1077
ISBN: 978-85-65957-08-3

Aimée Schneider - semanadehistoriadauff.files.wordpress.com · anais da 5ª. semana de histÓria da universidade federal fluminense 28 de agosto a 1º. de setembro de 2017 universidade

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  • ISBN: 978-85-65957-08-3

  • Aime Schneider

    Alan Dutra Cardoso

    Gabriel Gaspar

    Julia Passos

    Luaia Rodrigues

    Maria Isabel Boselli

    Vanessa Ferreira

    (Orgs.)

    Anais da 5 Semana de Histria da

    Universidade Federal Fluminense

    Rio de Janeiro

    Anpuh-Rio

    2018

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    Ficha Catalogrfica

    900

    Semana de Histria da Universidade

    Federal Fluminense, 5: 2018: Niteri,

    RJ.

    Anais da 5 Semana de Histria da Universidade Federal Fluminense [livro eletrnico]. Rio de Janeiro: Anpuh-

    Rio, 2018.

    1075 p.

    ISBN: 978-85-65957-08-3

    1. Histria - Congressos. I. Scneider,

    Aime. II. Cardoso, Alan Dutra. III.

    Gaspar, Gabriel. IV. Ttulo.

    Os organizadores e autores se responsabilizam pelas ideias apresentadas na obra.

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    Reitor: Sidney Luiz de Matos Mello

    Vice-reitor: Antonio Claudio Lucas da Nbrega

    Diretor do Instituto de Histria: Norberto Osvaldo Ferreras

    Coordenadores do Programa de Ps-graduao em Histria: Gisele Martins Venncio e

    Alexandre Carneiro Cerqueira Lima

    Chefe do Departamento de Histria: Edmar Checon de Freitas

    Coordenadores do Curso de Graduao em Histria: Alexandre Santos de Moraes e Carolina

    Coelho Fortes

    Editorao e diagramao: Gabriel de Abreu Machado Gaspar e Maria Isabel Boselli

    Reviso: Alan Dutra Cardoso

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    SUMRIO

    PARTE 1: TEORIA, METODOLOGIA E ENSINO DE HISTRIA

    SOMOS ALGUM NA HISTRIA AUTORIA E PROTAGONISMO EM SALA DE

    AULA ....................................................................................................................................... 16

    O CLMAX EM SALA DE AULA: COMO ESTABELECER UMA NOVA RELAO

    ENTRE O CINEMA, O HOMO ZAPPIENS E O ENSINO DE HISTRIA NAS ESCOLAS?

    .................................................................................................................................................. 24

    A EDUCAO PATRIMONIAL E MUSEAL EM DEBATE: A EXPERINCIA DA 15

    SEMANA DE MUSEUS NO MUSEU FERROVIRIO DE JUIZ DE FORA ...................... 32

    SOBRE AS FORMAS DE INSERO DA LITERATURA NA HISTRIA A PARTIR DA

    OBRA DE FIDOR DOSTOIVSKI ..................................................................................... 39

    HISTRIA AMBIENTAL COM ALUNOS DA MAR: APLICANDO UMA PROPOSTA DE

    LINHA DO TEMPO INTERATIVA VOLTADA PARA O ENSINO INTERDISCIPLINAR

    .................................................................................................................................................. 51

    BIOGRAFIAS E HISTRIA ESCOLAR: QUE ARTICULAO NAS NARRATIVAS DOS

    LIVROS DIDTICOS? ........................................................................................................... 58

    HISTRIA PBLICA COM COMPROMISSO DEMOCRTICO: DIVULGAO E

    POPULARIZAO CIENTFICA EM CANAIS DE HISTRIA NO YOUTUBE.............. 69

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    DISPUTAS PELO MODERNO: UMA ANLISE DA CANONIZAO DE VESTIDO DE

    NOIVA A PARTIR DA TEORIA DE WILLIAMS ................................................................ 82

    O CONCEITO E FUNO DO FILSOFO NA ATUALIDADE BRASILEIRA ................ 89

    O ENSINO DE HISTRIA EM PERSPECTIVA: UMA ANLISE DA POTENCIALIDADE

    DA FRANQUIA ASSASSINS CREED ................................................................................. 98

    PARTE 2: HISTRIA ANTIGA

    A INFLUNCIA CRIST NAS LEIS IMPERIAIS: O STATUS SOCIOJURDICO DOS

    ATORES NO CDIGO TEODOSIANO .............................................................................. 105

    TCITO E AS EVOCAES CONTEMPORNEAS DE MUSSOLINI AO IMPRIO

    ROMANO .............................................................................................................................. 114

    CARONTE COMO PERSONIFICAO DA MORTE ....................................................... 126

    PLATO E ARISTTELES HISTORIADORES ................................................................ 133

    O HUMANO E O INUMANO: OS AUTMATOS NO MUNDO ANTIGO GREGO ....... 143

    PARTE 3: HISTRIA MEDIEVAL

    O IMAGINRIO MEDIEVAL NA LITERATURA DE VIAGEM DE MANDEVILLE

    (SCULO XIV) ...................................................................................................................... 152

    O ESTADO FEUDAL NO REINO DA FRANA (SCULOS XI-XIII): PROBLEMAS

    CANDENTES, DIALTICA E TEORIA DO ESTADO ...................................................... 165

    DE AL-USHBUNA UMA LISBOA CRIST ................................................................... 177

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    QUANDO O CU DESCE A TERRA: O PAPEL DOS ANJOS NAS ARTES DE MORRER

    (SCULO XV) ....................................................................................................................... 187

    RECONQUISTA IBRICA E COLONIZAO: UM OLHAR SOBRE O CASO DE

    SEVILHA ............................................................................................................................... 199

    AHL AL-KITAB (POVO DO LIVRO): A PROBLEMTICA EM TORNO DA

    IDENTIFICAO DOS DHIMMIS NA PENNSULA IBRICA MEDIEVAL. ................ 211

    A IGREJA SAINT-GERMAIN-DES-PRS E OS REIS MEROVNGIOS ......................... 220

    O MARTRIO NA ANTIGUIDADE TARDIA, AGOSTINHO DE HIPONA E A QUESTO

    DONATISTA ......................................................................................................................... 233

    PARTE 4: HISTRIA MODERNA

    OLYMPE DE GOUGES: ENTRE O ILUMINISMO E A GUILHOTINA .......................... 242

    AFONSO DE ALBUQUERQUE E A POLTICA DE CASAMENTOS MISTOS NA NDIA

    PORTUGUESA (SCULO XVI) .......................................................................................... 254

    POBREZA E REPRESSO: A LEGISLAO CONTRA A VADIAGEM E A FORA DE

    TRABALHO EM PORTUGAL (C.XIV-XVI) ...................................................................... 263

    CONCORDEMOS EM DISCORDAR: A CONCRDIA COMO POSSIBILIDADE DE

    REUNIO DA CRISTANDADE FRENTE DISSIDNCIA LUTERANA EM ERASMO

    DE ROTERD ....................................................................................................................... 275

    A MEDIAO E A DESINFORMAO NA QUESTO MATRIMONIAL DE D.

    SEBASTIO, REI DE PORTUGAL ..................................................................................... 287

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    ENTRE DEUS E O REI: JUAN DE PALAFOX E A POLTICA REAL NAS NDIAS ..... 298

    RESISTNCIA E MESTIAGEM: NDIOS NA CAPITANIA DO ESPRITO SANTO NO

    SCULO XVI ........................................................................................................................ 310

    INDGENAS: AGENTES HISTRICOS NA CAPITANIA DO ESPRITO SANTO ........ 316

    TRADUO E ILUSTRAO NO BRASIL JOANINO: NOTAS INTRODUTRIAS

    SOBRE A VERSO PORTUGUESA DO ENSAIO SOBRE A CRTICA DE

    ALEXANDER POPE (1810) ................................................................................................. 321

    OS PRESSUPOSTOS DA FORMAO DO ESTADO MODERNO NO PENSAMENTO

    POLTICO DE MAQUIAVEL .............................................................................................. 331

    A POLTICA DE IMPRESSO DOS SERMES PORTUGUESES E A PEDAGOGIA

    INQUISITORIAL (SC. XVII) ............................................................................................. 340

    PROPOSTA INTERDISCIPLINAR PARA O ESTUDO DE HISTRIA AMBIENTAL NO

    ENSINO MDIO: O MERCRIO E A EXPLORAO COLONIAL HISPNICA NOS

    SCULOS XVI E XVII ......................................................................................................... 348

    CONFISSO E DISCIPLINAMENTO SOCIAL NA AMRICA HISPNICA. ................ 358

    DELEITE E CONDENAO: A LUXRIA NA OBRA DE PIETRO ARETINO E

    ANTONINO DE FLORENA .............................................................................................. 369

    A CONSTRUO DO CULTO NOSSA SENHORA DE GUADALUPE DO TEPEYAC

    ................................................................................................................................................ 376

    HERDEIROS DA ESCRAVIDO LEGADOS E CONFLITOS NO TERMO DE

    BARBACENA (1850 A 1888) ............................................................................................... 389

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    POSSIBILIDADE APROXIMATIVA ENTRE A ENCYCLOPDIE E A REPBLICA DAS

    LETRAS FRANCESA ........................................................................................................... 400

    TEATRO QUINHENTISTA E COTIDIANO: A VIDA CONJUGAL NAS PEAS DE

    AFONSO LVARES, ANTNIO RIBEIRO CHIADO E ANTNIO PRESTES .............. 406

    REFGIOS DO MUNDO OU ESPAOS IMPUDICOS? EROTISMO E SODOMIA NOS

    CONVENTOS MASCULINOS DO PORTUGAL SEISCENTISTA ................................... 419

    ESTUDO COMPARADO ENTRE AS TRAJETRIAS DAS TRANSIES POLTICAS DE

    PORTUGAL, ESPANHA E BRASIL ................................................................................... 433

    PARTE 5: HISTRIA CONTEMPORNEA

    O TERRITRIO DO IMPRIO COMO SUA MAIS VALIOSA PROPRIEDADE:

    ESTADO, CENTRALIDADE POLTICA E TERRITORIALIDADE ESTATAL EM

    PRINCPIOS DO SEGUNDO REINADO ............................................................................ 441

    DO COLORIDO DA TELA PARA O CHIAROSCURO DAS LITOGRAFIAS O CASO DA

    REDIO URUGUAIANA, DE PEDRO AMRICO ...................................................... 453

    AS DIVERSAS FACES DE SO DOMINGOS (1789-1815) .............................................. 463

    GUERRA CIVIL ESPANHOLA: UMA GUERRA CULTURAL? ...................................... 476

    MAIO DE 1964: IMPEACHMENT E CASSAO DO GOVERNADOR FLUMINENSE

    BADGER DA SILVEIRA ..................................................................................................... 488

    A HISTRIA SEGUNDO OS NAZISTAS: A RECONSTRUO DO PUTSCH DE

    MUNIQUE EM 1923 NO TERCEIRO REICH (1923-1933) ................................................ 500

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    O EXLIO LATINO-AMERICANO NO BRASIL: O PAPEL DESEMPENHADO PELA

    IGREJA CATLICA ATRAVS DA ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO ............. 510

    INTELECTUALIDADE FEMININA NA REVISTA REPERTRIO AMERICANO (1939-

    1949) ....................................................................................................................................... 522

    A SAGA DE UM SARGENTO JORNALISTA: O PROBLEMA DA ELEGIBILIDADE DE

    SARGENTOS E PRAAS ATRAVS DA COLUNA "PLANTO MILITAR" (1957-1964)

    ................................................................................................................................................ 531

    O INSTITUTO DO CEAR E O IHGB: IDENTIDADE REGIONAL E NACIONAL EM

    DILOGO A PARTIR DO MOVIMENTO ABOLICIONISTA CEARENSE (1887-1950) 544

    L VAI VERSO!: INTELECTUAIS NEGROS E A DENNCIA LITERRIA DA

    ESCRAVIDO NO BRASIL OITOCENTISTA .................................................................. 557

    PATRIMNIO, MEMRIA E SOCIEDADE: CINE PALACE JUIZ DE FORA ............ 568

    A HEGEMONIA FABRIL: A CONSTRUO CULTURAL DA FBRICA NA

    INGLATERRA DA REVOLUO INDUSTRIAL ............................................................. 578

    A CRISE DO SISTEMA ESCRAVOCRATA E O TRFICO INTERNO EM JUIZ DE FORA

    PRINCIPAL MUNICPIO CAFEICULTOR DA MATA MINEIRA NO DECNIO DE 1870

    ................................................................................................................................................ 591

    DO ACONTECIMENTO HISTRICO INDSTRIA CULTURAL: A CRISE DOS

    REFNS AMERICANOS NO IR EM 1979 ....................................................................... 600

    CONSIDERAES SOBRE JUSTIA DE TRANSIO NO ESTADO NOVO.............. 612

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    O SCULO XIX E A BUSCA PELA LIBERDADE ESCRAVISTA: A PARTICIPAO

    FEMININA NO MOVIMENTO ABOLICIONISTA BRASILEIRO ................................... 623

    A DANA COMO OBJETO DE PESQUISA HISTORIOGRFICA OS CASOS DE

    HELENITA S EARP E EROS VOLUSIA.......................................................................... 629

    COMCIOS, MEETINGS, ARRUAAS E PASSEATAS:MANIFESTAES A FAVOR E

    CONTRA O GOVERNO PROVISRIO DURANTE A GUERRA DE 1932 ..................... 639

    UMA MULHER NA CAMPANHA DO MARECHAL: A PARTICIPAO DE EDNA LOTT

    NA CAMPANHA PRESIDENCIAL DO MARECHAL TEIXEIRA LOTT (1959-60) ....... 652

    ROSA LUXEMBURGO E A REVOLUO RUSSA ......................................................... 661

    ELITES POLTICAS: RUPTURAS E PERMANNCIAS NO ESPRITO SANTO (1937-

    1945) ....................................................................................................................................... 667

    JORNAL LAMPIO DA ESQUINA (1978-1981): UM JORNAL ALTERNATIVO

    HOMOSSEXUAL BRASILEIRO EM TEMPOS DE ABERTURA POLTICA ................. 677

    A CULTURA DA REVOLTA ESCRAVA EM PORTO DAS CAIXAS-RJ: JANEIRO DE

    1860 ........................................................................................................................................ 691

    A LAICIZAO DA CIDADE DOS MORTOS: A CONSTRUO DOS CEMITRIOS

    MUNICIPAIS E REVOLTAS POPULARES EM PORTUGAL OITOCENTISTA ............ 699

    HISTRIA DIPLOMTICA ENTRE URSS E AFEGANISTO; OBJETIVOS E

    CONQUISTAS ....................................................................................................................... 714

    A INVENO DA BRASILIDADE NO TEARTRO DE REVISTA BRASILEIRO A PARTIR

    DO ESTADO NOVO DE GETLIO VARGAS ................................................................... 722

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    OPINIES, DEFINIES E DEBATES: O SER MULHER EM JORNAIS FEMININOS DA

    SEGUNDA METADE DO XIX ............................................................................................ 733

    NOSSA SENHORA APARECIDA: A RAINHA DO BRASIL PROCESSO DE

    CONSTRUO DE UMA NOVA IDENTIDADE BRASILEIRA PARA A IGREJA

    CATLICA. ........................................................................................................................... 744

    A LIBERTINAGEM NO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO SOBRE A

    HOMOSSEXUALIDADE NA PRIMEIRA DCADA DO SCULO XX SEGUNDO O

    LIVRO HOMOSSEXUALISMO, DE JOS RICARDO PIRES DE ALMEIDA (RJ, 1906)

    ................................................................................................................................................ 757

    A PROEMINNCIA DE MANOEL PINTO DA FONSECA NO CONTRABANDO DE

    ESCRAVOS (1837-1853) ...................................................................................................... 766

    OS DIREITOS DAS MULHERES NA REVOLUO RUSSA .......................................... 777

    AS CRNICAS DE JOS SARAMAGO: UMA CRTICA AO ESTADO NOVO

    PORTUGUS, EM SEUS ANOS FINAIS ............................................................................ 785

    A SITUAO FEMININA NO BRASIL DO SCULO XIX: A IMPORTNCIA DAS

    REIVINDICAES PEDAGGICAS DE NSIA FLORESTA PARA O NASCIMENTO

    SOCIAL DA MULHER ......................................................................................................... 798

    A VIDA ELEGANTE O PODER DAS DAMAS DA ALTA SOCIEDADE NA BELLE

    POQUE CARIOCA (RIO DE JANEIRO 1903-1914) ........................................................ 807

    UMA CAPITAL EM MEIO NATUREZA A CAPITALIDADE DO RIO DE JANEIRO NA

    ANIMAO AQUARELA DO BRASIL ......................................................................... 813

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    A LUTA PELA CENTRALIZAO POLTICA DO DISCURSO REGRESSISTA DE

    BERNARDO PEREIRA DE VASCONCELOS .................................................................... 825

    A MILITARIZAO DA SELEO BRASILEIRA DURANTE A COPA DE 1970 ....... 836

    AS COLEES DO INL E A HISTRIA EDITORIAL DA PRODUO DO BRASIL.. 842

    A CIDADANIA NO BRASIL DO PRIMEIRO IMPRIO: EXCLUSO POLTICA E

    ESCRAVIDO ...................................................................................................................... 853

    REVOLUO RUSSA: ANTECEDENTES E RAZES HISTRICAS ............................. 861

    F E POLTICA NAS PGINAS DO INFORMATIVO ....................................................... 869

    O MASSACRE DE MANGUINHOS: SEGURANA, DESENVOLVIMENTO E O CAMPO

    CIENTFICO DA SADE NO REGIME CIVIL-MILITAR (1964-1974) ........................... 877

    A INFLUNCIA DO MOVIMENTO FEMINISTA NAS ELEIESBRASILEIRAS, NO

    PERODO PS-DITATORIAL ............................................................................................. 889

    O BERO DO HERI: DIAS GOMES, CENSURA E VIOLNCIA POLTICA .............. 899

    ANARQUISMO E SINDICALISMO REVOLUCIONRIO: PERCEPES EM TORNO DA

    OBRA TRAVESSIAS REVOLUCIONRIAS ................................................................. 911

    REPENSANDO A ATUAO POLTICA DE ZACARIAS DE GES E VASCONCELLOS

    ENTRE 1869-1877 ................................................................................................................. 923

    SOBRE A VIOLNCIA NA GRANDE GUERRA: UMA ANLISE DO VOCABULRIO

    DE SIGMUND FREUD E BERTRAND RUSSELL ............................................................ 935

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    ENTRE O PAET E A NAVALHA REPRESSO E REVOLUO SEXUAL DE

    TRAVESTIS NO BRASIL (1960-1980) ............................................................................... 942

    CONSTRUINDO UM NOVO ESPAO URBANO NO ESTADO NOVO: A

    PARTICIPAO DAS EMPREITEIRAS CARIOCAS NAS OBRAS DA GESTO DE

    HENRIQUE DODSWORTH (1937-1945) ............................................................................ 951

    O COLABORACIONISMO DOS JUZES DE MENORES NA ESTRATGIA

    PSICOSSOCIAL DA DITADURA MILITAR (1964-1985)................................................. 965

    A CONSTRUO DE UM PATRONO: A CONSTRUO DO MITO DE MARIA

    QUITRIA ............................................................................................................................. 977

    DOS JORNAIS PARA AS TELAS: A REPRESENTAO DO ESQUADRO DA MORTE

    NO CINEMA BRASILEIRO DA DCADA DE 1970 ......................................................... 989

    NOVA REPBLICA E DIREITO DO TRABALHO: UMA REFLEXO A PARTIR DAS

    FONTES JUDICIAIS ........................................................................................................... 1001

    CIRCULAO DE IDEIAS E CONTROLE DO CORPO NO INCIO DO SCULO XX NO

    BRASIL: ELYSIO DE CARVALHO E O BOLETIM POLICIAL (1907 1918) ............. 1014

    O CASO DA FAZENDA MARAPIC NO MORGADO DE MARAPIC ...................... 1024

    A CONSTITUIO DA CAPITAL IMPERIAL ENQUANTO PROJETO UNIFICADO: O

    DESENVOLVIMENTO DO SANEAMENTO ................................................................... 1036

    A DINAMICIDADE DAS GRANDES CIDADES INDUSTRIAIS EM A SITUAO DA

    CLASSE TRABALHADORA NA INGLATERRA, DE FRIEDRICH ENGELS .................... 1043

    MULHERES NO ESTADO NOVO (1937-1945) ............................................................... 1056

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    A POLTICA INTERNACIONAL NA RIBALTA DE MARTINS PENA: UMA ANLISE

    SOBRE OS DOIS OU O INGLS MAQUINISTA E AS CASADAS SOLTEIRAS ............... 1065

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    15

    PARTE 1:

    Teoria, Metodologia e Ensino de Histria

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    16

    SOMOS ALGUM NA HISTRIA AUTORIA E PROTAGONISMO

    EM SALA DE AULA

    Alexandre Gubani1

    Brenda Ramos2

    Rodrigo Loureno3

    ThamirisAlto4

    Mudar difcil, mas possvel. [...] A

    educao, especificidade humana, como

    ato de interveno no mundo. [...]... que

    aspira mudanas radicais na sociedade, no

    campo da economia, das relaes

    humanas, da propriedade, do direito ao

    trabalho, a terra, educao, sade...

    Paulo Freire

    Esse texto fruto de uma experincia pedaggica vivenciada a partir do

    desenvolvimento do projeto Somos algum na histria Autoria e protagonismo em sala de

    aula que foi elaborado e desenvolvido entre os bolsistas do PIBID5 Histria UFF,

    supervisionados pela professora s Priscila Artte Rosa Nascimento em turmas de alunos do 8

    ano do Ensino Fundamental e 1 ano do ensino Mdio do Colgio Estadual Aurelino Leal, em

    Niteri.

    O que optamos por compartilhar aqui uma narrativa que nos impulsiona a repensar o

    cotidiano escolar, a partir de uma escuta sensvel e de olhar atento a fim de (re)significarmos

    as relaes existentes no espao da sala de aula e na escola como um todo. Isso implica em

    enfrentarmos o desafio (re)conhecer e (re)criar o espao escolar, desestabilizando o que est

    posto e propondo novos encaminhamentos, repensando o papel da escola, dos professores e

    1Aluno da graduao de Histria da Universidade Federal Fluminense e bolsista de Iniciao Docncia do Pibid 2Aluna da graduao de Histria da Universidade Federal Fluminense e bolsista de Iniciao Docncia do Pibid 3Aluno da graduao de Histria da Universidade Federal Fluminense e bolsista de Iniciao Docncia do Pibid 4Aluna da graduao de Histria da Universidade Federal Fluminense e bolsista de Iniciao Docncia do Pibid 5Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (Pibid). O programa oferece bolsas de iniciao

    docncia aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao estgio nas escolas pblicas e que, quando

    graduados, se comprometam com o exerccio do magistrio na rede pblica. O objetivo antecipar o vnculo entre

    os futuros mestres e as salas de aula da rede pblica. Com essa iniciativa, o Pibid faz uma articulao entre a

    educao superior (por meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e municipais.

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    17

    professoras, dos licenciandos e licenciandas, dos alunos e alunas, e da comunidade escolar

    como um todo. Isso no tarefa fcil. Faz-se necessrio desnaturalizar o cotidiano,

    problematizando-o e ocorrem no interior da escola, repensando a forma como os sujeitos se

    relacionam e os caminhos postos para que se d o ensino e a aprendizagem.

    Algumas questes so urgentes. Livros e materiais didticos cristalizam contedos de

    um currculo pensando de forma homognea. Horrios, atividades, testes e provas controlam e

    vigiam o processo de construo de conhecimento6 a fim de ter como produto final um tipo de

    sujeito que ao sair da escola se integre de forma ajustada sociedade. E quanto aqueles que no

    se adequarem? Sero excludos, remanejados para turmas especiais, inseridos em projetos de

    acelerao de estudos e em breve podero estar fora do sistema.

    Essas questes (e outras tambm!) esto sendo pensadas constantemente pelo nosso

    grupo de trabalho e a partir dos nossos encontros de planejamento e avaliao semanais estamos

    buscando alternativas tericas e metodolgicas que nos ajudem a construir uma prxis

    educativa comprometida com saberes e fazeres dialgicos, libertadores e transformadores.

    Uma das possibilidades para ns, tem sido estabelecermos o dilogo atravs da roda de

    conversa na tentativa de pensar a escola que temos e a escola que queremos, procurando dar

    sentido s nossas prticas, de forma que todos ns passemos atuar a como sujeitos e, portanto,

    autores e protagonistas da nossa Histria.

    Brando7 chama ateno para o papel protagonizador dos sujeitos que efetivamente

    transformam a realidade social. Nesse sentido, dar visibilidade a esses significados e processos

    em suas mltiplas dimenses pedaggica, social e psicossocial nas diferentes modalidades

    e espaos educacionais onde a educao popular se faz presente e ao mesmo tempo divulgar as

    vozes de educadores e educandos protagonistas desse processo, que precisam redimensionar

    sua prpria autoimagem, tarefa urgente e necessria na busca de uma educao libertadora

    redimensionando as vivncias de um novo tempo na educao popular.

    Nesse sentido, pensar e fazer uma outra escola possvel, diante de uma realidade que

    para muitos parece inexorvel, se d tambm atravs do estabelecimento de relaes horizontais

    entre os sujeitos que fazem parte do espao educativo. Esse tem sido nosso compromisso

    cotidiano. E ao nos dispormos a dialogar com meninos e meninas jovens de comunidades

    6 A constituio das instituies disciplinares efetiva-se na passagem do sculo XVIII para o XIX, quando essas

    instituies assumem a configurao de espaos nos quais se utilizam mtodos que permitem um controle

    minucioso 16 sobre o corpo dos indivduos por meio dos exerccios de domnio sobre o tempo, espao, movimento,

    gestos e atitudes para produzir corpos submissos, exercitados e dceis (FOUCAULT, 1987). 7 BRANDO, Carlos Rodrigues. A Educao Popular na Escola Cidad. Petrpolis, RJ: Vozes, 2002.

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    18

    perifricas, vtimas de diferentes formas de violncias, com saberes prprios e demandas

    particulares nos forjamos enquanto educadores populares.

    SOBRE OS SENTIDOS DE ENSINAR E APRENDER HISTRIA

    A histria humana no se desenrola

    apenas nos campos de batalhas e nos

    gabinetes presidenciais. Ela se desenrola

    tambm nos quintais, entre plantas e

    galinhas, nas ruas de subrbios, nas casas

    de jogos, nos prostbulos, nos colgios,

    nas usinas, nos namoros de esquinas.

    Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa

    matria humilde e humilhada, dessa vida

    obscura e injustiada, porque o canto no

    pode ser uma traio vida, e s justo

    cantar se o nosso canto arrasta consigo as

    pessoas e as coisas que no tem voz.

    Ferreira Gullar

    Ao iniciarmos o ano letivo e montarmos nosso plano de ao, nos deparamos com um

    total desinteresse dos alunos e alunas pelos contedos apresentados e atividades propostas.

    Sabemos que neste momento, seria fcil culpabilizarmos os alunos pelo desinteresse e apatia.

    Mas buscando nos aprofundarmos no problema, optamos compreender os motivos pelos quais

    agiam assim. Pensamos ento na seguinte proposio: Ensinar e aprender Histria... Que

    sentidos essa experincia pode ter hoje no cotidiano de uma escola pblica? O que e como

    ensinar?

    Essas questes so fundamentais para o nosso trabalho poderiam ser respondidasatravs

    de textos tericos sobre o ensino de Histria e dos documentos curriculares.Na rede estadual de

    ensino temos, atualmente, o currculo mnimo8 que pretende homogeneizar as aes

    educacionais nas escolas, para que futuramente os alunos sejam avaliados pelo SAERJ9.

    4A Secretaria de Estado de Educao do Rio de Janeiro elaborou o Currculo Mnimo da nossa rede de ensino. De

    acordo com o documento, ele deve servir como referncia a todas as escolas, apresentando as competncias e

    habilidades que devem estar nos planos de curso e nas aulas. Sua finalidade orientar, de forma clara e objetiva,

    os itens que no podem faltar no processo de ensino e aprendizagem, em cada disciplina, ano de escolaridade e

    perodo letivo. 5As provas do Sistema de Avaliao da Educao do Estado do Rio de Janeiro (Saerj), elaboradas pelo Centro de

    Polticas Pblicas e Avaliao da Educao (CAEd) da Universidade Federal de Juiz de Fora, cuja implantao

    envolve algumas disputas polticas. Trata-se de uma avaliao unificada para toda a rede estadual, surgida em

    2008, no contexto de implantao de sistemas de avaliao estaduais e municipais censitrios em todo territrio

    brasileiro, principalmente a partir de 2005, aps a implantao da Prova Brasil. Devido aos maus resultados do

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    Mas a teoria e a legislao no do conta das demandas concretas do cho da sala de

    aula, com sua vivacidade impactante. O currculo oficial expresso nos documentos legais no

    d conta das demandas encontradas. Isso porque o currculo geralmente pensado de fora para

    dentro da escola, almejando-se ser reduzido a parmetros e ou a aes uniformes.

    No entanto, partimos do entendimento de que o currculo muito mais do que uma lista de

    contedos de ensino; consiste em pensar a escola a partir dela mesma. Propomos, ento, uma

    (re)inveno curricular, a partir das experincias e dos saberes e fazeres dos alunos, das suas

    angstias e medos, da sua curiosidade. Paulo Freire considera que o docente no deve se limitar

    ao ensinamento dos contedos, mas, sobretudo, ensinar a pensar, pois pensar no estarmos

    demasiado certos de nossas certezas10. O pensar de maneira adequada permite aos discentes

    se colocarem como sujeitos histricos, de modo a se conhecerem e ao mundo em que se

    inserem, intervindo sobre o mesmo, isto , aprende-se a partir dos conhecimentos existentes e

    daqueles que sero ressignificados mais adiante.Ensinar , portanto, buscar, indagar, constatar,

    intervir, educar. O ato de ensinar exige conhecimento e, consequentemente, a troca de saberes.

    Pressupe-se a presena de indivduos que, juntos, trocaro experincias de novas informaes

    adquiridas, respeitando tambm os saberes do senso comum e a capacidade criadora de cada

    um.

    A verdadeira aprendizagem aquela que transforma o sujeito, ou seja, os saberes

    ensinados so reconstrudos pelos educadores e educandos e, a partir dessa reconstruo,

    tornam-se autnomos, emancipados, questionadores, inacabados.

    Nas condies de verdadeira aprendizagem, os educandos vo se

    transformando em reais sujeitos da construo e da reconstruo do

    saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito do processo11.

    Sob esse ponto de vista, percebemos a posio do educando como sujeito desse

    processo de reformulao do conhecimento, ao lado do educador. Ele passa a ser visto como

    agente e no mais como objeto, isto , ambos fazem parte do processo ensino-aprendizagem.

    Rio de Janeiro nas avaliaes federais, diversas mudanas ocorreram na poltica educacional, e o Saerj surgiu no

    contexto dessa nova orientao, como avaliao diagnstica, com contedo alinhado a um currculo mnimo

    revisado e padronizado para toda a rede. Ambas as citaes so desse texto

    http://pibid.cpdoc.fgv.br/sites/pibid.cpdoc.fgv.br/files/trabalho_anais_enalic.pdf

    10FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo. Paz e Terra,

    1996. p. 28. 11Idem.p. 26.

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    PROJETO SOMOS ALGUM NA HISTRIA

    O projeto Somos algum na histria Autoria e Protagonismo na escola emerge a

    partir do seguinte questionamento: Qual o sentido da Histria ensinada na escola?

    Percebendo que muitos estudantesno estavam demonstrando interesse nas aulas, se recusando

    a participar das atividades propostas, buscamos uma maneira de estreitar nossas relaes e

    compreendermos as motivaes para este problema. Consideramos que conhecer nossos

    estudantes a melhor forma de aproximao, e mais do que isso, necessrio que eles

    conheam a si mesmos e uns aos outros. Assim, o projeto totalmente voltado para as escritas

    autorais desses estudantes, para as suas histrias de vida.

    O objetivo do projeto , primeiramente, destacar o papel do estudante como protagonista

    do processo histrico, que ele se reconhea enquanto sujeito que pode atuar na sociedade. Alm

    disso, conhecendo os estudantes, podemos aproximar nossos contedos e discusses s suas

    realidades de vida, para que assim a Histria ensinada em sala de aula possa ter um significado.

    A escolha do ttulo Somos algum na histria se baseou na fala de um dos estudantes,

    que ao ser questionado, durante uma roda de conversa, sobre o sentido da escola nos respondeu

    que ele estuda para ser algum na vida. Percebemos, ento, que este estudante no se

    reconhece como algum, ele acredita que ainda ser; ademais, esse ser algum, no futuro e

    atravs do estudo, est diretamente relacionado a obter uma posio financeira superior a qual

    ele se encontra atualmente. Portanto, falar sobre si, sobre sua histria, tambm se reconhecer

    enquanto esse algum que importante na sociedade. Carmen Lcia Perez12traz em sua

    abordagem o conceito de conhecimento-emancipao, na qual conhecer significa reconhecer

    o outro como autntico outro. Dentro da nossa realidade escolar isso implica em um sentimento

    de empatia e solidariedade com os colegas e tambm com a comunidade. Perez tambm aponta

    que rememorar e compartilhar memrias soaes rebeldes contra o sistema educativo

    contemporneo que atua como instrumento de regulao e controle social. Logo, trabalhar com

    a memria como uma prtica de resistncia nos leva a pensar a escola e a sala de aula como um

    espao plural que rene culturas e valores diversos, que iro influenciar diretamente nas formas

    de enxergar a realidade e responder aos obstculos da vida cotidiana. Neste sentido,

    compreendendo a individualidade dos nossos estudantes assim como os espaos nos quais esto

    12PREZ, Carmen Lcia. Sentidos emancipadores das narraes de memrias. Revista Presena Pedaggica, vol.

    12, n. 67, jan./fev. 2006, p. 17-25.

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    inseridos, conseguimos valorizar suas experincias e torn-los personagens principais das aulas

    de histria.

    Iniciamos nosso projeto com a exibio do filme Escritores da Liberdade, que, se

    baseando numa histria real, apresenta os desafios da educao pblica, com a especificidade

    da escola estar inserida num espao que vivencia uma realidade social e econmica muito

    problemtica. Durante a exibio j pudemos presenciar reaes dos estudantes que indicaram

    uma identificao com as questes apresentadas no filme. Em seguida, fundamentados na

    perspectiva da prtica dialgica, propomos uma roda de conversa.

    Sueli Ferreira13 ressalta que a prtica de ensinar, realizada na perspectiva da dialogia,

    valoriza o discurso, como formador do sentido, determinando a palavra como suporte para a

    construo do conhecimento e relaes sociais. Segundo Ferreira, ao interagirmos com o

    outro, constitumos o nosso prprio modo de ler a vida. Se silenciarmos a voz de nossos

    estudantes impedimos que eles sejam compreendidos e interpretados, os afastamos de suas

    prprias ideias, o que pode resultar numa concepo equivocada de si mesmo.

    Na roda de conversa sobre o filme,os estudantes conseguiram relacionar as temticas

    apresentadas com a realidade do CEAL. Evidenciaram, por exemplo, que existe preconceito

    por parte de alguns colegas com relao s roupas, s msicas, condio financeira, e,

    inclusive, racial; apontaram que nem todos os professores da escola so como a professora do

    filme, que acredita no potencial dos alunos e luta pela melhoria da qualidade da educao.

    Baseando-nos na experincia do filme, a proposta se direcionou para a confeco pelos

    estudantes de seus memoriais. Em aulas alternadas fomos desenvolvendo nossas atividades em

    torno desse objetivo. Pedimos para que os estudantes levassem pastas onde seriam armazenadas

    todas as suas produes ao longo do ano.

    A terceira atividade girou em torno da msica A Histria da Vida de Cada Um, que

    aborda a questo da identidade e das trajetrias individuais. Os alunos escutaram a msica e,

    depois, debateram sobre a letra, comentando sobre como enxergam a importncia de ser nico

    e de ter uma histria prpria. A letra foi colocada na pasta de cada um, como referncia de

    abordagem sobre o tema em um campo diferente do que eles vinham trabalhando.

    Me olhar no espelho e no querer me ver esquecer das coisas ques eu

    sei fazer

    Querer me comparar com quem? Melhor no ser igual a ningum cada

    um, cada um

    13FERREIRA, Sueli. O professor e a prtica dialgica. Um foco na constituio do sentido. Uberaba, v.3, n.8,

    maio/ago. 2003.p. 23 -31.

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    Ser capaz de dar valor ao que eu j tenho da forma que eu sei,

    de onde eu venho

    Poder ter algo pra dizer sobre que o que eu j consegui ver cada

    um, cada um

    Nem me elogiar, nem me condenar, apenas poder dizer sou eu

    Nem me enganar h um preo pra pagar, mas se for mesmo assim,

    valeu

    Eu s queria conhecer a histria da vida de cada um

    E a minha eu tambm poder contar

    No quero festejar a sua derrota o que eu posso ganhar o que

    me importa

    Querer me comparar com quem? Melhor no ser igual a ningum

    cada um, cada um

    Nem me elogiar, nem me condenar, apenas poder dizer sou eu

    Nem me enganar h um preo pra pagar, mas se for mesmo assim,

    valeu

    Eu s queria conhecer a histria da vida de cada um

    E a minha eu tambm poder contar

    Eu s queria conhecer a histria da vida de cada um

    E a minha eu tambm poder contar(Banda Autoramas)

    Para a atividade seguinte, pedimos que os estudantes levassem suas fotos de infncia.

    Foram muito poucos aqueles que no levaram, alguns levaram mais de uma foto e ficavam na

    dvida em qual seria armazenada na pasta. Foram momentos divertidos, nos quais os colegas

    se interessavam por conhecer as fotos uns dos outros, se identificavam com alguns elementos

    presentes nas mesmas que acabavam remetendo a outras lembranas; vale dizer que percebemos

    um carinho especial com aquelas fotos que expressam a lembrana de um passado que, para a

    grande maioria deles, segundo os relatos, foi feliz.

    Num outro momento, trabalhando com a temtica da Genealogia, os alunos aprenderam

    que famlia, acima de tudo, se constitua a partir dos laos afetivos com outros indivduos,

    percebendo que h diferentes formas de ser famlia. Para colocar o que foi estudado o em

    prtica, pedimos aos alunos que montassem suas prprias rvores genealgicas, contendo as

    pessoas que achavam mais importantes, alm deles prprios. Os resultados foram variados e

    ricos em interpretaes. Cada aluno desenhou sua rvore, acrescentando nela, pessoas da

    famlia, da escola e de outros grupos sociais os quais fazem parte. As rvores, desenhadas em

    folhas de papel ofcio, foram colocadas nas pastas de cada aluno, finalizando a quarta atividade.

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    Como ainda estamos com o projeto em andamento, seguimos na perspectiva de elaborar

    mais atividades e ampliar o espao autoral na escola. Alm disso, defendemos que esse processo

    precisa ser pensando no apenas nas aulas de Histria, mas por todos os que convivem neste

    espao, para que se efetive um ambiente verdadeiramente democrtico, aberto ao acolhimento

    e no respeito mtuo, considerando a legitimidade do outro e a educao mtua que se d a partir

    daquilo que somos/estamos nos constituindo no mundo.

    Nossos caminhos e descaminhos apontam para a solidificao de relaes mais

    humanizadas na escola e para a construo coletiva de um currculo emancipador, que

    compreenda o homem como um ser histrico, inserido num permanente movimento de

    procura, faz e refaz constantemente o seu saber14 e que, portanto, no ser, mas j , pela sua

    prpria natureza, algum na Histria.

    14FREIRE, Paulo. Extenso ou comunicao? Traduo de Rosisca Darcy de Oliveira / prefcio de Jacques

    Chonchol. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1977 10a edio

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    O CLMAX EM SALA DE AULA

    COMO ESTABELECER UMA NOVA RELAO ENTRE O CINEMA, O

    HOMO ZAPPIENS E O ENSINO DE HISTRIA NAS ESCOLAS?

    Andr Alboretti

    INTRODUO

    Inaugurada em agosto de 2016, a segunda turma do Mestrado Profissional em Ensino

    de Histria (ProfHistria) d prosseguimento s investigaes voltadas para a sala de aula. E

    para alm da criao de um produto educacional que almeja o aperfeioamento do ensino de

    Histria nas escolas, a ps-graduao oferece aos docentes a chance de desconstruir a disciplina

    que lecionamos, atribuindo novos significados a ela.

    Nesse caso, a discusso das polticas curriculares, por exemplo, tem sido fundamental.

    Postas em xeque no mestrado, percebi que os agentes que interferem na elaborao dos

    currculos escolares tambm so responsveis por enquadrar a memria: disputas,

    esquecimentos e silenciamentos. Embora parea uma concluso bvia, esse tipo de reflexo

    nem sempre (ou melhor, quase nunca) abarca os licenciandos nas universidades.

    Consequentemente, vrios recm-formados ingressam no mercado de trabalho naturalizando

    uma Histria com a qual boa parte da populao brasileira no se identifica, em que

    predominam as referncias culturais brancas, eurocntricas e masculinas.

    O docente preocupado com o desenvolvimento intelectual de seus estudantes procura

    demonstrar a aplicabilidade do saber que ensina, costurando um nexo com o mundo deles.

    Assim, de acordo com o pedagogo Paulo Freire1, somente quando h sentido para a vida dos

    sujeitos que estes convertem a informao em conhecimento. A meu ver, porm, as relaes

    entre a Histria e a Educao esto na sua fase embrionria. No apenas pela distncia fsica

    (no estado do Rio de Janeiro, esses cursos em uma mesma instituio se localizam em prdios

    ou at campi distintos), mas pelo fato de uma parcela expressiva das graduaes em Histria

    Mestrando do ProfHistria/2016 pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). 1 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa 25 ed. So Paulo: Paz e

    Terra, 2002.

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    privilegiar a formao de bacharis muitos dos quais, em funo das escassas oportunidades

    de atuao em centros de pesquisa, acabam encontrando na escola um meio de sobrevivncia.

    Diante desse quadro, a iniciativa do ProfHistria primordial, qualificando os professores

    atravs de um ensino que edifica o conhecimento histrico em uma perspectiva educacional e

    nos tornando mais sensveis para atender s demandas dos nossos estudantes.

    Ministrado pelo professor Jorge Victor de Arajo Souza (UFRJ) durante o primeiro

    semestre de 2017, o curso Narrativa, imagem e construo do fato histrico promoveu um

    dilogo sobre como podemos manusear os documentos imagticos na escola e obtermos mais

    dinamismo em nossas aulas. Se no sculo XIX Histria buscava se afirmar acreditando na

    interrogao de documentos escritos como o resgate fiel de uma realidade temporalmente

    longnqua, no sculo XXI o Cinema, as fotografias, as pinturas, as histrias em quadrinhos e os

    videogames adquirem cada vez mais visibilidade. Encarados hoje como mecanismos de

    provocao que nos permitem o acesso a aspectos econmicos, polticos e sociais de uma dada

    civilizao.

    Logo, a problemtica deste artigo reside, em um primeiro momento, em desvendar quem

    so os protagonistas que esto na escola para, em seguida, entender como o Cinema pode

    mediar discusses pertinentes em sala de aula, fortalecendo o senso crtico dos estudantes. Com

    qual intuito operamos com determinada produo na escola? Por que a escolhemos? E o mais

    importante: quais so as expectativas que projetamos nos nossos estudantes? Todos esses

    pontos sero analisados visando explicitar a riqueza de possibilidades de ensino que os filmes

    representam. Afinal, como disse o prprio Jorge Victor de Arajo certa vez em aula, nem todos

    os filmes so sobre Histria, mas todos eles so necessariamente histricos, o que lhes confere

    uma potencialidade didtica que, em tempos de ataques ideolgicos direcionados disciplina

    escolar Histria, deve ser explorada a nosso favor.

    QUEM SO AQUELES PARA QUEM ENSINAMOS?

    Quando eu estava no Ensino Mdio e cogitava a hiptese de prestar o vestibular para o

    curso de Histria, um antigo professor de Geografia me alertou que os dois pilares que erguem

    um bom mestre so o carisma e o domnio das matrias que leciona. Ao longo de minha

    trajetria na escola, pude comprovar que estes so elementos indispensveis ao docente. No

    entanto, algo precioso que os estudantes me mostraram que a empatia outra qualidade

    decisiva. E antes de nos colocarmos no lugar deles, precisamos saber quem eles so.

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    Um mdico empenhado em curar o seu paciente faz um levantamento de sua vida para

    melhor orient-lo. A fim de descobrir a alternativa mais adequada para se reparar um carro, o

    mecnico faz junto ao seu proprietrio um balano das avarias que o veculo j sofreu. Antes

    de fixar qualquer viga ao cho, o engenheiro civil responsvel pela obra encomenda um

    detalhado estudo do terreno sobre o qual deseja levantar um prdio. Ento, se o ato de

    conhecermos quem trabalha conosco providencial inclusive nas profisses que no so

    caracterizadas pelo extremo contato humano , por que ns, professores, no conseguimos

    visualizar plenamente quem so os nossos estudantes?

    Como docente da Educao Bsica, tenho cincia de que as jornadas de trabalho no

    magistrio so desgastantes, o que compromete a execuo de aes inovadoras. A

    desvalorizao salarial a qual somos submetidos (acompanhada de perto pela falta de

    reconhecimento simblico) faz com que esquartejemos as nossas atividades em uma dezena de

    colgios. Tudo isso para alcanarmos uma remunerao mnima para garantir o nosso sustento.

    Entretanto, compreender quem so aqueles para quem ensinamos sempre ocupar uma posio

    central.

    Na dcada de 1990, testemunhei enquanto estudante uma educao de carter

    tradicional, em que os alunos, sem luz, absorviam integralmente a fala do mestre, detentor de

    todo um conhecimento. No havia trocas. Foi assim tanto com a gerao do meu pai (de fins

    dos anos 1960), por exemplo, quanto com a minha. Todavia, por mais que eu no possa me

    identificar como docente dissociado da minha experincia de estudante, seria ilusrio crer que,

    em plenos anos 2010, leciono para uma comunidade com o mesmo perfil da minha poca de

    adolescente.

    Devido aos avanos cientficos, muita coisa mudou. Tanto a ponto de os pesquisadores

    do campo da Tecnologia Bem Wrakking e Wim Venn conceberem os jovens que vo para as

    escolas atualmente como sendo a gerao Homo Zappiens2. Um grupo que nasceu com a

    difuso de recursos digitais como smartphones e tablets, alm do farto acesso internet, criando

    uma cultura de aprendizado peculiar.

    Como explica a professora de Prtica de Ensino da Universidade de Passo Fundo/RS

    Flvia Elosa Caimi em Gerao Homo Zappiens na escola3, vivenciamos a terceira

    2 VEEN, Wim; WRAKKING, Bem. Homo zappiens: educando na era digital. Porto Alegre: Armted, 2009. 3CAIMI, Flavia Elossa. Gerao Homo Zappiens na escola: os novos suportes de informao e a aprendizagem

    histrica. In: MAGALHES, Marcelo, ROCHA, Helenice, RIBEIRO, Jayme Fernandes, CIAMBERELLA,

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    revoluo dos transportes de informao. Com isso, os novos meios de comunicao retiram da

    cultura impressa cuja viagem ao saber organizada por quem produz o texto a condio

    de nico processo de aprendizagem4.

    Em contrapartida, no texto Por que os alunos (no) aprendem Histria, Caimi

    argumenta que os contedos de Histria ministrados em sala de aula so, na maioria das vezes,

    abstratos e distantes do universo de significao dos jovens5. E ainda que as recomendaes

    dos Parmetros Curriculares Nacionais os quais so relativamente recentes na histria da

    Educao Brasileira tracem objetivos voltados para o desenvolvimento de capacidades e

    habilidades cognitivas dos estudantes, o ensino que persiste nas escolas aquele caracterizado

    pela memorizao e acumulao quantitativa de informaes, o que no d conta das angstias

    dessa nova gerao. Como resultado, os indivduos tendem a concluir o Ensino Mdio portando

    saberes superficiais, no restando em seu imaginrio nada mais do que fragmentos desconexos

    de fatos, datas, nomes, muitas vezes sobrepostos aleatoriamente6.

    Logo, partindo do princpio que o xito da educao se liga capacidade que temos em

    aproveitar a realidade vivida pelos estudantes em nossas aulas, por que as mdias como o

    Cinema e os jogos eletrnicos no poderiam ser utilizados na escola? Como professor,

    concordando com Flvia Caimi, sei que o acesso a uma extensa gama de informaes por si s

    no garante o desenvolvimento intelectual do jovem (mesmo por que, as noes de informao

    e o conhecimento pertencem a categoriais diferentes). Pelo contrrio: o que temos constatado

    na escola a presena de estudantes cada vez menos autnomos, com baixa capacidade de

    interpretao, escrita e reflexo.

    Desse modo, por que no seria possvel discutir a mudana de perfil da mulher a partir

    do filme Frozen, (2013), da Disney? Por que no seria possvel entrar em contato com todo o

    horror que a Grande Guerra de 1914 inaugurou com o jogo eletrnico Battlefield 1 (2016)? Por

    que no poderamos entender os conflitos tnico-raciais com a leitura crtica da revista dos X-

    Men (1963)?

    Caro colega, sei que as condies de trabalho nas escolas passam longe das ideais, ainda

    mais para aqueles que trabalham nas redes pblicas de ensino, onde os salrios so baixos, o

    Alessandra (Orgs.). Ensino de Histria: usos do passado, memria e mdia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014,

    p. 165-183. 4 Ibidem p.166. 5CAIMI, Flvia Eloisa. Por que os alunos no aprendem Histria? Reflexes sobre ensino, aprendizagem e

    formao de professores de Histria. In: Revista Tempo, n. 21, 2007, p. 18. 6 Ibidem p. 20.

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    currculo defasado e a estrutura fsica deixa a desejar. Nem sempre ser vivel passar um

    filme ou projetar os quadrinhos, mas importante termos em mente que essas mdias so um

    vis de anlise to legtimo quanto os documentos escritos, podendo causar uma identificao

    maior com uma gerao que enxerga o mundo de um modo diferente do nosso.

    O CINEMA COMO DOCUMENTO

    Em 2001, quando me encontrava na ento 5 srie do Ensino Fundamental, a professora

    de Histria passou para a minha turma o filme Gladiador (2000), uma superproduo

    estadunidense vencedora de cinco Oscars estrelada por Russel Crowe, Richard Harris e Joaquin

    Phoenix. Alm de ser a primeira vez em que assistia a um filme na escola com o intuito de

    aprender, tratava-se de uma obra que ativava a minha memria afetiva, visto que o meu av

    paterno, sendo oriundo do sul da Itlia (terra onde se deram os primeiros combates entre

    gladiadores), havia criado uma grande expectativa na poca do seu lanamento.

    Naquele perodo, tinha aulas de Histria Antiga no colgio: o surgimento do ser

    humano, os povos da Mesopotmia, os helnicos e, finalmente, Roma. A expanso territorial

    do Imprio Romano, a Poltica do Po e Circo e a escravido eram alguns dos temas de minhas

    aulas que eram exibidos no filme, o qual conta a saga de Mximus Dcimus Meridius, general

    leal ao imperador Marco Aurlio (121-180) que rebaixado ao posto de cativo e anseia por

    vingana pelo assassinato de sua famlia. Uma prtica que, contudo, no se mostrou eficaz.

    Se no trabalhada em uma perspectiva de desconstruo, as crianas correm o risco de

    entender a trama do filme como sendo parte do mundo real. E foi exatamente o que aconteceu

    conosco naquela oportunidade. Como tnhamos entre onze e doze anos de idade, a nossa

    capacidade de abstrao era bastante limitada. Como poderamos conceber eventos ocorridos

    h quase dois mil anos? Como visualizaraamos o significado poltico de guerras ou de lutas

    entre homens em uma arena?

    Historicamente, o Cinema e as imagens dos livros didticos so entendidos como

    ilustraes de textos ou do discurso do professor em sala de aula. Mesmo que se baseie em

    fatos, todo e qualquer filme uma obra de fico: esse o primeiro aspecto que um professor

    deve elucidar. Ser que um governante do porte de Marco Aurlio teria semelhana com o

    personagem vivido por Richard Harris, o qual, diante de tamanho poder em suas mos, era

    apenas um homem debilitado que no gostaria de ser lembrado como um tirano? Ser que ele

    realmente teria a inteno de nomear como sucessor algum que no o seu filho legtimo? Ser

    que um escravo, que sequer detm a liberdade sobre o seu prprio corpo, conseguiria desbancar

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    a popularidade de um imperador romano? Perguntas relevantes e que jamais foram feitas na

    escola. Assim, para ns, estudantes, o filme era automaticamente a realidade da prpria Roma.

    Com a expanso documental7 ao longo do sculo XX, outras produes do ser humano

    passaram a ser tidas como documentos que auxiliam no processo de construo do

    conhecimento histrico. Nesse caso, um filme pode ser considerado um documento no no

    sentido de reproduzir uma realidade histrica tal como ela foi um dia, mas sim como uma obra

    que evidencia como determinada sociedade imagina aquela realidade.

    E se por um lado a antroploga Lilia Schwarcz no texto Lendo e agenciando imagens8

    acredita que as imagens no so apenas ilustraes, Caimi no artigo Fontes histricas em sala

    de aula9 condena a utilizao desses documentos como um instrumento de reforo das ideias

    do professor. necessrio problematiz-las.

    Assim, como expe o crtico de arte francs Georges Didi-Huberman, no livro Diante

    da imagem10, a imagem possui uma textualidade que demonstra uma correspondncia no

    tempo e no espao mas que s pode ser acionada com um questionamento. Em qual contexto

    a obra feita? Quem a fez? Qual a sua intencionalidade? O que h de explcito e implcito nela?

    Essa a chave da problematizao que os filmes podem mediar na escola.

    UM DILOGO EM SALA DE AULA

    Como trabalho final da disciplina do professor Jorge Victor no ProfHistria, os docentes

    deveriam fazer uma mostra de como lidaramos com uma imagem em sala de aula. Assim, elegi

    o filme Rocky IV (1985), ativando novamente a minha memria afetiva, j que em 2007, quando

    prestava o vestibular, dois professores me recomendaram o filme sob o argumento de que era a

    materializao do tpico patriotismo estadunidense durante a Guerra Fria (1945-1989).

    Bem como o xadrez, a Guerra Fria consistiu em um perfeito jogo de soma zero. Mediado

    pela ameaa da bomba atmica, o conflito entre a doutrina do livre-comrcio e a expanso do

    Socialismo ps Estados Unidos e Unio Sovitica, as duas superpotncias do ps-Segunda

    Guerra Mundial, em lados opostos do tabuleiro. E no duelo por zonas de influncia ao redor do

    7 BARROS, Jos DAssuno. Fontes histricas: olhares sobre um caminho percorrido e perspectivas sobre os

    novos tempos. In: Revista Albuquerque, vol. 3, n. 1, 2010. 8 SCHWARCZ, Lilia M. Lendo e agenciando imagens: o rei, a natureza e seus belos naturais. In: Sociologia &

    Antropologia, julho-dezembro, 2004, v. 04, n2, p. 391-431. 9 CAIMI, Flvia Elosa. Fontes histricas em sala de aula: uma possibilidade de produo de conhecimento

    histrico escolar? In: Anos 90, Porto Alegre, v.15, n 28, p. 129-150, dez. 2008. 10 DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante da imagem. Questo colocada aos fins de uma histria da arte. So Paulo: Editora 34, 2015.

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    globo, a conquista de um implicava fundamentalmente a derrota do outro. Esse o cenrio

    histrico no qual a produo se insere, devendo ser destrinchado em sala de aula.

    Como as armas nucleares de EUA e URSS no poderiam ser postas prova no campo

    de batalha, o que causaria um verdadeiro apocalipse, o Cinema cumpriu uma importante funo

    como aparelho de propaganda ideolgica. Desse modo, necessrio evidenciar quem so os

    seus idealizadores e quais as possveis intencionalidades.

    Escrito, dirigido e protagonizado por Sylvester Stallone, que foi apontado pelo ento

    Presidente Ronald Reagan (1981-1989) como o ator que melhor incorporava o esprito

    estadunidense, o filme conta a luta do talo-americano Rocky Balboa contra o russo Ivan Drago.

    Na dcada de 1980, devido aos expressivos resultados no campo do esporte, a Unio

    Sovitica deseja ascender no boxe. Assim, os jovens teriam uma noo mais clara de como as

    competies esportivas podem atender a demandas polticas. E para tal, a esperana russa contra

    o campeo mundial Rocky Balboa era o pugilista Ivan Drago (Dolph Lundgren), atleta de quase

    dois metros de altura e cento e dezoito quilos.

    Apollo Creed, ex-boxeador e melhor amigo de Rocky, pede para lutar em seu lugar,

    dizendo: isso no apenas uma luta. Somos ns contra eles. Nesse momento, os alunos tm

    a oportunidade de se deparar com a bipolaridade poltica que marcou o sculo XX em toda a

    sua plenitude. Retratado de modo frio, calado e impiedoso, Drago mata Apolo desferindo-lhe

    socos com uma fora descomunal. O antagonista est formado. E como um dos trailers do filme

    exprime de modo sensacionalista, a nica coisa que Rocky no pode fazer agora fugir.

    Assim, ele aceita o desafio do rival, escolhendo lutar em Moscou no dia de Natal.

    Antes do embate, no entanto, Balboa decide fazer o seu treinamento no inferno de gelo

    da Sibria o ponto alto da trama e onde os estudantes mais demonstram interesse. Enquanto

    Rocky corta enormes toras de madeira, carrega pedregulhos e corre na neve, Drago treina em

    um laboratrio com a ajuda de equipamentos de ltima gerao e regado a uma boa dose de

    anabolizantes. Qual a impresso dos jovens diante disso? Eles veriam no americano um homem

    valente e no russo um trapaceiro cruel?

    Na parte final, aps enfrentar a superioridade fsica de Drago e a presso da plateia,

    como se espera de um heri, Rocky suporta bravamente os quinze assaltos de luta para finalizar

    o seu adversrio com um golpe certeiro no rosto. A vitria no era s do homem, mas de uma

    toda a nao. No toa que o cartaz promocional do filme traz o personagem exausto aps a

    luta sendo erguido e enrolado com a bandeira dos Estados Unidos. Quais seriam as concluses

    dos estudantes sobre a mensagem que o filme tenta transmitir?

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    CONCLUSO

    Os filmes so documentos histricos e constituem mais um recurso didtico para

    produzirmos conhecimento frente a uma gerao de jovens imersa em informaes. Neste

    mundo ciberntico em que vivemos, o Cinema, mediado por problematizaes que trazemos

    para sala de aula, tem a capacidade de propor reflexes vitais para o pensamento autnomo dos

    jovens, o que vem sendo cada vez mais cobrado, inclusive, nas provas de vestibular. Mas essa

    j outra histria.

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    A EDUCAO PATRIMONIAL E MUSEAL EM DEBATE: A

    EXPERINCIA DA 15 SEMANA DE MUSEUS NO MUSEU

    FERROVIRIO DE JUIZ DE FORA

    Caroline de Paula Egdio

    Dalila Varela Singulane

    Instncia arraigada s premissas da educao, o patrimnio cultural e histrico, em um

    primeiro momento, tm a sua construo ligada ao seio dos Estados, com o objetivo especfico

    de consolidaes de naes, fundado como algo dado e que confere ao poder institucional a sua

    salvaguarda. Ao longo do sculo XX, o debate sobre o que deveria ser considerado patrimnio,

    trouxe vrias reflexes que nos so valiosas para se pensar questes como o valor e

    historicidade. Alm disso, o papel dos museus acabou por entrar em pauta, principalmente por

    terem recebido a determinao como os lugares detentores de memria ou, a vlvula de escape

    dos governos quanto a resoluo de problemas com o patrimnio edificado e a memria

    coletiva, que em muitas das vezes, tinham suas vontades abnegadas, e vozes silenciadas.

    Nosso objeto de estudo, o Museu Ferrovirio de Juiz de Fora, foi inaugurado em 2003,

    resultado da ampliao do Ncleo Histrico Ferrovirio, que tambm funcionava no prdio da

    Estrada de Ferro Leopoldina. um dos espaos que melhor retrata o cotidiano do cidado juiz

    forano, e que sofre h muito tempo com o silenciamento e o distanciamento do pblico e da

    administrao pblica, tendo como concorrente o Museu Mariano Procpio, que apesar de

    estar parcialmente fechado por conta de sua reforma, ainda referenciado como o principal

    smbolo da histria do municpio,concentrando em si,grande parte da ateno e esforos das

    entidades pblicas. Decerto, pode-se afirmar que este problema seria resultado de uma

    constituio de memria partir do museu, o que ocorre desde a criao dessas instituies no

    Brasil, e que se mantm atual: a rememorao e a criao de narrativas e personagens oficiais,

    tratados como principais, e que favorecem um discurso hegemnico e especfico.

    Graduanda em Histria com nfase em Patrimnio Histrico pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

    Estagiria da Diviso de Patrimnio Cultural (DIPAC/FUNALFA) da Prefeitura de Juiz de Fora. Graduanda em Histria com nfase em Patrimnio Histrico pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

    Estagiria da Diviso de Patrimnio Cultural (DIPAC/FUNALFA) da Prefeitura de Juiz de Fora.

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    Localizado no centro da cidade, o prdio do antiga da Estao da Leopoldina,conta com

    o armazm, tombado pelo decreto n 6.448, de 21 de maio de 1999,e faz parte do Ncleo

    Histrico da RFFSA (Museu Ferrovirio), tambm tombado1.Esta linha frrea, foi essencial

    para o desenvolvimento da Zona da Mata Mineira, ea responsvel pelo estabelecimento de

    inmeros postos e estaes em localidades que, posteriormente, e em funo da ferrovia, se

    tornariam cidades. Atualmente,grande parte de sua malha ferroviria foi incorporada a Central

    do Brasil (E.F.C.B), que locada para a empresa privada MRS. Conjunta a arquitetura colonial,

    em Minas Gerais, as malhas ferrovirias que percorriam todo o estado, evidenciavamos

    aspectos de sua formao, como a economia e sua importante atuao comercial e poltica no

    pas.

    As estaes ferrovirias faziam parte do cotidiano, e marcavam uma poca de

    modernidade e avano do Brasil nos mais diversos setores. A situao no seria diferente na

    Zona da Mata do estado,j que por sua ocupao tardia e essencialmente em prol da produo

    cafeeira, tornou-se, em meados do sculo XIX, a segunda maior produtora de caf do Brasil,

    perdendo somente para So Paulo. A proximidade com o Rio de Janeiro,foiprimordial paraa

    implantao de ferrovias visando o escoamento dessa produo. Assim, grande parte das

    cidades se constituiu em torno dessas estaes que movimentavam o comrcio, trazendo

    mercadorias e viajantes (em sua maioria imigrantes) que se estabeleciam para suprir as

    demandas do mercado local. A instalao das linhas frreas e suas respectivas estaes,

    acabaram por aumentar a densidade populacional das cidades que se constituam tanto em

    funo da estao, que demandava circulao de pessoas, quanto pelo comrcio e o trnsito

    intenso que o mesmo provocava. Neste sentido, faz-se necessrio salientar que mesmo

    abrigando estes 142 municpios, apenas 9 deles 6 % do total - Cataguases, Juiz de Fora,

    Leopoldina, Manhua, Muria, Ponte Nova, Santos Dumont, Ub e Viosa possuam em

    2000 uma populao superior a 45.000 habitantes. 2A dimenso da Estrada de Ferro

    Leopoldina, pode ser notada pela sua abrangncia em grande parte desses municpios,

    alcanando at mesmo as pequenas localidades, ou, as cidades menores.

    1 Ncleo Histrico da RFFSA (Museu Ferrovirio). Processo 5817/97. Decreto/ Data: 6752/28.06.00. 2 Trecho do estudo de 2006 sobre memria ferroviria intitulada URBANISMO EM MINAS GERAIS: PELA

    MEMRIA DA REDE FERROVIRIA FEDERAL S.A., ITINERRIOS E CONJUNTOS FERROVIRIOS

    DA ZONA DA MATA MINEIRA, de Fbio Jose Martins de Lima, Raquel von Randow Portes, Raquel Fernandes

    Rezende e Manoel Marcos Monachesi.

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    Em contrapartida, muitas dessas edificaes histricas e smbolos desses acontecimentos,

    no tem sido devidamente preservadas como verdadeiros marcos histricos, cujo odescuido

    com as estaes ferrovirias mineiras revelam o descaso com a nossa prpria histria3. Este no

    seria um caso especfico de Juiz de Fora, j que a situao de abandono dos antigos trechos da

    Estrada de Ferro Leopoldina, uma realidade de outras cidades do interior mineiro. Em So

    Geraldo, por exemplo, o que resta so as runas da antiga ferrovia, tomadas pela ao do tempo,

    e que tambm sofrem com a falta de ao do poder pblico. No h interesse, o que pode ser

    observado partir do seguinte trecho veiculado em um jornal:

    A valor da logstica integrada (VLI), controladora da Ferrovia Centro

    Atlntica, informou que a Estrada de Ferro Leopoldina (EFL), assim

    como bens mveis e imveis contidos nela, no fazem mais parte da

    concesso da FCA desde 2013, quando foram devolvidos pela Unio e

    passaram a ser gerados pelo DNIT. O Instituto do Patrimnio Artstico e

    Nacional (IPHAN) informou que no h bens na lista do patrimnio

    cultural ferrovirio em So Geraldo, e que no est trabalhando

    diretamente com projetos de restaurao, conservao em bens

    ferrovirios, mas sim para a consolidao de um programa de destinao

    dos bens de valor histrico, artstico ou cultural, integrantes do

    Patrimnio Cultural Ferrovirio, que passaro, aps declarao de valor,

    responsabilidade da autarquia. (PARREIRAS)4

    Debater e pensar o que pode ser feito para o restauro e conservao desses patrimnios

    evoca no s o papel do historiador na sociedade, mas tambm, o do educador. A Educao

    Patrimonial, aqui, se faz mais do que necessria, servindo como intermdio para a histria, e

    para a reaproximao com a memria, atrelada ao que se define como patrimnio.Pensar as

    estradas de ferro , alm de pensar a prpria histria mineira, pensar o desenvolvimento das

    cidades e dos transportes, e de uma poca de ouro para a Zona da Mata, com sua malha

    ferroviria extensa e enraizada por toda a Minas Gerais. Para ns, enquanto estudantes e

    profissionais voltados para os usos do patrimnio e a reconstituio das narrativas das cidades,

    a questo chave trabalhar a ressignificao do uso das ferrovias para a sociedade, e de sua

    utilizao, evitando que a degradao e a perda de sua histria continuem ocorrendo.As

    propostas de utilizao desses espaos para a populao garantem a preservao das estaes e

    3Em UrbanismoemMinas Gerais: Pela memria da Rede Ferroviria Federal F S.A., itinerrios e conjuntos da

    Zona da Mata Mineira, os autores usam como exemplo a importante e histrica cidade de Mathias Barbosa:

    Aspecto do conjunto da Estao de Cedofeita no itinerrio ferrovirio de Juiz de Fora para Mathias Barbosa. A

    estao encontra-se fechada, sem nenhuma utilizao, em estado de conservao precrio, particularmente devido

    aos problemas no telhado. Alm disso, novas construes no entorno, com antenas parablicas, interferem na

    ambincia do conjunto composto pela estao e moradias de ferrovirios. Vale mencionar que o conjunto encontra-

    se tambm bastante modificado.

    4PARREIRAS, Mateus. A viagem que virou memria. Estado de Minas, Minas Gerais, 20. Jul.2016. Gerais, p.14.

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    da histria local, e acabam por promover a construo de sentimento de pertencimento e de

    utilidade. Alm da beleza esttica arquitetnica, construir esse sentimento garante tambm que

    as ferrovias no sejam vistas como um empecilho dentro cidades, mas sim como smbolos de

    uma histria coletiva, essenciais para a formao de cidados.

    EDUCAO MUSEAL E PATRIMONIAL EM DEBATE: OBSERVAES PARTIR

    DA EXPERINCIA DA 15 SEMANA DE MUSEUS

    A 15 Semana de Museus, um evento que ocorre anualmente em comemorao ao dia

    internacional de museus, celebrado no dia 18 de maio, promovendo uma ampliao do acesso

    a cultura e da visibilidade dos museus. Com o tema Museus e histrias controversas: dizer o

    indizvel em museus, instituies das mais diversas cidades foram escolhidas para receber o

    tema e adapt-las de acordo com o eixo temtico, desenvolvendo atividades diversas durante o

    perodo de uma semana. Em Juiz de Fora, tivemos como representantes o Museu Mariano

    Procpio, e o Museu Ferrovirio, que contou com uma parceria institucional entre o mesmo e

    a Diviso de Patrimnio Cultural para a realizao e a difuso do evento.

    Seguindo o que foi proposto, e aproveitando o gancho para promover uma aproximao

    com a histria do local e de seu acervo, foram desenvolvidas duas atividades, divididas em dois

    momentos, com alicerces na memria afetiva constituda, e na percepo da extenso do

    patrimnio, principalmente por seu vnculo com as prticas educativas. Nesse sentido,

    conduzimos a Semana de Museus partirde duas perspectivas, tendo em vista o pblico

    previamente inscrito, nos preocupando sempreem como introduzir o debate e conduzir as

    conversas com as turmas inscritas para as visitas, principalmente com os alunos das escolas

    municipais localizadas na Zona Norte da cidade, que convivem cotidianamente com o trem e

    as estaes ferrovirias nas proximidades. O evento procurou acolher tambm o pblico

    universitrio, representado pelas turmas de Histria da Universidade Federal de Juiz de Fora

    (UFJF) e Arquitetura da Faculdade Grambery, o que possibilitou a ampliao do debate para

    perspectivas que abrangiam a relevncia arquitetnica, social, de sua memria construda e

    at mesmo da produo historiogrfica da cidade, assim como a produzida em torno, ou com

    base nas ferrovias. Com esses alunos o foco se deu no mbito institucional, e que fazem parte

    dos espaos dos museus, e os problemas no s do Museu Ferrovirio, mas tambm das prticas

    museais e patrimoniais e seus lugares.

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    As atividades se constituram, como fora dito anteriormente, em dois momentos: no

    primeiro, foi passado um vdeo, resultado da compilao de duas pelculas, uma retirada de um

    vdeo institucional da antiga estrada de ferro, e outro de sua ltima viagem em Juiz de Fora, no

    ano de 1972. Aps a rodagem do mesmo, partiu-se para o debate mediado por profissionais da

    Diviso de Patrimnio e do museu, representados pelo diretor, um funcionrio do setor tcnico

    e pela guia da instituio, que nos ajudaram a responder muitas das dvidas e perguntas sobre

    o museu e seu acervo. Nas turmas dos alunos dos 5 ao 8 ano,que j teriam em sua escola a

    introduo do ensino com um vis patrimonial, as reaes se resumiram em um misto de

    estranheza e admirao, principalmente pelo acervo contar com objetos que so utilizados no

    dia a dia, como canecas, garfos e at mesmo panelas, que eram utenslios de uso comum dos

    antigos funcionrios da companhia. Apesar de no terem tido um contato direto com os trens

    que realizavam o transporte de passageiros,muitos sabiam da existncia do extinto Xangai, que

    fez por muitos anos o transporte de trabalhadores para a construo da IMBEL.5

    Procuramosrealizar atividades que permitissem aos alunos perceberem os vnculos com

    o patrimnio alm do bem edificado, a forma com a qual se forma a memria, e ainda, a

    importncia da preservao desses espaos determinados como detentores da mesma.

    Entendemos a Educao Patrimonial como um agentemediador, que tem como embasamento

    os processos educativos formais e no formais, tendo como foco o Patrimnio Cultural. Esse

    processo de mediao, nada mais do que uma prtica que possibilita a insero do pblico em

    espaos desconhecidos6, como o caso do Museu Ferrovirio, e que est inserida no processo

    de desenvolvimento e aprendizagem humana.7 Assim como Santos (2001, p.4)

    compreendemos que a escola uma instituio que faz parte do patrimnio cultural, e ao mesmo

    tempo, alimentada por diversos patrimnios culturais8, assumindo a sua estreita relao, e a

    5 O povo utilizava o trem Xangai para chegar ao centro da cidade. O trem ganhou esse nome em homenagem

    construo da Fbrica de Explosivos do Exrcito, em 1940, fbrica que veio totalmente montada da Alemanha,

    com estojos e armamentos, e o povo saia do centro da cidade para trabalhar na montagem e construo dos galpes,

    escritrios e instalao dos equipamentos. Na poca havia sido lanado um filme estrelado pela atriz Marlene

    Dietrich, chamado Expresso de Xangai, que apresentava uma situao anloga ao que acontecia em Juiz de Fora:

    o trem transportava os trabalhadores das fabricas, do mesmo modo que acontecia Juiz de Fora; o trem transportava

    os funcionrios do centro da cidade para trabalhar em Creosoto, e depois os conduzia de novo ao centro. 6Educao Patrimonial: Histrico, conceitose processos. Disponvel em:

    . Acesso em:

    18/08/2017. 7Educao Patrimonial: Histrico, conceitose processos. Disponvel em:

    . Acesso em:

    18/08/2017. 8SANTOS, Maria Clia T. Moura. Museu e Educao. Simpsio

    Internacional Museu e Educao: conceitos e mtodos, So Paulo,2001, p.4.

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    necessidade de sempre caminharem juntas, em funo de um ensino mais contemplativo para

    os alunos. Reafirmamos tambm a necessidade de estarem sempre em discusso, o que foi feito

    com todos os alunos, utilizando uma abordagem de vis informal, visando uma maior

    aproximao dos mesmos com o espao.

    O debate feito com os alunos da graduao em Histria teve dois eixos principais: os

    museus como espaos de memria e a sua representao na sociedade contempornea, e o

    espao do historiador na sociedade e em frente ao patrimnio. Por se tratar de uma turma da

    disciplina intitulada Patrimnio Histrico III, a conversa abarcou as dinmicas da construo

    de concepo de museus, as suas controvrsias e conflitos, e tambm,como os mesmos tem sido

    utilizados por ns. O papel do historiador, enquanto pesquisador e educador foi evocado em

    diversos momentos, principalmente pela falta de envolvimento do mesmo nessas instituies.

    Este tema acabou por trazer questionamentos sobre a formao dos alunos na universidade,

    uma vez que os que optam pelo bacharelado, so questionados sobre a sua formao e o seu

    lugar de atuao. A reescrita, ou a proposta de uma nova historiografia para a cidade, e a

    necessidade de um arquivo e um corpo de trabalho especfico para o museu, tambm foram

    temas levantados.

    Com os alunos de arquitetura, seguimos com a mesma perspectiva, trazendo a ateno

    tambm para a localizao da construo, apontando para a importncia do entorno, e da

    representatividade arquitetnica local. Ademais, a visibilidade do museu foi extremamente

    debatida e reivindicada, j que o prdio se encontra escondido por uma construo posterior

    realizada pela Prefeitura de Juiz de Fora aps a sua mudana de sede. Resultado de um projeto

    mal pensado, o conjunto de prdios bloqueiam a vista dos transeuntes para o museu, e

    dificultam a chegada de visitantes.

    importante frisar que a 15 Semana de Museus no Museu Ferrovirio foi viabilizada

    atravs dos esforos da administrao do museu e de seus funcionrios, que carregam consigo

    a memria e a representatividade do Museu para a sociedade juiz forana. A parceria com o setor

    de Patrimnio Cultural se deu alm dos laos institucionais, e exatamente por isso, serviu como

    indagao para que o ttulo desse trabalho fosse pensado, j que no pensamosmuseu e

    patrimnio como coisas isoladas, mas sim, completamente atreladas, e com limites

    estabelecidos apenas por questes de prtica. A semana procurou mostrar a capacidade do

    Museu Ferrovirio para atuar nas duas facetas, e isolar-se da simples concepo de depositrio

    de histrias e memrias, e do smbolo das prticas de lazer, adquirindo, desta forma, a dinmica

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    moderna de Patrimnio Histrico e Cultural, segundo os escritos de Meneses9, abrangendo e se

    reconhecendo em todos os tipos de valores.

    O Patrimnio no pode ser olhado apenas como uma reserva e, menos ainda, como uma

    recordao ou nostalgia do passado, mas, antes, como algo que tem de fazer parte do nosso

    presente. O Patrimnio, para o ser, tem de estar presente e vivo, de algum modo10. O Museu

    Ferrovirio, inquestionavelmente, representante de uma histria cercada por peculiaridades,

    pautada no cotidiano, nas pessoas (passageiros e trabalhadores), no trem, e que acaba por

    promover no um resgate, mas sim, por continuar a contar uma histria que faz parte do

    presente, e est em ns, mesmo que atravs dos detalhes. Desde a sua criao, os museus

    assumem uma caracterstica estritamente pedaggica, j apontada por Mrio de Andrade11, e

    readmitida por diversos autores que trabalham com a temtica. Os desafios, decerto, se

    concentram alm das questes burocrticas, envolvendo a insero de prticas diversas, e

    tcnicas de expografia que permitam uma melhor apreciao das potencialidades do museu, e

    uma melhor experincia para os que usufruem dos mesmos.

    Utilizando o caso da 15 Semana de Museus, levantamos a problemtica acerca dos

    acervos, que em muitas das vezes, no so percebidos como patrimnios, o que representa, em

    muitas das vezes, a dificuldade do mesmo em torno de sua legitimao e representatividade.

    Portanto, podemos afirmar, que em diversos momentos, o campo museal contm e abarca, ou

    pelo menos deseja conter e abarcar, o campo patrimonial12, e que museu e patrimnio, so

    campos distintos e complementares, que frequentemente danam ao som da mesma msica13.

    Territrios de disputas de polticas, sociais, e de memrias, cabe a ns, historiadores

    compromissados com o patrimnio, defende-los e sermos os responsveis pela insero das

    camadas sociais, sejam elas estudantes ou no, ao acesso e ao seu lugar dentro dos mesmos,

    conquistando o seu direito e espao de narrativa.

    9 MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. O campo do Patrimnio Cultural: uma reviso de premissas. Frum

    Nacional do Patrimnio. Vol. I. 10 ALMEIDA, C. A. Ferreira de. Patrimnio, Riegl e hoje. Mestrado de Histria da Arte da Faculdade de Letras

    do Porto, p. 412. 11Educao Patrimonial: Histrico, conceitose processos. Disponvel em:

    . Acesso em:

    18/08/2017. 12CHAGAS, Mrio. Educao, museu e patrimnio: tenso, devorao e adjetivao. Disponvel em:

    Acesso em:

    12/08/2017. 13Idem.

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

    39

    SOBRE AS FORMAS DE INSERO DA LITERATURA NA HISTRIA

    A PARTIR DA OBRA DE FIDOR DOSTOIVSKI

    Daniel Alves Gilly de Miranda*

    A obra que mais profundamente procurou explorar a relao entre Dostoivski e o

    momento histrico no qual viveu foi a de seu principal bigrafo, Joseph Frank. Na sua extensa

    biografia de cinco volumes sobre o escritor russo, Frank procura no s analisar a obra de

    Dostoivski a partir dos temas abordados, a narrativa dos romances, os smbolos utilizados,

    entre outros, mas principalmente pela sua colocao em relao histria do perodo. Nas suas

    prprias palavras: "Aos poucos fui compreendendo que, para fazer justia concepo que eu

    fazia de Dostoivski teria de apresent-lo no contexto de uma slida reconstruo da vida

    sociocultural de sua poca." Sua preocupao era, portanto, estudar a biografia de Dostoivski

    como complemento sua criao literria, "localiz-lo na sua capacidade de fundir seus dilemas

    pessoais com os acontecimentos que assolavam a sociedade qual pertencia."1

    A partir da viso de Frank sobre a relao entre histria e literatura, a obra de

    Dostoivski deveria ser entendida atravs do modo como nele se fundem os aspectos da sua

    subjetividade com a realidade objetiva exterior a ele. O autor pretende alcanar uma chave de

    interpretao dessas obras que no mais esteja descolada da realidade histrica que as circunda,

    principal inclinao que observava nas crticas que eram suas contemporneas. "Ou os crticos

    analisavam-no [Dostoivski] sobretudo em termos psicolgicos, puramente pessoais, ou

    estudavam-no em relao s questes filosficas e teolgicas gerais que levantou em seu

    romance", diz Frank, sendo que estas ltimas na maioria das vezes se caracterizam por no

    levar em conta o momento histrico especfico e "frequentemente, como no caso do

    Existencialismo, estavam associadas a um ou outro movimento filosfico contemporneo"2, e

    portanto sem buscar contato com a realidade histrica na qual o autor se insere.

    A tese de Frank a de que a obra de Dostoivski pode ser compreendida somente a

    partir do estudo das circunstncias histricas nas quais foi criada. O sentido das obras de

    Dostoivski deve ser dado pelos confrontos estabelecidos entre as ideias dominantes de sua

    *Doutorando pelo Programa de Ps-Graduao em Filosofia da Universidade Federal Fluminense, Graduado em Histria pela Universidade Federal Fluminense. 1 FRANK, Joseph. As sementes da revolta (1821 a 1849). So Paulo: EDUSP, 2008, p. 16. 2 Idem,O manto do profeta (1871 a 1881). So Paulo: EDUSP, 2007, p.14.

  • ANAIS DA 5. SEMANA DE HISTRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    28 DE AGOSTO A 1. DE SETEMBRO DE 2017

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    poca, de acordo com o modo como o autor vivenciou estas ideias e deu-lhes forma nos seus

    escritos. A sua obra combina no s a interpretao dos romances criados pelo autor, mas

    tambm uma histria da Rssia no sculo XIX e da intelligentsia do perodo. Partindo das obras,

    pretende alcanar a sua mxima objetividade ao revelar as relaes ocultas estabelecidas com

    o seu tempo, ao mostrar na interpretao quais so as foras, ideias e discusses existentes na

    realidade exterior e que aparecem representadas em cada passagem do texto.

    Desse modo, as personagens so representaes de ideias e indivduos realmente

    existentes: Piotr Stiepanvicth a representao dostoievskiana de Netchiev, Stavrguin

    Spechniev, Chtov Ivanov. Mesmo quando os personagens no assumem o papel de

    representar algum indivduo especfico, suas caractersticas seriam criadas segundo ideias

    facilmente encontradas nas polmicas que Dostoivski travava com seus contemporneos.

    Assim, no eram mais a representao de um indivduo qualquer, mas a representao daquilo

    que poderamos chamar genericamente de indivduo revolucionrio, uma espcie de sntese

    formada a partir dos antagonistas polticos de Dostoivski. Seria essa, por exemplo, a

    representao de Ivan Karmazov, cujas ideias seriam "o retrato da blasfmia mxima e a

    semente da ideia de destruio em nosso tempo, na Rssia [...] uma sntese do anarquismo russo

    contemporneo."3

    Frank adverte ainda que essas representaes no necessariamente propunham um

    retrato realista das personalidades e ideais r