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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 1ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE JALES/SP. Autos JF n°: NÃO DISTRIBUÍDO Autos MPF – ICP n° 1.34.030.000013/2019-14 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL , pelos Procuradores da República que esta subscrevem, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos, 127, caput, e 129, todos da Constituição Federal; na Lei Complementar 75/93; na Lei 7.347/85; na Lei 8.899/94 e demais dispositivos aplicáveis à espécie, ajuizar a presente AÇÃO AÇÃO CIVIL CIVIL PÚBLICA PÚBLICA com pedido de tutela provisória de urgência com pedido de tutela provisória de urgência contra: UNIVERSIDADE BRASIL, associação educacional privada, inscrita no CNPJ sob o nº 0 9.099.207/0001-30 com sede na Estrada Projetada, F1, Fernandópolis – Fazenda Santa Rita, CEP: 15.600-000; e UNIÃO FEDERAL pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o nº 26.994.558/0001-23, que deverá ser citada na Procuradoria-Seccional da União, Rua XV, 2236, Centro, Jales/SP – CEP 15700-038 Fone (17) 3624-3111 – e-mail: [email protected] Documento assinado via Token digitalmente por CARLOS ALBERTO DOS RIOS JUNIOR, em 29/04/2019 14:13. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 345E11E4.0FD0F682.A8BFE4A2.D01DA024

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 1ª VARA

FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE JALES/SP.

Autos JF n°: NÃO DISTRIBUÍDO

Autos MPF – ICP n° 1.34.030.000013/2019-14

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL , pelos Procuradores da

República que esta subscrevem, no exercício de suas atr ibuições

constitucionais e legais, vem à presença de Vossa Excelência, com

fundamento nos art igos, 127, caput, e 129, todos da Constituição Federal;

na Lei Complementar 75/93; na Lei 7.347/85; na Lei 8.899/94 e demais

disposit ivos aplicáveis à espécie, ajuizar a presente

AÇÃOAÇÃO CIVILCIVIL PÚBLICA PÚBLICA

com pedido de tutela provisória de urgênciacom pedido de tutela provisória de urgência

contra:

UNIVERSIDADE BRASIL, associação educacional

privada, inscrita no CNPJ sob o nº 09.099.207/0001-30

com sede na Estrada Projetada, F1, Fernandópolis –

Fazenda Santa Rita, CEP: 15.600-000; e

UNIÃO FEDERAL pessoa jurídica de direito público,

inscrita no CNPJ sob o nº 26.994.558/0001-23, que

deverá ser citada na Procuradoria-Seccional da União,

Rua XV, 2236, Centro, Jales/SP – CEP 15700-038Fone (17) 3624-3111 – e-mail: [email protected]

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com sede na Avenida Pres. Juscel ino Kubtschek de Oliveira,

1020 – Jardim Maracanã, em São José do Rio Preto

CEP:15.092-175.

pelas razões de fato e direito a seguir expostas.

I – OBJETIVOS DESTA AÇÃO

Trata-se de ação civi l pública que este Parquet move em face

de UNIVERSIDADE BRASIL em razão de esta estar oferecendo vagas anuais

do curso de Medicina em sua faculdade situada no município de

Fernandópolis/SP em quantidade superior ao autorizado pelo Ministério da

Educação, prática iniciada no ano de 2017, logo após a requerida ter adquir ido

aquele estabelecimento de ensino.

No polo passivo da ação também se encontra a UNIÃO , em

razão da persistente omissão de seu órgão da administração direta (Ministério

da Educação) em fiscal izar as atividades da primeira requerida, demonstrando

sua falha em conter a escalada da oferta i l íc ita das vagas em referido curso,

sem a garantia de qualidade exigida pelo cumprimento dos requis itos previstos

em normas que seu próprio órgão editou.

Esta demanda tem por objetivo imediato zelar pelo efetivo

respeito ao serviço de relevância pública relacionado à qualidade da formação

de profissionais médicos no âmbito do campus da UNIVERSIDADE BRASIL de

Fernandópolis/SP, além do objetivo mediato de evitar que médicos formados

nas condições aqui apontadas cheguem ao mercado de trabalho – e mais

especif icamente ao Sistema Único de Saúde – colocando em risco a vida e a

saúde de diversas pessoas, especialmente daquelas que não podem escolher o

médico que real izará seu atendimento.

Para tanto, espera-se ver deferidos integralmente os

Rua XV, 2236, Centro, Jales/SP – CEP 15703-038Fone (17) 3624-3111 – Fax (17) 3624-3129 – e-mail: [email protected]

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requerimentos ao f inal formulados – especialmente aqueles em sede de tutela

provisória de urgência – para que a UNIVERSIDADE BRASIL deixe de

oferecer vagas anuais no curso de Medicina além do que permit ido pelo

Ministério da Educação, devendo inclusive el iminar o excesso de alunos hoje

presente na instituição, e para que a UNIÃO , através de seu órgão já citado,

passe a efetivamente f iscal izar os atos da primeira requerida, garantindo

inclusive a efetividade das medidas judiciais a serem determinadas nestes

autos.

II – SÍNTESE DO INQUÉRITO CIVIL

Os fatos ora trazidos à apreciação desse d. Juízo Federal

chegaram ao conhecimento inicialmente por meio de notícia apresentada por

alunas do curso de Medicina do campus Fernandópolis da UNIVERSIDADE

BRASIL (f ls. 2/4 1), que relataram que a inst ituição estaria oferecendo cerca

de 400 vagas por ano para o referido curso com sede em Fernandópolis/SP,

quantitat ivo bem superior ao autorizado pelo Ministério da Educação – MEC

(atualmente 205 vagas anuais).

Por elas foi destacado, ainda, que o Ministério da Educação

autorizou a ampliação das vagas de 80 para 205 no ano de 2017, mas que as

turmas anteriores também passaram a contar com maior número de

matriculados, vez que seria entendimento do Reitor que uma vez obtida

a autorização para aumentar a oferta de vagas do curso de Medicina, a

Instituição de Ensino Superior – IES poderia ampliar inclusive para as

turmas já iniciadas e não somente para o primeiro ano do curso do ano

seguinte. Isto é, a IES estaria a seu arbítr io apl icando o aumento de vagas

deferido pelo MEC de maneira retroativa.

Foi relatado também que, em reunião do Centro Acadêmico, o

Reitor ter ia informado que poderia expedir 205 diplomas, de forma que

1 Toda numeração citada nesta peça se refere a ordem das folhas do ICP em epígrafe, juntado em anexo, considerando-se como página “1” a capa do procedimento.

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“necessitava” que fossem reprovados 195 alunos para que o número de

formados fosse condizente com o número de vagas autorizadas. Em razão

desse entendimento, a turma de 2018 teve mais da metade de seus alunos

reprovados e, por acordo extrajudicial entre alunos e a Universidade, por

advogados, houve novo exame que aprovou parte dos alunos que estavam

reprovados.

As alunas, assim, questionaram a legalidade do procedimento da

Universidade, uma vez que a cr iação de vagas para o curso de Medicina deve

obedecer ao que disposto no Decreto 9.235/2017 (art igo 41). Além disso, a

Portaria MEC nº 523/2018 prevê a necessidade de 5 (cinco) leitos de SUS

contratados além de outros requisitos, o que não vem sendo cumprido pela

Instituição.

Foi narrado, ainda, que o Centro Acadêmico dos alunos de

medicina sol ic itou informações sobre as vagas de transferências externas,

especialmente sobre a regularidade do processo e número de vagas, mas não

obteve resposta da IES.

Ainda, foram apresentadas queixas quanto à prestação do

serviço educacional, resumidas a seguir: corpo docente insuficiente para

atender todas as turmas, já ocorrendo de um mesmo professor atender

a duas turmas, de matérias diferentes, no mesmo horário; a prática da

disciplina Semiologia não será mais realizada com pacientes, mas com

bonecos; e é comum turmas assistirem aulas juntas, casos em que a

estrutura física fica comprometida, com ausências de carteiras.

Relatou-se também que alunos de transferência externa

internacional estão fazendo o curso no campus situado no município de São

Paulo 2, onde não há curso de medicina autorizado , sendo que nos boletos

de mensalidade destes alunos não há referência ao curso de Medicina, mas a

“Curso Especial”.

Na oportunidade, as noticiantes deixaram na Procurad oria da

2 A oferta em do curso de Medicina na cidade de São Paulo/SP está sendo investigada em inquérito civil próprio.

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República de Jales/SP os seguintes documentos: cópia de edições do Diário

Oficial da União (DOU), datadas de 03/02/2017 (f ls. 07) e 29/11/2017 (f ls.

06), onde foram publicadas Portarias do MEC, com o deferimento dos

pedidos de aumento de vagas (de 80 para 128 e deste número para

205, respectivamente) do curso de Medicina no campus Fernandópolis/SP

formulados pela UNIVERSIDADE BRASIL ; cópia do Decreto nº 9.235/2017

(fls. 8/19); prints de conversas de WhatsApp que versam sobre a existência de

alunos de medicina situados no município de São Paulo/SP (f ls. 20/21); cópia

da Portaria no. 523/2018 do MEC (f ls. 22/23); cópia do Decreto nº 5.773/2006

(fls. 24/33); cópia de requerimento dir igido à UNIVERSIDADE BRASIL

formulado pelo Centro Acadêmico, recebida pela instituição em 25/01/2019,

através da qual pediu-se informações quanto à quantidade de alunos que

ingressarão no curso de medicina no ano de 2019, seja por vestibular ou

processo de transferência, para o qual não obtiveram resposta (f ls. 34).

Após, aportou nesta Procuradoria da República manifestação de

outra aluna (f ls. 44), apresentando relatos semelhantes quanto ao excesso de

oferta de vagas e da ação de reprovar alunos acima do l imite de 205

formandos. Em especial, esta aluna informou que a Universidade ofereceria

400 vagas para o primeiro semestre de 2019, além de outros 300 alunos que

ingressariam por meio de transferência.

Com base nestas informações iniciais, foi instaurado o Inquérito

Civi l que acompanha a presente exordial (f ls. 35/39), bem como foi expedido

ofício à Diretoria do Campus Fernandópolis da UNIVERSIDADE BRASIL , para

que se manifestasse, no prazo improrrogável de 48 (quarenta e oito) horas, a

respeito do que contido nos relatos citados, especialmente, quanto ao

seguinte: a) confirmasse se estava ciente quanto ao l imite da quantidade

anual de vagas a serem ofertas pela instituição, em Fernandópolis/SP, no curso

de Medicina, que é de 205 (duzentas e cinco) vagas , segundo autorização

do MEC, publicada no Diário Oficial da União em 29 de novembro de 2017

(Portaria no. 1.222/2017); b) esclarecesse se são verdadeiros os relatos de

que a Instituição estaria extrapolando o l imite autorizado pelo MEC,

oferecendo em torno de 400 (quatrocentas) vagas anuais. Deveria

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apresentar a relação de todos os alunos matriculados no ano de 2019, no

curso de Medicina, em cada período , devendo também especif icar o

quantitat ivo de alunos para cada espécie de ingresso (vestibular, transferência

interna ou externa, segunda graduação ou outros), em cada período; c) caso o

número de alunos matriculados, por período, fosse superior ao constante no

ato autorizativo citado no item "a", esclarecesse se o acréscimo da oferta de

vagas observou o que disposto nos art igos 12, §1o, inc. II e §3o; e 41, § 5o.

do Decreto 9.235/2017 (autorização prévia do MEC e comprovação da

qualidade da oferta em relação às atividades já autorizadas); d) esclarecesse

se o quantitat ivo de vagas ofertado pela Instituição atende ao que disposto no

artigo 4o. da Portaria no. 523/2018 do MEC, isto é, se observa a estrutura de

equipamentos públicos e programas de saúde existentes e disponíveis no

município da oferta do curso , mais especif icamente os seguintes cr itér ios:

1) número de leitos do Sistema Único de Saúde - SUS disponíveis por

aluno em quantidade maior ou igual a cinco; 2) número de alunos por Equipe

de Atenção Básica - EAB menor ou igual a três; 3) existência de leitos de

urgência e emergência ou pronto-socorro; 4) grau de comprometimento dos

leitos do SUS para uti l ização acadêmica; 5) existência de, pelo menos, três

programas de residência médica nas especialidades prioritárias

implantadas ou em implantação . Para comprovar o atendimento ao cr itér io

“1”, a Instituição deveria encaminhar cópia de contrato/convênio f irmado com

as entidades responsáveis pelos leitos no Município de Fernandópolis/SP; e)

manifestasse quanto a alegação de aplicação retroativa ao acréscimo

de vagas deferido pelo MEC (isto é, ampliação das turmas já existentes

na instituição) e não somente às novas turmas , como prevê o art igo 5 o,

§3o, da Portaria 523/2018 do MEC; f ) manifestasse quanto à alegação de

oferta de vagas de Medicina da Universidade na cidade de São Paulo,

local idade, segundo consta, a Universidade não está autorizada a ofertar este

curso, bem como quanto a nomenclatura constante no boleto de cobrança

(“Curso Especial”).

Foram juntadas cópias do edital do processo seletivo para o

curso de graduação em Medicina, em Fernandópolis/SP da UNIVERSIDADE

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BRASIL do semestre 2019/1 e do edital de transferência interna do semestre

2018/12 e resultado deste mesmo processo seletivo, obtidos de outro inquérito

civi l 3 que tramitou nesta Procuradoria (f ls. 54/102).

A resposta da UNIVERSIDADE BRASIL foi apresentada (f ls.

105/390) nos seguintes termos: a) declarou ciência quanto ao limite

anual de vagas a serem ofertadas pela instituição no curso de

medicina (205 vagas); b) não são verdadeiros os relatos de que a

instituição estaria extrapolando o limite autorizado pelo MEC,

oferecendo 400 (quatrocentas) vagas anuais . Apresentou relação

prel iminar sintética e nominal de alunos regularmente matriculados por

período no ano de 2019 e requereu prazo de dez dias para especif icação do

quantitat ivo de alunos para cada forma de ingresso em cada período; c) a

Universidade mantém estrito respeito ao quantitativo de vagas que lhe

é conferido por lei . No que concerne à qualidade, informa que seu curso de

Medicina é reconhecido pelo MEC como um dos melhores do país, sendo que a

partir dos contínuos investimentos em qualif icação do corpo docente e

infraestrutura, real izados pela atual gestão, sua nota no Exame Nacional de

Desempenho de Estudantes (ENADE), que avalia o rendimento dos concluintes

dos cursos de graduação, subiu de 2 (dois) para 4 (quatro), em uma escala de

1 (um) a 5 (cinco); d) o quantitat ivo de vagas ofertado pela instituição atende

ao disposto no art igo 4 o da Portaria Normativa MEC nº 523/2018; e) inexiste

aplicação retroativa ao acréscimo de vagas deferido pelo MEC; f ) não é

verdade que a Universidade ofertou vagas de Medicina na cidade de São Paulo.

A Universidade, na verdade cumpre o disposto no art igo 24 da Resolução MEC

no. 03/2014, ao propiciar aos acadêmicos do 5 o e 6 o ano do curso o estágio

curr icular obrigatório de formação em serviço, em regime de internato, sob

supervisão em serviços próprios, conveniados ou em regime de parcerias em

diversos municípios. A nomenclatura “curso especial”, por sua vez, é uti l izada

pela Diretoria Financeira e se relaciona aos alunos especiais, categoria de

estudantes prevista em regimento e com regulamento próprio, para real ização

de discipl inas l ivres vinculadas a qualquer curso de graduação. O aluno

3 Inquérito Civil Público no 1.34.030.000102/2017-91, instaurado para apurar irregularidadescometidas pela Universidade Brasil, consistente em não possibilitar vista e revisão de provas devestibular. Procedimento arquivado após o acatamento de recomendação expedida pelo MPF.

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especial, portanto, se vincula às discipl inas, não ocupando vagas em curso

regular de graduação.

Em sua resposta, ainda, a IES tece maiores comentários sobre a

qualidade do curso de Medicina, destacando a premiação recebida pelo Reitor

da Universidade do Ministério da Saúde e da Presidência da República

(medalha de mérito Oswaldo Cruz), convênios internacionais f irmados pela

instituição e impacto junto à saúde pública de Fernandópolis/SP.

Em anexo à resposta vieram os seguintes documentos: cópias de

convênios f irmados com as Santas Casas de São Carlos/SP, Sorocaba/SP,

Andradina/SP e Fernandópolis/SP, Hospital e Maternidade OASE (situado em

Timbó/SC), Associação Rogacionista Evangélica de Assistência à Saúde

(situada em Abelardo Luz/SC), Associação da Rede de Beneficência Cristã de

Taió (situada em Taió/SC) e Círculo de Trabalhadores Cristãos do Embaré

(situado em Santos/SP); relação sintética e nominal de alunos regularmente

matriculados por período no curso de Medicina; relação do corpo docente do

curso de Medicina, fotografias demonstrando os investimentos real izados no

campus, cópia de portarias demonstrando a evolução na nota no ENADE;

medalha de mérito Oswaldo Cruz; e Convênio com a University of Miami; e

pareceres e relatórios concernentes aos programas de residências médicas.

Na mesma data da resposta (07/02/2019), o Diretor do Campus

Fernandópolis, Amauri Pirat ininga, acompanhado de advogados,

voluntariamente, compareceram a esta Procuradoria da República, a f im de

reforçar os esclarecimentos apresentados por escrito, o que foi reduzido a

termo (f ls. 392/394). Desta reun ião, vale destacar que foi dito pelos

representantes da Universidade o seguinte: a) que não é verídica a

manifestação de que alunos estão sendo reprovados para que apenas 205

diplomas sejam expedidos; b) que ingressam alunos em número

correspondente à autorização do MEC; c) que não há entendimento por parte

da Universidade de aplicação retroativa da concessão do aumento de vagas

pelo MEC. Foi esclarecido que o acréscimo se aplica a part ir dos novos

processos seletivos, após o ato autorizativo; d) que de fato houve reprovação

de aproximadamente metade dos alunos da turma de 2018, mesmo submetidos

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a novo exame por decisão da própria instituição, mas ainda assim, cerca de

metade dos discentes restaram reprovados na discipl ina Morfofisiologia I. Foi

esclarecido que esta decisão foi tomada em razão de algumas medidas

l iminares concedidas em favor de alguns dos alunos reprovados em exame, o

que fez com que a instituição, naquele momento, estendesse o “direito” aos

demais reprovados. Porém se tratou de situação pontual, de forma que esta

prática não será mais adotada pela Universidade, apesar de novos pedidos

feitos por alunos nesse sentido; e) que a uti l ização de bonecos é idônea para

o ensino a que se destina, como forma de melhor preparar os alunos para l idar

com pacientes humanos; f ) que há pedido de aumento de vagas de 205 para

328, pendente de análise no MEC; g) que a resposta sobre os questionamentos

feitos pelo Centro Acadêmico estavam em produção, em prazo razoável, vez

que o pedido data de 25/01/2019; h) que existem leitos sufic ientes do SUS,

conforme alega ter comprovado na resposta escrita entregue; i) que o corpo

docente é sufic iente para atender todas as turmas; j) que foi real izado um

grande aporte de investimentos para a melhoria da estrutura da Universidade;

k) que não há alunos cursando graduação em Medicina, do campus

Fernandópolis, em São Paulo, mas real izando estágio supervisionado em

instituições conveniadas, o que sustentam ser autorizado pelo MEC (Resolução

MEC 03/2014); l) que existem em São Paulo alunos matriculados em curso

especial, inclusive estrangeiros interessados em prestar o Revalida, para

complemento de curr ículo (pós-graduação/extensão). Que este curso especial

se trata do oferecimento de algumas matérias do curso de medicina – e outros

– conforme explicado na resposta escrita; m) que a percepção do excesso de

alunos nas turmas se deve a alunos em dependência ou reprovados, além dos

muitos alunos em abandono que permanecem assist indo o curso e do grande

aumento de vagas (autorizadas pelo MEC) real izado nos últ imos anos (de 80

para 205); n) que será respeitado o l imite de vagas autorizadas pelo MEC para

os ingressos no primeiro semestre do ano de 2019; o) que as transferências

ocorrem tal qual o número de vagas disponíveis, que podem variar devido ao

grande número de desistências; p) ao f inal, o diretor Amauri esclareceu que

todos os atos de gestão são de competência do Reitor da instituição de ensino,

José Fernando Pinto da Costa.

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Ao final, foi f ixado o prazo de 10 (dez) dias para que a

instituição apresentasse: a) esclarecimentos sobre a quantidade de alunos que

frequentam o “curso especial”, na cidade de São Paulo; e b) quantos são os

alunos ouvintes e quantos alunos em abandono frequentam o curso de

medicina em Fernandópolis. Ademais, foi deferido o mesmo prazo para a

entrega do detalhamento da forma de ingresso de todos os alunos

matriculados em 2019, conforme requis itado na portaria de instauração (item

“b”).

Na reunião, ainda, foi apresentada documentação relat iva ao

exame adicional apl icado aos alunos das discipl inas Morfofisiologia 1 e 2,

reprovados em 2018 (f ls. 396/400).

No dia seguinte, 08/02/2019, após análise da documentação

apresentada, esta Procuradoria da Repúbl ica notou contradições entre as

respostas apresentadas pela IES e o número de alunos matriculados

em cada ano do curso (fls. 404/406).

Com efeito, os representantes da instituição enfatizaram, em

reunião, que a Universidade não oferecia vagas acima do que autorizado pelo

MEC, bem como que somente aplicava os aumentos autorizados de vagas às

novas turmas (não haveria aumento das vagas para as turmas já em curso).

Segundo apurado no site E-MEC, inicialmente a inst ituição

estava autorizada a ofertar 80 (oitenta) vagas 4. Após, em 03 de fevereiro de

2017, o MEC autorizou o aumento da oferta para 128 (cento e vinte e oito)

vagas 5. Finalmente, em 29 de novembro de 2017, foi autorizado o aumento

para 205 (duzentas e cinco) vagas 6, que é o l imite vigente hoje, segundo

confirmado pela instituição em reunião. Destaque-se que este é o quantitat ivo

total anual , autorizado pelo MEC.

Ocorre que em análise à documentação apresentada, mais a

relação dos alunos matriculados em 2019 no curso de Medicina, foi possível

interpretar o seguinte:

4 DOU, Seção 1, Página 242, 19/12/20165 DOU, Seção 1, Página 18, 03/02/20176 DOU, Seção 1, Página 16, 29/11/2017

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Turma Ano Períodos Vagasautorizadas

Matriculados

2019 1 1 e 2 205 201

2018 2 3 e 4 205 403

2017 3 5 e 6 128 208

2016 4 7 e 8 80 109

2015 5 9 e 10 80 129

2014 6 11 80 47

Assim, verif icou-se que, a princípio, havia extrapolação na

oferta de vagas para os anos 2, 3, 4 e 5 do curso.

Nada obstante, considerando que a constatação acima divergia

das informações prestadas em reunião e ainda presumindo a boa-fé da

instituição, ofic iou-se novamente requis itando o seguinte, que deveria

acompanhar as outras informações requisitadas na data de reunião, até o

prazo lá f ixado: a) fosse especif icado, para cada aluno matriculado na

instituição no ano de 2019 no curso de Medicina, além da forma de ingresso ,

a data de ingresso na instituição e o período em que foi inicialmente

matriculado ; b) confirmasse as informações resumidas na tabela acima,

quanto ao número de matriculados em cada ano do curso.

Em resposta (f ls. 417), datada de 19/02/2019, a IES reiterou

seu entendimento de que não há aplicação retroativa ao acréscimo de vagas

deferido pelo MEC (atuais 205 vagas para o curso de Medicina), esclarecendo

que a retroatividade se refere ao processo seletivo do curso, não se

restr ingindo às turmas, desde que essas vagas sejam preenchidas a part ir dos

novos processos seletivos instituídos após o ato autorizativo, apontando o que

prevê o art igo 5 o, §3 o, da Portaria MEC no. 523/2018. Assim, neste

entendimento, a instituição considera que a part ir da Portaria no. 1.222 de

28/11/2017, que aumentou de 128 para 205 o número anual de vagas no curso

de Medicina, a Universidade passou a ter o direito de ofertar 205 vagas

anuais, isto é, 205 para cada ano do curso, desde que preenchidas mediante

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novo processo seletivo. Por isso, entende não haver excesso na oferta anual de

vagas de Medicina, já que poderia estar oferecendo até 1.230 vagas

atualmente (6 anos de curso X 205), sendo que ainda restariam 133 vagas a

serem preenchidas, neste entendimento. A inst ituição ainda pede que, caso

ainda restem dúvidas, seja submetida a questão à Câmara de Educação

Superior do Conselho Nacional de Educação, para que, no uso das suas

atr ibuições, emita parecer sobre o aumento de vagas e sua aplicação às

turmas já existentes, desde que precedido de novo processo seletivo. Foi

comunicado ainda que a Universidade desde fevereiro de 2018 tem pedido

pendente de análise no MEC acerca do aumento de vagas para o curso de

Medicina com base em “direito adquir ido” em novembro/2017 e que,

recentemente, diante da inércia da Administração Pública, submeteu a análise

desse pedido (aumento para 328 vagas) ao Conselho Nacional de Educação. A

instituição entende que o aumento de vagas se consubstancia em ato

administrativo vinculado, nos termos do art igo 6 o da Instrução Normativa nº

02/2018.

Quanto ao que foi requis itado em reunião e através do últ imo

ofício citado, a UNIVERSIDADE BRASIL apresentou nova listagem de

alunos, porém sem conter a data de ingresso de cada aluno na instituição. A

resposta, ainda, diz que não havia como mensurar com exatidão a

quantidade de alunos ouvintes e quantos alunos em abandono

frequentam o curso de medicina em Fernandópolis.

A resposta acompanhou os seguintes documentos: cópias de

pedidos de aumento de números de vagas no curso de Medicina, formulados

pela UNIVERSIDADE BRASIL , e outros documentos relacionados; cópias da

Portaria Normativa no. 21/2016 do MEC, da Portaria no. 24/2017 e da Portaria

MEC no. 1.302/2018.

Novamente, na mesma data da resposta acima (19/02/2019), os

advogados da instituição compareceram a esta Procuradoria para prestar

maiores esclarecimentos de forma oral, o que também foi registrado em ata

(fls. 570/571). Naquela oportunidade, vale destacar, foi esclarecido o

entendimento da instituição no sentido de que a Universidade estaria

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autorizada a receber 205 ingressantes no curso de Medicina por ano, não

importando o período.

Considerando que a relação de alunos veio incompleta (sem a

data de ingresso de cada aluno), foi determinado, em ata, que a instituição

apresentasse nova relação com este dado, até o dia 07/03/2019.

Após, em 25/02/2019, novamente compareceram

espontaneamente a esta Procuradoria da República as alunas responsáveis

pela representação inicial, apresentando a relação de alunos matriculados no

Curso de Medicina, obtidas junto à secretaria da Instituição no dia

18/02/2019, ao que consta o primeiro dia de aula dos alunos calouros. Nesta

reunião foi destacado o seguinte: que a relação dos alunos do primeiro ano do

curso, que ingressaram através de vestibular, estava agrupada nas turmas “C”,

“D”, “E” e “F”, não sabendo informar sobre a l ista das turmas “A” e “B”; que a

l ista do primeiro ano já conta com 299 (duzentos e noventa e nove) alunos

“regulares”, excetuando aqueles que não regularizaram a matrícula por motivos

diversos; em relação às demais l istas, relataram que constam dos referidos

documentos alguns alunos com status de “abandono”, que as declarantes

acreditam que se referem a alunos relacionados a problemas com o FIES; que,

no entanto, a maioria destes alunos frequentam o curso; que, em suas contas,

as l istas do segundo e terceiro ano contam, respectivamente, com 481 e 285

nomes, não se computando alunos que estudam na cidade de São Paulo, bem

como, posteriormente, alguns alunos que frequentam o curso mas não constam

das citadas l istas.

Nesta ocasião, as alunas ainda relataram acontecimentos na

Universidade que entendem que estariam atingindo-as indiretamente, como

por exemplo: possível surgimento de outra chapa candidata ao Centro

Acadêmico, concorrente a das alunas representantes, supostamente estimulada

pela administração da faculdade. Nada obstante, f icou registrado que, ainda

que o que relatado pelas alunas não impl icasse a necessidade de tomada de

providência por parte do MPF naquele momento, as noticiantes deveriam ser

tratadas como possíveis testemunhas, de forma que qualquer ameaça proferida

contra elas poderia configurar o del ito do art igo 344 do Código Penal.

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Após, em 07/03/2019, a instituição apresentou sua l istagem dos

alunos matriculados no Curso de Medicina em 2019 7, contendo a informação da

data de ingresso de cada aluno (f ls. 619/664).

Em 11/03/2019, a aluna do primeiro ano do Curso de Medicina

da instituição, YONE PINTO DA SILVA, apresentou reclamação a esta

Procuradoria sobre a inoperabil idade do sistema FIES para renovação do

financiamento estudanti l . No dia seguinte, duas outras alunas (ANNA

CAROLINA SOUSA MARQUES FLAUZINO e CAROLINA MACIEL SALES), também

do primeiro ano do curso, apresentaram a mesma notícia. Considerando se

tratar de três alunas que não estão nas l istas apresentadas pela

UNIVERSIDADE BRASIL , determinou-se a juntada destas representações a

estes autos (f ls. 848/857).

Em 12/03/2019, aportou nesta Procuradoria da República notícia

anônima (f ls. 668/669) contendo a cópia de um áudio onde supostamente o

Reitor da Inst ituição em reunião com o Centro Acadêmico de Medicina da

UNIVERSIDADE BRASIL alegou que “estatist icamente não são todos os

ingressantes que conseguirão se formar, apenas cerca de 60 a 65%” e que à

instituição “é autorizado a dar apenas 205 diplomas por ano ”.

Analisada toda a documentação contida nos autos, que

comprova que, de fato, há excesso de alunos no curso de Medicina da

UNIVERSIDADE BRASIL em Fernandópolis/SP, no dia 14/03/2019, foi

expedida à IES a Recomendação n. 05/2019 (f ls. 672/695) – devidamente

fundamentada, com os argumentos jurídicos repl icados à frente – para que

efetivasse as seguintes ações:

a) suspendesse, imediatamente, a matrícula de novos alunos no

primeiro ano do curso de Medicina da Universidade Brasi l no campus de

Fernandópolis, independentemente da forma de ingresso, notadamente através

de processo seletivo vestibular;

b) suspendesse, imediatamente, a matrícula de novos alunos

7 A tabela contendo esses dados de maneira sintetizada, que confirmam o excesso de alunos na instituição, se encontra à frente, no item III.1.

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nos segundo, terceiro, quarto e quinto anos do curso de Medicina da

Universidade Brasi l , independentemente da forma de ingresso, notadamente

através de processos seletivos de transferência;

c) cancelasse a matrícula dos alunos dos primeiro, segundo,

terceiro, quarto, quinto anos e, eventualmente, do sexto ano do referido

curso, de maneira a obedecer o l imite máximo definido pelo Ministério da

Educação, conforme a vigência dos atos autorizativos acima citados. Tornando

bem claro: a Universidade deveria manter, no máximo, 205 matriculados no

primeiro ano, 205 no segundo ano, 128 no terceiro ano, 80 no quarto ano, 80

no quinto ano e 80 no sexto ano;

d) a f im de definir os alunos em excesso que deveriam ser

excluídos do referido curso, a Instituição deveria, inicialmente, confeccionar

l ista de alunos, para cada ano do curso, contendo primeiramente os alunos

ingressantes através de processo seletivo vestibular, conforme a classif icação

neste concurso. Na sequência, inserir, na l ista de cada ano do curso, os alunos

ingressantes através de processos seletivos de transferência, que deverão ser

classif icados em relação a data da real ização do processo seletivo (do mais

antigo para o mais recente), bem como em relação à classif icação de cada

aluno nestes processos seletivos. Com base na classif icação contida nestas

l istas, deveria, então, a instituição cancelar a matrícula dos alunos excedentes

para cada ano do curso. Tornando bem claro: a inst ituição deveria cancelar a

matrícula dos alunos do primeiro ano que estejam além da 205 a c lassif icação;

do segundo ano que estejam além da 205 a c lassif icação; do terceiro ano que

estejam além da 128 a c lassif icação; do quarto ano que estejam além da 80 a

classif icação; do quinto ano que estejam além da 80 a c lassif icação; e do sexto

ano que estejam além da 80 a c lassif icação;

e) desse ampla public idade e transparência, bem como

prestasse todas as informações eventualmente sol ic itadas, a todos os alunos

da Universidade acerca dos cr itér ios de formação das l istas de classif icação

citadas no item anterior;

f ) comunicasse, imediatamente, todos os alunos em situação de

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“abandono” do curso de Medicina em Fernandópolis/SP, e portanto

tecnicamente desl igados da instituição, que suas situações não poderiam ser

regularizadas, ressalvada a possibi l idade de novo ingresso no curso através de

aprovação em vestibular, situação em que as matérias cursadas quando em

situação de abandono não poderiam ser objeto de aproveitamento de estudos

de qualquer espécie.

g) resolvesse em perdas e danos a rescisão contratual dos

alunos excedentes, conforme disposições dos contratos com eles f irmados e

legislação em vigor;

À IES foi concedido prazo de 10 (dez) dias úteis para que

informasse sobre sua intenção de acatar ou não aos itens Recomendados que,

em caso posit ivo, deveriam ser objeto de Termo de Ajustamento de Conduta

que seria f irmado com o Ministério Público Federal.

Foi determinado ainda no despacho de Recomendação fosse

enviada cópia da recomendação ao Ministério da Educação, para que este

órgão se manifestasse, também no prazo de 10 (dez) dias úteis, sobre as

medidas que adotaria frente aos fatos apresentados (f ls. 698).

No prazo estabelecido, por meio de simples petição, a

UNIVERSIDADE BRASIL se l imitou a informar que não acataria a

Recomendação, haja vista que a controvérsia deveria ser submetida à Câmara

de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. Ainda, sol ic itou o

sobrestamento de novas medidas administrativas ou judiciais por parte deste

órgão ministerial (f ls. 720/722 ).

No dia 02/04/2019, foi real izada nova reunião com os advogados

da UNIVERSIDADE BRASIL , na qual a instituição reiterou seu entendimento

no sentido de que a Universidade não excedeu os l imites dos atos autorizativos

de oferta no curso de medicina (f ls. 726/727).

Em relação ao MEC, decorr ido o prazo estabelecido, este

quedou-se inerte, deixando de prestar qualquer informação quanto aos

documentos enviados ou tomar as medidas pert inentes que lhe competiam,

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expostas adiante.

III – DOS FATOS E DO DIREITO

III. 1 – do excesso de oferta de vagas no curso de Medicina

em Fernandópolis/SP

Apesar da enorme quantidade de documentos presentes nestes

autos e atos normativos relacionados ao aumento de vagas a serem ofertadas

por instituições de ensino superior, a questão aqui discutida – oferecimento de

vagas em cursos de Medicina – pode ser simplif icada da maneira a seguir

descrita.

Para que uma Universidade ofereça determinada quantidade anual

de vagas no curso de Medicina – ou deseje aumentar o número desta oferta –

ela deve possuir autorização prévia do Ministério da Educação, obedecendo os

requisitos previstos nos atos normativos aplicáveis e, uma vez deferido o

pedido pela autoridade competente, as novas vagas somente podem ser

uti l izadas a part ir dos próximos processos seletivos, isto é, o processo seletivo

vestibular, fr ise-se.

Como é de conhecimento comum, o vestibular é a forma regular de

ingresso em cursos de toda e qualquer instituição de ensino superior no Brasi l ,

sendo ademais fato notório que os vestibulares do curso de Medicina

costumam ser os mais concorridos do país, sejam em instituições públicas ou

privadas.

Quer dizer que, para o preenchimento destas vagas, o normal é se

esgotar a l ista do vestibular, inclusive a l ista de espera dele decorrente. Assim,

via de regra, o ingresso de novos alunos em uma universidade acontece no

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primeiro semestre/período do curso.

Como também é de conhecimento notório, as instituições de

ensino real izam processos seletivos de transferência, destinados, via de regra,

a alunos que já real izam determinado curso em outras inst ituições, para

preencher aquelas vagas que não foram preenchidas através do vestibular

(após o esgotamento da l ista) ou que foram objeto de abandono – situação

mais comum para o curso de Medicina – após o encerramento do período

regular de matrícula dos calouros (primeiro ano) ou, ainda, abandonos de

alunos matriculados nos semestres/períodos seguintes (segundo período em

diante). Quer dizer que não podem exist ir vagas “novas” ofertadas em

processos seletivos de transferência, já que estas dependem, necessariamente,

de desistências prévias. Demais formas de ingresso, menos comuns,

obviamente também devem observar o que aplicável para as situações de

transferência.

Resumindo: o provimento originário das vagas deve ocorrer

sempre através do vestibular e ofertas de vagas em processos seletivos de

transferência dependem de desistências ocorr idas previamente. Da mesma

forma, as novas vagas de determinado curso superior, autorizadas pelo MEC,

somente podem ser ofertadas a part ir dos vestibulares seguintes.

Agora analisemos os atos normativos que embasam estas

conclusões.

Os art igos 12, §1o, inc. II e §3o; e 41, § 5o do Decreto

9.235/2017 8 estabelece que o acréscimo de vagas no curso de medicina deve

observar a necessidade de autorização prévia do MEC e comprovação de

qualidade da oferta em relação às atividades já autorizadas.

O quant itat ivo de vagas ofertado pela inst ituição deve atender ao

que disposto no art igo 4o. da Portaria no. 523/2018 do MEC, isto é, se observa

a estrutura de equipamentos públicos e programas de saúde existentes e

8 Ato infralegal que atualmente regulamenta o que disposto no artigo 45 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que dispõe sobre o funcionamento da educação superior no país.

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disponíveis no município da oferta do curso, mais especif icamente os seguintes

critér ios: 1) número de leitos do Sistema Único de Saúde - SUS disponíveis por

aluno em quantidade maior ou igual a cinco; 2) número de alunos por Equipe

de Atenção Básica - EAB menor ou igual a três; 3) existência de leitos de

urgência e emergência ou pronto socorro; 4) grau de comprometimento dos

leitos do SUS para uti l ização acadêmica; 5) existência de, pelo menos, três

programas de residência médica nas especial idades prior itár ias implantadas ou

em implantação.

Como se observa, esses atos normativos apresentam requis itos

específ icos para oferta de cursos de Medicina, que devem ser analisados

previamente pelo MEC, que deferirá ou não o pedido do início – ou aumento –

de oferta de vagas nestes cursos.

Não bastasse, a revogada Portaria MEC 21/2016 (f ls. 441/447),

que dispunha sobre aumento de número de vagas de cursos superiores de

graduação ofertados por Instituições de Educação Superior, já estabelecia

expressamente o seguinte:

Artigo 16. §3o Deferido o pedido de aumento, as novas

vagas somente poderão ser util izadas para ingresso no

primeiro ano do curso.

A Portaria MEC 20/2017 9, que dispõe sobre os procedimentos e o

padrão decisório dos processos de credenciamento, recredenciamento,

autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos

superiores, bem como seus aditamentos, nas modalidades presencial e a

distância, das inst ituições de educação superior do sistema federal de ensino,

e que revogou aquela portaria também contém redação idêntica em seu art igo

25, § 3o.

Da mesma forma, a Portaria MEC 523/2018 (f ls. 23) também

dispõe expressamente que as novas vagas uti l izadas somente podem ser

uti l izadas no próximo vestibular:

9 http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/39380053/do1-2018-09-03-portaria-normativa-n-20-de-21-de-dezembro-de-2017--39379833

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Art. 4 o . §3 o. Deferido o pedido de aumento, as novas vagas

somente poderão ser util izadas para ingresso no

próximo processo seletivo do curso.

Não bastasse, cópia do ofíc io do MEC (f ls. 461/462), apresentado

pela própria instituição, direcionado ao Reitor UNIVERSIDADE BRASIL , em

06/02/2018, alertou o seguinte:

“[…] a instituição não possui autonomia nem para cr iação

nem para aumento das vagas ofertadas nos cursos de

Medicina e Direito, devendo sol ic itar aditamento do ato de

autorização, reconhecimento ou renovação de

reconhecimento dos cursos […]“.

Outrossim, os atos infralegais supramencionados encontram

fundamento na Lei no. 9.394/1996 (Lei de Diretr izes e Bases da Educação

Nacional – LDB)

Com efeito, a LDB estabelece que a forma regular de ingresso nos

cursos superiores se dará por processo seletivo (vestibular ou equivalente) de

caráter classif icatório que estabeleça como requis ito o t ítulo de conclusão de

ensino médio ou equivalente:

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e

programas:

[…]

II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído

o ensino médio ou equivalente e tenham sido classif icados em

processo selet ivo;

§ 1º. Os resultados do processo selet ivo refer ido no inciso II

do caput deste art igo serão tornados públ icos pelas

inst ituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação

da relação nominal dos classif icados, a respectiva ordem de

classif icação, bem como do cronograma das chamadas para

matr ícula, de acordo com os cr itér ios para preenchimento das

vagas constantes do respectivo edital. (Incluído pela

Lei nº 11.331, de 2006) (Renumerado do parágrafo único

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para § 1º pela Lei nº 13.184, de 2015)

§ 2º No caso de empate no processo selet ivo, as inst ituições

públ icas de ensino superior darão prior idade de matr ícula ao

candidato que comprove ter renda famil iar infer ior a dez

salár ios mínimos, ou ao de menor renda famil iar, quando mais

de um candidato preencher o cr itér io in icial .

(Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015)

[.. .]

No mesmo sentido, as regras infralegais quanto à f inal idade do

processo seletivo de transferência (interna ou externa), isto é, prover vagas

originadas de desistências, encontra espeque no art igo 49 da LDB:

Art. 49. As inst ituições de educação superior aceitarão a

transferência de alunos regulares, para cursos afins, na

hipótese de existência de vagas , e mediante processo

seletivo.

Parágrafo único. As transferências ex off icio dar-se-ão na

forma da lei .

Expostas as normas jurídicas apl icáveis a este caso, passemos a

análise dos fatos apresentados neste procedimento.

Segundo a última listagem apresentada pela UNIVERSIDADE

BRASIL (f ls. 619/664), é possível verif icar a seguinte distr ibuição de alunos

matriculados por ano de curso (primeiro ao sexto) em comparação com o

número de vagas autorizadas pelo MEC:

Turma Ano Períodos Vagasautorizadas

Matriculados

2019 1 1 e 2 205 204

2018 2 3 e 4 205 403

2017 3 5 e 6 128 208

2016 4 7 e 8 80 110

2015 5 9 e 10 80 125

2014 6 11 80 47

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Como se observa, de acordo com esses dados, a extrapolação da

oferta de vagas no curso de Medicina da UNIVERSIDADE BRASIL , em

Fernandópolis/SP, do segundo ao quinto anos do curso, é evidente, segundo

dados apresentados pela própria instituição.

Nota-se das normas acima citadas que não existe a possibi l idade

de aplicação retroativa do aumento de vagas deferido, isto é, promover o

aumento de vagas das turmas de Medicina já existentes, vez que as normas

citadas são expressas no sentido de que as novas vagas somente podem ser

ofertadas no primeiro ano do curso, no processo seletivo (vestibular) seguinte.

A instituição, no entanto, em sua primeira resposta, afirmou que

inexiste apl icação retroativa ao acréscimo de vagas deferido pelo MEC. Não

bastasse, em reunião, seus representantes declararam expressamente que não

havia entendimento por parte da Universidade de aplicação retroativa da

concessão do aumento de vagas pelo MEC.

Porém, após a primeira constatação desta Procuradoria a través do

despacho de f ls. 404/406, em sua segunda resposta sustentou que a

retroatividade se refere ao processo seletivo do curso, não se restr ingindo às

turmas, desde que essas vagas sejam preenchidas a part ir dos novos processos

seletivos instituídos após o ato autorizativo (f ls. 417). Também, em reunião na

mesma data (f ls. 570/571), foi esclarecido, ao Procurador da República,

pessoalmente pelos i lustres advogados – apesar de assim não ter sido

detalhado na ata – que o entendimento da universidade é de que o MEC

autoriza 205 ingressos por ano no curso de Medicina, f icando a cr itér io d a

universidade a distr ibuição dessas vagas nas turmas existentes.

Esses argumentos, evidentemente, não encontram espeque nas

disposições normativas acima citadas. Al iás, não há sequer possibi l idade de

extrair interpretação neste sentido daquelas normas.

Ademais, nota-se que a segunda resposta da inst ituição é

frontalmente contraditória à primeira. Note-se que a requisição contida na

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portaria de instauração deste inquérito civi l foi sufic ientemente clara quanto

ao que se questionava – “e) manifestar quanto a alegação de aplicação

retroativa ao acréscimo de vagas deferido pelo MEC ( isto é, ampliação das

turmas já existentes na instituição ) e não somente às novas turma [...] ” –

fls. 38 – ainda assim a inst ituição afirmou, por escrito e em reunião, como já

dito, que não aplicava os aumentos de vagas de maneira retroativa.

Tampouco encontra fundamento legal o entendimento da

UNIVERSIDADE BRASIL de que a retroatividade se refere ao processo

seletivo do curso, não se restr ingindo às turmas, desde que essas vagas sejam

preenchidas a part ir dos novos processos seletivos instituídos após o ato

autorizativo. Igualmente, não tem previsão legal o entendimento da

universidade de que a instituição poderia distr ibuir, a seu cr itér io, as 205

vagas autorizadas pelo MEC nas turmas já existentes.

Nada obstante, se agruparmos os alunos matriculados por data de

ingresso na inst ituição, independente do semestre/período inicial de matrícula,

teremos o seguinte:

Ano deingresso 10

Ingressos porVestibular

Ingressos portransferências

Outrosingressos

VagasAutorizadas

Total deingressantes

2019 197 34 0 205 231

2018 239 245 4 205 488

2017 162 26 2 128 190

2016 48 3 0 80 51

2015 56 6 4 80 63

2014 44 9 11 80 64

2013 e antes

10 0 0 80 10

Quer dizer que além da UNIVERSIDADE BRASIL não aplicar a

própria tese que defendeu nos autos do inquérito civi l – oferta anual até o

10 Considerou-se como ano de ingresso aquele em que o aluno iniciou as aulas na instituição. Notou-se que a data de ingresso de vários alunos foi ao final de determinado ano, mas o início das aulas ocorreu no começo do ano seguinte.

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l imite de vagas autorizado pelo MEC, distr ibuídas pelas diversas turmas – a

compilação dos dados desta forma demonstra que foi exatamente sob a nova

direção da Universidade, iniciada no decorrer do ano de 2016, que foi

inaugurada a prática i l íc ita de extrapolar a oferta de vagas do curso de

Medicina no campus de Fernandópolis/SP.

Destaque-se que a instituição é gerida por pessoas bem instruídas,

contando também com a assessoria de excelentes advogados, de forma que

não é possível admitir que não t inham conhecimento da i legal idade desta

prática, até porque o Diretor Acadêmico do campus de Fernandópolis (Amauri

Piratininga, também profissional do Direito) é o mesmo da administração

anterior, que, ao menos segundo apurado até aqui, não real izava estas

práticas.

Portanto, como já observado, resta evidente, pelos documentos

apresentados pela própria instituição, que há extrapolação de ofertas de vagas

na inst ituição, iniciada pela gestão iniciada em 2016.

Mas não é só.

Há signif icativa diferença entre as l istas de matriculados

apresentada pela UNIVERSIDADE BRASIL a esta Procuradoria da República

nos dias 19/02/2019 e 07/03/2019 e as l istas obtidas pelas alunas

representantes em 18/02/2019 junto a secretaria da Instituição.

A uma, nota-se nas l istas obtidas pelas alunas que há

discr iminação daqueles alunos em situação de “abandono” – que al iás são em

números bastantes signif icativos – o que coloca a atitude da instituição nos

autos do inquérito civi l sob suspeita vez que em 19/02/2019, um dia depois da

data em que a l ista foi obtida pelas alunas, a UNIVERSIDADE BRASIL

declarou naqueles autos que “não há como mensurar com exatidão a

quantidade de alunos ouvintes e quantos alunos em abandono frequentam

o curso de medicina em Fernandópolis/SP ” (f ls. 419/420). Al iás, não é possível

crer que esta grande quantidade de alunos classif icados como “em abandono”

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continuariam frequentando a universidade se t ivessem a certeza de que suas

situações não poderiam ser regularizadas no futuro, através de alguma espécie

de acordo com a instituição.

A duas, nota-se que, além de somar número maior de matriculados

na relação dos alunos do segundo e terceiro anos, na l ista obtida pelas alunas

representantes há 299 nomes matriculados no primeiro ano do curso, o

que comprova existir excesso de alunos em todos os anos do Curso de

Medicina, com exceção – ao menos segundo o que até aqui apurado –

do último . Não bastasse, os alunos da l istagem do primeiro ano estão

distr ibuídos em turmas identif icadas pelas letras “C”, “D”, e “E”, o que levanta

suspeitas da existência de um número ainda maior de matriculados no primeiro

ano do curso, já que faltantes as relações das turmas “A” e “B”. Segundo

acreditam as alunas representantes, haveria, de fato, outros nomes no

primeiro ano do curso, vez que alguns ainda não conseguiram efetivar a

matrícula por motivos diversos.

E vem corroborar esta suspeita o fato de três outras alunas do

curso de Medicina da UNIVERSIDADE BRASIL (f ls. 848/854), cujos nomes

não constam em nenhuma das l istas de alunos juntadas a estes autos , terem

apresentado em 12/03/2019 e 13/03/2019, reclamações a Procuradoria da

República em Jales/SP quanto à inoperabil idade do sistema do FIES, o que

estaria inviabi l izando a renovação de seus f inanciamentos estudantis. Segundo

apurado por esta Procuradoria (f ls. 857), estas três alunas estão matriculadas

exatamente no primeiro ano do Cur so de Medicina da UNIVERSIDADE

BRASIL em Fernandópolis/SP.

Assim, torna-se cr ível a notícia inicial formulada pelas alunas de

que a UNIVERSIDADE BRASIL tem planos de ofertar cerca de 400 vagas no

primeiro ano do curso, em 2019 .

Ademais, revelou-se que a UNIVERSIDADE BRASIL dolosamente

sonegou informações ao Ministério Público Federal a respeito do efetivo

quantitat ivo de alunos matriculados em seu Curso de Medicina, notadamente

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no primeiro ano do curso 11 .

Deve-se ressaltar, ainda, ser temerário o exponencial aumento do

número de vagas do citado Curso de Medicina, sem garantia e segurança da

qualidade do serviço educacional, que inclusive está sob acompanhamento

desta Procuradoria da República (Inquérito Civi l nº 1.34.030.000010/2016-20)

ante o desempenho insatisfatório dos estudantes de Medicina (abaixo de 60%)

nas aval iações do CREMESP de 2013 em diante.

Finalmente, soma-se às condutas suspeitas da UNIVERSIDADE

BRASIL o que relatado em denúncia anônima recebida nesta Procuradoria em

12/03/2019 (f ls. 668/669), que apresenta um áudio onde o Reitor da

Universidade estaria em reunião do Centro Acadêmico expondo que apenas

cerca de 60% dos alunos se formam e a instituição está autorizada a emitir até

205 diplomas por ano. Portanto, esta estratégia, que conta com reprovações e

desistências, pode de fato estar sendo uti l izada pela inst ituição para manter a

expedição de diplomas ao ano abaixo do número de vagas anuais autorizado

pelo MEC, o que evitar ia que o órgão viesse a tomar conhecimento acerca das

práticas i l íc itas que estão sendo levadas a efeito no campus da inst ituição em

Fernandópolis/SP.

Finalmente, cabe registrar que foi requisitada a instauração de

inquérito polic ial para apuração de possível del ito de coação no curso do

processo, em razão de ameaças proferidas em audiência pública pelo reitor da

UNIVERSIDADE BRASIL às alunas responsáveis pela representação inicial ao

MPF (f ls. 762/780).

Assim, comprovadas as i legal idades, há a necessidade de sua

correção pelo Poder Judiciár io, com fundamento nos argumentos expostos no

subitem a seguir, vez que a instituição de ensino optou por persist ir na

i legal idade, conforme demonstra a resposta, já citada acima, à recomendação

ministerial.

11 Em relação a este fato, foi requisitada a instauração de inquérito policial para apuração dos delitos previstos no artigo 10 da Lei 7.347/85 ou ainda do artigo 299 do Código Penal – fls. 757.

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III. 2 – da nulidade dos atos praticados pela IES ao

extrapolar os limites impostos pelos atos autorizativos do

MEC

Nas palavras de Hely Lopes Meireles, “ serviço público é todo

aquele prestado pela administração ou por seus delegados, sob normas de

controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da

coletividade ou simples conveniências do Estado” (MEIRELES, 2010 p.351).

Nesse sentido, o ordenamento jurídico, ao elevar o direito à

educação ao status de garantia constitucional cuja prestação é dever do

Estado, lhe atr ibui natureza pública:

Art. 6º CF. São direitos sociais a educação , a saúde, a

al imentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a

segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição

Art. 205 CF. A educação, direito de todos e dever do Estado e

da famíl ia, será promovida e incentivada com a colaboração

da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

seu preparo para o exercício da cidadania e sua qual i f icação

para o trabalho.

Do conceito apresentado, extrai-se que, em casos não proibidos

pelo Direito, os serviços públicos podem ser cometidos a entes privados,

desde que observadas as normas e o controle estatal da atividade. Esse

é o caso dos serviços de educação, cuja part ic ipação de part iculares é

autorizada pela Constituição Federal sob regime de autorização:

Art. 209 CF. O ensino é l ivre à in iciat iva privada,

atendidas as seguintes condições:

I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;

II - autorização e aval iação de qual idade pelo Poder

Públ ico.

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Assim, submetem-se os prestadores de serviço de educação à

supervisão do Estado, que está incumbido de atuar em caso de

descumprimento dos mandamentos legais no desempenho de suas funções,

conforme ensina Hely Lopes Meireles:

“Qualquer deficiência do serviço que revele inaptidão de

quem o presta ou descumprimento de obrigações impostas

pela Administração ensejará a intervenção imediata do Poder

Públ ico delegante para regular izar seu funcionamento ou

retirar- lhe a prestação” (MEIRELES, 2010 p.355).

No caso em tela, a UNIVERSIDADE BRASIL , na pessoa de seu

reitor, praticou atos (cr iação, de fato, de vagas não autorizadas) eivados de

nulidade por vício de legalidade:

“A legal idade, como princípio de administração (CF, art. 37,

caput), s ignif ica que o administrador públ ico está, em toda

sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às

exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou

desviar, sob pena de praticar ato invál ido e expor-se a

responsabi l idade discipl inar, civi l e cr iminal, conforme o caso”

(MEIRELES, 2010 p.89).

Com esse fundamento, foi expedida a recomendação, já

mencionada, a IES para que seu Reitor, no exercício do poder de autotutela

como agente delegatário do poder público federal, cancelasse as matrículas

excedentes ao número de vagas autorizadas por período let ivo, possibi l idade

reconhecida em súmula do Supremo Tribunal Federal:

Súmula 473 – A administração pode anular seus próprios atos,

quando eivados de vícios que os tornam i legais, porque deles

não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de

conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos

adquir idos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação

judicial .

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No entanto, nos termos da resposta apresentada, a IES optou

por não acatar as medidas recomendadas , tampouco o poder delegante

(UNIÃO) deixou de tomar as atitudes a seu alcance – explicadas a seguir –

para corr igir as i legal idades, não restando outra opção senão trazer a questão

ao Judiciár io para que sejam anulados os atos i legais que constituem objeto da

presente ação e todos os efeitos produzidos em decorrência.

É sedimentado o entendimento doutr inário e jurisprudencial de

que os atos administrativos praticados fora dos l imites da legalidade padecem

de nulidade absoluta. Por consequência, são invál idas todas as suas

consequências desde a origem.

De acordo com essa premissa, todos os efeitos produzidos pelos

atos viciados (cr iação, de fato, de vagas não autorizadas) padecem de

nulidade, sendo certo que este princípio orienta as disposições normativas

contidas no Decreto 9.235/2017, a seguir destacadas:

Art. 76. A oferta de curso superior sem o ato autorizat ivo, por

IES credenciada, configura irregular idade administrat iva e o

Ministér io da Educação, por meio da Secretar ia de Regulação

e Supervisão da Educação Superior, instaurará procedimento

administrat ivo sancionador, nos termos deste Capítulo.

(.. .)

Art. 77. º§ 2º A Secretar ia de Regulação e Supervisão da

Educação Superior do Ministér io da Educação, no caso

previsto no caput e em outras situações que extrapolem as

competências do Ministér io da Educação, sol icitará às

instâncias responsáveis:

I - a averiguação dos fatos;

II - a interrupção imediata das at ividades irregulares da

inst ituição; e

III - a responsabi l ização civ i l e penal de seus representantes

legais.

Art. 78. Os estudos realizados em curso ou IES sem o

devido ato autorizativo não são passíveis de

convalidação ou aproveitamento por instituição

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devidamente credenciada .

Em interpretação sistemática com as demais normas já

mencionadas, observa-se que a oferta de vagas no curso de Medicina além do

que permite o ato autorizativo atrai a apl icação dos disposit ivos

supramencionados, de forma que os alunos ocupantes de vagas excedentes

sequer podem ter seus estudos convalidados ou aproveitados em outra

instituição de ensino.

Rejeitada a possibi l idade de anulação dos atos viciados pelo Reitor

da UNIVERSIDADE BRASIL , resta, portanto, ao Poder Judiciár io declarar a

nulo os atos praticados pelo reitor fora dos l imites de sua competência, isto é,

a anulação da cr iação, de fato, do excesso de vagas no curso de Medicina no

campus da UNIVERSIDADE BRASIL em Fernandópolis/SP, nos termos dos

pedidos ao f inal formulados .

III. 3 – das obrigações da União e sua responsabilidade civil

diante de sua atitude omissiva

Os serviços de educação, como demonstrado, estão submetidos a

normas que garantem sua prestação segundo os interesses sociais que lhe são

inerentes. A Const ituição Federal estabelece os princípios gerais que dir igem o

sistema educacional no art igo 206, entre os quais, em seu inciso VI, encontra-

se a garantia de padrão mínimo de qualidade:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

(.. .)

VII - garantia de padrão de qualidade.

Assim, os serviços educacionais se dir igem a certas f inal idades,

sempre visando o bem comum em últ ima análise, que devem ser observadas

pelas diversas IES habil itadas a prestar tais serviços, nos termos do art igo 43

da LDB:

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Art. 43. A educação superior tem por f inal idade:

I - est imular a cr iação cultural e o desenvolvimento do

espír i to científ ico e do pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento,

aptos para a inserção em setores profissionais e para a

part icipação no desenvolvimento da sociedade brasi leira, e

colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação

científ ica, visando o desenvolvimento da ciência e da

tecnologia e da cr iação e difusão da cultura, e, desse modo,

desenvolver o entendimento do homem e do meio em que

vive;

IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,

científ icos e técnicos que constituem patr imônio da

humanidade e comunicar o saber através do ensino, de

publ icações ou de outras formas de comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural

e profissional e possibi l i tar a correspondente concretização,

integrando os conhecimentos que vão sendo adquir idos numa

estrutura intelectual s istematizadora do conhecimento de

cada geração;

VI - est imular o conhecimento dos problemas do mundo

presente, em part icular os nacionais e regionais, prestar

serviços especia l izados à comunidade e estabelecer com esta

uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à part icipação da

população, visando à difusão das conquistas e benefícios

resultantes da cr iação cultural e da pesquisa científ ica e

tecnológica geradas na inst ituição.

VIII - atuar em favor da universal ização e do aprimoramento

da educação básica, mediante a formação e a capacitação de

profissionais, a real ização de pesquisas pedagógicas e o

desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os

dois níveis escolares.

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Assim, a Constituição Federal atr ibuiu à UNIÃO a

responsabil idade pela garantia do padrão mínimo de qualidade no ensino, nos

termos do § 1º de seu art igo 211:

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos

Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e

exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de

forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e

padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência

técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios;

Para cumprimento dos ditames constitucionais e legais pert inentes,

a Lei de Diretr izes e Bases da Educação determinou que os cursos de ensino

superior, ofertados pelas inst ituições credenciadas, devem ser submetidos à

avaliação de qualidade tanto para seu credenciamento quanto para sua

renovação periódica:

Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem

como o credenciamento de inst ituições de educação superior,

terão prazos l imitados, sendo renovados, periodicamente,

após processo regular de aval iação.

Dessa forma, as Universidades, sujeitas à regulação do Ministério

da Educação, se submetiam ao Decreto nº 5.773/2006, vigente à época da

últ ima autorização que concedeu acréscimo ao número de vagas do curso de

medicina da IES, que então estabelecia:

Art.10. O funcionamento de inst ituição de educação superior

e a oferta de curso superior dependem de ato autorizat ivo do

Poder Públ ico, nos termos deste Decreto.

§ 1 o São modal idades de atos autorizat ivos os atos

administrat ivos de credenciamento e recredenciamento de

inst ituições de educação superior e de autorização,

reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos

superiores, bem como suas respectivas modif icações.

§ 2 o Os atos autorizat ivos fixam os limites da atuação dos

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agentes públicos e privados em matéria de educação

superior .

Nos termos da LDB, compete à UNIÃO autorizar, reconhecer,

credenciar e aval iar as Instituições de Ensino Superior e o rendimento de seus

alunos:

Art. 9º A União incumbir-se-á de:

VI - assegurar processo nacional de aval iação do rendimento

escolar no ensino fundamental, médio e superior, em

colaboração com os sistemas de ensino, objet ivando a

definição de prior idades e a melhoria da qual idade do ensino;

(…)

VIII - assegurar processo nacional de aval iação das

inst ituições de educação superior, com a cooperação dos

sistemas que t iverem responsabi l idade sobre este nível de

ensino;

(.. .)

IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervis ionar e aval iar,

respectivamente, os cursos das inst ituições de educação

superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.

As incumbências da UNIÃO são, assim, exercidas pelo

Ministério da Educação que se estrutura segundo o Decreto nº 9665 de 2019:

Art. 1o O Ministér io da Educação, órgão da administração

federal direta, tem como área de competência os seguintes

assuntos:

I - pol í t ica nacional de educação;

II - educação infanti l ;

II - educação em geral, compreendendo o ensino

fundamental, o ensino médio, o ensino superior , a educação

de jovens e adultos, a educação profissional, a educação

especial e a educação a distância, exceto o ensino mil i tar;

IV - avaliação , informação e pesquisa educacional;

V - pesquisa e extensão univers i tár ia;

VI - magistér io; e

VII - assistência f inanceira a famíl ias carentes para a

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escolar ização de seus f i lhos ou dependentes.

Parágrafo único. Para o cumprimento de suas competências, o

Ministér io da Educação poderá estabelecer parcer ias com

inst i tu ições civ is e mi l i tares que apresentam experiências

exitosas em educação.

Assim, dentro do âmbito do Ministério da Educação está

incluída a supervisão e a regulação da educação superior, por meio de sua

Secretaria de Educação Superior, nos termos do art igo 5º do Decreto nº

9.235/2017:

Art. 5º Compete ao Ministério da Educação, por meio da Secretaria de

Regulação e Supervisão da Educação Superior, nos termos do Decreto n º

9.005, de 2017 , exercer as funções de regulação e supervisão da educação

superior no âmbito do sistema federal de ensino.

97. Já era assim à época da concessão dos atos autorizativos e

de supervisão, nos termos do Decreto n° 9005/2017:

Art. 28. À Secretar ia de Regulação e Supervisão da Educação

Superior compete:

(.. .)

II - autorizar, reconhecer e renovar o reconhecimento de

cursos de graduação e sequenciais, presenciais e a distância;

(…)

IV - supervis ionar inst i tu ições de educação superior e cursos de

graduação e sequenciais, presenciais e a distância, com vistas

ao cumprimento da legis lação educacional e à indução de

melhorias dos padrões de qual idade da educação superior,

apl icando as penal idades previstas na legis lação;

Via de regra, as Universidades são dotadas de autonomia que as

dispensa da autorização prévia para cr iação de cursos e posterior incremento

do número de vagas. No entanto, no caso part icular do curso de Medicina e

alguns outros considerados de importância sobrelevada para a sociedade, essa

autonomia é relat ivizada. Nesse sentido, o Decreto nº 5.773/2006, com as

modif icações trazidas pelo Decreto nº 8.754/2016 já dispunha:

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Art. 28. As universidades e centros universitários, nos limites de sua autonomia,

observado o disposto nos §§ 2o e 3o deste artigo, independem de autorização

para funcionamento de curso superior, devendo informar à Secretaria

competente os cursos abertos para fins de supervisão, avaliação e posterior

reconhecimento, no prazo de sessenta dias.

(…)

§ 3o O aumento de vagas em cursos de graduação em Direito,

Medicina, Odontologia, Psicologia e Enfermagem, inclusive em

universidades e centros universitários, depende de autorização do

Ministério da Educação, conforme regulamento.

O atual regramento trazido pelo Decreto nº 9.235/2017

reproduziu a exigência acima (art igo 11, §1 o, inc. II).

Tal qual demonstrado no item anterior, as IES part iculares se

submetem a legislação e ao estr ito controle do órgão competente da UNIÃO ,

que tem inclusive poder de impor sanções em face dessas instituições, dentre

elas a desativação de cursos e descredenciamento da instituição de ensino

(art. 46, §1o da Lei 9.394/96).

Ainda, as aval iações periódicas a cargo do Ministério da

Educação const ituem outro instrumento de controle sobre as atividades de

instituições de ensino privada.

Em suma, o poder de políc ia que a legislação prevê à UNIÃO

nestas hipóteses permite que esta inval ide atos administrativos viciados

praticados pelas instituições de ensino, bem com que imponha sanções

devidas.

Apesar disso, a UNIÃO não cumpriu a contento seu dever

legal no caso aqui apresentado, de forma que sua inércia ao exercer suas

funções de controle, desde o ano de 2017, incentivou a conduta da

UNIVERSIDADE BRASIL em criar ainda mais vagas em seu curso de

Medicina, além do que permitem os atos autorizativos já mencionados.

Não bastasse a UNIÃO não ter impedido a escalada da oferta

i l íc ita de vagas de medicina, ainda autorizou dois aumentos de vagas no

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decorrer do ano de 2017, conforme já citado, quando a UNIVERSIDADE

BRASIL já vinha descumprindo os l imites dos atos autorizativos então

vigentes.

Al iás, dúvidas se levantam quanto à efetiva atuação do MEC

no sentido de observar os requisitos previstos na legislação para concessão de

autorização de incremento de vagas no curso em tão curto espaço de tempo,

ainda mais quando se leva em consideração os resultados obtidos pela IES nas

avaliações de que part ic iparam os egressos do curso.

Sobre o assunto, além do Inquérito Civi l que instrui a

presente ação, tramita nesta Procuradoria da República o IC nº

1.34.030.000010/2016-20 1 2 que tem por objeto a apuração do padrão de

qualidade do curso de medicina ministrado pela UNIVERSIDADE BRASIL no

Campus Fernandópolis.

Constam desses autos, informações que trazem preocupação

com o quadro geral dos cursos de medicina no Estado de São Paulo. Segundo

relatório sobre o exame do CREMESP do ano de 2014 (f ls. 785/801), 55% dos

recém-formados em medicina no Estado de São Paulo não alcançaram nota

mínima. Ao se levar em conta apenas os egressos de escolas privadas, o

número de reprovados chega a 65%. A situação veio ainda a piorar segundo o

relatório referente ao exame de 2016 apresentado pelo órgão de classe (f ls.

803/806).

No caso específ ico da então Universidade Camilo Castelo

Branco – UNICASTELO, hoje UNIVERSIDADE BRASIL , informação do

CREMESP (f ls. 807) registra que a média da Universidade no Exame de 2015

ficou muito abaixo da média geral do Estado (51,85 contra 60,34). Às f ls.

818/828 há relatório específ ico relat ivo ao desempenho da UNIVERSIDADE

BRASIL no exame do CREMESP, com resultados ainda abaixo da média geral,

apesar de l igeira melhora no percentual de aprovados. No entanto, a entidade

de classe ressalva no documento que houve queda no número de part ic ipantes

12 As cópias de interesse foram juntadas ao ICP que instrui esta ação, que são referenciadas a seguir.

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egressos da IES, o que pode demonstrar que um grupo mais seleto de

estudantes se interessou pela aval iação.

Consta a informação do Inst ituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anís io Teixeira de que o Curso de Medicina da

Unicastelo recebeu conceito 02 (entre 01 e 05) no ENADE na avaliação de

2013. Houve, no entanto, uma l igeira melhora no ano 2016, quando a

Universidade alcançou conceito 3 na prova, segundo informações disponíveis

no Portal INEP 13 .

Apesar deste acréscimo na nota do ENADE, no ano de 2016,

segundo dados extraídos do Portal INEP, a nota padronizada de conhecimentos

específ icos coloca a Universidade na 120ª posição entre 176 Universidades

(2,1985 pontos).

Nada obstante, no ano de 2016 ainda não havia extrapolação

de oferta de vagas no curso de Medicina, o que somente passou a ocorrer no

ano de 2017, como já citado, o que nos leva a concluir que, se à época das

avaliações então real izadas a qualidade do curso já deixava a desejar, não há

razões para presumir qualquer melhora signif icativa quando a inst ituição passa

a aceitar maior demanda de alunos do que é capaz de l idar.

Vão encontro desta conclusão os relatos das alunas que

trouxeram a notícia inicial ao MPF, no que diz respeito aos problemas hoje

enfrentados pelos estudantes matriculados (falta de professores, salas

superlotadas, etc.), o que já foi exposto acima. As notícias jornal istas juntadas

às f ls. 746/753 também demonstra a falta de estrutura da universidade (falta

de vagas em internato).

É por isso que se evidencia precipitada a conduta da UNIÃO

de ter autorizado, em espaço de tempo inferior a um ano, mais do que o dobro

do número de vagas concedidas ao curso de Medicina da UNIVERSIDADE

BRASIL , quase que imediatamente após ter ocorr ido a transferência de

mantenedora. Como mencionado, apenas no ano de 2017 foram

concedidos dois incrementos no número de vagas para o curso de

13 http://download.inep.gov.br/educacao_superior/indicadores/legislacao/2017/resultado_enade2016_portal_06_09_2017.xlsx

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medicina, que mais que dobraram o número original de vagas (de 80

para 205 vagas) .

Uma atitude administrativa deste naipe pressuporia, no

mínimo, que a UNIÃO est ivesse real izando um efetivo acompanhamento das

atividades que vinham ocorrendo na UNIVERSIDADE BRASIL em

Fernandópolis/SP, de modo a garantir não só a correta observância das normas

aplicáveis pela universidade, mas também que o curso ministrado em

Fernandópolis/SP apresentasse alguma espécie de excelência em qualidade de

ensino, quando comparada a outras instituições de ensino semelhantes.

Os fatos já comprovados nestes autos, no entanto,

demonstram que tal zelo não esteve presente na atitude do Ministério da

Educação.

Ressalte-se que simples requisições de documentos por parte

do Ministério Público Federal, logo após a comunicação da ocorrência dos

i l íc itos, foi o sufic iente para revelar as i l ic itudes aqui demonstradas, o que

também evidencia a negligência do MEC no exercício de suas atr ibuições.

Para concluir a série de omissões/negligências, foi dado ao

Ministério da Educação, através da Secretaria de Regulação e Supervisão da

Educação Superior, conhecimento do inteiro teor da Recomendação expedida à

Universidade, conforme já citado, bem como concedido o prazo de 10 dias

úteis para que o órgão se manifestasse sobre as medidas que tomaria em

relação aos fatos narrados. Mais uma vez o Ministério da Educação se

quedou inerte, mesmo após tomar conhecimento das graves

irregularidades praticadas pela IES.

Veja que não está no âmbito da discr ic ionariedade

administrativa a apuração ou não das irregularidades apontadas.

Com efeito, trata-se de atividade vinculada , o que al iás é

confirmado pelo Decreto n° 9.235/2017, que impõe ao Ministério da Educação

tem o dever de dar início a procedimento preparatório de supervisão quando

tomar ciência de irregularidades na oferta de educação superior:

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Art. 65. O Ministér io da Educação, por meio da Secretar ia de

Regulação e Supervisão da Educação Superior, cienti f icado de

eventual deficiência ou irregular idade na oferta de educação

superior, instaurará, de ofício ou mediante representação,

procedimento preparatório de supervisão.

O mencionado Decreto ainda prevê poderes específ icos que

poderiam ter sido uti l izados pelo MEC para apuração das i legal idades, dentre

eles a possibi l idade de imposição de medidas cautelares:

Art. 63. A Secretar ia de Regulação e Supervisão da Educação

Superior do Ministér io da Educação poderá determinar, em

caso de r isco iminente ou ameaça ao interesse públ ico e ao

interesse dos estudantes, motivadamente, sem a prévia

manifestação do interessado, as seguintes medidas

cautelares, entre outras:

I - suspensão de ingresso de novos estudantes;

II - suspensão da oferta de cursos de graduação ou de pós-

graduação lato sensu;

III - suspensão de atr ibuições de autonomia da IES;

IV - suspensão da prerrogativa de cr iação de novos polos de

educação a distância pela IES;

V - sobrestamento de processos regulatórios que a IES ou as

demais mantidas da mesma mantenedora tenham protocolado;

VI - impedimento de protocol ização de novos processos

regulatórios pela IES ou pelas demais mantidas da mesma

mantenedora;

VII - suspensão da possibi l idade de celebrar novos contratos

de Financiamento Estudanti l - Fies pela IES;

VIII - suspensão da possibi l idade de part icipação em processo

selet ivo para a oferta de bolsas do Programa Universidade

Para Todos - Prouni pela IES; e

IX - suspensão ou restr ição da possibi l idade de part icipação

em outros programas federais de acesso ao ensino pela IES.

§ 1º As medidas previstas no caput serão formal izadas em

ato do Secretár io de Regulação e Supervisão da Educação

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Superior do Ministér io da Educação, que indicará o seu prazo

e seu alcance.

Ainda nos termos do mesmo decreto, o procedimento

preparatório pode dar causa a um procedimento sancionador, em caso de

confirmação da prática das irregularidades elencadas:

Art. 72. Serão consideradas irregular idades administrat ivas,

passíveis de apl icação de penal idades, nos termos deste

Decreto, as seguintes condutas:

(.. .)

II - oferta de educação superior em desconformidade com os

atos autorizat ivos da IES;

(.. .)

Art. 73. Decorrido o prazo para manifestação da instituição, a Secretaria

de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da

Educação apreciará o conjunto de elementos do processo e decidirá:

I - pelo arquivamento do processo, na hipótese de não

confirmação das deficiências ou das irregular idades; ou

II - pela aplicação das penalidades previstas na Lei nº 9.394, de 1996,

especialmente:

a) desativação de cursos e habi l i tações;

b) intervenção;

c) suspensão temporária de atr ibuições da autonomia;

d) descredenciamento;

e) redução de vagas autorizadas;

f ) suspensão temporária de ingresso de novos estudantes; ou

Assim, resta claro que a UNIÃO , apesar de estar a seu

alcance, deixou de cumprir seus deveres legais neste caso, o que just if ica sua

presença no polo passivo da ação para que o Poder Judiciár io lhe imponha a

obrigação de solucionar o problema que ajudou a cr iar.

III. 4 – do dever de indenizar os danos morais coletivos

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A ação civi l pública é o instrumento idôneo para que sejam

pleiteadas reparações de danos transindividuais, sejam eles patr imoniais ou

morais, nos termos da Lei 7.347/85:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo

da ação popular, as ações de responsabi l idade por danos

morais e patr imoniais causados:

(.. .)

IV - a qualquer outro interesse difuso ou colet ivo.

A definição e classif icação de interesses coletivos, em sentido

amplo, foi introduzida ao ordenamento jurídico pelo Código de Defesa do

Consumidor, que incluiu o Ministério Público entre os legit imados para

defendê-los em juízo:

Art. 81. A defesa dos interesses e dire itos dos consumidores

e das vít imas poderá ser exercida em juízo individualmente,

ou a t í tulo colet ivo.

Parágrafo único. A defesa colet iva será exercida quando se

tratar de:

I - interesses ou dire itos difusos, assim entendidos, para

efeitos deste código, os transindividuais, de natureza

indivis ível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e

l igadas por ci rcunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos colet ivos, assim entendidos, para

efeitos deste código, os transindividuais, de natureza

indivis ível de que seja t i tular grupo, categoria ou classe de

pessoas l igadas entre si ou com a parte contrár ia por uma

relação jur ídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim

entendidos os decorrentes de origem comum.

Art. 82. Para os f ins do art. 81, parágrafo único, são

legit imados concorrentemente:

I - o Ministér io Públ ico

[.. .]

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Nos termos do inciso I do disposit ivo supracolacionado, tem-se

que a conduta comissiva da instituição de ensino e a conduta omissiva da

UNIÃO at ingiram interesses difusos, de que são t itulares pessoas

indeterminadas e l igadas por circunstância de fato à situação neste processo,

quais sejam todas as pessoas que legit imamente esperam da universidade e do

Estado que capacitem, com rigoroso controle de qualidade, profissionais

médicos que são expostos ao mercado de trabalho e, principalmente, ao

Sistema Único de Saúde.

Assim, a pretexto de aumentar i l ic itamente seu faturamento, a

UNIVERSIDADE BRASIL extrapolou os l imites de vagas definidas nos atos

autorizativos expedidos pelo órgão da UNIÃO . Esta, por sua vez, quedou-se

inerte ao deixar de coibir os abusos cometidos pela primeira ré, iniciados no

ano de 2017. Pior: enquanto a universidade escancaradamente extrapolava a

oferta de vagas, o Ministério da Educação ainda autorizou o aumento da

oferta, por duas vezes, deixando de detectar a i legal idade aqui exposta.

Estas atitudes ferem de maneira injusta e intolerável valores

fundamentais t itular izados pela sociedade, que dizem respeito à correta gestão

e controle da saúde pública e part icular, de forma que a condenação das

partes rés no dever de indenizar os danos morais coletivos se prestam a: a)

proporcionar uma reparação indireta à lesão deste direito extrapatr imonial da

coletividade; b) sancionar o ofensor; e c) inibir futuras condutas ofensivas

semelhantes a esses direitos transindividuais.

Como se sabe, o dano moral coletivo é hipótese especial de dano

moral que, por sua própria natureza, presume-se de fatos que atingem valores

relevantes correspondentes à violações de direitos transindividuais. Assim tem

se posicionado o Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.502.967 - RS (2014/0303402-4) RELATORA : MINISTRA

NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : BV FINANCEIRA SA CRÉDITO FINANCIAMENTO E

INVESTIMENTO ADVOGADOS : MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO – PR015348 LUIZ

RODRIGUES WAMBIER – PR007295 EVARISTO ARAGÃO FERREIRA DOS SANTOS –

PR024498 ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM – PR022129

LEONARDO TEIXEIRA FREIRE E OUTRO(S) – RS072094 RECORRIDO : MINISTÉRIO

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PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL EMENTA RECURSO ESPECIAL. AÇÃO

COLETIVA DE CONSUMO. COBRANÇA DE TARIFAS BANCÁRIAS. NEGATIVA DE

PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INCORRÊNCIA. FASES DA AÇÃO COLETIVA.

SENTENÇA GENÉRICA. AÇÃO INDIVIDUAL DE CUMPRIMENTO. ALTA CARGA

COGNITIVA. DEFINIÇÃO. QUANTUM DEBEATUR. MINISTÉRIO PÚBLICO.

LEGITIMIDADE ATIVA. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. RELEVÂNCIA E

TRANSCENDÊNCIA. EXISTÊNCIA. COISA JULGADA. EFEITOS E EFICÁCIA. LIMITES.

TERRITÓRIO NACIONAL. PRAZO PRESCRICIONAL. DEFICIÊNCIA DA

FUNDAMENTAÇÃO RECURSAL. SÚMULA 284/STF. DANO MORAL COLETIVO.

VALORES FUNDAMENTAIS. LESÃO INJUSTA E INTOLERÁVEL.

INOCORRÊNCIA. AFASTAMENTO. ASTREINTES. REVISÃO. REEXAME DE FATOS E

PROVAS. SÚMULA 7/STJ. . Cuida-se de ação coletiva na qual são examinados, com

exclusividade, os pedidos de indenização por danos morais e materiais individuais,

de indenização por dano moral coletivo e de publicação da parte dispositiva da

sentença, decorrentes do reconhecimento, em outra ação coletiva com trânsito em

julgado, da ilegalidade da cobrança de tarifa de emissão de boleto (TEC). 2. O

propósito do presente recurso especial é determinar se: a) ocorreu negativa de

prestação jurisdicional; b) é necessário fixar, na atual fase do processo coletivo, os

parâmetros e os limites para o cálculo dos danos morais e materiais individuais

eventualmente sofridos pelos consumidores; c) o Ministério Público tem legitimidade

para propor ação coletiva versando sobre direitos individuais homogêneos; d) os

efeitos a sentença proferida em ação coletiva estão restritos à competência territorial

do órgão jurisdicional prolator; e) deve ser aplicado o prazo prescricional trienal à

hipótese dos autos; f) é possível examinar a validade da cobrança de tarifa de

emissão de boletos (TEC), decidida em outro processo transitado em julgado, na

hipótese concreta; g) cabe, no atual momento processual, analisar a efetiva

ocorrência de dano material e moral aos consumidores e se o dano material deve

abranger a repetição do indébito; h) a ilegalidade verificada na hipótese enseja a

compensação de danos morais coletivos; e i) é exorbitanteo valor da multa

cominatória. 3. Recurso especial interposto em: 30/05/2014. Conclusos ao gabinete

em: 26/08/2016. Aplicação do CPC/73. 4. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC/73,

rejeitam-se os embargos de declaração. 5. Devidamente analisadas e discutidas as

questões de mérito, e fundamentado corretamente o acórdão recorrido, de modo a

esgotar a prestação jurisdicional, não há que se falar em violação dos arts. 165 e

458, II, do CPC/73. 6. A ação civil coletiva na qual se defendem interesses

individuais homogêneos se desdobra em duas fases, sendo que, na primeira,

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caracterizada pela legitimidade extraordinária, são definidos, em sentença genérica,

os contornos homogêneos do direito questionado. 7. A definição de parâmetros e dos

limites para a fixação dos danos materiais e morais individuais se relaciona ao

quantum debeatur do direito questionado, o qual deve ser debatido nas ações

individuais de cumprimento, que também possuem alta carga cognitiva. 8. Se o

interesse individual homogêneo possuir relevância social e transcender a esfera de

interesses dos efetivos titulares da relação jurídica de consumo, tendo reflexos

práticos em uma universalidade de potenciais consumidores que, de forma

sistemática e reiterada, sejam afetados pela prática apontada como abusiva, a

legitimidade ativa do Ministério Público estará caracterizada. 9. Os efeitos e a eficácia

da sentença proferida em ação coletiva não estão circunscritos aos limites

geográficos da competência do órgão prolator, abrangendo, portanto, todo o

território nacional, dentro dos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido.

Precedentes. 10. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como

violados impede o conhecimento do recurso especial. 11. A ausência de

fundamentação ou a sua deficiência importa no não conhecimento do recurso quanto

ao tema. 12. O dano moral coletivo é categoria autônoma de dano que não

se identifica com os tradicionais atributos da pessoa humana (dor,

sofrimento ou abalo psíquico), mas com a violação injusta e intolerável de

valores fundamentais titularizados pela coletividade (grupos, classes ou

categorias de pessoas). Tem a função de: a) proporcionar uma reparação

indireta à lesão de um direito extrapatrimonial da coletividade; b)

sancionar o ofensor; e c) inibir condutas ofensivas a esses direitos

transindividuais. 13. Se, por um lado, o dano moral coletivo não está relacionado

a atributos da pessoa humana e se configura in re ipsa, dispensando a demonstração

de prejuízos concretos ou de efetivo abalo moral, de outro, somente ficará

caracterizado se ocorrer uma lesão a valores fundamentais da sociedade e

se essa vulneração ocorrer de forma injusta e intolerável.14. Na hipótese em

exame, a violação verificada pelo Tribunal de origem – a exigência de uma tarifa

bancária considerada indevida – não infringe valores essenciais da sociedade,

tampouco possui os atributos da gravidade e intolerabilidade, configurando a mera

infringência à lei ou ao contrato, o que é insuficiente para a caracterização do dano

moral coletivo. 15. Admite-se, excepcionalmente, em recurso especial, reexaminar o

valor fixado a título de multa cominatória, quando ínfimo ou exagerado, o que não

ocorre na hipótese em exame, em que as astreintes, fixadas em R$ 10.000,00 (dez

mil reais), não se mostram desproporcionais ou desarrazoadas. 16. Recurso especial

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parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e

discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal

de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos

autos Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ricardo Villas

Bôas Cueva, divergindo em parte do voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi, no que foi

acompanhado pelo Sr. Ministro Moura Ribeiro, por maioria, conhecer em parte do

recurso especial e, nesta parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra.

Ministra Relatora. Vencidos os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva e Moura

Ribeiro. (STJ REESP Nº 1.502.967 - RS (2014/0303402-4)-3 Relatora: MINISTRA

NANCY ANDRIGHI. Data de Julgamento: 07/08/2018 ( Data do Julgamento), T3 –

TERCEIRA TURMA , Data de Publicação: DJe 14/08/2018 . )

Assim, a condenação das partes rés deve corresponder a uma

sanção justa e proporcional ao dano moral coletivo ocasionado e ao

enriquecimento i l íc ito auferido pela universidade, devendo as partes rés serem

condenadas no pagamento no montante sol ic itado ao f inal.

III.5 – da legitimidade, ativa e passiva, e competência da

Justiça Federal

O Ministério Público Federal é o autor da ação, que tem como

missão institucional zelar pelo efetivo respeito dos serviços de relevância

pública aos direitos assegurados na Constituição Federal, além de promover a

ação civi l pública para proteção dos interesses difusos aqui expostos, nos

termos do art igo 129, incisos II e III da CF.

Ainda, a Lei Orgânica do Ministério Público da União (art igo 5 o,

inc. II, “d”, da LC 75/1993) estabelece que compete ao Ministério Público da

União zelar pela observância dos princípios constitucionais relat ivos á

educação e à seguridade social, aqui incluídos os direitos relat ivos à saúde.

Assim, na defesa destes interesses, o Parquet Federal questiona

nesta ação os atos i legais praticados por instituição de ensino superior privada

que reconhecidamente exerce serviço público federal por delegação, além da

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omissão do Ministério da Educação, órgão da Administração Federal Direta, nas

suas atividades de regulação e supervisão em relação a IES ré, no que diz

respeito à falha do serviço público, isto é, da atividade de supervisão que não

detectou as i l ic itudes praticadas pela instituição de ensino, que permaneceu

inerte mesmo após ter sido comunicada pelo Ministério Público Federal.

Desta maneira, resta bem evidente a legit imidade ativa do

Ministério Público Federal e passiva da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIÃO .

Por consequência, a competência da Justiça Federal é inconteste,

vez que, no polo ativo, está o MPF, enquanto que no polo passivo se encontra

a UNIÃO e a UNIVERSIDADE BRASIL (que presta o serviço público federal

sob regime de delegação/autorização), atraindo a aplicação do art igo 109, inc.

I da Constituição Federal.

IV – DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Como já extensamente exposto anteriormente, nota-se que o

oferecimento de um curso superior de Medicina não é l ivremente aberto à

iniciat iva privada, vez que há a necessidade de real ização de controle prévio

pelo órgão competente (Ministério da Educação) a f im de se garantir que o

novo curso tenha qualidade mínima que se espera na formação de profissionais

desta área.

Uma vez autorizado pelo Ministério da Educação que

determinada instituição de ensino superior passe a ofertar o curso de

Medicina, há uma presunção relat iva de que o mesmo formará médicos de

qualidade, que não colocarão a saúde e vida de pessoas em risco,

notadamente aquelas atendidas pelo Sistema Único de Saúde, que não podem

escolher o profissional que será responsável pelo seu tratamento,

diferentemente daquelas pessoas que podem arcar com os elevados custos de

um plano de saúde privado ou de atendimentos part iculares (sem convênio).

Dito isto, o raciocínio inverso também é verdadeiro: quando a

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inst ituição de ensino oferece vagas além do que permit ido pelo Ministério da

Educação – isto é, sem a análise prévia do cumprimento de todos os requisitos

previstos pelas normas já citadas anteriormente – há uma presunção de que

os profissionais por ela formados terão uma formação defic itár ia, que poderá

gerar r iscos à saúde e à vida de diversas pessoas, especialmente aquelas

atendidas através do Sistema Único de Saúde.

É importante notar que não se trata de “duvidar” apenas da

capacidade do aluno que ingressou em vagas não autorizadas (em excesso),

mas sim da presunção de que todos os alunos – inclusive os primeiros

colocados no vestibular – não encontrarão na instituição de ensino a estrutura

necessária para o desenvolvimento de todo o seu potencial, já que é fato

notório que o curso de medicina demanda estrutura f ísica que possibi l i te ao

aluno o exercício prático da profissão médica. Não bastasse esta presunção,

restou comprovado que hoje a instituição já enfrenta dif iculdades para atender

todos os alunos matriculados (falta de professores, vagas em residência, etc.),

conforme já citado.

Veja, ademais, que tanto o ingresso de alunos além do

número autorizado gera situações pericl itantes, que os níveis nos exames do

CREMESP foram baixos, indicando a necessidade imperiosa da tutela de

urgência, sob pena de se referendar a formação de profissionais

desqual if icados em uma Universidade que não tem condições de atender à

i legal demanda que aceitou receber. Deve ser observado, ainda, que os

mencionados exames foram real izados em momento anterior aos anos de maior

acréscimo i legal da oferta de vagas no curso (2018 e 2019), o que aumenta a

presunção de que atualmente a situação da inst ituição é ainda pior do que

aquela verif icada no ano de 2016.

Assim, é necessário que o Poder Judiciár io não cometa o mesmo

equívoco cometido pela UNIÃO , através de seu Ministério da Educação, cuja

i legal omissão resultou na situação de fato que agora se verif ica no Município

de Fernandópolis/SP, sendo necessária a correção imediata das i legal idades

cometidas pela UNIVERSIDADE BRASIL .

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Neste ponto, é importante observar que, apesar desta demanda

atingir indiretamente o interesse dos alunos matriculados em excesso na

instituição, que nela ingressaram de boa fé e agora serão excluídos de um

concorrido e dispendioso curso de Medicina, há um interesse maior, de

natureza difusa, que merece maior atenção e que visa proteger a saúde e a

vida de diversas pessoas.

Quer dizer que, ainda que não seja dif íc i l se compadecer da

situação dos alunos em excesso, o Ministério Público Federal e o Poder

Judiciár io não podem assumir para si os efeitos da inércia da UNIÃO ,

postergando para após a instrução processual o indispensável e necessário

deferimento da tutela provisória de urgência que aqui se requer, caso contrário

os futuros danos causados pelos médicos formados nestas condições serão

imputados também a estas duas instituições de justiça, já que permit iram a

continuidade da prestação do serviço educacional nestas condições, apesar das

evidentes i legal idades cometidas pela primeira requerida.

Ademais, cabe lembrar que, diante do que disposto no art igo 78

do Decreto 9.235/2017, já citado, os alunos ocupantes de vagas em excesso

não poderão sequer aproveitar os estudos já real izados nestas condições,

sendo, por isso mesmo, não só inúti l mantê-los na instituição enquanto esta

ação tramitar (na hipótese de não acatamento do pedido formulado no item

“a.7” a seguir), como também prejudicial a estes próprios, vez que

experimentarão prejuízos f inanceiros ainda maiores, diante da inevitável

procedência, ao f inal, dos pedidos formulados nesta ação.

É por isso que, na remota hipótese de não ser acatado o que

solic itado no item “a.7”, requer-se ao menos sejam deferidos os pedidos

constantes nos itens “a.5” e “a.6” (que versam sobre a formação das l istas de

classif icação), formulados a seguir, a f im de que os próprios alunos ocupantes

de vagas excedentes possam decidir, após aval iarem os devidos r iscos, se

permanecerão ou não na instituição nestas condições, real izando os

pagamentos da mensalidade do curso.

Observe-se que somente a própria instituição de ensino, bem

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como a UNIÃO através de seu poder de políc ia, tem todas as informações e

meios necessários para a elaboração das referidas l istas de classif icação na

velocidade de tempo exigida para a solução/mit igação do problema exposto

nestes autos, vez que já está comprovado nos autos, conforme já dito, que a

UNIVERSIDADE BRASIL sonegou informações quanto ao total de alunos

matriculados no curso de Medicina ao Ministério Público Federal, além de que

compete às próprias rés manter registros e controles quanto a classif icação de

cada aluno em certames vestibulares e de transferências. Estas peculiar idades

da causa demonstram a excessiva dif iculdade deste encargo ser cumprido pelo

autor, competindo este ônus às partes contrárias, que poderão real izá-lo com

maior faci l idade, pelas razões de fato e de direito já expostas, conforme assim

admite o art igo 373, §1 o, do CPC.

E nem se invoque, a esta altura, a apl icação analógica do art igo

73, §1 o e §2 o, do Decreto no. 9.235/2017, que ressalva os direitos dos

estudantes matriculados em concluir o curso, em caso de aplicação de sanção

de desativação de curso aplicado a instituição de ensino superior.

A uma, porque a interpretação correta deste disposit ivo somente

pode dizer respeito aqueles alunos matriculados em vagas regulares,

autorizadas previamente pelo Ministério da Educação. A duas, porque aplicar

este disposit ivo de maneira analógica ao caso dos alunos matriculados em

excesso somente faria com que a UNIVERSIDADE BRASIL viesse a se

beneficiar de sua própria torpeza, conforme já explicado, além de tornar letra

morta todos os atos normativos já citados que impõem o poder-dever à

UNIÃO de real izar r igoroso controle sobre cursos de Medicina.

Enfim, na hipótese de não deferimento da tutela provisória de

urgência, estar-se-ia homenageando a ousadia da UNIVERSIDADE BRASIL

em cometer estas evidentes i legal idades, vez que o r isco que assumiu com

esta prática iniciada no ano de 2017 seria compensado por ter a instituição se

ancorado no interesse dos alunos matriculados em excesso, imaginando que o

Poder Público não exigir ia o cancelamento destas matrículas uma vez

efetivadas. Pior: a não resolução imediata das i legal idades apontadas poderá

gerar o indesejado efeito em outras instituições de ensino superior

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particulares que ofertam o curso de Medicina, que poderão se sentir

estimuladas em replicar esses atos i legais a f im de aumentar suas receitas

financeiras em curto espaço de tempo.

Diante do exposto, evidenciada a probabil idade do direito e o

perigo de dano à saúde pública e part icular, bem como ao resultado úti l do

processo, requer-se, em sede de tutela provisória de urgência, liminarmente ,

com fulcro no art igo 300 do Código de Processo Civi l , o seguinte:

a) seja determinado a UNIVERSIDADE BRASIL que:

a.1) cumpra obrigação de fazer, consistente em suspender,

imediatamente , a matrícula de novos alunos no primeiro ano do curso de

Medicina da UNIVERSIDADE BRASIL no campus de Fernandópolis/SP,

independentemente da forma de ingresso, notadamente através de processo

seletivo vestibular;

a.2) cumpra obrigação de não fazer, consistente em

imediatamente deixar de promover a abertura de novos processos seletivos

vestibulares para o curso de Medicina neste ano, principalmente para o

segundo semestre, vez que já extrapolado o número de vagas autorizado pelo

MEC, conforme já exposto, bem como deixar de promover a abertura de novos

processos seletivos para o ano quem vem (2020) e seguintes, enquanto

perdurar a situação de excesso de alunos na instituição;

a.3) cumpra obrigação de fazer, consistente em imediatamente

suspender a matrícula de novos alunos nos segundo, terceiro, quarto e quinto

anos do curso de Medicina da UNIVERSIDADE BRASIL , independentemente

da forma de ingresso, notadamente através de processos seletivos de

transferência;

a.4) cumpra obrigação de não fazer, consistente em

imediatamente deixar de promover a abertura de novos processos seletivos

de transferência, interna ou externa, para o curso de Medicina, vez que já

extrapolado o número de vagas autorizado pelo MEC, conforme já exposto,

ressalvada a comprovada hipótese de surgimento de vagas que sobrarem do

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vestibular ou que forem objeto de desistência efetiva, após o encerramento da

l ista de espera e/ou do período de matrículas após o vestibular, observado o

l imite de alunos autorizado pelo MEC, para cada ano de oferta do curso,

devendo, nesta hipótese, a instituição sol ic itar aprovação prévia e específ ica

do Ministério da Educação para deflagração do certame, nos termos do pedido

inserido no item “b.2” à frente, com a devida comunicação a este Juízo;

a.5) a f im de definir os alunos em excesso que deverão ser

excluídos do referido curso, cumpra obrigação de fazer, no prazo máximo de

10 dias , consistente no dever de confeccionar – apresentando a este Juízo e

a todos os discentes da inst ituição – l ista de classif icação de alunos, para

cada ano de oferta do curso, contendo primeiramente os alunos ingressantes

através de processos seletivos vestibulares, conforme a classif icação nestes

concursos, devendo ser prior izados aqueles alunos classif icados no processo

seletivo de maior antiguidade, dentro de cada ano de oferta. Na sequência,

deverá inserir, na l ista de cada ano de oferta do curso, os alunos ingressantes

através de processos seletivos de transferência, que deverão ser classif icados

em relação a data da real ização do processo seletivo (do mais antigo para o

mais recente), bem como em relação à classif icação de cada aluno nestes

processos seletivos. Nesta l ista, a instituição deverá bem destacar os alunos

que ocupam vagas regulares e aqueles que estão em excesso em cada ano de

oferta do curso. Tornando bem claro: a requerida deverá detalhar os nomes

dos alunos que estão: além da 205a c lassif icação na l ista das vagas ofertadas

no ano de 2019; além da 205a c lassif icação na l ista das vagas ofertadas no

ano de 2018; além da 128a c lassif icação na l ista das vagas ofertadas no ano

de 2017; da 80a c lassif icação na l ista das vagas ofertadas no ano de 2016;

da 80a c lassif icação na l ista das vagas ofertadas no ano de 2015; e,

eventualmente, da 80a c lassif icação na l ista das vagas ofertadas no ano de

2014;

a.6) a f im de respeitar o direito ao contraditório dos alunos

interessados, cumpra obrigação de fazer, consistente no dever de oportunizar

o prazo de 5 dias , a contar da data da ciência aos alunos das l istas a que se

referem o item anterior, para eventuais impugnações fundamentadas sobre

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suas posições nas respectivas l istas, devendo a requerida resolvê-las, de

maneira fundamentada, no prazo máximo de 5 dias , contados do f inal do

prazo de impugnações, devendo o resultado f inal destas l istas ser apresentado

a este Juízo e a todos os alunos do curso de Medicina da instituição;

a.7) cumpra obrigação de fazer, consistente em cancelar, no

prazo máximo de 10 dias , a matrícula dos alunos excedentes para cada ano

de oferta do curso, com base nas l istas de classif icação mencionadas nos itens

anteriores, observado o l imite de vagas para cada ano de oferta, conforme já

detalhado no item “a.5”;

a.8) cumpra obrigação de fazer, consistente em apresentar a

este Juízo, no prazo máximo de 5 dias , a relação nominal de todos os

alunos em situação de “abandono” do curso de Medicina em Fernandópolis/SP,

e portanto tecnicamente desl igados da instituição, bem como comunicá-los de

que suas situações não poderão ser regularizadas, ressalvada a possibi l idade

de novo ingresso no curso através de aprovação em vestibular, situação em

que as matérias cursadas quando em situação de abandono não poderão ser

objeto de aproveitamento de estudos de qualquer espécie;

a.9) cumpra obrigação de fazer, consistente no dever de dar

imediatamente ampla public idade e transparência, bem como prestar todas

as informações eventualmente sol ic itadas, a todos os alunos da Universidade

acerca dos cr itér ios de formação das l istas de classif icação citadas no item

“a.5”, bem quanto ao conteúdo desta ação civi l pública;

a.10) cumpra obrigação de não fazer, consistente em

imediatamente deixar de matricular novos alunos além do quantitat ivo

autorizado pelo Ministério da Educação, vedada a aplicação retroativa – isto é,

para as turmas já existentes – de atos autorizativos daquele órgão que

expandiram – e eventualmente vierem a expandir – a oferta anual de vagas no

curso de Medicina em Fernandópolis/SP, observado os l imites atuais já

especif icados no item “a.5”;

b) seja determinado à UNIÃO que:

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b.1) cumpra obrigação de fazer, consistente no dever de

ativamente f iscal izar todos os futuros processos seletivos vestibulares do curso

de Medicina da UNIVERSIDADE BRASIL (caso estes não sejam suspensos por

força do deferimento do pedido contido no item “a.2”) , devendo real izar

análise prévia dos editais do certame, no prazo máximo de 10 dias a contar

da apresentação pela instituição de ensino, e, posteriormente, de seu

resultado f inal, inclusive até o esgotamento da l ista de espera, no prazo

máximo de 10 dias a contar da apresentação pela inst ituição de ensino a f im

de garantir que não sejam admitidos alunos além do l imite anual autorizado

pelo Ministério da Educação;

b.2) cumpra obrigação de fazer, consistente no dever de

ativamente f iscal izar todos os futuros processos seletivos de transferência,

interna e externa, do curso de Medicina da UNIVERSIDADE BRASIL , devendo

realizar análise prévia dos editais do certame, no prazo máximo de 10 dias

a contar da apresentação pela inst ituição de ensino, e, posteriormente, de seu

resultado f inal, inclusive até o esgotamento da l ista de espera, a f im de

garantir que não sejam admitidos alunos em vagas que não foram objeto de

desistência ou de sobra em processos seletivos vestibulares, não podendo

permit ir a deflagração de novos certames desta espécie quando não

comprovada a existência destas vacâncias;

b.3) cumpra obrigação de fazer, consistente em ativamente

fiscal izar todos os atos da UNIVERSIDADE BRASIL a serem cumpridos em

decorrência do deferimento dos pedidos retro formulados nos itens “a.5” a

“a.9” e, após comunicação do cumprimento, pela instituição de ensino , da

obrigação definida no item “a.7”, cumpra obrigação de fazer, consistente em

realizar inspeção nas dependências da faculdade de Medicina de

Fernandópolis/SP, pertencente à UNIVERSIDADE BRASIL , a f im de constatar

se a ordem judicial foi inteiramente cumprida e se a estrutura da instituição

(número de docentes, salas de aula, equipamentos, etc.) é sufic iente para

atender, com qualidade mínima necessária, a demanda de alunos

remanescentes, bem como se todos os requisitos previstos na lei são

atendidos, devendo apresentar relatório conclusivo a este Juízo no prazo de

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30 dias;

b.4) cumpra obrigação de fazer, consiste em instaurar, no prazo

de 10 dias, o procedimento preparatório previsto no art igo 65 do Decreto no.

9.235/2017 em face da UNIVERSIDADE BRASIL , respeitado o devido

processo legal e o direito ao contraditório, para posterior instauração do

indispensável procedimento sancionador previsto no art igo 71 do mesmo

decreto, visando a aplicação das penalidades administrativas cabíveis, al i

elencadas, que deverão ser concluídos no prazo máximo de 180 (cento e

oitenta) dias, nos termos do art igo 5 o. Inc. LXXVIII da Constituição Federal,

com comunicação do resultado a este Juízo. Deve ainda a UNIÃO prestar

qualquer informação em relação a estes procedimentos, eventualmente

requisitada pelo MPF, no prazo máximo de 10 dias;

c) como medida de apoio à ordem judicial a ser deferida, requer

a aplicação de multas em caso de descumprimento pelas partes contrárias,

nas seguintes condições:

c.1) em caso de descumprimento das medidas inseridas nos

itens “a.2” e “a.4”: multa de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) por

certame indevidamente deflagrado, sem prejuízo de sua anulação;

c.2) em caso de descumprimento das medidas inseridas nos

itens “a.1”, “a.3” e “a.10”: multa de R$ 100.000,00 (cem mil reais) por

aluno matriculado em excesso, sem prejuízo da anulação da matrícula;

c.3) em caso de descumprimento das medidas inseridas nos

itens “a.5” , “a.6”, “a.7”, “a.8” e “a.9”: multa diária de R$ 10.000,00 (dez

mil reais) por dia de atraso ou descumprimento;

c.4) em caso de descumprimento das medidas inseridas nos

itens “b.1” a “b.4”: multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de

atraso ou descumprimento;

Note-se que os valores requeridos para as multas detalhadas

nos itens “c.1” a “c.3” são proporcionais ao enriquecimento i l íc ito a ser

eventualmente auferido pela primeira requerida em caso de descumprimento

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da ordem judicial, considerando que o valor médio da receita anual auferida

por aluno do curso de medicina gira em torno de R$ 100.000,00 (cem mil

reais) , considerando o valor médio da mensalidade de R$ 8.000,00 1 4 (oito mil

reais).

Destaque-se que competirá a UNIVERSIDADE BRASIL

resolver em perdas e danos a rescisão contratual dos alunos excedentes

decorrente do cumprimento das medidas judiciais a serem definidas, conforme

disposições dos contratos com eles f irmados e legislação em vigor, cabendo ao

Juízo competente resolver eventuais confl itos relacionados a indenizações por

danos materiais e/ou morais individuais.

V – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL,

em sede de provimento definit ivo, requer o seguinte:

a) seja recebida a presente petição inicial, determinando-se a

notif icação das requeridas para, no prazo de 72 horas , apresentar

manifestação prévia, nos termos do art igo 2º da Lei nº 8.437, de 30 de junho

de 1992;

b) a concessão da tutela provisória de urgência, nos termos

especif icados no tópico anterior;

c) após a concessão da l iminar, requer-se sejam citadas as

requeridas para, querendo, contestarem a presente ação, sob pena de revel ia,

prosseguindo-se o processo, no mais, em seus regulares termos;

d) ao f inal, sejam declarados nulos, com efeitos ex tunc,

todos os atos – e seus efeitos decorrentes – de criação, de fato, de

vagas no curso de Medicina pela UNIVERSIDADE BRASIL em seu

campus situado no município de Fernandópolis/SP , além da confirmação,

14 Segundo informações levantadas pelo site Escolas Médicas (https://www.escolasmedicas.com.br/mensalidades.php – fls. 844 )

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em sentença, de todos os pedidos formulados em sede de tutela provisória de

urgência, caso deferidos nesta condição ou, caso não deferidos antes da

sentença, sejam os mesmos julgados totalmente procedentes, com a concessão

da tutela provisória de urgência na própria sentença, nos termos do que

fundamentado no item anterior, ou ainda com a concessão de tutela provisória

de evidência na própria sentença, nos termos do art igo 311, inciso IV do CPC,

haja vista que a petição inicial foi instruída com prova documental sufic iente

dos fatos constitutivos do direito difuso tutelado por este Parquet, impassível

de oposição de dúvida razoável pelas partes contrárias ;

e) a condenação da UNIVERSIDADE BRASIL no pagamento de

danos morais coletivos no importe de R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões

de reais) , nos termos da fundamentação acima exposta, tomando-se como

parâmetro o número de alunos em excesso na instituição (cerca de 400) e o

valor médio anual da receita auferida por aluno (cerca de R$ 100.000,00 – cem

mil reais), que deverão ser corr igidos, monetariamente e com juros, desde a

data do ajuizamento desta ação, e serem destinados ao Fundo de Defesa de

Direitos Difusos;

f ) a condenação da UNIÃO no pagamento de danos morais

coletivos no importe de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) , nos

termos da fundamentação acima exposta, tomando-se como parâmetro parcela

do valor a ser pago pela primeira requerida nesta condição, que deverão ser

corr igidos, monetariamente e com juros, desde a data do ajuizamento desta

ação, e serem destinados ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos;

g) que não seja designada, neste caso, audiência de tentativa

de conci l iação, nos termos do art igo 334, §5 o do CPC, uma vez que o Parquet

já esgotou todas as medidas possíveis visando a autocomposição, conforme já

comprovado nos autos do inquérito civi l público juntado em anexo;

Protesta, no mais, pela produção de todas as provas admitidas

em direito.

Por f im, requer-se a condenação das requeridas no pagamento

de todas as despesas processuais.

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Dá-se à causa o valor de R$ 40.000.000,00 (quarenta

milhões de reais).

Jales/SP, 29 de abri l de 2019.

Carlos Alberto dos Rios Junior

PROCURADOR DA REPÚBLICA

José Rubens Plates

PROCURADOR DA REPÚBLICA

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