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EDUCAÇÃO EM DEBATE Eduardo David de Oliveira 1 ARTIGOS Africanidades na educação [ BCH-UFC i Resumo o presente artigo reflete sobre a Filosofia da Educação no Brasil a partir da cosmovisão elaborada na dinâmica civilizatória africana e reinterpretada pela experiência dos afro-brasileiros, considerando, sobretudo, os princípios da diversidade, integração e ancestralidade, bem como as noções de tempo, universo, pessoa, palavra e socialização. Palavras-chave: filosofia da educação, cosmovisão africana, afro-brasileiros. Abstract Africanidad in Education This article deals with Educational Philosophy in Brazil starting from the cosmovision elaborated from a a dynamic civilized Africa and reinterpreted by the experience of afro-brazilians, considering especially the prin- ciples of diversity, integration and ancestry, as well as notions of time, universe, person, word, and civilization. Key-words: Educational philosophy, African cosmovision, Afro-Brazilians. 1 Doutorando em Educação Brasileira do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará. EDUCAÇÃO EM DEBATE. Ano 25. V 2 - N'. 46 - 2003 11

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EDUCAÇÃOEM DEBATE

Eduardo David de Oliveira 1ARTIGOS

Africanidades na educação

[ BCH-UFC iResumo

o presente artigo reflete sobre a Filosofia da Educação no Brasil a partir da cosmovisão elaborada nadinâmica civilizatória africana e reinterpretada pela experiência dos afro-brasileiros, considerando, sobretudo, osprincípios da diversidade, integração e ancestralidade, bem como as noções de tempo, universo, pessoa, palavra esocialização.

Palavras-chave: filosofia da educação, cosmovisão africana, afro-brasileiros.

Abstract

Africanidad in Education

This article deals with Educational Philosophy in Brazil starting from the cosmovision elaborated from aa dynamic civilized Africa and reinterpreted by the experience of afro-brazilians, considering especially the prin-ciples of diversity, integration and ancestry, as well as notions of time, universe, person, word, and civilization.

Key-words: Educational philosophy, African cosmovision, Afro-Brazilians.

1 Doutorando em Educação Brasileira do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará.

EDUCAÇÃO EM DEBATE. Ano 25. V 2 - N'. 46 - 2003 11

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A história da Educação Brasileira tem ne-. gado sistematicamente a influência da cultura dematriz africana na prática e no discurso sobreensino-aprendizagem nas instituições de ensinoe negligenciado a cosmovisão africana nas rela-ções de educação que ultrapassam as fronteirasda Escola. No entanto, a experiência dos africa-nos e sua atualização pelos afrodescendentes noBrasil fornecem outra base para a produção doconhecimento e sua transmissão. Com efeito, acosmovisão africana é resultado de uma dinâmicacivilizatória que elaborou historicamente os prin-cípios da diversidade, integração e ances-tralidade. Fruto da forma cultural negro-afri-cana tais princípios eãtãbelécern a lógica própriadas africanidades no âmbito dos processos deprodução e transmissão de conhecimentos, re-criando as noções fundamentais de palavra, tem-po, universo, pessoa e socialização.

Uma filosofia da educação brasileira queparta da matriz cultural africana justifica-se pelanecessidade premente de re-ler o Brasil desde asafricanidades. Buscamos na filosofia africana amatriz da africanidade brasileira. A filosofia é umproduto sistematizado de uma época. Ela não éapenas um produto a posteriori, mas um elementoativo na construção das representações sociais esuas fundamentações. A filosofia é um produtocoletivo. Por isso, o intento de minha pesquisa nodoutorado é acompanhar a produção dos afro-bra-sileiros em sua trajetória civilizacional no Brasil afim de diagnosticar em sua prática e produção te-órica, os elementos constitutivos de uma filosofiasingular a estes agentes sociais. A filosofia é pro-duto da história do povo que a produz.

De acordo com Deleuze/Guattari (1992a, 1992b), o que caracteriza o fazer filosófico éexatamente a criação de conceitos. Os concei-tos são produtos filosóficos, com personagens,cenários, planos de imanência, enfim, com suaspeculiaridades no terreno da filosofia. Fabricam-se conceitos para interpretar o mundo.' Não éo caso, então, nem de recair em abstrações meta-físicas, nem de reduzir o mundo à linguagem.Trata-se, isto sim, de produzir conceitos, criarmapas e diagramas para melhor significar a rea-lidade, sem a pretensão de esgotá-Ia em sua tota-

lidade e, por outro lado, sem reduzi-Ia a jogosde palavras .

As africanidades nutrem-se, entre outrascoisas, dos personagens conceituais e princípioséticos que foram produzidos na dinâmica civili-zatória africana ressignificada e reconstruída pe-los afro-brasileiros. A África torna-se, portanto,a fonte de onde emergem tais conceitos. Para secompreender tal dinâmica é preciso, antes, en-veredar pelas formas culturais negro-africanasa fim de detectar qual o contexto cultural quefavoreceu o aparecimento de sua cosmovisão e,então, pesquisar como ela chegou aos afrodes-cendentes brasileiros, conformr análises feitasem pesquisas anteriores (OLIVEIRA, 1999;2001; 2003). Somente mergulhado no seio dacosmovisão africana pode-se vislumbrar os con-ceitos e categorias que tecem o cabedal da filo-sofia africana.

Na visão de mundo africana tudo está emtudo, isto é, tudo se complementa. As coisas sãoclassificadaspor funções. Elas sempre estão inter-ligadas em um todo. O sistema é, todo ele,operacional. A integração possibilita a conjuga-ção das diferenças. A integração, na visão africa-na, supõe um todo orgânico que contempla asdiferenças. Não há diferenças que favoreçam adesagregação do conjunto, do todo orgânico. Oque há são possibilidades diferenciadas de arran-jos sociais, culturais, etc., sempre flexíveis, sem-pre passíveis de novos arranjos ... O que há sãovárias facetasque compõem uma mesma rostidade(chamaria também de identidade), um mesmoorganismo. Valeo princípio da inclusão! Não há asuperposição ou hierarquização de uma funçãosobre outra, de um elemento sobre o outro. Tudoé importante, à medida em que tudo está interli-gado com o todo. O conjunto é importante e nãoo particular. O organismo é importante, e não sóuma parte dele. Melhor dizendo, a parte é impor-tante justamente porque ela integra o todo.

A integração supõe uma abertura, umaflexibilidade, uma vez que seu modo operacionalé dinâmico e não estático. O sistema integrado,por exemplo, das religiões de matrizes africanasestá sempre se remodelando, o que evidencia seucaráter flexível e diversificado.

2 De Nietzsche a Foucault, de Gadamer a Paul Ricoeur, a interpretação passou a ser o paradigma da filosofia ora chamada de pós-estruturalista, ora de hermenêutica. Essa perspectiva interpretacionista é a que adotamos em nossa pesquisa.

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A diversidade é, com efeito, o que permi-te que a cosmovisão africana tenha as caracterís-ticas de ser pluriforme, polifônica e aberta. A di-versidade é o grande princípio que reúne apluralidade das representações.' É a diversidadeque permite uma ética da diferença, um sistemaintegrado. Ela instaura uma organização diferen-ciada que contempla uma constante mutação.Essa mutação, porém, não é desterritorializada.Está baseada em princípios bem estruturados,como o da ancestralidade.

Em um sistema integrado não é a hornoge-neidade que dá a tônica da organização social,mas a heterogeneidade. Percebe-se, assim, que odistinto é contemplado; o diferente é desejado enão apenas aceito. A diversidade é a mãe da fle-xibilidade. É neste sentido que podemos dizerque a diversidade possui uma grande capacidadede adaptação e de re-significação, característicasque marcam a saga dos afrodescendentes.

De nada adiantaria falar em integração, emdiversidade se não falássemos em ances-tralidade. A ancestralidade é o que estrutura avisão de mundo presente na história dos africa-nos e seus descendentes, sobretudo no que dizrespeito às religiões. Sem o princípio de senio-ridade a organização social das comunidades deterreiro estariam esfaceladas. Sem a ances-tralidade não haveria tradição. Sem a tradição nãohaveria identidade.

A preocupação com a identidade e a legiti-midade é uma das características mais notóriasna dinâmica civilizatória africana, não apenas parademarcar a cultura negra, mas sobretudo paramanter a originalidade da tradição. É aqui que a-autenticidade exige a tradição.

Essa autenticidade, no entanto, não signi-fica a reificação da essência. Esta originalidadenão significa unidade fechada de interpretação.Esta identidade não é uma totalidade arbitrária.A tradição africana atualizada pelos afrodes-cendentes é autêntica à medida em que é fiel àsua forma cultural, original à medida em queadvém da experiência (ética) coletiva dos africa-

nos. A tradição cria identidades pois ela é o ma-nancial dos valores civilizatórios e dos princí-pios éticos (filosóficos) que singularizam a his-tória dos afrodescendentes. A legitimidade da tra-dição africana dá-se exatamente por ela não seruma memória fossilizada no passado, mas umaexperiência atualizada no calor das lutas dosafrodescendentes.

A tradição africana tem sua própria lógica.Tem sua forma cultural que lhe dá desenho e con-torno. Com efeito, a tradição não existe sem aancestralidade. Note-se o caráter integrativo destacadeia de raciocínio. A ancestralidade, por suavez, não é a afirmação do eu, egóico, narcisista;na ancestralidade o que conta é a história de umpovo, o arsenal simbólico adquirido por este du-rante o percurso do tempo. Quem conta a histó-ria do eu é sua tradição. A história do eu estávinculada à história de seus ancestrais. O eu fazparte de um todo e é importante justamente àmedida em que compõe esse todo, e não o con-trário. É por isso que podemos dizer que semancestralidade não há identidade. A identidade éencontrada na tradição e não no olhar narcisista.

A construção da tradição é coletiva. Nãoimporta se esta construção é cultural, isto é, sesofre modificações ao longo da história. O queimporta é que ela é capaz de identificar os ele-mentos que congregam e caracterizam uma certavisão de mundo. A cosmovisão africana é resul-tado da construção da ancestralidade pelo povoque se constitui na sua dinâmica civilizatória.

Historicamente vivenciada na trajetóriacivilizatória dos afrodescendentes a cosmovisãoafricana é portadora e reveladora de uma éticaque pode ser, destarte, universalizada enquantocontraponto ao sistema de exclusão capitalista.Geradora de princípios como o da diversidade eda inclusão, imbuída de concepções singularessobre o tempo, o universo, a palavra e a sociali-zação, a cosmovisão africana encontra no princí-pio da ancestralidade sua concatenação interna ea força de sua expressão externa, manifesta natradição dos afrodescendentes.

3 Neste sentido é interessante perceber como no candomblé há espaço para todos: homens, mulheres - e as mulheres ocupampapéis de protagonistas em sua estrutura religiosa -, homossexuais, brancos, negros, enfim, todas as raças, ricos, pobres, etc. Noterreiro de candomblé há espaço para todo mundo, não importando sua posição social, racial, econômica, política, etc. É evidente,porém, que toda essa diversidade encontra lugar no candomblé porque sua estrutura orgânica contempla todos esses aspectos,mas não se reduz a eles, pois o candomblé tem sua própria maneirade organização. O candomblé inclui a diferença e promove adiversidade dentro da lógica do lugar próprio, por isso mantém sua identidade e seus traços diacríticos. A aceitação da diferença nãotransforma o candomblé num espaço anárquico, mas em um espaço de inclusão.

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o universo é um conjunto de interaçõesde seres (minerais, animais, vegetais) interli-gados, como se formasse uma imensa teia de ara-nha entre fenômenos visíveis e invisíveis. A pa-lavra flui como portadora de uma "força" divina,e por isso mesmo capaz tanto de destruir comode construir, tornando-se, ademais, um meio detransmissão de conhecimento sagrado ou pro-fano. O tempo, para os africanos, é o tempo dosantepassados. Tempo voltado para o passado,"idade de ouro" dos africanos. Tempo sagradoenvolvendo o tempo presente; tempo dos mor-tos vivificando o tempo dos Homens. Tempozamani' dando sentido ao tempo sasa". O tempoafricano é o tempo dos ancestrais, seja no pas-sado, seja no presente. A pessoa é a síntese doselementos que compõem o universo. Resultadodos elementos naturais e sagrados, o "homem"não está dissociado da sociedade. A dicotomiaocidental indivíduo/sociedade é rechaçada pelaconcepção integralista da pessoa africana. Comoo universo, a pessoa é o resultado da integraçãode todos os seres que vivem indissociavelmenteligados. A pessoa é forjada nos processos desocialização, que tecem a identidade dos indiví-duos ao mesmo tempo em que constróem o teci-do social. A socialização é sempre responsabili-dade da comunidade, o que fornece o controlesocial da produção da subjetividade dos indiví-duos africanos.

A ancestralidade é a fonte de onde emer-gem os elementos fundamentais da tradição afri-cana. Ela mesma é um princípio capaz de organi-zar a vida e as instituições dos africanos e seusdescendentes. É a categoria principal da "dinâ-mica civilizatória africana", pois para além dasrelações de parentesco consangüíneo, a ancestra-lidade tornou-se o princípio organizador das prá-ticas sociais e rituais dos afrodescendentes noBrasil. É a partir dela que se entende a lógica ca-paz de organizar os elementos estruturantes dessacultura, pois tanto o universo, a palavra, o tem-po, a pessoa e os processos de socialização sãoestruturados a partir da ancestralidade.

A filosofia africana está baseada no princí-pio da ancestralidade, da diversidade e da inte-gração. A ancestralidade responde pela lógica quearticula o conjunto de categorias e conceitos querevelam a ética imanente dos africanos. A diver-

sidade, enquanto princípio, respeita a diversida-de étnica, cultural e política dessas comunidades,valorizando as singularidades que emergem decada território africano. A inclusão permite quea diversidade não se torne um cordão de isola-mento, um motivo para o niilismo, mas submeteas singularidades territorializadas a um critérioético maior: o do bem-estar das comunidades.Não existe bem-estar sem inclusão. A tradição,por sua vez, é a malha que sustenta todos essesprincípios historicamente produzidos. Trata-seaqui de uma tradição dinâmica, capaz de se mol-dar aos novos tempos e responder aos desafioscontemporâneos.

Esta tradição está fundamentada numaexperiência educacional singular. Os princípiosque regem a cosmovisão africana e a dinâmicacivilizatória dos afrodescendentes podem ser li-dos do ponto de vista de uma grande experiênciapedagógica. O que fazem os africanos e seus des-cendentes no curso de sua trajetória civilizacionalé uma pedagógica, no sentido que a forma cultu-ral que é transmitida às gerações é uma ética quenão se transmitiria sem uma pedagogia conse-qüente. Esta pedagógica, com efeito, é mais ummodus vivendi, um habitus, do que uma tradiçãocristalizada em sistematizações de conhecimentoa serem transmitidos de uma geração a outra.

É a filosofia africana - ancorada na cosmo-visão de matriz africana - uma filosofia da expe-riência. A experiência civilizatória africana queperpassou a trajetória dos afrodescendentes noBrasil constituiu-se em um processo educativovisto que não apenas manteve, apesar das re-ela-borações, seus princípios civilizatórios, comotambém dialogou com culturas diversas (e adver-sáriasl), inaugurando a partir de sua própria ma-triz cultural de referência, encontros inusitadosna história do país, muitos deles plenos de cria-tividade e expansão das fronteiras da identidaderecalcada. É na imprevisibilidade desses contatosque nasceram as principais noções que susten-tam a cosmovisão africana.

Assim, a noção de universo dá a tônicade integração que interliga as várias funções quemantêm funcionando o mundo cultural afrodes-cendente. Nesta noção não está implícita asegmentaridade ou a especialização dos saberes.A hierarquia não é entre os saberes, mas entre

4 Zamani é o tempo dos mitos. Tempo dos Ancestrais. Tempo inesgotável.5 Sasa é o tempo dos viventes. Tempo da experiência. Tempo limitado.

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aqueles que são responsáveis por manter e trans-mitir os saberes (os antepassados). Já a noção depessoa traz à tona não um indivíduo fragmen-tado, mas um sujeito integrado que interage como universo (coletivo), ao mesmo tempo tecendoas teias do social e por elas sendo tecido. Não setrata de dialética, mas de integração. O tempo,ao mesmo tempo que privilegia o tempo dos an-cestrais, abre uma virtuosa gama de possibilida-des de atualização no presente. Fruto da açãocoletiva da comunidade e do esforço individua-lizado dos sujeitos, o tempo é tecido na tramados conflitos e contatos que o grupo estabelece,sendo, por isso, o tempo todo ritualizado na ten-tativa civilizatória de harmonizar os conflitos (ouacirrá-Iosl) visando o bem-estar social. Já os pro-cessos de socialização são responsáveis pela for-mação do indivíduo, enquanto sujeito e, concomi-tantemente, da comunidade - enquanto suporteda vida e por conseguinte do sujeito. Aqui residefortemente a pedagógica de matriz africana. Ora,a educação não é uma ciência idealizada que bus-ca corrigir o homem civilizado (Rousseau) ou ocultivo do espírito - como queriam os românti-cos; a educação é o meio pelo qual se constrói ese transmite a forma cultural de um povo. Nessesentido, a palavra é fundamental, pois ela é oinstrumento - dado pelo Preexistente - capaz deaumentar o axé de um grupo ou comunidade. Apalavra não pode ser utilizada de maneira abusiva,mas responsável, com o compromisso de aumen-

tar a força vital do grupo, integrá-I o, promover adiversidade, manter uma unidade cultural que pri-vilegie a multiplicidade das expressões, que faci-lite a convivência social (processos de sociali-zação), que transmita 'os valores e princípios an-cestrais às novas gerações e que, sobretudo, con-sagre a tradição da ancestral idade, interligandoantigüidade com contemporaneidade, beleza comética, compromisso com flexibilidade, experiên-cia com inovação, coragem com ternura, criati-vidade com educação.

Bibliografia

DELEUZE, Giles; GUATIARI, Félix. Mil Platôs -capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Ed. 34,1992a.

__ o O que é Filosofia. Rio de Janeiro: Ed. 34,1992b.OLIVEIRA, Eduardo D. Cosmovisão deMatriz Afri-cana: aspectos civilizatórios da África no Brasil.Monografia defendida para obtenção do grau deespecialista nas Faculdades Integradas "Espírita".Curitiba - PR, 1999.

. A Ancestralidade na Encruzilhada: dinâmicade uma tradição inventada. Dissertação deMestrado. Curitiba: UFPR, 2001.__ o Cosmovisão Africana no Brasil: elementospara uma filosofia afrodescendente. Fortaleza:LCR,2003.

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