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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL E SÉRIES INICIAIS O JOGO E A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL TEREZINHA MARIA MARQUES ORIENTADOR: Prof. Ilso Fernandes do Carmo VÁRZEA GRANDE/2011

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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL

E SÉRIES INICIAIS

O JOGO E A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

TEREZINHA MARIA MARQUES

ORIENTADOR: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

VÁRZEA GRANDE/2011

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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL

E SÉRIES INICIAIS

O JOGO E A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

TEREZINHA MARIA MARQUES

ORIENTADOR: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Educação do Lúdico na Aprendizagem Infantil e Séries Iniciais.”

VÁRZEA GRANDE/2011

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo primordial evidenciar a aplicabilidade do

lúdico no contexto escolar. A prática pedagógica deve estar baseada em

metodologias capazes de facilitar a construção do conhecimento da criança

pequena. O brincar é um o horizonte natural do desenvolvimento do ser humano,

como também é uma ação realizada pelo individuo com efeitos positivos, pois tem o

caráter de atuar no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social de forma espontânea.

O lúdico nas últimas décadas passou ser o fiel escudeiro em auxiliar as atividades

escolares, principalmente, na Educação Infantil, vista que por meio das atividades

recreativas com ou sem objetivos sistematizados, as crianças expressam suas

reações e ações afetivas, sociais, e cognitivas, desenvolvem habilidades

importantes para o hoje e o amanhã. Diante do exposto posso afirmar que esta

pesquisa contribuiu com a minha prática pedagógica, pois aprimorou e implementou

meus conhecimentos onde posso afirmar que o uso dos jogos constitui uma

estratégia de ensino extremamente eficaz para a motivação dos alunos, na

construção suas habilidades e competências. Para tanto, o tema escolhido partiu

das minhas necessidades em desenvolver atividades dinâmicas e prazerosas que

possam facilitar a aprendizagem dos alunos. A metodologia aplica a esta pesquisa é

qualitativa educacional onde se baseou em referências bibliográficas a temática em

estudo. Posso reafirmar que diante dos textos analisados e interpretados mudei

algumas concepções e aprimorei o contexto dos jogos e das brincadeiras no

contexto escolar.

Palavras-chaves: Jogos – brincadeiras – educação infantil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 04

CAPÍTULO I

JOGOS E BRINCADEIRAS COMO ESTÍMULOS EDUCACIONAIS .......... 07

1.1. A Formação Educacional Do Professor Da Educação Infantil ............... 10

1.2. Atendimento e formação profissional: os caminhos da legalidade ........ 12

CAPÍTULO II

JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................ 16

2.1. Aprendizagem Divertida ........................................................................ 17

2.2. A Contribuição Dos Jogos Na Aprendizagem Infantil ............................ 19

2.3. Brincadeira e Aprendizagem ................................................................. 20

CAPÍTULO III

A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................... 22

3.1. O Lado Sério Do Jogo: A Possibilidade De Aprender ........................... 23

3.2. Construindo A Aprendizagem Através Do Jogo .................................... 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 31

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 33

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INTRODUÇÃO

O jogo e a brincadeira estão presentes em todas as fases da vida dos seres

humanos, tornando especial a sua existência. De alguma forma o lúdico se faz

presente e acrescenta um ingrediente indispensável no relacionamento entre as

pessoas, possibilitando que a criatividade aflore.

Por meio da brincadeira a criança desenvolve-se no jogo e sente a

necessidade de partilhar com o outro. Ainda que em postura de adversário, a

parceria é um estabelecimento de relação. Esta relação expõe as potencialidades

dos participantes, afeta as emoções e põe à prova as aptidões testando limites.

Brincando e jogando a criança terá oportunidade de desenvolver capacidades

indispensáveis a sua futura atuação profissional, tais como atenção, afetividade, o

hábito de permanecer concentrado e outras habilidades perceptuais psicomotoras.

Brincando a criança torna-se operativa.

A afetividade é estimulada por meio da vivência, a qual o educador

estabelece um vínculo de afeto com o educando. A criança necessita de estabilidade

emocional parar se envolver com a aprendizagem. O afeto pode ser enriquecedor

para se atingir uma totalidade no processo do aprender.

O jogo não pode ser visto como qualquer tipo de interação, mas uma

atividade que tem como traço fundamental os papéis sociais e as ações destes

derivados em estreita ligação funcional com as motivações e o aspecto propriamente

técnico-operativo da atividade. Dessa forma destaca o papel fundamental das

relações humanas que envolvem os jogos infantis.

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não

pode ser vista apena como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a

aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa

saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de

socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.

A formação lúdica interdisciplinar se assenta em propostas que valoriza a

criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca da afetividade, a nutrição da alma,

proporcionando aos futuros educadores vivências lúdicas, experiências corporais

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que se utilizam da ação do pensamento e da linguagem, tendo no jogo sua

fonte dinamizadora.

Os problemas aplicados a esta pesquisa visa entender como se dá a

aplicação de jogos e brincadeiras sem deixarmos de cumprir os conteúdos

programáticos? Como evidenciar aos pais que jogando e brincando também se

aprende? A formação e a qualificação profissional dos professores contribuem com

essa prática metodológica?

O objetivo geral desta pesquisa é a compreensão de que a formação lúdica

interdisciplinar se assenta em proposta que valoriza a criatividade, o cultivo da

sensibilidade, a busca da afetividade, a nutrição da alma, proporcionando aos

futuros educadores vivências lúdicas, experiências corporais que se utilizam da ação

do pensamento e da linguagem, tendo no jogo sua fonte dinamizadora; Os objetivos

específicos desta pesquisa são de demonstrar que a aplicabilidade dos jogos e

brincadeiras no contexto escolar como contribuição para facilitar a construção do

conhecimento, evidenciar a qualificação profissional dos professores da educação

infantil onde devem propiciar o uso dessa prática metodológica, sensibilizar também

os profissionais da educação infantil de que o jogo é um recurso pedagógico e não

um simples material de passatempo.

Baseado nessas afirmações investigou-se nesta pesquisa a contribuição dos

jogos e brincadeiras frente aos parâmetros educativos; a qualificação e formação

profissional dos professores da educação infantil; bem como a concepção do brincar

numa visão de mundo, pois devemos estar sempre na busca do conhecimento

compreendendo o lúdico como um grande aliado na nossa caminhada profissional.

O uso de brinquedos e jogos destinados a criar situações de brincadeiras em

sala de aula nem sempre foi aceito. Conforme a visão que o adulto tem da criança e

da instituição infantil, o jogo toma-se marginalizado. Se a criança é vista corno um

ser que deve ser apenas disciplinado para aquisição de conhecimentos em

instituições de ensino acadêmico, não se aceita o jogo.

Entende-se que, se a escola tem objetivos a atingir e o aluno a tarefa de

adquirir conhecimentos e habilidades, qualquer atividade por ele realizada na escola

visa sempre a um resultado, uma ação dirigida e orientada para a busca de

finalidades pedagógicas.

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O emprego de um jogo em sala de aula necessariamente se transforma em

um meio para a realização daqueles objetivos. Portanto, o jogo entendido como

ação livre, tendo um fim em si mesmo, iniciado e mantido pelo aluno, pelo simples

prazer de jogar, não encontraria lugar na escola. São tais ponderações que têm

aquecido discussões em torno da apropriação do jogo pela escola e, especialmente,

o jogo educativo.

A metodologia aplicada a esta pesquisa foi de pesquisa bibliográfica

qualitativa onde foram feitos levantamentos de informações em revistas, sites, livros,

documentários, artigos, monografias a respeito do tema aqui abordado e a forma

como o mesmo pode contribuir na absorção de novos conhecimentos.

Os assuntos aqui trabalhados estão divididos em capítulos, baseando nisso,

o primeiro capítulo faz uma análise de como os jogos e brincadeiras estimulam no

desempenho educacional, de como se da a formação do profissional da educação

infantil e o seu atendimento aos docentes visando os caminhos da legalidade.

O segundo capítulo relata sobre o uso dos jogos e brincadeiras na educação

infantil, sobre a aprendizagem divertida, principalmente como os jogos podem

contribuir na aprendizagem bem como essa brincadeira está envolvida na

aprendizagem infantil.

O terceiro capítulo embasa a contribuição do lúdico na educação infantil,

demonstra o lado sério do jogo como forma de aprender e também como podemos

construir uma aprendizagem significativa apenas jogando.

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CAPÍTULO I

JOGOS E BRINCADEIRAS COMO ESTÍMULOS EDUCACIONAIS

A identificação entre deficiência e fracasso escolar segundo MOYLES

(2002), leva a questionar por que existe um canal tão estrito entre perspectivas

diferentes, principalmente as determinadas por fatores ambientais, colocando em

dúvida a necessidade de classes especiais em escolas publicas para os “deficientes

leves”, como são chamadas os alunos que sofrem sucessivos fracassos escolares e,

que, após uma avaliação ineficaz, são identificados como deficientes, sem antes

receberem uma intervenção pedagógica adequada à superação de suas dificuldades

e ainda sem fazer um levantamento prévio das causas que o levaram ao “fracasso”.

Para modificar esse quadro, e tornar essas crianças capazes de pensar por

si só, de agir, refletir e construir o seu próprio conhecimento, COLL et all (1995),

enfatiza que é preciso que se leve em consideração dois aspectos dentre outros

vários, como:

• A presença do professor mediador que se interpõem entre o estimulo e o

organismo, criando de forma sistemática ou assistemática, situações que levam o

individuo a se desenvolver plenamente.

• Os recursos, instrumentos pedagógicos que devem ser adequados a essas

crianças, possibilitando a construção do conhecimento de forma pensante.

O Papel do mediador não é só o de organizar, selecionar, estabelecer

prioridades a certos estímulos mediados, mas também pode fazer certos estímulos

entrarem de forma difusa na criança.

Voltando aos dois aspectos citados anteriormente, à ação do

professor/mediador e a utilização dos instrumentos metodológicos, acredita-se que

um mediador que tenha uma nova forma de conceder a aprendizagem à criança, ou

seja, proporcionar a ela uma aprendizagem significativa onde esta possa comparar

formula e reformula hipóteses, organiza e reorganiza pensamentos, segundo o seu

nível de desenvolvimento, desta forma essa criança terá oportunidade de superar

suas limitações afetivas e cognitivas.

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Entende-se que o desenvolvimento intelectual não consiste em acumular

informações, mas sim, em reestruturar as informações anteriores, quando estas

entram num novo sistema de relações. De acordo com COLL et all (1995), o

conhecimento é adquirido por um processo de natureza assimiladora e não

simplesmente registradora, a aquisição desse conhecimento faz parte de um

processo evolutivo.

Ao conceber a aprendizagem sob os aspectos cognitivos e afetivos, o jogo é

um instrumento que contempla esses dois aspectos. Segundo PIAGET (1978), o

jogo é a construção do conhecimento, agindo sobre os objetos, as crianças, desde

pequenas estruturam seu espaço e o seu tempo, desenvolve a noção de

causalidade à representação e finalmente a lógica.

MIRANDA (1980), ressalta que o jogo, por ser livre de pressões e

avaliações, cria um clima de liberdade, propicio a aprendizagem e estimulando a

moralidade, o interesse, a descoberta e a reflexão, propiciando o êxito através da

experiência, pois é significativo e possibilita a auto descoberta, a assimilação e a

integração com o mundo por meio de relações e de vivências.

Durante as interações proporcionadas pelos jogos é que se desenvolve o

respeito mutuo entre educador e educando e entre os próprios educandos, dentro de

um clima afetivo, em que ela tem a oportunidade de construir seu conhecimento

social, físico e cognitivo, estruturando sua inteligência e interação com meio em que

está inserida.

Mediante a esta perspectiva a mesma autora embasa que há dois tipos de

jogos que ocupam espaço na educação dessas crianças que apresentam dificuldade

na aprendizagem, são eles:

• Jogos livres, o mundo do faz-de-contas, que favorecem a autonomia, a

socialização e, conseqüentemente uma melhor adaptação social futura.

• Jogos direcionados, onde o educador prepara os que têm por finalidade

interesses educativos, didáticos, que são relevantes para o desenvolvimento do

pensamento e aquisição de conteúdos, porque proporcionam uma modificação

cognitiva, ou seja, a passagem de uma postura de sujeitos passivos para ativos.

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Nas brincadeiras do faz-de-conta a criança é livre para escolher papéis

variados, onde possa desempenhar e definir suas próprias regras. Seu

funcionamento é um processo que tem um fim em si mesmo. A criança brinca e tem

prazer de brincar, pois a faz tornar uma criança criativa, que tem iniciativa própria e

que organiza suas ações, enfim que planeja e substitui o significado dos objetos com

o objetivo de reproduzir as relações e os fenômenos, observados por ela.

Os jogos direcionados pelo educador preocupam-se com o desenvolvimento

dos conteúdos, ou seja, com o conhecimento escolar mais elaborado e especifico.

Ainda segundo MIRANDA (1980), o jogo de construção, possibilita na

aquisição do conhecimento físico, onde a criança terá elementos para estabelecer

relações e desenvolver seu raciocínio lógico-matemático, o professor deve organizar

jogos que contemple a classificação, seriação, seqüência, de espaço, tempo e

medida.

A possibilidade de exploração e de manipulação que o jogo oferece as

crianças com “dificuldades”, em contato com as “normas”, os adultos e objetos e

com o meio, propiciando o estabelecimento de relações e contribuindo para a

construção da personalidade e do desenvolvimento cognitivo, tornando a atividade

lúdica imprescindível na sua educação.

MOYLES (2002), relata que o “fracasso”, sentimento experimentado pelos

alunos de classes especiais, pode ser substituído pelo sentimento de auto-satisfação

e elevação da auto-estima baixa, pois o jogo e a brincadeira proporcionam prazer e

desprazer. Quando a criança joga, fica livre de tensões e da avaliação constante dos

adultos. O jogo/brincadeira são recursos do qual o educador pode fazer uso para

ajudar as crianças com “dificuldades” de aprendizagem a se tornarem sujeitos

pensantes, participantes ativos e felizes.

Este caráter do lúdico na efetivação da aprendizagem só ocorrerá quando o

educador e toda comunidade escolar passar a valorizar o brincar, o jogo como

elemento importante no processo de aprendizagem; quando reconhecer as

limitações do elemento competitivo no brinquedo; equilibrar o brinquedo diretivo e

espontâneo; observar o brinquedo infantil para conhecer melhor as crianças e para

que possa avaliar até que ponto a atividade está oferecendo prazer à criança.

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Estimular o uso de brinquedos que favorecem uma maior interação entre as

crianças é um dos meios de promover a socialização entre as mesmas.

Baseado nas citações de LEONTIEV (1988), muitas são as habilidades

sociais reforçadas pelos jogos, brinquedos e brincadeiras como a cooperação,

comunicação eficaz, competição honesta, redução da agressividade. O brinquedo,

permite que as crianças progridam até atingirem um nível de autonomia, maior do

que as demais crianças que não tem esta prática.

1.1. A FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Embora não existam informações abrangentes sobre os profissionais que

atuam diretamente com as crianças nas creches e pré-escola do país, vários

estudos têm mostrado que muitos destes profissionais ainda não têm formação

adequada, recebem remuneração baixa trabalham sob condições bastante

precárias.

Se na pré-escola, constata-se, ainda hoje, uma pequena parcela de

profissionais considerados leigos, nas creches ainda é significativo o número de

profissionais sem formação mínima cuja denominação é variada: berçarista, auxiliar

a desenvolvimento infantil, babá, pajem, recreacionista etc.

De acordo com BRASIL (1997), a constatação dessa realidade nacional

diversa e desigual, porém, foram acompanhados, nas últimas décadas, de debates a

respeito das diversas concepções sobre criança, educação, atendimento

institucional e reordenamento legislativo que devem determinar a formação de um

novo profissional para responder às demandas atuais de educação da criança de

zero a seis anos. As funções deste profissional vêm passando, portanto, por

reformulações profundas. O que se esperava dele há algumas décadas não

corresponde mais ao que se espera nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates

têm indicado a necessidade de uma formação mais abrangente e unificadora para

profissionais tanto de creches como de pré-escolas e de uma reestruturação dos

quadros de carreira que leve em considerações os conhecimentos já acumulados no

exercício profissional como possibilite a atualização profissional.

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Em resposta a esse debate, a LDB (BRASIL,1996) dispõe, no título VI,

art.62/96 que: “A formação docentes para atuar na educação básica for- se- á em

nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em Universidade e

Institutos Superiores de Educação admitida como formação mínima para o exercício

do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino

fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal”. Considerando a

necessidade de um período de transição que permita incorporar os profissionais cuja

escolaridade ainda não é exigida e buscando proporcionar um tempo para

adaptação das redes de ensino esta mesmo lei dispõe no título IX, art.87, 4ª que:

“até o fim da década da educação somente serão admitidos professores habilitados

em nível superior ou formados por treinamento em serviço”.

Isto significa que as diferentes redes de ensino deverão colocar-se a tarefa

de investir de maneira sistemática na capacitação permanente e em serviços de

seus professores (sejam das creches ou pré-escolas), aproveitando as experiências

acumuladas daqueles que já vêm trabalhando com crianças há mais tempo e com

qualidade. Ao mesmo tempo deverão criar condições de formação regular de seus

profissionais, ampliando-lhes chances de acesso à carreira como professores de

educação infantil, função que passa a lhes ser garantia pela LDB, caso cumprido os

pré-requisitos. Nessa perspectiva, faz-se necessário que estes profissionais, nas

instituições de educação infantil, tenham ou venham a ter uma formação inicial

sólida e consistente acompanhada de adequada e permanente atualização em

serviço. Assim, o diálogo no interior da categoria tanto quanto os investimentos na

carreira e formação do profissional pelas redes de ensino são hoje um desafio

presente, com vista à profissionalização do docente de educação infantil.

Este referencial utiliza a denominação “professor de educação infantil” para

designar todos os/ as profissionais responsáveis pela educação direta das crianças

de zero a seis anos, tenham eles/ elas uma formação especializada ou não.

(BRASIL, 1997, p.39).

ZAINKO (2001) relata que o trabalho direto com crianças exige, que o

professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que o

professor sabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde

cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das

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diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez,

uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também um

aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares,

dialogando com as famílias e a comunidade buscando informações necessárias para

o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a

prática direta com as crianças e observações, o registro, o planejamento e a

avaliação.

A implementação e/ ou implantação de uma proposta curricular de qualidade

depende, principalmente dos professores que trabalham nas instituições. Por meio

de suas ações, que devem ser planejadas e compartilhadas com seus pares e

outros profissionais da instituição, BRASIL (1997), salienta que se podem construir

projetos educativos de qualidades junto aos familiares e as crianças. A idéia que

preside a construção de um projeto educativo é historicamente contextualizada que

demanda reflexão e debates constantes com todas as pessoas envolvidas e

interessadas.

Para que os projetos educativos das instituições possam, de fato,

representar esse diálogo e debate constante, é preciso ter professores que estejam

comprometidos com a prática educacional, capazes de responder às demandas

familiares e das crianças, assim como às questões específicas relativas aos

cuidados e aprendizagens infantis. (BRASIL, 1997, p. 41).

1.2. ATENDIMENTO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: OS CAMINHOS DA

LEGALIDADE

As novas propostas da legislação, considerada um avanço para todos os

que lutavam por reconhecimento da Educação Infantil e pela qualidade do

atendimento à infância, prevêem ações diferenciadas.

BRASIL (1997), ressalta que na Constituição Federal de 05/10/1988, no

artigo 208, inciso IV, que é dever do Estado assegurar o atendimento em creche e

pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade mais conhecida como Estatuto

da Criança e do Adolescente (ECA).

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Segundo BRASIL (1996), esse atendimento, feito em instituições diferentes,

será novamente corroborado pela lei 9394/96 descrita no artigo 30, onde a

Educação Infantil será oferecida em creches, ou entidades equivalentes, para

crianças de até três anos de idade pré-escolas para crianças de quatro a seis anos

de idade.

A própria legislação, segundo BRASIL (1997), põe à mostra essa

problemática que envolve o atendimento e divide as ações dentro do espaço da

instituição de Educação Infantil. Ficamos com a cisão entre as ações de

profissionais que se envolvem mais em cuidado ou educação, submetendo a

discussão e o atendimento a duas esferas: a educação e a assistência.

Ainda de acordo com BRASIL (1997), historicamente, concepções mais

voltadas para uma determinada forma de atendimento vêm definindo uma relação

diferenciada com as crianças e as famílias: a creche, para atender crianças advindas

de famílias pobres; a pré-escola, para atender crianças de famílias com melhor

poder aquisitivo. Assim, a mesma criança recebe tratamento diferente de acordo

com a instituição que freqüenta.

Entretanto, são todas as crianças com idades entre zero e seis anos, que

deveriam ter um atendimento voltado para o seu desenvolvimento integral, conforme

BRASIL (1996), no Artigo 29 da lei 9394/96: A Educação Infantil, primeira etapa da

educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até

seis anos de idade, em seus espaços físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade.

Segundo BRASIL (1988), a presença dessa dicotomia legalizada e

institucionalizada, nos remete à discussão do trabalho docente desenvolvido na

Educação Infantil, que também reflete tal ruptura na prática cotidiana, especialmente

nos espaços e instituições que recebem crianças de zero a seis anos.

A creche que, segundo a legislação, receberia crianças de zero a três anos

tem, desde sua criação, uma história de atendimento mais voltado para as ações do

cuidado, privilegiando a satisfação das necessidades básicas da criança.

O atendimento geralmente é feito em período integral, e o profissional que

atua junto às crianças tem pouca ou nenhuma formação. As crianças da pré-escola

geralmente têm recebido ações com intencionalidade educativa, de caráter muitas

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vezes escolarizante e com perspectivas de preparação para a escolaridade no

ensino fundamental.

Nesse contexto, temos outro problema que é a formação dos profissionais

do ponto de vista institucional. A legislação prescreveu, na Lei de Diretrizes e Bases

segundo BRASIL (1996), como deveria ser essa formação, no Artigo 62:

A formação dos docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível

superior, em curso de graduação plena, em universidades e institutos superiores de

educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na

Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida

em nível médio, na modalidade normal.

Dessa forma, a legislação indica como deverá ser conduzida a formação,

propondo um viés escolarizante e incluindo apenas os profissionais que estejam

habilitados em cursos de magistério ou cursos superiores. No entanto, quando

percebemos o cotidiano das instituições, sabemos que um grande número delas,

especialmente as que atendem crianças menores de zero a três anos, tem, nos seus

quadros, profissionais sem formação específica ou ainda sem nenhuma formação.

Novamente a legalidade em ação, sabedora da realidade em que se

configura o quadro profissional, traduz, em artigos, incisos, propostas, diretrizes, sua

ação e teoricamente pretende resolver a questão, dizendo:

A implementação das diretrizes relativas à política de recursos humanos engajados na Educação Infantil exigirá acordos e compromissos de co-responsabilidade dos diversos órgãos que atuam na área (...). Faz-se necessário intensificar ações voltadas para a estruturação de processos de formação inicial e continuada dos profissionais da Educação Infantil. (BRASIL, 1988, p. 88).

Ainda segundo BRASIL (1998), é fundamental o envolvimento das

universidades nesse processo, especialmente por sua atuação na formação de

formadores e na pesquisa e desenvolvimento na área. Constitui prioridade o investi

mento, a curto prazo, na criação de cursos emergenciais, sem prejuízo da qualidade,

destinados aos profissionais não habilitados que atuam nas creches e pré-escolas.

Ações nesse sentido serão apoiadas e incentivadas pelo Ministério.

Essa disposição legal, que vem sendo discutida desde 1993, se contradiz na

LDB citada por BRASIL (1996), que define a formação feita em curso médio e

superior e impõe um prazo para que ela aconteça. Com relação tanto à escolaridade

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como ao prazo para sua conclusão, não se efetivaram na prática. Além disso, temos

outras questões cruciais a serem enfrentadas, como: financiamento para a

Educação Infantil, o embate entre assistência e educação, a integração das creches

aos sistemas de ensino, a valorização profissional a partir de uma política de cargos

e salários, plano de carreira; enfim, temas que não poderiam ser explicitados no

presente trabalho, mesmo influenciando significativamente essa história de busca

um atendimento competente para crianças e adultos.

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CAPÍTULO II

JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Os jogos e brincadeiras são desafios que encantam pelo prazer funcional de

sua realização. Mesmo que se cansem, as crianças querem continuar jogando e

brincando. Há um afeto perceptivo, ou seja, algo que agrada ao corpo e ao

pensamento. Até o medo e a dor ficam suportáveis, interessantes, porque fazem

sentido. Por isso, trata-se de uma experiência que pede repetições por tudo aquilo

que representa ou mobiliza.

Graças a isso, aprendemos a identificar informações ou qualidades nas

coisas ou em nós mesmos, para reconhecer coisas agradáveis e desagradáveis e,

assim, variar as experiências e combiná-las da mais variada formas.

Uma das conseqüências maravilhosas, nesse contexto de repetir, variar,

recombinar e inventar, segundo VYGOTSKY (1991), é poder criar representações.

Quando brincam de casinha, as crianças vivem experiências de reconstruir o

cotidianos e simbolizar a vida. Graças a isso, pode suportar ou compreender os

tempos que a mãe, por exemplo, fica longe delas. Representar, mesmo num

contexto de faz-de-conta, supõe envolvimento. O representado não está fisicamente

aqui, mas simbolicamente sim.

E inventar situações mediadas por pensamentos e histórias construídas na

brincadeira. É estar entre, fora, longe, perto, acima, abaixo, é construir

simbolicamente um modo de imitar, jogar, sonhar, comunicar e falar com o mundo,

inventando uma historia nos limites das possibilidades e necessidades.

Para repetir e fazer de conta basta uma pessoa. Mas, ao se desenvolver, a

criança não quer só brincar de – ela que brincar com – jogos sempre foram

experiências de troca. Daí, segundo KISHIMOTO (2001), a importância de

estabelecer contratos, fixar limites e espaço e tempo, definir objetivos. Realizar um

percurso é uma das brincadeiras preferidas das crianças.

Mesmo que não saibam, elas estão representando e se preparando para

repetir outro percurso que nos foi concedido ao nascer. Percorrer a vida é a tarefa, o

problema ou o desejo de todos nós, não escolhemos a vida, mas devemos escolher

os modos de vivê-la.

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O caminho percorrido não volta. O caminho a percorrer deve ser decidido

aqui e agora. Nos jogos, é possível repetir e criar regras, errar e começar de novo.

Graças a isso, o outro percurso ganha sentido e passa a ser vivido com mais

liberdade e responsabilidade.

2.1. APRENDIZAGEM DIVERTIDA

FREIRE (1997), entre outros autores, afirma que ensinar exige consciência

do inacabamento, respeito à autonomia do aluno, apreensão da realidade, alegria e

esperança, mudança, curiosidade, liberdade, saber escutar, dialogo.

Se ensinar é tudo isso e muito mais então podemos considerar que aprender

significa: a possibilidade de sempre ampliar o campo de conhecimento partilhando; a

construção do conhecimento a partir da realidade; o exercício da alegria, da

esperança, da curiosidade e da liberdade como referencias para uma educação

verdadeiramente cidadã.

Ainda segundo FREIRE (1997), a sala de aula é o espaço por excelência em

que os dois processos – ensinar e aprender se encontram e esse encontro, precisa

ser de tal forma que o resultado seja um aluno feliz, esperançoso, criativo e

autônomo.

Pensamos num cantinho de Educação Divertida com brincadeiras e jogos

pedagógicos a que o aluno possa ter acesso para realizar atividades lúdicas, que

individualmente, quer em dupla ou mesmo em grupos maiores. Preferentemente, as

atividades de aprendizagem divertidas deverão ser solidárias, envolvendo no mínimo

dois alunos.

É criado, assim, em sala de aula um espaço lúdico – pedagógico de reforço

e consolidação de aprendizagens, onde se aprende brincando e se brinca

aprendendo. A ênfase está em transformar o saber em fazer.

Os jogos e brincadeiras podem ser construídos pelo professor, contando ou

não com a participação dos alunos, e, para tal, serem utilizadas sucatas, quando for

o caso.

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Criança, brincando, brinquedo e jogo são indissociáveis, mas parece que o

sistema escolar não consegue perceber isso. O prazer encontrado pelas crianças

nas brincadeiras precisa também ser encontrado por elas na sala de aula.

Segundo BRASIL (1998), para a educação infantil, o desenvolvimento da

criança acontece através do lúdico. Ela precisa brincar ter prazer e alegria para

crescer, precisa do jogo como forma de equilíbrio entre ela e o mundo, portanto, a

atividade escolar deverá ser uma forma de fazer e de trabalho, fazendo com que a

criança tenha um desenvolvimento completo. Coisa esquecida por grande parte dos

adultos envolvidos no seu cotidiano, preocupados em sobreviver e que através da

escola procuram fazer com que as crianças também esqueçam.

Para PIAGET (1973), os jogos tornam-se mais significativos a medida que a

criança se desenvolve, pois a partir da livre manipulação de materiais variados, ela

passa a reconstruir objetos, reinventar as coisas o que já exige uma adaptação mais

completa.

Para PIAGET (1973), essa adaptação que deve ser realizada na infância

consiste em uma síntese progressiva da assimilação com a acomodação, é por isso

que pela própria evolução interna os jogos das crianças se transformam pouco a

pouco em construções adaptadas exigindo sempre mais do trabalho afetivo.

A escola ao exigir certa imobilidade da criança, reprime a necessidade que

esta tem, de se expressar, de vivenciar corporalmente o ato educativo e de construir

seu conhecimento a partir do próprio corpo.

O brinquedo: a essência da infância. Brincar não constitui perda de tempo,

nem é simplesmente uma forma de preencher o tempo. A criança que não tem

oportunidade de brincar está como um peixe fora da água.

O brinquedo, possibilita o desenvolvimento integral da criança, já que ela se envolve efetivamente, convive socialmente e opera mentalmente, tudo isto de uma maneira envolvente, em que a criança despende energia, imagina, constrói normas e cria alternativas para resolver os imprevistos que surgem no ato de brincar. (WASKOP, 1990, p.49).

Ainda segundo o mesmo autor, o brinquedo facilita a apreensão da realidade

e é, muito mais um processo do que um produto. Não é o fim de uma atividade ou o

resultado de uma experiência. E o mesmo, a atividade e a experiência, envolvendo a

participação total do individuo. Exige movimentação física, envolvimento emocional,

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além do desafio mental que provoca. E neste contexto, a criança só, ou com

companheiros, integra-se ou volta-se contra o ambiente em que está.

O brinquedo é a essência da infância; é o veiculo do crescimento; é um meio

extremamente natural que possibilita à criança explorar o mundo, tanto quanto o só

adulto, possibilitando-lhe descobrir e entender-se, conhecer os seus sentimentos, as

suas idéias e a sua forma de reagir.

Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona

idéias, melhora a sua parte motora e se prepara para o aprendizado futuro.

2.2. A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS NA APRENDIZAGEM INFANTIL

Os jogos são importantes instrumentos de desenvolvimento de crianças e

jovens. Longe de servirem apenas como fonte de diversão, o que já seria

importante, eles propiciam situações que podem ser exploradas de diversas

maneiras educativas.

O jogo é um fim em si mesmo para a criança; para nós, deve ser um meio.

Daí este nome de “jogos educativos”, que tende a ocupar cada vez mais espaço em

nossa linguagem de pedagogia maternal.

Não se trata, portanto de deixar a criança livre de sua atividade abandonada a si mesma. A criança deve jogar, mas todas as vezes que você lhe dá uma ocupação que tem a aparência de um jogo, você satisfaz essa necessidade e, ao mesmo tempo, cumpre seu papel educativo. (BROUGERÊ 1993, 122).

Então, o jogo para a criança constitui um fim, ela participa como objetivo de

obter prazer. Para os adultos que desejam usar o jogo como objetivos educacionais,

isto é visto como um meio, um veiculo capaz de levar até a criança uma mensagem

educacional. Assim, a tarefa do adulto e escolher qual o jogo adequado para

transmitir a mensagem educacional desejada.

O jogo organizado constitui o melhor método para incutir princípios, normas

e estabelecer padrão normais. A formação do caráter não decorre do jogo “em si”,

mas resulta, surge “por meio” ou através do jogo. (MOYLES, 2002, p.13).

A importância de brincar na educação infantil está expressa pela lei incluída

no “referencial curricular de educação infantil” citada por BRASIL (1998), publicação

nacional do MEC. O brincar é uma atividade espontânea e difere do jogo, pois este

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possui regras e limites, por isso a proposta de utilização destes recursos, deve estar

de acordo com a faixa etária abordada na ocasião.

Existe uma variedade de brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas,

mas em recente pesquisa (KISHIMOTO, 2001), verificou-se que os mais

significativos são os chamados educativos, materiais gráficos, de comunicação nas

salas e os de educação física para o espaço interno.

Os jogos sensoriais podem contribuir para a formação do futuro adulto. E o

que descrevem alguns pesquisadores sobre o trabalho de Maria Montessori

(MIRANDA, 1980). Estes jogos sensoriais foram destinados a estimular os diferentes

sentidos, de forma que os mesmos possam se desenvolver satisfatoriamente no

decorrer da vida da criança.

Um ponto negativo em utilização de jogos e brincadeiras, como suporte

pedagógico no aprendizado de conteúdos específicos, é que em parte dos casos o

professor não tem a visão de que, com o lúdico, a criança aprende tão bem ou até

melhor do que representa um momento de lazer, e sim uma forma alternativa de

aprender.

2.3. BRINCADEIRA E APRENDIZAGEM

Muito se tem discutido sobre a importância do brinquedo, da brincadeira e do

jogo no desenvolvimento infantil. Psicológicos do calibre de Piaget e Vygotsky

estudaram profundamente esta questão e de que maneira o brincar se transforma, a

medida que a criança vai crescendo e amadurecendo.

As brincadeiras para as crianças estão repletas de desafios a vivência de

alguma situação anterior, a descoberta de novas faces e possibilidades de algo

conhecido ou a resolução de uma dificuldade nova. Ao brincarem uma com as

outras elas interagem de tal forma, que constroem juntas realidades vividas e, ou

objetos que passarão a fazer parte da sua trajetória e do seu mundo.

Criam novas imagens, vivem situações como se fossem reais (como ao

brincar de casinha, de super herói, de fazer compras no supermercado, de corrida

de fórmula 1, etc).

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PIAGET (1978), relata que o brincar, pode acontecer a partir de um objeto

construído com esse fim, ou a partir de algo que passe a simbolizar esse brinquedo:

Um pedaço de madeira pode transformar-se em um caminhão viajando entre as

montanhas, em um navio atravessando oceanos, em uma parede, em mesa para as

bonecas, em um livro ilustrado.

Mais importante que qualquer aspecto, nesse processo de construção e

representação da situação, é o percurso que a criança faz durante todo o tempo em

que está envolvida. Ela inventa, cria, ela segue seus próprios pensamentos e

emoções.

Ela imita o seu mundo exterior, usam elementos dele, tudo isso com

liberdade e autonomia.

Para VYGOTSKY (1991), na brincadeira é como se a criança fosse maior do

que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém

todas as tendências do desenvolvimento sobre suas origens e sobre possível

modificação, a criança quando joga, ainda se mostra bastante “liberal” no que tange

à aplicação de regras freqüentemente introduz , sem qualquer consulta prévia a seu

adversário, alguma variante que lhe possibilita ter melhor desempenho e não acha

estranho afirmar no final de uma partida que “todo mundo ganhou”.

Segundo uma expressão famosa, as crianças desta fase jogam mais umas

ao lado das outras do que realmente uma contra as outras.

Tal desrespeito pode parecer contraditório com as concepções sobre a

intangibilidade das regras, mas, na verdade, trata-se das duas faces de uma mesma

moeda. Ainda segundo VYGOTSKY (1991), a criança heterônoma, não assimilou

ainda o sentido da existência de regras: não as concebe como necessário para

regular e harmonizar as ações de um grupo de jogadores e por isso não as segue à

risca; e justamente por não as conceder desta forma, atribui-lhes uma origem

fatalmente estranha à atividade e aos membros do grupo, e uma imutabilidade

definitiva que faz as regras assemelharem-se as leis físicas. A terceira e ultima etapa

é a autonomia, e correspondem à concepção adulta do jogo. Em primeiro lugar as

crianças jogam seguindo as regras com esmero.

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CAPÍTULO III

A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Na medida em que as crianças crescem, observa-se que algumas delas

começam apresentar dificuldades de aprendizagem decorrentes de fatores

emocionais, sócio-econômicos e culturais, traumas ocorridos durante a gestação e

no parto, etc. COLL et all (1995), esclarece que os problemas e distúrbios vão

aparecer no início da vida escolar da criança e geralmente essas crianças que não

aprendem ocasionalmente são deixadas de lado; pelo fato dos professores terem

muitos alunos em sala de aula e também por ainda não terem adotado as atividades

lúdicas no seu planejamento escolar, os quais desconhecem que o lúdico também

proporciona a aprendizagem.

Contudo é preciso que os conceitos de aprendizagem e de sala de aula

dentre outras seja revisto pelos professores em geral por ansiedade em ministrar os

conteúdos elaborados, acabam restringindo sua visão pedagógica apenas em quatro

paredes da sala de aula. Dessa forma, culpar os professores não é o meu objetivo,

uma vez que estes lidam com a falta de capacitação profissional e de profissionais

como assistentes sociais e psicólogos para estarem orientando-os e auxiliando-os

na sua prática emocional.

No entanto, sabemos que falhas ocorrem tanto por parte do professor

quanto por parte dos nossos governantes. A partir disto compreende-se a realidade

educacional atual como fruto de um processo histórico que tem na esfera

econômica, política e social suas origens e conseqüentemente, raiz dos problemas é

poder visualizar a totalidade enquanto fonte de conflitos que são nitidamente

visualizados e com possíveis soluções de problemas.

Nota-se que temos que reconhecer o lúdico como um fio condutor de

eletricidade, o qual deve atuar com os alunos indisciplinados e com distúrbio de

aprendizagem e comportamento. Entretanto, enquanto a criança brinca não separa

os momentos de aprendizagens das diferentes áreas de ensino.

Podemos também citar como, por exemplo, o jogo de amarelinha resgatando

as brincadeiras da nossa infância, que envolve conceitos matemáticos, coordenação

motora ampla, fina e equilíbrio, a percepção visual e auditiva, a expressão oral, o

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desenvolvimento do juízo moral através do cumprimento de regras, normas e limites,

a socialização, a localização espaço-temporal, lateralidade e outros.

Outro aspecto a ser enfatizado na questão do lúdico é a possibilidade de

adequar os jogos e as brincadeiras, proporcionando para os alunos momentos de

recreação e lazer, para estes no espaço escolar. Dessa forma o conceito dos jogos

e brincadeiras, nos mais variados significados fazem parte dos nossos objetivos

pedagógicos, tornando-se assim, elemento importante para a prática interdisciplinar

dos conteúdos dados em sala de aula.

Sugerimos ainda sobre a fundamental importância do embasamento teórico

do professor com relação às teorias da aprendizagem e o conseqüente

reconhecimento de que o aspecto lúdico interdisciplinar deve ser contemplado em

todos os momentos do processo educacional, evitando a prática tão comum do

joguinho no final da aula para preencher o tempo ou a afirmação: “se ficarem

quietos, no final da aula a professora deixará brincar com joguinhos”.

Segundo KAMIL (1991.19) diz que: “a situação ideal de aprendizagem é

aquela em que a atividade é de tal modo significativo que aquele aprende a

considerar como um trabalho e como um jogo”.

Essa citação acima leva-nos a pensar na avaliação dos alunos, o qual esta

não deve ser vista como um julgamento e uma cobrança/exigência principalmente

por parte os pais, e sim deve promover informações para que mudanças possam ser

feitas de maneira a garantir uma aprendizagem significativa.

Portanto, o professor deve contemplar uma nova visão de educação,

buscando sempre atualizar os conhecimentos, ser flexível ao lidar com o novo e com

as transformações de si mesmo e do mundo que o cerca. Sabemos, enfim, que a

vida é uma arte de aprender.

3.1. O LADO SÉRIO DO JOGO: A POSSIBILIDADE DE APRENDER

O raciocínio decorrente do fato de que os sujeitos aprendem através do jogo

é de que este possa ser utilizado pelo professor em sala de aula. As primeiras ações

de professores apoiados em teorias construtivistas foram no sentido de tornar os

ambientes de ensino bastante ricos em quantidade e variedade de jogos, para que

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os alunos pudessem descobrir conceitos inerentes às estruturas dos jogos por meio

de sua manipulação.

Esta concepção tem levado a práticas espontaneístas da utilização dos

jogos nas escolas. A sustentação de tal prática pode ser encontrada nas teorias

psicológicas que colocam apenas no sujeito as possibilidades de aprender,

desconsiderando elementos externos como possibilitadores da aprendizagem.

São tais concepções de aprendizagem subjetivistas que colocam o

conhecimento como produto de articulações internas aos sujeitos.

A atividade direta do aluno sobre os objetos de conhecimento é a única fonte válida de aprendizagem, e assume, implicitamente, que qualquer tentativa de intervenção do professor para ensinar um conhecimento estruturado está fadada ao fracasso ou à produção de um conhecimento meramente repetitivo (WASKOP, 1990, p. 102).

Ainda segundo o autor essas concepções têm como principal característica

a crença de que o desenvolvimento cognitivo é a sustentação da aprendizagem, isto

é, que para haver aprendizagem é necessário que o aprendiz tenha um determinado

nível de desenvolvimento. Tal crença pode colocar o educador na posição dos que

apenas promovem situações desafiadoras para os sujeito em situação escolar.

Desta maneira, as situações de jogo são consideradas como parte das

atividades pedagógicas, porque são elementos estimuladores do desenvolvimento.

Sendo assim, o jogo é elemento do ensino apenas como possibilitador de colocar

em ação um pensamento que ruma para uma nova estrutura.

O jogo, ainda segundo essa concepção, deve ser usado na educação

matemática obedecendo a certos níveis de conhecimento dos alunos tidos como

mais ou menos lixos. O material a ser distribuído para os alunos deve ter unia

estruturação tal que lhes permita dar um salto na compreensão dos conceitos

matemáticos. E assim que materiais estruturados, como blocos lógicos, material

dourado, Cuisenaire e outros, na maioria decorrentes destes, passaram a ser

veiculados nas escolas.

A visão do conhecimento puro, que decorre apenas do amadurecimento de

estruturas internas, levou a práticas em que os conteúdos eram pouco relevantes e,

por priorizarem o desenvolvimento das estruturas, a uma concepção de jogo como

promotor desse desenvolvimento, O uso de sucata para a confecção de brinquedos,

de jogos de montar, e a retomada do uso de materiais de ensino sem objetivos

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pedagógicos claros são a concretização da concepção que entende a construção do

conhecimento como fenômeno essencialmente individual e regido apenas por leis

internas ao sujeito.

A educação matemática, na década 60, viveu uma situação que poderíamos dizer à beira da esquizofrenia. Ao mesmo tempo em que se apoiava em teorias psicológicas que defendiam a utilização de materiais concretos como facilitadores da aprendizagem, utilizava-se de uma linguagem matemática altamente sofisticada obedecendo às estruturas lógicas desta ciência, acreditando em outro paradigma da psicologia da época: a estrutura do conhecimento matemático se aproxima das estruturas psicológicas dos sujeitos. (PIAGET, 1973, p.40).

Conforme PIAGET (1973), o aparecimento de propostas de ensino de

matemática em que se destacou a ênfase na linguagem e na visão estruturalista,

também presente na produção matemática.

O surgimento de novas concepções sobre como se dá o conhecimento tem

possibilitado outras formas de considerar o papel do jogo no ensino.

São as contribuições da psicologia de cunho sócio-interacionistas que vêm a

estabelecer novos paradigmas para a utilização do jogo na escola. Esta concepção

acredita no papel do jogo na produção de conhecimentos, tal como a anterior.

Diferencia-se daquela ao considerar o jogo como impregnado de conteúdos

culturais e que os sujeitos, ao tomar contato com eles, fazem-no através de

conhecimentos adquiridos socialmente. Ao agir assim, estes sujeitos estão

aprendendo conteúdos que lhes permitem entender o conjunto de práticas sociais

nas quais se inserem.

Neste sentido, as concepções sócio-interacionais partem do pressuposto de

que a criança aprende e desenvolve suas estruturas cognitivas ao lidar com o jogo

de regra. Nesta concepção, o jogo promove o desenvolvimento, porque está

impregnado de aprendizagem. E isto ocorre porque os sujeitos, ao jogar, passam a

lidar com regras que lhes permitem a compreensão do conjunto de conhecimentos

veiculados socialmente, permitindo—lhes novos elementos para apreender os

conhecimentos futuros.

O jogo, nesta visão da psicologia, permite a apreensão dos conteúdos porque coloca os sujeitos diante da impossibilidade de resolver, na prática, as suas necessidades psicológicas. O indivíduo experimenta, assim, situações de faz-de-conta do jogo regrado pela lógica, vivenciada ou criada, para solucionar as impossibilidades de tomar realidade o seu desejo. (LEONTIEV, 1988, p.52).

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É uma decorrência desta visão o aparecimento dos cantinhos de jogos, das

brincadeiras de faz-de-conta etc, o jogo, como promotor da aprendizagem e do

desenvolvimento, passa a ser considerado nas práticas escolares corno importante

aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante de situações de jogo pode ser

uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na

escola, além de poder estar promovendo o desenvolvimento de novas estruturas

cognitivas.

O jogo, na educação matemática, passa a ter o caráter de material de ensino

quando considerado promotor de aprendizagem. A criança, colocada diante de

situações lúdicas, apreende a estrutura lógica da brincadeira e, deste modo,

apreende também a estrutura matemática presente. Esta poderia ser tomada como

fazendo pare da primeira visão de jogo de que tratamos até aqui. Na segunda

concepção, o jogo deve estar carregado de conteúdo cultural e assim o seu uso

requer certo planejamento que considere os elementos sociais em que se insere.

O jogo, nessa segunda concepção, é visto corno conhecimento feito e

também se fazendo. E educativo. Esta característica exige o seu uso de modo

intencional e, sendo assim, requer um plano de ação que permita a aprendizagem

de conceitos matemáticos e culturais, de uma maneira geral.

“Desta maneira, o jogo aproxima-se da matemática via desenvolvimento de

habilidades de resolução de problemas e mais, permite trabalhar os conteúdos

culturais inerentes ao próprio jogo.” (LEONTIEV, 1988, p.55).

Para tanto o jogo será conteúdo assumido com a finalidade de desenvolver

habilidades de resolução de problemas, possibilitando ao aluno a oportunidade de

estabelecer planos de ação para atingir determinados objetivos, executar jogadas

segundo este plano e avaliar sua eficácia nos resultados obtidos.

3.2. CONSTRUINDO A APRENDIZAGEM ATRAVÉS DO JOGO

Os jogos, brinquedos e brincadeiras ganham força na educação, com o

aprofundamento de estudos na área de educação infantil, entendido como recurso

que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, materializando-se no quebra-

cabeça, destinando a ensinar formas e cores, nos brinquedos de tabuleiros que

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exigem a compreensão do número e das operações matemáticas, nos brinquedos

de encaixe, que trabalham noções de seqüência, de tamanho e de forma, nos

múltiplos brinquedos e brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar

para o desenvolvimento infantil e a materialização da função psicopedagógica.

Compreender que o desenvolvimento não é unilateral, mas que recebe

influências de outros fatores internos e externos é ser consciente que é preciso

buscar elementos que possam assegurar a construção do conhecimento de forma

prazerosa e possam oferecer um número maior de alternativas para a aquisição e

produção do saber.

O uso do brinquedo e jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para

relevância desse instrumento para situações de ensino aprendizagem e de

desenvolvimento infantil. Ao viabilizar a ação intencional, a construção de

representações mentais, a manipulação de objetos e o desempenho de ações

sensório-motoras e as trocas nas interações, o jogo contempla várias formas de

representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a

aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Quando as situações lúdicas são

provocadas com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surgem as

dimensões educativas. Desde que mantidas as condições para expressão do jogo,

ou seja, a ação intencional da criança para brincar, o educador está oportunizando

as situações de aprendizagem.

Toda ação pedagógica necessita ser intencional, pois viabiliza dimensionar o

caminho a ser percorrido pela criança ao executar uma atividade seja ela lúdica ou

não.

Apropria-se do jogo na educação infantil significa transportar para o campo

do ensino-aprendizagem condições para ampliar a construção do conhecimento,

introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e

ação ativa e motivadora.

A motivação no ato de ensino/aprendizagem é outro fator desafiador, uma

vez que se não houver motivação de ambos os lados não há aprendizagem,

A motivação para aprender nada mais é do que o reconhecimento, pelo individuo de que conhecer algo irá satisfazer suas necessidades atuais ou futuras. Ela também pode ser encarada como um processo psicológico em construção. A motivação humana deve ser compreendida na relação entre os aspectos cognitivos e afetivos da personalidade, ambos largamente

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dependentes dos fatores externos. A motivação está ligada à autoconsciência do individuo (seus ideais, seus projetos, sua visão de mundo) e também dos aspectos inconscientes de sua personalidade. Pode-se assim dizer que uma pessoa motivada para aprender constrói o conhecimento mais prontamente do que uma sem motivação. (COLL et all, 1995, p.84).

Dentre as competências a serem construídas e desenvolvidas por um

professor está à capacidade de desenvolver uma relação professor/aluno propicia ao

processo de ensino/aprendizagem. Na busca constante de metodologias

facilitadoras do processo, e o lúdico apresenta-se como instrumento valioso nessa

dinamização, quebrando as hierarquias existentes, aproximando mais os elementos

envolvidos e motivando o próprio ato de aquisição/ assimilação de conteúdos.

Torna-se importante fazer algumas explicações, quanto às funções lúdicas e

educativas: Função lúdica-o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer,

quando escolhido voluntariamente. Função educativa-o brinquedo ensina qualquer

coisa que complete o individuo em seu saber, seu conhecimento e sua apreensão

do mundo.

A utilização do jogo em potencialização, a exploração e a construção do

conhecimento, por contar com a motivação interna típica do lúdico, mas o trabalho

pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influencia de parceiros bem

como a sistematização de conceitos.

A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o ‘não brincar’. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma e atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorreu por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das idéias, de uma realidade anteriormente vivenciada. (KISHIMOTO, 1991, p.34,).

A brincadeira possibilita a construção dos seus próprios conhecimentos, de

forma particular, com embasamento do real e da experimentação vivenciada de

forma espontânea. Cada pessoa de forma particular constrói as significações para o

que estão fazendo.

No ato de brincar, os sinais os gestos, os objetos e os espaços valem e

significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e

repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando.

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O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que

assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças

agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas

ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de

objetos substitutos. Exercitando a sua criatividade.

O ato de brincar, segundo KAMIL e DEVRIES (1991), apresenta-se por

meio de várias categorias de experiências que são diferenciadas pelo uso do

material ou dos recursos predominantemente implicados. Essas categorias incluem

o movimento e as mudanças da percepção resultantes essencialmente da

mobilidade física das crianças; a relação com os objetos e suas propriedades físicas

assim como a combinação e associação entre eles, à linguagem oral e gestual que

oferecem vários níveis de organização a serem utilizados para brincar; os conteúdos

sociais, como papéis, situações, valores e atitudes que se referem à forma como o

universo social se constroem; e, finalmente, os limites definidos pelas regras,

constituindo-se em recurso fundamental para brincar. Estas categorias de

experiências podem ser agrupadas em três modalidades: brincar de faz-de-conta,

considerada como atividade fundamental da qual se originam todas as outras:

brincar com materiais de construção e brincar com regras.

Quando está brincando a criança lança mão de vários instrumentos do

mundo real e do abstrato, como também dos conhecimentos adquiridos, formulando

novos, solucionando as dificuldades encontradas ao realizar qualquer ato. Cria suas

próprias regras e condutas que julgam ser importantes. Estabelecem prioridades a

serem alcançadas.

É o professor que através da educação que ajuda a estruturar o campo das

brincadeiras na vida das crianças. Por meio das brincadeiras os professores podem

observar e construir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças no

coletivo, como também na sua individualidade, registrando suas capacidades de uso

das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e

emocionais que dispõem.

Ao utilizar materiais de construção e regras está externalizando o que

sentem e pensam naquele momento. Direcionar as brincadeiras para as construções

e aquisições de conhecimento é função do professor.

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É preciso que o professor tenha consciência que na brincadeira as crianças

recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do

conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva não

se deve confundir situações nas quais se objetivas determinadas aprendizagens

relativas a conceitos, procedimentos ou atitudes explicitas com aquelas nas quais os

conhecimentos são experimentados de uma maneira espontânea e destituídos de

objetivos imediatos pelas crianças. No entanto, é preciso haver uma conscientização

do professor referente ao tipo de brincadeiras e jogos ao utilizar em um determinado

momento.

O planejamento e a avaliação constante durante a brincadeira das crianças

permitem ao professor acompanhar como esta sendo realizado a atividade e se os

objetivos estão sendo cumpridos. São esses dois elementos que possibilitarão ao

professar saber que tipo de jogo ou brincadeira a ser utilizado em um determinado

momento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jogo infantil tem sido defendido na educação infantil como recurso para a

aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. O modo como ele é concebido e

apropriado pelos professores infantis, todavia, revela alguns equívocos.

Os que trabalham com a educação de crianças até 6 anos falam muitas

vezes em jogo simbólico, sem, contudo, dar mostras de terem elaborado de um

modo mais científico como ele ocorre e qual sua função no desenvolvimento

humano. Chega-se a propor, como metodologia da educação infantil, o “dar o jogo

simbólico às crianças”, ignorando ser o jogo uma disposição pessoal delas para agir

de modo simbólico em algumas situações.

No pólo oposto, simplesmente se decide deixar a criança brincar como

queira, como se jogar fosse algo próprio da natureza biológica da espécie e,

portanto, não necessitasse de suportes culturais. Os professores tratam o jogo

infantil de forma restrita e em clima “cor-de-rosa”, mas sob o controle dos adultos.

O que as concepções apresentadas terminam fazendo é afastar o professor

como figura de interação e interlocução, ou como um parceiro da criança em seu

processo de desenvolvimento, ignorando que, nesse processo, certas noções estão

se construindo, ou poderão se construir, desde que se cuide para que isso ocorra. O

jogo é precisamente uma atividade que tem que ver com conteúdos e habilidades

trabalhadas pela criança em seu desenvolvimento no interior de uma cultura

concreta.

A brincadeira é o recurso privilegiado de desenvolvimento da criança

pequena por acionar e desenvolver processos psicológicos - particularmente a

memória e a capacidade de expressar elementos com diferentes linguagens, de

representar o mundo por imagens, de tomar o ponto de vista de um interlocutor e

ajustar seus próprios argumentos por meio do confronto de papéis que nele se

estabelece, de ter prazer e de partilhar situações plenas de emoção e afetividade.

A brincadeira é um recurso pedagógico facilitador no processo de ensino

aprendizagem das crianças pequenas e que as escolas devem propiciar esses

recursos a seus alunos facilitando assim a construção de seus conhecimentos.

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Diante do exposto, é que esta pesquisa objetivou evidenciar a necessidade

da aplicabilidade do lúdico na educação infantil.

Percebe-se que através da ludicidade o ser humano desfaz todos os

conflitos internos e frustrações, o qual reconstrói as energias, idéias e pensamentos;

uma vez que o jogo desperta o conhecimento, e é brincando que a criança

desenvolve as potencialidades, as habilidades motoras, as qualidades, o espírito de

iniciativa e de equipe, a coragem, a sociabilidade, a capacidade criadora, a

disciplina, a gentileza, enriquecendo-se assim de valores morais, afetivos e

intelectuais na aparente descontração na hora do brincar.

Conclui-se que a aprendizagem se processa a partir do sujeito, que este

aprende em contato físico, interpessoal, e psicosocial com o meio em que vive e em

que está inserido. Pois como sabemos o sujeito não é algo acabado e pronto, mais

se constrói no dia a dia e o seu conhecimento não é herdado geneticamente, mas se

dá justamente no contato com o meio.

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