Upload
cultura-sub
View
215
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Editora Cultura Sub desvenda os mistérios e a beleza do Arquipélago dos Alcatrazes Oásis de vida no litoral norte de São Paulo, unidade de conservação e possível Parque Nacional Marinho é fonte de pesquisa e imagens inéditas feitas por Cristian Dimitrius e Fernando Clark registradas na obra “Alcatrazes” Poucos conhecem a belíssima região localizada a 45Km de São Sebastião, o Arquipélago dos Alcatrazes. Para os privilegiados que podem visitar essas ilhas, entretanto, adquire ainda mais magia e mistério na medida em que as descobertas sobre sua fauna e flora singulares se desvendam. O livro “Alcatrazes” retrata a história, os tempos, os singulares habitantes e as ameaças que rondam esse repositório de biodiversidade e laboratório da evolução dando força as razões para a campanha em curso para transformar o arquipélago em Parque Nacional Marinho e, enfim, reconhecer seu inestimável valor para o Brasil e para o planeta.
Citation preview
ALC
AT
RA
ZE
SFotos: C
ristian Dim
itrius e Fernando Clark
F o t o s C r i s t i a n D i m i t r i u s e F e r n a n d o C l a r k
ALCATRAZESAutores Guilherme Kodja | Fernando Zaniolo Gibran | Kelen Luciana Leite | Rodrigo Leão de Moura | Ronaldo Bastos Francini-Filho
3
Rochas alcalinas que integram-se ao continente, estando interligadas via leito oceânico com a Serra do Mar.Alkaline rocks join the continent through the ocean floor, linking with the Serra do Mar coastal range.
Batizado assim graças a abundância dos “Alcatrazes” nome
pelo qual eram conhecidas as aves marinhas que ali formam
o maior ninhal da América Latina, as fragatas (Fregata
magnificens). Este conjunto de rochas alcalinas formado entre 79
e 80 milhões de anos integrava-se ao continente como hoje é
conhecido, estando interligado por terra com a Serra do Mar e
demais formações insulares da região.
Esta inconfundível paisagem que hoje é percebida no
horizonte de quem avista Alcatrazes do continente teve origem no
período geológico denominado Quaternário (também conhecido
como Neozóico), há cerca de 20.000 anos. O Arquipélago apresenta
vários indícios desta sua ligação com o continente. Este período que
se iniciou há 1,6 milhões de anos e se estende até hoje foi marcado
por alterações climatéricas de grande impacto. Houve invasões de
vastas áreas da América do Norte, Noroeste da Europa e também
da América do Sul e Oceania por espessas camadas de gelo, o que
ocasionou uma grande redução no nível dos oceanos. Antes que
o nível dos oceanos voltasse a subir atingindo o patamar de hoje,
passaram-se 10.000 anos, o que permitiu que diversos animais
terrestres migrassem para este sítio que atualmente se preserva
com espécies de rara beleza e muitas vezes únicas na natureza.
N amed for the abundance of Alcatrazes, name by which the
Frigatebirds (Fregata magnificens), who built there the largest
nesting site of the species in Latin America, were known, this
cluster of alkaline rocks formed some 79 to 80 million years ago was
once connected to the mainland and the coastal range of Serra do Mar
as well as other islands in the region.
This unmistakable landscape now perceived at the horizon of
those looking at Alcatrazes from the continental shores was originated
in the geological period known as Quaternary (also called Neozoic),
some 20,000 years ago. The Archipelago harbors several vestiges of its
former connection to the continent. This period which began at about
1.6 million years and extends to the present day was marked by several
climactic changes of great relevance. Thick ice sheets invaded large areas
of North America, Northwestern Europe and also South America and
Oceania, leading to much lower ocean levels. Before the new rise of these
levels, attaining their current state, 10,000 years passed, allowing several
terrestrial animals to migrate to this site currently preserving species of
rare beauty and which sometimes are unique in nature.
A HISTÓRIA POR TRÁS DO ARQUIPÉLAGOthe island dreams the HISTORY BEHIND THE ARCHIPELAGO
Guilherme Kodja
ALCATRAZES
2
Assim, pelos estudos existentes, o Arquipélago dos Alcatrazes
existe como hoje o admiramos há aproximadamente 12.000 anos.
O Arquipélago dos Alcatrazes é formado por cinco ilhas além de
Alcatrazes: Sapata, Paredão, Por to ou do Farol e Sul, além de quatro
ilhas menores (não nominadas), cinco lajes: Dupla, Singela, do Paredão,
do Farol e Negra, além de dois parcéis, Nordeste e Sudoeste. Sua área
total é de 170 ha² e seu ponto mais alto, o pico da Boa Vista, alcança
316 metros de altura. Vivem aqui aproximadamente 160 espécie de
peixes entre residentes e de passagem e nada menos que 170 espécies
de plantas e mais de 20 espécies de animais endêmicos.
Os indígenas da região, predominantemente do povo dos
Tupinambás, já haviam batizado a ilha principal do Arquipélago, de Uraritã,
uma referência a grande rocha que emerge do mar em direção ao céu.
Mantinham um enorme respeito pela ilha, pois era considerado
um lugar encantado, onde se avistavam miragens e se cultuavam temores
locais. Alguns historiadores acreditam que isso se devia a sua imponente
geologia, a distância do continente e ainda os difíceis acessos a ela.
Para a cultura ocidental moderna, também conhecida como a do
“homem branco”, o primeiro relato marítimo oficial sobre o Arquipélago
remonta os idos de 1530 pelas mãos de Pero Lopes Souza, que foi quem
a avistou na nau que comandava durante a expedição empreendida pela
Coroa Por tuguesa e chefiada por seu irmão e dignatário da capitania
hereditária de São Vicente, Mar tim Afonso de Souza.
Nesta opor tunidade a ilha foi usada como entreposto de
abastecimento para as naus que após coletar aves, peixes e madeira
deixavam a região em direção ao sul.
Com a corrida pela exploração do então batizado “Mundo
Novo” empreendida pelos por tugueses e espanhóis, várias expedições
tentaram, mas sem sucesso, desbravar o litoral da região, sempre com
segundas intenções, no caso, a busca do caminho lendário que sairia da
região de Ber tioga e seguiria até os domínios do rei Branco, nos Andes,
onde acreditavam haver riquezas fenomenais.
Therefore, according to existing studies, Alcatrazes Archipelago has
been shaped as we now admire it for the last 12,000 years approximately.
The Archipelago is comprised of five islands besides Alcatrazes: Sapata,
Paredão, Porto or do Farol, and Sul, plus four minor unnamed islets, five
rocks (Dupla, Singela, do Paredão, do Farol and Negra) and two shoals,
Nordeste and Sudoeste. Its total area is some 170 hectares and its highest
point is Boa Vista Peak with 316 meters above sea level. Some 160 species
of fish, between residents and pelagics, are found here, as well as 170
species of plants and 20 species of endemic wildlife.
Indians from the region, predominantly from the Tupinambá people,
already knew the main island of the Archipelago as Uraritã, a name for the
big rock which emerges from the ocean towards the sky.
They had enormous respect for the island, as it was considered a
haunted place, where mirages were seen and local fears brewed. Some
historians believe that this was due to its fearsome geology, distance from
shore and difficulty to reach it.
For modern western culture, also known as ‘white man’s’, the first
official maritime report on the Archipelago reaches back to 1530 through
the hands of Pero Lopes Souza, who first sighted it from the nao he
commanded during the expedition undertaken by the Portuguese Crown
and led by his brother and dignitary of the hereditary captainship of São
Vicente, Martim Afonso de Souza.
At that opportunity the island was used as a resupplying station for
the ships, which after the gathering of birds, fish and wood, would leave the
region towards the south.
With the rush to explore the then-called “New World” undertaken
by the Portuguese and Spanish, several expeditions tried unsuccessfully to
open up the region´s coast, always with second intentions, in this case the
search for the legendary trail which would begin in the region of Bertioga
and reach the dominion of the White King in the Andes, where phenomenal
riches were believed to exist.
O belo amanhecer, vista de um dos pontos mais altos da Ilha de Alcatrazes.A pretty dawn seen from one of the highest points in Alcatrazes Island.
ALCATRAZES
4 5
Bromélia que abriga a Scinax alcatraz, espécie endêmica da Ilha de Alcatrazes.A bromeliad which harbors Scinax alcatraz, an endemic species from Alcatrazes Island.
Detalhe da flor da bromélia.Detail of the bromeliad flowers.
ALCATRAZES
6 7
98
O Arquipélago dos Alcatrazes é formado por cinco ilhas além da ilha principal de Alcatrazes, ao lado a Ilha do Oratório.The Alcatrazes Archipelago is formed by five islands besides the main Alcatrazes Island; to its right side is Oratório Island.
ALCATRAZES
Com essas visitas cada vez mais frequentes outros relatos de
europeus que estiveram no litoral brasileiro, surgiram durante o século
XVI. Um dos mais famosos foi o alemão Hans Staden que esteve no
Brasil por duas vezes e numa delas permaneceu prisioneiro por nove
meses nas mãos dos indígenas da região de São Vicente. Em 1551 ele
relatou sua passagem pelo Arquipélago inclusive informando sobre os
primeiros registros históricos oficiais da depredação da fauna marinha
local pelo homem, e ainda a exploração do local com mais detalhes que
revelaram vestígios de uso da ilha pelos indígenas:
Deixamos o porto de Imbeaçú-pe [...] e alcançamos, depois
de dois dias pouco mais ou menos e de uma viagem de
cerca de 40 milhas, uma ilha, a dos Alcatrazes, aí precisamos
ancorar, porque recebíamos vento contrário. Na ilha havia
muitas gaivotas marinhas, chamadas alcatrazes. Como era
tempo de sua procriação, era fácil matá-las. Fomos a terra
e na ilha demos busca de água doce; encontramos ocas
abandonadas, cacos de potes dos índios que haviam outrora
habitado esta ilha, descobrindo também uma pequena fonte
numa rocha. (HANS STADEN,1988, p. 68)
O aventureiro inglês Anthony Knivet, integrante da segunda
expedição do corsário Thomas Cavendish ao litoral do Brasil, descreveu
Alcatrazes por volta de 1590:
A meia légua de São Sebastião há uma pequena ilha no meio
do mar, chamada pelos índios de Uraritã e pelos portugueses
de Alcatrazes. Nela encontrarão uma grande quantidade de
aves marinhas e focas, além de crocodilos que vivem na terra,
chamados pelos índios de tejuguaçu. (SÉCULO XVI, p. 30)
Em seu breve relato fica clara a observação das aves marinhas que
habitam a ilha, bem como os lagartos chamados pelos índios de “tejuguaçu”,
todavia, não há qualquer entendimento ou registro posterior que indique
sobre o que Knivet se referiu quando descreve a existência de “focas”.
Sem outras referências significantes por muitos anos, a principal
fonte de dados acerca do Arquipélago passou a ser o compêndio dos
diversos resultados da temporada de pesquisas empreendidas pelo Museu
de Zoologia da Universidade de São Paulo entre 1911 e 1920, período no
qual foi efetivado levantamento completo da biota local e retomado, em
1948, pelo Instituto Butantã.
Revoada de atobás; uma das espécies de aves que nidificam no Arquipélago.Boobies in flight – one of the species nesting at the Archipelago.
With these visits becoming ever more frequent, narratives from other
Europeans who came upon the Brazilian shores started to emerge in the
16th century. One of the most famous was that from German Hans Staden,
who´s been to Brazil twice and became a prisoner of the São Vicente region
Indians for nine months. In 1551 he wrote about his passage through the
Archipelago, including information on the first historical records of marine
wildlife depredation by humans, and his exploration of the site with further
details which revealed vestiges of the use of the islands by Indians:
We left the harbor of Imbeaçú-pe [...]and after about two
days and a Voyage of some 40 miles reached an island, of the
Alcatrazes, and there had to anchor, as we had contrary winds.
On the islands there were many marine gulls, called alcatrazes.
As it was breeding time, it was easy to kill them. We landed
and at the island went searching for freshwater; we found
abandoned dwellings, pot sherds from the Indians who in the
past have inhabited this island, discovering also a small spring
in a rock. (HANS STADEN, 1988, p. 68)
English explorer Anthony Knivet, a member of the second expedition
of the corsair Tomas Cavendish to the Brazilian coast, described Alcatrazes
around 1590:
Half a league from São Sebastião there is a little island in
the middle of the sea, called by Indians Uraritã and by the
Portuguese Alcatrazes. In it a great quantity of sea birds and
seals is to be found, as well as land-dwelling crocodiles the
Indians call tejuguaçu. (SÉCULO XVI, p. 30)
In his brief report the mention to the birds inhabiting the island
is clear, as well as the lizards called ‘tejuguaçu’ by the Indians; however
there´s no further record or understanding of what Knivet meant when
he referred to ‘seals’.
Without any other meaningful references for many years, the main
source of data about the Archipelago became the compendium of several
results from the research season undertaken by the Museum of Zoology of
the São Paulo University between 1911 and 1920, during which a complete
survey of the local biota was effected, and resumed later in 1948 by the
Butantã Institute.
ALCATRAZES
10 11
O lagarto teiú vive em buracos nas rochas.The teiú lizard lives in rock hollows.
ALCATRAZES
12 13
Em 1989 vários ambientalistas e eméritos pesquisadores
integrantes do Projeto Alcatrazes desenvolveram estudos que se
estenderam até o ano de 2002. Realizaram várias incursões na ilha
principal e agregaram em torno da impor tância biológica do Arquipélago
várias instituições que ajudaram muito a difundir o conhecimento
obtido nas explorações e assim sensibilizar a opinião pública quanto à
necessidade de conservação do local.
Um dos principais focos do estudo dos pesquisadores reside
na fauna ornitológica, visto que o Arquipélago se constitui no
maior berçário de aves marinhas do sudeste brasileiro e abriga a
maior colônia de fragatas (Fregata magnificens) do Atlântico, uma
significativa população de atobás (Sula leucogaster) e duas espécies de
trinta-réis, estas migratórias, a Sterna maxima e Sterna hirundinacea,
ambas ameaçadas de extinção.
Dentre as 23 espécies endêmicas ameaçadas no Estado de São
Paulo estão a jararaca-de-Alcatrazes (Bothrops alcatraz), a perereca-de-
Alcatrazes (Scinax alcatraz) e a rã-achatada-de-Alcatrazes-de-Fausto
(Cycloramphus faustoi), que recebeu este nome em homenagem ao
pesquisador Fausto Pires de Campos conhecido por sua dedicação
à pesquisa e preservação do Arquipélago, foi descoberta em 2007
(Brasileiro, C.A., Haddad, C.F.B., Sawaya, R.J., & Sazima, I.) e listada como
“Criticamente ameaçada” ao risco de extinção pela IUCN/Red List
(International Union for Conservation of Nature).
Em tempos modernos (1912), já se sabe que a ocupação do
homem foi pequena, porém intentada de várias formas. A principal
se deu com a empreitada da tentativa de instalação de um farol para
orientar a navegação marítima na região.
Hermann Luederwalt (op. cit., p. 446) cita a frustrada incursão:
“A ilha não é habitada, mas nella existem três casas, que
segundo dizem os pescadores foram construídas faz 8-9
annos e eram destinadas aos guardas de um novo e maior
pharol a levantar na ilha do Pharol. Evidenciando-se tal
construcção muito dispendiosa, abandonou-se o projecto
[...] Duas dessas casas e as duas dianteiras estão entre o
porto dos Pescadores e o dos Pharoleiros. A terceira casa
é a casa trazeira: encontra-se numa distância de 300 metros
daquelas em direção nordeste. Todas estão mais ou menos
em ruínas e em parte escondidas por alta capoeira.”
In 1989 several environmentalists and recognized researchers,
members of the Alcatrazes Project, developed studies which continued
until 2002. Several incursions on the main island were undertaken,
comprising several institutions which joined forces around the Archipelago´s
biological relevance and helped publicize the knowledge gathered in these
explorations, therefore contributing to raise public awareness for the need
to conserve the site.
One of the researches´ main focus has been the bird fauna, since
the Archipelago is the largest seabird nursery of the Brazilian Southeast
and harbors the largest colony of frigatebirds (Fregata magnificens) in the
Atlantic, a significant population of brown boobies (Sula leucogaster) and
two species of terns, these being migratory: Sterna maxima and Sterna
hirundinacea, both threatened with extinction.
Among the 23 endemic species threatened in the State of São Paulo
found here are the Alcatrazes-pit-viper (Bothrops alcatraz), the Alcatrazes
frog (Scinax alcatraz) and Fausto´s flattened frog (Cyclorhamphus faustoi),
this one named after researcher Fausto Pires de Campos, known for his
dedication to the research and preservation of the Archipelago, discovered in
2007 (Brasileiro, C.A., Haddad, C.F.B., Sawaya, R.J., & Sazima, I.) and listed
as ‘critically endangered’ by the IUCN Red List.
In modern times (1912) it was already known that human occupation
was scarce, however attempted in many ways. The main one was the effort to
try and install a lighthouse to guide maritime navigation in the region.
Hermann Luederwalt (op. cit., p. 446) mentions the frustrated incursion:
“The island is not inhabited, but there are three houses on it,
which according to fishermen were built some 8-9 years ago
and destined to the wardens of a new and bigger lighthouse
to be built at the Farol [lighthouse] island. Being such a
building too expensive, the construction was abandoned {...]
two of those houses and the foremost two are between the
Fishermen´s harbor and the Lighthouse Keepers´. The third
house is on the back; it lies 300 meters from the other in
a northeasterly direction. All are more or less in ruins and
partially hidden by dense scrub.”
Atobas pardos nos costões de Alcatrazes.Brown boobies (Sula leucogaster) at the Alcatrazes rocky shore.
ALCATRAZES
1514
Ilha do Farol, em destque o farol da Marinha do Brasil.Farol (Lighthouse) Island, with the Brazilian Navy lighthouse.
ALCATRAZES
16 17
The caiçara (traditional people) occupation is reported by Luederwalt
himself from having seen ladders made by fishermen to climb the fissures
and rocks: “...however the fishermen have arranged here and there primitive
ladders”, which demonstrates that the island was frequently visit by mainland
dwellers, in particular fishermen. In the same narrative the naturalist describes
his perception about such uses by the caiçaras:
“Here and there under gigantic rocks the fishermen organized
their temporary residence, their primitive furniture resembling
prehistoric troglodytes. Especially under a salient rock some 10
m long and 5 wide one gets a completely antediluvian impression.
The walls of the home so formed, which had more or less the
height of a man, were covered with palm fronds. A platform
covered by a ragged mat served as bed. On the floor some
baskets for fish, table and stools built of rough sawn wood.”
Alcatrazes seduced the inhabitants of the continent not only for its
fishing. More than 60 years ago youngsters from Boiçucanga beach have
ventured upon the island to gather guano, the seabirds´ feces which makes
an excellent fertilizer. There was even an established market to buy and
resell the stuff in the São Paulo hinterlands. The trade required courage and
resistance, as Alcatrazes, according to many reports, and already proved
that such were required. Those man established residence on the islands
for a few months and after gathering what they could, went back to their
homes in the mainland.
In a more recent context, the Archipelago gained notoriety as a target run
used by the Brazilian Navy, which from time to time made naval artillery training
in predetermined targets around the Funil Cove area.
On another tone, due to the need to protect and ensure the
preservation of the Archipelago, in July 20, 1987 the Ecological Station of
Tupinambás was established. It is a federally protected area managed by
ICMBio – the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation, and
currently only scientific research as duly authorized according to projects
submitted to the public authority is permitted.
It is indispensable to move forward with the initiative to transform this
Protected Area into a National Park, so that responsible nautical tourism can
bring people closer to this little paradise of the Brazilian coast and hence
help raise new defenders of its waters and jungles.
Já a ocupação caiçara é informada pelo próprio Luederwalt em
razão da observância de escadas feitas por pescadores para galgar as fendas
e rochedos “... se bem que os pescadores hajam arranjado aqui e acolá
escadas primitivas”, o que mostra que a ilha era constantemente visitada
pelos habitantes do continente, especialmente pescadores. Ainda na mesma
narrativa o naturalista descreve sua percepção sobre tais usos caiçaras:
“Aqui e acolá sob pedras enormes arrumaram os pescadores seu domicílio passageiro, as sua mobílias primitivas fazem lembrar os troglodytas pré-históricos. Principalmente sob um rochedo saliente de cerca de 10 m de comprimento e 5 de largura occorre uma impressão completamente antidiluviana. As parede de morada, assim formada, que tinha mais ou menos a altura de um homem estavam cobertas de folhas de palmeiras. Uma tarimba coberta de uma esteira rasgada servia de leito. No chão alguns jacás para peixes, mesa e
bancos construídos de taboas serradas não aplainadas.”
Alcatrazes seduziu os habitantes do continente não só pela pesca.
Há mais de 60 anos, vários jovens da praia de Boiçucanga se aventuravam
na Ilha dos Alcatrazes para obter guano, o excremento das aves que ali
vivem em grande quantidade e que é um ótimo fertilizante. Havia até
mercado estabelecido para comprar e revender o material no interior
de São Paulo. A atividade exigia coragem e resistência, pois Alcatrazes já
havia provado para muitos no passado, segundo os relatos mencionados,
que a vida em terra era dura e exigia resistência. Esses homens então
estabeleciam moradia por alguns meses e após terem coletado o que se
podia voltavam para suas casas no continente.
Num contexto bem mais recente o Arquipélago ganhou notoriedade
pela operação de uma raia de tiro pela Marinha do Brasil, que de tempos
em tempos realiza treinamento de tiro naval em alvos pré-determinados
na região do Saco do Funil.
Por outro lado, em razão da necessidade de proteção e garantir a
preservação do Arquipélago, em 20 de julho de 1987 foi criada a Estação
Ecológica Tupinambás, unidade de conservação federal administrada pelo
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade que
permite, no momento, apenas a pesquisa científica devidamente autorizada
mediante projetos aprovados previamente pela administração pública.
É imprescindível que seja levada adiante a iniciativa de tornar esta
Unidade de Conservação em um Parque Nacional, para que assim o
turismo náutico responsável possa trazer as pessoas para mais perto deste
pequeno paraíso do litoral brasileiro e assim formar novos defensores de
suas águas e matas.Paredões rochosos pintados de guano das aves marinhas que nidificam na Ilha de Alcatrazes.The rock walls are painted with guano from the nesting seabirds at Alcatrazes Island.
ALCATRAZES
18 19
Revoada de fragatas, espécie de ave marinha mais abundante do Arquipélago.Frigatebirds in flight – the most abundant seabird species in the Archipelago.
ALCATRAZES
20 21