329

Agenda dos Cidadãos Jornalismo e Participação Cívica nos ...agendadocidadao.ubi.pt/PSR/book/psr-ebook.pdf · Jornalismo e Participação Cívica nos Media Portugueses (Orgs.)

Embed Size (px)

Citation preview

  • ii

    ii

    ii

    ii

  • ii

    ii

    ii

    ii

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Agenda dos CidadosJornalismo e Participao Cvica nos Media Portugueses

    (Orgs.)

    Public Sphere ReconsideredTheories and Practices

    LabCom Books 2011

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Livros LabComwww.livroslabcom.ubi.ptDireco: Antnio FidalgoDesign da Capa: Joo Nuno SardinhaPaginao: Joo Nuno SardinhaPortugal, Covilh, UBI, LabCom, Livros LabCom, 2011

    ISBN:

    Este volume resulta da compilao das comunicaes apresentadas nas ConfernciasInternacionais Public Sphere Reconsidered: Theories and Practices, que se realiza-ram nos dias 19 e 20 de Maio de 2005 na Universidade da Beira Interior, no mbitodo Projeto Agenda dos Cidados - Jornalismo e Participao Cvica nos Media Por-tugueses e com os apoios da FCT - Fundao para a Cincia e Tecnologia, Ministrioda Cincia, Tecnologia e Ensino Superior, Projeto Comunicao e Deliberao / FCT- CAPES, SOPCOM - Sociedade Portuguesa de Cincias da Comunicao, ECREA -Communication and Democracy Section, Universidade da Beira Inteiror / Faculdadede Artes e Letras e LabCom - Online Communication Lab.

    http://www.livroslabcom.ubi.pt/

  • ii

    ii

    ii

    ii

    ndice

    Forwardpor Joo Carlos Correia 1

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere: The Caseof the Open Government Plan in the 2010 Brazilian Elections.por C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio 3

    The globalization-friendly global public sphere: contrasting paths to morallegitimacy and accountability.por Catherine Fleming Bruce 21

    The Meanings of Public Sphere: is there any democratic role for Internet?por Joo Carlos Correia 35

    Access to the Public Sphere and the Identity of the Subject of the FrenchNation.por Marion Dalibert 49

    Conectados e tutelados.Uma revisitao tecnolgica da esfera pblica.por Antnio Fidalgo 63

    Young adults involvement in the public sphere: A comparative internationalstudy.por Micheline Frenette, Marie-France Vermette 71

    Speaking Poetry to Power.por Anthea Garman 89

    i

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Community media and public accountability.por Manuela Grnangerl 105

    ICT and local public sphere in Poland and Norway.por Ilona Biernacka-Ligieza 117

    Expanding the mass media role for the functioning of the political publicsphere.por Rousiley C. M. Maia 141

    The Principle of Publicity.A socio-anthropological perspectivepor Samuel Mateus 153

    Between EUphoria and EU-phobia: The European elections 2009 in Britishand German quality newspapers.por Hannah Middendorf 167

    Opinio Pblica, mdia e lderes de opinio: um estudo exploratrio sobrea influncia dos mdia e dos lderes de opinio na formao da OpinioPblica.por Miguel Mides 187

    Radiodifuso, Jornalismo e Esfera Pblica.O debate em torno da criao da Empresa Brasil de Comunicao naimprensapor Edna Miola 199

    New Technologies and Deliberation:Internet as a virtual public sphere or a democratic utopia?por Ricardo Morais 215

    Babelisation of mediated debate, public deliberation through the press andemerging democracies of Southern Africa: the case of Zambia.por Pascal Mwale 229

    Visibilidade em detrimento da interactividade. O Twitter nas recentes elei-es presidenciais de Portugal e do Brasil.por Rui Alexandre Novais, Viviane Arajo 253

    A public sphere without public(s)? Publics and counterpublics in post-

    ii

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Fordist capitalism.por Jernej Prodnik 271

    Deliberao na esfera pblica em tempos de comunicao e sociedade demassa. Possibilidades de integrao entre deliberaes ampliadas e deli-beraes restritas.por Rafael Sampaio, Samuel A. Rocha Barros 287

    Blogosfera como esfera pblica alternativa?por Elsa Costa e Silva 299

    Just Like it and Join. Facebook and the European cultural publicsphere.por Ancuta-Gabriela Tarta 311

    iii

  • ii

    ii

    ii

    ii

    iv

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Forward

    Joo Carlos Correia

    After the books of Hannah Arendt (The Human Condition, 1958) and Jurgen Haber-mas (Structural Transformation of the Public Sphere, 1962) the concept of publicsphere has undergone enormous changes and critical evaluations. The InternationalConference Public Sphere Reconsidered, organized in May 19 and 20 by the Facultyof Arts and Letters from University of Beira Interior, Citizens Agenda Project andCommunication and Deliberation Project, with the support from Communication andDemocracy Section of European Communication Research and Education Associa-tion (ECREA) and the Political Communication and Rhetoric Working Groups fromSOPCOM, tried to answer some recurring issues in this debate. Among these werethe following:

    a) How can we assess today, in the normative and heuristic plans, the strengthof the ideal that aims to establish a rational and egalitarian public sphere, sup-ported in an enlightened public opinion?

    b) What is the impact of media in the conceptualization of this public sphere?

    c) Should we consider only the existence of a single national public sphere orthe existence of multiple public spheres?

    d) Are public journalism, civic journalism, citizen journalism and blogs helpingto legitimize a discourse of revitalization of public sphere?

    e) Which are the limits and possibilities of new technologies to invigorate thepublic sphere?

    f) Whats the importance of rhetoric in contemporary public sphere?

    g) The so-called democratic deficit of the European Union, heralded by someauthors, became a topic of major relevance. At a time when the decision-making power is transferred from national bodies elected directly by citizensto transnational instances, what does mean to search for a European PublicSphere?

    h) In face of the fragmentation of contemporary societies, with multiplica-tion of claims for recognition presented by multifarious identities, may we stillspeak about an unitarian concept of public sphere?

    Public Sphere Reconsidered. Theories and Practices , 1-2

  • ii

    ii

    ii

    ii

    2 Joo Carlos Correia

    To answer to these and to many other issues, about fifty researchers from differentparts of the world (South Africa, Germany, Brazil, Canada, Spain, United States,Italy, Hungary, Portugal and Romania) joined the University of Beira Interior, inCovilh, ina small mountain city, to discuss it during two intellectually exciting andproductive days. The result is partially represented in this book, the result of the workundertaken by those researchers.

    In addition to the focus provided by Communication Sciences, the event had atrans-disciplinary nature with contributions from Philosophy, Political Science, MassCommunication Research, and Political Sociology.

    We hope that the proceedings of the conference now published will contribute toa better understanding of these difficult times in which the democratic debate is morethan ever, a strong demand.

    Covilh, UBI, November 1, 2011Joo Carlos Correia

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the PublicSphere: The Case of the Open Government Plan in the

    2010 Brazilian Elections.

    Camilo Aggio

    Francisco Paulo Jamil Almeida MarquesRafael Cardoso Sampaio

    Internet, eleies e participao: notas introdutriasO debate em torno da participao poltica enquanto valor fundamental a compor

    o conjunto de prticas que caracterizam as democracias contemporneas uma dis-cusso que, nomeadamente, refere-se maior legitimao dos processos de produoda deciso poltica - ocupa um papel de destaque no campo de pesquisas acerca dofenmeno das campanhas online (MAIA, GOMES e MARQUES, 2011).

    A utilizao da internet por diferentes atores como um ambiente importante decomunicao em disputas eleitorais suscita a investigao de novas prticas e signifi-cados que acabam por diferenciar as campanhas online das campanhas empreendidasnos media tradicionais (STROMER-GALLEY, 2000; BIMBER e DAVIS, 2003; AG-GIO, 2010; MARQUES e CARDOSO, 2011). A interatividade seria um dos grandespotenciais e diferenciais dos media digitais, uma vez que, ao contrrio do rdio, da te-leviso e do impresso, a internet oferece a oportunidade para que cidados, candidatose partidos se engajem em interaes pessoais de modo sincrnico ou no, lanandomo de ferramentas variadas tais como salas de bate-papo, fruns de discusso, trans-misses audiovisuais com interaes simultneas via sites de relacionamento, dentreoutras.

    Ainda que os media tradicionais - e, mais especificamente, as instituies docampo jornalstico - cumpram um papel poltico fundamental nos sistemas demo-crticos (vide a promoo de transparncia das esferas institucionais de deciso po-ltica, as aes de constrangimento que foram explicaes e prestaes de contasDoutorando do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Cultura Contemporneas (UFBA).

    E-mail: [email protected] em Comunicao e Cultura Contemporneas (UFBA). Professor da Universidade Federal do

    Cear, Brasil. O autor agradece Capes e ao CNPq pelo apoio financeiro execuo da pesquisa (Edital002/2010). E-mail: [email protected] em Comunicao e Poltica, membro do Centro de Estudos Avanados em Democracia

    Digital (UFBA) e bolsista CNPq. E-mail: [email protected].

    Public Sphere Reconsidered. Theories and Practices , 3-20

  • ii

    ii

    ii

    ii

    4 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    dos agentes pblicos etc., conforme explica Wilson Gomes (2004), suas caractersti-cas tcnicas no permitem que os cidados, espalhados em diferentes regies, tenhamoportunidades, por exemplo, de interagir diretamente com seus representantes ou can-didatos a ocuparem cargos eletivos.

    A comparao entre as limitaes permite verificar, ainda, a dificuldade dos me-dia tradicionais em empreender iniciativas que transformem os eleitores em unidadesde cooperao, mobilizao e composio de um projeto poltico ligado a uma can-didatura.

    Uma vez que tal potencial tcnico identificado como tpico dos recursos decomunicao digital, grande parte dos pesquisadores dedicados ao exame das cam-panhas online no deixa de discutir, naturalmente, a qualidade interativa e os nveisde participao dos eleitores nos ambientes de comunicao digital das campanhas(STROMER-GALLEY, 2000, WILLIAMS e TRAMMELL, 2005; VACCARI, 2008;SCHWEITZER, 2005). Ou seja, o potencial claramente se apresenta, mas precisoaveriguar em que medida ele vem sendo aproveitado de maneira a contemplar umaperspectiva que favorea uma maior considerao dos cidados nos processos de de-putao dos representantes polticos.

    A pesquisadora americana Jennifer Stromer-Galley (2000) , talvez, a maior re-ferncia no que se refere s discusses que atrelam a interatividade da internet e ascampanhas polticas. A autora discorre, justamente, sobre o que considera a maiorcontribuio resultante da associao entre internet e campanhas polticas: as possi-bilidades de participao dos eleitores atravs de mecanismos interativos.

    Stromer-Galley reconhece, de incio, a importncia da comunicao digital para aoferta e de informao poltica, na medida em que os candidatos e suas coordenaesde campanha contam com a chance de oferecer dados valiosos sobre seus projetosde governo, diretrizes ideolgicas e prioridades tudo isso sem a necessidade deque tais insumos informativos sejam enquadrados de acordo com a lgica, critrios egramticas que so tpicos dos media noticiosos. Desse modo, as campanhas dispo-riam de tempo e espao suficientes para burlar a constante reduo, por exemplo, dassonoras dos agentes polticos - conforme atesta Daniel Hallin (1994) - em favor doreforo do papel do jornalista como articulador de sentido das informaes polticas.No entanto, para a pesquisadora norte-americana, a real contribuio democrtica dascampanhas online estaria na apropriao do potencial interativo da internet para tiraros eleitores da funo de meros espectadores.

    interessante notar, em tal contexto, que h gradaes quanto s possibilidadesparticipativas permitidas por cada administrao de campanha. H desde formas deinterveno rudimentares imprimir material de campanha em casa e distribuir entreamigos e familiares at iniciativas dedicadas a intervir efetivamente na formulaode propostas. So justamente estas ltimas proposies que adotam uma perspectivamais prxima do que os autores participacionistas defendem que animam Stromer-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 5

    Galley. A autora defende que as ferramentas interativas digitais devem ser utilizadaspara que integrantes dos partidos, agentes das equipes de campanha, candidatos eeleitores promovam encontros a fim de trocar dados, esclarecer questes, formulartpicos de projetos e propostas e discutir prioridades de governo.

    A situao ideal estabelecida pela autora, entretanto, no se limita oferta purae simples de mecanismos de interveno a serem empregados por usurios das redestelemticas. Jennifer Stromer-Galley argumenta sobre a necessidade de se extrapolaro mero tratamento estratgico que marca os esforos de comunicao das campa-nhas. A pesquisadora aponta para a importncia de se promover uma conexo dessesdistintos fruns e mecanismos participativos a uma espcie de sistema de presta-o de contas, apto a garantir aos eleitores que suas intervenes foram levadas emconsiderao. Em outras palavras, percebe-se que critrios que so caros repre-sentao democrtica (como participao, transparncia e responsividade) acabamsendo essenciais para se avaliar, tambm, os gradientes de democracia que caracte-rizam campanhas polticas. Os candidatos, naturalmente, desejam associar s suasimagens pblicas atributos positivos, o que os fora a incluir em suas estratgias elei-torais mecanismos de comunicao digital que foram planejados, em sua maioria,para aperfeioar a gesto de instituies do Estado (MARQUES e SAMPAIO, 2011).

    Desconsiderar a dimenso estratgica e agonstica daquelas aes que visam au-ferir lucros eleitorais seria, naturalmente, ingenuidade. A perspectiva Stromer-Galley(2000), contudo, no parece incompatvel com os clculos de riscos e as estratgiasde marketing poltico tpicas das campanhas contemporneas. O que se reivindicaaqui, nestes termos, o reconhecimento da idia de que os empreendimentos parti-cipativos acabam tanto servindo para a construo de laos fortes com os eleitores -que podem conformar um conjunto significativo de agentes mobilizados e interessa-dos em doar tempo e energia em prol de uma candidatura quanto para criar umacultura de vigilncia e acompanhamento de aes dos governos, dada a experinciavivida por um grupo de usurios.

    Em outra medida, reunir cidados em torno de uma candidatura que se prope aconstruir um projeto de governo colaborativo - alinhado a proposies e demandasde eleitores, independentemente dos mesmos serem filiados a partidos ou possuremhistrico de mobilizao poltica - pode contribuir no combate ao crescente desinte-resse poltico e falta de engajamento cvico diagnosticado por diferentes autores nocontexto das democracias ocidentais contemporneas (PUTNAM, 2000).

    Embora a variedade de mecanismos de comunicao digital permita aproximar oscidados das coordenaes de campanhas eleitorais de forma indita, poucos so ospartidos e candidatos que lanaram mo de tais recursos com o propsito de aumen-tar o envolvimento dos usurios no processo de escolha dos representantes. Mesmoferramentas tecnicamente viveis (e que no demandam grandes investimentos deordem financeira), a exemplo de chats e fruns, cujo objetivo poderia ser estabele-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    6 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    cer uma comunicao direta entre eleitores, candidatos e integrantes de partidos edas campanhas, so pouco utilizadas nas eleies ao redor do mundo (RACKAWAY,2007; GULATI & WILLIAMS, 2007; VACCARI, 2008).

    Tambm neste aspecto, Stromer-Galley (2000) parece oferecer as hipteses maisrazoveis para explicar as razes pelas quais muitos partidos e candidatos preferemno optar por empreendimentos interativos que promovam discusses e debates e,em um nvel mais rigoroso, descartam ferramentas que concedam aos eleitores maiorpoder de interveno na composio substantiva as campanhas polticas.

    A perda do benefcio da ambigidade e do controle sobre o contedo das men-sagens da campanha seriam as razes a explicarem o receio da quase totalidade dospartidos e candidatos em no adotar mecanismos interativos. Munida de informaescoletadas em entrevistas com integrantes de diversas campanhas empreendidas nosEstados Unidos em 1998, Jennifer Stromer-Galley (2000) certifica-se de que h umgrande temor de que os posicionamentos, discursos e projetos das campanhas soframquestionamentos excessivos por parte dos cidados, forando os candidatos a escla-recerem em pormenores as questes levantadas. Tal situao acarretaria no que aautora chama de perda do benefcio da ambigidade; ou seja, as vantagens embutidasno tratamento impreciso ou genrico de determinadas questes poderiam ser perdidasem uma situao de esclarecimento aprofundado.

    A perda do controle sobre a mensagem se refere ao risco de exposio negativa qual fica sujeito o candidato quando d voz a usurios vinculados a campanhas ad-versrias. Em outras palavras, teme-se que o prprio espao criado pelo candidatovolte-se contra ele, j que o tratamento inadequado de questes delicadas pode fazercom que os prprios eleitores que j haviam sido conquistados retirem seu apoio porse sentirem particularmente ofendidos ou descontentados. Por um lado, este problemapode ser de fcil resoluo, uma vez que os mecanismos de moderao j se mostra-ram suficientemente eficientes para coibir manifestaes indesejadas em diferentesiniciativas na internet, como em blogs jornalsticos, por exemplo. Por outro lado, umcontrole estrito permite questionar o grau de transparncia acerca, por exemplo, doscritrios adotados pelos moderadores.

    No que tange ao benefcio da ambigidade, h de fato um risco estratgico eminiciativas interativas que promovam maior transparncia e responsividade dos en-volvidos em uma campanha, principalmente no que concerne a temas polmicos -como sistema de cotas em universidades pblicas, no caso brasileiro. No entanto,considerando a mesma dimenso estratgica, uma campanha que opta por lidar deforma direta e transparente com os eleitores, compartilhando com clareza seus obje-tivos e modelos de projeto poltico, bem como que abra espao para que os cidadoscolaborem com os rumos da campanha, tem maiores chances de criar vnculos fortese promissores com os integrantes de sua base eleitoral.

    Assim sendo, embora poucas sejam as iniciativas que permitam uma aproximao

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 7

    dialgica real entre campanha e eleitores atravs de mecanismos online, as eleiesmajoritrias brasileiras em 2010 ofereceram um caso singular no que se refere ao usode dispositivos discursivos digitais. Trata-se do site chamado Proposta Serra, dire-cionado a aproximar os eleitores da conduo da campanha de Jos Serra, candidato Presidncia pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). Tal experinciateve como propsito fundamental, em um primeiro momento, tornar as campanhasmais abertas a discusses com o eleitorado e, em um segundo instante, converter oeleitor - que antes exercia a funo de espectador - em agente com capacidade deintervir na composio de um programa de governo.

    Antes de examinar este caso propriamente, este trabalho se dedica a examinar bre-vemente um aspecto especfico da literatura que hospedada na interface entre internete democracia, a saber, as potencialidades e limites da deliberao online.

    Internet e deliberao pblica: aspectos fundamentaisA idia de democracia deliberativa ganhou maior proeminncia em Teoria Pol-

    tica a partir dos anos 90. Pode-se dizer que os estudos mais recentes nesta rea doconhecimento so marcados no apenas por alternativas direcionadas a enfrentar aalegada crise da democracia, mas, tambm, por tentativas de se conferir maior legi-timidade aos processos de produo da deciso poltica. Os autores deliberacionistas ainda que possam ser apontadas diferenas entre nfases mais reformistas ou maisradicais defendem, em termos gerais, uma maior influncia por parte da esfera dacidadania atravs do uso pblico da razo, assim como o estabelecimento de frunsde debate do qual tomam parte representantes e a esfera civil.

    According to most proponents of deliberative democracy, political decision makingis legitimate insofar as its policies are produced in a process of public discussionand debate which citizens and their representatives, going beyond mere self-interestand limited points of view, reflect on the general interest or on their common good(BOHMAN 1996, p. 4-5).

    No caso do presente trabalho, o importante enfatizar que, na arquitetura davertente discursiva de democracia, a importncia da intromisso da esfera civil se dno apenas atravs de procedimentos como aqueles caractersticos do mecanismo deagregao das disposies eleitorais (mtodo de participao considerado suficientepor tradies anteriores, como o elitismo de Schumpeter). Para os deliberacionistas,diversas outras demandas, em termos ideais ou normativos, deveriam ser levadas emconta para se evitar um modelo de democracia meramente representativo, que poucoconta com qualidades substantivas em suas decises. Conforme Peter Shane:

    . . . deliberative democracy must be part of the reform package because election-centered democracy has not shown itself to be a sufficient guarantor of either the

  • ii

    ii

    ii

    ii

    8 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    experience of political autonomy or the conscientious consideration of the interestsof all persons to counter our current democratic malaise (SHANE, 2004, p. 73-74).

    O objetivo, assim, forar representantes e instituies a exporem suas moti-vaes em adotar ou no determinadas polticas, oferecendo aos cidados modosde aperfeioar as propostas e facilitar sua implementao. De acordo com JamesBohman (1996), instituies efetivamente comprometidas em estimular formas maisabertas de participao precisam criar ao seu redor esferas pblicas que abriguemdiscusses de natureza poltica.

    Sabe-se que a adio de tais ingredientes discursivos no tarefa fcil, sobretudoem um contexto de sociedades multiculturais complexas. O advento dos media digi-tais, entretanto, acaba trazendo um alento aos que acreditam na possibilidade de setornar mais legtimo o processo de produo da deciso poltica que ocorre no mbitodas instituies representativas.

    Assim sendo e de acordo com o que foi discutido no incio do texto -, ainda quehaja uma srie de problemas e crticas quanto ao emprego poltico dos new media(assim como acontece com os media tradicionais), presume-se que os recursos de co-municao oferecidos atravs da Internet poderiam conformar uma resposta adequadapara problemas inerentes ao fazer democrtico, como a reverso da apatia dos cida-dos (ao possibilitar voz, conexo e ao por parte de indivduos ou organizaes), oincremento das iniciativas de transparncia governamental ou a lide com uma plata-forma de comunicao dificilmente manipulvel em toda sua extenso por um grupoespecfico (seja ele poltico ou econmico).

    Independentemente das interpretaes relativas escala de mudanas promovidaspela Internet, o fato que as redes telemticas passam a se configurar como um novoespao de interveno pblica, merecendo destaque por duas caractersticas princi-pais: (1) o acesso informao de modo instantneo (ainda que se possa, em umsegundo momento, questionar a qualidade dessa informao, o importante que pelomenos um nmero maior de pontos de vistas tm como obter maior visibilidade),elemento essencial para a formao cvica; (2) a capacidade interativa, a troca dia-lgica, tambm fundamental para a noo de participao em jogo, agora liberta deconstries de espao, tempo ou censura.

    perceptvel, todavia, uma mudana na abordagem que caracteriza a literaturana rea. De uma perspectiva direcionada a exaltar ou criticar excessivamente os po-tenciais e limites dos media digitais para o aperfeioamento das prticas polticas,passou-se ao exame mais cuidadoso das formas de uso efetivas que so conferidasaos recursos de comunicao digital. Constatou-se, por exemplo, que no graas possibilidade tcnica aberta por uma nova plataforma de comunicao que se podeatestar diferenas substanciais na forma de se fazer poltica. Em muitos casos, osgovernos e representantes ainda no se tornaram completamente abertos ao escrut-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 9

    nio pblico atravs da Internet, mas apenas comearam, de modo tmido, a marcaremcerta presena institucional.

    . . . [in the 1996, 1998 and 2000 races] campaign websites by mainstream candidatesfor the US House or Senate tended to be all singin, alldancin affairs, full of multi-media gizmos and gadgets like streaming videos, easily available and searchable inreal-time, but essentially similar in function to traditional forms of communicationsuch as published leaflets, position papers, press releases and television commercials(NORRIS, 2003, p. 24).

    E no que se refere, mais exatamente, noo de democracia deliberativa, s pos-sibilidades da deliberao online? Em que medida a Internet abre espao para aformao de fruns deliberativos (sejam seus componentes deputados polticos ouno) e em que parmetros se d a discusso nestes fruns? Por quais modos a criaodestes fruns permite uma maior participao e atuao dos usurios dos media digi-tais na vida poltica das sociedades? Estes fruns favorecem a cooperao em termosjustos e minimamente igualitrios e recprocos, conforme idealizado pelas propostasda democracia deliberativa? As instituies do Estado e os representantes polticosse mostram, de fato, mais abertos a prestarem contas aos cidados?

    Antes de qualquer tentativa de se responder a tais perguntas, necessrio escla-recer a qual contexto poltico se est referindo. Sabe-se, por exemplo, que o com-portamento dos agentes polticos se modifica de maneira substancial quando se esttratando de eleies um momento especial da vitalidade das democracias e quepressupe a presena permanente da esfera civil, que acompanha o desenrolar dos fa-tos e, no final, quem tem o poder de decidir quem sero os mandatrios (GOMES etal., 2009; DRUCKMAN et al., 2009). Tal cenrio acaba provocando as candidaturasa abordarem de maneira mais incisiva o eleitor (no obstante o posicionamento doscandidatos na corrida de cavalos constituir um fator fundamental a influenciar naadoo mais ou menos ousada das ferramentas de comunicao digital).

    Em termos gerais, o que se pode dizer que grande parte das iniciativas per-petradas por candidatos e partidos varia quanto capacidade de inserir os eleitoresmais efetivamente no processo de escolha dos representantes. H experincias quepartem desde (a) um contato mais direto e constante entre os candidatos e cidadosem fruns, chats ou ferramentas similares direcionadas realizao de debates e es-clarecimentos; passando por (b) mecanismos a permitirem um maior engajamento emobilizao dos usurios em prol de uma candidatura especfica, a fim de contribu-rem, por exemplo, no desenvolvimento de estratgias; e chegam a (c) experinciasque sinalizam a criao e o uso de plataformas dedicadas a permitirem a construode programas de governo de maneira colaborativa. Esta ltima possibilidade acabaencontrando associao no cenrio eleitoral brasileiro, o que se pode constatar atravsdo estudo do projeto Proposta Serra.

  • ii

    ii

    ii

    ii

    10 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    "Proposta Serra": Estrutura, objectivos e estratgiaAps oitos anos de governo do Partido dos Trabalhadores (PT), que at 2002

    exerceu um papel de oposio fundamental na democracia brasileira, o Brasil foicenrio de uma disputa acirrada pela sucesso do presidente mais popular na recentehistria poltica do pas.

    O ento chefe do Poder Executivo Federal, Lula da Silva, lanou uma colega departido, Dilma Rousseff, para disputar sua sucesso, na inteno de que ela enfren-tasse o candidato Jos Serra, do Partido da Social Democracia (PSDB). O partidode Serra ocupou a Presidncia com Fernando Henrique Cardoso nos oito anos queantecederam a eleio de Lula, em 2002. Considerado, antes do incio oficial dacampanha, o candidato com maiores chances de vencer o pleito, Jos Serra conduziusua campanha coligado com partidos tradicionalmente alocados direita no cen-rio poltico brasileiro, no obstante o prprio PSDB adotar uma postura centrista emdiversas ocasies.

    A agenda de campanha de Jos Serra, portanto, esforava-se em conciliar em suaplataforma questes sociais prprias do discurso de esquerda, assim como preocupa-es ligadas tradicionalmente ao discurso de direita, podendo ser citadas aluses aolivre mercado e a discusses de ordem moral que envolvem as liberdades individuais(como o direito ao porte de armas).

    Foi ainda na disputa ao longo do primeiro turno das eleies que a campanha deJos Serra lanou uma plataforma online de comunicao cujo objetivo era a constru-o de um plano de governo colaborativo, apto a agregar contribuies de cidados,especialistas e demais interessados em questes polticas relevantes para o Brasil1.

    Conforme resume Xico Graziano, o mentor do projeto e um dos coordenado-res do website, o Proposta Serra representa um movimento de idias polticas,ligado ao PSDB e seus aliados nas eleies presidenciais de 2010, criado para elabo-rar abertamente o Programa de Governo de Jos Serra. Trata-se de uma plataformademocrtica, colaborativa e transparente que aglutina pessoas interessadas na cons-truo do futuro do Pas. Gente de todas as regies - servidores pblicos, acadmicos,pequenos e grandes empresrios, trabalhadores e estudantes, profissionais em geral,homens e mulheres, adultos e jovens - podem aqui contribuir com as propostas dasocial democracia brasileira.

    Criado sobre a plataforma Ning, que permite a construo de sites de redes so-ciais, o Proposta Serra exige que cada cidado interessado em participar preenchaum cadastro, montando seu perfil com dados pessoais, foto e com a possibilidade decada participante montar um blog dentro do site. O grande propsito da iniciativa foireunir cidados para discutir e colaborar com as propostas de campanha formatadas

    1No h registros na literatura acerca de experincias similares desenvolvidas em alguma parte domundo no contexto das campanhas online.

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 11

    como plano de governo, o que se materializou mediante a criao de fruns temticosclassificados de acordo com a regio do pas ou com a natureza da questo abordada.Por exemplo, fruns relacionados a polticas agrrias ou sistema de cotas em institui-es de ensino superior, podem ser encontrados tanto em sees dividas pelos estadosda federao (ex. Bahia, Mato Grosso, etc) quanto por categoria (ex. Agricultura eAfrodescendentes).

    MetodologiaSe a baixa ocorrncia de iniciativas de carter dialgico nas campanhas online

    diminui as expectativas de uma participao mais aprofundada, o que dizer da apa-rente ausncia mecanismos que voltados a transformar os eleitores em agentes aptosa influenciar, por exemplo, a construo de planos de governo colaborativos? Nessesentido, as eleies para presidente do Brasil em 2010 parecem ter comeado a es-crever uma nova pgina na comunicao poltica digital dos partidos e candidatos. Acampanha de Jos Serra manteve um site intitulado Proposta Serra, dedicado ex-clusivamente a compor um programa de governo colaborativo. Conforme explicadoanteriormente, a plataforma funcionou como um network site, no qual eleitoresconstruam perfis, estabeleciam contatos entre si e criavam fruns de temticos queabordavam questes diversas, tais como agricultura, polticas para afrodescendentes,sade, educao, infraestrutura, habitao, dentre outras questes. No dia 29 de outu-bro de 2010, faltando 5 dias para a data da votao, a organizao do projeto lanou oprograma de governo do candidato, resultado tanto das formulaes do partido quantoda contribuio ofertada pelos cidados atravs do Proposta Serra2.

    Tendo em vista a relevncia de tal iniciativa para o fenmeno das campanhasonline, este paper tem o objetivo de (1) examinar o teor dos debates dos 4 frunsdo Proposta Serra, utilizando como estratgia metodolgica a anlise de contedodas mensagens trocadas nos fruns assncronos disponibilizados pela ferramenta (N=200). Em outras palavras, busca-se averiguar se houve, de fato, a busca por umacompreenso mtua, dissenso ou flames entre os participantes dos debates. Para tanto,sero utilizados 5 indicadores inspirados na teoria de democracia deliberativa e dosestudos de deliberao online (Reciprocidade, Reflexividade, Respeito, Justificaoe Informao), que conforme a pesquisa de Sampaio, Barros e Morais (2011), so osmais utilizados nos estudos de deliberao online. Foram escolhidos os tpicos:

    A) Reviso da lei 10.826 (estatuto do desarmamento)3 com 1622 contribui-es,

    2http://serra45.podbr.com/downloads/Programa-de-Governo-Jose-Serra.pdf3http://propostaserra.ning.com/forum/topics/revisao-da-lei-10826-estatuto?id=5855449:Topic:12166&page=1#

    comments

    http://serra45.podbr.com/downloads/Programa-de-Governo-Jose-Serra.pdfhttp://propostaserra.ning.com/forum/topics/revisao-da-lei-10826-estatuto?id=5855449:Topic:12166&page=1#commentshttp://propostaserra.ning.com/forum/topics/revisao-da-lei-10826-estatuto?id=5855449:Topic:12166&page=1#comments

  • ii

    ii

    ii

    ii

    12 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    B) Privatizar as universidades federais4, com 390 comentrios,

    C) Baixar o preo dos alimentos5, 204 postagens,

    D) Aes afirmativas sim se necessrio cotas sim6, com 106 mensagens.

    A seleo do corpus emprico se referiu seleo das 50 ltimas mensagens decada tpico, postadas entre 22 de julho de 2010 e 27 de setembro de 2010. Foramescolhidos 2 tpicos polmicos (cotas e desarmamento), uma vez que se espera quea deliberao acontea com maior intensidade em momentos de rompimento, discus-so aprofundada de problemas e necessidade de soluo (HABERMAS, 1997); almdisso, pesquisas anteriores demonstraram maiores ndices de deliberatividade quandose trata de temas polmicos (SAMPAIO, MAIA e MARQUES, 2010). E dois tpi-cos que se esperava menor polmica, a privatizao de universidades e polticas decontrole dos preos de alimentos.

    De maneira simples, pode-se dizer que quanto maiores os ndices de presena detais indicadores (Reciprocidade, Reflexividade, Respeito, Justificao e Informao),maior ser a deliberatividade, ou, ainda, melhor ser a qualidade da discusso emrelao aos aspectos valorizados pela teoria deliberativa (DAHLBERG, 2004).

    A moderao e o cadastro tambm so quesitos importantes na deliberao online(JANSSEN, KIES, 2005). O cadastro era obrigatrio no Proposta Serra. As discus-ses so inclusive fechadas para quem no cadastrado. E o cadastro s ativadoaps a autorizao de algum dos moderadores do site. No h regras especficas quemostram como funcionou a moderao do site. Porm, em nosso corpus, no en-contramos nenhuma mensagem de moderador ou mesmo de qualquer integrante dacampanha oficial do candidato Serra.

    ReciprocidadeA reciprocidade o elemento mais bsico da deliberao. Trata-se do simples

    ato de ler as mensagens dos outros usurios e de responder a elas. No se avalia onvel de elaborao da resposta. Logo, as mensagens podem ser dialgicas (1) seresponderem a outro usurio ou mesmo ao assunto do tpico; ou monolgicas (2),caso contrrio (DAHLBERG, 2004; JANSSEN e KIES, 2005). Pela prpria naturezado frum analisado, tambm pode ser adicionado o cdigo Responde ao candidato(3), quando o participante se dirige diretamente a Jos Serra.

    4http://propostaserra.ning.com/forum/topics/privatizar-as-universidades5http://propostaserra.ning.com/forum/topics/baixar-o-preco-dos-alimentos?id=5855449:Topic:44325&page=1#

    comments6http://propostaserra.ning.com/forum/topics/acoes-afirmativas-sim-se?id=5855449:Topic:19611&page=1#

    comments

    http://propostaserra.ning.com/forum/topics/privatizar-as-universidadeshttp://propostaserra.ning.com/forum/topics/baixar-o-preco-dos-alimentos?id=5855449:Topic:44325&page=1#commentshttp://propostaserra.ning.com/forum/topics/baixar-o-preco-dos-alimentos?id=5855449:Topic:44325&page=1#commentshttp://propostaserra.ning.com/forum/topics/acoes-afirmativas-sim-se?id=5855449:Topic:19611&page=1#commentshttp://propostaserra.ning.com/forum/topics/acoes-afirmativas-sim-se?id=5855449:Topic:19611&page=1#comments

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 13

    ReflexividadeA reflexividade (4) diz respeito condio de um usurio ser flexvel com os ar-

    gumentos apresentados por outrem e lev-los em considerao para a construo dosseus prprios. Alm disso, pela reflexividade, o sujeito na deliberao se dispe arevisar suas opinies e, talvez, modific-las a partir da argumentao de outro indi-vduo (MAIA, 2008a; JENSEN, 2003). O critrio ser avaliado por apario. Asmensagens sero consideradas reflexivas quando apresentarem uma nova perspectivaque acrescenta ao debate, quando o usurio tenta fazer um resumo (ou organizaoda discusso) ou quando algum que toma parte no debate afirma ter sido convencidopor opinio alheia.

    JustificaoSegundo a teoria deliberativa, manifestaes favorveis ou contrrias a decises

    coletivas carecem de justificao em termos que possam ser aceitas por os indivduosque so afetados por essas decises (HABERMAS, 1997; MAIA, 2008b).

    Todavia, a deliberao no precisa ser baseada apenas em argumentos racio-nais. As experincias pessoais podem facilitar o entendimento por parte dos usu-rios quanto natureza dos problemas expostos, especialmente, no que concerne squestes prximas s suas realidades e s suas necessidades. Logo, so tomadasduas classificaes neste quesito. A Justificao Externa (5) aquela em que o usu-rio utiliza fontes externas para manter seu argumento, como fatos, dados, pesquisas,notcias etc. A Justificao Interna (6) baseada no prprio ponto de vista do usu-rio, que utiliza explicitamente seus padres, valores e histrico pessoal (em suma,testemunhos) para apoiar um argumento (JANSSEN, KIES, 2005; JENSEN, 2003).As duas formas de justificativas no foram consideradas auto-excludentes; logo umamensagem poderia receber ambos os cdigos por conter mais de um tipo de justifica-o.

    RespeitoFinalmente, todos os outros indicadores pressupem a existncia de respeito m-

    tuo entre os participantes da deliberao. Na presena do respeito, os participantespodero apresentar argumentos racionais, refletir na presena de outros argumentose buscar o entendimento comum. Todavia, Papacharissi (2004) demonstra que nemtoda forma de comunicao rude destri a deliberao. Os debates podem se tornarquentes, inflamados, gerar discrdia e mesmo assim avanarem. Desta forma, busca-se avaliar as mensagens com tom respeitoso (7), ou seja, aquelas nas quais o usurio

  • ii

    ii

    ii

    ii

    14 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    demonstra respeito a outro participante ou grupos (como o respeito aos negros, aosndios e s mulheres, por exemplo). Por outro lado, a mensagem ser consideradade tom agressivo (8) se contiver ofensas, ironias agressivas, dio, preconceito etc.(JENSEN, 2003; MIOLA, 2009).

    InformaoApesar de no ser exatamente um componente da deliberatividade das mensa-

    gens, a pesquisa de Sampaio, Barros e Morais (2011) demonstrou que a informao um indicador bastante utilizado nos estudos de deliberao online. Para alcanar bonsresultados, a discusso deve ser informada, substantiva e consciente (Levine, Fung,Gastil, 2005). E, como j demonstrou Stromer-Galley (2007), pode ser importantee construtivo verificar as fontes de informao (source) utilizadas pelos participantesda deliberao. Assim, buscou-se avaliar as fontes citadas pelos debatedores. Fo-ram encontradas: mdia (9); relatrios de pesquisa ou leis (10) [governamentais ouassociaes civis], outra proposta (11) [link para outro tpico do Proposta Serra].

    Resultados

    Cd

    igos

    Prop

    osta

    1

    Prop

    osta

    2

    Prop

    osta

    3

    Prop

    osta

    4

    Tota

    l

    Num. de mensagens 50 50 50 50 200 (100%)Dialgico 48 45 44 46 183 (91,5%)

    Monolgica 2 5 6 4 17 (8,5%)Responde ao candidato 19 0 0 0 19 (9,5%)

    Justificao Externa 23 26 21 17 87 (43,5%)Justificao Interna 2 3 1 3 9 (4,5%)

    Reflexividade 32 38 32 31 133 (66,5%)Tom Respeitoso 22 7 10 17 56 (28%)Tom Agressivo 7 3 3 17 30 (15%)

    Informao: Mdia 2 1 3 3 9 (4,5%)Informao: Relatrio ou lei 2 5 1 0 8 (4%)Informao: Outra proposta 0 0 2 3 4 (2%)

    Tabela 1: Resultados.

    Em termos gerais, possvel perceber que houve grande comprometimento dosparticipantes em ler e responder as mensagens, uma vez que mais de 90% (91,5%)

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 15

    das postagens representam dialogicidade. Porm, menos de 10% (8,5%) se preocu-pou em conversar com Serra ou sua equipe de campanha, demonstrando que osfruns analisados foram mais utilizados para a conversa horizontal, entre os prpriosusurios. Apenas no tpico do desarmamento, muitos eleitores condenaram a posiodo candidato em ser favorvel ao desarmamento, enquanto os participantes defendiamo direito posse pessoal de armas.

    Igualmente, a taxa de reflexividade foi bastante elevada, superando os 60% (66,5%).Isto indica que grande parte dos integrantes da proposta no se preocupou apenas emresponder aos outros participantes, mas, tambm, apresentou novas opinies, pontosde vista, reflexes ou, simplesmente, apontou porque j concordava com as posiespresentes. Tal constatao , em certa medida, reforada pelo nmero significativode justificativas externas - que superou os 40% (43,5%) -, demonstrando que os usu-rios tentaram apresentar razes amplas para seus argumentos. O testemunho, todavia,foi pouco utilizado (4,5%), mesmo em temas que podem acionar histricos de vida,como a questo de cotas para negros. O resultado, porm, compatvel com ou-tras pesquisas realizadas anteriormente (SAMPAIO e BARROS, 2010; SAMPAIO,MAIA e MARQUES, 2010; SAMPAIO e DANTAS, 2011).

    Conforme as pesquisas mencionadas logo acima, os temas polmicos apresenta-ram tanto um ndice maior de respeito quanto de agressividade. Ou seja, por um lado,os participantes apelam para a defesa (proteo, direitos e afins) dos grupos concerni-dos na temtica, mas, por outro lado, a discusso se torna mais quente. A discussosobre cotas, em certo momento, se transformou em acusaes de preconceito e defalta de orgulho da raa negra. Esse tpico representou mais de 50% de todas asmensagens agressivas.

    Finalmente, apesar de apresentar boa reflexividade e alta justificao acessvel aosoutros participantes, o ndice de citao das fontes das informaes ainda foi baixo,representando 10,5% das mensagens. Foi perceptvel que muitas vezes h citaoa um dado, mas no se revela sua fonte. No caso do desarmamento, por exemplo,diversos eleitores citam o fato de que 60 milhes de brasileiros foram contrrios leide desarmamento no referendo, mas nenhum ofereceu um link para esse dado.

    No geral, os ndices de deliberatividade foram altos em todos os quatro fruns.Em pesquisas anteriores (SAMPAIO e BARROS, 2010; SAMPAIO, MAIA e MAR-QUES, 2010; SAMPAIO e DANTAS, 2011), foi perceptvel uma maior variao deacordo com o tema, mas, neste estudo, apenas a presena do respeito e da agres-sividade sofreram uma variao pertinente. Os valores da deliberatividade de reci-procidade, reflexividade e justificativa externa simplesmente foram altos em todas asdiscusses.

  • ii

    ii

    ii

    ii

    16 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    Consideraes FinaisA discusso acerca da importncia da participao poltica ganhou um novo f-

    lego na pauta de investigaes de pesquisadores das reas de Cincias Humanas eSociais desde que as ferramentas digitais passaram a ser empregadas por partidos ecandidatos em disputas eleitorais.

    Na verdade, a utilizao da internet por partidos e candidatos em disputas eleito-rais j se tornou uma prtica essencial dos esforos de comunicao das campanhaspolticas empreendidas em grande parte das democracias ocidentais contemporneas.As discusses tericas formadas em torno das chamadas campanhas online so sus-tentadas, fundamentalmente, pelos potenciais especficos da internet e suas aplicaespara que a comunicao poltica de partidos.

    Dentre as posies mais importantes no conjunto das pesquisas, certamente asformulaes de Jennifer Stromer-Galley ocupam um lugar de destaque. A pesquisa-dora norte-americana defende que as campanhas empreendidas na internet no devemfuncionar nos moldes e padres da comunicao de massa tradicionais, mas, sim, soba tnica de maior participao e interferncia dos cidados na construo de um pro-jeto poltico representado por uma campanha.

    As eleies majoritrias brasileiras em 2010 constituem um caso particular a cha-mar a ateno de estudiosos da rea. O Proposta Serra reuniu eleitores em frunsde discusso temticos para a formulao de propostas que, posteriormente, seriamadicionadas no programa de governo da candidatura.

    O estudo emprico revelou fortes evidncias de que o Proposta Serra ofereceuum espao discursivo que foi utilizado de forma ampla pelos participantes. Os usu-rios que escolheram se envolver na experincia apresentaram propostas, idias e tece-ram argumentaes ligadas a diferentes temas, mesmo aqueles de grande controvrsia(cotas e desarmamento) ou complexidade (como controle de preos e inflao). Osaltos valores de deliberatividade demonstram que as trocas discursivas foram, de ma-neira geral, qualificadas e que o espao cumpriu bem sua funo de permitir maior re-flexo e dilogo entre os eleitores. Ao contrrio do suposto por cticos da deliberaoonline, mesmo no havendo forte presena de moderadores para guiar e controlar asdiscusses, os debates evoluram e geraram propostas, argumentos e contrapropostasrelevantes. Somente o fato do frum ser totalmente fechado a membros cadastradosque dificulta a participao. Boa parte das discusses so pertinentes e poderiam aju-dar um eleitor indeciso a se posicionar ou a conhecer melhor a plataforma de Serra,porm, esse mesmo eleitor pode no ter vontade o suficiente para se cadastrar no site.O cadastro poderia ser obrigatrio para aumentar a responsividade dos integrantesem relao discusso (cf. Janssen, Kies, 2005), porm a visualizao da discussopoderia ser aberta a qualquer interessado.

    H, todavia, a questo sobre como tais propostas foram endereadas no que con-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 17

    cerne composio do documento final. Apesar de possuir uma premissa partici-pativa, o Proposta Serra no claro em suas regras de seleo. Se, por um lado,mostrou-se que as discusses eram empreendidas em grande parte pelos eleitores(como est marcado no documento final), por outro lado, no h referncia algumaao modo de seleo de tais propostas - que, ao fim, podem apenas ser inseridas deacordo com a agenda prvia do candidato.

    No tpico do desarmamento, por exemplo, diversos participantes se mostraramfrustrados, pois mesmo a discusso sendo frutfera no gerou output oficial da equipede campanha do candidato. H, mesmo, usurios que s se manifestam para afirmarque no mais votaro no candidato, uma vez que ele no tem uma proposta firmepara o direito ao porte de armas. Ou seja, a falta de regras explcitas e a ausncia daparticipao de integrantes oficiais da campanha pode gerar essa sensao de baixaeficcia, uma frustrao que pode levar o eleitor a se retirar da iniciativa.

    importante perceber que a oferta de oportunidades discursivas de participaono caso em tela admite interpretaes ligadas, por exemplo, s estratgias de cam-panhas eleitoral do candidato Jos Serra. Isto , ainda que seja aberto espao para aparticipao e para o debate, com promessas de considerao das contribuies doscidados no estabelecimento de diretrizes que comporiam a agenda de Serra caso elefosse eleito, o Proposta Serra compe, sem dvidas, o rol de artifcios do candidatovoltados a reforar o vnculo com o eleitor j conquistado (no apenas pregando paraos convertidos, mas trazendo-os, mesmo, para a parte administrativa da campanha)e a angariar novos apoiadores.

    Da mesma forma que um conjunto considervel de pesquisas se esfora em com-preender que fatores estimulam milhares de usurios a acreditarem e tomarem parteem projetos participativos (MARQUES, 2008) necessrio investigar, tambm, o queleva uma instituio, representante ou mesmo candidato a adotar uma postura maisaberta influncia por parte da esfera civil. Fundamental se faz verificar, ainda, emque medida tais posturas participativas representam modificaes efetivas no planoprtico. Ser que influenciar na configurao do plano de governo significa algumacoisa para os usurios, alm da mera satisfao em ver seu nome l? Ter uma idiaou sugesto aceita pela coordenao de campanha e que tenha passado a integrar oplano de governo permite inferir que tais contribuies sero, efetivamente, adotadasuma vez que aquele candidato seja eleito? Novas investigaes so necessrias a fimde preencher estas lacunas.

    RefernciasAGGIO, C. Campanhas Online: O percurso de formao das questes, problemas e

    configuraes a partir da literatura produzida entre 1992 e 2009. Opinio Pblica(UNICAMP. Impresso), v. 16, p. 426-445, 2010.

  • ii

    ii

    ii

    ii

    18 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    BIMBER, Bruce. Information and American Democracy: Technology in the Evolu-tion of Political Power. Cambridge University Press, 2003

    BIMBER, Bruce e DAVIS, Richard. Campaigning Online: The Internet in U.S. Elec-tions. Oxford: OXFORD University Press, 2003.

    BOHMAN, J. Public Deliberation: Pluralism, Complexity and Democracy. Cam-bridge, MIT Press. 1996.

    DAHLBERG, L. Net-Public Sphere Research: Beyond the 'First Phase'. Javnost-ThePublic, Liubliana, Eslovnia, v. 11, n. 1, p. 27-44, 2004.

    DRUCKMAN, J.; KIFER, M.; PARKIN, M. The Technological Development of Can-didate Web Sites: How and Why Candidates Use Web Innovations. In: PANA-GOPOULOS, Costas (Org.). Politicking online: the transformation of electioncampaign communications. University Press, Piscataway, 2009, p. 21-47.

    GOMES, W. S. Transformaes da poltica na era da comunicao de massa. 1. ed.So Paulo: Paulus, 2004.

    GOMES, W.S.; FERNANDES, B.; SILVA, T. POLITICS 2.0: A campanha on-linede Barack Obama em 2008. Sociologia e Poltica, Curitiba, v. 17, n. 34, p.29-43, 2009.

    HABERMAS, J. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro,RJ: Tempo Brasileiro, 1997. v. 2.

    HALLIN, D. Soundbite news: television coverage of elections, 1968-1988. In: D.HALLIN, We keep America on top of the world: Television journalism and thepublic sphere. New York: Routledge, 1994: p. 133-152.

    JANSSEN, D.; KIES, R. Online Forums and Deliberative Democracy. Acta Politica,v. 40, p. 317-335, 2005.

    JENSEN, J. L. Public Spheres on the Internet: Anarchic or Government-Sponsored A Comparison. Scandinavian Political Studies, v. 26, n. 4, 2003.

    LEVINE, Peter; FUNG, Archon; GASTIL, John. Future Directions for Public De-liberation. GASTIL, John; LEVINE, Peter (Orgs.). The Deliberative Demo-cracy Handbook: strategies for effective civic engagement in the twenty-firstcentury. San Francisco: Jossey-Bass, 2005.

    MAIA, R. C. M. Democracia e a Internet como Esfera Pblica Virtual: Aproxima-o as condies de deliberao. In: GOMES, W; MAIA; R. Comunicao eDemocracia. So Paulo. Editora Paulus, 2008a, p. 276-292.

  • ii

    ii

    ii

    ii

    Online Campaigns, Political Participation and the Public Sphere. 19

    _______. (coordenadora). Mdia e Deliberao. Rio de Janeiro: Editora FGV,2008b.

    MAIA, R. C. M. (Org.); GOMES, W.S. (Org.); MARQUES, F. P. J. A. (Org.). Internete Participao Poltica no Brasil (no prelo). Porto Alegre: Editora Sulina, 2011.

    MARQUES, F.P.J.A. Participao poltica e internet: meios e oportunidades digitaisde participao civil na democracia contempornea, com um estudo do casobrasileiro. Salvador, 2008. 498 f. Tese (Doutorado em Comunicao e CulturaContemporneas) PsCom/UFBA, 2008.

    MARQUES, F.P.J.A.; SAMPAIO, R.C. Election after Election: Rupturas e continui-dades nos padres mediticos das campanhas polticas online. Texto apresen-tado no 20 Encontro Anual da Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Comunicao (COMPS). Porto Alegre, UFRGS.

    MIOLA, E. A Deliberao Online em ambientes institucionais. Um Estudo do Frumde Discusso do Portal da Cmara dos Deputados. Contempornea, Salvador,v. 7, n. 2, Dez. 2009.

    NORRIS, P. Preaching to the Converted?: Pluralism, Participation and Party Websi-tes. Party Politics. January, 2003 9: 21-45.

    PAPACHARISSI, Z. Democracy online: civility, politeness, and the democratic po-tential of online political discussion groups. New Media and Society, v. 6, n.2,p. 259-283, 2004.

    PUTNAM, R.. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community.New York: Simon & Schuster. 2000.

    SAMPAIO, R. C.; BARROS, S. A. R. Deliberao no jornalismo online: um estudodos comentrios do Folha.com. Intexto, Porto Alegre, v. 2, n. 23 p. 183- 202,Jul./Dez. 2010.

    SAMPAIO, R. C.; BARROS, S. A. R.; MORAIS, R. Como avaliar a deliberaoonline? Um mapeamento dos critrios. Artigo no publicado

    SAMPAIO, R. C.; MAIA, R. C. M.; MARQUES, F. P. J. A. Participao e delibera-o na internet: Um estudo de caso do Oramento Participativo Digital de BeloHorizonte. Opinio Pblica, Campinas, v. 16, n. 2, p.446-477, Nov. 2010.

    SAMPAIO, R. C.; DANTAS, M. L. Deliberao online em fruns de discusso: Umestudo dos potenciais democrticos do Cidado Reprter. Contracampo, N. 22,fevereiro de 2011.

  • ii

    ii

    ii

    ii

    20 C. Aggio, F. Paulo Almeida Marques, Rafael Sampaio

    SCHWEITZER, Eva Johanna. Election Campaigning Online: German Party Web-sites in the 2002 National Elections. European Journal of Communication; 20;327. 2005.

    SHANE, P. The Electronic Federalist: The Internet and the Eclectic Institutionaliza-tion of Democratic Legitimacy, in Democracy Online, P.Shane (ed), New York:Routledge. 2004.

    STROMER-GALLEY, J. On-Line Interaction and Why Candidates Avoid It. Journalof Communication. 50,4 p. 111., 2000

    STROMER-GALLEY, J. Measuring Deliberations Content: A Coding Scheme. Jour-nal of Public Deliberation, v. 3, 2007.

    VACCARI, Cristian. Research Note: Italian Parties' Websites in the 2006 Elections.European Journal of Communication; 23; 69. 2008

    WILLIAMS, Andrew Paul e TRAMMELL, Kaye D. Candidate Campaign E-MailMessages in the Presidential Election 2004. American Behavioral Scientist; 49;560. 2005

  • ii

    ii

    ii

    ii

    The globalization-friendly global public sphere:contrasting paths to moral legitimacy and accountability.

    Catherine Fleming Bruce

    AbstractThis paper focuses on the idea of global public sphere, drawn from Jurgen Haber-

    mas public sphere concept, introduced in 1962, and transformed through the realitiesof globalization. One critical impact on the political dimension is the movement ofsome decision-making power from the nation-state, or country level, to the globallevel. This change presents challenges, despite accommodating restructuring of theUnited Nations and its organizations1.

    A vital challenge is to accountability: citizens have no elected officials or policymakers to hold accountable at the global level. Losing this component of the publicsphere can either be accepted with an alternative that decision-makers are willing toembrace, or rejected, and ways to improve the accountability factor sought.

    Globalization also caused rulemaking organizations such as the World Trade Or-ganization (WTO) to be formed, organizations that some felt would work to the di-sadvantage not only of developing countries, but of all citizens, who are locked out ofthe decision-making process. New forms of governance were created that expandedthe global public sphere to some degree. These include an increase in the number ofglobal forums, such as the World Summit for the Information Society (WSIS), and anincrease in civil society participation. Despite the fact that the World Summit for theInformation Society was held in Tunisia, many organizations documented free speechviolations even as the event was taking place. Local Tunisians were excluded fromthe process. In January 2011, a revolution took place, and Tunisians overthrew thenational government. Might a well-constructed global public sphere have eliminatedthe need for street revolution?

    This paper assesses ethical and heuristic paths to transformation of the publicsphere ideal from the national decision-making locus to the global, or transnational,

    1The emergence of the United Nations (UN) peacekeeping force, an array of associated organizationson both sides of the Cold War divide, and new UN organizations, such as United Nations Education, So-cial and Communications Organization (UNESCO), the World Meteorological Organization (WMO), andGeneral Agreement on Tariffs (GATT) were created. Some existing organizations, such as the Internati-onal Telecommunications Union, were attached to the new UN economic and social structure. The UNTangle: Policy formation, reform and reorganization. Leon Gordenker, World Peace Foundation Reports.Cambridge, 1996, p. 11.

    Public Sphere Reconsidered. Theories and Practices , 21-34

  • ii

    ii

    ii

    ii

    22 Catherine Fleming Bruce

    by considering recent literature, and reviewing the hermeneutic scholarship of Hans-Georg Gadamer. This author incorporates Gadamers concepts into a new model ofglobal public sphere, with structural features from new media that increase moral le-gitimacy and political accountability. This project expands the utility of the globalpublic sphere concept in communications theory, in concert with the disciplines ofethics, social psychology, international law and public policy

    Keywords: global public sphere, legitimacy, governance.

    Introduction.On the nature of the global Public Sphere.

    At the local, state and national levels of politics, the quality of life for citizensremains a burden of communications. Keeping politicians honest, providing accessto public information, transparency and open lines between citizens and their govern-ment has been a constant centerpiece of mass media practice, policy, philosophy andlaw. In 1962, the European community was introduced to a new theoretical con-cept for media in political life: German philosopher Jurgen Habermas (1929-present)public sphere theory, an enduring concept in normative and communications theorywhich created an idealized model and set of constructs within which national politicalcommunication might effectively take place. Habermas model of the public sphereresponded to social structural divisions reflected in the works of Marx and Hegel, andwere designed to create a platform by which citizens have their opinions both heardand shaped, as well as providing some participation in the actions of governments,so that elections could properly hold political actors accountable. The institutionalfoundations described in Habermas Structural transformation of the Public Sphere(1962), a most influential text and frequent reference point, is an immensely fruitfulgenerator of new research, analysis and theory on the structural preconditions of thebourgeois public sphere (Crack 2007).

    Several phenomena exist that make it necessary to address the theme of globalpublic sphere construction: the first is globalization and the challenges that it crea-tes for national governments and for global governance. The second is the ongoingnecessity of re-establishing and maintaining the moral and social legitimacy of theinternational governance system that globalization has created. The third is the issueof accountability, and expansion of civil society and non-governmental organizationswho claim to speak for global citizens within the public sphere. In order to proceedin examination of these issues, globalization must first be not only defined and placedinto a context of social science ethical and epistemic discourse, but also compared

  • ii

    ii

    ii

    ii

    The globalization-friendly global public sphere. 23

    with alternative heuristic models that might address the challenges to a global publicsphere more usefully.

    Habermas seminal work on public sphere thought continues to produce new stre-ams of debate and theoretical expansion in mass communications research, as wellas in other fields. Throughout the 1970s, one of those famous theoretical sparringsoccurred between Habermas and fellow German philosopher Hans-Georg Gadamer(1900-2002) as they focused on constructs in hermeneutics, the field of understan-ding and interpretation. While many aspects of this form of theory were debatedbetween the two, the public sphere was not specifically a part of the debate. Yet ele-ments of hermeneutics which emphasize history, culture, criticism and pragmatismcan enlighten discourse of the global public sphere, and its construction in an age ofglobalization, possibly unpacking descriptions of globalization that suggest the needfor another means of defining and describing the phenomenon. It is for this reasonthat the ideas and concepts of Gadamer are contrasted with Habermas public sphereconcepts in order to construct a global public sphere.

    Globalization and Alternative Heuristic models.During this 1980s and 1990s, the suggested reality of globalization was having

    a multi-pronged impact on every country. Globalization, defined by a United Nati-ons report as increasing integration of a national economy with the world economythrough exchange of goods and services, capital flows, technology, information, andlabor migration (Osmani 2006) speaks in this description only to its economic di-mensions. One impact on the political dimension has been the movement of somedecision-making power from the nation-state, or country level, to the global level. Acontinuum in the effort to universalize ethics, through a projection of and externali-zation, at the international level, of such core political and legal democratic values asequality, freedom and individual rights, an effort led by powerful Western democra-tic nations (Coicaud and Warner 2005) provides both justification for the emergingglobal public sphere, and some mistrust in its direction.

    This mistrust and imbalance in globalization points the focus to rulemaking orga-nizations, formed in a manner that some felt would work to the disadvantage not onlyof developing countries, but of all citizens regardless of country, who are thought tobe locked out and maneuvered out of decision-making power. An example of thistype of rulemaking organization is the World Trade Organization (WTO), which hasbeen the subject of many global protests. The response to these rulemaking organi-zations has been a heightened emphasis on human rights activism and civil societyengagement at the global level. These new forms of governance include an increasein the number of global forums, and in the level of civil society group participation.Some scholars have therefore asserted that globalization has forced changes that con-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    24 Catherine Fleming Bruce

    tributed to the emergence of a global public sphere, and express the critical nature ofpromoting inclusion through this form of communication.

    In contrast, social scientists Lizardo and Strand (2002) suggest that globalizationtheory is being deployed as a substitute for analysing some of the issues raised bypostmodernists. Key issues in postmodernism are the enlightenment project and thecontinual applied problems of ethical and epistemic relativism, while market-drivenglobalization represents the institutional and material embodiment of what were for-merly the intellectual and the cultural. The focus on the social fact of globalizationin public sphere theory means that an intellectual shift has already taken place forcommunications scholars. They argue that use of this particular heuristic model ofaddressing the modern/postmodern transition has been transposed as a new way toconceptualize the global process. A general question of globalization prior to thesefour registers would be how do we address the challenges and aspects of creating aninternational community? Many of these issues fall into categories that can be im-pacted by mass communication, as it is the most pertinent contributor to the creationof a formal global community with significant interactions between actors from thenation-state, multinational corporation, and non-government realms.

    While the neo-liberal and capitalist themes continue to gain attention from glo-balization theorists, many of the post-modern themes remain inadequately addressedin modern times: commodification of labor, strife within and between political basesof power; revolution against authority and violence exercised by nation-states againstits citizens based on class, race or ethnicity; are now more urgent and frequent. Li-zardos view that the substitution of globalization analysis for postmodernism, as wellas continuing problems pose challenges to global decision-making processes and theinstitutions that conduct these processes signals that these issues are far from beingresolved.

    Legitimacy in the international governance system.Legitimacy is not defined here in Max Weber terms of power and coercion, but

    defined instead in terms of values and modes of action. The values might best bedescribed as a search for ways to bend state behavior to fit a moral or social legiti-macy, represented by those international norms which are products of historical andpolitical evolution (Connolly 1984). The worlds people are increasingly seeing thatcertain values are essential to their human dignity, and are more willing to participatein various public processes to achieve the translation of those values into global anddomestic policy, a fact noted in the increasing calls for a moral budget in the UnitedStates.

    However, Berger and Luckmann see legitimacy as a general process. (1967) sta-ting that legitimacy is what lends an objective quality to a socially constructed re-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    The globalization-friendly global public sphere. 25

    ality; that this is the way by which the instrumental world can be explained andjustified. The process of creating legitimacy defines reality, creating a world of ac-cepted institutions and providing the people who inhabit that world with order andshelter from uncertainty. My interest is seeing whether this is done in internationalsociety through ethical and democratic practice, and how the public sphere is partof that process. Berger and Luckmanns general process of creating legitimacy es-tablishes a base of socially accepted behavior and norms defining the institutionalworld of international society. Violation of normative expectations that internationalorganizations will not act in a certain manner might generate negative public scrutinyand government regulation, and other negative repercussions.

    Accountability and Citizen Representation in the globalpublic sphere.

    States that put power and interests before norms and values need external pres-sure (of bad publicity or sanctions) to enter the sphere of norms and human rightsvalues. External pressure and strategic bargaining give way to the process of ar-gumentative discourses in the Habermasian sense of civil society (Risse and Skink1999). Rather than power and instrumentality socialization through moral discourseemphasizes processes of communication, argument and deliberation, or as ratherthan self,-interest, actors accept the validity and significance of norms in their dis-cursive practices (Chandler 2004). Civil society organizations, or non-governmentorganizations, provide this external pressure and strategic bargaining as well as theHabermasian sense of argumentative discourses. Yet these organizations do not repli-cate the political accountability of elected representatives, leaving citizens with lessvoice in the process.

    Scholars Nans and Steffek dont see the transnational public sphere as a distinctor overarching realm of broad public deliberation at the global level. Instead, theirvision of the public sphere corresponds to the model of functional decision-makingand functional participation in the deliberative forums of governance arrangements,such as the World Summit for the Information Society (WSIS). Their definition of de-mocratic legitimacy accepts deliberation as a substitute for democratic process, andtransforms public sphere to accommodate that acceptance. Some scholars suggestthat actors from organized civil society have the potential to act as a discursive in-terface between the two, and in doing so play a vital role in the creation of a globalpublic sphere. Further, because global governance is functionally differentiated andhighly technical, there is also this gap to be bridged.

    Despite the claims of mass media that transparency is provided, bureaucrats andexperts continue to come together behind closed doors, free from intrusion of man-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    26 Catherine Fleming Bruce

    dated public representatives and interest groups in their decision-making processes.Nanz and Steffek suggest a well-informed and consensus-seeking discussion in ex-pert committees that are embedded in international decision-making procedures. Thisapproach to deliberation: inspired from public policy and international relations the-ory highlighting the importance of scientific expertise and consensus-seeking withinepistemic communities of experts (Haas 1992; Cogburn 2005). Deliberation amongexperts is seen as a key devise of good governance by administrations.

    Frazer links the concept of global public sphere to the concept of normative le-gitimacy. Defining it thusly: public opinion is legitimate if and only if all who arepotentially affected are able to participate as peers in deliberations concerning theorganization of their common affairs, these with conditions of inclusiveness (dis-cussion open to all with a stake in the outcome), and parity (all participants have anequal chance to state their views, and engage in dialogue). Frazer has chosen to usethe term normative legitimacy, indicating her emphasis on principles of fairness,such as inclusiveness, parity, and equity, pursuant to her focus on theories ofsocial justice (Frazer 2009).

    Understanding Habermas heuristic vision of global pu-blic sphere.

    From the initial introduction of Habermas public sphere theory in the late 1960s,to its gradual expansion from the late 1980s, the most significant challenges it hasfaced are to its ability to remain intact or transform in light of worldwide structuralchanges. Habermas unique heuristic model not only supports the transformation ofhis public sphere theory from national to global, but also provides his rejoinder toissues of legitimacy, accountability and citizen participation identified in the openingchapter. Examining the institutional, experiential and geo-political roots of Haber-mas heuristic model for a global public sphere suggest a root in political and nationaltraditions of social thought. The German tradition of Social Science, in which Ha-bermas and Gadamer are both rooted, the Second World War and the reign of Hitlerand his Third Reich were overwhelming features in the political, cultural, economic,ethical, moral and social landscapes during the time of their early formation . ForJurgen Habermas in particular, it is suggested these experiences were incorporatedinto his heuristic vision for the public sphere, in way that had critical implications forefforts to address challenges of legitimacy and accountability in the global transition(Lizardo and Strand 2002)

    In German traditional social theory, the state is prior to the individual and to thecorporate producer of economic action. Unlike the perspective found in American so-cial and political thought, individuals were considered subordinate to the state, with

  • ii

    ii

    ii

    ii

    The globalization-friendly global public sphere. 27

    less emphasis on individual freedoms. Habermas scholar Craig Calhoun underscoreshis perception of Habermas heuristic public sphere as rooted in this tradition, evi-denced in a strong negative image of nationalism, particularly the bad nationalismdescribed by Calhoun as Nazi Germany and Slobodan Milosevics Serb nationalism.Calhoun claims that Habermas thinks of nationalism as a moral mistake. Indi-viduals gain their voices through civil society groups, and ultimately through statesactors. (Lizardo and Strand 2002) (Pels 2001). Roles for the State, civil societyand the individual, and their relationship to each other, are fixed, like stars in theoverhead sky. Thomas Hove, a specialist on Habermas contemporary academic tran-sitions, emphasizes Habermas movement away from a strict sociological concept ofthe public sphere by combining the political, descriptive sociological concept, withthe general (political/normative ideal). In the political sphere, the public sphere func-tions as a warning system and sounding board. Habermas uses a division of thesocial world based on a Marxist depiction of the social system, state, economy andcivil society, dating back to Hegels philosophy of Right (1821).

    Civil society is described as an engine for bringing problems expressed in thepolitical public sphere to the state, that sphere serving as a mediator, filter or sluice(schleub) between the state and the private sphere. Habermas indicates that the statehas political power, not civil society nor individuals. Even the public sphere doesnot have political power. Voluntary unions submit privately experienced problemsto public sphere, in a formal communication. Hove observes changes in Habermasdirection in 1975s legitimation crisis. Public sphere has changed, borrowing fromTalcott Parsons and Niklas Lumass on relation of public sphere to political systems.While the social systems borrow from those, the three part model of political systemsis from Marxs state, economy and civil society macro social concepts go back toHegel.

    Revolution is defined by Habermas as non-rational mob action. Habermasclaims communicative power though weaker, can influence state officeholders bycollectively binding political decisions. Role of media for Habermas is based on roleof state, interaction of public sphere between social forces, limited role and capacityof individuals in public sphere, and revolution and public action viewed as anarchy.In his collection of essays, The Inclusion of the Other: Studies in Political Theory,is described as suggesting both constitutional limits to political loyalty and loyalty tothe legally enacted constitution, emphasizing the procedural norms and the referencesfor public discussion both coming from the constitution.

    The idea of the global public sphere.A primary challenges to the idea of the global public sphere is that there could

    be one. Scholars disagree on definitions and boundaries of the public sphere, there

  • ii

    ii

    ii

    ii

    28 Catherine Fleming Bruce

    is similar disagreement on the concept of a global public sphere, and even disagree-ment as to whether it exists at all or is still emerging. The immediate construct usedby scholars, including Habermas himself, adapted the public sphere concept globallywith the idea of counter-publics, exhibiting a rift between publics, and the need tocreate a theoretical concept that would explain interaction between groups in the al-ternate and dominant publics (Dahlgren, 1995; Curran 1996; Habermas, 1996; Baker,2003; Frazer 2005).

    My rejoinder to those challenges is the construction of a globalization-friendlyglobal public sphere. Communication scholars have set themselves to the task ofcorrecting perceived shortcomings buried in Habermas public sphere theory, parti-cularly those shortcomings that would make it impossible to address the issues thathave been laid out here: citizen participation, legitimacy and accountability. Thissection examines the work of these scholars, to conclude whether those issues havebeen successfully addressed.

    Communications scholar Angela Crack suggests that the enabling conditions ofdomestic public spheres are being supplemented by transnational networks that pro-vide the structural potential for extended forms of publicity. Public debate in the masssociety was largely channeled through a limited range of media outlets, whereas cy-berspace is an infinitely more heterogeneous discursive environment. The coherenceof mass public spheres contrasts sharply with the Internets hyperlinked, interactivestructure, which creates a highly complex web of overlapping discussion forums onevery conceivable topic. Network structures pervade all spheres of society, inclu-ding politics, government, the economy, technology, and the community (van Dijk2006). These processes symbolize a disruption in conventional understandings ofspace, borders, and territory, and free up space for new concepts for construction of aglobal public sphere to be considered.

    Gadamers radical strain: All who are free can neveragain be shaken.

    Language, expressed as dialogue by Gadamer and as deliberation by Habermas,is recognized by them as common grounds for the medium of ethical life. Gadamerand Habermas shared a belief that ethical norms can be understood, justified, andcriticized dialogically and discursively, and that ethical conflicts can be resolved inthe same manner. This dialogue or deliberation that serves as a medium for ethicallife is both an actual practice of reflection in which we are always already engaged,and an ideal to which the actual practice is already oriented (Kelly, 1988).

    For Gadamer, solidarity is a form of ethical action. All ethical actions, whetherindividual or collective, are based on norms, and all valid norms are social in the

  • ii

    ii

    ii

    ii

    The globalization-friendly global public sphere. 29

    sense that they must be recognized as valid by other individuals. Solidarity is cons-tituted by the set of ethical norms which other individuals validate, as norms theyhold in common. Solidarity is a goal of ethical actions because it must be constantlyreaffirmed and redefined. This constant reaffirmation and redefinition of solidarityis the necessary task of critical ethical reflection. The concept of solidarity can befurther clarified in terms of Gadamers concept of die sache. Gadamer argues thatthe goal of a dialogue is not to establish one participants point of view as the onlytrue one, but to come to some understanding between them concerning the sache orsubject matter of the dialogue. It is this subject matter, not the participants or theirviewpoints, which determines the structure and goal of the dialogue. For Gadamer,this process also determines truth of the dialogue, for the truth is a result of a fusionof horizons of the participants viewpoints about the subject in question.

    A critical way for Gadamer to express his hermeneutic view on understanding ishis interpretation of concepts of praxis and phronesis, found originally in Aristotle.This is defined by some scholars as a judgmental mediation between the universeand the particular where both are co-determined, leading to a strong desire to showcontinuity between past and present, and to connect the notion of solidarity with plu-rality. (Bernstein 1992) Others defined phronesis as a political type of judgment,enabling political actors to decide what course of actions to take. (Arendt 2008).Praxis, the other critical component of Gadamers work, focuses on Gadamers trans-formation of the notion of phronesis into his own concept of application. This statewhere understanding is sought both out of the particular situation of an individual,and the horizon of others, is the attempt to achieve a fusion of horizons (horizont-verschmelzung). For Gadamer (1980), these horizons were open and fluid, and heurged knowledge seekers to let what is alienated by the character of the word or bythe character of being distanced by cultural or historical distances speak again. Afterthe publication of Truth and Method (1965) Gadamer continued to explore themesof praxis, dialogue, and the noble task and responsibility of the citizen to makedecisions for him or herself, rather than to rely on experts for a personal capacity thatis part of ones moral being (Gadamer 1974, 1975, 1980)

    Philosopher Richard Bernstein points out, in his reading of Gadamers work, thatthere is a powerful latent radical strain in Gadamers thinking. He submits intoevidence Gadamers statements genuine solidarity, authentic community, should berealized and practice is conducting oneself and acting in solidarity. Solidarity,however, is the decision condition and basis of all social reason (Bernstein 1992;Gadamer 1975). Bernstein claims that Gadamers hermeneutical project emphasizesthe critical nature of being dialogical, and that this mode is not to be restricted to afew, as Aristotle intended, but is part of every person, and must be actualized.

    This raises the concept that Gadamers version of praxis can leverage greater ef-fect on the global public sphere and on international governance legitimacy. Ethicist

  • ii

    ii

    ii

    ii

    30 Catherine Fleming Bruce

    Joseph Monti argued for such a place for Gadamerian ethics in public policy, and byextension though the global public sphere, but he argued as well for emancipation.Though Gadamer did not describe in any systematic way the conditions creating ne-cessary conditions for a public sphere, he did provide basic hermeneutic and linguisticclues to the shape of the necessary dialectic between participating and distancingadescription of the hermeneutic conditions of understanding that provide the dialogicform for coming to judgments about the true and the right in the social world, andthe current organization of political structures. Monti also argued for ethical thoughtand practice that would lead to emancipation, because without this normative gui-dance, a deluded decisionism overtakes the process of self-reflection and gives way todogmatically issued instructions for action under the domination of experts over thelegitimate praxis of free, responsibly autonomous citizens. Public policies formed inthis way can be neither adequately verified nor legitimated; they will inevitable failto be maintained unless enforced through the exercise of power (Monti 1980).

    A new heuristic model for global public sphere.The issues reviewed in this paper demonstrate the need for a new heuristic model

    for a global public sphere that will include new means of providing legitimacy andaccountability. While Habermas heuristic global public sphere model rests on thestate using communication as a means of forming public opinion, and for dialogueto act as a safety hatch, he clearly states that this does not equal political power.The Public opinion objective creates a certain kind of ethic, permits a certain kind oflegitimacy.

    This view is at odds with the definition of phronesis offered by Gadamer, and theapplication I propose for fusion of horizons to cross a variety of spaces. Despite thefact that the World Summit for the Information Society was held in Tunis, Tunisiain 2007, many organizations documented free speech violations even as the eventwas taking place. Local Tunisians were excluded from the forum process. In Janu-ary 2011, a revolution took place, and Tunisians overthrew the national government.Despite the presence of national and global bureaucracies in the country, its citizenswere out of the public sphere of local and global decision-making, until the eruptionof revolutions there, in Egypt, and other places. Egypt especially has changed the dy-namics of communication and communicative power. Yet, a well-constructed globalpublic sphere might have eliminated the need for street revolution by delivering realpolitical, social and economic change. The global public

    Instead, a confluence of events will generate political will related to, what oughtwe to do. Pragmatic, ethical and moral forms of will. . . political will formation. . .situation in actors collectively engage in discourse to figure out and justify solutionsto pragmatic, ethical and moral problems. The people of the Middle East consti-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    The globalization-friendly global public sphere. 31

    tute an informal global community in relation to the formal international communityof non-government and civil society organizations, international organizations, andmultinational corporations.

    The importance of debate for determining validity of ideas. Is this amplified bythe Internet and social media? Only to some extent, as these media can be still becontrolled to some extent from outside forces. Even more so, it can be controlledby individuals participating in the dialogue, who can close out of or opt out of theconversation at will. Participants in both forums must have a willingness to hearone another, and an openness to differing opinions. The internet and social mediawill facilitate those who are open and willing to learn, but this quality cannot besubstituted. Some present ideas without allowing others the opportunity to introducenew topics, points of view or ideas.

    The fusion of horizons concept can also be used to embrace observations made inother disciplines, such as law and public policy. Implications of the reduced emphaseson national sovereignty has led some legal experts to suggest a fusion of horizons forthe domestic and international, public and private realm in decision-making. Legalscholar Hari Osofsky (2008) is a proponent of ideas which have their root in thinkingfrom the New Haven School movement (Falk 1995).

    While not cast in the language of a global public sphere, Legal scholar Art VonLehe further described the ongoing fusion of political horizons as global climatechange is addressed by the International Council for Local Environmental Initiatives(ICLEI), a local governmental international membership organization for sustainabi-lity and the United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC),as well as the representation of a number of Mayors at international climate changeconferences. (Von Lehe 2008). These elected officials illustrate the reality that theglobal public sphere can be built along existing bridge between local municipalities,regional governmental organizations and international institutions, with some assu-rance of electoral accountability.

    Despite the post-modern concerns that a global public sphere would create a sa-meness of political context, some global sphere scholars have found the opposite.Ingrid Volkmer discovered through her research that foreign and domestic newstransnational channels and their particular political angle reached the same audien-ces, whether they were in Germany, Turkey, Switzerland, Nigeria or Melbourne. Theconventional parallelism of these channels , described by Volkmer as transformedinto a new worldwide trans local political space, also eliminated the parallelismof multiple global public spaces into one new worldwide trans local political space.Rather than a horizontal set of separate structures, the technology produced a verti-cal structure of global communication spheres, which provides the architecture forcounter-publics to exist. Scholars express the concept of multiple global publicspheres, rather than one global sphere. This reality is further reproduced in the de-

  • ii

    ii

    ii

    ii

    32 Catherine Fleming Bruce

    velopment of direct satellite broadcasting in the early 1980s and digital operations,which arguably contributed to the intersection of global and local communicationspaces (Space 2003). Among these globalized satellite cultures are Al Jazeera, ZeeTV, France 24, Arirang World, CCTV-9, Cubavision Internacional, and BBC World.This is referred to as a vertical structure of global communication spheres, whichprovides the architecture for counter-publics to exist. (Space 2003). Supplemen-ted by an ex