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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ALÍCIA FERNANDA SILVA PIMENTA DETERMINANTES SOCIAIS PARA O TRABALHO PRECOCE: Uma análise em torno do perfil de crianças e adolescentes em feiras livres do município de Natal/RN NATAL/RN 2016

ALÍCIA FERNANDA SILVA PIMENTA …...ALÍCIA FERNANDA SILVA PIMENTA DETERMINANTES SOCIAIS PARA O TRABALHO PRECOCE: Uma análise em torno do perfil de crianças e adolescentes em feiras

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ALÍCIA FERNANDA SILVA PIMENTA

DETERMINANTES SOCIAIS PARA O TRABALHO PRECOCE: Uma análise em

torno do perfil de crianças e adolescentes em feiras livres do município de Natal/RN

NATAL/RN

2016

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ALÍCIA FERNANDA SILVA PIMENTA

DETERMINANTES SOCIAIS PARA O TRABALHO PRECOCE: Uma análise em

torno do perfil de crianças e adolescentes em feiras livres do município de Natal/RN

Monografia apresentada ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, sob a orientação da Profa. Dra. Antoinette de Brito Madureira

NATAL/RN

2016

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Dedico a milhares de crianças e adolescentes que perdem a infância por estarem inseridas (os), precocemente, no trabalho e a todos que de certa forma contribuíram em todo meu trajeto acadêmico: a Deus, minha família, mestres e amigos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que me fortifica nas horas difíceis, é tua toda honra e toda

glória que tenho alcançado!

À minha mãe, meu pai e aos meus irmãos, meus maiores incentivadores, meu

muito obrigada. Agradeço também a toda minha família, pelo apoio nas horas que

mais preciso. A todos, muito obrigada! Amo vocês!!!!

Muito obrigada aos meus amigos, cada um com seu jeito especial, de alguma

forma me ajudou.

Agradeço também a minha Orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso

Antoinette Madureira pelos ensinamentos, paciência e confiança que tem depositado

em mim, muito obrigada! Assim como a todos os outros mestres que eu tive a

oportunidade de aprender nessa jornada acadêmica.

Agradeço em especial à coordenação e departamento do curso de Serviço

Social da Universidade Federal do Rio Grande Do Norte (UFRN) por todo apoio em

todo trajeto acadêmico.

Por fim, agradeço as minhas supervisoras de estágio obrigatório e não-

obrigatório que contribuíram em todo meu trajeto acadêmico: Fabrizzia Morais

Teixeira de Souza, Célia Maria Guimarães e Ana Paula Mafra Campelo, obrigada

por todos ensinamentos e incentivos!

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Serviço Social é fruto da observação e análise realizada em Estágio não Obrigatório em Serviço Social efetuado na Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), especificamente no setor do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). No que concerne à abordagem, a pesquisa da qual este trabalho resulta é classificada como qualiquantitativa. No que diz respeito à modalidade, se caracteriza como pesquisa documental e empírica. O trabalho toma como ponto de partida a análise de fichas de abordagem contendo os perfis de crianças e adolescentes que através de buscas ativas efetuadas pelo PETI foram identificados/as em situação de trabalho em feiras livres do município de Natal/RN. O estudo discute a categoria ontológica do Trabalho e a partir desta o trabalho infantil, buscando abordar o contexto histórico de seu surgimento, assim como suas implicações culturais e as consequências do trabalho infantil como expressão da questão social. Dialogando com os autores e com os dados empíricos, o trabalho buscou, por fim, oferecer uma discussão em torno dos determinantes sociais para o trabalho precoce de pessoas, especificamente de crianças e adolescentes oriundas das classes trabalhadoras em situação de extrema pobreza no município de Natal.

Palavras-Chave: Trabalho. Trabalho Infantil. Crianças e adolescentes. Feiras

Livres. Município de Natal.

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ABSTRACT

The present Social Services graduation completion paper is the result of the observations and analysis gathered during the not obligatory internship realized on the Municipal Work and Social Assistance Secretary (SEMTAS), specifically in the Juvenile Work Eradication Program (PETI). Approach wise, the research which this work is based on is qualitative-quantitative. Modality wise, can be categorized as documental as well as empiric. The work start point is the “approaching sheets” analysis, which contain the profile of the kids and adolescents that, after searches conducted by the PETI were identified to be working on open fairs in the city of Natal/RN. The study discusses the ontology of “work” and, from the child work perspective, aims to aboard the historical context of its birth, as well as its cultural and social implications of the child labor as an expression of a social reality. After the dialog with the authors and with empiric data, the paper aimed, as a whole, to offer an discussion around the social determinants of the early labor for people, specifically children and adolescents from an extreme poverty background residing on Natal.

Keywords: Work. Infant Labour. Children and adolescents. Open fairs. City of Natal.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01 - Quantitativo de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil

abordadas nas feiras livres do município de Natal/RN

Gráfico 02 – Região administrativa onde o abordado reside;

Gráfico 03 – Maior incidência de trabalho infantil por feira livre;

Gráfico 04 - Sexo;

Gráfico 05 – Faixa etária;

Gráfico 06 – Matriculado na Rede de Ensino;

Gráfico 07 – Nível de escolaridade;

Gráfico 08 – Existência de deficiência;

Gráfico 09 – Usuários de substâncias entorpecentes;

Gráfico 10 - Renda Familiar;

Gráfico 11 - inserção em programas/projetos;

Gráfico 12 – Programas sociais identificados;

Gráfico 13 - Trabalho infantil identificado;

Gráfico 14 - Motivo para o trabalho.

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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa e Serviço Social;

CFESS- Conselho Federal de Serviço Social;

CMAS - Conselho Municipal de Assistência Social;

CONAETI - Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil;

CRAS – Centro de Referência da Assistência Social;

CREAS- Centro de Referência Especializado em Assistência Social;

DPSE – Departamento de Proteção Social Especial;

ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente;

FNPETI - Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil;

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa;

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social;

MC- Média Complexidade;

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social;

OIT- Organização Internacional do Trabalho;

PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento a Famílias e Indivíduos;

PAIF – Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família;

PBS – Programa Bolsa Família;

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil;

PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio;

SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos;

SEAS- Serviço Especializado de Abordagem Social;

SEMSUR - Secretaria Municipal de Serviços Urbanos;

SUAS-Sistema Único de Assistência Social;

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 TRABALHO E ONTOLOGIA DO SER SOCIAL ...................................................... 15

2.1. TRABALHO ENQUANTO CATEGORIA DE ANÁLISE ................................... 17

3 TRABALHO INFANTIL: UMA TEMÁTICA SEMPRE ATUAL .................................. 19

3.1. CONTEXTO HISTÓRICO DO TRABALHO INFANTIL NO OCIDENTE

MODERNO ............................................................................................................ 21

3.2. A RESISTÊNCIA DA QUESTÃO CULTURAL ................................................ 23

3.3. MARCO LEGAL .............................................................................................. 25

3.4. TRABALHO INFANTIL NO BRASIL: RAZÕES E CONSEQUÊNCIAS ........... 28

3.6. O TRABALHO INFANTIL COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL ...... 32

4 PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI)................... 35

4.1. REDESENHO DO PETI .................................................................................. 36

4.2. DIMENSÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO CONTEXTO DO

TRABALHO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE NATAL .............................................. 38

4.3. TRABALHO INFANTIL EM FEIRAS LIVRES NO MUNICÍPIO DE NATAL: EM

TORNO DA BUSCA ATIVA REALIZADA PELA SEMTAS ..................................... 40

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES: PERFIL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ABORDADOS EM FEIRAS LIVRES DO MUNICÍPIO DE NATAL ............................. 42

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 59

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ANEXOS ................................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso de graduação em Serviço Social tem o

objetivo analisar o perfil das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil

nas feiras livres e discutir seus determinantes sociais.

Em adição, buscamos discutir o trabalho infantil como uma das expressões

da questão social, além de analisar o trabalho infantil diante da resistência cultural,

marcos legais, razões e consequências, e por fim, como se configura o PETI

atualmente. A pergunta que norteia o estudo é: quais são os determinantes sociais

que nos fazem entender a condição de crianças e adolescentes em situação de

trabalho infantil em feiras livres no município de Natal?

A escolha da temática se deu pela aproximação com o objeto de estudo no

período do estágio não obrigatório, no ano de 2015 à 2016, realizado na Secretaria

Municipal do Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), especificamente no setor do

Programa de erradicação do trabalho infantil (PETI) do município de Natal.

Isto se intensificou diante do longo período de estágio no PETI e a

participação em todas as atividades do Programa, especialmente nas atividades de

combate e enfrentamento de situação de trabalho infantil nas feiras livres do

município.

Ao longo do percurso de estágio no PETI participei de abordagens sociais,

trabalho educativo com crianças e adolescentes, seminários temáticos, palestras

com profissionais e com a rede socioassistencial, entre outras experiências que

resultaram em uma busca mais a fundo sobre a problemática do trabalho infantil e

seus determinantes sociais.

Nas abordagens realizadas pela SEMTAS foram possíveis identificar:

gênero; idade; escolaridade; existência de deficiência; envolvimento com

substâncias entorpecentes; familiar de referência; renda familiar; ocupação do

familiar de referência; participação em programa social; programas sociais

identificados; tipo de trabalho infantil; regiões administrativas de maior incidência de

trabalho infantil. Diante disso, surgiu o interesse de analisar o perfil e discutir

criticamente a realidade desses adolescentes.

A metodologia escolhida pretende seguir a corrente epistemológica

materialista na perspectiva histórica-dialética, pelo fato de levar em consideração a

relação da totalidade na análise da realidade. Dentre algumas características do

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materialismo histórico dialético, segundo Richardson, está presente a compreensão

da essência dos fenômenos, tendo em vista os elementos que se relacionam entre

eles, o homem um ser histórico social- considerando a história como um fator

importante no desenvolvimento dos fenômenos. Por fim, tomando por base uma

análise crítica do problema, busca analisar algumas das contradições presentes na

sociedade capitalista.

Optou-se pela utilização de pesquisa documental que segundo Gil (1991, p.

51) ―[...] vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou

que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa, este

mesmo autor ressalta que a pesquisa documental ―[...] vale-se de toda sorte de

documentos, elaborados com finalidades diversas, tais como assentamento,

autorização, comunicação e etc. (GIL, 2010, p. 30).

A pesquisa utilizou uma abordagem quantiqualitativa, pois tem dados

estatísticos (quantitativos) ao lado de dados empíricos (obtidos através de

observação direta (dados qualitativos). Sobre dados quantitativos, Goldemberg

(2004, p. 63),descreve ―[...] enquanto os métodos quantitativos pressupõem uma

população de objetos de estudo comparáveis, que fornecerão dados que podem ser

generalizáveis, [...]. Este mesmo autor afirma que às ―[...] abordagens quantitativas

sacrificam a compreensão do significado em troca do rigor matemático‖

(GOLDEMBERG, 2004, p. 61). Sobre a abordagem qualitativa, Minayo (2001)

discerne "trabalha com significados, motivos, aspirações, crenças, valores e

atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos

processos e nos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de

variáveis" (Minayo 2001, p.14).

Em relação à coleta de dados, foram analisadas 148 fichas de abordagem

das crianças e adolescentes abordadas nas feiras livres do município de Natal. Vale

ressaltar que houve algumas dificuldades em analisar os dados, devido à falta de

elementos nas fichas de abordagens que não foram preenchidos, devido a criança/

adolescente não saber informar ou até mesmo resistência por parte do abordado ou

familiar. A análise dos dados colhidos, foi realizada por meio da tabulação destes,

que confrontados com o material teórico, proporcionou o resultado da pesquisa.

O primeiro capítulo traz a discussão do trabalho e ontologia do ser social, na

perspectiva do trabalho sendo definidor do ser humano enquanto ser criador do

mundo e de si próprio, além de discutir que é através do trabalho o ser humano tem

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noção do seu "ser", de sua ontologia, por fim, trata de como o capitalismo na

atualidade busca responder às suas próprias contradições.

No segundo capítulo é apresentado a problemática do Trabalho Infantil,

acerca de seu contexto histórico, a influência da questão cultural nessa

problemática, marcos legais, razões e consequências e por fim, o trabalho infantil

como expressão da questão cultural.

No terceiro capítulo, aborda o Programa de Erradicação do trabalho Infantil

(PETI), um panorama geral, sobre suas mudanças, avanços, contexto históricos,

entre outros aspectos, além de trazer a apresentação do PETI em âmbito municipal,

em especial o trabalho realizado nas feiras livres e no último capítulo, é apresentado

o resultado da pesquisa, juntamente com a análise dos dados.

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2 TRABALHO E ONTOLOGIA DO SER SOCIAL

Engels (1876), em “o papel do trabalho na transformação do macaco em

homem”1, afirma que o trabalho é a condição básica e primordial de toda a vida

humana, pode-se afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

No seu estudo, Engels (1876) traz que há milhares de anos viviam uma raça

de macacos antropomorfos extraordinariamente desenvolvida, que por sua vez,

tinham que desempenhar funções referentes a sua sobrevivência, então, com o

passar dos anos e longos processos de transição, seus organismos foram se

modificando ficando propicio a suprir suas necessidades.

[...] como consequência direta de seu gênero de vida, devido ao qual as mãos, ao trepar, tinham que desempenhar funções distintas das dos pés, esses macacos foram-se acostumando a prescindir de suas mãos ao caminhar pelo chão e começaram a adotar cada vez mais uma posição ereta. Foi o passo decisivo para a transição do macaco ao homem. (Engels, 1876, p, 1)

Desse modo, essas necessidades elencadas acima, não era considerada

trabalho no verdadeiro sentido da palavra. Então Marx (2006) assinala no trecho

abaixo a diferença entre a produção animal e a atividade produtiva humana

"É verdade que também o animal produz. Constrói para si um ninho, habitações, como a abelha, o castor, a formiga etc. No entanto, produz apenas aquilo de que necessita imediatamente para si ou sua cria; produz unilateral[mente], enquanto o homem produz universal[mente]; o animal produz apenas sob o domínio da carência física imediata, enquanto o homem produz mesmo livre da carência física, e só produz, primeira e verdadeiramente, na [sua] liberdade [com relação] a ela; o animal só produz a si mesmo, enquanto o homem produz a natureza inteira; [no animal], o seu produto pertence imediatamente ao seu corpo físico, enquanto o homem se defronta livre[mente] com o seu produto, (MARX, 2006, p. 85).

Portanto, graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do

cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram

aprendendo a executar operações cada vez mais complexas, a propor-se a alcançar

objetivos cada vez mais elevados.

1 Escrito por Engels em 1876. Publicado pela primeira vez em 1896 em Neue Zelt. Publica-se segundo com a edição soviética de 1952, de acordo com o manuscrito, em alemão. Traduzido do espanhol.

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[..] só o que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modificá-la pelo mero fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. E aí está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, inala unia vez, resulta do trabalho (Engels, 1876, p,12)

O trabalho se diversificava e aperfeiçoava de geração em geração,

ampliando-se a cada vez a novas atividades. Sendo o trabalho definidor do ser

humano enquanto ser criador do mundo e de si próprio, assumindo uma centralidade

fundante do ser social e no conjunto de atividades intelectuais e manuais

organizadas pela espécie humana e aplicadas sobre a natureza, visando sua

existência.

Para Marx (1985), os homens, para existirem, devem ser aptos a se

reproduzirem enquanto seres humanos; forma específica desta reprodução é dada

por uma peculiar relação dos seres humanos com a natureza através do trabalho. A

categoria do trabalho emerge, desta forma, como categoria central do ser social.

Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, vida humana. (MARX, 1985a, p.50).

De acordo com Lukács (1978) o trabalho humano se diferencia do trabalho

animal, como descreve no seguinte trecho:

"O momento essencialmente separatório é constituído não pela fabricação de produtos, mas pelo papel da consciência a qual, precisamente aqui, deixa de ser mero epifenômeno da reprodução biológica: o produto, diz Marx, é um resultado que no início do processo existia ‘já na representação do trabalhador’, isto é, de modo ideal, (LUKÁCS, 1978, p. 4)."

Dessa forma, é a partir do trabalho que o ser humano, ser social se diferencia

de outras formas pré-humanas na história, é através do trabalho o ser humano tem

noção do seu "ser”. É a categoria central para a compreensão do fenômeno

humano-social, é o meio pelo qual o homem transforma a natureza para atender às

suas necessidades. Portanto, é através da categoria trabalho que o homem, a partir

da sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza.

Portanto, com Lukács, (1979, p. 87), (...) o trabalho é antes de mais nada, em

termos genéticos, o ponto de partida da humanização do homem, do refinamento

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das suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si

mesmo.

O trabalho implica mais que a relação sociedade / natureza: implica uma interação no marco da própria sociedade, afetando os seus sujeitos e a sua organização. O trabalho, através do qual o sujeito transforma a natureza (e, na medida em que é uma transformação que se realiza materialmente, trata-se de uma transformação prática), transforma também o seu sujeito: foi através do trabalho que, de grupos de primatas, surgiram os primeiros grupos humanos – numa espécie de salto que fez emergir um novo tipo de ser, distinto do ser natural (orgânico e inorgânico): o ser social. [...] o trabalho não é apenas uma atividade específica de homens em sociedade, mas é, também e ainda, o processo histórico pelo qual surgiu o ser desses homens, o ser social (NETTO & BRAZ, 2006, p.34).

Segundo a análise de NETTO e BRAZ, 2006, p.43, o desenvolvimento do ser

social interfere no nascimento de uma racionalidade, de uma sensibilidade e de uma

atividade que, sobre a base fundamental do trabalho, criam objetivações próprias.

No ser social desenvolvido, o trabalho é uma das suas objetivações, com o avanço

do processo de humanização pode ser compreendido como diferenciação e

complexificação das objetivações do ser social. O trabalho aparece como

objetivação primária, a partir da qual surgem as necessidades e as possibilidades de

novas objetivações.

2.1. TRABALHO ENQUANTO CATEGORIA DE ANÁLISE

O sistema capitalista traz consigo várias contradições, diversas relacionadas

ao mundo do trabalho. Como já analisamos anteriormente, o trabalho é a origem de

humanização, é o fundador do ser social, então, é a partir da lógica do capital, se

torna indispensável para atender as necessidades do sistema capitalista.

O trabalho acaba perdendo a dimensão original e indispensável ao homem de

produzir coisas com o objetivo de satisfazer as necessidades humanas para atender

as necessidades do modo de produção capitalista.

O trabalhador se torna tão mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz só mercadorias; produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria [grifos do autor], e isto na

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proporção em que produz mercadorias em geral (Marx, 1989b, p. 148).

Portanto, a categoria de análise do trabalho nos possibilita enxergar as

contradições mais profundas do capitalismo, pois o capitalismo se apoia no

sobretrabalho, na utilização do sobretrabalho de muitos (classe trabalhadora) para a

criação de riquezas que serão acumuladas por poucos (a burguesia), criando uma

sociedade baseada nesta contradição básica (entre duas classes sociais) e uma

mentalidade própria (da mercadoria).De acordo com isso, Antunes e Alves (2004):

[...] para se compreender a nova forma de ser do trabalho, a classe trabalhadora hoje, é preciso partir de uma concepção ampliada de trabalho. Ela compreende a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho, não se restringindo aos trabalhadores manuais diretos, incorporando também a totalidade do trabalho social, a totalidade do trabalho coletivo que vende sua força de trabalho como mercadoria em troca de salário. (Antunes & Alves, 2004, p, 342.)

Assim, em um contexto de mundialização do capital, globalização,

acirramento das desigualdades sociais, aumento da precarização das condições de

trabalho, enaltecimento do mercado, Eric Hobsbawm (2007) discorre:

“A globalização, acompanhada de mercados livres, atualmente tão em voga, trouxe consigo uma dramática acentuação das desigualdades econômicas e sociais, no interior das nações e entre elas. Não há indícios de que essa polarização não esteja prosseguindo dentro dos países, apesar de uma diminuição geral da pobreza extrema. Este surto de desigualdade, especialmente em condições de extrema instabilidade econômica com as que se criaram com os mercados livres globais desde a década de 1990, Está na base das importantes tensões sociais e políticas do novo século O Impacto dessa globalização é mais sensível para os que menos se beneficiam dela (...).” (HOBSBAWM, E. 2007, p.11)

É nesse contexto que pode-se observar, as transformações do sistema

produtivo, na reestruturação atrelada a dinâmica social das organizações com

relação aos novos processos de trabalho e suas múltiplas configurações que isso vai

interferir diretamente nas relações sociais do modo de produção capitalista.

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3 TRABALHO INFANTIL: UMA TEMÁTICA SEMPRE ATUAL

O termo trabalho infantil, em sua acepção atual, compreende a realização de

atividades econômicas e/ou de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro,

remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes com idade inferior a

16 (dezesseis) anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 (quatorze)

anos. (O Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção

ao Adolescente Trabalhador, 2011)

Importante mencionar a Convenção dos Direitos da Criança e do

Adolescente2 na Declaração dos Direitos da Criança3pontua que “a criança, em

virtude de sua falta de maturidade física e mental, necessita de proteção e cuidados

especiais, inclusive, a devida proteção legal, tanto antes quanto após seu

nascimento”. Assinala também que a criança deve “estar plenamente preparada

para uma vida independente na sociedade e deve ser educada de acordo com os

ideais proclamados na Carta das Nações Unidas, especialmente com espírito de

paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade”. Assim, “a criança,

para o pleno e harmonioso desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no

seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão”.

Portanto, a infância é uma fase importante para a formação de um adulto

ciente de todos os seus direitos e deveres. Valéria Nepomuceno descreve a

temática da infância4 e as relações de trabalho:

“A criança em seus primeiros anos precisa ser cercada de carinho e atenção, pois é nesta fase que começa a se desenvolver sua personalidade, seus processos cognitivos, e tem início a socialização. Tal qual uma planta que precisa ser regada e bem cuidada nos primeiros dias, para só posteriormente produzir frutos, a criança precisa de liberdade e proteção nos dias da infância para desenvolver suas potencialidades. Daí porque privar uma criança de sua infância, inserindo-a no mundo do trabalho, é negar-lhe o direito

2BRASIL. CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente). Estatuto da Criança e do Adolescente 12 Anos. Edição Especial. 2002. Brasília. Ministério da Justiça. P. 85 a 86.

3 BRASIL. Decreto n° 99.710 de 21 de Novembro de 1990. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_o3/decreto/1990-1994/D99710.htm> Acesso em: 05 de setembro de 2016.

4 NEPOMUCENO, Valéria. As Relações com o Mundo do Trabalho – Adeus, Infância. In Sistema de Garantia de Direitos. Um Caminho para a Proteção Integral. Coleção Cadernos CENDHEC, vol. 8. Módulo VI – Temas Emergentes. P 341 a 354. 1999. Recife. CENDHEC (Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social). P.343/344.

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de criar o alicerce de uma futura vida adulta. O UNICEF relacionou os seguintes aspectos do desenvolvimento da criança que podem ser prejudicados pelo trabalho: desenvolvimento físico; desenvolvimento cognitivo; desenvolvimento emocional e desenvolvimento social e moral. Uma das áreas onde a criança também é bastante prejudicada, segundo ainda o UNICEF, é a educacional. Muitas vezes o trabalho lhe absorve tanto tempo que é impossível a frequência à escola. Por outro lado, quando tem tempo para ir à escola, está tão cansada que não consegue acompanhar as aulas de forma satisfatória. Crianças que são maltratadas no ambiente de trabalho ficam traumatizadas e muitas vezes não conseguem se concentrar nas atividades escolares.”

Observa-se que o trabalho infantil se expressa como uma das formas mais

cruéis de violação dos direitos de crianças e adolescentes, que vem se eternizando

ao longo dos anos.

No contexto mundial, estimativas de 2012 apontam que 11% da população

infantil, ou seja, 168 milhões de crianças e adolescentes trabalham, sendo que, 59

milhões estão na África Subsaariana, 12,5 milhões na América Latina e Caraíbas e

9,2 milhões no Médio Oriente e Norte de África 77,7 milhões encontram-se na região

da Ásia-Pacífico (OIT,2013).

Desse modo, é necessário realizar ações que sejam eficazes para combater

com a problemática do trabalho infantil, abrir espaços de conscientização na

sociedade, que, infelizmente, ainda vê o trabalho precoce como algo "bom e

edificante".

O trabalho é um elemento fundante da sociabilidade humana, mas, no capitalismo, o que prevalece é a exploração e a alienação, que assumem uma particularidade no trabalho infantil, respondendo a demandas do mercado de trabalho, a uma estrutura do capitalismo que promove e legitima esse trabalho, à revelia de legislações e de mobilizações de segmentos da sociedade civil na defesa dos direitos das crianças. Trata-se de uma violação à criança como ser social e sujeito de direitos e à negação da infância como um fato histórico. (CFESS, 2014, p, 2)

Essas transformações no mundo do trabalho, por muitas vezes, atrapalham

na identificação das situações de trabalho infantil, ou ainda, contribuem para

invisibilidade do fenômeno e inviabilizam o seu combate e a sua erradicação. Assim,

a exploração do trabalho infantil não está dissociada das estratégias globais de

precarização das condições de vida dos trabalhadores, bem como suas

metamorfoses no contexto da relação capital trabalho.

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3.1. CONTEXTO HISTÓRICO DO TRABALHO INFANTIL NO OCIDENTE

MODERNO

No Brasil, a discussão em torno do combate ao trabalho infantil ganhou força

durante o Congresso Constituinte (1986-1988) e desembocou na promulgação da

nova Constituição Federal em 1988. Portanto, o combate ao trabalho infantil em

nosso país tem sido uma conquista social.

No entanto, esta não é uma problemática nova nem se atém apenas à

realidade de nosso país. Ora, desde a Revolução Industrial temos dados acerca

deste trabalho. Este período, importante diante de diversas mudanças no mundo do

trabalho, trouxe em seu bojo a extrema exploração da mão de obra dos

trabalhadores, acirramento das desigualdades sociais, aumento da precarização das

condições de trabalho, entre outros. Diante de todas essas mudanças, esse período

foi incisivo para a inserção da mão de obra infantil em grande escala nas indústrias.

Acerca dessa época Marx (1982, p. 90) narra que:

O emprego das máquinas torna supérflua a força muscular e torna-se meio de emprego para operários sem força muscular, ou com um não desenvolvimento físico pleno, mas com grande flexibilidade. Façamos trabalhar mulheres e crianças. Eis a solução que

pregava o capital quando começou a utilizar-se das máquinas. (MARX, 1982, p. 90). (grifo nosso).

De acordo com Marx (1982), o trabalho na sociedade capitalista se é diferente

do que era considerado o trabalho antes da industrialização, pois, a atividade laboral

representava a sua subsistência sendo normalmente realizado por todos os

membros. Porém, com a chegada da industrialização as crianças das famílias da

classe trabalhadora foram transformadas em mão-de-obra barata para gerar

riquezas para o capital e tornar explorável a mão-de-obra infantil nos meios de

produção.

Nas fábricas, o emprego de mulheres e de crianças tornou-se, por várias razões, muito comum. Primeiramente, a divisão do trabalho simplificou e rotinizou de tal modo a maioria das operações produtivas que as mulheres e crianças, ainda que despreparadas, estavam em condições de executá-las tão bem quanto os homens. Em segundo lugar, os salários que recebiam eram bem inferiores aos salários pagos aos homens. Além disso, muitas vezes a família era obrigada a trabalhar para sobreviver. Depois, muitos empresários preferiam os homens às mulheres e crianças, pois era mais fácil

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reduzi-los a um estado de obediência passiva. (HUNT e SHERMAN, 2000, p. 73).

Na Inglaterra, os médicos relatavam as péssimas condições de trabalho da

época5a que se submetiam às crianças na, surgindo o aparecimento de doenças,

muitas vezes em decorrência da péssima alimentação, da vulnerabilidade que essas

crianças se encontravam, além das jornadas exaustivas que os donos de meios de

produção submetiam as crianças, como relata Thompson (1987):

As crianças trabalhavam de 14 a 18 horas por dia, até caírem exaustas. O pagamento dos capatazes variava em função do que as crianças produzissem, o que os incentivava a serem impiedosos e a exigirem o máximo delas. Na maior parte das fábricas, as crianças tinham direito, quando muito, a 20 minutos de descanso para a principal (e, com frequência, a única) refeição do dia. (HUNT e SHERMAN, 2000, p. 74).

Ainda sobre as longas jornadas de trabalho e condições precárias que as

crianças eram submetidas, Marx (1982) pontua:

Às duas, três, quatro horas da manhã, crianças de nove e dez anos são arrancadas de seus leitos miseráveis e forçadas a trabalhar até dez, onze, doze horas da noite para ganhar simplesmente o necessário para sua subsistência. Enquanto elas trabalham, seus membros definham, seu talhe diminui, sua fisionomia toma um ar abobalhado, todo o seu ser cai num torpor tal que seu aspecto as assusta. (MARX, 1982, p. 101).

Então, observar-se que o capitalismo industrial estava explorando de forma

cada vez mais intensa a força de trabalho dos operários, exaustivas horas de

trabalho, acarretando adoecimentos e mortes dos trabalhadores.

É como se os trabalhadores, e dentre estes as crianças pobres, não fossem dignos de viver. A fábrica assumia a função de controle demográfico, haja vista que não fazia diferença o número de pobres como vivia ou se viviam, perspectiva essa que encontra em Malthus o seu fundamento, já que tal proliferação era apontada como a

5 O filme “Dans: um grito de justiça” retrata a realidade da situação em que o trabalho das crianças e mulheres é amplamente utilizado nos meios de produção, por ser mais barato e dócil, diante dessa utilização da mão de obra infantil, o filme retrata que as mulheres eram frequentemente abusadas sexualmente pelos capatazes e pelos próprios homens companheiros de trabalho e os jovens e crianças constantemente se acidentavam ao manusear as máquinas, pois não tinham as mesmas habilidades dos adultos. Muitos acidentes eram fatais, o que aumentava significativamente os níveis de mortalidade nas unidades de produção. .

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grande causa da miséria, de sorte que, com crescimento superior à quantidade de alimentos produzidos, tornava-se até desejável sua redução. Dessa forma, o capitalismo impôs condições “fatais” para homens, mulheres e crianças e, apesar do que realmente significava o trabalho, ainda se vangloriava o sistema de que isso era um “favor” que prestava ao Estado e às famílias que queriam ver os filhos “bem encaminhados” e não como “vagabundos”. (RODRIGUES, 2004, p,29).

Vale ressaltar que o trabalho precoce, não se restringi somente ao período

citado acima, uma vez que a demanda por essa mão-de-obra é recorrente de

séculos, chegando atualmente ainda com a cultura do trabalho infantil ser algo

“edificante” enraizada no imaginário das pessoas.

No Brasil, o trabalho infantil é um fenômeno social presente ao longo de toda

a história do país. Segundo Repórter Brasil (2012), entre os séculos XVI e XIX,

crianças de origem indígena e africana foram submetidas à escravidão juntamente

com seus familiares, além dos filhos de trabalhadores livres também ingressavam

muito cedo em diversas atividades produtivas no campo e nas cidades.

Posteriormente, o processo de industrialização do país, iniciada no final do século

XIX e aprofundada ao longo do século XX, levou à incorporação de grandes

contingentes de crianças às atividades fabris de diversos ramos, bem como em

novas atividades do setor terciário, tal como ocorrera nos países pioneiros da

Revolução Industrial. Embora a exploração da mão de obra infantil nas fábricas

tenha sido denunciada praticamente desde o início da sua utilização, e medidas

legislativas de proteção ao “menor” tenham sido adotadas já na década de 1920, o

trabalho infantil persiste como um problema social de graves dimensões no país no

início do século XXI.

É claro que as crianças já não são exploradas na mesma proporção, (OIT,

2013), porém, é uma problemática sempre presente no cotidiano, caracterizando o

trabalho infantil como questão social, que, por sua vez, demandará respostas da

sociedade e do Estado diante disso.

3.2. A RESISTÊNCIA DA QUESTÃO CULTURAL

Historicamente, o trabalho é entendido como fator positivo para crianças em

condições de pobreza, exclusão e risco social como foi exposto acima a respeito do

contexto histórico dessa prática.

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Para a Organização Internacional do Trabalho - OIT (2004), fatores sociais e

culturais também favorecem o trabalho infantil e o seu argumento também se refere

à visão positiva do trabalho presente em muitos países da América Latina, como

meio de formação e preparação das crianças para a vida adulta. Assim, a família vai

incluindo as crianças em atividades domésticas e produtivas da família, como

caráter de ajuda e como uma atividade que vai auxiliar na formação de caráter,

tendo em vista da concepção do trabalho infantil ser algo “bom” e “edificante”.

Conforme discorrem Rodrigues e Lima (2007, p.61):

[...] a entrada das crianças no mundo do trabalho dos adultos significava a ocupação de lugares sociais a elas destinados, uma vez que sua socialização ocorria na família ou junto a parentes próximos, os quais, pela convivência, buscavam garantir a introjeção de costumes, valores e conhecimentos de acordo com seu grupo social. Nessa linha de raciocínio, infere-se que há uma naturalização da inserção da criança no mundo do trabalho, mas não de qualquer criança, apenas da pobre.

O trabalho infantil é uma problemática que faz parte da história e da cultura

do povo brasileiro, contudo, a percepção de naturalização do trabalho de crianças e

adolescentes foi fortemente combatida no país, particularmente após a década de

1980 com a grande mobilização social das organizações sociais, de acordo com

Veronese (2007), o responsável pela legitimação do trabalho infantil na sociedade,

em grande parte, é em virtude dos mitos culturais criados em torno do trabalho

precoce, uma vez que a cultura que legitima e reproduz a exploração e exclusão

social.

O trabalho é tolerado por uma parcela significativa da sociedade, pelos mitos que ele enseja: é ‘formativo’, é ‘melhor a criança trabalhar que fazer nada’, ele ‘prepara a criança para o futuro’ [...] são algumas outras razões apontadas como incentivo à família para a incorporação de seus filhos nas estratégias de trabalho e/ou sobrevivência.” (SILVA, 2001, p.112)

A superação dos mitos legitimadores do trabalho precoce é desafio sempre

presente para as políticas públicas, por isso, as ações e estratégias de prevenção e

combate ao trabalho infantil, precisam ir além do afastamento de crianças e

adolescentes do trabalho, mas está direcionada para alcançar uma concepção de

garantia integral dos direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros e de

romper com essa cultura de legitimação, que favorece essa problemática a anos.

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Portanto, o diálogo e a construção reflexiva com a sociedade em geral sobre

o trabalho infantil e outros mitos culturais são fundamentais para a superação de

uma cultura enraizada na sociedade.

3.3. MARCO LEGAL

Em 1932, no Decreto n° 22.042, foi estabelecida a idade mínima em 14 anos

para o trabalho na indústria e proibido para menores de 16 anos, o labor no interior

de minas. Então, na constituição de 1934, em seu artigo 121, estabeleceu diretrizes

para as condições de trabalho, “tendo em vista a proteção social do trabalhador e os

interesses econômicos do pais” e na alínea “D” foi estabelecida a idade mínima para

atividade laboral de 14 anos, vetando trabalho noturno para menores de16, e para

industrias insalubres, os menores de 18 anos de idade.

Na Constituição Federal seguinte, de 1937, não ocorreu nenhuma inovação

no que diz respeito a legislação de trabalho infantil, já na Constituição Federal de

1946, em seu art.157, IX, aumenta a idade mínima do trabalho noturno para 18 anos

de idade.

Depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, edita-se, em 1990,

o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) modificou o tratamento dado às

crianças e adolescentes no Brasil, ao apontar a importância da proteção integral,

que concede às crianças e aos adolescentes a condição de cidadãos plenos, a

sujeitos de direitos e obrigações, a quem o Estado, a família e a sociedade devem

atender de forma prioritária. Na constituição Federal de 1988, no seu art. 227,

observar-se:

Art.227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e do adolescente, com absoluta prioridade, o direito a vida, a saúde, a alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de todas as formas de negligências, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Constituição Federal, 1988)

A nova Constituição reafirmou a proibição do trabalho infantil, mantendo a

idade mínima de 14 anos para o ingresso no mercado de trabalho, posteriormente

alterado, pela Emenda n° 20, de 15 de fevereiro de 1988, para 16, ficando o art. 7º,

XXXIII, com a seguinte redação “proibição de trabalho noturno, perigoso ou

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insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis

anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. Ou seja, veda-se

qualquer trabalho que exponha o menor de 18 (dezoito) anos a algum tipo de risco,

bem como é proibido o exercício de qualquer trabalho por menores de 16

(dezesseis) anos.

O Estatuto da Criança e do adolescente, por sua vez, prevê, ainda, em seus

artigos 5º, 15 e 18, o seguinte:

Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas Leis. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Diante de todas as legislações que legitimam o combate e erradicação do

trabalho infantil, é interessante analisar que a inserção precoce das crianças e

adolescentes no mundo do trabalho não é um ato voluntário, mas algo socialmente

determinado, na qual a sociedade e suas instituições legitimam como um fato

naturalizado, pois se apresenta como uma alternativa de melhorar as condições de

vida, sendo considerado um fator cultural muito forte, algo que está enraizado no

inconsciente das pessoas e de difícil desmistificação.

Nessa perspectiva, o Ministério da Justiça, em consonância com o ECA,

criou o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA6),

que surge com a competência de elaborar as normas gerais da Política Nacional de

Atendimento dos Direitos da Criança e do Adolescente, apoiar os respectivos

Conselhos Estaduais e Municipais e demais órgãos e entidades não-

governamentais, com vistas à eficácia e efetividade das diretrizes estabelecidas pelo

ECA, além de avaliar a política estadual e municipal e a atuação dos Conselhos nos

estados e municípios e acompanhar o reordenamento institucional, propondo,

6A perspectiva adotada pelo CONANDA é a da integralidade das ações, por isso reafirma a garantia do acesso universal à educação, à saúde, ao esporte, à cultura, ao lazer, à assistência social e ao trabalho, emprego e renda.

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sempre que necessário, modificações nas estruturas públicas e privadas destinadas

ao atendimento desse segmento, sem mencionar a gestão do Fundo Nacional para

a Criança e o Adolescente.

Na legislação internacional a problemática do trabalho infantil também ganha

destaque, como pode-se observar na Declaração Universal dos Direitos da Criança

da Organização das Nações Unidas (ONU) Princípio 9º, prevê:

A criança gozará de proteção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração. Não será jamais objeto de tráfico, sob qualquer forma. Não será permitido à criança empregar-se antes da idade mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique à saúde ou à educação ou que interfira em seu desenvolvimento físico, mental ou moral.

Outra regulação importante nas legislações pertinentes ao combate ao

trabalho precoce é a Convenção nº 182 da OIT (Convenção sobre Proibição das

Piores Formas de Trabalho Infantil e Ação Imediata para sua Eliminação), de

1999,classifica como as piores formas de trabalho infantil: o uso de crianças em

trabalho escravo, os trabalhos forçados, o tráfico, a servidão por dívida, a exploração

sexual, a pornografia, o recrutamento militar e conflitos armados, e outras formas de

trabalho que podem oferecer riscos à saúde física e moral dessas crianças e

adolescentes. A convenção estabelece medidas imediatas a ser tomadas,

classificadas em quatro categorias:

a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como vendas e tráfico de crianças, sujeição por dívida e servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; b) utilização, procura e oferta de criança para fins de prostituição, de produção de material pornográfico ou espetáculos pornográficos; c) utilização, procura e oferta de crianças para atividades ilícitas, particularmente para produção e tráfico de drogas, conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes; d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança. (Convenção nº 182, 2000)

Nesse sentido, foi aprovado o Decreto nº 6.481, de 12 de junho de 2008,

que define a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP)7, anteriormente

7 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6481.htm

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descrita pela Portaria 20/2001 da Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério

do Trabalho e Emprego – MTE. O Decreto estabelece que a Lista TIP será revista

periodicamente, se necessário, mediante consulta com as organizações de

empregadores e trabalhadores interessadas.

Portanto, percebe-se que o direito ao não executar atividades laborais antes

da idade mínima é um direito qualificado e especial na legislação brasileira, e o seu

principal primordial é a proteção das crianças e adolescentes de situações de

trabalho prejudiciais ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, garantindo aos

menores condições dignas.

Enfim, o trabalho precoce deixa de ser meramente proibido para ser

reconhecido como um problema social, incompatível com a proteção integral aos

direitos da criança e do adolescente, constituindo-se num problema de

responsabilidade pública, ou seja, um dever do Estado e da sociedade.

Nesse sentido, apesar da legislação brasileira ser fundamentada no viés da

proteção integral, esse tipo de trabalho ainda é tolerado na sociedade e o trabalho

precoce continua sendo utilizado no Brasil como instrumento formativo e

disciplinatório de crianças e adolescentes advindas de famílias pobres, como já foi

mencionado anteriormente.

3.4. TRABALHO INFANTIL NO BRASIL: RAZÕES E CONSEQUÊNCIAS

O trabalho infantil ainda configura-se como grave problema social no Brasil.

Apesar de toda mobilização social em defesa dos direitos da criança e do

adolescente, dos avanços na legislação e da redução do número de crianças

trabalhadoras.

No Brasil em torno de 3,3 milhões de crianças e adolescentes, com idade

entre 5 a 17 anos, explorados/as no trabalho. Na composição deste grupo, 70 mil

são crianças na faixa etária entre 5 e 9 anos, 484 mil entre 10 e 13 anos e cerca de

2,778 milhões entre 14 e 17 anos (PNAD, 2014).

Segundo o IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) no

ano de 2014, da faixa etária de 5 à 17 anos ocupados em atividades laborais, 65,5

% são meninos, quanto ao índice de crianças e adolescente ocupados por estado é

classificado da seguinte forma na tabela abaixo os 10 estados com maiores índices:

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Tabela 01 – Classificação do de crianças e adolescentes ocupados em atividades laborais.

Classificação UF População total População ocupada

Taxa de ocupação (%

01 Piauí 720 115 16,0

02 Santa Catarina

1.248 1.248 1.248

03 Maranhão

1.826 1.826 1.826

04 Rio Grande do

Sul 1.980 1.980 1.980

05 Pará

212 212 212

06 Sergipe

10,7 10,7 10,7

07 Paraíba

2.102 2.102 2.102

08 Acre

224 224 224

09 Espírito Santo

10,7 10,7 10,7

10 Mato Grosso

512 512 512

Extraído de: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), 2014.

Atualmente, o trabalho infantil encontra-se em atividades de difícil

fiscalização e apresenta-se, segundo o Censo do IBGE de 2010, principalmente em

atividades informais, tais como: agricultura familiar; aliciamento pelo tráfico;

exploração sexual; trabalho doméstico; e atividades produtivas familiares.

Portanto, há um longo caminho a ser trilhado quando o assunto é erradicar

as situações de trabalho infantil no país, é algo que vai além. Fica-se claro a

importância da mobilização de todo os atores sociais envolvidos no combate a

problemática do trabalho infantil no Brasil para a partir de então os índices decaiam

cada vez mais.

Segundo o Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

e Proteção do Adolescente Trabalhador (2011) o trabalho de crianças e

adolescentes tem efeitos complexos, principalmente nas condições econômicas,

sociais, educacionais, bem como no desenvolvimento físico, psíquico e cognitivo de

crianças e adolescentes.

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No que diz respeito aos efeitos Socioeconômicos, pode-se analisar a

precarização das relações de trabalho e remuneração inferior; redução vagas de

empregos, ocupação e inserção profissional de adultos. Na educação as crianças e

adolescentes geralmente realizam suas atividades em detrimento da educação;

Impacta diretamente no acesso às oportunidades e no desempenho escolar;

Defasagem e abandono escolar. Na saúde, por terem capacidade de resistência

limitada, sujeitam-se à fadiga, ao envelhecimento precoce, ao cansaço e à maior

ocorrência de doenças; crianças e adolescentes não estão preparados para avaliar

os riscos que podem ser gerados pelo trabalho e seus efeitos ao longo prazo; a

perda da capacidade lúdica na infância pode gerar desequilíbrios na fase adulta.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2004 traz diversas

consequências que o trabalho infantil submete milhares de crianças e adolescentes

pelo mundo. Com relação à saúde, meninos e meninas que executam atividade

laboral estão sujeitos a uma série de problemas, que interferem o seu

desenvolvimento físico, sendo eles: má nutrição, problemas respiratórios,

deformações ósseas, mutilações, queimaduras, doenças sexualmente

transmissíveis, gravidez precoce, dentre outros. Ou seja, o trabalho infantil acarreta

uma vida sem infância, com muita responsabilidade para a idade e muitas vezes

colocam crianças e adolescentes em ambientes violentos e inseguros, trazendo

problemas quanto à saúde física e psicológica.

Portanto, cabe mencionar à colação texto de Maria de Fátima Pereira Alberto

e Anísio José da Silva Araújo a respeito da problemática do trabalho precoce8 :

“Dois fatores contribuem para compreender (não culpabilizar) que a problemática da criança e do adolescente trabalhadores se inicia na família que, consciente ou inconscientemente, os empurra para trabalhar: 1º) Fatores Microestruturais – São fatores que se originam na própria família, destacando-se dois aspectos: a) a tradição do grupo social, geralmente de origem camponesa ou operária, que concebe o trabalho infantil, no imaginário dos seus membros, como um elemento formador do indivíduo social; b) aquela família que não consegue mais atender as necessidades materiais e subjetivas dos filhos, o que, por sua vez, acaba gerando conflitos que empurram as crianças e adolescentes para as ruas.

8ALBERTO, Maria de Fátima Pereira, e ARAÚJO, Anísio José da Silva. O Significado do Trabalho Precoce Urbano. In ALBERTO, Maria de Fátima Pereira (organizadora).Crianças e adolescentes que trabalham: cenas de uma realidade negada. 2003. João Pessoa. Editora Universitária/UFPB. P. 74

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2º) Fatores Macroestruturais – A presença de meninos e de meninas nas ruas trabalhando está ligada a diversos fatores de ordem macroestrutural. São todos aqueles fatores sociais, políticos e econômicos que forjam a necessidade de a família enviar seus filhos ao mercado de trabalho: a) as inovações tecnológicas e a flexibilização do mercado de trabalho, que gera desemprego estrutural; b) o acirramento das forças produtivas, que gera a concentração de renda; c) a transformação e a precarização das relações e condições de trabalho; d) as políticas econômicas recessivas, que geram o fechamento de empresas e a desvalorização dos salários; e) os fatores climáticos (secas) e a mecanização da lavoura, que expulsam as famílias do campo para as cidades. Todos esses fatores geram pobreza, desemprego e/ou salário insuficiente para o sustento da família: os pais não conseguem mais atender às necessidades materiais e subjetivas dos filhos, o que, por sua vez, acaba gerando conflitos que empurram as crianças e adolescentes para as ruas.”

É importante ressaltar que o ingresso precoce de crianças e adolescente no

mundo do trabalho está associado, em alguns casos, à sobrevivência, pois de

acordo com Salomão (2007), não é algo que seja por opção de escolha, mas algo

decorrente de uma realidade social excludente que colocam esses sujeitos de

direitos nessa condição de vulnerabilidade.

A iniciação precoce de crianças e adolescentes no mundo do trabalho ocorre por razões econômicas, pela impossibilidade dos pais manterem a família sem a contribuição dos filhos. Entretanto, outros determinantes sociais e culturais interferem neste processo, pois o tempo livre da criança é visto como preocupação pelos pais que, do seu ponto de vista, podem favorecer situações que escapam ao controle e à influência da família. Assim, o ingresso precoce da criança no trabalho, é defendido por alguns, como forma de evitar as ameaças do tempo livre, o que investe o mundo do trabalho de uma qualidade disciplinadora que substitui e/ou contempla a atuação familiar na formação mora. (SALOMÃO, 2007, p. 16).

Diante disso, não se pode associar todo trabalho precoce apenas a condição

de pobreza. O trabalho acaba sendo também uma alternativa para garantir o

consumo de produtos que as crianças e adolescentes desejam, e que, por sua vez,

os pais ou a família não podem proporcionar.

Nos dias de hoje, diversos adolescentes não trabalham apenas para garantir a sobrevivência de suas famílias, mas para adquirir bens de consumo, se submetendo muitas vezes a empregos precários e informais, em busca de inclusão social, autonomia e independência econômica. Mas vale ressaltar que, ainda que essas famílias prescindam dos rendimentos desses adolescentes para o sustento familiar, isso não significa que não sejam de baixa renda. (Repórter Brasil, 2013, p, 7)

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Outro fator que faz legitimar o trabalho infantil na sociedade é o fator cultural,

que por sua vez, é um dos elementos mais complexos a serem transformados, visto

que essa ideia está bem enraizada no pensamento de grande parte da população,

incluindo, muitas vezes, representantes do poder público.

Segundo Repórter Brasil (2013), no Brasil, a população sempre começou a

trabalhar muito cedo, principalmente impulsionada pela pobreza, pois quanto menor

a renda da família e a escolaridade da pessoa de referência da unidade familiar,

maior o risco de ingresso precoce no mundo do trabalho. Porém, atualmente as

razões para a inserção do trabalho precoce é muito relativa, vão desde

consequência de uma cultura de legitimação dessa prática até decorrente dos novos

padrões de consumo.

3.6. O TRABALHO INFANTIL COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL

A pobreza é, sem dúvida, um dos fatores determinantes do trabalho infantil.

O Censo de 2010 apresenta um quadro bastante diferente dos anos 1990, os dados

apontam que quase 40% das pessoas menores de 18 anos em situação de trabalho

não são membros de famílias que vivem abaixo da linha de pobreza.

Se antes dos anos de 1990 a pobreza era um dos determinantes do trabalho

infantil, hoje essa relação ficou menos direta. Desde os anos de 1990 surgiram no

Brasil mudanças significantes, como aponta Carvalho (2001), mudanças essas que

influenciaram diretamente na estrutura e infraestrutura econômica, interferindo

diretamente nas relações e condições sociais da sociedade, intensificando o

acirramento das desigualdades sociais nos processos de exclusão, tornando a

questão social cada vez mais complexa.

Segundo Marx (1985) a gênese da “questão social” encontra-se no caráter

coletivo da produção e da apropriação privada do trabalho, de seus frutos e das

condições necessárias à sua realização. É, então, indissociável da emergência do

trabalhador livre, que depende da venda de sua força de trabalho para a satisfação

de suas necessidades vitais.

De acordo com Ianni (1989):

Há processos estruturais que estão na base das desigualdades e antagonismos que constituem a questão social. Dentre esses processos, alguns podem ser lembrados agora. O desenvolvimento

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extensivo e intensivo do capitalismo, na cidade e no campo, provoca os mais diversos movimentos de trabalhadores, compreendendo indivíduos, famílias, grupos e amplos contingentes. A industrialização e a urbanização expandem‐se de modo contínuo, por fluxos e refluxos, ou surtos. As crescentes diversidades sociais estão

acompanhadas de crescentes desigualdades sociais. Criam‐se e

recriam‐se as condições de mobilidade social horizontal e vertical, simultaneamente às desigualdades e aos antagonismos. Esse é o contexto em que o emprego, desemprego, subemprego e pauperismo se tornam realidade cotidiana para muitos trabalhadores. As reivindicações, protestos e greves expressam algo deste contexto. Sob essas condições, manifestam-se aspectos mais ou menos graves e urgentes da questão social (IANNI,1989 p, 147)

A questão social é:

Indissociável da sociabilidade da sociedade de classes e seus antagonismos constituintes, envolvendo uma arena de lutas políticas e culturais contra as desigualdades socialmente produzidas, como selo das particularidades nacionais, presidida pelo desenvolvimento desigual e combinado, onde convivem coexistindo temporalidades históricas diversas. (IAMAMOTO, 2013, p. 330).

Portanto, a questão social pode ser entendida como o conjunto das

desigualdades produzidas na sociedade capitalista, diante disso, vale ressaltar:

[...] A questão social, nessa perspectiva, é expressão das contradições inerentes ao capitalismo que, ao constituir o trabalho vivo como única fonte de valor, e, ao mesmo tempo, reduzi-lo progressivamente em decorrência da elevação da composição orgânica do capital o que implica num predomínio do trabalho morto (capital constante) sobre o trabalho vivo (capital variável) promove a expansão do exercito industrial de reserva (ou superpopulação relativa) em larga escala (BEHRING; SANTOS, 2009, p.271)

A questão social apresenta diferentes aspectos, políticos e sociais, o trabalho

infantil, por sua vez, é uma das expressões dela:

O reconhecimento do trabalho infantil como uma das expressões da questão social ocorreu num processo de discussão e de luta no âmbito internacional, ganhando acolhida no Brasil pelos movimentos organizados em torno da garantia e defesa dos direitos e pelas entidades profissionais, como a OAB, a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Pastoral do Menor da CNBB, as Centrais Sindicais e, principalmente, o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR). (RODRIGUES, 2002, p, 91)

Portanto, o trabalho precoce se apresenta como uma das expressões

sociais mais significativas da atual questão social, que afeta o direito à infância e à

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vida (SILVA, 2002), pois o trabalho infantil é parte significativa de um processo de

exclusão social.

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4 PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI)

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil tem caráter intersetorial e

integra a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que no âmbito do Sistema

Único de Assistência Social (SUAS), compreende: transferência de renda; trabalho

social com as famílias; e oferta de serviços socioeducativos para crianças e

adolescentes que se encontram em situação de trabalho.

Tem como objetivo contribuir para a erradicação de todas as formas de

trabalho infantil, articulando um conjunto de ações que visam à retirada de crianças

e adolescentes, com idade inferior a 16 anos, da prática do trabalho precoce, exceto

na condição de aprendiz a partir de 14 anos.

Na verdade, não se pode falar sobre combate ao trabalho infantil sem situar

o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Segundo o Ministério do

Desenvolvimento Social (MDS), o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

(PETI) teve início, em 1996, como ação do Governo Federal, com o auxílio da

Organização Internacional do Trabalho (OIT), para combater o trabalho de crianças

em carvoarias da região de Três Lagoas (MS).

Sua cobertura foi ampliada com o objetivo de alcançar aos poucos todo o

país num esforço do Estado Brasileiro para implantação de políticas públicas

voltadas ao combate ao trabalho infantil, atendendo as demandas da sociedade,

articuladas pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

(FNPETI).

Nos anos de 1996 a 2005 é caracterizado a implantação do PETI antes do

SUAS, inicialmente houve o lançamento pelo Governo Federal do Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil - PETI no Estado do Mato Grosso do Sul, em

parceria com as centrais sindicais, confederações patronais, organizações não-

governamentais, entre outros. A partir dos anos 2000 ocorreu a ampliação do

Programa para os demais estados.

O modelo inicial do PETI consistia em implantar atividades complementares

à escola - Jornada Ampliada; conceder uma complementação mensal de renda -

Bolsa Criança Cidadã, às famílias; proporcionar apoio e orientação às famílias

beneficiadas; promover programas e projetos de qualificação profissional e de

geração de trabalho e renda junto às famílias. E por fim, nos anos de 2002 e 2005

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foi Instituída por Portaria nº 365 de 12 de setembro a Comissão Nacional de

Erradicação do Trabalho Infantil – CONAETI.

Art. 1º Estabelecer a integração entre o Programa Bolsa-Família - PBF, criado pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e o Programa de Erradicação do Art. 2º A integração entre o PBF e o PETI perseguirá os seguintes objetivos: I - racionalização e aprimoramento dos processos de gestão do PBF e do PETI; II - ampliação da cobertura do atendimento das crianças ou adolescentes em situação de trabalho infantil do PETI; III - extensão das ações sócio-educativas e de convivência do PETI para as crianças ou adolescentes do PBF em situação de trabalho infantil; e IV - universalização do PBF para as famílias que atendem aos seus critérios de elegibilidade. (Portaria n°666 de 28 de dezembro de 2015)

Em 2011, o PETI foi instituído pela Lei Orgânica de Assistência Social

(LOAS) se configurando como programa de caráter intersetorial, participante da

Política Nacional de Assistência Social, que tem como objetivos: transferências de

renda; trabalho social com famílias e serviços socioeducativos para crianças e

adolescentes que se encontram em situação de trabalho laboral.

Então, diante de todas essas mudanças no programa de Erradicação do

Trabalho Infantil, surge o Redesenho do PETI, que por sua vez, foi um divisor de

águas no contexto histórico do enfrentamento e erradicação do trabalho infantil.

4.1. REDESENHO DO PETI

Já no ano de 2013, teve início a discussão sobre o Redesenho do PETI,

considerando um das conquistas da estruturação do Sistema Único de Assistência

Social (SUAS) e da política de prevenção e erradicação do trabalho infantil, além do

novo paradigma do trabalho infantil no Brasil que estava se configurando a partir do

Censo do IBGE 2010.

Com o reordenamento do SCFV e o redesenho do PETI, a coordenação do programa ou, em sua ausência, a Proteção Social Especial, que até então tinha a função de executar o SCFV, fica desobrigada dessa função e passa a ter novas atribuições relacionadas diretamente à gestão do planejamento, da articulação e do monitoramento do PETI, através do acompanhamento das ações e dos serviços que possuem interface com a prevenção e a erradicação do trabalho infantil no âmbito do SUAS e, também, das demais políticas setoriais. Assim, a política de assistência social atua como um ponto focal da rede intersetorial de prevenção e de erradicação do trabalho infantil. Nessa direção, a execução direta do

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serviço socioeducativo passou a ser de responsabilidade do SCFV, no âmbito da Proteção Social Básica, atendendo com prioridades crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil ou dele retirados, de modo a garantir a sua integração familiar e comunitária, por meio do convívio com usuários da mesma faixa etária e que vivenciam vulnerabilidades sociais diversas. (MDS, 2014, p, 14)

No entanto, apesar de todas as estratégias frente ao combate e

enfrentamento do trabalho infantil, é notável que ainda existe um relevante número

de crianças e adolescentes trabalhando, inclusive nas piores formas de trabalho

infantil. Pode-se destacar como ações estratégicas do PETI:

1. Informação e mobilização nos territórios a partir das incidências de trabalho infantil, visando propiciar o desenvolvimento de ações de prevenção e erradicação; 2. Identificação de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil; 3. Proteção social para crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil e suas famílias; 4. Apoio e acompanhamento das ações de defesa e responsabilização; 5. Monitoramento das ações do PETI. (Ministério do Desenvolvimento Social, 2014, p,9)

Na cartilha de perguntas e respostas do Redesenho do PETI (2014),

descreve os assim denominados "eixo" com suas respectivas ações. No primeiro

eixo, "informação e mobilização", o objetivo é sensibilizar e a mobilizar os diversos

atores e segmentos sociais envolvidos na erradicação do trabalho infantil com o

intuito de se articularem na elaboração e execução das ações estratégicas de

erradicação do trabalho infantil, além da mobilização e sensibilização da rede

socioassistencial, fortalecendo o combate ao trabalho infantil na agenda pública.

Outra forma de sensibilizar e mobilizar a sociedade é a realização de campanhas

voltadas para difundir os danos ao desenvolvimento de crianças e adolescente

sujeitos ao trabalho infantil. Por fim, apoio e o acompanhamento da realização de

audiências públicas para firmar compromissos com a finalidade de erradicar o

trabalho infantil nos territórios.

No segundo eixo, intitulado "identificação de crianças e adolescentes",

ocorre a realização de diagnóstico pela Vigilância Socioassistencial que subsidie a

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leitura dos territórios e a busca ativa9, além do registro obrigatório de crianças e

adolescentes e suas famílias identificadas em situação de trabalho infantil no

Cadastro Único.

No terceiro eixo, "proteção social para crianças e adolescentes em situação

de trabalho infantil e suas famílias", ocorre a definição de fluxos e protocolos de

atendimento às crianças, adolescentes e suas famílias na rede de proteção social;

Promoção de ações integradas entre os serviços socioassistenciais e rede de

políticas setoriais para o atendimento integral às crianças, adolescentes e suas

famílias; Encaminhamento das crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil

e de suas famílias para os serviços de saúde, educação, cultura, esporte e lazer;

Acompanhamento das famílias das crianças e adolescentes em situação de trabalho

infantil pelo PAIF/CRAS e PAEFI/ CREAS, entre outros encaminhamentos para a

rede socioassistencial.

No caso do quarto eixo 4, a principal ação é a articulação com Poder

Judiciário, Conselhos Tutelares, com as Superintendências, Gerências e Agências

Regionais do Trabalho e Emprego para fomento das ações de fiscalização e para

garantir a devida aplicação de medida de proteção para crianças e adolescentes e

suas famílias em situação de trabalho infantil, além garantir a aplicação de medida

de proteção para a criança e o adolescente em situação de trabalho infantil.

Por último, o quinto eixo é o responsável pelo "monitoramento das Ações

Estratégicas", que se faz por meio dos sistemas da Rede SUAS e monitorando as

ações intersetoriais por meio dos registros e sistemas das diversas políticas

(Cadastro Único, Censo SUAS, Censo Escolar, Notificação Integrada, entre outros).

4.2. DIMENSÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO CONTEXTO DO

TRABALHO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE NATAL

9 A Busca ativa é realizada pelo Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), e é ofertado de forma continuada com a finalidade de assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa, de forma continuada e programada, identificando nos territórios a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes e situação de rua e outras. Deverão ser consideradas as praças, entroncamento de estradas, fronteiras, espaços públicos onde se realizam atividades laborais, locais de intensa circulação de pessoas e existência de comércio, terminais de ônibus, trens, metrô e outros. ( BRASIL, Tipificação dos serviços Socioassistênciais, 2009, pág. 30)

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O contexto estadual com relação ao trabalho infantil é caracterizado como o

Rio Grande do Norte sendo uns dos Estados brasileiros com menor índice de

trabalhadores infantis, segundo o IBGE/PNAD de 2014, o RN ocupa a 23ª posição

entre as 26 unidades da federação, com um índice de 5,8% de ocupados.

Na última década, o estado conseguiu tirar 11.443 crianças e adolescentes

entre 10 e 17 anos das atividades laborais, ou seja, no ano 2000 havia um

quantitativo de 54.747 trabalhando, já em 2010 este número diminuiu para 43.304, o

que significa um decréscimo 20% do total de crianças e adolescentes com esta faixa

etária trabalhando, segundo o Censo do IBGE 2010.

O PETI está inserindo na Proteção Social Especial e passou por um

processo de reordenamento, tendo como objetivo articular a Rede de Proteção e

Defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes em situação de trabalho, no

sentido do enfrentamento e erradicação deste tipo de atividade.

Convém destacar que a SEMTAS assinou o aceite para implementação das

ações estratégicas do PETI,10 em 02 de junho de 2014, quando da resolução do

Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) por Ata nº 186. As ações tiveram

início em setembro do ano em curso, com a chegada dos profissionais advindos do

processo seletivo realizado pela secretaria. Nesta ocasião, foi estruturado um

espaço para a coordenação do programa, que começou o planejamento e

articulação com a rede socioassistencial e com outras políticas públicas com objetivo

de assegurar direitos às famílias com crianças e adolescentes em situação de

trabalho.

O PETI em Natal atualmente se estrutura com uma coordenação11 e com

uma técnica do PETI em cada Centro de Referência Especializado em Assistência

Social (CREAS), que são técnicas do PAEFI que vão referenciar situações de

trabalho infantil na sua região administrativa diretamente a coordenação do PETI na

SEMTAS, com objetivo de desenvolver as ações estratégicas na região

administrativa.

Dentre as atividades realizadas pela equipe do PETI em Natal, destacam-se

as ações de planejamento, avaliação e articulação com a rede socioassistencial e

10 Informação adquirida na vivência do campo de estágio (PETI/SEMTAS).

11 A coordenação do PETI/SEMTAS é composta por duas Técnicas de Referências (Assistente Sociais), uma técnica administrativa e uma estagiária de Serviço Social.

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outras políticas públicas, na perspectiva de enfrentamento e erradicação do trabalho

infantil no município de Natal.

Não haveria como deixar de citar a importância das ações articuladas com

outros setores, sejam, da rede socioassistencial ou outras políticas que visam a

proteção e/ou promoção dos direitos das crianças e adolescentes, sem a articulação

intersetorial, as ações de enfrentamento ao trabalho infantil não apresentariam

resultados.

Para finalizar, é valido reforçar que de forma isolada nenhum resultado seria

possível, é necessário um esforço conjunto para o fortalecimento das ações

estratégicas que visam a erradicação do trabalho infantil, certamente, sem os

parceiros, o objetivo não será atingido.

4.3. TRABALHO INFANTIL EM FEIRAS LIVRES NO MUNICÍPIO DE NATAL: EM

TORNO DA BUSCA ATIVA REALIZADA PELA SEMTAS

As buscas ativas nas feiras livres realizadas pela SEMTAS, coordenada e

idealizada pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil faz parte das Ações

Estratégicas do PETI, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social – SUAS,

elencadas na Resolução nº 05 de 12 de abril de 2013, e pauta-se na Lei Orgânica de

Assistência Social (LOAS), na Política Nacional de Assistência Social (PNAS), no

Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e no Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), reafirmando o compromisso do Município na prevenção e

enfrentamento ao trabalho infantil em Natal/RN, no caso das ações feiras, foi um

foco escolhido pelo o município para este enfrentamento.

O objetivo principal da Ação de abordagem nas feiras livres é informar e

mobilizar a sociedade sobre a problemática do trabalho infantil e Identificar crianças

e adolescentes em situação de trabalho infantil nas 22 (vinte e duas) feiras livres

12cadastradas junto a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMSUR) do

município de Natal/RN, diante disso, é realizada abordagem social e busca ativa a

crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil nas feiras livres a fim de

cadastrá-las para inserção posterior em programas, serviços e benefícios

12 Listagem das feiras livres do município de Natal/RN em anexo.

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socioassistenciais disponíveis na esfera municipal, estadual e federal; é realizado

trabalho socioeducativo, de forma articulada com a rede socioassistencial, demais

políticas públicas e órgãos do Sistema de Garantia de Direitos (atores sociais

envolvidos), a fim de informar a sociedade sobre a ilegalidade do trabalho infantil e

as consequências negativas na vida de crianças e adolescentes; é feito a

sensibilização dos feirantes, transeuntes e sociedade em geral sobre a ilegalidade

do trabalho infantil estimulando a denúncia através do Disque 100; é realizado

orientações e encaminhamentos às famílias encontradas em situação de trabalho

infantil aos órgãos e serviços disponíveis, além de garantir periodicamente a

continuidade das ações estratégicas de prevenção e enfrentamento ao trabalho

infantil nas feiras livres cadastradas no município.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES: PERFIL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ABORDADOS EM FEIRAS LIVRES DO MUNICÍPIO DE NATAL

Na coleta de dados foi possível analisar todas as fichas de abordagens

realizadas nas feiras livres do município de Natal/RN no ano de 2015, no total de

148 crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil foram abordadas.

Destas, 127, o equivalente a 85,8%, declararam que residem no município de

Natal/RN e 21, que totaliza 14,2%, em municípios circunvizinhos e 05 não foram

identificados os municípios de origem, conforme visualizado, no Gráfico 01.

É importante destacar que a proximidade entre Natal/RN e os apresentados

no Gráfico 01, possivelmente facilite a mobilidade das crianças e adolescentes a

chegarem até os locais onde se realizam as feiras livres para executarem atividades

com seus familiares, ou até mesmo sozinhas.

Gráfico 01

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

Levando em consideração o censo do IBGE 2010, a região metropolitana de

Natal é composta por diversos municípios, na sua origem, ela compreendia os

municípios de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim, Macaíba

e Extremoz. Posteriormente, a ela foram incorporados os municípios de Nísia

Floresta e São José de Mipibu13, o município de Monte Alegre14 e o município de

13 Lei Estadual Complementar 221, de 2002.

14 Lei C. n° 315, de 30 de novembro de 2005.

127

6 5 2 2 1 5

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ABORDADOS EM SITUAÇÃO DE

TRABALHO INFANTIL

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Vera Cruz15. Hoje, a região compreende 10 municípios, então, a partir disso pode-se

compreender a presença de crianças e adolescentes advindas de outros municípios

em situação de trabalho infantil nas feiras livres do município de Natal/RN.

No que diz respeito ao Gráfico 02, é possível identificar as regiões

administrativas que reside os abordados em situação de trabalho infantil nas feiras

livres do município de Natal/RN.

De acordo com os dados coletados, das 127 crianças e adolescentes

identificadas em atividades laborais no município de Natal/RN, 65 são oriundas da

Região Administrativa Norte, o que equivale a 51%; seguidos de 53 residentes na

Região Oeste, o proporcional a 42; Por conseguinte, 06, que totalizam 5%, residem

na Região Leste; e apenas 03, que representam 2% são da Região Administrativa

Sul.

Gráfico 02

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

Observando os indicadores acima citados, percebesse que as regiões Norte

e Oeste se destacam pela maior concentração de crianças e adolescentes

identificadas desenvolvendo atividades laborais, possivelmente isto ocorra devido as

duas serem as regiões com maiores índices de vulnerabilidade social no município

de Natal/RN, como se pode observar no estudo do projeto de pesquisa Cientifica da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN):

15 Lei C. no. 391, de 22 de julho de 2009.

51%

2%5%

42%

REGIÃO ADMINISTRATIVA ONDE O

ABORDADO RESIDE

Norte

Sul

Leste

Oeste

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[...] Notou-se que as zonas norte e oeste detêm o maior número de setor de vulnerabilidade social, tal confirmação é factível ao saber que são as zonas administrativas com os piores indicadores sociais e com a população de baixa renda predominantemente, caracterizando-se como a periferia da cidade. O oposto é observado nas áreas com melhores indicadores sociais, tais como a zona administrativa sul e o centro leste, correspondente aos bairros como maiores densidade do setor de serviço e melhores habitações, como maior infraestrutura. (Projeto de Pesquisa Científica Propesq – Reuni, vinculado ao Departamento de Geografia: Riscos Naturais e Vulnerabilidade Social no Município de Natal, RN, Brasil. Em andamento na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA, campus central, 2011, p.7.)

Ou seja, as regiões Norte e Oeste do município de Natal é caracterizada

com uma população predominantemente de baixa renda e péssimos indicadores

sociais, como consequência destes fatores, as crianças e adolescentes são

incorporados ao mercado de trabalho, com a responsabilidade de contribuir no

orçamento familiar.

Segundo Veronese (1998), [...] a família e sua condição socioeconômica têm um papel importante na definição do momento de entrada dos filhos no mercado de trabalho. A carência econômica é o fundamento principal para incorporar os filhos em atividades produtivas. (Veronese, J. 1998, p, 50) (Grifo nosso)

Diante da carência econômica as famílias buscam meios de driblar esse

problema, como aponta Mioto (1997) cada vez mais se nota a exigência de as

famílias desenvolverem estratégias complexas de relações para sobreviverem.

Atualmente, na cidade do Natal as feiras com maiores índices de situações

de trabalho infantil, são: Feira livre de Nova Natal (Região Norte); Feira Livre da

Cidade da Esperança (Região Oeste) e Feira Livre do Alecrim (Região Leste), como

se pode observar no gráfico abaixo:

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Gráfico 03

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

Vale ressaltar que as crianças e adolescentes frequentam não apenas as

feiras livres da localidade que residem, mas se fazem presente em várias outras

feiras livres do município de Natal. No gráfico acima fica-se claro as feiras com

maiores índices de trabalho infantil são feiras que ocorrem no final de semana.

Segundo a listagem disponibilizadas pela SEMSUR, em anexo, a feira livre do

Alecrim ocorre aos sábados, feira livre do Nova Natal aos domingos e a feira livre da

Cidade da Esperança aos domingos.

No tocante ao gênero, observa-se, no Gráfico 04 abaixo, que dos 127 que

declararam residir em Natal/RN, um total de 101 o equivalente a 80%, são do sexo

masculino, enquanto que 26, que totaliza20% correspondiam ao sexo feminino.

Gráfico 04

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

80%

20%

SEXO

Masculino

Feminino

18%

17%

14%

51%

MAIOR INCIDÊNCIA DE TRABALHO

INFANTIL POR FEIRA

Feira de Nova Natal

Feira do Alecrim

Feira da Cidade da

Esperança

Outras

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Atualmente, segundo o IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

(PNAD) no ano de 2014, da faixa etária de 5 à 17 anos ocupados em atividades

laborais, 65,5 % são meninos, porém, as meninas ocupam maior espaço na

categoria trabalho infantil doméstico, de acordo com IBGE - Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílio (PNAD) no ano de 2014, no Brasil, 94% das crianças e

adolescentes trabalhando em casas de família são do sexo feminino.

Mas não é de hoje que o trabalho infantil é realizado na sua maior parte pelo

público masculino e a categoria trabalho infantil doméstico pelo público feminino, de

acordo com Brandão (1995) essa prática era visualizada desde o período da

colonização, na qual, o homem sempre esteve relacionado com os trabalhos braçais

e a figura feminina considerada como frágil pela sociedade e associada aos serviços

domésticos.

Os meninos observam os homens quando fazem arcos e flechas; o homem os chama para perto de si e eles se veem obrigados a observá-lo. As mulheres, por outro lado, levam as meninas para fora de casa, ensinando-as a conhecer as plantas boas para confeccionar cestos e a argila que serve para fazer potes. E, em casa, as mulheres tecem os cestos, costuram os mocassins e curtem a pele de cabrito diante das meninas [...] (BRANDÂO, 1995, p. 21).

De acordo com Rizzini e Fonseca (2002) o trabalho doméstico está

relacionado com as práticas ligadas a cultura, que, historicamente, dentro de uma

cultura patriarcal, aos homens delegavam-se as tarefas relacionadas àpromover

provisão à toda a família e às mulheres cabiam as tarefas relacionadas ao lar.

A questão de gênero está totalmente inseridas nas configurações do

trabalho infantil, essa associação do trabalho doméstico está relacionado as

meninas e as outras formas de trabalho infantil aos meninos, é algo historicamente

construído. Alberto e Santos (2011) afirmam que o trabalho infantil se configura

como uma dimensão cultural de gênero, pois há uma "divisão" de atividades nas

quais predominam os meninos (frentista, feirante, engraxate, entre outras) e

atividades nas quais predominam meninas (trabalho doméstico e exploração sexual)

(Alberto e Santos, 2011).

Com relação à faixa etária, os dados coletados nas fichas de abordagem

observar-se no gráfico abaixo:

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Gráfico 05

. Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

Como se pode analisar a maior parcela, 57 crianças e/ou adolescentes

abordados, encontram-se com idades compreendidas entre 12 e 14 anos, ou seja, é

formada por adolescentes. Em segundo lugar, totalizando 43 estão os adolescentes

com idade compreendida de 15 a 17 anos, seguidos de 13 crianças com faixa etária

de 06 a 11 anos, 05 com idade de 03 a 05 anos, e, 05com idades abaixo de 03

anos. Ainda conforme podemos visualizar no Gráfico 04, abaixo, para um total de 04

crianças e/ou adolescentes não foi informado à idade. Vale ressaltar que ao proibir o

trabalho aos menores de 16 anos, a Constituição da República de 1988 ressalvou a

possibilidade de ingresso no mercado de trabalho na condição de aprendiz a partir

dos 14 anos.

No Gráfico 4 observar-se que a maioria apresenta idade apta para o

ingresso no Programa de Aprendizagem16.

No Brasil, historicamente, a aprendizagem é regulada pela Consolidação das

Leis do Trabalho (CLT) e passou por um processo de modernização com a

promulgação das Leis nos 10.097, de 19 de dezembro de 2000, 11.180, de 23 de

setembro de 2005, e 11.788, de 25 de setembro de 2008. O Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA), aprovado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, também

prevê, nos seus arts. 60 a 69, o direito à aprendizagem, dando-lhe tratamento

16 A aprendizagem é um instituto que cria oportunidades tanto para o aprendiz quanto para as empresas, pois prepara o jovem para desempenhar atividades profissionais e ter capacidade de discernimento para lidar com diferentes situações no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, permite às empresas formarem mão-de obra qualificada, cada vez mais necessária em um cenário econômico em permanente evolução tecnológica. (Manual da Aprendizagem, 2009, p, 11).

57

43

13

5 5 4

12 à 14 anos 15 à 17 anos 6 à 11 anos Abaixo de 3

Anos

3 à 5 anos Não

Informado

FAIXA ETÁRIA

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48

alinhado ao princípio da proteção integral à criança e ao adolescente. (Manual da

Aprendizagem, 2009, p.11).

Atualmente o Programa Aprendizagem é umas das ferramentas mais

importantes para a erradicação do trabalho infantil, possibilitando prepara o jovem

para o mercado profissional de forma segura e livre de qualquer tipo de violação de

direitos.

Outro ponto analisado, expresso no Gráfico 05, está relacionado a garantia

do direito à educação das crianças e/ou adolescentes abordados em situação de

trabalho infantil nas feiras livres, tendo em vista que, ao começar a trabalhar, seus

estudos são prejudicados ou até mesmo chegam a abandonar a escola, pois a

defasagem escolar tem uma estreita relação com o trabalho, uma vez que as

crianças e adolescentes que trabalham progridem lentamente na escola (RIZZINI,

1996).

Diante desse contexto, foi possível identificar se as crianças e adolescentes

encontram-se matriculados na rede de ensino, série e turno escolar, no qual

estudam, como observa-se a seguir:

A partir da análise do Gráfico 05, pode-se detectar que 98, o equivalente a

77% das crianças e adolescentes abordados, informaram que estão matriculados na

rede pública ou privada de ensino e, por conseguinte, frequentam regularmente a

escola; e 10 deles, igual a 8%, alegaram que não estão matriculados. importa frisar,

ainda, que 19 das crianças e adolescentes que foram abordados, o que significa15%

do total, não informaram se estavam estudando ou não.

Gráfico 06

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

77%

8%

15%

MATRICULADO NA REDE DE ENSINO

Sim

Não

Não Informado

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49

Os dados do Gráfico 06 mostram que a maioria das crianças e adolescentes

estão matriculados na rede de ensino, mas é importante analisar o nível de

escolaridade, como pode ser observado no Gráfico 07 abaixo:

Gráfico 07

. Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

No tocante ao nível de escolaridade pode-se visualizar diante das

informações obtidas na análise das fichas de abordagem, no Gráfico 06 acima, que

das 127 crianças e adolescentes abordados; 01 criança aparece cursando a pré-

escola; 09 estão cursando o 4º ano; 15 no 5º ano; 21, no 6º ano; 15 cursam o 7º

ano; 05 estão no 8º ano; outros 06 no 9º ano; 04, no 1º ano do ensino médio; e 01

está no 2º ano do ensino médio. Ainda observa-se que 05 crianças e adolescentes

estão cursando o ensino supletivo sendo; 03 no 5º/6º ano; 01 no 6º/7º; 01 8º/9º.

Portanto, o nível de escolaridade não é condizente com a faixa etária dos

adolescentes abordados, foi identificado apenas 05 adolescentes cursando o ensino

médio (Gráfico 6), sendo que foram abordados 43adolescentes na faixa etária de 15

à 17 anos, faixa etária referente ao ensino médio (Gráfico 04).

Segundo Rizzini (1996), sabe-se que muitos trabalhadores conciliam

trabalho e escola, no entanto os índices de evasão escolar aumentam à medida que

aumenta a idade. Desta forma, cria-se a defasagem escolar, ou seja, as crianças e

os adolescentes que trabalham se atrasam cada vez mais na escola, por motivos de

desistência e repetência, pois à medida que as crianças avançam em idade vão

1

915

1 3

21

1

15

51

61 4 1

43

NÍVEL DE ESCOLARIDADE

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50

sendo inseridas no mercado de trabalho, trazendo efeitos negativos sobre a

escolarização.

Assim, embora valorizem o estudo como possibilidade de ascensão social,

acabam sendo impedidas ou apresentam dificuldades de frequentar a escola, por

diversos motivos referentes ao trabalho, desde a longas jornadas à esforços físicos

e mentais, que de certa forma, determinam a frequência e o rendimento escolar,

fazendo com que a criança perca o interesse pelos estudos e por fim os abandone,

como discorre Silva (2002).Portanto, o trabalho infantil, aliado a baixa escolaridade,

acaba por estimular a mão-de-obra desqualificada, o que interfere na inserção

profissional desses adolescentes futuramente (FUNDAÇÃO Djalma Guimarães,

relatório 3, cap. 5).

Outro quesito coletado é com relação as crianças e adolescentes

identificadas nas feiras, com algum tipo de deficiência. Conforme se evidencia, a

partir do Gráfico 08 a seguir:

Gráfico 08

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

De acordo com o Gráfico, apenas2%, ou seja, 03 das crianças e/ou

adolescentes encontrados em situação de trabalho infantil, nas feiras livres, são

pessoas com deficiência, mais especificamente, deficiência física. Conforme dados

relatados nas fichas de abordagens sociais, a maior parcela, 73%, que equivale 93,

não apresentam deficiência, e em 25, que totaliza 31, não houve relato de

deficiência.

2%

73%

25%

EXISTÊNCIA DE DEFICIÊNCIA

Sim

Não

Em branco

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51

Apesar do quantitativo de crianças/adolescentes deficiente trabalhando não

ter sido tão alto, é totalmente significativo, pois, se explorar a mão de obra infantil já

é considerado uma violação de direitos grave, explorar a mão de obra de crianças e

adolescente deficientes é algo desumano. Além de consequentemente está

agravando a situação de saúde, tendo em vista que o trabalho infantil traz várias

repercussões na saúde.

O trabalho precoce traz vários malefícios, além de prejudicar e, em alguns

casos, agravar o estado de saúde das crianças e adolescentes, pois o trabalho

precoce é aquele que expõe a criança e o adolescente à disciplina do trabalho,

prejudicando a formação e a saúde de seus organismos frágeis (TRABALHO

Precoce: saúde em risco, 2000).

No Gráfico 09 pode-se observar dados com relação a utilização de

substâncias entorpecentes pelas crianças e adolescentes abordadas em situação de

trabalho infantil, dados expostos no Gráfico 09, a seguir.

Gráfico 09

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

Por meio da análise do citado gráfico, averiguamos que 91 dos abordados

em situação de trabalho infantil, que totaliza 72%, informaram não possuir

envolvimento com substâncias entorpecentes e 36, equivalente 28% das fichas de

abordagem analisadas, não houve relato.

72%

28%

USUÁRIO DE SUBSTÂNCIAS

ENTORPECENTES

Não

Em branco

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Vale ressaltar que a auto declaração por parte das crianças e adolescentes

é bem complexa, tendo em vista que existe um receio por parte deles declararem a

utilização de substâncias entorpecentes.

O Gráfico 10, a seguir, apresenta alguns dados da realidade familiar das

crianças e adolescentes identificadas em situação laboral nas feiras livres quanto a

renda familiar. A partir da análise do citado gráfico, pode-se visualizar que 16

famílias das crianças e adolescentes abordados, que equivale a 13%, possuem

renda familiar de até 01 salário-mínimo; 11 destas, que totaliza 9%, recebem de 01 a

03 salários; e 02, proporcional a 1% , ganham acima de 03 salários-mínimos.

Gráfico 10

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

Segundo Veronese (1998), [...]a família e sua condição socioeconômica têm

um papel importante na definição do momento de entrada dos filhos no mercado de

trabalho. A carência econômica é uns dos fundamentos principais para incorporar os

filhos em atividades produtivas.

É importante destacar, ainda que 97 (noventa e sete) deles, que totaliza 76%

(setenta e seis por cento), não deram nenhuma informação sobre a renda familiar,

de acordo como relato nas fichas de abordagem os abordados não sabiam informar

e muitos se negaram.

Portanto, não se pode negar que a pobreza é um dos fatores de exploração

da mão-de-obra infantil, principalmente quando o uso do trabalho durante a infância

13%

9%1%

1%

76%

RENDA FAMILIAR

Até 1 salário mínimo

De 1 a 3 salários

mínimos

Acima de 3 salários

mínimos

Não Informado

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53

ainda é considerado como uma alternativa de muitas famílias para manter a própria

sobrevivência.

Quanto à inclusão da família em algum programa social, seja em âmbito

municipal, estadual ou federal, podemos visualizar a partir do Gráfico 11, abaixo

que: 55, o equivalente a 43% das crianças e adolescentes identificadas em situação

de trabalho, informou que as famílias estão incluídas em algum tipo de programa

social; um total de 50, que totaliza 40% alegaram não estarem inseridos e por sua

vez, 22 deles, que é igual a 17% informaram não saber se a família é beneficiária de

algum programa social.

Gráfico 11

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

Diante disso no Gráfico 12, foi possível identificar qual o tipo de programa

social a família, a criança e/ou adolescente abordado é beneficiário (a). Nesse

sentido, os dados mostram que, das 55 famílias ou crianças/adolescentes, que

foram declaradas como participantes de algum programa social; 46 são

contemplados com o Programa Bolsa Família, 01 deles, está inserido no Programa

de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI); 01 informou participar dos programas e

projetos sociais do SESC, e ainda 01 disse que está na ONG Atitude e Cooperação;

enquanto que 11 do total de famílias declaradas como beneficiárias, não informaram

em qual programa estavam inseridas, como se pode observar abaixo:

43%

40%

17%

PARTICIPA DE ALGUM PROGRAMA

SOCIAL

Sim

Não

Não Informado

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Gráfico 12

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

O Programa Bolsa Família (PBF) é considerado o Programa de

Transferência Condicionada de Renda maior do mundo, tendo aproximadamente

13,4 milhões de famílias brasileiras beneficiadas em 201517.

O Programa Bolsa Família estabelece uma relação normativa com o

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), no decreto n° 666 de 28 de

dezembro de 2005, estabelece os objetivos e pactua as seguintes formas de

integração:

Art. 2º. A integração entre o PBF e o PETI perseguirá os seguintes objetivos:

I - racionalização e aprimoramento dos processos de gestão do PBF e do PETI;

II - ampliação da cobertura do atendimento das crianças ou adolescentes em situação de trabalho infantil do PETI;

III - extensão das ações sócio-educativas e de convivência do PETI para as crianças ou adolescentes do PBF em situação de trabalho infantil; e

IV – universalização do PBF para as famílias que atendem aos seus critérios de elegibilidade.

17 https://www.beneficiossociais.caixa.gov.br/consulta/beneficio/04.01.00-00_00.asp

83%

2%

2% 2% 11%

PROGRAMAS SOCIAIS

IDENTIFICADOS

Bolsa Familia

ONG-Atitude e

cooperação

PETI-Parnamirim

SESC-Lagoa Nova-

Xadrez

Não Informado

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55

Portanto, essa pactuação tem como objetivo auxiliar na superação da

situação de vulnerabilidade social das famílias caracterizadas em situações de

trabalho infantil.

A partir dos dados obtidos na análise das fichas de abordagens, visualizar-

se, no Gráfico 13, abaixo, os tipos de trabalho infantil desenvolvidos por crianças e

adolescentes nas feiras livres do município.

Gráfico 13

, Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

A atividade laboral que maior se destaca no âmbito das feiras livres é a de

fretista, tendo em vista a identificação de 29 crianças e/ou adolescentes

desenvolvendo esse tipo de trabalho.

Em segundo lugar, destacam-se as atividades de ajudante de feirante e

vendedor, exercida igualmente por 24 crianças e/ou adolescentes, seguida 13

vendedores ambulantes.

Além disso, observa-se que 11 crianças e/ou adolescentes encontrados em

situação de trabalho infantil alegaram que estavam acompanhando os familiares que

eram feirantes18.

Ainda, 02 foram identificados praticando mendicância, e, 01 exercendo a

função de açougueiro, mesmo quantitativo que foi observado trabalhando como

embalador e, que informou na ocasião trabalhar em uma academia. Por oportuno,

cabe ressaltar que durante a análise das fichas de abordagem não foi identificado o

18 Informação obtida nos relatos das fichas de abordagem social.

29

24 24

1311

2 1 1 1

21

TRABALHO INFANTIL

IDENTIFICADO

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tipo de trabalho infantil desenvolvido por 21 crianças e/ou adolescentes abordados.

O trabalho infantil se expressa de diversas formas e em diferentes épocas, porém

sempre trazendo diversos malefícios, conforme Faleiros e Faleiros (2007, p. 59):

Há trabalhos que embrutecem e deformam, além de não proporcionarem condições para o ser humano escapar da situação de penúria e provação na vida pessoal, familiar e social. Para os autores, o trabalho infantil interfere diretamente em seu desenvolvimento: Físico – porque ficam expostas a riscos de lesões, deformidades e doenças, muitas vezes superiores às possibilidades de defesa de seus corpos; Emocional – podem apresentar, ao longo de suas vidas, dificuldades para estabelecer vínculos afetivos em razão das condições de exploração a que estiveram expostas e dos maus-tratos que receberam de patrões e empregadores; Social: antes mesmo de atingir a idade adulta, realizam trabalho que requer maturidade de adulto, afastando-as do convívio social com pessoas de sua idade.

Outro dado relevante se refere ao motivo alegado pelos abordados para

estarem inseridos em situações de trabalho infantil, conforme visualizado a seguir,

no gráfico 14, abaixo:

Gráfico 14

Fonte: Fichas de Abordagens Sociais, DPSE/MC/PETI, 2015.

A partir da análise do gráfico supracitado podemos concluir que o maior

motivo alegado pelas crianças e/ou adolescentes, identificadas em situação de

trabalho infantil, trata-se da ajuda à família, objetivando ter condições de garantir o

seu sustento, sendo esta a informação dada por 40 delas, o equivalente a

31%.Segundo Faleiros e Faleiros (2007, p. 60),

31%

3%51%

1%5%

9%

Motivo para o Trabalho Infantil

Ajudar a família

Gosta

Não informado

Não roubar e matar

Para não ficar sozinho

em casa

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Necessidade, oportunismo e incompreensão mesclam-se para explicar o trabalho precoce. A situação de pobreza obriga os pais tanto a utilizar os filhos como mão de obra doméstica, quanto a oferecê-los no mercado de trabalho para aumentar a renda familiar. Como uma das expressões da pobreza e da injusta distribuição de renda, o trabalho infantil sempre se fez presente em nossa sociedade.

Como já foi analisado a pobreza não é o fator principal para a existência de

trabalho infantil, o Censo do IBGE (2010)19apresenta que quase 40% das pessoas

menores de 18 anos em situação de trabalho não são membros de famílias que

vivem abaixo da linha de pobreza, um quadro bastante diferente dos anos 1990.

Assim, vem surgindo o interesse de trabalhar para suprir desejos pessoais

de consumo, na coleta de dados foi possível identificar 11 abordados, o que totaliza

9%, que informaram utilizarem o dinheiro que ganham comprando artigos de uso

pessoal. Assim, verifica-se o papel que o consumo exerce na construção da

identidade das crianças e adolescentes, mesmo nos segmentos mais pobres e com

baixo poder aquisitivo.

Em seguida temos 04, que representa 3%, justificaram a inserção no

mercado de trabalho de forma precoce porque “gostam”, 06 crianças e/ou

adolescentes abordados, o que corresponde a 5%, mencionaram trabalhar para não

ficarem sozinho em casa e 01 dos abordados justificou o motivo para o trabalho,

com a seguinte afirmação: “é melhor trabalhar que roubar ou matar” (sic).

Portanto, se pode analisar que existe uma presença de um discurso em

relacionar o trabalho infantil como forma de evitar a criminalidade ou a ociosidade,

além, de alegarem que “gostam”, essa concepção tem origem numa cultura na qual

o trabalho dignificaria o homem, que não traz nenhum prejuízo e que aqueles que

não trabalham estariam mais propensos à criminalidade.

Esse argumento é expressão de mentalidade vigente segundo a qual, para crianças e adolescentes (pobres, pois raramente se refere às das famílias ricas), o trabalho é disciplinador: seria a “solução” contra a desordem moral e social a que essa população estaria exposta. O roubo – aí conotando marginalidade – nunca foi e não é alternativa ao trabalho infantil. O argumento que refuta esse é, “antes crescer saudável que trabalhar”. O trabalho infantil marginaliza a criança pobre das oportunidades que são oferecidas às outras. Sem poder viver a infância estudando, brincando e aprendendo, a criança

19 http://censo2010.ibge.gov.br/trabalhoinfantil/

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que trabalha não é preparada para vir a ser cidadã plena, mas para perpetuar o círculo vicioso da pobreza e da baixa instrução. (OIT, 2001, p. 16)

Cumpre salientar que 65 crianças e/ou adolescentes abordados, totalizando

51% (cinquenta e um por cento), não informaram o motivo para estarem

desenvolvendo mão de obra infantil.

Em resumo, por meio das informações apresentadas pelos dados

quantitativos coletados por meio das fichas de abordagens, pode-se considerar que

as crianças e adolescentes que vivenciam o trabalho infantil nas feiras livres do

município de Natal/RN, experimentam as desigualdades do sistema capitalista,

levando em consideração que eles são filhos da classe trabalhadora. Percebe-se

que é fundamental uma atenção às políticas públicas voltadas as crianças e

adolescentes por parte dos órgãos públicos, e deste modo tanto às políticas

públicas, a família e a sociedade civil possuem um papel essencial na erradicação

do trabalho infantil, não devendo agir sozinhos, mas sim de modo articulado.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo que foi exposto, fica claro a importância da mobilização de

toda a rede socioassistencial, por meio de programas, projetos, serviços, que visam

combater e enfrentar a problemática do trabalho infantil. Todas essas conquistas são

frutos de muita luta em torno da garantia de direitos para as crianças e

adolescentes, a política de A assistência jamais pode atuar de forma desarticulada,

pois, o trabalho infantil exige todo um aparato de todas as políticas sociais, tendo em

vista que as crianças e adolescentes por executarem atividades laborais, muitas

vezes, sofrem acidentes de trabalho, por exemplo, então a política de saúde tem que

está no monitoramento para identificação desses casos e possíveis

direcionamentos.

No que diz respeito à política de educação é importante identificar se essas

crianças e adolescentes estejam frequentando a rede de ensino, e a partir de então,

identificá-las e encaminhá-las para possíveis políticas públicas para inserção delas.

Outro direcionamento é usar o espaço da escola para a promoção de trabalho

educativos, referente ao trabalho infantil, com objetivo de orientá-las a respeito do

tema.

Portanto, para o combate do trabalho infantil é necessário toda uma

mobilização, mediante as diversas facetas que o trabalho infantil se apresenta. Cada

vez mais articulando as políticas públicas, mobilizando os gestores, sociedade civil

para o enfrentamento dessa violação de direitos. Ou seja, combater o trabalho

infantil exige principalmente a existência de perfeita interação entre os órgãos

públicos nos vários níveis da administração.

O trabalho infantil marginaliza a criança pobre das oportunidades que são

oferecidas às outras. Sem poder viver a infância estudando, brincando e

aprendendo, a criança que trabalha não é preparada para vir a ser cidadã plena,

mas para perpetuar o círculo vicioso da pobreza e da desigualdade social.

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ANEXOS

Anexo 01 – Listagem das feiras livres do município de Natal disponibilizada pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMSUR)

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