AGRICULTURA FAMILIAR: PERCEPÇÃO DE SAÚDE DE AGRICULTORES RESIDENTES EM COMUNIDADE AGROECOLÓGICA, NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA/PR Jaqueline Chaves

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  • 7/24/2019 AGRICULTURA FAMILIAR: PERCEPO DE SADE DE AGRICULTORES RESIDENTES EM COMUNIDADE AGROECOLGICA, NO MUNICPIO DE PONTA

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    REA TEMTICA: SADE

    AGRICULTURA FAMILIAR: PERCEPO DE SADE DE AGRICULTORES RESIDENTESEM COMUNIDADE AGROECOLGICA, NO MUNICPIO DE PONTA GROSSA/PR

    Jaqueline Chaves de Oliveira1Kelly Regina Durski Pinheiro2Cristina Berger Fadel3Juliana Regina Dias Lemos4Walquiria Mariany Kuhn5

    RESUMO Este trabalho tem como finalidade realizar um diagnstico subjetivo dos problemas desade de agricultores residentes na comunidade agroecolgica Emiliano Zapata localizada no distritode Itaiacoca, municpio de Ponta Grossa- PR, bem como propor aes de promoo e preveno de

    sade voltadas a esta populao. A proposta metodolgica teve uma abordagem qualitativa, sendo aprincipal fonte de dados a aplicao de um instrumento de investigao geral (aspectossocioeconmicos e dados familiares) e outro especfico (de acordo com cada faixa etria e sexo),juntamente com a observao clnica (odontolgica e consulta de enfermagem) dos participantes.Constituram amostra desta pesquisa 56 famlias integrantes da comunidade agroecolgica, sendo106 indivduos adultos que participaram da investigao. As informaes coletadas foram ordenadasconforme sua prevalncia e importncia, de acordo com a percepo de cada indivduo sobre oprocesso sade-doena, utilizando-se de relatos individuais. Aps as anlises, puderam serobservadas algumas divergncias entre o que foi exposto por meio de relato e o que foi verificadoclinicamente. Constatou-se que a populao, em sua maioria, apenas busca os servios de sade namedida em que sente necessidade de aes curativas, o que evidencia, nesta populao, aperpetuao do modelo biomdico em sade, em detrimento aos conceitos atuais de preveno epromoo da sade.

    PALAVRAS CHAVE sade da populao rural, autocuidado, agroecologia.

    1 Acadmica de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa,[email protected] de Enfermagem da Universidade Estadual de Ponta Grossa, [email protected], professora assistente do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de PontaGrossa, [email protected]

    Doutoranda, Professora do Departamento de Enfermagem e Sade Pblica da UniversidadeEstadual de Ponta Grossa, [email protected], egressa, [email protected].

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    Introduo

    A agricultura familiar um universo profundamente heterogneo, em termos dedisponibilidade de acesso ao mercado, capacidade de gerao de renda e acumulao1.

    O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se constitui em um movimentosocial que ao longo dos tempos conquistou sua legitimidade e se firmou enquanto grupo social

    organizado, exercendo fortes influncias no cenrio das decises polticas em todas as esferas depoder. As lutas e manifestaes coletivas que expressam os desejos do movimento nortearam arelao estabelecida com a sociedade e com o Estado, conquistando o reconhecimento social,fundamental para o grupo, que hoje possui assento nos principais espaos de deciso e controlesocial do setor sade, que so os Conselhos Municipais e Estaduais de Sade, criados a partir donovo modelo de ateno sade, preconizado pelo Sistema nico de Sade (SUS) na ConstituioFederal de 1988 e Lei Orgnica de Sade n 8.080/90. O MST se constituiu a partir de janeiro de1984, com objetivos, princpios e organizao poltica, social, produtiva e cultural dos camponeses.Hoje, est presente em 23 Estados do Brasil, em acampamentos (ocupao de terra ainda nolegalizada) e em assentamentos (ocupao de terra j legalizada)2.

    O acesso aos servios de sade e a qualidade do atendimento recebido esto fortementerelacionados s condutas das pessoas em relao sua sade. Porm, o exerccio da cidadania ea percepo dos indivduos quanto aos seus direitos que possibilitam a participao e o controle

    social sobre a assistncia sade e outros servios3

    .As situaes de dificuldade para o acesso s aes de sade so muitas, mas no sodesconhecidas. Elas se repetem a muito na histria da construo social, e, em particular, nadeficiente histria da ateno sade no Brasil. So reveladoras de uma situao de ausncia dedignidade e de cidadania. Situao, provavelmente, decorrente de um modelo econmico que,atravs de polticas pblicas desresponsabilizadas, a reproduz e perpetua4.

    A comunidade agroecolgica Emiliano Zapata, atendida pelo Projeto Construindodiagnsticos de sade na agricultura familiar do Projeto Universidade Sem Fronteiras est localizadano distrito de Itaiacoca, municpio de Ponta Grossa-PR. A referida comunidade composta por 56famlias distribudas em seis ncleos (Mario Lago, Chico Mendes, Canudos, Zumbi dos Palmares,Florestan Fernandes, Dandara) e ocupa uma rea de 625 ha.

    A comunidade representa a produo familiar em estabelecimentos agrcolas, uma vez quecorresponde aos critrios definidos pela Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006, quais sejam: a rea do

    estabelecimento ou empreendimento rural no excede quatro mdulos fiscais; a mo de obrautilizada nas atividades econmicas desenvolvidas predominantemente da prpria famlia; a rendafamiliar predominantemente originada dessas atividades; e o estabelecimento ou empreendimento dirigido pela famlia.

    A dinmica regional, a localizao da comunidade e as distncias impostas representam umgrande hiato entre essa populao e o atendimento adequado sade. Os servios que chegam comunidade so escassos e pouco resolutivos. Em virtude disto, o Projeto Construindo diagnsticosde sade na agricultura familiar prope a ateno sade dos indivduos desta comunidade, atravsda identificao dos problemas e atuao de egressos e acadmicos do Curso de Enfermagem eOdontologia em aes direcionadas preveno e promoo que visam reduzir os impactos deateno a sade deficitria num trabalho conjugado com o servio pblico de sade.

    Objetivos

    Realizar um diagnstico subjetivo dos problemas de sade da populao adscrita comunidade agroecolgica Emiliano Zapata, bem como propor aes de promoo e preveno dasade voltadas a esta populao.

    Metodologia

    O trabalho aqui descrito foi realizado por meio de visitas de campo, ocorridas entre osmeses maro, abril e maio de 2010.

    Essa pesquisa um estudo descritivo, transversal com abordagem qualitativa.Desenvolvida atravs de entrevista estruturada, juntamente com avaliao clnica e observao dos

    hbitos individuais. Foram pesquisadas 56 famlias, atendidas pelo Projeto Construindo diagnsticosde sade na agricultura familiar do Programa Universidade Sem Fronteiras, residentes na

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    Comunidade Agroecolgica Emiliano Zapata, no distrito de Itaiacoca, municpio de Ponta Grossa(Figura 1).

    Figura 1- Acampamento Emiliano Zapata

    Legenda: Placa indicativa do acesso comunidade agroecolgica.

    Foram realizadas duas entrevistas, a primeira envolveu a investigao de dados familiares escio-econmicos (membros da famlia, idade, escolaridade, ocupao, renda, caractersticas dahabitao, destino do lixo, servio de sade utilizado, plantas medicinais). J a segunda revelouinformaes individuais a respeito de sade geral (hbitos nocivos, histrico familiar, histrico desade, patologias de base, uso de medicaes, queixas, sexualidade, mtodos contraceptivos, dados

    vitais) e bucal (nmero de dentes, crie dental, doena periodontal, leso de mucosa, dor oudesconforto, hbitos de higiene bucal e dieta alimentar), das quais foram exploradas no presentetrabalho as variveis: dor ou desconforto e hbitos de higiene bucal.

    A entrevista e o exame fsico individual foram direcionados de acordo com gnero e idade,sendo realizada em sua maioria em local especfico cedido pela comunidade. Foi respeitada aprivacidade e sigilo das informaes declaradas.

    Vale lembrar que a metodologia de abordagem utilizada nesta populao buscou privilegiarseus saberes, valores e crenas, levando em considerao a percepo (no sentido mais amplo dapalavra) de seus indivduos, famlias e comunidades envolvidas.

    Tabela 1 Distribuio dos indivduos por faixa etria

    Idade 0 10 11 - 18 >18

    N depessoas (%) 34 (20,73%) 23 (14,02%) 106 (64,64%)

    Fonte: Pesquisa de Campo.

    Os dados obtidos foram tabulados atravs de planilha eletrnica Microsoft Excel e analisadosrelacionando-os com informaes observadas durante as entrevistas. Esse mtodo propicia umaconfrontao de informaes, visando o reconhecimento das diferenas entre a percepo subjetivade sade da populao e a anlise tcnica dos pesquisadores.

    Resultados

    A anlise dos dados de campo revelou uma srie de peculiaridades relativas percepode sade dos agricultores entrevistados. Os principais pontos que aqui sero destacados so a

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    percepo de sade em relao hipertenso, diabetes, cardiopatias, varizes, gastrite, cefalia,depresso e tabagismo.

    A partir dos dados obtidos, o estudo mostrou que dos 106 adultos entrevistados com maisde 18 anos, 14,15% referiu ter hipertenso, dos quais a maioria no faz o controle commedicamentos devido falta de crena com tais e/ou pela dificuldade de acesso ao posto de sadepara a busca dos medicamentos controlados. No caso de diabetes, apenas 0,9% das pessoas

    referiram ter, 2,8% referiu cardiopatia, 8,5% varizes, 1,9% gastrite, 4,7% cefalia, 5,7% depresso e33,02% se queixaram de outras doenas, na qual prevaleceu dores na coluna.Em relao ao tabagismo, 27,36% das pessoas so fumantes, sendo que na maioria dessas

    apareceu concomitantemente a hipertenso, o que aumenta o risco potencial dessa doena, alm dapossvel apario de doenas coronarianas.

    A comunidade de modo geral apresentou preocupao com a sade e qualidade de vida noque diz respeito a intervenes curativas, participando e contribuindo com a equipe durante oprocesso de trabalho.

    No que concerne sade bucal, os moradores, em sua maioria, se mostraram bastantereceptivos em participarem da pesquisa, motivados pela possibilidade de conseguirem tratamentopara os seus problemas de ordem bucal.

    No decorrer das entrevistas, foi-lhes questionado sobre a ocorrncia de sensao dolorosa(dor ou desconforto) ou no. Como mostrado na tabela abaixo, apenas 8,62% declarou sensao de

    dor ou desconforto, sendo que a maior parcela da populao pesquisada relatou no ter sensaodolorosa em relao aos dentes e cavidade bucal.

    Tabela 2 Declarao de dor e ou desconforto (%)

    sim 8,62provocada 60

    espontnea 40

    no 84,48

    no soube responder 6,9

    *Paciente especial ou de zero a trs anos.

    Fonte: Pesquisa de Campo.

    Outro dado observado foi a questo de higienizao bucal. Questionou-se aos entrevistadosse tinham o hbito de escovar os dentes ou no. O resultado encontrado foi de que 80,77% afirmamescovar os dentes pelo menos uma vez por semana. Os restantes (19,23) relataram no ter escova,portanto no faziam nenhum tipo de limpeza da cavidade bucal.

    Tabela 3 Hbito de escovar (%)

    Sim 80,77

    No 19,23Fonte: Pesquisa de Campo.

    Dos pesquisados que referiram realizar a escovao dental foi-lhes perguntado com quefreqncia a realizam.

    Sendo que 14,28% afirmaram realizar escovao de uma a trs vezes por semana, 45,24%de uma a duas vezes por dia e 40,48%relataram escovar os dentes trs ou mais vezes diariamente.

    Contraditoriamente, durante o exame bucal averiguou-se, em muitos casos, presena dematria alba, manchas e acmulo de placa. O que pode ser entendido como falta de escovao,escovao deficiente e ou realizada de forma incorreta.

    Tabela 4 Frequncia da escovao (%)

    1 a 3 vezes na semana 14,28

    1 a 2 vezes por dia 45,24

    3 ou mais vezes ao dia 40,48

    Fonte: Pesquisa de Campo.

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    Concluses Os dados coletados apontaram para um grande nmero de pessoas que se

    percebem portadoras de doenas crnicas e que se mostram preocupadas com seuestado geral de sade, porm pouco mobilizadas na busca de acesso aos bens eservios de sade.

    Tambm no campo da sade bucal, as investigaes realizadas apontaram para

    uma populao extremamente interessada em mtodos paliativos para seus danos,e pouco preocupada em conhecer os meios de preveni-los. Esses fatos evidenciam a perpetuao do modelo biomdico em sade nesta

    populao, em detrimento aos conceitos de preveno e promoo da sade.

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    Referncias

    1-Buainain, A. M.; Romeiro, A. R.; Guanziroli, C. Agricultura familiar e o novo mundo rural.Sociologias, ano 5, n 10 jul/dez, Porto Alegre, 2003.

    2-Cavalcante, I. M. S.; Nogueira, L. M. V. Prticas sociais coletivas para a sade noAssentamento mrtires de abril na ilha de mosqueiro Belm, PA. Esc Anna Nery Rev Enferm12, 3, 2008.

    3-Drumond, M. M. A criana seu em torno e a crie. 221p. Tese Doutorado em OdontologiaSocial. Universidade Federal Fluminense, Niteri, 2002.

    4-Santiago, W. K. O processo de insero da odontologia no programa BH vida entre 1999 e2002: Um estudo com base na viso da equipe de coordenao de Sade Bucal e Cirurgies-dentistas do Programa.Belo Horizonte, 2004.

    5-Peres, F.; Rozemberg, B.; Lucca, S. R.Percepo de riscos no trabalho rural em uma regio

    agrcola do Estado do Rio de Janeiro, Brasil: agrotxicos, sade e ambiente. Cad. SadePblica v.21 n.6 Rio de Janeiro, nov./dez. 2005.