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Agricultura de Baixo Impacto Construindo a Economia Verde Brasileira 0106

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AGRICULTURA BAIXO CARBONO

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  • AGRICULTURA DE BAIXO IMPACTO:

    CONSTRUINDO A ECONOMIA VERDE BRASILEIRA

    Contribuir para a segurana alimentar, buscar erradicar a pobreza, adotar prticas produtivas de

    baixo impacto que permitam conservar a biodiversidade, manter e criar estoques de carbono

    oriundos da proteo de vegetao nativa e do solo, promover o uso racional da gua e de insumos,

    gerar ganhos de produtividade e benefcios sociais e ambientais so temas que fazem parte dos

    desafios do desenvolvimento sustentvel, e que sero debatidos na Rio+20.

    O Brasil possui 65% de sua rea de vegetao nativa, e a agricultura responsvel pela conservao

    de 274 milhes de hectares de florestas e outras formas de vegetao. A adoo de prticas de baixo

    carbono e a recuperao de reas degradadas so fatores chave para a expanso sustentvel do

    agro e para a construo da economia verde brasileira. A relevncia do Brasil como um pas

    estratgico quando se trata da segurana alimentar global, bem como da conservao das florestas

    tropicais inegvel.

    Como produzir mais alimentos e energias renovveis, reduzir impactos ao meio ambiente e produzir

    benefcios sociais e econmicos que promovam qualidade de vida e ajudem a reduzir a pobreza.

    Partindo desses desafios, o objetivo desse estudo analisar qual dever ser o cenrio da

    agropecuria brasileira em 2030, envolvendo questes ligadas ao uso da terra, desmatamento,

    emisses de gases de efeitos estufa, adoo de prticas produtivas de baixo impacto, a fim de

    contribuir com as discusses da Rio+20, e com a construo da economia verde brasileira.

    Instituto de Estudos do Comrcio e Negociaes Internacionais - ICONE

    Institute for International Trade Negotiations ICONE

    Confederao da Agricultura e Pecuria do Brasil - CNA

    Brazilian Confederation of Agriculture and Livestock CNA

    Organizao das Cooperativas Brasileiras - OCB

    Brazilian Cooperative Organization OCB

    Unio da Indstria de Cana-de-Acar - UNICA

    Sugarcane Industry Association UNICA

    Unio Brasileira da Avicultura - UBABEF

    Brazilian Poultry Association UBABEF

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    AGRICULTURADEBAIXOIMPACTO:CONSTRUINDOAECONOMIAVERDEBRASILEIRA

    RodrigoCALima,AndrNassar,LeilaHarfuch,

    LucianeChiodi,LauraAntoniazzieMarceloMoreira1 IContextoAproduodealimentos, fibraseenergiasrenovveis temuma relaodiretacomavidadaspessoasecomoambientenaqualelasvivem.Ocrescimentodapopulao,quedeveratingir 9 bilhes de pessoas em 2050, ir gerar uma demanda exponencial por produtosagrcolas, estimada em 70%, o que significar uma produo adicional de 1 bilho detoneladasdecereaise200milhesdetoneladasdecarnes.Osganhosdeprodutividadedevero responderpor80%dessademanda,oqueexigirodesenvolvimentoeaamplaadoodetecnologiasnocampo,acapacitaodosprodutores,a recuperao de solos degradados e a implementao de boas prticas agrcolas,preferencialmentecombaixaemissodegasesdeefeitoestufa (GEEs).Os20%adicionaisdependerodaexpansodaagriculturae,consequentemente,daincorporaolquidade70milhesdehectaresdeterrasprodutivas.Como produzir alimentos saudveis, energias preferencialmente de fontes renovveis,otimizar o uso da gua, evitar a perda de biodiversidade, reduzir emisses de GEEs,recuperarreasdegradadasefazeromelhorusodasreasagriculturveisafimdegarantiraseguranaalimentarglobal?Considerandoqueem2050aproximadamente70%dapopulaoserurbana,equase80%daspessoasviveronasiaenafrica,comoenfrentaressesdesafiose,emparalelo,buscara erradicao da pobreza e amelhoria das condies de vida, incentivando a adoo deprticas de produo e consumo sustentveis, e contribuindo para a construo deeconomiasverdes?Aurgnciaemrepensarosdiferentesmodelosdedesenvolvimentosobaticadeprincpioscomunsdoquepodeserconsideradosustentvel20anosapsaConfernciadasNaesUnidassobreMeioAmbienteeDesenvolvimento, impeaomundodesafiosquepermitamimplementarmudanas concretas que favoream o equilbrio entre questes ambientais,sociaiseeconmicasemummundoheterogneoeemcrescimento.EsperasequeaRio+20sejaumforoamplodedebatesquepermitaconstruircompromissosque levemospaseseaspessoasemdireoapadresdedesenvolvimento sustentveiscombasenaerradicaodapobrezaenaadoodeprticasdebaixoimpactoambientalesocial, fomentando a construo de economias verdes inclusivas, que levem conta erespeitemosdesafioseoportunidadesdecadapas.Gerentegeral, Diretorgeral e Pesquisadores do Instituto de Estudos do Comrcio e NegociaesInternacionais (ICONE): www.iconebrasil.org.br. E.mails: [email protected];[email protected]

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    Aagropecuriabrasileiratemumpapelfundamentalnocontextodessaagenda.Deumlado,porqueaproduodealimentosedeenergiasvitalparaassegurarseguranaalimentarecontribuir para a erradicao da pobreza.De outro, porque a necessidade de expandir aagriculturadeformasustentvelexigeaamplaadoodeprticasdebaixocarbonoeaesque promovam ganhos de produtividade, e traz o desafio de intensificar a pecuria erecuperarreasdegradadas,incorporandoasproduoouconservaoambiental.Alm disso, requer equilbrio entre a converso de reas de vegetao nativa e aconservao da biodiversidade. Isso impe o enorme desafio de acabar com odesmatamento ilegal,gerirde formaefetivareasconservadaspblicaseprivadas,ecriaruma poltica de governana sobre uso da terra que contemple pagamento por serviosambientais.Opapeldastecnologiase,principalmente,doacessoecapacitaodosprodutores,outrofatoressencialpara incrementaraproduodealimentosepromoveradiversificaodosprodutores de acordo com a escala produtiva, o que pode trazer benefcios scioeconmicos.Agregarvaloraproduodosagricultoresfamiliaresedepequenaescalaumanecessidade urgente diante da importncia de dar viabilidade a sua produo. Nesteaspecto,ocooperativismo,aproduointegradaeaextensoruralsofundamentaisparaainclusoesustentabilidadedessesatoresnaproduoegeraoderendanocampo.O presente estudo parte do cenrio atual da produo de alimentos e de bioenergia noBrasil, tendo 2011 como base, e considera aspectos ambientais ligados a uso da terra,emisses de GEEs e adoo de prticas produtivas de menor impacto, e prope umprofundodebatesobrecomoaagropecuria ircontribuirparaaconstruodaeconomiaverdeinclusivanoBrasil.Apropostaentendercomoseraagriculturabrasileiraem2030,partindodaregularizaoambiental das propriedades diante do novo Cdigo Florestal, da reduo drstica dodesmatamento,doincrementonaconservaodabiodiversidade,dousoracionaldeguaedeinsumos,edaadoodeboasprticasagrcolasetecnologiasquepromovamganhosdeprodutividadeereduodeimpactosambientais.Almdisso,buscasediscutirquaisaspolticaseavanossonecessriosparaimpulsionaraagropecuria de baixo impacto, considerando desafios como prticas de baixo carbono epagamentosporserviosambientaiscomogua,carbonoebiodiversidade.IIAgropecuriaBrasileiraem2011II.1UsodaTerraO uso da terra um fator essencial para entender a produo de alimentos e energiasrenovveis, bem como o estado de conservao das reas de vegetao nativa. Adisponibilidadedeterrasprodutivas,aimportnciadeconservarasflorestas,evitaremisses

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    deGEEs,protegerosoloeosrecursoshdricos,bemcomorecuperarreasdegradadassoelementosfundamentaisnadinmicadousodaterraenagestodapaisagem.Em2011,areautilizadaparaproduodegros,fibras,frutaseflorestasplantadasfoide60milhesdehectareseasreasdepastagenssomaram198milhesdehectares.Jareade vegetao nativa existente de 554 milhes de hectares considera Unidades deConservao,TerrasIndgenas,reasdePreservaoPermanenteAPPs,reasdeReservaLegaleoutrosremanescentes.A figura abaixo ilustra a distribuio de terra no Brasil, destacando vegetao nativa,produoagropecuria,reasurbanaseoutrosusos.

    UsodaTerranoBrasil(2011)

    Osdadosmostramque65%dareadoBrasilcobertaporvegetaonativa,oque incluiflorestas,Cerradooutrasformasdevegetaonativa.Dessetotal,274milhesdehectaressoreasdevegetaonativaexistentesnasfazendas,quesemesclamsreasprodutivasnaformadeAPP(ripriaseemtoposdemorroseencostas),reasdeReservaLegaleoutrosremanescentes.Ogrficoaseguirilustraessesdados.

    554milhes/hadevegetaonativa 107milhes/hadeUnidadesdeConservao 103.5milhes/hadeTerrasIndgenasRegularizadas 274milhesde/hadevegetaonativaempropriedadesprivadas(APPshdricasedetopodemorro+ReservaLegal)

    69.5remanescentesdevegetaonativa

    Fontes:MinistriodoMeioAmbiente MMA;IBGE PAM(2010)eCensoAgropecurio(2006);INPE TerraClass; Agricultural Land Use and Expansion Model Brazil AgLUEBR (GerdSparovek,ESALQUSP).Notas1)OsdadosdeUnidadesdeConservaoexcluemaschamadasreasdeProteoAmbientalAPAs;2)OsdadosdeAPPsconsideramvegetaonativaripria,emtopodemorroseencostas;3)Odadoderemanescentesdevegetaonativaincluiterrasquilombolas,florestaspblicasnoregularizadaseoutrosremanescentesdevegetaonativa.

    60milhes/hadereaprodutiva(gros,frutaseflorestasplantadas)

    38milhes/haurbanizaoeoutrosusos

    198milhes/hadepastagens

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    UsodaTerranoBrasil(851milhesdehectares)

    Fontes:MinistriodoMeioAmbiente MMA; IBGE PAM (2010) eCensoAgropecurio (2006);INPETerraClass; AgriculturalLandUseandExpansionModelBrazil AgLUEBR (GerdSparovek,ESALQUSP)

    vlido salientarqueexistemdadosqueapontam61%devegetaonativa.Noentanto,preferiuse utilizar os dados mais atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatstica,doMinistriodoMeioAmbiente,doAgriculturalLandUseandExpansionModelBrazilAgLUEBRdaESALQ/USP,bemcomodoprojetoTerraClassdo InstitutoNacionaldePesquisas Espaciais INPE,que visa analisar as reasdesmatadasnaAmaznia,e apontadadosrelevantesdevegetaosecundriaemrecuperao.II.2ProduodeAlimentosnoBrasilEm2011,ossetores ligadosaoagronegciorepresentaram22%doProduto InternoBruto(PIB)brasileiro(deacordocomo levantamentodoCEPEA).Ocenrioconsiderado levaemcontaareautilizadaparaaproduodelavouras(primeirasafra2)dealgodo,arroz,canadeacar, cevada, feijo (primeira safra),milho (primeira safra) e soja, no total de 48,7milhesdehectares,eareadepastagem181,7milhesdehectares. importante ressaltarqueessaanliseno considera florestasplantadas, frutaseoutrosprodutos,quesomadosreadelavouras(deprimeirasafra),representaram60milhesdehectares,comocitadoacima.Assim,aproduodegrossomou161,6milhesdetoneladasem2011,representandoumcrescimentode67%emrelaoproduode2002.Japroduodecarnes(bovina,sunaedefrango)atingiu26milhesdetoneladas,48%superiorde2002,comdestaqueparaocrescimentodacarnedefrango.2Parausodaterrautilizamsesomenteasreasutilizadasporlavourasdevero,desconsiderandoasculturasdeinverno(comotrigoecevada)ousegundasafra(comomilhoefeijo).

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    No caso da canadeacar, a produo aumentou 80% em 2011 em relao a 2002,impulsionadapelocrescimentodademandainternacionaldeacarepeloconsumointernodeetanol.Aproduodeetanolaumentou120%edeacarem60%nomesmoperodo,apresentandoganhossignificativosdeprodutividadedacanadeacar.

    Produodegros,carnes,acareetanolem2011(miltoneladas)

    Gros 161.566,20Algodo(basecaroo) 5.188,40Arroz 13.613,10FeijoTotal 3.760,70MihoTotal 57.514,20Soja 75.324,30Trigo 5.881,60Cevada 283,9Canadeacar 656.421,20

    Carnes 26.022,50Bovina 9.662,50Suna 3.324,20Aves 13.035,80 Fonte:OutlookBrasil2022.

    II.3EtanoleBioeletricidadeSeguranaenergticaeacessoadiferentesfontesdeenergia,preferencialmenterenovveis,umtemarelevantedaagendadeeconomiaverde.Apossibilidadedeproduzirenergiadediversas fontes,edeexpandiressaproduo com focoem fontes renovveis,um fatorestratgicoparaospases.Opapeldasenergiasrenovveisnamatrizenergticabrasileiraem2011foide44,1%,sendoque os produtos da canadeacar (bagao e etanol) representaram 16,6% do consumofinal de energia.Apesar de uma ligeira queda na oferta de biomassa em decorrncia daquebradesafra, inegvelopapeldoetanol,querespondeupormaisde50%dousodafrotadeveculosleves.A bioeletricidade oriunda da queima da palha e do bagao representou 2% da energiaconsumidanoBrasilem2011,etemumpotencialdegerarat15.287MWmdios,oquecorresponderiaa18%daenergiaeltricaem2021.Apesardapreocupaoligadacompetioentrealimentoseenergia,quegeracrticasaoetanoleabioeletricidade,precisodesmistificarousodaterraparaaproduodecananoBrasil,querepresenta,narealidade,umcasomuitoparticularanvelglobal.

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    Evoluodareaplantadaeproduodeetanol

    2002 2011 2022

    reaPlantadadeCanadeacarparaetanol(milha) 2,502 4,837 8,535ProduodeEtanol(milm3) 12,623 22,851 56,179ConsumodeEtanolHidratado(milm3) 4,343 13,847 30,983ConsumodeEtanolAnidro(milm3) 7,25 7,193 13,848ExportaesLquidas(milm3) 766 720 10,273 Fonte:ICONE.

    Em 2011 a rea de cana ocupou 9,4 milhes de hectares, com 50,58% da produodestinadaaproduodeetanole49,42%paraacar.Issosignificaqueareautilizadaparaetanolrepresentou2,1%dareaagrcola total.Asestimativasdo ICONEapontamqueem2022areadecanaserde13,2milhesdehectares,oquesignificaumincrementode3,6milhes de hectares, que dever ocorrer basicamente sobre reas de pastagens e, emmenorescala,outrasreasagrcolas.OZoneamentoAgroecolgicodaCanadeacar,aprovadoem2009, limitaaexpansodacanaemreasdevegetaonativaeembiomas sensveis, comoAmazniaePantanal,eapontaqueexistem19,3milhesdehectaresdereascomaltopotencialprodutivoe37,2milhesdehectaresdepastagensqueteriamaltaaptidoparaacana.Emparaleloa isso,a recuperaodereasdegradadasea intensificaodaproduodecarne bovina devero ceder reas para outras culturas, dentre elas a cana, sem perderproduoemelhorandoaprodutividadedaterra.Achaveparareforarasustentabilidadeda produo de alimentos e de energia justamente tornar essas reas produtivasnovamente.Somadoaadoodeboasprticasprodutivas,comorecuperaodereasdePreservaoPermanente,aumentodacolheitamecanizada,usoracionaldagua,dentreoutras,vlidoargumentar que o aumento da produo de etanol no Brasil dever continuar de formasustentvel,semqueissoimpliquecompetiocomaproduodealimentos.OpapeldoetanolnareduodeemissesdeGEEsnoBrasilestratgico.Ofatodeoetanolreduziremat90%asemissesdeCO2comparadogasolina,egeraroutrosprodutoscomobioeletricidade, plstico de cana e combustvel de aviao, reflete a importncia daproduodecanaparaetanoledaexpansodessaculturanofuturo.IIIEconomiaVerdeeExpansoSustentveldaAgriculturaBrasileirafundamentaldestacaropapelqueaagriculturaeaproduodeenergiasrenovveisteronodesenvolvimentosustentveldoBrasil.Arelaoentreseguranaalimentar,reduodapobrezaeacessoaenergias limpastrazdesafiosenormesnospelademandacrescente,

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    maspelanecessidadedeproduzirmais,utilizandorecursosdeformaracionaleminimizandoimpactos.Dentreosdesafiosdaexpansosustentvel,valecitar:

    i. Comoserousodaterraat2030,equalopotencialdeexpansodaagriculturasemquehajanecessidadedeconverterreasemlargaescala?

    ii. AadoodeboasprticasagrcolaspodeauxiliarnareduodeemissesdeGEEsetornar a agricultura de baixa emisso um modelo produtivo amplamentedisseminadoemtodooBrasil?

    iii. AregularizaoambientaldaspropriedadesdiantedonovoCdigoFlorestalpoderseralcanadaetrarbenefciossociaiseambientais?

    iv. Dequeformaaagriculturabrasileirapodeajudarnaconservaodabiodiversidadeenaproduodeserviosambientaisquetrazembenefciosparatodaasociedade?

    Estessoalgunsdosfatoresqueprecisamserconsideradosemqualquercenrioquetratadaexpansosustentveldaagriculturabrasileira,equeseroanalisadosaseguir.III.1TerrasDegradadasoudeBaixaProdutividadeEstimasequeexistamaproximadamente200milhesdehectaresdereasdegradadasedebaixaprodutividade,emfunodeatividadescomominerao,processoserosivos,ausnciaou diminuio de cobertura vegetal, construo de estradas, prticas agropecuriasinadequadas, construes de represas, dentre outras aes que resultam noempobrecimentodosolo.Recuperar reas e pastagens degradadas o maior desafio e ao mesmo tempo umaoportunidadebastantepeculiarquandoseanalisaaexpansodaagriculturabrasileira.Dototal da rea de pastagens, estimase que entre 20 e 40 milhes de hectares estejamdegradadosemdecorrnciadabaixaprodutividadedapecuriaedodesmatamento.Arecuperaodessasreascriaumaoportunidadeenormeparaaagriculturabrasileira,quepoder incorporar novas reas para a produo, trazendo benefcios em termos deincrementodeestoquesdecarbononosolo,ereduzindoapressopelaconversodenovasreas.UmadasmetasdoPlanodeBaixaEmissodeCarbononaAgricultura (PlanoABC)prevarecuperaode15milhesdehectaresdepastagensdegradadasat2020,oquesignificarareduode83a104milhesdetoneladasdeCO2equivalente.Almdessesbenefciosemtermos de reduo de emisses, a recuperao de pastagens promove ganhos deprodutividade decorrentes da intensificao da pecuria e do aumento da lotao deanimaisporhectare.A recuperao pode se dar por recuperao direta da rea ou por meio da integraolavourapecuria (iLP) ou da integrao LavouraPecuriaFloresta (iLPF). Esses sistemas

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    permitemaumentaraprodutividadedaproduodecarne,gros,fibrasebiocombustveis,reduzir emisses de GEEs decorrente da diminuio da idade de abate dos animais, dafixaodecarbonopelafotossnteseenamatriaorgnicanosolo.Essasprticasconservacionistastrazembenefciosparaosoloeguaemfunodeaesdemanejo como adubao, sombreamento e manuteno de matria orgnica e dabiodiversidadedosolo.Juntamentecomaintensificaodapecuria,quedeverliberarreasparaoutrasculturas,arecuperaodepastagensereasdegradadasfundamentalparaofuturoeaexpansosustentvel da agricultura brasileira. factvel esperar a recuperao de ao menos 30milhesdehectaresdereasprodutivasat2030.No entanto, para que isso ocorra preciso que se criem incentivos concretos aosprodutores, como reduo de crditos, iseno de impostos, pagamento por serviosambientais,dentreoutros.Em2011foicriadauma linhadefinanciamentoparaarecuperaodereasdegradaspelaminerao no mbito do Fundo Nacional sobre Mudana do Clima. Adicionalmente, aSecretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica estuda a criao de umProgramaNacionaldeRecuperaodereasdeTerrasDegradadas,oqueessencialparaestruturarpolticasdelongoprazo.III.2ReduodoDesmatamento possvel expandir a produo de alimentos e de energias renovveis e reduzirdrasticamenteodesmatamento?DiminuiraperdadevegetaonativaumdesafioparaoBrasil, considerando diversos vetores que causam desmatamento, como, por exemplo, aextrao ilegaldemadeira,adificuldadede regularizao fundiria,aagropecuria,povosindgenaseassentamentosdareformaagrria,aconstruodeestradaseapobreza.Desde 1988 o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) faz o monitoramento dodesmatamentonaAmazniapormeiodoProjetodeMonitoramentodaFlorestaAmaznicaBrasileira por Satlite PRODES.Quando esse controle comeou a ser feito, as taxas dedesmatamentoanuaisestavamnacasade21.000km2.A partir de 2004 o monitoramento foi aprimorado com o Sistema de Deteco deDesmatamentoemTempoRealDETER,ecomacriaodoPlanodeAoparaProteoeControledoDesmatamentonaAmaznia(PPCDAM),queestabeleceudiversasmetasligadasno s ao controle do desmatamento, mas gesto da Amaznia com vistas aodesenvolvimentosustentvel.A evoluo do monitoramento e os dados atuais sobre a rea desmatada na Amazniaindicamqueaspolticasdecombateaodesmatamentoestoconseguindoreduziraperda

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    devegetaonativa.Enquantoem2002foramdesmatados21.651km2,atingindoopicoem2004com27.772km2,em2011areaconvertidafoide6.238km2.Emparalelo aos esforosda PPCDAM edoPlanodeAoparaPreveno eControledoDesmatamento e dasQueimadas noCerrado (PPCerrado), criado em 2010, a reduo dodesmatamentoganhou fora comaadoodos compromissos voluntriosde reduodeemissesdeGEEsjuntoConvenoQuadrodasNaesUnidassobreMudanasClimticasduranteaCOP15.A Lei 12.187/2009 aprovou a Poltica Nacional sobre Mudana do Clima PNMC eestabeleceu uma meta de reduo de emisses entre 36,1% e 38,9% das emissesprojetadasdoBrasil at 2020. Em janeiro de 2010 oBrasil submeteu ao Secretariado daConvenoasaesdemitigaoquepretende implementar,destacandoseumareduode80%nodesmatamentodaAmazniae40%noCerrado.ODecreto7.390/2010estabeleceuqueasaesdemitigaobuscaroreduzirentre1.168milhes de tonCO2eq e 1.259 milhes de tonCO2eq do total das emisses estimadas, edeterminouaformadecalcularasmetasdereduodedesmatamento: i)80%dos ndicesanuaisdedesmatamentonaAmazniaLegalemrelaomdiaverificadaentreosanosde1996a2005;eii)40%dosndicesanuaisdedesmatamentonoBiomaCerradoemrelaomdiaverificadaentreosanosde1999a2008.

    Desmatamentoem2020(ha)* Meta

    Reduododesmatamentoat2020(ha)

    Desmatamentoem2020cumprindoa

    meta(ha)*Reduo

    esperadadeemissesdeGEEs

    Amaznia 1.953.500 80% 1.562.800 390.700 669milhestoneladasde

    CO2/eqCerrado 1.570.000 40% 628.000 942.000*ProjeodeacordocomoDecreto7390/2010.Elaborao:ICONE.Essametasignificaqueem2020astaxasdedesmatamentonaAmazniadeveroserdenomximo 3.970 km2 e 9.420km2 no Cerrado. relevantemencionar que um dos grandesdesafios no combate ao desmatamento a falta de regularizao ambiental daspropriedades privadas e, especificamente na Amaznia, a dificuldade de promover acompletaregularizaofundiriadasterras.ComaaprovaodonovoCdigoFlorestaleaimplementaodoCadastroAmbientalRural,oBrasilcriarumaferramentadegestoemonitoramentodeusodaterraquesermuitotilnocombateaodesmatamentoilegal.fundamentalesclarecerquediantedanovaleiflorestaltodasaspropriedadesquetiverempassivos de APPs e/ou de Reserva Legal, estimase que quase 90% das 5,49 milhes depropriedades tero que se regularizar e, por isso, no podero receber autorizao paraconverternovasreas.Issosignificaqueat2030oBrasildeverrecuperarAPPs,estimaseentre10a30milhesdehectares,oquealmdesignificarbenefciosparaaconservaodabiodiversidadeedagua,ajudaracriarnovosestoquesdecarbonoflorestais.

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    Alm disso, preciso destacar que a compensao da Reserva Legal, rea que deve serconservadacomvegetaonativanaspropriedades,permitirevitaraconversodereasdevegetaonativa,edarvalorparaa florestaempcomacriaodeummercadodecompensao.III.3AgriculturadeBaixoCarbono:MitigaoeAdaptaonoCampoO aprofundamento das negociaes sobre mudanas climticas, principalmente aps aaprovaodoPlanodeAodeBalidurante a13ConfernciadasPartesdaConvenoQuadrodasNaesUnidassobreMudanasClimticasCOP13,realizadanaIndonsia,em2007,motivouum intensodebatesobrea importnciadeoBrasiladotarregulamentaesligadasaotema.Em2008,duranteaCOP14,emPoznan,oBrasilapresentouoPlanoNacionalsobreMudanadoClima,queestabeleceuosprimeirospassosconcretosemdireoadoodeaesdemitigao ligadasreduododesmatamento,usodebiocombustveiseoutras fontesdeenergiasrenovveis,adoodeboasprticasagrcolas,eaesemsetorescomotransporte,indstriaeconstruocivil.OPlanoserviucomobaseparaaelaboraodaPolticaNacionalsobreMudanadoClima,que foiapresentadapeloBrasilnaCOP15contendoocompromissovoluntriodereduodeemissesdopas.O 2 InventrioNacional de Emisses e Remoes Antrpicas deGases de Efeito Estufapublicadono finalde2010mostrouque asmudanasnousoda terra corresponderama60,6%dasemissestotaisdoBrasilemCO2eqem2005,enquantoosetordeagropecuriarepresentou18,9%dessasemisses.Comovistoacima,areduododesmatamentorepresentaomaiorcompromissobrasileiroafimdereduziremisses.Asmetasdereduzir80%odesmatamentonaAmazniae40%noCerrado devero ser cumpridas, o que dever alterar o quadro de emisses dos demaissetores.A relevncia das emisses do setor agropecurio, principalmente relacionadas aos gasesMetano(70,5%)exidoNitroso(87,2%),eapossibilidadede incentivaraadoodeaesdemitigaonosetorlevaramogovernoaaprovaroPlanodeAgriculturadeBaixaEmissodeCarbono(PlanoABC).OPlanoABCbuscaestruturarasaesdemitigaoedeadaptaodosetoragropecurio,tendocomobaseasseguintesboasprticas:

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    AESDEMITIGAO META REDUODEEMISSES

    FixaoBiolgicadeNitrognio 5,5milhesdehectares(soja,canaemilho)10milhesdetoneladas

    deCO2eRecuperaodepastagensdegradadas

    15milhesdehectares(0,4para0,9unidades

    animais/ha)83a104milhesdetoneladasCO2e

    PlantioDiretonaPalha 8milhesdehectares 16a20milhesdetoneladasCO2eIntegraoLavouraPecuriaFloresta 4milhesdehectares 18a22milhesdetoneladasdeCO2eGeraodeEnergiaeCompostoOrgnicopormeiodotratamentodedejetosanimais

    4,4milhesdem3dedejetos

    6,9milhesdetoneladasdeCO2e

    Aumentodareadeflorestasplantadas 3milhesdehectares TOTAL 133,9a162,9milhesdetoneladasdeCO2e

    Fonte:MAPA,EMBRAPAeCasaCivil(Fevereirode2011)AmaioriadasaesdemitigaoprevistaspeloPlanoABCjsoadotadasnaagropecuriabrasileira.Ograndedesafiodarescalaparaboasprticascomoplantiodireto, integraolavourapecuriafloresta, fixao biolgica do nitrognio e tratamento de dejetos deanimais, para que se tornem amplamente adotadas pas afora. Para tanto, foi criado oProgramadeAgriculturadeBaixaEmissodeCarbono,comoumprogramadeincentivosviaplanosafra,queem2011/2012prevrecursosdeR$3,15bilhes.importantedestacarqueosincentivosnososubsdiosdiretosaosprodutores,massim,crdito facilitadocomum limitede financiamentodeR$1milhoporprodutore taxadejurosde5,5%aoano,comprazoparapagamentode5a15anos.Arecuperaodepastagensdegradadasumaaoespecialmenteimportantenocontextodaevoluoporumaagriculturadebaixo carbono.Deum lado,porque recuperareasepermitequesejamteisparaaproduo,oquediminuiademandapornovasreas,edeoutro porque favorece a absoro de GEEs pelas culturas produtivas e a formao deestoquesdecarbononosolo.Considerandoque incorporarnovasreasaproduoumgrandedesafioparapermitiraexpanso sustentvel da agropecuria brasileira, fundamental investir nessa ao demitigao.OacessoaoscrditosdoProgramaABCdevercrescerat2020,comaprevisodenovosrecursos nos Planos Safra. Adicionalmente, preciso citar que a regularizao diante doCdigoFlorestalumrequisitonecessrioparaquempretendeteracessoaessescrditos.Dessaforma,esperasequecomoCadastramentoAmbientalRuralearegularizaodiantedonovoCdigoFlorestalcadavezmaispropriedadespossamobtercrditose investiremprticasdebaixocarbono.

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    Almdessasaesdemitigao,importantedestacarprticasadotadaspelosetoravesesunos,comoousodebiodigestoresparaaproveitamentodebiogsparageraodeenergiaeltrica e com possibilidade de venda de Redues Certificadas de Emisses CERs emprojetosdoMecanismodeDesenvolvimento Limpo, fornecimentodemudasdeeucaliptoparaprodutoresintegradosparaposteriorusodamadeiranascaldeiras,gerandonovafontede renda para os produtores rurais e compostagem de cama para produo de aduboorgnico,tambmumafontederendaparaointegrado.Aqueimadapalhadearroz,aproduodeenergiacomsebobovinoecomousodedejetosda silvicultura so outras prticas adotadas no Brasil que contribuem para odesenvolvimentosustentveldasatividadesprodutivas.Adaptao outro foco do Plano ABC. As secas, as enchentes, a perda de solo e oaparecimento de novas pragas so fatores extremamente relevantes quando se trata deevitar perdas na produo e impactos aos produtores. Uma anlise feita pela EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuria EMBRAPA em 2009 estima que a produo dealimentosnoBrasilpodeterprejuzosdeR$7,4bilhesem2020aR$14bilhesem20703.OPlanoABCcontemplaaadoodevriasaesdeadaptaodosecossistemasprodutivos.Valedestacar:

    i) Instituir o Programa de Inteligncia Climtica na Agricultura, integrado aoPlanoNacionaldeReduodeRiscoseDesastres.ii)Desenvolverosmapasdevulnerabilidadeeriscosclimticosdemdioelongoprazo.iii) Elaborar estudo visando aperfeioar e ampliar o seguro rural e outrosinstrumentosdeprevenoecompensaodeperdasclimticasnaagriculturaparadarsuportesaesdeadaptaoiv) Ampliar projetos de pesquisas que permitem a modelagem climtica dosdiferentes sistemas produtivos agrcolas, considerandose as mudanasclimticasprevistas.v) Incentivareapoiarprogramasdeconservaoeusosustentvelderecursosgenticosedemelhoramento vegetaleanimal, comnfasena suaadaptaoaos fatores biticos e abiticos predominantes nos cenrios previsveis deaquecimentomdioequivalentea2C.

    A implementao dessas aes dever ocorrer no mdiolongo prazo, e dependem deinvestimentospblicossignificativos(recursosdoFundoNacionalsobreMudanadoClima,porexemplo),darealizaodeestudosemodelagensquepermitamaumentaracapacidadedo Brasil prever situaes de risco que possam afetar a produo de alimentos e causarimpactosscioeconmicosnasdiversasregiesdopas.Vale destacar, no entanto, que a simulao demodelos climticos, que levem em contadadosdeprodutividade,informaeshistricassobrechuvasesecas,dadossobrecolheitaeperdadesafra,comeamaserutilizadostantopelosbancosfornecedoresdecrditos,como3AquecimentoGlobaleanovageografiadaproduonoBrasil,2008.

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    pelos produtores, cooperativas e entidades setoriais. Anlises dessa natureza podem serteiscomoformadereduzirriscosdiantede impactosdasmudanasdoclima,bemcomopermitiratomadadedecisesrelevantesnotocanteaadaptao.III.4UsoRacionaldaguaguaumrecursonaturalescassoeabsolutamentenecessrioparaavidaeaproduodealimentos.Ouso racionalda guapossuiuma relao ntima com segurana alimentareerradicaodapobreza,oquetendeaseragravadoemfunodocrescimentopopulacional,damigrao,daurbanizaoedasmudanasdoclima.Comoosetoragrcolarepresentaemmdia70%doconsumodeguadocenomundo(emalgunspasesemdesenvolvimentopodechegara90%),esemguanopossvelproduziralimentosnaescalaglobal,precisofomentarousoracionaleeficientedagua.A revoluo verde no campo, que propiciou ganhos de produtividade para garantirseguranaalimentartevena irrigaoenasmelhoriastecnolgicasdoisdeseuspilares.Noentanto, o cenrio de escassez de gua em vrias regies do mundo, os impactos dasmudanasdoclimaeacompetiopeloseuuso impemdesafioscomplexosparamuitospases.Aagricultura irrigada representa275milhesdehectares (aproximadamente20%dareaglobalcultivada),erepresenta40%daproduoglobaldealimentos.Asiadetmmaisdametadedaterra irrigadanomundo(quase60%),eenfrentardesafiosnaChinaena ndiapor conta da sobreexplorao de guas subterrneas e a competio pelo uso da gua(agricultura,indstria,urbanizao).No Brasil apenas 4,6 milhes de hectares so irrigados, enquanto o potencial de terrasprodutivas que podem ser irrigadas de 35 milhes de hectares. Alm do ganho deprodutividade, a irrigao pode diminuir o uso de adubos e fertilizantes, e permitir aproduoemreascomoosemiridodoNordestebrasileiro,trazendobenefciosconcretosparapequenosprodutores,comoocasodofeijoirrigado,quepossuiumaprodutividadedeat3milkgporhectare,comparadoaofeijodesequeiro,quede500kgporhectare.Asdiferentestecnologias,comoa irrigaopressurizadaporgotejamentoemicroasperso,reduzem o consumo de gua e de energia, alm de diminuir impactos ambientais comoerosoesalinizao.Considerando que a relao uso racional da gua, irrigao, segurana alimentar eerradicaodapobrezapodegerarbenefcioseconmicos,ambientaisesociaisconcretos,importante relacionar o potencial de crescimento de terras irrigadas, os impactos dasmudanasdoclimaeanecessidadedepraticarousoracionalesustentveldagua. importante considerar ainda que aes de adaptao previstas no Plano ABC deverotratar do uso da gua e da sua disponibilidade, visandominimizar efeitos dasmudanas

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    climticasedos impactosparaaproduodealimentos.DentreasaesdeadaptaodoPlanoABC,algumaspossuemrelaodiretacomousodagua:

    i)O desenvolvimento demapas prioritrios para a conservao degua;ii)Sistematizarasaptidesregionaisparaaimplantaoeadequaodosdiferentes sistemasdiversificadosdousodos recursosnaturais(biodiversidade,guaesolo);iii) Desenvolver projetos de pesquisas sobre a conservao e usosustentvel de recursos hdricos, de solos, do fluxo de gases e denutrientes incluindo sistemas produtivos diversificados e naturaisdiretamente relacionados visando sua adaptao e resilincia smudanasclimticas.

    III.5AgriculturaeBiodiversidadeUmdosgrandesdesafiosdo crescimento sustentveldaagriculturabrasileiraminimizarimpactos biodiversidade,pormeioda reduododesmatamento eda adoodeboasprticas,almdepromoveraconservaodabiodiversidade.naturalqueaconversodereasdevegetaonativa,easatividadesprodutivastenhamimpactos aomeio ambiente.No entanto, existem prticas produtivas queminimizam osimpactos como o plantio direto, que alm de reduzir emisses de GEEs conserva abiodiversidadeeaqualidadedosolo,bemcomoaintegraolavourapecuriafloresta,quemaximizaaprodutividadedegros,carneseflorestasplantadas,reduzindoademandaporreaefavorecendoummanejoapropriadodosolo.OProgramadeTrabalhodeBiodiversidadeeAgriculturadaConveno sobreDiversidadeBiolgica (CDB) incentiva a adoo de prticas sustentveis que busquem promover asustentabilidade dos sistemas agrcolas, considerando o papel da agricultura dos povosindgenasecomunidades locais,daagriculturafamiliaredaagriculturaempresarial.ParaaCDB fundamental incentivar o aumento de produtividade, incluindo amanuteno e arecuperaodosecossistemasagrcolas.O Plano Estratgico para a Biodiversidade 20112020 prev que os pases devem adotaraesefetivaseurgentesparareduziraperdadebiodiversidade.Almdisso,asMetasdeAichi sobre Biodiversidade estipulam que os pases devem adotar prticas de manejosustentvelqueasseguremaconservaodabiodiversidade,equedevemmanteraomenos17% de suas reas terrestres conservadas por reas protegidas especialmente relevantesparaadiversidadebiolgica,quepreferencialmentefavoreamaconectividadeentrereasconservadas.A agricultura brasileira possui um diferencial quase que exclusivo quando comparada agrandemaioriadospasesquandosetratadeconservaodevegetaonativa.AsreasdePreservao Permanente APPs e as reas de Reserva Legal existentes nas fazendas,

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    estimadas em 274 milhes de hectares, so reas protegidas que visam preservar econservar os recursosda diversidade biolgica, proteger a gua, o solo e outros serviosambientais.Soreasprivadas,quepossuemgestoespecfica:asAPPsnopodemserutilizadasparaatividades produtivas, pois so reas ambientalmente sensveis, e so geograficamentedeterminadaspelaexistnciadeum cursodgua,umaencosta,o topodeummorroouumareademangue.JasreasdeReservaLegalpodem,emcertoscasos,sermanejadasdesdequecritriossustentveissejamadotados.Atransparnciaquanto localizaoeconservaodessasreasserreforadanamedidaemqueoCadastroAmbientalRuralseja implementado,oqueajudarnocumprimentodaMeta Global 11 de Aichi, considerando a relevncia dessas reas protegidas para aconservaodabiodiversidade.

    reasProtegidasnoBrasil:UnidadesdeConservao,TerrasIndgenas,reasdePreservaoPermanenteereasdeReservaLegal

    reaBioma(hectares)

    TerrasIndgenas(TIs)regularizadas

    TotalUCsexcetoAPAs APPs

    ReservaLegal(RL)

    TIs+UCs+APPs+RL

    TIs+UCs+APPs+

    RL/Bioma

    Amaznia 419.694.300 98.237.521 95.609.600 22.500.821

    120.481.835 336.829.777 80%Caatinga 84.445.300 216.682 1.093.500 9.138.606

    13.832.346 24.281.134 29%

    Cerrado 203.644.800 4.381.042 6.577.900 15.812.509

    41.261.472 68.032.923 33%MataAtlntica 111.018.200 105.197 2.806.100 6.094.727

    12.893.087 21.899.111 20%

    Pampa 17.649.600 62.887 163.800 1.600.042

    2.661.825 4.488.554 25%Pantanal 15.035.500 599.440 660.000 1.977.574

    2.780.307 6.017.322 40%

    Total 851.487.700 103.602.770 106.910.900 57.124.280

    193.910.872 461.548.821 54%Fontes:MinistriodoMeioAmbiente; InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica(IBGE);GerdSparovek,2011.Elaborao: ICONE.Notas:Foramconsideradas somenteasAPPs riprias;TIs Terras Indgenas regularizadas;UCs UnidadesdeConservao;APAs reasdeProteoAmbiental;APPsreasdePreservaoPermanente;RLreasdeReservaLegal.

    Apesar de as APPs e reas de Reserva Legal no serem reas protegidas no mbito doSistemaNacionaldeUnidadesdeConservaoSNUC,seupapelcomoreasrelevantesparaaconservaodabiodiversidade inegvel.OprprioPlanoEstratgicoNacionaldereasProtegidasPNAPreconheceopapeldasAPPsereasdeReservaLegalcomofundamentaisnaconservaodabiodiversidadeecomoelementosintegradoresdapaisagem.Adicionalmente s reasprotegidaspblicas, conhecidas comoUnidadesdeConservao,quesomam107milhesdehectares,oBrasilpoderincrementarototaldereasrelevantespara a biodiversidade seja pela criao de novas Unidades de Conservao em regies

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    prioritrias, seja pelo reconhecimento das reas privadas que efetivamente conservem adiversidadebiolgica.Considerando as Unidades de Conservao, as Terras Indgenas, as APPs e as reas deReserva Legal existentes, o Brasil ultrapassa a meta de 17% de cada bioma terrestreconservado,atmesmoembiomasmaiscrticoscomoaMataAtlntica. Issosignificaqueremanescentes de vegetao nativa nas propriedades agrcolas, que em grande parte daMataAtlnticapossuemmenosde100hectares,soconservadosedesempenhamumpapelrelevantenaconservaodabiodiversidade.A discusso dasMetas de Aichi no Brasil at a 11 Conferncia das Partes da CDB, queocorreremoutubrode2012,deverconsideraropapelasreasprotegidasnasfazendasbrasileiras.Valeressaltarainda,quedeacordocomoPanoramadaBiodiversidadeGlobalIII,desde 2003 o Brasil criou 75% do total de reas protegidas no mundo. Isso salienta aimportncia da biodiversidade e da proteo de seus recursos no contexto da economiaverdebrasileira.III.6ErradicaodaPobrezanoCampoA erradicao da pobreza um desafio global que precisa ser enfrentado por todos ospases, e que acontece em paralelo ao crescimento populacional. Os impactos scioeconmicosdessamigraodepessoasque vivemem situaodeextremapobrezaparaclassessociaisondeoemprego,arendaeaeducaopossibilitamumamelhorqualidadedevidadeveroseintensificargerandoexternalidadespositivas.Nessecenrio,aproduosuficientedealimentosprecisaserconsideradajuntamentecomoacessodaspessoasacomida saudveleaumanutrioadequada. Isso significadeumladoa importnciaporexpandirediversificaraproduodealimentos,mastambmcriarcondiesparaqueaspessoaspossamoraproduzir,oracompraralimentos.O Programa Brasil sem Misria do governo federal tem o objetivo de tirar da extremapobreza 16milhes de brasileiros que vivem com uma renda per capita de atR$70,00.Ampliar o acesso sade, alimentao, educao e bem estar social, bem como aoportunidades de trabalho e renda, no meio urbano e rural, so algumas metas doPrograma.Aumentar a produo agrcola por meio da disponibilizao de sementes e outrastecnologiasaliadaaassistnciatcnicaaosprodutoresumpilarfundamentaldoPrograma,considerando que 47% das pessoas alvo vivem no campo.O acesso dos agricultores aosmercados tambm faz parte das metas, o que dever ser contemplado via compra daproduoporrgosgovernamentais.A seguranaalimentaroutropilar,eesta intimamente ligadaproduoeaoacessoaalimentossaudveis.Em2011,porexemplo,oProgramadeAquisiodeAlimentos (PAA)

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    doMinistriodoDesenvolvimentoSocialeCombateFome (MDS)temumoramentodeR$793milhes,quedeverbeneficiaraagriculturafamiliareascooperativasdoagro.Afaltadeacessoatecnologiasecapacitaoparamanipullasumdesafioqueprecisaservencidoquandose tratadeacabarcomapobrezanasreasruraise,comoconsequncia,permitirganhosdeprodutividade.Adificuldadedeacessoacrditoparaadquirirsementes,mquinase insumos,eodespreparode certosprodutores sodesafiosqueprecisam seratacadosafimdeacabarcomapobrezanocampoepermitir incrementosnaproduodealimentos.Esse contextoquepode seratenuadoeatmodificado com incentivosaorganizaodospequenos produtores rurais em associaes e cooperativas. Existem 1523 cooperativasagropecurias no Brasil, que agregam quase ummilho de cooperados e geram 156milempregos.Os dados do Censo Agropecurio de 2006 apontam a relevncia da produo nascooperativas brasileiras, chegando a 74% do trigo, 57% da soja, 48% do caf, 44% doalgodo, 43% do milho e 40% do leite produzido no Brasil. Alm disso, em 2011 asexportaesdascooperativasrepresentaramU$6.17bilhes,principalmenterelacionadascanadeacar,soja,carnesecaf.Um dos diferenciais das cooperativas a capacidade de organizao dos produtores notocanteacrdito,compradeinsumoseimplementos,acapacitaoeusodetecnologiaseopoderdecomercializao.Almdisso,apreocupaocomasquestesambientais,adoode boas prticas agrcolas, educao e sade dos cooperados e seus familiares sodiferenciaisrelevantesquandosebuscaconstruirdesenvolvimentosustentvel.Aproduointegradatambmoutroexemploquepossibilitabenefciosscioeconmicosaos produtores e tambm aomeio ambiente.Nos estados do sul do Brasil o sistema deintegraodesunoseavesresponsvelpela fixaodoprodutorruralnocampoepelaviabilidadedapequenapropriedade.As empresas fornecem knowhow para a construo dos galpes, propiciam linhas decrditoespeciaisedo suporte tcnico.Em contrapartida,osprodutoresprecisamadotarboasprticasprodutivas,quevodesdeocumprimentodalegislaoambiental,bemestaranimal,rastreabilidade,usodemedicamentosveterinrioseprticasdemanejo.Outro fator fundamental na erradicao da pobreza no campo a diversificao doagricultorfamiliaremculturasquetrazemmaiorretorno,principalmenteconsiderandoumareaprodutivamenor.Oplantiode frutasehortalias,porexemplo,podesermuitomaisvantajoso comparativamente a culturas como soja emilho, considerando ademandaporescalaeanecessidadedeinsumos.

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    IVAAgropecuriaBrasileiraem2030Aps analisar os principais vetores ligados a expanso sustentvel da agropecuria recuperaodereasdegradadas,reduododesmatamento,agriculturadebaixocarbono,uso racional da gua, conservao da biodiversidade, e ponderlos diante dos dados deproduo relativosa2011,possvelconstruirumcenriodaagropecuriaparaoanode2030.Oprincipalrecursoqueprecisaseranalisadoquandosetratadaexpansodaagropecuriabrasileira a terra. possvel expandir sem depender de uma enorme converso devegetaonativa?Osganhosdeprodutividadepoderoreduzirademandapornovasreas? razovel esperar que milhes de hectares de reas degradadas sero incorporados produo?Areadepastagemprecisarcrescerouserreduzidadiantedaincorporaodetecnologiasedaintensificaodapecuria?Mudanasnousoda terraeacompetioporreasentrediferentesculturas so fatoresrelevantesdiantedoaumentodademandaporalimentoseenergia.Deacordocomdadosdo estudoOutlook Brasil 2022, a rea de lavouras (primeira safra4) em 2011 foi de 48,7milhesdehectares,eareadepastagem181milhesdehectares.Valedestacarqueaslavourasdeinvernooudesegundasafra(milho,feijotrigoecevada)ocuparam8,1milhesdehectares. importantedestacarqueoestudoOutlookBrasil2022considerouareaocupadapelosseguintesprodutos:(algodo,arroz,canadeacar,cevada,feijo,milho,soja,trigo,carnesbovina,sunaedefrango,eovos).Ocenrio2030consideraosmesmosprodutos,enoinclu a rea total agrcola que considera frutas e florestas plantadas. Os dados totaisconsiderandoessasculturassodaPolticaAgrcolaMunicipalPAMdoIBGE,queem2011foide60milhesdehectares.Porsuavez,areadepastagenssegueosdadosdoCensoAgropecurio2006eestimativasapartirdedadosdesensoriamentoremoto(Soares,2010).De acordo com o cenrio desenvolvido pelo ICONE, a expanso da produo dessesprodutos at 2030 indica uma rea de 64,3 milhes para lavouras e 174,4 milhes depastagens,oquedumtotalde238,7milhesdehectaresdereaagropecuria.4Parausodaterrautilizamsesomenteasreasutilizadasporlavourasdevero,desconsiderandoasculturasdeinverno(comotrigoecevada)ousegundasafra(comomilhoefeijo).

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    Evoluodareadelavouras(primeirasafra)epastagensat2030

    0

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    250.000

    Sul Sudeste CentroOesteCerrado NorteAmaznia NordesteLitorneo NordesteCerrado

    mil/ha

    230milhes/ha

    238.6milhes/ha

    Fonte:OutlookBrasil2022;Cenrio2030 feitopelo InstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaes InternacionaisICONEcombasenoBrazilianLandUseModelBLUM.

    Os dados agregados mostram uma expanso da agropecuria de aproximadamente 8,3milhesdehectaresat2030.Noentanto,precisodividiraevoluodereasagrcolasedepastagensparaentenderadinmicadaexpansoagropecuria.essencialmostrarqueaexpansodarsebasicamentesobrereasdepastagem,oqueocorrer tantopela recuperaodepastagensdegradadasquantopela liberaodereasem funoda intensificaodapecuria.Areadepastagenspassarde182milhesdehectares em 2011 para 174milhes em 2030, o que significa aomenos 7,4 milhes dehectaresparaoutrasculturas. importante notar que o nmero estimado de cabeas em 2011 foi de 212milhes deanimais na pecuria bovina, e em 2030 estimase que ser de 234milhes.O ganho deprodutividade da pecuria permitir liberar reas para outras culturas, alm de gerarbenefcioscomoabatedosanimaiscommenor idade,oque significa reduziremissesdeGEEs.A recuperaodepastagensereasdegradadas,paraproduooupara recomposiodavegetaonativaumgrandeativoquepode incrementarodesenvolvimentosustentvelbrasileiro.Ametaderecuperar15milhesdehectaresdepastagens,previstanoPlanoABC,reforaaimportnciadeincentivarepromoverarecuperaodessasreas.

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    Evoluodareadepastagemat2030

    0

    20.000

    40.000

    60.000

    80.000

    100.000

    120.000

    140.000

    160.000

    180.000

    Sul Sudeste CentroOesteCerrado NorteAmaznia NordesteLitorneo NordesteCerrado

    milha

    182milhes/ha

    174milhes/ha

    Fonte:OutlookBrasil2022;Cenrio2030 feitopelo InstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaes InternacionaisICONEcombasenoBrazilianLandUseModelBLUM.

    OCerradoearegioSulseroasreasquemaisperderoreasdepastagens,oquerefora,deumlado,aimportnciadaintensificaodapecuriaedoincrementodetecnologiasquepermitamexpandirprodutividadesemnecessrioaumentoderea.Noentanto,estimaseumaumentode5milhesdehectaresdepastagensprincipalmentenosestadosdoPar,Rondnia,TocantinseMatoGrosso.necessrio considerarqueademandaadicionalpornovasreasexigira conversoemregiesdealtaprodutividade.Comparadoaos1.212milha/anodoperodo2002a2011,at2020,asestimativasdedemandaanualporterraparaagropecuriaemrelaoa2011de545milhectaresporano,sendo387milha/anonaAmazniae158milha/anonoCerrado.Para o cenrio at 2030, em relao a 2011, a demanda por novas reas continuardecrescendo,estabilizandosenacasade460milhectares/ano. importantedestacarqueessecenriodeexpanso levaemcontaasrestriesaousodaterraprevistaspeloCdigoFlorestalregrasparareasdePreservaoPermanenteAPPsereas de Reserva Legal , bem comoUnidades de Conservao e Terras Indgenas. Almdisso, respeita asmetas de reduo de emisses da PolticaNacional sobreMudana doClima,quepreveemumdesmatamentoanualde390,7milhaem2020naAmazniaede942milhanoCerrado.

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    Deacordocomasprojeesparaataxaanualdenovasreasparaaagropecuriaparaosprximos10a20anos,areduoefetivapoderserdemaisde80%emrelaoabasedeestimativadametadereduodedesmatamentotantonaAmazniaquantonoCerradoseaintensificaodapecuriabovinaocorrercomooesperado.

    Evoluodareadegrosecanadeacarat2030

    0

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.000

    70.000

    Sul Sudeste CentroOesteCerrado NorteAmaznia NordesteLitorneo NordesteCerrado

    mil/ha

    48.6milhes/ha

    64.3milhes/ha

    Fonte:OutlookBrasil2022;Cenrio2030 feitopelo InstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaes InternacionaisICONEcombasenoBrazilianLandUseModelBLUM.

    AexpansodareadegrosecanaocorrernoCerrado,comquase9milhesdehectares,comfoconaregioCentroOesteenosestadosdoMaranho,Piau,TocantinseBahia,bemcomona regio Sudestee Sul. importantenotarque so justamenteessas regiesqueperderomaisreasdepastagens,nacasade7,5milhesdehectaresnoCerradoequase5milhesdehectaresnasregiesSudesteeSul.Naturalmenteessaexpansoseracompanhadaporganhosdeprodutividade.Nocasodomilho, esperase uma produo de 89 milhes de toneladas em 2030, comparada aproduode57milhesde toneladasem2011. fundamental ressaltaro incrementodasegundasafrademilho,queaumentarquase18milhesdetoneladaserepresentar44%daproduototal,permitindoincrementosdeprodutividadeedeproduoimportantes.precisodizerquea integraolavourapecuria,eapossibilidadedeproduzirasegundasafracomonocasodomilhoedo feijo, sodiferenciaisdaagricultura tropicalbrasileiraque permitem contribuir de forma efetiva para o desenvolvimento sustentvel e para aseguranaalimentar.

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    Almdisso,necessriosalientarqueademandaporprotenaanimalgerarumademandacrescentepormilhoesoja,quejuntocomosdiversosusosnaalimentaohumana,ajudamaagregarvalorproduodegros.Aproduodesojadevesaltarde75milhesde toneladasem2011para118milhesdetoneladas em 2030. O leo de soja passa de 7 milhes de toneladas para 10 milhes,enquantoofarelode28milhespara40milhes.

    Evoluodasprincipaisculturasagrcolasat2030

    Produo(miltoneladas) 2011 2020 2030

    Milho 35.926 42.619 49.573MilhoSafrinha 21.588 27.756 39.185Soja 75.324 92.281 117.953leodeSoja 7.050 8.405 10.168FarelodeSoja 27.800 33.502 40.532Algodo 5.188 5.743 7.100Arroz 13.613 13.685 16.201Feijo 2.388 2.453 3.175Feijo2safra 1.372 1.966 2.909Trigo 5.882 6.751 7.490Carne 9.662 11.881 13.691Leite 32.923 42.811 53.250Frango 13.036 16.398 19.671Porco 3.324 3.937 4.831 Fonte:OutlookBrasil2022;Cenrio2030feitopeloInstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaesInternacionaisICONEcombasenoBrazilianLandUseModelBLUM.

    Aproduodecarnebovinaaumentar4milhesdetoneladas,saltandode9,76para13,7milhesdetoneladas.Aproduodeleitetambmterganhossignificativos,saltandode33para53milhesdetoneladas.Eissocomumareduolquidadareadepastagensde7.3milhesdehectares.Emconjunto,aproduodecarnescrescer12,2milhesdetoneladasentre2011e2030,sendoacarnedefrangoresponsvelpor54%desteaumento,seguidodacarnebovina(33%)e da carne suna (12%). Estas estimativas no consideram aberturas de novosmercadosinternacionais, o que pode aumentar ainda mais a produo de carnes e alavancar oconsumodemilhoefarelodesoja.ConsiderandoarelevnciadaproduoeusodoetanolnoBrasil,eseupapelnareduodeemissesdeGEEs,oquefundamentalnocontextodaconstruodeumaeconomiaverdecada vezmais baseada em energias renovveis, vale observar que a produo de etanoldever saltarde22,8bilhesde litrosem2011paraquase80bilhesde litrosem2030,sendo68bilhesdestinadosaoconsumodomstico.

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    Essecenrioconsideratambmexportaesde12bilhesdelitrosem2030,principalmenteparaosEstadosUnidoscomopartedocumprimentodomandatodeincrementodousodebiocombustveisemrelaoaoscombustveisfsseiscomometadereduodeGEEs.

    Aexpansodoetanolbrasileiro

    Produo(miltoneladas) 2011 2020 2030

    Cana 656.421 1.048.530 1.376.763Acar 36.159 47.071 60.936

    (milhesdelitros) 2011 2020 2030Etanol 22.851 50.948 79.655

    Fonte:OutlookBrasil2022;Cenrio2030 feitopelo InstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaesInternacionaisICONEcombasenoBrazilianLandUseModelBLUM

    Esperaseumaumentode5,6milhesdehectaresadicionaisparaaexpansodacanadeacar,tantoparaaproduodeacarquantodeetanol.Estaexpansodereasignificaumaproduode58bilhesdelitrosadicionaisdeetanoljuntamentecomoincrementode25milhesdetoneladasdeacar.Grande parcela do aumento da produo de gros, fibras, protenas e biocombustveis explicadoprincipalmentepeloaumentodoconsumodomstico,e,emmenorparte,pelasexportaes. No caso do acar, cerca de 70% da produo de acar destinada aomercadointernacional.

    ProduoeConsumodeAlimentoseEtanolem2030

    Brasil2030 Produo2 Consumo Exportao

    Lavouras1 243,958 175,286 68,654Farelodesoja 40,532 18,922 21,722leodesoja 10,168 8,260 1,885Acar 60,936 19,055 41,814Carnebovina 13,691 10,089 3,603Carnedefrango 19,671 12,088 7,584Carnesuna 4,831 3,434 1,397Etanol 79,655 67,599 11,983

    Notas: 1) Lavouras: milho, soja, arroz, feijo, trigo, cevada e algodo; 2) Todos osprodutos em milhes de toneladas, exceto etanol que representa milhes de litros.Fonte:OutlookBrasil2022;Cenrio2030feitopeloInstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaesInternacionaisICONEcombasenoBrazilianLandUseModelBLUM.

    A demanda de 8 milhes de hectares de novas reas at 2030 deve ser analisadajuntamentecomarecuperaodereasdePreservaoPermanenteeatmesmodereasde Reserva Legal. Para que se possa ponderar a expanso da agropecuria em face docrescimento sobre novas reas preciso considerar o desmatamento lquido no perodocomparado. Ou seja, se em 2030 forem convertidos 8 milhes de hectares em reas

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    produtivas,precisodescontaroquantode recuperaodevegetaonativaocorreuemcadabioma.O balano entre desmatamento e recuperao necessrio, principalmente quando seconsideraemissesdeGEEs.SedeumladoasmudanasnousodaterraamaiorfontedeemissesdoBrasil, a recuperaode reasdegradadase a recomposio com vegetaonativapermitiroformarestoquesdecarbonosignificativos.ConsiderandoumestoquedecarbonomdionaAmazniade132,3toneladasdeC/hectare,vlidodestacarquearecomposiode1milhodehectarespromoveriaa formaodeestoques de carbono de 476.2 milhes de toneladas de CO2eq. No caso do Cerrado,considerandoumestoquemdiodecarbonode56.1toneladasdeC/hectare,arecuperaode1milhodehectares significariaa formaode201.9milhesde toneladasdeCO2eq.Naturalmenteobalanoefetivoprecisariaseranalisadoemdetalhesconsiderandoaregioda recomposio e a evoluodas reas at a estabilizaodos estoquesde carbononavegetaoenosolo.Esse outro diferencial que precisa ser considerado quando se trata da reduo dodesmatamentonoBrasil,bemcomodademandaporreduzirimpactosdaproduo.VConstruindoEconomiaVerdecomaAgriculturaPartindododesafiodecriareconomiasverdesnocontextododesenvolvimentosustentvele da erradicao da pobreza, a possibilidade de expandir a produo de alimentos e deenergias renovveis, reduzir impactos ambientais e gerar benefcios sociais um desafioestratgicoparaospases.Nesse sentido, a produo de alimentos e energias renovveis ser essencial para odesenvolvimento sustentvel do pas.O crescimento da populao brasileira, que deversaltarde194milhesdehabitantesem2010para220milhesem2030,exigiraexpansoda produo agropecuria, ganhos de produtividade e a adoo de boas prticas quepermitamproduzirmaisereduzirimpactos.No entanto, a participao do Brasil na garantia da segurana alimentar global ganhardestaquenospeloaumentodademanda,maspelofatodequeopaspodeaumentarsuaproduoseguindopadressustentveis.O cenrio 2030 mostra que a expanso da agropecuria brasileira no depender daconverso significativadenovas reas,eque a regularizao ambientaldaspropriedadesdiante do novo Cdigo Florestal deve promover a recuperao de reas de PreservaoPermanente,oquesignificarareduocadavezmaiordodesmatamentolquido.A chave para o desenvolvimento sustentvel da produo de alimentos e bioenergia arecuperaodepastagensereasdegradadas.Ograndedesafio financiare incentivararecuperao dessas reas, como proposto pelo Plano ABC com a meta de recuperar 15

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    milhesdehectaresat2020.Noentanto,essarecuperaoexigepolticasde longoprazoque permitam a recuperao efetiva demilhes de hectares em reas produtivas, o queexigeaconstruodepolticasdefomento.Em paralelo a esse desafio, a implementao de prticas de baixo carbono, a expansoracionaldairrigao,aadoodetecnologias(novoseventosfrutosdaengenhariagenticacomo sementes resistentes seca e eventos que propiciem ganhos de produtividade;gentica;variedadesadaptadaspararegiesespecficas)eaespecializaodosprodutoresem produtos que permitam maior rentabilidade de acordo com o tamanho da reaprodutiva so elementos essenciais para consolidar a agropecuria de baixo impacto noBrasil.Inmeras prticas de baixo impacto (plantio direto, integrao lavourapecuriafloresta,tratamento de dejetos, rotao de culturas, expanso da rea de florestas plantadas,intensificaodapecuria,usoracionalde insumosedegua,dentreoutras)soaplicadasatualmente,equeresultamemganhosdeprodutividadealiadosaproduolimpa.Nessesentido,acriaodeesquemasdepagamentoporserviosambientaisPSAdeveseropontodepartidaparaaprimorardebatesqueocorremnotocanteamudanasdoclimaebiodiversidade,masquedependemderecursosecomprometimentodospases.AcriaodoFundoNacionaldeMudanasdoClima,eaclarezaquantoarelevnciadefinanciaraesligadasagestodousodaterraeprticasmenosemissorasrefleteaimportnciadaadoodeprojetosnessareanocontextodaspolticasclimticasnacionais.crucialdestacar,noentanto,queapesardeoBrasilpossuir65%dereacomvegetaonativa,edaproduoagropecuriaconservarreasnasfazendas,noexisteumapolticadepagamentoporserviosambientaisquepermitaincentivaraconservao.OsprojetosdeleisobrepagamentoporserviosambientaisesobreReduodeEmissesporDesmatamentoeDegradao REDD plus, precisam avanar para que o Brasil tenha leis que permitamavanar na criao de projetos que tragam ganhos mtuos para a agricultura e o meioambiente.Almdisso,discuteseaadoodeumprogramadeincentivoaconservaoerecuperaoambientalnombitodoCdigoFlorestal,oquefundamentalparaestruturaraagriculturadebaixoimpacto.Aconservaodevegetaonativasnasfazendasumdiferencialquesetraduz em benefcios ambientais no s para o produtor, mas para a sociedade, e criaresquemas de incentivo que promovam essa conservao um desafio que precisa seramadurecidonoBrasil.OscasosdoProgramaProdutordegua,daAgnciaNacionaldeguas,soexemplosdePSAsque comeama ser implementadosemdiferentesbaciashidrogrficasequegerambenefcios scioambientais concretos. Dar escala para projetos dessa natureza fundamental.AcriaodeummercadodecarbononocontextodaPolticaNacionaldeMudanadoClimaoutropontoemabertonaregulamentaobrasileira.NamedidaemqueoBrasilaprimore

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    seus inventriosdeemisses,e crie conhecimento amplo sobreemissese remoesdeGEEsnosetoragropecurio,serfundamentalintegrarprticasdebaixocarbononofuturomercadodeemissesnacional.Na linha de pases como Austrlia eNova Zelndia, integrar aes de baixo carbono nocamponossistemasdecomrciodeemissespodeserumaformadeajudaraproduzircombaixoimpacto,egerarreduesdeemissocustoeficientes.A construodaeconomiaverdebrasileira requeraexpansodaagropecuria combaixoimpacto.Oequilbrioentreproduodealimentoseconservaodomeioambienteexigeocomprometimento dos produtores com a regularizao ambiental das propriedades nombitodonovoCdigoFlorestalecomaadoodeboasprticas,mas tambm impeapresena do governo que precisa criar incentivos e estabelecer marcos regulatrios quefavoreamprticasdeeconomiaverde.Economiaverdenocamposignificaconservarreasdevegetaonativaeabiodiversidade,produziralimentos saudveiseenergias renovveis,agregar tecnologiasque resultememganhos de produtividade e reduzam impactos ambientais. Significa recuperar reasdegradadas, adotar prticas de baixo carbono, e premiar quem conserva os recursosnaturais.Oagrobrasileiro,doprodutor familiaraoempresarial, ircrescereseexpandirvisandoomercado interno e a exportao, e agregara cada vezmais prticas de baixo impacto.Ocenrio futuro da agropecuria ir contribuir de forma concreta para ajudar a garantirseguranaalimentaredarsuporteparaareduodapobreza.A demanda por novas reas ser suprida pela recuperao de reas degradadas e pelaconversoemreasprodutivas,semqueissosignifiqueumaescaladadodesmatamento.Emparalelo,aadoodeprticasdebaixocarbonodevernosreduzirasemissesdosetor,masminimizar riscosdos impactosdasmudanasdo clima.Almdisso,a conservaodevegetao nativa nas fazendas gera servios ambientais que agregam valor a produosustentvel.Essasaescontribuemparaaproduosustentvel,edevemserentendidascomoprticasde economia verde que ajudam o Brasil a avanar na agenda de sustentabilidade, e acontribuirparaosdesafiosglobaisligadosaodesenvolvimento.

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    RefernciasAquecimentoGlobaleanovageografiadaproduonoBrasil,EmpresaBrasileiradePesquisaAgropecuriaEMBRAPA.Agostode2008.Disponvelem:http://www.embrapa.br/publicacoes/tecnico/aquecimentoglobal.pdfBalanoEnergticoNacional2012.EmpresadePesquisaEnergticaEPE,Junhode2012.Disponvelemhttps://ben.epe.gov.br/downloads/Resultados_Pre_BEN_2012.pdfBioeletricidade,aenergiaverdeeinteligentedoBrasil.ProjetoAGORA,agroenergiaemeioambiente.Disponvelem:http://www.bioeletricidade.com.br/cartilha_bioeletricidade.pdfConvenosobreDiversidadeBiolgicaCDB.MetasdeAichisobreBiodiversidade.DecisoX/2,COP10,2010.CensoAgropecurio2006.InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatsticaIBGE.Disponvelemhttp://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/default.shtmClimateChange:ImpactonAgricultureandCostsofAdaptation,InternationalFoodPolicyResearchInstitute(IFPRI),WashingtonDC,2009.DETER,InstitutoNacionaldePesquisasEspaciaisINPE.Disponvelemhttp://www.obt.inpe.br/deter/.Gouvello,Christophede,et,al.EstudodeBaixoCarbonoparaoBrasil.BancoMundial,2010.HowtoFeedtheWorldin2050.FoodandAgricultureOrganization(FAO).Disponvelemhttp://www.fao.org/fileadmin/templates/wsfs/docs/expert_paper/How_to_Feed_the_World_in_2050.pdfIrrigaoedemandadeguanoBrasil.ExtradodeConjunturadosRecursosHdricosnoBrasil2009.Disponvelem:http://www.claudiodimauro.com.br/dimauro/userfiles/file/biblioteca/Irrigacao%20e%20demanda%20de%20agua%20no%20Brasil%20%20Jose%20Machado.pdfInstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaesInternacionaisICONE.Cenrio2030feitocombasenoBrazilianLandUseModelBLUM.Estudoaindanopublicado.2012.Lima,R.C.A.,OnovoCdigoFlorestalnoplanointernacional.InternationalCentreforTradeandSustainableDevelopment.Pontes.Volume7.Nmero2.Junhode2011.Disponvelem:http://ictsd.org/i/news/pontes/109487MinistriodoMeioAmbiente.UnidadesdeConservaoporBioma.Disponvelemhttp://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_dap_cnuc2/_arquivos/uc_por_bioma_cnuc_31jan2012_119.pdf

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    MinistriodeMinaseEnergia.BalanoEnergticoNacionalBEN2010.Disponvelem:https://ben.epe.gov.br/downloads/Relatorio_Final_BEN_2010.pdfMinistriodaAgricultura,PecuriaeAbastecimento.ZoneamentoAgroecolgicodaCanadeAcar.Setembrode2009.Disponvelem:http://www.cnps.embrapa.br/zoneamento_cana_de_acucar/ZonCana.pdfManagingWaterunderUncertaintyandRisk.TheUnitedNationsWorldWaterDevelopmentReport4.Volume1.2012.Nassar,A.M.;Harfuch,L.;Moreira,M.M.R.;Bachion,L.C;Antoniazzi,L.B.;LIMA,R.C.A.SimulatingLandUseandAgricultureExpansioninBrazil:Food,Energy,AgroindustrialandEnvironmentalImpacts.RelatrioCientficoFinal,ProgramaBIOENFAPESP,Fevereiro2011.Disponvelem:http://www.iconebrasil.org.br/arquivos/noticia/2256.pdfOutlookBrasil2002:projeesparaoagronegcio.FederaodasIndstriasdoEstadodeSoPaulo(FIESP)eInstitutodeEstudosdoComrcioeNegociaesInternacionais(ICONE).SoPaulo,2012.Disponvelem:http://www.fiesp.com.br/outlookbrasil/.PlanodeAgriculturadeBaixaEmissodeCarbonoPlanoABC,Maio2011.Disponvelem:http://www4.planalto.gov.br/consea/noticias/imagens1/planoabcPlanoBrasilSemMisria.Disponvelemhttp://www.brasilsemmiseria.gov.br/ProgramadasNaesUnidasparaoDesenvolvimento.RelatriodoDesenvolvimentoHumano2006.ACompetiopelaguanaagricultura.Disponvelem:http://hdr.undp.org/en/media/01_HDR06%20frontmatter_PT_revCA.pdfProduoAgrcolaMunicipal2010.InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatsticaIBGE.Disponvelemhttp://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2010/default.shtm.PRODESMonitoramentodaFlorestaAmaznicaBrasileiraporSatlite.InstitutoNacionaldePesquisasEspaciaisINPE.Disponvelemhttp://www.obt.inpe.br/prodes/RelatriodoDesenvolvimentoHumano,2006.Acompetiopelaguanaagricultura.Disponvelem:http://hdr.undp.org/en/media/06Chapter5_PT1.pdfRevistaTrimestraldaAssociaoBrasileiradeIrrigaoeDrenagemABID.Irrigao&TecnologiaModerna.Nmero92.Sparovek,G.;Barreto,A.;Klug,I.;Papp,L.;Lino,J.ArevisodoCdigoFlorestalbrasileiro.NovosEstudos,89,maro2011,181205.

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