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Ano XII • nº 212 Janeiro de 2013 R$ 5,90 ÁGUAS CLARAS GANHA UM NOVO ESPAÇO GASTRONÔMICO

ÁGUAS CLARAS GANHA UM NOVO ESPAÇO ... itens, alguns deles porções fartas para saciar a fome de duas ou três pessoas, no mais autêntico estilo italiano de servir. 30 Destaque

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Ano XII • nº 212Janeiro de 2013R$ 5,90

ÁGUAS CLARAS GANHA UM NOVO ESPAÇO GASTRONÔMICO

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em poucas palavras

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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Setor Hoteleiro Sul, Quadra 6, Bloco C, Sala 1612, Brasília-DF - CEP 70.316-109 Endereço eletrônico [email protected] | Tel: 3961.6261 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli | Colaboradores Adriana Nasser, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Súsan Faria, Vicente Sá Fotografia Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Para anunciar Rachel Formiga (8144.9935 / 9959.9935) Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares.

Nesta época de programação cultural habitualmente árida, não deixa de ser surpreendente o bom começo da temporada teatral brasiliense. Diferentemente de anos anteriores, 2013 mal deu as caras e já entraram em cartaz – ou entrarão em breve – produções de fôlego sobre temas delicados como as relações homoafetivas, tratadas na peça Aos nossos filhos, ou sobre conflitos existenciais, como os da poeta americana Anne Sexton, mas também comédias do tipo Você não é perfeita, tchau, de Alexandre Ribondi, e Arresolvido, de André Paes Leme.

Natural, portanto, que tenhamos escolhido para ilustrar a capa desta edição o tema teatro, presente nas seções Que Espetáculo (página 18) e Dia & Noite (página 22), num total de nove produções. Uma delas traz a Brasília a mais conhecida atriz portuguesa da atualidade, Maria de Medeiros, aquela mesmo de Pulp fiction, de Quentin Tarantino, e de Henry e June, de Phillip Kaufman. Ela protagoniza a peça Aos nossos filhos, texto da escritora e atriz Laura Castro, que vive há 13 anos com a também atriz Marta Nóbrega e seus três filhos.

Também na gastronomia 2013 começou quente. Para quem gosta de um bom boteco, a melhor novidade é a inauguração, no Sudoeste, do Primeiro Cozinha de Bar, apenas um ano após a abertura da casa homônima em Águas Claras. Em ambas, a meta audaciosa dos jovens proprietários é criar o boteco perfeito, ou seja, aquele que seja animado, descontraído, tenha boa bebida e comida, mas preze sempre o excelente atendimento e a higiene absoluta (página 4).

De Águas Claras, aliás, vem outra novidade: o Mirante Plaza Gourmet, um espaço de 1.500 m2 que abriga um mix de seis grifes já consagradas – Brasil Vexado, Devassa, Marietta, Marvin, Peixe na Rede e Koni Store – e duas marcas estreantes – Dona Picanha e Natta de Minas. Tudo para atender à crescente demanda de uma cidade com 135 mil moradores que já não precisam mais se deslocar para o Plano Piloto em busca de bons bares e restaurantes (página 6).

Vem do Plano Piloto, finalmente, mais uma boa notícia: a abertura da Cantina Sanfelice (206 Sul). Pilotada pelos chefs Marcello Piucco e Myriam Carvalho, tem no cardápio 95 itens, alguns deles porções fartas para saciar a fome de duas ou três pessoas, no mais autêntico estilo italiano de servir. Destaque para as massas artesanais que Myriam já produz em sua “officina di pasta” da 412 Norte (página 10).

Com tanta coisa boa para se ver e degustar, só nos resta desejar a você uma boa leitura.

Maria Teresa Fernandes Editora

águanaboca4Um ano depois, a Sanfelice Officina di Pasta dá cria: é também uma autêntica cantina italiana, na 206 Sul.

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À procura do boteco perfeito

e animado salão e o avarandado de toldo vermelho que atrai a visão de quem quer que chegue ao bairro.

“A gente esperava mesmo agradar a clientela da cidade e trabalhamos muito para isso. Mas a receptividade está supe-rando todas as nossas expectativas. Foi só levantar as portas e o bar lotou!”, conta,

orgulhosa, Rebeca, que na divisão de tare-fas entre os sócios ficou responsável pela interface do bar com os clientes.

A ideia de se associar num negócio era recorrente desde que o grupo adolescia junto, de bar em bar, ainda no século pas-sado. Nos últimos anos ela ganhou ênfase quando, mais maduros e exigentes, os amigos passaram a observar, do lado de cá do balcão, como é que pequenos detalhes podiam macular uma bela noitada. Até que apareceu a oportunidade. É Rebeca – também sócia do marido Thales na rede de restaurantes Gordeixos – quem segue contando: “Nós tínhamos o ponto de Águas Claras e pensávamos montar outro restaurante, mas surgiu a ideia de aprovei-tar o local para realizar o sonho antigo do nosso grupo. Só que tinha de ser daquele jeito: o top, o melhor. Um boteco como tem que ser: animado, descontraído e

água na boca

por lúcia leão

Fotos rodrigo oliveira

Thales e Rebeca Fur-tado, Vitor e Thaís Odísio, Fabrício e

Adriane Russo e Walace Santos são amigos de longa data, empreendedores por

vocação e herança genética e botequeiros de carteirinha.

Certo dia eles resolveram somar seus su-perpoderes numa missão hercúlea: criar o melhor bar da cidade. Shazan! Em pouco mais de um ano o Primeiro Cozinha de Bar se firmou como uma das casas mais badaladas de Águas Claras. E na filial do Sudoeste, que mal completou um mês de vida, os clientes não reclamam de longas esperas no balcão até conseguirem uma das 400 cadeiras dispostas entre o bonito

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divertido; com boa bebida, salgadinhos, petiscos e comidinhas populares... Mas com tudo de primeira classe. E com bom atendimento, conforto, ambiente bonito e absoluta higiene, qualidades não muito comuns à maioria dos botecos”.

Traçado o desenho, foi um ano dedi-cado à pesquisa em “penosas” incursões coletivas, anotando o que lhes agradava e o que lhes desagradava em diferentes bo-tecos do Brasil e até mundo afora. “O boteco é uma entidade cultural brasilei-ra, mas a maior parte deles tem alguma coisa que aborrece os clientes um pouco mais exigentes. Às vezes o tira-gosto está delicioso, mas o chope vem mau tirado. Ou o garçom demora a atender, a cadei-ra é desconfortável ou o banheiro está sujo... Ou vai tudo muito bem e no fim a conta vem errada. Nossa meta é eliminar tudo que possa desagradar, garantir que o cliente saia do Primeiro absolutamente satisfeito”, prossegue Rebeca.

Entre um drink e outro – a especialida-de da casa são as batidas de frutas, bem ser-vidas em copos bojudos, a preços que va-riam entre R$ 13 e R$ 22 – o botequeiro do Primeiro pode escolher entre uma boa variedade de petiscos bem representados na “Confusão” (um mix de coxinhas, da-dinhos de tapioca, chips de mandioca, pãezinhos de queijo com pernil e costeli-

primeiro cozinha de barsig, Quadra 8 (3028.1331). de 3ª a 6ª feira, a partir das 17h; sábados, domingos e feriados, a partir das 12h.

nhas fritas, servidos com uma saborosa ge-leia de pimenta, tudo isso por R$ 40). Se a ideia for um prato com mais “sustância”, a escolha pode ser entre um bife de fígado com jiló (R$ 23), uma rabada com agrião (R$ 25) ou um tradicional strogonoff de filé (R$ 22), pratos individuais bem apre-sentados e bem servidos, que têm garanti-do especialmente a clientela dos almoços de sábado e domingo. De terça a sexta, o bar só funciona a partir da happy hour.

Ainda seguindo os protocolos da “en-tidade cultural boteco”, outra aposta que certamente contribui para o sucesso do Primeiro é a vizinhança, já que outra ca-racterística do bom botequeiro é eleger uma cadeira cativa num bar perto de casa. Como já acontece em Águas Claras, a

clientela da casa do Sudoeste – que na ver-dade fica ali na divisa com o Setor de In-dústrias Gráficas – é formada essencial-mente por moradores do bairro. E me-lhor, guardando uma distância de segu-rança que não incomoda os que preferem o sossego do lar.

A partir de março, o Primeiro do Su- doeste oferecerá também música ao vivo, com uma programação diversificada que vai do sertanejo à música baiana, passando pela tradicional MPB e pelo rock. Mas, se-ja qual for o ritmo e o estilo, “será sempre música de primeira”, garante Rebeca.

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água na boca

Espaço gourmet a céu abertoUm estacionamento de terra bati-

da, outrora lotado de tratores e caminhões de aluguel, deu lugar

à primeira praça de gastronomia de Águas Claras. Mais simbólico, impossível. Seguindo os passos do estacionamento desativado, a própria cidade evoluiu de sua condição de imenso canteiro de obras e já oferece alternativas dignas de metró-poles. A mais recente novidade é da área da gastronomia e abre suas portas neste final de janeiro para conquistar os cora-ções (e bocas) dos mais de 135 mil mora-dores da cidade. Trata-se do Mirante Plaza Gourmet, um espaço diferenciado, com-portando um mix equilibrado de ofertas, para agradar diferentes idades e gostos.

São sete empreendimentos distribuídos numa construção em L, totalizando 1.500 m2, numa das duas principais avenidas de Águas Claras – a das Araucárias. Com investimentos totais de cerca de R$ 3,5 milhões, cinco empresários detentores ou representantes de marcas já tradicionais

em Brasília, somados a dois estreantes, iniciaram em junho do ano passado suas obras de instalação. O prédio foi erguido pela Mirante Incorporações com o objeti-vo específico de reunir num mesmo local, e fora das tradicionais praças de alimenta-ção dos shopping centers, alternativas de alimentação de marcas ainda não presen-tes em Águas Claras.

Compõem a nova atração os já conso-lidados Brasil Vexado, Devassa, Marvin, Marietta, Peixe na Rede e Koni Store. A eles se juntaram as estreantes Dona Pica-nha, especializada em cortes especiais de carnes, e Natta de Minas, uma delicates-sen que resgata sabores tradicionais das Alterosas. Com isso, os moradores de Águas Claras passam a contar com alter-nativas que vão de sanduíches naturais, hambúrgueres, pães, sucos, chopes e cer-vejas de diversas origens a comidas japone-sa e nordestina, filés de tilápia com mo-lhos elaborados, bolos, cafés, doces, car-nes selecionadas e dezenas de petiscos,

num ambiente tinindo de novo, de bom gosto, confortável e, importante, com bons estacionamentos.

A poucos dias da inauguração, mora-dores de Águas Claras já se ouriçam em busca de informações detalhadas, atraí-dos pela derrubada dos tapumes e a ins-talação de logomarcas iluminadas nas fa-chadas dos restaurantes. Esse efeito era justamente o esperado por Jorge Lessa, diretor da Mirante. Ele acreditou e acre-dita tanto no potencial do novo espaço que decidiu, com mais dois sócios, ad-quirir a franquia da marca Devassa. Con-siderando-se o grande interesse de empre-endedores que ainda tentam se instalar no local – o que já não é mais possível –, a estratégia imaginada e posta em prática por Lessa, residente há anos em Águas Claras, deu certo. E tudo isso sem que o primeiro cliente sequer tenha formulado o primeiro pedido no primeiro dos esta-belecimentos a receber um felizardo mo-rador de Águas Claras.

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Elieverson Neander, o Eli, e Paulo Godoy Dayzoval, execu-tivos da área financeira em Brasília, uniram-se e depois de exa-minar várias alternativas optaram pela franquia do restaurante Brasil Vexado, convencidos de que uma nova unidade em Águas Claras é compensadora e atende plenamente aos desejos dos aficionados pela saborosa culinária nordestina. Ambos de-cidiram assumir o risco de empreender num setor em que são estreantes, mas sustentados pela experiência de dez anos de operação da marca. A culinária típica do Nordeste revelou-se um sucesso no Distrito Federal desde os tempos pioneiros, apoiada especialmente na carne de sol assada e seus acompa-nhamentos. No caso do Brasil Vexado, seu criador, o potiguar Ronaldo Teixeira, começou sua trajetória de êxito nos anos 70 usando um simples tambor de latão adaptado como assador, em pequena loja na 111 Sul. Hoje, o Brasil Vexado tem três res-taurantes próprios e cinco franquias, e com planos firmes de ex-pansão, comandados pelo filho do fundador.

O mineiro José Wilson Medeiros, proprietário nos anos 70 do restaurante Amazonas, de 120 lugares, no SoHo, em Nova York, e seu filho Marcelo, de 25 anos, advogado que não quer seguir na profissão, juntaram experiência e juventude e decidi-ram abrir uma delicatessen e panificadora em Águas Claras. Como moradores, sentiram na pele, ou melhor, no paladar, que faltava um local para degustar receitas saborosas como os bolos e broas de canjiquinha de fubá ou o pão de queijo com o autêntico polvilho e queijo artesanal, além de doces e pães cui-dadosamente fabricados com ingredientes preferencialmente naturais. Essas eram iguarias comuns, mas valorizadas, na terra natal de ambos. Juntaram vigor e lembranças e trouxeram do-ceiras e quitandeiras da saudosa Patos de Minas, para dar à no-va marca que surge em Águas Claras o sabor da tradição e da qualidade que tanto valorizam a conversa em torno de uma boa e farta mesa do interior.

Hélio Bernardo, Marcelo Matos, Rafael Azevedo e Ricardo Paternostro, jovens empresários brasilienses, mas já com boa vi-vência na área de alimentação, abriram a primeira franquia do grupo na 201 Norte do Plano Piloto, no ano passado. Em Águas Claras vão replicar a experiência, mas com uma inova-ção: será a primeira loja do Koni de Brasília fora dos shoppings a implantar um novo conceito – não haverá atendimento nas mesas, mas o modelo de comida expressa, com o cliente fazen-do seu pedido no caixa e recebendo, mediante senha, seu pedi-

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água na boca

Fernando Luz

Durante 40 anos minha praia foi o jornalismo, a comunicação. Agora estou dando uma guinada. Com a inauguração do Mirante Plaza Gourmet, vou passar todo o meu tempo dirigindo um restaurante. Sem saber fritar ou mesmo cozinhar um simples ovo.

Não se preocupem. Não serei o cozinheiro. As receitas dos pratos, seus molhos e acompanhamentos já foram longamente testados. A magia das mãos da chef Maria Luiza da Mata está

Meu Peixe de Águas Claras

mirante plaza gourmetavenida araucárias, 885

há muito aprovada por um público que se mantém fiel há anos e não para de crescer.

A proficiência do criador de tilápias e doublé de gestor Leonel da Mata assegura que não vou derrapar nas curvas.

O cliente será o nosso rei. O atendimento virá em primeiro lugar. Suporte básico para a qualidade e o sabor de uma alimentação saudável. Fora os preços, altamente convidativos.

Pois é, sou mais um franqueado da rede Peixe na Rede. Graças à persistência, esforço e tirocínio do casal Leonel e Maria Luiza da Mata, fundadores e multiplicadores dos

restaurantes Peixe na Rede.Tudo começou há cinco anos, quando

informalmente indaguei ao Leonel sobre a possibilidade de me associar a eles, como um pequeno investidor. Era apenas intuição. Das boas. Os anos se passaram. Foi lançada a franquia, me candidatei, fui aceito. Nas minhas buscas, fisguei o Peixe na Rede em Águas Claras, no Mirante Plaza. Sorte é fundamental.

Com tal receita, quem precisa saber fritar ovo? Apareçam e comprovem com seus próprios olhos. E olfato. E papilas gustativas.

do no balcão. É o fast food puro a serviço também da comida japonesa. O restau-rante de Águas Claras será o de número nove da franquia no Distrito Federal. Mais três estão para ser abertos nos pró-ximos meses na região, o que contribuirá para ultrapassar o número de 40 unida-des do Koni Store em todo o país. Uma trajetória meteórica, considerando-se que o primeiro deles foi aberto em 2006, no bairro carioca do Leblon, mirando um público essencialmente jovem.

Edson Costacurta decidiu investir a indenização recebida de uma estatal abrindo em Brasília, há 30 anos, algo que era o início de uma onda que veio para ficar – a alimentação rápida e saudá-vel. Começou com sanduíches naturais, sucos e doces lights – nascia, assim, a pri-meira Marietta. Quase duas décadas de-pois, criou o Marvin, uma hamburgueria de estilo norte-americano com o charme dos anos 50. A união dos dois resultou no grupo que hoje agrega 11 Mariettas e seis Marvins. Águas Claras agregará ambos os estilos no mesmo ambiente, a décima segunda Marieta e o sétimo Mar-vin. A fórmula fez tanto sucesso que hoje há franquias em Belo Horizonte, Fortale-za, Salvador, Ribeirão Preto e Cuiabá. Pa-ra o fundador do grupo, a vinda para Águas Claras é resultante dos pedidos da própria clientela, coincidindo com o con-vite para sua instalação feito pelos respon-sáveis do Mirante Plaza Gourmet. Agora,

a cidade está completa no que diz respeito à oferta de sanduíches naturais com fortís-sima tradição.

Jorge Lessa, Glauco Santana e Erico Cagali formam um trio experiente na área do comércio de varejo. Calçados, far-mácia e distribuição de bebidas estão no histórico de vida profissional e familiar de cada um deles. Além disso, Jorge e Glauco são sócios da Mirante Empreen-dimentos, a empresa que criou e lançou o mais novo espaço gastronômico de Águas Claras. Uma chancela e tanto para o novo empreendimento, a terceira fran-quia da Cervejaria Devassa no Distrito Fe-deral, capaz de atender até 300 pessoas. Com novo padrão visual e arquitetônico, a Devassa oferece um local descontraído pa-ra a degustação de boas cervejas e comida de qualidade. O carro-chefe da casa é o chope premium artesanal, um produto ex-clusivo da franquia, combinado com o car-dápio harmonizado de sanduíches, petis-cos, saladas, tapiocas, vários tipos de car-nes e frangos. Além, é claro, das conheci-das opções de cerveja da marca: loura, rui-va, negra, índia e sarará.

O jornalista Fernando Luz e a econo-mista Christiane Fleury decidiram esten-der sua união também para a esfera comer-cial. Logo após assinarem o contrato de franquia do restaurante Peixe na Rede,

mudaram-se para Águas Claras e hoje re-sidem a 100 metros do restaurante, cujas obras de reforma acompanharam diutur-namente. Querem ser os primeiros a che-gar e os últimos a sair do novo trabalho, de olho na correta gestão da quinta fran-quia do Peixe na Rede (a sexta abre as por-tas em breve no Deck Norte). Em poucos anos o empreendimento, que começou com um pequeno projeto de piscicultura em 1995, exibe hoje uma das trajetórias de maior sucesso gastronômico de Brasília. Restaurantes próprios na Asa Norte e Asa Sul e franquias no Sudoeste, Setor Bancá-rio Sul, Lago Norte e Águas Claras ates-tam a ampla aceitação da culinária baseada na oferta do saudável filé de tilápia, um peixe leve, de sabor suave, rico em ômega 3 e com baixíssimo teor de gordura.

O atacadista de carnes selecionadas Gilmar Neves, baseado há anos em Ta-guatinga, não titubeou quando foi “desa-fiado” pela Mirante Emprendimentos a abrir sua primeira loja de varejo para compor um mix de restaurantes puros. Do desafio ao projeto foi um pulo e nas-ceu a Dona Picanha, com uma oferta bem mais elástica do que o nome indica. Carnes de boi, suína, aves e peixes esta-rão em oferta, já embaladas ou fatiadas na hora, num açougue com cara de bou-tique, mas com preços muito convidati-vos, garante Gilmar.

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A Adega do Vinho abriu em dezem-bro sua quarta loja no Distrito Fe-deral, desta vez em Águas Claras,

no Vitrinni Shopping. Há cinco anos no mercado, sua primeira unidade surgiu no Setor Sudoeste, a segunda no SIA e a ter-ceira na 408 Sul. E a expectativa é abrir mais uma ou duas ainda este ano. Na mi-ra, Lagos Sul e Norte, Asa Norte, Setor Noroeste e até Goiânia.

O segredo do sucesso dos sócios Car-los Eduardo França (na foto ao lado) e Felipe Matos é a criteriosidade e exclusi-vidade dos produtos, além do atendi-mento oferecido nas lojas, com pessoal treinado para escolher o vinho que me-lhor harmonize com determinado prato, o melhor custo-benefício etc.

A importação é própria e quem sem-pre viaja em busca de novidades é Carlos Eduardo. Há 12 anos no mercado, pri-meiro como representante comercial e, em seguida, como empresário, Carlão, como é conhecido, diz que “selecionar vi-nho é uma paixão” e que aprende diaria-mente. Para ele, o problema no Brasil é a preferência pela cerveja. “Vinho é ali-

Mais uma Adega do Vinhomento”, proclama. Mesmo assim, acredi-ta que o consumo no Distrito Federal te-nha dobrado de cinco anos para cá.

Atualmente, a Adega do Vinho vem trabalhando com produtos de diversos pontos do globo, como os da Quinta da Bacalhôa e os chilenos com grandes pon-tuações, como os Quintay, melhor rosé, melhor Pinot Noir (R$ 89) e melhor Sau-vignon Blanc no Chile em 2012. Do Bra-sil, o espumante Luiz Argenta (R$ 49), de Flores da Cunha (RS), considerado hoje o melhor espumante brasileiro, principalmente o brut rosé, com toque de Pinot Noir. O tinto da Argenta é, se-gundo Carlão, o preferido da presidente da República, Dilma Rousseff. De vinho do Porto, a dica é o Taylor’s Ruby (R$ 79). “Estamos nos melhores restaurantes do DF e nossos vinhos não são vendidos nos supermercados”, diz o empresário.

A Adega do Vinho tem também ta-ças, acessórios, bacalhau e muitos outros produtos à venda. Assim, na pressa, é possível sair da loja com todos os ingre-dientes de um bom jantar. Há produtos para todos os gostos e bolsos. De vinhos

adega do vinhovitrinni shopping – águas claras (3297.0036) 104 sudoeste (3343.2626)408 sul (3343.0244)sia (3233.0006)

de R$ 15 até a Champagne Brut Armand de Brignac, a preferida das estrelas de Hollywood, por R$ 1.990. Ou o chileno Tatay de Cristóbal, 100% Carménère, da Viña Von Siebenthal, por R$ 1.390.

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água na boca

por beth almeida

Fotos rodrigo oliveira

Quando pensa-mos na cozi-nha italiana,

logo nos vem à cabeça uma mesa de pratos fartos, rodeada

de familiares e amigos que comparti-lham a refeição e a conversa. Com-

põem o cenário especialidades da nonna, cujas receitas passam de geração a gera-

A evolução da

ção. Foi pensando nesse clima de confra-ternização que dois talentos gastronômi-cos de Brasília, a paranaense Myriam Carvalho e o gaúcho Marcello Piucco, juntaram as panelas para abrir, neste 21 de janeiro, a Cantina Sanfelice.

O cardápio, composto por 95 itens, conta com porções fartas, para duas a três pessoas, de acordo com o apetite de cada um. Os comensais podem escolher entre massas, molhos, carnes, peixes e guarnições para compor a refeição como

se estivessem num almoço de domingo com a família. “Pensamos em traduzir es-se clima de cantina, mas também ofere-cemos a meia porção e opções de pratos do dia, para quem costuma almoçar fora durante a semana”, explica Myriam.

Entre os destaques do cardápio, além das massas que Myriam já produz na San-felice Officina di Pasta, que funciona na 412 Norte há pouco mais de um ano, ra-gus de carnes diversas, como de javali e de pato, risotos, polentas, bruschettas, osso-

Sanfelice

Marcello Piucco, Myriam Carvalho e Richard Thoele

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cantina sanfelice206 sul – bloco a (3297.3232).de 2ª a sábado, das 11h30 às 24h; domingos, das 11h30 às 17h.www.sanfelicemassas.com.br

buco, bistecas e várias opções de peixes, como o Bacalhau Napolitano, confitado no azeite, com cebolas e azeitonas pretas. A refeição pode ser iniciada com o bufê de antepastos disponível diariamente no bal-cão da casa e encerrada com doçuras tipica-mente italianas, como o tiramisú ou o se-mifredo, um creme gelado de chocolates meio amargo e branco.

Na carta de vinhos, 100 rótulos de procedências diversas e, como não pode-ria faltar numa casa italiana, o vinho da casa, um merlot produzido na região gaúcha de Bento Gonçalves, que pode ser servido em taças ou em jarras.

A sociedade surgiu a partir da parce-ria que Myriam e o marido, Richard Thoele, já mantinham com o L’affaire, restaurante do Hotel Mercure cuja cozi-nha é comandada por Marcello Piucco e que utiliza as massas produzidas pela Sanfelice. A partir da disponibilidade de um local, o antigo Barcelona, na 206 Sul, os dois decidiram juntar os talentos e montar a casa.

“Gosto da produção das massas, mas estava sentindo falta de conferir os meus pratos finalizados, prontos para ir à mesa”, explica Myriam, que, após uma especializa-

Sanfelice

ção em Módena, na Itália, terra natal de um ramo de sua família, e de trabalhar uma temporada em Ma-drid, decidiu retornar a Brasília, onde já tinha co-mandado a cozinha do Hotel Meliá. Na cantina, ela fica responsável pelo al-moço, enquanto Marcello cuida do jantar.

Com 90 lugares, divi-didos em dois ambientes, o restaurante recebeu decoração típica de cantina italiana, assinada pelo artista plástico Nemm Soares, cujo talento po-de ser conferido em diversas outras casas da cidade. Entre os painéis, belas refe-rências à cozinha italiana, como um for-mado com rolos de massa e outro com utensílios de cozinha diversos. Para com-pletar, não podem faltar, é claro, os em-butidos pendurados sobre o balcão.

No subsolo, que também poderá ser reservado para eventos, o ambiente fami-liar é reforçado por sofás e por um nicho com uma santa presenteada pelo pai de Myriam, o ministro-chefe da Secretaria- Geral da Presidência da República, Gil-

berto Carvalho – e que, segundo ela, é a padroeira da alegria.

Na entrada da cantina, a clientela que continua preferindo levar as massas para casa pode contar com um empório, com os mesmos produtos disponíveis na rotis-seria da Asa Norte. Ao fundo, um parqui-nho, cuja montagem está sendo provi-denciada, promete garantir o sossego dos pais durante a refeição. Assim, fica fácil se sentir em casa.

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descontos no bufê...

Até o final de fevereiro esse generoso bufê do Pampulha (Setor de Clubes Esportivos Sul) vai custar 20% menos: R$ 39,90 de segunda a sexta-feira e R$ 49,90 aos sábados, domingos e feriados.

... e nas bebidasNo Bierfass (Pontão do Lago Sul) o desconto, até 8 de fevereiro, é nos preços das bebidas: Johnnie Walker Red Label, R$ 6,45 a dose; Old Parr, R$ 8,91; balde com cinco cervejas Budweiser, R$ 19,90; caipiroscas de limão, siriguela e abacaxi, com vodca Smirnoff, R$ 13,40.

Feijoada do iateA velha guarda musical de Vila Isabel será a grande atração da tradicional feijoada pré-Carnaval do Iate Clube de Brasília, dia

2 de fevereiro, a partir do meio dia. O grupo carioca, apadrinhado por Martinho da Vila, promete relembrar os melhores sambas-enredo das escolas do Rio de Janeiro, além de entoar tradicionais marchinhas de Carnaval. O ingresso (R$ 75 para sócios e R$ 110 para convidados) dá direito à feijoada completa, serviço de open bar (água, caipirinha, cerveja, refrigerante e suco), sobremesa e uma camiseta da festa.

para desintoxicarNo Chiquita Bacana, da 209 Sul, uma das novidades do verão é a caipirosca de mexerica com limão (R$ 11,90), que serve também para ajudar a dexintoxicar a turma que passou do ponto nas festas de fim de ano. Mas há vários outros sabores inusita-dos, como frutas vermelhas, amarelas e

verdes, uva com manjericão e picolé de limão, caju mexerica e lima.

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pizzas do cerrado

Segue na pizzaria Baco (408 Sul e 309 Norte) o festival Pizzas da Nossa Terra. Inspirado nos sabores da região Centro-Oeste, o chef Gil Guimarães criou quatro novas receitas com produtos típicos do Cerrado, que serão servidas até 3 de fevereiro. São elas: Vera Queijos do Planalto, com mussarela de búfala, queijo tommy (brie), lascas de queijo gruya, queijo suíço e tomate sweet grape (R$ 49); Vera Cogumelo Porto Bello, com mussarela de búfala, tomate sweet grape, cogumelos Porto Bello e tomilho fresco (R$ 49); Vera Queijo Suíço (foto acima), com cebola roxa e tomates sweet grape sem pele (R$ 47); e Vera Caipira, uma curiosa mistura de mussarela de búfala, lascas de

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queijo gruya, gema de ovo, salame artesanal, manjericão, alho e pimenta preta (R$ 51). Todas devidamente certificadas pela AVPN – Associação da Vera Pizza Napoletana).

sushi Way

Mais uma franquia de comida japonesa desembarca em Águas Claras. No último dia 15 abriu as portas no Vitrinni Shopping (Rua 13 Norte) a segunda unidade da Sushi Way, presente há mais de oito anos no mercado brasiliense, cujo diferencial é vender sushi e sashimi a quilo.

gastronomia nórdicaApenas 12 pessoas poderão participar da expedição gastronômica que o chef Simon Lau, do Aquavit, pretende levar aos países escandinavos – Dinamarca, Noruega e Suécia – de 16 a 26 de junho. Os viajantes, segundo Lau, tomarão contato com a chamada “nova gastronomia nórdica”,

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com direito a experimentar a culinária do chef René Redzepi, do afamado restaurante Noma, de Copenhague, considerado o melhor do mundo pela revista britânica Restaurant. Em vans de luxo, a caravana percorrerá montanhas, florestas, fiordes escandinavos e encantadoras vilas de

restaurante WeekO Barbacoa (Espaço Gourmet do ParkShopping) participa do festival Restaurant Week, até 3 de fevereiro, apenas no jantar. No menu (R$ 47,90), duas opções de saladas, três de pratos principais (filé de truta, filé mignon ou essa picanha de cordeiro da foto 1) e, de sobremesa, torta crocante de doce de leite ou torta mousse de chocolate com avelã, servida com coulis de framboesa. Já o Café Antiquário, do Pontão do Lago Sul, participa apenas no horário do almoço, com duas opções de menus (R$ 34,90): de entrada, tartare de salmão com mostarda ou mix de folhas com tomatinhos de entrada; prato principal, galeto com maionese de batata, farofinha e vinagrete (foto 2) ou costelinha suína com tutu de feijão, couve e arroz branco; sobremesa, cremoso de limão ou um pavê de nozes. E o Enfim, da 210 Sul, que agora abre somente à noite, funcionará no horário do almoço de terça-feira a domingo para servir exclusivamente o menu do festival: de entrada, salmão grelhado com legumes na brasa e conserva de gengibre ou terrine de frango; prato principal, filé de saint peter com arroz de alho e castanhas ao molho confit de tomate ou picanha de cordeiro com arroz de funghi ao chutney de maracujá; sobremesa, banana flambada com sorvete de creme ou mini tartalete de morango.

pescadores que vivem de produção de bacalhau e salmão defumado. A hospeda-gem será sempre nos melhores hotéis locais, de luxo ou de charme. O preço da viagem (R$ 19.500) não inclui as passagens aéreas de ida e volta entre Brasília e Copenhague. Pré-reservas até 15 de fevereiro.

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LuIz RECENA

GARFADAS & GOLES

[email protected]

mais trinta metrosA distância foi coberta com passos rápidos, pois a areia do meio dia é bem quente sob esse sol baiano. Recuamos trinta metros em relação ao mar e chegamos ao pequeno oásis, com chuveirões, sombra, banheiros amplos e limpos e uma cerveja de garrafa, super gelada. É a Bar Akka, apresentada na última Roteiro de 2012. Só meia hora, o suficiente para a entidade “baiano-brasiliense” decretar: “Gus, é pra cá que a gente vem quando voltar a Salvador”. Sábias palavras. Afinal, satisfeitas memória e saudade, só resta a um bom e responsável Oráculo indicar os rumos do futuro. Volveremos!

dramas do verãoPode ser simples repetição, seriada, tipo filmes de Hollywood. E é isso mesmo: vamos para o terceiro verão sem as barracas da orla de Salvador. O prefeito “cabeça de bíblia” foi embora sem deixar solução encaminhada. O novo nomeou comissão para tratar do assunto, mas não vai ter tempo agora de fazer quase nada. A justiça de Ávila, que chancelou o massacre, continua cega, à espera de demandas e querelas, para sobre elas decidir. De concreto, nada. E o problema, agora, se alastra para o município vizinho de Lauro de Freitas e outra crise se desenha no curto prazo. A reportagem de capa da revista Vilas Magazine, a principal da região, traz chamada que tudo resume: “Verão: estação mais aguardada do ano encontra a região despreparada”. É sintomático. Mas é da natureza dos otimistas apostar na melhora das situações. Apostemos, então, nos novos burgomestres, daqui e de Lauro.

Primeiros goles do ano Cris queria beliscar memórias e comer saudades. Gus queria o que Cris quisesse. Afinal, a manhã de domingo estava esplêndida, incapaz de incentivar alguém a contrariar. A entidade mais antiga queria agradar a todos, principalmente o casal. Romeu e Julieta, tapioca de goiabada com queijo, isso é que é uma “entidade” baiana! E ao colunista, mais baiano do que os outros, planaltinos, coube o papel de cicerone e comentarista da história recente. A Musa de Gus tinha memória de tempos pretéritos recentes, antes da orla de Salvador sofrer o “massacre das barracas”, muitas vezes relatados aqui neste espaço. Queria de volta, por exemplo, o peixe vermelho frito, daquele que só existia na Toca do Dinho ou em pouquíssimas outras escolhidas casas. Talvez uma lambreta, uma salada de polvo. Pura memória e saudades muitas. Saímos pela alegoria mineira: uma barraquitcha mambembe, bem pertinho de um local mais novo, com infra nota dez, mas um pouco mais longe da água. O peixe frito não saiu. Mas sofríveis bolinhos de bacalhau e uma bela porção de acarejezinhos fizeram as honras da viagem no tempo. E os goles? Latões de cerveja e água de coco, tudo bem gelado, ainda bem. No final, o preço do latão, cinco reais, avisou: a qualidade na praia caiu, está cada vez mais difícil de encontrar, mas o preço não. A tradição de aumentar todos os preços da areia, no verão de Salvador, está mantida, muito bem mantida.

ainda há restosNem tudo está perdido e ainda há focos de resistência na areia da orla. Principalmente na região que vai do Farol de Itapuã ao Flamengo, passando pela Pedra do Sal e Stella Maris. O capital encontra espaços, a oferta surge e a demanda responde. A Barraca “Do Gordo” já frequentou a coluna e agora volta com cardápio novo, encabeçado por um aviso singular: “Bom dia ou boa tarde. Obs: cuide de sua mesa, pois não tenho tempo pra olhar. E quando forem ao mar, favor avisar ao Gordo. Não cobramos mesa! Cobramos os 10%”. Precavido, o Gordinho mandou seu recado aos bebuns de fins de semana, que tomam todas e tudo perdem, alguns até os filhos pequenos. Inclua-se aqui gringos que mergulham no mar e em barris de caipirinha, não necessariamente nessa ordem... O cardápio simples tem o clássico vermelho, para três pessoas, com arroz, farofa e salada (R$ 55), e o carro-chefe, para este colunista, o camarão frito para duas pessoas, com farofa e salada (R$ 35). Tem mais delícias a conferir.

tem chope na linha Abrir cafés está na moda na orla norte de Salvador. Porém, o Café Crioulo só entra nessa fita porque tem chope. Melhor: também tem chope. E da Devassa, aquela loura idem, que com suas amigas índias, morenas e escuras, sacudiu o Rio de Janeiro tempos atrás. Pois o chope da loura desembarcou em Stella Maris, com tulipas e calderetas certas e um garçom, o Araújo, que esbanja simpatia e está aprendendo a não economizar no creme do colarinho. Téo é o proprietário, carioca e conhecedor de endereços cremosos do velho Rio. É uma bela aposta para o verão.

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ALEXANDRE FRANCO

PÃO & VINHO

pao&[email protected] Réveillon com o WalterFinal de ano, festas e, mais do que tudo, férias,

o aguardado descanso do trabalho, mais proveitoso

quando podemos viajar com a família. Desta feita,

embora em geral prefira passar o Natal e o Réveillon

em casa, me limitando às festas familiares, decidi levar

todos para o mundo encantado do Walter.

Embarque no Aeroporto de Cumbica, em Sampa,

bem mais tranquilo que o esperado. Na verdade,

devo admitir, havia bem pouca gente tanto no check-in

quanto na Polícia Federal. Sem dúvida, um bom começo.

Primeira parada, Miami Beach. Verdadeira filial do

Brasil, na qual de forma nenhuma se necessita do idioma

do tio Sam, pois os que não são brasileiros já ao menos

“arranham” o nosso querido português, ou ao menos um

razoável “portunhol”. Mas, quando nas terras do tal Tio

Sam, prefiro “mergulhar” e pedir sempre pelos sparkling,

red ou white wines.

A primeira observação vínica não pode ser outra que

não o preço. Vinhos, mesmo em restaurantes a ótimos

preços, em especial o nacional, que comumente apresenta

qualidade de boa a ótima já a partir dos US$ 15 em loja,

que equivalerá a uns US$ 30 em restaurantes mais comuns

ou a uns US$ 45 nos restaurantes melhores.

É claro que aí não se incluem ícones como o Insígnea

ou o Opus One, mas mesmo estes, quando comprados

em lojas, saem por preços bem mais razoáveis do que os

que estamos acostumados a ver no Brasil. Imaginem que

pude comprar o onipotente Opus One, que no Brasil não

se encontra por menos de R$ 2.000, pelo preço bastante

razoável de US$ 230, algo próximo dos R$ 500.

A segunda surpresa é a facilidade de se encontrar lojas

que comercializam vinhos. É sabido que a cada esquina

se pode achar as famosas liquor houses, mas a novidade,

para mim, é que agora mesmo as grandes redes de

farmácias, como a Wallgreen ou a CVS, oferecem uma

boa variedade de vinhos e, pasmem, bom champanhe,

na faixa dos US$ 50. Aliás, em alguns mercados encontrei

bons champanhes por US$ 36.

Não preciso nem dizer que minhas festas de Natal em

Miami e Réveillon em Orlando, bem como minhas férias,

foram e estão sendo regadas a muito champanhe, muito

Chardonnay, sem dúvida o grande vinho branco de

produção americana, e, claro, muito Cabernet Sauvignon

de excelente qualidade, além de eventuais bons Pinots.

No quesito Disney, a casa do Walter nesta época do

ano é impossível em razão do movimento, que é nada

menos que alucinante, inacreditável. Trânsito digno de

humilhar o de São Paulo em dia de tempestade. Parques

mais lotados do que a Praça Castro Alves no auge do

Carnaval. A programada passagem de ano no Epcot

ficou para outra vez, ou mais provavelmente para outra

pessoa, pois para mim me pareceu muito melhor curtir

com a família na linda casa alugada, com direito a piscina

aquecida e tudo mais. E, claro, muito champanhe e

um ótimo charuto, após a boa refeição em um ótimo

restaurante, o BRIO, italiano de estirpe.

So far, so good... como dizem os americanos, ou,

para nós, “até agora tudo em cima”. A próxima parada

será em Barbados, para descansar dessas férias na Disney

do Walter que, embora divertida, é sempre bastante

cansativa, e depois “home sweet home” – mas tudo

sempre com um bom vinho.

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CLáuDIO FERREIRA

DOIS ESPRESSOS E A CONTA

[email protected] Janeiro saúde Ok, você chegou à conclusão de que os exageros

do Natal e do Ano Novo não serão sanados apenas com algumas horas de academia. A malhação tem que incluir também o prato de comida. Difícil é trocar os suculentos pernis e rosbifes com deliciosos molhos por vegetais e outros ingredientes mais leves. Ou esquecer um pouco os vinhos de boa qualidade e a cerveja para aplacar o calor. Fé e força de vontade, portanto, são os primeiros itens da lista de resoluções para este 2013 que acabou de nascer.

Começar o ano com dietas mirabolantes talvez não seja a melhor das opções – ir de dez a zero em tão pouco tempo pode não dar certo. Que tal ir equilibrando as refeições aos poucos? A cidade está cheia de restaurantes naturais e os cozinheiros estão cada vez mais esmerados em fazer você não sentir falta de picanhas e similares. Comer nesses lugares duas ou três vezes por semana, pelo menos, pode dar uma equilibrada no sistema digestivo.

Para adentar o mundo vegetariano, no entanto, é preciso ter um pouco de paciência. Nos self-services, os clientes mais costumeiros desenvolvem uma relação quase fraternal com as folhas. A fila se estende e demora, esperando esse diálogo terminar. Algumas “misturas” feitas nesses restaurantes são muito excêntricas – no Girassol (409 Sul), por exemplo, ou você lê a “legenda” dos pratos, que é enorme, ou faz a fila andar.

Ainda não me arrisco a experimentar a infinidade de “pós” que estão à disposição da gente nos restaurantes naturais, servindo de tempero. Mas já aprendi a gostar de tofu e a experimentar sem medo a “comida viva” do Café Corbucci (203 Norte). Onde tem berinjela e abobrinha – e elas estão cada vez mais populares nas receitas – eu me esqueço da carne.

Apesar do clima escaldante, outra providência para manter a forma pode ser apelar para as sopas, à noite. Vários bufês oferecem da tradicional canja aos caldos mais refinados. Tomar sopa é comer sem culpa – mas é bom ser comedido no queijo ralado para não transformar a iguaria em um pirão que, decididamente, não vai colaborar com a reeducação alimentar.

Um dos segredos dessa reeducação, penso eu, “leigamente”, é não transformar a dieta numa camisa de força e a vida em uma sucessão de torturas. Comer a rabanada que sobrou não mata ninguém – só não vale comer, de uma vez, todas as rabanadas que sobraram. O mesmo vale para o panetone. Também os chocolates ganhos de presente podem ser consumidos com parcimônia ou, melhor ainda, divididos com os mais próximos.

Difícil é manter-se em dieta se as visitas não foram embora depois do Ano Novo. Além de conhecer a Esplanada, o turista quer sempre provar os nossos pratos típicos. E aí, dá-lhe pastel com caldo de cana na Torre de TV, pizza na Dom Bosco (107 Sul), o “verdadeiro filé à parmegiana” do Dona Lenha (413 Norte), o picadinho do Fred (405 Sul). Nesse caso, é mais urgente intercalar as iguarias com refeições mais saudáveis.

Resta ainda lutar contra outro inimigo da boa forma: a happy hour do horário de verão. É tentador sair do trabalho com o dia ainda claro e mergulhar no dominó de chopes coadjuvado por petiscos, de preferência fritos. Basta um companheiro de boa conversa para tornar a tarde-noite agradável. O prejuízo só é percebido depois. Dá pra ser feliz? Intercalando as coisas gostosas (e prejudiciais) com as mais saudáveis, sim.

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aos nossos filhosde 1 a 24/2 no ccbb brasília. sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. ingressos a r$ 6 e r$ 3. classificação indicativa: 14 anos.

Que ESPETÁCULO

Família

Peça estrelada pela atriz portuguesa Maria de Medeiros aborda conflitos familiares surgidos a partir das relações homoafetivas.

por maria teresa FerNaNdes

Uma jovem vai visitar a mãe e anuncia que está grávida. Pa-ra quem lutou contra a dita-

dura, é divorciada e tem filhos de dois casa-mentos, ouvir essa notícia não deveria cau-sar espanto nem desencadear um conflito de gerações. Mas desencadeia, sim, por causa de um pequeno detalhe: a criança em questão terá duas mães e pai desconhecido.

Entre 1º a 24 de fevereiro, o palco do CCBB Brasília recebe a estreia nacional da peça Aos nossos filhos, dirigida por João das Neves e escrita por Laura Castro a partir de sua experiência pessoal, já que ela vive há 13 anos com a também atriz Marta Nóbrega, com quem tem três fi-lhos: Rosa, gerada por inseminação arti-ficial na barriga de Marta; José, gerado por fertilização in vitro na barriga de Lau-ra; e Clarissa, adotada.

O espetáculo coloca em confronto duas gerações de mulheres, ambas revo-lucionárias a seu tempo, e traz pela pri-meira vez aos palcos brasileiros a atriz portuguesa Maria de Medeiros, conheci-da mundialmente por sua atuação no fil-me Pulp fiction, de Quentin Tarantino, entre muitos outros (leia entrevista na pá-

gina ao lado). Ela interpreta a mulher que, nos anos 60, lutou contra a ditadura no Brasil, pegou em armas e foi exilada. Uma mãe e uma profissional dedicada que bus-cou passar seus valores de liberdade e co-ragem para os filhos.

A filha, vivida pela própria Laura Castro, é uma mulher mais “careta”, ca-sada há 15 anos, só que com outra mu-lher. O momento no qual ela conta para a mãe que vai ter um filho gerado na bar-riga de sua companheira é desencadea-dor de uma série de reflexões sobre as li-berdades individuais e as novas configu-rações familiares surgidas desde a gera-ção dos anos 60, com suas consequên-cias e desdobramentos.

De acordo com Laura Castro, sua ex-periência pessoal a aproximou ainda mais das questões ligadas às famílias ho-moafetivas no Brasil. Antes de escrever a peça, ela participou da minissérie de TV Novas famílias, da GNT, dirigida por João Jardim, na qual trabalhou na pes-quisa e acabou virando personagem, jun-to com a companheira.

Já a atriz portuguesa Maria de Medei-ros decidiu aceitar seu primeiro papel em palco brasileiro motivada por seu profundo interesse pelo tema. No ano

passado ela dirigiu e produziu o filme Re-pare bem, que participou da 36ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. O documentário relata a história de três gerações de mulheres perseguidas duran-te a ditadura militar do Brasil, tendo co-mo ponto de partida o militante brasilei-ro Eduardo Leite, conhecido como “Ba-curi”. Essa realização a fez intimamente relacionada ao tema da peça, o conflito de gerações, em especial à sua persona-gem, Vera, militante brasileira persegui-da pelo regime militar.

Também o diretor de Aos nossos filhos, João das Neves, tem no currículo traba-lhos ligados a essa temática. Dirigiu o se-tor de teatro de rua do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estu-dantes até 1964, quando a UNE foi ex-tinta pela ditadura. Ainda em 1964, foi um dos fundadores do histórico Grupo Opinião. Dirigiu óperas contemporâne-as, como Continente zero hora, de Rufo Herrera, e Corpo santo, do maestro Jorge Antunes, além de roteirizar e dirigir inú-meros shows de MPB.

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você nasceu em portugal, cresceu na áustria e hoje mora na França. além disso, está casada com um espanhol. em que medida essa vivência multicul-tural influenciou sua carreira de atriz?Para mim foi um grande privilégio essa infância multicultural. Estou grata aos meus pais por isso. Cresci já com a ideia de ser uma cidadã europeia e assim liga-da a várias línguas, várias culturas. Sem dúvida, isso foi uma vantagem para a minha carreira. Mas creio que sempre teria escolhido uma profissão que me permitisse estar em contato com diver-sas culturas. atriz, diretora, cantora, compositora, em qual dessas funções você se reali-za mais? por quê?Esse meu gosto pela diversidade tam-bém se verifica nas artes. E também ele me foi transmitido pelos meus pais. Meu pai é um compositor e pianista clássico, mas escreveu vários livros e dirigiu fil-mes. Penso que as atividades dialogam e se completam. Minha formação é cine-ma e teatro, mas a prática da música me faz descobrir e desenvolver muitas ideias nas outras disciplinas.Aos nossos filhos trata de um tema ainda tabu na sociedade brasileira, a união homoafetiva. como é o traba-lho que você desenvolve atualmente sobre o assunto? onde o preconceito é maior ou menor, de acordo com sua avaliação? e onde o brasil se situa nesse cenário?Penso que o Brasil é pioneiro em muitas coisas boas e interessantes. Nossa socie-dade está em plena mutação, como se verifica nas novas formas familiares, e é muito importante que as instituições te-nham a capacidade de se adaptar às no-

vas realidades. Na própria Europa, a relação com essas novas realidades é muito dife-rente de um para outro país. Parece-me po-sitivo e saudável que os artistas tratem des-ses temas, criem plataformas de discussão e pensamento.como é a sua personagem na peça de laura castro?Na peça de Laura Castro interpretarei Vera, uma mulher que participou ativamente da luta contra a ditadura no Brasil, foi perse-guida e exilada no estrangeiro. Hoje, ela é mãe de uma jovem que se casou com outra mulher e está esperando o primeiro filho do casal. Para Vera, que se mantém enga-jada em lutas por questões de justiça e li-berdade, as opções de casamento e família estável de sua filha parecem uma caretice. O diálogo entre mãe e filha coloca uma sé-rie de questões sobre a nossa modernidade e sua relação com a história recente que são apaixonantes.Quais são seus planos de carreira depois

de atuar em Aos nossos filhos? algum outro projeto aqui no brasil?Durante a exibição da peça será editado pela Arlequim no Brasil meu primeiro disco como autora e compositora, Pássa-ros eternos. O disco já saiu na Espanha. Por uma extraordinária coincidência, uma das duas canções que inter preto é precisamente Aos nossos filhos, de Ivan Lins e Vítor Martins. Escolhi cantar essa canção porque faz eco ao documentário Repare bem, que acabei de dirigir, a pe-dido da Comissão de Anistia e Repara-ção, em Brasilia. Espero que o filme tam-bém seja distribuído no Brasil.Quais são seus diretores de cinema preferidos? algum do brasil?No cinema, igualmente, tenho gostos variados. Gosto de Charlie Chaplin, Cop-pola, Tarkovski, Almodovar e tantos ou-tros. Sigo há muito o cinema brasileiro, que me fascina. Adoro Glauber Rocha, Arnaldo Jabor e Domingos de Oliveira.

Entrevista: Maria de MedeirosTambém cineasta e cantora, Maria de Medeiros é considerada a melhor atriz de cinema portuguesa de sua geração. Passou a

infância na Áustria e voltou a Portugal após o 25 de abril de 1974, quando um golpe militar, conhecido como Revolução dos Cravos,

pôs fim a mais de 40 anos de ditatura salazarista. Depois de passar a juventude em Lisboa, onde estudou no Lyceé Français Charles

Lepierre, instalou-se em Paris. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Sorbonne – Paris IV, frequentando a École Nationale

Superieure des Arts et Techniques du Théatre e o Conservatoire National d’Art de Paris, onde se formou como atriz. Iniciou seu tra-

balho como atriz no longa-metragem Silvestre, de João César Monteiro (1982), trabalhando também em Henry e June, de Philip

Kaufman (1990), e Pulp fiction, de Quentin Tarantino (1994). Sua interpretação em Três irmãos, de Teresa Villaverd (1994),

valeu-lhe os prêmios de melhor atriz no Festival de Veneza e no Festival de Cancun. Em Adão e Eva, de Joaquim Leitão (1995),

recebeu um Globo de Ouro de melhor atriz. Ao lado de Jô Soares, estrelou o filme luso-brasileiro O xangô de Baker Street, de Miguel

Faria Jr. (2001). Nesta entrevista exclusiva à Roteiro, ela fala de sua extensa trajetória profissional e de sua ligação com o Brasil.

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por aNa cristiNa vilela

Anne Sexton (1928-1974) era, para mim, uma desconhecida até che-gar às minhas mãos a pauta para

esta matéria. Assim que comecei a pesqui-sar sobre a poeta norte-americana, tive certeza absoluta da dificuldade de criar um texto calcado em sua vida, poesia e personalidade. Mais ainda, de interpretar toda a intensidade e complexidade dessa “bruxa possessa, assombrando o ar negro, mais corajosa à noite” (do poema Eu sou da espécie dela, declamado na peça). Diri-gir essa mistura, então, nem se fale! O que se comprovou na pré-estreia da peça, dia 9, no CCBB Brasília. Em cartaz até 3 de fevereiro, no Teatro II, o espetáculo é um desafio para quem está com a caneta nas mãos, no palco e atrás das cortinas.

Com texto de Helena Machado e Ju-

Inferno Até 3 de fevereiro, no CCBB Brasília, uma peça inspirada na poesia confessional da norte-americana Anne Sexton.

lianna Gandolfe, e direção de Rodrigo Fis-cher, Sexton foi uma das vencedores da quinta edição do concurso de dramaturgia Seleção Brasil em Cena, ampliado do CCBB do Rio para o de Brasília em 2013. O texto ficou entre os 12 selecionados de 240 inscritos, sendo o ganhador por Bra-sília. Pelo Rio, o agraciado foi Arresolvido.

Acontece que o Brasil em Cena abre portas para os novatos, para os neófitos da cena teatral. O que é ótimo! Mas aí temos o outro lado. Anne Sexton pede experiên-cia: de vida, de mulher, de atriz. Sensuali-dade à flor da pele, porém natural. Loucu-ra nos olhos, no corpo, nos gestos, nas pa-lavras, mas na medida certa. Como fazer tudo isso sem cair em clichês? Como agir sobre essa tênue linha de receios e cuida-dos para não pender para o exagero e nem para a falta de expressão? Somente com ta-lento, sensibilidade e experiência.

A atriz Jessica Cardoso se esforça. E tem bons momentos. Um deles é quando está na sala do psicanalista, após a morte da mãe, puxando cílios. Mas muitas cenas soam falsas. O texto tem algo de preten-sioso. Em dado instante, estão à mesa a poeta Sylvia Plath, em bom momento de Gaivota Neves, e os poetas John Holmes e Robert Lowell, bebendo, fumando, falan-do poesias, quando de repente começam a uivar, em um clichê de colegiais. A cena toda soa falsa.

Com atuação mais equilibrada (e ma-dura) do começo ao fim, Mário Luz inter-preta Cayo, o marido de Anne, e também seu psicanalista, Dr. Orne, que teve im-portante presença na vida da poeta, sen-do o responsável por incentivá-la a escre-ver. Paulo Wenceslau faz o poeta e aman-te de Anne, James Wright, e o amigo Ro-bert Lowell. Quando Wright diz amar

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sextonaté 3/2 no teatro ii do ccbb brasília. horário das sessões: 24, 25 e 26/1, às 21h; 27/1, às 20h; 31/1, 1 e 2/2, às 19h30; 3/2, às 18h30. classificação indicativa: 18 anos. mais informações: 3108-7600.

Informe-se, nas próximas páginas, sobre outras peças teatrais em cartaz na cidade.

Anne, seu “eu te amo” não exala amor algum. Outro ponto fraco são as frases lugar-comum, como “Anne precisa

de um homem de verdade” (ou algo assim), ou mesmo a insistência com a ejaculação feminina (da poeta) e o foco um tanto exagerado em sua sexualidade e sensualidade. Entre outros. Na direção, bons acertos multimídia, como a fumaça do cigarro projetada nas paredes. Mas até a metade da apresentação as cenas estão muito fragmentadas. Os poemas não foram bem encaixados, digamos assim. Ao final, o sui-cídio não ficou claro para algumas pessoas, como vim a saber.

“Sou da espécie” que acredita no potencial da peça, com o andar das apresentações e acertos necessários, tanto no texto quanto na direção e nas interpretações. Há estrada pela frente. Porém, não se deve tirar o valor das autoras, atores e diretor, que nos apresentaram a poeta, desco-nhecida por aqui, e enveredaram por densa seara, com uma persona-gem depressiva, bipolar, suicida, sensual, tudo isso confessado em suas poesias, que são totalmente Sexton.

Anne, que ganhou o Pulitzer em 1967, era e estava inteira em suas palavras. Falava de sexo, de aborto, de traição, de suicídio, de lou-cura... Traía o marido, que temia seu sucesso e não sabia lidar com a situação. Teve amantes vários. Tomou muitos remédios. Ficou interna-da inúmeras vezes. Viu as filhas serem levadas pela avó paterna. Bebia exageradamente. E um dia, enfim, se matou.

O que falta na peça é unidade e menos pretensão, mas principal-mente alma. E a de Anne era bem complexa de interpretar, porque “uma mulher como essa não tem vergonha de morrer” e pede alguém da “espécie dela”, ou que saiba senti-la de fato. Pede experiência. En-tão, esperemos o tempo. Enquanto isso, vamos desvendando Sexton, porque “uma mulher como essa é mal compreendida”.

Um pequeno povoado repleto de muitos preconceitos. Nele mora um menino que se sente na obrigação de cuidar da mãe depois da morte do pai. É esse personagem o fio condutor da trama divertida e bem brasileira de Arresolvido, a comédia vencedora do projeto Seleção Brasil em Cena – etapa Rio de Janeiro. Com 26 anos de carreira, é a primeira peça da atriz Érida Castello Branco, que começou a investir recentemente na dramaturgia, seguindo os conselhos dos colegas do grupo Tá na Rua, do qual faz parte.De acordo com o diretor André Paes Leme, o texto apresenta uma crítica sobre o “lugar” do homem e da mulher nas camadas menos favorecidas da sociedade e sobre o nosso sincretismo religioso. “A autora consegue trabalhar uma situação

anne sexton

Afora eu saí, uma bruxa possessa, assombrando o ar negro, mais corajosa à noite; sonhando maldade, realizei meu voo manco por sobre as casas, luz após luz: coisa sozinha, com doze dedos, fora do juízo. Uma mulher como essa não é uma mulher, quase. Eu sou da espécie dela.

Encontrei as cavernas mornas na floresta, então trouxe as panelas, carne destrinchada, gavetas, armários, tecidos, inumeráveis mercadorias; fiz a ceia para os vermes e os elfos: choramingando, rearranjando o desalinhado. Uma mulher como essa é mal compreendida. Eu sou da espécie dela.

Eu me joguei na sua charrete, motorista, balancei meus braços nus contra as vilas que passavam, absorvendo as últimas rotas radiantes, sobrevivente onde sua chama ainda morde minhas coxas e minhas costelas estalam onde suas rodas giram. Uma mulher como essa não tem vergonha de morrer. Eu sou da espécie dela.

Comédia bem brasileira

triste com um simpático toque de humor”, destaca. A montagem, com músicas executadas e cantadas pelos próprios atores ao vivo, apresenta valores e crenças dos personagens em uma comédia com sensível visão do Brasil.

Depois de temporada no Rio de Janeiro, Arresolvido estreia dia 21 de fevereiro, às 19h30, no CCBB Brasília. Ficará em cartaz de quinta a domingo, até 17 de março. Ingressos a R$ 6 e R$ 3. Classificação indicativa: 12 anos.

Eu sou da espécie dela (Her kind)

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humorcandangoGoreti, o palhaço Fimosinha, a Gordinha GG e Maria dos Prazer.

Esses quatro personagens bastante conhecidos do público da cidade foram criados, respectivamente, pelos comediantes Cláudio Falcão, Ribamar Araújo, Madelon Cabral

e Carlos Anchieta. Eles são a alma de Noistudim, a comédia das férias, em cartaz aos sábados e domingos no Brasil 21 Cultural. Dirigido por Carlos Anchieta, o espetáculo

inédito reúne cinco esquetes contando as agruras de Goreti, que dá sua versão de como é passar o verão em Brasília; de Fimosinha, um palhaço fumante e alcólatra; da gordinha

que revela as dores e delícias de se vestir tamanho GG e da doméstica Maria dos Prazer, que precisa ser internada num hospital público. Até 3 de fevereiro. Sábados, às 21h,

e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 50 e R$ 25. Informações: 3039.9296.

encontroimprovável60 minutos de gargalhadas de tirar o fôlego ou seu dinheiro

de volta. É o que anuncia a comédia Você não é perfeita, tchau, em cartaz no Teatro Brasília Shopping até 24 de fevereiro. Escrita e dirigida pelo jornalista, dramaturgo e diretor teatral Alexandre Ribondi, a peça conta a história de Marina (Júlia Moraes), uma intelectual de classe média envolvida com

questões ambientais que uma noite decide ir conhecer um forró na periferia da cidade. Lá encontra Valdenor (Abaetê Queiroz), um hilário e cara de pau motorista de táxi. A trama se desenrola a partir desse encontro improvável entre o típico macho suburbano – que acredita que uma mulher sozinha em um bar precisa mesmo é de companhia masculina – e uma mulher independente que não precisa estar acompanhada para se divertir. “O texto busca mostrar como a maioria dos homens não consegue ainda lidar com essa mulher que soube quebrar tabus, derrubar preconceitos, e que é, de longe, muito mais madura e independente do que os representantes do Clube do Bolinha”, explica Ribondi. Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 40 e R$ 20, na bilheteria do teatro.

denisestoklosAinda dá tempo de assistir, na Caixa Cultural, ao espetáculo

Preferiria não, uma livre adaptação de O escriturário, de Herman Melville, escritor norte-americano conhecido pela obra Moby

Dick, . Tal como o personagem Bartleby, que se nega a obedecer a ordens, a mímica e atriz Denise Stocklos representa o narrador

e narra sua própria história. Como ela vem fazendo, Bartleby insiste em responder aos chamamentos da vida e do trabalho

com um “preferiria não”. Como num concerto, Denise Stoklos inicia o espetáculo regendo uma orquestra invisível. Dos

músicos, só se veem as estantes. No lugar das partituras, a história de Bartleby. A regente mostra, desde o início, por que se

tornou a atriz singular que vem

sendo nos últimos 44 anos. Para quem

acompanha a arte de Stoklos, é fácil

reconhecer seu tema recorrente: não à mesmice, à

submissão e à mediocridade. Em cartaz apenas até o dia 27. Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às

19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 3206.9448.

debussyparacriançasEsse é o nome do espetáculo da série Concerto para Crianças, uma adaptação do já

apresentado em setembro passado e visto por seis mil espectadores. A proposta é aproximar, de forma lúdica e divertida, a música clássica do universo infantil.Com cerca de 40 minutos de duração, o concerto de bolso utiliza música ao vivo, narração, animação em vídeo e conta com figurinos e adereços que contextualizam a vida e a rica obra do compositor francês do período impressionista Claude Debussy (1862/1918). No palco, artistas da cidade como a flautista Beth Ernest Dias, flauta transversal, e o pianista Dib Franciss, piano digital.

Aliado ao concerto, a personagem do Mestre de Cerimônia (Cirila Targhetta/Tatiana Bittar) apresenta aspectos históricos, curiosidades e características importantes da

época. A história do compositor é representada em vídeos animados projetados em painel de led. A concepção do espetáculo é de Naná Maris. No Espaço Banco do

Brasil (Shopping Iguatemi), dias 27 de janeiro, 3 e 17 de fevereiro e 3, 17 e 31 de março, sempre às 16h. Entrada franca.

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paradamusicalBrasília, Rio, Curitiba, Salvador e Manaus foram as cidades escolhidas para marcar em grande estilo o aniversário de 350 anos dos Correios. Os shows serão no dia 25 , a partir das 19h, em Brasília, Curitiba e Salvador, e a partir das 21h no Rio e Manaus. Os convocados para animar a festa candanga, no

estacionamento do Nilson Nelson, são Plebe Rude e Os Paralamas do Sucesso (foto). Batizado de Parada Musical, o projeto deve reunir

mais de 100 mil pessoas nos cinco shows, todos com entrada franca. Em Curitiba se apresentam Nando Reis & Os Infernais e Cachorro

Grande. No Rio, Péricles e Preta Gil estarão animando o show que terá como palco os Arcos da Lapa. Em Salvador, sobem ao palco Margareth

Menezes e Sérgio Loroza & Us Madureira. E em Manaus Gaby Amarantos e Os Tucumanus fazem a festa para comemorar o

aniversário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), fundada em 25 de janeiro de 1663.

esquentandoaspicapesSerá no domingo, 3 de fevereiro, o Pré-Carnaval do Bom, no restaurante Oliver do Clube de Golfe. Com capacidade para até 500 pessoas, a festa começa às 19h com welcome drink e muita house music. Nas picapes estarão os Djs Raul Mendes, Sergio Blake (foto) e Julien. Convites antecipados no site http://www.purpleweek.com.br a R$ 60, para eles, e R$ 40, para elas. Informações: 9504.6526. Sorteios em ttps://www.facebook.com/MoncaioProducoes/app_165114686916599

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domingoémaisA Cia. Titeritar de Teatro e o mágico Steiner comandam a temporada

de espetáculos gratuitos que têm

como palco a Praça de Alimentação do Deck Lago Norte aos domingos de

janeiro, às 16 horas. Unindo teatro e

literatura, o espetáculo de

fantoches desperta no público o

interesse pela leitura com a originalidade e a vivacidade das marionetes. No programa, o show Abrakadabra e o teatro de marionetes Entradas

e reprises, dia 27. Entrada franca. Informações: 3468.6115.

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dia & Noite

famíliaemfériasA obra do venezuelano Armando Reverón pode ser conhecida por pais e

filhos que participarem do Programa Educativo elaborado pelo Museu da República. Até 10 de fevereiro, os pais que levarem crianças a partir de cinco

anos ao museu poderão visitar a mostra Revendo Reverón: o relâmpago capturado, com ou sem um guia, enquanto as crianças são recepcionadas

por monitores que contam a história do pintor e de suas obras. Em seguida, elas são levadas para uma sala onde terão atividades com conteúdo multidisciplinar, de acordo com a faixa etária de cada participante. Elas têm

a oportunidade, por exemplo, de usar diversos materiais para produzir as próprias obras. Ana Saggese, responsável pelo programa, destaca que a experiência de se ver uma obra de arte no contexto do museu é totalmente diferente de vê-la em um livro. “Ao vivo se tem noção do tamanho da obra, da sua cor real, textura e parte de um conjunto. No caso da criança, analisar uma obra de arte possibilita que ela desenvolva sua capacidade de observação e

de crítica, aprenda sobre períodos da história e amplie sua visão de mundo”. Com curadoria de Wagner Barja, a exposição apresenta 174 obras de Reveron, entre pinturas, desenhos, objetos e fotografias do artista nascido em Caracas, em 1889, e

falecido na mesma cidade, em 1954. De terça a domingo, das 9 às 18h30. Agendamento para o Programa Educativo: 3325.2589.

patinhofeioAté 3 de fevereiro, pais e filhos podem curtir o clássico do dinamarquês Hans Christian Andersen (1805/1875), aos sábados e domingos, sempre às 17h. Sucesso desde que foi apresentada pela primeira vez em 1843, a história adaptada pela Cia. Teatral Neia e Nando Paz é contada em forma de musical. Para quem já se esqueceu, o Patinho Feio conta as desventuras de um filhote de cisne que é chocado por uma pata. Por ser diferente dos irmãos, o pequeno é perseguido e maltratado por patos e galinhas. Cansado de tanta humilhação, ele foge do ninho. Quando chega a primavera, entretanto, o patinho se transforma num belo cisne. No Teatro da Escola Parque (307/8 Sul), com ingressos a R$ 40 e R$ 20, à venda na bilheteria do teatro meia hora antes da cada sessão. Duração: 50 minutos. Informações: 3443.3149.

Suza

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Oliv

eira

durarealidadeOs mais de sete mil passageiros que circulam diariamente pelo Terminal Interestadual de Brasília são os potenciais espectadores da exposição de fotografias Crack, a vida sem cor, em cartaz até o dia 31. De autoria dos fotógrafos Salveci dos Santos e Thiago Cruz, as 30 imagens retratam a realidade de usuários e dependentes de crack em diferentes pontos de Brasília. Aberta 24 horas por dia, a mostra tem o objetivo de conscientizar e sensibilizar os passageiros e usuários do terminal interestadual sobre a importância da prevenção ao uso de crack. A iniciativa acontece graças a uma parceria entre o Consórcio Novo Terminal, que administra o Terminal Interestadual de Brasília, e o fotógrafo Salveci dos Santos, criador de diversas outras mostras fotográficas, entre elas Jardim da Alvorada, Grafitar Para Não Pichar, Pontos Turísticos em Brasília, Jardins Permaculturais e Nossa Brasília, todas já expostas no local.

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galeria DE arte

tesouros, mitos e mistérios das américasaté 3/2 no parkshopping. de 2ª a sábado, das 10 às 22h; domingos, das 11 às 22h.

Agora que sabemos – ainda bem – que os maias estavam errados e o mundo felizmente não acabou,

chegou a hora de conhecermos um pou-co mais da cultura desses e de outros po-vos que habitaram as Américas. Objetos e obras de arte dessas civilizações pré-co-lombianas, como a Pirâmide Central de Chichén Itzá, símbolo da civilização maia no sudeste mexicano, estão devidamente representadas na mostra Tesouros, mitos e mistérios das Américas, em cartaz no Park- Shopping até 3 de fevereiro.

A Pirâmide Central de Chichén Itzá tem 25 metros de altura e foi restaurada há pouco mais de seis anos. Fica na Pe-nínsula de Yucatán, no México, e foi de-clarada pela Unesco uma das 7 Maravi-lhas do Mundo Moderno. Sua réplica, com 4,5 metros de altura, está esta-cionada no ParkShopping junto com outras reproduções de mo-numentos como os Moais da Ilha de Páscoa, do Chile, e as Ruínas de San Agustín, na Colômbia – nove estátuas esculpidas em pedra, trazi-das em tamanho real, com dois metros de altura.

Novo ContinenteUm pouco da história das civilizações pré-colombianas está na mostra Tesouros, mitos e mistérios das Américas.

A mostra apresenta a riqueza das mí-ticas sociedades formadas a partir do ano 3000 a.C. Ao todo, 120 peças estão dis-postas em sete instalações principais e vêm acompanhadas de painéis informati-vos. A réplica do calendário maia, por exemplo, desperta a curiosidade dos visi-tantes por ter sido fonte de uma teoria se-gundo a qual o mundo terminaria em 21 de dezembro de 2012. Medindo três me-tros, como o original, revelará os segre-dos do povo conhecido como “Senhores do Tempo”.

Cinco esculturas de figuras humanas com cabeças desproporcionais, algumas usando chapéus e com expressão de mis-tério, fazem referência aos mais de 900 moais catalogados e localizados na Ilha de Páscoa, distante 3.800 km da costa do

Chile. O público poderá sentir de perto o mistério que ronda as esculturas e a ilha, além de apreciar peças de até

3,5 metros de altura.As Ruínas de San Agustín

estão também representadas em forma de nove réplicas, em tamanho real de dois metros

de altura. As figuras entalhadas misturam seres humanos com

aves, répteis, primatas, felinos, além de símbolos como cinzéis e martelos, suge-rindo divindades criadoras. Elas transmi-tem as enigmáticas ideias dessa civiliza-ção, que já acreditava na necessidade de um equilíbrio entre o homem e o meio ambiente.

Para deixar as instalações fidedignas, o projeto exigiu o trabalho minucioso de grande equipe de designers gráficos e in-dustriais, paleontólogos, consultores em efeitos especiais, antropólogos e assisten-tes de produção. “Esta é uma oportunida-de, para quem for ao ParkShopping, de conhecer mais sobre a herança deixada pelos povos ancestrais,” explica a curado-ra da exposição, Monica Kudrnac, da em-presa Euroemeka, que trabalhou em par-ceria com a Fundação de Ciências Natu-rais Felix de Azara. “O público poderá co-nhecer muitos aspectos dos tempos que vêm por aí e saber como se preparar para eles por meio da interiorização que a mos-tra permite”, complementa.

O “velho”

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26 Sexy Fi

graves & agudos

Sol, rocke água fresca

Lançados ao longo de 2012, discos de bandas brasilienses confirmam a força criativa do cenário roqueiro

da cidade, além de comporem uma ótima trilha para o verão.

por pedro braNdt

Coincidência ou não, o melhor da safra 2012 do rock de Brasília rendeu discos que, chegados ja-

neiro e o auge do verão, funcionam co-mo uma trilha sonora bastante adequada para a estação. São álbuns, cada um à sua maneira, nos quais as canções estão cheias de um espírito juvenil e celebrati-vo, ensolarado na maior parte do tempo – o que não impede uma tempestade esti-val aqui e ali só para lembrar ao ouvinte que nem tudo é sol, mar, sombra ou água fresca. Se por um lado esse joie de vivre é perceptível no subtexto das músicas, por outro, lírica e sonoramente, as seis ban-das presentes nesta seleção não poderiam soar mais diferentes umas das outras.

Velhas caras, novas roupagensO quinteto Sexy Fi, por exemplo, faz

conexões com Chicago, Londres, São Paulo e Brasília. Foi na cidade america-na, com produção de John McEntire (co-nhecido pelo trabalho com bandas como Tortoise, Broken Social Scene, Stereolab

e The Sea and Cake), que eles registra-ram o disco de estreia, Nunca te vi de boa, álbum que vem sendo comentado no Brasil e no exterior e está sendo lançado 26

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internacionalmente (em CD e vinil) pe-lo selo londrino Far Out Recordings. Camila Zamith, dona da sedutora voz presente em nove das dez faixas, reside em São Paulo, enquanto o restante da banda mora em Brasília, inequívoca fonte de inspiração para o Sexy Fi, como indicam o emprego de diversas gírias lo-cais nas letras das músicas (cantadas em inglês e português) e os títulos de algu-mas canções (Plano: pilotis, Roriz 2010, Looking Asa Sul, feeling Asa Norte e Brasí-lia graffiti).

O próprio nome do grupo é uma ane-dota regional: pronuncia-se sexy fi mes-mo e não “sexy fái”, em inglês – fi vem de fiote, corruptela para filhote, popular ex-pressão nas ruas da cidade. O quinteto é a continuação da banda Nancy e compar-tilha com ela boa parte das referências so-noras (indie rock, post rock), mas adicio-na novas influências em Nunca te vi de boa, como as guitarras de sotaque afro. Com seu humor peculiar, climas por ve-zes oníricos e produção requintada (com direito a arranjos de cordas, sopros e vibrafone), o Sexy Fi desafia classi-ficações fáceis. Na falta de termo melhor, o guitarrista João Paulo Praxis apresenta a banda como “rock de doidão” – ou seja, no meio do caminho entre o pouco convencional e o familiar.

Grandeza na simplicidade

O quarteto Suíte Su-per Luxo não mudou de nome, mas En-tre a piscina e o trampo-lim, seu segundo álbum, soa tão diferente de El toro (a elo-giada estreia de 2004) que po-deria muito bem ser outra banda. O novo trabalho soa mais direto, solar e espontâ-neo, ainda que tenha levado cinco anos para ser concluído. Nesse meio tempo, a banda tro-cou algumas vezes de formação. O único remanescente é Luc Albano, guitarrista e vocalista. Autor das composições, Luc é especialista em encontrar a grandeza na sim-plicidade, seja em suas ideias líricas e melódicas, seja nos riffs bem saca-

dos, cortantes – bem exemplificados na quase balada Jasmim, na pulsação punk de De cara no chão, na explosiva Fechou para balanço ou na brincalhona Cabelei-ras do mar. A capa mostra pessoas se di-

vertindo no mar, uma pista da vo-cação de verão dessa obra (que

tem os requisitos para fisgar ouvintes nesta estação e não largá-los ao longo do ano).

Quem também chegou de cara nova em 2012 foi o

guitarrista Dillo (antes Dillo Daraujo). As meta-morfoses estilísticas vi-vidas ao longo da car-

reira alicerçaram Ja-caretaguá, tercei-

ro álbum do músico. Se antes o blues

era parte importante de suas composições, Dillo – um guitarrista de mão cheia – agora busca rocks originais (que se permitem temperar

por outros sons, como baião, funk e afrobeat) capazes de alcançar um público maior sem, no entan-to, deixar a invenção de lado. Jabazinho, aliás, fala justamente da dificuldade de se fazer ouvir (“O rádio não toca você”, repe-te o refrão).

Para rir e pensarFrango Kaos, vocalista do quarteto

Galinha Preta, é já há alguns anos o maior comunicador do rock brasiliense. Carismático, dono de uma presença de palco radiante (mesmo sempre vestido de preto) e um tanto cômica, que lhe rende justas comparações com Jello Biafra, vo-calista dos Dead Kennedys, Frango con-segue falar muito com letras curtas (por vezes, curtíssimas). O bom humor das canções guarda preocupações sérias, de assuntos como conflitos armados, pobre-za, desemprego e alienação social.

Lançado em dezembro, o terceiro dis-co do grupo, batizado apenas de Galinha Preta, dispara 16 canções em míseros 19 minutos. É o suficiente para a banda mostrar um hardcore potente que conse-gue ser ao mesmo tempo barulhento e, por mais contraditório que seja, algo pop. Entre músicas inéditas e algumas re-gravações, estão petardos como Mídias sociais, Lactobacilos, Roubaram meu rim, Música de trabalho e UnB, nas quais o Ga-linha Preta vai do deboche à crítica, pas-sando com louvor também pelo nonsen-se. Para rir, pensar e bater cabeça. 27

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ouça!cassino supernova – Na estrada (independente)www.myspace.com/cassinosupernovagalinha preta – galinha preta (independente)soundcloud.com/galinhapretadillo – Jacaretagua (independente)www.dillo.com.brrebel shot party - rebel shot party (independente)tramavirtual.com.br/rebelshotpartysexy Fi – Nunca te vi de boa (Far out)www.sexyfi.com.brsuíte super luxo - entre a piscina e o trampolim (rolla pedra)suitesuperluxo.bandcamp.com

graves & agudos

Quem lança em 2013...Algumas bandas brasilienses estão com discos prontos, na boca do forno. Ainda neste semestre, aguarde pelos álbuns de Superquadra, Phonopop, Móveis Coloniais de Acaju e Worsa. Até o final do ano, as bandas Tiro Williams, Watson e Judas também mostrarão novidades.

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Fôlego de principianteDonas de shows enérgicos, para pular

e dançar, Cassino Supernova e Rebel Shot Party colocaram na praça seus pri-meiros discos. Garotos que amam os Bea- tles e os Rolling Stones, o quinteto Cassi-no Supernova ficou em primeiro lugar no Mamute Festival, o que garantiu a fabri-cação do CD Na estrada. Nas dez faixas do disco, a banda canta amores e farras, com a garra e a despretensão típicas da juventude.

O primeiro álbum do trio Rebel Shot Party leva o nome da banda. Diversão ali é a palavra de ordem (como confirmam as músicas Se joga, Bombom e Garota infer-nal). Mas no meio da bagunça – que tem punk, garage e hard rock como elemen-tos principais – sobra espaço também pa-ra uma convicta convocação ao combate (do tédio, da procrastinação ou do que o ouvinte quiser entender). “Cada coração é uma faísca/ Que a revolução necessi-ta”, eles bradam em Faísca.

Com esses discos, o verão segue quente, mas bem mais divertido.

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balé das almasZebeto corrêa, Jorge Ferreira, Wilson pereira, vicente sá e José carlos vieira. À venda por r$ 20 no Feitiço mineiro e demais bares do grupo Jorge Ferreira.

por heitor meNeZes

Tem algo nas Gerais – a água, o quei-jo, talvez – que faz os versos ressoa-rem de maneira diferente. Herança

dos poetas da Inconfidência, ou não, fato é que a canção mineira, isto é, aquela mistu-ra especial de poesia e música, tão bem re-presentada por Milton Nascimento, marca sobremaneira a nossa cultura musical.

Talvez seja a linguagem, com a apro-priação de termos e aspectos regionais, tal-vez seja o lirismo típico do arcadismo que há muito passou por aquelas terras e mon-tanhas, fato é que os mineiros são muito bons nesse negócio. Sorte nossa que essa fonte ainda não secou.

Tudo isso só para falar do álbum Balé das almas, obra que o cantor, compositor e instrumentista Zebeto Corrêa editou no finalzinho do ano passado e que aos pou-cos vem sendo assimilada e apreciada co-mo iguaria fina made in Minas Gerais.

O disco, com capa assinada pelo artis-ta plástico Siron Franco, une a expertise de cantoria de Zebeto Corrêa, há mais de 20 anos um batalhador da nossa bela can-ção, com a pena do sociólogo/empresário Jorge Ferreira, conhecido restaurateur de Brasília. A dupla assina todas as 13 faixas do disco, algumas com outros parceiros, incluindo o poeta Vicente Sá, escriba fre-quente das páginas desta Roteiro.

Balé das almas é poesia cantada. Para o ouvinte que precisa catalogar as coisas an-tes de se entregar ao prazer da audição, é preciso dizer que o disco pode muito bem ser colocado ao lado das grandes obras produzidas por artistas mineiros. Por dar vazão à poesia – como dito, a arcadiana, não a barroca – a obra contém versos mer-gulhados na saudade, no amor idílico, nas imagens de Minas.

A simplicidade permeia não só os versos, mas também os arranjos acústi-

Poesia cantada

cos do violonista Rogério Delayon, res-ponsável pela produção e direção musi-cal. Faixa a faixa, Balé das Almas dá espaço à voz límpida e à interpretação se-gura de Zebeto Corrêa, que não deixa o disco virar um temido recital de poesia.

As participações de Simone Guima-rães, em Galos de vidro, do guitarrista Vi-tor Biglione, em Tatuagem machucada e Partitura, e do piano de Wagner Tiso, em Andorinha do mar, não roubam a cena. Ao contrário, conferem colorido e au-tenticidade a um tipo de música que cer-ta vez foi chamada de popular brasileira.

Para quem (ainda) tem o hábito de comprar discos e ouvir com atenção, vale a pena procurar Balé das almas, abrir o encarte e acompanhar o canto cheio de poesia de Zebeto Corrêa.

Zebeto Corrêa canta e Jorge Ferreira declama suas poesias na noite de lançamento do CD, no Feitiço Mineiro.

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brasilieNse DE coração

por viceNte sá

Fotos gadelha Neto

Estamos num sábado, em março de 1950. O sol clareou a manhã e um senhor magro, de bigode, lá pelos

seus trinta e poucos anos, empurra uma bicicleta com um menino na garupa no rumo da Quinta da Boa Vista. Levam os olhos brilhantes e cheios de cores que eles, pai e filho, vão passar para as telas du-rante toda a manhã. Acomodam-se num lugar afastado das outras pessoas e permi-tem que o pincel descubra a paisagem.

O homem é Carlos Antunes, pintor acadêmico premiado. O menino, de oito anos, é o futuro maestro Jorge Antunes, que ingressava no mundo da arte pela porta da pintura. Na casa dos Antunes, no Santo Cristo, bairro da zona portuá-ria do Rio de Janeiro, apenas a mãe, Do-na Olinda, havia estudado um pouco de piano. O artista era mesmo o pai, que, como não dava para viver só da pintura,

Criatividade em ebuliçãoPintor, músico, engenheiro, físico, agitador cultural. Tudo isso é o maestro Jorge Antunes, primeiro brasileiro a usar instrumentos eletrônicos em suas composições, nos anos 60.

mantinha junto a seu ateliê um antiquá-rio onde também restaurava e vendia móveis antigos.

A formação musical do pequeno Jor-ge, o segundo dos três filhos do casal, foi sendo feita pela discoteca do pai, que ti-nha de Beethoven a Francisco Alves e Al-mirante, pelas músicas clássicas da Rádio MEC e pela música popular da Rádio Mayrink Veiga. Mas a grande inspiração foi mesmo a obra do compositor e violi-nista espanhol Pablo de Sarasate. Tanto que o instrumento de seus sonhos era um violino e ele, aos sete anos, pediu um a Papai Noel. A carta foi escrita por ele mesmo, que desde os quatro já sabia, gra-ças à mãe, ler e escrever.

Mas, já que o bom velhinho andava meio ruim das pernas naqueles anos, e o presente era caro demais para um pai pintor, o pai antiquário conseguiu o vio-lino alguns anos depois numa troca por um móvel antigo ou, talvez, por uma res-tauração. O certo é que, aos 14 anos, Jor-

ge Antunes começou a tocar seu violino Maggini. O problema era que o rapaz magro e de olhos grandes não tinha ain-da nenhum conhecimento musical teóri-co, apenas muita inspiração e talento. Para melhorar isso, Dona Olinda o ma-triculou na Escola de Música Santa Cecí-lia, na Tijuca.

Alguns meses depois, o jovem Jorge já estava começando suas primeiras compo-sições para violino, um feito surpreen-dente para a idade e o pouco tempo de aprendizado musical. O nome da música não poderia ser outro: Nostalgia, falando a um quadro. O que somente vinha confir-mar a capacidade do jovem de gerir em seu interior várias formas de arte. Com as aulas de música, começou a tomar novo rumo um talento natural para as artes que já tinha sido acordado pela pintura, mas que ainda precisava de mais um pilar para formar o caráter musical do que vi-ria a ser um dos grandes nomes da músi-ca brasileira.

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Aos 19 anos Jorge Antunes já havia composto uma boa quantidade de músi-cas, tanto para violino como para quarte-to de cordas, mas era a pintura que conti-nuava mandando em sua alma. Seu so-nho ainda era ser pintor. Enviava quadros para concursos e participava de exposi-ções e coletivas junto a grandes nomes da pintura brasileira que despontavam na-quele período, como o carioca Rubens Gerchman e o paraibano Antonio Dias.

Outro fator se alinhava ao processo criativo e artístico de Antunes: em suas pinturas, o conceitual político era muito forte e, se não assustava, mostrava quem era o jovem pintor. Era final dos anos 50 e flutuava no ar toda aquela energia: o sur-gimento da Bossa Nova, o Teatro de Are-na e o Oficina em São Paulo, a incubação do Cinema Novo, a juventude entrando com vontade no movimento estudantil. Uma ebulição criativa que continuaria ain-da mais forte no início dos anos 60.

A vida artística nunca foi garantia de bons rendimentos em época nenhuma, e os anos 60 não foram diferentes. Preocu-pada com o futuro de seu filho músico e pintor, dona Olinda insistiu para que ele fizesse um curso técnico. Tornou-se en-genheiro, e como na adolescência havia feito um curso de eletrotécnica, com os conhecimentos adquiridos ganhou um dinheirinho consertando rádios e apare-lhos domésticos dos vizinhos, o que o es-timulou a fazer o curso de Física da Fa-culdade Nacional de Filosofia.

Músico, pintor e agora estudante de Física, Jorge Antunes, aos vinte e poucos

anos, tinha que se desdobrar para fre-quentar três ambientes distintos sem ser ridicularizado em nenhum deles. Para tanto, tinha suas artimanhas. As aulas de Física aconteciam depois das aulas de Música; por isso, chegando sempre corri-do à faculdade, pedia ao porteiro que es-condesse seu violino antes de entrar na sala de aula.

Ao assistir, em 1961, a uma apresen-tação de música eletrônica nos Concer-tos para a Juventude, que aconteciam aos domingos pela manhã no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, decidiu que esse era o tipo de música que queria fazer. No início de 1962 começou a com-por o que já naquela época se chamava de música eletroacústica.

Naqueles tumultuados anos 60, a vida de nosso personagem foi uma grande lou-cura: escrevia, pintava, estudava, compu-nha músicas e participava de toda a agita-ção artística e política da época. Ainda em 1962, participou ativamente da Greve de Um Terço, uma das maiores do movi-mento estudantil brasileiro em todos os tempos, e em 1967 do Movimento Poe-ma-Processo. Sua vida tinha tantas facetas que ele chegava a ser citado nos livros de artes plásticas como um pintor que tinha como hobby a música e nos livros de mú-sica como um músico que gosta de pintar.

Com o endurecimento do golpe mili-tar, Jorge Antunes, que era professor do primeiro curso de música eletroacústica no Instituto Villa-Lobos, perdeu o empre-go. Recém-casado, não podia ficar vivendo de bicos e conseguiu uma bolsa para estu-

dar na Argentina. De lá seguiu para a Fran-ça, somente retornando ao Brasil em 1973, para dirigir o curso de Composição Musical da Universidade de Brasília. Aqui, criou o GEMUnB (Grupo de Experimen-tação Musical) e fez uma turnê de concer-tos com sua obras pela Europa, em 1975. Em 1994 foi eleito membro titular da Aca-demia Brasileira de Música e ajudou a criar a Sociedade Brasileira de Música Ele-troacústica, da qual tornou-se presidente.

Considerado até hoje um dos maio-res nomes da música eletroacústica no mundo, Jorge Antunes continua traba-lhando e se apresentando no Brasil e no exterior. Em abril próximo deve seguir para o México graças a uma bolsa de compositor do Iberamúsicas – Programa de Fomento de las Músicas Iberoameri-canas. Sem nunca deixar seu lado políti-co, o maestro criou em 1984 a Sinfonia das Diretas, para ser executada com buzi-nas, e em 1988 o Hino Nacional Alterna-tivo da Constituinte. Já no final do go-verno de José Roberto Arruda, criou a ópera de rua O auto do pesadelo de Dom Bosco, onde satirizava os políticos envol-vidos no escândalo que derrubou o en-tão governador do Distrito Federal.

Embora muito caseiro, Jorge Antunes não resiste a uma boa agitação cultural e costuma participar do concurso de mar-chas do Pacotão, na época do Carnaval. É também presença assídua nas Noites Culturais do T-Bone. Fora isso, pode ser encontrado em seu site, em dezenas de gravações de suas obras e no filme Maestro Jorge Antunes, de Carlos Del Pino.

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luZ CâMERA ação

por sérgio moricoNi

O escritor Ariano Suassuna disse certa vez que a radiosa experiên-cia da vida já vem assombrada

pela inexorável perspectiva da morte. Num mundo cada vez mais voltado para uma cultura “jovem”, ou para os jovens (que são aqueles que consomem ou ambi-cionam consumir), a morte, o envelheci-mento, a doença, a degradação física são todos temas tabus. Conhecido por ser um diretor que gosta de afrontar o espec-tador com assuntos e abordagens incô-modos – não é necessário lembrar aqui de Violência gratuita (Funny games/1997) –, o austríaco Michael Haneke desta vez escolheu uma inaudita perspectiva para a temática que dá título ao seu novo filme. Apesar de ter se inspirado numa situação

O amor no limiteVencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2009, com A fita branca, Michael Haneke repete a dose três anos depois com Amor, ganha o Globo de Ouro de melhor longa estrangeiro e ainda concorre ao Oscar em cinco categorias.

familiar, onde teve de testemunhar o so-frimento de uma pessoa que amava, a his-tória que vemos se desenrolar na tela – Haneke garante – não tem nada a ver com o fato familiar mencionado.

Vencedor da Palma de Ouro, do Glo-bo de Ouro e indicado ao Oscar em cinco categorias (filme, filme estrangeiro, diretor, roteiro original e atriz), Amor é construído em “huis clos”, expressão francesa para obras cuja ação se passa entre quatro pare-des. A escolha é mais do que adequada. No filme (o elenco inteiro está impecável), um casal de idosos, Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) se vê constrangido a lidar com uma doença grave e degenerativa: Anne sofre uma ano-malia cerebral e fica parcialmente paralisa-da. A partir desse momento, todas as situa- ções que se seguem se passam dentro do

apartamento. As únicas imagens de fora são apenas sugeridas pelas visitas da filha Eva (Isabelle Huppert) e de um dos alunos de piano de Anne, assim como de quadros fixados na parede de bucólicas paisagens desprovidas da presença humana. As pai-sagens são bucólicas, mas inquietantes. Carregadas nuvens negras parecem amea-çar a serenidade pastoril. A inquietude, es-pecialmente a violência (aspecto importan-te na obra de Haneke), estão presentes também em minúsculos detalhes. Na fe-chadura da porta encontrada violentada quando Anne e George retornam de um programa noturno, por exemplo.

Os quadros são elementos dramáti-cos importantes. Eles não são vistos uni-camente como peças decorativas do ce-nário. Surgem como planos longos de-pois que Georges estapeia Anne, no mo-

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mento em que ela permanece estática, sem reação, numa de suas crises cere-brais. Os quadros fazem o filme respirar depois de uma cena tão dura. Haneke havia utilizado o mesmo procedimento por ocasião do primeiro ataque de Anne: planos longos do apartamento vazio são inseridos, fazendo as vezes de uma pon-tuação musical. A música em Amor cum-pre um papel fundamental. Não só por-que Anne é (ou foi) uma notável profes-sora de piano. No início do filme, o casal protagonista assiste a um recital de um dos alunos de Anne no célebre Théatre des Champs-Elysées, uma das mais no-bres salas de concerto de Paris. A música também está presente através de alguns excertos de sonatas de Schubert, inseri-dos aqui e ali. O compositor, uma das paixões de Haneke, é conhecido pela me-lancolia de sua obra, especialmente as so-natas. Mas a música também está presen-te na estrutura mesma do filme. Amor es-tá muito mais próximo da música do que da literatura e do teatro, sabidamente duas linguagens narrativas.

Sutil, refinado, a excelência do filme está no controle dos tempos narrativos. Na duração dos planos, no jogo dramá-tico, na forma como as personagens se movem no amplo apartamento do casal, situado num bairro burguês de Paris. As filmagens foram realizadas em estúdio e reproduziram tal qual o apartamento da

família de Haneke em Viena. Uma fri-volidade? De forma nenhuma. O dire-tor confessou que o fato de a ação se passar num local com as dimensões co-nhecidas como a palma de sua mão foi o que permitiu – já durante a escrita do roteiro – o controle absoluto dos men-cionados tempos narrativos. A cena da torneira deixada aberta, cujo som ouvi-mos (fora de campo), à medida em que George se afasta da cozinha, é bem re-presentativa do magistral trabalho de di-reção de Haneke.

Georges e Anne são indivíduos cultos e sofisticados, oriundos de um meio bur-guês, assim como Haneke. O diretor prefe-riu falar de estrato social que conhece bem, embora esta não seja a única razão para tal escolha. Nas entrevistas concedidas duran-te o Festival de Cannes, argumentou evitar a todo custo toda forma de “miserabilismo e sentimentalismo”. Com certeza, se a his-tória se desenvolvesse no seio de uma fa-mília muito pobre, a personagem (ou uma pessoa qualquer) certamente seria encami-nhada para um asilo de velhos ou coisa pa-recida. O drama vivido por Georges e An-ne em Amor diz respeito a todas as pes- soas. Todos nós, um dia (quando envelhe-cermos), vamos nos confrontar com situa-ções semelhantes. Disso ninguém escapa, a não ser que viva como um avestruz. Amor não é um filme fácil de ser visto. “Tão difícil quanto a vida”, segundo Haneke.

amor (Amour) França/alemanha/áustria/2012, 127min. roteiro e direção: michael haneke. com Jean-louis trintignant, emmanuelle riva, isabelle huppert, alexandre tharaud, William shimell, ramón agirre, rita blanco, carole Franck, dinara drukarova, laurent capelluto, Jean-michel monroc, suzanne schmidt, damien Jouillero e Walid afkir. classificação indicativa: 14 anos.

O diretor costuma dizer que seus com-patriotas (os austríacos) são uma “socieda-de insensível e emocionalmente gelada”. Muitos podem considerar Amor cruel de-mais. Talvez o amor de Haneke esteja mais próximo do zelo e da dedicação. Mas esta é também uma interpretação insatis-fatória e medíocre demais para todas as implicações que o filme propõe. A insólita perspectiva do amor em Haneke nos faz ver outra nuance e densidade do amor. Estamos longe, muito longe, de sua ideali-zação romântica. Heneke chamou Trintig-nant e Emmanuelle Riva para os papéis protagonistas do seu filme. Trintignant estava sem filmar há nove anos por abso-luta falta de convites. Riva, depois de Hiro-xima, meu amor, de Resnais, foi completa-mente ignorada pela turma da nouvelle va-gue. Este não deixa de ser um ato de amor da parte de Haneke, não é mesmo? Por fim, é curioso voltar a ver Emmanuelle Riva retornar em grande estilo, num filme em que a palavra amor está associada a um profundo drama humano.

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poNto FINAL

Coincidênciaou alerta?

silvestre gorgulho *

Desde 5 de dezembro de 2012 Brasília se tornou uma nave solta no espaço, pois lá se foi seu último cordão umbilical. Oscar Niemeyer, coordenador do concurso para escolha do projeto da construção da nova capital e seu principal artista-construtor, juntou-se aos amigos que, no

final da década de 50, tiveram a missão de erguer Brasília, comandando a maior epopeia geopolítica brasileira dos últimos séculos.

Lá, no andar de cima, Juscelino Kubitschek, Israel Pinheiro, Lucio Costa, Joaquim Cardoso, André Malraux e Le Corbusier devem ter feito uma festa, junto com Prestes, Jorge Amado, Athos Bulcão, Alfredo Cesquiatti, Bruno Giorgi, Portinari, Di Cavalcanti e tantos outros. Tenho certeza de que todos receberam Niemeyer com muitas palmas, depois da irreverente saudação de Darcy Ribeiro:

– Oscar, não imaginava que você fosse tão duro na queda! O corpo de Oscar foi sepultado no dia 7 de dezembro. Nesse mesmo dia, há precisos 25 anos,

a Unesco chancelou Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade. Coincidência de datas? Não sei. Aviso? Talvez. Alerta? Quem sabe? Não deixa de ser emblemático. Diante de um fato maior, que foi o enterro de seu maior criador, Brasília não comemorou os 25 anos como Patrimônio da Humanidade.

Niemeyer foi o número 1 dos artistas-construtores de Brasília. Número 1 com justiça e mérito. Primeiro, porque ele próprio afastou a ideia de aceitar o convite de JK para fazer o projeto do Plano Piloto. Foi ele quem exigiu a convocação de um concurso nacional. Segundo, pela defesa contundente que fez do projeto de Lucio Costa, que corria sério risco. Eram 26 projetos apresentados no concurso, dos quais foram selecionados dez. O Plano Piloto de Lucio corria risco “porque era uma ideia e não um projeto”, no voto contra do arquiteto Paulo Antunes

Ribeiro, representante do IAB-Instituto de Arquitetos do Brasil, apoiado pelo presidente da entidade, Ary Garcia Roza.

Unanimidade não existe. Polêmicas acompanharam a vida e a obra de Oscar. E elas permanecerão frequentando sua biografia. Não há como fugir e nem como

abafá-las num homem de sua grandeza, de personalidade forte e cuja história está mergulhada em lutas políticas, defesa de princípios igualitários e fidelidade, até

o fim, à doutrina comunista. Viveu mergulhado nessas polêmicas, sob críticas de que sua arquitetura é para se admirar e não para se usar. Ônus e bônus

de viver intensamente por quase 105 anos.O certo é que de sua luta, de sua fantástica obra, de suas

virtudes e de seus defeitos há muitas lições a tirar. Temos muito a aprender com Oscar.

* Jornalista, editor da Folha do Meio Ambiente, ex-Secretário de Cultura do Distrito Federal e um

dos mais próximos amigos de Oscar Niemeyer.

S a i b a c o m o v o c ê p o d e a j u d a r n o c o m b a t e à d e n g u e :

O GDF já está fazendo a sua parte, com agentes de saúde que vão de casa em casa para orientar os moradores. Mas é fundamental que todos participem: evite água parada, acúmulo de lixo, receba os agentes e convoque seus vizinhos. Com apenas dez minutos da sua semana você faz tudo que precisa. Vista a camisa do combate à dengue para continuarmos vencendo essa luta.

Feche bem os sacos de lixo e deixe-os fora do alcance de animais.

Coloque o lixo em sacos plásticos e

mantenha a lixeira bem fechada.

Mantenha a caixa d’água bem fechada e com uma tela no ladrão.

Mantenha as garrafas com a boca virada

para baixo.

Caixa d’águaMantenha a caixa d’água bem fechada e com uma tela no ladrão. Tonéis e barris Mantenha bem tampados tonéis e barris de água. Tanques Lave semanalmente por dentro com escova e sabão os tanques de água. Cacos Coloque areia dentro dos cacos que possam acumular água. Calhas Remova folhas, galhos e tudo que impeça a água de correr pelas calhas. Laje Não deixe água acumulada sobre a laje. Pratinhos e vasos Encha os pratinhos de vasos de plantas com areia até a borda. Opção pratinhos Elimine ou lave os pratinhos de plantas com escova, água e sabão uma vez por semana. Plantas aquáticas Troque a água dos vasos de plantas aquáticas e lave-os com escova, água e sabão semanalmente. Garrafas Mantenha as garrafas com a boca virada para baixo. Lixo Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira bem fechada. Sacos de lixo Feche bem os sacos de lixo e deixe-os fora do alcance de animais.

Encha os pratinhos de vasos de plantas com

areia até a borda.

Troque a água dos vasos de plantas

aquáticas e lave-os com escova, água e

sabão semanalmente.

Elimine ou lave os pratinhos de plantas

com escova, água e sabão uma

vez por semana.

Mantenha bem tampados tonéis e barris de água.

Lave semanalmente por dentro com escova

e sabão os tanques de água.

Remova folhas, galhos e tudo que impeça a água

de correr pelas calhas.

Não deixe água acumulada sobre a laje.

Coloque areia dentro dos cacos que possam

acumular água.

Se a gente naO Se mexer, a dengue tOma cOnta.

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