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UFS - POSGRAP - NEREN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS DISSERTAÇÃO AGRICULTURA ORGÂNICA NO CULTIVO DE HORTALIÇAS NO AGRESTE SERGIPANO DÉBORA BERNARDES DE ANDRADE 2007

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UFS - POSGRAP - NEREN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM AGROECOSSISTEMAS

DISSERTAÇÃO

AGRICULTURA ORGÂNICA NO CULTIVO

DE HORTALIÇAS NO AGRESTE

SERGIPANO

DÉBORA BERNARDES DE ANDRADE

2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA - POSGRAP

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E ESTUDOS EM RECURSOS NATURAIS - NEREN

VIABILIDADE DO USO DE TÉCNICAS DA AGRICULTURA

ORGÂNICA NO CULTIVO DE HORTALIÇAS NO AGRESTE

SERGIPANO

DÉBORA BERNARDES DE ANDRADE

Sob a Orientação do Professor

Dr. Alceu Pedrotti - UFS

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Agroecossistemas.

São Cristóvão, SE.

Julho de 2007

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

A553v

Andrade, Débora Bernardes de Viabillidade do uso de técnicas da agricultura orgânica no cultivo de hortaliças no agreste sergipano / Débora Bernardes de Andrade. – São Cristóvão, 2007.

75 f.

Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Núcleo de Pós-Graduação e Estudos em Recursos Naturais, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Universidade Federal de Sergipe, 2007.

Orientador: Prof. Dr. Alceu Pedrotti.

1. Agroecossistemas. 2. Agricultura familiar –

Hortaliças – Areia Branca / SE. 3. Agricultura orgânica. 4. Desenvolvimento sustentável.. Título.

CDU 504:635.1/.8

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – POSGRAP

NÚCLEO DE POS-GRADUAÇÃO E ESTUDOS EM RECURSOS NATURAIS - NEREN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS

DÉBORA BERNARDES DE ANDRADE

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Agroecossistemas DISSERTAÇÃO APROVADA EM -----/-----/------ (Data da defesa)

Prof. Dr. Alceu Pedrotti Universidade Federal de Sergipe

(Orientador)

Pesq. Dra. Maria Urbana Corrêa Nunes EMBRAPA – Tabuleiros Costeiros

Prof. Dr. Francisco Sandro Rodrigues Holanda Universidade Federal de Sergipe

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EDICATÓRIA

À memória de meu pai,

Francisco Tarcízio de Andrade,

que sempre me apoiou em todas as minhas decisões.

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AGRADECIMENTOS Ao Dr. Alceu Pedrotti pela confiança, orientação, apoio e incentivo durante o curso de

mestrado.

À Dra. Maria Urbana pelas valiosas sugestões e orientação na realização deste trabalho.

À Universidade Federal de Sergipe, pela realização deste curso, em especial ao

Departamento de Agronomia e ao Núcleo de Pós-Graduação e Estudos em Recursos

Naturais,bem como aos professores, colegas e funcionários.

À Escola Agrotécnica de Estância e seus funcionários pela realização do experimento.

Ao Sr. José Araújo, agricultor, pela valiosa entrevista que tanto enriqueceu este

trabalho.

Aos amigos Vinícius, Érica, Ana Consuelo, Jane Velma, Vandemberg, Tânia, Evanildes

e Selenobaldo com quem tive o privilégio de conviver durante o curso.

Aos amigos Clicio e Cândido pela grande ajuda na execução do experimento em

Estância.

À Embrapa, pelo Prodetab, que tornou possível a realização do experimento.

À CAPES, pela bolsa de estudos.

Às minhas crianças, Luíza e Paulo, amores da minha vida.

À minha família, Cleusa, Ana Maria, Bárbara, Ênio, José Francisco, Cleide, Luana e

especialmente à Graziela, pela ajuda na revisão desta dissertação.

Aos amigos de Uberlânida e de Aracaju.

Enfim a todas as pessoas que colaboraram para a realização deste trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................................1 CAPÍTULO I - A AGROECOLOGIA COMO ALTERNATIVA DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL PARA AGRICULTORES FAMILIARES DO NORDESTE BRASILEIRO ..........................................................................................3 RESUMO......................................................................................................................... 3 ABSTRACT .................................................................................................................... 3 1.1 O Paradigma Agrário................................................................................................4 1.2 Aspectos conceituais dos Agroecossistemas ............................................................5 1.3 Sustentabilidade de Agroecossistemas.....................................................................7 1.4 Agricultura Familiar ...............................................................................................10 1.5 O Enfoque Agroecológico .......................................................................................12 1.6 Agricultura Orgânica..............................................................................................15 1.7 Tecnologias para Manejo do Solo ..........................................................................17

1.7.1 Cultivo Mínimo ..........................................................................................19 1.8 Os Agroecossistemas Sergipanos............................................................................19 1.9 Conclusões ................................................................................................................25 1.10 Referências Bibliográficas ....................................................................................27 CAPÍTULO II - TECNOLOGIAS DE PREPARO DE SOLO NO CULTIVO ORGÂNICO DE HORTALIÇAS ................................................................................34 RESUMO........................................................................................................................34 ABSTRACT ...................................................................................................................35 2.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................36 2.2 MATERIAL e MÉTODOS.....................................................................................38 2.3 RESULTADOS e DISCUSSÃO .............................................................................40

2.3.1 Consórcio alface/cenoura ...................................................................................40 2.3.2 Consórcio repolho/coentro .................................................................................42 2.3.3 Consórcio milho/feijão-caupi .............................................................................44 2.3.4 Mucuna preta ......................................................................................................46

2.4 CONCLUSÃO .........................................................................................................47 2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................48 CAPÍTULO III - AVALIAÇÃO DAS POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DA EXPLORAÇÃO ORGÂNICA NA FAZENDA ORGÂNCIA AREIA BRANCA, MUNICIPIO DE AREIA BRANCA, SERGIPE ........................................................50 RESUMO........................................................................................................................50 ABSTRACT ...................................................................................................................51 3.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................52

3.1.1 O Município de Areia Branca.............................................................................53 3.1.2 Objetivo e Desenvolvimento ..............................................................................55

3.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................................................55 3.2.1 Histórico da Área e a Transição Para o Cultivo Orgânico .................................55

3.2.1.1 As iniciativas da ASPOAGRE ....................................................................56 3.3 Análise Tecnológica e Ambiental ...........................................................................57 3.4 Análise Econômica...................................................................................................61

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3.5 Análise Social e Pessoal ...........................................................................................62 3.6 Aplicabilidade das propriedades dos agroecossistemas na Fazenda Orgânica de Areia Branca ..................................................................................................................62

3.6.1 Produtividade......................................................................................................62 3.6.2 Estabilidade ........................................................................................................63 3.6.3 Sustentabilidade..................................................................................................63 3.6.4 Equidade .............................................................................................................64

3.7 Indicação de Estratégias Para Aumentar a Sustentabilidade na Área Analisada...............................................................................................................64

3.6.1 Técnicas de irrigação ..........................................................................................64 3.6.2 Plantio de espécies arbóreas ...............................................................................66 3.6.3 Criação de Cabras...............................................................................................68 3.6.4 Trabalho familiar ................................................................................................69 3.6.5 Estudo de viabilidade de produção de sementes de hortaliças ...........................70

3.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................70 3.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................73 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................75

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RESUMO

Andrade, Débora Bernardes de. Agricultura Orgânica no Cultivo de Hortaliças no Agreste Sergipano. São Cristóvão: UFS, 2007, 77p. (Dissertação, Mestrado em Agroecossistemas).

Agroecossistemas são sistemas ecológicos modificados pelo ser humano para produzir alimento, fibra ou outro produto agrícola, nos quais os recursos naturais interagem entre si e com o homem em efeitos recíprocos. Nos agroecossistemas sergipanos, a cobertura vegetal natural está praticamente extinta, cobrindo menos de 5% do seu território. O movimento que defende a agricultura sustentável reconhece o papel do estabelecimento agrícola na promoção de práticas que contribuam para a solução dos problemas sociais no campo, constatando que a agricultura familiar apresenta um papel fundamental na produção de alimentos e na geração de empregos. Na busca de agroecossistemas sustentáveis, a agricultura agroecológica pressupõe a investigação dos sistemas agrícolas gerando tecnologias adequadas às necessidades dos agricultores. O presente trabalho buscou analisar a viabilidade do uso de cultivo mínimo na olericultura orgânica, direcionado aos agricultores familiares e ainda avaliar a realidade de uma propriedade rural orgânica no município de Areia Branca (Agreste de Itabaiana/Sergipe). O experimento foi conduzido na área física da Escola Agrícola de Estância, zona rural de Sergipe, em solo provindo da associação entre Argissolo Vermelho Amarelo e Neossolo Quartzarênico, de baixa fertilidade natural, derivado de sedimentos do Grupo Barreiras. O projeto foi financiado pelo PRODETAB-Embrapa. Avaliou-se dois sistemas de preparo do solo, convencional e cultivo mínimo e quatro tipos de consórcio: mucuna preta, repolho/coentro, alface/cenoura e milho/feijão-caupi. A produção total sob cultivo mínimo de algumas culturas (alface, cenoura, coentro e milho) foi numericamente superior aos resultados obtidos sob cultivo convencional, enquanto que para outras culturas (repolho e mucuna preta) o cultivo convencional foi o mais produtivo. Para o feijão-caupi o resultado dos tratamentos não foi conclusivo. A técnica testada neste trabalho obteve resultados promissores, uma vez que não trouxe perdas de produtividade e e das características comerciais das culturas escolhidas. A maioria da população do município de Areia Branca reside no meio rural, predominando pequenos estabelecimentos agropecuários com área de 2 a 10 hectares. A técnica utilizada foi a Entrevista Semi-estruturada, realizada com o proprietário da Fazenda Orgânica Areia Branca (10º45’28”S; 37º18’55”O), que produz hortaliças, frutas, mel e própolis e algumas criações animais. Toda a produção é destinada para as lojas da Associação, em Itabaiana e Aracaju e o transporte é realizado com recursos próprios diminuindo gastos com logística. A demanda por produtos orgânicos é crescente, e os produtores estão aumentando as áreas plantadas visando à agroindústria. Constatou-se, na área estudada, a necessidade de boa política rural local, direcionada às necessidades do produtor familiar orgânico, sendo necessário melhorar a assistência técnica e encontrar outros nichos de mercado consumidor. Políticas públicas se constituem em um importante mecanismo na promoção de um desenvolvimento local, com a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e de uma agricultura ambientalmente sustentável. Palavras-chave: olerícolas, agroecologia, agroecossistemas.

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ABSTRACT

Andrade, Débora Bernardes de. Organic Agriculture in the Culture of Crops in the Wasteland of Sergipe. São Cristóvão: UFS, 2007, 77p. (Dissertation, Master Science in Agroecosyms).

Agroecossystems is ecological systems modified by the human being to produce food, fiber or another agricultural product, in which the natural resources interact between itself and with the man in reciprocal effect. In agroecossystems of Sergipe, the natural vegetal covering is practically extinct, covering less than 5% of its territory. The movement that defends sustainable agriculture recognizes the paper do agricultural establishment in the promotion of practical that field contributes for the solution dos social problems no, evidencing that familiar agriculture presents a basic paper of food production and generation of jobs. In the search of agroecossystems sustainable, agroecology agriculture estimates the inquiry of the agricultural systems generating adequate technologies to the necessities of the agriculturists. The present work searched to analyze the viability of the use of minimum culture in the organic olericulture, directed the familiar agriculturists and still to evaluate the reality of organic country property in the Areia Branca city (Wasteland of Itabaiana/Sergipe). The experiment was lead in the physical area of the Escola Agrícola de Estância, agricultural zone of Sergipe. The project was financed by the PRODETAB-Embrapa. One evaluated two systems of preparation of the ground, conventional and minimum culture and four types of trust: mucuna black, cabbage/coentro, lettuce/carrot and maize/beans-caupi. The total production under minimum culture of some cultures (lettuce, carrot, coentro and maize) was numerical upper to the results gotten under conventional culture, while that for other cultures (cabbage and mucuna) the conventional culture was most productive. For the beans-caupi the result of the treatments was not conclusive. The technique tested in this work got resulted promising, since it did not bring losses of productivity and commercial characteristic of the chosen cultures. The majority of the population of the Areia Branca city inhabits in the agricultural way, predominating small farming establishments with area of 2 the 10 hectares. The used technique was the Half-structuralized Interview, carried through with the proprietor of the Fazenda Orgância de Areia Branca (10º45'28"S; 37º18'55"O), that it produces vegetables, fruits, honey and própolis and some cattle raising. All the production is destined for the store of the Association, in Itabaiana and Aracaju and the transport is carried through with proper resources diminishing expenses with logistic. The demand for organic products is increasing, and the producers are increasing the planted areas aiming at to the agricultural industry. It was evidenced, in the studied, the necessity of good local agricultural politics, directed area to the necessities of the organic family producer, being necessary to improve the assistance technique and to find other niches of consuming market. Public politics if constitute in an important mechanism in the promotion of a local development, with the improvement of the quality of life of the agriculturists and of an ambiently sustainable agriculture. Keywords: olericulture, agroecology, agroecossystems.

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INTRODUÇÃO

O paradigma da agricultura convencional está baseado na exploração intensa dos

recursos naturais, homogeneizando a paisagem, sem respeitar os diferentes ecossistemas

e comunidades locais. Na natureza, a estabilidade está intimamente ligada à diversidade,

sendo a agricultura uma atividade que, por definição, rompe com este equilíbrio ao

estabelecer uma simplificação do ecossistema original. A agroecologia engloba

orientações de como fazer isso, cuidadosamente, sem provocar danos desnecessários ou

irreparáveis.

O processo de mudança do manejo convencional para o orgânico é conhecido

como conversão. Segundo as normas brasileiras, para que um produto receba a

denominação de orgânico, deverá ser proveniente de um sistema onde tenham sido

aplicados os princípios estabelecidos pelas normas orgânicas por certo período de

tempo, em geral cerca de 2 anos. Pela utilização mínima ou inexistente de tecnologias

modernas de produção agropecuária (insumos e maquinaria), os pequenos agricultores

tomam vantagem durante o processo de conversão em relação aos agricultores

modernos.

Dos diferentes sistemas de manejo de solo destacam-se o Sistema Convencional,

que é a combinação de uma aração (arado de disco) e duas gradagens, feitas com a

finalidade de criar condições favoráveis para o estabelecimento da cultura; e o Sistema

Conservacionista, que vem a ser qualquer sistema de preparo do solo que reduza a perda

de solo ou água.

No Nordeste, a ocupação do espaço agrário está fundada nas grandes

propriedades e em relações tradicionais de produção representadas pelas atividades

canavieira, algodoeira e na criação de gado extensivo combinadas com a exploração

familiar de cultivos alimentícios. Em Sergipe, apesar da predominância da grande

propriedade, a grande maioria das propriedades agrícolas possui menos de vinte

hectares (85,7% dos estabelecimentos agrícolas do Estado, segundo o censo 1995/96). É

neste estrato de área onde se concentra maciçamente a unidade de produção da

agricultura familiar. As características do sistema agrícola sergipano o tornam ideal para

a aplicação de projetos agroecológicos, permitindo a obtenção de bases científicas para

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apoiar o processo de transição do atual modelo de agricultura convencional para estilos

de agricultura sustentável.

O objetivo desse trabalho foi testar a viabilidade do uso da agroecologia no

cultivo de hortaliças, através de um experimento e da análise de uma propriedade

orgânica no agreste sergipano.

Para isso, o texto estrutura-se em três capítulos, além desta introdução. No

Primeiro Capítulo é feita uma discussão conceitual sobre agroecossistemas e sua

sustentabilidade, a importância da agricultura familiar e o ponto de vista agroecológico,

com um enfoque na realidade sergipana, e ainda analisa estratégias para a prática da

agricultura sustentável, em especial o Sistema de Cultivo Mínimo e a Agricultura

Orgânica.

No Segundo Capítulo fez-se um estudo técnico, por meio da avaliação de dois

sistemas de preparo do solo, convencional e cultivo mínimo e quatro sucessões de

consórcio: mucuna preta, repolho/coentro, alface/cenoura e milho/feijão caupi, com o

objetivo de gerar conhecimentos tecnológicos para o cultivo orgânico de hortaliças para

as condições edafoclimáticas na zona costeira sergipana.

Finalmente, no Terceiro Capítulo avaliaram-se as potencialidades e limitações

da exploração orgânica em uma propriedade rural do município de Areia Branca,

localizado no Agreste de Itabaiana, Estado de Sergipe. Escolheu-se esse município em

particular pela existência de uma associação de produtores orgânicos (ASPOAGRE),

concentração de pequenas propriedades rurais e elevado número de pessoas vivendo da

atividade agrícola, além de estar próximo de um grande centro urbano (Aracajú).

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CAPÍTULO I

A AGROECOLOGIA COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA

AGRICULTORES FAMILIARES DO NORDESTE BRASILEIRO

RESUMO

Agroecossistemas são sistemas ecológicos modificados pelo ser humano para

produzir alimento, fibra ou outro produto agrícola, nos quais os recursos naturais

interagem entre si e com o homem em efeitos recíprocos. Nos agroecossistemas

sergipanos, a cobertura vegetal natural está praticamente extinta, cobrindo menos de 5%

do seu território. O movimento que defende a agricultura sustentável reconhece o papel

do estabelecimento agrícola na promoção de práticas que contribuam para a solução dos

problemas sociais no campo, constatando que a agricultura familiar apresenta um papel

fundamental na produção de alimentos e na geração de empregos. Na busca de

agroecossistemas sustentáveis, a agricultura agroecológica pressupõe a investigação dos

sistemas agrícolas gerando tecnologias adequadas às necessidades dos agricultores. Os

benefícios adquiridos são a diminuição da dependência de insumos externos, a

preservação dos recursos naturais, a saúde dos produtores e consumidores, resultando na

promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social.

Palavras-chave: agroecossistemas, sustentabilidade, meio ambiente.

THE AGROECOLOGY AS ALTERNATIVE OF SUSTAINABLE

AGRICULTURE FOR FAMILIAR FARMERS NORTHEAST BRAZILIAN

ABSTRACT

Agroecossystems is ecological systems modified by the human being to produce

food, fiber or another agricultural product, in which the natural resources interact

between itself and with the man in reciprocal effect. In agroecossystems of Sergipe, the

natural vegetal covering is practically extinct, covering less than 5% of its territory. The

movement that defends sustainable agriculture recognizes the paper do agricultural

establishment in the promotion of practical that field contributes for the solution of

social problems, evidencing that family agriculture as basic hole of food production and

in the jobs generation. In this work search of agroecossystems sustainable, agroecology

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estimates the inquiry of the agricultural systems generating adequate technologies in

accord to necessities of the agriculturists. The acquired benefits are the reduction of the

dependence of external inputs, the preservation of the natural resources, the health of

the farmers and consumers, resulting in the promotion of the economical, ambiental and

social sustainability

Keywords: agroecossystems, sustainability, environment.

1.1 O paradigma agrário

Historicamente, dentro do capitalismo moderno, a relação entre agricultura

familiar e meio ambiente tem sido contraditória, pois a agricultura familiar requer o uso

constante e crescente dos recursos naturais para a produção de mercadorias agrícolas,

enquanto a proteção do meio ambiente requer uma limitação no uso destes recursos

naturais. As forças sociais dominantes tentam impor a produção como elemento de

maior importância que a proteção do meio ambiente. O esforço para aumentar a

produtividade das unidades familiares se converteu em uma acelerada redução do

número dessas unidades em um grande número de países. Porém, na era pós-moderna, a

agricultura familiar é vista sob uma nova luz: a cultural. A questão ambiental passa a

apresentar uma importância central. A busca é produzir o necessário em nível mundial

sem trazer danos ao meio ambiente (BONANNO, 2004).

No Brasil, uma das grandes transformações ocorridas na agricultura, a partir dos

anos 50, foi resultado da implantação da chamada Revolução Verde, cujo pacote

tecnológico básico se montou a partir das sementes de variedades de alto rendimento e

de um conjunto de práticas e insumos agrícolas que assegurassem as condições para que

as novas cultivares alcançassem níveis crescentes de produtividade. Mesmo sendo

dominante, a “modernização conservadora” constitui um modelo cuja implantação se

deu parcialmente, isto é, chegou apenas a parte das regiões, parte dos agricultores, parte

dos cultivos e das criações, de forma seletiva, ao mesmo tempo incluindo e excluindo

agricultores. Trata-se de um modelo que levou à redução dos níveis de segurança

alimentar existentes em diferentes regiões, especialmente naquelas em que passou a

predominar a monocultura, gerando um aumento na pobreza rural. A simplificação

extremada de nossos agroecossistemas, inerente ao modelo baseado em monoculturas,

contribuiu para reduzir a biodiversidade, do mesmo modo que a necessidade de

ocupação de maiores áreas e o crescente uso da madeira para diversos fins,

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principalmente energéticos, resultaram no aumento das práticas de desmatamento

(CAPORAL & COSTABEBER, 2004b).

A utilização de máquinas pesadas faz parte da ideologia da agricultura

convencional. Esta tem um alto custo e exige financiamentos que causam o

endividamento do produtor agrícola. Além disso, provoca grande impacto na estrutura

do solo, causando sua compactação e desestruturação. Outra característica da agricultura

convencional é a utilização de adubação química pesada, também de alto custo, cujos

efeitos são o desequilíbrio fisiológico da planta, o desequilíbrio ecológico do solo e a

dependência do agricultor, afetando os microorganismos responsáveis pela

disponibilidade de nutrientes importantes para as plantas que não conseguem absorvê-

los através de suas raízes (WOLFF, 2005).

Segundo Pedrotti et al. (2004), a elevação dos preços dos insumos básicos,

principalmente dos fertilizantes dependentes do petróleo, e a queda da produtividade

das culturas, decorrentes do mau uso do solo, evidenciam hoje a necessidade de buscar

alternativas tecnológicas que, sem onerar o produtor, tornem possível o aumento da

fertilidade do solo, como uma forma de melhor aproveitar e até melhorar os recursos

naturais.

É necessária uma reorientação da investigação agronômica que não seja

reducionista, mas baseada na pesquisa interdisciplinar, para uma abordagem holística do

sistema. Já não basta conhecer o objeto, é preciso compreender as propriedades de suas

interfaces com o meio do qual somos parte (SCHLINDWEIN & D’AGOSTINI, 2003).

1.2 Aspectos Conceituais dos Agroecossistemas

Agroecossistema é um sistema ecológico e socioeconômico que compreende

plantas e/ou animais domesticados e pessoas que os manejam com o propósito de

produzir alimentos, fibras ou outros produtos agrícolas. Eles têm freqüentemente

estrutura e dinâmica complexas, mas sua complexidade surge primeiramente da

interação entre os processos sócio-econômicos e ecológicos (CONWAY, 1987). Nesses

sistemas agrícolas os recursos naturais – solo, água, flora e fauna - interagem entre si e

com o homem em efeitos recíprocos. De acordo com Holanda (2004), nos

agroecossistemas, assim como nos ecossistemas, ocorre uma integração de componentes

abióticos e bióticos, envolvendo também relações sociais, econômicas e culturais. Para

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Marten (1988), um agroecossistema é um complexo de ar, água, solo, plantas, animais,

microorganismos e tudo mais que estiver na área que o ser humano modificou para

propósitos de produção agrícola. O autor considera que um agroecossistema pode ter

um tamanho específico, pode ser num campo ou numa fazenda ou numa paisagem

agrícola de uma vila, região ou nação.

Para melhor compreender os agroecossistemas, precisamos conhecer quais

fatores influenciam no seu desempenho, no tempo e no espaço. Segundo Gliessmann

(2001), os fatores ambientais individuais – luz, temperatura, precipitação, vento, solo,

umidade do solo, fogo e outros organismos – influenciam o desenvolvimento das

culturas, porém, raramente eles agem sozinhos ou de maneira constante sobre o

organismo. Assim o complexo ambiental, no qual um organismo individual ocorre deve

ser compreendido como um conjunto dinâmico, em constante mudança, de todos os

fatores ambientais em intervenção. Nos agroecossistemas, é vital compreender quais

fatores neste ambiente podem estar limitando um organismo, e conhecer que níveis de

determinados fatores são necessários para um ótimo desempenho. O desenho e manejo

de agroecossistemas baseiam-se amplamente em tais informações. É a complexidade

das interações dos fatores que compõe o ambiente total do organismo.

Os agroecossistemas apresentam, segundo Conway (1987, 2003), quatro

propriedades:

o Produtividade, que é definida como a produção de um determinado

produto por unidade de recurso que entra numa área. O produto avaliado pode ser não

só agrícola, mas também pode se apresentar sob a forma de geração de empregos ou de

diferentes tipos de medidas de bem-estar social, filosófico e espiritual.

o Estabilidade é a constância da produtividade em face dos pequenos

distúrbios resultantes das flutuações normais do meio ambiente circundante.

o Sustentabilidade é definida como a habilidade de um agroecossistema de

manter sua produtividade quando submetido a um grande distúrbio. Também determina

a persistência ou a durabilidade da produção de um agroecossistema.

o Equidade é a igualdade de distribuição da produtividade do

agroecossistema entre os humanos beneficiados.

As quatro propriedades são capazes de determinar o valor social de um

agroecossistema, porém neste artigo buscamos, através da literatura, aprofundar a

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discussão sobre a sustentabilidade, por ser um tema que tem gerado um grande debate

em diversas áreas do conhecimento.

1.3 Sustentabilidade de agroecossistemas

Desde o início da agricultura, os agroecossistemas alteram os ecossistemas

naturais, prejudicando a diversidade de organismos e processos ecológicos que compõe

a paisagem, ameaçando o sistema de sustentação da vida na Terra (GLIESSMANN,

2001).

A problemática ambiental, e mesmo o próprio campo ambiental, tem se

apresentado como um espaço catalisador de um importante viés argumentativo acerca

dos valores éticos, políticos e existenciais que têm regulado a vida individual e coletiva

no decorrer do tempo. Apesar disso, a problemática ambiental e as modificações que ela

sugere estão cada vez mais presentes principalmente nos espaços rurais e, mais

especificamente, nos seus diferentes agroecossistemas. Não se restringindo a um mero

substrato onde se processam as lutas sociais, os agroecossistemas conformam um

ambiente aberto e diferenciado o qual, em alguma medida, encontra-se mais ou menos

antropizado e mais ou menos delimitado temporal e espacialmente. Inseridas neste

espaço, as relações sociais, o debate público, a história, a cultura e o simbólico

misturam-se juntamente com aspectos biofísicos ligados às características geológicas,

pedológicas, ecológicas, hidrológicas, climáticas, etc. (GERHARDT & ALMEIDA,

2006).

O movimento que defende a agricultura sustentável considera esses problemas

ambientais e civilizacionais, procurando estilos de produção que respeitem o meio

ambiente, a comunidade rural e os consumidores dos produtos agrícolas. Para tanto,

busca desenvolver tecnologias que proporcionem o uso racional dos recursos naturais,

respeitando o conhecimento das comunidades locais e as diversidades climáticas e

ambientais.

De acordo com Derpsch (2004), o uso sustentável dos recursos naturais significa

reduzir e, no caso ideal, evitar o escoamento superficial, e aumentar a eficiência da

utilização da água e dos nutrientes. Isto pode ser conseguido por meio de práticas que

continuamente melhoram as propriedades físicas e biológicas do solo, e que asseguram

que os nutrientes sejam efetivamente ciclados, por exemplo, integrando a produção

agrícola e a pecuária. A agricultura conservacionista, utilizando cultivos de cobertura e

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resíduos de culturas sobre o solo junto com o não preparo do solo (plantio direto) e a

utilização de rotações de culturas, reúne estes requisitos. Esta proposta está produzindo

benefícios ambientais substanciais em ambientes frágeis onde os solos estão já

degradados ou estão ameaçados de degradação.

A produção sustentável em um agroecossistema deriva do equilíbrio entre

plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes. O

agroecossistema é produtivo e saudável quando essas condições de crescimento ricas e

equilibradas prevalecem, e quando as plantas permanecem resilientes de modo a tolerar

estresses e adversidades. Às vezes, as perturbações podem ser superadas por

agroecossistemas vigorosos, que sejam adaptáveis e diversificados o suficiente para se

recuperarem passado o período de estresse. Ocasionalmente, os agricultores que

empregam métodos alternativos podem ter de aplicar medidas mais drásticas (isto é,

inseticidas botânicos, fertilizantes alternativos) para controlar pragas especificas ou

deficiências do solo (ALTIERI, 2004).

O conceito mais amplamente utilizado de sustentabilidade apóia o princípio da

satisfação das necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações

futuras de satisfazerem suas necessidades.

Fazendo uma primeira aproximação ao que está subentendido em cada uma das

dimensões da sustentabilidade, Caporal & Costabeber (2004b), destacam:

o Dimensão ecológica: A manutenção e recuperação da base de recursos

naturais constitui um aspecto central para atingir-se patamares crescentes de

sustentabilidade em qualquer agroecossistema. É necessário dar um tratamento integral

a todos os elementos do agroecossistema que venham a ser impactados pela ação

humana, contemplando a reutilização de matérias e energia dentro do próprio

agroecossistema, assim como a eliminação do uso de insumos tóxicos ou cujos efeitos

sobre o meio ambiente são incertos ou desconhecidos.

o Dimensão social: Representa um dos pilares básicos da sustentabilidade,

uma vez que a preservação ambiental e a conservação dos recursos naturais somente

adquirem significado e relevância quando o produto gerado possa ser eqüitativamente

apropriado e usufruído pelos diversos segmentos da sociedade. A equidade é a

propriedade dos agroecossistemas que indica quão equânime é a distribuição da

produção entre os beneficiários humanos.

o Dimensão econômica: A busca de aumentos de produção e produtividade

de cultivos e criações a qualquer custo pode ocasionar reduções de renda e

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dependências crescentes em relação a fatores externos, além de danos ambientais que

podem resultar em perdas econômicas no curto ou médio prazo. É necessário, como nos

ensina a Economia Ecológica, obter-se balanços energéticos positivos, compatibilizando

a relação entre produção agropecuária e consumo de energias não renováveis. Também

a lógica da agricultura familiar não é voltada apenas para o lucro. Há que se ter em

mente, por exemplo, a importância da produção de subsistência, assim como a produção

de bens de consumo em geral, que não costumam aparecer nas medições monetárias

convencionais.

o Dimensão cultural: Na dinâmica dos processos de manejo de

agroecossistemas deve-se considerar a necessidade de que as intervenções sejam

respeitosas para com a cultura local. A agricultura precisa ser entendia como atividade

econômica e sociocultural realizada por sujeitos que se caracterizam por uma forma

particular de relacionamento com o meio ambiente. A importância do saber local e dos

processos de geração do conhecimento “ambiental e socialmente útil” é reconhecida em

contraponto à idéia de que a agricultura poderia ser homogeneizada com independência

das especificidades biofísicas e culturais de cada agroecossistema.

o Dimensão política: Deve-se privilegiar o estabelecimento de plataformas

de negociação nas quais os atores locais possam expressar seus interesses e

necessidades em pé de igualdade com outros atores envolvidos. A dimensão Política diz

respeito aos métodos e estratégias participativas capazes de assegurar o resgate da auto-

estima e o pleno exercício da cidadania.

o Dimensão ética: A história da natureza não é apenas ecológica, mas

também social. Precisamos ter clareza de que o que está verdadeiramente em risco não é

propriamente a natureza, mas a vida sobre o Planeta, devido à forma como nós

utilizamos os recursos naturais. A dimensão ética exige pensar e fazer viável a adoção

de novos valores, que não necessariamente serão homogêneos. A ética ambiental

vincula a conservação da diversidade biológica do planeta com respeito à

heterogeneidade étnica e cultural da espécie humana, restabelecendo o sentido de

fraternidade nas relações entre os homens.

Entretanto, é necessário também considerar a dimensão institucional, pois a

noção de sustentabilidade nos remete ao preceito de que o desenvolvimento econômico,

para ser efetivo e duradouro, deve, por um lado, respeitar as condições extremamente

vulneráveis de um meio ambiente ecológico pressionado pela predação capitalista e, por

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outro, fomentar atividades produtivas que promovam a equidade social no meio

ambiente econômico (CANIELLO, 2002).

Diante de todos os aspectos mencionados, quais seriam os desafios da

sustentabilidade mundial? Altieri (1999) coloca que esse desafio seria resolver

problemas derivados da relação homem-natureza e das associações que se estabelecem

entre eles, destacando-se:

o Entre diferentes problemas ambientais;

o Entre diferentes esferas da atividade humana, como a proteção ambiental

e o desenvolvimento;

o Entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento;

o Entre a geração presente e as gerações futuras;

o Entre a proteção dos recursos naturais e as necessidades humanas

básicas;

o Entre a ecologia e a economia;

o Entre a eficiência econômica e a equidade social.

1.4 Agricultura Familiar

Nos últimos anos, a agricultura familiar vem ganhando reconhecimento na

sociedade brasileira, não só no aspecto social, mas também do ponto de vista econômico

(XAVIER, 2001). São cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos, dos quais 50% no

Nordeste. O segmento detém 20% das terras e responde por 30% da produção global.

Em alguns produtos básicos da dieta do brasileiro como feijão, arroz, milho, hortaliças,

mandioca e pequenos animais chega a ser responsável por 60% da produção. Em geral,

são agricultores com baixo nível de escolaridade, que diversificam os produtos

cultivados para diluir custos e aumentar a renda, aproveitando as oportunidades de

oferta ambiental e a disponibilidade de mão-de-obra (PORTUGAL, 2005).

O conceito de agricultura familiar é relativamente recente no Brasil, tendo

aproximadamente dez anos. Em linhas gerais, os empreendimentos familiares têm duas

características principais: eles são administrados pela própria família; neles a família

trabalha diretamente, com ou sem o auxilio de terceiros. Podemos dizer que a gestão é

familiar e o trabalho é predominantemente familiar. Um estabelecimento familiar é, ao

mesmo tempo, uma unidade de produção e de consumo; uma unidade de produção e de

reprodução social (DENARDI, 2001).

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De acordo com Chayanov (1981), a unidade econômica familiar não assalariada

tem motivações muito específicas para a atividade econômica, bem como uma

concepção bastante particular de lucratividade. Seus fenômenos econômicos específicos

nem sempre se adaptam ao marco da economia clássica e da teoria da economia

nacional que dela resulta. Numa economia natural, a atividade econômica humana é

dominada pela exigência de satisfazer as necessidades de cada unidade de produção e é

ao mesmo tempo uma unidade de consumo. Por isso aqui o orçamento é em grande

medida qualitativo: para cada necessidade familiar é necessário prover, em cada

unidade econômica, o produto in natura qualitativamente correspondente. Na

exploração agrícola familiar, a família, equipada com meios de produção, emprega sua

força de trabalho no cultivo da terra, e recebe como resultado de um ano de trabalho

certa quantidade de bens. O grau de auto-exploração é determinado por um peculiar

equilíbrio entre a satisfação da demanda familiar e a própria penosidade do trabalho.

Para Schneider (2000), a família rural é entendida como um grupo social que

compartilha um mesmo espaço e possui em comum a propriedade de um pedaço de

terra. Esse coletivo está ligado por laços de parentesco e consangüinidade entre si,

podendo a ele pertencer outros membros não-consangüíneos. É no âmbito da família

que se discute e se organiza a inserção produtiva, laboral e moral dos seus diferentes

membros integrantes e é em função deste referencial que se estabelecem as estratégias

individuais e coletivas. Porém, a forma familiar existe no interior da sociedade mais

ampla e terá sua dinâmica e reprodução determinadas pelo regime capitalista. Assim, a

forma deste relacionamento pode variar e assumir feições muito particulares. As

unidades familiares subsistem com uma relativa autonomia em relação ao capital e vão-

se reproduzindo nessas condições.

O modelo de produção utilizado pelos agricultores familiares apresenta uma

lógica própria na exploração dos recursos naturais, baseada no equilíbrio da família e no

comportamento econômico em que ela se encontra. Entretanto, após a Revolução Verde,

com seus pacotes tecnológicos, e com a constante pressão do Estado para que esses

trabalhadores se enquadrem no modelo fundiário de produção, voltado para o mercado e

para o lucro, pesquisadores têm detectado a insustentabilidade desses sistemas,

mostrando a necessidade de um redirecionamento de todos os setores envolvidos na

questão, entre eles a investigação agronômica.

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1.5 O Enfoque Agroecológico

Na busca de agroecossistemas sustentáveis, a agricultura agroecológica

pressupõe, segundo Altieri (1999), que a investigação dos sistemas agrícolas deve gerar

tecnologias adequadas às necessidades dos agricultores, devendo nascer de estudos

integrados das circunstâncias naturais e socioeconômicas que influenciam esses

sistemas e as respostas dos agricultores frente a tecnologias alternativas. Ao levar em

consideração uma investigação multidisciplinar, em áreas selecionadas de agricultores,

e ao analisar as restrições sociais, econômicas, técnicas e ecológicas que enfrentam estes

agricultores na produção de culturas, pode-se obter uma importante observação sobre as

praticas de manejo, condições e necessidades agrícolas locais. Esta informação deve ser

incorporada à investigação agronômica realizada para o desenvolvimento de uma

tecnologia que se adapte às necessidades e recursos dos agricultores.

A agroecologia baseia-se no conceito de agroecossistemas como unidades de

análise, tendo como propósito proporcionar as bases científicas (princípios, conceitos e

metodologias) para apoiar o processo de transição do atual modelo de agricultura

convencional para estilos de agricultura sustentável. Constitui um enfoque cientifico

que afeta e reúne vários campos de conhecimento, aplicando os princípios e conceitos

no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis, num horizonte temporal,

alimentando o processo de transição agroecológica (CAPORAL & COSTABEBER,

2004a).

Altieri (1999) coloca que a agroecologia existe desde o início da agricultura,

porém, durante a evolução histórica, sua importância não foi reconhecida e o saber local

foi menosprezado, causando impactos drásticos às populações. Desde o colonialismo, os

europeus transformaram os sistemas locais para satisfazerem suas necessidades,

enxergando o mundo natural como uma máquina e não como uma entidade viva e

orgânica. O “redescobrimento” da agroecologia surgiu da busca de alguns cientistas em

estudar o conhecimento local dos produtores rurais, pois viram em suas técnicas de

cultivo a preocupação com a preservação do meio ambiente. O pensamento

agroecológico é influenciado pelas ciências agrícolas, pelo ambientalismo, pela

ecologia, pelo estudo dos sistemas nativos de produção e do desenvolvimento rural, com

um enfoque metodológico baseado em vários métodos de analises agroecológicas.

Analisando-se os princípios teóricos da agroecologia diante das características

da produção familiar, verifica-se que a agroecologia se adequa mais facilmente à

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realidade de sistemas de organização familiar da produção agrícola, na medida em que

estes possuem estruturas de produção diversificadas e com um nível de complexidade

desejado, sem prejuízo das atividades de supervisão e controle do processo de trabalho

(ASSIS, 2006).

A agroecologia é uma ciência que busca compreender o funcionamento dos

agroecossistemas, com uma visão holística, considerando todos os elementos

envolvidos na produção agrícola. Sua base está na valorização do saber local. Os

benefícios adquiridos são a diminuição da dependência de insumos externos, a

preservação dos recursos naturais, a saúde dos produtores e consumidores, enfim, a

promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social.

Desse modo, práticas agrícolas menos agressivas ao ambiente vêm sendo

experimentadas e adotadas, em atendimento à emergente demanda por alimentos

saudáveis, livres de resíduos tóxicos e com qualidade ecológica. Surgem, assim, os

sistemas alternativos com propostas ambiciosas para a produção de alimentos em

harmonia com o homem e o meio ambiente.

A agroecologia engloba orientações de como fazer isso, cuidadosamente, sem

provocar danos desnecessários ou irreparáveis. Além da luta contra as pragas, doenças

ou problemas do solo, o agroecologista procura restaurar a resiliência e a força do

agroecossistema. Se a causa da doença, das pragas, da degradação do solo, por exemplo,

for entendida como desequilíbrio, então o objetivo do tratamento agroecológico é

restabelecê-lo. O tratamento e a recuperação são orientados por um conjunto de

princípios específicos e diretrizes tecnológicas (Tabela 1) (ALTIERI, 2004).

Segundo (CAPORAL & COSTABEBER, 2004b), no processo de transição

agroecológica (Figura 1), a agroecologia baseia-se no conceito de agroecossistemas

como unidades de análise, tendo como propósito proporcionar as bases cientificas

(princípios, conceitos e metodologias) para apoiar o processo de transição do atual

modelo de agricultura convencional para estilos de agricultura sustentável. Constitui um

enfoque cientifico que afeta e reúne vários campos de conhecimento (setas), aplicando

os princípios e conceitos no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis, num

horizonte temporal (seta maior como processo gradual, continuo e multilinear),

alimentando o processo de transição agroecológica.

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Tabela 1. Elementos técnicos básicos de uma estratégia agroecológica.

I. Conservação e Regeneração dos Recursos Naturais a. Solo (controle da erosão, fertilidade e saúde das plantas) b. Água (captação/coleta, conservação in situ, manejo e irrigação)

c. Germoplasma (espécies nativas de plantas e animais, espécies locais, germoplasma adaptado) d. Fauna e flora benéficas (inimigos naturais, polinizadores, vegetação de múltiplo uso)

II. Manejo dos Recursos Produtivos a. Diversificação:

- temporal (isto é, rotações, seqüências) - espacial (policultivos, agroflorestas, sistemas mistos de plantio/criação de animais) - genética (multilinhagens) - regional (isto é, zoneamento, bacias hidrográficas)

b. Reciclagem dos nutrientes e matéria orgânica: (Continuação)

- biomassa de plantas (adubo verde, resíduos das colheitas, fixação de nitrogênio) - biomassa animal (esterco, urina, etc.)

- reutilização de nutrientes e recursos internos e externos à propriedade c. Regulação biótica (proteção de cultivos e saúde animal):

- controle biológico natural (aumento dos agentes de controle natural) - controle biológico artificial (importação e aumento de inimigos naturais, inseticidas

botânicos, produtos veterinários alternativos, etc.) III. Implementação de Elementos Técnicos

a. Definição de técnicas de regeneração, conservação e manejo de recursos adequados às necessidades locais e ao contexto agroecológico e socioeconômico.

b. O nível de implementação pode ser o da microrregião, bacia hidrográfica, unidade produtiva ou sistema de cultivo.

c. A implementação é orientada por uma concepção holística (integrada) e, portanto, não sobrevaloriza elementos isolados.

d. A estratégia deve estar de acordo com a racionalidade camponesa, incorporando elementos do manejo tradicional de recursos.

Fonte: Altieri (2004).

Figura 1. Diagrama transição agroecológica.

Agricultura Convencional

Agricultura Sustentável

Agroecologia (princípios, conceitos e

tecnologias)

Fonte: Caporal e Costabeber (2004b).

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De acordo com Gliessmann (2001), podem ser distinguidos três níveis

fundamentais no processo de transição a agroecossistemas sustentáveis:

a. O incremento da eficiência das práticas convencionais para reduzir o uso e

consumo de inputs caros, escassos e daninhos ao meio ambiente; tem sido

a principal ênfase da ivenstigação agrária convencional, resultando disso

muitas práticas e tecnologias que ajudam a reduzir os impactos negativos

da agricultura convencional.

b. A substituição de inputs e práticas convencionais por práticas alternativas;

a meta seria a substituição de produtos e práticas intensivas em recursos e

degradadoras do meio ambiente com outras mais benignas desde o ponto

de vista ecológico. Nesse nível de transição a estrutura básica do

agroecossistema seria pouco alterada, podendo ocorrer, portanto,

problemas similares aos dos sistemas convencionais.

c. O redesenho do agroecossistema para que funcione em base a um novo

conjunto de processos ecológicos. Neste nível se buscaria eliminar as

causas dos problemas que ainda continuam existindo nos dois níveis

anteriores.

O sistema de produção de base ecológica atualmente mais utilizado é a chamada

agricultura orgânica. Altamente difundida e valorizada, pode variar de simples

substituição de insumos (segundo nível de transição) até um complexo redesenho do

agroecossistema (terceiro nível).

O alto custo para certificação de produtos representa um obstáculo para os

pequenos produtores. Porém, é preciso atentar que a promessa de alimentos mais

saudáveis, com enorme apelo aos consumidores que se dispõem inclusive a pagar mais

por isto, obrigam os produtores a garantir tal qualidade, o que só pode ser assegurado

através da certificação (ALMEIDA et al., 2000).

1.6 Agricultura Orgânica

Originariamente o conceito de agricultura orgânica define o solo como um

sistema vivo, que deve ser nutrido, de modo que não restrinja as atividades de

organismos benéficos necessários à reciclagem de nutrientes e produção de húmus

(USDA, 1984). Partindo do enfoque holístico, o manejo da unidade de produção

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agrícola visa promover a agrobiodiversidade e os ciclos biológicos, procurando a

sustentabilidade social, ambiental e econômica da unidade, no tempo e no espaço

(NEVES et al., 2000). O termo orgânico é caracterizado como originário de

“organismo”, significando que todas as atividades da fazenda (olericultura, fruticultura,

criações, etc.) seriam partes de um corpo dinâmico, interagindo entre si (ASSIS et al.,

1998). Por isso, parte do princípio de estabelecer sistemas de produção com base em

tecnologias de processos, ou seja, um conjunto de procedimentos que envolvam a

planta, o solo e as condições climáticas, e tem como objetivo a produção de um

alimento sadio, com características e sabor originais, que atenda às expectativas do

consumidor (PENTEADO, 2000).

A agricultura orgânica é bastante utilizada para a produção de hortaliças, sendo

altamente viável para agricultores familiares, pois possibilita a produção de várias

culturas e diminui a dependência de insumos externos. Darolt (2000) destaca que o

ponto comum entre as diferentes correntes que formam a base da agricultura orgânica é

a busca de um sistema de produção sustentável no tempo e no espaço, mediante o

manejo e a proteção dos recursos naturais, sem a utilização de produtos químicos

agressivos à saúde humana e ao meio ambiente, mantendo o incremento da fertilidade e

a vida dos solos, a diversidade biológica e respeitando a integridade cultural dos

agricultores.

Segundo a Lei n.°10.831, de 23/12/2003, considera-se sistema orgânico de

produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a

otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à

integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade

econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da

dependência de energia não renovável, empregando sempre que possível métodos

culturais biológicos e mecânicos em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a

eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em

qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e

comercialização, e a proteção do meio ambiente.

Altmann (2004) comparando estabelecimentos orgânicos e convencionais

constatou uma menor pressão sobre o uso dos solos pelos primeiros e/ou necessidade de

cultivar maiores áreas para compensar as perdas de produtividade e, ainda assegurar a

manutenção dos níveis de renda. A prática de reflorestamento apresentou diferenças

consideráveis, sendo que a área media reflorestada por agricultores orgânicos é de

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5,5ha, enquanto que entre os produtores convencionais é de apenas 1,5ha. Esses dados

demonstram maior consciência por parte dos agricultores orgânicos com relação à

preservação da qualidade dos solos e de sua capacidade produtiva e com a importância

da melhoria do ambiente para o desenvolvimento da biodiversidade em seus

estabelecimentos. O autor verificou também que os estabelecimentos orgânicos

apresentam menor dependência de financiamento externo para o desenvolvimento de

suas atividades, fato favorecido pela menor utilização relativa de insumos, o que exige

menor volume de investimentos. A geração de renda e a eficiência econômica dos

produtores orgânicos se apresentaram superiores às obtidas pelos convencionais.

Agricultores familiares de Caçador, SC estão aderindo à técnica do plantio direto

orgânico nas lavouras de tomate, principal produto agrícola da região. No município

existem aproximadamente 1.800 famílias estabelecidas na atividade rural, sendo que

destas, cerca de 60% tem sua renda baseada na produção de hortaliças e pertencem ao

segmento da agricultura familiar. O custo de produção da caixa de 23 Kg do produto

caiu de R$ 7,00 para R$ 2,00 com o sistema de plantio direto orgânico. Em algumas

propriedades seu uso já foi estendido para outras culturas como a uva, o pêssego e o

pimentão. Os benefícios destacados na região são: menores custos de produção,

preservação do solo, ausência de erosão, diminuição do impacto ambiental da atividade

e, a expectativa de melhor qualidade de vida para quem planta e consome esses

alimentos (REVISTA PLANTIO DIRETO, 2003).

Schmidt (2001) afirma que o consumidor tem sido apontado como elemento

chave na promoção da agricultura orgânica. Ao realizar uma pesquisa na região Sul do

Brasil sobre o consumo de alimentos orgânicos, o autor observou uma atitude positiva

dos consumidores de cestas em relação aos produtos orgânicos, muito associados às

preocupações com a saúde. Porém não pode estabelecer uma relação direta entre essas

preocupações com a saúde e os alimentos e o fato de comprar produtos orgânicos, pois

outros fatores parecem influenciar essa dinâmica, reforçando a idéia de que estudar o

consumo de alimentos é uma tarefa complexa e multifacetada.

1.7 Tecnologias para Manejo de Solo

O solo pode ser considerado a base de sustentação dos sistemas agrícolas.

Assim, perdas nas suas propriedades, que reduzam a capacidade de sustentar o

crescimento vegetal ou que impliquem riscos ambientais, causam impactos negativos de

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grande significação para as comunidades rurais, com repercussões no meio urbano. Por

outro lado, a melhoria do ambiente edáfico tem efeitos positivos sobre todo o ambiente,

revestindo de grande importância o conhecimento da qualidade do solo (REICHERT et

al., 2003).

Segundo Raij (2003) o solo admite a produção agrícola graças a um conjunto de

propriedades que lhe permitem sustentar plantas, dando a estas as condições necessárias

de desenvolvimento. Trata-se de um material poroso, que favorece a penetração de

raízes e supre as necessidades de plantas em água e nutrientes minerais. Com a

interação dos seus fatores de formação (material de origem, topografia, clima, tempo e

organismos), o solo adquire características únicas, caracterizando íntima inter-relação

com o meio ambiente. A presença de organismos é fundamental na produção de matéria

orgânica, liberação de nutrientes e gás carbônico, diferenciando o solo do regolito,

dando-lhe condições de porosidade e retenção de água e nutrientes. Em condições

naturais, o solo coberto pela vegetação é pouco sujeito a processos de degradação,

refletindo uma condição de equilíbrio ambiental.

Em relação ao modo de exploração do solo, podemos dizer que a forma de

exploração dos agroecossistemas tem trazido uma série de conseqüências podendo-se

citar desde os mais brandos, como a diminuição dos teores de matéria orgânica e da

capacidade de armazenamento de água, até as formas resultantes do intenso uso ou da

maneira inadequada de sua exploração, tais como erosão, compactação, salinização e

desertificação; todas se traduzem em redução de produtividade ou até mesmo na

inviabilização de qualquer exploração agrossilvopastoril (PEDROTTI et al., 2004).

Segundo Minella (2005) o uso excessivo de arações e/ou gradagens superficiais

e continuamente nas mesmas profundidades no processo de preparo de solo provoca a

desestruturação da camada arável, transformando-a em duas camadas distintas: uma

superficial pulverizada e outra subsuperficial compactada. Essa transformação reduz a

taxa de infiltração de água no solo e, conseqüentemente, incrementa a enxurrada e eleva

os riscos de erosão hídrica do solo. Outrossim, prejudica o desenvolvimento radicular de

plantas e afeta o potencial de produtividade do sistema agrícola. Como meio de

prevenção do problema, indicam-se técnicas como redução da intensidade de preparo,

máxima cobertura de solo, associadas ao conjunto de práticas conservacionistas

orientadas à prevenção da erosão.

Diante do exposto, torna-se clara a necessidade do redirecionamento da

investigação agronômica, na busca de tecnologias de preparo do solo, baseadas nos

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preceitos da agroecologia, que conservem os recursos naturais, promovendo uma maior

sustentabilidade da agricultura.

1.7.1 Cultivo Mínimo

A técnica do cultivo mínimo nasceu da conscientização e da abolição da queima

de áreas como forma de limpeza do terreno. Nasceu também do desenvolvimento e da

adoção de técnicas conservacionistas para o manejo do solo. A técnica trouxe como

benefício a redução da erosão, a maior conservação da umidade do solo, a redução da

reinfestação de plantas invasoras (mato), a menor intervenção operacional nas áreas de

cultivo e redução drástica da necessidade de manutenção das estradas. Isso tudo

permitiu maior facilidade de controle das atividades e administração dos trabalhos;

conservação do solo e dos nutrientes, assim como de sua microbiologia; e a conservação

dos mananciais hídricos (GAVA, 2007).

1.8 Os Agroecossistemas sergipanos

No Nordeste, a ocupação do espaço agrário repousa ainda em sua grande parte

sob a grande propriedade e em relações de produção denominadas tradicionais, inseridas

nas atividades canavieira, algodoeira e na criação de gado extensivo combinadas com a

exploração familiar de cultivos alimentícios. Na faixa litorânea úmida nordestina

predomina o cultivo da cana-de-açúcar, enquanto mais afastado do litoral, no espaço

que se convencionou chamar de Agreste, inicialmente dominou a criação de gado

destinado ao abastecimento do mercado interno e posteriormente a cotonicultura, sendo,

portanto, essas duas atividades agrícolas responsáveis pelo processo de ocupação desse

espaço (LIMA, 2004).

Mota & Gomes (2005), citando Andrade (1986), Furtado (1987), Szmrecsányi

(1998), Santos & Andrade (1992), Brumer et al.(1993) e Wanderley (1997) colocam

que no processo de ocupação do interior nordestino, a pecuária foi a atividade

primordial. Em Sergipe não foi diferente e afirma-se que “o gado ia aonde a roça não

tinha condições de chegar”. Não obstante, as oscilações da atividade por razões

predominantemente endógenas, a pecuária nunca deixou de ser a atividade fundamental

em articulação com a produção de culturas alimentares no interior das grandes

propriedades pecuaristas ou nos seus arredores. As relações de trabalho reinantes entre

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grandes proprietários e/ou seus representantes e pequenos agricultores mesclavam

dependência, proteção, dominação e, por vezes, compadrio, características de uma

sociedade bastante hierarquizada e influenciada pela articulação de três condicionantes

centrais da economia colonial brasileira: a grande propriedade, as lavouras de

exportação e a escravidão, cujas marcas ainda são visíveis na concentração da terra, nas

relações vigentes no âmbito local e nas desigualdades sociais.

A grande maioria dos estabelecimentos nordestinos (2.055.157

estabelecimentos) se enquadra na categoria familiar (88,3% dos estabelecimentos

nordestinos). Esses estabelecimentos detêm 43,5% da área, geram aproximadamente o

mesmo percentual do valor bruto da produção (43,5%) e capturam 26,8% do

financiamento total (EVANGELISTA, 2005).

Sergipe é um Estado integrante da Região Nordeste, ocupando 1,41% da área de

sua região e 0,26% da área total do país. Limita-se ao norte com o Estado de Alagoas,

do qual é separado pelo Rio São Francisco; ao Sul e ao Oeste, com o Estado da Bahia e

ao Leste com o Oceano Atlântico. É formado por 75 municípios, dispondo de uma área

de 22.050,30 Km². Os climas, em seus diversos municípios, variam entre úmido, semi-

úmido e semi-árido, com médias de 25, 30 e 40°C, respectivamente. O relevo do estado

apresenta suaves ondulações, com áreas planas e pequenas altitudes que vão

aumentando em direção ao interior (SEIC, 2006).

Em Sergipe a produção familiar na sua forma atual começou a constituir-se

desde o período colonial, aproveitando-se muitas vezes dos limites estabelecidos pelo

sistema de sesmarias. Os dados 1995/96 indicam que os estabelecimentos com área

inferior a 20 hectares chegam a 85.582 estabelecimentos, perfazendo 287.508 hectares o

que corresponde a 85,7% dos estabelecimentos agrícolas do Estado. É neste estrato de

área onde se concentra maciçamente a unidade de produção da agricultura familiar

(LIMA, 2004).

Segundo Mota & Gomes (2005), nos primeiros séculos da colonização de

Sergipe, à semelhança do que ocorreu em outras áreas nordestinas, constituíram-se as

bases de uma sociedade hierarquizada e calcada na grande propriedade, nas relações de

subordinação e conflito entre grandes proprietários e pequenos agricultores que assim se

reproduz até recentemente, influenciados pelas inferências da modernização

conservadora e, mais recentemente, pelas ações da reforma agrária.

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Segundo Diniz (1996) a produção familiar em Sergipe se consolida a partir de

meados do século XX com nítida ordenação espacial: o milho, o feijão, a mandioca e o

algodão no oeste, associados ou não a uma pecuária em pequena escala; o coco, a

mandioca e outros alimentos, no litoral; a mandioca, hortaliças e frutas no agreste,

sobretudo em Itabaiana e sua periferia (onde ocorre uma horticultura incipiente);

cultivos alimentícios e, sobretudo, arroz no baixo São Francisco, onde predomina o

camponês meeiro para cultivo das várzeas das grandes fazendas.

O traço essencial da estrutura fundiária brasileira é, de maneira geral,

concentradora, e Sergipe não foge à regra; tal fenômeno vem ocorrendo pelo menos

desde a primeira metade do século XX, tendo o seu apogeu nas décadas de vinte e de

trinta (DINIZ & DINIZ, 1976). Segundo Censo Agropecuário de 1995/1996, o Estado

conta com 96,79% das propriedades rurais com menos de 100 hectares, enquanto que

apenas 3,71% estão acima de 100 hectares (LIMA, 2004).

A descentralização da propriedade da terra vem acontecendo ao longo dos

últimos 20 anos, resultado, em parte, da venda de terras pelos grandes proprietários para

evitar prejuízos devido à seca e aos altos custos de insumos agrícolas e também pela

ação de movimentos sociais organizados. Os assentamentos rurais têm provocado

transformações na vida social e econômica local, implantando novas formas de

organização social e levando à dinamização da economia local pela maior

disponibilidade de alimentos (MOTA & GOMES, 2005). O Estado de Sergipe possui

111 assentamentos de Reforma Agrária, que apresentam como traço dominante o

cultivo de lavouras de subsistência – milho, arroz, mandioca, feijão, abóbora (SILVA &

LOPES, 1996).

Segundo Diniz (1996) a produção familiar em Sergipe se consolida a partir de

meados do século XX com nítida ordenação espacial: o milho, o feijão, a mandioca e o

algodão no oeste, associados ou não a uma pecuária em pequena escala; o coco-da-baía,

a mandioca e outros alimentos, no litoral; a mandioca, hortaliças e frutas no agreste,

sobretudo em Itabaiana e sua periferia; cultivos alimentícios e, sobretudo, arroz no

baixo São Francisco, onde predomina o camponês meeiro para cultivo das várzeas das

grandes fazendas .

Quanto à modernização da agricultura, em Sergipe manifestou-se,

principalmente nas atividades voltadas para a agroindústria canavieira, citricultura,

projetos de irrigação e pecuarização. Constatou-se que a exemplo do que ocorreu a nível

nacional, o mercado de terras no estado foi ativado. Assim a aquisição de terras para

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reprodução ou ampliação de áreas por agricultores familiares se tornou mais difícil

pelos preços alcançados (LIMA, 2004). Com relação à característica da especialização

da produção exigida pelo modelo, Sergipe adotou a citricultura como o carro-chefe do

processo, que hoje predomina na região Centro-Sul do Estado. A citricultura, segundo

Diniz (1996), iniciou com o pequeno produtor e posteriormente foi assumida pelos

médios e grandes produtores. Assim, a modernização agrícola de Sergipe, a exemplo do

que ocorreu a nível nacional, foi parcial, o que levou a especialização de algumas áreas

em determinados produtos como laranja, cana-de-açúcar, fumo e horticultura chegando,

em alguns casos, a apresentar índices claros de tendência à monocultura. Os projetos

governamentais que tinham por objetivo beneficiar os pequenos produtores acabaram

muitas vezes beneficiando os médios e grandes proprietários e, sobretudo, a pecuária

melhorada.

A partir das constatações acima, pode-se inferir que os agroecossistemas

sergipanos encontram-se em transformação, e que a agricultura familiar está se tornando

uma importante alternativa de renda para a população rural, necessitando de alternativas

sustentáveis para a produção agropecuária.

A Agricultura Orgânica abriga uma excelente oportunidade de negócio para a

Região Nordeste. Ela reúne, por excelência, o benefício social, o respeito ao meio

ambiente e a viabilidade econômica – os três pilares para o desenvolvimento

sustentável. O benefício social é obtido ao possibilitar que pequenos produtores,

associações e cooperativas produzam competitivamente e tenha acesso ao mercado. O

benefício ambiental é inerente aos fundamentos da Agricultura Orgânica. A viabilidade

econômica é a resposta da sociedade que tem procurado incentivar o desenvolvimento

de atividades ambientalmente corretas e que reduzam as desigualdades sociais

(SEVERINO, 2000).

De acordo com o jornal Sergipe Hoje (2005), neste estado tem ocorrido um

aumento na produção de orgânicos. No inicio do ano de 2003 o Departamento Estadual

de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe - DEHIDRO instalou uma Unidade Escola

de Agricultura Orgânica no Perímetro Irrigado Califórnia, em Canindé do São

Francisco. O objetivo era buscar uma alternativa de agricultura que preservasse o meio

ambiente e preservasse a vida. O Projeto Despertar no Campo foi a origem da atividade

e é quem identifica a demanda dos agricultores do Perímetro que anseiam por uma

agricultura limpa e auto-sustentável. O Grupo é constituído por mulheres e filhos de

irrigantes juntamente com técnicos do DEHIDRO que iniciaram a Unidade Escola

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constituída por uma horta orgânica onde são desenvolvidas práticas de manejo de

irrigação, compostagem, vermicompostagem, produção de defensivos, substratos

orgânicos, além da produção de mudas de hortaliças, frutíferas, flores e essências

florestais. A Unidade já recebeu o certificado do Instituto Biodinâmico – IBD - e os

produtores já comercializam o que produzem. Diversos agricultores do perímetro já têm

lotes com sistema de cultivo de hortaliças, entre elas alface, coentro, cebolinha, couve,

salsa.

Feiden et al. (2002) realizaram a análise de um processo de conversão de

sistemas de produção convencionais para sistemas de produção orgânicos e concluíram

que os procedimentos para a conversão variam de acordo com as características sócio

econômicas das unidades produtivas, o grau de utilização e dependência de insumos

agroquímicos, as condições ecológicas e da forma de interação com o mercado,

podendo a motivação para a mudança se dar em função de um estímulo que pode ser

passageiro (mercado), ou condicionada por uma reflexão, fruto de um processo

educativo duradouro.

Cerveira (2002) procurou caracterizar o efeito da mudança do sistema agrícola

atual para o agroecológico em um grupo de pequenos produtores de açúcar mascavo no

norte do Paraná, denominado Grupo Curupira. Para aprofundar a avaliação da nova

tecnologia adotada, elaborou um experimento de campo na Estação Experimental de

Agronomia de Piracicaba do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), como parte do

objetivo de estudo do seu trabalho. Através dos resultados obtidos, o autor concluiu que,

em função da mudança do sistema agrícola de produção, o Grupo Curupira obteve

melhorias em atributos de desenvolvimento social e econômico. No tocante a aspectos

tecnológicos, coloca que ainda se tornam necessárias adequações para melhoria dos

índices de rentabilidade e produtividade.

Estudando a produção animal no mundo e no Brasil, Figueiredo (2002) concluiu

que a crescente conscientização da população sobre os perigos da produção, sem

considerar de imediato os efeitos sobre o meio ambiente, sobre os animais e sobre as

pessoas, abre espaço para a produção agroecológica que deixará de ser nicho para ser o

grande mercado do futuro, tanto para o Brasil como para o exterior.

Almeida (2003) realiza um ensaio onde tenta “problematizar” a prática

agroecológica, particularmente no que se refere ao seu potencial de transformar o social

através de um movimento capaz de provocar alterações mais profundas nas formas de

produção e de vida na agricultura e em sociedade. O autor concluiu que os desafios

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colocados à agroecologia devem construir um projeto social capaz de orientar a

sociedade, de introduzir um novo quadro de conceitualização social; um projeto que

ultrapasse o campo da contestação e da oposição pura e simples à tecnocracia, ao

produtivismo e às políticas agrícolas inadequadas; um projeto, enfim, que ande na

direção de um modo propriamente conflitual, substituindo no coração da contestação os

verdadeiros aspectos e instrumentos da dominação social no seu conjunto. Tais ações

deverão mostrar, mais claramente, que se pode reconstruir uma imagem da trama social

a partir da agregação de indivíduos e de grupos que parecem ter perdido, hoje, toda a

forma de identificação profissional e social; precisarão subverter os antigos sinais de

reconhecimento social a fim de construir um outro tipo de unidade. Finalmente, coloca

que não será, pois, somente com as tentativas de inserção/viabilização econômica,

através de novas tecnologias, de novos e alternativos canais de comercialização dentro

da globalização avassaladora, que a agroecologia irá impor-se política e socialmente.

Assis & Romeiro (2005), avaliaram o uso de técnicas agroecológicas pela

produção familiar na região centro-sul do Estado do Paraná. Após caracterização dos

sistemas de produção dos agricultores pesquisados e do ambiente social que os cerca,

finalizaram com uma avaliação dos indicadores econômicos. Os autores verificaram

uma relação entre o grau de capitalização dos agricultores e a adoção de práticas

agroecológicas, a qual aumenta à medida que se reduz o grau de capitalização, sendo

menor o risco econômico da atividade agrícola dos agricultores com maior índice de

adoção. Concluíram que há um potencial positivo da utilização da agroecologia como

instrumento para o desenvolvimento sustentável de agricultores familiares, realçando-se

a importância do apoio do poder público na dinamização deste processo.

Iamamoto (2005) propõe um esclarecimento conceitual sobre a Agroecologia

considerando os problemas rurais como expressões da sociedade capitalista e do padrão

de desenvolvimento hegemônico, cujas interpretações sofrem refrações da atual crise

paradigmática da ciência. Sua pesquisa identifica um processo de continuidades e

rupturas no desenvolvimento histórico da Agroecologia, o que indica a riqueza e, ao

mesmo tempo, a complexidade do processo de sua constituição e do tema que abrange,

e para além de concepções puramente técnicas e históricas. O autor concluiu que a

Agroecologia nessa abordagem, mais que como uma ferramenta para o estabelecimento

de sistemas produtivos sustentáveis, afirma a possibilidade de potencializar os processos

sociais, resgatando formas de conhecimento e de práticas dos próprios agricultores

mediante estratégias metodológicas voltadas ao desenvolvimento rural sustentável. Ela

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implica a afirmação de um pensamento social crítico – junto a estudantes, profissionais

e agricultores - para além da racionalidade instrumental vigente na comunidade

científica ocidental.

Assis (2006) com o objetivo de apresentar uma opção para o estabelecimento de

um processo de desenvolvimento rural sustentável com base na agroecologia, realizou

inicialmente uma análise do processo de difusão, no Brasil, de sistemas de produção

agroecológicos. Posteriormente, discute o conceito de desenvolvimento sustentável e as

possibilidades de sua implementação diante das dificuldades que se apresentam com a

globalização da economia. Em seqüência são apresentadas questões relacionadas às

demandas de políticas públicas para a implementação de um processo de

desenvolvimento rural sustentável, com base na ação local, que tenha por mote sistemas

de produção agroecológicos. Apresentou, então, algumas premissas e recomendações

gerais para a implementação desse processo. O autor concluiu que o encaminhamento

proposto somente será possível com uma ação duradoura e integrada dos diferentes

níveis de ação do poder público, associada ao envolvimento efetivo da sociedade na

construção de soluções.

1.9 Conclusões

As práticas da agricultura convencional trouxeram vários problemas ambientais

e sociais. A agroecologia é uma ciência que busca o redesenho dos agroecossistemas,

desenvolvendo princípios, tecnologias e metodologias que possibilitem a transição da

atual forma de produção para novos modelos de agricultura sustentável.

A agricultura orgânica é um sistema de produção, baseada nos princípios

agroecológicos, que vem sendo utilizado na busca da sustentabilidade dos

agroecossistemas. A agricultura orgânica abriga uma excelente oportunidade de negócio

para a Região Nordeste. Ela reúne, por excelência, o benefício social, o respeito ao meio

ambiente e a viabilidade econômica – os três pilares para o desenvolvimento

sustentável.

O modelo de ocupação adotado para os agroecossistemas sergipanos foi

fundamentada na substituição de vegetação nativa por pastagens e lavouras agrícolas,

ocasionando o esgotamento de áreas de solo fértil e a degradação de áreas

ecologicamente frágeis. O redirecionamento da investigação agronômica torna-se

essencial, pois o modelo de agricultura convencional, importado dos países temperados,

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não se adapta à grande diversidade de agroecossistemas existentes, além de se basear

em alta utilização de combustíveis fósseis e outros insumos externos, prejudiciais à

saúde humana e ambiental.

A agricultura familiar é essencial para a sustentabilidade dos agroecossistemas,

pois é nela que encontramos alternativas para uma produção harmônica, com respeito à

natureza. Para que a sustentabilidade agrícola se torne uma realidade no agreste

sergipano é necessário muito mais que medir e registrar a extensão da degradação

ambiental. É igualmente importante a modificação dos sistemas de produção

agropecuários atuais, visando a possibilidade de estes manterem e restaurarem os

recursos naturais do ambiente a ser trabalhado. Torna-se, portanto, interessante avaliar

quão adequadas são alternativas tecnológicas desenvolvidas em climas temperados

(ainda que em condições de semi-aridez) às condições diferentes de climas semi-áridos

tropicais.

Num plano nacional, é conveniente a promoção de políticas públicas que tenham

como prioridades a reforma agrária e o incentivo à adoção de uma agricultura

sustentável, cujo objetivo não seja apenas atingir altas produtividades, mas sim

promover um maior equilíbrio entre o homem e a natureza da qual faz parte.

O desenvolvimento de novas tecnologias associadas com pesquisa básica,

educação ambiental, orientação e capacitação de produtores, e com a participação de

uma comunidade satisfeita por garantir o domínio das posses onde residem com suas

famílias, cultura e tradições, serão possíveis aumentos da produção e da renda per

capita na região.

A agricultura orgânica apresenta-se como um ótimo incremento para políticas

públicas já que cria oportunidades principalmente para pequenos e médios produtores,

auxiliando o desenvolvimento de comunidades de agricultores familiares e vários outros

segmentos da cadeia produtiva das áreas rurais próximas aos grandes centros urbanos e

aos corredores de exportação. Além disso, o fato de propiciar a conservação dos

recursos naturais e de gerar produtos mais saudáveis aumenta o valor agregado ao

produto.

Acredita-se que o estudo e o incentivo ao uso de tecnologias agroecológicas é

fundamental para modificar o quadro em que se encontra a atividade rural em Sergipe,

promovendo uma agricultura menos agressiva ao ambiente e que traga uma melhoria da

qualidade de vida dos agricultores familiares deste Estado.

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CAPÍTULO II

TECNOLOGIAS DE PREPARO DE SOLO NO CULTIVO ORGÂNICO DE

HORTALIÇAS

RESUMO

A crescente preocupação com a sustentabilidade dos agroecossistemas tem

gerado um redirecionamento da investigação agronômica. A agricultura orgânica e o

plantio direto são tecnologias com um grande potencial de uso por agricultores com

visão conservacionista. Nesse sentido, o presente trabalho buscou analisar a viabilidade

do uso de plantio direto na olericultura orgânica, direcionado aos agricultores

familiares. O experimento foi conduzido na área física da Escola Agrícola de Estância,

zona rural de Sergipe, em solo provindo da associação entre Argissolo Vermelho

Amarelo e Neossolo Quartzarênico, de baixa fertilidade natural, derivado de sedimentos

do Grupo Barreiras. O projeto foi financiado pelo PRODETAB-Embrapa. Avaliou-se

dois sistemas de preparo do solo, convencional e cultivo mínimo e quatro tipos de

consórcio: mucuna preta, repolho/coentro, alface/cenoura e milho/feijão-caupi. A

produção total sob cultivo mínimo de algumas culturas (alface, cenoura, coentro e

milho) foi numericamente superior aos resultados obtidos sob cultivo convencional,

enquanto que para outras culturas (repolho e mucuna preta) o cultivo convencional foi o

mais produtivo. Para o feijão-caupi o resultado dos tratamentos não foi conclusivo. A

técnica testada neste trabalho obteve resultados promissores, já que não trouxe perdas

de produtividade e característica comercial das culturas escolhidas.

Palavras-chave: olerícolas, plantio direto, agricultura orgânica, agroecologia.

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TECHNOLOGIES OF PREPARATION OF SOIL IN THE ORGANIC

CULTURE OF VEGETABLES

ABSTRACT

The increasing concern with the sustainability of agro ecosystems has generated another

way of the agronomic inquiry. Organic agriculture and the no-till plantation are

technologies that come more being each time used by agriculturists with conservation

vision. In this direction, the present work searched to analyze the viability of the use of

direct plantation in the organic olericulture, aiming the family agriculturists. The

experiment was lead in the physical area of the Agricultural School of Estância,

agricultural zone of Sergipe, in soil come from the association between Argissolo

Vermelho Amarelo and Neossolo Quartzarênico, of low natural fertility, derived from

sediments from the Grupo Barreiras. The project was supported by the PRODETAB-

Embrapa. The two systems evaluated were soil preparing, conventional and no-tillage

and four successions of crops: velvet bean (Mucuna aterrima), cabbage (Brassica

oleracea)/coriander (Coriandrum sativum), lettuce (Lactuca sativa L.) /carrot (Daucus

carota) and maize (Zea mays L.) /cowpea beans (Vigna unguiculata). The total

production under no-tillage of some crops (lettuce, carrot, coriander and maize) was

numerically superior to the results gotten under conventional culture, while that for

other crops (cabbage and velvet bean) the conventional culture was most productive.

For the cowpea beans the result of the treatments was not conclusive. The technique

tested in this work resulted promising, since it did not bring losses of productivity and

commercial characteristic of the chosen crops.

Keywords: olericulture, no tillage, organic agriculture, agroecology.

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36

2.1 INTRODUÇÃO

Nos agroecossistemas tem ocorrido um amplo debate acerca da problemática

ambiental, pois com sua simplificação e o aumento da pobreza rural provocados pelo

modelo de agricultura convencional tem-se verificado a sua insustentabilidade. Na

busca de uma agricultura sustentável surge a agroecologia que pressupõe, de acordo

com Altieri (1999) que a investigação dos sistemas agrícolas deve gerar tecnologias

adequadas às necessidades dos agricultores, devendo nascer de estudos integrados das

circunstâncias naturais e socioeconômicas que influenciam esses sistemas e as respostas

dos agricultores frente a tecnologias alternativas.

Desse modo, procuramos desenvolver tecnologias baseadas no enfoque

agroecológico que tornem possível conseguir uma maior sustentabilidade econômica,

ambiental e social, trazendo aos agricultores familiares uma maior chance de

representação social.

. De acordo com Ehlers (1999), existem no mundo 6,5 milhões de unidades de

produção familiares e apenas quinhentos mil patronais. Citando dados de 1995, da Food

and Agriculture Organization of the United Nations(FAO) e do Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o autor afirma que apesar das unidades

patronais ocuparem 75% da área agricultável e a agricultura familiar ocupar apenas

25%, essa última categoria se constitui na maior fornecedora de produtos alimentícios

no mercado como: leite, aves, carne suína, ovos, batata, trigo, cacau, café, milho,

laranja, tomate, entre outros. Enquanto o primeiro grupo se destaca somente na

produção de carne bovina, cana-de-açúcar, arroz e soja. Portanto, a instituição de

políticas destinadas para a agricultura familiar é urgente no Brasil, haja vista a

magnitude deste tipo de atividade e suas possibilidades na promoção de um

desenvolvimento local, com a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e de uma

agricultura ambientalmente sustentável.

De acordo com Campanhola & Valarini (2001), a agricultura orgânica oferece

uma série de vantagens ao pequeno agricultor já que é viável em pequenas áreas e

permite produção em pequena escala. Além disso, o contato estabelecido entre produtor

e consumidor nas vendas diretas leva os agricultores a diversificarem naturalmente a

sua produção no espaço e no tempo. A diversificação produtiva, incluindo a integração

entre produção vegetal e animal no mesmo estabelecimento rural, auxilia na adoção dos

princípios agroecológicos, ao mesmo tempo em que confere ao pequeno agricultor

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maior estabilidade econômica, pois uma possível queda nos preços de alguns produtos

pode ser compensada pela alta de outros.

Outras vantagens são (Campanhola & Valarini, 2001):

a. Geração de empregos, já que a agricultura orgânica precisa de mais mão-de-

obra por unidade de área. Ainda, o engajamento de mais membros das

famílias rurais na agricultura orgânica pode representar mais um fator de

fixação familiar no campo, além de diminuir os custos efetivos de produção,

reduzindo a dependência de empréstimos bancários.

b. Menor dependência de insumos externos,

c. Eliminação do uso de agrotóxicos, contribuindo para a redução dos custos de

produção e dos desequilíbrios biológicos causados nos agroecossistemas,

d. O sistema orgânico mostrou maior biodiversidade nos solos,

e. O produto orgânico obtém maior valor comercial do em relação ao

convencional.

f. Maior vida útil dos produtos orgânicos no período pós-colheita contribuindo

para a redução das perdas no armazenamento,

g. Adoção mais fácil para os agricultores que ainda não utilizam as tecnologias

da agricultura moderna, indicando que os pequenos agricultores ainda

tradicionais têm condições para obter a certificação orgânica de seus

produtos em um tempo menor que os convencionais.

O Brasil ocupa a 13ª posição mundial quanto à área destinada à agricultura

orgânica certificada, com mais de 275 mil hectares. Esse sistema de produção tem

crescido continuamente, em função de uma demanda cada vez maior por produtos

orgânicos (FONTANÉTTI et al, 2006). A produção de hortaliças no sistema

agroecológico constitui uma demanda potencial de pesquisa que permitirá recuperar a

qualidade ambiental, traduzindo-se na otimização dos recursos naturais, na redução dos

custos de produção, na melhoria da qualidade de vida dos produtores e consumidores,

na qualidade e competitividade dos produtos e na sustentabilidade dos agroecossistemas

do Nordeste.

Além disso, os sistemas de cultivo com associações de culturas envolvendo

hortaliças têm sido pouco estudados, apesar de serem bastante utilizados em todo o

mundo, persistindo ainda alguns desafios com relação à determinação das culturas a

serem cultivadas e o seu respectivo manejo.

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O sistema consorciado é empregado, sobretudo, pelos pequenos agricultores,

que dessa forma, procuram aproveitar ao máximo as áreas limitadas de que dispõem,

dos insumos e da mão-de-obra utilizada em capinas, adubações, aplicações de

defensivos e outros tratos culturais (CAETANO et al.,1999), além de possibilitar maior

diversificação da dieta e aumento da rentabilidade por unidade de área cultivada. Em

sistemas consorciados se estabelece um interrelacionamento entre as culturas, do qual

poderá resultar uma inibição mútua (quando o rendimento das culturas for inferior à

expectativa), cooperação mútua (quando o rendimento das culturas superar a

expectativa) ou compensação (quando, diante da expectativa, uma cultura que produz

menos é compensada por outra que produz mais do que a expectativa) (MONTEZANO

& PEIL, 2006).

Fazer plantio direto sem o uso de herbicidas é um dos grandes desafios da

atualidade para a pesquisa, assistência técnica e agricultores. Uma das principais críticas

de quem defende o plantio direto é a de que os agricultores orgânicos costumam

revolver demasiadamente o solo. A melhor saída para atender os preceitos da

sustentabilidade seria a prática do plantio direto seguindo os princípios orgânicos.

O objetivo desse experimento foi avaliar a produtividade de culturas mediante

sistemas de preparo de solo para cultivo orgânico de olerícolas.

2.2 MATERIAL E MÉTODOS

Os estudos foram avaliados em experimentos conduzidos na área física da

Escola Agrícola de Estância, zona rural de Sergipe, em solo provindo da associação

entre Argissolo Vermelho Amarelo e Neossolo Quartzarênico, derivado de sedimentos

do Grupo Barreiras. O projeto foi financiado pelo PRODETAB-Embrapa.

Avaliou-se dois sistemas de preparo do solo, convencional e cultivo mínimo e

quatro tipos de consórcios: mucuna preta, repolho/coentro, alface/cenoura e milho/feijão

caupi. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com oito tratamentos e

três repetições.

Os tratamentos utilizados foram os seguintes:

T1 – cenoura x alface – cultivo convencional

T2 – repolho x coentro – cultivo convencional

T3 – milho x feijão-caupi – cultivo convencional

T4 – mucuna preta – cultivo convencional

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T5 – cenoura x alface – cultivo mínimo

T6 – repolho x coentro – cultivo mínimo

T7 – milho x feijão-caupi – cultivo mínimo

T8 – mucuna preta – cultivo mínimo

O preparo primário do solo no sistema convencional foi realizado por meio de

uma aração com arado de discos devido a maior flexibilidade de ajuste, e o preparo

secundário com grade de discos mistos. No sistema de cultivo mínimo foram realizadas

as operações primárias de preparo do solo com grade niveladora leve de tração animal e

com combinação de discos lisos e recortados.

Nas sucessões culturais além de mucuna- preta (Mucuna aterrima) e feijão-caupi

(Vigna unguiculata) foram utilizadas as seguintes espécies: repolho Shutoku, alface

Babá de Verão, cenoura Brasilia, milho Super doce e coentro Verdão.

Para melhorar a fertilidade do solo foi realizada uma fosfatagem usando fosfato

de rocha, dois meses após a calagem. Para adubações complementares foram utilizados:

Hiperfosfato de Gafsa, Sulfato de Potássio e esterco bovino, incorporados no canteiro.

Houve ocorrência de pulgão (Myzus persicae) no repolho e de lagarta do

cartucho (Spodoptera frugiperda) no milho. Para o controle de pragas foram utilizados

os produtos comerciais Óleo de Nin e Bacilus thurigiensis. O sistema de irrigação por

aspersão foi utilizado para todos os tratamentos.

As mudas foram produzidas em bandejas com substrato orgânico em ambiente

protegido (Figura 3).

A produtividade das culturas foi avaliada de acordo com as particularidades de

cada uma delas. As análises estatísticas foram realizadas pelo programa Sisvar

(FERREIRA, 2000), e as médias comparadas pelo teste de Scott-knott para todas as

análises, com índice de significância de 5%.

Na avaliação da cenoura o refugo foi considerado como as raízes de tamanho

inferior ao comercial (20cm) e a produção com nematóides foi considerada aquela onde

as raízes continham três ou mais galhas.

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Figura 1. Aspecto da produção de mudas. Estância/SE, 2005.

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.1 Consórcio alface/cenoura

Como a cenoura apresenta um ciclo de 90 a 120 dias e a alface um ciclo de 45

dias, essa modalidade de cultivo permite a colheita de alface anteriormente à de

cenoura, possibilitando o melhor aproveitamento da área e maximização do uso de

insumos (Figura 4). O consórcio confere ainda maior diversidade biológica por unidade

de área e acarreta uma renda extra para o produtor.

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Figura 2. Aspecto da cultura de Alface em consórcio com cenoura. Estância, SE, 2005.

Avaliou-se por meio dos parâmetros de produtividade descritos nas tabelas 1 e 2

o melhor manejo do solo para este consórcio. A Tabela 1 apresenta os resultados dos

parâmetros de produtividade utilizados para a cultura da alface cultivada em sistema de

cultivo mínimo e cultivo convencional.

Tabela 1. Médias de produtividade total, produtividade comercial e peso de raízes de alface cultivada em consórcio com cenoura. Estância, SE, 2005.

Tratamento Produtividade Total (t/ha) Produtividade

Comercial (t/ha)

Peso Raíz

(t/ha)

Cultivo Mínimo 25.3 a 24.3 a 1.3 a

Cultivo Convencional 19.9 a 19.0 a 1.0 a

CV(%) 10.4 11.7 13.5

Médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade.

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A Tabela 2 apresenta os resultados dos parâmetros de produtividade utilizados

para a cultura da cenoura cultivada em sistema de plantio direto e cultivo convencional.

Tabela 2. Médias de produtividade comercial, produtividade total, produtividade de raízes refugo e produtividade com nematóides de cenoura cultivada em consórcio com alface. Estância, SE, 2005.

Tratamento

Produtividade

Comercial

(t/ha)

Produtividade

Total

(t/ha)

Produtividade

Refugo

(t/ha)

Produtividade

de raízes com

Nematóides

(t/ha)

Cultivo Mínimo 1.0 a 8.5 a 3.7 a 3.8 a

Cultivo Convencional

0.8 a 7.0 a 3.1 a 3.1 a

CV(%) 52.2 2.8 30.0 30.2

Médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade.

SUDO et al. (1997), em um estudo desenvolvido no município de Seropédica

(RJ), comprovou a viabilidade do consórcio entre cenoura e alface sob manejo orgânico.

Avaliando a produtividade final de alface crespa ‘Verônica’ e alface lisa ‘Regina 71’ em

consórcio com cenoura ‘Brasília’, foram encontradas diferenças significativas em

relação à produtividade dessas variedades de alface plantadas em regime de

monoculturas.

Apesar de não apresentar diferença estatística significativa entre os tratamentos

para todas as variáveis, foi detectado no presente estudo um aumento médio de 27% da

produção total de alface e 17,65% da produção de cenoura do cultivo mínimo em

relação ao cultivo convencional. Estes resultados comprovam que, mesmo na

implantanção do cultivo minímo no consórcio de alface e cenoura ocorre um aumento

de produtividade, que tente a aumentar com a continuidade da aplicação desta

tecnologia.

2.3.2 Consórcio repolho/coentro

O consórcio repolho/coentro foi realizado para demonstrar a sua eficiência,

sendo culturas de interesse regional (Figura 5).

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Figura 5. Aspecto da cultura do repolho consorciado com coentro no momento da colheita do repolho. Estância/SE. 2005.

Na Tabela 3 encontram-se os resultados dos parâmetros de produtividade

utilizados para a cultura do coentro cultivada em sistema de cultivo mínimo e cultivo

convencional.

Tabela 3. Produção total, peso da parte aérea e peso da raiz de coentro seco e fresco e número de molhos comerciais de coentro cultivado em consórcio com repolho. Estância, SE, 2005.

Peso Seco (t/ha) Fresco (t/ha) Tratamento

Produção total

Parte Aérea

Raiz Produção total

Parte Aérea

Raiz

Molhos comerciais/ha

Cultivo Mínimo 0.9 a 0.9 a 0.8 a 620.5 a 8.4 a 7.5 a

77.7 a

Cultivo Convencional

0.7 a 0.8 a 0.7 a 693.2 a 6.6 a 5.9 a

91.0 a

CV(%) 29.6 24.4 26.8 8.1 32.4 33.2 33.2 Médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade.

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Na Tabela 4 estão apresentados os resultados dos parâmetros de produtividade

utilizados para a cultura do repolho cultivado em sistema de cultivo mínimo e cultivo

convencional.

Tabela 4. Produção comercial e peso fresco da raiz de repolho cultivado em consórcio com coentro. Estância, SE, 2005.

Tratamento Produção Comercial (t/ha) Peso Fresco Raiz (Kg/ha)

Cultivo Mínimo 33.8 a 12.3 a

Cultivo Convencional 39.1 a 12.7 a

CV(%) 22.2 6.5

Médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade.

Não houve diferença estatística significativa (p<0,05) entre as variáveis, mas

notou-se que os dados de peso seco da produção total de coentro sob cultivo mínimo

foram superiores numericamente àquele sob cultivo convencional (0,9t.ha-¹ no cultivo

mínimo contra 0,7 t.ha-¹ no cultivo convencional). Porém, no peso fresco a produção

total sob cultivo convencional foi 11,72% superior à do cultivo mínimo. Possivelmente

o coentro fresco convencional reteve mais água porém há uma maior concentração de

matéria seca no produto obtido sob cultivo mínimo.

A produção total de repolho sob cultivo convencional foi numericamente

superior à produção sob cultivo mínimo (Tabela 4). Provavelmente a continuação do

experimento eliminaria essas diferenças, já que em alguns casos o período de adaptação

do solo ao sistema de cultivo mínimo pode chegar a quatro anos.

2.3.3 Consórcio milho/feijão-caupi

O consórcio milho e feijão é bastante utilizado por vários agricultores, sendo

amplamente conhecido o efeito benéfico da leguminosa, que incorpora nitrogênio ao

solo através de suas raízes, beneficiando a cultura do milho. Este, por sua vez, produz

grande quantidade de matéria orgânica de lenta decomposição, melhorando as

características físicas do solo. (Figura 6).

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Figura 6. Aspecto da cultura de milho em consorcio com feijão. Estância/SE.

Os resultados obtidos na análise estatística do milho estão descritos na Tabela 5.

Ocorreu uma grande variabilidade na produção do feijão-caupi, o que impossibilitou a

execução da análise estatística para esta cultura.

Tabela 5. Produção de espigas com palha e espigas sem palha de milho cultivado em consórcio com feijão caupi. Estância, SE, 2005.

Tratamento

Espiga com Palha

(t/ha) Espiga sem Palha (t/ha)

Cultivo Mínimo 14.7 a 7.7 a

Cultivo Convencional 13.0 a 7.2 a

CV(%) 8.0 8.6

Médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade.

Não houve diferença estatística significativa na produção de milho entre os

tratamentos, porém a produção total de milho sob cultivo mínimo foi 13% maior que a

produção sob cultivo convencional.

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2.3.4 Mucuna preta

Empregou-se a Mucuna preta (Mucuna aterrima) (Figura 7) como planta de

cobertura do solo. Segundo ARF et al. (2000), essa leguminosa desenvolve-se

vigorosamente, promovendo uma completa cobertura do solo e produção de quantidade

considerável de fitomassa, principalmente se apoiada aos colmos secos do milho. Para

esta cultura, analisou-se apenas a produção de matéria seca, pois é esta que será

realmente incorporada ao solo.

Figura 7. Cultura de Mucuna Preta. Estância, SE, dezembro de 2005.

Na Tabela 6 estão representados os resultados obtidos na análise estatística dos

parâmetros de produção utilizados para a cultura de Mucuna preta.

Tabela 6. Produção de matéria seca de Mucuna preta cultivada como adubo verde. Estância, SE, 2005.

Tratamento Matéria Seca

(t/ha)

Cultivo Mínimo 10.2 a

Cultivo Convencional 10.5 a

CV(%) 12.8

Médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade.

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Não houve diferença estatística significativa (p<0,05) na produção de matéria

seca entre os tratamentos. Discussão , sua produção não foi intensamente afetada pela

alteração de manejo de solo, nessa fase inicial de implantação.

2.4 CONCLUSÃO

· O sistema consorciado é adequado para pequenas propriedades;

· O sistema de cultivo mínimo facilita a diversificação de atividades devido à

redução de tarefas que demandam grande utilização da mão-de-obra (preparo do

solo e tratos culturais), com reflexo na melhoria de renda final do produtor.

· A produção total sob cultivo mínimo de algumas culturas (alface, cenoura,

coentro e milho) é numericamente superior à obtida sob cultivo convencional,

enquanto que para outras culturas (repolho e mucuna preta) o cultivo

convencional é mais produtivo. Para o feijão-caupi o resultado dos tratamentos

não foi conclusivo pela impossibilidade da execução da análise estatística para

esta cultura.

· Entre as possíveis causas de não havermos encontrado diferença significativa

estão o rigor do teste estatístico, a alta velocidade de decomposição da matéria

orgânica e a grande variabilidade dos dados num momento de início de

conversão.

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48

2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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70).CAPÍTULO III

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AVALIAÇÃO DAS POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DA

EXPLORAÇÃO ORGÂNICA NA “FAZENDA ORGÂNICA AREIA BRANCA”,

MUNICIPIO DE AREIA BRANCA, SERGIPE.

RESUMO

Os instrumentos da pesquisa clássica respondem de forma parcial às

necessidades da agricultura familiar e à complexidade dos agroecossistemas. Portanto,

há necessidade de aproximação das agendas de pesquisa dos agricultores e dos

pesquisadores. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a realidade de uma propriedade

rural orgânica no município de Areia Branca (Agreste de Itabaiana/Sergipe). A maioria

da população do município reside no meio rural, predominando pequenos

estabelecimentos agropecuários com área de 2 a 10 hectares. A técnica utilizada foi a

Entrevista Semi-estruturada, realizada com o proprietário da Fazenda Orgânica Areia

Branca (10º45’28”S; 37º18’55”O), que produz hortaliças, legumes, frutas, mel e

própolis e algumas criações animais. É o único que produz laranja orgânica. É membro

da ASPOAGRE (Associação dos Produtores Orgânicos do Agreste) que obteve a

certificação orgânica há três anos. Toda a produção é destinada para as lojas da

Associação, em Itabaiana e Aracaju e o transporte é realizado com recursos próprios

diminuindo gastos com logística. A demanda por produtos orgânicos é crescente, e os

produtores estão aumentando as áreas plantadas visando à agroindústria.

Palavras-chave: agricultura orgânica, associativismo, Areia Branca, Sergipe.

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EVALUATION OF THE POTENTIALITIES AND LIMITATIONS OF THE

ORGANIC EXPLORATION IN “AREIA BRANCA ORGANIC FARM”, AREIA

BRANCA MUNICIPALITY, SERGIPE.

ABSTRACT

The instruments of the classic research answer of partial form to the necessities

of familiar agriculture and to the complexity of agroecosystems. Therefore, it has the

necessity of approach of agendas of research of the agriculturists and the researchers.

This research was carried out to consider the reality of a organic farm of Areia Branca

(Itabaiana county, Sergipe). The majority of the population of the city inhabits in the

agricultural way, predominating small farming establishments with area of 2 the 10

hectares. The used technique was the focused (semi-structured) interviews, carried

through with the owner of the Organic Farm White Sand (10º45’28”S; 37º18’55”W),

that produces vegetables, fruits, honey and própolis and some cattle ranching. He is the

only one that produces organic orange. He is member of the ASPOAGRE (Association

of the Organic Producers of the Wasteland) that it got the organic certification about

three years ago. All the production is destined for the store of the Association, in

Itabaiana and Aracaju and the transport is carried for own farm diminishing expenses

with logistic. The demand for organic products has been increasing, and the farmers are

increasing the planted areas aiming to the agribusiness.

Keywords: organic agriculture, associativism, Areia Branca, Sergipe.

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3.1 INTRODUÇÃO

Atualmente existe uma encruzilhada civilizatória, caracterizada pela questão

socioecológica (degradação ecológica e exclusão social simultâneas).

Do ponto de vista da sustentabilidade social, a agroecologia tem base na

utilização de recursos locais, reduzindo a dependência externa de insumos, além da

freqüente redução dos custos de produção e a geração de novas alternativas de mercado,

trabalho e renda. Do ponto de vista ecológico, as propostas agroecológicas mostram

grande capacidade de reciclagem de materiais, possibilitando um circuito quase fechado

de produção. A utilização de recursos renováveis, especialmente as fontes de energia

baseadas na fotossíntese (em lugar do petróleo) é igualmente uma das vantagens da

aplicação da agroecologia. Isto tudo se relaciona com a proposta de substituir os

insumos por processos e manejos, em que se aproveita o “efeito” da biodiversidade no

equilíbrio dos agroecossistemas (CANUTO, 2005).

Os instrumentos da pesquisa clássica respondem de forma parcial às

necessidades da agricultura familiar e à complexidade dos agroecossistemas. Portanto,

há necessidade de aproximação das agendas de pesquisa dos agricultores e dos

pesquisadores, promovendo uma inversão de foco para acolher as demandas dos

agricultores, a partir do desenvolvimento de conhecimentos para aplicação a sistemas

reais (CANUTO, 2005).

A concepção de métodos de pesquisa participativa em agroecologia impõe um

duplo esforço: integrar tanto a complexidade social como a complexidade ecológica,

freqüentemente negligenciadas nos esquemas clássicos de pesquisa científica. São as

condições locais que definem os métodos: características sociais, econômicas e

ecológicas locais, sistemas de interesse envolvidos, objetivos da pesquisa, entre outras.

Deste modo, a metodologia definida para um projeto pode traduzir-se em uma

seqüência de operações já aplicada em outros contextos, mas o mais provável é que

constitua uma composição específica de ferramentas, aplicável a uma situação local

(CANUTO, 2005).

Pesquisa e extensão são atividades complementares e integradas. O

protagonismo do produtor, intrínseco à tecnologia orgânica, dá ao extensionista o papel

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de um assessor que ajuda o produtor a recuperar e/ou aprimorar seu diálogo com a

natureza (CARVALHO, 2003).

O envolvimento dos agricultores em processos participativos de pesquisa

favorece a recuperação da capacidade de observação, tanto por parte dos agricultores

como dos técnicos. Em conseqüência, melhora também a capacidade de interpretação

dos problemas e de formulação própria de respostas. Com a pesquisa participativa fica

reforçada a posição de protagonismo social e a auto-estima dos agricultores, fatores

fundamentais para a transição agroecológica (CANUTO, 2005).

3.1.1 O Município de Areia Branca

O município de Areia Branca possui uma área territorial de 128,6 km², tem

como municípios limítrofes Malhador, ao Norte; Itaporanga d’Ajuda, ao Sul; Riachuelo

e Laranjeiras, a Leste e Itabaiana, a Oeste. A sede municipal é determinada pelas

coordenadas geográficas 10º45’29” de latitude sul e 37º18’45” de longitude oeste, com

altitude de 193 metros. O acesso de Aracaju para a sede municipal, é efetuado pelas

rodovias pavimentadas BR-235 e BR-101, num total de 36km (BOMFIM et al., 2002).

Segundo a divisão adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE, o município integra a microrregião geográfica do Agreste de Itabaiana com

outros seis municípios.

O município foi criado pela Lei Estadual nº 1.254 de 11/11/1963. A população

total do município é de 14.733 habitantes, com uma densidade demográfica de

114,21hab/km² (SERGIPE.SEPLANTEC/SUPES, 1997/2000). O município é dotado de

rede de energia elétrica da Empresa Energética de Sergipe - ENERGIPE, serviços de

telefonia da TELEMAR, agência postal e posto telegráfico de Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafos - E.B.C.T., transporte rodoviário interurbano, estação rodoviária e

agência bancária (BOMFIM et al., 2002).

O abastecimento de água do município é de responsabilidade da Companhia de

Saneamento de Sergipe – DESO. O esgotamento sanitário é efetuado por fossas sépticas

e comuns, enquanto o lixo urbano coletado é transportado e depositado em terreno

baldio (BOMFIM et al., 2002).

As atividades econômicas do município se baseiam no extrativismo de madeira,

minerais primários - argila, areia e pedra - e petróleo e gás natural fase experimental; a

pecuária está voltada para a criação de bovinos, suínos e muares. A avicultura, de porte

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reduzido, é voltada a criação de galináceos e atividades industriais rudimentares como

serrarias, casa de farinha de mandioca e doces caseiros.

Na agricultura o principal cultivo comercial é a cana-de-açúcar, que é produzida

em estabelecimentos maiores que a 100 hectares. Depois da cana-de-açúcar destaca-se a

mandioca, com produção significativa no município. Cultivada por agricultores

familiares, seu cultivo no município vem sendo explorado quase que exclusivamente

para a fabricação de farinha e seus derivados. Destaca-se ainda a produção de manga,

maracujá, milho e laranja.

A área municipal apresenta clima do tipo Megatérmico Seco a Sub-úmido,

precipitação pluviométrica média anual de 1200,0mm e temperatura média no ano de

24,0ºC com período chuvoso de março a agosto. O relevo é representado por feições

dissecadas nas formas de colinas, cristas e superfícies tabulares com bordas erosivas. Os

solos são podzólico vermelho amarelo e litólicos eutróficos. No tocante à hidrografia, o

município está situado quase que totalmente na bacia do Rio Sergipe, com exceção da

parte oeste onde está localizada a Bacia do Rio Vaza-Barris.

(SERGIPE.SEPLANTEC/SUPES, 1997/2000).

Em relação à cobertura vegetal natural, no início da colonização toda área estava

coberta pela floresta densa que integrava a complexa biodiversidade da floresta

atlântica. Nela havia grande diversidade de plantas, com formações vegetais do Agreste

e Sertão – aves e animais silvestres. Após a ação antrópica, as matas e florestas quase

não existem mais restando, atualmente, algumas manchas destas formações vegetais, a

exemplo da Estação Ecológica da Serra de Itabaiana que abrange também o município

de Areia Branca, sob responsabilidade do IBAMA (LIMA, 2004).

A maioria da população de Areia Branca reside no meio rural, que conforme Censo

Demográfico de 2000 representa 54,0% da população do município. As atividades

econômicas se concentram no dia da feira que acontece aos domingos e é conhecida pela

grande variedade de produtos comercializados.

No município de Areia Branca as propriedades com menos de 100 hectares

perfazem 98,8% num total de 900 estabelecimentos, predominando pequenos

estabelecimentos agropecuários com área de 2 a 10 hectares. Por outro lado, os

estabelecimentos de 20 hectares e mais obtiveram um acréscimo da área média no

período de 1970-1995/96, passando de 128,75 para 172,46 hectares, caracterizando uma

alta concentração de terras (LIMA, 2004).

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Dentre os motivos que contribuem para explicar o alto percentual de pequenos

estabelecimentos agropecuários no município, destacam-se os fatores históricos de

ocupação do espaço e o desmembramento de áreas dos pequenos e médios proprietários,

resultado da partilha por herança entre os membros do grupo familiar (LIMA, 2004).

3.1.2 Objetivo e Desenvolvimento

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a realidade de uma propriedade rural

orgânica na região de Areia Branca /Sergipe.

A técnica utilizada foi a Entrevista Semi-estruturada. Trata-se de uma entrevista

que é guiada por perguntas-chave determinadas anteriormente. Esta ferramenta facilita a

criação de um ambiente aberto de diálogo e permite à pessoa entrevistada se expressar

livremente sem as limitações criadas por um questionário (VERDEJO, 2006).

3.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.2.1 Histórico da Área e a Transição Para o Cultivo Orgânico

A família do proprietário sempre foi ligada à agricultura. Seu pai trabalhava na

área com criação de frangos, tendo cinco galpões para este fim. Os pais se separaram e a

propriedade foi dividida. Nesta época o Sr. José Araújo, formado em curso técnico de

eletrônica e trabalhando na Panasonic, foi convidado pela mãe para trabalhar no sítio:

“— Sabe duma coisa? Toda vida fui do mato!”

No início plantavam amendoim, milho, feijão, batata, pimentão, para venda no

convencional, porém já tinha tendência a usar o mínimo de produtos químicos. Como

adubo utilizava um composto que era feito com cama de frango, abundante na

propriedade, e torta de filtro da Usina Pinheiro. Usava pulverizações químicas apenas

quando havia uma infestação muito grande de lagartas no amendoim.

A iniciativa de mudança do sistema de produção, do convencional para o

orgânico, surgiu quando a ENDAGRO (atual DEAGRO), em 1999, procurou

agricultores que utilizavam técnicas conservacionistas. O primeiro curso foi feito com

22 produtores, que tiveram a idéia de organizar uma associação. Dezoito deles fundaram

a ASPOAGRE (Associação dos Produtores Orgânicos do Agreste). Estes agricultores

passaram dois anos no processo de conversão para o orgânico, sempre se reunindo

periodicamente. Há cinco anos comercializam produtos orgânicos, tendo obtido a

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certificação há três anos. Os produtos são certificados pela Associação de Certificação

Instituto Biodinâmico - IBD.

3.2.1.1 As iniciativas da ASPOAGRE

Três municípios fazem parte da ASPOAGRE: Malhador, Itabaiana e Areia

Branca.

Na organização para a produção diversificada das hortaliças, decidiram

organizar um escalonamento de plantio entre os 18 produtores. Foram sugeridos de

quatro a oito produtos para cada produtor, dependendo do tamanho de sua área e da

maior ou menor disponibilidade de água. Algumas pessoas não se enquadraram e saíram

da associação. Dos 18 integrantes iniciais restaram 11. As culturas que eram de

responsabilidade dos produtores que saíram da associação foram distribuídas entre os

demais.

Após um ano de criação, abriram um local fixo de comercialização em Itabaiana,

onde fica a sede da associação. Depois começaram a comercializar seus produtos

também em Aracaju, na sede da AEASE, durante as quartas-feiras. Firmaram uma

poupança e conseguiram comprar quatro balanças eletrônicas. Abriram um ponto fixo

em Aracaju, pois a demanda estava muito grande. Alugaram o cômodo por 500 reais e

contrataram um funcionário, que mora próximo ao estabelecimento. Fizeram convênio

com o programa Mesa Brasil, para onde são doadas as sobras dos produtos. Acabaram

de ser contemplados com 312 mil reais, com a aprovação de um projeto para o

programa Fome Zero, para a criação de uma indústria de hortaliças minimamente

processadas, que já apresentam comprador certo (rede de supermercados GBarbosa).

A fim de garantir maior credibilidade com os consumidores, pediram à

ENDAGRO que lhes fosse disponibilizado um técnico agrícola que visitasse todas as

propriedades, o que ocorreu sem nenhum custo para os agricultores da associação.

A logística era muito cara e complicada, chegando a consumir, segundo o Sr.

José Araújo, tesoureiro da associação, mais de 40% do faturamento total. Eram gastos

em média 600 reais por semana com o transporte dos produtos. Decidiram comprar uma

Kombi a gás com o dinheiro de todos. A despesa, segundo o entrevistado, despencou

assustadoramente, não atingindo hoje mais que 20% do faturamento total. O motorista

da Kombi é um produtor, que vem de Malhador com os produtos, passa em Areia

Branca e Itabaiana para completar o carregamento, e segue para Aracaju, para fazer o

abastecimento da loja.

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3.3 Análise Tecnológica e Ambiental

As culturas cultivadas pelo Sr. José Araújo são: tomate, repolho, couve-flor

(Figura 2), brócolis, batata, amendoim e milho: “— Tudo de difícil botaram pra mim.”

Destas, a batata, o amendoim e o milho já eram cultivadas antes da conversão para o

orgânico. Ainda cultiva as seguintes frutíferas: laranja, limão, tangerina, caju, abacaxi,

banana e goiaba. É o único produtor da associação que cultiva laranja orgânica, tendo

esta uma maior área em sua propriedade. As demais frutas são produzidas em menor

quantidade, com o objetivo de permitir uma maior diversificação de espécies: “— Em

qualquer produtor tem tudo isso aí.”

Figura 2. Couve-flor orgânica cultivada na propriedade do Sr. José Araújo. Areia Branca/SE, 2005.

Além da produção vegetal, trabalha também com a criação de bovinos, ovinos e

aves. Possui seis bezerros e oito ovelhas, que são utilizados para consumo próprio de

carne e para produção de esterco. As galinhas são comercializadas como orgânicas e a

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cama de frango é utilizada para adubação. As galinhas e as ovelhas são alimentadas com

restos culturais.

O agricultor também exerce a atividade de apicultor, produzindo mel e própolis.

Possui 445 enxames em cinco apiários distribuídos no Sertão de Sergipe, da Bahia e em

Barreiras. Iniciou esta atividade há 25 anos, motivado por um curso da DEAGRO.

O Sr. José Araújo afirma que os produtos são grandes, maiores que o

convencional. O ciclo do repolho é de 65 a 70 dias, mas com 52 dias ele já inicia a

colheita, pois as cabeças já estão no tamanho comercial. A colheita se estende por até

quatro semanas. É retirada apenas a cabeça do repolho, para que ocorra o rebrote,

tornando possível a obtenção de duas colheitas em um único plantio. A segunda cabeça

é um pouco menor, porém no tamanho comercial. As folhas retiradas no desbaste são

utilizadas na alimentação das galinhas.

O agricultor utiliza barreira de eucaliptos, plantados há dois anos: “— Minha

propriedade não tem cerca. Eu planto eucalipto. Traz mais benefícios e é uma

caderneta de poupança.”. Faz rastreamento das culturas e tem controle das parcelas. O

substrato utilizado para adubação e produção de mudas é feito com os materiais

encontrados na propriedade: estercos bovino, ovino e de cama de frango que é utilizada

na proporção de 10 a 15%.

Para fortalecer as culturas contra o ataque de pragas e doenças, utiliza o Biogel,

um produto orgânico comercial que é colocado em um composto líquido, onde ocorre a

multiplicação de bactérias (Figura 3). Após alguns dias o produto é pulverizado nas

culturas, funcionando também como adubo foliar. Segundo o produtor, é como uma

trofobiose, uma homeopatia, que induz o aumento da resistência do organismo com a

aplicação de uma pequena dose do patógeno: “— O principio da agricultura orgânica é

a nutrição. Se a planta estiver bem nutrida não fica doente. É como nosso organismo”.

Utiliza também aplicação de fungos no controle de pulgão e lagarta.

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Figura 3. Caldo de Biogel pronto pra ser pulverizado sobre as culturas na propriedade do Sr. José Araújo, Areia Branca/SE, 2005.

O sistema de irrigação utilizado é o de mangueira santeno, sendo a água

procedente do rio Cotinguiba “— Antigamente era tudo aspersor”. A água é

armazenada em caixa dágua (figura). Os citrus não são irrigados. Gostaria que a

irrigação ficasse mais prática. O custo impede a modificação.

Em relação aos tratos culturais, o solo é movimentado o mínimo possível. Faz

aração com tração animal e mecanizada, num intervalo de 5 em 5 anos. Utiliza o feijão

caupi como adubo verde, para obter melhor fixação de nitrogênio. Faz rotação de

cultura, pousio e ainda utiliza cobertura morta. Nas hortaliças, faz a capina alternada na

entrelinha para manter a população de inimigos naturais (Figura 4). “— Se um ano tem

uma praga no outro não vai ter porque aumenta o predador”.

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Figura 4. Brócolis com entrelinha sem capina, mangueira santeno, área em pousio e barreira de eucalipto ao fundo.

Faz um macerado de lagartas e inocula Dipel, utilizando o produto obtido no

controle das mesmas. Contra o ataque de grilos e traças usa um copinho plástico como

armadilha. Este copinho é furado e colocado envolta da muda, constituindo uma barreira

física. Quando a muda atinge um tamanho maior, obtendo maior resistência, os

copinhos são retirados e reutilizados nas próximas safras. As sementes de amendoim,

milho e batata são produzidas na propriedade. As sementes das hortaliças são obtidas no

mercado de orgânicos.

A reserva legal da propriedade está na parte pertencente ao pai, onde fica a

nascente do rio Cotinguiba. Sua propriedade está bem protegida dos convencionais, pois

é cercada por duas reservas florestais (Parque Nacional da Serra de Itabaiana e uma

reserva de patrimônio particular natural) e pela reserva legal da nascente do rio.

Segundo ele, está tudo muito bem integrado, bem sustentado. Fala com satisfação que

possui um rebanho de Anús, que controlam as lagartas, e ainda que há grande

diversidade de pássaros cantando e pequenos animais, que se aproximam com

tranqüilidade, como o sagüi.

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O produtor acredita que a agroecologia é outra vertente da agricultura orgânica,

que não agride tanto a natureza, sendo a diferença uma maior quantidade de árvores na

produção agroecológica. “— A agricultura orgânica é básica, é tudo.”

3.4 Análise Econômica

Toda a produção é destinada para as lojas da associação, em Itabaiana e Aracaju.

Ainda não é realizado nenhum tipo de beneficiamento, porém com a aprovação do

projeto com a Petrobrás, em breve estarão processando minimamente os produtos

(verduras picadas e embaladas) e vendendo estes produtos também para a rede de

supermercados GBarbosa. Nas lojas também são comercializados alguns produtos

caseiros, como doces e biscoitos.

O transporte é realizado com recursos da associação, como já descrito

anteriormente, e são os próprios produtores os responsáveis pela logística, não tendo

nenhum tipo de atravessador.

Segundo o entrevistado, o consumidor é bem fiel e a cada ano a procura é maior.

Os produtores da associação já começaram a modificar o escalonamento, aumentando a

área das culturas, visando atender a maior demanda e já prevendo a agroindústria. Não

fazem propaganda devido ao alto custo.

O proprietário afirma que hoje o custo fixo é baixo. Durante os dois anos de

conversão foi mais difícil, porém agora já conseguiu uma estabilidade ambiental.

Considera a administração complicada e não possui empregados fixos, apenas 1 ou 2

diaristas, quando é necessário. Possui caderneta de poupança e não utiliza nenhum tipo

de crédito.

“—Temos um diferencial que os produtores não comercializam separadamente.

Cada um dá entrada com seu produto. Ao final da feira o restante é distribuído

proporcionalmente ao que cada um levou. Os lucros também são divididos

proporcionalmente”.

O preço de Sergipe, segundo o produtor, é o melhor do Brasil. Varia pouco

durante o ano e é próximo ao preço do convencional. Em safras grandes de frutas, o

preço é reduzido.

Compra semente e às vezes pó de rocha. “— O resto é tudo daqui. As

perspectivas são boas. O que estamos fazendo é o básico mesmo ”.

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3.5 Análise Social e Pessoal

Os funcionários empregados variam de 1 a 2 diaristas, que são contratados

somente quando necessário. Tem um vigia noturno, pois o agricultor não mora na

propriedade e ocorrem assaltos no local. O Sr José Araújo mora em Areia Branca com a

família. A esposa não gosta de ir para o sítio. Têm dois filhos, um adolescente músico e

uma menina de 11 anos. Ele, no entanto, gosta muito do que faz. Considera a criação de

abelhas uma terapia ocupacional, agradável e desestressante. Segundo ele, o agricultor

orgânico é apaixonado pelo que faz, por que não tem apoio do governo para financiar os

projetos. Segundo ele, os agricultores orgânicos deveriam ganhar algum recurso por

preservarem o ambiente. “—Para revitalizar o rio são Francisco vão gastar dinheiro

do bolso da gente, e foi eles que destruíram. Não ganhamos nada por isso. Falam em

agricultura sustentável da boca pra fora.”

Durante os últimos cinco anos participou de vários cursos de aperfeiçoamento e

considera o SEBRAE e a Universidade Federal de Sergipe como grandes parceiros.

Sempre faz viagens para cursos e congressos.

3.6 Aplicabilidade das Propriedades dos Agroecossistemas na Fazenda Orgânica

Areia Branca

3.6.1 Produtividade

Conway (2003) define produtividade como a produção de um determinado

produto por unidade de recurso que entra numa área. O produto avaliado pode ser não

só agrícola, mas também pode se apresentar sob a forma de geração de empregos ou de

diferentes tipos de medidas de bem-estar social, filosófico e espiritual.

A produtividade agrícola é diversificada e satisfatória. O produtor consegue

suprir a demanda do mercado e tem o retorno financeiro desejado. A atividade traz bem-

estar social, filosófico e espiritual para o proprietário, que sempre demonstra o seu

contentameto, tanto com a associação como também com a tranquilidade com que

trabalha, sabendo que seus produtos não fazem mal à saúde e que os recursos naturais

de sua propriedade são preservados.

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3.6.2 Estabilidade

A estabilidade é a constância da produtividade diante das pequenas forças

perturbadoras que surgem das flutuações e dos ciclos normais no ambiente

circundante (CONWAY 2003).

A produtividade da área analisada não é totalmente afetada pelas

perturbações dos ciclos ambientais, pois apresenta sistema de irrigação para os

períodos de seca. A estabilidade da produção está ligada à participação do

produtor na associação, que busca novas tecnologias e distribuição das culturas

entre os produtores.

3.6.3 Sustentabilidade

Ainda de acordo com Conway (2003) sustentabilidade é a capacidade de

manutenção da produtividade, através do tempo, diante de uma distorção. Depois

de um choque ou de um período de estresse, a produtividade de um sistema

agrícola pode permanecer inalterada, ou pode cair e depois retornar ao nível ou à

tendência anterior, ou estabilizar-se em um patamar mais baixo, ou, ainda, o

sistema pode entrar em colapso. Segundo Caporal & Costabeber (2004) a

sustentabilidade apresenta sete dimensões, descritas no Cap. I. Analisando estas

dimensões na Fazenda Orgânica de Areia Branca, constatamos que:

Na dimesão ecológica as tecnologias utilizadas visam a manutenção e

recuperação da base de recursos naturais, porém nao é dado um tratamento integral a

todos os elementos do agroecossistema impactados. A criação de cabras é inadequada e

existem poucas espécies arbóreas.

Em relação à dimensão social ocorre equidade na distribuição da produção entre

os membros da associação.

As informações da dimesão econômica mostraram que os agricultores da

ASPOAGRE não dependem economicamente de de fateres externos, como empréstimos

do governo. Em relação à econômia ecológica, buscam preservar o ambiente, evitando

perdas dos recursos naturais.

Na dimensão cultural, o agricultor preserva a tradição familiar de produção

rural, porém sua familia prefere morar na cidade. Na produção o saber local é

considerado juntamente com as tecnologias estudadas pelo produtor.

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A dimensão política diz respeito ao métodos e estragégias participativas capazes

de assegurar o resgate da auto estima e pleno exercício da cidadania. O produtor utiliza

de tais métodos e estrategias, se unindo a uma associação que busca o fortalecimento

dos produtores familiares que optaram pela agricultura orgânica.

Em relação à dimensão ética, o agricultor busca a preservação e diversificação

das espécies biológicas.

Por fim, na dimensão institucional, existe uma necessidade de apoio e incentivo

governamental, com propostas que incentivem a pesquisa e a produção agroecológica.

3.6.4 Equidade

Segundo Conway (2003), a equidade diz respeito ao grau de igualdade de

distribuição da produtividade do sistema agrícola entre os beneficiários humanos. Em

relação à ASPOAGRE ocorre uma distribuição equanime do trabalho e do retorno

financeiro.

3.7 Indicação de Estratégias Agroecológicas Para Aumentar a Sustentabilidade na

Área Analisada

3.7.1 Técnicas de irrigação

Chuvas escassas e concentradas num curto período de tempo (3 a 4 meses por

ano), com intensidades e freqüências variadas na área semi-árida da Região Nordeste

ressaltam a importância da tecnologia de irrigação na oferta de água para a agricultura.

O sistema de irrigação utilizado atualmente pelo Sr. José Araújo é o de

mangueira santeno/tripa, que é uma combinação de irrigação localizada e aspersão. Esse

sistema apresenta como principal característica a utilização de um material de

polietileno de baixa densidade. Apresenta ao longo da tubulação microfuros, pelos quais

a água é aplicada. É adequado para os tipos de cultura existentes na fazenda, e possui as

vantagens de possuir baixo custo de instalação e de manutenção (MIRANDA et al.,

2000). Porém, apresenta algumas desvantagens, sendo a mais grave o aumento do risco

de contaminação de plantas sadias, caso ocorra algum respingo de água que entrou em

contato com uma planta doente. Além disso, desperdiça água, que evapora mais rápido

em contato com o ar.

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O Gotejamento pode ser uma boa alternativa para o uso racional da água. A

tecnologia da irrigação por gotejamento envolve diretamente a urgente necessidade de

conservar e proteger o ambiente, ao permitir que o agricultor distribua de maneira

uniforme a água e os elementos nutritivos à zona das raízes em quantidades precisas

para atender as necessidades das plantas. Isso significa o uso de menores quantidades de

água, fertilizantes e demais produtos químicos, ao mesmo tempo em que se aumentam

os rendimentos e se obtêm produtos de melhor qualidade (LONG, 2001).

A irrigação por gotejamento que é um sistema de irrigação pelo qual a água é

transportada gota-a-gota até a base da planta, sobre ou sob o solo, sendo absorvida pelas

raízes nas quantidades adequadas. Pela uniformidade de sua vazão, é possível se levar à

planta somente a quantidade de água necessária, evitando-se a sua falta ou o seu

excesso.

Segundo BERNARDO et al. (2005), as principais vantagens do gotejamento

são:

· Maior eficiência no uso d'água, já que permite maior controle da lâmina

d'água aplicada, diminui as perdas por evaporação (pois não há movimento da água no

ar, não molha a superfície dos vegetais e não molha toda superfície do solo), não há

perdas por percolação e por escorrimento, não irriga ervas daninhas entre as fileiras de

culturas e permite maior eficiência de irrigação, a qual não é afetada pelo vento, tipo de

solo e pela interferência do agricultor.

· Maior produtividade, principalmente para culturas que respondem a maiores

níveis de umidade no solo. A maior freqüência de irrigação é inerente ao próprio

método de irrigação por gotejamento. Devido a menores variações do nível da água no

solo, os frutos, em geral, desenvolvem-se melhor e são mais uniformes.

· Maior eficiência na adubação por permitir a fertirrigação (aplicação de

fertilizantes líquidos ou solúveis em água) e por concentrar o sistema radicular da

cultura junto ao "bulbo molhado", facilita a aplicação do adubo por cobertura.

· Maior eficiência no controle fitossanitário por não irrigar as ervas daninhas e

não molhar a parte aérea dos vegetais, o que facilita o controle das ervas daninhas, dos

insetos e fungos, permitindo maior eficiência do controle biológico de pragas.

· Não interfere com as práticas culturais. Como na irrigação por gotejamento

não se molha toda a faixa entre as fileiras, pode-se fazer capinas, colheitas e aplicação

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de defensivos antes, durante ou depois das irrigações, o que é uma grande vantagem

deste método de irrigação, principalmente no cultivo das árvores frutíferas.

· Adapta-se a diferentes tipos de solos e topografias. Como a aplicação da

água na irrigação por gotejamento é em pequena quantidade, este método se adapta

melhor do que qualquer outro método de irrigação a diferentes tipos de solos e

topografia, mesmo em terrenos com topografia irregular e acidentada.

· Conservação de energia. A baixa pressão que requerem esses sistemas (0,5

bar) requer pouco bombeamento, consumindo menos energia do que os sistemas de

aspersão.

Com suas inúmeras vantagens, os sistemas de irrigação por gotejamento têm

certas desvantagens de custo e operacionais, a maioria das quais podem ser superadas

através de um bom planejamento do sistema, instalação apropriada, manutenção e

manejo adequado e contínuo. Algumas desvantagens:

· O custo inicial de um sistema como esse é mais alto do que os outros. É

preciso adquirir filtros, bombas reguladoras, válvulas, medidores e canalizações.

· Os cultivos com esse sistema requerem mudanças no sistema de trato de

solo, semeadura e colheita. É preciso educar e capacitar o pessoal que vai operá-lo.

· O pequeno orifício dos gotejadores pode obstruir-se com água suja. Por

isso é necessário analisar-se a qualidade da água para detectar-se problemas.

· Algumas culturas não germinam bem nesse sistema. É necessário usar-se

um sistema de aspersores portáteis para a germinação.

Entretanto a irrigação por gotejamento é uma tecnologia comprovada de rápida

expansão, compatível com os objetivos mundiais de conservação da água e proteção

ambiental.

3.7.2 Plantio de espécies arbóreas

A incorporação de árvores em sistemas de produção de alimentos é uma prática

com longa história. Isto é especialmente verdadeiro em regiões tropicais e subtropicais

do planeta, nas quais os produtores manejam árvores e animais juntamente com a

atividade agrícola, a fim de satisfazerem suas necessidades básicas de alimento,

madeira, lenha, forragem e para ajudar na conservação dos recursos naturais disponíveis

na propriedade (solo, água, biodiversidade, entre outros) (BERTALOT et al., 1994).

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O ponto em comum entre a Agroecologia e os sistemas agroflorestais reside no

objetivo: ambos pretendem otimizar os efeitos benéficos das interações que ocorrem

entre as árvores, os cultivos agrícolas e animais, obter a maior diversidade de produtos,

diminuir a necessidade de insumos externos e reduzir os impactos ambientais negativos

da agricultura convencional. Esta afinidade de objetivos possibilita que os sistemas

agroflorestais inseridos num contexto agroecológico de produção contribuam

significativamente para o desenvolvimento equilibrado, integrado e duradouro tanto da

paisagem natural quanto das comunidades humanas que nela habitam (BERTALOT et

al., 1994).

As vantagens no ponto de vista biológico são inúmeras, entre elas (MENDOZA

e BERTALOT, 2005):

· Otimização na utilização do espaço da propriedade pelo aproveitamento

dos diferentes estratos verticais (vegetação rasteira, arbustos, árvores altas), resultando

em maior produção de biomassa (quantidade de matéria orgânica gerada pelas plantas).

· Melhoramento das características químicas, físicas e biológicas do solo.

Isso ocorre graças à decomposição e incorporação da matéria orgânica e penetração das

raízes das árvores no solo. Os diferentes comprimentos de raízes existentes no solo, com

a presença de árvores, auxiliam também na redução potencial da erosão.

· A produção total obtida de uma mistura de árvores e culturas agrícolas ou

criações de animais é freqüentemente maior que a produzida nas monoculturas.

· Tem maior facilidade em se adaptar a um manejo agroecológico, à

medida em que a diversidade de espécies torna todo o sistema mais vigoroso,

dispensando o uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos.

· Reduz o risco de perda total da cultura principal, já que os possíveis

ataques de pragas e doenças são distribuídos entre várias espécies de plantas,

diminuindo os danos à cultura de maior valor comercial.

Algumas vantagens no aspecto sócio econômico incluiriam o fornecimento de

uma maior variedade de produtos e/ou serviços da mesma área de terra. Estes produtos

podem ser: alimentos, lenha, adubo verde, plantas medicinais e ornamentais, sombra,

quebra-ventos e embelezamento da paisagem. Além disso, a associação de culturas

anuais (como grãos) ou de ciclo curto (como hortaliças) juntamente com as árvores

reduz os custos de implantação do sistema agroflorestal. No longo prazo o custo

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também é minimizado quando as árvores começam a gerar produtos comercializáveis,

como madeira e frutas, por exemplo, (MENDOZA & BERTALOT, 2005).

3.7.3 Criação de Cabras

A produção de caprinos no sistema orgânico é uma grande opção para o

fortalecimento da agricultura familiar da região nordeste, que detém mais de 90% do

rebanho brasileiro, ocorrendo principalmente em pequenas propriedades, frágeis

financeiramente, com poucos recursos tecnológicos e escasso acesso ao crédito.

Por si, a carne caprina contém apelo expressivo para o consumo: menos gordura

entre os músculos ou mesmo de cobertura e menor percentual de calorias, na

comparação com outros tipos de carnes. Pesquisadores da Embrapa Semi-Árido

(Petrolina/PE) montaram um sistema de criação caprina para produção de carne

orgânica ou ecológica.

O sistema de criação ecológico definido nas pesquisas incorpora à atividade o

manejo dos animais associados ao pasto natural, à padronização de cortes especiais da

carne e ao controle higiênico e sanitário da produção, além do processamento e

distribuição de derivados.

Enquanto parcerias (entre Embrapa e o município) para tornar esse grande

projeto viável em Areia Branca não são firmadas, a simples melhoria da infra-estrutura

do confinamento dos caprinos já poderia resultar numa maior produção de carne e leite,

já que nas condições atuais os animais sofrem com stress ambiental (Figura 5).

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Figura 5. Caprinos confinados em situação precária na propriedade do Sr. José Araújo, Areia Branca/SE. 2005.

A médica veterinária Ângela Escosteguy (2004), ao discorrer sobre criação

ecológica de animais, cita que o local onde os animais se encontram deve proporcionar:

espaço para o animal movimentar-se livremente; suficiente ar fresco e luz diurna

natural; proteção contra a excessiva luz solar, às temperaturas extremas e ao vento forte;

área de repouso suficiente e nos animais alojados deve proporcionar-se uma cama de

material natural; acesso fácil à água corrente e ao alimento; ambiente sadio que evite

efeitos negativos nos produtos finais.

3.7.4 Trabalho familiar

Morar na propriedade seria favorável, porém ele optou pela cidade por causa da

família que não se interessa pela produção agrícola. Essa ausência o obriga a contratar

diaristas em época de muito trabalho, onerando o custo final da produção.

Esse modo de organização do trabalho familiar é diferente da estrutura padrão

do agricultor familiar nordestino, aonde, segundo Lima (2004), na base da divisão de

trabalho o chefe da família, representado pelo homem, é o responsável pela execução das

principais atividades na unidade produtiva. As tarefas incluem basicamente o plantio, a

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colheita e a comercialização. As mulheres trabalham ativamente na lavoura,

desempenhando tarefas mais leves na maioria dos casos, e também são encarregadas do

trabalho doméstico, assumem trabalhos nas hortaliças e na indústria artesanal doméstica

(fazer molhos de couve, coentro e no preparo de beijus e outras atividades artesanais).

3.7.5 Estudo de viabilidade de produção de sementes de hortaliças

Na produção de hortaliças, o acesso a sementes de alta qualidade é condição

básica para a manutenção da sustentabilidade econômica de suas unidades produtivas.

O direito do agricultor de utilizar sementes próprias, presente na lei da

Biodiversidade, foi assegurado pela nova Lei de Sementes (Lei n° 10.711, de 5 de

agosto de 2003). Esta lei dispensa da inscrição no Registro Nacional de Sementes e

Mudas – RENASEM os agricultores familiares, os assentados da reforma agrária e os

indígenas que multipliquem sementes ou mudas para distribuição, troca ou

comercialização entre si e ainda as organizações representativas desses atores que

multipliquem sementes ou mudas para distribuição a seus associados (NASCIMENTO,

2005).

Embora a obtenção de sementes de várias hortaliças requeira o uso de alta

tecnologia, muitas vezes não acessível aos agricultores familiares, a produção de

sementes a partir de variedades locais (crioulas) e ou de material genético de domínio

público e de polinização aberta (não híbridas) é uma possibilidade concreta para esses

agricultores.

O Sr. José Araújo já produz com sucesso sementes de milho, amendoim e

batata-semente. Porém, a implantação a longo prazo de um programa de produção de

sementes de hortaliças orgânicas é muito interessante para a ASPOAGRO, já que seria

uma forma de aumentar os rendimentos da cooperativa e também funcionaria como um

banco de germoplasma de cultivares típicos da região.

3.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Fazenda Orgânica Areia Branca, foi bem sucedida no processo de conversão

da agricultura convencional para a agricultura orgânica, pois atualmente produz em seu

sítio tomate, repolho, couve-flor, brócolis, batata, amendoim, milho, laranja e outras

frutíferas, além de apicultura e algumas criações animais, todos com certificação cedida

pelo IBD.

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Com a fundação da ASPOAGRE (Associação dos Produtores Orgânicos do

Agreste), que possui 11 membros, toda a produção passou a ser destinada para duas

lojas da associação em Itabaiana e Aracaju. Para diminuir gastos com logística o

transporte passou a ser realizado com recursos próprios. A demanda por produtos

orgânicos é crescente, e os produtores estão aumentando as áreas plantadas visando à

agroindústria.

O sistema de produção orgânico obteve grande avanço nos aspectos técnico,

econômico, ambiental e social. Porém, percebe-se que o produtor orgânico que opera de

modo individualizado não consegue se encaixar num modelo de produção sustentável a

longo prazo.

Tornaram-se claras as dificuldades enfrentadas pelos produtores na

comercialização de seus cultivos. É muito importante que sejam planejadas redes de

cooperação para o desenvolvimento social-econômico do meio rural, visando a

sustentabilidade e o fortalecimento das propriedades rurais. Através do associativismo

as propriedades rurais do nordeste poderão se tornar mais competitivas, facilitando o

desenvolvimento local sustentável.

Constatou-se, na área estudada, a necessidade de boa política rural local,

direcionada às necessidades do produtor familiar orgânico, sendo necessário melhorar a

assistência técnica e encontrar outros nichos de mercado consumidor. Políticas públicas

se constituem em um importante mecanismo na promoção de um desenvolvimento

local, com a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e de uma agricultura

ambientalmente sustentável.

Ao se valorizar a agricultura familiar e empreender ações para resgatar a

identidade cultural, permite-se a formação de redes de conexão motivadas pela

cooperação e confiança mútua dos diversos atores sociais e o poder público, que deve

direcionar instrumentos de políticas públicas que incentivem a criação de pequenos

empreendimentos.

A adequação do sistema à pequena propriedade é um fator importante como

opção de sustentabilidade da agricultura familiar. Porém o custo da conversão e da

certificação é um obstáculo à entrada de agricultores não capitalizados, uma vez que

ainda não existem instrumentos de crédito rural adequados à atividade e/ou para

assegurar o período de conversão.

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A alternativa de certificação solidária é um interessante processo de diminuição

de custos, porém o aparato legal instituído (Instrução Normativa 007/99), que obriga

que os produtos comercializados sejam certificados por entidade legalmente

credenciada, pode criar impedimentos a essa opção. A criação de um sistema público de

certificação seria interessante, porém nada está previsto nesse sentido.

O diferencial de preço dos produtos, vindo da superação da demanda sobre a

oferta é um incentivo à entrada de produtores no mercado orgânico, mas tende a ser

minimizada na medida em que a produção aumente. Entretanto, a menor dependência de

insumos externos à propriedade, a redução dos custos de produção e o menor desgaste

do solo continuam sendo vantagens para o produtor. Por outro lado, o fornecimento de

alimentos com menor índice de toxicidade e a manutenção do equilíbrio ambiental são

benefícios a serem capturados pelos consumidores e pela sociedade em geral.

A construção de um pacote tecnológico que alie a sustentabilidade econômica e

ambiental é um desafio dos tempos atuais, e a agricultura orgânica pode contribuir

decisivamente para vencê-lo.

O desafio para o futuro da agricultura orgânica é aliar a expansão do mercado

com os ideais de sustentabilidade ambiental e social do movimento orgânico. O

movimento orgânico internacional, sob a orientação da International Federation of

Organic Agriculture Movements- IFOAM, divulgou algumas iniciativas em que visam

ajudar nesse problema. Entre elas estão a agregação da certificação orgânica com

indicadores e estratégias que possam dar ao consumidor a informação sobre práticas que

garantam justiça social e sustentabilidade (Comércio Justo), o enfoque no

desenvolvimento local, um Código de Conduta para o Comércio Orgânico e uma

Agenda Social para Agricultura Orgânica.

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3.9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os altos custos de produção do modelo agrícola industrial baseado em

maquinarias e caros insumos derivados do petróleo levaram a um empobrecimento dos

pequenos e médios produtores, provocou uma enorme contaminação ambiental, perda

de biodiversidade e trouxe como conseqüência o êxodo rural e um encarecimento do

preço dos alimentos pela elevação do custo de produção. Além das conseqüências

ecológicas, esse modelo vem causando a dissipação do conhecimento tradicional das

populações rurais e a deterioração da base social de produção de alimentos.

O IBGE divulgou dados referentes a 2004 que mostram a importância do

Agronegócio na economia brasileira, respondendo por 34% do PIB nacional. Nos anos

de 2000 a 2005, o saldo das exportações do agronegócio cresceu 159%, em um

crescimento médio de 21% ao ano. Devido à grande extensão de área cultivável

necessária para obter os ganhos de escala, e a conseqente competitividade, o

agronegócio tende à monocultura, à substituição das culturas agrícolas locais e à

expulsão de boa parte dos pequenos produtores do campo.

Por outro lado, o modelo de produção tradicional utilizado pelos agricultores

familiares apresenta uma lógica própria na exploração dos recursos naturais, baseada no

equilíbrio da família e no comportamento econômico em que ela se encontra. A

agricultura familiar é essencial para a

sustentabilidade dos agroecossistemas, pois é nela que encontramos alternativas para

uma produção harmônica, com respeito à natureza.

A agricultura orgânica oferece uma série de vantagens ao pequeno agricultor já

que é viável em pequenas áreas e permite produção em pequena escala. Além disso, o

contato estabelecido entre produtor e consumidor nas vendas diretas leva os agricultores

a diversificarem naturalmente a sua produção no espaço e no tempo.

A técnica do Sistema de Plantio Direto é indicada para agricultores familiares,

pois reduz a mão de obra necessária os preparo do solo e tratos culturais, facilitando a

diversificação de atividades e melhorando a renda final do produtor. O sistema

consorciado também é muito adequado para pequenas propriedades, permitindo

aproveitar ao máximo as áreas limitadas de que dispõem.

A aproximação da agricultura orgânica com o segmento de agricultura familiar é

um importante passo para a melhoria de vida dos agricultores nordestinos, pois gera

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tecnologias mais adaptadas à realidade sócio-econômica desse segmento.

A agricultura orgânica apresenta-se como um cenário promissor para políticas

públicas, pois cria oportunidades principalmente para pequenos e médios produtores,

auxiliando o desenvolvimento de comunidades de agricultores familiares e vários outros

segmentos da cadeia produtiva das áreas rurais próximas aos grandes centros urbanos e

aos corredores de exportação. Além disso, o fato de propiciar a conservação dos

recursos naturais e de gerar produtos mais saudáveis aumenta o valor agregado ao

produto orgânico.

O experimento realizado na área física da Escola Agrícola de Estância, zona

rural de Sergipe, em solo misto de Argissolo Vermelho Amarelo e Neossolo

Quartzarênico, aonde se avaliou dois sistemas de preparo do solo, convencional e

cultivo mínimo e quatro sucessões de consórcio: mucuna preta, repolho/coentro,

alface/cenoura e milho/feijão-caupi obteve resultados promissores, já que se tratava de

um solo em início de conversão.

Não houve perdas de produtividade nem de características comerciais das

culturas escolhidas. A produção total sob cultivo mínimo de alface, cenoura, coentro e

milho foi numericamente superior aos resultados obtidos sob cultivo convencional.

O investimento contínuo na pesquisa técnica em agroecossistemas (manejo de

solos, ecologia, consórcios e indicadores de sustentabilidade, entre outros) é

indispensável já que viabiliza soluções para o desenvolvimento sustentável do espaço

rural, além de contribuir para a gestão dos problemas ambientais relacionados à

agropecuária.

O estudo de caso de uma propriedade rural orgânica localizada no município de

Areia Branca/SE demonstrou que esse estabelecimento foi bem sucedido na conversão

para a agricultura orgânica. O agricultor Sr. José Araújo está bem familiarizado com

técnicas e manejos conservacionistas necessários para a permanência das culturas.

Tornaram-se claras as dificuldades enfrentadas pelos produtores na

comercialização de seus cultivos. Percebe-se que o produtor orgânico que opera de

modo individualizado não consegue se encaixar num modelo de produção sustentável a

longo prazo. É muito importante que sejam planejadas redes de cooperação para o

desenvolvimento social-econômico do meio rural, visando a sustentabilidade e o

fortalecimento das propriedades rurais. Através do associativismo as propriedades rurais

do nordeste se tornarão mais competitivas, facilitando o desenvolvimento local.

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De fato, foi com a reunião dos produtores orgânicos e a conseqüente fundação

da ASPOAGRE (Associação dos Produtores Orgânicos do Agreste) que os mesmos

conseguiram contornar as dificuldades logísticas. Fazendo o transporte com veículo

próprio e vendendo toda a produção em lojas da associação, conseguiram diminuir

drasticamente os custos da produção.

Constatou-se, na área estudada, a necessidade de boa política rural local,

direcionada às necessidades do produtor familiar orgânico, sendo necessário melhorar a

assistência técnica e encontrar outros nichos de mercado consumidor. Políticas públicas

se constituem em um importante mecanismo na promoção de um desenvolvimento

local, com a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e de uma agricultura

ambientalmente sustentável.

O desafio para o futuro da agricultura orgânica é aliar a expansão do mercado

com os ideais de sustentabilidade ambiental e social do movimento orgânico.

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