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Afirmativa 36

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Afirmativa Plural

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EducaçãoAos 70, Pelé pede mais educação ....................................... 70

TurismoRevéillon das mil e uma noites ............................................. 74

ComportamentoO cárcere feminino é negro – Ana Luiza Biazeto ............. 76A (re)invenção do negro movimentando a história – FláviaVirgínia ................................................................................... 80

EmpreendedorismoCria da casa ............................................................................ 82

SaúdeUnidos pelo sangue ............................................................... 84

PluralO pesadelo dos ciganos na Europa – Prof. Bruno KonderComparato .............................................................................. 88

OpiniãoMais uma chance perdida? – Rosenildo Gomes Ferreira ... 92

AfirmativoDia da consciência negra – Maria Fernanda Ramos Coelho...................................................................................................94

Preto e BrancoSeu Nenê ................................................................................. 98

ndice

Afirmativa Plural é uma publicação da Afrobras - Sociedade AfroBrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural, Centro de Documen-tação, através da: Editora Unipalmares Ltda., CNPJ nº 08.643.988/0001-52. Com periodicidade bimestral. Ano 7, Número 36 - Av. San-tos Dumont, 843 - Bairro Ponte Pequena - São Paulo/SP - Brasil -CEP 01101-080 - Tel. (55 - 11) 3229-4590. www.afrobras.org.br

CONSELHO EDITORIAL: José Vicente • Francisca Rodrigues• Ruth Lopes • Cristina Jorge • Nanci Valadares de Carvalho• Humberto Adami • Sônia Guimarães.

DIREÇÃO EDITORIAL E EXECUTIVA: Jornalista FranciscaRodrigues (Mtb.14.845 - [email protected]).

FOTOGRAFIA: J. C. Santos e Divulgação.

COLABORADORES: Rosenildo Gomes Ferreira (rosenildo.ferreira@ gmail.com), Daniela Gomes e Eliane Almeida.

REDAÇÃO: Rejane Romano (Mtb. 39.913) - [email protected]).

ASSINATURAS, ANÚNCIOS E PUBLICIDADE: MaximagemMídia Assessoria em Comunicação. Tel. (11) [email protected]

CAPA: Leonardo Aversa - Ag. O Globo RS

EDITORAÇÃO: Alvo Propaganda e Marketing ([email protected]).

IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Vox Editora.

Entrevista EspecialMinistro Miguel Jorge ............................................................... 8Prof. Arnaldo Batista dos Santos ........................................... 12

EspecialLançamento Troféu Raça Negra 2010 .................................. 16

CapaHarmonia perfeita – Milton Nascimento ............................. 24

Cidadania

Várias nações, vários Zumbis................................................... 42

Vamos festejar! É dia de Zumbi – Martinho da Vila .......... 52

A Unip homenageia Zumbi – Prof. Dr. Jõao Carlos DiGenio ....................................................................................... 56

Identidade nacional – Ruy Martins Altenfelder Silva .......... 58

A consciência do ser negro – Marcelo Candido.................................................................................. 60

O novo Quilombo de Zumbi – Dr. Hédio Silva Jr......................................................................................... 62

A consciência negra está na essência de nosso país –Aldemir Bendine ........................................................... 66

PerfilDescendo o morro – Marcello Melo .......................... 68

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editorial

Esta edição da Afirmativa Pluralchega às mãos de seus leitores exata-

mente no mês da Consciência Negra,quando comemoramos o nosso Herói Zum-

bi dos Palmares. Chefe guerreiro assassinadono dia 20 de novembro de 1695, Zumbi tor-

nou-se símbolo das lutas dos negros por digni-dade e igualdade, conforme consta na biografia exi-

bida no Panteão dos Heróis Nacionais.Este é um período de reflexão, onde fazemos um

levantamento de nossas conquistas e do que aindafalta para alcançarmos. “Como nossos ancestrais que

lutaram pela liberdade, hoje os negros lutam pela cida-dania plena”, diz o Prefeito de Suzano, município pau-lista, Marcelo Cândido, em seu artigo.E é a mais pura verdade. Continuamos lutando contra opreconceito, mas agora queremos mais. Queremos todosos nossos direitos, resgatando nossa cidadania brasileira.

contra os ciganos, quanto à proibiçãoda burca, difere muito do conceito dosprincípios universais de “Liberdade, Igual-dade e Fraternidade” utilizados na RevoluçãoFrancesa.Aqui no Brasil, dando mais um passo visando ainclusão dos negros no mercado de trabalho, masprincipalmente, de torná-los também empreendedo-res, donos do seu próprio negócio, a Faculdade Zum-bi dos Palmares presenteia seus alunos e a populaçãonegra em geral, com um núcleo da Agência Brasileirade Promoção de Exportações e Investimentos – ApexBrasil, dentro do campus da Zumbi. Trata-se do Nú-cleo de Negócios Afroétnicos, integrante do Projetode Extensão Industrial Exportadora – PEIEX. O objeti-vo de mais este trabalho de responsabilidade social daZumbi, é capacitar os alunos e os empresários negros aexportar seus produtos. A Faculdade Zumbi dos Palmares

Mas o preconceito, infelizmente, faz parte do homem. Hoje,pleno século 21, a Europa está perseguindo, por razõesétnicas, o povo cigano, sob a justificativa de combate àcriminalidade. E o pior ataque vem justamente da França,berço da democracia e da liberdade entre os povos. Paraespecialistas essa expulsão pode ser comparada à perse-guição contra judeus e escravidão dos negros.Outro ponto no qual a França tem se interposto e porpuro preconceito é quanto à proibição do véu integralem espaços públicos, as pessoas não poderão sair àsruas vestidas com a burca ou o niqab. O texto, quecausou polêmica no país - que tem uma das maiorescomunidades muçulmanas da Europa, já foi apro-vado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados e

agora deve virar lei e entrar em vigor em 2011.Seja qual for o tipo, o véu é visto pela mulher

muçulmana como uma demonstração derespeito a Deus e ao islamismo. Sua proi-

bição nas ruas não levará as mulheres adeixar de usá-lo e sim de circular

apenas nos espaços públicos, ouseja, excluindo-as.

Tal postura do governofrancês, tanto

é a única instituição de ensino privado a ter um núcleo PEIEXdentro de seu campus. E para falar deste assunto, trazemosuma entrevista exclusiva com o Ministro Miguel Jorge, daIndústria, Comércio e Desenvolvimento.E neste mês acontece o Troféu Raça Negra 2010, em suaoitava edição e que este ano celebra um dos maiores íconesda música popular brasileira, Milton Nascimento, quefinalmente atendeu nosso convite e participa deste, que éconsiderado o Oscar da comunidade negra. Buscamosum pouco da sua trajetória de vida e de profissão, comdetalhes que todos nós gostaríamos de saber.É através deste trabalho da Afrobras e da Zumbidos Palmares, que forjaremos novos profissionaisnegros, à exemplo dos muitos que já temos, paratransformar nossa sociedade mais justa e igua-litária, “condição para que nosso País avanceno processo democrático e no respeito aquem também construiu e continua aconstruir esta Nação”.Sem Educação, não há Liberdade!Boa leitura a todos!

Francisca RodriguesEditora Executiva.

Mês da Consciência NegraMês da Consciência NegraMês da Consciência NegraMês da Consciência NegraMês da Consciência Negra

ditorial

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“O Núcleo de Negócios Afroét-nicos Zumbi dos Palmares, um pro-jeto da Agência Brasileira de Promo-ção de Exportações e Investimentos– Apex Brasil, dentro do campus daFaculdade Zumbi dos Palmares, éimportantíssimo e a possibilidade daApex treinar os micro e pequenos em-presários negros gerará uma maiorinserção do empreendedor que, alémde adquirir know how, puxará o cres-cimento da sua comunidade e doseu entorno, contribuindo para a in-serção destes no mercado de con-sumo e melhorando a qualidade devida de muitos”.

A análise é do Ministro da Indús-tria, Comércio e Desenvolvimento,Miguel Jorge, em entrevista exclusi-va à Afirmativa Plural, em seu escri-tório, em São Paulo. Segundo o mi-nistro, o início desse trabalho em

afroétnicosegócios

Por Francisca Rodrigues, editora executiva

conjunto (Zumbi e Apex) “é muitogratificante, pois é resultado de mui-ta discussão e encontros para deba-ter o próprio conceito da parceria,uma vez que é algo absolutamentenovo para o governo e para a facul-dade”. É a única instituição de ensi-no privada a ter um núcleo da Apexdentro do seu campus.

Exatamente no dia em que oministro concedia esta entrevista (15de outubro), a Apex-Brasil recebeu,na Cidade do México, o prêmio demelhor agência de promoção comer-cial do mundo, entre os países emdesenvolvimento. O prêmio TPONetwork Awards foi concedido peloInternational Trade Centre (ITC),agência da Organização das NaçõesUnidas responsável por ajudar paí-ses a alcançar desenvolvimento hu-mano por meio de exportações.

A Apex-Brasil concorreu com 11 países em uma primeira etapa,e com Omã, Emirados ÁrabesUnidos, Malásia e Armênia na eta-pa final. A agência brasileira foi agrande vencedora por ter apresen-tado um programa único de capa-citação de pequenas e médias em-presas para a exportação, que lhesdá competitividade e as leva à in-ternacionalização.

A Agência conquistou o prêmioapresentando o Programa ExtensãoIndustrial Exportadora (PEIEX),que capacita 5,3 mil micros, peque-nas e médias empresas para a ex-portação e já apresenta vários ca-sos de sucesso. O projeto consisteem disponibilizar para empresas,por meio de parcerias com univer-sidades e com institutos de pesqui-sa, o trabalho de especialistas, que

entrevista especial

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entrevista especial

Miguel Jorge, ministro

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Foto:

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diagnosticam os principais proble-mas da empresa e sugerem medi-das para que ela possa realizar ex-portações de modo mais eficiente.

“Isto é o grande diferencial queterão os empresários negros, poisuma empresa exportadora é maisinovadora que a média das outrase paga melhores salários para umamão-de-obra mais qualificada, ouseja, é um processo de crescimen-to contínuo e estes empreendedo-res terão um treinamento que nun-ca tiveram oportunidade de obter”,avalia o ministro. Ele disse espe-rar que esses pequenos empreen-dedores negros que sairão da Zum-bi dos Palmares e da sua comuni-dade do entorno, participem dasmissões comerciais, principalmen-te aos países da África, que tem ummercado natural e muita carênciade produtos diversos. “O empre-endedor afro tem por si só, umaproximidade maior e facilidade dese inserir nesse mercado e estan-do organizado, levará grande van-tagem”, observa Miguel Jorge.

Os africanos recebem os em-preendedores brasileiros de braçosabertos e reconhecem as relaçõeshistóricas e culturais existentes en-tre nós. “É muito frustrante per-ceber que 99% dos empresáriosque participam das nossas missõescomerciais para os países africanossão brancos, o que não acontececom uma missão que vai para oOriente Médio, por exemplo. Eisto facilita em muito, a abertura eo fechamento de negócios”, afir-ma o ministro.

Pela experiência que o Brasil temtido na África, diz Miguel Jorge,qualquer tipo de produto tem mer-cado e o pequeno empreendedor

tem uma via de mão dupla quandoestiver em contato com os africanos.Eles terão a oportunidade de expor-tar seu produto, mas também deimportar os produtos africanos,como tecidos e o processo de tingi-mento com as cores que fazem mui-to sucesso aqui no Brasil.

“Sabemos que dif ici lmenteprodutos de micro e pequenos em-presários farão parte da balançacomercial brasileira, mas cada pro-duto faz parte de um trabalho de

entrevista especial

inserção e isso é o que conta insti-tucionalmente para o Brasil”, res-salta o ministro. Segundo ele, osmicro e pequenos têm outras opor-tunidades de exportar seus produ-tos através das grandes empresas,sendo fornecedores lá. Para isso,é necessário ter treinamento eacesso as informações corretas eé justamente essa oportunidadeque será oferecida pelo Núcleo deNegócios Afroétnicos da Zumbidos Palmares – Apex.

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“Escolha uma profissão que amee não terá que trabalhar nem um diada tua vida.” Esta é uma máxima ditapelo filósofo Confúcio que traduzperfeitamente as expressões e o pen-samento do Professor e ConsultorAdministrativo, Arnaldo Batista dosSantos, que irá coordenar um proje-to da Agência Brasileira de Promo-ção de Exportações e Investimentos– Apex Brasil, dentro do campus daFaculdade Zumbi dos Palmares, emSão Paulo. Trata-se do Núcleo deNegócios Afroétnicos Zumbi dosPalmares, integrante do Projeto deExtensão Industrial Exportadora –PEIEX.

A Apex-Brasil por ter como obje-tivo o trabalho para promover as ex-portações de produtos e serviços bra-sileiros, apoiar a internacionalizaçãodas empresas e atrair investimentos es-trangeiros para o país, o Núcleo den-tro da Zumbi atuará em duas situa-ções, tanto contribuir para que alunosda instituição sejam estagiários do Pro-jeto, quanto trabalhar e prestar con-sultoria para que empresas brasileirasde negros venham a desbravar novasfronteiras no mercado estrangeiro.

Está aí o motivo para tamanha

Faculdade é a primeira instituição de ensino superior privada a ter um Núcleo daApex em seu campus e capacitará empresários negros para exportar seus produtos

entrevista especial

felicidade do Professor Arnaldo porcoordenar e desenvolver o Núcleoda Zumbi. Isto sem falar no orgu-lho que ele mesmo faz questão de re-forçar, por ser a Faculdade Zumbidos Palmares a primeira instituiçãode Ensino Superior Privada a fazerparte do PEIEX.

O Professor Arnaldo Batista é for-mado em Administração, com ênfaseem Comércio Exterior, Pós graduadoem Relações Internacionais, Mestre naárea de Educação e Formação de Pro-fessores do Ensino Superior e já atuana área de Exportação e Importaçãohá 20 anos. Para esclarecer sobre aparticipação dos alunos da Zumbineste projeto e como as empresaspoderão ser orientadas rumo a umdesenvolvimento que privilegie avenda de seus produtos no exterior,a Afirmativa Plural, traz uma en-trevista especial com o Coordena-dor do Núcleo.

Afirmativa Plural - É a primeiravez que a Apex realiza este projeto numainstituição de ensino superior privada?

Prof. Arnaldo Batista - Em SãoPaulo será o primeiro núcleo e sim,que isto seja reforçado. Só a Zumbidos Palmares, como Instituição de

Ensino Superior privada tem estenúcleo até o momento.

Afirmativa Plural - Como será re-alizado o trabalho dentro da FaculdadeZumbi dos Palmares?

Prof. Arnaldo Batista - Nós te-remos dois estagiários, alunos da fa-culdade que poderão colocar em prá-tica o aprendizado da sala de aula etirar dúvidas, e 4 técnicos extensio-nistas, que irão até as empresas falarsobre a prestação de nossos serviçosde consultoria, após ter todo um res-paldo de informações. Analise comoo processo todo será fantástico. Euestou apaixonado! (risos) É muito le-gal ver uma empresa pequena, semincentivo, com pouca qualificação...Que depois de passar pela nossa con-sultoria vai entendendo todo proces-so e percebe que é possível.

Afirmativa Plural - Há algumapreocupação em trabalhar inclusive a redu-ção de custos dentro da empresa?

Prof. Arnaldo Batista - Sim,com certeza. A qualificação passa portodo processo não só administrati-vo, mas produtivo também. Não ire-mos só detectar os problemas, mastambém auxiliar na resolução domesmo. Aí será inevitável que esta

Por Rejane Romano, da Redação

Zumbi e Apexjuntas

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determinada empresa tenha foco naexportação de um produto que pas-sará a ser visualizado no mundo, sen-do exportado e este processo irá ge-rar empregos.

Afirmativa Plural - Com o cresci-mento do emprego há por consequência maiorinvestimento também no mercado internodevido ao aumento do consumo destas pes-soas que estarão empregadas?

Prof. Arnaldo Batista - Confor-me o governo incentiva a exportaçãocom redução de impostos, que já exis-te, essas empresas tornam-se maiscompetitivas no mercado lá fora ecom mais este projeto que é aPEIEX, sendo um processo gratui-to, elas percebem que a hora é agora!

Afirmativa Plural - Este trabalhocom as empresas é realizado de que forma?Abrange a questão de informações sobre adocumentação, legislação e até dicas de comoatuar no mercado externo?

Prof. Arnaldo Batista - OPEIEX já vem sendo realizado emvários estados brasileiros. Ele é umprojeto de extensão industrial ex-portadora, que baseia-se no incre-mento de empresas para que ela seestabeleça num padrão que possi-bilite a exportação. E vai atuar tam-bém em outros aspectos, como ofoco são pequenas e médias empre-sas, vai demandar no crescimentodessas empresas.

Afirmativa Plural - E quanto aoperfil da empresas para as quais serão pres-tados os trabalhos de consultoria?

Prof. Arnaldo Batista - A idéia éque estas empresas sejam de pequenoe médio porte de afrodescendentes.Para dar vez e voz a este público. Oque vai acontecer de muito interessan-te é que nós seremos multiplicadoresdestas ações e as empresas não terãoque pagar nada por esta consultoria.

Afirmativa Plural - Esta consulto-ria se estende a todos departamentos daempresa? Desde organização, até como tra-balhar a marca?

Prof. Arnaldo Batista – Exata-mente, desde a matéria-prima a serutilizada, como trabalhar o produtode forma mais industrial, o cuidadocom a embalagem, os rótulos, o cui-dado com a marca, com o registro...

Afirmativa Plural - O processo dedivulgação para que as empresas tomemconhecimento sobre este projeto na Zumbise dará de que forma?

Prof. Arnaldo Batista - A Apexem si possui o site que disponibilizainformações e direciona para o núcleomais próximo. Mas, além disso, este éum projeto que permanece 24 horasna minha cabeça. Então durante a ter-

ceira fase do processo já irei de salaem sala da faculdade divulgando omesmo, porque como a maioria denossos alunos são negros, vou falarpara que eles sejam multiplicadores.Às vezes um primo, o pai, a mãe, ouele mesmo já tem um negócio ou pla-neja ter e poderá começar a divulgarpara os demais.

Afirmativa Plural - Em quantotempo o Núcleo Zumbi dos Palmares esta-rá a pleno vapor?

Prof. Arnaldo Batista - Apóstodo processo de seleção, treinamen-to... Deus queira que até o final denovembro já estejamos atuando, poistemos a meta de atender 140 empre-sas durante um ano. Meta que quere-mos extrapolar!

entrevista especial

Arnaldo Batista dos Santos

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Palmas e lágrimas. Um misto deemoção e realização. O Troféu RaçaNegra chega a sua oitava edição como mesmo congraçamento do primei-ro, mas com uma sensação ímpar deque sonhos podem se tornar realida-de e que uma iniciativa de reconheci-

especial - troféu 2010

mento e inclusão age muito além des-tes aspectos.

Na tarde do dia 13 de outubro,artistas, autoridades e personalidadescomo os atores Antonio Pitanga, Isa-bel Filardis, Lica de Oliveira, o atletaRobson Caetano, o cantor e ator

Tony Tornado, o cantor JorgeAragão, o diretor de TV da Rede Glo-bo, Luiz Antonio Pilar e o Desem-bargador do Tribunal de Justiça doRio de Janeiro, Sírio Darlan, entreoutros, confraternizaram o gostinhode um mundo mais justo.

Da Redação

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Da esquerda para a direita: Xica Xavier, Sandra de Sá, Eloi Araújo,Altay Veloso, José Vicente, Marco Simões e Milton Gonçalves.

celebra MiltonTroféu Raça

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especial - troféu 2010

As lágrimas do início do even-to para aqueles que se emociona-ram ao assistir ao vídeo institucio-nal narrando os doze anos de exis-tência e realizações da Afrobras, de-ram lugar a palmas de felicidade porperceber que hoje o Troféu se re-

nova a cada ano.Em especial nesta edição quan-

do os olhares se voltam para o futu-ro. Isto porque dentre os indicadosque concorrerão através do voto po-pular há muitos iniciantes. A novageração que a partir de então tem a

incumbência de levar adiante a mis-são de continuar mostrando o poderdas ações.

Já no início do evento em ritmode festa, a mesa de trabalhos foicomposta pela atriz Xica Xavier, oministro da Seppir Eloi Araújo, o

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NegraNascimento

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É muito bom ver todosreunidos. É bacana ver queas coisas estão se renovando.Estamos no meio docaminho. O Troféu RaçaNegra conta com a presençade tantos brancos porqueassim é o Brasil. Um país denegros, de brancos, índios, orótulo é o que menosimporta. Nossa culturaafricana é o que faz adiferença e faz da culturabrasileira a melhor domundo. Essa festa do Troféué para mostrar isso, mostraquem somos.Sandra de Sá”

especial - troféu 2010

Quero parabenizar a Coca-ColaBrasil por receber a ‘FamíliaZumbi dos Palmares’ e contribuirpela inclusão. Precisamos de maisatuação, pois só temos 1 senadornegro e 18 deputados negros.Então, quando a Afrobras mirana visibilidade do negro, alertasobre a população negra aindaestar ausente nos cargos decomando. Todos nós temos odesafio de mudar esta situação deforma mais rápida, de construirum país mais justo, maisdemocrático. Parabéns Afrobras.Eloi Araújo ”

“ator Milton Gonçalves, o vice presidente deComunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil Marco Simões, a cantora Sandrade Sá, o diretor artístico desta edição do Tro-féu Altay Veloso e o Reitor da FaculdadeZumbi dos Palmares, José Vicente.

A cada discurso o ponto de convergên-cia se apresentava quanto à necessidade deuma maior representatividade negra na so-ciedade e a importância do reconhecimen-to daqueles que já têm atuado por uma so-ciedade mais plural.

As irmãs Jaqueline e Isabel Filardis.

Ministro da Seppir, Eloi Araújo.

Pedro Maia entregou flôres em homenagemaos 30 anos de carreira de Sandra de Sá.

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Adelino Benedito, Altay Veloso e Jorge Aragão.

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É uma alegria estar aquihoje, cheia de orgulho de verpessoas que vi ainda criançase que agora estão lutando peloseu lugar ao sol.Conquistando seus lugares eos degraus que precisam paranos engrandecer. Nós negrosprecisamos disso. Beijos ebênçãos do nosso pai Oxalápara todas essas crianças.

Xica Xavier ”

“Nessa nossa parceria da qual a Coca-

Cola Brasil é muito feliz, aprendemos

que o preconceito existe e deve ser abolido.

Estou feliz de estar aqui e com essa

parceria que espero que ‘frutifique’.

Marco Simões ”“

Da esquerda para a direita: Nill Marcondes, a diretora de comunicação daAfrobras Francisca Rodrigues, Maria Marcondes e o reitor José Vicente.

Milton Gonçalves e Marco Simões - vice presidente decomunicação e sustentabilidade da Coca-Cola Brasil.

Sandra de Sá e Xica Xavier. Deo Garces e Dagama.

Fotos

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Artistas dançam ao som de Thulla Melo.

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Há uma semana, em letras pequenas, foi publicado nos jornais quesegundo pesquisas do IBGE somos 51% da população brasileira.Isso me deixou preocupado com o José Vicente, que agora terá queabrir várias ‘Zumbis’! Apesar de sermos maioria a questão dopreconceito ainda é uma muralha que só podemos derrubar através daeducação e da cultura. Será que um dia teremos um presidente negrono Brasil? Será que um dia teremos ao menos 10 governadoresnegros? Será que um dia dos mais de 5 mil municípios brasileiros,teremos pelo menos mil prefeitos negros? Se nos Estados Unidos, comapenas 15% da população de negros conseguiram eleger Obama, porque aqui não? Teremos que passar por esta vergonha por muitotempo? Temos que dar as mãos a todos que trabalham pela inclusão.Milton Gonçalves ”

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Isabel Filardis e Mussunzinho.

Da esquerda para a direita: Rocco Pitanga, José Vicente, Antonio Pitanga,Marco Simões, Tony Tornado, Milton Gonçalves e Jorge Aragão.

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especial - troféu 2010

Artistas dançam ao som de Thulla Melo.

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Estar aqui hoje tem tanto significado.Apesar do tempo ter passado, ainda hoje

as coisas não estão diferentes, estão comuma nova roupagem, mas não mudaram.

O que me toca é fazer algo que adoro,com pessoas tão especiais, que também já

estão há muito tempo na luta. Somosagradecidos a todos parceiros, a Coca-Cola Brasil e a todos os demais que estão

colaborando pela primeira vez com oTroféu Raça Negra. Vamos precisarcontinuar suando a camisa, mas agoracom a missão de passar o nosso legado. O

Troféu foi criado para reverenciar osnossos heróis e passar a mensagem de que

é possível. Já passamos por um período de

entregar o Troféu para pessoas repetidas.

E hoje ver esta sala com tantos rostosnovos é uma realização.

José Vicente ”

Quanto ao grande homenageado da 8ª edição, será o cantor Milton Nascimen-to, que de acordo com o consenso de todos os presentes, trata-se de uma homena-gem mais do que justa.

Sandra de Sá foi homenageada ainda no lançamento recebendo flores pelos 30anos de carreira. Emocionada a cantora disse: “São 30 anos na força, na luta supe-rando muita coisa”.

A cantora Thulla Melo deu ritmo ao evento interpretando canções que colo-caram os presentes para dançar.

José Vicente e Lica Oliveira.

Thulla Melo. Elenco da peça Orfeu.

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especial - troféu 2010

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Quero falar de uma coisaAdivinha onde ela andaDeve estar dentro do peitoOu caminha pelo arPode estar aqui do ladoBem mais perto que pensamosA folha da juventudeÉ o nome certo desse amor

Já podaram seus momentosDesviaram seu destinoSeu sorriso de meninoTantas vezes se escondeuMas renova-se a esperançaNova aurora a cada diaE há que se cuidar do brotoPra que a vida nos dê flor e fruto

Coração de estudanteHá que se cuidar da vidaHá que se cuidar do mundoTomar conta da amizadeAlegria e muito sonhoEspalhados no caminhoVerdes, plantas, sentimentoFolha, coração, juventude e fé

Wagner Tiso e Milton Nascimento

Coração Estudantedecapa

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Foto:

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Das batidas dos tambores oriun-dos da cultura negra às complexasharmonias do jazz somadas com asuavidade da música popular brasi-leira. É com essa combinação que odono de uma das vozes mais mar-cantes e inconfundíveis, tornou-seum marco no cenário musical brasi-leiro. Fluminense de registro e mi-neiro de coração, Milton Nascimen-to há décadas conquista uma legião

capa

Por Adriana Proença, especial paraAfirmativa Plural

Cinquenta anos depois de gravar seu primeiro compacto, Milton Nascimentoainda preserva a contemporaneidade e a mistura de gêneros musicais

de admiradores, de todas as idades,credos e classes sociais. O sucesso éresultado de uma paixão avassalado-ra pela música incorporada em suavida desde muito pequeno, quandoganhou uma sanfona, seu primeiroinstrumento. De lá pra cá, o som dasnotas musicais se uniu ao timbre úni-co do artista, formando um duetoespetacular.

Em 1967, já era considerado o

melhor intérprete pelo Festival Inter-nacional da Canção, um concurso demúsicas nacionais e internacionais.Nesse mesmo evento, a canção Tra-vessia conquistou o segundo lugar,tornando-se uma das músicas maisfamosas de Milton, no Brasil e noexterior. O título foi apenas um dosdiversos conquistados pelo artista aolongo da carreira artística. Em 1997,foi condecorado com o Grammy de

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Melhor Álbum de World Music doAno. Pouco tempo depois, recebeu amedalha de ouro da Sisac, no Chile.O cantor também levou o GrammyLatino na categoria Melhor DiscoPop Contemporâneo Brasileiro comálbum Crooner. Além dos prêmiosrecebidos por suas interpretações, acomposição A Festa, de Milton Nas-cimento, interpretada por Maria Rita,vence o Grammy Latino em 2004 nacategoria de melhor canção brasilei-ra. Maria Rita, filha da imortal ElisRegina, foi um dos jovens talentosapadrinhados pelo cantor.

Durante sua trajetória artística,Nascimento valorizou o trabalhocom um aspecto cosmopolita e in-fluências de nomes da música nacio-nal e internacional.

Entre os nomes que fizeram par-te dessa parceria estão Pat Metheny,Herbie Hancock, Ron Carter, Mer-cedes Sosa, Fito Paez, Hubert Laws,Peter Gabriel, James Taylor, Sting,Paul Simon, Jon Andersen (Yes),Duran, Duran, Chico Buarque, ElisRegina e Caetano Veloso. Não hácomo falar de Milton Nascimentosem citar o grande amigo de infânciae parceiro musical Wagner Tiso, umdos mais importantes compositores,arranjadores e orquestradores nacio-nais. Ao lado dele, Nascimento redi-giu a letra da canção Coração de Estu-dante, escrita em1983, uma singelahomenagem ao estudante EdsonLuiz de Lima Souto, morto durantea ditadura militar. Pouco tempo de-pois, a música transformou-se em umhino das “Diretas Já”, movimento

realizado em meados dosanos 80 que lutava

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Da esquerda para a direita: Ron Carter, Milton Nascimento e Wayne Santos.

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Coração de Estudante,escrita em1983,transformou-se em umhino das “Diretas Já”,movimento realizado emmeados dos anos 80que lutava contra aditadura militarinstaurada no Brasildesde 1968.

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contra a ditadura militar instauradano Brasil desde 1968. Consideradauma das melodias prediletas do pre-sidente Tancredo Neves, primeirocivil da República após a queda dosmilitares em 1985, a trilha comoveumilhares de brasileiros quando foidivulgada pelas rádios e TV durantea cerimônia fúnebre de Tancredo,em 21 de abril de 1985, um dos epi-sódios mais marcantes de comoçãonacional.

Uma das mais recentes inova-ções do cantor e compositor foi acriação do álbum E a Gente Sonhan-do. A idéia de lançar o CD surgiu háanos quando Milton folheava as pá-ginas da edição especial da revistaBillboard e avistou nomes de jovenscantores, instrumentistas, composi-tores da cidade Três Pontas. A par-tir daí, começou a reunir talentos da

nova geração, anônimos repletosde ginga e musicalidade. Entre ju-lho de 2009 e julho de 2010, Mil-ton e seus novos parceiros se reu-niram para a gravação do álbumna cidade de Três Pontas e no es-túdio caseiro do cantor, localiza-do no Rio de Janeiro. O trabalhofoi árduo, mas rendeu bons resul-tados. Muitos dos participantesnunca tinham sequer estado emum estúdio. Alguns jovens foramapresentados ao artista durante agravação do DVD Pietá, inspira-do nas mulheres da sua vida, prin-cipalmente na mãe adotiva, Lília,Ângela Maria e Elis Regina. Entreas revelações do E a Gente Sonhan-do estão os jovens Bruno Cabral,Ismael Tiso Jr. e Paulo Francisco.

Por causa de seu carisma, talen-to e paixão pelo estado de Minas

Gerais, no mês de setembro, o can-tor e compositor Milton Nascimen-to foi o principal homenageado naoitava edição do Festival Internacio-nal de Corais. Divididos em 156 co-rais, mais de 4 mil vozes emociona-ram a platéia em frente ao Palácio daLiberdade, em Belo Horizonte.

Túnel do tempoA inclinação para a música che-

gou muito cedo à vida de MiltonNascimento. Um dos maiores expoen-tes da música brasileira já via no pia-no da casa dos avós uma maneira dese expressar desde os dois anos deidade. Após a morte da mãe, a em-pregada doméstica Maria do CarmoNascimento, o futuro músico muda-se para a casa da avó em Juiz de Fora,Minas Gerais, acontecimento que foium dos grandes marcos na infância

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Clube da esquina nota10.

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de Milton. Em 1945, a filha de sua madrinha eex-patroa de sua mãe biológica, a professorade música Lília Campos, adota-o como filhoapós casar-se com Josino Campos, proprietá-rio de uma estação de rádio em Três Pontas,sul de Minas. Aos 6 anos, Milton ganha de pre-sente dois instrumentos musicais: uma gaita euma sanfona de quatro baixos. Para completaras notas que faltavam, o jovem completa a so-noridade do instrumento com a própria voz.

Aos 13 anos tem seu primeiro contato como violão e conhece Wagner Tiso, companheiroque formaria o grupo musical “Luar de Prata”e que acompanharia grande parte de sua traje-tória. O grupo evoluiu e mudou de nome:“Milton Nascimento e seu Conjunto”, fazen-do apresentações em várias cidades mineiras.Aliado a Tiso e a outros amigos músicos, Mil-ton forma o grupo “ W´s Boys”. Após grandevisibilidade, Milton e Tiso são convidados para

entrar no Conjunto Holliday, de Belo Hori-zonte, no qual gravam a canção Barulho doTrem. Três anos depois (em 1963), muda-se

definitivamente para Belo Horizonte.Em 1964, forma o grupo Berimbau Trio,

com Wagner Tiso e Paulinho Braga. Duranteesse período, Milton começa a compor e gra-va o LP Quarteto Samb-cana com Pacífico Mas-carenhas, grande nome da bossa-nova minei-ra. Três anos depois, ele grava um dos gran-des trunfos de sua carreira, o “Clube da Es-quina”, que mais tarde deu nome a um movi-mento cultural tipicamente mineiro com ex-pressividade em todo o país. Na década se-guinte, o cantor se torna alvo da ditadura e odisco Milagres dos Peixes tem boa parte das le-tras censuradas.

Agora, em 2010, Milton Nascimento é ho-menageado pela Afrobras e pela FaculdadeZumbi dos Palmares, com o Troféu Raça Ne-gra 2010, evento que tem por objetivo desta-car personalidades negras que são sucesso emsuas áreas de atuação. Na homenagem, as ins-tituições procuram celebrar grandes nomesnacionais ou internacionais e trazer os me-lhores cantores para presentear, com suasvozes, os grande ícones do país.

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Milton Nascimento hádécadas conquistauma legião deadmiradores, de todasas idades, credos eclasses sociais.

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aImagine a naturezaO som do mar, das águas...O som do vento...O canto dos pássaros! Ah! Quanta poesia!É assim que vejo e sinto Milton. Um coraçãopulsante no meio da natureza!!!Um beijo em sua alma daquela que te admirae te guarda num cantinho especial do coração.

Isabel Filardis ”

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Um músico canadense falando a respeito deum show do Milton em Montreal disse-me:“As pessoas saíram de casa para ver umshow e retornaram como se tivessem assistidoa um belíssimo ritual religioso”.

Milton Nascimento é assim, a música quevem através dele, única no planeta, põe osublime diante de nós.Ter um artista dessa grandeza que como ele,anda pelo mundo mostrando como pensa,vive e sonha a alma da nação brasileiracontribui, e muito, para que sejamos bem-vindos em qualquer lugar do mundo aondetenha estado antes de nós.Milton é assim como Neruda, Piazzolla,Carlos Santana, Mercedes Sosa, VargasLlosa, pessoas que fazem com que o cantoda nossa América Latina seja ouvidomundo afora.Tudo isso, eu sempre soube até conhecê-lo deperto. Quando isso, então, acontece, descubroque essa arte tão intensa o escolhe por contada ternura, respeito, simplicidade e amorcultivados com zelo em seu coração.

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Milton Nascimento é o nosso jequitibáda música, do canto, da poesia, dapostura. E é toda a carga de emoçãodeste Troféu Raça Negra da qual ele éorgulho.Parabéns Troféu Raça Negra 2010!!!

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Desde o início da minha carreiraque admiro o perfil melódico deMilton Nascimento, a melodiaque ele coloca nas músicas..., euia correndo pra casa e ficavaestudando os acordes. Ele é umadas referências que eu tive econtinua sendo até hoje.

Jorge Aragão ”

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É mais do que justa essa homenagem doTroféu Raça Negra ao Milton Nascimento.É mais uma maneira de mostrar ao nossopovo a nossa cultura. Mostrar para essacriançada que está chegando agora que agente tem uma cultura rica sim, que temosnossos heróis sim, muito fortes e da melhorqualidade.

Sandra de Sá”

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Por Eliane Almeida

Mais um 20 de Novembro. Dia daConsciência Negra. Lembra-se da mortedo maior Herói Nacional Negro, Zumbidos Palmares. Por sua luta, o nomeZumbi deixou de ser sinônimo de mortovivo para ser sinônimo de homensnegros lutadores. Tal qual Zumbi, oQuilombo dos Palmares na Serra daBarriga, outros lugares do planeta poronde a escravidão deixou suas marcastambém possuiam seus “Zumbis”.

A determinação de homens negros naluta contra a discriminação racial portodos os cantos onde a escravidãodeixou suas sequelas, os transformamem paradigma de conduta. E é graças aesses homens de fibra que o mundoestá mudando.

Na África do Sul, o regime doApartheid deu origem a diversas ma-nifestações contra a segregação porconta da raça. É da dificuldade quenasce a força da luta e vários Zumbissurgiram nesse bojo.

Nomes como Desmond Tutu,Stive Biko e Nelson Mandela figu-ram entre os homens que transfor-maram a vida dos negros sul africa-nos. A legitimação da luta se dá pelaforma radical com que a populaçãoafricana negra teve seus direitos deser humano subtraídos com as polí-ticas segregacionistas.

Nas ruas e calçadas eram marca-dos os locais por onde podiam pas-sar os negros. Eram proibidos de fre-quentar praias e locais públicos quetivessem como prioridade o públicobranco. Como viver num local ondese tem cerceado o direito de ir e vir?

Desmond Tutu, sacerdote angli-cano, nasceu numa época em que osnegros tinham que carregar uma iden-tificação especial e apresentá-la aospoliciais brancos quando fossem re-quisitados. Em 1948, houve eleiçõesna África do Sul, mas como somenteos brancos puderam votar, o partidoeleito era abertamente racista.

Em 1975, Desmond Tutu foi oprimeiro negro a ser nomeado deca-no da Catedral de Santa Maria, emJohannesburgo, uma posição públi-ca que o fazia ser ouvido. Sua pro-posta para a sociedade sul-africanaincluía direitos civis iguais para to-dos, abolição das leis que limitavama circulação dos negros, um sistemaeducacional comum e o fim das de-portações forçadas de negros.

Por sua firme posição contra a se-gregação racial ganhou, em 1984, oPrêmio Nobel da Paz. Na mesmaépoca foi eleito arcebispo de Johan-

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nesburgo e depois, da Cidade doCabo. Recebeu o título de doutorhonoris causa de importantes univer-sidades dos EUA, do Reino Unido eda Alemanha.

Em julho de 2010, o Arcebisporesolve deixar a vida pública e se de-dicar mais à família. Aos 79 anos deidade, acredita que já deu sua contri-buição para a mudança no país e que“é hora de abrandar”.

Outro ícone sul-africano é o lí-

der Nelson Mandela. Preso por 27anos por lutar contra o regime doApartheid, continuava a peleja dentrodas paredes da cela da prisão. Não sedeixou enfraquecer pelas adversida-des e se transformou no maior lídernegro que a África do sul já viu.

Nelson Rolihlahla Mandela nas-ceu em 18 de julho de 1918 na cida-de de Qunu (África do Sul). Mande-la, formado em Direito, foi presiden-te da África do Sul entre os anos de

1994 e 1999. No início, a sua lutacontra o Apartheid era baseada napaz e conversação, mas ao ser tes-temunha do chamado “Massacre deSharpeville”, em 21 de março de1960, onde 69 pessoas foram as-sassinadas, passou a defender a lutaarmada.

Mandela foi preso em 1962 e em1964 foi condenado a prisão perpé-tua. De dentro da prisão, enviavacartas aos seus seguidores que colo-

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Desmond Tutu.

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cavam em prática as orientações domestre. Liberto em 1990, continuoua batalha e foi eleito o primeiro pre-sidente negro da África do Sul de1994 a 1999.

Outro sul africano determinantepara a luta contra o Apartheid foiSteve Biko. Steve Bantu Biko, nasci-do em 1946 e assassinado em 1977, foi um conhecido ativista do movi-mento anti-apartheid na África do Sul,durante a década de 1960. Insatisfei-to com a União Nacional de Estu-dantes Sul-africanos participou dafundação, em 1968, da Organizaçãodos Estudantes Sul-africanos. Em1972, tornou-se presidente honorá-rio da Convenção dos Negros.

Em março de 1973, no ápice doApartheid, foi “banido”, o que signi-ficava que Biko estava proibido de co-municar-se com mais de uma pessoapor vez e, portanto, de realizar dis-cursos. Em 6 de setembro de 1977foi preso em bloqueio rodoviárioorganizado pela polícia. Levado sobcustódia, foi acorrentado às grades deuma janela da penitenciária duranteum dia inteiro e sofreu grave trau-matismo craniano.

Em 11 de setembro, foi embar-cado em veículo policial para trans-porte para outra prisão. Biko mor-reu durante o trajeto e a polícia ale-gou que a morte se devera a “pro-longada greve de fome empreendi-da pelo prisioneiro”.

Nos Estados Unidos, a luta ar-mada e a luta pacífica também erampregadas. Os contemporâneos Mar-tin Luther King, o Pacificador eMalcom X, o Guerreiro. Cada umao seu modo foram Zumbis em ter-ritório do Tio Sam.

Malcom Little, este é o verdadei-ro nome de Malcom X. Nascido em

19 de maio de 1925, Nebraska, foicriado no Harlem. Malcom testemu-nhou várias agressões contra sua fa-mília. A Pior delas foi o assassinatode seu pai, Earl Little, surrado e de-pois jogado nos trilhos do trem porser um ativista religioso e políticonegro. Por conta desta morte trági-ca, a mãe de Malcom, Louise Norton

Little, enlouqueceu e foi internada emsanatório deixanda seus oito filhosentregues à própria sorte.

Mais inteligente dos irmãos,confidenciou a um professor a quemadmirava sobre seu sonho de ser ad-vogado. Seu professor o desestimuloudizendo que ele enquanto negro nãoteria a menor chance no mercado de

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Nelson Mandela.

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trabalho. A partir daí Malcom dei-xaria os estudos de lado e passaria apraticar pequenos delitos. Ficou pre-so de 1946 a 1952 onde se conver-teu ao Islamismo. Seu mentor ElijahMuhammad criador da Nação doIslã, tinha como objetivo a criaçãode um estado negro e a luta armada.Malcom X abraçou a idéia e se tor-

nou o maior articulador da organi-zação. A mídia passou a persegui-loe seus discursos se tornaram gran-des eventos chamando atenção daopinião pública e deixando em se-gundo plano a imagem do mentor.O que causou um grande estreme-cimento entre eles.

Em 1964, Malcom rompe com a

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Nação do Islã e faz peregrinação aMeca. Volta com suas ideias muda-das e passa a pregar como pacifica-dor. Em 21 de março de 1965, aos39 anos, Malcom X é assassinadocom 13 tiros a queima roupa por trêsmembros da Nação do Islã. Deixouesposa e seis filhas. Seus ensinamen-tos são referências até hoje.

Nesta mesma época Martin Lu-ther King também lutava pela pazentre as raças. Nascido Michael Lu-ther King Jr, teve seu nome mudadoposteriormente. Nasceu em 1929 emuma família de pastores Batistas, emAtlanta. Foi co-pastor com seu paiaté a década de 1960.

Sua veia pacificadora é muito for-te por conta do tipo de educação queteve. Estudou em escolas segregadasna Georgia, formou-se bacharel em1948 na Morehouse College, instituiçãonegra em Atlanta onde seu pai e avôhaviam estudado. Estudou Teologiapor tres anos no Seminário Crozer,na Pensilvânia.

Em 1954. Martin Luther King setornou pastor da Dexter Avenue BaptistChurch em Montgomery, Alabama. Sem-pre forte trabalhador pelos direitoscivis para os membros de sua raça,King foi membro do comitê executi-vo da Associação Nacional para oAvanço das Pessoas de Cor, organi-zação líder no país.

Ele estava pronto, então, no fi-nal de 1955, a aceitar a liderança doMovimento Negro contra Violência,primeira grande demonstração dodesejo de paz nos Estados Unidos.Em 21 de dezembro de 1956, apósa Suprema Corte dos Estados Uni-dos haver declarado inconstitucio-nais as leis que exigem segregaçãonos ônibus, negros e brancos anda-vam nos ônibus como iguais. Du-

Malcom X.

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rante estes dias de boicote King foipreso, sua casa foi bombardeada, elefoi submetido a abusos pessoais,mas ao mesmo tempo, ele emergiucomo um líder negro de primeiraordem. Em 1957 foi eleito presiden-te da Southern Christian LeadershipConference, uma organização forma-da para prover novas lideranças parao crescente movimento dos direitoscivis. Na idade de 35 anos, MartinLuther King Jr., foi o homem maisjovem a ter recebido o PrêmioNobel da Paz. Na noite de 4 de abrilde 1968, enquanto estava na sacadade seu quarto de motel em Memphis,Tennessee, onde estava a liderar umamarcha de protesto em soliedarie-dade com os trabalhadores do lixo,ele foi assassinado.

No Brasil Nossa nação tem terreno fértil

em se falando de heróis. Em país “emque se plantando tudo dá”, a terrabrasilis tem sempre os melhores fru-tos. No século XX podemos citarpelo menos 3 grandes homens que,com seu toque de Midas, transfor-mam palavras em atos.

Abdias do Nascimento, aos 96anos, foi, em 2010, indicado ao Prê-mio Nobel da Paz pelo seu trabalhoem busca do fim da discriminação.Para quem acredita que o Estatutoda Igualdade Racial é uma novidade,saiba: não é. Entre 1945 e 1946,Abdias organiza a Convenção Naci-onal do Negro (a primeira plenáriarealizando-se em São Paulo e a se-gunda no Rio de Janeiro), que pro-põe à Assembléia Nacional Consti-tuinte a inclusão de um dispositivoconstitucional definindo a discrimi-nação racial como crime de lesa-Pá-tria. A iniciativa, apresentada à As-

sembléia Nacional Constituinte peloSenador Hamilton Nogueira, não éaprovada.

Não se deixando calar, lutou naRevolução de 1930 e 1932 como sol-dado. Mas sua veia política e artísti-ca o transformaram num ser pen-sante que incomodava. Poeta inato,a arte lhe fluia pelas veias. O incô-modo que a discriminação lhe cau-sava fez com que por onde passassedeixasse sementes de revolta. Criouvários núcleos de resistência pelo

estado de São Paulo, o que lhe deugrande notoriedade e desconforto àsautoridades.

Foi preso diversas vezes e exila-do. Mas nada o calava. Protestoucontra o Estado Novo, incitou pro-testos, buscou na educação formala estrutura para a organização deseus argumentos. Em 1938 formou-se em Economia pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro. Em 1941,depois de sua estada no Peru, ondefez parte de um grupo de escritores

Marthin Luther King.

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e poetas de Lima, foi preso ficandodurante dois anos na PenitenciáriaCarandiru. O motivo da prisão? Em1936, Abdias resistiu a agressõesracistas e foi condenado, à revelia,por desobediência.

Na prisão, criou o Teatro Expe-rimental do Negro (TEN). Nas ins-talações do presídio deu início a es-colas de alfabetização, cultura e arte

dramática para os detentos, deixan-do ali também suas sementes deconsciência. Saindo da prisão, em1943, buscou apoio de intelectuaisde são Paulo, como Mario de An-drade, e não obteve ajuda. Resolvedeixar São Paulo e mudou-se para oRio de Janeiro.

Em 1944, com apoio de pessoasinfluentes, Abdias consegue organi-

zar o TEN e colocá-lo para funcio-nar a pleno vapor. Em 1949 funda oJornal Quilombo, onde todas as açõessociais e artíticas dos grupos negroseram publicadas. O jornal circulouaté 1951.

Abdias do Nascimento buscoupelos caminhos da organização polí-tica, educacional e artística dar cons-ciência ao povo brasileiro das maselassociais. Como orientador, organizouatividades por todo país deixandoseus discípulos bem treinados paradar continuidade a sua luta. Aindahoje, depois de 96 anos de vida egrande parte dela dedicada a luta con-tra a discriminação racial, é impossí-vel não dar crédito a este Zumbi quetambém ocupou entre 1991-1992 e1997-1999 a cadeira de senador daRepública.

Milton Gonçalves é mais umZumbi da nação brasileira. Ator re-nomado, é referência na conscienti-zação política através de sua posturae utiliza a máquina que é a mídia afavor de sua fala. Polêmico, diz quenão faz parte do Movimento Negroporque é um negro em movimento.Sobre o racismo diz que o “precon-ceito racial contra o negro bate navítima como uma pancada na cabeçaque ressoa pelo corpo inteiro”.

Ator de teatro, cinema e televi-são, Milton também é diretor. Atuouem mais de 100 filmes e perde a con-ta de quantas vezes trabalhava oracomo ator, ora como diretor.

A política também faz parte davida deste homem que, nascido emMinas Gerais, não tem nada do es-tereótipo do mineiro quieto que fazsuas artes às escondidas. Milton éum mineiro de Monte Santo que usaa fala e sua figura de força para esti-mular nas pessoas a discussão atra-Abdias do Nascimento.

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vés de sua fala e de seus papéis sem-pre polêmicos.

Seu dom artístico foi estimula-do ao assistir a peça “A Mão de Ma-caco”. Ao ver o que era possível fa-zer no palco, Milton decidiu naque-le momento que queria atuar. Nabusca do aprendizado da arte no pal-co, conheceu o Teatro de Arena desão Paulo onde pôde aperfeiçoar odom que já possuía. Nessas andan-ças teve seu caminho amenizado pelaamizade de Augusto Boal, Gianfran-

cesco Guarnieri, Flávio Migliacio,Oduvaldo Viana e muitos outros.

O geógrafo Milton Santos é tam-bém Zumbi. O baiano da cidade deMacaúba era bacharel em Direito esua notoriedade se deu por sua de-dicação aos estudos do conhecimen-to dos problemas urbanos que afe-tam as nações subdesenvolvidas,fato que o torna referência até hoje.Suas publicações tem credibilidadeem todo o mundo e servem comoreferência para diversos trabalhos

acadêmicos ao redor do planeta.Com extensa bibliografia a res-

peito da situação dos menos favore-cidos nos mais diversos guetos, Mil-ton Santos ganhou, em 1994, o prê-mio “Vautrin Lud”, o Nobel da Geo-grafia. Passou por banca constituídapor 50 universidades de diferentespaíses para ser avaliado.

Milton Santos foi secretário deEstado de Planejamento sendo, emseguida, Subchefe da casa Civil doGoverno Jânio Quadros. Por perse-

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Milton Gonçalves.

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Milton Santos.

guição política, se viu obrigado aoexílio. Ficou em Strasburg, na Fran-ça, onde doutourou-se em Geogra-fia. Lecionou em várias cidades domundo como Tolouse, Nova York,Bordeaux, Paris, Toronto, Lima, Dar-es Salam, Caracas e no Rio de Janeiro.

Nas palavras de Milton Santos:“Ser cidadão, perdoem-me os quecultuam o direito, é ser como o esta-

do, é ser um indivíduo dotado de di-reitos que lhe permitem não só se de-frontar com o estado, mas afrontar oestado... É neste sentido que me per-gunto se a classe média é formada decidadãos. Eu digo que não. Em todoo caso no Brasil não é, porque não épreocupada com direitos, mas comprivilégios...” Fica aí o pensamentodo grande homem para a reflexão.

Todos os Zumbis de alguma for-ma foram calados. Mas o grito dadoantes do calar forçado foi ouvidopelas nações que fazem com que aluta ainda seja justa. São Zumbis detodos os lugares, de todas as cores,de todas as nações lutando pela igual-dade de condições e direitos. SomosZumbis de nossas vidas, protagonis-tas e não coadjuvantes.

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Por Martinho da Vila*

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* Martinho da Vila, Cantor e Compositor.

O Vinte de Novembro foi criadopara celebrar o aniversário de mortede Zumbi dos Palmares.

Vamos celebrizar, minha gente! Édia de reflexão sobre a participaçãodo negro na construção do Brasil, decomemorar e festejar, como mandaa tradição do povo africano. No Con-tinente Negro se chora cantando ese dança rezando quando morre al-guém que cumpriu bem a sua mis-são aqui na terra.

“Valeu Zumbi!O grito forte dos Palmares influ-

enciando a Abolição”Quanto mais importante o fale-

cido, maiores são os alegres combasem África, particularmente em An-gola, semelhantes aos nossos antigosgurufins, com comes e bebes. É ocostume que veio das terras dos nos-so ancestrais.

Nas favelas, antigamente, os mor-tos eram velados em casa e os ami-gos se reuniam por uma noite inteirano quarto de um barraco à volta docorpo, para rezar. Outros na sala lem-bravam bons acontecimentos vividospelo falecido e não se furtava a his-tórias engraçadas. Do lado de fora,formava-se uma roda com brincadei-ras de gurufins, hilárias. Por exem-plo, uma brincadeira que noticiavaroubo na casa de alguém, denuncia-do ao participante denominadoMartins Gravata por outro que per-sonalizava o Mestre:- Martins Gravata!- Pronto Seu Mestre!- Esta noite houve um roubo.- Aonde?- Na casa do Violão Sem Braço.- Aqui na 8 não houve.- Então onde foi?- No barraco do mentiroso.- Não. Na 7 ninguém rouba nada. Deve

ter sido na casa do Pé Grande.- De maneira nenhuma. Aqui na 44 se

ladrão chegar eu chuto com o meu pisante.- Será onde foi o roubo?- Na casa do Maluco.

Se algum dos participantes nãorespondesse imediatamente, tinha dedar a mão à palmatória e a gargalha-da era geral.

Hoje isto não mais acontece por-que os velórios são em tristes cape-las mortuárias, mas quando morreum sambista considerado, o corpo évelado na quadra da sua escola e osamba não pode faltar, principalmen-te quando se trata de um compositorde renome. O mais concorrido veló-rio que participei foi o do Beto SemBraço, no Império Serrano e os maisemocionantes foram os do Cabana,na Beija-flor e o do Luiz Carlos daVila, em Vila Isabel. Neste, de iníciocantarolamos, baixinho, à capela, al-gumas das músicas dele, depois fize-ram ritmo com palmas de mãos e lápelas tantas da madrugada uma rodade samba se formou.

A tradição dos gurufins e combastambém acontecia nos aniversáriosde falecimento, o que justifica os fes-tejos no Dia da Consciência Negra,o Dia de Zumbi.

Voltando à reflexão, muita gentepensa que os negros só se destaca-ram no futebol e na música popular,se esquecendo de gênios como Ma-chado de Assis e Lima Barreto, naliteratura, Solano Trindade e Cruz eSouza, na poesia, assim como de tan-tos outros nas artes em geral, inclu-sive na música clássica. O nosso pri-meiro maestro erudito foi José Mau-rício Nunes Garcia, o padre negro,maior compositor sacro das Améri-cas no Século XVII.

O 20 de novembro é dia de to-

dos os brasileiros, independente dacor da pele, se conscientizar sobre anossa história e celebrar Zumbi dosPalmares. Quem quiser conhecer me-lhor a vida do grande guerreiro so-brinho de Ganga Zumba, fundadordo maior quilombo, o de Palmares,deve ler o livro Zumbi, de Joel Rufinodos Santos, editado pela Global.

Em linhas gerais a vida do gran-de guerreiro está descrita na letra deum jongo sinfônico criado em par-ceria com o Maestro Leonardo Bru-no para o Concerto Negro:Zumbi, Zumbi. Zumbi dos Palmares ZumbiLiderou o Quilombo-Nação já multirracialProibia discriminação de maneira qualquerEntre jovens e idosos, crianças e adultosGuerreiros e excepcionaisÍndios, caboclos, negros e brancosAlém de entre homem e mulherZumbi, Zumbi dos Palmares, ZumbiSonhava fazer de um Estado um grandecoraçãoPernambuco até Alagoas ser o mesmo chãoNão morreu, porque mais do que gente eleera ideaisE os grandes ideais não morrem jamaisRei Zumbi, ê Zumbi!Zumbi dos Palmares, ZumbiE então surgiram aos milhares por estesBrasisQuilombos, mocambos, Palmares e novosZumbisQue até hoje norteiamCabeças pensantesPregando a miscigenaçãoDe um povo que canta, que dança e proclamaZumbi! Eis a tua NaçãoRei Zumbi, ê Zumbi!Zumbi dos Palmares, Zumbi.

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No dia 20 de novembro, Dia daConsciência Negra, celebramos amemória de Zumbi dos Palmares,herói negro brasileiro. E talvez nãohaja melhor maneira de celebrarZumbi do que esta: a de insistirmosna importância da ação educacionalno projeto coletivo de incentivo àpromoção de justiça e paz nas rela-ções étnico-raciais.

Dia de homenagem a Zumbi é diade Memória. Dia, pois, de lembrar-mos que entre os Estados signatári-os da III Conferência Mundial de Com-bate ao Racismo, Discriminação Racial,Xenofobia e Intolerância Correlata, reali-zada em Durban, África do Sul, em2001, o Brasil também assumiu o

Por Prof. Dr. João Carlos Di Genio*

compromisso de promover açõespreventivas de combate ao precon-ceito e à discriminação étnico-raciaise de participar da implantação do Pla-no Internacional de Eliminação de Todasas Formas de Discriminação Racial.

Desde então, em nosso país in-tensificou-se a adoção de medidaspara efetivar os compromissos assu-midos e a temática da promoção deigualdade racial foi conquistando es-paço crescente nas agendas dos go-vernos, vindo a constituir um dosprincipais temas contemporâneos.Os debates, que incluem a preocu-pação com a definição de políticas,estratégias e táticas em todas as esfe-ras de ação, mostram-se particular-

mente úteis na esfera educacional.A Universidade Paulista, organi-

zação-cidadã, não permaneceria in-diferente em meio à tão relevanteprocesso histórico e social: estabele-ceu aliança com organizações parcei-ras, entre as quais a Faculdade Zum-bi dos Palmares e adotou medidas in-ternas de caráter acadêmico, entre asquais o credenciamento do Grupo dePesquisa Estudos Transdisciplinares daHerança Africana junto à PlataformaLattes do CNPq.

Esse grupo, coordenado pelaProfa. Dra. Ronilda Iyakemi Ribei-ro, tem por objetivo principal ge-rar subsídios para os debates e aspráticas sociais desenvolvidos em

a UniphomenageiaZumbi

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prol da justiça nas relações étnico-raciais de países da afrodiáspora.Sua produção acadêmica, relativa afenômenos educacionais, culturaise religiosos africanos e afrodiaspó-ricos, é realizada em conformidadecom duas Linhas de Pesquisa: (1)Africanidades, Cultura Midiática e Gru-pos Sociais e (2) Herança Africana emInstituições Educacionais e na Formaçãodo Indivíduo.

Alguns de seus pesquisadoresprivilegiam temas relativos à vidasociocultural africana, tanto bantuquanto sudanesa: Literatura oraliorubá (África Ocidental) e educação devalores; Tradição oral wongo (RepúblicaDemocrática do Congo) e educação. Ou-tros pesquisadores se debruçam so-bre temas relativos à presença africa-na no Brasil, abordando diversas te-máticas, entre as quais cabe mencio-nar A presença no Brasil de Ifá-Orunmilá,divindade iorubá da sabedoria; Constitui-ção de individualidades em espaço oracu-lar afro-diaspórico; Mitologia iorubá,roleplaying games e educação; Benzedeirastambém educam e Educando para a Pazcom base em valores africanos.

Em 2010, a Universidade Paulis-ta, por meio da ação desse Grupode Pesquisa, produziu o documentoEstratégias de ação afirmativa para valo-rização do negro em teses e dissertações daárea educacional produzidas no Brasilentre 1995 e 2009, que foi encami-nhado ao Conselho Nacional deEducação/MEC, como colaboraçãopara os trabalhos da Comissão deAcompanhamento e Avaliação daExecução do Parecer CNE/CP N°3/2004 e da Resolução CNE/CP N°1/2004 que tratam da instituição dasDiretrizes Curriculares Nacionaispara a Educação das Relações Étni-co-Raciais e para o ensino de Histó-

ria e Cultura Afro-Brasileira e Afri-cana. O documento encaminhadopela UNIP reúne um conjunto derecomendações úteis à formação,aperfeiçoamento e atualização deeducadores em todos os níveis deensino visando ampliar suas possibi-lidades de reflexão e de aprofunda-mento crítico acerca do tema emquestão.

* Prof. Dr. João Carlos Di Gênio, reitor da Uni-versidade Paulista – UNIP.

A luta de Zumbi pelos direitos dopovo negro se perpetua nos esforçosdas novas gerações. Perdura nos ges-tos realizados para eliminar toda e qual-quer forma de discriminação étnico-racial. Perpetua-se e deverá perduraraté a conquista da almejada união so-lidária entre pessoas e entre povos.

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João Carlos Di Gênio - reitor da UNIP.

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A Semana da Consciência Negraé uma conquista dos movimentospopulares que não aceitaram come-morar a liberdade em 13 de maio,considerada uma data mais ligada à“generosidade” da princesa Isabel.Por isso, desde os anos 70, já havi-am escolhido, como símbolo de luta,o dia 20 de novembro, elegendo amorte de Zumbi dos Palmares em1695 como símbolo da resistência àescravidão.

A partir de então, as reivindica-ções dos movimentos organizadoscomeçaram a surtir efeito, a exem-plo do que ocorrera décadas antescom a questão feminina, entre outras.As discussões sobre cotas ganharamo Congresso e surgiram normas le-gais para promover a inclusão dosafrodescendentes no mercado de tra-balho, nas universidades e até nosanúncios de publicidade, de forma arefletir a composição multirracial dapopulação.

É inegável que existe uma dívi-da social em relação aos negros, queforam arrancados de sua terra natalpara trabalhar como escravos nas la-vouras do Brasil e de outros paísesdo Novo Mundo, em especial nos

séculos 18 e 19. O resgate dela pas-sa pela construção de uma socieda-de justa que, necessariamente, terácomo um dos fundamentos o prin-cípio da igualdade real de oportuni-dades para todos os cidadãos, inde-pendentemente de cor, orientaçãosexual ou credo religioso. Mas, ape-sar de alguns avanços, o País aindaestá distante desse ideal. Pesquisa daUniversidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ) de 2008 mostra que,entre 1995 e 2006, das 20 milhõesde pessoas que ingressaram no mer-cado de trabalho, 12,6 milhões eramnegras ou pardas.

Quando analisado o rendimen-to financeiro, os brancos tinhamuma média salarial de R$ 1.164, quecaía pela metade entre os negros epardos, chegando a R$ 586. Não hácomo negar, então, que grande par-te dos afrodescendentes ainda sofre,de forma mais aguda e com maioramplitude, as vergonhosas conse-quências da desigualdade socioeco-nômica que continua a penalizar ascamadas mais pobres. Foram elasque subiram os morros cariocas, quehabitam as periferias das cidades eque, em muitos casos, não têm con-

dições de chegar à universidade e aosbons empregos.

Há aqueles que conseguiram,com esforço próprio, venceram a bar-reira da discriminação racial, veladaou não, como o presidente BarackObama, dos Estados Unidos ou osgrandes ídolos negros do esporte eda música. Mas o que falta para queum país como o Brasil, fruto de se-cular miscelânea de povos, consigaassegurar oportunidades iguais a to-dos? Na minha visão, a redução doimenso fosso da desigualdade socialvai além da discussão em torno desistemas de cotas ou de ajudas emer-genciais, como o bolsa-família. Elapassa, necessariamente, pela adoçãode políticas de igualdade social séri-as, embasadas em propostas voltadasao resgate da cidadania. Uma cida-dania que nasce do acesso ao traba-lho, remunerado de forma a assegu-rar condições dignas de vida a todosos segmentos da população. Isso alémde, acima de tudo, valorizar a culturanegra e sua importância na constru-ção da identidade nacional.

Por Ruy Martins Altenfelder Silva*

*Ruy Martins Altenfelder Silva, presidente doConselho de Administração do CIEE e daAcademia Paulista de Letras Jurídicas.

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Ruy Martins Altenfelder Silva

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O Brasil avança na consolidaçãode uma sociedade igualitária. Os ín-dices de desenvolvimento do País al-cançados pelo governo Lula não ape-nas beneficiaram os mais pobres, mastambém os afrodescendentes e osnegros que, em sua maioria, ainda in-tegram a base da pirâmide social.

A ascensão econômica, no entan-to, não pode estar desvinculada daplena consciência do que significa sernegro no Brasil. Do que significa che-gar a postos de comando em um Paísonde a população negra enfrenta adura e árdua batalha contra o precon-ceito. Como nossos ancestrais quelutaram pela liberdade, hoje os negroslutam pela cidadania plena.

Lula esteve recentemente emSuzano na inauguração do InstitutoFederal de Educação, Ciência e Tec-nologia. Ao discursar, disse que os

investimentos de seu governo no se-tor possibilitaram aos consideradoscidadãos de segunda classe não secontentarem em serem pedreiros e asonharem com uma profissão. “Nósqueremos ser engenheiros, professo-res, médicos”, disse o Presidente.

E o que querem os negros? Seraceitos pela elite branca que sempremenosprezou o operário? Ou pelamídia preconceituosa e raivosa queinsiste em desqualificar os pobres esuas convicções? Ou realmente exi-girem da sociedade o reconhecimen-to da importância histórica dos po-vos africanos no País?

A celebração da morte de Zum-bi em 20 de novembro serve comoreflexão e (re) tomada da consciên-cia do ser negro. A atriz Taís Araújoprotagonizou recentemente umapropaganda na qual solicita que, ao

receber o Censo 2010, as pessoas seidentifiquem como de cor preta.Esta publicidade é emblemática.Mostra que não basta avançarmoseconomicamente. Ocupar espaçosantes destinados à elite branca fazparte da luta, mas ela precisa estaracompanhada da Consciência Negra.Do que de fato isso significa. Não érancor. É reforço da autoestima e doorgulho de sua origem. Ainda temosum grande caminho a percorrer.

O dia da Morte de Zumbi preci-sa ser celebrado com reflexão. Aquestão racial não é moda. Não é dis-curso politicamente correto. É con-dição para que nosso País avance noprocesso democrático e no respeitoa quem também construiu e conti-nua a construir esta Nação.

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Por Marcelo Candido*

* Marcelo Candido, Prefeito de Suzano/SP.

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Marcelo Candido.

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Desde o dia 21 de março de1997 o “Panteão da Pátria e da Li-berdade”, localizado na Praça dosTrês Poderes, em Brasília, passou aabrigar um nome diferente na ga-leria dos Heróis Nacionais: Zumbidos Palmares.

O nome é composto de uma ex-pressão de origem quimbundo,“nzumbi”, que quer significar “espí-rito imortal” acrescida de uma refe-rência ao maior quilombo brasileiro,o Quilombo dos Palmares, localiza-do em Alagoas, que entre 1595 a 1695chegou a abrigar cerca de 30 mil ne-gros fugidos do escravismo.

Por Dr. Hédio Silva Jr *

Chefe guerreiro assassinado nodia 20 de novembro de 1695, Zumbitornou-se símbolo das lutas dos ne-gros por dignidade e igualdade – con-forme consta na biografia exibida noPanteão dos Heróis Nacionais.

A saga e a bravura dos quilom-bolas palmarinos inspiraram um es-critor baiano, Edison Carneiro, a pu-blicar em 1947 um livro intitulado“O Quilombo dos Palmares”, quepor sua vez inspirou uma entidadenegra gaúcha a propor a instituiçãodo Dia Nacional da Consciência Ne-gra. Em 20 de novembro de 1971, o“Grupo Palmares”, liderado pelo es-

critor Oliveira Silveira, realizava emPorto Alegre, no Clube NáuticoMarcílio Dias, o primeiro ato públi-co em homenagem à luta e à memó-ria de Zumbi dos Palmares.

Anos depois, em 1978, entidadesnegras de todo o país reuniam-se emSalvador/BA e aprovavam uma deli-beração do Movimento Negro Uni-ficado no sentido de lutarem para oreconhecimento de Zumbi comoherói nacional e a instituição do dia20 de novembro como Dia Nacionalda Consciência Negra.

Uma década e meia depois, maisprecisamente em novembro de

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Hédio Silva Jr.

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1995 os principais jornais do paísregistravam a mais notável ma-nifestação contemporânea derua organizada pelo Movi-mento Negro brasileiro: a“Marcha Zumbi dos Pal-mares, Contra o Racis-mo, pela Cidadania e aVida”, que em 20 denovembro daqueleano reuniu cerca de30.000 (trinta mil)pessoas em Brasília,ocasião na qual oscoordenadores doevento reuniram-secom o Presidente daRepública, entregan-do-lhe um documen-to pactuado entre asprincipais organiza-ções e lideranças ne-gras do país. No do-cumento da “Marcha”pode-se ler: “Não bas-ta, repetimos, a mera abs-tenção da prática discrimi-natória: impõem-se medidaseficazes de promoção da igual-dade de oportunidade e respeitoà diferença. (...) adoção de políticasde promoção da igualdade.1

A “Marcha” representou nãoapenas um promissor momento deação unificada do conjunto da mi-litância, como também marcou aeleição da proposta de políticas depromoção da igualdade como umtema de consenso no discurso daliderança negra. A pressão das en-tidades negras fez com que o paíspassasse a adotar políticas de inclu-são de jovens negros no ensino su-

palmarinos merece registroque em 2003 o Reitor JoséVicente, numa iniciativa co-rajosa, ousada e própria

dos líderes visionáriosinaugurava a Universi-dade da CidadaniaZumbi dos Palmares,instituindo um espa-ço acadêmico únicona América Latinavoltado para a in-clusão, a formaçãoe o desenvolvi-mento de talentosdentre jovens ne-gros e brancospobres.

Neste ano de2010, mais de 400municípios de todoo país, dentre osquais São Paulo,Guarulhos e Santo

André, além dos esta-dos do Rio de Janeiro,

Mato Grosso e Alagoasestarão mais uma vez cele-

brando a memória do heróinacional guardando o dia 20 de

novembro como feriado cívico.

“O mais possível novo quilom-bo de Zumbi”, como diz CaetanoVeloso na música “Sampa”, paulati-namente vai ganhando a mente e ocoração de todos os brasileiros.

perior, hoje implementadas pormais de 90 instituições de ensinosuperior de todo o país, com resul-tados extraordinários em termos dodesempenho dos alunos negros ebrancos pobres beneficiados pelosprogramas.

Ainda em homenagem à luta dos

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* Dr. Hédio Silva Jr. é Coordenador do Cursode Direito da Faculdade Zumbi dos Palmares,Advogado, Mestre em Direito Processual Penale Doutor em Direito Constitucional.Ex-Secretário de Estado da Justiça e da Defesada Cidadania de São Paulo.

1 Por uma Política Nacional de Combate ao Racismo e à Desigualdade Racial: Marcha Zumbi Contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida. Brasília: Cultura Gráficae Editora Ltda. 1996, pp. 23 e 26.

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consciêncianegra

está na essênciade nosso país

Por Aldemir Bendine*

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Ao longo de sua história, o Banco do Brasil se con-solidou como uma empresa a serviço do País, tanto noque se refere ao crescimento econômico, como ao de-senvolvimento humano e social das comunidadesonde atua e com as quais se relaciona.

As questões relacionadas à promoção daigualdade e valorização da diversidade têmsido tema constante na pauta de fórunsinternos promovidos pela nossa Empre-sa, por meio dos seus diversos canais decomunicação.

O engajamento do Banco do Brasilcom a temática da ResponsabilidadeSocioambiental resultou na edição de sua“Carta de Princípios”. Dentre seus14itens destaca-se o de repelir precon-ceitos e discriminações de gênero,orientação sexual, etnia, raça, cre-do ou de qualquer espécie.

As questões relacionadasà promoção da igualdade evalorização da diversidadetêm sido tema constantena pauta de fóruns in-ternos promovidospela nossa Empresa,por meio dos seusdiversos canais decomunicação.

Atento àsnecessidadesda sociedade,o Banco doBrasil tematendidod e m a n -das de entidades que representam comunidades negras.A Fundação Banco do Brasil, no âmbito do ProgramaBB Educar, contribui para o desenvolvimento socioeco-nômico de comunidades remanescentes de quilombos,tendo como foco o desenvolvimento social, econômicoe ambiental e a preservação dos valores culturais de seusintegrantes, potencializando os resultados de outras açõesvoltadas para a sustentabilidade dessas comunidades.

Nos últimos seis anos, o BB Educar atuou emmais de 290 comunidades, alfabetizando 6.011 pes-

soas remanescentes de quilombos. Além disso,duas estações digitais foram instaladas nas co-

munidades de Cavalcante, no Estado de Goiáse Amarante, no Piauí, de um total de 316 esta-

ções digitais existentes.

A diversidade cultural está presente naestratégia Desenvolvimento Regional

Sustentável – DRS do Banco do Brasil,modelo de negócios que gera trabalhoe renda de forma inclusiva eparticipativa.

A atuação do DRS nas áreas ur-banas e setores de comércio e ser-viços engloba e beneficia, de ma-neira significativa, a populaçãonegra residente nesses locais.Atualmente, quase 10 mil be-neficiários estão sendo aten-didos pela estratégia.

Participar da home-nagem ao Dia da Cons-ciência Negra de-monstra mais do queuma preocupaçãoda Empresa comesse importantesegmento social,significa reco-nhecer a açãode pessoasde todas asraças quel u t a mpela in-

clusão do negro na sociedade brasileira. Instituição socialmente responsável e comprometi-

da com a promoção da justiça, igualdade e inclusão soci-al, Banco do Brasil, celebra o dia 20 de novembro reve-renciando o valor da cultura negra.

A consciência negra está em todos nós, em nossasorigens e na essência de nosso País.

* Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil

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Aldemir Bendine.

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descendoPor Mônica Santos

o morroNatural do Rio de Janeiro, o ga-

roto carioca, que nasceu na baixadafluminense e foi criado no morro doVidigal, depois de 15 anos de traje-tória, vem se destacando no cinemae na televisão. O talento do ator Mar-cello Melo já pôde ser visto nos fil-mes Cidade de Deus, de FernandoMeirelles e Última Parada 174, deBruno Barreto. Mas foi mesmo em2009, na interpretação do persona-gem Benê, em Viver a Vida, novelade Manoel Carlos na TV Globo, queele ganhou visibilidade. “Foi impor-tante participar do núcleo de atoresnegros da Globo devido à minha tra-jetória de vida. Eu venho da comu-nidade. Foi uma oportunidade gran-de pelo fato da Taís Araújo ter sido aprimeira protagonista negra da emis-sora no horário nobre e eu poderconfraternizar e compartilhar essemomento, que é de grande expansão.Fiquei um pouco receoso e ansiosopela questão do personagem e tam-bém por não ter muito envolvimen-to com televisão. Então, procurei mededicar bastante e gostei de ter feitoe de ter todo reconhecimento dopúblico. Foi muito legal”, conta. Atu-almente seu talento pode ser confe-

rido em Malhação ao interpretar ogoleiro Maicon. Atuação que lhe ren-deu a indicação, pelo segundo anoconsecutivo, na categoria de MelhorAtor pelo Troféu Raça Negra 2010.

Foi no Vidigal que o ator desco-briu a arte e costuma dizer que foipaixão à primeira vista. O que nocomeço parecia apenas uma identifi-cação, pelo fato de aos sete anos deidade ir morar com o pai e vê-lo atu-ar, agora é a profissão que decidiuseguir. Em cada resposta, durante aentrevista, era claro o tom de orgu-lho de ter começado no grupo de tea-tro “Nós do Morro” e hoje podermostrar com seu trabalho os bonsfrutos que o projeto social tem gera-do tanto na vida dele, quanto daque-les que querem e conseguem mudaro seu destino, quando muitos estari-am fadados a viver na criminalidade.“No começo era mais um lugar ondeeu pudesse fazer o que eu gostava e,ao mesmo tempo, que eu poderiabrincar e estudar. Às vezes, eu ia parao colégio e meus amigos da escolanão tinham assuntos tão interessan-tes quanto a galera, o pessoal do tea-tro e fui me envolvendo em outrosprojetos de acordo com o que o “Nós

do Morro” foi se associando. A gen-te já tem acesso a teatro, cinema, te-levisão e música. Tudo começou como teatro e ampliou. É bacana, vocêtem a oportunidade de fazer coisasnovas”, comenta.

Marcello Melo explica que parafazer o Benê passou de duas a trêssemanas com a preparadora PatríciaCarvalho. Um verdadeiro laborató-rio. E destaca que foi bem interes-sante, “porque ela faz com que vocêconheça um personagem, no qualvocê não tem muita referência. Elatrabalha todo estado físico e mental.Até mesmo de chegar lá no local deensaio e entrar no personagem e aomesmo tempo se envolver com ele,se doar. E depois de todo desgastefísico, a gente centrar, voltar a si e fa-lar um pouco do trabalho, principal-mente, por ser um personagem comoele era, de personalidade forte e quetem uma característica que é totalmen-te diferente da minha”. O que acabouse tornando um desafio, no qual oator ressalta ter aprendido muito.

O personagem do ator em Vivera Vida, assim como no filme “Últi-ma Parada 174”, mostra o dia a diade um bandido que fica na mira dos

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traficantes do morro e da polícia,papel comum à maioria dos atoresnegros. Para Marcello, mostrar esseestereótipo não tem nada de negati-vo. Mesmo que ele não tenha identi-ficação com o personagem Benê, hápessoas que ele conhece que são as-sim. “Faz parte da comunidade” e vaimais fundo, “Não temos que ser hi-pócrita e falar: ‘ah, não, não tem’.Claro que tem. Felizmente, não é umaopção nossa. É de cada um. Mas agente, que vem lá de dentro, que temforça de vontade, que quer trabalhare mostrar que também quer seu lugarao sol, que quer ter seus direitos, agente faz um pouco disso. Tentamosmostrar com o nosso trabalho, quedentro da comunidade existem pes-soas, como em qualquer outro lugarque têm caráter e as que não têm.”

Durante a novela todas as cenasforam gravadas dentro da própriacomunidade, o que na opinião do atormostra a mudança de comportamen-to dos autores e isso dá mais realida-de às cenas. “Acho interessante vocêtocar no assunto e mostrar, mesmoporque a novela não é escrita, porquem vem de dentro da comunida-de. É um ponto de vista dele sobreaquele universo. Então, assim, euacho bacana porque eu, como ator,quando comecei a interpretar o per-sonagem também procurei doar umpouco do que eu conheço lá de den-tro”, disse.

Marcello Melo já pensa em vol-tar à TV, mas no momento se prepa-ra para um filme e faz shows comsua banda Melanina Carioca, forma-da com outros integrantes do “Nósdo Morro”. No repertório, muitosuingue brasileiro e black music ame-ricana. As apresentações acontecemnas baladas do Rio de Janeiro.

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Marcello Melo

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Por Rejane Romano, da Redação

educação

mais educaçãoaos 70 anos, Pelé pede

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educação

Exatamente no Dia dos Profes-sores, o professor Edson Arantes doNascimento, o Pelé, formado emEducação Física pela Faculdade deEducação Física de Santos (FEFIS),realizou o lançamento do ProgramaEsportivo Lúdico Escolar (P.E.L.E.),que busca revolucionar a educaçãofísica nas escolas.

Associar-se a um projeto destamagnitude converge com a própriahistória de vida do Rei Pelé onde aeducação sempre foi uma premissa.Durante a coletiva de imprensa para

o lançamento do P.E.L.E., na capitalpaulista, o Rei do Futebol relembrouo quanto para sua família, mais espe-cificamente seu pai, a educação eraconsiderada prioridade. “Quando nosmudamos de Três Corações paraBauru, meu pai impôs que somentese eu estudasse e tivesse boas notaspoderia disputar os torneios de fute-bol de rua”, lembra Pelé.

O programa idealizado pelo Reido Futebol tem como foco principala inclusão social por meio da promo-ção da atividade esportiva. Com umaferramenta inovadora as escolas po-derão trabalhar de forma interativa eem rede os conceitos de vários es-portes linkando com matérias de dis-ciplinas regulares. Por exemplo, numaaula virtual de Voley o aluno irá a-prender sobre conceitos de químicae de física.

Além de enfatizar os benefíciosda prática esportiva, mostra as pos-sibilidades profissionais relacionadasao esporte, seu papel no convívio so-cial, regras e técnicas dos esportesescolhidos pelo Comitê OlímpicoBrasileiro (COB) para as OlimpíadasEscolares, e estimula comportamen-tos implícitos em seus princípioscomo o respeito ao próximo, o tra-balho em equipe, a competitividade,o autocontrole, a disciplina e o com-panheirismo. “Com a ajuda de umtime de campeões, eu realizo umgrande sonho da minha vida, que écontribuir de forma lúdica e eficien-te para um futuro mais seguro, sau-dável e promissor para as crianças eadolescentes de nosso País”, conta orei do futebol.

Somente alguém que é uma das“marcas mais conhecidas no mun-do”, que inclusive já parou uma guer-ra quando ainda jogava pelo Santos

Futebol Clube, tem a possibilidadede mudar o conceito de EducaçãoFísica no Brasil, tornando o paísmais competitivo em disputas inter-nacionais.

O P.E.L.E é uma ferramenta deapoio ao professor e ao aluno, queinclui videoaula, material de suporteimpresso e site interativo de poio vir-tual, que compreende textos e ativi-dades lúdicas. Todo o conteúdo foidesenvolvido com a supervisão de umaequipe multidisciplinar da REDE –Rede de Ensino Desportivo, compos-ta de professores experts do mundoesportivo. O programa tem ao todo12 temas diferentes, sendo que cadaum aborda um aspecto do universoesportivo em dois módulos.

Os módulos são administradospelos próprios professores em salade aula, que passarão antes por umacapacitação.

Os 12 temas que compõem o pro-grama apresentam linguagem e con-teúdo próprios para seis diferentesfaixas etárias, que compreendem to-das as séries do Ensino Fundamen-tal e o 1º, 2º e 3º anos do Ensino Mé-dio. Há expectativa de que o progra-ma seja adaptado para as universida-des futuramente. “Desde a primeiravez que fui para os Estados Unidosaprendi que os grandes craques saemdas Universidades e quero trazer issoaqui para o Brasil”, afirma o atletado século.

À frente da comissão responsá-vel pelo conteúdo pedagógico, estãoos Professores Fernando Lobo e LuizDelphino. “Deus sempre me colocapara jogar em time vencedor”, expli-ca Pelé se referindo a equipe.

O atleta, que completou 70 anosno mês de outubro, atribui o ótimo es-tado de saúde à prática de esporte.

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turismo

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Falta pouco para a chegada do Réveillon e há opções de começar 2011em grande estilo. Sol, muita animação e natureza deslumbrante

compõem o visual das Cidades Africanas.Da Redação

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Na África, terceiro continente mais extenso do plane-ta, há cidades turísticas que muitas pessoas não conhecemou que simplesmente nem sabem que existem. Uma dasopções para passeios é uma nova experiência explorandouma das regiões mais populosas do mundo. É uma opor-tunidade de conhecer toda a diversidade étnica e culturalde cidades como Cidade do Cabo, Durban e Mossel Bay(África do Sul), Dakar (Senegal), Inhambane e Maputo (Mo-çambique), Walvis Bay (Namíbia), entre outras.

Para aproveitar todo este visual paradisíaco de maneiraainda mais atraente uma boa opção são os Cruzeiros Marí-timos oferecidos pela MSC Cruzeiros na África nas op-ções Melody e Sinfonia. Jogos, jantar de gala, apresenta-ção de musical, baile, show de talentos, festas e mais fes-tas... Normalmente são estes os atrativos dos cruzeiros,além de piscinas, academia e todo conforto de um hotelsobre “as águas”.

Então, pegue sua roupa de banho, trajes de festa e seprepare para o Réveillon dos seus sonhos.

Ainda quanto a opção de cruzeiros já pensou em pas-sar três noites pelo tão famoso rio Nilo, no Egito? Este éum dos pacotes da ByTravel/Europamundo.

O Egito, uma das culturas mais importantes para a his-tória da humanidade, também abriga a maior cidade daÁfrica: o Cairo, que hoje abriga uma população que superaos 16 milhões de habitantes.

É justamente pelo Cairo que começa o roteiro, que temao todo sete dias. Depois de um dia livre pela capital, osegundo dia começa com um tour no interior das famosaspirâmides de Queops, Quefren e Miquerinos, seguido devisitas à Esfinge esculpida em rocha, ao Instituto do Papi-ro, ao Museu Egípcio (onde se encontra os tesouros daTumba de Tutankhamon), à Cidadela de Saladino e à Mes-quita de Alabastro.

Já o terceiro dia, com saída de Aswan e com duração detrês noites, reserva em seu trajeto visitas ao Templo de Isis,ao Templo de Kom Ombo, ao Templo de Horus, à Necró-polis de Tebas, Vale dos Reis, Templo de Karnak e Luxor,dentre outros monumentos. Uma festa temática na últimanoite faz o desfecho do passeio pelo Nilo. Folclore egípcioe danças beduínas fazem parte da programação da festa.

De volta ao Cairo, a programação continua à noite comuma visita ao espetáculo de luz e som nas Pirâmides deGisé, uma magnífica apresentação que marca o final dopasseio e início da viagem de volta, que acontecerá na ma-nhã seguinte. Uma viagem para ficar na história.

turismo

Templo de Luxor.

Piscina do navio de cruzeiro MSC Melody.

Mar Morto.

Camelos para expedições no Egito.

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o cárcere feminino

é negro

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comportamento

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Por Ana Luiza Biazeto*

A mulher negra ainda representa 48,5% da população feminina - mesmo comaumento da proporção de negros na população brasileira nos últimos 15 anos -,

enquanto a mulher branca chega a 50,6%, de acordo com a pesquisa de 2008 doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), intitulada Retrato das

Desigualdades de Gênero e Raça. Contraditoriamente, esta minoria de mulheresrepresenta cerca de 60% da população prisional feminina no país.

O Sistema de Informações Peni-tenciárias (InfoPen), referente à de-zembro de 2009, aponta que há naspenitenciárias brasileiras 24.292 mu-lheres1. Destas, 14.490 são considera-das “negras” ou “pardas”2, as demaisse dividem em 9.412 brancas, 124

amarelas, 35 indígenas e 243 são “ou-tras”, que não correspondem a nenhu-ma cor de pele/etnia mencionada.

No Estado de São Paulo, “ne-gras” ou “pardas” são mais de 50%do total de mulheres presas. Das7.605 mulheres presas em peniten-

ciárias do estado, a maioria delas tementre 18 e 24 anos, cursou o ensinofundamental incompleto, foi presapor tráfico de entorpecentes e vemde áreas urbanas de municípios dointerior.

Esse é o retrato da mulher presa

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Ana Luiza Biazeto.

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*Ana Luiza Biazeto, jornalista, pesquisadora emestre em Serviço Social.

1 Há, contudo, uma divergência entre o número total de mulheres no sistema penitenciário, equivalente a 24.292, e o encontrado na soma das mulheres divididas porcor de pele/etnia, que é de 24.304.2 No indicador “Quantidade de presas por cor de pele/ etnia”, utilizado pelo InfoPen, são usados os termos negra e parda ao invés de preta e parda, como propõeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Interpretou-se, portanto, que negra foi equivocadamente entendida como sinônimo de preta.3 Dissertação de Mestrado em Serviço Social, pela PUCSP, defendida pela autora do artigo.4 Flauzina é advogada e historiadora, especialista em Sistema de Justiça Criminal, mestra em Direito e docente.

percepção do que é preconceito/dis-criminação para mulheres brancas enegras foi evidenciada através de seusdiscursos. As mulheres de pele claraentenderam-no como marcas deegressa do sistema prisional ou, en-tão, de envolvimentos com o crime.

“Percebi quando sai da primeiracadeia. Você vai em festa de família,sempre tem comentário, ficam pergun-tando ‘ah, como que é lá?’. O que maisdói não é nem falar pra gente, é prosnossos filhos. Amiguinhos da minhafilha falaram que ela não tinha mãe, sóavó, porque a mãe nunca tinha ido emreunião”, diz G., 30 anos, que conside-ra-se branca, presa por roubo na pri-meira vez e, mais recentemente, portráfico de entorpecentes.

As mulheres negras, que não po-dem esconder suas peles escuras, e,portanto, o passado escravagista, de-finiram como preconceito vinculadoà cor da pele, racismo, vivenciado an-tes mesmo do cárcere. “As meninaschamavam a gente [irmãs e ela] demacaca, tição, pretinha. Nas rodinhasde meninas da escola, só tinhambrancas. A gente chegava e elas seafastavam. Falavam que a gente tinhapiolho, que era neguinha do cabeloduro. Dava para contar no dedo ascrianças na escola que tinham a mi-nha cor”, conta M., 24 anos, que seconsidera negra, presa por tráfico deentorpecentes.

M. evidencia que a questão estru-turante é, acima de tudo, racial e mas-carada pela democracia racial em vogahá décadas no país. A partir dos nú-meros apresentados no início deste

texto, é importante ressaltar que apresença do negro no sistema prisio-nal se dá de longa data, com muta-ções de acordo com os códigos de leisque regiam épocas e que, segundoFlauzina4, a consolidação do sistemapenal começou na biografia da escra-vização negra, e é na lógica da domi-nação étnica contemporânea que con-tinua a operar em seus excessos.

Constata-se que os estereótipos arespeito da mulher criminosa contem-porânea, sendo a maioria negra, bemcomo a maioria das característicasdeste instigante universo prisional,foram construídos e perpetuados si-multaneamente à trajetória da cons-trução do Brasil, da cultura brasileira.

Neste vasto cenário intempestivo,a mulher brasileira negra e presa re-presenta mais um desafio especial,que, para ser superado, precisa ser vis-to, analisado e tido como objeto deação do Estado e da sociedade civil,aqueles que atuam diretamente comas políticas sociais.

A proposta amplificada deste es-tudo visa elucidar aspectos que asso-lam a população prisional femininabrasileira e buscar (re)construir umaidentidade feminina, mesmo queatrás das grades. No que concerne àmulher negra, (re)construir uma iden-tidade feminina e negra, de aceitaçãoprópria, para o progresso e avançopróprio e das filhas, que necessaria-mente demandam ser fortalecidas epresentes na história brasileira e desuas próprias vidas.As irmãs L., 26 anos, e M., 24 anos, se

reencontraram na Penitenciária FemininaSant’Anna, após quatro anos sem notícias.

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no país, que os veículos de comunica-ção pouco dão visibilidade, afinalagem como significativa parte da po-pulação, tratando-as como verdadei-ras escórias da sociedade ou apenassujeitos invisíveis.

Enquanto a mídia não dá contadesta temática, as estatísticas mostrama cor do cárcere e é este um ponto departida da pesquisa “A diferença estána pele? – depoimentos de mulheresnegras e brancas presas na Peniten-ciária Feminina Sant’Anna”3, realiza-da na maior penitenciária feminina daAmérica Latina, na cidade de SãoPaulo, com população de aproxima-damente 2.700 presas.

Dentre outros aspectos, a cor dapele como marca e o preconceito fo-ram os itens principais que emergi-ram dos depoimentos. A diferente

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O início do século XXI baliza,para a população afrodescendente doBrasil, alguns avanços em direção àliberdade. A Faculdade Zumbi dosPalmares, iniciando suas atividadesem 2004, é um marco da matriz edu-cacional, assim como as leis sancio-nadas neste Julho de 2010 em prolda ampliação do pensamento inclu-sivo o é na matriz sócio-política.

Os movimentos que vêm a pen-sar essa condição surgem na Amé-rica Latina desde o começo do sé-culo passado, com força especial naColômbia, Uruguai Venezuela, alémdo Brasil. Nestes países, um poucomais, um pouco menos, foram ga-nhando corpo, mudando de nome,aumentando o alcance, adicionandodemandas, alargando a autoconsciên-cia, sempre em busca de reorgani-zar a vida, a contribuição e o senti-do desta população na sociedade emque se encontra.

Mas talvez seja preciso revisar umpouco os acontecimentos do passa-do para que se possa configurar umnovo presente. Se não pensarmos nahistória do continente americano,será difícil mesmo falarmos de ne-gros de uma maneira geral. Negro –a raça – é a criação européia de umacategoria política com um fim políti-co. Negro não é simplesmente quemveio da África; se assim fosse, nãoseriam nem chamados nem classifi-

cados de negros seus descendentesaqui vindos à luz séculos depois. Casoo termo “negro” não fosse uma ca-tegoria política, os nascidos no Bra-sil, independentemente da cor, sería-mos apenas brasileiros. É importan-te perceber que do surgimento dessacategoria é que se torna possível auma organização político-espacialintitulada Europa constituir-se comoum todo único (que não era, anteri-ormente) e pleno de direitos de ex-ploração sobre povos e terras alhei-os, a quem, por isso mesmo, chamou“o outro”, escravizando-o, destituin-do-o, alienando-o. Não que não hou-vesse escravos antes na história. Oque não havia é a deposição das suaspessoalidades da forma instituciona-lizada como se deu por aqui.

A América Latina – evento cria-dor, portanto, da modernidade – eessa parte de sua gente, os negros,não terá ainda despertado totalmen-te para este fato de dupla significa-ção: primeiro, a da construção detoda uma era, um corpo conceitual,um modo de ver o mundo, edificadosobre a noção de uma raça que seria,por sua simples constituição, dignade inferiorização.

Em seguida, vemos que, enquan-to na África há africanos, é aqui nes-tas terras nossas que se instaura oadvento do “negro”, a quem confi-guram precisamente as seguintes con-

dições: exílio, escravatura, racificação,destituição da memória, miscigena-ção, nacionalização. Neste processo,não há volta atrás; isto é, jamais dei-xaremos de ser brasileiros, colombi-anos, venezuelanos; e o caminho parafrente não é, tampouco, a emigraçãode volta para a África, pois tamanhassão as diferenças que nos constitu-em. Seu processo é bem outro – ain-da que igualmente sangrento. O afri-cano perdeu família, mas nem porisso se miscigenou; teve seu povo di-vidido em linhas arbitrárias na con-venção de Berlin de 1885, emboratenha mantido, ainda assim, a sua lín-gua; foi inferiorizado e destituído emsua própria terra, e trabalha até hojepara restituir os danos desses feitos.

A consequência dessas diferençasentre mãe e filha é a linha com quenós, a filha, costuramos nossa histó-ria: Latinoamérica. Assim sendo, éaqui mesmo, nestas nossas terras quedeve/pode instituir-se esse ser, o ne-gro, já de posse do seu relato, comoquem busca para si um novo devir,próprio, único, sujeito a erros e acer-tos, os quais serão por ele mesmoclassificados, revistos, consertados.

É bem verdade que ainda falta umbocado para uma concretização óti-ma: população negra produzindo emum ambiente igualitário de oportu-nidades, direitos e distribuição debens, tangíveis e intangíveis. No en-

a (re)invenção do negro

a históriaPor Flávia Virgínia*

movimentando

comportamento

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tanto, aprendemos todos a duras pe-nas que a igualdade não é um idealsimples, especialmente se não está nonascedouro mesmo da nação.

Podemos observar que a negritu-de é, acima de tudo, um processotemático, que inclui uma noção novade História, uma Geografia, uma Pe-dagogia, uma Cosmovisão que nãotermina no passado, mas, antes, seperpetua ao infinito, e que tem umalocalização específica – não como umgrupo excludente de países, mas comoum laço includente de excluídos –, queé esta Latinoamérica que nos une.

E daí teremos meios, quiçá, de per-guntar: afinal, para que sermos ne-gros? Qual a importância de mantero uso dessa categoria política, se nãofor para oferecer aos que dela pade-cem condições de alterar o seu pró-prio destino histórico? Por que iden-tificar-se com a dor e nela eternizar-se, em vez de acolhê-la como algo queestá no nosso passado e que não per-mitiremos que configure nosso des-tino histórico? Ou, melhor ainda, aque nível de liberdade nos damos odireito? Apenas de não sermos escra-vos, talvez, para nos mantermos “do-entinhos”, isto é, sempre capazes deagüentar as outras atrocidades oriun-das de uma “desescravização” a fór-ceps lento? Afinal, quantos de nós so-mos ainda analfabetos, não só nasletras, mas no acesso profundo à cul-tura do próprio país a que nos habitu-amos a chamar de nosso? Em quantosíndices de desenvolvimento humanofiguramos como o pólo pior que per-mite classificar pessoas em pobres ericas? Ou, ainda mais significativo,quantos políticos negros preparamosnos nossos países com negros?

É na compreensão dessa dimen-são que o simples fato, ainda que“atrasado” (diante do calendário ide-al), das sanções de Julho torna-sepedra angular na constituição de umBrasil mais pleno de pessoas. Mas,cuidado, pedra angular significa ape-nas pedra. O que será feito dela é itemque exige atenção perene. Terá ser-

vido para unificar a movimentaçãoem torno da nossa temática? Seremoscapazes de levá-la adiante em nossasconversas com os jovens, esclarecen-do pontos para que eles conheçamseus novos direitos? Em outras pala-vras, estaremos nos abstendo do afa-zer político em troca do falar (mal)da política? Estaremos mesmo emcondições de abandonar o navio?

O que quer que venhamos a fa-zer daqui para frente tem que signifi-car união, troca, entendimento, aber-tura, política. Nada existe que nãoseja dentro dela. A raça e o adventoamericano foi uma ação política. AFaculdade Zumbi dos Palmares é um

ato de coragem política. As sançõesde Julho o são também. Este texto eesta revista. O hoje, como o ontem,é político. Fundamentalmente, pen-sar que alguém escolherá para si cha-mar-se negro em vez de qualqueroutra coisa é uma atitude de cunhopolítico e seus resultados, como to-dos os outros, têm que ser traduzi-dos em políticas públicas para o bem-estar da população de todas as deno-minações. Fora disso, é a miséria,sempre.

*Flavia Virginia é consultora em InteligênciaÉtica, especialista em Logoteoria (filosofia do sen-tido da vida), pesquisadora em Modos de Conhe-cer Latinoamericanos.

Flávia Virgínia

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Através do mote “sem educaçãonão há liberdade”, a Zumbi tem comoobjetivo formar profissionais quequebrem barreiras e estejam inseri-dos no mercado de trabalho. Sejacomo profissionais bem sucedidos,ou mesmo como empresários.

Elisângela Bastos é aluna do 6ºsemestre do curso de Direito da Fa-culdade Zumbi dos Palmares e, mes-mo casada e com filhos, apostou nainiciativa da irmã mais nova, MaraliceBastos, e se tornaram sócias em umaempresa que produz acessórios emnylon que vão desde necessaires, passan-do por porta-lenços, até kit para o car-ro que inclui porta cds e lixeira, outudo mais que a imaginação permitir.

Isto porque, a partir da necessi-dade dos clientes, elas criam peçasinéditas no mercado. “Procuramosatender as necessidades das pessoas.Se um cliente disser que precisa deuma bolsa que caiba 5 celulares e um

lugar para colocar o guarda-chuva,vamos fazer um produto específicopara este cliente. A partir daí, se iden-tificarmos que há como expandirpara os demais, passamos a produzirem série.

Toda essa desenvoltura só foipossível porque desde a infância ospais de Elisângela e Maralice semprepriorizaram a educação. “Na infân-cia tivemos de tudo. Meus pais tra-balhavam para nos dar tudo. Paraminha mãe o estudo era prioridade.Apesar de estudarmos em escolaspúblicas, ela sempre procurava asmelhores”, conta Elisângela.

A idéia de montar uma confec-ção partiu de Maralice, a irmã maisnova que desde pequena já demons-trava persistência ao lutar por seusobjetivos. A idéia surgiu quando a ca-çula da família, que já trabalhava coma produção de peças para o vestuárioresolveu mudar o foco de seu traba-

lho. “Eu já trabalhava com roupas,mas meu sonho sempre foi trabalharcom bolsas. Então comecei a pesqui-sar e fiz cursos para ter mais técnica.Até então eu era autoditada, precisa-va me especializar”, diz Maralice,mais uma vez reforçando a ideia doquanto o estudo se faz necessáriopara aqueles que têm vontade de cres-cer profissionalmente. Apesar de játer o dom para lidar com a produçãode acessórios, Maralice entendeu serimprescindível para a realização deseu sonho o investimento em cursostécnicos.

Daí então surgiu a parceria coma irmã mais velha que apostou nasua iniciativa. “Quando a Maraliceparou de trabalhar para se dedicar aeste sonho, nós pensávamos ‘meuDeus, será que isso vai dar certo’.Sempre apostamos nela, mas sem-pre com receio, com medo”, lembraElisângela.

empreendedorismo

Da Redação

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Nascia assim a “Cria da Casa”,que tem uma peculiaridade em seunome, pois o mesmo foi escolhidoporque Maralice, a caçulinha, desdepequena atendia ao apelido de “cria”.

Uma empresa familiar que con-ta com a ajuda da mãe, Odaléia, datia, Odete, e do cunhado, Marcelo,esposo da Elisângela que ajuda nasentregas.

A Cria da Casa começou no quar-to de Maralice, com o aumento dasencomendas, mudou para a sala ehoje tem sede própria. “Era no meuquarto, começou a aumentar entãome mudei para o quarto da minhamãe e deixei o meu quarto só para aprodução dos artigos. Aumentou

mais ainda e a oficina foi parar nasala, quando não deu mais e já está-vamos em melhores condições, ad-quiri uma casa para a microempresa”.

Atualmente os produtos da Criada Casa podem ser encomendados àsirmãs, enquanto a empresa ainda nãopossui uma loja. A conquista de no-vos clientes e a divulgação são feitaspor Maralice, que através da exposi-ção dos produtos em escolas, creches,shoppings e empresas faz a venda dosprodutos.

A irmã mais velha auxilia nasexposições e com o aprendizadoadquirido no curso de Direito. “Ocurso me ajuda a entender os con-tratos que temos que fazer e até a

conversar melhor”.As irmãs buscam o constante

aperfeiçoamento, pois a cor da pele,o fato de serem negras faz com queelas tenham que se superar. “Quan-do fazemos exposições contratamosfuncionárias para nos auxiliar nasvendas. Então quando estamosnuma exposição que eu já tenhamarcado com o cliente pelo telefo-ne, quando ele chega normalmentese direciona à minha vendedora.Talvez porque eu não tenha ‘cara’,nem cor de empresária”.

Por hora, os interessados podemse informar e encomendar os aces-sórios da Cria da Casa através dofone: (11) 9266-0383.

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Da esquerda para a direita: Elizângela Bastos e a irmã Maralice Bastos.

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Pesquisador afro-americano vê na pesquisa sobre o plasma humano umamaneira de trabalhar questões relacionadas a saúde da população negra

saúde

Após a diáspora, os povos negrosespalhados por todo o mundo conti-nuaram conectados de várias manei-ras apesar da distância causada pelotráfico negreiro.

Essa conexão, que é notada ao seobservar a alimentação, manifesta-ções culturais e religiosas e na exclu-são social ainda hoje vivida pela po-pulação negra, se faz presente tam-bém em doenças que atingem prin-cipalmente os afrodescendentes.

No Brasil, país cuja populaçãonegra representa cerca de 50% dototal de cidadãos, o Sistema Único

de Saúde (SUS), que garante atendi-mento médico gratuito a todos oscidadãos, se uniu a Secretaria de Po-líticas de Promoção da IgualdadeRacial, para criar uma série de pro-postas de promoção da saúde dapopulação negra. O programa visadesde a anemia falciforme, doençatransmitida geneticamente e queatinge um em cada 500 negros bra-sileiros, até o combate ao HIV/Aids,pois apesar do país ter um dos me-lhores programas de combate adoença no mundo, a população ne-gra ainda é a mais atingida.

Primeiro afro-americano a serproprietário de um centro de plas-ma (onde o plasma do sangue de do-adores saudáveis é coletado para afabricação de medicamentos), o C.P.Plasma Center (CPPC), FurquanStafford, tem utilizado desse pionei-rismo, para ajudar na pesquisa do tra-tamento de doenças relacionadascom a população negra e acredita queessa é uma causa que todos os ne-gros deveriam abraçar, já que atingenão apenas os afro-americanos, masafrodescendentes em todo o mundo.

Em entrevista exclusiva, Furquan

Por: Daniela Gomes

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saúde

mente, como você começou a trabalhar complasma?

Furquan Stafford – Minha mãeatuou na área da saúde por 25 anos efoi dessa maneira que a área da saú-de entrou na minha vida. Quando euterminei o ensino médio, um técnicoconseguiu uma bolsa para mim emcurso técnico na faculdade McCookem Nebraska, onde eu fui o primei-ro negro a conseguir um diplomacomo Técnico em Enfermagem. En-tão eu planejava ser enfermeiro e tra-balhar com emergências, mas apósum estágio numa ala de emergênciase em um Corpo de Bombeiros, no

Texas, eu mudei de idéia sobre a mi-nha carreira.

Eu transferi meu curso para aUniversidade Estadual da Geórgia earranjei um trabalho em um centrode coleta de plasma. Em 1994, meuprimeiro emprego depois de forma-do, foi no American Plasma Center,em Houston. Ali eu atuei em todasas áreas do processo de coleta doplasma e me apaixonei pelo negócio.

Então, depois de ser demitido daSera-Tec em Atlanta, eu não tinhadesejo de trabalhar para ninguém eprecisava de estabilidade para o fu-turo da minha família, percebi queessa estabilidade viria de possuir meupróprio negócio.

Afirmativa Plural – Como vocêacha que o seu trabalho pode ajudar pesso-as ao redor do mundo?

Furquan Stafford – A luta contrao HIV/AIDS e a Anemia Falcifor-me é uma tarefa que todas as pesso-as negras devem adotar, porque issoafeta o povo negro globalmente. Eunão sei como isso aconteceu, mas euestou envolvido com Anemia Falci-forme, doença que afeta a populaçãonegra em todo o mundo. A doençafalciforme é uma desordem de san-gue hereditária que afeta os glóbulosvermelhos. Do ponto de vista médi-co, a Imunoglobulina intravenosa(IVIG) é um produto, cuja base é oplasma humano, que está sendo tes-tado nos Estados Unidos. A suposi-ção é que IVIG vai agir rapidamen-te para reduzir os flare-ups e, portan-to, os escores de dor, o uso de nar-cóticos e o tempo de internação parapacientes com anemia falciforme.

Afirmativa Plural – Você afirmater uma missão nos últimos 16 anos. Quemissão é essa?

Furquan Stafford – Dr. CharlesRichard Drew (1904-1950), o pionei-ro do plasma sanguíneo, criou o pri-meiro banco de sangue móvel da CruzVermelha americana e é dado a ele ocrédito por salvar vidas através da dis-tribuição de plasma para os soldadosferidos durante a Segunda GuerraMundial. Era a época da segregação eos afro-americanos eram encaminha-dos para o porão dos hospitais parareceber tratamento médico e, por ve-zes tinham o tratamento médico ne-gado por causa da cor da sua pele.

Quando o Dr. Drew doou seusangue, a Cruz Vermelha americanaseparou seu sangue do sangue euro-peu e como um ato de protesto, Dr.Drew se demitiu do seu cargo naCruz Vermelha.

Stafford fala sobre a carreira, pes-quisas com plasma, doenças queatingem principalmente a populaçãonegra e mais.

Afirmativa Plural – Qual o cami-nho percorrido por você, que transformouum garoto que cresceu com dificuldades fi-nanceiras em um homem de sucesso?

Furquan Stafford – Eu nasci emum mundo em que meu pai haviamorrido sem me deixar nada e essafoi uma jornada dolorosa. Eu acre-dito que a maneira como as coisasaconteceram para mim, me impeli-ram a me esforçar para deixar algopara os meus filhos. Além disso, mi-nha fé em Deus me deu forças paranão ver os meus problemas financei-ros, mas procurar o favor D’Ele emminha vida.

A paixão que eu tive por apren-der sozinho através de livros que cha-maram minha atenção e por ouvir oque as outras pessoas tinham a dizer,ir a conferências, acompanhar as no-tícias publicadas na mídia e ver o quemeus mentores podiam me passar,através da indicação de livros, porexemplo, e o período que passei naUniversidade Estadual da Georgia,que foi um porto seguro para mim,onde eu pude ver pessoas das maisvariadas nacionalidades estudando eisso também me inspirou. Em segui-da, a participação no projeto Rain-bow PUSH Peachtree, em Atlanta,me colocou em um novo nível, já quepude observar mulheres e homensnegros poderosos.

Outra influência importante paraque eu me tornasse um homem denegócios de sucesso, é a minha expe-riência na Igreja Batista New BirthMissionary, onde pude observar omeu pastor, que era um grande líder.

Afirmativa Plural – Como você es-colheu a área da saúde e mais especifica-

A luta contra o HIV/AIDS

e a Anemia Falciforme é

uma tarefa que todas as

pessoas negras devem

adotar, porque isso

afeta o povo negro

globalmente.

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Hoje não vivemos mais na épocada segregação e apesar de os afro-americanos serem os principais doa-dores dessa indústria de bilhões dedólares, não estão representados en-tre os empresários deste setor.

Minha luta nos últimos 16 anos épara nivelar o campo para a inclusãoda diversidade. O Plasma ProteinTherapeutics Association (PPTA) é oguarda-chuva para o Plasma E.U.Collection Indústria. Ele fornece in-formações valiosas sobre a regulamen-tação necessária para atender aos re-quisitos da FDA. Mas não têm envol-vimento com as operações diárias deseus membros globais. Estes mem-bros globais são essenciais para a in-dústria americana de coleta de plas-ma. Eles controlam este setor e deci-dem quem entra. Essas empresas têmuma cadeia de centros de coleta deplasma nos Estados Unidos e não per-mitem o empreendedorismo negro.

Conversei com congressistas e se-nadores a respeito e, o que eu ouvi detodos eles é que, devido ao fato doCongresso americano ter aprovadoum projeto de lei que acabou com aação afirmativa, não há nada que pos-sa ser feito a respeito desta situação.

O que eu acho ofensivo e des-respeitoso com os afro-americanosé que o governo dos Estados Uni-dos permita que membros desta in-dústria global, que tem sedes locali-zadas fora dos Estados Unidos, te-nham controle dessa indústria emdetrimento dos afro-americanos,que recebem simples migalhas pe-las contribuições de sua vida. Paramim, esta é uma forma de escravi-dão moderna.

Minha empresa C.P. PlasmaCenter, Inc. (CPPC) e eu temos luta-do pela igualdade neste setor, masainda não é suficiente. O presidente

Barack Obama representa “mudan-ça” para o país e é necessária umamudança nesta indústria.

Afirmativa Plural – O Brasil temum dos melhores programas do mundo naluta contra a Aids e o HIV, que é admira-do em todo o mundo. Você acredita que umatroca de experiência entre os nossos paísespode ajudar nessa luta?

Furquan Stafford - Com certe-za. Eu acho que é hora da comuni-dade afro-americana olhar além doentretenimento que o Brasil tempara oferecer. E ler e estudar a His-tória do Brasil para descobrir comoenfrentamos a mesma luta pela igual-dade. Com ambos os países colabo-rando e utilizando seus recursos emconjunto, creio que muito pode seralcançado.

Afirmativa Plural – No caso espe-cífico da Anemia Falciforme, não há umprograma específico no Brasil, pois algunspolíticos afirmam que por sermos um paísmiscigenado, algumas pessoas não negrastambém podem ter a doença. Você acreditaque para combater a doença é necessária acriação de um programa específico para apopulação negra?

Furquan Stafford - Se você pes-quisa a Anemia Falciforme, sabe queé uma doença que afeta apenas pes-soas negras. Por isso, eu acredito sim,que deve haver programas específi-cos e que recursos devem ser aloca-dos para combater esta doença queafeta a população negra no Brasil.Através dos anos, a Associação Ame-ricana da Doença Falciforme (SickleCell Disease Association of America)tem proporcionado uma liderançaeficaz ao posicionar a doença falci-forme e os problemas relacionados aela, como uma preocupação de saú-de pública importante e, na verdadeum problema universal.

Furquan Stafford

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Por Bruno Konder Comparato*

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A bandeira ci-gana é azul como océu e o mar, verdecomo as florestas eas planícies, e ver-melha como o san-gue derramado du-rante as persegui-ções a que foramsubmetidos ao lon-go dos séculos.Mas nada é fixo eas cores não sãopadronizadas, demaneira que os di-ferentes grupos que compõem a etnia cigana têm inteiraliberdade para escolher as tonalidades que melhor lhes agra-dam. Quanto à roda que ocupa o centro da bandeira, o seusignificado varia em função dos grupos. Para os ciganosintegrados, quase todos sedentários, ela representa a rodade Ashok, também presente na bandeira da Índia, a mãepátria dos ciganos, e simboliza a evolução permanente dahumanidade. Já para os ciganos nômades, ela representa aroda das carroças com as quais perambulam pelo mundo, àprocura de sonhos e melhores oportunidades de vida.

plural

De acordo comas estimativas maisgenerosas, haveria40 milhões de ciga-nos na Europa, 20milhões nas Améri-cas, e 25 milhões naÍndia. Segundo ohistoriador KonradBercovici, “não háfamília brasileiraem que não se en-contre um cigano enem família ciganaem que não haja um

brasileiro”. Se este enorme contingente de ciganos não évisível, é por que o Brasil é o país onde há o maior númerode ciganos integrados.

Os valores ciganos de tolerância, liberdade, e amor de-sinteressado, que podem ser comprovados nos contos e can-ções que compõem seu riquíssimo patrimônio cultural, in-comodam muita gente e estão na origem das perseguiçõescontra este povo. Um dos preconceitos mais difundidos éatribuir aos ciganos atitudes desviantes. Por estarem à mar-gem da sociedades que frequentam, os ciganos nômades

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Bruno Konder Comparato.

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* Bruno Konder Comparato foi professor na Faculdade Zumbi dos Palmares,e atualmente é professor da Universidade Federal de São Paulo.

são acusados dos mais variados delitos, como pequenosroubos, tráficos e trapaças de todo tipo, o que é agravadopelas condições precárias em que são forçados a viver.

Nos últimos meses surgiram várias notícias de que opreconceito contra os ciganos tem sido instrumentalizadopelos governos de alguns países europeus que passaram aassociar os ciganos ao aumento da delinquência. Com maisde 8 mil expulsões desde o início de 2010, o governo fran-cês lidera a atual cruzada contra os ciganos na Europa, o

que lhe valeu a condenação pública da Comissão Euro-péia, órgão executivo da União Européia, por desrespeitaro direito de livre circulação dos cidadãos europeus. Somenteentre 28 de julho e 17 de agosto, o governo francês recon-duziu 979 ciganos de origem romena e búlgara para as fron-teiras. Destes, 151 foram obrigados a deixar o país pelaforça, enquanto que os outros 828 foram incentivados afazê-lo de uma “maneira voluntária” e forçados a aceitaruma ajuda de 300 euros para deixar o país após a destrui-ção dos seus acampamentos pela polícia. Os governos daItália e da Dinamarca adotam métodos semelhantes e tam-bém expulsam abertamente.

Alemanha, Suíça, Irlanda do Norte, Suécia, Áustria eBélgica são mais discretos, e incentivam o retorno aos seuspaíses de origem de ciganos oriundos de países da ex-Iu-goslávia, como o Kosovo, a Sérvia, e a Macedônia. Há al-guns países, contudo, que seguem o exemplo da Espanha epraticam uma política de acolhimento e integração dos ci-ganos, mas sem muito alarde. Mesmo que os nômades se-jam apenas uma minoria entre os ciganos, estes fatos re-centes não nos deixam esquecer que a semente da intole-rância e do preconceito estão em todo lugar.

A gravura de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), Casa de Ciganos,de 1820 prova que a penetração do povo cigano no Brasil é antiga.

O holandês Vincent Van-Gogh, que retratou em várias de suas telasos camponeses do seu país natal, pintou um grupo de ciganos no quadroAs carroças – Acampamento cigano perto de Arles (1888).

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Por Rosenildo Gomes Ferreira*

opinião

Quando você, caro leitor, estiverdiante desse artigo o resultado com-pleto das eleições já terá sido conhe-cido. Quiçá teremos até mesmo umadefinição do caso dos “fichas lim-pas”. Eles poderão tomar posse ounão? Como todas essas questões es-tão no futuro, do ponto de vista dequem dedilha nesse instante o tecla-do do computador, tratarei apenas doque espero para 2011. Afinal, agorasó resta o Natal para fechar com cha-ve de ouro um ano com tantos even-tos marcantes. Mas, o que me impor-ta nesse momento ainda é a eleição.Independentemente do resultado éfácil imaginar que saímos mais po-bres desse processo. Especialmenteno que se refere à promoção da cida-dania. Infelizmente. Deixamos pas-sar mais uma vez a chance de ver emdestaque os temas realmente capazesde colocar o Brasil no século XXI.O Brasil dos marqueteiros que aten-dem os candidatos, especialmente

aqueles que deixaram recentementeos cargos públicos, é digno de fazerinveja aos escandinavos. Saúde deprimeira, educação idem, cidadaniaplena e tudo a custo zero. Bem, exis-tem os impostos, mas como o pró-prio nome já indica, eles fazem partedo nosso dia-a-dia, queiramos ou não.Sem a pretensão de ser estraga pra-zer, gostaria de lançar luzes sobre oBrasil real. Para conhecer esse paísbasta passear pelo centro comercialde São Paulo, do Rio de Janeiro, deBelo Horizonte ... A cena se repeteem maior ou menor grau. Criançaspedindo esmola nos sinais, idosos ar-rastando carroças cata-bagulho e gen-te de todas as raças dormindo sobmarquises. O Brasil profundo (expres-são que muito agrada aos sociólogos)desfila sob nossos narizes e nossa in-capacidade de pensar em formas deresgatar socialmente nossos irmãos.

O discurso dúbio de autoridades,a praxis de grupos religiosos que de-

fendem a remediação e a caridade(cobertor no frio, sopa à noite etc.que mantêm esses brasileiros na mi-séria) como solução, e acima de tudo,a covarde indiferença de outra signi-ficativa parcela da população, corro-em meu otimismo em relação ao fu-turo desse país. O Brasil do crediáriofarto, do carro em 60 meses, do apar-tamento financiado em 30 anos e daproposta de um 13º para o “BolsaFamília” não passa de um arremedode ocasião. Será que estamos, maisuma vez, desperdiçando a preciosachance de usar uma maré favorável,no campo econômico, para fazer oBrasil e sua população avançarem?Em 1929, os Estados Unidos esta-vam quebrados. Vinte anos depoisemergiam como a maior nação doplaneta. Posto que ocupam até ago-ra! A bonança americana não se de-veu apenas à falência da Europa,engolfada em um conflito bélico. Elafoi construída com o espírito do em-

chancemais uma

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preendedorismo, do fortalecimentodas instituições, da valorização e auniversalização da educação de qua-lidade, no qual o governo foi o gran-de motor. Os EUA lhe parecem umexemplo manjado? Pois bem. Veja-mos a Coréia do Sul. Até a década de1980, a parte sul da península era umlocal distante e sem qualquer impor-tância. Hoje, a indústria sul-coreanaé um dos motores em matéria de ino-vação. Especialmente no campo datecnologia.

E o Brasil. Aqui, nos tornamosespecialistas em generalidades. Atira-mos para todos os lados ao sabor daconveniência do mandatário de plan-tão. Mandamos um homem ao espa-ço para fazer experiência com umfeijãozinho no algodão. Na volta, eledeu uma banana ao Estado e foi ven-der colchão. Tentamos liderar o con-flito do Oriente Médio, sem antespacificarmos os territórios domina-dos no Rio de Janeiro e outras capi-tais e cidades médias, como Campi-nas (SP). Buscamos um assento noConselho de Segurança da ONU nomesmo instante em que as ForçasArmadas têm de dispensar o contin-gente mais cedo, para economizar no“rancho”. Tentamos liderar o mun-do, sem ao menos conseguirmos for-mar líderes capazes de pensar o paísalém das vaidades pessoais e dos pro-jetos fáceis. Qualquer um que tenhaemergido das urnas no último pleito,deverá continuar escrevendo capítu-los da mesma ópera-bufa estreladanos últimos 510 anos. Só que, nessecaso, o palhaço continuamos sendonós. Até quando?

opinião

Rosenildo Gomes Ferreira.

Foto:

Divu

lgaçã

o

*repórter de negócios, membro do ConselhoCurador da Faculdade Zumbi dos Palmares ecolunista de sustentabilidade da revista Isto ÉDinheiro.

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As lutas históricas que construí-ram a nação, que afirmaram a identi-dade e a diversidade da sociedade bra-sileira, nos aspectos racial e cultural,são lembranças marcadas no calen-dário nacional. São as reminiscên-cias pedagógicas que trazem do pas-sado os ensinamentos que hoje ori-entam a nossa ação social e culturalcotidiana e prefiguram o nosso futu-ro como sociedade plural, democrá-tica e soberana.

O Dia da Consciência Negra estáneste contexto. Comemorada pelapopulação afrodescendente, é maisdo que uma data para reflexão sobrea contribuição dos povos africanosna formação da cultura nacional: é osímbolo vigoroso da luta pela liber-dade e, consequentemente, pela dig-nidade do povo negro deste país.

Criada a partir da necessidade decelebrar a luta pela libertação, de res-

afirmativo

gatar a consciência da raiz da nossaformação étnica nacional e de afir-mar os direitos sociais, a data tam-bém contribui para desvelar as bar-reiras, muitas vezes invisíveis mas ab-solutamente reais, enfrentadas pornegros e negras em todas as multi-culturas que formam o território con-tinental do Brasil.

Passados quase 62 anos da pro-mulgação da Declaração de DireitosHumanos, muitos negros e negras doBrasil ainda não experimentaram aigualdade de direitos e oportunida-des, prevista no Artigo XXIII do ci-tado documento. Invisíveis frente àindiferença que prefere se esconderpor trás de uma suposta democraciaracial, a eles ainda é reservado o ran-ço da escravidão: a subserviência, ahumilhação, o descaso.

Por isso o dia selecionado paratraduzir a consciência da igualdade

não poderia ser mais apropriado: adata em que foi assassinado Zumbidos Palmares, líder negro que poranos liderou a luta de milhares deescravos refugiados no Quilombo,principal personagem da resistênciacontra a escravidão. Homenagemverdadeira, justa e significativa.

É fundamental reconhecer e con-sagrar que os seres humanos têm di-reitos inerentes a sua existência, quetodos são sujeitos de autonomia edignidade. É preciso garantir aos ci-dadãos e cidadãs a efetividade noexercício dos direitos fundamentais,independente de raça, credo, origemou opinião. Esses são valores plas-mados na História da Humanidade,constituem princípios do Estado deDireito e compõem a natureza dosregimes democráticos autênticos,conquistas que não podem ser re-nunciadas na edificação de uma so-

Por Maria Fernanda Ramos Coelho*

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afirmativo

Maria Fernanda Ramos Coelho.

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É preciso garantiraos cidadãos ecidadãs a efetividadeno exercício dosdireitos fundamentais,independente de raça,credo, origem ouopinião.”

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ciedade mais livre e justa. Essa cons-tatação está expressa na Constitui-ção Federal de 1988, que estabeleceno artigo 5° que “todos são iguaisperante a lei, sem distinção de qual-quer natureza”.

É o respeito às diferenças e o re-conhecimento da igualdade de opor-tunidades que orientam as políticasde gestão de pessoas da CAIXA. Aempresa já demonstrava, desde a suacriação, vocação paracausas de direitoshumanos. O objetivode seus instituidoresera torná-la o “cofreseguro das classesmenos favorecidas”,e assim acabou atra-indo entre outros pú-blicos, escravos queali depositavam seusrecursos visando à compra da cartade alforria, esta cínica forma adota-da pelos senhores para mercantilizaro direito à liberdade.

A empresa cresceu, passou por vá-rias transformações e hoje busca atu-ar na promoção da cidadania de todaa população. Tendo valores como“Respeito ao ser humano” e “Valori-zação da diversidade”, entre outros, aCAIXA tem promovido ações quecombatem todas as formas de discri-minação, que valorizam a diversida-de e que universalizam o acesso aosserviços e produtos bancários.

Para isso, um dos caminhos foio de envolver os empregados naapresentação de soluções capazes deeliminar o preconceito. A CAIXAinstaurou a Comissão Nacional paraa Igualdade de Raça, cuja principalfunção é a de propor políticas eações que promovam a igualdade deoportunidades para os empregados

negros, indígenas e de grupos his-toricamente excluídos. Para possibi-litar a representação dos diversossegmentos da Empresa na Comis-são, foram selecionados empregadosdas cinco regiões do país, conside-rando também as variáveis de gêne-ro e cargo ocupado.

Além disso, a empresa tem inves-tido na sensibilização e educação dosempregados enviando roteiros e ma-

teriais para discussão em suas unida-des, publicando artigos de opinião,mensagens em extratos bancários etelas de terminais de auto-atendimen-to em datas alusivas às lutas de gru-pos historicamente excluídos; crian-do campanhas publicitárias que ho-menageiam e valorizam os indígenase negros; adotando política que esta-belece o uso de imagens de pessoasindígenas, pardas e negras em suaspeças publicitárias internas, exter-nas e em ações educacionais; pro-movendo palestras e debates quebuscam discutir o racismo institu-cional; disponibilizando vídeos edu-cativos atinentes a essa temática naTV CAIXA e outros canais (biblio-teca e representações regionais degestão de pessoas); incentivando acontratação de estagiários negros eindígenas que participam do Progra-ma PROUNI.

Com vistas a adequar o registro

de raça/cor dos empregados, o qualservirá de base para formulação depolíticas internas, bem como paraproporcionar aos empregados maisum momento de reflexão e discus-são sobre “raça”, a CAIXA condu-ziu recentemente uma campanha in-terna de autodeclaração de raça/cor.Todavia, antes do empregado rever asua autodeclaração foram repassadosconteúdos com a finalidade de nive-

lar o entendimentodo que é raça/cor e adescrição de cada umaseguindo as defini-ções do IBGE; na se-quência desse pro-cesso os empregadosforam convidados emotivados, por meiode peças publicitá-rias internas, a ratifi-

car ou retificar sua raça/cor em nos-so sistema de registro de pessoas.

Pelas ações que a empresa já pro-moveu para o combate à discrimina-ção e para a promoção da igualdadede oportunidades a CAIXA já rece-beu o prêmio Camélia da Liberdade,oferecido pela instituição CEAP -Centro de Articulação de PopulaçõesMarginalizadas, em 2008 e, em 2009,a Medalha do Mérito Cívico Afro-brasileiro promovido pela AFRO-BRAS. O reconhecimento externo,entretanto, não nos dá conforto enem produz acomodamento. Temosconsciência de que precisamos avan-çar ainda mais para que a Caixa pos-sa responder de uma forma cada vezmais efetiva ao desafio de assegurarque a sua estrutura e ação traduzamo compromisso da Empresa com ajustiça e a igualdade.

É o respeito às diferenças e o

reconhecimento da igualdade de

oportunidades que orientam as políticas

de gestão de pessoas da CAIXA.

“”

afirmativo

*Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente daCaixa Econômica Federal.

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Ícone da elite do Carnavalpaulista, Alberto Alves da

Silva, o “Seu Nenê”, fundadorda escola de samba Nenê de

Vila Matilde deixou osapreciadores do bom samba edo Carnaval de qualidade,órfãos no dia 4 de outubro

de 2010.Aos 89 anos, Seu Nenê faleceu

após 61 anos de dedicação à escola desamba a qual fundou e permaneceu afrente da presidência até 1996.Seus feitos jamais serão esquecidos,como a realização de ser a Nenê aprimeira e única agremiação paulistaa desfilar no carnaval Carioca em

1985, quando a escola desfilou comas Campeãs na Marquês de Sapucaí.O lugar do baluarte do sambapaulista vai ficar na mente e nos

corações de todos. Assim como já diziao enredo que permitiu o retorno da

escola ao grupo de acesso em 2009:“Voei, voei, na Vila aportei, ondeme deram a coroa de rei”.

(1921–2010)

Seu

preto e branco

Nenê

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