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    Agenda 21 Brasileira

    Resultado da Consulta Nacional

    2 Edio

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    Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Nacional

    Criada por decreto presidencial em 26/02/1997 e revogada pelo decreto presidencial de 03/02/2004

    MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE SOCIEDADE CIVILJos Carlos Carvalho Ministro do Meio

    Ambiente (Presidente da CPDS)Regina Elena Crespo Gualda SuplenteMINISTRIO DO PLANEJAMENTO,ORAMENTO E GESTO

    Jos Paulo Silveira Secretrio dePlanejamento e Investimentos Estratgicos

    Ariel Garces Pares SuplenteMINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES

    Everton Vieira Vargas Diretor-Geral doDepartamento de Meio Ambiente e TemasEspeciaisLuiz Alberto Figueiredo Machado Suplente

    MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIACarlos Amrico Pacheco Secretrio-ExecutivoLuiz Carlos Joels Suplente

    PRESIDNCIA DA REPBLICAEduardo Piragibe Graeff Assessor-Chefeda Assessoria Especial do Gabinete doPresidente da RepblicaCludia de Borba Maciel Suplente

    Rubens Harry Born Vitae Civilis Instituto

    para o Desenvolvimento, Meio Ambiente ePaz - Frum Brasileiro de ONGs eMovimentos Sociais para o Meio Ambiente eDesenvolvimentoMuriel Saragoussi Suplente

    Joo Luiz da Silva Ferreira Coordenador-Executivo da Fundao Movimento Onda

    AzulGuilherme Fiza Suplente

    Fernando Almeida Presidente do ConselhoEmpresarial Brasileiro para o

    Desenvolvimento SustentvelBeatriz de Bulhes Mossri Suplente

    Gustavo Alberto Bouchardet da Fonseca Departamento de Zoologia da UFMGRoberto Brando Cavalcanti Suplente

    Aspsia Camargo Fundao GetlioVargas

    EX-MEMBROS DA CPDS (1997-2001)Alexandrina Sobreira

    Antnio Jos GuerreiroArchimedes de Castro Faria FilhoEdmundo Sussumu FujitaFlix de BulhesIone EglerKtia Drager MaiaLaudo Bernardes - Presidente

    Lindolpho de Carvalho Dias

    Luis Felipe de Seixas CorraPaulo Rogrio GonalvesRoberto Cavalcanti de AlbuquerqueSebastio do Rego Barros NetoSrgio Moreira - PresidenteVilmar Evangelista Faria (in memoriam)

    SECRETARIA-EXECUTIVA/2002Maria do Carmo de Lima BezerraMarcia Maria FacchinaLuiz Dario Gutierrez

    ISBN: 85-87166-41-7Impresso no Brasil

    Agenda 21 brasileira : resultado da consulta nacional / Comisso de Polticas de DesenvolvimentoSustentvel e da Agenda 21 Nacional. 2. ed. Braslia : Ministrio do Meio Ambiente, 2004.158 p. ; 21 cm.

    1. Agenda 21. 2. Agenda 21 Brasileira. 3. Desenvolvimento Sustentvel. 4.Planejamento Participativo. 5. Meio Ambiente. 6. Poltica de Meio Ambiente. I. Brasil.Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Nacional.

    CDU 502.3(81)

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    Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Brasileira

    Criada por decreto presidencial em 03/02/2004

    MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE - Presidncia SOCIEDADE CIVILEntidade representativa da juventude

    MINISTRIO DO PLANEJAMENTO, ORAMENTO Unio Nacional dos EstudantesE GESTO - Vice-presidncia

    Organizao de direitos humanosCASA CIVIL DA PRESIDNCIA DA REPBLICA Organizao no-governamental Terra de

    DireitosMINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA

    Comunidades indgenasMINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES COIAB

    MINISTRIO DAS CIDADES Comunidades tradicionaisAssociao Comunitria So Jorge Miguel

    MINISTRIO DA EDUCAO Restinga Seca

    MINISTRIO DA FAZENDA Organizao de direitos do consumidorAssociao Cidade Verde/RO

    MINISTRIO DA CULTURAConselho Empresarial Brasileiro para o

    MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO Desenvolvimento Sustentvel CEBDS

    MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRRIO Frum de Reforma UrbanaCOHRE Amricas

    MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA EABASTECIMENTO Entidades empresariais

    Confederao da Agricultura e Pecuria doMINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL Brasil - CNA

    Confederao Nacional da Indstria - CNIMINISTRIO DA SADE

    Organizaes da comunidade cientficaMINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDSTRIA Academia Brasileira de Cincias

    E COMRCIO EXTERIOR Sociedade Brasileira para o Progresso daCincia - SBPC

    ASSOCIAO NACIONAL DE MUNICPIOS E MEIO Frum Brasileiro de ONGs e MovimentosAMBIENTE - ANAMMA Sociais para o Meio Ambiente e o

    DesenvolvimentoVitae Civilis

    ASSOCIAO BRASILEIRA DAS ENTIDADES DE Projeto Sade e AlegriaMEIO AMBIENTE - ABEMA Instituto Terra Azul

    Centrais sindicaisConfederao Geral dos Trabalhadores -CGTCentral nica dos Trabalhadores - CUTCentral Fora Sindical

    SECRETARIA-EXECUTIVA

    Equipe da Agenda 21Pedro Ivo de Souza Batista - Coordenador

    Antonio Carlo Brando, Ary da Silva Martini, Karla Matos, Kelly Anne Campos Aranha, LeonardoCabral, Luciana Chuke Pureza, Luis Dario Gutierrez, Marcia Facchina, Michelle Silva Milhomem,Patricia Kranz, Raquel Monti Henkin.

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    Apresentao

    O documento Agenda 21 Brasileira - Resultado da Consulta Nacional apresenta em detalhes o processo

    de construo da Agenda 21 Brasileira e as diferentes propostas resultantes dos debates estaduais.

    Nesta segunda edio ressaltamos a importncia do rol de contribuies que surgiram durante os debates

    dos seis temas estruturantes definidos na metodologia elaborada pela Comisso de Polticas de

    Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Nacional - CPDS, responsvel pela construo da Agenda

    21 no Brasil.

    Por diversas vezes ouvimos crticas ao processo coordenado pela CPDS, que internalizamos e

    procuraremos solucionar quando da revalidao da consulta feita sociedade na qual pretendemos

    incorporar a construo de Agendas 21 Locais. Assimilamos toda crtica como construtiva uma vez que

    Agenda 21 planejamento e como tal deve ser acompanhado e revisto periodicamente.

    Por outro lado, deixamos claro que omisses, contradies e conflitos no invalidam a consulta e sim

    fazem parte de um processo construdo de forma coletiva em um pas com as nossas dimenses e

    contrastes e, sobretudo, sem o hbito de trabalhar de forma participativa. O Resultado da Consulta

    Nacional deve ser lido e analisado como um resultado possvel nas circunstncias em que foi realizado e

    contar como apoio de governo e sociedade para ser constantemente aprimorado.

    Essa inteno est presente em nosso programa de governo. Estamos constantemente buscando novas

    parcerias para que a transversalidade de aes torne-se realidade em nosso dia a dia de trabalho.

    A CPDS teve sua composio e atribuies revistas. Durante as comemoraes da Semana do Meio

    Ambiente/2004, 34 membros tomaro posse da nova Comisso, que alm da implementao da Agenda

    21 Brasileira ter como atribuies apoiar os processos de agendas 21 locais e implementar aes

    educativas em Agenda 21 em diferentes bases geogrficas de nosso territrio.

    Assim, com essas e outras muitas aes envolvendo grupos e instituies da sociedade civil e do

    governo, a includos os bancos de fomento ao desenvolvimento, acreditamos que a cada revalidao da

    consulta feita sociedade para a Agenda 21 Brasileira teremos uma participao mais qualificada e

    consciente dos diferentes setores que formam nossa sociedade.

    Marina Silva

    Ministra do Meio Ambiente

    Presidente da CPDS

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    Introduo

    A Agenda 21 Brasileira composta de dois documentos distintos: Agenda 21 Brasileira - AesPrioritrias, que estabelece os caminhos preferenciais da construo da sustentabilidade

    brasileira, e Agenda 21 Brasileira - Resultado da Consulta Nacional, que ora apresentamos.

    No primeiro, a Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21

    Nacional - CPDS enumera os desafios emergenciais a serem enfrentados pela sociedade

    brasileira rumo a um novo desenvolvimento. As propostas apresentadas neste documento

    esto organizadas em 21 aes prioritrias que se emolduram sob temas como: a economia da

    poupana na sociedade do conhecimento, a incluso social por uma sociedade solidria, a

    estratgia para a sustentabilidade urbana e rural, os recursos naturais estratgicos - gua,

    biodiversidade e florestas,e a governana e tica para a promoo da sustentabilidade.

    O Resultado da Consulta Nacional traz as propostas apresentadas nas discusses realizadas

    em todo o territrio nacional durante o processo de construo da Agenda 21 Brasileira

    importante passo para a consolidao de um projeto de desenvolvimento sustentvel para o

    Brasil.

    A representatividade e o compromisso social dos participantes resultaram em propostas quevisam mudanas em todos os nveis: das questes das minorias, da pobreza e da excluso, at

    as necessrias adequaes tecnolgicas nos diversos setores da economia e o melhor

    aproveitamento da vocao ambiental de cada bioma.

    Com o processo de consulta nacional, compreendendo as fases da consulta temtica, em

    1999, da consulta aos estados da federao, ocorrida em 2000, e dos encontros regionais

    realizados em 2001, foram relacionados, nominalmente, seis mil atores sociais representantes

    de diferentes instituies. Como cada reunio foi precedida de encontros de sensibilizao,

    principalmente na fase estadual, quando os parceiros regionais, num perodo de quatro meses

    para cada estado, realizaram reunies pelo interior, estima-se que 40 mil pessoas, nesses

    quatro anos, foram envolvidas no processo.

    A primeira parte deste documento relata como ocorreu a construo da Agenda, com destaque

    para as diferentes etapas da consulta e a viso analtica do processo. Nela est descrita como

    foi aceito o desafio de ouvir as diversas manifestaes de um pas com dimenses

    continentais, desde a instalao da CPDS, instituda por decreto presidencial em 1997, at o

    resultado dos encontros regionais, concludos em 2001.

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    A segunda parte apresenta a viso de sustentabilidade das diferentes regies do pas

    organizadas em forma de princpios orientadores de polticas pblicas. Alm disso, o

    documento rene todas as aes sugeridas nos debates estaduais, sistematizadas sob o

    critrio de compatibilidade temtica, e precedidas de um texto introdutrio, que representa um

    resumo executivo dos documentos iniciais elaborados sobre os seis temas eleitos comoestratgicos pela CPDS: gesto dos recursos naturais, agricultura sustentvel, cidades

    sustentveis, reduo das desigualdades sociais, infra-estrutura e integrao regional e cincia

    e tecnologia para o desenvolvimento sustentvel.

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    Sumrio

    1 - O Processo de Construo da Agenda 21 Brasileira 8

    Sistematizao dos seis documentos temticos 12

    Ampliao da consulta sociedade brasileira: debates estaduais 13

    Encontros regionais e as dimenses da sustentabilidade 16

    Anlise dos encontros regionais 21

    2- Sustentabilidade na viso da sociedade brasileira

    30

    Premissas para a construo e implementao da Agenda 21 Brasileira 30

    Princpios gerais para a Agenda 21 Brasileira 30Dimenso geoambiental 32

    Dimenso social 34

    Dimenso econmica 35

    Dimenso poltico-institucional 36

    Dimenso da informao e conhecimento 37

    Especificidades regionais 38

    3 - Estratgias e Aes propostas para os seis temas da Agenda 21 Brasileira

    41

    Gesto dos recursos naturais 41

    Agricultura sustentvel 65

    Cidades sustentveis 93

    Infra-estrutura e integrao regional 106

    Reduo das desigualdades sociais 131

    Cincia e tecnologia para o desenvolvimento sustentvel 143

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    1 - O processo de construo da Agenda 21 Brasileira *

    A construo da Agenda 21 Brasileira, conduzida pela Comisso de Polticas de

    Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Nacional - CPDS1, teve como objetivo redefinir o

    modelo de desenvolvimento do pas, introduzindo o conceito de sustentabilidade e

    qualificando-o com as potencialidades e as vulnerabilidades do Brasil no quadro internacional.

    A preocupao de imprimir ao processo um carter amplo, participativo e espacialmente

    representativo, esteve presente em todas as etapas dessa construo. Por amplo, se entende

    a abordagem de um espectro significativo de temas de interesse estratgico. Por participativo,

    a consulta e o envolvimento de setores representativos da opinio pblica informada e de

    organizaes formais da sociedade civil. E por espacialmente representativo a considerao

    das particularidades do territrio nacional, permitindo que todas as unidades da federao e

    regies expressassem sua viso e expectativa e que os diferentes biomas brasileiros fossem

    contemplados.

    Essas trs caractersticas podem ser percebidas nos resultados obtidos nas diferentes fases

    que marcaram o processo.

    Anlise das fases da consulta nacional

    A metodologia de elaborao da Agenda privilegiou uma abordagem multissetorial da realidade

    brasileira, procurando focalizar a interdependncia das dimenses ambiental, econmica,

    social e institucional. Alm disso, determinou que o processo de elaborao e implementao

    devia observar o estabelecimento de parcerias, entendendo que a Agenda 21 no um

    documento de governo, mas um produto de consenso entre os diversos setores da sociedade.

    * Inclui elementos do texto "Agenda 21 Brasileira - Anlise crtica do processo de elaborao"

    de autoria dos Professores Maria Augusta Bursztyn e Marcel Bursztyn.

    Eleio de seis temas estratgicos

    A metodologia de trabalho aprovada pela CPDS selecionou as reas temticas e determinou a

    forma de consulta e construo do documento Agenda 21 Brasileira. A escolha dos temas

    centrais foi feita de forma a compreender a complexidade do pas e suas regies dentro do

    conceito da sustentabilidade ampliada. So eles: gesto dos recursos naturais, agricultura

    sustentvel, cidades sustentveis, infra-estrutura e integrao regional, reduo das

    desigualdades sociais e cincia e tecnologia para o desenvolvimento sustentvel.

    1 A CPDS foi criada por Decreto Presidencial de 26/02/97. Composio: Ministrio do Meio Ambiente;Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto; Ministrio da Cincia e Tecnologia; Ministrio das

    Relaes Exteriores; Presidncia da Repblica; Frum Brasileiro das Ongs e Movimentos Sociais;Fundao Getlio Vargas; Fundao Movimento Onda Azul; Conselho Empresarial para oDesenvolvimento Sustentvel; e Universidade Federal de Minas Gerais.

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    As reas temticas tiveram como princpio para sua definio no s a anlise das

    potencialidades, como o caso da gesto dos recursos naturais, grande diferencial do Brasil

    no panorama internacional, mas, tambm, fragilidades reconhecidas historicamente no

    processo de desenvolvimento, ou seja, as desigualdades sociais.

    Outro critrio abordado pela CPDS, na definio dos seis temas, foi necessidade de fugir da

    temtica setorial que exclui grupos e refora corporaes e, como conseqncia, leva a

    solues equivocadas. Tal recorte, por si s, induz o trato de questes estratgicas e

    estruturantes, com amplo espao para um enfoque em longo prazo.

    Dessa forma, utilizando mais uma vez o tema reduo das desigualdades sociais, observa-se

    que a temtica obriga profissionais de sade, educao, saneamento, direito e cidadania a

    conversarem para chegar a formulaes de polticas que contemplem a qualidade de vida do

    cidado e no apenas particularidades da vida do ser humano.

    Sobre cada tema foi realizado um trabalho de consulta aos diferentes segmentos. No sendo

    um documento de governo, esse processo de consulta foi capitaneado por entidades da

    sociedade sob a coordenao do Ministrio do Meio Ambiente-MMA, na condio de Secretaria

    Executiva da CPDS.

    Assim sendo, o MMA contratou, por intermdio de edital de concorrncia pblica nacional, seis

    consrcios, que se encarregaram de organizar o processo de discusso e elaborao de

    documentos de referncia sobre os temas definidos como centrais da Agenda 21. Por meio deworkshops e seminrios abertos ao pblico procurou-se envolver todos os setores que se

    relacionam com os temas em questo. A consulta tinha como objetivo identificar, em cada

    tema, a opinio dos diferentes atores sociais e, tambm, os conceitos, os entraves e as

    propostas para a construo da sustentabilidade.

    Os produtos do trabalho das consultorias, realizado durante o ano de 1999, foram

    sistematizados e consolidados em seis publicaes lanadas em janeiro de 2000.

    Diferentemente de uma motivao inicial restrita abordagem do desenvolvimento sustentvelsob uma tica que privilegiasse o meio ambiente em seus aspectos fsicos, o que se viu foi

    combinao de elementos de natureza fsico-territorial, social, econmica e poltico-

    institucional. Assim, os resultados iniciais dessa fase expressam vasta gama de estratgias e

    diretrizes, que podem representar bases para a construo de um projeto em longo prazo. A

    preocupao com a definio dos conceitos norteadores das anlises e proposies tambm

    uma caracterstica marcante nessa fase do processo.

    Por terem sido elaborados por equipes contratadas mediante licitao pblica e julgadas por

    mrito de competncia, os seis documentos renem uma grande densidade de informaes,anlises e conhecimentos terico-conceituais, organizados em torno dos seis temas focais. So

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    importantes peas de referncia, deflagradoras de um debate, mas passveis de validao e

    insero de novos elementos. Nesse sentido, essa etapa dos trabalhos contou com a

    realizao de duas rodadas de consulta a atores informados e representativos de instncias da

    sociedade, com vises estruturadas sobre cada um dos temas. O critrio para a participao,

    no caso, foi o de reunir atores sociais capazes de validar, opor ou contrapor elementospropostos nos documentos, sempre organizando os debates em torno de cada um dos seis

    temas. Ao final das consultas, os respectivos textos passaram a refletir no mais apenas a

    viso inicial das equipes responsveis pela elaborao da primeira verso, mas sim, os

    resultados que se chegou ao longo do processo, sempre mais lapidados.

    De uma maneira geral, o contedo dos seis documentos que serviram de subsdios configura

    um rico manancial de elementos que ultrapassam o universo de uma agenda estritamente

    ambiental. Coerentemente com a caracterstica dos atores envolvidos (tanto os formuladores

    das verses para debate, como dos participantes das consultas nessa etapa), o resultadoesperado foi de natureza ampla e prospectiva. Ficou evidente a importncia atribuda pelos

    participantes a temas de ordem social, como a pobreza, o provimento de infra-estrutura e

    servios bsicos (saneamento, transporte, educao e sade).

    Tal conduta difere daquela implcita nas agendas de pases desenvolvidos, em que os

    aspectos tpicos da melhoria da qualidade de vida privilegiam questes como reas verdes em

    centros urbanos, reduo da poluio sonora, paisagem e mesmo preservao do ambiente

    natural. Em nosso caso (e isso ficou claramente estabelecido na segunda fase da construo

    da Agenda 21 Brasileira), sobressai o fator humano e as carncias que comprometem a prpria

    subsistncia.

    A anlise dos seis documentos de subsdios revela uma paridade estrutural em suas formas.

    Todos, em maior ou menor grau, so propositivos e consideram relevante (de forma mais ou

    menos explcita) o princpio da subsidiariedade, ou seja, descentralizar, desconcentrar, operar

    em parcerias, desonerar o poder pblico de funes produtivas, sempre que esteja assegurada

    a capacidade reguladora do Estado. Ainda assim, o papel do Estado como ente maior na

    promoo do desenvolvimento sustentvel uma evidncia incontestvel em todo o processo.

    Feita a ressalva da forte nfase social, em todos os seis documentos so encontrados

    importantes subsdios a uma anlise do processo de gesto ambiental. Essa questo tratada

    tanto em seus aspectos instrumentais e gerenciais (zoneamento econmico-ecolgico, gesto

    integrada de bacias hidrogrficas, gesto de resduos slidos), como tecnolgicos (processos

    produtivos menos degradadores do meio natural, tratamento de lixo) e poltico-institucionais

    (recursos humanos, programas e polticas especficas).

    A educao, como vetor de transformaes, pode ser encontrada em vrios momentos e

    situaes. Assim, ela aparece ora como imperativo de justia social, ora como condio para a

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    construo de um futuro sustentvel, ou mais particularizada em aspectos prticos, como

    formao para o trabalho e aprendizado tecnolgico, e, evidentemente, em sua fisionomia

    ambiental.

    H tambm evidentes diferenas entre os seis documentos, que merecem destaque: C&T

    mais conceitual e prospectivo; reduo das desigualdades sociais claramente mais centrado

    numa pauta que contempla temas sociais com foco de curto e mdio prazos; infra-estrutura

    mais dirigido a aes que implicam investimentos em obras; integrao regional levanta

    questes de interesse econmico e de ordenamento territorial; cidades e recursos naturais

    abrem maior espao s agendas ambientais (verde, azul e marrom). Em comum, o fato de no

    apontarem meios de implementao', ou seja, no indicarem de onde viro os recursos para a

    materializao da Agenda 21.

    A leitura dos resultados finais da primeira fase aponta tambm para a constatao de algumasausncias notveis ou presenas tmidas. Neste ltimo caso evidente a pouca importncia

    atribuda dinmica demogrfica, merecendo referncia, tanto os cenrios de envelhecimento

    da populao e seus impactos, ao longo do sculo 21, como a prpria lgica de repartio

    territorial dessa populao (migraes, concentraes, ocupao de novas fronteiras).

    No que se refere s ausncias, chama a ateno a pouca importncia atribuda aos poderes

    Legislativo e Judicirio, seus papis e conformaes esperadas. Analogamente, embora a

    concentrao de riquezas no pas aparea associada anlise da pobreza, as polticas

    econmicas estruturais (fiscal, tributria, cambial), que seguramente so instrumentos para oenfrentamento do problema, no so contempladas.

    O tema qualidade de vida das populaes urbanas pode ser depreendido da considerao de

    questes como transporte e saneamento bsico (gua, lixo, esgoto e drenagem pluvial). Mas

    outros problemas latentes, como a segurana, o aumento da violncia e o crescimento das

    populaes de rua, esto ausentes. Da mesma forma, os direitos das minorias ou grupos

    sociais caractersticos (mulheres, ndios, negros, deficientes, homossexuais) so foco de pouca

    referncia.

    O papel da economia industrial, que tem uma identidade natural com o ambiente urbano,

    pouco abordado. Na verdade, a maior nfase do estudo das cidades se deu sobre os aspectos

    regulatrios e de ordenamento do uso do solo, juntamente com servios bsicos. A indstria

    mais vista como problema ambiental (o que incontestvel) do que como setor de atividade em

    si, gerador de empregos e tributos.

    Concluindo a anlise sobre lacunas verificadas nos seis documentos, cabe assinalar que as

    referncias a temas que repercutem nos debates internacionais so nfimas. o caso das

    mudanas climticas, da nova geopoltica resultante da ordem internacional globalizada eunipolar. Outros pontos igualmente relevantes, como a competitividade da economia brasileira

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    no cenrio internacional ou o papel que se espera do pas na economia mundial, foram

    relegados a um plano indireto (exceto no documento de C&T).

    A primeira fase culminou com a produo de um documento-sntese que teve a finalidade de

    integrar os resultados obtidos para os seis temas. A ampla gama de questes tratadas foi ento

    devidamente ordenada, eliminando-se alguns particularismos. Preparavam-se, assim, as bases

    para a extenso do processo s unidades da federao.

    Sistematizao dos seis documentos temticos

    Concluda a fase de elaborao dos documentos temticos a CPDS realizou uma anlise

    crtica sobre o processo desenvolvido, e entendeu que deveria ser ampliada a discusso em

    torno da agenda; no s para que alguns temas ausentes e relevantes fossem includos, como

    tambm para que segmentos da sociedade, que no tiveram oportunidade de se manifestar, ofizessem. S assim, concluiu a CPDS, se obteria o resultado esperado de formulao de

    polticas pactuadas entre os diferentes setores da sociedade brasileira.

    Outro aspecto relevante apontado pela anlise da CPDS foi constatao de que, embora a

    metodologia seguida tenha previsto uma ampla participao dos principais atores

    governamentais e da sociedade civil, os esforos despendidos durante a primeira consulta

    realizada em 1999 no lograram xito no sentido de colocar o processo de elaborao da

    Agenda 21 Brasileira na pauta poltica do pas.

    Essa constatao levou a deciso de consolidar os trabalhos realizados at aquele momento,

    no documento "Agenda 21 Brasileira _ Bases para Discusso". Esse documento entregue ao

    Presidente da Repblica em 8 de junho de 2000, alm de sistematizar os resultados das

    oficinas de trabalho e seminrios temticos realizados para a confeco dos seis documentos,

    apresentou os desafios de se construir a sustentabilidade em um pas de dimenses

    continentais como o Brasil. Teve, tambm, o mrito de discorrer sobre as principais questes

    no contexto das propostas j elaboradas, imprimindo uma viso matricial e abrangente dos

    problemas brasileiros.

    No lanamento do documento foi anunciada a continuidade do processo de elaborao da

    agenda por meio da realizao de debates estaduais a serem consolidados em encontros

    regionais, com o objetivo de construir uma agenda de desenvolvimento. A consulta inicial

    reflete a diversidade inter-regional no deixando de apontar a construo de um projeto

    nacional de desenvolvimento em bases sustentveis.

    O envolvimento do Presidente da Repblica na convocao dos diferentes segmentos da

    sociedade, a fim de ampliar os debates sobre as estratgias de desenvolvimento sustentvel,

    foi decisivo para a divulgao do processo e para despertar o interesse dos diferentes

    segmentos da sociedade.

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    Ampliao da consulta sociedade brasileira: debates estaduais

    De julho de 2000 a maio de 2001 a CPDS e o MMA visitaram 27 unidades da Federao

    divulgando, organizando e realizando os debates estaduais.

    Esse processo de convocao da sociedade para o debate sobre a Agenda 21 contou com a

    parceria dos governos estaduais, por meio das secretarias de meio ambiente e das instituies

    oficiais de crdito e de fomento ao desenvolvimento como, o Banco do Nordeste, a

    Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste, a Superintendncia do Desenvolvimento

    da Amaznia, o Banco da Amaznia, a Caixa Econmica Federal, o Banco do Brasil, o Banco

    Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul e a Petrobrs. Dessa forma, procurou-se o

    envolvimento de segmentos que no compareceram primeira consulta, como o setor

    produtivo que no havia at ento demonstrado maior interesse com o processo em curso.

    Os eventos estaduais tinham como objetivos: ampliar o debate sobre o elenco de propostas

    constantes no documento "Agenda 21 Brasileira _ Bases para Discusso"; contemplar a viso

    dos estados sobre o desenvolvimento sustentvel na Agenda 21 Brasileira e afirmar os

    compromissos assumidos entre os diferentes setores da sociedade com as estratgias

    definidas na Agenda.

    At a realizao dos debates estaduais a elaborao da agenda nacional havia se estruturado,

    por intermdio dos seis temas previamente selecionados, organizados em um documento-

    sntese, que, alm de apresentar resumos em linguagem simples das concluses dosdiagnsticos temticos, procurou levantar quais os principais entraves a sustentabilidade no

    Brasil, pesquisando nossa realidade e como essa se articula com o contexto social, econmico,

    poltico e ambiental global.

    De um modo geral, pode-se dizer que as proposies constantes nesse documento foram

    estruturadas da seguinte forma: para cada tema previamente selecionado pela CPDS, existe

    um conjunto de grandes estratgias, que por sua vez subdividido em aes. Essas aes, em

    alguns casos, so subdivididas em diretrizes especficas consecuo de cada ao.

    O quadro a seguir ilustra a estruturao metodolgica das propostas apresentadas no

    documento orientador das discusses nos estados.

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    Quadro 1: Estrutura das proposies apresentadas para os 06 temas da Agenda 21

    TEMAS

    Gesto dos

    Recursos

    Naturais

    Agricultura

    Sustentvel

    Cidades

    Sustentveis

    Infra-estrutura e

    Integrao

    Regional

    Reduo das

    Desigualdades

    Sociais

    C&T para o

    Desenvolvimento

    Sustentvel

    5

    ESTRATGIAS

    4

    ESTRATGIAS,

    mais:

    ESTRATGIAS

    POR BIOMAS e

    OUTRAS

    ESTRATGIAS

    E AES

    4

    ESTRATGIAS

    PREMISSAS e

    4 AGENDAS

    4

    ESTRATGIAS

    6

    CORTES

    TEMTICOS

    AES AES AES AES AES AES

    diretrizes de

    execuo das

    aes

    diretrizes de

    execuo das

    aes

    aes

    Durante os debates estaduais as contribuies poderiam ocorrer nos diversos nveis

    (estratgias, aes ou diretrizes especficas). Contudo, em uma breve anlise dos relatrios

    estaduais, pode-se verificar que em relao s estratgias propostas poucos foram os

    acrscimos e nenhuma supresso_ o que ratifica as grandes propostas apresentadas.

    As contribuies estaduais ocorreram em nvel das aes e diretrizes, sendo que a maioria

    delas de forma e no de contedo _ onde se pode constatar a incluso das peculiaridades

    locais, ou mesmo o interesse corporativo dos proponentes.

    Nos vinte e seis debates realizados22 foram apresentadas e discutidas 5.839 propostas,

    endereadas aos seis temas da agenda nacional. Agricultura sustentvel foi o tema que mais

    recebeu propostas (32%), seguido por gesto dos recursos naturais (21%),

    infra-estrutura e integrao regional (14%), reduo das desigualdades sociais (12%), cincia e

    tecnologia para o desenvolvimento sustentvel (11%) e cidades sustentveis (10%).

    Trs mil e novecentos representantes de instituies governamentais, civis e do setor produtivo

    participaram dos debates estaduais realizados.

    2 O estado do Amap no realizou o debate

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    Como resultado, foi produzido um documento de relatoria, para cada estado brasileiro que

    expressa a viso predominante no estado, sobre as contribuies apresentadas pelas

    diferentes entidades locais e sobre as diretrizes e aes constantes no documento "Agenda 21

    Brasileira _ Bases para Discusso".

    Dos 3.900 participantes nos debates estaduais, 7% estiveram presentes na regio Sul, 18% na

    regio Norte, 39% no Nordeste, 20% no Sudeste e 15% no Centro-Oeste.

    Descentralizao e ao em nvel local so uma tnica marcante nas aes propostas. Mas a

    interveno do poder pblico, por intermdio de polticas pblicas de carter nacional, uma

    constante em todas as dimenses em que foi recortado o universo das aes estratgicas

    propostas.

    A julgar pelos resultados das consultas, a Agenda 21 Brasileira assume fisionomia bem

    diferenciada do formato verificado na verso global de 1992. Em nosso caso, os problemas

    sociais sobressaem, por serem mais visveis e demandarem solues mais imediatas. Os

    temas relativos s minorias (gnero, sexo, populaes tradicionais, crianas, idosos,

    deficientes fsicos) aparecem, mas vinculados, sobretudo ao provimento de direitos

    fundamentais, como educao e sade.

    Merecem destaque s referncias ao tema do semi-rido, presente nos debates da regio

    Nordeste. Ofuscado nas pautas de debates sobre meio ambiente, esse tema ressurge como

    prioridade, demonstrando no s sua relevncia, mas principalmente a capacidade deorganizao dos segmentos sociais regionais. A questo da seca e da desertificao do

    Nordeste emerge agora no mais apenas como drama climtico, mas como problema

    ambiental, em sentido amplo.

    Diferentemente da primeira fase, quando atores sociais com formao predominantemente

    tcnica e acadmica debateram documentos temticos elaborados com nfase generalista,

    nessa fase de consultas tendncia foi a da particularizao das proposies. A

    representatividade e o compromisso social de parte dos participantes resultou em uma pauta

    que serviu de contraponto quela que emanou dos documentos de subsdios. Assim, parte daslacunas at ento verificadas foram devidamente enfocadas: as minorias, todas as formas e

    mazelas da pobreza e da excluso, as expectativas de setores econmicos e as caractersticas

    do ambiente natural de cada bioma.

    Em suma, se por um lado, a primeira fase foi prdiga em anlises tcnicas, segunda primou

    pelo particularismo e impressionismo de curto prazo. O fato de colocar na rua' a discusso da

    Agenda 21 foi marcante e teve um impressionante efeito mobilizador de meios e aes para

    deflagrar as iniciativas de elaborao de agendas locais - tanto estaduais, como municipais.

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    Seria necessrio um equilbrio, um compromisso que resgatasse os resultados positivos

    desses momentos.

    Encontros regionais e as dimenses da sustentabilidade

    Em cada regio, ao final dos debates estaduais, realizou-se um encontro, onde foram

    analisados os documentos de relatoria dos estados, com o objetivo de obter as tendncias

    dominantes entre as propostas apresentadas. Os encontros regionais foram realizados no

    perodo de junho a outubro de 2001.

    Nesses encontros a CPDS props uma nova estrutura de organizao das aes para a

    Agenda 21. Para a identificao das macrotendncias do desenvolvimento sustentvel

    regional, discutidas durante os debates estaduais, a CPDS definiu que o trabalho de

    sistematizao utilizasse o recurso metodolgico de construo de matrizes com os seguintesobjetivos:

    1. facilitar a identificao dos princpios estratgicos para o desenvolvimento sustentvel

    regional;

    2. permitir eventuais incluses ou revises das estratgias e aes aps anlise da

    matriz-sntese;

    3. definir as aes prioritrias para a regio que iro promover a reorientao do modelo

    de desenvolvimento; e,

    4. identificar os responsveis pela implementao das aes prioritrias eleitas.

    Para a definio de uma metodologia que pudesse dar nova formatao s proposies

    apresentadas, sob estrutura de um quadro, analisou-se a literatura acerca da elaborao de

    agendas, tendo como marco referencial o documento da Conferncia das Naes Unidas sobre

    Meio Ambiente e Desenvolvimento - a Agenda 21 e os documentos para a elaborao da

    agenda nacional.

    Essa anlise constatou que as contribuies apresentadas, em sua essncia, podem ser

    alinhavadas em cinco dimenses da sustentabilidade _ a geoambiental, a social, a econmica,a poltico-institucional e a da informao e do conhecimento3.

    Por sua vez, no contexto de cada dimenso, foram identificadas 21 linhas estratgicas

    estruturantes do desenvolvimento sustentvel que permitem enquadrar todas as propostas

    discutidas no encontro regional. Essas 'linhas' so tpicos que constam, de modo recorrente,

    3 H quem apresente mais de cinco dimenses para caracterizar o desenvolvimento sustentvel. Abibliografia sobre as dimenses da sustentabilidade ampla. Nos documentos temticos da Agendabrasileira pode-se, por exemplo, verificar a rica contribuio acerca do tema. O objetivo de condensar aum menor nmero possvel teve a finalidade prtica e operacional de permitir ampla viso das

    proposies e, ao mesmo tempo, facilitar o entendimento do conjunto de propostas apresentadas para umimenso e variado pblico participante da construo. Compatibiliza-se tambm com o documento daCNUMAD (Rio 92).

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    nas pautas das agendas nacionais e internacionais, de acordo com a reviso bibliogrfica

    realizada4.

    Linhas estratgicas eleitas para cada dimenso:

    a) Dimenso geoambiental

    1. Uso sustentvel, conservao e proteo dos recursos naturais.- Esta linha trata do uso e

    manejo sustentvel dos recursos e das propostas de conservao e controle da diversidade

    biolgica, da atmosfera, dos recursos hdricos, do solo. Trata tambm do combate ao

    desflorestamento, da proteo dos oceanos, mares e das zonas costeiras e do manejo de

    ecossistemas frgeis.

    2. Ordenamento territorial.- Trata do ordenamento do uso do solo e da ocupao e do espao

    urbano e regional; e da abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos

    recursos naturais. Essa rea envolve propostas acerca de implantao do zoneamento

    ecolgico-econmico, da criao e instalao de unidades de conservao e outras reas

    protegidas, do desenvolvimento dos assentamentos humanos, da reorganizao do meio rural

    e da dotao de infra-estrutura de saneamento, energia, transporte e comunicao do espao

    constitudo.

    3. Manejo adequado dos resduos, efluentes, das substncias txicas e resduos radioativos .-

    Trata das questes de destinao das descargas pluviais, dos resduos slidos e dos esgotos

    urbanos. Relaciona tambm as aes desejadas ao controle, transporte, e disposio dos

    rejeitos industriais (txicos e radioativos), a includos os defensivos agrcolas.

    4. Manejo sustentvel da biotecnologia.- Cuida especialmente da questo da produo de

    conhecimentos e manejo da biotecnologia que devem ser pautados pela tica da vida e

    respeito aos ecossistemas e diversidade biolgica.

    b) Dimenso social

    5. Medidas de reduo das desigualdades e de combate pobreza.- Relaciona as aes para

    reduo das desigualdades sociais, como erradicao do analfabetismo e do trabalho infantil; e

    as medidas estruturantes de combate pobreza, como a distribuio de renda. Nessa linha

    tambm esto includas as medidas compensatrias tais como: programas como renda

    mnima, bolsa-escola, crdito popular e reduo da jornada de trabalho.

    4 As agendas consultadas foram: A Agenda 21 Global _ documento da CNUMAD. ONU(1993); O Brasil navirada do milnio. IPEA (1997); Brasil 2020 _ cenrios exploratrios. SAE (1998); Nordeste _ uma

    estratgia de desenvolvimento sustentvel. Projeto ridas (1995); MIDAS _ Estratgia deDesenvolvimento de Rondnia 2020 _ Bartholo Jr. R e Bursztyn M. (1999); A caminho da Agenda 21Brasileira. MMA(1998); e Agenda 21Brasileira _ bases para discusso. MMA,PNUD (2000).

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    6. Proteo e promoo das condies de sade humana e seguridade social.- Envolve o

    conjunto de proposies para melhoria da sade populacional e das aes bsicas de sade

    pblica e das aes de seguridade social da populao.

    7. Promoo da educao e cultura para a sustentabilidade.- Abrange as aes referentes

    melhoria da qualidade da educao, envolvendo aspectos do ensino e da promoo da cultura

    brasileira.

    8. Proteo e promoo dos grupos estratgicos da sociedade.- Envolve aes para a melhoria

    de qualidade de vida da mulher chefe de famlia; aes para a infncia e a juventude, dos

    portadores de necessidades especiais e promoo e fortalecimento do papel das comunidades

    tradicionais e etnicamente diferenciadas e das populaes indgenas.

    c) Dimenso econmica

    9. Transformao produtiva e mudana dos padres de consumo.- So as aes propostas

    visando progressiva alterao do sistema produtivo e dos padres qualitativos e quantitativos

    de consumo da sociedade para a sustentabilidade.

    10. Insero econmica competitiva.- Relaciona as medidas de reavaliao do modelo de

    desenvolvimento da produo nacional, envolvendo aes para reduzir o custo de produo

    (custo Brasil), verticalizao da produo e valorao dos recursos.

    11. Gerao de emprego e renda reforma agrria e urbana.- Envolve aes estruturantes que

    objetivam a criao de emprego e renda, a reduo da concentrao fundiria rural, e as que

    propiciam condies dignas de moradia s populaes rural e urbana5.

    12. Dinmica demogrfica e sustentabilidade.- Trata de propostas orientadas no sentido do

    controle populacional, da migrao e suas conseqncias para a sustentabilidade6.

    d) Dimenso poltica e institucional

    13. Integrao entre desenvolvimento e meio ambiente na tomada de decises .- Esse eixo

    enquadra as proposies, de competncia do estado, que visem adoo de polticas pblicas

    integradoras, pautadas no critrio da sustentabilidade.

    5 As reformas agrria e urbana, includas na dimenso econmica, refletem o desgnio de transformaresses temas, atualmente circunscritos em aes e medidas compensatrias, em aes estratgicas dedesenvolvimento econmico.

    6 Essa linha estratgica foi includa na dimenso econmica face s implicaes diretas com a estruturaprodutiva e com o modelo econmico de desenvolvimento.

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    14. Descentralizao para o desenvolvimento sustentvel.- Rene as proposies relativas

    necessidade de integrao e descentralizao das decises governamentais e trata da

    iniciativa das autoridades locais (mbito municipal).

    15. Democratizao das decises e fortalecimento do papel dos parceiros do desenvolvimento

    sustentvel.- Organiza as propostas referentes necessidade de envolvimento da populao

    nas decises das polticas pblicas e na democratizao das polticas de desenvolvimento,

    enfatizando a criao de conselhos, fruns de debate e deciso. Inclui tambm as aes

    voltadas ao fortalecimento de organizaes no-governamentais, trabalhadores e seus

    sindicatos, associaes empresariais (comrcio, indstria e agricultura) _ os setores

    organizados da sociedade, para a construo do desenvolvimento sustentvel.

    16. Cooperao, coordenao e fortalecimento da ao institucional.- Engloba o conjunto de

    aes voltadas ao fortalecimento do estado como mediador, regulador e controlador das aessociais e econmicas, a includos os acordos internacionais. As propostas dizem respeito

    exclusivamente competncia das instituies pblicas nos seus diferentes nveis (federal,

    estadual e municipal).

    17. Instrumentos de regulao.- Rene as proposies referentes s aes executivas do

    poder pblico, sob a responsabilidade dos governos municipais, estaduais e federal voltadas

    criao de instrumentos e mecanismos jurdicos, administrativos, tributrios e creditcios.

    e) Dimenso da informao e do conhecimento

    18. Desenvolvimento tecnolgico e cooperao, difuso e transferncia de tecnologia .-

    Abrange as aes voltadas para o desenvolvimento tecnolgico agropecurio, industrial, para a

    proteo dos ecossistemas e para a mudana social, pautados pela premissa da

    sustentabilidade. Essa rea rene tambm as proposies relativas transferncia tecnolgica

    e conjunto de aes que assegurem o acesso s tecnologias limpas.

    19. Gerao, absoro, adaptao e inovao de conhecimento.- Trata do conjunto de aes

    voltadas pesquisa cientfica e produo de conhecimento.

    20. Informao para a tomada de deciso.- Engloba o conjunto de aes destinadas

    produo e sistematizao de informaes (indicadores, parmetros, ndices e banco de

    dados), destinadas a auxiliar a tomada de deciso. Inclui tambm a divulgao do

    conhecimento e da informao para tomada e deciso, assegurando os princpios da

    transparncia, do controle social, e da segurana pblica.

    21. Promoo da capacitao e conscientizao para a sustentabilidade.- Trata de propostas

    relativas a internalizao da questo ambiental nos hbitos e costumes da sociedade por meio

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    da educao ambiental, e da capacitao para a sustentabilidade das instituies e atores

    sociais.

    A deciso por parte da CPDS de alterar o ordenamento das proposies constantes na

    estrutura temtica original da Agenda para uma nova moldura matricial cumpriu os seguintes

    objetivos:

    formular polticas pblicas integradas compatveis com os princpios da

    sustentabilidade;

    analisar de modo sistmico, o conjunto de propostas, identificando as convergncias e

    lacunas das diversas aes apresentadas;

    permitir melhor visualizao das estratgias e enquadramento das aes;

    facilitar o processo participativo promovendo a integrao de vises setoriais e o

    esforo de consenso; fornecer a conciso e objetividade necessrias elaborao de um documento de

    natureza abrangente e complexa;

    romper com as vises segmentadas da diviso temtica originalmente apresentada.

    A partir dessa nova moldura pode-se inferir que todas as propostas apresentadas enquadram-

    se no conjunto das 21 linhas estratgicas identificadas a partir das cinco dimenses.

    O quadro a seguir apresenta em forma de matriz-sntese, o conjunto de linhas estratgicas

    identificadas para cada dimenso da agenda.

    Quadro 2: Linhas estratgicas estruturadoras da Agenda 21 Brasileira, segundo as

    diferentes dimenses da sustentabilidade.

    DIMENSES LINHAS ESTRATGICAS

    GEOAMBIENTAL

    1. Usosustentvel,conservao eproteo dosrecursos naturais.

    2. Ordenamentoterritorial.

    3. Manejoadequado dosresduos,efluentes, dassubstncias

    txicas eradioativas.

    4. Manejosustentvel dabiotecnologia.

    SOCIAL

    5. Medidas dereduo dasdesigualdades ede combate pobreza.

    6. Proteo epromoo dascondies desade humana eseguridade social.

    7. Promoo daeducao ecultura, para asustentabilidade.

    8. Proteo epromoo dosgruposestratgicos dasociedade.

    ECONMICA

    9. Transformaoprodutiva emudana dospadres deconsumo.

    10. Inseroeconmicacompetitiva.

    11. Gerao deemprego e rendareforma agrria eurbana.

    12. Dinmicademogrfica esustentabilidade.

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    POLITICO-INSTITUCIONAL

    13. Integraoentredesenvolvimentoe meio ambientena tomada dedecises.

    14.Descentralizaopara odesenvolvimentosustentvel.

    15.Democratizaodas decises efortalecimento dopapel dosparceiros dodesenvolvimento

    sustentvel.

    16. Cooperao,coordenao efortalecimento daao institucional.

    17.Instrumen-tos deregulao.

    DAINFORMAO

    E DOCONHECIMENTO

    18.Desenvolvimentotecnolgico ecooperao,difuso etransferncia detecnologia

    19. Gerao,absoro,adaptao einovao doconhecimento.

    20. Informaopara a tomada dedeciso.

    21. Promoo dacapacitao econscientizaopara asustentabilidade.

    Essa nova organizao permitiu que se verificasse a imensa superposio de aes _ e at

    mesmo de estratgias que foram apresentadas nos diversos fruns de consulta. A

    recomendao de se tributar s atividades que degradam o meio ambiente e a necessidade de

    se realizar o zoneamento ecolgico-econmico, por exemplo, est presente nos temas degesto de recursos naturais, agricultura sustentvel, infra-estrutura e integrao regional e

    cidades sustentveis.

    Outra constatao marcante foi preponderncia de propostas centradas na dimenso

    poltico-institucional, especialmente na nfase de se delegar iniciativas s instituies pblicas

    _ como foi o caso do tema cidades sustentveis. Se por um lado essa tendncia reflete o

    desejo de mudana na ao estatal, por outro, credita a responsabilidade de execuo e

    implementao da Agenda prioritariamente ao poder pblico.

    Anlise dos encontros regionais

    O produto dos encontros regionais, que instrui a anlise que se segue, um conjunto de cinco

    documentos sintticos que revelam ricos subsdios para a construo da Agenda 21.

    O manancial de aes estratgicas que emergiram do processo amplo e diversificado. As

    diferenas regionais so marcantes, quando vistas pela tica do foco e do grau de

    abrangncia.

    A consulta - um exerccio complexo de democracia participativa - se revelou como canal de

    expresso de vontades de segmentos organizados da sociedade. Assim, as propostas

    apresentadas extrapolam os horizontes restritos de uma agenda ambiental limitada tica

    ecolgica. Embora questes tpicas das agendas verde, azul e marrom estejam presentes,

    constata-se a relevante incidncia de demandas de natureza social, econmica, de provimento

    de infra-estrutura. Tal evidncia permite algumas constataes:

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    1. o processo democrtico de construo da Agenda 21 Brasileira serviu como

    termmetro da manifestao das vises e das demandas de amplos segmentos da

    sociedade;

    2. a situao brasileira, marcada pela persistente dvida social' evidencia que a resoluo

    das lacunas distributivas, de justia social e de provimento de requisitos bsicos dobem-estar sobressai como imperativo imediato, relativamente agenda estritamente

    ecolgica;

    3. os aspectos tpicos da demanda por melhor qualidade de vida, presentes nas agendas

    dos pases materialmente ricos como inerentes qualidade ambiental (reas verdes,

    florestas, rios limpos, rudos, trnsito fluindo etc.) e ao bom funcionamento de servios

    (lixo, defesa do consumidor), no caso brasileiro aparecem nitidamente como

    condicionados resoluo de questes bsicas como educao, sade, infra-estrutura,

    renda e emprego;

    4. h importantes elementos de ligao entre a dimenso geoambiental e a social,

    notadamente no que se refere ao papel da educao, do saneamento e da gesto dos

    resduos slidos, mas a percepo de tais problemas se d, em grande medida, pela

    carncia de polticas sociais.

    Fica clara a notvel expectativa dos setores sociais ouvidos quanto ao papel regulador e

    provedor do poder pblico. Este aparece ora sob a forma de iniciativas de carter jurdico-

    normativo, ora como fomentador de atividades privadas, ora como provedor de mecanismos de

    proteo social, ou como operador de aes voltada ao bem comum. A grande incidncia de

    temas e propostas vinculadas s dimenses sociais e econmicas traduz a tendncia dos

    setores organizados da sociedade para expressar suas vises e anseios sempre que

    encontram um canal de participao. As janelas abertas pela democracia participativa - nesse

    caso apenas em nvel consultivo, sem poder de deciso inerente - constituem uma formidvel

    vlvula de escape da expresso da cidadania e de comunicao entre o Estado e a sociedade.

    Em termos regionais, a anlise geral dos resultados da consulta revela que no h relao

    direta entre o nmero de atores participantes do processo e o teor (em termos de abrangncia,

    temtica e detalhamento) das aes propostas. O Sudeste, seguido do Sul, foram s regies

    que mais se destacaram tanto no universo de temas como no grau de focalizao e aspectos

    especficos.

    Finalmente, em termos de consideraes gerais sobre o processo de consultas a atores nos

    estados e regies, cabe assinalar que a soma de todas as aes propostas no forma

    automaticamente um Projeto Nacional, para o Brasil, ou seja, uma estratgia de construo de

    um futuro socialmente justo, economicamente vivel, ambientalmente sustentvel e poltico-

    institucionalmente possvel. Um projeto nacional no emana direta e exclusivamente de um

    processo construtivista fundamentado na democracia participativa. Esse processo condio

    desejvel e necessria, mas no pode ser suficiente. A viso estratgica, estrutural, integrada e

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    informada por cenrios criteriosos e cientficos fundamental. Mas no papel dos atores

    representativos dos segmentos da sociedade deter conhecimento e informao capazes de

    pensar o futuro em todos os seus aspectos, implicaes e dimenses. Isso tarefa para o

    grupo composto pelos especialistas. A Agenda 21 Brasileira dever combinar esses dois

    conjuntos de insumos.

    A seguir, so comentados os resultados da consulta regional, seguindo a organizao

    metodolgica adotada para a elaborao dos documentos-sntese regionais. Assim, a anlise

    segue a ordem das cinco dimenses em que as aes estratgicas foram propostas nas

    regies. Para cada uma das dimenses foi elaborado um quadro-sntese, contendo os

    principais temas incidentes nas propostas. Trata-se de inferncia analtica, em que questes

    correlatas foram agregadas de forma a identificar os focos mais destacados.

    Dimenso geoambiental

    digno de referncia a quase nula vinculao das aes estratgicas propostas com as

    grandes questes ambientais globais. A pauta dos debates ambientalistas e diplomticos

    internacionais, como mudanas climticas, poluio dos oceanos, regulamentao do

    transporte transfronteirio de substncias perigosas, deplecionamento da camada de oznio,

    entre outros, quase imperceptvel na leitura dos resultados da consulta. Uma solitria

    referncia ao efeito estufa aparece, como exceo, dentro de um elenco de medidas bem

    focadas sobre universos locais e regionais e abrangendo o modo e a qualidade de vida das

    respectivas populaes.

    A desertificao, tema recorrente nos fruns internacionais, surge como uma referncia

    vinculada manifestao de um problema regional.

    tambm relevante assinalar que parte considervel das aes estratgicas sugeridas

    passvel de ser resolvida com a implementao de polticas e instrumentos j existentes. Isso

    se aplica tanto a temas relativos gesto ambiental (a exemplo da Poltica Nacional de

    Recursos Hdricos ou do Sistema Nacional de Unidades de Conservao), como a problemas

    de natureza social e econmica (caso das polticas de renda mnima ou do provi mento de infra-estrutura urbana).

    A demanda de iniciativas pblicas dentro do quadro de mecanismos formalmente existentes

    revela o sentimento, por parte dos atores consultados, de que tais problemas so recorrentes.

    Da se depreende a constatao de que h desconhecimento dos instrumentos ou de que os

    mesmos no so efetivos. Neste ltimo caso, as demandas se referem superao de

    problemas como falta de recursos financeiros, humanos ou institucionais. Em outras palavras,

    grande nmero das aes estratgicas sugeridas passvel de resoluo caso sejam

    implementadas polticas e instrumentos j existentes. mais um problema de falta deefetividade do que de falta de polticas pblicas.

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    A anlise das aes estratgicas sugeridas no processo de consultas mostra tambm uma

    grande variao nos seus graus de profundidade e detalhamento.

    H propostas gerais como mudanas na poltica energtica e outras bem particulares, como a

    construo de ciclovias. Tambm no que concerne comparao entre as regies, h

    diferena nos nveis de detalhe das propostas. O Sul e o Sudeste sugerem aes gerais e

    particularizadas que abrangem e aprofundam amplo universo de questes. J no Centro-Oeste,

    as medidas sugeridas tm carter mais geral e uma preocupao com a proteo do bioma

    Cerrado _ ameaado pelo avano da fronteira agrcola. Nesse sentido apontam-se inmeras

    aes de precauo com o modelo de ocupao da regio.

    Uma constatao que decorre do processo a de que o conjunto de polticas, planos,

    programas e projetos existentes percebido pelos atores consultados como desconexos entre

    si. Isso ficou mais evidente na anlise dos resultados da regio Sul, onde foi apontado oimperativo de se integrar mecanismos de ao governamental (ex: planos de bacia hidrogrfica

    com zoneamento e planos diretores municipais).

    Dimenso social

    A consulta aos atores sociais, organizadas em nvel das regies, mostrou a importncia dos

    problemas sociais brasileiros. O grau de detalhamento das aes propostas ilustrativo da

    presena de representantes de expressivos segmentos da sociedade interessados em temas

    bem particulares. Por outro lado, a expresso de demandas mais gerais atesta que alguns dosatores participantes da consulta tm uma viso mais integrada das questes abordadas.

    Propostas amplas, como a reduo das causas da violncia ou a extino do assistencialismo,

    se mesclam a outras, bem particulares, como a poltica de preveno de determinadas

    doenas.

    O tema sade revelou-se como foco de concentrao de demandas e aes estratgicas. O

    espectro de recomendaes amplo, tanto do ponto de vista do detalhamento dos alvos

    sociais (ndios, idosos, famlia), como do recorte temtico (sade mental, cncer de mama,

    controle de vetores).

    Em alguns casos, parece haver excesso de detalhes nas proposies, como o caso da meta

    sugerida na regio Sul, de se estabelecer quota de 50% de representao feminina no poder,

    at 2010. Vale ressaltar que existe dispositivo na legislao eleitoral estabelecendo que 30%

    dos candidatos sejam mulheres, mas isso no assegura que o resultado das eleies siga essa

    proporo.

    A leitura das aes estratgicas propostas na dimenso social mostra tambm que o poder

    pblico o nico depositrio de responsabilidades na resoluo dos problemas apontados.Polticas pblicas, regulamentao, cumprimento de polticas e aplicao de instrumentos,

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    quase sempre j existentes, so a tnica das aes propostas. Como exemplos, vale citar:

    poltica de renda mnima e bolsa-escola, aplicao do estatuto da criana, operao do

    Sistema nico de Sade, Defesa Civil, erradicao do trabalho infantil e combate seca do

    Nordeste.

    Chama a ateno a pouca referncia ao problema da violncia, que sabidamente preocupa as

    populaes, principalmente nas cidades de grande porte.

    Outra lacuna notvel a de propostas efetivas de aes voltadas a uma poltica demogrfica

    ou de planejamento familiar. Praticamente no h demanda sobre esse tema. Considerando

    que a Agenda 21 , por excelncia, um frum em que emergem temas tributrios ao debate

    sobre sustentabilidade e que este tem sua histria marcada por referncias sobre a questo

    demogrfica, seria de se esperar que tal questo suscitasse debates na consulta.

    Dimenso econmica

    O tema mais marcante entre as aes estratgicas recomendadas em nvel da dimenso

    econmica o da agricultura. Associando-se as propostas para a agricultura s relativas

    reforma agrria, silvicultura, verticalizao da produo rural, cadeias produtivas agrcolas e

    turismo rural, poucos outros temas foram objeto de debates. Isso pode ser explicado, em parte,

    ao fato de que entre as 5.839 propostas que emanaram dos debates nos estados, 31%

    concentraram-se em torno do documento agricultura sustentvel, ficando os demais 69%

    divididos entre os outros cinco documentos. Por outro lado, a prpria natureza dos temas dosdocumentos pode ter induzido uma maior ateno dada agricultura, quando analisada a

    dimenso econmica dos resultados da consulta.

    No h como negar que h contedo econmico nos seis temas que foram objeto dos

    documentos especficos que nortearam o debate. H espao para se analisar a economia em

    cidades sustentveis, em infra-estrutura, em reduo s desigualdades , em cincia e

    tecnologia e em gesto dos recursos naturais. Mas plausvel se supor que pode ter havido,

    nos debates estaduais, uma inclinao a reduzir os referidos temas a enfoques setoriais.

    Se tentarmos ampliar a busca de referncias ao setor industrial, poderemos encontrar algo

    implcito nas aes propostas para o tema tecnologia, em particular no que concerne ao

    aproveitamento (industrial) (dos resduos slidos).

    Uma leitura depois da consulta regional permite que se identifiquem lacunas relevantes entre

    as aes estratgicas propostas. o caso dos temas indstria, minerao, turismo (no

    ecolgico ou rural) e, mesmo em nvel das atividades agrcolas, a grande produo agrcola e

    pecuria.

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    digno de nota a ausncia do turismo (tradicional) como atividade econmica relevante,

    sobretudo em regies como o Nordeste e a Amaznia.

    Em se tratando de Agenda 21, a existncia de tais lacunas na esfera da economia significa

    uma falha a ser reparada. Afinal, no se pode pensar em futuro sem a considerao desses

    setores dinmicos da economia.

    Um tema, vinculado ao meio agrrio, merece destaque entre as propostas para a dimenso

    econmica: a diversificao das atividades da pequena produo rural, instituindo-se outras

    funes que no apenas a agrcola ou a pecuria. Trata-se da multifuncionalidade, que vem

    ganhando importncia em todo o mundo, com destaque para o agroturismo e o ecoturismo.

    Essas novas funes no meio rural serviriam como geradoras de emprego, ampliando as

    condies de vida e de permanncia das populaes no campo.

    Cabe ressaltar que o tema energia aparece de forma bastante tmida entre as aes propostas

    na consulta aos atores regionais. Uma referncia geral reorientao da matriz energtica

    nacional' aparece na regio Norte, juntamente com a proposta de um plano estratgico na rea

    de energia', no Nordeste, ou a recomendao de se buscar a co-gerao, no Centro-Oeste.

    Curiosamente, o Sul e o Sudeste no trataram a questo energtica na dimenso econmica.

    Mesmo mostrando que o setor agrrio foi depositrio do maior nmero de aes propostas,

    chama a ateno o fato de a reforma agrria no aparecer explicitamente com destaque. Na

    verdade, o foco privilegiado foram temas como a agricultura familiar, o crdito rural ou aassistncia tcnica. A reforma agrria pode ser mais percebida dentro desses temas, do que

    como vetor de aes em si mesmo.

    Dimenso poltico-institucional

    Quatro categorias de questes marcam profundamente as aes estratgicas propostas em

    nvel da dimenso poltico-institucional: a subsidiariedade, a descentralizao das aes

    pblicas, as parcerias e as decises colegiadas. Sobressai, na leitura dos relatos regionais, a

    forte influncia dos debates que ganharam relevncia ao longo da ltima dcada do sculo XX.

    Todo o conjunto de procedimentos e aes propostas nas dimenses precedentes se

    materializa em propostas poltico-institucionais fortemente marcadas por uma viso que

    privilegia a ao do Estado como ente regulador e provedor maior. Fica patente o papel do

    poder pblico no processo de ambientalizar os instrumentos regulatrios em geral e os de

    natureza econmica em particular (ex: ICMS ecolgico, combate a biopirataria, incentivos

    fiscais a atividades sustentveis).

    Uma vez mais, fica evidente a explicitao de propostas que fazem parte da misso depolticas e instrumentos j existentes. No caso, a constatao de que os atores sociais

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    representados nas consultas demandam uma maior efetividade dos referidos mecanismos. o

    caso da proposta de demarcao das terras indgenas , que no carece de meios legais ou de

    instrumentos de poltica pblica, mas de meios materiais/financeiros e vontade poltica.

    Em termos temticos, a tendncia geral verificada ao longo do processo de consulta, em que

    as questes agrrias e de recursos naturais foram objeto de maior nmero de propostas,

    tambm se reflete na dimenso poltico-institucional. O foco sobre tais questes enfatiza a

    necessidade de se incrementar a capacidade do Estado em exercer o papel regulador, seja

    mediante o acrscimo de meios materiais, seja pela formulao de polticas pblicas. Em

    ambos os casos, o fortalecimento institucional uma constante.

    Algumas demandas bem genricas aparecem entre as medidas propostas.

    o caso da democratizao do processo decisrio.

    A constituio de redes para a governabilidade citada em vrios momentos, tanto na escala

    da relao sinrgica entre municpios com problemas semelhantes, como em nvel das

    interfaces governo _ sociedade civil, ou mesmo entre diferentes instncias de governo.

    Como ausncia, vale mencionar a falta de propostas sobre os recursos humanos necessrios

    implementao das aes em nvel poltico-institucional. H um claro abismo entre a

    abrangncia e detalhamento de iniciativas de responsabilidade do poder pblico e a falta de

    propostas voltadas tanto para a capacitao como para o recrutamento e incentivos funcionais

    aos protagonistas da ao estatal. H tambm uma lacuna que diz respeito

    institucionalizao dos temas tratados na Agenda 21 Brasileira em nvel das empresas. Elas

    no foram objeto de propostas poltico-institucionais.

    No que se refere especificamente ao processo de operacionalizao da Agenda 21, algumas

    aes foram sugeridas, notadamente na regio Nordeste, com destaque constituio de

    fruns municipais e de um Conselho da Agenda 21.

    Dimenso da informao e do conhecimento

    A maior parte das aes estratgicas emanadas dos debates sobre temas cientfico-

    tecnolgicos se traduz em propostas nessa dimenso. Em geral, o foco a produo em

    moldes sustentveis ou a gerao de conhecimentos que permitam o desenvolvimento de

    tecnologias limpas.

    A preocupao com o acesso dos cidados s informaes sobre a qualidade dos produtos

    consumidos se traduz na recorrente meno certificao, inclusive com proposta especfica

    de capacitao para essa finalidade.

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    Seguindo a tendncia de aes propostas no mbito de outras dimenses, tambm aqui se

    verificam demandas onde no so identificados os meios ou a responsabilidade para a

    implementao. o caso da promoo de inventrios biolgicos , que sem dvida representam

    ordenamento de informaes relevantes ao desenvolvimento sustentvel, mas que so

    atribuies de atores que merecem ser explicitados.

    A ausncia de propostas voltadas atuao direta da sociedade civil, uma tnica geral do

    processo de consulta, atenuada nesta dimenso com aes do tipo capacitao da

    sociedade civil para prticas sustentveis. No assinalado, entretanto, como ou quem deve

    cumprir tal recomendao.

    Nesta dimenso, perceptvel tambm que os debates regionais convergiram para uma

    associao entre desenvolvimento sustentvele educao formal(educao ambiental). Essa

    foi uma tendncia, sobretudo no caso das numerosas propostas voltadas s atividadesagrrias, mas tambm pode ser notada, embora em menor escala, nas referncias aos temas

    das agendas verde e azul. Fica a lacuna, entretanto, da agenda marrom e do setor industrial

    em geral.

    A anlise da dimenso mostra ser mais coerentemente desenvolvida quando vista sob a tica

    de uma agenda de futuro. nela que so explicitadas as questes estratgicas em longo prazo

    e so feitas propostas compatveis com a necessria capacitao para problemas latentes do

    pas, como energia e base tecnolgica. Entretanto, pobre em termos de avaliao de

    cenrios, tendncias, riscos e oportunidades, numa abordagem prospectiva. Temas como acapacitao brasileira para o aproveitamento de suas potencialidades em biotecnologias,

    bioprospeco ou regulamentao da apropriao dos conhecimentos tradicionais so pouco

    presentes. Igualmente, a questo tica associada produo de conhecimento, o debate sobre

    os organismos geneticamente modificados (OGM) e os mecanismos de controle social da

    cincia esto quase ausentes entre as aes propostas.

    Ainda entre as lacunas, sobressai nesta dimenso a quase total ausncia de referncia aos

    problemas ambientais globais.

    Alcance da participao dos atores

    O processo de consulta nacional, desenvolvido pela CPDS compreendendo suas diversas

    fases, consulta temtica (1999), consulta aos estados da federao (2000), e encontros

    regionais (2001) contou, de forma direta, com a participao de seis mil atores sociais

    representantes de diferentes instituies. De forma indireta esse nmero chega a quarenta mil

    participantes.

    Aps o encerramento dos encontros regionais, foi realizado em 2002 um seminrio nacionalque se constituiu em cinco reunies setoriais: executivo, legislativo, produtivo, academia e

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    sociedade civil organizada. Nessas reunies a CPDS apresentou sua plataforma de ao, com

    base nos subsdios da consulta nacional acima mencionada, e definiu com as lideranas de

    cada setor os meios e compromissos de implementao _ cujos resultados esto apresentados

    no documento Agenda 21 Brasileira _ Aes Prioritrias.

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    2- Sustentabilidade na viso da sociedade brasileira

    Neste captulo esto organizadas as premissas gerais que orientaram as discusses para a

    elaborao da Agenda no mbito da CPDS, nos debates estaduais e encontros regionais,assim como os princpios gerais emanados dos encontros regionais, que representam o

    desgnio dos atores envolvidos no processo. Esses princpios, como convm, esto

    organizados sob a forma de dimenses da sustentabilidade.

    Premissas para a construo e implementao da Agenda 21 Brasileira

    As premissas se organizam como postulados de construo do processo de elaborao da

    Agenda, mas tambm so aplicveis sua implementao. So elas:

    1. estabelecer uma abordagem multissetorial e sistmica - com viso prospectiva, entre

    as dimenses econmica, social, ambiental e institucional;

    2. promover a sustentabilidade progressiva e ampliada. A Agenda 21 apresenta

    essencialmente a construo de consensos e pontes, a partir da realidade atual, para o

    futuro desejado; no existem frmulas mgicas e a sustentabilidade ser resultado de

    uma transio, e no de uma transformao abrupta;

    3. promover o planejamento estratgico participativo - a agenda 21 no pode ser um

    documento de governo, e sim um projeto de toda a sociedade brasileira, pois s assim

    sero forjados compromissos para sua implementao efetiva;

    4. estabelecer o envolvimento constante dos atores no estabelecimento de parcerias - o

    processo de construo e implantao da agenda deve sempre estar aberto

    participao e envolvimento das pessoas, instituies e organizaes da nossa

    sociedade;

    5. entender que o processo to importante como o produto - os maiores ganhos viro

    das novas formas de cooperao e dilogo entre os atores sociais e da eficincia e

    eficcia dos resultados pretendidos;

    6. estabelecer consensos e superar os entraves do atual processo de desenvolvimento -a construo da agenda demanda a mediao e a negociao como forma de se

    avanar sobre os conflitos e contradies dos processos, para que se lance luz sobre

    os grandes entraves que devem ser enfrentados, para caminharmos rumo a

    sustentabilidade fundamental que as aes sejam pactuadas.

    Princpios gerais para a Agenda 21 Brasileira

    Aqui esto descritos os princpios gerais que nortearam a sustentabilidade na viso dos atores

    do pas. Organizados nas dimenses geoambiental, social, econmica, poltico-institucional e

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    da informao e do conhecimento, esses princpios resumem a preocupao geral dos

    participantes sobre o que se deseja para a construo de um novo Brasil.

    Dessas discusses, pode-se alinhavar tambm, alguns princpios especficos da regio

    amaznica, da regio do domnio dos cerrados _ a Centro-Oeste e da regio da Caatinga _ o

    Nordeste. Essa especificidade se justifica pelo fato de as duas primeiras regies em particular

    envolverem a maior poro do territrio nacional e por abrigarem os maiores biomas brasileiros

    _ um ainda preservado e o outro muito ameaado.

    Por outro lado, a regio do semi-rido tem uma problemtica prpria, o que demanda polticas

    especficas.

    A Agenda 21 Brasileira deve obedecer a dois princpios interdependentes: a tica

    da sustentabilidade, como valor universal; e a afirmao da identidade brasileira,

    nas suas particularidades histricas e regionais.

    A construo do desenvolvimento nacional sustentvel uma tarefa para toda a

    sociedade brasileira e no apenas para os governos. Exigir o empenho, entre

    outros, dos setores financeiro, produtivo, como tambm o engajamento de cada

    cidado.

    O processo de concentrao de renda aparece como forte obstculo a

    sustentabilidade. Tanto a disparidade entre segmentos sociais, como a disparidade

    entre regies tm forte influncia na gerao de problemas sociais e ambientais.

    O desenvolvimento ser construdo sob uma tica integradora, que v o territrioem estreita ligao com o capital humano. Implica privilegiar a resoluo dos

    conflitos entre os vrios nveis coletivos no desenvolvimento local, que deve ser o

    ponto de partida.

    Dilogo entre as estratgias da Agenda 21 Brasileira e as atuais opes de

    desenvolvimento. A viabilidade da Agenda depende da capacidade de suas

    estratgias integrarem os planos, projetos e aes governamentais de

    desenvolvimento.

    Equilbrio entre a inovao e a valorizao das prticas existentes que apresentem

    componentes de sustentabilidade, a fim de diminuir as resistncias s mudanas e

    valorizar as iniciativas.

    Fortalecimento de todos os meios democrticos para desenvolver a cidadania ativa

    e aperfeioar ou criar as instituies com um desenho que corresponda vida

    democrtica no pas. O modelo de democracia configurado nas recomendaes da

    Agenda o participativo.

    Gesto integrada e participativa. Implica a reorientao das polticas de

    desenvolvimento e da reestruturao significativa dos sistemas de gesto, de

    modo a permitir o planejamento intersetorial e a implementao de programas

    conjuntos de grande e pequena escala.

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    Foco na ao local. A Agenda parte do princpio da eficcia da ao local seja para

    promover o desenvolvimento, seja para preservar os recursos naturais estratgicos

    para manuteno da qualidade de vida das comunidades. Essa afirmao exige o

    fortalecimento dos municpios e a aplicao do princpio de subsidiaridade.

    Mudana no enfoque das polticas de desenvolvimento e de preservao do meioambiente com a substituio paulatina dos instrumentos punitivos para os

    instrumentos de incentivo, sempre que for possvel.

    Rediscusso do papel do Estado. O Estado brasileiro no pode ser o provedor

    inesgotvel de todos os bens e servios, mas no pode abrir mo do papel

    regulador das relaes sociais e econmicas, nem deixar de atuar para corrigir as

    desigualdades e prover as necessidades fundamentais dos setores mais

    necessitados. No pode, principalmente, abdicar do papel fundamental e decisivo

    na educao e na cincia e tecnologia, capazes de permitir o salto rumo ao

    desenvolvimento sustentvel.

    A seguir, so apresentados os princpios gerais, por dimenses da sustentabilidade, definidos

    nos encontros regionais.

    Dimenso geoambiental

    Direito proteo ambiental e ao uso dos recursos

    Como as aes de preservao ambiental so instrumentos de proteo da sade, devem serentendidas como um dever do Estado e um direito de todos.

    O uso coletivo dos recursos naturais, tanto no espao urbano como no rural, deve ser prioritrio

    sobre o uso privado, atendendo sua destinao e garantindo sua sustentabilidade ambiental,

    econmica e social.

    Respeito capacidade de suporte do ambiente

    Os planos de desenvolvimento devem respeitar a capacidade de suporte do ambiente, dentrode parmetros tcnicos, cientficos e legais, garantindo a incorporao da dimenso ambiental

    como condicionante da ocupao do territrio. O processo de planejamento nacional deve

    integrar a vertente ambiental. Nesse sentido, a sustentabilidade das atividades econmicas

    desenvolvidas deve ser assegurada e regulada de modo a no comprometer a base de

    recursos naturais.

    Valorizao dos recursos naturais

    Os recursos naturais devem ser apropriados como um capital. O desenvolvimento econmicodeve promover a valorao da biodiversidade.

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    Organizao territorial por microbacias hidrogrficas

    O planejamento do espao regional brasileiro dever ser organizado mediante a adoo das

    bacias e microbacias hidrogrficas, contemplando os sistemas de guas superficiais e

    subterrneas, associadas a outros instrumentos de ordenamento territorial e de gesto

    ambiental.

    Participao social na elaborao de polticas de desenvolvimento

    Deve ser assegurada a participao da sociedade civil organizada na elaborao das polticas

    pblicas de desenvolvimento locais, regionais e nacional.

    Enfoque da regulao ambiental

    O sistema de regulao ambiental deve estimular a introduo de novas tecnologias e a

    utilizao sustentvel dos recursos naturais, aumentando a eficincia e a competitividade da

    economia regional.

    Gesto adequada dos resduos, efluentes e produtos perigosos

    Deve-se empreender uma gesto adequada de resduos, efluentes e produtos perigosos

    produzidos no pas, adotando o princpio da responsabilidade solidria.

    Proteo dos ecossistemas e recuperao das reas degradadas

    As aes de carter regional para a revitalizao, recomposio, uso sustentvel e

    preservao dos ecossistemas compartilhados (Mata Atlntica, Floresta de Araucria, Pampa,

    Florestas Estacionais, Ecossistemas Costeiros, entre outros) devem ser priorizadas.

    Para a reduo do passivo ambiental brasileiro, entendido como a recuperao, restaurao e

    reabilitao de ambientes degradados, sero incorporados instrumentos de valorao

    econmica e de mercado associados a polticas ambientais.

    Organizao do espao regional

    Para assegurar tratamento adequado do espao regional, deve-se dar prioridade aos

    problemas e necessidades socioambientais urbanos, tais como: ocupao de reas

    ambientalmente vulnerveis; degradao dos recursos naturais e comprometimento dos

    ecossistemas; e preocupao com o espao construdo.

    O planejamento e a promoo da integrao intra-regional devem ser empreendidos a partir do

    zoneamento ecolgico econmico, garantindo os princpios da universalidade, eqidade eintegralidade dos sistemas de saneamento, de energia, de comunicao e de transporte.

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    Nas propostas de ordenamento do territrio, como a de eixos nacionais de integrao e

    desenvolvimento, precisa-se estimar a mitigao dos impactos urbanos e ambientais negativos.

    Dimenso social

    Erradicao da pobreza e reduo das disparidades regionais

    No h possibilidade de desenvolvimento sustentvel sem erradicar a pobreza no pas. Esse

    esforo deve se ater a medidas estruturantes como a reduo da concentrao de renda e a

    erradicao do analfabetismo.

    essencial enfatizar a reduo das disparidades regionais, no intuito de minimizar o xodo

    rural.

    Promoo da sade e proteo de grupos socialmente vulnerveis

    A promoo sade deve considerar e valorizar os conhecimentos e saberes tradicionais e

    tecnologias patrimoniais assegurando o direito sobre o conhecimento.

    O governo e a sociedade, de modo integrado, devem promover o progresso social e o pleno

    exerccio da cidadania dos grupos socialmente vulnerveis desenvolvendo aes que lhes

    propiciem servios de sade, educao, assistncia social e lazer, como tambm

    documentao bsica.

    Educao como instrumento fundamental de mudana

    A dimenso social da Agenda 21 contempla as aes voltadas para a promoo da cultura da

    sustentabilidade, valores como a tica, solidariedade, cooperao, afetividade e espiritualidade,

    e tem na Educao o instrumento fundamental para a efetivao das mudanas necessrias

    implementao do novo paradigma da sustentabilidade.

    Elaborao das polticas pblicas de carter social

    A formulao de polticas pblicas tanto econmicas quanto sociais, e o efetivo controle de sua

    implementao por parte da sociedade, a avaliao e a readequao, devem respeitar as

    diferenas e peculiaridades regionais, por meio do fortalecimento dos processos de

    participao qualificada da populao como um todo.

    Respeito aos padres culturais e busca da eqidade social

    O desenvolvimento humano, com vistas melhoria da qualidade de vida com crescimento

    econmico e conservao ambiental, deve respeitar os padres culturais, levando em conta ascaractersticas culturais, raciais e tnicas da populao, visando, sempre, a busca pela

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    eqidade social, a includa a eqidade racial e de gnero, construda com participao

    popular.

    Dimenso econmica

    Papel do Estado na induo ao desenvolvimento

    Por ser o principal agente promotor e indutor do desenvolvimento harmnico, integrado e

    sustentvel o Estado precisa ter como princpio norteador eqidade econmica e social.

    Mudana dos padres de produo e consumo

    Conscientizao da sociedade quanto necessidade de adotar novos hbitos de produo e

    padres de consumo, especialmente em relao aos recursos hdricos e energia,

    privilegiando o emprego de tecnologias limpas, a utilizao racional dos recursos naturais, a

    reduo da gerao de resduos, e o incentivo certificao da cadeia produtiva.

    Valorao dos recursos naturais

    Transformao do processo de decises econmicas adotando a valorao dos recursos

    naturais, mediante: a ampliao do uso dos atuais instrumentos e mecanismos econmicos

    para viabilizar a implementao de polticas de desenvolvimento sustentvel como o Protocolo

    Verde e o ICMS Verde; o emprego de instrumentos e mecanismos econmicos que incorporem

    os custos ecolgicos nas decises de mercado e incentivem os processos produtivos e de

    consumo ecologicamente sustentveis como sistema de ttulos negociveis, seguro ambiental

    e sistema de depsito _ restituio para produtos poluentes; a modernizao do processo de

    regulamentao no pas; e a melhor articulao entre os processos de concepo e

    implementao dos oramentos fiscais nos trs nveis de governo.

    Desenvolvimento regional integrado e fim da guerra fiscal

    A reestruturao produtiva e a modernizao da economia no podem reforar a concentrao

    da renda e a desigualdade social no pas. Para tanto, torna-se necessrio adotar o princpio da

    solidariedade inter-regional como forma de eliminar a guerra fiscal e evitar que a

    insustentabilidade de um modelo de desenvolvimento se desloque para outras regies.

    A promoo do crescimento e da competitividade da economia brasileira se dar em

    consonncia com a capacidade de suporte do territrio e a internalizao dos custos e

    benefcios ambientais e sociais.

    O desenvolvimento local a forma de garantir o equilbrio regional, assegurando a

    permanncia da populao em suas regies de origem. Nesse sentido, devem-se adotar

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    instrumentos e mecanismos econmicos, programas e projetos junto a comunidades locais

    com baixo ndice de desenvolvimento econmico visando ampliar suas condies de renda e

    ocupao, como por exemplo, os negcios sustentveis, o desenvolvimento de nichos de

    mercado com maior valor agregado e a potencializao de vocaes regionais.

    Reforma agrria

    A reforma agrria deve ser empreendida como ao estratgica para o desenvolvimento e a

    reduo das desigualdades sociais proporcionando aos assentados uma vida melhor a partir

    da gerao de trabalho e renda.

    Dimenso poltico-institucional

    Comprometimento social e participao na formulao de polticas

    A Agenda 21 Brasileira considera todos os setores da sociedade responsveis pelo processo

    da dinmica e da consolidao da sustentabilidade, partindo das seguintes premissas: gesto

    democrtica, participao, planejamento estratgico, tica e transparncia. A parceria entre

    governo e sociedade na construo e implementao das polticas pblicas exige a co-

    responsabilidade de todos os parceiros.

    As polticas pblicas adotadas no Brasil preconizam a participao da sociedade, caracterizada

    pela cooperao, descentralizao e integrao das regies do pas, garantindo a soberania

    nacional. Para tanto, os mecanismos e canais de participao sero promovidos e estimulados

    pelo Estado.

    Papel do poder pblico na construo da Agenda 21 Brasileira

    O poder pblico ator fundamental na construo da sustentabilidade, pois cabe a ele

    introduzir e dar execuo continuada s polticas pblicas e aes da prpria Agenda.

    Alteraes sobre o marco legal em vigor

    A base legal e constitucional em vigor no pas fornece algumas condies para impulsionar a

    transio para a sustentabilidade, mas a Agenda 21 Brasileira deve propor alteraes nessa

    mesma base legal (federal, estadual e municipal) necessrias construo da sociedade

    sustentvel, valendo-se, inclusive, das instituies existentes no processo legislativo.

    As reformas fiscal e tributria so indispensveis para a correo das disparidades regionais e

    o sucesso dos objetivos do desenvolvimento sustentvel.

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    Pacto federativo para a sustentabilidade e integrao de Agendas

    Polticas e estratgias de ao de desenvolvimento sustentvel tm como compromisso a

    afirmao da soberania nacional. A promoo desse desenvolvimento requer polticas pblicas

    e a atuao harmnica por parte da Unio, dos estados e municpios, de modo a propiciar a

    adequada integrao e abrangncia das aes resultantes nas diferentes esferas de

    competncia e sua repercusso territorial.

    As agendas regionais de desenvolvimento devem estar integradas entre si e sero

    incorporadas ao planejamento estratgico nacional.

    Fortalecimento das instituies pblicas

    A implementao de um novo modelo de desenvolvimento, em todos os nveis e esferas, exige

    aes institucionais que contribuam para fortalecer e habilitar os rgos e entidades

    responsveis pelo planejamento, regulao, gesto e execuo das polticas pblicas.

    Dimenso da informao e conhecimento

    Controle social e fundamentos ticos da cincia e tecnologia brasileira

    O controle social da C&T deve realizar-se por meio do acesso informao com qualidade e

    quantidade necessria a sua democratizao, que promova a educao para formar cidados

    aptos a contribuir para a identificao de problemas e suas solues.

    A produo e difuso dos conhecimentos devem estar comprometidos com os fundamentos

    ticos da eqidade, solidariedade, liberdade, sustentabilidade e respeito diversidade.

    Conhecimento para a produtividade e para o desenvolvimento econmico

    A produo e a difuso de informaes e de conhecimentos devem assegurar o aumento da

    produtividade e a sustentabilidade da economia, abrangendo a gerao e a difuso de

    conhecimento e de novas prticas, a capacitao e a assistncia tcnica.

    Socializao do conhecimento para a reduo de desequilbrios regionais

    A Agenda 21 Brasileira deve estar comprometida com a promoo de acesso igualitrio aos

    benefcios do desenvolvimento, por meio da disseminao, adequao e aplicao de

    tecnologias produtivas em bases sustentveis, visando reduo de desequilbrios regionais.

    A socializao da informao e do conhecimento