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8/13/2019 Agência ritual africana e a africanização do catolicismo no reino do Congo pós-restauração. 1769-1795 - Thiago Cl… http://slidepdf.com/reader/full/agencia-ritual-africana-e-a-africanizacao-do-catolicismo-no-reino-do-congo 1/19   Agência ritual africana e a africanização do catolicismo no reino do Congo pós-restauração: 1769-1795 emporalidades ! "e#ista $iscente do %rograma de %ós-&raduação em 'istória da ()*&  +ol, 5 n, 1 .an/A0r - 213 4: 198-6152 ,fafic,ufmg,0r/temporalidades %;gina < 167  Agência ritual africana e a africanização do catolicismo no reino do Congo pós-restauração, 1769- 1795 iago Clemêncio apede Mestre em História Social pela USP [email protected] "=(*>: Este artigo pretende explorar a atuação de especialistas em rituais católicos de origem conguesa nas prticas do catolicismo !a"ricani#ado$ no reino do %ongo no per&odo pós' restauração (especi"icamente a segunda metade do s)culo *+,,,- assim como os usos pelas elites pol&ticas do %ongo (a chamada muana Congo  - do sacramento do casamento como "erramenta de manutenção de sua legitimidade. /tra0)s destes recortes pretendemos demonstrar 1ue ha0ia a prima#ia da ger2ncia dos interesses congueses sobre as prticas católicas europeias no per&odo e compreender 1uais eram as especi"icidades desta relação 1ue acreditamos ser uma 0ia pri0ilegiada de acesso 3 especi"icidade dos processos históricos do %ongo no per&odo.  %A?A+"A-C'A+=:  4eino do %ongo %atolicismo S)culo *+,,,.  A@"AC:  5his article see6s to explore the historical agency o" the %ongolese ritual specialists in the !/"ricani#ed$ catholic practices on the post'restoration (78 th  century- 9ingdom o" 9ongo.  :e intend also to explore the uses o" the %hristian marriage as a tool "or the elites (Muana 9ongo- to maintain their political legitimacy and po;er. <rom this point o" 0ie; ;e intend to argue "or the primary 9ongolese ritual agency ;hen compared to the European missionaries=  0ie; and control o" the %hristianity in 9ongo. :e belie0e that this particular relation ;ith the %hristian elements is a pri0ileged ob>ect "or understanding the speci"icity o" 9ongo=s historical process at the period. =B>"$:  9ingdom o" 9ongo %atholicism 78 th  %entury. ? reino do %ongo "oi uma das sociedades a"ricanas mais estudadas pela historiogra"ia ocidental. ?s moti0os pelos 1uais esta sociedade "oi posta em tamanha e0id2ncia são bastante compreens&0eis. Primeiramente ocorreu no %ongo intenso contato por mais de tr2s s)culos com europeus primordialmente missionrios 1ue nos legaram "ontes escritas raras para o estudo de outras sociedades a"ricanas do per&odo. ?utro "ator "oi sua estrutura pol&tica 1ue para o olhar europeu possu&a semelhanças signi"icati0as com o modelo dos reinos e cortes caracter&sticas do antigo regime europeu. E por ltimo não des0inculada das anteriores temos o "ator religioso. Aesde d)cadas "inais do s)culo *+ as elites pol&ticas conguesas demonstraram interesse em incorporar ritos e s&mbolos católicos apresentados pelos então parceiros portugueses. Braças 3 centrali#ação pol&tica no per&odo dos primeiros contatos com o catolicismo e em per&odos

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 Agência ritual africana e a africanização docatolicismo no reino do Congo pós-restauração, 1769-

1795iago Clemêncio apede

Mestre em História Social pela [email protected] 

"=(*>: Este artigo pretende explorar a atuação de especialistas em rituais católicos deorigem conguesa nas prticas do catolicismo !a"ricani#ado$ no reino do %ongo no per&odo pós'restauração (especi"icamente a segunda metade do s)culo *+,,,- assim como os usos pelas elitespol&ticas do %ongo (a chamada muana Congo - do sacramento do casamento como "erramenta demanutenção de sua legitimidade. /tra0)s destes recortes pretendemos demonstrar 1ue ha0ia aprima#ia da ger2ncia dos interesses congueses sobre as prticas católicas europeias no per&odo ecompreender 1uais eram as especi"icidades desta relação 1ue acreditamos ser uma 0iapri0ilegiada de acesso 3 especi"icidade dos processos históricos do %ongo no per&odo. 

%A?A+"A-C'A+=: 4eino do %ongo %atolicismo S)culo *+,,,.

 A@"AC: 5his article see6s to explore the historical agency o" the %ongolese ritual specialistsin the !/"ricani#ed$ catholic practices on the post'restoration (78th century- 9ingdom o" 9ongo.

 :e intend also to explore the uses o" the %hristian marriage as a tool "or the elites (Muana9ongo- to maintain their political legitimacy and po;er. <rom this point o" 0ie; ;e intend to

argue "or the primary 9ongolese ritual agency ;hen compared to the European missionaries= 0ie; and control o" the %hristianity in 9ongo. :e belie0e that this particular relation ;ith the%hristian elements is a pri0ileged ob>ect "or understanding the speci"icity o" 9ongo=s historicalprocess at the period.

=B>"$: 9ingdom o" 9ongo %atholicism 78th %entury.

? reino do %ongo "oi uma das sociedades a"ricanas mais estudadas pela historiogra"ia

ocidental. ?s moti0os pelos 1uais esta sociedade "oi posta em tamanha e0id2ncia são bastante

compreens&0eis. Primeiramente ocorreu no %ongo intenso contato por mais de tr2s s)culos com

europeus primordialmente missionrios 1ue nos legaram "ontes escritas raras para o estudo de

outras sociedades a"ricanas do per&odo. ?utro "ator "oi sua estrutura pol&tica 1ue para o olhar

europeu possu&a semelhanças signi"icati0as com o modelo dos reinos e cortes caracter&sticas do

antigo regime europeu. E por ltimo não des0inculada das anteriores temos o "ator religioso.

Aesde d)cadas "inais do s)culo *+ as elites pol&ticas conguesas demonstraram interesse em

incorporar ritos e s&mbolos católicos apresentados pelos então parceiros portugueses. Braças 3

centrali#ação pol&tica no per&odo dos primeiros contatos com o catolicismo e em per&odos

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subse1uentes os soberanos do %ongo puderam incenti0ar (ou mesmo impor- a di"usão de signos

e preceitos católicos 1ue se tornaram "erramentas de promoção de seu poder transmiss&0el para

sua descend2ncia.7 

? recorte temporal de nossa in0estigação 1ue começa na primeira d)cada do s)culo

*+,,, ) particular em relação aos per&odos anteriores da história do %ongo. / crise pol&tica

interna 1ue se estendeu pelas 1uatro ltimas d)cadas do s)culo *+,, desorgani#ou o modelo

pol&tico 0igente. /s elites pro0inciais antes submetidas ao Mani %ongo se autonomi#aram

pol&tica e economicamenteC.

? incenti0o 3 adoção das ins&gnias e sacramentos em per&odos anteriores 3 crise

ocorreu sobretudo (mas não exclusi0amente- pelos reis do %ongo. Aesde A. /"onso , (nas

primeiras d)cadas do s)culo *+,- os elementos de origem católica esti0eram intrinsecamente

 0inculados ao poder central e tal0e# ao poder pol&tico de "orma mais ampla. Aa mesma maneira

o acesso 3s !no0idades$ 0indas de Portugal (bens materiais de luxo escrita e os elementos do

catolicismoD ins&gnias ritual&stica católica e os próprios missionrios- tra#ia grandes pri0il)gios

econmicos sobretudo ao longo do crescimento do trato escra0ista com mercadores

portuguesesD s)culos *+, e *+,,. / presença de missionrios católicos no %ongo "ora muito

incenti0ada pelos Mani %ongo desde A. /"onso ,F.

 /pós a crise pol&tica iniciada em meados do s)culo *+,, a presença de padres

europeus no território "oi minguando gradualmente tornando'se muito escassa a partir do s)culo

*+,,,. /s ri0alidades pol&ticas internas guerras e a decad2ncia do rei adicionadas 3s crescentes

hostilidades entre %ongo e Portugal (sediados em Guanda- di"icultou o acesso das elites

conguesas a padres europeus pois mesmo os capuchinhos italianos ainda dependiam da

estrutura de Guanda para sua chegada e ambientação 3 região centro'a"ricana.

7 /nne Hilton e principalmente Iohn 5hornton "alaram desta identi"icação. H,G5?J /nne. The kingdom of Kongo. ?x"ord ?x"rord ?x"ord Uni0ersity Press 7K8L p.L'NK.O 5H?4J5?J Iohn 9. The Kingdom of Kongo. Civil war andtransition. 1641-1718.$ :insconsin press. 7K8F. Em alguns relatórios missionrios do s)culo *+,,, a identi"icação daselites portuguesas com as conguesas ) e0idente. Por exemplo em 4a"ael %astelo de 0ide 1ue chama atenção para“urbanidade de ortugu!s $ de alguns !nobres$ congueses$ . Em outra ocasião o missionrio a"irma 1ue o rei do %ongo Ios) , “ou"o ou nada difere dos grandes reis da #uroa$ . +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide ho>ebispo de São 5om) (7K8-. %"ademia das Ci!n"ias de &isboa  MS +ermelho CKN "l. N e 8K. C S/PEAE 5hiago %. 'uana Congo( 'uana )*ambi %mungu+ ,oder e Catoli"ismo no reino do Congo s-restaura/o 0176- 1762. Aissertação (Mestrado em História Social-. <<G%H USP. C7C.F 5H?4J5?J Iohn 9. 5he de0elopment o" an /"rican %atholic %hurch in the 9ingdom o" 9ongo 7K7'7L.The   3ournal of %fri"an istor5. %ambridge %ambridge Uni0ersity Press 7K8L p.7L8'7K8.   Q4?/AHE/A Su#an H. Qeyond AeclineD 5he 9ingdom o" the 9ongo in the Eighteenth and Jineteenth

%enturies. The nternational ournal of %fri"an istori"al tudies . +ol. 7C. Qoston Uni0ersity /"rican Studies %enter. p.N7L' NL. 

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 /pós a crise e "ragmentação dos poderes pol&tico e econmico este catolicismo parece

ter ganhado no0os sentidos e "unçRes no %ongo. Sobretudo após a restauração no ano de 7K

perpetrada pelo Mani %ongo Jessamu a Mbando (A. Pedro ,+-. Este soberano originrio da

tradicional !pro0&ncia$ de uibango após anos de negociaçRes com grupos ri0ais logrou em

recon1uistar a antiga capital  'ban*a Congo (então abandonada- e implantou um sistema rotati0o

entre os principais grupos pol&ticos ri0ais o 1ue permitiu 1ue hou0esse estabilidade pol&tica

durante um longo per&odoL.

? poder 1ue os reis do %ongo exerciam sobre as elites das pro0&ncias não "oi

restaurado em sentido pleno uma 0e# 1ue o Mani %ongo não possu&a recursos militares e

"inanceiros para submet2'las ao antigo sistema. Estabeleceu'se a partir de então um no0o tipo de

go0ernança 1ue se utili#a0a da imagem do tradicional %ongo centrali#ado como re"erencial 1ue

por)m na prtica aceita0a signi"icati0a autonomia local. Ai"erentes s&mbolos 1ue remetiam ao

!glorioso$ reino de outrora tornaram'se mecanismos para a manutenção da identidade conguesa

e desta no0a con"iguração pol&tica.  Su#an Qroadhead a nica estudiosa 1ue (antes de nós- se

dedicou 3s especi"icidades deste per&odo chamou atenção para o carter "ragmentrio deste

sistema pol&tico mesmo 1ue tenha criticado a ideia de !decl&nio$ 0igente na historiogra"ia de

então. Por ter priori#ado demasiadamente o "ator econmico e utili#ado "ontes comerciais (sob

in"lu2ncia teórica marxista- acabou por subestimar (sem ignorar- "atores identitrios e culturaiscomo prismas para o processo de trans"ormaçRes pol&ticas após a restauraçãoN.

Quscando apro"undar a compreensão da relação entre poderes centrais e locais neste

no0o paradigma pol&tico e tendo tido acesso a no0as "ontes de"endemos em trabalhos

anteriores 1ue o catolicismo "oi precisamente importante neste contexto pós'restauração de0ido

3 necessidade 1ue tinham as elites dirigentes de re"erenciarem'se aos s&mbolos da pol&tica de

outrora. Em outras pala0ras o catolicismo desempenha0a a "unção de rememorar os tempos de

poder centrali#ado "a#endo re"er2ncia sobretudo a M0emba a J#inga (A. /"onso ,-. Esta"erramenta "oi importante na transmissão aos 1ue clama0am descender deste soberano

(detentores exclusi0os do t&tulo !muana  %ongo$- uma legitimidade pol&tica capa# de perpassar as

barreiras impostas pela autonomia econmica local. /s mincias deste importante argumento

não poderão ser apro"undadas a1ui por)m ser ponto de partida para a nossa proposição neste

L 5H?4J5?J Iohn 9. Kingdom of Kongo. Utili#ei principalmente o cap&tulo oita0o p. 77'7FN Q4?/AHE/A Susan H. Trade and ,oliti"s on the Congo "oast  p. C' C7  S/PEAE 5hiago %. 'uana Congo( 'uana )*ambi %mungu( . 86-19:. 

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artigo de compreender o papel dos agentes rituais locais "rente ao trabalho dos missionrios

europeus no contexto diante deste signi"icado pol&tico do catolicismo no per&odo.

 / e0idente incompatibilidade entre interesses e moti0açRes de agentes locais e europeus

no trabalho sacramental gerou constantes con"litos e negociaçRes. ?bser0aremos "ragmentos

destas complexas relaçRes recortando dois subtemas relacionados. Primeiramente discorreremos

sobre as prticas do sacramento do matrimnioO sua importTncia para a muana Congo "rente aos

seus signi"icados supostamente !originais$ na ortodoxia cristã. Em seguida problemati#aremos a

atuação de tr2s categorias de operadores rituais conguesesD nlekes  mestres de igre>a e int)rpretes.

Utili#aremos de "ontes de autoria de missionrios 0i0eram no %ongo em per&odos distintos da

segunda metade do s)culo *+,,,.

Este trabalho não se en1uadra em uma história da missão católica europeia no %ongo

tampouco do catolicismo ou das estrat)gias de missionaçãoD recortes tamb)m rele0antes. /o

in0)s disso pretendemos le0antar pistas sobre os signi"icados deste catolicismo na perspecti0a

local sobretudo no tocante 3s relaçRes de poder 1ue en0ol0iam a ritual&stica sacramental. /

in0estigação histórica 1ue constitui este artigo ) um "ragmento de um pro>eto maior iniciado h

alguns anos por)m ainda parcial 1ue se dedica 3s relaçRes de poder de "orma mais ampla no

%ongo do s)culo *+,,,.

 / 1uestão da incorporação e adaptação dos ritos cristãos no contexto congu2s ) lugar'

comum na historiogra"ia desde a obra de /nne Hilton na d)cada de 7K8 e principalmente

diante dos inmeros trabalhos de Iohn 5hornton publicados desde então. /tualmente no0as e

instigantes perspecti0as nesta mesma direção "oram le0antadas por %ecile <romont8. Jenhum

destes autores por)m se debruçou minuciosamente sobre o per&odo pós'restauração 1ue tem

como caracter&stica uma especial ag2ncia da muana  %ongo sobre os ritos católicos e no 1ual o

catolicismo como de"endemos tornou'se essencialmente um argumento de legitimidade a um

no0o paradigma pol&tico. Portanto esta incursão pelas prticas sacramentais do per&odo não se"a# meramente como um exerc&cio descriti0o 1ue 0isa corroborar com teses gerais de autores >

consagrados sobre tempos anteriores mas "a#'se como tentati0a de o"erecer uma no0a

contribuição para des0elar a interpretação dos processos históricos particulares a um per&odo

ainda obscuro na historiogra"ia.

> sacramento do matrimDnio e as elites locais

8 <4?M?J5 %ecile /. ;nder the igne of the Cross in the Kingdom of Kongo+ haing mages and 'olding <aith in #arl5 'odern Central %fri"a . Phd thesis. Har0ard Uni0ersity. C8. 

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? estudo sobre o casamento cristão no %ongo do s)culo *+,,, esbarra em muitos

desa"ios. ?s religiosos 1ue redigiram as "ontes dispon&0eis presos 3 0isão do casamento cristão

europeu não puderam (e tampouco se interessa0am em- compreender as especi"icidades deste

sacramento na perspecti0a local. / populari#ação deste sacramento era em geral interpretada

pelos missionrios (mais esperançosos- como uma 0itória da expansão da ") católica e do modo

de 0ida europeu "rente aos repudiados hbitos matrimoniais locais. Jo caso dos in"ormantes

mais pessimistas e ortodoxos o casamento recebido pelas elites do %ongo constitu&a'se como

uma deturpação de seu sentido !original$ de0ido 3 persist2ncia de hbitos poligamia. Aiante de

1ual1uer um dos testemunhos não ) tare"a "cil ao historiador depurar as noçRes particulares

sobre este sacramento para os congueses.

? casamento poligTmico constitu&a'se como elemento essencial para a organi#ação

social e parecia operar (ao menos ma>oritariamente no per&odo- pela descend2ncia matrilinear e

matrilocal. ? papel econmico da mulher conguesa era important&ssimo pois em geral eram elas

as respons0eis pelo plantio e pela colheita de alimentos. /os homens eram delegados trabalhos

mais pesadosD caça construção e limpe#a dos campos para o plantio. Por isso a ri1ue#a e

capacidade de produção de uma "am&lia tinham como importante crit)rio o nmero de mulheres

1ue in"lu&a na legitimidade social do grupo. %ada união constitu&a uma no0a aliança entre as

"am&lias dos noi0os por isso 1uanto mais esposas tinha um homem mais ampla era a sua rede de"am&lias aliadas maior portanto seria seu prest&gio e poderio de articulação pol&tica.K 

Jos casamentos congueses o dote era pago pelo homem 3 "am&lia da mulher com

 0alor 1ue 0aria0a de acordo com o prest&gio desta. uanto mais abastada a "am&lia do homem

maior era o nmero de alianças poss&0eis com grupos igualmente eminentes. Ja mesma medida

de0ido ao dote o grande nmero "ilhas >o0ens acarreta0a em substanciosa receita ao grupo 1ue

poderia ser rein0estida na "orma de no0os casamentos de membros masculinos tecendo uma

 0asta rede de alianças pela 1ual circula0am ri1ue#as7

.?bser0emos a pro"&cua descrição de "rei 4aimundo Aicomano nosso principal

in"ormante das prticas matrimonias nas ltimas d)cadas do s)culo *+,,,.

Por1ue um homem 1ue tem apenas uma mulher ) sempre pobre não tem 1uecomer e não ) estimado por1ue entre eles existe o costume de 1ue só as

K %?44E/ /rlindo. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 01782 . C8 p. . Publicado eletronicamenteemD httpD;;;.arlindo'correia.com77C8.html. Simultaneamente como o texto original em italianoD %orrea /rlindo. ,n"orma#ione sul regno del %ongo di <ra 4aimondo da Aicomano (7K8-. C8. Aispon&0el emD

httpD;;;.arlindo'correia.com7C7C8.html 7  VVVVVV. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 0...2( p. F'L. 

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mulheres trabalham e t2m de dar de comer aos homensO ora como pode umamulher trabalhar tanto 1ue d2 para comer o marido ela e os "ilhosW Mas se umhomem se casa com de# 0inte e trinta ou mais mulheres (eu conheci alguns1ue tinham at) oitenta- então este "ica rico e grande senhor por1ue estasmulheres di0idem o ano entre elas e cada uma d de comer ao marido notempo 1ue lhe cabe e o marido ) obrigado na1uele tempo a dormir com amulher 1ue lhe d de comer por isso todas procuram tratar bem o seu marido eeste 0i0e bem.77 

 / partir do relato in"erimos 1ue o sistema rotati0o entre as muitas esposas permitia 1ue

hou0esse maior autonomia destas em relação aos maridos pois cada uma se responsabili#a0a

exclusi0amente por sua casa e seus "ilhos 1ue em geral eram poucos. / obrigação em sustentar

os maridos (o 1ue escandali#ou o "rei- 0igora0a apenas durante o tempo de estadia do mesmo em

cada casa tornando este ncleo materno autnomo do pai 1ue por sua 0e# go#a0a de liberdade

de circulação entre di"erentes ncleos.

Jo sistema matrilinear e matrilocal a transmissão da linhagem e ancestralidade de um

homem se da0a atra0)s das mulheres de sua "am&lia (suas irmãs- e não de suas esposas. ?u se>a

os herdeiros de um homem eram seus sobrinhos "ilhos de sua(s- irmã(s-. / transmissão de

herança segundo Aicomano se da0a de pai para "ilho apenas na aus2ncia de sobrinhos nascidos

de irmãs7C. ,sso con"eria grande "luide# ao sistema de alianças entre "am&lias sendo poss&0el uma

pluralidade enorme de casamentos (ao menos dentre as elites-. ? casamento de um homem não

altera0a a distribuição de ri1ue#a de sua "am&lia ele signi"ica0a principalmente uma no0a aliança.

 /lianças poderiam ser estabelecidas em grande nmero (desde 1ue hou0esse recursos para o

dote- o 1ue gera0a ampliação da rede de in"lu2ncias do grupo. / dissolução no casamento (ou

substituição do marido em caso de 0iu0e#- tampouco a"eta0a o tronco da organi#ação "amiliar

uma 0e# 1ue a herança não passa0a pelo eixo marido'mulher (como na monogamia europeia-

mas pelo eixo irmão'irmã. Aicomano nos in"orma 1ue em alguns casos de morte do marido para

1ue não hou0esse dissolução da aliança as 0i0as torna0am'se esposas de sobrinhos do "alecido

o 1ue demonstra a primordialidade da aliança entre linhagens7F.

Ae0ido 3s caracter&sticas da organi#ação social expostas acima notamos 1ue a

concepção católica do casamento en1uanto sacrali#ação e "ixação de um casal monogTmico

tornando'o eixo central da transmissão "amiliar era incoerente 3 realidade social conguesa do

per&odo mesmo 1ue esta prtica sacramental tenha ocorrido no %ongo h tr2s s)culos.

77  VVVVVV. /rlindo. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 0...2( p. 'L. 7C  VVVVVV. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 0...2( p. . 7F  VVVVVV. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 0...2( p. . 

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  Agência ritual africana e a africanização do catolicismono reino do Congo pós-restauração: 1769-1795

emporalidades ! "e#ista $iscente do %rograma de %ós-&raduação em 'istória da ()*&

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Estas incongru2ncias não impediram a reali#ação de npcias católicas da mesma

maneira 1ue em per&odos anteriores7. %abe a nós o exerc&cio de des0elar as especi"icidades deste

ritual para homens e mulheres no contexto.  Jeste sentido encontramos pistas rele0antes no

relatório de missão de "rei 4a"ael de +ide 1ue nos in"orma sobre o costume dos padres al)m de

ministros do sacramento terem tornado'se tamb)m padrinhos ou compadres dos noi0osD

,sto de serem compadres dos Padres e a"ilhados ) para esta gente ou grandehonra ou de0oçãoO por isso nesta Missão e nas outras e ainda na %ortemesmo muitos me 02m rogar para issoO e eu sempre os satis"aço e sei o modo1ue posso para isso e para eles não descon"iarem ou perderem a sua de0oção )ponto 1ue eles t2m de honra. Jos casamentos dos maiores <idalgos ,n"antes ePr&ncipes sempre o Padre h'de ser o seu Padrinho por1ue di#em eles 1uenão t2m outra pessoa maior mas eu sempre procuro 1ue ha>am as testemunhasdo %onc&lio nos casamentos e no bapti#ado os leg&timos padrinhos e eles

sempre "icam com o t&tulo de %ompadres ou a"ilhados e se dão porsatis"eitos.7L 

? casamento 1ue aos olhos europeus constitu&a'se na sacrali#ação do 0&nculo marido'

mulher tornou'se tamb)m uma estrat)gia de 0&nculo dos congueses com o próprio missionrio

ampliando'se para um sentido pol&tico'social com a con1uista de uma no0a 1uali"icaçãoD !eles

semre fi"am "om o t?tulo de Comadres( ou afilhados$. 

Para al)m do pri0il)gio de se tornarem a"ilhados dos religiosos o sacramento do

matrimnio parecia mesmo "uncionar como mais um ritual de rememoração da tradição cristã de

acordo com a hipótese anteriormente exposta pela 1ual os membros da elite pol&tica ad1uiriam

legitimidade e aglutina0am um no0o distinti0o (1ue se somaria ao de mar1u2s du1ue ca0aleiro

de cristo-. ,sso explicaria a aparente exclusi0idade dos membros das altas elites como praticantes

deste sacramento.

Jos relatos do "ranciscano italiano %herubino de Sa0ona assim como em %astelo de

 +ide o status de !casado$ aparece como e0id2ncia do elo dos membros da muana Congo com o

cristianismo. /tra0)s de Sa0ona os nobres são anunciados em inmeras situaçRes de acordo

com o modelo 1ue segueD !(...- rei >. %lvaro @ "rist/o e "asado$ ou “um grande marAu!s de nome >.

 %fonso =omano &eite( "asado( Aue tem ainda o t?tulo de =ei dos %mbundos (...-$7N.  / 1uali"icação de

!casado$ se >unta ao nome portugu2s e aos t&tulos pol&ticos para compor o grau de legitimidade

atribu&do 3 muana %ongo diante do padre.

7  Exemplos de casamentosD 5?S? %arlo. 4ela#ioni inedite di P.%herubino %assinis da Sa0ona sul 4egno del%ongo e sue Missioni. ,n &Btalia <ran"es"ana . 4oma. 7KL p. 7FL'C7 7NL CF e CL7.7L +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. :1. 7N 5?S? %arlo. 4ela#ioni inedite di P.%herubino %assinis da Sa0ona sul =egno del Congo e sue 'ission i p. C7. 

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Jota'se tamb)m 1ue a1ueles 1ue go#am do t&tulo de !casado$ por 0e#es eram

pri0ilegiados com acesso mais direto aos sacramentos e ins&gnias da igre>a como 0emos em <rei

4a"aelD

Jos outros dias me 0inha 0isitar e me con0ida0a para ir a sua casa coisa 1uenem todos costumam para sua mulher leg&tima me tomar a b2nção e di#ia elepara abendiçoar a sua casa por1ue era homem casadoO a 1ue eu correspondiacom agrado e santa doutrina e lhe dei algumas coisas de de0oção coisas 1ueeles estimam muito receber das mãos dos Padres.7 

Jeste caso al)m de ser um importante membro da elite da !pro0&ncia$ de uibango

"oi agraciado com a prestigiosa 0isita do padre e com presentes ! orAue era homem "asado$. Sabemos

1ue o os religiosos utili#a0am tal crit)rio como argumento aos superiores eclesisticos

destinatrios dos documentos como a"irmação da legitimidade destes congueses como cristãos

a"astando estas 0isitas de poss&0eis suspeitas. Ae 1ual1uer "orma acreditamos ser acertado

a"irmar 1ue aos cn>uges atribu&a'se signi"icati0o prest&gio tamb)m na es"era local.

? 1ue não se pode deixar de lado ao tratarmos o casamento católico como uma prtica

1ue atribu&a legitimidade social ) o basilar papel da mulher. Para se apresentarem aos padres

como candidatos ao casamento os nobres congueses de0eriam ob0iamente eleger (apenas- uma

noi0a. /l)m disso de0eriam e0itar 1ue os padres tomassem conhecimento sobre a exist2ncia de

outras di"erentes da1uela. ?s missionrios Sa0ona e 4a"ael de +ide "oram tacitamente "lex&0eis a

esse respeito deixando de empreendendo in0estigaçRes pro"undas sobre a exist2ncia de outras

esposas al)m da escolhida para a o"iciali#ação sacramental. ? capuchinho Aicomano ao

contrrio se preocupa0a em obser0ar atentamente as particularidades da poligamia conguesa

recusando'se a reali#ar o sacramento desde 1ue mediante as e0id2ncias da monogamia dos

noi0os. %onse1uentemente logrou em reali#ar apenas 1uarenta matrimnios em muitos anos de

trabalho.78 

%onstatamos atra0)s da documentação 1ue a obrigatoriedade imposta pelo padre na

monogamia re1ueria criteriosa opção por parte dos homens pol&gamos de 1ual seria a noi0a eleita

ao ritual exigindo tamb)m o consentimento das esposas exclu&das deste. ?s crit)rios desta

escolha nos são in"eli#mente inacess&0eis. +e>amos um acontecimento signi"icati0o 0i0ido por

"rei 4a"ael en1uanto casa0a um importante in"ante na mban#a de %oma próximo a EnsucoD

Uma delas 1uis mostrar o seu brio por ser despre#ada e Xo in"anteY casar comoutra 1ue ele escolheuO e 1uando o ,n"ante se retira0a para sua casa > com a

7 +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l.. 49-144. 

78 %?44E/ /rlindo. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 0...2( p. 'L. 

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sua 0erdadeira Esposa a1uela mulher por outra parte rompia o muro comgrande "ria com um al"ange na mão cortando os paus e palhas 1ue "orma0amo muro e "a#endo com os seus parentes os seus sagamentos ou brincos deguerra como arremetendo e di#endo 1ue não ha0ia de sair escondida como asoutras mancebas mas 3 0ista de todos por1ue ela era ,n"anta e tinha primeiroa pala0ra do casamento.7K 

? "ato narrado o"erece'nos elementos rele0antes. Primeiramente aponta para a pre0ista

conclusão de 1ue o casamento católico não substitu&a tampouco 1uestiona0a o sistema

poligTmico uma 0e# 1ue se espera0a 1ue as esposas não escolhidas !mancebas$ aos olhos

missionrios sa&ssem "urti0amente (pro0a0elmente retornando após a partida do padre- o 1ue

denota a montagem de um !>ogo de cena$ para ludibri'lo. Em segundo lugar notamos 1ue para

a esposa escolhida e sua parentela passar pelo rito matrimonial signi"ica0a ad1uirir consider0el

status negado 3 mulher e sua "am&lia no relato do "ranciscano 1ue os mobili#ou para o protesto. /l)m disso "ica e0idente o 0&nculo entre a identidade muana Congo (in"anta-D !não ha0ia de sair

escondida como as outras mancebas mas 3 0ista de todos por1ue ela era in"anta$ C. 

Em outros casos cn>uges se 0iam diante da di"iculdade em escolher apenas uma das

esposas tal0e# por temerem os mesmos percalços so"ridos pelo homem descrito acima. Jestes

casos o prest&gio pro0eniente do !t&tulo$ de casado poderia causar danos 1ue colocassem em

risco as alianças no Tmbito da organi#ação social. Eis um exemplo concreto de um con"lito

tra#ido por "rei 4a"aelDX...Y eles tudo prometiam mas ali Xem Mban#a Jsolo próximo 3 uibangoY não"i# algum casamento nem com o mesmo Pr&ncipe pude acabar 1ue se casasseOtendo muitas mulheres escolhesse uma o 1ue me causou algumadesconsolação por1ue era > 0elho e não podia esperar outra missãoO mas istosucede em toda a parteD uns recebem a doutrina outros não. C7 

 /s e0id2ncias encontradas na documentação sinali#am para a importTncia do

sacramento do matrimnio como um rito 1ue atribu&a legitimidade pol&tica aos homens e

mulheres membros da muana Congo por ser mais um dentre os rituais de rememoração da

tradição pol&tica conguesa. Este sistema con0i0ia muitas 0e#es de maneira con"lituosa com asestruturas sociais organi#adas pela poligamia e matrilinearidadeO o 1ue explicaria o "ato do

casamento ter (aparentemente- atingido com exclusi0idade camadas altas da sociedade e ter sido

recebido de "orma di0ersa dependendo da localidade.CC 

7K +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. 1.C +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. 1-19. C7 +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. 7K. CC Exemplo de ?ando local no 1ual nobre algum aceitou casar'seD +iagem e missão no %ongo "l. . 17( em oposição3 uibango onde o casamento parecia muito popular entre as elites +iagem e missão no %ongo "l. . :4.

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 +isto isso nota'se 1ue não se reprodu#ia no %ongo os signi"icados do casamento

católico e europeu antes disso 0emos a instrumentali#ação deste ritual de acordo com interesses

próprios e códigos sociais historicamente constitu&dos pela relação particular dos congueses com

o catolicismo. Aiante dessa conclusão e0idencia'se a insu"ici2ncia de uma perspecti0a 1ue

pressupRe simples di"usão de prticas cristãsD poss&0el armadilha de uma leitura super"icial das

"ontes esta abordagem cristoc2ntrica obscureceria a compreensão das dinTmicas e os di"erentes

interesses em >ogo.

=specialistas sacramentais congueses: nleEes  intFrpretes e mestres de igreGa,

Em trabalhos anteriores argumentamos pela importTncia dos congueses em ati0idade

nas missRes na mediação de interesses entre o rei do %ongo e os padres europeus. ?u mesmo

como limitadores da autonomia dos missionrios "rente ao Mani %ongoCF. /1ui debateremos a

importTncia destes como compatibili#adores entre interesses das elites locais e de missionrios

diante da prtica sacramental de "orma geral.

?s agentes religiosos congueses 1ue participa0am do trabalho ritual católico se di0idem

no per&odo pós'restauração de acordo com os testemunhos em tr2s grupos. /pesar de não

termos e0id2ncias su"icientes supomos 1ue de0e ter ha0ido outras categorias al)m destas em

1uestão. 5rataremos primeiramente dos nlekes  chamados tamb)m !escra0os da igre>a$ 1ue

ocupam um n&0el in"erior na hierar1uia religiosa sobre os 1uais a documentação o"erece apenas

possibilidades descriti0as. /o contrrio destes os mestres de igre>a e int)rpretes eram agentes de

maior prest&gio e participação ritual sobre os 1uais os padres apresentam postura mais amb&gua

gerado por con"litos e negociaçRes 1ue nos propiciarão uma leitura mais apro"undada e til aos

nossos ob>eti0os.

leEes 

Jle6 e   ) um termo recorrente nas "ontes 1uando tratam dos chamados !escra0os da

igre>a$ este 0ocbulo 1uicongo con"ere sentido de >u0entude seu plural )D muleke  (herdado pelo

portugu2s brasileiro-. Utili#aremos a1ui !nlekes$ como plural contrariando a mor"ologia do

1uicongo pois trataremos este 0ocbulo como um t&tulo espec&"ico distinto do termo muleke 

aplic0el a 1ual1uer coleti0idade >o0em. / semTntica do 0erbete por si só aponta para a

caracter&stica >o0em destes chamados !escra0os da igre>a$C. 5oda0ia tal "unção não parece ter

CF S/PEAE 5hiago %. 'issionDrios e o 'ani"ongo+ nego"ia/o( "onflito e deend!n"ia. =eino do Congo 7N8'7K8 p 7'K. C Em %astelo de +ide tamb)m "a# re"er2ncia aos nle6es como !mole1ues$. +iagem e missão no %ongo "l. 79. 

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sido restrita aos moçosO ha0endo descriçRes de nlekes   mais 0elhos mesmo idosos 1ue

naturalmente go#a0am de maior prest&gioCL.

 5hornton mostra a importTncia do trabalho dos nlekes   nos hosp&cios capuchinhos (e

como carregadores nas missRes- em meados do s)culo *+,, durante o pice da missão desta

ordem a 1uem chama de !hosi"e servants $ (ser0os do hosp&cio- como pertinente alternati0a ao

termo !escra0o$ 1ue aparece nas "ontes uma 0e# 1ue segundo este autor os nlekes  teriam sido

na 0erdade escra0os libertos 0“freed slaves$2CN. ? historiador não nos in"orma (pois suas "ontes não

o "a#em- sobre o contexto destas liberaçRes mas segundo e0id2ncias do nosso per&odo pode'se

in"erir 1ue muitos nlekes   tenham sido estrangeiros sem 0&nculos "amiliares tutelados por

missionrios ou autoridades locais após poss&0el !resgate$ das rotas direcionadas ao /tlTntico.

,sso explicaria o 0&nculo local 3s pro0&ncias igre>as ou hosp&cios "ora do sistema "amiliar.

?s nlekes   no con0ento dos capuchinhos em Ensuco são bastante comentados pelas

"ontes do per&odo como 0emos em Sa0onaD

 5emos o hosp&cio de Ensuco "undado pelo 4ei Pedro ,,, e seu a0 e osescra0os 1ue estão a ser0iço da missão. Mas pouco se estende não seriam 7mil habitantes todos cristãos. <oram su>eitos de in0asores de ?ando 1uedestru&ram 1uase tudo em 7NL reerguemos o hosp&cio com os escra0os daigre>a e os sditos do Zpaesi=.C 

Estes mesmos são citados por "rei 4a"ael uma d)cada mais tardeD /inda bem não tinha descansado 1uando me mandaram pedir uns  escra0osdos Padres Qarbadinhos ,talianos 1ue assistiam no seu Hosp&cio de Ensucodois dias de >ornada desta %orte 1ue "osse acudir por1ue não estando a1ui osseus Padres os 1ueriam apanhar para os 0enderem.C8 

Estes nlekes   de Jsuco parecem ter sido numerosos e seu 0&nculo não era apenas

pro0incial como tamb)m com a própria ordem capuchinha. Em algumas ocasiRes (como narra

Sa0ona- encontra0am'se emprestados a uma 0iagem de missão espec&"ica por)m não esta0am

 0inculados a um aparelho eclesistico !nacional$ no sentido amplo (inexistentes no per&odo- mas

aos ncleos e pro0&ncias espec&"icas. /l)m destes ha0ia alguns nlekes 1ue 0i0iam em  'ban*a

Congo nos arredores da casa dos padres. Ja ocasião da chegada da comiti0a de "rei 4a"ael 3

 'ban*a  %ongo em 78 alguns nlekes( 1ue se encontra0am dispersos se reuniram no0amente

após anos de aus2ncia missionria como nos in"orma o padreD “vigDrio geral( Aue aAui morreu( os

Auais( andando disersos( ouvindo a nossa "hegada( se t!m vindo a3untar ara nos servirem( e ara "omerem$. 

CL %?44E/ /rlindo. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano (...- p. N. CN 5H?4J5?J Iohn 9. 5he de0elopment o" an a"rican %atholic %hurch in the 9ingdom o" 9ongo 7K7'7L.The   3ornal of %fri"an istor5. %ambridge %ambridge Uni0. Press p.7N7 a 7N. C 5?S? %arlo. 4ela#ioni inedite di P.%herubino %assinis da Sa0ona sul =egno del Congo e sue 'ission i p. C7F. C8 +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. 148.

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 /lguns deles torna0am'se tutelados da igre>a após cedidos aos padres como moeda de troca

o"erecida por in"antes 1ue 0inham 3 capital para receberem sacramentos ou t&tulos

principalmente o Hbito de %risto (1ue era o"iciali#ado con>untamente pelo padre e o Mani

%ongo-CK.

En1uanto esta0am na capital os nlekes   eram respons0eis por la0rar as terras !1ue

pertencem 3 igre>a$ e destas tira0am seu sustento (alimentando tamb)m mestres int)rpretes e

padres-. 5rabalha0am na construção ou manutenção de igre>as e das casas dos padres e mestres.

 /lguns constitu&am "am&lias (aparentemente monogTmicas- e pareciam go#ar de certo grau de

liberdade de circulação dentro das mban*a sF.

Aurante as 0iagens os nlekes  eram particularmente importantes para a manutenção da

estrutura das missRes atuando como carregadores com o de0er de #elar pelos padres e materiais

de culto e transport'los. /ssim como outros membros das comiti0as de missão eram

sustentados por !presentes$ dados pela população local principalmente as elites dirigentes mais

abonadas 1ue o"ereciam recompensas pelos ser0iços rituais prestadosF7. +ale obser0armos a

interessante (e um tanto ideali#ada- descrição de "rei 4a"ael a respeito da ati0idade cotidiana dos

nlekes  >unto 3s missResD

Jas missRes nos acompanham os escra0os da ,gre>a 1ue sempre o Padre le0a

 0inte ou mais ou pouco menos con"orme a necessidade entre grandes epe1uenosO e estes são os 1ue l guisam a comida buscam gua e lenha como na%orte e todos com o Padre 0ão alegres por1ue na missão comem melhorpor1ue h mais esmolas. 52m grande #elo do seu Padre de noite e de dia oguardam e Aeus ) ser0ido in"undir'lhe um tal respeito ao Missionrio 1ue estese entrega li0remente nas suas mãos por matos serras e sertRes sem algumtemor e ) imposs&0el "a#er'lhe algum mal só "urtar'lhe alguma coisa para o1ue eles t2m sua inclinaçãoO mas são "urtinhos 1ue o Padre dis"arça muitas 0e#es. /lgumas 0e#es o en"adam com gritarias entre eles outras o di0ertemcom as suas danças honestas 1ue outras lhe não permitimos mas sempre sehumilham 3 correcção e nós os tratamos com amor como "ilhos e não se0eroscomo a ser0os.FC 

*estres e intFrpretes

Mestres de igre>a e int)rpretes "oram personagens "undamentais no trabalho ritual

católico ao longo da história do %ongo com presença nas descriçRes das "ontes. Ai"erentemente

dos nlekes  detinham alto prest&gio socialO as teias das relaçRes de poder en0ol0endo estas "iguras

CK +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l.   F +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. :- CC7. F7 +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. CC'CCC. FC +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. CC'CCL. 

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as elites pol&ticas locais e os missionrios europeus eram de carter mais complexo no s)culo

*+,,, do 1ue se poderia pressupor diante dos pap)is tradicionais da igre>a.

 / maneira com 1ue a e1uipe eclesistica se distribu&a na principal igre>a de  'ban*a  

%ongo onde "a#iam tamb)m sua morada ) bastante representati0a das relaçRes hierr1uicas.

Segundo relatos de "rei 4a"ael a casa onde os religiosos 0i0iam posiciona0a'se atrs da Santa S)

conectada 3 sacristia da igre>aO cercada por um alto muro aos "undos. ?s nlekes 0i0iam "ora dos

muros e seu acesso 3 sacristia e a casa dos padres era restrito. Mestres e int)rpretes pareciam não

morar com padres e nlekes  neste con>unto mas seu acesso a todas as depend2ncias (inclusi0e a

casa dos padres- era irrestrito o 1ue denota a detenção de maior poder e autonomia destes

conguesesFF.

?s mestres cate1uistas no %ongo remetem 3 tradição iniciada no reinado de A. /"onso

, M0emba a J#inga no in&cio do s)culo *+, 1uando "oram inauguradas as chamadas !escolas

de gramtica$ com o ob>eti0o de ensinar aos >o0ens das elites a leitura e escrita do portugu2sO

al)m dos preceitos da cate1uese. ?s primeiros mestres e int)rpretes eram membros das mais altas

elites conguesas diretamente ligadas aos soberanos alguns deles "ormados em Portugal. Em

meados do s)culo *+, missionrios >esu&tas tornaram'se os principais agentes do ensino da

l&ngua portuguesa e dos preceitos da ") cristã. Em 7LLL "oi escrito o primeiro catecismo em

1uicongo por >esu&tasD trabalho 1ue parece ter contado com a contribuição desses primeirosmestres a"ricanosF.  Esta parceria entre agentes locais e europeus "a#'se e0idente no s)culo

seguinte com a publicação o catecismo !doutrina cristã$ organi#ado pelo >esu&ta Mateus

%ardoso 1ue apontou para a participação dos !melhores mestres ind&genas de  'ban*a Congo$ na

obraD certamente com o cargo de mestresFL.

Em meados do s)culo *+,, ocorreria a crise de"initi0a nas relaçRes diplomticas entre

Guanda e  'ban*a Congo assim como expulsão de"initi0a dos >esu&tas do reino do %ongo.

 5amb)m se deu a trans"er2ncia do bispado de %ongo e /ngola para Guanda a"astando os Mani%ongos dos prelados. Aiante do estremecimento nas relaçRes com Portugal (seu principal

parceiro para a "ormação de mestres- a "ormação destes parece tamb)m ter tomado no0os

rumos. Jo per&odo pós'restauração diante da tensa relação luso'conguesa parece'nos pouco

FF +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. CC'CCC. F 5H?4J5?J Iohn 9. 5he de0elopment o" an /"rican %atholic %hurch in the 9ingdom o" 9ongo 7K7'7L.The   3ournal of %fri"an istor5. %ambridge %ambridge Uni0ersity Press 7K8L p. C8'7L. S?U[/ Marina de Mello e. 'issionDrios e mestres na "onstru/o do "atoli"ismo "entro-afri"ano( sE"ulo @F.  /nais do **+, Simpósio Jacional deHistória. /JPUH. São Paulo >ulho C77. FL 4EB,J/GA? Gucilene. Gs =osarios dos %ngolas. rmandades de afri"anos e "rioulos na Hahia ete"entista. /o ,aulo. /lameda C77 p. 'L7. 

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  Agência ritual africana e a africanização do catolicismono reino do Congo pós-restauração: 1769-1795

emporalidades ! "e#ista $iscente do %rograma de %ós-&raduação em 'istória da ()*&

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pro00el 1ue os numerosos mestres e int)rpretes atuantes (assim como !secretrios$ e outros

letrados- tenham sido "ormados pelos aparatos coloniais portugueses em /ngolaO tampouco 1ue

tenham ido 3 Europa. ?s capuchinhos italianos durante a segunda metade do s)culo *+,,

cumpriram o papel educacional (em seu con0ento de Ensuco- independente dos portugueses

mas após a 1ueda na missão desta ordem a partir das primeiras d)cadas do s)culo *+,,, a

"ormação de mestres e int)rpretes parece ter se tornado autnoma de 1uais1uer agentes

europeus sendo exclusi0amente "eita por agentes congueses FN.

Este argumento contrapRe'nos a uma interpretação recorrente na historiogra"ia

presente nos trabalhos de %ustódio Bonçal0esF  e QalandierF8  (dentre outros trabalhos

anteriores- 1ue de"endem 1ue a di"usão dos saberes (lingu&sticos e religiosos- originalmente

portugueses ao longo da história do %ongo teriam sido resultantes de empreitadas portuguesas

para !aculturação$ ou !europei#ação$ das elites conguesas suposta ponta de lança do processo

de dominação colonial lusaFK. / autonomia na "ormação dos mestres cate1uistas detida pelas

elites do %ongo a partir do s)culo *+,,, aponta para a conclusão oposta 1ue ser apro"undada

em bre0e.

Mestres e int)rpretes pap)is di0ersos na condução dos rituais no %ongo. ,n"eli#mente

as "ontes não se det2m sobre as particularidades no trabalho de cada um deles 1ue por ra#Res

ób0ias obscurece a ag2ncia dos operadores congueses "rente ao missionrio. ?s textos re0elambasicamente a1uilo 1ue a distinção lógica seria capa# de "a#erD aos mestres cabia ensinar e aos

int)rpretes acompanhar os padres em tese !tradu#ir$ e !interpretar$ a liturgia e a comunicação

entre o padre e os congueses. Uma leitura panorTmica nos le0aria a conclusRes es1uemticas

sobre os pap)is ocupados por cada um destes tradicionalmente segundo os 1uais o padre

ocuparia a posição central de !c)rebro$ da missão en1uanto int)rpretes e mestres !braços$ em

sua "unção de di0ulgar e tradu#ir.

Se dispus)ssemos apenas dos relatórios dos "ranciscanos %herubino de Sa0ona e 4a"aelde +ide de0ido 3 postura tolerante e idealista de ambos (sempre preocupados em ma1uiar

con"litos para seus interlocutores- poder&amos cair na armadilha desta conclusão mais simplista.

Por)m diante da ortodoxia cr&tica (e do senso de superioridade- de 4aimundo Aicomano em

relação ao clero local recebemos di"erentes impressResD

FN +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. C. F B?J\/G+ES /. %. istria revisitada do Kongo e %ngola. Gisboa Estampa Editorial CL. F8 Q/G/JA,E4  ( I. >ail5 life in the Kingdosm of Kongo. J] Meridian boo6s 7KNK FK Aentre elesD +an :ingD Jtudes Hakongo. 7KC7O Iean %u0elierD &%n"ien =o5aume de Congo. Qruxelas 7KN e 4andlesD&an"ien ro5aume du Congo .,aris( 7KN8.

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uando se lhes explica e se lhes inculca a 0erdadeira ideia dos santos mist)riose dos preceitos de Aeus e da ,gre>a não "a#em caso e muitas 0e#es respondemnão serem esses os costumes e as leis do %ongo e 1ue por o Padre ser no0onão est bem instru&do nas suas leis. /l)m disso os próprios int)rpretes de 1ue) necessrio ser0ir'se não se atre0em a repetir a1uilo 1ue o Padre di# contra osseus costumes sendo mucano Xdelito 1ue incorria no pagamento de multa Ypara os int)rpretes contradi#er o 1ue ) "eito uni0ersalmente por todos por1uedi#em 1ue o int)rprete não de0e di#er ao Padre o 1ue "a#em e se o "a#em sãocastigados (...- assim 1ue "alta o Padre "a#em'lhe pagar o mucano. 

Este relato 0alioso de <rei 4aimundo tra# elementos de nosso pro"undo interesse.

Primeiramente notamos um deslocamento da centralidade da ag2ncia ritual católica para os

mestres e int)rpretes "rente ao cl)rigo europeu. ^ e0idente 1ue a presença do missionrio era

essencial en1uanto emissrio de signi"icati0o poder simbólico e religioso uma 0e# 1ue di0ersos

sacramentos e rituais tinham sua condução restrita ao trabalho dos missionrios. Por)m no

tocante 3 condução do ritual e 3s mat)rias mais prticas os int)rpretes parecem ganhar

proemin2ncia.

? papel do int)rprete parecia não se restringir a tare"a da tradução da doutrina emanada

dos padres adaptando'a para a recepção dos seus conterrTneos. / adaptação ocorria

especialmente em sentido oposto "a#endo com 1ue o missionrio europeu se acomodasse (ou

permanecesse ignorante- aos costumes da tradição conguesa e 1ue cumprisse sua "unção ritual

como um nganga  de alt&ssimo poder.

Ae acordo com os padrRes da regra eclesistica caberia ao missionrio o papel de

!direção$ dos sacramentos mediante aos atores de tare"as mais assistentes. Jotamos entretanto

1ue no caso do relato de Aicomano o ritual era dirigido pelo int)rprete 0erdadeiro conhecedor

dos !costumes e as leis do %ongo$ 1ue cumpria a "unção de adaptar o discurso do padre de

acordo com !a1uilo 1ue ) "eito uni0ersalmente por todos$. Este dado e0idencia 1ue o

compromisso do int)rprete em seguir os preceitos locais em detrimento dos preceitos europeus

constitu&a'se como regra estabelecida entre os congueses na ocasião oculta apenas ao padre. ?

descumprimento deste implica0a no pagamento de mu"ano o 1ue des0ela o 0alor normati0o desta

di0isão de pap)is. ^ interessante notar as artimanhas conguesas para iludir o padre e garantir 1ue

não tomasse conhecimento deste acordo comunicado atra0)s de códigos próprios e da l&ngua

local o 1ue distancia0a o missionrio da ag2ncia ritual.

? mesmo parece 0aler para os mestres de igre>a. Estes exerciam uma "unção importante

na transmissão dos saberes ligados aos rituais católicos. Jas missRes en1uanto padres e

 %?44E/ /rlindo. ,n"ormação o reino do %ongo por 4aimundo Aicomano (...- p.N. 

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int)rpretes cuida0am dos sacramentos os mestres pareciam ter o papel de ensinar cTnticos ritos

comportamentos e preceitos. <rei 4a"ael descre0e o repertório ritual congu2sD !cTnticos$

!ladainhas$ ou !rosrios$ pro"eridos em 1uase todo o território e ensinados pelos mestres. São

citados principalmente cTnticos para Sto. /ntnio e S. <rancisco. / proemin2ncia absoluta

por)m era de lou0açRes a Jossa Senhora. Estas !ladainhas$ (como são comumente descritas-

eram di"usas por muitas regiRes no per&odo entoadas em situaçRes distintasD recepção da

comiti0a de missão missas ritos "nebres dentre outras7.

<rei 4a"ael compartilha0a com os congueses esta de0oção e abastecia'os com imagens e

ins&gnias para a lou0ação da 0irgemD

 _ noite se a>untou o Po0o a cantar o 5erço de Maria SS.ma na sua l&ngua e a

Gadainha como se costuma a 1ue nós assistimos animando'os nesta santaAe0oçãoO para o 1ue lhe pus diante uma de0ota e per"eita imagem de JossaSenhora da %onceição 1ue tra#ia na minha companhia 1ue eles não sesacia0am de 0er por1ue não tinham no seu pobre oratório mais do 1ue umapouco per"eita imagem do J. P. S. <rancisco e ad0ertia a1ui e para dianteserem estes Po0os de0otos de Jossa Senhora pois lhes ou0ia de noite e muitas 0e#es de madrugada entoar os seus lou0ores os 1uais eu muitas 0e#esacompanha0a animando'os com algumas prticas.C 

? uso do 1uicongo parece ter sido hegemnico nos cTnticos rituais no per&odo da

segunda metade do s)culo *+,,,. Em espaças oportunidades são descritas cantorias em latim

1ue ocorriam por iniciati0a do missionrio. ? ensinamento do repertório ritual mais di"undidoem l&ngua local era "eito pelos mestres.F 

<rei 4a"ael reconheceu os cTnticos de lou0ação 3 +irgem em 1uicongo e não hesitou

em aprend2'las com os mestres e reprodu#i'las 3 maneira conguesaD

Em obs)1uio desta mesma Senhora Mãe de Aeus e dos pecadores e nossaparticular protectora "aço celebrar todos os sbados em lou0or da sua,maculada %onceição cantando o Po0o o seu 4osrio na ,gre>aO logo eure0estido de capa de asperges 1ue a temos preciosa le0anto a Sal0e na mesmal&ngua do %ongo e a canto com o Po0o a seu modo. 

Essa postura de "rei 4a"ael permitiu uma troca de saberes com os mestres absor0endo

os exerc&cios rituais locais e o"erecendo no0as in"ormaçRes 1ue amplia0a o repertório dos

mestres como cTnticos em latimD

Gogo se segue a Missão no "im a Gadainha cantada com a ant&"ona 5otapulchra 1ue eu tenho ensinado aos Mestres e disc&pulos como tamb)m o hinode Santa Qrbara todos os dias para ser nossa ad0ogada em terra de tantas

7 +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. CL'FF. C +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. FC'FF. F  %?44E/ /rlindo. ,n"ormação o reino do %ongo por 4aimundo Aicomano (...- p.N.  +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. C7. 

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tro0oadasO e a /nt&"ona Stella %`li por causa da peste 1ue tem ha0ido o 1ue> eles "a#em so"ri0elmente.L 

<rei Aicomano por sua 0e# assumiu uma postura completamente di"erente. 4ecusa0a'

se a reconhecer a condução ritual local como 0lida e como conse1u2ncia tra0ou constantesdisputas pela exclusi0idade de seus preceitos europeus "rente os modos locais. %omo

conse1u2ncia "ora repreendido por mestres 1ue a partir de sua posição de autoridade se

dispunham inclusi0e a in"orm'loD

Por1ue cabe di#em eles aos Mestres e aos escra0os idosos instruir bem oMissionrio e com minha grande a"lição me "oi dito muitas 0e#es 1ue eu nãoesta0a bem instru&do 1uando os repreendia por estes preconceitos e pelap)ssima 0ida 1ue le0a0am.N 

 / autossu"ici2ncia dos mestres em relação aos missionrios (esparsos no per&odo- de0e

ter colaborado para a di"usão dos rituais e ensinamentos com caracter&sticas próprias e soberanas

"rente 3 regra eclesistica. ?s 0&nculos de depend2ncia esta0am estabelecidos com as elites locais

(em muitas localidades- 1ue os sustenta0am. %omo por exemplo o caso do mar1u2s de

Mbamba in"ormado por Sa0onaD

(...- e ele mant)m sempre a igre>a de pedra e terra e todos os sbados con0ocaseus 0assalos mais próximos a recitarem a doutrina e santo rosrio e mant)mum mestre 1ue ) capa# de ensin'la. ^ um bom pr&ncipe católico e se chama A /l0aro /gua 4osada 4omano Geite(...-. 

Em 'ban*a Congo na ltima d)cada do s)culo *+,,, Aicomano nos in"orma sobre !o"ostume na Cidade de 'ban*a Congo de "antar as &adainhas de )ossa enhora( orAue est/o vivos ainda alguns

 'estres antigos e uma mulher de idade Aue lhes aga $8. Em geral estes mestres e int)rpretes parecem ter

origem nas elites pol&ticas conguesasO em muitos casos os próprios che"es de mban*as   ou

pro0&ncias eram tamb)m mestres ou int)rpretes o 1ue ocorria em geral nas localidades com

maior ligação com a tradição pol&tica do antigo reinoD Soyo Mpinda Mucondo uibango

Mbamba %ongo e Gu0ota.  Esses t&tulos 0inculados 3 tradição cristã eram e0identemente

"erramentas de legitimidade pol&tica e acreditamos ter sido este seu signi"icado essencialK

. /utores 1ue se dedicaram aos per&odos anteriores (s)culos *+, e *+,,- se lançaram de

maneiras di"erentes ao desa"io de compreender as particularidades da relação dos congueses com

L +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide "l. C7. N %?44E/ /rlindo. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 0...2( p N.  5radução li0reD !(...- e Gui mantiene sempre la %hiesadi Pietra e terra e tutti li sabati e "este "3 con0ocare suoi 0assali pi 0icini a recitare la Aottrina e Santo 4osario e mantiene a sue spese maestri capaci per insegnarla e la "3da buon Principe %attolico e si chiama A. /l0aro /gua 4osada 4omano Geite (...-$. 5?S? %arlo. 4ela#ioni ineditedi P.%herubino %assinis da Sa0ona sul =egno del Congo e sue 'ission i p. C7. 8  Exemplos em +iagem e missão no %ongo de <rei 4a"ael %astelo de +ide ho>e bispo de São 5om) (7K8-.

 /cademia das %i2ncias de Gisboa MS +ermelho CKN "l. FL LF e 7FL. K %?44E/ /rlindo. nforma/o o reino do Congo or =aimundo >i"omano 0...2( p. 'L. 

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Susan Herlin Qroadhead nica autora a estudar o per&odo (s)culos *+,,, e *,*-

pri0ilegiou o "ator comercial para compreender a estrutura pol&tica e trans"ormaçRes pol&ticas no

%ongo. Aesta "orma acabou por subestimar a importTncia de prticas cristãs como um elemento

de compreensão histórica mesmo não os tendo ignorado. /dmitiu 1ue a cristandade teria sido

pilar de uma identidade conguesa por)m minimi#ou'a "rente a uma organi#ação pol&tica 1ue aos

seus olhos era essencialmente "ragmentadaL. Em um artigo posterior atribui maior rele0Tncia ao

catolicismo como argumento de identidade pol&tica mas sem apro"undar a operação deste

sistemaLL. Portanto sem signi"icati0as contribuiçRes para nosso recorte temtico neste trabalho.

Aiante desta anlise das "ontes do per&odo apresentadas neste artigo obser0amos a

prima#ia da ag2ncia conguesa atra0)s de seus especialistas rituais no processo de cate1uese e nas

prticas rituais católicas. Estes operadores rituais locais eram sustentados por membros das elites

(e originrios da mesma- con"erindo aos 1ue acessa0am aos rituais alta distinção social. Aa

mesma maneira 1ue a prtica matrimonial cristã (em seu sentido europeu incompat&0el 3

organi#ação "amiliar centro'a"ricana- "unciona0a como elemento de legitimação do poder pol&tico

da muana  %ongo detendo sentido essencialmente pol&tico uma 0e# 1ue agrega0a um no0o t&tulo

e rememora0a a tradição do %ongo centrali#ado de outrora.

 / autonomia das prticas sacramentais "rente ao catolicismo europeu era naturalmente

conse1u2ncia da soberania das elites conguesas sobre o próprio território no per&odo e dosinteresses en0ol0idos em rememorar a tradição pol&tica por parte da muana  %ongo. Parece'nos

impertinente um en1uadramento historiogr"ico destas prticas sacramentais e seus agentes locais

em uma perspecti0a da expansão da ,gre>a católica ou do poderio de expansão do imp)rio

portugu2s (portanto luso ou cristocentrica- para o %ongo pós'restauração. Era aos interesses dos

próprios congueses (ao menos da muana   %ongo- 1ue ser0iam as prticas cristãs. Portanto

somente a perspecti0a 1ue pri0ilegia a ag2ncia histórica local tem potencial para re0elar as

particularidades e complexidades deste per&odo indel)0el da história do %ongo.4ecebido emD C77C7F.

 /pro0ado emD CCC7F.

L Q4?/AHE/A Susan H. Trade and ,oliti"s on the Congo "oast  p.LF'N.

LL VVVVVV.Qeyond Aecline. p. N7L' NL.