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AGÊNCIA DE AVALIAÇÃO E ACREDITAÇÃO EM CONSULTA PÚBLICA Superior FENPROF ENSINO E INVESTIGAÇÃO Entrevista com João Cunha Serra Cortes financeiros em 2007 vão ameaçar qualidade do Ensino Superior Laboratório Nacional de Investigação Veterinária Política de redução de custos põe em causa trabalho científico Precariedade limita liberdades académicas Desemprego está aí O subsídio não! Precariedade limita liberdades académicas Desemprego está aí O subsídio não!

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AGÊNCIA DE AVALIAÇÃO E ACREDITAÇÃO EM CONSULTA PÚBLICA

S u p e r i o rFENPROF ENSINO

E INVESTIGAÇÃO

Entrevista com João Cunha SerraCortes financeiros em 2007 vão ameaçarqualidade do EnsinoSuperior

Laboratório Nacional de Investigação Veterinária

Política de redução de custospõe em causa trabalho científico

Precariedade limita liberdades académicas

Desemprego está aíO subsídio não!

Precariedade limita liberdades académicas

Desemprego está aíO subsídio não!

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2 SUP AO N .º 214 ■ JANE IRO 2007

Propriedade, Redacçãoe AdministraçãoFederação Nacional dos ProfessoresRua Fialho de Almeida, 31070-128 LISBOATels.: 213819190 – Fax: 213819198Email: [email protected] page: www.fenprof.pt/superior

Director: Paulo Sucena

Departamento de Ensino Superior:João Cunha Serra ■ Mário CarvalhoNuno Rilo ■ Teresa Chaveca

Coordenação: José Paulo Oliveira

Colaboração: Inês Carvalho, Paula Velasquez e Elvira Nereu

Paginação e Grafismo: Mário Rui

Composição: Idalina Martinse Lina Reis

Fotografia: Jorge Caria

Impressão: SogapalTiragem média: 4000 ex.Depósito Legal: 3062/88

MEMBROS DA

FENPROF

SINDICATO DOS PROFESSORES DAGRANDE LISBOAR. Fialho de Almeida, 3 - 1070-128 LisboaTel.: 213819100 - Fax: 213819199Email: [email protected] page: www.spgl.pt

SINDICATO DOS PROFESSORESDO NORTEEdif. Cristal ParkR. D. Manuel II, 51-3º - 4050-345 PortoTel.: 226070500 - Fax: 226070595Email: [email protected] page: www.spn.pt

SINDICATO DOS PROFESSORESDA REGIÃO CENTROR. Lourenço Almeida de Azevedo, 203000-250 CoimbraTel.: 239851660 - Fax: 239851666Email: [email protected] page: www.sprc.pt

SINDICATO DOS PROFESSORESDA ZONA SULAv. Condes de Vil’Alva, 2577000-868 ÉvoraTel.: 266758270 - Fax: 266758274Email: [email protected]

SINDICATO DOS PROFESSORESDA REGIÃO AÇORESR. João Francisco de Sousa, 469500-187 Ponta Delgada - S. MiguelTel.: 296205960 - Fax: 296629498

SINDICATO DOS PROFESSORESDA MADEIRAEdifício Elias Garcia, R. Elias Garcia,Bloco V-1ºA - 9054-525 FunchalTel.: 291206360 - Fax: 291206369Email: [email protected] page: members.netmadeira.com/spm/spm

SINDICATO DOS PROFESSORESNO ESTRANGEIROSede Social: Rua Fialho de Almeida, 31070-128 LisboaTel.: 213833737 - Fax: 213865096

SUMÁRIOS u p e r i o rFENPROF ENSINO

E INVESTIGAÇÃO

525 perguntas da FENPROF ao MinistroMariano Gago deveresponder com clareza ao País

E n t revista com o Professor João Cunha Serr aCortes financeiros em 2007 vão ameaçar a qualidade do Ensino Superior

8

NACIONALProcesso de BolonhaMCTES retém aprovaçãode mestrados nos Politécnicos . . . . . . 4

Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV)Política de redução de custos põe em causa trabalho científico . . . . 6

Reitor Avelino de Freitas Meneses no 31º aniversário da U. Açores:“Não proporemos despedimentos por razões orçamentais” . . . . . . . . . 17

DOCUMENTOSA propósito da Recomendação da UNESCO de 1997 e da Declaraçãode Sinaia de 1992Liberdade Académica: um tema na ordem do dia . . . . . . . . . . . . . . . . 18

OPINIÃOLurdes SilvaUm Código Deontológico para os professores portugueses . . . 20

INTERNACIONALProcesso de BolonhaSeminário Nórdico . . . . . . . . . . . . . . 22

CULTURAISGil Teixeira LopesObra inédita dos anos 70 . . . . . . . . . 23

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JANE IRO 2007 ■ SUP A O N .º 214 3

De facto, o tempo é de instabilidade noCRUP, hoje sem um rumo certo. Primeirodiscordou de Mariano Gago, um Ministroque dá sinais de já não o considerar uminterlocutor incontornável em questões

essenciais como o financiamento. Hoje o CRUP vaino sentido de concretizar no terreno a política que oMCTES (sempre na sombra) quer implementar.

Queixou-se dos cortes no financiamento para2007, mas agora os seus membros surgem demodo concertado a dizer de diferentes formas quetêm que reduzir os encargos salariais, ou seja queestavam a gastar mais do que deviam.

Há instabilidade no CCISP que continua a serpresa das suas próprias debilidades e contradições,surgindo como uma estrutura cuja voz não é tidaem consideração. Começou por defender o quechamavam uma "filosofia" para o politécnico, umensino "virado para a prática, para o saber fazer",por oposição às universidades dos doutores.

Agora, por causa dos "mestrados de Bolonha",alguns dos seus membros dizem ir mandar fazer àpressa os doutores que então não queriam. Nãoreparam também que quando o Ministro aprofundaa dicotomia universidade/politécnico, e lhes acenacom a possibilidade de financiar CET´s (cursosnão conferentes de grau) os está, de facto, a fazeraproximar do ensino secundário.

Há ainda previsão de fortes trovoadas em todoo sector público. Uns dizem que precisam de des-pedir 100 docentes, outros que o ratio alunos//docente está muito baixo ("generoso") ou queagora só podem usar 85% dos ETI padrão. Algunsimpedem a opção pelo regime de dedicação exclu-siva ou prometem mesmo não cumprir com osestatutos de carreira docente (com a lei!) se tive-rem dificuldades financeiras.

Uma forte depressão está centrada no ESPC,com instituições a atravessar graves dificuldadesfinanceiras. Há despedimentos, cortes salariais esalários em atraso, e a tentativa de sobreviver àcusta do chamado processo de Bolonha. Vêemnele um modo expedito de reduzir encargos comdocentes. Isto quando não enveredam por projec-tos de engenharia financeira ou de especulaçãoimobiliária. Aqui não é preciso cumprir o estatutode carreira docente, porque ele nunca existiu.

Um tempo sombrio caiu sobre a avaliação noensino superior. Após a extinção do CNAVES e,

enquanto não funciona uma futura agência inde-pendente para a acreditação e qualidade, emergiu oaparelho administrativo e dependente do MCTES(a DGES) como instância de avaliação dos cursospropostos no âmbito do processo de Bolonha.

No meio da tempestade estão os docentes doensino superior. Porque prevalece uma grande pre-cariedade das relações contratuais, sucedem-se osdespedimentos, a denúncia de contratos e os cortessalariais, tanto no sector público como no privado.Sempre "tudo legal" como se ouve dizer a todos osresponsáveis das instituições envolvidas.

Os docentes do público sabem que não têmdireito a subsídio de desemprego. É o próprioGoverno e o partido que o sustenta que novamenteo gritam bem alto.

No privado, muitos também não sabem seterão direito a receber o seu ordenado no fim domês e alguns até se dão por felizes porque rece-bem nove meses por ano.

Neste contexto, quando a FENPROF surge aexigir as condições necessárias para o exercício dasliberdades académicas, da criação e da livreexpressão de opinião, direitos consagrados na reco-mendação da UNESCO de 1997 sobre a condiçãodo pessoal docente do ensino superior, o Ministro eo Governo assobiam para o lado, porque nada têma ver com o que se está a passar nas instituições.

O Ministro abrigado no seu palácio (ali bemperto do Jardim Zoológico) confia que nada degrave acontece no seu ministério. Da sua varandae talvez com um leve sorriso, constata que, nestaépoca que ele próprio escolheu como de fortescarências ou mesmo de fome, as verdadeiras"feras" estão lá fora. Não precisando de sair aocaminho, não correrá riscos.

Tão pouco tem de se deslocar à Assembleia daRepública porque aí, para explicar o inexplicável(como foi o caso da negação de um direito socialbásico como o subsídio de desemprego), as pirue-tas ficam a cargo do PS e do Ministro dos Assun-tos Parlamentares.

Há mau tempo no canal, mas na FENPROFacreditamos que dias melhores, mesmo que nãode sol radioso, vão surgir, porque temos cons-ciência de tudo isto mas também do valor docapital humano que representamos, e contamoscom a actividade solidária dos docentes doensino superior. ■

Há mau tempo no canalMário Carvalho

EDITORIAL

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OMinistro Mariano Gago está a pro-telar, muito para além do razoável,a decisão sobre a aprovação de

mestrados para o Politécnico. Muitasdestas propostas foram apresentadas emfinal de Março de 2006, dentro dos pra-zos para que pudessem entrar em vigor jáno ano lectivo de 2006/2007, alertavauma nota divulgada pelo Departamentode Ensino Superior e Investigação, daFENPROF, no passado dia 12 de Janeiro.

“A FENPROF sabe que o Ministro játem na sua posse, desde há mais de doismeses, a avaliação que foi feita aos cur-sos pela Direcção Geral do Ensino Supe-rior. Esta situação está a provocar gravesproblemas de instabilidade nas institui-ções politécnicas que, assim, não sabemqual vai ser a oferta formativa para aqual têm que estar preparadas”, referia anota da federação, que acrescentava:

“Tal está a trazer consequênciasmuito negativas no que se refere à previ-são do número de alunos e dos docentes

que vão ser necessários para os ensinar,facilitando assim o acentuar do movi-mento de não renovação de contratos demuitos docentes e de redução dos encar-gos salariais na "renovação" de muitosoutros, em resultado dos violentos cortesorçamentais aprovados para 2007.”

A FENPROF reclama que o Ministrotome rapidamente uma decisão que res-peite a legislação publicada quanto àscondições exigidas para a aprovação decursos (Lei de Bases do Sistema Educa-tivo e D.-L. 74/06) e que não se atrasemais na criação da Agência para a Ava-liação e a Acreditação que substitua aDGES, de forma a que os processos deavaliação deixem de estar sobre a alçadagovernamental e passem a ser realizadospor uma entidade independente, demodo idóneo e transparente, como éindispensável para fortalecer o clima deconfiança, que se encontra actualmentemuito abalado, no conjunto do sistemade ensino superior.

Ao mesmo tempo que exigia que nocaso de reclamações apresentadas àtutela, relativamente à não aprovação decursos propostos, tais recursos sejamapreciados o mais rapidamente possívelpela nova Agência ou por uma outraentidade, realmente independente dogoverno e das instituições, que, transito-riamente, apresente os seus pareceres deforma aberta e sujeita à crítica da comu-nidade académica e da sociedade emgeral, a FENPROF considerava inaceitá-vel, por mais justas que sejam as críticasfeitas pelo Ministro ao sistema de avalia-ção que existia antes da posse do actualgoverno, que tenham decorrido já quase2 anos sem que o sistema anterior tenhasido substituído, ou modificado, aindaque transitoriamente, de forma a evitar aactual governamentalização da avalia-ção, situação que é a antítese do que temsido defendido pelo Ministro e do quetem sido por ele aplicado, desde há jámuitos anos, na área da Ciência. ■

4 SUP A O N .º 214 ■ JANE IRO 2007

NACIONAL

Processo de Bolonha

MCTES retém aprovação de mestrados nos Politécnicos

OGoverno aprovou no passado dia1 de Fevereiro, para consultapública, o decreto-lei que institui

a Agência de Avaliação e Acreditaçãopara a Garantia da Qualidade do EnsinoSuperior que irá avaliar mais de 2500cursos superiores e que está disponívelem www.fenprof.pt/superior.

Em recentes declarações à imprensa,o Ministro Mariano Gago referiu a pos-sibilidade de ter a Agência oficializadano final de Fevereiro, a que se seguiráum mínimo de seis meses para a "fase deinstalação."

O titular o MCTES espera que ascertificações possam arrancar a partir deOutubro, "entrando em fase de cruzeiro

em 2008", como revelou ao "Diário deNotícias", que na sua edição de 3 deFevereiro destacava: "Segundo o minis-tro, a reavaliação deverá incidir apenasnos cursos já adaptados ao modelo degraus e diplomas do Processo de Bolo-nha - três ciclos, com a licenciatura adurar tipicamente três anos. Os restantes,como terão obrigatoriamente de desapa-recer até 2009, serão naturalmente elimi-nados. Mesmo assim estará em causa umnúmero acima dos 2 500 cursos. Em2005/2006, excluindo doutoramentos,havia em Portugal um total de 2634 cur-sos, nos sectores público e privado. EmJunho do ano passado, tinham sidoentregues 1470 pedidos de criação ou de

adequação ao processo de Bolonha.Decorreu entretanto uma segunda faseem Novembro, tendo em vista o pró-ximo ano lectivo, e a expectativa é deque em 2007/2008, pelo menos naslicenciaturas, 90% da oferta já estejaconvertida a Bolonha. À agência deAcreditação caberá agora reapreciartodos os processos." ■

Agência de Acreditação

Cursos superiores reavaliados até 2009

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JA NE IRO 2007 ■ SUP A O N .º 214 5

AFENPROF entendeu que, mesmoantes de ser conhecido o relatórioda OCDE, seria oportuno apre-

sentar ao Ministro um conjunto de ques-tões que no seu entender a sociedade emgeral, as instituições, os docentes, os nãodocentes e os estudantes, esperam verrespondidas com clareza. Essas ques-tões, 25 no seu conjunto (ver emwww.fenprof.pt/superior), foram apre-sentadas na manhã de 12 de Dezembro,em Lisboa, no decurso de uma conferên-cia de imprensa promovida pelo Depar-tamento do Ensino Superior e da Investi-gação, da FENPROF. Presentes naMesa: João Cunha Serra, coordenadordesse organismo; Mário Carvalho, coor-denador do departamento do EnsinoSuperior do Sindicato dos Professoresdo Norte (SPN) – ambos do SecretariadoNacional da FENPROF; e Sara Fernan-des, coordenadora do departamento dosuperior do SPZS, Sindicato dos Profes-sores da Zona Sul. No diálogo com osjornalistas participou ainda Nuno Rilo,do Sindicato dos Professores da RegiãoCentro (SPRC).

A resposta do Ministro a estas ques-tões, em qualquer caso, irá seguramente

FENPROF considera imprescindível e inadiável

Ministro Mariano Gago deve responder com clareza ao País

Mário Carvalho, João Cunha Serra e Sara Fernandes em diálogo com os jornalistas

ser dada pela acção ou omissão que nospróximos tempos provier do MCTES,sublinhou a FENPROF, que acrescen-tou: “Dessa actuação irá depender emgrande medida o futuro do Ensino Supe-rior, designadamente no que se refere aoseu papel insubstituível para o desenvol-vimento do país e das suas regiões. Opaís precisa de um Ensino Superiorcapaz de contribuir para a tarefa crucialde elevar as qualificações da populaçãoactiva, de fomentar a investigação e ainovação, com vista ao aumento da pro-dutividade e da competitividade da eco-nomia, e de promover a elevação cultu-ral científica da população em geral.”

A FENPROF, como usualmente faz,acompanhará atentamente a actuação doMCTES e procurará participar na defini-ção das políticas para o sector, mobili-zando para o efeito os colegas, com oobjectivo que contribuir para a melhoriada racionalidade, da qualidade e da rele-vância social do sistema, realça o comu-nicado divulgado aos jornalistas.

A Federação espera, em especial, queo ano de 2007 represente uma mudançade atitude do MCTES, no que se refereao diálogo e à negociação com as orga-nizações representativas dos docentes,em particular no que concerne à revisãodos estatutos de carreira. ■

Após a divulgação dosrelatórios de avaliação da ENQA e da OCDE, o Ministro Mariano Gago,como afirmou publicamente,deveria anunciar as medidasque vai tomar, pondo termoa um período demasiadolongo em que projectou a imagem de se encontrarlargamente ausente, ou pelo menos silencioso,no que se refere ao sectordo Ensino Superior.

“Que plano de desenvolvimento e que critérios defendeo MCTES para a reorganização da rede do sistema de

ensino superior? (terá em conta as necessidades doaumento da qualificação da população activa, nomeada-mente da aprendizagem ao longo da vida, indispensável

ao aumento da produtividade e da competitividade?

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6 SUP AO N .º 214 ■ JANEIRO 2007

NACIONAL

Adecisão em causa é a transferênciado LNIV de Lisboa para Vairão,em Vila Conde, o que, para os tra-

balhadores do Laboratório, é um "motivode grande apreensão", como destaca aresolução aprovada no passado dia 1 deFevereiro, na sequência de uma concen-tração realizada em frente ao MADRP,no Terreiro do Paço. Foi decidido conti-nuar com as acções de protesto e luta, emdefesa dos postos de trabalho e do pró-prio futuro do Laboratório Nacional deInvestigação Veterinária, que passariapela renovação e reestruturação dos ser-viços em Benfica, matéria que a Federa-ção dos Sindicatos da Função Públicapretende discutir com o titular da pasta,sem que o ministro (até ao fecho destaedição) tenha dados sinais de abertura aod i á l o g o .

A transferência do LNIV para Vilado Conde constitui para o conjunto dosseus trabalhadores (investigadores, pes-soal técnico e administrativo) um fortemotivo de insatisfação e de preocupação,que a resolução aprovada a 1 de Feve-reiro explica e fundamenta assim:

"Esta decisão confronta os trabalha-dores com a opção entre uma deslocaçãopara mais de 300 quilómetros da sua resi-dência, com as consequências de ordem

pessoal, familiar e económica que issoacarreta e o serem colocados na situaçãode mobilidade especial, vendo assim pos-tos em causa os actuais níveis de venci-mento e as suas carreiras profissionais."

Por outro lado, o Governo põe assimem causa "o normal funcionamento doLaboratório", como se pormenoriza naabertura desta peça. Saliente-se que oLNIV tem funções de laboratório deReferência Nacional para o diagnósticolaboratorial das doenças animais, inclu-indo as zoonozes, bem como para as aná-lises de alimentação animal, para a pes-quisa de resíduos de substâncias proibi-das, de medicamentos veterinários econtaminantes ambientais, em produtosalimentares de origem animal e para osleites crus.

O LNIV, como alerta a resolução sin-dical aprovada em Lisboa, "poderá per-der esta capacidade, caso o Governoinsista no encerramento das instalaçõesde Benfica e no consequente desmem-bramento das actuais equipas de trabalhoacreditadas pelas instâncias comunitáriasde referência, sem levar a cabo um pro-cesso estruturado de construção de novasinstalações, ajustadas às necessidades daI n s t i t u i ç ã o . "

"A forma pouco sustentada, muito

apressada e até contraditória como oGoverno pretende concretizar este pro-cesso, assente apenas e só na " n e c e s s i -dade de redução de custos", está já aprovocar uma significativa instabilidadeinstitucional no LNIV, nomeadamentecom a demissão da sua direcção", sali-enta a resolução, que acrescenta:

"Este comportamento do Governo edesignadamente do Ministro da Agricul-tura é agravado pelo facto de se recusar adialogar com as organizações representa-tivas dos trabalhadores do LNIV."

O documento foi entregue, após oplenário, ao Chefe de Gabinete do Secre-tário de Estado Adjunto e da Agricultura,que se limitou a receber a delegação sin-dical e a assegurar que as preocupaçõesdo pessoal do Laboratório seriam trans-mitidas ao Gabinete do Ministro.

José Paulo OliveiraJornalista

Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV)

Política atabalhoada de "redução de custos" pode pôr em causa trabalho científico“A decisão tomada pelo Governo porá em causa o normal funcionamento do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV), já que ficará incapacitado de dar resposta às solicitações que se lhecolocam na concretização da política nacional de I&Ddo MADRP (Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas), no campo das Ciências Veterinárias, designadamente no domínioda Sanidade Animal e Higiene Pública e na execução de projectos nacionais e internacionais em curso.”

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OLaboratório Nacional de Investi-gação Veterinária é um Orga-nismo do MADRP, direccionado

essencialmente para a Investigação eDesenvolvimento, prestando tambémvários serviços à Comunidade. Noâmbito das suas atribuições, o LNIVcoordena, promove e concretiza a polí-tica nacional de I&D do MADRP naárea das Ciências Veterinárias, domíniosda Sanidade Animal e da HigienePública. Presta apoio laboratorial neces-sário às acções desenvolvidas pelo refe-rido Ministério e por outras entidadespúblicas e privadas, nacionais ou inter-nacionais e procede à certificação e con-trolo oficial dos laboratórios públicos eprivados que se dediquem a actividadesnas suas áreas de acção. O LNIV éLaboratório de Referência Nacional(LRN) para o diagnóstico laboratorialdas doenças dos animais e para a pes-quisa de resíduos em animais vivos eprodutos de origem animal, bem comode leites e seus derivados, e Laboratóriode Referência Internacional (LRI) para odiagnóstico laboratorial da Peripneumo-nia Contagiosa dos Bovinos (PPCB).

Princípios da política de qualidade

No âmbito de actuação do LNIV éimperioso que o serviço prestado peloLaboratório a outras entidades e à comu-nidade em geral seja formalmente reco-nhecido e integrado no Sistema Portu-guês da Qualidade, evidenciando clara-mente que o sis tema da qual idadeimplementado está em conformidadecom a NP 45001.

• Garantir resposta rápida e eficienteàs acções decorrentes do exercício dasactividades de exploração, profilaxia ediagnóstico das doenças dos animais,incluindo as zoonoses;

• Assegurar o apoio laboratorial efi-ciente e integro capaz de satisfazer asnecessidades actuais e futuras da inspec-ção sanitária, num quadro de confidenci-alidade, em todas as acções decorrentesda prevenção, controlo e melhoramentodo bem estar animal, nomeadamente noque respeita à prevenção e controlo dosriscos para a saúde pública dos produtosalimentares de origem animal; Atender atodas as disposições legais nacionais, da União Europeia (UE) e internacionais

JANEIRO 2007 ■ SUP AO N .º 214 7

A importância estratégica do LNIV

Demissões na sequência do anúncio do desmembramento

Maria Inácia Correia de Sá, directora do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária pediua demissão, na sequência de contactos telefónicos feitos por responsáveis do Ministério da Agricul-tura dando como iminente o encerramento das actuais instalações em Lisboa e a transferência demeios e pessoal para Vairão, Vila do Conde. As chefias de departamento e de serviços reuniram esolidarizaram-se maioritariamente com a directora (…).

Dado que investigadores e pessoal técnico têm a sua vida organizada em Lisboa, a perspectivade transferência para o Norte arrisca-se a ter pouca adesão. Na prática, isso significará, segundoum dos responsáveis do Laboratório contactados pelo EXPRESSO, "a desarticulação de equipasque demoraram anos a formar". Isso poderá pôr em causa "a qualidade e rapidez do diagnóstico"em áreas como as referidas, tanto mais que "não há outras pessoas rotinadas neste trabalho, pormuito academicamente graduadas que sejam". Também o grupo que acompanha a BSE (doençadas vacas loucas) se arrisca a ser desmembrado.

Ao contrário das instalações de Benfica, que são antigas e insuficientes para as necessidades,as de Vairão, construídas há 16 anos, estão claramente sobre-dimensionadas. Mas, na perspectivados investigadores "daí não se pode concluir que a solução seja a transferência de um sítio para ooutro". Chegou a estar equacionada a construção de novas instalações na Quinta do Marquês, emOeiras, solução considerada ideal "por permitir sinergias com unidades de investigação ali existen-tes, como o Instituto Gulbenkian de Ciência ou o Instituto de Tecnologia Química e Biológica[ITQB]"./Expresso, 4/01/2007

relativas à sanidade animal, inspecçãosanitária e à higiene dos alimentos deorigem animal;

• Respeitar os critérios gerais para ofuncionamento dos laboratórios deensaio contidos na NP EN 45001 e asse-gurar as condições necessárias à manu-tenção dessas medidas;

• Promover as acções que visem aimplementação de novos métodos analí-ticos e actualização e melhoria dosmétodos já existentes;

• Promover o empenhamento e infor-mação de todos os intervenientes no sis-tema da qualidade pelos meios que seconsiderarem mais adequados.

A política da qualidade do LNIVtem em vista:

• Garantir que os ensaios sejam execu-tados por pessoal qualificado e experiente;

• Garantir que os ensaios efectuados

sejam fiáveis e executados de acordocom as normas e/ ou procedimentos téc-nicos aplicáveis;

• Garantir condições de segurança econfidencialidade na execução dosensaios, com a observância do segredoprofissional relativamente às informa-ções adquiridas através dos ensaios rea-lizados.

• Garantir que os boletins de análisesejam validados e traduzam fielmente osresultados dos ensaios efectuados;

Para atingir os objectivos da política daqualidade do LNIV foi estabelecido umprograma que visa os seguintes pontos:

• melhorar sistematicamente a quali-dade de serviços do LNIV;

• assegurar a integridade das amostras; • identificar métodos analíticos que

satisfaçam as solicitações de controlo; • providenciar o registo permanente

da aptidão do equipamento tendo emvista a validação dos resultados e o pla-neamento coordenado das necessáriasreparações e substituições;

• manutenção de uma avaliação con-tínua da qualidade dos resultados produ-zidos;

• emitir boletins de análise com vali-dade legal;

• detectar necessidades de formação; • promover a conservação dos regis-

tos. ■

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8 SUP A O N .º 214 ■ JANE IRO 2007

ENTREVISTA

também no que se refere a mestres ed o u t o r e s. A política orçamental vertidano OE para 2007, apresentada pelo Go-verno e aprovada em São Bento pelabancada socialista, é, assim, gravosapara as necessidades do desenvolvi-mento do País, em particular, no que serefere ao aumento da qualidade de vida,do emprego e do ambiente, tendo comoobjectivo a melhoria dos indicadores quemostram que, nos últimos anos, nostemos afastado progressivamente dasmédias da União Europeia.

JF/Sup – Até onde chegam os cortesdecididos pelo Governo? Confirma-seque em certas instituições podemmesmo chegar aos 18 por cento? J. C. S. – Face às dotações iniciais de2006, verifica-se uma quebra nominalmédia significativa de 6,2 por cento nosorçamentos de funcionamento dos esta-belecimentos de ensino superior, quechega a ultrapassar os 7 por cento emalguns casos. Esta situação é tanto maisgrave quanto a dotação total propostapelo Governo para o funcionamento dasinstituições em 2007 fica apenas 3 porcento acima da projecção que o próprioMinistério faz do total das despesas comremunerações certas e permanentes em2006. A que distância vai já o objectivoque presidiu à elaboração de uma fór-mula de financiamento que era o de seatingir em poucos anos uma estruturaorçamental de 80 por cento para despe-sas de pessoal e 20 por cento para outrasdespesas!... Se considerarmos o ajustesalarial de 1,5 por cento, previsto para2007, verificamos que o total das trans-ferências do OE se aproximará aindamais do pagamento da totalidade dos

Professor João Cunha Serra ao JF/Sup:

“C o rtes financeiros em 2007vão ameaçar a qualidadedo Ensino Superior”

Texto: José Paulo Oliveira ■ Fotos: Jorge Caria

“Combinando todos os factores e considerando que ossaldos transitados são de facto recursos das instituições,verifica-se que o corte orçamental real que afectará asinstituições do Ensino Superior é de cerca de 16 porcento para 2007. Isto é assim, mesmo com a continuidade,para o próximo ano, do congelamento das progressõesnos escalões remuneratórios e das dotações dos quadros”,alerta João Cunha Serra, do Secretariado Nacional daFederação Nacional dos Professores, em entrevista aoJF/Sup. O coordenador do Departamento do EnsinoSuperior e Investigação da FENPROF, docente do Instituto Superior Técnico, regista que “estes cortesorçamentais ocorrem num momento em que seria necessário um maior investimento no Ensino Superiorpara que alguns dos fins de natureza pedagógica associados ao Processo de Bolonha – o acento tóniconos objectivos de aprendizagem dos alunos e a correspondente promoção do sucesso escolar e educativo – fossem concretizados”.

JF/Sup – Os cortes previstos para esteano de 2007 deixam as instituições deEnsino Superior numa situação difícil.Sendo este sector estratégico para odesenvolvimento do País, a f a c t u r a apagar por esta política de asfixiafinanceira poderá ser bem maispesada do que aquilo que a comuni-cação social tem comentado?Prof. João Cunha Serra – O Conheci -mento representa notoriamente um valorcrescente para o desenvolvimento sus-tentável das sociedades modernas. AoEnsino Superior, neste contexto, é

reconhecido um papel estratégico, nãoapenas no que se refere à criação doC o n h e c i m e n t o, mas também à sua dis-seminação na Sociedade, designada-mente pela formação de cidadãos alta-mente qualificadas nos diversosdomínios do saber. Como é sabido, onosso País exibe uma das mais baixastaxas de qualificação da populaçãoactiva entre os países da UE e da OCDE.O número de licenciados na populaçãoentre os 25 e os 64 anos (12%) é cercade metade tanto da média da UE comoda OCDE. Grande atraso verifica-se

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salários! Mesmo sem entrar com estefactor, verifica-se dos dados fornecidospelo MCTES que, de um total de 39instituições, há 16 (41 por cento) que seencontrarão, para 2007, com um orça-mento de funcionamento abaixo do valorprevisto para as despesas com saláriosem 2006, algumas delas atingindo dife-renças que ultrapassam os 10 por cento!Se, entretanto, se entrar em linha deconta com uma nova disposição incluídana lei do OE proposta pelo Governo(alínea a), do nº1, do artº18º), que obrigaas instituições a contribuírem para aCaixa Geral de Aposentações (CGA)com 7,5 por cento da massa salarialsujeita a cota, verifica-se que a diferençaentre o montante da despesa em salários,prevista para 2006, e as transferênciasdo OE para as instituições aumentarásubstancialmente quedando-se em per-centagem próximo dos 5,6 por cento.Este défice chega, no entanto, em algu-mas instituições, aos 18 por cento! Nema faculdade de usar, para este pagamentoadicional à CGA, os saldos transitadosque a Ministra Manuela Ferreira Leite“congelou”, vai melhorar a situação emmuitas instituições uma vez que, emalguns casos, a totalidade dos saldostransitados são saldos de projectos deinvestigação necessários para a sua exe-cução e, por outro lado, porque a suadelapidação irá provocar a erosão ou odesaparecimento do “volante” que per-mitia que as instituições pudessem fazerface aos atrasos dos pagamentos que severificam, designadamente nas activi-dades com financiamentos comunitários,e irá deixar as instituições para 2008sem essa “almofada”.

JF/Sup – O facto de o Ensino Supe-rior, ao contrário do sucedido em2006, ficar agora isento (nº3 do artº1º)da cativação de 5 por cento sobre ototal das verbas respeitantes aaquisição de bens e serviços, e abonosvariáveis e eventuais, não será umavantagem significativa?J. C. S. – Não. Com excepção naquelasinstituições que tenham elevados mon-tantes em verbas próprias, que assim nãoficarão sujeitas a desfalque como, deforma inaceitável, aconteceu este ano de2006, penalizando aquilo que suposta-mente se pretende incentivar: a procurade fontes alternativas de financiamento.Quão longe vão os tempos em que sefalava de “matching funds” que seriam

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"A FENPROF acompanhará de perto a evolução da intervenção do Governo no Ensino Superior

e na Ciência. Em particular, manterá todos os docentes e investigadores informados e mobilizados para:

contrariar eventuais actuações autoritárias por parte do Governo; obter o respeito e a melhor concretização

dos os princípios que defende e se encontram atrásexplicitados; garantir o envolvimento empenhado

de todos na concretização das transformações que efectivamente visem a melhoria da qualidade

e da relevância social do ensino superior e da investigação e a melhoria da situação profissional

dos docentes e investigadores."

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destinados a premiar as instituições quemais financiamento conseguiam fora doOE! Combinando todos os factores e con-siderando que os saldos transitados são defacto recursos das instituições, verifica-seque o corte orçamental real que afectaráas instituições do ensino superior é decerca de 16 por cento para 2007. Isto éassim, mesmo com a continuidade, para opróximo ano, do congelamento das pro-gressões nos escalões remuneratórios edas dotações dos quadros.

JF/Sup – No momento em que sepreparam para os desafios de Bolo-nha, as instituições são contempladascom estes cortes financeiros…J. C. S. – Esse é, na verdade, outroaspecto a ter em conta. Estes cortes orça-mentais ocorrem num momento em queseria necessário um maior investimentono Ensino Superior para que alguns dosfins de natureza pedagógica associadosao Processo de Bolonha – o acentotónico nos objectivos de aprendizagemdos alunos e a correspondente promoçãodo sucesso escolar e educativo – fossemconcretizados. A despesa por aluno noEnsino Superior é, no nosso País, infe-rior a 2/3 da média dos países da OCDEe cerca de 3/4 da média da UE19. Paraalém disso, Portugal é um dos cincopaíses da OCDE em que é menor arelação entre o que é gasto por aluno noensino superior e o que é despendido poraluno nos ensinos básico e secundário.Por outro lado, estes cortes orçamentaisnão podem este ano ser justificados pelaredução no número de alunos admitidosno ensino superior, visto que estes

aumentaram 7 por cento relativamenteao ano anterior, sem contar com osmaiores de 23 anos, que subiram muito,e os alunos dos Cursos de Especializa-ção Tecnológica que ainda aguardam apossibilidade de se inscrever.

Qualidade do Ensino ameaçada

JF/Sup – Ao nível da qualidade doensino, que consequências se podemesperar desta situação?J. C. S. – Este panorama orçamental,resultante de um corte nas despesas doEstado, que foi cego por não ter tido emconta a natureza estratégica para o Paísdo esforço de formação e de qualificaçãoda população activa, irá ameaçar a quali-dade de ensino; pressionará as insti-tuições a exigirem propinas elevadas aosalunos nos novos mestrados, desrespei-tando inclusive o estabelecido noDecreto-Lei 74/06 e agravando osobstáculos à frequência dos 2ºs ciclospor parte dos jovens com menores recur-sos; porá em causa a continuidade doscontratos de um grande número dedocentes, bem como os direitos que lhesestão associados, havendo já muitoscasos de não renovação de contratos e de“renovações” com menos direitos (redu-ção da duração dos contratos, variandoentre 3 meses e 1 ano, quando deveriaser de 2 anos; passagem forçada aoregime de tempo parcial, com a inerenteimpossibilidade de opção pela dedicaçãoexclusiva, ou imposição da assinatura deuma cláusula obrigando à permanênciano regime de tempo integral, sem dedi-cação exclusiva).

JF/Sup – Podemos afirmar que o Pro-cesso de Bolonha é uma jogadaestratégica do grande capital interna-cional, sujeito às pressões dos paísesmais influentes?J. C. S. – Em primeiro lugar – e isto semfugir à pergunta - penso que devemosrecordar que o Processo de Bolonhaevoluiu desde 1998 (Sorbonne) em para-lelo com a Estratégia de Lisboa (2000) ecom várias iniciativas da ComissãoEuropeia destinadas a realçar o papelestratégico do Ensino Superior e daInvestigação no aumento da competitivi-dade das economias dos países da UE,num mercado crescentemente globa-lizado. Neste enquadramento, o Processode Bolonha esteve e continua a estarsubmetido a múltiplas tensões e influên-cias, destacando-se as dos Governos dospaíses signatários, as dos representantesdas Instituições do Ensino Superior e asda Comissão Europeia, cada uma destasentidades com a sua “agenda” própria,determinada pelas realidades e objec-tivos do âmbito da respectiva acçãopolít ica. Pode-se dizer que a forçaimpulsionadora dominante do Processode Bolonha foi a percepção dos gover-nos dos países mais ricos da Europa e,em especial, das suas grandes empresas,de que, para competirem com mais êxitono mercado global, precisavam de tirarmais partido do Ensino Superior, no queconcerne à formação, num tempo maiscurto e, logo, menos oneroso, dos profis -sionais melhor adequados às necessi-dades da competitividade económica, enecessitavam de atrair “cérebros” defora do espaço europeu, bem como deatrair, para os países mais desenvolvidosdo centro da Europa, “cérebros” dospaíses europeus menos desenvolvidos.Daqui a ênfase inicial do Processo daBolonha na redução da duração dos 1°sciclos, na mobilidade dos estudantes noespaço europeu, e na legibilidade e har-monização das ofertas formativas.

JF/Sup – Que papel tem desempe-nhado a Comissão Europeia?J. C. S. – Tem procurado com êxitocrescente tomar as rédeas do processo esubmetê-lo à sua agenda vincadamenteneoliberal. O objectivo de mimetizar osEUA é preocupante, dada a prevalênciaque aí se verifica dos valores da com-petição face aos da cooperação, soli-dariedade e coesão social. A concen-tração de meios materiais e humanos nos

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ENTREVISTA

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países mais desenvolvidos, a pretexto dacriação de massas críticas (veja-se a pro-posta de criação de um Instituto Europeude Tecnologia), põe em risco a afir-mação e o reforço das comunidadesacadémicas de países como Portugal e acapacidade destes para usar a Ciência e aCultura, em benefício de objectivosnacionais.

A atracção de “cérebros”

JF/Sup – Numa primeira etapa,parece que Bolonha passou um poucoao lado aqui no nosso País…J. C. S. – Em Portugal, os objectivos deBolonha nunca foram muito mobi-lizadores, nem dos governos, nem dacomunidade académica. Tal deve-se, porum lado, à percepção desta última deque se trata de um processo alienígena e,por outro, à inexistência de uma visãoestratégica para o Ensino Superior, porparte dos governos, em parte comoresultado de um sistema produtivo fracoe pouco dinâmico que tem atribuídoreduzido valor ao contributo de quadroscom elevadas qualificações académicaspara o aumento da produtividade e dacompetitividade. Na realidade, o nívelde investimento na investigação nasempresas em Portugal continua a ser dosmais baixos entre os membros da UE.Por outro lado, a atracção de “cérebros”que interessa ao país, não é tanto a de“cérebros” estrangeiros mas a de “cére-bros” portugueses que vão sendo forma-dos e que não encontram colocaçãocondigna no nosso país, por défice deemprego científico.

JF/Sup – Entre nós, Bolonha é umtema que acabou também por estarassociado ao financiamento…J. C. S. – O Processo de Bolonha desen-volveu-se entre nós de forma hesitante eaos arranques, sobretudo impulsionadopela necessidade de o País não fazerfraca figura a nível das Conferências deBolonha (1999), Praga (2001), Berlim(2003) e Bergen (2005) e pela perspec-tiva de os governos conseguirem umalegitimação externa para intervirem nosistema que tinha evoluído de formadesregulada e ao sabor de interessesinstalados, quer nas próprias instituições,quer ao nível do poder local, cominfluência no poder central, designada-mente pela cobrança de promessaseleitoralistas. Entretanto, a suspeita de

que a aplicação do Processo de Bolonhavisava a redução do financiamento doEstado veio condicionar fortemente asdecisões internas das instituições públi-cas quanto às propostas de adequação deantigos cursos e às propostas de novoscursos. Resistências à redução da dura-ção de muitas licenciaturas encontram aía sua explicação. A fórmula de financia-mento, contudo, contabiliza tanto osalunos dos 1°s ciclos como os dos 2°s. ODecreto-Lei n° 74/06, apenas permite afixação livre das propinas às instituiçõesque ofereçam 2°s ciclos que não sejamnecessários para o exercício de uma pro-fissão. Nos restantes casos, as propinasterão que obedecer aos limites fixadospara os 1°s ciclos.

JF/Sup – Bolonha não pode ser umaespécie de bode expiatório para umapolítica de cortes financeiros…J. C. S. – As preocupações com aredução do financiamento, não têm tantoa ver com a aplicação de Bolonha e, emparticular, com diferenças de tratamentoentre alunos do 1° e do 2° ciclos, masmuito mais com a redução do montanteglobal atribuído para os orçamentos defuncionamento das instituições de ensinosuperior, que não tem a sua justificaçãono Processo de Bolonha, mas representauma tendência permanente, agora acen-tuada a pretexto da necessidade de “con-solidação das contas públicas”. Noentanto, uma efectiva aplicação do Pro-cesso de Bolonha a nível de cada insti-tuição, naquilo que corresponde aosobjectivos de elevação da qualidade dassuas actividades de acordo com padrõesde exigência internacionalmente reco-nhecidos, em particular no que se refereà melhoria da aprendizagem dos alunose ao aumento das qualificações da popu-lação, exigiria mais recursos.

JF/Sup – O que é que está a ser pedi-do às instituições?J. C. S. – Que façam mais e melhor commenos recursos. Embora esse seja umobjectivo que deve estar sempre pre-sente, ele torna-se de impossível apli-cação prática quando os níveis de finan-ciamento descem abaixo do limiar dasobrevivência, como em muitos casos jáacontece. Em particular, mesmo no grau

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"Dos dados fornecidos pelo MCTES verifica-se que, de um total de 39 instituições, há 16 (41 por cento)que se encontrarão, para 2007, com um orçamento de funcionamento abaixo do valor previsto para asdespesas com salários em 2006, algumas delas atingindo diferenças que ultrapassam os 10 por cento!"

“Lutamos, sublinho estaideia, por um estatuto profissional dos docentes e dos investigadores exigente nas qualificaçõesa alcançar e recompensadorda melhoria dos desempenhos e das qualificações, com base emprocedimentos adequados,equitativos e transparentesde avaliação.”

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mínimo de aplicação do Processo deBolonha – adequação dos cursos aonúmero de anos (ECTS) exigido – está--se a pedir às instituições que forneçamno mesmo tempo lectivo formações demaior qualificação. Na realidade, pormais semelhanças que os novos mestra-dos tenham com as antigas licenciaturas,de onde na maioria dos casos provêm, osnovos mestrados representam uma quali-ficação superior que tem custos acresci-dos. Esta situação, num contexto de forteredução orçamental, não poderá deixarde se repercut ir negativamente nosucesso escolar e educativo dos alunos,se não for invertida a actual política dediminuição do financiamento público.

JF/Sup – A aplicação do Processo deBolonha em Portugal tem sido mar-cada por outras condicionantes… J. C. S. – Por exemplo, o facto de ocor-rer num contexto de forte redução donúmero de candidatos à formação ini-cial, diminuição esta que tem penalizadofinanceiramente as instituições maisafectadas. Este factor, conjugado com afixação de um número mínimo de alunospara o financiamento de cursos, com aintrodução de notas mínimas nas disci-plinas específicas e com a entrada emvigor de um regime de prescrições (difi-culdades algo compensadas este anocom a liberalização do acesso de alunosmaiores de 23 anos), veio acentuar acompetição entre instituições pelo maiornúmero possível de alunos. Mais do quena possível discriminação do financia-mento entre alunos de 1° e de 2° ciclos,que não se verifica neste momento, o

problema está no número de alunos quecondiciona o nível de financiamento decada instituição no âmbito da repartiçãodo montante global aprovado pelosgovernos, feita com base numa fórmula.

JF/Sup – Que consequências tem estacompetição agressiva pela captação dealunos? J. C. S. – Na ausência da regulação ade-quada, tem levado à utilização de inicia-tivas de m a r k e t i n g usando Bolonhacomo uma imagem de modernidade(publicidade enganosa) e à adopção deelencos de disciplinas específicas menosexigentes, fugindo à obrigatoriedade deobtenção de nota mínima na Matemá-tica, na Física ou na Química (concor-rência desleal entre instituições con-géneres). Além da modificação da desig-nação de cursos com dificuldade deatracção de candidatos de forma a asso-ciá-los a área com maior procura, comoé o caso de tudo o que use o prefixo bio,o que é feito, por vezes, sem qualqueralteração curricular que minimamente ojustifique (publicidade enganosa), temosassistido à apresentação de uma grandepaleta de novos mestrados (ilusão de quequanto mais forem propostos maior aprobabilidade de aprovação dos sufi-cientes e ideia de que os aprovadosgarantiriam a continuidade do empregodos docentes neles envolvidos) e tam-bém à facilitação, em alguns casos anível do escandaloso, do ingresso decandidatos maiores de 23 anos (objec-tivo de compensação do preenchimentoincompleto das vagas fixadas para oscursos).

JF/Sup – As preocupações específicascom o financiamento dos 2°s ciclossão, justificadas, no caso de insti-tuições que já tinham uma importanteoferta de mestrados (com propinaselevadas), como forma de compen-sação pela redução do financiamentodo Estado…J. C. S. – Em áreas como a Engenharia,em que os novos mestrados são obri-gatórios para o exercício de uma profis-são, as propinas no 2° ciclo, de acordocom a lei, terão que ser iguais às do 1°.Nestes casos, a aplicação de Bolonha vaitraduzir-se numa redução de receitas,apenas compensável pela ampliação deofertas de formação de 3° ciclo, queconduza a um aumento significativo donúmero de alunos a pagarem propinas devalor elevado, o que não é realizável noimediato. É diferente a situação noscasos de cursos de 2° ciclo que têm difi-culdade em ser aceites como necessáriosao exercício de uma profissão, no sen-tido errado, tradicionalista, em quematérias como Grego ou Filosofia seensinam apenas para deleite intelectualde cidadãos estranhos e não como activi-dade profissional com relevância social.

1 2 SUP AO N .º 214 ■ JANEIRO 2007

ENTREVISTA

Duas palavras sobre

Reorganização do sistema de Ensino Superior

"A reorganização do sistema de ensino superior, em perspectiva, que poderá alterar as actuaissituações de exercício do trabalho de docentes, investigadores, não-docentes e alunos, tem queser, do ponto de vista processual, explicada nos seus fundamentos e discutida, antes de aprovada,com os docentes e os investigadores, com os não-docentes e os alunos, em geral, e com os seusrepresentantes, em particular.

Tal reorganização deve ser capaz de captar a participação empenhada da maioria dos que tra-balham e estudam nas instituições, não devendo, assim, ser imposta de cima para baixo e deve serrespeitadora das pessoas que trabalham nas instituições, encontrando, em diálogo com elas, assoluções que melhor compatibilizem a salvaguarda do interesse público e com os legítimos interes-ses individuais de cada um."

João Cunha Serra

"O Ensino Superior é umsector onde há já muitosanos não se verificam derrapagens orçamentais,que vem cumprindo escrupulosamente os orçamentos aprovados aos quais acrescenta, paraalém das transferências do OE, uma considerávelsoma de verbas própriasresultantes de propinas ede projectos de investigaçãoe de ligação à comunidade.Trata-se de um sectorestratégico para o desenvolvimento do País e para a ultrapassagem das actuais dificuldades da economia.”

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Nestes casos, aparentemente, as institui-ções estariam em melhor posição, poisteriam cobertura legal para cobrar, naque-les cursos, as propinas que entendessem.No entanto, receios de redução donúmero de alunos interessados nainscrição nesses cursos (ou por se satis-fazerem com a nova licenciatura maiscurta, ou por serem desincentivados devi-do ao valor alto das propinas) e/ou razõesde equidade entre alunos dos 2°s ciclos(necessários ou não para uma profissão)da mesma escola, têm levado as insti-tuições a hesitar na fixação de propinasaltas nestes 2°s ciclos, pois, se o fizeremarriscam-se a perder mais alunos.

JF/Sup – Há sectores mais ameaça-dos?J. C. S. – Esta situação ameaça grandesáreas disciplinares como é o caso dasCiências Sociais e Humanas, onde onúmero de alunos poderá vir a reduzir-sede forma quase proporcional à reduçãodo número de anos das licenciaturas,pondo em risco a projecção social dessasáreas, bem como o emprego e as condi-ções de trabalho de muitos docentes.Quanto às instituições politécnicas ondea leccionação de mestrados se encon-

trava vedada, também é preciso analisara questão do financiamento dos 2°sciclos em conjugação com a necessidadede assegurar um número suficiente dealunos.

JF/Sup – Os Politécnicos, de acordocom o Decreto-Lei 74/06, não poderãocontinuar, a partir do ano lectivo de2010/2011, com as actuais licencia-turas bi-etápicas. Que situações estãoprevistas?J. C. S. – A duração dos seus 1°s ciclosfoi fixada por lei em três anos. Precisam,assim, de ver aprovada uma quantidadesuficiente de cursos de 2° ciclo que lhesgaranta um número de alunos seme-lhante àquele que têm tido, o que lhesasseguraria um financiamento cuja vari-ação não seria influenciada por essavariável. No entanto, o Governo está aatrasar a decisão sobre as propostas de2°s ciclos apresentadas pelos Politécni-cos, aumentando assim a instabilidadeque se vive nessas instituições.

JF/Sup – Que consequências pode teresse atraso?J. C. S. – Este atraso ameaça prejudicara atractibilidade de alunos por parte do

Politécnico face a instituições univer-sitárias das mesmas áreas de formação,já em condições de oferecer os novos2°s ciclos. Este atraso pode indiciar umaintenção política de recusar em regra,com algumas excepções, a aprovação demestrados no Politécnico, invocando ainexistência de condições para o efeito,designadamente no que se refere a quali-ficações dos corpos docentes das insti-tuições, remetendo este subsistema paraum papel praticamente limitado a 1°sciclos e a cursos pós-secundários. Podeainda este atraso ter resultado de umadecisão política de esperar pelas medi-das de “racionalização”, “reorganiza-ção”, ou “reestruturação” da redepública de ensino superior que o Gover-no esperaria fazer na sequência da divul-gação pública do relatório da avaliaçãodo sistema, realizada pela OCDE (13 deDezembro de 2006). Atendendo à continuada redução dofinanciamento público do ensino supe-rior e, em particular, à grande dimensãodo corte para 2007, não espanta que asinstituições que ainda não se encon-travam a cobrar as propinas pelo valormáximo legal tivessem aprovado aumen-tos para o actual ano lectivo.

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"o Processo de Bolonha esteve e continua a estar submetido a múltiplas tensões e influências, destacando-se as dos Governos dos países signatários, as dosrepresentantes das Instituições do Ensino Superior e as da Comissão Europeia, cada uma destas entidades com a sua "agenda" própria, determinada pelasrealidades e objectivos do âmbito da respectiva acção política"

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um “grupo dinamizador do Processo deBolonha” que nunca chegou a con-cretizar-se. Em vez dele foi criada uma“comissão de acompanhamento do pro-cesso de adequação dos cursos” especifi-camente para apoiar a DGES nos pro-cedimentos, portanto de âmbito de actua-ção muito diferente da ideia original.

JF/Sup – O Governo lançou poucotempo depois da sua tomada de possevários processos de avaliação: um pelaOCDE (sistema de Ensino Superior),outro pela ENQA (sistema de avalia-ção) e outro pela EUA (algumas insti-tuições). Que se pode esperar dodesenvolvimento destes processos?J. C. S. – É expectável e o Primeiro-Ministro já o anunciou que, uma vezconcluídos, estes processos sejam segui-dos de um conjunto de iniciativas legis-lativas com vista a uma profunda trans-formação do sistema de Ensino Superior,no que se refere à reestruturação da redede estabelecimentos, incluindo a clarifi-cação do futuro dos Politécnicos; aoregime jurídico das instituições; ao sis-tema de avaliação e de acreditação; àrevisão das carreiras docentes.

JF/Sup – Voltamos, então, ao Processode Bolonha…J. C. S. – Enquanto o relatório da OCDEnão era apresentado, o MCTES estevenum compasso de espera, sem assumircompromissos dificilmente reversíveis,cumprindo os mínimos no que se referea Bolonha, e transmitindo a imagempública de que aguardava a legitimaçãopor parte das entidades externas avalia-doras que lhe permitisse quebrar eventu-ais resistências às transformações quepretendia fazer no ensino superior.

Esta imagem acabou por se reforçar apartir do momento em que se instalou asuspeita, justificada por actos ou omis-sões do MCTES, de que os violentoscortes orçamentais propostos para 2007e a retenção da aprovação de mestradospara o Politécnico se destinavam adeixar muitas instituições em estado degrande vulnerabilidade mesmo a "pedir"uma intervenção radical de extinção,pois era então bastante plausível que aOCDE viesse a propor medidas drásticasdessa natureza, suspeita esta que o climade boatos que se instalou veio acentuar. Deste modo, várias instituições, porinstinto de sobrevivência, envolveram-seem processos irracionais de emagreci-mento do seu pessoal docente, não reno-vando contratos a muitos docentes,inclusive com doutoramento, bem comoreduzindo os custos salariais nos proces-sos de "renovação" de outros, perdendoenergias que melhor seriam empreguesem actividades de promoção do sucessoescolar e de aumento da relevânciasocial das formações. A proposta de lei do OE para 2007, aodeixar as instituições em grandes dificul-dades orçamentais, prepara o caminhopara a racionalização da rede, pois deixamuitas das instituições em estado deenorme vulnerabilidade, a “justificar”uma intervenção racionalizadora. Outroexemplo é o da aprovação dos cursosque, sendo sempre importante, assumeuma importância ainda maior no actualcontexto de grandes apertos orçamentaispor constituir mais um factor que poderápôr em causa a viabilidade financeira demuitas instituições, em particular no querespeita à sua capacidade para pagar ossalários do seu pessoal docente e não--docente. A importância política desta

JF/Sup – Poderão surgir aumentosnas propinas? J. C. S. – Efectivamente, a persistir ocorte orçamental proposto pelo Governopara 2007 e a não ser invertida a políticaactual de redução do financiamento doEstado, será expectável que para man-terem a qualidade, as instituições pre-tendam aplicar a todos os 2°s ciclos,propinas mais elevadas do que o valormáximo permitido nos 1°s ciclos, ou quecarreguem nas propinas dos 2°s ciclosdas Ciências Sociais e Humanas, agra -vando a discriminação de que já hojesofrem. Ainda mais do que isto, será deesperar que passem a pressionar o poderpolítico no sentido do aumento daspropinas, fixadas por lei, acima do actualmáximo, agravando a selectividadeeconómica e social do sistema de ensino.

JF/Sup – O processo de aprovação daspropostas de novos cursos e de ade-quação dos cursos existentes temvindo a desenvolver-se, como a FEN-PROF já alertou, num quadro de faltade orientações gerais e específicassuficientes por parte da tutela, prepa-radas com o tempo necessário paraque fosse estimulada a participaçãodos docentes e de todas as entidadesinteressadas no processo. Qual é opapel da tutela nesta matéria?J. C. S. – Limitou-se a cumprir os míni-mos de forma atrasada e precipitada (odiploma do regime jurídico dos graus ediplomas foi publicado apenas umasemana antes do final do prazo paraapresentação de propostas destinadas aoactual ano lectivo e os despachos queaprovaram as normas técnicas de organi-zação dos processos foram publicadasno próprio dia do fim desse prazo). Atutela demitiu-se, deste modo, da suafunção reguladora, facilitando e pro-movendo os confrontos internos de tipocorporativo, no final dos quais é muitoduvidoso que em todos os casos tenhaacabado por prevalecer o interessepúblico. Em particular, foram em geraldesvalorizados os objectivos de Bolonharelativos à centragem dos processos deensino nos objectivos de aprendizagemdos alunos. Também aqui a tutela serevelou totalmente insensível à necessi-dade de apoiar as instituições e osdocentes em geral para as tarefas decor-rentes daquela mudança de paradigma.A este respeito, foi anunciada pelatutela, há cerca de um ano, a criação de

1 4 SUP AO N .º 214 ■ JANEIRO 2007

ENTREVISTA

"O significativo reforço das dotações para a Ciência,sector em que é igualmente fundamental investir,

com uma boa relação custo/benefício – o que está porcomprovar no caso dos recentes acordos assinados como MIT e com a CMU – não pode fazer esquecer que são

os docentes do ensino superior quem mais contribuipara a investigação e a inovação em Portugal, pelo que a

promoção do emprego científico – objectivo definidopor este Governo – exige que os recursos humanos noensino superior não sejam diminuídos mas que sejam

aproveitados com maior racionalidade e eficácia."

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"O Processo de Bolonha tem-se desenrolado num ambiente de deficiente regulação e de falta

de informação por parte da tutela, tendo-se até agoracaracterizado por muita polémica, muita propaganda,

muita cosmética, mas pouca participação e pouca mudança de fundo no que se refere

àquilo que o País precisa."

questão, que se prende com o futuro dopróprio sistema, no que se refere à reor-ganização da oferta formativa, regional-mente e por tipos de instituições, nãoescapou obviamente ao MCTES.

JF/Sup – Haveria outras soluções,outros caminhos?J. C. S. – Claro que sim. Em 1º lugarteria sido fundamental não desinvestirno Ensino Superior dada a sua importân-cia estratégica para o desenvolvimentodo país. Por outro lado, o Processo deBolonha deveria ter sido mais apoiadopela tutela e ter sido proporcionado àsinstituições o tempo necessário à suaadequação a regras claras publicadascom a devida antecedência. Teria sidomais do interesse do próprio Ministérioo adiamento por mais um ano da entradaem vigor dos cursos no novo figurino deBolonha. Contudo, a necessidade demostrar serviço na nível da Conferênciade Londres, em 2007, e as pressões dasinstituições mais avançadas no processo,que desejavam tirar partido do carimbode Bolonha, por razões de prestígio e demarketing, levaram o MCTES a admitirque alguns cursos reformulados àBolonha entrassem já em vigor em2006/2007. Daqui o atraso na publicaçãodo D.-L. 74/06 se poder melhor entendercomo uma forma de dissuadir a apresen-tação de muitas propostas para terem iní-cio em 2006 e não tanto por incompetên-cia do MCTES. Em qualquer caso, o quese verificou foi a apresentação de umenorme volume de propostas que oMCTES não esperava e que vieramservir de justificação para o protela-mento da decisão nos casos que a futurareorganização da rede mais poderá influ-enciar: os Politécnicos. A FENPROF tem criticado a formadesregulada como o sistema (público eprivado) tem evoluído, sem que tenhamtido efeitos práticos relevantes os discur-sos dos governantes, a legislação entre-tanto produzida e a avaliação que temsido efectuada às ofertas formativas. Os procedimentos de aprovação dos cur-sos foram entregues a uma entidade go-vermentalizada: a Direcção Geral doEnsino Superior, sem garantias deidoneidade e de transparência, em vez deo ser a uma entidade independente, que,por desactivação do CNAVES e porainda não existir a futura Agência deAcreditação (criada pelo D.-L. 74/06),foi tornada indisponível.

JF/Sup – Que sugestões tem a FEN-PROF para a racionalização do sis-tema Ensino Superior? J. C. S. – Na convicção de que o inte-resse do desenvolvimento do País assimo exige, mas ainda na certeza de quedisso depende, também, o prestígiosocial dos docentes do Ensino Superior edos investigadores, e o retorno que estespoderão obter da sociedade, no que serefere ao seu estatuto profissional, aFENPROF tem: proposto a racionaliza-ção do sistema pela via da criação deincentivos ao estabelecimento de con-vénios e consórcios entre instituições,nomeadamente de âmbito regional.E mais: tem pugnado pelo aumento darelevância social e da qualidade dasactividades prosseguidas por todos osestabelecimentos de ensino superior etem defendido a promoção do sucessoescolar e educativo dos alunos e oaumento da democratização no acesso ena frequência. Temos proposto umamaior responsabilização das instituições

pela prestação de contas quanto à formacomo utilizam os recursos públicos pos-tos à sua disposição e temos defendido acriação das melhores condições para aexistência de corpos docentes próprios eadequadamente qualificados em todas asinstituições sejam elas públicas ou pri-vadas. Lutamos, sublinho esta ideia, porum estatuto profissional dos docentes edos investigadores exigente nas qualifi-cações a alcançar e recompensador damelhoria dos desempenhos e das qualifi-cações, com base em procedimentosadequados, equitativos e transparentesde avaliação.

JF/Sup – Como é que a FENPROFencara a reorganização do sistema,quanto ao conteúdo ?J. C. S. – Na nossa opinião, em primeirolugar é necessário encarar o sistema, noque se refere a recursos e a atribuição degraus académicos, como um sistemaintegrado, cuja diversificação deverá serrealizada e apoiada por meio de incen-

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tivos especificamente destinados a esseefeito e não por intermédio de restriçõesde tipo administrativo ou financeiro.Depois, entre outros aspectos, énecessário assegurar a responsabilizaçãodo Estado pelo financiamento do EnsinoSuperior Público; e a independência dasinstituições face ao poder económico, deforma a poderem resistir às tentativas demercadorização do ensino superior e desubmissão das suas actividades aosobjectivos imediatistas do mercado.Outras perspectivas que consideramoscentrais são o não aumento das propinasdo 1° ciclo e propinas em todos os 2°ciclos não superiores às dos 1°s, bemcomo o reforço da Acção Social Escolar;o aumento do emprego científico e anecessidade de renovação dos corposdocentes e de investigação, na perspec-tiva, desde logo, de que as capacidadesinstaladas em meios humanos no ensinosuperior não são demais para as tarefasque o sector enfrenta no interesse dodesenvolvimento do país; a colegiali-dade das decisões, no âmbito de umagestão democrática ou participativa, efi-

caz e respeitadora das diferentes com-petências e papéis dos que trabalham eestudam nas instituições; a audição efec-tiva, com expressão pública, dos interes-sados externos no produto das activi-dades das instituições; e a criação decondições necessárias para o exercício,por docentes e investigadores, das liber-dades académicas no ensino e na investi-gação e para a livre expressão daopinião, incluindo sobre assuntos inter-nos das respectivas instituições.

JF/Sup – A FENPROF tem tambémpropostas quanto à regulação do sis-tema. Pode apontar-nos apenas oseixos fundamentais dessas propostas?J. C. S. – Um deles aponta para a neces-sidade de definição de critérios para adistribuição geográfica das ofertas for-mativas, tendo como referência ocumprimento do imperativo constitu-cional da criação de uma rede de esta-belecimentos públicos de ensino quecubra as necessidades de toda a popu-lação. Consideramos também de grandeimportância, por um lado, a fixação de

regras para as designações que os cursospoderão adoptar para serem acreditadose reconhecidos; e, por outro lado, adefinição das diferentes áreas disci-plinares ou cient íficas que podemcorresponder à descrição curricular doscursos para que possam ser acreditados ereconhecidos. A criação de um colégioda especialidade para cada uma dessasáreas disciplinares ou científicas, com asfunções de se pronunciar sobre questõesdo sistema, das formações e da investi-gação, relativas a essa área, e de indi-carem os membros dos júris para provase concursos associados às carreiras dedocentes e investigadores, é outra pro-posta da Federação Nacional dos Profes-sores. Não podemos deixar de referir também anecessidade de fixação das condiçõesmínimas a que deve obedecer o acessoaos cursos, designadamente, no que serefere às disciplinas específicas em que éobrigatória a nota mínima para acesso àinscrição no curso; e, igualmente, dascondições mínimas gerais para o acessode candidatos maiores de 23 anos. ■

1 6 SUP AO N .º 214 ■ JANEIRO 2007

NACIONAL

O actual quadro político e as perspectivas que se perfilam para 2007, mos-tram-nos um cenário em que, inevitavelmente, se irá agudizar a conflituali-dade social. A Proposta de Orçamento de Estado para 2007 confirma essasituação na medida em que prosseguem as políticas seguidas nos anos ante-riores, centradas no cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento eno objectivo absolutista do combate ao défice orçamental. O OE traduz a faltade uma estratégia de desenvolvimento e acentua a divergência com a UniãoEuropeia; diminui o investimento público e prossegue a política de privatiza-

ções; não estimula o indispensável crescimento do emprego; acentua desi-gualdades e injustiças, designadamente por via da política fiscal; fragiliza osdireitos dos cidadãos na saúde, no ensino, na segurança social; agrava ascondições de vida e de trabalho da maioria dos portugueses, destaca a reso-lução aprovada no passado dia 25 de Novembro, na acção nacional de luta eprotesto que a CGTP-IN realizou em todo o País. A FENPROF, o SNESup e aABIC associaram-se a esta jornada, desfilando em Lisboa activistas e dirigentesdas três organizações

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JANEI RO 2007 ■ SUP A O N .º 214 1 7

Ao sublinhar que "o reconhecimentoda necessidade de intervenção doGoverno não desresponsabiliza as uni-versidades pelo estado e pela reforma doEnsino Superior", o Reitor da Universi-dade dos Açores observou:

"É bem sabido que na busca de solu-ções para problemas novos seguimosgeralmente as vias mais cómodas daresistência e da multiplicação, em detri-mento das condutas mais aconselháveisda reflexão e do planeamento."

"A reforma do Ensino Superior",acrescentou, "sendo uma tarefa política,não dispensa a cooperação académica,exige o desenvolvimento do diálogoentre a tutela e as universidades e ospolitécnicos".

"Contudo, a indiferença e a crispaçãoministeriais do passado mais recente nãoauguram grande sucesso", realçou Frei-tas Meneses, que registou a propósito:

"Neste capítulo, impõe-se uma inver-são de procedimentos. Além disso,importa que a reforma saiba arregimen-tar vontades. Em primeiro lugar, asvontades individuais, para que se trans-formem em empenho colectivo. Poracréscimo, a reforma carece, necessaria-mente, de objectivos claros, distintos emobilizadores, para que se pressinta queresultará em melhoria das instituições eda sociedade portuguesa. Que a reformado Ensino Superior não seja só um meiode racionalização de recursos humanos emateriais, isto é, apenas um instrumentopolítico de combate ao défice. Se assimfor, ficará desprovida de ideais, simples-mente guiada pela cegueira dos cortes.Tenderá também à dispensa e ao des-prezo dos principais agentes do EnsinoSuperior, sejam eles os docentes, osestudantes ou os funcionários. Será,então, alvo de resistências e de repulsas,resultando em coisa nenhuma." ■

São palavras do Magnífico Reitorda Universidade dos Açores eforam proferidas no Teatro Faya-

lense, na cidade da Horta, no passadodia 9 de Janeiro, por ocasião do 31º ani-versário da UA. Além da intervenção doProfessor Doutor Avelino de FreitasMeneses, a sessão incluiu uma Oraçãode Sapiência subordinada ao tema"Determinação da idade e crescimentoem peixes ósseos através da utilizaçãode estruturas duras: a perspectiva de umbiólogo pesqueiro", pelo Doutor Edu-ardo José L. F. Isidro, do Departamentode Oceanografia e Pescas. Registou-setambém a actuação do Quinteto do Con-servatório Regional da Horta.

O programa das comemorações dos31 anos de trabalho da UA incluiu aindaa inauguração, no dia 8 de Janeiro, doCentro de Interpretação Marinha Virtualdos Açores.

Comentando a questão da responsa-bilidade do Estado em matéria de EnsinoSuperior, o Professor Avelino de FreitasMeneses afirmaria a dado passo:

"Os instrumentos reguladores daactividade universitária – a autonomia, aavaliação e a carreira docente – eviden-ciam desactualização e contradições, emconsequência de uma promulgação semestratégia, que origina uma profundadesordenação. Daí, a necessidade de umprojecto de reforma, uma tarefa que,embora exigindo a cooperação acadé-mica, é um encargo estatal.

"A reforma do Ensino Superior nãopode, entretanto, cingir-se à legislação.Com efeito, deve envolver também a reor-denação da rede de estabelecimentos esco-lares e a reorganização da oferta lectiva.Por maioria de razão, a reforma é sobre-tudo uma incumbência governamental,nunca somente uma missão académica."

Reitor Avelino de Freitas Meneses no 31º aniversário da Universidade dos Açores:

“Não proporemosdespedimentos porrazões orçamentais”

“Sem qualquer pretensão de desafio, sem qualquerintento de desobediência, não proporemos despedimen-tos por razões orçamentais, porque o nosso pessoal é, nasua essência, indispensável ao cumprimento da nossamissão. O excesso de docentes é o resultado da tripolaridade, que obriga à duplicação e à triplicaçãode recursos humanos e materiais. O excesso de funcionários é um artifício da política. Na verdade,deriva da obrigatoriedade imposta por um decreto-lei de 1996, que determinou a integração de 79 pessoas, na altura participantes em programas eventuais. Entretanto, agiremos no sentido de reduzir a nossadependência de colaboradores, cuja participação no quotidiano institucional deve fazer-se a título mais precário e mais excepcional.”

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tomada de decisões e nas exigênciasimpostas ao pessoal docente para manterum fluxo regular de investigação e depublicações para cumprir objectivosarbitrariamente estabelecidos. O financi-amento da investigação é um aspecto asuscitar crescente preocupação, uma vezque as agências financiadoras sujeitam ouso dessas verbas ao cumprimento deuma série de condições (por exemplo,quanto à publicação ou à utilização dosresultados da investigação). São portantopreocupantes os sinais do aumento daburocracia e do controlo, controlo polí-tico do uso dos recursos da investigaçãoe da redução da liberdade de publicação.

Liberdades académicas e autonomia institucional

É cada vez mais usado o argumento– especialmente por parte dos emprega-dores – de que a liberdade académicapode servir para proteger aqueles quedemonstram baixa produtividade. Rejei-tamos a perspectiva de que os princípiosda liberdade académica possam ser utili-zados neste contexto pois a liberdadeacadémica não é a liberdade de nãocumprir as obrigações próprias da activi-dade académica. Em muitos casos, argu-mentos como este servem de justificaçãopara reduzir o número de postos de tra-balho permanente . Tais argumentosameaçam o interesse colectivo dosdocentes, portanto qualquer tentativa dejustificar o incumprimento funcionalatravés da liberdade académica deve serfortemente contrariada.

Além do mais, o exercício das liber-dades académicas está intrinsecamenteligado ao princípio da autonomia institu-cional e ao próprio estatuto dos docen-tes. Assim, as actuais tendências para oenfraquecimento dos vínculos contratu-ais têm efeitos devastadores na liberdadeacadémica. Hoje pode sem qualquerdúvida afirmar-se que há cada vez maisvínculos precários e menos docentescom vínculo permanente que possam

Ofundamento para a liberdade aca-démica encontra-se no facto de servital para o desenvolvimento do

conhecimento e da ciência e para a suadisseminação. Para o seu exercício énecessário que o Estado e a sociedadegarantam aos docentes do ensino supe-rior um ambiente de trabalho favorável àprossecução da sua actividade sem medode medidas restritivas ou repressivas,sem ameaças à sua independência, à suacarreira, e até em certos casos, à sualiberdade pessoal e à sua vida. As liber-dades académicas não se podem confun-dir com o exercício dos direitos civis,políticos, sociais e culturais de todos oscidadãos. A liberdade académica é tam-bém um valor essencial da democracia.

A liberdade académica não é, assim,um privilégio ultrapassado nem umaprotecção concedida à comunidade aca-démica. Na realidade, ela resulta muitoclaramente de uma relação fundamentalentre o mundo académico e a sociedade.Além do mais, não se trata apenas de umdireito mas, também, de uma responsa-bilidade das instituições do ensino supe-rior e dos académicos. No âmbito dadefesa da diversidade cultural, a Decla-ração de Sinaia de 1992 refere a "obriga-ção" das universidades denunciaremtodos os tipos de comportamento intole-rante e refere o "compromisso com apesquisa livre e independente" como a"característica fundamental da Universi-dade."

Em 1992, quando a Declaração deSinaia sobre a Liberdade Académica e aAutonomia Universitária foi adoptadasob os auspícios da UNESCO, foi afir-mado: "a história mostra que as viola-ções às liberdades académicas e à auto-nomia institucional apresentam custosmuito elevados como a regressão inte-lectual, a alienação social e a estagnaçãoeconómica." Desde essa data tem-severificado por todo o mundo, não umamelhoria, mas antes uma visível deterio-ração deste princípio, de tal modo quenos encontramos actualmente nummomento crítico. Esta é uma constataçãopatente no relatório que a IE preparoupara o CEART em Agosto de 2006sobre a implementação das Recomenda-ções da UNESCO, a de 1966 sobre oEstatuto dos Professores e a de 1997sobre a Condição do Pessoal Docente doEnsino Superior.

Os representantes das organizaçõessindicais de docentes e de investigado-res, reunidos em Oslo em 27 de Setem-bro de 2006, estão profundamente preo-cupados com as condições actuais doexercício das liberdades académicas.

Em muitos países europeus, a pres-são externa surge sob a forma da cres-cente globalização, da competitividade,da mercadorização e do uso crescentedos mecanismos de mercado no ensinosuperior. As pressões internas surgemtambém na forma de novos sistemas degovernança, da falta de colegialidade na

DOCUMENTOS

A propósito da Recomendação da UNESCO de 1997 e da Declaração de Sinaia de 1992

Liberdade Académica:um tema na ordem do dia

1 8 SUP AO N. º 214 ■ JANEIRO 2007

A Recomendação da UNESCO de 1997 relativa à Condição do Pessoal Docente do Ensino Superior estabelece como um direito que "o exercício das liberdades académicas deve ser garantido aos docentesdo ensino superior." A Declaração de Sinaia de 1992sobre a Liberdade Académica e a Autonomia Universitáriaprevê que "os governos e as populações devem respeitaros direitos das universidades como centros de pesquisa e de análise social completamente livres."

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exercer a sua liberdade académica semreceio do desemprego. É muito preocu-pante o recurso crescente a contratosprecários, que atingiu tais proporçõesque se tornou num fenómeno de dimen-sões incontroláveis.

Saudamos a Recomendação daAssembleia Parlamentar do Conselho daEuropa sobre a Liberdade Académica e aAutonomia Universitária, adoptada emJunho de 2006, como um sinal positivo.Esta Recomendação contém váriosaspectos relevantes dos quais salienta-mos o facto de estabelecer que essesdois princípios conjugados constituem"requisitos fundamentais de qualquersociedade democrática" e que "devemser legalmente, de preferência constitu-cionalmente, consagrados". Este é umaspecto importante e necessário mas nãoé suficiente para assegurar o exercícioindividual das liberdades académicaspelos docentes de ensino superior e

pelos investigadores. A legislação por sisó não é suficiente pois em muitos paí-ses onde existem protecções legais regu-ladas, ocorrem situações que na práticacorrompem as liberdades académicas eque evidenciam as pressões externas,dos governos, dos partidos políticos oude outras forças. Neste sentido, devemser tomadas medidas que garantam napratica o exercício do respeito pelasliberdades académicas, pois só assimpoderão os cidadãos confiar na compe-tência e na imparcialidade dos investiga-dores e do pessoal docente, na sua inde-pendência face a qualquer tipo de coac-ção politica, pressão económica ououtra.

Assim, saudamos e apoiamos osesforços do Conselho da Europa quando"reafirma da importância vital da liber-dade académica e da autonomia univer-sitária e contribui para um diálogo polí-tico aberto relativo à compreensão des-

tes conceitos no âmbito da complexa emutável realidade das sociedades moder-nas" (artº 12 da Recomendação sobre aLiberdade Académica e Autonomia Uni-versitária).

Sendo a liberdade académica umvalor tão fundamental para os docentes epara os investigadores deveria estar cla-ramente expresso no Processo de Bolo-nha.

É uma evidência que colegas nossosde outras regiões do globo se deparamcom os mesmos problemas de deteriora-ção dos princípios da liberdade acadé-mica. Em conclusão, subl inha-se aimportância de ultrapassar a actual criseque a liberdade académica enfrenta anível mundial, de forma a restaurar orespeito por este princípio enquantorequisito fundamental de todos os siste-mas de ensino superior para que possamcumprir o seu compromisso público.

PV/JCS

O texto que aqui publicamos é uma tradução da Declaração aprovada pelo Comité Permanente do Ensino Superior e Investigação da Estrutura Pan-Europeia daInternacional de Educação, reunido em Oslo em Setembro de 2006 com a participação do representante da FENPROF, Manuel Pereira dos Santos

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2 0 SUP AO N. º 214 ■ JANEIRO 2007

Aoportunidade da revisão doECD é uma boa ocasião para aafirmação da autonomia da pro-fissão docente e para tomar adecisão de, em termos sindicais,

encetar a discussão, de modo útil, da ela-boração e outorga, pelos professores, deum Código de Ética para a ProfissãoDocente.

Isto porque considero que não é sufi-ciente ter um Estatuto de Carreira.

O ECD não deve ignorar a dimensãoética da profissão. Mas o Estatuto pro-cede de um poder diferente do poder deque deve proceder a elaboração eoutorga de um código de ética, que temfinalidades, natureza e conteúdo diversodo Estatuto.

O Estatuto deve resultar da negocia-ção entre os professores e o Estado.

O código deontológico deve resultardo poder de os professores, de modoautónomo, definirem os princípios e osdeveres éticos por que se deve reger asua profissão e se outorgarem um códigoque os torne públicos. Ali é um podernegocial; aqui é um poder constituinte.

As finalidades, a natureza e o con-teúdo de um código de ética são tambémdiferentes das finalidades, natureza econteúdo de um estatuto de carreira.Bastará comparar documentos do tipo deum e de outro para concluir isso mesmo.

Não se pense, todavia, que a defesade um código de ética para os professo-res não suscita problemas e questões.Abordarei apenas a que se relaciona coma ideologia do profissionalismo.

A ideologia do profissionalismo, noque se refere à nossa profissão, teveimportante expressão em culturas anglo--saxónicas e ganhou terreno no pós--guerra, com a industrialização, o desen-volvimento económico, a entrada mas-siva da mulher no mercado de trabalho,o aumento da riqueza das nações e dasfamílias e a fortíssima pressão socialsobre a escola. Esta situação obrigou ao

recrutamento de milhares e milhares deprofessores, muitos sem habilitação pro-fissional nem académica, grande parteeram jovens do sexo feminino. A juve-nilização e feminização da profissãoforam a par da fragilização dos pilarestradicionais do prestígio da profissão.Assistiu-se a dois movimentos de sen-tido contrário: o aumento do número deprofessores e a diminuição do prestígioda profissão. A ideologia do profissio-nalismo foi abraçada como uma tábuade salvação: talvez o ser e o ter como asprofissões (liberais) travasse a quebrado prestígio que se pensava que os pro-fessores, em outro tempo, haviam tido.

Assim vista , aideologia do profis-sionalismo, encerraum argumento cor-porativis ta e umaaspiração de sta-tus/estatuto e de pri-vilégios sociais.

O conceito deautonomia que aquiestá presente é pró-ximo da ideia deisolamento da clas-se e da não intro-missão de outros nos assuntos da edu-cação.

Devemos estar alerta contra estetraço negativo.

Mas não só. Também devemos estarde pé atrás quando os poderes fazemapelo ao profissionalismo da classedocente: quase sempre o fazem comoforma de obter, dos professores, colabo-ração, lealdade, obediência e para osobrigarem a mais trabalho por menosdinheiro.

Mas a ideologia do profissionalismotem aspectos positivos.

A educação requer responsabilidadee não se pode ser responsável caso nãose tenha competência, autonomia deexercício norteado por uma ética.

Nesta perspectiva, o profissionalismoé uma maneira de defender os direitos daclasse docente.

A competência dos professores

Mas também é uma maneira dedefender os direitos dos alunos e os daeducação, isto é, os interesses do país:não é do interesse exclusivo dos profes-sores agir com competência, com res-ponsabilidade, com autonomia e obser-vando uma ética, como está bem de ver.Ser profissional, com este conteúdo, éum bom propósito.

A competência dos professores trans-

cende o sentido puramente técnico.Requer saberes de natureza científica etécnica mas reclama aptidões, princípiose consciência do sentido e das conse-quências do trabalho que fazemos.

Esta consciência é a noção do que é,para que serve a educação e o ensino equais as relações que têm com a socie-dade. Implica uma noção política dosfins.

Implica também a consciência de quea educação não é um problema da vidaprivada da classe docente: é uma ocupa-ção socialmente atribuída e que respon-sabiliza publicamente os professores,devendo a reclamação e a conquista daautonomia para a profissão docente serfeita ao mesmo tempo que se reconhece

Um Código Deontológico para os PLurdes Silva*

OPINIÃO

“A conduta profissional dos professoresdeverá ser instruída por uma ética, porqueé à ética que incumbe assinalar os deveres,aquilo que convém, aquilo a que devea t e n d e r-se. Cumpre-lhe formular os princí-pios inspiradores da prática profissional.O código de ética é o lugar para esta dis-cussão, para esta enunciação.”

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JANEIRO 2007 ■ S UP AO N .º 214 2 1

s Professores Portugueses

e se incorpora a consciência de que osprofessores são profissionais publica-mente responsáveis.

Uma noção política dos fins, autono-mia e responsabilidade parecem conferirlegitimidade a que os professores,enquanto profissionais, se interroguem,tenham o direito de se interrogar,tenham o dever de se interrogar sobrese a escola é um lugar de reprodução dasdesigualdades e de injustiça social, se éuma oportunidade de vencer as diferen-ças sociais.

Esta questionação não pode ficar sópara os outros. Implica-nos. A menosque nos abstenhamos e, portanto, nosreneguemos como professores, não res-peitando o compromisso que temos paracom a comunidade. Nem o compromissoque temos para com os nossos alunos.

O professor é aquele que ajuda a darforma àquilo em que um indivíduo sepode tornar, portanto, o bem moral decada aluno é de importância crucial emcada situação de ensino. Isto implica umcompromisso com um ideal educativo.

Será finalidade de um código deética esta questionação sobre os fins,este compromisso com um ideal educa-tivo. É da sua própria natureza.

Os professores não podem menosprezar a dimensão ética da sua profissão

Sendo que a docência é, porque é,uma profissão constitutivamente éticamais se impõe a abordagem destadimensão. Porque de facto a docêncialida com um dos aspectos mais delicadosdo ser humano – o carácter, o professornão tem maneira de escapar à naturezapropriamente ética da sua profissão: asua profissão foi a que a sociedade crioupara formar as jovens gerações, para agirjunto das crianças e jovens por forma aque eles adquiram hábitos, costumes,valores (um ethos), por forma a que for-taleçam o carácter, se tornem pessoas

que orientem a sua vida para o bem. Aeducação é pois um dos factores de for-mação da consciência moral e liga-se deforma essencial à ética já que tem umafunção humanizadora e, outrossim, umafunção socializadora, pois que, aomesmo tempo, se dirige aos indivíduose, por intermédio dos indivíduos, sedirige à configuração da própria socie-dade.

É por isso que os professores nãopodem menosprezar a dimensão ética dasua profissão. Até porque, às vezes, ascomunidades que servem valorizamhábitos, usos, costumes, modos de ser ede estar que contrariam ou que não pro-piciam a construção de caracteres comuma estrutura ética. É por isso que sepede ao professor que seja verdadeira-mente livre, que dependa só da sua cons-ciência e do seu código de ética, paraque possa identificar, escolher, interpre-tar os fins que com a educação se pre-tende alcançar e para que possa, senecessário, respeitar valores em uso ouem voga.

É que os valores éticos têm umamarca e uma dimensão humanista, civili-zacional.

É por tudo isto que a conduta profis-

sional dos professores deverá ser instru-ída por uma ética, porque é à ética queincumbe assinalar os deveres, aquilo queconvém, aquilo a que deve atender-se.Cumpre-lhe formular os princípios inspi-radores da prática profissional.

O código de ética é o lugar para estadiscussão, para esta enunciação.

A ética profissional dos professoresnão é, todavia, um assunto simples,como todos bem sabemos.

Apesar da dificuldade e da complexi-dade de que se reveste esta problemá-tica, a natureza constitutivamente éticada profissão docente não deixa muitasdúvidas sobre esta convicção: o exercí-cio da docência atribui um carácter denecessidade à observância de um con-junto de valores e de preceitos e tornamanifesta a conveniência de os professo-res portugueses elaborarem e se outorga-rem um código de ética.

A FENPROF e os sindicatos que aconstituem deviam, mais que ninguém,impulsionar e organizar este processo.Sem qualquer exclusão. Todos juntos.

* Docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação

da Universidade de Lisboa

F E N P R O F, um espaço de debateO Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) organizou um Seminário

sobre o “Ser Professor, Hoje. Revisão do ECD”, que decorreu em Lisboa nos passadosdias 27 e 28 de Setembro de 2006. Fui convidada para tomar lugar numa mesa sobre ADeontologia da Profissão e aceitei com todo o gosto dar o meu contributo.

Com efeito, julgo ser bom que no espaço do SPGL, bem como no da FENPROF, semantenha uma perspectiva de todos os pontos de vista aí poderem ser apresentados edebatidos, pois é útil que todos, sobre a mesma questão ou o mesmo assunto, emita-mos as nossas opiniões e ouçamos as dos outros para julgarmos e decidirmos de modotão esclarecido quanto possível.

Foi o que aí me propus fazer, dando com inteira clareza, pelos menos era o que eupretendia, a minha opinião sobre ética e deontologia dos professores, que é a que aquiagora volto a defender. LS

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2 2 SUP AO N .º 214 ■ JANEIRO 2007

INTERNACIONAL

Internacional de Educação

Comité Permanente do ESI avalia Bolonha

Processo de Bolonha

Seminário Nórdico

O Comité Perma-nente do EnsinoSuperior e Investi-gação da Internacio-nal de Educaçãoreuniu em Oslo,entre 26 e 28 de

Setembro passado. A FENPROF é aúnica organização sindical portuguesaque integra o Comité e é habitualmenterepresentada pelo dirigente ManuelPereira dos Santos.

Esta sessão do Comité Permanente,que contou com uma comunicação dorepresentante da ESIB (estrutura interna-cional que representa as associações de

estudantes), abordou vários aspectosrelacionados com o Processo de Bolo-nha, nomeadamente a mobilidade deestudantes e do pessoal docente, os rela-tórios nacionais sobre a adopção demedidas tendentes à harmonização dossistemas de ensino superior e os relató-rios dos grupos de trabalho, tudo tendoem vista a preparação da reunião minis-terial de Londres a realizar em Maio dopróximo ano. Ainda a propósito de Bolo-nha, foi analisada a dimensão externa doespaço europeu de ensino superior.

O comité dedicou uma tarde a apre-ciar vários documentos emanados daUnião Europeia, desde a Directiva

Bolkstein até às declarações sobre liber-dade académica ou sobre os rankings.

A terminar os trabalhos foram aindadiscutidos dois temas relacionados coma investigação, o Estatuto dos Estudantesde Doutoramento e o Financiamento dosProgramas de Doutoramento.

Esta reunião do comité permanenteprecedeu o Seminário Nórdico Oficialsobre o Processo de Bolonha cujo temaera a sua dimensão externa, a capacidadede atracção do espaço europeu de ensinosuperior e a cooperação com outrasregiões do mundo numa perspectiva dedesenvolvimento global e sustentado.

MPS/PV

Realizou-se em Oslo, de 28 a 29 deSetembro passado, o seminário " L o o k i n gout! Bologna in a global setting", um con-tributo dos países nórdicos (com a colabo-ração do Conselho de Ministros Nórdico)para a avaliação da dimensão externa doProcesso de Bolonha.

Este foi o terceiro e último de uma sériede seminários organizados com o objectivode fornecer elementos ao Grupo de Acom-panhamento de Bolonha (BFUG) para aelaboração de um documento estratégico aapresentar na conferência Ministerial deLondres, em Maio de 2007.

As organizações sindicais de docentesque integram a Estrutura Pan-Europeia daInternacional de Educação (reunida na vés -pera deste evento, ver artigo nesta página)estiveram presentes no Seminário. O diri-gente da FENPROF, Manuel Pereira dosS a n t o s, participou nas duas iniciativas eresumiu as principais conclusões e reco-mendações do seminário, começando porsalientar que a cooperação pressupõe aexistência de vontades convergentes, tantodas autoridades públicas como das institui-ções, no sentido de uma estratégia plena-mente partilhada por todas as partes envol-vidas; assim, a "dimensão externa" deBolonha não pode ser prosseguida apenas

pelos países europeus, será necessário esti-mular e acompanhar a criação de processossemelhantes noutras regiões.

Depois de referir que é necessárioagendar a discussão sobre qual o tipo deestrutura na qual deve assentar o EspaçoEuropeu de Ensino Superior (EEES) após2010, Pereira dos Santos destacou: “Há umgrande consenso em torno da necessidadede criação de um portal sobre o EEES cominformação sobre os sistemas nacionais esobre as instituições de modo a facilitar acooperação interinstitucional”.

Segundo o dirigente sindical, aUNESCO deverá ser encorajada a conti-nuar o seu trabalho no sentido de rever asconvenções regionais existentes sobre reco-nhecimento de qualificações de acordocom princípios de garantia da qualidade eda transnacionalização do ensino superior.

É conveniente desenvolver e melhoraros fluxos de informação e de divulgaçãoentre todos os parceiros do EEES, no sen-tido de um maior envolvimento dos parcei-ros sociais na mobilidade e na internacio-nalização do sistema, refere Pereira dosSantos que acrescenta: “No âmbito doEEES é recomendável a promoção e oaprofundamento dos mecanismos existen-tes de transparência e de reconhecimento

os quais virão beneficiar o intercâmbiointernacional e a mobilidade”.

Para reforçar a mobilidade será neces-sário conjugar todos os esforços adminis-trativos, nomeadamente através dos servi-ços de imigração, no sentido da remoçãodos obstáculos existentes à circulação efixação de estudantes e de pessoal docentee não docente.

O Seminário veio confirmar e sublinharque não existe contradição entre cooperaçãoe competitividade: as instituições de ES têmde cooperar para serem competitivas.

Valores como a liberdade académica ea autonomia institucional são aspectos fun-damentais da "dimensão externa" do ESuma vez que a cooperação técnica comple-tamente desprovida desses valores repre-sentaria a deriva do ES.

Os Estados Membros do Processo deBolonha devem conciliar um conjunto deprincípios e medidas concretas para a pro-moção da atractividade e competitividadedo EEES, nomeadamente: aprofundar ossistemas nacionais de apoio à mobilidadedos estudantes e do pessoal docente e nãodocente; mais cursos leccionados em lín-guas internacionais; aumentar a relevânciado investimento no ES; estimular o empre-endedorismo através da formação dos pro-fessores; diferenciar políticas segundo asregiões ou os sectores envolvidos e envol-ver todos os tipos de ensino superior exis-tentes; minimizar os riscos da "fuga decérebros", concluiu Manuel Pereira dosSantos. P V

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JA NE IRO 2007 ■ SUP A O N .º 214 2 3

CULTURAL

Até 18 de MarçoGil Teixeira Lopes mostraobra inédita dos anos 70

A os 70 anos Gil Teixeira Lopes dá aconhecer uma pequena parte do

muito trabalho que ainda mantém inédito.O arranque foi dado com a exposição"Anos 70/70 Anos", patente na C a s a -Museu Anastácio Gonçalves, em Lisboa,até 18 de Março. A mostra reúne um con-junto de 43 trabalhos sobre papel. Umaínfima parte da produção deste artista

multifacetado que tem usado a pintura, a escultura, o desenho ea gravura como formas de expressão.

Gil Teixeira Lopes não gosta de rótulos artísticos. Consi-dera a arte algo suficientemente abrangente para ser confinadaao espartilho dos conceitos ou movimentos. Para ele, porexemplo, falar de arte abstracta é algo que o ultrapassa.

"As coisas não são estanques Eu, por exemplo, não sei oque é o abstracto. Para mim tudo parte de uma realidade.Quando as pessoas tentam dizer abstracto é apenas porque, aoseu olhar, não conseguem identificar algo. Por exemplo, tam-bém existem estas classificações de pintura, escultura, gravura,desenho. Mas, a verdade, é que não sinto barreira entre elas.Para mim é indiferente a forma como me expresso. Voufazendo as coisas, vou tirando partido de tudo o que me rodeia.e para tal uso os meios que melhor se adaptam a essa forma deexpressar o que estou a sentir em determinado momento. O quese procura pintar não são os objectos, senso comum, mas oefeito que eles produzem".

Por isso o artista inspira-se em coisas banais do quotidianoum chapéu na cabeça de uma jovem, um perfil, ou em emoçõesmais profundas simbolizadas num certo erotismo que perpassapor muita da sua obra (…)

"A década dos anos 70 foi de valorização da figurahumana". A sensorialidade e cromatismo são marcas indiscutí-veis deste artista. A fase criativa foi inspirada por circunstân-cias históricas e por indissociáveis momentos de exaltação pes-soal. Toda esta produção está arrumada em pilhas no seu ateliêà Rua de Pedrouços, em Lisboa. "Algum desse material até jáse estragou", confessa o artista que não nega o sonho de um diaainda conseguir pegar nesse material inédito e expô-lo todo.

"O espaço desta exposição na Casa Museu Anastácio Gon-çalves só comporta 43 trabalhos, o que representa uma ínfimaparte de toda a minha produção desse período que, em termosde trabalho, foi dos mais produtivos".

Teixeira Lopes é professor catedrático jubilado de Pinturada Faculdade de Belas-Artes (antiga ESBAL). A sua obra émultifacetada e vasta em técnicas utilizadas e em temas. Rece-beu entre 1960 e 1998 cerca de 40 prémios e distinções, querno país quer no estrangeiro, assim como participou em inúme-ras exposições. As suas obras estão representadas em diversascolecções privadas e públicas. Entre os galardões mais signifi-cativos da sua carreira constam os prémios das bienais doMéxico e de São Paulo, o prémio Gulbenkian de Gravura e amedalha de ouro da bienal de Florença, em Itália. J N ,2/01/2007 ■

Portalegre na rota do jazz5º Festival Internacionalde 21 a 24 de Fevereiro

O grande auditório do Centrode Artes do Espectáculo aco-

lhe a quinta edição do FestivalInternacional de Jazz de Portale-gre, com um programa de altonível.

Com início às 21h30, estãoprevistas as actuações do Sex-teto de Mário Barreiros (dia 21);do Trigon Quartet - Ethno Jazz

group Trigon – Moldávia (dia 22); do Michel Portal Quartet(dia 23) e do Don Byron «Ivey Divey Trio» (dia 24). Em “JamSessions”, teremos a 23 e 24 de Fevereiro (a partir da meianoite) a participação do Jeffrey Davis Trio.

Mais informação pelo telefone 245 307 498; pelo [email protected]; e no sítio www.caeportalegre.blogspot.com. ■

Na ESE de Lisboa até 9 de Março”A Censura da Memória”

A exposição iti-nerante ( “ A

Censura daMemória – Bibli-otecas destruídase Livros proibi-d o s ” ), que acom-panhou a aberturaao públ ico donovo edifício doCentro de Docu-mentação e Bi-blioteca da Uni-versidade Nova deLisboa, no Cam-pus da Caparica,pode agora servisitada na EscolaSuperior de Edu-cação (ESE) deLisboa, em Ben-fica, até 9 de Março próximo.

O certame é da autoria da Biblioteca da FCT da UNL.Trata-se de um novo espaço de “memória”, que representa umaoportunidade única para o desenvolvimento do conhecimento ede actividades culturais múltiplas, impondo a este espaço privi-legiado a capacidade de tornar a “Biblioteca” tradicional numutensílio com vasta gama de potencialidades e vivências: ”Quemelhor maneira de abrir este espaço que celebrar, em oposição,a Destruição de Bibliotecas e a Proibição de Livros?” ■

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Uma vez mais foi adiada a concretização dod i reito ao subsídio de desemprego para osdocentes do ensino superior e para os investi-gadores vinculados a instituições públicas, por-que o Grupo Parlamentar do PS impediu a suaa p rovação na Assembleia da Repúblicaperante os projectos nesse sentido do PCP, doBE e do CDS, que obtiveram o apoio explicitodo PSD.

Vai, portanto, manter-se a situação já decla-rada inconstitucional em 2002 em prejuízo dosdocentes e investigadores que assim permane-cem sem qualquer apoio social na situação dedesemprego involuntário.

A promessa de que o Governo irá, até aofinal do ano, preencher esta gritante lacunalegislativa recorda-nos outros anúncios seme-lhantes que não tiveram sequência.

A FENPROF e o SNESup irão manter,assim, a pressão sobre o Governo para que, ac u rto prazo, aquela promessa seja satisfeita efinalmente seja cumprida a Constituição daRepública no que se refere ao direito básico detodos os trabalhadores à protecção social emcaso de desemprego involuntário.

Partido Socialista adia aprovação

do subsídio de desemprego