Upload
tadeu-andreoli-jr
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
1/12
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
2/12
alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da
execução e as que se vencerem no curso do processo” - Artigo
528 § 7o;
(f) Possibilidade de desconto em folha de pagamento para
pagamento dos débitos vencidos, podendo o desconto chegar a
50% dos ganhos líquidos do executado – Artigo 529 § 3o.
Agora que você matou a curiosidade, sugiro que respire e leia o
texto inteiro com calma, até o fim.
A entrada em vigor do novo Código de Processo Civil (NCPC), lei
13.105/15, a partir do dia 18 de março de 2016 (conforme definição
do STJ e do CNJ), tem gerado dúvidas não só nos operadores do
direito, mas também nas pessoas em geral, sobre o que de fato
mudou.
Um dos temas de interesse é a execução de alimentos. Tanto quefoi objeto de matéria veiculada pelo programa Fantástico, da Rede
Globo, no dia 13 de março de 2016.
Mas afinal, o que mudou na execução de alimentos com a entrada
em vigor do NCPC? Vamos tentar tratar do assunto neste breve
artigo.
Antes, porém, é interessante relembrar alguns aspectos do direito
material em relação aos alimentos. Quanto à sua fundamentação,
respeitados autores que se dedicam ao tema, como Maria
Berenice Dias (2007), costumam vinculá-lo ao princípio da
solidariedade, ou ainda como um desdobramento do princípio da
dignidade humana, na medida em que um dos direitos
fundamentais do ser humano é o de sobreviver (1).
Quanto à conceituação, Flávio Tartuce (2015), invocando os
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
3/12
ensinamentos do Orlando Gomes e Maria Helena Diniz, entende
que “os alimentos podem ser considerados como as prestações
devidas para a satisfação das necessidades pessoais daquele que
não pode provê-las pelo trabalho próprio” (2). Na mesma linha,
Sílvio de Salvo Venosa (2008) entende que os alimentos servem
para a satisfação de necessidades essenciais da vida em
sociedade. Portanto, englobam, além da alimentação, também o
que for necessário para moradia, vestuário, assistência médica e
instrução (3).
É mais comum relacionar os alimentos ao direito de família,
decorrente das relações de parentesco, ou decorrente do
casamento ou união estável. Mas os alimentos também podem
decorrer da vontade das partes, sendo estipulados contratualmente
ou em testamento, ou ainda de ato ilícito (responsabilidade civil),
ocasião em que são denominados de indenizatórios ou
ressarcitórios.
Quanto aos critérios para a sua fixação, a doutrina clássica
sedimentou o binônio necessidade/possibilidade. Ou seja, os
alimentos devem ser fixados levando em conta as necessidades
daquele que recebe e as possibilidades daquele que presta a
obrigação. Mais recentemente, tem se falado em trinômio, se
acrescentando o critério da proporcionalidade, ou da razoabilidade.
Vale dizer, deve-se examinar as circunstâncias do caso concreto,
em que nem sempre é possível assegurar ao alimentando amanutenção do mesmo padrão de vida anterior à imposição do
encargo. Ou ainda, levar em conta as possibilidades, ainda que
parciais, de o alimentando suprir-se, como por exemplo no caso da
mulher jovem, com plena condição e formação para o trabalho (4).
Já o regramento para a fixação dos alimentos é dado pela lei de
alimentos, lei 5478/68, a que se remete o leitor. O objetivo aqui éexaminar as alterações na execução da obrigação que já foi fixada.
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
4/12
Feito este breve sobrevoo sobre as questões de direito material
que fundamentam a obrigação alimentar, bem como feita a
indicação da fonte legislativa que disciplina a sua fixação,
cumpre-nos agora responder à pergunta do título: AFINAL, O QUE
MUDOU NA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS NO NOVO CPC?
(a) O CPC/73, agora revogado, previa a execução da prestação
alimentícia apenas dentro do livro das execuções, nos artigos 732
a 735. Ou seja, não havia regramento algum dentro do capítulo do
cumprimento da sentença, que se iniciava a partir do artigo 475-I, a
respeito especificamente da execução da obrigação alimentar.
O Novo CPC atualiza esta questão, incluindo no título II do livro I
da parte especial o capítulo IV – Do cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos. Os
artigos 528 a 533 disciplinam todas as questões relativas a esta
espécie de cumprimento da sentença. E no livro II, que trata do
processo de execução, está inserido, no título II - das diversas
espécies de execução, o capítulo VI - execução de alimentos, para
o caso de execução fundada em título executivo extrajudicial que
contenha obrigação alimentar. Neste capítulo, o parágrafo único do
artigo 911 afirma que se aplicam, no que couber, os §§ 2o. a 7o. do
artigo 528. Vale dizer, a essência do regramento da exigência
desta obrigação está na porção do código que trata do
cumprimento de sentença, pois a maioria dos casos ali se
enquadrará. Os títulos extrajudiciais tendem a ser em menornúmero, via de regra vinculados a obrigações de natureza
contratual. Mesmo para estes, aplicam-se subsidiariamente os
regramentos insertos nos dispositivos que tratam do cumprimento
de sentença.
Além da atualização topográfica do tratamento da matéria, acima
referida, as novidades propriamente ditas, as mudanças, estãorelacionadas com os seguintes pontos:
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
5/12
(b) Possibilidade de protesto do pronunciamento judicial que fixou
a obrigação alimentar (artigo 528 § 1o) – Tanto a decisão que fixa
alimentos provisórios, em sede liminar, quanto a decisão definitiva,
podem ser levadas a protesto, na condição de títulos judiciais que
são. A condição para que o protesto seja autorizado é que o
devedor, regularmente intimado, não pratique um dos seguintes
atos em até 3 dias: pague o débito, prove que o fez, ou justifique a
impossibilidade de fazê-lo.
Ou seja, se dentro deste prazo de 3 dias o devedor apresenta sua
resposta, por exemplo justificando a impossibilidade de ter feito o
pagamento, ainda não é possível efetivar o protesto. Este somente
será possível se o juiz não aceitar a justificativa (artigo 528 § 3o).
Outro detalhe importante com relação ao protesto é que este deve
se dar observando o disposto no artigo 517, que disciplina os
critérios e o procedimento para o protesto de decisões judiciais em
geral. A distinção, com relação ao protesto do pronunciamento
judicial que fixou a obrigação alimentar, é que não se exige o
trânsito em julgado. Isso se justifica dada a natureza desta
obrigação, que dentre outras características é irrepetível, e
também devido à clara intenção do legislador de dar celeridade a
sua satisfação.
(c) A referência à impossibilidade absoluta de pagar, prevista no
Artigo 528 §2o. Em uma primeira mirada, esta pode ser umaalteração menor. No entanto, pode vir a converter-se em cânon
interpretativo que autoriza um rigor aumentado no exame das
justificativas apresentadas pelo devedor. A expressão
“impossibilidade absoluta” é um conceito jurídico indeterminado, ou
ainda, uma cláusula geral, que permite, ou exige, do órgão
jurisdicional, um papel mais ativo na criação do direito. Precisa
portanto ser preenchida pela atividade interpretativa do julgador,indo além da simples subsunção da norma ao fato, e considerando
as circunstâncias do caso concreto, tendo por base toda a
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
6/12
estruturação do sistema jurídico.
Sem querer descer a uma erudição jurídica mais sofisticada, e
correndo o risco da simplificação, a determinação do efetivo
significado desta expressão pode se dar a partir do que Gadamer
chama de “fusão de horizontes”(5): a circunstância do momento
presente é lida, interpretada, tendo em conta toda a tradição, neste
caso a tradição jurídica, com todas as suas fontes. E a tradição
jurídica aponta, do ponto de vista material, para a proteção integral
e efetiva do hipossuficiente, de um lado, e para a efetivação de
direitos, de outro lado. Lembre-se o artigo 4o. do NCPC: “As partes
têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do
mérito, incluída a atividade satisfativa.”
É de se ponderar que o rigor no exame da justificativa do devedor
deve levar em conta, em um juízo de ponderação, a sua dignidade,
o seu direito a um exame justo de sua realidade que, não se
desconhece, em alguns casos é tanto ou mais mais exigente do
que a do alimentando.
Não obstante, nos parece que aumenta o espaço, agora
literalmente autorizado pelo texto legal, para um maior rigor no
exame das justificativas dos devedores de alimentos, reservado
dentro deste espaço o respeito ao direito do devedor, que se
restringe à hipótese da “impossibilidade absoluta”. Se hoje já são
estreitas as possibilidades de aceitação de justificativas, é lícitoesperar que este rigor aumente.
(d) O regime de prisão passa a ser fechado. Artigo 528 § 4o. O
CPC/73 limitava-se a referir que “se o devedor não pagar, nem se
escusar, o juiz decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3
(três) meses”.
Era comum que a prisão fosse decretada no regime semi-aberto,
atendendo à argumentação dos devedores no sentido de que, ao
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
7/12
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
8/12
jurídico que a comunidade vai produzindo no curso do tempo.
O fato novo que pode haver aqui é a defesa, por alguns
doutrinadores, da possibilidade de este dispositivo rever a posição
atualmente consolidada, inclusive no STJ, e se aplicar o rito de
prisão a dívidas de alimentos de origem diversa, não apenas o
débito alimentar do direito de família. Este é o entendimento por
exemplo de Daniel Amorim Assumpção Neves, que defende a
interpretação no sentido de que a nova codificação teria trazido
tratamento homogêneo à execução de alimentos. Segundo o
referido autor, “a necessidade especial do credor de alimentos não
se altera em razão da natureza desse direito, não havendo sentido
criar um procedimento protetivo limitando sua aplicação a somente
uma espécie de direito alimentar” (6).
Também vale relembrar, ao comentar este dispositivo, que é
possível a instauração de dois procedimentos de cumprimento de
sentença em paralelo, sendo um seguindo o rito da possibilidade
de prisão, e o outro com o objetivo de executar as prestações
vencidas há mais de três meses, observando o rito do
cumprimento de sentença de obrigação de pagar quantia certa.
Neste caso, basta que se observe o prazo prescricional, que é de
dois anos, conforme o artigo 206, § 2o. do Código Civil.
(f) Possibilidade de desconto em folha de pagamento para
pagamento dos débitos vencidos, podendo o desconto chegar a50% dos ganhos líquidos do executado – Artigo 529 § 3o.
O CPC/73, agora revogado, limitava-se a prever a possibilidade de
o juiz o mandar descontar em folha de pagamento a importância da
prestação alimentícia, mas os percentuais de desconto ficavam a
cargo da discricionaridade do juiz, a ser adequada ao caso
concreto. A praxe consolidou o entendimento de ser razoável odesconto de 20% a 30%, podendo chegar a 40%, caso fosse maior
o número de alimentandos.
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
9/12
Além disso, este desconto era possível para os alimentos
vincendos. Apenas em raros casos, via de regra por força de um
acordo de vontades, os descontos incluiam também os alimentos
vencidos. A novidade aqui está justamente nesta possibilidade: de
o desconto em folha de pagamento abarcar os alimentos vencidos.
E o legislador já autoriza, a priori, que o desconto somado dos
vencidos e vincendos atinja 50% dos ganhos líquidos do devedor.
Nunca é demais relembrar que esta determinação deverá sempre
levar em conta as circunstâncias do caso concreto, pois mesmo
que haja o permissivo legal, a aplicação cega deste dispositivo
pode levar a inquidades ainda maiores, o que por certo não é o
propósito do dispositivo em questão, e nem tampouco estaria de
acordo com toda a principiologia do ordenamento jurídico em geral
e do direito processual civil em especial.
CONCLUSÃO
Em essência, o novo CPC não altera a disciplina da execução daobrigação alimentar, e nem tampouco instala um novo tratamento
para o tema, o que aliás é uma tendência geral deste novo diploma
legal. Uma lição básica, aprendida no início dos estudos jurídicos,
mas que merece ser recorrentemente relembrada, é que o Direito é
muito maior do que a Lei. As alterações legislativas acima
brevemente comentadas estão fundamentadas em princípios já
presentes em nosso ordenamento, como por exemplo a celeridade,o direito à atividade satisfativa, a proteção do hipossuficiente,
dentre outros.
A positivação, no entanto, tem o benefício de diminuir as
incertezas, e as discussões bacharelescas desnecessárias, que via
de regra servem apenas para alimentar o ego dos seus
protagonistas.
Esperamos com este breve estudo contribuir para um melhor
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
10/12
entendimento da matéria, e com isso colaborar para que o
processo civil possa cumprir um de seus papéis mais relevantes,
que é de ser o veículo da efetivação dos direitos daqueles que se
socorrem do poder estatal para dirimir e arbitrar seus conflitos.
Para ler no original, clique aqui.
NOTAS
(1) Vide a respeito: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das
famílias. 4a. ed, São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 2007, p.
450.
(2) TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 5a. ed,
Rio de Janeiro, Forense; São Paulo: Método, 2015., p. 1304.
(3) VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 8a. ed,
São Paulo, Ed. Atlas, 2008, pp 347 e 348.
(4) Vide, a propósito, DIAS, op. cit, p. 482, e TARTUCE, op. cit, p.
1305.
(5) GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Petrópolis, RJ:
Vozes, Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco,
1997.
(6) Novo CPC: inovações, alterações, supressões, comentadas,
SP; Método, 2015, p. 349, apud XAVIER, José Tadeu Neves,
comentários aos artigos 528 a 533, in Novo código de processo
civil anotado / OAB. – Porto Alegre: OAB RS, 2015.
Cursos relacionados
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
de 12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
11/12
As principais alterações do novo CPC aplicadas
Márcio Vieira - Especialista em Processo Civil e Mestre em Direito
Turma: 09 de maio/2016 - Código: 171
Inscrições
gratuitas
Professor Instituto IbiJus
Márcio dos Santos Vieira
Mestre em Direito Contratual e Especialista em Processo Civil pela
Unisinos - São Leopoldo - RS. Advogado civilista com 14 anos de
experiência em contencioso e processos de negociação, e com 05
anos de experiência em gestão de departamento jurídico de
empresa.
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...
e 12 27/04/2016 15:50
8/17/2019 Afinal, o Que Mudou Na Execução de Alimentos No Novo CPC
12/12
Outros artigos de Márcio dos Santos Vieira
Os 7 mitos da busca e apreensão de veículos. Um guia rápido
e seguro
nal, o que mudou na execução de alimentos no novo CPC? about:reader?url=http://www.ibijus.com/blog/128-afinal-o-que-mudou...