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1 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

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1Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

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2 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Sumário• Editorial ............................................................... 3• Lançamentos editoriais ........................................ 4

• Epagri organiza o VII Congresso Brasileiro deArroz Irrigado ....................................................... 5

• Cresce interesse dos brasileiros por ciência ......... 6• Nova variedade de batata poderá diminuir perdas

nas lavouras ........................................................ 6• Pesquisador da Epagri estuda produção de

biodiesel de microalgas ....................................... 7• Epagri é destaque em extensão rural ................... 8• Brasil dobra número de mestres e doutores em

dez anos .............................................................. 8• Tecnologias potencializam absorção de nutrientes

pelas plantas ....................................................... 9• Agricultores de São Bento do Sul são pagos para

preservar ............................................................. 10• Metamidofós será banido do mercado brasileiro ...10• Conhecimento ecológico tradicional está se

perdendo em Santa Catarina ............................... 11• Projeto transforma dejetos em fertilizante ............ 12• Cientistas descobrem forma de acelerar o

crescimento de plantas ........................................ 12

• A suinocultura ante a atual legislação ambiental .. 13

• Prioridades para prevenção de catástrofesnaturais em Santa Catarina ..................................15

• Afaste os insetos com citronela ............................19

• Doce e lucrativo negócio ..................................... 21• Sucesso sem fronteiras ....................................... 27

• União que traz desenvolvimento ......................... 30

• Mata Atlântica catarinense ................................... 34

• Colheita mecanizada de mexilhões (Perna pernaL.) engordados a partir de coletores artificiais desementes .............................................................38

• Sintomas e controle das principais doenças domaracujazeiro (Passiflora edulis f. flavicarpa) emSanta Catarina .....................................................42

• Instalação de cobertura plástica em vinhedosconduzidos em latada .......................................... 46

• Manejo da mancha branca na cultura do milho .... 49

• Potencial alelopático de extratos de plantasdaninhas sobre o crescimento do porta-enxerto devideira VR 043-43 ................................................51

• Aclimatização do porta-enxerto de macieiraSeleção 69 em diferentes meios ......................... 56

• Efeitos de fontes de esterco e composto orgânicona produção de milho e feijão no sistemaorgânico sob plantio direto ................................... 60

• Balanço simplificado de nutrientes e rendimentode grãos em nove anos de aplicação superficialde dejeto líquido de suínos em um LatossoloVermelho Distrófico ............................................. 65

• SCS451 Catarina – Novo cultivar de bananeira dosubgrupo Prata .................................................... 70

• Efeito da aplicação do preparado homeopático deNatrum muriaticum na incidência de Thripstabaci na produtividade e na armazenagem decebola em sistema orgânico ................................ 76

• Comportamento produtivo de seis gramíneasforrageiras tropicais no Planalto NorteCatarinense ......................................................... 79

• Desempenho produtivo de cultivares de morangono Oeste de Santa Catarina ................................. 82

• Normas para publicação na RAC ......................... 86

Informativo técnico

Artigo científico

Nota científica

Opinião

Vida rural

Conjuntura

Reportagem

Registro

Flora catarinense

Normas para publicação

Germoplasma

Entrevista

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3Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 20093 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

FICHA CATALOGRÁFICA

Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) –Florianópolis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a

ser quadrimestral.1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

CDD 630.5

Tiragem: 1.800 exemplaresImpressão: Dioesc.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicaçãoda Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Ruralde Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet: www.epagri.sc.gov.br,e-mail: [email protected].

EDITORAÇÃO:

Editor-chefe: Décio Alfredo RockenbachEditor técnico: Paulo Sergio Tagliari

JORNALISTA: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC02337)

CAPA: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Victor Berretta

PADRONIZAÇÃO E NORMALIZAÇÃO: Abel Viana

REVISÃO DE PORTUGUÊS: João Batista LeonelGhizoni

REVISÃO DE INGLÊS: João Batista Leonel Ghizoni

REVISÃO TIPOGRÁFICA: Daniel Pereira

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira –GMC/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597ou 3239-5628, e-mail: [email protected] anual (3 edições): R$ 22,00 à vista

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE JULHO DE 2011

As normas para publicação na Revista Agropecuária Catarinense estão disponíveis no site www.epagri.sc.gov.br.

Esta edição foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica eTecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Aapicultura empresarial, alémde trazer renda ao produtorrural, tem a nobre tarefa de

polinizar lavouras, pomares eflorestas, garantindo a produçãovegetal e contribuindo para apreservação ambiental. Para mostrara importância dessa atividade, a RACtraz uma reportagem contando aexperiência bem-sucedida deapicultores catarinenses e aspesquisas desenvolvidas na Epagripara apoiar e estimular esse setor quevem despontando na economiabarriga-verde.

A informação meteorológica, coma devida antecedência e precisão, étudo que a Defesa Civil necessita paraagir de forma preventiva em eventosclimáticos extremos, além de serferramenta importante para o homemdo campo. Esse é outro assunto dedestaque na revista, que mostra osdados meteorológicos disponíveis aocidadão através do site da Epagri/Ciram. Ele informa, entre outrosdados, previsão de geada, detempestades, de vazão de rios, dechuvas intensas e avisos detemperatura mínima extrema etemperatura máxima extrema. Essas

informações têm tido grande procurae são acessadas não só no Estado,como também no País e no Exterior,chegando à casa das dezenas demilhões os acessos ao portal.

Outro destaque desta edição é onovo cultivar de bananeira lançadopela Epagri. Trata-se da SCS451Catarina, do subgrupo Prata, que emtestes em campo mostrou boatolerância ao frio e aos ventos.Também apresentou boa produti-vidade, com frutos maiores que oscultivares padrão, e maior tolerânciaao “mal do panamá”. Constitui-se,portanto, numa boa alternativa aosprodutores, principalmente no litoralde Santa Catarina.

A seção técnico-científica tambémtraz um artigo sobre o uso de fontesde esterco e composto na fertilizaçãode milho e feijão em sistema orgânicono Oeste Catarinense. A pesquisacomprova a viabilidade da utilizaçãodesses adubos naturais, aproveitandoum insumo – o esterco animal – quemuitas vezes é mal utilizado. Em outrotrabalho, os extratos das raízes e daparte aérea de espécies de plantasdaninhas mostraram efeito esti-mulante – alelopatia – no crescimento

de porta-enxerto de videira,demonstrando que determinadostipos das chamadas ervas infestantespodem ser benéficos no manejo dosvinhedos, gerando economia no usode agrotóxicos

O informativo sobre sintomas econtrole das doenças do mara-cujazeiro traz orientações estratégicasaos técnicos, ilustrando o texto comfotos das principais enfermidadesocorrentes. O maracujazeiro azedo éimportante frutífera tropical no Brasile, em Santa Catarina, a produção caiunos últimos anos em função do ataquede doenças e de outros fatores.

Para o setor pesqueiro, a novidadeé uma máquina montada sobre umaembarcação, que permite a colheitamecanizada de mexilhões numsistema contínuo de cultivo, adotadoprincipalmente na Nova Zelândia. Noatual sistema praticado no Estado, osmexilhões são cultivados em cordasindividuais de pequeno porte (1 a 3m).Com o novo equipamento, as cordaspodem medir até 3.000m decomprimento.

Confira essas e outras interessantesmatérias a seguir. Boa leitura!

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4 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Avaliações agronômica e econômica de uma plataforma de compostagem e do compostoproduzido. 2009, 49p. BT 150, R$ 12,00.

A concentração de suínos em algumas regiões catarinenses gera uma grande quantidade dedejetos que, muitas vezes, são manejados sem atender a legislação ambiental. Para reduzircustos e o efeito ambiental desses dejetos, a Epagri pesquisa tecnologias alternativas com ênfaseno manejo e tratamento dos resíduos por meio da compostagem. O Boletim traz resultados deuma pesquisa realizada em uma unidade de compostagem semiautomatizada com adição dedejetos líquidos de suínos a diferentes substratos. Além da avaliação da decomposição biológicados resíduos orgânicos e da caracterização físico-química dos compostos, o trabalho detalha aeficiência econômico-financeira do processo, que pode servir de orientação na adoção datecnologia.

Contato: [email protected].

Cultivo do pepineiro para picles no Vale do Rio Itajaí e Litoral Catarinense. 2011, 55p.BT 154, R$ 12,00.Santa Catarina tem a maior produção brasileira de pepino para picles, com cerca de 3.800produtores e área plantada superior a 2.000ha, além do maior parque industrial do País nosetor. A atividade tem grande importância social, pois gera empregos diretos e indiretos nocampo e na indústria. Para auxiliar os produtores no manejo dessa cultura, o Boletim Técnicoorienta sobre o uso racional do solo e os demais fatores de produção, a sustentabilidade daatividade buscando a precocidade das colheitas, o aumento de produtividade e da qualidadedo produto, além da oportunidade de plantio durante o ano todo. A publicação também trazdicas para garantir a humanização do trabalho, a qualidade de vida da família rural e a segurançados consumidores.

Contato: [email protected].

Recomendações técnicas para uso dos recursos genéticos da Epagri. 2011, 118p. DOC 236,R$ 12,00.

O Documento fornece subsídios aos pesquisadores sobre as etapas da conservação degermoplasma na Epagri, orientando para o uso sustentável dos recursos genéticos. O trabalhoapresenta instruções que vão desde a coleta ou intercâmbio do material genético até o lançamentode novos cultivares, buscando a eficiência e a padronização dos processos. A Epagri possuiuma rede de 44 coleções e 4 bancos de germoplasma na área vegetal, englobando cerca de 150famílias botânicas e mais de 1.450 espécies distribuídas em unidades de pesquisa no Estado.Esses recursos são estratégicos para Santa Catarina e para o Brasil, pois abrigam ampladiversidade genética de aplicação imediata, germoplasma de potencial utilização e materialpassando por algum grau de ameaça.

Contato: [email protected].

Passo a passo para a legalização das agroindústrias. 2011, 35p, DOC 237, R$ 8,00.

Elaborado pela Comissão Municipal das Agroindústrias do município de Massaranduba, SC,o Documento orienta os agricultores, de forma simples, sobre os procedimentos a serem seguidospara a legalização de agroindústrias nos âmbitos sanitário, ambiental, tributário e de construçãocivil. Para facilitar o processo e torná-lo mais claro para os proprietários de agroindústrias, apublicação lista os documentos e as providências necessárias em cada etapa. A proposta éestimular a melhoria da qualidade dos produtos e promover o fortalecimento, o crescimento ea competitividade do setor, que tem grande importância econômica no meio rural catarinensee vem conquistando cada vez mais espaço no mercado.

Contato: [email protected].

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5Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

De 9 a 12 de agosto, SantaCatarina será sede do maiorevento sobre arroz irrigado

do País. Com caráter internacional, oVII Congresso Brasileiro de ArrozIrrigado, organizado pela equipe depesquisa do Projeto Arroz da Epagri,vai reunir no Hotel Recanto dasÁguas, em Balneário Camboriú, cercade 500 participantes de todo o País edo exterior, incluindo pesquisadores,extensionistas, técnicos, produtores,professores, estudantes e empre-sários. Nesta edição, o congresso terácomo tema “Racionalizando recursose ampliando oportunidades”.

“O objetivo é promover a interaçãoentre profissionais de diferentes árease instituições brasileiras e interna-cionais, possibilitando o intercâmbiode informações, a atualização e adifusão de novas tecnologias”, explicao pesquisador José Alberto Noldin,chefe da Epagri/Estação Expe-rimental de Itajaí e presidente doevento. O Congresso, promovido pelaSociedade Sul-Brasileira de ArrozIrrigado (Sosbai), é realizado a cadadois anos, na forma de rodízio, pelasprincipais instituições de pesquisa doPaís na área, incluindo, além daEpagri, a Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa), oInstituto Rio-Grandense do Arroz(Irga) e as Universidades Federais doRio Grande do Sul (UFRGS), dePelotas (UFPel) e de Santa Maria(UFSM).

Tecnologias e resultados depesquisas de ponta em arroz irrigadoserão apresentados em sessõesplenárias, pôsteres, painéis e oficinas,além de palestras e mesas-redondascom a participação de profissionaisconsiderados referência no Brasil e noexterior. Paralelamente, indústrias eempresas do agronegócio vão exporseus produtos e promoverlançamentos para o setor. “Osparticipantes terão conhecimento dosprincipais avanços recentes para acultura do arroz irrigado e poderãointeragir com toda a cadeia

Epagri organiza o VII Congresso Brasileirode Arroz Irrigado

produtiva”, aponta Moacir AntônioSchiocchet, coordenador da equipe depesquisa do Projeto Arroz da Epagri.

Destaque nacional

Santa Catarina é o segundo maiorprodutor de arroz do Brasil, com 150mil hectares cultivados e produçãoanual superior a 1 milhão de toneladas.Esse processo envolve apro-ximadamente 8 mil produtores, 50indústrias de beneficiamento,empresas de máquinas, implementose agroquímicos, e gera mais de 50 milempregos diretos e indiretos. O Estadodestaca-se, ainda, pelos cultivares dearroz irrigado desenvolvidos pelaEpagri. Por apresentarem excelentedesempenho, aliado à qualidade dasemente disponibilizada pelaAssociação Catarinense dosProdutores de Sementes de ArrozIrrigado (Acapsa), eles são cultivadosem todos os Estados brasileiros pro-dutores de arroz irrigado, além depaíses como Argentina, Paraguai,Venezuela, Colômbia e Bolívia.

Apesar dos avanços em relação àprodutividade, os pesquisadoresdestacam que são necessários esforçosconstantes da pesquisa, com apoio da

assistência técnica e extensão rural eda cadeia produtiva, para se assegurara competitividade do setor no Estado.“Nesse sentido, a realização docongresso reveste-se de importânciapor apresentar novas tecnologias paraa cultura, permitindo que elas sejamamplamente discutidas e avaliadaspelos diferentes agentes do processoprodutivo, o que possibilita adispersão do conhecimento”, ressaltaSchiocchet.

Na organização do evento, aEpagri conta com o apoio daFundação de Amparo à Pesquisa eInovação do Estado de Santa Catarina(Fapesc), do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), do FundoEstadual de Incentivo ao Turismo(Funturismo) e da Acapsa. Asinscrições estão abertas até o início doevento. Mais informações sobre oCongresso podem ser encontradas nosite www.cbai2011.com.br.

Santa Catarina destaca-se pelos cultivares de arroz irrigado desenvolvidos pela Epagri. Nafoto, área da Estação Experimental de Itajaí

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6 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Ointeresse da populaçãobrasileira pela ciênciaaumentou consideravel-

mente nos últimos quatro anos. Aconclusão é da pesquisa PercepçãoPública da Ciência e Tecnologia,realizada no fim de 2010 com 2.016pessoas em todo o País e divulgadapelo Ministério da Ciência eTecnologia. Em 2006, 41% dosbrasileiros eram interessados oumuito interessados em ciência. Opercentual subiu, em 2010, para 65%.

Para o coordenador do estudo,Ildeu Moreira, os resultados apontamuma percepção madura do brasileiro.“Os resultados mostram que apopulação confia no cientista, acreditaque a pesquisa é fundamental, apoiao aumento de recursos para o setor eacha que a ciência traz benefícios parasua vida. Por outro lado, há umaconsciência dos perigos e limites éticosexistentes”, afirma.

Cresce interesse dos brasileiros por ciênciaO estudo

revelou ain-da que, parao brasileiro, aciência é maisinteressantedo que te-mas popu-lares, comoesportes: 65%dos entrevis-tados se di-zem inte-ressados emuito inte-ressados emciência e 62%, em esportes. O meioambiente é o tema mais “popular”,com 83% de interessados e muitointeressados. Em 2006, o percentualera 58%. Em seguida, aparecemmedicina e saúde, com 81%. “O fatode o meio ambiente ter ultrapassadomedicina e saúde é um dos aspectosmais marcantes da pesquisa”, afirmaMoreira.

Entre os interessados ou muitointeressados em ciência, os assuntospreferidos são ciências da saúde(30,3%), informática e computação(22,6%), agricultura (11,2%),engenharias (8,4%) e ciênciasbiológicas (6%). Em contrapartida,quase 82% dos entrevistados nãosouberam citar nenhuma instituiçãode pesquisa científica no Brasil e maisde 87% não souberam mencionar umcientista brasileiro importante.

Em relação ao contexto mundial,quase 50% dos entrevistados veem aciência brasileira em um patamarintermediário, enquanto 26% a julgamatrasada e 19,7% acham que éavançada. Para o público, as áreasmais importantes para o desenvol-vimento no País são de medicamentos(32,1%), agricultura (15%), mudançasclimáticas (14,8%) e energia solar(14%).

Fonte: Agência Fapesp.

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OBRS Clara, cultivar de batatalançado pela EmpresaBrasileira de Pesquisa

Agropecuária (Embrapa), deve setornar uma boa opção aos produtoresque sofrem com a requeima, a doençamais devastadora das lavouras dacultura em todo o mundo. Além damaior resistência ao fungoPhytophthora infestans, responsávelpela doença, a variedade atende asprincipais exigências do consumidor:tem boa aparência, boa qualidade naprateleira e bom desempenho nacozinha.

A pesquisa mostrou que avariedade apresenta as característicasde resistência tanto em lavourastradicionais que utilizam produtosquímicos como em plantações queutilizam as técnicas recomendadaspela agroecologia. Importador de

Nova variedade de batata poderádiminuir perdas nas lavouras

sementes, o Brasil ainda dependeespecialmente de cultivares daHolanda, o que determina um customais elevado na produção.

A variedade foi desenvolvida peloPrograma de Melhoramento Genético

de Batata da Embrapa, liderado pelopesquisador da Embrapa ClimaTemperado Arione Pereira. Otrabalho, iniciado em 1999, resultounuma batata adaptada principalmenteàs características da Região Sul.

“Temos a pretensão de que aClara ocupe um generosoespaço nos cerca de 140 milhectares que estão sendocultivados com batata anual-mente no País”, diz Arione.

Para saber mais sobre ocultivar e solicitar sementes,é necessário entrar em contatocom o Escritório de Negóciosda Embrapa Transferência deTecnologia, em Canoinhas,SC, pelo telefone (47) 3624-0127 ou pelo [email protected].

Ciência tem maisinteressados do que temascomo esportes

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Cultivar tem boa aparência, boa qualidade naprateleira e bom desempenho na cozinha

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7Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Oengenheiro-agrônomo MatiasBoll, da Epagri/Centro deInformações de Recursos

Ambientais e de Hidrometeorologiade Santa Catarina (Ciram), dedicouquatro anos de estudo naUniversidade do Havaí, nos EstadosUnidos, a pesquisas sobre aviabilidade da produção de biodiesela partir de microalgas. Na tese dedoutorado, ele faz uma avaliaçãobioeconômica da produção demicroalgas como matéria-primaalternativa para a fabricação debiodiesel no Brasil.

A Universidade do Havaí pesquisao assunto há 20 anos, mas ainda hápoucos estudos que avaliam essaprodução em grandes quantidades. “Apesquisa faz uma projeção do uso demicroalgas como alternativa para aprodução de biocombustíveis em largaescala no Nordeste do Brasil,avaliando possíveis impactoseconômicos, ambientais e sociais”,detalha o pesquisador.

As microalgas podem sedesenvolver tanto em água doce comoem salgada e têm característicasimportantes para a produção debiodiesel. “É o organismo que tem amaior eficiência no uso da luz solarpara produzir biomassa, porque,diferentemente da soja e da mamona,por exemplo, não gasta energia paradesenvolver estruturas como raízes efolhas”, explica o pesquisador. Pornecessitar de muito gás carbônico (um

Pesquisador da Epagri estuda produçãode biodiesel de microalgas

dos causadores do efeito estufa), aprodução pode ser aliada a indústriasque emitem esse gás como resíduo,como usinas termoelétricas e fábricasde cimento.

Na pesquisa, Boll avaliou fatorescomo custo de produção e aintegração com a produção de etanola partir da cana-de-açúcar apro-veitando o dióxido de carbono parafornecer às algas, comparou aprodução de microalgas com fontescomo soja e mamona, e desenvolveuum modelo matemático para otimizara utilização de terras cultiváveis na

produção de biodieselno Nordeste brasi-leiro.

A espécie demicroalga avaliada foiScenedesmus sp.,resistente a altastemperaturas e à baixacirculação da água ecom concentraçãomédia de óleo (20%).“De acordo comestudos preliminares,ela produz 8,5 millitros de biodiesel porhectare, 12 vezes maisque a soja”, destacaBoll. Outra vantagem

é que a alga não compete com aprodução de alimentos, comoacontece com a soja e com o milho, porexemplo.

Por necessitarem de luz solarabundante e de temperatura média de25°C, as microalgas ainda não sãovistas como uma possibilidade paraprodução de biocombustível em largaescala em Santa Catarina. Mas,segundo Matias, nada impede que sedescubra uma alga na região que façabom uso da energia luminosa.

O estudo se soma a outrasiniciativas que estudam a pos-sibilidade de produzir biodiesel demicroalgas no Brasil, criando umcenário a partir do qual se podeevoluir. “Será necessário termos, embreve, alternativas ao petróleo. É vitalpara o futuro de todos os países eEstados, inclusive de Santa Catarina,

Mar de possibilidades

As microalgas são as principaisresponsáveis, nos oceanos, pelaabsorção do CO2 atmosférico.Pesquisas apontam que elas podemser cultivadas em regiõesimpróprias para atividadesagrícolas, representando uma boaalternativa para diminuir o efeitoestufa.

Esses organismos são fontes deproteínas, carboidratos, ácidosgraxos, pigmentos e vitaminas, ealgumas espécies são usadas nasindústrias alimentícia efarmacêutica. Na aquicultura,alimentam moluscos, crustáceos,peixes e zooplânctons e melhorama qualidade da água, absorvendosubstâncias nitrogenadas tóxicas ecombatendo bactérias patogênicas.

Estudos sobre a produção e aqualidade dos lipídios dasmicroalgas indicam que elaspodem ser usadas na produção debiodiesel, tornando-se uma fonte deenergia limpa.

buscar independência na produção deenergia e combustíveis”, defende Boll.

A pesquisa aponta desafios quepodem ser superados em estudosfuturos. Um deles é o custo deprodução, já que a alternativa exigelaboratório para multiplicar as algas,tanques de cultivo e equipamentospara fixar o carbono a ser utilizadopelas algas. “Mesmo integrando aprodução de biodiesel com a indústriado álcool, na situação atual o custo deprodução do biodiesel de microalgasno Brasil seria quatro vezes superiorao do biodiesel fabricado a partir deoutras fontes”, aponta Matias.

Outro desafio para a adoção dobiodiesel de microalgas é anecessidade de grandes quantidadesde água e fertilizante nitrogenado, quetem origem no petróleo. “Por outrolado, a biomassa resultante dasmicroalgas poderia ser usada comofertilizante em culturas agrícolas,alimento para o gado ou até mesmona área industrial”, acrescenta.

Fazenda de produção de microalgas no Havaí, Estados Unidos

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8 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Santa Catarina foi o Estado queproporcionalmente mais inves-tiu em assistência técnica e

extensão rural no País em 2010, deacordo com a Associação Brasileiradas Entidades Estaduais deAssistência Técnica e Extensão Rural(Asbraer). Esses investimentos, quesomaram R$ 239,7 milhões ebeneficiaram 126.834 agricultores noano passado, somados aosrelevantes serviços prestadospela Epagri na área, foramreconhecidos com a entrega daMedalha do Mérito daExtensão Rural Jonas Pinheiroà Empresa.

A distinção foi entregue emmarço pelo presidente daAsbraer, Nilton Cosson, emcerimônia realizada emBrasília, ao presidente daEpagri, Luiz Hessmann, aodiretor Ditmar Zimath e aocoordenador da Federação

Epagri é destaque em extensão ruralNacional dos Trabalhadores daAssistência Técnica e do Setor PúblicoAgrícola do Brasil (Faser) e daFederação das Associações dosFuncionários da Pesquisa e ExtensãoRural (Faper), Álvaro Simon. “Amedalha é o reconhecimento dotrabalho realizado pelos extensionistasda Epagri em benefício das famílias depequenos agricultores familiares e

pescadores artesanais de SantaCatarina”, comemorou Hessmann.

A escolha da Empresa resultou deuma pesquisa realizada junto àsassociadas da Asbraer em que osEstados informaram o valor investidoem assistência técnica e extensão rurale o público atendido durante o ano.“A medalha é o coroamento dotrabalho que tem sido feito pelo

Governo de Santa Catarina e pelaEpagri a partir do esforço que asociedade faz para investir empesquisa e extensão”, avalia odiretor Ditmar, que destaca,ainda, os investimentos reali-zados nos últimos dois anos emmelhoria das condições detrabalho, como a aquisição deveículos, equipamentos deinformática e móveis paraescritórios municipais, além damelhoria de processos e sistemasde gestão e da contratação deprofissionais.

De 2001 a 2010, a quantidade depesquisadores formados porano no Brasil passou de 26 mil

para cerca de 53 mil, segundo aCoordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior(Capes). De acordo com oórgão, só em 2010, 12 milreceberam o título de doutor e41 mil o de mestre. Os dadosconstam do balanço final doPlano de Ação em Ciência,Tecnologia e Inovação, quecompila informações de váriosórgãos ligados à pesquisa noPaís e avalia o resultado de umplano de investimento lançadopelo Ministério da Ciência eTecnologia em 2007.

Segundo o documento, sóem 2009, 161 mil estudantesestavam matriculados emprogramas de mestrado edoutorado de universidades

Brasil dobra número de mestres e doutores em dez anosbrasileiras. O número equivale a 90%da soma dos mestres e doutorestitulados no País de 2003 até 2009.“Para padrões latino-americanos, é umcrescimento muito grande. Mas ainda

temos que avançar”, avalia o pró--reitor de Pós-Graduação daUniversidade de São Paulo (USP),Vahan Agopyan. Segundo ele, oaumento na titulação de pes-

quisadores deve-se principal-mente ao investimento go-vernamental.

Por conta disso, o número decursos de pós-graduação tambémcresceu. Em 2001, era 1,5 mil e,em 2009, subiu para 2,7 mil. Sóas universidades federais têmquase 1,5 mil programas demestrado ou doutorado. Alémdisso, a Capes e o ConselhoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq)conce-deram 160 mil bolsas demestrado e doutorado em 2010.Em 2001, foram 80 mil.

Fonte: Agência Brasil.

Foto de Nilson O. Teixeira

Foto de Aires Mariga

Investimentos em Ater no ano passado beneficiaram 126.834agricultores catarinenses

Em 2010, 12 mil pesquisadores brasileiros se tornaramdoutores e 41 mil receberam o título de mestre

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9Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Para driblar as perdas defertilizantes causadas pelachuva ou pela evaporação,

pesquisas realizadas no Brasilcolocam à disposição dos agricultoresalternativas capazes de potencializara absorção dos nutrientes pelasplantas e reduzir os gastos comadubação. Uma delas são osinoculantes, produtos que contêmbactérias fixadoras de nitrogêniochamadas de rizóbios.

A Epagri trabalha na seleção deestirpes de rizóbios eficientes nafixação biológica de nitrogênio que podem ser utilizados comoinoculantes em espécies leguminosas.Em uma relação de simbiose, osrizóbios transformam o nitrogênio doar em amônia, que é trocada com asplantas por nutrientes e energia.

O nitrogênio é um nutrienteessencial para a formação de proteínase enzimas e, consequentemente, parao crescimento vegetal. “Na natureza,a fixação biológica de nitrogênio é aprincipal forma de reciclagem donutriente para o solo, ou seja, sem asbactérias que conduzem esse processo,os ecossistemas entrariam em

Tecnologias potencializam absorçãode nutrientes pelas plantas

colapso”, explica Murilo DallaCosta, pesquisador da Epagri/EstaçãoExperimental de Lages.

A Epagri tem uma coleção deaproximadamente 600 estirpes de rizóbios para mais de 30 espécies deleguminosas, como forrageiras eervilha. Essas estirpes já estão na listadas recomendadas pelo Ministério da Agricultura ou em fase de pesquisa.

Entre as pesquisas em andamento,alguns trabalhos de seleção estão em fase intermediária para a cultura dalentilha e para espécies forrageirasnativas como Adesmia latifolia eAdesmia tristis. As estirpes sele-cionadas poderão ser registradas maistarde e usadas pelas indústrias paraproduzir os inoculantes. A Epagritambém está testando rizóbiosprodutores de auxinas na germinaçãoe na promoção do crescimento dearroz, uma cultura não leguminosa.

Dependendo da cultura, osrizóbios são capazes de reduzir anecessidade de adubação nitrogenadaem mais de 90% ou até mesmo torná--la desnecessária. De acordo com apesquisadora Mariângela Hungria, daEmpresa Brasileira de Pesquisa

Nódulos nas raízes indicam que as plantas estão fixando biologicamente o nitrogênio

Agropecuária (Embrapa), somente nacultura da soja o uso de inoculantesgera uma economia de cerca de R$ 10bilhões ao ano no Brasil.

Os agricultores interessados emadquirir inoculantes podem encontraros produtos em casas agropecuárias.Mais informações sobre as pesquisasda Epagri na área podem ser obtidascom o pesquisador Murilo Dalla Costa, da Estação Experimental deLages, pelo e-mail [email protected] ou pelo fone (49) 3224-4400.

Minimizando perdas

O uso de aditivos também podemelhorar a absorção de nutrientespela planta. Nesse caso, o produtorpode acrescentar ao conjunto defertilizantes os que utilizampolímeros, substâncias quepermitem uma liberação lenta egradual do insumo. Eles formamuma espécie de película nosgrânulos do fertilizante, prote-gendo-os e isolando-os dos fatoresque prejudicam a absorção. Esse éo princípio do aditivo KimCoat,produzido pela Adubos Coxilha.

Outro produto disponível aoagricultor tem a atuação baseada naliberação controlada de nitrogênio.A tecnologia, que está sendoaprimorada pela UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul(UFRGS), tem como princípio inibira urease, enzima que atua sobre aliberação de nitrogênio. O objetivoé fazer com que o processo gradualminimize as perdas que acontecemde uma só vez quando há lixiviaçãodo solo ou volatilização dofertilizante. O controlador denitrogênio está disponível nomercado com a marca SuperN, daFertipar, e deve ser usado nasuperfície do solo após a plantaemergir. “No ano agrícola 2009/10,notamos o aumento da produção de600kg por hectare de milho”, afirmao professor Paulo Ferreira da Silva,que coordena os testes com oproduto.

Com informações do Correio do PovoRural.

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10 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

São Bento do Sul, no PlanaltoNorte catarinense, é o primeiromunicípio do Estado a

remunerar os agricultores quepreservam a água do rio que abastecea cidade por meio do Pagamento porServiços Ambientais (PSA). No dia 5de junho, Dia Mundial do MeioAmbiente, 11 moradores das margensdo Rio Vermelho receberam oprimeiro pagamento pelas ações depreservação que desenvolvem naspropriedades. “A ideia surgiu para os

Agricultores de São Bento do Sulsão pagos para preservar

agricultores serem valorizados peloque representam dentro da agriculturafamiliar do município”, afirma oprefeito Magno Bollmann.

A ação foi possível graças a umalei municipal aprovada em 2010. Oagricultor interessado se inscreve naprefeitura e recebe assessoria paraadequar a propriedade. As atividadessão avaliadas por um comitê e opagamento é feito anualmente peloServiço Autônomo Municipal deÁgua e Esgoto (Samae). Os valores

variam de R$ 336 atéaproximada-mente R$ 3mil. “Não tratamoscomo um investimentoporque o foco não éfinanceiro, é ambiental.Mas com issoconseguimos ter eco-nomia no tratamento daágua. Vamos reduzir ouso de produtos quí-micos e entregar umaágua mais natural aindapara a população”,

explica Geraldo Weihermann,presidente do Samae.

Na avaliação das propriedades sãoanalisados 18 quesitos, entre elesrecuperação da Área de ProteçãoPermanente (APP) ou conservação damata ciliar, reserva legal averbada,formação de corredores ecológicos,desenvolvimento da agriculturaorgânica, presença de nascentes napropriedade e sistema de tratamentode esgoto. O valor é calculado deacordo com a área preservada e estábaseado no rendimento que oprodutor teria com a agriculturafamiliar naquele espaço. “Aderi aoprograma para ajudar a preservar anatureza e as águas. Se eu tiver umapoio financeiro, consigo mantermelhor”, conta a agricultora MariaElizabeth Eibs.

Os pagamentos por serviçosambientais já são realizados em outrospaíses e em alguns Estados brasileiros.Em Santa Catarina, a lei foi aprovadaem 2010 e está em fase de regula-mentação.

Oagrotóxico metamidofós sópoderá ser utilizado no Brasilaté 30 de junho de 2012. É o

que determina a Resolução RDC 01/2011 da Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa). Adecisão é fundamentada em estudostoxicológicos que apontam oinseticida como responsável porprejuízos ao desenvolvimentoembriofetal. Além disso, o produtoapresenta características neurotóxicase imunotóxicas e causa toxicidadesobre os sistemas endócrino ereprodutor, conforme referênciascientíficas e avaliação elaborada pelaFundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Ao longo do processo dediscussão com diversos setores dasociedade sobre a retirada do produtodo mercado, não foram apresentadasprovas de que ele é seguro para asaúde das pessoas”, explica o diretorda Anvisa, Agenor Álvares. O uso do

Metamidofós será banido do mercado brasileiro

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O Rio Vermelho abastece os 75 mil habitantes do município

O trigo é uma das culturas em que o agrotóxico é utilizado

metamidofós já foi banido em paísescomo China, Paquistão, Indonésia,Japão, Costa do Marfim, Samoa e naComunidade Europeia. O produtotambém está em processo de retiradado mercado norte-americano.

O metamidofós já havia passadopor reavaliação da Anvisa em 2002,quando foi proibido para váriasculturas agrícolas, assim como o modode aplicação costal, devido à falta desegurança para osagricultores expostos.Atualmente, ele podeser utilizado paracontrole de pragas nasculturas de algodão,amendoim, batata, fei-jão, soja e tomate parauso industrial e trigo.

De acordo com ocronograma da Anvisa,a comercialização deprodutos com a subs-

tância encerra em 31 de dezembro de2011, e a utilização termina no dia 30de junho de 2012. Após ocancelamento da comercialização e dautilização, os fabricantes deverãorecolher os estoques remanescentesem distribuidores e em poder dosagricultores em até 30 dias a partir dovencimento dos prazos.

Fonte: Anvisa.

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11Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Agricultores do Oeste Cata-rinense estão perdendo oconhecimento tradicional

sobre as espécies nativas da região.Esse é um dos alertas de uma pesquisareconhecida com o Prêmio Valo-rização da Biodiversidade de SantaCatarina, promovido pela Fundaçãode Apoio à Pesquisa Científica eTecnológica do Estado de SantaCatarina (Fapesc).

O estudo foi desenvolvido porElaine Zuchiwschi durante o mestradono Programa de Pós-Graduação emRecursos Genéticos Vegetais daUniversidade Federal de SantaCatarina (UFSC). No trabalho, apesquisadora, que também éengenheira-agrônoma da Fundação doMeio Ambiente (Fatma), avaliou oconhecimento e o uso efetivo, atual epassado de espécies vegetais dasflorestas Estacional Decidual eOmbrófila Mista por agricultoresfamiliares de Anchieta. Além derealizar entrevistas, Elaine foi a campo

Conhecimento ecológico tradicionalestá se perdendo em Santa Catarina

com os agricultores, identificandoespécies nativas e seus usos.

A pesquisadora percebeu que osparticipantes acima de 40 anos têmconhecimento maior das espécies doque os mais jovens. “Os dadossugerem que existe um processogradual de perda das condições detransmissão do conhecimentotradicional, com risco de ‘erosão’ doconhecimento acumulado”, alerta.Segundo ela, esse cenário estárelacionado ao abandono do uso dasespécies nativas provocado peloscustos elevados e pela burocracia parautilização legal da vegetação.

Para retirar 20 árvores nativas dafloresta ou 15m³ de galhada de árvorepara obter lenha, o agricultorcatarinense com até 30ha de terraprecisa apresentar, entre outrosdocumentos, um projeto elaboradopor um técnico, uma averbação deReserva Legal na escritura do imóvele uma planta topográfica com alocalização do imóvel. O estudo

ressalta que essas obrigações fazemcom que as comunidades substituamo uso de árvores nativas pelo plantiode espécies florestais exóticas.

Nativas versus exóticas

O uso da madeira em construção eda lenha como combustível são asatividades mais atingidas com aredução do uso das 132 espéciesnativas identificadas na região. Dos 42agricultores entrevistados, apenas seteutilizam madeira de espécies nativasem construções e 21 estão substituindoessas plantas por exóticas. “Oresultado contrário à preservação évisível nesses casos. As árvoresexóticas são plantadas em áreasabandonadas de agricultura paraevitar a regeneração da floresta nativa,que traz aos agricultores restriçõespara o futuro uso da terra e dosrecursos”, descreve a pesquisadora.

Segundo ela, os entrevistadoscontinuam usando plantas nativaspara lenha, ainda que a variedade

dessas espécies sejamenor. Em Anchieta, ofogão a lenha é usado por92% dos entrevistados,que empregam nelemadeira nativa.

Para que o conheci-mento e o uso dasespécies tradicionais nãose percam, Eliane sugereuma revisão das políticasambientais para simplifi-car o acesso legalizado àsespécies nativas maisutilizadas pelos agricul-tores. Recomenda tam-bém o desenvolvimentode estratégias de con-servação e uso dasflorestas a partir da uniãoentre conhecimento cien-tífico, tradicional e local.“O envolvimento dascomunidades rurais éfundamental nas etapasde planejamento eimplementação dosprojetos”, salienta apesquisadora.

Fonte: UFSC. Observado pelo pai e pelo filho, agricultor ajuda a pesquisadora a coletar ramos de espécie nativa

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12 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Milhares de toneladas dedejetos animais sãoproduzidas diariamente no

Brasil. Esses resíduos normalmentepassam por tratamentos sanitários esão utilizados como fertilizantes.Contudo, grande parte dos nutrientesé perdida, seja por problemas deaplicação, pelo uso desbalanceado oupela falta de planejamento corretopara o aproveitamento.

Projeto transforma dejetos em fertilizanteNo projeto Agrosuíno, a Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), em parceria com aUniversidade de Rio Verde e com aPerdigão, desenvolveu um processode tratamento e granulação dosdejetos da suinocultura que resulta emum fertilizante organomineralgranulado para utilização em sistemasde produção de grãos, em plantadeirastradicionais. O pesquisador daEmbrapa Solos e líder do Agrosuíno,

Vinicius Benites, ex-plica que, dessaforma, se promove obalanceamento cor-reto de nutrientes nofertilizante e, devidoao processo de gra-nulação, o produtopode ser utilizadonormalmente, sem anecessidade de equi-pamentos especiais.

O projeto trazvantagens para oprodutor, que agrega

valor ao resíduo da suinocultura, paraa indústria, que dá destino adequadoa esse material, e para a sociedade,com a redução dos impactosambientais e pela redução danecessidade de importação deinsumos minerais não renováveis.“Com o domínio das bases tecno-lógicas de produção de fertilizantesorganominerais granulados, diferen-tes inovações podem ser pensadas,como associação de micronutrientesaos fertilizantes, utilização de outrosresíduos ou associação demicrorganismos funcionais aosfertilizantes”, diz Benites.

Os experimentos estão no campodesde 2009, e os resultados mostramque o fertilizante organomineralequivale ao fertilizante mineral comos mesmos teores e pode serregistrado no Ministério daAgricultura. A tecnologia estádisponível para o mercado, mas aindanão é produzida em escala comercial.

Mais informações sobre o produto pelo e-mailsac@cnps. embrapa.br ou pelo telefone (21)2179-4507.

Uma pesquisa conduzida naUniversidade Duke, nosEstados Unidos, identificou

um interruptor genético que permiteque uma gramínea alta, chamadaswitchgrass e bastante comum nasplanícies norte-americanas, espéciesMiscanthus e outras culturas debiocombustíveis cresçam muito maisrápido. Segundo os pesquisadores, aodesligar esse gene pode-se induzir asplantas a produzir raízes grossas eestimular a sua maturação.

O gene responsável por essafunção é o UPBEAT1, que regula umaclasse de enzimas chamadas deradicais livres, os mesmos agentes deestresse que os seres humanos tentamcombater com antioxidantes. De

Cientistas descobrem forma de acelerar ocrescimento de plantas

acordo com os cientistas, quando oUPBEAT1 é desligado, os radicaislivres “correm soltos” pela raiz daplanta, permitindo que ela produzamais e maiores células. Quando seaumenta a quantidade de UPBEAT1,as raízes crescem mais devagar.

Os pesquisadores esperam que, aodesligar o gene UPBEAT1 em umapopulação de gramíneas, possamproduzir plantas de crescimentorápido que sejam colhidas mais cedopara fabricar biocombustíveis. Elestambém imaginam que a grama decrescimento rápido poderia sequestrarcarbono da atmosfera em suas raízes,ajudando a combater o efeito estufa.

Fonte: www.livescience.com.

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Produto agrega valor ao resíduo e reduz impacto ambiental dasuinocultura

Plantas com crescimento mais rápido teriambom potencial na fabricação debiocombustíveis

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13Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Na região Oeste do Estado, berçodo sistema de criação integrada aosfrigoríficos e com uma das maioresconcentrações de suínos do País, astendências dos sistemas produtivosapontam para um aumento na escalade produção e um modelo deconfinamento em unidades restritas.Os sistemas intensivos de criação deanimais têm como consequência ageração de grande volume de dejetosque, quando mal manejados, podemcausar problemas ambientais devidoao alto potencial poluidor queapresentam.

Sem o manejo adequado e usoracional e responsável dos dejetoscomo fator de produção, há poucaschances, nesse mundo globalizado emque nos encontramos, de termos noEstado uma suinocultura sustentávele competitiva. Atualmente, na maioriados estabelecimentos, os dejetos desuínos são manejados na forma líquidae utilizados na agricultura comofertilizante, uma forma reduzida detratamento. As principais vantagensda reciclagem dos dejetos como fontede nutrientes para as plantas são o

Eloi Erhard Scherer1

A suinocultura ante a atuallegislação ambiental

A suinocultura ocupa lugar de destaque na matriz produtivado agronegócio catarinense, apresentando importância social,econômica e cultural muito grande em regiões com tradiçãonessa atividade, porém é considerada um setor com baixaqualidade ambiental

aumento da produção, a melhora naprodutividade das culturas e aredução dos custos de produção.

Cabe destacar que a fertilidade dosolo em áreas constantementeadubadas com dejetos suínosnormalmente é alta, com dispo-nibilidade de nutrientes acima damédia regional (Scherer & Nesi, 2009).Nessas áreas, é comum os produtoresalcançarem produtividades acima de150 sacas de milho por hectare emanos com clima favorável.

A legislação ambiental deSanta Catarina impôsrestrições quanto ao uso dedejetos suínos na agricultura

A legislação ambiental, his-toricamente, tem focado suasdiretrizes nas fontes de poluiçãopontuais. Em Santa Catarina não édiferente; a legislação em vigor impõerestrições quanto ao manejo,tratamento e uso de dejetos suínos naagricultura, sem considerar ossistemas de produção utilizados e asdemais fontes de poluição existentes.

A quantidade máxima de dejetos quepode ser aplicada por área está fixadaem 50m3/ha/ano, independentementeda qualidade do resíduo disponível(Fatma, 2010).

O estabelecimento de dosesmáximas por área, sem considerar aqualidade do material, culturacultivada e classe de solo, poderátrazer prejuízos tanto ao produtorquanto ao meio ambiente. No caso douso de dejetos mais líquidos, combaixo teor de nutrientes, aprodutividade das culturas ficaráaquém do esperado ou haveránecessidade da aplicação de maioresquantidades de fertilizantes mineraispara suprir as necessidades da cultura.Nesse caso, o excedente de dejetos napropriedade deverá receber o devidotratamento, acarretando um custoadicional. Por outro lado, quando douso da mesma quantidade de dejetos,porém com menor teor de água e,consequentemente, com maiorconcentração de nutrientes, poderãoocorrer, a médio e longo prazos,desequilíbrios nutricionais eprováveis impactos ambientais.

Porém, o uso dos dejetos suínos naagricultura não pode ser apontadocomo único fator responsável pelacontaminação do solo e da água. Namaioria dos casos, essa contaminaçãonão está unicamente relacionada àciclagem dos dejetos animais naagricultura, mas também aoinadequado manejo dos fertilizantesminerais, pois muitos dos produtores,além dos adubos orgânicos,continuam utilizando na mesma áreafertilizantes minerais sem critériodefinido.

O manejo ideal da adubaçãodeve ser aquele que permitesatisfazer as necessidadesnutricionais da cultura como mínimo de risco ambiental

Não é possível recomendar, ainda,doses fixas de dejetos animais e de

1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisas para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638, e-mail:[email protected].

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14 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

fertilizantes industriais formuladospara uma determinada cultura, semconsiderar o teor e a proporção denutrientes em cada fonte de adubo e adisponibilidade desses no solo. Tãoimportante quanto a quantidade defertilizante usada é o equilíbrio entreos nutrientes e sua adequação àexigência da cultura.

O desafio maior está em definir asquantidades requeridas de cadanutriente para manter a produtividadeda cultura em níveis sustentáveis nosistema que está sendo manejado, ecomo e quando introduzir essesnutrientes no sistema de produção,sem comprometer a qualidade do soloe os demais recursos naturais inter-relacionados.

Com base em resultados de umasérie de experimentos realizados,durante vários anos, por entidades depesquisa de Santa Catarina e do RioGrande do Sul, foram feitas algumasgeneralizações que deram origem àsatuais tabelas de recomendação deadubos orgânicos para os solos dosdois Estados (Sociedade..., 2004). Arecomendação é baseada nadisponibilidade dos nutrientes nosolo, nas necessidades nutricionais dacultura, na produtividade esperada eno teor e na eficiência dos nutrientesde cada fonte de adubo.

O Estado de Santa Catarina, comum rebanho efetivo de apro-ximadamente 6,2 milhões de suínos,apresenta uma produção anual deaproximadamente 16 milhões detoneladas de dejetos líquidos.Levantamentos de pesquisa realizadospela Epagri (Scherer et al., 1996)indicaram que cada toneladaapresenta, em média, 6,8kg denutrientes NPK, totalizando no anouma produção estadual de 108 miltoneladas de nutrientes possíveis deserem utilizados na agricultura.

Não podemos incorrer no erro dedesperdiçar essa quantidade denutrientes, aumentando o risco depoluição das águas ou o custo de

produção e substituí-los porfertilizantes minerais que, da mesmaforma que os orgânicos, também sãofontes potenciais de poluição.

A sustentabilidadeeconômica e ambiental dasuinocultura depende daatuação conjunta desuinocultores,agroindústrias e Estado

Para a manutenção do setor dasuinocultura nas atuais escalas deprodução em regiões com produçãointensiva, faz-se necessária umapolítica abrangente de apoio àsustentabilidade ambiental eeconômica da atividade. Asustentabilidade da suinoculturapassa obrigatoriamente por uma açãomais concreta de política agrícola, quepriorize a ciclagem dos dejetos naagricultura, principalmente emregiões com produção intensiva desuínos e outros animais, estabelecendolinhas de crédito e incentivos para otransporte e uso dessa fonte denutrientes, tal como acontece com ocalcário e com os fertilizantesminerais.

De nada adianta limitar o uso dedejetos animais na agricultura,estabelecendo quantidades máximaspor área, e continuar dando incentivoao uso de fertilizantes minerais, semrestrições. Por isso, para equacionar osproblemas ambientais atribuídos aouso excessivo de dejetos suínos naagricultura, não devemos excluir oefeito dos fertilizantes minerais, quedevem receber o mesmo tratamentodos fertilizantes de origem orgânicanos programas de adubação e dosórgãos ambientais.

O Estado precisa, urgentemente,criar uma política de incentivo parauso racional dos dejetos animais naagricultura. A forma mais eficiente deatingir os objetivos de proteger o meioambiente sem prejudicar a produçãoagrícola seria priorizar o uso dos

Literatura citada

1. FATMA. Fundação de Amparo àTecnologia e Meio Ambiente.Instrução Normativa n. 11 .Disponível em: <http://www.fatma.sc.gov.br>. Acessoem: 17 mar. 2010.

2. SCHERER, E.E.; AITA, C.;BALDISSERA, I.T. Avaliação daqualidade do esterco líquido de suínosda região oeste catarinense para finsde utilização como fertilizante.Florianópolis: Epagri, 1996. 46p.(Boletim técnico, 79).

3. SCHERER, E.E.; NESI, C.N.Características químicas do solo emáreas agrícolas intensivamenteadubadas com esterco de suínos.Florianópolis: Epagri, 2009. 36p.(Boletim técnico, 152).

4. SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO (SBCS).Comissão de Química e Fertilidadedo Solo. Manual de adubação ecalagem para os Estados do RioGrande do Sul e de Santa Catarina.10.ed. Porto Alegre: SBCS/NRS/CQFS - RS/SC, 2004. 400p.

fertilizantes orgânicos em regiões commaior densidade de animais enormatizar o uso, com as possíveislimitações, tanto dos fertilizantesorgânicos quanto dos minerais,procedimento que já vem sendoadotado pela comunidade europeia epor diversos outros países.

Por fim, com a normatização parauso desses insumos estabelecida, elapoderá subsidiar os órgãos ambientaisquanto à necessidade de alterações naslegislações de licenciamento dasatividades animais, exigindo-se aapresentação de um plano de manejode nutrientes da propriedade baseadono princípio do balanço de nutrientes.

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15Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Histórico

O processo de colonização ruralem Santa Catarina, caracterizado pelapequena propriedade, foi efetuado deforma empírica e sem levar emconsideração as característicasambientais, geológicas, geomor-fológicas, hidrológicas e de solos. Issolevou os colonos a parcelarem suaspropriedades sem nenhuma orien-tação quanto à conservação epreservação do meio ambiente. Nesseprocesso, áreas ambientalmentefrágeis, como margens de rios eencostas íngremes, foram ocupadas deforma intensiva, seguidas pordesmatamentos indiscriminados,implantação de reflorestamentos comespécies exóticas, pecuária efruticultura.

O modelo adotado para ocupações,tanto nas áreas rurais como nasurbanas, aumentou consideravelmen-te a vulnerabilidade das áreas jánaturalmente frágeis, conduzindo aum processo histórico de ocorrênciade catástrofes naturais. Isso levou ainundações e enchentes nas áreas demenores cotas e deslizamentos emovimentos de massa de solos nasencostas, principalmente em face doregime pluviométrico a que SantaCatarina está submetida. É inegávelque os acidentes são mais frequentese de maiores proporções em áreas comintervenção antrópica inadequada.

A região da Serra do Mar, devidoa suas características geológicas,geomorfológicas e de solos, aliadas auma ocupação desordenada que nãorespeita as leis da natureza, tais como

Prioridades para prevenção de catástrofes naturaisem Santa Catarina

José Augusto Laus Neto1

eliminação ou redução drástica dasmatas ciliares, desmatamentos dasencostas para uso com agricultura epecuária, e implantação de cons-truções nas encostas, representamaltos riscos de catástrofes futuras dedimensões inimagináveis.

O trabalho realizado e repre-sentado no Atlas de Acidentes Naturaisem Santa Catarina (Herrmann, 2007),que “recupera” os eventos desde 1980,indica a ocorrência de acidentesrelacionados com deslizamentos deencostas e inundações em grandeparte dos municípios localizados, emsua grande maioria, na região da Serrado Mar Catarinense. Nessa região, osespecialistas entendem que agravidade das ocorrências tornanecessário incluir no rol das políticaspúblicas de ocupação da terra um

componente de gerenciamento derisco associado à implantação de umsistema de alerta e monitoramentometeorológico eficiente em toda aregião da Serra do Mar. Além disso,os técnicos concordam que éimprescindível tomar medidas de altaprioridade como programas deeducação ambiental, treinamento econscientização das populaçõesvulneráveis e gerenciamento depropriedades agropecuárias e urbanascom respeito ao meio ambiente e àsleis ambientais em vigor.

A flexibilização das leis ambientaissem trabalhos de pesquisa eacompanhamento técnico, nosdiversos ecossistemas catarinenses,levando somente em consideraçãoapenas os apelos socioeconômicosindividuais, pode levar o Estado de

Inundação no município de Ilhota, SC

1 Eng.-agr., Especialista, Cidasc, à disposição da Epagri/Centro de Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia (Ciram), Rod.Admar Gonzaga, 1.347, 88030-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8033, e-mail: [email protected].

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16 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Santa Catarina a enfrentar novosdesastres naturais de efeitosdevastadores. E com um númeroconsiderável de perdas de vidashumanas e prejuízos socioeconômicosde grande monta.

Para a adoção de medidaspreventivas visando à minimizaçãodos efeitos inerentes às catástrofesnaturais, antes de tudo é necessárioconhecer como, onde e por que elasocorrem, ou seja, as causas devulnerabilidade e os agentesdeflagradores e maximizadores.

Chuvas Intensas xfragilidade ambiental

Os mecanismos envolvidos nessesdesastres já são amplamenteconhecidos: a geologia constituídadominantemente por granitoides quegeram em sua intemperização solosfrágeis, profundos e com manto dematerial intemperizado, podendochegar a 30 metros de espessura. Essematerial (saprolito) é caracterizadopor sua alta instabilidade quandosubmetido a processos de saturaçãocom água. Alia-se a isso umageomorfologia definida por altasdeclividades e vales muitoencaixados, solos instáveis, rasos epedregosos, e uma hidrologia densa erica em cursos d’água. Além disso, osriscos naturais e suas consequênciascatastróficas estão intimamenteligados à urbanização acelerada edescontrolada, especulação imobi-liária, degradação ambiental efragilidade da capacidade de respostas

do poder público à pobreza,principalmente no tocante àsconstruções de baixa qualidade emlocais inapropriados.

Apesar de todas as fragilidadesdecorrentes das condições ambientais,elas, por si sós, não seriam um risco àocorrência de catástrofes naturais. Oelemento principal e deflagrador detodo esse processo é a ocorrência dechuvas intensas, com altos volumes ealta intensidade (periodicidade) a queSanta Catarina é submetida emperíodos cíclicos. Contra essarealidade pouco há que se fazer, a nãoser implementar e aprimorar omonitoramento das condiçõesclimáticas e meteorológicas e manterconstantemente as populações de riscoeducadas e informadas.

No último evento ocorrido emSanta Catarina, em novembro de 2008,considerado uma das maiorescatástrofes naturais do País, 14municípios decretaram situação decalamidade pública, 63 ficaram emsituações de emergência, 32.853pessoas foram desalojadas oudesabrigadas, ocorreram 135 óbitos e6 pessoas ficaram desaparecidas.

Soma-se a tudo isso a con-descendência do poder público e suaincapacidade de gerir as ações quevisem à minimização das ocorrênciasde desastres naturais. Na região deBlumenau, no dia 22 de novembro de2009, choveu mais de 270mm, e amédia histórica do mês todo é de150mm. Ante uma ocorrência dessamagnitude, muito pouco se pode fazerem termos de prevenção efetiva, a nãoser alertar a população com a devidaantecedência. Para isso é necessário,antes de qualquer outra ação, priorizarum sistema de alerta eficiente econfiável. Aliás, Blumenau é uma dasraras exceções de municípios comhistórico de catástrofes naturais quevêm agindo para proteger e prevenirsua população.

A dificuldade de obtenção derecursos para atender a todas asdemandas passa obrigatoriamente poruma priorização dos trabalhosessenciais. Esses trabalhos devem serdesenvolvidos em nível gover-namental, para atendimento deurgência e em curto prazo daspopulações atingidas.

Deslizamento em área de bananal

Ponte e estradas destruídas pela força das águas

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As medidas urgentes e prioritáriaspara atendimento das necessidadesimediatas das populações sujeitas aesses tipos de eventos naturais, aexemplo de todos os países do mundoque enfrentam as consequências dasreações da natureza (tufões, ciclones,terremotos, tsunamis, entre outros),requerem decisões coerentes e viáveis,baseadas nas possibilidades orça-mentárias, de infraestrutura e depessoal dos órgãos responsáveis pelasdecisões e pela execução.

Organização dascomunidades

Quais são os riscos naturais emuma comunidade e o que se pode fazerpara reduzi-los são perguntascomplexas que necessitam derespostas urgentes, pois o número devítimas potenciais que residem emambientes perigosos é de grandemonta.

Outras perguntas possíveis são:Como as pessoas podem reagir emlocais onde o risco vem aumentandogradativamente? Como se pode saberque fatores levam a riscos? Algunsfatores são fáceis de observar,enquanto outros só podem serdetectados através de um eficientesistema de alerta que possa advertiras pessoas sobre os riscos decorrentesde uso de áreas impróprias paramoradia.

A vulnerabilidade das pessoasaumenta os efeitos dos perigos,expondo-as a um risco de danosmaior, o qual não é uma questãotécnica, senão social. As pessoasvariam amplamente em suasexposições aos riscos e em suahabilidade de antecipar-se a eles,assim como para planejar, sobrevivere recuperar-se dos efeitos dessesacontecimentos devastadores.

Não é um rio transbordando e sima vulnerabilidade das pessoas aosefeitos do rio que tenha saído de suacalha que preocupa quem enfrenta ainundação. Assim como existemalguns perigos relacionados comcertos ambientes, a exposição daspessoas a esses perigos e suacapacidade de resistência aos efeitos

deles estão determinadas porcondições econômicas, políticas esociais em ambientes concretos.

Antes de se pensar em projetos dealtos custos financeiros, de resultadosduvidosos e dificuldades de execução,algumas indagações necessitam serrespondidas prioritariamente quandose pensa em avaliar os perigos, suasvulnerabilidades e capacidade deenfrentá-los:

• Funcionam os sistemas decomunicação nas comunidades eregiões? Chegam a todas as pessoas?

• Onde estão situados os locaisseguros para evacuação, se é queexistem? Quem tem meios adequadospara chegar às escolas, aos centroscomunitários e a outros locais em quehaja necessidade de se resgatarpessoas ou que sirvam de refúgio?

• O que aconteceria se um des-lizamento de terra destruísse o localonde trabalham e vivem? Onde estão

Igreja atingida pelo deslizamento ocorrido em 2008

localizados os hospitais e postos desaúde mais próximos para atender asvítimas? Estão preparados para essasemergências?

• Como as comunidades seorganizam social e politicamente? Osvizinhos se conhecem bem? Confiamuns nos outros? Como podem seajudar os vizinhos e familiares em casode emergência?

• A Defesa Civil, tanto em nívelestadual como municipal, estáequipada com recursos humanos emateriais para atendimento deemergências decorrentes de desastresnaturais? O Corpo de Bombeiros tempessoal treinado e infraestruturaadequada para enfrentar emergênciasdecorrentes de desastres naturais?Possuem meios de comunicaçãoeficientes?

Aspectos positivos e negativostambém devem ser considerados paraas tomadas de decisão no que se refereàs prioridades imediatas a seremadministradas pelos governos.

Aspectos positivos: vontadepolítica; grande envolvimento deuniversidades e órgãos públicos;existência de um centro meteorológicode excelência (Epagri/Ciram); equipestécnicas capacitadas, conscientizadase envolvidas; e equipamento (veículos,

aparelhos, etc.) em bom número eprontamente disponíveis.

Aspectos negativos: passada acomoção, a vida volta à normalidade;recursos escassos e muitopulverizados; falta de infraestruturade pessoal com dedicação exclusivaaos projetos de prevenção;pulverização dos técnicos envolvidoslotados em diversos órgãos; ine-

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Avalanche de lama destrói parte de comunidade no Morro do Baú, em Ilhota, SC

xistência de uma adequada infra-estrutura dedicada ao estudo eprevenção de catástrofes naturais;inadequação de infraestrutura doCorpo de Bombeiros paraatendimento de ocorrências ligadas adesastres naturais; falta de equipes daDefesa Civil permanente e treinadasem nível municipal (funcionários decarreira das prefeituras e organizaçõescivis); falta de treinamento,adequação e educação ambiental daspopulações em risco; redemeteorológica inadequada paramonitoramento de eventoscatastróficos; planos diretoresmunicipais que não respeitam ascondições ambientais; municípiospequenos que não possuem planodiretor; especulação imobiliária semrespeito às leis ambientais vigentes;mau uso e ocupação do solo nas áreasurbanas e rurais; ocupaçãodesordenada de encostas; falta deconscientização política nas políticasde ordenamento ambiental; falta decumprimento das leis ambientais edescaso para com elas.

Prioridades imediatas (curtoe médio prazos)

Algumas ações estratégicas sãofundamentais para prevenção dascatástrofes climáticas em SantaCatarina:

- desenvolver e adequar umsistema de alerta e monitoramentometeorológico e climático eficiente emtodo o ecossistema da Serra do Mar(radar meteorológico, estaçõestelemétricas, estações meteorológicase climatológicas, e recursos humanosqualificados e treinados para agir emsituações de emergência);

- criar uma rede de comunicaçãoentre os diversos órgãos responsáveispelo atendimento de populaçõesatingidas por calamidades e definiçãode lideranças;

- prover as comunidades desistema de alerta pluviométrico(garrafa pet, etc.);

- educar e capacitar as comu-nidades e lideranças comunitárias em

“como e quando agir” na hipótese deum alerta de risco;

- determinar rotas de fuga e áreasseguras para abrigo das populaçõessujeitas a riscos;

- dotar o Corpo de Bombeiros deinfraestrutura adequada paraatendimento de ocorrências catas-tróficas naturais (veículos condizentese equipados, celulares via satélite,equipamentos individuais apro-priados);

- dotar a Defesa Civil de umquadro permanente e treinado emnível municipal composto porfuncionários de carreira dasPrefeituras Municipais;

- criar um fundo municipal para aDefesa Civil;

- treinar de equipes de socorristascivis nos municípios e nascomunidades.

Por fim, ante a magnitude doseventos e a extensa área de ocorrênciade deslizamentos historicamenteobservados no Estado de SantaCatarina, as medidas preventivas decontrole através de projetosenvolvendo grandes obras físicas deprevenção e contenção de encostas emorros não se mostram viáveis. Issose dá em razão da enorme área deabrangência dos eventos e dos altos

custos, que os inviabilizariam por sisós.

Vidas humanas devem serpreservadas e para isso é necessárioque as autoridades federais, estaduaise municipais unam esforços no sentidode viabilizar um eficiente sistema dealerta climatológico e meteorológico.Esse sistema visaria informar àscomunidades, com a devidaantecedência, os riscos de ocorrênciade fenômenos atmosféricos adversos.

Além disso, e de forma prioritária,há necessidade de que seja efetuadoum mapeamento rigoroso das áreas deencostas e fundo de rios susceptíveisà ocorrência de deslizamentos einundações.

Literatura consultada

1. HERRMANN, M.L de P. (Org.).Atlas de Desastres Naturais do Estadode Santa Catarina. Florianópolis:Ioesc, 2007. 146p.

2. BRASIL. Ministério das Cidades.Instituto de Pesquisas Tecno-lógicas (IPT). Mapeamento de Riscosem Encostas e Margens de Rios.Brasília: Ministério das Cidades;IPT, 2007. 176p.

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Oincômodo provocado pelosmosquitos pode ser resolvidode forma simples e com

soluções caseiras, aproveitando aspropriedades da citronela. Essa plantaaromática, uma gramínea pereneoriginária do sudoeste da Ásia, já setornou comum em Santa Catarina, esuas folhas fornecem um óleoessencial utilizado na fabricação derepelentes. São conhecidas duasespécies: Cymbopogon winterianus(citronela-de-java) e Cymbopogonnardus (citronela-do-ceilão).

Parente do capim-limão, acitronela cresce espontaneamente emclareiras, à beira de rios e em locaisúmidos. A planta forma touceiras deaté 1,5m de altura e tem folhas verdes,ásperas e com perfume semelhante aodo eucalipto. “As folhas são voltadaspara baixo. Essa arquitetura peculiarda planta atrai serpentes que autilizam como abrigo”, explica oengenheiro-agrônomo AntonioAmaury Silva Junior, pesquisador daEpagri/Estação Experimental de Itajaí,que alerta para não plantar a espéciemuito perto de casa.

O óleo de citronela é aromático,amarelo pálido e tem sabor de limão.Além de ser aproveitado emrepelentes, é utilizado na aro-matização de ambientes e na

Afaste os insetos com citronelaA planta aromática repele mosquitos, borrachudos, traças e formigas

fabricação de bebidas, perfumes,sabonetes, detergentes, desodorantes,cremes e outros cosméticos. A polpada planta é usada na fabricação depapel resistente, e o rizoma pode serutilizado como clareador epreservador dental. Tanto a plantaquanto o óleo podem provocar mal-estar e acelerar os batimentoscardíacos em pessoas sensíveis.

A citronela se adapta bem a regiõesde clima tropical ou subtropical. Podeser cultivada em áreas de barrancos,em locais sujeitos a erosão, ao longode valas de drenagem, na orla decórregos e lagoas, como bordadura decaminhos e ao redor de outrosplantios.

Como funciona

A planta repele mosquitos,borrachudos, traças e formigas. O óleoessencial tem efeito repelente sobre oAedes aegypti (transmissor da dengue)e também sobre mosquitos como oAnopheles dirus e o Culexquinquefasciatus. Alguns pesquisado-res afirmam que o óleo de citronelaafasta também besouros, baratas efungos.

Essa ação se deve a substânciascomo o citronelal, o geraniol e olimoneno, presentes no óleo. “A

detecção da citronela é ativada pelasproteínas dos poros do inseto,conhecidas como canais de receptorestransientes de potencial. Quando essesreceptores moleculares são ativados,enviam mensagens químicas aocérebro do inseto, resultando em umareação de aversão”, explica Amaury.

Para fazer em casa

Não é preciso comprar produtos àbase de citronela nem gastar dinheiropara aproveitar os benefícios dessaplanta. Soluções simples e ecológicaspodem ser adotadas sem sair de casa:

• Para afastar mosquitos emambientes fechados, colha duas ou trêsfolhas, corte-as em pequenos pedaçoscom uma tesoura e coloque-os empires ou outros recipientes. Distribuaesses recipientes pelos ambientes dacasa, como salas e quartos. Os pedaçosdas folhas espalham a essência pelolocal.

• Deixe macerar 200g defolhas secas e rasuradas de citro-nela em 1L de álcool com concentraçãode 70% durante 10 dias em um frascotampado e escuro. A cada dois dias,agite a mistura. Após a maceração,passe o líquido por um filtro de papelou pano limpo e o acondicione em umrecipiente hermético. O produto, quetem validade de 2 anos, pode serusado em pulverizadores domésticos,velas aromáticas, tochas para pescaria,difusores, cremes dermatológicos,sachês e pot-pourri.

• Mantenha uma muda em um va-so dentro de casa e, sempre que quiser,corte um pedaço de uma das folhaspara que a essência se espalhe mais.

• Para se proteger e evitar picadasde mosquitos, arranque uma folha decitronela, amasse-a e esfregue-a nosbraços e nas pernas.

• Ferva algumas folhas e faça umaespécie de chá para usar na limpezade pisos.

• As folhas também podem serqueimadas em incensórios domésticosou utilizadas em difusores elétricos.

• Touceiras de citronela podem sermantidas em torno de moradias

A planta forma touceiras de até 1,5m de altura e tem folhas com perfume semelhante ao doeucalipto-limão

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20 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

rurais, estrebarias, aviários, pocilgas,açudes e outros locais.

•A espécie é eficiente para evitar aerosão e pode ser plantada emencostas, barrancos, valas dedrenagem, margens de rios e lagoas, eem áreas ciliares.

Como plantar

Em Santa Catarina, a citronela éencontrada em várias propriedades epode ser cultivada no litoral, no Valedo Itajaí e no Extremo Oeste. Ela toleraos solos muito argilosos e maldrenados, não encharcados, mas nãoresiste a geadas. A espécie raramentefloresce no Estado e, mesmo assim, assementes não são férteis.

Para multiplicar a planta é precisofazer mudas a partir da divisão detouceiras. Cada muda deve ter umaparte aérea e um pedaço de rizoma,pois sem ele as plantas não emitemraízes e acabam morrendo. Os rizomassão caules subterrâneos que sepropagam horizontalmente e quetambém podem ser cortados empedaços, cada um com dois ou trêsnós, que, plantados, originam novosindivíduos. As folhas das mudasdevem ser cortadas com uma tesourapara que fiquem com 20 a 25cm decomprimento.

As mudas podem ser plantadasdiretamente no campo em covas ousulcos profundos, com cerca de 25cm.As melhores épocas são o outono e aprimavera, de preferência durante operíodo de chuvas. O espaçamentoentre as plantas deve ser de 1,5 x 1,3m.

Onde encontrar

A citronela pode ser encontradaem várias propriedades rurais doEstado. Para conseguir mudas,

Folhas picadas espalham a essência da planta pelo ambiente

As mudas são feitas a partir da divisão de touceirasÓleo essencial contém substâncias que repelem insetos

informe-se com vizinhos ou conversecom um técnico da Epagri de seumunicípio. Para ter mais informaçõessobre as características e o cultivo daplanta, entre em contato com ospesquisadores Airton RodriguesSalerno, Antonio Amaury Silva Juniore Andrey Martinez Rebelo, da EstaçãoExperimental de Itajaí, pelos [email protected], [email protected] e [email protected] ou pelo telefone (47) 3341-5244.

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Énum processo da naturezaextremamente organizado e deproporções minúsculas que se

sustenta uma das cadeias produtivasmais importantes de Santa Catarina.De flor em flor, as abelhas coletamnéctar para produzir o mel que, apósincontáveis viagens, vai encher osfavos nas colmeias. No final de cadasafra, a soma dessas pequenasquantidades alcança volumes que, noEstado, variam de 6 mil a 8 miltoneladas por ano, movimentandocerca de R$ 30 milhões.

A união do trabalho de abelhas eapicultores coloca Santa Catarina naquarta posição entre os Estadosprodutores de mel do Brasil e emprimeiro lugar quando se trata deprodução por quilômetro quadrado.São cerca de 450 mil colmeiasdistribuídas entre 30 mil apicultores,

Doce e lucrativo negócioCinthia Andruchak Freitas1

Além de ser uma importante fonte de renda no campo, aapicultura é fundamental para a sobrevivência da agriculturae a preservação ambiental

Doce e lucrativo negócio

1 Jornalista, Epagri/Gerência de Marketing e Comunicação (GMC), C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail:[email protected].

que se reúnem em 60 associaçõesligadas à Federação das Associaçõesde Apicultores de Santa Catarina(Faasc). A maior densidade decolmeias está no sul, no Vale do Itajaí,na Grande Florianópolis e no norte,enquanto as melhores produtividadesestão nos apiários do sul, da regiãoserrana e do Vale do Itajaí. Cerca de30% da produção é exportada.

A vegetação e o clima diversificadofavorecem a exploração da atividadee garantem a qualidade do melcatarinense. Estudos apontam SantaCatarina como o Estado brasileiro coma maior diversidade floral e de mel:são mais de 200 tipos do produto.Flores de eucalipto, vassouras,bracatinga, uva-do-Japão, laranjeira edemais plantas silvestres são as maiscomuns.

Para quem se dedica à atividade,as colmeias também fornecem pólen,própolis, geleia real, cera e apitoxina(veja no box). Em Santa Catarina, essesprodutos geram renda aos produtores,mas a maior importância das abelhasestá no papel que elas desempenhamna natureza: a polinização das plantas.Sem elas, a reprodução de diversasespécies vegetais, muitas de interesseeconômico, como maçã, pera, grãos,olerícolas e pastagens, estariacomprometida. “Com o serviço depolinização, as abelhas garantem umaumento na produção agrícolaequivalente a mais de US$ 100 milhõesanuais a Santa Catarina”, ressalta omédico-veterinário Walter Miguel,chefe da Epagri/Parque EcológicoCidade das Abelhas (Peca).

Para os apicultores do sul doEstado, a polinização também gera

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22 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

renda. No início da primavera eleslevam as colmeias para a regiãoserrana, onde as alugam parapolinizar mais de 20 mil hectares depomares de maçã e obtêm uma safrade mel com espécies da região. Noinício do ano eles voltam para o sul,onde aproveitam o final das floradas,especialmente a do eucalipto, e colhema segunda safra.

Simples e barato

A implantação de um apiário nãoexige grandes estruturas, como cercase galpões, e pode ser feita empequenas propriedades, aproveitandoáreas impróprias para a agricultura epecuária, desde que haja flora apícolana região. Por questões de segurança,o produtor não pode ser alérgico aoveneno da abelha e deve instalar oapiário a pelo menos 200m de estradase lavouras. O manejo é simples e podeser feito com mão de obra familiar. “Aapicultura é uma excelente fonte derenda porque os custos de produçãosão baixos, já que a maior fonte dealimentação das abelhas é natural e aatividade não utiliza insumos. Oinvestimento inicial praticamente sepaga no primeiro ano de produção”,ressalta Walter Miguel.

Para instalar um apiário com 50colmeias, o veterinário calcula quesejam gastos aproximadamente R$ 4,5mil na compra das caixas, que podemdurar mais de dez anos se forem bemmanejadas. Os enxames normalmentesão encontrados na natureza e aextração e o envasamento do mel

podem ser feitos em cooperativas ouassociações com outros apicultores.

Walter garante que o investimentovale a pena mesmo para quem apostaem uma produção pequena. Em 50colmeias, considerando umaprodução de 30kg de mel/colmeia/ano vendida a R$ 4,00/kg, o apicultorconsegue obter cerca de R$ 6 mil porsafra de mel. “Já um apicultor com 500colmeias consegue tirar cerca de R$ 60mil ao ano, o que equivale a umarenda mensal de aproximadamente R$5 mil. Mas, para alcançarbons resultados, é precisose dedicar”, aconselha.

Bom negócio

Interesse pelas abe-lhas não falta para LeoKreusch, de 63 anos, quevive em Vidal Ramos, noAlto Vale do Itajaí. Eletrocou as lavouras defumo pelas colmeias e hojeé exemplo de que quandohá dedicação a atividadeé uma boa opção de renda.“A apicultura era umatradição do meu pai queeu aprendi aos 10 anos deidade”, lembra. Há cercade 30 anos, Leo decidiuresgatar a atividade.“Comprei equipamentos eme aperfeiçoei com cursosda Epagri”, conta. Com oconhecimento e o trabalhode Leo, as colmeias semultiplicaram e já faz 15

anos que a família deixou a produçãode fumo.

São cerca de 200 colmeias napropriedade e em áreas alugadas. Nasafra do ano passado, Leo colheu 35kgde mel por colmeia, bem acima damédia da região, que é de 25kg. Parteda produção vai para entrepostos, masa maior parcela é vendida napropriedade, pois os anos de trabalhono ramo já renderam ao apicultor umafreguesia fiel. “De um modo geral, oscustos diminuíram e a rendaaumentou com a apicultura, sem falarque não mexo mais com agrotóxicos”,revela.

Assim como aprendeu com o pai,Leo está passando a atividade para ofilho Luiz Carlos, de 15 anos, que temse interessado cada vez mais peloapiário. “Ele já fez vários cursos e estágostando. No futuro, ele vai tocar oque eu estou fazendo”, afirma.

No município, 22 apicultoresmantêm cerca de 1.500 colmeias e sãoresponsáveis por uma produção de 37tde mel por ano. Seguindo o exemplodas abelhas, eles ajudam uns aosoutros. “É um trabalho de equipe.Quando um vizinho chama, a gentevai e o trabalho acaba sendo uma

A maior importância das abelhas está na polinização das plantas

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Os apiários podem ser instalados em pequenaspropriedades

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23Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

diversão”, conta Leo, que também épresidente da Associação dosApicultores de Vidal Ramos(Aapivira). A associação, fundada em1990, auxilia na compra de materiaise equipamentos e na adequação dosestabelecimentos dos produtores. Atéo início da próxima safra, em outubro,a Aapivira deve inaugurar umaunidade de extração de mel comregistro no Serviço de InspeçãoFederal (SIF). Hoje, a maioria dos

associados faz a extração napropriedade.

Flávio Majolo, que éextensionista da Epagri noEscritório Municipal de VidalRamos, acredita que aprodução de mel do municípiopode ser duplicada sem riscode haver concorrência deflorada entre as abelhas. “Aregião tem ótimo potencialapícola, com grandes áreas demata nativa e eucalipto”,avalia. Mas, embora a Epagriincentive a atividade, aapicultura aos poucos seenfraquece na região. “Muitosprodutores não aplicam astecnologias aprendidas noscursos, que são fundamentaispara ter sucesso nos apiários”,explica.

Em outras regiões doEstado, a situação se repete.Cerca de 3 mil produtorescatarinenses são consideradosprofissionais, mas a maiorparte tem até 100 colmeias epratica a atividade apenas

para complementar a renda. “Oconhecimento chega até eles, mas amaioria não aproveita todo o potencialeconômico da atividade”, contaWalter Miguel, do Peca.

Essa situação mantém aprodutividade média do Estado emum nível relativamente baixo: emtorno de 15kg de mel por colmeia/ano. O grande desafio da Epagri e dasentidades do setor é ampliar essenúmero em 30% a 40% nos próximos

anos. “Estamos concentrando esforçosno desenvolvimento de materialgenético de qualidade, na adoção detécnicas adequadas de manejo e noincentivo ao associativismo, fazendocom que os apicultores adotem asnovas tecnologias e melhorem aprodutividade”, destaca o veterinário.

Pesquisa e extensão

A Epagri acumula mais de 50 anosde trabalho na apicultura, con-tribuindo com o crescimento do setordentro e fora do Estado. Foi em SantaCatarina, por exemplo, que sedesenvolveu o fumegador que éutilizado hoje nos apiários de abelhasafricanizadas em todo o Brasil. Odesenvolvimento de roupas eequipamentos humanizados, commais segurança e ventilação, tambémtem contribuição da Epagri.

Desde 2009, as pesquisas daEmpresa na área são conduzidas pelaEstação Experimental de Videira. OParque Ecológico Cidade das Abelhas,em Florianópolis, passou a atuar nacapacitação de produtores, no apoioàs atividades de extensão e àspesquisas, na sanidade apícola emparceria com a Companhia Integradade Desenvolvimento Agrícola deSanta Catarina (Cidasc) e naorganização da cadeia produtiva emconjunto com a Faasc.

Entre as pesquisas em andamento,destacam-se a seleção de colmeias apartir da avaliação de comportamentohigiênico e produtividade de mel, acaracterização genética das abelhas em

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Leo Kreusch fez cursos da Epagri e trocou as lavourasde fumo pelas colmeias

Pesquisadores da Epagri desenvolvem tecnologias para melhorar aprodutividade no Estado

Área demarcada no favo sem crias mortas, demonstrando altacapacidade higiênica de abelhas em experimento de seleção decolmeias

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diferentes regiões de Santa Catarina eo monitoramento da infestação peloácaro Varroa destructor em apiários doEstado. “Somos colaboradores daUniversidade Federal de SantaCatarina na avaliação de compostosbioativos e da qualidade do mel emdiferentes regiões catarinenses”,acrescenta Cristiano João Arioli,pesquisador em entomologia daEstação Experimental de Videira.Também em parceria com a UFSC, aEpagri/Peca participa de umapesquisa sobre a caracterização daprópolis catarinense e seus efeitosfarmacológicos. O estudo é conduzidoem parceria com apicultores de dezregiões do Estado e já apresentaresultados promissores.

A criação de abelhas sem ferrão, ouindígenas, chamada de melipo-nicultura, é outra área que recebe

atenção da Empresa. O Peca possuium meliponário, fruto do trabalho dotécnico agrícola Ivanir Cella, paradifundir tecnologias com foco napreservação ambiental. Além disso, aatividade pode gerar renda para osprodutores, seja pela produção de mel,seja pela venda de famílias de espéciesnativas. “Em termos quantitativos,não se deve comparar a produção dasabelhas sem ferrão com a das abelhasApis mellifera africanizadas, que são asmais criadas comercialmente em SantaCatarina. As primeiras têm produçãobem menor, mas possuem grandeimportância ambiental, já que muitasespécies vegetais nativas sãopolinizadas exclusivamente por elas”,esclarece a médica-veterinária MaraRúbia Pinto, pesquisadora do Peca.

Atenção ao manejo

Outra contribuição da Epagri estána investigação das possíveis causasda mortalidade de abelhas que vemocorrendo no Estado. A partir de 2007houve ampla divulgação de umproblema surgido nos Estados Unidose na Europa, a CCD (sigla em inglêspara Síndrome do Colapso dasColônias), que se caracteriza pelodesaparecimento das abelhas e cujascausas ainda não foram esclarecidas.“Com essa divulgação, os apicultoresdo Estado se alertaram. Situações queantes passavam despercebidas foram

Alimentação artificial das abelhas e uso de “entretampa” na colmeia evitam perdas nooutono e no inverno

Criação de abelhas nativas preserva a natureza e ainda pode gerar renda

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atribuídas a isso e recebemos relatosdo que poderia ser a CCD”, contaMara Rúbia.

A Epagri vem estudando a situaçãoem parceria com outras instituições,mas com os dados levantados atéagora não é possível atribuir as perdasà CCD. “A maior parte dos casosdecorre de erros de manejo. Alémdisso, a vegetação nativa está dandolugar à monocultura e isso prejudicaas abelhas, que precisam de aportenutricional proteico diversificado eem quantidade adequada”, acrescentaa pesquisadora.

Fome, frio e deficiências no manejoainda são apontados como asprincipais causas de mortalidade deabelhas e redução de produtividadeem Santa Catarina. Para se defender,as abelhas consomem mel e a reservaacaba rapidamente. Sem os devidoscuidados, os apicultores chegam aperder 15% a 30% das colmeias nooutono e no inverno.

Os técnicos recomendam tomaralgumas precauções para manter atemperatura dentro das colmeias,como não instalá-las em locais altos edescampados, reduzir o espaço deentrada das abelhas, expor as colmeiasao sol e vedar as frestas das caixas. “Éimportante usar uma ‘entretampa’ nosmeses mais frios para diminuir osespaços vazios na colmeia”, reforçaWalter Miguel.

Também é preciso observar anecessidade de alimentar as abelhasno outono e no inverno. Para ajudaros produtores nessa tarefa, apesquisadora Mara Rúbia estudou anutrição das abelhas em suadissertação de mestrado. “Essa é umadas áreas menos estudadas e maisimportantes na apicultura porque asabelhas não recebem medicamentos eprecisam se fortalecer pelaalimentação”, justifica.

A pesquisadora avaliou aeficiência de diferentes dietas atéchegar às melhores alternativas paraatender as necessidades nutricionaisdas abelhas. Ao final do estudo, umfôlder com as receitas foi publicadopara orientar os apicultores. “Asdietas não alteraram as característicasfísico-químicas do mel produzido epodem ser consideradas adequadaspara suplementação alimentar em

época de escassez de recursosnaturais”, conclui.

Para levar todo esse conhecimentoe as novas tecnologias ao campo, oscursos de apicultura oferecidos pelaEpagri capacitam mais de 300produtores por ano em todas asregiões do Estado, além de cerca de 35técnicos que fazem atualização. Ocurso básico de apicultura dura de 3 a5 dias e dá noções suficientes para o

produtor iniciar a atividade. Maistarde, ele pode se especializar comcursos como os de produção de pólen,geleia real e própolis. O produtor LeoKreusch, de Vidal Ramos, que já fezsete cursos na Epagri, revela o segredopara crescer na atividade: “Para serum bom apicultor, além de gostar doque faz, é preciso se aperfeiçoarsempre”, ensina.

Como o mel é produzido

A principal fonte para a elaboração do mel é o néctar das flores. Emalguns locais, as abelhas também coletam a secreção de outros insetospara produzir o mel de melato. “Em Santa Catarina, encontramos o melde melato produzido a partir da secreção de cochonilhas presentes nabracatinga”, explica a pesquisadora Mara Rúbia Pinto.

A produção do mel envolve várias reações. Em uma reação física, onéctar é desidratado até que o teor de umidade fique abaixo de 18%.Para isso, ocorre uma absorção de água no papo das abelhas e umaevaporação pelo bater das asas dos insetos na colmeia. Já a transformaçãodos açúcares do néctar em açúcares do mel ocorre pela ação das enzimasinvertase, amilase e glicose-oxidase. “Após essa delicada transformação,as abelhas depositam o mel no interior dos alvéolos presentes nos favose os cobrem com uma fina camada de cera num processo chamado deoperculação. Nesse ponto, o mel é considerado ‘maduro’”, conta apesquisadora.

De acordo com a flor de origem, a cor do mel pode variar de quasetransparente a quase negro. Quanto mais escuro, mais forte ao paladar emaiores os índices nutricionais, principalmente no teor de sais minerais.O sabor pode variar de doce suave até doce forte e, em alguns casos,como o do mel da bracatinga, pode ser ácido ou amargo. A consistênciatambém varia: há mel líquido, cristalizado, granulado e cremoso.

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A cor, o sabor e a textura do mel variam de acordo com a flor de origem

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Com cerca de 10 milhões depáginas visualizadas a cadaano, o site da Epagri/Centro de

Informações de Recursos Ambientaise de Hidrometeorologia de SantaCatarina (Ciram) é hoje a principalvitrine do trabalho desenvolvido pelaunidade. É por meio desse canal queo centro interage com a sociedade, nãoapenas publicando informaçõesrelativas à previsão do tempo e àspesquisas desenvolvidas, mastambém recebendo retorno dosleitores nos cerca de 100 e-mailsenviados mensalmente pelo linkContatos.

Conscientes da importância que osite tem para a Epagri, profissionais docentro reuniram-se no início de 2010para colocar em prática um processode readequação do conteúdo ealinhamento visual do portal.“Percebemos a necessidade deorganizar as informações de umaforma mais amigável para o público

Sucesso sem fronteirasGisele Dias1

Do agricultor que precisa de informações meteorológicas paraconduzir a lavoura às populações cuja segurança depende daprevisão de eventos climáticos extremos, o site da Epagri/Ciram é exemplo na união de tecnologia e comunicação aserviço da sociedade

Sucesso sem fronteiras

leigo, que é o principal alvo dessemeio de comunicação”, explicaÂngelo Massignam, pesquisador daEpagri/Ciram e coordenador dogrupo responsável pela tarefa.

Para realizar o trabalho,Massignam usou a experiênciaacumulada no cargo de Gerente deMarketing e Comunicação da Epagri,que ocupou durante 2008. A equipe foicompletada pela então coordenadorado setor de meteorologia do Ciram,Maria Laura Rodrigues, e pelaassessora de comunicação do centro,Gisele Dias.

O início de 2010 firmou-se comoum momento estratégico para areadequação do conteúdo do site. Issoporque foi nessa época que teve inícioa inclusão de seis novas ferramentasna página: previsão de geada, previsãode tempestades, previsão de vazão dabacia do Araranguá, previsão de riscodecorrente de chuvas intensas, avisosde temperatura mínima extrema e

aviso de temperatura máximaextrema.

A partir da deflagração doprocesso foram criados os linksPrevisão, Aviso e Monitoramento, quereuniram conteúdo que antes estavadisperso por outros links. “A intençãofoi diminuir o número de cliques queo leitor precisaria efetuar, reunindonum único espaço informaçõesrelacionadas ao mesmo tema”,justifica Massignam.

O trabalho de reformulaçãotambém tornou mais transparente arelação entre os profissionais docentro e a sociedade. Tal conquistapode ser conferida no link Projetos,que reúne todas as pesquisasdesenvolvidas pelo Ciram. O mesmofoi feito em relação à produçãocientífica, que passou a ser reunida nolink Publicações. Lá o público temacesso a todos os artigos científicosproduzidos pelos pesquisadores doCentro e publicados em congressos,

1 Jornalista, Epagri/Centro de Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia (Ciram), C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone:(48) 3239-8160, e-mail: [email protected].

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eventos e publicações nacionais einternacionais.

Em 2011, a equipe de revisão do sitefoi alçada à categoria de ComitêEditorial e ampliada, com o ingressode outros pesquisadores da Epagri,como os engenheiros-agrônomosHugo Braga e Zenório Piana. Passoua contar também com um profissionalda área de Tecnologia da Informaçãoe um do setor de Geoprocessamento.Os esforços agora estão concentradosna manutenção do trabalho já feito ena proposição de novas ferramentasque possam aumentar a interação como público.

“Vamos aprofundar essa ex-periência, que foi bastante positivapara os técnicos da Epagri/Ciram etambém para os usuários”, justificaMassignam, lembrando que hoje o siteé a principal fonte de informaçõesmeteorológicas dos catarinenses, alémde ser modelo nacional e interna-cional. A constatação é reforçada pelo

volume de e-mails recebidos após areformulação. O professor ValterCardoso, do Colégio de AplicaçãoUnivali, de Itajaí, SC, escreveuelogiando o aspecto didático do site einformando que o usa em suas aulas.Já o leitor Francioni Gerber destacouque “a linguagem é bastanteacessível”.

Reconhecimentointernacional

Além de atender o público de SantaCatarina, o site ultrapassa fronteirasgeográficas e supre a carência deinformações meteorológicas de outrospaíses do Conesul. A cada ano, apágina recebe visitas de cerca de cempaíses. A Argentina é o grandedestaque, sendo responsável por pelomenos 15% dos cliques registradosanualmente, seguida de Uruguai (4%)e Paraguai (3,8%).

Por conta desse prestígio, aspáginas que trazem informações daregião do Conesul estão entre as maisacessadas. O link Previsão numérica dechuva, por exemplo, cujo mapaabrange todo o sul da América do Sul,é o terceiro mais acessado. Na quartaposição aparece o link Imagem desatélite, que também alcança a região.

Esse reconhecimento internacionalabre portas para a Epagri. Em marçode 2009, André Silva, representante daPrefeitura Municipal de Montevidéu,esteve em Florianópolis e fez questãode visitar a Epagri/Ciram. Ele relatouque o site catarinense é fonte diária deconsulta na Prefeitura daquela capital,já que o Uruguai não possui um centroespecializado em previsão do tempo.

Mais recentemente, em abril desteano, o Ciram recebeu a visita dopesquisador Jorge Arbolya, doInstituto Nacional de InvestigaciónAgropecuaria (Inia), do Uruguai. Eleveio sugerir uma parceria entre as

Na foto, enviada pelo leitor, tromba-d’água na praia do Matadeiro, em Florianópolis

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duas instituições e revelou que aproposta derivou do fato de eleacessar diariamente o site do Ciram.A concretização da parceria vemsendo negociada entre o chefe doCiram, Edson Silva, e o profissionalque responde pelo Inia.

Rapidez e eficiência

Outra experiência on-line bem--sucedida no ano passado mostrou aagilidade da Epagri para responder àsnecessidades da população. Aprevisão de clima para a primavera de2010 não era nada animadora para aagricultura catarinense, pois aconfiguração do fenômeno La Niña,caracterizado pelo esfriamento daágua do Oceano Pacífico, indicavachuva abaixo da média para os mesesde setembro, outubro e dezembro.Caso se confirmasse tal previsão,

agricultores catarinenses poderiamamargar sérios prejuízos.

Atentos aos riscos, profissionais daGerência de Extensão da Epagri e doCiram convocaram representantes doBanco Brasil e de instituiçõesrepresentativas do setor agroindus-trial para decidir quais medidaspreventivas poderiam ser adotadas.Do debate surgiu a conclusão de quea informação era a melhor ferramentapara tentar diminuir os riscos deprejuízos. Era preciso orientarextensionistas e agricultores sobre aimportância do plantio escalonado emperíodos de estiagem.

Para fazer as informações acercado La Niña chegarem de maneirarápida e eficiente ao públicointeressado, a alternativa foi a criaçãode um pequeno site, chamado de hotsite, hospedado dentro do portal daEpagri/Ciram. Em menos de umasemana o produto estava no ar, com

notícias relacionadas ao tema,monitoramento da quantidade dechuva por regiões do Estado, recomen-dações técnicas e outras informações.

Felizmente a estiagem não veio naintensidade esperada, mas aexperiência ficou. Em março de 2011,Kátia Medeiros, consultora do BancoMundial e técnica da Organização dasNações Unidas para Agricultura eAlimentação (FAO), visitou a Epagri/Ciram e conheceu o site do La Niña.Impressionada com a funcionalidadee a simplicidade da ferramenta, elaapresentou a experiência no exterior,e técnicos da FAO de Roma, na Itália,se interessaram pelo produto. “Maisuma vez, a agilidade da comunicaçãodigital provou ser uma importanteferramenta no enfrentamento desituações climáticas adversas”, avaliaMassignam.

Monitoramento on-line chega a 50 mil acessos por dia

Em setembro de 2009, Santa Catarina era mais uma vez castigada porchuvas intensas. Técnicos da Epagri/Ciram perceberam que em épocascomo essa o índice de acesso a informações como nível de rios e índices dechuva subia aceleradamente. Pensando em oferecer um serviço maiseficiente para a sociedade, foi criado, nessa ocasião, o link Monitoramentoon-line. Foram reunidas ali, sobre um mapa do Estado, todas as informaçõescoletadas pelas quase 200 estações meteorológicas instaladas no territóriocatarinense.

O mapa apresenta dados de temperatura, nível de rio, precipitação,umidade relativa do ar, vento, molhamento foliar, radiação solar e pressãoatmosférica medidos na última hora. A ferramenta fornece um diagnósticoreal da atual condição do tempo em Santa Catarina.

O valor dessa informação é dado pelo volume de acessos que aferramenta alcança em dias de eventos extremos. Em 28 de setembro de2009, por exemplo, apenas 13 dias depois de ter sido criado, o novo serviçoregistrou 57.912 visua-lizações.

Por sua importância, aferramenta vem recebendoatenção especial da equipeda Epagri/Ciram. Ossetores de Tecnologia daInformação e de Gestão eSaneamento Ambientalestão trabalhando paradesenvolver uma novainterface de apresentaçãodos dados, visando facilitara compreensão da infor-mação pelo usuário.

O site em números*

Em um ano10 milhões de páginas visualizadas3,8 milhões de visitas850 mil visitantes104 países visitantes

Em um mês630 mil páginas visualizadas260 mil visitas82.250 visitantes

Em um dia40 mil páginas visualizadas15.300 visitas12.400 visitantes

Fonte: Google Analytics(*) Índices médios.

Visitas anuais por países*Brasil: 2.860.000Argentina: 582.512Uruguai: 174.402Paraguai: 148.053Estados Unidos: 8.686Não identificado: 5.872Espanha: 1.431Canadá: 1.319Alemanha: 1.157

Fonte: Google Analytics.(*) Índices médios dos principais paísesvisitantes.

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RAC: Qual é o tamanho do setorcooperativista catarinense?

MAZ: Em Santa Catarina são 262cooperativas regularmente registradasna Ocesc/OCB, constituídas em 12ramos: agropecuário, consumo,crédito, educacional, especial,habitacional, infraestrutura, mineral,produção, saúde, trabalho etransporte. As cooperativas produ-zem aproximadamente 12% do PIB

União que traz desenvolvimentoCinthia Andruchak Freitas1

Aproximadamente ametade da populaçãocatarinense está, dealguma forma, vinculadaàs 262 cooperativas doEstado. Essas entidadescriadas a partir da uniãode pessoas com interessescomuns atuam emdiversos ramos, mas nocampo se destacam emimportância econômica esocial, pois respondempor 30% da produçãoagropecuária catarinense.

A Organização dasCooperativas do Estado deSanta Catarina (Ocesc),que representa o setor no

Estado, está completando 40 anos de trabalho na defesa e nofortalecimento da atividade. As conquistas, o crescimento do setor,as transformações que a união de famílias rurais em forma decooperativas trouxe para o Estado e os desafios para os próximosanos são assunto da entrevista que o presidente da Ocesc e diretorvice-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras(OCB), Marcos Antonio Zordan, concedeu à RAC comexclusividade.

Marcos Antônio Zordan, presidente daOrganização das Cooperativas do Estado deSanta Catarina, destaca os avanços do setornos últimos 40 anos

catarinense e 30% da produçãoagropecuária do Estado. Destaca-seainda a participação expressiva nosistema financeiro, com cerca de 4%do setor em nível estadual, e na áreade saúde, com mais de 1 milhão deusuários.

RAC: Quantas pessoas sãobeneficiadas por essa rede decooperação?

MAZ: O número de associados teveuma expansão de 11,8% em 2010,atingindo 1,12 milhão de pessoas.Consideradas as famílias cooperadas,isso significa que praticamente ametade da população estadualusufrui, de alguma forma, dosbenefícios de uma cooperativa. O setortambém mantém 35 mil empregosdiretos.

RAC: Qual foi o faturamento total dascooperativas catarinenses em 2010?

MAZ: Foi de R$ 12,5 bilhões, comcrescimento de 10,5% em relação aoano anterior.

RAC: Como as cooperativas doEstado se posicionam no Brasil?

MAZ: O cooperativismo catarinensedestaca-se no cenário nacional pelaunião, pela organização dosempreendimentos e pelo potencialeconômico expressivo. Alimentosproduzidos por cooperativascatarinenses encontram-se em todosos Estados da federação e háexportações destinadas aos cincocontinentes.

RAC: Quais são as principaisatribuições da Ocesc, do ServiçoNacional de Aprendizagem doCooperativismo (Sescoop) e da OCB?

MAZ: A OCB e a Ocesc têm a funçãoda representação política institucionaldas cooperativas nos âmbitos estaduale federal e procedem ao registro delas,conforme previsto na lei. Todos osassuntos de interesse das coope-rativas, de todos os ramos, que tenhamque ser tratados com instituiçõesgovernamentais, são realizadosatravés da OCB e da Ocesc. OSescoop/SC é uma instituição voltadaexclusivamente à educação, capa-citação e profissionalização de

1 Jornalista, Epagri/GMC, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail: [email protected].

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colaboradores e dirigentes decooperativas. Abrange também açõesde integração dos associados com suascooperativas, além de atividades depromoção social e comunitária.

RAC: Quantas pessoas foramcapacitadas pelo Sescoop/SC noúltimo ano?

MAZ: O Sescoop de Santa Catarinapromoveu 1.014 eventos para aformação profissional de 82.962dirigentes, cooperados e funcionáriosde cooperativas catarinenses mediantedesembolso da ordem de R$ 6,8milhões. Esses números representamum crescimento de 19% no volumefinanceiro e 38% no número deeventos em 2010.

RAC: Quais as principais conquistasacumuladas nesses 40 anos decooperativismo em Santa Catarina?

MAZ: A consolidação da instituiçãoOcesc como órgão aglutinador detodos os ramos do cooperativismo, acriação e o desenvolvimento dosramos de saúde e de crédito,a autogestão do sistema cooperativoa partir da Constituição de 1988, aconstituição do Sindicato Patronal dasCooperativas em 1994, o projeto dereestruturação das cooperativasagropecuárias com a constituição doSescoop em 1999, os programas decapacitação de colaboradores edirigentes de cooperativas através decursos, bolsas de estudo paragraduação e pós-graduação e, napromoção social, a instituição dosprogramas Cooperjovem e JovensLideranças Cooperativistas.

RAC: Qual é a fatia das cooperativascatarinenses ocupada pelo setoragropecuário?

MAZ: O ramo agropecuáriorepresenta 63% do movimentoeconômico do sistema cooperativistacatarinense. Encerrou 2010 com 53cooperativas e faturamento de R$ 7,96bilhões.

RAC: Quais os tipos de cooperativasmais comuns na área agrícolacatarinense?

MAZ: A atuação das cooperativasagropecuárias de Santa Catarina éfortemente dirigida à produção demilho, soja, feijão, trigo, arroz, frutas,como maçã, pêssego, nectarina e pera,aves, suínos e leite. A grande maioriadispõe de lojas agropecuárias quedisponibilizam aos associadosfertilizantes, corretivos, defensivosagrícolas, ferramentas, peças eequipamentos. Da mesma forma,dispõem de áreas técnicas própriasconduzidas por engenheiros-agrôno-mos, médicos-veterinários, técnicosagrícolas e zootecnistas para prestarorientação aos associados em todas asnecessidades nessa área.

RAC: De que forma os agricultoresfamiliares, que predominam no meiorural catarinense, podem sebeneficiar com as cooperativas?

MAZ: A primeira motivação dascooperativas agropecuárias é a vendaconjunta da produção e a compracoletiva de insumos, ganhando forçae competitividade através da união. Apartir do ingresso à cooperativa,qualquer agricultor familiar tem àdisposição todos os serviçosdisponibilizados aos demaisassociados. Exerce os mesmos direitosdos demais, assim como os mesmosdeveres.

“O cooperativismo é a saídapara os pequenos agricultoresmelhorarem a renda e terem

um futuro melhor no campo.”

Cooperativas do ramo agropecuário faturaram R$ 7,96 bilhões em 2010

RAC: Num mercado cada vez maiscompetitivo, essa é a saída para ospequenos agricultores ganharemrepresentatividade?

MAZ: No cooperativismo agro-pecuário catarinense estão inseridos62.948 associados. Desses, 20.321 sãoproprietários de áreas de até 10ha;outros 33.301 são proprietários deáreas de 10 a 50ha. Portanto, cerca de85% dos associados de cooperativasagropecuárias de Santa Catarina sãopequenos agricultores. Assim,entende-se que a forma de outrospequenos agricultores ganharem forçae representatividade é participar emcooperativa. A Coopercentral Auroraé um exemplo: 50 mil famílias ruraisformaram um dos maioresconglomerados da agroindústria doPaís. Está comprovado queo cooperativismo é a saída para ospequenos agricultores melhorarem arenda e terem um futuro melhor nocampo.

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RAC: Como as cooperativas catari-nenses veem o desafio de reter osjovens no campo?

MAZ: O sistema cooperativoempenha-se em fornecer aos jovens osconhecimentos indispensáveis nosaspectos de organização da proprieda-de, controle de custos, melhorias naprodutividade, qualidade daprodução e observância às questõesambientais e de sanidade agrícola. Sãodisponibilizados cursos, treinamen-tos, convênios, desenvolvimento denovas lideranças, além de progra-mação na área social. Os programas,todos sem custo aos jovens docampo, são implementados com aconsciência de que o fator maisimportante para a permanência nomeio rural é a renda.

RAC: Quais os objetivos e asprincipais atividades dos programasCooperjovem e Jovens LiderançasCooperativistas?

MAZ: Implantado na rede de ensinopúblico municipal e estadual de SantaCatarina, o Cooperjovem visafortalecer o cooperativismo por meio

da inserção de uma propostaeducacional construída a partir dosprincípios, valores e da prática dacooperação no ambiente escolar. OCooperjovem já capacitou 285professores em 44 escolas de 33municípios. O programa conta com aparticipação de mais de 10 milcrianças e intensa parceria de 17cooperativas.

O programa Jovens Lideranças tempor objetivo fomentar estratégias degestão de cooperativas e viabilizaralternativas de sucessão nessasorganizações, garantindo acontinuidade e o fortalecimento dosistema. O programa desenvolve, nosalunos, habilidades e competênciaspara atuar no cooperativismo. Aclientela-alvo é formada por jovensentre 16 e 24 anos, em formaçãoescolar e pertencentes às famíliasassociadas às cooperativas. Oprograma é uma das ações depromoção social do Sescoop/SC, queem 2010 totalizaram 862 horas, 3.273participantes e R$ 1,03 milhão emrecursos utilizados.

RAC: Quais são os principaisresultados desse esforço?

MAZ: Nas propriedades em quefamiliares tenham participado deprogramas desenvolvidos pelascooperativas com apoio da Ocesc e doSescoop/SC, são visíveis os avançosem produtividade e, por conse-quência, em renda. O número dejovens associados às cooperativascresceu de 14% para 18% nos últimoscinco anos.

Ações de preservação ambiental são executadas pelas cooperativas catarinenses

RAC: Que papéis os jovensdesempenham nas cooperativasagropecuárias?

MAZ: Os jovens participam dosprogramas de treinamento e dosencontros regionais e estaduais,acompanham as assembleias, inte-gram comissões e comitês e, junto àssuas respectivas famílias, contribuemcom o processo produtivo.

“As cooperativas respondempor 12% do PIB catarinense e

30% da produçãoagropecuária do Estado.”

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RAC: As mulheres têm conquistadocada vez mais espaço no mercado detrabalho e no sustento da família. Nascooperativas isso também acontece?

MAZ: No cooperativismo, asmulheres têm papel de fundamentalimportância e as cooperativas sãoestimuladas e recebem apoiofinanceiro da Ocesc e do Sescoop/SCpara desenvolver programasespecíficos dirigidos a elas. Sãoatividades que abrangem desde asquestões familiares e de saúde, até osaspectos da organização dapropriedade e da participação nasdecisões das cooperativas. Dascooperativas que tenham trabalhosimplementados para as mulheres,anualmente são selecionadas váriasdelas para o Encontro Anual dasMulheres Cooperativistas, que ocorreem Florianópolis, patrocinado peloSescoop/SC. Em 2010 foram 720participantes; em 2011 serão 1.000participantes. O encontro promovepalestras motivacionais, trabalhos emgrupo, socialização e outras açõespara ampliar a autoestima dasmulheres e reforçar sua importânciana sociedade moderna. RAC: Que mudanças essa par-ticipação tem trazido para ascooperativas agropecuárias?

MAZ: Melhor relacionamento entrecooperativa e associados. Na medidaem que as mulheres têm plenoconhecimento das operações feitascom a cooperativa, tornam-sequestionadoras, dão sugestões demelhoria, participam de decisões.

RAC: Há preocupação com sus-tentabilidade e preservação am-biental nas cooperativas agrícolascatarinenses?

MAZ: A Ocesc tem lideradoprogramas na área de sustentabilidadee preservação ambiental em parceriacom outras instituições, como Epagri/Ciram e Sebrae. Estão sendodesenvolvidos estudos sobre osefeitos das mudanças climáticas, doaquecimento global e seus impactosnas cadeias produtivas em SantaCatarina, como também na questão dedejetos suínos com vistas aoaproveitamento como fertilizantes.

MAZ: Elevar a profissionalização dosquadros diretivos e funcionais eagregar mais valor à produçãoprimária para acentuar a elevação derenda dos associados.

RAC: Quanto o setor estima crescernos próximos anos em SantaCatarina?

MAZ: Em média, 15% ao ano. RAC: De que forma as cooperativasestão se preparando para vencer essesdesafios?

MAZ: O orçamento do Sescoop/SCpara 2011 é superior a R$ 11 milhões,que são destinados a educação,capacitação, treinamentos e bolsas deestudos visando à profissionalizaçãode dirigentes e colaboradores, além deapoio e acompanhamento dosplanejamentos estratégicos decooperativas.

RAC: O que é necessário paraconstituir uma cooperativa?

MAZ: Um grupo de no mínimo 20pessoas com o firme propósito deunião em torno de um objetivocomum. Por tratar-se de umasociedade de pessoas, há legislaçãoespecífica, a Lei 5.764/71, que defineos procedimentos legais indis-pensáveis para o bom funcionamentodo empreendimento, como as-sembleias de prestações de contas,estatuto social, conselhos, entreoutros.

RAC: Onde os produtores ruraispodem buscar informações parafundar uma cooperativa?

MAZ: Na Ocesc. Há programas deorientação a todos os interessados emformar cooperativas, mensalmente.Além disso, profissionais sãodisponibilizados para deslocamento eprestação de informações aos gruposinteressados nas próprias comu-nidades, com fornecimento demateriais sem nenhum custo aosinteressados.

RAC: Quais as principaisdificuldades enfrentadas pelascooperativas?

MAZ: Elevados custos tributários,trabalhistas e previdenciários. Oexcesso de normas e tributos deagências reguladoras engessa ascooperativas e reduz suacompetitividade. Além disso, hálegislações que frequentemente nãolevam em consideração aspeculiaridades de sociedadescooperativas, que são diferentes dassociedades mercantis. Um exemplocabal é a legislação ambiental.

RAC: O que a Ocesc e aOCB estão fazendo paraenfrentar essesproblemas?

MAZ: A defesa políticado cooperativismo emtodas as instâncias e,especialmente, no PoderLegislativo.

RAC: Quais os desafiose as metas para o futurodo cooperativismo cata-rinense?

Participação feminina é valorizada no Encontro Anual dasMulheres Cooperativistas

“Cerca de 85% dosassociados de cooperativas

agropecuárias em SantaCatarina são pequenos

agricultores.”

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34 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Introdução

Na época do descobrimento, em1500, a Mata Atlântica cobria 15% doterritório brasileiro, área equivalentea 1.306.421km². Atualmente estáreduzida a 102.000km², o quecorresponde a 7,84% de sua coberturaflorestal original. É o segundoecossistema mais ameaçado deextinção do mundo, ficando atrásapenas das quase extintas florestas dailha de Madagascar.

Bioma Mata Atlântica

É o mais rico bioma brasileiro embiodiversidade e também o maisdevastado. A Mata Atlântica é umcomplexo ambiental que englobacadeias de montanhas, vales, planaltose planícies de toda a faixa continentalatlântica leste brasileira, além deavançar sobre o Planalto Meridionalaté o Rio Grande do Sul.

A Mata Atlântica apresenta umaintrincada rede de bacias hidro-gráficas constituída por grandes rios,como o Paraná, Tietê, São Francisco,Doce, Paraíba do Sul, Paranapanema,Uruguai, Itajaí-açu e Ribeira doIguape. Esse sistema é importantetanto para o abastecimento humanocomo para o desenvolvimento deatividades agrícolas e industriais. AMata Atlântica abriga mais de 20 milespécies de plantas, metade das quaisé endêmica, ou seja, espécies que nãoexistem em nenhum outro local. É afloresta mais rica do mundo emárvores por unidade de área,chegando a apresentar 454 espéciespor hectare no sul da Bahia (Brasil,2010).

Mata Atlântica catarinenseAirton Rodrigues Salerno1 e Juarez José Vanni Müller2

Mata Atlântica emSanta Catarina

O Estado catarinense tem umasuperfície territorial de 95.985km², quecorresponde a cerca de 1% da área doBrasil, e está totalmente inserido nodomínio da Mata Atlântica, incluindodiversas fisionomias florestais eecossistemas associados. SantaCatarina tinha originalmente 85% dasua superfície coberta por florestasexuberantes, interrompidas noPlanalto por manchas de camposnaturais que, somadas, perfaziam14,4% da área total (Figura 1).

Planalto Catarinense; c) FlorestaEstacional Decidual (FED), deocorrência no Vale do Rio Uruguai,cobria 9,6% do Estado (Figura 1).

A Floresta Ombrófila Densa(Figura 2) é caracterizada por densascomunidades de árvores altas, com 30a 35 metros de altura, entremeadas porestratos inferiores constituídos porárvores, arvoretas e arbustos. Essafloresta apresenta também altadensidade de epífitas, isto é, plantasque vivem sobre as árvoresutilizando-se delas apenas como apoioe não para a retirada de nutrientes.Destacam-se nesse grupo re-presentantes das famílias bromeliácea,

1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, email: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, email: [email protected].

Figura 1. Cobertura vegetal original de Santa Catarina com as tipologias principais

A Floresta Atlântica Catarinenseestá subdividida em três tipologiasprincipais: a) Floresta OmbrófilaDensa (FOD), que ocorre ao longo doLitoral e no Vale do Itajaí, ocupava32,9% do território catarinense; b)Floresta Ombrófila Mista (FOM),cobria 42,5% do Estado, sendodominada pelo pinheiro do Paraná(Araucaria angustifolia) e ocorrendo no

orquidácea, cactácea, piperácea, alémde diversas famílias de samambaias.Aparecem também nesse tipo defloresta as lianas, ou cipós, asconstritoras, as parasitas e os xaxins.A estrutura dessa tipologia florestal esuas espécies componentes maisimportantes são apresentadas deforma esquemática na Figura 2 (Klein,1980; Reis, 1993).

Fonte: Klein (1978).

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35Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

A Floresta Ombrófila Mista,esquematizada na Figura 3, é tambémchamada de floresta de araucária(Pinhais) e faxinal. Cobre grande partedo planalto de Santa Catarina e, vistade cima, mostra o predomínio dopinheiro do Paraná, dando aimpressão de homogeneidade. Naverdade, isso não é real, tanto que essetipo florestal é formado por duassubformações: a floresta dos pinhaise a floresta dos faxinais. A primeira écomposta por pinheiros de grandeporte e submatas bem desenvolvidase densas. A segunda apresentapinheiros de menor porte e maisesparsos, com submata baixa e poucodensa (Klein, 1980).

A Floresta Estacional Decidual(Figura 4) é também chamada deFloresta Subtropical do Rio Uruguai.Acompanha o Vale do Rio Uruguai e“sobe” pelos seus afluentes até 800metros de altitude. É caracterizadapela ausência absoluta do pinheiro e

apresenta quatrosinúsias ou “an-dares”, a saber:árvores deciduais,isto é, que perdemas folhas noinverno; são asmais altas e apa-recem espaçadas,formando uma

cobertura vegetal aberta. As espéciesmais comuns desse grupo são a grápia(Apuleia leiocarpa), o angico-vermelho(Parapiptadenia rigida), o louro-pardo(Cordia trichotoma) e o cedro (Cedrelafissilis). A segunda cobertura éformada por árvores perenefoliadas,isto é, que não perdem as folhas,aparecendo com destaque aqui acanela-preta (Nectandra megapotamica),a canela-amarela (Nectandra lanceolata)e outras canelas (Ocotea spp.). Oestrato das arvoretas é geralmentebastante uniforme, predominando alaranjeira-do-mato (Gymnanthesconcolor) e a soroca (Sorocea bonplandii)(Reis, 1993).

Dados atuais e perspectivas

A realidade florestal de SantaCatarina começou a ser modificadacom os desmatamentos iniciados coma colonização do Brasil e sódesacelerou com as proibições legais,

ocorridas a partir de 1965. Com isso,a cobertura florestal do Estado foireduzida de 85% para 17,46% (Figura5), área equivalente a 1.662.000hectares, dos quais apenas 16,84% sãode florestas primárias e 83,16% sãomatas secundárias em estágio médioou avançado de regeneração (Schäffer& Prochnow, 2002). Dados maisrecentes obtidos pela Fatma e peloInventário Florístico Florestal de SantaCatarina indicam respectivamente41,4% e 36,5% da superfície estadualcobertos por florestas nativas de SantaCatarina. Assim, está ocorrendoaumento da cobertura florestal nativado Estado, o que é ótimo do ponto devista ambiental, mas tem restriçõeslegais para utilização e obtenção derenda pelos agricultores.

A legislação e as florestasnativas

Para entendimento da questãolegal, é preciso dizer que o códigoflorestal, ora em discussão no Brasil,e a medida provisória 2.166-67/2001proibiram a exploração das florestasprimárias e estabeleceram as Áreas dePreservação Permanente (APP) e deReserva Legal (RL) nas propriedadesagrícolas. As APPs são as áreas quemargeiam os cursos d’água, cobrem ostopos de morros, as nascentes e asencostas com declividade superior a

Figura 3. Floresta Ombrófila Mista (FOM)

Nota: 1. Estrato superior: pinheiro brasileiro; 2. Estrato “dasárvores”: imbuia e canelas; 3. Estrato “das arvoretas”: erva-matee guaçatonga; 4. Estrato dos arbustos; 5. Estrato “das ervas”:capins.

Fonte: Klein (1980).

Figura 2. Floresta Ombrófila Densa (FOD)

Nota: 1. Estrato “das árvores”: canela-preta (Ocotea catarinensis),tanheiro (Alchornea triplinervea), peroba-vermelha(Aspidosperma olivaceum), cedro (Cedrela fissilis), pau-óleo(Copaifera trapezifolia) e outras; 2. Estrato “das arvoretas”:bacupari (Clusia criuva), laranjeira-do-mato (Actinostemonconcolor), palmiteiro (Euterpe edulis) e outras; 3. Estrato “dosarbustos”: grandiúvas-d’anta (Psychotria suterella e P. Kleinii),pimenteiras (Mollinedia uleana, M. floribunda e Rudgeajasminoides); 4. Estrato herbáceo: caeté (Calathea sp.), caeté--banana (Heliconia velloziana), capins (Olyra e Pharus,principalmente); 5. Epífitas: Pteridófitas, Orquidáceas eBromeliáceas diversas; 6. Lianas: cipó-escada-de-macaco(Clusia criuva) e vários outros; 7. Constritoras: mata-paus(Spirotheca spp.), figueira-mata-pau (Coussapoa microcarpa) eoutras; 8. Xaxins: (Alsophila spp., Cyathea spp. e outras).

Fonte: Klein (1980).

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45 graus. Têm a função de preservaros recursos hídricos, a paisagem, aestabilidade geológica, a biodiver-sidade, o fluxo gênico da fauna e daflora; proteger o solo; e assegurar obem-estar das populações humanas. ARL é permanente e deve ser averbadaem cartório; consiste em área cobertacom vegetação florestal nativacorrespondente a 20% da área total dapropriedade e não pode ser cortada,mas o manejo sustentado é permitido.Sua função é de conservação e dereabilitação dos processos ecológicos,conservação da biodiversidade eabrigo da fauna e flora nativas. Oproblema é que essas áreas deproteção ambiental cobrem grandeparte da superfície das pequenaspropriedades catarinenses, reduzindoas áreas para as atividadesagropecuárias. Assim, os agricultoresse sentem prejudicados não só pelaredução na produção agrícola, mastambém pela área “inútil” coberta porfloresta e pela qual impostosterritoriais devem ser igualmentepagos (Schäffer & Prochnow, 2002).

Considerações finais

A recuperação e, principalmente,a utilização adequada da vegetaçãonatural constituem-se num temaamplo e de difícil equacionamento.Como indicam Fantini & Siminski

(2007), é impres-cindível a atuação dopoder público noplaneja-mento e naimplemen-tação deestratégias pararesgate das florestasnativas no desen-volvimento rural etambém para asatisfação dos agricul-tores na sua utilizaçãoe conservação. Paraque isso se tornerealidade, é neces-sário o envolvimentoconjunto das Univer-sidades e também dasinstituições públicasligadas aos setoresambiental e agrícolade Santa Catarina. Emface das recentesmudanças climáticase suas nefastasconsequências, háuma predisposição

geral para essa construção em equipe,já esboçada no projeto InventárioFlorístico Florestal de Santa Catarina.Falta apenas uma ação forte, decididae continuada das lideranças técnicasda área e o envolvimento dosdirigentes institucionais recentementeempossados.

Figura 5. Cobertura florestal nativa de Santa Catarina atualizada

Literatura consultada

1. FANTINI, A.C.; SIMINSKI, A. Deagricultor a “agricultor silvi-

Nota: A. Estrato “das árvores altas”: grápia, angico--vermelho, louro-pardo, cedro e outras; B. Estrato dasárvores médias: canelas; C. Estrato “das arvoretas”:laranjeira-do-mato e soroca; D. Estrato “dos arbustos”;E. Estrato “das ervas”.

Fonte: Reis (1993).

Figura 4. Floresta Estacional Decidual (FED)

cultor”: um novo paradigma paraconservação e uso de recursosflorestais no Sul do Brasil.Agropecuária Catarinense, v.20, n.1,p.16-18, 2007.

2. KLEIN, R.M. Mapa fitogeográficodo Estado de Santa Catarina. FloraIlustrada Catarinense. Itajaí:Herbário Barbosa Rodrigues, 1978.24p.

3. KLEIN, R.M. Ecologia da flora evegetação do Vale do Itajaí.Sellowia, v.32, n.32, p.165-389, 1980.

4. BRASIL. Ministério do MeioAmbiente. Secretaria deBiodiversidade e Florestas.Departamento de Conservação daBiodiversidade. Núcleo MataAtlântica e Pampa. Mata Atlântica:patrimônio nacional dosbrasileiros. 2.ed. Brasília: MMA,2010. 408p. il. (Biodiversidade, 34).

5. REIS, A. Manejo e conservação dasflorestas catarinenses. Trabalhoapresentado para o concursopúblico de professor titular noCentro de Ciências Biológicas(UFSC). 1993.

6. SCHÄFFER, W.B.; PROCHNOW,M. Mata Atlântica. In: SCHÄFFER,V.B.; PROCHNOW, M. (Eds.). Amata atlântica e você: comopreservar, recuperar e se beneficiarda mais ameaçada florestabrasileira. Brasília, DF: Apremavi,2002. p.12-46.

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Seção técnico-científicacatarinense

Informativo técnico

Artigo científico

Nota científica

• Colheita mecanizada de mexilhões (Perna perna L.) engordados a partir de coletores artificiaisde sementes ............................................................................................................................................. 38André Luís Tortato Novaes, Alex Alves dos Santos, Fabiano Müller Silva, Robson Ventura de Souzae Rafael Roberto Breda

• Sintomas e controle das principais doenças do maracujazeiro (Passiflora edulis f. flavicarpa) emSanta Catarina .......................................................................................................................................... 42Luiz Augusto Martins Peruch, Addolorata Colariccio e Anne-Lore Schroeder

• Instalação de cobertura plástica em vinhedos conduzidos em latada ...................................................46Edegar Luiz Peruzzo

• Manejo da mancha branca na cultura do milho ......................................................................................49João Américo Wordell Filho

• Potencial alelopático de extratos de plantas daninhas sobre o crescimento do porta-enxerto devideira VR 043-43 ......................................................................................................................................51Jean Carlos Bettoni, João Peterson Pereira Gardin, Oclair Teles Rodrigues, Nelson Pires Feldberge Marco Antonio Dalbó

• Aclimatização do porta-enxerto de macieira Seleção 69 em diferentes meios .................................... 56Aleksander Westphal Muniz, Fernanda Grimaldi, Murilo Dalla Costa e Gilberto Luiz Dalagnol

• Efeitos de fontes de esterco e composto orgânico na produção de milho e feijão no sistemaorgânico sob plantio direto ..................................................................................................................... 60Eloi Erhard Scherer

• Balanço simplificado de nutrientes e rendimento de grãos em nove anos de aplicaçãosuperficial de dejeto líquido de suínos em um Latossolo Vermelho Distrófico ....................................65Milton da Veiga, Carla Maria Pandolfo e Alvadi Antonio Balbinot Junior

• SCS451 Catarina – Novo cultivar de bananeira do subgrupo Prata ........................................................70Luiz Alberto Lichtemberg, Robert Harri Hinz, Jorge Luiz Malburg, Márcio Sônego eLuiz Augusto Martins Peruch

• Efeito da aplicação do preparado homeopático de Natrum muriaticum na incidência de Thripstabaci na produtividade e na armazenagem de cebola em sistema orgânico ....................................... 76Paulo Antônio de Souza Gonçalves, Pedro Boff, Mari Inês Carissimi Boff e Cristiano Nunes Nesi

• Comportamento produtivo de seis gramíneas forrageiras tropicais no Planalto Norte Catarinense ... 79Ana Lúcia Hanisch, Ângela Fonseca Rech e Daniel Dalgallo

• Desempenho produtivo de cultivares de morango no Oeste de Santa Catarina ................................... 82Luiz Augusto Ferreira Verona, Eduardo Cesar Brugnara, Cristiano Nunes Nesi, Rogério Grossi eLuiz Eduardo Corrêa Antunes

Germoplasma

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38

O processo de produção demexilhões (Perna perna L.) adotado emSanta Catarina ainda é caracterizadopela baixa utilização da mecanizaçãopara realizar as tarefas de manejo e oprocessamento da produção (Scalice,2003). Isso restringe a produtividadee a rentabilidade das fazendasmarinhas, fazendo com que osmaricultores não usufruam dopotencial de produção que suas áreasaquícolas oferecem.

Além disso, a falta de mecanizaçãoacaba expondo os trabalhadores aesforços físicos repetitivos e longasjornadas de trabalho, ocasionandoproblemas de saúde ocupacional. Asexperiências do setor produtivocatarinense têm demonstrado que énecessário um trabalho de reenge-nharia no processo convencional deprodução de mexilhões, visandotornar o trabalho nas fazendasmarinhas mais rentável e menosárduo.

Uma solução técnica que poderávir ao encontro desses anseios é osistema de cultivo contínuo demexilhões, adotado na Nova Zelândiaa partir da década de 80. Nessemodelo, os mexilhões não sãocultivados em cordas individuais depequeno porte (1 a 3m), como ocorreem Santa Catarina (Ferreira &Magalhães, 2010). Em vez disso, com

Colheita mecanizada de mexilhões (Perna perna L.)engordados a partir de coletores artificiais de

sementesAndré Luís Tortato Novaes1, Alex Alves dos Santos2, Fabiano Müller Silva3,

Robson Ventura de Souza4 e Rafael Roberto Breda5

Aceito para publicação em 3/6/11.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Cedap), C.P. 1391, 88010-970 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8046, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Cedap, fone: (48) 3239-8114, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Cedap, fone: (48) 3239-8045, e-mail: [email protected] Méd.-vet., M.Sc., Epagri/Cedap, fone: (48) 3239-8047, e-mail: [email protected] Eng. de Aquicultura, Florianópolis, SC, fones: (48) 8423-8218 e (48) 7811-6290, e-mail: [email protected].

o auxílio de máquinas montadas sobreembarcações, são cultivadas cordas demexilhões que podem medir até3.000m de comprimento. Essasmáquinas efetuam o plantio, adesagregação, a limpeza e aclassificação por tamanho dosmexilhões, apresentando capacidadesoperacionais de colheita de até 45t/h(Marine & General, 2010).

Visando contribuir com a adoçãode tecnologias de mecanização noprocesso de produção de mexilhõesem Santa Catarina, foi efetuada aimportação de máquinas neo-zelandezas para serem testadas nascondições locais de cultivo. Na fasepreliminar de testes dessas máquinasbuscou-se verificar a eficiência de umacolhedora de mexilhões após suamontagem sobre o convés daembarcação Epagri VII.

Para realizar testes preliminares,utilizou-se uma variante do sistemaneozelandês de produção demexilhões, que diferiu do sistemaneozelandês tradicional pelo fato deque nela não foi efetuada a semeaduramecanizada dos mexilhões. Em vezdisso, realizou-se a captação e engordade mexilhões em coletores artificiaisde sementes, visando produzirbiomassa em cabos contínuos, ou seja,os cabos coletores foram lançados aomar e esperou-se pela fixação natural

das larvas dos mexilhões noscoletores.

O objetivo deste trabalho éapresentar resultados preliminares,em termos de produtividade demexilhões e capacidade operacionalde colheita, obtidos ao se efetuar aengorda dos mexilhões diretamenteem coletores artificiais de sementes erealizar sua colheita mecanicamente,utilizando a máquina colhedoraimportada.

Unidade demonstrativa

Para avaliar a eficiência damáquina colhedora após suamontagem sobre a embarcação EpagriVII (Figura 1), foi instalada umaunidade demonstrativa de cultivocontínuo de mexilhões na comunidadede Canto Grande, município deBombinhas, Santa Catarina, naprimeira quinzena do mês desetembro de 2008.

Na unidade demonstrativa, foraminstalados cabos Aqualoop, comocoletores artificiais de sementes, emquatro long-lines duplos de 80m decomprimento. Nesses long-lines, oscoletores foram arranjados de duasformas distintas: em dois deles, foramdispostos longitudinalmente às linhasmestras, e nos demais foram dispostosem zigue-zague (Figura 2).

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39Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Figura 1. Embarcação Epagri VII com as máquinas instaladas no convés

Figura 2. Montagem dos coletores nos long-lines: (A) longitudinais e (B) em zigue-zague.

No arranjo longitudinal, doiscoletores medindo 360m forammontados formando linhas longitu-dinais paralelas, presas nas boias daslinhas mestras a cada 5m, comdistância de 25 a 30cm entre elas. Noarranjo em zigue-zague, dois coletoresde 380m foram montados, tendo asboias também a cada 5m, porém aslinhas coletoras em zigue-zaguetinham seus pontos de fixação naslinhas mestras dos long-lines a cada30cm.

Colheitas mecanizadas

Doze meses após a montagem doscoletores no mar, quando os mexilhõeshaviam atingido o tamanho comercial(comprimento igual ou superior a8cm), foram realizadas duas colheitasmecanizadas de dois long-lines, cadaum com um arranjo de coletores.Nessas colheitas mensurou-se: a) amassa de mexilhões em tamanhocomercial obtida em cada coletor; b) otempo médio para a colheitamecanizada de cada coletor; c) a

demanda de mão de obra para arealização da colheita mecanizada decada coletor. Foram consideradascomo colheita: a despesca, a desagre-gação, a limpeza e a classificação, portamanho, dos mexilhões.

De posse dessas medidas, foipossível calcular a produtividademédia de mexilhões por metro linearde coletor, pela seguinte equação:

Pm = Mtc/Lcoletor

onde: Pm é a produtividade média,expressa em kg de mexilhões, com

(A) (B)

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40 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

tamanho comercial, por metro linearde coletor; Mtc é a massa demexilhões, com tamanho comercial,expressa em kg; e L coletor é ocomprimento do coletor, expresso emmetros.

Depoimentos dosproprietários de fazendasmarinhas

Em paralelo à colheita dosmexilhões na unidade demonstrativa,foram realizadas visitas técnicas a 12fazendas marinhas dos municípios deFlorianópolis (6), Palhoça (3) eGovernador Celso Ramos (3). Foramobtidas informações e um resgate doconhecimento local que permitiramestabelecer comparações relativasentre os resultados de produtividadede mexilhões e a capacidadeoperacional de colheita observados nosistema convencional de cultivo demexilhões e no sistema de cultivoutilizado na unidade demonstrativa.

Por meio da aplicação dequestionários dirigidos e realização debiometrias in loco, buscou-semensurar: a) a massa de mexilhões emtamanho comercial, obtida por cordade cultivo; b) o comprimento dascordas de cultivo; c) o tempo médionecessário para realizar a colheitamanual de 1t do produto; d) ademanda por mão de obra pararealizar a colheita manual de umatonelada do produto.

A produtividade de mexilhõescom tamanho comercial, por metrolinear de corda de cultivo, foicalculada com a seguinte equação:

Pm = Mtc/Lcorda

onde: Pm é produtividade média,expressa em kg de mexilhões, comtamanho comercial, por metro linearde corda de cultivo; Mtc é a massa demexilhões, com tamanho comercial,expressa em kg; e Lcorda é ocomprimento da corda de cultivo,expresso em metros.

Resultados preliminares

Nas duas colheitas mecanizadasforam obtidos 6.162kg de mexilhões.O coletor em zigue-zague apresentouuma produtividade média de7,91kg/m, com mexilhões medindo,em média, 8,48cm de comprimento. Ocoletor longitudinal apresentou umaprodutividade média de 8,7kg/m,com mexilhões medindo, em média,8,12cm.

No coletor em zigue-zague osanimais cresceram mais e em menordensidade que no coletor longitudinal.Essa diferença de crescimento podeestar relacionada ao fato de o coletorem zigue-zague, mesmo quandocarregado de mexilhões adultos,permanecer posicionado entre asuperfície e os primeiros 40cm de

profundidade da coluna d‘água, ondehá maior disponibilidade de alimento.

No coletor longitudinal, osmexilhões cresceram entre a superfíciee os primeiros 70cm de profundidadedevido ao peso exercido nos caboscoletores à medida que os mexilhõesse tornaram mais pesados. A menordensidade observada no coletor emzigue-zague pode estar relacionada aofato de ele ter ficado mais exposto aoembate de ondas do mar e, portanto,mais suscetível ao desprendimentodos mexilhões.

Ao se comparar a média dasprodutividades (kg de mexilhões comtamanho comercial/m) obtidas naunidade demonstrativa com a médiadas produtividades observadas nasfazendas marinhas visitadas (Figura3), é possível verificar que aprodutividade do sistema conven-cional é ligeiramente superior, porémsemelhante àquela obtida no sistemade engorda direta de mexilhões apartir de coletores artificiais desementes contínuos.

Esse é um resultado interessante,considerando que engordar mexilhõesa partir de coletores até a colheitaexige menor necessidade de mão deobra do que no cultivo convencional.Entretanto, ao se extrapolar essesdados para o cálculo da produtividadepotencial de 1ha de cultivo (utilizando10 long-lines duplos de 100m decomprimento), as produtividadespotenciais de ambas as formas de

Figura 3. Comparação entre a produtividade de mexilhões com tamanho comercial no processo de engorda direta de mexilhões em coletoresartificiais de sementes (contínuo) e no processo convencional (fazendas marinhas)

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41Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Literatura citada

1. FERREIRA, J.F.; MAGALHÃES,A.R.M. Cultivo de mexilhões.Laboratório de MoluscosMarinhos. Centro de CiênciasAgrárias, Universidade Federal deSanta Catarina. 33p. Disponívelem: <http://www.cca.ufsc.br/~ j f f / d i s c i p l i n a s c u l t i v o d emoluscos/pdf/Cultivo%20de%20Mexilhoes%202003-1.pdf>.Acesso em: 13 maio 2010.

2. MARINE & GENERAL -Engineering Nelson Ltda. Musselproducts - declumpers and vessels.Disponível em: <http://www.marineandgeneral.co.nz/h2.html>. Acesso em: 10 abr. 2010.

3. SCALICE, R.K. Desenvolvimento deuma família de produtos modularespara o cultivo e beneficiamento demexilhões . 2003. 274f. Tese(Doutorado em EngenhariaMecânica). Programa de Pós-Gra-duação em Engenharia Mecânica,Universidade Federal de SantaCatarina, Florianópolis, 2003.

cultivar mexilhões passam acontrastar.

Enquanto em 1ha de cultivoconvencional é possível colher até53,12 toneladas, em 1ha de cultivocontínuo, com a engorda a partir decoletores contínuos, é possível colherapenas 35,52t. Isso se dá em função domelhor aproveitamento da colunad‘água das áreas aquícolas quando seadota o cultivo convencional.

Em relação à capacidadeoperacional da colheita mecanizada,observou-se que no coletor comarranjo longitudinal foi possívelcolher 1,8t/h de mexilhões, enquantono coletor com arranjo em zigue-zaguefoi possível colher 2,1t/h. Essadiferença reflete a maior facilidade decolheita do arranjo em zigue-zague,onde a operação de desprendimentodos coletores dos long-lines e o aportedos coletores carregados commexilhões pela máquina colhedoraforam favorecidos pela maiorproximidade entre os pontos defixação dos coletores nos long-lines.

Ao se comparar os custos de mãode obra envolvidos na colheitamecanizada e na colheita manual de1t de mexilhões (Figura 4), foi possívelconstatar que na colheita mecanizadao custo médio de mão de obra foi 30%menor que o custo médio da colheitamanual. Entretanto, quando se leva emconta a capacidade operacional decolheita, a diferença observada entrea forma mecanizada e a nãomecanizada fica mais evidente.

Enquanto são necessárias, emmédia, 8 horas e 4 trabalhadores pararealizar a colheita não mecanizada de

Figura 4. Comparação entre o custo da mão de obra para a colheita de uma tonelada de mexilhões com e sem o auxílio de mecanização

1t de mexilhões, na colheitamecanizada o mesmo volume deproduto é colhido, em média, em 0,5hora, por 3 trabalhadores. Issosignifica que, com o auxílio damáquina avaliada, é possível colher,em 8 horas de trabalho, utilizando umtrabalhador a menos, um volume 15,6vezes maior de mexilhões do que épossível colher sem o auxílio damecanização.

Considerações finais

Por um lado, a engorda demexilhões a partir de coletoresartificiais de sementes pode ser umaalternativa viável para os produtoresque desejam minimizar o tempodespendido e os custos de mão de obraenvolvidos no manejo da produção demexilhões. Por outro lado, essesistema de cultivo ainda apresentaalgumas desvantagens em relação aosistema convencional, que são: a)dependência direta da boa fixação desementes de mexilhões nos coletoresartificiais, o que não ocorre em todasas áreas de cultivo do Estado de SantaCatarina; b) menor aproveitamentodas áreas aquícolas, o que pode ser umempecilho para produtores quedispõem de áreas de dimensõesreduzidas.

Em relação à montagem dasmáquinas sobre a embarcação EpagriVII, ficou evidente a necessidade dealterar o leiaute da montagem,visando melhorar aspectos desegurança e o desempenho da tarefade colheita. Também foi constatada a

necessidade de realizar alteraçõesconstrutivas e de instalação namáquina colhedora de modo a sealcançar o desempenho especificadopelos fabricantes neozelandeses.

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Introdução

O maracujazeiro-azedo (Passifloraedulis f. flavicarpa) é uma dasprincipais frutíferas tropicaiscultivadas no Brasil. Em 2006, acultura ocupava uma área de44.363ha, com uma produção anualestimada de 615.196t, destacando-seBahia, Ceará, Pará e Sergipe como osprincipais Estados produtores (IBGE,2007). Em Santa Catarina, os pomaresda cultura já ocuparam cerca de1.500ha, em 1997/98 (Schroeder et al.,1996), mas caíram continuamente para395ha em 2005 em função das perdasprovocadas por doenças, excesso deprodução e adversidades climáticas.Dados mais recentes apontaram cercade 447ha em 2007 (Peruch et al., 2009),com tendência de aumentosignificativo das áreas de cultivo,distribuídas principalmente nasregiões do Litoral Sul, Norte e CentralCatarinense.

As doenças são consideradasfatores limitantes na produção domaracujazeiro nas diferentes regiõesprodutoras da cultura no Brasil. Afusariose, por exemplo, foi apontadacomo responsável por abandono decultivos e grandes prejuízos em áreasde produção da cultura. Em SantaCatarina, os primeiros trabalhosrealizados com doenças na culturaapontaram a prevalência de doençasfúngicas, a citar: antracnose,verrugose e septoriose nos pomares.

Sintomas e controle das principais doenças domaracujazeiro (Passiflora edulis f. flavicarpa) em

Santa Catarina1

Luiz Augusto Martins Peruch2, Addolorata Colariccio3 e Anne-Lore Schroeder4

Aceito para publicação em 30/5/11.1 Apoio: Unibave/Núcleo Paca.2 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail:[email protected] Bióloga, Dra., Instituto Biológico, São Paulo, Av. Cons. Rod. Alves, 04014-002 São Paulo, SP, fone: (11) 5087-1796, e-mail:[email protected] Eng.-agr, Dra., Centro de Ciências Agrárias/UFSC (aposentada), fone: (48) 3222-9376, e-mail: [email protected].

Nesses trabalhos, verificou-se que adiagnose das doenças é fundamentalpara a recomendação de controle sereficaz, pois doenças fúngicas ebacterianas às vezes têm sidoconfundidas pelos produtores domaracujá.

Considerando que a diagnosecorreta é o primeiro passo paracontrole eficiente das doenças,formulou-se este trabalho com adescrição dos sintomas e a forma decontrole das principais doenças domaracujazeiro-azedo em SantaCatarina.

Doenças

Antracnose

A antracnose, causada pelo fungoGlomerella cingulata (anamorfoColletotrichum gloeosporioides), éconsiderada a principal doençafúngica da cultura do maracujazeiroem Santa Catarina (Schroeder et al.,1996). Em condições de altastemperaturas (> 26ºC) e umidaderelativa do ar (> 90%) podem provocargrandes danos à parte aérea da plantae o apodrecimento dos frutos. Na pós--colheita é a principal doença dacultura (Lima Filho, 2008), pois frutosaparentemente sadios desenvolvemsintomas na pós-colheita em funçãodas infecções latentes causadas pelofungo.

A antracnose provoca sintomas emtoda a parte aérea da planta,destruindo folhas, frutos e ramos. Ossintomas iniciais nas folhas são pontosencharcados de formato arredondado.O número e o tamanho das manchassão variáveis, coalescentes ou não, queevoluem para manchas de formatoirregular, cor marrom-clara a marrom--escura e bordos indefinidos (Figura1). Sobre as manchas podem serobservados pequenos acérvulos(pontos pretos) na parte superior ouinferior da folha. Nos frutos sãoverificadas inicialmente manchassuperficiais circulares ou irregulares,cor creme a marrom-clara com bordosúmidos e indefinidos que podemcobrir grande parte do fruto (Figura2). Essas manchas evoluem parapodridões de cor marrom-clara amarrom-escura, deprimidas, combordos encharcados. Nos ramos, adoença forma cancros irregulares, decoloração esbranquiçada a creme. Oavanço da lesão no ramo podeprovocar os sintomas de secamentodos ramos e morte dos ponteiros.

Mancha oleosa

Inicialmente descrita no Brasil noEstado de São Paulo, essa doença foidetectada nos principais Estadosprodutores do País. Em SantaCatarina, a doença foi identificada noSul em 1996, mas atualmente ocorreem todas as regiões produtoras do

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43Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Figura 1. Mancha típica de antracnose nas folhas: cor marrom, formato irregular e bordosindefinidos

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Estado (Peruch et al., 2009). Ascondições climáticas que a favorecemsão temperaturas entre 27 e 35ºC eumidade relativa acima de 90%.

A mancha oleosa é causada pelabactéria Xanthomonas axonopodis pv.passiflorae. Nas folhas são observadosdois tipos de lesão: local e sistêmica.As lesões locais iniciam-se comolesões aquosas e translúcidas,passando para manchas que sãoparcialmente delimitadas pelasnervuras, ligeiramente circulares, decor verde-escura nos bordos e marromna parte central. As lesões sistêmicascaracterizam-se como manchasmarrons com bordos definidos,formato irregular, tamanho variável,muitas vezes comprometendo grandesáreas de tecido foliar. Vale lembrarque os dois tipos de lesão, a local e asistêmica, podem ser observadosnuma mesma folha (Figura 3A). Nosfrutos a doença causa manchas eapodrecimento. Neles as manchas sãopardas ou esverdeadas, oleosas,circulares ou irregulares com margensbem definidas (Mala-volta Jr., 1998).

As lesões são ini-cialmente superficiais,mas podem ocasionar oapodrecimento do fruto(Figura 4). A doençaprovoca nos ramos umsecamento progressivo,bem delimitado eescurecimento dostecidos vasculares. Porocasião da poda, umacompressão dos ramosinfectados pode resultarno aparecimento de pusbacteriano. É impor-tante ressaltar que os

sintomas da mancha oleosa podem serfacilmente confundidos com aquelesprovocados pela antracnose. Apresença de lesões locais nas folhas(Figura 3B) indica a ocorrência damancha oleosa, cabendo ao agrônomoverificar qual doença ocorre commaior severidade no pomar.

Endurecimento do fruto

A virose do endurecimento dosfrutos do maracujazeiro (VEFM) éuma de suas mais importantesdoenças, podendo atingir mais de 70%das plantas em pomares afetados. NoBrasil, a doença encontra-se presenteem todas as áreas de produção domaracujá em São Paulo, Minas Gerais,Alagoas, Distrito Federal, Goiás, Pará,Paraná e Santa Catarina. Os diversosisolados de potyvirus causadores deendurecimento dos frutos domaracujazeiro que ocorrem no Brasilforam previamente identificadoscomo Passion woodiness virus (PWV)com base em características biológicase sorológicas (Chagas & Colariccio,2006). Porém, em estudos decaracterização molecular, foiverificada uma alta identidade dassequências dos isolados descritos noBrasil com os isolados de Cowpea aphidborne mosaic virus (CABMV), e baixaidentidade com isolados de Passionwoodiness virus (PWV) (Nascimento etal., 2004). Assim, no Brasil o CABMVpode ser considerado a principalespécie de vírus a causar os sintomasde endurecimento dos frutos domaracujazeiro.

Os sintomas causados pelo vírusnos frutos são a deformação e oendurecimento do pericarpo (Figura5). As folhas das plantas infectadasmostram sintomas generalizados demosaico foliar, mosaico bolhoso,manchas cloróticas e deformação dolimbo foliar (Figura 6), cuja severidadepode variar de acordo com a idade das

Figura 3. (A) Manchas sistêmicas causadas pela mancha oleosa de Xanthomonas axonopodispv. passiflorae; (B) Lesões locais da mancha oleosa causada pela bactéria

Figura 2. Frutos de maracujá com podridão causada pelaantracnose

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plantas e as condições climáticas. Asplantas também podem apresentarencurtamento dos entrenós e retardono crescimento. Porém, o sintomamais característico da presença dessevírus são o mosaico e a deformação dolimbo foliar, uma vez que a presençados sintomas nos frutos, isoladamente,pode estar associada a outras causas.

As hospedeiras do VEFMenglobam 10 espécies da famíliaPassiflorae e 18 espécies da família dasLeguminosae. No Brasil, diferentesespécies de passifloráceas já foramdescritas naturalmente infectadas. Ovírus pode ser transmitidoexperimentalmente para plantashospedeiras pertencentes às famíliasChenopodiaceae, Solanaceae eLeguminosae. Nesta última, oscultivares de Phaseolus vulgaris,Pintado e Roseli reagiram com lesãolocal e os cultivares Black Turtle Bean,Roxo, Roxão, Roxão Lustroso,Rosinha WB, Mulatinho, Rosinha cia63 e Rosado Guaranésia reagiram comsintomas de mosaico sistêmico(Colariccio & Chagas, 1986).

Na natureza, esse vírus édisseminado por meio de afídeos demaneira estiletar. Os vetores maisconhecidos são Myzus persicae e Aphysgossypii. No Brasil, além desses,transmitem experimentalmente avirose A. solanella, Toxoptera citricida,Uroleucon ambrosieae e U. sonchii,enquanto Hyperomyzus sp. eBrevicorine brassicae não demons-traram capacidade de transmissão(Costa et al., 1995). Esse vírus pode ser

Figura 4. Frutos de maracujá com sintomas da mancha oleosa. Manchas marrons e formatoindefinido que provocam a podridão do fruto

(A) (B)Figura 6. (A) Folhas de maracujá com mosaico e (B) com mosaico associado à bolhosidade,sintomas da virose

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Figura 5. (A) Fruto pequeno com deformidade e com bolhas e (B) endurecimento dopericarpo, causados por vírus

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transmitido por inoculação mecânicae por enxertia, tendo sido relatada asua transmissão por mãos eferramentas de poda contaminadas.Não há relatos da transmissão dadoença por sementes.

Controle das doenças

O controle das doenças domaracujazeiro deve ser feito pelaadoção de várias práticas de controle,pois a aplicação de medidas isoladasnem sempre é eficiente. As principaispráticas recomendadas são asseguintes:

1. Formação dos pomares a partirde sementes e mudas sadias: devem--se obter sementes de empresas emudas de viveiristas idôneos. Não serecomenda comprar mudas de locaisonde os viveiros são próximos aplantios comerciais, especialmente sea mancha oleosa e o endurecimento dofruto estiverem presentes nos pomaresda região. As estufas de produção demudas devem ser protegidas por telaantiafídeos para evitar a infecção comvirose nas plantas jovens.

2. Pulverizações de argilasilicatada e cloreto de cálcio:

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45Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Literatura citada

1. CHAGAS, C.M.; COLARICCIO, A.Doenças causadas por vírus eassociadas a fitoplasmas. In:NOGUEIRA, E.M. de C.; FERRARI,J.T. (Coords.). Aspectos fitos-sanitários do maracujazeiro. SãoPaulo: Instituto Biológico, 2006.p.21-36. (Instituto Biológico.Boletim Técnico, 14).

2. COLARICCIO, A.; CHAGAS, C.M.Cultivares de Phaseolus vulgaris L.como hospedeiras experimentaisdo vírus do endurecimento dosfrutos do maracujá (VEFM).Fitopatologia Brasileira, n.11, p.307,1986.

3. COSTA, A.F.; BRÁS, A.S.K.;CARVALHO, M.G. Transmissãodo vírus do endurecimento dofruto do maracujazeiro (VEFM)por afídeos (Hemiptera-Aphididae). Fitopatologia Brasileira,v.20, p.376, 1995.

4. GIORGIA, R.; BOSQUÊ, G.G.;REZENDE, J.A. et al. Incidência de

viroses de maracujazeiro na altapaulista, SP e danos provocadospelo Passion fruit woodiness virus.Fitopatologia Brasileira, Brasília,v.25, n.2, p.182-189, 2000.

5. IBGE. Banco de dados agregados.Disponível em: <http://w w w . a g r i c u l t u r a . g o v . b r /fruticultura/estatistica/IBGE/a g r i c u l t u r a / b a n c o d ed a d o s a g r e g a d o s / t a b e l a s /tabelas162e163>. Acesso em: 15maio 2007.

6. LIMA FILHO, R.M. Controlealternativo da antracnose no maracujáamarelo na pós-colheita. 2008. 75p.Tese (Doutorado em Fito-patologia). Universidade FederalRural de Pernambuco, 2008.

7. MALAVOLTA JR., V.A. Bacte-rioses do maracujazeiro. In:Maracujá: do plantio à colheita.RUGGIERO, C. (Ed.). Jaboticabal:Funep, 1998. p.217-229.

8. NASCIMENTO, A.V.S.; SOUZA,A.R.R.; ALFENAS, P.F. et al.Análise filogenética de potyvíruscausando endurecimento dosfrutos do maracujazeiro noNordeste do Brasil. FitopatologiaBrasileira, v.29, p. 378-383, 2004.

9. PERUCH, L.A.M.; SCHROEDER,A.L.; COLARICCIO, A. et al.Doenças do maracujazeiro amarelo.Florianópolis: Epagri, 2009. 99p.

10. SCHROEDER, A.L.; PERUCH,L.A.M.; BERTOLINNI, E. et al.Levantamento das Doenças doMaracujá Amarelo no Cultivo e naComercialização em SantaCatarina. In: SEMANA DAPESQUISA, 6., 1996, Florianópolis.Anais... v.1. Florianópolis:Imprensa Universitária, 1996. p.77.

aplicações na parte aérea com argilasilicatada a 1% (Rocksil®) têmapresentado bons resultados nocontrole da bacteriose e da antracnose.Outro nutriente que auxilia nocontrole da doença é o cálcio, poispulverizações de cloreto de cálcio 2%na parte aérea controlam a antracnoseem lavouras comerciais (Peruch et al.,2009).

3. Controle químico: para controlede doenças fúngicas existemfungicidas à base de cobre, triazóis ebenzimidazol registrados para omaracujazeiro. Recentemente, umamistura de triazol e estrobirulinatambém obteve registro junto aoMinistério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (Mapa) para a cultura.Para bacteriose (mancha oleosa)restam os antibióticos e os cúpricos.Deve-se lembrar que problemas deresistência a esses agrotóxicos podemacontecer, motivo pelo qual oprodutor deve fazer uma rotação nosprodutos pulverizados de acordo comorientação profissional.

4. Sistema de condução: a maiorparte dos pomares de maracujazeiroem Santa Catarina é conduzida pelosistema de latada ou de parreira. Aespaldeira, no entanto, apresentavantagens na condução das plantas,pois os tratos culturais e a aplicaçãode fungicidas são realizados emmenor período de tempo e com maioreficiência, apesar de apresentar umaprodução um pouco inferior.

5. Adubações equilibradas: plan-tas nutridas têm melhores condiçõesde resistir ao ataque de pragas edoenças. No caso do maracujazeiro,uma adubação equilibrada deve serrealizada com base em análise de solo.As adubações nitrogenadas,especialmente, devem ser realizadascom critério, pois o excesso dessenutriente pode deixar as folhas maissuscetíveis ao patógeno.

6. Destruição de plantas doentes:a prática de eliminação de plantasdoentes tem sido recomendada empomares com problema de virose afim de evitar a propagação da doença.Plantas com até 7 meses do transplantedas mudas que apresentem sintomasda doença devem ser eliminadas(Giorgia et al., 2000).

7. Tratos culturais: o vírus pode sertransmitido mecanicamente, sendoaltamente recomendável lavar asferramentas de poda utilizadas nospomares com detergente ou águasanitária, antes que elas sejamempregadas em uma nova planta.

8. Vazio fitossanitário: para dimi-nuir o potencial de inóculo do vírusno campo, deve-se substituir a culturado maracujá por uma não suscetíveldurante alguns meses.

9. Colheita e armazenamento: osfrutos podem ser colhidos quandoparcialmente amarelados, pois já estãofisiologicamente maduros e apro-priados para o consumo. Frutoscolhidos do chão têm maior chance dedesenvolver podridões. Depois daseleção dos frutos para acomercialização, eles devem serguardados em caixas que devem ficarem local fresco, longe da umidade eda incidência direta do sol.

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O uso de plásticos na agriculturaestá sendo cada vez mais lembradocomo uma das tecnologias a seradotadas na cadeia produtiva dacultura da videira, principalmentepara atender as novas exigências demercado para a produção de uvas commenos agrotóxicos e mecanismos derastreabilidade.

Os plásticos são polímeros,formados de resinas e aditivos, quesofrem transformações diferenciadaspara atender aos mais diversosobjetivos. No setor agropecuário, osplásticos são empregados nas maisvariadas atividades, e o advento daslonas plásticas tem permitidoincrementar as áreas com cultivoprotegido. As lonas plásticas sãoproduzidas com fitas trançadas depolietileno de alta densidade eplastificadas em ambas as faces em cortransparente para a passagem daradiação fotossinteticamente ativa.Apresentam reforços laterais e ilhosespara fixação nas estruturas de suporte.Dessa forma, são processadas deacordo com as exigências dedurabilidade, resultando em maiorvida útil. Além disso, há a necessidadedas estruturas de sustentação daslonas plásticas nos vinhedos,utilizando-se arcos de canos de açogalvanizados, de diversas bitolas, queproporcionam firmeza no esticamentoe fixação delas.

Entre os fatores que devem seranalisados, que direcionam osresultados para o emprego de

Instalação de cobertura plástica em vinhedosconduzidos em latada

Edegar Luiz Peruzzo1

coberturas plásticas em vinhedos,podem-se ressaltar, por um lado, osaltos custos de investimentos naadoção dessa tecnologia e, por outro,a redução do uso de agrotóxicos e aproteção da produção contra chuvasde granizo (Antonacci, 1993; Schuck,2002; Santos, 2005).

O cultivo protegido por coberturaplástica na viticultura catarinense foidifundido inicialmente em vinhedosconduzidos em manjedoura pelafacilidade na instalação das lonasplásticas. Entretanto, tradicio-nalmente, mais de 95% dos vinhedoscatarinenses são conduzidos emlatada. Mesmo sendo mais trabalhosaa colocação das lonas plásticas novinhedo em latada, obtém-se umaredução significativa das doençasfúngicas pela maior proteção dodossel vegetativo contra as chuvas e aumidade. Para a cobertura dosvinhedos em latada, ainda se devemobservar dois pontos importantes.Primeiro, a tecnologia da estrutura defixação e suporte das lonas plásticase, segundo, a prática de colocação eamarração delas.

Tecnologia da estrutura defixação e suporte de lonasplásticas em vinhedos emlatada

Para vinhedos conduzidos emlatada, obrigatoriamente se faznecessário que as lonas plásticas sejamarqueadas, esticadas e fixadas sobre

arcos de canos de aço galvanizado,que são utilizados com duas bitolas,sendo os externos de uma polegada eos internos de 2/3 de polegada. Oscanos galvanizados são produzidoscom 3m de comprimento, formando oarco com 70cm de altura e protegendo2,3m das fileiras do vinhedo.

Os canos devem ser colocados auma distância de 4 a 4,5m nas fileiras,obedecendo ao distanciamento dospontaletes do sistema de condução emlatada. Nesses pontaletes, incluindo ospostes externos, fixam-se outros, demadeira, que devem alcançar a alturado cano galvanizado, onde este seráfixado (Figura 1A). A seguir, três fiosde arame ovalado de 14/16mm sãopassados/inseridos nos canos, nasduas extremidades e na parte centralsuperior deles (Figura 1B). Os dois fiosque correm nas extremidades doscanos são esticados nos dois cordõesprincipais laterais do vinhedo eamarrados nos cordonetes internos dovinhedo (Figura 1C). O fio que passana parte superior central dos canos éesticado nos postes dos rabichos(Figura 1D).

Colocação e amarração delonas plásticas no vinhedoem latada

As lonas plásticas têm 2,7m delargura e devem ser compradas nocomprimento das fileiras do vinhedo,recomendando-se, contudo o com-primento máximo de 100m. Essas

Aceito para publicação em 7/6/11.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone: (49) 3566-0054, e-mail: [email protected].

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47Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Figura 1. (A) Fixação dos canos galvanizados com postes de madeira, acima do pontalete;(B) fios de arame que passam nas duas extremidades nos canos galvanizados; (C) fio quecorre nas extremidades dos canos amarrado no cordão principal perpendicular; e (D) fio dearame que corre na parte central dos canos amarrado no poste do rabicho

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(C) (D)

lonas já devem possuir os ilhoseslaterais, distanciados 0,5m entre si.Após a poda de inverno e antes doinício da brotação das videiras, deveser feita a colocação das lonas plásticasno vinhedo.

Em função de o sistema decondução latada possuir umaestrutura de distribuição de fioscruzados, inicia-se a colocação da lonaplástica a partir da metade da fileirado vinhedo (Figura 2A). Isso permiteuma maior facilidade de condução dalona plástica sobre os cordonetes quecorrem no sentido perpendicular dasfileiras (Figura 2B). O desdobramentoda lona é feito com cordas amarradasnos ilhoses e jogadas por cima do fioque corre na parte superior dos canosgalvanizados. À medida que a lona édesdobrada, realizam-se algumasamarrações dos ilhoses nos fiosesticados nas extremidades dos canosgalvanizados (Figura 2C). Esseprocedimento é feito para diminuir amovimentação da lona pelo vento. Nofinal da fileira se realiza o esticamentoe a amarração no poste do rabicho(Figura 2D).

Figura 2. (A) Desdobramento da lona na fileira no vinhedo; (B) lona plástica colocada sobreos cordonetes do sistema de condução; (C) amarração da lona nos fios que correm nasextremidades dos canos; e (D) lonas plásticas instaladas nas fileiras do vinhedo em latada

Após a colocação da lona,verificam-se todas as amarraçõesfeitas nos ilhoses, garantindo que osnós fiquem firmes e não sedesprendam, evitando a movi-mentação intensa da lona sobre asestruturas de canos galvanizados.Além desse cuidado, recomenda-secolocar uma faixa de 10cm de largura,de qualquer material plástico,

passando sob a lona, prensando-acontra os canos galvanizados. Essescuidados se fazem necessários paraaumentar a vida útil das lonasplásticas. Deve-se salientar que aslonas plásticas permanecem novinhedo até o final da colheita.

Após a colheita, o recolhimento dalona plástica do vinhedo se fazsoltando todas as amarrações dosilhoses com os cordões, retirando alona por cima dos canos galvanizadosem uma das laterais do vinhedo. Apósisso vem o redobramento e a lona éguardada em local coberto, seco e livreda presença de animais roedores.

Considerações finais

Para se ter melhores resultados naproteção vegetativa das videirascobertas com lonas plástica emsistemas de condução latada,recomenda-se que as gemas deixadasna planta após a poda de invernoestejam o mais próximas possível docentro das fileiras (Figura 3). Essaprática altera, em parte, a planta queé representada pelas raízes, caule, doisbraços principais opostos no sentidoda fileira e os cordões secundários, que

(A) (B)

(C) (D)

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48 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

são distribuídos lateralmente aoscordões principais. Esses cordõessecundários sofrem reduções detamanho e podem desaparecer daestrutura da planta, dependendo docultivar de uva. Dessa forma, abrotação se aproxima do centro dafileira com a renovação dos cordõessecundários por varas e esporões. Àmedida que os brotos crescem, sãoconduzidos e podados quandoatingirem as extremidades laterais dalona, ficando toda a vegetaçãoprotegida pela lona plástica. Assim, osbrotos podados, ao atingirem aextremidades das lonas, já possuemum número de folhas suficientes paraatender a demanda de fotoassimiladossem afetar os parâmetros quan-

Literatura citada

1. ANTONACCI, D. Comporta-mento produttivo di nove cultivardi uva da tavola coltivate inambiente protetto: Resultati di umdecennio di recerca. Vignevini, n.1-2, p.53-62, 1993.

titativos e qualitativos dos frutos nemo bom desenvolvimento da planta.

A adoção dessas tecnologias tornapossível o cultivo protegido porcobertura plástica em vinhedos comsistema latada e, juntamente comalterações da estrutura das plantas, acontribuição para a produção de uvascom menor uso de agrotóxicos, atémesmo sem a presença deles.

2. SANTOS, H.P. dos. Cultivo davideira em ambientes protegidos.I n: CONGRESSO LATINO--AMERICANO DE VITICUL-TURA E ENOLOGIA, 10., 2005,Bento Gonçalves. Anais... BentoGonçalves: Embrapa Uva e Vinho,2005. p.85-92.

3. SCHUCK, E. Efeitos daplasticultura na melhoria daqualidade de frutas de climatemperado. In: ENCONTRONACIONAL SOBRE FRUTI-CULTURA DE CLIMA TEM-PERADO, 5., Fraiburgo, 2002.Anais... Fraiburgo: SBF, 2002.p.203-213.

Figura 3. Crescimento vegetativo da Cabernet Sauvignon em vinhedo protegido com lonas plásticas (2o ano, época de primavera)

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49Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Introdução

O milho (Zea mays L.) apresentagrande importância socioeconômicaem Santa Catarina, principalmentepara produtores do Meio-Oeste eOeste do Estado, regiões que concen-tram o maior número de criatórios desuínos e aves. Na ano agrícola2008/09, a produção catarinense foi deaproximadamente 3,3 milhões detoneladas, com produtividade médiade 5,29t/ha (Cepa, 2010). Entre osfatores que podem reduzir orendimento da cultura do milho estãoas doenças foliares, das quais sedestacam as ferrugens e a manchabranca.

Essa mancha foliar conhecida pormancha branca também é conhecidapor pinta branca e vem se constituindonuma das principais doenças dacultura do milho por causa dafrequência e severidade com queincide nas lavouras, que temaumentado no Brasil a partir dadécada de 90. Ela está disseminada portodas as regiões produtoras de milho,agravando-se em semeaduras nosperíodos chuvosos. Em cultivaressuscetíveis, a mancha branca dasfolhas pode reduzir a produção emcerca de 60% devido à seca prematuradas folhas, afetando o tamanho e pesodos grãos (Casela et al., 2006). Acrescente severidade vem contribuin-do para a redução da produtividadede grãos na cultura do milho.

Etiologia da doença(indefinida)

A etiologia dessa doença é umtema controverso, devido a relatos devários agentes como causadores daenfermidade. Primeiramente, a doençafoi relatada como sendo a mancha de

Manejo da mancha branca na cultura do milhoJoão Américo Wordell Filho1

phaeosphaeria em função dasemelhança dos sintomas com aquelesdescritos por Rane et al. (1965), queatribui como patógeno o fungoPhaeosphaeria maydis (P. Henn.). Noentanto, trabalhos recentes sugeremque a mancha branca seja causada pelabactéria Pantoea ananatis (Serrano)Mergaert et al. (1993) (sin. Erwiniaananas) (Paccola-Meirelles et al., 2002).

Estudos iniciais sobre a interaçãoentre organismos ressaltam oenvolvimento da bactéria nos estádiosiniciais de infecção, e o fungo éassociado a lesões mais velhas. Aindanão existe consenso entre ospesquisadores sobre o agente causalou associação de organismoscausadores da mancha branca nacultura do milho.

Sintomatologia eepidemiologia da doença

Os sintomas da mancha brancacaracterizam-se pelo aparecimento delesões arredondadas, inicialmente

com aspecto de encharcamento/anasarca (Figura 1), de coloraçãoverde-esmaecida ou clorótica, quesurgem inicialmente nas folhasinferiores, passando para as folhassuperiores sob condições favoráveis.Essas manchas, de forma gradual,tornam-se de coloração amarelo--palha, variando de 0,5 a 1,5cm dediâmetro. Podem ocorrer também naspalhas externas das espigas e nasbainhas das folhas. Em condições dealtas temperaturas e umidade relativado ar, surgem pequenos pontos negrosno centro das lesões, que são asfrutificações do fungo Phaeosphaeriamaydis (Reis et al., 2004). Dependendoda suscetibilidade do híbrido/variedade e da severidade da doença,as folhas podem ficar com a área foliarcompletamente destruída pelacoalescência das lesões. Os danoscausados dependem do estádio dedesenvolvimento da planta no qualhouve a infecção, sendo mais severosapós o estádio de apendoamento (Reiset al., 2004).

Aceito para publicação em 17/5/11.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0615, e-mail:[email protected].

Figura 1. (A) Sintomas iniciais de infecção da mancha branca do milho; (B) folha de milho comlesões de coloração amarelo-palha, caracterizando estágios avançados da infecção da doença

(A) (B)

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50 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Dose Intervalo deDoença Ingrediente ativo (i.a.) (p.c. ou i.a.) segurança

(L/ha) (dias)Tebuconazole + Trifloxistrobina Triazol + Estrobilurina 0,75 200 + 100 SC 30Piraclostrobina Estrobilurina 0,6 250 CE 45Epoxiconazole + Piraclostrobina Triazol + Estrobilurina 0,75 50 + 133 SE 45Epoxiconazole + Piraclostrobina Triazol + Estrobilurina 0,7 a 1 62,5 + 85 SE 45Azoxistrobina + Ciproconazole Estrobilurina + Triazol 0,30 200 + 80 SC 42Propiconazole + Trifloxistrobina Triazol + Estrobilurina 0,8 125 + 125 CE 30Piraclostrobina + Epoxiconazole Estrobilurina + Triazol 0,7 a 1 85 + 62,5 SE 30Tiofanato Metílico Benzimidazol 0,8 a 1 500 SC 30

Grupoquímico

Concentração/formulação(1)

Silva & Menten (1997) relatam quetemperatura de 25 a 30°C, umidaderelativa do ar acima de 60% e baixaluminosidade são condiçõesfavoráveis ao desenvolvimento dadoença. Nas regiões com altitudeacima de 700m, onde normalmenteocorre maior formação de orvalho, adoença tem maior incidência.

Manejo da doença

Algumas práticas de controlepodem colaborar para diminuir oinóculo e os danos de P. ananatis, taiscomo: rotação de culturas por 2 a 3anos, com soja (Glycine max L.),girassol (Helianthus annuus L.) ousorgo (Sorghum bicolor L.), quereduzem o inoculo da doença (Caselaet al., 2006); eliminação de restosculturais; adubação equilibrada entrenitrogênio, fósforo e potássio, poisdoses crescentes de nitrogênio acimade 100kg/ha aumentam a incidênciada doença (Fantin et al., 1991). Costa(2001) também observou que aseveridade da mancha branca éafetada pela época de aplicação daadubação nitrogenada e ocorreaumento quando a aplicação donitrogênio é realizada após a emissãoda 12a folha (estádio V12). Outrasformas são: utilizar cultivaresresistentes, aplicar fungicidas (Tabela1) e evitar semeaduras tardias.Informações adicionais sobre aresistência de híbridos e variedadespodem ser encontradas na internet, nosite da Embrapa Milho e Sorgo(<http://www.cnpms.embrapa.br/milho/cultivares/TABELA2.html>).

Tabela 1. Fungicidas registrados para controle da mancha branca na cultura do milho do sistema de Agrotóxicos Fitossanitários

(1) CE = concentrado emulsionável; SE = suspo-emulsão; SC = solução concentrada.Fonte: Agrofit (2010).

Literatura citada

1. AGROFIT. Sistema de AgrotóxicosFitossanitários. Ministério daAgricultura, Pecuária eAbastecimento (Mapa). Disponívelem: <http://extranet.agricultura.g o v . b r / a g r o f i t _ c o n s /principal_agrofit_cons>. Acessoem: 12 jan. 2010.

2. CEPA. Centro de Socioeconomia ePlanejamento Agrícola. SínteseAnual da Agricultura de SantaCatarina: Milho – 2008/2009.Disponível em: <http://cepa.epagri.sc.gov.br/Publicacoes/sintese_2009/sintese_2009.pdf>.Acesso em: 12 jan. 2010.

3. CASELA, C.R.; FERREIRA, A. daS.; PINTO, N.F.J. de. Doenças nacultura do milho. Sete Lagoas:Embrapa Milho e Sorgo, 2006. 14p.(Embrapa Milho e Sorgo. CircularTécnica, 83).

4. COSTA, F.M.P. Severidade dePhaeosphaeria maydis e rendimentode grãos de milho. 2001. 110f.Dissertação (Mestrado emFitotecnia), Escola Superior deAgricultura Luiz de Queiroz,Universidade de São Paulo,Piracicaba, 2001.

5. FANTIN, G.M.; SAWAZAKI, E.;BARROS, B.C. Avaliação degenótipos de milho pipoca quantoà resistência a doenças e qualidadeda pipoca. Summa Phytopathologica,Jaboticabal, v.17, n.2, p.90-99, 1991.

6. MERGAERT, J.; VERDONCK, L.;KERSTERS, K. Transfer of Erwiniaananas (synonym, Erwiniauredovora) and Erwinia stuartii tothe genus Pantoea emend. asPantoea ananas (Serrano 1928)comb. nov. and Pantoea stewartii(Smith 1898) comb. nov.,respectively, and description ofPantoea stewartii subsp.indologenes subsp. nov. Intitute J.Syst. Bacteriology, v.43, p.162-173,1993.

7. PACCOLA-MEIRELLES, L.D.;MEIRELLES, W.F.; PARENTONI,S.N. et al. Reaction of maize inbredlines to the bacterium Pantoea ana-nas isolated form Phaeosphaerialeaf spot lesion. Crop Breeding andApplied Biotechnology, v.2, n.4,p.587-590, 2002.

8. RANE, M.S.; PAYAK, M.M.;RENFRO, B.L.A. Phaeosphaerialeaf spot of maize. IndiaPhytopathological Society, Bull, n.3,p.8-10, 1965.

9. REIS, E.M.; CASA, R.T.; BRESO-LIN, A.C.R. Manual de diagnose econtrole de doenças do milho. 2.ed.Lages: Graphel, 2004. 114p.

10. SILVA, H.P.; MENTEN, J.O.M.Manejo integrado de doenças nacultura do milho. In: FANCELLI,A.L.; DOURADO-NETO, D.Tecnologia da produção de milho.Piracicaba: Esalq, 1997. p.40-48.

Mancha branca(complexobactéria-fungo)

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51Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Introdução

O controle de plantas infestantesna videira, ou em quaisquer outrasculturas, existe desde que o homemcomeçou a cultivar plantas na buscade alimentos para o seu sustento.Inicialmente, o controle era feitomanualmente, através da monda dasplantas indesejáveis. Atualmente,existem novas e revolucionáriasformas de controle que auxiliammelhor o homem no controle dasplantas daninhas (Deuber, 1992).

Há muitas ações indesejáveiscausadas por plantas daninhas àcultura da videira. Entre elas estão a

Potencial alelopático de extratos de plantas daninhassobre o crescimento do porta-enxerto

de videira VR 043-43Jean Carlos Bettoni1, João Peterson Pereira Gardin2, Oclair Teles Rodrigues3,

Nelson Pires Feldberg4 e Marco Antonio Dalbó5

Resumo – Um experimento em condições de casa de vegetação foi instalado na Epagri/Estação Experimental de Videira,SC, com o objetivo de verificar o potencial alelopático de diferentes extratos de espécies de plantas daninhas sobre ocrescimento de estacas enraizadas do porta-enxerto de videira VR 043-43. O delineamento experimental adotado foiinteiramente casualizado, com 17 tratamentos e 4 repetições. Foram preparados extratos das partes aérea e radicular deoito espécies de plantas daninhas, os quais foram utilizados para regar, duas vezes por semana, as estacas enraizadas doporta-enxerto durante 45 dias. Após esse período, foram avaliadas as massas fresca e seca das raízes e as brotações,assim como o comprimento e o número médio de raízes das estacas. Os resultados obtidos indicam que os extratos dasespécies de plantas daninhas estudadas apresentam efeitos alelopáticos positivos sobre o crescimento do porta-enxertoVR 043-43.

Termos para indexação: Viticultura, aleloquímicos, competição.

Allelopathic potential of weed extracts on the growth of grapevine rootstock VR 043-43

Abstract – A greenhouse experiment was set up at Epagri’s Experiment Station in Videira, SC, Brazil, with the aim ofverifying the allelopathic potential of extracts obtained from different weed species on the growth of established cuttingsof the VR 043-43 grapevine rootstock. The experimental design was completely randomized, with 17 treatments andfour replications. Extracts prepared from both aerial parts and roots of eight weed species were used to irrigate therooting rootstock cuttings twice a week for 45 days. After this period, fresh and dry weights of roots and shoots lengthand average number of roots from cuttings were evaluated. Results indicated that the extracts from the weed speciesstudied show positive allelopathic effects on the growth of VR 043-43 rootstock.

Index terms: Viticulture, allelochemicals, competition.

Aceito para publicação em 16/5/11.1 Eng.-agr., Uniarp, Rua Beijamim Graziotin, 54, Bairro Alvorada, 89560-000 Videira, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone: (49) 3566-0054, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Uniguaçu, Rua João Zardo, 1.660, Bairro Campo Experimental, 89560-000 Videira, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Me., Epagri/Estação Experimental de Videira, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Videira, e-mail: [email protected].

competição por espaço e nutrientes dosolo e a produção de aleloquímicosque podem diminuir conside-ravelmente a produção (Lorenzi,2000).

A alelopatia é considerada umaação indireta de uma planta sobreoutra, compreendida atualmentecomo uma ampla gama de interaçõesbioquímicas, por meio da liberação desubstâncias no ambiente onde osorganismos estão presentes (Deffune,2000; Rice, 1984). As plantas vivas ouos restos vegetais liberam no solosubstâncias originárias de raízes oufolhas, principalmente. Essassustâncias podem ser inibidoras,

estimulantes ou inócuas/neutras paraoutras espécies vegetais vivas. O efeitopode ocorrer tanto no sentido daplanta daninha para a planta cultivadaquanto da planta cultivada para adaninha (Deuber, 1992).

Segundo Maia (2003), há espéciesvoluntárias menos competitivas quepodem ser admitidas nas áreas, umavez que podem ajudar na reciclagemde nutrientes, promover a coberturado solo e diminuir a erosão, além deservir como nichos para inimigosnaturais das pragas. Também existemespécies voluntárias que sãoextremamente competitivas e sedisseminam muito rápido, como é o

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52 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

caso da grama-seda (Cynodon dactylonL.) e da corda-de-viola (Ipomoea sp.).

A cobertura com vegetação é umaprática muito utilizada em sistemasconservacionistas de manejo do solo.No entanto, a vegetação que surgeespontaneamente exerce concorrênciacom a videira, não sendo reco-mendável em locais onde adisponibilidade de água e nutrientesseja limitada. O manejo da coberturados solos em vinhedos deve ter porobjetivos manter a fertilidade do soloe a disponibilidade de água, além deevitar a erosão, levando emconsideração todas as práticas quevisem à manutenção da matériaorgânica no solo do vinhedo(Giovannini, 1999).

Pires & Martins (2003) citam quehá concorrência em vinhedos onde avegetação natural é mantida e, emsolos permanentemente limpos, avideira apresenta melhor desen-volvimento por ficar livre,principalmente da competição porágua e nutrientes, apesar de os solosficarem mais sujeitos aos efeitosdanosos da erosão.

As plantas daninhas, tambémchamadas de plantas espontâneas ouinfestantes, podem liberar alelo-químicos para a videira, produzindomudanças nas funções fisiológicas,como respiração, fotossíntese eabsorção de íons. Essas mudançasresultam em alterações visíveis naredução e no desenvolvimento dasplantas (Oliveira Jr. & Constantin,2001).

O objetivo deste trabalho foiverificar o efeito alelopático dediferentes extratos de espécies deplantas daninhas sobre o crescimentode estacas enraizadas do porta-enxertoVR 043-43 (Vitis rotundifolia x Vitisvinifera).

Material e métodos

O experimento foi desenvolvidoem casa de vegetação, instalado em 12de janeiro de 2010, com avaliação em10 de maio de 2010, na EstaçãoExperimental da Epagri, localizada no

município de Videira, SC, situado noVale do Rio do Peixe, a 27o00’30"latitude sul e a 51o09’06" longitudeoeste, com altitude de 750 metros.

• Coleta, preparo e enraiza-mentodas estacas do porta-enxerto VR 043-43 – Ramos herbáceos foram coletadosno matrizeiro da própria EstaçãoExperimental no mês de janeiro. Apósa coleta, foram preparadas estacas deaproximadamente 16cm de com-primento e 6 ± 1mm de diâmetro. Nabase de cada estaca foi realizado umcorte transversal de 0,5cm abaixo daúltima gema, e duas lesões (em sentidolongitudinal), de aproximadamente2cm de comprimento, com o objetivode romper a camada correspondenteà epiderme e, consequentemente,expor o tecido meristemáticoformador de raízes adventícias(periciclo). Já no ápice delas foramfeitos cortes em bisel, 3cm acima daúltima gema, deixando-se uma folhaoriunda da última gema, a qual foicortada pela metade para diminuir aárea de transpiração, reduzir a perdade água da folha e facilitar o manejo.Essas estacas foram imersas por 10sem solução de ácido indolbutírico(AIB) na concentração de 1.000mg/Le, em seguida, colocadas em leito deareia até a formação de calos, dentrode casa de vegetação, com irrigaçãopor microaspersão intermitente ligadapor 10s, a intervalos regulares de15min.

As estacas que apresentaramprimórdios radiculares foram usadasno experimento (as demais foramdescartadas), as quais foramtransplantadas para vasos plásticospreenchidos com areia lavada, comquatro estacas por vaso.

Os vasos permaneceram emaclimatação durante 15 dias, em casade vegetação, com as característicasanteriormente citadas, e transferidospara uma casa de vegetação comcontrole de temperatura (res-friamento) e irrigação por nebu-lização.

Para a preparação do extratoaquoso das espécies foram utilizados500g da parte aérea ou 500g da parte

radicular de cada espécie, cada qualtriturada separadamente emliquidificador industrial por 5min,juntamente com 2L de água,compondo, assim, 16 tipos de extratos.Posteriormente, os extratos forampeneirados e o líquido foiacondicionado em recipientes comcapacidade de 55ml, os quais foramcongelados.

Foram feitos extratos aquosos daparte aérea e da radicular das oitoespécies a seguir: língua-de-vaca(Rumex sp.), papuã (Brachiariaplantaginea), caruru (Amaranthus spp.),grama-seda (Cynodon dactylon L.),leiteiro (Euphorbia heterophylla),guanxuma (Sida rhombifolia L.), picão--preto (Bidens pilosa L.) e corda-de--viola (Ipomoea sp.).

Preparo dos tratamentos – Cadatratamento foi preparado contendo110ml do extrato aquoso radicular oude parte aérea + 1,5ml de soluçãofertilizante contendo NPK (nitrogênio4%, fósforo 4%, potássio 12%) +micronutrientes (boro 0,03%, cobre0,05%, manganês 0,04%, molibdênio0,005%, zinco 0,1%) + 388,5ml de água,totalizando 500ml. A testemunhacontinha a solução nutritiva somente,e o seu volume foi elevado para 500mlcom água. Foi realizada a medição dospotenciais hidrogênio-iônicos (pH) decada solução, corrigindo-os para afaixa entre 6 e 7. Cada tratamento foiaplicado nos vasos duas vezes porsemana durante 75 dias.

Assim, o delineamento expe-rimental adotado foi inteiramentecasualizado, constituído por 17tratamentos (8 espécies x 2 partes daplanta + testemunha), com quatrorepetições (vasos) com quatro estacas,totalizando 16 estacas por tratamento.As variáveis analisadas neste trabalhoforam: número e comprimento médiodas raízes, as massas fresca e seca dasraízes, as massas fresca e seca dasbrotações.

Os dados foram submetidos àanálise de variância e as médias dostratamentos foram comparadas peloteste de Tukey a 5% de probabilidade

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53Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

de erro, com o auxílio do software R(R Development Core Team, 2010).

Resultados e discussão

O crescimento das estacas doporta-enxerto VR 043-43 diferiusignificativamente da testemunhaapenas em dois dos 17 tratamentostestados: Rumex sp. parte aérea eBrachiaria plantaginea parte aérea, osquais proporcionaram aumento nonúmero de raízes e na massa fresca debrotação, respectivamente.

Quando considerada a espéciecomo um todo (Tabelas 1 e 2), a parteaérea juntamente com o sistemaradicular, o que ocorre normalmenteem campo quando as plantas sãocultivadas, verificou-se que aBrachiaria plantaginea aumentou amassa fresca de brotação do porta--enxerto VR 043-43, e as demaisespécies em estudo não apresentaramdiferença significativa para essavariável. Para a variável númeromédio de raízes não ocorreu diferençasignificativa dos extratos testadossobre a testemunha (Figura 1), porémquando se comparam as espécies entresi, verifica-se que a aplicação dosextratos de Rumex sp. gerou umaumento no número de raízes (Figura2) quando confrontada com os extratosde Brachiaria plantaginea, Amaranthusspp. e Sida rhombifolia L. Para asvariáveis massa fresca de raiz, massaseca de raiz, massa seca de brotação ecomprimento de raízes nenhum dosextratos das plantas testadasapresentou efeito significativo(Tabelas 1, 2, 3 e 4).

Quando a espécie é desmembrada(Tabelas 3 e 4) em parte aérea e sistemaradicular, verifica-se que nenhumefeito inibidor ou prejudicialsignificativo foi detectado sobre asplantas, quando aplicados os 16 tiposde extratos.

Para a variável massa fresca debrotação (Tabela 3) verifica-seinfluência entre os tratamentos.Quando é aplicado o extrato da parteaérea da Brachiaria plantaginea, ocorreum aumento de 5,67g de brotação em

Massa fresca Massa fresca Médiade raiz de brotação de raízes

..........................g.......................... No

Testemunha 13,27 a(1) 3,98 b 23,92 abAmaranthus spp. 16,22 a 5,18 ab 20,83 bIpomoea sp. 14,51 a 5,33 ab 22,90 abCynodon dactylon L. 15,93 a 5,80 ab 25,38 abSida rhombifolia L. 12,01 a 4,23 b 19,51 bEuphorbia heterophylla 13,71 a 6,65 ab 23,04 abRumex sp. 16,71 a 7,60 ab 27,63 aBrachiaria plantaginea 16,07 a 8,13 a 21,50 bBidens pilosa L. 17,09 a 6,75 ab 23,54 abCV(%) 23,78 36,99 15,08

Tabela 1. Massa fresca de raiz, massa fresca de brotação e número médio de raízes por estacado porta-enxerto de videira VR 043-43 em função dos tratamentos com extratos dasdiferentes espécies testadas. Videira, SC, 2010

(1) Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a5% de probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.

Massa seca Massa seca Comprimento de raiz de brotação médio.........................g......................... cm

Testemunha 1,07 a(1) 1,34 a 16,02 aAmaranthus spp. 1,35 a 1,74 a 17,98 aIpomoea sp. 1,21 a 1,72 a 19,73 aCynodon dactylon L. 1,34 a 1,85 a 18,04 aSida rhombifolia L. 0,97 a 1,54 a 18,25 aEuphorbia heterophylla 1,39 a 1,96 a 16,32 aRumex sp. 1,32 a 2,13 a 17,87 aBrachiaria plantaginea 1,13 a 1,90 a 16,91 aBidens pilosa L. 1,37 a 1,94 a 18,60 aCV (%) 37,97 30,75 17,15

Tabela 2. Massa seca de raiz, massa seca de brotação e número médio de raízes por estaca doporta-enxerto de videira VR 043-43 em função dos tratamentos com extratos das diferentesespécies testadas. Videira, SC, 2010

(1) Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a5% de probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.

relação à testemunha (Figura 1).Quando confrontados os tratamentos,verifica-se que o extrato da parte aéreada Brachiaria plantaginea (Figura 3) foisuperior aos extratos do sistemaradicular do Amaranthus spp., Ipomoeasp. e Sida rhombifolia L.

Para a variável número médio deraízes, quando se compara atestemunha contra os demaistratamentos, observa-se que apenasum dos extratos diferiu. O extrato daparte aérea da Rumex sp. (Tabela 3)influenciou positivamente sobre aquantidade de raízes do porta-enxertoVR 043-43 (Figura 2) e proporcionou

aumento médio de 8,39 raízes, quandocomparado com a testemunha.Quando comparado com os demaistratamentos, mostra-se superior aosextratos do sistema radicular doAmaranthus spp., Ipomoea sp., Sidarhombifolia L., Euphorbia heterophylla,Rumex sp., Brachiaria plantaginea, e aostratamentos com extrato da parteaérea do Amaranthus spp., Ipomoea sp.,Sida rhombifolia L., Euphorbiaheterophylla, Brachiaria plantaginea eBidens pilosa L. Com base nosresultados encontrados, pode-seafirmar que componentes alelopáticospodem ser encontrados em partesdistintas da planta, ratificando os

Espécie

Espécie

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Massa fresca Massa fresca Médiade raiz de brotação de raízes

.........................g........................ No

Testemunha 13,26 a(1) 3,98 bc 23,92 bcAmaranthus spp. parte aérea 17,94 a 6,49 abc 19,13 cAmaranthus spp. raiz 14,50 a 3,87 bc 22,54 bcIpomoea sp. parte aérea 16,68 a 6,50 abc 21,77 bcIpomoea sp. raiz 12,34 a 4,17 bc 24,02 bcCynodon dactylon L. parte aérea 18,03 a 6,51 abc 25,25 abcCynodon dactylon L. raiz 13,84 a 5,09 abc 25,52 abcSida rhombifolia L. parte aérea 12,99 a 5,09 abc 20,27 bcSida rhombifolia L. raiz 11,05 a 3,36 c 18,75 cEuphorbia heterophylla parte aérea 13,63 a 7,62 abc 24,17 bcEuphorbia heterophylla raiz 13,79 a 5,69 abc 21,92 bcRumex sp. parte aérea 18,51 a 8,83 ab 32,31 aRumex sp. raiz 14,91 a 6,44 abc 22,96 bcBrachiaria plantaginea parte aérea 17,63 a 9,65 a 23,64 bcBrachiaria plantaginea raiz 14,50 a 6,60 abc 19,36 bcBidens pilosa L. parte aérea 14,88 a 6,25 abc 20,79 bcBidens pilosa L. raiz 19,30 a 7,26 abc 26,29 abCV (%) 22,21 34,50 12,06

Tabela 3. Massa fresca de raiz, massa fresca de brotação e número médio de raízes porestaca do porta-enxerto de videira VR 043-43 (Vitis rotundifolia x Vitis vinifera) em funçãodos tratamentos com extratos das diferentes partes das espécies testadas. Videira, SC, 2010

(1) Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a5% de probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.

Massa seca Massa seca Comprimento de raiz de brotação médio

.......................g....................... cmTestemunha 1,08 a(1) 1,40 a 16,02 aAmaranthus spp. parte aérea 1,33 a 2,05 a 19,19 aAmaranthus spp. raiz 1,38 a 1,43 a 16,78 aIpomoea sp. parte aérea 1,43 a 1,93 a 22,61 aIpomoea sp. raiz 1,00 a 1,53 a 16,85 aCynodon dactylon L. parte aérea 1,53 a 1,93 a 17,55 aCynodon dactylon L. raiz 1,15 a 1,78 a 18,54 aSida rhombifolia L. parte aérea 1,18 a 1,65 a 18,55 aSida rhombifolia L. raiz 0,77 a 1,43 a 17,95 aEuphorbia heterophylla parte aérea 1,73 a 2,10 a 16,34 aEuphorbia heterophylla raiz 1,05 a 1,83 a 16,30 aRumex sp. parte aérea 1,68 a 2,53 a 18,03 aRumex sp. raiz 0,97 a 1,73 a 17,72 aBrachiaria plantaginea parte aérea 1,07 a 1,83 a 16,99 aBrachiaria plantaginea raiz 1,20 a 1,98 a 16,83 aBidens pilosa L. parte aérea 1,18 a 1,83 a 16,50 aBidens pilosa L. raiz 1,58 a 2,05 a 20,71 aCV (%) 35,47 30,47 16,39

Tabela 4. Massa seca de raiz, massa seca de brotação e comprimento médio de raízes porestaca do porta-enxerto de videira VR 043-43 (Vitis rotundifolia x Vitis vinifera) em função dostratamentos com extratos das diferentes partes das espécies testadas. Videira, SC, 2010

(1) Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a5% de probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.

resultados encontrados por Nunes etal. (2002) e Deuber (1992).

Como o estudo foi realizado emcondições controladas (casa devegetação), torna-se importanterealizar um estudo em condições decampo para verificar e validar essesefeitos das plantas infestantes sobre ocrescimento do porta-enxerto VR 043-43. Mas, segundo Andrade et al.(2009), o processo para verificar queextratos de plantas têm efeitoalelopático não sinaliza mais do que apresença de aleloquímicos no materialvegetal, não podendo demonstrarinterferência em condições de campo.

De acordo com Tokura & Nóbrega(2006), o incremento de plantasdaninhas em área de produção causainfluência sobre as plantas cultivadas,interferindo na produção e naqualidade do produto final. Deuber(1992) reforça que essa influência podeser das plantas cultivadas sobre asplantas daninhas, ou vice-versa.

A produção de substânciasalelopáticas pelas plantas deve sermais bem estudada, permitindo aidentificação de compostos que atuamnesse processo, tornando essa umaferramenta de manejo e umaalternativa na diminuição e utilizaçãode herbicidas e inseticidas,ocasionando redução no custo deprodução e possível melhoriaambiental.

Conclusões

• Os 16 tipos de extratos nãoapresentaram efeito inibidor sobre asestacas do porta-enxerto VR 043-43.

• A aplicação de extratos da parteaérea da Rumex sp. aumenta o númerode raízes das estacas do porta-enxertoVR 043-43.

• A aplicação de extratos da parteaérea da Brachiaria plantaginea geraaumento da massa fresca de brotaçãodo porta-enxerto VR 043-43.

Tratamento

Tratamento

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55Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Figura 1. Estaca do porta-enxertoVR 043-43 (Vitis rotundifolia x Vitis vinifera)sem tratamento com extratos(testemunha)

Figura 2. Estaca do porta-enxertoVR 043-43 (Vitis rotundifolia x Vitis vinifera)tratada com extrato da parte aérea delíngua-de-vaca (Rumex sp.)

Figura 3. Estaca do porta-enxertoVR 043-43 (Vitis rotundifolia x Vitis vinifera)tratada com extratos da parte aérea dopapuã (Brachiaria plantaginea)

Literatura citada

1. ANDRADE, H.M.; BITTEN-COURT, A.H.C.; VESTENA, S.Potencial alelopático de Cyperusrotundus L. sobre espéciescultivadas. Ciência e Agrotecnologia,Lavras, v.33, Edição Especial,p.1984-1990, 2009.

2. DEFFUNE, G. AllelopathicInfluences of Organic and Bio-Dynamic Treatments on Yield andQuality of Wheat and Potatoes. Ph.D.Thesis. Wye College, University ofLondon, 2000, 540p.

3. DEUBER, R. Ciência das plantasdaninhas: Fundamentos. v.1.Jaboticabal, SP: Funep, 1992. 431p.

Agradecimentos

À Fapeg, Fundação de Apoio àPesquisa Edmundo Gastal, pelaconcessão da bolsa de estudo, e àEpagri, Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural deSanta Catarina, Estação Experimentalde Videira, pelo suporte técnico.

4. GIOVANNINI, E. Produção de uvaspara vinho, suco e mesa . PortoAlegre: Renascença, 1999. 364p.

5. LORENZI, H. Plantas daninhas doBrasil : terrestres, aquáticas,parasitas e tóxicas. 3.ed., NovaOdessa, SP: Plantarum, 2000. 608p.

6. MAIA, J.D.G. Cultivo da videiraniágara rosada em regiões tropicais doBrasil: Manejo de plantas daninhas.Versão eletrônica, nov. 2003.(Embrapa Uva e Vinho. Sistema deProdução, 5). Disponível em:<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/ U v a / U v a N i a g a r a R o s a d aRegioesTropicais/manejo.htm>.Acesso em: 5 jun. 2010.

7. NUNES, M.U.C.; CARVALHO,L.M.; NETTO, J.B.A.A. Alelopatia:Ferramenta importante no manejode sistemas agrícolas de produção.Aracaju: Embrapa TabuleirosCosteiros, 2002. (Embrapa-CPATC.Circular Técnica, 28).

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9. PIRES, E.J.P.; MARTINS, F.P.Técnicas de cultivo. In: POMMER,C.V. (Ed.). Uva: Tecnologia deprodução, pós-colheita, mercado.Porto Alegre: Cinco Continentes,2003. p.351-403.

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Introdução

A micropropagação in vitro temsido amplamente utilizada namultiplicação de várias espéciesvegetais, incluindo a macieira.Entretanto, sua utilização estálimitada pela perda de plantas apóssua transferência para o ex vitro(Pospísilová et al., 1999). Esse tem sidoo maior ponto de estrangulamento na

Aclimatização do porta-enxerto de macieiraSeleção 69 em diferentes meios

Aleksander Westphal Muniz1, Fernanda Grimaldi2, Murilo Dalla Costa3 e Gilberto Luiz Dalagnol4

Resumo – A fase de aclimatização é um dos fatores limitantes para a grande maioria das plantas micropropagadasdevido às perdas decorrentes de estômatos inoperantes e à inatividade da fotossíntese. Um dos fatores mais importantesdurante a aclimatização é a escolha do substrato ideal. O objetivo deste trabalho foi determinar os melhores substratospara aclimatização do porta-enxerto micropropagado de macieira Seleção 69. O delineamento experimental utilizadofoi o completamente casualizado, com sete repetições. Os explantes do porta-enxerto de macieira foram transferidospara bandejas alveoladas com 128 células e aclimatizados em substratos com diferentes misturas de Plantmax, casca dearroz carbonizada e areia. A irrigação por nebulização foi realizada diariamente. Após 30 dias foi realizada a avaliaçãoda matéria seca aérea e radicular. Os resultados obtidos foram analisados pela análise de variância e pela comparaçãode médias pelo método Scott-Knott. Nas condições desse experimento, os melhores substratos para aclimatização foramT1 (Plantmax 100%), T2 (Plantmax 80% + casca de arroz carbonizada 20%) e T6 (Plantmax 40% + casca de arrozcarbonizada 30% + areia média 30%), tanto para a produção de matéria seca da parte aérea quanto radicular. Devido aomaior espaço de aeração, sugerem-se os substratos T1 e T6. Além disso, esses substratos apresentam macro- emicronutrientes em quantidades suficientes para o bom desenvolvimento das plantas de macieira micropropagadas.

Termos para indexação: micropropagação, substrato, Pyrus malus.

Acclimatization of micropropagated apple rootstock Seleção 69 in different substrates

Abstract – The stage of acclimatization is a limiting factor for most micropropagated plants due to losses of inoperativestomata and inactivity of photosynthesis. One of the most important factors during acclimatization is the ideal choice ofsubstrate. Therefore, the objective of this study was to determine the best substrates for acclimatization of themicropropagated apple rootstock Seleção 69. To evaluate the best substrate, a completely randomized design with sevenreplications was used. The explants of micropropagated apple rootstock S69 were transferred to trays with 128 cells.These explants were planted on substrates with different mixtures of Plantmax, rice hulls and sand. Spray irrigationwas performed daily. After 30 days the evaluation of the root and shoot dry matter was realized. The results wereanalyzed by variance and Scott-Knott’s test of means. Results showed that the best substrate for acclimatization were T1,T2 and T3, which presented shoot dry matter of 4.80, 4.14 and 5.03mg per plant, respectively. For roots the best drymatter production was obtained by substrates T1, T2, T5 and T6, with 0.96, 0.95, 1.23 and 1.39mg per plant,respectively. Considering both the shoot and the root dry matter, it can be concluded that the best substrates were T1, T2and T6. However, substrates T1 and T6 must be selected for presenting the best physical and chemical characteristics.

Index terms: micropropagation, Pyrus malus, substrate.

Aceito para publicação em 13/6/11.1 Eng.-agr., Dr., Embrapa Amazônia Ocidental, C.P. 319, 69010-970 Manaus, AM, fone: (92) 3303-7800, e-mail: [email protected] Bióloga, M.Sc., e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: [email protected].

micropropagação de muitas espécies(Hazarika, 2003).

Durante o processo de cultivo invitro, as plantas crescem sob baixosníveis de luminosidade, condiçãoasséptica e alta umidade relativa doambiente. Além disso, os meios decultura fornecem os açúcares enutrientes suficientes para o seudesenvolvimento em condiçõesheterotróficas (Hazarika, 2003). Tal

processo pode determinar anomaliasmorfológicas e fisiológicas, comoestômatos não funcionais ediminuição da fotossíntese,respectivamente (Rogalski et. al.,2003). Dessa forma, as plantasapresentam dificuldades desobrevivência quando colocadasdiretamente na casa de vegetação ouno campo. Assim, as plantas devempassar gradualmente da condição in

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Substrato (T) Plantmax CAC AM ............................................%..............................................

T1 100 - -T2 80 20 -T3 70 20 10T4 60 30 10T5 50 30 20T6 40 30 30

Tabela 1. Composição dos substratos

vitro para a condição ex vitro. Talprocesso gradual denomina-seaclimatização.

Para a sobrevivência das mudasdurante a aclimatização, faz-senecessário aumentar os teores deumidade e diminuir a luminosidadedo ambiente. Além disso, durante esseprocesso, deve-se obter a formação denovas raízes. A obtenção dessas raízesdeve ocorrer em substratos porososcom características físicas e químicasadequadas ao desenvolvimento daespécie (Pedrotti & Voltolini, 2001).Desse modo, a planta apresentará umdesenvolvimento morfofisiológicoadequado referente à transpiração,condutância estomática e fotossíntese(Vantelgen et al., 1992; Díaz-Pérez etal., 1995).

Assim, o objetivo deste trabalho foia aclimatização do porta-enxertomicropropagado Seleção 69 emdiferentes substratos.

Material e métodos

O substrato comercial utilizado noprocesso de aclimatização foi oPlantmax HT. Os condicionadoresusados na elaboração das misturasforam areia média (AM) e casca dearroz carbonizada (CAC). Ostratamentos consistiram na mistura dosubstrato comercial com oscondicionadores areia e casca de arrozcarbonizada, conforme a Tabela 1. Odelineamento experimental adotadofoi o completamente casualizado, comsete repetições. Cada parcela foicomposta de oito plantas. Acaracterização física dos substratos foirealizada conforme Kämpf & Fermino(2000). Já a caracterização química foi

realizada no laboratório de nutriçãovegetal da Epagri/Estação Expe-rimental de Caçador conforme asnormas da Rolas (Rede Oficial deLaboratórios de Análise de Solo e deTecido Vegetal dos Estados do RioGrande do Sul e de Santa Catarina).

As plantas do porta-enxertoSeleção 69 (S69) foram transferidas docultivo in vitro para bandejas de isoporalveoladas com 128 células contendoos diferentes substratos. Essasbandejas foram alocadas em túneisplásticos de aclimatização comnebulização. A nebulização foirealizada em dois turnos: o primeiroa cada hora por 1 minuto, e o segundoa cada 1,5 hora por 1 minuto. Oprimeiro turno foi utilizado durante aprimeira semana, enquanto o segundofoi utilizado nas três semanassubsequentes. O experimento foirealizado com seis substratos, e foiavaliada a produção de matéria secada parte aérea e das raízes do porta--enxerto micropropagado.

Os resultados foram submetidos àanálise de variância e, para asvariáveis com efeito de substratossignificativo (p < 0,05), as médiasforam comparadas pelo teste de Scott--Knott (α = 0,05). A análise estatísticafoi realizada com o auxílio doprograma Assistat 7.5.

O experimento foi conduzido naunidade de aclimatização da Epagri/Estação Experimental de Lages, SC. Oexperimento foi instalado no dia 10/11/2004 e avaliado no dia 9/12/2004.

Resultados e discussão

A caracterização física dossubstratos revelou que somente os

substratos T1 e T6 apresentaramporosidade total ideal entre 75% e 90%(Verdonck & Gabriels, 1988; Lemaire,1995; Kämpf, 2002). Esses valores deporosidade permitem a manutençãode um conteúdo maior de águadurante o cultivo das plantas emsubstratos. Em termos de densidadeseca os substratos T1, T2 e T6apresentaram valores menores do queo ideal entre 400 e 500g/L (Bunt, 1973).Entretanto, a densidade seca apresentarelação inversamente proporcionalcom a porosidade. Dessa forma, àmedida que a densidade aumenta,ocorre uma restrição no crescimentoradicular vegetal (Singh & Sinju, 1998).Por sua vez, o espaço de aeração dossubstratos T1, T2 e T6 foramsuperiores ao valor considerado ideal,de 30%, em horticultura(Penningsfeld, 1983). Todavia, essevalor de espaço de aeração se aplicaem sistemas de produção de mudascom irrigação esporádica, onde ovolume de ar existente no substrato édependente de seu teor e suacapacidade de retenção de água(Kämpf, 2002). E, ainda, os substratosT1, T2 e T6 apresentaram valores decapacidade de campo próximos aosvalores sugeridos por De Boodt &Verdonck (1972) e por Kämpf (2002),os quais variam entre 24% e 40%.

A caracterização química dossubstratos T1, T2 e T6 resultou emvalores de macronutrientes diferentesdos recomendados para as ne-cessidades da cultura da maçã (Tabela2). Os valores de nitrogênio (8,40, 8,20e 2,90g/kg) apresentados por T1, T2 eT6 foram menores que arecomendação mínima de 23g/kg,sugerida por Malavolta et al. (1997).O substrato T1 com valor de 3,60apresentou disponibilidade de fósforomaior que a máxima recomendada de2,5g/kg, enquanto os substratos T2 eT6, com 1,60 e 1,20g/kg res-pectivamente apresentaram valoresinferiores ao mínimo recomen-dado,de 2g/kg. Em termos de potássio, ossubstratos T1, T2 e T6, com valores4,40, 2,80 e 1,60g/kg respectivamenteapresentaram valores abaixo doNota: CAC = casca de arroz carbonizada; AM = areia média.

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58 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Tratamento DU MS DS EP Sd DA PA PT CapV CapV EA g/L % g/L % % g/cm3 g % g % %

T1 60,8 60,4 36,72 54 46 0,48 230 95,8 80 33,33 62,47T2 50,6 61,7 31,22 58 42 0,53 135 58,69 85 36,95 21,74T3 66,1 76,28 50,4 56 44 0,76 200 86,95 110 47,82 39,13T4 65,1 74,26 48,34 58 42 0,63 210 91 100 43,47 47,53T5 67,04 78,37 52,54 60 40 0,7 210 95 90 40,9 54,1T6 76,8 84,55 64,93 56 44 0,88 195 84,78 95 41,3 43,48

Tabela 2. Caracterização física dos substratos

Nota: DU = densidade úmida; MS = matéria seca; DS = densidade seca; EP = espaço poroso; Sd = sólido; DA = densidade atual; PA = peso daágua; PT = Porosidade Total; CapV = retenção de água na capacidade de vaso; EA = espaço de aeração na capacidade de vaso.

Tabela 3. Caracterização química dos substratos

Substrato N P K Ca Mg Fe Mn Zn Cu B C.....................................g/kg............................................ ....................................mg/kg............................ %

T1 8,4 3,6 4,4 12 18 4.978 250 72 52 27 26,1T2 8,2 1,6 2,8 10,2 16 4.860 224 70 56 31 28,8T3 5,1 2 2,4 6 11,2 4.632 194 40 48 21 12,8T4 4,7 3,6 2,4 4,8 10,2 4.534 162 68 76 15 16,2T5 3,7 1,6 2 4 8 4.402 140 42 54 11 13,1T6 2,9 1,2 1,6 3,2 6,2 4.330 118 40 72 11 7Ideal 23 a 25 2 a 2,5 15 a 20 14 a 20 2 a 4 100 a 200 50 a 100 20 a 30 5 a 10 30 a 65 >25

Nota: Valores recomendados de N, P, K, Ca, Mg, Fe, Mg, Zn, Cu e B conforme Malavolta et al. (1997) e porcentagem de C conforme Schmitz etal. (2002).

Substrato (T) MSPA MSPR ............mg/planta...........

T1 4,80 a(1) 0,96 aT2 4,14 a 0,95 aT3 1,19 b 0,38 bT4 1,56 b 0,32 bT5 2,89 b 1,23 aT6 5,03 a 1,39 a

Tabela 4. Matéria seca produzida de porta-enxertosmicropropagados de macieira Seleção S69 em diferentessubstratos

(1) Médias com a mesma letra não diferem estatisticamentepelo teste Scott-Knott (α = 0,05).Nota: MSPA = matéria seca da parte aérea; MSPR = matériaseca das raízes.

mínimo recomendado de 15g/kg. Porsua vez, os valores de cálcio de T1, T2e T6 (12, 10,20 e 3,20g/kg) tambémforam inferiores ao mínimorecomendado de 14g/kg. Já para omagnésio, os substratos T1, T2 e T6apresentaram respectivamentevalores de 18, 16, e 6,20g/kg,superiores ao máximo recomendadode 4g/kg.

A caracterização química dossubstratos T1, T2 e T6 revelou queteores dos micronutrientes (Fe, Zn, Mne Cu) estavam acima do máximorecomendado para a cultura damacieira, ao passo que o teor de borodesses substratos ficou abaixo domínimo recomendado (Tabela 3).

Conforme a matéria seca da parteaérea (MSPA) do porta-enxerto damacieira Seleção S69, a interpretaçãodos resultados indicou que ossubstratos podem ser separados emdois grupos distintos (Tabela 4). Ogrupo I (T1, T2 e T6) apresentou umaprodução de matéria seca da parteaérea maior que o grupo II (T3, T4, T5)

com 4,14 a 5,03mg e 1,19 a 2,89mg,respectivamente. A maior massa dematéria seca da parte aérea obtida nogrupo I foi similar aos resultadosobservados em outros trabalhos deaclimatização de porta-enxertos demacieira M9 e Marubakaido,aclimatizados em substrato Plantmax(Pedrotti & Voltolini, 2001; Hoffmannet al., 2001). O substrato Plantmaxtambém permitiu bons desempenhosna produção de matéria secada parte aérea em porta-enxertos de videira (Zemkeet al., 2003).

Com relação à produçãode matéria seca das raízes(MSPR) dos porta-enxertosde macieira Seleção S69, ossubstratos também podemser separados em doisgrupos diferentes (Tabela 4).O grupo I (T1, T2, T5 e T6)produziu entre 0,95 e1,39mg de matéria secaradicular e foi superior aogrupo II (T3 e T4), que

produziu entre 0,32 e 0,38mg. Aprodução de matéria seca radicularobtida nos substratos do grupo Icorresponde às observações realizadaspor Hoffmann et al. (2001), Zemke etal. (2003) e Villa et al. (2006) naaclimatização de outros porta-enxertos de macieira, pereira, videirae amoreira-preta.

Considerando tanto a produção dematéria seca da parte aérea quanto

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radicular dos porta-enxertos demacieira Seleção S69, o melhordesempenho foi obtido nos substratosT1, T2 e T6, possivelmente porqueesses substratos apresentaramcaracterísticas químicas e físicas quepermitiram a aclimatização noperíodo de 30 dias (Tabelas 2 e 3) .

Conclusão

Nas condições desse experimento,os melhores substratos paraaclimatização do porta-enxerto S69foram T1, T2 e T6, tanto para aprodução de matéria seca da parteaérea quanto radicular. No entanto,por apresentarem maior espaço deaeração, sugerem-se os substratos T1e T6. Além disso, esses substratosapresentam macro- e micronutrientesem quantidades suficientes para obom desenvolvimento das plantas demacieira micropropagadas.

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Introdução

A agricultura orgânica é umsistema de produção que exclui o usode fertilizantes sintéticos ou mineraisde alta solubilidade e agrotóxicos,tendo como princípio produzir emharmonia com a natureza, mantendoo equilíbrio biológico do sistemaprodutivo por meio da ciclagem denutrientes e aplicação de matériaorgânica de origem vegetal e animal(Rusch, 2004).

Efeitos de fontes de esterco e composto orgânico naprodução de milho e feijão no sistema orgânico sob

plantio diretoEloi Erhard Scherer 1

Resumo – Em um experimento conduzido na área experimental do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf),em Chapecó, SC, foram avaliadas diferentes fontes de adubo nas culturas de milho e feijão em cultivo orgânico. Osadubos orgânicos foram aplicados a lanço, na superfície do solo, no dia da implantação das culturas de feijão e milho,em sistema de rotação e semeadura direta. Os adubos sólidos (esterco de aves, esterco de suínos com cama sobreposta,composto orgânico de esterco de suínos e composto orgânico de esterco de bovinos) foram aplicados nas doses de 5t/hae 10t/ha (base seca) e o adubo líquido (esterco de suínos) nas doses de 30 e 60m3/ha para feijão e milho, respectivamente.O experimento foi conduzido no delineamento de blocos casualizados com seis repetições. A aplicação de adubosorgânicos aumentou a produção de grãos de feijão e de milho em todos os anos, atingindo aumento médio de 413kg/ha(30%) de feijão e 2.350kg/ha (54%) de milho em relação à testemunha. Os estercos sólidos e compostos orgânicosapresentaram melhor desempenho na produção de feijão, e o esterco líquido de suínos na produção de milho.

Termos para indexação: Zea mays, Phaseolus vulgaris, adubação orgânica, produção de grãos.

Effects of organic manure and compost sources on corn and common bean production inorganic farming system under no-till management

Abstract – Organic agriculture in no-till system requires a new set of producer skills especially in the area of soil fertilityand fertilizer use. In a field experiment in organic system in Chapecó, SC, Southern Brazil, the effect of different organicfertilizers (poultry dry litter, swine deep litter, swine composted manure, cattle composted manure and liquid swinemanure) on the corn and common been yields was investigated. The organic fertilizers were scattered on the soil surfacein the no-till system on the day of the sowing of common bean and corn. The solid manure was applied at 5 and 10t/ha,dry weight, and the liquid manure at 30 and 60m3/ha for common beans and corn, respectively. A completely randomizedblock experimental design with six replications was used. The utilization of solid and liquid organic manure increasedthe grain yield of both cultures in all six years. Common beans and corn grain average yield with organic fertilizers usewas 30% and 54% greater than yield without fertilizer, respectively. Solid swine manure and organic compost had abetter performance on common bean grain yield, and liquid swine manure on corn yield.

Index terms: Zea mays, Phaseolus vulgaris, grain yields, organic manure.

Aceito para publicação em 11/2/11.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisas para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638, e-mail:[email protected].

A agricultura orgânica é,atualmente, uma das alternativasusadas para agregar valor aosprodutos cultivados em propriedadesfamiliares (Cruz et al., 2006). Essesistema de produção se aplica muitobem às pequenas propriedades ruraisda Região Oeste de Santa Catarina,que se caracterizam pela utilização desistemas diversificados de produção,englobando produção animal evegetal (Testa et al., 1996; LAC, 2004).Essa integração entre a produçãovegetal e a animal é fundamental para

o desenvolvimento sustentável daagricultura orgânica, pois suacomplementaridade permite, entreoutras coisas, a diversificação deatividades, a ciclagem de nutrientes naprópria unidade de produção e aredução na dependência de insumosexternos (Scherer, 1998).

O adubo orgânico mais utilizado éo esterco, que é formado porexcrementos sólidos e líquidos dosanimais e, em alguns sistemas, estámisturado com restos vegetaisutilizados como cama. Os estercos são

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Fonte de adubo(1) MS(2) N P2O5 K2O Ca Mg Cu Mn Zn% ......................................g/kg...................................... .................mg/kg..............

EA 83 30,8 32,4 28,8 28,2 12,1 79 433 268CS 46 18,5 29,2 21,0 12,5 5,3 192 604 397CES 44 17,8 26,8 16,4 6,4 4,2 223 592 438CEB 42 16,4 19,8 9,5 8,6 7,2 72 426 166

% .......................................g/L....................................... ..................mg/L..................ELS 2,8 3,3 1,93 1,56 0,86 0,41 14 34 27

Tabela 1. Teores médios de matéria seca e nutrientes nos materiais usados na adubação de milho e feijão

(1) EA = esterco de aves; CS = cama sobreposta; CES = composto orgânico de esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos;ELS = esterco líquido de suínos.(2) MS = Matéria seca. Resultados expressos em base seca (65oC).

considerados excelentes adubos, poisapresentam em sua composiçãopraticamente todos os nutrientesessenciais ao desenvolvimento vegetal(Kiehl, 1985).

Além da sua utilização direta comofonte de nutrientes, o esterco constituium dos componentes básicos para aprodução de compostos orgânicos(Kiehl, 2004), que são consideradosinsumos fundamentais para odesenvolvimento de uma agriculturaorgânica dentro dos conceitosagroecológicos estabelecidos (Rusch,2004).

Em função da grande quantidadede esterco líquido de suínosdisponível em algumas propriedadesrurais da Região Oeste de SantaCatarina e da dificuldade de suautilização integral na agricultura,surgiu a necessidade de se pesquisarnovos sistemas de manejo para que sedê adequado destino a ele (Oliveira,2004). Isso fez com que a produção decompostos orgânicos em plataformassemiautomatizadas ou no sistema decama sobreposta (compostagem insitu) ganhasse impulso na Região(Oliveira, 2004). A transformação dosresíduos em insumos agrícolas debaixo risco ambiental exige a adoçãode adequados processos de manejo,tratamento, armazenamento eutilização (Konzen et al., 1998).

O milho e o feijão são duas dasprincipais culturas cultivadas emmuitas das propriedades familiarescom produção animal e dis-ponibilidade de esterco para ciclagemna agricultura (LAC, 2004). Ambas asculturas são utilizadas na alimentaçãohumana e o milho é, também,importante componente de raçõespara diversos animais (Testa et al.,1996).

Considerando que o sistemaplantio direto já está consolidado empraticamente todas as regiões doEstado, há necessidade de serealizarem estudos com o uso deadubos orgânicos nesse sistema decultivo, em que eles são aplicadossobre os resíduos culturais dasespécies que antecedem cada cultivo.O aprimoramento do cultivo orgânicodessas culturas contribuirá para odesenvolvimento da cadeia deprodução de alimentos orgânicos,uma tendência mundial e que seobserva também no Brasil.

O objetivo desta pesquisa foiavaliar a eficiência de fontes de estercoe composto orgânico na produção demilho e feijão no sistema orgânico comsemeadura direta e rotação deculturas.

Material e métodos

O experimento foi conduzido naárea experimental do Centro dePesquisa para Agricultura Familiar(Cepaf), em Chapecó, SC, no sistemaorgânico sob plantio direto. Quandoda instalação do experimento, a árease encontrava em processo detransição para o sistema orgânico. Nostrês anos que antecederam a pesquisa,tinham sido cultivadas plantasrecuperadoras do solo (mucuna-pretae Crotalaria juncea, no verão; nabo--forrageiro e aveia ou ervilhaca, noinverno). No ano anterior àimplantação do experimento, foirealizado cultivo de milho semadubação.

O experimento foi instalado em2003, em Latossolo Vermelho Distro-férrico, com acidez e fertilidadecorrigidas de acordo com as exigên-cias das culturas, em sistema de

rotação de culturas com feijão e milho,cultivados a cada dois anos no verão,e plantas de cobertura do solo noinverno. Por ocasião da implantaçãodo experimento, o solo da área apre-sentava as seguintes características nacamada de até 10cm: pH em água =6,2; P = 15,6mg/dm3; K = 136mg/dm3;Al3+ = zero; Ca2+ = 6,8cmolc/dm3; Mg2+

= 3,1cmolc/dm3; matéria orgânica =3,4%; e argila = 58%.

O delineamento experimental foide blocos ao acaso, com seisrepetições. Os tratamentos constaramde cinco tipos de adubos orgânicos:esterco de aves (EA), esterco de suínoscom cama sobreposta (CS), compostoorgânico de esterco de suínos (CES),composto orgânico de esterco debovinos (CEB) e esterco líquido desuínos (ELS), e uma testemunha, semadubação. O EA foi proveniente deaviário de frangos de corte com usode cama de maravalha, que foiadquirido no comércio local. A CS foicoletada em uma pocilga comprodução de suínos em sistema determinação com leito de maravalha. OCES foi produzido em plataforma decompostagem com adição de estercolíquido à maravalha e revolvimentomecânico por um período deaproximadamente 6 meses.

O EEB foi produzido a partir damistura de palhas das trilhas de feijãoe milho com esterco de bovinos,deixado em leiras de compostagempor um período de 150 dias. O ELS foicoletado em esterqueira comfermentação anaeróbia, estandoarmazenado por um período superiora 30 dias. As principais característicasdos estercos e compostos orgânicossão apresentadas na Tabela 1.

Os adubos orgânicos foramaplicados anualmente, a lanço, na

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Fonte de adubo Grãos Massa seca2003/04 2005/06 Média 2007/08...................................kg/ha.............................

Esterco líquido (ELS) 2.389 b(1) 988 a 1.688 a 2.179 abEsterco de aves (EA) 2.554 ab 1.203 a 1.878 a 2.576 aCama sobreposta (CS) 2.682 a 1.028 a 1.855 a 2.202 abComposto orgânico (CES)(2 2.447 ab 1.108 a 1.778 a 2.089 bComposto orgânico (CEB)(2) 2.535 ab 996 a 1.766 a 1.993 bTestemunha (T) 2.081 c 678 b 1.380 b 1.569 c

Tabela 2. Efeito de fontes de adubo na produção de grãos de feijão nos anos agrícolas 2003/04e 2005/06 e massa seca no ano agrícola 2007/08, no sistema plantio direto em rotação com acultura do milho

(1) Médias com letras distintas, na coluna, diferem pelo teste Tukey a 5%.(2) CES = composto orgânico esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos.

superfície do solo, no dia dasemeadura das culturas de milho oufeijão. Os adubos sólidos foramaplicados nas doses de 5 e 10t/ha (baseseca), respectivamente nas culturas defeijão e milho, enquanto o estercolíquido foi aplicado nas doses de 30 e60m3/ha, nas mesmas culturas. Asdoses foram baseadas nasnecessidades médias de nutrientes decada cultura. Como plantas reagentesforam utilizados o cultivar de feijãoSCS202 Guará (anos agrícolas 2003/04, 2005/06 e 2007/08) e o cultivar demilho SCS154 Fortuna (anos agrícolas2004/05, 2006/07 e 2008/09). Ocultivar Guará pertence ao grupocarioquinha, e o cultivar Fortuna éuma variedade de polinização aberta,desenvolvido pelo Centro de Pesquisapara Agricultura Familiar (Cepaf).

As culturas foram semeadas comsemeadora de plantio direto,utilizando o espaçamento de 0,45mentre linhas para feijão e 0,90m paramilho. A densidade utilizada foi de55.000 e 266.000 plantas/ha, respec-tivamente para o milho e o feijão. Asparcelas mediram 3,6 x 5m, colhendo--se para avaliação da produção degrãos as duas linhas centrais de milhoe as quatro de feijão de cada parcela.

O sistema de rotação de culturasconsistiu na semeadura anual demilho ou feijão nos meses de setembroou outubro, e o cultivo de espéciespara cobertura do solo, em sucessão,visando ao controle de plantasespontâneas e ciclagem de nutrientes.Após a colheita do feijão de cada ano,foi semeada a mucuna-cinza ou amucuna-preta, e após o milho foisemeado, no primeiro ano, nabo--forrageiro e nos demais anos, aveia--preta. As plantas de cobertura forammanejadas com rolo-faca, em torno de20 dias antes da semeadura do milho.

Em se tratando de cultivo orgânico,não foram utilizados adubos de altasolubilidade nem agrotóxicos. Para ocontrole de lagarta-do-cartucho emmilho, que ocorreu esporadicamente,foi usado preventivamente umproduto à base de Bacillus thuringiensisou óleo de Nim para seu controle(Prates et al., 2003). O controle deplantas espontâneas foi realizado deforma manual, com capinas.

Os rendimentos de grãos foramexpressos na umidade padrão de 13%,

submetidos à análise de variância, eas médias comparadas pelo teste deTukey a 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

Na Tabela 2 são apresentados osresultados referentes aos três anos deavaliação de feijão, sendo dois anoscom produção de grãos (anosagrícolas 2003/04 e 2005/06) e um(ano agrícola 2007/08) com resultadosde massa seca. A produção de grãosdo último ano não foi avaliada porqueum prolongado período de estiageminviabilizou a produção de grãos. Sãoapresentados somente os rendimentosde massa seca de plantas amostradasno estádio de florescimento pleno.

Em todos os anos se observouefeito positivo da adubação orgânica

sobre a produção de grãos de feijão oude massa seca. No primeiro ano, osmelhores resultados foram verificadoscom a CS, que diferiu do esterco ELSe da testemunha (T). Os quatro adubossólidos – EA, CEB, CES e a CS –apresentaram comportamentosemelhante, não diferindo entre si. Emmédia, a adubação orgânicaproporcionou aumento de 21% naprodução de feijão em relação àtestemunha, sem adubação.

No terceiro ano, segundo cultivode feijão (ano agrícola 2005/06), todosos tratamentos com aduboapresentaram produção superior àtestemunha, sem diferir entre si. Oaumento médio na produção de feijãoem relação à testemunha foi de 67%.Um aumento mais expressivo do queno primeiro cultivo, porém comprodutividade menor em função de

estiagem, atingindo, na média,1.065kg/ha nos tratamentos comadubação.

A análise conjunta dos dois anoscom produção de grãos indicou nãohaver diferenças entre as fontes deadubo, que, por sua vez, diferiram datestemunha, sem adubação.

O rendimento de massa seca doano agrícola 2007/08 também foipositivamente influenciado pelaadubação orgânica. O tratamento comEA foi o que proporcionou as maioresproduções, porém sem diferir do ELSe da CS, que apresentaram produçõessemelhantes ao CES e ao CEB esuperiores à testemunha.

Os resultados mostraram que, namédia dos anos, a resposta do feijãoàs cinco fontes de adubo avaliadas foisemelhante, com incremento médio de

30% na produção de grãos e 69% naprodução de massa seca em relação àtestemunha. Resultados semelhantesque confirmam a boa resposta dacultura à adubação orgânica foramverificados no sistema convencional,com incorporação dos adubos ao solo(Scherer, 1998).

Na Tabela 3 são apresentados osresultados referentes aos três anos deavaliação de milho. Em todos os anosse observou efeito positivo daadubação orgânica na produção degrãos. No primeiro ano com milho esegundo ano de condução doexperimento (2004/05), a maiorprodução de grãos (7.176kg/ha) foiobtida com a aplicação de ELS, que,por sua vez, não diferiu dostratamentos com EA, CES e CS, masfoi superior ao CEB e à testemunha.

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Scherer (2003), avaliando diferentesfontes de esterco, também observoumenor eficiência dos estercos sólidosem comparação ao esterco líquido naprodutividade de milho, quandoforam aplicados na superfície do solosob plantio direto. Essa menoreficiência dos estercos sólidos emaplicação superficial deve seratribuída ao menor contato dosresíduos com o solo, o queproporciona uma mineralização maislenta dos compostos orgânicosadicionados.

No segundo cultivo de milho(2006/07), o tratamento com ELS foinovamente o que proporcionou amaior produção de grãos (7.848kg/ha), seguido do EA e dos compostosorgânicos (CS, CES e CEB). Essesquatro adubos sólidos formaram umgrupo estatisticamente homogêneo esuperior à testemunha.

Cabe destacar a elevada produti-vidade alcançada (5.112kg/ha) notratamento sem adubação, superior àmédia estadual, que foi de 3.680kg/ha(Epagri/Cepa, 2009). Provavelmente,essa produtividade foi consequênciado sistema de produção adotado,contemplando rotação de culturas einclusão de espécies recuperadoras dosolo, com capacidade de alternarnutrientes e fixar nitrogênio, como éo caso da mucuna (Scherer &Baldissera, 1988), cultivada emsucessão ao feijão e antecedendo omilho.

No terceiro cultivo de milho (2008/09), o ELS e o EA foram os que

Fonte de adubo 2004/05 2006/07 2008/09 Média....................................kg/ha..................................

Esterco líquido (ELS) 7176 a(2) 7848 a 6854 a 7293 aEsterco de aves (EA) 6665 ab 7322 b 6802 a 6926 abCama sobreposta (CS) 6685 ab 7349 b 6110 b 6715 abComposto orgânico (CES)(1) 6677 ab 7173 b 5692 bc 6509 bComposto orgânico (CEB)(1) 6346 b 6918 b 5449 c 6237 bTestemunha 4739 c 5112 c 3299 d 4383c

Tabela 3. Efeito de fontes de adubo na produção de grãos de milho nos anos agrícolas2004/05, 2006/07 e 2008/09 no sistema plantio direto em rotação com a cultura do feijão

(1) CES = composto orgânico esterco de suínos; CEB = composto orgânico de esterco de bovinos.(2) Médias com letras distintas, na coluna, diferem pelo teste Tukey a 5%.

proporcionaram as maiores pro-duções de grãos, respectivamente6.854 e 6.802kg/ha, seguidos doscompostos orgânicos CS e CES. Essamaior produtividade do EA emcomparação aos demais adubossólidos pode estar relacionada a umamaior aplicação não só de N, que é onutriente exigido em maioresquantidades pelo milho, mas tambémde outros elementos, como P e K, quese encontram em maiores con-centrações no EA (Tabela 1). O CEB,um resíduo mais pobre em nutrientes,principalmente em N, apresentoutendência de sempre apresentarmenores produtividades em relaçãoao CLS.

Na média dos anos, o ELSapresentou os melhores resultados,porém sem diferir dos tratamentoscom EA e CS. Observa-se que osquatro adubos sólidos (EA, CS, CES eCEB) formam um grupo esta-tisticamente homogêneo, comprodução de grãos 50% (2.216kg/ha)superior à testemunha. Por sua vez, oELS, nas mesmas condições,aumentou a produção de grãos em66% (2.910kg/ha) em relação àtestemunha.

É provável que esse bomdesempenho do ELS, verificado nostrês anos com cultivo de milho, sejadevido ao maior teor de N mineral queapresenta (Scherer et al., 1996),havendo uma disponibilização maisrápida e, provavelmente, uma maioreficiência do N adicionado,coincidindo com os períodos de maior

exigência durante a fase dedesenvolvimento vegetativo (Konzenet al., 1998). Os adubos sólidos (CS,EA, CES e CEB), ao contrário,apresentam maiores quantidades de Nna forma orgânica, que é colocado àdisposição das plantas somente aolongo do tempo, após suamineralização, podendo seu efeitoultrapassar o ciclo da cultura(Comissão..., 2004). Segundo Pommer(2009), gramíneas forrageiras ouprodutoras de grãos, como o milho,por serem culturas altamenteexigentes em N, respondem melhor àaplicação de chorume e estercoslíquidos do que aos compostosorgânicos e estercos sólidos, o quetambém se verifica nos sistemasorgânicos com adubações anuais eefeito cumulativo dos adubos.

O feijão, ao contrário do milho, porser menos dependente do for-necimento de N via adubação, poisapresenta capacidade de obter partedo N por fixação biológica (Vieira etal., 2005), foi menos influenciado pelafonte de adubo orgânico, mostrandoaté mesmo uma tendência de maiorprodutividade com adubos sólidos.Resultados desses autores mostraramque o adubo orgânico pode atémelhorar a eficiência simbiótica dosrizóbios nativos em feijoeiro.

A alta produtividade de grãosalcançada pelo cultivar de milhoSCS154 Fortuna, de polinizaçãoaberta, em média acima de 7t/ha comadubação orgânica, mostra que essecultivar apresenta boa adaptação ealto potencial de produção em sistemaorgânico, sem utilização deagrotóxicos ou adubos de altasolubilidade. Os resultados mostramainda que, mesmo sem adubação, ocultivar apresenta bom potencial deprodução, e que a boa fertilidadeinicial do solo e o sistema de produçãoadotado, com rotação de culturas e ainclusão de plantas recicladoras denutrientes e fixadoras de nitrogênio,devem ter contribuído para esse bomdesempenho.

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O cultivar de feijão SCS202 Guará,pertencente ao grupo carioca, tambémmostrou boa adaptação ao sistemaorgânico, atingindo, com adubaçãoorgânica, no primeiro ano, pro-dutividade média de 2.521kg/ha, 21%superior à testemunha. No segundocultivo o aumento em produtividadefoi de 67%, porém o potencial deprodução da cultura nesse ano foilimitado por deficiência hídrica.

Conclusões

• A adubação orgânica influenciapositivamente a produção de grãos demilho e de feijão no sistema orgânico.

• Altas produtividades de feijão (>2,5t/ha) e de milho (> 7t/ha) sãoalcançadas com uso exclusivo deadubação orgânica e rotação deculturas, sem necessidade de se fazeruso de adubos minerais.

• O milho responde mais emprodutividade à aplicação de estercolíquido de suínos e ao esterco sólidocom maior teor de nitrogênio, ao passoque o feijoeiro responde de formasemelhante às diversas fontes deadubo.

Literatura citada

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Introdução

A grande disponibilidade dedejetos de suínos em algumas regiõesou propriedades de Santa Catarinamuitas vezes tem determinado aaplicação no solo de doses queexcedem as recomendações para usocomo fertilizante, prática que aumenta

Balanço simplificado de nutrientes e rendimento degrãos em nove anos de aplicação superficial de

dejeto líquido de suínos emLatossolo Vermelho Distrófico1

Milton da Veiga2, Carla Maria Pandolfo3 e Alvadi Antonio Balbinot Junior4

Resumo – A aplicação de dejeto líquido de suínos (DLS) em doses superiores às recomendadas para fornecimento denutrientes às culturas resulta em excedente desses no sistema solo. Para estimar esse excedente em um sistema de rotaçãode culturas para produção de grãos, foi determinado o balanço simplificado de N, P e K com a aplicação de três doses deDLS (50, 100 e 200m3/ha/ano, sendo 50% no outono e 50% na primavera), e um tratamento contemplando a reposiçãodas quantidades de P e de K exportadas pelos grãos das culturas, em aplicação única na primavera. Ao final do nono anode experimentação, foram analisados os teores de P extraível e de K trocável em amostras de solo coletadas em seiscamadas (até 2,5, 2,5 a 5, 5 a 10, 10 a 20, 20 a 40, e 40 a 60cm de profundidade). Os valores do balanço simplificado denutrientes variaram em função das quantidades aplicadas, uma vez que a produção obtida e, consequentemente, asquantidades de nutrientes exportados apresentaram pequena variação. A aplicação de doses crescentes de DLS resultouem aumento linear dos teores de P nas camadas amostradas até 5cm e de K nas camadas amostradas entre 5 e 60cm deprofundidade.

Termos para indexação: milho, soja, feijão, NPK, ambiente.

Simplified balance of nutrients and crop yield in nine years of superficial pig slurryapplication on an Oxisol in southern Brazil

Abstract – The application of pig slurry in doses greater than the recommended nutrients supply for the crops results inthe excess of these nutrients in the soil system. In order to estimate this exceeding amount in a crop system for grainproduction, we calculated the simplified balance of N, P and K with the application of three doses of pig slurry (50, 100and 200m3/ha/year), 50% in the autumn and 50% in the spring, and one treatment with reposition of the P and Kexported throughout the grains harvested, applied in the form of soluble fertilizer in an only parcel in the spring. At theend of the ninth year extractable P and exchangeable K content in the soil were determined in samples collected in sixlayers (0 to 2.5; 2.5 to 5; 5 to 10; 10 to 20; 20 to 40; and 40 to 60cm deep). The simplified balance of N, P and K variedbasically in function of the amount applied, since the grain yield, and consequently the amount of these nutrients exported,showed low magnitude of variation among treatments. The application of increasing doses of pig slurry determinedlinear increasing of extractable P in the soil layers sampled between 0 and 5cm and exchangeable K between 5 and 60cmdeep.

Index terms: corn, soybean, common bean, NPK, environment.

Aceito para publicação em 19/5/11.1 Trabalho executado com recursos da Epagri e da Fapesc.2 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dra., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Embrapa Soja, C.P. 231, 86001-970 Londrina, PR, fone: (43) 3371-6058, e-mail: [email protected].

o risco de danos ao ambiente, uma vezque a quantidade aplicada podeextrapolar a capacidade de reciclagemdo sistema solo-planta. Entre os efeitospotencialmente poluidores destacam--se o acúmulo acentuado de nutrientesna camada superficial do solo e sualixiviação através do perfil. Noprimeiro caso, os nutrientes podem sertransportados por erosão até

mananciais de água (Mori et al., 2009),podendo causar eutrofização oucontaminação de águas superficiaiscom metais pesados, principalmenteCu e Zn. No segundo caso, osnutrientes, especialmente o N naforma de nitrato, podem atingir osmananciais subterrâneos (Aita &Giacomini, 2008).

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Apesar dos possíveis problemasdecorrentes da aplicação de dejetosanimais nas lavouras, seu uso comofonte de nutrientes para culturas oupastagens se constitui em uma opçãotécnica e economicamente viáveldesde que observadas as carac-terísticas dos estercos (Scherer et al.,1996), do solo, do clima e do sistemade culturas. Com relação ao aspectoambiental, a Instrução NormativaEstadual (INE) no 11, da Fundação deAmparo à Tecnologia e MeioAmbiente de Santa Catarina (Fatma,2009), estabelece como taxa máxima deaplicação a dose de 50m3/ha/ano dedejeto líquido de suínos (DLS). Essadose foi estabelecida considerando-se,além de outros aspectos, os resultadosde estudos técnicos para definir anecessidade de suprimento denutrientes para as culturas de milho efeijão (Scherer, 1998), cultivadastradicionalmente nas regiõesprodutoras de suínos de SantaCatarina. No entanto, a dose máximaúnica estabelecida pela INE 11 paratodo o Estado não considera adiversidade de tipos de solos(Embrapa, 2004) e de climas (Pandolfoet al., 2002) que ocorrem no territóriocatarinense, tampouco os sistemas deculturas, que podem variarsubstancialmente na capacidade deabsorção e exportação de nutrientes.

Este estudo foi desenvolvido como objetivo de determinar o balançosimplificado de N, P e K num sistemade produção de grãos com rotação deculturas durante nove anos deaplicação de dejeto líquido de suínos,o teor de P e o de K no solo ao finaldesse período e os rendimentos degrãos de feijão, milho e soja duranteoito anos de experimentação.

Material e métodos

O estudo foi conduzido no CampoDemonstrativo da CooperativaRegional Agropecuária de CamposNovos (Coopercampos), localizadonas coordenadas geográficas de27º21’59" latitude sul e 51º15’33"longitude oeste, com 950m de altitude.O solo do local do experimento foimapeado como Latossolo VermelhoDistrófico (Embrapa, 2004) e vinhasendo utilizado sob sistema plantiodireto com rotação de culturas por

mais de 10 anos. Por ocasião do iníciodo estudo, o solo da área doexperimento apresentava, na camadade até 20cm, 45g/kg de matériaorgânica (MO), 10mg/dm3 de fósforo(P) extraível e 228mg/dm3 de potássio(K) trocável, enquadrados respec-tivamente nas faixas de interpretaçãomédia, alta e muito alta dessesatributos (Comissão..., 2004).

O delineamento experimentalutilizado foi de blocos completoscasualizados, com três repetiçõesdispostas em parcelas de 6 x 5m. Ostratamentos corresponderam àaplicação de dejeto líquido de suínosnas doses de 50 (DLS50), 100 (DLS100)e 200m3/ha/ano (DLS200), divididasem duas parcelas (50% no outono,antes da implantação das plantas decobertura de inverno, e 50% naprimavera, antes da de verão).Também foi conduzido umtratamento com aplicação dasquantidades de P e K exportadas pelosgrãos colhidos em cada parcela(REPK), pela aplicação única desuperfosfato simples e cloreto depotássio por ocasião da semeaduradas culturas de verão. Todos ostratamentos foram aplicados nasuperfície do solo. O DLS foi retiradode bioesterqueiras e apresentou, namédia das 18 aplicações: 7,2 de pH;27,7g/kg de matéria seca; 4,81kg/m3

de N; 0,64kg/m3 de P2O5; e 1,50kg/m3

de K2O. Com base nesses teores, foramcalculadas as quantidades totais de N,P2O5 e K2O aplicadas na forma de DLSem cada parcela. Para calcular aquantidade exportada, a produção degrãos de cada parcela foi multiplicadapelo teor médio do nutriente nos grãosda respectiva cultura, conformeComissão... (2004). O balançosimplificado de nutrientes, por suavez, correspondeu à diferença entre aquantidade do nutriente aplicada e aexportada por meio dos grãos narespectiva parcela.

Na área experimental foi utilizadauma rotação de culturas de três anos,com sequências anuais de ervilhaca +aveia/milho, aveia/feijão ou aveia/soja, sendo semeada uma sequênciaem cada bloco dos tratamentos de DLSe de adubo mineral, sem repetição, emrotação de culturas e em sistemaplantio direto (SPD). A produção degrãos das culturas foi determinada em

área útil de 12m2 para o milho e 4,5m2

para o feijão e a soja e ajustada parat/ha com 13% de umidade. Paraefetuar a análise estatística, aprodução de cada cultura foi ajustadapara rendimento relativo,considerando-se como 100% a maiorprodução obtida entre as parcelas paracada cultura no respectivo ano. Essesdados foram submetidos à análise davariância e ao teste F para determinaro efeito dos tratamentos sobre asculturas, assim como as possíveisinterações entre tratamentos e anos.Quando constatada diferença entretratamentos, as médias foramcomparadas pelo teste de Tukey a 5%de probabilidade.

Ao final do nono ano deexperimentação, foram coletadasamostras de solo nas camadas de: até2,5, 2,5 a 5, 5 a 10, 10 a 20, 20 a 40, e 40a 60cm de profundidade, constituídaspor quatro subamostras coletadasaleatoriamente nas parcelas. Os teoresde P extraível e K trocável no soloforam analisados conforme meto-dologia descrita em Tedesco et al.(1995), no Laboratório de Solos daEpagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar (Cepaf),localizado em Chapecó, SC. Para cadacamada de solo amostrada, foramdeterminadas as regressões entre osteores de P extraível e K trocável e asdoses de DLS aplicadas.

Resultados e discussão

As quantidades de N, P e Kaplicadas por meio de DLS ou de P porsuperfosfato triplo e de K por cloretode potássio, as exportadas pelos grãoscolhidos e a diferença entre asquantidades aplicadas e exportadas(balanço simplificado) estãoapresentadas na Figura 1. Observa-seque o nutriente aplicado em maiorquantidade foi o N, atingindo mais de8t/ha ao fim dos nove anos deexperimentação no tratamento200DLS. A quantidade exportadadesse nutriente também foi maior doque a dos demais, mas o balanço foipositivo em todos os tratamentos deaplicação de DLS, atingindo mais de7t/ha de excedente na maior doseaplicada. Deve-se considerar, ainda,que no cálculo do balanço foramcomputadas apenas as quantidades de

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N adicionadas através de DLS, nãosendo consideradas as adições aosistema por meio da fixação simbióticaatravés das fabáceas constantes darotação de culturas, que, secomputadas, aumentariam ainda maiso excesso desse nutriente.

O excedente de mais de 7t/ha/anode N no tratamento DLS200 indica quea dose de 200m3/ha/ano é excessivapara o sistema de culturas utilizado,uma vez que uma pequena fração daquantidade aplicada é exportada pelosgrãos. Pode-se inferir que, mesmo quea cultura semeada após a aplicação doDLS seja hábil em absorver o Ndisponível, uma proporção sig-nificativa dele retornará ao sistema

por meio dos resíduos culturais,podendo ou não ser absorvido pelacultura subsequente, quando ocorre adecomposição desses resíduos. Emcondições de adequada aeração dosolo, o N mineral é encontradopredominantemente na forma denitrato, o qual forma complexos deesfera-externa com as cargas negativasdo solo, apresentando baixa energiade ligação com essas cargas (Meurer,2006), sendo facilmente deslocado noperfil pela água de drenagem interna,como determinado por Aita &Giacomini (2008) em um Argissolo detextura média e por Menezes et al.(2007) em um Latossolo de texturaargilosa.

Figura 1. Quantidade de nitrogênio, fósforo e potássio aplicada através de dejeto líquido desuínos (DLS) ou repostas na forma de adubo solúvel (REPK) exportada pelos grãos e balançode nutrientes, em um período de nove anos de experimentação.Nota: DLS50, DLS100 e DLS200 correspondem, respectivamente, à aplicação das doses de50, 100 e 200m3/ha/ano de DLS.

As quantidades de P e K adi-cionadas ao solo, as exportadas pelosgrãos e as diferenças entre elas(balanço simplificado) foram muitoinferiores às do N. Mesmo assim, osexcedentes de P e K no tratamento200DLS ultrapassaram, respec-tivamente, 1 e 2t/ha no período denove anos. Isso se refletiu no aumentolinear do teor de P entre as doses de50 e 200m3/ha/ano nas camadasamostradas de até 5cm deprofundidade, e de K nas camadasamostradas abaixo de 5cm deprofundidade (Figura 2).

A diferença observada namobilidade no perfil entre o P e o K éexplicada pela energia de ligaçãodesses elementos aos coloides do solo,uma vez que o P, encontrado no soloprincipalmente na forma de fosfato(HPO4

-), se associa a grupos funcionaisespecíficos de superfície, princi-palmente nos óxidos de ferro e dealumínio, formando complexos deesfera-interna (Meurer, 2006).Segundo esse autor, a energia dessaligação é muito superior à da ligaçãodo íon K+, que se associa às cargasnegativas do solo via ligaçãoeletrostática, formando complexos deesfera-externa. Os teores de K nascamadas superficiais do solo (até 2,5 e2,5 a 5cm) não aumentaram com asdoses de DLS aplicadas, indicandoque pode ter ocorrido a saturação dossítios de troca nessas camadas e,consequentemente, não adsorçãoeletrostática adicional do K, sendolixiviado para as camadas subjacentes,onde ocorreu aumento linear do teortrocável com a dose de DLS aplicada,ou até mesmo para fora do perfil.

Diferentemente do que ocorre como nitrato, a lixiviação do K paracamadas mais profundas do solo e,eventualmente, o acúmulo nas águassubterrâneas não representam riscosignificativo de contaminação delaspor se tratar de um cátion para o qualainda não foi detectado esse potencial.O acúmulo de P na camada superficialdo solo, por sua vez, apresenta um

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Figura 2. Teores de fósforo (P) extraível e de potássio (K) trocável em seis camadas de umLatossolo Vermelho, após nove anos de aplicação superficial de dejeto líquido de suínos(DLS)

risco potencial de contaminação daságuas superficiais quando ocorreerosão nas lavouras (Mori et al., 2009).

A produtividade de grãos dasculturas de milho e de feijão foi altana média dos anos, havendo diferençaapenas entre o tratamento dereposição de P e K exportados pelosgrãos (REPK) e os tratamentos comaplicação de DLS (Figura 3). Essadiferença provavelmente estáassociada ao fornecimento de N peloDLS, uma vez que ambas as culturassão responsivas à aplicação dessenutriente, e esse mesmo Nprovavelmente não foi dispo-nibilizado em quantidade suficientepelo sistema solo, no caso do milho, e

pelo solo e, potencialmente, pelafixação simbiótica no caso do feijão notratamento REPK. A cultura da soja,por sua vez, supre sua necessidade deN pela fixação simbiótica e, por isso,não houve diferenças entretratamentos.

As quantidades de N, P e Kaplicadas de 50m3/ha/ano de DLS,associadas aos teores elevados no solode MO, P extraível e K trocável foramsuficientes para alcançar a maiorprodutividade das culturas nascondições estudadas, confirmandoresultados de estudos desenvolvidoscom as mesmas culturas, de formaisolada ou associadas, em outrascondições edafoclimáticas (Scherer,1998). Assim, do ponto de vista do usode DLS para suprimento de nutrientespara a produção de grãos de soja,milho e feijão, cultivados em rotaçãode culturas, a dose de 50m3/ha/anode dejeto líquido de suínos é suficientepara a condição de alta fertilidade dosolo estudada. Essa quantidade dedejetos se aproxima da definida paraum Argissolo por Basso (2003), queverificou que, apesar de doses maioresde DLS favorecerem o acúmulo dematéria seca e produção de grãos, ataxa de recuperação de N, P e K foialta até a dose de 40m3/ha, e que dosesmaiores são menos eficientes para a

Figura 3. Produtividade média das culturas de feijão, milho e soja durante oito anos comaplicação de dejeto líquido de suínos (DLS) e com reposição de P e K exportados pelos grãosatravés de adubo solúvel (REPK).(1) Médias seguidas pela mesma letra em cada cultura não diferem estatisticamente entre si(Tukey, α = 0,05). DLS50.Nota: DLS100 e DLS200 correspondem, respectivamente, à aplicação das doses de 50, 100 e200m3/ha/ano de DLS.

Teor

no

solo

(mg/

dm3 )

Dose de DLS (m3/ha/ano)

* Regressão linear significativa (p < 0,05).

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nutrição das plantas, potencializandoos riscos de contaminação do solo eda água.

Conclusões

• O balanço simplificado denutrientes varia basicamente emfunção das quantidades aplicadasatravés de dejeto líquido de suínos oude fertilizantes solúveis, uma vez quea produtividade de grãos obtida e,consequentemente, as quantidades denutrientes exportados apresentamvariação pequena entre tratamentos.

• Considerando-se a faixa deaplicação entre 50 e 200m3/ha/ano dedejeto líquido de suínos, há aumentolinear do teor de P extraível nascamadas amostradas de até 5cm deprofundidade e de K trocável nascamadas amostradas entre 5 e 60cm deprofundidade, sem alteração nasdemais.

• Nas condições de alta fertilidadedo solo utilizado no experimento, aaplicação de 50m3/ha/ano de dejetolíquido de suínos em duas parcelas(50% no outono e 50% na primavera)fornece nutrientes em quantidadessuficientes para atingir altosrendimentos de grãos de milho, feijãoe soja.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Cooper-campos, pela cessão da área paraestudo e pelo fornecimento demateriais para experimentação, e àFapesc, pelo financiamento parcial dapesquisa.

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Introdução

A bananeira é a principal frutífera,em área colhida, no Estado de SantaCatarina, com 31.090ha, 30.931ha e32.379ha, nos anos agrícolas 2006/07,2007/08 e 2008/09, respectivamente(Epagri, 2009). Socialmente, suaimportância é muito grande, poiscerca de 6 mil famílias rurais sededicam à atividade no Estado.Muitos municípios catarinenses têmna bananicultura um dos sus-tentáculos da sua economia.

SCS451 Catarina – Novo cultivar de bananeira dosubgrupo Prata

Luiz Alberto Lichtemberg1, Robert Harri Hinz2, Jorge Luiz Malburg3, Márcio Sônego4 eLuiz Augusto Martins Peruch5

Resumo – Os principais problemas dos cultivares de bananeira do subgrupo Prata são a altura excessiva das plantas, obaixo potencial produtivo e a suscetibilidade ao “mal do panamá” e ao “mal de sigatoka”. No ambiente subtropicalúmido do Litoral de Santa Catarina, especialmente no Sul do Estado, a alta frequência de mutações naturais em gemaslaterais da bananeira permite a seleção de novos genótipos. Assim, a Epagri tem buscado selecionar clones desse subgrupocom porte médio, maior produtividade e boa tolerância às principais pragas e doenças da cultura, ao frio e aos ventos.Este trabalho resultou na seleção do cultivar SC451 Catarina, que, quando comparado ao cultivar Prata Anã, apresentaprodutividade cerca de 20% maior, frutos maiores, casca mais clara e maior tolerância ao “mal do panamá”. O novocultivar apresenta porte médio e boa tolerância ao frio e aos ventos, tal como o cultivar Prata Anã.

Termos para indexação: Musa sp. AAB, características, produtividade, subgrupo Prata.

SCS451 Catarina – A new banana plant cultivar of the Pomme subgroup

Abstract – The major problems in the Pomme subgroup of banana cultivars are excessive plant size, small yield andsusceptibility to Panama Wilt and to Sigatoka disease. The frequency of natural mutation is high on the Santa CatarinaState coast, which is characterized by humid subtropical climate. The Santa Catarina Rural Extension and AgriculturalResearch Agency (Epagri) has been selecting banana cultivars showing medium size, higher yield and natural resistanceagainst diseases, cold temperatures and wind. This study resulted in cultivar SC451 Catarina, which, if compared to thePrata Anã, showed 20% higher yield, bigger fruits with bright peel and greater tolerance to Panama Wilt. With mediumsize and good resistance to cold temperature and wind, the new cultivar is very similar to Prata Anã.

Index terms: Pomme subgroup, Musa sp. AAB, characteristics, yield.

Aceito para publicação em 9/6/11.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (48) 3465-1209, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

Economicamente, a bananicultura éresponsável por 3,1% do valor daprodução da agricultura catarinense(Miranda & Lichtemberg, 2010). Nocenário nacional, Santa Catarinaaparece como terceiro maior produtorde bananas, com 8,3% dos 6,97milhões de toneladas produzidas noBrasil, no ano agrícola 2007/08. Aprodução catarinense de bananas, nastrês últimas safras, foi de 655.973t,575.798t e 670.245t (Epagri, 2009).

O melhoramento genético dabananeira nas Estações Experimentais

de Itajaí e de Urussanga é feito pelaintrodução e avaliação de variedades,clones e híbridos. Esses materiaisprovêm de outros Estados einstituições brasileiras ou coletados nopróprio Estado de Santa Catarina,onde a Epagri realiza, desde 1981, umtrabalho de seleção de mutantesnaturais com a colaboração debananicultores catarinenses. Oobjetivo do trabalho é obter clones debananeiras produtivos, de portemédio e tolerantes ao frio, aos ventose às principais doenças da cultura. O

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clima subtropical do Estado, devidoao estresse climático por frio, favoreceo surgimento de mutações nas gemasdas bananeiras, originando novosgenótipos. Os trabalhos de seleção sãorealizados com bananeiras dossubgrupos Cavendish e Prata pelaimportância desses subgrupos paraSanta Catarina e para o Brasil. EmSanta Catarina, aproximadamente25% da área plantada e 10% daprodução de bananas são do subgrupoPrata e o restante do subgrupoCavendish, segundo dados doLevantamento Agropecuário Catari-nense (Epagri, 2004). No Litoral Nortecatarinense, predominam oscultivares do subgrupo Cavendish,enquanto no Sul do Estadopredominam os cultivares dosubgrupo Prata (Epagri, 2004).

Os principais cultivares debananeira plantados no Estado sãoNanicão e Grande Naine, do subgrupoCavendish, e Enxerto (Prata Anã) eBranca (Branca de Santa Catarina), dosubgrupo Prata (Lichtemberg et al.,2010a). No âmbito nacional, asbananas do subgrupo Prata são asmais produzidas, com cerca de 50% daprodução nacional, dada a preferênciado consumidor brasileiro peloscultivares desse subgrupo (Prata Anãou Enxerto, Prata, Pacovan e Branca)e os melhores preços obtidos nomercado por essas frutas. Comexceção da Prata Anã, os cultivares dosubgrupo Prata apresentam ainconveniência do porte alto, com suasdificuldades de manejo e colheita, ebaixa resistência aos ventos(Lichtemberg et al., 2010b). Assim, ocultivar Prata Anã tem sido opreferido nos plantios mais recentes.O principal problema desse subgrupode bananeiras é a suscetibilidade ao“mal do panamá” e ao “mal desigatoka”.

Neste artigo, é apresentado o novocultivar de bananeira SCS451Catarina, do subgrupo Prata,registrado no RNC/Mapa no dia 27/7/2010, sob no 26.917. Os resultadosobtidos com o novo cultivar SCS451Catarina são comparados aos obtidoscom o Prata Anã, cultivar de mesmaorigem genética e de característicasvegetativas e produtivas muitopróximas. Segundo trabalho realizadopor Tcacenco et al. (2006), o novo

cultivar SCS451 Catarina diferegeneticamente do cultivar Prata Anã.

Origem do cultivar SCS451Catarina

O novo cultivar se originou de umaplanta mutante natural, coletada emum bananal do cultivar Branca (Brancade Santa Catarina) atacado pelo “maldo panamá”, na propriedade de JoãoCoelho Pereira, no Morro da Embratel,município de Sombrio, no Sul de SantaCatarina. A planta foi selecionada peloprodutor em 2007 em uma touceira docultivar Branca (de porte alto), emfunção de não apresentar sintomas do“mal do panamá”, ao contrário dasdemais touceiras do bananal, e porapresentar porte médio e frutos comboas características. Em 22/7/1999,foram retiradas da touceira seis mudastipo rizoma inteiro, que foramintroduzidas e multiplicadas naEpagri/Estação Experimental de Itajaí(EEI), recebendo o código EX-033.

Metodologia de avaliação docultivar SCS451 Catarina

Em 18/10/2000, dez mudas dessaseleção foram plantadas em umacoleção de cultivares na Epagri/EEI,em Itajaí, SC (Itajaí 1). Em 25/10/2000,foi instalado um campo de 50 mudastipo rizoma inteiro da seleção EX-033,em comparação com um campotambém de 50 mudas do cultivar PrataAnã (Enxerto), também em Itajaí (Itajaí2). Em 3/10/2001, uma linha de dezplantas da seleção EX-033 foi plantadana coleção de cultivares da Epagri/Estação Experimental de Urussanga,em Urussanga, SC (Urussanga). Em4/2/2003, foram instaladas quatroparcelas de 16 plantas cada uma daEX-033 em comparação com novevariedades e híbridos dos subgruposPrata e Cavendish em Itajaí (Itajaí 3).Nesses estudos foram avaliados odesenvolvimento vegetativo, aprodutividade e o comportamento daseleção EX-033 em relação àsprincipais pragas e doenças dacultura, ao frio e aos ventos. Ascaracterísticas botânicas foramavaliadas na primavera de 2009apenas em Itajaí.

Descrição das principaiscaracterísticas botânicas docultivar SCS451 Catarina

O novo cultivar SC451 Catarina éuma bananeira triploide AAB, deporte médio, com características dosubgrupo Prata. As característicasbotânicas da nova variedade foramavaliadas em outubro de 2009, deacordo com os descritores interna-cionais de bananeira (IPGRI-Inibap/Cirad, 1996). Nas condições de Itajaí,apresentou pseudocaule robusto, decoloração verde-amarelada brilhante.A coloração das bainhas foliares foiverde-clara com grandes áreas rosadasexternamente, e roxo-escuros in-ternamente. Apresentou seiva leitosae pouca serosidade nas bainhasfoliares. Os filhotes foram lançadosverticalmente, próximos à planta mãee a profundidade média. A produçãode filhotes foi alta, com média de novena primeira floração, e odesenvolvimento dos filhotes naprimeira colheita foi alto, atingindoaltura igual ou superior à da plantamãe. Apresentou pequenas manchasmarrom-escuras na base do pecíolo, oqual tinha canal estreito com margenseretas.

As margens do pecíolo apre-sentaram-se estreitas (com menos de1cm), túrgidas (não murchas), verdese com bordas apresentando uma linharosada longitudinal. As folhas foramgrandes, em média com 2.250 x815mm, com uma relação com-primento/largura de 2,7. A coloraçãoda folha foi verde-escura brilhante naface superior e verde opaco na faceinferior, a qual apresentou intensaserosidade. O comprimento médio dopecíolo foi de 40cm. Os lóbulos da basedas folhas apresentaram-se ar-redondados. A lâmina foliarapresentou-se corrugada. A nervuracentral da folha apresentou coloraçãoverde na face superior da folha everde-clara na face inferior. Os filhotesd’água e plantas jovens nãoapresentaram manchas nas folhas. Opedúnculo da inflorescência apre-sentou, em média, 40cm decomprimento e 9cm de diâmetro, comuma a duas cicatrizes (nós vazios),pouco piloso e de coloração vermelho--rosada em cachos novos e verde-

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-escura em cachos velhos. O cachoapresentou-se oblíquo em relação àplanta (cerca de 45o), com formatovariando de cilíndrico a conetruncado, pouco compacto e comfrutos desenvolvidos apenas a partirde flores femininas.

A raque masculina ficou presenteaté a colheita, na posição pendularvertical e com a persistência de restosflorais e brácteas em todo o seucomprimento, também até a colheita.O mangará (coração) esteve presenteaté a colheita e apresentou formaovoide e tamanho grande, comdimensões médias, após a aberturacompleta das pencas femininas, de 32x 16cm, e relação comprimentolargura de 2,2. As brácteasapresentaram base com “ombros”pequenos, ápice não pontiagudo(intermediário), de coloraçãovermelha violácea externamente evermelha internamente. A coloraçãoda base e do ápice da bráctea foiuniforme e as estrias externas dabráctea não apresentaram des-colorações. As brácteas apresentaram--se muito sulcadas, serosas e semi--imbricadas, com as mais velhascobrindo o ápice do mangará. Arelação comprimento/largura dabráctea foi de 1,25. A raque masculinaapresentou cicatrizes proeminentes ealta persistência de flores. A tépalacomposta apresentou coloração básicarosada, com lóbulos desenvolvidos decoloração amarela. A tépala livreapresentou-se arredondada, rosada ecom ápice pouco desenvolvido, compregas e filiforme. A anteraapresentou-se externa em relação aolóbulo e de coloração creme. Acoloração do filamento e dos sacospoliníferos foi branca. O estiloapresentou-se com coloração básicabranca, sem pigmentação, eposicionado no mesmo nível doslóbulos das tépalas. A forma do estilofoi reta na linha externa de flores e comcurvatura na base, na linha interna deflores. A cor do estigma foi do brancoao branco-creme. Todas as floresavaliadas eram regulares, com cincoestames. O ovário apresentou-se reto,com coloração básica creme, compigmentação rosa e com óvulosdispostos em duas linhas. A coloraçãodominante na flor masculina foirosada.

A posição dos frutos em relação àraque feminina foi do tipo curva paracima. Os frutos apresentaram-se retos,com quinas pouco pronunciadas, comápice em forma de gargalo, semvestígios de restos florais e comcomprimento médio de 17cm. Onúmero médio de frutos por penca foi14. O pedicelo apresentou-se sempilosidade, isolado (sem fusão depedicelo), com comprimento médio de25mm e diâmetro de 10mm. Acoloração da casca do fruto imaturofoi verde-clara e a dos frutos maduros,amarela. A polpa apresentou texturafirme, sabor agridoce e coloraçãocreme (tanto imatura como madura).Quanto à facilidade de abscisão(debulha), os frutos madurosapresentaram-se de persistentes adecíduos.

Principais característicasagronômicas do cultivarSCS451 Catarina

Em estudos comparativos com ocultivar Prata Anã, o SCS451 Catarinaapresentou grande semelhança dealtura e desenvolvimento dopseudocaule (Tabela 1). A vantagemdo novo cultivar sobre o cultivar PrataAnã residiu principalmente no seumaior peso do cacho (Tabelas 2 e 3),no maior peso de frutas por cacho ena maior relação frutas/engaço(Tabela 4). O comprimento e o pesodos frutos também foram maiselevados do que os do cultivar PrataAnã (Tabela 5), o que permite umamaior percentagem de frutosclassificados como “Extra” e“Primeira”, e valoriza a produção(Figura 1).

Embora o comprimento de seuciclo possa variar segundo o tipo desolo, a época de plantio, as condiçõesclimáticas e as práticas culturais,verificou-se que nesse aspecto o novo

Perímetro do pseudocaule (cm)Cultivar 30cm do solo 100cm do solo

Itajaí Urussanga Itajaí Urussanga ItajaíSCS451 Catarina 3,22 3,30 94,9 85,3 72,7Prata Anã 3,10 3,16 90,1 87,0 69,4

Altura (cm)

Tabela 1. Média da altura das plantas e do perímetro do pseudocaule da bananeira SCS451Catarina e Prata Anã, em Itajaí e Urussanga, a partir da segunda safra. Epagri, 2010

Figura 1. Aspecto do cacho da SCS451Catarina (A) no verão e (B) no inverno

cultivar foi bastante semelhante aocultivar Prata Anã (Tabelas 6 e 7). Comrelação à suscetibilidade ao “mal desigatoka”, o SCS451 Catarina colocou--se no grupo dos cultivares maissuscetíveis, assim como o Prata Anã(Tabela 8). Sua moderada tolerância à“broca da bananeira” e ao “nematoidecavernícola” também foi semelhantea esse cultivar. Porém, apresentou avantagem de ser um pouco maistolerante ao “mal do panamá” do queo Prata Anã.

Em Itajaí, em condições favoráveisà ocorrência da doença, apresentou osprimeiros sintomas do “mal dopanamá” aos 4 anos de cultivo,enquanto o Prata Anã já os apresentouno segundo ano. Em melhorescondições de cultivo, também emItajaí, o SCS451 Catarina nãoapresentou sintomas até o presentemomento, 7 anos após o plantio,enquanto o Prata Anã teve perda de4% das plantas já no quinto ano e de10% das plantas no sétimo ano. EmUrussanga, também não apresentou

(A)

(B)

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Primeira safra (kg) Segunda safra (kg)Itajaí 1 Itajaí 2 Itajaí 3 Itajaí 1 Itajaí 2 Itajaí 3 Urussanga

SCS451 Catarina 17,110 17,459 18,195 22,500 18,183 23,840 17,170

Prata Anã 13,625 14,250 14,324 20,795 14,451 18,415 14,400

Tabela 2. Peso médio do cacho, nas duas primeiras safras, em kg, em Itajaí e Urussanga. Epagri, 2010

Comprimento Diâmetro Peso médio por frutana 2a penca na 2a penca No cacho Na 2a penca

................... mm ...................... .................... g ....................SC451 Catarina 165 365 135 145

Prata Anã 152 328 97 112

Cultivar

Tabela 5. Média das características dos frutos na sétima safra, em Itajaí, SC. Epagri, 2010

sintomas da doença após7 anos de cultivo. Suaresistência aos ventos,assim como a do cultivarPrata Anã, foi das maiselevadas entre todos oscultivares de bananeiraestudados (Sônego et al.,

2007). Os cultivares SCS451 Catarina(Figura 2) e Prata Anã foramclassificados como cultivares com altaresistência ao frio (Lichtemberg, 2009).

Embora não quantificadas, acoloração mais clara e a limpeza dacasca do SCS451 Catarina são

superiores àquelas docultivar Prata Anã, sendoesses importantes fatoresna valoração do produto(Figura 3). O SCS451Catarina apresentou, porsafra, produtividademédia de 23.544kg/haem Urussanga e de33.679kg/ha em Itajaí(Lichtemberg et al., 2007).

Perspectivas e problemas donovo cultivar SCS451Catarina

O cultivar SCS451 Catarina é umanova opção de bananeira de portemédio para a produção de frutas dosubgrupo Prata, que apresenta

Terceira safra Sétima safraItajaí 1 Itajaí 2 Itajaí 3 Itajaí 3

SCS451 Catarina 24,025 22,088 17,258 17,980Prata Anã 22,175 18,325 13,927 14,161

Tabela 3. Peso médio dos cachos, na terceira e sétima safras, em kg, em Itajaí. Epagri, 2010

Figura 2. Resistência ao frio do SCS 451 Catarina, à direita, quandocomparado ao cultivar Grande Naine, à esquerda, em junho de 2007 Figura 3. Fruto maduro de SCS451 Catarina

Cultivar

Cultivar

Peso de frutaCultivar 2a penca Penúltima Cacho

pencaNo ..........................kg............................ kg No

SC451 Catarina 9,2 2,233 1,578 16,495 1,485 121,3

Prata Anã 9,5 1,725 1,226 12,413 1,748 130,8

Pencaspor cacho

Peso doengaço

Frutospor cacho

Tabela 4. Média das características do cacho na sétima safra, em Itajaí, SC. Epagri, 2010

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Duração média do 1o ciclo (dias)Itajaí 1(1) Itajaí 2(1) Itajaí 3(1) Urussanga(2)

SCS451 Catarina 546 522 485 416

Prata Anã 541 518 490 415

Cultivar

(1) Ciclo vegetativo mais ciclo produtivo (número de dias do plantio à colheita).(2) Ciclo vegetativo (número de dias do plantio à floração).

Tabela 6. Duração média do 1o ciclo, em dias, em Itajaí e Urussanga. Epagri, 2010

Duração média do 2o ciclo (dias)Itajaí 1 Itajaí 2 Itajaí 3 Urussanga

SCS451 Catarina 312 277 297 281Prata Anã 301 274 291 298

Cultivar

Tabela 7. Duração média do 2o ciclo, da primeira à segunda safra, em dias, em Itajaí eUrussanga. Epagri, 2010

Cultivar

(1) Avaliações de Peruch & Sônego (2007) em área sem pulverizações para o controle da doença.(2) Avaliações de STF e STC feitas na safra 2004/2005, e avaliações de NF e PFS feitas em 2007,em bananal de 9 meses, ambas em áreas pulverizadas.(3) Número de folhas viáveis.(4) Índice de severidade da doença.(5) Primeira folha (mais jovem) com sintomas, com centro marrom ou cinza.(6) Avaliação pelo método de Stover (1972) modificado, na 5a folha, na data da floração.(7) Avaliação pelo método de Stover modificado, na 5a folha, na data da colheita.(8) Médias seguidas da mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de ScottKnot, a 5% de probabilidade de erro.

Tabela 8. Severidade do “mal de sigatoka” em cultivares de bananeira, em Itajaí eUrussanga. Epagri, 2010

Urussanga(1) Itajaí(2)

NF(3) ISD(4) PFS(5) STF(6) STC(7) NF PFSSCS451 Catarina 9,9 13,1A(8) 5,1 B 0,88 A 1,09 A 12,1 6,2 B

Prata Anã 10,2 9,5 A 6,6 B 0,82 A 1,14 A 12,0 6,4 BGrande Naine 9,3 7,9 A 6,0 B 0,74 A 1,17 A 10,4 5,7 BNanicão 11,1 7,1 A 5,5 B 0,78 A 1,00 A 10,6 5,8 B

Thap Maeo 10,7 0,5 B 9,5 A 0,21 B 0,56 B 14,1 9,8 A

vantagens comparativas sobre ocultivar Prata Anã na produtividade,no tamanho do cacho e no tamanho ena classificação dos frutos. Como oPrata Anã, o cultivar SCS451 Catarinaapresenta boa resistência ao frio e aosventos e, como vantagem, apresentarazoável tolerância ao “mal dopanamá”, para uma variedade dosubgrupo Prata. Apresenta tambémboa tolerância ao nematoidecavernícola. Com essas qualidades, onovo cultivar pode substituir comvantagens os atuais cultivares do seusubgrupo.

Os principais problemas do novocultivar são a sua alta suscetibilidadeao “mal de sigatoka”, o que exige ocontrole da doença, e a sua médiasuscetibilidade ao “mal do panamá”,que pode representar risco em áreasmais propícias à ocorrência dessaenfermidade.

Disponibilidade de mudasdo novo cultivar SCS451Catarina

Com o fechamento do Laboratóriode Cultivo de Tecidos Vegetais, emItajaí, e com a demanda crescente demudas do novo cultivar, a Epagri estáampliando o jardim clonal dessematerial para atender as necessidadesde explantes dos laboratóriosnacionais credenciados pela Empresapara a multiplicação do SCS451Catarina (Figura 4). Dessa forma,agora em 2011 já deve haver boadisponibilidade de mudas dessecultivar no mercado nacional.

Figura 4: Penca de SCS451 Catarina

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(ANÚNCIO)

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O trips, Thrips tabaci Lind.(Thysanoptera: Thripidae), éconsiderado a principal praga dacebola, causando danos devidos àraspagem das folhas e à sucção deseiva das plantas. O ataque do insetoprovoca lesões esbranquiçadas nasfolhas, o que reduz o tamanho e pesodos bulbos. Em infestações com altasdensidades populacionais de trips, otombamento das folhas não ocorre namaturação, o que facilita a entrada deágua da chuva até os bulbos,provocando futuras perdas na

Efeito da aplicação do preparado homeopático deNatrum muriaticum na incidência de Thrips tabaci na

produtividade e na armazenagem de cebola emsistema orgânico

Paulo Antônio de Souza Gonçalves1, Pedro Boff2, Mari Inês Carissimi Boff3 e Cristiano Nunes Nesi4

Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do preparado homeopático Natrum muriaticum na incidência deThrips tabaci Lind. (Thysanoptera: Thripidae) na produtividade e no armazenamento de cebola produzida em sistemaorgânico. O experimento foi conduzido na Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, SC. O delineamento experimentalutilizado foi blocos ao acaso com quatro repetições. O cultivar utilizado foi Epagri 362 Crioula Alto Vale. Os tratamentosforam: pulverizações a 0,1% de Natrum muriaticum na 6, 12 e 30CH (ordem centesimal de potência hahnemanniana) etestemunha. A incidência do inseto foi inferior à testemunha apenas para Natrum muriaticum 12CH aos 68 dias após otransplante. A massa de bulbos foi incrementada significativamente por Natrum muriaticum 12CH. A conservação pós--colheita diminuiu com o aumento das potências do preparado homeopático.

Termos para indexação: homeopatia, inseto, agricultura orgânica, Thripidae.

Effect of homeopathic preparation of Natrum muriaticum on thrips incidence, Thrips tabaci,in the yield and storage of onion in organic system

Abstract – The objective of this research was to evaluate the effect of the homeopathic preparation Natrum muriaticum onthrips incidence, Thrips tabaci Lind. (Thysanoptera: Thripidae), yield, bulb mass, and the storage of onion in the organicsystem. The experiment was carried out in the Epagri Experiment Station, in Ituporanga, Santa Catarina State, Brazil.The experimental design was randomized complete blocks with four replications. The cultivar used was Epagri 362Crioula Alto Vale. The treatments were sprays at 0.1L/100L of water of homeopathic preparation of Natrum muriaticum6, 12 and 30CH (hahnemannian centesimal scale), and untreated check. The incidence of the insect was inferior to theuntreated check only to Natrum muriaticum 12CH at 68 DAT. The onion bulb mass was incremented with Natrum muriaticum12CH. The post-harvest conservation was reduced with the increment of potencies.

Index terms: homeopathy, insect, organic agriculture, Thripidae.

Aceito para publicação em 10/6/11.1 Eng.-agr., D.Sc., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-000 Ituporanga, SC, fone: (47) 3533-1409, e-mail:[email protected]., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Lages, C. P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, email: [email protected]., Ph.D., Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, C.P. 281, 88520-000 Lages, SC, fone: (49) 2101-9170, email: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail:[email protected].

armazenagem por apodrecimento(Gonçalves, 2006).

Preparados homeopáticos têm sidorecomendados como medida demanejo em espécies vegetais,principalmente em sistemasecológicos de produção (Casali, 2004;Bonato, 2006). A utilização depreparados homeopáticos de calcáriode conchas nas potências 6CH e 12CHem área de cultivo de cebola sob osistema orgânico com adubaçãofosfatada com base na análise de solonão interferiu na densidade

populacional de T. tabaci , masincrementou a produtividadecomercial e o peso médio dos bulbos(Gonçalves et al., 2009).

Segundo Bonato & Peres (2007),uma das estratégias na seleção desubstâncias de uso em sistemasagrícolas seria a utilização deanalogias entre os sintomas físicosapresentados na matéria médica eaqueles manifestados nos vegetais.Natrum muriaticum é indicado noscasos de sintomas de sede excessiva(Vannier & Poirier, 1987). Como a

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incidência de trips em cebola éfavorecida em condições de estressehídrico, elaborou-se a hipótese de queesse preparado possa favorecer aplanta a reagir em tais condiçõesadversas e tolerar a presença do inseto,ou tornar-se menos preferida comoalimento. Segundo Bonato (2006),Natrum muriaticum é indicado paraaclimatação de plantas em locais nãoapropriados ao seu desenvolvimentoe às condições de estresse por seca egeada.

O objetivo deste trabalho foiavaliar o efeito de preparadoshomeopáticos de Natrum muriaticumsobre a incidência de trips, aprodutividade total e comercial, amassa fresca de bulbos total ecomercial e as perdas na arma-zenagem de cebola em sistema deprodução orgânico.

O experimento foi conduzido naEpagri/Estação Experimental deItuporanga, SC (Figura 1). O cultivarutilizado foi Epagri 362 Crioula AltoVale. O espaçamento utilizado foi de40cm entre fileiras e 10cm entreplantas. As mudas foram trans-plantadas em solo coberto por palhade aveia e nabo-forrageiro, semeadosanteriormente, em maio, e acamadoscom rolo-faca para o transplante dasmudas. O sulco de plantio foi abertocom microtrator adaptado para essafinalidade e as mudas foramtransplantadas manualmente. Aadubação foi realizada em maio, sobreas plantas de cobertura, aplicando-seesterco de peru, 2t/ha, e notransplante foi aplicado fosfatonatural, 1t/ha. O transplante foirealizado em 23/8/2007 e a colheitarealizada em 12/12/2007. Odelineamento experimental foi emblocos ao acaso com quatro repetições.As parcelas foram duas linhas de 10metros lineares e, como bordadura,foram consideradas cinco plantas emcada extremidade. Os tratamentosutilizados foram preparadoshomeopáticos de Natrum muriaticumnas potências de 6CH, 12CH, 30CH, etestemunha sem aplicação. Ospreparados homeopáticos foramelaborados no Laboratório deHomeopatia e Saúde Vegetal daEpagri/Estação Experimental deLages, segundo as normas daFarmacopeia Homeopática Brasileira(1997).

A incidência de trips foi avaliadaem campo pela contagem do númerode ninfas em todas as folhas, em cincoplantas por parcela, com auxílio delupa manual de 3x. As avaliaçõesforam realizadas 24 horas após apulverização dos tratamentos, aos 55,61, 68, 75, 89 e 96 dias após otransplante. Para a aplicação dostratamentos foi utilizado pulverizadormanual de alta pressão (100psi detrabalho) tipo pet, marca Guarany®,adaptado em garrafas plásticas de 5L.A dose de aplicação dos tratamentosfoi de 0,1% em água.

A avaliação das produtividadestotal e comercial, da porcentagem debulbos comerciais, da massa média debulbos geral e da massa média de

bulbos comerciais foi realizada pelaamostragem de 100 bulbos porparcela. Segundo as normas demercado, foram considerados bulboscomerciais aqueles com diâmetrosuperior a 5cm. Após a colheita, osbulbos foram armazenados durante 5meses em sacos plásticos depolipropileno de 20kg em galpãotípico adotado por agricultores daregião do Alto Vale do Itajaí, SC. Aperda de massa fresca de bulbos e aporcentagem de bulbos perdidos porbacteriose foram avaliadas após esseperíodo.

Os dados foram submetidos àanálise de variância e de regressão,sendo determinado o modelo que se

Figura 1. Área experimental com homeopatia em cebola na Estação Experimental deItuporanga

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ajusta melhor aos dados utilizando oprograma SAEG (Ribeiro Jr., 2001).

A relação entre as potências dopreparado homeopático Natrummuriaticum e o número médio deninfas de trips foi significativa apenasaos 68 e 96 dias após o transplante(DAT), respectivamente com relaçõesquadrática positiva, y = 0,0494x2 –1,456x + 19,066 (R2 = 0,54; P = 0,026) enegativa, y = –0,0311x2 + 1,1163x+15,371 (R2 = 0,55; P = 0,0017). O efeitonão linear de potências de preparadoshomeopáticos em vegetais é relatadocomo frequente, pois o aumento daspotências não significa aumento daeficácia terapêutica, como se teorizanos casos de humanos e animais(Bonato & Peres, 2007). Aos 68 DATsas potências 6CH e 12CHapresentaram tendência a reduzir apopulação do inseto. A potência queproporcionou o maior nível deredução do inseto (mínima eficiênciatécnica) foi 15. Aos 96 DATs ocorreuo inverso: as potências 6CH e 12CH,que aos 68 DATs apresentavamtendência a reduzir o número de trips,o favoreceram. A potência que causouo maior incremento populacional doinseto (máxima eficiência técnica) foi18CH. Isso sugere que a aplicaçãocontinuada da mesma potência depreparado homeopático em plantaspode controlar temporariamente oorganismo alvo e depois podefavorecê-lo, semelhantemente ao queocorre na medicina humana (Garbi,2001). Portanto, à medida que foramsendo realizadas as aplicações daspotências 6CH e 12CH de Natrummuriaticum, houve resultado positivona diminuição do número de ninfas detrips. Isso ocorreu até os 68 DATs.Depois, houve o efeito contrário.

A relação entre potências dopreparado homeopático de Natrummuriaticum com as variáveis derendimento se ajustou ao modeloquadrático negativo no caso daporcentagem de bulbos comerciais, y= –0,0874x2 +3,1266x + 44,146 (R2 =0,38; P = 0,018), para a massa frescade bulbos, y = –0,0793x2 + 2,8063x +

73,144 (R2 = 0,45; P = 0,009), para a pro-dutividade comercial, y = –0,0227x2 +0,8014x + 9,9237 (R2 = 0,33; P = 0,0384)e para a massa fresca de bulboscomerciais, y = –0,041x2 + 1,4598x +102,33 (R2 = 0,36; P = 0,0204); e não foisignificativa no caso da produtividadetotal. Portanto, houve tendência daspotências intermediárias a in-crementar variáveis de rendimento,que foi revertida na potência mais alta.A potência 18CH apresentou o maiorretorno (máxima eficiência técnica)para as seguintes variáveis derendimento: porcentagem de bulboscomerciais; massa fresca de bulbos;produtividade comercial; e massafresca de bulbos comerciais. Portanto,de acordo com a média do limite dainflexão da curva das variáveis derendimento, a potência de Natrummuriaticum que proporcionaria maiorretorno em variáveis de rendimentoseria a 18CH.

A perda de massa fresca de bulbosno período de armazenagem não serelacionou com os tratamentos. Aporcentagem de bulbos comer-cializáveis após o período dearmazenagem, considerada como odescarte de perdas por bacterioses, seajustou ao modelo linear negativo como aumento das potências, y = –0,3182x+ 85,956 (R2 = 0,46; P = 0,0089).Portanto, o incremento das potênciasfavoreceu a perda de bulbos noperíodo pós-colheita. Isso sugere que,para compensar a relação entreincremento de rendimento e perdapós-colheita, devem ser utilizadas aspotências mais baixas de Natrummuriaticum.

O preparado homeopático deNatrum muriaticum 12CH apresentapotencial para ser pesquisado nomanejo de trips em cebola, poisreduziu a população do inseto eincrementou a massa de bulbos.

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As gramíneas forrageiras perenesde clima tropical se constituem emuma alternativa viável na alimentaçãoanimal, dado o seu alto potencial deprodução e relativo baixo custo (Botrelet al., 2000). Na região do PlanaltoNorte Catarinense (PNC) se observao uso de poucas espécies forrageirasperenes e, não raro, o uso de espéciespouco adaptadas. Nesse cenário, apossibilidade de utilização de espéciestropicais dos gêneros Pennisetum,Brachiaria, Panicum e Setaria, dadassuas elevadas capacidades deprodução de forragem e qualidade,tem sido demandada por técnicos eprodutores da região na busca deaumento dos índices de produtividadeanimal.

No entanto, o cultivo de espéciesdesses gêneros representa um desafiopara a região do PNC, que se

Comportamento produtivo de seis gramíneasforrageiras tropicais no Planalto Norte Catarinense

Ana Lúcia Hanisch1, Ângela Fonseca Rech2 e Daniel Dalgallo3

Resumo – Foram avaliados, sob cortes, os genótipos Brachiaria brizantha cv. MG-5 e cv. Marandu, Panicum maximum cv.Tanzânia e cv. Mombaça, Setaria sphacelata cv. Kazangula e Pennisetum purpureum cv. Pioneiro, na primavera-verão de2006/07 e 2007/08. O delineamento experimental foi de blocos completos casualizados, com três repetições. Houveinteração entre genótipos e anos de avaliação. Pennisetum purpureum foi o genótipo mais precoce e produtivo nos doisanos. Os teores de proteína bruta variaram de 8% a 12% e a digestibilidade in vitro da matéria orgânica de 62% a 70%. Osdois cultivares de Panicum reduziram a cobertura do solo para valores inferiores a 10% no segundo ano. No intervalo decorte utilizado, Pennisetum purpureum cv. Pioneiro e Brachiaria brizantha cv. MG-5 e cv. Marandu indicaram adaptação àscondições do Planalto Norte Catarinense.

Termos para indexação: capim-elefante, Panicum, Brachiaria, pastagem perene.

Productive behavior of six tropical forage species in the north plateau ofSanta Catarina state, Brazil

Abstract – Genotypes Brachiaria brizantha cv. MG-5 and cv. Marandu, Panicum maximum cv. Tanzania and cv. Mombaça,Setaria sphacelata cv. Kazangula and Pennisetum purpureum cv. Pioneiro were evaluated, with cuts, in the spring-summerperiods of 2006/07 and 2007/08. Treatments were arranged in a randomized complete block design with three replicates.There were interactions between genotypes and years of evaluation. The most productive and precocious genotype inboth years was Pennisetum purpureum cv. Pioneiro. The crude protein ranged between 8% and 12% and the digestibilityranged from 62% to 70%. The covering ground of Panicum maximum in the second year was less than 10%. In the cutsinterval used, Pennisetum purpureum and Brachiaria brizantha cv. Marandu and cv. MG-5 indicated adaptation to theconditions in the northern plateau of Santa Catarina state.

Index terms: elephant grass, Panicum, Brachiaria, perennial grasses.

Aceito para pubilcação em 13/6/11.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, e-mail: [email protected] Zootecnista, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Epagri/Escritório Municipal de Porto União, e-mail: [email protected].

caracteriza por invernos rigorosos,com ocorrência de geadas, o que limitao período de crescimento da maioriadas espécies de clima quente. Aindaassim, o elevado potencial deprodução de algumas dessas espéciescompensa essa estacionalidade(Dall’Agnoll et al., 2004).

Se a estacionalidade pode não serum problema, a perenização dessasespécies, normalmente, tem sido. ParaDall’Agnoll et al. (2004), resultados detrabalhos com mais de um ano deavaliação da mesma espécie são raros,o que dificulta a seleção dasforrageiras mais adaptadas. Aavaliação da cobertura de solopromovida pela espécie forrageira temsido um critério importante para aindicação de sua adaptação adiferentes regiões e manejos. Oobjetivo desta pesquisa foi avaliar a

produção de massa seca, a coberturado solo e a composição bromatológicade forrageiras perenes tropicais sob ascondições edafoclimáticas do PlanaltoNorte Catarinense.

O experimento foi conduzido naEpagri/Campo Experimental Salto doCanoinhas, no município dePapanduva (26º22’ latitude sul e 50o16’longitude oeste, altitude 800m e climaCfb) durante a primavera-verão de2006/07 e 2007/08. Foi utilizadodelineamento de blocos ao acaso, emparcelas subdivididas no tempo,alocando-se nas parcelas os genótipose nas subparcelas os anos de avaliação,com três repetições. As parcelasmediam 2 x 10m, com área útil de 1 x9m. Foram avaliados os genótiposBrachiaria brizantha Stapf. cv. Marandue cv. MG-5; Panicum maximum Jacq. cv.Tanzânia e cv. Mombaça; Setaria

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80 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

sphacelata Moss cv. Kazangula ePennisetum purpureum Shum. cv.Pioneiro, que já estavam implantadosna área experimental (Figura 1), emcrescimento vegetativo, sem cortes oupastejo, desde 2004, tendo sidoadubados de acordo com arecomendação apenas no plantio. Osolo da área experimental apre-sentava, na ocasião da implantação doexperimento, as seguintes ca-racterísticas: 340g/kg de argila; pHágua= 5,2; pH SMP = 5,1; P = 2,3 mg/dm3;

nível do solo, com o auxílio de umquadrado de 0,25m2 lançado sobre aárea útil. Após a amostragem, toda aparcela foi roçada na mesma altura daamostra e o material foi retirado. Apastagem cortada foi pesada paraestimativa da MS em kg/ha e, emseguida, retirada uma subamostrapara estimativa do teor de MS. Essasubamostra foi levada para estufascom circulação forçada de ar, comtemperaturas de 65ºC até atingir massaconstante e novamente pesada.

realizadas com repetições. Para aanálise dos dados de CS, os valoresforam transformados pela fórmula arcseno (x/100)1/2.

A análise de variância comprovouefeitos de anos e de genótipos, e dainteração desses dois fatores para aprodução de MS e CS (Tabela 1). Ainteração entre genótipos x ano podeser atribuída, em parte, às condiçõesclimáticas diferenciadas entre os doisanos (Figura 2), uma vez que nosegundo ano ocorreu um período de

K = 71mg/dm3; Al = 0,9cmolc/dm3;MO= 49g/dm3.

Nos dois anos de avaliação, asparcelas foram roçadas em setembro,o material morto foi retirado e foi feitaadubação em cobertura, sendoutilizadas, no primeiro ano deavaliação, 2t de cama de aviário porhectare (MS = 85,5%; pH = 8,3;nitrogênio = 30,4g/kg; fósforo =14,8g/kg; potássio = 23,1g/kg; cálcio= 39,5g/kg) e 300kg de fosfato naturalde Gafsa por hectare. No segundo anode avaliação foram utilizados 80kg/ha de P2O5, 80kg/ha de K2O, e 20kg/ha de N, na formulação comercial 5-20-20 + 40kg/ha de N, na forma deureia, após o terceiro corte. Cincosemanas após as adubações,iniciaram-se os cortes para avaliaçãoda produção de massa seca (MS), queforam realizados com intervalos entre35 e 40 dias, perfazendo um total decinco cortes em cada ano (12/11/06;15/12/06; 25/1/07; 27/2/07; 8/4/07e 25/10/07; 4/12/07; 7/1/08; 7/2/08;19/3/08). A biomassa seca daforragem foi avaliada por cortesrealizados com tesoura de tosquia auma altura aproximada de 30cm do

Figura 1. Vista geral da área experimental no primeiro ano deavaliação (2006/07)

A composição bromatológica foideterminada no segundo ano deavaliação através de amostrascompostas de cada corte, que foramencaminhadas para análise dos teoresde proteína bruta (PB) e fibra bruta(FB) segundo Silva & Queiroz (2002).A análise da digestibilidade in vitro damatéria orgânica (DIVMO) foiexecutada segundo Tilley & Terry(1963), modificado. As avaliações daporcentagem de cobertura do solo (CS)foram realizadas na segunda quinzenado mês de janeiro de cada ano. Aporcentagem de solo coberto foideterminada por estimativas visuaisna área total da parcela, sempre pordois observadores treinados, e osresultados classificados de zero a100% da cobertura do solo (CS) pelaforrageira. Os dados foramsubmetidos à análise de variância como auxílio do programa estatísticoSisvar. Quando constatados efeitossignificativos dos tratamentos, asmédias foram comparadas pelo testede Tukey a 5% de probabilidade. Osresultados das análises broma-tológicas não foram analisadosestatisticamente por não terem sido

chuvas acima da média histórica daregião no mês de dezembro, seguidode um período de deficit hídricodurante os meses de janeiro efevereiro, o que deve ter contribuídopara a redução da produção de MS dosgenótipos avaliados.

O capim-elefante cv. Pioneiro foi ogenótipo mais produtivo nos doisanos de avaliação. No primeiro ano deavaliação, os dois cultivares deBrachiaria diferiram entre si em relaçãoà produção de MS, mas no segundoano de avaliação, os dois cultivaresapresentaram produções semelhantese, como as demais espécies, reduziramsua MS. Apesar de a grande maioriados trabalhos de pesquisa comBrachiaria brizantha terem ocorrido emregiões de clima quente no Brasil, osresultados de massa seca de forragemdesse trabalho, nos dois anosavaliados, aproximam-se dosresultados obtidos por Costa et al.(2007), indicando adaptação dessaespécie ao clima Cfb.

No primeiro ano, os dois cultivaresde Panicum maximum (cv. Tanzânia ecv. Mombaça) apresentaram produçãode MS adequada para a espécie, com

Figura 2. Somatória da precipitação mensal e médias das temperaturasmínimas e máximas durante a primavera-verão de 2006/07 e 2007/08 emMajor Vieira, SC. Epagri/Ciram

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Gramínea PB DIVMO FB ......................................%....................................C. elefante cv. Pioneiro 11,8 70,7 33,1Braquiária cv. MG5 9,1 66,2 34Braquiária cv. Marandu 10,8 62,2 30Tanzânia 11,6 69,8 35Mombaça 12,4 69,5 33,5Setária cv. Kazangula 8,1 65,5 37

1 A análise bromatológica ocorreu no segundo ano (2007/08), nos cortes de dezembro, janeiroe fevereiro.

Tabela 2. Teores médios de proteína bruta (PB), digestibilidade in vitro da matéria orgânica(DIVMO) e fibra bruta (FB) de seis forrageiras perenes tropicais no Planalto NorteCatarinense, 20081

2006/07 2007/08 2006/07 2007/08 Massa seca Cobertura de solo................kg/ha................ .............%...............

Capim-elefante cv. Pioneiro 38.554 a A 27.170 a B 100 a A 100 a ABraquiária cv. MG5 36,234 a A 20.787 b B 100 a A 100 a ABraquiária cv. Marandu 23.720 b A 22.865 ab A 73 b B 93 ab ATanzânia 26.880 b A 2.947 d B 67 c A 8 c BMombaça 26.129 b A 2.334 d B 83 b A 8 c BSetária cv. Kazangula 13.500 c A 8.547 c B 83 b A 80 b ACV 1 (%) 8,31CV 2 (%) 6,72

Gramínea

Notas: - Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferementre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; - CV 1 = coeficiente de variação da parcela; CV 2 = coeficiente de variação geral.

Tabela 1. Produção de massa seca (MS) e porcentagem de cobertura de solo (CS) de seisgenótipos de forrageiras perenes tropicais no Planalto Norte Catarinense

valores acima de 26t/ha de MS. Mas,na avaliação da persistência dosgenótipos, no segundo ano deavaliação, a não adaptação àscondições avaliadas foi evidente, comproduções de MS abaixo de 3t/ha,valores muito abaixo do potencial de33t/ha/ano obtidas com o cultivarMombaça (Jank, 1995) ou de 22t/ha/ano obtidas por Soares et al. (2009)com o cultivar Tanzânia.

O valor médio de PB encontradopara o capim-elefante cv. Pioneiroconcorda com os relatados por Botrelet al. (2000) e Santos et al. (2003), querevela alto valor nutritivo para essecultivar. Gerdes et al. (2000)encontraram para B. brizantha cv.Marandu, Setária e Tanzânia teores dePB, no verão, de 11,4%, 10,6% e 10,8%,valores próximos aos obtidos nestetrabalho, com exceção da Setária, queapresentou PB média de 8,1% (Tabela2).

Houve interação entre genótipos xano para CS (Tabela 1). Panicummaximum cv. Tanzânia e cv. Mombaça

tiveram sua cobertura severamentereduzida no segundo ano de avaliação,demonstrando incapacidade depersistir às condições climáticas daregião quando manejadas sob cortes.O capim-elefante cv. Pioneiro manteve100% de CS nos dois anos avaliados e,juntamente com os dois cultivares deBrachiaria brizantha, demonstroupersistência na região e ao manejoadotado.

Literatura citada

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Introdução

A produção catarinense demorangos se concentra no litoral doEstado, com destaque para omunicípio de Rancho Queimado.Áreas menores são encontradas empraticamente todos os municípios doEstado e a cultura tem grandeimportância pela renda que gera aosagricultores. O produto também écomercializado localmente, ocupandonichos de mercado que remuneramcom preços diferenciados. Na RegiãoOeste Catarinense, o cultivo de

Desempenho produtivo de cultivares de morango noOeste de Santa Catarina

Luiz Augusto Ferreira Verona1, Eduardo Cesar Brugnara2, Cristiano Nunes Nesi3, Rogério Grossi4 e LuizEduardo Corrêa Antunes5

Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho produtivo de quatro cultivares de morangueiro e a sanidadedas frutas em sistema de produção de transição para agroecológico. O experimento foi executado no município deChapecó, na Região Oeste de Santa Catarina. Foram avaliados os cultivares Albion, Camarosa, Camino Real e Toyonoca.O sistema de produção utilizado foi o cultivo protegido em túneis baixos com adubação orgânica e retirada de tecidoscom sintomas de doenças. Foram avaliados o rendimento total (RT), de frutas comerciais (RFC), de frutas com ataque depragas (RFP), de frutas com doenças (RFD), e suas proporções, além da distribuição da produção ao longo do tempo. Ocultivar Camarosa superou Albion em RT e RFC, e Toyonoca apenas em RFC. Toyonoca apresentou maior proporção defrutas atacadas por pragas que os demais cultivares. O cultivar Camarosa apresentou pico de produção mais precoceque os outros cultivares. Entre os cultivares testados, Camarosa e Camino Real apresentaram melhor desempenho,podendo ser utilizados para escalonar a colheita, no sistema de produção considerado.

Termos para indexação: Fragaria x ananassa, praga, doença, rendimento.

Yield performance of strawberry cultivars in the west of Santa Catarina

Abstract – The objective of this study was to evaluate the yield performance of four cultivars of strawberry and fruithealth, under an alternative production system. The experiment was carried out in Chapecó, in western Santa Catarina,Brazil. Cultivars Albion, Camarosa, Camino Real and Toyonoca were evaluated. The production system used was ofprotected cultivation under low tunnels with organic fertilization and destruction of diseased tissues. Total yield (RT),yield of commercial fruits (RFC), fruits with pest attacks (RFP), fruits with diseases (RFD), their proportions and also thedistribution of production over time were evaluated. Cultivar Camarosa surpassed Albion in RT and RFC, and Toyonocaonly in RFC. Toyonoca showed a higher proportion of fruits attacked by pests than the other cultivars. The peak of yieldof Camarosa happened earlier than with other cultivars. Among the tested cultivars, Camarosa and Camino Real hadbetter performance and can be utilized to stagger the harvest in the production system considered.

Index terms: Fragaria x ananassa, pest, disease, yield.

Aceito para publicação em 14/6/11.1 Eng.-agr., D.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone (49) 3361-0600, e-mail:[email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), e-mail: [email protected] Eng.-agr., C.P. 146, 89801-973 Chapecó, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., D.Sc., Embrapa Clima Temperado, C.P. 403, 96001-970 Pelotas, RS, e-mail: [email protected].

morango se destaca pela excelentealternativa para a agricultura familiargraças aos aspectos econômicos, àdiversificação da unidade e ao uso demão de obra especializada, além deproporcionar uma rica fonte dealimento.

Os cultivares de morangueiroAromas e Camarosa estão entre osmais cultivados no Estado. Aprodução se concentra no período daprimavera (Scherer et al., 2003; Veronaet al., 2007a), porém no município deRancho Queimado se cultiva o anotodo, utilizando-se principalmente ocultivar Aromas, por ser de dia neutro.

Os cultivares de dia neutro,insensíveis ao fotoperíodo, apre-sentam a vantagem de produzirtambém no verão, especialmente emregiões de maior altitude.

De acordo com o sistema de cultivoutilizado na produção de morango, oscultivares apresentam diferentescomportamentos produtivos eincidência de pragas e doenças.

O objetivo deste trabalho foiavaliar o desempenho (rendimento,distribuição temporal da produção esanidade das frutas) de quatrocultivares de morangueiro em sistema

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83Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

de manejo de transição para produçãoorgânica.

Material e métodos

O experimento foi conduzido emuma unidade de produção familiar nomunicípio de Chapecó, SC, comaltitude de 650m, 27º6’32” latitude sul,52º35’26” longitude oeste e climacaracterizado como Cfa. Aimplantação ocorreu no dia 9 de maiode 2009, inserida em umagroecossistema onde existe produçãode morango com o objetivo comercialhá mais de 10 anos. O delineamentoexperimental foi em blocoscasualizados com três repetições. Oscanteiros continham quatro linhas deplantas com espaçamento de 30cmentre plantas e 30cm entre canteiros.As parcelas foram compostas por 10plantas úteis, nas duas linhas centraisdo canteiro, sendo as linhas lateraismantidas como bordadura.

No estudo foram utilizados túneisbaixos de plástico com filme depolietileno preto de 80μm deespessura sobre o solo. No túnel decobertura foi utilizado polietilenotransparente de 100μm de espessura.A irrigação foi feita por gotejamentocom duas linhas de gotejadores porcanteiro. A adubação foi feita 30 diasantes do plantio, com 20t/ha de camade aviário com 67% de matéria seca,conforme recomendação da So-ciedade... (2004) para ajuste da dose denitrogênio. O controle de doenças foifeito com a retirada de tecidos comsintomas de doenças e aplicação deprodutos à base de oxicloreto de cobre.Com relação ao controle de ácarorajado (Tetranychus urticae), foiutilizada a abamectina. Os túneisforam fechados à noite e em dias denevoeiro, nublados ou com chuva, eabertos quando havia incidênciadireta de sol. No mês de dezembro oscanteiros permaneceram parcialmentecobertos nos dias de sol para evitarescaldadura de pseudofrutos por sol.

Os cultivares testados (tra-tamentos) foram Albion, Camarosa,Camino Real e Toyonoca. O cultivarAromas não entrou no teste por sermais adaptado às condições de frio ede verão ameno. As mudas deToyonoca foram produzidas naprópria unidade de produção, e as

demais, de origem chilena, foramfornecidas pela Embrapa ClimaTemperado. As colheitas foram feitascom intervalos de 3 ou 4 dias. Ospseudofrutos (aqui denominadosfrutas) foram colhidos quando mais de75% da epiderme estava avermelhada.Eles foram classificados em: frutascomerciais (sem dano de praga oupodridões), frutas com ataque depragas (frutas que apresentavamlesões mecânicas características deatividade de alimentação de animais,exceto danos de trips) e frutas comdoença (que apresentavam qualquerpodridão sem sinais de ataque porpragas). Após isso, as frutas foramcontadas e pesadas. A partir dasavaliações se calculou rendimentototal (RT), rendimento de frutascomerciais (RFC), rendimento defrutas com ataque de pragas (RFP) erendimento de frutas com doença(RFD). Essas variáveis foramcalculadas incluindo o espaço entrecanteiros. As porcentagens de frutasem cada categoria também foramavaliadas, além da distribuição daprodução ao longo do tempo por meiode um gráfico de linhas. Os dadosforam submetidos ao teste de Shapiro--Wilk para avaliar a normalidade dosresíduos e ao teste de Levene paraavaliar a homogeneidade dasvariâncias. Posteriormente seprocedeu a uma análise de variância,e as médias foram comparadas peloteste de Tukey a 5% de significância.

Resultados e discussão

O rendimento total dos cultivarestestados variou de 10.278 a 14.240kg/ha, o que é relativamente baixo

quando comparado ao obtido porVerona et al (2007a; 2007b). Durante operíodo de produção, ocorreramchuvas acima da média dos últimos 30anos nos meses de agosto e setembro(Figura 1). O excesso de chuva, alémde reduzir a incidência de radiaçãosolar, aumenta a incidência de doençaspela elevação da umidade nasuperfície do tecido vegetal. Astemperaturas foram abaixo da médianos meses de junho e julho, fase deestabelecimento da cultura, o quepode ter retardado o estabelecimentodas plantas e também ter prejudicadoa diferenciação floral, já que foramtemperaturas abaixo da ideal (15 a18ºC) (Sønstebya & Heideb, 2008). Astemperaturas foram acima da médianos meses de novembro e dezembro,e temperaturas altas são favoráveis aocrescimento vegetativo em detrimentodo reprodutivo (Kirschbaum, 1998).

Camarosa foi mais produtivo queAlbion (Tabela 1), tanto seconsiderarmos o rendimento totalcomo o de frutas comerciais. Ocultivar Albion é consideradoinsensível ao fotoperíodo. Oscultivares com essa característicaestendem o período produtivo paraalém do mês de dezembro; talvez porisso não tenha atingido grandeprodutividade no período avaliado.Carpenedo et. al. (2009) tambémobservaram superioridade deCamarosa sobre Albion no período demaio a dezembro em Pelotas, RS,utilizando também um sistema decultivo em túneis. Os cultivaresToyonoca e Camino Real apre-sentaram rendimento semelhante aosdemais. Verona et al. (2007c)observaram maior rendimento do

Tabela 1. Rendimento de frutas total (RT), comerciais (RFC), com ataque de pragas (RFP) ecom doenças (RFD) de cultivares de morango. Chapecó, SC, 2009

(1) Médias seguidas pela mesma letra, na mesma coluna, não diferem pelo teste de Tukey(α = 0,05).(2) Análises realizadas com dados transformados.ns Sem diferença significativa.

Tratamento RT RFC RFP(2) RFD(2)

.............................................kg/ha.............................................Camarosa 14.240,0 a(1) 10.877,0 a 1.300,7 b 2.062,2 ns

Camino Real 11.401,5 ab 8.962,9 ab 1.072,6 b 1.365,9Toyonoca 10.927,4 ab 7.063,7 b 2.619,2 a 1.244,4

Albion 10.278,5 b 7.404,4 b 1.280,0 b 1.594,0C.V. % 11,53 11,95 23,68 24,67

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(1) Médias seguidas pela mesma letra, na mesma coluna, não diferem pelo teste de Tukey(α = 0,05).(2) Análises realizadas com dados transformados.ns Sem diferença significativa.

Tabela 2. Proporção de frutas comerciais, com ataque de pragas e com incidência de doençasem cultivares de morango. Chapecó, SC, 2009

Frutas Frutas Frutas comcomerciais(2) com praga(2) doença

Camino Real 77,3 a(1) 12,0 b 10,7 ns

Camarosa 73,9 a 14,7 b 11,4Albion 69,0 ab 17,1 b 13,9

Toyonoca 61,6 b 28,6 a 9,8CV % 4,61 17,06 22,13

Tratamento

Figura 1. (A) Total de precipitação mensal e (B) temperatura média mensal do período dejunho a dezembro de 2009 e média mensal dos últimos 30 anos (normal)

cultivar Camarosa quando com-parados a Camino Real e outroscultivares de dia curto e neutro.

Apesar do rendimento totalsemelhante, quanto ao rendimento defrutas comerciais, verificou-sesuperioridade de Camarosa emrelação a Toyonoca. Isso se podeexplicar pela proporção de frutas comataque de pragas (Tabela 2), que foimaior em Toyonoca, bem como o RFP(Tabela 1). Isso evidencia uma maiorpredisposição do cultivar ao ataque depragas. Por outro lado, Verona et al.(2005) encontraram mais frutasatacadas por pragas em Camarosa doque em Toyonoca. O RFD e aporcentagem de frutas doentes nãodiferiram entre os cultivares (Tabelas1 e 2). Verona et al. (2005) observaramdiferenças entre cultivares naporcentagem de frutas atacadas porpragas e por doenças. Em outrotrabalho, diferenças não foramobservadas (Verona et al., 2007c).

Scherer et al. (2003) apontaram que15% das frutas são perdidas emlavouras sob cultivo orgânico, beminferior ao observado nesteexperimento, no qual as perdas porpragas e doenças foram da ordem de30%. Outros trabalhos tambémdeterminaram menores perdas porpragas e doenças (Verona et al., 2007a;Nesi et al., 2008). Entre as possíveiscausas para a maior perda percentualobservada no presente trabalho estãoo baixo rendimento total e ascondições climáticas durante operíodo, que foram bastante atípicas.

O pico de produção do cultivarCamarosa ocorreu em outubro, antesdos picos dos demais cultivares, queocorreram em novembro e no início dedezembro (Figura 2). O cultivarCamino Real atingiu produtividadesemelhante ao Camarosa e teve picomais tardio, o que sugere a utilizaçãoda combinação dos dois cultivarespara escalonar a colheita.

Conclusão

Entre os cultivares testados, tendoem vista o rendimento e asensibilidade a pragas, Camarosa eCamino Real apresentam melhordesempenho no sistema de produçãoconsiderado.

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Figura 2. Distribuição da produção comercial total semanal de frutas de quatro cultivares demorango. Chapecó, SC, 2009

Literatura citada

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5. SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Comissão deQuímica e Fertilidade do Solo.Manual de adubação e calagem paraos Estados do Rio Grande do Sul e de

(ANÚNCIO)

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3. O Artigo científico deve serconclusivo, oriundo de umapesquisa já encerrada. Deve estarorganizado em título, nomecompleto dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de15 linhas, incluindo Termos paraindexação), título em inglês,Abstract e Index terms, Introdução,Material e métodos, Resultados ediscussão, Conclusão, Agradeci-mentos (opcional), Literaturacitada, tabelas e figuras. Os

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4. A Nota científica refere-se apesquisa científica inédita erecente com resultados im-portantes e de interesse para umarápida divulgação, porém comvolume de informaçõesinsuficiente para constituir umartigo científico completo. Podeser também a descrição de novadoença ou inseto-praga. Deve terno máximo oito páginas(incluídas as tabelas e figuras).Deve estar organizada em título,nome completo dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de12 linhas, incluindo Termos paraindexação), título em inglês,Abstract e Index terms , textocorrido, Agradecimentos(opcional), Literatura citada,tabelas e figuras. Não deveultrapassar dez referênciasbibliográficas.

5. A seção Germoplasma e Lan-çamento de cultivares deveconter título, nome completo dosautores, Resumo (máximo de 15linhas, incluindo Termos paraindexação), título em inglês,Abstract e Index terms, Introdução,origem (incluindo pedigree),descrição (planta, brotação,floração, fruto, folha, sistemaradicular, tabela com dados

comparativos), perspectivas eproblemas do novo cultivar ougermoplasma, disponibilidade dematerial e Literatura citada. Háum limite de 12 páginas para cadamatéria, incluindo tabelas efiguras.

6. Devem constar no rodapé daprimeira página: formaçãoprofissional do autor e do(s)coautor(es), título de graduaçãoe pós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome eendereço da instituição em quetrabalha, telefone para contato eendereço eletrônico.

7. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobrenomee ano, com apenas a primeira letramaiúscula. Quando houver doisautores, separar por “&”; sehouver mais de dois, citar oprimeiro seguido por “et al.”(sem itálico).

8. Tabelas e figuras geradas noWord não devem estar inseridasno texto e devem vir numeradas,ao final da matéria, em ordem deapresentação, com as devidaslegendas. Gráficos gerados noExcel devem ser enviados, com asrespectivas planilhas, emarquivos separados do texto. Astabelas e as figuras (fotos egráficos) devem ter título claro eobjetivo e ser autoexplicativas. Otítulo da tabela deve estar acimadela, e o título da figura, abaixo.As tabelas devem ser abertas àesquerda e à direita, sem linhasverticais e horizontais, comexceção daquelas para separaçãodo cabeçalho e do fechamento,

Normas para publicação na revistaAgropecuária Catarinense (RAC)

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87Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

evitando-se o uso de linhasduplas. As abreviaturas devemser explicadas ao aparecerempela primeira vez. As chamadasdevem ser feitas em algarismosarábicos sobrescritos, entreparênteses e em ordem crescente(ver modelo).

9. As fotografias (figuras) devemestar digitalizadas, em formatoJPG ou TIFF, em arquivo sepa-rado do texto, com resoluçãomínima de 200dpi, 15cm de base.

10. As matérias apresentadas para asseções Registro, Opinião eConjuntura devem se orientarpelas normas do item 11.

10.1 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam a opiniãodo autor sobre o fato em foco enão deve ter mais que trêspáginas.

10.2 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com base emanálise econômica, social oupolítica, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

11. Os trabalhos devem serencaminhados preferencialmen-te em meio digital (e-mail ou CD),no programa Word for Windows,letra arial, tamanho 12, espaçoduplo. Devem possuir margemsuperior, inferior e laterais de2,5cm, estar paginados e com aslinhas numeradas.

12. Literatura citada – As referênciasbibliográficas devem estarrestritas à literatura citada notexto, de acordo com a ABNT eem ordem alfabética. Não sãoaceitas citações de dados nãopublicados e de publicações noprelo. Quando houver mais detrês autores, citam-se apenas ostrês primeiros, seguidos de “etal.”.

Exemplos de citação:

Eventos:DANERS, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In: CONGRESSOIBERO-LATINO-AMERICANO DEAPICULTURA, 5., 1996, Mercedes.Anais... Mercedes, 1996. p.20.

Periódicos no todo:ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275p.

Artigo de periódico:STUKER, H.; BOFF, P. Tamanho daamostra na avaliação da queimaacinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília, v.16,n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico:SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo, n.75,set. 1998. Disponível em:<www.idg.com.br/abre.htm>. Acessoem: 10 set. 1998.

Livro no todo:SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Recomendação deadubação e de calagem para os estados do

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

113 d122 cd131 abc134 ab122 cd128 abc138 a

125 bc

133 ab4,80,0002(**)

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3 6,4

80 d100 ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104 a

94 abc

95 abc 6,1

95 d110 bc121 a109 bc100 cd107 bc115 ab

106 bc

109 bc 6,40,011(**)

................................ g ........................... kg/ha

1993 1994 1995 Média

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses três anos,em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de calda de raleantesquímicos(1)

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha

CV (%)Probabilidade > F

Peso médio dos frutos ProduçãomédiaTratamento

(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.CV = coeficiente de variação.Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.3.ed. Passo Fundo, RS: SBCS/NúcleoRegional Sul; Comissão de Fertilidadedo Solo – RS/SC, 1994. 224p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Manual deadubação e calagem para os Estados do RioGrande do Sul e de Santa Catarina. 10.ed.Porto Alegre, RS: SBCS/NúcleoRegional Sul; Comissão de Química eFertilidade do Solo – RS/SC, 2004.400p.

Capítulo de livro:SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.).Compendium of cotton diseases. St. Paul:The American PhytopathologicalSociety, 1981. p.41-44.

Teses e dissertações:CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivo domaracujazeiro amarelo (Passiflora edulisSims f. flavicarpa Deg.). 1998. 134f.Dissertação (Mestrado em ProduçãoVegetal), Faculdade de CiênciasAgrárias e Veterinárias, UniversidadeEstadual Paulista, Jaboticabal, SP,1998.

1.900L/ha comturboatomizador

1.900L/hacom pulverizadormanual

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88 Agropecuária Catarinense, v.24, n.2, jul. 2011

Levando em consideração a importância doVocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp),edição de 2009, que incorpora as bases do AcordoOrtográfico da Língua Portuguesa aprovado em Lisboaem 12 de outubro de 1990 pela Academia de Ciências deLisboa, pela Academia Brasileira de Letras e por delegaçõesde Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e SãoTomé e Príncipe, esta nota de esclarecimento visa: corrigirpalavras que têm sido usadas de forma inadequada “portradição”; reforçar o uso de algumas palavras cuja grafiacorreta ainda é desconhecida por muitos; esclarecer que aortografia unificada da nossa língua “constitui um passoimportante para a defesa da unidade essencial da línguaportuguesa e para o seu prestígio internacional” (Volp, p.XIII); tentar acabar com as divergências havidas até aquisobre alguns pontos já esclarecidos pelo Volp; destacar aimportância da obediência às regras de uma língua parase publicar um texto bem escrito. Em vista disso, decide--se:

a) divulgar o fato de a ortografia, nos textos publicadospela Epagri/GMC, estar sendo usada, desde 2009,conforme o Acordo Ortográfico de 1990;

b) usar, a partir de agora, o gênero correto da palavracultivar, que é masculino, conforme consta no Volp, nodicionário Houaiss e no dicionário Aurélio;

c) alertar para a grafia correta de engenheiro-agrônomoe de médico-veterinário, ambas com hífen (aliás, essaspalavras já eram com hífen desde, no mínimo, 1971,quando houve a reforma ortográfica anterior ao Acordode 1990, com dados publicados no Volp de 1981);

d) chamar a atenção para o fato de algumas palavrasterem mudado sua grafia, como quenquém, que passa a serescrita quem-quem (cujo plural passa a ser quem-quens).Neste item também podem entrar palavras como abacaxi-

-branco, abajá-mirim e abelha-campeadora, que não constavamda edição anterior do Volp; abelha de ouro, que passa a sersem hífen, já que não é espécie zoológica; baba de boi (seiva)agora está diferenciada de baba-de-boi (palmeira); co-variaçãopassa a ser escrita covariação; as variedades de ébano, queantes tinham sete nomes registrados e agora têm 15, entremuitos outros exemplos que poderiam ser citados;

e) reforçar a regra que manda empregar o hífen naspalavras compostas que designam espécies botânicas ezoológicas (com ou sem elemento de ligação), como couve--flor, fava-de-santo-inácio, andorinha-do-mar, etc.;

f) solicitar aos autores especial atenção (conferindo como Volp, por exemplo, que está disponível na internet) aoescrever termos pouco comuns para que a forma corretaseja privilegiada, observando a diferença entre adesmia(ausência de junção) e adésmia (espécie de planta), cabeça decoco (indivíduo desatento) e cabeça-de-coco (espécie de peixe),cacosmia (odor desagradável; atração por cheirodesagradável) e cacósmia (espécie de planta), dente de cão(cravagem, doença de gramíneas) e dente-de-cão (espécie deplanta), entre centenas de outras;

g) destacar a importância de verificar (no Volp) a grafiacorreta das palavras que causarem dúvidas, especialmentese derivadas de palavras estrangeiras ou do latim – emambos os casos devem ser seguidas as normas de formaçãode palavras da nossa língua, como cercóspora (acentuada porser proparoxítona), fusário e diplódia (acentuadas por seremparoxítonas terminadas em ditongo), etc.

Esclarecemos, ainda, que os redatores/revisores de textoda Epagri/GMC estão empenhados na melhoria contínuado seu trabalho e solicitam, como é de se esperar, aconsideração por parte dos autores em relação às alteraçõesgramaticais e ortográficas realizadas em seus textos, peloque ficam profundamente agradecidos.

Queremos fazer uma revista cada vez melhor e, por isso, sua opinião é muito importante. Para tirar dúvidas, fazer críticasou comentários sobre o conteúdo e sugerir pautas para a RAC, entre em contato conosco pelo [email protected] e pelo fone (48) 3239-5682 ou escreva para: Revista Agropecuária Catarinense - Epagri,Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901, Florianópolis, SC. Esperamos seu contato.

“Escrevo para cumprimentá-los pela excelente publicação Agropecuária Catarinense.Chegou às minhas mãos um exemplar da edição de março de 2011, com ótimas matériassobre desenvolvimento rural e sustentabilidade. Como profissional de comunicação do

Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, e doutorandada Feagri/Unicamp, me identifico com a abordagem apresentada. Gostei muito mesmo do

que li. Meus parabéns a toda a equipe!”

Ana Paula Silva - Coordenadora de Comunicação Cepea/Esalq-USP

Nota de esclarecimento