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Alain Choppin Durante muito tempo negligenciada, a literatura escolar suscitou, nos últimos vinte anos, um vivo interesse entre os historiadores. Após expor as causas desse desinteresse e os motivos pelos quais se multiplicam atualmente no mundo os trabalhos sobre o livro e a edição escolares, o autor tenta mostrar a riqueza e a complexidade da fonte histórica que constituem os manuais. Esboça um histórico crítico da pesquisa internacional e tenta, a partir daí, tirar as principais tendências atuais. Traça um paralelo entre a pesquisa historiográfica tradicional e nacional, fundamentada sobre o postulado da eficiência do manual, e uma pesquisa histórica globalizante, que tomando em conta o conjunto contextual, prende-se a uma concepção "ecológica" do manual. Após haver indicado algumas das dificuldades de natureza metodológica, com as quais os pesquisadores podem se deparar, o autor lembra que o manual é antes de mais nada um instrumento - em suma complexo -, e que a análise de seus conteúdos é indissociável de seus usos, reais ou supostos. O artigo apresenta uma abundante bibliografia internacional. Palavras-chaves: História da Educação; Manuais Escolares; Edição e Editores; Análise de Conteúdo; Metodologia. Longtemps négligée, Ia Iittérature scolaire scolaire suscite depuis une vingtaine d'années un vif intérêt chez les historiens. Apres avoir exposé les causes de cette désaffection et les motifs pour lesquels se multiplient aujourd'hui dans le monde les travaux sur le livre et I' édition scolaires, I' auteur tente de montrer Ia richesse et Ia complexité de Ia source historique que constituent les manuels. fi brosse un historique critique de Ia recherche internationale et tente d'en dégager les principales orientations actuelles. fi oppose une recherche historiographique traditionnelle et nationale, fondée sur le postulat de I' efficience du manuel, et une recherche historique globalisante, qui, prenant en compte l'ensemble du contexte, s'attache à une conception « écologique» du manuel. Apres avoir indiqué quelques-unes des difficultés de nature méthodologique auxquelles peuvent être confrontés les chercheurs, l'auteur rappelle que le manuel est avant tout un outil - au demeurant complexe - et que l'analyse de ses contenus est indissociable de celle de ses usages, réels ou supposés. L' article comporte une bibliographie internationale nourrie. Mots-clefs: Histoire de l'éducation; Manuels scolaires; Edition et éditeurs; Analyse de contenu; Méthodologie . 1 "L'historien et le livre scolaire", especialmente escrito para a revista História da Educação. Tradução de Maria Helena Carnara Bastos.

Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

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Page 1: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

Alain Choppin

Durante muito tempo negligenciada a literatura escolar suscitou nos uacuteltimos vinte anos umvivo interesse entre os historiadores Apoacutes expor as causas desse desinteresse e os motivospelos quais se multiplicam atualmente no mundo os trabalhos sobre o livro e a ediccedilatildeoescolares o autor tenta mostrar a riqueza e a complexidade da fonte histoacuterica que constituem osmanuais Esboccedila um histoacuterico criacutetico da pesquisa internacional e tenta a partir daiacute tirar asprincipais tendecircncias atuais Traccedila um paralelo entre a pesquisa historiograacutefica tradicional enacional fundamentada sobre o postulado da eficiecircncia do manual e uma pesquisa histoacutericaglobalizante que tomando em conta o conjunto contextual prende-se a uma concepccedilatildeoecoloacutegica do manual Apoacutes haver indicado algumas das dificuldades de naturezametodoloacutegica com as quais os pesquisadores podem se deparar o autor lembra que o manual eacuteantes de mais nada um instrumento - em suma complexo - e que a anaacutelise de seus conteuacutedos eacuteindissociaacutevel de seus usos reais ou supostos O artigo apresenta uma abundante bibliografiainternacionalPalavras-chaves Histoacuteria da Educaccedilatildeo Manuais Escolares Ediccedilatildeo e Editores Anaacutelise deConteuacutedo Metodologia

Longtemps neacutegligeacutee Ia Iitteacuterature scolaire scolaire suscite depuis une vingtaine danneacutees un vifinteacuterecirct chez les historiens Apres avoir exposeacute les causes de cette deacutesaffection et les motifs pourlesquels se multiplient aujourdhui dans le monde les travaux sur le livre et I eacutedition scolairesI auteur tente de montrer Ia richesse et Ia complexiteacute de Ia source historique que constituent lesmanuels fi brosse un historique critique de Ia recherche internationale et tente den deacutegager lesprincipales orientations actuelles fi oppose une recherche historiographique traditionnelle etnationale fondeacutee sur le postulat de I efficience du manuel et une recherche historiqueglobalisante qui prenant en compte lensemble du contexte sattache agrave une conceptionlaquo eacutecologiqueraquo du manuel Apres avoir indiqueacute quelques-unes des difficulteacutes de naturemeacutethodologique auxquelles peuvent ecirctre confronteacutes les chercheurs lauteur rappelle que lemanuel est avant tout un outil - au demeurant complexe - et que lanalyse de ses contenus estindissociable de celle de ses usages reacuteels ou supposeacutes L article comporte une bibliographieinternationale nourrieMots-clefs Histoire de leacuteducation Manuels scolaires Edition et eacutediteurs Analyse decontenu Meacutethodologie

1 Lhistorien et le livre scolaire especialmente escrito para a revista Histoacuteria da Educaccedilatildeo Traduccedilatildeo deMaria Helena Carnara Bastos

Durante muito tempo negligenciada a pesquisa histoacuterica sobre olivro e a ediccedilatildeo escolares conhece haacute uns vinte anos avanccedilos consideraacuteveisem um nuacutemero cada vez mais significativo de paiacuteses O fato da AssociaccediliioInternacional de Historiadores da Educaccedilatildeo (ISCHE) consagrar seu uacuteltimocongresso ao tema O livro e a Educaccedilatildeo constitui assim um testemunhoinequiacutevoco2 Mas por que esse campo de investigaccedilatildeo esteve por tantotempo abandonado e provoca somente agora tanto interesse Quais forame quais satildeo as principais obras as principais orientaccedilotildees Que cuidados seimpotildeem ao historiador que toma os manuais escolares como objeto deestudo

O descaso que os biblioacutegrafos ou amadores de livros tiveram pelosmanuais natildeo surpreende em nada Vaacuterios fatores concorreram para suscitare manter esse desinteresse Alguns decorrem do proacuteprio status do manual

Inicialmente para os contemporacircneos alunos pais ou a fortioriprofessores os livros escolares participam do universo cotidiano eles natildeoapresentam nada de raro exoacutetico singular parecem mesmo intemporais namedida em que transcendem a clivagem entre as geraccedilotildees Essa banalidadefamiliaridade proximidade conferem agraves obras escolares menos valor vistoque satildeo produzidas hoje em grande quantidade dezenas de milhotildees deexemplares atualmente em paiacuteses como a Franccedila3bullbull ou ateacute mesmobilhotildees de exemplares como na China 4 O consideraacutevel volume detiragens mas tambeacutem as subvenccedilotildees diretas ou indiretas cuja produccedilatildeo eacutebeneficiada em grande nuacutemero de paiacuteses contribuem para fazer dosmanuais escolares produtos editoriais comparativamente pouco onerosos eportanto pouco valorizados

Os livros escolares satildeo tambeacutem mercadorias pereciacuteveis Perdem todovalor de mercado assim que uma mudanccedila nos meacutetodos ou nos programasfixam sua prescriccedilatildeo ou ainda quando fatos atuais impotildeem-Ihes

2 laquoEl Libro y Ia Educacioacuten raquo XXITe Congrecircs de nSCHE (International Standing Conference of theHislOriaos ofEducation) Alcalaacute de Henares (Espagne) 6-9 septembre 20003 Em 1999 a produccedilatildeo francesa elevou-se agrave 712 milhotildees de exemplares (Fonte Syndicat national deleacutedition Leacutedition de livres en France Paris SNE p37)4 Um pouco mais de dois bilhotildees e meio para o ano de 1996

modificaccedilotildees como ocorreu apoacutes a queda do muro de Berlim ou comoaconteceraacute no proacuteximo ano na maioria dos paiacuteses da Uniatildeo Europeacuteia porocasiatildeo da passagem ao euro Tambeacutem nas sociedades ocidentaismodernas os livros escolares satildeo vistos pelos contemporacircneos comoobjetos de consumo pedagoacutegico eacute assim que os produtos do setorparaescolarparadidaacutetico (os anais de exame os cadernos de feacuterias ete) satildeohoje assimilados desde os profissionais ateacute os consumidores

Os livros de classe satildeo tambeacutem viacutetimas de seu sucesso odesenvolvimento da instruccedilatildeo popular a instauraccedilatildeo do princiacutepio daobrigatoriedade escolar em um grande nuacutemero de paiacuteses industrializados emais recentemente a democratizaccedilatildeo do ensino e a extensatildeo daescolarizaccedilatildeo levaram a uma produccedilatildeo editorial cada vez mais massiva Poroutro lado a hierarquizaccedilatildeo dos niacuteveis de ensino a multiplicaccedilatildeo dasdisciplinas e das especializaccedilotildees e nos paiacuteses onde a ediccedilatildeo escolar eacute daalccedilada do setor privado a concorrecircncia seguidamente encamiccedilada a que seentregam as empresas contribuem para inflacionar o nuacutemero de tiacutetulosdisponiacuteveis Assim na Franccedila agraves veacutesperas da promulgaccedilatildeo das leisescolares em 1879 Ferdinand Buisson jaacute assinalava a incessante ainesgotaacutevel produccedilatildeo dos livros claacutessicoss Em julho de 1888 1531 tiacutetulosestavam sendo usados somente nas classes do ensino primaacuterio elementarRecentemente muitos manuais tiveram um nuacutemero impressionante dereediccedilotildees e de reimpressotildees (duas noccedilotildees aliaacutes frequumlentementeconfundidas propositalmente pelos editores)6 mas desde 1960 alongevidade das obras de classe foi consideravelmente reduzida aaceleraccedilatildeo do ritmo do progresso econocircmico social teacutecnico e culturalsuscita a massificaccedilatildeo do ensino e o desenvolvimento de inovaccedilotildeespedagoacutegicas e o recurso agraves novas tecnologias favoreceram em inuacutemerospaiacuteses a renovaccedilatildeo da produccedilatildeo o crescimento e a diversificaccedilatildeo da ofertaeditorial7

5 Relatoacuterio apresentado por Ferdinand Buisson agrave M le Ministre de IInstruction publique sur Iadmission deslivres dans les eacutecoles primaires publiques le 6 novembre 1879 Bulletin administratif du Ministere de[Instruetion publique (nouvelle seacuterie) tome 18 ndeg 370 p 681-6836 Podemos citar entre outros titulos Der Kinderfreund de Friedrich Eberhard von Rochow publicado pelaprimeira vez em 1776 na Alemanha Le Tour de Ia Franee par deux enfants Devoir et patrie de G Brunoque na Franccedila teve 432 ediccedilotildees pela editora Belin em oitenta e trecircs anos de produccedilatildeo (1877-1960) Uisebokjotilder folkskolan publicado na Sueacutecia em 1868 e reeditado ateacute 1922 Latin Primer de Benjamin Kennedy quediversas versotildees dominaram o mercado britatildenico de 1866 ateacute os anos de 1920 Cuore de Edmondo deAmicis para a Itaacutelia que publicado em 1886 alcanccedilou um milhatildeo de exemplares em 1923 Juanito para aEspanha uma adaptaccedilatildeo do Gianneno de Luigi Alessandro Parravicini publicado pela primeira vez na Itaacuteliaem 1837 The New England Primer ou ainda os MeGuffey Ecleetie Readers que tiveram 122 milhotildees deexemplares vendidos nos Estados Unidos entre 1836 e 1920 etc7 Na Franccedila o nuacutemero de novidades propostas anualmente foi multiplicada por mais de cinco emaproximadamente quarenta anos ( 450 no fim dos anos 1950 2457 em 1999) Esse fenocircmeno eacute ainda maismarcante na Espanha como na Itaacutelia paiacuteses comparativamente menos populosos

Tambeacutem a banalizaccedilatildeo a abundacircncia e a ampla difusatildeo dasproduccedilotildees escolares dissuadiram evidentemente conservadores e amadoresde livros de toda veleidade patrimonial os livros de classe que ocupam osegundo lugar logo ap6s a imprensa peri6dica quanto ao consumo depapel acham-se assim paradoxalmente ameaccedilados de desaparecimentofiacutesico A profusatildeo de tiacutetulos mas tambeacutem a longevidade e a multiplicidadede reediccedilotildees que caracterizaram os manuais ateacute as uacuteltimas deacutecadas natildeoinstigaram os bibli6grafos a empreender trabalhos de catalogaccedilatildeocomparaacuteveis agravequeles que dizem respeito aos incunaacutebulos ou agraves ediccedilotildeesraras ateacute os anos 1960 as bibliografias ou os cataacutelogos especificamenteconsagrados agrave literatura escolar satildeo por sua vez muito raros e muitoparciais8

bull

O pouco interesse demonstrado ateacute estes uacuteltimos vinte anos pelosmanuais antigos e pela sua hist6ria decorre natildeo somente das dificuldades deacesso agraves coleccedilotildees mas tambeacutem de sua incompletude e sua dispersatildeo Outalvez ao contraacuterio devido a grande quantidade de sua produccedilatildeo aconservaccedilatildeo dos manuais natildeo foi corretamente assegurada

Eacute o caso em um paiacutes reputado e centralizado como a Franccedila no quala obrigaccedilatildeo do dep6sito legal instaurado em 1543 foi portanto objeto departicular atenccedilatildeo das autoridades desde 1810 os livros de classe natildeoestiveram sempre submetidos ao mesmo rigor que as outras publicaccedilotildeesimpressas especialmente aqueles que se destinavam ao ensino primaacuterio Sea Bibliotheque Nationale de France deteacutem hoje pelo menos um exemplarde 85 a 90 dos tiacutetulos publicados estaacute muito longe de conservar oconjunto das ediccedilotildees situaccedilatildeo idecircntica ocorre com a biblioteca do InstitutNational de Recherche Peacutedagogique beneficiada com o dep6sito legal

8 Podemos distinguir trecircs categoriasPrimeiramente os cataacutelogos que descrevem um fundo particular como Packer Calherine H Early AmericanSc1wo1Books a bibliography based on the Boston booksellers catalogue of 1804 Ann Arbour Universityof Michigan 1954 V-47p em seguida bibliografias que se interessam as disciplinas que participam dos cursos educativos tradicionaiscomo gramaacutetica Stengel Edmund Chronologisches VerzeichnisfranziJsischer Grammatiken Oppeln 1890X-25Op Murray David Some early Grammars and other School Books in use in Scotland Glasgow TheRoyal Philosophical Society of Glasgow vol XXXVI-XXXVII 19045-19056 Watson Foster TheEnglish grammar schools to 1660 their curriculum and practice London Cass 1968 X-548 p cujaprimeira edicao em Cambridge remonta a 1908 ou as matemaacuteticas Simons Lao Genevra Bibliographyof early American textbooks on algebra published in the colonies and the United States through 1850 NewYork Scripta malhematica Yeshiva college 19361-68 p (Scripta mathematica studies 1) enfim os trabalhos de recenseamento que se inscrevem em uma reflexatildeo global sobre a identidade nacionalou cultural como Heartman Charles Frederick American primers 1ndian primers Royal primers andthirty-seven other types of non-New-England primers issued prior to 1830 a bibliographical checkJistembellished with twenty-six cuts with an introduction amp indexes compiled by Chorles F HeartmanHigh1and Park (New Jersey) H B Weiss 1935 XX 21-159 p Arjona Doris King amp Arjona JaimeHomem A Bib1iojTqppJ gf TlXthonb gf jomtixb pubJixbed k tv V-W-d raquoatI (JP5-JPYP) Aoo Adow

(Michigan) Edwards Brothers 1939 N-219p Elson Rulh Miller Guardians of Tradition AmericanSchoolbooks ofthe Nineteenth Century Lincoln University ofNebraska Press 1964 XIII-424p etc

desde 1927 e o Museacutee National de lEacuteducation implantado em Rouenonde satildeo respectivamente conservados em tomo de um terccedilo e de um quartodas obras publicadas depois da segunda metade do seacuteculo XIX

A situaccedilatildeo eacute naturalmente ainda mais problemaacutetica nos paiacuteses emque a unidade eacute recente que concedam ou natildeo hoje um espaccedilosignificativo agraves particularidades regionais ou locais as bibliografiasnacionais foram constituiacutedas tardiamente e as obras que subsistem quasenunca repertoriadas encontram-se espalhadas nas bibliotecas geralmenteproacuteximas do seu local de produccedilatilde09bull Mas as coleccedilotildees de certa importacircnciasatildeo raras geralmente pouco conhecidas e na maioria das vezes muitolacunares e natildeo tinham sido postas em valor ateacute agora10

Por natildeo poder localizar fisicamente exemplares podemos encontrartraccedilos indiretos das produccedilotildees escolares Mas para um pesquisador quetrabalha soacute os obstaacuteculos satildeo tambeacutem abundantes a anaacutelise dasbibliografias gerais aparece logo como uma tarefa gigantescadesproporcional e pouco confiaacutevel ao olhar de descreacutedito de que os manuaisescolares satildeo tradicionalmente viacutetimas os cataacutelogos das editoras claacutessicascapazes de justificar a evoluccedilatildeo de sua atividade foram conservados demaneira muito aleatoacuteriall Quanto aos arquivos das editoras - um grandenuacutemero estaacute irremediavelmente desaparecido devido a falecircncias oucedecircncias - eles foram em muitos casos destruiacutedos ou dispersados Areconstituiccedilatildeo da produccedilatildeo poderia ainda passar pelo exame dos extratos decataacutelogos anexos aos manuais ou reproduzidos na capa ou ainda pelapublicidade ou as resenhas inseridas na imprensa pedagoacutegica especializada (o que supotildee ter encontrado os tiacutetulos) isto eacute em todos os casos umtrabalho de inventaacuterio preacutevio evidentemente bem dissuasivo

9 Esta constataccedilatildeo repousa para a Europa sobre o recenseamento das coleccedilotildees de manuais que realizamosem 1992 no programa intitulado manuels scolaires une recherche europeacuteenne des patrimoines nationauxas informaccedilotildees que dispomos hoje sobre o resto do mundo confirmam que salvo algumas notaacuteveis e recentesexceccedilotildees a conservaccedilatildeo dos livros de classe foi negligenciada em todos os lugares mesmo para o periacuteodomais recente a despeito da recomendaccedilatildeo n 48 da xxn Conferecircncia Internacional de Instruccedilatildeo Puacuteblica emGenebra convocada pela Unesco e o Bureau Intemational dEducation em 194910 Como conhecer de fato inicialmente a existecircncia desses documentos como os referenciar e como osexplorar se nenhum cataacutelogo assinala sequer a sua existecircncia e natildeo fornece a descriccedilatildeo Catalogue desmanuels queacutebeacutecois Queacutebec Universiteacute Laval 1983 Avant-propos11 Esteban Leoacuten Los cataacutelogos de librerfa y material de enseilanza como fuente iconograacutefica y literario-escolar Historia de Ia Educaci6n 1997 ndeg 16 p 17-46 Cbiosso Giorgio Un catalogo scolastico di metagraveottocento Ia Tipografia Sebastiano Franco in Chiacuteosso Giorgio (a cura di) 11Ubro per Ia scuola Ira Sette eOttocento Brescia Editrice La Scuola 2000 p 109-145

Se os manuais foram por muito tempo negligenciados peloshistoriadores eacute tambeacutem porque foram considerados como simples espelhosda sociedade do qual procedem - uma concepccedilatildeo de resto bem ingecircnua - oucomo vetores ideoloacutegicos e culturais Esta eacute a constataccedilatildeo feita por RildaCoeckelberghs em uma das primeiras reflexotildees feitas sobre o manual comoobjeto histoacuterico laquoBisher wuumlrde bei der historischen Schulbuchanalyse dasSchulbuch vorwiegend als Quelle fuumlr die Rekonstruction des Zeitsgeistesoder des Geschichtsbildes einer bestimmten Epoche benuumltz ))12Como osmanuais aparecem essencialmente como instrumentos poderosos daconstituiccedilatildeo identitaacuteria dos Estados Modemos13 o interesse que lhe foidado de iniacutecio pela comunidade cientiacutefica foi de ordem poliacutetica ehumanista desde o fim do seacuteculo XIX um certo nuacutemero de historiadoresesforccedilaram-se em denunciar nos livros de classe contemporacircneos os preacute-julgamentos nacionais e os estereoacutetipos susceptiacuteveis de despertar conservarou reativar os sentimentos de hostilidade entre os pOVOS14

Os trabalhos os mais acadecircmicos que tratam dos manuais antigosnatildeo aparecem antes de 1960 nos paiacuteses anglo-saxotildees (Inglaterra e EstadosUnidos essencialmente) na Alemanha nos Paiacuteses Noacuterdicos no Japatildeo e naFranccedila Esses trabalhos inscrevem-se em um contexto peculiar as sequumlelasda Segunda Guerra Mundial a descolonizaccedilatildeo a Guerra Fria ademocratizaccedilatildeo dos sistema~ educativos e a sensiacutevel aceleraccedilatildeo dosprogressos teacutecnicos colocaram em questatildeo um certo nuacutemero de valorestradicionalmente admitidos Mas durante quase vinte anos o essencial daproduccedilatildeo cientiacutefica dos historiadores fica confinada na anaacutelise do conteuacutedodas obras de sua proacutepria disciplina ou no estudo da imagem que os manuaisantigos de leitura de instruccedilatildeo ciacutevica ou ainda de geografial5

apresentam

12 Ateacute agora na anaacutelise histoacuterica do livro escolar este foi usado predominantemente como fonte para areconstruccedilatildeo do espiacuterito da eacutepoca ou da visatildeo de histoacuteria de determinada eacutepoca Coeckelberghs Hilde DasSchulbuch ais Quelle der Geschichtsforschung methodologischen Uumlberlegungen Internationales lahrbuchder Geschichts- und Geographie Unterricht xvm 1977-1978 p 9IJ Kuhn Leo (Hrsg) Schulbuch cin Massmedium Informationen Gebrauchsanweisungen AlternativenWien Muumlnchen Jugend amp Volk 1977 173p14 Uma rica literatura eacute consagrada a este aspecto Ver notadamente Lauwerys J-A Les Manuels dhistoireet Ia compreacutehension internationale Paris Unesco 1953 87p Dance Edward Herbert History theBetrayer A Study in Bias London Hutehinson 10 162p Schuumlddekopf Otto Ernsl History teachingand history teaching revisicn Strasbourg Council for Cultural Co-operation of the Council of Europe1967 235p Esses trabalhos de comparaccedilatildeo internacional conheceram um forte desenvolvimento desde 1945especialmente sob a eacutegide da Unesco e de Georg-Ecker- Institut fur Internationale Schulbuchforschung deBraunschweig na Alemanha15 Os trabalhos conduzidos pelo Georg-Eckert- Institut tratam ainda hoje quase exclusivamente essasdisciplinas A bibliografia publicada anualmente na sua revista Internationale Schulbuchforschung natildeorecenseia por outro lado as publicaccedilotildees cientiacuteficas relativas aos manuais de histoacuteria de geografia de ciecircnciassociais (Sozialkunde) e de leitura

da sociedadel6 Assim quase metade das publicaccedilotildees consagradas na

Franccedila agrave histoacuteria do livro e agrave ediccedilatildeo escolares antes de 1980 se inscrevemem uma perspectiva socioloacutegica17 Aleacutem de sua caracteriacutestica reduntantemuitas dessas produccedilotildees natildeo escapam agrave mediocridade sofrem de gravesinsuficiecircncias metodoloacutegicos apresentam anaacutelises superficiais e chegammuitas vezes a conclusotildees discutiacuteveis ateacute mesmo infundadas Analisando aproduccedilatildeo anglo-saxocircnica GH Harper chega em 1980 a mesmaconstataccedilatildeo penosa laquoIt is to be regretted that a numher of studies appearedin the 1960s ofwhich we must hope not to see the like again The generalpoint was to embroider a chronological list of the textbooks sometimesomitting those of subjects non taught in present day schools with arandomly selected trivial and anecdotal commentary sometimes therewas not even a bibliography of the texts mentioned These studies tendedalso to be badly written apparently not proof-read and based on naiveassumptions of the seminal role of the textbook in moulding the leaders andgeneral civilisation of the country involved raquo 18

Eacute no decorrer dos anos 1970 que os historiadores comeccedilam amanifestar um real interesse pelo livro e pela ediccedilatildeo escolares O fim dadeacutecada testemunha essa tomada de consciecircncia com a publicaccedilatildeo quaseconcomitante de contribuiccedilotildees que sublinham a importacircncia que revestiu omanual como fonte para os historiadores da educaccedilatildeo em diferentes paiacutesesEm 1978 uma pesquisadora da Universidade Livre de Bruxelas publica naInternationales lahrbuch der Geschichts- und Geographie Unterricht tiacutetuloque tinha entatildeo a revista do Georg-Eckert-Institut um longo artigo sobre olivro escolar como fonte da histoacuteria das mentalidades Depois de estabelecerum raacutepido balanccedilo da pesquisa histoacuterica sobre o livro escolar Hilde

16 Na Franca esse tipo de anaacutelise de conteuacutedo representava quase a metade das publicaccedilotildees cientiacuteficasocorridas entre 1960 e 1980 A primazia das anaacutelises de conteuacutedo na produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma caracteriacutesticacomum a todos pesquisadores que no mundo se interessaram pela produccedilatildeo escolar seja em umaperspectiva histoacuterica ou natildeo Sobre esta questatildeo ver Jobnsen Egil Bl1lrreTextbooks in the Kaleidoscope ACritical Survey 01 Literature and Research on Educational Texts Oslo Scandinavian University Press199317 Choppin Alain LHistoire des manuels scolaires un bilan bibliomeacutetrique de Ia recherche franccedilaise inAlain Choppin (Oir) Manuels scolaires Eacutetats et socieacuteteacutes XIXe-XXe siecles Histoire de leacuteducation mai1993 numeacutero speacutecial 58 p 165-185 Esse estudo colocava tambeacutem em evidecircncia a recomendaccedilatildeo de queusufruiacuteam entatildeo as disciplinas literaacuterias (particularmente a histoacuteria) e o interesse manifestado pelas obras doensino primaacuterio e pelas do fim do uacuteltimo seacuteculo Comparando-se a produccedilatildeo cientiacutefica francesa das deacutecadas1960 e 1970 com a dos anos 1980-1993 a parte dos estudos ideoloacutegicos e socioloacutegicos passa de 472 para34718 Eacute de se lamentar o nuacutemero de estudos que apareceram na deacutecada de 60 que esperamos natildeo ver de novoO ponto central era fazer uma lista dos manuais algumas vezes omitindo aqueles assuntos natildeo ensinados emescolas hoje em dia com comentaacuterios triviais anedoacuteticos e aleatoriamente selecionados algumas vezes natildeohavia nem mesmo uma bibliografia dos textos mencionados Esses estudos mostravam uma tendecircncia - erammal escritos aparentemente natildeo revisados e baseados em pressupostos ingecircnuos do papel rudimentar dosmanuais na moldagem dos liacutederes e da civi1izaccedilatildeogeral do paiacutes Harper G H Textbooks an under-usedSource History 01 Education Society Bulletin 25 1980 p 31

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 2: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

Durante muito tempo negligenciada a pesquisa histoacuterica sobre olivro e a ediccedilatildeo escolares conhece haacute uns vinte anos avanccedilos consideraacuteveisem um nuacutemero cada vez mais significativo de paiacuteses O fato da AssociaccediliioInternacional de Historiadores da Educaccedilatildeo (ISCHE) consagrar seu uacuteltimocongresso ao tema O livro e a Educaccedilatildeo constitui assim um testemunhoinequiacutevoco2 Mas por que esse campo de investigaccedilatildeo esteve por tantotempo abandonado e provoca somente agora tanto interesse Quais forame quais satildeo as principais obras as principais orientaccedilotildees Que cuidados seimpotildeem ao historiador que toma os manuais escolares como objeto deestudo

O descaso que os biblioacutegrafos ou amadores de livros tiveram pelosmanuais natildeo surpreende em nada Vaacuterios fatores concorreram para suscitare manter esse desinteresse Alguns decorrem do proacuteprio status do manual

Inicialmente para os contemporacircneos alunos pais ou a fortioriprofessores os livros escolares participam do universo cotidiano eles natildeoapresentam nada de raro exoacutetico singular parecem mesmo intemporais namedida em que transcendem a clivagem entre as geraccedilotildees Essa banalidadefamiliaridade proximidade conferem agraves obras escolares menos valor vistoque satildeo produzidas hoje em grande quantidade dezenas de milhotildees deexemplares atualmente em paiacuteses como a Franccedila3bullbull ou ateacute mesmobilhotildees de exemplares como na China 4 O consideraacutevel volume detiragens mas tambeacutem as subvenccedilotildees diretas ou indiretas cuja produccedilatildeo eacutebeneficiada em grande nuacutemero de paiacuteses contribuem para fazer dosmanuais escolares produtos editoriais comparativamente pouco onerosos eportanto pouco valorizados

Os livros escolares satildeo tambeacutem mercadorias pereciacuteveis Perdem todovalor de mercado assim que uma mudanccedila nos meacutetodos ou nos programasfixam sua prescriccedilatildeo ou ainda quando fatos atuais impotildeem-Ihes

2 laquoEl Libro y Ia Educacioacuten raquo XXITe Congrecircs de nSCHE (International Standing Conference of theHislOriaos ofEducation) Alcalaacute de Henares (Espagne) 6-9 septembre 20003 Em 1999 a produccedilatildeo francesa elevou-se agrave 712 milhotildees de exemplares (Fonte Syndicat national deleacutedition Leacutedition de livres en France Paris SNE p37)4 Um pouco mais de dois bilhotildees e meio para o ano de 1996

modificaccedilotildees como ocorreu apoacutes a queda do muro de Berlim ou comoaconteceraacute no proacuteximo ano na maioria dos paiacuteses da Uniatildeo Europeacuteia porocasiatildeo da passagem ao euro Tambeacutem nas sociedades ocidentaismodernas os livros escolares satildeo vistos pelos contemporacircneos comoobjetos de consumo pedagoacutegico eacute assim que os produtos do setorparaescolarparadidaacutetico (os anais de exame os cadernos de feacuterias ete) satildeohoje assimilados desde os profissionais ateacute os consumidores

Os livros de classe satildeo tambeacutem viacutetimas de seu sucesso odesenvolvimento da instruccedilatildeo popular a instauraccedilatildeo do princiacutepio daobrigatoriedade escolar em um grande nuacutemero de paiacuteses industrializados emais recentemente a democratizaccedilatildeo do ensino e a extensatildeo daescolarizaccedilatildeo levaram a uma produccedilatildeo editorial cada vez mais massiva Poroutro lado a hierarquizaccedilatildeo dos niacuteveis de ensino a multiplicaccedilatildeo dasdisciplinas e das especializaccedilotildees e nos paiacuteses onde a ediccedilatildeo escolar eacute daalccedilada do setor privado a concorrecircncia seguidamente encamiccedilada a que seentregam as empresas contribuem para inflacionar o nuacutemero de tiacutetulosdisponiacuteveis Assim na Franccedila agraves veacutesperas da promulgaccedilatildeo das leisescolares em 1879 Ferdinand Buisson jaacute assinalava a incessante ainesgotaacutevel produccedilatildeo dos livros claacutessicoss Em julho de 1888 1531 tiacutetulosestavam sendo usados somente nas classes do ensino primaacuterio elementarRecentemente muitos manuais tiveram um nuacutemero impressionante dereediccedilotildees e de reimpressotildees (duas noccedilotildees aliaacutes frequumlentementeconfundidas propositalmente pelos editores)6 mas desde 1960 alongevidade das obras de classe foi consideravelmente reduzida aaceleraccedilatildeo do ritmo do progresso econocircmico social teacutecnico e culturalsuscita a massificaccedilatildeo do ensino e o desenvolvimento de inovaccedilotildeespedagoacutegicas e o recurso agraves novas tecnologias favoreceram em inuacutemerospaiacuteses a renovaccedilatildeo da produccedilatildeo o crescimento e a diversificaccedilatildeo da ofertaeditorial7

5 Relatoacuterio apresentado por Ferdinand Buisson agrave M le Ministre de IInstruction publique sur Iadmission deslivres dans les eacutecoles primaires publiques le 6 novembre 1879 Bulletin administratif du Ministere de[Instruetion publique (nouvelle seacuterie) tome 18 ndeg 370 p 681-6836 Podemos citar entre outros titulos Der Kinderfreund de Friedrich Eberhard von Rochow publicado pelaprimeira vez em 1776 na Alemanha Le Tour de Ia Franee par deux enfants Devoir et patrie de G Brunoque na Franccedila teve 432 ediccedilotildees pela editora Belin em oitenta e trecircs anos de produccedilatildeo (1877-1960) Uisebokjotilder folkskolan publicado na Sueacutecia em 1868 e reeditado ateacute 1922 Latin Primer de Benjamin Kennedy quediversas versotildees dominaram o mercado britatildenico de 1866 ateacute os anos de 1920 Cuore de Edmondo deAmicis para a Itaacutelia que publicado em 1886 alcanccedilou um milhatildeo de exemplares em 1923 Juanito para aEspanha uma adaptaccedilatildeo do Gianneno de Luigi Alessandro Parravicini publicado pela primeira vez na Itaacuteliaem 1837 The New England Primer ou ainda os MeGuffey Ecleetie Readers que tiveram 122 milhotildees deexemplares vendidos nos Estados Unidos entre 1836 e 1920 etc7 Na Franccedila o nuacutemero de novidades propostas anualmente foi multiplicada por mais de cinco emaproximadamente quarenta anos ( 450 no fim dos anos 1950 2457 em 1999) Esse fenocircmeno eacute ainda maismarcante na Espanha como na Itaacutelia paiacuteses comparativamente menos populosos

Tambeacutem a banalizaccedilatildeo a abundacircncia e a ampla difusatildeo dasproduccedilotildees escolares dissuadiram evidentemente conservadores e amadoresde livros de toda veleidade patrimonial os livros de classe que ocupam osegundo lugar logo ap6s a imprensa peri6dica quanto ao consumo depapel acham-se assim paradoxalmente ameaccedilados de desaparecimentofiacutesico A profusatildeo de tiacutetulos mas tambeacutem a longevidade e a multiplicidadede reediccedilotildees que caracterizaram os manuais ateacute as uacuteltimas deacutecadas natildeoinstigaram os bibli6grafos a empreender trabalhos de catalogaccedilatildeocomparaacuteveis agravequeles que dizem respeito aos incunaacutebulos ou agraves ediccedilotildeesraras ateacute os anos 1960 as bibliografias ou os cataacutelogos especificamenteconsagrados agrave literatura escolar satildeo por sua vez muito raros e muitoparciais8

bull

O pouco interesse demonstrado ateacute estes uacuteltimos vinte anos pelosmanuais antigos e pela sua hist6ria decorre natildeo somente das dificuldades deacesso agraves coleccedilotildees mas tambeacutem de sua incompletude e sua dispersatildeo Outalvez ao contraacuterio devido a grande quantidade de sua produccedilatildeo aconservaccedilatildeo dos manuais natildeo foi corretamente assegurada

Eacute o caso em um paiacutes reputado e centralizado como a Franccedila no quala obrigaccedilatildeo do dep6sito legal instaurado em 1543 foi portanto objeto departicular atenccedilatildeo das autoridades desde 1810 os livros de classe natildeoestiveram sempre submetidos ao mesmo rigor que as outras publicaccedilotildeesimpressas especialmente aqueles que se destinavam ao ensino primaacuterio Sea Bibliotheque Nationale de France deteacutem hoje pelo menos um exemplarde 85 a 90 dos tiacutetulos publicados estaacute muito longe de conservar oconjunto das ediccedilotildees situaccedilatildeo idecircntica ocorre com a biblioteca do InstitutNational de Recherche Peacutedagogique beneficiada com o dep6sito legal

8 Podemos distinguir trecircs categoriasPrimeiramente os cataacutelogos que descrevem um fundo particular como Packer Calherine H Early AmericanSc1wo1Books a bibliography based on the Boston booksellers catalogue of 1804 Ann Arbour Universityof Michigan 1954 V-47p em seguida bibliografias que se interessam as disciplinas que participam dos cursos educativos tradicionaiscomo gramaacutetica Stengel Edmund Chronologisches VerzeichnisfranziJsischer Grammatiken Oppeln 1890X-25Op Murray David Some early Grammars and other School Books in use in Scotland Glasgow TheRoyal Philosophical Society of Glasgow vol XXXVI-XXXVII 19045-19056 Watson Foster TheEnglish grammar schools to 1660 their curriculum and practice London Cass 1968 X-548 p cujaprimeira edicao em Cambridge remonta a 1908 ou as matemaacuteticas Simons Lao Genevra Bibliographyof early American textbooks on algebra published in the colonies and the United States through 1850 NewYork Scripta malhematica Yeshiva college 19361-68 p (Scripta mathematica studies 1) enfim os trabalhos de recenseamento que se inscrevem em uma reflexatildeo global sobre a identidade nacionalou cultural como Heartman Charles Frederick American primers 1ndian primers Royal primers andthirty-seven other types of non-New-England primers issued prior to 1830 a bibliographical checkJistembellished with twenty-six cuts with an introduction amp indexes compiled by Chorles F HeartmanHigh1and Park (New Jersey) H B Weiss 1935 XX 21-159 p Arjona Doris King amp Arjona JaimeHomem A Bib1iojTqppJ gf TlXthonb gf jomtixb pubJixbed k tv V-W-d raquoatI (JP5-JPYP) Aoo Adow

(Michigan) Edwards Brothers 1939 N-219p Elson Rulh Miller Guardians of Tradition AmericanSchoolbooks ofthe Nineteenth Century Lincoln University ofNebraska Press 1964 XIII-424p etc

desde 1927 e o Museacutee National de lEacuteducation implantado em Rouenonde satildeo respectivamente conservados em tomo de um terccedilo e de um quartodas obras publicadas depois da segunda metade do seacuteculo XIX

A situaccedilatildeo eacute naturalmente ainda mais problemaacutetica nos paiacuteses emque a unidade eacute recente que concedam ou natildeo hoje um espaccedilosignificativo agraves particularidades regionais ou locais as bibliografiasnacionais foram constituiacutedas tardiamente e as obras que subsistem quasenunca repertoriadas encontram-se espalhadas nas bibliotecas geralmenteproacuteximas do seu local de produccedilatilde09bull Mas as coleccedilotildees de certa importacircnciasatildeo raras geralmente pouco conhecidas e na maioria das vezes muitolacunares e natildeo tinham sido postas em valor ateacute agora10

Por natildeo poder localizar fisicamente exemplares podemos encontrartraccedilos indiretos das produccedilotildees escolares Mas para um pesquisador quetrabalha soacute os obstaacuteculos satildeo tambeacutem abundantes a anaacutelise dasbibliografias gerais aparece logo como uma tarefa gigantescadesproporcional e pouco confiaacutevel ao olhar de descreacutedito de que os manuaisescolares satildeo tradicionalmente viacutetimas os cataacutelogos das editoras claacutessicascapazes de justificar a evoluccedilatildeo de sua atividade foram conservados demaneira muito aleatoacuteriall Quanto aos arquivos das editoras - um grandenuacutemero estaacute irremediavelmente desaparecido devido a falecircncias oucedecircncias - eles foram em muitos casos destruiacutedos ou dispersados Areconstituiccedilatildeo da produccedilatildeo poderia ainda passar pelo exame dos extratos decataacutelogos anexos aos manuais ou reproduzidos na capa ou ainda pelapublicidade ou as resenhas inseridas na imprensa pedagoacutegica especializada (o que supotildee ter encontrado os tiacutetulos) isto eacute em todos os casos umtrabalho de inventaacuterio preacutevio evidentemente bem dissuasivo

9 Esta constataccedilatildeo repousa para a Europa sobre o recenseamento das coleccedilotildees de manuais que realizamosem 1992 no programa intitulado manuels scolaires une recherche europeacuteenne des patrimoines nationauxas informaccedilotildees que dispomos hoje sobre o resto do mundo confirmam que salvo algumas notaacuteveis e recentesexceccedilotildees a conservaccedilatildeo dos livros de classe foi negligenciada em todos os lugares mesmo para o periacuteodomais recente a despeito da recomendaccedilatildeo n 48 da xxn Conferecircncia Internacional de Instruccedilatildeo Puacuteblica emGenebra convocada pela Unesco e o Bureau Intemational dEducation em 194910 Como conhecer de fato inicialmente a existecircncia desses documentos como os referenciar e como osexplorar se nenhum cataacutelogo assinala sequer a sua existecircncia e natildeo fornece a descriccedilatildeo Catalogue desmanuels queacutebeacutecois Queacutebec Universiteacute Laval 1983 Avant-propos11 Esteban Leoacuten Los cataacutelogos de librerfa y material de enseilanza como fuente iconograacutefica y literario-escolar Historia de Ia Educaci6n 1997 ndeg 16 p 17-46 Cbiosso Giorgio Un catalogo scolastico di metagraveottocento Ia Tipografia Sebastiano Franco in Chiacuteosso Giorgio (a cura di) 11Ubro per Ia scuola Ira Sette eOttocento Brescia Editrice La Scuola 2000 p 109-145

Se os manuais foram por muito tempo negligenciados peloshistoriadores eacute tambeacutem porque foram considerados como simples espelhosda sociedade do qual procedem - uma concepccedilatildeo de resto bem ingecircnua - oucomo vetores ideoloacutegicos e culturais Esta eacute a constataccedilatildeo feita por RildaCoeckelberghs em uma das primeiras reflexotildees feitas sobre o manual comoobjeto histoacuterico laquoBisher wuumlrde bei der historischen Schulbuchanalyse dasSchulbuch vorwiegend als Quelle fuumlr die Rekonstruction des Zeitsgeistesoder des Geschichtsbildes einer bestimmten Epoche benuumltz ))12Como osmanuais aparecem essencialmente como instrumentos poderosos daconstituiccedilatildeo identitaacuteria dos Estados Modemos13 o interesse que lhe foidado de iniacutecio pela comunidade cientiacutefica foi de ordem poliacutetica ehumanista desde o fim do seacuteculo XIX um certo nuacutemero de historiadoresesforccedilaram-se em denunciar nos livros de classe contemporacircneos os preacute-julgamentos nacionais e os estereoacutetipos susceptiacuteveis de despertar conservarou reativar os sentimentos de hostilidade entre os pOVOS14

Os trabalhos os mais acadecircmicos que tratam dos manuais antigosnatildeo aparecem antes de 1960 nos paiacuteses anglo-saxotildees (Inglaterra e EstadosUnidos essencialmente) na Alemanha nos Paiacuteses Noacuterdicos no Japatildeo e naFranccedila Esses trabalhos inscrevem-se em um contexto peculiar as sequumlelasda Segunda Guerra Mundial a descolonizaccedilatildeo a Guerra Fria ademocratizaccedilatildeo dos sistema~ educativos e a sensiacutevel aceleraccedilatildeo dosprogressos teacutecnicos colocaram em questatildeo um certo nuacutemero de valorestradicionalmente admitidos Mas durante quase vinte anos o essencial daproduccedilatildeo cientiacutefica dos historiadores fica confinada na anaacutelise do conteuacutedodas obras de sua proacutepria disciplina ou no estudo da imagem que os manuaisantigos de leitura de instruccedilatildeo ciacutevica ou ainda de geografial5

apresentam

12 Ateacute agora na anaacutelise histoacuterica do livro escolar este foi usado predominantemente como fonte para areconstruccedilatildeo do espiacuterito da eacutepoca ou da visatildeo de histoacuteria de determinada eacutepoca Coeckelberghs Hilde DasSchulbuch ais Quelle der Geschichtsforschung methodologischen Uumlberlegungen Internationales lahrbuchder Geschichts- und Geographie Unterricht xvm 1977-1978 p 9IJ Kuhn Leo (Hrsg) Schulbuch cin Massmedium Informationen Gebrauchsanweisungen AlternativenWien Muumlnchen Jugend amp Volk 1977 173p14 Uma rica literatura eacute consagrada a este aspecto Ver notadamente Lauwerys J-A Les Manuels dhistoireet Ia compreacutehension internationale Paris Unesco 1953 87p Dance Edward Herbert History theBetrayer A Study in Bias London Hutehinson 10 162p Schuumlddekopf Otto Ernsl History teachingand history teaching revisicn Strasbourg Council for Cultural Co-operation of the Council of Europe1967 235p Esses trabalhos de comparaccedilatildeo internacional conheceram um forte desenvolvimento desde 1945especialmente sob a eacutegide da Unesco e de Georg-Ecker- Institut fur Internationale Schulbuchforschung deBraunschweig na Alemanha15 Os trabalhos conduzidos pelo Georg-Eckert- Institut tratam ainda hoje quase exclusivamente essasdisciplinas A bibliografia publicada anualmente na sua revista Internationale Schulbuchforschung natildeorecenseia por outro lado as publicaccedilotildees cientiacuteficas relativas aos manuais de histoacuteria de geografia de ciecircnciassociais (Sozialkunde) e de leitura

da sociedadel6 Assim quase metade das publicaccedilotildees consagradas na

Franccedila agrave histoacuteria do livro e agrave ediccedilatildeo escolares antes de 1980 se inscrevemem uma perspectiva socioloacutegica17 Aleacutem de sua caracteriacutestica reduntantemuitas dessas produccedilotildees natildeo escapam agrave mediocridade sofrem de gravesinsuficiecircncias metodoloacutegicos apresentam anaacutelises superficiais e chegammuitas vezes a conclusotildees discutiacuteveis ateacute mesmo infundadas Analisando aproduccedilatildeo anglo-saxocircnica GH Harper chega em 1980 a mesmaconstataccedilatildeo penosa laquoIt is to be regretted that a numher of studies appearedin the 1960s ofwhich we must hope not to see the like again The generalpoint was to embroider a chronological list of the textbooks sometimesomitting those of subjects non taught in present day schools with arandomly selected trivial and anecdotal commentary sometimes therewas not even a bibliography of the texts mentioned These studies tendedalso to be badly written apparently not proof-read and based on naiveassumptions of the seminal role of the textbook in moulding the leaders andgeneral civilisation of the country involved raquo 18

Eacute no decorrer dos anos 1970 que os historiadores comeccedilam amanifestar um real interesse pelo livro e pela ediccedilatildeo escolares O fim dadeacutecada testemunha essa tomada de consciecircncia com a publicaccedilatildeo quaseconcomitante de contribuiccedilotildees que sublinham a importacircncia que revestiu omanual como fonte para os historiadores da educaccedilatildeo em diferentes paiacutesesEm 1978 uma pesquisadora da Universidade Livre de Bruxelas publica naInternationales lahrbuch der Geschichts- und Geographie Unterricht tiacutetuloque tinha entatildeo a revista do Georg-Eckert-Institut um longo artigo sobre olivro escolar como fonte da histoacuteria das mentalidades Depois de estabelecerum raacutepido balanccedilo da pesquisa histoacuterica sobre o livro escolar Hilde

16 Na Franca esse tipo de anaacutelise de conteuacutedo representava quase a metade das publicaccedilotildees cientiacuteficasocorridas entre 1960 e 1980 A primazia das anaacutelises de conteuacutedo na produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma caracteriacutesticacomum a todos pesquisadores que no mundo se interessaram pela produccedilatildeo escolar seja em umaperspectiva histoacuterica ou natildeo Sobre esta questatildeo ver Jobnsen Egil Bl1lrreTextbooks in the Kaleidoscope ACritical Survey 01 Literature and Research on Educational Texts Oslo Scandinavian University Press199317 Choppin Alain LHistoire des manuels scolaires un bilan bibliomeacutetrique de Ia recherche franccedilaise inAlain Choppin (Oir) Manuels scolaires Eacutetats et socieacuteteacutes XIXe-XXe siecles Histoire de leacuteducation mai1993 numeacutero speacutecial 58 p 165-185 Esse estudo colocava tambeacutem em evidecircncia a recomendaccedilatildeo de queusufruiacuteam entatildeo as disciplinas literaacuterias (particularmente a histoacuteria) e o interesse manifestado pelas obras doensino primaacuterio e pelas do fim do uacuteltimo seacuteculo Comparando-se a produccedilatildeo cientiacutefica francesa das deacutecadas1960 e 1970 com a dos anos 1980-1993 a parte dos estudos ideoloacutegicos e socioloacutegicos passa de 472 para34718 Eacute de se lamentar o nuacutemero de estudos que apareceram na deacutecada de 60 que esperamos natildeo ver de novoO ponto central era fazer uma lista dos manuais algumas vezes omitindo aqueles assuntos natildeo ensinados emescolas hoje em dia com comentaacuterios triviais anedoacuteticos e aleatoriamente selecionados algumas vezes natildeohavia nem mesmo uma bibliografia dos textos mencionados Esses estudos mostravam uma tendecircncia - erammal escritos aparentemente natildeo revisados e baseados em pressupostos ingecircnuos do papel rudimentar dosmanuais na moldagem dos liacutederes e da civi1izaccedilatildeogeral do paiacutes Harper G H Textbooks an under-usedSource History 01 Education Society Bulletin 25 1980 p 31

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 3: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

modificaccedilotildees como ocorreu apoacutes a queda do muro de Berlim ou comoaconteceraacute no proacuteximo ano na maioria dos paiacuteses da Uniatildeo Europeacuteia porocasiatildeo da passagem ao euro Tambeacutem nas sociedades ocidentaismodernas os livros escolares satildeo vistos pelos contemporacircneos comoobjetos de consumo pedagoacutegico eacute assim que os produtos do setorparaescolarparadidaacutetico (os anais de exame os cadernos de feacuterias ete) satildeohoje assimilados desde os profissionais ateacute os consumidores

Os livros de classe satildeo tambeacutem viacutetimas de seu sucesso odesenvolvimento da instruccedilatildeo popular a instauraccedilatildeo do princiacutepio daobrigatoriedade escolar em um grande nuacutemero de paiacuteses industrializados emais recentemente a democratizaccedilatildeo do ensino e a extensatildeo daescolarizaccedilatildeo levaram a uma produccedilatildeo editorial cada vez mais massiva Poroutro lado a hierarquizaccedilatildeo dos niacuteveis de ensino a multiplicaccedilatildeo dasdisciplinas e das especializaccedilotildees e nos paiacuteses onde a ediccedilatildeo escolar eacute daalccedilada do setor privado a concorrecircncia seguidamente encamiccedilada a que seentregam as empresas contribuem para inflacionar o nuacutemero de tiacutetulosdisponiacuteveis Assim na Franccedila agraves veacutesperas da promulgaccedilatildeo das leisescolares em 1879 Ferdinand Buisson jaacute assinalava a incessante ainesgotaacutevel produccedilatildeo dos livros claacutessicoss Em julho de 1888 1531 tiacutetulosestavam sendo usados somente nas classes do ensino primaacuterio elementarRecentemente muitos manuais tiveram um nuacutemero impressionante dereediccedilotildees e de reimpressotildees (duas noccedilotildees aliaacutes frequumlentementeconfundidas propositalmente pelos editores)6 mas desde 1960 alongevidade das obras de classe foi consideravelmente reduzida aaceleraccedilatildeo do ritmo do progresso econocircmico social teacutecnico e culturalsuscita a massificaccedilatildeo do ensino e o desenvolvimento de inovaccedilotildeespedagoacutegicas e o recurso agraves novas tecnologias favoreceram em inuacutemerospaiacuteses a renovaccedilatildeo da produccedilatildeo o crescimento e a diversificaccedilatildeo da ofertaeditorial7

5 Relatoacuterio apresentado por Ferdinand Buisson agrave M le Ministre de IInstruction publique sur Iadmission deslivres dans les eacutecoles primaires publiques le 6 novembre 1879 Bulletin administratif du Ministere de[Instruetion publique (nouvelle seacuterie) tome 18 ndeg 370 p 681-6836 Podemos citar entre outros titulos Der Kinderfreund de Friedrich Eberhard von Rochow publicado pelaprimeira vez em 1776 na Alemanha Le Tour de Ia Franee par deux enfants Devoir et patrie de G Brunoque na Franccedila teve 432 ediccedilotildees pela editora Belin em oitenta e trecircs anos de produccedilatildeo (1877-1960) Uisebokjotilder folkskolan publicado na Sueacutecia em 1868 e reeditado ateacute 1922 Latin Primer de Benjamin Kennedy quediversas versotildees dominaram o mercado britatildenico de 1866 ateacute os anos de 1920 Cuore de Edmondo deAmicis para a Itaacutelia que publicado em 1886 alcanccedilou um milhatildeo de exemplares em 1923 Juanito para aEspanha uma adaptaccedilatildeo do Gianneno de Luigi Alessandro Parravicini publicado pela primeira vez na Itaacuteliaem 1837 The New England Primer ou ainda os MeGuffey Ecleetie Readers que tiveram 122 milhotildees deexemplares vendidos nos Estados Unidos entre 1836 e 1920 etc7 Na Franccedila o nuacutemero de novidades propostas anualmente foi multiplicada por mais de cinco emaproximadamente quarenta anos ( 450 no fim dos anos 1950 2457 em 1999) Esse fenocircmeno eacute ainda maismarcante na Espanha como na Itaacutelia paiacuteses comparativamente menos populosos

Tambeacutem a banalizaccedilatildeo a abundacircncia e a ampla difusatildeo dasproduccedilotildees escolares dissuadiram evidentemente conservadores e amadoresde livros de toda veleidade patrimonial os livros de classe que ocupam osegundo lugar logo ap6s a imprensa peri6dica quanto ao consumo depapel acham-se assim paradoxalmente ameaccedilados de desaparecimentofiacutesico A profusatildeo de tiacutetulos mas tambeacutem a longevidade e a multiplicidadede reediccedilotildees que caracterizaram os manuais ateacute as uacuteltimas deacutecadas natildeoinstigaram os bibli6grafos a empreender trabalhos de catalogaccedilatildeocomparaacuteveis agravequeles que dizem respeito aos incunaacutebulos ou agraves ediccedilotildeesraras ateacute os anos 1960 as bibliografias ou os cataacutelogos especificamenteconsagrados agrave literatura escolar satildeo por sua vez muito raros e muitoparciais8

bull

O pouco interesse demonstrado ateacute estes uacuteltimos vinte anos pelosmanuais antigos e pela sua hist6ria decorre natildeo somente das dificuldades deacesso agraves coleccedilotildees mas tambeacutem de sua incompletude e sua dispersatildeo Outalvez ao contraacuterio devido a grande quantidade de sua produccedilatildeo aconservaccedilatildeo dos manuais natildeo foi corretamente assegurada

Eacute o caso em um paiacutes reputado e centralizado como a Franccedila no quala obrigaccedilatildeo do dep6sito legal instaurado em 1543 foi portanto objeto departicular atenccedilatildeo das autoridades desde 1810 os livros de classe natildeoestiveram sempre submetidos ao mesmo rigor que as outras publicaccedilotildeesimpressas especialmente aqueles que se destinavam ao ensino primaacuterio Sea Bibliotheque Nationale de France deteacutem hoje pelo menos um exemplarde 85 a 90 dos tiacutetulos publicados estaacute muito longe de conservar oconjunto das ediccedilotildees situaccedilatildeo idecircntica ocorre com a biblioteca do InstitutNational de Recherche Peacutedagogique beneficiada com o dep6sito legal

8 Podemos distinguir trecircs categoriasPrimeiramente os cataacutelogos que descrevem um fundo particular como Packer Calherine H Early AmericanSc1wo1Books a bibliography based on the Boston booksellers catalogue of 1804 Ann Arbour Universityof Michigan 1954 V-47p em seguida bibliografias que se interessam as disciplinas que participam dos cursos educativos tradicionaiscomo gramaacutetica Stengel Edmund Chronologisches VerzeichnisfranziJsischer Grammatiken Oppeln 1890X-25Op Murray David Some early Grammars and other School Books in use in Scotland Glasgow TheRoyal Philosophical Society of Glasgow vol XXXVI-XXXVII 19045-19056 Watson Foster TheEnglish grammar schools to 1660 their curriculum and practice London Cass 1968 X-548 p cujaprimeira edicao em Cambridge remonta a 1908 ou as matemaacuteticas Simons Lao Genevra Bibliographyof early American textbooks on algebra published in the colonies and the United States through 1850 NewYork Scripta malhematica Yeshiva college 19361-68 p (Scripta mathematica studies 1) enfim os trabalhos de recenseamento que se inscrevem em uma reflexatildeo global sobre a identidade nacionalou cultural como Heartman Charles Frederick American primers 1ndian primers Royal primers andthirty-seven other types of non-New-England primers issued prior to 1830 a bibliographical checkJistembellished with twenty-six cuts with an introduction amp indexes compiled by Chorles F HeartmanHigh1and Park (New Jersey) H B Weiss 1935 XX 21-159 p Arjona Doris King amp Arjona JaimeHomem A Bib1iojTqppJ gf TlXthonb gf jomtixb pubJixbed k tv V-W-d raquoatI (JP5-JPYP) Aoo Adow

(Michigan) Edwards Brothers 1939 N-219p Elson Rulh Miller Guardians of Tradition AmericanSchoolbooks ofthe Nineteenth Century Lincoln University ofNebraska Press 1964 XIII-424p etc

desde 1927 e o Museacutee National de lEacuteducation implantado em Rouenonde satildeo respectivamente conservados em tomo de um terccedilo e de um quartodas obras publicadas depois da segunda metade do seacuteculo XIX

A situaccedilatildeo eacute naturalmente ainda mais problemaacutetica nos paiacuteses emque a unidade eacute recente que concedam ou natildeo hoje um espaccedilosignificativo agraves particularidades regionais ou locais as bibliografiasnacionais foram constituiacutedas tardiamente e as obras que subsistem quasenunca repertoriadas encontram-se espalhadas nas bibliotecas geralmenteproacuteximas do seu local de produccedilatilde09bull Mas as coleccedilotildees de certa importacircnciasatildeo raras geralmente pouco conhecidas e na maioria das vezes muitolacunares e natildeo tinham sido postas em valor ateacute agora10

Por natildeo poder localizar fisicamente exemplares podemos encontrartraccedilos indiretos das produccedilotildees escolares Mas para um pesquisador quetrabalha soacute os obstaacuteculos satildeo tambeacutem abundantes a anaacutelise dasbibliografias gerais aparece logo como uma tarefa gigantescadesproporcional e pouco confiaacutevel ao olhar de descreacutedito de que os manuaisescolares satildeo tradicionalmente viacutetimas os cataacutelogos das editoras claacutessicascapazes de justificar a evoluccedilatildeo de sua atividade foram conservados demaneira muito aleatoacuteriall Quanto aos arquivos das editoras - um grandenuacutemero estaacute irremediavelmente desaparecido devido a falecircncias oucedecircncias - eles foram em muitos casos destruiacutedos ou dispersados Areconstituiccedilatildeo da produccedilatildeo poderia ainda passar pelo exame dos extratos decataacutelogos anexos aos manuais ou reproduzidos na capa ou ainda pelapublicidade ou as resenhas inseridas na imprensa pedagoacutegica especializada (o que supotildee ter encontrado os tiacutetulos) isto eacute em todos os casos umtrabalho de inventaacuterio preacutevio evidentemente bem dissuasivo

9 Esta constataccedilatildeo repousa para a Europa sobre o recenseamento das coleccedilotildees de manuais que realizamosem 1992 no programa intitulado manuels scolaires une recherche europeacuteenne des patrimoines nationauxas informaccedilotildees que dispomos hoje sobre o resto do mundo confirmam que salvo algumas notaacuteveis e recentesexceccedilotildees a conservaccedilatildeo dos livros de classe foi negligenciada em todos os lugares mesmo para o periacuteodomais recente a despeito da recomendaccedilatildeo n 48 da xxn Conferecircncia Internacional de Instruccedilatildeo Puacuteblica emGenebra convocada pela Unesco e o Bureau Intemational dEducation em 194910 Como conhecer de fato inicialmente a existecircncia desses documentos como os referenciar e como osexplorar se nenhum cataacutelogo assinala sequer a sua existecircncia e natildeo fornece a descriccedilatildeo Catalogue desmanuels queacutebeacutecois Queacutebec Universiteacute Laval 1983 Avant-propos11 Esteban Leoacuten Los cataacutelogos de librerfa y material de enseilanza como fuente iconograacutefica y literario-escolar Historia de Ia Educaci6n 1997 ndeg 16 p 17-46 Cbiosso Giorgio Un catalogo scolastico di metagraveottocento Ia Tipografia Sebastiano Franco in Chiacuteosso Giorgio (a cura di) 11Ubro per Ia scuola Ira Sette eOttocento Brescia Editrice La Scuola 2000 p 109-145

Se os manuais foram por muito tempo negligenciados peloshistoriadores eacute tambeacutem porque foram considerados como simples espelhosda sociedade do qual procedem - uma concepccedilatildeo de resto bem ingecircnua - oucomo vetores ideoloacutegicos e culturais Esta eacute a constataccedilatildeo feita por RildaCoeckelberghs em uma das primeiras reflexotildees feitas sobre o manual comoobjeto histoacuterico laquoBisher wuumlrde bei der historischen Schulbuchanalyse dasSchulbuch vorwiegend als Quelle fuumlr die Rekonstruction des Zeitsgeistesoder des Geschichtsbildes einer bestimmten Epoche benuumltz ))12Como osmanuais aparecem essencialmente como instrumentos poderosos daconstituiccedilatildeo identitaacuteria dos Estados Modemos13 o interesse que lhe foidado de iniacutecio pela comunidade cientiacutefica foi de ordem poliacutetica ehumanista desde o fim do seacuteculo XIX um certo nuacutemero de historiadoresesforccedilaram-se em denunciar nos livros de classe contemporacircneos os preacute-julgamentos nacionais e os estereoacutetipos susceptiacuteveis de despertar conservarou reativar os sentimentos de hostilidade entre os pOVOS14

Os trabalhos os mais acadecircmicos que tratam dos manuais antigosnatildeo aparecem antes de 1960 nos paiacuteses anglo-saxotildees (Inglaterra e EstadosUnidos essencialmente) na Alemanha nos Paiacuteses Noacuterdicos no Japatildeo e naFranccedila Esses trabalhos inscrevem-se em um contexto peculiar as sequumlelasda Segunda Guerra Mundial a descolonizaccedilatildeo a Guerra Fria ademocratizaccedilatildeo dos sistema~ educativos e a sensiacutevel aceleraccedilatildeo dosprogressos teacutecnicos colocaram em questatildeo um certo nuacutemero de valorestradicionalmente admitidos Mas durante quase vinte anos o essencial daproduccedilatildeo cientiacutefica dos historiadores fica confinada na anaacutelise do conteuacutedodas obras de sua proacutepria disciplina ou no estudo da imagem que os manuaisantigos de leitura de instruccedilatildeo ciacutevica ou ainda de geografial5

apresentam

12 Ateacute agora na anaacutelise histoacuterica do livro escolar este foi usado predominantemente como fonte para areconstruccedilatildeo do espiacuterito da eacutepoca ou da visatildeo de histoacuteria de determinada eacutepoca Coeckelberghs Hilde DasSchulbuch ais Quelle der Geschichtsforschung methodologischen Uumlberlegungen Internationales lahrbuchder Geschichts- und Geographie Unterricht xvm 1977-1978 p 9IJ Kuhn Leo (Hrsg) Schulbuch cin Massmedium Informationen Gebrauchsanweisungen AlternativenWien Muumlnchen Jugend amp Volk 1977 173p14 Uma rica literatura eacute consagrada a este aspecto Ver notadamente Lauwerys J-A Les Manuels dhistoireet Ia compreacutehension internationale Paris Unesco 1953 87p Dance Edward Herbert History theBetrayer A Study in Bias London Hutehinson 10 162p Schuumlddekopf Otto Ernsl History teachingand history teaching revisicn Strasbourg Council for Cultural Co-operation of the Council of Europe1967 235p Esses trabalhos de comparaccedilatildeo internacional conheceram um forte desenvolvimento desde 1945especialmente sob a eacutegide da Unesco e de Georg-Ecker- Institut fur Internationale Schulbuchforschung deBraunschweig na Alemanha15 Os trabalhos conduzidos pelo Georg-Eckert- Institut tratam ainda hoje quase exclusivamente essasdisciplinas A bibliografia publicada anualmente na sua revista Internationale Schulbuchforschung natildeorecenseia por outro lado as publicaccedilotildees cientiacuteficas relativas aos manuais de histoacuteria de geografia de ciecircnciassociais (Sozialkunde) e de leitura

da sociedadel6 Assim quase metade das publicaccedilotildees consagradas na

Franccedila agrave histoacuteria do livro e agrave ediccedilatildeo escolares antes de 1980 se inscrevemem uma perspectiva socioloacutegica17 Aleacutem de sua caracteriacutestica reduntantemuitas dessas produccedilotildees natildeo escapam agrave mediocridade sofrem de gravesinsuficiecircncias metodoloacutegicos apresentam anaacutelises superficiais e chegammuitas vezes a conclusotildees discutiacuteveis ateacute mesmo infundadas Analisando aproduccedilatildeo anglo-saxocircnica GH Harper chega em 1980 a mesmaconstataccedilatildeo penosa laquoIt is to be regretted that a numher of studies appearedin the 1960s ofwhich we must hope not to see the like again The generalpoint was to embroider a chronological list of the textbooks sometimesomitting those of subjects non taught in present day schools with arandomly selected trivial and anecdotal commentary sometimes therewas not even a bibliography of the texts mentioned These studies tendedalso to be badly written apparently not proof-read and based on naiveassumptions of the seminal role of the textbook in moulding the leaders andgeneral civilisation of the country involved raquo 18

Eacute no decorrer dos anos 1970 que os historiadores comeccedilam amanifestar um real interesse pelo livro e pela ediccedilatildeo escolares O fim dadeacutecada testemunha essa tomada de consciecircncia com a publicaccedilatildeo quaseconcomitante de contribuiccedilotildees que sublinham a importacircncia que revestiu omanual como fonte para os historiadores da educaccedilatildeo em diferentes paiacutesesEm 1978 uma pesquisadora da Universidade Livre de Bruxelas publica naInternationales lahrbuch der Geschichts- und Geographie Unterricht tiacutetuloque tinha entatildeo a revista do Georg-Eckert-Institut um longo artigo sobre olivro escolar como fonte da histoacuteria das mentalidades Depois de estabelecerum raacutepido balanccedilo da pesquisa histoacuterica sobre o livro escolar Hilde

16 Na Franca esse tipo de anaacutelise de conteuacutedo representava quase a metade das publicaccedilotildees cientiacuteficasocorridas entre 1960 e 1980 A primazia das anaacutelises de conteuacutedo na produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma caracteriacutesticacomum a todos pesquisadores que no mundo se interessaram pela produccedilatildeo escolar seja em umaperspectiva histoacuterica ou natildeo Sobre esta questatildeo ver Jobnsen Egil Bl1lrreTextbooks in the Kaleidoscope ACritical Survey 01 Literature and Research on Educational Texts Oslo Scandinavian University Press199317 Choppin Alain LHistoire des manuels scolaires un bilan bibliomeacutetrique de Ia recherche franccedilaise inAlain Choppin (Oir) Manuels scolaires Eacutetats et socieacuteteacutes XIXe-XXe siecles Histoire de leacuteducation mai1993 numeacutero speacutecial 58 p 165-185 Esse estudo colocava tambeacutem em evidecircncia a recomendaccedilatildeo de queusufruiacuteam entatildeo as disciplinas literaacuterias (particularmente a histoacuteria) e o interesse manifestado pelas obras doensino primaacuterio e pelas do fim do uacuteltimo seacuteculo Comparando-se a produccedilatildeo cientiacutefica francesa das deacutecadas1960 e 1970 com a dos anos 1980-1993 a parte dos estudos ideoloacutegicos e socioloacutegicos passa de 472 para34718 Eacute de se lamentar o nuacutemero de estudos que apareceram na deacutecada de 60 que esperamos natildeo ver de novoO ponto central era fazer uma lista dos manuais algumas vezes omitindo aqueles assuntos natildeo ensinados emescolas hoje em dia com comentaacuterios triviais anedoacuteticos e aleatoriamente selecionados algumas vezes natildeohavia nem mesmo uma bibliografia dos textos mencionados Esses estudos mostravam uma tendecircncia - erammal escritos aparentemente natildeo revisados e baseados em pressupostos ingecircnuos do papel rudimentar dosmanuais na moldagem dos liacutederes e da civi1izaccedilatildeogeral do paiacutes Harper G H Textbooks an under-usedSource History 01 Education Society Bulletin 25 1980 p 31

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 4: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

Tambeacutem a banalizaccedilatildeo a abundacircncia e a ampla difusatildeo dasproduccedilotildees escolares dissuadiram evidentemente conservadores e amadoresde livros de toda veleidade patrimonial os livros de classe que ocupam osegundo lugar logo ap6s a imprensa peri6dica quanto ao consumo depapel acham-se assim paradoxalmente ameaccedilados de desaparecimentofiacutesico A profusatildeo de tiacutetulos mas tambeacutem a longevidade e a multiplicidadede reediccedilotildees que caracterizaram os manuais ateacute as uacuteltimas deacutecadas natildeoinstigaram os bibli6grafos a empreender trabalhos de catalogaccedilatildeocomparaacuteveis agravequeles que dizem respeito aos incunaacutebulos ou agraves ediccedilotildeesraras ateacute os anos 1960 as bibliografias ou os cataacutelogos especificamenteconsagrados agrave literatura escolar satildeo por sua vez muito raros e muitoparciais8

bull

O pouco interesse demonstrado ateacute estes uacuteltimos vinte anos pelosmanuais antigos e pela sua hist6ria decorre natildeo somente das dificuldades deacesso agraves coleccedilotildees mas tambeacutem de sua incompletude e sua dispersatildeo Outalvez ao contraacuterio devido a grande quantidade de sua produccedilatildeo aconservaccedilatildeo dos manuais natildeo foi corretamente assegurada

Eacute o caso em um paiacutes reputado e centralizado como a Franccedila no quala obrigaccedilatildeo do dep6sito legal instaurado em 1543 foi portanto objeto departicular atenccedilatildeo das autoridades desde 1810 os livros de classe natildeoestiveram sempre submetidos ao mesmo rigor que as outras publicaccedilotildeesimpressas especialmente aqueles que se destinavam ao ensino primaacuterio Sea Bibliotheque Nationale de France deteacutem hoje pelo menos um exemplarde 85 a 90 dos tiacutetulos publicados estaacute muito longe de conservar oconjunto das ediccedilotildees situaccedilatildeo idecircntica ocorre com a biblioteca do InstitutNational de Recherche Peacutedagogique beneficiada com o dep6sito legal

8 Podemos distinguir trecircs categoriasPrimeiramente os cataacutelogos que descrevem um fundo particular como Packer Calherine H Early AmericanSc1wo1Books a bibliography based on the Boston booksellers catalogue of 1804 Ann Arbour Universityof Michigan 1954 V-47p em seguida bibliografias que se interessam as disciplinas que participam dos cursos educativos tradicionaiscomo gramaacutetica Stengel Edmund Chronologisches VerzeichnisfranziJsischer Grammatiken Oppeln 1890X-25Op Murray David Some early Grammars and other School Books in use in Scotland Glasgow TheRoyal Philosophical Society of Glasgow vol XXXVI-XXXVII 19045-19056 Watson Foster TheEnglish grammar schools to 1660 their curriculum and practice London Cass 1968 X-548 p cujaprimeira edicao em Cambridge remonta a 1908 ou as matemaacuteticas Simons Lao Genevra Bibliographyof early American textbooks on algebra published in the colonies and the United States through 1850 NewYork Scripta malhematica Yeshiva college 19361-68 p (Scripta mathematica studies 1) enfim os trabalhos de recenseamento que se inscrevem em uma reflexatildeo global sobre a identidade nacionalou cultural como Heartman Charles Frederick American primers 1ndian primers Royal primers andthirty-seven other types of non-New-England primers issued prior to 1830 a bibliographical checkJistembellished with twenty-six cuts with an introduction amp indexes compiled by Chorles F HeartmanHigh1and Park (New Jersey) H B Weiss 1935 XX 21-159 p Arjona Doris King amp Arjona JaimeHomem A Bib1iojTqppJ gf TlXthonb gf jomtixb pubJixbed k tv V-W-d raquoatI (JP5-JPYP) Aoo Adow

(Michigan) Edwards Brothers 1939 N-219p Elson Rulh Miller Guardians of Tradition AmericanSchoolbooks ofthe Nineteenth Century Lincoln University ofNebraska Press 1964 XIII-424p etc

desde 1927 e o Museacutee National de lEacuteducation implantado em Rouenonde satildeo respectivamente conservados em tomo de um terccedilo e de um quartodas obras publicadas depois da segunda metade do seacuteculo XIX

A situaccedilatildeo eacute naturalmente ainda mais problemaacutetica nos paiacuteses emque a unidade eacute recente que concedam ou natildeo hoje um espaccedilosignificativo agraves particularidades regionais ou locais as bibliografiasnacionais foram constituiacutedas tardiamente e as obras que subsistem quasenunca repertoriadas encontram-se espalhadas nas bibliotecas geralmenteproacuteximas do seu local de produccedilatilde09bull Mas as coleccedilotildees de certa importacircnciasatildeo raras geralmente pouco conhecidas e na maioria das vezes muitolacunares e natildeo tinham sido postas em valor ateacute agora10

Por natildeo poder localizar fisicamente exemplares podemos encontrartraccedilos indiretos das produccedilotildees escolares Mas para um pesquisador quetrabalha soacute os obstaacuteculos satildeo tambeacutem abundantes a anaacutelise dasbibliografias gerais aparece logo como uma tarefa gigantescadesproporcional e pouco confiaacutevel ao olhar de descreacutedito de que os manuaisescolares satildeo tradicionalmente viacutetimas os cataacutelogos das editoras claacutessicascapazes de justificar a evoluccedilatildeo de sua atividade foram conservados demaneira muito aleatoacuteriall Quanto aos arquivos das editoras - um grandenuacutemero estaacute irremediavelmente desaparecido devido a falecircncias oucedecircncias - eles foram em muitos casos destruiacutedos ou dispersados Areconstituiccedilatildeo da produccedilatildeo poderia ainda passar pelo exame dos extratos decataacutelogos anexos aos manuais ou reproduzidos na capa ou ainda pelapublicidade ou as resenhas inseridas na imprensa pedagoacutegica especializada (o que supotildee ter encontrado os tiacutetulos) isto eacute em todos os casos umtrabalho de inventaacuterio preacutevio evidentemente bem dissuasivo

9 Esta constataccedilatildeo repousa para a Europa sobre o recenseamento das coleccedilotildees de manuais que realizamosem 1992 no programa intitulado manuels scolaires une recherche europeacuteenne des patrimoines nationauxas informaccedilotildees que dispomos hoje sobre o resto do mundo confirmam que salvo algumas notaacuteveis e recentesexceccedilotildees a conservaccedilatildeo dos livros de classe foi negligenciada em todos os lugares mesmo para o periacuteodomais recente a despeito da recomendaccedilatildeo n 48 da xxn Conferecircncia Internacional de Instruccedilatildeo Puacuteblica emGenebra convocada pela Unesco e o Bureau Intemational dEducation em 194910 Como conhecer de fato inicialmente a existecircncia desses documentos como os referenciar e como osexplorar se nenhum cataacutelogo assinala sequer a sua existecircncia e natildeo fornece a descriccedilatildeo Catalogue desmanuels queacutebeacutecois Queacutebec Universiteacute Laval 1983 Avant-propos11 Esteban Leoacuten Los cataacutelogos de librerfa y material de enseilanza como fuente iconograacutefica y literario-escolar Historia de Ia Educaci6n 1997 ndeg 16 p 17-46 Cbiosso Giorgio Un catalogo scolastico di metagraveottocento Ia Tipografia Sebastiano Franco in Chiacuteosso Giorgio (a cura di) 11Ubro per Ia scuola Ira Sette eOttocento Brescia Editrice La Scuola 2000 p 109-145

Se os manuais foram por muito tempo negligenciados peloshistoriadores eacute tambeacutem porque foram considerados como simples espelhosda sociedade do qual procedem - uma concepccedilatildeo de resto bem ingecircnua - oucomo vetores ideoloacutegicos e culturais Esta eacute a constataccedilatildeo feita por RildaCoeckelberghs em uma das primeiras reflexotildees feitas sobre o manual comoobjeto histoacuterico laquoBisher wuumlrde bei der historischen Schulbuchanalyse dasSchulbuch vorwiegend als Quelle fuumlr die Rekonstruction des Zeitsgeistesoder des Geschichtsbildes einer bestimmten Epoche benuumltz ))12Como osmanuais aparecem essencialmente como instrumentos poderosos daconstituiccedilatildeo identitaacuteria dos Estados Modemos13 o interesse que lhe foidado de iniacutecio pela comunidade cientiacutefica foi de ordem poliacutetica ehumanista desde o fim do seacuteculo XIX um certo nuacutemero de historiadoresesforccedilaram-se em denunciar nos livros de classe contemporacircneos os preacute-julgamentos nacionais e os estereoacutetipos susceptiacuteveis de despertar conservarou reativar os sentimentos de hostilidade entre os pOVOS14

Os trabalhos os mais acadecircmicos que tratam dos manuais antigosnatildeo aparecem antes de 1960 nos paiacuteses anglo-saxotildees (Inglaterra e EstadosUnidos essencialmente) na Alemanha nos Paiacuteses Noacuterdicos no Japatildeo e naFranccedila Esses trabalhos inscrevem-se em um contexto peculiar as sequumlelasda Segunda Guerra Mundial a descolonizaccedilatildeo a Guerra Fria ademocratizaccedilatildeo dos sistema~ educativos e a sensiacutevel aceleraccedilatildeo dosprogressos teacutecnicos colocaram em questatildeo um certo nuacutemero de valorestradicionalmente admitidos Mas durante quase vinte anos o essencial daproduccedilatildeo cientiacutefica dos historiadores fica confinada na anaacutelise do conteuacutedodas obras de sua proacutepria disciplina ou no estudo da imagem que os manuaisantigos de leitura de instruccedilatildeo ciacutevica ou ainda de geografial5

apresentam

12 Ateacute agora na anaacutelise histoacuterica do livro escolar este foi usado predominantemente como fonte para areconstruccedilatildeo do espiacuterito da eacutepoca ou da visatildeo de histoacuteria de determinada eacutepoca Coeckelberghs Hilde DasSchulbuch ais Quelle der Geschichtsforschung methodologischen Uumlberlegungen Internationales lahrbuchder Geschichts- und Geographie Unterricht xvm 1977-1978 p 9IJ Kuhn Leo (Hrsg) Schulbuch cin Massmedium Informationen Gebrauchsanweisungen AlternativenWien Muumlnchen Jugend amp Volk 1977 173p14 Uma rica literatura eacute consagrada a este aspecto Ver notadamente Lauwerys J-A Les Manuels dhistoireet Ia compreacutehension internationale Paris Unesco 1953 87p Dance Edward Herbert History theBetrayer A Study in Bias London Hutehinson 10 162p Schuumlddekopf Otto Ernsl History teachingand history teaching revisicn Strasbourg Council for Cultural Co-operation of the Council of Europe1967 235p Esses trabalhos de comparaccedilatildeo internacional conheceram um forte desenvolvimento desde 1945especialmente sob a eacutegide da Unesco e de Georg-Ecker- Institut fur Internationale Schulbuchforschung deBraunschweig na Alemanha15 Os trabalhos conduzidos pelo Georg-Eckert- Institut tratam ainda hoje quase exclusivamente essasdisciplinas A bibliografia publicada anualmente na sua revista Internationale Schulbuchforschung natildeorecenseia por outro lado as publicaccedilotildees cientiacuteficas relativas aos manuais de histoacuteria de geografia de ciecircnciassociais (Sozialkunde) e de leitura

da sociedadel6 Assim quase metade das publicaccedilotildees consagradas na

Franccedila agrave histoacuteria do livro e agrave ediccedilatildeo escolares antes de 1980 se inscrevemem uma perspectiva socioloacutegica17 Aleacutem de sua caracteriacutestica reduntantemuitas dessas produccedilotildees natildeo escapam agrave mediocridade sofrem de gravesinsuficiecircncias metodoloacutegicos apresentam anaacutelises superficiais e chegammuitas vezes a conclusotildees discutiacuteveis ateacute mesmo infundadas Analisando aproduccedilatildeo anglo-saxocircnica GH Harper chega em 1980 a mesmaconstataccedilatildeo penosa laquoIt is to be regretted that a numher of studies appearedin the 1960s ofwhich we must hope not to see the like again The generalpoint was to embroider a chronological list of the textbooks sometimesomitting those of subjects non taught in present day schools with arandomly selected trivial and anecdotal commentary sometimes therewas not even a bibliography of the texts mentioned These studies tendedalso to be badly written apparently not proof-read and based on naiveassumptions of the seminal role of the textbook in moulding the leaders andgeneral civilisation of the country involved raquo 18

Eacute no decorrer dos anos 1970 que os historiadores comeccedilam amanifestar um real interesse pelo livro e pela ediccedilatildeo escolares O fim dadeacutecada testemunha essa tomada de consciecircncia com a publicaccedilatildeo quaseconcomitante de contribuiccedilotildees que sublinham a importacircncia que revestiu omanual como fonte para os historiadores da educaccedilatildeo em diferentes paiacutesesEm 1978 uma pesquisadora da Universidade Livre de Bruxelas publica naInternationales lahrbuch der Geschichts- und Geographie Unterricht tiacutetuloque tinha entatildeo a revista do Georg-Eckert-Institut um longo artigo sobre olivro escolar como fonte da histoacuteria das mentalidades Depois de estabelecerum raacutepido balanccedilo da pesquisa histoacuterica sobre o livro escolar Hilde

16 Na Franca esse tipo de anaacutelise de conteuacutedo representava quase a metade das publicaccedilotildees cientiacuteficasocorridas entre 1960 e 1980 A primazia das anaacutelises de conteuacutedo na produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma caracteriacutesticacomum a todos pesquisadores que no mundo se interessaram pela produccedilatildeo escolar seja em umaperspectiva histoacuterica ou natildeo Sobre esta questatildeo ver Jobnsen Egil Bl1lrreTextbooks in the Kaleidoscope ACritical Survey 01 Literature and Research on Educational Texts Oslo Scandinavian University Press199317 Choppin Alain LHistoire des manuels scolaires un bilan bibliomeacutetrique de Ia recherche franccedilaise inAlain Choppin (Oir) Manuels scolaires Eacutetats et socieacuteteacutes XIXe-XXe siecles Histoire de leacuteducation mai1993 numeacutero speacutecial 58 p 165-185 Esse estudo colocava tambeacutem em evidecircncia a recomendaccedilatildeo de queusufruiacuteam entatildeo as disciplinas literaacuterias (particularmente a histoacuteria) e o interesse manifestado pelas obras doensino primaacuterio e pelas do fim do uacuteltimo seacuteculo Comparando-se a produccedilatildeo cientiacutefica francesa das deacutecadas1960 e 1970 com a dos anos 1980-1993 a parte dos estudos ideoloacutegicos e socioloacutegicos passa de 472 para34718 Eacute de se lamentar o nuacutemero de estudos que apareceram na deacutecada de 60 que esperamos natildeo ver de novoO ponto central era fazer uma lista dos manuais algumas vezes omitindo aqueles assuntos natildeo ensinados emescolas hoje em dia com comentaacuterios triviais anedoacuteticos e aleatoriamente selecionados algumas vezes natildeohavia nem mesmo uma bibliografia dos textos mencionados Esses estudos mostravam uma tendecircncia - erammal escritos aparentemente natildeo revisados e baseados em pressupostos ingecircnuos do papel rudimentar dosmanuais na moldagem dos liacutederes e da civi1izaccedilatildeogeral do paiacutes Harper G H Textbooks an under-usedSource History 01 Education Society Bulletin 25 1980 p 31

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 5: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

desde 1927 e o Museacutee National de lEacuteducation implantado em Rouenonde satildeo respectivamente conservados em tomo de um terccedilo e de um quartodas obras publicadas depois da segunda metade do seacuteculo XIX

A situaccedilatildeo eacute naturalmente ainda mais problemaacutetica nos paiacuteses emque a unidade eacute recente que concedam ou natildeo hoje um espaccedilosignificativo agraves particularidades regionais ou locais as bibliografiasnacionais foram constituiacutedas tardiamente e as obras que subsistem quasenunca repertoriadas encontram-se espalhadas nas bibliotecas geralmenteproacuteximas do seu local de produccedilatilde09bull Mas as coleccedilotildees de certa importacircnciasatildeo raras geralmente pouco conhecidas e na maioria das vezes muitolacunares e natildeo tinham sido postas em valor ateacute agora10

Por natildeo poder localizar fisicamente exemplares podemos encontrartraccedilos indiretos das produccedilotildees escolares Mas para um pesquisador quetrabalha soacute os obstaacuteculos satildeo tambeacutem abundantes a anaacutelise dasbibliografias gerais aparece logo como uma tarefa gigantescadesproporcional e pouco confiaacutevel ao olhar de descreacutedito de que os manuaisescolares satildeo tradicionalmente viacutetimas os cataacutelogos das editoras claacutessicascapazes de justificar a evoluccedilatildeo de sua atividade foram conservados demaneira muito aleatoacuteriall Quanto aos arquivos das editoras - um grandenuacutemero estaacute irremediavelmente desaparecido devido a falecircncias oucedecircncias - eles foram em muitos casos destruiacutedos ou dispersados Areconstituiccedilatildeo da produccedilatildeo poderia ainda passar pelo exame dos extratos decataacutelogos anexos aos manuais ou reproduzidos na capa ou ainda pelapublicidade ou as resenhas inseridas na imprensa pedagoacutegica especializada (o que supotildee ter encontrado os tiacutetulos) isto eacute em todos os casos umtrabalho de inventaacuterio preacutevio evidentemente bem dissuasivo

9 Esta constataccedilatildeo repousa para a Europa sobre o recenseamento das coleccedilotildees de manuais que realizamosem 1992 no programa intitulado manuels scolaires une recherche europeacuteenne des patrimoines nationauxas informaccedilotildees que dispomos hoje sobre o resto do mundo confirmam que salvo algumas notaacuteveis e recentesexceccedilotildees a conservaccedilatildeo dos livros de classe foi negligenciada em todos os lugares mesmo para o periacuteodomais recente a despeito da recomendaccedilatildeo n 48 da xxn Conferecircncia Internacional de Instruccedilatildeo Puacuteblica emGenebra convocada pela Unesco e o Bureau Intemational dEducation em 194910 Como conhecer de fato inicialmente a existecircncia desses documentos como os referenciar e como osexplorar se nenhum cataacutelogo assinala sequer a sua existecircncia e natildeo fornece a descriccedilatildeo Catalogue desmanuels queacutebeacutecois Queacutebec Universiteacute Laval 1983 Avant-propos11 Esteban Leoacuten Los cataacutelogos de librerfa y material de enseilanza como fuente iconograacutefica y literario-escolar Historia de Ia Educaci6n 1997 ndeg 16 p 17-46 Cbiosso Giorgio Un catalogo scolastico di metagraveottocento Ia Tipografia Sebastiano Franco in Chiacuteosso Giorgio (a cura di) 11Ubro per Ia scuola Ira Sette eOttocento Brescia Editrice La Scuola 2000 p 109-145

Se os manuais foram por muito tempo negligenciados peloshistoriadores eacute tambeacutem porque foram considerados como simples espelhosda sociedade do qual procedem - uma concepccedilatildeo de resto bem ingecircnua - oucomo vetores ideoloacutegicos e culturais Esta eacute a constataccedilatildeo feita por RildaCoeckelberghs em uma das primeiras reflexotildees feitas sobre o manual comoobjeto histoacuterico laquoBisher wuumlrde bei der historischen Schulbuchanalyse dasSchulbuch vorwiegend als Quelle fuumlr die Rekonstruction des Zeitsgeistesoder des Geschichtsbildes einer bestimmten Epoche benuumltz ))12Como osmanuais aparecem essencialmente como instrumentos poderosos daconstituiccedilatildeo identitaacuteria dos Estados Modemos13 o interesse que lhe foidado de iniacutecio pela comunidade cientiacutefica foi de ordem poliacutetica ehumanista desde o fim do seacuteculo XIX um certo nuacutemero de historiadoresesforccedilaram-se em denunciar nos livros de classe contemporacircneos os preacute-julgamentos nacionais e os estereoacutetipos susceptiacuteveis de despertar conservarou reativar os sentimentos de hostilidade entre os pOVOS14

Os trabalhos os mais acadecircmicos que tratam dos manuais antigosnatildeo aparecem antes de 1960 nos paiacuteses anglo-saxotildees (Inglaterra e EstadosUnidos essencialmente) na Alemanha nos Paiacuteses Noacuterdicos no Japatildeo e naFranccedila Esses trabalhos inscrevem-se em um contexto peculiar as sequumlelasda Segunda Guerra Mundial a descolonizaccedilatildeo a Guerra Fria ademocratizaccedilatildeo dos sistema~ educativos e a sensiacutevel aceleraccedilatildeo dosprogressos teacutecnicos colocaram em questatildeo um certo nuacutemero de valorestradicionalmente admitidos Mas durante quase vinte anos o essencial daproduccedilatildeo cientiacutefica dos historiadores fica confinada na anaacutelise do conteuacutedodas obras de sua proacutepria disciplina ou no estudo da imagem que os manuaisantigos de leitura de instruccedilatildeo ciacutevica ou ainda de geografial5

apresentam

12 Ateacute agora na anaacutelise histoacuterica do livro escolar este foi usado predominantemente como fonte para areconstruccedilatildeo do espiacuterito da eacutepoca ou da visatildeo de histoacuteria de determinada eacutepoca Coeckelberghs Hilde DasSchulbuch ais Quelle der Geschichtsforschung methodologischen Uumlberlegungen Internationales lahrbuchder Geschichts- und Geographie Unterricht xvm 1977-1978 p 9IJ Kuhn Leo (Hrsg) Schulbuch cin Massmedium Informationen Gebrauchsanweisungen AlternativenWien Muumlnchen Jugend amp Volk 1977 173p14 Uma rica literatura eacute consagrada a este aspecto Ver notadamente Lauwerys J-A Les Manuels dhistoireet Ia compreacutehension internationale Paris Unesco 1953 87p Dance Edward Herbert History theBetrayer A Study in Bias London Hutehinson 10 162p Schuumlddekopf Otto Ernsl History teachingand history teaching revisicn Strasbourg Council for Cultural Co-operation of the Council of Europe1967 235p Esses trabalhos de comparaccedilatildeo internacional conheceram um forte desenvolvimento desde 1945especialmente sob a eacutegide da Unesco e de Georg-Ecker- Institut fur Internationale Schulbuchforschung deBraunschweig na Alemanha15 Os trabalhos conduzidos pelo Georg-Eckert- Institut tratam ainda hoje quase exclusivamente essasdisciplinas A bibliografia publicada anualmente na sua revista Internationale Schulbuchforschung natildeorecenseia por outro lado as publicaccedilotildees cientiacuteficas relativas aos manuais de histoacuteria de geografia de ciecircnciassociais (Sozialkunde) e de leitura

da sociedadel6 Assim quase metade das publicaccedilotildees consagradas na

Franccedila agrave histoacuteria do livro e agrave ediccedilatildeo escolares antes de 1980 se inscrevemem uma perspectiva socioloacutegica17 Aleacutem de sua caracteriacutestica reduntantemuitas dessas produccedilotildees natildeo escapam agrave mediocridade sofrem de gravesinsuficiecircncias metodoloacutegicos apresentam anaacutelises superficiais e chegammuitas vezes a conclusotildees discutiacuteveis ateacute mesmo infundadas Analisando aproduccedilatildeo anglo-saxocircnica GH Harper chega em 1980 a mesmaconstataccedilatildeo penosa laquoIt is to be regretted that a numher of studies appearedin the 1960s ofwhich we must hope not to see the like again The generalpoint was to embroider a chronological list of the textbooks sometimesomitting those of subjects non taught in present day schools with arandomly selected trivial and anecdotal commentary sometimes therewas not even a bibliography of the texts mentioned These studies tendedalso to be badly written apparently not proof-read and based on naiveassumptions of the seminal role of the textbook in moulding the leaders andgeneral civilisation of the country involved raquo 18

Eacute no decorrer dos anos 1970 que os historiadores comeccedilam amanifestar um real interesse pelo livro e pela ediccedilatildeo escolares O fim dadeacutecada testemunha essa tomada de consciecircncia com a publicaccedilatildeo quaseconcomitante de contribuiccedilotildees que sublinham a importacircncia que revestiu omanual como fonte para os historiadores da educaccedilatildeo em diferentes paiacutesesEm 1978 uma pesquisadora da Universidade Livre de Bruxelas publica naInternationales lahrbuch der Geschichts- und Geographie Unterricht tiacutetuloque tinha entatildeo a revista do Georg-Eckert-Institut um longo artigo sobre olivro escolar como fonte da histoacuteria das mentalidades Depois de estabelecerum raacutepido balanccedilo da pesquisa histoacuterica sobre o livro escolar Hilde

16 Na Franca esse tipo de anaacutelise de conteuacutedo representava quase a metade das publicaccedilotildees cientiacuteficasocorridas entre 1960 e 1980 A primazia das anaacutelises de conteuacutedo na produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma caracteriacutesticacomum a todos pesquisadores que no mundo se interessaram pela produccedilatildeo escolar seja em umaperspectiva histoacuterica ou natildeo Sobre esta questatildeo ver Jobnsen Egil Bl1lrreTextbooks in the Kaleidoscope ACritical Survey 01 Literature and Research on Educational Texts Oslo Scandinavian University Press199317 Choppin Alain LHistoire des manuels scolaires un bilan bibliomeacutetrique de Ia recherche franccedilaise inAlain Choppin (Oir) Manuels scolaires Eacutetats et socieacuteteacutes XIXe-XXe siecles Histoire de leacuteducation mai1993 numeacutero speacutecial 58 p 165-185 Esse estudo colocava tambeacutem em evidecircncia a recomendaccedilatildeo de queusufruiacuteam entatildeo as disciplinas literaacuterias (particularmente a histoacuteria) e o interesse manifestado pelas obras doensino primaacuterio e pelas do fim do uacuteltimo seacuteculo Comparando-se a produccedilatildeo cientiacutefica francesa das deacutecadas1960 e 1970 com a dos anos 1980-1993 a parte dos estudos ideoloacutegicos e socioloacutegicos passa de 472 para34718 Eacute de se lamentar o nuacutemero de estudos que apareceram na deacutecada de 60 que esperamos natildeo ver de novoO ponto central era fazer uma lista dos manuais algumas vezes omitindo aqueles assuntos natildeo ensinados emescolas hoje em dia com comentaacuterios triviais anedoacuteticos e aleatoriamente selecionados algumas vezes natildeohavia nem mesmo uma bibliografia dos textos mencionados Esses estudos mostravam uma tendecircncia - erammal escritos aparentemente natildeo revisados e baseados em pressupostos ingecircnuos do papel rudimentar dosmanuais na moldagem dos liacutederes e da civi1izaccedilatildeogeral do paiacutes Harper G H Textbooks an under-usedSource History 01 Education Society Bulletin 25 1980 p 31

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 6: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

Se os manuais foram por muito tempo negligenciados peloshistoriadores eacute tambeacutem porque foram considerados como simples espelhosda sociedade do qual procedem - uma concepccedilatildeo de resto bem ingecircnua - oucomo vetores ideoloacutegicos e culturais Esta eacute a constataccedilatildeo feita por RildaCoeckelberghs em uma das primeiras reflexotildees feitas sobre o manual comoobjeto histoacuterico laquoBisher wuumlrde bei der historischen Schulbuchanalyse dasSchulbuch vorwiegend als Quelle fuumlr die Rekonstruction des Zeitsgeistesoder des Geschichtsbildes einer bestimmten Epoche benuumltz ))12Como osmanuais aparecem essencialmente como instrumentos poderosos daconstituiccedilatildeo identitaacuteria dos Estados Modemos13 o interesse que lhe foidado de iniacutecio pela comunidade cientiacutefica foi de ordem poliacutetica ehumanista desde o fim do seacuteculo XIX um certo nuacutemero de historiadoresesforccedilaram-se em denunciar nos livros de classe contemporacircneos os preacute-julgamentos nacionais e os estereoacutetipos susceptiacuteveis de despertar conservarou reativar os sentimentos de hostilidade entre os pOVOS14

Os trabalhos os mais acadecircmicos que tratam dos manuais antigosnatildeo aparecem antes de 1960 nos paiacuteses anglo-saxotildees (Inglaterra e EstadosUnidos essencialmente) na Alemanha nos Paiacuteses Noacuterdicos no Japatildeo e naFranccedila Esses trabalhos inscrevem-se em um contexto peculiar as sequumlelasda Segunda Guerra Mundial a descolonizaccedilatildeo a Guerra Fria ademocratizaccedilatildeo dos sistema~ educativos e a sensiacutevel aceleraccedilatildeo dosprogressos teacutecnicos colocaram em questatildeo um certo nuacutemero de valorestradicionalmente admitidos Mas durante quase vinte anos o essencial daproduccedilatildeo cientiacutefica dos historiadores fica confinada na anaacutelise do conteuacutedodas obras de sua proacutepria disciplina ou no estudo da imagem que os manuaisantigos de leitura de instruccedilatildeo ciacutevica ou ainda de geografial5

apresentam

12 Ateacute agora na anaacutelise histoacuterica do livro escolar este foi usado predominantemente como fonte para areconstruccedilatildeo do espiacuterito da eacutepoca ou da visatildeo de histoacuteria de determinada eacutepoca Coeckelberghs Hilde DasSchulbuch ais Quelle der Geschichtsforschung methodologischen Uumlberlegungen Internationales lahrbuchder Geschichts- und Geographie Unterricht xvm 1977-1978 p 9IJ Kuhn Leo (Hrsg) Schulbuch cin Massmedium Informationen Gebrauchsanweisungen AlternativenWien Muumlnchen Jugend amp Volk 1977 173p14 Uma rica literatura eacute consagrada a este aspecto Ver notadamente Lauwerys J-A Les Manuels dhistoireet Ia compreacutehension internationale Paris Unesco 1953 87p Dance Edward Herbert History theBetrayer A Study in Bias London Hutehinson 10 162p Schuumlddekopf Otto Ernsl History teachingand history teaching revisicn Strasbourg Council for Cultural Co-operation of the Council of Europe1967 235p Esses trabalhos de comparaccedilatildeo internacional conheceram um forte desenvolvimento desde 1945especialmente sob a eacutegide da Unesco e de Georg-Ecker- Institut fur Internationale Schulbuchforschung deBraunschweig na Alemanha15 Os trabalhos conduzidos pelo Georg-Eckert- Institut tratam ainda hoje quase exclusivamente essasdisciplinas A bibliografia publicada anualmente na sua revista Internationale Schulbuchforschung natildeorecenseia por outro lado as publicaccedilotildees cientiacuteficas relativas aos manuais de histoacuteria de geografia de ciecircnciassociais (Sozialkunde) e de leitura

da sociedadel6 Assim quase metade das publicaccedilotildees consagradas na

Franccedila agrave histoacuteria do livro e agrave ediccedilatildeo escolares antes de 1980 se inscrevemem uma perspectiva socioloacutegica17 Aleacutem de sua caracteriacutestica reduntantemuitas dessas produccedilotildees natildeo escapam agrave mediocridade sofrem de gravesinsuficiecircncias metodoloacutegicos apresentam anaacutelises superficiais e chegammuitas vezes a conclusotildees discutiacuteveis ateacute mesmo infundadas Analisando aproduccedilatildeo anglo-saxocircnica GH Harper chega em 1980 a mesmaconstataccedilatildeo penosa laquoIt is to be regretted that a numher of studies appearedin the 1960s ofwhich we must hope not to see the like again The generalpoint was to embroider a chronological list of the textbooks sometimesomitting those of subjects non taught in present day schools with arandomly selected trivial and anecdotal commentary sometimes therewas not even a bibliography of the texts mentioned These studies tendedalso to be badly written apparently not proof-read and based on naiveassumptions of the seminal role of the textbook in moulding the leaders andgeneral civilisation of the country involved raquo 18

Eacute no decorrer dos anos 1970 que os historiadores comeccedilam amanifestar um real interesse pelo livro e pela ediccedilatildeo escolares O fim dadeacutecada testemunha essa tomada de consciecircncia com a publicaccedilatildeo quaseconcomitante de contribuiccedilotildees que sublinham a importacircncia que revestiu omanual como fonte para os historiadores da educaccedilatildeo em diferentes paiacutesesEm 1978 uma pesquisadora da Universidade Livre de Bruxelas publica naInternationales lahrbuch der Geschichts- und Geographie Unterricht tiacutetuloque tinha entatildeo a revista do Georg-Eckert-Institut um longo artigo sobre olivro escolar como fonte da histoacuteria das mentalidades Depois de estabelecerum raacutepido balanccedilo da pesquisa histoacuterica sobre o livro escolar Hilde

16 Na Franca esse tipo de anaacutelise de conteuacutedo representava quase a metade das publicaccedilotildees cientiacuteficasocorridas entre 1960 e 1980 A primazia das anaacutelises de conteuacutedo na produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma caracteriacutesticacomum a todos pesquisadores que no mundo se interessaram pela produccedilatildeo escolar seja em umaperspectiva histoacuterica ou natildeo Sobre esta questatildeo ver Jobnsen Egil Bl1lrreTextbooks in the Kaleidoscope ACritical Survey 01 Literature and Research on Educational Texts Oslo Scandinavian University Press199317 Choppin Alain LHistoire des manuels scolaires un bilan bibliomeacutetrique de Ia recherche franccedilaise inAlain Choppin (Oir) Manuels scolaires Eacutetats et socieacuteteacutes XIXe-XXe siecles Histoire de leacuteducation mai1993 numeacutero speacutecial 58 p 165-185 Esse estudo colocava tambeacutem em evidecircncia a recomendaccedilatildeo de queusufruiacuteam entatildeo as disciplinas literaacuterias (particularmente a histoacuteria) e o interesse manifestado pelas obras doensino primaacuterio e pelas do fim do uacuteltimo seacuteculo Comparando-se a produccedilatildeo cientiacutefica francesa das deacutecadas1960 e 1970 com a dos anos 1980-1993 a parte dos estudos ideoloacutegicos e socioloacutegicos passa de 472 para34718 Eacute de se lamentar o nuacutemero de estudos que apareceram na deacutecada de 60 que esperamos natildeo ver de novoO ponto central era fazer uma lista dos manuais algumas vezes omitindo aqueles assuntos natildeo ensinados emescolas hoje em dia com comentaacuterios triviais anedoacuteticos e aleatoriamente selecionados algumas vezes natildeohavia nem mesmo uma bibliografia dos textos mencionados Esses estudos mostravam uma tendecircncia - erammal escritos aparentemente natildeo revisados e baseados em pressupostos ingecircnuos do papel rudimentar dosmanuais na moldagem dos liacutederes e da civi1izaccedilatildeogeral do paiacutes Harper G H Textbooks an under-usedSource History 01 Education Society Bulletin 25 1980 p 31

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 7: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

da sociedadel6 Assim quase metade das publicaccedilotildees consagradas na

Franccedila agrave histoacuteria do livro e agrave ediccedilatildeo escolares antes de 1980 se inscrevemem uma perspectiva socioloacutegica17 Aleacutem de sua caracteriacutestica reduntantemuitas dessas produccedilotildees natildeo escapam agrave mediocridade sofrem de gravesinsuficiecircncias metodoloacutegicos apresentam anaacutelises superficiais e chegammuitas vezes a conclusotildees discutiacuteveis ateacute mesmo infundadas Analisando aproduccedilatildeo anglo-saxocircnica GH Harper chega em 1980 a mesmaconstataccedilatildeo penosa laquoIt is to be regretted that a numher of studies appearedin the 1960s ofwhich we must hope not to see the like again The generalpoint was to embroider a chronological list of the textbooks sometimesomitting those of subjects non taught in present day schools with arandomly selected trivial and anecdotal commentary sometimes therewas not even a bibliography of the texts mentioned These studies tendedalso to be badly written apparently not proof-read and based on naiveassumptions of the seminal role of the textbook in moulding the leaders andgeneral civilisation of the country involved raquo 18

Eacute no decorrer dos anos 1970 que os historiadores comeccedilam amanifestar um real interesse pelo livro e pela ediccedilatildeo escolares O fim dadeacutecada testemunha essa tomada de consciecircncia com a publicaccedilatildeo quaseconcomitante de contribuiccedilotildees que sublinham a importacircncia que revestiu omanual como fonte para os historiadores da educaccedilatildeo em diferentes paiacutesesEm 1978 uma pesquisadora da Universidade Livre de Bruxelas publica naInternationales lahrbuch der Geschichts- und Geographie Unterricht tiacutetuloque tinha entatildeo a revista do Georg-Eckert-Institut um longo artigo sobre olivro escolar como fonte da histoacuteria das mentalidades Depois de estabelecerum raacutepido balanccedilo da pesquisa histoacuterica sobre o livro escolar Hilde

16 Na Franca esse tipo de anaacutelise de conteuacutedo representava quase a metade das publicaccedilotildees cientiacuteficasocorridas entre 1960 e 1980 A primazia das anaacutelises de conteuacutedo na produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma caracteriacutesticacomum a todos pesquisadores que no mundo se interessaram pela produccedilatildeo escolar seja em umaperspectiva histoacuterica ou natildeo Sobre esta questatildeo ver Jobnsen Egil Bl1lrreTextbooks in the Kaleidoscope ACritical Survey 01 Literature and Research on Educational Texts Oslo Scandinavian University Press199317 Choppin Alain LHistoire des manuels scolaires un bilan bibliomeacutetrique de Ia recherche franccedilaise inAlain Choppin (Oir) Manuels scolaires Eacutetats et socieacuteteacutes XIXe-XXe siecles Histoire de leacuteducation mai1993 numeacutero speacutecial 58 p 165-185 Esse estudo colocava tambeacutem em evidecircncia a recomendaccedilatildeo de queusufruiacuteam entatildeo as disciplinas literaacuterias (particularmente a histoacuteria) e o interesse manifestado pelas obras doensino primaacuterio e pelas do fim do uacuteltimo seacuteculo Comparando-se a produccedilatildeo cientiacutefica francesa das deacutecadas1960 e 1970 com a dos anos 1980-1993 a parte dos estudos ideoloacutegicos e socioloacutegicos passa de 472 para34718 Eacute de se lamentar o nuacutemero de estudos que apareceram na deacutecada de 60 que esperamos natildeo ver de novoO ponto central era fazer uma lista dos manuais algumas vezes omitindo aqueles assuntos natildeo ensinados emescolas hoje em dia com comentaacuterios triviais anedoacuteticos e aleatoriamente selecionados algumas vezes natildeohavia nem mesmo uma bibliografia dos textos mencionados Esses estudos mostravam uma tendecircncia - erammal escritos aparentemente natildeo revisados e baseados em pressupostos ingecircnuos do papel rudimentar dosmanuais na moldagem dos liacutederes e da civi1izaccedilatildeogeral do paiacutes Harper G H Textbooks an under-usedSource History 01 Education Society Bulletin 25 1980 p 31

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 8: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

Coeckelberghs esforccedila-se em determinar certas caracteriacutesticas proacuteprias aomanual escolar e examina os principais meacutetodos de anaacutelise (qualitativos equantitativos) aos quais recorrem entatildeo os pesquisadores que tornam olivro escolar como objeto de estudo19 No ano seguinte aparece na Nova-Zelacircndia um artigo que expotildee como a anaacutelise dos manuais neozelandeses dofim do seacuteculo XIX fode contribuir para o conhecimento da histoacuteria -daeducaccedilatildeo neste paiacutes2 Alguns meses mais tarde satildeo publicados dois artigosum na Franccedila e outro na Gratilde-Bretanha que apoacutes estabelecer um raacutepidolevantamento da pesquisa nos respectivos paiacuteses discutem questotildees demeacutetodos e propotildeem uma seacuterie de pistas de pesquisa21 Essas ideacuteias deviamser retomadas e discutidas nos anos seguintes por numerosos pesquisadoresespecialmente na Es~anha22 na Greacutecia23 na Noruega24 em Portugaes naColocircmbia26 na Itaacutelia 7

O dinamismo comprovado nesse campo de pesquisa haacute mais devinte anos resulta da convergecircncia de fatores de natureza diversa

bull inscreve-se em primeiro lugar no desenvolvimento ocorridodepois dos anos 1960 nos estudos em histoacuteria da educaccedilatildeo e quetestemunham tanto a criaccedilatildeo de publicaccedilotildees perioacutedicas especiacuteficas como asassociaccedilotildees nacionais e internacionais Mas de uma maneira mais geral ahistoacuteria do livro e da ediccedilatildeo escolares beneficia-se do interesse quemanifestam nessas uacuteltimas deacutecadas os historiadores de profissatildeo como oscuriosos de histoacuteria pelas questotildees educativas assim na Franccedila entre 1962

19 CoeckelberghsHildeop cit p 7-2920 Mc GeorgeC M The Use of School-Booksas a Source for lhe Historyof Education 1878-1914NewZealand Joumal of Educationa Studies XIV 1979ndeg 2 p 138-15121 Choppin Alain Lhistoire des manuels scolaires une approche globale Histoire de reacuteducation ndeg9deacutecembre1980pI-25 HarperG H op cit History of Education Society Bulletin 25 1980p 30-40Oprimeiroanunciaos camposque seratildeo abertosno quadrodo programade pesquisaEmmanuelle o segundoque luta pela escrita de um laquoGuia para a pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolaresraquo teraacute um papelessencialno desenvolvimentodo Colloquiumfor Textbooks alguns anos mais tarde Sobre estas questotildeesver tambeacutem Choppin Alain Lhistorien face aux manuelsDocuments pour lhistoire du franccedilais longueeacutetrangere et seconde n 4 deacutecembre1989p 4-722 DelgadoBuenaventuraLos libros de texto como fuente para Ia historia de Ia EducacioacutenHistoria de IaEducacioacuten ndeg 2 1983p 353-358O artigoretomano essencialo conteuacutedoda contribuiccedilatildeode G H Harper23 KoulouriCbristinaScholikaencheiridiakai historikeereuna [=Manuaisescolarese pesquisahistoacuterica JMnemon li 1987p 219-22424 Johnsen Egil B~rreop cit p 58-60 O autor que analisa o conteuacutedodo artigo publicadoem 1980narevista Histoire de leacuteducation precisa laquoEacute o uacuteuico estudo teoacuterico um pouco maior que existe sobre oassunto raquo25 Pereira de MagalhatildeesJustino Um apontamentopara a histoacuteria do manualescolar entre a produccedilatildeo e arepresentaccedilatildeoin Vieira de Castro Rui RodriguesAngelina Silva Joseacute Luis Dioniacutesiode Sousa MariaLourdes (org) Manuais escolares Estatuto Funccedilotildees Histoacuteria Actas do I Encontro internacional sobremanuais escolares Braga Universidadedo Minho 1999p 279-30226 Alzate PiedrahitaMaria Victoria Goacutemez Mendoza Miguel Angel Romero Laaiza FernandoTextosescolaresy representacionessocialesde Ia familia I DefinicionesDimensionesy Camposde investigacioacutenSantafeacutede Bogotaacute UTP 1999p28-3827 Bianchini Paolo Una fonte per Ia storia dellistruzione e delleditoria in Italia iI libro scolasticoContemporanea m n01janvier2000 p 175-182

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 9: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

e 1985 a parte da histoacuteria do ensino na produccedilatildeo histoacuterica global foi I I d A 28mu tip lca a por tres

bull participa em segundo lugar dos avanccedilos que conhece a histoacuteria dolivro desde 1980 toda uma seacuterie de estudos importantes foram publicadosou estatildeo sendo publicados sobre a histoacuteria da ediccedilatildeo contemporacircnea aapariccedilatildeo dos tomos 3 e 4 de LHistoire de [eacutedition franccedilaise 29

recentemente seguida de LEdition franccedilaise depuis 19453deg constituiacuteramum modelo de referecircncia para numerosos outros paiacuteses e tiveram um papelconsideraacutevel nesse processo de desenvolvimento operando a siacutentese dostrabalhos anteriores e das pesquisas em curso e balizando imensosterritoacuterios ateacute entatildeo pouco ou ainda natildeo explorados31

bull eacute enfim indissociaacutevel do progresso das teacutecnicas dearmazenamento e de tratamento da informaccedilatildeo e em particular da rapidez edesenvolvimento a partir do iniacutecio dos anos 1980 dos sistemas degerenciamento de base de dados que sozinhos podiam trazer uma soluccedilatildeoadaptada agrave gestatildeo e ao tratamento de grande quantidade de documentosMas sobremdo permitindo capitalizar tratar e difundir os dados o acesso auma ferramenta inforrnaacutetica teve um efeito agregador favoreceu ascolaboraccedilotildees e as trocas e contribuiu assim agrave valorizaccedilatildeo do trabalho deequipe e ao desenvolvimento de redes cientiacuteficas

Os manuais representam para os historiadores uma fonteprivilegiada seja qual for o interesse por questotildees relativas agrave educaccedilatildeo agravecultura ou agraves mentalidades agrave linguagem agraves ciecircncias ou ainda agrave economiado livro agraves teacutecnicas de impressatildeo ou agrave semiologia da imagem O manual eacuterealmente um objeto complexo dotado de muacuteltiplas funccedilotildees a maioriaaliaacutes totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporacircneos Eacutefascinante - ateacute mesmo inquietante - constatar que cada um de noacutes tem umolhar parcial e parcializado sobre o manual depende da posiccedilatildeo que noacutesocupamos em um dado momento de nossa vida no contexto educativo

28 Caspard Pierre Histoire et historiens de Ieacuteducation en France Les Dossiers de leacuteducation 1988 ndeg 14middot15 p 9-2929 Chartier Roger Martin Henri-Jean (Dir) Histoire de leacuteditionfranccedilaise Paris Promodis 1982-1986(4 volumes)30 Foucheacute Pascal (Dir) LEditionfranccedilaise depuis 1945 Paris Editions du Cercle de Ia Librairie 199831 Sobre este aspecto ver as Atas do Coloacutequio laquoLes mutations du livre et de Ieacutedition dans le monde duXVllIe siecle agrave 130 2000 raquo que ocorreu em Sherbrooke (Queacutebec) de 9 a 13 de maio 2000 (no prelo)Michon Jacques et Mollier Jean-Yves (DIR) Les mutations du livre et de leacutedition du XV111esiece agrave Ina2000 Queacutebec Les Presses de 11Jniversiteacute Laval Paris L Harmattan 2001 597p

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 10: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

definitivamente noacutes soacute percebemos do livro de classe o que nosso proacutepriopapel na sociedade (aluno professor pais do aluumlno editor responsaacutevelpoliacutetico religioso sindical ou associativo ou simples eleitor ) nos instigaa ali pesquisaacute-Io

Nisso pode residir o principal contributo da anaacutelise histoacuterica porqueele se esforccedila em lanccedilar um olhar distanciado livre de contingecircncias sempolecircmicas o historiador pode distinguir e colocar em relaccedilatildeo as diversasfacetas desse objeto extremamente complexo que eacute o livro escolar Omanual estaacute efetivamente inscrito na realidade material participa douniverso cultural e sobressai-se da mesma forma que a bandeira ou amoeda na esfera do simboacutelico Depositaacuterio de um conteuacutedo educativo omanual tem antes de mais nada o papel de transmitir agraves jovens geraccedilotildees ossaberes as habilidades (mesmo o saber-ser) os quais em uma dada aacuterea ea um dado momento satildeo julgados indispensaacuteveis agrave sociedade paraperpetuar-se Mas aleacutem desse conteuacutedo objetivo cujos programas oficiaisconstituem a trama em numerosos paiacuteses o livro de classe veicula demaneira mais ou menos sutil mais ou menos impliacutecita um sistema devalores morais religiosos poliacuteticos uma ideologia que conduz ao gruposocial de que ele eacute a emanaccedilatildeo participa assim estreitamente do processode socializaccedilatildeo de aculturaccedilatildeo (ateacute mesmo de doutrinamento) da juventudeEacute igualmente um instrumento pedagoacutegico na medida em que propotildeemeacutetodos e teacutecnicas de aprendizagem que as instruccedilotildees oficiais ou osprefaacutecios natildeo poderiam fornecer senatildeo os objetivos ou os princiacutepiosorientadores Enquanto objeto fabricado difundido e consumido omanual estaacute sujeito agraves limitaccedilotildees teacutecnicas de sua eacutepoca e participa de umsistema econocircmico cujas regras e usos tanto no niacutevel da produccedilatildeo como doconsumo influem necessariamente na sua concepccedilatildeo quanto na suarealizaccedilatildeo material

Mas se os manuais constituem para o historiador uma fonteprivilegiada natildeo eacute somente pela riqueza e pela multiplicidade de olharesque ele pode impelir sobre eles

Em primeiro lugar o livro de classe situa-se na articulaccedilatildeo entre asprescriccedilotildees impostas abstratas e gerais dos programas oficiais - quandoexistem - e o discurso singular e concreto mas por natureza efecircmero decada professor na sua classe O manual constitui um testemunho escritoportanto permanente infinitamente mais elaborado mais detalhado maisrico que as instruccedilotildees que supotildee preparar

Seja qual for a importacircncia que concedermos aos manuais eles natildeoconstituem uma fonte isolada os regulamentos escolares os programas einstruccedilotildees os debates divulgados na imprensa de opiniatildeo ou nas revistasprofissionais os outros instrumentos ( cadernos cartas murais ) mas

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 11: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

tambeacutem as outras produccedilotildees contemporacircneas destinadas agrave juventude fora doacircmbito propriamente escolar constituem do mesmo modo meios dedesvelar os contextos institucionais poliacuteticos cientiacuteficos culturaisreligiosos pedagoacutegicos etc de sua concepccedilatildeo sua produccedilatildeo e seus usosNota-se aliaacutes que antes de se interessar pelo recenseamento dos manuaisescolares os historiadores geralmente se preocupam em inventariar osprogramas de ensino Em muitos paiacuteses como na Beacutelgica na Franccedila naItaacutelia ou em Portugal o inventaacuterio (e a anaacutelise) da imprensa pedagoacutegicaisto eacute das publicaccedilotildees perioacutedicas destinadas aos professores ou agraves famiacuteliasprecedeu o dos livros de classe

O manual se inscreve na continuidade salvo no caso em que umadisciplina venha a ser suprimida dos programas a produccedilatildeo dos manuaisnatildeo se esgota jamais novas obras substituem as ediccedilotildees julgadas obsoletas- esta eacute a regra nos paiacuteses que tecircm uma ediccedilatildeo de Estado - ou estabelecemuma concorrecircncia com produtos mais antigos fartamente reeditados Masessas reediccedilotildees natildeo se justificam somente pela renovaccedilatildeo das novasgeraccedilotildees e pelo desgaste material das obras a reediccedilatildeo natildeo conduznecessariamente a repetitividade A semelhanccedila dos tiacutetulos natildeo encobrenecessariamente um conteuacutedo idecircntico e as modificaccedilotildees trazidas ao textoou agrave iconografia natildeo ocorrem somente por ocasiatildeo de mudanccedilas doprograma

Agrave condiccedilatildeo de serem efetivamente acessiacuteveis os manuaisconstituem por um periacuteodo dado um corpus relativamente homogecircneo emque cada elemento pode ser a maioria das vezes datado com uma grandeprecisatildeo e o qual eacute muito faacutecil isolar dos subconjuntos coerentes (umadisciplina um niacutevel um periacuteodo uma editora ou uma combinaccedilatildeo dessesdiversos criteacuterios) eacute possiacutevel entatildeo exploraacute-Ios segundo os meacutetodos deanaacutelise ou dos tratamentos estatiacutesticos comparaacuteveis

Os manuais prestam-se portanto muito particularmente ao estudoserial Direcionando seu olhar aos manuais o historiador pode assimobservar a longo prazo a apariccedilatildeo e as transformaccedilotildees de uma noccedilatildeocientiacutefica as inflexotildees de um meacutetodo pedagoacutegico ou as representaccedilotildees deum comportamento social pode igualmente colocar sua atenccedilatildeo sobre asevoluccedilotildees materiais (papel formato ilustraccedilatildeo paginaccedilatildeo tipografia etc)que caracterizam os livros destinados agraves classes

Em uma loacutegica mais especificamente econocircmica os manuaisconstituem um produto cultural claramente identificado que se inscreve emum mercado que pode apresentar segundo o paiacutes caracteriacutesticas diversas -ateacute mesmo ser um monopoacutelio de Estado - mas que in fine natildeo eacute extensiacutevela escolha de uma obra exclui todos os seus eventuais concorrentes Ohistoriador pode assim prender-se agraves condiccedilotildees de sua produccedilatildeo de sua

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 12: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

difusatildeo agrave histoacuteria das empresas que contribuiacuteram e ao papel mais ou menosessencial que tiveram os poderes puacuteblicos

Se nos colocarmos em uma perspectiva mais propriamentepedagoacutegica os manuais podem igualmente constituir um indicador preciosoda atividade dos alunos o historiador pode assim interrogar-se sobre osusos dos manuais estudando por exemplo as anotaccedilotildees ou os grafites quepode comportar pode interrogar-se mais detalhadamente sobre a delicadaquestatildeo de sua recepccedilatildeo ateacute mesmo de sua suposta eficaacutecia

Enfim os manuais constituem um objeto de pesquisa que se prestaparticularmente aos estudos comparados Certamente o livro de classe podeser - e eacute quase sempre - vetor de uma certa ideacuteia nacional e mesmo de umnacionalismo exagerado Eacute aleacutem disso em um quadro nacional que seinscrevem discursos oficiais e polecircmicos tambeacutem eacute nessa perspectiva quese orientam espontaneamente a maioria das pesquisas em certos paiacuteses32

consagrando um mesmo capiacutetulo especial agraves especificidades regionais oulocais Entretanto a literatura escolar natildeo eacute imune a influecircncias exteriorescopia sistemas de controle da produccedilatildeo ou difusatildeo traduccedilotildees ou adaptaccedilotildeesde obras da instalaccedilatildeo de empresas ou de filiais Assim os manuaistranscendem paradoxalmente as fronteiras nacionais mesmo a afirmaccedilatildeode uma identidade nacional agrave primeira vista singular irredutiacutevel apoia-seem procedimentos comuns na verdade copiados cabe ao historiadorestudar a emergecircncia ou dar prosseguimento Acontece o mesmo com osmeacutetodos textos ilustraccedilotildees paginaccedilotildees estrateacutegias editoriais meacutetodos defabricaccedilatildeo Os manuais constituem desse modo referecircncias que permitemao historiador reconstituir os canais de propagaccedilatildeo das ideacuteias e as vias decirculaccedilatildeo dos capitais

O fato mais relevante desse uacuteltimo quarto de seacuteculo natildeo reside nocrescimento e na diversificaccedilatildeo dos estudos que se interessam pelosmanuais antigos sob um acircngulo ideoloacutegico ou socioloacutegico mesmo se aproliferaccedilatildeo de publicaccedilotildees recentes possa deixar a imaginar A anaacutelise daproduccedilatildeo cientiacutefica recente revela vaacuterias tendecircncias fortes primeiramentecaracteriza-se pela apariccedilatildeo e pelo desenvolvimento de trabalhos quemesmo permanecendo fieacuteis aos meacutetodos claacutessicos de anaacutelise de conteuacutedoinvestem nas disciplinas nos niacuteveis de ensino ou nos setores ateacute entatildeo

32 Eacute por exemplo o caso da Espanha onde a pesquisa leva em conta as particularidades da histoacuteria dosmanuais catalatildes galiacutecios e bascos Ver Escolano Benito Agusuacuten (Dir) Historia ilustrada delibra escolaren EspaiUl Madrid Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez 1997-19982 vol de 650 amp 57Op

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 13: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

negligenciados e numerosos trabalhos inscrevem-se em novas perspectivasnas quais o manual eacute somente visto como um produto cultural elaboradofabricado comercializado consumido em um contexto dado Satildeo assimabertos pela iniciativa de pesquisadores isolados ou no contexto dosprogramas nacionais ou internacionais uma grande seacuterie de campos quecontribuem a escrever a prazo uma histoacuteria globalizante da literaturaescolar inventaacuterio historiograacutefic033 recenseamento da produccedilatildeo

134 d fi - d fu d d 35 I - d dnaclOna 1 entl caccedilao os n os lspomvels evo uccedilao os qua roslegislativos e dos regulamentares36 inventaacuterio e histoacuterico das editorasescolares37 histoacuteria econocircmica do setor editorial sociologia dos autores de

33 Assim no Brasil Universidade Estadual de Campinas O que sabemos sobre livro didaacutetico cataacutelogoanalftico Campinas Editora da UNICAMP 1989 256p na Franccedila Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en Frarue de 1789 agrave nos jours Tome 7 Bilan des eacuteludes et recherches Paris INRP 1995 159p no Canadaacute Aubin Paul Le manuel scolaire dans lhistoriographie queacutebeacutecoise Sherbrooke GRELQ1997 151p (Compleacutement wwwbiblulavalcaressmanscoVpubrechtml)34 Muitos projetos em que a ambiccedilatildeo eacute recensear de maneira exaustiva toda ou parte da literatura escolarnacional foram lanccedilados a partir da metade dos anos 70 a maioria resultou em publicaccedilotildees na Beacutelgica ainiciativa das Universidades de Gand e de Louvain na Hungria a da Orzagaacutegos Pedag6giai KotildenyvtaacutereacutesMuacutezeum de Budapest no Quebec a da Universidade de Laval na Franccedila Institut national de recherchepeacutedagogique (programa EmmanueUe) em Ontaacuterio na Universidade de Ottawa (programa Masc) naEspanha o UNED (programa Manes que congrega a maioria das universidades espanholas e hojenumerosas universidades da Ameacuterica Latina envolvidas no recenseamento de suas produccedilotildees nacionaisrespectivas) em Portugal pela Universidade do Minho de Braga (programme Eme) no Brasil em diversoscentros de pesquisa entre eles a Universidade de Satildeo Paulo na Alemanha em torno do Geatg-Eckert-Institut de Braunschweig na Itaacutelia a iniciativa da Universidade de Turin ele tambeacutem encontramos outrasiniciativas mais lintitadas35 Eacute o cantinho adotado pela maioria dos paiacuteses para salvaguardar o que ainda for possivel36 Parvin Viola Elizabeth Aulhorization of textbooks for lhe scbools of ODtarlo 1846-1950 [Toronto) Published in association wilh lhe Canadian Textbook Publishers lnstitute by University of Toronto Press[1965) 161 p Muumlller Walter Schulbuchzulassung Zur Geschichte und Problematik staatlicherBevormundung von Unterricht und Erziehung Kastellaun A Henn 1976 Masafunti Kajiyama kindainihon kyocirckashoshi kenkyQ - meijiki kentei seido no seiritsu to hocirckai [=Pesquisas sobre a hist6ria dosmanuais escolares do Japatildeo contemporatildeneo - O laquosistema de manuais autorizadosraquo da eacutepoca Meiji da suainstauraccedilatildeo agrave sua derrocada] Kyoto Minerva shobocirc 1988 416p Choppin Alain (Dir) Les manuelsscolaires en France de 1789 agrave nos jours Tome 4 Textes officiels 1791-1992 preacutesenteacutes par Alain Choppin etMartine Clinkspoor Paris lNRP Publications de Ia Sorbonne 1993 591p Koulouri ChristinaVenturas Ekaterini Les Manuels scolaires dans rEtat grec 1834-1937 Histoire de leacuteducation ndeg 58 mai1993 p 9-26 Bittencourt Circe Maria femandes Livro didaacutetico e conhecimento hist6rico uma hist6ria dosaber escolar Satildeo Paulo USPIFFCH 1993 369 p De Leonardis Patrick Vallotton Franccedilois Leacutegislationpolitique et eacutedition au XIXe siece le cas des manuels dhistoire dans le canton de Vault Revue historiquevaudoise 1997 p 19-56 Villalaiacuten Benito Joseacute Luis Manuales escolares eu Espaila Tomo I Legislaciacuteon(1812-1939) Estudio prelintinar de Manuel de Puelles Beniacutetez Madrid UNED 1997 392p ele Umtrabalho sobre a histoacuteria da regulamentaccedilatildeo eacute atualmente preparado na Itaacutelia sob a direccedilatildeo de GiorgioChiosso da Universidade de Turin37 Um inventaacuterio sistemaacutetico estaacute em curso na Franccedila dentro do programa de pesquisa Emmanuelle O bancode dados (13000 referecircncias hoje) acessiacutevel a partir de agosto de 2001 no site do INRP httpwwwinrpfrUm programa de envergadura tambeacutem foi lanccedilado na Itaacutelia por iniciativa da Universidade de Turin (verChiosso Giorgio (a cura di) 11Libro per Ia scuola Ira Selte e Oltacento Brescia Editrice La Scuo1a 2000424p) Depois de alguns anos multiplicam-se as pesquisas sobre a hist6ria de uma editora escolar particular(especialmente na Franccedila na Espanha na Itaacutelia no Brasil no Meacutexico ele)

manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

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manuais evoluccedilatildeo da estrutura de produtos anaacutelise de sua difusatildeo e de sua_ 38recepccedilao etc

Vemos assim depois de uns vinte anos coexistir duas concepccedilotildeesde pesquisa histoacuterica sobre os manuais escolares

Uma inscreve-se em uma longa tradiccedilatildeo liga-se a uma correntehistoriograacutefica que vecirc o manual como um documento histoacuterico entre outrosO principal interesse em analisar os conteuacutedos dos livros escolares resideentatildeo como assinala de imediato a maioria dos pesquisadores nainfluecircncia que teriam exercido na formaccedilatildeo das mentalidadesExaustivamente afirmada mas jamais provada a eficaacutecia dos manuaisconstitui-se hoje como objeto de um debate controverso Ateacute os anos 1980era correntemente admitido pela comunidade dos historiadores que osmanuais tinham um efeito importante na formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildeesTomitarocirc Karasawa natildeo hesita ao lanccedilar a monumental obra que em 1956trata da histoacuteria dos manuais escolares japoneses em afirmar que satildeo osconteuacutedos dos manuais que forjaram os japoneses39 Eacute aliaacutes a aceitaccedilatildeodesse postulado que demiddot um lado explica o controle cerrado exercido porvaacuterios Estados sobre seus manuais nacionais e que por outro ladofundamenta a legitimidade de todas as inciativas tomadas depois do fim doseacuteculo XIX pela comunidade cientiacutefica internacional visando a extirpardos manuais todos os esterioacutetipos ou representaccedilotildees atentatoacuterias agravedignidade do outro Portanto parece que alguns estudos recentes sobre essecampo levam a relativizar o papel tradicionalmente atribuiacutedo ao manual40

A outra que aparece a partir dos anos 1980 repousa sobre umaconcepccedilatildeo ecoloacutegica da literatura escolar - visa apreender o manual nocontexto global e especialmente dar novo contexto ao seu discurso olivro de classe natildeo eacute mais entatildeo considerado em um processoescandalosamente redutor como resultado de um processo intelectual (oueditorial) como depositaacuterio de um conteuacutedo mas como um instrumento deensino indissociaacutevel do emprego para o qual foi criado (ou do emprego quedele tenha sido feito) Porque satildeo geralmente os estudantes - mas tambeacutemagraves vezes os universitaacuterios - que natildeo tecircm um conhecimento iacutentimo dasrealidades do ensino primaacuterio ou secundaacuterio nem das profissotildees ligadas agrave

38 Sobre a evoluccedilatildeo da pesquisa depois dos anos 70 e sobre as tendecircncias atuais ver Choppin AlainlaquoLHistoire de Ieacutedition scolaire en France aux XIXe et XXe siecles bilan et perspectives raquo Annali distoria deUeducazione e deUe istituzioni scholastiche 4 (1997) p 9-32 Ver tambeacutem do mesmo Lhistoiredu livre et de Ieacutedition scolaire dans le monde vers un premier eacutetat des lieux in Actes du XXDe Congres deISCHE (Alcala de Henares septembre 2000) a ser editado no proacuteximo nuacutemero da revista PaedagogicaHistorica39 Karasawa Tomitarocirc kyocirckasho no rekishi - kyocirckasho to nihonjin no keisei [Histoacuteria dos manuais escolares- os manuais escolares e a formaccedilatildeo dos japoneses) Tokyo Socircbusha 1956 882p40 Ver entre outros os traba1hos de Christophe Caritey no Canada os de Antoon de Baets nos PaiacutesesBaixos ou os de Kajiyama Masafumi no Japatildeo

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

Page 15: Alain Choppin - Dialnet · 2017. 1. 27. · English grammar schools to 1660 : their curriculum and practice. London : Cass, 1968, X-548 p. cuja primeira edicao, em Cambridge, remonta

ediccedilatildeo e de suas dificuldades o tema de certas pesquisas pode algumasvezes fazer sorrir assim na perspectiva tradicional que reconhece oslivros de classe como instrumentos poderosos da formaccedilatildeo de mentalidadesanalisar minuciosamente a representaccedilatildeo de um acontecimento ou de umtema que aparece tatildeo somente nos uacuteltimos capiacutetulos dos manuais temverdadeiramente sentido quando sabemos que os professores raramenteacabam o programa Da mesma maneira dissertar sobre a escolha docorpus textual ou iconograacutefico desconsiderando as questotildees ligadas agravepropriedade literaacuteria e agrave aquisiccedilatildeo dos direitos de reproduccedilatildeo pode conduzira conclusotildees incertas

Enfim porque o manual eacute visto tradicionalmente como um siacutemboloda identidade nacional as pesquisas sobre o livro e a ediccedilatildeo escolaresdificilmente saem - mesmo quando adotam uma perspectiva comparativa -do contexto nacional Se a imensa maioria dos trabalhos contemporacircneosnatildeo foge sempre dessa visatildeo endoacutegena especialmente nos paiacuteses quemantecircm por diversas razotildees o culto da identidade nacional vemos poreacutemmultiplicar-se haacute alguns anos pesquisas que se interessam pela circulaccedilatildeode capitais e de ideacuteias o estudo das estrateacutegias econocircmicas das editoras aanaacutelise dos acervos pedagoacutegicos especializados como os das bibliotecas dasescolas normais o estudo criacutetico minucioso dos produtos (comparaccedilatildeo dasilustraccedilotildees dos textos da paginaccedilatildeo da tipografia dos manuais etc) visamcolocar em evidecircncia influecircncias e empreacutestimos

A extensatildeo e a diversificaccedilatildeo do campo e das perspectivas dapesquisa histoacuterica que caracterizam esses uacuteltimos vinte anos eacuteacompanhada da conscientizaccedilatildeo da necessidade de definir quadrosmetodoloacutegicos precisos e aceitaacuteveis para todos GR Rarper escreveu em1980 laquoThe most practicable way of achieving a good standard ofscholarshipJ seem to be the preparation of a comprehensive and balancedguide to textbook research This would present useful information thevariety of approaches possible in textbook research and the principIe

41problems encountered raquo

O universo dos manuais escolares eacute frequumlentemente consideradocomo um dos principais campos de manipulaccedilatildeo nos quais atuam os jovens

41 bullbull o modo mais viaacutevel de atingir-se (um bom padratildeo de escolaridade) parece ser a preparaccedilatildeo de um guiaabrangente e equilibrado de pesquisa de manuais Ele nos apresentaria informaccedilotildees uacuteteis variedade deabordagens possiacuteveis em pesquisa com manuais e os principais problemas encontrados Harper G H opcit p 37-38

pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

45 Vao Leeuwen Theo The Schoolbook as a Multimodal Texl Internationale SchulbuchforschungZeitschrift des Georg-Eckert-Instituts 14 1992 I p 35-58

Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

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pesquisadores Natildeo eacute talvez inuacutetil tratar aqui ra~idamente e sem umaordem preestabelecida alguns pontos do meacutetodo 2 Essas observaccedilotildeesresultado de discussotildees com estudantes e a leitura criacutetica de seus trabalhosdizem respeito essencialmente agraves anaacutelises de conteuacutedo que constituem aindao melhor da produccedilatildeo acadecircmica sem nenhuma pretensatildeo agrave exaustividade

Levando em consideraccedilatildeo a abundacircncia da produccedilatildeo e dasnumerosas ediccedilotildees o pesquisador que empreende a anaacutelise de um corpuslimita-se geralmente por obrigaccedilatildeo material ou por escolha agrave anaacutelise deuma amostra O mais frequumlente deseja deter-se somente nos manuais osmais utilizados mas natildeo pode conhecer a quantidade de tiragem Eacute aassociaccedilatildeo de quatro criteacuterios que podem entatildeo lhe dar uma indicaccedilatildeosobre a difusatildeo de um livro escolar a duraccedilatildeo da vida editorial (diferenccedilaentre as datas da uacuteltima e da primeira ediccedilatildeo) o nuacutemero de ediccedilotildeesdeclaradas (mas a estrateacutegia dos diferentes editores natildeo eacute idecircntica e arealidade das ediccedilotildees anteriores natildeo eacute sempre assegurada) o nuacutemero dasediccedilotildees indicadas pelas bibliografias e por fim o nuacutemero de exemplaresconservados Tal escolha eacute legiacutetima mas eacute preciso estar consciente do queisso implica esse tipo de teacutecnica de amostragem s6 ser justificada sob umponto de vista econocircmico (produccedilatildeo e difusatildeo) ou na hip6tese - tradicional- de uma influecircncia dos manuais sobre a formaccedilatildeo das mentalidades Aocontraacuterio sob o ponto de vista da produccedilatildeo intelectual levar tambeacutem emconta os menos utilizados poderia por em evidecircncia inovaccedilotildees que satildeogeralmente imperceptiacuteveis que digam respeito aos conteuacutedos aos meacutetodosagraves estrateacutegias pedag6gicas agrave paginaccedilatildeo ou agrave tipografia etc isso exposto eacutenecessaacuterio ser realista e convincente nas argumentaccedilotildees metodol6gicas quevisam legitimar definitivamente o uso uacutenico de alguns manuais quepuderam ser encontrados (o que se conhecer a hist6ria do acervo tambeacutem eacutesignificativo)

O grau de liberdade desfrutado pelos autores para conceber e redigirsuas obras eacute um elemento essencial para caraterizar a mensagem veiculada

42 o estudo do manual necessita que se tome algumas precauccedilotildees Cf Caspard Pierre De Ihorrible dangerdune analyse superficielle des manuels scolaires Histoire de leacuteducation 21 Ganvier 1984) p 67middot74Choppin Alain Les Manuels scolaires histoire et actualiteacute Paris Hachette Eacuteducation 1992 p 198-200

pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

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Alain Choppin eacute Maitre de Confeacuterences en Histoire de IeacuteducationUniversiteacute Paris 5 - Reneacute Descartes responsaacutevel de pesquisa no InstitutNational de Recherche PeacutedagogiqueService dhistoire de Ieacuteducation (URACNRS 1397) Coordena o programa de pesquisa Emmanuelle 29 ruedUlm 75230 Paris Cedex 05 (Franccedila)E-mail achoppinimpfr

Maria Helena Camara Bastos eacute Doutora em Histoacuteria e Filosofia daEducaccedilatildeo pela USP Professora Titular em Histoacuteria da Educaccedilatildeo noPPGEDUIUFRGS Pesquisadora do CNPQE-mail mbastosvoyzazcombr

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pelo manual O manual pode divulgar discursos muito diferentes segundoas eacutepocas eou os paiacuteses pode ser o produto da livre concorrecircncia entre asempresas privadas que permitem a expressatildeo de concepccedilotildees diversas ateacutemesmo opostas pode ao contraacuterio se a administraccedilatildeo exercer um controlea priore representar e desenvolver mais ou menos fielmente o discurso dainstituiccedilatildeo pode tambeacutem nos paiacuteses totalitaacuterios reduzir-se O estudo dosmanuais eacute aliaacutes indissociaacutevel da anaacutelise das limitaccedilotildees teacutecnicas quepresidem a sua realizaccedilatildeo material e da consideraccedilatildeo dos circuitoseconocircmicos e comerciais nos quais se insere em uma dada eacutepoca suaproduccedilatildeo e difusatildeo A proacutepria redaccedilatildeo de um manual natildeo eacute um puro atopedagoacutegico constitui um compromisso entre preocupaccedilotildees e imperativosde natureza diversa didaacutetica e pedagoacutegica certamente mas tambeacutemteacutecnica financeira esteacutetica comercial

Um manual eacute o produto de uma eacutepoca mas seu sucesso editorialatestado pela sua longevidade e pelas suas numerosas reediccedilotildees o maisseguidamente sem modificaccedilotildees e seu reemprego nas classes implica umadefasagem no tempo que pode ser consideraacutevel Eacute essencial ter em contavisto que coexistem nas classes na mesma eacutepoca reediccedilotildees de obrasrespeitaacuteveis e novidades Na medida em que o principal interesse comercialdo manual reside na sua longevidade ele imobiliza efetivamente arealidade que descreve e a loacutegica econocircmica natildeo faz mais que acrescentar adiferenccedila inerente a todo manual entre o saber sabido e o saber ensinadoentre a realidade social e a imagem que eacute apresentada Tal defasagem levaaliaacutes ao anacronismo A mais frequumlente diz respeito agraves mentalidades e natildeo eacuteraro que pesquisadores emitam sem o saberem um julgamentoretrospectivo sobre os manuais que veiculam mensagens racistasantifeministas ou de uma maneira mais geral opiniotildees pouco compatiacuteveiscom os valores pregados na sua sociedade Mas haacute outras manifestaccedilotildeesnatildeo menos perversas deste anacronismo assim a anaacutelise ou a criacutetica deuma teoria cientiacutefica exposta em um manual deve fazer referecircnciaunicamente a elementos cujos autores podiam ter conhecimento nomomento da redaccedilatildeo da obra e natildeo agravequeles que dispomos hoje

Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

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Os autores de manuais natildeo pretendem somente descrever asociedade mas tambeacutem transformaacute-Ia o manual apresenta uma visatildeodeformada limitada ateacute mesmo idiacutelica da realidade constituindo umapurificaccedilatildeo Tende por razotildees de ordem pedagoacutegica agrave esquematizaccedilatildeochegando ateacute a inexatidatildeo por simplificaccedilatildeo ou por omissatildeo especialmentequando se destinam aos niacuteveis menos elevados O manual funciona assimao mesmo tempo como um filtro e como um prisma revela bem mais aimagem que a sociedade quer dar de si mesma do que sua verdadeira faceO manual impotildee uma hierarquia no campo dos conhecimentos uma liacutenguae um estilo Se um livro de classe eacute necessariamente redutor as escolhasque satildeo operadas por seus idealizadores tanto nos fatos como na suaapresentaccedilatildeo (estrutura paginaccedilatildeo tipografia etc) natildeo satildeo neutras e ossilecircncios satildeo tambeacutem bem reveladores existe dos manuais uma leitura emnegativo

O que os manuais pretendem mostrar tem por isso menos interessepara o historiador do que a maneira como satildeo feitos Estudar por exemploa imagem que os manuais americanos apresentam dos Negros apreende-sebem mais sobre a sociedade americana contemporacircnea que sobre osproacuteprios Negros pois o discurso sobre o Outro remete uma certa imagemdaquele que a tem43 Haacute portanto nos manuais tambeacutem uma leitura emespelho Mas o que eacute marcante natildeo eacute somente a escolha dos textos e dasilustraccedilotildees mas os procedimentos retoacutericos os questionamentos asdefiniccedilotildees a paginaccedilatildeo ou a tipografia

Aqui sem duacutevida estaacute a especificidade do objeto manual Ummanual natildeo eacute um livro que lemos mas um instrumento que usamos Acomplexidade do manual - e por consequumlecircncia de sua anaacutelise - vem do fatoque ele assume funccedilotildees muacuteltiplas (e com o passar do tempo satildeo mais emais numerosas44) junto aos diversos destinataacuterios (alunos professoresfarm1ias ) cujas expectativas variam segundo os momentos (professorpreparando sozinho o seu curso professor lecionando etc) Eacute a tomada de

43 Carpenter Marie Elizabelh (Ruffin) The treatment of the Negro in American history school texthooks acomparison of changing textbook content 1826 to 1939 with developing scholarship in the history of lheNegro in lhe United Slates Menasha (Wisconsin) George Bania Publishing Company 19414-137 p44 Podemos ainda isolar mais de vinte funccedilotildees nos manuais escolares franceses contemporacircneos

consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

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consciecircncia da dimensatildeo dinacircmica do manual (ele soacute existe em definitivopelos usos que dele fazemos) o que falta agrave maioria dos trabalhos deanaacutelise Se essa observaccedilatildeo parece evidente quando olhamos os manuaismodernos cuja estrutura espetacular natildeo possibilita mais uma leituracontinuada ela tambeacutem natildeo eacute mais sem objeto quando nos interessamospelos manuais mais antigos O percurso linear que propotildeem natildeo exclui demaneira alguma que sejam atribuiacutedos aos textos ou agraves ilustraccedilotildees statusdiversos isto eacute funccedilotildees didaacuteticas especiais se essa diferenciaccedilatildeo era entatildeomais frequumlentemente expliacutecita (Questotildees Exerciacutecios Resumo )poderia tambeacutem ser identificada pela paginaccedilatildeo ou por caracteriacutesticastipograacuteficas recorrentes em uma palavra pelo paratexto Evidentementeem um manual tudo natildeo figura no mesmo plano45 desconhecer ounegligenciar a dimensatildeo didaacutetica dos manuais compromete a validade dasconclusotildees de muitas anaacutelises de conteuacutedo

Por um lado a onipresenccedila dos livros escolares e o peso econocircmicoque representa esse setor na paisagem editorial destes dois uacuteltimos seacuteculospor outro lado a complexidade do manual escolar como produto cultural eeditorial justificam amplamente o interesse crescente que lhe destinam oshistoriadores haacute mais de vinte anos no mundo inteiro Mas para que essetrabalho cientiacutefico seja de qualidade duas condiccedilotildees devem ser observadas

bull inicialmente um trabalho de coleta e de tratamento sistemaacutetico dasfontes eacute preciso empreender ou proceder a constituiccedilatildeo e aodesenvolvimento de grandes instrumentos de pesquisa monografias deeditoras repertoacuterios de textos oficiais ou bancos de dados bibliograacuteficos ecolocaacute-Ias tanto quanto possiacutevel agrave disposiccedilatildeo da comunidade cientiacuteficaatraveacutes da internet

bull em segundo lugar um trabalho de reflexatildeo metodoloacutegica uma dascaracteriacutesticas essenciais da pesquisa sobre o livro e ediccedilatildeo escolares eacute suainterdisciplinariedade no sentido amplo e um dos principais perigos aosquais se expotildee qualquer pesquisador trabalhando soacute isolado eacute de dar a umarealidade complexa uma anaacutelise reducionista ateacute mesmo errocircnea Entatildeo seo manual eacute o produto de competecircncias diversas por que natildeo seria o mesmopara a pesquisa que o toma como objeto

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