Afinal, quem é este tal de adolescente?

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O grupo de pesquisa PROCESSOS DE CONSTITUIÇÃO DOSUJEITO EM PRÁTICAS EDUCATIVAS – PROSPED se vinculaao Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Psicologiada PUC Campinas. Desenvolve estudos que buscamcompreender os aspectos envolvidos no desenvolvimentoe aprendizagem dos sujeitos, no caso, aqueles queparticipam de práticas educativas em escolas ou outrasinstituições. Para desenvolver seus estudos, o grupo realizaatividades de intervenção nesses contextos, buscandocontribuir com seus profissionais para a compreensão esuperação dos desaos que enfrentam.As sugestões que apresentamos nesse livreto resultam denossas experiências com essas intervenções e pesquisas evisam a atender um dos seus propósitos: contribuir para atransformação dos espaços educativos em que atuamos.Se você gostar de nossas idéias, entre em contato.

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  • Leia tambm as outrascartilhas da coleo

    PROSPED Parceiro da Escola

  • QUEM SOMOS: O grupo de pesquisa PROCESSOS DE CONSTITUIO DOSUJEITO EM PRTICAS EDUCATIVAS PROSPED se vincula ao Programa de Ps-Graduao stricto sensu em Psicologia da PUC Campinas. Desenvolve estudos que buscam compreender os aspectos envolvidos no desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos, no caso, aqueles que participam de prticas educativas em escolas ou outras instituies. Para desenvolver seus estudos, o grupo realiza atividades de interveno nesses contextos, buscando contribuir com seus prossionais para a compreenso e superao dos desaos que enfrentam. As sugestes que apresentamos nesse livreto resultam de nossas experincias com essas intervenes e pesquisas e visam a atender um dos seus propsitos: contribuir para a transformao dos espaos educativos em que atuamos. Se voc gostar de nossas idias, entre em contato: http://prospedpuc.blogspot.com.br/

    Ilustrao e Projeto Grco: Marcos Guilherme Estdio Figuras

    Este projeto nanciado pelo CNPqDistribuio gratuita

    Aborrecentes, rebeldes, alienados, desinteressados, dentre outras expresses, so utilizadas com frequncia para caracterizar jovens da faixa etria de 12 a 18 anos. Esse modo de se referir aos adolescentes revela que os adultos em geral e os educadores em especial veem esse perodo do desenvolvimento como conituoso e, algumas vezes, se sentem impotentes para atingir o interesse desse grupo em aprender ou se envolver em atividades educativas. Nossa experincia com esse pblico, sobretudo nas escolas, permite oferecer contribuies para apoiar professores e gestores no trabalho com adolescentes.

    Mudana de papis e interesses: a construo da identidade adolescente

    Novos papis na famlia, na escola, na relao com os amigos, mais responsabilidade, so algumas das exigncias dirigidas ao adolescente, e tudo isso contribui para mudar a forma como ele prprio se v. O jovem dispe nessa idade de mais autonomia, independncia, e modos para enfrentar desaos, do que na infncia, por exemplo. Estes e outros fatores possibilitam ao adolescente buscar formas de se colocar no mundo e de atender aos seus interesses particulares. A to famosa rebeldia, que vista como marca registrada desse perodo, tem sua base nessas mudanas e tambm no fato de que nessa idade a identidade est sendo armada. Muitas vezes o adolescente nega, se ope ao adulto, para se armar e este um processo necessrio

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  • para seu desenvolvimento, ganhando maior importncia a diferenciao, que se expressa em questionamentos, recusas, embates, discusses e debates. A sada da infncia rumo idade adulta marcada pela perda dos interesses infantis e pela busca de novos interesses que so fruto tanto das mudanas corporais e da maturao sexual, quanto dos novos papis que o adolescente assume na sociedade. Neste sentido, no trabalho pedaggico importante que se leve em conta estes processos. Diante de tantas mudanas, oscilaes e oposies, como lidar com este jovem em sala de aula? frequente que tanto na escola como na famlia, esses adolescentes, por no aparentarem mais a fragilidade de uma criana, sejam cobrados a se comportarem como adultos. Ocorre que eles ainda no possuem os recursos necessrios para agir e pensar como adultos, o que resulta de um processo de desenvolvimento que est em curso. Em geral, essa falta de sintonia entre o que os adultos demandam e o que os jovens respondem que est na base dos conitos envolvendo a relao com adolescentes. Trazemos a seguir algumas sugestes para ajudar na convivncia e no processo de ensino e aprendizagem dos jovens:

    O Pensamento

    Pesquisas atuais tm demonstrado que preciso investir no dilogo com os alunos, de modo a acessar o que e como pensam esses jovens. preciso entender seus interesses, suas inquietaes, seus valores e crenas e, para tal, a velha e boa conversa a melhor forma. Entretanto, nossa experincia demonstra que no comum

    os jovens quererem se expressar, falar sobre suas coisas com os adultos eles conversam muito entre si, mas no incluem os adultos na conversa, sobretudo os educadores. Despertar o interesse dos jovens para ampliar o dilogo, envolvendo um grupo maior, incluindo os professores, um dos grandes desaos da escola. Enfrentar esse desao fundamental se entendemos que a linguagem um dos principais meios de promoo do acesso a novos conhecimentos e, a apropriao de conhecimentos, por sua vez, o que promove o desenvolvimento das funes psicolgicas superiores rumo a modos mais complexos e elaborados de pensar. Se considerarmos que o pensamento complexo essencial para o aprendizado de conhecimentos abstratos, justamente a natureza dos contedos ensinados no Ensino Fundamental II e no Ensino Mdio, ento no possvel nos furtar, enquanto educadores, de buscar formas de estabelecer o dilogo como caracterstica das prticas escolares. Pensamos algumas aes a serem adotadas pelos professores de modo a favorecer o estabelecimento do dilogo nas prticas escolares e do entendimento deste universo adolescente. Ao ensinar dado contedo, busque fazer relaes com a vida prtica dos alunos; provoque reexes sobre o tema estudado abrindo espao para explicarem o que entenderam da matria e/ou exposio do ponto de vista do estudante. Outra sugesto a realizao de seminrios por grupos de alunos sobre uma determinada temtica que faa parte do cotidiano dos adolescentes, de modo a sentirem-se envolvidos com a aula. Enm, temos certeza que vocs dispem de muitas ideias para desenvolver atividades diferenciadas, o que

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  • queremos por em relevo a IMPORTNCIA DE FAZER OS

    JOVENS PENSAREM e a PERGUNTA sempre algo que MOBILIZA O PENSAR. Mos obra professor: transforme sua aula, criando um espao que mais questiona do que responde. Deste modo seus alunos tero de buscar pensamento e criatividade.

    Arte e imaginao

    O ensino oferecido na escola, que se caracteriza como local em que a cognio e a reexo so privilegiadas, exigindo do estudante que pense, reita e preste ateno, enm, que dedique tempo e esforo para se apropriar dos conhecimentos veiculados em sala de aula, poderia ganhar em qualidade por meio de estratgias e conhecimentos que demandam a imaginao dos jovens, fazendo-os perceber que podem acessar espaos e conhecimentos que esto muito alm do que podem alcanar presencialmente. Enm, faz-los perceber que a mesma funo que utilizam para operar um jogo de vdeo game, ou para compreender um lme ou msica a que utilizam para aprender um novo conhecimento: a imaginao. O pensamento por conceito, necessrio para a apropriao de conhecimentos abstratos, tais como os que constam do currculo do Ensino Fundamental II e Ensino Mdio, s se desenvolve por meio da imaginao. Ou seja, para pensar de modo abstrato precisamos imaginar, visto que o objeto a se conhecer no concreto e, muitas vezes, no observvel. Pensemos, por exemplo,em um episdio da histria do Brasil: s podemos

    conhecer tal episdio por meio da narrativa de um historiador e s o aprendemos pela via da imaginao, imaginamos os fatos, fazemos ligaes com elementos que j conhecemos, compreendemos suas relaes com outros fatos histricos que tambm imaginamos e, ento, retemos na memria. Ou seja, possvel dizer que SEM IMAGINAO NO H APRENDIZADO POSSVEL, sobretudo de conceitos abstratos. Na adolescncia a imaginao se apresenta como uma via rica de aprendizado e de expresso de emoes. Algumas pesquisas apontam que a imaginao desenvolvida com base na realidade, ou seja, quanto maiso aluno conhecer e experimentar, maiores sero suas possibilidades para imaginar e criar. preciso, ento, ampliar as experincias desses alunos, oferecendo o contato com diferentes linguagens e formas de conhecer, como as de natureza artstica, por exemplo. Na adolescncia, uma forma de arte que pode despertar o interesse do aluno a Literatura, em especial as narrativas envolvendo os mais diversos temas que rodeiam o universo dos adolescentes. A criao de um espao na rotina das aulas para se contar e ouvir histrias tem sido algo que temos lanado mo em nossas intervenes e que envolvem muito os adolescentes. A partir de histrias que contamos eles comeam a querer tambm contar as suas e, depois de algum tempo, a produzir histrias escritas. Pelas histrias inventadas pelos jovens temos acesso a seus sentimentos e desejos, identicando elementos como medo, ansiedade, expectativas com o futuro, etc. A partir delas torna-se possvel conversar sobre esses temas, generalizando-os de modo a no x-los em relao a uma ou duas pessoas.

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  • E possvel fazer isso por meio de lmes, de msica, de outras histrias ou poesias, de imagens. Aps apreciar essas formas artsticas possvel propor reexes aos alunos por meio de perguntas diretas e objetivas, problematizando a questo. A contao de histrias pode ser utilizada em vrias disciplinas, sendo necessrio buscar narrativas que ofeream elementos relacionados matria. Para isto, pode-se criar um momento diferenciado da rotina, que subverta o modo de organizao das aulas, como por exemplo: afastar as cadeiras e mesas, formando um espao livre no centro da sala, onde pode ser estendido um pano ou colchonetes e os alunos podero sentar-se em crculo. Tambm, pode-se inserir uma msica de fundo, cuja melodia remeta ao tema da histria e realizar algumas modicaes na sala, escurecendo-a.Estas so algumas sugestes que podem deixar o ambiente mais interessante para os alunos. Aps a contao de histrias, os alunos podem ser convidados a tecer seus comentrios e expressar suas opinies. Tambm pode ser trabalhada a biograa do autor, ampliando ainda mais o universo cultural dos jovens. O movimento de estudo de biograas algo que costuma interessar os adolescentes que esto em um momento de constituio da identidade de si. Assim, trabalhar com as biograas de outrem os instiga a trabalhar a prpria biograa, o que se constitui em projeto riqussimo, envolvendo vrias disciplinas do currculo, como histria, geograa, lngua portuguesa e artes. A organizao de um sarau outra sugesto de atividade festiva e pedaggica que contempla a arte, a imaginao e o dilogo, mobiliza todo o grupo escolar e favorece o interesse dos adolescentes. O sarau, por seu carter colaborativo, permite que os

    alunos se envolvam com sua preparao e organizao, assim como permite que exponham para a comunidade seus talentos em poesia, vdeo, artes plsticas, contao de histrias, msica, dana, teatro, etc. Trazer a arte para a sala de aula e fazer com que transborde para a comunidade costuma ser muito signicativo para todos os envolvidos: alunos, professorese comunidade. Sugerimos tambm inserir lmes no contedo da disciplina ou a partir de demandas levantadas pelos adolescentes e depois conversar com eles sobre a experincia, garantindo que todos tenham espao para se expressar. Antes de exibir o lme, interessante pesquisar quem o diretor, o roteirista, os atores principais, que outros trabalhos estes prossionais realizaram, quais prmios o lme ou seus prossionais j ganharam, etc., assim como apresentar uma resenha ou sinopse do material que ser exibido. Essa pesquisa pode ser feita com uma rpida busca na internet. Aps a exibio do lme, disponha as cadeiras em crculo de forma que todos possam se olhar durante a discusso. Podem ser direcionadas perguntas como do que trata o lme?, qual foi a cena que vocs mais gostaram? qual no gostaram?, qual relao do lme com o tema que estamos tratando?. Promover um espao como este garantir a possibilidade de os adolescentes se expressarem, elaborarem suas ideias e dialogarem entre si e tambm com o professor. Isso favorece o desenvolvimento de uma melhor comunicao, do dilogo, e ampliao do vocabulrio, de elaborao de ideias e melhor relao de grupo. Estas dicas so um pontap inicial para a reexo e 87

  • Maiores esclarecimentos ou sugestes podem ser encaminhadas para nosso e-mail:

    [email protected] ou encontradas no blog do grupo: http://prospedpuc.blogspot.com.br

    ou em nossa pgina no Facebook:

    https://www.facebook.com/pages/Sentidos-da-Arte/570082809755000?ref=bookmarks .

    possvel mudana que podem ser ampliadas e reformuladas a partir da experincia e necessidade de cada professor. Mas no se esqueam: OS ADOLESCENTES SO NOVATOS NO MUNDO E NS ADULTOS SOMOS MEDIADORES DE SUAS RELAES E APROPRIAES. Tratemos de nos abrir mais para acessar suas falas, seus anseios e buscar a adequao s novas condies que regem as relaes sociais, assumindo nosso papel de promotores do desenvolvimento dos jovens. Estas dicas so sugestes para a reexo e a possibilidade de mudana. E voc, professor, pode contribuir. Escreva aqui em forma de depoimento uma experincia que deu certo e partilhe com seus colegas. Talvez algum do seu grupo de trabalho goste de conhec-lo e o ajude a pensar em novas prticas:

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