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fevereiro 2014 VOZ DO CAMPO fevereiro 2014 VOZ DO CAMPO Com a entrada de Portugal na CEE e a consequente necessidade de organização da produção, constituiu-se a Agrotejo – União Agrícola do Norte do Vale do Tejo e logo depois a Agromais – Entreposto Comercial Agrícola. Num esforço conjunto os produtores criaram estruturas de secagem e armazenagem coletivas, desenvolveu-se uma equipa de apoio técnico de campo e profissionalizou-se a comercialização da produção (de cereais). No início dos anos 90, quando o setor dos cereais começa a sofrer alterações profundas (até então havia apoios diretos à produção que vieram a desaparecer) a cooperativa adotou uma estratégia de diversificação cultural, onde se insere a batata, entre outros hortícolas. Conforme recorda à nossa reportagem o diretor geral da Agromais, Jorge Neves, a produção (de batata) começou só para um cliente (indústria) que entretanto foi acompanhado de outros. Quanto à cultura propriamente dita é justificada pela boa adaptação à região, o que proporcionou a especialização de alguns agricultores. E os números comprovam-no. No início a produção rondava as 18 toneladas por hectare e agora a média chega às 50. Esta especialização fundamenta-se no facto de se tratar de uma cultura que obriga a práticas culturais próprias, equipamentos próprios (...), ou por outras palavras, “só se atinge com uma grande dedicação dos produtores”. O núcleo agregado à Agromais é constituído por 15 produtores, para cerca de 300 hectares. Aumento da área não é prioritário face à estagnação do mercado Aumentar a área é uma hipótese mas que está subjacente ao mercado, como aliás toda a dinâmica da cultura. “Estando definidas as quantidades que vamos fornecer à indústria é que programamos o resto”, justifica Jorge Neves, acrescentando que esse mesmo mercado (indústria), por várias razões, não está a crescer. Agricultores do Ribatejo são especialistas Levar a cultura para outras regiões, nomeadamente Alqueva, pela experiência e pelos dados disponíveis ao nível das temperaturas, características de solos (...) não se mostra viável uma vez que a Agromais considera que ali não estão reunidas as condições ideais para produção de batata. Aliás, insiste Jorge Neves, não existe mercado para aumentar muito mais a produção de batata para indústria. Produção reclama variedade de dupla aptidão: fresco e conservação Assim, as apostas de futuro prendem-se sobretudo com questões varietais. “A Hermes era a variedade que estava na linha da frente mas neste momento já está obsoleta, sem que se tenha desenvolvido outra com igual potencial”. E o que se procura é uma variedade de dupla aptidão: quer para colheita e entrega em fresco quer para armazenagem, com especial ênfase nesta última característica. “As casas de sementes têm aqui uma palavra a dizer mas também a própria indústria que é parte interessada. Mas sabemos que não é algo que se consiga de um dia para o outro, obriga a pesquisa, ensaios, vários tipos de testes, inclusivamente de consumidores, até se selecionar uma variedade com características para ser transformada. Isso, conjugado com os aspetos agronómicos, faz com que não surjam variedades todos os dias”. Armazenamento em condições muito específicas O armazenamento da batata é feito em instalações próprias (câmaras) criadas com recurso a tecnologia encontrada em Inglaterra. Em Portugal, face às temperaturas que ocorrem, a batata tem de ser armazenada em condições específicas (isolamento das câmaras, ventilação ...) para manter as boas características. Pode dizer-se que “o ciclo” começa com a contratação de quantidades com a agroindústria. É a partir daí que a Agromais procede a uma seleção dos produtores a nível dos campos e de acordo com as áreas para a cultura são definidas as variedades a plantar (nem todos têm capacidade para fazer determinadas variedades). É desta forma que Rita Caixinha, do departamento técnico da Agromais começa por descrever a cultura no âmbito do Entreposto. Variedades A produção concentra-se em quatro variedades principais, nomeadamente a “Hermes”, que é aquela que melhor serve ao armazenamento para colmatar a época em que não há batata. A “Lady Roseta” variedade mais precoce do ciclo (quatro a quatro meses e meio), logo a primeira a sair do campo. A “Brooke” e a “VR” caracterizam-se já por ciclos mais longos, sendo que a última foi introduzida no ano passado, revelando já bons resultados. A mais expressiva é a “Hermes” precisamente para conseguir colmatar a época em que não há produção. Plantação e Colheita A plantação inicia-se normalmente em fevereiro, embora este ano até à data desta reportagem ainda não tenha sido possível dar início ao ciclo devido à chuva persistente, e prolonga-se até à primeira quinzena de abril. Março é o mês mais representativo a nível de plantação. A plantação é acompanhada pelo corpo técnico da Agromais, supervisonada pela gestora de zona, até à planificação da colheita (de junho a setembro). Normalmente uma semana antes de começar a colher são realizados testes de fritura onde se verifica se a batata já chegou à fase de maturação pretendida. Sanidade Existem alguns problemas sanitários mas facilmente controlados por via de medidas preventivas ou com recurso a tratamentos sempre que necessário. Há outra prática também fundamental que passa pela gestão da rega para evitar que o excesso de junça perfure a batata. Os produtores estão sensíveis para estas questão e reconhecem-nas e, além disso, dentro da Agromais existe um serviço de gestão de sondas / humidade no solo, através do qual os agricultores conseguem fazer uma gestão mais eficaz. Esta especialização dos produtores de batata fundamenta-se no facto de se tratar de uma cultura que obriga a práticas culturais e equipamentos próprios (...), ou por outras palavras, “só se atinge com uma grande dedicação dos produtores”, define o diretor geral da Agromais que trabalha com um núcleo de 15 produtores com cerca de 300 hectares. Investimentos continuam para manter o agricultor apenas concentrado em produzir Este ano serão investidos na ordem dos três milhões de euros na remodelação de instalações, concretamente em alguns centros de secagem na sede do Entreposto, em Riachos (Torres Novas), com vista a atualizar equipamentos, as automações dos dos mesmios e capacidades quer de receção, de secagem, armazenagem ou mesmo de expedição (...). A terminar Jorge Neves não quer deixar de referir o apoio aos agricultores a nível de serviços, uma vez que a estratégia passou sempre por permitir que o agricultor se dedicasse ao máximo à produção, enquanto que a Agromais lhe fornece todas as outras ferramentas como serviço de gestão da rega, e a comercialização de fatores de produção (para o que foi constituída a Agromais Plus – Comércio e Serviços Agrícolas S.A.). RESTOLHO Uma Segunda Colheita para que nada se perca A Agromais, a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome (FPBACF) e a ENTRAJUDA juntaram-se no projeto “RESTOLHO, uma Segunda Colheita para que nada se perca”, totalmente diferenciador no combate ao desperdício alimentar. O sucesso do projeto assenta na capacidade de juntar vontades e mobilizar parceiros para poderem fazer a recolha da produção que fica nos campos da Agromais, retomando uma prática ancestral, conhecida em português como “restolho” ou “rabisco”. A Agromais representa um conjunto muito vasto de produtores que, aquando da colheita, são obrigados, por falta de valorização comercial, a deixar, nos campos, produto com menores calibres ou ligeiros defeitos. Os Bancos Alimentares Contra a Fome têm contacto diário com instituições de solidariedade social que necessitam destes produtos e a ENTRAJUDA com a dinamização de voluntários para a realização das colheitas. Desenrolar da cultura Outras culturas Um dos principais desafios da Agromais é a produção de cebola e se tudo correr conforme programado, este ano será produzida a maior área de sempre desta cultura. São cerca de 160 hectares entre Ribatejo e Alqueva. Mantém-se atenta às movimentações e a possíveis novas culturas, onde se enquadra a papoila, por exemplo, uma cultura sobre a qual há bastante interesse por parte da indústria. Já se sabe que há potencial no Alentejo, resta agora saber se também o há no Ribatejo, sempre numa ótica de criar valor e alternativas culturais aos agricultores, uma vez que o milho é uma commodity muito sujeita às oscilações de preços no mercado mundial (onde Portugal é insignificante). Ainda assim, o milho é e continuará a ser a principal atividade no seio da Agromais, uma vez que representa quase 90% da área que gere. CULTURA DA BATATA CULTURA DA BATATA fevereiro 2014 VOZ DO CAMPO fevereiro 2014 VOZ DO CAMPO 24 25

Agricultores do Ribatejo são especialistas - agromais.pt Dr. Jorge neves.pdf · geral da Agromais, Jorge Neves, a produção (de batata) começou só para um cliente (indústria)

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fevereiro 2014VOZ DO CAMPOfevereiro 2014 VOZ DO CAMPO

Com a entrada de Portugal na CEE e aconsequente necessidade de organização daprodução, constituiu-se a Agrotejo – UniãoAgrícola do Norte do Vale do Tejo e logo depoisa Agromais – Entreposto Comercial Agrícola. Numesforço conjunto os produtores criaram estruturasde secagem e armazenagem coletivas,desenvolveu-se uma equipa de apoio técnico decampo e profissionalizou-se a comercialização daprodução (de cereais).

No início dos anos 90, quando o setor doscereais começa a sofrer alterações profundas (atéentão havia apoios diretos à produção que vierama desaparecer) a cooperativa adotou uma estratégiade diversificação cultural, onde se insere a batata,entre outros hortícolas.

Conforme recorda à nossa reportagem o diretorgeral da Agromais, Jorge Neves, a produção (debatata) começou só para um cliente (indústria) queentretanto foi acompanhado de outros. Quanto àcultura propriamente dita é justificada pela boaadaptação à região, o que proporcionou aespecialização de alguns agricultores. E osnúmeros comprovam-no. No início a produçãorondava as 18 toneladas por hectare e agora a médiachega às 50. Esta especialização fundamenta-se nofacto de se tratar de uma cultura que obriga a práticasculturais próprias, equipamentos próprios (...), oupor outras palavras, “só se atinge com uma grandededicação dos produtores”.

O núcleo agregado à Agromais é constituídopor 15 produtores, para cerca de 300 hectares.

Aumento da área não é prioritárioface à estagnação do mercado

Aumentar a área é uma hipótese mas que estásubjacente ao mercado, como aliás toda a dinâmicada cultura. “Estando definidas as quantidades quevamos fornecer à indústria é que programamos oresto”, justifica Jorge Neves, acrescentando queesse mesmo mercado (indústria), por várias razões,não está a crescer.

Agricultores do Ribatejo são especialistas

Levar a cultura para outras regiões,nomeadamente Alqueva, pela experiência e pelosdados disponíveis ao nível das temperaturas,características de solos (...) não se mostra viáveluma vez que a Agromais considera que ali nãoestão reunidas as condições ideais para produçãode batata. Aliás, insiste Jorge Neves, não existemercado para aumentar muito mais a produção debatata para indústria.

Produção reclama variedadede dupla aptidão:fresco e conservação

Assim, as apostas de futuro prendem-sesobretudo com questões varietais. “A Hermes eraa variedade que estava na linha da frente mas nestemomento já está obsoleta, sem que se tenhadesenvolvido outra com igual potencial”. E o quese procura é uma variedade de dupla aptidão: querpara colheita e entrega em fresco quer paraarmazenagem, com especial ênfase nesta últimacaracterística. “As casas de sementes têm aqui umapalavra a dizer mas também a própria indústria queé parte interessada. Mas sabemos que não é algoque se consiga de um dia para o outro, obriga apesquisa, ensaios, vários tipos de testes,inclusivamente de consumidores, até se selecionaruma variedade com características para sertransformada. Isso, conjugado com os aspetosagronómicos, faz com que não surjam variedadestodos os dias”.

Armazenamento em condiçõesmuito específicas

O armazenamento da batata é feito em instalaçõespróprias (câmaras) criadas com recurso a tecnologiaencontrada em Inglaterra. Em Portugal, face àstemperaturas que ocorrem, a batata tem de serarmazenada em condições específicas (isolamentodas câmaras, ventilação ...) para manter as boascaracterísticas.

Pode dizer-se que “o ciclo” começa com a contratação de quantidadescom a agroindústria. É a partir daí que a Agromais procede a uma seleçãodos produtores a nível dos campos e de acordo com as áreas para a culturasão definidas as variedades a plantar (nem todos têm capacidade para fazerdeterminadas variedades).

É desta forma que Rita Caixinha, do departamento técnico da Agromaiscomeça por descrever a cultura no âmbito do Entreposto.

VariedadesA produção concentra-se em quatro variedades principais,

nomeadamente a “Hermes”, que é aquela que melhor serve aoarmazenamento para colmatar a época em que não há batata. A “LadyRoseta” variedade mais precoce do ciclo (quatro a quatro meses e meio),logo a primeira a sair do campo. A “Brooke” e a “VR” caracterizam-se jápor ciclos mais longos, sendo que a última foi introduzida no ano passado,revelando já bons resultados. A mais expressiva é a “Hermes” precisamentepara conseguir colmatar a época em que não há produção.

Plantação e ColheitaA plantação inicia-se normalmente em fevereiro, embora este ano até à

data desta reportagem ainda não tenha sido possível dar início ao ciclodevido à chuva persistente, e prolonga-se até à primeira quinzena de abril.Março é o mês mais representativo a nível de plantação. A plantação éacompanhada pelo corpo técnico da Agromais, supervisonada pela gestorade zona, até à planificação da colheita (de junho a setembro).

Normalmente uma semana antes de começar a colher são realizadostestes de fritura onde se verifica se a batata já chegou à fase de maturaçãopretendida.

SanidadeExistem alguns problemas sanitários mas facilmente controlados por

via de medidas preventivas ou com recurso a tratamentos sempre quenecessário. Há outra prática também fundamental que passa pela gestão darega para evitar que o excesso de junça perfure a batata.

Os produtores estão sensíveis para estas questão e reconhecem-nas e,além disso, dentro da Agromais existe um serviço de gestão de sondas /humidade no solo, através do qual os agricultores conseguem fazer umagestão mais eficaz.

Esta especialização dos produtores de batata fundamenta-se no facto de se tratar de uma cultura que obriga a práticas culturais e equipamentos próprios (...), ou por outras palavras, “só seatinge com uma grande dedicação dos produtores”, define o diretor geral da Agromais que trabalha com um núcleo de 15 produtores com cerca de 300 hectares.

Investimentos continuampara manter o agricultorapenas concentrado em produzir

Este ano serão investidos na ordem dos três milhões de eurosna remodelação de instalações, concretamente em alguns centrosde secagem na sede do Entreposto, em Riachos (Torres Novas),com vista a atualizar equipamentos, as automações dos dosmesmios e capacidades quer de receção, de secagem,armazenagem ou mesmo de expedição (...).

A terminar Jorge Neves não quer deixar de referir o apoio aosagricultores a nível de serviços, uma vez que a estratégia passousempre por permitir que o agricultor se dedicasse ao máximo àprodução, enquanto que a Agromais lhe fornece todas as outrasferramentas como serviço de gestão da rega, e a comercializaçãode fatores de produção (para o que foi constituída a AgromaisPlus – Comércio e Serviços Agrícolas S.A.).

RESTOLHO

Uma Segunda Colheita para que nada se percaA Agromais, a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a

Fome (FPBACF) e a ENTRAJUDA juntaram-se no projeto “RESTOLHO, umaSegunda Colheita para que nada se perca”, totalmente diferenciador nocombate ao desperdício alimentar.

O sucesso do projeto assenta na capacidade de juntar vontades emobilizar parceiros para poderem fazer a recolha da produção que fica noscampos da Agromais, retomando uma prática ancestral, conhecida emportuguês como “restolho” ou “rabisco”.

A Agromais representa um conjunto muito vasto de produtores que,aquando da colheita, são obrigados, por falta de valorização comercial, adeixar, nos campos, produto com menores calibres ou ligeiros defeitos. OsBancos Alimentares Contra a Fome têm contacto diário com instituições desolidariedade social que necessitam destes produtos e a ENTRAJUDA coma dinamização de voluntários para a realização das colheitas.

Desenrolar da cultura

Outras culturasUm dos principais desafios da

Agromais é a produção de cebolae se tudo correr conformeprogramado, este ano seráproduzida a maior área de sempredesta cultura. São cerca de 160hectares entre Ribatejo e Alqueva.Mantém-se atenta àsmovimentações e a possíveisnovas culturas, onde se enquadra apapoila, por exemplo, uma culturasobre a qual há bastante interessepor parte da indústria. Já se sabeque há potencial no Alentejo, restaagora saber se também o há noRibatejo, sempre numa ótica decriar valor e alternativas culturaisaos agricultores, uma vez que omilho é uma commodity muitosujeita às oscilações de preços nomercado mundial (onde Portugal éinsignificante). Ainda assim, omilho é e continuará a ser aprincipal atividade no seio daAgromais, uma vez que representaquase 90% da área que gere.

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