro das salas de aulas, as carteiras são dispostas em semicírculo, de
modo que todos os estudantes e a professora possam se ver. As salas de aula dispõem de
recursos multimídia: data show, computador e sistema de som.
Os professores dos cursos de idiomas do CL são admitidos via concurso público
e seguem uma carreira especial, cujo foco é a docência em língua estrangeira e tem
normas diferentes da carreira em magistério no ensino superior. No momento de
realização da pesquisa, contava com 26 docentes e um docente colaborador atuando em
disciplinas da graduação.
A professora Lúcia
A professora Lúcia nasceu e cresceu em uma pequena cidade do interior do
estado de São Paulo. No período em que a pesquisa foi realizada, tinha 64 anos e já
havia se aposentado, atuando como professora colaboradora no CL. Ela formou-se em
Letras- Inglês pela PUC Campinas em 1977, cursou mestrado em Linguística Aplicada,
60
na Unicamp, com conclusão em 1999. Em 2010, iniciou os estudos de doutorado na
mesma instituição.
Lúcia relata que seu envolvimento com língua estrangeira se iniciou ainda na
infância, especialmente no ambiente familiar. Lembra que, em sua casa, havia muitos
materiais em inglês, filmes, livros e revistas, o que ela atribui à influência americana em
seu pai, cuja adolescência ocorreu no período no pós-guerra. O pai assinava a revista
Life, que, na época, não estava disponível em português, portanto eles a liam em
espanhol. Ele também tinha muitos livros do Hemingway, autor de sua preferência.
Além disso, a mãe de Lúcia havia estudado em um colégio onde ela aprendera francês.
Lúcia conta que, quando tinha cerca de 12 anos, sua mãe começou a cursar Letras e
estudou francês neste curso. Portanto, Lúcia cresceu em um ambiente em que as línguas
estrangeiras estavam presentes e eram apreciadas:
Então, tinha uma coisa de línguas na minha casa, sabe? E tinha história do
meu avô, que fez Engenharia Elétrica em Ohio, sabe aquelas coisas? E olha
o inglês... Então, eu tinha vontade e aí você vai sendo exposto à cultura, né.
Mas era bem isso, era bem essa coisa da língua estrangeira, de se abrir para
outras culturas, né. (Professora Lúcia)
Quando Lúcia cursava o último ano do Ensino Médio, realizou um intercâmbio
nos Estados Unidos, promovido pela AFS (American Field Service). A professora conta
que este era um programa bastante concorrido, pois havia poucas vagas e o custo do
intercâmbio era muito baixo, pois não eram cobradas taxas ou mensalidades: havia
apenas uma faixa de contribuição para que os participantes pagassem, conforme suas
condições financeiras.
Lúcia diz que, antes de fazer o intercâmbio, ela sabia muito pouco inglês. Ela
conta que, em sua cidade natal, o primeiro curso de inglês foi aberto quando ela tinha 16
anos, sendo que ela fez este curso. Antes disto, ela estudava a língua por meio de
músicas:
E estudava muito... Ah, aquelas coisas que adolescente fazia na época, né.
Eu pegava música dos Beatles e traduzia. Não tinha nem a letra às vezes!
Mas traduzia, sabe aquelas coisas que adolescente faz? É isso... (Professora
Lúcia)
Durante o intercâmbio, Lúcia morou em uma pequena cidade no estado de
Maine, próxima à divisa com o Canadá. A cidade ficava a três horas de Boston, por isto,
61
ela teve a oportunidade de conhecer e visitar esta cidade diversas vezes. Também
visitou Washington e diversas outras cidades. Lúcia relata que a família com quem ela
morou era envolvida com política e que, por causa disto, ela conheceu Ted Kennedy e
tirou uma foto com ele. Esta é uma história que ela relatou também em sala de aula, da
qual os estudantes gostaram bastante.
Ao retornar do intercâmbio, Lúcia queria trabalhar e, com isto, começou a dar
aula de inglês no Yazigi, tendo sua primeira experiência enquanto professora. Nesta
época, ela morava em São Paulo e fazia cursinho preparatório para o vestibular. Devido
à sua experiência nos Estados Unidos, ela pensava em estudar Letras ou Relações
Públicas. Por fim, ela acabou iniciando o curso de Tradução-Intérprete na Faculdade
Ibero-Americana (atualmente, Unibero).
Enquanto estudava Tradução-Intérprete, Lúcia afastou-se do trabalho como
professora e começou a trabalhar no call center de uma empresa de aviação, ficando
responsável por fazer reservas de passagens por telefone. Lúcia conta que não gostou
deste trabalho e resolveu fazer algumas mudanças em sua vida:
Mas aí eu resolvi que eu não queria e também resolvi não queria ficar mais
em São Paulo. Aquela vida de trabalhar e estudar em São Paulo... Eu achei
que qualidade devia ser em outro lugar... E, se eu fizesse Tradutor-
intérprete, eu só iria ter emprego em São Paulo. E eu também gostava de
línguas e de Letras, então fui prestar Letras em outro lugar. E prestei aqui
em Campinas. Campinas também é uma cidade razoavelmente grande, na
época tinha 450 mil habitantes. Enfim, aí eu vim para cá, fiz PUC.
(Professora Lúcia)
Com isto, Lúcia iniciou o curso de graduação em que viria a se formar. Apesar
de Letras ter sido a segunda graduação que ela iniciou, a professora conta, em outros
momentos da entrevista, que desde a adolescência tinha vontade de fazer este curso:
Mas eu quis fazer Letras sempre, tá? Meu negócio era literatura. No Ensino
Médio, eu decidi que queria fazer Letras, porque eu gostava muito de
literatura. Eu acabei indo pro ensino de línguas, mas não me divorciei da
literatura totalmente, né. (Professora Lúcia)
Durante seu primeiro ano no curso de Letras, Lúcia trabalhou em uma galeria de
arte. E, a partir do segundo ano, começou a trabalhar como professora de inglês no
Yazigi em Campinas. Também neste período ela prestou a prova de proficiência da
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Universidade do Michigan. Ela se formou e continuou trabalhando na mesma escola até
seu primeiro filho nascer, quando se mudou de cidade com a família. Houve então um
período de afastamento da sala de aula:
Bom, eu logo tive outro filho e eu fiquei cinco anos sem trabalhar. Mas eu
sentia muita falta, muita, muita falta... de trabalhar. E nesse período eu não
estudei. (Professora Lúcia)
Após estes cinco anos de afastamento, Lúcia voltou a morar em Campinas,
começou a trabalhar em uma escola de idiomas e lá ficou durante quatro anos. No
entanto, havia a sensação de aquela era uma empresa bastante familiar e sentia que não
seria o lugar ideal para construir sua carreira. Por isso, decidiu deixar este emprego e,
logo em seguida, foi contratada para substituir uma professora na PUCC, assumindo
aulas de inglês. E, na mesma época, foi contratada também para substituir uma
professora de inglês na Unicamp.
Em 1988, Lúcia abriu uma escola de inglês, junto com outras duas colegas. Ela
conta que a escola foi muito bem, sendo que elas começaram com 50 alunos, no porão
da casa de uma das sócias e, quando Lúcia deixou a escola, em 1994, já contavam com
320 alunos.
No mesmo período em que a professora havia iniciado os trabalhos com esta
escola própria, começaram a surgir oportunidades para que ela trabalhasse como
professora no CL, por meio de contratos temporários. Neste momento, ela diz que ficou
dividida, não sabia qual dos dois caminhos realmente queria seguir na sua carreira. Ela
logo foi admitida no CL por meio de concurso público, mas, como lá trabalhava meio-
período, ela continuava trabalhando também na escola. Contudo, tomou a decisão de se
dedicar ao magistério devido a questões financeiras: na época, os planos econômicos do
governo criaram uma situação econômica muito instável e ela acreditou ser mais seguro
ter um emprego fixo no CL, a ser proprietária de uma escola. Além disso, ela conta que
percebeu que suas sócias na escola tinham interesses e planos diferentes dos seus. Ela
queria realmente construir uma carreira como professora e sentia que suas colegas não
tinham esta mesma intenção, portanto, acreditou que o trabalho no CL lhe daria
melhores oportunidades.
Em 1994, Lúcia ingressou no mestrado em Linguística Aplicada. Ela realizou a
pesquisa de mestrado em sua própria sala de aula, estudando as instruções do livro
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didático e sua relação com as interações em sala. Além do curso de mestrado, a
professora Lúcia buscou, durante toda sua carreira, manter-se atualizada e continuar
estudando. Ela relata que participava de congressos, mini-cursos, workshops e palestras.
Logo que ela finalizou o mestrado, ela apresentou seu trabalho no congresso da AAAL
(American Association for Applied Linguistics). Sobre os estudos, Lúcia diz:
Eu achava que isso era uma coisa que eu devia a mim e devia à instituição
que eu trabalho, entendeu? Você tem que se qualificar. Não cabe na minha
cabeça um professor parar de estudar, seja ele quem for! E ainda mais numa
universidade! Você concorda comigo? Não tem como... (Professora Lúcia)
Em 2010, Lúcia iniciou o doutorado, também em Linguística Aplicada, mas,
desta vez, pretendia estudar avaliação em língua inglesa. Paralelamente à sua atuação
como professora, Lúcia também trabalhou desenvolvendo provas de proficiência em
inglês para diversas instituições. Com isto, ela elaborava e corrigia provas de
proficiência para o ingresso na pós-graduação em Engenharia Mecânica desde 1982 e
seu trabalho de doutorado investiga estes exames. Lúcia relata que cumpriu todos os
créditos de disciplinas e fez os exames de qualificação, porém não concluiu o curso. Ela
diz que sentiu falta de disciplinas realmente focadas em avaliação e em leitura em
língua estrangeira, seu tema de pesquisa, e que, por esta razão, não se sentia preparada
para concluir a pesquisa. Somaram-se a isso alguns problemas na vida particular e
profissional, o que a fez pausar o doutorado:
Então eu resolvi parar. Faltando mesmo a tese. Eu tenho tudo pronto e eu já
defini que, se não for nos próximos meses, não vai ser mais. Ah, defini,
porque também preciso resolver essa questão na minha vida. Mas é um
trabalho legal... (Professora Lúcia)
No período de 2004 a 2008, a professora Lúcia assumiu a direção do CL. A
partir de 2008, ela relata que vivenciou diversos problemas com questões
administrativas, como a não autorização para diminuição de sua carga didática para
realização do doutorado e a não liberação de sua licença-prêmio. Lúcia diz que estas
questões a deixaram muito aborrecida e, como tinha tempo para pedir aposentadoria já
em 2011, ela decidiu aposentar-se em 2013. No entanto, Lúcia continuou trabalhando
no CL como professora colaboradora e, a respeito disto, ela afirma:
Uma coisa é uma universidade administrativa, outra coisa é o contato com
os alunos. Eu adoro! Eu gosto muito! E, assim, eu acho que... Eu me
aposentei com 60 anos e eu ia fazer um trabalho voluntário, então, vou fazer
64
trabalho voluntário na universidade. Entendeu? Que é um privilégio! É um
privilégio você ter alunos que estão ali para aprender. E eu gosto muito, eu
gosto muito. E eu acho que é um jeito de eu continuar fazendo o que eu
gosto. E, de um certo, modo, continuar crescendo... (Professora Lúcia)
Os estudantes da turma de Inglês IV caracterizam Lúcia como uma professora
atenta e cuidadosa. Eles afirmam que a professora é receptiva com os estudantes e
demonstra querer conhecê-los e ouvir suas histórias e opinões:
Laís: Ela é muito atenta com a gente. Ela é preocupada em
conhecer cada um, cada indivíduo. E, eu não sei se é percepção,
mas eu sinto que ela busca trabalhar com as dificuldades.
Então, as pessoas que menos falam, ela sempre pede para
falar... Então, acho que ela é bem atenta com o individual de
cada aluno.
Isabela: Entendi. Como você sente isso com você?
Laís: Nossa, que difícil! Ah, ela sempre comenta algum assunto
que ela sabe que eu conheço, retoma comigo... Pede para eu
falar... Acho que é mais nesse sentido. (Laís, Anexo 11)
Além disto, os estudantes reconhecem que a professora Lúcia tem domínio da
área do conhecimento que leciona e valorizam a transparência e disponibilidade da
professora para sanar suas próprias dúvidas:
Rodrigo: Ah, entender, a gente vê que ela entende, né. Ela
explica a matéria, explica tudo... Quando ela tem dúvida, o que
é normal, ela vai, procura na internet e põe para todo mundo
ver, acho importante isso também. E, que ela gosta, tipo, só de
ela ser voluntária, pelo jeito que ela falou... E ela chega maior
animada aqui! Então, já dá uma animação também, sabe?
(Rodrigo, Anexo 11)
No Anexo 11, encontram-se mais informações sobre a caracterização da
professora pelos estudantes.
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A turma de Inglês IV
A turma de Inglês IV era composta por 24 estudantes e, destes, 23 assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e participaram da pesquisa. No grupo
havia estudantes de diversos cursos de graduação e pós-graduação, com diferentes
trajetórias e aspirações no aprendizado de inglês. Considerando-se que não é possível
dissociar a história pessoal dos estudantes com aquilo que eles fazem, aprendem e
sentem em sala de aula, cada um deles será brevemente caracterizado.
Aurora era estudante da pós-graduação em Educação e iniciou seus estudos no
CL pela necessidade de realizar a prova de proficiência em línguas para o seu programa
de pós. Ela conta que, ao longo de sua vida, tinha dificuldade em aprender inglês e não
gostava do idioma, nem de estudá-lo. Ao iniciar o curso de Inglês I com a professora
Lúcia, esta relação mudou. Ela cursou os níveis I, II, III e IV com a professora Lúcia e
conta que passou a compreender aquilo que estudava, ficando motivada a aprender o
idioma.
Giovana era estudante do curso de graduação em Dança e começou a estudar
inglês no CL no semestre em que a pesquisa foi realizada. Ela já havia estudado inglês
em escolas de idiomas e fez o teste de proficiência do CL, tendo sido colocada no nível
IV. O que a levou a procurar o curso de inglês na universidade foi o gosto pelo idioma e
o desejo de “saber falar fluente”, em suas palavras.
Carla cursava o primeiro ano da graduação em Letras. Como língua obrigatória
para seu curso, ela escolheu o italiano, por ter relações familiares com a cultura italiana
e pela oportunidade de aprender um novo idioma desde o início. Contudo, ela decidiu
também dar continuidade aos estudos de inglês e, por isso, fez a prova de proficiência
do CL e começou a cursar o idioma no nível IV.
Ana, no momento da pesquisa, cursava seu último semestre da graduação em
Midialogia. Ela só havia estudado inglês na escola e cursou inglês no CL desde o nível
I, tendo iniciado este estudo no primeiro semestre de 2016. Ela realizou os cursos de
Inglês I e II com um outro professor da instituição e, os cursos de Inglês III e IV foram
ministrados pela professora Lúcia. Ana buscou o curso de inglês na universidade,
primeiramente, pela necessidade de cumprir créditos em disciplinas eletivas e, além
disso, por ser uma oportunidade de aprender uma língua sem precisar pagar pelo curso.
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Carolina era estudante do terceiro ano de Engenharia Agrícola. Ela realizou
teste de proficiência no CL e iniciou o curso no nível Inglês II, tendo, desde então, sido
aluna da professora Lúcia. Carolina relata que seus motivos para aprender inglês são de
ordem profissional e pessoal. Profissional, porque, como futura engenheira, vê a
necessidade de dominar o idioma para conquistar um bom emprego; pessoal, porque
tem vontade de entender filmes e de poder conversar no idioma. A escolha de estudar no
CL da universidade está atrelada à facilidade de localização e horário, além da
gratuidade do curso.
Maria era estudante do terceiro ano de Engenharia Química e começou a estudar
no CL no curso de Inglês IV, tendo ingressado por meio da prova de proficiência. Ela
explica que sabia um pouco de inglês, por ter aprendido bastante na escola, mas
entendia que precisaria de algum certificado de língua estrangeira para poder concorrer
a intercâmbios e, para isto, precisaria estudar mais o idioma. Contudo, Maria diz ser um
pouco “preguiçosa” (palavra utilizada por ela) com os estudos e resolveu fazer um
curso de inglês como estratégia para se forçar a estudar. Já a opção por procurar o curso
na universidade foi feita por acreditar que este teria qualidade superior aos cursos livres
de idiomas. Maria contou ainda que seu maior interesse nas aulas era aprender a
gramática, pois já tinha algum conhecimento de vocabulário e boa compreensão oral,
mas ainda carregava muitas dúvidas no campo gramatical. Quanto a isso, a estudante
diz ter sido atendida com as aulas da professora Lúcia, pois teve todas estas dúvidas
sanadas. Além do inglês, Maria também estudava alemão no CL.
Renata cursava graduação em Química e já apresentava uma longa trajetória
com a língua inglesa. Durante o Ensino Médio, ela estudou em um colégio bilíngue,
onde tinha aula de diversas disciplinas ministradas em inglês. Seus colegas de escola
tinham costume de ler livros best-sellers, como a série Crepúsculo ou Harry Potter, em
inglês, o que a levou a também adotar este hábito. A estudante realizou, aos quinze
anos, um intercâmbio de seis meses na Austrália. Renata conta que, apesar de conseguir
se comunicar e ler bem em inglês, ela considera que tem falhas na parte gramatical, e
por isso quis continuar estudando a língua. Ela optou por cursar inglês no CL devido à
recomendação de uma amiga e ingressou no Inglês IV, por meio da prova de
proficiência do instituto.
Isadora era estudante do curso de Geografia. Ela relata que estudou inglês desde
criança e, na universidade, quis retomar os estudos para revisar e aprofundar conteúdos
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e; assim procurou o CL devido à gratuidade do curso. Ela realizou a prova de
proficiência do CL e começou o curso de Inglês III com um professor de quem não
gostou. Para prosseguir com os estudos, ela procurou indicações sobre professores do
CL e cursou o Inglês IV com a professora Lúcia. A estudante revela que se sente bem na
aula da Lúcia e que isso a instiga a participar bastante das atividades em sala.
Francisco cursava Geografia e começou a estudar inglês no CL desde o primeiro
nível. Ele conta que sempre gostou da língua e que tinha vontade de aprender, mas,
antes de entrar na universidade, só havia estudado o idioma no Ensino Médio e não
havia aprendido muito. Ao ingressar na universidade, encantou-se com a possibilidade
de realizar o curso de língua inglesa gratuitamente, pois não teria tido condições
financeiras de estudar o idioma em um curso livre. Ele fez cada nível do curso com um
professor diferente e relata:
Inglês I foi muito legal, não sei se foi porque foi aquele primeiro contato,
mas eu achei muito legal. O (inglês) II já não foi tanto, porque eu senti que o
professor já tinha muita dificuldade em falar com os alunos e tinha meio que
um... E ele não tem tato, assim, então algumas vezes eu achei que ele era
muito abusivo. Aí eu fui começando a... Não perdendo o interesse no Inglês,
mas perdendo o interesse na aula. Aí, no (inglês) III, já era diferente. Assim,
a professora já tinha uma maior facilidade de falar com os alunos, mas eu
achava que ela não tinha facilidade de conversar comigo, sabe. Porque
sempre foi muito difícil para mim falar inglês, então eu precisava que
alguém me forçasse a falar inglês. (Francisco)
Já o Inglês IV foi ministrado pela professora Lúcia e Francisco diz sentir que ela
percebe as dificuldades que ele tem, tanto com a língua, quanto com a timidez. Segundo
o estudante, a professora procura atender estas dificuldades, dando-lhe oportunidades
para falar ou fazer leituras em voz alta durantes as aulas.
Letícia era estudante de Biologia e havia buscado o curso de inglês no CL já no
seu primeiro ano de graduação. Ela realizou a prova de proficiência no primeiro
semestre em que ingressou na universidade e, no semestre seguinte, iniciou o curso de
Inglês II. Ela foi aluna da professora Lúcia nos cursos de Inglês III e IV. Letícia afirma
que procurou o inglês no CL porque “sabia que eu precisava desenvolver mais o inglês”
e viu a oportunidade de estudar o idioma sem custos e dentro de sua universidade.
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Rodrigo estudava Engenharia Mecânica e começou a cursar inglês no CL desde
seu primeiro ano de graduação, tendo iniciado no nível Inglês I. Ele fez o curso com
outros dois professores e, no Inglês IV, passou a ter aula com a professora Lúcia pela
primeira vez. Primeiramente, ele diz que procurou o curso de inglês “porque todo
mundo fala que é importante engenheiro saber inglês”, mas, em seguida, afirma
também que gosta de aprender línguas. Rodrigo realizou intercâmbio acadêmico na
França, durante a graduação, e teve oportunidade aprender a língua francesa durante
esta experiência.
Joyce era estudante de Engenharia Química e começou a estudar inglês no CL
no semestre em que a pesquisa foi realizada. Ela fez prova de proficiência e iniciou o
curso no Inglês IV. Ela contou que escolheu a turma da professora Lúcia por conta de
horários e também pelo fato de a professora ter sido bem avaliada pelos estudantes em
um site da universidade. Joyce relatou ainda que, durante o Ensino Médio, não teve
condições financeiras para fazer um curso de inglês e que, ao conseguir uma bolsa na
universidade, ela decidiu investir em um curso de escola de idiomas, pois acreditava que
o idioma seria essencial para sua profissão. Contudo, a experiência não foi tão boa e,
por esta razão, resolveu procurar o curso do CL:
Eu fiz um tempo numa escola particular. Fui fazer aquele negócio que eles
falam que é 18 meses e vocês tá fluente, não sei o quê... Só que aí eu tava
fazendo inglês lá e não gostei muito do método deles. Aí, eu pensei "ah,
falam que no CL é bom, que no CL eles focam bastante na gramática". Eu,
por exemplo, tenho dificuldade com a parte de... Present Perfect, essas
coisas, sabe? Que não tem correspondente... Aí, eu pensei "já que eles focam
na gramática, eu tô um pouquinho presa nessa parte e tal, acho que eu vou
fazer lá mesmo". (Joyce)
Joyce, portanto, entrou no curso de Inglês IV acreditando que, no CL, os cursos
eram focados no ensino de gramática, pois era isto que alguns colegas haviam lhe dito.
No entanto, os cursos de inglês no CL pretendem ser cursos gerais de língua, e, por isto,
Joyce ficou um pouco decepcionada, já que sua expectativa era a ênfase na gramática.
Mesmo assim, ela conta que gostou das atividades propostas pela professora Lúcia,
como o uso de filmes e os trabalhos de conversação em grupo. A estudante disse gostar
de estudar línguas e havia cursado, também no CL, as disciplinas de Alemão I e II.
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Michael estava no terceiro ano da graduação em Biologia e havia começado a
estudar inglês no CL desde seu segundo ano na universidade. Ele iniciou os estudos na
disciplina de Inglês I e teve aulas com a professora Lúcia desde o Inglês III. Ele explica
os motivos que o levaram a estudar inglês no CL:
Eu tive aula em escola pública a minha vida inteira e eu sempre tive aula de
inglês, mas eu nunca consegui entender nem o verbo to be. E quando eu
entrei aqui, eu percebi que o meu curso ia exigir muito, em questão de inglês.
Como eu quero trabalhar com pesquisa, eu teria que correr atrás disso. Aí,
eu soube que tinha esse tipo aulas, assim, gratuitas e contava crédito pro
meu catálogo, eu falei "não, vou fazer". E por mais que eu já tenha acabado
o número limite de créditos que eu poderia fazer, eu quero continuar,
porque, se eu tenho seis (cursos de) inglês pela frente, eu vou querer fazer os
seis, entendeu? E dá certinho, porque eu vou fechar certinho com a minha
graduação. (Michael)
Além disso, Michael disse que gosta de aprender línguas e que aproveitou
oportunidades na universidade para estudá-las. Ele já havia feito cursos de espanhol e
italiano e, no momento em que a pesquisa foi realizada, estava cursando uma disciplina
de LIBRAS.
Miguel era estudante de mestrado em Engenharia Elétrica, mas também
continuava sendo aluno da graduação em Física, pois ele havia se formado na
modalidade bacharel e estava terminando as disciplinas da licenciatura. Ele havia
iniciado o curso de inglês no CL em 2013, na disciplina de Inglês I, mas interrompeu os
estudos por algum tempo e depois retomou-os. Ele disse que sentiu a necessidade de
aprender inglês por demanda do seu curso, ainda na graduação e, sobre a opção pelo
CL, ele explica: “Bom, porque aqui a gente tem esse benefício, né. Então, acho que não
fazer, seria perda de dinheiro, e tal, procurando outro inglês. E eu acho... são quatro
horas por semana, então eu acho um inglês legal, assim. É um inglês bom.” Ele relatou
que, na pós-graduação, sentiu ainda mais a necessidade de aprimorar o inglês e, por isto,
no momento em que se realizava a pesquisa, ele estava fazendo, além do curso no CL,
um outro curso de conversação, oferecido por um centro acadêmico da universidade.
Laís era estudante do segundo ano de Biologia e havia iniciado o curso de inglês
no CL no semestre anterior à realização da pesquisa. Ela havia realizado a prova de
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proficiência e ingressou na disciplina de Inglês III, ministrada pela professora Lúcia. Ela
contou que havia começado vários cursos de inglês em escolas de idiomas, mas nunca
os concluía, porque sempre se cansava das aulas, que considerava repetitivas. Porém,
ela tinha desejo de continuar estudando a língua:
Sempre parava no mesmo ponto. Aí, eu fui tentando,
tentando... Aí, eu vi que tinha o curso, a disciplina, né. E eu
quero terminar meu inglês. Eu quero talvez tentar intercâmbio,
não sei. E também para Biologia é muito importante, né, por
causa de artigo... Eu falei "vou lá, vou tentar formar". (Laís)
Nesse sentido, ela disse que estava contente com o curso no CL e que sentia que
estava aprendendo bastante.
Diego era estudante de Estatística e começou a estudar inglês no CL com a
disciplina de Inglês I. Ele cursou os dois primeiros níveis com dois professores
diferentes e as disciplinas Inglês III e IV foram cursadas com a professora Lúcia. Ele
contou que decidiu fazer inglês por ser importante profissionalmente e que o principal
motivo para escolha do CL foi a gratuidade:
O principal é ser gratuito, mas também, como eu já tô na graduação
e já tô em fase de estudar, colocar o inglês também é necessário. Além do
quê, eu acho... Bom, eu não sei com o que eu vou trabalhar depois de me
formar, mas acho que, pra quem fez uma faculdade, o inglês talvez seja o
mínimo, né. Durante o Ensino Médio e o Ensino Fundamental, meu pai não
podia pagar inglês pra mim, então tá sendo muito bom. (Diego)
Diego disse ainda que gostava muito da relação com os professores no CL,
porque não achava que os professores de seu curso de graduação eram tão didáticos
quantos os professores do CL.
Bruna estava cursando o último semestre de Pedagogia. Ela já havia estudado
inglês no CL anteriormente e, no semestre em que a pesquisa foi realizada, ela foi a
única estudante que desistiu da disciplina, por motivos de saúde.
Milena cursava Engenharia Civil e já havia estudado inglês no CL no semestre
anterior, com outra professora. Milena contou que é bastante tímida para participar da
aula e que a professora anterior deixava a turma livre para falar quando quisesse, e que
com isso, ela acabava não participando muito das discussões em sala. Já com a
71
professora Lúcia, ela pode participar mais, porque a professora a convidava a falar.
Milena estudava também a língua alemã
Júlia era estudante de Química e, assim como Milena, falou sobre a diferença
entre as professoras de inglês no CL. Ela também se sentia envergonhada para participar
das atividades em sala e, pelo fato de a professora Lúcia pedir que ela lesse ou lhe
fizesse perguntas, ela conseguiu se envolver mais com a aula. Ela disse ainda que a
professora Lúcia “é boazinha, então eu não fico com medo”.
Jéssica era estudante do terceiro ano de Engenharia Química e iniciou os estudos
no CL com a disciplina de Inglês IV. Ela já havia estudado inglês em escola de idiomas,
antes de ter ingressado na universidade, e, para dar continuidade aos estudos, realizou a
prova de proficiência do CL e entrou na turma da professora Lúcia. Sobre a escolha de
estudar no CL ela disse: “O pessoal elogia bastante, né. Aí, tá dentro da universidade,
isso facilita... não tem custo, né!”. Jéssica afirma que gosta de estudar línguas e que,
além do inglês, cursava também espanhol no CL.
Andressa era estudante do curso de Letras e começou o curso no CL a partir do
Inglês I, sendo que a disciplina de Inglês IV foi a primeira cursada com a professora
Lúcia. Andressa tem conhecimento de espanhol e diz não gostar muito da língua
inglesa, mas que resolveu estudá-la por demanda profissional. Andressa relatou que, no
ano em que a pesquisa foi realizada, ela estava passando por momento difíceis, pois
estava com problemas de saúde e sua mãe havia falecido. Por isto, ela disse que, apesar
de gostar do curso de inglês, este acabou não sendo prioridade durante aquele semestre.
Mariana era estudante de Biologia e havia começado a estudar inglês no CL
após ter feito a prova de proficiência. Ela entrou na disciplina de Inglês II, ministrada
pela professora Lúcia, e cursou o Inglês III com outro professor. Ela decidiu estudar a
língua por demanda da graduação e das atividades de iniciação científica:
Eu tive um inglês muito ruim no meu ensino básico, né. Tinha muitos textos
da própria graduação, que eram em inglês e eu não conseguia acompanhar.
Eu tive uma matéria que o livro era somente em inglês e era uma matéria
complicada, não dava para você trabalhar sem o livro. Aí, eu comecei a ter
mais dificuldades em pesquisa, que é o que faço agora, então foi acumulando
dificuldades... Então, falei "ah, não! Eu preciso vencer essas dificuldades".
Ou fazendo curso aqui no CL, ou fazendo curso fora. Como o CL é uma
72
oportunidade que tem aqui dentro da universidade, que é gratuita, facilita
para mim... Então, eu preferi vir para cá. (Mariana)
Mariana disse ainda que pretende aprender outras línguas, como francês e
espanhol, mas que, por ora, está se concentrando no estudo de inglês.
João era estudante de Engenharia Civil e começou a estudar inglês no CL na
turma de Inglês IV. Ele já havia estudado a língua anteriormente, tanto na escola quanto
em cursos livres, e quis dar continuidade aos estudos. Por isto e pelo fato do curso no
CL ser gratuito, ele fez a prova de proficiência e iniciou o curso. João disse que quer
aprimorar o inglês por demanda profissional e também porque tinha vontade de realizar
algum intercâmbio, profissional ou acadêmico.
Procedimentos de coleta de dados
O procedimento de coleta de dados deu-se em três eixos: sessões de observação
e videogravação das aulas, com anotações em diário de campo; minientrevistas com
estudantes; entrevista com a professora. Somaram-se ainda aos dados alguns materiais
utilizados em aula, disponibilizados pela professora Lúcia.
A coleta de dados iniciou-se, conforme planejado, em agosto de 2017, após a
aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP14. No primeiro
dia em campo, a pesquisadora apresentou-se aos estudantes, explicou os objetivos e
procedimentos da pesquisa e entregou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os estudantes puderam levar o termo para casa, ler e, caso tivessem dúvidas, poderiam
dirigi-las à pesquisadora. Na aula seguinte, os estudantes trouxeram os termos
assinados, sendo que somente um estudante da turma escolheu não participar da
pesquisa.
As videogravações foram feitas com o uso de um notebook e uma pequena
câmera, do tipo webcam, de modo que a pesquisadora podia controlar o foco da
filmagem com facilidade, acompanhando o movimento da sala de aula. Destaca-se que
o uso do notebook para as filmagens, um equipamento comum em salas de aulas
universitárias, contribuiu para que a pesquisadora não perturbasse o ambiente onde a
pesquisa foi realizada.
14 Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP, número CAEE 69384017.1.0000.5404.
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As aulas de inglês aconteciam duas vezes na semana, das 18h às 20h. A
pesquisadora costumava chegar no CL com antecedência de cerca de 40 minutos, para
que pudesse montar o equipamento de gravação na sala de aula e, depois disso, conduzir
entrevistas com os estudantes. As filmagens eram iniciadas com a chegada da
professora e estendiam-se até o final da aula, sem interrupções. Portanto, os vídeos de
cada aula têm duração de duas horas e, ao todo, foram realizadas vinte e quatro sessões
de observação e videogravação.
Paralelamente às filmagens, a pesquisadora fazia anotações em diário de campo,
onde registrava as atividades realizadas em sala de aula. Estes registros incluíam o
tempo do vídeo em que cada atividade começava e terminava, a fim de facilitar a
posterior análise dos vídeos. No diário de campo, a pesquisadora buscou descrever
como eram conduzidas e realizadas as atividades de ensino, fazendo notas sobre a forma
que a professora explicava e dava instruções e sobre os modos de participação dos
estudantes. Os dados das filmagens e do diário de campo foram utilizados para compor
os anexos de 1 a 10, que descrevem as atividades de ensino observadas.
As minientrevistas com os estudantes foram realizadas antes de a aula começar,
ou logo após seu término. O objetivo destas entrevistas era acessar os pontos de vista
dos estudantes a respeito das atividades propostas pela professora Lúcia. Deste modo,
além de terem um roteiro semiestruturado, como dados pessoais dos estudantes e o
histórico deles com estudo da língua inglesa, as entrevistas traziam também
questionamentos sobre as aulas observadas. A partir das observações das aulas, a
pesquisadora solicitava que os estudantes comentassem livremente sobre determinado
tópico. Novas perguntas eram formuladas conforme a necessidade de esclarecimento ou
de maior aprofundamento das respostas. Todos os estudantes foram entrevistados ao
menos uma vez e foram tomados todos os cuidados para preservar-se a identidade dos
sujeitos, observando-se a ética em pesquisa. Estas entrevistas foram integralmente
transcritas e estes dados compõem os anexos de 1 a 10, conforme será detalhadamente
explicado no capítulo seguinte.
Após o encerramento do semestre, foi também realizada uma entrevista com a
professora, a fim de melhor conhecer sua trajetória, sua história de constituição como
professora de inglês e suas concepções sobre ensino e aprendizagem. A entrevista foi
realizada na casa da professora Lúcia e durou cerca de três horas. Esta entrevista teve
um roteiro semiestruturado, organizado em duas partes: a primeira focou na constituição
74
da professora, abordando sua formação acadêmica e também seu envolvimento com a
língua inglesa e com a docência; a segunda parte referiu-se a questões sobre as práticas
pedagógicas da professora, observadas pela pesquisadora ao longo do semestre.
Na primeira parte da entrevista, a professora falou mais livremente, narrando sua
história. As intervenções da pesquisadora foram poucas e só aconteceram quando havia
necessidade de algum esclarecimento. Já na segunda parte, a pesquisadora fez mais
perguntas, pois tinha intenção de abordar, ao menos, cinco tópicos que lhe chamaram
atenção na prática da professora: foco em atividades com participação dos estudantes,
relacionando as experiências pessoais de cada um deles; relação professor- aluno; as
forma de ensino de gramática; o repertório cultural da professora, constantemente
trazido para dentro da sala de aula; formas de avaliação. As perguntas feitas pela
pesquisadora buscavam compreender como a professora organizou seu curso, que
orientações ela considerou e o que a levou a fazer certas opções ao longo do semestre.
Assim como as entrevistas com os estudantes, esta entrevista também foi transcrita na
íntegra pela pesquisadora e seu conteúdo foi utilizado na composição do tópico sobre a
caracterização da professora, neste capítulo, bem como na construção dos dados em
anexo.
A inserção da pesquisadora na turma e a relação com a professora
Cabe ainda contar como se deu a inserção da pesquisadora na sala de aula e
como foi se construindo sua relação com os estudantes e com a professora. Conforme
foi relatado anteriormente, a seleção dos sujeitos estudantes se deu a partir da escolha da
professora Lúcia, por ela se encaixar no perfil buscado na pesquisa. Desta forma, antes
que a pesquisadora entrasse em campo, a professora Lúcia explicou à turma que ela
realizaria uma pesquisa naquela sala e que os acompanharia durante o semestre.
No primeiro dia em que foi à sala de aula, a pesquisadora apresentou-se e
explicou os objetivos e procedimentos do trabalho. Os estudantes não apresentaram
muitas dúvidas quanto à pesquisa e se mostraram dispostos a participar. Ao longo do
semestre, a pesquisadora teve facilidade em se aproximar dos estudantes, possivelmente
pela proximidade de idades entre eles e pelas vivências universitárias similares que
apresentavam. A pesquisadora conversava bastante com a turma antes de a aula
começar e também usava este momento para fazer minientrevistas sobre as atividades
que haviam sido realizadas na aula anterior. Alguns estudantes tinham interesse em
75
saber mais detalhes sobre a pesquisa e sobre como era fazer mestrado em Educação, e,
quando a pesquisadora contava mais sobre o trabalho, eles se mostravam ainda mais
dispostos a contribuir para a pesquisa.
Durante as aulas, a pesquisadora sentava-se em um canto, à frente da sala e os
estudantes não demonstravam curiosidade ou desconforto com sua presença.
Possivelmente, a discrição do material utilizado para realizar as filmagens- um notebook
com uma pequena webcam acoplada a ele- contribuiu para que a presença da
pesquisadora não perturbasse a rotina da sala de aula. Além disso, buscava-se interferir
o mínimo possível, o que é detectado no comentário da professora: “Isabela, a maior
parte do tempo eu até esqueço que você está aí, que bom para mim e que bom para
você, não é?”. Mas, apesar disso, a própria professora incluía a pesquisadora em alguns
momentos da aula, como quando comentou com os estudantes sobre a obra de
Flairclough e pediu a ela que falasse para a turma sobre o autor. Houve ainda
momentos em que a professora comentava sobre algum filme, livro ou escritor e, em
seguida, quando os estudantes se ocupavam de alguma atividade, ela sussurrava para a
pesquisadora: “Você conhece? Você já viu?”.
Além disso, a professora Lúcia se mostrou solícita ao longo do semestre: sempre
preparava cópias das atividades impressas para a pesquisadora, o que enriqueceu o
trabalho, pois estas passaram a fazer parte dos dados; respondia às dúvidas sobre o CL
ou sobre as aulas. Ela também fez indicações de trabalhos da área Linguística Aplicada
que poderiam auxiliar na pesquisa e até mesmo emprestou um de seus livros para a
pesquisadora.
Por fim, é narrado um episódio que parece retratar bem como se deu a inserção
da pesquisadora na turma:
As salas de aula do CL ficam trancadas antes das aulas e as chaves ficam na
sala dos professores. Logo no início do semestre, a professora Lúcia autorizou a
pesquisadora a pegar a chave quando chegasse, para poder ligar seu computador e
usar a sala caso quisesse conversar com algum estudante naquele espaço.
Normalmente, a pesquisadora chegava bem antes do horário da aula, arrumava suas
coisas, trancava a sala e ficava na parte de fora do prédio, onde os estudantes
permaneciam. Algumas vezes, quando o prédio estava mais movimentado e não tinha
mais onde o pessoal sentar, a pesquisadora abria a sala para poderem esperar pela
76
professora lá dentro.
Nesse período antes da aula, os estudantes ficavam conversando entre si e
também com a pesquisadora. Às vezes a conversa tinha mais cara de entrevista, às
vezes era só conversa mesmo. Falava-se sobre as aulas de inglês e sobre a professora,
mas falava-se também sobre os livros que estavam lendo, entre outros assuntos. Eles
contavam sobre os dramas e as felicidades da graduação e também perguntavam
sobre como era a vida no mestrado, perguntavam se era mais fácil ou mais difícil que
na graduação.
Certa noite, já bem ao final do semestre, a pesquisadora havia deixado a sala
aberta para os estudantes, pois eles queriam se preparar para as apresentações que
fariam naquela aula. A pesquisadora ficou do lado de fora, porque ia fazer uma
entrevista com o João. Após a entrevista, outros estudantes foram chegando e se
juntando à conversa, que se estendeu até o momento em que a professora chegou. Ela
sempre chegava e perguntava à pesquisadora se esta já estava com a chave da sala.
Desta vez, ela deve ter visto o movimento na sala através da janela, por isso
perguntou: “Are there people using the room?”. A pesquisadora respondeu: “Yes, but
it’s our people” e entregou-lhe a chave.
Foram todos andando em direção à sala. A Lúcia estava com um sorrisinho no
rosto, dando uma risadinha. Ela olhou para a pesquisadora e repetiu “our people!”,
rindo. Então falou:
-Você vai escrever isso na sua pesquisa, né? - A pesquisadora perguntou:
-Isso o quê?
E ela disse:
-Isso, que você se refere a nós como “our people”.
77
4-Análise dos dados e resultados: as atividades de ensino realizadas com a turma
de Inglês IV
Procedimentos de análise de dados
Em um trabalho de abordagem qualitativa, analisar os dados significa, conforme
afirmam Lüdke e André (1986), organizar todo o material obtido durante a pesquisa,
buscando identificar tendências e padrões relevantes. As autoras defendem que a análise
ocorre em diversos momentos da pesquisa, contudo, é mais sistemática após a coleta de
dados.
Na presente pesquisa, o material a ser analisado refere-se aos vídeos das aulas,
registros em diário de campo, transcrição das entrevistas com estudantes e com a
professora, além de materiais utilizados pela professora em sala de aula. Para
organização e trabalho com este material, é necessário que o pesquisador leia-o e releia-
o, até que se familiarize com seu conteúdo, como indicam Lüdke e André (1986). Com
estas leituras sucessivas, o pesquisador deve identificar os elementos componentes de
seu material, criando um conjunto de categorias descritivas, sem, contudo, perder a
relação destes elementos com o todo. Além disto, a análise não pode restringir-se ao que
está explícito no material coletado, mas deve desvelar “mensagens implícitas,
dimensões contraditórias e temas sistematicamente silenciados” (Lüdke e André, 1986,
p.48).
Durante a coleta de dados, a pesquisadora observou que um dos traços da prática
pedagógica da professora Lúcia que parecia sobressair-se era a diversidade de
atividades propostas em sala de aula, o que se confirmou após a leitura extensiva de
todo o conteúdo gerado pela coleta. Deste modo, escolheu-se priorizar o trabalho
pedagógico da professora Lúcia e, para isto, serão apresentadas as diferentes atividades
de ensino por ela desenvolvidas.
Outras pesquisas, também no campo da afetividade, lançaram o olhar para as
atividades de ensino, dentre elas, são destacadas as de Guimarães (2008), Amaral
(2012) e Garzella (2013). No âmbito da presente pesquisa, o conceito de atividade de
ensino é entendido, conforme exposto na discussão teórica, por um processo que se
desenvolve na relação professor-aluno, com três aspectos distintos: a) instrução, que diz
respeito às instruções fornecidas pelo professor ou por um colega, para a realização de
uma atividade pelo estudante; b) desenvolvimento, que se refere à execução da
78
atividade pelo estudante e onde se preveem intervenções necessárias e adequadas do
professor; c) feedback, que consiste no retorno do professor sobre a atividade realizada
pelo aluno, que pode incluir correções, informações, incentivos, todas com objetivo de
levar o estudante a compreender a qualidade de seu trabalho. Este modelo atende a
necessidade de um parâmetro teórico de análise, contudo, admite-se que, devido ao
aspecto dinâmico da sala de aula, as atividades de ensino não ocorrem de maneira
linear. É possível, por exemplo, que o professor dê novas instruções durante o
desenvolvimento de uma atividade, caso o aluno apresente dificuldades para executá-la.
Ou ainda pode haver correções ao longo da realização de um trabalho (Garzella, 2013).
A partir deste referencial, a pesquisadora organizou os dados coletados,
buscando agrupar as atividades de acordo com seu objetivo principal, o qual se revelou
pela organização e forma de realização da própria atividade. A análise dos dados foi
realizada em cinco etapas: a) análise do diário de campo, identificando os diferentes
tipos de atividades e destacando todas suas ocorrências; b) revisão das aulas gravadas, a
fim descrever como foi realizada cada ocorrência de um determinado tipo de atividade;
c) transcrição, na íntegra, de ao menos um exemplo de cada tipo de atividade; d) análise
das entrevistas com estudantes, em busca de falas sobre determinada atividade; e)
análise da entrevista com a professora, identificando falas sobre as atividades.
Ao final da análise, foram identificados dez tipos de atividades, sendo eles assim
identificados: 1- Leitura; 2- Listening (Compreensão oral); 3- Gramática; 4-
Conversação; 5- Produção escrita; 6- Vocabulário; 7- Pronúncia; 8- Workshop “Saving
Indegenous Languages in Western Amazonia”; 9- Filmes, vídeos e músicas; 10-
Avaliação.
Deve-se notar que os procedimentos de avaliação também foram incluídos no rol
de dados aqui apresentados, uma vez que estes também fazem parte do processo de
ensino e produzem impactos afetivos nos estudantes, como é defendido por Leite e
Tassoni (2002). Ressalta-se também que, nas aulas da professora Lúcia, as atividades
eram conectadas entre si, uma dando sequência para outra; um texto ou um áudio era a
situação de contexto para explicação gramatical, e assim por diante. No entanto, para
fins de análise nesta pesquisa, essas atividades foram separadas, de forma que pudessem
ser estudadas de maneira mais minuciosa. Os critérios para categorização foram a
caracterização dos três momentos (instrução da professora, desenvolvimento da
atividades pelos estudantes e feedback fornecido, além do objetivo principal da
79
atividade. Além disto, quando havia dúvidas, seguiam-se pistas dadas, por exemplo,
pelo material didático, o qual, muitas vezes, nomeava a seção onde os exercícios
encontravam-se, como “reading”, “listening” ou “grammar”.
Devido à ligação entre as atividades e também ao fato de cada estudante ter
opiniões e sentimentos distintos em relação a cada uma delas, optou-se por descrever
todas as atividades que a professora realizava em aula. A caracterização detalhada de
cada atividade compõe um anexo deste trabalho, de forma que os dez tipos de atividades
estão descritos nos anexos de 1 a 10. Os anexos são compostos por: uma breve
descrição da atividade; relato resumido de todas ocorrências da atividade; transcrição,
na íntegra, de ao menos um exemplo destas ocorrências; falas dos estudantes sobre a
atividade; falas da professora sobre a atividade; materiais utilizados nas atividades
(quando houver).
Neste capítulo, será destacado aquilo que se observou de mais relevante sobre
cada atividade, tais como: o que chamou atenção da pesquisadora durante as
observações; os padrões que se revelaram durante as releituras do diário de campo; o
que foi mencionado pelos estudantes em suas entrevistas; a postura da professora
durante as atividades; como os estudantes engajaram-se no trabalho em sala de aula.
Desta maneira, a análise dos dados pretende responder ao objetivo assumido na
pesquisa- investigar as práticas pedagógicas da professora e suas implicações nas
relações entre estudantes e objeto de conhecimento- ao “dissecar” a prática pedagógica,
olhando para o que seria sua unidade básica, a atividade de ensino
Descrição das atividades de ensino
1- Leitura
Foram reunidas aqui as atividades cujo foco era a leitura de textos em inglês,
geralmente seguidas de exercícios de interpretação de texto e/ou de discussões sobre o
tema abordado. Para fins de análise, este tipo de atividade foi dividido em duas
subcategorias, de acordo com a natureza do material lido: a) textos do livro didático e,
b) textos trazidos pela professora. Ao longo do semestre, foram lidos e discutidos sete
textos do livro didático e três textos trazidos pela professora, extraídos de jornais, redes
sociais e revistas. No Anexo 1, encontram-se detalhes sobre os temas de cada um destes
textos, bem como sobre a forma que eles foram trabalhados.
80
A professora Lúcia costumava contextualizar o tema que seria abordado no
texto. Exemplo disto, pode ser visto na atividade transcrita na Matriz 1.0: a professora
introduziu o assunto do texto, que falava sobre cowboys do século XXI, mostrando a
primeira cena de um famoso filme de faroeste. Ao longo semestre, foi possível observar
a professora promover estas contextualizações de diferentes maneiras: utilizando
trechos de filme ou de séries; fazendo uma pergunta à turma, que os levaria a pensar
sobre o assunto que seria lido; conversando sobre as imagens do livro; contando alguma
história. Joyce comentou sobre o uso de um vídeo da série Friends, que introduziu a
leitura do texto “Vacation Stories”:
Quando foi, por exemplo, acho que do Friends, que ela mostrou,
eu gostei bastante. (Joyce, Anexo 1)
Muitas vezes, a professora Lúcia pedia aos estudantes que lessem os textos do
LD e que respondessem às questões de interpretação em casa. Desta forma, em sala de
aula, era realizada uma (re)leitura coletiva do texto, em que os estudantes eram
solicitados ou se voluntariavam para ler trechos do texto. Esta prática parecia ser
apreciada pelos estudantes como uma oportunidade de praticar a fala e a pronúncia:
Eu gosto muito quando ela pede para a gente ler, porque...
Como eu tenho muita dificuldade de falar... Então, quando eu
leio, quando você lê em voz alta, você tá meio que
internalizando aquele vocabulário, aquela forma de se
expressar. Então, eu prefiro muito ler em voz alta do que ficar
lendo baixinho, porque, quando eu leio baixo, eu não tô
falando! Então, quando ela pede para a gente ler, é bem
interessante. Eu gosto muito! (Francisco, Anexo 1)
Francisco definiu a si mesmo como um estudante tímido e disse que tinha muita
dificuldade de falar em aula, não só pelas dificuldades colocadas pela língua, mas
também por sentir-se envergonhado. Para ele, é importante que a professora o convide a
participar. Quando questionado sobre de qual atividade ele mais gostava durante as
aulas, ele respondeu que eram dos momentos de leitura em voz alta. Nesta direção, há
trechos da transcrição que indicam o cuidado e a atenção da professora nos momentos
em que Francisco participa da leitura:
81
Professora: So, Francisco, can you read?
(Francisco lê o terceiro parágrafo)
Professora: Very good, Francisco, very
good. Nowhere, right? There is a
beautiful Beatles' song called 'Nowhere
Man', I think it is from the album
Revolver, I think. Ok, but very good!
Professora solicita que Francisco leia o
parágrafo.
Professora enfatiza o 'very good' em sua
entonação, e usa o nome do estudante ao
fazer um elogio.
Professora repete o elogio
(Matriz 1.0, Anexo 1)
Isadora, que participava da entrevista junto com Francisco, concordou com ele,
dizendo também gostar das leituras em voz alta, mesmo não sendo uma estudante
tímida:
Isadora: Eu também... Até acho que poderia ser pedido mais!
Isabela: Você sempre se voluntaria, né? Para ler...
Isadora: É, eu acho importante. Ela pode até forçar mais... Eu
me sinto à vontade... (Isadora, Anexo 1)
Similarmente a Francisco, Ana também contou que gosta de ler em voz alta, por
sentir dificuldade em falar na língua inglesa:
Então, as atividades de leitura eu gosto bastante, porque me
força a falar. (Ana, Anexo 1)
Giovana já não demonstrava ter vergonha de falar durante as aulas, pois ela
sempre se integrava às discussões e dava suas opiniões, mas também gostava de ler em
voz alta:
Eu gosto mais... quando é para ler alguma coisa, sabe? Eu
gosto, acho legal.... (Giovana, Anexo 1)
A professora Lúcia parecia de fato usar o momento de leitura em voz alta para
auxiliar os estudantes no aprimoramento da pronúncia. Um traço importante deste
trabalho é que ela esperava que os estudantes finalizassem a leitura para, então, destacar
correções da pronúncia, ou seja, ela tinha o cuidado de não interromper o estudante que
estivesse lendo. E o fato de este trabalho ser feito coletivamente dava oportunidade para
que todos os demais estudantes praticassem a pronúncia, pois, quando uma palavra
82
apresentava-se mais complicada, a professora pedia que a turma toda a repetisse em
coro.
É claro que, em atividades de leitura, a intepretação e compreensão dos textos é
um dos pontos mais importantes a serem considerados. Neste sentido, Giovana contou
sobre o prazer que tinha ao ler um texto e sentir-se capaz de compreendê-lo:
Eu gosto quando tem que ler texto e interpretar, sabe? As
questões... Quando tem aqueles textos grandes, eu gosto!
Porque, a maioria das vezes, eu entendo tudo. Eu fico feliz,
satisfeita. (Giovana, Anexo 1)
A estratégia adotada pela professora nas atividades de leitura do LD- de pedir
que os estudantes lessem os textos e respondessem aos exercícios em casa- dava-lhes a
possibilidade de investir na tentativa de compreensão daquele material. Já o que era
feito coletivamente em sala- leitura e correção dos exercícios- apresentava-se como um
fechamento deste trabalho, que havia sido iniciado individualmente, sendo que os
estudantes podiam expor suas interpretações e tirar dúvidas. Esse trabalho coletivo
também se mostrou como uma oportunidade para que os estudantes ampliassem o
vocabulário, pois, durante as leituras, a professora explica o significado de palavras
presentes nos textos, como pode ser visto no trecho a seguir:
Estudante: What is "staggered"?
Professora: Staggered back? Ok, she saw
a massive public transportation system
shudder and collapse.
João: What is shudder?
Professora: It means to be shaked, ser
abalado. And then collapse (faz um gesto
com as mãos, indicando algo que está
caindo). And then, to stagger, it means
andar cambaleante, cambalear. Stagger
back to its feet, more quickly. So, it
collapsed and then staggered back to its
feet. (Professora faz uma nova mímica:
faz um gesto como se estivessem caindo
A professora dá oportunidade para
estudantes tirarem dúvidas.
Professora faz mímicas para as palavras:
Treme os braços e o corpo quando fala
"shudder" e solta o corpo, como se
estivessem caindo, quando fala
"collapse".
Ainda assim, um estudante continuou
com dúvida sobre a palavra “shudder” e a
professora explica novamente. Usa novos
gestos e explica de uma maneira
diferente, tentando sanar a dúvida de
João.
83
ao dizer "shudder" e um movimento de
levantar rapidamente ao dizer
"stagger".) The public transportation
system, that stopped and then went back
to work again. Do you understand?
Depois dessa segunda explicação, a
professora checa entendimento dos
estudantes.
(Matriz 1.1, Anexo 1)
A prática da professora de levar textos além daqueles do livro didático foi
interpretada pelos estudantes como preocupação dela com a aprendizagem dos
estudantes, buscando complementar o material didático e de ir além daquilo que ele
propunha:
Eu sinto que demonstra que ela, que ela... se preocupa com
nossa educação, não só simplesmente fica retida no livro e só
passa o que tem que passar. E porque são uns textos mais legais
que os do livro (risos). (Letícia, Anexo 9)
No caso acima, Letícia afirma que, além de demonstrar a preocupação da
professora com os estudantes, o uso de textos extras tem ainda a vantagem de estes
serem mais interessantes que aqueles trazidos pelo LD. É claro que esta é a opinião
pessoal da estudante, pois outros alunos afirmaram gostar de ambos os tipos de textos.
Contudo, o envolvimento da turma na leitura destes textos levados pela professora pode
ser um indicador de que a turma apreciava esta prática. Têm-se exemplos deste
envolvimento na Matriz 1.1, que descreve a leitura de um texto sobre 11 de setembro,
onde observa-se que os estudantes se voluntariam para fazer a leitura em voz alta, além
de interessarem-se em aprender novas palavras presentes no texto.
A experiência da leitura do texto “Johnny goes to college” mostra como cada
atividade pode afetar os estudantes de diferentes maneiras. Esta atividade foi citada por
Jéssica quando a pesquisadora perguntou sobre do que ela gostava nas aulas da
professora Lúcia:
Jéssica: O que eu mais gosto? Ah, eu gosto quando ela traz
coisa de fora, assim. Tipo, ela trouxe uns textos, que eu achei
super legal... Aquele texto que tem várias expressões diferentes,
84
eu achei super pertinente ela passar aquilo, achei bem legal.
Acho que é a parte que eu mais gosto!
Isabela: Qual texto?
Jéssica: O texto que ela... Do menino que...
Isabela: Ah, que foi para faculdade... (Jéssica, Anexo 1)
Por outro lado, foi justamente esta atividade que Joyce utilizou para exemplificar
os temas de leituras dos quais não gostou:
Joyce: Então, eu acho legal a ideia de trazer material extra,
mas as temáticas eu não sou muito fã, para ser sincera. Porque
eu acho que alguns são muito antigos ou são coisas que às vezes
ela pergunta, que eu eu não tenho contato... Ou que não faz
parte muito da nossa idade, não sei. Mas, assim, eu acho legal
trazer coisa extra, mas, por exemplo, teve aquele texto que era
do menino, que tava no banco de trás do carro...
Isabela: Aham, indo para faculdade...
Joyce: É... Eu achei ele bem complexo e... Mas não era isso. Eu
não gostei muito da temática, achei meio deprimente. (Joyce,
Anexo 1)
Com isto, nota-se que não é possível prever quais serão os impactos trazidos
pelas situações de mediação em sala de aula, já que cada estudante é singular e se
apropriará dos conteúdos à sua maneira. Neste sentido, destaca-se que a variedade de
materiais e assuntos apresentada pela professora Lúcia como aspecto notável de seu
trabalho, uma vez que favorece a aproximação dos estudantes da turma, mesmo este
sendo um grupo tão diverso.
2- Listening (Compreensão oral)
Neste tópico estão reunidas as atividades, propostas no LD, que envolviam a escuta
de áudios em inglês e a realização de exercícios de compreensão e interpretação. Para a
realização destas atividades, a professora costumava sugerir aos estudantes que lessem o
enunciado dos exercícios antes de ouvirem o áudio. Deste modo, os estudantes teriam
uma ideia prévia do que seria abordado no áudio e, no momento em que este estivesse
85
sendo tocado, poderiam concentrar-se em ouvir, sem se preocuparem com a leitura dos
enunciados. Esta prática pode ser observada nas descrições das atividades de listening
no Anexo 2. Além disto, a professora também procurava dar instruções claras sobre os
exercícios, o que pode ser observado no trecho da transcrição seguinte, contida na
Matriz 2.0:
Professora: So, everyone, listening.
"Listen to part of a radio interview and
answer the questions: What kind of new
job does Madelaine have? What are some
of her responsabilities?" (lendo no livro).
Ok? So we are going to listen to an
interview with a woman called
Madelaine and she is going to have to
talk about her new job, ok? Let's listen.
You have to answer those two questions.
I am going to play once, then, if is
necessary, I am going to play twice, ok?
Then we'll answer the questions.
Professora lê o enunciado do exercício no
livro e mantém contato visual com a
turma enquanto vai falando.
Depois de ler o enunciado, ela explica o
que deverá ser feito no exercício.
(Matriz 2.0, Anexo 2)
Conforme foi exposto anteriormente, entende-se que a atividade de ensino envolve
instrução, desenvolvimento e feedback. Neste sentido, a clareza das instruções é
imprescindível para que haja o bom desenvolvimento da atividade. No caso da atividade
de listening, uma instrução precisa se mostra adequada também pelo fato de reduzir a
ansiedade dos estudantes- que, muitas vezes, receiam não compreender os diálogos-
deixando-os mais tranquilos para se concentrarem no conteúdo dos áudios.
Muitas vezes, as atividades de listening eram seguidas por atividades de gramática
ou de conversação, sendo que os conteúdos do listening introduziam o que seria
estudado na sequência, como é mostrado no Anexo 2. Isto ocorreu nas atividades “A job
interview”, “Science program- invention for the eyes”, “Conversations about
vacations”, “Radio documentary about Kung Fu” e “Interview with an archeologist”.
Observa-se, ainda, que a professora fazia uso da transcrição dos áudios para que os
86
estudantes identificassem e se familiarizassem com situações de uso de determinadas
estruturas gramaticais, como Present Perfect, Used to e Past Perfect.
Outras vezes, as atividades de listening davam continuidade a outras atividades,
especialmente de vocabulário, como pode-se verificar em “Job interview”, “Radio
interview with a tour guide” e “Interview with an archeologist”. Além disto, “Radio
interview with na engineer” deu sequência a uma atividade de leitura sobre empregos.
A professora Lúcia defendeu a relevância de se praticar listening para que os
estudantes aprendam melhor a língua:
As pessoas querem falar inglês, né. E falar implica o quê?
Implica você ouvir. À medida que você ouve, você vai
adquirindo a língua como ela é em uso, mas ninguém quer
treinar listening. Você já viu? O listening é um bloqueio. Então,
é uma visão de uso de língua que é... Como é que eu vou te
dizer? Não condiz com o real uso da linguagem, que você vai
interagir com alguém. Presta atenção! Tô errada? As pessoas
querem falar! Mas falar implicar ouvir, ouvir implica entender.
(Professora Lúcia, Anexo 2)
Sua fala indica ainda que, como professora, nota que os estudantes comumente
apresentam alguma resistência para trabalhar esta habilidade. Estas informações podem
justificar a postura cuidadosa da professora durantes estas atividades. A seguir, pode-se
observar que não só as instruções dos exercícios eram claras, como também a correção
era atenciosa e precisa:
(...)
Professora: False, good! Number 3, true
or false?
Estudantes: True.
Professora: True... Number 4?
Estudantes: True.
Professora: Good! Number 4, true. And
number 5?
Estudantes: False.
Professora corrige o exercício de
verdadeiro ou falso com a turma.
87
Professora: And number 6?
Estudantes: False.
Professora: Are you sure? You have to be
in good shape, yes... Em forma... You
don't have to be an athlete, but you have
to be in shape. You have to be physically
fit... I don't know...
Aurora: Ela diz que tem que ser ativo...
Professora: Então, mas se você está ativo,
você está em forma...
(Estudantes olham com expressão de
discordância)
Professora: Não? Não necessariamente?
Então é false! Then it's false. What do
you understand by active?
(…)
Há uma discordância sobre a resposta da
última frase, professora busca explicar o
que é “good shape”.
Aurora diz que, no áudio, a entrevistada
fala que as pessoas têm que ser ativas,
indicando que ela compreende “pessoa
ativa” e “pessoa em boa forma” como
coisas distintas. Outros estudantes
parecem concordar.
Professora diz que, já que eles entendem
de outra forma, então eles podem marcar
a questão como falsa. Ainda pergunta o
que eles entendem por “pessoa ativa”.
(Matriz 2.0/ Anexo 2)
Neste trecho, bastante representativo da forma como Lúcia fornecia feedback das
atividades de listening, vê-se que a professora corrigia o exercício de compreensão
verificando com a turma se eles haviam marcado as proposições acerca do áudio, como
verdadeiras ou como falsas. Este excerto mostra, também, que a professora viabilizava
espaço para interpretação dos estudantes. Quando houve divergência sobre o que
significa “pessoa ativa”, ela permitiu que os estudantes respondessem à questão de
acordo com suas definições. Ou seja, ela não se prendeu a um sentido pré-estabelecido
do texto escutado e, além disto, ela se interessou em saber como os estudantes
entendiam a expressão. A seguir, na continuidade desta conversa, verifica-se a resposta
de Renata à pergunta da professora:
Renata: You exercise... But maybe you
are... acima do peso?
Professora: Overweight.
Renata: Overweight, but you do
exercise...
Professora: Ok...
Renata explica o porquê ela acha que
“pessoa ativa” é diferente de “pessoa em
boa forma.
Aurora faz uma piada, a professora e a
turma riem.
88
Aurora: Like my husband (risos).
Professora: (risos)... Ok, listen... We are
not doing number 5, we are moving on to
grammar...
(Matriz 2.0/ Anexo 2)
Ao final desta discussão, observa-se, também, que Aurora fez uma piada a partir
da explicação dada por Renata sobre o que é uma pessoa ativa, implicando que seu
marido se exercita, mas está acima do peso. Este tipo de intervenção criava um clima
descontraído na sala de aula e mostra que os estudantes se sentiam confortáveis.
Sobre o conteúdo dos áudios, a pesquisadora pôde perceber, por meio de suas
observações das aulas, que estes, de maneira geral, envolviam os estudantes. Um
exemplo disto foi durante a atividade “Science program- invention for the eyes”, cujo
áudio apresentava um novo tipo de óculos, mais econômico e com lentes que poderiam
ser ajustadas pelo portador. Ao final do áudio, Miguel, de maneira espontânea,
exclamou “It’s a great idea!”. Logo em seguida, Aurora disse não ter entendido muito
bem como os óculos funcionavam e Miguel explicou-lhe melhor.
Além dos áudios trazidos pelo LD, a professora Lúcia apresentou outros materiais
para os estudantes ouvirem. No entanto, estas atividades foram categorizadas como
“Filmes, vídeos e músicas” e estão descritas no Anexo 9. Estes conteúdos baseavam-se
em materiais autênticos e temas com os quais os estudantes também se engajaram
bastante.
3- Gramática
Neste tópico, será apresentada a maneira como a professora explicava os conteúdos
de gramática, além das formas como ela oportunizava sua prática. Os detalhes sobre os
todos os tópicos gramaticais ensinados podem ser encontrados no Anexo 3. A
professora Lúcia introduzia suas explicações sobre estruturas gramaticais por meio de
situações presentes em áudios e/ou textos do material didático, ou seja, o ensino da
gramática não era feito de maneira descontextualizada. A respeito disto, a professora
Lúcia comentou que o LD, utilizado no CL, contribui para esta prática:
Uma coisa que eu acho legal nesse livro que a gente tá usando é
que ele não é... O syllabus dele, o conteúdo programático não é
89
organizado com base em gramática. Você já deve ter visto
isso... Então, eu acho que isso foi uma grande mudança, porque
o American English Files era totalmente gramatical. (Professora
Lúcia, Anexo 3)
Apesar de partir das situações do LD, a professora não se detinha nos exemplos
e exercícios presentes neste material. Ao explicar gramática, a aula da professora Lúcia
assumia caráter de aula expositiva, sendo que ela utilizava a lousa para destacar as
novas estruturas a serem aprendidas, trazendo novos exemplos. Isto pode ser observado
na atividade transcrita na Matriz 3.0, em que a professora iniciou sua exposição sobre
“Zero and First Conditional” por meio de exemplos do LD e, em seguida, adicionou
novas frases para ilustrar o conteúdo:
Professora: So, this is what we call the
Zero Conditional: When you have a
sentence with the Simple Present, then
you have a comma, usually, and you can
have "if" or "when". And you have the
Simple Present again. (Enquanto fala,
professora escreve na lousa: Simple
Present, IF/ WHEN Simple Present).
For instance, if I think about my house...
Uhm, I can say: It usually rains, when the
birds near my house get overexcited.
Ficam agitados, get overexcited, ok? So, it
usually rains, when the birds get
overexcited. Ok?
Professora dá um novo exemplo da Zero
Conditional, diferente daquelas trazidas
pelo livro. Nesse exemplo, ela usa um fato
sobre sua casa. Fazendo referência a algo
que havia contado mais cedo naquele dia,
sobre os animais que aparecem em seu
jardim.
(Matriz 3.0, Anexo 3)
No trecho acima, é possível observar o uso da lousa para destacar como se dá a
estrutura estudada. Nota-se a introdução de uma nova frase para exemplificar o
conteúdo que estava sendo explicado e, neste caso, a professora fez referência a uma
situação de sua vida, falando sobre sua casa e os pássaros que vivem lá. Sobre as
explicações da professora e o uso de exemplos, Ana comentou:
90
Eu entendo o que ela explica e tudo mais, mas às vezes, quando
sou eu fazendo exercício, eu não consigo. Mas eu gosto bastante
que ela tenta deixar o mais claro possível, ela dá vários
exemplos. Se alguém não entende, ela volta e tenta explicar de
um jeito diferente. Eu gosto bastante. (Ana, Anexo 3)
Carolina, apesar de achar que poderiam ser feitos mais exercícios, também
afirmou gostar da forma como a professora explica gramática:
Carolina: Eu acho ela uma professora muito boa. Tô
aprendendo muito com ela; ela explica muito bem a gramática
também, né. (Carolina, Anexo 3)
Aurora, por sua vez, disse que a forma como a professora explica gramática
facilitava o entendimento do uso e do sentido das estruturas:
E faz sentido a forma como ela explica, não é só mecânico,
sabe? Por exemplo, a forma como ela explicou lá do Present
Perfect. Faz muito mais sentido ela explicar que é uma ação,
que aconteceu no passado, mas que o efeito ainda é presente.
Quando você entende o funcionamento da língua, a gramática
faz mais sentido e você não esquece, do que só quando te
passam as regrinhas de gramática, sabe. Eu acho que isso que
me ajudou, assim, entender o funcionamento da língua, que ela
sempre explica isso. Porque nossa tendência é pegar e
relacionar com o português, tentar traduzir literalmente. Mas aí
quando você entende o funcionamento, você não tenta traduzir,
porque é outro sentido. (Aurora, Anexo 3)
O comentário feito por Aurora está de acordo com o que a própria professora
Lúcia afirmou a respeito da sua forma de ensinar gramática:
Olha, eu vejo a relação entre gramática e uso de língua. Eu
acho muito difícil você ver o sentido da gramática, se você não
usá-la. Então, se você não colocar em uso realmente.
(Professora Lúcia, Anexo 3)
91
Depois da exposição feita pela professora, em geral, os estudantes eram
solicitados a fazer algum exercício em que praticariam as estruturas estudadas. Muitas
vezes, esta prática era feita de forma dinâmica e interativa, em que os estudantes tinham
possibilidade de, a partir de seus repertórios pessoais, criar frases e utilizar as estruturas
que haviam acabado de aprender. Sobre isto, Ana comentou:
Isabela: Em geral, depois de explicar alguma coisa de
gramática, ela pede para vocês fazerem exemplos, relacionando
com a vida de vocês. O que que você acha desse movimento, ela
explicar e depois jogar pra vida de vocês?
Ana: Ah, eu acho legal, porque força a gente a colocar em
prática o que a gente acabou de aprender. Eu acho que falar
alguma coisa da nossa vida é mais fácil do que pegar um tema
aleatório, acho que motiva mais. (Ana, Anexo 3)
Em geral, estas atividades eram realizadas pelos estudantes em duplas ou trios e,
em seguida, aquilo que havia sido produzido era compartilhado com turma. Neste
segundo momento, era quando a professora fornecia feedback, fazendo elogios ou
apontando correções. Carolina havia afirmado sentir falta de mais exercícios sobre
gramática, mas, ao ser questionada pela pesquisadora sobre os exercícios feitos em sala,
ela comentou sobre a forma de organização da atividade:
Isabela: Você acha que não praticam na sala?
Carolina: Ah, pratica bastante! Isso ajuda bem. Quando é
atividade em grupo, a gente tem que repetir o que a gente
falou... (Carolina, Anexo 3)
Havia também exercícios mais “mecânicos” - como de completar lacunas ou de
ordenar frases- mas, de maneira geral, estes eram feitos como lição de casa, junto com a
leitura da explicação gramatical contida no LD. A correção destes exercícios era feita
em sala de aula, coletivamente. A professora retomava a explicação sobre o assunto,
lendo, junto com os estudantes, a explicação apresentada pelo LD (ou por outro material
que ela houvesse disponibilizado), a qual ela complementava, conforme os estudantes
apresentavam questões. Em seguida, ela pedia que cada estudante lesse a resposta de um
exercício e, neste momento, fazia correções e tirava dúvidas. A respeito desta prática, a
92
professora reafirmou que sua maior preocupação com o ensino de gramática era fazer a
conexão entre gramática e situações de uso, o que justifica o fato de ela não dedicar
tanto tempo de aula para os exercícios mais focados em estrutura:
Lúcia: Porque eu, eu... É, eu realmente acredito que a
gramática pela gramática, o aluno tem que estudar sozinho
também.
Isabela: Com exercícios?
Lúcia: É, isso. Eu acho que tempo de sala de aula é pra gente
também praticar. Não acho que não possa ser usado, não é
nada disso, Mas eu acho que eu gostaria de ver mais, talvez, ver
esse pessoal no (Inglês) V e no VI e ver em que medida eles
internalizaram certas regras gramaticais e etc.
Isabela: E é por isso que os exercícios de gramática e a leitura
daquelas explicações você passa, em geral, de tarefa?
Lúcia: É, passo para casa. Às vezes, quando eu sinto que é
necessário, eu dou uma corrigida... Mas eu procuro que fique
claro, posto na plataforma virtual. Posto exercício, assim, bem
mecânico às vezes, né. (Professora Lúcia, Anexo 3)
Neste comentário, a professora reconheceu também a necessidade de que o
estudante pratique as estruturas gramaticais e que, por isto, cria maneiras de oportunizar
esta prática, por meio de exercícios de lição de casa ou tarefas extras postadas no
ambiente virtual de aprendizagem.
Nas entrevistas com os estudantes, houve dois comentários que indicaram a
necessidade de explicações gramaticais mais aprofundadas. Um destes comentários foi
feito por Jéssica:
Jéssica: Ah, acho que talvez poderia ser um pouquiiinho mais
aprofundado, acho que talvez ela escrever um pouco mais na
lousa, para a gente visualizar. A gente fica ouvindo, mas eu não
sei se tá todo mundo entendendo, sabe? Às vezes parece que não
tá... (Jéssica, Anexo 3)
93
O outro comentário, que segue nesta direção, foi feito por Joyce. Esta estudante
havia buscado o inglês no CL por ter recebido recomendações de que, nesta instituição,
o foco do curso era o estudo de gramática:
Isabela: E daí você falou que, quando veio para cá, tinha
dificuldade com essas coisas de gramática...
Joyce: É, não porque... Eu gosto muito de gramática em
português e eu prefiro entender algumas coisas por meio da
gramática. Eu gostava dessas coisas, oração subordinada... E
às vezes eu quero escrever ou falar e eu sinto que eu não sei
falar o que eu quero do jeito certo. Então pensei "ah, como aqui
foca em gramática, eu vou aprender" (...)
Isabela: E você achou que foram atendidas essas expectativas?
Joyce: Ah, de certa forma, sim. Tipo, não tanto, porque faziam
uma propaganda de que o CL era muito, muito gramática,
assim, sabe? E eu senti que tem... Mas, pelo menos nessa turma,
eu senti que focou mais na conversação do que na gramática.
Então, eu senti que não era assim, sabe? Tudo isso que falam
que é de gramática.
Isabela: Entendi. E você acha isso bom? Ou você preferia que
fosse só gramática?
Joyce: Eu não preferia que fosse só, mas eu preferia que tivesse
um pouco mais.
Isabela: Entendi...
Joyce: Por causa da propaganda que me fizeram... (Joyce,
Anexo 3)
No entanto, Maria, outra estudante que havia se matriculado no curso do CL
com o objetivo de estudar gramática, disse que estava satisfeita com este ponto do
curso:
Maria: Uhum. Sim, sim. Todas as minhas dúvidas de gramática
já... Assim, a maior parte delas que é... O principal era
94
conjugação de verbo, porque eu não sabia nada. Eu só usava
presente, passado e futuro, só (risos). E agora eu aprendi. Tá
sendo bom...
(...)
Isabela: Dessas coisas de gramática, né? E o que você acha das
explicações da professora?
Maria: Ah, eu gosto. Eu gosto. Tipo, ela simplificou todas as
minhas dúvidas, parece. Simplificou muito. Não sei também se
meus professores antigos complicavam muito...
Isabela: Como você acha que ela simplificou?
Maria: Ah, por exemplo... Eu sempre usava o passado simples,
porque... Só que agora eu tô usando muito mais o outro, porque,
tipo, são poucos casos que você usa o simples, na verdade. Só se
tiver uma data... Obviamente que aí eu já generalizo, não sei se
eu uso corretamente tudo. Mas agora eu tô usando o outro
também. Só quando tem uma data, que ela fala que quando tá
marcado o tempo, aí eu uso o simples. Tipo isso, sabe? (Maria,
Anexo 3)
Maria afirmou que, com as aulas da professora Lúcia, conseguiu solucionar
dúvidas que carregava há tempos, mesmo já tendo estudado inglês em outros lugares.
Ela exemplificou isto com seu aprendizado sobre o uso do “Present Perfect”, relatando
que, antes, não sabia como usar este tempo verbal e que utilizava somente o Past
Simple. Depois de ter praticado o “Present Perfect” nas aulas, conseguiu distinguir o
uso deste com o uso do Past Simple. Além disto, Maria também comentou gostar dos
materiais extras sobre gramática, disponibilizados pela professora:
Isabela: E, das atividades que ela passa na aula, quais você
gosta mais, acha mais interessante?
Maria: Uhmm, calma que é difícil. Tipo, eu não sei se é uma
atividade, mas eu gosto quando tem mais a parte de gramática,
assim. Ou quando ela dá folha extra, sabe, que é sobre
95
gramática, porque as folhas que ela dá são bem úteis. (Maria,
Anexo 3)
Outro ponto apresentado pelos estudantes em suas entrevistas foi o uso de
atividades dinâmicas para que se praticasse gramática em sala de aula. Um exemplo
disto foi o jogo da Passive Voice, descrito na íntegra na Matriz 3.1. Neste jogo, os
estudantes, organizados em grupos, deviam ligar nomes de livros aos seus escritores e,
no momento da correção, eles deviam fazer frases do tipo “Dom Casmurro was written
by Machado de Assis”. Os estudantes envolveram-se bastante com esta atividade,
conforme pode ser observado no trecho a seguir:
Alguns estudantes fazem comentários
durante a atividade e a turma ri:
Michael: Quem terminar primeiro, ganha!
Laís: Não tem ajuda dos universitários,
não?
Alguns grupos fazem perguntas uns aos
outros, buscando ajuda para conseguir
ligar todas as obras aos seus autores.
Enquanto os estudantes faziam a
atividade, a professora falou para a
pesquisadora: It's all about problem
solving, isn't it? I never imagined they
would be so busy!
A turma estava bastante dedicada ao jogo
e alguns estudantes faziam comentários
engraçados, que dava um clima animado à
aula.
Alguns grupos também ajudaram uns aos
outros. Todos pareciam querer resolver as
questões.
Enquanto a pesquisadora estava próxima à
professora, ela fez esse comentário, com
um brilho no olhar! Ela parecia estar
bastante contente em ver os estudantes tão
animados com a atividade.
(Matriz 3.1, Anexo 3)
Neste trecho, é possível notar a agitação com que a turma se encontrava, ao
tentar solucionar o jogo. Percebe-se pelo comentário da professora Lúcia, a sua
satisfação ao se dar conta de que os estudantes estavam profundamente envolvidos com
a atividade. Em outro momento, a professora comentou também sobre o potencial do
jogo para se ampliar o vocabulário:
96
O grupo formado por Aurora, Ana e
Diego discutia o que poderia ser "The
Lord of Flies" e faziam suposições:
Aurora: Senhor dos vôos?
Diego diz: Pode ser mosca também.
Mas os três focam em "Senhor dos vôos" e
não conseguem resolver o problema de
quem seria o autor. Então, perguntam
para a professora: O que é flies?
Professora: Flies? Moscas.
O grupo diz: Aaah!
Ana (dirigindo-se a Diego): Então você
tava certo.
Nesse momento, professora disse para a
pesquisadora: You know what? This is
good to learn vocabulary too.
Aqui se tem outro episódio com a questão
do vocabulário. Os estudantes fazem
suposições para o significado da palavra
“flies”, mas, como não conseguem
encontrar o autor do livro, eles pedem
ajuda à professora.
Ana percebe que Diego tinha falado o
significado correto.
Depois do episódio acima, a professora
comenta, satisfeita, que essa atividade
também é uma boa maneira de aprender
vocabulário, parecendo ter-se dado conta
disso naquele momento.
(Matriz 3.1, Anexo 3)
Giovana, uma estudante cujo grupo empenhou-se bastante na resolução do jogo,
comentou sobre a atividade:
Isabela: E o que você achou daquela atividade de ontem?
Giovana: Achei ótimaaaaaa!!Maravilhosa!!! Eu gosto muito de
jogo! Eu acho que é uma bela maneira de, assim, de... De
ensinar qualquer coisa, acho que o jogo traz uma dimensão
diferente pro aprendizado. Eu sou bem competitiva, então eu
gostei bastante.
Isabela: Legal. Foi engraçado, porque todo mundo queria fazer
mais rápido... (risos)
Giovana: É! Meu Deus! O que que é isso?! Tinha papelzinho
que a gente não sabia se era nome de livro ou se era nome do
97
autor! A gente ficou tipo "Meu Deus, como a gente vai resolver
isso agora?".
Isabela: Mas seu grupo foi bem... Vocês acertaram um monte de
coisa.
Giovana: Foi muito engraçado! (Giovana, Anexo 3)
Da mesma forma, Rodrigo, que foi entrevistado logo após a aula em que o jogo
foi realizado, comenta:
Rodrigo: Então, das atividades? Por exemplo, essa atividade de
hoje eu achei bem bacana, porque faz interagir mais com o
pessoal, fica uma coisa mais dinâmica. Eu gosto mais. (Anexo
3)
Com isto, nota-se que os estudantes apreciavam as atividades em que, além de se
praticarem as estruturas gramaticais, havia também interação com os colegas. Este
caráter dinâmico para a prática de gramática ficou visível, também, nas atividades sobre
“Defining Relative Clauses” e “Do or Make”, descritas no Anexo 3. Após as
explicações sobre estes tópicos, a professora forneceu instruções para que os estudantes
elaborassem algumas questões (em que eles precisariam utilizar as estruturas estudadas)
e, em seguida, deveriam levantar-se e encontrar duplas diferentes para interagir.
Francisco comenta sobre uma destas atividades:
Francisco: Teve um dia que você faltou (falando para Isadora),
que ela pediu para a gente levantar e conversar com as pessoas,
conversar em pé com cada um. Não lembro sobre o que que
foi... Ah! Tinha que falar sobre alguém ou alguma coisa que
aconteceu, no passado, para a pessoa adivinhar o que era...
Isabela: ... de adivinhar, é, eu lembro...
Francisco: É. Podia falar de qualquer coisa e a pessoa tinha
que adivinhar.
Isabela: Era para usar aqueles who, that, which...
Isadora: Aaaah...
98
Francisco: Então, quando eu levantei para conversar com
pessoas que eu não conhecia, meio que me desbloqueou... Ainda
mais eu, que morro de vergonha de falar com os outros! Ainda
mais em inglês! Então, querendo ou não, você acaba tendo
contato, um pouco, com as pessoas e fica mais à vontade.
(Francisco, Anexo 3)
Nesta fala de Francisco, nota-se que o estudante recorda, primeiramente, o fato
de ter se levantado para conversar com outros colegas, e só depois lembra-se do
conteúdo. Ou seja, a lembrança que permaneceu foi a respeito da interação com a turma
e não o fato de ter praticado um tópico gramatical. Esta era uma característica marcante
da forma como a professora Lúcia propunha a prática de gramática: não era somente por
meio de exercícios engessados, mas também por atividades dinâmicas e interativas.
Neste sentido, no tópico a seguir, onde são apresentadas as atividades de conversação,
pode-se observar a conexão entre estas atividades e os conteúdos gramaticais.
4- Conversação (produção oral)
As atividades de conversação pareciam ser um ponto central nas aulas da professora
Lúcia, sendo que houve dezesseis ocorrências ao longo do semestre, descritas no Anexo
4. Nestas atividades, os estudantes interagiam entre si e praticavam a produção oral.
Mais uma vez, é importante relembrar o elo que existia entre as diversas atividades
realizadas pela professora. Neste sentido, as atividades de conversação podiam seguir as
de leitura ou de listening, em que o tema a ser discutido pelos estudantes teria sido
introduzido pela atividade anterior; poderiam, também, ser realizadas após uma
atividade de gramática e, neste caso, a atividade de conversação auxiliaria na
cristalização de um determinado tópico gramatical estudado.
Era comum que, nas atividades de conversação, a professora relacionasse os temas
estudados em aula com experiências pessoais dos estudantes. A leitura do Anexo 4
revela inúmeros exemplos desta prática: na atividade “Ancient buildings”, a professora
pediu para que os estudantes falassem sobre prédios antigos de suas cidades natais; em
“Have you ever...?” os estudantes fizeram perguntas e respostas sobre experiências
inusitadas que já viveram; na discussão de “What do you usually post?”, os estudantes
contaram sobre a forma como utilizavam as redes sociais. Estes são apenas alguns
exemplos que ilustram esta aproximação entre os assuntos das aulas com o repertório
99
individual dos estudantes, prática que chamou a atenção da pesquisadora e sobre a qual
questionou a professora:
Isabela: Uma coisa que eu reparei e que me chamou bastante
atenção foi ter bastante atividade em que os alunos estão
participando, em pequenos grupos, em dupla, e que eles vão
produzir ali alguma coisa. E que você faz muitas dessas
atividades para eles falarem ou escreverem alguma coisa que
envolva a vida deles, experiências pessoais.
Lúcia: (...) Mas, assim, um dos fundamentos da Abordagem
Comunicativa é que o assunto seja relevante para o aluno. Na
verdade, a Abordagem Comunicativa, ela foca na necessidade
do aluno! Esse é o verdadeiro objetivo da Abordagem
Comunicativa.
(...)
Lúcia: Então, eu procuro envolvê-los desse jeito, fazer com que
eles tragam a experiência deles e possam falar da experiência
deles. (Professora Lúcia, Anexo 4)
A professora demonstrou, portanto, que esta prática é embasada em teoria de
ensino de língua- a Abordagem Comunicativa- e que buscava tornar a aprendizagem
relevante para os estudantes ao trazer as experiências deles para sala de aula. Neste
sentido, os comentários dos estudantes indicam que este movimento era bem recebido:
Isabela: Eu percebi que a professora faz bastante isso: ela
explica alguma coisa e depois pede para vocês falarem, usando
exemplos da vida de vocês.
Miguel: Sim, sim.
Isabela: O que você acha dessa dinâmica?
Miguel: É, eu acho que é o que... Talvez o que vai ser mais fácil
pra gente falar sem pensar, né. E qualquer lugar que a gente
fosse, talvez em outro país, a gente ia fazer essa... ia falar
dessas coisas que a gente fala aqui. Por exemplo, falaria da
100
nossa vida, de onde a gente veio, então isso tá forçando a gente
a falar essas coisas bastante, essas frases. E, cada vez que a
gente fala, deixa de ser difícil falar aquilo e torna mais fácil.
Então, se eu for para outro país, eu vou falar aquelas minhas
palavras; quando eu conhecer novas pessoas, eu vou falar
aquilo de novo. E eu acho que as coisas que eu tô aprendendo
em inglês- que eu tô falando sem pensar- são coisas que eu já
falei várias vezes. Então, eu acho que é por aí mesmo. (Miguel,
Anexo 4)
Miguel era um estudante cujo objetivo, nas aulas de inglês, era aprimorar a
produção oral. Por isto, as atividades de conversação eram as que ele julgava mais
importantes e acreditava que precisava praticar bastante, para que conseguisse falar em
inglês sem pensar em português. Portanto, as atividades em que ele falasse sobre
aspectos de sua vida e de suas experiências pessoais dariam a ele oportunidade de
praticar aquilo que chamou de “minhas palavras”, o que ele acreditava ser importante
em seu aprendizado da língua.
As estudantes Júlia e Milena deram suas opiniões sobre este ponto das atividades
de conversação:
Isabela: Eu reparei que a professora, depois de explicar alguma
coisa, costuma pedir para vocês fazerem exemplos relacionados
à vida de vocês. Queria saber o que vocês acham desse tipo de
atividade
Milena.: Ah, eu acho legal, né. Porque você tem que buscar um
vocabulário próprio seu, das coisas que você faz. Acho
interessante essa parte do vocabulário, você ter que buscar
dentro das coisas que você faz, porque é onde você vai usar, né?
Júlia: Eu acho legal também, porque a gente conhece um pouco
das pessoas. Cada um fala um pouco... Na verdade eu nunca sei
o que falar e descubro que minha vida é muito chata (estudante
diz com tom de brincadeira), mas eu acho legal, sim. E isso
também... faz sentido. (Milena e Júlia, Anexo 4)
101
A fala de Milena aponta para a mesma direção que a de Miguel: esta
característica das atividades de conversação permitia a criação de um repertório de
vocabulário próprio, pessoal, e que seria, de fato, utilizado por ela. Júlia também
indicou concordar, ao dizer que “faz sentido” falar sobre as experiências pessoais. Além
disto, ela comentou que gostava de ouvir as histórias dos colegas e conhecê-los melhor.
Este ponto também foi destacado por outros estudantes:
Isabela: Pensando assim, dentro da aula da Lúcia, ela faz
diversas atividades... O que você mais gosta?
Mariana: De todas as atividades que ela faz...? Eu gosto
bastante das atividades de conversação, porque são várias
histórias que a gente conta durante essas atividades. (...) Mas
as atividades de conversação são muito legais. Aparecem umas
histórias divertidas, aí a sala fica bem mais integrada.
(Mariana, Anexo 4)
Como se pode notar, Mariana destacou as atividades de conversação como uma
de suas preferidas, justamente por ser um momento em que pode ouvir as histórias de
seus colegas. A estudante afirmou, ainda, que estas atividades favoreciam a integração
da turma, o que também foi comentado pela professora Lúcia:
Lúcia: (...) E, pode ser maluco, mas o compartilhar experiência
é interessante. Eu acho que isso eles curtem, eles podem não
dizer abertamente, mas...
Isabela: De conhecer os outros, né.
Lúcia: É. É interessante, né, não cria um senso de grupo?
(Professora Lúcia, Anexo 4)
Neste momento da entrevista, a professora havia sido questionada sobre a forma
como eram conduzidas as atividades de conversação: a professora introduzia um tema a
ser discutido; os estudantes conversavam em duplas ou trios; a professora pedia que
cada estudante compartilhasse, com a turma toda, um ponto que havia sido conversado
nos pequenos grupos e, nesta ocasião, ela fazia algumas correções e comentários.
Portanto, a professora afirmou que esta etapa final, além de ter a função de proporcionar
102
momento para o feedback, também favorecia criação de um sentimento de grupo entre
os estudantes.
Sobre este movimento- falar em pequenos grupos e, em seguida, falar para o
restante da turma- as estudantes Milena e Júlia comentaram:
Isabela: E, em geral, primeiro vocês falam na dupla e depois
vocês falam pro resto da turma. Como que é isso para vocês?
Milena: Acho que a parte para turma só serve para professora
corrigir mesmo (risos), porque quando tá em dupla que
desenvolve mais.
Júlia: Eu me sinto mais à vontade falando na dupla. E fico mais
segura também quando vou falar para turma, porque já falei
aquilo, já pensei como tem que ser direito e falo depois. (Milena
e Júlia, Anexo 4)
Júlia disse que se sentia mais à vontade para falar em dupla, mas que este
momento servia de preparação para quando fosse falar com toda a turma. Milena
mostrou ter consciência de que o objetivo desta prática era possibilitar o feedback da
professora; no entanto, mais adiante na entrevista, ela declarou gostar de ouvir as
histórias de seus colegas. A professora Lúcia comentou sobre as formas de feedback nas
atividades de conversação:
Lúcia: E tem uma coisa, assim, de preservar a face, né. Eu
chego perto, eles param de falar. Aí, eu fico pensando que expô-
los é muito mais complicado do que não corrigir o tempo todo,
entendeu? Se eu corrigir, corrigir, eu acho que pode pesar
negativamente nessa relação com a língua estrangeira.
(Professora Lúcia, Anexo 4)
A professora mostrou ter preocupação com o feedback nestas atividades,
indicando que a correção excessiva poderia afastar os estudantes das práticas de
conversação em língua inglesa. No entanto, os comentários dos estudantes indicam que
a correção era feita de maneira eficaz e que estas não causavam constrangimento:
Isabela: E às vezes quando a professora corrige alguma coisa
na fala?
103
Milena: Ah, eu acho que ela corrige de um jeito bem legal, sabe.
Alguns professores quando corrigem, você... começa a pegar
medo já (risos). Com ela eu não sinto isso, por enquanto tô
tranquila.
Júlia: Ah, eu também acho... É que eu tenho muito medo de
falar, assim, as coisas, porque tenho muita vergonha, mas
também acho que ela sempre foi muito boazinha. (Júlia e
Milena, Anexo 4)
Pensando- se na estrutura de uma atividade de ensino, é preciso ainda destacar a
maneira como as instruções eram fornecidas pela professora. Como foi mencionado
anteriormente, as atividades de conversação, com frequência, seguiam atividades de
listening, de leitura ou de gramática. Desta forma, a instrução da professora, para
atividade conversação, estabelecia uma ligação entre atividade anterior; a instrução
indicava que os estudantes deveriam trabalhar em duplas ou trios- o que já lhes
sinalizava que uma atividade de conversação se iniciaria- e também esclarecia o tópico
a ser discutido. Por exemplo, a Matriz 3.0 descreve uma atividade de gramática, na qual
foram praticadas as orações condicionais. Ao final desta matriz, observa-se que a
professora encaminhou os estudantes para a conversação:
Professora (rindo): In doubt, you don't
challenge the superstition, right? Most
people do, here... I want you to get
together, in pairs, or groups of three,
whatever you want. And think of a
Brazilian superstition different from the
ones that are here, ok?
Professora finaliza essa atividade e
introduz uma próxima, cujo foco é
conversação.
(Matriz 3.0, Anexo 3)
Deste modo, a finalização da atividade de gramática foi também a introdução da
atividade de conversação, como também pode ser verificado na Matriz 4.1, a qual
descreve a atividade “Conversa sobre superstições”.
Já o desenvolvimento da atividade pelos estudantes, conforme foi exposto
anteriormente, ocorria em duplas ou trios. Enquanto os estudantes conversavam entre si,
104
a professora dava dicas e auxiliava com vocabulário, como pode ser identificado a
seguir:
Estudantes trabalham e duplas e em trios.
Professora anda pela sala, ajudando com
dúvidas trazidas pelos estudantes, que
são, em sua maioria, questões de
vocabulário:
Alguém faz uma pergunta e a professora
diz: How do you say "afastar"? To keep
away! (Ela vai até o computador e mostra
no dicionário como se escreve e também
dá outras alternativas.)
Michael: Teacher, confiável?
Professora: Reliable!
Michal: Reliable?
Professora: Yes, reliable.
Durante as atividades de conversação, a
professora dá tempo e espaço para que os
estudantes conversem em duplas ou
pequenos grupos. Ela anda pela sala,
olhando como estão indo as discussões e
fornece ajuda quando os estudantes têm
alguma dúvida.
(Matriz 4.1, Anexo 4)
Observa-se que a professora mantinha certa distância, para que os estudantes se
sentissem mais à vontade e pudessem falar entre si com tranquilidade; entretanto,
continuava atenta ao que se passava na sala de aula. Ela respondia às questões de
vocabulário e auxiliava os estudantes na construção de frases, quando eles sentiam
maior dificuldade.
As entrevistas com os estudantes indicaram que as atividades de conversação
eram apreciadas pela maior parte da turma e, mais do que isto, eram consideradas, por
muitos, as mais relevantes:
Rodrigo: E as atividades que ela faz a gente falar talvez,
porque, para mim, acho que é uma das maiores motivações é
tentar falar melhor. (Rodrigo, Anexo 4)
Isabela: Legal... E durante a aula, qual tipo de atividade você
gosta mais?
105
Laís: Ah, eu acho que de conversação. É difícil, né? Mas eu
acho que me prende mais a atenção. Eu acho que eu consigo
desenvolver, eu acho que dá para a gente testar muito, sabe? O
que sabe, o que não sabe... Porque, às vezes, lendo um texto,
você entende, mas agora falar... Tem que lembrar vocabulário,
pronúncia, etc. Bastante conversação, né... (Laís, Anexo 4)
No entanto, Maria manifestou-se de maneira contrária:
Maria: E, tipo, teoricamente, era para eu gostar bastante- e eu
gosto até- da parte de conversação, sabe? Só que, sei lá, às
vezes eu fico meio emperrada.
Isabela: Por que você se sente assim?
Maria: Ah, porque eu tenho vergonha de falar.
Isabela: Ah é? Mesmo na dupla?
Maria: Uhum!
Isabela: Ah... E para falar para sala... Aí, você fica com mais
vergonha ainda?
Maria: Ah... Eu sei que eu sei falar, sabe? Antes eu me sentia
muito ruim para falar assim... Aí, no começo das nossas aulas,
mais ou menos no meio do ano, eu tava tentando um
intercâmbio para República Tcheca e o processo era em inglês.
Acho que foi dia primeiro de agosto que teve uma entrevista
com um cara. Aí, eu peguei umas aulas particulares só para
conversar e eu vi que na verdade eu sei conversar. Só que, sei
lá, sou travada... Aqui, por mais que tenha bastante gente e eu
acho que tá todo mundo no mesmo nível, não sai... Não sei por
que! É péssimo isso. E, sei lá, não tem o que o professor fazer,
não tem o que eu fazer... (Maria, Anexo 4)
A estudante demonstrou sentir que “deveria” gostar mais das atividades de
conversação- possivelmente por esta ser a atividade comumente mais apreciada e
desejada por estudantes de língua- mas disse não gostar tanto de praticar a conversação
106
nas aulas. A entrevista da estudante indica que, apesar de ela gostar um pouco deste tipo
de atividade, ela não se sentia segura para falar em inglês.
5- Produção escrita
A maioria das atividades que visavam à produção escrita de textos, pelos estudantes,
foi realizada no ambiente virtual de aprendizagem da universidade. Desta maneira, não
se teve acesso tão amplo dessas atividades como se teve nas outras. No Anexo 5, estão
descritas as quatro atividades de produção textual propostas pela professora. Neste
anexo, encontra-se também a transcrição de uma atividade sobre organização de
parágrafos, realizada em sala de aula.
Em geral, a professora Lúcia explicava a proposta da atividade em aula e,
posteriormente, postava instruções mais detalhadas na plataforma virtual da
universidade. Os estudantes eram solicitados a escreverem seus textos em um
documento do Word e deveriam postá-los na mesma plataforma até uma data estipulada
pela professora. Depois disto, a professora fazia a correção dos textos, utilizando as
ferramentas do Word, e realizava a devolutiva aos estudantes. Durante o período em que
a professora corrigia os textos, ela também apresentava, em sala de aula, comentários
gerais sobre as produções.
Uma das primeiras atividades de escrita proposta foi a criação de um “perfil”, em
que os estudantes deveriam contar sobre suas cidades de origem, seus cursos de
graduação, entre outras informações pessoais, consideradas relevantes pela turma. A
professora sugeriu que estes textos fossem postados de modo público na plataforma, de
modo que os estudantes pudessem ler as biografias de seus colegas. A respeito disto,
Isadora e Francisco comentaram:
Isadora: Então, eu acho importante a turma se conhecer, uns
aos outros.
Isabela: Tem mais alguma outra coisa que você acha que
favoreceu isso? Essa questão de vocês se conhecerem e ter
conexão maior...
Isadora: Então, porque, fora isso, a gente só se conheceu mais
pela apresentação, pra ter essa comunicação da turma...
107
Francisco: Aquele portfólio que ela pediu para a gente criar
também. Querendo ou não, às vezes a gente põe coisas que os
outros alunos não conhecem...
Isadora: Mas eu acredito que nem todo mundo vá ler o de todo
mundo...
Francisco: É... Eu li alguns, não todos. Mas, se você quiser
conhecer mais alguém, você poderia ter lido lá. Ver que tem
outras histórias além da aula. (Isadora e Francisco, Anexo 5)
Observa-se que Francisco e Isadora destacaram esta atividade pela oportunidade
de conhecer melhor os colegas de turma. Os estudantes acreditavam ser importante
haver formas de a turma se integrar, para que se sentissem mais à vontade nas atividades
realizadas em sala, e o perfil escrito pelos colegas contribuiu para isto.
João afirmou ter gostado da atividade em que foram solicitados a escrever uma
“Cover letter” - carta de apresentação que acompanha o currículo em candidatura a
vagas de emprego ou programas universitários:
João: Eu acho legal também que ela trouxe material...
aplicável. Por exemplo, ela vai falar de fazer o currículo,
ajudou na carta. Essas coisas, assim, eu acho legal.
Isabela: Ah, sim. Aí você fez e mandou pela plataforma virtual...
João: Uhum...
Isabela: Por que isso foi bom?
João: É bom, porque às vezes a gente tem que fazer, mas não
tem noção de como tem que ser. Aí, só de ter uma pessoa que
vai ler com atenção e falar o que tá bom, o que tá ruim, já... é
bom. (João, Anexo 5)
O estudante apreciou esta atividade por ter oportunizado a prática de um tipo de
texto que ele, possivelmente, precisará escrever ao longo de sua vida. Ele destacou ser
vantajoso ter a correção da professora neste texto, para que ele possa saber o que está
bem escrito e o que deveria ser melhorado.
108
É relevante discutir, ainda, a atividade sobre organização de parágrafos, descrita na
Matriz 5.0. Este conteúdo foi apresentado pelo LD e abordou aspectos da organização
interna de um parágrafo, que seria dividido em “topic sentences” e “supporting
sentences”. A professora iniciou a atividade buscando saber quais foram os tópicos
sobre produção de texto que os estudantes haviam apredendido em suas aulas de
português, durante o Ensino Médio. Com isto, ela tentou estabelecer uma ponte entre os
conhecimentos prévios dos estudantes e aquilo que seria estudado em sala de aula.
Depois disto, ela leu o texto apresentado no LD e, junto com os estudantes, realizou
exercícios que se referiam aos usos de marcadores, como “as a result”, “on the other
hand”, entre outros. Em seguida, a professora explicou, utilizando o texto lido como
exemplo, o que eram “topic and supporting sentences” e fornece instruções para a
realização de um exercício sobre o assunto:
Professora lê enunciado do exercício e
depois explica: Guys, there are eight
sentences here. You have to find
sentences that are topic sentences and
sentences that are supporting sentences.
Ok, I could just tell you "do it", but let's
read the sentences, and then I am going to
give you a few hints. Vou dar umas dicas,
tá bom? So, the first sentence is... (Lê as
frases).
Professora: Não vão marcando ainda, não,
vamos ler todas primeiro. (Continua a ler
as frases).
Professor: So, I'm going to tell you that
are three topic sentences, so there are
three topics that are discussed here. So,
we have topic one, topic two and topic
three. So, you are going to which one is
topic one, what is the topic sentence and
what are the supporting sentences. For
topic two and topic three as well. You can
Professora lê o enunciado do exercício e
explica-o.
Professora vai até a lousa, desenha três
colunas e escreve “1,2,3”.
109
work in pairs, if you like. Go ahead.
Professora deixa estudantes fazerem o
exercício. Alguns fazem em duplas, outros
trabalham individualmente.
Depois de explicar o exercício, a
professora dá alguns minutos para que os
estudantes realizem a tarefa.
(Matriz 5.0, Anexo 5)
Este trecho da transcrição sugere que a instrução da professora foi clara e
detalhada, e que esta não se limitou à leitura do enunciado apresentado no LD. Depois
desta instrução, os estudantes desenvolveram a atividade, em duplas ou individualmente
Em seguida, a professora conduziu a correção do exercício, realizada coletivamente pela
turma, durante a qual a professora anotava as repostas na lousa.
Finalizada a correção do exercício, os estudantes foram instruídos a escreverem
um parágrafo, partindo de notas fornecidas pelo LD, considerando o que havia sido
estudado sobre “topic and supporting sentences” e sobre os marcadores. Esta tarefa,
assim como as anteriores, está descrita na Matriz 5.0. Pela análise da matriz, observa-se,
novamente, que as instruções da professora são precisas, destacando-se o momento em
que foi realizado o feedback desta atividade, após os estudantes terem escrito seus
parágrafos:
Professora: Ok, everyone? Who would
like to read his or her paragraph, please?
Ana: I am not sure... not correct...
Professora: You are not sure if your
paragraph is correct, ok... Ahn, you are
not so sure?
Ana: Yes...
Professora: Who is more confident to read
his or her paragraph? It is serious, guys...
Isadora: I just used the phrases...
Professora: It is ok... Let's see, let's listen
to you! And speak up, ok, Isadora?
Isadora lê o parágrafo que escreveu.
Professora: Okay! Did anybody do it
similar to Isadora?
Professora pede para que alguém leia o
parágrafo que escreveu.
Ana diz não ter certeza de que seu texto
está correto.
Desta forma, professora pede que outra
pessoa, alguém que esteja mais confiante,
leia o parágrafo.
Isadora se manifesta e lê seu parágrafo.
Professora pergunta se os outros
estudantes fizeram um texto parecido com
110
Os estudantes acenam com a cabeça,
concordando.
Professora: You did? Ok, that''s the best.
Isadora ri.
Professora: No, but that is what you are
supposed to do. Anybody has any
questions? Anybody would like to read
his or her paragraph? Go ahead...
João: In the last paragraph, can we use
"also it saves time, as result it saves
money on gas"?
(…)
o de Isadora, e eles concordam.
Professora fica satisfeita com o resultado,
elogiando o trabalho de Isadora. A
estudante ri, mostrando-se contente.
João coloca uma questão sobre a última
frase de seu parágrafo e a professora dá
algumas dicas.
(Matriz 5.0, Anexo 5)
No trecho acima, observa-se que a professora realizou a correção da escrita do
parágrafo como era possível em uma turma com muitos estudantes: ela pediu que um
voluntário lesse seu texto em voz alta; Isadora leu seu parágrafo e, a partir disto,
professora conduziu o feedback para os demais estudantes. Ela explicou que o texto da
Isadora estava muito bom e perguntou se os outros estudantes haviam feito algo similar,
ao que eles responderam afirmativamente. Partindo do texto que foi lido como exemplo,
os estudantes apresentaram dúvidas sobre seus próprios textos e professora forneceu as
explicações necessárias. Este movimento iniciou-se com a pergunta colocada por João,
ao final do trecho apresentado acima e seguiu-se até a finalização da atividade.
6- Vocabulário
Como pode ser observado nos tópicos anteriores, as questões de vocabulário
emergiam durante outras atividades: durante uma atividade de conversação, os
estudantes procuravam uma nova palavra para se expressarem e a professora auxiliava-
os; ao fazerem a leitura de um texto, surgia dúvida sobre o significado de uma
expressão; o jogo da Passive Voice, pensado para praticar gramática, mostrou-se uma
oportunidade para que os estudantes conhecessem novas palavras e expressões.
No entanto, havia também atividades cujo objetivo era apresentar vocabulário. Estas
atividades eram propostas pelo LD e levavam os estudantes a fazerem inferências sobre
os significados das palavras apresentadas e a buscarem definições para elas. No Anexo
111
6, estão descritas as cinco ocorrências deste tipo de atividade. Por meio destas
descrições, é possível observar que as atividades de ampliação de vocabulário foram
seguidas por atividades de listening ou de conversação, nas quais as novas palavras
estudadas entravam em uso.
Na Matriz 6.0, encontra-se transcrita a atividade “Vacation Adjectives”, a qual é
representativa da forma como os exercícios de vocabulário eram realizados em sala de
aula. A análise da transcrição permite identificar os três momentos que compõem uma
atividade de ensino- instrução, desenvolvimento e feedback. A professora iniciou a
atividade lendo, em voz alta, um pequeno texto do livro didático. Antes de passar para o
exercício de vocabulário, perguntou aos estudantes se havia alguma palavra que eles
não haviam entendido. Desta forma, observa-se que, mesmo dentro de uma atividade de
vocabulário, as questões de léxico também emergiam a partir de dúvidas e necessidades
dos estudantes. O trecho a seguir ilustra isto:
Professora: Ok, everyone? So, you have to
try, here. Wait a minute, do you have any
question about vocabulary? Not the words
that are highlighted, ok?
Renata: Tribesman?
Professora: Tribesman? People who
belong to tribes... Ok? Like, did you see
any aborigines in Australia?
Renata: Yeah...
Professoa lê, em voz alta um pequeno
texto do livro didático, onde encontra-se o
vocabulário que será estudado.
Quando Renata pergunta sobre o
significado da palavra “tribesman”, a
professora faz referência a uma
experiência que a estudante havia contado
em aula.
(Matriz 6.0, Anexo 6)
Neste trecho, a professora perguntou se os estudantes tinham questões de
vocabulário, sem considerar as palavras que estavam destacadas no texto, pois estas
seriam trabalhadas no exercício seguinte. Renata perguntou sobre o significado da
palavra “tribesman”, ao que a professora responde referindo-se a uma experiência da
estudante- seu intercâmbio na Austrália. Depois disto, a professora deu as instruções
para a realização do exercício do LD:
Professora: Ok, everyone. Anything else,
you have a question? No? Ok... So, please.
The focus here is on the adjectives, ok?
Professora retoma o exercício.
112
Let's see, exercise number two
Professora: “Match the highlighted
adjectives in the website with this
synonyms and definitions.”(Lendo o
enunciado no livro)
Professora: So, you have to find a word
that means important or memorable, a
word that means very old, a word that
means very interesting. Ok? So, they are
mostly the words that are highlighted, ok?
So, go ahead, I'll let you have a few
minutes.
Ela lê o enunciado do livro e depois
explica o que os estudantes devem fazer.
(Matriz 6.0, Anexo 6)
Este trecho da transcrição mostra a professora chamando a atenção dos
estudantes de volta ao livro, para que ela lesse o enunciado do exercício. Em seguida,
ela explicou o que os estudantes deviam fazer e deu-lhes alguns minutos para que
resolvessem o exercício. Depois do desenvolvimento da atividade pela turma, a
professora iniciou a correção:
Professora: Ok, everyone? Now, which
word means important or memorable?
Estudantes: Unforgettable
Professora: Unforgettable, very good.
Which word means very old?
Estudantes: Ancient.
Professora: Ancient, yes. Very
interesting?
Estudantes: Fascinating
(...)
Professora corrige o exercício,
perguntando as respostas para a turma. Os
estudantes respondem em coro.
Professora faz comentários positivos,
como “very good”, para as respostas
corretas.
(Matriz 6.0, Anexo 6)
Nota-se que a professora conduziu a correção de forma coletiva, pedindo que os
estudantes dessem as respostas do exercício. Conforme eles davam respostas corretas, a
professora incentivava e elogiava-os. Ao final desta correção, a estudante Jéssica
perguntou à professora sobre o significado da palavra “legendary”, buscando saber se
113
esta poderia ter um sentido diferente daquele indicado no livro. A partir da pergunta de
Jéssica, outros estudantes começaram a comentar sobre esta palavra e contaram à
professora que ela é usada por um personagem de uma série de televisão:
Michael: How I met your mother...
Jéssica: There is a TV show...
Professora: How I met your mother?
What?
Jéssica: There is a Tv show that...
Laís: The expression is used, in a TV
show, like awesome.
Jéssica: Yes.
Professora: Oh, as awesome?
Lengendary...?
Laís: Yes,but is the 'jargão'. Jargão do
personagem...
Professora: Oh, ok... He says legendary all
the time?
Estudantes: Yes...
Professora: All the time?
Jéssica: And in the TV show is like
awesome.
Professora: But legenday means incrível,
fantástico também. Então, tá perto de
awesome. Você só diz que uma coisa é
legendary when... it is incredible,
amazing, but it is also very famous for
being good, many people have heard
about it, it's from many years... É o
lendário, no português, é o lendário.
Jéssica: Oh, ok... (sorrindo).
Estudantes comentam que a dúvida de
Jéssica vem do uso da palavra “legendary”
em uma série de TV. Professora tenta
ouvir o que os estudantes estão
comentando, curiosa.
Os estudantes explicam para a professora
sobre a série, contextualizando a pergunta.
A professora se mostra interessada,
prestando atenção no que os estudantes
falam e fazendo mais algumas perguntas
sobre o uso da palavra “legendary” pelo
personagem.
Professora comenta mais sobre o
significado da palavra “legendary”,
levando em conta o que os estudantes
haviam contado.
Jéssica demonstra ter entendido a
explicação.
(Matriz 6.0, Anexo 6)
Neste trecho, destaca-se a curiosidade da professora em saber mais sobre a série
de televisão a que os estudantes se referiam, procurando entender como a palavra
114
“legendary” era utilizada pelo personagem. Ela abriu espaço para que os estudantes
discutissem o assunto entre si e para que explicassem que o personagem usa esta palavra
como um jargão. A partir disto, ela deu outra explicação sobre o significado da palavra
e, Jéssica, que havia apresentado a questão, mostrou-se contente com o desfecho da
discussão.
A disponibilidade da professora para ouvir os estudantes é um ponto que já foi
explicitado em outros tópicos. Quanto à questão do vocabulário, a postura da professora
foi elogiada pelos estudantes quando ela, por exemplo, desconhecia uma palavra e era
transparente sobre isto, como comentam Francisco e Isadora:
Francisco: Uma coisa que eu acho legal que ela faz, assim, é
quando ela não conhece uma palavra...
Isadora: Exatamente!
Francisco: ... ela mostra pra gente que ela não conhece aquela
palavra e ela procura junto com a gente aquela palavra. Então,
a gente percebe que ela não tem aquela relação de poder sobre
a gente, ela se coloca no lugar de aluno, que não sabe tudo, não
precisa saber tudo. Eu acho muito legal quando ela faz isso,
porque aí eu percebo que eu posso ter acesso a ela, porque ela é
igual a mim: ela tem coisas que ela... ela não sabe de tudo,
assim como eu também não sei de tudo.
Isadora: Exatamente...
Francisco: Agora, aquele professor que sabe de tudo e que tem
opinião formada sobre tudo... Você não tem um diálogo.
Isabela: Se você quiser falar... (dirigindo-se a Isadora)
Isadora: É a mesma coisa! Exatamente a mesma coisa...
(Francisco e Isadora, Anexo 6)
Os estudantes comentaram que o fato de a professora admitir que não conhecia
alguma palavra tornava-a mais acessível, pois eles não se sentiam pressionados a adotar
uma postura de que “sabiam de tudo”. Assim, criava-se um ambiente em que as dúvidas
eram bem-vindas, vistas como parte do processo de aprendizagem. Além disto, a
115
pesquisadora pôde observar que, quando surgiam dúvidas de vocabulário que a
professora não podia resolver, ela buscava as respostas, junto aos estudantes, na
internet, utilizando dicionários e outras ferramentas disponíveis online (como
mecanismos de busca ou o Google Tradutor). Esta prática, além de favorecer a
aproximação apontada pelos estudantes, também ensinava sobre as formas como os
estudantes poderiam solucionar suas dúvidas quando estivessem sozinhos.
Conforme foi mencionado no início desta seção, as dúvidas de vocabulário surgiam
também em meio a outras atividades. Sobre a forma como a professora explicava estas
questões, Ana disse:
Isabela: E o que você acha do jeito que ela vai explicando o
vocabulário?
Ana: Eu gosto bastante. Primeiro, porque a aula é toda em
inglês, aí te força a ficar pensando e a entender o que ela tá
falando. Quando ela pega uma palavra e explica, em inglês
mesmo, e a gente consegue entender, eu gosto bastante. Porque
aumenta nosso vocabulário e faz com que a gente ligue uma
coisa na outra, eu gosto bastante. (Ana, Anexo 6)
A estudante afirmou que o fato de a professora buscar explicar o significado das
palavras em inglês, ou seja, não oferecer, logo de início, uma tradução da palavra,
ajuda-a a compreender melhor e a ampliar seu vocabulário. Neste sentido, a
pesquisadora observou que, ao longo do semestre, a professora esforçava-se para
esclarecer as questões de vocabulário dos estudantes, por meio de exemplos,
explicações, busca em dicionários e até mesmo fazendo mímicas ou gestos.
7- Pronúncia
Assim como o vocabulário, a questão da pronúncia era abordada ao longo de todos
os tipos de atividades realizados em sala de aula. Neste caso, quando os estudantes liam
em voz alta ou quando faziam um relato, a professora esperava que eles terminassem de
falar para, então, apresentar correções da pronúncia. O trecho a seguir mostra um
exemplo da prática de pronúncia durante uma atividade de leitura, depois que a
estudante Jéssica havia lido um parágrafo do texto:
Professora: Then, the other word: tourists.
116
Estudantes (em coro): Tourists.
Professora: And, last line: version.
Estudantes (em coro): Version.
Jéssica: Version?
Professora: Version.
Jéssica: Version
Professora: Ok? Very good.
(Jéssica concorda com a cabeça)
Jéssica, que foi quem leu o trecho em voz
alta, confirma a pronúncia da palavra
“version”. Professora repete a pronúncia.
Jéssica repete a palavra mais uma vez e
professora confirma para ela que a
pronúncia está correta.
(Matriz 1.0, Anexo 1)
Neste exemplo, a professora apontava as correções de pronúncia ao final da
leitura de cada parágrafo, que era feita por diferentes estudantes. Observa-se que ela
indicava a linha do texto onde a palavra encontrava-se e pedia que todos os estudantes a
repetissem. A repetição realizada em coro parecia evitar que o estudante que havia lido
ficasse constrangido, pois dava a ideia de que era um ponto a ser melhorado pela turma,
e não a correção de um erro individual. No trecho acima, a estudante que realizara a
leitura demonstrou que ainda tinha dúvida sobre a pronúncia de “version” e a professora
a auxiliou.
Quando havia maior dificuldade na pronúncia de alguma palavra, a professora
buscava esta palavra em um dicionário online e tocava o áudio dela, para que os
estudantes repetissem. O dicionário utilizado pela professora também fornecia a
transcrição fonética das palavras, o que alguns estudantes julgavam ser útil para
melhora da pronúncia. É o caso de Ana, que comentou:
Isabela: E o que você acha desse jeito que ela ensina a
pronúncia, que às vezes ela mostra no dicionário...
Ana: Eu gosto bastante, principalmente porque no dicionário
que ela mostra tem os fonemas. Então, às vezes, de escutar, você
não consegue repetir tão bem, mas, vendo os fonemas, você
consegue fazer certinho. (Ana, Anexo 7)
Mariana também comentou sobre o ensino da pronúncia, afirmando que a professora
fazia-o de uma maneira que a estimulava a se corrigir, a acertar:
117
Ela faz com tanta calma, assim... Mas é super tranquilo. E é
legal que ela pede para a gente repetir, né, até a gente acertar.
Isso também estimula a gente tentar acertar o negócio. Porque
às vezes você fala correndo e a pronúncia sai errada e você
continua falando errado, entendeu? Mas ela é bem atenta,
sabe... Eu gosto do jeito da Lúcia. (Mariana, Anexo 7)
Em relação a correções da pronúncia, a professora evitava interromper os estudantes
para fazê-las, como foi dito anteriormente. Esta prática foi mencionada por Miguel,
durante sua entrevista:
Miguel: Eu prefiro que ela corrija mesmo, do que talvez eu
levar o erro pra frente. Eu acho que eu prefiro que espere eu
terminar... Porque, geralmente, você vai ver que a pessoa tá
errando, mas você vai entender. Então, é melhor você esperar e
depois você fala “ó, aqui você coloca isso”.
Isabela: Mas você acha que ela faz assim?
Miguel: Faz, aham. Ela espera e aí ela fala. Às vezes ela passa
no quadro... Isso é bem legal. Acho que quando lê no texto, ela
fala da palavra: quando vai falar ‘develop’ e aí fala ‘develóp’.
Ela fala várias vezes: “gente, é assim”. Eu falava “saignal” e
ela falava “é ‘signal’”. Eu acho que vai guardando. (Miguel,
Anexo 7)
O estudante apontou, também, para importância de que a correção fosse feita, para
que ele não continuasse pronunciando a palavra de maneira incorreta. Ele afirmou que,
com o auxílio da professora, aprendeu a pronúncia de várias palavras e passou a utilizá-
las melhor em sua fala. A professora Lúcia também comentou sobre a importância de
dar aos estudantes maior consciência sobre a forma como eles falam em inglês:
Não... É muito complicado. Você vê o que eu faço Eu acho que
você cria uma certa consciência, por exemplo, alguém vai falar
"world", todo mundo já... (risos). Eles já ficam ali... (risos)
"worllllld". Eles enrolam primeiro, mas não sai... É difícil sair,
mas eu tenho que ir tentando. Por exemplo, a Carolina, na fala
118
dela, do semestre passado, ela falava "predeitor" e não
"predator". Aí, nesse semestre, quando ela foi falar, ela olhou
para mim e falou "predator!". Mas é por isso que tem que ouvir
tanto, né... (Professora Lúcia, Anexo 7)
Esta fala expressa a opinião da professora sobre a necessidade de criar-se
consciência sobre a pronúncia. A professora fez referência à palavra “world”, da mesma
maneira que Miguel referiu-se à palavra “develop”. Estas foram algumas palavras que
ficaram marcadas na turma, pois eram corrigidas pela professora com bastante
frequência. Assim, tornaram-se até uma piada entre os estudantes da turma e a
professora: quando estas palavras apareciam em um texto, por exemplo, o estudante que
estivesse lendo fazia uma pausa e pronunciava a palavra enfaticamente; os outros
estudantes e a professora riam. A professora também participava da brincadeira, sempre
destacando a pronúncia destas palavras em um tom risonho. No trecho da entrevista
com a professora, que será apresentado a seguir, ela comenta mais sobre a questão da
pronúncia (e também brinca com a palavra ‘world’):
Então, tem que ter essa noção de que falar bem, não é falar
rápido. Você pode ter um sotaque, mas você precisa falar uma
coisa mais próxima, uma pronúncia mais próxima... Pelo menos
do worlllld Engish... (risos). (Professora Lúcia, Anexo 7)
Na fala acima a professora demonstra compreender que os estudantes da língua
inglesa terão sotaque, indicando que isto não é um problema. No entanto, a pronúncia
precisa aproximar-se, ao menos, de um inglês global (World English), em que a
compreensão e a comunicação sejam efetivadas.
Além de as questões de pronúncia aparecerem durante outras atividades, foram
realizadas também duas atividades, apresentadas no LD, com foco em aspectos da
pronúncia: a primeira tratou da pronúncia de verbos no Past Participle, no período em
que os estudantes estavam aprendendo o Present Perfect; a segunda abordou a ligação
entre as palavras dentro de uma frase. Na realização destas atividades, a professora
procurava deixar claro, para os estudantes, que a prática da pronúncia não traria
melhorias apenas para fala, mas também facilitaria a compreensão oral.
119
A atividade de pronúncia dos verbos está transcrita, na íntegra, na Matriz 7.0. A
seguir, destaca-se um momento em que a professora fornece instruções para a realização
da atividade:
(…)
Professora: Let's see if you remember the
past participle of the verbs in exercise 6,
on page 85 and let's check if you know the
pronunciation. So, can you please
complete the chart? Can you please write
down? Write the past participle of these
irregular verbs, ok? And then we are
going to check the pronunciation, ok? Can
you do it now?
Professora dá um tempo para estudantes
completarem o exercício.
O exercício trazia doze verbos, em suas
formas base. O áudio do exercício daria a
forma do particípio. No entanto, antes de
tocar o áudio e trabalhar a pronúncia, a
professora pede que os estudantes tentem
se lembrar das formas do particípio.
(Matriz 7.0, Anexo 7)
Depois que os estudantes haviam completado o exercício no livro didático, antes
de seguir para a escuta do áudio, com o qual seria praticada a pronúncia, a professora
conduziu uma correção dos exercícios. Ela buscou verificar se os estudantes haviam
identificado os particípios corretamente e se a grafia das palavras estava correta:
Professora: Ok, everyone? Are you done?
Yes? Good? So, let's see... You just tell
me, I say, and you tell me the past
participle, ok? I say the base form and you
tell me the past participle. So, find.
Estudantes: Found.
Professora: Do I have to write it down?
Michael: Please?
Professora: Ok, so... (escreve na lousa)
Next one is sell.
Estudantes: Sold.
Professora: Sold. Very good. Then, buy?
Professora retoma a atenção dos
estudantes e pede para que eles falem os
verbos no particípio.
Professora checa se é necessário escrever
os verbos na lousa. Michael indica que
sim e a professora passa anotar todos os
verbos falados.
120
Estudantes: Bought.
Professora: Bought. How do you spell
bought?
Estudantes: B-O-U-G-H-T. (Professora
escreve na lousa conforme estudantes
soletram).
(Matriz 7.0, Anexo 7)
A professora, que, de início, faria a correção oralmente, perguntou à turma se era
necessário escrever as respostas na lousa. Como o estudante Michael indicou que sim, a
professora passou a anotar todos os verbos no quadro, conforme eles eram falados pelos
estudantes. Enquanto os verbos são conferidos, surgem algumas dúvidas de pronúncia,
por exemplo, sobre a diferença entre “thought” e “taught”. A professora procurou
esclarecer esta questão e, depois que o áudio do livro foi escutado, ela ressaltou
novamente a diferença entre estas duas palavras:
Professora coloca o áudio do livro, o qual
mostra a pronúncia dos verbos que eles
haviam falado.
Professora: Please, repeat, ok?
Estudantes repetem junto com o áudio.
Professora: Ok, everyone? The difference
between "thought" and "taught" is that one
is voiced. Um é sonoro, o outro é surdo.
Tá? Então, o sonoro é o que faz esse som
"taught". O outro é surdo "thought". If you
touch your throat, you will notice... Say
'teach".
Professora coloca a mão em sua garganta
e estudantes a imitam,
Estudantes (tocando a garganta): Teach.
Professora: Taught.
Estudantes: Taught.
Professora: Now, thought.
Depois de terminarem de checar todos os
verbos no particípio, a professora fala que
vão checar a pronúncia (foco do
exercício). E coloca o áudio do livro.
Professora pede para estudantes repetirem
os verbos conforme eles forem ditos no
áudio.
Professora retoma a explicação da
pronúncia de “taught” e “thought”, dando
mais detalhes.
Professora fala para estudantes colocarem
a mão sobre a garganta, para sentirem a
diferença ao falarem os dois verbos.
121
Estudantes: Thought.
Professora: Which one makes the... the
movement is bigger?
Estudantes: Teach.
Professora: Teach. You feel it stronger,
right? Teach, taught. And thought... Your
chords vibrate more when you say teach
and taught, ok? É surdo e sonoro. Good?
Ainda tocando a garganta, os estudantes
repetem os verbos.
Professora pergunta qual foi o som que
fez a garganta se movimentar mais e
estudantes respondem que foi “teach”.
Com isso, a professora conclui sua
explicação sobre diferença dos sons de
“taught” e “thought”.
(Matriz 7.0, Anexo 7)
Ao concluírem o exercício proposto pelo LD, a professora retomou a explicação
sobre a pronúncia das palavras “thought” e “taught”, mostrando aos estudantes que a
diferença pode ser sentida na vibração da garganta, ao se falarem as duas palavras.
As descrições das atividades de pronúncia indicam, mais uma vez, a conexão entre
as demais atividades: a pronúncia era praticada durante atividades de leitura, de
conversação, de gramática, entre outras; da mesma maneira, ao se realizar uma
atividade de pronúncia, outras questões emergiam como, a grafia das palavras, ou
ainda, pontos da gramática, como o particípio dos verbos.
8- Workshop “Saving Indigenous Languages in Western Amazonia”
Esta atividade, diferentemente das demais, ocorreu de maneira pontual, sendo que
consistiu em uma palestra sobre línguas indígenas brasileiras, proferida por uma
professora convidada. A singularidade desta atividade também manifesta-se na forma
como ela foi descrita nesta pesquisa (Anexo 8): no lugar de transcrição da aula,
encontram-se exemplos das produções de textos feitas pelos estudantes, nas quais eles
não só relatam a palestra, mas também descrevem seus sentimentos e opiniões a respeito
desta atividade.
A professora Lúcia organizou esta atividade com intuito de enriquecer a discussão,
disparada pelo LD, sobre línguas que estavam desaparecendo. Portanto, convidou a
professora Tereza Maher (Teca), que é pesquisadora do assunto, para contar aos
estudantes sobre suas experiências em projetos de revitalização de línguas indígenas no
122
Acre. A professora Teca conduziu a palestra inteiramente em inglês e também preparou
os materiais utilizados na apresentação neste idioma.
Como continuidade da palestra, a professora Lúcia preparou uma tarefa em que os
estudantes deveriam produzir um texto, no qual seriam abordados alguns tópicos, como:
o perfil da palestrante; o conteúdo da apresentação; informação que o estudante achara
mais surpreendente; como foi a experiência de assistir a uma palestra em inglês. Desta
forma, como disse a professora Lúcia, o que seria apenas uma palestra foi transformado
em um workshop:
Lúcia: E assim, um jeito legal de ter transformado uma mera
palestra num workshop foi eles terem escrito o que eles
escreveram depois, eles terem pensado... (Professora Lúcia,
Anexo 8)
Em consonância com esta fala da professora Lúcia, entende-se que o fato de os
estudantes terem realizado produções sobre a palestra passou a caracterizar “o que seria
uma mera palestra” em uma atividade de ensino. Isto porque três elementos somaram-se
à palestra: as instruções da professora para produção do texto; o desenvolvimento da
atividade pelos estudantes, concretizado nas produções textuais; o retorno da professora,
que se deu por meio da correção dos textos e de feedbacks transmitidos oralmente, em
sala de aula. Por meio da análise dos textos, reproduzidos aqui da forma como foram
corrigidos pela professora Lúcia, é possível obter um relato da palestra, o que
contextualiza a atividade:
The workshop “’Saving’ Indigenous Languages in Western
Amazonia” was conducted by Professor Tereza Machado Maher
in on October 26th, 2017. The Professor talked about her
experience working with the Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-
Acre), a non-profit organization that works to “save” indigenous
languages in occidental Amazonia. (Trecho de texto escrito por
Júlia, Anexo 8)
Teca talked about the mith myth of Brazil as a monolingual
country. She compared the number of indigenous peoples and
indigenous languages in the country at the beginning of the
colonial era and nowadays. She talked about Nheengatu, the
123
main Brazilian language before during colonization, and also
about Marquis de Pompal's Language Policy. (Trecho de texto
escrito por Giovana, Anexo 8)
However, since the Constitution of 1988 some revitalization’s
project exists revitalization projects have existed to reverse this
situation, but not all teachers were proficients proficient enough
in their traditional languages. So, it has been necessary to use
some compensatory strategies. (Trecho de texto escrito por
Joyce, Anexo 8)
A partir destes excertos, pode-se visualizar melhor como ocorreu a palestra e quais
assuntos foram discutidos. O documento “Instruções para produção escrita do
workshop”, encontrado no Anexo 8, mostra as instruções dadas pela professora para a
escrita do texto. Observa-se que as instruções foram claras e bem detalhadas, sendo que
a professora forneceu dicas para facilitar o trabalho dos estudantes. Além de entregar
este documento aos estudantes e postá-lo na plataforma virtual, ela também explicou,
em sala de aula, o que era esperado que eles fizessem.
Voltando o olhar aos textos escritos pelos estudantes, tem-se acesso ao feedback da
professora: ela apontou correções para melhoria do texto, o que pode ser observado nos
excertos anteriores. Além disto, a professora também fez comentários e elogios:
Very, very good, Laís! Congratulations! Your sentences are
very well organized. (Comentário feito pela professora no texto
de Laís, Anexo 8)
Os textos dão ainda, principalmente em seus parágrafos finais, indícios sobre o que
os estudantes sentiram com a experiência do workshop, tanto em relação ao fato de este
ter sido ministrado inteiramente em inglês, quanto em relação ao conteúdo da palestra:
The experience of attending an English workshop was
challenging. However, I was able to understand the whole
conversation lecture, the video and the slides. It was rewarding!
(Trecho de texto escrito por Giovana, Anexo 8)
124
The workshop was very important for me because I have
realized that I can keep up with an lecture in English (…)
(Trecho de texto escrito por Laís, Anexo 8)
It wasn’t difficult to attend understand the workshop in
English, because the context, the images and slides helped to
understand the speech when I didn’t know some word. (Trecho
de texto escrito por Júlia, Anexo 8)
Attending a workshop in English is an amazing experience,
because the use of English in this situation becomes natural and
interesting, and it is not so difficult because the context helps us
to understand and explore the language. (Trecho de texto escrito
por Joyce, Anexo 8)
Os trechos acima mostram que os/as estudantes puderam refletir sobre seus
processos de aprendizagem. Com isto, sentiram-se contentes ao terem se dado conta de
que são capazes de entender uma palestra em inglês. Já os comentários em relação ao
conteúdo da palestra, indicam que esta atividade proporcionou a reflexão sobre a cultura
brasileira e questões de língua e identidade:
(…) the workshop could show me a very different perspective
from of Brazil. Teca has showed me a pluricultural and
plurinational Brazil. Besides that, we could realized how the
language is an important instrument for a people's identity, self
esteem and fight for their own rights. It was remarkable!
(Trecho de texto escrito por Laís, Anexo 8)
I really enjoyed to had participated participating in these this
workshop, because it gave to me much more knowledge about
this theme. From now on I feel that I have more basis
appropriate knowledge to discuss policies of inclusion of
indigenous people, including policies in universities. (Trecho de
texto escrito por Maria, Anexo 8)
125
I liked the workshop very much because I had the
opportunity to learn more about the culture of my own country.
(Trecho de texto escrito por Júlia, Anexo 8)
The workshop was very interesting. It made me realize how
important it is to ‘save’ a language and made me notice it’s just
a battle of a much larger war. Keeping a language is part of the
process of keeping a culture. (Trecho de texto escrito por
Giovana, Anexo 8)
Com estes excertos, destaca-se que esta atividade, por meio da discussão sobre
línguas indígenas brasileiras, deu aos estudantes a oportunidade para refletirem sobre as
relações entre cultura, língua e identidade, além de ter-lhes possibilitado mais
conhecimentos sobre seu próprio país.
9- Filmes, vídeos e músicas
A professora Lúcia apresentava, em sala de aula, muitas recomendações de livros,
filmes e músicas, o que logo chamou a atenção da pesquisadora, especialmente por estas
recomendações estarem, frequentemente, associadas aos temas e conteúdos estudados
em aula. Além disto, a professora também utilizava este tipo de material em sala de
aula, em atividades criadas por ela, ou ainda para introduzir um novo tema, como pode
ser visto na atividade de leitura “Twenty- First Century Cowboys”.
As entrevistas com os estudantes mostram que estas recomendações surtiram efeito,
pois muitos entrevistados relataram terem visto os filmes, ou ouvido as músicas,
indicados. Os comentários dos estudantes também indicam que eles veem o uso destes
materiais- filmes, vídeos, músicas- como característica da prática pedagógica da
professora Lúcia:
Ela conhece muita coisa sobre tudo! Ela me motivou a estudar
outras coisas que não só o inglês. Teve uma época que ela
estava muito sobre obras de arte em museus, daí eu falei uma
besteira muito grande. Em termos, assim, falar que um artista
era do pontilhismo e o artista era cubista! Daí começou uma
discussão sobre arte, isso em inglês, né. Daí eu fui estudar arte!
126
Então, isso é muito legal. Ela sabe de assuntos gerais, ela sabe
um pouco de cada coisa. Acho que até para conseguir conversar
com os alunos, porque são de cursos muito variados, mas ela
sempre sabe alguma coisa sobre os alunos. Até assim, no meu
caso, que sou professora, ela me mandou no Instagram vários
vídeos de aula de professoras em inglês, ensinando coisas na
Educação Infantil, em inglês! Daí ela conversou comigo em
inglês no Instagram, também. Daí tem assunto para conversar!
Não vira uma conversa em inglês, porque, tipo, “ah, eu tenho
que falar inglês agora, porque estou na aula de inglês”.
(Aurora, Anexo 9)
Aurora comentou que a professora, ao falar sobre temas como arte, inspirou-a a
estudar outras questões e áreas além do inglês. A estudante também avaliou que a
professora, possivelmente, sabia sobre assuntos diversos para poder manter diálogo com
estudantes que frequentam diferentes cursos da universidade. Ela exemplificou este fato
com o episódio em que a professora Lúcia recomendou-lhe vídeos sobre Educação
Infantil, área de atuação profissional da estudante.
Os estudantes também interpretaram o fato de Lúcia buscar e utilizar materiais
extras em sala de aula como preocupação da professora em oferecer o melhor ensino
possível, conforme observa-se na fala de Michael:
Michael: Eu sinto que ela, ela gosta muito do que ela faz. E ela
vem todo dia a fim de realmente ajudar a gente. A desenvolver a
linguagem... Eu não sinto nela uma coisa, tipo, um professor
que vem aqui porque é obrigado. Ela vem, porque ela gosta. Ela
demonstra isso, em cada atitude, em cada atividade. Eu gosto
muito.
Isabela: Por que você acha que ela demonstra isso?
Michael: Porque ela sempre tenta trazer coisas além do que a
gente tem ali, à nossa disposição, que é, por exemplo, o livro.
Ela sempre traz coisas novas, coisas que ela se preocupa que
sejam adequadas para a gente. Coisas que a gente vá querer
falar sobre! Se ela não trouxesse isso, na minha opinião, traria
127
uma ideia, mais de... Sei lá, tipo, "ah, vou seguir o livro, é isso
que vocês têm que saber e tô nem aí se o livro, se vocês vão usar
o que tá aqui, da maneira como tá aqui, ou não". E isso ela
passa uma ideia totalmente diferente. Ela passa uma ideia de
que o que tá no livro é importante, mas nem sempre o que tá no
livro é o que vocês precisam saber agora ou é o que vocês vão
usar, dessa forma. Então, ela tenta manejar... E sempre
demonstrando essa proatividade em querer ajudar a gente em
tentar absorver da melhor maneira, o conteúdo. Isso é legal.
(Michael, Anexo 9)
Para Michael, o uso destes materiais extras também seria um indicativo de que
Lúcia gosta de ser professora e de dar aulas, pois ela não se limitava ao que já estava
pronto (no caso, o livro didático), mas sempre buscava ir além, trazendo conteúdos que
julgava serem relevantes para seus estudantes.
No Anexo 9, estão descritas todas as atividades que envolveram músicas, filmes
ou vídeos, bem como encontra-se a transcrição da atividade realizada com o filme
“Como eu era antes de você”. Esta atividade foi iniciada com a exibição de uma
entrevista com Jojo Moyes, autora do livro que inspirou o filme, na qual ela descreve os
personagens. A professora Lúcia, em sua entrevista, comentou sobre esta atividade:
O trecho lá... a entrevista da Jojo Moyers, o trecho do filme
estavam simplesmente mostrando "olha, aqui ó, tá vendo? Ó, a
Jojo Moyers está descrevendo as pessoas exatamente desse
jeito, olha o que eles estão fazendo". (...)
Então, eu acho que você rompe essa barreira que divide sala de
aula do resto do mundo e, se isso não for feito numa aula de
língua, de linguagem, onde você vai fazer isso? Não é? Eu
sempre acreditei nisso. (Professora Lúcia, Anexo 9)
A professora demonstrou que utilizar este tipo de material é uma forma de trazer
o mundo para dentro da sala de aula, pois acredita que não se devem criar duas esferas
dissociadas: uma escolar e acadêmica, outra do mundo real, da vida que se vive fora da
sala de aula. Neste sentido, a entrevista com Jojo Moyes mostrou aos estudantes como
alguém descreve pessoas e personagens, de modo que eles poderiam identificar
128
estruturas e palavras que já haviam aprendido em um contexto real. Joyce afirmou ter
gostado desta atividade:
Joyce: Quando foi, por exemplo, acho que do Friends, que ela
mostrou, eu gostei bastante. Quando foi do filme, como é que
é...?
Isabela: "Como eu era antes de você"?
Joyce: Isso! "Como eu era antes de você"... Eu também gostei
bastante. Mas teve outros que eu achei, assim...
Isabela: Esse você gostou mais por quê?
Joyce: Porque tem mais a ver com o que eu conheço, faz parte
da minha experiência, do dia a dia. Então... Você tem meio que
referência, sabe? (Joyce, Anexo 9)
A estudante apontou que o uso de um filme que ela conhecia possibilitou-lhe
gostar da atividade, pois isto permitiu que as tarefas da aula se aproximem de sua
experiência. No entanto, a estudante Maria disse não gostar das atividades que
envolviam filmes:
Isabela: E o que você acha dos materiais extras, essas coisas
que ela traz a mais?
Maria: Bons! Sim... Tipo, a parte de... Só tem algumas folhas
que eu não gosto, que é de filme, eu acho...
Isabela: Ah é? Por que?
Maria: Ah, não me acrescenta nada, assim...
Isabela: Você prefere a parte de gramática mesmo?
Maria: Ah, é... Não sei, não vejo muito valor, assim. Só não
acho útil, para mim não tem tanto sentido. Não sei o que que é...
Isabela: Porque não é o seu foco...?
Maria: É, também acho que é isso. (Maria, Anexo 9)
129
Maria era uma estudante cujo objetivo, ao buscar o curso de inglês no CL, era
aprofundar o estudo de gramática. Assim, ela afirmava gostar dos exercícios e tarefas
extras, disponibilizados pela professora, sobre gramática, mas não gosta das atividades
com filme. Os demais estudantes relataram apreciar a prática da professora de trazer
filmes, músicas e vídeos. Nesta direção, destaca-se a seguir a fala de Diego, que, ao
caracterizar a professora e sua prática pedagógica, elogiou o uso destes materiais
diversificados em sala de aula:
Diego: Ela é mais dinâmica, eu gosto do jeito mais dinâmico
que ela leva a aula. E também... É, porque ela não fica seguindo
a aula só com o livro, ela também traz coisas diferentes,
culturais, e que eu adoro! Bom, dá pra aprender muita coisa na
aula dela, não somente de inglês, outras coisas também, que ela
traz de novidade.
Isabela: Você pode me dar um exemplo?
Diego: Por exemplo, ela já mostrou filmes pra gente- cenas,
coisas assim- que eu gostei e depois fui ver por fora; já mostrou
músicas, que depois eu baixei no celular pra ficar ouvindo,
porque eu gostei.
Isabela: Legal. Então, você gosta dessas coisas além do livro.
Diego: Bom, é... Porque quando você tá aprendendo inglês, é
legal você ver filmes em inglês pra tornar seu vocabulário mais
rico. Ela ajuda, ela incentiva isso de uma forma legal, sabe.
(Diego, Anexo 9)
A fala de Diego revela que este traço da prática da professora Lúcia, além de
dinamizar as aulas e torná-las mais interessantes, também incentiva o contato do
estudante com a língua inglesa fora da sala de aula. O estudante relatou que procurava
assistir filmes cujos trechos foram exibidos em aula e também escutava músicas que a
professora havia apresentado, hábito que ele mesmo reconheceu favorecer seu
desenvolvimento na língua inglesa. Mariana também comentou sobre isto:
E também dos filmes, das músicas que ela traz, porque ela traz
muita coisa que ela gosta, né? E é legal, porque, quando ela vai
130
apresentar, ela apresenta como ela vê aquilo e isso... inspira! É
engraçado... Eu gosto das coisas que ela traz! (Mariana, Anexo
9)
De forma similar, Miguel comentou que foi inspirado pelas recomendações e
atividades da professora Lúcia:
Miguel: Acho que ela tenta trazer o melhor, assim, não se
acomoda só no livro. E ela dar isso pra gente, acho que a gente
vai olhar mais vezes... Ela gosta de trazer coisas que ela é
apaixonada também. Tipo um filme que ela gosta, ela fala de um
livro, ela mostra coisa na internet... É, isso eu acho importante,
por ser a paixão dela. Então, ela passa aquilo pra gente, a gente
vai gostar daquilo e vai se interessar mais pelo inglês. Eu acho
que é excelente também, isso...
Isabela: Você acha que funciona?
Miguel: Acho que funciona. Principalmente, por ser uma coisa
que ela realmente é apaixonada. Então, ela vai mostrar pra
gente e a gente vai gostar. Acho que funciona, acho que é uma
das melhores... Acho que é uma boa didática. Igual, quando eu
vou passar ciência pro pessoal, vou falar de física com alguém,
tem coisa que eu sei que todo mundo vai gostar. Eu acho que
ela faz isso, sabe. Ela sabe que todo mundo vai gostar, então ela
passa aquilo.
Isabela: É, quando você foi falar do Tesla, você estava bem
apaixonado.
Miguel: É, isso! Tem outras coisas também. (...) Mas outra
coisa: se eu for falar de física, eu vou falar, talvez, de universo,
de galáxias, de estrela. Todo mundo que ouvir isso vai achar
interessante, que é uma paixão minha. Eu falaria disso, pras
pessoas irem atrás disso. Então, eu acho que ela faz esse tipo de
coisa: passa um filme e o filme é até simples de você entender a
linguagem, mas que ela gosta daquilo e acha que a gente vai se
131
interessar. E a gente se interessa mesmo e vai ver o filme que
ela falou, ou livro também. Tiveram alguns livros que ela falou,
que eu me interessei e fui dar uma olhada. Ainda não peguei,
mas gostaria de ler. (Miguel, Anexo 9)
Miguel destacou o fato de a professora Lúcia mostrar aos estudantes filmes,
livros e músicas dos quais ela gostava, que eram suas paixões. O estudante afirmou que,
ao compartilhar aquilo que ela gostava, a professora estimulava os estudantes a
gostarem do filme, música ou livro apresentado e, consequentemente, a se interessarem
mais pelo inglês.
A professora Lúcia, por sua vez, explicou que esta prática foi sendo elaborada ao
longo de sua experiência como professora e também de sua experiência pessoal.
Exemplo disto é a resposta da professora, ao ser indagada pela a pesquisadora sobre o
fato de saber sobre assuntos de diversas áreas do conhecimento:
Então, por isso, por isso que eu tenho essa... E, ô Isabela! Além
disso, eu tenho 64 anos, né! Eu já andei muito na vida, né
(risos)! Então, você vai adquirindo... Eu leio jornal, eu assinei o
New York Times... Agora não tô assinando, mas assinei por
muitos anos e agora vou voltar a assinar. Então, você vê: assino
Technology Review, que tem a tecnologia de ponta do MIT;
assino o New York Times; leio outras revistas. (Professora
Lúcia, Anexo 9)
Além disto, a professora afirmou que, quando assistia a um filme ou lia uma
reportagem, acabava sempre pensando em suas aulas, nas possibilidades de utilizar
aqueles materiais com seus estudantes:
Isabela: Você gosta bastante de cinema, né?
Lúcia: Eu gosto! Você não gosta? (risos)
Isabela: Mas você lembra tanto dos filmes!
Lúcia: É que eu acho que eu sempre assisto com cabeça de
professora. Pense que eu tô ensinando há muitos anos.
(Professora Lúcia, Anexo 9)
132
Por fim, ressalta-se que a professora enfatizou, diversas vezes, que o uso destes
materiais é necessário para que se faça um movimento de aproximar o mundo da sala de
aula, é uma maneira de romper barreiras colocadas pelo LD ou pelo ambiente escolar.
Ela afirmou ainda que este movimento é imprescindível em uma aula de língua:
Lúcia: Isabela, mas língua é cultura. Que cultura que eu vou
trazer para meus alunos como referência? (...)
Mas é essa passagem que precisa ser feita, eu acho. Entendeu?
Essa passagem, é... Isso é trazer a cultura. (...)
Então, você não pode dissociar isso da sala de aula, porque
senão é como se a sala de aula fosse... é, uma esfera... a esfera
escolar, acadêmica, fosse completamente dissociada das outras!
Não é, né, Isabela. Você tá ali para voltar pro mundo, não é pra
viver ali! Não é? (Professora Lúcia, Anexo 9)
10- Avaliação
A escolha dos procedimentos de avaliação é um ponto delicado quando se pensa no
planejamento das condições de ensino e, por esta razão, os procedimentos adotados pela
professora Lúcia serão reportados neste capítulo. Foram realizadas duas provas escritas
e uma avaliação oral, na forma de apresentações individuais dos estudantes sobre tema
escolhido por eles. No Anexo 10, encontram-se cópias das duas avaliações escritas
realizadas durante o semestre, além do quadro com os tópicos avaliados na apresentação
oral.
As datas para a realização das provas escritas foram acordadas no início de semestre
e, ao se aproximar a data, a professora detalhava quais seriam os conteúdos cobrados na
avaliação. Os estudantes afirmaram que acharam a prova coerente em relação ao que foi
estudado em aula:
Isabela: O que você achou da avaliação?
João: Achei bem coerente. Ah, eu fui bem. E, não tem o que
falar, achei que tava bem coerente.
Isabela: E o que você achou da avaliação? (João, Anexo 10)
133
Rodrigo: Ah, achei bem coerente até. Ela deu uma prova que
ela passou na sala e, em relação à prova mesmo, que a gente fez
escrita, achei coerente. (Rodrigo, Anexo 10)
Isabela: Entendi. E o que você achou da prova?
Jéssica: Ah, eu achei bem coerente com o conteúdo que ela tava
passando. Eu achei longa, mas, de certa forma, é bom, né.
Porque, se você faz um errinho aqui, você tem o resto da prova
para se recuperar... (Jéssica, Anexo 10)
O comentário de Jéssica sinalizou, ainda, o fato de que as provas foram longas, o
que também foi destacado por outros estudantes:
Giovana: Da prova? Eu achei ela bem grande! Eu olhei aquele
livrinho, eu falei "Meu Deus do céu!". Mas não foi nada além
do que ela já tinha falado. É que realmente foi bem trabalhosa.
(Giovana, Anexo 10)
A professora, em sua entrevista, relembrou as queixas dos estudantes sobre a
extensão da prova:
Lúcia: Você viu que eles reclamaram? Mas depois eles foram
bem.
Isabela: Reclamaram do tempo, né, parece que foi isso...
Lúcia: Foi, foi isso, que duas horas foram pouco, não foi tempo
suficiente. Mas deu, deu... (Professora Lúcia, Anexo 10)
No entanto, a professora considerou que os estudantes, apesar de terem se
queixado, tiveram bons resultados na prova. A professora também comentou sobre suas
concepções a respeito de avaliação:
Lúcia: Olha, se você olhar para a minha prova, você vai ver que
ela é exatamente isso que eu penso do ensino. Né... Eu podia
dar uma prova de gramática. Mas não é isso que eu faço! A
gramática, ela faz parte. Então, se você olhar, a tarefa de
leitura, foi... as coisas não estão fora de contexto, é isso que eu
quero te dizer. Vou dizer que hoje eu consigo fazer isso melhor
134
do que eu já fiz no passado, mas hoje também tô mais tranquila,
porque o livro é assim.
(...)
Lúcia: Avaliação! Desculpa, Isabela! Então, é por isso a
avaliação, eu procuro, eu tento contextualizar. Mais ou menos o
que eu fiz na aula, eu tento fazer na prova também. Se você
olhar, as tarefas da prova não são muito diferentes das tarefas
que a gente fez em aula. (Professora Lúcia, Anexo 10)
Nos trechos acima, a professora indicou que procurava passar tarefas na prova
que fossem similares às que havia realizado em aula. Esta afirmação foi também
validada pelos comentários dos estudantes, que reconheceram que as avaliações escritas
foram coerentes.
Carolina, que foi entrevistada logo após ter realizado a prova, destacou que
apreciava o modelo de prova proposto pela professora Lúcia, por dar liberdade aos
estudantes de criarem frases, além de englobar todos os conteúdos estudados:
Isabela: Como foi a prova? (A estudante havia acabado de fazer
a prova)
Carolina: Eu achei meio extensa, assim, né... Mas eu gostei do
que ela pediu, Era o esperado, assim, ela sempre cobra esse
mesmo modelo de prova e eu acho muito bom, porque engloba
tudo, né?... Desde o vídeo, gramática, tudo... E a gente fica bem
à vontade pra montar frase, então não fica restrito a um
vocabulário.
Isabela: Ah é, não é seguindo um modelinho, né?
Carolina: É, você pode montar à vontade, desde que você siga...
a gramática, né, de acordo com o que se pede. (Carolina, Anexo
10)
Na mesma direção, Isadora e Ana mencionaram a diferença entre a prova da
professora Lúcia com as provas de inglês que estavam acostumadas a fazer, as quais se
pautavam em exercícios mais fechados, do tipo de completar lacunas:
135
Ana: Mas acho, não sei, eu gostei da prova. Apesar de ela ter
sido longa, ela fez bem mais você pensar e tudo mais...
Isadora: Ah, sim. Com certeza!
Ana: ... do que só aquela coisa mecânica "ah, complete aqui".
Isadora: É, toda prova é isso, né? "Ah, bota aqui". Eu gostei
dos temas e da correção dela. Gostei bastante.
(...)
Isadora: E eu gostei, porque, nessa prova, em momento algum
me passou "Present Perfect" na cabeça. Porque a gente tá
acostumada '"ah, complete com Present Perfect ou Simple
Past"... Em momento algum perguntou... Aí, aquela de formular
questões, eu agarrei ali, mas saiu. Mas não usei o Present
Perfect... Eu achei interessante, porque faz realmente a gente
pensar "poxa, poderia ter usado" "olha, aí que tava a situação
para usar". (Ana e Isadora, Anexo 10)
Estas percepções dos estudantes estão em consonância com a forma como a
professora Lúcia relatou compreender avaliação:
Lúcia: Avaliação de sala de aula significa saber em que medida
o conteúdo- que a gente tem que falar em conteúdo, não
adianta, se é avaliação de sala de aula- o conteúdo
programático que a gente trabalhou em sala pode ser usado em
contextos muito parecidos aos quais eles foram expostos, não
exatamente os mesmos, mas... Tipo assim, você vai conseguir
transferir esse conhecimento? (Professora Lúcia, Anexo 10)
Neste trecho, a professora indicou que, em suas avaliações, procurava analisar se
os estudantes seriam capazes de transferir o conhecimento estudado em sala de aula.
Para isto, a prova pautava-se em situações próximas àquelas vistas em aula, mas não
eram idênticas, o que permitiu que os estudantes criassem suas próprias frases, sem
restringi-los a um modelo fixo.
136
Outro ponto realçado pelos estudantes foi a agilidade com que a professora
corrigiu e fez a devolutiva das provas, o que eles consideraram positivo. Ao fazer a
devolutiva das provas, a professora Lúcia leu todas as questões e explicou o que era
esperado em cada uma delas, apontando alguns erros recorrentes e tirando dúvidas dos
estudantes. Este processo é bem ilustrado com a fala de Joyce:
Isabela: E a forma de ela corrigir, dar o feedback?
Joyce: Ah, ela foi super rápida para corrigir, né. Então, isso foi
bom. Eu achei que ela foi bem coerente, assim, e que ela
considerou bastante coisa. Isso foi muito bom. Embora ela
tenha dado uma prova bastante extensa, eu acho que ela teve
consciência disso e ela... acabou relevando mais algumas
coisas, sabe? Não que ela tenha facilitado, mas ela considerou,
sabe?
Isabela: Aham. E o que você achou de ela ter feito essa
correção na sala?
Joyce: Ah, tá. Isso foi legal. No começo, eu fiquei um pouco com
vergonha, porque ela comentou os erros. Só que... Eu até fiquei
um pouco intimidada, pensei "ai, meu Deus. Ela vai falar algum
erro besta meu". Só que, eu não sei... Eu sinto que o pessoal na
sala é muito confortável, em errar, sabe? Até tinha uma menina
que tinha falado para mim que é bastante tímida e que às vezes
ela não tem coragem de falar nos lugares e que aqui ela não
sentia isso. E eu acho isso bem legal, assim. Parece que ela
deixa bastante gente confortável, sabe? Quando ela apontou um
erro, alguma coisa, não era no sentido de ridicularizar, nem
nada. Era uma coisa que alguém mais podia cometer, só que de
um jeito natural, sabe? Então eu achei isso legal. (Joyce, Anexo
10)
A fala de Joyce indica que a professora fez a devolutiva da prova em sala de
forma confortável, sem constranger os estudantes. Ela comentou o fato de, em termos de
pontuação dos exercícios, a professora não se ater aos erros cometidos, mas considerar
137
também o que o estudante acertou. Esta característica da correção da professora foi
destacada por outras estudantes, como Giovana:
Isabela: Mas você gostou da correção da prova?
Giovana: Gostei, gostei. Teve uma do... Acho que ela foi bem
justa, sabe? Teve várias que... E foi super boazinha também!
Teve várias questões, por exemplo, que... Tinha uma questão lá
que era pra elaborar questões e eu não tinha prestado atenção!
Eu não li, eu não sei o que aconteceu. Acho que eu não li o
enunciado e eu fiz afirmações. E ela ainda deu, tipo, um ponto
para cada, sabe? Tudo bem que valia três, mas qualquer outro
professor poderia dar zero, porque não foi isso que ele pediu.
Eu achei ótimo. (Giovana, Anexo 10)
Giovana, assim como Joyce, comentou sobre a prática da professora de pontuar,
mesmo que parcialmente, aquilo que o estudante fez, mesmo que a resolução do
exercício contenha erros. A conversa com Ana e Isadora também apontou para esta
direção:
Isadora: E qualquer coisinha, se você esquecesse de botar um
's' no final, era zero. Sabe, ele desconsiderava! Ela, pelo menos
fazendo assim, não sei, motiva o aluno! "Ah, eu vou me deixar
um pouquinho mais! Poxa! Vou prestar atenção"... Sabe?
Isabela: Ah, que ela dá meio certo, né...
Ana: Porque se você pegar, tipo... Ela pediu um exercício para
você fazer orações com ''if", as First Conditional... Se você
acertou o verbo, acertou o "if", ela já dá certo. Agora, se você
errou uma coisinha, ela não vai... porque o que ela tava pedindo
era o tipo de oração. (Ana e Isadora, Anexo 10)
Neste excerto, Isadora relatou que seu antigo professor de inglês considerava
uma questão inteiramente errada caso o estudante se esquecesse, por exemplo, de um ‘s’
no final de uma palavra. Ela, então, contrastou a prática da professora Lúcia, que
utilizava “meio certo” em casos como este, o que, na opinião da estudante, motivaria
mais os alunos a tentarem fazer os exercícios. Ana exemplificou a forma de correção
138
praticada pela professora com exercício sobre First Conditional: a estudante relatou que
a professora considerou certo o exercício quando as orações estavam corretas, sem
descontar pontos devido a outros erros.
Como já foi dito, o feedback das provas envolveu também correção dos
exercícios em sala. Sobre isto Miguel comentou:
Miguel: Ah, eu achei... achei perfeita. Foi bem feita a correção.
Porque eu errei e pensei “ah, isso aqui não parece que tá
errado”, aí ela explicou e eu entendi. A questão do ‘how many
years’, que eu usei, e é ‘how long’, então eu já fui olhar e vi que
é um erro comum, que aparece muita gente perguntando, no
Google, o que é melhor usar. Talvez também, na pergunta,
esquecer de colocar o verbo antes do sujeito. Acho que isso é
um erro comum, que eu vi que fiz de novo e, toda vez, se eu não
presto atenção, eu acabo fazendo. (Miguel, Anexo 10)
A fala de Miguel indica que, sem a correção e explicação dos exercícios feitos
em sala de aula, muitas dúvidas e erros permaneceriam sem solução. O estudante
demonstrou ter tomado maior consciência sobre erros que cometia com frequência, após
a correção feita pela professora.
Michael, por sua vez, declarou apreciar as formas de avaliação propostas pela
professora Lúcia, dando destaque ao uso de instrumentos além da prova escrita:
Isabela: E o que você acha da aula?
Michael: Ah, eu gosto bastante. Eu gosto... dos métodos
avaliativos dela principalmente, porque ela não leva em
consideração só a prova, ela leva em consideração outros tipos
de trabalhos, outros tipos de metodologia. E eu gosto da
transparência dela no que ela cobra da gente. Ela fala
exatamente o que ela vai cobrar e, depois que ela corrige, ela
mostra pra gente o que ela esperava da gente. (Michael, Anexo
10)
139
Michael citou a transparência da professora, em relação à avaliação, como fator
positivo e, ao ser questionado sobre isto, o estudante referiu-se à apresentação oral para
exemplificar este ponto:
Michael: Por exemplo, na questão dos seminários, ela dá a
liberdade para a gente escolher o que a gente quer apresentar e
ela fala "Independente do que você escolher, eu vou cobrar isso,
isso e isso". E depois que ela dá a nota, ela mostra gente no
final e fala "Eu dei tal nota aqui na questão de...", por exemplo,
fluência... "porque você parou, você pensou, você trocou
algumas palavras". Ou em questão da escolha do modo como
você apresenta os slides, ela também diz o porquê que ela tirou
nota. Isso eu gosto bastante, não é só a nota pela nota; é a nota
mostrando o que ela esperaria. Isso é legal. (Michael, Anexo
10)
Este comentário remete a toda forma como a apresentação oral foi organizada,
conduzida e avaliada. Para a escolha dos temas de apresentação, a professora indicou o
site “The Voice of America”, para que os estudantes selecionassem um vídeo e
desenvolvessem seus temas a partir disto. Antes que as apresentações fossem realizadas,
a professora mostrou- e explicou- aos estudantes o quadro, reproduzido ao final do
Anexo 10, no qual constavam os itens que seriam avaliados no exame oral. Esta ação da
professora coincide com a transparência nos processos avaliativos, ressaltada por
Michael.
As apresentações foram distribuídas em dois dias de aula. Durante as
apresentações, a professora tomou algumas notas e preencheu o quadro dos itens
avaliados, um para cada estudante. Desta forma, a atribuição da nota estava atrelada a
este quadro. Também se pautou, neste quadro, o feedback individual fornecido aos
estudantes: a professora chamou cada estudante, um a um, e mostrou as anotações que
tinha feito sobre a apresentação. O estudante podia tirar dúvidas e pedir dicas; a
professora fazia elogios e explicava como o estudante poderia melhorar nos pontos em
que havia falhas.
140
De maneira geral, a pesquisadora pôde observar que todo o processo de
avaliação foi planejado e executado com cautela e atenção. As falas da professora Lúcia
a respeito da avaliação demonstram que esse processo não é involuntário nem acidental:
Lúcia: Na verdade, é mostrar que você adquiriu determinado
conhecimento, seja ele de linguagem, seja ele linguístico, ou de
uso de língua em contextos diferenciados. Nisso eu não posso
me distanciar muito do livro didático, porque, a gente queira ou
não, não é curso livre línguas, é uma disciplina do catálogo de
graduação e tem impacto na nota deles, no coeficiente de
rendimento deles. Então, eu avalio, é avaliar o conteúdo mesmo,
mas de acordo com a metodologia que a gente usou, sem
ignorar essa metodologia e esses princípios que nortearam a
prática de sala de aula durante todo o semestre. Fez sentido pra
você? (Professora Lúcia, Anexo 10)
Com esta afirmação, a professora revelou que, ao planejar a avaliação, levava
em consideração o contexto em que o curso de inglês ocorria: não era um curso livre de
idiomas, era uma disciplina da graduação; as notas deste curso fariam parte do histórico
escolar dos estudantes e poderiam afetar sua trajetória acadêmica. Ao mesmo tempo, a
professora reiterou que a avaliação caminha junto com a prática em sala de aula,
seguindo os mesmos princípios norteadores.
141
5-Discussão
Esta pesquisa teve como objetivo identificar e analisar as práticas pedagógicas
de uma professora de inglês que possam ter contribuído para a aproximação entre os
estudantes e este objeto do conhecimento. Neste capítulo, será desenvolvida a discussão
dos dados apresentados anteriormente, com base nos referenciais teóricos assumidos - a
abordagem Histórico-Cultural de Vigotski e a teoria de desenvolvimento de Wallon.Os
dados construídos na pesquisa, por meio de sessões de observação e vídeo-gravação das
aulas, são relevantes por mostrarem, de maneira concreta e detalhada, as práticas
pedagógicas da professora de inglês, sujeito nesta pesquisa. Além disto, a partir das
falas dos estudantes nas minientrevistas e das observações realizadas na sala de aula, foi
possível inferir sobre o modo como as atividades afetavam os estudantes na relação com
a língua inglesa.
Os dados das diferentes atividades de ensino serão discutidos de forma conjunta,
identificando as suas características comuns, com o intuito de identificar e interpretar as
práticas pedagógicas da professora Lúcia, à luz das bases teóricas assumidas. Com isto,
pretende-se contribuir para a construção de conhecimento sobre afetividade nas práticas
pedagógicas; e, mais especificamente, para a compreensão sobre as relações entre
afetividade e o processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa.
Neste sentido, a discussão está organizada em três eixos principais. O primeiro
trata das relações que constituem o ambiente da sala de aula observada, tais como: as
relações entre a professora e os estudantes; a relação da professora com a docência e
com a língua inglesa; as relações entre os estudantes. O segundo eixo aborda as práticas
pedagógicas da professora Lúcia, isto é, são discutidas as atividades de ensino, já
descritas separadamente, em sua totalidade. As maneiras como eram fornecidos as
instruções e os feedbacks, como as atividades eram desenvolvidas, a organização dos
conteúdos são alguns dos aspectos a serem apresentados. O terceiro eixo concentra-se
nas características da professora, retomando pontos marcantes de sua postura em sala de
aula, buscando-se vinculá-los à sua história de constituição como docente.
Sobre as relações
No âmbito da teoria Histórico-Cultural, a mediação não é tomada apenas como
elemento circunstancial, conforme lembram Smolka e Nogueira (2002), mas sim como
um pressuposto teórico, o que possibilita interpretar as ações humanas como
142
socialmente mediadas mesmo quando não há a presença visível e/ou imediata do outro.
As autoras ressaltam que um dos aspectos da mediação é a incorporação dos
instrumentos técnicos e simbólicos na atividade humana, os quais carregam a história de
conhecimento e produção humana; outro aspecto está na própria pessoa, que participa
de práticas sociais, internaliza e se apropria da cultura. Desta forma, afirmam que “a
atividade humana individual só se constitui na dinâmica das relações sociais”
(SMOLKA e NOGUEIRA, 2002, P. 83).
Considerando esta afirmação, cabe à pesquisa mostrar como esta dinâmica se
dava na sala de aula observada. Destaca-se, primeiramente, as relações que a professora
estabelecia com os estudantes, pois os dados revelam que a professora Lúcia procurava
estabelecer vínculos com os estudantes: ela dava oportunidade para que os estudantes
contassem histórias sobre si e sobre suas vidas, demonstrando interesse em ouvi-los; ela
compartilhava suas próprias experiências pessoais com a turma; trazia materiais sobre
assuntos que atrairiam os estudantes, de acordo com suas áreas de estudos e seus gostos
pessoais. Este cuidado e preocupação da professora, era percebido pelos estudantes,
como pode-se observar na fala de Joyce:
Ah, sei lá, eu falaria que ela é simpática, que ela... Que ela
gosta de... Que ela gosta de saber da gente, sabe? Ela gosta de
saber. Ela parece que gosta conhecer os alunos. Joyce (Anexo
11)
As pesquisas do Grupo do Afeto têm evidenciado que a relação professor-aluno
marca profundamente as relações entre sujeito e objeto de conhecimento. Esta relação
compõe a trama dinâmica das variadas formas de atuação do professor e dos estudantes
em sala de aula, influenciando o processo de ensino-aprendizagem. Segundo Leite e
Tassoni (2002):
O que se diz, como se diz, em que momento e por quê - da mesma
forma que o que se faz, como se faz, em que momento e por quê -
afetam profundamente as relações professor-aluno e,
conseqüentemente, influenciam diretamente o processo de ensino-
aprendizagem, ou seja, as próprias relações entre sujeito e objeto.
Nesse processo de inter-relação, o comportamento do professor, em
sala de aula, através de suas intenções, crenças, seus valores,
sentimentos, desejos, afeta cada aluno individualmente (p.13).
143
A pesquisa de Tassoni (2000), realizada com crianças da Educação Infantil,
revelou que, para estes alunos, a proximidade física com a professora era um aspecto
importante na relação professor-aluno, assim como a receptividade para ouvi-los; tais
constatações aparecem, de forma semelhante, em Negro (2001). Os dados da presente
pesquisa diferem, em partes, daqueles constatados em Tassoni (2000), uma vez que se
trata de estudo realizado com sujeitos adultos. Os vínculos inter-pessoais constituem-se
de formas diferentes, não são tão marcadas pelo contato físico, mas pelo compartilhar
de experiencia e ideias, pela escuta atenta da professora e, neste caso específico, pelo
auxilio nas atividades acadêmicas.
Wallon (1986) e Almeida (2014) afimam que a idade adulta é marcada por
relações mais recíprocas e igualitárias, pois há clara distinção entre Eu e Outro. Nota-se
que as formas como a professora Lúcia interage com os estudantes sinalizam esta
relação de igualdade, pois ela dá espaço para que os estudantes compartilhem suas
experiências e suas opiniões. Um exemplo disto é que ela costuma iniciar as atividades
perguntando aos estudantes o que eles conhecem do assunto que será tratado, como
pode-se observar na Matriz 1.0, do Anexo 1:
Professora: I wanna ask you a question.
Have you ever seen a western film?
Estudantes (em coro): Yes.
Professora: Yes? Which one do you
remember?
Michael: I don’t remember the name, but
it is a... An ugly, a bad and a...
Professora: The ugly, the bad and the
something, right? Yes, it is a recent
western film, isn't it? It is not old.
Michael: It's old.
Professora: It's old... The ugly, the bad
and the... I don't remember the name. Who
else has seen a film?
Professora conversa com os estudantes,
procurando saber sobre quais filmes de
cowboys eles conhecem.
(Matriz 1.0, Anexo 1)
144
No trecho acima, a professora pergunta sobre quais filmes de caubói a turma
conhece, antes de lerem um texto sobre este assunto. Quando os estudantes respondem,
ela se mantém atenta ao que eles dizem, fazendo comentários ou perguntas. Além disto,
em momentos que os estudantes expressam suas opiniões - por exemplo, na sequência
do relato acima, quando a turma discute quais os pontos mais importantes para se
escolher um emprego - a professora demonstra interesse e respeito por suas ideias.
Tais posturas são importantes para que os estudantes se mantenham engajados
no estudo e nas atividades propostas. Freire (2011) afirma a necessidade de que o
professor respeite a autonomia do educando, defendendo que isto significa respeitar
também a dignidade e a identidade dos estudantes. O autor resslta que este respeito se
dá, concretamente, pelo acolhimento de suas curiosidades e de seus gostos estéticos nas
práticas pedagógicas do professor, afirmando:
Ao pensar sobre o dever que tenho, como professor, de respeitar a
dignidade do educando, sua autonomia, sua identidade em processo, devo
pensar também, como já salientei, em como ter uma prática educativa em que
aquele respeito, que sei dever ter ao educando, se realize em lugar de ser
negado (FREIRE, 2011, p. 63).
Na prática educativa de Lúcia, como se pode verificar ao longo da análise dos
dados, o respeito aos estudantes é realizado, e não negado. Ressalta-se ainda que os
próprios estudantes têm consciência desta relação que a professora constrói com a turma
e a valorizam:
Eu gosto do jeito como ela se comporta com os alunos.
Porque com esse outro professor era bem, tipo, uma hierarquia,
sabe? Eu não me sentia bem! Eu me sentia muito mal. Eu ia
passando mal pra aula dele! Pra aula dela, eu gosto! Eu gosto
muito dela, ela é super amorzinho. Quando eu tenho que falar
alguma coisa, ela é bem receptiva. Eu gosto bastante dela.
(Isadora, Anexo 11)
Isadora descreve que a professora Lúcia não tinha uma postura autoritária,
indicando que a receptividade da docente a deixava feliz nas aulas. Para Freire (2011), o
professor autoritário fecha-se à escuta dos alunos, o que impede que os educandos
desenvolvam posturas mais autorais em seus processos de aprendizagem. Desta forma, a
professora Lúcia, ao ouvir os estudantes e validar suas opiniões e experiências de vida,
145
incentiva-os a participarem com maior afinco das atividades durante as aulas e contribui
para que eles constituam-se como aprendizes mais autômonos, dentro e fora da sala de
aula.
Snyders (1995), autor francês que se dedicou a pesquisar e escrever sobre a
alegria na escola, também destaca a relação professor-aluno como ponto a ser
discutido. Para o autor, a alegria da escola está relacionada ao prazer, à felicidade do
estudante ao aprender os novos conteúdos.
As relações aluno-docente vêm junto com a minha ideia de alegria. O
professor está para pedir o esforço do aluno, mas a relação pode ser feliz
quando, no fim dos seus esforços, o aluno percebe que há uma alegria, há
algo que o interessa. Isso não pode acontecer todo o tempo, mas de vez em
quando, pode ocorrer. Por exemplo, quando os alunos não compreendem um
poema difícil, não se interessam, não querem estuda-lo. O professor obriga-
os a se empenharem no estudo. Imgino que, após algumas semanas, para não
dizer antes, os alunos dizem que este poema é lindo e então experimenta-se a
alegria. (SNYDERS, 1995, p. 145)
Deste modo, nota-se que a alegria não implica em descuido por parte do
professor, nem em espontaneísmo pedagógico. Pelo contrário, a alegria encontra-se na
relação professor-aluno, pelo respeito do docente com os estudantes e pela preocupação
com que a aprendizagem se concretize. Isto é, a relação respeitosa entre professor e
aluno realiza-se também no esforço, na insistência, na perseverança do professor para
que os estudantes se engajem e tenham êxito. Tais características podem ser obsevadas
na prática da professora Lúcia, pois suas formas de relacionamento com a turma
evidenciam zelo e atenção com o sucesso na aprendizagem dos estudantes.
As relações entre os estudantes, que foram se constituindo ao longo do semestre,
também é um ponto a ser destacado. As atividades propostas pela professora Lúcia
favoreciam a criação de vínculos entre os alunos, já que envolviam trabalho em
pequenos grupos e compartilhamento de experiências e opiniões entre os membros da
turma.
As descrições das atividades de ensino demostram interação constante na sala de
aula, o que, muitas vezes, funcionava como estratégia para que os estudantes se
sentissem mais seguros e mais à vontade para enfrentarem outros desafios. Exemplo
disso é a forma de organização das atividades, muito comum na prática de Lúcia:
146
primeiro os estudantes trabalham em pequenos grupos - por exemplo, no caso de
conversação, eles falam sobre o tema em duplas ou em trios; em seguida, eles
compartilham o que foi discutido no pequeno grupo com a turma, momento em que os
outros estudantes podem fazer questões ou comentários, bem como é fornecido
feedback pela professora. Esta estrutura oferece desafios progressivos aos estudantes, tal
como Júlia afirmou:
Eu me sinto mais à vontade falando na dupla. E fico mais
segura também quando vou falar para turma, porque já falei
aquilo, já pensei como tem que ser direito e falo depois. (Milena
e Júlia, Anexo 4)
Lantolf (2002) indica que a mediação por pares é um dos tipos de mediação
constitutivos do processo de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras. Donato
(1994, 2000) e Ohta (2000) mostram que a interação entre os estudantes, quando eles
trabalham juntos e fornecem auxílio uns aos outros, permite-lhes atingir maior nível de
desempenho.
Swain, Kinnear e Steinman (2011) utilizam o conceito de diálogo colaborativo
para explicar e analisar as interações entre estudantes de línguas. Segundo as autoras, o
diálogo colobarativo, juntamente com a fala privada, é um dos tipos de linguação que
organizam e controlam as atividades mentais durante tarefas complexas, ou seja, é um
processo de construção do conhecimento por meio da linguagem. O diálogo
colobarativo ocorre, pelo menos, entre duas pessoas, que desenvolvem um
conhecimento que novo para ambas, ou para uma delas.
As atividades propostas pela professora Lúcia contribuíam para que houvesse
interação entre pares, favorecendo o despontar do diálogo colaborativo, como ocorria
nas atividades de conversação, mencionadas acima. Outro exemplo que ilustra bem esta
ideia, é o trecho a seguir, retirado do jogo sobre a Passive Voice:
O grupo formado por Aurora, Ana e
Diego discutia o que poderia ser "The
Lord of Flies" e faziam suposições:
Aurora: Senhor dos vôos?
Diego diz: Pode ser mosca também.
Aqui se tem outro episódio com a questão
do vocabulário. Os estudantes fazem
suposições para o significado da palavra
“flies”, mas, como não conseguem
147
Mas os três focam em "Senhor dos vôos" e
não conseguem resolver o problema de
quem seria o autor. Então, perguntam
para a professora: O que é flies?
Professora: Flies? Moscas.
O grupo diz: Aaah!
Ana (dirigindo-se a Diego): Então você
tava certo.
Nesse momento, professora disse para a
pesquisadora: You know what? This is
good to learn vocabulary too.
encontrar o autor do livro, eles pedem
ajuda à professora.
Ana percebe que Diego tinha falado o
significado correto.
Depois do episódio acima, a professora
comenta, satisfeita, que essa atividade
também é uma boa maneira de aprender
vocabulário, parecendo ter-se dado conta
disso naquele momento.
(Matriz 3.1, Anexo 3)
Neste trecho, os estudantes tentavam resolver o jogo da Passive Voice, no qual
deveriam ligar os nomes de obras literárias aos seus respectivos autores. Eles discutiam
qual seria o significado de “Lord of Flies”, na tentativa de encontrar o autor desta obra.
Aurora sugeriu “Senhor dos vôos” e Diego lembrou que “fly” também pode significar
mosca. Contudo, o diálogo encaminhou-se levando em conta a palavra com o sentido de
vôo, ou do verbo voar, e assim os estudantes, conjuntamente, pensaram em várias
possibilidades para a tradução de “Lord of Flies”, em um clima de descontração. Como
não chegaram à resolução do problema proposto pelo jogo, pediram auxilio à
professora, que forneceu o significado preciso de “flies” para aquela situação. Depois do
momento de excitação por terem entendido a palavra, Ana lembrou ao grupo que Diego
havia apresentado aquela possibilidade de significado.
Apesar de não terem solucionado o problema sozinhos, os estudantes
trabalharam em grupo, tentando chegar a uma resposta comum e satisfatória. Eles
buscaram, conjuntamente, a construção de sentido, brincando com as possibilidades que
as línguas - português e inglês - lhes davam. Após ter auxiliado o grupo, a professora
comentou com a pesquisadora que aquela atividade também era uma boa forma de
praticar vocabulário, reconhecendo mais um benefício do jogo na sala de aula.
148
Swain, Kinnear e Steinman (2011) lembram que o conceito de diálogo
colaborativo se baseia nas obras de Vigotski, o qual concebia a linguagem como um dos
sistemas simbólicos mais potentes que os seres humanos têm à disposição. As autoras
ainda sugerem que os professores de línguas propiciem aos estudantes momentos em
que eles possam experenciar este tipo de interação. Pode- se notar, por meio das
descrições dos dados, que a professora Lúcia oportuniza, constantemente, estas
interações.
A professora Lúcia comentou que esta forma de organizar as atividades tinha
este intuito - propiciar espaço para aprendizagem colaborativa, deixar os estudantes
mais confortáveis e seguros - mas, além disto, traziam também a vantagem de criar um
sentimento de grupo, de pertencimento:
Lúcia: (...) E, pode ser maluco, mas o compartilhar experiência é
interessante. Eu acho que isso eles curtem, eles podem não dizer
abertamente, mas...
Isabela: De conhecer os outros, né.
Lúcia: É. É interessante, né, não cria um senso de grupo?
(Professora Lúcia, Anexo 4)
Esta fala indica que a professora investia na relação entre os estudantes por meio
destas atividades em grupo, do compartilhar de experiências e ideias, dos jogos e das
dinâmicas realizados em grupos. Os próprios estudantes também reconheciam este
movimento e demonstravam gostar de conhecer mais sobre seus colegas, como foi
exposto nas falas de Francisco, Isadora, Mariana, Júlia e Milena, apresentadas no
capítulo anterior.
Swain (2013) chama a atenção para as emoções na interação entre pares,
expondo que os processos que se desdobram nesta relação não são apenas cognitivos,
mas também afetivos. Recuperando a teoria Histórico - Cultural, a autora afirma que
“Vygotsky made it clear that he saw emotions as having a critical role in human mental
functioning. He referred to ‘the existence of a dynamic system of meaning in which the
affective and intellectual unite’”15 (p. 202). Portanto, ao retomar os dados de uma antiga
15 Vigotski deixou claro que ele via as emoções como tendo um papel crítico no funcionamento mental
humano. Ele se referiu à “existência de um sitema dinâmico de significados no qual afeto e intelectual se
unem. (Tradução livre elaborada pela pesquisadora).
149
pesquisa e analisá-los com esta visão, a autora reconhece, no diálogo entre duas
estudantes, que as emoções tiveram papel fundamental para que elas trabalhassem bem
juntas: elas se respeitavam; elas ficavam orgulhosas das conquistas uma das outras; elas
confiavam uma na outra, acreditando que seguiam o mesmo objetivo, num processo que
as fez sentirem frustração, alegria e satisfação.
Com isto, Swain (2013) relata que olhar para o papel das emoções permitiu-lhe
compreender melhor o que se passou naquela interação entre as estudantes. A autora
afirma que “emotions are socially constructed in dialogue, and those emotions mediate
learning outcomes”16 (p. 203), defendendo que as implicações do diálogo coloborativo,
que acontece nas interações entre estudantes, na aprendizagem são, simultaneamente,
afeitvas e cognitivas. Portanto é preciso entender emoção e cognição como uma
unidade, baseando-se nas experiências individuais e nas histórias dos estudantes, para
que se possa compreender suas trajetórias de aprendizagem.
Desta forma, questões similares às que Swain (2013) colocou sobre a interação
entre as estudantes de sua pesquisa podem ser colocadas sobre o diálogo entre Aurora,
Diego e Ana: Por que eles trabalham bem juntos? Por que a interação contribui para a
aprendizagem deles? Da mesma forma, as respostas devem levar em conta suas histórias
e experiências passadas. Os três estudantes cursaram inglês no CL desde o primeiro
nível do curso, de modo que eles já estavam habituados ao ambiente e aos
procedimentos da instituição. Eles haviam realizado o Inglês III, no semestre anterior,
na mesma turma, também ministrado pela professora Lúcia, ou seja, eles já se
conheciam há cerca de um ano e já tinham o costume de trabalhar juntos durante as
atividades em sala de aula, de maneira com que ficassem à vontade para conversar e
expor suas ideias. Portanto, eles respeitavam-se, ajudavam-se e alegravam-se com as
conquistas uns dos outros (como quando Ana destacou que Diego havia indicado a
resposta correta).
O tipo de atividade realizada pelos estudantes também interfere nas formas como
as interações entre eles se dão. Pelo fato de a atividade tratar-se de um jogo, eles estão
empenhados no mesmo objetivo - solucioná-lo - o que contribuiu para uma interação
mais inspirada e harmoniosa. Como a própria professora Lúcia comentou com a
pesquisadora: “It’s all about problem solving”, isto é, o jogo é uma atividade que une os
16 Emoções são construídas socialmente no diálogo, e essas emoções medeiam os resultados da
aprendizagem. (Tradução livre realizada pela pesquisadora).
150
estudantes em um objetivo comum, engajando-os fortemente em sua resolução e
contribuindo para a interação entre pares.
Os estudantes da turma de Inglês IV ressaltaram, ao longo de todo o curso, que a
professora Lúcia parecia ser apaixonada pelo seu trabalho. Eles diziam que ela
demonstrava estar feliz em ir dar aulas e que era bem-humorada, tal como se pode ver a
seguir:
Diego: Acho que ela gosta muito. Quando eu tava escolhendo
professor, pra fazer o Inglês III, eu lembro que eu perguntei
pra... Na época, eu trabalhava aqui, né. Eu perguntei pro meu
orientador daqui se ele conhecia a professora Lúcia, que eu
nunca tinha ouvido falar. Aí ele falou que era uma professora,
que tá... Esqueci o nome, que é quando você se aposenta, mas
você dá aula...
Isabela: Professor colaborador?
Diego: Aí eu já fiquei surpreso só de existir isso, porque alguém
que faz isso deve gostar muito de dar aula. E, pelas aulas dela
mesmo, eu consigo perceber que ela adora dar aula. Tanto que
ela fica explicando as coisas, eu fico olhando, assim, com um
sorriso, que às vezes ela para, pensando que eu tô querendo
falar alguma coisa. Só que tô só admirando, parece que ela tem
um amor pra dar aula, sabe. E ela consegue fazer isso bem por
gostar, eu percebo. (Diego, Anexo 11)
Diego expôs sua admiração pela professora quando, durante as aulas, percebia o
prazer e o gosto que Lúcia apresentava ao dar aulas. Ele indica que essa percepção
ocorre no fazer da atividade docente (“pelas aulas dela”, “ela fica explicando as
coisas”), ou seja, não depende da verbalização da professora sobre seus sentimentos em
relação à docência, mas evidenciam-se na postura, nos gestos e nos modos como ela
realiza seu trabalho.
Tassoni e Leite (2010) indicam que as relações do professor com a docência e
com o objeto de conhecimento que ensina influenciam o envolvimento dos estudantes
com este objeto. Os autores destacam que esta relação se revela no exercício da prática
151
pedagógica, tal como Diego contou sobre a professora Lúcia. Quanto à relação com
objeto de conhecimento, a própria professora Lúcia havia relatado ter um longo
histórico de aproximação com línguas estrangeiras, e, em especial com a língua inglesa.
Esta relação iniciou-se ainda na infância, no ambiente familiar, por meio da leitura de
revistas e jornais estrangeiros, tendo sido intensificada com a realização de um
intercâmbio acadêmico nos Estados Unidos, durante o Ensino Médio. Esta história de
Lúcia contribuíu para que ela construísse um repertório amplo de experiências com a
língua inglesa que se faziam presente em suas práticas pedagógicas, possibilitando que
ela apresentasse diferentes materiais, conteúdos e gêneros textuais aos estudantes.
Outros estudantes também comentaram sobre a relação da professora com a
docência, como Michael, que afirmou que Lúcia demonstrava ser uma professora que
gostava de seu trabalho e que estava preocupada em auxiliar os estudantes. Quando
questionado sobre como a professora demonstrava isto, ele responde:
Porque ela sempre tenta trazer coisas além do que a gente tem
ali, à nossa disposição, que é, por exemplo, o livro. Ela sempre
traz coisas novas, coisas que ela se preocupa que sejam
adequadas para a gente. Coisas que a gente vá querer falar
sobre! (...) E sempre demonstrando essa proatividade em querer
ajudar a gente em tentar absorver da melhor maneira, o
conteúdo. Isso é legal. (Michael, Anexo 9)
Neste trecho, destaca-se que Michael associa o fato de a professora dedicar-se a
preparar materiais diferenciados para os estudantes com sua percepção de que Lúcia
gostava de ser professora. João também afirmou que a alegria da professora, sua atenção
e preocupação que demonstrava ter com os estudantes, além dos conhecimentos que ela
compartilhava, mantiveram-no interessado no curso:
João: É, eu acho que ela cativa bem os alunos.
Isabela: Por que você acha isso?
João: Ah, sei lá... Ela demonstra ter interesse em você e acho
que, assim, você acaba pegando um interesse a mais. Por
exemplo, eu deixei de faltar muitas vezes por causa dela. Não
por causa da matéria, sabe? Porque, tipo... Às vezes eu tava
152
cheio de coisa para fazer e falei "ah, não. Vou no inglês".
Porque a pessoa... até porque ela já tá aposentada, né? Ela vem
aqui só pra dar aula para a gente! E acho isso super legal.
(...)
Isabela: Então, você falou "vem mais por causa dela". Mas por
causa dela pessoa ou da aula?
João: Ah, dos dois. Tipo, um para valorizar ela, outro, porque
eu acho que vale a pena estar aqui. Pra ver o que ela tem para
acrescentar. (João, Anexo 11)
Estes relatos indicam que a atitude da professora em relação aos alunos, suas
práticas pedagógicas e as evidências de que ela planejava as aulas e atividades
possibilitaram que os estudantes notassem que a professora Lúcia tinha um sentimento
de alegria em relação ao trabalho docente, no sentido espinosano do termo. Para
Spinoza (2017), a alegria é uma paixão que leva a mente a uma perfeição maior, que
aumenta a potência de agir. O filósofo chama a excitação e contentamento de afeto da
alegria, sendo este referido, simultaneamente, ao corpo e à alma.
Casassus (2009), em sua compilação de estudos sobre a interação no campo da
Educação, indica que a aprendizagem ocorre numa relação que é definida pelo autor
como “conexão que une uma pessoa a si mesma ou a outras pessoas” (p. 206), sendo
estas conexões, essencialmente, emocionais. Segundo o autor, em sala de aula, o que
mais contribui para a aprendizagem dos estudantes é o tipo de conexão emocional
estabelecido entre aprendizes e professor. Casassus (2009) cunha ainda o termo “clima
emocional”, no intuito de explicar as diferenças de aprendizagem. O pesquisador afirma
que o clima emocional de sala aula é a variável que melhor esclarece tais diferenças,
sendo composto por três elementos: o vínculo estabelecido entre professor e alunos; o
vínculo que se estabelece entre os alunos; e, por fim, o clima emocional que surge a
partir destas relações.
Sawaia (2000), influenciada por Espinosa e Vigotski, afirma que sentimento é “a
emoção sem prazo, com longa duração, que não se refere a coisas específicas. É o tom
emocional que caracteriza a forma como me coloco no mundo” (p. 15). Somam-se a isto
as ideias de Espinosa, segundo as quais, os afetos existem na relação com outro ser
153
humano, ou, como afirma Chauí (1995), “a alma pensa seu corpo e a si mesma segundo
a ação causal externa exercida sobre nosso corpo pelos outros corpos e sobre eles pelo
nosso” (p.57). Nesta perspectiva, pode-se compreender que a professora, ao se
apresentar em sala de aula com sentimentos agradáveis sobre o trabalho docente e sobre
a língua inglesa, afetava a relação dos estudantes com o objeto de estudo. Quando esse
“tom emocional” de alegria é levado à sala de aula, local de relações entre pessoas, a
alegria é percebida pelos estudantes e os afeta, aumentando sua potência de agir.
Como têm indicado as pesquisas do Grupo do Afeto, os sentimentos e emoções
experienciados em sala de aula, nas situações de aprendizagem, têm implicações nas
relações que se estabelecem entre sujeito e objeto de conhecimento. Neste sentido,
pode-se inferir que os estudantes da turma de Inglês IV, nesta trama de relações descrita
e discutida acima, puderam aproximar-se da língua inglesa, tendo aprofundado seus
conhecimentos sobre a mesma e, também, desenvolvendo com ela uma relação boa e
agradável. Alguns indícios disto são a assiduidade dos estudantes nas aulas e o fato de
eles sentirem-se confortáveis e motivados a participar das aulas. É válido ressaltar que
estas relações são proporcionadas por práticas pedagógicas concretas e, por esta razão,
as práticas da professora Lúcia serão discutidas a seguir, buscando-se identificar como
essas atividades de ensino, propostas e realizadas em sala de aula, possibilitaram o
estabelecimento das relações discutidas anteriormente.
As práticas pedagógicas (e suas implicações nas relações sujeito-objeto)
Conforme assumido no referencial teórico da presente pesquisa, a afetividade é
compreendida como aspecto constituinte das relações que se estabelecem em sala de
aula e das práticas pedagógicas desenvolvidas por educadores. Os estudos de Vigotski e
de Wallon mostram que o processo de desenvolvimento humano se dá nas e pelas
relações sociais com o outro, sendo que afeto e cognição compõem, indissociavelmente,
este processo. No campo educacional, as pesquisas do Grupo do Afeto têm evidenciado
que a mediação pedagógica tem grande influência nas relações que se estabelecem entre
estudantes e objeto de conhecimento. No entanto, é preciso compreender que a sala de
aula representa “um universo de relações mediadoras de grande amplitude e
diversidade” (Leite, 2018, p. 41), de modo que, quando se fala em mediação
pedagógica, não se pode pensar somente nas relações face-a-face, entre professor e
estudante. As decisões que o professor assume, ao planejar seu curso ou prática
pedagógica, têm implicações afetivas, compondo o campo da subjetividade dos
154
estudantes, mesmo que o docente não esteja fisicamente presente. Com os trabalhos
realizados por membros do Grupo do Afeto, foi possível identificar cinco decisões que,
segundo Leite (2018), pode-se inferir que todo professor toma ao organizar e
desenvolver seu curso, sendo que elas “produzem inevitáveis repercussões afetivas”
(p.41). São as decisões apresentadas no capítulo 1: a) a escolha dos objetivos do ensino;
b) de onde partir o ensino; c) a organização dos conteúdos de ensino; d) a escolha dos
procedimentos e atividades de ensino; e) escolha dos procedimentos de avaliação.
No capítulo anterior, foram apresentadas as diferentes atividades de ensino
realizadas pela professora Lúcia. Partindo destas descrições e análises, pretende-se
discutir as práticas pedagógicas da professora na sua globalidade, isto é, destacando-se o
que as diferentes atividades têm em comum, buscando-se identificar como foram
tomadas estas cinco decisões pela professora Lúcia. Presume-se que estas decisões, bem
como a forma como elas manifestavam-se na sala de aula, deram condições para que se
estabelecessem as relações interpessoais alegres e construtivas, descritas e discutidas na
seção anterior deste capítulo.
A escolha dos objetivos de ensino, ou o “para onde ir”, é assumida com
tranquilidade pela professora Lúcia. Seu conhecimento aprofundando da língua, junto à
vasta experiência com o curso de línguas do CL, possibilitam que ela identifique com
clareza os objetivos de cada nível do curso de inglês nesta instituição. Com isso, Lúcia
pode planejar e organizar suas aulas com destreza, incluindo diferentes materiais e
ajustando o foco das atividades, a depender das necessidades da turma. Além disso, a
professora também se mostra confortável em incluir acontecimentos atuais no
planejamento do curso, como apresentar notícias e textos lidos naquele momento, sem
que isto desvie o foco dos objetivos principais assumidos.
Os objetivos da prática pedagógica de Lúcia são também ajustados considerando seu
público - jovens universitários - pensando nas necessidades de uso da língua que estes
estudantes terão, como pode ser notado na seguinte fala:
E aí como que você atende à necessidade de cada aluno? E
aquilo, e o que você faz, tem que ser relevante para cada um.
Então, o que eu penso também, agora que a gente tem um livro
didático que ele, pelo menos em tese, é voltado para fins
acadêmicos, pelo menos no sentido de ter atividades de escrita...
155
Eu penso, por exemplo, no que que um aluno vai ter que fazer
numa entrevista de trabalho, e se essa entrevista de trabalho for
em inglês. Como que ele vai se colocar? Porque, por exemplo,
um cara dos recursos humanos maluco pode dizer "escuta, me
descreve uma experiência que mudou sua vida". Pode, não
pode? (Professora Lúcia, Anexo 4)
Leite e Tassoni (2002) ressaltam que uma das implicações afetivas da escolha de
objetivos de um curso relaciona-se com a relevância que os conteúdos estudados têm
para os alunos, indicando que muitas das queixas em relação aos conteúdos escolares
referem-se à desconexão com a vida pessoal e real, incluindo o futuro profissional dos
estudantes. No trecho acima, Lúcia deixa claro que se preocupa com isso ao planejar o
curso de inglês, considerando as necessidades que os estudantes têm e terão com o uso
da língua inglesa em suas vidas. No entanto, Leite e Tassoni (2002) ressaltam ainda que
isto não significa a defesa de um currículo meramente pragmático, mas reafirmam que o
conhecimento historicamente acumulado possibilita melhores condições para o
exercício da cidadania, em uma perspectiva crítica e transformadora. O posicionamente
da professora Lúcia caminha nesta mesma direção, quando ela afirma que “língua é
cultura” e procura trazer a cultura para dentro da sala de aula:
Lúcia: Isabela, mas língua é cultura. Que cultura que eu vou
trazer para meus alunos como referência? (Lúcia, Anexo 9)
Na sequência, Lúcia relata sobre diversas experiências que teve ao longo de sua
vida profissional; como exemplo, quando o material didático trouxe a temática de
pinturas e discussões sobre as pinturas favoritas dos estudantes, alguns alunos
comentaram que nunca haviam ido a uma exposição de arte. A professora Lúcia relata
que organizou uma visita a uma exposição de pôsteres do Lasar Segall, que estava
acontecendo na cidade. Sobre a turma de Inglês IV, observada nesta pesquisa, ela
destacou a palestra sobre línguas indígenas, comentando que foi uma experiência
preciosa, tanto para ela quanto para os estudantes, afirmando “Meu Deus do céu, sabe!
Isso é formação de cidadão, não é?” (Professora Lúcia, Anexo 9)
Observando e analisando estes dados sobre prática pedagógica da professora
Lúcia, destaca-se o fato de que ela assume os interesses e vontades dos estudantes como
referência, mas ela não se limita a eles para definir seus objetivos de ensino. Neste
156
sentido, cumpre-se aquilo que Saviani (2008a) defende como a função social da escola:
a socialização dos conhecimentos historicamente construídos. O autor critica o
modismo de novos métodos pedagógicos, os quais secundarizam a transmissão de
conhecimentos nas escolas, em especial, naquelas destinadas às camadas populares.
Com isto, propõe uma pedagogia cujos métodos
situar-se-ão para além dos métodos tradicionais e novos, superando
por incorporação as contribuições de uns e de outros. Serão métodos
que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão,
porém, da iniciativa do professor, favorecerão o diálogo dos alunos
entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com
a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses
dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento
psicológico, ma sem perder de vista a sistematização lógica dos
conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de
transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos. (SAVIANI, 2008a,
p. 56).
Saviani (2008a) propõe uma síntese dos métodos tradicional e novos para que se
alcance o objetivo, a função social, da escola. Esta defesa de Saviani pode ser estendida
ao contexto universitário do CL, uma vez que esta instituição tem como missão
contribuir para a formação dos estudantes por meio do ensino de línguas estrangeiras.
As práticas da professora Lúcia, se não alcançam, no mínimo, aproximam-se desta
proposição, uma vez que ela parte dos interesses e necessidades dos estudantes, sem
perder de vista o compromisso de ensinar-lhes os conteúdos concercentes à língua
inglesa. Esta prática parece estar sustentada pelos princípios teóricos-metodológicos
assumidos pela professora- a Abordagem Comunicativa:
Tem um texto de dois autores, eles são canadenses (...) elas
fazem uma revisão da Abordagem Comunicativa, é um texto dos
anos 90. E ali você vê claramente: a relevância para o aprendiz
é o que realmente importa. Então, é isso que eu penso.
(Professora Lúcia, Anexo 4)
Ao mesmo tempo, a assunção de que língua e cultura estão imbricadas
possibilita que sua prática seja rica no uso de diferentes recursos, gêneros textuais e
suportes, além de de materiais autênticos, ampliando o repertório cultural dos estudantes
157
e, concomitantemente, ensinando-lhes os conhecimentos linguísticos previstos para o
curso de Inglês IV.
A decisão sobre “de onde partir” refere-se ao ponto em que se iniciará o
processo de ensino. Leite (2012) defende a importância de o programa de ensino iniciar-
se com base no conhecimento prévio dos alunos, pois, quando este aspecto não é
considerado, as chances do insucesso no processo de ensino-aprendizagem aumentam,
podendo acontecer já no seu início. O autor lembra que, de acordo com pesquisas do
Grupo do Afeto, o êxito do aluno em seu processo de aprendizagem tem fortes
implicações para a relação que este terá com o objeto do conhecimento. Desta forma, o
insucesso prematuro, decorrente da ausência de conhecimentos prévios, dificulta as
possibilidades de que se estabeleçam boas relações entre estudante e objeto de ensino
afetiva e cognitivamente (LEITE, 2012).
A professora Lúcia mostrava-se atenta a este ponto, o que pôde ser percebido
com sua preocupação em revisar determinados assuntos antes de iniciar as explicações
sobre um novo tópico. A professora também perguntava aos estudantes sobre seus
conhecimentos prévios, procurando saber se eles já haviam estudado determinado tema
ou até mesmo tentando identificar se eles compreendiam determinada estrutura
gramatical na língua portuguesa. Estas práticas podem ser identificadas no trecho a
seguir:
• Tabela com tempos verbais: Na 15ª sessão, a professora mostrou aos
estudantes, por meio de uma projeção, um quadro que sistematizava
os tempos verbais na língua inglesa.(...) Na ocasião aqui descrita, a
professora apenas mostrou o quadro, fez uma síntese de seu conteúdo
e perguntou se os estudantes tinham interesse em receber aquele
material, ao que eles responderam afirmativamente.
• Passive voice: Na sessão 16, a professora retomou o quadro
mencionado acima, que apresentava os tempos verbais na voz ativa.
Em seguida, mostrou um novo quadro que continha os verbos na voz
passiva. Ela perguntou à turma se eles sabiam quando se usava a
voz passiva em português e alguns estudantes arriscaram
explicações. A professora ouviu as contribuições deles e as
complementou, mostrando um material em slides que explicava e
exemplificava os usos da voz passiva. Em seguida, ela pediu que os
158
estudantes fizessem um exercício em que eles deveriam passar a frase
da voz ativa para a voz passiva. Ela também passou uma tarefa sobre
assunto. (Anexo 3)
Nas descrições acima, observa-se que, na aula anterior à introdução do tópico
“Passive Voice”, a professora revisou os tempos verbais com os estudantes,
esclarecendo dúvidas e disponibilizando material utilizado. Na aula em que o ensino do
tópico foi iniciado efetivamente, a professora retomou, mais uma vez, o quadro com os
tempos verbais na voz ativa para, em seguida, apresentar à turma o quadro com
exemplos da voz passiva. Com isto, ela certificou-se de que os estudantes
compreendiam o uso e as estruturas dos tempos verbais (na voz ativa), antes de
introduzir um novo conteúdo que dependia deste conhecimento. Além disto, a
professora ouviu as contribuições dos estudantes para a explicação do que seria a voz
passiva, as quais eles fizeram com base em seus conhecimentos da língua portuguesa,
recrutados a partir de uma pergunta da professora.
Este trecho exemplifica como, em sua prática pedagógica, a professora Lúcia
concretizava o princípio de partir o programa de ensino em relação aos conhecimentos
dos estudantes. Desta maneira, ela podia tomar decisões bem informadas sobre o início
do ensino, não se baseando apenas em decisões burocráticas ou em pressupostos irreais.
A organização dos conteúdos, outra decisão a ser tomada no planejamento de
ensino e que carrega inegáveis implicações afetivas (LEITE, 2012), também é feita de
forma adequada, respeitando-se a lógica de sequenciamento da área de conhecimento.
Na mesma direção, Saviani (2008b) afima que, para que a escola cumpra a função que
lhe é própria, não basta a existência do conhecimento sistematizado, mas é necessário
também saber “dosá-lo” e sequenciá-lo” (p.18), de modo a possibilitar que o estudante
passe do não-domínio ao domínio daquele saber sistematizado.
Assim como os objetivos de ensino, este quesito parecia ser dominado com
tranquilidade pela professora Lúcia, o que é um possível reflexo de seu profundo
conhecimento da área que leciona, somados aos anos de experiência como docente. A
facilidade com que a professora organiza o curso pôde ser notada pelo uso que fazia do
livro didático: utilizava-o como um instrumento de ensino, mas não era o único, ou seja,
apresentava os conteúdos por meio de diferentes recursos, demonstrando que não
dependia do material para sequenciar o curso de inglês. Além disto, a preocupação com
159
as revisões de conteúdos antigos, ao introduzir novos assuntos, indica que a professora
compreendia quais seriam os conhecimentos básicos para que os estudantes
prosseguissem com novos conteúdos.
A quarta decisão, apontada por Leite e Tassoni (2002), refere-se aos
procedimentos e atividades de ensino. Conforme explicado anteriormente, compreende-
se que a atividade de ensino é composta, genericamente, por três momentos: a instrução
do professor, o desenvolvimento da atividade pelo estudante e o feedback do professor.
As atividades de ensino foram o foco da apresentação dos dados, no capítulo anterior,
para que a prática pedagógica da professora Lúcia fosse descrita em detalhes. Foram
apresentadas, separadamente, dez diferentes atividades de ensino realizadas durante o
curso. Neste capítulo, pretende-se identificar e discutir as características que estas dez
atividades de ensino têm em comum.
As atividades de ensino devem ser pensadas e planejadas levando-se em
consideração as três decisões anteriores – para onde ir, de onde partir, e como
sequenciar - pois, para que o curso seja coeso, é preciso que estas atividades estejam
coerentes com os objetivos do curso, sejam adequadas aos conhecimentos prévios dos
estudantes e respeitem a organização dos conteúdos. Portanto, as atividades de ensino
concentram grande parte do conteúdo afetivo do processo de ensino-aprendizagem e,
conforme afirma Leite (2012) “é inegável a implicação da dimensão afetiva em cada
atividade bem planejada e desenvolvida” (p.364).
Para que as as atividades de ensino ocorram como planejado, é importante que o
professor forneça instruções claras para os estudantes. As instruções fornecidas pela
professora Lúcia eram claras e precisas, de modo que os estudantes compreendiam o
que era esperado deles. A leitura conjunta dos enunciados, seguida de uma explicação
da professora sobre o que os estudantes deveriam fazer após a instrução, e a indicação
de que os estudantes lessem as questões antes de realizarem os exercícios são duas
práticas que se destacaram. No trecho a seguir, observa-se a primeira prática destacada:
Professora: Ok, track 45... Ok! Let's see,
everyone.
Professora (lendo no livro): "Listen to part of
a radio interview and answer the questions"...
Page 120...
Professora estava deixando o áudio pronto
para ser tocado.
Professora percebe que alguns estudantes não
estão acompanhando, então diz o número da
160
Professora dá um momento para estudantes
se organizerem e depois retoma a explicação
da atividade.
Professora: So, everyone, listening. "Listen to
part of a radio interview and answer the
questions: What kind of new job does
Madelaine have? What are some of her
responsabilities?" (lendo no livro). Ok? So we
are going to listen to an interview with a
woman called Madelaine and she is going to
have to talk about her new job, ok? Let's
listen. You have to answer those two
questions. I am going to play once, then, if is
necessary, I am going to play twice, ok? Then
we'll answer the questions.
Professora coloca o áudio.
página e dá um tempo para que eles se
localizem.
Professora lê o enunciado do exercício no
livro e mantém contato visual com a turma
enquanto vai falando.
Depois de ler o enunciado, ela explica o que
deverá ser feito no exercício.
Matriz 2.0/ Anexo
Além de esclarecer o que se deveria fazer no exercício, a instrução da professora
tranquilizou os estudantes, uma vez que eles identificaram exatamente o que iria
acontecer: ela colocaria o áudio e eles responderiam as questões; se fosse necessário, ela
tocaria o áudio novamente. As emoções dos estudantes são consideradas e dá-se
oportunidade para que eles se organizem, já que muitos sentem-se ansiosos em face da
realização de uma nova atividade de ensino. No caso da aula de inglês, esta ansiedade
pode ainda intensificar-se, pois os estudantes lidam com o receio de não entenderem ou
não conseguirem se expressar nesta língua.
A professora Lúcia também faz o uso da língua materna- no caso, o português -
quando isto se mostra necessário para o entendimento dos estudantes. Vigotski (2009),
ao discorrer sobre o desenvolvimento de conceitos científicos, pensa também sobre o
aprendizado de línguas estrangeiras, comparando-o e relacionando-o ao aprendizado da
língua materna. O autor afirma que estes dois processos ocorrem em sentidos opostos: a
criança aprende a língua materna de forma inconsciente e não intencional, enquanto que
a língua estrangeira começa a ser estudada pela tomada de consciência e pela intenção.
Vigotski ilusta esta relação:
161
No primeiro caso, surgem antes as propriedades elementares
inferiores da fala, e só mais tarde se desenvolvem as suas formas
complexas, vinculadas à tomada de consciência da estrutura fonética
da língua, das suas formas gramaticais e da construção arbitrária da
língua. No segundo caso, desenvolvem-se antes as propriedades
superiores e complexas da fala, vinculadas à tomada de consciência e
à intenção, e só mais tarde surgem as propriedades elementares
vinculadas ao emprego livre e espontâneo da linguagem alheia.
(VIGOTSKI, 2009, p. 353).
O autor mostra também que os pontos frágeis na língua materna são os pontos
mais fortes na língua estrangeira, e vice-versa. Exemplo disto é que a fala fluída, viva e
espontânea é atingida com enormes dificuldades na língua estrangeira, mas o
desenvolvimento da língua materna começa pelo uso livre e espontâneo da fala. Por
outro lado, Vigotski (2009) indica que uma criança pode usar com perfeição as formas
gramaticais, mas não tem consciência delas, não conseguindo, por vezes, identificar o
gênero ou a forma gramatical que utiliza de maneira correta. Já na língua estrangeira,
desde o início, diferere os gêneros feminino e masculino e tem consciência das
modificações gramaticais.
Essas vias de sentidos opostas do desenvolvimento das línguas trazem, segundo
Vigotski (2009), uma interdependência, análoga àquela que existe entre o
desenvolvimento de conceitos espontâneos e científicos. O autor argumenta que a
aprendizagem de uma língua estrangeira se apoia no nível de desenvolvimento da língua
materna; o sistema de significados da língua materna é transferido para a esfera da outra
língua. Contudo, o contrário também é verdadeiro: o aprendizado de uma língua
estrangeira possibilita o domínio de formas superiores da língua materna, pois permite a
compreensão de sua língua materna como um caso particular do sistema linguístico,
dando a possibilidade de generalizar fenômenos da língua e, em consequência, tomar
consciência das próprias operações linguísticas. Vigotski (2009) afirma:
O desenvolvimento da língua estrangeira no campo da língua
materna é uma generalização dos fenômenos linguísticos e uma
tomada de consciência das operações de linguagem, isto é, uma
tradução desses fenômenos para o plano superior da linguagem
consciente e arbitrária. É precisamente neste sentido que se deve
entender a sentença de Goethe, segundo a qual “quem não conhece
162
nenhuma língua estrangeira não conhece integralmente sua própria
língua” (p. 355).
Com isto, defende-se, junto a autores contemporâneos (REVUZ, 1997; TERRA,
2009; QUAST, 2003, 2009; SÃO PEDRO, 2016) que o uso da língua materna não deve
ser banido da sala de aula de língua estrangeira. Pelo contrário, enfatiza-se a interação
entre língua materna e língua estrangeira, visto que uma uma pode auxiliar no
desenvolvimento da outra. Desta forma, evidencia-se o uso da língua portuguesa feito
pela professora Lúcia durante as aulas, o que ocorria, essencialmente, em momentos em
que desafios mais complexos se apresentavam aos estudantes. Destaca-se a atividade de
ensino de produção escrita, apresentada na Matriz 5.0, na qual a professora amparou o
ensino de esquemas de escrita na língua inglesa nos conhecimentos prévios que os
estudantes tinham da língua portuguesa:
I think we are going to use a little Portuguese
now. Quando vocês tiveram aula de produção
de texto, que dicas de produção de texto... Em
português... Que dicas de produção de texto
vocês se lembram, quando vocês vão...
escrever um texto? Algumas das coisas das
quais vocês se lembram, do Ensino Médio.
Um estudante diz: O tipo...
Professora: O tipo. É, a gente tem uma
pequena... Teoricamente, existe uma pequena
diferença entre tipo e gênero. Tipo, seria
narrativa, argumentativo, texto expositivo. E o
gênero é aquele que depende do contexto de
uso.
(Estudantes acenam com a cabeça,
concordando).
Professora: É esse que você quis dizer? É, o
gênero... Ok, depende do gênero. Então, o
gênero aula, o gênero o quê? Uma história que
se conta pra criança, um artigo de opinião pro
jornal, uma opinião num blog, que é diferente,
né? Cartas, e depende da carta, se é uma carta
comercial, se é uma carta o quê...?
Professora busca saber o que os estudantes
aprenderam sobre produção de texto em suas
aulas de português, na escola. Com isto, ela
procura estabelecer uma ponte com o que será
trabalhado nesta atividade de produção de
textos em inglês.
Com a colaboração dos estudantes, professora
fala sobre alguns aspectos a serem levados em
consideração quando se escreve um texto.
163
Ana: Pessoal?
Professora: Pessoal! Ou se é uma carta
profissional, né? Que mais, gente? Isso é o
gênero, a situação de uso de linguagem, você
tem que levar em conta. Não é isso? Quem é
seu interlocutor... E que mais? Como
organizar esse texto?
Carolina: Introdução, desenvolvimento,
conclusão...
Professora: Introdução, desenvolvimento e
conclusão? Tá certo, isso é no nível macro.
Em um nível... Não tão micro, mas ainda
pensando como você vai organizar esse texto,
quantos parágrafos, como é que se dá isso?
Como esses parágrafos são organizados...?
Vocês lembram de alguma coisa?
Professora faz mais perguntas, instigando a
participação da turma.
A professora e os estudantes continuam
identificando outros pontos que devem ser
considerados na escrita de um texto.
(Matriz 5.0, Anexo 5)
Neste trecho, e na sequência da atividade, observa-se claramente como a língua
materna pode apoiar a aprendizagem da língua estrangeira. A professora Lúcia utiliza
esta relação de forma adequada: mobiliza conhecimentos dos estudantes e, verificando
aquilo que eles já sabiam sobre produção escrita, introduz o ensino de organização de
parágrafos, assunto importante para a produção de textos em inglês. Além disto, o uso
da língua portuguesa garante que as instruções, primeiro ponto que compõe uma
atividade de ensino, sejam, de fato, compreendidas pelos estudantes.
Outro ponto a ser discutido sobre as atividades de ensino é seu desenvolvimento.
Na aula da professora Lúcia elas eram desenvolvidas em diferentes arranjos da sala de
aula: trabalhos em duplas ou pequenos grupos; discussões ou resoluções de exercícios
que envolviam todo o grupo; exercícios realizados individualmente. A professora Lúcia
primava pelo trabalho em grupo, favorecendo a relação entre os estudantes. Enquanto os
estudantes realizavam exercícios ou discutiam um assunto em grupos, a professora
mantinha-se ativa, andando pela sala, esclarecendo dúvidas e, às vezes, dando feedback
já durante o desenvolvimento da atividade de ensino.
164
A professora Lúcia também oportunizava espaço para a reflexão individual em
sala de aula, em momentos que solicitava que os estudantes escrevessem um parágrafo,
elaborassem perguntas ou respondessem questões individualmente, mas estas atividades
eram corrigidas coletivamente. Por meio das tarefas de casa, a professora Lúcia
possibilitava que os estudantes estudassem mais profundamente alguns tópicos, como os
contéudos gramaticais (para que eles levantassem dúvidas), a leitura de textos e as
produções escritas.
O olhar para o desenvolvimento das atividades permite concluir que diferentes
estratégias de ensino eram utilizadas pela professora Lúcia: ela fazia uso da aula
expositiva para explicar novas estruturas de gramáticas ou questões de vocabulário; ela
propunha leitura coletiva de textos, seguidas de discussão sobre seu conteúdo, bem
como propunha leituras individuais em que os estudantes interepretavam o texto
sozinhos. Neste sentido, cabe lembrar que não existe uma forma melhor ou pior de
ensinar, ressalta-se a coerência entre o objetivo proposto e a estratégia de ensino
escolhida pela professora, de modo que a aprendizagem dos estudantes seja garantida.
Destaca-se também o uso de diferentes gêneros discursivos (BAKHTIN, 2003)
nas propostas didáticas da professora Lúcia: ela utiliza jornais, filmes, músicas,
postagens em blogs, postagens do Instagram, palestra, entre outros. O ensino de línguas
pautado nos gêneros discursivos é defendido por diversos estudiosos da Linguística
Aplicada (ROCHA, 2012; TÍLIO, 2013) e indica uma visão de linguagem como prática
social. Esta concepção de linguagem possibilita maior aproximação dos estudantes com
a língua inglesa, tanto pelo fato de o uso da língua passar a fazer mais sentido para eles,
quanto por formá-los para o engajamento em práticas sociais diversas, em diferentes
esferas de comunicação. As propostas de produções escritas foram pautadas em gêneros
discursisvos e, além disto, foram escolhidos gêneros que se associavam com a vida dos
estudantes - perfil de rede social, cover letter - tendo sido atividades de ensino
apreciadas pelos estudantes.
A fala da professora, quando reflete sobre o uso de filmes, vídeos, músicas e
textos diversos na sala de aula, assim se expressa: “É, assim, (o inglês) tá tão perto
deles, tão perto deles! Eles precisam se tocar do inglês que tá tão perto deles!”
(Professora Lúcia, Anexo 9). Este comentário segue na mesma direção da noção de
World English proposta por Rajagopalan (2004a), a qual defende que a língua inglesa
não pertence somente aos chamados donos oficiais, em geral, representados por
165
Inglaterra e Estados Unidos, passando a pertencer a todos que utilizam e/ou falam
aquela língua. Esta concepção de que a língua não tem um dono, além de romper com a
visão hegemônica, facilitaria a aproximação dos estudantes com a língua inglesa. É mais
difícil que o estudante tente falar a língua que é “do outro”, ainda mais este outro
idealizado, tal como é a figura do “falante nativo”, trazendo diversas preocupações e
angústias, tais como o medo de errar, o sentimento de incapacidade, ter vergonha de
falar, a preocupação de “falo inglês britânico ou americano?”. Ressalta-se que este é um
ponto que a professora Lúcia toca - como na tentativa de mostrar que a língua inglesa
está próxima aos estudantes - mas não enfoca em sua prática pedagógica, valendo
destacar que, uma maior ênfase nesta discussão poderia favorecer a aproximação com a
língua, especialmente pensando-se na questão afetiva.
A questão da afetividade nos processos de ensino-aprendizagem relaciona-se,
fundamentalmente, com a construção do conhecimento. Quando este tema é levado à
sala de aula de língua inglesa, a afetividade e a questão da aproximação ou afastamento,
ganham uma nova faceta, a qual se refere à questão discursiva. É diferente o
aprendizado de línguas em relação a outros conteúdos, pois a língua, além de objeto de
conhecimento é também constituiva da subjetividade humana, e com isto, apresenta-se
também como instrumento de poder e controle ideológico. O distanciamento da língua
como constitutiva do sujeito pode ser resumido na questão “Eu falo a língua do outro?”.
Romper com esta noção implica em destituir aquele falante idealizado do posto de
“dono da língua” e isto, quando trazido para a sala de aula, significa trazer este
questionamento como conteúdo a ser ensinado/aprendido, tanto quanto as questões do
sistema linguístico.
O workshop sobre línguas indígenas brasileiras, no entanto, foi uma prática
trazida pela professora Lucia, que, seja de maneira intencional ou não, colocou a língua
inglesa e a sala de aula como um lugar de resistência ao “imperialismo linguístico”. Isto
porque a palestra trouxe a reflexão sobre o apagamento de línguas, a construção da
identidade e as relações entre língua e cultura, como pode ser observado pelos textos
escritos pelos estudantes:
It was related more to the symbolism about the language.
They wanted to convince them that they are alloyed allowed and
should speak their native languages because it is a mark of their
identity as people. It helps to keep their cultures alive and give
166
them strength to fight for their rights. (Trecho de texto escrito
por Júlia, Anexo 8)
The workshop was very important for me because I have
realized that I can keep up with an lecture in English and,
mainly, because the workshop could show me a very different
perspective from of Brazil. Teca has showed me a pluricultural
and plurinational Brazil. Besides that, we could realized how
the language is an important instrument for a people's identity,
self esteem and fight for their own rights. It was remarkable!
(Trecho de texto escrito por Laís, Anexo 8)
As produções dos estudantes demonstram que, ao entrarem em contato com a
história de imposição da língua portuguesa como língua oficial no Brasil, eles puderam
refletir sobre a língua como instrumento de controle e de poder. Os estudantes
mostraram-se satisfeitos em conhecer mais sobre a história e a cultura do próprio país e
indicam a reflexão sobre a importância da língua (e de sua preservação) para a
afirmação da cultura e como instrumento de luta por direitos. Além disto, a experiência
do workshop possibiliutou aos estudantes a sensação de sentirem-se “capaz de”, uma
vez que conseguiram acompanhar a palestra ministrada em inglês. Este sentimento,
como apontado por Leite (2018), implica em maior aproximação, de caráter afetivo,
com o objeto de conhecimento.
Outra característica relevante das atividades de ensino realizadas com a turma de
Inglês IV é a participação ativa dos estudantes durante seu desenvolvimento. As
propostas da professora Lúcia davam a oportunidade para que os estudantes refletissem
sobre os conteúdos, criassem seus próprios enunciados, expressassem suas opiniões e
levantassem dúvidas. Neste sentido, destaca-se o engajamento dos estudantes nas
atividades de ensino, retomando Vigotski (2009), o qual afirma que o pensamento tem
sua origem na esfera da motivação, que inclui interesses, inclinações e emoções. Pode-
se inferir, portanto, que o engajamento dos estudantes, observado por meio da
participação ativa da turma nas atividades de ensino realizadas em sala de aula,
relaciona-se com o fato de a professora Lúcia considerar a realidade e os interesses dos
estudantes no planejamento do curso.
A participação dos estudantes nas atividades de ensino é uma questão
amplamente discutida nos estudos sobre afetividade e práticas pedagógicas (LEITE,
2018). Descentralizar a aula, mudando a posição do professor, possibilita repensar as
167
relações de poder na sala de aula, em que o professor passa a ocupar uma posição de
autoridade, e não mais autoritária. Freire (2011) afirma que
exercer a minha autoridade de professor na classe, tomando decisões,
orientando atividades, estabelecendo tarefas, cobrando a produção
individual e coletiva do grupo não é sinal de autoritarismo de minha
parte. É a minha autoridade cumprindo o seu dever (p.60).
Portanto, reafirma-se que se distanciar da posição autoritária não significa
destituir-se da responsabilidade docente de planejar, organizar e executar as atividades
de ensino. Pelo contrário, Freire (2011) deixa claro que é papel do professor tomar
decisões, orientar tarefas e cobrar a participação dos estudantes. O autor mostra ainda
que a autoridade do professor se relaciona, de maneira tensa, com a liberdade do
educando. Opondo esta relação autoridade-liberdade a autoritarismo-licenciosidade,
Freire (2011) defende que o ideal seria que deste confronto tenso entre autoridade e
liberdade fosse possível que ambos os elementos aprendessem a ser eles mesmos,
produzindo situações dialógicas, advogando em favor de uma autoridade docente
democrática, que respeite a liberdade dos estudantes. A oportunidade de discutir, refletir
e expressar-se cria espaços mais democráticos em sala de aula. Além disto, no caso
específico do ensino de línguas, destaca-se a importância de que os estudantes possam
elaborar seus próprios enunciados, e não só repetir modelos fornecidos pelo professor
ou pelo livro didático (TÍLIO, 2013; SÃO PEDRO, 2016), algo que, de fato, acontencia
nas aulas da professora Lúcia. Exemplo disto foi atividade descrita na Matriz 4.0, em
que os estudantes conversam sobre superstições. Depois de terem lido sobre algumas
superstições populares na Inglaterra, os estudantes foram convidados a pensarem em
superstições brasileiras. Para isto, conversaram em duplas, identificando ideias e
construindo, com suas próprias palavras, frases que expressassem as superstições
lembradas, para que pudessem compartilhar com o restante da sala.
Ainda sobre a autoridade docente, Freire (2011) defende que esta só é possível
quando o professor apresenta competência profissional:
A segurança com que a autoridade docente se move implica
uma outra, a que se funda na sua competência profissional. Nenhuma
autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor
que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce
168
para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as
atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a
prática democrática do professor ou da professora sejam determinadas
por sua competência científica. Há professores e professoras
cientificamente preparados mas autoritários a toda prova. O que quero
dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do
professor (p. 89)
Tendo estas noções freirianas em vista, é inegável a competência profissional da
professora Lúcia, uma vez que ela se mostra uma docente estudiosa e ativa na busca por
aprimoramento profissional e por qualificação acadêmicada. Esta competência é
reconhecida e valorizadas pelos estudantes. Freire (2011) defende que o exercício da
autoridade docente é imprescindível para a construção da autonomia dos estudantes,
argumentando que esta autonomia funda-se na responsabilidade que vai sendo
assumida.
As atividades de ensino propostas pela professora Lúcia, bem como seu modo de
relacionar-se com a turma, indicam que ela procurava dar maior autonomia aos
estudantes. Sem se eximir de suas responsabilidas como professora, o que Lúcia fazia
era auxiliar o estudante na construção desta autonomia, que pode ser relacionada com o
conceito vigotskiano de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Este conceito
supõe que, no processo de desenvolvimento (bem como no processo de construção do
conhecimento), há conceitos que já foram apropriados pelos sujeitos e, portanto, fazem
parte de seu desenvolvimento real. Por outro lado, há conceitos, ideias e atitudes que
ainda estão em situação emergente, que não foram plenamente compreendidos e que,
por isto, dependem do auxílio do professor ou dos pares, nas relações de mediação.
Lúcia desenvolvia, em sala de aula, práticas como: procurar palavras na internet
junto aos estudantes; incentivar o trabalho em grupos, oportunizando a mediação entre
pares; indicação de livros, filmes e músicas; perguntar (e escutar) opiniões dos
estudantes sobre temas variados; dar aos estudantes a possibilidade - e a
responsabilidade - de escolherem seus temas para apresentação oral. Tais práticas
criavam, de maneira gradual, condições para práticas cada vez mais autônomas dos
estudantes em suas relações com a língua inglesa e, por consequência, com a inserção e
o uso desta língua em suas vidas. As falas de Diego e de Miguel dão exemplos disto:
Diego: Ela já mostrou filmes pra gente- cenas, coisas
assim- que eu gostei e depois fui ver por fora; já mostrou
169
músicas, que depois eu baixei no celular pra ficar ouvindo,
porque eu gostei.(...) Porque quando você tá aprendendo inglês,
é legal você ver filmes em inglês pra tornar seu vocabulário
mais rico. Ela ajuda, ela incentiva isso de uma forma legal,
sabe. (Diego, Anexo 9)
O estudante relata que, devido às indicações da professora, feitas em sala de
aula, ele passou a assistir filmes e ouvir certas músicas fora do ambiente escolar. Este
relato indica uma aproximação do estudante com a língua inglesa em sua vida,
movimento que o próprio estudante relaciona à prática da professora Lúcia. Miguel, em
um relato parecido, afirma que a paixão da professora Lúcia por determinados
conteúdos o inspirou a buscá-los fora da sala de aula:
Miguel: Acho que ela tenta trazer o melhor, assim, não
se acomoda só no livro. E ela dar isso pra gente, acho que a
gente vai olhar mais vezes... Ela gosta de trazer coisas que ela é
apaixonada também. Tipo um filme que ela gosta, ela fala de
um livro, ela mostra coisa na internet... É, isso eu acho
importante, por ser a paixão dela. Então, ela passa aquilo pra
gente, a gente vai gostar daquilo e vai se interessar mais pelo
inglês. Eu acho que é excelente também, isso... (...) acho que
funciona. Principalmente, por ser uma coisa que ela realmente
é apaixonada. Então, ela vai mostrar pra gente e a gente vai
gostar. Acho que funciona, acho que é uma das melhores... Acho
que é uma boa didática. Igual, quando eu vou passar ciência
pro pessoal, vou falar de física com alguém, tem coisa que eu
sei que todo mundo vai gostar. Eu acho que ela faz isso, sabe.
Ela sabe que todo mundo vai gostar, então ela passa aquilo.
(...)
Então, eu acho que ela faz esse tipo de coisa: passa um filme e o
filme é até simples de você entender a linguagem, mas que ela
gosta daquilo e acha que a gente vai se interessar. E a gente se
interessa mesmo e vai ver o filme que ela falou, ou livro
também. Tiveram alguns livros que ela falou, que eu me
170
interessei e fui dar uma olhada. Ainda não peguei, mas gostaria
de ler. (Miguel, Anexo 9, grifos da pesquisadora)
A fala de Miguel coloca em pauta o papel das emoções na construção da
autonomia dos estudantes, uma vez que ele relaciona, explicitamente, a “paixão” da
professora como fonte de inspiração para suas próprias escolhas de filmes e livros. Com
base na Teoria Histórico-Cultural, pode-se afirmar que gostos, atitudes e valores
também são construídos cultural e historicamente, nas e pelas as relações sociais.
Espinosa define amor como “uma alegria acompanhada de uma causa exterior”
(SPINOZA, 2017, p. 241), afirmando que o ser humano fará esforço, tanto quanto pode,
para preservar a coisa amada. O filósofo discorre também sobre a relação dos homens
com seus semelhantes, indicando que o ser humano pode ser afetado por afetos
parecidos com os de seus semelhantes:
se imaginamos que alguém semelhante a nós é afetado de
algum afeto, essa imaginação exprimirá uma afecção de nosso corpo
semelhante àquele afeto. Portanto, se imaginarmos que uma coisa
semelhante a nós é afetada de algum afeto, seremos afetados de um
afeto semelhante ao seu. Mas se odiamos uma coisa semelhante a nós,
seremos afetados, neste caso, não de um afeto semelhante ao seu, mas
de um afeto contrário. (SPINOZA, 2017, p. 195)
Portanto, o afeto de amor que a professora Lúcia tinha pelos conteúdos
compartilhados com os estudantes, pode, de fato, “afetá-los de um afeto semelhantes”,
tal como Miguel indica em sua fala. Esta relação é reforçada ainda pelo fato de os
estudantes terem apreço pela própria professora. Os sentimentos de alegria, e até mesmo
de amor, da professora, ao falar sobre determinados temas e/ou objetos culturais, afeta
os estudantes, fortalecendo a potência de suas recomendações e instigando-os a
buscarem tais conteúdos fora do horário e ambiente das aulas. E, conforme foi
explicitado acima, este contato com a língua inglesa, na vida cotidiana dos estudantes,
indica a construção de práticas mais autonômas em relação a este objeto.
A participação constante dos estudantes nas atividades é fator imprescindível
para o bom resultado do processo de ensino-aprendizagem, mas não se basta. O
feedback do professor também é uma intervenção necessária para que o aprendiz saiba
se está no caminho adequado. A professora Lúcia fornecia correções atentas e precisas,
171
ajustando-as ao tipo de atividade de ensino que estava sendo realizada: quando os
estudantes discutiam em grupo, ela deixava-os conversar livremente, apontando
correções somente no momento da discussão coletiva; quando os estudantes resolviam,
individualmente, exercícios de completar ou de elaborar frases a partir de palavras
dadas, a professora conduzia uma correção coletiva, em que cada estudante apresentava
uma resposta. Sobre o feedback, a professora afirmou:
Aí, eu fico pensando que expô-los é muito mais complicado do
que não corrigir o tempo todo, entendeu? Se eu corrigir,
corrigir, eu acho que pode pesar negativamente nessa relação
com a língua estrangeira. (Professora Lúcia, Anexo 4)
A professora Lúcia preocupava-se em não constranger os estudantes, mas não se
eximia da sua responsabilidade de, como professora, apontar correções necessárias.
Contudo, a professora Lúcia também dava espaços para as interpretações e sentidos
construídos pelos estudantes, especialmente nas atividades de interpretação de texto. Na
atividade descrita na Matriz 2.0, apresentada no capítulo anterior e retomada acima,
tem-se um exemplo das negociações de sentido no momento das correções:
Professora: Are you sure? You have to be
in good shape, yes... Em forma... You
don't have to be an athlete, but you have
to be in shape. You have to be physically
fit... I don't know...
Aurora: Ela diz que tem que ser ativo...
Professora: Então, mas se você está ativo,
você está em forma...
(Estudantes olham com expressão de
discordância)
Professora: Não? Não necessariamente?
Então é false! Then it's false. What do
you understand by active?
(…)
Há uma discordância sobre a resposta da
última frase, professora busca explicar o
que é “good shape”.
Aurora diz que, no áudio, a entrevistada
fala que as pessoas têm que ser ativas,
indicando que ela compreende “pessoa
ativa” e “pessoa em boa forma” como
coisas distintas. Outros estudantes
parecem concordar.
Professora diz que, já que eles entendem
de outra forma, então eles podem marcar
a questão como falsa. Ainda pergunta o
que eles entendem por “pessoa ativa”.
(Matriz 2.0, Anexo 2)
172
Quast e Banks-Leite (2011) chamam atenção para a produção dos sentidos na
aula de língua de estrangeira, lembrando que a “língua(gem) não é apenas ‘objeto de
conhecimento’ a ser transmitido, mas é “constitutiva do conhecimento na interação” (p.
182). As autoras mostram que os estudantes, ao tirarem uma palavra do livro didático,
podem retomá-la e dar a ela nova vida, e, passam a significá-la a partir de suas
experiências e memórias. As autoras afirmam, no entanto, que o encontro entre palavra
ressignificada e a palavra do outro não é neutro, o que provoca o questionamento:
aceita-lá ou não? Acolhê-la ou não?
Vigotski (2009) afirma que a palavra realiza a experiência, isto é, permite
compreender, concretizar a experiência. Contudo, Quast e Banks- Leite (2011) apontam
que, para que isto ocorra “é preciso distanciar-se da mera nomeação, da instrução”
(p.185) e dar espaço para processos intersubejtivos, dinâmicos e dialógicos, que
contribuam para o processo de produção de significado/sentidos. As autoras afirmam
que uma verdadeira aprendizagem “implica produção (dialógica) dos sentidos,
transformação, (re)elaboração” (p.185), em processos permeados pelas emoções.
O espaço que a professora Lúcia dá às interpretações dos estudantes, além de
compor um acolhimento não-autoritário, que afeta as relações dos estudantes com a
língua inglesa, representa também a possibilidade de que os estudantes entrem em
diálogo com a professora. Com isto, não são impelidos a apenas copiar o discurso que
vem da professora ou do livro didático, mas são convidados a produzir novos
enunciados.
A última das cinco decisões apontadas por Leite e Tassoni (2002) refere-se à
escolha dos procedimentos de avaliação. Os autores destacam que a avaliação pode ser
profundamente aversiva quando o aluno percebe que as consequências de um
desempenho aquém do esperado podem ser direcionadas contra ele próprio. Leite
(2018) relembra que este tipo de processo de avaliação é comum nas escolas
tradicionais, em que os alunos estudam para tirar nota em uma prova ou para evitar
consequências negativas.
Leite e Tassoni (2002) e Leite (2012) indicam que uma das alternativas que se
colocam à avaliação tradicional encontra-se no conceito proposto por Luckesi (1984) -
avaliação diagnóstica. Nesta concepção, os resultados da avaliação são utilizados
173
sempre a favor do aluno, uma vez que servem para amparar mudanças necessárias nas
condições de ensino para que a aprendizagem, de fato, contretize-se.
Os procedimentos de avaliação utilizados pela professora Lúcia foram descritos
no capítulo anterior, cabendo agora retomá-los pelo fato de que este processo é “um dos
principais fatores determinantes da qualidade dos vínculos que se estabelecerão entre o
sujeito e os objetos do conhecimento” (LEITE e KAGER, 2009).
O planejamento da professora Lúcia previa a utilização de dois diferentes
procedimentos de avaliação: a prova escrita e uma apresentação oral. Ao final do
semestre, a professora decidiu incluir, como parte da nota final dos estudantes, a
produção escrita que eles haviam realizado sobre o workshop de línguas indígenas. Esta
decisão foi tomada pela professora pelo fato de a turma ter se saído muito bem nesta
atividade. Destaca-se, portanto, que a professora procurou valorizar o esforço e o bom
desempenho dos estudantes.
A respeito das provas escritas, foi possível notar a coerência entre os conteúdos
ensinados em aula e aqueles cobrados na avaliação, ponto destacado pelos estudantes.
Também foi elogiado o fato de a prova permitir (ou até mesmo propor) a produção
própria dos estudantes, ou seja, não foi uma prova que avalia puramente práticas
mecânicas. Eles puderam criar frases e utilizar palavras conforme desejassem, desde
que respondessem às questões de forma adequada. Desta forma, os estudantes puderam
produzir seus próprios enunciados- como é proposto por autores que defendem o ensino
de línguas orientado pelos gêneros discursivos (ROCHA, 2012; TÍLIO, 2013; SÃO
PEDRO, 2016)- e não necessitaram prender-se a formas engessadas do uso da língua
inglesa.
A professora fez a resoluçao da prova escrita junto com a turma, momento no
qual os estudantes podiam sanar dúvidas ou questionar itens na correção. Esta prática
contribui para uma relação mais igualitária entre professora e estudantes, o que pode ser
esperado da relação Eu-outro na idade adulta, conforme proposto na teoria de Wallon
(1986). A transparência da professora sobre os processos avaliativos - notados, por
exemplo, ao ter mostrado os itens que seriam avaliados na apresentação oral - também
marcam esta relação de maior reciprocidade.
Por meio da exposição teórica das “cinco decisões”, vinculadas aos dados sobre
as práticas pedagógicas da professora Lúcia, buscou-se mostrar que são estas práticas
174
que proporcionam o clima de alegria na sala de aula, clima que é possibilitado, em
parte, pelo fato de os alunos perceberem que estão tendo sucesso no processo de ensino-
aprendizagem. As atividades de ensino propostas amparam o estabelecimento das
relações cooperativas e saudáveis, apresentadas na primeira seção deste capítulo.
Reafirma-se que foram as práticas pedagógicas da professora, o tipo de atividade
proposta e realizada em sala de aula, que garantiram que se estabelecessem boas
relações entre estudantes e entre estudantes e professora, o que contribuiu para que o
sentimento geral da sala de aula fosse de alegria, o que, por sua vez, repercutiu nas
relações entre estudantes e a língua inglesa.
É importante ressaltar que cada indivíduo é afetado de uma forma, ou, como
afirma Spinoza (2017) “Homens diferentes podem ser afetados diferentemente por um
só e mesmo objeto” (p.221). Essa afirmação pode ser melhor compreendida quando se
toma em consideração as ideias de Vigotski (2009) acerca da construção da subjetivade
humana. O autor destaca a necessidade de se estudar a formação histórica dos
problemas/objetos de pesquisa, seguindo a influência de Marx e Engels (2007), os quais
afirmam que “a história é a única ciência possível”, compreendendo-se a história como
condição de produção material da vida. Neste sentido, dentro dos limites da presente
pesquisa, é preciso considerar que a história de cada estudante - sua experiência pessoal
e sua trajetória escolar - como constitutiva de sua subjetividade e, por consequência,
será constitutiva das relações que este estudante terá em sala de aula, com o processo
de ensino-aprendizagem e com a língua inglesa, no caso o objeto de ensino.
Segundo Vigotski, a subjetividade humana é constituida de sentidos e
significados construídos historicamente e compartilhados por meio da cultura. Retoma-
se a relação ente pensamento e linguagem proposta pelo autor: para Vigotski a
linguagem não é apenas expressão do pensamento. O pensamento se realiza na palavra.
Nesta direção, entrelaçamento afeto-cognição pode ser compreendido na relação entre
significado e sentido da palavra. Apoiado em Paulham, Vigotski (2009) argumenta que
o significado da palavra, apesar de também mudar, é uma zona mais estável, uniforme e
exata. Já os sentidos são uma formação fluída e dinâmica, com variações na
estabilidade; o sentido da palavra “é a soma de todos os fatos psicológicos que ela
desperta em nossa consciência” (p. 465).
Compreende-se que os sentidos são apropriações feitas pelo sujeito dos
significados, compartilhados socialmente, mas que passam pelo prisma das experiências
175
individuais. Desta forma, pode-se afirmar que as diferentes formas de ser afetado por
uma mesma situação relacionam-se aos processos de significação, que são únicos para
casa indivíduo.
O caso da estudante Maria ilustra como cada sujeito pode ser afetado de forma
diferente por um mesmo objeto e como, por meio de sua história, pode se compreender
melhor este processo de significação. Maria, ao relatar sobre as atividades em aula de
que mais gostava, afirmou:
Maria: E, tipo, teoricamente, era para eu gostar bastante- e eu
gosto até- da parte de conversação, sabe? Só que, sei lá, às
vezes eu fico meio emperrada.
Isabela: Por que você se sente assim?
Maria: Ah, porque eu tenho vergonha de falar. (Trecho de
entrevista)
Maria diz que deveria gostar das atividades de conversação, o que já simboliza
expectativas externas em relação à aprendizagem de língua inglesa - o que se vende e o
que se valoriza é aquele que sabe falar a língua; no entanto, ela demonstra não gostar
muito desta atividade. Apesar disto, foi possível observar que Maria participava das
discussões em dupla e parecia falar sem grandes dificuldades.
Em seguida, Maria afirmou que também não gostava das atividades com filmes,
vídeos e músicas, as quais, como foi discutido anteriormente, eram apreciadas pela
grande maioria dos estudantes. No entanto, Maria afirmou que estas atividades “não lhe
acrescentam em nada” e, finalmente, disse gostar “daquelas folhas de gramática”. Ao se
rever a história de Maria com a língua inglesa, apresentada no capítulo 3, observa-se
que, em sua escola, houve uma divisão em níveis para as aulas de inglês, e ela foi
colocada em um nível mais alto. Contudo, Maria não se sentia preparada para aquele
nível e percebeu que não estudou muitos conteúdos sobre estruturas gramaticais. Deste
modo, seu intuito no curso de Inglês IV, era suprir aquelas lacunas, isto é, compreender
melhor e esclarecer dúvidas antigas sobre questões de gramaática.
É notável também afirmação de Maria sobre o modo como a professora Lúcia
explicava e oportunizava a prática de gramática: “Ah, eu gosto. Eu gosto. Tipo, ela
simplificou todas as minhas dúvidas, parece. Simplificou muito.” (Maria, Anexo 3).
176
Esta afirmação sugere, portanto, que, apesar de a estudante não gostar (ou sentir que não
aproveita) determinadas atividades de ensino realizadas em sala de aula, seu objetivo
com o curso de inglês também foi contemplado, pois ela pôde solucionar as dúvidas que
trazia consigo.
Desta forma, destaca-se que a ampla variedade de atividades de ensino,
propostas e realizadas pela professora Lúcia, possibilitou que as necessidades e
motivações de um grupo tão diverso fossem atendidas. Em alguns momentos, os
estudantes poderiam até ficar inibidos ou se sentirem tensos, mas a dinâmica
pedagógica possibilitava constantes mudanças no estado de ânimos dos estudantes. A
professora Lúcia construía situações que levavam em conta as diferentes formas de ser
afetado. Suas estratégias de ensino possibilitaram que os diferentes interesses fossem
contemplados, o que teve implicações na relação entre os estudantes e a língua inglesa,
que, como mostram os dados, foram no sentido de maior aproximação.
Outro fator que tem sido atribuído ao movimento de aproximação com os
objetos de conhecimento é a sensação de “sentir-se capaz de” (LEITE, 2018). A fala de
Giovana é bastante ilustrativa desta formulação:
Que eu gosto...? Eu gosto quando tem que ler texto e interpretar,
sabe? As questões... Quando tem aqueles textos grandes, eu gosto!
Porque, a maioria das vezes, eu entendo tudo. Eu fico feliz, satisfeita.
(Giovana, Anexo 1)
Nesta fala, é possível inferir que Giovana, como aprendiz da língua inglesa,
sentia-se satisfeita por conseguir compreender os textos em uma língua que não era a
dela, mas da qual ela se aproxima. A análise dos dados mostra que este sentimento era
experienciado pelos estudantes ao longo das aulas, conforme obtinham êxito na
realização das tarefas propostas por Lúcia. Estas experiências e relações com a língua
inglesa tendem à construção de sentidos positivos em relação à língua: satisfação,
alegria, realização pessoal. Estes sentimentos têm repercussões em suas vidas, mesmo
fora da sala de aula; por exemplo, eles buscam os materiais (em inglês) sugeridos pela
professora: assistem aos filmes, ouvem as músicas, leem os livros. Isto sugere maior
aproximação com a língua inglesa, caminhando em direção a tornarem-se mais
autônomos na relação com a língua. Assim, a consciência do sucesso, por parte do
177
sujeito, parece constituir-se como um dos principais fatores determinantes do
movimento de aproximação afetiva entre sujeito e objeto, como aponta Leite (2018).
Características da professora
A professora Lúcia poderia ser caracterizada como uma professora inesquecível
(LEITE, 2018), isto é, uma professora que, além de possibilitar a apropriação dos
conteúdos pelos estudantes, também desenvolve uma prática pedagógica que facilita a
aproximação dos estudantes com o objeto do conhecimento, no caso, a língua inglesa,
lembrando que esta aproximação é, simultaneamente, afetiva e cognitiva. De acordo
com o referencial teórico em que se baseia esta pesquisa - a Teoria Histórico-Cultural de
Vigotski e a psicogenética de Wallon, não faria sentido assumir que tais características
desta professora são inatas. Pelo contrário, defende-se que o sujeito (e da mesma forma,
o professor) constitui-se historicamente na/pela cultura, por meio de interações sociais
nas quais destacam-se os processos de mediação semiótica, constituivo das relações
socais com pessoas relevantes para o sujeito em seu ambiente social. Portanto,
compreende-se que a história de vida da professora Lúcia - seus laços familiares, sua
formação acadêmica, sua trajetória profissional, suas experiências pessoais - é que
possibilitaram sua constituição como professora de sucesso.
A trajetória acadêmica e profissional da professora Lúcia, descrita no capítulo 3,
permitiu que ela construísse um sólido repertório teórico sobre o processo de ensino-
aprendizagem de língua inglesa, o qual se refletia em sua prática pedagógica. Lúcia
deixou claro, por exemplo, que assumia os referênciais teóricos da Abordagem
Comunicativa para basear sua prática pedagógica. A adequação entre este referencial
assumido e a prática pedagógica de Lúcia pode ser notado, por exemplo, quando ela
afirma que um dos mais importantes princípios desta abordagem “é ter o estudante
como referência”, isto é, proporcionar atividades que sejam significativas para os
aprendizes e que atendam às suas necessidades. Em sala de aula, foi possível observar,
rotineiramente, a concretização desta ideia, por meio de atividades que davam espaço
para os estudantes se expressarem, compartilharem suas experiências pessoais e
emitirem suas opiniões
Apesar das críticas a esta abordagem, como as feitas por Tílio (2013), ressalta-
se que, na sala de aula observada, a coerência entre a teoria e prática - isto é, entre as
referências assumidas pela professora e as práticas pedagógicas realizadas,
178
concretamente, em sala de aula - possibilitou que o curso de Inglês IV fosse bem
planejado e desenvolvido, considerando-se as “cinco decisões” expostas anteriormente.
Portanto, o envolvimento dos estudantes com as atividades em sala de aula e os indícios
de aproximação afetiva com a língua inglesa são decorrentes, em grande medida, desta
clareza (e coerência) teórica da professora.
Destaca-se também a postura da professora Lúcia, isto é, seu modo de circular
pela sala de aula, aproximar-se dos estudantes, as maneiras como voltava-se a eles para
escutá-los, os gestos e olhares durantes as explicações. Leite e Tassoni (2002) relatam
que, em pesquisa sobre afetividade em sala de aula, os alunos apontaram como
categorias importantes sobre a postura do professor a “proximidade”, referindo-se à
proximidade física do professor, e “receptividade” que, por sua vez, refere-se às
posturas dos professores para ouvi-los e acolhê-los. Os autores afirmam que ambas as
categorias “foram interpretadas como uma forma de ensinar, de ajudar, assim como
tranquilizar e criar vínculos permeados de sentimentos de cumplicidade” (p. 11). Os
estudantes da turma de Inglês IV indicam que Lúcia mostrava-se receptiva em sala de
aula, sendo a relação com os estudantes de acolhimento e receptividade.
Tassoni e Leite (2010), retomando a questão da afetividade no processo de
ensino-aprendizagem, apontam que crianças mais novas destacam manifestações
afetivas de natureza tônico-postural, tais como a modulação da voz, o contato físico, a
proximidade entre os corpos. Os estudantes mais velhos ressaltam aspectos como
“consideração, atenção e respeito pelo que o aluno sente, pensa e pelo que ele é” (p.15),
indicando formas mais complexas de conexões e manifestações afetivas. Neste sentido,
é válido relembrar que Vigotski (1994) pondera que as transformações das
manifestações afetivas se dão em função do nível de compreensão que o sujeito tem
sobre as situações que as produz, o que envolve a elaboração de sentidos e significados
sobre estes contextos. Wallon (1979, 1986) defende que o conjunto afetivo, assim como
o cognitivo, desenvolve-se, sendo que as conquistas no plano afetivo contribuem para
novas conquistas no plano cognitivo, e vice-vera.
Considerando estas teorias, destaca-se que, na relação com estudantes adultos,
espera-se que o acolhimento e a receptividade do professor manifestem-se em atitudes
como mostrar-se acessível, ouvir as opiniões dos alunos, respeitar seus
posicionamentos. Lúcia relaciona-se com os estudantes, jovens adultos no contexto
universitário, de maneira adequada, estabelecendo relações de igualdade e
179
reciprocidade, concretizadas em pequenos gestos, como, por exemplo, pesquisar
palavras desconhecidas no Google junto com eles, recomendar filmes, emprestrar livros,
indicar vídeos por meio das redes sociais. Tal relação manifesta-se também em aspectos
mais abstratos, como: a abertura da professora às opiniões e desejos dos alunos; sua
disponibilidade em auxiliá-los com questões extra-classe (como ajuda em elaboração de
textos e inscrições em processos seletivos, feitos em inglês); a compreensão da situação
dos estudantes universitários, que têm grande carga horária de aulas e alta demanda de
estudos para provas e trabalhos, bem como a importância das notas da disciplina de
Inglês na composição dos histórico escolar dos estudantes, o qual afeta o futuro
acadêmico deles.
Algumas características pessoais da professora Lúcia também favoreciam o
clima alegre da sala aula. Os estudantes destacaram seu bom humor, afirmando que ela
sempre parecia estar feliz em sala de aula. O humor do professor é aspceto recorrente
nas pesquisas sobre afetividade (Leite e Tassoni, 2002; Tassoni, 2008). Cabe ressaltar
que Lúcia não era o tipo de professora que conta piadas ou que faz “palhaçada”, mas os
estudantes percebiam sua alegria; ela divertia-se com as histórias e brincadeiras dos
estudantes:
Michael: There is a real superstition. If you
step on a line on the street, you will broke
your spine.
Professora: You will break...
Michael: You will break your spine!
Professora: Oh, my God! Ok, I thought you
would say: If you step on a banana peel on the
street, you will break your spine!
Michael dá risada.
Professora: We step on line on the street all
the time! Knock on wood!! (Professora bate
na mesa).
Estudantes riem.
Professora faz graça com uma superstição,
tema da conversa. A turma dá risada.
(Matriz 4.0, Anexo 4)
Outra característica singular da professora Lúcia era sua paixão pela língua, que
afeta e influencia os estudantes. Ela também mostrava grande fascínio e conhecimento
por produções culturais, como música, literatura, cinema, artes plásticas, materializado
180
nos conteúdos compartilhados com os estudantes e utilizado em sua prática pedagógica.
Esta característica foi destacada e elogiada pelos estudantes, que indicaram a benéfica
influência deste ponto em suas relações com a língua inglesa, como foi discutido
anteriormente.
Conhecer a história da professora Lúcia, permite observar que, em sua
constituição, foram muito significativas as situações de mediação com as línguas
vivenciadas no ambiente familiar, o que lhe possibilitou uma aproximação fortemente
afetiva com este objeto. Foi também no ambiente familiar que Lúcia aproximou-se dos
universos do cinema, da música e da literatura, sendo esta última ampliada também pela
experiência escolar. Considerando que esta característica é constitutiva da prática
pedagógica de Lúcia, reforçando-se o pressuposto teórico de que os professores se
constituem em um processo histórico e contínuo, o qual é composto,
indissociavelmente, de cognição e afeto.
Considerações finais
A presente pesquisa procurou demonstrar, por meio dos dados coletados e
analisados, como as práticas pedagógicas de uma professora – no caso, a professora
Lucia - podem influenciar nas relações que o estudante desenvolverá com o objeto do
conhecimento – no caso a língua inglesa. A análise das práticas pedagógicas
apresentadas nesta pesquisa permitiu compreender que a aproximação dos estudantes
com a língua inglesa foi possibilitada pelo fato de que o sentimento que se colocava na
sala de aula era de alegria. Spinoza (2017) define alegria como o afeto que aumenta a
potência de ação do sujeito. Tal sentimento concretizou-se por meio das relações que
constituíram este espaço (professor-estudante; entre estudantes; professora- língua
inglesa; estudante- língua inglesa) viabilizadas pelas atividades de ensino propostas,
pela postura receptiva e bem-humorada da professora, além de uma visão de linguagem
que proporcionou uma maior aproximação dos aprendizes com a língua inglesa. Essas
condições acima referidas possibilitaram aos alunos vivenciaram uma situação de
sucesso no processo de ensino-aprendizagem, percebida de forma consciente pelos
mesmos. Entende-se como aprendizagem de sucesso aquela que possibilita ao estudante
não somente a apropriação do conhecimento, mas também a construção de vínculos
afetivos positivos com o objeto estudado (LEITE, 2018); da mesma forma, no caso da
aprendizagem de línguas este sucesso inclui também se sentir bem consigo mesmo
181
como usuário da língua e como parte de uma comunidade linguística, e não somente
utilizar a língua de forma acurada (SWAIN, KINNEAR e STEINMAN, 2011).
Considera-se que a apropriação do conhecimento pelo sujeito tem caráter
humanizador e transformador, contribuindo para o exercício de sua cidadania. Desta
forma, conforme defende Leite (2018), ao se assumir que as práticas pedagógicas têm
implicações que são de natureza também afetiva, e não somente cognitiva, não é mais
possível, do ponto de vista ético e político, planejar e desenvolver um trabalho
pedagógico que envolva relações aversivas com o conhecimento, em que o sujeito se
comporta para evitar situações de punição, tal como ocorre nas escolas. tradicionais.
Este modelo tradicional, ainda observado em muitas escolas, tem causado situações em
que o aluno estuda apenas para evistar consequências aversivas e não em função de um
envolvimento afetivo positivo com o objeto de conhecimento em questão.
Do ponto de vista educacional, estas formulações direcionam para a revisão da
organização dos espaços, relações e tempos escolares. Neste sentido, pesquisas como as
do Grupo do Afeto, inclusive esta que aqui se apresenta, contribuem tanto por reafirmar
a importância de considerar-se a afetividade no processo educacional, quanto por
mostrar que práticas diferenciadas - que integrem a apropriação do conhecimento aos
sentimentos de alegria e às relações de aproximação - são possíveis. Neste sentido,
destaca-se a relevância da descrição de práticas pedagógicas, uma vez que é neste
cenário - a sala de aula - que as ideias se concretizam.
A pesquisa conduz também à reflexão acerva do trabalho coletivo nas
instituições educacionais. A professora Lúcia aponta dificuldades neste quesito,
relatando que os problemas administrativos e institucionais criaram situações de
desapontamento, o que, inclusive, levou-a a se aposentar assim que atingiu os requisitos
necessários para tal. Da parte dos estudantes, houve relatos a respeito de professores, da
mesma instituição, que causaram repulsão ao estudo da língua inglesa e até à própria
língua. A importância da gestão e do trabalho coletivo na educação foi apontada em
trabalhos do Grupo do Afeto (HIGA, 2007; LEITE 2018; CHIACCHIO, 2019).
Enfatiza-se que o movimento de aproximação com os objetos de conhecimento não é
estável, podendo ser substituído por relações aversivas, a depender das práticas
pedagógicas concretizadas pelos professores. Isto significa que advogar em favor de
processos de ensino-aprendizagem que possibilitem, de forma integrada, a aproximação
afetiva com objetos de conhecimento e sua apropriação, implica na defesa do trabalho
182
coletivo nas instituições educacionais. As estratégias de trabalho coletivo,
desenvolvidas nas instituições educacionais, podem-se constituir em importante
condição para que os professores desenvolvam práticas consonantes e que, a longo
prazo, mantenham as relações positivas dos estudantes com os objetos de conhecimento.
O fato de a universidade oportunizar o estudo de línguas estrangeiras - no caso, a
língua inglesa - foi apontado pelos estudantes como uma experiência positiva e, até
mesmo, essencial, uma vez que eles revelam a importância de ter acesso a este
conhecimento de forma gratuita e dentro do campus. Fior (2003), em sua pesquisa sobre
atividades não obrigatórias na universidade, apresenta relatos dos estudantes sobre os
cursos de língua, uma oportunidade valorizada por estes sujeitos. Os sujeitos da
pesquisa de Fior (2003), assim como os estudantes da presente pesquisa, reconhecem
que dificilmente o estudo de línguas seria concretizado, caso a universidade não se
responsabilizasse pela oferta dos cursos.
Fior (2003) afirma que o oferecimento deste tipo de atividade indica a
preocupação da universidade uma nova proposta de formação, mais atual e dinâmica. A
autora aponta, também, como benefício deste tipo de atividade não obrigatória, o
contato com pares e a maior convivência com professores, ambos fatores que foram
amplamente destacados pelos estudantes da presente pesquisa. Portanto, tendo em vista
as contribuições dos cursos de línguas para a formação dos estudantes universitários,
defende-se que a criação, manutenção e aprimoramento destes cursos façam parte da
agenda política das universidades brasileiras.
A presente pesquisa aponta ainda para a importância de novos estudos na área de
ensino de línguas que considerem a questão da afetividade. Conforme foi discutido
anteriormente, pesquisadores da Linguística Aplicada (RAJAGOPALAN, 2004b;
ARAGÃO, 2005; SWAIN, KINNEAR e STEINMAN, 2011, SWAIN, 2013) já
indicaram a necessidade de superar-se a cisão cognição/afeto nesta área e estes autores
têm procurado mostrar as implicações das emoções no processo de ensino-
aprendizagem de línguas. De forma semelhante, duas pesquisadoras do Grupo do Afeto
(COELHO, 2005; ALMEIDA (2008) também lançaram olhar para este tema e buscaram
identificar os fatores que, possivelmente, implicavam em afastamento ou aproximação
afetiva de estudantes com a língua inglesa.
183
Nesta direção, a presente pesquisa identificou como determinadas práticas
pedagógicas, bem como as relações que constituem a sala de aula, podem facilitar este
movimento de aproximação. Foi possível observar, ao longo do trabalho, as
intersecções entre as áreas da Psicologia da Educação, tendo em mente uma visão
histórico-cultural, e da Linguística Aplicada, apoiada na visão discursiva de linguagem,
decorrente das obras do Círculo de Bakhtin. O diálogo entre diferentes áreas do
conhecimento, entre autores, e, inclusive, de diferentes posicionamentos, também faz
parte do método dos principais teóricos apresentados nesta pesquisa. Bakhtin e
Vigotski, por exemplo, apresentam seus objetos de pesquisa trazendo vozes
discordantes, analisando-as e contrapondo-se a elas, para então chegarem a uma
formulação que supere aquelas que criticaram.
No entanto, ao realizar a presente pesquisa, que está na intersecção entre vários
campos - Educação, Psicologia, Linguística Aplicada - foi possível notar a dificuldade
em aglutinar todos estes campos de conhecimentos. A segmentação das áreas do
conhecimento coloca-se, fortemente, dificultando o intercâmbio de ideias, e representa
mais uma cisão que se coloca na construção do conhecimento científico atual, também
reflexo das tradições filosóficas que impuseram a dicotomia afeto/cognição. Defende-se
que haveria ganhos na qualidade dos trabalhos científicos (neste que se apresenta e nos
demais) se estas pontes entre as diversas áreas do conhecimento fossem mais acessíveis
e mais exploradas na realização de pesquisas, destacando-se aqui aquelas que envolvem
a temática de afetividade e ensino de línguas.
184
Declaração de responsabilidade
Em atendimento à Cláusula Sétima - Das publicações e divulgações, do termo de
outorga do processo de bolsa FAPESP nº 2017/005588-9, a pesquisdadora Isabela
Ramalho Orlando declara que as opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações
expressas neste material são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente
refletem a visão da FAPESP e da CAPES.
185
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(1): 53-73.
194
ANEXO 1
Atividade: Leitura
Descrição: Atividades cujo foco era leitura de textos em inglês, geralmente seguidas de
exercícios sobre a leitura e/ou discussão do material. Muitas vezes, os textos contextualizavam
questões de gramática, vocabulário e pronúncia que seriam trabalhadas posteriormente. No
entanto, essa seção descreverá a forma como era trabalhada a leitura e intepretação de textos.
A professora frequentemente fazia uma pequena introdução ao tema que seria abordado no
texto, utilizando diferentes recursos- como exibição de trechos de filmes e séries, colocando
questões aos estudantes ou expondo, ela mesma, algum ponto que será visto na leitura. Na
maioria das vezes, era solicitado aos estudantes que fizessem uma primeira leitura do texto em
casa, bem como a resolução de alguns exercícios sobre ele, e, em sala, o conteúdo era corrigido
e aprofundado. Considerando a natureza do material de leitura, essas atividades de leitura foram
divididas em dois tipos:
a) Leitura de textos do livro didático
Foram trabalhados, ao longo do semestre, seis diferentes textos do livro didático:
• The cost of new jobs: Texto foi trabalhado em duas aulas (1ª e 2ª sessões de
observação) e aborda o tema de trabalho, desemprego e geração de novos empregos. Os
estudantes foram solicitados a, em casa, ler o texto e responder as questões que o livro
trazia. Em sala, o texto foi lido em voz alta por estudantes que se voluntariaram para
leitura. A professora sanou dúvidas de vocabulário, colocadas pelos estudantes, e
corrigiu as questões. Além disso, esse texto introduziu e contextualizou o tópico
gramatical “Present Perfect”.
• Twenty-first century cowboys: O texto, dando continuidade à temática do mundo do
trabalho, fala sobre a rotina de caubóis do século XXI. O livro trazia discussão sobre
satisfação no emprego e a professora deu oportunidade aos estudantes debaterem sobre
o assunto. Esse texto foi trabalhado, assim como o anterior, em duas aulas (2ª e 3ª
sessões). A professora, antes de iniciar o texto, introduziu o tema “cowboy” mostrando
um trecho do filme “The searchers”. Na aula seguinte, voltaram a trabalhar com esse
texto, alguns estudantes foram convidados a fazer a leitura em voz alta. A partir do
texto, foi introduzido o tópico de vocabulário “make or do”. Essa atividade está
transcrita na íntegra na Matriz 1.0.
195
• Technology for explores- BlogWild: O texto é um post no BlogWild, no qual são
narradas as aventuras de um explorador e são feitas reflexões sobre a relação de
exploradores com a tecnologia. Esse era um texto curto e foi trabalhado inteiramente em
sala de aula (8ª sessão de observação). A professora fez a leitura do texto em voz alta e
os estudantes acompanharam em seus livros. Depois disso, a professora solicitou que os
estudantes respondessem individualmente às questões do livro e a correção foi feita
coletivamente.
• Designs from nature: O texto deu continuidade ao tema da tecnologia e foi trabalhado
nas sessões 8 e 9. Tratava de invenções tecnológicas humanas cuja inspiração foi tirada
da natureza. A professora havia passado a leitura do texto como tarefa. Em aula, ela
corrigiu os exercícios sobre o texto, com a contribuição de estudantes que se
voluntariaram para falar as respostas. Depois disso, a professora sugeriu que lessem o
texto em voz alta, conjuntamente, cada um lendo uma ou duas frases. A professora fez
correções de pronúncia e também elogios. Na aula seguinte, a professora retomou o
texto, pedindo aos estudantes que relessem determinado trecho para realizarem alguns
exercícios.
• Vacation stories: O texto narrava a experiência de uma pessoa que viajou para outro
país e teve problemas com o hotel. O assunto sobre viagens havia sido introduzido na
aula anterior, quando os estudantes relataram suas próprias experiências. A professora
pediu que a leitura do texto e os exercícios fossem feitos em casa. Em aula (13ª sessão),
a professora mostrou um trecho do seriado “Friends”, que tratava da questão de como
turistas se comportam, como introdução à temática do texto. Em seguida, ela pediu a
alguns para fazerem a leitura do texto em voz alta e, em seguida, foi feita a correção dos
exercícios, também com a participação dos estudantes. Depois disso, os estudantes
discutiram, em pares, sobre como se comportar em um país diferente. O texto também
serviu como introdução para o tópico gramatical “Past Perfect”.
• Saving languages: O texto, lido na sessão 16, abordava o tema de línguas que correm
risco de desaparecer e fala sobre projetos de revitalização dessas línguas. A professora
havia pedido que os estudantes lessem o texto em casa, mas, quando perguntou quem o
havia feito, apenas cinco pessoas disseram ter lido. Dessa forma, a professora pediu às
pessoas que haviam lido o texto em casa que fizessem a leitura em voz alta, cada
estudante leu um parágrafo, e os demais acompanharam a leitura em seus livros. A
professora fez correções de pronúncia e explicou dúvidas de vocabulário. A professora
perguntou aos estudantes sobre palavras que eram diferentes, típicas, na região ou
196
cidade de onde eles vinham, dando início, assim, a uma discussão sobre linguagem e
identidade.
• The history of writting: O texto foi trabalhado na sessão 18 e mostrava a história do
desenvolvimento da escrita. Os estudantes leram o texto em sala, individualmente e em
silêncio. Em seguida, os exercícios sobre o texto foram feitos coletivamente. Esse texto
trouxe contexto e introdução do tópico gramaticar “passive voice”.
b) Leitura de textos extras trazidos pela professora
Durante o semestre, a professora trouxe três textos extras, isto é, além dos que já estavam no
livro didático. As atividades com esses textos, também preparadas pela própria professora,
envolveram discussões, interpretação de texto e desenvolvimento de vocabulário:
• Johnny goes to college: Texto escrito por Laurie Lindeen, publicado no The New York
Times, no qual a autora narra a ida de seu filho para universidade. Esse texto foi trazido
na 5ª sessão. A professora relatou que leu o texto no final de semana e explica que o
título do texto é referência a um filme chamado “Johnny goes to war”. Com isso, ela
começou a fazer algumas perguntas sobre como era ir para a universidade e pergunta “Is
it like going to war?”, ao que alguns estudantes responderam afirmativamente e fizeram
comparações. Depois disso, passaram para a leitura coletiva do texto, alguns estudantes
se voluntariaram para ler em voz alta e a professora foi explicando vocabulários. Após a
leitura, a professora pediu que conversassem em duplas sobre seu primeiro dia na
universidade e, em seguida, cada estudante compartilhou uma experiência com a turma.
O material utilizado encontra-se anexado ao final dessa seção.
• Today in technology history: O texto foi retirado de um site e falava sobre a relação
entre a tecnologia e sucesso de Elvis Presley. Esse texto foi trabalhado em duas aulas
diferentes (sessões 5 e 6). Na primeira, a professora leu o texto em voz alta e perguntou
aos estudantes como a tecnologia mudou suas vidas. Nesse primeiro momento, o texto
foi utilizado para introduzir a nova temática da qual o livro trataria, já que, logo em
seguida, a professora passou para tópicos de discussão presentes no livro, que também
abordavam a questão da tecnologia. Na aula seguinte, a professora retomou a leitura do
texto e fez exercícios sobre vocabulário.
O material utilizado encontra-se anexado ao final dessa seção.
197
• Post no Instagram de Elizabeth Gilbert: O texto é uma narrativa de como a autora
vivenciou o dia 11 de setembro de 2001 em Nova York. A professora relatou que viu
esse texto no Instagram e que era uma homenagem às vítimas do atentado de 11 de
setembro. Ela esclareceu também que a autora desse texto foi quem escreveu o livro
“Comer, Rezar e Amar”. A professora fez a leitura do texto junto com os estudantes e
explicou vocabulário. Depois da leitura, fizeram uma pequena discussão sobre o tema e
relembraram filmes que falavam sobre o atentado. Algumas aulas depois (o texto foi
trabalhado nas sessões 7 e 11), a professora passou uma nova atividade com esse texto,
focado no uso dos verbos no Past Simple e no Present Perfect. Essa atividade está
transcrita na íntegra na Matriz 1.1
O material utilizado encontra-se anexado ao final dessa seção.
Matriz 1.0
Data:
17/08/2017 (2ª sessão)
22/08/2017 (3ª sessão)
Atividade: Leitura do texto
“Twenty-first century
cowboys”
Duração:
Primeira parte- 30 minutos
Segunda parte: 15 minutos
Descrição da atividade: Inferências:
Primeira parte (17/08/2017)
Professora: Did you read the text about the
cowboys?
Estudantes (em coro): Yes..
Professora: I wanna ask you a question. Have
you ever seen a western film?
Estudantes (em coro): Yes.
Professora: Yes? Which one do you
remember?
Michael: I don’t remember the name, but it is
a... An ugly, a bad and a...
Professora: The ugly, the bad and the
something, right? Yes, it is a recent western
film, isn't it? It is not old.
Michael: It's old.
Professora: It's old... The ugly, the bad and
the... I don't remember the name. Who else
has seen a film?
Professora conversa com os estudantes,
procurando saber sobre quais filmes de
cowboys eles conhecem.
198
João There is another one, The eight... I don't
know...
Professora: The eight?
João: The last one, a Tarantino film.
Michael: Ah, os oito odiados.
Professora: Os oito odiados? Oh, my
goodness. Is it a Tarantino film? I haven't
seen it, I don't like the way he uses blood.
(A turma e a professora riem)
Professora: What else? Ok, but you've heard
about western films, right? I want to show
you a scene from one of the most famous
western films. It is supposed to be the best,
ok? And I also have this film in case you
want to see it. In Portuguese, it is called
"Rastros de ódio", but in English it is called
"The Searchers", de search, de busca. We are
going to see the first scene, ok? The director
of this film was a really famous director and
he directed mostly westerns. His name was
John Ford and this is the opening scene of the
film, and it is the most famous scene, right?
Just pay attention to the scene, you don't
really have to understand what they say. But
pay attention to what the characters do, how
the characters look at each other, how the
characters come into the screen. The music,
tha landscape, just pay attention.
(Professora coloca o trecho do filme)
Professora: So, what are some of the... (Dá
uma risada.) Why are you smiling,
Francisco?
Francisco: Because, uh... I didn't understood
why does she enter the house... back.
Professora faz uma breve introdução sobre o
filme que irá mostrar, o que parece deixar
estudantes curiosos.
199
Professora: ...enter the house. Oh, looking at
him, walking backwards, without turning
around...?
Francisco: Yes...
Professora: Ok, that is a good point. What
else? When she first opened the door, can
you see what she sees? What did you see
when she opens the door? Can you see a
person there?
Estudantes: No...
Professora: No, you can see just the
landscape, a paisagem. And looks like a
desert, right? You can't see many trees or
animals... And in the end, you can see...
Estudantes: The man...
Professora: .... the man coming towards the
house. So do they say a lot of thing to each
other?
Estudantes: No.
Professora: Do you understand what his
name is?
Estudantes: Ethan.
Professora: Ethan! Is he riding his horse
without anybody else or alone?
Estudantes: Alone.
Professora: So, this is the image that we have
of cowboys. They are loners. They are lonely
man, who work on their own, work in
regions, where there aren't many people. So
they just herd cattle, right. Eles só cuidam de
animais. So that is the idea, everyone. This is
what they say here, 'cause that is how the
story goes: the man is his brother, the owner
of the house, the man is his brother. Ethan's
brother, ok? And he was in love with the girl,
but she married his brother. That is why she
200
doesn’t turn around! She keeps looking at
him!
So this is it: there is this whole romanticized
image of what a cowboy is, right? So this is
what the unit is about. Have you read the
passage? Yes or no?
Estudantes (em coro): Yes.
Professora: Ok. So, number one. I didn't ask
you to do number one at home, I just asked
you to do number 2,3 and 4. We are moving
on to the reading, everyone, and the title of
the reading is "Twenty-first century
cowboys", ok
So, let’s see, (lendo a instrução do livro)
"Working in groups, decide how important
these items are to job satisfaction." Number
one should be the most important.
"Colleagues and culture; job environment,
schedule and hours, independence,
promotion, salary, time off, training". Those
are some of the things that are important for
job satisfaction, but, in your opinion, which
is number one? The most important? Number
two, the second most important? You can
talk to your partner or groups of three and
decide which is number one, number two...
Do you understand everything? Ok,
everyone, so again "Colleagues and culture;
job environment, schedule and hours".
Schedule and hours, do you understand?
Alguns estudantes: What is schedule?
Professora: Sometimes you have to work on
Saturdays and Sundays, or you have to work
night shifts. If you are a doctor, sometimes
you have to be on call, right? De plantão. So,
"independence, promotion, salary, time off-
Professora fala com tom risonho, olhando
para o Francisco, em referência ao
comentário que ele fez.
Professora diz isto para esclarecer que estão
voltando ao livro.
201
if you vacation or not- training". Those are
things that matter, go ahead, work on your
own and decide. Job satisfaction, we are
talking about job satisfaction.
Ana: Teacher, what is the meaning of
training here?
Professora: Training? Like the company
invests in you, the company gives you a
chance of take courses, to improve your
personal skills.
(Estudantes se juntam para discutir, isso leva
aproximadamente 8 minutos)
Professora: Ok, everyone? Are you done?
Yes or no?
Renata: Everything is important!
Professora: Ok, everyone? You have
someone here who says everything is
important. Does anybody else agree with
them? You think everything is important?
(estudantes riem, concordando)
Professora: You don't think one of these
items is more important than the other?
Letícia: For me it is job environment.
Estudantes (em coro, repetem afirmando):
Yes, job environment.
Professora: Really? I was telling them about
job environment and I asked them if they've
heard about Ricardo Semler. Have you
heard?
Estudantes (em coro): No...
Professora: Ok, I think it would be
sometthing interesting... Can you read there?
(Professora entra em uma página na internet
sobre Ricardo Semler, passa no projetor e lê
um trecho do texto em voz alta)
Joyce: His company, Semco, was in or
Professora fala de modo a chamar a atenção
dos estudantes de volta.
202
academic week.
Professora: Was it?
Joyce: Yes.
Professora: So, I was telling them, I think
they make ships...
Joyce: Yes... Turbinas... Mixers, equipment
for Chemical Engineering.
Professora: They have partners around the
world... Anyway... So, job environment is the
most important thing for you, guys?
Estudantes (em coro): Yes.
Professora: Not money?
Michael: Money is important too, but...
João: Not the most...
Professora: Not the most important?
Aurora: The most important for me is
schedule and hours.
(Turma e professora dão risada)
Professora: (rindo) Schedule and hours? I
understand why! Ok, do you want to say
why?
Aurora: Ah, because I think have time with
the family is more important, I don't know...
Professora: Spending time with the family?
Is more important?
Aurora: Yes... Don't work the weekends...
Professora: Not working...
Aurora: ...not working the weekends is the
most important.
Professora: So, in your opinion, schedule and
hours is the most important. And for
everyone else, the environment?
Joyce: For me, I believe it is colleagues and
culture...
Professora: Culture.
Joyce: Culture, yes. But thinking not of the
203
country, but about the company. Because if
the company has culture for environment, for
example, it is including... So, for me, about
this, and about... I would never work in a
company that is workaholic, because I am
not like this. So, I believe culture is about
people, and the place, and all these things.
Professora: So you wouldn't like to work for
a company that encourages people to be
workaholic?
Joyce: Yes, because I'm not this way.
Professora: Aham, ok. So, that's the company
culture.
Joyce: Yes.
Professora: And involves schedule and hours.
Joyce: Yes.
Professora: And it involves independence.
Joyce: Yes, all the things.
Professora: She has a good point here. Do
you agree with Joyce?
Estudantes (em coro): Yes.
Professora: You have a good point here. So,
you say everything is important and Joyce
says that everything is included in
"colleagues and culture". Do you agree with
her? Yes? I see people nodding.
So... We are going to stop in a minute, ok?
Look at the photo of the cowboys on page
87, what do you think is important in their
job? That is the reason why I showed you the
scene, of the film, right? So, he is a lonely
man.
Aurora: Independence.
Professora: Independence. Guys,
independence. Repeat: independence.
Estudantes: Independence.
Professora repete a palavra, corrigindo a
pronúncia. A estudante fala a palavra
novamente com a pronúncia correta.
204
Professora: Independent.
Estudantes: Independent.
Professora: Ok, good. Ahn, so independence
would be really important for cowboys. Yes
or no?
Estudantes: Yes...
Professora: If you have read the article,
which sentence, in exercise number 3, best
summarizes the text? Number 1, 2 or 3?
Estudantes (em coro): Number one.
Professora: Oooone, right? "How modern
cowboys really live and work". So, you have
read the article at home, we are going to read
again, but let's do the exercises first. So,
"choose the correct option to complete the
sentences". Number one, who wants to do
number one?
Isadora: "The writer explains that life as
cowboy is hard work".
Professora: Hard work, very hard work.
Number two, who wants to do number two?
Francisco levanta a mão
Professora: Ok, go ahead, Francisco.
Francisco: "The cattle industry is very
different from the past".
Professora: Ok, it is very different. Number
three, who wants to do? Ok, go ahead,
Mariana.
Mariana: "People like Pat Criswell become
cowboys for job satisfaction".
Professora: Satisfaction.
Mariana: Satisfaction.
Professora: Job satisfaction, that is right. And
number four?
Michael: "Tyrel Tucker enjoys being a
cowboy because it involves being
Professora corrige a pronúncia, pede que
todos os estudantes repitam as palavras.
205
independent."
Professora: Very good. Oh, independent
came out so good! Being independent.
"Find these sentences in the article. Who or
what do the bold words refer to?". Number
one, in paragraph 1, "It was a classic symbol
of the United States".
Renata: Being a cowboy.
Professora: Yes, being a cowboy. Number
two "People come to an experience of
cowboy's life (or a Hollywood version of it)"
Estudantes (em coro): Cowboy life.
Professora: Cowboy life, yeah. Number
three, "and cowboys are still riding horses to
bring them home".
Estudantes (em coro): Cattle.
Professora: Cattle! Them, the cows, cattle.
Guys, fazenda de gado é cattle ranch. Pode
dizer farm, mas as maiores são ranch, cattle
ranch. Number four, "They all thought Pat
was crazy".
Estudantes (em coro): Work colleagues.
Professora: Ok, everyone. That is it. I know
we haven't finished, but we have to stop, it is
late.
Ok, here are a few hints, dicas, there are
some classic films: The one I told you
"Rastros de ódio". It is a nice story, all based
in stereotypes, but it is a nice story. "O
encantador de cavalos", have you seen it? I
think Scarlett Johansson was 12 years old in
this film, it is a good film. Watch it.
Parte 2 (22/08/2017)
Professora: So, last class, I think we were
Professora corrige a pronúncia.
Professora elogia a pronúncia do Michael, de
modo animado. Michael sorri.
206
doing the reading, right? On page 86. Wasn't
it? We were doing this text. So, we went as
far as exercise 5, right?
Professora: This is how far we went. Before
we go on, before we do exercise 6, I would
like to ask some people to read, so we kind of
revise the text. Is it ok? So, let's see. Isadora,
can you read the first paragraph, please?
(Isadora lê o parágrafo)
Professora: Very good! Just a few things: in
line 1, everybody, let's repeat together
'image'.
Estudantes (em coro): Image
Professora: The stress is ok, image. Line 4,
adventure.
Estudante (em coro): Adventure.
Professora: Adventure, ok. And, same line,
symbol.
Estudantes (em coro): Symbol.
Professora: Ok. So, Jéssica, could you please
continue?
(Jéssica lê o próximo parágrafo)
Professora: Ok, ok. So, line 2, I'm sure you
know the pronunciation, but it just came out
a little weird: also.
Estudantes (em coro): Also
Professora: And, in line 3, “sure he can't”,
you said "she can't". Be careful, ok, not to
mix up he and she. So, guys, line 8,
everyone: nowadays.
Estudantes (em coro): Nowadays.
Professora: Everybody understands what
nowadays means, right?
(Estudantes confirmam)
Professora: Ok, now this sentence is little
Professora refere-se ao horário da aula,
indicando que precisam parar a atividade.
Professora faz o gesto do número 5 com as
mãos, esperando confirmação dos estudantes.
Estudantes acenam com a cabeça,
concordando.
Professora pede para Isadora ler o primeiro
parágrafo.
A partir da leitura em voz alta, professora
aponta algumas correções de pronúncia, mas
pede para que todos os estudantes repitam a
correção, não somente aquele que leu o
207
complicated. "Or on one of the old traditional
cattle ranches that make more money
nowadays offering tours to tourists than they
do raising cattle?". Do you understand? O
'more than', they are comparing a long idea,
so you just be careful, while you are reading
silently, to make sure you understand. Do
you understand?
(Estudantes acenam com a cabeça em
afirmação)
Professora: So, guys, the same line as
nowadays: tours.
Estudantes (em coro): Tours, tours.
Professora: Then, the other word: tourists.
Estudantes (em coro): Tourists.
Professora: And, last line: version.
Estudantes (em coro): Version.
Jéssica: Version?
Professora: Version.
Jéssica: Version
Professora: Ok? Very good.
(Jéssica concorda com a cabeça)
Professora: So, Francisco, can you read?
(Francisco lê o terceiro parágrafo)
Professora: Very good, Francisco, very good.
Nowhere, right? There is a beautiful Beatles'
song called 'Nowhere Man', I think it is from
the album Revolver, I think. Ok, but very
good!
Professora: Ok, so let's have, uhn, Giovana,
please.
(Giovana lê o parágrafo quatro do texto)
Professora: Very good! Ok? Just
"government". I have the... Merrian-Webster
on here. Let's just...
(Professora coloca a palavra 'government'
trecho.
Professora pede que Jéssica leia o próximo
parágrafo em voz alta
Professora confere se todos entendem o
significado da palavra que está sendo
repetida.
208
no dicionário on-line, que está projetado no
telão, para tocar o áudio com a pronúncia da
palavra)
Professora: Ok, everyone, please repeat.
(Professora toca o áudio)
Estudantes (em coro): Government.
(Professora coloca o áudio novamente)
Estudantes: Government.
Professora: Não é 'go', é 'gã', ok?
(Estudantes concordam)
Professora: Miguel, please: Brothers...
(Miguel lê o quinto parágrafo)
Professora: Ok, ok. Just line 1, ranches. Ok,
everyone? Ranches, the plural of ranch.
Quando se trata de fazendo de gado, é ranch.
And, line 4, 'acres', acres. É o nosso acre.
Estudantes (em coro): Acres.
Professora: That's it. Oh, same line: tem road.
Sem querer, saiu o 'r' do português. É road,
ok?
Alguns estudantes (em coro): Road.
Professora: Ok. Renata, can you read the last
paragraph, please?
(Renata lê o último parágrafo)
Professora: Ok, good. The first line: large.
Make sure you say "large", ok? Large. And,
then, the line before the last line: culture.
Culture! It's typical, I think that's when
Portuguese interfere with us, we say
"culture" (professora fala com a pronúncia
que os alunos costumam fazer), but it is
culture (com a pronúncia correta)
(Professora coloca a palavra culture no
dicionário on-line e coloca o áudio da
pronúncia)
Professora: Everyone, please repeat.
Jéssica, que foi quem leu o trecho em voz
alta, confirma a pronúncia da palavra
“version”. Professora repete a pronúncia.
Jéssica repete a palavra mais uma vez e
professora confirma para ela que a pronúncia
está correta.
Professora solicita que Francisco leia o
parágrafo.
Professora enfatiza o 'very good' em sua
entonação, e usa o nome do estudante, ao
fazer um elogio.
Professora repete o elogio.
Professora pede que Giovana faça a leitura
do próximo parágrafo.
Professora fala o início do parágrafo,
indicando onde o estudante deve ler, pedindo
que Miguel faça a leitura.
209
Estudantes (em coro): Culture.
Professora: And then, the last line, the last
word. How do you pronounce it?
Alguns estudantes: Country, country.
Professora: Good, country. Country
(pronunciando 'cauntri') é em português,
música country. It's country in English, ok?
So, did I ask you to do exercise 6 and 7 at
home?
Estudantes: Yes...
Professora: So, ahn, I was looking for some
explanation about make and do, because
usually you learn it by paying attention and
by reading a lot. But I found some
explanation, so... (1: 04:54:01)
Professora pede para Renata ler o último
parágrafo.
Professora fala enfatizando a pronúncia
correta da palavra “culture”. Depois, faz o
contraste mostrando como os estudantes
geralmente pronunciam a palavra e explica
que a o português pode atrapalhar nessa
pronúncia.
Professora dá início a outra atividade,
encerrando a atividade de leitura.
210
Matriz 1.1
Data:
12/09/2017 (7ª sessão)
26/09/2017 (11ª sessão)
Atividade: Leitura de um
texto retirado do Instagram
da escritora Elisabeth
Gilbert.
Duração:
Primeira parte- 25 minutos
Segunda parte- 15 minutos
Descrição da atividade: Inferências:
Parte 1 (12/09/2017)
Professora: I have one thing I want to show
you... (Professora fala enquanto está ligando
o computador, depois, se volta para a turma
e faz uma pergunta):
Professora: What's the date today?
Ana: Ahn... Twelve, twelve September.
Professora: Yes, the 12th September or
September 12, ok. So, yesterday was
September 11.
Estudantes falam "eleven" junto com a
professora.
Professora: I don't know if you have
Instagram or Facebook. I have Instagram
and, on the people I follow, a few of the
people, they mentioned September 11. Do
you remember September 11? Maybe you
guys were in Kindergarten, but you have
heard about it, right? So, I follow a woman,
she... I think you've heard about her. Her
name is Elisabeth Gilbert. Do you know who
she is? Have you seen the film... she wrote
the book "Eat, pray, love”. Have you seen the
film "Comer, rezar, amar"? Ok, she wrote the
book. And she wrote a very nice thing about
September 11, let me show you, 'cause I
thought it was cool. She was there, she was
in New York at the time, on that day.
(Professora liga o projetor e projeta o texto
do Instagram)
211
Professora: Can you see better? Ok, who
would like to start reading? Maybe
Francisco. Go ahead, Francisco, read the first
paragraph.
Francisco lê o primeiro parágrafo do texto.
Professora: Okaaay... Just "riding around
New York City", riding a bicycle. Ok,
everyone? What is a "beautiful, bright, and
crisp"? It is a little cool, fresh, cool. Fresh
can be no sentido de fresca, de estar bonito,
brilhante. Autumm, you remember autumm,
right? Winter, spring, summer and fall, or
summer and autumm. Autumm, right? And
"terror struck", struck is the past tense of the
verb strike, abater, derrubar. That is why you
have strike in bowling. Ok? Let's see
someone else. Let's find someone else to read
up to the middle of the second paragraph, up
to here. Ok? Who wants to read?
Jéssica se voluntaria.
Professora: Yes, Jéssica, go ahead. What I
saw...
Jéssica faz a leitura em voz alta do próximo
trecho do texto.
Professora: Ok, do you understand? Yes?
Rodrigo: What's "sorrow"?
Professora: Sorrow? Tristeza.
Mariana: Wheep?
Professora: Wheep? Cry. Anything else? No?
Ok, so who would like to finish reading
paragraph two?
Diego acena, indicando que gostaria de ler.
Professora: You, Diego? Ok.
Diego faz leitura.
Professora: Ok, so... Do you understand?
Anything you don't understand?
Professora pede para que os estudantes leiam
o texto de maneira voluntária, sem indicar
alguém para ler. Francisco foi o primeiro
voluntário
Professora fala enfatizando a pronúncia de
riding, corrigindo o aluno de maneira
discreta.
Professora explica o vocabulário do trecho
lido.
Professora indica onde a estudante deve ler.
Professora checa se estudantes estão
entendendo o texto, dando espaço para que
eles tirem dúvidas. Alguns estudantes
perguntam significado de palavras.
212
Estudante: What is "staggered"?
Professora: Staggered back? Ok, she saw a
massive public transportation system shudder
and collapse.
João: What is shudder?
Professora: It means to be shaked, ser
abalado. And then collapse (faz um gesto
com as mãos, indicando algo que está
caindo). And then, to stagger, it means andar
cambaleante, cambalear. Stagger back to its
feet, more quickly. So, it collapsed and then
staggered back to its feet. (Professora faz
uma nova mímica: faz um gesto como se
estivessem caindo ao dizer "shudder" e um
movimento de levantar rapidamente ao dizer
"stagger".) The public transportation system,
that stopped and then went back to work
again. Do you understand?
Estudantes: Yes.
Professora: Ok. What else?
Rodrigo: Reeling?
Professora: "Reeling like a bloodied boxer".
Reel, I was trying to understand this word, I
didn't know it myself. To reel means
rebobinar, but it means to be confused also,
ok? To be very confused. Ok? So, ahn, so
"reeling like a bloodied boxer", zonzo like a
bloodied boxer. (Professora faz mímica,
fingindo uma pessoa "zonza"). Do you
understand boxer? A boxer covered in blood.
When a boxer is hit, the boxer tries to stand
up, stagger, right? And he continues to fight.
But she is comparing the public
transportation system to a boxer, that gets hit
on his head. Ok?
(Estudantes concordam com a cabeça,
Mais uma vez, a professora dá oportunidade
para estudantes tirarem dúvidas.
Professora faz mímicas para as palavras:
Treme os braços e o corpo quando fala
"shudder" e solta o corpo, como se
estivessem caindo, quando fala "collapse".
Ainda assim, um estudante continuou com
dúvida sobre a palavra “shudder” e a
professora explica novamente. Usa novos
gestos e explica de uma maneira diferente,
tentando sanar a dúvida de João.
Depois dessa segunda explicação, a
professora checa entendimento dos
estudantes.
Rodrigo pergunta o significado de uma outra
palavra. A professora conta que ela mesma
não conhecia a palavra sendo usada em uma
expressão, como estava no texto. Ela explica
o sentido literal da palavra para, em seguida,
explicar seu uso naquele texto.
Professora faz novamente a mímica de uma
pessoa tentando se levantar e utiliza a palavra
“stagger”, que ela havia explicado logo antes.
213
indicando que haviam entendido)
Professora: Do you understand the joke? No?
(referindo-se à piada que a autora descreve
no texto)
So, "I saw stubborn humor". Do you
understand stubborn? Stubborn means
teimoso. And it can be a good quality or a
bad quality. Do you understand a stubborn
humor? A persistent sense of humor? Even
when you are going through bad times, you
still have a sense of humor. Do you
understand?
Estudantes: Yes...
Professora: It is like us, Brazilians right now.
We keep on making jokes... We are having
so many problems with our politicians, but
we can still find inspiration to make jokes.
So, I would say that we, Brazilians, have a
stubborn sense of humor. Ok?
Jéssica: What's "amidst"?
Professora: Amidst? Do you know the word
"among"?
Jéssica: Yes.
Professora: It's the same. Em meio a... Ok?
Professora: Who would like to read the last
paragraph? Come on, she talked about
bravery, let's find someone brave. Mariana...
(Mariana se voluntariou e leu o último
parágrafo)
Professora: Ok. Guys, she talks about New
York being the city of tolerance, diversity,
globalism, art, dreams, wit... Do you
understand wit?
(Estudantes balançam a cabeça, dizendo que
não.)
Professora: Wit means presença de espírito,
214
inteligência, humor. This is wit. Ok... You
can say that a person is witty, double t, y.
Witty. Ok? Have you seen the film?
(Professora dá uma risada). Agora vocês vão
saber uma coisa sobre mim... Have you seen
the film "Me before you"?
(Alguns estudantes dizem que já viram o
filme)
Professora: Yes? When he is bed, in the
hospital, she makes a joke and he says "I
can't do witty today". It means, I can't make
any jokes today. Right? Ok? What else?
Heartache. Heartache, when your heart is
broken, you have a heartache. Muscle, do
you understand muscle? Muscle, everyone.
(Professora faz gesto com os braços,
chamando atenção para os músculos) It's a
strong city. Greed, do you understand?
Ganância. Aí você pode também usar com
'y', greedy, que a pessoa é gananciosa,
greedy. Ok? "honesty, intelligence, insanity,
and grace."
It's so funny, because in Portuguese you don't
say, when you praise someone, quando você
elogia uma pessoa, você não fala que a
pessoa é cheia de graça, ou tem graça, no
sentido de leveza. Você fala leveza, mas não
fala graça, né? Em inglês, você fala "your
grace", quer dizer que a pessoa é leve, bem-
humorada. Mas tem mais a ver com leveza,
com temperamento ameno. A gente não uso
isso em português, se você fala "você tem
graça", quer dizer outra coisa, não é?
Professora continua lendo o texto, fazendo
pausas para explicar o sentido de algumas
palavras ou expressões.
Para explicar o significado da palavra “wit”,
a professora faz referência a uma cena de um
filme que muitos dos estudantes já viram.
Professora vai relendo um trecho do texto,
fazendo pausas para esclarecer o significado
das palavras e expressões.
Professora compara o uso da palavra “grace”
em inglês com o a palavra “graça”, em
português.
215
Professora: "A city of brave immigrants",
because New York is a cosmopolitan city,
right? " Who were willing to leave behind
everything with the hope of finding
something", so, if they are immigrants, they
left their countries. To be willing to means
"estar disposto a". Will é vontade e to be
willing to é "estar disposto a, estar a fim de".
Acho que eu já falei para vocês aqui daquele
filme, "O Gênio Indomável". Acho que
alguns aqui já viram.
Andressa: Yes, Robbin Williams...
Professora: Robbin Williams! Got an Oscar
for that film, right? For suppporting role.
Matt Damon plays the genius, who is a poor
boy. The name of the film is "Good will
hunting". Se você puser as duas palavras
juntas, "good will" significa boa vontade.
Good will hunting seria "à procura de boa
vontade". Mas o nome do personagem é Will
Hunting, so it's a pun, pun é um trocadilho.
(Professora escreve pun na lousa).
Ok, everyone? Willing to find something
new... "A city of misfit toys", olha, gente,
aqui ela usou a palavra toys figurativamente.
O que é uma pessoa que é um "misfit"?
Alguém sabe?
Renata: Someone who is wrong in this way...
Professora: Yes, a person who doesn't
belong, who doesn't feel very comfortable
within a group, or within any group. Do you
understand?
Fits means caber, misfit é não caber, não
servir. Então, misfit toys, na verdade, está
dizendo como se as pessoas fossem
brinquedos, mas ela tá usando a palara
Ao explicar a palavra “will”, a professora faz
referência ao uso dessa palavra no nome de
um filme, explicando que usaram a palavra
para fazer um trocadilho.
Professora pede colaboração dos estudantes
na explicação da palavra “misfit”. Ela e
Renata fazem as explicações.
216
figurativamente. Ela tá se referindo a
pessoas, tá? "Misfit toys, where everyone
who has never felt comfortable in their
suffocating little hometown can come and
find out who they really are. Do you
understand? Are you a misfit in your little
town? Come to New York! You will find out
who you are.
Estudantes: Yes...
Alguns estudantes falam que entenderam,
outros concordam com a cabeça, então a
professora continua lendo o texto.
Professora: "I woke up in a city that has
taken me back into her arms every single
time I have ever failed". If you have seen the
film "Eat, pray, love", you know that she
embarks in a journey, she went to Italy, to
India and to Bali, because she was really
depressed. Right? The film is about her life...
So, that's it, everyone. É uma declaração de
amor para New York, don't you think so?
Estudantes: Yes...
Professora: I think this is one of the nicest
things I've ever read about September 11, ok?
My last question about September 11: have
you seen any films about September 11?
Which films have you seen?
Mariana: Remember.
Professora: Remember? Oh, Robert
Pattinson. 'Cause I saw a very good one
called "Reign on me", "Reine sobre mim".
Have you seen it? Oh, try to see it... But
"Remember" is good too... Ok, everyone,
enough. I can't ask you if remember what you
were doing on September 11, right? Maybe 5
years ago I could ask my students, but you...
Alguns estudantes ainda parecem estar
confusos sobre o significado de misfit, então
a professora explica novamente, de uma
maneira diferente.
Para deixar claro, a professora explica o
sentido dessa última frase lida, usando outras
palavras.
217
Does anyone here remember?
Ana: I remember. I stayed in my class...
Professora: Were you at school?
Ana: Yes.
Professora: I was at school....
Ana: I was at school, I was in second year.
Professora: Second grade? Ok, you were at
school. And you, Francisco? Were you at
home or at school?
Fransciso: I was at home, and I turned on the
TV and I saw it...
Professora: Does anybody else remember?
Mariana: I was watching a cartoon and they
stopped it to show a "plantão da Globo". And
I asked my mother why the cartooon stopped
and why the reporter was talking....
Professora: What she was talking about...
Mariana: I remember because it was a
cartoon that I really liked.
Professora: Somebody else? No? Ok...
Please...
Professora pede para estudantes abrirem o
livro, encerrando essa atividade.
Parte 2 (26/09/2017)
Professora: So, do you have the homework I
gave you last class?
Estudantes se organizam, pegando o
material que a professora dera na aula
anterior (que havia sido o dia da prova).
Alguns deles não encontram a tarefa, então a
professora percebe que os estudantes que
saíram mais cedo da prova não receberam o
material. Ela procura mais cópias do
material para entregar aos alunos que não
Professora corrige Ana de maneira discreta e
dá a indicação para que ela continue sua
frase.
218
haviam recebido antes.
Professora: So, can I have different people to
read the text? Is it ok? Pode ser assim? Cada
um lê uma frase. Pode ser?
Professora: Ana, you were not here, right?
Ana: No...
Professora: So, if you were here, if have done
it, just read your sentence. If you haven't
done, because you were not here and you
didn't get a copy, just say "pass" and the next
person will do it. Are you ready? Can you
start?
Jéssica começa lendo a primeira frase; a
próxima estudante lê a segunda frase.
Professora: Terror stroke. Can you spell
struck? Where is the verb list I gave you?
Estudantes vão consultar como se escreve
"struck" na lista de verbos; a professora
coloca o verbo no dicionário on-line e
mostra a escrita e a pronúncia da palavra.
Depois disso, dão continuidade à leitura do
texto. Miguel lê a próxima frase.
Professora: I spent, with 't', right? Ok, very
good.
Miguel lê a próxima frase.
Professora: Very good. I wasn't able,
passado. Ela poderia ter colocado "I
couldn't", mas ela usou "I wasn't able".
Mariana dá continuidade à leitura.
Professora: Ok, what I saw that da was...
Rodrigo continua a leitura.
Professora: Okay... Who is going to
continue?
Maria lê o próximo trecho.
Ana: I turned?
Professora fala com Ana, pois ela estava
sentada na primeira cadeira, portanto,
começaria a leitura do texto.
Professora esclarece que os alunos que não
tinham recebido a tarefa não precisariam
participar da correção em voz alta.
219
Professora: I turned, -ed.
Bruna continua a leitura, seguida por
Francisco.
Professora: "I heard", very good.
Isadora lê o próximo trecho.
Professora: "I saw people staring"
Isadora: Staring...
Professora: Yes... De stare, vocês sabem, né?
Giovana lê a próxima frase; Joyce e
Carolina continuam a leitura na sequência, a
professora faz pequenas interrupções para
corrigir pronúncia
Professora: Ok, Carolina, just "heartache"
Diego lê o próximo trecho. Há um erro de
conjugação do verbo em sua resposta.
Professora: Diego, "a city of brave
immigrants, who were willing", ok? Who
were.
Aurora dá continuidade à leitura.
Professora: Ok, comfortable
Ana continua a leitura
Professora: Gente, olha o Present Perfect, né.
"A city that has taken be back into her arms
every single time I have ever failed". I have
ever failed, right? Ok, who is gonna be next?
Andressa continua a leitura e Jéssica
finaliza, lendo a última frase.
Professora: Guys, just a second. Now, wait a
minute. Can you pass these around?
(professora fala entregando alguns papéis
para os estudantes que estavam sentados na
ponta)
This is a complete version, ok? Ok,
everyone. I think we have already talked
about it, but I just want to remind you about
the repetition of the verb "I saw", to
Professora repete os verbos que deveriam ser
preenchidos no texto, de modo que a
correção fique mais clara para os estudantes.
Ana pergunta, checando qual é a forma do
verbo que deveria ser completada. Professora
esclarece.
Professora repete o verbo que corresponde à
resposta do exercício.
Professora fala corrigindo a pronúncia de
"staring".
Professora corrige a pronúncia.
Professora fala enfatizando a palavra "were",
para corrigir a conjugação do verbo que
deveria ser preenchida, pois Diego havia dito
"who was".
Professora fala corrigindo a pronúncia.
Professora chama atenção para o uso do
Present Perfect.
220
emphasize that it impacted... Ok, this is
enough.
Professora entrega uma cópia impressa do
texto completo, isto é, como ele havia sido
publicado. Dessa forma, os estudantes podem
comparar o texto em que eles completaram as
lacunas com o texto original.
Falas dos estudantes sobre as atividades de leitura:
• Ana fala sobre a leitura do texto sobre 11 de setembro e também sobre o trabalho com
leitura de textos de maneira geral.
Isabela: Eu reparei, na aula passada, quando a professora trouxe aquele texto sobre o 11 de
setembro... Eu reparei que você estava anotando bastante coisa, talvez vocabulário, então eu
queria saber o que você acha dessas atividades, de leitura de texto.
Ana: Eu gosto bastante. Eu sempre anoto o vocabulário, porque, se eu não anotar, eu acabo
esquecendo depois o que a palavra significa e me ajuda pra estudar. E também eu sempre me
guio pelo... eu sempre escrevo as coisas que ela fala, assim, mais importantes, pra lembrar
depois quando eu estiver relendo. E eu tenho muita dificuldade de... de falar, porque.... Ah, eu já
tive muito feedback dos professores, de que eu sei bastante, mas eu não consigo falar. Então, as
atividades de leitura eu gosto bastante, porque me força a falar.
Isabela: E o que você acha do jeito que ela vai explicando o vocabulário?
Ana: Eu gosto bastante. Primeiro, porque a aula é toda em inglês, aí te força a ficar pensando e a
entender o que ela tá falando. Quando ela pega uma palavra e explica, em inglês mesmo, e a
gente consegue entender, eu gosto bastante. Porque aumenta nosso vocabulário e faz com que a
gente ligue uma coisa na outra, eu gosto bastante.
Isabela: É, eu percebi que você estava bem empenhada, anotando tudo (risos). Você acha legal
ela trazer esses materiais extras?
221
Ana: Sim, sim! Às vezes eu acho que o livro falta um pouquinho e ela complementa bastante.
Isabela: Ah, sim. E, também na última aula, vocês estavam lendo outro texto e cada um lia um
pouco, aí ela elogiou a sua pronúncia...
Ana: (risos) Ah, do “develop”!
Isabela: (risos) É! Como você se sentiu?
Ana: Ah, como eu disse, eu tenho muita dificuldade, então foi “nossa, consegui acertar uma
pelo menos!” (risos). Então, já sinto como uma pequena vitória! Mas assim, não acho que fui
melhor que os outros, nem nada, foi interno mesmo, eu me senti bem.
Isabela: E o que você acha desse jeito que ela ensina a pronúncia, que às vezes ela mostra no
dicionário...
Ana: Eu gosto bastante, principalmente porque no dicionário que ela mostra tem os fonemas.
Então, às vezes, de escutar, você não consegue repetir tão bem, mas, vendo os fonemas, você
consegue fazer certinho.
Isabela: E a forma como ela corrige a pronúncia?
Ana: Eu gosto, porque o jeito que ela faz não deixa com.… a pessoa se sentindo mal. Porque eu
já tive outros professores e era tipo “tá errado o que você tá falando!”. E faz de um jeito com
que a pessoa se sinta bem e.… aprenda.
• Jéssica fala que gosta dos materiais extras trazidos pela professora, citando
particularmente o texto “Johnny goes to college”.
Jéssica: O que eu mais gosto? Ah, eu gosto quando ela traz coisa de fora, assim. Tipo, ela trouxe
uns textos, que eu achei super legal... Aquele texto que tem várias expressões diferentes, eu
achei super pertinente ela passar aquilo, achei bem legal. Acho que é a parte que eu mais gosto!
Isabela: Qual texto?
Jéssica: O texto que ela... Do menino que...
Isabela: Ah, que foi para faculdade...
Jéssica: É... É legal. Essas coisas que ela traz extra assim, eu gosto mais.
• Francisco e Isadora contam que gostam de fazer leitura em voz alta na sala de aula.
Francisco: Eu gosto muito quando ela pede para a gente ler, porque... Como eu tenho muita
dificuldade de falar... Então, quando eu leio, quando você lê em voz alta, você tá meio que
internalizando aquele vocabulário, aquela forma de se expressar. Então, eu prefiro muito ler em
222
voz alta do que ficar lendo baixinho, porque, quando eu leio baixo, eu não tô falando! Então,
quando ela pede para a gente ler, é bem interessante. Eu gosto muito!
Isabela: Entendi... E você? (perguntando para Isadora)
Isadora: Eu também... Até acho que poderia ser pedido mais!
Isabela: É?! Para ler?
Isadora: Uhum....
Francisco: Aham! É!
Isadora: É, essa questão dos textos, no círculo mesmo...
Isabela: Você sempre voluntaria, né? Para ler...
Isadora: É, eu acho importante. Ela pode até forçar mais... Eu me sinto à vontade...
Francisco: É porque, na verdade, o material que é dado aqui já tem poucos textos. Se fossem
textos mais longos, ia forçar mais a gente a ler mais, porque são textos curtos e praticamente...
Tanto ela, quanto os outros professores, pede para você ler um parágrafo, ou uma linha, isso, sei
lá, não faz muita diferença...
Isadora: Ah, mas como tem pouco, para mim, eu acho que é bem interessante, fazer assim em
círculo.
• Giovana relata gostar das atividades de interpretação de texto
Giovana: Que eu gosto...? Eu gosto quando tem que ler texto e interpretar, sabe? As questões...
Quando tem aqueles textos grandes, eu gosto! Porque, a maioria das vezes, eu entendo tudo. Eu
fico feliz, satisfeita.
• Giovana conta ainda que gosta de fazer leitura dos textos em voz alta.
Isabela: Mas você se sente à vontade para participar? Porque eu vejo que você se voluntaria
bastante...
Giovana: Eu gosto, eu gosto bastante. Eu gosto mais... quando é para ler alguma coisa, sabe? Eu
gosto, acho legal....
• Joyce diz gostar da ideia de utilizar material extra, mas não gostou do texto “Johnny
goes to college”. Por outro lado, gostou do uso do trecho de Friends, que foi utilizado
como introdução a uma atividade de leitura.
223
Joyce: Então, eu acho legal a ideia de trazer material extra, mas as temáticas eu não sou muito
fã, para ser sincera. Porque eu acho que alguns são muito antigos ou são coisas que às vezes ela
pergunta, que eu eu não tenho contato... Ou que não faz parte muito da nossa idade, não sei.
Mas, assim, eu acho legal trazer coisa extra, mas, por exemplo, teve aquele texto que era do
menino, que tava no banco de trás do carro...
Isabela: Aham, indo para faculdade...
Joyce: É... Eu achei ele bem complexo e... Mas não era isso. Eu não gostei muito da temática,
achei meio deprimente. Não sei... Quando foi, por exemplo, acho que do Friends, que ela
mostrou, eu gostei bastante.
Falas da professora sobre atividades de leitura:
Lúcia: Eu também leio em inglês, muito, né. Então, assim, eu vou trazer. Quando eu tô lendo,
mesmo por lazer, eu sempre penso nas minhas aulas. Então, assim, esse escape é "o que eu
acredito que é ensinar língua?". É ensinar, mas ensinar mostrando a conexão com o mundo fora
da sala de aula também e trazer cultura para a sala de aula.
(....)
Então, você tem que procurar essas brechas- e você acha- no livro didático. Você só não vai
achar, se você não quiser. O tópico, ou o tipo de atividade, ou então, o tipo de estrutura
gramatical. Tá, passado simples! Então, onde a gente usa passado simples? Vamos lá ver.
Narrativa de que tipo? Porque aquela história da Elisabeth Gilbert é uma narrativa. (...) Mas
então, você percebe? É só você se conectar com mundo fora da sala de aula.
224
Textos trazidos pela professora:
225
226
227
228
229
ANEXO 2
Atividade: Listening (Compreensão oral)
Descrição: Atividades que envolviam a escuta de áudio em inglês e, na sequência, realização de
exercícios de compreensão sobre o material. Nesta seção, estão descritas as atividades de
listening que utilizaram recursos do livro didático. Tendo em vista que os diferentes tipos de
atividades propostos pela professora eram integrados uns aos outros, é importante destacar que
as atividades de listening, muitas vezes, foram seguidas por atividades de gramática ou de
conversação, de forma que o conteúdo trabalhado no listening gerava o contexto ou introduzia
conteúdos para estas outras atividades. Outras vezes, o listening dava continuidade a um assunto
iniciado em outra atividade, como é o caso da primeira atividade descrita a seguir, que foi
realizada após uma atividade de leitura.
• Radio Interview with an engineer: Esta atividade foi realizada na sessão 2, dando
continuidade à atividade de leitura “The cost of new Jobs”. O áudio apresentava uma
entrevista de rádio com um engenheiro e tratava do mesmo assunto discutido na
atividade de leitura. Para realização, da atividade de listening, a professora solicitou que
os estudantes lessem o enunciado do exercício, que trazia algumas sentenças, as quais
eles deveriam verificar se eram verdadeiras ou falsas, de acordo com a entrevista.
Depois que eles haviam lido as frases, a professora tocou o áudio uma primeira vez e,
em seguida, corrigiu as respostas dos estudantes. O exercício seguinte trazia trechos das
perguntas feitas pelo entrevistador e os estudantes deveriam construir a frase completa,
inclusive atentando para a conjugação dos verbos. A professora fez a primeira frase
junto com a turma e pediu que cada um fizesse o restante individualmente. Quando eles
terminaram, a professora corrigiu as respostas dos alunos e colocou o áudio novamente,
para eles acompanharem e ouvirem as frases que haviam formado. Por fim, os
estudantes praticaram o diálogo em pares.
• A job interview: Esta atividade, cujo áudio mostrava uma situação de entrevista de
emprego, foi realizada após a atividade vocabulário “Job listing”. Do mesmo modo que
na atividade acima, o exercício desta trazia sentenças que os estudantes deveriam
verificar se eram verdadeiras ou falsas; a professora sugeriu que os estudantes lessem as
frases antes de ouvirem o áudio. A professora tocou o áudio uma vez e corrigiu o
exercício. Em seguida, ela pediu que os estudantes abrissem a transcrição do áudio e
acompanhassem a entrevista com o texto em mãos. Depois disso, ela verificou se havia
dúvidas de vocabulário e instigou os estudantes a notarem o uso do Present Perfect no
230
diálogo. Logo depois, os estudantes praticaram o diálogo em pares. Todo este trabalho
descrito acima ocorreu na sessão 4 e, posteriormente, na sessão 6, esse áudio voltou a
ser trabalhado, pois não havia tido tempo suficiente para concluir os exercícios sobre
ele. Desta maneira, na sessão 6, a professora retomou a atividade. O último exercício
sobre o áudio da entrevista de emprego solicitava que os estudantes completassem
lacunas nas perguntas feitas pelo entrevistador. A professora pediu que os estudantes
tentassem fazer as frases e, em seguida, tocou o áudio para que eles conferissem suas
respostas; na sequência, corrigiu junto com eles. Este exercício introduziu a atividade de
conversação “Entrevista de emprego”.
• Science program- invention for the eyes: Este áudio, trabalhado na 6ª sessão, tratava
de um novo tipo de óculos, que eram econômicos e cujas lentes poderiam ser facilmente
ajustadas por aqueles que os usassem. Os exercícios do livro sobre o áudio incluíam
algumas questões de compreensão, um esquema de como os óculos funcionavam, o qual
os estudantes deveriam organizar, e um exercício de verdadeiro ou falso. A professora
pediu que os estudantes lessem as questões antes de ouvirem o áudio e corrigiu cada
exercício junto com os alunos. Alguns estudantes, como o Miguel, ficaram bastante
envolvidos nesta atividade, pois gostaram do conteúdo do áudio e acharam que esses
óculos eram uma ótima invenção. Esta atividade contextualizou a explicação sobre o
tópico gramatical “defining relative clauses”.
• Conversations about vacations: Esta atividade foi realizada na sessão 13. O áudio
apresentava duas conversas em que eram contadas histórias sobre as férias de um dos
interlocutores. Antes de ouvirem o áudio, a professora explicou o exercício e pediu que
os estudantes lessem as perguntas. Então, ela tocou o áudio e, depois, corrigiu as
respostas dos estudantes. Por fim, ela pediu que eles abrissem a transcrição do áudio e
acompanhassem o texto enquanto ouviam os diálogos novamente. Como lição de casa, a
professora solicitou que os estudantes circulassem os verbos no Past Perfect contidos
nos diálogos.
• Radio interview with a tour guide: Esta atividade, realizada na 15ª sessão, dava
continuidade ao tema trabalhado na sessão 14, com atividade de vocabulário “Vacation
adjectives”. O áudio consistia em uma entrevista de rádio com uma guia turística. Essa
guia turística trabalhava em excursões da National Geographic e, na entrevista, relata
sobre seu trabalho e sobre as viagens que conduzia. O primeiro exercício trazia duas
questões de compreensão do áudio e a professora corrigiu-o com os estudantes. Em
seguida, a professora solicitou que os estudantes lessem o exercício, que era do tipo
231
“verdadeiro ou falso”, e tocou o áudio novamente. Por fim, foi feita a correção deste
último exercício.
• Radio documentary about Kung Fu: Esta atividade trabalhou com um documentário
de rádio sobre aprender Kung Fu na China. A professora leu o enunciado do primeiro
exercício, o qual solicitava que os estudantes verificassem a ordem em que diferentes
tópicos apareciam no áudio. A professora tocou o documentário e corrigiu o exercício
com a turma. Em seguida, ela pediu que eles lessem as frases do próximo exercício, no
qual eles teriam que escolher alternativas corretas para completar as frases. A
professora colocou o áudio novamente, os estudantes fizeram os exercícios e a correção
foi feita coletivamente, sendo que cada frase foi lida por um estudante. Essa atividade,
realizada na 16ª sessão, foi seguida pela atividade de conversação “Kung Fu”.
• Interview with an archeologist: Esta atividade, ocorrida na sessão 20, foi realizada
logo após a atividade vocabulário “Archeology” e apresentou uma entrevista com uma
arqueóloga. A professora pediu que os estudantes lessem a transcrição do áudio,
acompanhando a escuta da entrevista. Depois disso, ela solicitou que eles abrissem os
livros na página onde se encontravam os exercícios sobre o áudio. O exercício
correspondente consistia em ligar objetos encontrados na escavação da arqueóloga às
suas funções, sendo que todas essas informações haviam sido apresentadas na
entrevista. A correção do exercício foi conduzida pela professora e realizada
coletivamente pelos estudantes, que se apresentavam voluntariavam para dar as
respostas. Ao final da atividade, a professora pediu que os estudantes acompanhassem a
transcrição enquanto ouviam o áudio e que circulassem os usos de “used to”. Com isso,
ela introduziu a atividade de gramática “Used to”.
Matriz 2.0
Data: 10/10/2017 Atividade: Listening
“Adventure Vacation”
Duração: 15 minutos
Descrição da atividade: Inferências:
Professora: Ok, track 45... Ok! Let's see,
everyone.
Professora (lendo no livro): "Listen to part of
a radio interview and answer the questions"...
Page 120...
Professora estava deixando o áudio pronto
para ser tocado.
Professora percebe que alguns estudantes não
estão acompanhando, então diz o número da
232
Professora dá um momento para estudantes
se organizerem e depois retoma a explicação
da atividade.
Professora: So, everyone, listening. "Listen
to part of a radio interview and answer the
questions: What kind of new job does
Madelaine have? What are some of her
responsabilities?" (lendo no livro). Ok? So
we are going to listen to an interview with a
woman called Madelaine and she is going to
have to talk about her new job, ok? Let's
listen. You have to answer those two
questions. I am going to play once, then, if is
necessary, I am going to play twice, ok?
Then we'll answer the questions.
Professora coloca o áudio.
Professora: Okay... Can you answer the first
question? What kind of new job does
Madelaine have?
Renata: She is a tour guide.
Professora: A tour guide for...
Joyce: National Geographic.
Professora: Yes, National Geographic
Adventures, right? What are some of her
responsabilities? Do you remember?
Miguel: Take photos...?
(Outro estudante fala algo sobre fotos ao
mesmo tempo, dificultando a compreensão
das as respostas).
Professora: Excuse me? Ah! Talking about
photography, right? And help the tourists
take better photos... Ok, Miguel?
Miguel: I said "take photos".
página e dá um tempo para que eles se
localizem.
Professora lê o enunciado do exercício no
livro e mantém contato visual com a turma
enquanto vai falando.
Depois de ler o enunciado, ela explica o que
deverá ser feito no exercício.
Professora pede que os estudantes respondam
as questões do livro. Alguns estudantes
falam, outros ficam calados, embora estejam
atentos.
Professora instiga os estudantes a darem mais
informações sobre o trabalho da pessoa
entrevistada no áudio.
Professora pede que o outro estudante repita
sua resposta e, em seguida, volta-se para
Miguel, dando-lhe oportunidade de repetir a
resposta também.
233
Professora: Ok, taking photos... She already
had this kind of job before she started
working as tour guide. But during the tour,
she helps the people with the pictures also,
she helps them to take better photographs.
What else?
Renata: Taking the people...
Professora: Taking them, guiding them
around the place where they are going. Ok!
What did she say about the things they do
together?
Algum estudante diz: Cooking.
Professora: Cooking! They cook their meals
together, right? There is one more thing they
do, that she does... She gives talks. Do you
understand? She gives talks to explain about
the places they go to. For instance, she is
going to the Galapagos Archipelagos, so she
tells the tourists about the kind of animals
they can find there, why those animals can be
found there, etc... She gives talks. Ok? That
would be a wonderful job for biologists too.
Ok, everyone. So, listen again and mark the
sentences true or false. Please, read the
sentences silently and then I am going to play
again, ok?
Estudantes leem as frases em silêncio.
Professora: Ok, can I play the recording?
One more time...
Professsora coloca o áudio novamente.
Professora: Ok, everyone? In the 'world'...!
(repetindo as últimas palavras ditas no
Professora explica melhor como é o trabalho
com fotografia realizado pela entrevistada.
Renata fala sobre mais uma responsabilidade
da entrevistada em seu emprego.
Professora instiga os estudantes a falarem
mais.
Professora complementa a resposta.
Professora dirige os estudantes ao próximo
exercício e sugere que eles leiam as questões
antes de ouvirem o áudio novamente.
Professora faz uma brincadeira, referindo-se
a dificuldade com a pronúncia da palavra
“world”, e a turma ri.
234
áudio).
Estudantes riem.
Professora: Ok, first sentence, is it true or
false?
Estudantes: False.
Professora: False. Number 2, true or false?
Estudantes: False.
Professora: False, good! Number 3, true or
false?
Estudantes: True.
Professora: True... Number 4?
Estudantes: True.
Professora: Good! Number 4, true. And
number 5?
Estudantes: False.
Professora: And number 6?
Estudantes: False.
Professora: Are you sure? You have to be in
good shape, yes... Em forma... You don't
have to be an athlete, but you have to be in
shape. You have to be physically fit... I don't
know...
Aurora: Ela diz que tem que ser ativo...
Professora: Então, mas se você está ativo,
você está em forma...
(Estudantes olham com expressão de
discordância)
Professora: Não? Não necessariamente?
Então é false! Then it's false. What do you
understand by active?
Renata: You exercise... But maybe you are...
acima do peso?
Professora: Overweight.
Renata: Overweight, but you do exercise...
Professora: Ok...
Aurora: Like my husband (risos).
Professora corrige o exercício de “verdadeiro
ou falso” junto com a turma.
Há uma discordância sobre a resposta da
última frase, professora busca explicar o que
é “good shape”.
Aurora diz que, no áudio, a entrevistada fala
que as pessoas têm que ser ativas, indicando
que ela compreende “pessoa ativa” e “pessoa
em boa forma” como coisas distintas. Outros
estudantes parecem concordar.
Professora diz que, já que eles entendem de
outra forma, então eles podem marcar a
questão como falsa. Ainda pergunta o que
eles entendem por “pessoa ativa”.
Renata explica o porquê ela acha que “pessoa
ativa” é diferente de “pessoa em boa forma.
Aurora faz uma piada, a professora e a turma
riem.
235
Professora: (risos)... Ok, listen... We are not
doing number 5, we are moving on to
grammar...
Falas da professora sobre atividades de listening:
• Comentários sobre a importância do listening para a aprendizagem de língua:
Lúcia: As pessoas querem falar inglês, né. E falar implica o quê? Implica você ouvir. À medida
que você ouve, você vai adquirindo a língua como ela é em uso, mas ninguém quer treinar
listening. Você já viu? O listening é um bloqueio. Então, é uma visão de uso de língua que é...
Como é que eu vou te dizer? Não condiz com o real uso da linguagem, que você vai interagir
com alguém. Presta atenção! Tô errada? As pessoas querem falar! Mas falar implicar ouvir,
ouvir implica entender. O que que as pessoas fazem para entender? Então, eu acho que existe
uma inversão, quando, na verdade, a língua você adquire, inclusive a materna, ouvindo.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Lúcia: Não adianta, Isabela, quando é ESL é uma coisa, quando é EFL é outra coisa! Essa é a
grande questão, então com EFL, tinha que ter mais listening. Sabe, listening da Voice of
America mesmo, sabe... Eu já fiz outras coisas em outros semestres, do tipo, eles terem que
ouvir e a gente discutir em sala. Ou então cada dia um vem e conta um pedacinho de algo que
ouviu, tem que ouvir, não adianta. Duas aulas de 120 minutos por semana não é muito para uma
classe grande, não são suficientes para uma classe grande
236
ANEXO 3
Atividade- Gramática
Descrição: Nesta seção, busca-se retratar a forma como a professora apresentava e explicava os
conteúdos de gramática. Esses conteúdos eram, frequentemente, contextualizados por textos ou
áudios do livro didático. Em geral, a professora utilizava os exemplos trazidos no livro para
iniciar sua explicação, além de utilizar a lousa para destacar a formação de determinadas
estruturas, dando uma aula expositiva sobre o conteúdo, durante a qual introduzia novos
exemplos do conteúdo. Logo após essas explicações, a professora costumava passar exercícios
em que os estudantes pudessem praticar o conteúdo que acabara de ser explicado- esses
exercícios poderiam ser extraídos do livro didático, de outros livros trazidos pela professora ou
elaborados por ela mesma. Era comum a professora propor exercícios em que os estudantes
trouxessem elementos da sua vida e experiência pessoal na utilização de novas estruturas.
Algumas vezes, essa parte prática adquiria um caráter mais interativo, com o uso de jogos ou
dinâmicas. Muitas vezes, exercícios de gramática também foram solicitados como tarefa de casa
e, depois, eram corrigidos coletivamente em sala.
Abaixo, estão descritas as atividades desenvolvidas pela professora, bem como estão transcritos,
na íntegra, dois exemplos dessas atividades. Ao final, encontram-se a fala dos estudantes sobre
esse tipo de atividade e alguns materiais utilizadas pela professora.
• Present Perfect: Na 1ª sessão, a professora trabalhou esse conteúdo em sala. Ela havia
pedido que os estudantes, em casa, lessem o conteúdo explicativo trazido no livro
didático. Portanto, antes de começar sua explicação, ela perguntou como havia sido a
leitura do material, ouviu os comentários dos estudantes e tranquilizou aqueles que
acharam o estudo difícil, dizendo que eles iriam rever o conteúdo juntos. Ela explicou o
uso do Present Perfect, mostrando que esse tempo verbal estabelece uma conexão entre
presente e passado, além de também ser usado para falarmos de experiências pessoais.
Ela deu exemplos para cada ponto que abordava, usando as experiências pessoais que os
estudantes tinham relatado em atividade anterior. Depois disso, ela escreveu alguns
exemplos na lousa, destacando a estrutura do tempo verbal e mostrando as formas
interrogativas e negativas. Em seguida, ela leu a explicação trazida no livro didático,
que apresentava a estrutura do tempo verbal e seu uso. Ela realçou alguns verbos
irregulares, escrevendo, na lousa, a forma do verbo no Past Simple e no Past Participle.
Terminada a explicação, a professora pediu que cada estudante pensasse e escrevesse
sobre uma experiência inusitada que já viveram. Depois disso, cada estudante
compartilhou sua experiência com a sala e, em seguida, a professora conduziu uma
atividade de conversação, feita em duplas, sobre essas experiências.
237
Na sessão 2, a professora retomou esse assunto, relembrando a importância do conteúdo
e resolvendo algumas dúvidas apresentadas pelos estudantes.
• Do or Make: A explicação sobre a diferença dos verbos “do” e “make” foi realizada na
sessão 3, introduzida no LD por meio do texto “Twenty-First Century Cowboys
(atividade descrita na seção Leitura). A professora, antes de realizar o exercício trazido
no livro, projetou algumas explicações sobre o tema e leu com os estudantes, dando
exemplos e clareando algumas questões. A professora explicou que esse ponto da língua
é chamado de “colocações”, o que quer dizer que “uma palavra vem com aquela outra
junto”. Ela disse aos estudantes que as explicações podem ajudar e que ali estavam os
exemplos mais comuns, mas também disse que, caso eles tivessem dúvida, eles
poderiam digitar a palavra no Google e verificar se ela aparece com ‘make’ ou com
‘do’- comentário que fez os estudantes rirem.
Terminada essa explicação, a professora corrigiu o exercício do livro, no qual os
estudantes precisavam completar algumas expressões com a palavra “make” ou “do”.
Depois disso, a professora pediu que cada estudante preparasse algumas questões para
perguntar aos colegas, usando “do” e “make”. A professora sugeriu que eles
escrevessem as questões antes de conversarem uns com os outros e deu alguns minutos
para que os estudantes se preparem. Quando todos estavam prontos, a professora pediu
que eles se levantassem e trabalhassem com um parceiro diferente, com quem ainda não
tinham trabalhado. Isso deu uma dinâmica diversificada à atividade e os estudantes
mostraram-se bastante entusiasmados.
Este tópico foi abordado novamente na sessão 9, quando a professora entregou aos
estudantes um material impresso no qual constavam algumas explicações sobre o uso de
“do” ou “make” e alguns exemplos de expressões bastante usadas. A professora leu
parte do material com os estudantes e tirou as dúvidas trazidas por eles. O material
encontra-se anexado ao final dessa seção.
• Defining relative clauses: Na sessão 6, após a realização de uma atividade de
Listening, a professora pediu que os estudantes abrissem seus livros na página onde
estava a transcrição do áudio que acabara de ser trabalhado. Ela pediu que os estudantes
circulassem as palavras “who”, “where” e “which”. Depois de eles terem feito isso,
alguns estudantes voluntariaram-se para ler a transcrição e, durante a leitura, a
professora fazia algumas pausas para checar as palavras que os estudantes haviam
circulado. Em seguida, a professora retomou o exercício do livro onde estava exposto
esse ponto gramatical. Nesse exercício, os estudantes iam formulando as regras para o
uso dos pronomes relativos. A professora guiou os estudantes durante a resolução desse
238
exercício, que foi feita coletivamente pela turma. Por fim, a professora solicitou que os
estudantes fizessem os exercícios sobre esse tópico como tarefa.
Na aula seguinte (sessão 7), este assunto foi abordado novamente. A professora leu,
junto com os estudantes, a explicação sobre o tema que constava no LD e corrigiu os
exercícios que foram feitos como tarefa. Enquanto lia a explicação trazida pelo livro,
ela escrevia alguns exemplos na lousa e tirava dúvidas dos estudantes. Depois que a
correção dos exercícios foi encerrada, a professora pediu que cada estudante pensasse
em uma pessoa famosa e escrevesse uma frase descrevendo aquela pessoa, sem revelar
seu nome. Ou seja, eles deveriam criar frases como “é a pessoa que desenvolveu o
primeiro computador”, para que seus colegas tentassem adivinhar o nome daquela
personalidade. A professora sugeriu que os estudantes, primeiramente, escrevessem as
frases. Em seguida, todos se levantaram, formaram duplas e conversaram uns com os
outros, tentando adivinhar sobre quem os colegas haviam escrito. Depois de ter falado
sobre a pessoa que havia escolhido e adivinhado a personalidade descrita por um
colega, o estudante deveria encontrar uma nova dupla e repetir o processo. A turma
ficou bastante atenta durante esta atividade, demonstrando motivação para conversar e
para descobrir quem eram as pessoas descritas pelos colegas.
• 0 and 1st conditional: Este assunto foi abordado nas sessões 8 e 9. Na primeira, o
tópico foi introduzido a partir do contexto oferecido por uma atividade de leitura
(Technology for explores). De forma semelhante ao que foi descrito na atividade
anterior, o LD trouxe algumas questões que guiavam os estudantes na formulação de
regras da estrutura e do uso das formas condicionais. A professora fez essas questões
junto com os estudantes e escreveu alguns exemplos na lousa, como “If the weather is
good, the expedition will go well”, e explicou a estrutura da frase. Os estudantes
ficaram bem concentrados durante a explicação e, depois, eles resolveram,
individualmente, alguns exercícios sobre o assunto. A professora fez a correção dos
exercícios logo em seguida, de maneira coletiva, em que cada aluno lia uma frase.
Na sessão 9, a professora trouxe um material extra sobre o assunto, que trazia uma
estruturação da “First Conditional” e um exercício que trabalhava o assunto por meio de
exemplos de superstições. Em seguida, foi feita uma atividade de conversação sobre
superstições, descrita em “Atividade- Conversação”. O material usado pela professora
encontra-se em anexo ao fim desta seção e essas atividades estão transcritas
integralmente na Matriz 3.0.
239
• Past Perfect: Na sessão 12, a professora fez uma revisão do Present Perfect, propondo
uma atividade de conversação em que os estudantes eram levados a usar tal estrutura.
Depois disso, a professora deu início a uma nova unidade do livro e, ao final da aula,
explicou que eles haviam revisitado o Present Perfect porque começariam a estudar o
Past Perfect na aula seguinte. Dessa maneira, na sessão 13, após uma atividade de
leitura, a professora introduziu o Past Perfect. Ela começou sua explicação dando um
exemplo de algo que havia ocorrido aquele dia: “Isabela had already arrived, when I
arrived here” e “Isabela had already opened the door to room 1, when I got here”. Ela
deu os exemplos e explicou que esse tempo verbal é bastante parecido com o que se tem
em português. Continuou sua explicação, colocando alguns exemplos na lousa e
destacando a estrutura do Past Perfect. Ela voltou ao livro, leu a explicação trazida nele
e pediu para que os estudantes resolvessem alguns exercícios. Depois que os estudantes
fizeram o que havia sid pedido, a professora fez a correção em conjunto com a sala.
A atividade seguinte foi de Listening e, ao final dela, a professora pediu, como tarefa,
que os estudantes lessem a transcrição o áudio e achassem exemplos do uso do Past
Perfect.
Na aula seguinte (sessão 14), a professora distribuiu um material extra sobre Past
Perfect, explicou alguns exercícios e solicitou que os estudantes os fizessem como
tarefa. Em seguida, ela corrigiu a tarefa que havia pedido na aula anterior- encontrar
exemplos de Past Perfect na transcrição de um áudio.
Na aula da sessão 15, a professora fez a correção dos exercícios do material extra, que
tinha passado como tarefa. A correção foi realizada coletivamente, com participação de
toda a turma e a professora respondeu a algumas dúvidas trazidas pelos estudantes.
• Subject question: A professora iniciou o tema relembrando que, no dia em que foi feita
a correção da prova em sala, a aluna Aurora havia ficado em dúvida sobre um exercício
no qual se pedia que formulassem questões. A estudante havia usado um auxiliar na
questão que ela havia formulado, no entanto, tratava-se de uma “subject question”.
Retomado esse assunto, a professora começou sua explicação escrevendo alguns
exemplos de “subject questions” na lousa e dizendo que essas são questões nas quais se
quer saber sobre o sujeito. Ela deu alguns exemplos, como “Who talked to you?” “The
doctor talked to me”. E disse, novamente, que se tratava de uma pergunta sobre o
sujeito e que, nesse caso, não se usa auxiliar. Ela voltou ao livro, leu alguns exemplos
que foram retirados de um exercício de Listening e aprofundou sua explicação.
Depois disso, a professora entregou um material com exercícios extras sobre o assunto e
pediu que os estudantes fizessem alguns deles como lição de casa, outros foram
trabalhados em sala. Este assunto foi trabalhado na sessão 14.
240
• -Ed/ -ing adjectives: Este tema foi introduzido por meio de uma atividade de Listening,
na qual havia alguns exemplos de adjetivos terminados em “ed” ou em “ing”. A
professora trabalhou o assunto usando as explanações do livro, além de trazer slides
com mais exemplos e diferentes explicações sobre os adjetivos. A professora também
trouxe exercício extra, além daqueles do livro, para os estudantes praticarem. A parte
expositiva foi realizada na sessão 14 e, na aula seguinte (sessão 15), a professora fez
correção de exercícios sobre o tópico, que os estudantes haviam feito como tarefa.
• Tabela com tempos verbais: Na 15ª sessão, a professora mostrou aos estudantes, por
meio de uma projeção, um quadro que sistematizava os tempos verbais na língua
inglesa. Ela explicou que costuma trabalhar aquele quadro no Inglês III, em uma
atividade em que ela e os estudantes vão construindo aquela sistematização juntos.
Alguns estudantes, que haviam cursado o Inglês III com a professora Lúcia,
lembravam-se da atividade. Na ocasião aqui descrita, a professora apenas mostrou o
quadro, fez uma síntese de seu conteúdo e perguntou se os estudantes tinham interesse
em receber aquele material, ao que eles responderam afirmativamente.
• Passive voice: Na sessão 16, a professora retomou o quadro mencionado acima, que
apresentava os tempos verbais na voz ativa. Em seguida, mostrou um novo quadro que
continha os verbos na voz passiva. Ela perguntou à turma se eles sabiam quando se
usava a voz passiva em português e alguns estudantes arriscaram explicações. A
professora ouviu as contribuições deles e as complementou, mostrando um material em
slides que explicava e exemplificava os usos da voz passiva. Em seguida, ela pediu que
os estudantes fizessem um exercício em que eles deveriam passar a frase da voz ativa
para a voz passiva. Ela também passou uma tarefa sobre assunto.
Na sessão 18, o tema foi retomado com a correção dos exercícios que haviam sido
realizados como tarefa. Além disso, a professora deu alguns exemplos de frases na voz
passiva, usando invenções e seus inventores ou livros e seus escritores. A partir disso,
criou-se um clima descontraído na sala e os estudantes deram mais exemplos desse tipo,
usando a estrutura da voz passiva.
Na aula seguinte, a professora trouxe um jogo para que os estudantes praticassem a voz
passiva. A professora pediu que a turma formasse grupos e entregou, para cada grupo,
pequenos papéis, cada um contento o nome de um livro ou de um autor. A atividade
consistia em ligar o nome de obras da literatura com seus autores. No momento de
checar se as conexões feitas pelos estudantes estavam corretas, eles deviam fazer frases
241
usando a voz passiva. Esta atividade foi marcante e está descrita na íntegra na Matriz
3.1 que se encontra nesta seção.
• Used to: Esse assunto foi contextualizado por meio de um exercício de Listening.
Depois de terem resolvido as questões sobre o áudio, a professora disse que iria tocá-lo
novamente e pediu que os estudantes acompanhassem lendo a transcrição. Em seguida,
ela, junto com os estudantes, destacou os usos da expressão “used to” no texto e
introduziu a explicação da gramática. Ela escreveu na lousa “What to did you use to
play with?” e “What TV show did you use to watch?”, pediu que os estudantes
preparassem suas respostas e compartilhassem com a turma. Depois disso, ela leu, junto
com os estudantes a explicação sobre o tema trazida no LD.
Matriz 3.0
Data:
14/09/2017 (8ª sessão)
19/09/2017 (9ª sessão)
Atividade:
Zero and First Conditional
Duração:
Primeira parte- 45 minutos
Segunda parte- 20 minutos
Descrição da atividade: Inferências:
Professora: Let's go on. We have to take a
look now at activity 5, on page 97.
Estudantes se organizam, achando o
exercício.
Professora: Ok, everyone? So, we have to
look at sentences "a" through "c" and answer
the questions 1 and 2, ok? So, sentences "a"
through 'c" are:
-If the weather is good for next few day, the
expedition will go well.
- Sites like Facebook and Twitter also help if
we have a problem.
- When explorers arrive in a new place, they
log on to their social networking site.
Professora: So, which sentences talk about
things tha are generally true? What generally
true? Things that generally happen...
Alguns estudantes: "C"
Professora: "C"? Ok. Just "C", everyone?
Depois de terem finalizado questões de
compreensão do texto. Professora chama
atenção dos estudantes para o exercício no
qual será explicitada a questão gramatical.
Professora lê as frases que constam no
exercício. Os estudantes ficam em silencio e
acompanham a leitura, demonstrando
estarem atentos.
242
Alguns estudantes falam: "B".
Professora: "Sites like Facebook and Twitter
also help if we have a problem." Also help
when we have a problem. So, these two
sentences talk about things that usually
happen or that are probably true, ok?
So, sentence "A": If the weather is good for
next few day, the expedition will go well"...
We have to match it with number 2, right? It
talks about a possible future situation.
So, here we have the Zero Conditional and
First Conditional. The Zero Conditional...
When you have a Zero Conditional, you can
have a sentence like "B": Sites like Facebook
and Twitter also help if we have a problem.
You can have a "if clause". Or you can have:
"When explorers arrive in a new place, they
log on to their social networking site.".
Listen, everyone...
Professora vai até a lousa e escreve: Sites
like Facebook and Twitter also help if we
have a problem.
Professora: Ok, everyone? So, here we have
a verb, here: help and have. (Professora
mostra as palavras na lousa enquanto fala e
sublinha-as). So, both verbs are in the
present tense. Right? Sites like Facebook
help. Simple Present. And we have a
problem. Simple Present. (Professora
escreve Simple Present embaixo dos verbos).
So, this is what we call the Zero Conditional:
When you have a sentence with the Simple
Present, then you have a comma, usually, and
you can have "if" or "when". And you have
Estudantes respondem às perguntas
prontamente.
Professora conclui o exercício do livro. E
repete o nome das estruturas- Zero
Conditional e First Conditional- com seus
respectivos exemplos. Estudantes continuam
bastante concentrados.
Professora coloca na lousa uma das frases
que estava no livro e, a partir dela, destaca
como se dá a formação da Zero Conditional.
Dessa forma, o conteúdo parece ficar mais
claro. Alguns estudantes fazem anotações
enquanto a professora explica e escreve na
lousa.
243
the Simple Present again. (Enquanto fala,
professora escreve na lousa: Simple Present,
IF/ WHEN Simple Present).
For instance, if I think about my house...
Uhm, I can say: It usually rains, when the
birds near my house get overexcited. Ficam
agitados, get overexcited, ok? So, it usually
rains, when the birds get overexcited. Ok?
Some important news are broadcasted- são
transmitidas- when Plantão da Globo comes
out. Ok? We call it Zero Conditional.
We have also the First Conditional here,
right? What's the First Conditional like? Let's
take a look here.
Professora fala retomando o livro: "If the
weather is good, the expedition will go well".
(Professora vai à lousa e escreve essa frase).
So, we have a "if clause", Present Simple and
Will Future. (Professora vai sublinhando
onde estão essas partes da frase conforme
vai falando). So, this is the First Conditional,
ok? We have an if clause, plus Simple
Present, comma, and Will Future. (Enquanto
fala, professora escreve na lousa: IF + Simple
Present + Will (future).) We have two
clauses, the first one has "if" and the Simple
Present and the second clause has a verb that
will be in the will future. Let me give you an
example....
(Professora vai até o computador e projeta
um material em Power Point no qual está
escrito "Morning Classes").
Professora: So, we are talking about morning
classes... Do you enjoy having classes in the
morning?
Alguns estudantes: No...
Professora dá um novo exemplo da Zero
Conditional, diferente daquelas trazidas pelo
livro. Nesse exemplo, ela usa um fato sobre
sua casa. Fazendo referência a algo que havia
contado mais cedo naquele dia, sobre os
animais que aparecem em seu jardim.
Professora repete o processo utilizado com a
Zero Conditional, mas agora explicando First
Conditional.
244
Michael: Yes...
Professora: You do, Michael? Michael
does...Who else? You do, Carolina? You do,
Diego? So you are morning people. Who
doesn't like having classes in the morning?
Ok...
Professora: Ok, see if it is true or false for
you, ok? If you give yourself an extra hour of
sleep ever night, you will stay awake during
your early morning classes. (Professora lê a
frase que está escrita no Power Point). Do
you understand?
Diego: Awake is acordado?
Professora: Acordado! Desperto... So, is it
true for you or not? Talk a little bit with your
partner.
(Estudantes discutem por alguns minutos
sobre o assunto e depois a professora chama
a atenção deles de volta).
Professora: Everyone, do you understand that
we use the First Conditional to predict
consequences? Right? Possible
consequences, things that can happen in the
future. Ok? So, let's take a look now at the
gray box on page 97. Zero and First
Conditional
Professora começa a ler no livro: "If/ when,
plus Simple Present... When we have news,
we text all our friends. We text all our friends
when we have news. "
Professora: Quando a primeira oração
começa com "when" ou "if", você separa ela
com uma vírgula. Ok, everyone? When you
do it the other way around, you don't need a
comma.
Professora lê no livro novamente: "First
Professora interage um pouco com os alunos,
deixando-os expressarem suas opiniões sobre
ter aulas de manhã. Essa interação muda a
dinâmica da aula, dando uma pequena pausa
para a parte expositiva e parece reavivar a
energia da turma.
O exemplo que a professora traz de First
Conditional é bastante próximo da realidade
dos estudantes- universitários, que costumam
ter aulas em diversos períodos e que
frequentemente se queixam da falta de sono
ou do cansaço.
Estudantes conversam um pouco entre si.
Este momento, assim como o que foi descrito
logo acima, ofereceu um pouco de
descontração à aula.
245
Conditional. If + Simple Present+ will or
won't. If I hear any news, I'll text you. I'll text
you if I hear any news."
Professora: Text means mandar mensagem,
mandar mensagem de texto. Let's take a look
on page 173.
(Professora mostra a parte do livro onde tem
uma explicação mais detalhada do assunto).
Professora: O problema aqui é que eles estão
dando os mesmos exemplos... So, for
example... If you drive too fast on Rhodia
Road, you will get a traffic ticket. Do you
understand traffic ticket?
Estudantes respondem afirmativamente.
Professora: Let's take a look at the use of the
Zero Conditional... "We use it to talk about
facts or things that are generally true"
Professora lê o trecho acima no livro e
comenta: Not only generally true, but things
that are frequent, ok? When I get home at
night, I usually turn on the TV. For instance.
This is a Zero Conditional.
Professora lê mais um trecho da explicação
do livro: "When you talk about facts, you use
'when'. When you talk about things that are
generally true, you can use 'if" or 'when",
there is no difference".
Professora: Ok? O exemplo não ficou muito
bom, mas... Vamos lá.
Professora continua lendo o livro: "First
Conditional. We use the First Conditional to
talk about a possible future situation. If it
rains tomorrow, we won't go to the
mountains. "
"When we talk about situation in the future,
there is a difference between 'if' and 'when'.
Professora lê, junto com estudantes, uma
parte do livro que traz uma explicação mais
completa dos tópicos gramaticais.
Para os diferentes conteúdos de gramática, a
leitura dessas explicações às vezes foi feita
em sala e às vezes foi designada como lição
de casa.
Professora queixa-se da falta de diversidade
nos exemplos do livro e dá um novo
exemplo.
Professora complementa a explicação do
livro.
246
We use 'when + Simple Present' to talk about
a certain future action: When Jack arrives, I'll
ask him to help us."
Professora: Aqui é de tempo, o "when" de
tempo, tá? É um pouquinho diferente. Mas
vamos focar no "if" por enquanto, depois a
gente volta pro "when", ok? Could you
please do the practice on this page for
homework? I'll correct next class. Let's go
back to page 97.
Estudantes se organizam, voltando para a
página que a professora solicitou.
Professora lê o enunciado de um exercício e
depois explica: You have a conversation here
that you have to complete, ok? Using the
First Conditional or the Zero Conditional.
Please do it now and then we correct it
together.
Estudantes fazem o exercício
individualmente.
Depois de alguns minutos, a professora
chama: Ok, everyone? Ready? I need two
people to read. I am not going to interrupt
you, guys. So, whatever the person says... If
it doesn't match with what you have written,
don't erase your answer, ok/ I am going to
listen first and, when you are done reading
the conversation, I am going to correct. Ok?
Do you understand?
Estudantes concordam.
Professora: So, two people to read the
conversation. Yes, Isadora and Michael. Go.
Isadora e Michael leem o diálogo.
Professora: Ok. Just something... "There will
not be space for anything else...". (Professora
relê uma frase do diálogo, corrigindo o
Professora pede que os estudantes façam
alguns exercícios de gramática como tarefa
de casa. Essa é uma prática que foi observada
também no trabalho com outros conteúdos
gramaticais.
Estudantes fazem, individualmente,
exercícios sobre o conteúdo.
247
verbo). Ok? That was the only mistake,
everyone. Ok?
Estudantes conferem suas respostas e
concordam.
Professora: Everyone, let's repeat...
Professora coloca o áudio do dicionário
para a palavra "waterproof", que aparecia
no diálogo e não havia sido bem
pronunciada.
Estudantes repetem: Waterproof.
Professora: Please, erveryone, repeat...
Professora coloca o áudio da palavra
"package".
Estudantes repetem: Package.
Professora: (mostrando a transcrição
fonética no dicionário) Olha, o "a" aqui.
Package. Não 'packeige'.
Estudantes: Package.
Professora: Let's see. The last one.
(Professora coloca outra palavra no
dicionário).
Estudantes: Canoe.
Professora: Ok, everyone? So, why don't you
read the conversation one more time in pairs?
Estudantes se juntam em pares e se
preparavam para reler o diálogo, mas Diego
chama a professora e faz uma pergunta.
A professora se aproxima dele e fala: No, I
told you not to erase...
Ela se volta para a turma e diz: Let me read
the correct version one more time, ok?
A professora lê o diálogo inteiro, indicando
os verbos que deveriam ter sido completados.
Professora: Ok? Ok, Diego?
Diego: Ok!
Estudantes formam duplas para praticar o
A correção é feita coletivamente, o que é
outra prática comum da professora. Neste
caso, a correção foi feita a partir da leitura do
texto, realizada por estudantes que se
voluntariaram para participar.
Professora aproveita o momento para
trabalhar algumas questões de pronúncia. Ela
mostra a pronúncia correta de algumas
palavras que os estudantes tiveram
dificuldade em falar durante a leitura do
diálogo.
248
diálogo. Os estudantes estavam em número
ímpar, então a professora formou dupla com
Michael. Depois que todos parecem ter
terminado a professora pergunta:
Professora: Ok, everyone. Any questions?
Part 2 (19/09/2017)
Professora: Here... It's the First Conditional,
ok? They are calling it the Future Condition,
but they are First Conditionals. (Professora
fala enquanto entrega material e pede para
estudantes irem passando uns aos outros).
Professora: Are there any copies left? Ok...
Profesora pega as cópias que sobraram e
volta para a frente da sala.
Professora: You remember... Do you
remember how we construct the First
Conditional?
(Escreve na lousa: If there are clouds, it will
rain.)
Professora: You are making predictions,
right? So, you use IF plus the Simple Present,
then the main clause with WILL plus a verb.
(Enquanto fala, escreve na lousa IF + Simple
Presente+ Will).
So, this is the First Conditional. I want to
focus on the First Conditional, I am not going
to focus on the Zero Conditional... In the
text, ok?
Professora: Now, here... This book
"Grammar Dimensions" has a different
approach to language. They always try to
find examples that you can find in everyday
conversation. So, in everyday conversation
you can also find the Present Continuous
instead of will, but I want you guys to focus
Diego havia se confundido e apagado suas
respostas e não havia conferido os verbos
durante a correção. A professora,
pacientemente, repete a correção.
Professora confirma se Diego havia
conseguido corrigir os verbos desta vez.
A atividade encerra-se com os estudantes
praticando, em duplas, o diálogo do exercício
que acabara de ser corrigido.
Professora entrega cópias de um material e
explica a diferença de nomenclatura da “First
Conditional”.
249
on will. Is that ok?
Estudantes concordam.
Professora: Ok, so let's see. So, examples:
you have the Simple Present, then "will" or
"be going"... Forget it, just will, we are
focusing on will. Vamos ficar só com will,
tá?
Professora lê no material: “If you study
hard, you will get a good grade. If it rains
tomorrow, I will bring my umbrella. Steve
will give you a ride, if you ask him.” Ok,
everyone?
Miguel: When I use "will", I... It's an
afirmative sentence, ok? When I have
doubt...
Professora: When I am not sure...
Miguel: When I am not sure I can use would?
Professora: This is the Second Conditional,
ok? We are having the First Conditional first.
Because if you use "would", you have to use
the Simple Past here. (Professora mostra na
lousa, apontando o lugar onde está escrito
'Simple Present", para explicar que aquele
verbo precisaria ser trocado por Simple
Past.) See? When we have the Simple Past
here, we have would here. That's the Second
Conditional. It's a hypothetical situation.
Miguel: Yes...!
Professora: It's not true, it's not possible. But
this is possible. (professora diz apontando
para a frase que está na lousa, na First
Conditional)
Professora: Ok? In fact, we are sorting of
predicting something. Fazendo uma previsão,
tá?
Miguel: Ok.
Professora relembra a estrutura da First
Conditional, escrevendo um exemplo na
lousa.
Escreve na lousa como se dá a estrutura que
está sendo estudada.
Professora explica que o livro de onde ela
tirou esse material tem uma abordagem
diferente e, por isso, traz outra possibilidade
de formar a First Conditional, sem utilizar o
“will”. No entanto, a professora pede que os
estudantes concentrem-se no uso do “will”.
Miguel apresenta uma dúvida e a professora
explica que aquilo que ele está querendo
dizer seria uma Second Conditional. Ela
250
Professora: O segundo, você tá dizendo uma
coisa que não... Não é certeza que pudesse ter
acontecido. Por exemplo, "se eu fosse
você...". Eu não sou você. É uma condição
contrária ao fato. If I were you, I would...
This is possible to happen, or let's hope so: If
the economy improves, the presidents of
USP, UNESP and UNICAMP will not have
to worry about money. Do you understand?
Estudantes: Yes...
Professora: Because ICMS will go up and we
will have more money for the universities.
Mariana: The First Conditional... you have a
sure?
Professora: You are sure?
Mariana: Yes, you are sure... to happen...
Professora: To happen? No, you are not sure
to happen. There is a possibility that it will
happen. Because “will” expresses possibility
and probability. When we use the Second
Conditional, it can't happen, it is a
hypothetical situation. Do you understand?
(Professora gesticula e explica olhando para
Mariana e para Miguel, que haviam
levantado as perguntas). "Would" would be
a hypothetical situation. Não é que é certeza.
I will bring my umbrella. I might forget my
umbrella, right? (Professora fala sorrindo,
olhando em direção à Mariana). So... But it
may happen, there is a possibility that it will
happen. Não é uma possibilidade absurda, tá?
Por isso que é com "will", é uma previsão.
Professora: Então, vamos olhar? (professora
volta ao material) Future Conditionals... Por
isso que eles chamam de Future
Conditionals, mas pode por aí, se vocês
explica, brevemente, qual seria a diferença na
estrutura e também no significado das frases.
Miguel demonstra ter compreendido.
Professora enfatiza novamente a diferença,
dizendo que a Second Conditional trataria de
uma situação que não é possível. Ao
contrário da First Conditional, que ela mostra
na lousa, que é possível.
Professora dá exemplos da diferença entre as
duas formas.
Mariana apresenta mais uma dúvida,
251
quiserem, é First Conditionals...
Professora lê no material: “First
Conditionals make prediction about what will
happen in the future. You usually use Simple
Present in the ‘If clause’ and "will be" in the
main clause.”
Professora: Gente, "will be", não. Will plus a
verb. Não vai ser "will be" sempre. É o
“will” e um verbo. Como aqui ó (professora
mostra a frase que havia escrito na lousa): If
there are clouds, it will rain. Rain é o verbo,
não tem verbo "to be". Ok? Então vamos lá.
Professora continua lendo: “Most countries
have superstitions. Here is a commom North
American superstition: If a black cat crosses
your path, you will have bad luck.”
They are sure it will happen. Buuut... It is a
superstition, right? Do you understand why it
is not so certain? (Professora fala dirigindo-
se à Mariana). According to the superstition,
it is a done deal. Vai acontecer. But we don't
know... It is a superstition, right?
Professora continua lendo o exercício
trazido pelo material: So, "match A and B
bellow to create other common North
American superstitions. Check your answers
with other students and with your teacher."
Ok, so you have sentences like A, in collumn
A, and sentences in collumn B. You have to
match the sentences to make the
superstitions, ok? Common North American
superstitions.
Estudantes fazem o exercício
individualmente, por alguns minutos.
perguntado se a First Conditional expressa
uma certeza.
Professora retoma a explicação e esclarece
que First Conditional expressa uma
possibilidade ou uma probabilidade, mas não
há certeza.
Professora dá mais um exemplo. Seu olhar
está atento, focando em Mariana e Miguel.
Professora faz uma correção de um erro no
material.
252
Professora: Are you done? Ok, so who wants
to say the first sentence? Are you done? Ok...
So, who wants to say the first one?
Mariana se manifesta.
Professora: You? Go ahead, Mariana.
Mariana: If you break a mirror, you will have
seven years of bad luck.
Professora: Ok, everyone? 1- C. If you break
a mirror, you will have seven years of bad
luck. Ok? Who wants to read number 2?
Maria e Giovana demonstram querer
participar, praticamente ao mesmo tempo.
Professora: Ok, Maria? You will be number
3, ok, Giovana? Maria...
Maria: If you find a four-leaf clover, you will
be very lucky.
Professora: You will be very lucky. Very
good! So, 2-G, right? Guys, I was just...
There is a song called "Four-leaf clover". I
am looking over a four-leaf clover... It's a
song by Emmy Rossum. Do you know who
she is? There was film last night on Rede
Globo, about a girl who has ELA. Did you
see the film last night? It is a story of a
woman who has ELA- Esclerose lateral
amiotrófica.They showed it last night.
Anybody see it? I didn't see it last night, but I
have seen it. Emmy Rossum was in the film.
She is a very good actress. She is a good
actress, she is a good director, she has
beautiful voice and she sings beautifully. So,
maybe you can try to find her song, ok? And
you will have an example of the use of a
four-leaf clover. Ok? So, number 3,
everyone. Yes, Giovana...
Giovana: You will have bad luck if you walk
Professora usa o exemplo da superstição
trazida pelo material para retomar a
explicação de que a First Conditional não
expressa uma certeza. Ela dirige-se,
principalmente, à Mariana.
Professora explica o exercício trazido no
material.
Exercício é feito individualmente e, em
seguida, a professora conduz uma correção
coletiva.
Estudantes voluntariam-se para ler as frases
do exercício.
253
under a ladder.
Professora: Ladder. (Professora corrige a
pronúncia).
Giovana: What is...?
Professora: Ladder? Escada.
Giovana: E stairs?
Professora: Ladder é aquela escada que você
põe encostada na parede, ou abre para trocar
uma lâmpada. That's a ladder. Giovana acena
com a cabeça, demonstrando ter entendido.
Professora: Ok, number 4. Who wants to do
number 4? Júlia, ok...
Júlia: You will prevent something bad from
happening if you knock on wood.
Professora: If you knock on wood
(professora bate na mesa para exemplificar).
Number 5? João?
(João havia levantado a mão).
João: If you open an umbrella indoors, you
will bring bad luck to all the people in the
house.
Professora: Ok, it's correct. So, number 5 is
B, ok? Number 6, who wants to read? You,
go, Joyce, good.
Joyce: A rabbit paw will bring good luck if
you carry one in your pocket.
Professora: Very good. That's D, right?
Number 6 is D. Do you understand paw?
Pata de coelho, certo? Who is going to read
number 7?
Michael e Rodrigo se manifestam ao mesmo
tempo.
Professora fala, surpresa, olhando para
Rodrigo: Você?!
Ela vira-se para Michael e diz: Michael, can
we let Rodrigo do it? Because he hardly ever
Professora repete qual é a resposta, de modo
que a correção fique clara para os estudantes.
Professora dá uma dica de música que fala
sobre trevo de quatro folhas.
254
volunteers...
(A professora usa um tom divertido e toda a
turma ri, inclusive Rodrigo).
Professora: Ok, go ahead.
Rodrigo: If you catch the bride's bouquet at
the wedding, you will be the next person to
get married.
Professora: Ok, that's right! Ok, guys... There
are some questions here that I want you to
answer. Do you have any of these
superstitions in your country? Which ones,
Renata?
(Renata tinha feito que sim enquanto a
professora perguntava.)
Renata: I don't know... All...
Professora: You know all of them... Do you
think all of them are very popular in Brazil?
Yes? Just tell me, there is no right or wrong...
Renata: I think... Uhnm, everybody in Brazil
knows them, knows the superstition exists,
but not all of them, we do... Like, the mirror
and the ladder, we take it seriously in Brazil.
Professora: You think so? (Fala em tom
divertido).
Renata: But the paw... It's not so commom.
Professora: Have you ever seen a keyring
with a rabbit paw? Nunca viram um chaveiro
com pata de coelho?
Alguns estudantes dizem que sim.
Professora: Now you know why... Ok...
Michael: Knock on wood...
Professora: I do it! All the time... Don't you?
Ok, guys. But I think we know most of them,
right? But there are other Brazilian
superstitions. Let's see "do any of these
superstitions have a different meaning in
Professora explica dúvida de vocabulário.
Professora fica surpresa que Rodrigo se
voluntaria, pois ele costuma ser mais
introvertido nas aulas.
Ela pede para Michael deixar que Rodrigo
faça a correção, para aproveitar o momento-
raro- em que ele se voluntariou.
Essa situação traz um toque de humor e a
255
your country? For example, in Great Britain,
if a black cat crosses your path, you will have
good luck" (lendo no material, enfatiza o
"good"). Excuse me?
Joyce: This is better, because I have a black
cat!
Turma dá risada.
Professora: I follow a woman on Instagram,
she has a black cat and a white cat. Every
Friday the 13th, she posts a picture of her
black cat.
Joyce: I do the same!
Professora: Ok! "Think of some superstitions
from your country and share it with the rest
of your class". We all come from the same
country, right? So, think of superstitions
from Brazil. Let's start with this last question
"how many of you believe in superstitions?".
Do you believe in superstitions?
Alguns estudantes falam que sim e outros
falam que não.
Professora: Ok, some of you do, some of you
don't.
João: I don't believe, but I do.
A turma toda ri e concorda.
Laís: Believe is a strong word, but I don't do
it, because... I don't know!
Professora (rindo): In doubt, you don't
challenge the superstition, right? Most people
do, here... I want you to get together, in pairs,
or groups of three, whatever you want. And
think of a Brazilian superstition different
from the ones that are here, ok?
turma se diverte.
Professora instiga Renata, que havia se
manifestado timidamente, a falar mais.
Renata dá sua opinião sobre as superstições.
256
Joyce faz um comentário divertido e a turma
ri.
Professora pergunta se os estudantes
acreditam ou não em superstição e ouve os
comentários que eles fazem.
João faz um comentário engraçado, que
parece resumir como a turma se sente em
relação às superstições: não acredita, mas
faz.
A professora se diverte com os comentários
dos estudantes.
Professora finaliza essa atividade e introduz
uma próxima, cujo foco é conversação.
Matriz 3.1
Data: 09/11/0217 Atividade: Jogo Passive Duração: 1h15
257
Voice
Descrição da atividade: Inferências:
Professora: Now, I have something for you
here. I brought something different... Before
we finish unit 9... (Professora fala enquanto
procura alguma coisa em sua bolsa).
Professora: Gente, eu não tive tempo... Eu
cheguei no xerox e ele não tinha feito as
cópias. Então, eu vou ter que improvisar
aqui, só um minutinho... (ela pega uma
tesoura e começa a cortar algumas folhas de
papel).
Professora: Does anybody have a pair of
scissors?
Isabela (pesquisadora): I do!
Professora: You do?! Oh, thank you! Can
you help me, Isabela?
Isabela: Yes... (eu vou até a mesa e pego
algumas folhas para ajudar a cortar).
Michael: Tem outra tesoura ou uma régua?
(Ele pega uma tesoura emprestada e ajuda a
cortar também).
Professora: Oba! Só que você não pode falar
as respostas.
Depois de termos terminado de cortar, a
professora diz: Guys, please. I need five
groups. Five groups! I don't know how many
students we are having...
Estudantes começam a se juntar em grupos e
a professora distribui o material para eles.
Professora: You are going to match writers
and their books.
Ela vai entregando o material para os
grupos e dizendo: Match writers and their
books.
Professora anuncia que trouxe algo diferente
para os estudantes.
Professora precisava terminar de preparar o
material e explica a situação aos estudantes;
Ela pergunta se alguém tem tesoura, para
poder ajuda-la. A pesquisadora se oferece
para ajudar. O estudante Michael logo se
disponibiliza também. Em pouco tempo,
termina-se de preparar o material.
Professora pede que os estudantes se
organizem em cinco grupos e distribui o
material para os grupos.
O material consiste de pequenos pedaços de
papel, com nomes de livros da literatura
nacional ou nomes de autores.
Ela explica o que eles devem fazer- ligar os
livros aos seus respectivos autores.
258
Estudantes, em grupos, começam a tentar
resolver o jogo.
Professora: Gente, todo mundo tem as obras?
(Professora confirma se todos estudantes
estão com o material completo e anda pela
sala, vendo o andamento da atividade nos
grupos).
Depois de cerca de 10 minutos, a professora
pergunta: Guys, are you ready? Let's listen
the sentences now. So, number one.
Aurora: "Grande Sertão Veredas" was
written by... (Aurora confunde a pronúncia
de written).
Professora levanta as mãos, em um gesto
propositalmente exagerado e diz: Was...?
Aurora e outros estudantes dizem em coro:
Written!
Professora: Ó, a Aurora fez o que todo
mundo fez. Na aula passada, alguém dizia
"wraitten", eu corrigia e o próximo dizia
"wraitten".
Estudantes riem.
Professora: This is one of the reasons why
we are doing this. Written!
Estudantes: Written.
Professora: Write, wrote, written. Ok? So,
again. Can you, please, repeat?
Aurora: "Grande sertão veredas" was written
by Guimarães Rosa.
Professora: Very good! Number 2.
Laís: "Dom Casmurro" was written by
Machado de Assis.
Professora: Ok! Number 3.
Isadora: "Os sertões" was written by Euclides
Professora dá um tempo para os estudantes
resolverem o jogo e depois chama atenção
deles para correção.
Professora olha para a o grupo que está mais
próximo dela e sinaliza para que eles façam a
primeira frase.
Na aula anterior, muitas pessoas confundiram
a pronúncia da palavra “written”. Quando
Aurora cometeu o mesmo erro aqui, a
professora fez um gesto exagerado com os
braços, para poder interromper e corrigir a
pronúncia. Esse gesto deu um toque de
humor ao momento e deixou a correção mais
suave.
Professora relembra que aquele era um erro
comum e faz a turma repetir a pronúncia
correta.
Dá-se continuidade à correção.
259
da Cunha.
Professora: Very good. Number 4.
Júlia: "Macunaíma" was written by Mario de
Andrade.
Professora: Okay... Number...?
Michael: Five.
Professora: Number 5.
Mariana: "Vidas secas" was written by
Graciliano Ramos.
Professora: Okay! Ok... Number 6.
Diego: "A hora da estrela" was written by
Clarice Lispector.
Professora: Yes! Ok... Number 7.
Carla: "O tempo e o vento" was written by
Érico Veríssimo.
Professora: Ok. Number 8.
Giovana: "Sítio do Pica-Pau Amarelo" was
written by Monteiro Lobato.
Professora: Ok! I think is number 10, right?
Estudantes dizem: Nine!
Milena: "O quinze" was written by Rachel de
Queiroz.
Professora: O quinze, right? Okay!
Michael: "Morte e vida severina" was written
by João Cabral de Melo Neto.
Professora: Ok, good. Number 11.
Ana: "Quarup" was written by Antônio
Calado.
Professora: Yes! Girls..
Laís dá a última resposta.
Professora: Ok, everyone. We have more
coming. Please... Juntem de um lado... One
pile for the writers and another for the books.
Just a second, everyone. There is more
coming.
260
Professora, pesquisadora e Michael
organizaram o material para a próxima
rodada do jogo, que agora traz autores e
obras da literatura internacional.
Estudantes trabalham em grupos para tentar
resolver a atividade.
A professora e a pesquisadora ficaram em
sua mesa, cortando os papéis que serão a
terceira rodada do jogo.
Professora: Guys, when you are done, just
signal to me, ok?
Estudantes ficam bastante concentrados na
tarefa e às vezes fazem perguntas à
professora.
Michael: Teacher, what is trial?
Professora se aproxima do grupo de Michael
e diz: Trial means julgamento, but in
Portuguese it was translated as processo.
Estudantes do grupo: Aaaaah!
Diego: Teacher, what does "wuthering"
mean?
Não é possível compreender a palavra
“wuthering” não é compreensível e a
professora pergunta: Excuse me? What
does...?
Diego: W-U-T-H-E-R-I-N-G.
Professora: Wuthering heights? Uhm,
"heights" means altura, morro, alto.
Aurora (que estava no mesmo grupo que
Diego): Aaaah!
Os estudantes do grupo se aproximam entre
si e voltam a discutir.
A professora dá início a uma nova rodada do
jogo, que traz nomes de livros internacionais
e seus autores. Os nomes dos livros estão
escritos conforme a versão em inglês. Isso
traz um desafio maior, em comparação à
rodada anterior, na qual os nomes das obras
estavam em português.
Enquanto estudantes trabalham na resolução
do jogo, a professora e a pesquisadora
ficaram cortando o material que será usado
na terceira rodada.
Durante o trabalho em grupos, alguns
estudantes fazem perguntas de vocabulário à
professora.
Nesse caso, o grupo, ao dizer “aaah!”,
demonstra que, assim que descobriram qual
era o nome do livro em português, o enigma
seria facilmente resolvido.
Assim como no caso descrito acima, uma
dica de vocabulário foi suficiente para que os
261
Alguns estudantes fazem comentários
durante a atividade e a turma ri:
Michael: Quem terminar primeiro, ganha!
Laís: Não tem ajuda dos universitários, não?
Alguns grupos fazem perguntas uns aos
outros, buscando ajuda para conseguir ligar
todas as obras aos seus autores.
Enquanto os estudantes faziam a atividade, a
professora falou para a pesquisadora: It's all
about problem solving, isn't it? I never
imagined they would be so busy!
O grupo formado por Aurora, Ana e Diego
discutia o que poderia ser "The Lord of
Flies" e faziam suposições:
Aurora: Senhor dos vôos?
Diego diz: Pode ser mosca também.
Mas os três focam em "Senhor dos vôos" e
não conseguem resolver o problema de quem
seria o autor. Então, perguntam para a
professora: O que é flies?
Professora: Flies? Moscas.
O grupo diz: Aaah!
Ana (dirigindo-se a Diego): Então você tava
certo.
Nesse momento, professora disse para a
pesquisadora: You know what? This is good
to learn vocabulary too.
Michael vai até o grupo de Carla e Laís para
fazer perguntas. Os dois grupos tentam se
ajudar, mas ainda têm dúvidas. Eles riem e
estudantes pudessem prosseguir no jogo e
encontrar o autor do livro.
A turma estava bastante dedicada ao jogo e
alguns estudantes faziam comentários
engraçados, que dava um clima animado à
aula.
Alguns grupos também ajudaram uns aos
outros. Todos pareciam querer resolver as
questões.
Enquanto a pesquisadora estava próxima à
professora, ela fez esse comentário, com um
brilho no olhar! Ela parecia estar bastante
contente em ver os estudantes tão animados
com a atividade.
Aqui se tem outro episódio com a questão do
vocabulário. Os estudantes fazem suposições
para o significado da palavra “flies”, mas,
como não conseguem encontrar o autor do
livro, eles pedem ajuda à professora.
Ana percebe que Diego tinha falado o
significado correto.
Depois do episódio acima, a professora
comenta, satisfeita, que essa atividade
262
se divertem.
Depois de dez minutos, a professora
pergunta: Are you ready?
Estudantes (em coro): Nooo!
A professora dá mais alguns minutos e
pergunta novamente: Are you finished,
everyone? Are you done?
Alguns estudantes fazem sinal com as mãos,
indicando "mais ou menos".
Professora: But you are not sure if you have
done it right?
Estudantes: Yes.
Professora: Let's see. Let me start. Ok... Let's
start with Miguel de Cervantes.
Francisco: "Dom Quixote" was written by
Miguel de Cervantes.
Professora: Right, everyone? Yes or no?
Estudantes: Yes...
Professora: The engineers... Everyone is an
engineer in that group, right? (Estudantes do
grupo dizem que não, então a professora
parece se lembrar). Oh, no, chemists too! Go
ahead.
João: Which one?
Professora: Daniel Defoe.
Estudantes do grupo riem entre si.
Renata: “Catcher in the Rye” was written by
Daniel Defoe. (risos).
Professora: Did you all have the same
answer? No? Ok, who has assigned a
different book to Daneil Defoe?
Giovana: Robinson Crusoe.
Professora: Ok, so... Robinson Crusoe was...
Giovana: “Robinson Crusoe” was written by
Daniel Defoe.
também é uma boa maneira de aprender
vocabulário, parecendo ter-se dado conta
disso naquele momento.
Professora tenta chamar atenção dos
estudantes para iniciar a correção, mas eles
precisam de mais tempo.
Inicia-se a correção. Cada grupo diz uma
resposta.
Estudantes riem por não terem certeza da
resposta.
263
Professora (falando com o grupo que havia
tentado resolver primeiro): Do you want to
have one more try?
Estudantes do grupo: Nooo! (risos).
Professora: Ok. Now, Jonathan Swift.
Mariana: “The Catcher in the Rye” was
written by Jonathan Swift.
Professora: Ok, wait a minute. They said that
"The Catcher in the Rye" was written by
Daniel Defoe, right? (professora aponta para
o grupo anterior). Who has a different
match? (Isadora levanta mão).
Professora: Ok, go ahead.
Isadora: "Gulliver's travels" was written by
Jonathan Swift.
Professora: Yes, "Gulliver's travels". Ok,
now, over here. Mary Shelley... No! I am
sorry... Jane Austen!
Diego: "Emma" was written by Jane Austen.
Professora: Ah! Very good, it's correct.
Professora (falando para o próximo grupo):
Girls, now Mary Shelley.
Laís: "Frankenstein” was written by Mary
Shelley.
Professora: Ok, now, the dancing geography.
Alexander Dumas.
Francisco: "The Count of Monte Cristo" was
written by Alexander Dumas.
Professora: Yes, good.. Very good. Now,
Emily Brontë.
Renata: "Wuthering hights" was written by
Emily Brontë.
Professora: Yes, "Wuthering Hights". What
is it called in Portuguese?
Alguns estudantes dizem: Morro dos ventos
uivantes.
Professora se outros grupos tinham respostas
diferentes e pede uma nova resposta.
Um grupo dá a resposta correta.
Agora, um terceiro grupo usa o livro “The
Catcher in the Rye” para a resposta.
Professora parece achar graça que dois
grupos “chutaram” a combinação do mesmo
livro com autores diferentes.
Outro grupo dá a resposta correta.
264
Professora: Yes! Morro dos ventos uivantes.
Now, Flaubert.
Mariana: "Madame Bovary" was written by
Gustave Flaubert.
Professora: Ok. Guys, there is a film from
three years ago called "Gemma Bovery". If
you ever have a chance to watch it... It has to
do with Emma Bovary. Don't miss it. It is a
French and English film. Ok? Now, Lewis
Carroll.
Ana: "Alice in the wonderland" was written...
(Ana erra a pronúncia de written).
Professora: Was?
Ana: .... was written by Lewis Carroll.
(corrigindo a pronúncia).
Professora: Ok! Girls, Tolstoy.
Carla: “Anna Karenina” was written by Leon
Tolstoy.
Professora: Aham, very good. Proust now.
Francisco: "In search of Lost Time" was
written by Marecel Proust.
Professora: Proust, yes. What is it called...
What is the book called in Portuguese? "Em
busca do tempo perdido". Ok, Viriginia
Wolf...
João: "One hundred year of solitude" was
written by Virginia Wolf.
Os outros grupos dizem: Nooo... (A turma
ri).
Professora: Who knows the answer? Go...
Diego: "Mrs. Dalloway" was written by
Virginia Wolf.
Professora: Very good.
Professora fala para o grupo de Michael:
Now, you guys. You go the one you wanted.
Kafka.
Professora dá uma dica de filme aos
estudantes.
Professora indica, sutilmente, que a frase de
Ana precisa de uma correção. Ana repete a
frase, acertando a pronúncia da palavra
“written”.
Esse grupo já havia confundido algumas
265
Mariana: "The trial" was written... (Mariana
confunde a pronúncia de "written).
Professora: Was?
Mariana: Written! ... was written by Franz
Kafka. (Mariana acerta a pronúncia).
Professora: What's "The Trial" called in
Portuguese?
Carla: O processo.
Professora: O processo, yes. George Orwell,
Aurora: "1984" was written by George
Orwell.
Professora: Right, everyone?
Turma (em coro): Yes!
Professora: If you haven't read it, read it! It is
really scary. É assustador. But it's something
that is happening today. Girls... Tolkien.
Laís: "The Lord of the Rings" was written by
J.R.R. Tolkien.
Professora: Right. Ok, William Golding.
Giovana: "Lord of the Flies" was written by
Willian Golding.
Professora: "Lord of the Flies" (corrigindo a
pronúncia de flies). Se não vai ser o senhor
dos arquivos...
Giovana (rindo): Flies! (Corrige a
pronúncia).
Professora: Ok, now, go ahead. Gabriel
Garcia Marquez. The one you wanted... Now
you should get it right...
Grupo dá risada e tenta organizar o
material, parecem ainda estar buscando a
resposta.
Professora: Do you want the help from
college students?
O grupo ri e diz: Yes...
Professora: Who's gonna answer that?
respostas antes. Então, quando eles fazem
outra ligação errada entre autor e obra, a
turma toda ri, inclusive o próprio grupo.
Professora indica a necessidade uma
correção.
Professora recomenda a leitura do livro
“1984”.
266
Júlia: "One hundred years of solitude" was
written by Gabriel Garcia Marquez.
Professora: Gabriel Garcia Marquez, yes.
Os outros grupos aplaudem, a turma dá
risada.
Professora: There are some very interesting
books by him. Have you heard about the
book "Love in the Time of Cholera"? O amor
nos tempos do cólera?
Alguns estudantes dizem que sim.
Professora: "Crônica de uma morte
anunciada" is also very good. Now,
Dostoevsky.
Michael: "The Brothers Karamazov" was
written by Dostoevsky.
Professora: Ok, very good. Now, go ahead.
Ernest Hemingway...
O grupo que deve responder dá risada.
Diego: "The Catcher in the Rye" was written
by...
A turma toda ri, inclusive o grupo que deu a
resposta.
Professora (rindo): So... "The Old Man and
the Sea" was written by Ernest Hemingway.
Guys, he got the Nobel Prize for this book!
He got the Nobel Prize!
Professora: And the last one, guys?
Everyone, all together.
Estudantes (em coro): "The Catcher in the
Rye" was written by J.D. Sallinger.
Professora: Remember we talked about the
book a few weeks ago, when we talked about
the film "Teoria da conspiração"... And then
somebody said "Oh, the guy who killed John
Lennon was reading this book". Catcher in
Rye. O apanhador no campo de centeio.
Professora corrige a pronúncia da palavra
“flies”. A estudante parece achar graça na
fala da professora e repete a palavra,
corretamente.
Professora brinca com os estudantes,
repetindo uma frase que eles haviam dito no
período em que os grupos estavam
trabalhando.
Desta vez, aquele grupo que havia dado
várias respostas incorretas, acerta a resposta!
A turma toda aplaude e eles se divertem.
Professora fala sobre Gabriel Garcia
Marquez, recomendando algumas leituras.
Pela terceira vez, o livro “The Catcher in the
Rye” é usado como um “chute” e por um
terceiro grupo! A turma e a professora acham
graça, riem.
267
Estudantes: Aaaaah!
A turma ri. Alguns dizem: Faz sentido!
Professora: Ok, everyone? Now, are you
ready for more?
Professora: Guys, you get scientists and
discoveries all together, ok?
Professora distribui o material para
estudantes. Eles trabalham em grupos cerca
de quinze minutos.
Professora: Listen, everyone. How much
longer do you need? Are you done?
Alguns grupos dizem que já terminaram,
outras ainda estão trabalhando. A professora
dá mais alguns minutos para que todos
terminem.
Professora: Ok, everyone? So, let's start with
number 1, who's gonna start? Let's start here.
Mariana: The paper...
Professora: The paper was...
Mariana: The paper was invented by Cai
Lun.
Professora: Ok. The paper was invented by
Cai Lun. Number 2, guys?
João: A powerful telescope was developed
by Galileo.
Professora: By Galileo, yes. A powerful,
because there was already a telescope, right?
So, a more powerful telescope was developed
by Galileo. And the word developed, not
discovery. Because it's like software, you
don't invent software, you develop software.
Ok, number 3.
Francisco: The reflecting telescope was
invented by sir Isaac Newton.
Professora: Yes, ok! Number 4, Carla and
Laís.
Professora corrige a resposta.
Professora brinca com os estudantes, porque
agora, a resposta será, finalmente, “The
Catcher in the Rye”. Por isso, ela pede que
todos falem a frase juntos.
A professora comenta que eles já haviam
falado sobre aquele livro em sala de aula.
Quando ela diz o nome do livro em
português, os estudantes parecem se dar
conta do que se tratava e riem da situação.
A terceira rodada do jogo traz nomes de
cientistas e suas invenções ou descobertas.
Os estudantes devem ligar cada cientista à
sua respectiva invenção.
Professora dá alguns minutos para os
estudantes trabalharem em grupos.
Depois, ela começa a correção.
268
Laís: The first practical telephone...
Professora: No, no, number 4.
Estudantes riem, porque a professora, sem
querer, mostrou que o grupo não havia
ligado a invenção certa ao cientista.
Professora: I'm sorry!
Laís e Carla: Ok...
Laís: So... (As duas olham seus papéis,
tentando repensar a respostas).
Professora: I wrote the birth date and the
death date to help you... Can you do it?
Carla: No...
Professora: (falando para o próximo grupo)
Can you do it? Let's see, everyone.
Diego: The battery was invented by
Benjamin Franklin.
Professora: The battery? Is it right?
Outros grupos dizem: Nooo...
Professora: So, who wants to answer? You
guys want to answer (apontando para o
grupo que teve maior dificuldade na rodada
anterior).
Júlia: It's our turn now! (Faz um gesto com os
braços, indicando vitória).
A turma e a professora riem.
Júlia: Electricity was discovered by
Benjamin Franklin.
Professora: Yes, very good. Very good. So...
Laís and Carla, do you need some time to get
reorganized?
Laís: The battery was discovered by James
Watt.
Professora: No...
Carla: Então, a gente passa! (rindo).
Professora: Who wants to answer that? Ok,
go...
Carla e Laís erram uma resposta e a
professora, sem querer, as avisa antes que
elas terminassem a frase. As estudantes riem
e a turma faz algumas brincadeiras. A
professora pede desculpas.
269
Isadora: The steam engine, which was
suitable for use in trains, was invented by
James Watt.
Professora: That's right. The steam engine,
which was suitable for use in trains, was
invented by James Watt. Right. Number 6.
Who wants to do?
Mariana: The first negative was invented by
Alessandro Volta.
Professora: No... Who knows? You do it!
Renata: The battery was invented by
Alessandro Volta.
Professora: Yes! Remember I told you...
Voltage, Volta. Ok, Charles Babbage. Who
knows the answer?
Francisco: The first mechanical computer
was created by Charles Babbage.
Professora: Babbage. Ok! Number 8, who's
gonna answer?
Diego: Here!
Professora: You?
Diego ri, a professora então entende que o
grupo quer responder aquela, porque era
uma ligação mais simples de ser feita.
Professora: (rindo) Ah, mas não tinha como
esconder!
Ana: The Morse code was invented by
Samuel Morse.
Professora: The Morse code was invented by
Samuel Morse.
Diego: (rindo) Is that correct? (fala em tom
irônico).
Professora: (rindo) Yes! Ok. next. You girls?
Carla: Willian Henry Fox Talbot invented the
first negative, which could make several
prints.
O grupo, que teve dificuldade na rodada
sobre literatura internacional, agora está mais
seguro das respostas. Júlia brinca com a
situação.
270
Professora: Yes. Very good, girls. Very
good. This number 10 is also very difficult!
Who's gonna do it? You? Go ahead.
Mariana: The Braille system was developed
by Louis Braille.
Professora: The Braille system of reading for
the blind was developed by Louis Braille.
Ok. Francês, né?
Professora: Ok. Kirkpatrick Macmillan.
Who's gonna do it? Ok, go ahead.
Isadora: The pedal bicycle was invented by
Kirkpatrick Macmillan.
Professora: Ok. Is it correct, everyone?
Outro grupo diz: Yes...!
Professora: Yes, correct! Now, number 12.
Milena: The first process to produce colored
photography was invented by James Clerk
Maxwell.
Professora: Right. Guys, number 13 is also
very easy, isn't it? Ok, you have it! Go,
Rodrigo!
Rodrigo: The petrol-powered car was
invented by Karl Benz.
Professora: Yes. Ok, everyone. Who's gonna
read 14? Thomas Edson.
Mariana: The electric light bulb was
developed...
Professora: Developed. (Corrigindo a
pronúncia).
Mariana: ... developed by Thomas Edson.
(Fala com a pronúncia correta).
Profesora: Ok! Now, guys, number 15.
Ana: The first practical telephone was
credited by Alexander Bellc.
Professora: Ok... Was credited to. To. Was
credited to Alexander Belc.
Os estudantes fazem graça durante a
correção, deixando clima sempre leve e
descontraído.
Professora diverte-se com as brincadeiras dos
estudantes.
Professora também brinca com o fato de a
próxima questão ser mais fácil, já que a
invenção e seu inventor têm o mesmo nome.
271
Ana: To... Ok.
Professora: Now, Rudolph Diesel. Who's
gonna answer?
Estudantes riem, porque essa é outra das
respostas mais simples.
Diego: Us!
Professora: No, you are getting to many of
the easy ones. Go ahead, Carla and Laís.
Laís: Diesel engine was invented by Rudolph
Diesel.
Professora: Ok! Now, I am going to let you
have number 17, Laís. Marie Curie.
Laís: The radiations and X-rays was
discovered by Marie Curie.
Professora: Ok, the use of radiations and x-
rays was discovered by Marie Curie. Ok! So,
Alexander Fleming.
Mariana: The penicillin was discovered by
Alexander Fleming.
Professora: Ok. So, number 19. You?
Francisco and the girls?
Giovana: The television and the first
recording device was invented by John Logie
Baird.
Professora: Baird... But listen: The television
and the first recording device, two things,
were invented by Baird. Ok?
Giovana acena com a cabeça, concordando.
Professora: Now, Turing.
Ana: The Turing machine was developed by
Alan Turing.
Professora: Ok. And the last one? Who wants
to do?
Mariana: The inventing of the World Wide
Web was credited to Tim Berners-Lee.
Professora: The invention of the World Wide
272
Web was credited to Tim Berners-Lee. Ok,
everyone?
Falas dos estudantes sobre as atividades de gramática
• Miguel fala sobre explicações de gramática
Miguel comenta sobre as questões que fez durante as explicações de gramática
Isabela: Eu anotei alguns exemplos... Teve uma aula que a professora deu um exemplo e você
perguntou “ah, poderia nessa frase também usar o that?”. Teve uma outra que ela estava
explicando sobre o ‘if’ e ‘will’, você perguntou sobre o ‘would’...
Miguel: O ‘would’, é, eu lembro.
Isabela: Então, eu queria saber o que você achou dessas explicações, quando você tem essas
dúvidas.
Miguel: Eu acho que eu entendi, assim. Por exemplo, quando ela falou do ‘that’, aí ela falou que
era melhor usar o ‘which’ e o ‘who’ ou o ‘where’, né. Até então, quando eu via essas palavras,
eu conseguia ler, mas eu não entendia o porquê. Daí, eu entendi, a partir desse momento que ela
explicou. Entendi também porque usa o “that”, só que o ‘that’... ela ainda ficava um pouco
genérico ali, porque ele é uma palavra genérica. Então, eu entendi o porquê de usar o “who” e o
“which”.
Agora, quanto ao “would”... Assim, eu não entendo tanto de tempo verbal em português, né.
Uma vez eu vi o professor Pasquale explicando o futuro do pretérito, que seria uma
possibilidade... E eu acho que eu relacionei o ‘would’ a isso. Então, eu não consigo... Tem
vários outros que eu nunca consegui entender. Mas esse do futuro do pretérito foi em várias
músicas que o professor Pasquale explicou e eu consegui entender. Então, o ‘would’ eu
relacionei a isso. Aí, quando ela explicou, eu vi: não é bem uma possibilidade, mas é uma coisa
que seria... talvez uma coisa meio fantasiosa, que seria muito extremo acontecer.
• Falas sobre o jogo da Passive Voice
Rodrigo e Giovana comentam sobre o jogo da Passive Voice
Isabela: Pensando na aula da Lúcia, quais tipos de atividade vocês gosta mais?
Rodrigo: Então, das atividades? Por exemplo, essa atividade de hoje eu achei bem bacana,
porque faz interagir mais com o pessoal, fica uma coisa mais dinâmica. Eu gosto mais.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
273
Isabela: E o que você achou daquela atividade de ontem?
Giovana: Achei ótimaaaaaa!! Maravilhosa!!! Eu gosto muito de jogo! Eu acho que é uma bela
maneira de, assim, de... De ensinar qualquer coisa, acho que o jogo traz uma dimensão diferente
pro aprendizado. Eu sou bem competitiva, então eu gostei bastante.
Isabela: Legal. Foi engraçado, porque todo mundo queria fazer mais rápido... (risos)
Giovana: É! Meu Deus! O que que é isso?! Tinha papelzinho que a gente não sabia se era nome
de livro ou se era nome do autor! A gente ficou tipo "Meu Deus, como a gente vai resolver isso
agora?".
Isabela: Mas seu grupo foi bem... Vocês acertaram um monte de coisa.
Giovana: Foi muito engraçado!
• Comentários sobre outras dinâmicas em que se praticou gramática
Isabela: Teve uma atividade que era pra falar sobre alguém famoso, que era para a outra pessoa
adivinhar, que vocês levantaram e conversaram com pessoas diferentes...
Miguel: Sim... Ah, eu acho que eu... Era talvez de alguma coisa ou alguma pessoa.
Isabela: Isso, e você fez, acho que sobre alguém da Elétrica...
Miguel: Fiz sobre o Nicola Tesla. Eu acho que foi isso, é verdade.
Isabela: Então, você gosta desse tipo de atividade, de interagir com o pessoal... ?
Miguel: Eu acho que é a que eu mais gosto. Dá um pouco de preguiça de levantar, mas eu acho
interessante, porque tem gente que sempre senta com o mesmo par. Aí, talvez você levantar e
trocar o para é importante também, porque você não sabe que jeito que o outro fala ainda. E a
pessoa que você sempre fala, você acostuma a falar com ela. Então, eu acho importante.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Francisco: Teve um dia que você faltou (falando para Isadora), que ela pediu para a gente
levantar e conversar com as pessoas, conversar em pé com cada um. Não lembro sobre o que
que foi... Ah! Tinha que falar sobre alguém ou alguma coisa que aconteceu, no passado, para a
pessoa adivinhar o que era...
Isabela: ... de adivinhar, é, eu lembro...
Francisco: É. Podia falar de qualquer coisa e a pessoa tinha que adivinhar.
Isabela: Era para usar aqueles who, that, which...
274
Isadora: Aaaah...
Francisco: Então, quando eu levantei para conversar com pessoas que eu não conhecia, meio
que me desbloqueou... Ainda mais eu, que morro de vergonha de falar com os outros! Ainda
mais em inglês! Então, querendo ou não, você acaba tendo contato, um pouco, com as pessoas e
fica mais à vontade.
• Comentários em que as atividades de gramática são valorizadas e/ou elogiadas
• Aurora demonstra gostar da forma que professora explica gramática
Isabela: O que você acha do jeito que a professora explica a gramática?
Aurora: Então, eu consigo entender. Eu faço inglês com a Lúcia desde o Inglês I e eu, assim...
Eu sempre tive um pouco de dificuldade em inglês, sempre tive. E faz sentido a forma como ela
explica, não é só mecânico, sabe? Por exemplo, a forma como ela explicou lá do Present
Perfect. Faz muito mais sentido ela explicar que é uma ação, que aconteceu no passado, mas que
o efeito ainda é presente. Quando você entende o funcionamento da língua, a gramática faz mais
sentido e você não esquece, do que só quando te passam as regrinhas de gramática, sabe. Eu
acho que isso que me ajudou, assim, entender o funcionamento da língua, que ela sempre
explica isso. Porque nossa tendência é pegar e relacionar com o português, tentar traduzir
literalmente. Mas aí quando você entende o funcionamento, você não tenta traduzir, porque é
outro sentido.
• Ana relata ter dificuldade com as questões gramaticais, mas afirmar gostar da forma
como a professora explica
Isabela: E as explicações de coisas mais... tipo gramática...
Ana: Eu gosto bastante. Semestre passado a gente começou a ver o Present Perfect, mas eu
tenho muita dificuldade com essa parte. Eu entendo o que ela explica e tudo mais, mas às vezes,
quando sou eu fazendo exercício, eu não consigo. Mas eu gosto bastante que ela tenta deixar o
mais claro possível, ela dá vários exemplos. Se alguém não entende, ela volta e tenta explicar de
um jeito diferente. Eu gosto bastante.
Isabela: Em geral, depois de explicar alguma coisa de gramática, ela pede para vocês fazerem
exemplos, relacionando com a vida de vocês. O que que você acha desse movimento, ela
explicar e depois jogar pra vida de vocês?
275
Ana: Ah, eu acho legal, porque força a gente a colocar em prática o que a gente acabou de
aprender. Eu acho que falar alguma coisa da nossa vida é mais fácil do que pegar um tema
aleatório, acho que motiva mais.
• Carolina diz que a professora explica muito bem, mas acredita que poderiam ser feitos
mais exercícios de gramática
Carolina: Eu acho ela uma professora muito boa. Tô aprendendo muito com ela; ela explica
muito bem a gramática também, né.
Isabela: Você pode falar mais sobre o jeito que ela explica?
Carolina: É meio rápido, né. Ela passa uma vez na lousa e eu acho que talvez falte um pouco de
exercício de gramática.
Isabela: Em geral ela passa de tarefa, né?
Carolina: Sim, de tarefa.
Isabela: Você acha que não praticam na sala?
Carolina: Ah, pratica bastante! Isso ajuda bem. Quando é atividade em grupo, a gente tem que
repetir o que a gente falou...
• Maria, cujo principal motivo de buscar o inglês na universidade era sanar dúvidas de
gramática, avalia o trabalho durante o semestre positivamente.
Isabela: E você tá gostando?
Maria: Uhum. Sim, sim. Todas as minhas dúvidas de gramática já... Assim, a maior parte delas
que é... O principal era conjugação de verbo, porque eu não sabia nada. Eu só usava presente,
passado e futuro, só (risos). E agora eu aprendi. Tá sendo bom... No começo, eu achei que ia ser
um nível abaixo, para ser sincera...
Isabela: Como assim?
Maria: Tipo, que eu... Que (o teste de nivelamento) não ia me puxar para cima, que ia me puxar
para baixo, sabe? Que ia ser básico do que ele é, mas, no fim, tô gostando bastante.
Isabela: Mas você achou que ficou difícil no começo, por causa disso?
Maria: Não, ficou fácil... Não sei explicar... Mas depois começou a ter matéria que eu não sei.
Isabela: Dessas coisas de gramática, né? E o que você acha das explicações da professora?
276
Maria: Ah, eu gosto. Eu gosto. Tipo, ela simplificou todas as minhas dúvidas, parece.
Simplificou muito. Não sei também se meus professores antigos complicavam muito...
Isabela: Como você acha que ela simplificou?
Maria: Ah, por exemplo... Eu sempre usava o passado simples, porque... Só que agora eu tô
usando muito mais o outro, porque, tipo, são poucos casos que você usa o simples, na verdade.
Só se tiver uma data... Obviamente que aí eu já generalizo, não sei se eu uso corretamente tudo.
Mas agora eu tô usando o outro também. Só quando tem uma data, que ela fala que quando tá
marcado o tempo, aí eu uso o simples. Tipo isso, sabe?
• Maria também comenta sobre os exercícios extras de gramática disponibilizados pela
professora.
Isabela: E, das atividades que ela passa na aula, quais você gosta mais, acha mais interessante?
Maria: Uhmm, calma que é difícil. Tipo, eu não sei se é uma atividade, mas eu gosto quando
tem mais a parte de gramática, assim. Ou quando ela dá folha extra, sabe, que é sobre gramática,
porque as folhas que ela dá são bem úteis.
• Comentários sobre a necessidade de maiores explicações de gramática
As estudantes Jéssica e Joyce comentam que gostariam que as explicações de gramática
fossem mais aprofundadas.
Isabela: É... E das explicações dela, assim, de gramática... O que você acha?
Jéssica: Ah, acho que talvez poderia ser um pouquiiinho mais aprofundado, acho que talvez ela
escrever um pouco mais na lousa, para a gente visualizar. A gente fica ouvindo, mas eu não sei
se tá todo mundo entendendo, sabe? Às vezes parece que não tá...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E daí você falou que, quando veio para cá, tinha dificuldade com essas coisas de
gramática...
Joyce: É, não porque... Eu gosto muito de gramática em português e eu prefiro entender
algumas coisas por meio da gramática. Eu gostava dessas coisas, oração subordinada... E às
vezes eu quero escrever ou falar e eu sinto que eu não sei falar o que eu quero do jeito certo.
Então pensei "ah, como aqui foca em gramática, eu vou aprender". Porque eu penso se eu tô
numa entrevista de emprego aí eu quero falar "se eu for não sei o quê...". Eu não sei falar, sabe?
Não sei usar os tempos verbais certos, nos momentos que precisa. Aí eu pensei "ah, a gramática
vai me ajudar nisso". Ou então às vezes eu gosto muito... O problema é ficar pensando muito no
português. Mas, quando eu escrevo, eu gosto de escrever bonitinho, aposto, artigo, pronome, eu
277
gosto dessas coisas. Não gosto de usar repetição, eu gosto de fazer as coisas legais. E eu falei
"ah, eu quero aprender a fazer isso em inglês também, sabe".
Isabela: E você achou que foram atendidas essas expectativas?
Joyce: Ah, de certa forma, sim. Tipo, não tanto, porque faziam uma propaganda de que o CL era
muito, muito gramática, assim, sabe? E eu senti que tem... Mas, pelo menos nessa turma, eu
senti que focou mais na conversação do que na gramática. Então, eu senti que não era assim,
sabe? Tudo isso que falam que é de gramática.
Isabela: Entendi. E você acha isso bom? Ou você preferia que fosse só gramática?
Joyce: Eu não preferia que fosse só, mas eu preferia que tivesse um pouco mais.
Isabela: Entendi...
Joyce: Por causa da propaganda que me fizeram...
Isabela: Entendi, era a expectativa...
Joyce: É, a expectativa...
Isabela: E das explicações dela de gramática?
Joyce: Eu acho que são boas, mas são muito poucas, assim. Eu acho que podia ser um
pouquinho mais puxado.
Isabela: Uhum, que era o que você tava esperando...
Falas da professora sobre atividades de gramática:
• Professora Lúcia fala sobre suas concepções acerca do ensino de gramática e
reflete sobre sua prática pedagógica
Lúcia: Olha, eu vejo a relação entre gramática e uso de língua. Eu acho muito difícil você ver o
sentido da gramática, se você não usá-la. Então, se você não colocar em uso realmente. Uma
coisa que eu acho legal nesse livro que a gente tá usando é que ele não é... O syllabus dele, o
conteúdo programático não é organizado com base em gramática. Você já deve ter visto isso...
Então, eu acho que isso foi uma grande mudança, porque o American English Files era
totalmente gramatical. Enfim...
Como é que você... De novo, porque não adianta você aprender na sala de aula e não ver
sentido de uso. Então, como é que você transfere esse conhecimento que você adquiriu para
outras situações de uso, entendeu. Quando você for usar a língua, em outros contextos, como é
que você vai usar aquilo, né. Então, essa é a ideia... Eu não sei se eu consigo fazer muito bem,
278
mas eu procuro fazer. E, com isso, eu às vezes atraso um pouco o programa. E a classe era
grande!
(...)
Lúcia: E, assim, eu não sei se eu faço na medida em que eu gostaria de fazer...
Isabela: O que?
Lúcia: Assim, fazer essa interação entre instrução sobre gramática e uso. Não sei se eu faço na
amplitude que eu gostaria que fosse feito, tá?
Isabela: Ah, é? Por quê?
Lúcia: Porque eu, eu... É, eu realmente acredito que a gramática pela gramática, o aluno tem que
estudar sozinho também.
Isabela: Com exercícios?
Lúcia: É, isso. Eu acho que tempo de sala de aula é pra gente também praticar. Não acho que
não possa ser usado, não é nada disso, Mas eu acho que eu gostaria de ver mais, talvez, ver esse
pessoal no (Inglês) V e no VI e ver em que medida eles internalizaram certas regras gramaticais
e etc.
Isabela: E é por isso que os exercícios de gramática e a leitura daquelas explicações você passa,
em geral, de tarefa?
Lúcia: É, passo para casa. Às vezes, quando eu sinto que é necessário, eu dou uma corrigida...
Mas eu procuro que fique claro, posto no Teleduc... Posto exercício, assim, bem mecânico às
vezes, né.
279
DO X MAKE
280
281
282
FIRST CONDITIONALS
283
ANEXO 4
Atividade: Conversação (produção oral)
Descrição: Atividades que davam aos estudantes a oportunidade de praticar a produção oral e
de interagir com os colegas de classe. Ao longo do semestre, foi possível notar que a professora
dava bastante evidência a esse tipo de atividade e, em geral, trazia propostas que aproximavam
as experiências pessoais dos estudantes aos conteúdos da aula. Esse tipo de atividade foi, em
diversas ocasiões, utilizado como continuidade de outras atividades, tais como leitura de textos,
quando estudantes eram convidados a discutir alguma questão levantada pela leitura realizada, e
explicações gramaticais, em atividades propostas pela professora como forma de cristalizar o
uso de determinado conteúdo que havia sido ensinado, ou ainda após atividades de Listening, as
quais poderiam disparar um tópico para a conversação.
Os registros das aulas mostram que houve dezesseis ocorrências de diferentes atividades
de conversação, o que indica que esta atividade esteve bastante presente ao longo do semestre,
considerando-se que foram realizadas vinte e quatro sessões de observação. A seguir, serão
apresentadas brevemente todas estas atividades e, em seguida, são apresentados dois exemplos
de atividades transcritos na íntegra. Ao final, encontram- se as falas dos estudantes e da
professora a respeito deste tipo de atividade.
• Uma grande mudança na sua vida: Esta atividade foi observada na 1ª sessão de
observação, mas tratava-se de continuação da aula anterior. A professora havia pedido
que cada estudante pensasse em uma experiência que havia produzido uma grande
mudança em suas vidas. Os estudantes compartilharam essas experiências com toda a
sala e a professora fazia algumas perguntas para saber mais detalhes sobre as histórias
contadas. Essa atividade está descrita na íntegra na Matriz 4.0.
• Uma experiência diferente que você viveu: Depois de ter explicado a estrutura e o uso
do Present Perfect, a professora pediu que cada estudante escrevesse uma frase
contando sobre uma experiência diferente que tiveram e leram as frases para a turma
toda. Em sequência, a professora conduziu a atividade de conversação, pedindo que os
estudantes conversassem, em pares, sobre detalhes da experiência. Para finalizar, cada
estudante relatava para a turma o que o colega havia lhe contado. Nesse momento, a
professora fazia algumas correções e dava feedback. Esta atividade ocorreu na 1ª
sessão.
284
• Have you ever...?: Assim como as duas atividades anteriores, esta atividade deu
oportunidade aos estudantes de conversarem sobre experiências de suas vidas e praticar
o uso do Present Perfect. A professora entregou aos estudantes uma folha de papel com
várias questões iniciadas por “have you ever”. Ela leu e explicou as questões e depois
pediu que os estudantes formassem pares para conversar sobre elas. Enquanto os
estudantes conversavam, a professora circulava pela sala, ouvindo partes das conversas
e prestando auxílio aos estudantes que lhe chamavam. Depois de aproximadamente 30
minutos, a professora interrompeu a conversa e perguntou até qual questão os
estudantes tinham trabalhado. A finalização da atividade se deu pelo relato de cada
estudante sobre um conteúdo que o colega havia contado. Nesse momento, a professora
corrigia erros nas falas dos estudantes e fornecia feedback. O material utilizado para
esta atividade, que aconteceu na 3ª sessão, encontra-se em anexo.
• The best book I’ve ever read is...: Essa atividade foi realizada na 4ª sessão de
observação. A professora escreveu na lousa “The best book I’ve ever read...” e chamou
atenção dos estudantes para a frase. Em seguida ela escreveu a palavra “film” embaixo
da palavra “book” e a palavra “seen” embaixo da palavra “read”, dando uma nova
possibilidade de frase (The best film I’ve ever seen...). Ela também escreveu outros
adjetivos na lousa, como “most interesting”, “worst”, “scarriest”, “funniest” e “most
boring”. Então, ela pediu que os estudantes fizessem duplas para conversar sobre esse
assunto, alertando-os que, ao final da atividade, eles deveriam lembrar o que os colegas
tinham falado. Enquanto as duplas conversavam, a professora andava pela sala, ouvindo
as conversas, fornecendo vocabulário e fazendo perguntas. Depois de 30 minutos, a
professora pediu que os estudantes compartilhassem o que os colegas haviam dito.
Nesse momento, ela fez perguntas e comentários sobre o que os estudantes contavam e
também fazia algumas correções.
• Seu primeiro dia na universidade: Essa atividade foi realizada na sessão 5, após a
leitura do texto “Johnny goes to college” (descrita na sessão Atividade- Leitura). O
texto narrava a mudança de um jovem que iria iniciar seus estudos na universidade.
Dessa maneira, após a leitura do texto, a professora pediu que os estudantes formassem
grupos de três pessoas e discutissem como havia sido seu primeiro dia na universidade.
Para o fechamento desta atividade, a professora pediu que cada estudante relatasse um
evento sobre seu primeiro dia na universidade.
• Entrevista de emprego: Esta atividade foi realizada na 6ª sessão, após uma atividade
de Listening, a qual trazia a situação de uma entrevista de emprego. Depois de terem
285
feito exercícios de compreensão do áudio, a professora trabalhou a linguagem utilizada
na situação “entrevista de emprego” e, depois, disso, pediu que os estudantes
simulassem uma entrevista com seus colegas. Para isso, ela solicitou que os estudantes
preparassem algumas questões e respostas para a entrevista antes de começarem a
conversar. Os estudantes fizeram o trabalho de simulação da entrevista em duplas e a
professora ficou circulando pela sala, tirando dúvidas e fornecendo feedback ao longo
da atividade.
• Internet: Esta discussão foi desencadeada por um exercício do livro que tratava de
vocabulário sobre internet, como “download”, “upload”, “subscribe”, entre outros. O
exercício trazia frases sobre usos da internet e os estudantes deviam completar lacunas
com esse vocabulário. Depois de terem feito esse trabalho, a professora iniciou uma
discussão sobre aquelas frases. Esta atividade de conversação foi feita em sala, e não em
duplas ou trios. Os estudantes comentavam as frases do exercício, comentando sobre
como e para que eles usam a internet. Essa atividade aconteceu na 7ª sessão.
• What do you usually post? Essa atividade foi realizada na 8ª sessão e dá continuidade
à atividade “Internet”. Os estudantes leram um texto que era um post em um blog e,
depois de terem feito exercícios sobre o texto, a professora pediu que eles conversassem
sobre o que eles costumam postar em redes sociais. Os estudantes reuniram-se em
duplas ou trios e conversaram sobre o assunto. Passados alguns minutos, os estudantes
relataram para turma e para a professora o que eles haviam conversado, falando sobre
seus próprios usos das redes sociais. Por fim, a professora também falou sobre o que ela
costuma postar em seu Instagram, mostrando, na projeção do computador, as fotos e
textos que ela compartilha em sua conta. Nesse momento, ela mostrou uma foto em que
estavam presentes alguns estudantes da turma, que haviam sido seus alunos no semestre
anterior, durante a confraternização de encerramento de curso. Mostrou também um
post em que ela publicou um desenho que a estudante Letícia havia lhe dado no
semestre anterior.
• Como os animais poderiam ajudar os seres humanos?: Depois de terem lido um
texto do livro didático que trazia exemplos de produtos cujo design foi inspirado em
elementos da natureza, os estudantes foram convidados a discutir sobre como outros
animais poderiam ajudar os seres humanos. O livro apresentava alguns animais e suas
características e instigava os estudantes a pensarem em produtos e invenções
tecnológicas que poderiam ser inspiradas por esses animais. Os estudantes discutiram
286
sobre o assunto em pares e, cerca de 15 minutos depois, compartilharam suas ideias
com a turma. Esta atividade foi realizada na 9ª sessão.
• Superstições: Este tema foi disparado por um material extra que a professora trouxe
para os estudantes, o qual trazia exemplos e explicações do conteúdo gramatical “First
Conditional”. O material dava alguns exemplos de superstições existentes nos Estados
Unidos e, a partir disso, a professora pediu que os estudantes conversassem sobre
superstições brasileiras. Os estudantes conversaram em pares e depois compartilharam
com a turma as superstições que haviam descrito. Esta atividade ocorreu na 9ª sessão e
está descrita na Matriz 4.1
• Have you ever...? (continuação): Na 12ª sessão, a professora retomou o material com
as questões iniciadas por “Have you ever...”. Na aula anterior a professora havia pedido
que os estudantes trouxessem esse material, pois eles discutiriam as questões que ainda
não haviam sido trabalhadas da primeira vez que fizeram a atividade. A professora
solicitou que os estudantes encontrassem um parceiro diferente, que se sentassem com
alguém com que ainda não tivessem conversado durante as aulas. Então, os estudantes
trocaram de lugar e formaram duplas diferentes; a conversa entre eles foi bastante
animada. Aproximadamente 30 minutos mais tarde, a professora interrompeu os
estudantes e pediu que cada um compartilhasse uma história que sua dupla havia
contado. A professora compartilhou uma história dela mesma, sobre ter conhecido uma
pessoa famosa durante seu intercâmbio, e os estudantes ficaram muito entusiasmados ao
ouvir o relato. Por fim, a professora explicou que eles haviam retomado esta atividade
para relembrar o Present Perfect, porque naquela aula aprenderiam um novo conteúdo-
o Past Perfect.
• Adventure vacations: Na sessão 14, após terem feito um exercício do livro que falava
sobre viagens, a professora perguntou aos estudantes se eles já haviam feito alguma
viagem de aventura. Os estudantes contaram suas experiências, falando para toda a
turma. A professora ouvia as histórias com atenção e fazia perguntas em busca de mais
detalhes. Ela também compartilhou a história de uma viagem de aventura que ela fez.
• Kung Fu: Na 16ª sessão, os estudantes fizeram uma atividade Listening sobre escolas
de Kung Fu na China e a expansão dessa arte marcial para o resto do mundo. Partindo
disso, os estudantes deviam elaborar suas opiniões sobre as informações trazidas no
áudio e também pensar em motivos pelos quais eles fariam ou não aulas de Kung Fu.
287
Eles tiveram alguns minutos para se prepararem individualmente e, depois disso,
organizaram-se em duplas ou trios para discutir com os colegas. A professora andou
pela sala enquanto os estudantes conversavam, ouvindo o que eles falavam, fornecendo
feedback.
• Compare speaking and writing: Esta discussão foi realizada como introdução ao
tema que seria trabalhado na leitura de um texto sobre a história da escrita. A professora
pediu que os estudantes fizessem duas comparações diferentes: comparar como é
conversar com um professor ou um chefe com a escrita de um e-mail para essas
mesmas pessoas; comparar a fala com a escrita em mensagens do Facebook ou
Whatsapp. Os estudantes reuniram-se em duplas ou trios para discutirem as questões
levantadas pela professora. Depois de alguns minutos, a professora pediu que eles
compartilhem o que eles conversaram. Uma estudante comenta a dificuldade de se fazer
entender por Whatsapp e dá um exemplo que aconteceu com ela. A professora
perguntou se outros estudantes tiveram experiências parecidas e muitos deles
compartilharam suas histórias. Durante essa discussão, a professora comentou sobre
estudos da linguística que tratam de “Language Awareness” e da relação entre
linguagem e poder. Nesse momento ela perguntou também para mim, Isabela, se eu
conhecia os autores que ela havia citado e pediu que eu falasse sobre o assunto, então eu
contei à turma um pouco do que eu sabia sobre o assunto. Essa discussão foi realizada
na sessão 18.
• Time capsule: Na aula da sessão 20, os estudantes fizeram um exercício do livro
didático que abordava o tema “capsula do tempo”. Por essa razão, a professora pediu
que eles conversassem sobre o que eles colocariam em uma capsula do tempo da
universidade ou do momento em que eles vivem. Os estudantes formam grupos para
discutir o assunto e depois compartilharam suas ideias com a turma. O resultado da
discussão foi bastante divertido e os alunos deram boas risadas durante a atividade. A
professora comentou que, com as falas dos estudantes, ela aprendeu muito sobre a vida
na universidade.
• Ancient buildings: Na sessão 20, estava sendo trabalhada a temática de civilização e
prédio antigos. Para introduzir o assunto, a professora perguntou a cada um dos
estudantes a idade de suas cidades natais. Depois disso, ela pediu que eles formassem
duplas e conversassem sobre prédios antigos e/ou históricos de suas cidades. Após a
288
conversa em dupla, alguns estudantes compartilharam fatos sobre suas cidades com a
turma.
Matriz 4.0
Data: 15-08-2017 Atividade: Talk about a big
change in your life
Duração: 15 minutos
Síntese da atividade:
Continuação de atividade iniciada na aula anterior. Estudantes devem compartilhar uma
experiência que representou uma grande mudança na sua vida.
Descrição da atividade Inferências
A professora confere, usando a lista de chamada,
quais estudantes já haviam falado na aula anterior e
convida aqueles que ainda não haviam falado a
compartilharem suas experiências.
Professora: Bruna, your big change!
Bruna: The big change in my life was when I started
university in 2013.
Professora: Did you move towns when you started
university?
Bruna: In my life I lived in three cities different.
Professora: Three different cities.
Bruna: Yeah. So, in Campinas...I come alone.
Professora: I came alone.
Bruna: I came alone.
Professora: Ok, so you moved to Campinas on your
own. That was the big change.
Bruna: Yes.
Professora: Giovana, did you tell us?
Giovana: No!
Professora: So, tell us
Giovana: The big change in my life was when I came
to Campinas and I started to live on my own. I was
really... (estudante faz uma expressão de medo)
Professora: What was it? Was it scary? Did you feel
inscure in the beginning?
Giovana: Yes, a little bit. And... When I traveled
O uso de exemplos da vida dos
próprios estudantes para
exemplificar ou praticar conteúdos
da aula cria maior proximidade
entre os estudantes e a língua.
A professora corrige de maneira
sutil e educada. A estudante repete
a frase, corrigindo o erro, sem
constrangimentos.
Professora se mostra interessada na
história da estudante e faz mais
289
abroad last month.
Professora: Last month?
Giovana: Yes. To Greece.
Professora: Why did you go to Greece?
Giovana: I went to a dance congresso.
Professora: Was it a congress or a conference?
Giovana: What’s the difference?
Professora: I think we use more conference than
congress.
Giovana: Ah, ok!
Professora: So you partcipated in a dance conference.
Did you present a pape ror anything?
Giovana: I presented a... (estudante faz movimentos
de dança; a turma e a professora riem).
Professora: A coreography?
Giovana: Yes!
Professora: (risos) Oh, yes! Cause you can, right?
That is the equivalent to a paper, sort of. Ok, very
good, Did you like your experience of traveling
abroad?
Giovana: Yeees! (Estudante se mostra muito animada
e os colegas riem).
Professora: Did you use English a lot?
Giovana: Yes... I don’t speak greek.
Professora: Ok, so those were the experiences that
changed your lives. So... Wait a minute! Francisco,
you were here last class, but you didn’t say your
experience.
Francisco: No, I didn’t yet.
Professora: So go ahead.
Francisco: My big experience when...
Professora: Was when...
Francisco: ...was when I came to here and I... I came
here since 2000.
Professora: So you moved to Campinas in 2000.
perguntas. Isso parece motivar
Giovana a falar mais.
Os demais estudantes prestam
atenção quando Giovana está
compartilhando a história. Cria-se
um momento de descontração na
aula.
A correção da professora ocorre de
maneira delicada. O estudante refaz
a frase e continua a falar.
290
Where did you come from?
Francisco: I am from Pernambuco. And in this period
there was a crisis there. So, me and my Family has to
change.
Professora: Had to move.
Francisco: Yes.
Professora: How did you like living in Campinas?
Francisco: Yes.
Professora: Ok, when I say “do you like living in
Campinas, you can answer be ‘yes, I do’ or ‘no, I
don’t’. When I ask “how do you like living in
Campinas”, you answer ‘I like it’ or ‘I don’t like it’.
You express your opinion, that’s the difference. If I
say “how do you like it”, I want your opinion. So,
how do you like living in Campinas?
Francisco: I prefer living there.
Professora: Living where?
Francisco: In Recife.
Professora: Do you miss the ocean?
Francisco: Yes, I do.
Professora: Ok, very good.
Professora confere a lista de chamada e pergunta
pelo estudante Diego, olhando em sua direção:
Diego: I’m Michael! (Estudante e colegas riem).
Professora: (rindo) You are on my left tonight, not on
my right (referindo-se ao local onde o estudante
geralmente se senta na sala). You didn’t say your big
change. You wrote about it, but you didn’t share.
Diego: I didn’t say.
Professora: So go ahead. What was the big change in
your life?
Diego: It was when I came to Campinas and I moved
without my parents.
Professora: Ok, like Giovana said (olhando em
direção à Giovana): when I moved to Campinas on
A professora explica a diferença
das duas perguntas “Do you like
living in Campinas?” e “How do
you like living in Campinas?”. Com
isso, o estudante pode responder
melhor a pergunta e dar sua opinião
sobre a experiência de mudar para
Campinas.
A professora encoraja a fala do
estudante, fazendo perguntas sobre
sua experiência.
Professora usa a fala de outra
estudante como exemplo para
relembrar a expressão “on my
291
my own. On my own, it means no parents, no
grandparents. So you moved to Campinas on your
own.
Diego: Yes.
Professora: So, Rodrigo you are missing.
Rodrigo: I think it was when I moved to Campinas,
because I started to take care of myself. And it was
difficult for me because it was when I separated of
my twin brother. He moved to another city and I
came to Campinas.
Professora: Oh, that must be difficult. Do you often
meet your brother?
Rodrigo: Once a month.
Professora: Ok, do you meet in your hometown, do
you go to his city... How do you meet?
Rodrigo: I go to his city.
Professora: Ok, good.
Professora: Ok, so I think everybody shared their
experience. So last class we started unit 7b and we
talked about changes. Some of you talked about a big
change in your life and some of you did it today.
own”.
Professora mostra interesse na fala
do estudante e faz perguntas,
instigando-o a falar mais.
Professora finaliza a atividade,
relembrando que foi continuação da
aula anterior.
Matriz 4.1
Data: 19/09/2017 Atividade: Conversa sobre
superstições
Duração: 25 minutos
Descrição da atividade: Inferências:
292
Depois de um exercício de gramática que
trazia o tema de superstições (descrito na
Matriz 3.0), a professora introduz a atividade
de conversação.
Professora (rindo): In doubt, you don't
challenge the superstition, right? Most people
do, here... I want you to get together, in pairs,
or groups of three, whatever you want. And
think of a Brazilian superstition different
from the ones that are here, ok?
Estudantes trabalham e duplas e em trios.
Professora anda pela sala, ajudando com
dúvidas trazidas pelos estudantes, que são,
em sua maioria, questões de vocabulário:
Alguém faz uma pergunta e a professora diz:
How do you say "afastar"? To keep away!
(Ela vai até o computador e mostra no
dicionário como se escreve e também dá
outras alternativas.)
Michael: Teacher, confiável?
Professora: Reliable!
Michal: Reliable?
Professora: Yes, reliable.
A professora dá um tempo para os estudantes
conversarem em duplas e, depois de alguns
minutos chama a atenção dos estudantes.
Professora: Ok, everyone? So, your
superstition. Who wants to start?
Laís: If you break a saint, you need to put it
in front of a church. If don't do it, you will
have bad luck.
Durante as atividades de conversação, a
professora dá tempo e espaço para que os
estudantes conversem em duplas ou
pequenos grupos. Ela anda pela sala, olhando
como estão indo as discussões e fornece
ajuda quando os estudantes têm alguma
dúvida.
Depois que os estudantes tiveram tempo para
conversar em grupos menores, a professora
pede que eles compartilhem, com o resto da
turma, o que foi conversado nas duplas.
Nesse caso, cada dupla compartilha uma
superstição brasileira dentre aquelas eles se
lembraram.
293
Professora: You will have bad luck! My
goodness, I've never heard about this one.
Really? Did you understand, everyone?
(falando para a turma). Could you, please,
repeat? (falando para Laís)
Laís repete a frase.
Professora: If you break the image of a
saint... Who's gonna be next?
Mariana: If you leave your flip-flops upside
down, your mother will die.
Professora: Oh! Ok! (Professora ri). Next...
João: If you eat manga and drink milk, you
will die.
Professora: You will die! You know what? I
make a delicious salad: it's mango, cut in
small pieces. And you mix yoghurt and mayo
and you dress the mango. Then, everyone in
my house would die, right?
Júlia: I don't know if it is a superstition, but
some people say if you wear yellow
underwear in New Year's ever, you will get
more money.
Professora: Do you understand? Do you do
it?
Estudantes: Yes!!!
Professora ri.
Professora: Who's next?
Joyce: If you point your finger to the moon, a
wart will be born on your finger. If you have
a wart and pass a corn on it and give it to
chicken to eat, the wart will disappear.
Professora: Did you understand, everyone?
Do you know what a "wart" is?
Estudantes acenam negativamente.
Professora: Repeat, please.
Joyce: If you point your finger to the moon, a
Laís é a primeira compartilhar a superstição.
A professora ouve e faz comentários.
Professora comenta a superstição, contando
uma experiência pessoal sua.
Professora interage coma turma, perguntando
se estudantes seguem essa superstição.
A turma parece um pouco confusa,
demonstrando não ter compreendido o que
294
wart will be born on your finger. (Joyce
gesticula, tornando a frase mais clara).
Professora: Wart. How do you spell "wart"?
Joyce: W-A-R-T.
Professora: Yes, ok. Go on.
Joyce: If you have a wart and pass a corn on
eat and give it to chicken to eat, the wart will
disappear.
Estudantes riem.
Professora: Who's next? Isadora, were you
working with Giovana? Ok, so you go... By
the way, when you girls don't come to class, I
miss you, ok?
Giovana: If you don't jump seven waves on
New Year's ever, you will have a bad luck
year.
Professora: An unlucky year. Ok! Veio das
cariocas isso, né, gente, por que será?
Giovana: Mas eu não sou carioca!
Professora: You are not? Where are you
from?
Giovana: Olha, essa é uma pergunta
complicada.
Estudantes riem.
Giovana: É, porque eu nasci no Pará...
Professora: You can say that in English.
Giovana: I was born in Pará and then I
passed all my...
Professora: I spent.
Giovana: I spent all my childhood in Recife.
And then I lived in Minas Gerais, then in
Oscaco and now I live here!
Professora: Oh! So, you have nothing to do
with cariocas!
Giovana: No!
Professora: But you have to do with
Joyce falou. Então, a professora pede que
Joyce repita a frase mais lentamente
Professora se detém na palavra “wart”, e
certifica-se de que os estudantes entenderam
seu significado.
Joyce continua sua fala. Agora estudantes
parecem ter entendido, pois todos dão risada.
Professora dá continuidade à atividade.
Professora faz uma pequena correção na fala
de Giovana.
Professora comenta sobre Giovana e Isadora
serem cariocas e por isso terem se lembrado
da superstição que envolve o mar. Mas
Giovana diz que não é. Então, Giovana conta
um pouco da sua história.
295
recifense, right?
Giovana: Yes.
Professora: So, you lived by the ocean, right?
Giovana: Yes, for 10 years.
Professora: Ok... Thank you. Next.
Carla: If you put salt behind your front door,
you will avoid bad spirits.
Professora: You will keep bad spirits away.
Really? I didn't know that one.
Carla: É, é sal grosso, na verdade.
Professora: Engraçado. If you were sitting
here where I am sitting, you would see
people's expressions.
Diego: If you keep orange seeds on your
wallet, you will be rich.
Professora: Really? Ok!
Carolina: If you have elephants to decoration,
you need to put the front side back to the
door.
Professora: Ok, ok... So, if you use an
elephant to decorate your house, you need to
keep their backs to the front door.
Carolina: Yes...
Michael: Why?
Carolina: Bad luck!
Professora: If you keep decorative elephants
with their backs to the door, you will have
good luck. Ok, you two.
Ana: You will only have good luck, if
someone gives you a Greek eye.
Professora: Oh! That's a condition. You will
only have good luck, if you someone gives
you a Greek eye. Ok, everyone, that's
enough.
Michael: There is a real superstition. If you
step on a line on the street, you will broke
Professora conclui a história de Giovana e
diz que ela, de fato, cresceu perto do mar.
Depois disso, dá-se continuidade à atividade.
Professora corrige a frase de Carolina, para
que essa fique mais clara.
296
your spine.
Professora: You will break...
Michael: You will break your spine!
Professora: Oh, my God! Ok, I thought you
would say: If you step on a banana peel on
the street, you will break your spine!
Michael dá risada.
Professora: We step on line on the street all
the time! Knock on wood!! (Professora bate
na mesa).
Estudantes riem.
Professora: Ok, everyone. Let's move on.
Any questions? Ok.
Professora corrige o verbo “break” na fala de
Michael.
Professora faz graça com uma superstição,
tema da conversa. A turma dá risada.
Falas dos estudantes sobre atividades de conversação:
• Milena e Júlia falam sobre a atividade envolvendo as experiências pessoais e sobre a
forma de feedback da professora.
Isabela: Eu reparei que a professora, depois de explicar alguma coisa, costuma pedir para vocês
fazerem exemplos relacionados à vida de vocês. Queria saber o que vocês acham desse tipo de
atividade
Milena.: Ah, eu acho legal, né. Porque você tem que buscar um vocabulário próprio seu, das
coisas que você faz. Acho interessante essa parte do vocabulário, você ter que buscar dentro das
coisas que você faz, porque é onde você vai usar, né?
Júlia: Eu acho legal também, porque a gente conhece um pouco das pessoas. Cada um fala um
pouco... Na verdade eu nunca sei o que falar e descubro que minha vida é muito chata
(estudante diz com tom de brincadeira), mas eu acho legal, sim. E isso também... faz sentido.
Isabela: E, em geral, primeiro vocês falam na dupla e depois vocês falam pro resto da turma.
Como que é isso para vocês?
Milena: Acho que a parte para turma só serve para professora corrigir mesmo (risos), porque
quando tá em dupla que desenvolve mais.
Júlia: Eu me sinto mais à vontade falando na dupla. E fico mais segura também quando vou
falar para turma, porque já falei aquilo, já pensei como tem que ser direito e falo depois.
297
Isabela: Mas vocês gostam de ouvir as experiências do resto do pessoal?
(ambas estudantes riem e concordam)
Júlia: Sempre aparece umas coisas legais.
Isabela: E às vezes quando a professora corrige alguma coisa na fala?
Milena: Ah, eu acho que ela corrige de um jeito bem legal, sabe. Alguns professores quando
corrigem, você... começa a pegar medo já (risos). Com ela eu não sinto isso, por enquanto to
tranquila.
Júlia: Ah, eu também acho... É que eu tenho muito medo de falar, assim, as coisas, porque tenho
muita vergonha, mas também acho que ela sempre foi muito boazinha.
• Mariana afirma que a atividade de conversação é o tipo de atividade de que ela mais
gosta e conta que se sente à vontade para falar em sala.
Isabela: Pensando assim, dentro da aula da Lúcia, ela faz diversas atividades... O que você mais
gosta?
Mariana: De todas as atividades que ela faz...? Eu gosto bastante das atividades de conversação,
porque são várias histórias que a gente conta durante essas atividades. (...) Mas as atividades de
conversação são muito legais. Aparecem umas histórias divertidas, aí a sala fica bem mais
integrada.
Isabela: É, aparecem umas histórias boas... E você se sente à vontade para falar?
Mariana: Sim. Nossa! Muito à vontade. Eu falo até demais. E, às vezes, eu erro vocabulário,
essas coisas, daí eu fico travando. Eu travo, mas eu quero falar! Aí eu continuo falando (risos).
Mas eu gosto!
• Ana acredita que a conversação, realizada entre os colegas, contribui para melhora da
comunicação.
Isabela: E como você se sente com as atividades mais focadas em conversação?
Ana: Esse semestre tá bem mais que no semestre passado e... Eu acho bem legal, porque força a
gente a melhorar nossa fala e também a gente a entender o que o outro tá falando, sem que seja
perfeitamente. Que nem, quando a Lúcia fala, ela tem a pronúncia perfeita, então é mais fácil de
entender, mas assim, pra ver que a gente consegue se comunicar mesmo não falando certinho.
• Diego conta que gosta das atividades de conversação.
Isabela: Você gosta dessas atividades de conversar com seus colegas?
298
Diego: Gosto, acho bem bacana. Gostaria que a aula, invés de durar duas horas, durasse quatro
horas ou cinco, pra gente poder fazer mais isso.
Isabela: (risos) Pra poder conversar mais?
Diego: Sim, é muito bom. Ah, eu acho que dá pra aprender mais coisa. Não só pra conversar,
mas pra ter mais aula, que eu adoro a aula dela.
• Miguel conta que, para ele, as atividades de conversação são as mais importantes, pois o
momento da aula é, em geral, sua única oportunidade de falar em inglês. Além disso,
ele diz gostar do uso de exemplos ou temas pessoais, pois assim ele pode desenvolver as
“suas” palavras.
Isabela: Sobre essa atividade falar...
Miguel: Eu acho que é o mais importante mesmo. Hoje, para mim, fazendo esse inglês no CL e
fazendo aquele outro, que é de conversação, acho que o mais importante é falar mesmo, porque
muitas coisas a gente pode ler em casa e tal. E quando vem, não perder a oportunidade de falar.
Então, a aula, quando você fala com outra pessoa, acho que é o mais importante da aula, porque
gramática a gente consegue estudar sozinho, né. Não é tão bom igual a um professor, mas a
gente consegue. Agora, falar é mais difícil ter oportunidade. Quanto mais você fala, menos você
vai pensar... Então, acho que o difícil é fazer isso: você não pensar mais em falar, você falar sem
pensar, que é igual falar em português, né. Então, acho que a atividade mais importante, talvez
seja conversar mesmo.
Isabela: Eu percebi que a professora faz bastante isso: ela explica alguma coisa e depois pedem
para vocês falarem, usando exemplos da vida de vocês.
Miguel: Sim, sim.
Isabela: O que você acha dessa dinâmica?
Miguel: É, eu acho que é o que... Talvez o que vai ser mais fácil pra gente falar sem pensar, né.
E qualquer lugar que a gente fosse, talvez em outro país, a gente ia fazer essa... ia falar dessas
coisas que a gente fala aqui. Por exemplo, falaria da nossa vida, de onde a gente veio, então isso
tá forçando a gente a falar essas coisas bastante, essas frases. E, cada vez que a gente fala, deixa
de ser difícil falar aquilo e torna mais fácil. Então, se eu for para outro país, eu vou falar aquelas
minhas palavras; quando eu conhecer novas pessoas, eu vou falar aquilo de novo. E eu acho que
as coisas que eu tô aprendendo em inglês- que eu tô falando sem pensar- são coisas que eu já
falei várias vezes. Então, eu acho que é por aí mesmo.
299
• Michael relata que gosta das atividades de conversação e que, na maioria das vezes, se
sente à vontade para participar.
Michael: Em geral são boas atividades, porque ela tenta trazer ao máximo, como você mesmo
disse, do nosso cotidiano, do nosso dia a dia. Trazer algo que você possa falar de si mesmo para
outra pessoa te motiva, e ouvir da outra pessoa também. Tipo, uma coisa é ouvir uma pergunta
engessada, uma resposta engessada. Outra coisa é você ouvir um diálogo fluído, que as duas
pessoas estão a fim de falar mesmo.
Isabela: Você se sente à vontade para falar?
Michael: Ah, a maioria das atividades, sim. Algumas, às vezes, eu fico meio assim, mas é, tipo,
pouco... coisa minha. Às vezes é sobre assuntos que eu não consigo falar muito... Mas, na
maioria das vezes, são sobre coisas normais, corriqueiras... Não vou dizer de boa, porque, né,
falta muita coisa ainda pela frente! Eu me sinto, ao menos, à vontade para tentar falar.
• Rodrigo, quando interrogado sobre quais atividades de que mais gosta, fala também
sobre a conversação.
Rodrigo: E as atividades que ela faz a gente falar talvez, porque, para mim, acho que é uma das
maiores motivações é tentar falar melhor. Aí às vezes eu acho que falta um pouquinho
também...
• Laís conta que a conversação é a atividade que mais gosta nas aulas, apesar de achá-la
difícil.
Isabela: Legal... E durante a aula, qual tipo de atividade você gosta mais?
Laís: Ah, eu acho que de conversação. É difícil, né? Mas eu acho que me prende mais a atenção.
Eu acho que eu consigo desenvolver, eu acho que dá para a gente testar muito, sabe? O que
sabe, o que não sabe... Porque, às vezes, lendo um texto, você entende, mas agora falar... Tem
que lembrar vocabulário, pronúncia, etc. Bastante conversação, né...
• Maria, diferentemente, dos outros estudantes, cujas falas estão descritas acima, diz não
gostar muito da parte de conversação na aula.
Maria: E, tipo, teoricamente, era para eu gostar bastante- e eu gosto até- da parte de
conversação, sabe? Só que, sei lá, às vezes eu fico meio emperrada.
Isabela: Por que você se sente assim?
Maria: Ah, porque eu tenho vergonha de falar.
300
Isabela: Ah é? Mesmo na dupla?
Maria: Uhum!
Isabela: Ah... E para falar para sala... Aí, você fica com mais vergonha ainda?
Maria: Ah... Eu sei que eu sei falar, sabe? Antes eu me sentia muito ruim para falar assim... Aí,
no começo das nossas aulas, mais ou menos no meio do ano, eu tava tentando um intercâmbio
para República Tcheca e o processo era em inglês. Acho que foi dia primeiro de agosto que teve
uma entrevista com um cara. Aí, eu peguei umas aulas particulares só para conversar e eu vi que
na verdade eu sei conversar. Só que, sei lá, sou travada... Aqui, por mais que tenha bastante
gente e eu acho que tá todo mundo no mesmo nível, não sai... Não sei por que! É péssimo isso.
E, sei lá, não tem o que o professor fazer, não tem o que eu fazer...
Falas da professora sobre atividades de conversação:
Isabela: Uma coisa que eu reparei e que me chamou bastante atenção foi ter bastante atividade
em que os alunos estão participando, em pequenos grupos, em dupla, e que eles vão produzir ali
alguma coisa. E que você faz muitas dessas atividades para eles falarem ou escreverem alguma
coisa que envolva a vida deles, experiências pessoais.
Lúcia: Então, deixa eu te falar uma coisa. Eu podia te dizer que... "Ah, eu li o livro da Gertrude
Moskowitz e acho ela demais" Não, não é nada disso. Nunca nem li... Sharing and caring in the
language classroom, não, nunca li (usa tom jocoso).
Mas, assim, um dos fundamentos da Abordagem Comunicativa é que o assunto seja relevante
para o aluno. Na verdade, a Abordagem Comunicativa, ela foca na necessidade do aluno! Esse é
o verdadeiro objetivo da Abordagem Comunicativa. Tanto é que um dos livros de Cambridge,
da série de Cambridge sobre Applied Linguistics, é Needs Analysis, é sobre análise de
necessidades.
Lúcia: Eu penso, por exemplo, no que que um aluno vai ter que fazer numa entrevista de
trabalho, e se essa entrevista de trabalho for em inglês. Como que ele vai se colocar? Porque,
por exemplo, um cara do recursos humanos maluco pode dizer "escuta, me descreve uma
experiência que mudou sua vida". Pode, não pode?
Isabela: Uhum...
Lúcia: Então, eu procuro envolvê-los desse jeito, fazer com que eles tragam a experiência deles
e possam falar da experiência deles. (...) então, é isso. Eu acho que o ensino comunicativo, ele...
Um ensino comunicativo de verdade, ele tem que atender às necessidades do aluno. Pra atender
todos numa sala de aula de 20 e tantos é, eu acho que tem que ser relevante para aquele aluno,
de algum modo. Respondi sua pergunta?
301
Isabela: Claro... Quando você fala em ensino comunicativo você tá se referindo à abordagem...
Lúcia: À Abordagem Comunicativa. Você conhece a história da Abordagem Comunicativa, né?
De como ela começou?
Isabela: Sim, sim.
(...)
Lúcia: Tem um texto... Ah, Isabela, como minhas coisas estão meio dormindo, minhas leituras
estão meio dormindo... Tem um texto de dois autores, eles são canadenses, eu não vou me
lembrar o nome agora. Elas fazem uma revisão da Abordagem Comunicativa, é um texto dos
anos 90. E ali você vê claramente: a relevância para o aprendiz é o que realmente importa.
Então, é isso que eu penso.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Lúcia: E tem uma coisa, assim, de preservar a face, né. Eu chego perto, eles param de falar. Aí,
eu fico pensando que expô-los é muito mais complicado do que não corrigir o tempo todo,
entendeu? Se eu corrigir, corrigir, eu acho que pode pesar negativamente nessa relação com a
língua estrangeira.
Isabela: E esse movimento de eles falarem para a sala depois é para você poder corrigir?
Lúcia: É, é. Essa é a ideia. Você que depois eu vou e...
Isabela: Porque quando você dá uma andada enquanto eles estão falando, eles ficam quietos...
Lúcia: Você viu, né? Eu chego perto, eles param de falar! Ou então falam tão baixo que eu não
consigo ouvir. Também tem a coisa de que a dúvida de um pode ser a dúvida do outro... E, pode
ser maluco, mas o compartilhar experiência é interessante. Eu acho que isso eles curtem, eles
podem não dizer abertamente, mas...
Isabela: De conhecer os outros, né.
Lúcia: É. É interessante, né, não cria um senso de grupo?
302
HAVE YOU EVER...?
303
ANEXO 5
Atividade: Produção escrita
Descrição: Atividades cujo objetivo era produção de textos escritos pelos estudantes. A maioria
destas atividades foi realizada em ambiente virtual de aprendizagem da universidade. A seguir,
são listadas as atividades propostas pela professora e é feita, também, a transcrição de uma
atividade de escrita, realizada em sala de aula.
• Cover letter: Esta foi uma das primeiras propostas de atividade escrita realizada pela
professora, inspirada pela temática “Trabalho”, apresentada pelo livro didático. Cada
estudante deveria escrever sua própria cover letter, isto é, uma carta de apresentação
que seria anexada ao currículo, ao candidatar-se a uma vaga de emprego. A professora
postou, na plataforma virtual, alguns materiais com explicações e dicas para escrever
esse tipo de texto.
• Profile: Os estudantes foram convidados a escreverem seus perfis, nos quais deveriam
contar sobre sua cidade natal, seus hobbys, o curso em que estudam na universidade,
entre outras informações pessoais; desta forma, o texto teve um caráter biográfico. Foi
sugerido que os estudantes postassem esse perfil na plataforma virtual da universidade,
para que os colegas de turma pudessem ler uns sobre os outros e se conhecerem melhor.
• Texto sobre o workshop: Houve uma proposta de atividade escrita, baseada no
workshop sobre línguas indígenas brasileiras. Este texto também foi publicado na
plataforma virtual, bem como suas correções e feedbacks. Por compor a atividade do
workshop, o trabalho com estes textos está descrito mais detalhadamente na atividade
“Workshop “Saving Indegenous Languages in Western Amazonia”.
• Organização de parágrafos: Esta atividade, realizada em sala de aula, abordou
aspectos da organização interna de parágrafos. A atividade foi baseada em exercícios do
livro didático e está transcrita na íntegra, a seguir.
Matriz 5.0
Data: 28/09/2017 Atividade: Organização de
parágrafos
Duração: 40 minutos
304
Descrição da atividade: Inferências:
Professora: Ok, everyone, I think we have to
take a look on page 101, ok? 101 first. I think
we are going to use a little Portuguese now.
Quando vocês tiveram aula de produção de
texto, que dicas de produção de texto... Em
português... Que dicas de produção de texto
vocês se lembram, quando vocês vão...
escrever um texto? Algumas das coisas das
quais vocês se lembram, do Ensino Médio.
Um estudante diz: O tipo...
Professora: O tipo. É, a gente tem uma
pequena... Teoricamente, existe uma pequena
diferença entre tipo e gênero. Tipo, seria
narrativa, argumentativo, texto expositivo. E
o gênero é aquele que depende do contexto
de uso.
(Estudantes acenam com a cabeça,
concordando).
Professora: É esse que você quis dizer? É, o
gênero... Ok, depende do gênero. Então, o
gênero aula, o gênero o quê? Uma história
que se conta pra criança, um artigo de
opinião pro jornal, uma opinião num blog,
que é diferente, né? Cartas, e depende da
carta, se é uma carta comercial, se é uma
carta o quê...?
Ana: Pessoal?
Professora: Pessoal! Ou se é uma carta
profissional, né? Que mais, gente? Isso é o
gênero, a situação de uso de linguagem, você
tem que levar em conta. Não é isso? Quem é
seu interlocutor... E que mais? Como
organizar esse texto?
Carolina: Introdução, desenvolvimento,
conclusão...
Professora busca saber o que os estudantes
aprenderam sobre produção de texto em suas
aulas de português, na escola. Com isto, ela
procura estabelecer uma ponte com o que
será trabalhado nesta atividade de produção
de textos em inglês.
Com a colaboração dos estudantes,
professora fala sobre alguns aspectos a serem
levados em consideração quando se escreve
um texto.
Professora faz mais perguntas, instigando a
305
Professora: Introdução, desenvolvimento e
conclusão? Tá certo, isso é no nível macro.
Em um nível... Não tão micro, mas ainda
pensando como você vai organizar esse texto,
quantos parágrafos, como é que se dá isso?
Como esses parágrafos são organizados...?
Vocês lembram de alguma coisa?
Joyce: Coerência, coesão...
Professora: Isso. Coerência e coesão. Que é
coerência mesmo?
Joyce: Juntar ideias.
Professora: Entre ideias, então são os
conectivos lógicos, é isso? Que são mais
responsáveis pela coerência. Depois é o que
mesmo?
Joyce: A sintaxe...
Professora: Sintaxe, ou a maneira como você
vai desenvolvendo o foco, não é isso? Os
pronomes que você usa para se referir, as
palavras que você usa para se referir ao
assunto... O aquecimento global, o problema,
a questão... Isso vai amarrando o texto. Esse
problema, tal problema, isto... Ou então, essa
pessoa, ele, o professor, o pesquisador...
Tudo isso vai amarrando o texto. Tem uma
outra coisa que... Eu tô perguntando para
vocês, porque eu não sou professora de
português, mas tem uma outra coisa que,
quem aprende a escrever em inglês, como
língua materna, tem que prestar atenção
nisso. E que quem aprende inglês como
língua estrangeira também tem que prestar
atenção, tá? E é isso que nós vamos ver aqui
hoje, tá? Nós vamos ver coerência, que são
os conectivos, e a gente também vai olhar
como que os parágrafos são organizados
participação da turma.
A professora e os estudantes continuam
identificando outros pontos que devem ser
considerados na escrita de um texto.
A partir do que os estudantes identificaram, a
professora introduz o tópico que será
306
internamente. Tá bom?
Estudantes prestam atenção e concordam.
Professora (lendo no livro): "An argument.
An argument for technology". Ok, is FOR
technology, everyone, not against
technology. It is an argument for technology,
ok? Let's see. "Writing a paragraph". Tá
vendo? Aqui a gente vai trabalhar no âmbito
do parágrafo, como você organiza um
parágrafo. Tá certo? Vamos lá. "Read the
paragraph. Where do you think it comes
from? Choose the correct option: 1- an
instruction manual, 2- a report on energy in
the workplace, 3- a message to a colleague at
work.". Ok? So, guys, do you mind if I read
it today? Cause I want you to focus on the
content, ok?
Professora faz a leitura do texto em voz alta.
Professora: Ok? So, I think the markers are
highlighted. Are they highlighted on your
books, in yellow? Yes or no? Ok. So, let's
take a look at the markers: first, for example,
also, in other word, on the other hand... How
do you say "on the other hand" in
Portuguese?
Estudantes: Por outro lado?
Professora Por outro lado! On one hand, on
the other hand... Ok?
Professora volta a ler as palavras
destacadas no livro: However, as a result...
First, we are going to focus on the connecting
word, ok?
Professora lê o enunciado do exercício:
“Look at the connecting word in the
paragraph in Exercise 1. Match them with
their uses (1-6)." Ok, everyone? So... Which
trabalhado- organização de parágrafos.
Professora começa a ler o texto apresentado
no livro didático.
Professora lê as instruções do exercício.
Professora diz aos estudantes que, nesta
atividade, ela fará a leitura do texto, para que
eles possam focar a atenção no conteúdo do
texto.
Professora chama atenção dos estudantes
para os marcadores, que estão destacados no
texto.
Professora faz gestos para mostrar a
expressão “on the other hand”.
307
word do we use to introduce a result?
Estudantes: As a result...
Professora: As a result? It is so easy, because
it is very similar to Portuguese, right? Result
is word with Latin origin, right? Okay... To
introduce an example?
Estudantes: For example.
Professora: Right. To sequence ideas and
sentences?
Estudantes: First.
Professora: To say the same thing in a
different way?
Estudantes: In other words.
Professora: In other words! Right! And to
introduce contrasting information?
Alguns estudantes: However.
Outros estudantes: On the other hand.
Professora: However and on the other hand.
To add a supporting information?
Estudantes: Also.
Professora: Also! Ok! Guys, aqui tá uma
coisa "supporting sentence", que é uma coisa
que eu não sei se vocês veem no colégio. É
por isso que eu perguntei para vocês. In
English, when we organize a paragraph, we
have to have a topic sentence and supporting
sentences. (Faz gestos, mostrando uma frase
e depois vai desecandeando outras embaixo
da primeira). Sentences that will support the
main idea in the topic sentence. Do you
understand? Let's look it here.
Professora (lendo primeira frase do
parágrafo que havia sido lido): "LED
lighting is the more effective form of modern
lighting technology" Ok? That's the topic
sentence, the other ones are supporting
Professora lê o enunciado do exercício e
direciona a pergunta à turma, para que os
estudantes deem as respostas.
Estudantes dão as respostas, conectando os
marcadores aos seus respectivos usos.
Professora introduz o próximo exercício, que
tratará de “topic and supporting sentences”.
Ela explica que havia perguntado sobre o que
se estuda na produção de textos em
português, pois imaginava que não se estuda
esta questão.
308
sentences, supporting details. That's the main
idea in the paragraph. Then he says first, for
example, also, in other words, on the other
hands... These are supporting details, they are
supporting sentences. Okay? Let's see,
writing skill, aqui é writing skill, supporting
sentences... Eu acho que... Vocês tem esse
tipo de orientação, em português?
Estudantes dizem que não.
Professora: Não, né? Não é tão difundido em
português, mas em inglês isso é bem
importante. Por isso, lembra, a Milena fez a
carta dela, ela falou da vaga, ela se
apresentou e depois falou de tudo que ela
tinha que era compatível com a vaga e depois
a experiência educacional. Então, esses são
os tópicos dos parágrafos. Esse tópico você
expressa na frase principal, que é a de cima...
Vamos ver?
Professora lê enunciado do exercício e
depois explica: Guys, there are eight
sentences here. You have to find sentences
that are topic sentences and sentences that are
supporting sentences. Ok, I could just tell
you "do it", but let's read the sentences, and
then I am going to give you a few hints. Vou
dar umas dicas, tá bom? So, the first sentence
is... (Lê as frases).
Professora: Não vão marcando ainda, não,
vamos ler todas primeiro. (Continua a ler as
frases).
Professor: So, I'm going to tell you that are
three topic sentences, so there are three
topics that are discussed here. So, we have
topic one, topic two and topic three. So, you
are going to which one is topic one, what is
A partir do exemplo trazido no texto, a
professora explica o que é uma “topic
sentence”. Estudantes ficam em silêncio,
prestando atenção.
Professora relembra o texto de uma aluna,
que havia sido lido em aula, usando-o como
exemplo para organização dos parágrafos.
Professora lê o enunciado do exercício e
explica-o.
309
the topic sentence and what are the
supporting sentences. For topic two and topic
three as well. You can work in pairs, if you
like. Go ahead.
Professora deixa estudantes fazerem o
exercício. Alguns fazem em duplas, outros
trabalham individualmente.
Profesora: Guys? So, what are the topics,
there are three topics, what are the topics?
Estudantes: The first...
Professora: Ok, the topic sentence, right? But
what is... What is the supporting sentence for
number 1?
Estudantes: Two.
Professora: Two! And what's the topic,
everyone? Not the topic sentence, but the
topic, the subject, the theme.
Joyce: The internet.
Professora: The internet! Ok! So, another
topic sentence, everyone.
Estudantes: Four.
Professora: Four! Very good! What are the
supporting sentences?
Estudantes: Five...
Professora: Five and...?
Estudantes: Three.
Professora: Yeah, five and three. What's the
topic, everyone?
Estudantes: Technology.
Professora: Technology... Or technology and
security? Doesn't it have to do with security?
Yes or no? Or is it just technology?
Ana: And security!
Professora: It is both of them, right? Now,
what's the last topic sentence?
Estudantes: Seven.
Professora vai até a lousa, desenha três
colunas e escreve “1,2,3”.
Depois de explicar o exercício, a professora
dá alguns minutos para que os estudantes
realizem a tarefa.
Professora inicia a correção, com a
colaboração da turma. Ela pergunta quais são
as “topic sentences” e suas respectivas
“supporting sentences”.
Professora perguntada também qual é o
assunto tratados em cada conjunto de frases.
Estudantes vão dando as respostas conforme
a professora pergunta.
310
Professora: Seven! Number seven. What are
the other ones? What are the supporting
sentences?
Estuantes: Six and eight.
Professora: Yes... And what is the topic?
Estudantes: Space...
Professora: Space tavel?
Estudantes concordam.
Professora: Ok, space travel. Very good.
Professora: Let's see everyone. I want you to
write now, on your own, sozinhos.
Professora (lendo instrução no livro): Read
these notes about the GPS technology and
write a paragraph using the notes and
connecting words from Exercise 2." So, the
main argument is "GPS is a good idea for
anyone who travels a lot". Ok? Supporting
ideias… (professora lê as notas no
exercício).
Professora: So, you are going to use... You
are going to organize these ideas in a
paragraph, using the markers from Exercise
2. The markers: first, in other words, on the
other hand, however, as a result... You don't
have use all of the markers, but you have to
use some of them. Go ahead.
(Dá um tempo para eles fazerem,
aproximadamente 10 minutos.)
Professora: Ok, everyone? Who would like to
read his or her paragraph, please?
Ana: I am not sure... not correct...
Professora: You are not sure if your
paragraph is correct, ok... Ahn, you are not so
sure?
Ana: Yes...
Professora: Who is more confident to read
Finaliza-se este exercício e dá-se início ao
próximo, no qual os estudantes deverão
produzir um parágrafo, levando em conta o
que foi praticado anteriormente (marcadores,
topic sentences e supporting sentences).
O exercício traz uma ideia principal e
algumas notas, que podem sustentar o
argumento principal.
A professora explica que os estudantes
deverão organizar aquelas informações em
um parágrafo e dá alguns minutos para eles
realizarem a tarefa.
Enquanto os estudantes escrevem, a
professora oferece assistência, tirando
dúvidas de vocabulário, por exemplo.
Professora pede para que alguém leia o
311
his or her paragraph? It is serious, guys...
Isadora: I just used the phrases...
Professora: It is ok... Let's see, let's listen to
you! And speak up, ok, Isadora?
Isadora lê o parágrafo que escreveu.
Professora: Okay! Did anybody do it similar
to Isadora?
Os estudantes acenam com a cabeça,
concordando.
Professora: You did? Ok, that''s the best.
Isadora ri.
Professora: No, but that is what you are
supposed to do. Anybody has any questions?
Anybody would like to read his or her
paragraph? Go ahead...
João: In the last paragraph, can we use "also
it saves time, as result it saves money on
gas"?
Professora: Okay... Eu acho que... O “also”
aí, usado desse jeito como marcador, eu não
gosto muito... Eu acho que a gente poderia,
assim "It also..." Qual é o verbo que você
usou depois?
João: Saves time.
Professora: It also saves time.
João concorda.
Professora: Alguém na prova usou "also" no
fim da frase... Não, usou "too" no meio da
frase. Enfim, alguém usou, não lembro quem
foi...
Ana levanta a mão.
Professora: Foi você? É, vou me lembrando
depois... Então, o "too" vai no fim da frase,
tá? It saves time too. Mas o also enfatiza a
ideia de adição: it also saves time. E vem
entre sujeito e o verbo, a não ser que o verbo
parágrafo que escreveu.
Ana diz não ter certeza de que seu texto está
correto.
Desta forma, professora pede que outra
pessoa, alguém que esteja mais confiante,
leia o parágrafo.
Isadora se manifesta e lê seu parágrafo.
Professora pergunta se os outros estudantes
fizeram um texto parecido com o de Isadora,
e eles concordam.
Professora fica satisfeita com o resultado,
elogiando o trabalho de Isadora. A estudante
ri, mostrando-se contente.
João coloca uma questão sobre a última frase
de seu parágrafo e a professora dá algumas
dicas.
Professora aproveita a dúvida de João para
explicar a diferença entre “also” e “too”, pois
lembrou-se de que algum aluno confundiu-se
312
seja o quê?
Ana: To be...?
Professora: Verbo to be, muito bem, Ana.
Professora escreve na lousa: It is also time
efficient. Ok, everyone?
Rodrigo: Teacher, also can be used the first
word?
Professora: As the first word... Yes, in the
text, also comes as a first word, but I like it
better when it comes in the middle of a
sentence. I think, in terms of style, it is better.
But anyway...
Joyce: Instead of using "also", we could use
"besides that"?
Professora: Besides that... Yes. What about,
moreover? Moreover is even better!
Professora escreve exemplo na lousa:
Moreover, it is time efficient and reliable.
Ok, everyone? As a result... I don't know...
As a result, it saves money on gas. Ok?
Estudantes concordam.
Professora: Foi você que perguntou,
Rodrigo? Não, foi a Joyce...
Joyce indica que entendeu.
na prova.
Estudantes anotam estas informações,
conforme a professora vai explicando.
Rodrigo ainda tem dúvida sobre o uso da
palavra “also”. Professora explica novamente
que, por questões de estilo, ela prefere não
usar esta palavra no início da frase.
Joyce pergunta sobre a expressão “besides
that” que não havia aparecido neste
exercício. Professora confirma que Joyce
estaria usando corretamente e sugere ainda a
expressão “moreover”.
Professora checa se estudantes entenderam.
Falas dos estudantes sobre atividades de escrita:
• Isadora e Francisco indicam a atividade “Profile” como uma forma de conhecer os
colegas de turma.
Isadora: Então, eu acho importante a turma se conhecer, uns aos outros.
313
Isabela: Tem mais alguma outra coisa que você acha que favoreceu isso? Essa questão de vocês
se conhecerem e ter conexão maior...
Isadora: Então, porque, fora isso, a gente só se conheceu mais pela apresentação, pra ter essa
comunicação da turma...
Francisco: Aquele portfólio que ela pediu para a gente criar também. Querendo ou não, às vezes
a gente põe coisas que os outros alunos não conhecem...
Isadora: Mas eu acredito que nem todo mundo vá ler o de todo mundo...
Francisco: É... Eu li alguns, não todos. Mas, se você quiser conhecer mais alguém, você poderia
ter lido lá. Ver que tem outras histórias além da aula.
• João afirma gostar do caráter “aplicável” das propostas de produção escrita.
João: Eu acho legal também que ela trouxe material... aplicável. Por exemplo, ela vai falar de
fazer o currículo, ajudou na carta. Essas coisas, assim, eu acho legal.
Isabela: Ah, sim. Aí você fez e mandou pela plataforma virtual...
João: Uhum...
Isabela: Por que isso foi bom?
João: É bom, porque às vezes a gente tem que fazer, mas não tem noção de como tem que ser.
Aí, só de ter uma pessoa que vai ler com atenção e falar o que tá bom, o que tá ruim, já... é bom.
314
ANEXO 6
Atividade: Vocabulário
Descrição: Questões e explicações acerca de vocabulário manifestavam-se ao longo dos
diferentes tipos de atividade, como pode ser visto nas seções anteriores. Conforme os estudantes
apresentavam dúvidas sobre o significado de uma palavra em inglês ou quando buscavam uma
nova palavra para se expressar, a professora buscava guiá-los, dando explicações, fazendo
buscas no dicionário, fornecendo exemplos e, até mesmo, gesticulando, fazendo mímicas.
No entanto, além destes momentos em que os pontos de vocabulário eclodiam ao longo de
outras atividades, havia também um tipo de atividade cujo objetivo específico era o estudo de
conjuntos lexicais. Estas atividades, encontradas no livro didático, levavam os estudantes a
fazerem inferências sobre os significados das palavras e a encontrarem definições
correspondentes às novas palavras apresentadas. Ao longo das sessões de observação, foram
registradas cinco ocorrências deste tipo de atividade, descritas a seguir.
• Job listing: Nesta atividade, foi estudado vocabulário encontrado em ofertas e anúncios
de vagas de trabalho. A professora havia pedido que os estudantes fizessem o exercício
de vocabulário como tarefa e, na aula da sessão 4, ela fez a correção. O exercício
consistia em um anúncio de vaga de emprego para ser lido. Trazia ainda as definições
de algumas palavras e expressões, para as quais os estudantes deveriam indicar a
palavra correspondente no texto. A professora pediu que cada estudante lesse uma das
definições e desse a resposta, isto é, identificasse a palavra ou expressão no texto. Esta
atividade foi seguida pela atividade de listening “A job interview”
• The internet: Nesta atividade, realizada na sessão 7, os estudantes tinham um quadro
com diferentes verbos, referentes a atividades que se podem fazer na internet- como
“log on” ou “subscribe” - e eles deveriam preencher as lacunas de algumas frases com
os verbos apropriados. A professora pediu que eles fizessem o exercício
individualmente e, em seguida, corrigiu-o com a colaboração de toda a turma. Esta
atividade introduziu a atividade de conversação “Internet”.
• Gadgets: Esta atividade foi baseada em um exercício do livro didático, no qual os
estudantes deveriam completar a descrição sobre uma lanterna, com alguns verbos
indicados no enunciado. A professora iniciou a atividade explicando o que significa a
palavra “gadget”, mostrando, com imagens, alguns exemplos, como “kitchen gadgets”.
Em seguida, ela pediu que os estudantes resolvessem o exercício individualmente e,
depois de alguns minutos, ela conduziu uma correção coletiva da tarefa. Esta atividade
315
foi realizada na sessão 9 e foi seguida por uma atividade em que os estudantes falavam
sobre “gadgets” que eles costumavam usar, utilizando o vocabulário do exercício.
• Vacation adjectives: Realizada na sessão 14, logo após ter sido realizada a atividade de
conversação “Adventure vacations”. No livro didático, havia um texto informativo a
respeito de viagens organizadas pela National Geographic e, neste texto, havia algumas
palavras destacadas. A professora leu esse pequeno texto em voz alta e, em seguida,
pediu que os estudantes fizessem o exercício de vocabulário do livro, explicando o que
deveria ser feito. O exercício trazia algumas definições e os estudantes deveriam
conectá-las corretamente às palavras destacadas no texto. A professora corrigiu o
exercício com a colaboração dos estudantes, que compartilharam suas respostas. Na
aula seguinte, foi realizada a atividade de listening “Radio Interview with a tour guide”,
na qual o vocabulário estudado foi revisitado.
• Archeology: Nesta atividade, semelhante à atividade anterior, havia um pequeno texto
sobre uma descoberta arqueológica e algumas palavras estavam destacadas. Antes da
leitura do texto, a professora explicou que as palavras destacadas seriam,
posteriormente, ligadas às suas definições corretas. A professora pediu que uma
estudante fizesse a leitura do texto e, em seguida, pediu que os estudantes fizessem a
conexão entre as palavras e suas definições. Quando os estudantes haviam terminado, a
professora corrigiu o exercício coletivamente. Esta atividade foi realizada na 20ª sessão
e foi seguida pela atividade de listening “Interview with na archeologist”.
Matriz 6.0
Data: 05/10/2017 Atividade: Vacation
adjectives
Duração: 10 minutos
Descrição da atividade: Inferências:
316
Professora: Let's see, everyone!
Professora: Ok, everyone? So, you have to
try, here. Wait a minute, do you have any
question about vocabulary? Not the words
that are highlighted, ok?
Renata: Tribesman?
Professora: Tribesman? People who belong
to tribes... Ok? Like, did you see any
aborigines in Australia?
Renata: Yeah...
Professora: How long were you in Australia?
Renata: (Resposta inaudível)
Professora: For six months? Did you go to
Tasmania?
Renata: No, I went I was 15...
Professora: When you were 15? Okay...What
was the most interesting thing you saw?
Renata: Sidney...
Professora: The Sidney Opera House?
Renata: Yes... And I saw the... aquário...
Professora: The aquarium.
Renata: Yes, the aquarium.
Miguel: What about fish tank?
Professora: No, but a fish tank is a
compartiment... (Professora gesticula,
mostrando um compartimento pequeno)
Miguel: Oh, ok...
Professora: Ok, everyone. Anything else, you
have a question? No? Ok... So, please. The
focus here is on the adjectives, ok? Let's see,
exercise number two
Professora: “Match the highlighted adjectives
in the website with this synonyms and
definitions.”(Lendo o enunciado no livro)
Professora: So, you have to find a word that
Professoa lê, em voz alta um pequeno texto
do livro didático, onde encontra-se o
vocabulário que será estudado.
Quando Renata pergunta sobre o significado
da palavra “tribesman”, a professora faz
referência a uma experiência que a estudante
havia contado em aula.
Professora instiga Renata a falar um pouco
mais sobre sua experiência de morar na
Austrália.
Renata apresenta uma dúvida com
vocabulário e a professora a auxilia.
Ao ouvir, a palavra “aquarium” para aquário,
Miguel pergunta sobre a expressão “fish
tank”.
A professora explica a diferença entre “fish
tank” e “aquarium”, usando gestos. Miguel
demonstra ter compreendido.
Professora retoma o exercício. Ela lê o
enunciado do livro e depois explica o que os
estudantes devem fazer.
317
means important or memorable, a word that
means very old, a word that means very
interesting. Ok? So, they are mostly the
words that are highlighted, ok? So, go ahead,
I'll let you have a few minutes.
Professora: Ok, everyone? Now, which word
means important or memorable?
Estudantes: Unforgettable
Professora: Unforgettable, very good. Which
word means very old?
Estudantes: Ancient.
Professora: Ancient, yes. Very interesting?
Estudantes: Fascinating
Professora: Fascinating, very good.
Impressive or dramatic?
Estudantes: Spetacular.
Professora: Yes, or stunning. Both,
spetacular and stunning, ok? And then? Very
famous?
Estudantes: Legendary.
Professora: Legendary, ok. And one of a
kind?
Estudantes: Unique.
Professora: Unique, ok? One of a kind...Ok,
now, guys, we are not going to do number
three now, we'll do it next class. I want you
guys to take a look (...)
Jéssica: Teacher, legendary means as
awesome?
Professora: Awesome means amazing,
incredible...
Jéssica: Not legendary?
Professora: No, legendary means very
famous, that many people talk about.
(Alguns estudantes conversam entre si,
falando sobre o assunto).
Professora dá alguns minutos para estudantes
fazerem o exercício individualmente.
Professora corrige o exercício, perguntando
as respostas para a turma. Os estudantes
respondem em coro.
Professora faz comentários positivos, como
“very good”, para as respostas corretas.
Professora estava finalizando o exercício,
mas Jéssica faz uma pergunta. Ela quer saber
se “legendary” pode ter algum outro
significado.
Professora explica, em outras palavras, o que
significa “legendary”.
318
Professora: What?
Michael: How I met your mother...
Jéssica: There is a TV show...
Professora: How I met your mother? What?
Jéssica: There is a Tv show that...
Laís: The expression is used, in a TV show,
like awesome.
Jéssica: Yes.
Professora: Oh, as awesome? Lengendary...?
Laís: Yes, but is the 'jargão'. Jargão do
personagem...
Professora: Oh, ok... He says legendary all
the time?
Estudantes: Yes...
Professora: All the time?
Jéssica: And in the TV show is like
awesome.
Professora: But legenday means incrível,
fantástico também. Então, tá perto de
awesome. Você só diz que uma coisa é
legendary when... it is incredible, amazing,
but it is also very famous for being good,
many people have heard about it, it's from
many years... É o lendário, no português, é o
lendário.
Jéssica: Oh, ok... (sorrindo).
Estudantes comentam que a dúvida de
Jéssica vem do uso da palavra “legendary”
em uma série de TV. Professora tenta ouvir o
que os estudantes estão comentando, curiosa.
Os estudantes explicam para a professora
sobre a série, contextualizando a pergunta.
A professora se mostra interessada, prestando
atenção no que os estudantes falam e fazendo
mais algumas perguntas sobre o uso da
palavra “legendary” pelo personagem.
Professora comenta mais sobre o significado
da palavra “legendary”, levando em conta o
que os estudantes haviam contado.
Jéssica demonstra ter entendido a explicação.
Falas dos estudantes sobre atividades de vocabulário:
• Ana comenta sobre a forma como a professora explica o significado de novas
palavras
Isabela: E o que você acha do jeito que ela vai explicando o vocabulário?
Ana: Eu gosto bastante. Primeiro, porque a aula é toda em inglês, aí te força a ficar pensando e a
entender o que ela tá falando. Quando ela pega uma palavra e explica, em inglês mesmo, e a
319
gente consegue entender, eu gosto bastante. Porque aumenta nosso vocabulário e faz com que a
gente ligue uma coisa na outra, eu gosto bastante.
• Francisco e Isadora falam sobre como a professora lida com situações em que ela
mesma não conhece uma palavra, e elogiam a postura da professora.
Francisco: Uma coisa que eu acho legal que ela faz, assim, é quando ela não conhece uma
palavra...
Isadora: Exatamente!
Francisco: ... ela mostra pra gente que ela não conhece aquela palavra e ela procura junto com a
gente aquela palavra. Então, a gente percebe que ela não tem aquela relação de poder sobre a
gente, ela se coloca no lugar de aluno, que não sabe tudo, não precisa saber tudo. Eu acho muito
legal quando ela faz isso, porque aí eu percebo que eu posso ter acesso a ela, porque ela é igual
a mim: ela tem coisas que ela... ela não sabe de tudo, assim como eu também não sei de tudo.
Isadora: Exatamente...
Francisco: Agora, aquele professor que sabe de tudo e que tem opinião formada sobre tudo...
Você não tem um diálogo.
Isabela: Se você quiser falar... (dirigindo-se a Isadora)
Isadora: É a mesma coisa! Exatamente a mesma coisa...
320
ANEXO 7
Atividade: Pronúncia
Descrição: O trabalho com a pronúncia apareceu, na maioria das vezes, entremeado com outras
atividades- de conversação, de gramática, de leitura- não sendo o sendo o objetivo primário da
atividade. Exemplos disto podem ser observados nas transcrições destas atividades. Devido à
relevância atribuída pelos próprios estudantes, em suas entrevistas, à forma como a professora
trabalha essa questão, foi feita uma seção separada para o assunto. Além disso, houve duas
atividades, trazidas no livro didático, cujo o foco principal era trabalhar um determinado aspecto
da pronúncia.
a) Pronúncia em meio a outras atividades: Quando os estudantes liam algo em voz
alta ou quando eles contavam algo (durante atividades de conversação, por
exemplo), a professora esperava que eles terminassem de falar e então fazia
correções na pronúncia. Muitas vezes, ela colocava a palavra em um dicionário
online e tocava o áudio da palavra. O dicionário online, usado pela professora,
também mostrava a transcrição fonética das palavras, o que alguns estudantes
comentaram ser útil para eles.
b) Pronúncia como objetivo principal da atividade:
• Wordlinking: Atividade realizada na sessão 9, logo após a atividade de vocabulário
“Gadgets”. Teve como base um exercício do livro didático e o foco foi praticar a
pronúncia de palavras que se conectam em uma frase, como na frase “Turn it on”. A
professora explicou que ao se constituir a consciência destes sons na pronúncia, também
há ganhos para a compreensão oral. O exercício consistiu na escuta de um áudio de
frases com exemplos desta ligação de sons, sendo que estas frases haviam sido usadas
na atividade de vocabulário realizada anteriormente.
• Past participle pronunciation: Esta atividade, realizada na 2ª sessão, visou praticar a
pronúncia de verbos irregulares no particípio. Esta atividade está transcrita na íntegra a
seguir.
Matriz 7.0
Data: 17/08/2017 Atividade: Past participle
pronunciation
Duração: 10 minutos
321
Descrição da atividade: Inferências:
Professora: Pronunciation of irregular past
participles... Do you remember why irregular
past participles are important for this unit? ...
Page 85... Do you remember why they are
important? Yes, Maria, tell us. You are
nodding (risos)... Why are they important?
Maria: Because we use them with have
plus...
Professora: Yes, we use them with the
Present Perfect, right? And we are talking
about experiences, and we are talking about
changes in this unit. And we talk about
changes and experiences, we use the Present
Perfect, right? Of course, we use the Simple
Past too, but we use the Present Perfect. Ok,
everyone? Good... So, let's see... Let's see if
you remember the past participle of the verbs
in exercise 6, on page 85 and let's check if
you know the pronunciation. So, can you
please complete the chart? Can you please
write down? Write the past participle of these
irregular verbs, ok? And then we are going to
check the pronunciation, ok? Can you do it
now?
Professora dá um tempo para estudantes
completarem o exercício.
Professora: Ok, everyone? Are you done?
Yes? Good? So, let's see... You just tell me, I
say, and you tell me the past participle, ok? I
say the base form and you tell me the past
participle. So, find.
Estudantes: Found.
Professora: Do I have to write it down?
Michael: Please?
Professora: Ok, so... (escreve na lousa) Next
Professora faz algumas perguntas, buscando
contextualizar o exercício.
Maria estava acenando com a cabeça, então a
professora estimula-a a responder.
Professora relembra o conteúdo que está
sendo trabalhado, fazendo a conexão entre
este e o que será visto no exercício de
pronúncia- particípios.
O exercício trazia doze verbos, em suas
formas base. O áudio do exercício daria a
forma do particípio. No entanto, antes de
tocar o áudio e trabalhar a pronúncia, a
professora pede que os estudantes tentem se
lembrar das formas do particípio.
Professora retoma a atenção dos estudantes e
pede para que eles falem os verbos no
particípio.
Professora checa se é necessário escrever os
verbos na lousa. Michael indica que sim e a
322
one is sell.
Estudantes: Sold.
Professora: Sold. Very good. Then, buy?
Estudantes: Bought.
Professora: Bought. How do you spell
bought?
Estudantes: B-O-U-G-H-T. (Professora
escreve na lousa conforme estudantes
soletram).
Professora: Very good. Then, fly?
Estudantes: Flown.
Professora: Flown. Very good. Fly, flew,
flown. And then, think?
Estudantes: Thought.
Professora: How do you spell thought?
Estudantes: T-H-O-U-G-H-T.
Professora: Ok, thought. And... Do?
Estudantes: Done.
Professora: Done, okay. Win?
Estudantes: Won.
Professora: Won, right. Teach?
Estudantes: Taught.
Professora: Please spell taught.
Estudantes: T-A-U-G-H-T.
Professora: Uhm, por que que eu não senti
tanta firmeza no coro? Taught.
Aurora: The pronunciation is the same the
number 5? (referindo-se ao particípio do
verbo "think") Tipo, é igual?
Professora: No, no... It's a little different,
because think, think, thought. (Professora
fala com ênfase no som do "th"). And
taught... (enfatizando o som do 't'). So, with
the 'th' in think, you have to touch your teeth
with the tip of your tongue. Thought.
Estudantes: Thought.
professora passa anotar todos os verbos
falados.
Diferente das outras vezes, só alguns
estudantes soletraram. Professora percebe a
diferença e questiona a turma sobre isso,
parecendo prever que há alguma dificuldade
neste verbo.
Aurora levanta dúvida a respeito da
pronúncia do verbo “taught”, perguntando se
a pronúncia é igual a “thought”.
Professora explica a diferença, repetindo os
dois verbos com ênfase no som que os
diferencia.
323
Professora: Think. In fact, your tongue goes
between your teeth, right? Think, thought.
Estudantes: Think, thought.
Professora: Teach, taught.
Estudantes: Teach, taught.
Professora: Tem um 'h', não tem? Então, a
diferença tá no 'h'. Tem que falar tudo assim,
entendeu? (Professora fala essa frase com a
língua entre os dentes, os estudantes riem).
Okay? Grow?
Estudantes: Grown.
Professora: And then, run?
Estudantes: Run.
Professora: How do you spell run?
Estudantes: R-U-N.
Professora: Very good! Run is the base form,
the past tense is ran, and the past participle is
run. Ok? And then, lose.
Estudantes: Lost.
Professora: Lost. Uhm, you have to know
this one, because of the TV serie. Fall?
Estudantes: Fallen.
Professora: Fallen. Very good. Anything
else? Any other questions? Ok, let's check
the pronunciation.
Professora coloca o áudio do livro, o qual
mostra a pronúncia dos verbos que eles
haviam falado.
Professora: Please, repeat, ok?
Estudantes repetem junto com o áudio.
Professora: Ok, everyone? The difference
between "thought" and "taught" is that one is
voiced. Um é sonoro, o outro é surdo. Tá?
Então, o sonoro é o que faz esse som
"taught". O outro é surdo "thought". If you
touch your throat, you will notice... Say
Professora explica como fazer o som do “th”.
Estudantes repetem as palavras.
Professora usa humor e a turma se
descontrai.
Dá-se continuidade ao exercício.
Professora checa como os estudantes
escreveram o particípio de “run”, pois
costuma-se haver confusão com este verbo.
Depois de terminarem de checar todos os
verbos no particípio, a professora fala que
vão checar a pronúncia (foco do exercício). E
coloca o áudio do livro.
Professora pede para estudantes repetirem os
verbos conforme eles forem ditos no áudio.
Professora retoma a explicação da pronúncia
de “taught” e “thought”, dando mais
detalhes.
324
'teach".
Professora coloca a mão em sua garganta e
estudantes a imitam,
Estudantes (tocando a garganta): Teach.
Professora: Taught.
Estudantes: Taught.
Professora: Now, thought.
Estudantes: Thought.
Professora: Which one makes the... the
movement is bigger?
Estudantes: Teach.
Professora: Teach. You feel it stronger,
right? Teach, taught. And thought... Your
chords vibrate more when you say teach and
taught, ok? É surdo e sonoro. Good?
Professora fala para estudantes colocarem a
mão sobre a garganta, para sentirem a
diferença ao falarem os dois verbos.
Ainda tocando a garganta, os estudantes
repetem os verbos.
Professora pergunta qual foi o som que fez a
garganta se movimentar mais e estudantes
respondem que foi “teach”.
Com isso, a professora conclui sua
explicação sobre diferença dos sons de
“taught” e “thought”.
Falas dos estudantes sobre atividades de pronúncia:
• Comentário sobre o trabalho com pronúncia.
• Ana dá sua opinião sobre a forma como a professora, abordando explicação, correção e
feedbacks positivos.
Isabela: Ah, sim. E, também na última aula, vocês estavam lendo outro texto e cada um lia um
pouco, aí ela elogiou a sua pronúncia...
Ana: (risos) Ah, do “develop”!
Isabela: (risos) É! Como você se sentiu?
Ana: Ah, como eu disse, eu tenho muita dificuldade, então foi “nossa, consegui acertar uma
pelo menos!” (risos). Então, já sinto como uma pequena vitória! Mas assim, não acho que fui
melhor que os outros, nem nada, foi interno mesmo, eu me senti bem.
Isabela: E o que você acha desse jeito que ela ensina a pronúncia, que às vezes ela mostra no
dicionário...
Ana: Eu gosto bastante, principalmente porque no dicionário que ela mostra tem os fonemas.
Então, às vezes, de escutar, você não consegue repetir tão bem, mas, vendo os fonemas, você
consegue fazer certinho.
325
Isabela: E a forma como ela corrige a pronúncia?
Ana: Eu gosto, porque o jeito que ela faz não deixa com.… a pessoa se sentindo mal. Porque eu
já tive outros professores e era tipo “tá errado o que você tá falando!”. E faz de um jeito com
que a pessoa se sinta bem e.… aprenda.
• Comentários sobre a forma como a professora corrige pronúncia.
• Miguel diz gostar da forma como a professora corrige questões que pronúncia, sem
interromper os estudantes no meio de uma fala ou de uma leitura. Ele afirma que as
correções o ajudam.
Miguel: Eu prefiro que ela corrija mesmo, do que talvez eu levar o erro pra frente. Eu acho que
eu prefiro que espere eu terminar... Porque, geralmente, você vai ver que a pessoa tá errando,
mas você vai entender. Então, é melhor você esperar e depois você fala “ó, aqui você coloca
isso”.
Isabela: Mas você acha que ela faz assim?
Miguel: Faz, aham. Ela espera e aí ela fala. Às vezes ela passa no quadro... Isso é bem legal.
Acho que quando lê no texto, ela fala da palavra: quando vai falar ‘develop’ e aí fala ‘develóp’.
Ela fala várias vezes: “gente, é assim”. Eu falava “saignal” e ela falava “é ‘signal’”. Eu acho que
vai guardando.
• Mariana também diz gostar da forma como as correções são feitas.
Mariana: Ela faz com tanta calma, assim... Mas é super tranquilo. E é legal que ela pede para a
gente repetir, né, até a gente acertar. Isso também estimula a gente tentar acertar o negócio.
Porque às vezes você fala correndo e a pronúncia sai errada e você continua falando errado,
entendeu? Mas ela é bem atenta, sabe... Eu gosto do jeito da Lúcia.
Fala da professora sobre atividades de pronúncia:
(Professora comentava sobre a grande dificuldade de pronúncia apresentada por um dos
estudantes da turma).
Isabela: Mas essa questão da pronúncia, você acha que tem como dar conta...?
Lúcia: Com muito esforço pessoal.
Isabela: Mas ali em sala, com 20...
326
Lúcia: Não... É muito complicado. Você vê o que eu faço Eu acho que você cria uma certa
consciência, por exemplo, alguém vai falar "world", todo mundo já... (risos). Eles já ficam ali...
(risos) "worllllld". Eles enrolam primeiro, mas não sai... É difícil sair, mas eu tenho que ir
tentando. Por exemplo, a Carolina, na fala dela, do semestre passado, ela falava "predeitor" e
não "predator". Aí, nesse semestre, quando ela foi falar, ela olhou para mim e falou "predator!".
Mas é por isso que tem que ouvir tanto, né...
Isabela: E quando tem algum problema, por exemplo, como da Carolina... Você fala para ela?
Lúcia: Eu já falei!
Isabela: É delicado também, né?
Lúcia: Lógico que é. Então, isso que eu tô falando... Ela não se dá conta! Porque semestre
passado foi muito difícil (referindo-se à apresentação oral). Esse semestre ela melhorou, mas ela
desandou a falar, tão rápido, que nem eu entendia. Então, tem que ter essa noção de que falar
bem, não é falar rápido. Você pode ter um sotaque, mas você precisa falar uma coisa mais
próxima, uma pronúncia mais próxima... Pelo menos do worlllld Engish... (risos).
327
ANEXO 8
Atividade: Workshop “Saving Indegenous Languages in Western Amazonia”
Descrição: Esta atividade, realizada na 17ª sessão, consistiu em uma palestra com a professora
Tereza Maher sobre um projeto de revitalização de línguas indígenas na Amazônia. A atividade
foi organizada pela professora Lúcia com objetivo de contribuir para a discussão trazida pelo
livro didático a respeito de línguas que estavam desaparecendo. A palestra, conduzida
inteiramente em inglês, deu a oportunidade aos estudantes de conhecerem mais sobre as línguas
indígenas brasileiras, além de discutirem sobre cultura e história dos povos indígenas.
A professora Lúcia preparou uma tarefa sobre a palestra, em que os estudantes deveriam
produzir um texto que contemplasse alguns pontos como o conteúdo da palestra, a palestrante e
a experiência de participar de um workshop conduzido em inglês. As diretrizes desta tarefa
encontram-se anexadas ao final desta seção. Foram selecionadas algumas destas produções dos
estudantes para serem apresentadas nesta seção, de forma que esta atividade possa ser narrada e
descrita por eles mesmos. As versões apresentadas abaixo trazem as correções e marcas da
professora Lúcia. As únicas alterações feitas pela pesquisadora foram a troca dos nomes reais
dos estudantes pelos nomes fictícios e a omissão do nome da instituição onde a pesquisa foi
realizada.
Texto escrito por Laís
Workshop ‘Saving’ Indigenous
Languages is Western Amazonia
Very, very good, Laís! Congratulations!
Your sentences are very well organized.
The English 3 4 students has had
the opportunity to attend a workshop about
languages revitalization in Amazonia
traditional communities. The workshop
happened in on October 26 and was
conducted by professor Tereza Machado
Maher, most commonly called Teca, who
was has a PhD in linguistics from
University of Campinas. The professor
works in at the Institute of Languages
Studies and have made has been a member
of part of Pró-Indian Acre Commission in a
great work with indigenous languages
teaching.
Teca started her presentation telling
us a little about a multilinguistic
multilingualism in Brazil. She brought
some data about the subject:
● Brazil has more than 188
indigenous languages recognized;
● In the country, more than 30
immigrant languages are spoken as
first language;
● And we have 2 sign languages;
● Summarizing it, Brazil has on
average 241 languages spoken as a
first language besides Portuguese.
She told us yet that it is estimated
that an average of 1300 indigenous
languages that was were spoken for by 6 -
10 million people when the Portugueses
arrived at in this lands, in year 1500. Most
of all languages has have been extinct in
colonization. An important fact in this
process is the Nheengatu prohibition. This
language has had been spoken by
328
indigenous and colonizers and has been was
composed by a blend of Portuguese and
some indigenous languages. In 1758,
Marquês de Pombal, instituted Portuguese
as the Brazil ‘s official language, turning all
of other languages forbidden. Nowadays,
Brazil has 238 ethnic groups and 63,8% of
the indigenous population lives in urban
area.
The teacher continued the
workshop telling us about her personal
experience in Pró-Indian Acre Commission.
She has acted as a teacher in a language
revitalization program. She told us stories
of a lot of strong people who wants to
recover the linguistic knowledges and
transmit it to new generations. She has
realized that it can get bring back the self-
esteem for communities, helping them to
hold on their political rights.
To finish the talk, Teca played a
video named “I Already Became an Image”
(Já me Transformei em Imagem). The
movie was produced and directed by
indigenous people from Huni Kui people. It
is about the Huni Kui history, beside before
and after the occident contact. The movie
tells a history from a people told from their
own point of view in their own language.
Thus, the director put the indigenous people
in a incommum an uncommon perspective
for white people: as the protagonist of their
own history. In 10 minutes, the video can
explain a little about the Huni Kui people in
5 times periods: Malocas Time, before the
white contact; Rush Time, when the tappers
had hunted and had killed the Huni Kui, so
they had have to run; the Captivity Time,
when the Huni Kuy were slavered; the
Right Time, when the people started to
fight for their rights by learning to write,
math, and politics; and the Present Time,
when they came back to be a big their
population increased. Now they are
fighting for their autonomy.
The workshop was very important
for me because I have realized that I can
keep up with an lecture in English and,
mainly, because the workshop could show
me a very different perspective from of
Brazil. Teca has showed me a pluricultural
and plurinational Brazil. Besides that, we
could realized how the language is an
important instrument for a people's identity,
self esteem and fight for their own rights. It
was remarkable!
Texto escrito por Júlia
“’Saving’ Indigenous Languages in
Western Amazonia”
Excellent work, Júlia. Congratulations!
The workshop “’Saving’ Indigenous
Languages in Western Amazonia” was
conducted by Professor Tereza Machado
Maher in on October 26th, 2017. The
Professor talked about her experience
working with the Comissão Pró-Índio do
Acre (CPI-Acre), a non-profit organization
that works to “save” indigenous languages
in occidental Amazonia.
After the discovery of Brazil, the
Indians who already lived here and spoke
their own languages were forced to speak
only Portuguese. This led to the
disappearance of a lot of native languages
and nowadays some of these have only a
few last speakers.
Because of this, the Professor Tereza
and other linguists of the CPI-Acre went to
meet the Indians and helped then them to
revitalize these languages. The principal
idea was to teach them how to teach their
329
own languages and pass it on to the new
generations.
It was related more to the symbolism
about the language. They wanted to
convince them that they are alloyed allowed
and should speak their native languages
because it is a mark of their identity as
people. It helps to keep their cultures alive
and give them strength to fight for their
rights.
Professor Teresa mentioned some
indians Indian teachers. and One of them
didn’t remember how to speak “friend” in
his language, but he used the word “father”
to refer to it and it worked.
The professor also showed a video in
which the Indians talk about the changes in
their lives after the contact with the white
men and how they were explored exploited
by them.
The information that surprised me
most was the fact that nowadays we have
about 240 languages spoken as first
languages in Brazil, beyond besides
Portuguese.
I liked the workshop very much because I
had the opportunity to learn more about the
culture of my own country. It wasn’t
difficult to attend understand the workshop
in English, because the context, the images
and slides helped to understand the speech
when I didn’t know some word.
Texto escrito por Joyce
On 26th October, 2017 during an
English class, a workshop “Saving’
Indigenous Languages in Western
Amazonia” was conduced conducted by
Professor Tereza Machado Maher, PhD.
First, she introduced the workshop
approaching multilinguism multilingualism
in Brazil: there are more than 188
indigenous languages, but in 1500 it was
there were around 1300, wich which can be
explained by the fact that in 1758,
Portuguese has become became the national
language. Until the end of the 1980s and up
to the 80’s it was forbidden to speak any
indigenous languages.
However, since the Constitution of
1988 some revitalization’s project exists
revitalization projects have existed to
reverse this situation, but not all teachers
were proficients proficient enough in their
traditional languages. So, it has been
necessary to use some compensatory
strategies.
As an example, when some teachers
was were writing the word “friend” in their
tradicional language, Julio Shawãndawa
didn’t know it in his how to do it in his own
language. Brilliantly, he associated the
word father with the word friend by based
on the meaning of both and then he wrote
“epa” (father=friend=epa). It was brilliant
because we create new words or new
meanings all the time. Strategies like this
gave to teachers like him the thought idea
that they couldn’t bring their whole
languages back, but they can bring back
some of it. And this is important because it
gets brings back the selfsteam self-esteem
and identity to indigenous. It could help
them to get their political rights, for
example. Moreover, as Tereza said, to lose
a language is to lose culture. To create
Creating a language is a long process, while
to lose losing it is really fast.
Tereza also showed us 10 minutes
of a video entitled titled “I’ve already
become an Image” that counts tells about
the influence that the rubber production and
extraction of latex from the plantations in
Acre had in the life of the indigenous
peoples of the region, which has this title
precisely because it has a subjective view of
who really was exploited and whom who
now can become an Image, or a video, or
330
anything they want, because now they can
do it
Attending a workshop in English is an
amazing experience, because the use of
English in this situation becomes natural
and interesting, and it is not so difficult
because the context helps us to understand
and explore the language. The most
surprising information was about the policy
of forbidden forbidding to speak indigenous
languages for more than 200 years and its
consequences.
.
Texto escrito por Giovana
'Saving' Indigenous Languages
Nota 8,5
The workshop "'Saving'
Indigenous Languages in Western
Amazonia" by Professor Tereza Machado
Maher (Teca) took place in on October 26.
Teca talked about the mith myth
of Brazil as a monolingual country. She
compared the number of indigenous
peoples and indigenous languages in the
country at the beginning of the colonial era
and nowadays. She talked about Nheengatu,
the main Brazilian language before during
colonization, and also about
Marquis de Pompal's Language Policy. She
talked about the educacional educational
project “Comissão Pró-Índio do Acre”. The
project aims to help on promote the
revitalization of indigenous languages.
Railda Poyanawa and Julio Shawa
dãwa was were some of the teachers that
Teca mentioned. On Railda’s testemony
testimony she said thar her language was
considered slang by white settlers. On
Julio’s testimony testimony, he said that
even if although he isn’t so familiar with
his whole indigenous language,
nevertheless he always cares to teach the
words he knows to his students.
The video presented was about
HuniKui Indians. It told the story from of
the arrival of the white settlers arrivals and
the interferences interference that it brought
to them. The information that surprised me
most it was about the mark the Indians
inherited from the time they were semi-
slaves. His Their arms were marked by the
name’s abbreviation of the owner of the
plantation fields as cattle with the initials of
the owner of the plantation they worked
for.
The experience of attending an
English workshop was challenging.
However, I was able to understand the
whole conversation lecture, the video and
the slides. It was rewarding! The workshop
was very interesting. It made me realize
how important it is to ‘save’ a language and
made me notice it’s just a battle of a much
larger war. Keeping a language is part of
the process of keeping a culture.
Texto escrito por Maria
Saving Indigenous Languages in Western
Amazonia
Nota: 9,0
Well done, Maria. Congratulations!
In On 26 October 2017, the
students of English IV participated of one
in a workshop about indigenous languages
and how to revitalize them. The workshop
was conducted by Professor Tereza
Machado Maher Professor Tereza has been
a researcher and teacher educator in
indigenous contexts in western Amazonia
for many years.
The workshop began with an
introduction about indigenous tribes in
Brazil and how the indigenous people look
331
like and act currently. According to her,
there are 238 different ethnic groups in the
country. She also explained that many
people define an indigenous person as an
almost naked person, who has many tribal
tattoos around the body and lives in tribes,
but this definition is completely wrong.
Actually, many indigenous people wear
common clothes and use technologies, like
computer and cellphone, nowadays.
In the second part of the Workshop,
Professor Tereza told us about some details
of Brazilian history that have affected
indigenous languages directly in indigenous
languages. Lastly Finally, she explained
about Comissão Pró Índio do Acre (CPI-
AC) and some projects that she developed
in occidental Amazonia during her period
as member of CPI-AC.
In addition, the film named “I’ve
already became become an image” was
showed to us. The film was very interesting
and also different, because it was all made
by indigenous people. Besides, it shows the
indigenous view about all their history.
In my opinion, it was surprising to
hear about the languages policies in Brazil.
For example: I didn't know that, around
1700, the most spoken language was
Nheengatu, which was an indigenous
language spoken by both indigenous and
Portuguese people. And much less that,
Moreover, I didn’t know that, because of
this fact, Marquis of Pombal forbade
everybody from speaking to speak
indigenous languages.
Finally, I would like to register that
Professor Tereza was very attentive and
patient with us and also spoke clearly. I
really enjoyed to had participated
participating in these this workshop,
because it gave to me much more
knowledge about this theme. From now on
I feel that I have more basis appropriate
knowledge to discuss policies of inclusion
of indigenous people, including policies in
universities.
332
Falas dos estudantes sobre o workshop:
• Francisco e Isadora comentam sobre a atividade:
Isabela: E vocês gostaram dessa palestra?
Francisco: Eu gostei. Eu gostei muito, porque fez a gente ter contato com... Porque, querendo ou
não, sempre a professora falando, a gente meio que cansa. Então, você perceber... uma pessoa
vir dar uma palestra, uma pessoa que você não tem aquele costume, porque você só tá ouvindo a
professora, então você tá criando uma proximidade com o ritmo que ela fala. Então, trazer uma
pessoa, que também é professora, mas que passa... não tá dando aula, mas ter essa experiência
de você compreender tudo que ela tá falando, significa que tá tendo um resultado, né! E eu me
senti muito à vontade, porque eu percebi que tava tendo resultado, porque eu entendi a palestra
do começo até o fim. Entendeu? Então, foi muito... Eu achei muito interessante! Por mim,
poderia ter bem mais palestras assim.
Isadora: Foi bem bacana mesmo, bem legal.
Isabela: Nossa, eu gostei também. Ela falou tanta coisa que eu não sabia!
Francisco: É, a quantidade de línguas, a quantidade grupos, que a gente não sabia que tinha...
• Comentário de Laís sobre a atividade:
Laís: Essa palestra, por exemplo, que ela trouxe. Nossa, foi demais! Fiquei apaixonada!
(...)
Isabela: E a palestra, você comentou que gostou bastante. Por que você achou...?
Laís: Ah, nossa! Eu senti que tanto... Foi ótimo, porque eu percebi que dá para prestar atenção,
que eu consigo acompanhar uma hora de aula, sabe? Apesar de ser professora, assim, ela não
falou na maior complexidade do mundo, né? Mas deu para acompanhar uma hora de aula,
tranquilo. Eu fiquei feliz com isso. E o assunto me interessa muito, assim, demais. E a gente tá
aprendendo língua, né!
Fala da professora sobre o workshop:
Lúcia: São essas experiências que você... Como foi levar a Teca! Aquilo foi precioso! Foi
preciosíssimo!
Isabela: Essa experiência foi a primeira vez?
Lúcia: Foi a primeira vez que eu fiz, foi a primeira vez. Eu já tinha levado anteriormente aluno,
que tinha sido aluno meu e saiu pra intercâmbio, voltou e veio relatar a experiência. Eu já tinha
feito isso. Aluno estrangeiro de intercâmbio que veio... Já tinha tido isso. Mas essa experiência
da Teca... Você vê, o material didático proporcionou isso, né.
Isabela: É, por conta da temática, né.
Lúcia: Então, até já conversei com o marido de uma pessoa que eu conheço que é ecólogo.
Então, no próximo semestre, se tiver... Preciso olhar direito, mas deve ter uma unidade que eu
333
possa levá-lo também, porque ele é super bom no que ele faz, um cara internacionalmente
conhecido. Então, vou ver se eu levo...
Isabela: E parece que mexeu com a autoestima deles, de conseguir acompanhar a palestra em
inglês...
Lúcia: Você acha?
Isabela: Ah, pelas falas deles e também pelos textos que nós lemos, que eles falam "ah, que bom
que..."
Lúcia: "...que eu entendi." É! Não foi? Mas ela calibrou... Olha, mas ela calibrou, mas não ficou
forçado.
Isabela: Não, não achei também.
Lúcia: Ficou muito bom! Foi muito bom.
Isabela: Sim, foi muito legal.
Lúcia: E assim, um jeito legal de ter transformado uma mera palestra num workshop foi eles
terem escrito o que eles escreveram depois, eles terem pensado...
Isabela: Eles produzirem, né...
Lúcia: Você percebe? A importância de você levar para fora de aula ou trazer o mundo pra
dentro da sala de aula. Não é? As coisas fazem sentido diferente.
Isabela: Eu gostei muito também da palestra...
Lúcia: É, eu já falei para ela... Ela vai se aposentar, eu fiquei sabendo. Meu Deus do céu, sabe!
Isso é formação de cidadão, não é?
Isabela: Tinha tanta coisa que eu não sabia!
Lúcia: Eu também! Mesmo tendo trabalhado no projeto também...
334
Instruções para produção escrita do workshop
335
ANEXO 9
Atividade: Filmes, vídeos e músicas
Descrição: Durante as aulas, a professora Lúcia frequentemente fazia sugestões de filmes e/ou
de leituras, além de fazer referências a músicas e artistas. Os estudantes, em suas entrevistas,
comentam que esta característica da professora os inspirou a assistirem diferentes filmes e a
escutarem novos artistas. Além de recomendar diversos conteúdos culturais, a professora
também os utilizava em aula. Nesta seção, estão elencadas as atividades criadas e realizadas
pela professora, em que utilizou vídeos, músicas ou trechos de filmes.
• Filme Escritores da Liberdade: Na 2ª sessão, a professora comentou com os
estudantes que a turma do semestre anterior havia assistido ao filme “Escritores da
Liberdade”. Como alguns estudantes da turma atual haviam cursado o semestre anterior
com a professora Lúcia, eles já haviam assistido ao filme e, por isso, a professora pediu
que eles contassem um pouco sobre sua história aos colegas que não conheciam o filme.
Depois disso, a professora mostrou uma cena do filme em que os personagens falam
sobre experiências de suas vidas e, para isso, usam o tempo verbal “Present Perfect”, o
qual estava sendo trabalhado naquela aula. Depois de assistirem à cena, a professora fez
alguns comentários sobre o filme e recomendou que os alunos o assistissem.
• Filme The Searchers: Esta atividade foi realizada como introdução à atividade de
leitura “Twenty-First Century Cowboys”, na sessão 2, e está transcrita na Matriz 1.0, a
qual descreve esta atividade de leitura. The Searchers (Rastros de ódio, em português), é
um filme de faroeste americano e a professora mostrou a cena inicial, como disparador
da discussão sobre a visão romantizada da figura do cowboy, tema que apareceria na
atividade de leitura a ser realizada na sequência. Antes de assistem à cena, a professora
perguntou aos estudantes se eles já haviam assistido a algum filme de faroeste e deu
espaço para que eles compartilhassem suas experiências. Em seguida, ela diz que vai
mostrar uma cena de um famoso filme de faroeste, dá algumas informações sobre o
diretor e pede para os estudantes notarem questões como as ações dos personagens, a
música e a paisagem. Depois de mostrar a cena, a professora fez algumas perguntas para
que os estudantes refletissem sobre o filme e sobre a imagem do cowboy como uma
figura solitária.
• Film scene- St. Elmo’s Fire: A primeira vez em que este filme foi trabalhado em aula,
as sessões de observação ainda não haviam começado. Na sessão 4, a professora
retomou o trabalho com este filme, perguntando aos estudantes se eles se lembravam do
336
que haviam visto. Alguns estudantes dizem que não estavam presentes na aula em que o
filme foi passado e, então, a professora entregou-lhes um impresso onde havia descrição
dos personagens e algumas questões sobre o filme (este material encontra-se anexado ao
final desta seção). A professora lê, junto com a turma, algumas informações sobre os
personagens e, em seguida, mostra uma cena do filme, dando sequência ao que já
haviam assistido anteriormente. Depois de assistirem à cena, eles discutem algumas
questões sobre o filme.
• Música Dislexic Heart: Esta atividade, realizada na sessão 6, faz referência à atividade
leitura “Johnny goes to college”, na qual foi lido um texto que uma mãe narra a
mudança de seu filho Johnny para a faculdade. Este texto trata-se de uma história real e
o pai de Johnny é um dos personagens, descrito como um “rockstar” e um “rebelde
profissional”. A professora trouxe, então, uma das músicas deste personagem, contando
aos estudantes que se tratava de uma música feita pelo pai do Johnny.
• Música “Heroes”, cena de filme: Alguns estudantes haviam comentado que “As
vantagens de ser invisível” era um de seus filmes preferidos. Por isso, a professora, na
sessão 8, mostrou uma cena do filme em que os personagens ouvem essa música no
carro. Ela diz achar que a música se encaixa perfeitamente na cena e instiga os
estudantes a verem aquele trecho do filme novamente e pensarem sobre isso.
• Vídeo com trechos de Friends: Na sessão 12, a professora usou um vídeo que trazia
trechos da série “Friends” para introduzir um novo assunto- viagens e turismo. O vídeo
mostra cenas dos personagens em uma viagem a Londres e Joey, um dos personagens,
fica extremamente entusiasmado com a experiência, tirando fotos e filmado tudo e
comprando souvenirs. Depois de verem o vídeo, a professora fez algumas perguntas e
os estudantes comentaram sobre como eles se comportam em viagens e sobre que tipo
de turistas eles são.
• Reportagem sobre Fake News: A professora conta aos estudantes que, no dia anterior,
havia assistido uma reportagem sobre Fake News e que gostaria de mostrar a eles. Ela
diz que a reportagem é muito longa, com cerca de um uma hora de duração, mas que
iria mostrar um trecho de vinte minutos. Ela contextualiza a reportagem, contando trata-
se de uma investigação sobre fake news feita por jornalistas brasileiros. Esses
jornalistas viajaram para Nova York, Londres, Rússia e Macedônia, por isso, a maioria
das pessoas, no vídeo, falam em inglês. A professora comenta que achou a reportagem
surpreendente e que, por esta razão, gostaria de compartilhar com a turma. Depois de
337
terem assistido a trechos da reportagem, alguns estudantes deram suas opiniões sobre o
assunto e mostraram-se, ao mesmo tempo, interessados e assustados com o assunto.
Esta atividade foi realizada na sessão 13.
• Entrevista com Jojo Moyes e cena de um filme: Na sessão 15, a professora realizou
uma atividade sobre o filme “Me before you” (“Como eu era antes de você”, em
português). Alguns estudantes já haviam comentado que gostavam deste filme e, no dia
desta atividade, a professora perguntou quem já havia assistido ao filme e muito
responderam que conheciam a história e que haviam gostado do filme. Na primeira
parte da atividade, a professora mostrou uma entrevista com a escritora Jojo Moyes,
autora do livro que inspirou o filme. Na segunda parte da atividade, os estudantes
assistiram a um trecho do filme. Esta atividade está descrita na íntegra abaixo e os
materiais utilizados encontram-se anexados ao final desta seção.
Matriz 9.0
Data: 10/10/2017 Atividade: Entrevista com
Jojo Moyes e cena de um
filme
Duração: 30 minutos
Descrição da atividade: Inferências:
Professora: Okay. Please, pass these around.
Professora: Guys, do you know who Jojo
Moyes is? Yes, you do... Who said yes?
Renata? No, you said yes (olhando em
direção à Laís). Have you read any of her
books, Laís?
Laís: No...
Professora: We've talked about her, right?
She wrote the book "Me before you".
(Professora pega o livro e mostra para
turma). Me before you... So, we are going to
watch an interview with the writer of the
book, named Jojo Moyes. Has anybody seen
the film?
Muitos estudantes acenam com a cabeça,
dizendo que sim.
Professora: I see head doing this... Renata,
Ana, Isadora, Maria, Mariana, Aurora... Who
Professora entrega material impresso para
estudantes.
Professora mostra um exemplar do livro, em
inglês.
Professora pergunta quem conhece o filme e
percebe que várias estudantes já o assistiram.
338
else has seen the film? Carla... Ok... I am not
going to ask you if you liked it... Did you
liked it? (risos)
Estudantes riem e dizem que sim.
Professora: Ok! So, we are going to watch an
interview. So, number one... We are talking
about an interview with Jojo Moyes, the
writer of the book, ok? "Why does she call
Will Traynor 'a master of the Universe'?"
"Why is Will Traynor in a state of depression
when we first see him in the movie?" Ok?
"Why do Louisa and Will meet?". Those are
the first three questions you are going to
answer, ok? So, let's watch... I am not going
to put the captions first, let's watch without
the captions first...
Professora coloca o vídeo.
Professora: Don't read what's written here
yet, ok? Cause I'm going to let you see the
subtitles... So, do you understand why she
calls him a master of the Universe?
Alguns estudantes: Yes...
Professora: Why?
Laís: Because...
Estudantes murmuram.
Professora: He has everything, right? She
says... What does he have?
Laís e Ana: A good job...
Professora: A good job? What else?
Estudantes: Good looks...
Profesora: Yes! What else?
Estudante: Money...
Professora: Yes, a fortune... Ok... Why is he
in a state of depression when we first see him
in the movie? Wait a second! Forget you've
Antes de colocar o vídeo da entrevista, a
professora lê as questões sobre a entrevista
com os estudantes.
Professora avisa que colocará o vídeo sem as
legendas.
Professora refere-se à transcrição da
entrevista, que está impressa no material
entregue aos estudantes. Pede aos estudantes
que não leiam essa transcrição naquele
momento.
Vários estudantes murmuram respostas,
professora procura organizar e estimulá-los a
responder mais abertamente.
Estudantes respondem.
339
seen the film. Were you able to understand
why he is in a state of depression?
Renata: Yes, he has a spine injury...
Professora: He had a spine injury. He had an
accident and he has a spine injury... Ok. Why
do Louisa and Will meet? Did you
understand?
Um estudante responde: She is a carer...
Professora: Ok. Did you understand the word
carer? Did you hear the word carer? Yes or
no?
Alguns estudantes respondem que sim, outros
que não.
Professora: That's ok. We’ re going to listen
again. We are going to see the captions now.
Wait a minute.
Professora: Just watch, guys. Forget the
handout... Esquece o exercício.
Professora coloca o vídeo.
Professora: Ok, everyone... Let's go back
here. So, do you understand where they
meet? The word Renata said. What was the
word, Renata?
Renata: Carer.
Professora: Carer. Just like in Portuguese.
She was hired, contratada, to be his carer. So,
one who takes care of people, she is a carer.
Like in Portuguese, cuidadora. She is hired to
take care... Ok, everyone?
(Estudantes concordam).
Professora: Ok. Number four. "Circle the
statements that refer to Will Traynor's
previous life". "He has good look.". Yes or
no?
Estudantes: Yes.
Professora: "He comes from a middle-class
Professora tenta verificar se estudantes
compreenderam o que foi dito no vídeo.
Professora coloca o vídeo novamente. Desta
vez, com legendas em inglês. Pede para
estudantes assistirem, se se preocuparem com
o exercício.
Professora faz o próximo exercício com a
turma. Ela lê as frases do exercício e os
estudantes respondem se elas estão corretas
ou não.
340
family."
Estudantes: No.
Professora: "He has a great job."
Estudantes: Yes.
Professora: "He owns a fortune."
Estudantes: Yes.
Professora: "He is happily married."
Estudantes: No.
Professora: "He loves extreme sports."
Estudantes: Yes.
Professora: Yes, in the past... Now, "tick the
statements that best describe Louisa Clark".
"She is a small town girl".
Estudantes: Yes.
Professora: "She wants to get a job outside
her home town".
Estudantes: No.
Professora: Nooo... "She works as a
waitress". Yes or no?
Estudantes: Yes.
Professora: Yes! "She is ambitious".
Estudantes: No.
Professora: No, she isn't. "She has gone out
with her boyfriend for seven years". Yes or
no?
Estudantes: Yes.
Professora: Now... "Explain what the
following sentences mean". Jojo Moyes says
that Will, he is determined it suck the
marrow out of life. Do you understand? Do
you understand what marrow means?
Marrow means medúla... Nothing to do with
his injury! Right? Nada a ver com o
machucado dele, não! He is determined to
suck the marrow out of life. Do you
understand? What suck means?
Finaliza-se o exercício sobre os personagens
do filme. Professora segue para exercício
sobre vocabulário, focando em duas
expressões usadas pela escritora em sua
entrevista.
341
Renata: In Portuguese?
Professora: Yes...
Renata: Sugar.
Professora: Ok. To suck the marrow out of
life. What does it mean?
Renata: It means... enjoy...
Professora: ...life as much as possible! To
live intensively. Life has no marrow, people
have marrow, right? So, he is determined to
suck marrow out of life... And, at the end,
she says " they got off to a kind of rocky
start". What is a rocky start? Ok, so...
Carla: It is like a tough start.
Professora: Tough? Yes! A tough start, a
difficult... It comes from rock. If you are
driving on a road and the road is rocky, it is
difficult to drive, right? So, they got off to a
rocky start. When they begin their
relationship, she was his her carer and he was
her patient, it was not easy. Right? That's it.
So, let me... Guys, I'm going to ask you to the
next the exercise at home, but I am going to
play it again. And this time, you read the
script, ok?
Professora: Okay... While I try to find the
right point in my DVD, please, try to circle
the verb tenses, in the Simple Present here. In
Excerpt one and two, ok? The Simple
Present.
(Estudantes fazem esse exercício e a
professora prepara o filme, procurando o
trecho que quer mostrar).
Professora: Okay, guys? So, the question is:
why do you think this verb tense is used?
Mariana: To describe.
Professora: To describe! She is describing
Com a participação dos estudantes,
professora explica o significado das
expressões “suck the marrow out of life” e
“rocky start”.
Professora faz gestos com os braços, fazendo
uma mímica para mostrar um carro andando
em uma estrada difícil.
Professora pede que estudantes leiam a
transcrição do vídeo e circulem os verbos no
Present Simple. Depois disso, pergunta a eles
o porquê deste tempo verbal ter sido usado.
342
the character as if they were real people,
right?
Mariana: Yes...
Professora: Okay. That is it, when we
describe... Like, tell me about your sister.
Yes? We use the Simple Present, right?
Okay... Girls who have seen the film, do you
think she describes the characters well? Yes
or no?
Estudantes: Yes...
Professora: Yes... Anyway, she is the writer,
right? Wait a second... I have one more
handout. No, let's watch it first. (Professora
coloca trecho do filme).
Professora: Ok, everyone? This is what I
wanted you to focus on... Ok. Let's take a
brief look at the verb tenses, ok? (Professora
distribui material com transcrição da cena).
Professora: But it was easy to understand,
wasn't it? With the subtitles...
Estudantes concordam.
Professora: But, anyway, you are going to
see that most of it has very simple grammar.
So, everyone... "Am I needed?" It is very
hard to see a question like this being asked in
English... We hardly ever see the question
form of verb to be in the first person. So, she
asks "Am I needed?" "DVD weather". Do
understand why DVD weather? Why?
Carla: Because it is raining.
Professora: It is ranning. (Mostra a parte da
cena em que é possível ver o tempo chuvoso).
Professora (lendo a transcrição da cena):
"Des hommes et des dieux". "Something
about men?" He says "Yes, it is French gay
porn". Right? Then, she gives him a look!
Professora mostra uma cena do filme “Me
before you”.
Em seguida, ela distribui um material com a
transcrição da cena. Ela lê o trecho com os
estudantes, chamando atenção para o uso de
diferentes tempos verbais.
343
And he says "You really don't enjoy sarcasm,
do you?" "The sarcasm is fine. I just don't
like superiority." Because that's what he does
all the time... "You must hate me, then". And
she says "I' ve never hated anyone. Let me
know if you need anything." "Have you seen
it?". Okay, guys, so Present Perfect, very
good uses of Present Perfect. Have you seen
it, have you seen the film? I have never hated
anyone... She is talking about experience.
Then, she says "I don't like those kind of
films”. "Those kinds of films?" "Those with
subtitles". We, Brazilians, would be lost if
we didn't like films with subtitles... Specially
people my age, because films started being
dubbed recently. As versões dubladas, aos
montes, existem agora. No passado, eram
versões com legenda, right? Okay... So,
"What, did your school not teach you to
read? Sit down. Watch it with me, that's an
order." Guys, it's imperative. Imperativo. Sit
down, watch it with me. It's an order, right?
So, this segment is really difficulf, because it
is the Third Conditional... "They could have
left." "They chose to stay" (...)
Professora continua lendo.
Professora: Now, guys, the next segment has
lots of Present Perfect, which I wanted you to
look into to. So, take a look at home, ok?
Professora lê a transcrição do diálogo entre
os dois personagens e vai fazendo alguns
comentários. Estudantes acompanham a
leitura com atenção.
Professora pede para estudantes relerem o
diálogo em casa, prestando atenção ao uso do
Present Perfect.
344
Falas dos estudantes sobre as atividades de filmes, músicas e vídeos:
• Comentários
Aurora: Eu gosto quando ela traz aqueles filmes também. Pra falar da... Porque ela sempre faz
isso! Ela sempre traz algum filme, todos os semestres ela faz isso. Porque eu não esqueço
depois! Que nem, no outro semestre, ela trouxe Bonequinha de Luxo e eu nunca tinha assistido.
Na verdade, ela não passou inteiro o filme, porque não dava, né, mas depois eu fui assistir em
casa. Todos os filmes que ela traz eu acabo assistindo em casa. Daí eu tento assistir em inglês
com a legenda em inglês. Eu gosto quando ela traz os filmes. Ou música também! Alguma coisa
no Youtube que ela traz, porque me ajuda a gravar.
Isabela: A gravar...?
Aurora: A gravar a matéria mesmo.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E o que você mais gosta na aula?
Ana: Eu acho que... a diversidade de temas que ela traz, porque o livro traz bem, tipo, National
Geographic, essas coisas. E ela traz outros assuntos fora, que tá dá mais vocabulário, então eu
gosto bastante, que ela traz atividades extras.
Isabela: Entendi... E quais das atividades extras que ela traz...
Ana: Ah, eu gosto... Semestre passado ela deu filme pra gente, né, “Escritores da Liberdade”.
Foi bem legal, porque a gente pode... Ela coloca o filme em inglês com legenda em inglês. Aí
você começa a forçar, e... Você começa a perceber os tempos verbais que tá aprendendo. Então
gosto bastante, assim, quando ela traz filme, ou música, ou texto mesmo que ela pede pra gente
ler.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Ah, que bom... E desses materiais extra que ela traz, o que vocês acham?
Isadora: Ah, eu adoro.
Francisco: Eu também gosto muito. Porque...
Isadora: Até porque são bem atuais.
Francisco: São atuais e são tipo... Não sei, a gente parece que entra em contato com outros
exemplos. O livro é muito reduzido em questão de exemplos, se a gente não buscar por fora, a
345
gente só vai ter aquele ali, entendeu? Então, ela facilita essa questão de a gente ter que procurar
mais exemplos, ela traz esses exemplos...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Michael: E gosto das atividades que ela passa também, extra livro... Porque o que tá no livro é
meio engessado... é meio fechado. Por mais que a gente pegue o livro mais atual, ele ainda tá
defasado. Então as atividades que ela traz além do livro, como trazer os filmes, pra gente tentar
acompanhar os diálogos, trazer vídeos... Isso eu acho legal, porque mantém a gente o mais
atualizado o possível.
Isabela: Aham... Qual dessas atividades extras você, tem alguma que ficou mais marcada?
Michael: Quando ela traz filmes pra gente analisar e acompanhar os diálogos. Eu gosto muito,
porque é uma coisa que tá no nosso dia a dia, a gente tem sempre isso com a gente. E traz um
olhar mais crítico... A gente que já tá no Inglês IV, não pode simplesmente receber tudo
passivamente, então tem que analisar os diálogos, ver a estrutura que eles usam, o tipo de...
Como eu posso dizer? Como as pessoas se comunicam em determinadas situações. Quando ela
traz um filme, ou uma série, demonstra várias situações: a situação de lidar com alguém mais
próximo, com lidar o chefe, ou lidar com outra pessoa fora do seu convívio, como você modula
o vocabulário que você usa. Isso é bem legal. É uma coisa que o livro não consegue fazer tanto.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E, já que você falou do livro, eu lembrei... Ela traz bastante coisa extra, né, além do
livro. O que você acha?
Giovana: Eu acho que são ótimos, porque às vezes livro não é suficiente. Ou então o livro passa
muito rápido por um assunto e ela acha interessante, importante. Aí é uma forma de ela
aprofundar. Eu acho legal.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Aham... E o que você acha dos materiais extra que ela traz?
Laís: Textos, né... Vídeos... Eu acho bem legal. Dá para aplicar no que a gente... Pessoal nosso,
né, da turma. Porque o livro acaba sendo muito geral, tem coisas que não se aplicam para gente.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Joyce: Quando foi, por exemplo, acho que do Friends, que ela mostrou, eu gostei bastante.
Quando foi do filme, como é que é...?
Isabela: "Como eu era antes de você"?
346
Joyce: Isso! "Como eu era antes de você"... Eu também gostei bastante. Mas teve outros que eu
achei, assim...
Isabela: Esse você gostou mais por quê?
Joyce: Porque tem mais a ver com o que eu conheço, faz parte da minha experiência, do dia a
dia. Então... Você tem meio que referência, sabe?
• O uso de filmes, músicas e vídeos como traço do trabalho da professora Lúcia.
Aurora: Ela conhece muita coisa sobre tudo! Ela me motivou a estudar outras coisas que não só
o inglês. Teve uma época que ela estava muito sobre obras de arte em museus, daí eu falei uma
besteira muito grande. Em termos, assim, falar que um artista era do pontilhismo e o artista era
cubista! Daí começou uma discussão sobre arte, isso em inglês, né. Daí eu fui estudar arte!
Então, isso é muito legal. Ela sabe de assuntos gerais, ela sabe um pouco de cada coisa. Acho
que até para conseguir conversar com os alunos, porque são de cursos muito variados, mas ela
sempre sabe alguma coisa sobre os alunos. Até assim, no meu caso, que sou professora, ela me
mandou no Instagram vários vídeos de aula de professoras em inglês, ensinando coisas na
Educação Infantil, em inglês! Daí ela conversou comigo em inglês no Instagram, também. Daí
tem assunto para conversar! Não vira uma conversa em inglês, porque, tipo, “ah, eu tenho que
falar inglês agora, porque estou na aula de inglês”.
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Michael: Eu sinto que ela, ela gosta muito do que ela faz. E ela vem todo dia a fim de realmente
ajudar a gente. A desenvolver a linguagem... Eu não sinto nela uma coisa, tipo, um professor
que vem aqui porque é obrigado. Ela vem, porque ela gosta. Ela demonstra isso, em cada
atitude, em cada atividade. Eu gosto muito.
Isabela: Por que você acha que ela demonstra isso?
Michael: Porque ela sempre tenta trazer coisas além do que a gente tem ali, à nossa disposição,
que é, por exemplo, o livro. Ela sempre traz coisas novas, coisas que ela se preocupa que sejam
adequadas para a gente. Coisas que a gente vá querer falar sobre! Se ela não trouxesse isso, na
minha opinião, traria uma ideia, mais de... Sei lá, tipo, "ah, vou seguir o livro, é isso que vocês
têm que saber e tô nem aí se o livro, se vocês vão usar o que tá aqui, da maneira como tá aqui,
ou não". E isso ela passa uma ideia totalmente diferente. Ela passa uma ideia de que o que tá no
livro é importante, mas nem sempre o que tá no livro é o que vocês precisam saber agora ou é o
que vocês vão usar, dessa forma. Então, ela tenta manejar... E sempre demonstrando essa
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proatividade em querer ajudar a gente em tentar absorver da melhor maneira, o conteúdo. Isso é
legal.
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Isabela: E ela traz bastante material extra, além do livro...
Miguel: Aham, além do livro..
Isabela: Você acha isso bom?
Miguel: Acho, acho que é um bom... Acho que ela tenta trazer o melhor, assim, não se acomoda
só no livro. E ela dar isso pra gente, acho que a gente vai olhar mais vezes... Ela gosta de trazer
coisas que ela é apaixonada também. Tipo um filme que ela gosta, ela fala de um livro, ela
mostra coisa na internet... É, isso eu acho importante, por ser a paixão dela. Então, ela passa
aquilo pra gente, a gente vai gostar daquilo e vai se interessar mais pelo inglês. Eu acho que é
excelente também, isso...
Isabela: Você acha que funciona?
Miguel: Acho que funciona. Principalmente, por ser uma coisa que ela realmente é apaixonada.
Então, ela vai mostrar pra gente e a gente vai gostar. Acho que funciona, acho que é uma das
melhores... Acho que é uma boa didática. Igual, quando eu vou passar ciência pro pessoal, vou
falar de física com alguém, tem coisa que eu sei que todo mundo vai gostar. Eu acho que ela faz
isso, sabe. Ela sabe que todo mundo vai gostar, então ela passa aquilo.
Isabela: É, quando você foi falar do Tesla, você estava bem apaixonado.
Miguel: É, isso! Tem outras coisas também. Exatamente, tem coisa que eu tentei passar pro
pessoal, que eu sabia que o pessoal conhecia. Tanto é que o pessoal aqui conhecia, mas na hora
não lembrava o nome. Mas outra coisa: se eu for falar de física, eu vou falar, talvez, de
universo, de galáxias, de estrela. Todo mundo que ouvir isso vai achar interessante, que é uma
paixão minha. Eu falaria disso, pras pessoas irem atrás disso. Então, eu acho que ela faz esse
tipo de coisa: passa um filme e o filme é até simples de você entender a linguagem, mas que ela
gosta daquilo e acha que a gente vai se interessar. E a gente se interessa mesmo e vai ver o filme
que ela falou, ou livro também. Tiveram alguns livros que ela falou, que eu me interessei e fui
dar uma olhada. Ainda não peguei, mas gostaria de ler.
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Diego: Ela é mais dinâmica, eu gosto do jeito mais dinâmico que ela leva a aula. E também... É,
porque ela não fica seguindo a aula só com o livro, ela também traz coisas diferentes, culturais,
348
e que eu adoro! Bom, dá pra aprender muita coisa na aula dela, não somente de inglês, outras
coisas também, que ela traz de novidade.
Isabela: Você pode me dar um exemplo?
Diego: Por exemplo, ela já mostrou filmes pra gente- cenas, coisas assim- que eu gostei e depois
fui ver por fora; já mostrou músicas, que depois eu baixei no celular pra ficar ouvindo, porque
eu gostei.
Isabela: Legal. Então, você gosta dessas coisas além do livro.
Diego: Bom, é... Porque quando você tá aprendendo inglês, é legal você ver filmes em inglês
pra tornar seu vocabulário mais rico. Ela ajuda, ela incentiva isso de uma forma legal, sabe.
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Letícia: Ah, eu gosto bastante. A professora traz bastante material extra, não só... não usa só o
livro. Ela traz assuntos que sejam interessantes pra gente, que tem, sei lá, algo a acrescentar pra
gente.
Isabela: E por que você gosta desses materiais extra?
Letícia: Ah, porque...Primeiro, eu sinto que demonstra que ela, que ela... se preocupa com nossa
educação, não só simplesmente fica retida no livro e só passa o que tem que passar. E porque
são uns textos mais legais que os do livro (risos).
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Mariana: E também dos filmes, das músicas que ela traz, porque ela traz muita coisa que ela
gosta, né? E é legal, porque, quando ela vai apresentar, ela apresenta como ela vê aquilo e isso...
inspira! É engraçado... Eu gosto das coisas que ela traz!
• Diferentemente dos comentários acima, Maria diz não gostar das atividades com
filmes.
Isabela: E o que você acha dos materiais extras, essas coisas que ela traz a mais?
Maria: Bons! Sim... Tipo, a parte de... Só tem algumas folhas que eu não gosto, que é de filme,
eu acho...
Isabela: Ah é? Por que?
Maria: Ah, não me acrescenta nada, assim...
Isabela: Você prefere a parte de gramática mesmo?
349
Maria: Ah, é... Não sei, não vejo muito valor, assim. Só não acho útil, para mim não tem tanto
sentido. Não sei o que que é...
Isabela: Porque não é o seu foco...?
Maria: É, também acho que é isso.
Falas da professora sobre atividades de filmes, vídeos e música:
• Professora Lúcia comenta sobre o uso destes materiais em sua prática pedagócia
Isabela: Você até começou a falar de um dos pontos que eu tinha anotado aqui, que é isso, esse
repertório cultural. Você sempre fala de tanto livro, filme, de notícia... Eu ficava "nossa, quero
um dia saber esse tanto de coisa!" (risos).
Lúcia: Isabela, mas língua é cultura. Que cultura que eu vou trazer para meus alunos como
referência? Eu não jogo video-game. Até eu acho que é uma falha, porque video-game seria
muuuito interessante. Eu sei que tem video-games que são do universo da mitologia, de
universos históricos, então isso deve ser muito interessante. Mas eu ficar ali (faz mímica com as
mãos, de estar jogando video-game)... Nossa, eu ia perder do computador o tempo todo! Eu não
sou uma pessoa de jogos, assim...
É, mas que que você traz? Teve ano, na minha sala, que, assim, umas oito ou dez
pessoas falaram sobre o quanto o Harry Potter fez bem para a vida deles. Então, você tem que,
de algum modo, trazer algum tipo de cultura. Agora, isso é muito sério, porque... Um colega
meu disse outro dia "gente, eles não sabem mais quem é Bob Dylan". Não sabem, não sabem
mesmo. Você não viu? Não sabem que é o Amir Klink, alguns nunca ouviram falar no Emerson
Fittipaldi, né. Então, mas é isso... Você viu aquele garoto, o João? Eu tive que perguntar para
ele "mas você nunca ouviu falar no Emerson Fittipaldi?" "não, professora, nunca ouvi falar".
"Nunca ouviu falar no Amir Klink?" "Nunca ouvi falar". Mas eu vou dizer que esse menino não
sabe nada? Sabe muitas outras coisas! Mas para eu estar na sala de aula, eu, hoje, na minha
idade... existe um generation gap aí, Isabela, que, de algum modo eu não posso deixar
prevalecer na aula. Você concorda ou não?
Isabela: Como que você foi... Porque aí você tem, por exemplo, livros que você traz; teve aquela
vez que você pegou aquele texto no Instagram do 11 de setembro; alguns trechos de filme.
Como que você foi elaborando essas práticas? Porque você não para ali, só no livro.
Lúcia: Então, Isabela. Mas é essa passagem que precisa ser feita, eu acho. Entendeu? Essa
passagem, é... Isso é trazer a cultura. Então, tá, eu usei lá, como é que chama mesmo, "Eu antes
de você". É, assim, tá tão perto deles, tão perto deles! Eles precisam se tocar do inglês que tá tão
perto deles! Você vê... Você já teve aluno que fala que aprendeu inglês com Friends?
350
Isabela: Uhum, sim... Com video-game...
Lúcia: Com video-game... Então, você não pode dissociar isso da sala de aula, porque senão é
como se a sala de aula fosse... é, uma esfera... a esfera escolar, acadêmica, fosse completamente
dissociada das outras! Não é, né, Isabela. Você tá ali para voltar pro mundo, não é pra viver ali!
Não é?
Então, e essas questões de, por exemplo, o texto da Elizabeth Gilbert, né... O trecho lá...
a entrevista da Jojo Moyers, o trecho do filme estavam simplesmente mostrando "olha, aqui ó,
tá vendo? Ó, a Jojo Moyers está descrevendo as pessoas exatamente desse jeito, olha o que eles
estão fazendo". A unidade do livro que fala sobre free time activities, que não tem lá, mas que
todo livro tem, "aqui ó, as pessoas perguntam isso mesmo: O que que você faz?"
Então, eu acho que você rompe essa barreira que divide sala de aula do resto do mundo
e, se isso não for feito numa aula de língua, de linguagem, onde você vai fazer isso? Não é? Eu
sempre acreditei nisso.
• Fala da professora sobre filmes
Isabela: Você gosta bastante de cinema, né?
Lúcia: Eu gosto! Você não gosta? (risos)
Isabela: Mas você lembra tanto dos filmes!
Lúcia: É que eu acho que eu sempre assisto com cabeça de professora. Pense que eu tô
ensinando há muitos anos. E não tinha série, porque hoje você pega uma série, ela tem uma
história e ela tá aí na Netflix, pra quem quiser. Então, tinha que ser segmentos de filme mesmo.
Isabela: Você usa bastante...?
Lúcia: Já usei mais, já usei mais. Por exemplo, o Midnight in Paris, é uma aula de cultura do
século XX, né. E tem outras coisas que eu gosto de mostrar, mas que às vezes não posso nem
mostrar, porque não faz muito sentido... Mesmo sendo antigo, mesmo tendo hoje referência...
Nossa, eu fiquei tão impressionada de eles dizerem sobre o filme "As vantagens de ser
invisível", você já assistiu? Né, não esperava que fosse surgir... várias pessoas que tivessem
gostado do filme. E a música Heroes, que eles cantam no filme, é do David Bowie, né, é uma
música dos anos 80. Então, essa coisa do que é fora, do que tá dentro, que referência que vale a
pena mesmo, que referência que não vale...
Isabela: Acontece muito de você levar filmes que eles ainda não conheciam?
Lúcia: Ah, às vezes acontece... É, aquele filme, que eu comecei a mostrar, depois eu parei, "O
primeiro ano do resto das nossas vidas", que é bem anos 80. Eu acabei desistindo, eu achei que
351
ia ser muito desafiador... Mas, então, eu procuro ver o que eles estão vendo, né. "As vantagens
de ser invisível" e a música "Heroes", eu acho que caiu, assim, como luva. Então, assim, eu
assisto filme que tá saindo, ou série também. Mas, por exemplo, eu não vi Black Mirror ainda,
eles me sugeriram que visse, eu não tive coragem ainda. E outro que eu não vi ainda foi, ah,
aquele que eles falaram sobre a Segunda Guerra, "Até o último homem". Eles foram unânimes
em dizer "o filme é bom" e eu fui ver, parece que o filme é bom mesmo. É um médico que é
contra matar e ele vai para Segunda Guerra, e ele salva não sei quantas pessoas... Foram eles
que me disseram.
• Comentário sobre ter conhecimentos de diversas áreas:
Lúcia: Então, por isso, por isso que eu tenho essa... E, ô Isabela! Além disso, eu tenho 64 anos,
né! Eu já andei muito na vida, né (risos)! Então, você vai adquirindo... Eu leio jornal, eu assinei
o New York Times... Agora não tô assinando, mas assinei por muitos anos e agora vou voltar a
assinar. Então, você vê: assino Technology Review, que tem a tecnologia de ponta do MIT;
assino o New York Times; leio outras revistas. Então, você...
352
Material “Film scene- St. Elmo’s Fire”
353
Material “Film scene- St. Elmo’s Fire”
354
Material “Entrevista com Jojo Moyes e cena de um filme”
355
Material “Entrevista com Jojo Moyes e cena de um filme”
356
ANEXO 10
Atividade: Avaliação
Descrição: Foram realizadas, ao longo do semestre, três atividades de avaliação: duas provas
escritas e uma apresentação oral. Nesta seção, encontram-se detalhes de cada uma destas
atividades, além de comentários dos estudantes sobre as formas de avaliação e feedback.
• Midterm exam: A avaliação da primeira metade do semestre foi realizada na 10ª
sessão, no final de setembro. A data da avaliação estava agendada desde o início do
semestre e, próximo à data da prova, a professora conversou em sala sobre os conteúdos
que seriam cobrados e também postou esta informação na plataforma virtual. Na aula
seguinte à prova, a professora levou os exames já corrigidos e fez uma correção em
sala, clareando dúvidas e fazendo comentários sobre a avaliação. O exame encontra-se
anexado ao final desta seção.
• Final exam: A avaliação final foi realizada na 22ª sessão, no final de novembro, e,
assim como a anterior, havia sido agendada com antecedência. Na 24ª sessão, último dia
de aula, a professora levou as provas corrigidas e fez a correção em sala. A prova
encontra-se anexada ao final desta seção.
• Apresentação oral: Além das provas escritas, os estudantes fizeram, individualmente,
uma apresentação oral. Cada estudante deveria escolher um tema e a professora sugeriu
que eles se baseassem em reportagens do site Voice of America, pois lá eles poderiam
ouvir (e, desta forma, praticar) sobre o assunto que iriam apresentar. A professora
estabeleceu uma data limite para que todos enviassem os temas sobre os quais falariam
e também mostrou aos estudantes uma tabela com os pontos que ela avaliaria na
apresentação. Além disso, a professora solicitou- e recomendou- que todos os
estudantes enviassem a ela um texto contendo sua fala, assim ela poderia corrigi-lo
previamente e os estudantes poderiam se preparar melhor para o dia da apresentação.
Alguns estudantes enviaram o texto da fala para correção prévia, outros não. As
apresentações foram realizadas nas sessões 21 e 23. Na sessão 24, a professora deu
feedback individual, para cada estudante, sobre as apresentações. O material utilizado
pela professora para avaliação encontra-se anexado ao final desta seção.
Falas dos estudantes sobre avaliação:
• Comentários sobre a avaliação escrita (Midterm e Final Exam):
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Ana: As provas da Lúcia também são bem coerentes, bem tranquilas, se você prestou atenção
nas aulas, você consegue fazer bem.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E o que você achou da prova? (O estudante tinha acabado de fazer a prova).
Diego: Ah, tava bem coerente com o que ela deu. Entretanto... É que no Inglês passado, ela
passou muito mais exercício no Ensino Aberto, pra gente fazer. Lembro que eu fiz todos e eu
consegui ir bem na prova, porque eu fiz aqueles exercícios. Ela não passou tanto dessa vez,
então eu pesquisei na internet.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Como foi a prova? (A estudante havia acabado de fazer a prova)
Carolina: Eu achei meio extensa, assim, né... Mas eu gostei do que ela pediu, Era o esperado,
assim, ela sempre cobra esse mesmo modelo de prova e eu acho muito bom, porque engloba
tudo, né?... Desde o vídeo, gramática, tudo... E a gente fica bem à vontade pra montar frase,
então não fica restrito a um vocabulário.
Isabela: Ah é, não é seguindo um modelinho, né?
Carolina: É, você pode montar à vontade, desde que você siga... a gramática, né, de acordo com
o que se pede.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E o que você achou da prova? (Estudante havia acabado de fazer a prova)
Letícia: Achei longa! Muito longa... Geralmente as provas são assim: são fáceis de responder,
mas... muito extensa.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Bom, e aproveitando a oportunidade hoje, que teve a correção da prova... O que você
achou da avaliação?
Miguel: Então, a prova, eu achei que foi grande. Foram dois textos grandes, eu achei... não deu
tempo de eu ler tão bem, sabe? Uma coisa que eu acho que, toda vez, eu erro: pegar o texto
desde o começo e ler, e depois ir fazer as questões. Eu acho que isso faz eu perder muito tempo,
porque parece que as questões são na ordem do texto. Eu devia ter dado uma olhada nas
questões e depois ir seguindo no texto. Eu acho que não deu tempo de fazer muita coisa. Então,
achei que foi uma boa avaliação, mas talvez muito grande. Acho que... acho que talvez eu
precisava, desde o começo, ter feito mais rápido. Então, eu me enrolei e não deu para fazer
358
várias coisas. Mas não acho que seja o nível mais difícil, não, achei que foi de acordo com o
nível da sala mesmo.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Entendi. E o que você achou da prova?
Jéssica: Ah, eu achei bem coerente com o conteúdo que ela tava passando. Eu achei longa, mas,
de certa forma, é bom, né. Porque, se você faz um errinho aqui, você tem o resto da prova para
se recuperar...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E o que você achou da avaliação?
Giovana: Da prova? Eu achei ela bem grande! Eu olhei aquele livrinho, eu falei "Meu Deus do
céu!". Mas não foi nada além do que ela já tinha falado. É que realmente foi bem trabalhosa. E
eu, particularmente, não funciono muito bem à noite, porque eu acordo cedo e não paro. De
terça e quinta ainda são os piores dias! Mas é isso... Depois que ela entregou a prova corrigida,
eu vi vários erros de cansaço, sabe? Que você não presta atenção. Mas eu ia fazer o quê, né? De
quinta ainda é o pior dia, porque, além de ser um dia puxado, já tá no final da semana. Teve um
dia que eu tava tão cansada que eu encostei assim, a cabeça na parede. Aí ela falou "A Giovana
tá bem cansada hoje..." e eu fiquei "é, tô bem cansada..." (risos).
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: O que você achou da avaliação?
João: Achei bem coerente. Ah, eu fui bem. E, não tem o que falar, achei que tava bem coerente.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E o que você achou da avaliação?
Rodrigo: Ah, achei bem coerente até. Ela deu uma prova que ela passou na sala e, em relação à
prova mesmo, que a gente fez escrita, achei coerente. Mas é que vai ter outras avaliações
também, acho que apresentação, não sei se ela avalia outras coisas
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Entendi... E o que você achou das formas de avaliação?
Joyce: Ah, eu achei a prova muito longa. Nossa, muito, muito longa. Muito cansativa. Tipo, o
texto também era muito longo. E eu não sei, acho que dá para ser mais objetivo na hora de
avaliar e não precisava...
359
• Comentários sobre a correção e feedback da avaliação escrita
Isabela: E o que você achou da correção?
Miguel: Ah, eu achei... achei perfeita. Foi bem feita a correção. Porque eu errei e pensei “ah,
isso aqui não parece que tá errado”, aí ela explicou e eu entendi. A questão do ‘how many
years’, que eu usei, e é ‘how long’, então eu já fui olhar e vi que é um erro comum, que aparece
muita gente perguntando, no Google, o que é melhor usar. Talvez também, na pergunta,
esquecer de colocar o verbo antes do sujeito. Acho que isso é um erro comum, que eu vi que fiz
de novo e, toda vez, se eu não presto atenção, eu acabo fazendo.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Você gostou da correção que ela fez depois?
Jéssica: Uhum!
Isabela: Deu para entender?
Jéssica: Sim, achei bem coerente
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Mas você gostou da correção da prova?
Giovana: Gostei, gostei. Teve uma do... Acho que ela foi bem justa, sabe? Teve várias que... E
foi super boazinha também! Teve várias questões, por exemplo, que... Tinha uma questão lá que
era pra elaborar questões e eu não tinha prestado atenção! Eu não li, eu não sei o que aconteceu.
Acho que eu não li o enunciado e eu fiz afirmações. E ela ainda deu, tipo, um ponto para cada,
sabe? Tudo bem que valia três, mas qualquer outro professor poderia dar zero, porque não foi
isso que ele pediu. Eu achei ótimo.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------Isabela:
E o que você achou da correção da prova?
Rodrigo: Ah, achei tranquila. Assim, não tem muito o que falar...
Isabela: Isso de ela ter corrigido a prova em sala, ter feito os exercícios em aula...
Rodrigo: Eu acho importante até.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: E a forma de ela corrigir, dar o feedback?
360
Joyce: Ah, ela foi super rápida para corrigir, né. Então, isso foi bom. Eu achei que ela foi bem
coerente, assim, e que ela considerou bastante coisa. Isso foi muito bom. Embora ela tenha dado
uma prova bastante extensa, eu acho que ela teve consciência disso e ela... acabou relevando
mais algumas coisas, sabe? Não que ela tenha facilitado, mas ela considerou, sabe?
Isabela: Aham. E o que você achou de ela ter feito essa correção na sala?
Joyce: Ah, tá. Isso foi legal. No começo, eu fiquei um pouco com vergonha, porque ela
comentou os erros. Só que... Eu até fiquei um pouco intimidada, pensei "ai, meu Deus. Ela vai
falar algum erro besta meu". Só que, eu não sei... Eu sinto que o pessoal na sala é muito
confortável, em errar, sabe? Até tinha uma menina que tinha falado para mim que é bastante
tímida e que às vezes ela não tem coragem de falar nos lugares e que aqui ela não sentia isso. E
eu acho isso bem legal, assim. Parece que ela deixa bastante gente confortável, sabe? Quando
ela apontou um erro, alguma coisa, não era no sentido de ridicularizar, nem nada. Era uma coisa
que alguém mais podia cometer, só que de um jeito natural, sabe? Então eu achei isso legal.
• Ana e Isadora conversam sobre o Midterm Exam (quando a devolutiva da
avaliação já havia sido feita)
Ana: Foi uma coisa que eu percebi: no semestre passado, eu sempre fui a primeira a terminar a
prova. Tipo, dava sete horas e eu tava entregando a prova. Quando eu entreguei e peguei e meu
celular e vi que era dez pras oito, eu fiquei "Meeu Deus!". Essa prova demorou muito!
Isabela: É foi bem comprida mesmo... Você ficou até o fim também, né? (perguntando para
Isadora)
Isadora: Eu saí era oito e cinco. Quando eu saí, peguei o celular e era oito e cinco.
Ana: Mas acho, não sei, eu gostei da prova. Apesar de ela ter sido longa, ela fez bem mais você
pensar e tudo mais...
Isadora: Ah, sim. Com certeza!
Ana: ... do que só aquela coisa mecânica "ah, complete aqui".
Isadora: É, toda prova é isso, né? "Ah, bota aqui". Eu gostei dos temas e da correção dela.
Gostei bastante.
Isabela: Porque que você gostou da correção?
Isadora: Porque ela... Eu faço aqui no CEL, o inglês, desde o semestre passado. Com outro
professor, que nossa, eu odiava.
Ana: Era o (nome do professor)?
361
Isadora: É...
Ana: Ah, também fiz com ele...
Isadora: E qualquer coisinha, se você esquecesse de botar um 's' no final, era zero. Sabe, ele
desconsiderava! Ela, pelo menos fazendo assim, não sei, motiva o aluno! "Ah, eu vou me deixar
um pouquinho mais! Poxa! Vou prestar atenção"... Sabe?
Isabela: Ah, que ela dá meio certo, né...
Ana: Porque se você pegar, tipo... Ela pediu um exercício para você fazer orações com ''if", as...
First Conditional... Se você acertou o verbo, acertou o "if", ela já dá certo. Agora, se você errou
uma coisinha, ela não vai... porque o que ela tava pedindo era o tipo de oração.
Isadora: E eu gostei, porque, nessa prova, em momento algum me passou "Present Perfect" na
cabeça. Porque a gente tá acostumada '"ah, complete com Present Perfect ou Simple Past"... Em
momento algum perguntou... Aí, aquela de formular questões, eu agarrei ali, mas saiu. Mas não
usei o Present Perfect... Eu achei interessante, porque faz realmente a gente pensar "poxa,
poderia ter usado" "olha, aí que tava a situação para usar". Ou seja, eu não aprendi! Tem que
rever (risos). Porque se eu não botei na prova...!
Isabela: (risos) Mas aquela da experiência, você não usou?
Isadora: Qual?
Isabela: De falar da sua vida, o que que mudou...
Isadora: Gente, juro que não.
(Isabela e Ana riem)
Isadora: Porque eu falei: no passado eu era assim, hoje eu sou assim. E eu acertei a questão
toda...
Ana: Ah, na hora que eu fui copiar, eu percebi que eu usei uma oração com o Present Perfect, o
resto tava tudo no passado ou no presente. E dava para dar um...
Isadora: É!! Foi bem isso aí! E essa questão eu não errei nada, nem uma palavra nem nada, e
ela deu ponto cheio.
Isabela: Mas foi legal também ela corrigir a prova toda, né.
Isadora: Foi bem legal...!
Ana: Foi legal que ela corrige, ela fala como era para ser feito, ela pergunta se alguém tem
alguma dúvida...
362
• Michael dá sua opinião sobre as formas de avaliação utilizadas pela professora
Isabela: E o que você acha da aula?
Michael: Ah, eu gosto bastante. Eu gosto... dos métodos avaliativos dela principalmente, porque
ela não leva em consideração só a prova, ela leva em consideração outros tipos de trabalhos,
outros tipos de metodologia. E eu gosto da transparência dela no que ela cobra da gente. Ela fala
exatamente o que ela vai cobrar e, depois que ela corrige, ela mostra pra gente o que ela
esperava da gente. E as atividades que ela desenvolve na sala, eu gosto da maioria delas.
Isabela: Você pode dar algum exemplo dessa questão da avaliação que você falou?
Michael: Por exemplo, na questão dos seminários, ela dá a liberdade para a gente escolher o que
a gente quer apresentar e ela fala "Independente do que você escolher, eu vou cobrar isso, isso e
isso". E depois que ela dá a nota, ela mostra gente no final e fala "Eu dei tal nota aqui na
questão de...", por exemplo, fluência... "porque você parou, você pensou, você trocou algumas
palavras". Ou em questão da escolha do modo como você apresenta os slides, ela também diz o
porquê que ela tirou nota. Isso eu gosto bastante, não é só a nota pela nota; é a nota mostrando o
que ela esperaria. Isso é legal.
Isabela: Você consegue aprende nesse processo?
Michael: Uhum... Eu acho legal, porque você o que ela esperava, o que você esperava da
apresentação e até onde você conseguiu ir. Você consegue fazer essa comparação e ter um
feedback pessoal de como você tá indo.
• Comentários sobre a apresentação oral
• Maria e Giovana comentam sobre a preparação para a apresentação
Isabela: E você já decidiu seu tema da apresentação?
Maria: Uhum. Então, eu não sabia do que eu ia falar e eu precisava escolher um tema para a
apresentação de alemão também- que foi hoje, aliás. Então, eu queria escolher um tema que eu
conseguisse montar os dois já, porquee... eu preciso ser prática! Não dá para ficar inventando
cada apresentação um tema. Aí, eu vi lá no site, era um título falando que os imigrantes, ou
refugiados, estão aprendendo os costumes dos países para onde eles vão. Aí, eu criei, antes de
ler, eu já criei a expectativa de que o texto ia falar de, sei lá, perda de identidade, questões de
refugiados... Já inventei todo um negócio! Aí, quando eu li, eu vi que eram uns exemplos bem
363
toscos, eu não gostei tanto do texto. Só que como eu posso pegar o texto só para me basear, eu
falei "ah, vai ser esse mesmo". Daí eu vou falar sobre refugiado, imigrante, essas coisas. Eu só
não sei ainda para que lado eu vou levar... Eu queria levar pro lado de perda de identidade,
porque a gente já falou bastante aqui de costumes. Só que eu fui tentar levar para esse lado para
apresentação de alemão e não deu tempo! E eram 12 minutos, a de inglês é 7! Então, não vai dar
tempo. Aí eu ainda não sei o que que eu faço, só sei que o tema vai ser esse.
Isabela: E foi tudo bem na de alemão?
Maria: Uhum... Eu tava muito nervosa (risos). Aí a professora falou "fala mais devagar". Eu já
não gosto de falar, em outra língua então...
Isabela: E a Lúcia mostrou o que ela vai avaliar da apresentação, né? O que você achou?
Maria: Ah, achei bom. Achei bom. É bom você saber para se preparar melhor no que você vai
ser avaliado. Ah, achei coerente. Por exemplo, a de alemão, eu não sei. Não tenho a mínima
ideia, eu só sabia que podia escolher qualquer tema e que tinha que ser em 12 minutos. Então,
foi bom ela ter mostrado.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Isabela: Você vai fazer sua apresentação sobre o quê?
Giovana: É sobre college admissions, tipo, os diferentes modos de entrar na universidade.
Isabela: E ela mostrou o que ela ia avaliar na apresentação, né? Isso te ajuda, te atrapalha...?
Giovana: Ah, não lembro direito, mas acho que tinha bastante coisa... Acho que eu não me
importei tanto, me importo com falar direito! Isso me deixa nervosa... Será que ela vai fazer
pergunta? Ela não fez, né...
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
• Joyce comenta sobre a apresentação oral, logo após ter realizado a sua.
Isabela: Então, você achou que você tava nervosa?
Joyce: É. Eu queria escolher outro tema, parece que esses temas são muito bobinhos. Aí eu quis
trazer um tema que parecesse mais, sei lá...
Isabela: ....sério...
Joyce: ....construtivo. É! (risos)
Isabela: Entendi. Mas você estudou alguma coisa com bambu?
364
Joyce: Eu faço Engenharia Química, mas é que, como eu participei desse workshop de bambu,
aí eu pensei "ah, dá pra fazer um link com a Unicamp, porque tem essa estrutura e tem o pessoal
do laboratório que estuda o bambu como estrutura". Aí, eles fizeram um workshop para alunos
de ensino médio, para aprender a construir algumas coisas, sabe. E foi bem legal. Aí, eu tava
numa bolsa trabalho que podia acompanhar, aí eu fui. Foi bem legal
Isabela: Legal... Mas você gostou da experiência de apresentar?
Joyce: Uhum. Só que eu não sei se eu tenho que treinar mais, ou se eu tenho que falar mais
inglês no meu dia a dia. Acho que falta um pouco disso. Para eu não me sentir... Ou é porque é
coisa diferente, né, que você não tá...
Isabela: É, você falou que foi a primeira vez também, que você apresentou em inglês. Mas para
apresentar em português você fica nervosa?
Joyce: Não, eu sou de boa! Nossa, de boa. Mesmo que seja na frente de trezentas pessoas...
Isabela: Então, acho que a segunda vez que você for apresentar em inglês, você vai ficar de boa
também... (risos)
Joyce: (risos) Aaaah, não sei, não!
(...)
Joyce: Então, eu não sou muito fã de apresentar assim sobre temas aleatórios. Ela falou que a
gente podia escolher um tema, mas que ela recomendava que a gente usasse os artigos. Eu
demorei para achar alguma coisa que eu achasse interessante nos artigos. Mas eu não me senti
muito aberta a poder escolher realmente o que falar. É uma prova... Tem que acontecer, né?
Para poder avaliar. Não dá também para ela parar e fazer uma prova individual com cada pessoa
e eu nem sei se isso seria bom também. Acho que talvez podia ter tido mais liberdade para
escolher o tema.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
• João também comenta sobre a apresentação oral.
João: A apresentação eu acho legal, porque falar em inglês pro público, eu acho uma
experiência legal. Só fiz isso uma vez.
Falas da professora sobre avaliação:
Isabela: A última coisa que eu queria perguntar é sobre a avaliação...
Lúcia: Da minha prova, da última prova, que deixou todo mundo de cabelo em pé.
365
Isabela: (risos) Não, do processo todo... Achei bem completo, e os alunos falaram também, que
gostavam da prova, porque eles podiam criar, não era só "complete aqui"...
Lúcia: Ah, eles falaram isso?
Isabela: ... como que você foi construindo esse processo? Como você entende a avaliação?
Lúcia: Olha, se você olhar para a minha prova, você vai ver que ela é exatamente isso que eu
penso do ensino. Né... Eu podia dar uma prova de gramática. Mas não é isso que eu faço! A
gramática, ela faz parte. Então, se você olhar, a tarefa de leitura, foi... as coisas não estão fora de
contexto, é isso que eu quero te dizer. Vou dizer que hoje eu consigo fazer isso melhor do que
eu já fiz no passado, mas hoje também tô mais tranquila, porque o livro é assim. Espera só um
pouquinho, vou pegar o livro didático antigo para te mostrar.
(...)
Isabela: Bom, e aí, sobre a avaliação...
Lúcia: Avaliação! Desculpa, Isabela! Então, é por isso a avaliação, eu procuro, eu tento
contextualizar. Mais ou menos o que eu fiz na aula, eu tento fazer na prova também. Se você
olhar, as tarefas da prova não são muito diferentes das tarefas que a gente fez em aula. Ou você
achou?
Isabela: Não, não achei.
Lúcia: Você viu que eles reclamaram? Mas depois eles foram bem.
Isabela: Reclamaram do tempo, né, parece que foi isso...
Lúcia: Foi, foi isso, que duas horas foram pouco, não foi tempo suficiente. Mas deu, deu... Eles
reclamaram do tempo, porque se sentiram inseguros em relação ao que fazer na prova. Aquela
coisa, vou dar mais do mesmo? Se eu quero verificar a capacidade deles inferirem uma palavra
de um contexto que já foi discutido e usado em sala de aula, eu vou dar exatamente as mesmas
palavras? Não faz sentido, não é aula de Cálculo, sei lá... Então, é isso, eu procuro fazer na
prova, o que eu fiz em aula.
Isabela: E, para você, o que significa avaliar?
Lúcia: O que significa avaliar? Em avaliação de sala de aula, é... Avaliação de sala de aula
significa saber em que medida o conteúdo- que a gente tem que falar em conteúdo, não adianta,
se é avaliação de sala de aula- o conteúdo programático que a gente trabalhou em sala pode ser
usado em contextos muito parecidos aos quais eles foram expostos, não exatamente os mesmos,
mas... Tipo assim, você vai conseguir transferir esse conhecimento? Você vai conseguir
demonstrar que você tem esse conhecimento? Em que medida você tá conseguindo isso? Na
366
verdade, é mostrar que você adquiriu determinado conhecimento, seja ele de linguagem, seja ele
linguístico, ou de uso de língua em contextos diferenciados. Nisso eu não posso me distanciar
muito do livro didático, porque, a gente queira ou não, não é curso livre línguas, é uma
disciplina do catálogo de graduação e tem impacto na nota deles, no coeficiente de rendimento
deles. Então, eu avalio, é avaliar o conteúdo mesmo, mas de acordo com a metodologia que a
gente usou, sem ignorar essa metodologia e esses princípios que nortearam a prática de sala de
aula durante todo o semestre. Fez sentido pra você?
367
Midterm Exam
368
Midterm Exam
Final Exam
369
Final Exam
370
Apresentação Oral
371
ANEXO 11
Caracterização da professora
Neste anexo estão reunidas falas dos estudantes a respeito da professora Lúcia,
isto é, trechos de entrevistas em que eles a caracterizavam. Estes trechos não se referem
a atividades de ensino específicas, mas descrevem a postura, o humor e traços da
personalidade da professora, conforme foram percebidas pelos estudantes ao longo do
curso.
Diego (21-09-2017)
Isabela: Qual sua impressão sobre a professora, parece que ela gosta de dar aula?
Diego: Acho que ela gosta muito. Quando eu tava escolhendo professor, pra fazer o
Inglês III, eu lembro que eu perguntei pra... Na época, eu trabalhava aqui, né. Eu
perguntei pro meu orientador daqui se ele conhecia a professora Lúcia, que eu nunca
tinha ouvido falar. Aí ele falou que era uma professora, que tá... Esqueci o nome, que é
quando você se aposenta, mas você dá aula...
Isabela: Professor colaborador?
Diego: Aí eu já fiquei surpreso só de existir isso, porque alguém que faz isso deve
gostar muito de dar aula. E, pelas aulas dela mesmo, eu consigo perceber que ela adora
dar aula. Tanto que ela fica explicando as coisas, eu fico olhando, assim, com um
sorriso, que às vezes ela para, pensando que eu tô querendo falar alguma coisa. Só que
tô só admirando, parece que ela tem um amor pra dar aula, sabe. Ela consegue fazer isso
bem por gostar, eu percebo.
(...)
Diego: Sim, eu adoro o bom humor dela, que... Todo dia ela tá de bom humor! Acho
isso muito bacana, porque, com alguns professores, a gente não tem tanta, tanta... Qual a
palavra que posso dizer? Fica com receio de falar alguma coisa errada, pra falar... Acha
que tá certo, mas o professor corrige de uma forma “deseducada” e você fica um pouco
reprimido por isso. Mas a Lúcia consegue corrigir a gente de um jeito bem humorado e
tranquilo, sabe, de um jeito bem agradável.
372
Carolina (21-09-2017)
Ah, ela é muito atenciosa, ela tira as dúvidas, ela passa vídeo, ela explica... Eu gosto
bastante.
Maria (31-10-2017)
Maria: Ah, ela é bem paciente. Tipo, ela vai atrás de mostrar as pronúncias, de ver se o
que ela tá falando é realmente certo, essas coisas... Ela gosta que os outros participem...
Eu só acho que ela demora um pouco para entender o que a gente fala, sabe? Quando a
gente fala em inglês. Tipo, às vezes eu acho que ela não ouve mesmo, mas aí deixa a
pessoa um pouco insegura, sabe, para falar de novo. Porque dá impressão que a pessoa
tá falando errado e não que ela não ouviu. Entendeu?
Isabela: Entendi. Mas você acha que ela gosta de estar ali?
Maria: Sim, sim! Bastante! Tipo, ela podia não estar ali. Ela gosta muito. Ela já falou
que ela é aposentada, né, e isso ficou na minha cabeça. E ela falou que vai continuar ano
que vem... E ela traz essas coisas extras, e eu não acho que é todo professor do CL que
fazem isso. Ahm, que mais? Ah, é isso.
Francisco e Isadora (07-11-2017)
Francisco: A Lúcia? Nossa, eu gosto muito do jeito que ela dá aula e do jeito que ela é
com os alunos. Ela é muito receptiva, né. E é muito... Assim, você pode conversar com
ela sobre... Sei lá, por exemplo, se você precisa de alguma coisa relacionado à aula, ou
relacionado a uma falta, sei lá, ela tá aberta a discutir sobre aquilo... Entendeu? Que
nem a gente, a gente tem muito trabalho de campo, né. A gente passa, às vezes, a
semana inteira fora. Igual semana que vem, que a gente vai passar a semana inteira
fora... Então, ela já aceitou isso, entendeu? Ela tem muita conversa... Se fosse, por
exemplo, o professor X lá, ele ia falar que ia dar falta do mesmo jeito e que, sabe, não é
problema dele. Mas ela não, ela é bem receptiva. Eu gosto...
Isadora: Eu gosto do jeito como ela se comporta com os alunos. Porque com esse outro
professor era bem, tipo, uma hierarquia, sabe? Eu não me sentia bem! Eu me sentia
muito mal. Eu ia passando mal pra aula dele! Pra aula dela, eu gosto! Eu gosto muito
dela, ela é super amorzinho. Quando eu tenho que falar alguma coisa, ela é bem
receptiva. Eu gosto bastante dela. Assim, mas eu acho que poderia forçar um pouquinho
mais ainda.
373
Rodrigo (09-11-2017)
Rodrigo: Ah, eu gosto bastante dela! Eu acho ela bem animada, que gosta do que faz,
assim... que entende do que faz! É...
Isabela: O que te faz pensar isso?
Rodrigo: Ah, entender, a gente vê que ela entende, né. Ela explica a matéria, explica
tudo... Quando ela tem dúvida, o que é normal, ela vai, procura na internet e põe para
todo mundo ver, acho importante isso também. E, que ela gosta, tipo, só de ela ser
voluntária, pelo jeito que ela falou... E ela chega maior animada aqui! Então, já dá uma
animação também, sabe?
Giovana (10-11-2017)
Isabela: Sei... E como você caracterizaria a professora?
Giovana: Caracterizaria a professora... Uhm, eu acho ela muito... Eu gosto bastante dela.
Eu acho ela bem empenhada, assim, sabe? Se tem alguma dúvida que ela não sabe
sanar, ela pesquisa. Daí na próxima aula, ela já volta com a resposta, tal... Eu acho ela
bem empenhada. Eu gosto disso.
Isabela: E você tem impressão de que ela gosta de estar ali ou...
Giovana: Uhum! Bastante! Até porque ela não é obrigada, né. Ela já se aposentou e tal...
Eu acho que ela gosta mesmo.
Andressa (14-11-2017)
Isabela: Como você caracterizaria a Lúcia?
Andressa: A Lúcia? Elegante (risos). Mas eu acho que é uma professora muito... Ahn,
eu acho a professora Lúcia muito cuidadosa, bem cuidadosa.
Isabela: Como assim?
Andressa: No trato. Bem cuidadosa no trato. Ela toma muito cuidado com as palavras,
sabe? Acho que ela é experiente, acho que ela tem experiência. E, se talvez eu tivesse
aula particular com ela, seria perfeito.
Isabela: Por quê?
374
Andressa: Porque a atenção dela seria toda minha. E eu me abriria para o que ela pode
oferecer e ela poderia focar atenção em mim. Porque como são bastante alunos, existe
uma... É um pouco destoado a atenção... É normal, né.
Isabela: Qual sua percepção sobre a relação dela com a profissão? Com dar aula, com o
conhecimento...
Andressa: Cara, acho que ela gosta muito do que ela faz. Ela deve gostar muito, sério.
Laís (16-11-2017)
Laís: Ela é muito atenta com a gente. Ela é preocupada em conhecer cada um, cada
indivíduo. E, eu não sei se é percepção, mas eu sinto que ela busca trabalhar com as
dificuldades. Então, as pessoas que menos falam, ela sempre pede para falar... Então,
acho que ela é bem atenta com o individual de cada aluno.
Isabela: Entendi. Como você sente isso com você?
Laís: Nossa, que difícil! Ah, ela sempre comenta algum assunto que ela sabe que eu
conheço, retoma comigo... Pede para eu falar... Acho que é mais nesse sentido.
Joyce (16-11-2017)
Joyce: Ah, sei lá, eu falaria que ela é simpática, que ela... Que ela gosta de... Que ela
gosta de saber da gente, sabe? Ela gosta de saber. Ela parece que gosta conhecer os
alunos.
João (23-11-2017)
João: Uhum, entendi. É, eu acho que ela cativa bem os alunos.
Isabela: Por que você acha isso?
João: Ah, sei lá... Ela demonstra ter interesse em você e acho que, assim, você acaba
pegando um interesse a mais. Por exemplo, eu deixei de faltar muitas vezes por causa
dela. Não por causa da matéria, sabe? Porque, tipo... Às vezes eu tava cheio de coisa
para fazer e falei "ah, não. Vou no inglês". Porque a pessoa... até porque ela já tá
aposentada, né? Ela vem aqui só pra dar aula para a gente! E acho isso super legal.
Isabela: Ah, é bom ter essa motivação, né. Com tanta coisa para fazer na gradução...
375
João: É! Tanto é que eu comecei a fazer francês lá no... Como é o nome? Aquele
projeto...
(...)
João: Só que eu chegava na aula e ficava assim ó... (faz uma expressão facial e corporal
de cansaço). Eu tava num semestre de Física III, era muita coisa! Aí eu chegava
exausto, aí a professora também não era tão motivada... Aí, eu acabei faltando um
monte! Aí, eu ia pra aula e também não entendia mais. Daí, acaba desistindo.
Isabela: Então, você falou "vem mais por causa dela". Mas por causa dela pessoa ou da
aula?
João: Ah, dos dois. Tipo, um para valorizar ela, outro, porque eu acho que vale a pena
estar aqui. Pra ver o que ela tem para acrescentar.
376
ANEXO 12
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Afetividade e ensino de língua inglesa
Isabela Ramalho Orlando
Sérgio Antonio da Silva Leite (Orientador)
Número do CAAE: 69384017.1.0000.5404
Você está sendo convidado a participar como voluntário de uma pesquisa. Este
documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos
como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com o pesquisador.
Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se
houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou outras
pessoas antes de decidir participar. Não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo se você
não aceitar participar ou retirar sua autorização em qualquer momento.
Justificativa e objetivos:
Este projeto tem como objetivos: a) identificar e analisar práticas pedagógicas de um
professor que facilitam o movimento de aproximação afetiva dos estudantes com a língua inglesa; b) descrever o processo de constituição do professor, por meio da identificação dos
mediadores que possibilitaram tal processo.
Busca-se assim contribuir para o entendimento da dimensão afetiva no processo de desenvolvimento humano, bem como para o ensino de língua inglesa.
Procedimentos:
Participando do estudo você está sendo convidado a conceder entrevistas sobre sua formação como professora e a ser vídeo-gravado em suas participações durante a aula.
As gravações ocorrerão pelo período de três meses, duas vezes por semana, no espaço
do Centro de Estudo de Línguas da UNICAMP. As entrevistas ocorrerão em horário e local agendados conforme sua disponibilidade e de maneira que o procedimento seja mais cômodo
para você. Serão realizadas três entrevistas com duração aproximada de uma hora, que serão
áudio-gravadas.
As gravações (de vídeo e áudio) serão armazenadas no computador da pesquisadora pelo período de cinco anos após o término da pesquisa e então será descartado.
Desconfortos e riscos:
Não há riscos previsíveis relacionados a sua participação nessa pesquisa além do
possível desconforto durante as vídeo-gravações das aulas. Quanto a isso, a confidencialidade
dos vídeos e de sua identidade é assegurada pela pesquisadora. Além disso, você poderá solicitar a interrupção das gravações ou de sua participação da pesquisa a qualquer momento,
sem que haja qualquer ônus em sua relação com a pesquisadora ou com a instituição em que
estuda.
Benefícios:
Não há benefícios diretos para os participantes dessa pesquisa. O benefício (indireto)
relacionado a sua participação nessa pesquisa será o de contribuir para o aumento do
conhecimento científico na área de Afetividade e de Ensino de Língua Inglesa
Acompanhamento e assistência:
377
A pesquisadora estará disponível para assistência e acompanhamento durante a
pesquisa, caso haja necessidade, por meio do contato encontrado ao final desse documento ou durante dos encontros.
Sigilo e privacidade:
Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma
informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. Na
divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado. Os vídeos gravados durante a
pesquisa serão vistos somente pela pesquisadora e seu orientador e serão apagados após cinco anos do término da pesquisa.
Ressarcimento e Indenização:
O(A) Sr(a) não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras ao participar
dessa pesquisa O estudo será realizado durante sua rotina, já que corresponde ao horário de sua
aula de inglês. Você terá a garantia ao direito a indenização diante de eventuais danos decorrentes da
pesquisa.
Contato:
Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com os
pesquisadora Isabela Ramalho Orlando:
Endereço: Rua Francisca Resende Merciai nº 07, apartamento 08- Barão Geraldo- Campinas/ SP- CEP: 13084-195
Telefone: (19) 982578693
E-mail: [email protected]
Você poderá também entrar em contato com o orientador da pesquisadora, Sérgio
Antonio da Silva Leite:
Faculdade de Educação da UNICAMP- Av. Bertrand Russell, 80- Cidade Universitária “Zeferino Vaz Campinas - SP – Brasil- CEP 13083-865
Departamento: DEPE
Grupos de pesquisa: ALLE - Alfabetização, Leitura e Escrita Telefone: (19) 3521-5671
E-mail: [email protected]
Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do estudo, você poderá entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da UNICAMP das 08:30hs às 11:30hs e das 13:00hs as 17:00hs na Rua: Tessália Vieira de
Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936 ou (19) 3521-7187; e-mail: [email protected].
O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
O papel do CEP é avaliar e acompanhar os aspectos éticos de todas as pesquisas
envolvendo seres humanos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tem por
objetivo desenvolver a regulamentação sobre proteção dos seres humanos envolvidos nas
pesquisas. Desempenha um papel coordenador da rede de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) das instituições, além de assumir a função de órgão consultor na área de ética em pesquisas
Consentimento livre e esclarecido:
Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,
benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar e
declaro estar recebendo uma via original deste documento assinada pelo pesquisador e por mim,
tendo todas as folhas por nós rubricadas:
Nome do (a) participante: ________________________________________________________
378
Contato telefônico: _____________________________________________________________
e-mail (opcional): ______________________________________________________________
________________________________________________ Data: ____/_____/______.
(Assinatura do participante ou nome e assinatura do seu RESPONSÁVEL LEGAL)
Responsabilidade do Pesquisador:
Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares
na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo
que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a
utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.
Data: ____/_____/______.
(Assinatura do pesquisador)
379
ANEXO 13
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Afetividade e ensino de língua inglesa
Isabela Ramalho Orlando
Sérgio Antonio da Silva Leite (Orientador)
Número do CAAE: 69384017.1.0000.5404
Você está sendo convidado a participar como voluntário de uma pesquisa. Este
documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com o
pesquisador.
Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o
pesquisador. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou outras
pessoas antes de decidir participar. Não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo se você
não aceitar participar ou retirar sua autorização em qualquer momento.
Justificativa e objetivos:
Este projeto tem como objetivos: a) identificar e analisar práticas pedagógicas de um professor que facilitam o movimento de aproximação afetiva dos estudantes com a língua
inglesa; b) descrever o processo de constituição do professor, por meio da identificação dos
mediadores que possibilitaram tal processo. Busca-se assim contribuir para o entendimento da dimensão afetiva no processo de
desenvolvimento humano, bem como para o ensino de língua inglesa.
Procedimentos:
Participando do estudo você está sendo convidado a conceder pequenas entrevistas
sobre as práticas do professor e a ser vídeo-gravado em suas participações durante a aula.
As gravações ocorrerão pelo período de três meses, duas vezes por semana, no espaço do Centro de Estudo de Línguas da UNICAMP. As entrevistas ocorrerão após as aulas, terão a
duração de 10 a 15 minutos, quando você estiver disponível e serão áudio-gravadas.
As gravações (de vídeo e de áudio) serão armazenadas no computador da pesquisadora pelo período de cinco anos após o término da pesquisa e então será descartado.
Desconfortos e riscos:
Não há riscos previsíveis relacionados a sua participação nessa pesquisa além do possível desconforto durante as vídeo-gravações das aulas. Quanto a isso, a confidencialidade
dos vídeos e de sua identidade é assegurada pela pesquisadora. Além disso, você poderá
solicitar a interrupção das gravações ou de sua participação da pesquisa a qualquer momento, sem que haja qualquer ônus em sua relação com a pesquisadora ou com a instituição em que
estuda.
Benefícios:
Não há benefícios diretos para os participantes dessa pesquisa. O benefício (indireto) relacionado a sua participação nessa pesquisa será o de contribuir para o aumento do
conhecimento científico na área de Afetividade e de Ensino de Língua Inglesa.
Acompanhamento e assistência:
A pesquisadora estará disponível para assistência e acompanhamento durante a pesquisa, caso haja necessidade, por meio do contato encontrado ao final desse documento ou
durante dos encontros.
Sigilo e privacidade:
380
Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma
informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado. Os vídeos gravados durante a
pesquisa serão vistos somente pela pesquisadora e seu orientador e serão apagados após cinco
anos do término da pesquisa.
Ressarcimento e Indenização:
O(A) Sr(a) não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras ao participar
dessa pesquisa O estudo será realizado durante sua rotina, já que corresponde ao horário de sua aula de inglês.
Você terá a garantia ao direito a indenização diante de eventuais danos decorrentes da
pesquisa.
Contato:
Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com os pesquisadora Isabela Ramalho Orlando:
Endereço: Rua Francisca Resende Merciai nº 07, apartamento 08- Barão Geraldo- Campinas/
SP- CEP: 13084-195
Telefone: (19) 982578693 E-mail: [email protected]
Você poderá também entrar em contato com o orientador da pesquisadora, Sérgio Antonio da Silva Leite:
Faculdade de Educação da UNICAMP- Av. Bertrand Russell, 80- Cidade Universitária
“Zeferino Vaz Campinas - SP – Brasil- CEP 13083-865
Departamento: DEPE Grupos de pesquisa: ALLE - Alfabetização, Leitura e Escrita
Telefone: (19) 3521-5671
E-mail: [email protected]
Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do
estudo, você poderá entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP das 08:30hs às 11:30hs e das 13:00hs as 17:00hs na Rua: Tessália Vieira de
Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936 ou (19) 3521-7187; e-
mail: [email protected].
O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
O papel do CEP é avaliar e acompanhar os aspectos éticos de todas as pesquisas
envolvendo seres humanos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tem por objetivo desenvolver a regulamentação sobre proteção dos seres humanos envolvidos nas
pesquisas. Desempenha um papel coordenador da rede de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs)
das instituições, além de assumir a função de órgão consultor na área de ética em pesquisas
Consentimento livre e esclarecido:
Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,
benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar e declaro estar recebendo uma via original deste documento assinada pelo pesquisador e por mim,
tendo todas as folhas por nós rubricadas:
Nome do (a) participante: ________________________________________________________
Contato telefônico: _____________________________________________________________
e-mail (opcional): ______________________________________________________________
_________________________________________________ Data:____/_____/______.
(Assinatura do participante ou nome e assinatura do seu RESPONSÁVEL LEGAL)
381
Responsabilidade do Pesquisador:
Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares
na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a
utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades
previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.
Data: ____/_____/______. (Assinatura do pesquisador)