AGENTE ADM - Ética e Conduta Pública

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Ética e Conduta Pública. Ética e moral. Ética, princípios e valore.

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  • APOSTILAS OPO A Sua Melhor Opo em Concursos Pblicos

    tica e Conduta Pblica A Opo Certa Para a Sua Realizao 1

    TICA E CONDUTA PBLICA: 1. tica e moral. 2. tica, princpios e valores. 3. tica e democracia: exerccio da cidadania. 4. tica e funo pblica. 5. tica no Setor Pblico. 5.1. Decreto n 1.171/1994 (Cdigo de tica Profissional do Servio Pblico) e Decreto n 6.029/2007 (Institui Sistema de Gesto da tica do Poder Executivo Federal). 5.2. Lei n 8.112/1990 e alteraes - regime disciplinar: deve-res e proibies, acumulao de cargos, responsabilidades, penalidades. 5.3. Lei n 8.429/1992: disposies gerais, atos de improbida-de administrativa.

    O termo tica deriva do grego ethos (carter, modo de ser de uma pes-

    soa). tica um conjunto de valores morais e princpios que norteiam a conduta humana na sociedade. A tica serve para que haja um equilbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ningum saia prejudicado. Neste sentido, a tica, embora no possa ser confundida com as leis, est relacionada com o sentimento de justia social.

    A tica construda por uma sociedade com base nos valores histricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a tica uma cincia que estuda os valores e princpios morais de uma sociedade e seus grupos.

    Cada sociedade e cada grupo possuem seus prprios cdigos de tica. Num pas, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa cientfica pode ser tico. Em outro pas, esta atitude pode desrespeitar os princpios ticos estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a tica na rea de pesquisas biol-gicas denominada biotica.

    Alm dos princpios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe tambm a tica de determinados grupos ou locais especficos. Neste sentido, podemos citar: tica mdica, tica profissional (trabalho), tica empresarial, tica educacional, tica nos esportes, tica jornalstica, tica na poltica, etc.

    Uma pessoa que no segue a tica da sociedade a qual pertence chamado de antitico, assim como o ato praticado.

    Exemplos de atitudes ticas num ambiente de trabalho: - Educao e respeito entre os funcionrios; - Cooperao e atitudes que visam ajuda aos colegas de trabalho; - Divulgao de conhecimentos que possam melhorar o desempenho

    das atividades realizadas na empresa; - Respeito hierarquia dentro da empresa; - Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros colegas de

    trabalho; - Aes e comportamentos que visam criar um clima agradvel e positi-

    vo dentro da empresa como, por exemplo, manter o bom humor; - Realizao, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas relacionadas

    ao trabalho; - Respeito s regras e normas da empresa.

    http://www.suapesquisa.com/religiaosociais/etica_profissional.htm

    A origem da palavra tica vem do grego ethos, que quer dizer o modo de ser, o carter. Os romanos traduziram o ethos grego, para o latim mos (ou no plural mores), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral.

    Tanto ethos (carter) como mos (costume) indicam um tipo de compor-tamento propriamente humano que no natural, o homem no nasce com ele como se fosse um instinto, mas que "adquirido ou conquistado por hbito" (VZQUEZ). Portanto, tica e moral, pela prpria etimologia, dizem respeito a uma realidade humana que construda histrica e socialmente a partir das relaes coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.

    No nosso dia-a-dia no fazemos distino entre tica e moral, usamos as duas palavras como sinnimos. Mas os estudiosos da questo fazem uma distino entre as duas palavras. Assim, a moral definida como o conjunto de normas, princpios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivduo no seu grupo social. A moral normativa. Enquanto a tica definida como a teoria, o conhecimento ou a cincia do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A tica filosfica e cientfica.

    "Nenhum homem uma ilha". Esta famosa frase do filsofo ingls Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana convvio. Para o ser humano viver conviver. justamente na

    convivncia, na vida social e comunitria, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e tico. na relao com o outro que surgem os problemas e as indagaes morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situao?

    Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupo e das injus-tias, o que fazer?

    Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situaes que nos colocam problemas morais. So problemas prticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito s nos-sas decises, escolhas, aes e comportamentos - os quais exigem uma avaliao, um julgamento, um juzo de valor entre o que socialmente considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente. O problema que no costumamos refletir e buscar os "porqus" de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por fora do hbito, dos costumes e da tradio, tendendo naturalizar a realidade social, poltica, econmica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacida-de critica diante da realidade. Em outras palavras, no costumamos fazer tica, pois no fazemos a crtica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.

    No Brasil, encontramos vrios exemplos para o que afirmamos acima. Historicamente marcada pelas injustias scio-econmicas, pelo preconcei-to racial e sexual, pela explorao da mo-de-obra nfantil, pelo "jeitinho" e a "lei de Gerson", etc, etc. A realidade brasileira nos coloca diante de problemas ticos bastante srios. Contudo, j estamos por demais acostu-mados com nossas misrias de toda ordem. Naturalizamos a injustia e consideramos normal conviver lado a lado as manses e os barracos, as crianas e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo otrio quem procura ser honesto.

    Na vida pblica, exemplos o que no faltam na nossa histria recen-te: "anes do oramento", impeachment de presidente por corrupo, compras de parlamentares para a reeleio, os medicamentos, mfia do crime organizado, desvio do Fundef, etc. etc. No sem motivos fala-se numa crise tica, j que tal realidade no pode ser reduzida to somente ao campo poltico-econmico. Envolve questes de valor, de convivncia, de conscincia, de justia. Envolve vidas humanas. Onde h vida humana em jogo, impem-se necessariamente um problema tico. O homem, enquanto ser tico, enxerga o seu semelhante, no lhe indiferente. O apelo que o outro me lana de ser tratado como gente e no como coisa ou bicho. Neste sentido, a tica vem denunciar toda reali-dade onde o ser humano coisificado e animalizado, ou seja, onde o ser humano concreto desrespeitado na sua condio humana. www.dhnet.org.br

    tica Profissional compromisso social Rosana Soibelmann Glock Jos Roberto Goldim Conceituao: O que tica Profissional? extremamente importante saber diferenciar a tica da Moral e do Di-

    reito. Estas trs reas de conhecimento se distinguem, porm tm grandes vnculos e at mesmo sobreposies.

    Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabe-lecer uma certa previsibilidade para as aes humanas. Ambas, porm, se diferenciam.

    A Moral estabelece regras que so assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras geo-grficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral comum.

    O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis tm uma base territorial, elas valem apenas para aquela rea geogrfica onde uma determinada populao ou seus delegados vivem. Alguns autores afirmam que o Direito um sub-conjunto da Moral. Esta perspectiva pode gerar a concluso de que toda a lei moralmente aceitvel. Inmeras situaes demonstram a existncia de conflitos entre a Moral e o Direito. A desobedincia civil ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa acate uma determinada lei. Este um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes.

    A tica o estudo geral do que bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da tica a busca de justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela diferente de ambos - Moral e Direito - pois no estabelece regras. Esta reflexo sobre a ao humana que caracteriza a tica.

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    tica Profissional: Quando se inicia esta reflexo? Esta reflexo sobre as aes realizadas no exerccio de uma profisso

    deve iniciar bem antes da prtica profissional. A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescncia muitas

    vezes, j deve ser permeada por esta reflexo. A escolha por uma profis-so optativa, mas ao escolh-la, o conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatrio. Geralmente, quando voc jovem, escolhe sua carreira sem conhecer o conjunto de deveres que est prestes ao assumir tornando-se parte daquela categoria que escolheu.

    Toda a fase de formao profissional, o aprendizado das competncias e habilidades referentes prtica especfica numa determinada rea, deve incluir a reflexo, desde antes do incio dos estgios prticos. Ao completar a formao em nvel superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adeso e comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada tica Profissional, esta adeso voluntria a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exerccio.

    Mas pode ser que voc precise comear a trabalhar antes de estudar ou paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade profissional sem completar os estudos ou em rea que nunca estudou, aprendendo na prtica. Isto no exime voc da responsabilidade assumida ao iniciar esta atividade! O fato de uma pessoa trabalhar numa rea que no escolheu livremente, o fato de pegar o que apareceu como emprego por precisar trabalhar, o fato de exercer atividade remunerada onde no pretende seguir carreira, no isenta da responsabilidade de pertencer, mesmo que tempora-riamente, a uma classe, e h deveres a cumprir.

    Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar de almoxari-fado durante o dia e, noite, faz curso de programador de computadores, certamente estar pensando sobre seu futuro em outra profisso, mas deve sempre refletir sobre sua prtica atual.

    tica Profissional: Como esta reflexo? Algumas perguntas podem guiar a reflexo, at ela tornar-se um hbito

    incorporado ao dia-a-dia. Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se perguntar sobre

    os deveres assumidos ao aceitar o trabalho como auxiliar de almoxarifado, como est cumprindo suas responsabilidades, o que esperam dela na atividade, o que ela deve fazer, e como deve fazer, mesmo quando no h outra pessoa olhando ou conferindo.

    Pode perguntar a si mesmo: Estou sendo bom profissional? Estou a-gindo adequadamente? Realizo corretamente minha atividade?

    fundamental ter sempre em mente que h uma srie de atitudes que no esto descritas nos cdigos de todas as profisses, mas que so comuns a todas as atividades que uma pessoa pode exercer.

    Atitudes de generosidade e cooperao no trabalho em equipe, mesmo quando a atividade exercida solitariamente em uma sala, ela faz parte de um conjunto maior de atividades que dependem do bom desempenho desta.

    Uma postura pr-ativa, ou seja, no ficar restrito apenas s tarefas que foram dadas a voc, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja temporrio.

    Se sua tarefa varrer ruas, voc pode se contentar em varrer ruas e juntar o lixo, mas voc pode tambm tirar o lixo que voc v que est prestes a cair na rua, podendo futuramente entupir uma sada de escoa-mento e causando uma acumulao de gua quando chover. Voc pode atender num balco de informaes respondendo estritamente o que lhe foi perguntado, de forma fria, e estar cumprindo seu dever, mas se voc mostrar-se mais disponvel, talvez sorrir, ser agradvel, a maioria das pessoas que voc atende tambm sero assim com voc, e seu dia ser muito melhor.

    Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se espera, des-de que voc esteja aberto e receptivo, e que voc se preocupe em ser um pouco melhor a cada dia, seja qual for sua atividade profissional. E, se no surgir, outro trabalho, certamente sua vida ser mais feliz, gostando do que voc faz e sem perder, nunca, a dimenso de que preciso sempre conti-nuar melhorando, aprendendo, experimentando novas solues, criando novas formas de exercer as atividades, aberto a mudanas, nem que seja mudar, s vezes, pequenos detalhes, mas que podem fazer uma grande diferena na sua realizao profissional e pessoal. Isto tudo pode acontecer com a reflexo incorporada a seu viver.

    E isto parte do que se chama empregabilidade: a capacidade que vo-c pode ter de ser um profissional que qualquer patro desejaria ter entre

    seus empregados, um colaborador. Isto ser um profissional eticamente bom.

    tica Profissional e relaes sociais: O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de escoamento

    de gua da chuva, o auxiliar de almoxarifado que verifica se no h umida-de no local destinado para colocar caixas de alimentos, o mdico cirurgio que confere as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia, a atendente do asilo que se preocupa com a limpeza de uma senhora idosa aps ir ao banheiro, o contador que impede uma fraude ou desfalque, ou que no maquia o balano de uma empresa, o engenheiro que utiliza o material mais indicado para a construo de uma ponte, todos esto agindo de forma eticamente correta em suas profisses, ao fazerem o que no visto, ao fazerem aquilo que, algum descobrindo, no saber quem fez, mas que esto preocupados, mais do que com os deveres profissionais, com as PESSOAS.

    As leis de cada profisso so elaboradas com o objetivo de proteger os profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele profissional, mas h muitos aspectos no previstos especificamen-te e que fazem parte do comprometimento do profissional em ser eticamen-te correto, aquele que, independente de receber elogios, faz A COISA CERTA.

    tica Profissional e atividade voluntria: Outro conceito interessante de examinar o de Profissional, como a-

    quele que regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou ativi-dade que exerce, em oposio a Amador. Nesta conceituao, se diria que aquele que exerce atividade voluntria no seria profissional, e esta uma conceituao polmica.

    Em realidade, Voluntrio aquele que se dispe, por opo, a exercer a prtica Profissional no-remunerada, seja com fins assistenciais, ou prestao de servios em beneficncia, por um perodo determinado ou no.

    Aqui, fundamental observar que s eticamente adequado, o profis-sional que age, na atividade voluntria, com todo o comprometimento que teria no mesmo exerccio profissional se este fosse remunerado.

    Seja esta atividade voluntria na mesma profisso da atividade remu-nerada ou em outra rea. Por exemplo: Um engenheiro que faz a atividade voluntria de dar aulas de matemtica. Ele deve agir, ao dar estas aulas, como se esta fosse sua atividade mais importante. isto que aquelas crianas cheias de dvidas em matemtica esperam dele!

    Se a atividade voluntria, foi sua opo realiz-la. Ento, eticamen-te adequado que voc a realize da mesma forma como faz tudo que importante em sua vida.

    tica Profissional: Pontos para sua reflexo: imprescindvel estar sempre bem informado, acompanhando no a-

    penas as mudanas nos conhecimentos tcnicos da sua rea profissional, mas tambm nos aspectos legais e normativos. V e busque o conheci-mento. Muitos processos tico-disciplinares nos conselhos profissionais acontecem por desconhecimento, negligncia.

    Competncia tcnica, aprimoramento constante, respeito s pessoas, confidencialidade, privacidade, tolerncia, flexibilidade, fidelidade, envolvi-mento, afetividade, correo de conduta, boas maneiras, relaes genunas com as pessoas, responsabilidade, corresponder confiana que deposi-tada em voc...

    Comportamento eticamente adequado e sucesso continuado so indis-sociveis!

    Todos os Cdigos de tica Profissional trazem em seu texto a maioria dos seguintes princ-pios:

    honestidade no trabalho; lealdade para com a empresa; formao de uma conscincia profissional; execuo do trabalho no mais alto nvel de rendimento; respeito dignidade da pessoa humana; segredo profissional; discrio no exerccio da profisso; prestao de contas ao chefe hierrquico; observao das normas administrativas da empresa; tratamento corts e respeitoso a superiores, colegas e subordinados

    hierrquicos; apoio a esforos para aperfeioamento da profisso. Consideram-se faltas contra a dignidade do trabalho: utilizar informaes e influncias obtidas na posio para conseguir

    vantagens pessoais;

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    fazer declarao que constitua perigo de divulgao; oferecer servios ou prest-los a preo menor para impedir que se

    encarregue dele outra pessoa; negar-se a prestar colaborao nas distintas dependncias da enti-

    dade para quem trabalhe; prestar servio de forma deficiente, demorar injustamente sua execu-

    o ou abandonar sem motivo algum o trabalho que foi solicitado; delegar a outras pessoas a execuo de trabalhos que em forma es-

    tritamente confidencial lhe tenha sido solicitada; fomentar a discrdia: usar trfico de influncias como meio para lograr ou favorecer a be-

    nevolncia dos chefes; rechaar a colaborao na execuo de determinado trabalho, quan-

    do se fizer necessrio; no prestar ajuda aos companheiros; ter conduta egosta na transmisso de experincias e conhecimentos; fazer publicaes indecorosas e inexatas. iSecretarias

    tica e Moral.

    tica A finalidade dos cdigos morais reger a conduta dos membros de

    uma comunidade, de acordo com princpios de convenincia geral, para garantir a integridade do grupo e o bem-estar dos indivduos que o consti-tuem. Assim, o conceito de pessoa moral se aplica apenas ao sujeito en-quanto parte de uma coletividade.

    tica a disciplina crtico-normativa que estuda as normas do compor-tamento humano, mediante as quais o homem tende a realizar na prtica atos identificados com o bem.

    Interiorizao do dever. A observao da conduta moral da humanidade ao longo do tempo revela um processo de progressiva interiorizao: existe uma clara evoluo, que vai da aprovao ou reprovao de aes exter-nas e suas conseqncias aprovao ou reprovao das intenes que servem de base para essas aes. O que Hans Reiner designou como "tica da inteno" j se encontra em alguns preceitos do antigo Egito (cerca de trs mil anos antes da era crist), como, por exemplo, na mxima "no zombars dos cegos nem dos anes", e do Antigo Testamento, em que dois dos dez mandamentos probem que se deseje a propriedade ou a mulher do prximo.

    Todas as culturas elaboraram mitos para justificar as condutas morais. Na cultura do Ocidente, so familiares a figura de Moiss ao receber, no monte Sinai, a tbua dos dez mandamentos divinos e o mito narrado por Plato no dilogo Protgoras, segundo o qual Zeus, para compensar as deficincias biolgicas dos humanos, conferiu-lhes senso tico e capacida-de de compreender e aplicar o direito e a justia. O sacerdote, ao atribuir moral origem divina, torna-se seu intrprete e guardio. O vnculo entre moralidade e religio consolidou-se de tal forma que muitos acreditam que no pode haver moral sem religio. Segundo esse ponto de vista, a tica se confunde com a teologia moral.

    Histria. Coube a um sofista da antiguidade grega, Protgoras, romper o vnculo entre moralidade e religio. A ele se atribui a frase "O homem a medida de todas as coisas, das reais enquanto so e das no reais en-quanto no so." Para Protgoras, os fundamentos de um sistema tico dispensam os deuses e qualquer fora metafsica, estranha ao mundo percebido pelos sentidos. Teria sido outro sofista, Trasmaco de Calced-nia, o primeiro a entender o egosmo como base do comportamento tico.

    Scrates, que alguns consideram fundador da tica, defendeu uma mo-ralidade autnoma, independente da religio e exclusivamente fundada na razo, ou no logos. Atribuiu ao estado um papel fundamental na manuten-o dos valores morais, a ponto de subordinar a ele at mesmo a autorida-de do pai e da me. Plato, apoiado na teoria das idias transcendentes e imutveis, deu continuidade tica socrtica: a verdadeira virtude provm do verdadeiro saber, mas o verdadeiro saber s o saber das idias. Para Aristteles, a causa final de todas as aes era a felicidade (eudaimona). Em sua tica, os fundamentos da moralidade no se deduzem de um princpio metafsico, mas daquilo que mais peculiar ao homem: razo (logos) e atuao (enrgeia), os dois pontos de apoio da tica aristotlica. Portanto, s ser feliz o homem cujas aes sejam sempre pautadas pela virtude, que pode ser adquirida pela educao.

    A diversidade dos sistemas ticos propostos ao longo dos sculos se compara diversidade dos ideais. Assim, a tica de Epicuro inaugurou o hedonismo, pelo qual a felicidade encontra-se no prazer moderado, no equilbrio racional entre as paixes e sua satisfao. A tica dos esticos

    viu na virtude o nico bem da vida e pregou a necessidade de viver de acordo com ela, o que significa viver conforme a natureza, que se identifica com razo. As ticas crists situam os bens e os fins em Deus e identificam moral com religio. Jeremy Bentham, seguido por John Stuart Mill, pregou o princpio do eudemonismo clssico para a coletividade inteira. Nietzsche criou uma tica dos valores que inverteu o pensamento tico tradicional e Bergson estabeleceu a distino entre moral fechada e moral aberta: a primeira conservadora, baseada no hbito e na repetio, enquanto que a outra se funda na emoo, no instinto e no entusiasmo prprios dos profe-tas, santos e inovadores.

    At o sculo XVIII, com Kant, todos os filsofos, salvo, at certo ponto, Plato, aceitavam que o objetivo da tica era ditar leis de conduta. Kant viu o problema sob novo ngulo e afirmou que a realidade do conhecimento prtico (comportamento moral) est na idia, na regra para a experincia, no "dever ser". A vontade moral vontade de fins enquanto fins, fins abso-lutos. O ideal tico um imperativo categrico, ou seja, ordenao para um fim absoluto sem condio alguma. A moralidade reside na mxima da ao e seu fundamento a autonomia da vontade. Hegel distinguiu morali-dade subjetiva de moralidade objetiva ou eticidade. A primeira, como cons-cincia do dever, se revela no plano da inteno. A segunda aparece nas normas, leis e costumes da sociedade e culmina no estado.

    Objeto e ramos da tica. Trs questes sempre reaparecem nos diver-sos momentos da evoluo da tica ocidental: (1) os juzos ticos seriam verdades ou apenas traduziriam os desejos de quem os formula; (2) prati-car a virtude implica benefcio pessoal para o virtuoso ou, pelo menos, tem um sentido racional; e (3) qual a natureza da virtude, do bem e do mal. Diversas correntes do pensamento contemporneo (intuicionismo, positi-vismo lgico, existencialismo, teorias psicolgicas sobre a ligao entre moralidade e interesse pessoal, realismo moral e outras) detiveram-se nessas questes. Como resultado disso, delimitaram-se os dois ramos principais da tica: a teoria tica normativa e a tica crtica ou metatica.

    A tica normativa pode ser concebida como pesquisa destinada a esta-belecer e defender como vlido ou verdadeiro um conjunto completo e simplificado de princpios ticos gerais e tambm outros princpios menos gerais, importantes para conferir uma base tica s instituies humanas mais relevantes.

    A metatica trata dos tipos de raciocnio ou de provas que servem de justificao vlida dos princpios ticos e tambm de outra questo intima-mente relacionada com as anteriores: a do "significado" dos termos, predi-cados e enunciados ticos. Pode-se dizer, portanto, que a metatica est para a tica normativa como a filosofia da cincia est para a cincia. Quanto ao mtodo, a teoria metatica se encontra bem prxima das cin-cias empricas. Tal no se d, porm, com a tica normativa.

    Desde a poca em que Galileu afirmou que a Terra no o centro do universo, desafiando os postulados tico-religiosos da cristandade medie-val, so comuns os conflitos ticos gerados pelo progresso da cincia, especialmente nas sociedades industrializadas do sculo XX. A sociologia, a medicina, a engenharia gentica e outras cincias se deparam a cada passo com problemas ticos. Em outro campo da atividade humana, a prtica poltica antitica tem sido responsvel por comoes e crises sem precedentes em pases de todas as latitudes. Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicaes Ltda.

    Moral Conjunto de regras e prescries a respeito do comportamento, estabe-

    lecidas e aceitas por determinada comunidade humana durante determina-do perodo de tempo.

    tica e moral Uma distino indistinta Desidrio Murcho

    A pretensa distino entre a tica e a moral intrinsecamente confusa e no tem qualquer utilidade. A pretensa distino seria a seguinte: a tica seria uma reflexo filosfica sobre a moral. A moral seria os costumes, os hbitos, os comportamentos dos seres humanos, as regras de comporta-mento adaptadas pelas comunidades. Antes de vermos por que razo esta distino resulta de confuso, perguntemo-nos: que ganhamos com ela?

    Em primeiro lugar, no ganhamos uma compreenso clara das trs -reas da tica: a tica aplicada, a tica normativa e a metatica. A tica aplicada trata de problemas prticos da tica, como o aborto ou a eutan-sia, os direitos dos animais, ou a igualdade. A tica normativa trata de estabelecer, com fundamentao filosfica, regras ou cdigos de compor-tamento tico, isto , teorias ticas de primeira ordem. A metatica uma

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    reflexo sobre a natureza da prpria tica: Ser a tica objetiva, ou subjeti-va? Ser relativa cultura ou histria, ou no?

    Em segundo lugar, no ganhamos qualquer compreenso da natureza da reflexo filosfica sobre a tica. No ficamos a saber que tipo de pro-blemas constitui o objeto de estudo da tica. Nem ficamos a saber muito bem o que a moral.

    Em concluso, nada ganhamos com esta pretensa distino. Mas, pior, trata-se de uma distino indistinta, algo que indefensvel e

    que resulta de uma confuso. O comportamento dos seres humanos multifacetado; ns fazemos vrias coisas e temos vrios costumes e nem todas as coisas que fazemos pertencem ao domnio da tica, porque nem todas tm significado tico. por isso que impossvel determinar parti-da que comportamentos seriam os comportamentos morais, dos quais se ocuparia a reflexo tica, e que comportamentos no constituem tal coisa. Fazer a distino entre tica e moral supe que podemos determinar, sem qualquer reflexo ou conceitos ticos prvios, quais dos nossos comporta-mentos pertencem ao domnio da moral e quais tero de ficar de fora. Mas isso impossvel de fazer, pelo que a distino confusa e na prtica indistinta.

    Vejamos um caso concreto: observamos uma comunidade que tem co-mo regra de comportamento descalar os sapatos quando vai para o jar-dim. Isso um comportamento moral sobre o qual valha a pena reflectir eticamente? Como podemos saber? No podemos. S podemos determi-nar se esse comportamento moral ou no quando j estamos a pensar em termos morais. A ideia de que primeiro h comportamentos morais e que depois vem o filsofo armado de uma palavra mgica, a "tica", uma fantasia. As pessoas agem e refletem sobre os seus comportamentos e consideram que determinados comportamentos so amorais, isto , esto fora do domnio tico, como pregar pregos, e que outros comportamentos so morais, isto , so comportamentos com relevncia moral, como fazer abortos. E essas prticas e reflexes no esto magicamente separadas da reflexo filosfica. A reflexo filosfica a continuao dessas reflexes.

    Evidentemente, tanto podemos usar as palavras "tica" e "moral" como sinnimas, como podemos us-las como no sinnimas. irrelevante. O importante saber do que estamos a falar se as usarmos como sinnimas e do que estamos a falar quando no as usamos como sinnimas. O pro-blema didtico, que provoca dificuldades a muitos estudantes, que geral-mente os autores que fazem a distino entre moral e tica no conse-guem, estranhamente, explicar bem qual a diferena alm de dizer coisas vagas como "a tica mais filosfica".

    Se quisermos usar as palavras "moral" e "tica" como no sinnimas, estaremos a usar o termo "moral" unicamente para falar dos costumes e cdigos de conduta culturais, religiosos, etc., que as pessoas tm. Assim, para um catlico imoral tomar a plula ou fazer um aborto, tal como para um muulmano imoral uma mulher mostrar a cara em pblico, para no falar nas pernas. Deste ponto de vista, a "moral" no tem qualquer conte-do filosfico; apenas o que as pessoas efetivamente fazem e pensam. A tica, pelo contrrio, deste ponto de vista, a disciplina que analisa esses comportamentos e crenas, para determinar se eles so ou no aceitveis filosoficamente. Assim, pode dar-se o caso que mostrar a cara em pblico seja imoral, apesar de no ser contrrio tica; pode at dar-se o caso de ser anti-tico defender que imoral mostrar a cara em pblico e proibir as mulheres de o fazer.

    O problema desta terminologia que quem quer que tenha a experin-cia de escrever sobre assuntos ticos, percebe que ficamos rapidamente sem vocabulrio. Como se viu acima, tive de escrever "anti-tico", porque no podia dizer "imoral". O nosso discurso fica assim mais contorcido e menos direto e claro. Quando se considera que "tica" e "moral" so termos sinnimos (e etimologicamente so sinnimos, porque so a traduo latina e grega uma da outra), resolve-se as coisas de maneira muito mais sim-ples. Continuamos a fazer a distino entre os comportamentos das pesso-as e as suas crenas morais, mas no temos de introduzir o artificialismo de dizer que essas crenas morais, enquanto crenas morais, esto corre-tas, mas enquanto preferncias ticas podem estar erradas. Isto s confun-de as coisas. muito mais fcil dizer que quem pensa que mostrar a cara imoral est pura e simplesmente enganado, e est a confundir o que um costume religioso ou cultural com o que defensvel. Peter Singer, James Rachels, Thomas Nagel, e tantos outros filsofos centrais, usam os termos "tica" e "moral" como sinnimos. Para falar dos costumes e cdigos religi-osos, temos precisamente estas expresses muito mais esclarecedoras: "costumes" e "cdigos religiosos".

    tica e moral Thomas Mautner Universidade Nacional da Austrlia

    A palavra "tica" relaciona-se com "ethos", que em grego significa hbi-to ou costume. A palavra usada em vrios sentidos relacionados, que necessrio distinguir para evitar confuses.

    1. Em tica normativa, a investigao racional, ou uma teoria, sobre os padres do correto e incorreto, do bom e do mau, com respeito ao carter e conduta, que uma classe de indivduos tem o dever de aceitar. Esta classe pode ser a humanidade em geral, mas podemos tambm considerar que a tica mdica, a tica empresarial, etc., so corpos de padres que os profissionais em questo devem aceitar e observar. Este tipo de investigao e a teoria que da resulta (a tica kantiana e a utilitaris-ta so exemplos amplamente conhecidos) no descrevem o modo como as pessoas pensam ou se comportam; antes prescrevem o modo como as pessoas devem pensar e comportar-se. Por isso se chama tica normativa: o seu objetivo principal formular normas vlidas de conduta e de avalia-o do carter. O estudo sobre que normas e padres gerais so de aplicar em situaes-problema efetivos chama-se tambm tica aplicada. Recen-temente, a expresso "teoria tica" muitas vezes usada neste sentido. Muito do que se chama filosofia moral tica normativa ou aplicada.

    2. A tica social ou religiosa um corpo de doutrina que diz respeito o que correto e incorreto, bom e mau, relativamente ao carter e conduta. Afirma implicitamente que lhe devida obedincia geral. Neste sentido, h, por exemplo, uma tica confucionista, crist, etc. semelhante tica normativa filosfica ao afirmar a sua validade geral, mas difere dela porque no pretende ser estabelecida unicamente com base na investigao racional.

    3. A moralidade positiva um corpo de doutrinas, a que um conjunto de indivduos adere geralmente, que dizem respeito ao que correto e incorre-to, bom e mau, com respeito ao carter e conduta. Os indivduos podem ser os membros de uma comunidade (por exemplo, a tica dos ndios Hopi), de uma profisso (certos cdigos de honra) ou qualquer outro tipo de grupo social. Pode-se contrastar a moralidade positiva com a moralidade crtica ou ideal. A moralidade positiva de uma sociedade pode tolerar a escravatura, mas a escravatura pode ser considerada intolervel luz de uma teoria que supostamente ter a autoridade da razo (tica normativa) ou luz de uma doutrina que tem o apoio da tradio ou da religio (tica social ou religiosa).

    4. Ao estudo a partir do exterior, por assim dizer, de um sistema de crenas e prticas de um grupo social tambm se chama tica, mais espe-cificamente tica descritiva, dado que um dos seus objetivos principais descrever a tica do grupo. Tambm se lhe chama por vezes tnotica, e parte das cincias sociais.

    5. Chama-se metatica ou tica analtica a um tipo de investigao ou teoria filosfica que se distingue da tica normativa. A metatica tem como objeto de investigao filosfica os conceitos, proposies e sistemas de crenas ticos. Analisa os conceitos de correto e incorreto, bom e mau, com respeito ao carter e conduta, assim como conceitos relacionados com estes, como, por exemplo, a responsabilidade moral, a virtude, os direitos. Inclui tambm a epistemologia moral: o modo como a verdade tica pode ser conhecida (se que o pode); e a ontologia moral: a questo de saber se h uma realidade moral que corresponde s nossas crenas e outras atitudes morais. As questes de saber se a moral subjetiva ou objetiva, relativa ou absoluta, e em que sentido o , pertencem metatica.

    A palavra "moral" e as suas cognatas refere-se ao que bom ou mau, correto ou incorreto, no carter ou conduta humana. Mas o bem moral (ou a correco) no o nico tipo de bem; assim, a questo saber como distinguir entre o moral e o no moral. Esta questo objeto de discusso. Algumas respostas so em termos de contedo. Uma opinio que as preocupaes morais so unicamente as que se relacionam com o sexo. Mais plausvel a sugesto de que as questes morais so unicamente as que afectam outras pessoas. Mas h teorias (Aristteles, Hume) que consi-derariam que mesmo esta demarcao excessivamente redutora. Outras respostas fornecem um critrio formal: por exemplo, que as exigncias morais so as que tm origem em Deus, ou que as exigncias morais so as que derrotam quaisquer outros tipos de exigncias ou, ainda, que os juzos morais so universalizveis.

    A palavra latina "moralis", que a raz da palavra portuguesa, foi criada por Ccero a partir de "mos" (plural "mores"), que significa costumes, para corresponder ao termo grego "ethos" (costumes). por isso que em muitos contextos, mas nem sempre, os termos "moral/tico", "moralidade/tica",

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    "filosofia moral/tica" so sinnimos. Mas as duas palavras tm tambm sido usadas para fazer vrias distines:

    1. Hegel contrasta a Moralitt (moralidade) com a Sittlichkeit ("eti-calidade" ou vida tica). Segundo Hegel, a moralidade tem origem em Scrates e foi reforada com o nascimento do cristianismo, a reforma e Kant, e o que do interesse do indivduo autnomo. Apesar de a morali-dade envolver um cuidado com o bem-estar no apenas de si mas tambm dos outros, deixa muito a desejar por causa da sua incompatibilidade potencial com valores sociais estabelecidos e comuns, assim como com os costumes e instituies que do corpo e permitem a manuteno desse valores. Viver numa harmonia no forada com estes valores e instituies a Sittlichkeit, na qual a autonomia do indivduo, os direitos da conscincia individual, so reconhecidos mas devidamente restringidos;

    2. De modo anlogo, alguns autores mais recentes usam a palavra "moralidade" para designar um tipo especial de tica. Bernard Williams (Ethics and the Limits of Philosophy, 1985), por exemplo, argumenta que "a instituio da moralidade" encara os padres e normas ticas como se fossem semelhantes a regras legais, tornando-se por isso a obedincia ao dever a nica virtude genuna. Esta uma perspectiva que, na sua opinio, deve ser abandonada a favor de uma abordagem da vida tica menos moralista e mais humana e sem restries;

    3. Habermas, por outro lado, faz uma distino que est tambm implcita na Teoria da Justia de Rawls entre tica, que tem a ver com a vida boa (que no o mesmo para todas as pessoas), e a moralidade, que tem a ver com a dimenso social da vida humana e portanto com princpios de conduta que podem ter aplicao universal. A tica ocupa-se da vida boa, a moralidade da conduta correta.

    Thomas Mautner Traduo e adaptao de Desidrio Murcho Retirado de Dictionary of Philosophy, org. por Thomas Mautner (Penguin, 2005)

    Princpios e Valores ticos. Difundindo princpios e conceitos ticos

    Milton Emlio Vivan Rotary Club de So Paulo-Pacaembu, D.4610, desenvolveu no ano rotrio 2003-04 um projeto de difuso de princpios e conceitos ticos. O projeto procura responder a uma das frases mais relevantes de Paul Harris: O Rotary continuar a ser caridoso, mas pode fazer mais do que isso: faa-mos com que o Rotary extermine a causa que faz necessria a caridade. A que se referia Paul Harris? Aps profunda reflexo, por vrios caminhos, surgiu a resposta: a maior vivncia dos preceitos ticos. Assim nasceu a idia do projeto. O primeiro passo foi a escolha de conceitos simples, de fcil mas ampla aplicao, e profundos em sua essncia. Resultou na escolha dos princpios da universalidade e do respeito enunciados por Emmanuel Kant. Princpios da universalidade e do respeito de Kant Princpio da Universalidade: quando voc quiser saber se uma ao tica ou no, suponha que essa ao se tornar um padro universal de comportamento, ou seja, a partir de agora, esse ser o modelo de compor-tamento. Imagine, ento, todos agindo dessa forma. Se no gostar de viver numa sociedade com todas as pessoas agindo dessa forma, pode-se concluir que a ao em questo no tica. Em resumo, a pergunta : e se todos agissem assim? Princpio do Res-peito: todo ser humano deve ser considerado como um fim em si mesmo. Os aspectos que mais caracterizam o Princpio do Respeito so: No negar informaes pertinentes e Permitir-lhe liberdade de escolha. Em todos os boletins semanais do clube esses princpios foram citados. Durante o ano, em todos eles foram includas perguntas e respostas sobre a aplicao prtica desses dois princpios. Ao final, foram enunciadas e respondidas 100 perguntas, as quais foram englobadas em um livro que foi distribudo na Conferncia Distrital do D.4610. A comunidade foi atingida pela insero em jornais de bairro. Para que o projeto alcanasse o mbito mundial, foi criado o boletim Stadium International, que foi enviado para mais de 600 clubes no mundo e que veiculou os dois princpios de Kant enunciados em portugus, ingls, francs, italiano, espanhol, alemo, japons e hindi. Algumas dessas verses foram feitas por clubes do exteri-or, por solicitao do RCSP-Pacaembu, como sinal de engajamento no projeto. A acolhida tem sido excepcional. Governadores incluram em suas cartas mensais os dois princpios e incentivaram seus presidentes a se envolve-rem no projeto.

    Influncia do estado da arte sobre a tica Para sabermos se uma ao benfica a toda sociedade, necessrio que se conheam adequadamente as conseqncias dessa ao sobre a sociedade. Nos casos onde o estado da arte do assunto em questo no atingiu um grau de maturidade suficiente para concluses seguras e corre-tas, no se pode concluir se a ao ou no tica. Leonardo da Vinci era criticado por ter iniciado a dissecao de cadveres, mas sem essa prtica a medicina jamais conseguiria atingir o grau de evoluo atual. Hoje vemos que sua atitude era tica, apesar de que, naquela poca, alguns o critica-vam injustamente, principalmente por ignorncia de origem religiosa ou simplesmente tcnica. Quando uma ao ou no tica No difcil diferenciar o que e o que no benfico para uma socie-dade. Mas em alguns casos, onde o conhecimento humano do estado da arte no atingiu um nvel adequado, a deciso sobre se uma ao ou no tica ficar prejudicada. Esto claramente nesse rol a clonagem de seres humanos, o plantio de alimentos transgnicos etc. Outras aes como a eutansia, em certas circunstncias, o aborto em determinadas situaes, a priso perptua ou a pena de morte de alguns crimes tambm podem carecer de maior conhecimento humano se desconsiderarmos os preceitos religiosos, pois ainda no sabemos cientificamente a partir de que momento existe ou deixa de existir a vida, a alma, o esprito ou a capacidade de regenerao de um ser humano. Meio ambiente e a tica Como a tica est umbilicalmente ligada obteno de melhores condi-es da vida em sociedade, a preservao e melhoria das condies do meio ambiente so itens dos mais importantes para as geraes futuras. Portanto, uma indstria que solta poluentes em um rio, o carro que emite gases que poluem o ar por estar desregulado, empresas que produzem materiais no-biodegradveis ou que ataquem a camada de oznio etc no esto agindo de forma tica, pois estaro comprometendo a qualidade de vida das geraes e sociedades futuras. Uma ao egosta, porm tica Imagine a criao de um empreendimento de sucesso, com timos resul-tados aos investidores, mas que tambm permita empregar centenas de trabalhadores, inserindo-os socialmente e permitindo-lhes que exeram plenamente a cidadania. Esta ao, por ser benfica sociedade, consi-derada uma ao tica. Imagine um local onde ocorra seca periodicamente no Nordeste brasileiro. Um empreendedor investe num projeto de irrigao e cria um plo produtor de frutas que emprega centenas de famlias. Supo-nha que esse empreendimento tenha enorme sucesso, com produtos de tima qualidade e preos competitivos. Admita que as condies de trabalho sejam adequadas, e que os traba-lhadores possam educar seus filhos e contar com assistncia mdica, ter disposio transportes, lazer e segurana, enfim, que tenham o necessrio para que possam exercer com plenitude a cidadania. A ao desse empre-endedor ser uma ao tica, pois resultar em benefcio para toda a sociedade. Fatos como esse podem ocorrer no campo, em qualquer cidade e em qualquer metrpole. Aes legais porm no-ticas Toda lei que no beneficie a sociedade ser uma ao no-tica. Leis incompetentes ou leis que venham a beneficiar grupos em prejuzo de toda uma sociedade geraro aes legais, mas no-ticas. Esse tipo de ao bastante comum quando grupos julgam legtimo defender seus interesses corporativos, mesmo quando em detrimento do interesse da sociedade. No so raras as aes desse tipo em todas as casas onde se legisla, seja nas Cmaras de Vereadores, Assemblias Legislativas, Cmara de Depu-tados, Senado Federal e at em Associaes de Normas Tcnicas. Nestas ltimas, interesses corporativos podem pugnar por maiores tolerncias, incompatveis com requisitos de qualidade etc. Esses interesses corporati-vos procuram se cercar de garantias que diminuam os riscos de prejuzo, no pela competncia e maior qualidade dos produtos, mas pela mudana nos parmetros de controle. Aes legais e no-ticas tambm podem ter origem na corrupo, na omisso de pessoas ou instituies, mas tambm simplesmente em aes no-competentes. Um exemplo o caso de situa-es geradas por governos que endividam seus pases em nveis incompa-tveis com a capacidade de pagamento, obrigando ao envolvimento em dvidas monstruosas, quase que impagveis, e que obrigam esses gover-nos a empenharem vultosas quantias que, em princpio, deveriam ser investidas em benefcio da populao. Outro exemplo o caso da cobrana exagerada de impostos que, apesar de legal, pode se tornar no-tica quando sufocar os meios de produo de uma sociedade.

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    Comportamentos ticos aplicveis universalmente A compaixo, relacionada com a ajuda ao prximo; A no-maleficncia, que trata de evitar a imposio de sofrimento ou privao ao prximo; A beneficncia, que procura prevenir e combater o sofrimento do prxi-mo, promover a felicidade do prximo, e com natural e maior intensidade nossa famlia e amigos; A imparcialidade: tratar as pessoas da forma como merecem ser trata-das, tendo direitos iguais at que o mrito ou necessidades justifiquem tratamento especial; A coragem para se opor a injustias, mesmo que em prejuzo prprio; O respeito autonomia individual: no manipular ou induzir o pensa-mento das pessoas, mesmo que para o prprio bem delas; A honestidade: no enganar as pessoas. A mentira um vcio, especi-almente quanto supervalorizao das prprias capacidades. Acostume-se a saber que as pessoas merecem saber a verdade; No fazer promessas que no pretende ou que sabe que dificilmente conseguir cumprir; Integridade: cumprir com as obrigaes, mesmo que a despeito de inconvenincia pessoal. Consistncia. Pode-se medir o valor moral de um ser humano pela consistncia de suas aes. Essa medida tem maior qualidade quando princpios conflitam com interesses. Como a televiso poderia servir como difusor desses princpios e conceitos? A televiso claramente subutilizada socialmente nesse aspecto. As telenovelas poderiam conter episdios que didaticamente mostrassem as conseqncias benficas de atitudes ticas sociedade. Nos esportes poderiam ser ressaltados, valorizados e premiados os comportamentos mais adequados. Reconhecimentos profissionais em mbito nacional a entidades e pessoas que se destacaram em suas funes e objetivos, observando os princpios ticos. Programas dominicais poderiam apresen-tar quadros especficos a esse respeito. Pequenas histrias e sries pode-riam conter temas que focalizassem um determinado assunto sob o ponto de vista tico. Programas de entrevista poderiam dar nfase a comporta-mentos a serem imitados. Prmios poderiam ser oferecidos a comporta-mentos exemplares, programas de perguntas e respostas poderiam dar nfase aos princpios e conceitos ticos, enfim, em quase todos os tipos de programas h uma forma de incluir conceitos ticos. A tica na formao moral de uma nao Pode-se constatar que h pessoas bastante cultas, educadas, formadas pelas melhores escolas do Brasil ou at do exterior que no se preocupam com a vida em comunidade, ou seja, no tm a necessria sensibilidade tica. Por outro lado, um analfabeto pode ser to ou mais tico que um doutor se suas aes forem pautadas pelo respeito ao que de todos. No necessrio ser alfabetizado para se compreender e viver os valores ticos. Basta que a cabea seja aberta e no fechada em seus prprios interesses. A tica no Rotary A difuso de princpios e conceitos ticos , sem dvida, um dos objetivos do Rotary. O comportamento tico est diagnosticado como remdio ade-quado para quaisquer pases de todos os continentes: grandes potncias, pases ricos, emergentes, carentes e pobres. Uma instituio como o Rotary, de mbito internacional, tem vocao inerente para ser a portadora da bandeira da difuso dos princpios ticos. Esse projeto custa muito pouco comparado com os existentes, e os frutos sero colhidos em todas as reas, com benefcio incomensurvel para todos os seres humanos. Relao entre a tica e a religio No importa de que religio somos, no que, em que e como cremos: podemos sempre nos empenhar na prtica do bem. Isso no contradiz qualquer religio. Se nossas aes visam ao empenho pela prtica do bem da sociedade, nossas aes cumprem a meta de cada religio. pela prtica verdadeira em sua vida diria que o homem cumpre de fato a meta de toda religio, qualquer que seja ela, qualquer nome que tenha. Se acreditamos na prtica do bem independente de quaisquer recompensas, imediatas ou futuras, cumprimos ainda melhor essa misso. Relao entre tica e poltica tica e poltica se entrelaam e se confundem em seu significado mais profundo. A tica est profundamente ligada com a vida em sociedade. Aes ticas implicam em aes que beneficiam a comunidade. Na poltica deve prevalecer o interesse da sociedade como um todo, e no o de uma minoria privilegiada com acesso ao poder. Um bom poltico

    aquele que consegue melhorar as condies de vida de seu povo. Assim ele ser tico. Um deputado que cria leis que no beneficiam seu povo ou que beneficiam a poucos criar uma ao que, apesar de legal, ser no-tica. A criao de novos impostos que venham a sufocar a economia so aes tipicamente no-ticas. A outorga de benefcios imerecidos e injustos tambm so aes no-ticas. No basta aos polticos terem boas inten-es ou boa vontade. Tambm necessrio ter competncia. Para os polticos, a prtica da tica est intimamente relacionada com a sua compe-tncia profissional. O problema que, para os polticos, mesmo que queiram, no fcil praticar a tica. Solues simples e surradas muitas vezes no bastam. necessrio criatividade, inteligncia, arrojo e coragem para encontrar solu-es competentes e, portanto, ticas, que vo realmente beneficiar a soci-edade. Uma casa legislativa onde se criam leis ineficazes ser uma fonte de aes no-ticas, mas legais. Relao entre tica e justia Numa sociedade tica fundamental que todos tenham, apesar das diferenas individuais, no mnimo, as mesmas oportunidades para viver com plenitude a cidadania. O desenvolvimento de suas capacidades ser funo de suas habilidades e vocaes, de sua disciplina e talento. A desigualdade social deve ser a mnima aceitvel de modo a garantir ao mais humilde o essencial para que possa ter acesso cidadania: sade, educao, transporte e segurana. A justia deve agir no sentido de asse-gurar que cada indivduo da sociedade tenha o que realmente merece, principalmente do ponto de vista distributivo, em funo do mrito, mas tambm do ponto de vista corretivo, em funo do dano causado. Uma justia eficiente permite que a sociedade viva de forma mais estvel, har-moniosa, com paz e, portanto, mais feliz, atingindo assim os objetivos de uma sociedade tica. Numa sociedade justa, at o mrito do sucesso tem maior valor. O mrito, quando legtimo, no pode ter limites. Isso induz e incentiva a prtica do bem, das boas aes, facilitando o alcance da felici-dade comum. A corrupo, os conluios e acertos visando aos privilgios que sabotam a ao da justia e que visam certeza da impunidade devem ser encarados como vcios e imperfeies da sociedade, que no podem ser tolerados. Relao entre a tica e a malandragem e o otrio Em nosso pas, inclusive na TV, comum a valorizao e a banalizao do termo malandro. Malandro assume ento o significado de esperto, o que leva vantagem. Mas impossvel dissociar que malandro tambm significa trapaceiro, velhaco. Otrio o que se deixa enganar pela esperteza, pela trapaa do velhaco. Assim comum ver-se a figura do malandro, do que procura levar vanta-gem em tudo, ser valorizada em detrimento de um comportamento condi-zente com a vida em sociedade, que sequer lembrado e muitas vezes at rejeitado pelos mais insuspeitos cidados. lamentvel a falta de sensibilidade de quem de fato ou de direito deveria corrigir essas atitudes que deformam o carter dos indivduos, mas principalmente de nossa mocidade. A existncia de um malandro sempre supe a existncia de um otrio que foi enganado. A malandragem que visa a obteno de alguma vantagem para si ou para outrem, mesmo que independente dos meios, e com o mnimo esforo possvel, evidentemente incompatvel com a vida em sociedade. Esse conceito deve ser rejeitado com veemncia e no tolera-do. O mrito e o valor da conquista com disciplina e talento devem ser valorizados. No se pode pretender uma sociedade tica ou justa quando se valoriza o comportamento do malandro.

    Frum Social Mundial a reinveno da democracia (1) *Cndido Grzybowski Desde a sua primeira edio em 2001, o Frum Social Mundial (FSM)

    vem sendo um espao privilegiado de mobilizao e encontro da diversida-de de movimentos sociais, organizaes, suas redes, campanhas e coali-zes que se opem globalizao econmica e financeira dominante. A especificidade e fora agregadora do FSM decorrem da sua capacidade de fazer com que tamanha heterogeneidade de atores sociais em termos sociais, culturais e geogrficos acreditem em si mesmos e na possibilida-de de transformar e reconstruir o mundo. Com a globalizao dominante a maior parte da humanidade est sendo deixada de lado, como um exce-dente descartvel. Com o FSM as pessoas mais simples redescobrem o seu valor fundamental como membros da comunidade humana e cidads construtoras de sociedades, das culturas, dos poderes, das economias. Sentir-se produzindo e reproduzindo a vida a esperana que nasce no Frum. Seu desafio maior repolitizar a vida para que outro mundo seja

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    possvel diante da homogeneidade concentradora de riquezas, socialmente excludente e ambientalmente destrutiva da globalizao feita por e ao servio das grandes corporaes.

    Meu olhar sobre o FSM decorre da minha prpria insero social e pol-tica em sua promoo. Nesse sentido, fao aqui um exerccio engajado do livre pensar, um misto de testemunho e de reflexo estratgica sobre os possveis rumos em que, como participantes diversos e plurais, podemos avanar com o FSM e seu impacto sobre as instituies multilaterais e os Estados. Minha perspectiva no partir do poder econmico e poltico constitudo e sim do processo e das condies para que os cidados e as cidads do mundo estejam no centro, controlando o poder e os mercados globais.

    1. O Frum Social Mundial como canteiro de obras da cidadania mundi-

    al Em sua origem, o FSM se constituiu no contrap do Frum Econmico

    Mundial, nos mesmos dias, exatamente para marcar os lados opostos gerados pelas globalizao dominante. Fruns opostos no tempo e no lugar, um velho de mais de 30 anos, outro recm comeando a irrupo na histria; um numa luxuosa estao de esqui, em Davos, isolado pela pol-cia, o outro na plancie de Porto Alegre, a cidade com histria de participa-o popular na gesto pblica. Mas no podemos iludir-nos, so opostos que exprimem o mundo globalizado de hoje. A globalizao que combate-mos nos transformou, pelo pior caminho possvel, em uma comunidade humana planetria interdependente. Este o ponto de partida: a transfor-mao que a globalizao produziu em nossas condies de vida no Plane-ta. Ao mesmo tempo, fundamental reconhecer que no basta e at impossvel democratizar esta globalizao, dar-lhe uma face mais humana e sustentvel. A tarefa que se nos impe de refundao democrtica de um mundo interdependente, de gente para gente, compartindo bens co-muns entre todos os povos, com todos os direitos humanos garantidos a todos os seres humanos, com igualdade no respeito diversidade social e cultural.

    Antes do FSM, j nos 80, com a crise da dvida e a ascenso de Marga-reth Thatcher e Ronald Reagan, mas especialmente durante os anos 90 do sculo XX, foram inmeras as insurreies de movimentos sociais e organi-zaes contra a avassaladora globalizao neoliberal imposta ao mundo. O palco principal das manifestaes foram as reunies do G-7, as assembli-as do Banco Mundial e do Fundo Monetrio Internacional (FMI) e as roda-das de negociao da Organizao Mundial do Comrcio (OMC). De forma espetacular, desenvolveram-se redes temticas regionais e mundiais: dvida, agricultura, comrcio, meio ambiente, cooperao, direitos huma-nos, educao, comunicao etc. Novos sujeitos foram se mundializando e se consolidando: os movimentos feministas, ambientalistas, dos povos indgenas, dos sem terra e camponeses, de trabalhadores migrantes, dos sem teto, movimentos contra o apartheid, todos com um emergente dimen-so planetria, tanto na sua prpria identidade social e raio de atuao como na solidariedade que foram despertando. Mas no havia uma encru-zilhada, um espao de encontro do conjunto destas novas foras sociais e delas com os j mais histricos atores internacionalizados, como o movi-mento operrio e sindical. A grande insurreio nas ruas de Seattle, em fins de 1999, foi um empurro decisivo para a emergncia de algo inteiramente novo.

    A novidade do FSM de criar o espao para que a diversidade de ato-res se encontre, se reconhea, troque prticas, experincias e anlises, se articule e crie novas redes, coalizes e campanhas. Enfim, o FSM surge como expresso de uma demanda contida da emergente cidadania plane-tria no sentido de pensar todos e todas juntos as possveis aes de transformao da ordem global existente. Desde o seu nascedouro, o FSM se imps o respeito diversidade e ao pluralismo como condio de sua prpria existncia e de enfrentamento do pensamento nico, homogneo e redutor, da globalizao neoliberal.]

    De minha perspectiva, ainda no criamos alternativas estruturantes em face da globalizao dominante. Isto uma tarefa coletiva de longa dura-o. Temos apenas 5 anos! Mas despertamos um poderoso movimento de idias, que alimenta o sonho, a utopia, a esperana e faz a emergente cidadania do mundo agir. Alm disto, com o FSM, quebramos a arrogncia dos pregadores do neoliberalismo e demonstramos o quanto de autorita-rismo, de militarizao e de guerra, de excluso e intolerncia, de anti-humano so portadores os processos globais, centrados nos mercados e na fora poltica e militar que os sustenta.

    uma nova cultura poltica que pode se desenvolver a partir do proces-so que o FSM despertou. A multiplicao de fruns regionais, nacionais, locais e temticos alimenta o movimento de idias de que outros mundos so possveis, lhe d novas facetas e engrossa a adeso de sujeitos soci-ais os mais diversos social, cultural e geograficamente. Se isso ainda no se traduz em uma nova institucionalidade poltica, certamente cria o terreno propcio para um repensar da poltica e do espao pblico, do local at o poder global e suas instituies. O FSM, como espao aberto diversidade e aceitando as divergncias, engendra um novo modo de fazer poltica. Como fora propulsora, difusa mas poderosa, que vai alm dos que se encontram nos eventos do FSM, h que se reconhecer, de um lado, uma conscincia da comum humanidade na diversidade que nos caracteriza como seres humanos. De outro, no d para subestimar o poder mobiliza-dor e transformador da conscincia dos bens comuns fundamentais vida no Planeta que temos, sejam os frgeis e finitos como so os bens natu-rais, a atmosfera, a biodiversidade, sejam as conquistas humanas como o saber, as lnguas e a cultura em geral. Conscincia aliada a um resgate da ao cidad como prtica central na transformao das situaes e no desenvolvimento humano, democrtico e sustentvel. Ao que necessari-amente se concretiza localmente, l onde vivemos, mas que impregnada de universalismo, busca ser planetria no seu sentido humano e alcance poltico.

    2. Desafios e tarefas para que o FSM contribua e reforce a capacidade

    da emergente cidadania planetria no sentido de uma democratizao radical do mundo

    O FSM no , em si mesmo, um movimento poltico, mas um espao aberto para a reconquista da poltica em seu sentido mais pleno. Sua fora reside nas mltiplas contradies que comporta, permitindo que elas se exprimam em seu espao como livre prtica de busca de cada participante, cada organizao e cada movimento, cada rede e cada campanha, da mais simples mais complexa e extensa. O FSM pode fortalecer a cidadania que nele se encontra, dialoga e confronta em busca de alternativas (des)ordem global vigente, sem, no entanto, se tornar, ele mesmo, uma organizao que aponta a direo a seguir. Formao de alianas e de novas redes, decises sobre campanhas as mais amplas e mobilizadoras possveis, disputas de hegemonia, desencontros em meio a muitos encon-tros, tendo no centro o pensar as alternativas para o mundo global que temos, do vida ao FSM. Enquanto ele conseguir ser espao do diverso e da pluralidade, tendo por base os princpios e valores ticos compartidos que nos d a dupla conscincia da humanidade e dos bens comuns a preservar para todos os seres do Planeta, o FSM vai continuar sendo uma das alavancas da cidadania mundial.

    Isso no me impede de ver enormes desafios e tarefas que se colocam para todos e todas que participamos do FSM como espao aberto. Inven-tamos o FSM em um momento datado e situado neste comeo do sculo XXI, em plena exacerbao da lgica do terror e da guerra, do acirramento do unilateralismo dos EUA, de crise e at falncia da democracia represen-tativa, com crescimento de uma enorme brecha entre as instituies polti-cas e as demandas da cidadania, de continuidade da concentrao de riquezas, da excluso social e da destruio da base da vida. O FSM tensionado pelos desafios do aqui e agora, precisa criar condies para um pensamento novo e um acmulo estratgico, que leve a emergente cidada-nia mundial a fortalecer a sua capacidade de ao poltica. O FSM precisa ser um espao que contribua para imaginar o mundo, reinventar o mtodo de ao e estimular a interveno concreta nos processos de globalizao em curso. possvel apontar algumas tarefas incontornveis para respon-der aos desafios que temos pela frente. No se trata de um plano de ao do FSM simplesmente porque ele no tem e nem pode ter planos de ao como espao aberto mas o que recolho como seu participante, como analista, ativista e dirigente do Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas (Ibase).

    a) Imaginar o mundo Trata-se de alimentar uma ousada busca dos projetos possveis de ou-

    tros mundos como alternativa. Um novo ideal, em suma. A vejo como uma primeira tarefa essencial a reflexo sobre a democracia como referncia estratgica, com crtica ao modelo liberal e s formulas institucionais atuais. Como trazer ao centro do embate e da construo democrtica a idia fora da diversidade de sujeitos em sua igualdade e com as prticas mais libertrias possveis? Como incorporar os princpios e valores ticos fun-dantes da democracia a base da universalidade como referncia para todas as relaes humanas: familiares, sociais, culturais, econmicas,

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    tcnicas, polticas, entre os povos, entre os Estados? Incorporar o funda-mento tico na viso estratgica da democracia representa uma mudana poltica e filosfica fundamental, que aponta para a possibilidade de uma nova cultura poltica da emergente cidadania planetria. Ele no abandona e nem desvaloriza o embate ideolgico, vital para a poltica democrtica, mas delimita o seu lugar e as suas referncias comuns. Dele decorre, tambm, uma viso que pensa os direitos como relao, como qualidade das relaes sociais, onde direitos para serem direitos e no privilgios devem ser de todos e todas e onde direitos comportam responsabilidades. Com base em tais princpios e valores, possvel pensar na universalidade da democracia como referncia para outros mundos. Mas isso implica para o FSM, como tarefa de fortalecimento da cidadania mundial, ser um espao que favorea o dilogo entre culturas, entre sujeitos sociais diversos, entre vises e perspectivas diferentes e divergentes, dilogo como condio para que o possvel seja imaginado, pensado e formulado como proposta.

    Muitas outros desafios e tarefas surgem neste processo de imaginar o mundo. Precisamos superar o dficit conceitual, de teorizao e de atribui-o de significados com o qual enfrentamos a globalizao dominante. No podemos ficar enquadrados para pensar o mundo pelos conceitos que nos so impostos pela ideologia neoliberal e sua viso da globalizao ela mesma um conceito que esconde a lgica de dominao que a engendrou. Nem so mais suficientes os conceitos e teorias das escolas de pensamen-to e ao da esquerda superadas pela prpria histria. O caminho radica-lizar a crtica ao capitalismo e globalizao que ele alimenta, em todas as suas formas e processos.

    Precisamos reinventar o desenvolvimento como conceito e como mode-lo, libertando-o do produtivismo, do tecnicismo e consumismo que decorrem de sua estreita e praticamente exclusiva associao com crescimento econmico. Isso implica, tambm, uma reviso do paradigma cientfico e de sua falsa objetividade, negadora da vida com tudo de subjetivo que ela tem. Precisamos conseguir pensar e imaginar o futuro humano livre da idia de progresso material no padro industrial e de consumo dos atuais pases desenvolvidos, porque insustentvel ambientalmente e excludente social-mente. Imaginar outro mundo resgatar o trabalho como criador de vida, de produo e reproduo da vida. E, ainda, relocalizar as economias para que tenham dimenso sustentvel, segundo as possibilidades da base natural, e sejam humanas e justas socialmente, produtoras de bens e servios para gente antes de serem para mercados. Isto implica em aceitar o desafio de pensar o lugar das relaes mercantis e da regulao, media-das pela negociao democrtica.

    Imaginar o mundo tendo como referente estratgico a democracia dar-se a tarefa de pensar a ao e o espao pblico em todas as esferas da vida. Sem dvida, as instituies de poder e de Estado precisam ser redefinidas para que as demandas e a participao cidad sejam a fora de legitimao e legalizao de direitos e deveres. Isto do local ao global, segundo princpios de soberania e autonomia cidad, de subsidiariedade e complementariedade de poderes, de multilateralismo e solidariedade entre povos.]

    b) Inventar o mtodo Um outro grande desafio para o FSM contribuir para o desenvolvimen-

    to de um novo modo de fazer poltica. Com que mtodo construir a cidada-nia ativa mundial? Como o respeito aos princpios e valores democrticos, valorizando a diversidade social e cultural e respeitando a pluralidade de vises e idias, pode ser traduzido em um mtodo de ao? A partir do que j se pratica no FSM, parece fundamental que convergncias e divergn-cias como tantas outras convergncias, ao seu modo tenham condies de se expressar no espao do frum. Ou seja, no se trata de buscar o mnimo denominador comum, redutor e excludente, mas de valorizar a diversidade de possibilidades, onde nenhuma possibilidade possa negar as outra e nem seja levada a se submeter qualquer uma outra.

    Um tal princpio metodolgico para a prtica poltica nova que se quer implementar recoloca o problema da articulao, das alianas e coalizes, da formao de blocos de foras, condio indispensvel nas democracias. Como formar hegemonias na diversidade de sujeitos e foras, sem prota-gonismos? Respostas a priori no existem, precisam ser criadas. O ponto de partida o reconhecimento da legitimidade e, at, da necessidade vital de conflitos e disputas para a democracia. As democracias se movem pela luta social, desde que sejam respeitados os princpios ticos fundantes pelas foras em confronto. Isso significa eleger metodologicamente a ao poltica, o pensar a ao e para a ao. Significa, tambm, reconhecer e

    respeitar os outros sujeitos, com eles se pondo em ao, em dilogo, em troca.

    Na prtica, o FSM desafiado a promover o mais radical dilogo entre movimentos sociais e organizaes, num processo intra eles, superando barreiras culturais, geogrficas e nacionais, e num processo inter diferentes movimentos e organizaes, buscando as convergncias e divergncias. A questo metodolgica e poltica aqui da traduo, no sentido que lhe d Boaventura Souza Santos. Vai na mesma direo a necessidade para o FSM de ser cada vez mais mundial, mais espao da cidadania mundial, penetrando em todas as sociedades no Sul e no Norte, no Oeste e no Leste, atravessando tradies civilizatrias, religies, filosofias e culturas as mais diversas. E um desafio ainda maior: tornar visveis os hoje invisveis social e politicamente para o mundo. Sem dvida, muitas das questes aqui levantadas j tem solues prticas, s que muito localizadas, fragmenta-das, no sistematizadas. Permitir que isto venha luz e se potencialize, tornando-se um modo de operar capaz de levar a cidadania a uma nova cultura poltica a tarefa essencial do FSM. Temos muito a aprender a este respeito. A experincia de construir um programa de trabalho a partir de baixo, de estimular o encontro e articulao, aglutinao at, est em curso no FSM, mas uma rdua e paciente tarefa. Temos hoje mais disperso e confuso do que diversidade construda naquilo que mostramos nos nossos eventos. Mas o caminho.

    c) Intervir concretamente O FSM, em si mesmo, no tem capacidade de interveno. Sua inci-

    dncia poltica se faz atravs do que decidem seus e suas participantes. Porm, voltado a fortalecer a emergente cidadania planetria, pensando a ao e para a ao poltica, o FSM acaba sendo um espao aberto para a constituio de novas redes e coalizes visando a formulao de campa-nhas, a promoo de mobilizaes e demonstraes, a seleo de poss-veis estratgias de influncia no debate pblico, nas diferentes sociedades e espaos, nas conjunturas que se apresentam. Como espao pblico aberto cidadania mundial, o FSM atravessado pela necessidade de agir aqui e agora sentida por quem dele participa. Vejo isto como um enorme desafio.

    Os temas mais prementes para participantes do FSM, como os vejo de onde me situo, so: a necessidade de radicalizar a ruptura com e de se contrapor ideologia e s vises da globalizao neoliberal; o aprofundamento da anlise da lgica de funcionamento e da estratgia das grandes corporaes e do capital financeiro, com denncia de suas violaes de direitos e de destruio das condies de vida; a mercantilizao de todas as relaes sociais, a privatizao de bens comuns e espaos pblicos, a flexibilizao de direitos conquistados, a desregulao e liberalizao em nome do livre mercado; o poder, concentrado e obscuro, das organizaes globais, especialmente das organizaes financeiras e comerciais, longe do controle da cidadania e dos povos; a lgica do terror e da guerra, a crescente militarizao e a ameaa paz e soberania dos povos; o perigo do unilateralismo crescente e do imperialismo, a necessidade de reconstruo do multilateralismo e da governana mundial para a paz.

    So todos temas cruciais em que de algum modo a cidadania mun-dial j est envolvida, precisando dar respostas. Muitos outros podem ser arrolados aqui. Ative-me queles que mais diretamente se referem ao enfrentamento da globalizao dominante. Todos estes temas j so deba-tidos no FSM. A tarefa urgente pens-los mais associados s aes e, ao mesmo tempo, sem que acabem marginalizando os outros grandes desafi-os que a emergente cidadania planetria tem pela frente.

    3. O FSM 2006: o desafio da expanso e mundializao Desde o comeo, em 2001, a vocao mundial e universalista do

    FSM posta prova. Sua vitalidade depende de sempre estar colado s mltiplas realidades sociais e culturais, econmicas e ambientais dos povos do Planeta. A multiplicao de fruns, nas cidadades, nos pases, nas regies, a realizao de fruns temticos, e o deslocamento do prprio evento principal, girando o mundo, atende a tal imperativo.

    Em 2004, fomos para a sia, na ndia, na cidade de Mumbai. Agora, em 2006, estamos topando o desafio de realizar um Frum Social Mundial Policntrico, articulando eventos em diferentes continentes: vamos a Cara-cas, na Venezuela, a Bamako, no Mali, e a Karachi, no Paquisto, alm de uma conferncia no Marrocos. No sero, como imaginado, eventos simul-tneos, mas muito prximos e, sobretudo, muito articulados entre si. So

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    realidades bem diversas o que faz imaginar um FSM muito mais diverso do que at aqui fomos capazes de produzir. Em 2007, j est decidido, vamos todos para Nairobi, no Qunia.

    O que significa este esforo de mundializao do prprio FSM? Sem dvida, estamos construindo uma estratgia que nos fortalea na diversi-dade do que a emergente cidadania planetria. Estamos mostrando as mltiplas identidades de que somos portadores e, sobretudo, as inmeras possibilidades na construo de outros mundos.

    Para ns cidados e cidads da Venezuela, Brasil, da Amrica Lati-na, do Caribe, da Amrica do Norte, o FSM em Caracas representa um grande desafio e vem carregado de significado especial. J fizemos um Frum Regional em Quito, no Equador, em 2004. Agora, alm de uma clara dimenso regional, o FSM em Caracas adquire um impacto mundial mais claro. Estamos realizando o frum na Venezuela dos muitos contrastes e, devido s posies do Governo Chaves, tem provocado enorme debate em todo mundo, como uma das formas de oposio globalizao neoliberal e ao imperalismo dos EUA de Bush. Na Amrica do Sul se situa o ncleo mais claro de uma crescente oposio ao neoliberalismo e a Venezuela tem tido um importante papel poltico nisto. claro que nem todo(a)s parti-cipantes do FSM concordam com concepes e mtodos do Presidente Chaves. O FSM tem a sua autonomia como processo puxado por movimen-tos e entidades da sociedade civil, por suas redes, coalizes e alianas, regionais e mundiais. Mas isto no implica em se negar a enfrentar com anlise e debate, numa troca bem aberta, as possibilidades e limites das lutas concretas, especialmente todas aquelas que se alinham no combate ao neoliberalismo e sua globalizao. O fato de um dos captulos do FSM Policntrico se realizar na Venezuela, neste momento, para alm de todas as divergncias que pode despertar, precisa ser visto como uma busca efetiva entre ns mesmos e uma demonstrao de solidariedade a movi-mentos e organizaes da sociedade venezuelana.

    Mas tem mais. Indo a Caracas, assim como aos outros eventos do FSM Policntrico, estamos nos expandindo, nos mundializando ainda mais, nos conhecendo melhor. Estamos dando um sinal para o mundo que que-remos sim integrao, mas integrao de povos, dos mltiplos povos, e no uma incorporao por conglomerados econmicos e financeiros globais, uma incluso subordinada aos interesses dos EUA. Alm disto, nos apro-ximamos do nosso Caribe, com a sua diversidade e vida e fortalecemos a nossa capacidade de resistncia ao avano neoliberal. , sem dvida, uma grande oportunidade para mais um salto no processo frum. Tenho certeza que sairemos da Venezuela mais fortalecidos.

    Como concluso, cabe destacar a contribuio que o FSM pode dar para as sociedades civis dos pases em que se realizado, especialmente em termos de favorecer a cultura democrtica. As alternativas que gestar-mos e os resultados que alcanarmos podem ser incertos, imprevisveis, distantes, mas a cultura poltica que alimentada pela FSM, o modo de buscar alternativas pode ser durvel e radicalmente transformador, porque regido por valores e princpios ticos democrticos. O FSM no pode ser avaliado por possveis propostas que dele emergirem, mas sim pelo modo de atuar e de se fortalecer a prpria cidadania construtora de alternativas para o mundo. Este o sentido primeiro e fundamental de nossa expanso e mundializao. NOTAS Verso de 04.12.05 Enviada para:Observatorio Social de Amrica Latina OSAL Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales CLACSO- Argentina *CNDIDO GRZYBOWSKI socilogo e diretor-geral do Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas (Ibase) e membro da Secretria Interna-cional do Frum Social Mundial SANTOS, Boaventura de Souza. O FSM Mundial: Manual de Uso. So Paulo: Ed. Cortez, 2005. p. 118-134. tica e Democracia: exerccio da cidadania. tica e Democracia Mrcio C. Coimbra O Brasil ainda vive em uma democracia em consolidao, ainda incipiente. Infelizmente, em grande parte de nossa histria, vivemos sombra de golpes de estado e revolues, como a de 1930 e mais recentemente em 1964. A cada ruptura institucional, o regime democrtico sofria um duro golpe, atingindo-o no seu ponto fundamental: o respeito ao Estado Demo-crtico de Direito.

    Nosso perodo mais recente de democracia comeou em 1985, com a eleio indireta de Tancredo Neves para a Presidncia da Repblica, colocando um fim em 21 anos de regime militar. Logo, chegamos a 2001 com 16 anos de democracia recente. Neste perodo conhecemos cinco Presidentes da Repblica: Tancredo Neves, que no assumiu devido ao seu falecimento, Jos Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Durante o termo de Jos Sarney, produziu-se uma nova Constituio Federal, a de 1988. Logo, percebe-se que o Brasil ainda est se acostumando com um regime democrtico sem rupturas abruptas, ou seja, a democracia brasileira, assim como suas instituies, ainda est em fase de amadurecimento. A consolidao de um regime democrtico somente ocorre com o tempo e com o amadurecimento da sociedade e de suas instituies. A base de sustentao desta forma de governo o povo e a sua soberania, que exercida atravs do voto, como bem coloca Bobbio: democracia o gover-no do povo, para o povo. Alm disto, baseada fortemente no exerccio da cidadania, no respeito s leis e no exerccio da tica como ponto fundamen-tal das relaes interpessoais. Portanto, percebe-se um andar quase que em conjunto entre a democracia e a tica. Ainda sobre tica, vale ressaltar as palavras do Prof. Alberto Oliva na apresentao do livro do Doutor em Filosofia Mrio A. L. Guerreiro: Aplica tica o enfoque negativista segundo o qual ao prescritivo no incumbe especificar o que algum deve fazer, e sim o que deve ser impedido de fazer por ser danoso ao outro. Logo, a tica apresenta-se como ponto de convergncia e harmonizao entre norma e liberdade, assim como j assegurava John Locke. Como conseqncia de uma srie de rupturas institucionais que marcaram fortemente a formao do Estado brasileiro e seu desenvolvimento, vemos que o respeito s regras e ao exerccio tico de convivncia no tem sido uma constante recentemente no que tange s prticas polticas. Claro que esta tese comporta algumas grandes excees, pois no podemos genera-lizar os fatos. Mas de qualquer forma, faz-se extremamente importante traar uma linha paralela entre estes conceitos. A capa de uma das mais importantes revistas semanais do Brasil, no dia 2 de maio de 2001 traduz com clareza os ltimos acontecimentos polticos envolvendo o Senado Federal com a seguinte manchete: Eles encolheram o Congresso: Como o Senado se transformou na Casa da Mentira com Jader, Arruda e ACM. No h dvidas: uma manchete de impacto. Mas ser que o problema reside apenas neste fato? Acredito que no. Os es-cndalos envolvendo os maiores escales do Estado esto sendo uma constante. Muitos deles lidam com a falta de tica daqueles que exercem uma funo pblica. Infelizmente, est se criando uma sensao de des-crdito da populao perante os seus governantes, o que muito grave. A mesma revista, na edio de 23 de maio de 2001, mostra como um ex-presidente do Banco Central, supostamente, vendia informaes privilegia-das para o mercado financeiro e como, supostamente, o governo acobertou o fato. Alm destes casos, podem ser citados outros vrios que o governo j tem sobrevivido, como os supostos casos relativos a compra de votos para reeleio, implantao do projeto Sivam, BNDES e teles, CPI da Corrupo, e por fim as denncias envolvendo suposta corrupo no DNER, Sudam e Sudene. O Brasil est pagando um preo alto pela falta da prtica democrtica atravs dos anos e como conseqncia, a falta de tica e transparncia em suas instituies. O amadurecimento est acontecendo do modo mais difcil. necessrio que o Brasil passe por estes acontecimentos, pois eles fazem parte da maturao pela qual o Estado brasileiro tem que, necessa-riamente, passar. Ainda hoje, em grau infinitamente menor, ainda existem denncias de corrupo em um regime amadurecido e estvel, de mais de 200 anos, como o caso da democracia norte-americana, onde a tica est no topo dos valores nacionais, como foi recentemente retratado no livro Shadow de Bob Woodward. De qualquer forma, o caminho que o Brasil tem que trilhar ainda longo e depende principalmente da consolidao do regime democrtico e do respeito ao Estado de Direito, que so os pilares bsicos de sustentao de uma sociedade estvel e tica. Discurso do Ministro do Controle e da Transparncia do Brasil, Waldir Pires, no Dilogo dos Chanceleres, durante a XXXIV Assemblia Geral da Organizao dos Estados Americanos (OEA) "Desenvolvimento Social e Democracia Frente Incidncia da Corrupo" Quito, Equador Quero inicialmente parabeniz-los pela escolha do tema dominante desta Assemblia, que a luta contra a corrupo. De iniciativa, inclusive, da

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    representao poltica do Equador, a nao que nos hospeda to cordial-mente, para a adoo de recomendaes importantes na linha do combate eficaz a esse flagelo da humanidade. A democracia precisa dessa vitria, precisa em nosso continente de nossa responsabilidade comum para derrotar a corrupo em cada um de nossos pases. Ela um dos desvios mais perversos e danosos da sociedade contempornea, no campo poltico, como na atividade privada, onde ela agride e suprime os recursos da coletividade para o uso inescrupuloso dos bandidos sofisticados que a praticam. No Brasil, o Presidente Lula, desde a sua primeira fala nao, declarou seu governo em luta permanente contra a corrupo. uma poltica de Estado o que praticamos com prioridade absoluta. H de ser um combate de larga durao; mas vamos venc-lo. A corrupo um crime, assim como tambm o o homicdio. Todos sabemos que no permitido matar e que pesado o castigo imposto ao homicida. No entanto, mata-se infe-lizmente muito, no Brasil e no mundo. Com a corruo se d mais ou me-nos o mesmo. Mas, infelizmente, nem o homicdio nem a corrupo so passveis de extino por fora de decreto. Por isso, nenhum pas do planeta est livre desse flagelo, seja no setor pblico improbidades, trfico de influncia, o enriquecimento ilcito, seja no setor privado, na manipula-o de balanos, na especulao financeira de bolsas, na apropriao criminosa de poupanas privadas. No atual Governo do Brasil, a administrao federal, com gastos oramen-trios muito reduzidos, est se reestruturando profundamente, na essncia de sua ao de controle, buscando rapidamente a atuao integrada e de profunda articulao com os organismos do Governo e do Estado, envolvi-dos com o combate ao desvio do dinheiro pblico. O Governo Lula transformou profundamente a natureza de sua misso e realiza aes conjuntas ou complementares nas reas de auditoria, fiscali-zao e apurao de desvios, com o Ministrio da Justia, a Polcia Fede-ral, o Tribunal de Contas da Unio, o Ministrio Pblico Federal e os Esta-duais, a Advocacia-Geral da Unio, com xito de todos os procedimentos. Instituiu tambm o sistema de fiscalizao a partir de sorteios pblicos, que ocorrem na sede da Loteria da Caixa Econmica Federal, em Braslia, na presena de toda a imprensa e mdia e de representantes da sociedade civil, dos membros do Congresso Nacional, de oposio e de governo, para escolher as reas territoriais menores da Federao brasileira, que so os municpios, onde so aplicadas grandes parcelas do dinheiro pblico. Neste Governo, a Lei criou o Conselho da Transparncia Pblica e Comba-te Corrupo. Alm disso, estamos empenhados na tarefa do fortaleci-mento dos Conselhos municipais de controle social. Estamos participando da ENCLA (Estratgia Nacional de Combate Lavagem de Dinheiro). Vamos realizar o IV Frum Global de Combate Corrupo, em junho de 2005, para o qual, inclusive, o Governo brasileiro os convida a todos para nos darem a honra e o prazer de participarem conosco desse conclave internacional. A democracia incompatvel com a corrupo. Como incompatvel com a excluso. Sua legitimidade decorre da representao popular, que vem da vontade dos cidados, para assegurar as liberdades, inclusive aquela que foi declarada um dia na Carta do Atlntico, como o grande documento do Ocidente, de convocao para a luta contra o nazismo e o fascismo: a liberdade de no ter medo de morrer de fome. A excluso o decreto de condenao pobreza extrema e fome. A democracia a cidadania, no um regime com prias. No h democracia sem tica, portanto sem responsabilidade com a condi-o humana. A tica da democracia a coeso social para a convivncia humana, hoje sob grave risco. A democracia poltica ou se faz social e humana, ou democracia no . O Presidente Lula recentemente, em janeiro ltimo, em Monterrey, na Cpula Extraordinria das Amricas, a propsito do desenvolvimento social, lembrou-nos do desafio deste milnio, para a condenao das injustias: cada vez maior o abismo que separa ricos e pobres em nosso continente e no mundo. A tica existe desde o comeo das civilizaes para o bem do ser humano. Significa a responsabilidade de cada um e de todos com os valores da vida, da dignidade da pessoa hu-mana. A tica da democracia, pois, a tica da coeso social, pela afirma-o das liberdades e pelo respeito s necessidades. Assessoria de Imprensa da Controladoria-Geral da Unio

    Cidadania Foi de um discurso do dramaturgo Pierre-Augustin Caron de Beaumar-

    chais, em outubro de 1774, que surgiu o sentido moderno da palavra cida-do -- que ganharia maior ressonncia nos primeiros meses da revoluo francesa, com a Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado.

    Em sentido etimolgico, cidadania refere-se condio dos que resi-dem na cidade. Ao mesmo tempo, diz da condio de um indivduo como membro de um estado, como portador de direitos e obrigaes. A associa-o entre os dois significados deve-se a uma transformao fundamental no mundo moderno: a formao dos estados centralizados, impondo juris-dio uniforme sobre um territrio no limitado aos burgos medievais.

    Na Europa, at o incio dos tempos modernos, o reconhecimento de di-reitos civis e sua consagrao em documentos escritos (constituies) eram limitados aos burgos ou cidades. A individualizao desses direitos a rigor no existe at o surgimento da teoria dos direitos naturais do indivduo e do contrato social, bases filosficas do antigo liberalismo. Nesse sentido, os privilgios e imunidades dos burgos medievais no diferem, quanto forma, dos direitos e obrigaes das corporaes e outros agrupamentos, decorrentes de sua posio ou funo na hierarquia social e na diviso social do trabalho. So direitos atribudos a uma entidade coletiva, e ao indivduo apenas em decorrncia de sua participao em um desses "cor-pos" sociais.

    O termo cidado tornou-se sinnimo de homem livre, portador de direi-tos e obrigaes a ttulo individual, assegurados em lei. na cidade que se formam as foras sociais mais diretamente interessadas na individualizao e na codificao desses direitos: a burguesia e a moderna economia capita-lista.

    Ao ultrapassar os estreitos limites do mundo medieval -- pela interliga-o de feiras e comunas, pelo estabelecimento de rotas regulares de co-mrcio, entre regies da Europa e entre os continentes --, a dinmica da economia capitalista favorece a imposio de uma jurisdio uniforme em determinados territrios, cuja extenso e perfil derivam tanto da interde-pendncia interna enquanto "mercado", como dos fatores culturais, lings-ticos, polticos e militares que favorecem a unificao.

    Em seus primrdios, a constituio do estado moderno e da economia comercial capitalista uma grande fora libertria. Em primeiro lugar, pela dilatao de horizontes, pela emancipao dos indivduos ante o localismo, ante as convenes medievais que impediam ou dificultavam a escolha de uma ocupao diferente da transmitida como herana familiar; libertria, tambm, ante as tradies e crenas que se diluam com a maior mobilida-de geogrfica e social; mas libertria, sobretudo, pela imposio de uma jurisdio uniforme, que superava o arbtrio dos senhores feudais e reco-nhecia a todos os mesmos direitos e obrigaes, independentemente de seu trabalho ou condio socioeconmica.

    Alm do sentido sociolgico, a cidadania tem