9
Agenda Setting, o Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende Luciano de Sampaio Soares * Resumo Com as manifestações populares acontecidas em Junho de 2013, o Brasil viu o surgimento de uma iniciativa midiática descentralizada conhecida como Mídia Ninja (“Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”), vinculada ao Coletivo Fora-do-Eixo, e que foi saudada por vários – nas redes sociais, principalmente – como uma alternativa viável e sau- dável à mídia tradicional. Este artigo pretende analisar – à luz da teoria do Agenda Setting – o processo de autodefesa dos veículos da chamada “grande mídia” em relação à alternativa apresentada pela mobilização coletiva Ninja, na tentativa de minar a relevância da iniciativa ninja e preservar, mesmo que temporariamente, o /textitstatus quo midiático no Brasil. Palavras-chaves: mídia ninja. mídia tradicional. agenda setting. enqua- dramento. jornalismo. Introdução Neste artigo pretende-se examinar as formas de autodefesa da cha- mada “grande mídia” quando esta se viu ameaçada e confrontada diretamente pelo alcance e popularidade da Mídia Ninja (“Narrativas Independentes, Jor- nalismo e Ação”), iniciativa mantida pelo coletivo Fora do Eixo (FdE), como alternativa aos veículos tradicionais de divulgação noticiosa. Acredita-se aqui que um dos principais motivos para a grande aceitação, em um primeiro mo- mento, da cobertura jornalística realizada pela Mídia Ninja é uma das carac- terísticas marcantes da sociedade do hiperespetáculo, uma vez que: * Mestrando em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná 1

Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Por SOARES, Luciano de Sampaio.Com as manifestações populares acontecidas em Junho de 2013, o Brasil viu o surgimento de uma iniciativa midiática descentralizada conhecida como Mídia Ninja (“Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”), vinculada ao Coletivo Fora-do-Eixo, e que foi saudada por vários – nas redes sociais, principalmente – como uma alternativa viável e saudável à mídia tradicional. Este artigo pretende analisar – à luz da teoria do Agenda Setting – o processo de autodefesa dos veículos da chamada “grande mídia” em relação à alternativa apresentada pela mobilização coletiva Ninja, na tentativa de minar a relevância da iniciativa ninja e preservar, mesmo que temporariamente, o status quo midiático no Brasil.Artigo apresentado durante o VII Simpósio Nacional da Associação Brasileira de Cibercultura (ABCiber), na Universidade Tuiuti do Paraná, em 20/nov/2013.

Citation preview

Page 1: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

Agenda Setting, o Plano X e a Mídia Ninja, ou comoa Grande Mídia se Defende

Luciano de Sampaio Soares*

Resumo

Com as manifestações populares acontecidas em Junho de 2013,o Brasil viu o surgimento de uma iniciativa midiática descentralizadaconhecida como Mídia Ninja (“Narrativas Independentes, Jornalismo eAção”), vinculada ao Coletivo Fora-do-Eixo, e que foi saudada por vários– nas redes sociais, principalmente – como uma alternativa viável e sau-dável à mídia tradicional. Este artigo pretende analisar – à luz da teoriado Agenda Setting – o processo de autodefesa dos veículos da chamada“grande mídia” em relação à alternativa apresentada pela mobilizaçãocoletiva Ninja, na tentativa de minar a relevância da iniciativa ninja epreservar, mesmo que temporariamente, o /textitstatus quo midiático noBrasil.

Palavras-chaves: mídia ninja. mídia tradicional. agenda setting. enqua-dramento. jornalismo.

IntroduçãoNeste artigo pretende-se examinar as formas de autodefesa da cha-

mada “grande mídia” quando esta se viu ameaçada e confrontada diretamentepelo alcance e popularidade da Mídia Ninja (“Narrativas Independentes, Jor-nalismo e Ação”), iniciativa mantida pelo coletivo Fora do Eixo (FdE), comoalternativa aos veículos tradicionais de divulgação noticiosa. Acredita-se aquique um dos principais motivos para a grande aceitação, em um primeiro mo-mento, da cobertura jornalística realizada pela Mídia Ninja é uma das carac-terísticas marcantes da sociedade do hiperespetáculo, uma vez que:

*Mestrando em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná

1

Page 2: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

Existir passa a ser sinônimo de ser visto, ser ouvido, apa-recer na mídia, dar-se a ver, posicionar-se num espaçosimbólico dominado pelo imaginário da presença virtual.[. . . ] cada vez mais cada pessoa quer ter, em algum mo-mento, um público numa relação comunicacional medi-ada tecnologicamente. [. . . ] Exibir-se não significa maisapenas se colocar em realce, mas se situar num eixo deespaço-temporal específico: o lugar da visualização. (??,p. 143)

Assim, o cidadão comum, desejoso de se ver neste lugar da visualiza-ção, e partícipe dos movimentos sociais que eclodiram em meados de 2013 portodo o Brasil, identificou-se sobremaneira com a proposta de aliança entre atecnologia e a comunicação midiática de impacto realizada pelos ninjas e que,dentro deste cenário hiperespetacular, oferece a qualquer um a oportunidadede se tornar também um ninja, fato evidente na reportagem Qualquer um podeser ninja1 e destacado por ??):

No perfil do Ninja2 no Facebook estão as convocaçõespara que os correspondentes e colaboradores ajudem acobrir os protestos em todas as regiões do país e no ex-terior, como exemplifica a postagem do dia 23 de junhode 2013: “Fotógrafos, repórteres, cinegrafistas, cidadãosa fim de entrar em nossas tropas, escrevam para [email protected] dizendo de onde são e como podemcolaborar. Estamos começando a cadastrar gente do paístodo. Primeiro passo na montagem de uma rede nacio-nal de jornalismo independente antes do lançamento donosso site. Quem anima?”

A alternativa noticiosa apresentada pela Mídia Ninja confrontou entãoos veículos midiáticos tradicionais com uma possível perda de audiência eaté mesmo uma crise de confiança, e tudo isso produzido de uma forma talque a imprensa tradicional se viu acuada, pois como afirma ??, p. 27) “Aúnica diferença inaceitável é aquela que não segue o modelo”. Com isso, amídia tradicional – pressionada pela população - - passa a apresentar maisespaço à cobertura alternativa, seja pela utilização do material produzido pelosninjas – como ficaram conhecidos os indivíduos responsáveis pela transmissão,jornalistas de profissão ou não –, seja por colocar em evidência a sua atuaçãodurante as manifestações.

Agenda setting, framing e o Plano XA análise aqui pretendida se dará ao examinar, à luz da teoria do

agenda setting – que indica o transporte de um assunto da cobertura jornalís-1 http://atarde.uol.com.br/muito/materias/1531942-qualquer-um-pode-ser-ninja [Acesso

em 22/09/2013]2 Nota de rodapé de número 9 no original: https://www.facebook.com/midiaNINJA

[Acesso pela autora da citação em 23/06/2013]

2

Page 3: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

tica para o interesse público através da sua presença constante no noticiário??) –, menções à Mídia Ninja e ao coletivo Fora do Eixo em publicações emblogs e portais de internet, encontrados tanto por meio do clipping3 man-tido por estas organizações – considerando inclusive a classificação de enfoque(positivo, negativo ou neutro) do conteúdo das publicações encontradas nestematerial – quanto através de pesquisas em mecanismos de busca online como oGoogle. Quando da redação deste trabalho, uma consulta ao serviço de buscaspelo termo “Mídia Ninja” oferece 489.000 resultados gerais, excluídos aque-les de conteúdo duplicado ou com semelhança significativa, e mais de 1.200notícias, nem todas contempladas no clipping mencionado anteriormente.

Como suporte à utilização da teoria do agenda setting fora do escopopolítico-eleitoral onde esta é comumente aplicada, utiliza-se como base o es-tudo de ??) sobre os efeitos de transferência de saliência entre a notícia ea agenda pública em grandes corporações. O trabalho de ??) a respeito doagenda setting em relação a organizações de direitos humanos guia teorica-mente este trabalho tanto em termos do escopo organizacional já mencionado,como também na utilização do ambiente online para a verificação. Vale salien-tar que, em virtude dos resultados encontrados para a frequência de buscas4

por termos relacionados ao Fora do Eixo e à Mídia Ninja para o período maisintenso de manifestações populares não poderem ser considerados significa-tivos, a metodologia apresentada por ??) para a utilização da busca onlinecomo medida de efeitos de agenda setting não pode ser aplicada a este traba-lho, ainda que o artigo citado sirva também como embasamento teórico.

A conjuntura NinjaJunho de 2013 viu a população brasileira tomar as ruas em diversas

cidades, nos mais diferentes pontos do país, para reivindicar melhorias notransporte público, na educação, na saúde e o fim da corrupção, entre tantasoutras reivindicações que fazem parte do imaginário político nacional. E, emmeio à profusão de palavras de ordem, balas de borracha e nuvens de gáslacrimogêneo, essa mesma população viu – pela internet, ao invés de pelatelevisão, como de costume – cada momento dos protestos sem os filtros dagrande mídia, graças à presença da Mídia Ninja, transmitindo ao vivo osacontecimentos nos diversos recantos em que o povo se manifestou.

Se em um primeiro momento o discurso da grande mídia sobre asmanifestações pode – de certa forma – ser traduzido na ferocidade das críticasdo jornalista Arnaldo Jabor, que em sua coluna do dia 12 de junho de 2013 noJornal Nacional, da Rede Globo de Televisão5, a repercussão da atuação dosninjas junto aos movimentos sociais espalhados pelo país, e críticas sofridas3 O clipping mantido pelo FdE e pela Mídia Ninja pode ser encontrado em

http://ow.ly/p5EJN. [Acesso em 21/09/2013]4 Tais resultados podem ser obtidos através da ferramenta Google Insights para buscas:

http://www.google.com/trends/5 http://ow.ly/pboTC [Acesso em 22/09/2013]

3

Page 4: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

pelo próprio jornalista após seu posicionamento contrário ao Movimento PasseLivre (MPL) – um dos catalisadores dos protestos – acabam por levar a umamudança radical de posicionamento. Já no dia 18 seguinte, pelo mesmo veículo,Jabor retratou-se6. É neste ponto que se postula aqui o início da defesa dagrande mídia em relação ao crescimento da relevância conquistada pelos ninjas.

É em meio a essas alterações de discurso e a falta de informação con-fiável das fontes tradicionais e institucionais durante os protestos que a mobi-lização dos “ninjas” ofereceu às massas – combinando política, afeto e mídia –aquilo que REZENDE (2013) chama de narrativa catártica no registro do queocorria durante as manifestações sem as restrições deontológicas do jornalismode massa e, ao mesmo tempo, criticar não só o conteúdo fortemente maquiadotransmitido por jornais impressos e televisivos, mas também como denúncia arespeito da atuação do aparato institucional no controle e repressão das mani-festações, de maneira semelhante à utilizada pelo Independent Media Centerem 1999 durante o episódio conhecido como Batalha de Seattle (??).

Com o o aumento da popularidade das coberturas realizadas pela Mí-dia Ninja, principalmente nas redes sociais – como o Facebook e o Twitter– começou a ganhar a reputação de ser uma alternativa válida à coberturajornalística tradicional, considerada tendenciosa. Assim a iniciativa passou aser considerada parte do movimento, ativista, além de repórter. ??.

Apos a entrevista, uma serie de publicacoes envolvendo principalmenteo coletivo Fora do Eixo – e em menor escala os Ninjas, mencionados apenascomo um dos “bracos” do FdE – surgiram em blogs e no Facebook. Se por umlado, produtores culturais como a cineasta Beatriz Seigner87 – acompanhadade varios outros membros de diversas classes, como indicam bocchini2013ninja– criticam duramente o FdE, questionando o modelo de trabalho do coletivo esua economia paralela, por outro encontram-se blogueiros, jornalistas e diver-sos estudiosos das mdias88 que se colocaram na defesa do coletivo e, princi-palmente, da Mdia Ninja. Alem das opinioes externas, muitos participantes docoletivo tambem se manisfestaram contando sobre suas proprias experienciasnas casas coletivas da organizacao89,810,811

14.418Perder para ganhar

Inicialmente diversos veculos da mdia tradicional incluram em suaspautas mencoes ao FdE e a Mdia Ninja diretamente, ao abordar as iniciativasem reportagens e notcias muitas vezes de carater positivo ou, pelo menos,6 http://ow.ly/pboRH [Acesso em 22/09/2013]

91187 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝𝑏𝑝3𝑏[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚21/09/2013]91188 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝐶𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜𝑑𝑒𝐸𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜𝑠𝑑𝑎𝑀𝑑𝑖𝑎𝐴𝑙𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎𝐵𝑎𝑟𝑎𝑜𝑑𝑒𝐼𝑡𝑎𝑟𝑎𝑟𝑒 : ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝5𝐺𝑁𝑜[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚21/09/2013]91189 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝐿𝑒𝑛𝑖𝑠𝑠𝑎𝐿𝑒𝑛𝑧𝑎 : ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝𝑏𝑝8𝐺[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚21/09/2013]911810 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝑀𝑎𝑟𝑖𝑒𝑙𝑙𝑒𝑅𝑎𝑚𝑖𝑟𝑒𝑠 : ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝𝑏𝑝9𝑂[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚21/09/2013]911811 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝐺𝑖𝑎𝑛𝑀𝑎𝑟𝑡𝑖𝑛𝑠 : ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝𝑏𝑝𝑎𝑦[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚21/09/2013]

4

Page 5: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

neutro (como consideradas no clipping da Mdia Ninja). Ao manter o Fora doEixo e a Mdia Ninja em evidencia – dentro dos parametros do agenda setting:aumentando a sua saliencia – a grande mdia fornecia condicoes para que aaudiencia de massa passasse a considerar essas instituicoes como importantese dignas de nota. Tal situacao e apresentada, por exemplo, na publicacao deciteonlinemazotte2013ninja, que destaca o espaco angariado pela Mdia Ninjaem veculos de comunicacao tradicionais.

Porem, a medida que as duas entidades ganham notoriedade e passama fazer parte da agenda publica, mais um efeito de influencia tendenciosa podeser reconhecido: o framing, ou enquadramento, acao essa “baseada na supo-sicao de que a maneira pela qual um assunto e abordado na mdia jornalsticapode influenciar a maneira pela qual ele e compreendido pelas audiencias.”scheufele2007framing.

E assim, portanto, que a relacao de dependencia da Mdia Ninja paracom o FdE se torna assunto recorrente em noticiarios e publicacoes em blogs.Como exemplo desse efeito pode-se novamente mencionar a participacao deTorturra e Capile no programa Roda Viva, que ao ser criticada por /cite-onlinebenitz2013ninja, em uma publicacao sobre o desempenho exibido pelosativistas durante a entrevista televisionada, nao distingue o pertencimento de-les a uma ou outra iniciativa, efetivamente unindo o Fora do Eixo e a MdiaNinja em uma unica entidade.

Enquanto se reforca o destaque da relacao de dependencia entre MdiaNinja e Fora do Eixo, percebe-se o segundo efeito determinante na defesa damdia tradicional, o priming ou “as mudancas de padroes pelos quais a popula-cao utiliza para realizar avaliacoes de natureza poltica”scheufele2007framing.Este segundo nvel de agenda setting passa a se fazer mais presente ao defi-nir atributos dos objetos em questao: neste caso em especial, o financiamentode atividades do FdE com dinheiro publico captado por leis de incentivo acultura e o questionamento da sustentabilidade real da economia paralela dosCubo Cards812 e questoes trabalhistas e de remuneracao de parceiros. Me-rece destaque aqui o caso Macaco Bong, abordado por diversas publicacoesespecializadas em musica813,814.

14.418Plano X: a Grande Mdia se defende

Os textos presentes no Facebook – como o publicado por Beatriz Seig-ner, mencionado anteriormente – continuaram dando folego as crticas e de-nuncias sobre o Fora do Eixo, que, desde a entrevista no Roda Viva, estavairremediavelmente ligado a Mdia Ninja. Assim, o julgamento midiatico doFora do Eixo – que chega, nas palavras de costa2013ninja a produzir “uma

911812 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝑈𝑚𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑑𝑎𝑞𝑢𝑒𝑠𝑡𝑎𝑜𝑒𝑐𝑜𝑛𝑜𝑚𝑖𝑐𝑎𝑒𝑎𝑟𝑒𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚𝑑𝑎𝐵𝐵𝐶𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 : “𝑀𝑜𝑒𝑑𝑎𝑑𝑜𝐹𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜𝐸𝑖𝑥𝑜𝑖𝑙𝑢𝑠𝑡𝑟𝑎𝑑𝑒𝑠𝑎𝑓𝑖𝑜𝑠𝑑𝑒‘𝑎𝑙𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎𝑠′𝑎𝑜𝑑𝑖𝑛ℎ𝑒𝑖𝑟𝑜′′𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑣𝑒𝑙𝑒𝑚ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝6𝑞𝑌 𝑡[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚22/09/2013]911813 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝑁𝑜𝑏𝑙𝑜𝑔𝐼𝑛𝑑𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑜𝑢𝑀𝑜𝑟𝑡𝑒 : ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝6𝑟𝑚4[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚21/09/2013]911814 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒𝑣𝑖𝑠𝑡𝑎𝑐𝑜𝑚𝐵𝑟𝑢𝑛𝑜𝐾𝑎𝑦𝑎𝑝𝑦𝑝𝑎𝑟𝑎𝑜𝑆𝑜𝑚𝑎 : ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑜𝑤.𝑙𝑦/𝑝6𝑟𝑜ℎ[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚21/09/2013]

5

Page 6: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

impensavel convergencia entre as revistas Veja815 e Carta Capital816 (grifo nooriginal) – atinge tambem, ao se salientar na agenda publica, a rede jornalsticaalternativa.

Nao e a intencao deste trabalho esmiucar as praticas do FdE ou mesmoda Mdia Ninja, bem como nao se pretende realizar julgamento de valor ou mo-ral a respeito dessas organizacoes, uma vez que o objetivo final deste trabalhoe um melhor entendimento de como os processos de agenda setting e de en-quadramento (framing) – ou como a frequencia e a forma de apresentacao deum determinado assunto em notcias molda a percepcao da audiencia sobretal tema – foram utilizados como defesa por parte da grande mdia ao criartendencias negativas a respeito das duas organizacoes alternativas.

Essa necessidade de defesa pode ser justificada dentro da manutencaodo status quo por parte da grande mdia, uma vez que, como diz [silva2013“A comunicacao e um sistema de hierarquia social”. E na tentativa de evitaruma alteracao brusca e de origem popular no cenario comunicacional, nessahierarquia estabelecida, que a grande mdia precisa evitar a perda de audienciae, por consequencia, de relevancia e financiamento, resultados possveis de umcrescimento protrado e horizontal da Mdia Ninja, que permitiria, por exemplo,o avanco de outras iniciativas semelhantes em areas dspares do jornalismo (oentretenimento, talvez, seja a mais marcante).

Tal afirmacao condiz com o chamado Plano X, cujo real objetivo nao ea desarticulacao total ou a aniquilacao da alternativa apresentada, mas “van-tagem competitiva temporaria, dentro de risco permanente e inevitavel” wil-liams1983. O contexto do Plano X neste cenario e ainda reforcado na fala deJabor, ao se retratar das duras crticas feitas inicialmente ao MPL, quando ojornalista afirma:

Na mdia so aparecem narrativas de fracasso, de impunidades, de der-rotas diante do mal. Essa energia do Passe Livre tem que ser canalizada paramelhorar as condicoes de vida no Brasil, desde o desprezo com que se trataos passageiros pobres de onibus, passando pelo escandalo ecologico, passandopela pieguice do codigo penal do pas que legitima a corrupcao funcionalizada

LaTeX Error: citacao on input line 243 ended by SingleSpaceSee theLaTeX manual or LaTeX Companion for explanation.Your command was ig-nored.Type I <command> <return> to replace it with another command,or<return> to continue without it.

LaTeX Error: document ended by citacaoSee the LaTeX manual or La-TeX Companion for explanation.Your command was ignored.Type I <com-mand> <return> to replace it with another command,or <return> tocontinue without it.

Esta fala de Jabor vai ao encontro da descricao do modus operandi do

911815 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911𝑃𝑟𝑖𝑛𝑐𝑖𝑝𝑎𝑙𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒𝑛𝑎𝑓𝑖𝑔𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜𝑐𝑜𝑙𝑢𝑛𝑖𝑠𝑡𝑎𝑅𝑒𝑖𝑛𝑎𝑙𝑑𝑜𝐴𝑧𝑒𝑣𝑒𝑑𝑜 : ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑣𝑒𝑗𝑎.𝑎𝑏𝑟𝑖𝑙.𝑐𝑜𝑚.𝑏𝑟/𝑏𝑙𝑜𝑔/𝑟𝑒𝑖𝑛𝑎𝑙𝑑𝑜/𝑡𝑎𝑔/𝑓𝑜𝑟𝑎 − 𝑑𝑜 − 𝑒𝑖𝑥𝑜/[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚22/09/2013]911816 (𝐹𝑜𝑛𝑡)𝐿𝑎𝑇𝑒𝑋𝐹𝑜𝑛𝑡𝑊𝑎𝑟𝑛𝑖𝑛𝑔 : 𝐶𝑜𝑚𝑚𝑎𝑛𝑑𝑖𝑛𝑣𝑎𝑙𝑖𝑑𝑖𝑛𝑚𝑎𝑡ℎ𝑚𝑜𝑑𝑒911ℎ𝑡𝑡𝑝 : //𝑤𝑤𝑤.𝑐𝑎𝑟𝑡𝑎𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙.𝑐𝑜𝑚.𝑏𝑟/𝑠𝑜𝑐𝑖𝑒𝑑𝑎𝑑𝑒/𝑓𝑜𝑟𝑎 − 𝑑𝑜 − 𝑒𝑖𝑥𝑜 − 6321.ℎ𝑡𝑚𝑙[𝐴𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜𝑒𝑚22/09/2013]

6

Page 7: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

Plano X, descrito por williams1983 da seguinte maneira:

Entao o plano e frequentemente apresentado em termos de vantagemcompetitiva nacional: “mantendo nosso pas um passo a frente”. Nestes ter-mos ele naturalmente busca modos simples de nacionalismo e chauvinismo.Quaisquer de suas consequencias danosas sobre outros podem ser mediadaspor xenofobia, ou formas mais suaves de ressentimento e desconfianca de es-trangeiros.

LaTeX Error: citacao on input line 243 ended by SingleSpaceSee theLaTeX manual or LaTeX Companion for explanation.Your command was ig-nored.Type I <command> <return> to replace it with another command,or<return> to continue without it.

LaTeX Error: document ended by citacaoSee the LaTeX manual or La-TeX Companion for explanation.Your command was ignored.Type I <com-mand> <return> to replace it with another command,or <return> tocontinue without it.

Assim, ao substituir “estrangeiros” por “ninjas”, questionando a mo-ralidade de sua ação e a idoneidade de uma iniciativa que se diz independente,mas que é financiada por uma organização cujo uso de dinheiro público éfrequente – ainda que dentro das leis de incentivo à cultura – os defensoresda grande mídia conseguem deslegitimar a Mídia Ninja, colocando-a sob acategoria de ferramenta de manipulação a serviço do establishment ou comodemonizadores da imprensa tradicional. Esse processo foi bem observado por??) em sua análise da reportagem “Ninjas querem verba oficial para se man-ter”, de Chico Otávio, publicada no jornal O Globo em 4 de agosto de 201317

Por outro lado, ao se colocar partidos políticos e outras forças de mo-bilização no papel dos estrangeiros mencionados por Williams, pode-se entãoentender as palavra de ordem (“sem partido!”) que clamavam pela ausênciade bandeiras específicas durante as manifestações, o que leva os protestos, apartir deste momento, a perder ímpeto e mobilização no âmbito nacional e, decerta forma, diminuindo até mesmo a representatividade da Mídia Ninja en-quanto canal de informação e pondo em cheque, então, até mesmo a forma deestruturação – nitidamente dependente de “grandes momentos” – da iniciativajornalística, em uma situação semelhante à descrita por

)

Quando toda produção intelectual é coletiva, duas ques-tões se impõem: como produzir legitimidade? O que éinterpretar? Dessas perguntas deriva uma terceira: conolegitimar uma interpretação sem incorrer em discurso deautoridade?

17 http://oglobo.globo.com/pais/ninjas-querem-verba-oficial-para-sobreviver-9343258[Acesso em 22/09/2013]

7

Page 8: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

É justamente essa dependência de legitimidade por meio do grandeacontecimento que, dentro da defesa da grande mídia, tornou-se o coup degrace na excitação em torno da Mídia Ninja. Ainda que a iniciativa não desa-pareça dentro das casas coletivas do Fora do Eixo, sua representatividade forade circunstâncias bastante específicas como as encontradas durante as mani-festações de junho de 2013 no Brasil encontra-se reduzida consideravelmente.

1 Considerações FinaisQuando da eclosão dos movimentos sociais que exigiam desde pau-

tas aparentemente simples como melhorias no transporte público das grandescidades até bordões ideológicos como “contra a corrupção” e “o gigante acor-dou”, a imprensa tradicional se encontrou em um primeiro momento no papelde Golias observando a aproximação de Davi. Porém, por meio de editoriais,publicações em blogs, reportagens e entrevistas nos mais diferentes veículos,não aguardou o lançamento da primeira pedra, Tratou de associar a pequenaMídia Ninja à mesma estrutura que aparentemente denunciava ao vincular oFora do Eixo – mantenedor da iniciativa jornalística – ao governo contra oqual a população protestava, sem com isso diminuir o mérito do jornalismoparticipativo que lhe oferece por um lado a oportunidade de apresentar con-teúdo mais diversificado mas que por outro, poderia lhe roubar uma parcelada capacidade de justamente pautar a opinião pública (??, p. 113).

Mas este trabalho não é uma teoria de conspiração, como alguns pode-riam afirmar, personificando a grande mídia como uma entidade única com umplano específico de hegemonia comunicacional. Pelo contrário, é um apanhadovariado – ainda que não tão vasto quanto seria possível em outros formatos– de indícios, reportagens, testemunhos – notadamente os mesmos artifíciosque serviram de arma a Golias – que, quando conectados em rede, em ummosaico distribuído, oferecem uma visão da capacidade de influência que umapauta, tratada por múltiplos veículos dentro de uma grande diversidade de en-quadramentos e com recortes específicos, tem na opinião pública e na própriaatuação da sociedade.

Para emergir como dominante, ele [N.A.: o Plano X ] pre-cisa se livrar, na prática, quaisquer frases de coberturaque permaneçam, de sentimentos ainda poderosos e há-bitos de preocupação mútua e responsabilidade, e dasmesmas instituições que os apóiam e os encorajam. Mais,para ser Plano X, é necessário ser mais do que um amon-toado de hábitos de vantagem, risco e jogo profissonal.Isso é mais evidente no fato de que seus reais pratican-tes, ainda uma minoria reduzida, precisam erguer-se alémda atrapalhada miscelânea de tendências locais para de-terminar e assinalar prioridades maiores e genuínas. (??,p. 247)

8

Page 9: Agenda Setting, Plano X e a Mídia Ninja, ou como a Grande Mídia se Defende

Agenda Setting, Plan X and Mídia Ninja, or how theBig Media defends itself

Luciano de Sampaio Soares

Abstract

During the popular riots taking place in June 2013, Brazil hasseen the birth of a descentralized media initiative known as Mídia Ninja(“Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”), related to the Fora doEixo collective and hailed by many – mainly in social networking sites– as a viable and healthy alternative to tradicional media. This articleintends to analyze – within the scope of the Agenda Setting theory – theself defence process of the “big media” against the alternative presentedby the collective mobilization of Ninja, in an attempt to undermine therelevance of the ninja initiative and preserve, even if temporarily, themediatic status quo in Brazil.

Key-words: mídia ninja. traditional media. agenda setting. framing.journalism.

Mestrando em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná

9