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HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA VOLUME I Índice 02 Introdução à história e cultura africana 03 A África pela diáspora 06 Identidade em contraponto – a pirâmide invertida 10 África no plural 22 Como podemos estudar a História da África? 23 Fontes orais 25 Fontes arqueológicas e bens culturais 40 Fontes escritas, manifestações artísticas e iconográficas 41 Filmoteca 43 Sites 44 Paradidáticos e literatura 47Referências Bibliográficas

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HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA

VOLUME I

Índice

02 Introdução à história e cultura africana

03 A África pela diáspora

06 Identidade em contraponto – a pirâmide invertida

10 África no plural

22 Como podemos estudar a História da África?

23 Fontes orais

25 Fontes arqueológicas e bens culturais

40 Fontes escritas, manifestações artísticas e iconográficas

41 Filmoteca

43 Sites

44 Paradidáticos e literatura

47Referências Bibliográficas

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INTRODUÇÃO À HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA

Prezado leitor,Neste texto você encontrará discussões sobre os desafios do ensino de história e cultura africana. Ele se estrutura de modo a promover o debate de questões que comparecem ao estudo e ensino-aprendizagem da rica e complexa história do continente.

Sendo assim, você poderá saber e pensar um pouco mais a respeito de algumas questões como:

• O que significa passar de uma África mítica a uma África real?• O que seria uma visão negativista do continente?• O que seria afrocentrismo ingênuo? E historiografia chamada de

“pirâmide invertida”?• Para pensar a hibridização cultural da África...• A partir de quais fontes podemos estudar a história africana?• Como abordar fontes orais em sala de aula?• Podemos falar em reinos africanos?• Quais os problemas e possibilidades de análise da história africana

a partir de fontes arqueológicas?• Os bens culturais nos permitem entender melhor a história e

cultura africana?• Quais as discussões em torno do uso de fontes artísticas,

iconográficas e imagéticas? Veja, ainda:

• Filmoteca• Sites• Paradidáticos e literatura• Referências bibliográficas

Introdução à História e Cultura Africana

“Com efeito, a história da África, como a de toda a humanidade, é a história de uma tomada de consciência. Nesse sentido, a história da África deve ser reescrita. E isso porque, até o presente momento, ela foi mascarada, camuflada, desfigurada, mutilada” (KI-ZERBO, 1982, p. 21).

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A África pela Diáspora

O termo diáspora é utilizado para referirmo-nos ao processo de desenraizamento vivenciado por populações deslocadas de seus locais de origem, geralmente de forma violenta e forçada. A diáspora pode ser – e efetivamente foi - vivenciada por diferentes populações de formas também distintas. A possibilidade de maior ou menor enraizamento e a multiplicidade de experiências sócio-culturais vivenciadas na nova morada são alguns dos elementos que delimitam essas diferenças, ao longo da história.

Entre os séculos XVI e XIX, mais de 11 milhões1 de africanos foram trazidos à força para as Américas, para trabalharem como escravos. No Brasil, entre 1550 e 1850, aproximadamente, teriam desembarcado entre 3,6 e 5,6 milhões1 de africanos. Ainda que as estimativas apresentem grandes variações, é inegável que este processo configurou-se como um dos maiores movimentos diaspóricos dos tempos modernos.

Essas populações africanas na diáspora vivenciaram não somente a violência da viagem transatlântica no julgo do tráfico negreiro para as Américas, mas toda a rede de usurpações sofridas no processo escravizatório. Podemos considerar populações na diáspora tanto os africanos que aportaram na costa do continente americano, quanto também todos aqueles considerados seus descendentes. Essa população, em geral, possui registros culturais elaborados na ligação simbólica que se estabeleceu em terras americanas com seu território ancestral. Grande parte desses registros culturais passou a ser partilhado por grupos de diferentes origens e referências étnico-culturais, a partir de séculos de convivência, nem sempre harmoniosa.

Podemos dizer que as culturas diaspóricas, como de resto todas as culturas, são híbridas, permeáveis. Não é diferente para o caso das culturas afro-descendentes. O pesquisador africano Carlos Lopes2 defende a importância da compreensão e do estudo das culturas diaspóricas para entendimento do que é, hoje, a África. Segundo ele, não é somente importante que o Brasil compreenda a história da África, mas que a África compreenda a história das populações africanas na diáspora3 como pressuposto de estudo de sua própria história. Recuperando o historiador Elikia M’Bokolo4, Carlos Lopes afirma, em entrevista à Revista Palmares, que “Os africanos do continente têm que aceitar que as diásporas têm a outra metade da memória”.

Carlos Moore5 nos convida a compreender as complexas formas de percepção da África na diáspora, sobretudo o desafio da passagem de uma África mítica a uma África real, capaz de subsidiar lutas dos diferentes

2 - Carlos Lopes é guineense. Sociólogo, especialista em desenvolvimento e PhD em História pela Sorbonne, atualmente é subsecretário da ONU tendo sob sua direção o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD.

5 - Carlos Moore tem dupla nacionalidade, ele é jamaicano e cubano. Etnólogo e cien-tista político, formou-se na Universidade de Paris-7, na França, como Doutor em Ciências Humanas e Etnologia. É chefe de Pesquisa na Escola de Estudos de Pós-Graduação e Pesquisa da University of the West Indies (UWI), Kingston (Jamaica).

3 - É instigante e paradoxal o exemplo de africanos que, convertidos ao catolicismo no Rio de Janeiro, tenham criado rituais como os de devoção às almas como maneira de intercederem simbolicamente pela salvação de seus parentes que haviam ficado na África e que passaram a ser considera-dos pagãos a partir dessa nova inserção e realidade religiosa vivida na diáspora. Para saber mais, veja em SOARES, 2000, p. 16.

4 - Elikia M’Bokolo, congolês, é nascido em Kinshasa, República Democrática do Congo. Historiador mundial-mente conhecido, é, diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris). É produtor da emissão radiofônica Memória de um continente (RFI) e professor de história da Universidade de Kinshasa. Dentre as diversas obras do historiador destacam-se: Noirs et blancs en Afrique équatoriale (1981); L’Afrique au XXe siècle, le continent convoité (1984), Au coeur de l’ethnie, com Jean-Loup Amselle (1999).

1 - As estimativas sobre o tráfico de pessoas no atlântico são motivo de polêmicas entre os estudiosos. Tomamos como referência os dados apresenta-dos por Eltis, Behrendt e Rich-ardson (2000), que estimam cerca de 11.062.000 africanos embarcados no continente africano, dos quais cerca de 9.599.000 teriam chegado vivos aos portos americanos.

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povos da África em prol de sua emancipação social, política e também cultural. Segundo o autor:

“Durante muito tempo, as diásporas africanas escravizadas no exterior tiveram de forjar uma visão idílica desse continente para existir, resistir e se manter. Por razões evidentes – que têm a ver com a brutalidade com a qual a África viva foi arrancada dos africanos escravizados no exterior da África -, a imagem que se tem desse continente, elaborada carinhosamente pelo imaginário dos deportados, via de regra, foi uma idealização. Para preservar o rico legado ancestral que nos permitiu atravessar o horror de viver em estado de escravidão racial nas Américas por mais de quatro séculos, foi necessário idealizar essa África da qual tínhamos sido arrancados para sempre. A África aparece, nessa visão, como um lugar quase sem tensões internas ou contradições inerentes à sua própria experiência histórica” (MOORE, 2008, p. 11-12).

Essa idealização, que Carlos Moore atribui a uma necessidade mesma de sobrevivência física e cultural tem seus desdobramentos, inclusive nos processos educativos que se põe em marcha no Brasil contemporâneo. Isso se torna visível, por exemplo, em práticas pedagógicas que – em benefício da legítima e urgente valorização da história e cultura afro-brasileira e africana – omitem dados, análises e contribuições reflexivas sobre a sua história e cultura, com vistas a combater a visão negativa perpetuada durante anos nos processos educativos. Assim, em benefício de uma legítima positivação, o que ocorre muitas vezes é a idealização da África e suas heranças.

Este texto é um convite a que você, professor/a, procure repensar as percepções ingênuas construídas sobre a África e os africanos (também da diáspora), rompendo tanto com aquelas ideias que informavam um continente e seus povos como símbolos natos de destruição, maldição e ruína – o chamado afro-negativismo -, quanto também aquelas percepções que, em benefício da necessária positivação, silenciaram na escola o estudo das contradições e conflitos observados na história do continente e ainda hoje presentes em sua realidade (como a corrupção, a subserviência política, o julgo europeu e asiático com submissão econômica e cultural, a miséria e as guerras, entre outros). Embora tais mazelas não devessem ser generalizadas para todo o continente, ignorá-las - ou até justificá-las - pode conduzir a um afrocentrismo ingênuo, por vezes transformado naquilo que Carlos Lopes chamou de tese da superioridade africana6. Este

6 - De acordo com Lopes, 1995, na busca de fatos produtores de uma projeção da superiori-dade da África, alguns autores africanos compararam os feitos históricos africanos ao que de melhor se considerava ter sido produzido por outras regiões do mundo: “assim se inventaram nobres, heráldica, descobertas; promoveram-se a heróis continentais personagens de História local; reivindicou-se o Egito e quase se chegou ao embranqueci-mento pictorial de fisionomias negras, numa réplica desafi-ante aos pintores europeus”. (Lopes, 1995). A história da chamada sociedade africana “pré-colonial” foi abordada de maneira idílica e harmoniosa, contrapondo-se à história do período colonial. Os autores mais afeitos à ideia da supe-rioridade africana, segundo Lopes, no afã de afirmação da África e do valor de sua história e cultura reduziram a complexidade africana, mas, evidentemente, tiveram papel importantíssimo para supera-ção do suposto de condenação e inferioridade que marcou a historiografia anterior, preparando terreno para uma historiografia crítica, mais vigorosa e compreendida pela problematização, em finais do século XX e início do XXI.

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texto é também um convite a pensar melhor no valioso cultivo do nosso sentimento de pertença à experiência do continente africano, sentimento que liga a África e os africanos ao Brasil por laços históricos conhecidos, mas ainda não totalmente compreendidos ou valorizados.

A recomposição do imaginário sobre a África é também parte importante da implementação de programas educativos que, centrados no ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, voltam-se à promoção de uma (re)educação das relações étnico-raciais, em nosso país. Tal perspectiva, no entanto, precisa se pautar pela busca de uma compreensão real da história e da cultura dos povos africanos e afro-descendentes. No nosso caso, é significativa a abordagem da história africana do ponto de vista de suas relações com o Brasil, sem ingenuidades ou supressões, mantendo, evidentemente, a positivação como suposto educativo, mas sem idealizações acerca da África, da rica ancestralidade que nos liga, dos laços contemporâneos, enfim, de sua/nossa história. É a partir da aposta de que é possível – e necessário – reconstruir imagens estereotipadas – qualquer que seja sua perspectiva – que este texto se orienta. Esperamos que ele possa representar um efetivo convite à reflexão crítica e à elaboração de propostas pedagógicas inovadoras. Mas para isso, é preciso compreender alguns dos pressupostos e argumentos que estão presentes tanto na tese da inferioridade africana quanto naquela que, visando ultrapassar essa visão, erigiu uma “pirâmide invertida”, como nos diz Carlos Lopes.

Em Sala de aula

Se objetivamos desconstruir estereótipos e caminhar em direção a uma visão mais realista do continente, na perspectiva de sua diversidade, é importante, em primeiro lugar, investigar as representações que os alunos carregam acerca do continente. Pode-se, então, iniciar os estudos sobre o continente africano propondo que os alunos descrevam o que pensam sobre a realidade africana, que tipo de imagens vêm à sua memória, o que sabem sobre a história e a geografia desse continente (é comum que identifiquem a África como um país e não se dêem conta de que trata-se de um continente, constituído por mais de 50 países). Outra alternativa consiste em levar para sala de aula um conjunto de imagens do continente (imagens diversas, que mostrem tanto as mazelas econômicas e sociais quanto a riqueza das diferentes formas de organização política, econômica e social, com sua diversidade sócio-cultural, sua produção artística, etc; da mesma forma, tanto imagens que evidenciem as belezas naturais, com

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sua grande diversidade de paisagens, quanto aquelas que mostrem a destruição de florestas, queimadas, uso não sustentável das riquezas, etc.), em comparação e similitude a outras partes do mundo (também neste caso, mostrando situações diversas, imagens que enfatizem tanto aspectos positivos quanto negativos). Pode-se propor aos alunos que selecionem aquelas imagens que acreditam referir-se ao continente africano e aquelas que pensem referir-se a outras realidades. A partir do levantamento dessas imagens e representações pode-se começar a discutir em sala de aula a origem de tais representações e as razões do predomínio de equívocos e estereótipos. Enfim, propor que reflitam sobre as representações construídas, como forma de convidá-los a problematizar e rever parte dessas representações.

Identidades em Contraponto: Da Tese da Inferioridade à Pirâmide Invertida

Não é de hoje que vem se forjando a tese da inferioridade africana. Hegel, no século XIX, já postulara que “A África não é uma parte histórica do mundo. Não tem movimentos, progressos a mostrar, movimentos históricos próprios” (HEGEL, citado por ARNAUT e LOPES, 2005).

Essa idéia foi mantida praticamente intocada, inclusive nos meios acadêmicos7, pelo menos até meados do século XX. E mesmo nos dias atuais ainda é comum (embora não seja aceitável) que os africanos sejam descritos como não civilizados, pouco afeitos ao trabalho intelectual e, nesta tradição, considerados incapazes de pensar a sua própria história. Muitos livros didáticos no Brasil contribuíram para reforçar essa idéia, especialmente porque divulgaram imagens de africanos como sujeitos inteiramente dominados e oprimidos pelo processo de escravização. Essa representação – sustentada também por concepções pretensamente científicas8 do século XIX - contribuiu muito para difusão da idéia de que as sociedades africanas são incapazes de se autogovernar, por serem associadas a atributos como os de ingenuidade ou primitivismo. Felizmente, lutas sociais e políticas e também embates científicos têm permitido a superação destes postulados relativos ao que seria uma inferioridade genética ou inata dos africanos, considerando que não existe inferioridade ou superioridade racial9... . Mas, se não há raças do ponto de vista biológico, há ainda racismo em diferentes partes do planeta, inclusive no Brasil. Assim, se como operadores biológicos que justifiquem hierarquizações, as idéias em torno do conceito de “raças humanas” perderam validade e credibilidade científica e também social, as classificações raciais são ainda, infelizmente, critérios utilizados no

7 - Um famoso professor da Universidade de Oxford, Sir Trevor-Hoper, afirmou, em 1963, “não haver uma história da África subsaariana, mas tão-somente uma história dos europeus no continente, porque o resto era escuridão, e a escuridão não é matéria da história” (SILVA, 2003, p.229). Será mesmo que a história da África somente passou a existir com o contato europeu? O que você pensa a respeito?

8 - O pensamento científico do século XIX, voltado ao estudo das populações humanas e posteriormente identificado como “racismo científico”, estruturou-se a partir da antropologia criminal, da biometria e da eugenia. Fun-damentado no pressuposto da hierarquização das raças pela tipologia física e psicológica, esse pensamento foi superado ao longo do século XX, mas norteou ações médico-políticas contra grupos humanos, com repercussões no pensam-ento social, na estruturação de políticas de estado e na formu-lação pedagógica em diferentes países do mundo.

9 - O que existem são dife-renças genéticas, culturais e físicas que são expressões de como somos diversos uns dos outros, sendo que cada agrupamento humano e, mesmo, cada indivíduo, pode ser considerado portador de qualidades e capacidades próprias, singulares. Portanto, as diferenças são reais entre os humanos de todos os continen-tes ou sociedades. Contudo, elas não podem ser parâmetros para hierarquizações, ou seja, para que pensemos que alguns grupos humanos são melhores do que outros por causa de suas características físicas ou suas manifestações culturais.

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pensamento e vivência social para discriminar, excluir e impedir o acesso a bens e direitos.

Mas a idéia de “raça” não tem sido apropriada apenas numa perspectiva de hierarquização – e conseqüente inferiorização de alguns grupos humanos -, nas formas como opera o racismo. Ela também tem sido utilizada - em meio a polêmicas e controvérsias – como estratégia de afirmação de identidades negadas e silenciadas por séculos, como é o caso da identidade negra. Assim, mesmo reconhecendo a inexistência de raças, do ponto de vista biológico, muitos grupos reivindicam um pertencimento étnico-racial, afirmando a validade desse conceito do ponto de vista social, enquanto estratégia de mobilização e luta. Esse movimento de afirmação e valorização da identidade negra, a partir da idéia de pertencimento étnico-racial, também tem história, uma história que se liga às lutas travadas por africanos nos processos de emancipação política e por afro-descendentes da diáspora, espalhados por diferentes partes do mundo.

Foi no contexto de luta anti-colonialista que se forjou o que chamamos de pan-africanismo, ideologia política criada fora da África que predicava que a Diáspora e a África tinham um destino comum. Dessa forma, a emancipação dos afro-americanos, por exemplo, estava vinculada à emancipação dos povos do continente – e vice-versa.

De acordo com Carlos Lopes,

Os africanos têm muita dificuldade em aceitar a identidade que não seja a pan-africana. Isso tem a ver com a história política do continente. Porque os africanos tiveram que afirmar a sua identidade em contraponto. A práxis identitária africana é o contraponto. Existe toda uma literatura, uma produção de mídia, uma produção artística de inferiorização do africano. Ele sente necessidade de fazer aquilo que chamo de pirâmide invertida. Faz tudo ao contrário e inverte a pirâmide. O que é mau passa a ser bom, o que é bom passa a ser mau. Ele sobrevaloriza as coisas africanas e subvaloriza a influência externa, que também está presente. Os africanos são diversos, embora tenham dificuldades em aceitar isso. Mesmo o africano que não é negro tem de se posicionar para defender sua identidade. Ele quase rejeita as outras características do padrão, para se expressar dos pontos de vista intelectual, artístico e identitário. (...). Esse debate será ultrapassado aos poucos. À medida que vão ocorrendo as discussões sobre a questão das identidades, começa-se a admitir que

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a África contemporânea é de fato uma mistura, como todos os países e continentes o são. (LOPES, 2004, p. 1).

O conceito de “pirâmide invertida”, como nos diz Carlos Lopes, diz respeito a esse processo de afirmação de uma superioridade africana e, junto a isso, de uma suposta “homogeneidade” ou de que os africanos teriam, naturalmente, algo em comum. Esse algo passa a ser, muitas vezes, a “raça negra”, enquanto uma identidade comum. Outro pensador africano crítico aos usos e apropriações do conceito de raça é Kwame Anthony Appiah. Dialogando com o movimento pan-africanista, este filósofo também nos adverte sobre os riscos do apelo ao conceito de raça, mesmo que numa perspectiva social, vir a contribuir para um congelamento, fixação, essencialização e homogeneização de uma identidade negra.

A “raça” nos incapacita porque propõe como base para a ação comum a ilusão de que as pessoas negras (e brancas e amarelas) são fundamentalmente aliadas por natureza e, portanto, sem esforço; ela nos deixa despreparados, por conseguinte, para lidar com os conflitos “intra-raciais” que nascem das situações muito diferentes dos negros (e brancos e amarelos) nas diversas partes da economia e do mundo. (APPIAH, 1997: 245)

As “situações muito diferentes dos negros” (e de quaisquer outros grupos), como nos lembra Appiah, são fruto de processos históricos diversos. Assim, se é fato que a experiência do racismo constitui um elemento de identidade entre grupos que, historicamente, foram discriminados e inferiorizados em função de seu fenótipo ou de sua ancestralidade comum, também não se pode ignorar que as experiências sociais vivenciadas por indivíduos desses grupos são diversas e não se restringem às opressões e discriminações do racismo. E as diferentes experiências históricas, que levaram às tais “situações muito diferentes”, a que se refere Appiah, precisam ser conhecidas e estudadas, se queremos efetivamente caminhar no sentido de uma compreensão da complexidade e diversidade que caracteriza o continente africano.

É preciso considerar que há desdobramentos significativos dessas questões no cenário educativo brasileiro atual, quando vivenciamos o processo de investimentos em uma educação anti-racista ou educação das relações étnico-raciais. É comum encontrarmos professores que optam por estudar a história e cultura africana resgatando a mitologia e a literatura africana,

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com vistas a favorecer uma valorização da herança e produções culturais africanas. Esse movimento, instigante e inovador, sobretudo para os estudantes, pode – e deveria - ser acompanhado de análises históricas e sociológicas do continente, o que nem sempre ocorre. Essa exclusão da análise propriamente histórica e sociológica tem, por vezes, contribuído para um retorno ao que seria uma África ancestral, mítica, a-histórica ou compreendida apenas por seus traços considerados valiosos no seio da positivação da auto-estima dos brasileiros afro-descendentes.

Da mesma forma que na historiografia10 há o que se chama de “pirâmide invertida”, também nas práticas educativas se tem observado movimento semelhante. Se num primeiro momento de positivação das identidades e histórias sub-valorizadas essa estratégia possa ser instigante, por outro lado, ela pode ser capaz de gerar representações equivocadas e idealizadas acerca da África, funcionando, na verdade, para impedir a compreensão crítica e o posicionamento reflexivo dos alunos a respeito da história, da cultura e da relação Brasil-África. Sem a intenção de desqualificar práticas educativas voltadas ao trabalho com história e cultura africana e afro-brasileira, precisamos nos debruçar sobre o que tem sido ensinado aos estudantes, neste momento, para entendermos as implicações disso quanto ao alcance de nossos objetivos. Vale a pena, então, refletirmos sobre o que diz uma professora a respeito da história da África.

[...] Eu mostrei isso prá eles, que naquela época, as tribos, os primeiros negros eles eram reis e rainhas, moravam em palácios, eles tinham os escravos deles, mas dentro da tribo deles lá, os egípcios, os escravos não eram pessoas que eram judiados não, era como a organização das abelhas, os trabalhadores, todos tinham a sua hierarquia, todos eram respeitados dentro da sua hierarquia, ninguém sofria nem era maltratado, eles eram chamados de escravos, mas na verdade eles eram servidores, né, dos reis e rainhas [...]11

É necessário primeiramente compreender os depoimentos dos professores a partir das dificuldades que vários deles têm de acesso a bibliografia12 atualizada e reflexiva a respeito da História Africana. Mesmo em cursos de formação, muitos estereótipos ou formulações equivocadas são veiculados. Tomamos também os depoimentos como significativas maneiras pelas quais os professores se expressam a respeito do tema, posicionando-se neste contexto de aproximações com a história do continente e de experimentações de abordagem da África.

Este depoimento permite que façamos reflexões muito instigantes a

10 - J. D. Fage no livro História Geral de África, volume 1, organizado por Ki-Zerbo, traça interessante panorama sobre a historiografia africana. Apresenta uma análise dos estudos históricos da África, desde as antigas concepções orientalistas européias até a sua reformulação atual e recente depois da ascensão dos movimentos negros e do pós-colonialismo, passando pela historiografia arábica e pela chamada produção autóctone. O capítulo está disponível no site Africanidades; História da África e culturas tradicionais africanas. In: http://afrolo-gia.blogspot.com/2008/03/ historiografia-africana.html

12 - Carlos Moore alerta para a carência de material didático sobre a África, em língua por-tuguesa e espanhola. Segundo nos diz, “esta questão não será resolvida tão cedo, consideran-do que a tradução e publicação das obras estão submetidas a considerações de mercado e da política das grandes editoras. Corre-se o grande risco de que se privilegiem para a tradução em língua portuguesa, precisa-mente, obras preconceituosas ou desatualizadas, situação com a qual haverá que coex-istir durante um longo tempo” (MOORE, 2008, p. 200-201). Chama ainda a atenção para a necessidade de que as obras se estruturem como um painel pluridisciplinar de especial-istas com comprovada famil-iaridade com as realidades africanas e com sólidos conhe-cimentos da bibliografia sobre o continente. Os especialistas seriam aqueles que conhecem a África a partir de dentro, ou seja, “de suas cosmogo-nias, línguas e estruturas que moldaram aquelas sociedades ao longo da mais extensa história do planeta” (idem, p.202), com o necessário rigor crítico em contraponto ao pensamento marcado pela apologia sistemática do pas-sado (idem, p. 204). No campo didático, seria significativo, ainda segundo o mesmo autor, cultivar a empatia para com o

11 - Este depoimento é parte dos dados apresentados na pesquisa de Doutoramento in-titulada “Saberes e práticas em Redes de Trocas: a temática africana e afro-brasileira em questão”, desenvolvida por Lorene dos Santos, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFMG, 2010.

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respeito dos desafios educativos postos neste momento de positivação. O movimento de naturalização das relações sociais é um dos pontos mais importantes a serem superados. A comparação entre as organizações sociais africanas e a organização das abelhas é uma analogia que expressa, em alguma medida, esta armadilha colocada ao professor na tentativa de diferenciação entre o escravismo na África e o escravismo moderno. É evidente que o recurso utilizado não permite expressar esta diferença. Não é transformando as relações sociais africanas em relações “naturais” que estas particularidades serão melhor compreendidas. O mesmo vale para a afirmação de que o que era praticado na África não era escravismo, outra mostra de que faltam a muitos professores informações e elementos históricos para proceder à positivação, mas sem negar aos alunos o estudo crítico e reflexivo da História e Cultura Africana, também com seus embates e com suas ruínas. Em outras palavras, nunca podemos perder de vista que as sociedades africanas são sociedades humanas: cultural e historicamente estruturadas. Este exemplo pode ser bastante significativo dos problemas que hoje enfrentam os professores em suas tentativas de positivação desta história, mas com pouco acesso a informações e análises mais substantivas.

Prevemos, portanto, um movimento educativo que não abra mão de todos os recursos da positivação da história e cultura africana (em que se incluem a apreciação estética e ética dos registros culturais africanos e afro-descendentes), sem prescindir da análise e compreensão empática, e também crítica da trajetória histórica do continente e de sua atual situação.

África no Plural

Na África vivem em interação cultural mais de 2.000 povos diferentes13, que possuem os mais variados modos de organização sócio-econômica, política e cultural, contando também com uma infinidade de fluxos migratórios populacionais e trocas entre povos nas mais diferentes fronteiras e espaços do continente. Podemos compreender as mais variadas dinâmicas culturais que se estabeleceram, se estabelecem e se recriam cotidianamente no continente.

É interessante, então, que pensemos na África como um continente complexo e plural, em que a marca mais forte é a diversidade sócio-cultural. Várias Áfricas14, várias culturas! Uma África que chegou ao século XXI tendo vivenciado muitas histórias, algumas cheias de conflitos e opressão... outras, produzidas na vivência cotidiana, em grupos de convívio e em família, uma vida feita por pessoas reais que têm visões de

13 - Carlos Moore chama a atenção para fatores que devemos considerar para abordagem histórica complexa quanto à África, quais sejam a sua extensão territorial (30.343.551 km2), o que cor-responde a cerca de 22% da su-perfície terrestre; a topografia variada, com savanas, regiões desérticas, semidesérticas, alti-planos, planícies, regiões mon-tanhosas e imensas florestas, a mais longa ocupação humana de que se tem conhecimento (cerca de 2 a 3 milhões de anos até o presente) e a “existência e interação de mais de 2.000 povos com diferentes modos de organização socioeconômi-ca e de expressão tecnológica” (MOORE, 2008, p. 160-161).

14 - Leia o que nos diz Carlos Lopes “Os africanos são diver-sos, embora tenham dificul-dades em aceitar isso. Mesmo o africano que não é negro tem de se posicionar para defender sua identidade. Ele quase rejeita as outras características do padrão, para se expressar dos pontos de vista intelectual, artístico e identitário. Por isso é que escritores como Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Pepetela, Ondjaki são muito interessantes: estão na fronteira da discussão iden-titária. São pessoas que estão muito bem na sua pele. E isso incomoda um bocado, porque não é o padrão. E eles também não se estão a reivindicar como negros puros. Esse debate será ultrapassado aos poucos. À medida que vão ocorrendo as discussões sobre a questão das identidades, começa-se a admitir que a África contem-porânea é de fato uma mistura, como todos os países e con-tinentes o são”. Entrevista a Deborah Dornelas – Correio Brasiliense, 18/12/2004, dis-ponível em http://www.pnud.org.br/pnud_midia/ visualiza. php?lay=pmiv&id14=157.

continente e sua história, es-timulando a sensibilidade em relação aos povos e culturas africanos, numa abordagem também pluridisciplinar. (idem, p.206).

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mundo, identidades culturais e relações peculiares com a natureza e com o seu passado histórico. Nenhuma dessas pessoas ou grupos, isoladamente, contudo, explica por si a história do continente. É preciso olhar para as várias histórias para entender a(s) história(s) da África, conforme nos propõe a escritora nigeriana Chimamanda Adichie15, em “O perigo de uma única história” .

Se entendemos por cultura o conjunto de experiências e manifestações vivenciais expressas por um grupo na sua relação de mediação com o mundo, podemos, então, pensar que a África possui uma variedade bastante grande de culturas. Seu perfil cultural não pode, por isso, ser reduzido a uma identidade única16, como se existisse uma “essência africana”.

Como já dissemos, a África é um continente portador de muitas expressões culturais, que podem variar conforme a matriz cultural ou origem do grupo, conforme a região, a organização social, política, e, mesmo, de acordo com as relações que os grupos estabelecem com o meio ambiente. As variações são inúmeras e sabemos que a tentativa de construir uma identidade africana levou a minimizar-se e a desprezar-se a enorme diversidade cultural desse continente, expressa em sua medicina, filosofia,astronomia17, matemática e nas manifestações artísticas e arquitetônicas, por exemplo. Enfim, “toda identidade humana é construída e histórica” (APPIAH, 1997).

No entanto, é comumente difundida a idéia de que a África é um continente em permanente guerra, assolado por miséria, fome e terríveis doenças. Da mesma maneira, difunde-se que o continente africano é um cenário de paisagens naturais exóticas e inexploradas: desertos despovoados, savanas cheias de leões e elefantes e paisagens à espera de aventuras e safáris. Não é raro que encontremos pessoas que imaginam um continente envolto em misticismo, com uma população envolvida com crenças primitivas ou amaldiçoadas, ou de pessoas produtoras de uma arte “grosseira” e primitiva.

Difundidas geralmente por documentários, jornais e revistas, e até mesmo na escola, essas representações estereotipadas a respeito do continente e dos africanos orientam-se pela desinformação e pelo etnocentrismo18 que pautou a relação, sobretudo da Europa com a África, nos últimos séculos. Nessas representações um fato isolado é tido como significativo para compreensão da história e cultura de todo o continente. Assim ocorrem com as guerras civis, as doenças e a fome que, simbolicamente, expressam o que seria a “face” do continente, a sua marca. Embora problemas sociais, políticos, econômicos e culturais evidentemente existam na África, precisamos evitar tomá-los como a única forma de compreender o continente. Algumas pessoas tentam ver tendências africanas inatas para a guerra civil, o que é incorreto; outras tributam até

17 - Você sabia, por exemplo, que os Dogon, uma etnia afri-cana, muito antes do advento das explicações científicas européias, sabiam que a Terra gira em torno de si e do Sol? (LOPES, 1995, p.23).

18 - O conceito de etnocentris-mo relaciona-se à estranheza seguida de repulsa que ocorre no encontro entre sujeitos ou entre dois ou mais grupos so-ciais diferentes, gerando uma polarização entre o “eu” ou “nós” e o “outro”. A perspec-tiva etnocêntrica configura-se quando o “eu” ou “nós” é pensado como “verdadeiro”, “real” ou “melhor”, sinônimo de avanço, modo de vida ou regra superiores, enquanto o “outro” é visto e pensado como algo exótico, excêntrico, anormal, primitivo, enfim, in-ferior. Segundo Laraia (1986), “O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural”. Para este autor, o etnocentrismo é um fenômeno universal, sendo “comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão”. No entanto, em casos extremos, o etnocentrismo é responsável pela ocorrência de numerosos

16 - Muita gente acha que a África tem uma expressão cultural relativamente ho-mogênea (uniformemente e igualmente verificada em todo o continente), definidora do que seria uma “identidade do africano”. É comum ouvirmos narrativas acerca do que é “ser africano”, como se fosse possível esclarecer, em algumas palavras, essa marca de identidade. Essa idéia, lar-gamente difundida ainda hoje, não ajuda a entender a África e suas expressões culturais. Al-guns movimentos de afirmação da positividade negra também lançaram mão, sobretudo nos momentos instituintes de luta e por estratégia política, desse pressuposto de um padrão cul-tural do que seria ser africano.

15 - Escritora Nigeriana, nascida em 1977, autora de romances como Meio sol ama-relo, Editora Asa, que ganhou o prêmio Orange Prize, 2007; e La flor púrpura, 2005, Editora Debolsillo, Barcelona

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conflitos sociais e esteve na base de opressões e domina-ções históricas, como a que ocorreu a partir das expansões ultramarinas européias, e da conseqüente estruturação dos sistemas colonialistas e imperialistas, nos continentes americano, africano e asiático, entre os séculos XV e XX.

mesmo uma maldição19 a populações de origem africana.

Essas idéias absurdas foram e são ainda difundidas, sobretudo desde a intensificação da relação da Europa com o continente, durante o longo processo de colonização da África; expressam uma noção negativa que se tentou passar à história como justificativa para a violência imposta ao continente.

Por várias destas razões, há pessoas que supõem que as populações africanas não têm cultura nem história ou, no máximo, teriam desenvolvido apenas formas primitivas de organização social e política e de produção cultural.

Diferentemente, podemos entender quase todas as guerras civis que assolaram e ainda assolam o continente como resultantes de um complexo processo de agressão cultural, política e material vivenciado pelas populações africanas durante séculos, sobretudo a partir da colonização. Isso não quer dizer que não existiam guerras e conflitos em África antes da chegada dos europeus. Mas se estudarmos com maior cuidado boa parte dos conflitos mais recentes, veremos não raízes inatas para a guerra, mas sim o resultado das experiências de violência sofridas pelos africanos também a partir do contato com outras culturas e povos. Alguns deles são resultantes do aprofundamento de antigas guerras historicamente travadas entre grupos africanos em disputa por territórios e riquezas, como se vê em outros continentes, mas que em África se perpetuaram ou se acirraram em função dos sistemas de dominação e expropriação sofridos pelo continente.

O mesmo exercício de discernimento vale para o caso das expressões culturais africanas, tidas por vezes como inferiores, atrasadas ou primitivas. As culturas africanas, por serem diferentes de culturas como as européias, foram muitas vezes classificadas erroneamente como inferiores ou bárbaras. Elas são diferentes, inclusive entre si, movidas por formas expressivas próprias, que também se transformam ao longo dos tempos. Pense nisso sempre que você se deparar com uma imagem, texto ou representação sobre a África e suas culturas.

Em Sala de aula

Lembre-se que é importante contextualizar imagens que mostrem a produção cultural africana, procurando saber a época e local em que foram produzidas, o contexto sócio-histórico e o nome do povo ou grupo étnico responsável por sua produção, incluindo, sempre que possível, alguma referência sobre este povo e o contexto em que vive/viveu. Mesmo aquelas imagens que ressaltam a beleza e riqueza

19 - Fato recente que escanda-lizou o Brasil e exigiu retrata-ção foram os comentários do Cônsul do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine, que ao se referir ao terremoto que destruiu o país, em janeiro de 2010, o avaliou como uma tragédia “boa” para que o Haiti fique conhecido. Na sequência, disse: “Acho que de tanto mex-er com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f...” (http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/ 0,,OI4208157-EI14687,00.html) A declaração foi ao ar pelo SBT em 14 de janeiro logo após a tragédia. Boa parte da população do Haiti pratica o vodu, prática religiosa que reúne traços do catolicismo e de vodu africano. Esta declaração do Cônsul (residente no Brasil há 35 anos), reprovável em todos os sentidos, reproduz ideia muito comum no Brasil de que “africano tem maldição”. Ela expressa o quão distante estamos de uma compreensão mais alargada das dimensões plurais da cultura e identidade e dos registros de origem africana no mundo, descon-hecendo o drama vivido por populações afro-descendentes na diáspora. De forma semel-hante, muitos praticantes do candomblé e da umbanda no Brasil vivenciam o precon-ceito contra suas práticas e crenças religiosas. Este tema é abordado no módulo “Culturas afro-brasileiras”.

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cultural de produções africanas, quando apresentadas de forma genérica e sem contextualização, contribuem para reproduzir uma idéia de homogeneidade cultural do continente, o que deve ser sempre evitado. No afã de positivar a história da África, alguns professores apresentam referências culturais produzidas em contextos específicos como representativas do continente, o que, ao invés de favorecer o estudo e análise da história e cultura africanas, reduzem-nas a estereotipias ou modelos únicos para um continente tão complexo e diverso.

Algumas manifestações culturais africanas foram misturadas às manifestações culturais daqueles povos com os quais a África entrou em contato na história – como é o caso de expressões européias e islâmicas, por exemplo. Dessa forma, a África pode ser entendida como um mosaico de expressões culturais, em que subsistem, lado a lado, culturas africanas praticamente reservadas do contato com outras manifestações e também – e com maior freqüência – as chamadas culturas híbridas20, quer dizer, aquelas que nasceram do contato cultural de povos de diversas origens nesses séculos de história.

Veja, a seguir, algumas imagens do continente africano que podem instigar você a pensar a diversidade de elaborações culturais africanas, os inúmeros intercâmbios com povos e grupos diversos que chegaram ao continente, assim como sua diversidade ambiental, caracterizada pela existência de distintas paisagens naturais. Mas atenção: as fotos apenas exemplificam essa diversidade, sem qualquer pretensão de abarcar sua totalidade. O conjunto apresentado pode – e deve - ser completado com imagens diversas, que remetam a outras realidades culturais e paisagísticas presentes no continente.

20 - Híbrido vem sendo uti-lizado, sobretudo pela crítica pós moderna preferentemente ao termo mestiçagem, pois segundo García Canclini, mestiçagem pode camuflar a manutenção de uma identi-dade fundada na homogenei-dade, preocupada em integrar os grupos marginalizados, mas sempre de acordo com as concepções dominantes da identidade nacional ou de um projeto político de nação excludente, mas sob rótulo de mestiça. O conceito de hibrid-ização cultural permite con-siderar o respeito à alteridade e a valorização do diverso. As identidades são neste ar-cabouço teórico-conceitual compreendidas em processo de construção e desconstrução, não como suportes estáveis, fixos e avessos aos contatos.

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1) Fotos de habitantes do Vale Rift Oriental, Rio OMO, Etiópia, África, feitas pelo fotógrafo alemão Hans Sylvester entre 1960 e 1970. As fotos integram o livro Ethiopia: peoples of the Omo Valley. Editora Harry Abrams Inc, 2007. 2 volumes. Tal como os descreve Hans Sylvester, nos anos 70, os povos do Omo eram pastores e coletores; viviam numa região vulcânica que fornecia uma imensa gama de pigmentos composta por ocre vermelho, argila branca, verde cobre, amarelo e cinza. Utilizavam-se em suas pinturas as mãos, a ponta das unhas, às vezes uma ponta de madeira, um junco e toda sorte de flores, galhos secos e frutos secos.

2) Os Himba são uma sociedade pastora matriarcal semi-nômade, vivem na Namíbia e em parte do Deserto do Namibe, em Angola. As mulheres himba cobrem geralmente o corpo com um óleo avermelhado, mistura de banha de boi com uma pedra local, uma espécie de argila, que protege a pele do vento e do sol; são comuns os penteados elaborados e os cabelos enfeitados com peças de couro e de metal, também eles untados com a mesma mistura; sua vestimenta é feita de peles curtidas. Em seu grupo, falam a língua Herero. O gado bovino é o principal símbolo de status das famílias himba. A carne bovina é reservada apenas para eventos especiais, como casamentos e funerais. Quando uma pessoa himba morre, mata-se uma parte de seu gado, para proteger o seu espírito. Nas aldeias himba há um curral no meio, vigiado pelo fogo sagrado chamado “okuruwo”, usado para que os himba se comuniquem com os seus ancestrais. Fotos de Sebastião Salgado, África, 2007.

A Diversidade Cultural e Paisagística em África

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3) Fábrica artesanal de tapetes marroquinos, no interior da Medina de Fez, cidade localizada no Marrocos, norte da África. Na construção se destacam elementos da arquitetura árabe e da tapeçaria marroquina. Medina é o nome que se dá aos limites das antigas cidades árabes, cercadas por muros e no interior dos quais se concentram as atividades religiosas, com a presença de inúmeras mesquitas, e as atividades mercantis – com destaque para o souk, famoso mercado árabe. Foto de Lorene Santos, 2009.

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4) Vista do Vale do Rio Ourika, junto à Cordilheira do Atlas, próximo a Marrakesh, Marrocos. A neve, ao fundo, é evidência do frio inverno vivenciado em muitas regiões do norte da África. O vale do Rio Ourika é povoado por várias comunidades berberes, que já foram nômades, mas hoje vivem em pequenas aldeias espalhadas ao longo do Vale, sobrevivendo do pastoreio, artesanato e pequeno comércio. Foto de Lorene Santos, 2009.

5) Zebras na Reserva Nacional de Masai Mara, no Quênia, país da África Oriental. O Masai Mara é o ponto mais ao norte do ecossistema do Serengeti. Todos os anos, depois de esgotar as pastagens no norte do Serengeti, na Tanzânia, um grande número de gnus e zebras entra no Masai Mara. Além das belas paisagens, o Quênia é um país onde vivem povos que mantém muitas de suas antigas tradições, tais como os Kikuyu, os Maasai, os Turkana e os Samburu. Foto de Sebastião Salgado, África, 2007.

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6) Vista panorâmica do Rio Kwanza, no Parque Nacional da Quissama, localizado ao norte de Angola, país da costa ocidental do continente africano. A área do Parque de Quissama é protegida para a preservação de ecossistemas e para o turismo, desde 1957. A vegetação é bastante variada, desde as margens do Kwanza até o interior do Parque, com manguezais, mata densa, savana, árvores dispersas, cactos, imbondeiros e grandes zonas de arvoredo, além de uma fauna abundante e bastante variada (Foto: http://fotoangola.weblog.com.pt/)

7)Deserto do Namibe, na Província de Namibe, em Angola, país da costa ocidental do continente africano. A província de Namibe apresenta ecossistemas variados, tais como mar, deserto e savana. O deserto do Namibe ocupa uma extensa área, com cerca de 50.000 Km2, ao longo do litoral do Oceano Atlântico, e é considerado o mais antigo deserto do mundo. Também possui as mais altas dunas de areia, que chegam a atingir 340 m de altura. (www.galassiaarte.it/.../namibia_on_the_road.html)

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8) Cidade do Cabo, na África do Sul, localizada no extremo sul do continente, próxima ao Cabo da Boa Esperança. Foi a primeira cidade fundada por europeus na região, durante o século XVII, tendo sido colonizada por ingleses, holandeses e franceses (tornou-se possessão britânica, em 1814). A descoberta de diamantes e ouro, em fins do século XIX, desencadeou uma onda migratória para a África do Sul. A presença humana nesta região é muito anterior ao período de colonização, remontando a cerca de 100.000 anos atrás, conforme mostram estudos arqueológicos. A política do apartheid, instituída no início do século XX, na África do Sul, só terminou em 1994. A África do Sul é o país mais rico da África, mas apresenta um alto índice de desigualdade social. A Cidade do Cabo costuma ser chamada de “cidade Mãe” da África do Sul. (http://blogfut.zip.net)

9) Porto de Stone Town, centro histórico da capital de Zanzibar, uma região da Tanzânia, país localizado na costa oriental do continente africano. Importante centro comercial, o arquipélago de Zanzibar, ao longo de sua história, esteve sob controle português, árabe e britânico, tendo alcançado sua autonomia política no bojo dos processos de independência da segunda metade do século XX. Reconhecida como Patrimônio Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2.000, Stone Town preserva as marcas da presença de diferentes povos, em sua arquitetura e nas ruas estreitas e labirínticas, cobertas por lajes de pedra, que a tornaram conhecida como “cidade das pedras”. A região é também conhecida como “Ilhas das Especiarias”, sendo, até hoje, uma importante produtora de cravo, noz-moscada, canela e pimenta, entre outros. O intenso movimento no porto de Stone Town é uma evidência do seu dinamismo comercial e turístico. (Foto: http://eoesplendordosmapas.blogspot.com/)

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10) Mercado de frutas e legumes em Maputo, Moçambique, país da costa oriental africana. As relações entre Brasil e Moçambique remontam ao século XIX, quando o Brasil recebeu um significativo contingente populacional, oriundo da costa oriental africana, no bojo do tráfico intercontinental. Os africanos oriundos dessa região eram genericamente chamados de “moçambiques”. O país esteve sob domínio colonial português até 1975, quando conquistou sua independência, após um longo período de luta pela libertação nacional, comandada pela Frente de Libertação de Moçambique - FRELIMO. Ao longo da década de 1980, o país vivenciou graves conflitos internos, o que provocou a destruição de parte de sua infra-estrutura e fez milhões de vítimas. Moçambique é um dos oito países integrantes da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” – CPLP (veja mais informações no site oficial da Comunidade: http://www.cplp.org/). Além de terem o Português como língua oficial, Brasil e Moçambique partilham inúmeros outros elementos de identidade cultural. A imagem do mercado, bastante familiar para os brasileiros, é mais uma evidência desses traços comuns. (Foto: Maria Aparecida Moura, 2005)

11) Fundo de quintal em Luanda, capital de Angola, país da costa ocidental sul, do continente africano. A região foi uma das principais fornecedoras de mão-de-obra escrava para o Brasil, entre os séculos XVI e XIX. De lá vieram principalmente os povos ambundos e outros do grupo linguístico banto, embarcados pelo porto de Luanda. O país esteve sob domínio colonial português até 1975, quando conquistou sua independência e mergulhou em conflitos internos que perduraram até 2002. Angola é um dos oito países integrantes da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” – CPLP (veja mais informações no site oficial da Comunidade: http://www.cplp.org/). Além de terem o Português como língua oficial, Brasil e Angola partilham inúmeros outros elementos de identidade cultural. A imagem de fundo de quintal, bastante familiar para os brasileiros, é mais uma evidência desses traços comuns. Foto de Regina Santos, Imagens em Língua Portuguesa. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002.

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13) Barbeiro em uma aldeia, na região de Yirga Cheffe, na Etiópia, país localizado na região centro-oriental da África. A Etiópia é um dos países mais antigos da África, tendo mantido sua independência política desde tempos remotos, inclusive durante a ocupação colonial européia, de fins do século XIX e primeira metade do XX. Alguns dos registros mais antigos da existência humana foram encontrados em sítios neste país, que tem o maior número de Patrimônios Mundiais reconhecidos pela UNESCO, em África. Durante a década de 1980, a Etiópia sofreu uma série de períodos de fome, que resultaram em milhões de mortes. O país foi se recuperando lentamente e, atualmente, sua economia é uma das que mais cresce no continente. Entretanto, este país ainda costuma ser identificado como símbolo de fome e miséria, em imagens que são muitas vezes generalizadas como representativas de todo o continente africano. A fotografia do barbeiro possibilita refletir sobre aspectos da vida cotidiana de uma aldeia etíope, em uma área de plantação de café, podendo contribuir para a desconstrução de alguns dos estereótipos a respeito deste país e de sua população. Foto de Sebastião Salgado, África, 2007.

14) Mulheres com capulanas e máscara mussiro, em Moçambique, país da costa oriental africana. As capulanas são tecidos estampados, cortados normalmente em forma regular, utilizadas com freqüência em regiões da África Oriental, sobretudo - mas não exclusivamente -, por mulheres. Mais do que uma vestimenta, elas podem representar desde um estado de espírito (alegria ou luto, por exemplo) até marcas de identidade e papéis sociais, sendo, assim códigos de comunicação e formas de expressão. Estudos sobre as capulanas têm contribuído para aprofundar a compreensão sobre diferentes povos africanos. Já o mussiro é um creme tradicional, feito do caule de uma árvore perfumada, usado para refrescar e rejuvenescer a pele, além de combater espinhas. Possui também uma dimensão estética, com o intuito de deixar o rosto “branco”, conforme depoimento de uma mulher Macúa, das ilhas Angóche, em Moçambique (veja vídeo em http://www.mozambique-tradicional.com/Mussiro---creme-tradicional.php). Foto 1 de Fernando Faria e foto 2 de Regina Santos. Imagens em Língua Portuguesa. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002

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15) Roça Agostinho Neto, nas ilhas de São Tomé e Príncipe, localizadas no Oceano Atlântico, no Golfo da Guiné, exatamente na linha do Equador. Foi uma colônia portuguesa do século XV até 1975, quando se tornou um país independente. Durante o período do tráfico transatlântico, as ilhas foram usadas como entreposto de escravos. Existem dezenas de roças pelo território de São Tomé e Príncipe. Elas são uma herança e símbolo do período colonial, quando se produzia cacau em grande quantidade. Muitas delas, hoje, estão abandonadas, ou foram transformadas em pontos turísticos. São Tomé e Príncipe é um dos oito países integrantes da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” – CPLP (veja mais informações no site oficial da Comunidade: http://www.cplp.org/). Foto de Regina Santos, Imagens em Língua Portuguesa. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002.

As imagens são realmente maravilhosas. Contudo, a África não é apenas um continente com paisagens bonitas. Durante muito tempo divulgou-se a idéia de que era possível estudar a natureza africana pensando-se somente no seu território, tomado como natureza inexplorada, sem presença humana. Atualmente, verificamos outras perspectivas para o estudo da África que prevêem a compreensão das formas de humanização do território, ou seja, das maneiras como as diversas populações africanas se relacionaram e ainda se relacionam com os desertos, florestas, savanas, rios, lagos, montanhas e com toda a diversidade geográfica que o continente possui.

Muitos grupos africanos têm pela terra um profundo respeito, o que explica seu apreço pela preservação da natureza como forma de preservação da vida. Talvez essa relação de respeito e preservação natural nos ofereça interessantes reflexões sobre a África e as formas de apropriação da terra e suas potencialidades.

Pode também nos oferecer uma visão “ecológica” que vale mais do que para a África, podendo ser uma importante referência e contraponto ao atual processo de destruição do planeta. Não podemos ignorar, assim, o quanto temos a aprender com povos africanos e indígenas, por exemplo, a respeito da possibilidade de estabelecimento de outras relações com a terra e com a natureza.

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Como Podemos Estudar a História da África?

Durante muito tempo se pensou que a África não tinha história porque boa parte de sua população não tinha linguagem escrita tal como o têm, há muito, por exemplo, algumas sociedades européias e orientais. Essa ideia levou alguns estudiosos a classificar a África de “bárbara e atrasada”. Hoje sabemos o quanto essa noção equivocada prejudicou o estudo da história africana e das populações afro-descendentes! A renovação dos estudos históricos e a revisão dessa postura negativa em relação à África resultaram na compreensão de que a história africana pode e deve ser estudada pela interpretação e crítica de fontes de natureza variada, tais como as fontes orais, arqueológicas, e também escritas, dentre outras.

De acordo com J. Ki-Zerbo21, é preciso reconhecer que no que concerne ao continente africano haverá três fontes principais para estudo histórico: os documentos escritos, a arqueologia e a tradição oral (1982, vol. 1, p. 28). O estudo histórico do continente a partir destes três tipos de fontes é apoiado pela lingüística e pela antropologia. Mas é preciso levar em consideração que há dificuldades de acesso a fontes para os estudos históricos. Muitas delas foram destruídas com o tempo, pela ação humana e pelo jogo de interesses em cada momento da história – como em todos os pontos do planeta. A dinâmica histórica e os interesses em disputa em cada momento permitem ou impedem a sobrevivência das fontes e sua organização e distribuição no tempo e no espaço. É importante pensar, também, que as fontes históricas são fragmentárias, encontram-se muitas vezes sob forte dispersão. Além disso, a história da África não nos permite pensar numa homogeneidade de experiências históricas do continente, mas num complexo mosaico de experiências simultâneas em diferentes pontos do continente e não raro díspares. Outra questão importante para o estudo da história africana e para análise das fontes é a interdisciplinaridade.

O estudo da história da África requer a colaboração de diferentes áreas do conhecimento. Por fim é crucial que o estudo da história africana se realize do ponto de vista africano, e não permaneça predominantemente atrelada, como costuma ocorrer, a padrões eurocêntricos. Evidentemente que esta centralidade na África não impede que se estabeleçam todas as conexões entre o continente e os demais povos e Estados, mas sem perder de vista a reciprocidade, ou seja, estudando a África e as relações que se estabelecem historicamente com os diferentes pontos do continente. Um bom exemplo desta centralidade está no uso das palavras. È comum o uso de expressões eurocentradas para designar estruturas e processos vivenciados no decurso da história da África. Assim ocorre com o uso freqüente de termos como civilização, império, reino, Estado22 para se referir à história e experiência de grupos e sociedades na África. A consideração acerca da provável inadequação de uso de um ou outro

21 - J. Ki-Zerbo, Historiador nascido em Toma, Burkina Faso. Editor do volume I da Coleção História Geral da África, Unesco. Especialista em história e metodologia de pesquisa em história africana, foi diretor do Centro de Estudos para o Desenvolvi-mento Africano, professor da Universidade de Dakar.

22 - É importante ter cuidado com o uso generalizado desta nomenclatura, que muitas vezes reflete uma tentativa de explicar aspectos da história africana a partir de referências européias. Parte da própria historiografia africana que emergiu na segunda metade do século XX não conseguiu se desvencilhar desses padrões e pode-se encontrar, por exemplo, o uso do termo “civilização” para se referir ao Egito Faraônico, Núbia Antiga, Napata e Méroe, ou ainda “Re-ino” e “Império” para se referir ao Kush, “Reino” de Axum, dentre outros (Mokhtar, 1983). No volume 2 de “História Geral da África”, é freqüente o uso de termos como dinastias, principados, reinados, dentre outros, que são categorias de análise política da experiência dos povos africanos. Elikia M’Bokolo (2009, p. 101) alerta para o fato de que alguns historiadores da na-scente historiografia africana preocuparam-se em primeiro lugar com a análise da história e constituição dos Estados africanos – e fizeram-no numa perspectiva “mais descritiva do que problematizante, mais empenhados em restituir a cronologia dos ‘grandes’ acon-tecimentos e em salientar a ação dos ‘grandes homens’ do que em desmontar os mecanis-mos de todas as espécies, os recursos diversos e os arranjos necessários assim como os rearranjos sociais ligados aos processos de formação e de de-senvolvimento do Estado” na África. A recente historiografia africana se afirma sob uma perspectiva problematizadora e pluralista de estudo, pautada por uma ótica não-colonialista e por referências históricas centradas na experiência afri-cana.. Este é um desafio duplo, portanto: o amadurecimento do que se poderia chamar de uma historiografia africana centrada na experiência africana (em sua já referida di-versidade e também conectada criticamente à experiência estrangeira) e a abordagem da história africana em sala de aula que permita desconstruir estereótipos e preconceitos comumente difundidos acerca da história do continente.” (MILLER, 2008, p. 52).

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vocábulo destes para se referir aos africanos e à sua experiência pode ser rica oportunidade para repensar em sala de aula novas maneiras de abordar o estudo da história da África.

Vamos compreender um pouco mais os desafios implicados no estudo da história africana a partir de fontes de natureza diversa.

Fontes Orais

Consideradas por alguns historiadores como fontes privilegiadas, as fontes orais merecem tratamento tão cuidadoso para história africana quanto fontes de qualquer outra natureza. Como nos alerta Elikia M’Bokolo, elas também não estão livres de fabulações23.

Podemos considerar a extensa variedade de fontes orais para estudo da história africana, com destaque para as fontes produzidas no seio do que se convencionou chamar de tradições orais, em que estão aquelas de origem histórica, panegírica24, religiosa, individual, nas formas de poesia, listas, narrativas, didáticas ou comentários. (M’BOKOLO, 2009, p. 49).

Comparece também à análise historiográfica das fontes orais o questionamento a respeito da temporalidade a que se remetem – elas nos falam, afinal, dos tempos passados ou das formas como os povos do presente lidam com a sua história? Essas questões nos mostram o rigor e a delicadeza exigidos do historiador no trabalho com as fontes orais, sobretudo no caso das narrativas de origem, abundantes em todas as áreas culturais e políticas na África (M’BOKOLO, 2009, p. 48).

Entre alguns grupos africanos é comum que encontremos os doma e os diélis.

Os doma (também chamados pelos europeus de “tradicionalistas”) são considerados os mais nobres transmissores de histórias de origem e trajetória social de um grupo africano, não podendo mentir nunca e nem mesmo faltar à própria palavra. Se um doma mentisse ele estaria perdendo a capacidade de criar uma ordem social e, mesmo, comprometendo a sua própria existência como humano. Para um doma, a verdade ancestral é uma força que o mantém vivo, sendo que ele tem o papel social de perpetuá-la para as novas gerações. Os doma são, quase sempre, pessoas idosas, consideradas depositárias da memória de seu grupo ou de sua família. Em várias regiões africanas existem escolas de iniciação ao exercício da récita e da transmissão oral. Essas escolas, normalmente escolas que formam os doma, guardadas suas especificidades, têm em

23 - Segundo o historiador, entre os anos 1950 e 1960 a historiografia africana nascen-te envolveu-se com um debate a respeito do valor das fontes orais e sua confiabilidade e plausibilidade para estudo da história africana. Esta querela, afirma, está hoje superada, consideradas as fontes orais em sua variedade extrema e com exigência, ainda a ser ob-servada, da necessária crítica e avaliação destas fontes na historiografia do continente. (M’BOKOLO, 2009, p. 45).

24 - Discurso em louvor de alguém, elogio.

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comum “a fé na palavra que emana do ser supremo como instrumento de criação de todo o universo” (HERNANDEZ, 2005, p.29).

Os diélis (chamados de Griots, ou Griôs) são também contadores de histórias, que incorporam uma carga ficcional à suas narrativas. Em suas viagens, escutam histórias das famílias e as contam em narrativas muitas vezes heróicas e épicas25, capazes de transformar as tradições em glória, esperança e sonho. São o que se poderia chamar de animadores públicos e tecem mundos com palavras, músicas e coreografia. “Diéli quer dizer sangue, e a circulação do sangue é a própria vida” (LIMA, 1998, p.26).

Mas o que pode representar um manancial instigante para compreensão dos registros culturais africanos, pode também contribuir para simplificar ou cometer reducionismos. Caso venham a ser tomadas de maneira desconectadas de seu contexto de produção, as narrativas orais podem favorecer uma compreensão linear e factual da história africana, promovendo-se o que Carlos Moore chama de uma “recitação linear, desprovida de dinamismo social orgânico e sem interconexões das sociedades africanas ou com as sociedades extra-africanas (2008, p. 175).

J. Ki-Zerbo alerta que “o texto oral retirado de seu contexto é como peixe fora da água: morre e se decompõe. Isolada, a tradição assemelha-se a essas máscaras africanas arrebatadas da comunhão dos fiéis para serem expostas à curiosidade dos não-iniciados. Perde sua carga de sentido e de vida” (1982, vol. 1, p. 28).

Em Sala de aula

Os relatos orais – fontes privilegiadas por professores, sobretudo da Educação Básica - podem oferecer grandes possibilidades de investigação da história de determinada região ou povo africano, oferecendo rico manancial para interpretação histórica. È fundamental, no entanto, não abrir mão da necessária composição de um quadro rico de informações acerca do contexto de produção e captura destas fontes e também de sua difusão e reprodução na África e na diáspora. Da mesma forma que as imagens e a abordagem de produções culturais diversas precisam ser contextualizadas, também se deve proceder em relação às fontes orais. É importante que no processo de uso didático destas fontes sejam oferecidas informações acerca de como as comunidades africanas contam e recriam as narrativas, com informações acerca do privilégio, não raro, de ações individuais de eminentes monarcas e de grandes batalhas promovidas em determinadas circunstâncias, em que estão presentes fantasia e literatura como forma de herança de

25 - Por conta dessas pe-culiaridades, as narrativas dos Diéli dão grande relevo, com freqüência, à análise da trajetória (e glória) de camadas consideradas nobres, em detrimento de uma abordagem mais transversal da sociedade. Não raro suas narrativas são lineares e factuais, circunstan-ciando um ambiente cronológi-co de fatos e eventos. (WED-DERBURN, 2005, p. 143). De acordo com Carlos Moore, os chamados Criôs conformam uma casta, no sentido de agre-miações fechadas de caráter sócio-profissional hereditária. “O que chamamos de tradição griótica refere-se ao relato linear, circunstanciado pela narração cronológica de fatos e eventos. Os Griôs são, pois, cronistas, por hereditariedade, de uma sociedade. A aborda-gem linear-factual direciona a atenção, frequentemente lau-datória, à nobreza dominante em detrimento de uma análise transversal do conjunto social” (MOORE, 2008, p. 176-177). Recomenda o autor que sobre-tudo a partir do Ensino Médio os professores privilegiem o estudo das dinâmicas internas na História da áfrica, com abordagens mais complexas, superando o que ele chama de enfoque linear-factual que carrega, a seu ver, inconveni-entes para compreensão dos mecanismos de dominação, de coerção e dos conflitos decor-rentes do choque de interesses em sociedades concretas na África. (idem, 176-177).

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seus ancestrais. Muitos desses contos foram coletados por europeus e árabes, sofreram no tempo também variações e transformações lingüísticas, estilísticas e de conteúdo. Essa contextualização da fonte oral pode contribuir para desmistificar ideias correntes em situações educativas em que é supervalorizada a fonte oral como se nela emanasse uma África ‘verdadeiramente’ pura. Diferentemente, é possível manter o lirismo e a poética, também a ética envolvidas no uso de tradições orais para finalidades pedagógicas, mesmo e principalmente se este uso for acompanhado de reflexão, crítica e consciência das manipulações e embates da história. Hoje, é possível recorrer a vários contos africanos compilados em obras paradidáticas ou de literatura. O escritor Rogério Andrade Barbosa morou na África e recolheu diversos contos, mitos e lendas criados por diferentes grupos étnicos africanos, a partir dos quais escreveu várias obras para crianças e jovens. Veja algumas obras deste e de outros autores que podem ser usadas para se realizar atividades de “contação de histórias” em sala de aula, nas sugestões de materiais paradidáticos e de literatura.

O estudo das fontes lingüísticas26 – em sua dispersão e compreendidas como fontes em constante mutação – muito contribui para compreensão das transformações culturais e sociais pelas quais passaram as sociedades africanas.

Como você pode ver, a oralidade é um forte mecanismo de promoção de identidades culturais na África, e foi através da apreciação desse tipo de fonte em sua variedade e plasticidade – para não dizer de suas transformações no curso do tempo - que muitos estudiosos chegaram a estudar a história remota e recente de várias regiões daquele continente. Da mesma maneira, as apropriações didáticas da fonte oral podem permitir uma compreensão destas transformações e das peculiaridades da fonte oral para compreensão da história africana. Uma história dinâmica, plural e mutável pode ser estudada através da fonte oral.

Fontes Arqueológicas e Bens Culturais

A arqueologia é uma ciência que estuda a história através da análise de objetos e vestígios considerados testemunhos da existência humana em

26 - Você sabia que só recente-mente alguns estados africanos têm admitido que as línguas nativas sejam ensinadas nas escolas? Até então apenas as línguas dos colonizadores eu-ropeus eram assumidas como oficiais e válidas para o ensino. Esse é o caso da língua Zulu, somente aceita há alguns pou-cos anos nas escolas da África do Sul, que, até então, somente admitiam o inglês como língua a ser ensinada. Quando Paulo Freire organizou programas de alfabetização em países africa-nos de língua portuguesa, ele viu, em algumas localidades, que as crianças haviam estu-dado, no passado, em livros didáticos ingleses, alemães e franceses, mas em nenhum material escrito em língua falada cotidianamente por aqueles mesmos aprendizes e docentes. Há ainda países afri-canos nos quais são utilizados livros didáticos produzidos em países europeus, como é o caso de países africanos lusófonos. Reflita sobre como deve ser a experiência de falar cotidiana-mente uma língua (com seus códigos, seu simbolismo e sua força identitária) e ser proibido de estudar, na escola, essa mesma língua, sendo obrigado a aprender em outra língua.

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algum ambiente. Esses objetos e vestígios podem ser variados, como ossos, peças feitas de osso, cerâmicas, artefatos em ferro, vidro, metal e pedraria, além de pegadas, rastros e outros. Na África, a arqueologia já ofereceu aos estudiosos muitos indícios acerca da existência de sociedades antigas, as mais antigas do planeta. Há também vestígios de sociedades organizadas, muitas delas com sofisticada capacidade artística e técnica, como é o caso de comunidades da região de Ifé, Oió e Benin, além do Egito Faraônico.

Onde foi possível descobrir registros artísticos, a arqueologia mostrou às sociedades ocidentais que a África não deixa a desejar do ponto de vista da capacidade de produzir cultura e expressões artísticas criativas e belas.

Pela contribuição da arqueologia foi possível compreender parte da história da África relacionada, por exemplo, à metalurgia, a partir da descoberta de sítios em que foi comum a metalurgia do ferro no período da chamada África Antiga.

Da mesma maneira que o domínio do ferro, a arqueologia permitiu compreender parte desta história africana pela análise de registros materiais típicos de práticas agrícolas, como mostraram escavações em sítios cerâmicos.

Por meio das escavações arqueológicas, é possível recuperar uma série de objetos da cultura material de povos que se deslocaram pelo continente africano no tempo. Os registros de ocupação do território (na sua já conhecida variedade de relevo e clima) permitiu aos arqueólogos e aos estudiosos de outros campos do conhecimento a compreensão da complexa história africana em períodos longevos.

A existência de algumas sociedades africanas em tempos os mais remotos também pode ser estudada através dos objetos rituais, ligados à economia e artísticos, como estátuas, espadas, ferramentas, adornos, etc. A variedade de formas, usos e materiais utilizados também pode conferir análises significativas ao estudioso da história e cultura africana.

Apesar de sua variedade e riqueza para compreensão da história, as fontes arqueológicas não podem ser estudadas homogeneamente em todo o continente. Segundo G. Mokhtar27 (1983, p. 12), as escavações não se distribuem de maneira uniforme em todo o continente. Em diversas partes não há a mesma densidade de escavações que podem ser encontradas, por exemplo, ao longo da costa africana, no interior da chamada franja setentrional e principalmente no vale do NiÉ importante também lembrar que os bens materiais são produzidos em contextos específicos em que práticas e concepções de mundo conferem a estes bens usos determinados. Assim, é valiosa a compreensão, por exemplo, de que numa determinada sociedade uma estatueta tenha sido produzida para representar o poder de um grupo sobre outro, ou a capacidade de

27 - G. Mokhtar, Arqueólogo egípcio, autor de diversas publicações sobre a história do antigo Egito, organizador do volume II da Coleção História Geral da África, Unesco.

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um elemento natural de modificar ou controlar a vida humana.

A análise de registros culturais precisa, portanto, levar em consideração as práticas culturais a eles relacionadas e também a trajetória social e histórica destes mesmos objetos/registros e práticas. Pensemos que todas as manifestações culturais são relevantes para compreensão do mosaico cultural africano, sendo as festas, ritos, saberes, modos de fazer, a música, os modos de vestir, a rica e diversa alimentação, as concepções políticas, as cosmogonias, etc...

Ao nos referirmos, por exemplo, a uma estatueta africana sob guarda de um Museu alemão, estamos nos referindo ao processo de apropriação de bens africanos por alemães no seio do processo colonizatório ou mesmo no movimento de estudo da África e das Américas por sociedades científicas européias do século XIX. O trajeto do objeto, dessa maneira, não nos dirá apenas uma história da África que o produziu, mas das complexas e nem sempre equitativas relações entre África e outros povos.

Em Sala de aula

Ao discutir com os alunos sobre os tipos de fontes que são comumente utilizados para a construção da história africana pode-se aproveitar a oportunidade para pensar nos processos de espoliação e dispersão de parte dessas fontes, muitas vezes “saqueadas” do continente. Vale a pena propor questões, em sala de aula, que instiguem os alunos a refletirem sobre estes processos, como por exemplo: “Por que será que o Museu do Louvre, em Paris, possui um dos mais ricos acervos de arte africana egípcia? Como estas peças passaram a integrar aquele acervo? Para compreender este processo, é necessário retomar o contexto das invasões napoleônicas, no início do século XIX, quando uma quantidade enorme de produções artístico-culturais egípcias foram levadas para a França, constituindo parte importante do acervo de arte egípcia do Louvre. Este processo se intensificou na segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, no bojo do processo colonizatório, momento em que diversos museus europeus foram enriquecidos com milhares de peças oriundas de diferentes regiões da África. Muitas delas foram encontradas, por exemplo, em escavações no Egito, sobretudo a partir da criação do Instituto Francês de Arqueologia Oriental do Cairo (1880). Outras, foram compradas de artesãos ou simplesmente saqueadas, em meio a guerras e conflitos resultantes da colonização européia, como foi o caso das

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peças apreendidas no Benin, durante a expedição punitiva britânica, de 1897, e que passaram a compor o acervo do Museu Britânico, em Londres, Inglaterra. Outro exemplo pode ser encontrado no Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, que possui um dos mais valiosos acervos de arte africana do mundo, com cerca de 75 mil objetos oriundos de diferentes partes do continente africano, principalmente do Benim, da República dos Camarões, do Congo e da África Oriental.

Exemplos como estes ajudam os alunos não apenas a compreender o valor histórico de objetos artístico-culturais – importantes fontes materiais para o estudo de povos e civilizações – mas também trazem indícios dos processos de expropriação desencadeados com a colonização dos continentes africano, americano e asiático.

Por outro lado, vale a pena conhecer alguns dos movimentos organizados na atualidade com vistas a reverter tais situações. As peças em bronze do Museu Britânico, por exemplo, têm sido alvo de uma disputa entre a Grã-Bretanha e a Nigéria, que reclama a devolução das obras pilhadas em situação de opressão colonial. O Movimento de Reparações da África (ARM), apoiado por organizações internacionais, lidera uma campanha pela devolução de inúmeras obras de arte africanas espalhadas pelo mundo. Campanhas organizadas pela Grécia e Egito também buscam reaver obras pilhadas em diferentes momentos históricos.

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Relicario Fang. Escultura em madeira (altura: 60 cm), de meados do século XIX, oriunda da Guiné Equatorial ou Gabão. Representa a figura de um ancestral, considerado intermediário entre o mundo dos mortos e os espíritos. É bastante difundida a idéia de que o movimento cubista, surgido na Europa, no início do século XX, teria se inspirado no jogo de formas estilizadas de inúmeras obras de arte africanas. Ainda que tal informação seja controversa, pode-se observar certa similitude entre a arte cubista e inúmeras esculturas produzidas em África, desde tempos muito remotos. Esta escultura foi adquirida no século XIX pelo “Museu de Etnografia de Trocadero” (atual “Museu do Homem”, Paris, França). Atualmente, compõe o acervo do Museu do Louvre, Paris, que desde 2000 incorporou cerca de 120 obras, reunidas sob o título “Artes de África, da Ásia, da Oceania e das Américas”, expostas em seu “Pavilhão das Sessões”. Tal incorporação foi alvo de críticas por parte daqueles que ainda enxergam essas produções artísticas como “primitivas” ou “tribais”. (Foto: Louvre. Las 300 obras maestras. Musée Du Louvre Editions, 2006)

Arte Africana em Museus Europeus

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Escultura Luba: apoio de cabeça. Intitulada “Mestre dos penteados em cascata” (ateliê de Kinkondja), a escultura em madeira (18,5 cm) é originária da República Democrática do Congo e data do século XIX. “Apoios de cabeça, bancos, colheres, bijuterias, instrumentos musicais... Os objetos do cotidiano nascidos das mãos experientes dos escultores africanos revelam um sentido do belo raramente igualado. Reunindo os símbolos de aparato, são também mediadores entre o mundo dos vivos e o dos espíritos [...]. Pela sua geometria rigorosa e os seus penteados sofisticados, estas duas cariátides fazem deste apoio de cabeça uma verdadeira obra-prima em miniatura” (O Guia do Louvre. Musée Du Louvre Éditions, 2005). A obra era parte das antigas coleções do Barão Henri Lambert (Bruxelas) e de Hubert Goldet. Atualmente compõe o acervo do Museu do Louvre, Paris, que desde 2000 incorporou cerca de 120 obras, reunidas sob o título “Artes de África, da Ásia, da Oceania e das Américas”, expostas em seu “Pavilhão das Sessões”. Tal incorporação foi alvo de críticas por parte daqueles que ainda enxergam essas produções artísticas como “primitivas” ou “tribais”. (Foto: O Guia do Louvre. Musée Du Louvre Éditions, 2005)

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A deusa Hathor e o rei Seti I. Cerca de 1.294-1.279 a.C. (19ª dinastia). Baixo relevo, calcário pintado (2,265 x 1,05 m). Representa a deusa Hathor acolhendo o rei Seti I no Além. É parte da coleção “Antiguidades Egípcias”, do Museu do Louvre, Paris. Formada por mais de 50.000 obras, esta coleção tem suas origens no início do século XIX, quando foi criada, no seio do Museu Real do Louvre, uma divisão de monumentos egípcios, sob responsabilidade do decifrador da escrita hieroglífica, Jean-François Champollion. Na segunda metade do século XIX, diversos museus europeus foram enriquecidos com milhares de peças encontradas em escavações no Egito, sobretudo a partir da criação do Instituto Francês de Arqueologia Oriental do Cairo (1880). Este baixo-relevo foi encontrado no túmulo do rei Seti I, no Vale dos Reis, perto de Tebas, e trazida do Egito por Champollion. (Foto: O Guia do Louvre. Musée Du Louvre Éditions, 2005)

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Escriba sentado. Cerca de 2.600-2.350 a.C. (4ª ou 5ª dinastia). Estátua, calcário pintado, olhos em cristal de rocha dentro do cobre (53,7 x 44 cm).. É parte da coleção “Antiguidades Egípcias”, do Museu do Louvre, Paris. Formada por mais de 50.000 obras, esta coleção tem suas origens no início do século XIX, quando foi criada, no seio do Museu Real do Louvre, uma divisão de monumentos egípcios, sob responsabilidade do decifrador da escrita hieroglífica, Jean-François Champollion. Na segunda metade do século XIX, diversos museus europeus foram enriquecidos com milhares de peças encontradas em escavações no Egito, sobretudo a partir da criação do Instituto Francês de Arqueologia Oriental do Cairo (1880). A estátua do escriba foi encontrada em escavações no deserto de Sakara, conduzidas pelo egiptólogo francês Auguste Mariette (então funcionário do Museu do Louvre), na segunda metade do século XIX. (Foto: O Guia do Louvre. Musée Du Louvre Éditions, 2005)

Livro dos mortos do escriba Nebqed. Cerca de 1.550-1.295 a.C. (18ª dinastia). Papiro pintado (630 x 30 cm). “Rolos de papiro cobertos com textos e fórmulas rituais eram colocados em tumbas para ajudar os mortos a obter o que necessitavam em sua longa viagem para a eternidade. Eles eram ilustrados com vinhetas representando diversas fases de funerais entre os quais a mumificação, e a chegada ao mundo dos mortos, onde a alma estava sendo julgada perante o Deus Osiris.” (Louvre. Las 300 obras maestras. Musée Du Louvre Editions, 2006). É parte da coleção “Antiguidades Egípcias”, do Museu do Louvre, Paris. Formada por mais de 50.000 obras, esta coleção tem suas origens no início do século XIX, quando foi criada, no seio do Museu Real do Louvre, uma divisão de monumentos egípcios, sob responsabilidade do decifrador da escrita hieroglífica, Jean-François Champollion. Na segunda metade do século XIX, diversos museus europeus foram enriquecidos com milhares de peças encontradas em escavações no Egito, sobretudo a partir da criação do Instituto Francês de Arqueologia Oriental do Cairo (1880). (Foto: Louvre. Las 300 obras maestras. Musée Du Louvre Editions, 2006)

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Cabeça comemorativa do Obá. Escultura em bronze (latão), produzida no Reino do Benin, Nigéria (45×29 cm ), século XIX. “Cabeça comemorativa ubunmwun-elao para ser colocada sobre o altar real dedicado aos antepassados. Fabricada pela técnica da cera perdida nela estão representadas a coroa de coral erhu ede e o grande colar odigba, também de coral, usada pelo Obá. O orifício existente no topo da cabeça serve para colocar uma presa de elefante, esculpida em baixo relevo, com temáticas reais.” (Sociedade de Geografia de Lisboa). Entre as obras de bronze largamente produzidas no Benin, destacam-se esculturas de cabeças e placas que mostram aspectos da vida da corte do Benin, sendo muitas delas representações do rei (Obá) e de seu poder, mostrando personagens como os chefes e seus séquitos, funcionários da corte, guerreiros e soldados, em visão frontal e postura rígida. Algumas apresentam uma dimensão narrativa, reportando a vitórias em guerras com os vizinhos e evidenciando que artistas do Reino de Benim exerciam função de escriba, descrevendo a história do reino por meio desses ícones figurativos. Existem mais de novecentas placas deste tipo em museus europeus e americanos. O Museu Britânico, em Londres, Inglaterra, possui uma coleção com cerca de 200 peças, grande parte apreendida durante a expedição punitiva britânica, em 1897, no bojo do processo de colonização da África por potências européias, nos séculos XIX e XX. (Foto: Sociedade de Geografia de Lisboa)

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O Obá com europeus. Placa em bronze, produzida no Reino do Benin, Nigéria, século XVI. Esta placa tem a figura do Obá ao centro, acompanhado por dois assistentes e representações dos europeus de cabelos compridos, em que são mostrados dois lados da cabeça (Museu Britânico). Entre as obras de bronze largamente produzidas no Benin, destacam-se esculturas de cabeças e placas que mostram aspectos da vida da corte do Benin, sendo muitas delas representações do rei (Obá) e de seu poder, mostrando personagens como os chefes e seus séquitos, funcionários da corte, guerreiros e soldados, em visão frontal e postura rígida. Algumas apresentam uma dimensão narrativa, reportando a vitórias em guerras com os vizinhos e evidenciando que artistas do Reino de Benim exerciam função de escriba, descrevendo a história do reino por meio desses ícones figurativos. Existem mais de novecentas placas deste tipo em museus europeus e americanos. O Museu Britânico, em Londres, Inglaterra, possui uma coleção com cerca de 200 peças, grande parte apreendida durante a expedição punitiva britânica, em 1897, no bojo do processo de colonização da África por potências européias, nos séculos XIX e XX. (Foto: Sociedade de Geografia de Lisboa)

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Obá de Benin com atendentes. Placa de bronze produzida no reino do Benin, Nigéria, século XVI. Esta placa mostra um Obá cercado por seus assistentes, dois dos quais são retratados segurando seus escudos em uma posição formal de proteção. Somente o Obá teria sido autorizado a ser protegido desta forma dentro da cidade. Entre as obras de bronze largamente produzidas no Benin, destacam-se esculturas de cabeças e placas que mostram aspectos da vida da corte do Benin, sendo muitas delas representações do rei (Obá) e de seu poder, mostrando personagens como os chefes e seus séquitos, funcionários da corte, guerreiros e soldados, em visão frontal e postura rígida. Algumas apresentam uma dimensão narrativa, reportando a vitórias em guerras com os vizinhos e evidenciando que artistas do Reino de Benim exerciam função de escriba, descrevendo a história do reino por meio desses ícones figurativos. Existem mais de novecentas placas deste tipo em museus europeus e americanos. O Museu Britânico, em Londres, Inglaterra, possui uma coleção com cerca de 200 peças, grande parte apreendida durante a expedição punitiva britânica, em 1897, no bojo do processo de colonização da África por potências européias, nos séculos XIX e XX. (Foto: Sociedade de Geografia de Lisboa)

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“Dente de elefante com relevos”. Entalhe em presa de elefante (Marfim), República do Congo, século XIX. Entalhadores de marfim de diferentes pontos da África, sobretudo do Benim e Congo, organizavam-se em oficinas e categorias profissionais e faziam suas peças sob encomenda. Muitas delas foram comercializadas no período colonial europeu (século XIX). A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma das maiores e mais reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos XV e XX, em diferentes regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia e muitos outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas de exposição. Museu Etnológico de Berlim. Fotos de Sérgio da Mata, 2010.

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Detalhe de “Dente de elefante com relevos”. Entalhe em presa de elefante (Marfim), República do Congo, século XIX. Entalhadores de marfim de diferentes pontos da África, sobretudo do Benim e Congo, organizavam-se em oficinas e categorias profissionais e faziam suas peças sob encomenda. Muitas delas foram comercializadas no período colonial europeu (século XIX). A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma das maiores e mais reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos XV e XX, em diferentes regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia e muitos outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas de exposição. Museu Etnológico de Berlim. Fotos de Sérgio da Mata, 2010.

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Cadeira decorada com símbolos da realeza de Chokwe, em Angola. As cenas de encosto e pés estão relacionadas aos princípios do poder masculino e do poder dos antepassados. Expressa uma integração desses elementos num cosmo, incluindo dinâmica e ritmo. Também permite simbolizar as redes de poder por meio da abordagem da relação do poder masculino com a fertilidade das mulheres. Esta simbologia, expressa neste objeto da cultura material, sinaliza o pertencimento da cidade angolana ao sistema de negociação luso-africano. Pode-se dizer que ela demarca a influência européia em Angola e simboliza as redes de poder que se estabelecem na cosmovisão local, como por exemplo, esta relação entre poder e sexualidade. A cadeira foi doada ao Museu de Berlim, Alemanha, em 1938. A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma das maiores e mais reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos XV e XX, em diferentes regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia e muitos outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas de exposição. Museu Etnológico de Berlim. Foto de Sérgio da Mata, 2010.

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Detalhe de cadeira decorada com símbolos da realeza de Chokwe, em Angola. As cenas de encosto e pés estão relacionadas aos princípios do poder masculino e do poder dos antepassados. Expressa uma integração desses elementos num cosmo, incluindo dinâmica e ritmo. Também permite simbolizar as redes de poder por meio da abordagem da relação do poder masculino com a fertilidade das mulheres. Esta simbologia, expressa neste objeto da cultura material, sinaliza o pertencimento da cidade angolana ao sistema de negociação luso-africano. Pode-se dizer que ela demarca a influência européia em Angola e simboliza as redes de poder que se estabelecem na cosmovisão local, como por exemplo, esta relação entre poder e sexualidade. A cadeira foi doada ao Museu de Berlim, Alemanha, em 1938. A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma das maiores e mais reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos XV e XX, em diferentes regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia e muitos outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas de exposição. Museu Etnológico de Berlim.Foto de Sérgio da Mata, 2010.

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Fontes escritas, manifestações artísticas e iconográficas

Diferentemente do que se pode pensar, a África também tem acervos escritos.

Neste caso, o que se entende por escrita é o registro comunicativo escrito em qualquer suporte (não apenas em livros, mas em papirus, em pedra, em paredes e lapas, em tecido e outros) e com utilização de códigos discursivos próprios das sociedades africanas, incluindo neste caso também os hieróglifos. As chamadas escritas autóctones africanas incluem os hieróglifos egípcios (uma das mais antigas formas de escrita da humanidade), sistemas gráficos como o da núbia antiga, o copta, o tifinagh (sistema de escrita milenar utilizado pelos povos tuaregues), o ge’ez (sistema de escrita etíope), dentre outros. Há também os ideogramas, que são sistemas escritos comunicacionais utilizados em regiões do Camarões e da Nigéria.

Há também fontes escritas sobre a África que são de origem estrangeira – árabes e européias. Esse dado confere à história africana algumas peculiaridades, como já observou M’Bokolo, 2009.

São importantes os relatos escritos deixados tanto por africanos quanto por viajantes e boa parte dos relatos até hoje encontrados foram produzidos por sujeitos como imperadores, traficantes de escravos, comerciantes, militares e exploradores, missionários, naturalistas e administradores coloniais. Hoje sabemos que há uma infinidade de fontes arquivísticas e narrativas depositadas em instituições africanas, como é o caso, por exemplo, das Bibliotecas do Marrocos, da Argélia, do Níger, e em arquivos ultramarinos nas ex-metrópoles.

As fontes escritas são absolutamente variadas, como podemos supor. Correspondências, diários, narrativas literárias, relatos de viagem, fontes oficiais, registros demográficos, registros comerciais, religiosos, etc. Como é possível perceber, as fontes escritas têm sua origem tanto na produção individual quanto grupal podendo ser oficiais ou não.

Há também as fotografias, tecidos, desenhos, pinturas, mapas, dentre outros... Os mapas, por exemplo, produzidos principalmente pelas sociedades de geografia da Europa, são fonte riquíssima para se entender a história da África; hoje sabemos que a representação do espaço africano mudou muito ao longo da historia, um indício de que nem sempre a África foi vista pelos europeus da mesma forma como a vemos nos dias de hoje. Os tecidos, por outro lado, informam que a África produziu culturas materiais com uma infinidade de variações têxteis e uma tinturaria que indica um apurado gosto estético, variado, ontem e hoje.

As fontes artísticas são de natureza também variada, não sendo possível

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categorizá-las numa tipologia única. O que se considera, por exemplo, como arte saariana antiga mais significativa deve ser procurada, sobretudo nas figurações rupestres (SALAMA, 1983, p. 536). O Egito africano antigo, por ter sido um receptáculo de influências, configurou uma arte plural e dinâmica que não pode ser compreendida sem estudo da ética, do direito, das concepções políticas, religiosas, morais e econômicas daquela sociedade. (YOYOTTE, 1983, passin). Não custa alertar para o fato de que é mutável no tempo e no espaço o que se considera arte ou manifestação artística.

Então, ao abordar essa questão das fontes com seus alunos, você poderá proporcionar a eles a percepção de que a história pode ser estudada a partir de uma ampla variedade de registros humanos e a história da África não foge a essa regra. O importante, em todas as situações, é procurar contextualizar as fontes, realizando uso crítico e reflexivo das mesmas, sem mitificações ou omissões. Estudos comparativos podem ser valiosos, como também análise de posições historiográficas distintas para um mesmo fato histórico. Não custa reforçar também o alerta de que nem sempre será possível encontrarmos fontes para elucidação de toda a história e isso, como você sabe, não é atributo apenas do estudo da história da África. Em alguns casos, fazer os alunos pensarem sobre a destruição das fontes é a melhor maneira de abordar a história da África e da diáspora.

Filmoteca

Alguns filmes recentes28 para exibição e também para sua formação como professor/a disponíveis no mercado brasileiro

• Kiriku e a feiticeira – Direção: Michel Ocelot, 1998 – desenho animado em que o protagonista é um menino africano às voltas com uma feiticeira má. Inspirado em conto africano, o filme é uma rara produção disponível em português para crianças. No site do CEERT há uma experiência premiada de utilização em sala de aula deste filme. Ver em http://www.ceert.org.br/modulos/educacao/edicoes.php

• Mestre Humberto – Direção: Rodrigo Savastano. Brasil, 2005, 20 minutos. Um passeio pela Lapa, Campo de Santana e pela África. Mestre Humberto, doutor em percussão e poesia, profeta poliglota da Lapa. Nesse curta falado em português, alemão e quimbundo, ele toca, canta e cita Sócrates. Pode ser acessado no site: www.portacurtas.com.br

28 - Evidentemente você encontrará muitos outros filmes sobre a África. Faça sua própria lista de bons filmes.

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• Maré Capoeira – Direção: Paola Barreto - Maré é o apelido de João, um menino de dez anos que sonha ser mestre de capoeira como seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar que atravessa várias gerações. Um filme de amor e guerra. In: www.portacurtas.com.br

• Instrumentos africanos – Bira Reis, um especialista. Documentário. Direção: Júlio Worcman, 1988. Na Feira do Interior 1988, que reuniu em Salvador atrações dos diversos municípios da Bahia, o mestre Bira Reis apresenta sua pesquisa sobre curiosos instrumentos africanos. In: www.portacurtas.com.br

• Som da Rua – Vodu. Direção: Roberto Berliner, 1997, 2 minutos. Miriam Laveau é uma sacerdotisa vodu de Nova Orleans, herdeira creole das mais antigas tradições africanas. Aqui ela apresenta os cânticos vodus que falam da liberdade, mas para Miriam a liberdade, como ela aconteceu, só tornou as pessoas escravizadas. Pode ser acessado no site: www.portacurtas.com.br

• Amistad – Direção: Steven Spielberg – Baseado numa história real, o filme conta a viagem de africanos escravizados que se apoderam do navio onde estavam aprisionados e tentam retornar à sua terra natal. Quando o navio, La Amistad, é capturado, os africanos são levados aos Estados Unidos, acusados de assassinato e aguardam sua sentença na prisão. Inicia-se então uma contundente batalha, que chama a atenção de todo o país, questionando a própria finalidade do sistema judicial americano.

• Hotel Ruanda – Direção: Terry George. Em meio a um conflito que matou quase um milhão de pessoas em menos de 4 meses, em Ruanda, a biografia de um gerente de um Hotel em meio à luta para salvação de pessoas. O filme possibilita refletir sobre a herança colonial belga em Ruanda, o papel da ONU e os desafios implicados para superação do trauma pós-colonial.

• Um Grito de Liberdade – Nos anos 1970, na África do Sul do apartheid, Donald Woods (Kevin Kline) é um jornalista branco que conhece e se torna amigo de Stephen Biko (Denzel Washington), o importante militante pelos direitos dos negros. Quando Biko é morto na prisão, em 1977, Woods percebe a necessidade de divulgar a história do ativista, a perseguição que sofreu, a violência contra os negros, a crueldade do regime do apartheid. Mas ele e sua família também se tornam alvos do racismo, e precisam deixar o país às pressas

• Atlântico Negro: na Rota dos Orixás – Direção – Renato Barbieri, 1988. O documentário Atlântico Negro: nas rotas dos Orixás aborda a importância da história e cultura africana para o Brasil. O documentário evidencia a semelhança existente entre estes povos, sobretudo nos campos da religiosidade, da musicalidade, da língua, dos

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hábitos alimentares, da estrutura familiar e das manifestações culturais. Durante as cenas do filme são desconstruídas visões etnocêntricas e de censo comum sobre o continente Africano. A idéia de um território que vive em constante estado de guerras étnicas e civis, de fome e total miséria é desmistificada para mostrar a profunda experiência cultural da África e os intercâmbios ainda hoje em curso com o Brasil.

• Nas montanhas da Lua – Direção: Bob Rafelson. 1990. Baseado no livro de William Harrison. Em 1850 dois oficiais britânicos começam uma aventura para descobrir a fonte do Nilo. O filme aborda os diferentes interesses em jogo no longo processo de exploração científica levado a cabo por sociedades científicas européias em direção ao continente africano, evidenciando as representações sobre o continente e a relação desigual entre as culturas européia e africana no curso desta história.

• O elo perdido – Direção: Ficção. Expedição científica européia do século XIX captura dois pigmeus tidos por exploradores como o elo perdido. O casal capturado passa a ser estudado por cientistas que se utilizam do aparato científico do século XIX (craniometria, biometria e antropologia física) para comprovação de sua polêmica (posteriormente superada) hipótese a respeito do lugar dos pigmeus africanos na narrativa da evolução humana.

• TV Escola – vídeos de 1 a 20 minutos, produzidos no âmbito do Programa TV Escola, MEC, disponíveis para download em www.dominiopublico.com.br Há uma série especial História e cultura africana e afro-brasileira.

• O Jardineiro Fiel – Drama. Direção de Fernando Meirelles, 2005. Adaptação do livro de John Lé Carré. O filme permite problematizar o tema da exploração da população africana pela indústria farmacêutica.

Sites

Sugestões de sites para você visitar alguns centros de estudos do Brasil sobre história e cultura da África.

• Centro de Estudos Africanos, Universidade de São Paulo.( www.fflch.usp.br/cea/ )

• Centro de Estudos Afro-Orientais, Universidade Federal da Bahia. ( www.ceao.ufba.br )

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• Centro de Estudos Afro-Asiáticos e Centro de Estudos Afro-Brasileiros, Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro ( www.ucam.br )

• África e Africanidades - ( http://www.africaeafricanidades.com/index.html )

• Casa das Áfricas – ( www.casadasafricas.org.br )

Paradidáticos sobre História e Cultura Africana

Nos últimos anos, pode-se observar um crescimento de produções paradidáticas e de literatura que abordam aspectos diversos da história e cultura dos povos africanos. Veja alguns exemplos de materiais que estão disponíveis no mercado e que podem contribuir para os estudos sobre África junto a crianças e adolescentes:

Obras que tratam de aspectos diversos da história da África e da presença africana no Brasil:

• “Histórias da Preta”, de Heloísa Pires de Lima, publicada pela Cia. das Letrinhas, em 1998: a obra se propõe reunir “informação histórica, reflexão intelectual, estímulos ao exercício da cidadania e historinhas propriamente ditas (tiradas da mitologia africana, por exemplo)”. Foi premiada com o título “Altamente Recomendável” pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, em 1998.

• “Agbalá, um lugar continente”, da artista plástica Marilda Castanha, inicialmente publicada pela Editora Formato, em 2001, foi reeditada pela Editora Cosac Naify, em 2008. A obra intercala pequenos textos com belíssimas ilustrações, que retratam, além de aspectos da vida cotidiana de escravos e da população afro-descendente, um pouco do universo mítico e simbólico desses sujeitos. A autora dá um destaque para as religiões de matriz africana, evidenciando o empreendimento de uma pesquisa cuidadosa sobre simbologias, rituais e seus significados. Ao final da obra, apresenta pequenos textos informativos sobre aspectos diversos da história africana e afro-brasileira, relacionado-os com episódios da história brasileira, em geral.

Obras que reproduzem contos da tradição oral africana

• O escritor Rogério Andrade Barbosa morou na África e recolheu diversos contos, mitos e lendas originários de diferentes grupos étnicos

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africanos, a partir dos quais escreveu várias obras para crianças e jovens. Entre suas várias obras, vale a pena conhecer uma série ilustrada pro Graça Lima e publicada pela Difusão Cultural do Livro – DLC. A série tem como características um cuidadoso projeto gráfico e edição de boa qualidade, com papel brilhante, belas ilustrações e texto introdutório com dados sobre o conto, o povo de onde provém e sua localização em mapa do continente africano. São títulos desta série:

◦ “Duula, a mulher canibal” - (1999): reúne contos da tradição oral somali;

◦ “Como as histórias se espalharam pelo mundo” - (2002): conto de literatura oral do povo Ekoi, Nigéria;

◦ “O filho do vento” - (2003); conto de literatura oral dos bosquímanos, povo do deserto do Kahahari;

• “Histórias africanas para contar e recontar”, também de Rogério Andrade Barbosa e ilustrações de Graça Lima, publicado pela Editora do Brasil, em 2001.

• Coleção Árvore Falante, publicado pela Editora Paulinas:

◦ “Contos africanos para crianças”, de Rogério Andrade Barbosa, ilustrações de Maurício Veneza, 2004;

◦ “Outros contos africanos para crianças brasileiras”, de Rogério Andrade Barbosa, ilustrações de Maurício Veneza, 2006;

◦ “Ulomma: a casa da beleza e outros contos”, do autor nigeriano Sunday Ikechukwu Nkeechi, ilustrado por Denise Nascimento (2006);

◦ “Sua magestade, o elefante”, de Luciana Savaget, ilustrações de Rosinha campos;

◦ “Histórias trazidas por um cavalo marinho”, Edimilson de Almeida Pereira (2005)

• “Gosto de África: histórias de lá e daqui”, de Joel Rufino dos Santos, ilustrado por Cláudia Scatamacchi e publicado pela Global, em 1998 (com a 4ª edição em 2005): traz “mitos, lendas e tradições negras”, alternando o cenário africano e brasileiro.

• “Era uma vez na África”, de Jean Angelles e Gleydson Caetano (ilustrador), publicado pela LGE, em 2006, traz “adaptação de fábulas e histórias do folclore africano”.

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• “O Baú das histórias: um conto africano recontado e ilustrado por Gail E. Haley”, da Global (2004);

• “Bruna e a galinha D´Angola”, de Gercilga de Almeida, com ilustrações de Valéria Saraiva, publicada pela EDC e Pallas, em 2000, que se destaca pelas belíssimas ilustrações;

• “Sikulume e outros contos africanos”, uma adaptação de Júlio Emílio Braz, ilustrado por Luciana Justiniani, publicado pela Pallas, em 2005;

• “Que mundo maravilhoso”, de Julius Lester & Joe Cepeda, traduzida por Gilda de Aquino e publicado pela Brinque-Book, em 2000;

• “Os comedores de palavras”, de Edimilson de Almeida Pereira e Rosa Margarida de C. Rocha, publicado pela Mazza, em 2004;

• Coleção Mama África, publicada pela Editora Língua Geral:

◦ “Debaixo do arco-íris não passa ninguém” - reune poemas escritos a partir de canções, provérbios e adivinhas da tradição oral dos povos nganguela, tchokwé e bosquímano (de Angola), escrito por Zetho Cunha Gonçalves e ilustrado por Roberto Chichorro, 2006;

◦ “O filho do vento”, de José Eduardo Água Lusa e Antônio Olé (ilustrador), 2006.

◦ “O homem que não podia olhar para trás”, de Nelson Saúte e Roberto Chichorro (ilustrador), 2006;

◦ “O beijo da palavrinha”, de Mia Couto e Malangatana (ilustradora), 2006;

Obras que abordam aspectos diversos da religiosidade de matriz africana:

• “Iansã: a deusa da guerra”, de Fábio Lima e Thiago Hoisel (ilustrador), publicado pela EDUNEB, 2006;

• Trilogia “Mitologia dos Orixás para Crianças e Jovens”, publicada pela Companhia das Letrinhas, com textos de Reginaldo Pranti e ilustrações de Pedro Rafael. Reginaldo Pranti é professor de sociologia da USP e escritor premiado pelo Ministério da Cultura, CNPQ e SBPC, por sua contribuição à preservação da cultura afro-brasileira.

◦ “Ifá, o adivinho: histórias de deuses africanos que vieram para o Brasil com os escravos” (2002):

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primeiro livro da trilogia, recebeu o prêmio de Melhor Livro Reconto, pela Fundação Nacional do Livro Infantil, e Juvenil – FNLIJ, em 2003;

◦ “Xangô, o trovão: outras histórias dos deuses africanos que vieram para o Brasil com os escravos” - (2003);

◦ “Oxumaré, o arco íris: mais histórias dos deuses africanos que vieram para o Brasil com os escravos” - (2004).

Obras que apresentam histórias diversas, envolvendo cenário e personagens africanos, no passado e no presente:

• “Doce princesa negra”, de Solange Cianni e Felipe Massa Fera (ilustrador), publicado pela LGE, em 2006 (Série “Orgulho da raça”);

• “Os sete novelos de Kwanzaa”, de Ângela Shelf Medearis e Daniel Minter (ilustrador), publicado pela Cosac Naify, em 2005;

• “As tranças de Bintou”, de Sylviane Diouf e Shane W. Evans (ilustrador), publicado pela Cosac Naify, em 2004;

• “A África, meu pequeno Chaka”, de Marie Sellier e Marion Lesage, traduzido por Rosa Freire D´Águiar, publicado por Cia. Das Letrinhas, em 2006;

• “Meu avô, um escriba”, de Oscar Guelli, ilustrado por Rodval Matias, publicado pela Ática, em 2006, que traz a história de uma menino egípcio, educado por seu avô para ser um escriba;

• “Amkoullel, o menino Fula”, de Amadou Hampatê Ba, tradução de Xina Smith Vasconcelos, publicado pela Casa das Áfricas e Pallas Athena, em 2003, que conta a história de um menino que vive na região das savanas, ao sul do Saara, e se transforma em mestre da história oral e especialista no estudo das sociedades negras africanas das Savanas;

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